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Tratos Culturais

Dr. Edson Shigueaki Nomura

Pesquisador científico – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) Polo Regional Vale do Ribeira – edson.nomura@sp.gov.br

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Dr. Erval Rafael Damatto Junior

Pesquisador científico – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) Polo Regional Vale do Ribeira – erval.damatto@sp.gov.br

Roberto Tokihiro Kobori

Engenheiro agrônomo e consultor técnico em bananicultura nacional.krt.registro@hotmail.com

Luiz Antônio de Campos Penteado

Engenheiro agrônomo e assistente agropecuário VI (aposentado) – CDRS Regional Registro lc.penteado@hotmail.com

1. CONTROLE DE PLANTAS DANINhAS

Para o bom controle de plantas daninhas ou invasoras e prejudiciais ao cultivo de bananeiras, é imprescindível observar alguns cuidados do plantio até a produção. Para tanto, devemos sempre que possível saber que a presença de outras plantas não quer dizer que é prejudicial ao cultivo de bananeiras, mas é importante conhecer e saber o tipo de planta e a sua densidade, para depois definirmos quando e como controlar estas plantas, para que elas não venham a competir economicamente com as bananeiras. A presença intensa de plantas daninhas provoca atraso do desenvolvimento das bananeiras, diminuição do vigor e queda na produção. Existem tipos básicos de controle das plantas daninhas que podem ser utilizados, conforme cada caso.

1.1. Controle cultural

Esse tipo de controle compreende alguns itens que devem ser observados antes do plantio da bananeira, como: a) espaçamento – é muito importante, pois definirá a densidade de plantio e redução da incidência da luz solar no solo. Quanto mais adensado, menores serão as possibilidades da infestação das plantas daninhas; b) enleiramento dos restos da cultura – ao realizar esse trabalho, cobrindo o solo, estaremos controlando assim a emergência das plantas daninhas; conhecida como mulching ou cobertura morta, é uma prática que oferece 49

grandes benefícios para o cultivo de bananeira, porque além de criar condições para uma melhor eficiência das adubações, auxilia no controle de pragas e doenças, na melhoria das condições físicas do solo, no controle parcial da erosão;

1.2. Controle manual

Este tipo de controle de plantas daninhas consiste na utilização de ferramentas manuais, seja por meio de capina manual (arranquio) ou por roçadas. Dependendo da cultivar a ser plantada, serão utilizadas ferramentas de diferentes tipos. a) cultivares Prata e Maçã – como são sensíveis à doença de solo fusariose-da-bananeira, usa-se basicamente o controle das plantas daninhas por meio de roçadas (Figura 31), para evitar a movimentação do solo e o ferimento das raízes, pois podem ser local de entrada para a infecção desta doença. b) cultivares do subgrupo Cavendish – são mais tolerantes às doenças de solo, assim pode-se utilizar as capinas manuais, realizadas por enxadas, porém esses métodos são de baixo rendimento e apresentam um custo elevado devido à grande utilização de mão de obra e ao risco de ferimentos nas raízes.

Figura 31 – Controle de plantas daninhas por meio de roçadas. Foto: Roberto T. Kobori 50

1.3. Controle mecânico

a) cultivares do tipo Prata e Maçã – é comumente utilizado em áreas maiores e extensas de topografia suave onde há possibilidade de mecanização, com uso de roçadeiras tratorizadas e ou em menor escala por roçadeiras adaptadas em microtratores. b) cultivares Nanicão, Nanica e Grande Naine – normalmente utilizadas capinas mecânicas com uso de enxadas rotativas, principalmente na implantação do bananal e na fase inicial de desenvolvimento das bananeiras. Evitar este tipo de controle em bananais em plena produção, dada a grande distribuição e superficialidade do sistema radicular das bananeiras. Estes métodos apresentam um bom rendimento, custo compatível, economia de mão de obra, mas exigem também um planejamento anterior à implantação, bem como um capital inicial maior para investimento na aquisição de máquinas e equipamentos.

1.4. Controle químico

No controle químico podem-se utilizar herbicidas de pós-emergência, devidamente registrados para a cultura, nas dosagens especificadas para cada produto em função do tipo de solo e das espécies infestantes. De maneira geral, têm sido usados preferencialmente herbicidas de contato e na fase em que as plantas daninhas apresentem no máximo 20cm de altura (Figura 32A).

Os herbicidas sistêmicos devem ser usados com restrição, pois podem provocar fitotoxidade nas bananeiras se o uso for frequente, limitando-se a uma aplicação no ciclo, em jato dirigido (sem atingir a planta). Os sintomas de fitotoxidade podem ser confundidos com sintomas de deficiência nutricional ou infecção por fusariose-da-bananeira (Figura 32B).

Já os herbicidas de contato podem ser usados com maior frequência (em torno de quatro vezes por ciclo) e em área total, não exercendo nenhum efeito fitotóxico às bananeiras.

Os produtos devem ter registro para uso na cultura e ser adquiridos mediante receituário agronômico, utilizando-se sempre na aplicação o Equipamento de Proteção Individual (EPI) completo.

A aplicação dos herbicidas pode ser feita com pulverizadores costais manuais, tratorizados ou pulverizadores com motores estacionários com uso de mangueiras compridas e bicos nas extremidades.

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Para melhorar a eficiência e aumentar o período de controle das plantas daninhas, o produtor ainda poderá recorrer à técnica de uso alternado dos herbicidas, utilizando os de poder residual mais longo ou sistêmico intercalados como os de contato ou outro tipo de controle como cultural, manual e/ou mecânico, utilizando os de maior risco para a cultura somente em caso de alta infestação das plantas daninhas.

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Figura 32 – Controle de plantas daninhas por meio de herbicidas (A), sintomas de fitotoxidade de herbicida (B). Fotos: Roberto T. Kobori e Edson Shigueaki Nomura 52

2. DESBASTE

É uma das operações mais importantes no manejo do bananal, consistindo na retirada dos filhos excedentes (irmãos), favorecendo o desenvolvimento de um único filho, deixado junto à planta-mãe, o qual será responsável pela próxima safra. Nos sucessivos desbastes, deixa-se apenas um neto, bisneto etc. O desbaste também poderá ser utilizado de forma a controlar o desenvolvimento da planta, objetivando-se a colheita de cachos na época de melhores preços.

Em bananais em formação, o primeiro desbaste deve ser realizado quando o filho mais velho atingir 60cm de altura e apresentar a primeira folha verdadeira ou quando ocorrer a emissão da inflorescência. O desbaste deverá ser realizado periodicamente, visando manter apenas a família (planta-mãe, filho e neto). Dependendo da idade do bananal e da cultivar, também há a necessidade de se escolher um novo broto junto ao filho que passará a ser o neto. O número de desbastes varia de três a cinco durante cada safra.

Em alguns casos, onde ocorreu a perda de touceiras ou em bananais pouco adensados, há possibilidade de deixar mais de um filho por touceira neste primeiro desbaste. A partir daí, cada filho deverá formar nova família, e daí para a frente só será permitida a permanência de um filho por família, salvo algumas adversidades que possam ocorrer à perda de parte da família.

Para condições de várzeas ou terrenos planos, por ocasião do primeiro desbaste a escolha do filho a ser conservado para produção da próxima safra recairá precisamente sobre o que estiver com maior altura, independentemente de seu aspecto ou localização, a menos que o produtor deseje, por questão de técnica (alinhamento), de estética e beleza do pomar, deixar todos os filhos em mesma direção. No caso dos bananais irrigados, manter sempre o alinhamento seguindo a linha de irrigação.

Para condições de morro (terrenos declivosos) o esquema da escolha do filho a ser conservado para próxima produção será outro, pois recairá somente naquele que estiver se desenvolvendo na posição de morro acima. Esta seleção evita o afloramento dos rizomas descendentes e, com isso, se reduzem eventuais quedas de bananeiras.

A operação de desbaste poderá ser feita de várias formas: a) uso da “lurdinha” – trata-se de uma ferramenta e sua utilização exige que os filhos a serem eliminados sejam inicialmente aparados horizontalmente, 53

bem rente ao solo, com o uso de um penado ou facão. Introduz-se a “lurdinha” na parte mais central das bainhas, até que se sinta a rigidez do rizoma do rebento, quando então se percebe que o cilindro central (gema apical de crescimento) foi alcançado. Posteriormente, inclina-se a “lurdinha” até atingir uma posição de 45o em relação à planta-mãe e provoca-se a quebra da parte central, junto ao colo do rizoma.

É uma prática pouco utilizada pelos produtores por acharem mais difícil e de baixo rendimento ou por falta de costume devido à facilidade encontrada no método tradicional, que é com o uso de penado ou facão. Neste sistema de desbaste, os rizomas dos filhos desbastados geralmente morrem devido ao seu pequeno tamanho, juntamente com todas as suas raízes, prejudicando funções importantes na touceira, como auxiliar na absorção de água e nutrientes que irão alimentar toda a família e ser a base de sustentação da touceira.

b) uso do penado ou facão – são ferramentas de baixo custo e permite que os operadores executem este trabalho com maior rapidez devido ao fato de serem ferramentas de fácil utilização e manejo.

Para execução desse trabalho com tais tipos de ferramenta, o agricultor apenas faz um corte horizontal, bem rente ao solo, nos filhos a serem eliminados e, posteriormente, com a ponta da própria ferramenta, tenta atingir a gema apical de crescimento, objetivando a sua destruição (Figura 33). Esta última operação (corte da gema apical de crescimento) é muito problemática e nem sempre se consegue plenamente, pois nos bananais mais novos as gemas apicais dos filhos eliminados normalmente estão ainda abaixo da superfície do solo a aproximadamente 15-20cm de profundidade e portanto os filhos voltarão a crescer, pois dificilmente a ponta do penado atinge este ponto.

Atualmente, esse método ainda é o mais praticado e com rendimento muito bom e mesmo com a rebrota, corta-se novamente e ainda assim apresenta grande rendimento e vantagens, exceto para cultivares como a Prata-Anã, mais suscetíveis à fusariose-da-bananeira. As touceiras com problemas ou suspeitas deverão ser deixadas para fazer com outra ferramenta para evitar a disseminação da doença.

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Figura 33 – Desbaste com o uso do penado ou facão. Foto: Edson Shigueaki Nomura

3. DESFOLhA E “CIRURGIA”

Periodicamente, aconselha-se a retirada das folhas secas que já não tem função na planta, cortando-as junto ao pecíolo, de baixo para cima, devendo ser depositadas nas entrelinhas do bananal (Figura 34A), pois elas reciclam nutrientes e constituem uma grande fonte de matéria orgânica e, além disto, em terrenos declivosos, se colocadas em posição perpendicular ao escorrimento das águas, servirão como proteção contra a erosão superficial do solo.

Esta operação é importante por permitir um melhor arejamento interno do bananal, por facilitar o desbaste e acelerar o desenvolvimento dos filhos, reduzir os abrigos para os adultos do moleque-da-bananeira, por permitir melhor movimentação e rapidez na colheita além de desmanchar os locais onde as cobras e outros animais peçonhentos costumam se abrigar.

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Em regiões sujeitas ao frio, essa operação deve ser efetuada antes do inverno, para permitir maior escoamento da massa de ar frio do bananal.

Nas folhas que estão com parte atacada por doenças foliares, realizase o corte da área necrosada, operação também chamada de “cirurgia” (Figura 34B). No caso de a folha inteira estar completamente atacada por doenças, realiza-se a desfolha completa. Para diminuir a disseminação de doenças das folhas desbastadas, deve-se posicionar as folhas com a parte superior para baixo em leiras nas entrelinhas de plantio. Em regiões mais secas pode-se aplicar sobre as folhas depositadas no solo uma solução com 5% a10% de ureia para acelerar o processo de decomposição.

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Figura 34 – Deposição das folhas desbastadas na entrelinha de bananeira (A) e cirurgia em folha de bananeira (B). Fotos: Edson Shigueaki Nomura 56

4. ELIMINAÇÃO DO “CORAÇÃO” OU MANGARÁ E PENCAS

O desbaste do “coração” (também conhecido como mangará, botão floral ou flor masculina) visa acelerar o desenvolvimento das bananas, aumentar o comprimento das últimas pencas, antecipar a colheita (reduzir o ciclo), aumentar o peso dos cachos, promover a redução do ataque de tripes e traça-da-bananeira e facilitar o ensacamento dos cachos. A época ideal para este procedimento é por volta do 10.o ao 15.o dia após a abertura da última penca. Para eliminar o coração, deve-se quebrar a ráquis masculina (“rabo do cacho”) cerca 10-15cm acima do “coração” (Figura 35A). Deve-se evitar o uso de ferramentas, pois o corte pode propiciar a transmissão de doenças de uma planta a outra. Em caso de alta infestação e ataque de tripes, recomenda-se picar, enterrar ou retirar o “coração” para fora dos talhões de cultivo de bananeiras. Para produtores mais cautelosos, a eliminação dos corações possibilita fazer uma estimativa quanto ao número de cachos e à previsão de quando será a colheita. Nessa mesma ocasião, podem-se eliminar também de uma a três pencas, deixando-se uma fruta na extremidade final do cacho, com a intensão de manter a circulação de seiva até a fruta mantida e evitar a morte da ráquis pelo ataque de doenças (Figura 35B). A quantidade de pencas retirada dependerá da cultivar, do número de pencas e folhas na planta e do mercado no qual se pretende comercializar a banana. Essa operação tem por objetivo padronizar o tamanho das bananas e antecipar a colheita.

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Figura 35 – Procedimento para eliminação do coração (A) e de pencas (B). Fotos: Edson Shigueaki Nomura

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5. RETIRADA DOS PISTILOS OU DESPISTILAGEM

A despistilagem é a eliminação dos restos florais (pistilos) que ficam aderidos na ponta das bananas e faz com que a extremidades distais (ponta) das frutas fique mais cheia e com melhor aspecto visual, além de ser um eficiente método de controle da traça-da-bananeira. Tem também a função de reduzir em parte os problemas de danos nas frutas, pois os restos florais quando secos são duros e rígidos e se esfregados nas frutas podem provocar manchas enegrecidas na fase de maturação das bananas. Em algumas cultivares não há a necessidade deste manejo, pois os restos florais se desprendem naturalmente, apresentando-se mais limpas. Na prática, esse procedimento não vem sendo realizado no Brasil em nível de campo, pelo seu alto custo. Normalmente essa operação é realizada após a colheita, nos barracões de embalamento, sendo uma tarefa na póscolheita e no pré-embalamento das frutas. Recomenda-se realizar esta operação simultaneamente com o desbaste de pencas e do “coração”, ocasião em que os restos florais estarão começando a secar. Para retirá-los, basta passar a ponta dos dedos nas extremidades das bananas que elas desprendem-se facilmente (Figura 36).

Figura 36 – Procedimento para a despistilagem. Foto: Edson Shigueaki Nomura

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6. ENSACAMENTO DO CAChO

O ensacamento dos cachos é uma prática rotineira nos países tradicionalmente produtores e exportadores de banana, porém atualmente no Brasil são poucos produtores que desenvolvem e praticam este manejo. Esta prática deve ser inserida rotineiramente pelos produtores, uma vez que o mercado está cada vez mais competitivo e exigente quanto à qualidade das frutas.

Após a eliminação do “coração”, desbaste de pencas e despistilagem, os cachos poderão ser ensacados com sacos plásticos de polietileno de densidade específica, preferencialmente de plásticos virgens ou de primeira reciclagem, geralmente de coloração azul ou branca, com dimensões de 75cm a 80cm de largura por 1,2m a 1,6m de comprimento, vazados (boca e fundo aberto) e com várias perfurações de 0,5cm a 1cm de diâmetro, para que propicie a circulação de ar. As primeiras pencas da parte superior dos cachos deverão ser protegidas com folhas de papel para evitar queimaduras pela incidência direta dos raios solares em períodos de altas temperaturas (Figura 37).

Figura 37 – Procedimento para ensacamento do cacho. Fotos: Roberto Tokihiro Kobori

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Este manejo visa à melhoria da qualidade do produto por meio da redução do ataque de pragas e proteção do cacho contra atritos (folhas velhas, escoras etc.), aceleração do seu desenvolvimento e uniformização da coloração e do tamanho das frutas (comprimento e o diâmetro). Além disso, em regiões com períodos de baixas temperaturas, é utilizado no sentido de se evitar ou reduzir os efeitos do chilling ou friagem.

7. ESCORAMENTO DAS BANANEIRAS

Somente é necessário o escoramento (tutoramento) das bananeiras em regiões onde há ocorrência de ventos fortes e se a cultivar plantada tem cachos muito pesados. Não há necessidade de escorar as plantas em bananais onde o plantio de espécies como quebra-vento foi bem planejado. Entretanto, se ela estiver muito atacada por nematoides ou broca, apresentar deficiência de cálcio e magnésio no solo, o escoramento deve ser realizado para reduzir as perdas por tombamento das bananeiras.

O escoramento pode ser feito com um bambu levemente fincado na região abaixo e próximo à roseta foliar (Figura 38A). Outra alternativa é o uso de duas varas de bambu, que serão presas uma à outra com uso de uma corda plástica, de nylon ou sisal, a uma distância de aproximadamente de 30cm da sua extremidade. É sobre esse ponto de união dos dois bambus que irá se apoiar a bananeira, pela sua roseta foliar ou até mesmo pelo engaço do cacho. Os bambus e a bananeira deverão ficar em posição tal que eles formem um tripé (Figura 38B).

Outra forma de escorar as bananeiras é usando cordas de nylon, plástico ou sisal; nesse caso, são usadas uma ou duas cordas, que são amarradas pouco abaixo da roseta foliar, ou um pedaço de madeira amarrado na extremidade da corda e colocado na roseta foliar, ou entre a roseta foliar e o engaço, e posteriormente puxado e travado pelo pedaço de madeira. A outra extremidade será amarrada ao tronco de outras touceiras de bananeiras (Figura 38C). Neste caso, após a sua utilização, as cordas deverão ser recolhidas do campo para reciclagem.

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A B

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Figura 38 – Procedimento para realização do escoramento com bambu (A), dois bambus + fitilho (B) e fitilho (C). Fotos: Edson Shigueaki Nomura

8. REBAIxAMENTO DO PSEUDOCAULE

Na ocasião da colheita, os cachos serão colhidos cortando-se os pseudocaules o mais alto possível, permitindo a translocação dos seus nutrientes e hormônios para o rizoma da planta-mãe e filho. O pseudocaule pode ou não ser eliminado totalmente de 40 a 60 dias após a colheita, uma vez que a translocação da seiva com seus componentes, da planta-mãe para o filho já se processou (Figura 39).

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Todo o resto cultural deverá permanecer no local, pois é uma grande fonte de matéria orgânica que, após a sua decomposição, liberará lentamente quantidade significativa de nutrientes para a planta. É nessa ocasião que também são feitas as iscas para controle do moleque-da-bananeira.

Figura 39 – Procedimento para o rebaixamento do pseudocaule. Fotos: Edson Shigueaki Nomura

9. CULTURAS INTERCALARES

É uma prática comum entre os produtores efetuar uma cultura intercalar durante a fase inicial de formação do bananal (Figura 40). Se a cultura não vier a concorrer por nutrientes e insolação ou trouxer riscos de propagação, ser hospedeira de pragas e doenças para a banana, essa prática poderá ser realizada com grande êxito e rentabilidade.

Para as cultivares Nanicão, Nanica e Grande Naine poderão ser usadas culturas intercalares com leguminosas, solanáceas ou cucurbitáceas, pois apresentam menores riscos de problemas com doenças, enquanto que as gramíneas (milho) são grandes concorrentes e, portanto, prejudiciais à cultura. 62

Para a cultivar Maçã, o ideal é que se mantenha o mínimo de movimentação no solo e seja isenta de materiais ou culturas que concorram com a planta ou possam transmitir doenças.

Figura 40 – Uso de cultura intercalar com uma espécie de leguminosa. Foto: Edson Shigueaki Nomura

10. PRÁTICAS COMPLEMENTARES

10.1. Drenagem

A bananeira é uma planta exigente quanto a umidade do solo, porém o excesso traz problemas sérios para a cultura. As principais características que a bananeiras apresentam em solos mal drenados são: menor desenvolvimento das plantas; folhas defeituosas e quebradiças; rizoma descolorido; e canais vasculares escuros no centro do rizoma.

O efeito da redução da aeração do solo na absorção de nutrientes varia para os diferentes elementos, sendo mais acentuado no caso de potássio (K) e em seguida na ordem decrescente, cálcio (Ca), magnésio (Mg), nitrogênio (N) e fósforo (P).

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A deficiência de drenagem, em estado contínuo, provoca alterações físicas no que diz respeito à estrutura, permeabilidade e temperatura do solo, alterações estas que refletem diretamente no desenvolvimento das plantas. Havendo necessidade de drenagem numa área a ser plantada, ela deve ser feita antes da implantação do pomar. O tipo e a intensidade da drenagem dependem da topografia do terreno, do solo e do clima. A drenagem visa corrigir o desbalanceamento das porcentagens de ar e água do espaço poroso do solo, causado pelo excesso de umidade. As dimensões dos diversos drenos a serem construídos devem apresentar características que reflitam na maior eficiência do sistema de drenagem. No dimensionamento de projeto de drenagem, devem ser considerados alguns fatores como a finalidade da drenagem para a cultura ou sistema que será utilizado a área drenada e o tipo de solo, pois os orgânicos e turfosos geralmente requerem maior volume escavado por hectare. Quanto maior a utilização da drenagem natural, menor será o custo para a construção; e em relação ao equipamento, deve-se considerar o seu rendimento, pois quanto maior, menor será o custo por área escavada.

• Sistemas de drenagem

A remoção do excesso de água do solo é feita utilizando-se drenos abertos (valas) ou drenos cobertos (tubos e ou material enterrado no solo). O sistema de drenagem é composto de quatro tipos de drenos: a) drenos laterais – também chamados de primários ou de campo, promovem o rebaixamento do lençol na parte mais plana ou de menor declividade da área, podendo ser abertos (valas) ou cobertos; b) drenos coletores – aqueles que recebem água dos drenos laterais, recomenda-se que sejam abertos devido ao maior volume de água, à melhor operacionalização e à facilidade de inspeção; c) drenos interceptores – localizados normalmente nas bases das encostas, circundando as áreas a serem drenadas, interceptam o escoamento superficial ou subterrâneo. Podem ser abertos (mais comum) ou cobertos; d) drenos principais – são canais-drenos de maiores dimensões, recebem água dos coletores e dos interceptores conduzindo-a para fora da área drenada.

• Métodos de drenagem

As situações existentes na construção dos sistemas de drenagem consistem basicamente em duas metodologias: 64

a) drenagem superficial – é a remoção do excesso de água da superfície do solo por meio de canais-drenos, sendo recomendada para regiões planas de baixa permeabilidade ou de perfil do solo com presença de camada impermeável a pequena profundidade. Podem ser divididas em sistema paralelo, recomendado em áreas planas, com declividade abaixo de 1-2%, com drenos no sentido da declividade; sistema casualizado, recomendado em áreas planas contendo depressões dispersas; e sistema transversal, recomendado quando o declive do terreno é acentuado, no caso os drenos são dispostos transversalmente ao sentido do escoamento superficial; b) drenagem subsuperficial ou subterrânea – é a remoção do excesso de água abaixo do nível da superfície do solo. No caso, os sistemas podem ser divididos em drenagem de alívio –usado no rebaixamento do lençol freático, em condições de terrenos planos de baixos gradientes. Os tipos de sistemas de alívio mais comuns são casualizado e paralelo, porém existe também – sistema espinha de peixe – que deve ser usado quando o dreno coletor cair numa depressão ou na direção da maior declividade permitindo melhores declividades aos drenos laterais na disposição transversal ao dreno coletor – e o sistema duplo principal, aconselhado quando houver um curso de água cortando a área e o tal estiver numa depressão que continuamente se apresenta umedecida. c) drenagem de interceptação – compreende os drenos interceptores.

Figura 41 – Sistemas de drenagem no cultivo de bananeiras. Fotos: Roberto T. Kobori

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10.2. Irrigação

A umidade do solo desempenha importante papel na produção do bananal, especialmente em relação à emissão da inflorescência e ao enchimento dos frutos. Em condições críticas de deficiência de umidade, ocorre o estrangulamento da roseta foliar e dificuldade da emissão floral (engasgamento); e quando conseguem sair, os cachos e os frutos ficam deformados, totalmente inviáveis para comercialização. Em condições menos críticas, haverá o encurtamento do engaço e os cachos produzidos serão compactos e as frutas curtas, com menor valor comercial das bananas. A bananeira exige grande quantidade de água e fornecimento constante; dificilmente encontra condições ecológicas e edafoclimáticas que satisfaçam completamente suas necessidades, principalmente as hídricas. O consumo varia de 3mm a 8mm por dia, de acordo com o tipo de solo e as condições climáticas predominantes na região. Para um adequado desenvolvimento e produção das bananeiras, é necessário que ocorra um mínimo de precipitação de 50mm/mês nas estações de outono e inverno e 120mm/mês nas estações de primavera e verão. Em regiões ou locais onde isto não ocorre, os produtores deverão recorrer à irrigação para obter o máximo de produção e qualidade. Em regiões onde ocorrem períodos constantes de déficit hídrico, a bananeira terá sérias limitações na produção. No Brasil, a irrigação é pouco utilizada no cultivo de bananeira, principalmente devido à concentração das áreas plantadas em solos de topografia muito acentuada, com precipitação muito elevada em razão do desconhecimento dos próprios produtores em relação às suas vantagens e aplicações no campo. Atualmente, porém, investir em irrigação vem despertando muito interesse dos bananicultores brasileiros, por causa do aumento da produção e da maior exigência do mercado consumidor quanto à qualidade e frequência de fornecimento de banana o ano todo.

A escolha do método está ligada às condições locais de cultivo, tais como a quantidade e qualidade da água disponível, os tipos de solo e relevo, o custo de implantação da irrigação e a disponibilidade de mão de obra. Os métodos de irrigação comumente usados são por faixas, sulcos, aspersão e gotejamento. A irrigação por aspersão e o gotejamento são os mais modernos, exigindo cálculos e planejamento mais criteriosos para garantir o sucesso do investimento. Nos métodos de irrigação por sulco de infiltração e por faixas devem-se evitar áreas muitos acidentadas e solos extremamente permeáveis (arenosos). 66

Recomenda-se um estudo prévio do solo para a escolha da declividade, das vazões e do comprimento adequado dos sulcos ou faixas, o que irá favorecer uma distribuição uniforme da água para a cultura, sem causar erosão do solo e proporcionar maior rentabilidade ao produtor. Nesses métodos, o sistema de drenagem é também essencial. Devem ser projetados drenos para escoar o excesso da água de irrigação, evitando-se o encharcamento do solo e todas as suas consequências negativas. Vantagens da irrigação: garantia de produção; maior produtividade (4550t/ha); uso intensivo do solo; precocidade na colheita; produção distri-buída ao longo do ano; maior receita por ano ou safra; possibilidade do uso das outras técnicas e tratos culturais na cultura (fertirrigação); suplementação do déficit hídrico; utilização da mão de obra ociosa; além dos benefícios diretos e indiretos na comercialização que são os de aspectos qualitativos dos frutos produzidos.

• Principais métodos de irrigação

a) por sulcos: consiste na condução da água por meio de pequenos canais ou sulcos situados paralelamente às fileiras das plantas. Recomenda-se um estudo prévio do solo para a escolha da declividade, das vazões e do comprimento adequado dos sulcos ou faixas, o que irá favorecer uma distribuição uniforme da água para a cultura, sem causar erosão do solo e proporcionar maior rentabilidade ao produtor. Nesses métodos, o sistema de drenagem é também essencial. Devem ser projetados drenos para escoar o excesso da água de irrigação, evitando-se o encharcamento do solo e todas as suas consequências negativas. - é um método de irrigação que se adapta às várias culturas; - a irrigação por sulcos em bananeiras pode ser limitada em solos superficiais, demasiadamente permeáveis, terrenos acidentados com presença de pedras e tocos. No entanto é perfeitamente viável em condições de topografia suave e solos profundos, onde se exige pouca movimentação de terra para sistematização; - planejar o plantio e locar os sulcos preferencialmente em níveis com mínimo declive; - o ideal é que sejam feitos no mínimo dois sulcos, um de cada lado das touceiras de bananeiras; - a profundidade e largura dos sulcos devem ser de aproximadamente de 20cm e comprimento variável, dependente da declividade do terreno, do tipo de solo, da vazão e da lâmina de água a ser aplicada; - o método exige grande quantidade de água, portanto há necessidade de se ter disponibilidade de grande volume de água na propriedade. Geralmente, se utilizam vazões de 0,5L/s a 2L/s e declividade compatíveis com as características topográficas da área ou em sulcos com 1% de declividade; - intervalos de irrigação dependem do tipo de solo (em geral, de sete a 10 dias);

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- a eficiência da irrigação por esse método varia de 40% a 60%. – Vantagens: baixo custo de implantação, dependendo diretamente das características topográficas da área; não apresenta peças que estão sujeitas a defeitos e falhas (aspersores e gotejadores). – Desvantagens: o método consome grande volume de água; exige condições topográficas adequadas e, em alguns casos, requer também a sistematização do terreno; os sulcos ou tabuleiros de irrigação geralmente necessitam ser refeitos a cada safra e/ou ciclo de produção; utiliza muita mão-de-obra nas operações de irrigação; facilita a disseminação de pragas (nematoides) e doenças de solo; e menor eficiência das adubações. b) Por aspersão: - o turno de rega é calculado baseado na capacidade de retenção do solo, na vazão dos aspersores e na necessidade da cultura. Para a bananeira, deve-se usar entre 10-15mm de água/h e num intervalo que varia de 12 a 15 dias em solos arenosos, tendo em média a necessidade de 2,5 horas -homem/ha de irrigação.

Pode ser de várias formas:

b.1) Sobrecopa: é aquela na qual a água é aspergida no solo em forma de chuva, usando aspersores de alta pressão, que podem ser portáteis ou semiportáteis, canhão hidráulico, autopropelido e pivô central. A irrigação é acima das folhas e tem o inconveniente de aumentar o consumo de água devido à maior evaporação; além disso, a distribuição da água pode sofrer interferência do vento (acima de 8km/h). Quanto maior a temperatura e a incidência de ventos, maior será a perda de água por evaporação. Além disso, esse sistema de irrigação favorece as condições ideais para a disseminação e o desenvolvimento de doenças foliares, principalmente as sigatokas amarela e negra; exige manejo periódico dos bicos e a água aplicada acima das folhas está mais sujeita à ação dos ventos. - Portátil ou semiportátil: utiliza aspersores e a pressão necessária gira entre 4kg/cm2 e 8kg/cm2, pode atingir um raio de molhação de 5 a 10 metros. As linhas de tubulações para alimentação dos aspersores podem ser móveis (portátil) ou fixas (semiportátil), necessitando de mão de obra para o deslocamento das linhas de tubulações. - Canhão hidráulico: necessita de grande vazão (mínimo de uma polegada), tem raio de alcance de até mais que 40m e menor dificuldade de locomoção; os canhões devem estar no mínimo a um metro acima das folhas das bananeiras. Neste sistema, a água é recalcada por tubulações fixas e com pontos de engate rápidos.

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- Autopropelido: é um canhão hidráulico acoplado sobre uma carreta que desloca continuamente, tracionada por um dispositivo acionado pela própria força da água de irrigação (Figura 42A). Sua alimentação é feita por meio de tubos flexíveis com diâmetro de três a quatro polegadas (Figura 42B). Nesse sistema, é preciso preparar o carregador para o deslocamento do canhão e é de uso preferencial em áreas planas. - Pivô central: é o sistema de irrigação por aspersão mais automatizado e com maior custo disponível no mercado. Esse sistema opera em círculo, com altura livre de 2,7m, com torres a cada 38-52m e composto de quatro a 15 torres, cobrindo uma área de 12ha a 122ha irrigada por volta completa (Figura 42C). – Vantagens: utiliza pouca mão de obra; o fornecimento de água é regular e uniforme, pois é o método que mais se assemelha a uma chuva natural; ao término da irrigação, já está pronto para a seguinte; adapta-se bem à maioria dos tipos de solos, da topografia e das culturas. – Desvantagens: perda de muita área (20%) sem irrigar devido ao seu sistema ser circular; exige uma sistematização do solo para evitar o escorrimento superficial; áreas totalmente livres e contínuas; equipamentos de alimentação energética muito grandes e, consequentemente, com alto custo em energia elétrica. No cultivo de bananeiras, é necessário ser redimensionado devido à sua altura livre ser baixa para a cultura; interferir nos tratamentos fitossanitários; e ter alto custo de instalação. b.2) Subcopa ou microaspersão: é aquela em que a água é aspergida no solo em forma de chuva abaixo das folhas das bananeiras, devido ao fracionamento do jato de água em gotas por meio de aspersores giratórios, fixos ou microaspersores com baixa vazão e pressão, a fim de evitar erosão e não ferir o pseudocaule (Figura 42D). Em bananais densos, os pseudocaules podem servir de obstáculos para a distribuição uniforme de água no solo. Os intervalos de irrigação dependem do tipo de solo e da quantidade de água aplicada (em média 15 dias). – Vantagens: sofre menos com o problema de deriva por ventos; apresenta maior eficiência e rendimento, exigindo menor quantidade de água do que os métodos anteriores; como as folhas não são atingidas pela água de irrigação, há um controle mais eficiente das doenças foliares. – Desvantagens: método de custo médio, com grande investimento na compra de tubos/canos de irrigação; exige manejo periódico e constante dos bicos.

b.3) Gotejamento: Esse método consiste na aplicação de água em baixo volume e em alta frequência, objetivando manter a umidade do solo na zona radicular na capacidade de campo. Dessa maneira, a superfície do 69

solo fica com uma área molhada em forma circular e em volume do solo molhado em forma de bulbo, com uma eficiência no uso da água em torno de 90%. São usadas vazões de 1L/hora a 10L/hora, em frequência de um a quatro dias e a pressão normalmente varia de 0,5-2,5 atmosferas. - A aplicação de água é feita por meio de tubos perfurados em orifícios de diâmetros reduzidos ou por meio de peças especiais denominadas gotejadores, que ficam conectados em tubulações de polietileno flexível. Na saída do conjunto motobomba é adaptado o cabeçal de controle que contém filtro de areia e/ou tela, válvulas de pressão, registros, manômetro, medidores de vazão e até injetor de fertilizantes (Venturi). - Os intervalos de irrigação dependem do tipo de solo e da quantidade de água aplicada (média de nove dias). – Vantagens: obtém-se maior produtividade, especialmente em culturas que respondem a maiores níveis de umidade no solo; maior facilidade na aplicação do adubo por cobertura, pois permite a fertirrigação; maior eficiência no controle fitossanitário, pois não irriga as plantas daninhas e nem molha a parte aérea das bananeiras; não interfere com as práticas culturais, podendo ser realizadas operações depois de cada irrigação; melhor adaptação aos diferentes tipos e topografias; e menor volume de água gasto. – Desvantagens: alto custo de implantação; pode ocorrer constantemente o entupimento dos gotejadores se não são utilizados filtros ou água de boa qualidade; possibilita o tombamento das plantas, devido à maior concentração de raízes no bulbo molhado, principalmente em regiões sujeitas a ventos fortes.

A

B

Figura 42 – Sistemas de irrigação no cultivo de bananeiras: autopropelido (A e B). Fotos: Roberto Tokihiro Kobori e Edson Shigueaki Nomura 70

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