ESPECIAL 10 ANOS DO CONGRESSO NACIONAL DO CANCRO DIGESTIVO // DIREÇÃO DE ARTE // PAGINAÇÃO

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congresso nacional cancro digestivo



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10 anos de trabalho

Em prol dos doentes com cancro digestivo A Oncologia, em particular da área do cancro digestivo, é uma das mais exigentes es­pecialidades da atualidade. Sen­ do esta doença uma das principais causas de mortalidade em Portugal, surge a necessidade de uma constante atua­ lização de conhecimentos e partilha de experi­ê ncias entre os profissionais que tratam os tumores do aparelho diges­ tivo, o que motivou a criação de uma reunião apenas dedi­ cada a estes assuntos. Já passaram 10 anos e, ao longo desta década, o Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (GICD), criado em 1999, assistiu a um aumento do número de participantes e co­ municações. Todos os anos, o encontro resulta num espa­ ço onde se discutem temas atuais, controvérsias e onde é possível partilhar experiências com especialistas nacionais e estrangeiros. Cada ano é pautado pela motivação de corresponder e superar os mais elevados parâmetros científicos, para os quais têm contribuído as centenas de profissionais. Uma década depois, os elos de amizade, parceria e profissio­ nalismo, que unem todos aqueles que fazem parte da histó­ ria do Congresso Nacional do Cancro Digestivo, são o fruto do trabalho desenvolvido ao longo de 10 anos, em prol de ganhos efetivos em saúde dos doentes oncológicos na área do cancro digestivo. Outubro 2014


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congresso nacional cancro digestivo

Diretor Comercial Miguel Ingenerf Afonso miguelafonso@newsfarma.pt

Assessora Comercial Sandra Morais

sandramorais@newsfarma.pt

Diretora de Publicidade Conceição Pires

conceicaopires@newsfarma.pt

Sumário

Agenda agenda@newsfarma.pt

Equipa Editorial Andreia Pereira

andreiapereira@newsfarma.pt

06

Entrevista

Dr. Sérgio Barroso

Catarina Jerónimo (Coordenadora) catarinajeronimo@newsfarma.pt

Cátia Jorge catiajorge@newsfarma.pt

Nuno Coimbra

(Fotógrafo)

nunocoimbra@newsfarma.pt

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Dr. José Guimarães

Ricardo Gaudêncio (Fotógrafo)

ricardogaudencio@newsfarma.pt

Sofia Filipe

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sofiafilipe@newsfarma.pt

Produção & Design Joana Lopes

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Dr. Evaristo Sanches Dr. José da Silva Ferreira

joanalopes@newsengage.pt

Cátia Tomé

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Dr. Sérgio Barroso

anabranquinho@newsfarma.pt

18

Redação e Publicidade Av. Infante D. Henrique, 333 H, 37, 1800-282 Lisboa T. 218 504 065 Fax 210 435 935

Lúcio Lara Santos

MD, PhD

catiatome@newsengage.pt

Diretora de Marketing Ana Branquinho

Dr. Hélder Mansinho 26 Dr. Pedro Chinita

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Prof. Dr. António

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Dr.ª Ana Martins

28

Dr. João Coimbra

Dr.ª Sandra Bento

Damasceno

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Dr.ª Ana Raimundo

Dr. Jorge Espírito

Dr. Miguel Barbosa

Santo

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Estrevista

Dr.ª Paula Jacinto

Vasco Noronha

Araújo

dos Santos

Patrícia Rebelo

patriciarebelo@newsfarma.pt

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Dr. Guy Vieira Dr.ª Margarida

newsfarma@newsfarma.pt, www.newsfarma.pt

Pré-press e impressão RPO

A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que indicada a sua origem (News Farma) e com autorização da Direção. Os artigos de opinião são da inteira responsabilidade dos seus autores. Edição

10 Anos do congresso nacional do cancro digestivo é uma edição especial da News Farma. News Farma é uma marca da Coloquialform, Lda.

Estas Empresas associam-se às comemorações do 10.º Aniversário do Congresso Nacional do Cancro Digestivo



Dr. Sérgio Barroso

“Abordagem multidisciplinar reflete-se numa melhoria dos cuidados prestados aos doentes”


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Em ano de comemoração dos 10 anos do Congresso Nacional do Cancro Digestivo, o Dr. Sérgio Barroso aponta a melhoria da organização dos serviços e o aparecimento de novas ferramentas terapêuticas como principais responsáveis pelo aumento da sobrevivência e da qualidade de vida dos doentes oncológicos. Em entrevista à News Farma, o diretor do Serviço de Oncologia do Hospital do Espírito Santo, em Évora, e atual presidente do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (GICD) salienta a necessidade de fomentar a investigação clínica em Portugal e reforça a importância da formação contínua dos profissionais.

News Farma | Nestes últimos 10 anos, quais foram os principais marcos em termos diagnósticos e terapêuticos no contexto do cancro digestivo? Sérgio Barroso | Nos últimos 10 anos tem havido múltiplas inovações na área do cancro digestivo. No nosso País, diria que a maior inovação ocorreu do ponto de vista da organização. Temos conseguido uma abordagem ao cancro digestivo por equipas multidisciplinares, com o envolvimento dos vários profissionais de saúde das diferentes especialidades ligados a esta área, como sejam a Cirurgia, a Radioterapia, a Oncologia Médica, a Anatomia Patológica, a Gastrenterologia, a Imagiologia, entre outras, garantindo a cada doente a melhor estratégia de tratamento. Esta abordagem multidisciplinar reflete-se, obviamente, numa melhoria dos cuidados prestados aos doentes.

NF | E em termos terapêuticos? SB | Nos últimos anos têm sido também desenvolvidas novas estratégias terapêuticas que contribuíram para aumentar a sobrevivência dos doentes com cancro digestivo. De salientar os avanços significativos no que diz respeito aos cancros do cólon, do pâncreas, e do estômago, que têm permitido uma melhoria considerável na sobrevivência e na qualidade de vida destes doentes. Por exemplo, no cancro do cólon, a sobrevivência ultrapassa, neste momento, os 30 meses em doentes com doença avançada à data de diagnóstico, enquanto há pouco mais de 10 anos a sobrevivência media destes doentes não ultrapassava os seis meses. Nos últimos anos tem havido grandes avanços com algumas estratégias cirúrgicas e técnicas de radioterapia, mas também,

e sobretudo, com novos medicamentos. No caso do cancro do cólon, o mais frequente e com avanços mais notórios, foram desenvolvidos vários medicamentos na área da quimioterapia, mas sobretudo novos medicamentos muito úteis com novos mecanismos de ação, como é o caso dos anti-angiogénicos - bevacizumab e dos inibidores do EGFR como o caso do cetuximab e panitumumab que, quando utilizados em associação com a quimioterapia, aumentam significativamente a sobrevivência dos doentes e fazem parte da nossa prática clínica diária. Mais recentemente, surgiram outros medicamentos que atuam especificamente no interior da célula tumoral, nomeadamente alguns inibidores da tirosina-cinase como é o

Mais recentemente, surgiram outros medicamentos que atuam especificamente no interior da célula tumoral, nomeadamente alguns inibidores da tirosina-cinase


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caso do regorafenib e outros anti-angiogénicos como o aflibercept, que têm vindo a demonstrar eficácia significativa nos doentes com cancro do cólon, são prometedores e estão em fase de aprovação, além de um conjunto de outros fármacos em desenvolvimento que se espera venham a integrar a nossa prática clínica nos próximos anos. Um outro avanço, que não queria deixar de referir, prende-se com os doentes com metástases hepáticas. Até há alguns anos, estes doentes faziam apenas quimioterapia e só muito excecionalmente eram operados. Hoje em dia, cerca de 20% dos doentes que têm doença no fígado são submetidos também a cirurgia, o que se traduz num aumento muito importante da sobrevivência, com mais de 50% dos doentes vivos ao fim de cinco anos e cerca de 20% vivos aos 10 anos. Mais uma vez, os ganhos em sobrevivência são conseguidos, por um lado, em resultado de uma avaliação por equipas multidisciplinares e, por outro lado, através da utilização destas novas terapêuticas em alguns doentes, que permitem reduzir o tumor até ser possível operá-lo. A área do cancro do pâncreas, um tumor habitualmente difícil de tratar, assistiu também nos últimos anos, a algumas novidades importantes. Dispomos agora de melhores técnicas de diagnóstico, de cirurgia e de radioterapia além de novos regimes de quimioterapia com aumentos significativos na sobrevivência como é o caso do NabPaclitaxel em associação com gemcitabina, com taxas de sobrevivência de 35% a 1 ano e 8,7 meses de sobrevivência mediana e com bom perfil de segurança e do Folfirinox com 11,1 meses de sobrevivência mediana, mas com um perfil de segurança um pouco menos favorável.

NF | Com base nesses avanços e no acompanhamento individualizado dos doentes, inclusive com a identificação de biomarcadores, acha que há lugar para a chamada Oncologia Personalizada? SB | Exatamente, esse é um aspeto muito crítico neste momento, em resultado de um esforço que tem sido feito ao longo destes anos para a utilização de terapêuticas individualizadas e adequadas a cada doente e a cada doença. Fomos conseguindo identificar alguns marcadores biológicos que nos permitem determinar, à partida, quais os doentes que vão responder melhor a um determinado tipo de tratamento, ou seja identificámos alguns fatores preditivos de resposta, o que se traduz, num ganho de efetividade e habitualmente também com significativo ganho de sobrevivência. Um exemplo é o que já fazemos no cancro colorretal, através da identificação das mutações do gene RAS, que quando presentes nos permitem identificar os doentes que não respondem aos agentes anti-EGFR. Desta forma, através de uma individualização terapêutica, conseguimos ser mais eficazes, e evitamos administrar medicamentos a doentes que não iriam beneficiar com eles e que poderiam trazer alguma toxicidade, para além dos custos acrescidos. NF | Há hoje uma maior preocupação em termos de Oncologia Preventiva (identificação de doentes de risco, realização de rastreios)? SB | Julgo que hoje em dia há uma maior preocupação com esses aspetos, em particular nos Cuidados de Saúde Primários, com um esforço para que os cidadãos adotem um padrão de vida mais saudável, enquanto fator importante na diminuição do risco para muitos tipos de tumores, inclusive para os tumores do aparelho digestivo. Por outro lado, também

Fomos conseguindo identificar alguns marcadores biológicos que nos permitem determinar, à partida, quais os doentes que vão responder melhor a um determinado tipo de tratamento

tem havido algum incentivo para o desenvolvimento de programas de rastreio no País, nomeadamente nas regiões de Coimbra e do Alentejo. A curto prazo, seria desejável que a área do rastreio fosse muito mais desenvolvida e alargada a toda a população portuguesa, até porque está sobejamente demonstrado, nomeadamente nos casos dos cancros do cólon e do reto, que o rastreio influencia significativamente a diminuição da mortalidade. NF | E relativamente aos outros países da Europa, como se posiciona Portugal na área da Oncologia? SB | Penso que Portugal está ao mesmo nível da maioria dos países europeus dos EUA. Nós colaboramos com grupos internacionais de investigação, estamos a par daquilo que são os últimos dados da ciência e, portanto, aquilo que se faz nos melhores centros mundiais é também aquilo que se faz

na generalidade dos centros portugueses. Naturalmente isto não significa que não existam algumas dificuldades, mas tentamos sempre ultrapassá-las e garantir ao doente o tratamento mais atual e eficaz de acordo com o estado da arte. NF | No contexto da investigação, sente que há hoje uma maior participação de doentes portugueses em ensaios clínicos? SB | Embora a nossa população não seja à partida muito disponível para essa participação, julgo que nos últimos anos tem havido um esforço significativo nesse sentido, para que nós possamos ter em Portugal mais ensaios clínicos internacionais ou nacionais e para que os nossos doentes possam ser participantes nesses estudos, contribuindo para o avanço do conhecimento científico e beneficiando, em determinadas


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circunstâncias, da sua inclusão nestes protocolos de investigação. O GICD tem sido uma das entidades empenhadas em desenvolver ensaios clínicos disponíveis, de maneira a podermos ter colaborações com grupos internacionais congéneres, para que possamos estar, nesse campo, ao mesmo nível que os outros países e ter maior acesso à inovação científica. NF | Qual é o contributo do GICD no panorama nacional do cancro digestivo? SB | O GICD, através das suas atividades, tem tentado inovar nomeadamente: mobilizando os profissionais de saúde e respetivas instituições para participarem em protocolos de investigação nacionais e internacionais; organizando ações de formação; realizando anualmente o Congresso Nacional do Cancro Digestivo, reunião de grande importância para a formação e divulgação de informação científica e para a atualização de todos os profissionais desta área e, em especial, dos jovens especialistas; elaborando e divulgando informação específica para os doentes. NF | Durante esta década, qual o contributo em termos de educação, formação, e atualização, do Congresso Nacional do Cancro Digestivo? SB | Este congresso anual de cancro digestivo é muito importante porque constitui a maior reunião de Oncologia Digestiva a nível nacional, convocando especialistas de todo o País das várias instituições que tratam cancro. Uma reunião a esta escala permite partilhar experiências, dificuldades e soluções encontradas para ultrapassar essas dificuldades, e contribui decisivamente para a educação, formação e atualização de toda a comunidade oncológica, o que

nos capacita para um melhor acompanhamento e tratamento dos nossos doentes. Outra preocupação é trazer sempre alguns colegas estrangeiros para que possam partilhar as experiências locais e trazer as últimas informações importantes para que possamos melhorar o nosso nível de conhecimentos e acompanharmos os desenvolvimentos lá fora. A atualização científica periódica e contínua é absolutamente fundamental para que possamos prestar bons cuidados de saúde oncológica à nossa população, uma vez que, ao ficarmos mais informados, ficamos também mais preparados para no dia a dia, desempenhando as nossas funções com mais qualidade e com mais rigor. NF | Quais são as principais novidades contempladas no programa da 10.ª edição do Congresso? SB | À semelhança dos anos anteriores, esta 10.ª edição abordará as várias áreas do cancro digestivo e haverá espaço para a atualização e para a partilha de conhecimentos. Este 10.º aniversário do Congresso Nacional do Cancro Digestivo é seguramente importante porque vamos poder discutir vários dos aspetos e inovações já descritas, e rever a evolução da última década que se traduziu numa melhoria significativa daquilo que eram os resultados anteriores e que agora são francamente melhores. Durante o congresso falaremos das novas terapêuticas para os vários tipos de cancro, mas também das novas estratégias multidisciplinares e terapêuticas de suporte, entre outros temas de interesse de que saliento a apresentação e discussão das guidelines do GICD para o cancro colorretal. O principal objetivo deste Congresso é que todos os participantes possam regressar

aos seus locais de trabalho mais capacitados para melhor tratarem os doentes. NF | O que se espera de um Congresso que assinala um número redondo como os 10 anos? SB | Eu espero que estes 10 anos, uma idade já respeitável para um Congresso, seja apenas o início e que daqui a 30 anos possamos comemorar os avanços na área do cancro digestivo de uma forma entusiástica, com propostas inovadoras para o tratamento dos nossos doentes. Este 10.º aniversário é um marco importante porque são 10 anos da nossa atividade, 10 anos de esforço contínuo para que houvesse melhoria contínua da qualidade. Um caminho que exige a participação de todos e espero, sinceramente, que ele seja continuado pelos mais novos e que o projeto do GICD possa crescer e adaptar-se à realidade e às necessidades futuras.

Durante o congresso falaremos das novas terapêuticas para os vários tipos de cancro, mas também das novas estratégias multidisciplinares e terapêuticas de suporte


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Dr. José Guimarães dos Santos Membro fundador do GICD Presidente do GICD até 2006

A fundação do Grupo Cooperativo de Cancro Digestivo Até à década de 1980, o tratamento do cancro do aparelho digestivo, curativo ou paliativo, era praticamente limitado à cirurgia e, consequentemente, uma atividade exclusiva dos cirurgiões gerais. Os avanços que se foram verificando no âmbito do tratamento sistémico do cancro e da radioterapia conduziram à prática multidisciplinar no diagnóstico e tratamento. A investigação clínica desenvolvida de acordo com princípios científicos internacionalmente reconhecidos tornou-se obrigatória nos países e instituições mais diferenciadas com a criação de Grupos Cooperativos de Investigação dotados de uma organização e de infraestruturas que garantissem a fidelidade e a legitimidade das conclusões dos Protocolos de Investigação. Na minha qualidade de diretor da Clínica Oncológica I do IPO do Porto, visitei as instalações da sede do Grupo Cooperativo dos Tumores Gastrointestinais da EORTC, sediada no Instituto Jules Bordet, em Bruxelas, e dirigido pelo Dr. André Gerard, diretor do

departamento do mesmo instituto. Nesta visita conheci em pormenor as estruturas e funcionamento de um grupo cooperativo, no qual me integrei e me permitiu com outros colegas planear e organizar em Portugal uma estrutura investigacional similar e credível nível internacional. Foi criada a Associação Portuguesa de Investigação Oncológica, que promoveu a organização dos primeiros Grupos Cooperativos de Investigação Oncológica e, entre eles, o Grupo Cooperativo do Cancro Digestivo. Na sua primeira reunião, o Grupo elegeu por consenso para seu primeiro presidente o Prof. Doutor Gouveia Monteiro coadjuvado pelo Prof. Doutor José Manuel Romãozinho e Dr. Guimarães dos Santos. A primeira atividade do Grupo centrou-se na criação de consensos na orientação clínica na avaliação e tratamento dos diferentes cancros digestivos. A vertente investigacional foi invariavelmente preterida sobretudo porque não era essa a vocação prioritária dos participantes onde predominavam os gastroenterologistas. A

adesão ao grupo de oncologistas médicos e uma maior participação dos cirurgiões veio alterar a estratégia predominante com uma maior ênfase em protocolos de investigação terapêutica adjuvante e paliativa. O Grupo passou a utilizar os serviços da Unidade de Apoio à Investigação Clínica criada no IPO do Porto que incluía a data manager Nicole Duez, proveniente do Grupo Gastrointestinal da EORTC, onde desempenhava funções relevantes no funcionamento do Grupo. Esta medida facilitou imenso a qualidade de execução dos protocolos através de um controlo de rigor da informação inerente ao processo de randomização e seguimento clínico dos doentes registados nos diferentes protocolos. Em reunião de 20 de maio de 1995, o Grupo foi informado pelo presidente Dr. Guimarães dos Santos que, após negociações com o Grupo Gastrointestinal da EORTC, os membros do nosso grupo poderiam randomizar os seus doentes em protocolos da EORTC desde que fossem preenchidos os seus requisitos.

Algumas instituições aderiram de imediato ao protocolo de quimioterapia adjuvante do cancro gástrico FAMTX. Posteriormente, investigadores do Grupo aderiram a outros Protocolos da EORTC nomeadamente nos Protocolos PETAC para o tratamento adjuvante do cancro do cólon. Em 1999, por imposição da autoridade tributária, teve que ser registado nos termos da lei em vigor, o que implicou a mudança do nome do Grupo que passou a designar-se por Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (GICD). Para registo histórico, menciono que o novo Grupo, que é uma continuação do anterior, foi criado por registo notarial que foi subscrito pelos Drs. Guimarães dos Santos, Maria Cândida Azevedo e José Evaristo Sanches, os quais nos termos do Estatuto em vigor foram considerados sócios fundadores. Após este registo notarial, foi eleita uma nova direção constituída pelo Dr. Guimarães dos Santos, presidente, Dr. José Evaristo Sanches, secretário e pelo Dr. Silva Ferreira, tesoureiro. A ocasião foi aproveitada para dinamizar a atividade investigacional do Grupo através de protocolos do tratamento do cancro metastático do cólon e do cancro irressecável do pâncreas. Vários destes estudos foram objeto de publicações em revistas internacionais reconhecidas e comunicações internacionais em que os seus investigadores foram autores ou co-autores. Em 2006, a assembleia geral por mim convocada elegeu uma nova direção, constituída pelo Dr. José Evaristo Sanches, presidente, Dr. Sérgio Barroso, secretário e Dr. Hélder Mansinho, tesoureiro. A atividade desta direção não cabe no âmbito da minha análise. Se os novos corpos gerentes o considerarem oportuno e de interesse para o tratamento do cancro julgo que deveria ser avaliada e debatida numa perspetiva de um avanço da atividade investigacional do Grupo.



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DR. EVARISTO SANCHES Membro fundador do GICD Presidente do GICD 2006-2012

GICD

Desenvolver, estimular e promover os conhecimentos oncológicos O Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (GICD) tem os seus estatutos aprovados desde 1999. Foram membros fundadores o Dr. José Guimarães dos Santos, a Dr.ª Maria Cândida Bessa Azevedo e Dr. José Evaristo Sanches, que estiveram presentes no registo notarial dos estatutos. Desde então o GICD tem feito jus aos seus estatutos: “desenvolver, estimular e promover os conhecimentos oncológicos, abrangendo as áreas de diagnóstico, tratamento e investigação clínica e pré-clínica na área dos tumores do aparelho digestivo. São ainda objetivos desta associação estender a sua ação a todos os oncologistas e instituições que tratam doentes portadores de neoplasias do aparelho digestivo na tentativa de uniformizar critérios de diagnóstico e tratamento”. Desde o início da sua fundação, participei nas atividades do GICD, tendo ocupado primeiramente o lugar de secretário durante os anos de presidência do

Dr. Guimarães dos Santos e depois de presidente desde 2006 a 2012, sendo secretário o Dr. Sérgio Barroso e tesoureiro o Dr. Hélder Mansinho. Esta estratégia, membros na direção de várias zonas do País, parece ter resultado em maior dinâmica, permitindo uma maior implantação do GICD a nível nacional o que nos permitiu elaborar novos projetos e motivar novos Centros a participar nesses projetos. O primeiro projeto desta direção foi a elaboração do estudo ERBICOX (associação de oxaliplatina com capecitabina e cetuximab) para tratamento de doentes portadores de cancro colorretal metastizado. Este estudo já deu lugar a várias publicações e está terminado e em fase de publicação final. Anualmente, é realizado o Congresso do GICD, que pretende ser um fórum de discussão e atualização no diagnóstico e tratamento das neoplasias do aparelho digestivo.

O primeiro projeto desta direção foi a elaboração do estudo ERBICOX

O GICD pretende abranger na sua atividade toda a patologia oncológica dos diferentes órgãos do aparelho digestivo. Este período foi uma fase muito promissora do GICD. Terminámos o estudo ERBICOX, protocolo para tratamento de doentes portadores de carcinoma colorretal metastizado utilizando a associação oxaliplatina+capecitabi na+cetuximab. Neste estudo foram incluídos os 46 doentes previstos, com a participação de oito centros de todo o País. Foi ainda um sucesso a participação no estudo da

EORTC – PETACC 8 – para tratamento adjuvante de doentes portadores de carcinoma do cólon ressecável estádio III. Participaram centros de todo o País, tendo sido incluídos 70 doentes. Foi também elaborado um projeto epidemiológico a nível nacional – - FOCCO – com o qual se pretende recolher dados e conhecimentos que nos permitam uma fotografia do cancro colorretal em Portugal. Este estudo está terminado e em fase de tratamento de dados. Foi ainda elaborado novo estudo para tratamento de doentes portadores de carcinoma retal metastático – TAGUS – e que ficou em fase de implementação. Queremos incutir em todos o “bicho” da investigação. Não da investigação por profissão mas como parte da atividade clínica. Que na sua atividade diária esteja a descoberta, a inovação, a acumulação do conhecimento para utilizar como mais-valia no dia a dia e que nos conduza ao progresso e, consequentemente, ao melhor tratamento dos doentes.


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Dr. José da Silva Ferreira Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia triénio 2003-2005. Tesoureiro do GICD até 2006

O caminho faz-se caminhando

Este Congresso é o momento certo para homenagear todos colegas que têm contribuído para o progresso da Oncologia Nacional

A poucos dias da realização do 10.º Congresso Nacional do Cancro Digestivo é-me grato recordar os anos de convívio com tantos colegas interessados e competentes nesta área da Oncologia e felicitar a direção do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo pelos objetivos que tem atingido ao longo dos anos, desde 1988, quando distintos colegas com visão do futuro criaram

o Grupo Cooperativo de Cancro Digestivo (GCCD), integrado então na Associação Portuguesa de Investigação Oncológica (APIO). De uma forma particular, quero abraçar com muita amizade e admiração, os colegas, Dr. Guimarães dos Santos e o Dr. Evaristo Sanches, que souberam dar continuidade ao projeto dos fundadores do GCCD e elevá-lo ao patamar de prestígio

que hoje justamente desfruta. Este Congresso é o momento certo para homenagear todos oscolegas que têm contribuído para o progresso da Oncologia Nacional, designadamente os médicos que compõem o GICD e a sua dinâmica direção.


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Dr. sérgio barroso Presidente do GICD

Atividade científica do GICD

A importância do ERBICOX O estudo ERBICOX foi um marco na atividade científica do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (GICD), que num momento de retrospetiva vale a pena revisitar. O estudo de fase II testou uma nova combinação de tratamentos para o cancro colorretal em 48 doentes de onze hospitais do País, recrutados entre setembro de 2005 e outubro de 2006. Conforme explica o Dr. Sérgio Barroso, investigador principal do ERBICOX, “neste estudo utilizámos quimioterapia (constituída por capecitabina e oxaliplatina) em associação com um dos novos fármacos à data, o cetuximab, em doentes com cancro colorretal avançado”. Com este estudo, os investigadores pretenderam averiguar se a associação com cetuximab trazia alguma vantagem para o tratamento destes doentes. O objetivo primário passava pela taxa de resposta global e os secundários incluíam a segurança, o tempo até progressão, o tempo de sobrevivência global e a qualidade de vida. Os resultados foram animadores, com uma eficácia superior ao tratamento só com quimioterapia. A taxa de resposta com cetuximab + xelox como tratamento de 1.ª linha foi de 83,3%, não sendo afetada pela avaliação do EGFR por imunohistoquímica, mostrando-se, portanto, um regime ativo e bem tolerado. “Verificámos que o cetuximab tinha uma toxicidade perfeitamente manejável e que muitos doentes que faziam este tipo de tratamento beneficiavam com ele, garantido um maior controlo da sua doença”, explica o Dr. Sérgio Barroso, atual presidente do GICD. Pela relevância dos resultados

obtidos, o estudo mereceu destaque internacional, com a apresentação de abstracts nos congressos da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e da European Society for Medical Oncology (ESMO). “Os resultados importantes que obtivemos foram muito semelhantes a outros estudos similares realizados por múltiplos grupos em outros países e, por isso, foram utilizados em termos científicos para melhorar a estratégia de tratamento do cancro colorretal avançado. Contribuímos, de alguma forma e à nossa escala, para o conhecimento científico nesta área”, conclui o presidente do GICD numa altura em que o Grupo realiza o seu 10.º Congresso Anual.

“Verificámos que o cetuximab tinha uma toxicidade perfeitamente manejável e que muitos doentes que faziam este tipo de tratamento beneficiavam com ele”

Desenho do Estudo ESTUDO DE FASE II, ABERTO, MULTICÊNTRICO FPI: SET. 2005 // LPI: OUT. 2006 // LPLT: ABRIL. 2007 ERBITUX + XELOX

1.ª LINHA CCRm EGFR +/-

TAXA DE RESPOSTA GLOBAL

Duração do tratamento 8 ciclos (6 meses)

Taxa resposta e expressão do EGFR Table 3: Response by EGFR status Response, n (%)

EGFR detectable (=15)

EGFR non-detectable (=19)

1 (6.7)

3 (15.8)

Partial response

10 (66.7)

14 (73.7)

Stable disease

3 (20.0)

2 (10.5)

1 (6.7)

0 (00.0)

11 (73.4)

17 (89.5)

Complete response

Progressive disease ORR*, n (%) * p=0.370 by Fisher’s exact test. Abbreviations: ORR, overall response rate.


EM A

15

AP RO VA DO

PE LA

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STIVARGA

®

Expandir o tratamento Aumentar a sobrevivência Stivarga é indicado para o tratamento de doentes com cancro colorectal (CCR) metastático que foram previamente tratados com, ou não são considerados elegíveis para as terapêuticas disponíveis. Estas incluem quimioterapia à base de fluoropirimidinas, uma terapêutica anti-VEGF e uma terapêutica anti-EGFR1

Aumenta a sobrevivência global2 Reduz o risco de progressão da doença2 Tratamento oral e em monoterapia1

comprimidos

Nome: Stivarga. Composição: Cada comprimido revestido por película contém 40 mg de regorafenib. Forma Farmacêutica: Comprimido revestido por película. Indicações terapêuticas: Stivarga é indicado para o tratamento de doentes com cancro colorectal (CCR) metastático que foram previamente tratados com, ou não são considerados belegíveis para as terapêuticas disponíveis. Estas incluem quimioterapia à base de fluoropirimidinas, uma terapêutica anti-VEGF e uma terapêutica anti-EGFR. Posologia e modo de administração: A dose recomendada é de 160 mg de regorafenib (4 comprimidos de 40 mg), tomada uma vez por dia, por via oral, durante 3 semanas seguida de 1 semana sem terapêutica. Este período de 4 semanas é considerado um ciclo de tratamento. Podem ser necessárias interrupções da administração e/ou diminuições da dose com base na segurança e tolerabilidade individuais. As alterações da dose têm de ser aplicadas por fases, em doses de 40 mg (um comprimido). A dose diária mais baixa recomendada é de 80 mg. A dose diária máxima é de 160 mg. Não é recomendada a utilização em doentes com afeção hepática grave (Child-Pugh C).Não são necessários ajustes posológicos: doentes com afeção hepática ligeira, doentes com compromisso renal ligeiro ou moderado, com base no sexo, com base na etnia. Stivarga é para utilização por via oral e deve ser tomado à mesma hora todos os dias. Os comprimidos devem ser engolidos inteiros com água após uma refeição ligeira contendo menos de 30% de gordura. Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes. Advertências e precauções especiais de utilização: Efeitos hepáticos: Recomenda-se que sejam realizados testes da função hepática; Doentes com síndrome de Gilbert; Doentes com afeção hepática ligeira ou moderada, Doentes com tumores KRAS mutado; Hemorragia; Isquemia cardíaca e enfarte do miocárdio; Síndrome de encefalopatia posterior reversível (SEPR); Perfuração e fístula gastrointestinais; Hipertensão arterial; Complicações da cicatrização de ferida; Toxicidade dermatológica; Anomalias dos testes laboratoriais bioquímicos e metabólico. Interações medicamentosas: Inibidores do CYP3A4 e UGT1A9 / indutores do CYP3A; Substratos da UGT1A1 e da UGT1A9; Substratos da Proteína de Resistência do Cancro da Mama (Breast Cancer Resistance Protein - BCRP) e da glicoproteína-P; Substratos seletivos de isoformas CYP; Antibióticos; Agentes sequestrantes dos ácidos biliares. Efeitos indesejáveis: Infeção; Trombocitopenia; Anemia; Diminuição do apetite e da ingestão de alimentos; Cefaleias; Hemorragia; Hipertensão; Disfonia; Diarreia; Estomatite; Hiperbilirrubinemia; Reação cutânea mão-pé; Erupção cutânea; Astenia/Fadiga; Dor; Febre; Inflamação das mucosas; Perda de peso; Leucopenia; Hipotiroidismo; Hipocaliemia; Hipofosfatemia; Hipocalcemia; Hiponatremia; Hipomagnesemia; Hiperuricemia; Tremores; Perturbações do paladar; Boca seca; Refluxo gastroesofágico; Gastroenterite; Aumento das transaminases; Pele seca; Alopecia; Afeção ungueal; Erupção cutânea esfoliativa; Rigidez musculosquelética; Proteinúria; Aumento da amílase; Aumento da lípase; Razão normalizada internacional anormal; Enfarte do miocárdio; Isquemia do miocárdio; Crise hipertensora; Perfuração gastrointestinal; Fístula gastrointestinal; Lesão hepática grave; Eritema multiforme; Queratoacantoma/ Carcinoma de células escamosas da pele; Síndrome de encefalopatia posterior reversível (SEPR), Síndrome Stevens-Johnson, Necrólise epidérmica tóxica. Número da A.I.M.: 5579479. Data de revisão do texto: agosto 2013. Para mais informações contactar o titular da AIM. Medicamento sujeito a receita médica restricta a certos meios especializados. Referências: 1 - Resumo das caracteristicas do Medicamento Stivarga, revisão de agosto 2013 2 - Grothey A et al. (Lancet 2013;381:303-12)

Bayer Portugal, S.A., Rua Quinta do Pinheiro, nº5, 2794-003 Carnaxide, NIF 500 043 256.

L.PT.SM.10.2013.0242

Aumenta a taxa de controlo da doença2



17 10.ยบ CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO


18 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Lúcio Lara Santos, MD, PhD Secretário do GICD

Lema do GICD

Investigação de qualidade, consistência e regularidade nos programas que abraçamos O GICD – Grupo de Investigação do Cancro Digestivo, herdeiro do Grupo Cooperativo do Cancro Digestivo da Associação Portuguesa de Investigação Oncológica, foi constituído a 15 de junho de 1999. Com um forte pendor para a investigação clínica associou-se à EORTC aderindo ao programa PETACC (Pan European Trials Against Colon Cancer). Em 2006, o estudo ERBICOX promovido pelo grupo (cancro colorretal) foi relevante. Seguiu-se o PETACC8 (2008). O facto de anualmente o GICD organizar um Congresso Nacional, que entretanto, se tornou um fórum consistente de discussão e atualização no diagnóstico e tratamento do cancro digestivo, galvanizou o número de presenças e de trabalhos apresentados. A multidisciplinaridade foi crescente e é hoje património do grupo. A definição de boas práticas através de recomendações, como por exemplo as recomendações para o diagnóstico e tratamento do Cancro Gástrico, têm sido uma atividade estimulada pelo GICD. Os estudos epidemiológicos, outra vertente importante do trabalho do GICD, tem com o FOCCO - Fotografia do Cancro Colorretal em Portugal (2010-2012) um trabalho fundador. Neste contexto instrumentos de registo como o do hepatocarcinoma, (2012-2013) estudos observacionais como o NISACC (2012-1014) ou as Recomendações para Análise Mutacional em Tumores do Estroma Gastrointestinal

(GISTs - 2012), refletem a vitalidade do grupo. Porém, são ainda escassos os serviços de Oncologia que colaboram nestas atividades de forma consistente e permanente. Quais são as razões? É necessário que o GICD analise e perceba quais são as verdadeiras barreiras pois estas poderão constituir uma ameaça real à produtividade do grupo e mesmo à sua existência. Recentemente e com um grupo de jovens investigadores, demos os primeiros passos na investigação pré-clínica. Neste contexto uma bolsa foi atribuída e já podemos ver os primeiros resultados no programa GLYCONANOMED: antibody based nanomedicine targeting CA19-9 positive gastric cancer cells (2013-2016). A razão deste estudo é a seguinte: os tumores gástricos localmente avançados mas não metastizados são submetidos a quimioterapia neoadjuvante/adjuvante no sentido de reduzir a massa tumoral e/ou para reduzir o risco de metastização à distância. No entanto, uma percentagem significativa destes, não responde ao tratamento. Este projeto tem como objetivo estudar a possibilidade de se obter distribuição seletiva dos agentes de quimioterapia a células tumorais de cancro gástrico que têm sobrexpressão de um antígeno de superfície celular, o sialil-Lea (sLea), utilizando anticorpos conjugados a nanoparticulas. O anticorpo anti-sLea é conjugado à superfície das nanopartículas (lipossomas

Recentemente e com um grupo de jovens investigadores, demos os primeiros passos na investigação pré-clínica

e poli láctico-co-ácido glicólico) com cisplatina e 5-fluorouracil (5-FU) encapsulados. Estas nanoformulações serão testadas em linhas celulares de cancro gástrico, culturas primárias e xenotransplantes de tumores gástricos. Será assim avaliada a sua farmacocinética e a capacidade de promoverem a morte celular mediada por quimioterapia, com redução da toxicidade sistémica. Porém, a atividade de investigação realizada ao abrigo do GICD é ainda escassa. O Congresso anual, apesar da sua qualidade não é, por si só, a garantia da excelência que ambicionamos. Ao realizarmos o 10º Congresso Nacional do Cancro Digestivo é um momento importante para reinventarmos o grupo e torná-lo ainda mais interessante e útil, para tal contamos com todos.


19 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr. Hélder Mansinho Tesoureiro do GICD

Abordagem do cancro digestivo

Multidisciplinaridade, formação e investigação

Uma década de evolução Nos últimos dez anos, um dos ganhos mais importantes foi a possibilidade de aplicação no dia a dia das novas técnicas de sequenciação e caracterização mutacional dos tumores, fazendo com que seja possível a sua melhor caracterização, aliando opções terapêuticas de acordo com essa análise. Deste modo, facilitou-se a individualização da terapêutica, encetando o que se percebe ser imprescindível nos nossos dias: a medicina individualizada ou de precisão. A utilização, desde 2004, da oxalplatina e do irinotecano, assim como dos medicamentos biológicos, levaram a ganhos substanciais na sobrevivência dos doentes com cancro do cólon e reto. A estratégia da multidisciplinaridade é imprescindível para a correta decisão e tratamento dos doentes. O aliar dos avanços terapêuticos médicos e das técnicas cirúrgicas de recessão de metástases, a nível hepático e pulmonar, contribuíram decisivamente para a melhoria de resultados conseguidos. Verificou-se também o aparecimento de novas drogas, algumas delas constituindo de facto avanços terapêuticos nas diversas patologias, para além do cancro colorretal, como é o caso do pâncreas e estômago. Uma última palavra para a prevenção e a necessidade

urgente de implementação de rastreios, quer de base populacional, quer oportunistas, nomeadamente no cancro colorretal. É também urgente a tomada de consciência a nível nacional/ /mundial para o cancro do pâncreas e a necessidade urgente da melhoria dos resultados, uma vez que em causa está o tumor com a pior taxa de sobrevivência aos 5 anos. Investigação Atualmente, alguns hospitais estão melhor organizados e criaram as infraestruturas para poderem desenvolver a vertente investigacional nos seus serviços. A nível nacional existem atualmente estruturas como a Health Cluster Portugal, que poderão ser facilitadoras e dinamizadoras do processo de investigação no nosso País. O aspeto burocrático e de aprovação dos processos e ensaios clínicos deveria ser mais célere por parte das instituições. Da mesma forma, os médicos deveriam ter previsto no seu horário um período para a investigação e não esgotarem o seu horário no trabalho assistencial. No global, penso que existem, atualmente, melhores condições para se poder desenvolver a atividade investigacional. O número de doentes randomizados após uma redução drástica nos

últimos anos começa de novo a recuperar, faltando ainda um longo caminho a percorrer. Estudo ERBICOX O estudo ERBICOX representa um dos períodos de maior dinamismo do grupo. Entre 2005 e 2006 foram randomizados 48 doentes, num estudo de fase II, com cancro colorretal metastizado para os dois braços, um deles, com o medicamento biológico Erbitux® associado à capecitabina e oxalplatina, com melhoria das respostas e sobrevivência, verificando-se que um dos doentes permanece vivo após nove anos de tratamento. Este trabalho foi apresentado internacionalmente sob a forma de poster no Congresso Mundial de Barcelona e publicado nos proceedings da ASCO 2008. O Congresso Anual do GICD O Congresso Nacional do Cancro Digestivo, que se realiza com a periodicidade anual, pretende ser um espaço de formação para os mais novos, tendo sempre a preocupação de realização de cursos sobre as mais variadas temáticas da Oncologia. Este ano, será sobre tumores do pâncreas e neuroendócrinos, consubstanciando ainda um local de atualização e discussão

No global, penso que existem, atualmente, melhores condições para se poder desenvolver a atividade investigacional

dos assuntos mais polémicos e atuais da Oncologia. Neste sentido, o proporcionar deste tempo de aprendizagem e discussão pretende contribuir de forma significativa para a formação e atualização dos que nele participam.


20 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Prof. Dr. António Araújo Diretor do Serviço de Oncologia Médica do Centro Hospitalar do Porto

Um espaço facilitador, aglutinador e catalisador O tratamento do cancro do aparelho digestivo sofreu, na última década, uma evolução significativa, resultado da introdução de técnicas cirúrgicas menos invasivas, como a cirurgia laparoscópica, da evolução do tratamento de radioterapia, com o aparecimento da radioterapia conformacional, e da progressiva utilização de vários agentes inovadores, citotóxicos e biológicos, na prática clínica diária. Assistiu-se ao advento da chamada Medicina Oncológica Personalizada, com a descoberta da importância dos biomarcadores tumorais, quer em termos de prognóstico, quer como preditores da resposta a diversos fármacos. Confirmou-se o impacto que esta nova forma de encarar o cancro digestivo teve nos nossos doentes. O incremento nas taxas de sobrevivência e a melhoria na qualidade de vida dos que sofrem desta(s) doença(s) foi significativo e deixou-nos expectantes e exigentes para o que nos reserva o futuro próximo. Em Portugal, continua a não haver uma política coerente de implementação de um rastreio do cancro do cólon de base populacional, que permitisse o diagnóstico mais precoce da única doença que é possível rastrear a nível do tubo digestivo. Seguramente, conseguiríamos poupar nos tratamentos muito mais do que gastaríamos com a execução do rastreio e permitiria salvar vidas produtivas para a nossa sociedade. Nestes últimos 10 anos, também

se tem assistido a um aumento do número de ensaios clínicos nesta área de patologia. Apesar das inúmeras dificuldades que existiram e existem em Portugal no que diz respeito à implementação de ensaios clínicos, os oncologistas portugueses têm feito um esforço digno de nota para participarem ativamente em ensaios clínicos internacionais e recrutarem um número de doentes que justifique essa participação. Tem-se conseguido vencer alguma resistência dos próprios doentes, fruto de anos de desinformação da própria tutela sobre os objetivos e as vantagens dos ensaios clínicos, e isso tem permitido um recrutamento cada vez maior de doentes e estarmos a atingir um patamar de reconhecimento internacional que, seguramente, dará frutos visíveis num curto espaço de tempo. A introdução de normas de orientação clínica tem sido mais controverso, porque estas não se têm adequado, na forma ou no objetivo implícito, às necessidades da realidade atual. No entanto, a implementação de umas normas de orientação clínica adaptadas à realidade portuguesa, aplicáveis à prática clínica diária, percetíveis e aceites por todos os intervenientes, revistas periodicamente e passíveis de serem construtivamente auditadas, facilitaria o acesso dos doentes à medicação mais correta para cada caso clínico, facilitaria a atividade do médico oncologista e conduziria a um

Os oncologistas portugueses têm feito um esforço digno de nota para participarem ativamente em ensaios clínicos internacionais

estado de maior equidade do tratamento dos doentes com cancro do aparelho digestivo. O Congresso Nacional de Cancro Digestivo tem sido, ao longo destes seus 10 anos de existência, um meio facilitador para aprendizagem dos médicos das diversas especialidades que intervém no tratamento destes doentes, um meio aglutinador para troca de experiências entre os vários profissionais de saúde e um meio catalisador para a elaboração de um pensamento abrangente no rastreio e diagnóstico precoce, na caracterização deste tipo de doenças e na abordagem multidisciplinar que deve ser realizada. Assim, só me resta dar os parabéns à organização deste muito prestigiado evento e desejar que se continue a manter como um marco a nível nacional nesta área oncológica.


21 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr. Guy Vieira Joaquim Chaves Saúde Diretor Clínico - Clínica de Radioncologia do Algarve

Tratamento oncológico

O caminho percorrido e o caminho a percorrer Sendo a multidisciplinaridade o selo de garantia de um bom e adequado tratamento oncológico, este é o fórum ideal para debatermos a estratégia e o modus-operando desta luta a nível nacional, tomando como exemplo outros fóruns e outras experiências internacionais. Ao longo destes dez anos, destacaria “a concomitância da QTRT neoadjuvante no tratamento dos tumores colorretais” como um marco e eventualmente uma estratégia a seguir no tratamento de outras patologias, como por exemplo, os tumores esofágicos e gástricos. Os avanços tecnológicos da imagem diagnóstica, como por exemplo a TAC 4D e a PET TC, como ferramentas essenciais na visualização e definição dos tumores, associadas ao

tratamento, assim como os novos aceleradores lineares com melhor definição do alvo e de precisão de feixe de tratamento, como outro dos principais eventos. Numa era em que a prevenção deveria ser a nossa maior preocupação e o maior investimento, parece-me que nos falta ainda um caminho longo nesse sentido. Se há tentativas tímidas de rastreio do cancro colorretal em algumas regiões do País, há outras onde eles são inexistentes ou inconsequentes. Não faz sentido desenvolvermos programas de gestão de listas de espera de uma determinada forma de tratamento, se não pensarmos globalmente na estratégia e apoiarmos igualmente os diferentes pilares de tratamento.

Os tumores digestivos são uma boa plataforma para que pudéssemos pensar, estruturar, organizar e executar uma luta verdadeiramente multidisciplinar e nacional, com o desenvolver de centros de referência nacionais para cada tipo de tumor, participar em ensaios clínicos nacionais e internacionais e desenvolver investigação com novas abordagens e, eventualmente, novas tecnologias. Temos a vantagem sobre outros de termos um País relativamente pequeno, com excelentes vias de comunicação, o que torna de fácil acesso. Não fazem sentido as divisões territoriais, administrativas ou políticas que justifiquem a nãopartilha de conhecimento ou de resultados, para que possamos

Dr.ª Margarida Damasceno Chefe do Serviço de Oncologia Médica do Hospital de São João

10 Congressos do GICD merecem umas palavras Os tumores digestivos são dos mais frequentes em Portugal, e em algumas áreas como é o cancro gástrico deveríamos ser pioneiros na sua investigação e tratamento. A discussão de todos estes problemas em fórum nacional tem sido muito importante,

nomeadamente ao chamar os jovens a esta discussão. Como membro do GICD, sinto que embora muito se tenha feito, sempre com grande empenhamento dos seus presidentes, muito há ainda para fazer, nomeadamente nas patologias tão frequentes

entre nós como é o caso já referido do cancro gástrico, onde temos em Portugal pessoas de referência na investigação, mas muito menos na área clínica. Mantém-se pois um grande desafio para os próximos 10 anos.

evoluir como um todo e para que nos possamos orgulhar ao que pertencemos e ao que somos. O Congresso do Cancro Digestivo tem contribuído para uma melhoria significativa na educação médica e no esclarecer das opções a tomar neste desfio que nos une, e nas melhores opções que devemos oferecer aos nossos doentes. Tem contribuído para esbater algumas diferenças e até derrubar alguns muros fronteiriços.


22 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr. Jorge Espírito Santo Diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Barreiro Montijo

Uma década em retrospetiva

A abordagem do cancro digestivo O manejo do cancro digestivo, em particular o cancro do cólon e reto, sofreu uma grande evolução nos últimos 10 anos. Em termos de diagnóstico, a descoberta de fatores ou marcadores moleculares, que são simultaneamente fatores preditivos e de prognóstico e alvos terapêuticos, veio alterar a definição da estratégia e o algoritmo de decisão terapêutica destes tumores. A generalização da utilização de novas drogas, como a oxaliplatina e o irinotecan, bem como a melhoria dos protocolos terapêuticos em uso, assim como a introdução de agentes biológicos dirigidos a alvos celulares específicos, e atuando através da inibição das vias de sinalização intracelulares ou da angiogénese, permitiu aumentar significativamente a taxa de resposta e a sobrevivência dos doentes. O principal impacto desta situação foi a possibilidade de tornar ressecáveis metástases hepáticas antes não tratáveis, o que tornou possível a esperança de cura para um grupo de doentes antes não suscetíveis deste tipo de abordagem. A melhor compreensão da biologia dos tumores permitiu integrar de forma muito mais eficaz as várias modalidades de tratamento disponíveis. Os resultados desta evolução estão à vista. No caso do cancro colorretal, passámos de uma sobrevivência global de cerca de 50% para os atuais 58% (dados do EUROCARE 5) e prolongámos a sobrevivência média dos doentes com doença metastática dos 16 meses (há 10 anos) para os atuais 33 meses.

No caso do cancro colorretal, passámos de uma sobrevivência global de cerca de 50% para os atuais 58%

Também em termos de qualidade de vida, a evolução foi muito positiva. A obtenção de elevadas taxas de resposta clínica a novas formas de tratamento trouxeram consigo um melhor controle sintomático, que se mantém por mais tempo. A capacidade de retomar a atividade profissional e manter a autonomia para as atividades da vida diária aumentou e com isso diminuíram as necessidades de cuidados. No caso de outros tumores digestivos também se fizeram notáveis progressos, embora mais lentos e com resultados menos palpáveis, como por exemplo no caso do cancro gástrico, onde também se evoluiu de forma notável através precisamente da tentativa de identificar as características do tumor que possam predizer um comportamento diferente e naturalmente determinar uma abordagem terapêutica adaptada

às necessidades. O Congresso do Cancro Digestivo teve, ao longo desta década, um papel muito relevante, não só pelo volume de atividade realizada, como também pela diversidade dos temas e intervenientes, pela promoção de discussões sobre temáticas de interesse relevante, pela partilha de experiências que proporcionou e pela abordagem que adotou da problemática do cancro digestivo em Portugal. A participação de muitos jovens oncologistas, cirurgiões, anatomopatologistas, radioterapeutas, biólogos e muitos outros especialistas contribuiu para difundir o conhecimento e para enriquecer a experiência de cada um, com vantagem para a melhoria da qualidade da prática clínica em cancro digestivo em Portugal. Que abordagem para o futuro? No futuro, os mecanismos de identificação de grupos de doentes portadores de tumores com comportamento diferente que carecem de abordagens individualizadas serão aperfeiçoados, através da validação de marcadores biológicos que nos possam guiar na escolha do tratamento mais indicado. Será também possível melhorar as estratégias de tratamento, sobretudo no que concerne a definição das sequencias apropriadas para cada doente e respetivo timming de aplicação. A imunoterapia de alguns destes tumores poderá vir a ter papel relevante na melhoria dos resultados futuros.


23 10.ยบ CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO


24 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr.ª Paula Jacinto Assistente de Oncologia Médica do Instituto Português de Oncologia (IPO) Coimbra

Evolução nos últimos 10 anos

Cancro Digestivo em Portugal

Tendo concluído a minha especialização em Oncologia Médica em 2004, acabei por acompanhar o desenvolvimento na incidência, prevenção, diagnóstico e tratamento do cancro digestivo no nosso país, e denotei que, progressivamente, a sociedade tem-se apercebido que este constitui um sério problema de saúde pública. O aumento de incidência do cancro digestivo esperado para 2020 e 2030 leva-nos a pensar que se devem criar as infraestruturas para que o rastreio e tratamento cheguem a toda a população do Continente e Ilhas. A prevenção constitui ainda uma arma crucial para atenuar estas previsões, no qual devem ter um papel importante os Cuidados de Saúde Primários, e a comunicação social, ao fornecerem informações/ /conselhos de fácil interpretação e com validação científica. Como é sabido, a incidência do Cancro Digestivo tem vindo a subir em Portugal e no resto da Europa, essencialmente pelo aumento da incidência do cancro colorretal. Esta situação relaciona-se com o envelhecimento da população, as consequências nefastas da “ocidentalização” dos hábitos de vida, como o sedentarismo, a dieta (fast food) e o aumento da incidência da diabetes mellitus. Em 2004, a oxaliplatina e o irinotecano já tinham demonstrado o seu benefício, após um longo período em que o 5FU era o único citostático disponível, mesmo que utilizado de variadas

formas (em esquemas de bólus ou infusional). Nessa altura, a utilização dos fármacos anti-EGFR e dos anti-angiogénicos na doença metastizada modificaram as taxas de resposta e curvas de sobrevivência até aí conseguidas. A combinação das várias armas disponíveis para o tratamento do cancro colorretal avançado/metastizado (terapia multidisciplinar) com o recurso a abordagem locorregional da doença metastática a nível hepático e/ /ou pulmonar, combinada com a quimioterapia sistémica e agentes biológicos, tem permitido longas sobrevivências em doentes que tinham mau prognóstico ab initio. O desenvolvimento da biologia molecular levou a que se conhecesse os subgrupos de doentes que mais beneficiam da utilização dos anticorpos, permitindo assim tratar os doentes que mais beneficiam destes, obviando assim os custos inerentes. Mais recentemente, a utilização da quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) e da cirurgia de citoredução em centros hospitalares nacionais, permitiram aumentar a sobrevivência dos doentes com carcinomatose peritoneal de cancro colorretal. O cancro gástrico ainda continua a ser uma importante causa de morte por cancro em Portugal, sobretudo na região Norte, não acompanhando da mesma forma a diminuição da incidência que se verifica a nível mundial. Segundo os dados da Globocan

2008, apresenta uma incidência de 2 889/100 000 habitantes (terceira neoplasia maligna com maior incidência) e uma taxa de mortalidade de 2 423/100 000. Modificações dos fatores ambientais, como as melhores condições de vida (refrigeração dos alimentos, e consequentemente menor utilização da salmoura e fumados, maior ingestão de frutas e vegetais, e erradicação do helicobacter pylori) têm constituído um passo fundamental na prevenção primária do cancro gástrico em Portugal, pese embora que estas medidas sejam difíceis de implementar em certas regiões do país por questões de âmbito cultural. A obesidade e provável associação ao aumento da doença de refluxo gastroesofágico (DRGE), e do esófago de Barret, condiciona o aumento da incidência do adenocarcinoma do cárdia que se verifica a nível mundial, e Portugal não é exceção à regra. A suscetibilidade genética, embora contribuindo com menos de 10% do total de casos de carcinoma gástrico, não deve ser esquecida e motiva a referenciação à consulta de risco familiar, quando indicado. Embora a cirurgia continue a ser a única arma que cura o cancro gástrico, a maior parte (60%) são diagnosticados em estádio avançado. O recurso, cada vez maior, a quimioterapia perioperatória tem permitido aumentar o número de casos operáveis, e aumentar a sobrevivência global, modificando assim o prognóstico desta

Aguarda-se com expectativa o contributo que a biologia molecular dará para definir quais os doentes que beneficiam à partida de uma terapêutica baseada no 5FU versus gemcitabina, em primeira linha (hENT, TS)


25 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

doença. Assim, é fundamental que estes casos sejam corretamente estadiados e discutidos em consultas de decisão terapêutica multidisciplinar. Mesmo após uma cirurgia curativa, a recidiva local e à distância é significativa, e a utilização atual da terapêutica adjuvante com radioterapia combinada com quimioterapia, com o cuidadoso manuseamento dos efeitos secundários inerentes, tem permitido reduzir estas taxas de recidiva. As campanhas contra o tabagismo têm permitido diminuir a incidência do carcinoma espinhocelular (CEC) do esófago, entre outros cancros relacionados com o tabagismo, com melhores resultados se acompanhados da redução/interrupção do consumo de bebidas alcoólicas. O desenvolvimento das técnicas de imagem, como a TC e a ECO-EDA, e por vezes a PET-CT, têm permitido uma maior precisão no diagnóstico e estadiamento destes tumores. Consequentemente, ocorre uma melhor utilização das armas terapêuticas disponíveis como a cirurgia na doença localizada e a quimioterapia concomitante com a radioterapia na doença avançada, existindo agora meios que permitem contornar as sequelas/toxicidades inerentes a cada uma destas abordagens terapêuticas (novos antieméticos, prevenção da mucosite, suporte nutricional). Salienta-se a importância que o estado nutricional destes doentes tem no sucesso terapêutico, devendo ser efetuada precocemente a referenciação a consulta de Nutrição. O carcinoma do pâncreas, embora raro (3% de todos os cancros) é a segunda neoplasia digestiva mais maligna e a sua incidência tem vindo a aumentar nos países industrializados. O facto de ser um tumor silencioso leva a que

o diagnóstico seja tardio, e que poucos casos sejam operáveis ao diagnóstico. O desenvolvimento dos métodos de imagem, nomeadamente a TC e a TMN, tem permitido definir com rigor os critérios de ressecabilidade destes tumores, definindo quais os doentes a serem submetidos a uma cirurgia complexa. A utilização da terapêutica adjuvante reduz a recidiva local e a distância, embora se deva tratar cuidadosamente a toxicidade desta terapêutica, como acontece para o carcinoma gástrico, nestes doentes já por si com um estado nutricional afetado pela doença. Na doença metastática, o objetivo da quimioterapia é essencialmente a paliação dos sintomas, como a dor, a saciedade precoce, o emagrecimento, a astenia e a anorexia. Mais recentemente, com a apresentação dos resultados da utilização dos protocolos FOLFIRINOX, e da nova formulação do paclitaxel (Nab-paclitaxel), podemos ambicionar como objetivo adicional o aumento da sobrevivência global, após um “jejum” de mais de 10 anos, em que apenas a gemcitabina tinha mostrado superioridade em relação ao 5FU (Burris et al.), em que os dupletes com este fármaco foram desoladores, conseguindo-se apenas um aumento da PFS na maior parte dos estudos. Aguarda-se com expectativa o contributo que a biologia molecular dará para definir quais os doentes que beneficiam à partida de uma terapêutica baseada no 5FU versus gemcitabina, em primeira linha (hENT, TS). As doenças infecciosas, como a hepatite B e C e a SIDA, levam a que tenhamos um aumento da incidência dos tumores mais frequentemente associados, como o hepatocarcinoma, e até mesmo o CEC do canal anal. A

Embora a cirurgia continue a ser a única arma que cura o cancro gástrico, a maior parte (60%) são diagnosticados em estádio avançado

quimioterapia concomitante com a radioterapia intensiva no CEC do canal anal permite evitar uma colostomia não desejada, tendo o desenvolvimento das técnicas de radioterapia permitido reduzir a sua toxicidade associada (diarreia, dermatite, incontinência de esfíncter). No caso do hepatocarcinoma (CHC), que se desenvolve maioritariamente num fígado cirrótico, o alcoolismo crónico é a causa mais frequente, embora o seu contributo tenha vindo a reduzir, dando lugar a infeção pelo vírus da hepatite B e C, como acontece no resto da Europa e do mundo. O desenvolvimento da Radiologia de Intervenção em Portugal tem permitido tratar doentes sem indicação para cirurgia ou transplante, e o sorafenib continua a ser a único terapêutico sistémico standard para o CHC. O colangiocarcinoma intra e extra-hepáticos continuam a ser um desafio sério para o oncologista médico, que pouco pode adicionar ao papel preponderante que a cirurgia tem no tratamento desta patologia, e aguarda-se com expectativa o

contributo que as terapêuticas-alvo poderão ter, no futuro, neste tipo de tumor. O desenvolvimento dos Cuidados Paliativos nalguns centros hospitalares, e da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) têm permitido prestar cuidados terminais dignos aos doentes em fase terminal, e o apoio necessário à família, com a consciencialização progressiva pela sociedade que ainda se pode fazer muito quando a cura não é possível. Por fim, o manuseamento das complicações da doença avançada de qualquer cancro digestivo, como a icterícia, a suboclusão/oclusão intestinal, a síndrome de anorexia-caquexia, a disfagia e a dor constituem um desafio terapêutico para qualquer médico, exigindo treino qualificado da equipa médica (cirurgia, radiologia de intervenção, gastroenterologia, oncologia médica e radioterapia) com deteção e tratamento precoce das mesmas, evitando sofrimento desnecessário dos doentes, sobretudo os que já se encontram em fase terminal da sua doença.


26 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr. Pedro Chinita Diretor Clínico do Serviço de Radioterapia do Hospital do Espírito Santo, Évora

10 anos em retrospetiva O tratamento do cancro digestivo assenta, como qualquer outro, no diagnóstico precoce pois esta é a única forma de, na maior parte dos casos, garantir uma deteção atempada que permite, muitas vezes, alcançar elevadas taxas de sucesso. Neste particular, foram dados passos muito concretos e bem-sucedidos mas, nos últimos anos, com a crescente desorganização de serviços hospitalares, deserção de profissionais e falta de médicos assistentes, estamos, seguramente, num dos mais momentos mais perigosos numa estratégia de cuidados primários e de especialidade que tinha vindo a proporcionar excelentes resultados. No concernente à terapêutica destaca-se o crescente uso de terapêuticas citostáticas e moleculares numa personalização e adaptação ao tumor que é, afinal, o futuro do tratamento oncológico. Estes cuidados têm vindo a ser disponibilizados por profissionais competentes numa lógica de proximidade e de grande rigor na seleção dos pacientes e terapêuticas. Contudo, também nesta área, os últimos anos, têm demonstrado que este não é um ganho adquirido e que é responsabilidade, não apenas dos profissionais, mas também de todos e de cada um dos doentes e seus familiares, garantir um acesso igual a todos os cidadãos. No relativo à área da radioterapia, assistiu-se,

felizmente, a um crescente acesso a estes cuidados numa lógica de resposta atempada e de proximidade pois os aparelhos, públicos ou privados, foram sendo instalados por diversos pontos do nosso país - Faro, Évora, Barreiro, Santarém, Braga, Vila Real, Funchal - tendo deixado de existir apenas nos três grandes centros urbanos. E a importância deste facto advém de que a radioterapia é absolutamente incontornável no tratamento destas patologias. De facto, o tumor do esófago é cada vez mais tratado com quimio-radioterapia radical, a mesma modalidade é empregue em contexto pós-operatório e pré-operatório em numerosas neoplasias gástricas, como terapêutica pré-operatória no reto ou definitiva no canal anal, já para não falar no pâncreas ou, ainda, ser empregue em contexto mais paliativo com intenções antálgicas/ /hemostáticas. A radioterapia representa, deste ponto de vista, uma das áreas onde, mercê dos enormes investimentos exigíveis na sua instalação, se conseguiu progredir de um modo cada vez mais consistente no sucesso terapêutico das neoplasias digestivas. O diagnóstico precoce é uma peça fundamental, cujo combate, se perdido, deitará tudo a perder. À medida que vamos compreendendo melhor os mecanismos moleculares e é previsível antecipar os graus de resposta a esta ou aquela terapêutica, estaremos em

condições de selecionar, para cada um, o melhor tratamento. Obviamente que esta seleção exige recursos de estudos histopatológicos que, nalguns casos, estão longe de ser acessíveis do ponto de vista financeiro e este é um outro ponto de extrema preocupação. Os custos das terapêuticas sistémicas acabam, por ser, demasiadas vezes, um elemento de decisão crítica. Mas no futuro, ao selecionar para cada grupo de doentes esta e não aquela terapêutica, em vez da sua mera administração a um todo, estaremos também a trabalhar para uma gestão mais racional de recursos que, sabemos todos muito bem, não são infinitos. Neste particular, e mais uma vez, a radioterapia é

No concernente à terapêutica destaca-se o crescente uso de terapêuticas citostáticas e moleculares numa personalização e adaptação ao tumor


27 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr.ª Ana Martins Diretora do Serviço de Oncologia Médica do CHLO

absolutamente incontornável, pois é o tratamento que revelou o melhor custo-benefício e por esse motivo as suas indicações não têm cessado de aumentar. E porque neste “darwinismo” oncológico em que as células tumorais descobrem uma outra via para progredirem, assim que uma foi bloqueada, é absolutamente indispensável que uma terapêutica espacial e complementar, como é a radioterapia, possa ser empregue, com recurso a tecnologias cada vez mais sofisticadas, visando a maior destruição possível da doença oncológica. A decisão terapêutica – como verdadeiro momento de discussão multidisciplinar e não apenas como mero pró-forma, como infelizmente ainda alguns pensam – é o único garante que o doente possui de que a melhor terapêutica será aquela que, efetivamente, lhe será administrada. Os presentes congressos anuais, subordinados ao cancro digestivo, representam no panorama nacional o mais sério e exaustivo esforço de formação e atualização profissional, e por isso têm contado todos os anos com um número crescente de médicos e enfermeiros, seja como palestrantes seja como participantes ou formandos. De facto, de ano para ano, têm contado com a presença – que nos é a mais cara e desejada – de jovens profissionais que assim podem expor as suas dúvidas e atualizar o seu conhecimento em todas e qualquer uma das áreas desde o diagnóstico à terapêutica.

A radioterapia é absolutamente incontornável, pois é o tratamento que revelou o melhor custo-benefício

Constitui também um momento de inédito debate pois é a oportunidade para se realizarem comunicações orais ou discutir posters, bem como escutar e expor dúvidas junto de colegas mais velhos e experientes, num ganho de discussão científica que a todos serve e aproveita e de que, afinal, os nossos doentes são os maiores beneficiários.

Interatividade e dinamismo numa partilha multidisciplinar Com os avanços da biologia molecular e da genómica tem-se vindo a assistir a uma grande evolução no conhecimento da doença oncológica em geral e do cancro digestivo em particular. Estamos avançando rapidamente para o conhecimento de que o cancro digestivo exige um tratamento cada vez mais personalizado e individualizado com fármacos dirigidos às características e alterações específicos do tumor e do doente. Nesta era da Medicina de Precisão é indispensável a identificação de biomarcadores e assinaturas genéticas que possam ser preditivos de resposta à terapêutica, possibilitando a seleção e estratificação da população de doentes que beneficiará com o tratamento dirigido, poupando outros a toxicidades e custos desnecessários. Recentemente, com o conhecimento mais profundo da patogénese da doença oncológica, destaco a Oncoimunologia e a Imunoterapia como sendo áreas de pesquisa das mais inovadoras, fascinantes e em franco desenvolvimento. A imunomodulação oferece a perspetiva duma nova esperança e a aposta em novas opções e estratégias terapêuticas, nomeadamente

nos cancros do trato digestivo. Ao longo desta década, muito tem contribuído o Congresso do Cancro Digestivo para acompanhar esta “avalanche” de conhecimentos em termos de proporcionar formação, atualização e aplicação de novas evidências na prática clínica. O programa científico do Congresso tem sido desenhado sob um modelo que tem facilitado e orientado para os conceitos mais inovadores e por vezes mais controversos, desde a pesquisa básica à clinica, sempre na busca da melhor prática. Este evento anual, mobilizado pelo Grupo de Investigação do Cancro Digestivo, tornou-se um local de partilha interativa, dinâmica e multidisciplinar entre os mais jovens e os mais experientes profissionais envolvidos nesta área. É atualmente um evento científico de referência, indispensável no panorama nacional. Nesta década e a cumprir este ano o seu 10.º aniversário, este encontro além de permitir aperfeiçoar os resultados clínicos, muito tem seguramente contribuído para a realização profissional de todos os envolvidos. Felicito o Grupo e a Organização pelo sucesso desta iniciativa.


28 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr. João Coimbra Assistente Hospitalar Graduado de Gastrenterologia do Hospital dos Capuchos do CHLC

Uma reunião multidisciplinar

Felicito todos os que têm participado na organização e realização durante estes 10 anos do Congresso Nacional do Cancro Digestivo. Esta reunião veio a implementar-se como uma das mais importantes no meio científico nacional no debate dos múltiplos aspetos da patologia oncológica do aparelho digestivo. Neste espaço têm-se reunido especialistas das várias áreas,

setores e quadrantes que se dedicam aos doentes com tumores malignos do aparelho digestivo. Os participantes apresentam os seus resultados para debate, em que os bons casos trazem ânimo para continuar a trabalhar enquanto os maus casos evidenciam a necessidade de trabalhar mais e melhor para que seja possível, prevenir, curar ou cuidar, para aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida destes doentes. Este evento tem contribuído para melhorar o conhecimento da realidade do cancro digestivo de norte a sul do País, permitindo conhecer as diferenças e

semelhanças regionais dos tumores dos vários órgãos do aparelho digestivo. A apresentação dos resultados do tratamento em doentes com doença avançada evidencia as elevadas taxas de morbilidade e mortalidade, obrigando à reflexão e chamando a atenção para a necessidade da formação e educação não só dos médicos, mas também das populações para a importância das medidas preventivas, desde os hábitos de vida, ao rastreio e ao diagnóstico precoce. O Congresso Nacional do Cancro Digestivo tem sido importante

na aglutinação dos vários grupos de trabalho dedicados ao estudo dos vários tumores de cada órgão digestivo, criando um espaço onde são apresentadas as propostas de trabalho e os resultados na luta contra o cancro digestivo. Esta reunião científica tem promovido a participação dos especialistas de várias áreas para que todos possam contribuir com o seu conhecimento e experiência na obtenção de melhores resultados evidenciando a importância e a necessidade de trabalhar em equipas multidisciplinares. Há que continuar, bem hajam.

Dr.ª Sandra Bento Coordenadora da Unidade de Oncologia do Hospital Distrital de Santarém

Um evento de reconhecido mérito

Gostaria de poder dizer que os cancros são diagnosticados em estádios mais precoces, mas a realidade nem sempre é esta. Lamentavelmente, continuamos a receber doentes em fases avançadas. Do ponto de vista clínico, o

rastreio com pesquisa de sangue oculto nas fezes e/ /ou colonoscopia é realizado com maior frequência, mas ainda muito longe do que seria desejável. Por outro lado, a sociedade está mais e melhor informada e portanto mais conhecedora e recetiva a estilos de vida saudáveis, a participar em rastreios organizados e, simultaneamente, mais alerta

para os sintomas dos cancros digestivos. Será cada vez mais uma abordagem individualizada e dirigida, em que de acordo com os diferentes perfis genómicos/ /moleculares irão ditar a escolha da terapêutica mais adequada para cada doente. No entanto, face ao atual contexto económico, a utilização de

novos medicamentos poderá ser limitada. Tive oportunidade de participar regulamente nas diferentes edições do Congresso do Cancro Digestivo. Tem sido sempre um evento de reconhecido mérito em termos de formação, atualização científica e partilha de experiências, verdadeiramente multidisciplinar, tal como deve ser a abordagem do cancro.


29 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

Dr.ª Ana Raimundo Oncologista Médica no Instituto Português de Oncologia (IPO) Porto

Investigação translacional

Resultados na prática clínica nos últimos 10 anos Nos últimos 10 anos, o conhecimento mais aprofundado da biologia tumoral dos tumores digestivos, assim como dos mecanismos moleculares implicados na carcinogénese, tem sido fundamental no desenvolvimento e aplicação de novas estratégias terapêuticas. Em termos de diagnóstico dos tumores digestivos mais frequentes, como o carcinoma gástrico e carcinoma colorretal, quando se equaciona o seu tratamento, não se pode deixar de avaliar o estado HER2 no cancro gástrico, e o estado mutacional RAS no cancro colorretal. O trastuzumab foi o primeiro agente biológico a ser aprovado no tratamento do carcinoma gástrico avançado com sobre-expressão de HER2, com impacto estatisticamente significativo na

sobrevivência. No subgrupo de doentes com maior sobre-expressão (imunohistoquimica 3+), a diferença na sobrevivência global foi de quatro meses. No caso do cancro colorretal, o estado mutacional RAS define as opções terapêuticas possíveis. Constatou-se que a utilização de todos os agentes disponíveis ao longo do tempo permite melhores resultados terapêuticos, com melhoria da sobrevivência mediana e com qualidade de vida. Antevisão para o futuro Os tumores do foro digestivo, assim como os tumores de outras localizações, serão abordados no futuro de forma individualizada. O melhor tratamento para o doente ideal. Isto significa que as características moleculares

do tumor e as características clínicas do doente ditarão o tratamento mais adequado a cada situação. Múltiplos agentes biológicos atuando em diversas vias moleculares estão em estudo em ensaios clínicos, e os resultados são esperados com grande expectativa. Em minha opinião, a imunoterapia no tratamento dos tumores digestivos também será uma alternativa terapêutica a ter em mente. A utilização do sistema imunológico para combater as células tumorais é cada vez mais uma realidade possível. O papel do Congresso O Congresso Nacional do Cancro Digestivo constitui um marco para os Oncologistas que tratam tumores do foro digestivo. Neste Congresso, têm a

possibilidade de se encontrarem, falarem, discutirem os aspetos clínicos e de tratamento mais prementes, assim como de abordarem em conjunto a possibilidade de adotar novas estratégias de diagnóstico e tratamento. É um momento em que se discutem guidelines nacionais e se definem para cada uma das patologias as melhores estratégias. Também é um local de encontro com os colegas oncologistas mais novos e internos em formação, permitindo-lhes ter contacto com cursos e palestras que muito contribuem para a sua formação. Este Congresso é uma verdadeira reunião de atualização e definição de estratégias. É minha esperança que o continue a ser durante, pelo menos, mais 10 anos.

Dr. Miguel Barbosa Oncologista Médico no Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro

Uma década de sucesso Ao longo dos últimos 10 anos assistimos a uma revolução no tratamento do cancro digestivo, sob diversas perspetivas. O desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas e de radioterapia, a identificação de marcadores de prognóstico e preditivos de resposta à terapêutica, a utilização de novos agentes biológicos, o recurso à Radiologia de Intervenção, a

novas técnicas de imagem e de Medicina Nuclear, permitiram um avanço significativo na eficácia do tratamento dos doentes oncológicos com este tipo de patologia. O Congresso do Cancro Digestivo acompanhou esta evolução, assumindo-se como um veículo privilegiado de transmissão de informação científica relevante a todos os profissionais

de saúde interessados neste campo do conhecimento médico. Ao longo dos anos a qualidade das apresentações, a excelência da organização, o ambiente de participação construtiva estimulado pelo Grupo de Investigação do Cancro Digestivo permitiram que este Congresso se assumisse como referencia incontornável da patologia oncológica digestiva.

Associo-me com muito gosto a esta comemoração da 10.ª edição do Congresso do Cancro Digestivo, desejando desde já o mesmo sucesso para as próximas décadas.


30 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

VASCO NORONHA

A responsabilidade de organizar um evento muito específico Decorria o ano de 2001 quando Vasco Noronha fundou a FactorChave e um ano mais tarde esta empresa de marketing integrado tornou-se na agência de comunicação oficial do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (CICD). Em entrevista, aborda diversos aspetos relacionados com este evento que acontece há uma década.

News Farma | Qual é a ligação da FactorChave com o Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (CICD)? Vasco Noronha | A FactorChave é a agência oficial do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo (CICD) desde 2002. O GICD tinha sido criado em 1999 e quando iniciámos este trabalho ainda estava numa fase embrionária. Para além de organizarmos todos os seus congressos, damos todo apoio necessário para que o grupo possa desenvolver várias atividades, tais como ações de formação ou protocolos de investigação. NF | Na sua opinião, em relação ao Congresso, o que significa estar a ser organizado há 10 anos? VN | Mais importante do que atingir uma década, é atingir uma década com sucesso. Ou

seja, aumentando o número de participantes, da área de Oncologia e particularmente da área do cancro digestivo. Os profissionais de Saúde ligados a esta área já têm esta reunião em agenda, onde anualmente podem discutir de uma forma informal os temas mais atuais, as controvérsias e sobretudo ouvir os palestrantes nacionais e internacionais, pois é reconhecidamente uma reunião de elevado valor científico. NF | Este ano são esperados quantos participantes? VN | São esperados entre 250 a 300 participantes, um número que tem-se mantido mais ou menos constante desde há três anos. NF | Quantas comunicações foram submetidas este ano? VN | Foram submetidas mais de 50 comunicações. Aumentámos o

número de comunicações, sendo que tivemos cerca de 20% a mais relativamente ao ano passado. NF | O que implica organizar este evento? VN | É uma grande responsabilidade, porque é a única reunião na área do cancro digestivo em Portugal e, devido a esta especificidade, implica estar muito atento à componente científica, saber quais os temas mais atuais e importantes, de modo a serem abordados. A juntar a tudo isto, é necessário preparar toda a logística. NF | Gostaria de destacar algumas novidades que vão ser apresentadas nesta edição do Congresso? VN | No ano passado, pela primeira, foi realizado um curso pré-congresso para jovens

oncologistas. Foi uma aposta ganha e este ano decorrem dois cursos para jovens oncologistas. Aliás, um dos objetivos do GICD passar por apostar nas pessoas que estão ainda em formação ou que a concluíram recentemente. Por outro lado, a nível tecnológico, os pósteres apresentados também vão ser submetidos pela primeira vez em formato eletrónico. Existem igualmente mais prémios para recompensar os bons trabalhos, o que fomenta a participação de forma ativa. NF | De uma forma geral, quais as expectativas em relação a este evento? VN | Manter pelo menos o número de participantes (já está assegurado) e trabalhar para que continue a ser a reunião de eleição da Oncologia Digestiva em Portugal.


31 10.ยบ CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO


A TRABALHAR PARA QUE CADA DOENTE ONCOLÓGICO TENHA O TRATAMENTO CERTO.

32 10.º CONGRESSO NACIONAL CANCRO DIGESTIVO

O Cancro continua a ser um dos maiores e mais duradouros desafios da Indústria Farmacêutica. É por esta razão que o nosso compromisso de continuar a avançar na luta contra o Cancro é mais forte do que nunca. A Pfizer está a trabalhar para desenvolver terapêuticas alvo tendo por base o conhecimento biológico da doença. Isto ajudarnos-á a direccionar o tratamento certo para a pessoa certa, no momento certo, e a melhorar a vida daqueles que vivem com cancro.

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