Travessia Nº 30 - Outubro 2019 - Notícias do São Francisco

Page 1

travessia Notícias do São Francisco

JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO / OUTUBRO 2019 | Nº 30

Expedição Científica “Amigos das Águas” completa 30 anos de trabalhos em prol do rio São Francisco

Presidente do CBHSF é homenageado no II ECOB RN

Confira a entrevista com Rose Dantas

Página 3

Página 8


Editorial Encob: hora de mudanças! Neste final de outubro Comitês de Bacias Hidrográficas estarão reunidos na cidade paranaense de Foz do Iguaçu para discutir seus problemas e a conjuntura da gestão e governança dos recursos hídricos no Brasil. Em sua edição de 2019 a novidade será a realização do processo de escolha da nova Coordenação do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, o FNCBH. Como em todo e qualquer processo democrático, a eleição da nova Coordenação do Fórum é momento oportuno não somente para avaliar a efetividade do trabalho daqueles que estão respondendo pela liderança da articulação nacional dos CBHs, como também, e mais importante, é a ocasião precisa para o estabelecimento do contraditório no que diz respeito à consistência e abrangência do trabalho que vem sendo feito pelo colegiado do FNCBH, que é composto por representantes dos Fóruns estaduais e Comitês federais. Há, de fato, diferenças substantivas de visões, dentro do FNCBH, sobre até que ponto sua linha de condução de fato está atendendo às demandas reais que os Comitês de bacias hidrográficas enfrentam,

levando em conta a diversa e dura realidade da gestão das águas em cada um dos estados brasileiros. E há divergências claras quanto às prioridades que o Fórum e a Coordenação atual estabelecem, visto que há um grande descontentamento quanto à omissão dessas instâncias em relação aos problemas de fundo que envolvem a sustentabilidade da gestão e governança das águas brasileiras, a exemplo do seu incômodo silêncio relativo às iniciativas governamentais que tornaram mais restrita ainda a representação dos governos estaduais, usuários das águas e da sociedade civil no Conselho Nacional dos Recursos Hídricos, a omissão recorrente face aos retrocessos que a gestão participativa e descentralizada das águas sofre em vários estados e face aos danos que o desmonte generalizado das políticas públicas de meio ambiente e recursos hídricos causam à gestão brasileira das águas e do território, além do alheamento aos impactos de enorme escala provocados por eventos como a criminosa destruição de florestas e biomas nacionais. Uma terceira ordem de entendimentos conflitantes diz respeito a assuntos referentes à eficácia do próprio modelo de articulação dos Comitês brasileiros, a

começar pelo formato e consequente resultado prático dos Encontros Nacionais de Comitês de Bacias Hidrográficas, os ENCOBs, como também em relação ao excesso de energia que é gasta na organização desses encontros em detrimento de ações urgentes que são requeridas do Colegiado e da Coordenação do FNCBH para resolver os dilemas reais dos CBHs referentes à sua criação ou à sua viabilização financeira em bacias hidrográficas de todo o Brasil onde a implantação da Cobrança pelo Uso das Águas brutas é flagrantemente adiada à exaustão por influência de interesses estranhos ao interesse público. O surgimento do Movimento Comitê Vivo, uma plataforma alternativa à atual Coordenação do FNCBH, é, portanto, um fato positivo, do ponto de vista da democracia, para tratar de forma civilizada e respeitosa, porém transparente e bastante franca, dos pontos de vista divergentes dentro da comunidade nacional dos Comitês. Afinal, no terreno das ideias, o debate e o embate de propostas sempre favorecem a adoção das melhores escolhas.

Anivaldo de Miranda Pinto Presidente do CBHSF

I SEMINÁRIO DE PESCA ARTESANAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO

30 e 31 de outubro de 2019 Penedo/AL

Apoio técnico

2

Realização


Presidente do CBHSF é homenageado no II ECOB RN Evento aconteceu em Natal (RN) e teve como tema a “Gestão das Águas e as Mudanças Climáticas”

Anivaldo Miranda recebeu a homenagem “Amigos das Águas” durante o ECOB RN

Texto e fotos: Ulysses Freire O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, recebeu a homenagem “Amigos das Águas”, durante a abertura do II Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte (ECOB RN), que aconteceu em Natal (RN), entre os dias 10 e 12 de setembro. A homenagem foi concedida em virtude do trabalho do presidente do CBHSF em prol do meio ambiente e do seu grande espírito de luta e forte liderança, em especial com relação ao rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho (MG). “Recebemos hoje o reconhecimento não só do meu trabalho como também do Comitê do São Francisco como um todo. A homenagem não foi só para a minha pessoa, mas também para todos os voluntários que atuam no CBHSF e que somam esforços para defender o rio e lutam para preservá-lo. Fico lisonjeado!”, disse Anivaldo Miranda. II ECOB RN O II Encontro Estadual dos Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte teve como tema “Gestão das Águas e Mudanças Climáticas”. O presidente do CBHSF palestrou sobre a gestão dos recursos hídricos e a integração do projeto de transposição do São Francisco. Segundo Anivaldo Miranda, a realização do ECOB RN é importante porque é uma oportunidade rara de conversar com as comunidades, os usuários das águas e os gestores das bacias receptoras das águas do São Francisco. “O Rio Grande do Norte tem um ambiente muito positivo para o debate dessas questões, o uso ra-

cional da água e todas aquelas metas que consideramos fundamentais para que finalmente o Brasil tenha uma cultura de gestão responsável das águas, de respeito à legislação ambiental e de implementação dos instrumentos da gestão hídrica”, disse. Para Anivaldo, sem a Cobrança pelo Uso da Água, o enquadramento dos rios, sistemas de outorga confiáveis, Comitês fortes e outras ações desse tipo, será impossível de fato dar à água, como elemento decisivo para a vida econômica e para a existência da sociedade, o tratamento que ela merece. “É preciso que os estados que vão receber essas águas, entre os quais está o Rio Grande do Norte, possam chegar a um acordo final sobre como estabelecer os contratos entre a União e os estados para a operação dos canais da transposição, enfrentar a questão dos custos dessa operação, que serão muito altos, sendo necessário, portanto, somar esforços para que o programa da revitalização do São Francisco saia da gaveta, pois, se não tiver água para a própria bacia do Velho Chico, não haverá evidentemente água para os estados que vão receber a transposição”, esclareceu.

uma perspectiva de redução da disponibilidade hídrica justamente onde a água já é um recurso escasso. De acordo com Marcelo, as principais causas da desertificação são a extração de lenha e produção de carvão vegetal, extração de gispsita e produção de gesso, extração de argila e produção de cerâmica, produção vegetal com uso intensivo de defensivos agrícolas e fertilizantes químicos, produção de grãos no cerrado nordestino e bovinocultura e ovinocultura no semiárido.

Desertificação e mudanças climáticas O II ECOB RN também contou com uma apresentação do membro da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) do CBHSF, Marcelo Silva Ribeiro, intitulada “Desertificação e Mudanças Climáticas”. De acordo com o palestrante, durante o século XXI as regiões semiáridas estão entre aquelas que receberão o maior impacto das mudanças climáticas associadas ao aquecimento global. Marcelo expôs que a ciência apresenta

Marcelo Silva Ribeiro, apresentou palestra com o tema “Desertificação e Mudanças Climáticas”

3


Expedicionários percorrem aproximadamente 150 quilômetros entre Três Marias e Pirapora em Minas Gerais

Expedição “Amigos das Águas”: 30 anos de dedicação e amor ao Velho Chico Texto e fotos: Tiago Rodrigues

A expedição científica “Amigos das Águas”, uma iniciativa apoiada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), completou 30 anos em 2019. O objetivo dessa empreitada, que entre os dias 6 e 8 de setembro percorreu um trecho de aproximadamente 150 quilômetros, de Três Marias a Pirapora, em Minas Gerais, é avaliar a qualidade das águas do Rio São Francisco e seus afluentes, bem como monitorar a poluição e os dejetos de metais contaminantes que podem comprometer a qualidade da água e causar a mortandade dos peixe. A cada descida os expedicionários registram aspectos positivos e negativos, o que dá um caráter científico à expedição. Esses dados são convertidos em ações benéficas ao rio, seja na forma de uma campanha educativa de conscientização ou mesmo por meio de discussões mais amplas sobre a qualidade da água e a recuperação da mata ciliar. O membro do CBHSF e da Associação dos Municípios da Bacia do Médio São Francisco (AMMESF), Adelson Toledo, chamou atenção para a cor da água do Velho Chico, durante a descida deste ano. Segundo ele, “ficamos focados na quantidade de peixes, porém observei que a cor da água em alguns trechos está turva. Nesse período do ano, o normal seria

que ela estivesse clara, num tom esverdado. Vamos aguardar a análise, para saber se está dentro dos parâmetros normais”, avaliou. Parceiro da expedição, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Pirapora é um dos responsáveis pelas coletas e análises das águas do Velho Chico. A cada ano os colaboradores captam água em pontos diferentes, com o intuito de ter vários parâmetros de comparação e um vasto material, tanto qualitativo quanto quantitativo. “É um trabalho bastante técnico, com registros fotográficos e coleta de amostras de água. Em cada ponto analisamos 16 parâmetros diferentes”, explicou o biólogo da autarquia, Patrick Nascimento Valim. De acordo com Valim, o rio aparenta estar se recuperando em alguns trechos, principalmente em virtude da melhoria da qualidade da água dos afluentes. “Ano passado vimos muitos bancos de areia e praias formadas, isso aconteceu pela baixa vazão do rio, menos de 300 m3/s. Este ano não vimos isso, pois a vazão aumentou para 470 m3/s. Com mais água, o rio consegue diluir melhor os poluentes. Outro dado positivo é que este ano não encontramos peixes mortos pelo trajeto. Observamos também que a turbidez do Rio Abaeté, afluente do Velho Chico, estava baixa. Não era uma turbidez

alta, como em anos anteriores. Isso pode ter ocorrido devido às melhorias de condições em toda a Bacia do Rio Abaeté, mas tudo isso só será comprovado com os resultados das análises das águas que coletamos”, observou o biólogo do SAAE. O paisagista e ambientalista Mac Donald Morais, coordenador da expedição, finalizou a empreitada bastante contente. “Este ano estou muito feliz, pois tinha água em abundância para navegar durante todo o percurso. Encontramos muitos pássaros, o que é sinal de que há peixes nas partes rasas para a alimentação deles. Esses cardumes de piabas são um bom indicador da recuperação do rio”, apontou Mac. “Ainda existem áreas degradadas com nada de mata ciliar, porém, vimos matas com uma aparência bem melhor, devido ao aumento do nível do rio, que fez o lençol freático chegar até a vegetação rasteira e arbustos, que normalmente ficam com um aspecto feio. Agora é aguardar os resultados das análises das coletas de água feitas pelo SAAE. Será uma oportunidade de acabarmos com as especulações e desinformações sobre a chegada do rejeito de Brumadinho no Rio São Francisco, em especial no trecho de Três Marias à Pirapora”, finaliza Mac.

O objetivo da expedição é monitorar a qualidade das águas do Velho Chico

4


CBHSF participa de debate sobre nova gestão do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas

Texto e foto: Lucas Cássio Com o propósito de debater as eleições para a nova gestão do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (FNCBH), representantes de grupos atuantes em vários estados se reuniram no dia 10 de setembro, na Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), em Goiânia (GO). O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) participou do evento, representado pelo secretário da Câmara Consultiva Regional (CCR) Submédio São Francisco, Almacks Luiz Silva. De acordo com o secretário, um grupo do CBHSF articula a formação de uma chapa que traz algumas propostas alternativas à administração atual. Na ocasião, Almacks Silva parabenizou o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba pelo evento inovador e apresentou o ponto de vista dos

membros do CBH do Rio São Francisco em relação à forma como a política hídrica é conduzida pelo Fórum, que segue sem ter nenhuma mudança. Almacks Luiz Silva, representou na reunião o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, e explicou que o grupo que formará a chapa pretende buscar mais representatividade para os 240 Comitês formados no Brasil. “O Fórum tem que ser um agente e dar um respaldo político. Com todas essas mudanças que vêm acontecendo nas leis ambientais, pouquíssimas vezes o Fórum se pronunciou e os Comitês ficam sem essa representatividade política”, reforçou Almacks. Ele também ressaltou que, nessa questão, o CBHSF sai à frente e traz posicionamentos sobre os mais variados temas, o

que será levado aos outros Comitês. “Nós viemos para representar não uma oposição e sim uma união! Mas uma união que tenha a visão de transformar o Fórum, acima de tudo, em um Fórum político”, concluiu. Outras duas chapas responderam ao convite do CBH Paranaíba para o debate, entre elas a composta pelos atuais gestores do Fórum, coordenado por Hideraldo Buch, do CBH Araguari, de Minas Gerais. A outra chapa, a do CBH do Rio Tapajós, não compareceu ao debate. Os interessados em se candidatar à coordenação do Fórum Nacional terão até 48 horas antes das eleições para apresentarem, formalmente, as chapas. A eleição será realizada no dia 24 de outubro, em Foz do Iguaçu (PR).

Audiência pública debate a irrigação do Vale do Iuiú Irrigação da região trará benefícios para a produção de grãos e frutas e para todo o desenvolvimento local Texto: Iara Vidal/ Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados A Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (Cindra) da Câmara dos Deputados realizou, no dia 10 de setembro, audiência pública sobre o projeto de irrigação do Vale do Iuiú, localizado na Bahia. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) foi representado pelo professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), George Gurgel de Oliveira que substituiu o presidente Anivaldo Miranda. De acordo com o deputado Charles Fernandes (PSD-BA), autor do requerimento para a realização da audiência, a implementação do projeto de irrigação do Vale do Iuiú é extremamente importante. “A irrigação de toda a extensão trará benefícios para a produção de grãos e frutas na região, tendo em vista que a área tem grande potencial em razão da qualidade do solo, do clima favorável, da captação de água do Rio São Francisco e da topografia plana, bem como

da malha rodoviária para o escoamento da produção”, afirmou. Gurgel destacou em sua fala a ausência de representantes do CBHSF nos debates iniciais do projeto de irrigação do Vale do Iuiú. “A Codevasf jamais convidou o colegiado para debater essas questões complexas e muito importantes, ligadas à sustentabilidade econômica, social e ambiental para a região Nordeste.” O representante do CBHSF aproveitou a oportunidade para chamar a atenção para o Plano de Desenvolvimento da Bacia do Rio São Francisco, que está em vigência até 2025, além de reforçar a importância do projeto de revitalização da bacia do Velho Chico. A despeito das críticas sobre a maneira com que o projeto vem sendo conduzido, o professor Gurgel salientou que o CBHSF se coloca à disposição para dialogar e também para conhecer a iniciativa de maneira oficial.

George Gurgel em debate sobre a irrigação do Vale do Iuiú

5


Membros do CBHSF participam do 1º Seminário Rotário de Revitalização do Rio São Francisco

CBHSF participa de seminário em Pirapora sobre revitalização do Rio São Francisco Evento teve o objetivo de integrar as principais organizações envolvidas com a preservação do São Francisco Texto e fotos: Tiago Rodrigues O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) participou do 1º Seminário Rotário de Revitalização do Rio São Francisco. O evento que aconteceu no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), Campus Pirapora (MG), no dia 14 de setembro, teve como objetivo integrar as principais organizações envolvidas com a preservação do Rio São Francisco. Para o secretário da Câmara Consultiva Regional (CCR) Alto São Francisco, do CBHSF, Altino Rodrigues, o evento foi uma oportunidade ímpar, pois vários setores puderam expor ideias e debater ações concretas de revitalização do Velho Chico. “A revitalização é fundamental para o rio. Temos que apoiar os projetos que beneficiam a Bacia do São Francisco, seja em quantidade ou qualidade da água. Hoje, muitas ações ganharam forma. Apresentei as ideias do Comitê, assim como os trabalhos que estão sendo realizados na bacia. O Rotary apoiou as propostas do CBHSF, assim como a Cemig e a CODEVASF. Isso é importante, pois todos esses atores são fundamentais para que a gente evolua e integre as ações já existentes e os novos projetos com as demandas do Comitê que foram discutidas dentro do plano diretor”, explicou Altino. Segundo o analista ambiental da Cemig, Ricardo José da Silva, a integração dos projetos facilita a parte operacional e o aporte financeiro. “É importante essa união de processos, o rio só tem a ganhar. Neste seminário, por exemplo, tive a oportunida-

6

de de falar sobre o Programa Peixe Vivo, que foi instituído em 2007 pela Cemig em todas as usinas da empresa, com o objetivo de conservar a ictiofauna das bacias hidrográficas”, disse Ricardo. Para o analista da Cemig, fomentar esse e outros programas é importante para repovoar o Rio São Francisco de peixes. “O peixe está presente na vida de todo cidadão, seja na alimentação, na economia ou na prática esportiva. “Com as mudanças climáticas positivas e a revitalização do rio, as espécies voltam a reproduzir, pois há vários fatores externos que interferem para a permanência de quantidade de peixes numa bacia, como poluição e outras ações pesadas do humano. E a Cemig trabalha justamente para mudar esse cenário. Então esses estudos, projetos e essas parcerias buscam a preservação e conservação dessas espécies no Rio São Francisco”, esclareceu Ricardo. De acordo com o governador O evento reuniu ambientalistas e nvolvidos na preservação do Velho Chico

do Distrito 4760, Nelson Fonseca Leite, o CBHSF teve um papel fundamental no seminário, assim como as outras instituições. “Por meio da palestra do Comitê e de outros especialistas pudemos conhecer a realidade do Rio São Francisco. Esse compartilhamento de conhecimento é importante num trabalho de revitalização. O objetivo do Rotary é conectar todas as instituições e pessoas que estejam fazendo ações locais de forma independente na bacia hidrográfica do rio. Nosso intuito é convergir todos esses projetos ou propostas para que as ideias fortalecidas melhorem as condições ambientais do São Francisco”, explicou Nelson. O seminário foi realizado pelo Distrito 4760 do Rotary International, em parceria com as unidades do Rotary de Brasília Internacional, Belo Horizonte Liberdade, Pirapora, Buritizeiro, Pirapora Praia, Pirapora Santos Dumont e Fundação dos Rotarianos de Pirapora (FURPI).


CTIL vota pela admissibilidade do conflito pelo uso da água no Oeste da Bahia Bacia do Rio Boa Sorte, afluente do Rio Grande, sofre com a falta de água Texto e foto: Geraldo Lélis Os membros da Câmara Técnica Institucional Legal (CTIL) do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) reuniram-se nos dias 26 e 27 de setembro, em Recife (PE), para discutir a admissibilidade do conflito pelo uso da água na bacia do Rio Boa Sorte, afluente da Bacia do Rio Grande. O coordenador da CTIL, Roberto Farias, destaca a gravidade do assunto. “O conflito foi admitido pela Câmara porque os relatórios encaminhados, tanto o do Comitê do Rio Grande quanto o do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), órgão do governo do estado da Bahia, comprovam a ocorrência desse conflito desde 2015. Então a situação lá é grave, porque há muitas famílias e pequenos usuários que estão sendo altamente prejudicados com a falta da disponibilidade da água, principalmente no período de estiagem”, esclarece. “Não havia alternativa a não ser a do CBHSF admitir esse conflito e tentar, juntamente com outros atores envolvidos nessa situação, como o município de Barreiras, o Inema e o Ministério Público da Bahia, buscar, no menor espaço de tempo possível, a resolução do conflito. A gente admitiu e vai dar maior rapidez possível ao encaminhamento desse assunto, devido não só à im-

portância, mas à gravidade da situação, para tentar mediar uma solução, com ajuda de todos os atores para se chegar a um resultado satisfatório para todas as partes”, acrescentou Roberto Farias. Foi formado um grupo de trabalho com Cláudio Ademar da Silva, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), Moisés Menezes dos Santos, da Associação dos Condutores de Visitantes de Morro do Chapéu, e João Bastos Neto, da Associação dos Fruticultores da Adutora da Fonte (AFAF), para analisar a situação. Durante a reunião da CTIL, os membros da Câmara também analisaram o Decreto Presidencial nº 10.000/2019, publicado no dia 3 de setembro, que alterou a estrutura do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e resulta em diminuição da participação da sociedade civil. Discutiram, ainda, o andamento da licitação que vai contratar a empresa responsável por fazer o projeto básico de execução da obra de um reservatório pulmão, que deverá solucionar o conflito pelo uso da água do São Francisco no município de Piaçabuçu (AL) e sobre o Regimento interno da Comissão Permanente de Ética do CBHSF.

Presidente do CBHSF participa de debate sobre água como insumo para a geração de energia Texto: Luiza Baggio O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, participou do workshop “Água: insumo para as fontes de geração de eletricidade?”, realizado pelo Instituto Escolhas, no dia 26 de setembro, em São Paulo (SP). Anivaldo Miranda esclarece que a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco é objeto de pesquisa do Instituto Escolhas. “O workshop reuniu pessoas qualificadas, mas de diferentes linhas de inserção, como especialistas do setor elétrico, da academia, órgãos reguladores, Comitês de bacias e outras organizações da sociedade civil. A bacia do São Francisco é objeto da pesquisa do Instituto Escolhas. Foi um encontro proveitoso para discutir em torno da precificação da água enquanto recurso a cada dia mais demandado e impactado pelas ações humanas”. Anivaldo Miranda acrescentou ainda que os estudos apresentados pelo gerente da PSR Soluções e Consultoria em Energia, Tarcísio Castro, e Gerd Angelkorte, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsáveis pela execução da pesquisa, destacam a fragilidade dos processos de monitoramento da qualidade e quantidade de água. “Existe uma necessidade de sofisticar mais os dados da gestão hídrica para que os instrumentos de gestão possam ser implementados”, finalizou.

Membros da CTIL reunidos em Recife (PE)

7


Dois

dedos de

prosa

Rose Dantas Rosimeire Dantas, a Rose, é presidente da ONG Nature Viva Mangue (Navima) desde 2007, quando fundou a organização ambiental. Atualmente, é presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Pitimbu e coordenadora do Fórum Potiguar de Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio Grande do Norte. Rose é bióloga e ornitóloga, especialista em aves migratórias nos manguezais potiguares, e vem se dedicando aos recursos hídricos desde 2013, quando entrou para o colegiado do CBH Pitimbu (Natal).

Entrevista: Luiza Baggio

Como você iniciou seu trabalho pela preservação dos rios e do meio ambiente? Tudo começou com meus estudos no estuário do Rio Potengi, em 2002, sempre destacando a sua importância ambiental, histórica, econômica e sociocultural. O meu trabalho visa difundir as belezas e também os problemas que afetam os mais importantes cursos fluviais. Minha relação com os rios e o mar vem desde a minha infância, sempre com muito respeito às águas e aos que delas precisam para sua sobrevivência. Defendo a fauna, a flora e os mananciais porque perante a lei parece que tudo é real, mas na prática tudo se torna abstrato e sem valor. É preciso que haja um entendimento amplo em defesa da vida: sem água não há biodiversidade, não há produção de alimentos, não há desenvolvimento econômico e não haverá sobrevivência da espécie humana. Você é uma defensora do Rio Potengi. Como surgiu essa relação? A relação com o Potengi vem desde minha infância, quando todos os finais de semana acompanhava meus pais e meus irmãos rumo à Fazenda Gameleira, onde meus avós moravam, no município de Taipu, que fica a pouco mais de 53 km de Natal (RN). Sempre que cruzávamos a Ponte de Igapó havia pescadores vendendo peixes e ali meu pai parava para as compras, principalmente de tainhas, carapebas e gingas. Saudades desse tempo! Era uma viagem encantadora ao lado da minha família. O estuário do Rio Potengi é sem dúvida o mais importante da bacia potiguar, sua beleza cênica, com grande diversidade de peixes, botos, tartarugas, uma riqueza única onde trabalho como ornitóloga acompanhando as aves nativas e migratórias, sendo as migratórias oriundas do hemisfério norte que chegam todos os anos à costa brasileira em busca de abrigo, alimentação e descanso. É sempre uma grande honra trabalhar em prol dos recursos naturais buscando a preservação das águas interiores e da biodiversidade marinha. Como surgiu a ONG Navima? A Nature Viva Mangue (Navima) é uma associação de caráter socioambiental, criada em 2007 após um desastre ambiental ocorrido no Estuário do Rio Potengi, cujas atribuições principais se voltam para a preservação da biodiversidade marinha dos ecossistemas costeiros e das populações tradicionais do Rio Grande do Norte. Atuamos na pesquisa científica dos

travessia Notícias do São Francisco

Presidente: Anivaldo de Miranda Pinto Vice-presidente: José Maciel Nunes Oliveira Secretário: Lessandro Gabriel da Costa

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF - Tanto Expresso

Acompanhe as ações e os projetos do CBHSF por meio do nosso portal e redes sociais

cbhsaofrancisco.org.br 8

estuários potiguares buscando sempre o trabalho em cooperação com várias instituições estaduais e federais, como o Ministério Público Federal que, em sua última participação, ajuizou uma Ação Civil Pública com pedido de Tutela Provisória de Evidência em desfavor do estado do Rio Grande do Norte para a criação do CBH do Rio Potengi. Nesse momento a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte instalou a Comissão PróComitê e em dezembro sairá o Decreto de Criação do CBH Potengi. Realizamos ações com mutirões de limpeza dos rios sempre buscando apoios de instituições importantes, como a Marinha do Brasil e a Prefeitura de Natal, e do terceiro setor, bem como de voluntários. Realizamos palestras em escolas e universidades demonstrando a importância de preservação da biodiversidade, dos rios e de toda zona costeira. Nesse momento estamos acompanhando a revisão do Plano Diretor de Natal, no qual estamos buscando aprovação da criação do Sítio Forte das Aves, uma reserva natural para proteção das aves migratórias e nativas junto ao Forte dos Reis Magos. Esse é um apelo que estamos fazendo em prol das aves migratórias, visto que algumas espécies de maçaricos se encontram em declínio populacional em todo mundo e são protegidas por tratados internacionais. O Rio Grande do Norte passou a integrar a “família” dos estados pertencentes à Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco por causa da transposição. Como você vê essa integração? O Projeto da Transposição vem somar trazendo esperança, desenvolvimento para o Rio Grande do Norte e, sobretudo, matando a sede de milhares de potiguares. Essa riqueza também nos leva a refletir como está a saúde do Velho Chico e quanto custará a ele essa benesse de apenas ser um doador de vida por meio de suas águas. Quais os maiores desafios para o Rio Grande do Norte relacionados à transposição? O maior desafio sem dúvida será a água chegar ao eixo norte, onde o canal lançará de fato suas águas para o Rio Grande do Norte, e poder amenizar o sofrimento de parte dos 148 dos 167 municípios do estado (88%) que estão em situação de emergência por causa dos efeitos da seca. São sete anos seguidos de escassez de chuvas e nesse momento as águas do Velho Chico ainda são um sonho.

Coordenação Geral: Paulo Vilela, Pedro Vilela, Rodrigo de Angelis Edição e Assessoria de Comunicão: Mariana Martins e Luiza Baggio Textos: Geraldo Lélis, Iara Vidal, Lucas Cássio, Luiza Baggio, Tiago Rodrigues e Uysses Freire Diagramação: Rafael Bergo Fotos: Cleia Viana, Geraldo Lélis, Lucas Cássio, Tiago Rodrigues e Uysses Freire Impressão: ARW Gráfica e Editora Tiragem: 5.000 exemplares Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Secretaria do Comitê: Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG - CEP: 30120-060 (31) 3207-8500 - secretaria@cbhsaofrancisco.org.br - www.cbhsaofrancisco.org.br Atendimento aos usuários de recursos hídricos na Bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607 Assessoria de Comunicação: comunicacao@cbhsaofrancisco.org.br Comunicação

Apoio Técnico

Realização


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.