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Revista do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco • Dezembro 2021
Sob nova direção: conheça os eleitos para comandar o CBHSF Vai faltar luz? Entenda o que está acontecendo com a nossa energia elétrica Um passeio pelos recantos protegidos do Velho Chico Você sabia que a roupa que você veste impacta os recursos hídricos do planeta?
Expediente PRESIDENTE: JOSÉ MACIEL NUNES DE OLIVEIRA VICE-PRESIDENTE: MARCUS VINÍCIUS POLIGNANO SECRETÁRIO: ALMACKS LUIZ SILVA PRODUZIDO PELA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO CBHSF TANTO EXPRESSO COMUNICAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL COORDENAÇÃO-GERAL: PAULO VILELA, PEDRO VILELA E RODRIGO DE ANGELIS EDIÇÃO: KARLA MONTEIRO ASSISTENTE EDITORIAL: LUIZA BAGGIO TEXTOS: ANDRÉIA VITÓRIO, HYLDA CAVALCANTI, IARA VIDAL, KARLA MONTEIRO, LUIZ RIBEIRO, LUIZA BAGGIO E MARIANA MARTINS PROJETO GRÁFICO: MÁRCIO BARBALHO DIAGRAMAÇÃO: ALBINO PAPA
SUM
FOTOS: BIANCA AUN, CRISTIANO COSTA, EDSON OLIVEIRA, ÉRICA FERNANDES, EVANDRO RODNEY, LÉO BOI, MANUELA CAVADAS, MARCELO ANDRÊ, PEDRO VILELA E RUI NAGAE FOTO CAPA: EDSON OLIVEIRA ILUSTRAÇÕES: ALBINO PAPA E CLERMONT CINTRA REVISÃO: ISIS PINTO IMPRESSÃO: ARW GRÁFICA E EDITORA TIRAGEM: 5000 EXEMPLARES DISTRIBUIÇÃO GRATUITA DIREITOS RESERVADOS. PERMITIDO O USO DAS INFORMAÇÕES DESDE QUE CITADA A FONTE. SECRETARIA DO COMITÊ: RUA CARIJÓS, 166, 5º ANDAR, CENTRO BELO HORIZONTE - MG CEP: 30120-060 - (31) 3207-8500 secretaria@cbhsaofrancisco.org.br ATENDIMENTO AOS USUÁRIOS DE RECURSOS HÍDRICOS NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO: 0800-031-1607 ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br
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A Palavra do Presidente
Chegada
Gestão das Águas
Sob nova direção
Coluna Social
Aconteceu
Ensaio Navegar é preciso
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ÁRIO 07 Páginas Verdes
A renovação é necessária
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Crise Energética
Mudanças Climáticas
Cultura
Vai faltar luz?
A culpa do homem
Era uma vez
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Gastronomia
Sustentabilidade
Culinária Raiz
Fora de Moda
Turismo
Herança Bendita
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Editorial
Rio São Francisco em Manga (MG)
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O legado e o futuro Esta é uma edição mais que especial da nossa CHICO, sobre partidas e chegadas. Em setembro tomou posse o novo colegiado do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) para um mandato de quatro anos, de 2021 a 2025. Preparamos para você saborosos perfis, apresentando aqueles que receberam a missão de dar continuidade ao projeto de revitalização do Velho Chico. O caminho a seguir é longo e árduo, segundo nos conta o novo timoneiro, José Maciel Nunes de Oliveira, eleito para a cadeira de presidente do CBHSF. Mas, olhando para a positiva herança da última gestão, certamente, o futuro, na sua opinião, promete grandes conquistas. Nas Páginas Verdes, a entrevista que abre a revista, Anivaldo Miranda nos fala dos seus dez anos à frente do Comitê. Anos de luta, de batalhas ganhas e batalhas perdidas, que deixam como legado principal a solidificação da democracia na estrutura do CBHSF. Consolidada a base para o diálogo, daqui em diante, segundo o ex-presidente, o desafio será a conclusão, em primeiro lugar, do Pacto das Águas, vital para a saúde do São Francisco. Para Anivaldo, que seguirá atuando na trincheira da defesa ambiental, a troca de comando no Comitê é “uma renovação necessária”.
Por falar em renovações – e novidades, o cardápio da CHICO está recheado delas. Você sabia que a indústria global da moda consome 80 bilhões de metros cúbicos de água por ano? Que para fazer uma única calça jeans gasta-se mais de cinco mil litros? A reportagem “Fora de Moda” vai te contar o preço para o planeta da roupa que você veste. Por outro lado, tem gente apostando na sustentabilidade. Na reportagem “Culinária Raiz”, conheça o chefe de cozinha que criou a “Gastrotinga”, a junção da alta gastronomia com a riqueza da Caatinga. Tem muito mais: Sérgio Onofre, o homem por trás do bem-sucedido Circuito Penedo de Cinema. Turismo ecológico, um passeio nas reversas ao longo da bacia do Velho Chico. Fim do mundo, o resumo do último relatório da ONU sobre mudanças climáticas. E, como não podia deixar de ser, fizemos um check-up na segurança energética do Brasil e respondemos à questão que vem assombrando o país: “Vai faltar luz?”. Boa leitura!
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A Palavra do Presidente
Chegada Aos 18 anos – ou seja, há exatas duas décadas, comecei a militar no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Eu o vi nascer, participei de muitas lutas, acompanhei o amadurecimento da instituição, atuando em diversas instâncias. Aliás, “militância” é uma palavra que, às vezes, assume significado pejorativo no discurso político. Mas o militante nada mais é do que aquele que defende uma causa, que busca a transformação da sociedade através da ação. E agir é o verbo que vem nos movendo todos esses anos. Difícil exprimir a minha emoção ao chegar à cadeira de presidente do CBHSF. Quando o Comitê foi criado, em 2001, tamanha a sua importância para a gestão dos recursos hídricos no país que esta mesma cadeira fora ocupada por um ministro de Estado, o engenheiro florestal José Carlos Carvalho, então à frente do Ministério do Meio Ambiente. Nos próximos quatro anos, minha missão será, ao mesmo tempo, contribuir para a continuidade do bem-sucedido projeto iniciado pela honrosa gestão de Anivaldo Miranda, e ir além, aprofundando a participação social nas decisões que tangem à bacia.
Nossa ideia é trabalhar para envolver cada vez mais a população, mostrando-lhe o que nós estamos fazendo para preservar a saúde do Velho Chico. Só quem conhece pode amar - e abraçar - a causa do Rio São Francisco. Entre as nossas diversas ações, destaco o programa de “Convivência com o Semiárido”. Por muitas décadas, adotou-se a premissa inalcançável do combate à seca. Mas seca não se combate, é preciso aprender a conviver e viver no tão belo sertão brasileiro. Como? Encontrando soluções locais, criativas e sustentáveis, tais como a ampliação do número de cisternas. Enfim... Teremos quatro anos pela frente: para debater, informar, pontuar, esclarecer, aqui neste espaço singular, a revista CHICO, essa nossa grande e desafiadora missão. Por acaso hoje, quando escrevo a minha primeira “Palavra do Presidente”, saiu a notícia do envio ao Congresso Nacional do novo “Marco Hídrico”. Na prática, o projeto do governo centraliza em vez de democratizar a gestão dos recursos hídricos. O CBHSF acredita na direção oposta. Quanto mais democracia, mais participação popular, maiores as chances de salvarmos os nossos rios. A luta segue.
José Maciel Nunes de Oliveira Presidente do CBHSF
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Páginas Verdes
“A renovação é necessária” Na entrevista a seguir o ex-presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, faz um balanço sobre a sua gestão Por Luiz Ribeiro Fotos: Cristiano Costa e Manuela Cavadas “Acho que a principal conquista foi consolidar a democracia participativa dentro do Comitê e solidificar o seu funcionamento em todas as suas instâncias”, disse o ambientalista Anivaldo Miranda, que, em setembro, encerrou o segundo mandato à frente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, (CBHSF). Depois de dez anos ocupando a cadeira de presidente da instituição, ele, certamente, tem muito a celebrar, embora reconheça que a luta pela vida do Velho Chico ainda está distante do fim: “O maior ganho foi este: o Comitê, de fato, transformouse em um espaço de solução antecipada de conflitos e em um espaço de amplo diálogo entre segmentos que, às vezes, têm interesses legítimos, porém, conflitantes”. Entre as batalhas inglórias, o programa de revitalização que, na prática, continua sendo apenas “uma ideia”. “Cada governo que entra promete que a revitalização finalmente vai ser uma realidade, mas essa realidade nunca chega”, lamentou.
- no contexto da guerra fria havia muito temor da eclosão de uma hecatombe nuclear, mas também pelo movimento de sensibilização e de cuidados com o uso pacífico da energia nuclear, para a geração de eletricidade. Esses movimentos me chamaram bastante atenção. Quando voltei para o Brasil e definitivamente fixei residência em Maceió, na minha atividade de jornalista, fui cada vez mais me interessando pela pauta do meio ambiente. Fui indicado para fazer parte do Conselho Estadual de Proteção Ambiental (de Alagoas). Esse foi, de fato, o início de uma trajetória como ambientalista. Eu ocupei, durante um ano e meio, o cargo de Secretário de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos de Alagoas. Em 2002, fui eleito para a primeira composição do CBHSF. A partir daí, não me afastei mais do Comitê.
Natural de Maceió, jornalista de formação, Anivaldo Miranda é mestre em Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). O interesse pela questão ambiental brotou no distante exílio, no começo dos anos 70. Perseguido pela ditadura militar, deixara o Brasil para viver na Dinamarca. À época, na Europa e no mundo, travava-se o intenso debate sobre o uso da energia nuclear para a geração de energia elétrica. Envolvido pelo assunto, ele retornou ao Brasil e logo assumiu o cargo de secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas. Daí para a cadeira de presidente do CBHSF passaram-se décadas. Em 2011, foi eleito para o primeiro mandato.
Acho que a principal conquista foi consolidar a democracia participativa dentro do CBHSF e o seu funcionamento em todas as suas instâncias, de uma maneira bastante articulada. O Comitê se consolidou institucionalmente, sendo um ambiente de muito diálogo, muito debate, tudo conduzido de forma construtiva e respeitosa. O CBHSF tornou-se um ambiente de construção coletiva. Eu diria que o maior ganho foi este: o Comitê, de fato, transformou-se em um espaço de solução antecipada de conflitos e em um espaço de amplo diálogo entre segmentos que, às vezes, têm interesses legítimos, porém, conflitantes. Houve todo um aprendizado conjunto, entre os usuários das águas, segmentos da sociedade civil e do poder público. Tudo isso tem resultado em um trabalho que considero referência para os Comitês de todo país.
Aos 77 anos, Anivaldo não pretende abandonar a luta, resistindo na trincheira da batalha ambiental: “Quando você se envolve com essa aventura, que é a gestão das águas no Brasil, isso é algo interminável”. Qual foi sua trajetória até o ingresso no CBHSF? O que motivou o seu interesse pela questão ambiental? Sempre tive muita proximidade com as coisas da natureza. Herdei isso da minha mãe, que gostava muito de jardinagem. Eu me criei em sítio de mangueira, na beira do mar. Acho que tudo me predispôs para a relação de sensibilidade com o ambiente natural. Muito jovem, pelos idos de 1973, eu fui forçado a ir para o exílio na Dinamarca. Nessa condição, presenciei na Europa um nascente debate sobre a energia nuclear, tanto do ponto de vista de um grande movimento pelo desarmamento mundial 8
Quais foram as principais conquistas e metas alcançadas pelo Comitê durante a sua gestão por dois mandatos?
Então podemos dizer que hoje o CBHSF está mais fortalecido? Sem dúvida! Nós também conseguimos implantar, com o advento da cobrança pelo uso da água, um planejamento que resultou na aplicação inteligente dos recursos dessa cobrança, criando também a possibilidade de enfrentar questões estruturantes para a consolidação do nosso projeto. Quero me referir às ações fundamentais para o Comitê. A primeira delas foi a atualização dos preços da cobrança, foi todo um processo de debate, que resultou numa atualização da cobrança bastante pioneira nos Comitês no Brasil. Em segundo lugar, o Comitê conseguiu estabelecer uma metodologia de planejamento que deu certo:
primeiramente com os planos plurianuais, de três anos, e agora, participando da construção de planos mais longos, de cinco anos, e, inclusive, da construção do plano orçamentário anual. O CBHSF também focou naquelas ações estruturantes do ponto de vista dos instrumentos de gestão. Iniciou um grande projeto de monitoramento da qualidade da água e, com isso, criou ações de referência, principalmente, no Baixo São Francisco, e no outro oposto do rio, na região das nascentes, onde iniciamos a confecção de outro instrumento da gestão, que é o enquadramento das águas. Nesse contexto, quais as ações que o senhor não conseguiu concluir? Quais grandes desafios ainda continuam sendo enfrentados pela gestão do Comitê? O principal desafio é concluir o Pacto das Águas. Foi um ganho dos últimos 10 anos a metodologia de construção desse pacto na bacia do São Francisco. O que é exatamente o Pacto das Águas? Trata-se de uma ação institucional capaz de criar condições para que o plano diretor de recursos hídricos da bacia possa atingir, de forma mais satisfatória, os resultados. Eu explico: os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, pelo seu volume, estão muito longe de arcar com todos os objetivos e as metas do plano. Por exemplo, nós, anualmente, arrecadamos em torno de R$ 35 milhões a R$40 milhões, mas, em 10 anos, de 2016 a 2026, que é o horizonte do plano atual, calcula-se em mais de R$30 bilhões os recursos que seriam necessários para cumprir o plano diretor da bacia. Por aí se vê que existe uma enorme distância entre o que se arrecada com a cobrança pelo uso da água bruta e o que teria que se gastar para cumprir o plano na sua amplitude. Só há uma maneira de resolver esse impasse: de fato trazer a União, os Estados e demais parceiros para um grande pacto, no sentido de que os orçamentos da União, dos Estados e até dos municípios possam incorporar metas do plano diretor de toda bacia do São Francisco. O plano é elaborado pelo Comitê, mas é um plano que deve ser apropriado por todos os atores desse cenário, principalmente, do poder público. O Pacto das Águas também é fundamental porque poderá cumprir alguns objetivos estratégicos, como por exemplo, definir as vazões de entrega dos grandes afluentes perenes do São Francisco para a calha central do rio. Mas o que significa a definição das vazões de entrega dos afluentes perenes? Definir essas vazões de entrega significa que precisamos fazer convergir o planejamento da União com o planejamento dos Estados e o planejamento do Comitê, para que o uso das águas da bacia seja o mais racional possível. Tem que se estabelecer um grande diálogo dentro da bacia no sentido que todos ajam como se o plano do Comitê fosse a partitura e a gestão fosse uma orquestra – ou seja, todos trabalhando com metas e objetivos comuns. Hoje, na sua opinião, quais são as maiores ameaças sofridas pelo Rio São Francisco decorrentes de intervenções e projetos de interesse econômico? Posso citar o perigo das barragens de rejeito de minério que podem atingir a calha central a partir dos afluentes, o projeto de construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Formoso, no município de Pirapora, em Minas Gerais, e os planos do governo federal, que insiste em construir uma central nuclear no município de Itacuruba, no sertão de Pernambuco, com uso previsto de águas do Velho Chico, além dos planos da Exxon visando a exploração de petróleo em águas da área de influência da foz do Rio São Francisco. Isso só para citar os mais impactantes, todos eles conduzidos totalmente à revelia dos Comitês de bacias hidrográficas.
Anivaldo Miranda
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Durante sua gestão, houve uma ação do Comitê em torno do aquífero Urucuia. Qual é a situação desse aquífero e qual sua importância para o Velho Chico? Não por acaso o Comitê realiza os seus próprios estudos sobre o Urucuia. Ele é fundamental para o São Francisco. Aliás, foi apresentado ao Brasil pelo Comitê. Sempre houve a percepção de que as águas do Velho Chico dependiam basicamente das chuvas em Minas Gerais, no Alto São Francisco. Pouco a pouco, porém, descobrimos uma realidade paralela: no período seco em Minas, entre março/abril e outubro/novembro, mais de 90% da vazão do rio vem da contribuição do aquífero Urucuia. Esse aquífero, assim como as nascentes do Alto São Francisco, é estratégico. Só que está sendo absolutamente afetado pelo crescimento da fronteira agrícola desordenada, conhecida como “Matopiba”, que avança no Maranhão, Tocantins, Piauí e na Bahia. Tudo está sendo potencializado pelo aquecimento global. Mas, além da questão do aquífero Urucuia, existe um outro grande desafio, que é nacional: a necessidade de defender os biomas do Cerrado e da Caatinga. O Comitê precisa se articular com as forças políticas no sentido de declarar os biomas do Cerrado e da Caatinga como patrimônios nacionais. Até hoje, devido às pressões do poder econômico, somente foram declarados como patrimônios nacionais a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e o Pantanal. Recentemente, saiu um estudo da rede de pesquisadores MapBiomas que mostra que entre 1985 e 2020 a bacia do Rio São Francisco teve uma redução de 15% de águas superficiais. Como o CBHSF encarou essa situação durante sua gestão e como o senhor acha que esse quadro pode ser revertido? Com muita preocupação. Por isso propusemos o Pacto das Águas. Dentro dos objetivos desse pacto está a universalização da implantação dos instrumentos da gestão hídrica no território da bacia. Sem a universalização da implantação desses instrumentos é miragem falar em gestão das águas. Seria como enxugar gelo. Aqui, me refiro à necessidade de que todos os Estados, junto com a União, se comprometam a, de fato, implementar esses instrumentos. Estou falando da universalização da cobrança pelo uso da água, universalização dos planos de bacias e sub-bacias em todo o território do São Francisco e de seus afluentes. Estou falando do sistema de outorgas, que seja, de fato, confiável em políticas de aumento dos investimentos em ciência, sobretudo, em pesquisas de aquífero e de processos de degradação das águas e de solos. Além disso, me refiro a outras ações importantes, como o fortalecimento dos Comitês de bacias. Pois, um Comitê sem recursos é, no máximo, a expressão apenas de uma vontade - e não uma realidade de gestão de águas. Durante sua gestão, qual foi a atuação do Comitê em torno do Programa de Revitalização da Bacia do Rio São Francisco? Lutamos para retirar o Programa de Revitalização da Bacia do Rio São Francisco do papel. Trata-se de um programa federal que vai completar praticamente duas décadas sem nunca ter sido implantado de fato. Cada governo que entra promete que a revitalização do São Francisco finalmente vai ser uma realidade, mas essa realidade nunca chega. Desde que o programa foi criado, muitos planejamentos foram feitos, uma montanha de papel foi produzida, com dados, diagnósticos e prognósticos. Criou-se até um conselho de revitalização em nível federal, mas nada disso teve continuidade. E hoje o programa de revitalização continua sendo apenas uma ideia. Os diversos governos procuram dourar a pílula, alardeando investimentos. Mas nada que configure um programa na prática. Na verdade, do ponto de vista da União e 10
Para Anivaldo Miranda é urgente transformar o Cerrado e a Caatinga em patrimônios nacionais. Os dois biomas são predominantes na bacia do São Francisco
A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro. Grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta
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dos estados, os investimentos em revitalização são ridículos para os desafios da bacia. Para não alongar muito, cito um exemplo: a questão da qualidade da água é um dos eixos do programa de revitalização. Todavia a maioria das cidades ribeirinhas não tem sistemas de coleta e de tratamento de esgoto. São dezenas de municípios que despejam esgoto (sem tratamento) na Bacia do São Francisco. Quais foram outras ações previstas no programa de revitalização que não foram feitas? Naquilo que é estruturante, a revitalização não ocorreu, nem em relação ao programa de combate à degradação do solo (a erosão), nem dos programas de combate à desertificação, nem dos programas de recuperação de áreas de recarga, de proteção de nascentes, de reflorestamento e de recuperação de matas ciliares. Enfim, os investimentos nesse conjunto de ações são muito distantes do que a bacia precisa. Diante desse quadro, quais as ações mais urgentes que devem ser implementadas para conter o processo de degradação e de redução do volume de água na Bacia do São Francisco? Cito, por exemplo, a necessidade de um forte programa de recuperação de nascentes e de proteção de áreas de recarga no Alto São Francisco, sobretudo naquilo que se chama arco das nascentes, que são os afluentes do São Francisco que mais contribuem com água para a bacia. Em segundo lugar, é preciso desencadear programas de combate à degradação do solo, de reflorestamentos. São necessárias ações concretas no Semiárido no sentido de se evitar o avanço do processo de desertificação. Então, de fato, dentro da bacia, já existem os estudos que indicam quais são as ações que devem ser feitas e quais são as áreas estratégicas para começar o trabalho. Agora, nada disso terá êxito se você continuar fechando os olhos para os processos de degradação de grande escala, como o desmatamento de biomas, o uso intensivo e criminoso das águas subterrâneas, incêndios florestais e ações desordenadas que resultam em processos erosivos de degradação do solo. Nada adianta se o Estado não cumprir o seu papel como gestor das águas e do solo. Por parte do poder público, o que falta ser feito para que essas ações sejam executadas na prática? O poder público precisa cumprir aquilo que a lei determina determina, mas não esclarece como obrigatoriedade. E aqui estou falando, sobretudo, da lei nº 9.433/1997, a Lei Nacional das Águas, que também precisa sair do papel. A lei é maravilhosa. Estabeleceu todos os princípios fundamentais para a gestão das águas no Brasil: os grandes objetivos, as diretrizes, as obrigações do poder público. Mas segue como letra morta. Na maioria das bacias hidrográficas do Brasil não existe cobrança pelo uso da água – na própria bacia do São Francisco, a cobrança está basicamente na calha do rio. Ela se iniciou e se desdobra de maneira lenta e tímida, por exemplo, em Minas Gerais. Na Bahia mal começou. E nos outros estados, como Pernambuco, Alagoas e Sergipe, essa cobrança sequer foi iniciada. Não adianta falar em gestão das águas se você não acelera essa cobrança. Agora, a gente sabe que existe a influência do poder econômico para retardar ao máximo a universalização da gestão das águas.
A missão do CBHSF é integrar as ações públicas e privadas relacionadas aos recursos hídricos. Nesse sentido, o que o senhor acredita que precisa ser feito para que a sociedade tenha mais consciência sobre a necessidade da conservação do Rio São Francisco? É preciso ter uma visão de bacia hidrográfica, o que ainda não temos no país. Embora a Lei nº 9.433/1997 tenha estabelecido que a gestão das águas deve ser feita tomando a bacia hidrográfica como grande unidade de ação, embora esteja na lei, isso não foi compreendido, não foi assimilado pelos governos e pela sociedade. Então, essa falta de visão de bacia precisa ser mudada. Não tem como a União e os Estados agirem de forma completamente aleatória e separada. Infelizmente, não existe uma parceria, um entendimento, para que seja uma gestão com o mínimo de harmonia. Cada estado planeja e faz sua gestão de forma absolutamente desconectada em relação aos demais. A própria União não atua no sentido de coordenar. É como se fosse uma orquestra desafinada. No caso da bacia do São Francisco, Minas não sabe o que a Bahia está planejando. A Bahia não leva em consideração aquilo que Pernambuco faz. Essa falta de articulação conjunta não é um problema só do São Francisco, mas um problema nacional. Se quisermos um nível melhor de resultado no enfrentamento da insegurança hídrica neste século devemos começar a solucionar essa questão. Depois da sua experiência exitosa à frente do CBHSF, qual será o seu futuro? Acho que cumpri minha missão à frente da presidência do Comitê. Em qualquer instituição, assim como no CBHSF, a renovação é necessária. Acho que a mudança veio no momento certo. Nós nos esforçamos para que a transição tivesse elementos de renovação e, ao mesmo tempo, de continuidade do trabalho. Acredito que o fato de termos construído uma chapa única para o novo mandato foi muito positivo. O Comitê hoje está consolidado e a nova gestão terá a possiblidade de alçar voos mais altos do ponto de vista dos objetivos do Comitê. Faço parte da diretoria colegiada do CBHSF e vou contribuir com minha experiência para que a nova diretoria tenha êxito no seu trabalho. Também terei oportunidade, como consultor da Câmara Consultiva do Baixo São Francisco, de me dedicar mais a esse trecho do rio, que é o mais impactado, pelo fato de que é o que está situado mais a jusante. Aqui no Baixo São Francisco existem grandes desafios, como a intrusão salina e a questão da qualidade da água. É o trecho do rio que mais sofre com essa política desordenada de vazões que são praticadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Mas, ao mesmo tempo, é um trecho do rio que pode servir de cenário para que várias ações de caráter demonstrativo possam se desenvolver e até se transformar em referência para as demais regiões do Comitê, como, por exemplo, algo que estamos aprimorando aqui – as experiências científicas, os trabalhos de monitoramento de qualidade das águas. Enfim, outros tipos de ações que poderão ser aprimoradas. Mas, independente disso, ficarei mais livre também para exercer as minhas atividades como membro titular do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e representar os Comitês de bacias nesse colegiado nacional, que é importante, importantíssimo. Além disso, claro, vou me dedicar às minhas atividades como jornalista, como ambientalista e até ajudar na articulação regional. Não faltam desafios. Quando você se envolve com essa aventura, que é a gestão das águas no Brasil, isso é ato interminável.
Confira a despedida de Anivaldo Miranda no site do CBHSF
bit.ly/VelhoChicoAgradece 13
Gestão das Águas
Sob nova direção Por Karla Monteiro, Luiza Baggio e Mariana Martins
O novo timoneiro Há exatos 20 anos, em 2001, o jovem José Maciel Nunes de Oliveira, então com 18 anos, começou a jornada de luta pelo Velho Chico. Naqueles tempos, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) encontrava-se em gestação e o ribeirinho, filho de agricultores, atuava junto às comunidades tradicionais. E foi como representante dos pescadores, apontado pela Federação de Pescadores do Estado de Alagoas, que acabou integrando a nascente instituição: “A concepção do CBHSF virou um marco. Foi o único Comitê de bacia que subiu a rampa do Palácio do Planalto para tomar posse, e eu estava lá”. Quase dez anos depois, em 2010, já fazia parte da Secretaria Executiva: “Fiquei surpreso com a escolha do meu nome. As diretorias vinham sendo ocupadas por nomes reconhecidos nacionalmente. Mas houve a sensibilidade de perceber que o que faltava eram pessoas que, como eu, conheciam o povo, a tradição, o modo de vida e os problemas do rio”. Maciel agora celebra mais uma etapa de sua trajetória. Em setembro, foi aclamado presidente do CBHSF, para um mandato de quatro anos, que se encerra em 2025: “Quando iniciamos o processo eleitoral, vários membros do Comitê me disseram que eu estava preparado para assumir a presidência. Decidimos, assim, articular uma chapa única com representantes de todas as regiões da bacia. Foi com diálogo que chegamos à atual diretoria. No dia da eleição fiquei emocionado e confiante na minha missão”. Para ele, a tarefa não é apenas um cargo
José Maciel Nunes de Oliveira importante, mas uma causa de vida: “Todos dentro do Comitê somos voluntários. É um trabalho feito com muita dedicação e amor para as gerações futuras”. Nascido em Arapiraca, no agreste Alagoano, Maciel, hoje com 38 anos, se mudou para a bela Penedo, às margens do São Francisco, na divisa de Alagoas e Sergipe, aos 12 anos. A paixão pelo Velho Chico aconteceu à primeira vista. Ao ver o imenso rio, atravessando a cidade histórica, de casario colonial, não teve dúvida. Ali encontrara o seu lugar no mundo. “Fiquei encantado”, recordou ele, que chegara a morar uma temporada em Salvador. “Resolvi voltar para Penedo, pois aqui, além de estar próximo da minha família, tenho o Velho Chico. Eu me sinto em casa, é onde quero estar”. A passagem do tempo Desde que começou a atuar no CBHSF, Maciel já encarou várias batalhas, atuando em câmaras técnicas e ocupando distintas posições na Secretaria Executiva, entre estas dois mandatos como vicepresidente. “De lá para cá muitos avanços foram alcançados na gestão dos recursos hídricos do Velho Chico. Durante todo esse tempo, como secretário e depois vice-presidente, vi os instrumentos de gestão serem implementados. E o meu compromisso foi o de lutar por uma realidade melhor para a bacia, sempre incluindo os ribeirinhos no diálogo”, comentou. Para ele, entre as mais difíceis lutas, estão, certamente, a implementação da cobrança pelo uso da água e o calvário do projeto da transposição. “Implementar a cobrança foi de suma importância para iniciarmos os projetos dentro do Comitê. Antes da cobrança não havia dinheiro para nada, nem mesmo para mobilizar a população em prol do rio”, disse. “Já quanto à transposição, não havia consenso. Nós do Comitê nunca fomos contra a transposição, mas lutávamos para que o projeto fosse sustentável e que envolvesse ações de revitalização”. O diálogo como arma Reconhecendo com fervor tudo que fora alcançado durante os mandatos anteriores, que tiveram Anivaldo Miranda à frente, Maciel quer agora aprofundar a participação popular na regência do CBHSF. Na sua visão, a única maneira de preservar é conscientizar, trazendo para dentro dos processos decisórios aqueles que, afinal de contas, são a alma do São Francisco. “Vamos dar continuidade a um projeto que vinha dando muito certo, nas mãos do Anivaldo. Mas viso ações mais pontuais e estratégicas, levando o Comitê até a população. As pessoas precisam conhecer mais de perto o nosso trabalho”, comentou. “Também priorizaremos os projetos voltados para a convivência com o Semiárido”. Segundo Maciel, ser presidente do CBHSF é um grande orgulho: “O Comitê representa um dos maiores colegiados de bacia hidrográfica do mundo. Somos referência para outros Comitês. Temos muito trabalho pela frente, mas é com grande satisfação que assumo esse desafio. Continuo nessa luta por um futuro sustentável e com qualidade de vida para a bacia do São Francisco e sua gente. Acredito que isso pode acontecer por meio da descentralização do poder de decisão, integração das ações públicas e privadas, com a participação de todos os setores sociais”.
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Doutor em meio ambiente
O médico mineiro Marcus Vinícius Polignano é o novo vice-presidente do CBHSF
Corria o ano de 1997 quando o mineiro Marcus Vinícius Polignano, hoje com 64 anos, descobriu o propósito de sua profissão: juntar medicina e luta ambiental. Formando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), associou-se, então, a outros colegas para criar o Projeto Manuelzão. A ideia nascera durante o programa de internato rural, disciplina obrigatória do final do curso. Ao passar três meses nos rincões de Minas Gerais, fora inevitável a constatação de que de nada adiantaria medicar a população sem tratar as causas das doenças. “A partir da percepção de que a saúde não deve ser apenas uma questão médica, criamos o Manuelzão para lutar por melhorias nas condições ambientais”, contou Polignano. “Para promover qualidade de vida, temos que romper com a prática predominantemente assistencialista”. Em setembro ele tomou posse como vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Chega trazendo a experiência de expresidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), cargo que assumira em 2013. Sobretudo, carrega na bagagem também o olhar de médico especializado em medicina preventiva e social, com ênfase em saúde coletiva. Para Polignamo, a água é o bem vital da humanidade. “Vamos enfrentar os desafios da gestão das águas de uma bacia extremamente biodiversa, com foco na revitalização, atentos aos usos e ocupação dos territórios da bacia e nos aproximando ainda mais dos Comitês Afluentes”, comentou.
Lente Aberta Almacks Luiz Silva assume a secretaria executiva do CBHSF
Pouca gente conhece tão bem o São Francisco como Almacks Luiz Silva. Baiano de Jacobina, já visitou mais da metade dos municípios ribeirinhos. Dos 505, conhece 285. Foi a paixão pela fotografia que o levara a esquadrinhar o grande rio. Em 2018, por exemplo, empreendeu a expedição fotográfica “Olhares do Velho Chico”, que, na sua primeira etapa, passou por 11 cidades. Segundo Almacks, conhecer como vive este povo que habita as margens franciscanas é muito mais do que um prazer. É uma missão: “Ao chegarmos nessas cidades fazemos palestras sobre meio ambiente e recursos hídricos”, comentou ele. Tecnólogo em Gestão Ambiental, com especialização em Gestão de Bacias Hidrográficas e Saneamento Básico, Almacks foi presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre por sete anos. De lá migrou para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), onde atuou como secretário da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco por outros oito. Membro titular do CBHSF desde a sua criação, assume agora a secretaria executiva do Comitê na gestão 2021/2025. “Tomei gosto pela trajetória dos Comitês e, após me aposentar como contador, assumi o desafio de cuidar das águas. Sou pós-graduado em licenciamento e auditoria, conhecimento que me levou a ser secretário do CBHSF”, contou. Para ele o maior desafio por vir é a conclusão da implantação do Pacto das Águas: “Questionamos no pacto a quantidade e qualidade das águas que Minas Gerais entrega à Bahia, que a Bahia entrega à Pernambuco etc., até à foz, em Piaçabuçu, no estado de Alagoas. São mais de 500 anos de impacto no Velho Chico e vamos continuar atuando com a realização de projetos demonstrativos, para dizer aos governos estaduais e municipais que, mesmo com poucos recursos, é possível, sim, melhorar a saúde do nosso grande rio”. 15
Segunda rodada Altino Rodrigues Neto foi reeleito para a coordenação da CCR Alto São Francisco “Eu queria morar na beirada de um rio e, quando cheguei à Ilha do Mangabal, fui arrebatado pelo Velho Chico”: assim Altino Rodrigues Neto, de 59 anos, explica o seu caso de amor com o São Francisco. Há mais de 20 anos militando pela causa ambiental, ele mora na Ilha do Mangabal, no município de Felixlândia, em Minas Gerais. Nascido em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, escolheu o paraíso para se instalar e trabalhar com turismo sustentável. Reeleito coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco, Altino é formado em gestão ambiental, com especialização em educação ambiental e sustentabilidade. Ele se aproximou do CBHSF ao integrar o Comitê de Bacia Hidrográfica do Entorno da Represa de Três Marias, instituição que presidiu em mandatos consecutivos. Nesta segunda rodada à frente da CCR Alto São Francisco, enxerga muitos desafios, mas aponta o norte: “Vamos focar na efetivação da revitalização e vamos lutar para evitar que novas ameaças, como a construção da Usina Hidrelétrica (UHE) Formoso, comprometam a bacia”. Para isso, acredita ser importante a conscientização: “É preciso mais diálogo com a população, o governo, a indústria para criar políticas públicas que vão fazer a diferença para o Velho Chico”.
A voz da experiência Ednaldo Campos é reeleito coordenador da CCR Médio São Francisco Ali pelo ano de 2008, o agricultor Ednaldo Campos viu sua plantação definhar. A pinha, o mamão, o limão e a cenoura não resistiram à seca, ocasionada por abrupta interrupção no sistema de irrigação. O prejuízo dos pequenos produtores da Associação de Fruticultores da Adutora da Fonte (AFAF), no município de Lapão, às portas da Chapada Diamantina no sertão da Bahia, fora grande. A busca coletiva de solução para o problema da escassez de água, no fim das contas, levaria Ednaldo para o front ambiental. Lá se vão mais de uma década de batalhas. Agora reeleito para mais um mandato de quatro anos (2021-2025) à frente da CCR Médio São Francisco, Ednaldo quer seguir a luta pela saúde do Velho Chico contando com a tranquilidade advinda da longa experiência. Entre as suas principais metas, está a conclusão de uma afetuosa obra em progresso: a recuperação da lagoa de Itaparica. Nascido e criado enfrentando a seca, dará prioridade a projetos de recuperação hidroambientais como o projeto “Convivência com o Semiárido”, que consiste na construção de cerca de 200 cisternas em dois municípios do Médio São Francisco e à conclusão dos 13 Planos Municipais de Saneamento Básico que se encontram em andamento. Para Ednaldo, assim como para todo o CBHSF, o grande desafio dos próximos anos é a implementação do Pacto das Águas. Dele depende, na sua opinião, o futuro do rio São Francisco, que hoje sofre com o uso irregular de suas águas. Um grande passo já foi dado: a aprovação do modelo conceitual do Pacto das Águas. Ednaldo sabe que o processo será longo e árduo – e aposta na contínua educação ambiental para que as metas sejam atingidas. Segundo ele, só um povo consciente da importância de se preservar o meio ambiente pode salvar os nossos rios. 16
Encontro marcado Cláudio Ademar da Silva assume a coordenação da CCR Submédio São Francisco
Seguindo a trilha de muitos sertanejos, como um personagem de “Asa Branca”, a famosa canção de Luiz Gonzaga, Cláudio Ademar da Silva outrora deixara a sua terra, Glória, na Bahia, para ganhar a vida em São Paulo. À época de juventude, acreditava que as oportunidades estariam nos grandes centros. Seguiram-se, então, anos duros. Trabalhou em fábrica, oficina mecânica e entregando jornais. Até que um dia percebeu que nada daquilo fazia sentido e resolveu voltar para o seu sertão. Agora empossado como coordenador da Câmara Consultiva Regional Submédio São Francisco, Cláudio Ademar tem trajetória de lutador. Nascido em Paulo Afonso, unicamente por não haver hospital em Glória, viu as terras do pai serem inundadas quando da construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica, hoje UHE Luiz Gonzaga. Ao longo dos anos, aliás, assistira a vida na região inteira ser afetada pela construção de barragens: Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso, Moxotó, Xingó. Não por acaso sua primeira atuação política, de fato, se dera no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), além da militância nos sindicatos rurais. Em meio à caminhada, Cláudio Ademar conheceu o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Ribeirinho, com uma história de luta pelos trabalhadores rurais de agricultura familiar, pelas comunidades tradicionais e pelas pessoas que foram expulsas de suas terras, identificou-se de imediato e acabou candidatandose para um assento em 2016. Conseguiu uma vaga de suplente, mas não se deu por satisfeito. Queria ter voz ativa no Comitê. Indicado para fazer parte da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL), iniciou a caminhada no CBHSF. Sua meta na nova diretoria é contribuir para uma gestão descentralizada e participativa.
Prata da casa
Anivaldo de Miranda Pinto assume o cargo de coordenador da CCR Baixo São Francisco
Por dois mandados consecutivos, o alagoano Anivaldo Miranda presidiu o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Foram dez anos no cargo, período em que a instituição consolidou definitivamente a democracia interna, tornando-se um espaço de debate e construção de soluções coletivas. Agora ele assume outra função na estrutura do Comitê, eleito coordenador da Câmara Consultiva Regional (CCR) Baixo São Francisco. Jornalista de formação e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, sua luta vem de longe. Em 1986, fundara a ONG Movimento Pela Vida (Movida), a precursora no segmento ambiental no estado. Como representante da entidade, tornou-se membro do Conselho Deliberativo do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNDA). Em 2002, assumiu outro desafio: a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, razão pela qual representaria o estado na primeira diretoria colegiada do CBHSF e no Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Dois anos depois, já fora da secretaria, reassumiu a militância no Movida e no Fórum de Defesa Ambiental, que representou na composição da segunda diretoria do CBHSF. Em 2011, seria eleito pela primeira vez presidente do Comitê. Como coordenador da CCR Baixo, Anivaldo pretende se dedicar à coordenação sem abandonar a visão geral do CBHSF. “O Baixo São Francisco sofre o reflexo de todas as questões da bacia. Para reverter a realidade de degradação precisamos fazer boas escolhas de projetos. A primeira tarefa será acelerar a execução dos projetos em andamento, em segundo lugar, começar a elaborar as propostas para o plano orçamentário anual de 2022, visto que agora, sem planejamento, fica difícil ter recursos. Escolher bem os investimentos é de fundamental importância para alcançarmos dias melhores para o Velho Chico”.
Quer saber mais sobre a nova diretoria? Assista os vídeos!
bit.ly/CBHSF_SobNovaDirecao 17
Energia em xeque Em 2001, os brasileiros ficaram no escuro, enfrentando o racionamento de energia e os contínuos apagões. Vinte anos depois, o cenário pode se repetir, com a nova crise energética à vista. A Revista CHICO ouviu cientistas, acadêmicos, organizações sociais e o governo para entender como chegamos até aqui Por Hylda Cavalcanti Fotos: Edson Oliveira e Léo Boi Ilustração: Clermont Cintra
Usina Hidrelétrica de Xingó, localizada no Rio São Francisco, na divisa de Alagoas e Sergipe
Crise Energética
O drama é global, segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em agosto. Todos os países do mundo
enfrentam hoje escassez de recursos hídricos, em parte pela carência cada vez maior de água no planeta, em parte pela má gestão. No Brasil, certamente, o problema vai ainda além. Diante da pior seca dos últimos 91 anos, o país pode, simplesmente, ficar no escuro. Apesar de todos os avisos da natureza, não foram construídas alternativas às hidrelétricas e a população encontra-se, como diz o ditado popular, novamente nas mãos de Deus. A lição deveria ter sido aprendida há exatos 20 anos, no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, quando se viveu o racionamento e os contínuos apagões. Durante a crise, vários setores se mobilizaram e medidas de prevenção foram adotadas, como a criação do Operador Nacional do Sistema (ONS). Porém, segundo especialistas em geração de energia elétrica, muitos órgãos vitais para o setor foram desmobilizados pelo governo federal. Desde então, não é que nada tenha mudado na matriz energética brasileira. Enquanto, em 2001, foi necessário realizar cortes programados da demanda para que o sistema de distribuição elétrica conseguisse ser mantido, agora existem mais opções de geração. “A matriz está bem mais diversificada. Temos uma maior geração de energia eólica. Mas a nossa dependência da geração hídrica ainda é muito grande. Com a redução dos reservatórios, temos uma situação de suprimento muito crítica”, comentou o economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Diogo Lisbona. Segundo ele, as hidrelétricas têm uma vantagem: a capacidade de armazenar energia. “Isso ajuda a garantir uma constância no abastecimento – algo que não dá para esperar em energias como a solar, por exemplo, que só tem produção durante o dia. Mas as hidrelétricas dependem diretamente da incidência de chuva”. Tragédia anunciada Não foi por falta de avisos que chegamos até aqui, no prenúncio de um novo apagão – ou apagões. De acordo com o climatologista José Antônio Marengo, coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os órgãos de monitoramento alertaram, ainda no segundo trimestre deste ano, sobre a severa estiagem por vir. “Avisamos que, entre abril e maio, entraríamos num período de seca prolongada. Como as chuvas de 2020 tinham sido fracas, já se estava em situação de atenção. Os relatórios atestavam problemas no nível de segurança energética do país”, ressaltou. “O Cemaden e o Inpe fazem reuniões mensais para previsão climática e indicações de impactos nas usinas hidrelétricas. E foi avisado de uma situação de estiagem longa, de seca. A crise hídrica não é só falta de chuva, mas também de gerenciamento - isso vem dos governos”. Segundo o cientista, o problema no Brasil é que a prevenção não é uma cultura: “Houve muita reunião, debate, declaração sobre o que deveria ser feito, e repito: a ciência fez essa parte, mas precisa de implementação. A gente não anuncia apagão, racionamento, nada disso. A gente apenas alerta. E dissemos que a situação estava necessitando atenção, fizemos simulações que mostraram bem que teria de chover muito na estação chuvosa para chegarmos a um nível de 60% agora, que fosse confortável”. Para o professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), Roberto Feldmann, “agora não adianta culpar as chuvas, nem São Pedro”. “A crise hídrica que assola o país foi causada principalmente
pela falta de planejamento do Governo Federal que, ciente há pelo menos dois anos dessa possibilidade de seca nos reservatórios provocada pela falta de chuvas, ignorou a questão e não agiu a tempo para reverter o quadro”. Em sua avaliação, o Governo Bolsonaro errou ao não ter reconhecido a gravidade do problema. “No mês de outubro tivemos os nossos reservatórios com níveis mais baixos do que estiveram em 2001. A situação é muito grave, e o grande problema é o fato de não se ter reconhecido essa gravidade”, enfatizou. Para o professor de física da Universidade Estadual do Ceará, Alexandre Araújo, “ainda que fosse difícil ter a precisão de quando uma crise hídrica iria ocorrer, a vinda de uma situação como essa já era de se esperar”: “O desmatamento na Amazônia impacta diretamente a incidência de chuvas, sobretudo nessa região, em razão dos jatos de baixos níveis. A derrubada de vegetação na floresta é hoje a maior dos últimos 10 anos, com crescimento de 51% nos últimos 11 meses, sem falar no aquecimento global”. A política equivocada Do ponto de vista da sociedade civil organizada, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou relatório elaborado por hidrologistas que constata que o volume de água que entrou nos reservatórios das usinas hidrelétricas no último ano não foi transformado em energia. Com base em dados do ONS, o estudo mostrou que o volume de energia produzida por hidrelétricas ficou em 47.300 MW médios no país. Ou seja, 4.250 MW médios abaixo da quantidade de água que entrou nos reservatórios no mesmo período o equivalente a 51.550 MW, ou uma usina de Belo Monte. “O discurso da ‘crise hídrica’ esconderia o fato de que os reservatórios foram esvaziados sem que houvesse necessidade de atender a um aumento na demanda, uma vez que o consumo nacional de eletricidade diminuiu uma média de 10% durante o ano de 2020. Com o aumento da demanda no ano seguinte e diante da escassez da energia, a tarifa explodiu”, destacou o documento. “Toda essa água vertida poderia ter sido armazenada ou transformada em energia, sem aumento dos custos. Mas não foi o que aconteceu. Os donos das hidrelétricas não perderam dinheiro com isso, pois o chamado déficit hídrico é cobrado integralmente nas contas de luz da população”, concluiu o trabalho do MAB. O coordenador da entidade no Rio de Janeiro, Roberto Oliveira, elencou alguns fatores. Segundo ele, “esse caos é fruto de uma política de governo executada em conluio com as grandes empresas de energia, que operaram os lagos até esvaziá-los e, com isso, criaram um ambiente de escassez, sem água, sem geração de energia hidroelétrica. Dessa forma, justificam a explosão nas tarifas, penalizando o povo que paga e não tem escolha de qual energia quer comprar e enchendo de dinheiro os grandes empresários que atuam no setor”, acrescentou. “Não é o povo que deve pagar essa conta”. A canetada No final de junho, o Governo Federal publicou a Medida Provisória (MP) 1055/21, para administrar a crise hídrica. Defendida pelo Executivo como uma forma técnica e racional de tentar resolver a questão, a medida tem sido avaliada de forma crítica por parlamentares e analistas e ainda não chegou a ser votada pelo Congresso Nacional. Já é alvo de um pedido ao Tribunal de Contas da União (TCU) para que tenha seu teor analisado e, diante da demora, tem possibilidade de ter 19
sua validade prorrogada porque tudo indica que não será apreciada dentro do prazo normalmente estabelecido pelo Legislativo, diante de tantas divergências que provoca. Na prática a MP institui a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg), que passou a ter a missão de adotar medidas emergenciais na atual situação de escassez hídrica e assegurar o fornecimento de energia. A Creg terá duração até 30 de dezembro. Reúne cinco ministérios: Minas e Energia; Economia; Infraestrutura; Agricultura; Meio Ambiente; e Desenvolvimento Regional. Sua competência é definir diretrizes para, em caráter excepcional e temporário, estabelecer limites de uso, armazenamento e vazão das usinas hidrelétricas. As decisões deverão levar em conta os riscos e os eventuais impactos nas políticas energética, ambiental e de recursos hídricos. A comissão também passou a ter a responsabilidade de decidir sobre a homologação das deliberações do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) relacionadas às medidas emergenciais destinadas ao suprimento eletroenergético, de forma a atribuir obrigatoriedade de cumprimento dessas deliberações por órgãos e entidades competentes. Na opinião do então presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, a MP agrava ainda mais a situação difícil pela qual já passa a bacia do São Francisco, na medida em que retira da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) suas prerrogativas. “Isso, num momento em que é necessário que haja certo equilíbrio na condução dessa crise”, destacou. “A solução não pode vir exclusivamente do setor elétrico. O setor já deveria ter percebido que estamos numa era de extremos climáticos e a situação dos reservatórios agora tem de ser para usos múltiplos. É preciso diversificar as alternativas de geração de energia. Os investimentos para economizar energia deveriam ter sido feitos em 20
linhas de transmissão mais eficientes, em biousinas e, sobretudo, num horizonte mais amplo”. De acordo com Anivaldo Miranda, a crise hídrica “é a fatura que estamos pagando pelos incêndios florestais, os desmatamentos e o desmonte das políticas ambientais, da falta de governo”. Na sua visão, a política atualmente implantada é de uma reavaliação muito profunda no setor hídrico: “A crise deveria ser conduzida conforme o desenho atual e legal da gestão das águas”. O ex-presidente do CBHSF explicou ainda que os técnicos da entidade tornaram públicas suas apreensões sobre o tema e estão conversando com os parlamentares. “É importante estabelecermos nossa posição, para que o Congresso brasileiro saiba do que se trata”. O grande problema é que numa situação de crise é preciso ter cuidado para que a linha de exportação de excedente não resulte na exportação da crise de uma bacia hidrográfica para outra. “A situação da bacia do São Francisco, por exemplo, é muito delicada. O São Francisco não tem plano B. Quando temos uma situação minimamente normalizada, vem isso”, pontuou. O que dizem os congressistas Para o deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP), titular da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, o teor da MP deixa claro que no atual governo a questão da água não está sendo vista como estratégica. “O Brasil fica cada vez mais dependente de uma necessidade energética a partir das bacias, sem que estejamos preparados para isso”, disse ele. Na visão do parlamentar, esse desenho institucional tira poderes dos Comitês de bacias, o que é perigoso. “Há um descumprimento total de várias normas. Estamos dialogando sobre o tema, e muito preocupados”, afirmou.
No Senado, o presidente, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também se manifestou publicamente contra a MP. Disse que estava incomodado com a publicação da medida, porque prioriza o uso da água para energia. O senador criticou a atuação do Ministério de Minas e Energia e do ONS. E afirmou que “além de faltar planejamento ao setor, o governo ignora a realidade de uso múltiplo de águas”. Fala o governo Conforme informações do Ministério de Minas e Energia, a MP é uma necessidade para o país, diante da situação dos reservatórios das usinas hidrelétricas com a escassez de chuvas. A pasta destacou que em maio passado, o Sistema Nacional de Meteorologia apontou emergência hídrica na bacia do rio Paraná, que responde por mais de 50% do armazenamento de água para geração de energia elétrica no Brasil. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o cenário atual exige a articulação entre todos os órgãos e entidades responsáveis pelas atividades dependentes dos recursos hídricos e a adoção de medidas para “preservar a segurança e continuidade do fornecimento de energia elétrica, especialmente durante este segundo semestre de 2021”. Mas mesmo o setor energético questiona a ausência da ANA e do Ibama nas discussões. “Ter o MME à frente do comitê é uma concentração de poder equivocada”, afirmou o ex-presidente do ONS, Luiz Eduardo Barata ao avaliar o teor da MP. “O próprio governo tem repetido que é uma crise hídrica e não uma crise energética”, acrescentou ele, frisando que a seca tem efeitos também sobre outros segmentos, como agronegócio e transporte. Barata lembrou que em 2001, o grupo que geriu a crise hídrica daquele período não era formado só por ministérios, como agora, mas também por representantes das
agências de água, energia e petróleo, o ONS, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de Itaipu, além da Advocacia Geral da União (AGU). No bolso No fim da linha, o consumidor, que sofre com os aumentos na conta de luz. Para o diretor do Instituto Ilumina, Roberto Pereira D’Araújo, o ideal seria uma campanha estabelecendo determinada cota de gasto de energia perante a população, como aconteceu em 2001. “Mas isso é difícil, porque quem consome pouco não vai ter de onde cortar. Enquanto isso, a indústria pode diminuir a produção, ter um contrato de energia e vender seu contrato, enfim, piorar a situação de desigualdade”, criticou. “A taxa de luz da minha casa nunca passou de R$ 150. Agora está vindo a mais de R$ 350, mantendo-se o mesmo consumo e todos os cuidados de desligamento de pontos extras”, reclamou a dona de casa Elza Kunze Bastos, moradora de Brasília. Na sua casa, por exemplo, ela contou que não se deixa mais acesas à noite luzes da garagem nem do quintal. E o uso de equipamentos como ferro de passar e máquina de lavar roupa têm dia e hora específicos. Na opinião de Araújo, o sistema de bandeiras tarifárias não tem sido eficaz para conscientizar a população sobre o uso racional da energia. Isso porque, para aqueles que têm mais recursos financeiros, pagar um pouco mais não faz muita diferença. “Acho que a bandeira não funciona como sinal de preço. O rico continua e o pobre não pode diminuir mais, então o efeito é muito pequeno. Nós já estamos com uma tarifa extremamente alta com relação ao resto do planeta”, finalizou.
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2001
A matriz energética brasileira
2014
3%
17% Eólica
30%
80%
83% 59GW
Térmica
70%
%
%
%
%
%
%
%
%
%
23
25
25
23
23
22
22
22
22
7
1 8
1 9
2 10
2 11
66
65
2
3
6
5
67% 89GW
40%
74
72
72
71
69
69
68
62% 109GW
Volume equivalente do Sistema Interligado Nacional 100%
85,85
80%
54
60%
60% 50%
2%
26%
Solar
Atualizado em ago/21
90%
10%
Hidráulica
Participação das Fontes de Energia 2013-2021 100%
2021
40%
30%
20%
20% 10%
0%
0%
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2011
Ainda que as fontes alternativas, como eólica e solar, estejam aumentando
2013
2015
2017
2019
2021
Fonte: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
sua participação na matriz energética brasileira, o potencial hidráulico ainda é responsável por 2/3 da produção de energia no nosso país.
Capacidade Instalada vs Demanda GW Oferta 176 GW 180
+ 42 GW
160
Oferta 134 GW
140
“Folga” 91 GW
Aumento de 59 GW ou 79%
120
“Folga” 20 GW
Oferta 75 GW
100
80
“Folga” 20 GW
60 40
Aumento de 25 GW ou 45%
Demanda Máxima 54 GW
20
1999
2000
2001
Demanda Máxima 79 GW
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Demanda Máxima 85 GW
+ 6 GW
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
Fonte: Balanço Energético Nacional (BEN) ANEEL
Hidrelétrica
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Térmica
Nuclear
Eólica
Solar
Consumo SIN
Demanda Máxima
Vai faltar luz? Histórico da energia armazenada dos meses de Junho - SE/CO 100% 88%
90%
83% 83% 76%
73%
70%
66% 60%
60% 50%
48%
78%
85% 80% 79% 73%
73% 64% 56%
53%
48% 42% 36% 36%
40% 29%
30%
47% 40% 29%
20% 10%
96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 20 16 20 17 20 18 20 19 20 20 20 21
0% 19
% da Capacidade Máxima
80%
83%
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A culpa do homem Divulgado em agosto, o novo Relatório da ONU responsabiliza a humanidade pelo aumento contínuo de fenômenos naturais extremos Por Karla Monteiro / Foto: Shutterstock
O
planeta galopa para o abismo, segundo os especialistas do Painel Internacional sobre Mudança Climática (IPCC). Elaborado por 234 cientistas de 66 países, o estudo recomendou reduções “profundas” nas emissões de gases e fulminou o negacionismo em voga: ou a humanidade assume a responsabilidade agora ou enfrentará, daqui por diante, cada vez mais, a ira da natureza. Entre as consequências diretas, além da elevação das temperaturas médias, figuram os fenômenos meteorológicos extremos, como chuvas torrenciais, furacões, incêndios, secas prolongadas. A concentração na atmosfera de CO2 é a mais elevada dos últimos dois milhões de anos. Já a concentração de metano e óxido nitroso não tinham alcançado níveis tão altos nos últimos 800 mil anos. A consequência é clara: o aumento da temperatura média global já está em 1,1 graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais. E o ritmo de aquecimento planetário não tem precedentes. A partir de 2050, caso não sejam tomadas medidas drásticas para reter o processo, começa, de fato, o fim do mundo. “Soou o alerta vermelho. Os alarmes são ensurdecedores. As emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e o desmatamento estão sufocando o nosso planeta”, comentou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Antônio Gutierrez.
O limiar do aquecimento global, 1,5 graus centígrados, em comparação com o da era pré-industrial, vai ser atingido em 2030, dez anos antes do que tinha sido projetado no último estudo, de 2013. Em 100 anos, o planeta terá aquecido 2,7 graus Celsius. O nível do mar deve subir dois metros até o final deste século. A recente taxa de aumento quase triplicou em comparação com o período entre 1901-1971. Os últimos cinco anos foram os mais quentes já registrados desde 1850. Quase todos os países assinaram os objetivos do Acordo Climático de Paris, em 2015, inclusive o Brasil. Foi firmado o Pacto Climático de Glasgow que visavisa manter o aumento das temperaturas globais abaixo de 2 graus Celsius neste século. Mas, segundo os cientistas, a meta não está sendo cumprida.
Em 2020, a temperatura média da Terra ficou cerca de 1,2 graus Celcius acima do nível pré-industrial
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Mudanças Climáticas
Saiba mais sobre os impactos das mudanças climáticas na BHSF
bit.ly/MudancasClimaticasSemiarido 25
Era uma vez Ao se mudar para a histórica cidade alagoana, em 2006, o historiador Sérgio Onofre começou a trabalhar para trazer de volta às ruas coloniais os bons tempos do Festival de Cinema Brasileiro de Penedo Por Karla Monteiro Fotos: Edson Oliveira e Arquivo Festival do Cinema Brasileiro de Penedo
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histórica cidadela, no sul de Alagoas, jamais esqueceu aquele dia, 9 de janeiro de 1975, uma quinta-feira, quando foi aberto o I Festival do Cinema Brasileiro de Penedo. A programação previa duas mostras. Na competitiva, a produção alagoana em Super-8. E na não-competitiva, os filmes nacionais em longametragem. A população nunca vira nada igual. Durante quatro dias, enquanto os filmes eram exibidos no telão do Cine São Francisco, gente famosa, como Cacá Diegues e Bruno Barreto, circulava pelos pontos turísticos. Aliás, ficaria marcado no imaginário local a aparição de Vera Fisher de biquíni no Penedo Tênis Clube. A inesquecível semana terminou apoteótica, com a procissão fluvial de Bom Jesus dos Navegantes. A partir de então, até 1982, quando aconteceu a última edição, o Festival do Cinema Brasileiro de Penedo figurou entre as principais mostras nacionais, concorrendo em importância com o Festival de Cinema de Gramado, realizado no Rio Grande do Sul. “Foram tempos áureos. O evento colocou Penedo no circuito nacional, trazendo para a cidade artistas, realizadores, jornalistas. Muitos diretores escolhiam o festival de Penedo para lançar seus filmes. Foi o caso do Cacá Diegues, com Bye Bye Brasil”, comentou o historiador Sérgio Onofre. “Os filmes competitivos eram exibidos pela manhã. E os longas, à noite, no horário nobre. O festival chegou a ser destaque na famosa revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand. Mas, na oitava edição, simplesmente acabou”.
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Cultura
Igreja Nossa Senhora da Corrente, diante do Rio São Francisco, em Penedo (AL)
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Hoje coordenador do Circuito Penedo de Cinema, Sérgio Onofre é o principal nome por trás da reedição contemporânea do velho festival, que vem colocando Penedo de volta no mapa do cinema nacional. Chegando a 11ª edição, que aconteceu em novembro, o Circuito é a junção de quatro eventos: Festival de Cinema Universitário de Alagoas, Encontro de Cinema Alagoano, Mostra Velho Chico de Cinema Ambiental, Mostra de Cinema Infantil e o Festival do Cinema Brasileiro. Segundo Onofre, as ruas coloniais recuperaram o fervor dos velhos tempos, com famosos como Marcos Palmeira e Matheus Nachtergaele circulando por lá. “Quando me mudei para Penedo, em 2006, fui percebendo na fala das pessoas, na memória afetiva da cidade, o saudosismo, o desejo de reviver os bons tempos do Festival do Cinema Brasileiro de Penedo”. Antes de se mudar para Penedo, Onofre nunca tinha pensado em se tornar o homem de frente num grande festival de cinema. Filho de artistas – sua mãe era atriz de teatro e o pai, dramaturgo, ele nasceu em Maceió, em 1962. Dois anos depois, em 1964, a família fugiu para Recife. “Meus pais eram do teatro engajado, um teatro que refletia as misérias brasileiras. Com o golpe militar, fomos viver numa espécie de clandestinidade. Meu pai não conseguia emprego, vivia por aí tentando ganhar a vida, voltava para casa uma vez por mês”, lembrou. “Nós, os filhos, ficamos à margem, sem entender o que estava acontecendo. Em 1980, eu voltei para Maceió, já com 19 anos, e só aí fui compreender de verdade o que tinha acontecido no país”. Trabalhando no Teatro Deodoro, na capital alagoana, ele passou a fazer de tudo, de cenografia a iluminação, ao mesmo tempo em que mergulhava na militância política: “Sabe aquele tipo de militância dos anos 80, com dedicação quase exclusiva? Eu era assim. Passei 15 anos sendo formado na arena sindical. Até que, num determinado momento, caiu a ficha. Eu não tinha uma profissão”. Neste momento, foi fazer vestibular para História, com a meta de se tornar professor universitário. “Corri atrás do prejuízo. Fiz a graduação, depois o mestrado. E, em 2006, passei num concurso federal”. Dentre as universidades que podia escolher no Estado, escolheu o campus de Penedo da Universidade Federal de Alagoas. Ao desembarcar na velha cidade, aos poucos, Onofre descobriu sua missão: ressuscitar o falecido festival. “No passado, Penedo fora uma cidade rica, um importante entreposto comercial. Em 1972, começara a decair economicamente. E, em 1975, veio o Festival do Cinema Brasileiro de Penedo, que, de certa forma, prolongou a sensação de pujança”, comentou. “Com o fim do evento, em 1982, a cidade se recolheu, se fechou. Quando eu cheguei aqui, as pessoas mal saiam de casa”. Desde então, arregaçou as mangas até conseguir colocar de pé o Circuito Penedo de Cinema: “Este ano tivemos 900 filmes inscritos e selecionamos 71. Ano passado, com a pandemia, fizemos uma edição híbrida, com mostras online e alguns eventos fechados presenciais. Este ano, vamos repetir o mesmo formato”.
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Confira a entrevista com Sérgio Onofre
bit.ly/CircuitoPenedo2021 29
Gastronomia
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Culinária Raiz Aos 24 anos, reconhecido nacionalmente, o chefe nordestino Timóteo Domingos aposta na “Gastrotinga”, junção de alta gastronomia e Caatinga, como arma para a preservação do bioma do Sertão
Por Luiza Baggio Fotos: Érica Fernandes e Rui Nagae
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Coxinha de cacto, pizza de palma, bolo de casca de abóbora, doce de folha de umbuzeiro. Com ingredientes inusitados, Timóteo Domingos, conhecido como o “Rei do Cacto”, vem inscrevendo o seu nome na alta gastronomia nacional usando e abusando da criatividade. Há quase dez anos, ele inventou a Gastrotinga, que junta em receitas deliciosas a boa culinária e a Caatinga. A história de Timóteo é tão surpreendente quanto os pratos que ele faz. Hoje contando 24 anos, começou a cozinhar ainda criança. Adolescente, já tinha se tornado um chefe de cozinha. Na ânsia de inovar e, ao mesmo tempo, preservar as raízes, o nordestino de Maravilhas (AL) foi buscar inspiração nas plantas do Semiárido. Seu objetivo era um só: proporcionar uma experiência única ao redor da mesa. “Meu primeiro contato com a cozinha foi ajudando a minha avó. Com seis anos comecei a ajudá-la a preparar broas, cocadas, bolos, buchadas, entre outras receitas tradicionais em nossa região”, contou Timóteo. Labutando na lavoura, ao lado de todos da família, aprendeu a conhecer as plantas que anos mais tarde seriam usadas como principal insumo para suas criações culinárias. Ainda menino sua função na roça era picar palma para dar às vacas e cabras. “Por que não comíamos aquele ingrediente, já que plantávamos em abundância? Eu me perguntava. Foi quando decidi provar e gostei”. Quando a família se mudou para Canindé do São Francisco, no sertão de Sergipe, ele, então, começou a ensaiar receitas, inventar moda. O município sergipano é margeado pelo São Francisco e faz parte do chamado polígono das secas. Lá, o dinheiro era curto: “Não tinha dinheiro para comprar ingredientes difíceis de encontrar na roça, como leite condensado, por exemplo. Na época vendia cocada na porta da escola”, contou: “Aí fui criando alternativas”. Um dia faltou coco suficiente. Decidiu colocar xique-xique, uma espécie de cacto, na velha receita de cocada. “Ralei e misturei. As pessoas não perceberam e até acharam que o doce ficou mais cremoso, mais molhado”, lembrou. O sucesso do “cocactus” acabou por aniquilar a cocada convencional. “Não tinha avisado a ninguém sobre o ingrediente e as pessoas só ficaram sabendo que usava xique-xique em 2014, quando fui ao programa da Ana Maria Braga, na Rede Globo”. O “cocactus”, na verdade, foi uma mudança de paradigma. “Muitos acreditavam que a palma e os cactos eram comidas de animal”, comentou Timóteo. Com a aceitação da novidade, ele logo partiu para novas experimentações, como o brigadeiro de casca de melancia. Com o sucesso das receitas decidiu ir para Maceió estudar gastronomia. Depois, em Aracaju (SE), chegou a trabalhar na cozinha de um grande restaurante. Aos 19 anos, porém, decidiu voltar para a sua Canindé de São Francisco. Além da gastronomia Segundo Timóteo, o termo Gastrotinga é uma tentativa de sintetizar um conceito. Mais do que fonte para as receitas, os cactos e demais plantas da Caatinga nordestina servem de inspiração. Ele, de fato, acredita na diversidade do bioma como uma alternativa para acabar com a fome no sertão. “São plantas extremamente nutritivas e muitas pessoas tinham e ainda têm um preconceito grande, porque elas normalmente são dadas como alimento para os animais. Mas é na persistência que a gente chega aos nossos objetivos, como os próprios cactos, que florescem na seca”, comparou. A Gastrotinga leva em conta as raízes culturais: “O conceito surgiu quando eu tinha 15 anos. É uma nova ideologia que pretende mostrar o bioma Caatinga como base alimentar. A Gastrotinga busca conscientizar as pessoas sobre a conservação da floresta e de alguma forma contribui para a preservação. E temos todos os recursos para isso. Basta saber como utilizar cada 32
espécie da fauna e da flora de forma sustentável e equilibrada”. Para Timóteo Domingos o fato de usar insumos da Caatinga na alimentação já é uma influência para a preservação: “A partir do momento em que as pessoas passam a usar e gerar renda com um produto nativo, começam a entender que precisam preservar porque terão retorno financeiro”. Na sua opinião, a melhor forma de se conseguir preservar é dar valor comercial às plantas nativas. Mas, claro, de maneira consciente e de forma organizada. “Eu não posso proibir o sertanejo de desmatar para fazer carvão se ele precisa do dinheiro para sustentar a família. Eu posso dar alternativa para que ele deixe aquela madeira em pé e gere renda a partir dali”, afirmou. Palma, mandacaru, facheiro, xique-xique, quipá rasteiro, urtiga, aroeira da caatinga, macambira, croá, flor da catingueira são algumas das espécies da Caatinga usadas na Gastrotinga. O Rei do Cactos já criou sua gastronomia, escreveu dois livros – Reinventando o Sertão (2018) e Subsistência - A Natureza, o Alimento e a Seca (2019) – circulou pelas TVs nacionais, é tema de documentário. Para o futuro pretende criar uma escola de gastronomia em Canindé de São Francisco, além de produzir um programa de televisão baseado no Rio São Francisco para mudar a visão de que no sertão só tem miséria, fome e seca. “Quero que o mundo conheça o bioma Caatinga, sua biodiversidade alimentar e o povo que vive nesta região. E que todos conheçam o sertão não apenas como um lugar seco, onde as pessoas passam fome e sede. Quero que vejam o potencial nutritivo dos ingredientes, o sabor e a riqueza imensurável que é o nosso povo”, finalizou.
Timóteo Domingos, o Rei do Cacto
Buchada de Bode INGREDIENTES - Vísceras de 1 bode novo (bucho, tripas, fígado, pulmão, coração, passarinha e língua) - 2 cebolas - 2 pimentões - 2 tomates - 2 colheres (sopa) de cominho - 1⁄2 maço de coentro - 2 colheres (chá) de pimenta-do-reino - 2 colheres (sopa) de colorau - 3 pimentas-de-cheiro - Azeite - Sal a gosto - 10 dentes de alho - 1⁄2 maço de cebolinha - Agulha e linha (para costurar os travesseirinhos de bucho)
Lave bem todas as vísceras e, se necessário, deixe-as imersas por algumas horas em suco de limão com água morna. Pique os miúdos (tripas, fígado, pulmão, coração, passarinha e língua) em cubinhos e reserve-os em uma bacia. Corte as cebolas e coloque metade na bacia com os miúdos e a outra metade em outro recipiente. Faça o mesmo com os pimentões, os tomates, o alho, o coentro e a cebolinha. Corte e coloque metade com os miúdos e a outra metade no recipiente com a cebola e reserve. Adicione aos miúdos o colorau, a pimenta-do-reino, cominho, sal a gosto e misture bem. Reserve. Corte o bucho em seis pequenos pedaços para formar pequenos travesseirinhos. Costure todas as laterais com a agulha e a linha, deixando apenas um lado aberto, por onde deve preencher com os miúdos temperados até a borda. Costure a parte aberta para que o recheio não vaze. No fundo de uma panela, arrume os travesseirinhos de bucho. Adicione o restante do colorau, do cominho, da pimenta-do-reino, sal a gosto e a reserva preparada de tomate, pimentão, cebola, coentro, cebolinha e alho. Em seguida, na panela que contém a buchada, regue com azeite e adicione água em temperatura ambiente até cobrir por completo os travesseirinhos. Deixe cozinhar por 3 horas em fogo baixo. O caldo pode ser usado para preparar um pirão. Sirva em seguida.
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Fora de Moda Como a roupa que você veste vem impactando dramaticamente os recursos hídricos do planeta Por Iara Vidal / Foto: Shutterstock
Ano a ano, a indústria global da moda consome 80 bilhões de metros cúbicos de água. No Brasil, a produção de uma única
calça jeans, por exemplo, requer 5.196 litros. Uma camiseta de algodão, até 2.720 litros. Ou seja: a roupa que vestimos impacta direta e violentamente os recursos hídricos do planeta. O cálculo é feito pela metodologia Water Footprint Network, baseado em três indicadores: “Pegada Verde”, “Pegada Azul” e “Pegada Cinza”. Somados, esses indicadores constituem a “Pegada Hídrica”. Porém, há outro cálculo que indica que a indústria da moda pode ser ainda mais sedenta. De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, a produção têxtil usa cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de água anualmente - o equivalente a 37 milhões de piscinas olímpicas. Parte de todo esse aguaceiro sai do Velho Chico. Entre importantes polos produtores de moda no Brasil, estão cidades ribeirinhas: Pirapora, em Minas Gerais, e Petrolina, em Pernambuco. Pirapora tem entre as atividades motrizes a indústria têxtil e de confecção, com mais de 150 empresas. Ali a tradição começou ainda em 1894, quando Joaquim Lúcio Cardoso chegou ao então povoado de São Gonçalo de Pirapora e instalou armazéns para compra de algodão e venda de tecidos de fábricas locais. Já Petrolina, segunda maior cidade do interior de Pernambuco, conta com cerca de 300 empresas do ramo. Como resolver a equação? Se por um lado o dano ambiental é inegável, por outro, a indústria da moda também se traduz em empregos e renda. Trata-se do segundo mercado empregador brasileiro. No mundo, ocupa o quarto no setor de confecções e o quinto entre os produtores têxteis. Por ano, produzimos 94 bilhões de peças, confeccionadas pelas 32 mil empresas no setor têxtil e de confecções instaladas, que geram 1,5 milhão de empregos diretos e 8 milhões de empregos indiretos. A força de trabalho tem 75% de mulheres. Como destruir o planeta está fora de moda, chegou a vez do setor se mexer. Algumas iniciativas em prol da sustentabilidade vêm surgindo aqui e ali. Em resposta à pegada hídrica, por exemplo, foi criada a plataforma “A Moda Pela Água (AMPA)”. O ponto de partida da agenda é a “Pegada Hídrica Vicunha”, um 34
projeto do Movimento Ecoera e da Vicunha, que calculou pela primeira vez na história da moda nacional, o consumo médio de água na produção de uma calça jeans no Brasil. A plataforma tem como missão ser um espaço onde setor privado, ONGs ambientais e sociedade civil se encontram para discutir o uso responsável da água na produção de roupas e tecido. Mas ainda é muito pouco o que se tem feito para mudar a dramática situação. Além do alto consumo de água, a moda também é poluente crônica. Um estudo publicado pela Natural Science, em 2012, indicava que cerca de 20% das águas residuais globais são causadas por processos de tingimento e acabamento. Estimativa semelhante foi feita pelo jornal britânico The Guardian, que apontou que entre 17% a 20% da poluição da água vem do tingimento e tratamento têxtil. A maldição do plástico Outra questão preocupante do impacto da moda nos recursos hídricos diz respeito aos microplásticos liberados na lavagem de peças de poliéster. Uma vez na máquina de lavar, lá se vão para a natureza toneladas. Estudo publicado pela revista Nature fez a conta aproximada: de 124 mg por kg a 308 mg por kg, dependendo do tecido. Outra pesquisa, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, apresentou um resultado ainda mais alarmante: se cada habitante de uma cidade com população de 100 mil pessoas lavar uma peça de roupa sintética por dia, até 110 kg de microfibras são lançados em corpos d’água, o equivalente a 15 mil sacolas plásticas. Pesquisadores ainda estão procurando métodos de pesquisa para entender com mais clareza a quantidade de microplásticos eliminados na lavagem de roupa. Um primeiro método foi elaborado por Mark Summer, professor de sustentabilidade, varejo e moda na Escola de Design, da Universidade de Leeds, na Inglaterra. Esse teste usa um sistema chamado gyrowash, que replica as ações encontradas em uma variedade de máquinas de lavar para medir a quantidade de pequenas partículas de plástico liberadas durante a lavagem doméstica. Espera-se que esse teste também ajude no processo de encontrar soluções para a poluição de microfibra. Se não há precisão sobre a quantidade de microplásticos que escapa para o ambiente ao lavar roupa, já se sabe que essa quantidade é o suficiente para causar impactos negativos. As microfibras, obviamente, são ingeridas pelos animais aquáticos. No fim da cadeia, está o homem. Boa parte dos peixes que comemos já chegam à mesa contaminados por metais pesados. A solução definitiva para o problema dos microplásticos ainda está longe. No entanto, algumas iniciativas já surgiram. Na França, por exemplo, foi aprovada uma lei que exige filtros de microplásticos em todas as novas máquinas de lavar até 2025. Produzir roupas e tecidos que não perdem tantas microfibras e desenvolver melhores sistemas de gestão de águas residuais também são alternativas em curso. Estudos têm mostrado que, ao reduzir o volume de água usado durante os ciclos de lavagem, o número de microfibras liberadas das roupas pode ser reduzido em até 30%.
Sustentabilidade
A produçãoo têxtil usa cerca de 93 bilhões de metros cúbicos de 35 água anualmente
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Moda Sustentável X Moda Circular A sustentabilidade é apontada como a principal tendência da moda a partir de 2021 - e para o mundo pós-pandemia da Covid-19. Um dos mais importantes relatórios da indústria fashion, The State of Fashion 2021, produzido pela consultoria McKinsey & Company em parceria com a publicação especializada Business of Fashion, fez a previsão. O estudo destaca a tendência “menos é mais”, que consiste em menos superprodução e mais sustentabilidade. Em um sistema capitalista, essa aposta de uma moda sustentável deixa à mostra uma inevitável contradição. De um lado, a sustentabilidade pressupõe frear o uso de recursos. De outro, o capitalismo acelera a produtividade para alcançar o lucro. Mas a simbiose entre moda e capitalismo não anula ações concretas que empresas e consumidores adotam em direção a práticas de produção e consumo menos nocivas ao planeta. Talvez o termo mais apropriado e honesto para designar a moda do “novo mundo” apontada como tendência seja o de moda circular. O conceito é difundido por entidades como a Fundação Ellen MacArthur, que avalia que o atual modelo econômico ‘extrair, produzir, desperdiçar’ chegou ao limite. A economia circular é uma alternativa a esse modelo linear que busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda a sociedade. Ele se baseia em três princípios: eliminar resíduos e poluição desde o princípio, manter produtos e materiais em uso e regenerar sistemas naturais. Na prática do dia a dia do consumo, existem alternativas para mitigar os efeitos da indústria da moda no meio ambiente. Roupa sustentável é aquela que já existe.
Valorizar a produção local: quanto mais próximo for o produtor das peças, melhor Comprar roupas em brechós Promover rodadas de trocas de peças de roupas Questionar quem fez as roupas que veste pode despertar a consciência de que há vidas envolvidas na produção das roupas Procurar saber do que são feitas as roupas e compreender que cada fibra tem seus prós e contras Recorrer a aplicativos de roupas de segunda mão ou de marcas customizadas como a @thinkblue e a @vem.pra.roda.
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Herança bendita Já não se trata mais de especulação, mas de fato cientificamente comprovado: o relatório da ONU, elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mostrou o mundo à beira do abismo. Mais do que nunca, é preciso cuidar, revitalizar, proteger a natureza. Pensando nisso, a revista CHICO selecionou cinco tesouros do Velho Chico, guardados por lei, as chamadas Unidades de Conservação (UCs). No Brasil, existem hoje mais de 2.300 UCs, sendo que mais de 30 delas estão localizadas na bacia do São Francisco
Por Andréia Vitório Fotos: Evandro Rodney, Léo Boi, Marcelo Andrê, Pedro Vilela e Shutterstocker
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Parque Nacional da Serra da Canastra O Velho Chico já nasce majestoso, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, conhecida pela exuberância das montanhas e por seus famosos queijos. Lá fica o Parque Nacional da Serra da Canastra, Unidade de Conservação Federal, criada em 1972, com a nobre missão de proteger o berço do São Francisco. A área reúne a Serra da Canastra e a Serra das Sete Voltas. Bem no meio delas, o Vale dos Cândidos, um encontro perfeito, em meio a campos rupestres, manchas de cerrado e matas de galeria. O parque tem uma biodiversidade preciosa, servindo de lar para animais ameaçados de extinção como o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra e o lobo-guará. Localizado no Sudoeste de Minas, possui 71.525 hectares demarcados, envolvendo parte do território de São Roque de Minas e dos municípios de Sacramento e Delfinópolis. Guarda joias raras, como a cachoeira Casca d’Anta, que impressiona com seus
Turismo
quase 200 metros de altura. Para vê-la de cima, é possível chegar ao mirante por meio de uma trilha considerada leve. No caminho, poços servem de degustação para o espetáculo apoteótico. Outra dica é conhecer a Cachoeira dos Rolinhos. Dentro do Parque há um ponto de onde é possível se deleitar com a visão dessa que é a maior cachoeira da Serra da Canastra. Para acessála, só com guia e por uma trilha fora do Parque. A Cachoeira do Cerradão, com poços límpidos e convidativos, é também uma boa pedida. Não à toa, virou Reserva Particular do Patrimônio Natural. Diversos traços culturais permanecem, a exemplo da arquitetura do século 19. A mineiridade desponta com força em São Roque de Minas, onde se pode apreciar o famoso queijo canastra e os doces caseiros, além do artesanato local. Entre os quitutes e a natureza, a região recebe muitos adeptos do turismo de aventura.
É bom saber: normalmente a entrada no Parque Nacional da Serra da Canastra só pode ser feita até às 16h. A saída precisa ser até às 18h. Todo o acesso é feito por terra e é recomendado evitar o período chuvoso, quando as vias podem ficar comprometidas. Como chegar: a portaria principal que dá acesso ao Parque está a 8 km do município São Roque de Minas. O local fica a 350 km de Belo Horizonte.
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Refúgio de Vida Silvestre de Rio Pandeiros Dá para estimar o valor natural e ambiental desse refúgio quando sabemos que ele é conhecido como pantanal mineiro ou pântano de Pandeiros. É o único pântano de Minas Gerais, por sinal. São extensas áreas alagadas, berçário natural de aproximadamente 70% dos peixes do Alto São Francisco. Não à toa esse refúgio foi criado para conservar o conjunto de peixes da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco no estado de Minas Gerais, em especial na região do Rio Pandeiros – área alagável e lagoas marginais. Além disso, ele abriga, no seu emaranhado de lagoas, uma enorme diversidade de aves, anfíbios, répteis e mamíferos.
O Refúgio está dentro da Área de Proteção Ambiental Pandeiros, abrangendo os municípios de Januária, Bonito de Minas e Cônego Marinho, no Norte de Minas Gerais. O local é vital para a conservação da biodiversidade da área de drenagem e do próprio Cerrado, protegendo espécies migradoras no trecho da bacia delimitado pelas barragens de Três Marias, em Minas Gerais, e Sobradinho, na Bahia. No total, são 6.102 hectares. Nem só de contemplação vive quem passeia por ali. Com muitas cachoeiras, uma bem pertinho da outra, a região recebe turistas que se dedicam aos esportes de aventura, como caiaque, tirolesa, mountain bike, slackline, descidas com boias e botes.
É bom saber: a visitação ao Refúgio de Vida Silvestre de Rio Pandeiros está sujeita a restrições. Antes de ir, é preciso entrar em contato com a administração do local. Por lá, o turista vai encontrar restaurante, espaço para lazer, área de camping e, claro, natureza exuberante para ninguém botar defeito. Como chegar: o Refúgio de Vida Silvestre de Rio Pandeiros fica a cerca de 600 km de Belo Horizonte. Para chegar, é preciso ir no sentido de Montes Claros, no Norte de Minas, que fica a 205 km do local. Depois, é preciso seguir para a região de Januária que, como vimos, reúne várias preciosidades de Minas Gerais.
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Parque Nacional Cavernas do Peruaçu O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é, sem dúvida, um lugar que surpreende. A Unidade de Conservação foi criada em 1999, com a proposta de proteger o valioso patrimônio geológico e arqueológico da região. São 180 cavernas e grutas monumentais, que mais parecem catedrais góticas. Destaque para a Gruta do Janelão, com pinturas rupestres que, estima-se, datam de nove mil anos atrás. A galeria principal tem 100 metros de largura e altura, numa beleza colossal. É nessa gruta, inclusive, que está a maior estalactite do mundo. Chamada de Perna da Bailarina, ostenta 28 metros.
Vale destacar ainda a Lapa Bonita, a Lapa do Índio e a Lapa do Caboclo. A primeira, conhecida pelas grutas ornamentadas e pelo Salão Vermelho. A segunda, pelas pinturas rupestres que chegam a cobrir paredes inteiras. A Lapa do Caboclo reúne pinturas do estilo caboclo, que só são encontradas por lá. Com 56.400 hectares, o parque fica no Norte de Minas Gerais, compreendendo os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões. A luta hoje é para que o Parque Nacional do Peruaçu seja reconhecido pela UNESCO como patrimônio da humanidade.
É bom saber: o Parque está aberto à visitação durante todo o ano. O calor é presença constante, apesar de ser marcado por duas estações bem definidas. O turista que chegar por aquelas bandas poderá contar com um grupo de condutores ambientais treinados e credenciados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Como chegar: o aeroporto mais próximo é o de Montes Claros, a 200 km da entrada do Parque. A sede fica na comunidade do Fabião I, às margens da BR 135, km 155. A região fica a 662 km da capital mineira.
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Monumento Natural do Rio São Francisco Chamado de Mona, a Unidade de Conservação Monumento Natural do Rio São Francisco nasceu em 2009 e fica num dos trechos mais turísticos de toda a bacia. Abrigada pela Caatinga e coroada pela beleza do sertão, é conhecida por suas formações rochosas às margens do Velho Chico. A cereja do bolo é o majestoso Cânion do Xingó. Localizado entre Alagoas, Sergipe e Bahia, o Mona contempla os municípios de Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casado, Piranhas, Canindé do São Francisco e Paulo Afonso. A UC abarca 26.736 hectares, o que corresponde a cerca de 50 km do São Francisco e seu entorno. É rotina por lá catamarãs e lanchas com turistas. Todos querem conhecer de perto o quinto maior cânion do mundo, seus paredões rochosos milenares e suas águas cristalinas. Mergulhos em trechos delimitados fazem a alegria dos que querem se refrescar.
Um dos pontos altos do passeio é a possibilidade de, a partir de determinado ponto, embarcar numa jangada. O trajeto contempla a belíssima Gruta do Talhado, onde está cravada a tradicional imagem de São Francisco. Perto do meio-dia, o reflexo natural das luzes é um espetáculo à parte. Já em terra, uma dica é conhecer Piranhas, a 285 km de Maceió. Margeada pelo Velho Chico, a cidade histórica tem beleza por todo canto e ganhou destaque por expor, nos anos 1930, as cabeças de Lampião e Maria Bonita. É lá também que tem início a Rota do Cangaço, que te leva a caminhos percorridos pelos cangaceiros mais famosos da história. Essas possibilidades, claro, fazem do destino uma escolha ainda mais especial.
É bom saber: tradicionalmente, os cânions são acessados por Piranhas, em Alagoas, ou por Canindé de São Francisco, em Sergipe. As duas localidades oferecem passeios bate-volta, saindo das capitais, com almoço incluso. Mas, se puder pernoitar nas cidades próximas, melhor. Não faltam opções de hospedagem em Canindé e, principalmente, Piranhas que, como vimos, é um cantinho bem especial. Como chegar: se for para fazer bate-volta, ir por Aracaju é melhor. A distância da capital para Canindé de São Francisco é de cerca de 200 km. O percurso de Maceió para Piranhas é maior: em torno de 270 km. Nos dois casos há empresas que oferecem o passeio com guia.
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Área de Proteção Ambiental de Piaçabuçu Sol, praia, dunas brancas: poderia ser apenas mais uma das belíssimas praias do Brasil. Mas, em Piaçabuçu, o Velho Chico encontra o mar. Localizada no litoral de Alagoas, essa Unidade de Conservação Federal foi criada em 1983 e abrange dois municípios. Além de Piaçabuçu, Feliz Deserto. São mais de nove mil hectares de restingas, brejos, manguezais e áreas de matas remanescentes de floresta atlântica. Uma das paradas mais buscadas por turistas, o Delta do São Francisco é cercado de coqueiros e piscinas naturais. Não por acaso, o lugar foi cenário do filme “Deus é Brasileiro”.
A região abriga ainda a comunidade quilombola do Pixaim. As famílias vivem em casas itinerantes, uma vez que o movimento da areia transforma a geografia do local constantemente. A praia de Piaçabuçu fica perto da Praia do Peba, local de desova de tartarugas marinhas que chama atenção por sua beleza paradisíaca. A presença constante de aves migratórias diversas dá o toque poético que faltava. Quem ficar por mais tempo também poderá conhecer o Pontal do Coruripe, mais uma praia que faz jus à fama do litoral de Alagoas.
É bom saber: a Foz do Velho Chico fica pertinho de uma cidade histórica alagoana bem charmosa: Penedo. A arquitetura é linda e revela bastante sobre a história da região. Se você for fazer o passeio, considere a possibilidade de pernoitar por lá. Como chegar: o Delta do São Francisco fica na divisa de Sergipe e Alagoas, no município de Piaçabuçu, a 130 km de Maceió. Para quem sai de Sergipe, a melhor forma de chegar à foz do Rio São Francisco é pelo município de Brejo Grande, a cerca de 107 km de distância da capital.
Quer conhecer mais belezas do São Francisco? Assista aos vídeos
bit.ly/ConhecerParaAmar 43
Aconteceu Por Mariana Martins
Renovação
Doação O CBHSF doou o sistema de captação de água de Pirapora (MG) ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) do município. O novo sistema, batizado de Captação de Água II, foi financiado pelo Comitê com recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos e teve um custo total de R$ 3 milhões. Fica localizado no Distrito Industrial e atenderá a população da parte alta da cidade de Pirapora e as empresas instaladas na região.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) elegeu os novos membros para a composição 2021-2025. Os representantes do poder público (municipal, estadual e federal), usuários de água e de entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia, já compõem o quadro dos 124 membros (62 titulares e 62 suplentes) que, nos próximos quatro anos, conduzirão os trabalhos do colegiado.
Expedição Científica Em sua 4ª edição, a Expedição Científica do Baixo São Francisco zarpou para mais uma jornada de pesquisas dos dias 01 a 10 de novembro. Percorrendo 10 municípios, de Piranhas (AL) até a foz, pesquisadores de todo o país realizaram trabalhos que abrangem desde a análise da água, da fauna, da flora, até as condições socioeconômicas das comunidades ribeirinhas. Como produto, será entregue um relatório que servirá como base para a cobrança, junto aos órgãos públicos, de políticas que visem a melhoria das condições hidrológicas do rio São Francisco.
Solenidade de Posse A solenidade foi realizada durante plenária extraordinária, de modo híbrido, tendo a parte presencial ocorrida no auditório da Associação Comercial em Maceió (AL), e transmitida pelo canal do CBHSF no YouTube. Os novos “guardiões do Velho Chico” terão como desafio dar continuidade à tão sonhada revitalização do Rio São Francisco.
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Comunidade Indígena Xocó protegida O povo Xocó, que vive nas aldeias Ilha de São Pedro e Caiçara, em Porto da Folha (SE), foi contemplado com o cercamento de suas terras, que se encontravam ameaçadas por caçadores e pela prática de crimes ambientais. A obra, financiada pelo CBHSF, que protege uma área considerada sagrada pelos indígenas, recuperou estradas e ofereceu suporte aos membros da comunidade.
CBHSF há 20 anos defendendo o Velho Chico Criado no dia 05 de junho de 2001, por decreto presidencial, o colegiado vem realizando uma gestão descentralizada e participativa dos recursos hídricos da bacia, com o objetivo de proteger os seus mananciais e contribuir para o seu desenvolvimento sustentável. Através de ações concretas, como a elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico, execução de projetos hidroambientais, apoio a eventos científicos, o CBHSF comemora uma trajetória positiva em seus 20 anos de atuação.
Début: Agência Peixe Vivo completa 15 anos Pioneira no país, a Agência Peixe Vivo, criada no dia 15 de setembro de 2006, atua como entidade delegatária de quatro Comitês, sendo dois federais - o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) e o CBH Verde Grande, e dois mineiros - o CBH Rio das Velhas e o CBH do Rio Pará. Responsável pela implementação dos instrumentos de gestão, previsto na Lei das Águas, começando pelos Planos Diretores das bacias e pela cobrança pelo uso dos recursos hídricos, a agência logo se tornou um sucesso. Hoje é referência para outras instituições. Vida longa para a APV!
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Ensaio
Navegar é preciso Fotos: Bianca Aun, Edson Oliveira e Léo Boi
Equivalente à distância entre Brasília e Salvador, a hidrovia do São Francisco liga o Brasil de dentro, do Centro-Sul ao Nordeste. Ao todo, são 1.371 quilômetros navegáveis, entre Pirapora, em Minas Gerais, e Juazeiro, na Bahia. As embarcações que ali transitam desde os tempos do imperador Dom Pedro II renderam até lenda, como a do Vapor Encantado, o barco mágico avistado apenas por ribeirinhos privilegiados. Neste ensaio, a CHICO te convida a conhecer as formas, tamanhos e cores dos barcos que singram o Velho Chico. 47
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