Cuidar dos povos é preservar o rio.
Cuidar dos povos é preservar o rio.
Preservar o rio é cuidar dos povos.
Preservar o rio é cuidar dos
povos.
Os povos do Velho Chico
Com uma extensão 2.863 km, o Rio São Francisco apresenta um perfil populacional diverso que trafega em uma linha de grandes contrastes, com áreas com elevados níveis de riqueza e densidade demográfica, enquanto outras localidades têm reduzidos níveis de renda.
Também é nesse contexto que vivem os povos e comunidades tradicionais do rio São Francisco: quilombolas, indígenas, comunidades de fundo de pasto, pescadores artesanais, ribeirinhos, sertanejos, vazanteiros, caatingueiros, geraizeiros, entre outros. As comunidades tradicionais representam grande parte dos mais de 18 milhões de brasileiros inseridos na bacia do Velho Chico e, apesar da sua antiguidade e importância, ainda não existe uma quantificação precisa dessa população.
Para os povos com vínculos sólidos com o Rio São Francisco, a natureza é essencial à vida, pois é do seu uso que se obtém o sustento e confere a eles sua identidade.
O CBHSF criou em 2007 um espaço na sua estrutura de funcionamento, instituindo a Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais (CTCT).
Entre 2013 e 2023 o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco vem desenvolvendo diversos projetos voltados para as comunidades tradicionais da Bacia do Velho Chico e prevê ainda a elaboração de novas ações em mais localidades.
03 de junho
Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco
Os povos tradicionais possuem vínculo sólido e profundo com o Rio São Francisco, a vegetação, a lua, o sol e a terra. A natureza, além de essencial à vida, pois é do seu uso que se obtém o sustento, define formas de sociabilidade e lhes confere identidade e diversidade cultural.
Essas comunidades abrigam e dão suporte para a vivência das múltiplas tradições e manifestações culturais da região. Assim como as águas se misturam nesse universo hídrico, as identidades se mesclam e se delimitam, sendo possível encontrar, por exemplo, comunidades quilombolas e vazanteiras ao mesmo tempo.
E é por isso que celebramos o 3 de junho. Porque sabemos que essas pessoas dependem do Velho Chico e que é fundamental o apoio de todos para superar os desafios de proteção e cuidado com sua bacia.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco lidera esse trabalho implementando projetos de recuperação ambiental, financiando planos de saneamento básico para os municípios, realizando oficinas, seminários e eventos culturais.
Um olhar sobre os temas relevantes e o compromisso de seguir fazendo cada vez mais pelo rio e pelas pessoas que dele dependem.
Velho Chico. Gentes, tradições, vidas
A definição de Povos e Comunidades Tradicionais, segundo o artigo 3 do Decreto n. 6.040 de 2007, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, é:
Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
Conheça alguns dos tantos povos tradicionais que habitam o nosso Velho Chico.
Vazanteiros (ou Barranqueiros) - Os povos que vivem nas beiradas e ilhas do rio, e ali trabalham, costumam se autodenominar como vazanteiros ou barranqueiros, dependendo da região. É a gente que mora no espaço inundável, onde, temporariamente, planta e colhe, até que a cheia apareça. Esses homens e mulheres da margem do São Francisco definem o tempo de suas vidas de acordo com o tempo do rio, e por isso estabelecem laços de pertencimento e de dependência com o ambiente.
Comunidade dos Fundos e Fechos de Pasto
Os modos de vida das comunidades de fundo e fecho de pasto estão diretamente ligados à terra e ao bioma onde vivem. Eles desenvolvem atividades como a criação livre de animais de pequeno porte, principalmente caprinos (fundos), e de gado (fechos) – que se alimentam da própria vegetação nativa – como alternativa a uma agricultura em uma região marcada pela seca. Além disso, em fundos e fecho de pasto as comunidades compartilham uma área sem cercamento.
Ciganos
No Brasil, existem vários grupos que compõem os povos ciganos, por exemplo: os Rom, os Sinti, os Calon. Estão distribuídos em todos os estados da Federação e no Distrito Federal. Cada um desses grupos étnicos possui dialetos, tradições e costumes próprios. Muitos deles ainda estão voltados às atividades itinerantes tradicionais da cultura cigana, porém nem toda pessoa de etnia cigana é nômade.
Povos originários
Os indígenas são os povos mais antigos do Brasil, por isso denominados povos originários. Cerca de 70 mil habitam a bacia do rio São Francisco. São 32 povos indígenas vivendo e sobrevivendo desse rio. Mesmo sofrendo com constantes tentativas de expulsão de suas terras, e correndo o risco de perderem os direitos conquistados na Constituição de 1988, nossos povos originários permanecem firmes na luta pela conservação dos seus modos de vida que têm por princípios o respeito e a defesa da natureza, com profundo zelo e senso de pertencimento.
Caatingueiros
Tanto o modo de vida quanto o modo de produção dos caatingueiros estão completamente ligados ao bioma da Caatinga. São, na maioria, descendentes de imigrantes europeus e conservam traços familiares e culturais desses povos. Eles se caracterizam pelo caráter mercantil de produção. Produzem grande diversidade agrícola (feijão, milho, sorgo, algodão, verduras, legumes e frutas nativas) e produtos derivados do leite (queijo, requeijão, ricota, doces, leite, entre outros). Além disso, criam gados que se alimentam das pastagens nativas da região, que possui solo fértil, mas que, constantemente, sofre com a seca.
Geraizeiros
São as mulheres e homens do Cerrado que, às margens do Rio São Francisco, se adaptaram com sabedoria às características do bioma e às suas possibilidades de produção.Muitas vezes, eles dividem uma propriedade comum, conhecida como quintais, onde plantam e criam animais. Dessa forma, garantem a subsistência familiar e comunitária. O excedente é comercializado em comunidades vizinhas ou em feiras.
Quilombolas
Conforme a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), quilombo tem origem em um dos idiomas banto, o quimbunco, que quer dizer: “sociedade formada por jovens guerreiros que pertenciam a grupos étnicos desenraizados de suas comunidades”. Fruto da resistência ao modelo escravagista do Brasil colônia, as comunidades quilombolas continuam a luta pela titulação de seus territórios, de sua cultura, tradições e modos de viver.
Ribeirinhos
Povos ribeirinhos ou ribeirinhas são aqueles que residem nas proximidades dos rios e têm a pesca artesanal como principal atividade de sobrevivência.
Cultivam pequenos roçados para consumo próprio e também podem praticar atividades extrativistas e de subsistência.
Povos de terreiro
Povos e Comunidades de terreiro são aquelas famílias que possuem vínculo com casa de tradição de matriz africana – chamada casa de terreiro.
Esse espaço congrega comunidades que têm características comuns, como a manutenção das tradições de matriz africana, o respeito aos ancestrais, os valores de generosidade e solidariedade, o conceito amplo de família e uma relação próxima com o meio ambiente. Essas comunidades possuem uma cultura diferenciada e uma organização social própria, que constituem patrimônio cultural afrobrasileiro.
Vaqueiro
Conhecidos pelos trajes de couro (que os protegem da vegetação espinhosa e do sol quente) e por percorrer o sertão a cavalo e cuidar de gado, os vaqueiros tem como grande desafio a busca por água, o que faz com que percorram grandes distâncias até onde haja uma fonte para os animais. O vaqueiro é tão importante no cenário da Caatinga, que até possui um dia nacional, 20 de julho, bem como celebrações tradicionais como as vaquejadas, uma forte expressão popular da Caatinga.
Extrativistas
O extrativismo se dá com a coleta de produtos naturais, sejam eles de origem animal, vegetal ou mineral. Até hoje, povos e comunidades extrativistas se agrupam para a pextração e a coleta enquanto atividade econômica e de subsistência. São pequenos agricultores que possuem culturas distintas, que desenvolvem seus modos de vida e produção alinhados com a lógica do ecossistema que habitam. Possuem um conjunto amplo de saberes oriundos das percepções e relação direta com o meio ambiente.
Pescadores artesanais
Mão de obra familiar, em pequenas embarcações ou sem elas, respeito e uma enorme intimidade com as águas que alcançam uma condição sagrada. Essas são características que marcam a pesca artesanal. Os pescadores artesanais possuem um enorme conhecimento local sobre vento, maré, cheias e vazantes, posição dos cardumes, entre outros. Eles aliam esse saber com técnicas tradicionais de pesca e navegação.
A garantia dos direitos territoriais das comunidades tradicionais, assim como dos direitos do Rio São Francisco, são princípios cujos benefícios são coletivos, de toda a comunidade. O direito à água limpa, à reprodução da vida, à liberdade, o direito de ser quem se é, de sentir, tocar, correr, pular, o direito de cumprir a sua função biológica e social, de ter ciclos e completar seus ciclos, o direito a fluir, das nascentes à foz, o direito ao respeito à sua natureza e cultura – são direitos comuns ao Rio São Francisco e ao seu Povo.
Os conhecimentos ancestrais dos homens e mulheres indígenas, ribeirinhos, pescadores, vazanteiros, quilombolas, geraizeros e caatingueiros foram passados através das gerações que, apesar das negações de seus direitos territoriais, sociais e civis, resistem aos processos históricos de opressão e degradação produzidos pelo latifúndio e grandes empresas. Esses povos sempre fizeram ecoar os gritos em defesa dos direitos do Rio São Francisco.
Uma Bacia Hidrográfica se faz, fundamentalmente, de gente.
Uma Bacia Hidrográfica se faz, fundamentalmente, de gente.
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