Capa cd belavista tuxa e pedroca issu

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A PAISAGEM EDUCATIVA

UM ESTUDO SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL RURAL PAULISTA

Autoria: ANDRÉ TOSTES GRAZIANO - Orientação: OLGA RODRIGUES DE MORAES VON SIMSON


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ANDRE TOSTES GRAZIANO

A PAISAGEM EDUCATIVA UM ESTUDO COMPARATIVO SOBRE A PAISAGEM NO CONTEXTO DO PATRIMÔNIO CULTURAL RURAL PAULISTA

Tese de Doutorado Orientador: OLGA RODRIGUES DE MORAES VON SIMSON

CAMPINAS 2016


Tuxa e Pedroca

Fazenda Bela Vista

Francisco e Zezé Fazenda Quilombo

João e Renata

Fazenda Sto Antônio Água Limpa



BELA VISTA 1: Tuxa e Pedroca (proprietários); 2: Adriana M. Machado; 3: Jorge R. Aun; 4: Vera S. Luz; 5: Sylvia B. Coutinho (Visitantes).

SANTO ANTÔNIO ÁGUA LIMPA 6: João e Renata (proprietários); 7: Isis Garcia F. Tostes; 8: Vitor R. Laubé, Gina Laubé, Lyane Laubé e Ilzo R. Laubé (Visitantes).

QUILOMBO 9: Francisco e Zezé (proprietários); 10: Iolanda Rosa; 11: Maria Inês B. Marini; 12 Ana Carolina X. Fernandes; 13: Moisés Souza (Visitantes).


BELA VISTA

Pedroca “Eu fui um fazendeiro fracassado, isso porque eu tentei de tudo, tentei criar gado, tentei tirar leite, plantei café, fiz arroz irrigado, tive granja, tirei leite B, mas nada deu resultado, condigno com o trabalho” “O cavalo não tem barulho, você não precisa prestar atenção porque ele vai sozinho, e vai devagar, então você tem tempo de absorver toda a paisagem, (...) você via longe um vulto, não sabia bem o que era, coisa de 40 quilômetros, conforme você ia chegando você via que era uma montanha, que eram pedras, então quando chegava no lugar você absorveu aquele negócio todo. Isso aí, só o cavalo propicia”. Tuxa “A gente tem a paisagem? Tem! Mas você não tem o suporte para manter, você vê a gente, uma cidade que tem quatro hotéis fazenda, as estradas, você anda é só lixo! (...) É uma estrutura que acho que falta, estrutura do simples, básica, limpeza por exemplo”. “O meu pai, que nas cavalgadas vai dando, podemos dizer, vai ensinando, como funciona a natureza aqui, então ele é ótimo para isso”.


Adriana “São pessoas que marcam muito, contam coisas, apontam muito. / “José pequenininho falando: ‘mãe, olha que linda aquela árvore’, em São Paulo também tem árvores lindas, mas a gente não olha as árvores lindas lá, né?” / “É engraçado porque os meninos não conseguem entender a extensão da Bela Vista, porque a extensão da Bela Vista é infinita!” Jorge “Havia uma mistura muito grande e interessante entre as crianças nossas e os filhos dos colonos, e isso foi muito importante para formação dos meus filhos (...) não havia diferenciação por classe lá, eles se misturavam, passeavam, iam na cachoeira, iam nadar no rio, iam andar a cavalo”. Sylvia “Eu acho que daqui a pouco isso (a fazenda) vai virar um tipo de um sanatório, no bom sentido, as pessoas virão aqui para sanar, sanar os seus males”. / “Eu vou lá e fico cheirando, só cheirando, o cheiro das mangueiras. Não é da mangueira... mas é um cheiro daquele úmido, de excesso de matéria orgânica”. Vera “Tem uma coisa que não é cenográfica, ou seja, a paisagem é o que ela é”. / “Eu acho que paisagem é uma coisa física e é humana, aquela fazenda, se mudar de dono, e mudar a maneira de trabalhar, ela é outra coisa.” / “ele fala: ‘eu quis fazer essa escola a partir das coisas primordiais que são: os velhos que ficavam sob a árvore contando para os mais novos, e isso era o educar”.

DEPOIMENTOS


SANTO ANTÔNIO ÁGUA LIMPA

João “Essa nova mata que nós estamos planejando aqui na fazenda, vai ser uma mata com o homem participando do plantio dela” / “Eu gosto mesmo é de ver, ver o trabalho da natureza e apreciar e aprender com ela”. / “A colheita parte principalmente dessas três coisas que você vai colher: a cada dia uma terra mais fértil, a cada dia um ar mais puro e a cada dia uma água mais limpa, as outras colheitas que você vai ter, todas as outras colheitas, são consequências dessas colheitas.” / “Eu almoçava e jantava com eles (...) porque eles iam no cafezal e colhiam aquelas verduras, e traziam embornais e embornais de tarde para a comida (...) Quando você tirou isso daí deles (...) as áreas em que plantavam, na verdade você castrou o direito deles sonharem!” Renata “Quando chega ali em cima do morro, que olha: ‘Ah, aqui que é a fazenda, né?’ Porque vê na hora onde que começa a agrofloresta, quem conhece sabe”. / “Conhecer pessoas novas, saber das pessoas e, eu adoro isso, saber da vida das pessoas, não no sentido maléfico de dizer (...) eu acho gostoso isso, é como se eu tivesse lendo um livro, né?” / “O meu departamento é a casa, é a sede, eu tomo conta aqui da sede eu sou ‘manicada’ com limpeza, com arrumações e gosto de deixar os ambientes agradáveis e bonitos (...) é um prazer receber as pessoas, tanto faz se é da minha família ou se é um hóspede.”


Gina “eu adoro ouvir o som do silêncio, é o som do silêncio, né? Isso faz um bem!” (...) Sentir o cheiro, sentir o verde, gosto de sentir o cheiro do mato (...) Eu fico caçando, nisso o tempo vai e a gente viaja, é gostoso sabe, espairece.” Ilzo “e ela vai explicando como ela faz, tudo é uma aula, tudo é aprendizado” / “Ele tem aquela ânsia de dar a deixa, ele deixa a bola pingando para você chutar (...) você meu hóspede aprendiz” / “O João incorpora tudo, né? A fazenda é só o lugar (...) da transparência, da simplicidade, da acessibilidade muito grande”. Isis O café, aquele terreirão de café, eu nunca vi um terreiro tão grande (...) e o fato de hospedarem pessoas que acrescentam conhecimento na fazenda (...) volta para infância, é uma viagem! (...) isso aí ‘aviva’ muito a memória da gente”. Lyane “Ele gosta daquela informalidade de lá de fora, a Renata já gosta de uma coisa mais elaborada (...) fico imaginando se a gente olhasse de cima. Você vê aquele bando de mato, bicharada andando, uma coisa extremamente natural”. Vitor “É um casal diferente, achei ele bem diferente dela, mas os dois juntos são 10, são formidáveis”. / “Admiro com receio, porque essa estrada dele acho muito difícil. Não acho que seja tão fácil assim ele fazer vingar as ideias dele.” / “eu não vejo, mas eu sinto.”

DEPOIMENTOS


QUILOMBO Francisco

“E isso nós conseguimos por muito amor ao lugar que a gente vive, que nos identificamos com a paisagem que temos, que de certa forma foi por nós construída.” / “Preservar o meio ambiente, preservar uma paisagem rural, uma paisagem produtiva, ou às vezes não produtiva, como seriam os parques estaduais, nacionais é uma tarefa que algumas pessoas realizam em nome de toda a sociedade.” / “Estamos aqui desde 1816 (...) Com a mineração nós vamos poder ir um pouco mais longe, ao invés de a gente ir para os meados do séc. XIX, nós vamos para 200 milhões de anos atrás.” / “Quando você fala de paisagem você tem que incluir que o ser humano faz parte da paisagem e que o ser humano precisa ser respeitado.“ Zezé “Ah, esse muro é bonito, o portão, vamos fazer um plantio de palmeiras aí na frente’, que via-se lá o Morro Azul, as palmeiras que davam tanto charme à outra fazenda. / “E dessa data em diante (1972) a gente começou a transformar a feição dessa propriedade, que era chamada por todos de ‘fazenda véia’ e hoje ninguém mais se refere à fazenda como: ‘fazenda véia’.” / “São coisas assim que você vai recolhendo, pequenos fragmentos, e vai montando a história, como um quebra cabeça (...) graças a essas lembranças que as pessoas têm da paisagem, dos plantios, dos trabalhos delas. De gerações que se encontram por conta do interesse de rever lugares.”


Ana Carolina “Eu entrei com um olhar assim de tristeza, de ver aquela fazenda antiquíssima, que devia ser hiper preservada, valorizada, né? O governo incentivar, dar apoio... não tem nada disso.” / “Eu sempre fico namorando o Morro Azul daqui, e daí eu fui lá e fiquei no pé do morro. Interessante que do pé do chão até lá em cima tem uma mata e eu não imaginava.” Iolanda “Eu fui criada lá no Paraná, e a gente andava pelos lugares assim. Quando eu cheguei, quando eu vi aquele estábulo... os animais ali, me lembrei de lá, de quando era criança (...) Quando nós chegamos ali naquela salinha, você sente, né? O aroma do café.” Maria Inês “É importante essa preservação, porque a fazenda ali, pelo que deu para perceber, ela não está resgatando, ela está preservando o que houve ali. É diferente ter uma coisa perdida que se resgata” / “Tem um cantinho lá (...) para a gente valorizar mais ainda nossos antepassados, com tudo aquilo que eles construíram com suor e amor para toda a família.” Moisés “Nós fomos saindo, indo, descendo, foi chegando... parece que eu tinha fechado os olhos e que quando abri só tinha aquela coisa bonita, interessante, na nossa frente.” / “Fez me lembrar do tempo que eu era criança, eu soquei muito arroz em um pilão daquele.”

DEPOIMENTOS


A TESE

O tema desta pesquisa de doutorado trata da utilização da leitura de paisagens como ferramenta educativa no contexto do patrimônio cultural rural representado pelas fazendas históricas paulistas. Considera-se que o município educa e que o turismo e atividades/programas educacionais ligados ao meio ambiente e ao patrimônio são relevantes para permitir e/ou habilitar diferentes observadores, proprietários ou visitantes, a fazer leituras circunstanciadas das paisagens selecionadas. O objetivo deste trabalho é desenvolver uma análise de multicasos comparados das paisagens de três fazendas históricas participantes do Programa de Pesquisa em Políticas Públicas/FAPESP – Patrimônio Cultural Rural Paulista, a partir do conteúdo dos depoimentos registrados e de imagens selecionadas pelo público entrevistado, utilizando-se a metodologia da História Oral. Busca-se aferir entre os entrevistados aspectos relativos à percepção, descrição, reflexão e à reconstrução das paisagens, que se diferenciam em função das características pessoais e trajetórias de vida dos en-

trevistados, da frequência de contato com a fazenda e da existência de ações educativas e atividades turísticas desenvolvidas nas propriedades. O referencial teórico da pesquisa está relacionado à paisagem, ao turismo e à educação, em interface com o patrimônio cultural rural, cuja ancoragem é Tuan, Besse, Magalhães, Barreto, Trilla, Simson, Libâneo, Garcia entre outros. Constata-se que a percepção da paisagem pelos entrevistados está vinculada ao tempo/qualidade da experiência, às atividades/percursos realizados e à sua respectiva apropriação, concorrendo para tanto os elementos patrimoniais de cada fazenda, sendo que as ações educativas não-formais são significativas na reconstrução idealizada da paisagem visitada. Justifica-se a pertinência desta pesquisa pela discussão da leitura da paisagem como uma ferramenta de análise sociocultural, associada às ações de Turismo e de Educação. Constitui-se ainda registro inédito do posicionamento de proprietários das fazendas históricas paulistas e dos visitantes que têm o patrimônio cultural rural e sua paisagem respectiva como objeto de interesse turístico, de experiências de lazer, saúde, conhecimento histórico e de formação cultural.


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