
Capacitação de irrigantes vai acontecer em mais
8 cidades este ano
Processo Eleitoral
CBHSF: saiba tudo e participe
Águas subterrâneas e a superexploração. Entenda o que está acontecendo
EDITORIAL

Capacitação de irrigantes vai acontecer em mais
8 cidades este ano
Processo Eleitoral
CBHSF: saiba tudo e participe
Águas subterrâneas e a superexploração. Entenda o que está acontecendo
O ano avança, e com ele seguimos reafirmando o compromisso com a gestão sustentável dos recursos hídricos e o desenvolvimento das comunidades que dependem das águas do São Francisco. Nesta edição do Travessia, trazemos iniciativas que refletem o impacto positivo da participação social, da capacitação e do investimento em infraestrutura hídrica e sanitária.
Destaque para os cursos de capacitação voltados aos irrigantes nas quatro Câmaras Consultivas Regionais (CCRs). O fortalecimento do conhecimento técnico dos produtores é essencial para garantir o uso eficiente da água, contribuindo para a sustentabilidade dos sistemas de irrigação e a preservação dos mananciais.
Na mesma linha de melhoria das condições sanitárias e ambientais, duas iniciativas transformam realidades no Alto São Francisco e no Médio São Francisco. Em Mamonas (MG), mais de 60 famílias foram contempladas com sistemas de tratamento de esgoto rural, promovendo saúde e qualidade de vida. Já em Mata do Milho (BA), avança o projeto de construção de banheiros e fossas sépticas, ação fundamental para reduzir impactos ambientais e melhorar as condições sanitárias da população local.
Outro avanço importante ocorre em Pesqueira (PE), onde será implementado um projeto de requalificação ambiental na Bacia do Alto Ipanema. A recuperação de áreas degradadas e a implementação de ações de conservação do solo e da água são fundamentais para garantir a perenidade dos recursos hídricos da região.
Além dessas ações, destacamos nesta edição um tema fundamental para a governança das águas: o processo eleitoral para composição do Comitê. A participação de todos os segmentos envolvidos é essencial para assegurar que as decisões sobre a gestão dos recursos hídricos sejam democráticas e representativas. Entenda como funciona esse processo e a importância do envolvimento de todos.
Por fim, trazemos uma entrevista especial com Chang Hung Kiang, especialista em águas subterrâneas, que discute a relevância desse recurso estratégico e os desafios para sua preservação, em um momento em que 61% dos rios analisados na bacia do São Francisco mostraram potencial de perda de fluxo de água para o aquífero, resultado atribuído ao uso intensivo de águas subterrâneas principalmente para irrigação.
Boa leitura!
José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) abriu o processo eleitoral para renovação de seus membros! As inscrições vão até 20 de maio e são realizadas exclusivamente online.
O passo a passo para as inscrições pode ser acessado em www.eleicaocbhsaofrancisco.com.br
O CBHSF é o maior parlamento das águas e um espaço democrático para defender o Velho Chico! Faça parte dessa transformação!
Saiba mais e inscreva-se em: eleicaocbhsaofrancisco.com.br
Em seu quarto ano consecutivo, o Programa de Capacitação de Irrigantes, financiado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), vai atender mais oito municípios das regiões Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco. A iniciativa tem como objetivo promover o uso consciente e eficiente da água, alinhado às diretrizes do Plano de Recursos Hídricos da bacia (PRH-SF 2016-2025).
As cidades escolhidas desta vez são: o Distrito Federal, na região da Bacia do Rio Preto e Paracatu (MG), no Alto SF, Xique-Xique e Carinhanha, na Bahia, região do Médio SF, Rodelas (BA) e Afogados da Ingazeira (PE), no Submédio, e São Brás (AL) e Poço Redondo (SE), na região do Baixo São Francisco.
Considerando dados do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do São Francisco (PRH-SF 2016-2025), o diagnóstico apontou que atéo ano de 2035 a participação da agropecuária nas economias de boa parte dos municípios da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco deve aumentar,, e a utilização da água para irrigação aparece como um dos motores deste cenário estabelecendo, como consequência, a elevação da pressão sobre a disponibilidade hídrica na bacia. O diagnóstico apontou ainda um déficit quanto à capacitação de usuários de água na bacia, o que levou o Plano de Metas do PRH-SF 2016-2025 a recomendar investimentos de forma contínua a fim de capacita-los. O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, destaca a importância das cidades escolhidas.
“A exemplo de Xique-Xique, as cidades têm uma importância grande no contexto da bacia, considerando as atividades de irrigação desenvolvidas na região. Com isso mais famílias serão beneficiadas com a capacitação este ano”.
Já o coordenador da CCR Alto, Altino Rodrigues, explicou que a escolha das cidades visa potencializar investimentos feitos pelo CBHSF. “A primeira localidade é o DF, na bacia do Rio Preto, e a outra é a cidade de Paracatu. No caso do DF a escolha foi feita com vistas a potencializar o investimento feito pelo CBHSF no território, uma vez que o recurso da cobrança foi utilizado para oferecer segurança hídrica aos pequenos produtores da agricultura familiar e melhorar a vazão ecológica. Por isso, cabe a nós também dar a melhor orientação possível para que se faça o uso racional deste importante recurso.. Quanto a Paracatu, grande fronteira do agronegócio no noroeste de Minas, a região é palco de inúmeros conflitos pelo uso da água. Nossa opção visa proporcionar a capacitação para o Projeto de Assentamento Rural Nova Lagoa Rica, que conta com mais de 100 famílias assentadas em lotes de aproximadamente quatro hectares. Também nada mais acertado do que oferecer informação qualificada e conhecimento para que as atividades produtivas deste grupo possam ser realizadas de maneira cada vez mais sustentável a partir do uso eficiente dos recursos hídricos e, de bônus, poderemos ainda formar multiplicadores de boas práticas nesta conflituosa parte da bacia”.
Desde 2022, o projeto já atendeu 20 municípios, incluindo:
• Alto São Francisco (MG): Caeté, Buritizeiro, Bocaiúva, Nova Porteirinha e Jaíba;
• Médio São Francisco (BA): Lapão, Presidente Dutra, Bom Jesus da Lapa, Paramirim e João Dourado;
• Submédio São Francisco (PE/BA): Serra Talhada, Floresta, Lagoa Grande, Abaré e Sobradinho;
• Baixo São Francisco (AL/SE): Delmiro Gouveia, Inhapi, Canindé de São Francisco, Propriá e Gararu.
A capacitação é composta por visitas de reconhecimento aos municípios, realizadas pelas coordenações das Câmaras Consultivas Regionais (CCRs) e pela empresa Água e Solo. O objetivo é conhecer as propriedades, os sistemas de irrigação e definir os locais para as aulas práticas e teóricas. Em parceria com os municípios, os produtores recebem material técnico e gráfico sobre manejo da irrigação.
As aulas são teóricas e práticas, com foco no uso de tensiômetros para avaliar a necessidade de irrigação. Os tensiômetros são distribuídos aos irrigantes e a capacitação ocorre em três turnos: dois para aulas teóricas e um para práticas. A carga horária total é de 12 horas, sendo 8 horas teóricas e 4 horas práticas, ensinando o uso adequado dos equipamentos para monitorar a irrigação e ajustar conforme as necessidades de cada cultura.
Texto e fotos: João Alves
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), por meio da Câmara Consultiva Regional Alto São Francisco (CCR Alto SF) e em parceria com a Agência Peixe Vivo, a Construtora Joamar e autoridades de Mamonas (MG), entregou as obras de saneamento rural à comunidade de Sapé. A cerimônia aconteceu na Quadra Poliesportiva da comunidade, no final de mês de janeiro, marcando um importante avanço para a qualidade de vida local e a preservação dos recursos hídricos.
“É fantástico conversar com os moradores e perceber a felicidade estampada em seus rostos. Para eles, é um sonho realizado”, enfatizou o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) Jequitaí-Pacuí e membro da CCR Alto SF, José Valter Alves. Na ocasião, 63 famílias receberam sistemas individuais de tratamento de efluentes domésticos. José Valter destacou que essa iniciativa representa um grande avanço para a zona rural, onde a tradicional fossa seca está sendo substituída por um sistema mais moderno e eficiente.
Além da melhoria na qualidade de vida, José Valter apontou os impactos positivos do saneamento na valorização da comunidade e na saúde pública. “Hoje, não só em Mamonas, mas em diversos municípios do Norte de Minas, o sistema de abastecimento domiciliar já é realidade. E agora, ao darmos um tratamento adequado ao esgoto, veremos resultados concretos em saúde e bem-estar. A comunidade se sente valorizada, e essa transformação é visível no entusiasmo de cada beneficiário”.
O Programa de Saneamento Rural da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, iniciativa do Comitê e seus comitês afluentes, com suporte técnico da Agência Peixe Vivo, tem como objetivo melhorar as condições de saneamento e a qualidade de vida das populações rurais. No projeto realizado em Mamonas (MG), a comunidade de Sapé foi beneficiada com a instalação de 40 tanques de evapotranspiração (TEVAPs), 40 valas de infiltração, 20 sumidouros e 23 biodigestores. Com um investimento de cerca de R$ 1,2 milhão, a execução do projeto ficou a cargo da Construtora Joamar Ltda.
O fiscal do contrato das obras da Agência Peixe Vivo, Guilherme Guerra, esteve presente e celebrou a entrega de mais uma intervenção no âmbito do programa de saneamento rural. “Com o esgoto tratado de forma adequada, reduzimos o risco de doenças e proporcionamos mais qualidade de vida para as famílias da região”. Ele finalizou afirmando que este é apenas o início, com o compromisso de continuar investindo em saneamento rural para beneficiar ainda mais comunidades.
O prefeito de Mamonas, Valdeci Custódio Jorge, comemorou a entrega do projeto de saneamento na comunidade de Sapé, destacando sua importância para a saúde e a preservação do Rio São Francisco. “Hoje estamos inaugurando essa grande obra, um marco essencial para a saúde e para o bem da nossa bacia. Como gestor e prefeito de Mamonas, só tenho a agradecer ao Comitê da Bacia do Rio São Francisco por estar aqui hoje, entregando essa realização tão importante para o nosso município. Muito obrigado!”.
O engenheiro civil da Construtora Joamar Ltda., John David dos Santos, natural de Mamonas e responsável pelo acompanhamento e execução das obras, destacou a satisfação de atuar em um projeto que promove a qualidade da água e a saúde da população. Para ele, foi a finalização de um ciclo pessoal. “Poder usar minha profissão para contribuir com minha cidade, ajudando as pessoas, a natureza e os animais, é algo incrível. Muitas vezes, o meio ambiente não recebe a devida atenção, e este projeto mostra a importância de pensar na saúde e no futuro.”
Ele ressaltou a relevância da iniciativa e expressou sua gratidão ao CBHSF e a todos os envolvidos, enfatizando que o sucesso do projeto foi resultado do trabalho conjunto de diversas pessoas, desde os trabalhadores da obra até os responsáveis pela viabilização dos recursos. “Espero que esse modelo seja ampliado para outras comunidades, porque a transformação que ele traz é essencial.”
Moradores do distrito de Mata do Milho, no município de João Dourado (BA), estão sendo beneficiados com a construção de banheiros e fossas agroecológicas financiada pelo CBHSF. No total, foram investidos R$4.000.000,00 e 226 famílias estão sendo contempladas
O projeto é resultado do Edital CBHSF Nº 01/2022, que selecionou municípios com seus Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB) finalizados e aprovados nas respectivas Câmaras Municipais, para serem beneficiados com sistemas individuais de esgotamento sanitário em localidades rurais.
O coordenador da CCR Médio São Francisco, Ednaldo Campos, explicou a importância da condicionante: “a aprovação do PMSB garante que haja um planejamento estratégico para a gestão dos recursos hídricos e do saneamento. O documento também é importante para o monitoramento das ações, inserindo as fossas agroecológicas em um contexto mais amplo de gestão ambiental”. Ednaldo também destacou que o município de João Dourado foi contemplado pelo CBHSF com o PMSB em 2022 e que o atual projeto de esgotamento sanitário representa uma
continuidade das ações em prol da melhoria das águas da bacia e das condições de vida dos seus moradores, especialmente os mais vulneráveis socialmente.
Paulo Tertuliano, Coordenador Ambiental do município e membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde e Jacaré (CBHVJ), celebrou a iniciativa, que está na fase de conclusão das obras. “O projeto foi demandado pela Associação de Moradores de Mata do Milho e a população está muito feliz em ver os banheiros e as fossas, itens essenciais para saúde, higiene e dignidade, se materializando. Além disso, o projeto inicial previa 100 unidades, mas graças ao apoio da CCR Médio, conseguimos ampliar para 226”.
As fossas agroecológicas que estão sendo construídas pelo projeto utilizam a técnica de Tratamento de Vaso de Acesso para a Produção (TVAP), o que permite otimizar o tratamento de efluentes e transformar resíduos orgânicos em nutrientes para a agricultura local. O sistema também contribui para um ciclo de produção sustentável, reduzindo a contaminação do solo e da água.
A empresa responsável pela execução das obras é a Joamar LTDA, que, em março, irá promover nove oficinas de capacitação para a população, orientando sobre a manutenção e uso adequado das fossas agroecológicas com TVAP e a necessidade de boas práticas de saneamento. A conclusão do projeto está prevista para o mês de maio.
Texto e fotos: Deisy Nascimento
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em parceria com a Agência Peixe Vivo (APV), realizou visitas técnicas às cidades sergipanas de Capela, Telha, Neópolis, Monte Alegre e Canindé do São Francisco. O objetivo foi avaliar os locais destinados à construção de pátios de compostagem e centrais de triagem de resíduos sólidos, parte de um projeto em conjunto com o Consórcio de Saneamento Básico do Baixo São Francisco Sergipano (CONBASF). As visitas aconteceram nos dias 18 e 19 de fevereiro.
A iniciativa será executada pela Inovação Civil Brasileira (INCIBRA), empresa especializada em engenharia sanitária e ambiental. Durante as visitas, os engenheiros Aluísio Aguiar (civil) e Maynara Rocha (ambiental) analisaram os terrenos onde as estruturas serão implantadas.
O superintendente do CONBASF, Alberto Júnior, esteve presente com sua equipe, reunindo representantes do CBHSF, da APV e das prefeituras municipais para discutir as áreas propostas para as construções. Segundo ele, a instalação das unidades permitirá o correto manejo de resíduos sólidos e orgânicos, beneficiando tanto os municípios contemplados quanto cidades vizinhas. “Nossa expectativa é que, após a fase de avaliação e definição dos locais, todas as estruturas estejam concluídas até meados de 2026”, afirmou.
A secretária da Câmara Consultiva do Baixo São Francisco (CCR Baixo SF), Rosa Cecília, acompanhou as visitas para garantir que os recursos do Comitê sejam aplicados de forma eficiente. “Nosso compromisso é com um investimento responsável, pois os recursos vêm da cobrança pelo uso da água. Precisamos garantir que tudo seja realizado dentro dos trâmites legais”, destacou.
Já o coordenador técnico da APV, João Paulo Coimbra, explicou que essas visitas fazem parte do Termo de Referência (TDR), documento que norteia a elaboração dos projetos básicos e executivos. “Nosso objetivo foi verificar a viabilidade operacional e técnica dos locais. Em algumas cidades, como Canindé do São Francisco e Telha, será necessário aprofundar a análise antes de prosseguir”, explicou.
Para o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, este é um passo importante na gestão dos resíduos sólidos na região. “Temos uma parceria com o Ministério Público de Sergipe para avançar com o programa ‘Lixo Zero’ e o fechamento de lixões. O Comitê se coloca como um dos principais apoiadores desse avanço”, reforçou.
O coordenador da CCR Baixo SF, Anivaldo Miranda, destacou que a elaboração dos projetos incluirá a construção de galpões de triagem, rampas de acesso e outras estruturas essenciais para a coleta e reciclagem de resíduos sólidos. Ele ressaltou que ajustes ainda são necessários, especialmente em Canindé, Telha e Neópolis, para garantir que todas as exigências ambientais e operacionais sejam atendidas antes do início das obras.
Entre os beneficiados pelo projeto está José Márcio, presidente da COOPALEGRE, cooperativa de Monte Alegre (SE), que comemorou a iniciativa. “Queremos reciclar o máximo possível e este projeto nos dará as condições para isso. Nosso município precisa de adubo orgânico e essa iniciativa ajudará a suprir essa demanda”, afirmou.
O CBHSF seguirá acompanhando o processo para assegurar que os investimentos sejam aplicados da melhor forma possível.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) iniciou, no dia 3 de março, o processo eleitoral para renovação de seus membros, com inscrições online até 20 de maio. A posse dos eleitos ocorrerá em setembro, após etapas de mobilização social, plenárias e divulgação de resultados.
O processo eleitoral para renovação dos membros será acompanhado pela Câmara Técnica de Articulação Institucional (CTAI), com o apoio da Agência Peixe Vivo (APV). As inscrições serão realizadas exclusivamente de forma online, por meio da plataforma específica a ser divulgada em breve.
Podem participar os segmentos de comunidades indígenas e tradicionais, usuários e organizações civis de recursos hídricos e poder público municipal. Os segmentos poder público estadual, poder público federal e hidroeletricidade possuem cadeira cativa no Plenário e deverão apenas indicar seus representantes dentro do prazo estabelecido no edital do processo eleitoral.
O presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, lembra que os Comitês são espaços democráticos de participação e busca de soluções para a gestão dos interesses coletivos das populações ribeirinhas. “O Comitê é o lugar onde a sociedade, usuários e poderes públicos têm vez e voz, tem direito a fala, direito a deliberar sobre os assuntos que interferem diretamente na bacia hidrográfica. E como estamos vivenciando um momento de mudanças climáticas, temos que pensar nesse assunto e priorizá-lo durante esse processo de renovação. Então, precisamos ter pessoas com capacidade técnica, instituições que possam debater, incentivar e contribuir com o Comitê, esse que é o maior parlamento das águas”, afirmou.
O segmento de usuários inclui institutos, sindicatos e demais instituições representativas e empresas públicas e privadas que respondem pelo abastecimento de água ou pelo esgotamento sanitário, com captação ou lançamento na bacia; indústria e mineração; irrigação e uso agropecuário, compreendendo os usuários, pessoas físicas ou jurídicas cadastradas e/ ou outorgadas, entidades, associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos, institutos, sindicatos e demais instituições representativas de interesse de produtores rurais (agricultura irrigada e de sequeiro, silvicultores, piscicultores, aquicultores, pecuaristas e criadores de animais em geral); hidroviário, compreendendo os usuários, entidades, associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos, institutos, sindicatos e demais instituições representativas do segmento de transporte hidroviário, do setor público e privado, que naveguem nos cursos de água que compõem a bacia e usuários da pesca, turismo e lazer.
Os usuários concorrentes à vaga no CBHSF devem estar em dia com o pagamento da cobrança pelo uso da água na Bacia do Rio São Francisco.
No segmento de organizações civis de recursos hídricos podem participar entidades como consórcios e associações intermunicipais ou de usuários de bacias hidrográficas que incluam ao menos uma das bacias hidrográficas de rios afluentes do rio São Francisco, relacionados às questões ambientais ou específicas de recursos hídricos, sendo proibida a habilitação de consórcios intermunicipais de recursos hídricos que estejam em processo de equiparação às agências de água.
Também podem concorrer organizações técnicas e de ensino superior e pesquisa, universidades e centros de pesquisa com atuação na área de ensino e pesquisa em recursos hídricos, meio ambiente ou educação ambiental e que desenvolvam projetos, estudos ou pesquisas diretamente relacionadas às questões ambientais ou específicas de recursos hídricos; organizações não governamentais que atuem ou tenham atuado desenvolvendo projetos, estudos, pesquisas, ou outras formas de atuação diretamente relacionadas às questões ambientais ou específicas de recursos hídricos, no âmbito da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, e pertencentes a uma das categorias: organizações de natureza ambientalista; organizações cuja natureza e prática estejam relacionadas a ações sociais e culturais; organizações que representem movimentos sociais; organizações relacionadas à defesa de interesses comunitários e sindicatos, organismos e associações de classe. Além das comunidades tradicionais quilombolas e indígenas.
Todas as instituições devem ter, no mínimo, cinco anos de existência. A eleição dos novos membros representantes dos poderes públicos municipais, usuários e organizações civis acontecerá entre os dias 30 de junho a 04 de julho. As plenárias eleitorais dos povos indígenas e comunidades tradicionais serão realizadas nos dias 08 e 10 de julho. A divulgação da lista final de membros eleitos será feita no dia 16 de julho.
“Convidamos todos a fazer parte do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, para que possamos nos unir na causa do Velho Chico, na causa das populações ribeirinhas, dos povos indígenas, comunidades tradicionais, dos usuários da água, dos usos múltiplos”, concluiu o presidente do CBHSF.
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Com uma trajetória acadêmica e profissional consolidada, Chang Hung Kiang é Professor Titular do Instituto de Geociências e Ciências Exatas de Rio Claro – SP e coordenador do Laboratório de Estudos de Bacias (LEBAC). Com formação em Geologia pela USP e doutorado pela Northwestern University, destaca-se como pesquisador nível 1 do CNPq e assessor científico da FAPESP, CAPES e CNPq. Além disso, integra a Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do CBHSF, contribuindo ativamente para a gestão e preservação dos recursos hídricos no Brasil.
O Brasil detém 12% das reservas de água doce do mundo, mas enfrenta desafios como distribuição desigual, má gestão e eventos climáticos extremos, agravando a escassez hídrica. Um estudo recente da Nature Communications apontou que a superexploração das águas subterrâneas compromete a vazão da Bacia do São Francisco. O Sistema Aquífero Urucuia, fundamental para a região e responsável por mais de 40% da disponibilidade hídrica subterrânea da bacia, está sob crescente preocupação do Comitê, conforme explica o professor Chang Hung King.
Presidente: José Maciel Nunes Oliveira
Vice-presidente: Marcus Vinícius Polignano
Secretário: Almacks Luiz Carneiro Silva
Além do Aquífero Urucuia, quais outros aquíferos da bacia estão em situação crítica? Qual é o panorama atual desses sistemas aquíferos e sua relação com a disponibilidade hídrica superficial na região?
O Urucuia é o principal aquífero, mas temos também o Cárstico, o Verde Grande, bastante conhecido, e que nesse estudo foi identificado como uma das bacias com maior impacto nas vazões, além de outros aquíferos menores que também contribuem. Mas, de fato, o Urucuia tem um papel maior nesse contexto, podendo contribuir até 80%, dependendo da vazão média ou máxima de contribuição. Na época de estiagem, ele é fundamental principalmente para o baixo São Francisco. Agora, vale dizer que essa é uma situação que atinge todos os aquíferos e trata-se de um alerta onde os gestores públicos precisam atuar em conjunto com a sociedade de forma racional e séria para usar e preservar os recursos hídricos.
O recente estudo da Universidade de São Paulo (USP) indica que 61% dos afluentes do São Francisco podem perder fluxo para o aquífero devido à extração excessiva de águas subterrâneas. Isso sugere uma inversão na dinâmica hidrológica tradicional, onde rios passariam a recarregar aquíferos, em vez de serem alimentados por eles? Desde 1980, a vazão do aquífero Urucuia tem apresentado uma queda contínua de quase 50%, conforme apontado em um estudo de 2017 publicado na revista Águas Subterrâneas. Pesquisas anteriores relacionaram essa redução à diminuição das chuvas, mas um estudo mais recente mostra que o aquífero tem perdido sua capacidade de contribuir para os rios. O fenômeno faz com que o fluxo se inverta, e os rios passem a alimentar o aquífero, um comportamento típico de regiões semiáridas, reforçando a necessidade de monitoramento e gestão eficiente dos recursos hídricos.
O estudo financiado pelo CBHSF em 2022 projeta aumento da demanda hídrica na bacia, com o Aquífero Urucuia supostamente apto a suprir essa demanda, mas alerta para a redução da vazão dos rios — fenômeno já observado pela pesquisa da USP. Como a exploração intensiva de águas subterrâneas, combinada com a variabilidade climática, pode ampliar os riscos de colapso hídrico na bacia do São Francisco?
O aumento da produção reduz a disponibilidade de água, mas a real dimensão desse impacto requer análise
Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br
Atendimento aos usuários de recursos hídricos na bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607
detalhada. Estudos baseados em dados da missão GRACE (2003-2014) indicam que o aquífero Urucuia perdeu 9,75 km³ de armazenamento, equivalente a 30% da capacidade da represa de Sobradinho, sem uma redução significativa nas chuvas. Atualmente, estima-se uma perda de até 50% do volume, reforçando a necessidade de monitoramento contínuo para avaliar e mitigar os impactos na recarga e no abastecimento dos rios.
A agricultura irrigada é apontada como principal vetor de pressão sobre os aquíferos, mas como as mudanças climáticas interagem com esse uso antrópico? Há consenso sobre qual fator é determinante na crise atual, ou ambos agem sinergicamente para agravar o cenário?
A redução da vazão dos rios está relacionada às mudanças climáticas e à atividade agrícola. Menos chuvas resultam em menor infiltração de água e menor disponibilidade hídrica, agravando a situação dos aquíferos. Além disso, a superexploração dos recursos subterrâneos intensifica esse problema. Embora o aumento da produção agrícola gere benefícios econômicos, ele tem um custo ambiental significativo, impactando as populações ribeirinhas diante das mudanças climáticas e da redução das precipitações. Diante das projeções de esgotamento hídrico e degradação ambiental, existem estratégias viáveis para reverter ou mitigar o rebaixamento dos aquíferos e a perda de vazão dos rios? Quais políticas públicas ou modelos de gestão integrada são propostos para evitar um colapso irreversível na bacia do São Francisco?
A redução da disponibilidade hídrica tende a se agravar devido às mudanças climáticas e à ação humana. O cumprimento da meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 2ºC está cada vez mais difícil, aumentando o risco de descontrole climático. A reversão desse cenário depende de chuvas regulares, mas o aquecimento global já está em curso. Para mitigar os impactos, é essencial adotar práticas sustentáveis, como conservação de mananciais, uso eficiente da água e recarga manejada de aquíferos, garantindo uma gestão racional dos recursos hídricos.
Ouça a entrevista em: bit.ly/PodTrav192
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF – Tanto Expresso comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br
Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis
Edição e Assessoria de Comunicação: Mariana Martins
Textos: Deisy Nascimento, João Alves, Juciana Cavalcante e Mariana Carvalho
Fotos: Deisy Nascimento, João Alves, Juciana Cavalcante e Mariana Carvalho
Diagramação: Sérgio Freitas
Impressão: ARW Gráfica e Editora
Tiragem: 4.000 exemplares
Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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