ESTILIZAREI N° 01
OUTUBRO
ARQUIVO #5 O BLACK É A COROA O PENTE LIBERTAÇÃO
MODA MINEIRA
CONQUISTANDO O BRASIL.
ESTILIZAREI 2021 4
NOTEQUAL Conheça a grife do meniro Fabio Costa
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MELISSA SUN II Estudio Bingo onde tudo se transfor-
ma em fantasia.
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ARQUIVO #5 O mineiro que de linhagem que está
conquistando as passarelas.
10 ESSENCE IN COLLOR A coleção que movimenta as cores.
12 RAÍZES Se aceitando e transfomando tudo em arte atrvés de fotografias marcantes.
17 QUEM MATOU ZUZU? Ronaldo Fraga conversa com Entidades e coloca Zuza em Passarela de SPW.
Os looks chave dessa temporada
18 INDÚSTRIA 4.0
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Inovação e Moda andando lado a lado com a Impressão 3D e a pioneira Iris Van Harpen.
21 ARSENICO Verde Scheele o mostro da moda Vitoriana e suas vitimas.
ESTILIZAREI MODA
Gabriel Candeias
REDAÇÃO Gabriel Candeias
ARTE
Gabriel Candeias
DIREÇÃO GERAL Gabriel Candeias
NOSSA CAPA: Thais Ariel; Styliting: Gabriel Candeias; Maquiador: Pablo Henrique; Fotografia: Ramon Costa.
COLABORADORES David Magalhães Eva Candeias Evelyn Ribeiro Gabryella Candeias Gustavo Gomes
GABRIEL CANDEIAS
ESTILIZAREI.
NOTEQUAL CONHEÇA A GRIFE DO MINEIRO FABIO COSTA duzindo medidas até chegar às falanges da mão e estruturar um sistema próprio, que hoje é a base de sua alfaiataria sem gênero. O pulo do gato é o gancho intermediário, que faz a mesma calça transitar entre os closets masculino e feminino. Aliada a dobraduras e pesquisa de tecidos, a técnica dá a cara da NotEqual, sua marca própria, que foi destaque na última Casa de Criadores. De volta a Belo Horizonte depois de 12 anos em Nova York, ele trouxe na bagagem participações em três edições do Project Runway, o mais famoso reality show de moda norte-americano.“Estava estagiando na Helmut Lang quando fui aceito pela primeira vez. Fiquei em segundo lugar e isso abriu portas”, recorda. Com a popularidade, conseguiu levantar, por meio de crowdfunding, o dinheiro para montar o primeiro ateliê, e desfilar nas semanas de Los Angeles, Nova York e Vancouver. Segundo Costa, o convite do American Folk Art Museum para criar um look para a exposição “Folk Couture: Fashion and Folk Art” foi um divisor de águas.
“Misturei referências ao candomblé e cristianismo, dei palestras sobre o processo criativo, e a mídia começou a separar meu nome do programa”
vestir a atriz Ruby Rose e vários outros atores de Orange Is the New Black) e também para a evolução da modelagem sem gênero. Aos poucos, entendeu que suas pesquisas estavam próximas da proporção áurea, forma de medição matemática que cria um senso de beleza por intermédio da harmonia e que tem sido usado há milhares de anos, das Pirâmides de Gizé a logotipos famosos.
“Foi intuitivo. Cheguei a usar envelopes de carta como recurso e fazia moulage no meu corpo.” Apesar de ter Green Card, o estilista conta que, após a posse de Trump e as denúncias de assédio contra o produtor Harvey Weinstein, começou a repensar sua permanência em Nova York. “Vim observar o mercado brasileiro, conheci o Pedro Lázaro, que estava à frente do Minas Trend (atualmente, o estilista Ronaldo Fraga é quem assina a direção criativa), e ele me convidou para desfilar. Me empolguei e acabei ficando”, explica, acrescentando que está aproveitando para ficar próximo da avó. “Ela era costureira. Foi quem me criou e me inspirou.” No final do ano passado, Costa participou, pela segunda vez, da semana de moda mineira e estreou na Casa de Criadores com uma coleção mais conceitual, inspirada nos uniformes da infantaria otomana do século 14. Além de reforçar o exercício de modelagem com shapes oversized e amarrações, a coleção propôs pensar a roupa como proteção em meio às turbulências sociais.
O mineiro participou de mais duas edições do reality, em 2014 e 2016. Não levou o primeiro lugar, mas conta que as experiências foram ótimas para o amadurecimento de sua performance
“Há uma reflexão sobre o que é verdadeiro.”
A campanha, que está saindo agora do forno, ressalta a vocação sem gênero e brinca com a tecnologia ao propor uma modelo real interagindo com outra, arti-
E veio na mesma época o convite da Alphorria para reinterpretar 13 looks para o inverno 2019 inspirados nos 30 anos da marca criada por Edna Thibau – agora sob o comando da filha, Fernanda –, reaproveitando sobras de tecidos de coleções antigas. No resultado, apresentado mês passado, sua peça preferida é o macacão com dobraduras que ajustam a peça ao corpo, feito inicialmente para uma das provas do Project Runway.
“Minha roupa não é sensual, mas achei interessante trazer essa atmosfera. Foi assim que cheguei à inspiração da (dançarina) Mata Hari, e em shapes que remetem aos anos 1920, 1940 e 1950, mas eliminei as costuras laterais.” Enquanto já se debruça no verão 2020 da Alphorria, Costa inaugura, este mês, o e-commerce da NotEqual, com peças para o dia a dia, e prepara-se para o segundo desfile na Casa de Criadores. Como bom filho pródigo, não somente retornou a Minas como está conquistando o mercado de moda brasileiro.
ficial, criada a partir dos traços faciais.
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BRIEFING
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partir dele, o estilista Fabio Costa foi re-
criativa, imagem da marca (ele chegou a
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Sabe aquele método bem simples de esticar o braço para medir o tecido? A
MELISSA SUN II Estudio Bingo Chegando para esquentar o paraíso, fotografamos a campanha dos modelos da linha #MelissaSun que agora tem novas cores, opções veganas e recicláveis. As cores do cenário e os (poucos) elementos que escolhemos para esse trabalho estão em harmonia com os shootings que já fizemos pra Melissa, o que nos ajudou a criar uma unidade apesar de cada um ser único. Mantemos também o degradê como elemento principal. Neste trabalho, escolhemos uma beleza com um toque glossy e com ar de “queimadinha” de sol, já o styling tem muitas peças acetinadas (que dão um brilho), poucas sobreposições e estampas leves.
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ARQUIVO #5 MINEIROS CONQUISTANDO PASSARELAS DO BRASIL. A Cacete Company vende roupas casuais e de underwear fora do comum. Oferecemos peças de design autêntico e contemporâneo com produção 100% brasileira e rigoroso controle de qualidade. Uma opção para quem corre das lojas de departamento. Tudo é pensado para você que vê a moda como afirmação. Somos uma marca de espírito livre e jovem, uma solução para um lifestyle leve e descomplicado. A marca mineira Ca.Ce.Te Company diverte e até subverte a moda Eles já têm clientes como a drag Pabllo Vittar, a funkeira Ludmilla, o ator Chay Suede e o apresentador Caio Braz.
Subvertendo comportamentos e re-
Os pingentes de cigarro, desenvolvidos
gras, o #Arquivo05 da CACETE COM-
junto ao coletivo Cultivado em Casa,
PANY confronta os padrões atuais e
abrem para discussão sobre os resíduos
traduz o forte apelo provocativo, marca
da cidade e suas possibilidades estéticas.
registrada da grife. Para isso, aumenta
As sandálias ganham uma releitura,
seu mix de roupas íntimas utilizando
transformadas agora em botas com salto
agora tecidos transparentes, como o tule,
plataforma e muito vinil.
que ganha formas experimentais.w
Já a logomania continua, mas dessa
As modelagens inusitadas também
vez aparece de forma sobrecarregada,
se estendem às peças de rua, como as
uma maneira de afirmar identidade, opi-
calças utilitárias 3 em 1, que se transfor-
niões e tesão.
mam em bermudas e shorts. No quesito
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multifuncional ainda aparecem as bolsas
A primeira coleção da Ca. Ce. Te
feitas em parceria com O Jambu Bags:
Company, marca mineira comandada
uma pochete que uma hora é carteira,
pela dupla Raphael Ribeiro, 32, e Tiago
outra hora tiracolo.
Carvalho, 31, lançada em abril de 2015,
As matérias-primas são uma provo-
chegou pequenininha, com duas cuecas,
cação à parte. O jacquard da Innovativ
uma t-shirt, duas regatas e uma camisa.
Tecidos, e o náilon da DM Refletivos,
Tudo preto e branco “para não ter erro”.
imprimem a ousadia e a inovação que o
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arquivo pede, somando ao jeans estonado, malhas e veludo.
DESING
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CA.CE.TE COMPANY
ESSENCE IN COLLOR
Essence in collor é uma coleção que traz o monocromático e color blocking através dos seres humanos, focando no estilo belorizontino colocando referências de tendências de 2022. Associando a essência das cores com cada pessoa, fizemos o editorial criando uma historia com cores complementares, criando dualidade e a transição de cada cor para que cada pessoa, deixando um pouco de si em cada ser durante sua passagem em sua vida sem perder a sua essência natural.
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Cada peça criada conta um pedaço sobre cada o que cada cor quer passar. Por isso ESSENCE IN COLLOR tem a ideia de que somos seres universais, na busca de descobrir e nos conectar a uma transformação sem limites para criatividade e expressão.
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PORTIFOLIO
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RAÍZES... LIBERTAÇÃO E ACEITAÇÃO DOS TRAÇOS, SEGUINDO ORGULHOSO DE QUEM SE TORNOU O trabalho acadêmico de Gabriel Candeias viabiliza a força e aceitação dos traços negroides da sua cultura. Em um Memorial Artístico, articulado por toda Produção de Moda e Edição das fotografias por ele mesmo, Gabriel sensibiliza seu texto através de fotografias e utensílios da cultura Afro, tornando todos em um SÓ. O Memorial será publicado no E-book da UFMG em 2022, mas Gabriel liberou o material antecipado para a publicação na Estilizarei - Vemos ao lado seu trabalho:
O BLACK É A COROA E O PENTE LIBERTAÇÃO Sou da geração dos iluminados, dos incompreendidos e que nasceram para liberdade, mas que demoram para aceitar as próprias raízes. E hoje digo a mim mesmo, fui e sou resistência, pois a dor que carreguei ontem já nem vejo mais, o que eu vivi eu sei e hoje em dia grito a minha libertação. Desde pequeno fui repreendido, criticado e humilhado, grande parte da minha vida me escondi através de uma blusa de frio, onde se tampava por um capuz meus cabelos crespos e meus traços grossos não eram tão visíveis. Os traços dos meus ancestrais eram vistos como chacota e algo feio, e logo eu que carrego esses traços aceitei e me escondi, assim desprezei todas minhas raízes e tentei ao máximo me embranquecer. Com o passar do tempo fui crescendo e aprendendo mais sobre de quem sou e de onde vim, muitos passaram e se foram, porém o aprendizado ficou, outros chegaram e permaneceram, e os que estão por perto abriram meus olhos e disseram – Se liberte. E foi assim que aos poucos a liberdade começou a cantar nos meus ouvidos, à aceitação dos meus traços grossos chegaram, não fazia mais questão de escondê-los, mas fiz questão de ainda passar chapinha quente no meu cabelo. Aos 19 anos meu amigo trancista me disse, “– Seu cabelo é lindo alisado, mas seu cabelo natural é maravilhoso.” E foi assim que comecei minha transição capilar, fui no salão do amigo e coloquei tranças até a cintura, e foi nesse mesmo lugar que me olhei para o espelho e consegui começar a me vê e me reconhecer mais profundamente. Em uma certa noite surtei, tirei todas as tranças e naquela madrugada foram várias lágrimas caindo dos meus olhos, lembranças de todas humilhações, rejeições e apelidos maldosos que me foram direcionados a mim passaram na minha cabeça naquele momento. Logo pela manhã precisei ir trabalhar, e eu nunca tinha mostrado a textura do meu cabelo para mundo e nem para mim mesmo, ergui minha cabeça e fui! Nunca me senti tão empoderado como naquele dia, logo pensei, escondi essa belezura durante 19 anos por conta de uma sociedade racista. A liberdade veio por inteiro, meus ancestrais me aplaudiam, pois me viram resistir e bater de frente. Eu vivi, eu caí, eu me aceitei, no entanto, me transformei. Ganhei meu primeiro pente garfo, pois é, minha auto estima pra cima, meus cabelos pra
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Só irei falar uma vez: A conquista está ganha! Nos cantamos em união, em uma luta e um coração. Ubuntu, é lei para se libertar. Orgulhoso dos meus traços, pois foi assim que descobri que somos rainhas e reis. - CANDEIAS GABRIEL
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cima. Foi tudo questão de tempo e aprendizado, hoje em dia tenho orgulho dos meus traços, faço questão de deixar meu crespo o mais armado possível, não quero mais disfarçar minhas raízes, não quero mais desprezá-las, pois hoje percebo que carrego um poder e uma coroa que representa toda minha luta que não foi fácil e o eco do meu rugido vai ser ouvido por muitos.
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QUEM MATOU ZUZU ANGEL? ZUZU ANGEL DESFILA PEÇAS DE RONALDO FRAGA EM ANIMAÇÃO 3D Assim como recebeu diversas personalidades mortas para tomar um café ao longo da pandemia no quadro “Café com o Ex-tilista”, para encerrar o São Paulo Fashion Week, Ronaldo Fraga recebeu Zuzu Angel para um jantar. E sobrou para ele a árdua missão de comunicar à estilista que nosso País não melhorou desde seu assassinato – muito pelo contrário!
Em um emocionante vídeo em que o estilista comparou a realidade atual do Brasil com a época da ditadura militar, quando Zuzu enfrentou autoridades po-
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líticas na procura por seu filho, Stewart Angel, e quando foi assassinada pelo mesmo regime. A apresentação também é uma celebração aos 20 anos da coleção “Quem Matou Zuzu Angel?”, a primeira em que Ronaldo levanta questionamentos
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sobre as circunstâncias que levaram ao assassinato da estilista. Agora, em 2020,
TECNOLOGIA
Ronaldo se inspira na estampa de anjos de asas quebradas de Zuzu, mas os dá novas cores, formas e histórias. Usando a realidade virtual, uma versão 3D de Zuzu Angel, feita pelo Studio Asteri, desfila as peças criadas por Ronaldo, que transparecem a valorização de ambos pelo trabalho nacional. “Zuzu
Que bela maneira de encerrar a co-
Vive!” saí do desfile e entra para a histó-
memoração de 25 da São Paulo Fashion
ria da moda brasileira, uma verdadeira
Week!
aula da importância desta arte em toda e qualquer realidade sociopolítica.
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QUEM É ZUZU ANGEL? Zuleika de Souza Netto, mais conhecida como Zuzu Angel, foi uma estilista brasileira que trabalhava primordialmente com a mistura de tecidos, como renda, seda, fitas e chita, além de matérias-primas nacionais, como bambu e madeira. A mineira, da cidade de Curvelo, é reconhecida como a pioneira a levar o nome do Brasil ao exterior com a moda. Abrasileirou o termo fashion designer. Seu trabalho se destacou nos anos 70, quando abriu uma loja na Zona Sul do Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1939 —
Na vida pessoal, a estilista foi casada com o americano Norman Angel Jones, com quem teve três filhos: Ana Cristina, Hildegard e Stuart, sendo esse último o mais velho e quem a motivou a se tornar um “símbolo de resistência”, como cita Ronaldo Fraga.
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amigos, apenas os “mais próximos”.
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antes disso, produzia roupas para família e
INDÚSTRIA 4.0 Conheça tendências de impressão 3D aplicadas à moda Já faz algum tempo que a impressão
Como a impressão 3D contribui para a
3D vem sendo apontada como uma das
personalização em massa
principais tecnologias da chamada In-
Outro benefício bastante importante
dústria 4.0. Imprimir objetos tridimen-
da impressão digital é a possibilidade
sionais por meio de arquivos criados no
de oferecer em larga escala peças feitas
computador é hoje uma tendência cada
sob medida, customizáveis e fabricadas
vez mais forte e vem sendo acompanha-
conforme a demanda. Hoje, na compra
da de perto por empresas de diversas
de um calçado, o cliente já consegue per-
áreas, inclusive as da moda.
sonalizar o modelo conforme seus gostos
São vários os exemplos de grandes
e necessidades a partir de uma simples
marcas, designers e estilistas que têm
foto do seu próprio pé.
aproveitado as oportunidades trazidas
Softwares especializados e ligados em
por essa inovação para produzir peças de
nuvem são capazes de analisar rapida-
vestuário inovadoras. Além de incentivar
mente as imagens e obter as dimensões
a criatividade, a impressão 3D facilita a
exatas de qualquer parte do corpo. Essa
customização em massa, um dos maiores
é a tecnologia por trás do Sunfeet, proje-
desafios enfrentados pelas confecções
to criado pelo Instituto de Biomecânica
atualmente. Com relação ao futuro desse
Vale do Silício, cuja sola é feita com base
de Valência, na Espanha. Por meio de
mercado, tudo indica que ele deve se de-
na tecnologia Digital Light Synthesis
um aplicativo, o consumidor tira fotos
senvolver ainda mais nos próximos anos,
(DLS). Nike, Under Armour e New Ba-
de seus pés e em seguida as imagens são
com máquinas mais compactas e de me-
lance são outros exemplos de grifes que
transformadas em uma versão 3D que
nor custo.
já estão utilizando essa inovação na pro-
servirá como base para a impressão de
totipagem. Por meio de uma impressão
palmilhas customizadas.
Veja iniciativas de marcas que estão utilizando a impressão 3D. No universo da moda, a estilista holandesa Iris van Herpen é considerada a
de alto desempenho, a prototipação do
No site da The Post-Couture Collec-
Sneaker da Nike é 16 vezes mais rápida
tive, comunidade criada com o intuito
do que o processo antigo.
de desenvolver roupas mais duráveis e
pioneira no uso da impressão 3D. Conhe-
Uma das principais vantagens da im-
sustentáveis, os consumidores também
cida por suas criações futuristas, ela fez
pressão 3D é, sem dúvida, a otimização
participam ativamente da criação das
seu primeiro vestido por meio da fabrica-
do uso da matéria-prima. Afinal, nesse
suas peças.
ção aditiva em 2009 e, desde então, vem
tipo de produção, só é injetado na máqui-
revolucionando esse mercado. Também
na o material necessário para a produção
holandesa, Anouk Wipprecht desenvolve
de uma peça específica.
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peças que vêm com sensores acoplados e
Além disso, como há maior raciona-
são capazes de medir os níveis de estres-
lidade no uso de insumos, esse tipo de
se e ansiedade. Suas criações já foram
impressão é um importante recursos
adquiridas por empresas como Swaro-
para empresas que buscam investir em
vski, Google e Microsoft.
sustentabilidade – não podemos esque-
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As grandes marcas também têm prio-
cer que uma das maiores preocupações
rizado a impressão digital. A Adidas tem
no setor da moda é exatamente reduzir a
o Futurecraft 4D, um tênis desenvolvido
quantidade de rejeitos gerados na fabri-
em parceria com a Carbon, startup do
cação das peças de roupa.
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O que o futuro reserva para o mercado de impressão digital? Conforme avança a popularização da impressão 3D e a evolução dessa tecnologia, espera-se por uma redução de preços das máquinas que propiciam esse tipo de fabricação. Isso facilitará o acesso para empresas de todos os tamanhos à tecnologia da impressão 3D. Além disso, os equipamentos devem ficar mais compactos, leves e fáceis de usar, ao mesmo tempo em que permitirão criar modelos ainda mais complexos e personalizados. Há uma forte tendência de que até 2025 essas impressoras consigam trabalhar com volumes muito maiores e que sejam capazes, inclusive, de produzir uma roupa inteira – e não apenas partes do vestuário dos consumidores. Assim, deve ser cada vez maior o número de empresas que, além da prototipagem, adotarão a impressão 3D na produção em massa. A virtualização e a descentralização do processo produtivo deve ser uma realidade cada vez mais presente na indústria da moda. Com o consumidor no centro da criação, as marcas terão a possibilidade de oferecer uma melhor experiência de compra, fidelização de seus clientes e, como consequência desse processo, garantirão o seu espaço nesse
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mercado.
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ARSÊNICO
UM MONSTRO VERDE NA MODA VITORIANAO VERDE ESMERALDA DE SCHEELE
Em 1775, o farmacêutico suíço Carl Wilhelm Scheele criou um pigmento verde de altíssima fixação, que até o fim do século 18 substituiria todos os outros. Sua formulação inovadora, porém, escondia um risco direto à saúde, pois o aspecto vibrante e a durabilidade do pigmento vinham da combinação de arsênico e sulfato de cobre. Em função de sua composição, o chamado “Verde Scheele” tendia a escurecer com o passar do tempo,o que não impediu a disseminação da tintura na arte, decoração e na indumentária. Antes de Scheele, o verde nunca foi uma cor particularmente popular, devido à dificuldade de obter e manter a cor. Os corantes naturais, à base de folhas e raízes, tinham baixíssima fixação. Os poucos exemplos de vestidos verdes que temos anteriores ao século 19 foram tingidos a partir de uma técnica que exigia dois banhos de tingimento, um azul e outro amarelo. Era uma técnica cara e pouco acessível. O Verde Scheele era largamente utilizado em papéis de parede, cortinas, velas, almofadas, flores artificiais, roupas e até como corante alimentício. Entre os trabalhadores que produziam essas peças, e também entre artistas, os envenenamentos por arsênico eram comuns
figura icônica da mocinha vitoriana que
VÍTIMAS DA MODA ?
desmaia possa ter nascido dos desmaios
Devido ao seu baixo custo de produção, o verde esmeralda e suas variações con-
provocados pelo arsênico dos papéis de
quistaram um grande espaço na indústria de moda e beleza. Especialmente a partir
parede), perda do apetite, náuseas, diar-
de 1850, quando as cores brilhantes ganham força na paleta das roupas femininas, o
reia, dores de cabeça, irritabilidade, con-
verde aparece como “cor da moda” em várias publicações, o que nos leva a um questio-
vulsões e coma. também está ligado ao
namento: as pessoas não tinham conhecimento dos efeitos do arsênico ou não sabiam
desenvolvimento de tumores malignos e
que estavam sendo envenenadas?
queimaduras nas vias áreas e na pele.
Somente recentemente este tema tem sido estudado por alguns pesquisadores, embora instituições como o Victoria & Albert Museum (Inglaterra), Bata Shoe Museum (Canadá) e até o museu do Instituto de Tecnologia de Moda (EUA) tenham em seus acervos peças têxteis que testaram positivo para arsênico. A sobrevivência de tantas
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(alguns pesquisadores defendem que a
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e envolviam sintomas como tontura
evidências do uso indiscriminado desse tipo de pigmento no século 19 levanta várias questões e nos leva a pensar em quem eram, de fato, as vítimas da moda na Era Vitoriana. Havia toda uma indústria da moda que atendia às demandas da classe média, da elite industrial e da nobreza no século 19. Indústria essa que se apoiava em um verdadeiro exército de artesãs pobres (porque o trabalho da moda era essencialmente feminino!), muitas delas analfabetas, que trabalhavam em condições absolutamente insalubres e desumanas. Eram estas artesãs que debruçavam-se por 14h diárias nos chapéus, tiaras, rendas e sapatos que nós adoramos namorar em fotos na internet. Isso sem mencionar ainda as lavadeiras, passadeiras e criadas de quarto, que lidavam com químicos pesados para garantir a limpeza e conservação dessas peças. Muitas delas ainda mais jovens do que a florista Matilde Scheurer. A loja em que Matilde trabalhava fabricava flores artificiais, do tipo que eram usadas para adornar vestidos e criar as populares tiaras de baile florais dos anos 1850 e 1860. As flores feitas de papel tinham uma concentração de arsênico e chumbo ainda maior que as de tecido! Sapatos e meias também eram tingidos de verde esmeralda. No caso das meias, por estarem em contato direto com o corpo, a quantidade de arsênico absorvida pela pele era consideravelmente maior. E, claro, os vestidos. Essa belezinha aí embaixo pertence à coleção têxtil da Universidade Ryerson, no Canadá. É uma peça do início do fim dos anos 1860s: ALGUMAS QUESTÕES FINAIS
linda, como seus detalhes únicos e toda feita sob medida, mas ela é resultado de contextos econômicos e sociais muito mais amplos do que “a roupa dos nobres” e “a roupa dos plebeus”. Numa época em que a indústria da moda começa a dar sinais de estar olhando para dentro de si mesma, e de questionar a ética da produção e da comercialização, histórias como as de Matilde Scheurer e de tantos outros trabalhadores anônimos da moda estão aí
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Eu sempre digo que é preciso entender que História da Moda não é apenas diferenciar os estilos, silhuetas e materiais de cada época. Por trás dos vestidos magníficos que povoam nossa imaginação e contas no Pinterest, existem
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histórias de vida, relações de poder e de produção. A moda dos séculos passados é
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para nos lembrar sempre de perguntar: “quem produz a minha roupa?”.