DRAG E PROFESSORA? Rita Von Hunty derruba estereótipos sobre o mundo drag e cresce em audiência no Youtube falando sobre política, literatura, sociologia e filosofia. POP EXALTANDO AS ORIGENS NA PANDEMIA Pandemia tem feito artistas mergulharem na memória afetiva e reproduzirem ritmos, sentimentos e músicas que marcaram infância e adolescência. A COR É ROSA? Silva conta como está sendo esse período de pandemia e compartilha histórias e vivências enquanto artista LGBT. BANDEIRA DO ORGULHO História e significado do símbolo que revolucionou a identidade LGBTQIA+ e trouxe mais cor e orgulho para o movimento
R&B E MUITO “GROOVE” Gloria Groove explica quebra-cabeça e faz balanço da era “Affair”, álbum produzido durante a pandemia.
Ttulo da Modelidade
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SUMÁRIO
EDIÇÃO Renan Santos Santorsula PROJETO GRÁFICO Renan Santos Santorsula DIAGRAMAÇÃO Renan Santos Santorsula AUXÍLIO E REVISÃO
Gustavo Gomes de Freitas REDAÇÃO Renan Santorsula Leonardo Torres Gabriela Sarmento Livyson Saymon Iran Giusti Yuri Ferreira Texto da web
FOTOGRAFIA Rodolpho Magalhães Fernando Schlaepfer Foto da web CONTATO 0000794344@senaimgaluno.com.br
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BRIEFING
Case Netflix Comunicação Humanizada Interação nas redes sociais: Netflix é referência por uma comunicação humanizada e descontraída. Humanize sua comunicação nas redes sociais. As redes sociais mudaram completamente a maneira de se relacionar com seus clientes, facilitando o compartilhamento de conteúdo e a interação com o público em geral. Monitore o que as pessoas estão falando sobre sua marca e, se possível, responda aos comentários de forma individualizada. Mais que apenas responder ao seu cliente, fique atento em como você faz isso. Produza uma comunicação nas redes sociais carregada de calor humano. E fazer isso é mais fácil do que imagina: comunique-se da forma que você conversa. Sabe aquele português rebuscado? Tire isso de sua marca — a menos que seu público seja composto de pessoas assim, claro. Nós, seres humanos, gostamos de estar entre semelhantes. Da mesma forma, muito cuidado também com erros gramaticais. Escrever de forma descontraída é diferente de desleixada.
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BRIEFING
Além disso, outro ponto fundamental na sua estratégia para redes sociais é a interação com os usuários. Seus clientes adoram ser ouvidos. Seja para reclamar, tirar dúvidas ou até agradecer: eles querem que tenha alguém para responder. As interações com o seu conteúdo fazem a rede avaliar seus posts como relevantes. Portanto, você aparecerá para mais pessoas. Ao mesmo tempo, para aumentar a interação e o engajamento você pode utilizar recursos próprios do Instagram. Caixas de perguntas costumam funcionar bem para isso. Além disso, outra dica é responder as perguntas desse recurso por meio de vídeos da sua equipe. Incentive a sua equipe a aparecer mais vezes no seu perfil e até mesmo a compartilhar o dia a dia na concessionária.
VOZ DA MARCA 1. É a personalidade da marca; 2. Definida a partir dos valores e missão; 3. É única e imutável.
TOM DA VOZ 1. Depende do meio pelo qual a mensagem será transmitida; 2. Deve ser definido de acordo com a audiência; 3. Varia de acordo com o objetivo da comunicação.
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ENTREVISTA
A COR É ROSA? por agentes, produtores e gravadoras, falou sobre a vivência e criações em meio ao isolamento social, família e até uma relação hoje não próxima com o universo gospel. Assim como em seus cinco álbuns lançados, Silva mantém a constância da serenidade no cotidiano. De voz mansa, é possível perceber o sorriso largo que lhe é tão característico enquanto fala, mesmo sem vê-lo, porém o tom muda ao falar do momento tão inóspito que vivemos: a pandemia do coronavírus. “Fico me policiando o tempo todo para não reclamar demais, mais de 60 mil mortos, com tanta gente sofrendo, chorando a morte de quem morreu, gente que não pode ficar em casa”, explica antes de falar da realidade individual que vive. “Ao mesmo tempo tem essa solidão, essa sensação de estar preso em casa”. “Moro em uma cidade que não é um grande centro, (Vitória, no Espírito Santo) não está maravilhoso mas é mais fácil logisticamente resistir nesse momento” afirma contando que usa o momento atual para “conectar com a minha música, ler, estudar o meu piano, olhar para lugares mais profundos, ouvir discos que eu não ouvia há muito tempo, me dedicar pra minha cabeça e minhas ideias”, reflete. O resultado do auto-cuidado foi o fim do bloqueio criativo que o acompanhava há alguns meses. “Eu estava preocupado, sem sair nenhuma composição. O processo de quarentena e o contato comigo mesmo acabou me abrindo os canais”, aponta ele que já escreveu cerca de 30 músicas desde o início do isolamento.
“Tive a sorte e o privilégio de ter um bom espaço para me isolar, com estrutura, meus equipamentos e tenho feito o que eu posso para ajudar principalmente os que estão ao meu redor. Acho que antes de tentar salvar o mundo precisamos olhar os nossos lugares, nosso entorno” explica apontando por exemplo os músicos que o acompanha nas turnês. Existem algumas figuras que estão ligadas diretamente com a Casa 1, seja pela relação de amizade com pessoas que trabalham no projeto, seja pela aproximação lá em 2017 quando ela foi fundada ou então pelo alinhamento político ideológico. E foi a partir desses laços que começamos a série de entrevistas aqui para o blog, com os perfis da atriz Renata Carvalho e da mídia ativista Debora Baldin. Já outras relações vão se construindo a partir do tempo, vindas de diversos lugares e nos momentos mais inesperados possíveis e esse foi o caso do Silva, por meio de uma costura do artista e sua equipe com o Junior Carvalho, responsável pelo Grupo de Empregabilidade e Parcerias da Casa 1. Definiu-se então que as arrecadações feitas nas lives do vitorense que aconteceram em junho seriam destinadas para o projeto, assim como a da próxima que rola no domingo, 11 de julho, a partir das 19h. Como em outras lives, como a da Pabllo, da Gloria Groove e da Daniela Mercury fizemos coberturas nas nossas redes, em especial no Twitter e foi uma delícia acompanhar as apresentações do Silva que falou com muito carinho sobre a gente e nosso trabalho. Foi então que se abriu esse novo espaço para uma entrevista com o cantor, que em meio a uma agenda apertada, conversou com a gente por telefone com uma surpreendente honestidade, algo raro entre artistas geralmente contidos
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“Sou compositor, ganho meus direitos autorais e com isso consigo me manter, mas a grande maioria dos artistas não tem essa possibilidade, muitos não têm trabalho autoral, dependem de freelas, por isso o que eu ganho a mais eu direciono para os que tão próximos e iniciativas que eu acredito”, diz. O reconhecimento dos privilégios é algo que permeia toda a entrevista, mas de uma forma que passa longe da culpa, sinal de uma consciência genuína, que faz todo sentido quando Silva fala mais sobre suas vivências e relações familiares. “Sempre passo por esse ponto, eu tive a oportunidade de ter tido uma educação musical formal, toco
ENTREVISTA piano, violino, eu mesmo produzo e gravo. Gasto todo meu dinheiro com isso, nunca comprei carro, nunca fui de gastar, só com instrumentos, equipamento de áudio”, explica dizendo porque inclusive conseguiu fugir da quase obrigatoriedade de estar em São Paulo ou Rio de Janeiro para seguir uma carreira na indústria musical. O lugar escolhido para morar é o que nasceu, a cidade de Vitória, no Espírito Santo. “O ritmo do lugar influencia completamente sua obra, sou um ser humano muito sociável, adoro falar, de estar com gente que eu gosto, trocar ideias, sair pra beber. Acho que se morasse em São Paulo eu estaria ferrado. Aqui (em Vitória) tem região das montanhas, uma qualidade de vida muito boa, apesar de pouquíssima gente conhecer. E também tô pertinho de Salvador, Rio, São Paulo. É um lugar que me dá chão”, declara um tanto apaixonado. Além da atual liberdade de criação, estrutura e a educação formal, outro privilégio vem da relação familiar. Filho de uma mãe professora de música e pai da área da economia, “porém que ama música”, Silva sempre teve incentivo, não só na carreira, mas também em relação a sua orientação afetiva sexual.
“Minha família é extremamente religiosa mas que não me afastou, não me diminui. Meus pais são evangélicos mas têm um super respeito por mim, pelas minhas escolhas, pelo que eu sou”, aponta ciente de que essa não é bem a realidade de muitos. No entanto, nem tudo foram flores nessa relação e Silva confidenciou que o pai não reagiu muito bem ao clipe da música “Feliz e Ponto”, em 2016 onde ele contracenou em cenas românticas com uma mulher e um homem. “Meu pai ficou sem falar comigo, disse que deixaria de acompanhar o meu trabalho. Expliquei que não foi nada feito para agredir ninguém, muito menos ele ou para me rebelar e deixei o tempo fazer o resto”, conta. O episódio durou apenas três semanas e a relação voltou a ser como antes. Mas mesmo em meio a todos esses conforto, a homofobia foi uma amarga companhia ao longo da vida. “Sofri muito bullying na escola, na igreja, sempre fui mais delicado, escondia que tocava violino para não sofrer mais ataques, fingi que era hétero na adolescência”, relata falando um pouco mais da experiência com a religião. “Fui o primeiro a sair da igreja por não concordar com o que se falava ali dentro”, diz ele se referindo à congregação Batista, eixo da doutrina cristã evangélica do qual o avô foi pastor. “Porém não posso deixar de contar que quando apresentei meu ex-namorado para minha avó ela disse que ele era melhor do que todas as noras que tinham entrado na família até então”, conta aos risos. Ao longo da conversa foi possível ainda notar que, além da criação dentro da igreja, a religião se embrenhou ainda em uma área importante da vida de Silva, a música, e aí que ele sente mais desconforto. “Meu irmão foi artista Gospel, concorreu ao Grammy Latino e eu com 14 anos já estava produzindo os discos dele, foi uma puta escola, ali aprendi a fazer muita coisa técnica, mas detesto música Gospel, acho cafoníssima, ainda que tenha respeito pelo trabalho de todo mundo.”, diz, sempre educado. E se por um lado a igreja e a música Gospel trazia uma proibição do consumo da música secular, nome dado a todas as canções que não são cristãs,
quando Silva foi se sentindo mais confortável com a sexualidade também ficou com algumas dúvidas sobre o que poderia produzir. “Já me peguei pensando que não podia cantar músicas no gênero feminino, que tinha um ‘pra ela’”, relata. A fase no entanto foi superada. “Hoje entendo que quero falar sobre amor, independente de qual for, porque amor é algo tão universal, quero que fale de todo mundo. Quando me ouvirem, quero que gostem, que amem. Pra mim o papel da música é sensibilizar”, declara. Isso não significa, no entanto, que não aceite de bom grado quando sua orientação afetiva sexual é citada no contexto de trabalho.
“Acho importante quando me colocam como um artista LGBT, faz com que eu tenha que lutar pela causa, saber mais sobre a causa, me coloca uma responsa que eu acho interessante” E sobre o futuro, o cantor que lançou seu mais novo álbum durante a pandemia “Ao Vivo em Lisboa”, com o repertório do disco “Brasileiro” já dá o trabalho como concluído. “Já estou com músicas novas, tô doido pra gravar, seguir com Brasileiro depois da pandemia é meio como voltar a assistir uma série que você pausou faz tempo, não faz muito sentido. O que foi foi, mundo novo, planos novos”. E que assim seja!
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PORTFÓLIO
Rita Von Hunty A namoradinha comunista do Brasil Em seu ‘Curso Revolucionário de Rita Von Hunty’, ela relembra alguns dos momentos mais icônicos de sua trajetória; foi datilógrafa de Getúlio Vargas e Ministra de Afazeres Subversivos de João Goulart. A “namoradinha comunista do Brasil” – toma essa, Regina Duarte – alcança sua massa de seguidores falando de marxismo, luta de classes e anticapitalismo. Rita Von Hunty; a drag que derruba estereótipos e só cresce em audiência no Youtube Agora, sem brincadeiras, Guilherme, a mente por trás de Rita Von Hunty, também possui uma história incrível. Formado em artes cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), o criador da drag comunista mais famosa do Brasil é um acadêmico de mão cheia – daqueles que tem carinho ao falar da sua ‘pesquisa‘ e está sempre munido de referências para falar dos assuntos que gosta. E a trajetória de Guilherme é cheia de percalços antes fama com Rita. Ele teve de se mudar para São Paulo em 2011 para o tratamento de câncer de sua mãe, de quem era muito próximo. Ela faleceu em 2012. Foram três anos de luto que, segundo o próprio, o ajudaram a formatar a persona de Rita. “A Rita é uma persona. E a persona é diferente de um personagem, porque qualquer pessoa pode fazer a Julieta ou Romeu, por exemplo. Mas ninguém vai poder fazer a Rita. Porque não existe um texto da Rita. A única pessoa que sabe como ela opera sou eu. A Rita é uma máscara do Guilherme. Em que momento comecei essa máscara? Quando era um óvulo e fui fecundado. Essa máscara traz passagens de toda minha vida.”, afirma Terreri à Revista Trip. Ela também apresenta o programa ‘Drag Me As Queen’, da NBCUniversal, e participou do reality Academia de Drags. Mas seu trabalho na televisão fica até em segundo plano quando olhamos para seu trabalho como educadora na internet.
Entretanto, a biografia de Rita Von Hunty vai além disso: para ele, a personagem é uma missão para lutar contra diversos estereótipos que circundam o mundo das drag queens. O primeiro deles é a performance de mulher como uma sátira; para ele, não necessariamente as drags precisam ser um caricatura. O outro é que a drag é só uma fonte de entretenimento. Para Guilherme, o conhecimento pode ser parte essencial dessa forma de representação. “Existem dois estereótipos sobre drag que meu trabalho luta contra. Uma é que a drag é uma caricatura do feminino. Eu não sou isso. Eu não acho que as mulheres são seres risíveis, para fazer piada. O outro é que drag só fala de maquiagem, roupa e sexo. E a minha drag não fala sobre essas coisas. Ao mesmo tempo eu tento quebrar o estereótipo também de que todo professor é homem, branco e pedante. Não existe só um jeito de ser intelectual”, afirmou em entrevista à Nina Lemos, do UOL. “É fazer uma performance que destrói as normas de gênero, contradiz o que é esperado do comportamento de homens e mulheres”, explica Guilherme à Cláudia.
“É muito mágico quando alguém tenta explicar que assistiu a um vídeo da Rita e gagueja ao definir se é uma professora ou professor”, diz. O cabelo da típica housewive americana compõem a estética retrô da professora revolucionária. O sucesso de Rita Von Hunty não a fez menos de esquerda. Apesar de ser pesquisador de temas da literatura, Guilherme fala com propriedade e extenso referencial sobre sociologia e política, sendo esse um dos principais conteúdos do ‘Tempero Drag’. Se seu canal começou como uma plataforma para falar de veganismo, mas foi na política, filosofia e na sociologia que Rita viu seu público crescer de forma exponencial. As aulas sobre Karl Marx, ou, para ela, ‘Seu Carlinhos‘ são dignas de professores universitários. O trabalho de Guilherme é fascinante justamente por quebrar
esses estereótipos. Um dos principais, inclusive, é fazer com que temas complexos da sociologia se tornem simples e facilmente compreensíveis. Segundo ele, Paulo Freire é seu mentor na educação. Com extenso repertório e bibliografia, Rita traz assuntos diversos para a mesa e os debate de forma acessível em aulas, palestras e, claro, no Youtube. Guilherme e Rita, entretanto, acabam se confundindo. Segundo o próprio Guilherme, a personagem se tornou uma forma de passar o seu conhecimento. Outra coisa que surpreende em Rita Von Hunty é a continuidade de seu pensamento; é comum que, com a fama, alguns marxistas abandonem sua filosofia e abracem um pensamento mais próximo do liberalismo econômico. Rita, pelo contrário, parece a cada dia mais engajada em espalhar os conceitos de ‘Seu Carlinhos’ por aí, colocando o pensamento marxista em novas perspectivas e o utilizando para observar questões de raça, gênero e sexualidade, derrubando o mito de que o pensamento do materialismo histórico-dialético não dialoga com os paradigmas atuais da sociedade. Através de sua didática incrível, do carisma e das referências impecáveis, Rita Von Hunty derruba estereótipos de gênero, do próprio mundo drag, da política, da academia e da própria internet.
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O Rebranding do Burger King pelo pessoal da Jones Knowles Ritchie 10
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DESIGN
O rebranding que você pode ver aqui é a primeira mudança na marca do Burger King nos últimos 20 anos. E a ideia aqui, de acordo com o pessoal da Jones Knowles Ritchie, é voltar ao passado da empresa. Apresentando assim uma identidade visual que se assemelha bastante aquilo que foi usado pela rede de fast food entre 1969 e 1994. Esse logo clássico acabou sendo redesenhado e o argumento foi que essa era a época onde o Burger King estava no seu melhor. Esse lado iconográfico se misturou a nostalgia que cerca a indústria cultural de hoje em dia, com Stranger Things servindo como exemplo, por isso mesmo que a Jones Knowles Ritchie resolveu homenagear a herança da marca e da empresa através de um redesign que é divertido, confiante e simples. O rebranding do Burger King consiste em um logo reformulado que substitui o design anterior, introduzido inicialmente em 1999 e que era composto de um hamburger estilizado, cercado por uma crescente azul. Pelo que eu entendi, a remoção do elemento em azul foi uma referência a melhorias da marca em relação à qualidade dos alimentos. Adicionando aí uma nova camada de simbologia a todo esse processo de rebranding. Além do logo, da identidade visual, o pessoal da Jones Knowles Ritchie também renovou o visual das embala-
gens, merchandising, uniformes, elementos de menu, sinalização de restaurantes e materiais de marketing. Todos esses elementos acabaram seguindo a comida do Burger King como referência visual. Incluindo aí uma fonte personalizada para a marca que recebeu o nome de Flame Sans. Todo esse trabalho foi feito com o objetivo de diminuir as percepções negativas que as pessoas têm em relação a restaurantes fast food e a comida que eles servem por lá. A ideia é fazer com que a representação visual do Burger King se torne menos artificial, sintética e barata. O objetivo é o de tornar a marca do Burger King mais desejado e, por assim, melhorar a forma com a qual as pessoas enxergam a comida que eles vendem. Parece que o Burger King vai colocar esse rebranding para as ruas imediatamente e os restaurantes vão passar por reformas e adaptações nos próximos meses. Entre tudo que eu consegui ver no site da Jones Knowles Ritchie, o elemento que mais me chamou a atenção foi a forma com a qual a marca nova usa de ilustrações para explorar os valores do Burger King nas redes sociais e no mundo digital. Inicialmente, esperava ver que esse lado do marketing seria trabalhado com imagens atraentes dos hamburgers que eles vendem mas eles foram para um lado diferente. Gostei de ver isso e fico curioso em observar como será explorado no futuro e como essa estética pode começar a influenciar o mercado de fast foods pelo mundo.
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Existe o criador ali por trás. Sem o meu corpo, a Gloria Groove não acontece 12
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Gloria Groove Drag Queen explica quebra-cabeça e faz balanço da era “Affair“ Com a carreira gerenciada pela SB Music, Gloria Groove é uma das cantoras mais ouvidas da atualidade, sendo a drag queen brasileira com maior número de execuções no Spotify (quase 2,5 milhões de ouvintes mensais), puxados por hits como “Bumbum de Ouro”, que a tornou nacionalmente conhecida, “Arrasta” (com participação de Leo Santana) e o mais recente, “Coisa Boa”, que a colocou como a única drag no Top 40 da plataforma de streaming. Com a musica “YoYo”, lançada no dia 13 de junho de 2019, a cantora se preparou também para comemorar na Audio Club. Afinal, o clipe já ultrapassa os 4M de views. Aos 24 anos, Gloria desponta como uma das cantoras mais talentosas de sua geração, misturando pop, rap, trap e uma voz rara. A qualidade vocal da drag queen atraiu parcerias com Anitta, Iza e Pabllo Vittar, entre outros destaques da música brasileira atual. O resultado? Agenda lotada, duas turnês internacionais já agendada e muita novidade por aí. Gloria Groove lançou cinco músicas e cinco clipes no intervalo de 50 dias. Foi sua era R&B, que resultou na formação do EP “Affair”. O último lançamento aconteceu na terça (1/12/20), convidando o público a uma nova experiência: revisitar todos os clipes na ordem da tracklist. Desta forma, Gloria conta uma historinha – que era impossível entender antes. Cada música e clipe representam uma fase diferente dos estágios de um envolvimento amoroso. Dependendo do momento que você esteja vivendo, a letra de uma das canções vai te pegar mais. Confira:
1- VÍCIO: o envolvimento 2. SUPLICAR: a paixão 3. A TUA VOZ: a desilusão 4. SINAL: a esperança 5. RADAR: a superação Para falar sobre esse quebra-cabeças, agora finalizado, e os bastidores dessa era R&B, Gloria Groove concedeu uma entrevista exclusiva.
Com “Radar”, você encerrou os lançamentos do EP “Affair”. Qual o saldo que você tira desse projeto? GLORIA GROOVE – Agora com o clipe de “Radar”, o que fica para mim é a sensação de “nem acredito que acabei de entregar uma era completa do meu estilo musical favorito”. Parece surreal, principalmente levando em consideração o ano maluco que a gente está vivendo. Foi um grande “por que não?”, quando eu vi que tinha essa família de músicas amadurecendo. Estou feliz demais com o resultado.
z ano mesmo, durante a quarentena? Você teve a ideia esse É. Na verdade, o “Affair” tem composições super recentes e também sons que foram feitos mais de dois anos atrás, então conforme os sons mais recentes foram nascendo e parecendo que faziam parte da mesma família, esse EP foi tomando forma. A ideia de fazer um EP voltado para o R&B sempre existiu. O que aconteceu esse ano foi a realização disso: a chegada de novas faixas, como “Sinal” e “Vício”, e a decisão de fazer disso um projeto audiovisual. “Vício” é uma das composições mais recentes, mesmo. É uma composição deste ano. “Vício” e “Sinal” foram escritas na quarentena. “Suplicar” saiu de uma tarde que passei compondo com a IZA. Os fãs, inclusive, ficaram super felizes de saber que ela é uma das colaboradoras, assim como eu também já colaborei com músicas dela. É muito legal a gente ter essa troca, mesmo por trás dos palcos.
Seu projeto de R&B acabou se diferenciando bastante do que outras drags e cantoras pop brasileiras vêm fazendo nos últimos anos. Que feedback você recebeu de colegas? Acho que todo mundo tem o R&B como uma coisa que gosta, pelo menos um pouquinho. Marcou muito as referências musicais principais do começo dos anos 1990 e 2000, quando eu era uma criança, pré-adolescente, adolescente. É um estilo que me marcou demais. Está na minha vida desde sempre. Acredito que as pessoas recebam como uma coisa extremamente fresh e extremamente nostálgica. O R&B também tem crescido muito, então fico orgulhoso do “Affair” porque acho que ele engloba o melhor do R&B que a gente tem visto ultimamente com o melhor da fase Mariah [Carey], Alicia Keys… E é brasileiro, o que dá mais orgulho ainda, por ouvir um material num estilo tão chique e refinado na nossa língua. Esse EP é um redirecionamento na carreira ou um projeto pontual? Vai ter mais R&B? Esse EP, para mim, é um sonho que já existia e estava esperando o momento para acontecer. Neste momento foi “por que não?”. Mas, de forma alguma, é alguma coisa definitiva. Como artista, pessoa e drag queen, vivo me reinventando e me recriando o tempo todo. A música é uma ferramenta maravilhosa para acompanhar essas transformações. O gosto muda muito. O meu gosto mudou muito do início da carreira até agora, e ainda vai mudar muito. Tenho só 25 anos. De forma alguma, o estilo que está sendo feito é uma coisa definitiva. Acredito que ainda vou fazer muita música pop e muita coisa que ainda nem imagino. Por que você decidiu lançar as músicas em uma ordem diferente da tracklist do EP? Cara, eu quis lançar fora da ordem principalmente porque eu queria muito que “A Tua Voz” fosse o primeiro single. Mesmo sabendo que ela era originalmente a faixa 3. Eu pensei “tô falando
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PUBLICIDADE para todo mundo que vou fazer uma era de R&B, então quero chegar com AQUELA música, A música, sabe?”. Acho que “A Tua Voz” cumpriu perfeitamente essa ideia. Daí surgiu a ideia de embaralhar para que tudo só fizesse sentido no final, vendo todos juntos, um seguido do outro. Acabou virando uma brincadeira legal – dar a história por partes. Vamos ajudar o pessoal a construir esse quebra-cabeça? Qual história você está contando da faixa 1 à 5? Na verdade, quando as faixas começaram a se juntar, reparei que cada uma ocupava uma vertente do R&B e cada uma dessas composições retratava uma faixa da paixão. Foi assim que nasceu essa tracklist, começando por “Vício”, que é o envolvimento; passando por “Suplicar”, a paixão fatal; vindo ali para “A Tua Voz”, a desilusão; “Sinal”, a esperança de que alguma coisa ainda pode acontecer; chegando a “Radar”, que é a superação: olha o que você perdeu. Dentro dessa ordem, consegui enxergar uma história de superação mesmo – com altos e baixos, como realmente é nossa relação com tudo, seja amoroso ou não. Acho que “Affair” é uma montanha russa de sensações e sentimentos em cinco faixas. As músicas foram inspiradas em algum boy específico? Na verdade, gosto de dizer que, assim como as pessoas que ouvem Gloria Groove, eu gosto de sofrer por uma pessoa que nem existe, sabe? (risos) Eu também curto muito isso! Não pode se dizer que o “Affair” é autobiográfico. Meu casamento com meu marido está super bem, super tranquilo. Não é turbulento como o que relato neste EP. Mas uma coisa importante de se destacar – e que é literalmente o pano de fundo desse EP – é que um affair que existe sim e que tem idas e vindas o tempo todo é o que existe dentro de mim mesmo. Entre pessoa e persona. Entre Daniel e Gloria. Acho que por isso que eu fiz essas duas imagens dividirem tanto espaço e o tempo na frente da câmera: para que isso se destacasse mais do que nunca. O maior affair e a maior tensão na minha vida é esse. É o relacionamento que me esforço para manter saudável e para que os dois lados se complementem e não fique faltando nada. Eu percebo que é uma tensão enorme. É o pano de fundo para o conceito visual para o “Affair”: brigas na minha
própria cabeça. Você se sente tão à vontade na frente das câmeras como Daniel tanto quanto como Gloria? Definitivamente, acho que isso é uma construção. Tem dias e dias. Com a Gloria, me sinto confiante e potente 100% do tempo. Isso eu consegui reparar: que a drag me deu essa confiança. Enquanto estou montada, me sinto imbatível. Mas, conforme a drag foi me mostrando tudo que eu era capaz, não só como artista, mas como pessoa também, eu também fui começando a sentir esse impacto como Daniel. Comecei a me sentir mais à vontade com minha própria imagem. Não vou mentir: acho que a Gloria é um canal muito importante para eu conseguir expressar diversas coisas que não consigo só sendo o Daniel. Eu a associo a diversos tipos de superação. Mas eu acho tão importante trazer as duas imagens – primeiro para conseguir falar mais expressamente o que é ser uma drag queen, a vivência drag, e também para expressar esse confronto. Existe o criador ali por trás. Existe uma pessoa ali no banco do motorista, fazendo com que tudo isso aconteça. Sem o meu corpo, a Gloria Groove não acontece. Preciso do corpo do Daniel para que esse fenômeno Gloria Groove aconteça. É horrível perguntar sobre mais coisa, quando a pessoa acabou de lançar algo, porque parece que nunca estamos satisfeitos, mas… Você já planeja novos projetos? (risos) Eu tô sempre pensando em mais música, mas sinceramente ainda não sei para onde vou me jogar depois daqui. Acabei de entregar o “Affair” e agora vou aproveitar que o ano está acabando e meu aniversário está chegando para me desligar um pouco de novo. Aí vou descobrir o que quero fazer. O “Affair” teve tudo a ver com o fato da gente estar isolado, reservado, nessa atmosfera muito íntima, por conta de tudo que aconteceu com a pandemia. Ter feito o “Affair” agora foi um jeito de olhar para dentro, sabe? Foi minha solução para sentir paz. Comecei a pensar no que eu queria e no que eu mais gosto. Foi um jeito de me curar. Agora quero parar um pouco para ver o que mais quero fazer. Mas eu não vejo a hora de poder divulgar tudo isso em show.
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TECNOLOGIA
Tecnologia, LGBTQI+ e a Responsabilidade Corporativa A história nos traz, por meio dos antigos egípcios, o reconhecimento de uma sociedade que era conhecida por diversas relações homossexuais, onde as relações humanas e amorosas não eram vistas em termos binários. E o continente africano, hoje considerado um dos mais perigosos para homossexuais viverem, antes dessa pseudo-moral impositiva, já nos trazia, no final do século XIX, um exemplo de sociedade que vivia sem nenhum estigma sobre a homossexualidade. Até hoje, muitas tribos reconhecem em suas culturas indígenas a normalidade de uma sexualidade plural. A psiquiatria ajudou a derrubar, ainda nos anos 80, o termo “preferência sexual”, já que há um reconhecimento legítimo de que não se trata de uma opção, mas, sim, de uma “orientação sexual”, o que endossa o argumento de uma natureza enraizada.
Junto à psicologia, desmentiu qualquer argumento de que a homossexualidade estaria ligada a influências sociais. E a mãe biologia não nos deixa órfãos de informação, mostrando a normalidade de tais relações até mesmo no reino animal. Destaque para o pesquisador Bruce Bagemihl, pioneiro na observação de comportamentos homossexuais em mais de 500 espécies. Mas, infelizmente, o colonialismo, que nos apresentou a escravidão, também nos trouxe a homofobia. Segundo a organização Stonewall (2018), um a cada cinco trabalhadores LGBTQI+ relata vivenciar, cotidianamente, algum tipo de constrangimento pela orientação sexual ou identidade de gênero. Esse número é ainda maior em seleções de emprego, quando, muitas vezes, os candidatos são descartados por conta da orientação sexual ou do gênero com o qual se identificam. Em países como o Brasil, onde ainda se discute a necessidade de proteção legal contra a discriminação à identidade de gênero, esses números podem ser ainda mais alarmantes. Segundo a CNN (2019), apenas nos EUA — onde essas questões são mais discutidas e direitos fundamentais são garantidos por lei — , 9% das pessoas LGBT estão desempregadas, em comparação com 5% das pessoas não LGBT, considerando o mesmo grau de escolaridade e competências profissionais.
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Preconceito não é uma questão de opinião, é uma escolha pela ignorância. E qual a importância da participação corporativa? As empresas possuem uma responsabilidade que atinge a sociedade como um todo, mas principalmente os seus funcionários. Proporcionar um local de trabalho onde todos se sintam confortáveis para não serem julgados, apontados ou vítimas de discriminação é um dever ético. A imersão de pessoas das mais diferentes etnias, crenças, ideologias, orientações sexuais e gêneros passa pela adoção de políticas de apoio a comunidades socialmente marginalizadas. Também estamos tocando em questões financeiras, já que políticas inclusivas ajudam a construir uma imagem positiva da empresa e também atraem clientes — as gigantes Google e Facebook cobram que seus fornecedores e parceiros tenham políticas de promoção da diversidade. Se manter no armário é um processo desanimador e que, acredite, traz diversos prejuízos paras as organizações, pois tira do colaborador a tranquilidade, já que gera um desgaste e estresse em manter uma vida dupla. Isso desencoraja jovens homossexuais a buscarem tal área por acharem que não serão aceitos pelos colegas de trabalho devido à sua orientação sexual. Pesquisas já mostram que a produtividade de uma equipe é também influenciada pela atmosfera de tolerância.
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Campanhas institucionais que ajudam o discurso afirmativo e dão suporte à comunidade LGBT asseguram que nenhuma pessoa seja arbitrariamente dispensada de um processo de contratação e ascensão profissional, desenvolvendo, assim, equipes com várias origens, experiências e habilidades. Elas ajudam executivos abertamente gays a falarem com tranquilidade sobre suas orientações sexuais, o que, consequentemente, encoraja mais empregados a fazerem o mesmo. Em épocas de escassez de talentos, é essa cultura empresarial que faz com que um candidato escolha trabalhar para nós e não para um concorrente. E além do papel como empresa, temos o nosso papel como cidadãos de não corroborar as posturas que firam a dignidade humana, por mais que tais atitudes se mostrem naturalmente aceitas.
TECNOLOGIA
Precursores E o que todo esse contexto histórico tem a ver com tecnologia? Bom, antes de elucidar a importância de trabalhar o assunto dentro das empresas de tecnologia, é preciso entender o quanto essas pessoas já contribuíram para a área.
Sofia Kovalevskaya Além de ser a primeira lésbica assumida a trabalhar com tecnologia, Sofia Kovalevskaya traz a representatividade feminina na área de exatas, pois suas contribuições para a teoria das equações diferenciais parciais são referência até hoje em disciplinas de cálculos nos cursos de engenharia da computação.
Alan Turing É impossível falar em contribuições para a computação e não citar Alan Turing, o “pai da ciência da computação”, que por meio da criação de um dispositivo teórico denominado a Máquina de Turing, conseguiu abrir caminho para a criação do que hoje chamamos de computadores modernos. O mesmo esteve envolvido na concepção de vários outros periféricos e maquinários físicos na tentativa de quebrar códigos secretos que eram transmitidos durante a Segunda Guerra Mundial. Turing também criou o que é considerado o primeiro computador com um programa armazenado — ACE (Automatic Computing Engine). Não bastasse a vanguarda, ainda era matemático e tinha grandes interesses pela química. Infelizmente, todo o seu talento não foi suficiente para o salvar da homofobia existente na época. Ao ser, forçadamente, retirado do armário por generais do exército, Turing foi processado, pois atos homossexuais eram ilegais no Reino Unido.
Lynn Conway E a questão da transexualidade não é algo polêmico apenas nos tempos atuais. Lynn Conway, cientista da computação e ativista transexual, foi demitida por revelar que estava planejando se submeter à transição de gênero. A ela são creditadas diversas descobertas sobre o VLSI (Very-large-scale integration) — o microprocessador é um dispositivo VLSI, por exemplo.
Tim Cook Talvez, o mais influente LGBT da computação dos tempos atuais, Tim Cook desponta na lista não só por atuar numa das maiores empresas de tecnologia do mundo, mas também por ser um militante defensor dos direitos dos homossexuais. Após ter passado por empresas como Compaq e IBM, em 2004, foi promovido a CEO da Apple. A ele é atribuída a responsabilidade pela reestruturação e estabilização da empresa após períodos difíceis. Seu modelo de gestão é estudado em grandes organizações e em cursos de MBA. Depois de Jobs, Tim é a figura de maior representatividade na Apple. Durante sua gestão, a empresa passou a ter um valor de mercado de 1 trilhão de dólares, por meio de lançamentos de produtos de sucesso, como Apple Watch, MacBook Air, os novos iPhones, e da assistente virtual Siri. É considerado o primeiro CEO abertamente gay.
“Eu tenho orgulho de ser gay e eu considero que ser gay é um dos maiores dons que Deus me deu.” — Tim Cook (Bloomberg Businessweek, 2014).
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Por que o pop está exaltando as ‘origens’ na pandemia?
Pandemia tem feito artistas mergulharem na memória afetiva e reproduzirem ritmos, sentimentos e músicas que marcaram infância e adolescência. O olhar de artistas pop ficou mais voltado para o passado e para as origens durante a pandemia. Basta reparar nos últimos lançamentos de Pabllo Vittar, Anitta, Iza e Glória Groove. Nas músicas, as cantoras exaltam, em letras e ritmos, memórias dos lugares onde cresceram, como Santa Izabel do Pará, a zona norte do Rio ou a zona leste de São Paulo. Música pop se volta para memória afetiva durante pandemia; Iza, Anitta, Pabllo Vittar e Glória Groove dedicaram lançamentos recentes aos lugares de onde cresceram. Essa celebra-
ção às origens, no sentido geográfico mesmo, durante a pandemia pode ser explicada por alguns fatores: A pandemia fez as pessoas olharem para o passado, para tempos felizes anteriores à incerteza e o medo provocados pelo vírus; Sem shows e turnês, grandes momentos de exposição internacional foram adiados, como no caso de Pabllo Vittar; Levantar a bandeira do lugar de onde veio pode ser um desejo genuíno, mas também é uma excelente estratégia de marketing; Nos últimos meses, o foco tem sido o streaming e músicas que despertam a nostalgia tem funcionado bem, como foi o caso do pagode que teve grande audiência em lives.
‘Batidão Tropical’, de Pabllo Vittar Pabllo Vittar lança ‘Batidão Tropical’, álbum dedicado ao forró e tecnobrega A ideia de fazer releituras de tecnobrega e forró já pairava na cabeça de Pabllo Vittar, mas foi a pandemia que deu o empurrão decisivo para o conceito do quarto álbum da cantora. A carreira internacional era o foco do ano passado, com shows importantes em festivais como Coachella e Primavera Sound. Quando toda a agenda caiu, Pabllo começou a pensar o que poderia fazer no tempo ocioso.
“Queria de alguma forma exaltar realmente a minha origem, a minha cultura, o Maranhão, o Pará”, afirma a cantora de São Luís.
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“É como se eu pegasse o Norte e Nordeste, colocasse em um pedestal e mostrasse para o Brasil e o mundo verem o tanto que é rico e plural”.
Ouça entrevista e faixa a faixa sobre o álbum abaixo: Os produtores do álbum também comentam sobre a memória afetiva em alta na pandemia. “Ficar preso faz você olhar para dentro. A gente está em um momento que trazer o bom do Brasil é lembrar às pessoas que o país tem coisas boas”, afirma Zebu. “A gente está em casa o tempo inteiro, sem poder fazer as coisas que a gente fazia”, diz Gorky. “Acaba que coisas que a gente nunca deu valor são recuperadas”
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CULTURA POP
‘Girl From Rio’, de Anitta “Deixa eu te contar sobre um Rio diferente, aquele de onde eu venho, mas não aquele que você conhece”, canta Anitta, em inglês, na faixa com sample de “Garota de Ipanema”. A música junta bossa nova com trap, subgênero do rap em alta no mundo, em uma aposta voltada para o mercado internacional. Ela não fala exatamente sobre Honório Gurgel, mas exalta o Rio “real”, segundo as suas experiências pessoais. “’Girl from Rio’ é uma música sobre a cidade do Rio de Janeiro, vista sob a minha perspectiva. É sobre o Rio que eu vi e no qual morei”, afirmou a cantora ao lançar o single em abril. ‘Girl From Rio’ cai nas paradas e fãs de Anitta cobram gravadora por ausência em playlists Além de fazer uma releitura do visual da época em que o gênero de Tom Jobim e Vinicius de Moraes estava em alta, o clipe também mostra um dia no Piscinão de Ramos, com cenas e corpos reais. “Falo sobre um pouco de tudo, sobre minha família, sobre o lugar de onde eu vim, onde eu cresci, as pessoas que vi e vejo todos os dias. Exponho o meu ponto de vista das mulheres em geral e da beleza que eu enxergo nelas”. Apesar do esforço de marketing e grande investimento, a música não ficou nas paradas das plataformas de streaming por muito tempo.
‘Gueto’ de Iza As memórias de infância de Iza em Olaria, zona norte do Rio, motivaram “Gueto”, primeira faixa do segundo álbum da cantora, que saiu em junho desse ano. A vontade de falar sobre o lugar que a formou como pessoa vem como uma forma de agradecimento. “Partiu de um orgulho muito grande que comecei a sentir vendo todas as coisas que estava conquistando. Não tinha como celebrar as coisas que estavam acontecendo e o lugar para onde eu estava indo, sem lembrar do lugar de onde eu vim”, explica Iza. Iza fala sobre música ‘Gueto’ e novo disco. O objetivo também é inspirar quem ainda pode ter um caminho tão bem sucedido quanto o dela. “Quero que as pessoas se sintam orgulhosas de serem quem são. É possível, sim, abrir as portas para o gueto, é possível ser feliz e bem-sucedido, inspirar
outras pessoas fazendo aquilo que a gente ama e mostrar para as pessoas que não existe limite”. O tom pessoal e geograficamente relacionado ao Rio deve estar presente apenas nesse single, segundo a cantora. O segundo álbum sai ainda neste ano com uma mistura de reggae, trap, R&B, dancehall, hiphop. Ouça entrevista no podcast abaixo.
‘Lady Leste’ de Gloria Groove Depois do EP de R&B, “Affair”, a nova era de Glória Groove vai ser voltada para a zona leste de São Paulo, região onde a cantora cresceu e vive até hoje. Tanto que Lady Leste não só é o nome do segundo álbum, como também do alter ego que vai conduzir o trabalho. “Ele é inspirado na minha relação de amor com o lugar onde nasci, que é a zona leste de São Paulo, a Vila Formosa. É também uma homenagem a todas as ‘ladies lestes’ que conheço”, afirma Glória. “Acredito muito nisso, porque ao mesmo tempo que tem um ‘que’ de fenômeno internacional, Lady Leste, é uma coisa que traz pra si, traz pra casa, traz para as origens, traz para as raízes que é o que pretendo mostrar ainda mais nesse trabalho”. Lançado em junho, o single “Bonekinha” marca a volta de Glória para o pop, mas ela não quer fazer uma coisa só: “O legal de fazer um álbum pop é não precisar se limitar na mistura de estilos”. Gloria Groove comenta volta ao pop com novo álbum. Assim como para Pabllo Vittar, ocupar a cabeça fazendo música foi importante para Glória nesses meses de isolamento.
“Na pandemia, a gente está com nossos pensamentos e projetando tudo o que a gente ainda quer fazer um dia, sabe? Muito de Lady Leste está saindo disso, do que estou projetando como o sonho da diversão que ainda teremos juntos”, diz. “Então tem tudo a ver querer que a Lady Leste exista agora, para resgatar, para me resgatar disso e para me levar para cima. A música tem me salvado o tempo todo e eu não parei de produzir em nenhum momento”.
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CULTURA POP
Mas ninguém está inventando a roda... .... porque falar sobre o lugar de origem não vem de hoje no funk, nem na música brasileira como um todo. “Pode até ser que a pandemia reforce ainda mais essa ideia, mas, antes de tudo, essas cantoras estão negociando o tempo todo com essa ideia de território e de gênero”, diz Simone Pereira Sá, professora de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense. “Elas nunca abandonaram esse lugar da casa, do território. Olhando para a obra, dá pra ver Pabllo Vittar, Anitta, Iza, Gloria Groove... Por que o pop está exaltando as ‘origens’ na pandemia? Pandemia tem feito artistas mergulharem na memória afetiva e reproduzirem ritmos, sentimentos e músicas que marcaram infância e adolescência. Nas músicas, as cantoras exaltam, em letras e ritmos, memórias dos lugares onde cresceram, como Santa Izabel do Pará, a zona norte do Rio ou a zona leste de São Paulo. Essa celebração às origens, no sentido geográfico mesmo, durante a pandemia pode ser explicada por alguns fatores:
“Ficar preso faz você olhar para dentro. A gente está em um momento que trazer o bom do Brasil é lembrar às pessoas que o país tem coisas boas”, afirma Zebu. 20
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COR
Bandeira do Orgulho A história sobre o grande símbolo do movimento LGBT
A bandeira do arco-íris é um símbolo do LGBTQ+ e dos movimentos sociais LGBTQ+ em uso desde a década de 1970. Foi desenhada a pedido do primeiro político assumidamente gay da Califórnia, Harvey Milk, que desejava um símbolo que representasse a comunidade gay. A Bandeira Arco-Íris, também conhecida como Bandeira do Orgulho Gay, é um símbolo da Comunidade Gay e do Movimento LGBT. Criada em 1979 pelo ativista gay Gilbert Baker, a pedido do político homossexual Harvey Milk para representar a Comunidade Gay, acabou por se tornar um dos principais símbolos do movimento LGBT. Apesar de ter sido originalmente concebida com oito cores (Conhecidas popularmente como Retro 8), com cada cor representando um significado específico. A versão que acabou por se tornar mais conhecida tem seis barras horizontais, cada uma com uma cor diferente, de cima para baixo: Vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta.
Historia Durante a Segunda Guerra Mundial, os homossexuais nos campos de concentração nazistas eram identificados por um triângulo rosa, “O início dos anos 1970 também foi quando o movimento pelos direitos gays começou a surgir na Alemanha. Em 1972, “The Men with the Pink Triangle”, a primeira autobiografia de um sobrevivente de campo de concentração gay, foi publicada. No ano seguinte, a primeira organização gay alemã do pós-guerra, a “Homosexuelle Aktion Westberlin” (HAW), reivindicou o triângulo rosa como um símbolo de libertação.” Havia uma perseguição sistemática contra homens homossexuais, visto que eram os únicos que eram mencionados no parágrafo 175 da Alemanha Nazista. Desta forma, o triângulo rosa se torna um símbolo de resistência gay. Já na década de 1970, em São Francisco, Califórnia, o movimento pelos direitos dos homossexuais florescia, e os militantes queriam um símbolo que fosse mais entusiasta, visto que muitos homossexuais se sentiam desconfortáveis com um símbolo de um momento histórico tão cruel e não aderiram à sua ressignificação. Dessa forma, o artista Gilbert Baker foi desafiado por Harvey Milk (o primeiro político gay eleito nos Estados Unidos da América) em providenciar um símbolo para a comunidade gay, sendo aplicado pela primeira vez em
larga escala no Dia de Liberdade Gay de São Francisco, na Califórnia, em 1978, data esta que é considerada precursora da parada de orgulho LGBT moderna. Fontes sugerem que Baker teve fortes inspirações na canção “Over the Rainbow”, além de se basear no movimento hippie, em que o arco-íris era um símbolo de paz e harmonia. Gilbert Baker contou com o apoio de trinta voluntários que tingiram a mãos e costuraram as duas primeiras bandeiras para o desfile. Após a conclusão, as duas bandeiras foram hasteadas para secar no último andar de uma galeria de um centro da comunidade gay em São Francisco. Porém, a bandeira só foi oficialmente apresentada ao público pela primeira vez na Parada do Orgulho LGBT de São Francisco, com oito cores, cada uma com um significado específico. Entretanto, por motivos comerciais, visando WWWdiminuir o preço, as cores rosa e azul-claro foram removidas. Outras fontes sugerem que as cores foram eliminadas devido a
dificuldade em se encontrar tecido nas cores rosa e turquesa. Dessa maneira, atualmente a bandeira possui apenas seis cores. Trinta voluntários tingiram às mãos e costuraram as duas primeiras bandeiras para o desfile. Ao comentar sobre sua criação, Baker disse que queria transmitir as idéias de diversidade e inclusão, a partir do arco-íris, um elemento da natureza usado para representar que a sexualidade é um direito humano. Dessa forma, a bandeira arco-íris se tornou um poderoso símbolo, com o objetivo de trazer a visibilidade a um grupo de pessoas, afinal de contas a essência das bandeiras são sobre proclamar poder. Em 2015, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) adquiriu a bandeira para o seu acervo, referindo-se a ela como um poderoso marco do design moderno. Por isso, a bandeira é atualmente utilizada na moda, na arquitetura, nas artes plásticas e até mesmo no grafite, como é o caso dos murais da artista brasileira Rafa Monteiro.
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