Travessia nº76 - Janeiro de 2025 - Notícias do São Francisco

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Jaíba (MG) é contemplada com projeto de saneamento

CBHSF realiza a sua XLVIII Plenária em Petrolina (PE)

Mapeamento das interferências na calha do Velho Chico entra na etapa final

Um novo ano de conquistas para o Velho Chico

O ano de 2025 começa com boas notícias para a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) encerrou 2024 com avanços significativos em sua missão de preservar e revitalizar o Velho Chico, fortalecendo as comunidades que dele dependem.

Entre os destaques está a entrega do projeto de saneamento em Jaíba (MG), que representa um marco na gestão de águas. Financiada pelo CBHSF, essa iniciativa trouxe soluções inovadoras para coleta e tratamento de esgoto, beneficiando diretamente a população e protegendo os corpos d’água da região. Este projeto é um exemplo de como o saneamento sustentável pode transformar comunidades e está servindo de modelo para municípios vizinhos.

Outro momento relevante foi a realização da XLVIII Plenária Ordinária do CBHSF, em Petrolina (PE), no final de 2024. Reunindo representantes de toda a bacia, a plenária foi palco de decisões estratégicas, incluindo o financiamento de novos estudos e projetos para os próximos anos. Esse encontro reforçou a importância do diálogo participativo e da transparência na gestão dos recursos hídricos.

Falando em novos estudos, o Comitê avança na conclusão do mapeamento das interferências na calha do Rio São Francisco. Com a última etapa financiada recentemente, abrangendo o trecho do reservatório de Paulo Afonso até a foz, espera-se um diagnóstico mais preciso dos usos de água na região. A iniciativa representa um passo essencial para garantir a regularização e fiscalização de atividades, promovendo o uso sustentável dos recursos hídricos.

CONHECER PARA AMAR: A SÉRIE QUE CONECTA VOCÊ AO VELHO CHICO ESTÁ DE VOLTA!

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) convida você para continuar explorando as riquezas da bacia do Velho Chico com a série de vídeos “Conhecer para Amar”. Já disponível no canal do YouTube do CBHSF, a série retorna com novos episódios trazendo ainda mais histórias e paisagens encantadoras.

Já conhece a série? Assista e compartilhe! Vamos juntos celebrar e cuidar das maravilhas que o Velho Chico nos proporciona. Inscreva-se no canal do CBHSF no YouTube e siga nossas redes sociais para não perder nada!

Acesse youtube.com/cbhsaofrancisco

Na Serra dos Morgados, em Jaguarari (BA), os frutos das obras entregues há quase dois anos continuam a surpreender. As intervenções realizadas pelo CBHSF, que incluíram barragens subterrâneas, cisternas e viveiros de mudas, trouxeram de volta a vitalidade de rios e nascentes após décadas de seca. A recuperação do Rio Estiva é um símbolo da resiliência da natureza quando bem cuidada, inspirando outros projetos de revitalização em toda a bacia.

E, para fechar este início de ano com poesia, temos a honra de apresentar Elias Silva, poeta e membro do CBHSF, que lançou o cordel “As Águas – ações e poesias”. A obra celebra o Velho Chico em versos que retratam as lutas e conquistas de quem trabalha pela sua preservação. A entrevista exclusiva com o autor está imperdível nesta edição, trazendo um olhar sensível sobre a relação entre a água, a cultura e a vida.

Enquanto olhamos para as conquistas de 2024, renovamos nossas esperanças para 2025. Que este seja um ano de ainda mais avanços, com novas ações em prol da preservação do São Francisco e do bem-estar de suas comunidades.

O CBHSF deseja a todos um feliz 2025, repleto de saúde, união e consciência ambiental. Que as águas do Velho Chico continuem a ser fonte de vida e inspiração para todos nós.

José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF

PROJETO DE SANEAMENTO

FINANCIADO PELO CBHSF É ENTREGUE

EM JAÍBA (MG) E SERVE DE MODELO PARA A REGIÃO

No dia 12 de novembro, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), por meio da Câmara Consultiva Regional Alto São Francisco (CCR Alto SF), celebrou a conclusão e entrega do projeto “Implantação de Projetos de Engenharia de Soluções Individuais de Tratamento de Efluentes Domésticos”. A cerimônia ocorreu na Escola Municipal Izidoro Alves, localizada na comunidade de Tamboril, em Jaíba (MG).

Foram entregues 27 sistemas individuais de tratamento de esgoto doméstico, beneficiando diretamente as famílias da comunidade. O projeto, que recebeu um investimento superior a R$ 700 mil, incluiu a instalação de tanques de evapotranspiração, biodigestores, valas de infiltração, sumidouros, banheiros e a conexão das residências aos sistemas de saneamento. Essas melhorias proporcionaram avanços significativos na infraestrutura local e na qualidade de vida dos moradores.

Durante o evento, membro do CBHSF, José Valter Alves, enfatizou a importância do projeto: “É um trabalho fantástico, sabe? É preciso parabenizar o Comitê do São Francisco e a Agência Peixe Vivo por levar essa oportunidade a famílias tão carentes e distantes. O acesso lá é muito difícil, mas o trabalho foi muito bem feito, e as famílias ficaram imensamente felizes. Isso mostra como os benefícios chegam a quem realmente precisa.”

José Valter também destacou o potencial do projeto como modelo para outras regiões. “Essa iniciativa será um espelho, uma unidade demonstrativa. O município pode usar essa tecnologia em outras comunidades, ampliando os resultados positivos.

Eu sempre reforço a importância de buscar novos recursos e ampliar projetos como este, que transformem a vida das famílias mais vulneráveis e garantam acesso ao básico, como banheiros e tratamento de esgoto.”

O evento contou com a presença de autoridades locais, incluindo o Secretário de Meio Ambiente, Jalisson Costa, e o Chefe de Gabinete, Júnior Leonir, que representaram o prefeito Reginaldo Silva. O fiscal do contrato pela Agência Peixe Vivo, Guilherme Carvalho, também esteve presente. A execução da obra ficou a cargo da Construtora Joamar Ltda.

A iniciativa, realizada com os recursos da cobrança pelo uso da água, reafirma o compromisso do CBHSF com a melhoria das condições de vida e a preservação ambiental nas comunidades da Bacia do Rio São Francisco, promovendo soluções sustentáveis e replicáveis para desafios históricos no saneamento básico.

Texto: João Alves/ Fotos: Agência Peixe Vivo

CBHSF ENCERRA 2024 COM PLENÁRIA

EM PETROLINA DEBATENDO DESAFIOS

E ESTRATÉGIAS PARA A GESTÃO DA BACIA DO SÃO FRANCISCO

Texto: Juciana Cavalcante / Fotos: Emerson Leite

Nos dias 12 e 13 de dezembro, Petrolina (PE) recebeu a XLVIII Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), reunindo membros de estados como Pernambuco, Bahia, Sergipe, Alagoas, Goiás, Minas Gerais, além de representantes do Governo Federal. O encontro abordou temas críticos, como a mudança na metodologia de cobrança pelo uso da água, proposta pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), e seu impacto na sustentabilidade financeira do Comitê.

MUDANÇA NA COBRANÇA E PREOCUPAÇÕES FINANCEIRAS

A ANA propõe que a cobrança pelos recursos hídricos seja baseada no consumo real de água, e não mais em estimativas prévias, ajustando o pagamento para o ano seguinte. Embora implementada em outras bacias, a medida preocupa o CBHSF, que teme um impacto no repasse de recursos, possivelmente deixando o Comitê sem financiamento por mais de um ano. A inadimplência, já alta, agrava a situação, com R$ 50 milhões acumulados em dívidas.

Durante a plenária, o presidente do CBHSF destacou os riscos ao planejamento e às obras financiadas pelo Comitê, caso a mudança seja efetivada. O vice-presidente Marcus Polignano reforçou que esforços estão sendo feitos para negociar com grandes devedores e para buscar alternativas junto à ANA. “Na plenária realizada em Salvador, no mês de maio, foi criado o grupo de trabalho para tratar a questão da inadimplência. Já foram identificados os 50 maiores devedores, além de também já termos um documento por parte da ANA demonstrando suas ações para resolução do problema. Então, o Comitê mais uma vez sai na frente buscando respostas dos entes responsáveis. Quero destacar que, além disso, o Comitê tem feito esforços para fazer acordos com alguns entes. Já tivemos duas reuniões com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) pontuando a situação dos perímetros irrigados, onde alguns aparecem como devedores significativos e as tratativas tem caminhado de forma positiva. Então, ao Comitê nunca faltou iniciativa”, completou o vice-presidente.

Representantes da ANA esclareceram que a transição será gradual, com previsão de implementação na Bacia do São Francisco em 2026.

O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, e membros da Direc, na abertura da XLVIII Plenária Ordinária

PLANEJAMENTO PARA 2025

A diretora-geral da Agência Peixe Vivo, Rúbia Mansur, destacou que a arrecadação anual da bacia do São Francisco gira em torno de R$ 50 milhões. Ela explicou que, apesar do esforço para manter um saldo equivalente a uma arrecadação e meia por segurança, a execução orçamentária aumentou ao longo dos anos, reduzindo o caixa disponível. Em 2024, foram executados R$ 69 milhões, e em 2025 a previsão é de executar R$ 88 milhões, deixando um saldo de R$ 51 milhões. Esse cenário gera preocupações para 2026, com a necessidade de ajustes para assegurar a sustentabilidade financeira.

A gerente interina de Projetos, Jacqueline Evangelista, informou que o Plano de Execução Orçamentário Anual (POA) inclui gestão de recursos hídricos, apoio ao Comitê e à Agência Peixe Vivo, além de ações de manutenção. Reuniões em novembro com a Direc e a Câmara Técnica de Planos, Programas e Projetos (CTPPP) resultaram nos ajustes orçamentários necessários.

As prioridades para 2025 incluem: manutenção de projetos em andamento; estudos de enquadramento de corpos hídricos; ações estruturantes e estratégicas; saneamento rural; e fortalecimento dos programas de produção de água e novas parcerias.

CALENDÁRIO E DELIBERAÇÕES

A plenária definiu o calendário de 2025, com eleições para novos membros do CBHSF e três plenárias previstas, sendo a primeira em Brasília, alinhada à campanha Eu Viro Carranca para Defender o Velho Chico. Atividades virtuais serão priorizadas para reduzir custos. Além disso, aprovou-se a doação de materiais de irrigação adquiridos com recursos da cobrança para revitalização de canais na bacia do Rio Preto.

MEDALHA TOINHO PESCADOR E HOMENAGENS

Cinco personalidades foram agraciadas com a Medalha Toinho Pescador, honraria do CBHSF que reconhece ações em prol do São Francisco. A CCR Alto São Francisco homenageou Sirléia Drumond, que participou da criação do CBHSF e foi secretária da CCR. A CCR Médio homenageou Aristóteles Gomes de Sá, um dos fundadores do Comitê do Paramirim e Santo Onofre onde já ocupou os cargos de presidente e vice-presidente. Já a CCR Submédio prestou homenagem a Manoel Uílton dos Santos, coordenador da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais do CBHSF e Secretário Substituto da Secretaria Nacional de Articulação e Promoção

de Direitos Indígenas – SEART, do Ministério dos Povos Indígenas. Na CCR Baixo, o homenageado foi Carlos Hermínio de Aguiar, que tem 45 anos de atuação na bacia Velho Chico e fez parte da primeira diretoria do Comitê do São Francisco. E a Diretoria Executiva do CBHSF homenageou Thiago Campos, ex-diretor de Projetos da Agência Peixe Vivo. Todos os agraciados contribuíram significativamente para a preservação do rio.

CULTURA E ARTE: RESISTÊNCIA E CONSCIENTIZAÇÃO

O membro Elias Silva lançou o livro de cordel “As Águas. Ações e Poesia”, unindo cultura e militância ambiental. Também foi exibido o documentário Santino, uma produção de Cao Guimarães em conjunto com Makely Ka. O filme retrata desafios ambientais na bacia, reforçando a importância da preservação hídrica. Após a sessão, houve um debate com a participação do co-diretor Makely Ka e os membros do Comitê.

INICIATIVAS E EXPERIÊNCIAS NA BACIA

A plenária destacou ações como a cadeia produtiva do mel em terras indígenas, que já promove recuperação ambiental em áreas da bacia, e o programa de Fiscalização Preventiva Integrada (FPI), que alia diagnóstico e educação ambiental em cinco estados, reconhecido com o Prêmio Innovare 2024.

Assista à transmissão completa da Plenária em: youtube.com/cbhsaofrancisco

Exibição do documentário “Santino”, de Cao Guimarães, durante o encontro

CBHSF FINANCIA ESTUDO PARA CONCLUIR MAPEAMENTO DAS INTERFERÊNCIAS NA CALHA DO RIO SÃO

FRANCISCO

Texto: Juciana Cavalcante / Foto: Edson Oliveira

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) deu início à etapa final do mapeamento das interferências na calha do Rio São Francisco, abrangendo o trecho a jusante do reservatório de Paulo Afonso até a foz, na região do Baixo São Francisco. Esse segmento inclui áreas nos estados da Bahia, Pernambuco e Sergipe.

Realizado pela empresa Serviços Aéreos Industriais Especializados (SAI), contratada pelo CBHSF por meio da Agência Peixe Vivo (APV), o estudo tem como objetivo identificar e mapear os usos dos recursos hídricos no rio por meio de técnicas de sensoriamento remoto. As atividades incluem:

• Levantamento aerofotogramétrico e interpretação técnica de fotografias aéreas para classificar, identificar e tipificar os usos de recursos hídricos;

• Elaboração de uma base cartográfica indicando os locais e tipos de interferências;

• Desenvolvimento de uma minuta de Termo de Referência para a contratação de equipe especializada, que será responsável pela fiscalização in loco de pontos não cadastrados de uso de recursos hídricos.

O trabalho busca enfrentar desafios apontados pelo Plano de Recursos Hídricos do São Francisco (PRH-SF), como a ausência de dados confiáveis de vazão em diversas subbacias do Baixo São Francisco e a falta de um levantamento abrangente sobre interferências como captações, barramentos e lançamentos de efluentes. De acordo com a Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), em 2023 havia 593 outorgas registradas no trecho do estudo, sendo 57 destinadas à diluição de efluentes e 125 para usos consuntivos.

Com duração prevista de oito meses, incluindo seis meses para execução dos serviços, o estudo entregará quatro produtos principais: Plano de Trabalho, dados de voos e arquivos brutos, mapas temáticos e um relatório técnico final.

HISTÓRICO DE ESTUDOS NA BACIA DO SÃO FRANCISCO

Desde 2020, o CBHSF vem promovendo iniciativas para mapear interferências ao longo do Rio São Francisco: I. 2020 – Alto e Médio São Francisco: O mapeamento inicial focou na calha principal do rio, utilizando perfilamento a laser aerotransportado. Foram analisados trechos entre:

• Três Marias (MG) e Ibiaí (MG);

• São Francisco (MG) e Carinhanha (BA);

• Paratinga (BA) e Morpará (BA).

No total, foram identificadas 2.062 interferências, incluindo captações flutuantes, casas de bombas, canais de desvio, e lançamentos de efluentes. O estudo, realizado pela empresa Topocart, apontou um aumento significativo no número de interferências em relação ao banco de dados da ANA, com acréscimos de até 92,72% em alguns trechos.

II. 2020 – Bacia do Rio Formoso: Outro estudo foi realizado no Rio Formoso, no oeste da Bahia, em parceria com o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA) e a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA-BA), mapeando usos cadastrados e não cadastrados.

III. 2022 – Trechos incrementais e entorno de Três Marias: O levantamento abrangeu áreas entre Três Marias (MG) e Morpará (BA), além do entorno da represa de Três Marias, identificando 590 interferências.

IV. 2023 – Submédio São Francisco: Na etapa mais recente, realizada pela empresa ENGEMAP, o mapeamento cobriu o trecho entre Sobradinho e Paulo Afonso (BA). Foram identificadas 6.580 interferências, sendo 65% no rio e 35% na represa de Sobradinho. Desse total, 2.613 interferências não estavam cadastradas ou outorgadas, representando um aumento de 40% em relação ao banco de dados da ANA.

O novo estudo, agora focado no Baixo São Francisco, dará continuidade a essa série de ações fundamentais para garantir a gestão sustentável dos recursos hídricos da bacia.

Cânions do São Francisco, Paulo Afonso (BA)

OBRAS DE RECUPERAÇÃO DE NASCENTES

NA SERRA DOS MORGADOS CONTINUAM

GERANDO RESULTADOS POSITIVOS DOIS ANOS APÓS

A

ENTREGA

Entregues em janeiro de 2023, as obras de sustentabilidade hídrica realizadas na Serra dos Morgados, distrito de Jaguarari (BA), transformaram o cenário ambiental e social da região. Com a construção de barragens subterrâneas, barramentos de contenção de sedimentos, cisternas e um viveiro de mudas nativas, o projeto foi fundamental para a recuperação de nascentes e rios que estavam praticamente extintos devido à superexploração hídrica.

Fonte de abastecimento para comunidades a até 100 km de distância, a Serra dos Morgados enfrentou décadas de degradação, que resultaram na extinção de diversas nascentes. A perfuração indiscriminada de poços foi apontada pela população como a principal causa desse colapso. Graças ao financiamento do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a expectativa técnica era de que os rios e nascentes voltassem a jorrar em até 10 anos. No entanto, em apenas 11 meses, o Rio Estiva, principal afluente local do rio São Francisco, voltou a correr após 20 anos de seca severa.

As intervenções incluíram a construção de três barragens subterrâneas, 15 barramentos de contenção de sedimentos e 22 cisternas com capacidade de 52 mil litros cada, além de um viveiro com capacidade de produção anual de 100 mil mudas nativas. Passados 18 meses da conclusão das obras, os resultados continuam a surpreender positivamente.

PANORAMA ATUAL: REVITALIZAÇÃO

AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O distrito Serra dos Morgados, outrora um importante produtor de frutas, verduras e café, recuperou sua capacidade produtiva e ambiental. Cachoeiras e nascentes estão novamente vertendo, e a comunidade já colhe os frutos desse trabalho.

“A ideia é transformar a Serra dos Morgados em um modelo de sustentabilidade, gerando emprego e riqueza para todos os moradores”, destacou Joaquim Novaes, produtor local. “Estamos investindo na produção de cafés especiais de alta qualidade, aproveitando o enorme potencial da região, sempre associados à ecologia e sustentabilidade.”

Juracy Marques, professor e coordenador do movimento Salve as Serras, também reforçou a importância do projeto: “A Serra dos Morgados é essencial para as bacias do São Francisco, Itapicuru e Salitre. O CBHSF foi decisivo para a recuperação ambiental da região. A iniciativa do Comitê inspirou

ações comunitárias, como a produção de mudas nativas pela associação de mulheres e o reflorestamento local. Hoje, temos uma rede de produtores apostando na produção ecológica de café. Os resultados são incríveis, com o lançamento de uma linha de cafés especiais que já está entre os melhores do Brasil. Isso só foi possível porque cuidamos da água, da terra, da natureza e das pessoas.”

Cláudio Ademar, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, celebrou os avanços obtidos. “O CBHSF aplicou recursos provenientes da cobrança pelo uso da água para recuperar a mata ciliar e possibilitar a recarga hídrica do subsolo. O retorno é evidente: áreas preservadas, o Rio Estiva voltou a ter água e as nascentes estão novamente ativas. Esse é um modelo exemplar de como utilizar recursos de maneira eficiente, gerando impacto social, ambiental e econômico. A comunidade agora produz de forma sustentável, e todos – Comitê, moradores e sociedade – devem comemorar esse sucesso.”

Texto e fotos: Juciana Cavalcante
Produção de café de alta qualidade foi possível graças às intervenções de revitalização realizadas pelo CBHSF
Nascente recuperada em Serra dos Morgados

Elias Silva

Entrevista: Juciana Cavalcante

Foto: Emerson Leite

Elias Silva poderia, facilmente, ser chamado de “Poeta do Comitê”. O gestor ambiental e técnico em saneamento ambiental pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) tem 47 anos e nasceu em Afogados da Ingazeira. Com talento para transformar o cotidiano em versos, ele lançou, durante a XLVIII Plenária Ordinária do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, o cordel “Águas. Ações e Poesias”. Elias foi coordenador da inspetoria do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) e é membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, onde representa a Associação de Desenvolvimento Sustentável do Sertão do Pajeú, da qual é presidente.

Presidente: José Maciel Nunes Oliveira

Vice-presidente: Marcus Vinícius Polignano

Secretário: Almacks Luiz Carneiro Silva

DOIS DEDOS DE PROSA

Vamos começar primeiro pela definição. Quem é Elias?

Sou membro do Comitê do São Francisco e venho lá da região do Pajeú, que tem sua nascente no município de Brejinho e a foz no Riacho do Navio, em Floresta. A região, cantada por Luiz Gonzaga, é também conhecida pela poesia e abriga, inclusive, a rota da poesia. Por ali, a gente costuma dizer que o que falta de água, sobra de poesia. Eu venho de uma cidade chamada Afogados da Ingazeira, que gosto de definir assim: “Eu venho de uma terra, princesa pajeuzeira, terra de homens distintos e de mulher bem faceira, tendo juntos sangue à seiva, da braúna e da mangueira, onde um casal de afogados deu mais vida à ingazeira”. Esse verso conta um pouquinho da história da cidade que fala sobre esse casal que, depois de fugir, como no romance de Romeu e Julieta, foi encontrado aos pés de uma ingazeira dando nome à cidade. Então, a poesia está também diretamente ligada ao rio, ao nosso rio Pajeú, que já foi um rio caudaloso e hoje a gente está sofrendo com ele secando, mas ainda esbanjando, vontade de reviver. Você sempre escreveu versos? Quando foi que você identificou o talento para escrita?

Venho de uma região de repentistas e poetas como Sebastião Dias, e de artistas como Alexandre Moraes, ou seja, é uma região que tem isso como cultura, e o cordel, quando não existia a internet, televisão e rádio, era o jornal do sertanejo. Quando se queria propagar uma mensagem, utilizava-se o cordel. Por isso, sempre dizemos que a poesia é o caminho mais curto para propagar uma ideia, porque seus versos se fixam na memória. E no Pajeú as crianças aprendem nas escolas, então isso vai criando uma cultura e isso vai passando de geração para geração.

Quando foi que você começou a escrever sobre o rio São Francisco e sobre as águas?

Já escrevo há um bom tempo, mas esse livro é o meu primeiro cordel publicado. E em todos os eventos que participo, eu procuro passar a minha mensagem, a minha contribuição em forma de versos, porque a cultura não se distancia da nossa militância das águas. Pelo contrário, a militância das águas também é cultura. O rio é feito de água e também de gente, e essa gente tem esse apelo cultural. Não podemos fugir nunca de nossas raízes.

De onde vem a inspiração para transformar o cotidiano em verso?

Em todas as reuniões que participo, observo tudo e faço uma síntese do que é mais pontual: se o debate é sobre outorga, falo de outorga, se é mobilização, falo sobre mobilização, ou seja, tento sintetizar porque a gente precisa ter o compromisso de propagar essas discussões. Por exemplo, estive em Sobradinho-BA para discutir o entorno do lago de Sobradinho e precisava trazer para os demais o que aconteceu lá, o sentimento daquele pessoal, e então fiz um poema com aquela realidade que consegui captar na reunião. O cordel que foi lançado na plenária do CBHSF traz um pouco disso, é como o próprio nome diz “Águas. Ações e Poesias”. A ideia é transformar em verso para que outras pessoas que não estiveram naquele local possam, de forma lúdica, entender e até se sentir presente. Então essa é uma contribuição para o Rio São Francisco? Exatamente. Acho que tenho duas formas de contribuir com o rio São Francisco: a primeira é com a presença, a participação e fazendo essa mobilização. E a segunda é a mensagem em verso. Eu, que sou da região do Pajeú, vejo que as pessoas que estão fora da calha do Velho Chico não tem um sentimento de pertencimento à bacia. Então, o mínimo que a gente pode fazer é espalhar, de maneira que o nosso povo entenda, a importância da preservação e as ações do Comitê. Somos todos integrantes desse grande universo chamado Bacia do São Francisco.

Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br

Atendimento aos usuários de recursos hídricos na bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607

Notícias do São Francisco

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br

Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis

Edição e Assessoria de Comunicação: Mariana Martins

Textos: João Alves e Juciana Cavalcante

Fotos: Agência Peixe Vivo, Edson Oliveira, Emerson Leite e Juciana Cavalcante

Diagramação: Sérgio Freitas

Impressão: ARW Gráfica e Editora

Tiragem: 4.000 exemplares

Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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