EDIÇÃO
40 ANOS
DE MÃOS DADAS PELA VIDA
40 ANOS IPO PORTO
NA PRIMEIRA LINHA DA ONCOLOGIA Passadas quatro décadas desde a fundação do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto), ganha toda a relevância registar, para memória futura, o percurso do Instituto revisitando os factos e elementos intrínsecos ao seu “ADN”, que o consolidam como um bem-sucedido modelo organizacional centrado no tratamento integral do doente, cuja saúde e bem-estar constituem o foco da sua missão. Servindo uma população estimada em cerca de 3,8 milhões de pessoas, o IPO-Porto disponibiliza 11 clínicas dedicadas às principais patologias oncológicas, encontrando-se apto,
quer em termos de recursos humanos quer de equipamento, a proporcionar o tratamento adequado a todos estes doentes. A par dos internamentos, consultas e tratamentos que fazem parte do seu quotidiano, o IPO-Porto desenvolve e estimula a investigação na área a que se dedica, sempre com o objetivo de prestar mais e melhores cuidados a todos quantos sofrem de patologias do foro oncológico. Fruto do trabalho, esforço e dedicação dos muitos profissionais que aqui trabalham diariamente, o IPO-Porto é hoje uma entidade prestadora de cuidados de saúde de excelência,
certificada, reconhecida a nível nacional e internacional. Por tudo isto e ciente da relevância do papel que desempenha no domínio da Oncologia, o IPO-Porto, mais do que assinalar com natural orgulho as suas quatro décadas de existência, olha o futuro com esperança, certo de que o trabalho que está a ser desenvolvido pelos seus colaboradores irá, pela certa, continuar a contribuir para mais e melhor saúde. Pelo retrato da génese e do seu funcionamento, que se procurou traçar nesta edição comemorativa, é certo que o IPO-Porto, tal como até aqui, estará sempre um passo mais à frente no tratamento 3
Ganha toda a relevância registar, para memória futura, o percurso do Instituto revisitando os factos e elementos intrínsecos ao seu “ADN”, que o consolidam como um bem-sucedido modelo organizacional centrado no tratamento integral do doente
e na investigação oncológica, assim como na formação, em prol do bem-estar de quantos tantas e tão merecidas esperanças depositam.
40 ANOS IPO PORTO Diretor Comercial Miguel Ingenerf Afonso miguelafonso@newsfarma.pt
Diretora de Publicidade Conceição Pires
SUMÁRIO
conceicaopires@newsfarma.pt
Assessora Comercial Sandra Morais sandramorais@newsfarma.pt
Agenda agenda@newsfarma.pt
6 O doente no centro do tratamento integral do cancro Entrevista Dr. Laranja Pontes
Clínica de Urologia Dr. Jorge Oliveira
34 Clínica de Pediatria Dr. Armando Pinto
Serviço de Radioterapia Dr.ª Luísa Carvalho
Clínica do Pulmão Dr.ª Marta Soares
39 Serviço de Cuidados Paliativos Prof. Doutor Ferraz Gonçalves
Clínica de Ginecologia Dr. Carlos Lopes
Unidade de Estudo e Tratamento da Dor Dr.ª Maria Fragoso
Equipa Editorial Andreia Pereira andreiapereira@newsfarma.pt
Catarina Jerónimo (Coordenadora) catarinajeronimo@newsfarma.pt
Cátia Jorge catiajorge@newsfarma.pt
Nuno Coimbra
(Fotógrafo)
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Edição
40 Anos IPO Porto é uma edição especial da News Farma, dirigida a profissionais de saúde. News Farma é uma marca da Coloquialform, Lda.
10 Manter a qualidade assistencial é um enorme desafio Entrevista Prof.ª Doutora Rosa Begonha
35 Clínica de Mama Dr. Joaquim Abreu de Sousa
14 História dos primeiros 20 anos Dr. José Guimarães dos Santos
Clínica de Tumores Endócrinos Dr.ª Isabel Azevedo
Clínica de Cabeça e Pescoço Dr. Jorge Guimarães
30 Clínica de Onco -Hematologia Dr. Mário Mariz
Clínica do Sistema Nervoso Dr. Machado Carvalho
32 Clínica da Pele, Tecidos Moles e Osso Dr.ª Matilde Ribeiro
36 Clínica de Patologia Digestiva Dr. Flávio Videira
Serviço de Transplantação de Medula Óssea Dr. António Campos Júnior
38 Hospital de Dia Dr.ª Ana Raimundo
40 “Viver com cancro e tratar o cancro é um desafio à vida” Entrevista Enf.ª Isabel Sequeira 41 No mundo da genética, os caminhos da ciência e da investigação Entrevista Prof. Doutor Manuel Teixeira 45 Unidade de Investigação clínica À descoberta da cura Entrevista Dr. José Dinis 50 Escola Portuguesa de Oncologia do Porto: Formar para uma saúde melhor Entrevista Prof. Doutor Rui Henrique
ESTAS EMPRESAS ASSOCIAM-SE ÀS COMEMORAÇÕES DO 40.º ANIVERSÁRIO DO IPO-PORTO
40 ANOS IPO PORTO
40 ANOS IPO PORTO
DR. JOSÉ MARIA LARANJA PONTES PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
O DOENTE NO CENTRO DO TRATAMENTO INTEGRAL DO CANCRO O PRINCIPAL DESAFIO DA ONCOLOGIA HOJE EM DIA É, SEGURAMENTE, O DIAGNÓSTICO PRECOCE, AFIRMA O PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO IPO-PORTO, DR. JOSÉ MARIA LARANJA PONTES. UMA INSTITUIÇÃO QUE NOS SEUS 40 ANOS DE ATIVIDADE CONSOLIDOU-SE COMO UMA REFERÊNCIA PARA A COMUNIDADE EM GERAL E PARA OS DOENTES ONCOLÓGICOS EM PARTICULAR, PORQUANTO ACOLHE E PRESTA OS MELHORES CUIDADOS ASSISTENCIAIS NA ÁREA A QUE SE DEDICA. E, COM VISTA À PROSSECUÇÃO DA SUA MISSÃO, O IPO-PORTO TEM AS PESSOAS COMO FORÇA DE MUNDANÇA Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as probabilidades de sucesso, sendo que o IPO-Porto dispõe de todo o equipamento necessário assim como dos recursos humanos especializados que lhe permitem acolher e assistir todos os doentes que a ele se dirigem em busca de tratamento oncológico. Praticando o que denomina de medicina holística de combate ao cancro, esta instituição, que assinala a passagem do seu 40.º aniversário, dispõe, na atualidade, de todas as valências inerentes à sua área de
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atividade, não precisando de delegar ou de adquirir serviços externamente. “A exceção, neste caso, são algumas técnicas de radioterapia e protonterapia a que temos que recorrer no estrangeiro. De resto, somos autónomos ao ponto de conseguirmos integrar todas as necessidades assistenciais dos doentes que nos chegam, associando-os, também, a programas de investigação”, declara o Dr. Laranja Pontes, chamando também a atenção para a vertente educacional que o Instituto prossegue, quer a nível profissional quer
O IPO-Porto tem como missão a prestação de cuidados de saúde, em tempo útil, centrada no doente, bem como a prevenção, a investigação, a formação e o ensino no domínio da oncologia
40 ANOS IPO PORTO primário. Tendo assumido como enfoque da sua atuação o bem-estar de cada doente, é igualmente filosofia do IPO-Porto participar em atividades sociais – sejam elas de índole cultural ou desportiva, entre outras –, que, de alguma forma, possam chamar a atenção para o cancro, para os doentes oncológicos ou para a prevenção. “Entendemos dever trabalhar tanto quanto possível com a comunidade a fim de ajudarmos a potenciar toda a informação existente sobre o cancro. Com este objetivo, participamos, por exemplo, em corridas e fazemos palestras públicas sobre o tema, de modo a fazermos chegar, igualmente por esta via, a nossa mensagem até à população em geral”, salienta. Fruto de quatro décadas de investimento centrado no doente, quer em termos de recursos humanos quer terapêuticos, o IPO-Porto é, hoje em dia, uma referência para a comunidade em geral e para os doentes oncológicos em particular, porquanto acolhe e presta os melhores cuidados assistenciais na área a que se dedica.
SEGREGAÇÃO POSITIVA Ao recordar os tempos que marcaram a criação de uma instituição centrada no combate ao cancro, o Dr. Laranja Pontes afirma que,
inicialmente, o quadro configurava uma espécie de segregação. No início do século passado, quando se desconhecia ainda se havia risco de contágio relativamente ao cancro, seguiram-se modelos de isolamento semelhantes aos adotados para as doenças infeciosas e para as doenças mentais. Mas a verdade é que, enquanto para essas doenças os referidos modelos mostraram-se pouco eficazes, para o cancro revelaram-se positivos. Esses modelos, no que ao cancro diz respeito, estiveram na origem da criação de centros cuja tecnologia e abordagem de grupo ao doente trouxeram vantagens, ao ponto de, hoje em dia, serem associados às teorias mais avançadas de gestão da doença. “Este é, precisamente, o nosso posicionamento, porquanto baseamos a nossa organização, enquanto hospital, nas teorias do norte-americano Michael Porter sobre as unidades integradas, centradas nas necessidades dos doentes e não nos serviços clínicos”, explica o Dr. Laranja Pontes. Presentemente, o IPO-Porto encontrase dividido em clínicas, e existem 11, as quais não têm nada a ver com as especialidades médicas, mas sim com as necessidades dos doentes. A título de exemplo, refiram-se a Clínica de Patologia Digestiva e a Clínica de Mama, em vez da consulta de cirurgia ou consulta de medicina. O referido modelo
organizacional, implementado há cerca de oito anos, encontrase hoje absolutamente sedimentado e manterse-á, tanto mais que permite já ao IPO-Porto a prestação de serviços externos. Refira-se, a título de exemplo, que foi adquirida recentemente uma aplicação informática de comunicação que vai permitir, aos hospitais da região, o acesso às consultas de grupo nas várias clínicas, onde trabalham “ultra especialistas” nas áreas a que se dedicam. “Neste momento e com o apoio da ARS, estamos a tentar criar uma rede de cooperação na área da oncologia na região, baseada, precisamente, nas clínicas”, adianta o Dr. Laranja Pontes. Sabendo que cada clínica tem ao seu serviço pessoal altamente especializado, os clínicos dos hospitais da área quando precisam de uma opinião, já não se dirigem
Sabendo que cada clínica tem ao seu serviço pessoal altamente especializado, os clínicos dos hospitais da área quando precisam de uma opinião, já não se dirigem a um oncologista geral. Procuram, sim, estes especialistas
a um oncologista geral. Procuram, sim, estes especialistas.
MAMA E PRÓSTATA, OS DOIS CANCROS PREVALENTES Nos dias que correm, o cancro mais frequente nas mulheres é o da mama e nos homens o da próstata, sendo o segundo lugar “disputado” pelos cancros do aparelho digestivo, colorretal e pulmão. De referir que a incidência de cancro do pulmão é maior nos homens porque os hábitos tabágicos estavam, precisamente, mais ligados ao sexo masculino. Contudo, importa salientar o aumento registado no que concerne às mulheres. De um modo geral, pode-se relacionar o aumento da incidência de cancro com o prolongamento da esperança média de vida, sendo que, presentemente, os
CANCRO: UMA DOENÇA TRANSVERSAL Tendo em conta todas as alterações decorrentes do aumento da esperança média de vida, em grande parte devido à evolução terapêutica, o Dr. Laranja Pontes aponta duas patologias que serão, no futuro próximo, as maiores responsáveis pela morte da população em geral: as doenças neuro degenerativas e o cancro. “É fundamental que tenhamos cada vez mais consciência de que o cancro é uma doença que vai aumentar não
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porque provavelmente aumentem as suas causas, mas porque aumenta o número de pessoas em risco devido à idade”, frisa o especialista. Ao destacar que o cancro é, acima de tudo, uma doença transversal, o Dr. Laranja Pontes insiste na importância de que se reveste o diagnóstico precoce, bem como na habilitação do IPOPorto para acolher e assistir qualquer doente oncológico. “Já conseguimos
fazer muita coisa, mas importa recordar que, no estado natural, a nossa esperança de vida é de 40 e tal anos. Veja-se que antigamente era raro morrer-se de cancro. Morria-se, nomeadamente, de doenças infeciosas que hoje, felizmente, desapareceram devido às vacinas e aos antibióticos”, refere, salientando que, neste novo contexto, é imprescindível continuar a investigar, em prol de mais e melhor saúde.
40 ANOS IPO PORTO doentes procuram ajuda muito mais cedo do que há 20 ou 30 anos atrás, quando, muitas das vezes, evidenciavam já estádios muito avançados da patologia. Acresce o facto de a assistência ser prestada também de forma muito rápida e no IPO-Porto, por exemplo, para além de estar apto a prestar todos os cuidados necessários aos doentes oncológicos, não existirem listas de espera. “Se há 40 anos eramos, em termos de Saúde, o país mais atrasado da Europa, hoje podemo-nos orgulhar de, nalgumas vertentes, estarmos no pelotão dos dez da frente, incluindo em Oncologia. Dados internacionais recentes mostram que a sobrevivência a múltiplos tumores em Portugal está em pé de igualdade com os registos dos países nórdicos”, destaca o Dr. Laranja Pontes.
EXCELÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS E TECNOLÓGICOS O IPO-Porto possui ao seu serviço equipas de alta competência e, em simultâneo, dispõe de equipamento de ponta que lhe permite, nomeadamente, autossuficiência na sua vertente assistencial. O facto de receber um elevado número de doentes todos os anos – aproximadamente 10 mil – contribui para que o pessoal do IPO-Porto, para além de um elevado nível de formação, possua uma experiência a todos os títulos alargada, o que é, reconhecidamente,
mais uma garantia de desempenho adequado. Quanto aos equipamentos, específicos e caros, há que ter em conta os condicionalismos associados aos tempos modernos e, assim, hoje mais do que nunca, procurar tirar a máxima rentabilidade dos mesmos, instalando-os em centros com elevada frequência. “Não faz sentido que após de 12 anos de atividade – findo o período de vida útil e porque deixa de haver peças – seja atirado para a sucata um aparelho que custou quatro milhões de euros, mas que não foi intensamente utilizado porque o local onde se encontrava não tinha grande atividade”, alerta o Dr. Laranja Pontes. A este propósito, lembra que no IPO-Porto existem oito aceleradores lineares para radioterapia externa deste tipo e que trabalham 13 horas por dia, ou seja a sua eficiência é rentabilizada ao máximo. Ainda no que diz respeito à gestão, o Dr. Laranja Pontes destaca, também, o “peso” dos medicamentos no orçamento do Instituto, os quais representam entre 30 a 35 por cento do total, logo a seguir aos recursos humanos. Os preços de alguns dos medicamentos versus resultados é modesto, diz, uma das questões, que, neste contexto, necessita de ser abordada e discutida, porquanto é do conhecimento público que diversos hospitais enfrentam preocupantes dificuldades financeiras.
SERVIÇO DE CUIDADOS PALIATIVOS, QUALIDADE, HUMANISMO E EFICIÊNCIA O IPO-Porto oferece cuidados paliativos desde 1994, assumindo-se como a primeira instituição em Portugal a desenvolver um serviço deste tipo, referenciado como o maior do país. Inaugurado em maio de 1996, o edifício constituído pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, dedicado aos cuidados paliativos, possui 40 camas. Este Serviço de Cuidados Paliativos, que pretende ser uma unidade de referência nacional e internacional e acolher a prática da investigação e do ensino a vários níveis, tem por missão proporcionar a prestação de cuidados paliativos com a máxima qualidade, humanismo e eficiência ao doente, e à sua família, em fase avançada da doença.
O facto de receber um elevado número de doentes todos os anos – aproximadamente 10 mil – contribui para que o pessoal do IPO-Porto, para além de um elevado nível de formação, possua uma experiência a todos os títulos alargada
PARADIGMA DO TRATAMENTO MUDOU O paradigma do tratamento do cancro, como não poderia deixar de ser, tem evoluído ao longo dos anos, no sentido da otimização. Deste modo, passou-se de uma fase inicial em que era prescrita a dose terapêutica máxima tolerada, procurando levar o doente ao limite da exaustão a fim de eliminar o cancro, para a dose mínima eficaz. “O que se pretende, à semelhança do que se
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passa com as vacinas, e não as há grandes ou pequenas, é descobrir a dose certa de modo a que se desenvolva um mecanismo biológico que destrua as bactérias que apareçam. É tão ´simples´ quanto isto: a dose certa, para desencadear o mecanismo”, afirma o Dr. Laranja Pontes. A lógica, prossegue, é ter uma doença residual mínima, através de mecanismos de quimioterapia, e, de
seguida, tentar criar mecanismos de defesa que consigam destruir uns milhões de células. “Esta é, seguramente, uma das razões pelas quais entendo ser fundamental investir na imunologia, assegura o Dr. Laranja Pontes, reforçando, ainda, a importância da cooperação quando se trata de investigação, quer pelos aportes científicos das partes quer pelo aspeto financeiro.
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11 CLÍNICAS DE PATOLOGIA IPO-Porto pauta-se por um conceito inovador de organização hospitalar, composto por unidades multidisciplinares denominadas Clínicas de Patologia. Na base de toda a estrutura assistencial encontram-se, assim, 11 Clínicas de Patologia, a saber:
>>Clínica dos
Tumores Endócrinos
>>Clínica de Onco-Hematologia >>Clínica de Pediatria
>>Clínica de Mama
>>Clínica de Cabeça e Pescoço e ORL
>>Clínica de Ginecologia
O IPO-Porto é, na atualidade, um centro de referência para os ensaios clínicos realizados em Portugal
ATRAIR OS MELHORES ENSAIOS CLÍNICOS A Unidade de Investigação Clínica foi criada em 2006 e tem como objetivos atrair para o IPO-Porto os melhores ensaios clínicos, apoiar na sua execução e zelar pelo cumprimento dos respetivos protocolos e procedimentos, promovendo o envolvimento do maior número possível de profissionais da instituição. “Como consequência do trabalho desenvolvido, suportado por uma
equipa profissionalizada, registou-se um crescimento progressivo e sustentado do número de ensaios clínicos e de doentes recrutados, reduzindo-se o respetivo tempo de implementação, com o consequente ganho em competitividade”, salienta o texto de apresentação desta unidade. Tendo em conta estas razões, o IPO-Porto é, na atualidade, um centro de referência para os ensaios clínicos realizados em Portugal, maioritariamente das patologias tratadas na instituição.
>>Clínica
>>Clínica do
de Urologia
Sistema Nervoso Central
>>Clínica de Pele, >>Clínica do Pulmão
Tecidos Moles e Osso
>>Clínica de
Patologia Digestiva
CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E ESCOLA DE ONCOLOGIA O Centro de Investigação do IPO-Porto (CI-IPOP) é reconhecido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia desde 2004. Constitui com o IPATIMUP um consórcio ativo com múltiplos trabalhos em curso. Este centro tem por objetivo a compreensão dos mecanismos patobiológicos do cancro
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que possibilitem a prevenção, o diagnóstico precoce, a correta avaliação do prognóstico e o desenvolvimento de terapias mais eficazes. Já a EPOP-Escola Portuguesa de Oncologia do Porto tem por missão prestar com qualidade o ensino e a integração profissional dos seus discentes e
profissionais em Oncologia, Medicina, Saúde, áreas complementares e outras. A Escola tem ainda como missão a promoção de estágios profissionais, assim como a colaboração e organização de eventos, seminários, workshops e outras atividades formativas que envolvam os espaços sob a sua responsabilidade.
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PROF.ª DOUTORA ROSA BEGONHA DIRETORA CLÍNICA
MANTER A QUALIDADE ASSISTENCIAL É UM ENORME DESAFIO O IPO-PORTO É O HOSPITAL DE REFERÊNCIA PARA O TRATAMENTO DO CANCRO NO NORTE DO PAÍS, ABRANGENDO UMA POPULAÇÃO ESTIMADA EM 3,8 MILHÕES DE PESSOAS. MANTER A QUALIDADE ASSISTENCIAL, DE INVESTIGAÇÃO E DE FORMAÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO COMO ESTA É, POIS, O PRINCIPAL DESAFIO DA PROF.ª DOUTORA ROSA BEGONHA, ENQUANTO DIRETORA CLÍNICA DO INSTITUTO. 10
“Há que estar sempre muito atento de modo a manter e, tanto quanto possível, melhorar a qualidade que nos é reconhecida, sendo que a função de diretor clínico implica, necessariamente, o acompanhamento de todas as inovações terapêuticas”, afirma. Neste contexto, a Prof.ª Doutora Rosa Begonha salienta que no Instituto todos os doentes, sem exceção, têm acesso às melhores terapêuticas, o que só varia consoante o estádio da doença de que são portadores e o seu estado geral. Do mesmo modo, diz, todos os doentes têm acesso à terapêutica inovadora, mediante critérios e de acordo com o estado de arte.
Lembra, por outro lado, que o facto de o IPOPorto estar dividido em Clínicas de Patologia, num total de 11, que abarcam todas as doenças que o Instituto trata, garante que o doente beneficia, sempre que necessário, de um atendimento multidisciplinar, evitando, deslocações desnecessárias. “O foco do IPO-Porto é o doente e nas clínicas de patologia é assegurado todo o acompanhamento de que necessita. O caso clínico é discutido sempre multidisciplinarmente, pelo oncologista médico, pelo cirurgião, pelo radioterapeuta ou por outros especialistas, dependendo da patologia e de outras patologias associadas.
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40 ANOS IPO PORTO É que a par da doença oncológica, este doente pode ter também outras patologias – cardíacas e endócrinas, entre outras –, cujo acompanhamento é igualmente assegurado aqui”, declara.
PREVALÊNCIA DE 3 CANCROS O IPO-Porto, o hospital de referência para o tratamento do cancro no norte do país, envolvendo uma população estimada em cerca de 3,8 milhões de pessoas, recebe anualmente 10 mil novos doentes, com prevalência do cancro da mama, digestivo e urológico, a que se seguem os cancros da pele, os sarcomas e o cancro de pulmão, entre outros. “Os cancros da mama, digestivo e urológico, nomeadamente da próstata, são, sem sombra de dúvida, os três mais representativos que recebemos no presente”, adianta a Prof.ª Doutora Rosa Begonha. Recorda, no entanto, que houve uma altura em que prevalência o cancro do colo do útero, uma doença que diminuiu drasticamente graças aos rastreios e à vacinação, o que permitiu muitos ganhos. No que concerne aos meios de diagnóstico, a especialista garante que a instituição possui todos os meios necessários, ainda que se possam verificar algumas dificuldades. “Por exemplo, no que diz respeito aos doentes em follow up, porque são muitos, há uma sobrecarga, nomeadamente nas
ecografias. A vigilância não só da doença como dos efeitos adversos das terapêuticas, impõem a realização de exames seriados, que sobrecarregam muito o departamento de Imagem, explica. Já no que se refere à Radioterapia e à Quimioterapia, a diretora clínica declara que não há qualquer atraso. Questionada quanto aos cancros face aos quais se tem registado uma curva maior de sobrevivência, a Prof.ª Doutora Rosa Begonha responde, sem hesitar, que é o cancro da mama. Contrariamente, acrescenta, o cancro do pulmão e do fígado em que ainda não se atingiram taxas de sobrevivência aos cinco anos.
NA VANGUARDA DA INVESTIGAÇÃO No campo da investigação, a Prof.ª Doutora Rosa Begonha afirma que o IPOPorto, reconhecido quer a nível nacional quer internacional, concorre a diversos projetos. Destaca, ainda, a existência de um consórcio com o IPATIMUP – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto nas áreas do cancro gástrico e da tiroide, entre outras. Sobre os incentivos dados aos médicos no que diz respeito à investigação, a especialista declara que o médico tem sempre um incentivo, que não é monetário, mas profissional. Reconhece, porém, que devido ao tipo de assistência que
O IPO-Porto, o hospital de referência para o tratamento do cancro no norte do país, envolvendo uma população estimada em cerca de 3,8 milhões de pessoas, recebe anualmente 10 mil novos doentes é prestada no Instituto e com o elevado número de doentes que ali aflui, a atividade assistencial ocupa grande parte do tempo dos clínicos. Ainda assim, salienta, os internos, na especialidade, têm seis meses dedicados exclusivamente à investigação clínica, o que proporciona, também, uma mais-valia para a instituição. Questionada sobre o posicionamento do IPO-Porto na área da investigação, a Prof.ª Doutora Rosa Begonha diz que o Instituto com o seu centro de investigação está
UMA “ESCOLA” DE SABER A Prof.ª Doutora Rosa Begonha recorda que entrou para o IPO-Porto através de um ciclo de estudos especiais, com enfoque no tratamento do cancro, que então abriu as candidaturas. “Era já especialista de Medicina Interna e achei que seria muito interessante fazer um estágio de dois anos num hospital dedicado ao tratamento desta patologia. Decidi
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concorrer, fui selecionada, e ao longo do estágio acabei por me aperceber das boas condições de trabalho aqui existentes”, diz. Destaca, a propósito, de entre muitos médicos com quem trabalhou, uma figura incontornável na vida do IPO-Porto, o Dr. Guimarães dos Santos. “Eram médicos de uma qualidade excecional e que sabiam muito bem o que é a Oncologia”,
salienta a Prof.ª Doutora Rosa Begonha, referindo que na altura em que fez o curso ainda pouco se sabia sobre o cancro, sendo abordado na faculdade de forma ligeira. A Oncologia era então uma subespecialidade, que depois passou a especialidade médica, “o que se justifica inteiramente, pois a Oncologia é um mundo”, destaca.
40 ANOS IPO PORTO evolução muito grande no tratamento médico do cancro, que continua, felizmente”, sublinha. Neste contexto, considera que uma boa notícia para 2015 seria, por exemplo, conseguirem ter conhecimento pleno da genética do cancro, uma área com uma enorme variabilidade. “Esse conhecimento seria ótimo, porque conseguiríamos uma terapêutica muito mais dirigida e, portanto, o cancro passaria, eventualmente, a ser uma doença curável, adianta.
“O modo como se cuida do doente, a exigência nos atos que se praticam e o facto de obedecer a determinados protocolos, diferenciam-no”, afirma a Prof.ª Doutora Rosa Begonha, destacando tratar-se de um hospital acreditado desde 2004
VANTAGENS DO PROCESSO CLÍNICO ELETRÓNICO
certamente na linha da frente, citando diversas colaborações que a instituição mantém quer com entidades nacionais quer estrangeiras, nomeadamente norueguesas e espanholas. Acrescem, ainda, diversas iniciativas realizadas com o objetivo de partilhar conhecimentos em áreas ligadas à Oncologia e que têm trazido até ao IPO-Porto reconhecidos palestrantes. Instada a comentar, com base na experiência profissional, quais as
principais diferenças no tratamento do cancro desde que começou a exercer medicina e a atualidade, a Prof.ª Doutora Rosa Begonha garante serem muitas, incluindo no campo da cirurgia, onde são aplicadas novas técnicas que minimizam diversas complicações. Cita ainda a radioterapia, mas destaca a evolução ao nível dos novos fármacos que, explica, passaram a ter um modo de atuação dirigida a alvos celulares. “Houve, realmente, uma
O processo clínico eletrónico, adotado pelo IPO-Porto, beneficiou todos os profissionais que aqui trabalham, porquanto facilitou-lhes muito o acesso a toda a informação clínica do doente. “Deixou de ser necessário folhear processos muito volumosos, relacionados com a antiguidade e a evolução do doente, entre outras coisas. A informação passou, assim, a estar disponível muito mais facilmente”, afirma, adiantando que a observação e a orientação beneficiaram muito em termos de segurança, para além dos ganhos substanciais de tempo, nomeadamente para os doentes.
RECURSOS HUMANOS SUFICIENTES Em termos de recursos humanos, responsáveis pelo atendimento de 10
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mil novos doentes por ano, a Prof.ª Doutora Rosa Begonha adianta que o IPO-Porto conta, na atualidade, com 244 médicos, 640 enfermeiros e dispõe de 353 camas. Questionada sobre o rácio, diz ser adequado às necessidades, destacando, no entanto, existir uma insuficiência de enfermeiros, que entraram na reforma e não foram substuídos. Garante, no entanto, que estão a trabalhar para resolver a situação.
A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO O IPO-Porto é uma instituição com um elevado grau de organização, na qual há regras bem definidas e, como tal, é fácil a cada colaborador saber como atuar em cada momento e perante cada situação. “O modo como se cuida do doente, a exigência nos atos que se praticam e o facto de obedecer a determinados protocolos, diferenciam-no”, afirma a Prof.ª Doutora Rosa Begonha, destacando tratar-se de um hospital acreditado desde 2004. Existem métodos de trabalho e regras e as pessoas trabalham em equipa, apesar de, naturalmente, não perderem a sua individualidade, garante. “Transposto isto para a realidade, significa que, por exemplo, eu não trato do doente da maneira como quero. Cada caso clínico é discutido nas consultas de grupo de uma forma multidisciplinar, de modo a que o doente tenha determinado tratamento sequencial exigido naquela patologia e naquele estadio da doença”, garante.
// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
40 ANOS IPO PORTO
DR. JOSÉ GUIMARÃES DOS SANTOS PRIMEIRO DIRETOR DO IPO-PORTO
CENTRO DO PORTO DO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA FRANCISCO GENTIL 40.º ANIVERSÁRIO
HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS No âmbito das comemorações do 40.º Aniversário da abertura dos Serviços Clínicos do Centro do Porto do Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil (IPO-Porto) julga-se da maior relevância e significado histórico realizar uma publicação que descreva com algum detalhe os factos e vicissitudes que se associaram à criação, desenvolvimento e consolidação dinâmica do maior Centro de Oncologia de Portugal e dos melhores da Europa. Na realidade, importa salientar que o conhecimento da história de uma Instituição na sua verdade factual é da maior importância para o seu constante crescimento e aperfeiçoamento. De facto o futuro alicerça-se nos valores do passado e Instituição que desconhece ou, pior, ignora o seu passado está condenada a falhar o seu futuro.
Texto da autoria do Dr. José Guimarães dos Santos, redigido segundo as regras anteriores ao Acordo Ortográfico.
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Tendo contribuído pessoalmente de forma intensa para o planeamento e desenvolvimento estrutural e funcional deste Centro incumbe-me partilhar com os leitores os aspectos mais relevantes da história inicial do seu funcionamento relevando o papel daqueles que de facto contribuíram para que o IPO-Porto se desenvolvesse de acordo com os objectivos que visavam atingir as metas de excelência que hoje o caracterizam. Procurarei não repetir os aspectos que já foram objecto de uma excelente publicação do Dr. Francisco do Carmo Pacheco, membro da primeira Comissão Instaladora, a propósito da celebração dos 25 anos de abertura do Centro e na qual relatou com algum detalhe eventos que foram assinalando o crescimento e diferenciação do Instituto segundo um plano ambicioso previamente elaborado no período agitado após a Revolução do 25 de Abril de 1974 e aprovado pelas Entidades competentes.
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS QUANDO SE PRETENDE COMPREENDER A HISTÓRIA DESTE CENTRO HÁ DUAS PERGUNTAS QUE SE IMPÕEM: 1º – Como apareceu a Unidade de Oncologia, inaugurada há 40 anos no dia 17 de Abril de 1974 e quem foram os seus principais responsáveis? 2º – Como se desenvolveu e diferenciou o Centro actual e quem foram os seus principais promotores?
COMO APARECEU O IPO-PORTO? A génese do Centro Regional do Porto do IPOFG, tal como a dos outros Centros Regionais, remonta ao Declei 9333 de 29/1923, quando era Ministro da Educação e Cultura António Sérgio que criou o então designado Instituto Português para o Estudo do Cancro através do mencionado DecretoLei que previa, no artigo, 4º, entre os seus fins “b) manter e desenvolver o Centro Regional de Luta Contra o Cancro em Lisboa e promover e auxiliar a criação de outros Centros Regionais”. Como ficou expresso neste decreto-lei 9333, a criação de outros Centros designadamente o Centro Regional do Norte, posteriormente designado Centro Regional do Porto, ficou dependente da evolução e crescimento do Centro Regional de Lisboa e de iniciativas de forças regionais que, com o auxílio e experiência adquirida pelo Centro Regional de Lisboa, teriam de promover as diligências que tornassem possível a concretização de um Centro de Oncologia no Porto. Na prática verificou-
40 ANOS IPO PORTO se que este problema foi sendo adiado durante 40 anos e foi por iniciativa do Prof. Lima Bastos, Director da Liga Portuguesa Contra o Cancro e Presidente da Comissão Coordenadora do Instituto Português de Oncologia, que se criou o Núcleo do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro que encontrou no Sr. Santos Ferreira o seu grande benemérito e dinamizador da construção da primeira fase do IPO-Porto, de acordo com o projecto realizado pelo Arquitecto António Afonso em conformidade com o programa realizado pelo Administrador do Centro de Lisboa Dr. Joaquim Silveira Botelho. Esta obra foi realizada no âmbito do Ministério das Obras Públicas com a superintendência da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. O início da actividade clínica processou-se a 17 de Abril de 1974, sob a responsabilidade do Centro de Lisboa, com médicos e restantes profissionais integrados no Quadro de Receitas Próprias do Centro de Lisboa. O Prof. Álvaro Rodrigues, Vicepresidente da Comissão Coordenadora do Instituto Português de Oncologia, supervisionava, após a morte do Prof. Lima Bastos a actividade dos três Centros Regionais, nomeadamente a dos Centro do Norte e de Coimbra em fase de criação. O Administrador do IPOFG Dr. Joaquim Silveira Botelho ainda tentou promover a autonomização do IPO do Norte, propondo a nomeação do Prof. Álvaro Rodrigues para seu Director e o Prof. Joaquim Bastos para Director Clínico mas a proposta não foi aceite pelo Ministro da Educação
Prof. Veiga Simão por incompatibilidade com as funções que exerciam na Faculdade de Medicina e no Hospital de S. João. Assim a Direcção do Centro do IPO Norte ficou sediada no Centro de Lisboa até à publicação do despacho ministerial do Prof. Vitorino Magalhães Godinho de 25 de Outubro de 1974 que criou a Comissão Instaladoras do Centro Regional de Oncologia do Porto com a seguinte constituição: Presidente nomeado pelo Ministro da Tutela, Prof. Amândio Sampaio Tavares da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Dr. José Cardoso da Silva, Dr. José Guimarães dos Santos, Dr. Francisco Xavier Vieira do Carmo Pacheco eleitos pelo pessoal médico; Maria Helena da Conceição Vicente, eleita pelo pessoal de enfermagem; Dr. António Henrique Leite Pereira Alves eleito pelo pessoal administrativo; Dra. Maria Adélia Teixeira Rego de Oliveira eleita pelo pessoal técnico e José Maria Ferreira de Castro eleito pelo pessoal dos serviços de apoio.
COMO SE DESENVOLVEU O IPO-PORTO? Com a tomada de posse desta Comissão Instaladora terminou o período de anarquia institucional que caracterizou o PREC do pósRevolução do 25 de Abril de 1974 durante o qual foram eleitas várias comissões (Gestão, Executiva, Técnica) que nunca foram reconhecidas pelo Ministério da Educação. O desbloqueamento do caos reinante só foi possível após, por iniciativa pessoal, ter sido recebido pelo General Costa Gomes, então Chefe do Estado Maior das Forças Armadas que durante a
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A génese do Centro Regional do Porto do IPOFG, tal como a dos outros Centros Regionais, remonta ao Dec-lei 9333 de 29/1923, quando era Ministro da Educação e Cultura António Sérgio que criou o então designado Instituto Português para o Estudo do Cancro
própria reunião contactou o Ministério da Educação que de imediato marcou uma audiência com uma delegação do IPO-Porto constituída pelos Dr. Guimarães dos Santos, Dr. Cardoso da Silva, Dr. António Alves e Enfermeira Conceição Vicente, da qual resoltou a nomeação de uma Comissão Instaladora para o IPO-Porto que teve a constituição acima referida a qual foi alterada quatro meses depois (Março de 1975) com a demissão, a seu pedido, do Prof. Amândio Sampaio Tavares e nomeado o Dr. José Guimarães dos Santos para seu Presidente, sem outra alteração.
40 ANOS IPO PORTO
Durante este período, aproveitando a minha experiência clínica e de gestão hospitalar, e perante a perspectiva de paralização do processo de criação e desenvolvimento do Centro do Porto do IPO decidi a título pessoal, fazer uma análise do programa que estava a ser executada tendo concluído que não correspondia minimamente à realidade de um Centro Regional de Oncologia pela sua dimensão, organização e diferenciação clínica e tecnológica para responder aos objectivos que, naquela data, se impunham, no âmbito da Investigação,
Ensino e Assistência Clínica, a um Centro Oncológico compreensivo. Dessa análise concluí que o Centro programado estava subdimensionado em capacidade de internamento (200 camas) amplitude das Consultas Externas, extensão e diferenciação dos Serviços Laboratoriais, extensão e diferenciação das Ciências de Imagem que impossibilitavam um correcto diagnóstico e estadiamento dos doentes oncológicos, extensão dos Serviços de Radioterapia e Cirurgia, bem como na capacidade de Ensino e Investigação
Oncológica. Perante este quadro e perspectiva de desenvolvimento procurei, como Presidente da Comissão Instaladora, convencer com argumentos técnicos sólidos e persuasivos o Ministro das Obras Públicas através do Director Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e do próprio Ministro suspender o projecto, substituindo-o por outro de acordo com o programa que entretanto elaboramos em colaboração com o Arquitecto António Afonso, que tinha um contrato com o Ministério das Obras Públicas que o responsabilizava pela
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS construção do IPO-Porto. Aceite o nosso programa, o Arquitecto responsável elaborou um novo projecto que implicou a construção de mais nove andares no projectado Edifício de Cirurgia e adicionou um novo edifício de seis andares para a instalação dos Laboratórios, do Centro de Formação Permanente em Oncologia, de um amplo Anfiteatro e de uma Unidade de Cirurgia Experimental. Simultaneamente foram projectadas e construídas expansões e adaptações dos edifícios já construídos que permitiram expandir a curto prazo os Departamentos de Imagiologia e de Radioterapia, e a adaptação deste à instalação de um Serviço de Medicina Nuclear não programado. O edifício em construção para doentes terminais foi intervencionado de forma a construir um Bloco Operatório de 3 salas de operações de grande cirurgia e enfermarias de internamento de Oncologia Cirúrgica e de Oncologia Médica. Igualmente avançou-se de imediato para a realização de obras transitórias de expansão que iriam permitir o seu funcionamento adequado nas vertentes de investigação, ensino e assistência recorrendo à adaptação de dois edifícios pré-fabricados e às instalações sociais do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro entretanto construídas por iniciativa do Senhor Santos Ferreira, em articulação com a Comissão Instaladora. Simultaneamente procedeu-se à elaboração de um programa pormenorizado que iria servir de base à construção dos Edifícios de Laboratórios, do Centro
Avançou-se de imediato para a realização de obras transitórias de expansão que iriam permitir o seu funcionamento adequado nas vertentes de investigação, ensino e assistência
de Formação Permanente, de um Biotério com um serviço de Investigação básica e de uma Unidade de Cirurgia Experimental vocacionada para o Ensino básico e ensino Cirúrgico de novas tecnologias que não estavam sequer previstas e que serviram para que o Arquitecto Afonso delineasse o projecto definitivo e o respectivo caderno de encargos que foi submetido a concurso pelo Director Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Após múltiplas diligências em 1982 o Secretário de Estado do Orçamento aprovou a afectação das verbas previstas para construção do actual Pavilhão de Cirurgia que iria expandir a capacidade de internamento para 500 camas. O edifício Social da Liga além das instalações administrativas da Liga permitiu a instalação de um Hospital de Dia, dos Laboratórios Clínicos e de Genética, do Centro de
// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS Formação Permanente com um Auditório que passou a ser utilizado tanto pela Liga como pelo IPO e onde se realizavam Conferências, Congressos, Cursos, de que destacamos o II Congresso Nacional de Oncologia (a 1.ª tinha sido organizado num Hotel), Curso de Gestão Hospitalar organizado pelo IPO em articulação com a Associação Portuguesa para a Formação de Médicos em Direcção e Gestão realizado de 16 a 21 de Novembro de 1981 onde se definiu e foram aprovados os princípios gerais de Gestão Hospitalar.
ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO Constituído inicialmente como uma Unidade de Rastreio do Cancro e de tratamento por radiações ionizantes com um aparelho de Orto voltagem e 2 equipamentos de Cobaltoterapia e uma Sala de Operações para pequena cirurgia de biópsias, rapidamente se conseguiu um acordo com o Hospital da Ordem de S. Francisco que permitiu ao IPO utilizar uma Sala de Operações para Grande Cirurgia para os doentes do IPO e 6 camas de Enfermaria daquele Hospital E assim funcionou até à abertura em 1979 de 2 salas de operações no edifício de Medicina do IPO inicialmente programado para doentes terminais. Posteriormente abriu-se uma nova sala de operações conjuntamente com uma Unidade de Recobro/ /Cuidados Intensivos. A estrutura organizativa foi-se diferenciando gradualmente à medida que ia atendendo um maior e mais complexo número de doentes e expandindo o seu Quadro de Pessoal de tal forma que em 1988 dispunha da seguinte
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OS ORGÃOS DE DIRECÇÃO ESTÃO ESTRUTURADOS DE ACORDO COM O SEGUINTE ORGANIGRAMA FONTE: RELATÓRIO DE ATIVIDADES, 1988
CONSELHO DIRECTIVO
DIRECTOR CLÍNICO DEPARTAMENTOS Clínicas Oncológicas Serviços de Acção Médica
DIRECTOR
CONSELHO ADMINISTRATIVO
ADMINISTRADOR
INFORMÁTICA Contabilidade Serviços Gerais Serviços de Apoio Serviços de Apoio Serviços Sociais Serviços Hoteleiros
DIRECTOR DE ENSINO CENTRO DE FORMAÇÃO Permanente em Oncologia
Existem ainda o Conselho Médico, o Conselho de Enfermagem e os seguintes órgãos Técnicos Consultivos: Garantia de Qualidade e Prevenção de Riscos, Arquivo Clínico, Controle de Infecções, Anatomia Patológica, Terapêutica e Farmácia, Revisão de Utilização, Segurança do Ambiente, Contra Radiações Ionizantes, Ética Médica e Registo de Cancro.
organização, conforme consta do Relatório de Actividades desse ano do qual aqui reproduzimos, (acima em esquema) um pequeno excerto e que traduz o alto nível da sua estratégia, organização e respectivo funcionamento. A Comissão Instaladora sofreu uma nova alteração com a demissão do Dr. Francisco do Carmo Pacheco a seu pedido, por incapacidade de acumular estas funções com as que desempenhava na organização e direcção do Serviço de ImunoHemoterapia. Posteriormente procedeuse a um acto eleitoral para eleição de dois médicos e assim preencher as duas vagas existentes.
Foram eleitos o Dr. Fernando Seabra de Andrade e Silva e o Dr. José Luis Machado Aires. Em 20/12/1985 foi nomeado um Conselho Directivo que terminou com o regime de Comissão Instaladora com a seguinte constituição: Director: Dr. José Guimarães dos Santos Director Clínico: Dr. José Cardoso da Silva Administrador: Dr. António Henrique Leite Pereira Alves Enfermeira Directora: Maria Helena da Conceição Vicente Em 1987 aquando da aprovação da Lei Orçamental os Centros de Oncologia são transferidos da Tutela do Ministério da
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A aplicação deste Plano introduziu profundas alterações na prática da Oncologia em Portugal de que destaco a criação dos Registos Regionais de Oncologia sediados nos respectivos Centros do IPOFG
Educação para o da Tutela do Ministério da Saúde, sem alteração da sua estrutura Directiva. O Dr. José Guimarães dos Santos que tinha sido nomeado Delegado português do Plano Europeu Contra o Cancro e em cuja actividade participava, foi designado pelo Ministro da Saúde Dr.ª Leonor Beleza para elaborar uma proposta do Plano Oncológico Nacional, que uma vez aprovada pelo Ministério começa a ser implementado sob a superintendência do Conselho Nacional de Oncologia que incluía o Secretário de Estado da Saúde, os Directores dos 3 Centros de Oncologia e Representante do Ministério da Educação. A aplicação deste Plano introduziu profundas alterações na prática da Oncologia em Portugal de que destaco a criação dos Registos Regionais de Oncologia sediados nos respectivos Centros do IPOFG, o Ensino da Oncologia a médicos Dentistas, a criação e expansão de programas de rastreio, a criação da especialidade de Oncologia Médica, aprovação de Ciclos de Estudos Especiais de Oncologia Médica, de Cirurgia e de Ginecologia e posteriormente Internato de Oncologia Médica, Organização de Semanas Europeias Contra o Cancro, planeamento nacional de Radioterapia. Foi preocupação constante da gestão do IPO- Porto pautar o seu nível técnico e científico, clínico e organizativo pelos padrões mais elevados conhecidos o que se reflectiu na adição de medidas inovadores que julgo ser importante divulgar para conhecimento, como exemplo que não deve ser ignorado:
// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
Estabeleceu acordos de cooperação com Instituições de relevo mundial de que destaco os estabelecidos com o Instituto Jules Bordet, onde funcionava o Grupo Cooperativo do Cancro Digestivo da EORTC presidido pelo Dr. André Gerard que patrocinou a nossa adesão a este Grupo em cuja actividade o IPOPorto teve participação de relevo, quer na elaboração de protocolos de investigação, quer no registo de elevado número de doentes, quer na gestão de grupos, tendo o Dr. Guimarães dos Santos sido eleito Presidente da Comissão de Cirurgia e coautor de várias publicações de referência. O IPO Porto foi durante vários anos o único serviço activo da EORTC na Península Ibérica; o M. D. Anderson Cancer Institute em Houston
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considerado o melhor Centro Oncológico mundial, e onde fizemos várias visitas programadas que incluíam vários serviços: Biblioteca, Serviços Administrativos, Farmácia, Bloco Operatório, Serviços Centralizados por Patologia, nos quais fomos acompanhados pelo Administrador, Dr. António Alves e Arquitecto Afonso e que tanto contribuíram na adopção das suas medidas organizativas no nosso Centro. Na sequência deste intercâmbio a Clínica Oncológica I, estabeleceu um acordo com o Director de Departamento de Cirurgia do M. D. Anderson, Dr. Raphael Pollock assegurando a participação de um dos seus cirurgiões na Semana de Oncologia Cirúrgica do IPO Porto, que se realizava anualmente, em que um especialista Americano
participava nas actividades normais do nosso Centro (reuniões clínicas, Consultas de Grupo, Actos cirúrgicos transmitidos para a Sala de Reuniões com sistema que permitia dialogar com a equipa cirúrgica e na qual participavam um número significativo de médicos de outros Hospitais do Norte. Com a Universidade Thomas Jefferson e respectivo Hospital de Filadélfia que incluiu a realização de estágios prolongados a vários médicos do IPO, nomeadamente em Imagiologia, Dr.as Teresa Bacelar, Maria João Matos e Rosália Costa, Laboratorial, a Dr..a Maria Augusta Guimarães, e Cirurgia Geral, Dr. Jorge Guimarães dos Santos à data Interno do Hospital Geral de Santo António e que foi transferido para o IPO no final do
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O IPO-Porto foi durante vários anos o único serviço activo da EORTC na Península Ibérica
estágio; Criação de um Mestrado em Oncologia através de um Protocolo entre a Universidade Thomas Jefferson, o ICBAS e o IPO do Porto que foi assinado nas instalações do IPO – Porto em 2 de Maio de 1992 com a presença do seu Director, Dr. José Guimarães dos Santos, o Dean da Universidade Thomas Jefferson, Dr. Joseph S. Gonnella, a Presidente do Conselho Directivo do ICBAS, Prof.ª Doutora Corália Vicente e homologado pelo Secretário de Estado da Saúde Dr. José Martins Nunes e Reitor da Universidade do Porto, Prof. Doutor Alberto Manuel Sampaio de Castro Amaral. Através de declaração conjunta o Dr. Guimarães dos Santos ficou a representar o Dean da Universidade Thomas
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Jefferson em Portugal. O Curso de Mestrado em Oncologia realizava-se anualmente e tornou-se o Mestrado mais antigo da Universidade do Porto com realização anual. O Mestrado em Oncologia estava aberto a médicos, enfermeiros e licenciados em biologia. O intenso intercâmbio científico catapultou o Centro do IPO do Porto para uma posição de prestígio internacional que culminou com a realização no Porto de várias reuniões internacionais de que destaco o V Simposium do Grupo Cooperativo do Cancro Digestivo da EORTC e posteriormente sob a Presidência do Dr. José Guimarães dos Santos o V Congresso Europeu de Oncologia (ECCO). Com estas medidas estratégicas foi possível
manter em funcionamento o Instituto enquanto se preparavam e construíam as estruturas definitivas de um moderno Centro Oncológico. Para além das estruturas adequadas às funções que estavam cometidas a este Centro considerou-se essencial introduzir de imediato uma política de gestão e funcionamento inovadora que tanto contribuiu para a imagem de marca do IPO e para o prestígio que cedo adquiriu. Entre as medidas inovadoras introduzidas, passo a citar as que mais contribuíram para a imagem de qualidade do IPO: Consultas de Grupo multidisciplinares em que, no contexto de uma nova prática da Oncologia, todos os doentes eram avaliados nestas consultas nas quais se decidia a estratégica terapêutica, a primeira em todo o mundo. Processo Clínico único para todos os serviços, incluindo a urgência; Arquivo Clínico cientificamente organizado que permitia o controlo de todos os processos, o seu acesso rápido e a sua colocação no local das consultas na véspera da sua realização; Ensino do doente por um enfermeiro após a consulta médica que complementava a informação ao doente de uma forma mais acessível e compreensiva; Avaliação Clínica pré-operatória pelo cirurgião e anestesista com nota escrita no Processo Clínico na véspera da cirurgia; Identificação do doente com pulseira de identificação inamovível para evitar erros de identidade do doente; ditar para ditafone e posterior dactilografia de todas as decisões importantes como as notas operatórias padronizadas; relatórios das consultas de
Grupo multidisciplinares, notas de alta padronizadas; visitas clínicas aos doentes de manhã e de tarde; permanência da família no Hospital a qualquer hora em doentes colocados em situação clínica grave acabando com o modelo de Hospital cadeia que então vigorava em Portugal; Formação contínua obrigatória com Reuniões Clínico-Radiológicas e Clinico-Patológicas Semanais; bem como reuniões semanais nas Clínicas Oncológicas; reunião do cirurgião com família do doente no fim do acto cirúrgico em sala própria anexa ao Bloco Operatório.
CATALOGAÇÃO HISTÓRICA DOS PRIMEIROS 20 ANOS DO CENTRO DO PORTO DO INSTITUTO PORTUGUÊS DE ONCOLOGIA Não foi fácil a tarefa de estruturar, organizar e fazer funcionar o Centro de Oncologia do Porto. Aberto a 17 de Abril de 1974, na dependência do Centro de Lisboa sem uma orgânica própria definida, teve de fazer face a um processo revolucionário com características anárquicas. Ficou na prática dependente do Centro de Lisboa e de uma Comissão Coordenadora do IPOFG representada pelo seu Vice-Presidente Prof. Dr. Álvaro Rodrigues. Funcionou, até à nomeação de uma Comissão Instaladora, através do bom senso e dedicação dos poucos funcionários contratados além Quadro sendo financiado pelas receitas próprias do IPO.
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
SÃO AS SEGUINTES AS DATAS MARCANTES DOS EVENTOS QUE ASSINALARAM A GÉNESE E DIFERENCIAÇÃO DO IPO DO PORTO: 25/04/1974 ABERTURA DOS PRIMEIROS SERVIÇOS CLÍNICOS 17/11/1974 CRIAÇÃO DA COMISSÃO INSTALADORA 1979 ABERTURA DO PAVILHÃO DE MEDICINA COM O BLOCO OPERATÓRIO; SALA DE RECOBRO E INTERNAMENTO EM ONCOLOGIA CIRÚRGICA, ONCOLOGIA MÉDICA E LEUCEMIAS/LINFOMAS 20/12/1985 DR. GUIMARÃES DOS SANTOS NOMEADO PRIMEIRO DIRECTOR DO CENTRO NOMEAÇÃO DA COMISSÃO DIRECTIVA E LEI ORGÂNICA QUE CONFERE INDEPENDÊNCIA AO IPOFG – DEC.-LEI N.º 445 23/09/1987 TRANSFERÊNCIA DO IPOFG PARA A TUTELA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE 03/12/1992 NOVA LEI ORGÃNICA – DEC.-LEI Nº 273/92
O intenso intercâmbio científico catapultou o Centro do IPO do Porto para uma posição de prestígio internacional que culminou com a realização no Porto de várias reuniões internacionais de que destaco o V Simposium do Grupo Cooperativo do Cancro Digestivo da EORTC
// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
Assumiram funções de gestão dos serviços os funcionários a quem tal competia contratualmente. Começou a desenharse uma estrutura organizativa e funcional que foi consolidada após a nomeação da Comissão Instaladora. Logo de início criaram-se duas unidades de cirurgia, uma dirigida pelo Dr. Guimarães dos Santos que mais tarde se transformou na Clínica Oncológica I e outra dirigida pelo Dr. José Cardoso da Silva que posteriormente deu origem à Clinica Oncológica II. Os serviços administrativos eram dirigidos por António Henrique Leite Pereira Alves que mais tarde passou a ser o administrador do Centro, integrando o seu Conselho Directivo O Serviço de Enfermagem, que além dos enfermeiros geria o trabalho das Auxiliares de Acção Médica, era dirigido pela Enfermeira Maria Helena da Conceição Vicente. Até à nomeação da Comissão Instaladora
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que concedeu a autonomia do Centro que passou a depender do Ministério da Educação e Cultura esta estrutura orgânica permitiu que o Centro desempenhasse as suas funções sem tramitação impeditiva do seu regular funcionamento. Entretanto, as unidades funcionais foram-se consolidando com a contratação dos funcionários considerados necessários. Os serviços inexistentes foram sendo criados de acordo com um programa previamente elaborado Assim, foram criados na medida dos recursos humanos e estruturas disponíveis os serviços a incluir no futuro quadro de pessoal. Organizaram-se as Clínicas Oncológicas Cirúrgicas I e II.
1. Clínica Oncológica I que incluía os serviços de Cirurgia Geral (Mama, Cabeça e Pescoço, Digestivos, Pele e Sarcomas), Ginecologia, ORL, Cirurgia Plástica;
2. Clínica Oncológica II que incluía a Cirurgia Geral, Ginecologia, Urologia e Neurocirurgia. Os serviços mencionados eram dirigidos pelo Dr. Guimarães dos Santos para a Clínica Oncológica I e o seu Serviço de Cirurgia Geral, Dr. José Luís Machado Aires para o Serviço de ORL, Dr.ª Maria Teresa Osório para o Serviço de Ginecologia e Dr. Oswaldo Bonifácio para o Serviço de Cirurgia Plástica. A Clínica Oncologia II era dirigida pelo Dr. José Cardoso da Silva que também dirigia o Serviço de Cirurgia Geral, o Dr. Rodrigo Guedes de Carvalho dirigia o Serviço de Urologia, o Dr. Luís Cerejeira dirigia o Serviço de Ginecologia, o Dr. Nestor Rodrigues organizou e dirigiu Serviço de Neurocirurgia. O tratamento sistémico paliativo dos tumores sólidos começou a ser realizado por dois grupos de médicos (não havia ainda a especialidade de Oncologia Médica) que constituíram os embriões
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das futuras Clínicas Oncológicas III e IV e que se articulavam com as Clínicas Oncológicas Cirurgicas I e II, respectivamente, sob a direcção da Dr.ª Maria Cândida Azevedo, para a Clínica Oncológica III e Dr. Eduardo Pinto Ferreira para a Clínica Oncológica IV. O tratamento dos Linfomas e Leucemias foi assegurado pela Clínica Oncológica V, dirigida pelo Dr. Fernando Viseu. O tratamento por Radiações Ionizantes foi integrado na Clínica Oncológica VII, dirigida inicialmente pelo Dr. José Moreira Guerner (teleradioterapia) e Dr. Fernando Gil da Costa (braquiterapia). Posteriormente, com a departamentação do Centro, a Clínica Oncológica VII passou a ser dirigida pelo Dr. Élio Vieira, proveniente dos Estados Unidos onde tinha feito a sua carreira na área da radioterapia. O serviço de Oncologia Pediátrica é organizado pelo Dr. Bernardo Sodré Borges que o transformou na Clínica Oncológica VI, vocacionada para o tratamento integral de todas as neoplasias malignas do foro pediátrico, quer por cirurgia quer por tratamento sistémico por quimioterapia. No âmbito da estratégia funcional do IPO do Porto vocacionado para o tratamento integral do doente oncológico foram criadas Unidades/Serviços em todas as especialidades médicas reconhecidas, algumas até inovadoras no país, como a Farmacologia Clínica e a Genética Médica. Para registo histórico correcto vou enumerar todas as restantes Unidades e Serviços e os primeiros responsáveis pela sua organização e funcionamento:
No âmbito da estratégia funcional do IPO do Porto vocacionado para o tratamento integral do doente oncológico foram criadas Unidades/ Serviços em todas as especialidades médicas reconhecidas, algumas até inovadoras no país
A) IMAGIOLOGIA Organizada e dirigida pelo Dr. Fernando Andrade e Silva e que precocemente foi alvo de uma grande expansão e diferenciação para responder ao crescente número de exames e á adaptação ao vertiginoso crescimento das novas tecnologias, como a mamografia, TAC, ressonância magnética, radiologia de intervenção, organizada pelo Dr. João Nóbrega após um estágio na Suécia, transformando-se no melhor serviço de radiologia do país e assegurando uma elevada qualidade no diagnóstico e estadiamento dos tumores malignos. B) ANATOMIA PATOLÓGICA Tendo começado a funcionar através de um contrato de colaboração com o Prof. Daniel Serrão da Faculdade de Medicina do Porto, cedo foi assumida a sua direcção pelo Prof. Victor Faria sob proposta do Prof. Daniel Serrão, com a construção de um serviço de Anatomia Patológica no IPO. O serviço começou
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS a funcionar no IPO sob a Direcção do Prof. Victor Faria até à sua demissão, a seu pedido. Foi então nomeado para dirigir o Serviço o Prof. Carlos Lopes que imprimiu um ritmo de diferenciação compatível com a excelência de qualidade que o caracterizou. Sob o seu patrocínio foi criada a Unidade de Citologia sob a orientação do Dr. Manuel Figueiredo que se tinha especializado nesta área no Instituto Memorial Hospital de Nova Iorque. A participação do Serviço de Anatomia Patológica em reuniões Clínico-Patológicas Semanais representou um avanço do seu nível científico na prática de uma Medicina de Qualidade e no Programa de Formação Contínua considerado obrigatório neste novo Centro de Oncologia. C) SERVIÇOS LABORATORIAIS Atingiram rapidamente uma grande diferenciação indispensável à garantia de excelência do tratamento de vários tipos de cancro nomeadamente de leucemias, linfomas, de doentes submetidos a transplante de medula. Tal implicou a criação de vários serviços autónomos: Imunohemoterapia dirigida pelo Dr. Francisco do Carmo Pacheco, Criobiologia e Terapia Celular dirigida pelo Dr. Carlos Torres, Bioquímica na dependência do Dr. Mário Moreira e Hematologia sob a Direcção do Dr. Luís Marinho e Bacterologia que começou a funcionar sob a orientação da Dr.a Isabel Gomes e posteriormente articulada com o Serviço de Microbiologia dirigido pela Dr.a Maria Augusta Guimarães que coordenava
40 ANOS IPO PORTO o núcleo do Registo de Infeccções e perfil de sensibilidade aos diferentes antibióticos. D) UNIDADE DE TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA Por deliberação da Direcção após visita do Director a várias Unidades de Transplante de Medula (Instituto Jule Bordet, Royal Marsden Hospital, Instituto Nacional do Cancro em Bethesda, Washinton e Hospital Mount Sinai em Nova Iorque) foi decidido criar uma Unidade de Transplante de Medula com o apoio financeiro do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Foi nomeado o Dr. Artur Osório de Araújo para organizar esta Unidade no âmbito da Clínica Oncológica V. A realização do primeiro alotransplante contou com a participação determinante, além do Dr. Artur Osório, do Dr. António Campos Junior e da Dr.a Alzira Carvalhais. A entrada em funcionamento desta Unidade só foi possível com a estreita cooperação entre os diferentes serviços clínicos e laboratoriais o que constituiu um exemplo de como a multidisciplinaridade clínica e laboratorial permite atingir objectivos que parecem não atingíveis. E) SERVIÇO DE MEDICINA NUCLEAR Criado provisoriamente em instalações de Radioterapia pelo Dr. Gomes Duarte que tinha realizado um estágio de um ano em serviço equivalente nos Estados Unidos. Na sua tarefa foi coadjuvado pelo Dr. Lima Bastos que o seguiu na Direcção e na grande expansão tecnológica do Serviço.
A participação do Serviço de Anatomia Patológica em reuniões Clínico-Patológicas Semanais representou um avanço do seu nível científico na prática de uma Medicina de Qualidade
F) SERVICO DE ORTOPEDIA Foi definido que o tratamento cirúrgico dos tumores ósseos seria realizado pelos cirurgiões Gerais Oncológicos pelo que inicialmente apenas se contratou um Consultor de Ortopedia (Dr. Pinto de Andrade) que emitia parecer a solicitação dos Cirurgiões do IPO. Posteriormente contratou-se o Dr. Paulo Bonito que organizou o Serviço de Ortopedia, integrado na Clínica Oncológica I. G) SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA Na fase inicial de funcionamento do Centro a actividade de anestesia foi assegurada pelos Drs. Jaime Duarte e Alexandre Couceiro da Costa que trabalhavam em regime de contrato por acto anestésico. Posteriormente foram contratados Anestesistas a tempo completo, o primeiro dos quais a Dra. Maria Laura Cerejeira. Posteriormente foram contratados no mesmo regime os Drs. Couceiro da Costa e Pedro Alves. O primeiro Director deste Serviço foi o Dr. Vasco Rodrigues da Costa proveniente do Hospital
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Geral de Santos António. A abertura de um Bloco Operatório no Pavilhão de Medicina em 1979 com 3 salas de operações e uma Unidade de Recobro/ Cuidados Intensivos veio alterar profundamente a dimensão e funcionamento deste Serviço que volta a reestruturar-se em 1993 com a abertura do Bloco Operatório Central no Pavilhão de Cirurgia que integrava 7 Salas de Operações e uma Unidade de Recobro, uma Unidade de Cuidados Intensivos e uma Unidade de Investigação Clínica posteriormente adaptada a nova Unidade de Cuidados Intensivos.
H) SERVIÇO DE NEFROLOGIA Com a crescente complexidade da cirurgia radical com fins curativos praticada no IPO tornouse imperativo assegurar a prática da hemodiálise em situações de urgência só possível com a criação de um Serviço de Nefrologia, já que a prática do recurso a um Consultor se mostrou inadequada. Por isso foi o Dr. Alfredo Loureiro convidado para organizar e dirigir este Serviço. Convidou para o coadjuvar o Dr. José Maximiano o que lhe permitiu aumentar a rentabilidade e qualidade deste Serviço.
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I) SERVIÇO DE GASTRENTEROLOGIA
J) SERVIÇO DE MEDICINA FÍSICA E REABILITAÇÃO
A funcionar desde a abertura Clínica do Centro com a colaboração de um Consultor, Dr. Anibal Justiniano, a sua actividade foi crescendo de uma forma notória, particularmente a partir da entrada do Prof. Lomba Viana que foi o seu primeiro Director. A elevada taxa de incidência de cancro digestivo na Região, tornou este Serviço num dos mais frequentados quer no rastreio quer no diagnóstico do cancro gástrico e colorectal.
O planeamento organizativo e funcionamento deste Serviço foi coordenado pelo Dr. Helder Pinto Camelo, inicialmente como Consultor e posteriormente como Director e atingiu um significativo nível de diferenciação permitindo facultar aos doentes oncológicos a recuperação das suas debilidades físicas próprias da doença ou causadas por actos terapêuticos limitadores da sua actividade física normal, nomeadamente por cirurgia.
K) ENDOCRINOLOGIA Serviço vocacionado inicialmente para o tratamento de doenças metabólicas, nomeadamente da diabetes, estendendo depois a sua actividade ao estudo e orientação terapêutica dos tumores endócrinos (tireoide, suprarrenal, hipófise). Foi seu primeiro Director o Dr. Manuel Porto Carrero, transferido do Serviço de Medicina Interna e Cardiologia. L) SERVIÇO DE MEDICINA INTERNA E CARDIOLOGIA Inicialmente integrava todos os serviços de Acção Médica Comuns, teve
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
O IPO-Porto não era apenas um Hospital Especializado mas uma Instituição que na vertente assistencial possuía todas as especialidades reconhecidas de forma a assegurar o tratamento integral dos doentes
como primeiro Director o Dr. Raul Bizarro no que foi sucedido após a sua morte prematura pela Dra. Maria José Teles. Foi considerado um serviço fundamental na estratégia clínica do Centro que visou sempre o tratamento integral dos doentes oncológicos e não apenas a patologia oncológica. O IPO-Porto não era apenas um Hospital Especializado mas uma Instituição que na vertente assistencial possuía todas as especialidades reconhecidas de forma a assegurar o tratamento integral dos doentes do foro oncológico que optaram por ser tratados neste Centro.
// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
40 ANOS IPO PORTO
M) SERVIÇOS MÉDICOS COMUNS Foram ainda criados os seguintes Serviços Médicos Comuns:
1. DERMATOLOGIA tendo como primeiro Director o Dr. Francisco Braga da Cruz posteriormente reestruturado pelo Dr. António Fernandes Ribas dos Santos.
2. OFTALMOLOGIA Foi seu primeiro Responsável o Dr. Bravo de Oliveira que além da sua participação na orientação terapêutica dos tumores do globo ocular realizou terapêuticas oftalmológicas aos doentes oncológicos do Centro.
3. ESTOMATOLOGIA Organizado pelo Dr.Victor Pimentel Torres que assegurou inicialmente uma consulta obrigatória a todos os doentes submetidos a radioterapia na região da Cabeça e Pescoço, tratando todas as patologias que pudessem complicar a aplicação de radiações. Planeou o seu desenvolvimento futuro de forma a colaborar na cirurgia da Cavidade Oral.
4. NEUROCIRURGIA Após uma tentativa de realização de um acordo de cooperação com o Hospital de Santo António que falhou, foi contratado o Dr. Nestor Rodrigues para organizar este Serviço vocacionado para o tratamento de neoplasias primárias ou metastáticas do Sistema Nervoso Central no qual foi coadjuvado pelo Dr. Portal e Silva posteriormente contratado por sua proposta. Foi integrado na Clínica Oncológica II.
5. NEUROLOGIA Foi sob a direcção do Dr. Angelo Soares que este Serviço foi criado visando avaliar o diagnóstico e tratamento das doenças neurológicas dos doentes do IPO.
6.
PNEUMOLOGIA A prática desta especialidade no IPO começou por ser assegurada pelo Dr. Martins Coelho na qualidade de Consultor o qual realizou todas as broncoscopias de diagnóstico e estadiamento até à contratação em tempo completo do Dr. José Maria
Cabral. Após o seu falecimento prematuro deste especialista foi contratado como Consultor o Prof. Henrique Queiroga.
7. MEDICINA COMUNITÁRIA Foi dirigida pela especialista Dra.Maria José Bento que com a criação do Serviço de Epidemiologia passou a superintender o Registo Oncológico Regional do Norte (RORENO) com a colaboração do Serviço de Estatística e de Bioestatística de que eram responsáveis as Dr.as Maria Rosa Morais e Maria de Fátima Silva.
8.
PSIQUIATRIA E PSICO-ONCOLOGIA Organizado pelo Dr. Januário Veloso foi posteriormente dirigido pelo Dr. Manuel Tavares Pereira que garantiram o apoio psiquiátrico e psicológico aos doentes oncológicos do Centro.
9. FARMACOLOGIA CLÍNICA Serviço até então inovador em Portugal foi organizado e dirigido
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pelo Prof. Ramiro Valentim visando assegurar o nível de biodisponibilidade e eficácia dos medicamentos e as consequências da interacção de drogas, procurando evitar os seus efeitos nefastos.
10. GENÉTICA MÉDICA Organizado pelo Prof. Amândio Sampaio Tavares e posteriormente dirigido na qualidade de Consultor pelo Prof. Sérgio Castedo. Foi responsável pela criação de uma Consulta de Cancro Familiar de capital importância para o avanço do conhecimento do cancro como uma doença genética. Foi no âmbito desta Consulta que o Dr. Guimarães dos Santos publicou com o Dr. Jacinto Magalhães a primeira descrição de uma família com cancro hereditário do estômago numa Revista de Genética Suíça. A sua articulação com o Serviço Laboratorial e de Genética dirigida pelo Prof. Manuel Teixeira promoveu a criação e consolidação de um Centro de Investigação nesta área internacionalmente reconhecido.
11. SERVIÇO DE SAÚDE DE PESSOAL Organizado e dirigido pelo Dr. Guilherme Correia Monteiro funcionava diariamente nos termos da Lei Social e do Regulamento Interno, assegurando a Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho dos funcionários do Centro.
12. NUTRIÇÃO O Serviço de Nutrição foi planeado e organizado pela Dr.ª Luisa Kent Smith, o qual permitiu adaptar a alimentação dos doentes de acordo com a sua patologia e características fisiológicas especiais, nomeadamente a necessidade de utilizar regimes de alimentação parentérica e entérica.
Com a tomada de posse desta Comissão Instaladora terminou o período de anarquia institucional que caracterizou o PREC do pós-Revolução do 25 de Abril
40 ANOS IPO PORTO
ENSINO E FORMAÇÃO PERMANENTE As actividades de ensino contínuo e Formação Permanente em Oncologia foram consideradas fundamentais no âmbito das funções de um Centro de Oncologia. A educação permanente dos Quadros do IPO-Porto foi desenvolvida de uma forma sistemática, programada e multidisciplinar de maneira a garantir uma constante actualização clínica e científica dos profissionais e assim assegurando a introdução atempada das novas tecnologias no tratamento dos doentes oncológicos, nomeadamente nas áreas de radioterapia, ciências de imagem, laboratórios, sistema de informação e comunicação da gestão hospitalar. Dentro
dessas iniciativas destaco as consultas de grupo multidisciplinares para todos os doentes oncológicos onde se debatia a estratégia terapêutica para cada caso clínico que iria ser executada pelas Clínicas Oncológicas; Reuniões ClinicoRadiológicas e ClínicoPatológicas Semanais, Reuniões de Processos Clínicos semanais durante vários anos que foram determinantes para a consciencialização dos médicos da importância do sistema de informação clínica que integrava um processo clínico padronizado e em Arquivo Clínico cientificamente organizado e gerido de uma forma computorizada que permitia uma procura rápida de cada processo evitando o seu extravio, conferências clínicas programadas de que destaco os “Sábados
Oncológicos” que pela sua originalidade em Portugal contribuíram para a imagem de Qualidade do IPO; As Semanas de Oncologia Cirúrgica anuais com abertura limitada a médicos de outras Instituições, organização de um Curso de Oncologia Básica com a duração de 8 semanas (2 horas diárias), o primeiro dos quais destinado a todos os médicos do IPO; O Centro de Formação Permanente vocacionado para o ensino pós graduado a médicos, técnicos e enfermeiros, aberto a todas as instituições, desenvolveu uma actividade do ensino multidisciplinar organizando múltiplos cursos que promoveram os avanços qualitativos que se verificaram no domínio da oncologia particularmente na Região Norte. Entre estes Cursos pós graduados
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
A educação permanente dos Quadros do IPO-Porto foi desenvolvida de uma forma sistemática, programada e multidisciplinar de maneira a garantir uma constante actualização clínica e científica dos profissionais e assim assegurando a introdução atempada das novas tecnologias
merecem destaque pela sua qualidade, caracter inovador e continuidade os seguintes: a) Curso de Oncologia Básica anual que tinham como alvo principal os médicos de Medicina Geral e Familiar com a frequência de cerca de 80 médicos por curso. b) Curso de Mestrado em Oncologia, primeiro a nível mundial, que resultou de um acordo interinstitucional entre o IPO-Porto, a Universidade Thomas Jefferson e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar com a duração de 2 anos e que terminava com a defesa de uma tese de Mestrado perante um Júri que incluía membros estranhos à Universidade do Porto. Muitos destes Mestres prosseguiram para provas de Doutoramento. O Curso era ministrado pelo IPO que tinha a
// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS responsabilidade da sua organização. c) Cursos de Rastreio Oncológico com particular incidência no rastreio ginecológico. d) Curso de Gestão em articulação com a Associação Portuguesa para a formação de médicos em Direcção e Gestão. e) Jornadas Nacionais de Oncologia Médica organizadas pela Dra. Maria Cândida Azevedo com a colaboração da Universidade Thomas Jefferson. O Centro de Formação Permanente foi presidido, no início pelo Prof. Ramiro Valentim e mais tarde pelo Prof. Carlos Lopes que o reorganizou e consolidou nas instalações construídas para os fins de Ensino e Formação Permanente.
INVESTIGAÇÃO EM ONCOLOGIA O Centro do Porto do IPOFG foi um grande dinamizador de Investigação Clínica oncológica através da participação marcante nas actividades da EORTC nomeadamente na elaboração de protocolos, no registo e acompanhamento de doentes nos protocolos a que aderiram, na criação e participação na Gestão da Associação Portuguesa de Investigação Oncológica (APIO) e respectivos Grupos Cooperativos em especial nos do cancro da mama, do cancro ginecológico e do cancro digestivo. Além de assegurar a vertente de Investigação básica, prevista no seu Estatuto foi programado, construído e licenciado um Biotério e Bloco de Cirurgia Experimental para garantir a participação em programas de investigação básica e na prática da simulação
40 ANOS IPO PORTO cirúrgica indispensável à formação dos cirurgiões em técnicas inovadoras indispensáveis à formação em cirurgia oncológica procurando a criação desta especialidade em Portugal contrariando interesses instalados que têm dificultado os avanços nesta área da cirurgia em que o Dr. Guimarães dos Santos, Director da Clínica Oncológica I se envolveu a nível europeu e mundial tendo ocupado o lugar de Presidente da Sociedade Europeia de Oncologia Cirúrgica (ESSO) e de membro do Board da Federação Mundial das Sociedades de Oncologia Cirúrgica (WFSOS).e presidido à organização do Congresso das Sociedades Europeia de Oncologia (ECCO) realizado em Lisboa, em 2001. Foi incluído no Quadro do Centro um Núcleo de Investigação tendo o lugar que ficou adstrito ao Departamento de Radioterapia sido ocupado pela Dra. Isabel Bravo, outro na área de Genética pelo Prof. Manuel Teixeira futuro Director do Centro de Investigação do IPO e outro na área Laboratorial, pela Dra. Isabel Leal Barbosa. O IPO-Porto editou uma Revista Científica trimestral a ONCOLOGIA. Foi a participação na investigação oncológica que colocou o IPO-Porto num lugar de destaque em Oncologia a nível Internacional.
GESTÃO ADMINISTRATIVA A gestão administrativa do Centro foi assegurada inicialmente pela Comissão
Instaladora criada nos termos descritos anteriormente e mais tarde assegurada pelo Conselho Directivo representado pelo seu Director que podia delegar competências no Director Clínico e no Administrador, o que fez na generalidade do exercício das suas funções. Os diferentes Sectores/Repartições eram coordenados pelo membro da Comissão Instaladora Dr. António Henrique Leite Pereira Alves no que era coadjuvado
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por Victor Manuel Alves de Sousa de quem dependiam os Responsáveis pelo Serviço de Pessoal, Manuel Fernando Carvalho Osório de Castro, posteriormente nomeado Consultor Jurídico do IPO, pelo Serviço de Contabilidade Fernando Mário Parente Gomes Torres, pelo Serviço de Aprovisionamentos Fernando Brandão, pela Tesouraria Maria Armanda Miranda Pereira dos Santos e pelo Serviço de Doentes Alice Araújo.
40 ANOS IPO PORTO
SERVIÇO DE BIBLIOTECA O Serviço de Biblioteca dotada dos livros e das revistas científicas mais importantes em Oncologia foi organizado pelo Dr. Rolando de Barros tendo a sua actividade sido continuada pela Dra. Maria dos Anjos Rodrigues. A Biblioteca foi expandindo a sua área de ocupação até à construção do edifício de Laboratórios que integrou uma área própria decalcada na estrutura da Biblioteca do Instituto M. D. Anderson, visitado pelo Arquitecto Afonso, sob orientação do Director do Centro e de acordo com um Regulamento elaborado pelo Dr. Francisco Pacheco.
SERVIÇOS FARMACÊUTICOS Foram organizados pela Dra. Maria Eduarda Dias Gomes que mais tarde obteve o apoio e colaboração da Dra. Florbela Braga, particularmente na administração e organização da poliquimioterapia após um estágio no Instituto M.D. Anderson.
SERVIÇO DE ENFERMAGEM O Serviço de Enfermagem foi organizado e dirigido inicialmente pela Enf.ª Maria Helena da Conceição Vicente. Mais tarde com a sua demissão, a seu pedido, passou a ser dirigido pela Enf.ª Zenaida Sobral. Ambas as Directoras eram formadas pela Escola Técnica de Enfermagem do IPOFG, bem como
outras Enfermeiras que iniciaram o funcionamento do IPO (Alda Vicente, Maria Albertina Gomes da Cruz, Ana Ramalho, Luisa Costa Ramos, Maria Fragata Correa e outras). A qualidade da Enfermagem que caracterizou o funcionamento deste Centro foi determinante para o nível de qualidade dos Serviços Assistenciais que permaneceu como uma imagem de marca do IPO-Porto.
SERVIÇO DE INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS Foi organizado e dirigido pelo membro da Comissão Instaladora Eng.º José Maria Ferreira de Castro e assegurou o apoio e assistência técnica e estrutural a todos os seus edifícios e programou a expansão e adaptação das suas estruturas de uma forma adequada às novas exigências relacionadas com o crescimento e diferenciação do Centro.
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// HISTÓRIA DOS PRIMEIROS 20 ANOS
SERVIÇO SOCIAL Foi organizado e dirigido pela Dra. Carolina Jácome que prestou uma actividade notável no apoio aos doentes em ambulatório provenientes de locais afastados e na preparação da alta dos doentes internados assegurandolhes o apoio considerado necessário e possível no seu domicilio. Para isso um elemento do Serviço participava nas visitas clínicas diárias.
científico, clínico, e humano e organizativo que constitui motivo de orgulho de todos os que nele colaboraram e garantia de confiança dos seus eventuais utentes que são todos os cidadãos deste País. A cidade do Porto onde está sediado deve-lhe todo o apoio e estímulo, pois constitui uma clara maior valia que deverá manter e valorizar como Instituição de referência e símbolo de desenvolvimento.
REGISTO ONCOLÓGICO HOSPITALAR O registo Oncológico do IPO do Porto foi criado pelo Dr. Guimarães dos Santos e posteriormente dirigido pela Dra. Ana Moreira, após um estágio nesta área nos Estados Unidos da América.
ARQUIVO CLÍNICO A organização do Arquivo Clínico foi orientada pelo Dr. Guimarães dos Santos e teve como Responsável Fernanda Moreira que rapidamente se integrou no modelo inovador do sistema de arquivo que foi adoptado, com o apoio do Serviço de Informática então existente, Centro Electrónico de Processamento de Dados. Este Serviço constituiu um modelo inovador em Portugal. Nesta resenha histórica pretendeu-se, no limite do espaço disponibilizado, assinalar as iniciativas e os factos objectivamente significativos de forma a permitir ao leitor uma visão geral e sucinta do desenvolvimento e crescimento deste Centro de Oncologia de elevado nível
Nesta resenha histórica pretendeu-se, no limite do espaço disponibilizado, assinalar as iniciativas e os factos objectivamente significativos de forma a permitir ao leitor uma visão geral e sucinta do desenvolvimento e crescimento deste Centro de Oncologia de elevado nível
40 ANOS IPO PORTO O IPO PORTO ESTÁ ORGANIZADO EM 11 CLÍNICAS APTAS PARA O TRATAMENTO INTEGRAL DAS PATOLOGIAS DO FORO ONCOLÓGICO. TENDO EM CONTA A CELEBRAÇÃO DA PASSAGEM DO 40.º ANIVERSÁRIO DO INSTITUTO, APRESENTAMOS O RETRATO DESTAS UNIDADES E OUTROS SERVIÇOS DE RELEVO, AUSCULTANDO OS SEUS RESPONSÁVEIS SOBRE OS ELEMENTOS DIFERENCIADORES DO IPO-PORTO QUE O COLOCAM NESTE PATAMAR DE LONGEVIDADE E COM GANHOS EFETIVOS NA PROSSECUÇÃO DO MELHOR TRATAMENTO PARA CADA DOENTE, SENDO HOJE UMA REFERÊNCIA NA ÁREA DA SAÚDE QUE ULTRAPASSA FRONTEIRAS.TAMBÉM ESTES PROFISSIONAIS PARTILHAM AQUI O QUE CONSIDERARIAM SER UMA BOA NOTÍCIA NA SUA ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO NUM FUTURO PRÓXIMO. CLÍNICA DE ONCO-HEMATOLOGIA
TRATAR AS DOENÇAS MALIGNAS DO SANGUE
DR. MÁRIO MARIZ A Clínica de Onco-Hematologia é um Serviço de Hematologia dedicado ao tratamento das doenças malignas do sangue. Embora a abordagem dos doentes seja multidisciplinar, uma vez que vários outros Serviços contribuem para a avaliação do doente – nomeadamente a Anatomia Patológica, a Patologia Clínica o Departamento de Imagem e o Departamento de Radioterapia, entre outros –, a Clínica de Onco-Hematologia proporciona ao doente um atendimento personalizado desde a primeira consulta, altura em que o doente toma contacto com o médico que será responsável pela sua orientação e tratamento ao longo de todo o percurso no hospital. Esta estratégia garante uma maior proximidade ao doente e aos seus problemas e contribui de forma decisiva para o resultado final. Para garantia da qualidade, todos os doentes são discutidos em Consulta de Grupo Multidisciplinar, onde é definido o principal plano terapêutico. Quanto às expectativas para o futuro, o orientador da Clínica de Onco-Hematologia, Dr. Mário Mariz, é de opinião que “tendo em conta a atual situação económica e financeira que o nosso país e o mundo ocidental em geral atravessam, a melhor notícia que se poderia receber seria a confirmação de que no futuro teremos condições para continuar a garantir a qualidade do atendimento que hoje
prestamos aos nossos doentes. Muitos de nós não temos a noção de que em Portugal existe uma prestação de cuidados de saúde de excelente qualidade, pelo que ter a certeza que no futuro seremos capazes de preservar este bem essencial seria a melhor das notícias”. E por falar de prestação de cuidados de saúde de excelência, o Dr. Mário Mariz considera que “o sucesso do IPO-Porto depende em muito da organização que há vários anos foi assumida, e que se desenvolve em torno do doente, e da capacidade que a Instituição tem mantido em transmitir esse sentido de organização a cada novo profissional que foi integrando a equipa ao longo destes 40 anos. Quando há cerca de 20 anos tive o privilégio de entrar para os quadros do IPO, rapidamente percebi que existia esta filosofia centrada no doente. O doente é uma pessoa, e não uma doença, e é tratado como tal – lembro-me de doentes com grandes dificuldades em se encontrar nos labirintos do hospital e da prontidão com que os auxiliares lhes prestavam auxílio para que chegassem onde fosse necessário. Numa era em que a tecnologia tem um peso cada vez maior no nosso dia-a-dia, é fundamental que não se esqueça o lado humano dos que estão doentes, porque isso também pode ajudar a fazer a diferença. Associada a esta organização o IPO-Porto tem conseguido ainda atrair profissionais de grande qualidade e com grande espírito de sacrifício que têm sido capazes de introduzir a inovação e garantir um serviço de grande qualidade que depois sustenta o sucesso da Instituição.
CLÍNICA DO SISTEMA NERVOSO
AUTONOMIZAR O DOENTE
DR. MACHADO CARVALHO A Clínica do Sistema Nervoso tem como missão a assistência especializada na área da Neurocirurgia aos doentes do IPO-Porto e apoia, por solicitação da administração do Instituto, outras atividades assistenciais no âmbito das suas competências. Os valores que regem a atividade da Clínica são: o respeito e a promoção da autonomia do doente, ação terapêutica segundo o estado da arte, preocupação pela otimização na utilização dos recursos, contribuição para a melhoria dos ganhos de saúde em oncologia/neurocirurgia e vontade de atingir os objetivos institucionais. No que diz respeito aos avanços e ganhos que se têm registado e projetado no tratamento das doenças do foro neurológico, o orientador
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da Clínica do Sistema Nervoso, Dr. Machado Carvalho, considera que “nos anos recentes foram desenvolvidas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas. A utilização destas técnicas cirúrgicas tem demonstrado resultados com níveis satisfatórios com diminuição significativa da morbilidade e subsequentemente a melhoria da qualidade de vida do doente oncológico. Dentro do espetro variado destas técnicas encontram-se a utilização da Neuronavegação e da Endoscopia, as Intervenções Percutâneas Vertebrais, a Radiocirurgia e outras abordagens cirúrgicas minimamente invasivas. No que respeita à cirurgia clássica tem-se evoluído cada vez mais para a utilização da Neuronavegação, potenciais evocados e da Endoscopia nas abordagens da patologia cerebral. Relativamente à patologia vertebral evoluiuse para uma tendência de abordagens posteriores e em casos selecionados a remoção em bloco da doença local vertebral. O aperfeiçoamento do estadiamento da doença e da seleção do tipo de tratamento mais adequado, aliado ao contínuo desenvolvimento da
perícia da técnica cirúrgica em colaboração estreita com os melhores Centros Internacionais tem-nos conduzido a uma melhoria constante na luta contra a doença oncológica do Sistema Nervoso Central, prestigiando a nossa instituição e colocando-a como Centro de Referência a nível nacional”. E como nota final sobre a longevidade do IPO e a prossecução da sua missão primordial, o Dr. Machado Carvalho salienta que “ doentes oncológicos estão sujeitos a desenvolverem uma série de complicações específicas como a metastização cerebral e vertebral que requerem uma avaliação e tratamento precoce. A nossa instituição, pela sua especificidade tem elevados números de frequência no que respeita à patologia oncológica do Sistema Nervoso Central ao contrário das outras instituições hospitalares. A formação contínua e a a experiência aliada ao pioneirismo na implementação de novas tecnologias inovadoras no tratamento destas patologias num Instituto Oncológico como o do IPO-Porto tem colocado esta instituição num patamar de sucesso e longevidade.”
40 ANOS IPO PORTO
40 ANOS IPO PORTO
CLÍNICA DA PELE, TECIDOS MOLES E OSSO
1.200 NOVOS CASOS POR ANO
DR.ª MATILDE RIBEIRO Sob a direção da Dr.ª Matilde Ribeiro, a Clínica da Pele, Tecidos Moles e Osso tem por objetivo, à semelhança das dez congéneres do IPO-Porto, o tratamento multidisciplinar de doenças oncológicas dependentes destes tecidos. Esta Clínica, onde trabalham 40 profissionais, encontra-se subdividida em duas unidades, a saber: Unidade da Pele e Unidade de Partes Moles e Osso. Na Unidade da Pele trabalham, nomeadamente, dermatologistas, cirurgiões plásticos e cirurgiões gerais, oncologistas médicos e radioterapeutas. A Unidade conta com o apoio de outras especialidades como a Anatomia Patológica, assim como de psicólogos e assistentes sociais. Por sua vez, a atividade da Unidade de Tecidos Moles e Osso é desenvolvida por cirurgiões gerais e plásticos, ortopedistas e oncologistas médicos, apoiados pela
Radioterapia, Radiologia e Anatomia Patológica. “A nossa Clínica dispõe dos meios humanos necessários ao seu bom funcionamento, bem como do equipamento para diagnóstico e tratamento das patologias a que se dedica, o que permite o tratamento dos nossos doentes segundo o estado da arte”, afirma a Dr.ª Matilde Ribeiro. Identificada como um centro de referência na sua área de intervenção terapêutica, esta Clínica atende anualmente cerca de 1.200 novos doentes com patologias da pele e dos tecidos moles. Instada a comentar se os portugueses estão atentos a sinais que podem indiciar a existência ou desenvolvimento do cancro de pele, a Dr.ª Matilde Ribeiro responde afirmativamente e acrescenta que, no âmbito da sua atividade, a Clínica que dirige realiza ações de sensibilização da população para este tipo de patologias. “Anualmente, no Dia do Euromelanoma, fazemos uma ação de rastreio, bem como uma iniciativa de esclarecimento e formação para alunos do ensino secundário, normalmente com a presença de um atleta conhecido”, explica. No que concerne aos tumores das partes moles, muito raros e com uma enorme variedade histológica, a especialista considera que seria positivo proporcionar maior formação aos médicos de família. “São tumores de tal modo raros e com uma tal diversidade de apresentação e histológica, que os clínicos
gerais raramente veem mais do que um ou dois na sua atividade clínica, podendo atrasar o seu diagnóstico, o que por si só piora o prognóstico destes tumores. Por isso mesmo, penso que seria importante reforçar a sua formação nesta área”, diz. Para a Dr.ª Matilde Ribeiro uma boa notícia que gostaria de ouvir no âmbito da sua área de especialidade seria, por exemplo, a cura para o melanoma. “O tratamento do cancro da pele, seja ele qual for, é essencialmente cirúrgico e, na maioria dos casos, a cirurgia é curativa. No entanto, alguns melanomas, e alguns outros tipos de cancro cutâneo mais raros, por já serem diagnosticados numa fase tardia ou por apresentarem um comportamento biológico mais agressivo, escapam ao controlo cirúrgico local e metastizam à distância, situação cujo tratamento é normalmente médico”, declara. Embora estejam a aparecer tratamentos promissores, diz, seria certamente uma excelente notícia a descoberta de um tratamento eficaz para o melanoma metastizado. “Nos últimos anos, e de uma forma nunca antes vista, surgiu uma série de novas terapêuticas com resultados bastante melhores do que os obtidos com a quimioterapia tradicionalmente realizada para o melanoma. Assim, penso que estejamos mais próximos de alcançar a solução, mas, ao mesmo tempo, reconheço que temos ainda um longo caminho a percorrer”, afirma. Para além da atividade assistencial e terapêutica, a Clínica da Pele, Tecidos Moles e Osso participa também na investigação, através da realização de ensaios clínicos. “Sendo nós um centro de referência nesta área da Oncologia, temos em curso diversos ensaios clínicos. A investigação é fundamental para que possamos evoluir e assim podermos prestar cada vez mais e melhores cuidados de saúde aos doentes, o que é, afinal, o nosso grande objetivo”, afirma a especialista.
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CLÍNICA DE UROLOGIA
CONSULTAS MÉDICAS E DE ENFERMAGEM
DR. JORGE OLIVEIRA A Clínica de Urologia, criada em 2006, inclui as consultas médicas de Urologia, Oncologia e a Consulta Multidisciplinar, com a presença da Radioncologia. Envolve, também, a Consulta de Enfermagem, uma sala de tratamentos e uma sala de exames. Esta Clínica tem como objetivo primordial a atividade assistencial a doentes com toda a patologia oncológica do foro Urológico, nomeadamente o cancro da próstata, as neoplasias da bexiga, os tumores de rim e o carcinoma do pénis e testículo. A Clínica tem também uma vertente de investigação, nomeadamente na área do Cancro da Próstata, através de colaboração com o Serviço de Genética e com Centro de Investigação do IPO-Porto. Para o Dr. Jorge Oliveira, diretor desta Clínica, a chave do sucesso do IPO-Porto, incluindo, naturalmente, o das várias Clínicas, reside no facto de o doente ter sido assumido, desde sempre, como o ponto fulcral dos nossos objetivos. “Trabalhamos para dar a esse doente o melhor que a medicina atual pode oferecer”, frisa. Presentemente, prossegue, a Clínica de Urologia está a registar, sobretudo, o recebimento de doentes na área da patologia prostática. “De acordo com as estatísticas referentes aos últimos quatro anos, estamos a receber cerca de 1.000 novos doentes por ano, dos quais dois por dia com cancro de próstata em todas suas vertentes” afirma o especialista, acrescentando: “se tal acontece é porque estamos a oferecer o que achamos que é o melhor e isso é reconhecido pela comunidade que nos procura”. Habitualmente, diz, estes doentes são referenciados pelos seus médicos de família e
outros médicos de Urologia por estarem cientes que a Clínica de Urologia do IPO-Porto possui as vertentes necessárias ao tratamento integral do doente. Outra situação distintiva, e que é muito importante, tem a ver com o facto de as decisões sobre terapêutica serem tomadas em sede de consulta Multidisciplinar, um procedimento que sempre marcou a diferença desde que o instituto nasceu. “No IPO-Porto não são tomadas decisões individuais, mas sim em conjunto. Com base neste princípio, é possível prestar um tratamento melhor aos doentes com cancro”, assegura. Quando questionado sobre o que seria uma boa notícia na área da Urologia, o Dr. Jorge Oliveira declara que seria a possibilidade de acesso a todas as ferramentas medicamentosas que já estão disponíveis para o tratamento integral de todos os doentes com cancro da próstata, nas diferentes fases da doença. “Enquanto neste momento para o cancro do rim temos praticamente acesso a todo o arsenal terapêutico, para o cancro da próstata tenho algumas dificuldades. Há novos medicamentos que ainda não estão totalmente disponíveis e há doentes que não consigo tratar”, explica. Nas palavras do Dr. Jorge Oliveira este é o grande desafio para 2015 na sua área de especialidade. “Poder ter acesso a todo o arsenal terapêutico, nomeadamente na doença avançada, é muito importante. É algo que terá que ser resolvido”, declara, sublinhando: “queremos assegurar o tratamento integral, sejam doentes com doença localizada, doença avançada ou necessitando de cuidados continuados”.
40 ANOS IPO PORTO
40 ANOS IPO PORTO CLÍNICA DE PEDIATRIA
ONDE A ESPERANÇA RENASCE A CADA DIA
DR. ARMANDO PINTO A Clínica de Pediatria do IPOPorto presta assistência às crianças e jovens com idade inferior a 18 anos que aí são referenciadas por suspeita ou por doença oncológica confirmada, com exceção dos tumores do Sistema Nervoso Central. Adicionalmente, dá apoio pediátrico aos Serviços de Transplantação de Medula Óssea, Cuidados Intensivos, Medicina Nuclear e Radioterapia, qualquer que seja a patologia desses doentes, e ainda aos Serviços de Cuidados Intensivos Pediátricos onde estejam internados doentes a pedido do Serviço de Pediatria do IPOPorto. A Clínica dispõe de três estruturas funcionais de base caraterísticas do IPO-Porto: Direção, com destaque para a interligação entre o Diretor do Serviço e o EnfermeiroChefe, a Consulta de Grupo Multidisciplinar, na qual estão várias especialidades, e o Pediatra Assistente, coadjuvado diretamente pelo Enfermeiro Especialista. O doente é admitido no Instituto, a pedido do clínico que o assiste no exterior, num prazo que é definido de acordo com a avaliação clínica da situação. Cada doente tem um Pediatra Assistente a encabeçar os procedimentos que conduzam ao diagnóstico e aos tratamentos e a zelar pela evolução clínica, sendo obrigatório apresentar cada doente na Consulta de Grupo Multidisciplinar para discussão do diagnóstico, validação do mesmo e acordo sobre os tratamentos e restantes procedimentos.
Independentemente de quem é o Pediatra Assistente, os doentes, quando internados, ficam a cargo da equipa escalada diariamente para o setor, que inicia ou dá continuidade ao efetuado previamente, sendo a transmissão da informação passada diariamente sempre que muda a equipa. O diagnóstico, a terapêutica e o acompanhamento do doente seguem, sempre que realizável, as linhasmestras internacionalmente aceites e institucionalmente regulamentadas. Aqui são tratadas as doenças oncológicas pediátricas, nomeadamente as leucemias, os linfomas, os tumores do rim, do osso, da pele, do fígado, das glândulas endócrinas, os neuroblastomas, os tumores germinativos e os sarcomas. O cancro pediátrico é raro, admitindo-se no IPO-Porto, anualmente, cerca de 75 novos doentes. As taxas de sobrevivência ultrapassam os 80 por cento. Por ano, são feitos mais de 600 internamentos nas 23 camas que o Serviço dispõe. São também recebidos os doentes que, apesar de não terem doença oncológica, são tratados no Serviço de Transplantação de Medula Óssea. Na Consulta Externa são efectuadas anualmente mais de 5.000 consultas. Pratica-se uma abordagem multidisciplinar do cancro pediátrico, com recurso a outras especialidades médicas, sempre que necessário e, sistematicamente, ao apoio do Serviço de Nutrição, do Serviço Social e do Serviço de
Psico-Oncologia. Tem também destacados um Cardiologista Pediátrico e um Pedopsiquiatra. É garantido o direito inalienável da Criança, consignado na “Carta Europeia dos Direitos da Criança Hospitalizada”, da manutenção da sua educação escolar, com o trabalho desenvolvido pela equipa docente do Serviço que atua interligada com a escola de que cada jovem faz parte. Acresce que o doente está permanentemente acompanhado por um dos pais, ou por quem eles designem, que funciona como um elemento da equipa. Nos anos 60 a mortalidade por cancro infantil era de 90 por cento, nos países ditos desenvolvidos, do primeiro mundo. Em 2015, apontase para uma sobrevivência de 90 por cento. Esta realidade criada pelas Equipas Multidisciplinares de Oncologia Pediátrica apoiou-se na Investigação Clínica e Laboratorial, no desenvolvimento dos Exames de Diagnóstico e nos Tratamentos, nomeadamente a Quimioterapia, a Radioterapia e a Cirurgia Pediátrica. Paralelamente montaram-se esquemas de abordagem do doente que permitiram diminuir os efeitos laterias do cancro e do seu tratamento, destacando-se o controlo da dor e dos vómitos. Otimizouse ainda a Nutrição, o apoio Psicológico e Psiquiátrico e a Fisioterapia, entre outros, dos quais não é demais destacar a Área Lúdico-Pedagógica.
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CLÍNICA DO PLUMÃO
ABORDAGEM INTEGRAL DO DOENTE
DR.ª MARTA SOARES A Clínica do Pulmão é uma unidade multidisciplinar, especializada na prestação de cuidados de saúde ao doente com neoplasias do aparelho respiratório, dotada dos recursos técnicos e humanos necessários para a abordagem integral de doentes, desde o diagnóstico até ao tratamento da doença avançada. Tem como missão proporcionar o tratamento adequado a cada doente com o objetivo de maximizar a sua sobrevivência, com qualidade de vida, tendo sempre em conta as suas necessidades como pessoa e o respeito pela sua dignidade. A Clínica do Pulmão – cuja direção pertence à Dr.ª Marta Soares – tem por base a sua atividade clínica assistencial, mas inclui também nas suas prioridades o ensino e a investigação. Instada, entretanto, a identificar os elementos diferenciadores do IPO-Porto, numa altura em que se assinala a passagem do 40.º aniversário da instituição, a especialista afirma que a abordagem multidisciplinar e centrada no doente tem sido, ao longo do tempo, o elemento diferenciador mais importante do instituto. “Desde sempre, o mais importante foi o bem-estar do doente em todas as suas vertentes: clínica, psicológica e social”, declara. A procura do melhor tratamento para aquele doente em particular, quer através da cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou do melhor tratamento de suporte quando os outros falham ou não são possíveis, acrescenta, sempre foi a principal preocupação da instituição. “Para isso, investimos na formação dos seus técnicos e na investigação quer a nível básico, quer a nível clínico, e dotamo-nos dos melhores equipamentos e tecnologias”, adianta.
Numa perspetiva de futuro, a Dr.ª Marta Soares destaca: “ao longo dos últimos anos temos vindo a desenvolver os nossos interesses na investigação básica e clínica. A participação em protocolos de investigação internacionais permitirá um melhor conhecimento de novas drogas, bem como fornecer alternativas terapêuticas aos nossos doentes”. A aposta na prevenção e no diagnóstico precoce será outra das nossas apostas, refere, acrescentando: “em breve teremos novas instalações, com melhoria da capacidade de atendimento aos doentes e seus familiares e com possibilidade de desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico”. CLÍNICA DE GINECOLOGIA
ASSEGURAR TRATAMENTO ATEMPADO DR. CARLOS LOPES A Clínica de Ginecologia é um centro de atendimento às doentes com patologia oncológica ginecológica devidamente identificado e constituído por um quadro de pessoal próprio. Tem como missão assegurar, nomeadamente, a vertente multidisciplinar no tratamento atempado das doentes oncológicas do foro ginecológico, elaborar normas de orientação clínica para cada patologia no que respeita a diagnóstico, tratamento e seguimento, a serem atualizados com regularidade, definir critérios de admissão e alta da instituição, formação contínua dos seus elementos, promover e participar em projetos de investigação básica e clínica na área da Ginecologia, formação pré graduada de internos da especialidade, participar em programas de rastreio, promover o contato com outras unidades de saúde e, ainda, promover e implementar protocolos com outras instituições de saúde. A Clínica de Ginecologia é orientada pelo Dr. Carlos Lopes, a trabalhar no IPO-Porto desde 1993.É constituída pelo Serviço de Ginecologia, também dirigida por este especialista; pelo
40 ANOS IPO PORTO Serviço de Oncologia Médica e pelo Serviço de Radioterapia, dirigidos respetivamente pela Dr.ª Deolinda Pereira e pela Dr.ª Luísa Carvalho. Para o Dr. Carlos Lopes, o sucesso e o que diferencia o instituto de outras instituições que prestam cuidados de saúde deve-se, essencialmente, a três fatores: ao gosto por trabalhar em Oncologia, à organização estrutural do IPO-Porto e à atualização constante dos seus profissionais. “Um dos aspetos que diferencia a instituição reside no facto de o profissional que vem para aqui gostar de trabalhar em Oncologia. Quem não gosta, ao fim de pouco tempo não aguenta e vai embora”, destaca o Dr. Carlos Lopes. Outro aspeto, prossegue, é a organização. “Esta é uma casa que se diferenciou desde logo pela organização, desde o processo ao tratamento do doente, que sempre foi o mais importante”, afirma, salientando o elevado nível de formação exigido aos profissionais que trabalham no instituto, desde sempre regido ao abrigo de regras nacionais e internacionais. Também a criação das clínicas de patologia, cuja atividade é desenvolvida por profissionais especializados, constituiu um fator-chave para o sucesso do IPO-Porto, refere o Dr. Carlos Lopes, que destaca, neste contexto, a relevância da Consulta de Decisão Terapêutica. Nesta consulta, prossegue, realizada com ou sem a presença do doente, é avaliada a sua situação nas diferentes áreas, sendo que o tratamento recomendado resulta de uma decisão conjunta. A decisão sobre qual o tipo de tratamento a seguir, não depende pois de uma só cabeça. Trata-se de uma decisão multidisciplinar, sobre a qual o doente é devidamente informado tendo em conta os prós e os contras, cabendo-lhe naturalmente a decisão de aderir ou não, adianta. “É com este modo de funcionamento que a instituição se tem diferenciado. Para mim, o ´segredo´ está aqui”, frisa o Dr. Carlos Lopes declarando que, graças à abordagem seguida pelo IPO-Porto, uma instituição que tem diversos serviços de
ponta, o tratamento do doente é cada vez mais personalizado. Acresce, diz, que o IPO-Porto foi a primeira instituição do país a adotar o sistema de processo único do doente. “Desde a sua entrada no instituto e independentemente do tempo que aqui é seguido, todas as suas informações clínicas encontram-se registadas num mesmo processo, o que é extremamente útil”, sublinha. Reconhecendo que a medicina oncológica tem evoluído muito e continua a evoluir, o Dr. Carlos Lopes declara, no que ao Instituto diz respeito, que se deve à grande impulsão dada pela Dr.ª Deolinda Pereira no tratamento dos doentes com quimioterapia (um dos serviços de ponta do Instituto). E uma boa notícia nesta área seria, seguramente, a aplicação de cirurgia minimamente invasiva. “É um tipo de cirurgia que encurta o tempo de resposta no que diz respeito aos tratamentos subsequentes à intervenção e isso é de grande importância, em particular para o doente oncológico. Um doente que se submete a uma cirurgia clássica tem que ter um tempo de recuperação de permeio até iniciar os tratamentos complementares e a cirurgia minimamente invasiva encurtaos significativamente”, explica. CLÍNICA DE MAMA
DO DIAGNÓSTICO PRECOCE ATÉ À DOENÇA AVANÇADA
DR. JOAQUIM ABREU DE SOUSA A Clínica de Mama é uma unidade multidisciplinar especializada, encontrando-se dotada dos recursos técnicos e humanos necessários para abordagem integral de doentes com cancro da mama, desde o diagnóstico precoce até ao tratamento da doença avançada.
Dos 10 mil doentes que o IPO-Porto trata anualmente, cerca de 1.000 são doentes com cancro da mama – o tumor maligno mais frequente no sexo feminino –, o que torna esta Clínica na que trata o maior número de doentes com esta patologia em Portugal e numa das maiores da Europa. Orientada pelo Dr. Joaquim Abreu de Sousa, a clínica tem como “prioridade é assegurar serviços de alta qualidade e segurança clínica para as pessoas. Isto inclui melhorar a segurança do doente e proporcionar cuidados centrados no paciente de alta qualidade, segurança, efetividade. Pretendemos continuar a tratar os doentes com dignidade e respeito, promovendo a equidade, dando valor à diversidade e oferecendo altos padrões de cuidados de saúde, procurando, constantemente, formas de construir os nossos serviços em torno das necessidades dos nossos doentes, ao mesmo tempo que vamos ao encontro das necessidades e expetativas dos nossos colaboradores”. E quanto à atuação da clínica, tanto no presente como no futuro, o Dr. Joaquim Abreu de Sousa salienta que “olhamos para o futuro, planeando os nossos serviços com base nas necessidades em mudança da comunidade local, esperando melhorias contínuas nos resultados dos tratamentos e cuidados que provemos. Usamos a melhor evidência disponível na prestação de serviços efetivos, tanto em termos de resultados clínicos, bem como, no uso dos recursos financeiros de que dispomos”. Relativamente ao sucesso e longevidade do Instituto, o orientador da Clínica da Mama refere que “o IPO Porto é uma instituição de referência nacional e internacional no domínio do tratamento, ensino e investigação em oncologia, e toda a sua atividade, assim como a sua organização funcional é centrada no doente. Desde as clínicas de patologia, passando pela informatização e pela desburocratização da instituição, tudo foi e é projetado com vista ao tratamento integral do doente e não somente da doença, com a máxima qualidade e humanismo. Para além da atividade assistencial, o IPO-Porto reconhece a importância da inovação na área da oncologia, como fator determinante na luta contra o cancro”.
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CLÍNICA DE TUMORES ENDÓCRINOS
CLÍNICA DE CABEÇA E PESCOÇO
EXCELÊNCIA E EXCELÊNCIA TÉCNICA E HUMANA HUMANIDADE NO CUIDADO AO DOENTE
DR.ª ISABEL AZEVEDO A Clínica de Tumores Endócrinos é uma unidade multidisciplinar que congrega recursos técnicos e humanos de elevada qualidade, orientados para a prestação de todos os cuidados de saúde exigidos pelos doentes com tumores endócrinos. Tem como missão o desenvolvimento e o aperfeiçoamento dos cuidados de saúde prestados a doentes com patologia endócrina oncológica, promovendo a excelência, através de serviços clínicos, de educação e de pesquisa. Instada a identificar fatores diferenciadores do IPO-Porto face a outras instituições com atividade na mesma área, a orientadora desta clínica, Dr.ª Isabel Azevedo, afirma que, desde a sua fundação, o instituto prima pela multidisciplinariedade no tratamento de todos os doentes oncológicos e, sublinha, foi pioneiro na transmissão da informação clínica através de um processo clínico único. “O IPO-Porto promoveu sempre a formação contínua dos seus colaboradores, em especial dos médicos e enfermeiros, e incentivou o desenvolvimento da investigação básica e clínica”, destaca, a propósito, a Drª Isabel Azevedo. Quanto ao que seriam boas notícias para a melhoria do tratamento da respetiva patologia no âmbito da clínica que dirige, tanto para os doentes como para os profissionais de saúde, a Dr.ª Isabel Azevedo declara: “manter a elevada qualidade no tratamento dos tumores endócrinos, com profissionais motivados para o tratamento desta patologia, não esquecendo o papel importante na formação pós-graduada das várias especialidades que compõem a Clínica de Tumores Endócrinos que se irá refletir na melhoria do tratamento e acompanhamento dos nossos doentes”.
DR. JORGE GUIMARÃES A Clínica de Cabeça e Pescoço está vocacionada para a avaliação e seguimento de doentes com carcinomas de cavidade oral e nas glândulas salivares. Na clínica decorrem consultas de cirurgia, medicina e cirurgia plástica. A excelência e humanidade no cuidado ao doente são pilares fundamentais do Instituto e que a Clínica de Cabeça e Pescoço segue rigorosamente. E como afirma o orientador desta Clínica, Dr. Jorge Guimarães, dado que “o tabaco responsável por mais de 75% dos cancros dos doentes tratados na Clínica de Cabeça e Pescoço”, pensando num futuro imediato uma boa notícia nesta área “seriam ações contínuas de sensibilização ao nível escolar sobre os malefícios do tabaco, podendo repercutir-se na próxima geração com uma diminuição do número de novos casos”. O especialista reforça ainda que “a sensibilização para um diagnóstico mais precoce do cancro seria outra mais-valia”. Também no entendimento do Dr. Jorge Guimarães, a capacidade de resposta e sucesso do IPO-Porto no tratamento das doenças oncológicas, “têm como principal causa, na minha perspetiva, a forma como o Instituto nasceu. Os mestres responsáveis pela sua criação eram possuidores de um elevado conhecimento técnico/ científico adquirido em centros de referência mundiais. Fruto da experiência adquirida nesses centros, trouxeram para a instituição os respetivos modelos organizacionais, clínicos e administrativos que fizeram e fazem a diferença porque tiveram a preocupação de acompanhar sempre o desenvolvimento e inovação. Por fim, criaram uma escola com uma formação intensiva e cultura de exigência, de forma a melhorar os padrões de assistência e investigação”
40 ANOS IPO PORTO CLÍNICA DE PATOLOGIA DIGESTIVA
APTA A DIAGNOSTICAR E TRATAR TODAS AS DOENÇAS DESTE FORO
DR. FLÁVIO VIDEIRA A Clínica de Patologia Digestiva orienta todos os doentes tratados no instituto por doenças oncológicas do aparelho digestivo. Tem capacidade para diagnosticar e tratar todas as doenças oncológicas digestivas. A avaliação clínica inicial e proposta terapêutica centra-se nas consultas de Oncologia Cirúrgica ou Oncologia Médica, sendo todos os casos submetidos a uma discussão em consulta de grupo multidisciplinar em que se estabelece um plano integrado de tratamento. A Clínica de Patologia Digestiva, em todo o seu âmbito de intervenção, efetua anualmente cerca de 28 mil consultas distribuídas entre doentes em ambulatório e internados, pelas diferentes especialidades médicas. Nelas se incluem, também, as consultas de Grupo Multidisciplinar. De salientar que a par dos doentes portadores de patologia oncológica conhecida, a Clínica de Patologia Digestiva promove, igualmente, a avaliação de indivíduos com risco familiar acrescido, desde a avaliação genética até à realização de intervenções profiláticas. Esta Clínica tem ainda em curso programas de investigação, internos no âmbito do IPO ou em colaboração com outras instituições, participando em múltiplos ensaios clínicos internacionais. Para o diretor da Clínica de Patologia Digestiva, Dr. Flávio Videira, o facto de o IPO-Porto se encontrar organizado em clínicas constitui uma mais-valia de suma importância, porquanto
permite uma abordagem multidisciplinar do doente e a elaboração de planos de tratamento de acordo com o estado da arte. “O sucesso que o IPO-Porto tem, e pelo qual somos procurados, é porque apresentamos bons resultados e isso deve-se ao desenvolvimento de um trabalho conjunto, em equipa, rigoroso e auditado”, afirma o especialista. Acresce, refere, a tecnologia de que o instituto dispõe – e está muito bem equipado –, o que permite, a realização de tratamentos complexos, como as técnicas de radioterapia intraoperatória e quimioterapia peritoneal hipertérmica , que ao nível da Península Ibérica, em poucos mais sítios se fazem. “Proporcionam bons resultados e permitem aumentar a sobrevivência dos nossos doentes”, frisa. De referir que a Clínica de Patologia Digestiva trata, em média, 900 casos de cancro colon rectal por ano e cerca de 400 cancros do foro gástrico, contando, na atualidade, com uma vasta equipa constituída por cerca de 60 pessoas, das quais fazem parte, profissionais que cobrem todos os campos do tratamento. Questionado sobre o que consideraria ser uma boa notícia para a patologia digestiva em 2015, o Dr. Flávio Videira declara: “todos sonhamos com a descoberta de um tratamento milagroso, e todas as novas terapêuticas nos empolgam com o fascínio da esperança, aliás um lema do Instituto. Porém, na verdade, e apesar dos avanços que vamos sempre fazendo, nem tudo se traduz, como gostaríamos, nessa fantástica melhoria da sobrevivência, idealizada como a cura definitiva do cancro”. Considera, entretanto, que se estão a viver momentos difíceis tendo em conta o facto de existirem poucos profissionais e pouco espaço para o elevado número de doentes que ali são tratados. “Há áreas de difícil gestão como, por exemplo, algumas relacionadas com exames complementares de diagnóstico, e com a disponibilidade de tempos operatórios, em que há sempre alguma demora como, aliás, noutras instituições do género”, declara. Destaca, no entanto, que
os tempos de espera no IPO-Porto são considerados ótimos, mas que tratando-se de doença oncológica, todos os profissionais da saúde gostariam que os seus doentes não tivessem que esperar nada. “Desejava dispor de mais recursos humanos e de espaço de modo a prestar um serviço ainda melhor ao doente”, afirma o Dr. Flávio Videira. Em termos de inovação salienta o investimento no âmbito da cirurgia minimamente invasiva, uma prática muito comum na sua área de intervenção, e adianta que acabam de iniciar novas técnicas de cirurgia vídeo digestivas do recto. SERVIÇO DE TRANSPLANTAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA
MAIS DE 150 TRANSPLANTES POR ANO
DR. ANTÓNIO CAMPOS JÚNIOR O Serviço de Transplantação de Medula Óssea (STMO) foi inaugurado em 12 de outubro de 1988, oferecendo então cinco quartos, dois com fluxo laminar horizontal e três com ar condicionado, pressão positiva e filtros HEPA. O primeiro transplante de progenitores hematopoiétcos (TPH) realizou-se em 21 de junho de 1989, num doente com LLA e a partir de dador familiar HLA idêntico. Desde então desenvolve-se de forma progressiva um extenso programa de transplantação. A par de um número crescente de doentes transplantados, o STMO efetua trabalho de investigação clínica que dá origem a trabalhos científicos, os quais são apresentados em congressos/reuniões científicas nacionais e internacionais, muitos deles objeto de
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publicação. O STMO contribui também para a formação de médicos especialistas das áreas da Hematologia Clínica e Oncologia Médica. De forma regular, o STMO faz mais de 150 transplantes por ano, sendo responsável por cerca de 1/3 do total de TPH e por 50 por cento dos TPH alogénicos levados a cabo no país. Em novembro de 2010 é certificado pela Autoridade dos Serviços de Sangue e Transplantação, sendo certificado para todos os tipos de transplante hematopoiético, aplicação de células CD 3+ e importação de células progenitoras hematopoiéticas. Esta certificação foi renovada em 2014 pela Direcção Geral de Saúde. A importação de células hematopoiéticas dos Estados Unidos da América obedece a legislação própria sendo a licença concedida pela Food and Drug Administration e renovada anualmente. É membro do European Group for Blood and Marrow Transplantation (EBMT-Full Member) e do Center for International Blood and Marrow Transplant Research (CIBMTR). Em 2014 completa a certificação internacional pela Joint Acreditation Committee (JACIE) para as actividades de transplantação em adultos e crianças. O IPO Porto é um hospital moderno que desde há anos vem renovando as suas instalações e equipamentos, permitindo uma melhor qualidade e conforto no atendimento do doente. A última década permitiu dar grandes passos na
implemantação de programas de qualidade (CHKS, adesão à OECI), ensino ( criação da EPOP, Mestrado em Oncologia), investigação (Porto Cancer Platform, participação em ensaios clínicos internacionais com fármacos inovadores). O exemplo maior da modernidade e qualidade do IPO é o novo Serviço de Radioterapia. O STMO é o maior serviço português de transplantes e um dos maiores da Europa, entre os serviços membros do EBMT. Tem excelentes instalações, um corpo de profissionais com grande experiência, tendo desenvolvido um programa de gestão da qualidade que terminou, em 2014, com a certificação pela Joint Accreditation Committee (JACIE – ISCT/EBMT). Esta certificação obriga à adopção de standards de procedimentos técnicos e organização e que visam, fundamentalmente, a segurança do doente. Esta certificação é concedida de forma individualizada para os diferentes transplantes (alogénico/ autólogo) em adultos e crianças. São nossos objectivos para o futuro: 1) Manter o nível elevado de atendimento e de cuidados prestados aos doentes, acompanhando e evolução técnica e científica verificada naárea da transplantação. 2) Desenvolvimento das diferentes formas de terapia celular. 3) Desenvolvimento de programa de transplantes com dadores alternativos. 4) Candidatura a “Centro de Referência Nacional”
40 ANOS IPO PORTO
40 ANOS IPO PORTO HOSPITAL DE DIA
ESPECIALIZADO EM TRATAMENTO AMBULATÓRIO
DR.ª ANA RAIMUNDO O Hospital de Dia é um serviço especializado em tratamento ambulatório, integrado no Departamento de Medicina, destinado fundamentalmente à administração de terapêutica médica antineoplásica. Tem como missão o tratamento médico de excelência do doente oncológico, recorrendo à quimioterapia, hormonoterapia, anticorpos monoclonais, bisfosfonatos e outras terapêuticas de suporte. Promove também o ensino e a formação nesta área da oncologia, assim como a investigação clínica, nomeadamente na área dos ensaios clínicos e investigação de translação, em colaboração com o Centro de Investigação. O Hospital de Dia tem como objetivo tornar-se um Centro de Excelência no tratamento médico dos doentes com cancro, através de uma abordagem multidisciplinar, privilegiando em todos os momentos o bem-estar psicossocial do doente e família. Na área da investigação, pretende continuar a desenvolver projetos de investigação clínica e translacional, nomeadamente na área da psico-oncologia, da farmacogenómica e da farmacoeconomia. E com vista à melhoria dos cuidados e tratamentos administrados no Hospital de Dia, tanto para os doentes como para os profissionais de saúde, a diretora do Hospital de Dia, Dr.ª Ana Raimundo, considera que “em termos de futuro, seriam boas notícias a possibilidade de contratação de mais pessoal de enfermagem para redução da sobrecarga
assistencial que se tem verificado no Hospital de Dia, dado o número de doentes tratados e a duração dos tratamentos ser cada vez maior. Seria também uma boa notícia a possibilidade de tratar um maior número de doentes em ensaios clínicos. Mas para isso, seria necessário um maior número de profissionais, dada a complexidade e exigência cada vez maiores dos ensaios. Os ensaios clínicos são uma mais-valia para o doente, para o hospital e para o país”. E a propósito de mais-valias, questionada sobre os elementos distintivos do IPO Porto que têm marcado a diferença para o sucesso e longevidade do instituto, a Dr.ª Ana Raimundo salienta a organização da atividade clínica do IPO-Porto, que se desenvolve centrada no doente, e na articulação entre as diferentes estruturas e o próprio Hospital de Dia. Como diz, a diretora do Hospital de Dia: “A atividade de ambulatório está dividida em Clínicas de Patologia, permitindo que o doente se desloque sempre ao mesmo espaço, independentemente da especialidade. Os fatores comodidade e humanização na prestação de cuidados permitem que o doente se sinta mais apoiado. É também mais fácil a troca de informação e experiência entre colegas de diferentes especialidades, de forma a que a abordagem seja realmente multidisciplinar, culminando com a melhoria da qualidade do tratamento prestado e com melhores resultados. Esta organização permite uma melhor articulação entre o ambulatório e o Hospital de Dia. No Hospital de Dia não são apenas administrados fármacos, mas o doente é abordado como um todo, havendo dois médicos de permanência para observação não programada e resolução de situações imprevistas. Os doentes têm apoio de psicologia sempre que solicitado. Tenta-se que todas as necessidades do doente sejam atendidas, sempre que possível. O Hospital de Dia do IPO-Porto atingiu um grau de profissionalismo de excelência que se tem traduzido no elevado número e qualidade de trata-
mentos administrados. Por outro lado, os ensaios clínicos em desenvolvimento em cada uma das Clínicas são apresentados e melhor conhecidos através desta cooperação, pois a maior parte dos fármacos em estudo são administrados em Hospital de Dia que tem sido um parceiro fundamental no desenvolvimento da investigação clinica no IPO-Porto”.
SERVIÇO DE RADIOTERAPIA
TRATAR E INVESTIGAR
DR.ª LUÍSA CARVALHO O Departamento de Radioterapia integra dois serviços autónomos: o Serviço de Radioterapia Externa e o Serviço de Braquiterapia. O Serviço de Física Médica é independente, interagindo com os Serviços de Radioterapia Externa, Braquiterapia, Laboratório de Radiobiologia, Radiologia e Medicina Nuclear. O Serviço de Radioterapia Externa tem como missão tratar todos os doentes que lhe são referenciados, portadores, predominantemente, de doença oncológica, provenientes de Consultas de Grupo Multidisciplinares do IPO-Porto, bem como de outras regiões do norte do país, com as quais estabeleceu protocolos assistenciais de colaboração. Tem vindo também a desenvolver competências no tratamento de patologias não oncológicas. Com idoneidade formativa total, o Departamento de Radioterapia coopera na formação de recursos humanos, promove a investigação científica na área da Oncologia, participando em programas de
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investigação nacionais e internacionais, sendo membro ativo da European Organization for Research and Treatment of Cancer (EORTC) e mantendo uma estreita colaboração com o Centro de Investigação do IPO-Porto, bem como com outros grupos de investigação internacional, de acordo com as diretivas institucionais. A Unidade de Radioterapia Externa, inaugurada em março de 2011, encontra-se instalada num novo edifício com cerca 6.000 m2 que contempla, igualmente, uma área laboratorial para investigação em Radiobiologia. Em termos de perspetivas para o futuro, a diretora do Serviço, Dra. Luísa Carvalho refere que gostaria de poder contar “com investimento em equipamento e recursos humanos, que lhe permita continuar a proporcionar tratamentos inovadores e a oferecer ao doente oncológico, em tempo oportuno, o ‘estado da arte’ dos tratamentos no domínio da Radioterapia. A implementação e desenvolvimento das técnicas especiais de tratamento, como a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT) e Volumétrica (VMAT), a Radiocirurgia (RC), a Radioterapia Estereotáxica Extracraneana (SBRT) e os tratamentos de Radioterapia 4D, com recurso a gating respiratório, são consumidores de tempo e de recursos, e obedecem a elevados critérios de rigor e controle de
qualidade, que representam um desafio constante para toda a equipa, e que nunca perdemos de vista.” E no que respeita ao objetivo do Serviço, a Dr.ª Luísa Carvalho salienta que esse “será sempre manter a qualidade assistencial e técnica, a inovação terapêutica, a investigação, e a afirmação, como centro de referência, no plano nacional e internacional”. A missão do Serviço da Radioterapia está em linha com a filosofia primordial do IPO Porto, cuja organização por clínica de patologia é, na opinião da Dr.ª Luísa Carvalho, “um dos grandes elementos diferenciadores do IPO-Porto” integrando “equipas multidisciplinares de profissionais com elevada especialização e diferenciação”. A especialista acrescenta ainda que é “também, altamente diferenciadora, a vertente de investigação de alta credibilidade que tem vindo a desenvolver e o seu papel no ensino e formação pré e pós-graduada em oncologia, a várias gerações de profissionais de saúde”. Concluindo que “por último, servindo uma comunidade de quase 4 milhões de habitantes, o IPO-Porto distingue-se por possuir uma enraizada cultura de prestação de cuidados individualizados, com toda a atividade centrada no doente e para o doente, acolhendo-o, e aos seus cuidadores, com excecional dedicação e invulgar humanismo”.
40 ANOS IPO PORTO SERVIÇO DE CUIDADOS PALIATIVOS
O MAIOR DO PAÍS
PROF. DOUTOR FERRAZ GONÇALVES O IPO-Porto dispõe de Cuidados Paliativos desde 1994, tendo sido a primeira instituição em Portugal a desenvolver um serviço deste tipo. Atualmente, o Instituto tem o maior Serviço de Cuidados Paliativos em Portugal, dotado de 40 camas. Além do internamento, o serviço exerce outras atividades como a consulta externa, assistência domiciliária e equipa intrahospitalar. O Serviço de Cuidados Paliativos do IPO-Porto tem como missão proporcionar a prestação de cuidados paliativos com a máxima qualidade, humanismo e eficiência ao doente, e à sua família, em fase avançada da doença. Pretende ser uma unidade de referência nacional e internacional que proporcione a prática da investigação e do ensino a vários níveis. À passagem da comemoração dos 40 ando do IPO-Porto, assinalados em 2014, o Prof. Doutor Ferraz Gonçalves, diretor do Serviço de Cuidados Paliativos, acrescenta ainda a este marco, a celebração “dos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde e os 20 anos dos Cuidados Paliativos”. E que no que ao seu serviço diz respeito “nestes 20 anos, além da atividade assistencial, realizaram-se diversos cursos multidisciplinares de cuidados paliativos, estágios para médicos internos de várias especialidades e mesmo para especialistas que têm interesse em desenvolver competências nesta área, para enfermeiros, e outros profissionais de saúde. Os profissionais deste
serviço são frequentemente convidados a participar em aulas e palestras em cursos, congressos e mestrados organizados por várias instituições. Desenvolvemse também projetos de investigação que têm resultado em publicações em revistas científicas portuguesas e estrangeiras e apresentações em congressos em vários pontos do mundo”. E perspetivando o que se pode esperar num futuro próximo, o Prof. Doutor Ferraz Gonçalves expressa a vontade de manter as atividades já referidas e o desenvolvimento de outras. “Na vertente assistencial é desejável uma maior participação do serviço no tratamento dos doentes em fase mais precoce da evolução das suas doenças, em conjunto com as outras formas de intervenção no tratamento dos doentes oncológicos. Outros dois grandes objetivos passam por participar mais ativamente no tratamento dos doentes no seu domicílio, nomeadamente colaborando com equipas já em atividade, e arrancar já no início de 2015 com o recém-aprovado Ciclo de Estudos Especiais em Medicina Paliativa. Este ciclo constituirá uma ação formativa equivalente a um internato de especialidade e destina-se a médicos especialistas em áreas clínicas que desejem seguir uma carreira na medicina paliativa. Será certamente um contributo precioso para a formação de competências na área da medicina paliativa. O desenvolvimento da vertente da investigação será também certamente potenciada pelos elementos do referido Ciclo de Estudos Especiais, que será indispensável para a formação integral dos médicos. Com a dimensão que o nosso serviço tem é indispensável que dê um contributo único para a formação dos profissionais de saúde em cuidados paliativos, em todas as vertentes, que se refletirá em melhores cuidados paliativos no nosso país”.
UNIDADE DE ESTUDO E TRATAMENTO DA DOR
ZELAR PELO BEM-ESTAR DO DOENTE
DR.ª MARIA FRAGOSO A Unidade de Dor Crónica Oncológica do IPO-Porto iniciou a atividade em maio de 1980, sendo constituída desde o início pelas especialidades de Anestesiologia, Neurocirurgia e Psiquiatria, tendo depois sido integradas as de Fisiatria e de Oncologia Médica. A atividade começou com uma consulta semanal, mas verificou-se rapidamente a necessidade de aumentar a frequência, pelo que hoje oferece consultas médicas e de enfermagem diárias. Com base no percurso efetuado evoluiu para Unidade de Estudo e Tratamento da Dor, uma vez que a dor vai muito para além da prescrição farmacológica. “Esta nova designação surge em 2006 e acompanha a necessidade de nos constituirmos em equipa com várias áreas de diferenciação quer no conhecimento da dor, quer na biologia do cancro, quer nos tratamentos, quer nas sequelas da doença e dos próprios tratamentos”, afirma o IPO-Porto no seu site. A Unidade de Estudo e Tratamento da Dor tem por missão, nomeadamente, tratar adequada e atempadamente situações de dor crónica oncológica não controlada no doente em qualquer fase de doença, assim como as complicações dolorosas tardias da doença oncológica e sequelas dos tratamentos antitumorais efetuados. Assegurar níveis máximos de qualidade, humanismo e eficiência e atividade na área da investigação, formação e ensino fazem, igualmente, parte da missão desta Unidade. Entretanto, quando questionada sobre os elementos
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diferenciadores do IPO-Porto que o colocam num patamar de sucesso e longevidade, a diretora da Unidade de Estudo e Tratamento da Dor, Dr.ª Maria Fragoso, declara que nos últimos anos registou-se uma alteração na forma de estar da instituição, que se traduziu no dia-a-dia por um empenhamento dirigido para a prática sistemática da inovação. Deste empenhamento resultou a descoberta de novas oportunidades que, aos poucos, foram gerando soluções. “É certo que esta procura de soluções exige um sentido
necessidade e a capacidade de ajustarmos, não sem esforço, o ambiente interno às condições externas, sempre em mutação. O ajustamento realizado numa lógica de manutenção de uma determinada forma de estar institucional, mantendo a funcionalidade, permitiu transformar a aparente redundância em crescimento espiral com capacidade de agir de forma proactiva na gestão da mudança”, frisa. Numa perspetiva evolutiva, a Clínica de Dor Crónica procurou nos anos recentes otimizar
de disciplina individual e institucional. Esta disciplina é praticada com o objetivo primário de reconhecer problemas (por exemplo sob a forma de objetivos não atingidos), mas não se restringe a esta prática. As áreas em que o desempenho é melhor do que o esperado, o reconhecimento de que as necessidades dos nossos utentes não são estáticas nem ao longo da doença nem ao longo dos anos, as alterações da prática clínica e as incongruências documentadas, vão também elas sendo incluídas na filosofia institucional assumindo-se de forma sistemática como novas oportunidades de mudança”, explica. A procura sistemática da inovação, diz, obriga a criar novas formas de produzir riqueza e a melhorar recursos já existentes. O melhor aproveitamento de recursos acabou por criar novas oportunidades e estas evoluíram para novas soluções. “Daquilo que poderia parecer numa primeira leitura um círculo redundante, surgiu a
a capacidade de prestar serviço clínico de qualidade, maximizando a eficiência do pessoal, desenvolvendo mais e melhores práticas na área a que se propõe. Sobre este assunto, a Dr.ª Maria Fragoso declara: temos vários desafios no futuro próximo e que resumiria em dois campos, inovação e aprendizagem, que, no sentido da melhoria, passariam por: implementar tecnologia adequada ao suporte de processos internos tendo como objetivo auditar os resultados da nossa prática e identificar pontos críticos do desempenho e formar/motivar os profissionais e instituição para a necessidade de implementar processos internos para melhoria da eficiência no tratamento da dor. “A capacidade de auditarmos os resultados será, em minha opinião, a única forma de evoluirmos da eficiência para a efetividade. A formação, também ela auditada, será a forma de melhorarmos a prestação de serviço aos nossos utentes”, conclui.
40 ANOS IPO PORTO
“VIVER COM CANCRO E TRATAR O CANCRO É UM DESAFIO À VIDA” HÁ 35 ANOS, NUMA ÉPOCA EM QUE HAVIA POSSIBILIDADES DE ESCOLHA, ENF.ª MARIA ISABEL SEQUEIRA, ENFERMEIRA DIRETORA DO IPO-PORTO, ESCOLHEU ESTE INSTITUTO PARA TRABALHAR, ATRAÍDA PELA EVOLUÇÃO E ORGANIZAÇÃO NOTÓRIAS ALI EXISTENTES. “SENTIA NECESSIDADE DE TRABALHAR NUM SÍTIO COM PRINCÍPIO, MEIO E FIM E ENCONTREI TUDO ISSO AQUI”, RECORDA.
No IPO-Porto, tudo anda à volta do doente e todos têm o seu papel muito bem definido para que o trabalho seja consequente e tão bem sucedido quanto possível. “Essa foi a grande diferença que há 35 anos encontrei no IPO-Porto e que ainda hoje me mantém a trabalhar no Instituto”, destaca. Reconhece, todavia, que é “difícil partir de um plano tão elevado”, mas sentiu, desde sempre, que o IPO-Porto estava na vanguarda da prestação de cuidados de saúde aos doentes oncológicos. “Trabalhávamos a anos-luz, mas com a evolução dos tempos, outros foram-se aproximando de nós e ainda bem. Todos crescemos muito e isso é o
melhor para cada um de nós e para a sociedade”, afirma, considerando, no entanto, “que a evolução é um imperativo”. A formação, salienta, revela-se primordial no plano evolutivo, tanto mais que tratar um doente oncológico é um desafio permanente e, nos dias que correm, sendo o cancro uma doença crónica, felizmente já não significa necessariamente morte. “Viver com cancro e tratar o cancro é um desafio à vida e, em termos profissionais, é muito gratificante trabalhar com estes doentes, porque aprendemos muito com as suas experiências”, refere, frisando que “cada pessoa é um universo de emoções”.
Há que apreender o mundo de cada doente tendo em conta as suas expetativas, nomeadamente face à doença, ao atendimento e ao internamento, e, adaptando, ir ao encontro de cada caso, prestando naturalmente os cuidados necessários, declara.
O BOM PROFISSIONAL Para Maria Isabel Sequeira não existe um perfil para o enfermeiro de Oncologia. O que é verdadeiramente necessário e imprescindível, frisa, é que o enfermeiro seja conhecedor de Oncologia e da doença naquele doente específico. Perceber o que é que aquele doente naquela circunstância precisa e atuar adequadamente, é o objetivo e é isso que faz a diferença e distingue um bom profissional, sublinha. Com o doente oncológico, o enfermeiro tem a oportunidade de se consciencializar, de uma forma precoce, da finitude da vida. Por exemplo, nos cuidados paliativos os enfermeiros têm a possibilidade de devolver ao doente a serenidade, a paz e o con-
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ENF. ª ISABEL SEQUEIRA ENFERMEIRA DIRETORA
forto para que possa partir tranquilo consigo e com a família. É uma experiência única”, sublinha.
naturalmente porque têm um sentido social muito elevado”, declara.
MANTER A CHAMA ACESA
ENFERMEIROS: MÉDIA ETÁRIA MUITO JOVEM
Sobre projetos futuros, numa altura em que o IPO-Porto assinala a passagem do seu 40.º aniversário, a enfermeira Maria Isabel Sequeira considera que o maior desafio é continuar a manter as pessoas motivadas, ou seja não deixar apagar a chama. No que diz respeito aos enfermeiros, denota-se uma grande disponibilidade e o assumir de um quase caráter de missão, diz. “Gostando de trabalhar aqui, tudo o resto vem por acréscimo. Eu acho que os enfermeiros veem a instituição como um prolongamento das suas vidas, e, portanto, aderem
Presentemente, Maria Isabel Sequeira chefia uma equipa constituída por 650 profissionais, aos quais reconhece uma enorme dedicação aos doentes e ao seu trabalho. Adianta que a média etária dos enfermeiros que chefia é muito jovem: “80 por cento, tem entre os 25 e os 35 anos”. Os que trabalham em Oncologia, destaca, fazem-no por opção, cientes do compromisso e da filosofia do instituto para com o doente. “Se a pessoa não está interessada em trabalhar nestes moldes, então terá que procurar outras realizações”, conclui.
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PROF. DOUTOR MANUEL TEIXEIRA DIRETOR DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E DO SERVIÇO DE GENÉTICA
NO MUNDO DA GENÉTICA, OS CAMINHOS DA CIÊNCIA E DA INVESTIGAÇÃO AVANÇOU-SE MUITO NO CAMPO DA INVESTIGAÇÃO SOBRE PREDISPOSIÇÃO HEREDITÁRIA PARA CANCRO, AFIRMA O DIRETOR DO SERVIÇO DE GENÉTICA DO IPO-PORTO E DO CENTRO DE INVESTIGAÇÃO DO INSTITUTO, PROF. DOUTOR MANUEL TEIXEIRA. 41
Tendo em conta a sua experiência no estrangeiro, quais são os fatores diferenciadores e/ou semelhanças que encontrou no IPO-Porto? O IPO-Porto e o Radium Hospital, onde trabalhei em Oslo, são ambos hospitais oncológicos. Tratam o mesmo tipo de doentes e de patologias, sendo que o Radium é o maior hospital oncológico da Noruega. A principal diferença é que lá dedicava-me principalmente à investigação e aqui faço uma aplicação mais prática do que investigo com doentes. A
minha atividade no IPO-Porto é metade clínica e metade investigação, ou seja, parte do meu tempo é passado a fazer aconselhamento genético a famílias com cancro hereditário e a outra parte dedicada à investigação. Esta interação, envolvendo os doentes e a investigação, é muito interessante e motivadora e foi o que, na verdade, motivou o meu regresso. Permite-me combinar a aplicação prática dos conhecimentos que vou adquirindo nos doentes e continuar a investigar a genética do cancro.
40 ANOS IPO PORTO Em que consiste, concretamente, o aconselhamento genético? Tem a ver, essencialmente, com a identificação de famílias que têm predisposição hereditária para o cancro –hereditário – e está relacionada com casos diagnosticados em idade muito jovem ou com a existência de vários casos na família. Portanto, digamos que o desafio é saber, a partir do tipo de cancro que existe na família, quem é afetado e as idades, para tentar identificar a doença genética. Para conseguirmos identificar qual é doença genética, faz-se um teste genético e só quando identificamos um determinado gene mutado na família é que temos a certeza de que se trata de cancro hereditário. Até aí, é só uma suspeita e há que avaliá-la. Ora, como o cancro é uma doença comum, pode haver dois ou três casos na família e não ser hereditário, ser simplesmente circunstancial. Só naqueles casos em que identificamos pela história familiar, pela idade e confirmamos com um teste genético, é que podemos dizer com segurança que é hereditário. Assim, a partir do momento em que identificamos uma pessoa que teve a doença e que tem a tal mutação, podemos alargar o estudo ao resto da família, porque geralmente são doenças autossómicas dominantes. Quer isto dizer que quem tem a mutação tem 50 por cento de hipótese de a passar à descendência e, portanto, os filhos têm 50 por cento de risco de herdar essa mutação. A partir do momento em que se identifica o tipo de mutação, consegue-se saber quem é que herdou e quem não herdou o risco acrescido de cancro.
Em regra, só metade da família é que herda a predisposição para a doença. Segue-se algum tratamento precoce? Sim, mas depende da doença, pois há patologias em que se faz só vigilância, como, por exemplo, no caso do cancro do cólon. Faz-se uma colonoscopia de dois em dois anos até aos 40 anos e depois anualmente, com o objetivo de detetar os pólipos numa fase precoce e não deixar progredir para cancro. Já no caso do cancro do ovário, o rastreio não é eficaz e há que recorrer à cirurgia profilática. Recomenda-se às mulheres que apresentam essa mutação para terem os filhos até aos 35/40 anos e, a partir daí, ponderarem tirar os ovários. No cancro da mama, como há as duas hipóteses, acaba por ser uma decisão da mulher: fazer uma cirurgia profilática com reconstrução ou fazer um rastreio de seis em seis meses. Não está ainda demonstrado que um procedimento seja melhor do que o outro.
Como é constituída a sua equipa? A constituição da equipa é bastante heterogénea. Temos biólogos, farmacêuticos, bioquímicos a fazer trabalho laboratorial, para além de médicos que interromperam o internato da especialidade para fazer o doutoramento. É uma equipa multidisciplinar, quer da parte clínica quer da parte laboratorial, e isso é essencial para se realizarem, nomeadamente, os projetos de translação.
CANCRO DA MAMA É O MAIS NUMEROSO Quais são os tipos de cancro prevalentes na consulta? Claramente é o cancro da mama, que representa cerca de 60 por cento dos casos. A seguir é o cancro colorretal que, afetando os dois sexos, acaba por corresponder a um número muito considerável. Depois há outras doenças raras, como é o caso dos melanomas hereditários. Acresce que no cancro da mama só se consegue confirmar uma mutação das famílias que são testadas em cerca de 40 por cento dos
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casos, que são os que têm uma história familiar mais pesada. Nos restantes, não sabemos se são outros genes que não conhecemos ainda ou se é uma agregação ao acaso de um cancro que é relativamente comum. Entretanto, quero aqui referir, como nota positiva, que adquirimos um aparelho que consegue sequenciar todos os genes que conhecemos que predispõem para cancro, pelo que não temos que estar a adivinhar qual é o gene que deve estar envolvido naquela família. É de grande utilidade
e uma enorme ajuda para aumentar o número de famílias com confirmação do diagnóstico de cancro hereditário. O que está a ser feito em termos de investigação clínica? O Centro de Investigação do IPO-Porto (CI-IPOP) está organizado em termos de investigação laboratorial de translação e existem cinco grupos de investigação que trabalham em áreas de translação. São áreas em que analisamos material de
CONSULTA DE GENÉTICA A Consulta de Genética foi criada antes de 2000, mas durante anos foi uma consulta informal, afirma o Prof. Doutor Manuel Teixeira. “Quando assumi a direção da Consulta em junho de 2004, foi quando passou a ser como qualquer outra consulta no IPO-Porto, nomeadamente com
registo administrativo e em processo clínico”, declara. Presentemente, o Prof. Doutor Manuel Teixeira dá consulta dois dias por semana, quando até 18 doentes em cada um dos dias, dependendo se são apenas casos de diagnóstico ou de investigação.
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40 ANOS IPO PORTO doentes. Temos informação clínica sobre o doente e procuramos encontrar marcadores de diagnóstico, marcadores de prognóstico ou marcadores preditivos da resposta terapêutica. Para além disso, temos a unidade de investigação clínica, onde se realizam os ensaios clínicos, que consistem no teste de novas drogas em doentes.
INVESTIGAÇÃO EVOLUIU MUITO Comparativamente com a investigação que se fazia quando começou a exercer, o que mudou? Avançou-se muito em termos da investigação sobre a predisposição hereditária para cancro. Em 2001, davamse os primeiros passos. Os principais genes de cancro hereditário foram descobertos no final dos anos 90 e só no início de 2000 é que se iniciou a sua aplicação na prática clínica, fazendo no presente parte da prática médica normal. Há, no entanto, que continuar a partilhar informação junto dos médicos para que saibam quando devem encaminhar os seus doentes para aconselhamento genético. Acresce que o número de análises que fazemos por ano relacionadas com células tumorais aumentou muito, no fundo para afinar o tratamento. Anteriormente, era algo que se fazia, essencialmente, nas leucemias, que são doenças relativamente raras. É comum a mesma pessoa ter tumores com caraterísticas genéticas diferentes? A percentagem de indivíduos que têm mais do que um tumor é muito baixa, mas pode acontecer. Pode, por
“Temos informação clínica sobre o doente e procuramos encontrar marcadores de diagnóstico, marcadores de prognóstico ou marcadores preditivos da resposta terapêutica”
exemplo, haver um cancro da mama bilateral, mas são duas doenças independentes e podem ter caraterísticas diferentes, como se fossem duas neoplasias em duas mulheres diferentes. Todavia, a grande maioria das pessoas só tem uma neoplasia, sendo que pode haver heterogeneidade genética intra-tumoral, um termo que, sendo já relativamente velho, está agora a ser estudado com técnicas diferentes. O que será de esperar em termos de avanço em 2015? No que diz respeito aos interesses prioritários, penso que o grande avanço vai no sentido de todas as famílias suspeitas de terem cancro hereditário passarem a ser analisadas com sequenciação de nova geração, para que a taxa de deteção aumente. Queremos que, a partir de janeiro, esta ação faça parte do estado da arte, do modo de trabalhar do IPO-Porto, e nisso estamos bastante à frente. Sei, por exemplo, que no Reino Unido estão também nesta fase de alargar à população em
geral a utilização deste tipo de sequenciação, para que se falhe o mínimo possível na identificação destas famílias com cancro hereditário, porque é nelas onde o risco é tão elevado que podemos realmente oferecer alguma coisa em termos de prevenção. É evidente que o cancro é uma doença comum, mas ainda não conseguimos prever com exatidão quem vai ter cancro da mama ou cancro colorretal, por exemplo, porque se trata de uma situação um tanto ou quanto aleatória. No entanto, nos casos em que há risco familiar, se nós identificarmos qual é a causa, conseguimos fazer uma prevenção eficaz. Qual é a percentagem dos casos hereditários? É entre 5 e 10 por cento, ou seja uma minoria. Mas para essas famílias o risco é enorme. Não tem comparação o risco do cancro da mama numa mulher da população geral, em que se situa à volta de 10 por cento, sendo que a maior parte destes casos aparece depois dos 60 anos, com o de uma mulher com predisposição hereditária. Nesta situação, o risco é de 80 por cento ao longo da vida e a idade média de diagnóstico é à volta de 40/42 anos, portanto cerca de 20-30 anos mais cedo. Nas várias doenças genéticas é isso que acontece – décadas antes em termos de diagnóstico e um risco muito mais elevado. De salientar que nessas famílias em regra metade dos membros não herda a mutação presente na família e, graças aos testes genéticos, pode ficar a saber que o seu risco de cancro é igual ao da população em geral e isso também é muito importante.
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REDE DE COLABORAÇÕES O Centro de Investigação do IPO-Porto é dirigido pelo Prof. Doutor Manuel Teixeira desde o ano da sua criação em 2003. É reconhecido pela Fundação Portuguesa para a Ciência e Tecnologia como uma unidade de investigação desde 2004 e mantém diversas colaborações preferenciais, nomeadamente com o IPATIMUP. O IPO-Porto estabeleceu, inclusivamente, um consórcio com esta entidade que lhe permitiu ter sido considerado um Comprehensive Cancer Center – o que implica ter uma determinada escala – pela Organização Europeia de Institutos de Cancro (OECI). O Prof. Doutor Manuel Teixeira refere, ainda, a tendência crescente para a colaboração internacional, salientando que entre 30 a 35 por cento das
publicações que fazem incluem coautores estrangeiros. “Este ano, vamos já em mais de 100 publicações, um terço das quais resultante de colaborações internacionais. Possuímos uma rede muito importante de colaboração com outras instituições”, destaca. Algumas dessas colaborações, diz, derivam de enviarem alunos de doutoramento para o estrangeiro e outras de projetos europeus. “Contamos, aliás, com financiamento de dois projetos europeus, um na área da epigenética e outro na área da predisposição hereditária para o cancro colorretal. Isto permite criar cada vez mais laços em termos de colaborações internacionais”, garante.
“Acresce que o número de análises que fazemos por ano relacionadas com células tumorais aumentou muito, no fundo para afinar o tratamento”
EXPERIÊNCIA NA NORUEGA E DINAMARCA O Prof. Doutor Manuel Teixeira, licenciado em Medicina, esteve sete anos ausente do país, na Noruega e na Dinamarca. Fez o doutoramento e o pós-doutoramento fora, na área da genética médica do cancro – envolvendo, nomeadamente, o estudo dos cromossomas
do cancro da mama e da próstata – até que em 2001 concorreu a uma vaga que abriu no IPO-Porto, tendo então regressado a Portugal para a ocupar. “Poder aliar a investigação à prática clínica, foi o que me levou a regressar ao país”, declara.
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DR. JOSÉ DINIS DIRETOR DA UNIDADE DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA
UNIDADE DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA À DESCOBERTA DA CURA O SENTIR QUE ERA NECESSÁRIO ORGANIZAR A INVESTIGAÇÃO CLÍNICA NO MEIO HOSPITALAR EM PORTUGAL CONSTITUIU A PEDRA DE TOQUE PARA A CRIAÇÃO DA UNIDADE DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA DO IPO-PORTO, DA QUAL É DIRETOR O DR. JOSÉ DINIS. 45
Dr. José Dinis, como chegou até ao IPO-Porto? Sou oncologista e entrei para a especialidade em 1994. Juntamente com um colega de Coimbra e outro de Lisboa, faço parte da primeira fornada de oncologistas formados nesta área em Portugal. Até aí derivavam da especialidade de Medicina Interna a que se associava um Ciclo de Estudos Especiais em Oncologia. Durante o internato tive a oportunidade de fazer alguns estágios no estrangeiro e de concluir que a investigação clínica estava
muito pouco integrada ou muito pouco organizada nos hospitais em Portugal, contrariamente ao que se passava noutros centros que visitámos. Ao mesmo tempo, apercebi-me também, tal como outros colegas, que havia doentes para entrar em ensaios clínicos e que era muito importante que enveredássemos por esse caminho, pois proporcionaria um treino melhor aos médicos e uma melhoria da prática clínica, resultando na elevação dos parâmetros de qualidade das Instituições. Quando
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acabei a especialidade em 1999, fiquei a trabalhar no IPO-Porto e, depois de muito esforço desenvolvido com outros colegas, conseguimos, finalmente, que fosse criada a Unidade de Investigação Clínica em 2006. Em que consiste o trabalho da Unidade de Investigação Clínica? A Unidade de Investigação Clínica tem como função ajudar nos ensaios clínicos. Nós não dizemos o que é que se vai investigar, porque isso depende das várias clínicas. Como sabe, o IPO está dividido em clínicas de patologia e cada uma tem a sua atividade científica. Embora esta unidade esteja
muito mais focalizada para os ensaios clínicos, também superintende outros estudos clínicos no IPO, nomeadamente os de natureza do investigador e observacionais. Portanto, diria que somos os responsáveis pela porta de entrada dos pedidos. Nos ensaios clínicos, vamos um bocadinho mais longe já que ajudamos à sua execução prática no dia-a-dia. São ensaios mais complexos, que exigem uma compliance de prazos e um conjunto de procedimentos muito rígidos, que nós temos que organizar. Contamos com um departamento na farmácia inteiramente dedicado a esta área
e fazemos a ponte com a farmácia, com os serviços e com o hospital de dia. Isto é, integramos todas as demandas que um ensaio clínico exige para que seja cumprido e para que o IPO cumpra com as responsabilidades que que lhe são pedidas. Tudo começa com uma solicitação para saber se estamos interessados, porque tudo isto obedece a prazos muito rígidos aos quais temos de responder rapidamente com dados fiáveis. Depois, há uma segunda fase em que nos comunicam se fomos ou não aceites e, se tivermos sido, começa então a fase de negociações, pois temos que ter um contrato financeiro, um contrato
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IMPORTÂNCIA DO TRABALHO CONJUNTO À medida que se vai ganhando estatuto no que diz respeito aos ensaios clínicos, também os nossos médicos e investigadores vão sendo chamados a participar, nomeadamente em meetings preparatórios de ensaios em diversas áreas, afirma o Dr. José Dinis. Neste caso, prossegue, trata-se de ensaios gigantescos, a nível mundial, nos quais partilhamos as nossas ideias que são ou não
incorporadas nos estudos. “Tudo isto é à escala global e ninguém faz nada sozinho”, destaca o especialista, reforçando a importância de desenvolver trabalho conjunto. Esta circunstância é, também, muito relevante para a instituição para fazer opinion leaders, tendo em conta a projeção que proporcionam quer no panorama interno quer no panorama externo, conclui.
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40 ANOS IPO PORTO de ensaio de deveres e direitos e montar a equipa de investigação. Seguem-se as fases de execução, follow up, e encerramento.
O médico convida o doente para participar no ensaio à semelhança do que faz prescrevendo-lhe um tratamento normal. Explica-se ao doente em que consiste todo o processo, tiram-se dúvidas e são-lhe dados alguns dias para pensar sobre se quer aderir ou não ao ensaio, após o que tem de dar uma resposta. Contudo, o processo depende muito da fase da doença e do tratamento, entre diversos outros fatores.
Quantas pessoas é que envolve esta atividade? Penso que neste momento o chamado núcleo duro de apoio a ensaios clínicos na sua execução engloba 14 pessoas em full time, e incluem farmacêuticos, coordenadores de ensaio, assistentes de ensaio clínico, financeiros, estagiários e uma responsável por assuntos regulamentares. Não inclui os médicos nem os enfermeiros pois estes são integrados nas equipas de investigação em cada projecto.
OBJETIVOS PARA O FUTURO
ONCOLOGIA DOMINA NOS ENSAIOS CLÍNICOS
de cada clínica e se consegue ou não atrair os ensaios para aqui. Por exemplo, para a minha área, a cabeça e o pescoço, pouco havia, mas nos últimos dois, três anos deu-se um boom. Temos, também, um ensaio com Medicina Nuclear, outro envolvendo radiologia de intervenção com os tumores digestivos e um relativo a tumores neuro-endócrinos. Dos tais 30 e tal há, ainda, cinco ou seis ensaios sobre doenças infeciosas, pois nem tudo é Oncologia pura.
Quais são as patologias com mais expressividade em termos de ensaios clínicos? Neste momento, é de longe a Oncologia Médica com os tumores sólidos e a Onco Hematologia com os denominados tumores líquidos (leucemias, linfomas e mielomas). Por patologias, temos várias, que são as habituais, como a mama, a próstata, os tumores urológicos e no pulmão, entre outros. Depende muito do dinamismo
Qual o ponto de partida dos ensaios clínicos aqui realizados? A esmagadora maioria dos ensaios clínicos aqui do IPO tem como ponto de partida a indústria farmacêutica, pequenas empresas ou as chamadas big pharma. Temos também alguns ensaios em curso de estudos da Academia, nomeadamente de grupos cooperativos internacionais, e temos pelo menos dois ensaios da natureza do investigador que foram feitos cá. São pequenos mas
Quantos ensaios estão agora a decorrer? Neste momento estão a decorrer mais de 80 ensaios e a recrutar mais de 30, mas atenção porque há ensaios que demoram 10/15 anos e ainda não encerraram, estão em fase de follow up e, por isso, temos que continuar a recolher e a registar informação.
mais difíceis, porque têm uma logística impressionante e custos muito elevados. Portanto diria que, em suma, para avançar, não basta ter ideias, é preciso ter recursos para as pôr em prática. Quantos doentes foram recrutados para ensaios clínicos? Anualmente estamos a recrutar entre 120 e 130 doentes para ensaios clínicos. Quer isto dizer que já ultrapassámos os 1.000 recrutamentos para ensaios clínicos. Cabe aqui referir, no entanto, que já antes de 2006, ano da criação desta unidade, tínhamos ensaios clínicos, embora não com esta dimensão. Era muito mais carolice e tínhamos de fazer tudo, inclusivamente tirar sangue ao doente e telefonar-lhe para casa a pedir que viesse à consulta. Agora é bem diferente. E como é feito o recrutamento destes doentes? É feito pelo médico que o tem em consulta. Não há médicos para os ensaios.
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“Anualmente estamos a recrutar entre 120 e 130 doentes para ensaios clínicos. Quer isto dizer que já ultrapassámos os 1.000 recrutamentos para ensaios clínicos”
Questionado sobre quais são os objetivos, o Dr. José Dinis identifica um a longo prazo e que passa por, progressivamente, fazerem ensaios clínicos cada vez mais precoces. “Os ensaios clínicos dividem-se em ensaios de fase 1, 2 e 3. Nos de fase 3, nós estamos perfeitamente consolidados e com boas performances na esmagadora maioria dos ensaios. Começámos a ter, igualmente, uma grande demanda em ensaios de fase 2, onde não há placebo e é já o fármaco que é dado ao doente. Neste caso, estamos numa fase da determinação de eficácia do fármaco”, salienta. Por outro lado, acrescenta, o facto de termos já dois ensaios de fase 1b (iniciais, em que se tenta definir toxicidades e estamos a falar de fármacos muito poucos experimentados em pessoas), isso exige outros recursos. “Esse é um objetivo que temos”, frisa. Paralelamente, “queremos ajudar áreas médicas que têm uma performance menos boa, ajudarmos essas clínicas ou Serviços a melhorá-la, assim como os que a têm, mas não são tão solicitados”, adianta.
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PROF. DOUTOR RUI HENRIQUE DIRETOR DA ESCOLA PORTUGUESA DE ONCOLOGIA DO PORTO
ESCOLA PORTUGUESA DE ONCOLOGIA DO PORTO: FORMAR PARA UMA SAÚDE MELHOR A CONCLUSÃO DO PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA QUE ELEVE OS ÍNDICES DE ADESÃO ÀS ATIVIDADES FORMATIVAS SÃO AS PRINCIPAIS METAS DA ESCOLA PORTUGUESA DE ONCOLOGIA DO PORTO, DA QUAL É DIRETOR O PROF. DOUTOR RUI HENRIQUE. 50
40 ANOS IPO PORTO Como apresenta a Escola Portuguesa de Oncologia do Porto? A Escola Portuguesa de Oncologia do Porto é, na realidade, um departamento do IPO-Porto e não é uma estrutura autónoma, estando vocacionada para a gestão das atividades formativas institucionais num sentido muito amplo. A nossa atividade vai desde o ensino no contexto de trabalho até ao ensino com enfoque em determinadas áreas formativas como, por exemplo, estágios de cursos específicos do ensino superior politécnico, formação contínua dos colaboradores do IPO-Porto e programas de 1.º, 2.º e 3.º ciclos de estudos das universidades com as quais colaboramos. O que levou à criação desta escola? A formação em Oncologia é algo que pertence ao DNA da instituição, porque desde que o Instituto Português de Oncologia e particularmente o Centro do Porto foi fundado, em 1974, que a sua atividade assenta no tripé Assistência, Ensino e Investigação. O ensino sempre foi um dos pilares básicos da atividade do IPO-Porto. Julgo que à volta de 2008/2009, quando se corporizou a ideia da Escola Portuguesa de Oncologia – que teve a sua origem por iniciativa do Dr. Laranja Pontes e do Dr. Machado Lopes –, se pretendeu juntar à estrutura de âmbito formativo que então existia outras atribuições e competências que estavam relativamente dispersas na instituição. As pessoas exerciam essa atividade mas, na prática, não havia nenhuma estrutura que servisse de interface do IPO-
Porto com as instituições com as quais colaborava e que centralizasse essas atividades.
LIGAÇÃO DA EPOP COM OUTROS DEPARTAMENTOS Como se processa a interligação da Escola com os demais departamentos da instituição? Os departamentos do IPO-Porto são, em grande medida, os efetores da estratégia formativa aprovada pelo Conselho de Administração, com base na proposta elaborada anualmente pela EPOP. A título de exemplo, possolhe referir que tivemos recentemente um congresso muito importante sobre Nutrição em Oncologia e não foi a Escola que o organizou, mas sim o nosso Serviço de Nutrição. A EPOP disponibilizou os meios –recursos humanos, logística, auditórios e audiovisuais, entre outros para que a iniciativa do Serviço pudesse ser levada à prática. É fundamental as pessoas saberem que existe algo estruturado que lhes permite dar corpo àquilo que são as suas propostas de formação. E quem diz um congresso diz, por vezes, uma reunião mais pequena. Tentamos sempre dar o máximo de apoio às iniciativas que nos apresentam, pois na sua vasta maioria revestem-se de grande interesse não apenas para a instituição mas também para a comunidade em que nos inserimos. Então, acabam também por ser as iniciativas dos próprios serviços que vão criando ações de formação e a Escola fornece a logística? Em parte sim, mas propomos
também diversas ações, algo que faz parte da nossa missão. Neste contexto, importa acrescentar que organizamos anualmente um plano de formação para o instituto, cuja elaboração assenta na auscultação e recolha das necessidades formativas dentro da instituição, envolvendo todas as pessoas sem exceção. Assim, para além das formações obrigatórias, decorrentes do nosso sistema de certificação e de acreditação, e com base nas respostas ao inquérito formativo, é definido o plano de formação anual. Quer isto dizer que o plano que é colocado em ação resulta da convergência de duas situações: da estratégia formativa da própria instituição e daquilo que os formandos e as suas hierarquias intermédias entendem necessário. Em que consiste a formação obrigatória? Trata-se de um conjunto de atividades formativas indispensáveis tendo em conta a revalidação da acreditação que possuímos. Têm a haver, nomeadamente, com o risco e a segurança hospitalar, suporte básico de vida, gestão e triagem de resíduos, movimentação de cargas, entre outros, ou seja são atividades que devem ser conhecimento de todos os colaboradores do IPO-Porto. Depois, com base nos diferentes perfis profissionais existentes no Instituto, são realizadas formações dirigidas a grupos específicos. Ou seja, embora haja um conteúdo geral, a forma como é transmitido e o detalhe ou a profundidade com que o mesmo é lecionado vai ao encontro do perfil profissional desses
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formandos e das suas “Organizamos necessidades formativas anualmente específicas. um plano de formação para MANTER A CAPACIDADE DE o instituto, cuja elaboração assenta CRESCIMENTO na auscultação Quais são, em sua opinião, e recolha das os principais desafios da Escola neste momento? necessidades O nosso principal desafio formativas dentro é fazer com que a nossa da instituição, atividade vá cada vez mais envolvendo todas ao encontro das expetativas dos colaboradores do IPOas pessoas sem -Porto e das instituições exceção” externas que têm connosco uma colaboração estreita. Diria, portanto, que o nosso desafio é manter a capacidade de crescimento e a qualidade adequada do ensino que fazemos e, ao mesmo tempo, não sermos apenas recetores dessas atividades, mas também proponentes de ações formativas, quer em termos internos quer externos.
A Escola reúne essas condições? Neste momento uma das peças fundamentais para que isso possa acontecer, e estamos a trabalhar nesse sentido, é a obtenção de uma certificação da Escola através de uma norma destinada especificamente ao ensino e à formação de âmbito profissional. É, para nós, algo relevante porquanto pretendemos que o nosso ensino e a nossa formação tenham não apenas reconhecimento interno, mas também externo. Pensamos que talvez uma parte substancial das pessoas que estamos a preparar aqui tenha, no futuro, uma carreira profissional no exterior, eventualmente algures na União Europeia. Então, estamos a trabalhar no sentido de podermos
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emitir certificados de formação que sejam reconhecidos a nível europeu. Qual é a constituição do corpo docente da EPOP? Eu diria, de uma maneira muito simples, que qualquer elemento do IPO-Porto que demonstre capacidade formativa tem a possibilidade de ser formador dentro da estrutura da Escola. Porém, isto não quer dizer que qualquer pessoa que se dirija à EPOP com esse propósito seja aceite como formadora, até porque existem requisitos para essa função. Podemos, então, falar de vários níveis. Temos pessoas que fizeram cursos de formação de formadores em áreas genéricas ou específicas e que são responsáveis por algumas formações. Já a formação de caráter obrigatório implica necessariamente que o formador tenha um conjunto de certificações que lhe reconhecem essa capacidade. Temos também
um segundo nível, diria eu, que são os elementos do Instituto que desempenham uma atividade docente relevante, quase de rotina, no ensino superior politécnico ou no ensino superior universitário, que os torna aptos a colaborar como formadores ou como docentes. Acrescem, ainda, as pessoas que fizeram formação na Escola ou que têm capacidades específicas nas suas áreas e, por conseguinte, possuem capacidade para poderem dar formação. Entre corpo docente e corpo discente, qual é a população da EPOP? O corpo docente/formador efetivo é, obviamente, em muito menor número. Estimaria entre 5 e 10 por cento do universo do IPOPorto, que deve rondar cerca de 2 mil colaboradores. No ano passado, recebemos para formação cerca de 750 estagiários externos ao IPO-Porto. Na maioria vieram fazer o estágio
“O corpo docente/formador efetivo é, obviamente, em muito menor número. Estimaria entre 5 e 10 por cento do universo do IPO-Porto, que deve rondar cerca de 2 mil colaboradores” 52
40 ANOS IPO PORTO
40 ANOS IPO PORTO formativo, no âmbito do seu primeiro ciclo de estudos, ou encontravam-se inscritos em segundos ciclos de estudos, como mestrandos, e vieram até aqui para ter aulas e até desenvolver as suas teses de mestrado. Alguns eram alunos de doutoramento de algumas unidades curriculares de programas doutorais da Universidade do Porto que são lecionadas aqui. Trata-se de um número muito significativo, que tem vindo a crescer e que a instituição considera naturalmente muito importante. Quais são as entidades com as quais a Escola colabora principalmente? As nossas relações externas estabelecem-se, sobretudo, com as universidades e os institutos superiores politécnicos, sejam eles públicos ou privados. Na sua maioria, são os da região do Porto. Dentro das universidades públicas, obviamente que colaboramos com a Universidade do Porto, através do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – talvez as colaborações mais importantes –, assim como com a Faculdade de Farmácia, entre outras. Das universidades privadas destaco a Universidade Fernando Pessoa e a CESPU (Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário), como sendo estruturas com as quais temos uma relação muito importante. No que respeita aos institutos politécnicos, a colaboração mais antiga e mais estreita é a que mantemos com a Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Instituto Politécnico do Porto. Saindo da nossa região, temos colaborado com as
Universidade do Minho, de Aveiro, e do Algarve, entre outras.
OBJETIVOS PARA 2015 Quais são os objetivos da EPOP para 2015, para além da certificação interna? As principais metas para 2015 passam pela conclusão do processo de certificação e por conseguirmos implementar uma estratégia no sentido de melhorar os nossos índices de adesão às atividades formativas. Numa estrutura como o IPO-Porto, com uma grande atividade assistencial, as pessoas, por vezes, inscrevem-se nas atividades formativas que lhes despertam interesse e acabam por não comparecer às mesmas devido ao volume de trabalho que a realidade do dia a dia impõe. Porém, há que ter em conta que a investigação, a formação e o ensino são pilares fundamentais do Instituto, sem os quais é impossível progredir. Eu não acredito que haja boa assistência sem haver bom ensino e boa investigação, mas a verdade é que o nosso dia a dia é feito do trabalho assistencial, que priorizamos com o objetivo de contribuirmos ao máximo para o bem-estar do doente. Gostaríamos de melhorar esta situação, ou seja, tentar que cada vez mais intenções formativas se materializem. Qual a duração mais comum dessas ações? O que nós tentamos é que as ações não sejam exaustivas, não ocupem todo o horário de trabalho e estejam centralizadas durante um período do dia (manhã ou tarde). Quando é um curso com diversas valências, preferimos dividi-lo ao longo
de várias semanas, de modo a que as pessoas possam organizar o seu trabalho e, por conseguinte, assistir. Entendemos que a formação é um direito legal e que todos os colaboradores do IPO-Porto têm direito a usufruir dentro das normas vigentes. Por isso, uma parte substancial desta atividade é desenvolvida, sempre que possível, dentro do horário de trabalho.
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“A investigação, a formação e o ensino são pilares fundamentais do Instituto, sem os quais é impossível progredir”
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