Jornal Mundus IX

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M UNDUS NERIFE/AAC

VOLUME IX

CULTURA .Este é o Mundus, o recuperado Mundus.

JU HO DE 2009

Barack Obama

Será o “Novo Salvador”?

Um Mundus sem espaço cultural estaria incompleto. Deste modo, apresentamo-vos as mais recentes novidades musicais,

todas em português para aguçar a nossa capacidade criativa: Boato de JP Simões;

Only Time Will Tell de Sean Riley & The

Slowriders; e ainda Tasca Beat (O Sonho Português) dos O’QueStrada.

E como estamos a chegar ao Verão, nada como ter à mão as novidades dos festivais deste ano!

pág. 15

Especial

.

Potências Mundiais

Nesta edição podes contar com artigos

sobre EUA com destaque para a Presidência Obama, Também para contra-

balançar, está presente a Rússia com as actuais questões de rearmamento. No

meio destas duas está a União Europeia,

hoje, após vinte anos desde a queda do Muro de Berlim, é composta por 27 Estados-membros. Para finalizar este Especial evidencia-sea entrada da

República Popular da China na Organização Mundial de Comércio.

pág. 8 a 12

Índice

Destaque......................................................................2 Internacional..............................................................3

Internacional...........................................................4-5 Economia....................................................................6

Especial Potências Mundiais..........................8 a 12 Sociedade..................................................................14

Nerife...................................................................13 e16 Cultura .....................................................................15

D.R.

Direito Humano à Água? Após o 5º Fórum Mundial da Água (Istambul, Março de 2009) a dúvida acer-

ca de o ser Humano ter ou não o direito a usufruir como direito básico deste bem essencial mantém-se: um impasse devido às implicações políticas, éticas e económi-

cas da questão, não chegando a uma conclusão específica.

pág.4

A Emergência de

Putin: o ex-namora-

Num mundo cada vez mais interligado e

As últimas acções do agora Primeiro-

vez mais ténues e menos significativas,

relações amorosas: Putin procura hoje

uma Identidade Global com as fronteiras entre os Estados cada poder-se-á pôr em causa uma identidade

única no planeta Terra e, quem sabe, a criação de um Estado único.

pág.7

do ciumento?

Ministro russo relembram as típicas

controlar os “amores” dos seus antigos “Estados-satélites”. A realpolitik no seu

melhor, demonstrando que a geopolítica ainda persiste.

pág.9


INTERNACIONAL

PÁGINA 3

MUNDUS

Haiti: possibilidades de futuro?

A leitura do título acima suscitará a algumas pessoas a seguinte questão: para quê um artigo sobre o futuro do Haiti num jornal de relações internacionais? Na verdade, o Haiti é um país sem qualquer peso no sistema internacional, afigurando-se por isso o tema pouco pertinente, a não ser pelo facto de nesse país se viver uma situação de crise humanitária e dos direitos humanos e a sua defesa serem parte integrante das relações internacionais contemporâneas. O Haiti, primeira República negra do mundo, ao conquistar a sua independência da França em 1804, tem conhecido uma história política que se traduz numa sucessão ininterrupta de golpes e contra-golpes (tendo ocorrido trinta e três golpes de Estado no período de cerca de duzentos anos de independência), num processo de oscilação contínua entre tentações de tirania e tentativas de democracia. O Haiti é um dos países mais corruptos do mundo, frequentemente apresentado como exemplo do conceito de Estado frágil. Em tempos a mais rica colónia francesa, o Haiti é actualmente o país mais pobre do continente americano e um dos mais pobres do mundo, vivendo mais de metade da sua população abaixo do limiar da pobreza, e é frequentemente fustigado por catástrofes naturais que contribuem para a composição de um cenário aterrador. Desde 1993 o Haiti recebeu sete missões de paz, a última das quais é a Missão da Organização das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (MINUSTAH) iniciada em 2004. As principais funções da Missão passavam genericamente pela assistência ao Estado na promoção de programas de desarmamento, pelo restabelecimento do Estado de Direito, pelo controlo e pela promoção e protecção dos direitos humanos. Após os incidentes envolvendo a presidência

“... o maior desafio que se coloca ao Haiti, com o apoio indispensável dos actores externos, é o de levar a cabo uma transformação estrutural da sua economia, que permita uma saída do ciclo vicioso de pobreza extrema e crise humanitária...” de Jean-Bertrand Aristide (na primeira metade da década de noventa) verifica-se uma divisão interna que dificulta ainda mais um governo efectivo e fomenta a situação de insegurança e violência estruturais, que as débeis instituições não conseguem controlar, e que tende a aumentar, perante a ausência de perspectivas de melhoramentos ao nível político e de desenvolvimento sócioeconómico. Essa visão pessimista está também presente na maioria da bibliografia publicada sobre o país, que depende essencialmente (em cerca de 80%) de doadores externos para a construção da paz e consecução da estabilidade no território. A última conferência dos doadores realizou-se nos dias treze e catorze do passado mês de Abril em Washington D.C., colocando em cima da mesa a discussão das possibilidades de progresso do Haiti, após um ano em que a subida dos preços dos alimentos, resultado da situação económica internacional, levou a manifestações por parte da população que acabaram por culminar na destitu-

ição do Primeiro-Ministro pelo Senado. A esta situação acresceu a destruição provocada por quatro furacões que devastaram o território no mesmo período. Relacionada com as catástrofes naturais, a situação ambiental no Haiti é bastante precária, sendo o país marcado pela desflorestação, erosão dos solos, perda de biodiversidade ou degradação do ecossistema marinho, entre outros problemas, que provocam actualmente um grande número de “refugiados ambientais” no seio da população haitiana. Os aspectos acima referidos são apenas alguns da extensa lista que se pode elaborar acerca dos factores que convergem para uma situação de crise que parece inelutável. Outros que se poderiam incluir são, por exemplo, a elevada incidência de HIV-Sida, o tráfico de armas e de droga, a taxa de analfabetismo dos adultos (que ronda os 50%), a taxa de desemprego de cerca de 60%, a ausência de condições básicas de saneamento, uma densidade populacional demasiado elevada nas cidades que propicia as condições de vida lastimáveis que estarão certamente na base de uma Esperança Média de Vida situada nos cinquenta e três anos, inferior à dos países vizinhos. Todos estes indicadores se mantêm, não dando sinal de evolução positiva do país, apesar da ajuda fornecida pelos doadores da comunidade internacional, o que nos leva a questionar a causa da ineficiência destas acções e nos remete para a questão do papel desempenhado pela população haitiana na construção de um Estado que possa exercer de facto as suas funções enquanto tal. A consciência de que apenas com a colaboração da população poderão os países ver a sua ajuda ao Haiti surtir resultados, é um aspecto que parece ainda não estar a ser devidamente tido em conta pelos actores internacionais. A situação no Haiti é peculiar, nomeadamente porque não existem milícias armadas em confronto, ou movimentos de libertação nacional, mas apenas gangs que provocam a insegurança que as forças policiais incipientes e ainda em fase de treino parecem não conseguir evitar. Alguns autores referem que seria expectável, perante a dimensão da pobreza no país, que os níveis de violência fossem maiores. Segundo este raciocínio, é comum a opinião de que o maior desafio que se coloca ao Haiti, com o apoio indispensável dos actores externos, é o de levar a cabo uma transformação estrutural da sua economia, que permita uma saída do ciclo vicioso de pobreza extrema e crise humanitária em que se encontra mergulhado há anos, sendo contudo necessária, para esse efeito, a capacidade de implementação política.A leitura do título acima suscitará a algumas pessoas a seguinte questão: para quê um artigo sobre o futuro do Haiti num jornal de relações internacionais? Na verdade, o Haiti é um país sem qualquer peso no sistema internacional, afigurando-se por isso o tema pouco pertinente, a não ser pelo facto de nesse país se viver uma situação de crise humanitária e dos direitos humanos e a sua defesa serem parte integrante das relações internacionais contemporâneas. O Haiti, primeira República negra do mundo, ao conquistar a sua independência da França em 1804, tem conhecido uma história política que se traduz numa sucessão ininterrupta de golpes e

contra-golpes (tendo ocorrido trinta e três golpes de Estado no período de cerca de duzentos anos de independência), num processo de oscilação contínua entre tentações de tirania e tentativas de democracia. O Haiti é um dos países mais corruptos do mundo, frequentemente apresentado como exemplo do conceito de Estado frágil. Em tempos a mais rica colónia francesa, o Haiti é actualmente o país mais pobre do continente americano e um dos mais pobres do mundo, vivendo mais de metade da sua população abaixo D.R.

do limiar da pobreza, e é frequentemente fustigado por catástrofes naturais que contribuem para a composição de um cenário aterrador. Desde 1993 o Haiti recebeu sete missões de paz, a última das quais é a Missão da Organização das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (MINUSTAH) iniciada em 2004. As principais funções da Missão passavam genericamente pela assistência ao Estado na promoção de programas de desarmamento, pelo restabelecimento do Estado de Direito, pelo controlo e pela promoção e protecção dos direitos humanos. Após os incidentes envolvendo a presidência de Jean-Bertrand Aristide (na primeira metade da década de noventa) verifica-se uma divisão interna que dificulta ainda mais um governo efectivo e fomenta a situação de insegurança e violência estruturais, que as débeis instituições não conseguem controlar, e que tende a aumentar, perante a ausência de perspectivas de melhoramentos ao nível político e de desenvolvimento sócioeconómico. Essa visão pessimista está também presente na maioria da bibliografia publicada sobre o país, que depende essencialmente (em cerca de 80%) de doadores externos para a construção da paz e consecução da estabilidade no território. A última conferência dos doadores realizou-se nos dias treze e catorze do passado mês de Abril em Washington D.C., colocando em cima da mesa a discussão das possibilidades de progresso do Haiti, após um ano em que a subida dos preços dos alimentos, resultado da situação económica internacional, levou a manifestações por parte da população que acabaram por culminar na destituição do Primeiro-Ministro pelo Senado. A esta situação acresceu a destruição provocada por quatro furacões que devastaram o território no mesmo período. Relacionada com as catástrofes naturais, a situação ambiental no Haiti é bastante precária, sendo o país marcado pela desflorestação, erosão dos solos, perda de biodiversidade ou degradação do ecossistema marinho, entre outros problemas, que provocam actualmente um grande número de “refugiados ambientais” no seio da população

haitiana. Os aspectos acima referidos são apenas alguns da extensa lista que se pode elaborar acerca dos factores que convergem para uma situação de crise que parece inelutável. Outros que se poderiam incluir são, por exemplo, a elevada incidência de HIV-Sida, o tráfico de armas e de droga, a taxa de analfabetismo dos adultos (que ronda os 50%), a taxa de desemprego de cerca de 60%, a ausência de condições básicas de saneamento, uma densidade populacional demasiado elevada nas cidades que propicia as condições de vida lastimáveis que estarão certamente na base de uma Esperança Média de Vida situada nos cinquenta e três anos, inferior à dos países vizinhos. Todos estes indicadores se mantêm, não dando sinal de evolução positiva do país, apesar da ajuda fornecida pelos doadores da comunidade internacional, o que nos leva a questionar a causa da ineficiência destas acções e nos remete para a questão do papel desempenhado pela população haitiana na construção de um Estado que possa exercer de facto as suas funções enquanto tal. A consciência de que apenas com a colaboração da população poderão os países ver a sua ajuda ao Haiti surtir resultados, é um aspecto que parece ainda não estar a ser devidamente tido em conta pelos actores internacionais. A situação no Haiti é peculiar, nomeadamente porque não existem milícias armadas em confronto, ou movimentos de libertação nacional, mas apenas gangs que provocam a insegurança que as forças policiais incipientes e ainda em fase de treino parecem não conseguir evitar. Alguns autores referem que seria expectável, perante a dimensão da pobreza no país, que os níveis de violência fossem maiores. Segundo este raciocínio, é comum a opinião de que o maior desafio que se coloca ao Haiti, com o apoio indispensável dos actores externos, é o de levar a cabo uma transformação estrutural da sua economia, que permita uma saída do ciclo vicioso de pobreza extrema e crise humanitária em que se encontra mergulhado há anos, sendo contudo necessária, para esse efeito, a capacidade de implementação política. No passado dia 19 de Abril tiveram lugar as eleições para o Senado, cuja segunda volta será realizada no próximo mês. O partido do exPresidente Aristide terá boicotado as eleições, que tiveram uma adesão mínima, de cerca de 10% na capital e aproximadamente 3% no restante território. Este é mais um episódio que vem descredibilizar as possibilidades de progresso político do país. Para o futuro, as expectativas são colocadas no desempenho da missão das Nações Unidas no Haiti – MINUSTAH – que deve, para além das acções que constituem o seu âmbito de intervenção, promover espaços de debate entre a sociedade civil e as instituições estatais de forma a permitir reflexões conjuntas sobre as questões mais prementes e as formas de lhes dar resposta. Este tipo de acção enquadra-se numa lógica mais abrangente de empowerment da população haitiana, que deverá ser desenvolvida, sob pena de se perpetuar a intervenção estrangeira no país sem resultados efectivos. Ana Catarina Silva


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