IX
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Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp
Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Resumos e Programação
IX Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp
Memória e Histórias Locais esquecimento, diversidades culturais e identidades & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural Projetos Culturais e Acervos
Programa e Resumos
De 29 a 1 de agosto de 2019 Universidade Estadual de Campinas – São Paulo IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CMU - UNICAMP Seminário Nacional do Centro de Memória (9.: 2019: Campinas, SP) Memória e Histórias Locais esquecimento, diversidades culturais e identidades & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural Projetos Culturais e Acervos de 29 a 1 de agosto de 2019 / Organizadoras: André Luiz Paulilo, Josianne Francia Cerasoli, Maria Alice Rosa Ribeiro, Maria Sílvia Duarte Hadler - Campinas, SP : UNICAMP/CMU, 2019.
Conteúdo: Programa e resumos. ISSN: 2175-8468
1. Memória. 2. Arquivos. 3. Histórias locais – Brasil - Congressos. I. André Luiz Paulilo, org. II. Josianne Francia Cerasoli, (org.). III. Maria Alice Rosa Ribeiro, IV. Maria Sílvia Duarte Hadler V. Universidade Estadual de Campinas. Centro de Memória. V. Título.
Revisão Autores dos resumos Projeto Gráfico e Produção Gráfica Carlos Roberto Lamari Imagem da capa
Phot. Leal. Avenida Dr. Júlio de Mesquita. Entre 1912 e 1933. Campinas, SP. Conjunto Cartões Postais de Antônio Miranda / Centro de Memória-Unicamp.MU
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Reitor Marcelo Knobel Coordenador Geral da Universidade Tereza Zambon Atvars Coordenador da COCEN Ana Carolina de Moura Delfim Maciel
Diretor André Luiz Paulilo Diretor Associado Edivaldo Góis Júnior Conselho Científico André L. Paulilo (presidente) – Edivaldo Góis Júnior (FEF) – Josianne Francia Cerasoli (IFCH) - Ana Maria Galdini Raimundo Oda (FCM) - Ana Lucia Guedes Pinto (FE) - Evandro Ziggiatti Monteiro (FEC) - Carmen Lúcia Soares (FEF) - José Roberto Zan (IA) - Carlos Alberto Cordovano Vieira (IE) - Jefferson Cano (IEL) - Ricardo Figueiredo Pirola (IFCH) - Janaina O. Pamplona da Costa (IG) - Rita de Cássia Franccisco (PMC) - Ema Elisabete R. Camillo (Téc.Adm.-CMU) - Jeisel Licursi Meira Lima (CSARH-CMU) - Maria Sílvia Duarte Hadler (PQ-CMU) COMISSÃO ORGANIZADORA André Luiz Paulilo Josianne Francia Cerasoli Maria Alice Rosa Ribeiro Maria Sílvia Duarte Hadler COMISSÃO CIENTÍFICA Adriana Carvalho Koyama (FE – Unicamp) Aline Vieira de Carvalho (NEPAM – Unicamp) Alfredo Suppia (IA – UNICAMP) Ana Maria Reis de Góes Monteiro (FEC – Unicamp) André Luiz Paulilo (CMU/FE – Unicamp) André Mota (FM – USP) Arnaldo Pinto Junior (FE – UNICAMP) Cláudia Regina Prado Fortuna ( UEL ) Elizabeth F.Cardoso Ribeiro Azevedo (ECA - USP) Guilherme do Val Toledo Prado (FE – UNICAMP) Iara Lis Schiavinatto (IFCH/IA – UNICAMP) Ivana Denise Parrela (ECI – UFMG) João Paulo Berto (CMU – UNICAMP) Josianne Francia Cerasoli (IFCH – UNICAMP) Livia Morais Garcia Lima (UNISAL) Maísa Faleiros da Cunha (NEPO – UNICAMP) Maria Alice Rosa Ribeiro (CMU – UNICAMP) Maria Angela Borges Salvadori (FE - USP) Maria Aparecida Borrego (Museu Paulista – USP) Maria de Fátima Guimarães (USF) Maria Sílvia Duarte Hadler (CMU – UNICAMP) Marta Gouveia de Oliveira Rovai (UNIFAL) Odair da Cruz Paiva (UNIFESP) Olga de Moraes von Simson (FE – UNICAMP) Rafael Capelatto (PUCCAMP) Ricardo Santhiago (UNIFESP) Sonia Maria Troitiño (FFC - UNESP)
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PROGRAMAÇÃO GERAL
29/07/2019 8h00 às 9h30 – Oficinas Local: salas do Anexo I – FE/Unicamp 8h30 – abertura do credenciamento (haverá continuidade do credenciamento nos dias 30 e 31/07 das 8h30 às 12h30) Local: Faculdade de Educação - Entrada 9h30 – Café 10h00 – Abertura 10h20 – Conferência: “Qual o lugar da história local?” Conferencista: Izabel Andrade Marson (IFCH – UNICAMP) Mediação: Josianne Francia Cerasoli (IFCH – UNICAMP) Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação 14h00 às 18h00 – Grupos de Trabalho Local: Salas do Anexo I e prédio principal - FE/UNICAMP 30/07/2019 8h00 às 9h30 – Oficinas Local: salas do Anexo I – FE/Unicamp 9h30 – Café 10h00 – Mesa redonda: “Memória e Diversidades Culturais” Expositoras: Marta Gouveia de Oliveira Rovai (UNIFAL) Raquel Gryszcznko Gomes (IFCH – UNICAMP) Mediação: Maria Sílvia D. Hadler (CMU – UNICAMP) Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação
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14h00 às 18h00 – Grupos de Trabalho Local: Salas do Anexo I e prédio principal – FE/Unicamp 18h00 – exposição e apresentação de pôsteres de Iniciação Científica Local: Anexo I - FE/UNICAMP 31/07/2019 8h00 às 9h30 – Oficinas Local: salas do Anexo I – FE/Unicamp 9h30 – Café 10h00 – Conferência: “O passado no presente” Conferencista: Jeanne Marie Gagnebin (PUCSP) Mediação : André Luiz Paulilo (CMU – UNICAMP) Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação 14h00 às 18h00 – Grupos de Trabalho Local: Salas do Anexo I e prédio principal - FE/UNICAMP 18h30 – Lançamento de livros Lançamento Vídeos – RTV /CMU : Adolpho Gordo: memória de um senador da República Coquetel de Confraternização Local: Anexo I 01/08/2019 – I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural 9h00 - Exposição virtual “Adolpho Affonso da Silva Gordo e seu tempo (1858-1929)” Lançamento da plataforma do projeto Digitalização Adolpho Gordo Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação
e
Difusão
do
conjunto
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9h30 – café 10h00 – Mesa redonda: “Adolpho Affonso da Silva Gordo: um acervo e seus temas” Alice Beatriz Silva Gordo Lang (CERU-USP) Wilton Carlos Lima Silva (DH- UNESP-Assis) Viviane Gouvea (Coordenação de Pesquisa, Educação e Difusão de Acervo do Arquivo Nacional) Mediadora: Maria Alice Rosa Ribeiro (UNESP/CMU-UNICAMP) Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação 14h00 – Mesa redonda: “Espaços de memória e projetos culturais” Davidson Kaseker (Diretor do Grupo Técnico de Coordenação do Sistema Estadual de Museus de São Paulo - SISEM-SP) Angelica Fabbri (ACAM Portinari) Janaína Andiara dos Santos (Coordenadora do Sistema de Arquivos da UNICAMP) Renata Gava (Museu Histórico e Pedagógico “Prudente de Morais”) Philippe Arthur dos Reis (IFCH-UNICAMP) João Paulo Berto (CMU-UNICAMP) Mediadora: Maria Alice Rosa Ribeiro (UNESP/CMU-UNICAMP). Local: Salão Nobre da Faculdade de Educação Encerramento
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Apresentação O IX Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp, em sua edição de 2019, escolheu a temática “Memória e Histórias Locais – esquecimento, diversidades culturais e identidades” para acolher os debates voltados às múltiplas dimensões da memória em suas relações com os campos da cultura e da política, trazendo a instância do local para o centro do debate. Histórias locais expressam modos específicos e singulares de realização dos processos históricos mais gerais em suas movimentações culturais e políticas permeadas por tensões, contradições e ambivalências. Abordar a história de homens e mulheres em diferentes temporalidades é também ancorar essas reflexões nos espaços e lugares em que sujeitos diversos se constituem historicamente em seus modos de viver, maneiras de pensar, agir, sentir. Movimentações da memória, em suas formas tanto individuais quanto coletivas, em seus entrelaçamentos com a produção dos silêncios, dos esquecimentos, incidem nas configurações culturais destes espaços e lugares, num processo contínuo, muitas vezes tenso, de afetação dos diferentes sujeitos que aí se constituem. Discutir e refletir sobre dinâmicas culturais e políticas imbricadas em processos de construções identitárias, em formas de entendimento das diversidades culturais tem se tornado fundamental na contemporaneidade. Neste sentido, entendemos como crucial o esforço de compreensão de processos culturais e políticos de produção da memória e do esquecimento, esforço este que estará presente nas discussões dos Grupos de Trabalho propostos. As reflexões sugeridas por este Seminário nos remetem, também, à atualidade dos comentários da filósofa Jeanne Marie Gagnebin (2006)1 a respeito das posições de Adorno em relação aos significados da elaboração do passado, ressaltando que não se trata apenas de lembrar o passado para torná-lo presente na memória, mas sobretudo de como o passado é tornado presente; um apelo a não permanecer no âmbito das acusações , das recriminações, mas, em especial, avançar na compreensão de que o lembrar, o não esquecer deve estar articulado a uma “análise esclarecedora”, a um esforço de compreensão do passado para melhor esclarecer o presente. O I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural pretende consolidar diretrizes e estratégias para a gestão de acervos culturais, dispersos nos mais diferentes espaços de memória. Levando em consideração a importância 1 GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. SP: Ed. 34, 2006. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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dos bens culturais para a manutenção da memória e das identidades nos mais diferentes âmbitos, além de sua abrangência no desenvolvimento socioeconômico brasileiro, os colóquios anuais trarão temas latentes para a salvaguarda, acesso e fruição dos bens culturais, bem como para a produção de políticas públicas para a área da cultura. Nesta primeira edição, destaca-se a temática dos “Projetos Culturais e Acervos””, com o propósito de discutir experiências de gestão, com base em financiamentos públicos e/ou privados. De modo especial, pretende-se debater o tratamento técnico de um conjunto documental do CMU, premiado no Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, em conjunto com outras instituições congêneres, visando a criação de um espaço de diálogo e difusão de boas práticas arquivísticas. Esperamos que as discussões que serão realizadas durante o evento contribuam tanto para o aprofundamento das reflexões quanto para a criação de novas possibilidades de produção de conhecimento. Sejam bem-vindo(a)s ao IX Seminário Nacional do CMU e ao I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural! Comissão Organizadora
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Oficinas
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29/07, 30/07 e 31/07 – 8h00 às 9h30 Local: Salas do Anexo I FE/Unicamp OF 01. Arquivos e Educação: práticas de memória, de produção de conhecimentos históricos educacionais e de educação das sensibilidades
Coordenadora: Adriana Carvalho Koyama (FE – UNICAMP) Os grandes arquivos públicos têm publicado imagens de documentos online, que circulam amplamente na rede mundial, multiplicadas pelas redes sociais. Como está se configurando esse movimento, que vem fazendo com que os arquivos saiam de seu anonimato e se insiram na cultura escolar e nas mídias? Como navegar nesse universo e nele criar experiências de produção de conhecimentos históricos educacionais? Como potencializar apropriações plurais desses registros, afirmando outras formas de produção de conhecimentos históricos educacionais, que se afastem das visões instrumentais prevalecentes? Movida por essas perguntas, essa oficina propõe uma reflexão sobre as potencialidades dos acervos documentais para experiências em educação, em suas possibilidades interdisciplinares, tanto na exploração dos arquivos como de seus espaços virtuais. OF 02. Introdução à Conservação e Preservação de Fotografias Coordenadora: Marli Marcondes (CMU – UNICAMP) A proposta da oficina é capacitar profissionais que atuam na área da documentação, como arquivistas, bibliotecários, museólogos, conservadores e interessados em geral, no desenvolvimento de ações e práticas de Conservação e Preservação de conjuntos fotográficos históricos e contemporâneos. Programa: - Treinamento para identificação dos processos fotográficos praticados nos séculos XIX e XX, como: daguerreotipia, ambrotipia, fotografia albuminada, colódio úmido, colotipia, fotografia digital, etc. - Elaboração de diagnóstico avaliando o estado de degradação das fotografias em decorrência da poluição, umidade relativa do ar, temperatura e iluminação, bem como das causas intrínsecas ao suporte fotográfico. - Conservação e acondicionamento do conjunto fotográfico, como: higienização química e mecânica; pequenos reparos e acondicionamento.
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- Conceitos de Conservação Preventiva e uso de EPI´s. - Digitalização de acervos fotográficos – Preservação ou acesso? Obs: cada aluno deverá trazer uma fotografia antiga e em mal estado de conservação. OF 03. Introdução à Paleografia Coordenadora: Judie Kristie Pimenta Abrahim (APESP – Arquivo Público do Estado de São Paulo) A oficina tem como objetivo desenvolver e ampliar a habilidade na compreensão de textos através da ênfase à prática da leitura e edição de textos antigos e do aperfeiçoamento de técnicas específicas para a transcrição de documentos do período entre os séc. XVI e XIX. O conteúdo programático abrange etimologia e histórico da disciplina, materiais e instrumentos de escrita, tipos de letra, abreviaturas e normas técnicas para transcrição e edição de documentos manuscritos. Obs. Cada aluno deve trazer uma lupa para a oficina.
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Grupos de Trabalho
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GT 01 MEMÓRIA E ARQUIVOS Coordenação: Sônia Troitiño (UNESP) e
Elizabeth Azevedo (ECA/USP)
29/07/2019 Sessão 1 - 14h00 às 15h45 De Gênova para o Rio de Janeiro: as listas de vapores e os livros de registros dos imigrantes da Hospedaria da Ilha das Flores 1888-1889 Cecilia de Araujo Capetine Fiore
(FCRB – Fundação Casa de Rui Barbosa)
Como mestra desenvolvi minha dissertação sobre imigração italiana para o Rio de Janeiro, entre 1888 - 1889. Esse período sucedeu dois acontecimentos históricos: a assinatura da Lei Áurea e o fim da Monarquia. Desde a chegada da Côrte ao Brasil, em 1808, a Monarquia procurou substituir a mão de obra “negra e escrava”, pela mão de obra “branca e europeia”. A razão para a realização dessa troca deu-se pela Inglaterra pressionar países escravocratas libertarem seus escravos e por medo de uma possível rebelião por parte dos negros, como ocorreu no Haiti, em 1791-1804. O estudo da imigração italiana parte de dois documentos específicos: as listas de vapores do Porto do Rio de Janeiro e os livros de registros dos imigrantes da Hospedaria da Ilha das Flores. Tais documentos representam o primeiro registro de imigrantes no Brasil, dessa maneira possuem valor históricos, ou seja, são considerados arquivos permanentes. Neste trabalho iremos analisar o contexto histórico da imigração italiana para o Rio de Janeiro; identificar a espécie e tipologia documental dos documentos mencionados; e apontar o aumento do fluxo da imigração italiana para o Rio de Janeiro no período de 1885-1889. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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A Importância do Cemosi para as Lutas em Defesa dos Trabalhadores e dos Movimentos Sociais Ian Damaceno
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
O Centro de Memória, Documentação e Hemeroteca Sindical “Florestán Fernandes” (CEMOSi) iniciou suas atividades em novembro de 1997, com o objetivo de recolher, organizar, catalogar, descrever e principalmente disponibilizar seu acervo de documentos referente às temáticas do Mundo do Trabalho, sobretudo sindical, operária, de movimentos sociais da cidade e do campo. Seu acervo é composto por conjuntos documentais produzidos e recebidos por entidades sindicais, operárias, organizações sociais populares, movimentos sociais, imprensa alternativa, partidos políticos de esquerda, e vídeos produzidos, produzidos em grande parte por pesquisas desenvolvidas pelo CEGeT (Centro de Estudos da Geografia do Trabalho), junto à comunidade acadêmica, local e regional, e aos trabalhadores envolvidos em diferentes conflitos, como pela terra, pela água, de acampados e assentados, trabalhadores migrantes, informais, condições de vida dentro e fora do local de trabalho. Diante deste vasto acervo, podemos encontrar inúmeros documentos que nos escancaram as penosas relações de trabalho na cidade, lavoura, os intensos embates da classe trabalhadora, da luta pela terra e pela reforma agrária. Malba Tahan na Folha de São Paulo: a coluna A Escola e a Vida (1963 – 1966). Leandro Piazzon Corrêa
(Faculdade de Educação - UNICAMP)
O objetivo do trabalho é apresentar parte de uma pesquisa realizada no acervo de Júlio César de Mello e Sousa, professor, escritor e matemático brasileiro, famoso pelo pseudônimo de Malba Tahan. Essa pesquisa aborda a participação de Malba Tahan no jornal Folha de São Paulo, entre os anos de 1963 e 1966, por meio de sua coluna dominical A Escola e a Vida. O acervo “Malba Tahan” está guardado no Centro de Memória da Educação da Unicamp (CME/UNICAMP), um órgão de conservação e pesquisa da Faculdade de Educação da Unicamp. A pesquisa apresentada foi desenvolvida no acervo e feita a partir do projeto de mestrado “O bom e o mau: o papel do professor na obra de Malba Tahan”.
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As artes de fazer: memória, participação e história da Associação de Leitura do Brasil (ALB) Sonia Midori Takamatsu
(Centro de Memória da Educação FE/Unicamp)
O tema central desta comunicação refere-se às memórias da Associação de Leitura do Brasil (ALB), entidade que, há quase quatro décadas, congrega interesses relativos à leitura e ao livro, especialmente, como interfaces da educação. A associação, desde sua fundação, promove um conjunto de iniciativas em prol da leitura e do livro através de eventos como o Congresso de Leitura do Brasil (COLE), consolidado como referência sobre o tema, e publicações como a revista Leitura: Teoria e Prática, editada desde 1982. A análise enfoca o período de criação da entidade até sua consolidação, cuja extensão inclui as primeiras edições dos Congressos de Leitura do Brasil (1978 a 1981), a fundação da ALB (1981) e as eleições da primeira diretoria da entidade em 1983. Os resultados da pesquisa foram apresentados na tese de doutoramento, defendida em agosto de 2017 e compuseram uma narrativa sobre um percurso da entidade e das ações que permitiram sua consolidação como instância aglutinadora de um número expressivo de pesquisadores, educadores e profissionais vinculados ao tema leitura. Os referenciais teóricos utilizados aqui como suporte metodológico fazem parte do domínio da História Cultural. Sessão 2 - 16h00 às 18h00 O Fundo da Hora Legal Brasileira e o Processo de Padronização Horária no País (1909-1919) Eduardo da Silva Leitão
(Pesquisador PCI/CNPq/ON/MCTIC)
Selma Junqueira
(MCTIC-Observatório Nacional)
O Fundo da Hora Legal Brasileira (FHLB) tem como foco a pesquisa e a produção de conhecimento sobre o acervo documental do Observatório Nacional (ON), precisamente sobre a história da hora legal no Brasil visando à preservação da memória institucional. Os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores do ON na Divisão do Serviço da Hora (DISHO) para a geração, disseminação e conservação da hora, aliadas aos estudos de sinais horários geraram para instiIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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tuição vasta documentação administrativa e científica. Nesta comunicação procura-se examinar as fontes documentais do observatório que revela a dinâmica envolvendo as atividades do Serviço da Hora, este trabalho estabelece o período compreendido entre 1909 a 1919 para evidenciar a relação que o ON teve com instituições multilaterais e órgãos nacionais para a institucionalização da Hora legal no Brasil em 1913. Busca-se dar sentido a importância da padronização horária no Brasil, juntamente com o estabelecimento dos fusos horários e o processo inicial de regionalização que o país teve neste mesmo período, destacando os estudos de Henrique Morize, ex-diretor do Observatório Nacional. Aquisição de objetos científicos e professores de ciências: um projeto cultural de implementação de disciplinas escolares em São Paulo (1880-1901) Reginaldo Alberto Meloni
(UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo),
Wiara Rosa Rios Alcântara
(USP - Universidade de São Paulo)
O objetivo deste trabalho é discutir, a partir do acervo documental da Escola Normal de São Paulo e do Colégio Culto à Ciência, de Campinas, a aquisição de objetos científicos e o perfil dos professores das disciplinas de Física, Química e História Natural, entre os anos 1880 e 1901, período no qual as ciências naturais vão assumindo lugar de destaque no programa de estudo, tanto das escolas normais como do ensino secundário. O confronto de diferentes fontes como inventários de bens, notas de compra de objetos científicos, correspondências escolares, livros de ponto de professores, dentre outras, permitem circunscrever dinâmicas culturais, econômicas, políticas, sociais e pedagógicas imbricadas no processo de introdução/institucionalização das ciências naturais nos programas de estudos de escolas paulistas. Arquivos e gênero: reflexões sobre documentação de mulheres Maria Leandra Bizello
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Este trabalho tem como objetivo apresentar a reflexão sobre arquivos e gênero. Refletiremos sobre o debate de gênero como uma categoria
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analítica, principalmente no que se refere ao feminismo além de discutir que memória temos nos dias atuais de um tema que percorreu todo o século XX e ainda no século XXI está na ordem do dia em todos os países. Essa pesquisa é do tipo exploratória, buscamos mais informações sobre os arquivos de gênero e queremos aprofundar tal temática, foi realizada a pesquisa bibliográfica a fim de a fundamentarmos como campo interdisciplinar; não fizemos propriamente um estudo de caso mas estabelecemos o recorte de instituições como campo de pesquisa: Centros de Documentação de Universidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A coleta de dados foi realizada in loco e por meio dos sites de instituições listadas a priori. Refletimos sobre que lugares são esses que custodiam documentação referente tanto ao movimento feminista quanto a atuação de mulheres não apenas feministas militantes mas mulheres como sujeitos sociais. Esse debate fundamenta a relação que estabelecemos entre mulheres e memória. Vozes dos intelectuais e o silêncio nos arquivos Luã Ferreira Leal
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A proposta desta comunicação é compreender como intelectuais pouco citados, cujos arquivos permanecem em “silêncio” devido à pequena fortuna crítica sobre suas respectivas obras, tiveram papel central na institucionalização da Academia Brasileira de Música (ABM) e dos debates sobre a classificação da música folclórica e da música popular no Brasil. Em corredores silenciosos situados em labirintos de estantes pouco consultadas, o Arquivo Andrade Muricy na Fundação Casa de Rui Barbosa e a Coleção Maestro Mozart de Araújo na biblioteca do Centro Cultural Banco do Brasil reúnem documentos que fornecem indícios para uma análise de uma ambiência intelectual no Rio de Janeiro. Vários agentes do campo intelectual se deslocaram para essa cidade no início do século XX devido à concentração de órgãos administrativos, editoras, jornais e rádios situados na então capital da República. Além dos registros biográficos de Andrade Muricy e de Mozart de Araújo, membros da ABM, pretendo abordar um conjunto de reflexões sobre as condições de pesquisar textos escritos por intelectuais polígrafos, o contexto de produção e os modos de circulação das ideias sobre objetos fugidios da cultura popular. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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30/07/2019 Sessão 3 - 14h00 às 15h45 MOVIMENTOS SOCIAIS E TIPOLOGIA DOCUMENTAL: Estudo de organização documental no acervo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Jean Marcel Caum Camoleze
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Este trabalho tem por finalidade estabelecer um estudo dos tipos documentais e analisar as problemáticas e possibilidades de organização documental dos movimentos sociais, através do Fundo do Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terras – MST – depositadas ao acervo do Centro de Documentação e Memória (CEDEM) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). O MST foi fundamental para a história brasileira, fazendo parte de um processo de transição política e econômica do país. Os mais de 30 anos de trajetória do MST permitiu um acúmulo documental fundamental para a compreensão da história atual do país. Porém a organização e formação paralela, entre os arquivos de movimento sociais e os arquivos públicos, são pouco estudadas e precisam debater e discutir os campos teórico-metodológicos. Com a premissa metodológica da Tipologia Documental teremos subsídios para compreender a produção documental do MST e criar um caráter instrumental para a organização de seu acervo. Assim abranger os tipos documentais do Fundo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é contribuir para a pesquisa de elementos para a identificação documental de movimentos sociais. Perspectivas e desafios para a sobrevivência dos arquivos da justiça trabalhista como guardiões de histórias relacionadas ao mundo do trabalho. Edna Maria de Aquino Mendes
(Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região),
Isabelle da Rocha Brandão Castellini
(Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região),
Marcelo Barros Leite Ferreira
(Tribunal Regional do Trabalho da 1a Região)
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A Justiça do Trabalho tem a responsabilidade de dirimir os conflitos entre empregados e empregadores. Com sua atuação, produz uma expressiva massa documental que, por um lado, representa a materialização de suas atividades e, por outro, revela a dinâmica de lutas por direitos individuais e coletivos relacionados ao mundo do trabalho. O momento atual é marcado pela polarização entre os que criticam e os que defendem a recente reforma trabalhista. Está em pauta uma reengenharia das atividades laborais, que pode efetivamente extinguir a Justiça do Trabalho, ou mudá-la de forma a que se torne irreconhecível. Nesse contexto, o destino da sua documentação torna-se um elemento a mais nessa contenda. O que se pretende com este trabalho é analisar o papel do arquivo da Justiça do Trabalho, especificamente do arquivo do TRT da 1ª Região, como custodiador dos documentos, os quais se constituem em fontes de conhecimento para a compreensão de diferentes temáticas relacionadas ao mundo do trabalho e à Justiça do Trabalho no estado do Rio de Janeiro. Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Pontal: preservação da memória e da história regional Dalva Maria de Oliveira Silva (UFU - Universidade Federal de Uberlândia)
O Centro de Pesquisa, Documentação e Memória do Pontal (CEPDOMP-UFU) caracteriza-se como centro de documentação universitário. Criado em 2007 e instalado em 2012 no Campus Pontal da UFU, constitui espaço de preservação da memória e história da região do Pontal do Triângulo Mineiro, atuando, por meio de projetos de extensão na identificação, catalogação, digitalização e organização de documentos, em parceria com a Prefeitura, Câmara Municipal e Fundação Cultural de Ituiutaba, tendo recebido, também importantes coleções de documentos de particulares. O objetivo do trabalho é apresentar o relato de experiência do CEPDOMP como espaço interdisciplinar no qual se efetiva a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão. Como resultados apresentamos a contribuição do centro no processo de educação patrimonial, para a preservação de documentos que testemunham a memória regional, bem como para a formação de estudantes que atuam como bolsistas e por meio de oficinas e cursos que são ofertados às comunidades acadêmica e externa, cumprindo o objetivo de despertar para importância da memória e da história no processo de construção da cidadania. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Sessão 4 - 16h00 às 18h00 A história da UFSCar contada pela comunidade: uma campanha para levantar coleções históricas e registrar memórias Cláudia de Moraes Barros Ramalho
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
Em 2017 foi criada a Unidade Multidisciplinar de Memória e Arquivo Histórico da UFSCar (UMMA) com o objetivo de identificar o valor histórico, salvaguardar e tornar acessível o patrimônio histórico material e imaterial da UFSCar. Instituiu-se um grupo de trabalho, GT-UMMA, para dar andamento às atividades para a implantação da unidade. A principal ação realizada foi o lançamento da campanha “Doe 1 min do seu tempo para os 50 anos da UFSCar” com o propósito de estabelecer uma política multicampi para a preservação das coleções históricas e preservação da memória da UFSCar, dimensionar espaço físico adequado para receber as coleções, definir o perfil e as competências necessárias das equipes de trabalho e reunir informações para elaboração de projetos. A partir de um levantamento onde a comunidade responde a um questionário tem-se identificado as coleções que se relacionam à história da UFSCar. Uma análise parcial do levantamento tem possibilitado identificar não só a diversidade das coleções mas também o seu dimensionamento. O resultado permitirá reunir e tornar acessível tudo que se relaciona à história da UFSCar à medida que se aproximam as comemorações dos seus 50 anos. A doação do acervo do Congresso de Leitura do Brasil ao Centro de Memória da Educação Larissa de Souza Oliveira
(Faculdade de Tecnologia de Bragança Paulista),
Lilian Lopes Martin da Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
Luciane Moreira de Oliveira
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este texto tem a finalidade de relatar o processo de doação do conjunto documental proveniente do Congresso de Leitura do Brasil (COLE) ao Centro de Memória da Educação (CME) da Faculdade de Educação (FE)
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da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O Congresso é realizado pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) há 40 anos e o conjunto doado e aqui apresentado foi se formando desde 2009, com o início do projeto de pesquisa ALB: memórias. Sua instalação oficial no CME foi decisiva para que se tornasse patrimônio da Universidade e viesse a contar com condições adequadas para o trabalho de higienização, catalogação e disponibilização para a comunidade acadêmica. O conjunto envolve documentação significativa em termos de quantidade e de qualidade, sendo especialmente importante para os campos da educação e da leitura. A iniciativa de relatar esse processo e de refletir sobre ele encontra sua justificativa no reconhecimento da importância das narrativas sobre percursos vivenciados, bem como na perspectiva de tornar mais conhecido o próprio processo de doação de acervos na Unicamp. O tricentenário de nascimento Bartolomeu Lourenço de Gusmão e a constituição de um acervo audiovisual no MAST Alexander Lima Reis
(Museu de Astronomia e Ciências Afins),
Aline Monteiro de Carvalho Silva
(Museu de Astronomia e Ciências Afins),
Marta de Almeida
(Museu de Astronomia e Ciências Afins)
A partir do diagnóstico das fontes audiovisuais e sonoras do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) foi localizado um conjunto expressivo de vídeos de eventos organizados pela instituição. Neste acervo consta um documentário que resultou de uma exposição sobre o tricentenário de nascimento do padre inventor Bartolomeu Lourenço de Gusmão (16851985). Bartolomeu nasceu em Santos em 1685 e ficou conhecido pela alcunha de “padre voador” pela criação do primeiro modelo de aeróstato. Esta apresentação pretende identificar as estratégias utilizadas pela instituição recém-criada (1985), compreendendo o contexto de elaboração da exposição que pode ser interpretada como uma forma de dar visibilidade à instituição para que se firmasse como um local de estudo e produção de História das Ciências e da Tecnologia (HC&T). Diversos materiais pouco explorados foram localizados como produtos da exposição desde o documentário, folheto biográfico até diapositivos e letreiros da exposição. Desse modo, essa proposta analisa a efeméride como parte da memória do IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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museu que se estabelecia na área de HC&T, bem como incrementa estudos de preservação e acesso continuado a acervos audiovisuais e sonoros. 31/07/2019 Sessão 5 - 14h00 às 15h45 Memória Cultural e Patrimônio arquivístico Antonio Carlos Galdino
(Arquivo Municipal de Campinas)
Esta comunicação aborda a problemática das relações entre arquivo e memória tratada em diversos artigos da literatura arquivística, cuja linha condutora é uma pergunta em certa medida reducionista: o arquivo é memória? Propõe-se assim uma reflexão sobre o tema com o apoio das formulações de Aleida e Jan Assmann sobre a Memória Cultural. Na teoria desses autores, o arquivo é juntamente com o canon, as duas figuras centrais da dinâmica de funcionamento da Memória Cultural, constituindo esta última um modo de memória organizada em instituições e transmitida por agentes específicos na sociedade, diferentemente da memória comunicativa, que é como os Assmann reconceituam a memória coletiva de Halbwachs. Dessa reflexão inicial, buscar-se-á fundamentar o conceito de patrimônio arquivístico como uma alternativa possível às noções de “arquivo permanente” e a “arquivo histórico” para se pensar os principais temas do fazer arquivístico, a avaliação/aquisição, a descrição e o acesso nas suas relações com as duas formas sociais da memória, conforme os autores mencionados, a comunicativa e a cultural, ressaltando-se as necessárias dimensões éticas e morais suscitadas nessas relações. Arquivos e Fontes Digitais: limites e possibilidades para o ofício de historiador Bruno Alves Valverde
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A compreensão do documento histórico como algo para além do registro textual ocorre a partir do século XX com a Escola de Annales dentre outros. Desde então, registros nos mais diferentes suportes passam a ser tratados como objetos do historiador. Ainda que a ampliação desse conceito
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nos leve a considerar como documento tudo aquilo que se relaciona com a Humanidade, o que incluiria os acervos digitais e as fontes nato-digitais, há ainda certas restrições, limites e dificuldades em se trabalhar com documentos em formato digital. A presente proposta visa discutir o estado da arte do trabalho com documentos em formato digital, os impactos da tecnologias de informação e comunicação no ofício do historiador e apresentar o relato das experiências do autor com o uso das trocas de mensagens na plataforma do Orçamento Participativo Digital de Belo Horizonte e na pesquisa de doutorado em andamento, no qual usa o arquivo digitalizado referente às cartas de Charles Darwin. A intenção é promover uma reflexão acerca dos limites e possibilidades desses recursos que podem colaborar para a valorização das histórias locais, como é o caso do Orçamento Participativo Digital de Belo Horizonte. A Implementação das praticas Arquivisticas na organização e preservação da memória dos acervos documentais no Centro de Documentação e Memória UFSM Caroline Lopes Knackfuss
(UFSM - Universidade Federal de Santa Maria)
Adotar uma política de implementação de fundos documentais no interior da Universidade Federal de Santa Maria remete a preservação do patrimônio documental do Centro de Documentação e Memória, no Espaço Multidisciplinar em Silveira Martins. E é através desta política que trazemos um recorte de nosso trabalho de pesquisa e extensão junto ao Fundo Documental Aldema Menine Mckinney. Compreendemos que o CDM tem necessidades organizacionais que não se enquadram a este sistema estabilizado. Buscamos principalmente na literatura arquivística o alicerce necessário para aprofundar alguns conceitos que servem de base a este estudo. Inicialmente, o foco de nossa pesquisa foi o resgate das atividades acadêmicas da pesquisadora, no entanto, ao nos deparamos com a presença de vasta documentação de sua vida pessoal e também com outros documentos institucionais, um conjunto de atividades arquivísticas se consagrou e possibilitou a compreensão da existência de uma importante relação entre história de vida e história profissional. Colocando o CDM como um espaço de troca de conhecimento e referência, contribuindo para o crescimento de projetos em diferentes áreas do conhecimento. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Mortem & Vitae: a identidade (re)construída a partir do acesso aos registros de óbito Monica Cristina Brunini Frandi Ferreira
(Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro),
Talita Gouvêa Basso
(Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro)
O presente trabalho, em andamento, busca garantir tratamento técnico ao conjunto documental composto por 12.000 certidões/atestados de óbito e 29 livros de sepultamento do período de 1875 a 1916, recolhido do Cemitério Público de Rio Claro – SP para o Arquivo do Município. Tendo a missão de preservar o patrimônio documental para a história da cidade, estabelece-se como prioridade a indexação e a digitalização deste material recorrentemente solicitado para consulta. Somado ao valor probatório do documento oficial, os registros de óbito apresentam um potencial informativo capaz de apontar para aspectos, comportamentos e valores de uma sociedade diferente da atual, contribuindo para a (re)construção da identidade individual e coletiva. O processo de recuperação das informações para um instrumento de acesso informatizado permitirá um estudo da legislação que antecede à publicação do Código Civil do Brasil de 1916, sobretudo porque os primeiros registros datados de 1875 – ano da inauguração do Cemitério Público de Rio Claro – foram redigidos de acordo com as normas estabelecidas pelo Decreto Imperial nº 5.604, de 25 de abril de 1874, que regulamentou pela primeira vez a matéria. Sessão 6 - 16h00 às 18h00 Mulheres, memórias e suas representações nos arquivos: notas de pesquisa a partir do fundo Gilda de Mello e Souza (IEB/USP) Bárbara Luisa Fernandes Pires
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O trabalho propõe apresentar algumas reflexões, a partir da pesquisa realizada no fundo Gilda de Mello e Souza - atualmente em estado de catalogação no acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP) -, algumas reflexões acerca da presença e da memória de mulheres em arquivos brasileiros. O principal objetivo é discutir, em um
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primeiro momento, a invisibilidade feminina nos arquivos, bem como a ausência de fontes e as dificuldades de preservação da memória feminina, para, em seguida, problematizar os processos classificatórios que envolvem as mulheres e suas representações, especialmente nos acervos pessoais de artistas e intelectuais. “Zeferino Vaz, ideia de Universidade”: Uma reflexão sobre os instrumentos arquivísticos de referência. Rafaela Basso
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
Telma Maria Murari
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A proposta desta comunicação é apresentar a partir de um relato de experiência do trabalho realizado no livro “Zeferino, ideia de Universidade”, um debate conceitual no campo da arquivística. A partir do trabalho técnico realizado, no Arquivo Central da Unicamp, de seleção e disponibilização, em versão escrita, de uma compilação de documentos sobre a concepção, criação e instalação da Universidade Estadual de Campinas, nossa proposta é suscitar uma reflexão sobre os instrumentos arquivísticos de referência, tendo em vista o impacto da era digital no campo, que tem permitido mudanças na cadeia de transferência de informação, alterando padrões e comportamentos de seus usuários no acesso a uma série de instrumentos on-line. Estudo de caso: o acervo Edgard Cavalheiro na UNICAMP Silvio Cesar Tamaso D’Onofrio
(UNIPINHAL - Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal)
Doado por familiares ao Centro de Documentação Alexandre Eulalio, da UNICAMP, em 2017, o acervo literário do biógrafo e crítico literário Edgard Cavalheiro (1911-1958) amplia possibilidades para os estudos brasileiros da primeira metade do século 20. Nascido em Espírito Santo do Pinhal-SP, região intermediária de Campinas, Edgard Cavalheiro destacou-se também como editor e fundador da Associação Brasileira de Escritores e da Câmara Brasileira do Livro - nesta, durante sua presidência, foi criado o Troféu Jabuti, que anualmente distingue a produção editoIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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rial nacional. Conjunto constituído pela coleção que o próprio Cavalheiro fez em vida e também de material coligido por pesquisas acadêmicas, as centenas de obras raras autografadas, manuscritos, volumes com recortes de jornais e correspondência inédita ecoam redes de sociabilidade e vida nacional da época. A comunicação busca refletir acerca deste acervo e dos diálogos que ele permite estabelecer com acervos preexistentes dentro e fora da UNICAMP, além dos reflexos sociais que a vulgarização dessas novas fontes documentais pode promover uma vez que interessa a todos os níveis educacionais.
GT 02 MEMÓRIA, HISTÓRIA ORAL E IMAGEM Coordenação: Livia Morais Garcia Lima (UNISAL) e
Olga Moraes von Simson (FE/UNICAMP)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Memória orgânica: paisagens e vivências de balseiros do rio Ivaí – PR Bruna Morante Lacerda Martins
(UEM - Universidade Estadual de Maringá)
O patrimônio ambiental desenvolve um importante papel para o conhecimento, preservação e a manutenção dos vínculos de pertencimento do homem com a Paisagem, vivenciada em uma continuidade do espaço-tempo, já que as transformações dos elementos naturais em bens ambientais são provenientes das relações entre as identidades e as memórias dos sujeitos e grupos sociais (SCIFONI; RIBEIRO 2006). Nessa esteira, esta pesquisa
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constitui-se em uma abordagem da Geografia Humana, que demonstra por meio da análise da paisagem, as vivências culturais e socioeconômicas de balseiros do rio Ivaí - PR. Inicialmente, foram coletadas imagens fotográficas acerca das balsas durante a pesquisa de gabinete, em seguida foram realizados trabalhos de campo para levantar as memórias orais dos balseiros, sendo que o pesquisador apresentou as imagens impressas para o entrevistado, afim de engatilhar a memória. Como resultado, constatouse que a metodologia aplicada favorece desdobramento de dois tipos de memórias: orgânicas - trata-se das modificações da Paisagem natural do rio com passar do tempo; e ambientais - observada nas Paisagem cultural e econômica do trabalho e do lazer. De onde viemos. Um estudo sobre o local de origem dos imigrantes andaluzes para a São Paulo dos primórdios do Século XX. Arlete Assumpção Monteiro (PUC-SP)
A necessidade de mão de obra para a lavoura cafeeira no interior do Estado de São Paulo atraiu um grande número de famílias que residiam nas províncias de Andalucia, Espanha. De Granada, devido a praga nos vinhedos (filoxera), chegavam os imigrantes com destino à Argentina e São Paulo, Brasil. O presente estudo analisa a região de origem de onde partiram os imigrantes espanhóis que buscaram São Paulo, como nova opção de vida e de trabalho. Prioriza a cidade de Motril, no litoral mediterrâneo de Granada e a busca dos que ficaram pelas famílias que partiram para o Cone Sul da América do Sul. História Oral e o Campo da Educação não formal: A Corporação Musical Banda União Operária na cidade de Piracicaba-SP Wana Carcagnolo Narval Cillo
(UNISAL - Campus Maria Auxiliadora – Americana)
Esta pesquisa tem por objetivo inteirar-se sobre os processos de aprendizagem que acontecem dentro da Corporação Musical Banda União Operária. Corporação que foi fundada há mais de um século e por onde já passaram muitas gerações de músicos da cidade de Piracicaba/SP. A pesquisa se dará por meio da metodologia de caráter qualitativo, História IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Oral, com ênfase na modalidade da entrevista de história de vida e na entrevista temática. Serão utilizadas outras fontes como o acervo de documentos e fotografias que a própria instituição possui. A análise sobre o conteúdo das entrevistas e o acervo da instituição será organizada de modo a gerar subsídios para um aprofundamento sobre os processos de educação não formal realizados durante tantos anos de atuação da Corporação Musical Banda União Operária na cidade de Piracicaba e região e seu impacto sociocultural na cena musical piracicabana. Outros Carnavais Carina da Silva Bentlin
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Imerso na cultura popular de Cosmópolis, o projeto Outros Carnavais é resultado da pesquisa que buscou na memória registrada e contada os modos de festejar essa que é a mais alegre das festas, traçando os primeiros passos do carnaval em solos do interior paulista, trazendo através do redescobrimento de arquivos a alegria atemporal no voo da serpentina, no riso rasgado da rua, na música dançada sobre terra vermelha. O trabalho de pesquisa e documentação, objetivo do projeto, realizou em sua primeira etapa um minucioso trabalho de pesquisa dos registros fotográficos, jornais e memórias relacionados ao Carnaval no período de 1910 a 1960 na cidade de Cosmópolis - SP. O projeto foi realizado através do Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo e resultou na publicação de um livro e exposição itinerante. Entre arquivos e memórias: a história institucional do tempo presente no Colégio Pedro II Adriena Casini da Silva
(PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
Este trabalho ancora-se na dialogicidade entre a História Oral (PORTELLI, 1997, 2008); ALBERTI, 2004; FERREIRA & AMADO, 1996) e a Memória Institucional (SAVIANI, 2005; HALBWACHS, 2013; NOSELLA & BUFFA, 2006) do Colégio Pedro II (CPII), partindo da História do Tempo Presente (DELGADO, 2003). Partimos do questionamento
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de como se estabelecem conexões entre a História Oral e a Memória Institucional de uma instituição escolar tradicional como o Colégio Pedro II, em uma abordagem de História do Tempo Presente - como por exemplo, ao discutir o CPII do Século XXI, especificamente nos Anos 2009-, por meio de uma revisão bibliográfica, e análise de relatos com o objetivo de discutir os enlaces e entraves metodológicos na pesquisa de uma história oral recente, objetivando discutir questões de ética, acesso a fontes e arquivos. Como discutir a Memória Institucional diante da tradição em uma abordagem metodológica em que os sujeitos entrevistados são vozes que a significam e ressignificam? Sessão 2 – 16h00 às 18h00 A fotografia como agente influenciador da construção histórica de povos semi-isolados: índios do Alto Xingú. Ricardo Magoga Gallarza (UNIVALI)
A pesquisa trata do estudo da fotografia como elemento influenciador da construção histórica dos povos semi-isolados, utilizando como população de estudo os indígenas da etnia Nafukuá, localizada na região sul do Território Indígena do Xingu, conhecida como Alto Xingu. O resultado é apresentado em seis blocos teóricos: (1) contextualização; (2) processo imaginativo do ser humano; (3) relação entre a imagem técnica e a oralidade; (4) a condição histórica da etnia Nafukuá dentro do contexto xinguano, destacando a sua condição de semi-isolamento; (5) pesquisa de campo e, por fim, (6) a conclusão. A pesquisa mostra que é inevitável e progressiva a relação de interdependência entre imagem e memória histórica destes povos. Em tese, apontou que a relação da memória espontânea com o processo natural de oralidade se apresentou bastante fluido, por outro lado, a relação da memória quando estimulada por fotografias acabou por se mostrar diferenciada na sua forma de expor, mas ambas se mostraram similares quando percebidas a partir de experiências vividas, levando à conclusão de que a imagem técnica, vem assumindo o definitivo papel de influenciador da construção histórica destes povos. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Professor José Leme do Prado: história e memórias de uma escola pública (1966-1976) Glasiely Virgilio Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho tem o objetivo de analisar a primeira década de funcionamento da escola Professor José Leme do Prado, abordando a história e as memórias dessa instituição de ensino público na relação com a população da cidade de Valinhos. O estudo e análise das fontes de pesquisa pretende tratar com imagens, documentos escritos e entrevistas concedidas por sujeitos da comunidade escolar com o intuito de desenvolver questões referentes a um espaço de disputas socioculturais, ou seja, um lugar de conflitos e tensões no qual emergem forças políticas e práticas culturais estabelecidas no âmbito da sociedade. Considerando também as especificidades que envolvem o processo educacional, o recorte proposto acompanha o período de formação da primeira turma da escola. As atividades de investigação dialogam com referenciais da história cultural e da história da educação para refletir acerca das produções da área, utilizando a metodologia da história oral. Vislumbra-se contribuir para o debate sobre o lugar e o espaço da história escolar, ressignificado pela memória e problematizar o reconhecimento desse território como produtor de conhecimento. Memória oral e arquivos: reconstruindo a história dos cinemas de rua de Frederico Westphalen Eduarda Wilhelm Possenti
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho aborda a trajetória dos cinemas de rua em Frederico Westphalen, cidade do noroeste do Rio Grande do Sul. Ao realizar um resgate histórico dos cinemas de rua do município, abordamos o processo de fechamento deles e seus motivos, sendo que a cidade já foi referência na região em estrutura e quantidade de salas de cinema. Essa reconstituição foi possível a partir da pesquisa documental em registros de museus, arquivos de historiadores do município, acervo de jornais e, principalmente, entrevistas com antigos espectadores e funcionários das salas de exibição. A existência de um cinema de rua no município se manteve condicionada a empreendimentos familiares de pessoas que acreditaram na sétima arte e se esforçaram para torná-la possível em uma cidade do interior gaúcho, já que as matérias e colunas de jornal revelam as dificuldades que a última sala vinha enfrentando na década
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de 1990. Por outro lado, os relatos nostálgicos dos entrevistados evidenciam a sala de exibição como um importante espaço de convivência. Parte da vida social da cidade, o cinema de rua propiciava vivências coletivas e a construção e solidificação de memórias e identidade. Memórias da Capoeira: Relatos de histórias de mulheres capoeiristas Mayris de Paula Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O tema da pesquisa busca compreender a mulher como sujeito histórico, político e social, suas memórias apresentam-se como “objeto de estudos”. A pesquisa pretende analisar as memórias de mulheres que se graduaram em capoeira, contemplando tanto suas experiências como mulheres que atuam na capoeira quanto suas formações sociais, educacionais e políticas que obtiveram através deste movimento. A metodologia utilizada será a história oral , metodologia essa que traz os relatos de experiências, as histórias invisibilizadas pela história oficial. A seguinte metodologia de pesquisa trabalha com entrevistas, nas quais as entrevistadas abordam suas memórias sobre o tema que se refere à pesquisa, suas vivências dentro da capoeira. Na literatura atual não existem descrições a respeito da participação e o protagonismo feminino na capoeira no Estado de São Paulo. Entende-se a capoeira como movimento cultural de resistência, de descolonização dos sujeitos, dos saberes e conhecimentos. A pesquisa pretende conhecer a inserção de mulheres na capoeira, suas participações, seus reconhecimentos como mulheres graduadas na capoeira, além das práticas culturais relacionadas a este movimento. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Memórias de Infância: Narrativas de velhos a respeito de ser criança no século XX na cidade de Sorocaba – São Paulo Gabriela Maldonado Sewaybricker
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
O presente trabalho visa escutar e recuperar memórias e experiências de senhoras e senhores na velhice que foram crianças na primeira metade do IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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século XX em Sorocaba. Intenciona compreender como suas infâncias foram influenciadas pelos ensinamentos de seus antepassados e se esses ensinamentos influenciam ainda hoje na concepção que se tem a respeito da infância. O trabalho se pauta teoricamente nas observações da nova história, segundo Peter Burke (1992), seguindo pela ramificação da história oral como metodologia e considerando a infância segundo um olhar antropológico e sociológico. É uma pesquisa qualitativa, pautada em análise bibliográfica e de entrevistas concedidas por pessoas entre 69 e 88 anos, que viveram suas infâncias em Sorocaba no período estabelecido. Sua relevância para a educação revela-se por seu intento em evidenciar as narrativas de pessoas que não são citadas nos livros de História, demonstrando como os sorocabanos viviam e quais suas contribuições para o modo como se vive hoje na cidade, destacando assim a urgência de se discutir nas salas de aula a história sorocabana para além da herança tropeira. Memórias de criação da Paulistinha: a Creche Universitária da UNIFESP (década de 1970) Rosana Carla de Oliveira
(UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Para conhecer o processo histórico de uma instituição educativa é preciso conhecer sua organização, seu funcionamento, suas práticas, como também suas representações, envolvimentos e memórias. Aqui serão apresentadas as memórias de criação da Creche Universitária Paulistinha, da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, instituição criada na década de 1970 para atender filhos de duas funcionárias da Escola Paulista de Enfermagem. A distância temporal e a escassez de fontes escritas, remete à necessidade da utilização da memória como fonte principal para reconstruções de um passado vivo, que guarda informações que ainda não foram registradas, não no sentido de uma história única e verdadeira, mas como o lançamento de possibilidades para novas narrativas, que juntas possam recompor um momento vivido, emergindo uma visão de mundo. Os relatos foram analisados sob as categorias de memória e esquecimento nas perspectivas de Halbwachs (2006), Bosi (1994), Gagnebin (2005) e na categoria de lugar sob o referencial de Certeau (1976). Foi possível verificar que a memória é um cabedal infinito e se pode registrar fragmentos a partir das recordações que afloram no momento da entrevista.
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Universidade, História e Memória Yvone Dias Avelino
(PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Para um historiador toda manifestação é importante, seja um mito, um rito, crenças, pessoas, instituições, gestores; tudo isso reflete a experiência e, por conseguinte, implica também nas noções metodológicas que levam o pesquisador a buscar os significados e, sobretudo, a verdade. Nesta comunicação pretendemos apresentar as memórias e os momentos de uma instituição através da fala dos seus gestores, numa época que marcou a História da Igreja no Brasil e a História de uma universidade que está na História da Nação. Trata-se da resistência acadêmica aos desmandos ditatoriais que a impediam de viver uma democracia saudável. Através das entrevistas está o relato desses momentos onde vamos destacar apenas a fala de uma mulher. A primeira mulher à frente de uma Reitoria de Universidade, e de uma Universidade Católica na cidade de São Paulo: depoimento da Profa. Dra. Nadir Gouveia Kfouri. Samba de bumbo em Santana de Parnaíba: os silenciamentos Daniel Martins Barros Benedito
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Santana de Parnaíba, uma das ultimas cidades a oeste da Região Metropolitana de São Paulo, possui dois grupos de samba de bumbo tradicionais, o 13 de maio e o grito da noite. Um ainda possui forte marca sagrada e o outro se deslocou para o carnaval, laicizou e ocorreu o branqueamento e elitização. Pretendemos apontar para a presença negra proveniente e emergente em razão da escravização de africanos, os desafios para sua existência e resistência e o esquecimento e apagamento dos sambadores antes desse embranquecimento na segunda metade do século XX. As fontes são relatos e entrevistas iniciando com Mario de Andrade em 1937 a imagens do samba nos anos 50/70 e o grau máximo de proeminência da memoria social dominante a partir de 1997.
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Sessão 4 - 16h00 às 18h00 Costurando memórias como patrimônio no Poço da Draga em Fortaleza-CE Cristina Maria da Silva
(UFC - Universidade Federal do Ceará)
A partir de uma ação de extensão, ativa desde 2016, intitulada fotobiografias: uma Fortaleza que se conta em acervos fotográfico pessoais, buscamos refletir sobre como a partir de fotografias podemos desvelar as biografias individuais, mas também a biografia de uma cidade. A ação é realizada no Poço da Draga. Tomamos esse território a partir das fotografias que as pessoas guardam em suas casas e escutamos suas narrativas. Esse lugar se dá muito mais por mapas falados do que apenas pela cartografia geográfica. As fotografias promovem aparições, evocam narrativas e acionam lembranças. Podemos tomar essas paisagens narrativas como patrimônios da cidade? Como podemos a partir da memória, refleti-las como “espaços da recordação”, que nos permitem repensar a própria leitura social, histórica e antropológica da cidade? Partimos das narrativas de Dona Zenir, uma das moradoras mais antigas do lugar, que lembra que é uma das primeiras costureiras da Monsenhor Tabosa, em Fortaleza, e que costurou para muitos hotéis da orla de Fortaleza. A partir de suas narrativas e imagens ela nos leva às pessoas, às suas vivências e costura através da memória o Poço da Draga à história de Fortaleza. O ensino de História voltado à terceira idade no PROGEN: Relatos de experiência Victor Henrique da Silva Menezes
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Em 2018 foi ministrada, sob a responsabilidade do autor deste trabalho, uma oficina de História voltada a maiores de 60 anos no PROGEN, ONG campineira cuja sede está localizada na Vila Castelo Branco. Nela, por meio de filmes hollywoodianos e de telenovelas brasileiras, foram discutidos temas históricos como Ditadura Civil-Militar brasileira e Escravidão e questões culturais/sociais como Relações de Gênero, Sexualidades e Racismo. A oficina contou com a participação de 5 pessoas com idades que variavam entre 60 e 71 anos. Isto posto, a presente comunicação tem por objetivo apresentar e analisar os resultados dessa experiência pedagógica bem como
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as memórias suscitadas por meio dela, nos participantes dos encontros, da história recente de nosso país. Alguns dos depoimentos dos (as) educandos (as), registrados por meio de transcrições das conversas feitas com o grupo nos meses de julho e dezembro, serão expostos. Assim, em um primeiro momento, serão apontados a origem, os objetivos da oficina e as temáticas e materiais trabalhados para, em seguida, por meio das vozes dos educandos (as), serem analisados a recepção e os resultados dessa proposta de ensino voltado à terceira idade. Narrativas bordadas Aline Antunes Zanatta
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Em 2014, o Serviço Educativo do Museu Republicano “Convenção de Itu”/ USP iniciou o Programa Educativo “Debaixo do Pé de Pitanga”, que versou em buscar junto à comunidade outras narrativas, além das memórias oficiais sacralizadas nos chamados “lugares de memória”, como sugeriu Pierre Nora. Em 2015, passamos a receber no museu um grupo de artesãs que se reúnem para bordar, tecer e contar. A partir de uma curadoria coletiva, com a equipe do museu e artesãs, em 18 de Abril de 2017, abrimos uma exposição no Museu Republicano, chamada: “Boca do Sertão: memórias bordadas”, em que as artesãs escolheram bordar alguns detalhes das imagens reproduzidas nos painéis de azulejos do Museu Republicano e algumas aquarelas do artista ituano Miguelzinho Dutra. Logo, se considerarmos, como lembrou Walter Benjamin, que a narrativa desenvolvida no meio artesão, é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação, podemos dizer que se imprimiu nos bordados, as marcas das narrativas das mulheres e suas formas de comunicação, pois recorreram aos acervos de suas vidas e das experiências compartilhadas o que bordar e como bordar. O corpo negro como território: possíveis narrativas construídas na relação entre o corpo como território presente no espaço público na cidade de Campinas Mariana de Sousa Lima
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A apresentação pretende abarcar uma parte do trabalho de pesquisa em andamento, que investiga uma Roda de Capoeira Angola, manifestação IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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cultural de origem afro-diaspórica, realizada semanalmente há mais de 15 anos em um espaço público na cidade de Campinas-SP, como território educativo em seus âmbitos político, ético, social e afetivo. A relação entre os corpos negros e os lugares que lhes são destinados na sociedade desde os tempos da escravatura em uma Campinas em pleno crescimento ao longo dos séculos XIX e XX, aparece como elemento de investigação e análise para o entendimento dessa manifestação cultural que na atualidade comporta, através das narrativas orais e imagéticas constantes nos relatos e nos acervos pesquisados, um fio que une o passado da cidade e da população negra local, ao seu presente, concretizado nos impasses e aberturas construídas institucionalmente e através dos movimentos sociais, para o exercício da prática da capoeira em um espaço público. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Educação não formal e História Oral: os movimentos culturais no distrito de Barão Geraldo, em Campinas/SP Lívia Morais Garcia Lima
(UNISAL - Centro Universitário Salesiano de São Paulo)
Entendendo que a cidade é um espaço educativo por si só e que a educação não formal nasce das práticas culturais (urbanas ou não), este estudo visa avançar no debate sobre a trajetória da educação não formal no Brasil a partir da ocupação de espaços de acesso público no meio urbano, especificamente no distrito de Barão Geraldo – Campinas/SP. Será feito um levantamento do que se tem encontrado no espaço de Barão Geraldo, a partir dos anos 2000, nos âmbitos teatral, musical, e performático, para fazer uma seleção de casos a serem estudados por meio da metodologia da história oral na intersecção com o uso de fontes visuais, no intuito de reconstruir memórias de grupos ou sujeitos. Entende-se a ocupação cultural do espaço urbano e a cidade como patrimônio educativo, logo, como entende Trilla (2009) uma cidade educativa, nas três dimensões: aprender a cidade, na cidade, da cidade. Finalmente, visa-se descrever e analisar o movimento recente em torno da ocupação dos espaços no distrito, identificando e problematizando as condições que favorecem seu surgimento e analisando suas possibilidades de consolidação e momentos de socialização que se operam nos grupos sociais.
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Os dilemas da ressignificação do Congado na narrativa histórica do cotidiano de Uberlândia Gerson de Sousa
(UFU - Universidade Federal de Uberlândia)
A proposta deste artigo é analisar o significado de problematizar, por meio da história oral, a construção de identidade de homens e mulheres negros para a produção de sentido no presente por meio do movimento histórico de um século do terno de Congado Sainha em Uberlândia (MG). Por meio da valorização da memória de velhos participantes da história do Congado, no confronto problemático entre o passado e o presente, este artigo trará a análise crítica de determinadas temáticas que possibilitem visualizar a identidade dos sujeitos que constituem esta manifestação cultural. Qual a importância de narrar a ressignificação moderna e pós-moderna inscrita em um século de história do Congado em Uberlândia pelo terno Sainha? Este artigo é uma reflexão a partir da pesquisa A construção da identidade do popular no processo comunicativo: análise cultural da produção de sentido e representação do Congado no cotidiano de Uberlândia, iniciada em 2018 com financiamento da Fapemig. A pesquisa, com base teórica nos Estudos Culturais, nasce de um problema identificado na comunidade: a morte de velhas personalidades e a necessidade de renovação deixou em aberto uma ruptura do presente para o passado. Os múltiplos olhares sobre o Carnaval de Máscaras da Fazenda Cresciumal produzidos a partir das imagens e memórias de seus foliões Marcos Vinícius Rodrigues de Aquino (SEE-SP)
O carnaval da Fazenda Cresciumal tem suas origens estabelecidas, provavelmente, no final da década de 1930 e durante cerca de 70 anos ocorreu exclusivamente no meio rural. Ao longo de décadas, este festejo incorporou brincadeiras que, com o passar do tempo, se consolidaram entre as famílias que lá viviam. Dentre as características desse carnaval está a fabricação de máscaras para o desfile carnavalesco, que até 2006 IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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era realizado na Fazenda e hoje é celebrado na cidade. A partir dos relatos dos antigos e atuais participantes do desfile, buscamos alcançar dados informativos e factuais, assim como o testemunho do entrevistado sobre sua vivência e participação em situações específicas. Adotamos também o uso do recurso imagético como instrumento capaz de avivar a memória destes foliões no momento em que estes dão voz às suas lembranças. Assim, de acordo com Simson (1998), entendemos o suporte imagético como um mecanismo motivador de reconstrução e veiculação da nossa memória, seja como indivíduos ou como participantes de diferentes grupos sociais. Além disso, procuramos também reconstituir, a partir da análise desses documentos, diversos aspectos do carnaval da Fazenda Cresciumal. Cerâmica Martini: heranças e vestígios na sociedade Guaçuana Ana Carolina Perina de Oliveira
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Durante grande parte do século XX, a indústria cerâmica foi base econômica de Mogi Guaçu, interior de São Paulo. Com início da industrialização na década de 1910, em seu ápice, a cidade chegou a ter simultaneamente cerca de 6 indústrias cerâmicas, sendo a principal delas a Martini, objeto deste trabalho. Tendo movimentado boa parte da economia da cidade, a Cerâmica Martini é presente ainda hoje na vida cotidiana, sendo grande parte da população relacionada à sua história. Funcionários, prestadores de serviços para a Martini, familiares de funcionários - ainda há muitos relacionados a ela. A presente pesquisa baseia-se na coleta de dados e relatos de memorialistas de Mogi Guaçu, ex-funcionários e familiares de funcionários da Cerâmica Martini, construindo análise e registro oficiais da trajetória histórica e econômica da Cerâmica em relação à cidade. Por meio de entrevistas pretende-se registrar estes relatos, utilizando da História Oral como método de oficialização desta história. O objetivo é criar um dossiê factual baseado nos relatos destes personagens, produzindo um panorama do funcionamento da Cerâmica e das relações interpessoais, trabalhistas e comerciais ali desenvolvidas.
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GT 03 MEMÓRIA, FORMAÇÃO DE PROFESSORES e EDUCAÇÃO DAS SENSIBILIDADES Coordenação: Cláudia Regina Prado Fortuna (UEL) e
Guilherme do Val Toledo Prado (FE/UNICAMP)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Os Congressos de Leitura do Brasil como espaço de formação (1978 a 1987) Renata Aliaga
(IFSP - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo)
Esta pesquisa elege os Congressos de Leitura do Brasil, promovidos pela Associação de Leitura do Brasil (ALB), entidade criada em 1981, cuja sede é na Faculdade de Educação da Unicamp, como espaço de investigação. Parte do pressuposto de que os Coles se constituíram, ao longo dos quarenta anos de sua realização, num importante espaço de formação dos profissionais do ensino, especialmente os professores. O acervo histórico dos congressos, atualmente disponível no Centro de Memória da Educação da FE/Unicamp, possibilitará que a pesquisa busque indicadores presentes em sua documentação da intenção de formação por parte de seus organizadores. Ao mesmo tempo, tomará depoimentos de participantes dessas e outras edições do evento, no intuito de conhecer suas percepções em relação ao evento. Para isso, toma como corpus de pesquisa: a) documentos gerados nas seis primeiras edições (1978 – 1987) dos Congressos de Leitura do Brasil e b) depoimentos de participantes do evento, de modo a buscar indicadores com os quais possa investigar o congresso como espaço IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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de formação docente no Brasil. Visa integrar e contribuir com os esforços que já vêm sendo realizados na pesquisa ALB: Memórias. Cadernos escolares como lugares de memória das aulas de História: reflexões iniciais Fernando Leocino da Silva
(Universidade Estadual de Campinas)
Os cadernos escolares são importantes instrumentos para conhecermos seus autores, sua rede de relações, seus modos de expressar conhecimentos e sentimentos, mas também revelam indícios sobre os professores, o trabalho pedagógico e a escola na qual estão inseridos. Analisar os cadernos produzidos na escola (mas não exclusivamente nela) é poder problematizar os processos de escolarização em sua rede de relações a partir dos diferentes sujeitos envolvidos em determinadas culturas escolares. A presente pesquisa procura levantar reflexões acerca do tema partindo de uma experiência com estudantes do E. Fundamental (nonos anos) do Colégio de Aplicação/UFSC tendo como base os registros memoriais construídos em seus cadernos escolares. O chamado Memorial foi fruto de uma narrativa da própria experiência retomada a partir de elementos significativos que vieram à lembrança dos estudantes após as discussões de sala de aula. Procurar-se-á perceber como estes estudantes registram suas análises na produção de sentidos tendo o passado como referência para a sua compreensão do presente, os nexos entre a vivência de atuação social e os conceitos e conteúdos dos saberes histórico escolares. Diálogos entre memórias de formação docente: o lugar do conhecimento histórico educacional Marcia Regina Poli Bichara
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Em minha tese de doutoramento elegi a metodologia de pesquisa narrativa e o diálogo com professoras de uma pequena escola do interior paulista, possibilitando a troca de experiências e o levantamento de questões relacionadas à percepção de mudanças, tais como aumento populacional, fluxo migratório e aceleração do tempo, bem como quais racionalidades e sensibilidades estariam sendo construídas. Também a compreensão de como produzimos conhecimentos históricos educacionais na docência, em diálogo com nossas experiências vividas. Uma noção de formação docente que vai muito além dos
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bancos da academia e dos muros da escola. Pudemos, ao realizar o exercício da rememoração, recuperar, mesmo que momentaneamente, nossa condição de sujeitos mais inteiros, com nossas contradições, desejos, sonhos, em nossas singularidades, perpassadas pelas relações sociais, na historicidade. Brechas para a produção de conhecimentos históricos educacionais puderam ser construídas, colaborando para a emergência de sujeitos capazes de se sentirem pertencentes ao seu tempo e lugar e contribuindo, ainda, para a emergência de outras vozes, docentes e discentes, na produção de tais conhecimentos. Saturno, o Deus de Portinari Ivan Luiz Martins Franco do Amaral
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
Rubens Bedrikow
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Portinari, filho de imigrantes italianos que aportaram no Brasil para trabalhar na lavoura de café viria, mais de quatro décadas depois, sofrer de saturnismo, isto é, de efeitos da intoxicação por chumbo. No Museu Casa de Portinari, a visão de vinte e dois tubos de tintas importadas, parcialmente usados, dispostos em duas fileiras horizontais com onze tubos cada, nos remete à doença ocupacional que ceifaria a vida do pintor apaixonado pela sua arte. Das três tintas que continham chumbo - branco de prata, amarelos de Nápoles e vermelho de Saturno, é esta última que mais curiosidade desperta, em função do nome do Deus da mitologia romana. Os alquimistas achavam que o chumbo era o mais velho dos metais e o associavam ao planeta Saturno, de onde o nome da doença. Este trabalho trata da relação entre a doença ocupacional e a mitologia romana, enfatizando os significados de Saturno na biografia e trajetória profissional de Portinari, tendo como ponto de partida a exposição permanente no Museu Casa de Portinari. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 Memória e História da Educação em Minas Gerais: entre práticas e perspectivas vividas nos anos de 1910 e 1920 Gilma Maria Rios
(IMEPAC - Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos)
O presente artigo objetiva discutir a questão da memória registrada nos decretos e leis sobre a educação em Minas Gerais nas duas primeiras déIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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cadas do século vinte. O referencial teórico-metodológico está assentado nos estudos de Ecléa Bosi(1994; 2003) sobre memória e na teoria sobre memória social de Maurice Halbwachs(1993). Nesta perspectiva, entende-se que os estudos de memória em educação, ajudam a explanar a compreensão dos fenômenos educativos, das inquietações e dos desafios que na contemporaneidade têm movimentado pesquisadores. Entende-se ser relevante esse olhar sobre o passado, uma vez que esse encontro com a historicidade da educação possibilita inesgotáveis formas de produzir novos saberes que possam colaborar no entendimento da política educacional de nosso tempo, e propiciar novas perspectivas acerca da escolarização e dos sujeitos envolvidos em variados processos formativos da educação. Enfim, os estudos de memória em educação propõem a problematização dos processos de produção, circulação e adoção de discursos e saberes pedagógicos, bem como a emergência de experiências educativas formais e não formais, em suas temporalidades e espacialidades específicas. Entre memórias e o cotidiano em Porecatu/ Pr, uma pequena cidade parananense Claudia Regina Prado Fortuna
(UEL - Universidade Estadual de Londrina),
Deise Maia
(Universidade Estadual de Londrina),
Regina Maria Alegro
(UEL – Universidade Estadual de Londrina)
O paper trata de experiências de pesquisa na cidade de Porecatu nascida do processo de ocupação da região norte paranaense no inicio do século XX. A família Lunardelli adquiriu terras loteadas pelo interventor federal Manoel Ribas e fundou a Usina de açúcar Central do Paraná no final dos anos 40, atraindo migrantes de várias localidades. É nessa ambiência que se busca compreender o passado e o presente de seus moradores, por meio da vivência na localidade, da observação direta das práticas sociais/culturais e de seus depoimentos orais. Compreende-se com Lefebvre a cidade “como a projeção da sociedade sobre uma determinada localidade”. Com Walter Benjamin, percebe-se a memória, a narração, onde os sentidos se mostram quer ditos quer silenciados. Neste cenário é possível falar de uma educação política das sensibilidades: de emoções, sensações, experiências vinculadas
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a contextos históricos e visões de mundo. Passado e presente convivem, são dinâmicos, inacabados e renováveis. As narrações falam de si, para si e dos outros, manifestando as diferentes memórias que se conjugam e disputam. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 A História da Matemática como referência de memória para a construção do conhecimento Hilda Souza da Cruz
(UFES - Universidade Federal do Espírito Santo)
Este trabalho investiga a História da Matemática no sentido de torná-la mais significativa, deixando de ser a ciência do raciocínio lógico e abstrato para exercer um papel histórico e cultural. A História da Matemática serve de alicerce para a compreensão do mundo e participação ativa do homem na sociedade. Considerada a mais antiga das ciências, a História tem servido a grupos sociais, como afirmação da identidade e memórias. A Matemática compõe a espinha dorsal do conhecimento científico, tecnológico e sociológico. Assim, subjacente a esse atributo de qualidade e indispensabilidade, há intenções que se constituem tanto no contexto histórico da produção do seu conhecimento quanto do seu ensino nos meios formais de educação (SOARES). Enfim, a História da Matemática pode ser um elemento motivador de ressignificação dos conteúdos específicos e no desdobramento de novos horizontes fazendo com que este instrumento permita ao aluno entender conceitos a partir de sua origem, considerando todas as suas modificações relacionadas a contextos históricos específicos, seus sentidos e significados na história da humanidade interligados a questões de valorização da memória de diferentes povos. Inventário de pesquisa: uma possibilidade outra de refletir sobre a prática docente Patrícia Yumi Fujisawa
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Buscamos neste artigo discutir sobre a possibilidade do inventário de pesquisa auxiliar pesquisadoras e pesquisadores a refletirem sobre suas práticas profissionais enquanto docentes imersos, e submersos, no cotidiano escolar. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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A organização dos guar(dados), colecionados a partir de diversas situações e experiencias no cotidiano escolar, na forma de um inventário de pesquisa, tem sido amplamente defendida pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC) da Faculdade de Educação da Unicamp enquanto uma escolha metodológica em contextos de pesquisas narrativas. Em diálogo com as produções do grupo e com a escrita em andamento de uma dissertação de Mestrado Profissional em Educação Escolar procuramos problematizar, a partir de diferentes indícios, o que pesquisadoras e pesquisadores podem aprender sobre a própria prática ao inventariar a materialidade do cotidiano escolar e ao narrar o percurso de produção do inventário de pesquisa. Ensino Fundamental Anos Iniciais e Elementary School - Algumas Semelhanças e Dissemelhanças Fernanda Leal de Magalhães (Prefeitura de Valinhos)
É frequente e atual o questionamento do papel da escola na vida das crianças e mais ainda no cotidiano de uma sociedade. Partindo desta indagação, o presente estudo procura comparar a estrutura das escolas públicas nos Estados Unidos da América e as do Brasil. A partir de observações realizadas em escolas públicas de ambos os países foi possível registrar algumas características destas instituições, quanto a estrutura predial; os ambientes internos como salas de aula, banheiros, refeitórios e ambientes externos como quadras e pátios; o uso de tecnologias da informação e comunicação (tic’s); os materiais didáticos utilizados e fornecido aos estudantes; as metodologias e estratégias de aprendizagem empregadas na prática educacional; o currículo selecionado; o perfil dos estudante e professores. Ao analisar os dados coletados foi possível verificar traços semelhantes e dispares entre estas duas realidades. Sessão 4 - 16h00 às 18h00 Educação Integral e História local Jane Bittencourt
(UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina),
Sayonara da Luz da Silva
(UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)
Este trabalho se refere a uma pesquisa em andamento no Mestrado Profis-
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sional em Ensino de História na Universidade Federal de Santa Catarina. Tem como foco investigar a relevância do ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental tendo em vista o desenvolvimento integral dos estudantes. Adotamos, de acordo com a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina, a consideração das inter-relações entre diversos saberes, assim como o papel do protagonismo das crianças e da coletividade na geração de novos conhecimentos e aprendizagens. A partir da evidente ausência da história local nos livros didáticos de história para os anos iniciais, propomos a exploração dos saberes comunitários segundo a proposta do Programa Mais Educação. Estes saberes possibilitam colocar em evidência memórias e vivências das crianças e de suas famílias a respeito de práticas socioculturais relevantes na comunidade da Praia João Rosa, em Santa Catarina. Pretendemos exemplificar como a consideração de saberes baseados na história local contribui para a construção de identidades e para o fortalecimento das referências culturais das crianças, fatores fundamentais na busca por uma educação integral. Memória, patrimônio e espaço escolar. Uso das tecnologias na difusão do conhecimento e preservação do patrimônio cultural Danielle Torres dos Santos
(IFRJ - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro)
Observando o desenvolvimento e fomentação da preservação do patrimônio cultural da cidade de Cabo Frio, as atividades desenvolvidas em sala de aula visam o resgate e difusão da instituição de importância material e imaterial do local, o Instituto de Educação Professora Ismar Gomes de Azevedo. Tornar acessível a história para sociedade, trará a ideia de pertencimento e conscientização de que o progresso da cidade pode andar de mãos dadas com a preservação da mesma. A aprendizagem organizacional dos alunos abrangem tanto conhecimentos formais e informais. Assim os mesmos podem criar seus próprios modelos de divulgação sobre o espaço escolar. Tendo uma múltipla dinâmica, o aprendizado ocorre através das trocas de informações e pesquisas, obtidas e divulgadas com uso das tecnologias. As tecnologias da informação auxiliam e potencializam o trabalho com conhecimento. Esses recursos facilitam o trabalho em rede, descentralizando os conhecimentos e melhorando o grau de interatividade, conscientização do patrimônio cultural da cidade e dando sentido real de preservação. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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EDUCAÇÃO INFANTIL PATRIMONIAL: A história de uma cidade contada através de um Guia Turístico Scarlett Mesquita Campolina (Faculdade Unyleya)
O exposto artigo pretende-se discutir a Educação Patrimonial Cultural, observando a inserção do conceito patrimonial na educação infantil através de um Guia Turístico da cidade de João Monlevade. Patrimônio Cultural é uma junção de elementos históricos e culturais que unem memórias, sentimentos em uma edificação arquitetônica ou em um vezo. Nos dias de hoje vem se tornando um obstáculo a preservação desses elementos, visto que, existe uma grande degradação desses monumentos arquitetônicos. Com isso, no presente momento, ouvimos muito falar sobre a preservação desses bens da humanidade, para que as futuras gerações possam desfrutar dessas grandes e vislumbrastes memórias, mantendo as características originais dos mesmos. Para que essa preservação ocorra de forma eficaz, a longo prazo, é inserido a Educação Patrimonial nos ensinos básicos. Através de pesquisas, observou-se que é imprescindível despertar o senso de preservação patrimonial cultural em crianças, e devido a essa questão, foi elaborado um Guia Turístico Infantil como ferramenta de estudo dos elementos arquitetônicos patrimoniais do município de João Monlevade.
GT 04 MEMÓRIA E CIDADE Coordenação: Josianne Francia Cerasoli (IFCH/UNICAMP),
Ana Carolina Oliveira Alves
(doutorando – PPGH/Unicamp)
Leonardo Faggion Novo
(doutorando – PPGH/Unicamp) 29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45
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História e Memória: gênese da cidade de Ituiutaba, Minas Gerais Nicola José Frattari Neto (UNICAMP- Universidade Estadual de Campinas)
São fecundos os tempos e os espaços estabelecidos entre a história e memória. Para tal propomos conhecer a gênese da cidade de Ituiutaba, no estado de Minas Gerais, por meio de cadernos, livretos e revistas escritos por memorialistas da cidade e da região. Muitas vezes publicações editadas e encomendadas em momentos comemorativos, mas que oportunizam o conhecimento se entrecruzadas com fontes outras que possibilitarão os campos em comum ou contrários. Visitando o regional é possível encontrar resquícios de um contexto muito maior em um verdadeiro processo dialético, oportunizando uma busca por vestígios que produzem o conhecimento na atualidade, daquilo que se passou, a materialidade do homem na construção do cotidiano e das esferas sociais, culturais, políticas e econômicas. Nessa perspectiva visitamos as obras dos memorialistas locais como Paiva (2018), Teixeira (1953), Novais (1974), Côrtes (1971), Chaves (1998), entre livretos comemorativos editados pela Fundação Cultural de Ituiutaba. Encontramos entre saudosismos e homenagens um processo continuo que coaduna com a História regional e uma clara oportunidade de percorrer novos caminhos para a pesquisa. O desempenho de Zacarias de Góes e Vasconcellos na instalação da província do Paraná: história e memória Eduardo José Neves Santos
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Zacarias de Góes e Vasconcellos (1815-1877) formou-se pela Academia de Olinda e em 1843 filiou-se ao Partido Conservador, onde permaneceu até o princípio dos anos 1860. Entre os cargos que exerceu durante sua longa trajetória política, destaca-se sua atuação na instalação da recém-criada província do Paraná por escolha do presidente do gabinete de Conciliação, Honório Hermeto Carneiro Leão. Baiano e, portanto, sem vínculos pessoais com a política paranaense, Zacarias soube articular as demandas das grandes famílias que dominavam o poder local e por meio de alianças, com conservadores e, sobretudo, com liberais, adquiriu prestígio e chegou ser eleito deputado geral pelo Paraná na 11ª legislatura (1861-1863). Esta IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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comunicação, objetiva delinear o trabalho desempenhado por Zacarias na instalação da província, enfocando a escolha de Curitiba como capital. Outrossim, pretendemos demonstrar como a figura de Zacarias foi cristalizada na história da província, destacando a importância dos objetos materiais na solidificação da memória coletiva, em especial a escultura em bronze inaugurada em sua homenagem em 1915, na praça que leva seu nome no centro de Curitiba. A praça e a memória: a disputa identitária nas praças de Apucarana - Entre o pioneiro e guerrilheiro (1944-2013) Guilherme Alves Bomba
(UEM - Universidade Estadual de Maringá)
A memória de uma cidade, de seus habitantes, é constantemente alimentada pelos ídolos e as histórias de sucesso. Essa memória é um constante construir em meio a própria degradação, seja ela pela falibilidade das memórias pessoais, que se esvaem com a morte dos mais velhos, além da própria reconstrução dos espaços dedicados a ela. Apucarana, uma cidade nova com apenas 75 anos no Norte do Paraná, busca ainda estabelecer administrativamente quais elementos se quer preservar de seu passado. Entre os mitos dos pioneiros, temos a noção daqueles que são o primeiro de tudo: o primeiro padeiro, carteiro, policial, etc. Sabemos que a noção de pioneiro perpassa relações econômicas, dando aos que tiveram o sucesso financeiro o disputado posto, relegando dezenas ao esquecimento pelo insucesso de seus empreendimentos. Com o Jubileu de Prata (1968-69) no auge da Ditadura Civil-Militar, a cidade propôs “eternizar” seus membros em ritos memorialistas, que acabaram por desaparecer ao longo dos anos. Por outro lado, com o alvorecer do século XX, surgiram novos personagens, jovens que lutaram contra a ditadura e foram mortos nesta. Sobre estes, surgem espaços disputados, física e socialmente. A participação do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba – IHGP na conservação da memória e cultura local Carolina Martin
(UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba)
O objeto de pesquisa deste trabalho é o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba - IHGP, localizado no município de Piracicaba, no interior do
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estado de São Paulo. O intuito é identificar a importância desse órgão privado, sem fins lucrativos, na preservação e construção da memória local. Os procedimentos metodológicos se baseiam em pesquisa bibliográfica e análise documental. Para tal, são utilizados como fonte de pesquisa autores e teóricos, que estabelecem diálogo entre a importância de se salvaguardar história local e suas implicações na dinâmica hodierna dos municípios e pesquisadores, os quais discutem a pertinência de acervos e arquivos nesse contexto. Como complemento da discussão, empregou-se a análise dos documentos disponíveis no IHGP, para delinear a história desse instituto e identificar suas ações em prol do patrimônio cultural de Piracicaba. Os resultados revelaram que, o IHGP nessa segunda década do século XXI é a principal instituição do município de Piracicaba na preservação da memória local, com acervo diversificado aberto à comunidade e pesquisadores e referência na produção de livros e revistas dedicadas à história de personagens, lugares e tradições. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 Construção de uma trama urbana: representações textuais de São Paulo em periódicos – 1910-1930 Cinthia Aparecida Tragante
(USP - Universidade de São Paulo)
A expressiva transformação urbana da cidade de São Paulo no início do século XX trouxe mudanças perceptíveis nos diversos setores, causando uma espécie de êxtase pelo crescimento acelerado. Neste contexto, surge um discurso sobre a cidade baseado na exaltação das mudanças como sinônimo de progresso em conjunto com o fortalecimento do mito bandeirante. No mesmo período, ganham espaço as discussões sobre o modernismo nas artes que entende tal cidade em ebulição como o espaço ideal para a celebração da modernidade e enaltecimento de sua urbanidade. Contudo, a partir principalmente da década de 30, São Paulo passa a apresentar de maneira mais evidente, problemas decorrentes do crescimento acelerado, tensionado a imagem que se criava da cidade. O trabalho procura discutir a construção do imaginário urbano da cidade de São Paulo a partir de suas representações textuais presentes em periódicos da época, tanto das áreas de engenharia, arquitetura e urbanismo, quanto nas revistas de artes e literatura. Procura-se compreender o diálogo entre estas áreas na construção da imagem da cidade, seja ao celebrá-la, enfatizando sua modernização, ou criticá-la, assinalando seus problemas urbanos. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Usos de dados, narrativas sobre cidades e casos exemplares de intervenção urbana nos debates de “melhoramentos” em São Paulo (1890-1910): questão técnica e política Raquel Oliveira Jordan
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Esta comunicação propõe explorar como dados e narrativas sobre diversas cidades e experiências de transformação urbana ao redor do globo eram utilizados em revistas, propostas de melhoramentos urbanos ou ainda em debates legislativos por agentes interessados nas intervenções urbanas na cidade de São Paulo. No livro “Urbanism: Imported or Exported? Native Aspirations and Foreign Plans” seus editores Joe Nasr e Mercedes Volait propõem discutir “uma complexa relação entre poder e fluxos de informação” que cercam as intervenções urbanas ancorados na ideia de uma separação estrita entre um espaço global e outro local na produção do conhecimento sobre as cidades. Nessa ótica, as citações a diversas cidades e suas experiências de transformação funcionam como indícios de uma desejada aproximação com casos exemplares ao redor do globo, acarretando em interpretações de uma transposição dessas experiências em casos locais. Ao explorar o papel dessas citações, estatísticas e narrativas de casos exemplares nas discussões sobre “melhoramentos” em São Paulo propõe-se problematizar interpretações comprometidas com a afirmação de um caráter local desses processos. A cidade como espaço da memória e da experiência coletiva: os Congressos Pan-Americanos de Arquitetos e a dimensão espontânea das metrópoles latino-americanas Fernanda Cristina Pereira Drumond
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Partindo do pressuposto de que a cidade é por excelência um espaço de experiência e de memória coletiva, a comunicação em questão reflete sobre as narrativas presentes nos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos e como elas influenciaram na conformação das cidades latino-americanas. Considerando as discussões ocorridas nesses eventos a partir de 1950, a ideia do planejamento urbano visando a construção de uma “boa” cidade na América latina contrasta com o intenso fluxo migratório no sentido campo-cidade. É necessário ressaltar que tais discussões ocorreram em um cenário bipolarizado, no qual esses
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eventos não eram apenas lugares de discussão restritos a ideias endógenas ao próprio campo da arquitetura, funcionando também como elemento de difusão cultural do bloco capitalista. A última parte desta comunicação recorre aos documentos produzidos por Organismos internacionais, como o BID e a OEA, para discutir como as temáticas presentes nos Congressos Pan-Americanos de Arquitetos reverberaram, sendo institucionalizadas em textos que pautam a forma de organizar o espaço urbano e o patrimônio cultural, como é o caso das Normas de Quito e da Resolução de São Domingos. O processo de modernização de Teresina na década de 1970: ouvindo atores sociais envolvidos Francisco Alcides do Nascimento (Universidade Federal do Piaui)
A comunicação destaca o processo de modernização de Teresina na primeira metade da década de 1970. Naquela oportunidade foi indicados para o governo do estado, o sr. Alberto Tavares Silva e, para administração da capital, o sr. Joel da Silva Ribeiro, ambos engenheiros. Técnicos capazes de tirar o Piauí do atraso ao qual estava submetido, acreditavam. A cidade de Teresina deveria ser o trem a guiar e conduzir o estado para o caminho do progresso. Assim, antenados com os desejos do marechal – presidente, os administradores modificaram o tecido urbano da capital, abrindo novas avenidas, modificando o traçados de algumas já existentes; construíram praças, parques, estádio de futebol, o que provocou o deslocamento de muitas pessoas. A pesquisa, empregando a metodologia da História Oral, ouviu homens e mulheres afastadas do centro de Teresina. O modelo de entrevista empregado foi o de trajetória de vida. Foram ouvidos na condição de construtores do espaço urbano de Teresina. Por ocasião da pesquisa, moravam em bairros nascidos na primeira metade da década aludida no início do resumo. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 BATALHAS PELAS MEMÓRIAS: Migrantes nordestinos na cidade de São Paulo no inicio do século XXI (2002-2018) Antonio Clarindo Barbosa de Souza
(UFCG - Universidade Federal de Campina Grande) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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O presente trabalho se dedica a mapear as experiências de trabalhadores nordestinos na cidade de São Paulo entre os anos de 2002 e 2018, levando em consideração que nestes anos iniciais do século XXI o tipo de migrante que se deslocou para a capital paulista se configura num novo tipo de migrante, mais qualificado educacional e profissionalmente, e que busca enquadrar-se nas novas oportunidades laborais e culturais da grande cidade. Além disto, o trabalho discute as formas como as memórias destes trabalhadores são construídas na e sobre a cidade e como os lugares por eles ocupados nem sempre tornam-se lugares de memórias, incluídos que estão numa batalha física e simbólica pelas memórias dos lugares. O trabalho é resultado do projeto Vidas (des)encontradas - migrantes nordestinos em SP (2002-2018), realizado como estágio pós-doutoral, no ano de 2018 junto à PUC-SP. Migrações do Nordeste para o Sudeste: análise sobre o uso de entrevistas. Valéria Barbosa de Magalhães (USP - Universidade de São Paulo)
Nesta apresentação, falaremos os resultados parciais do projeto NORDESTINOS EM SÃO PAULO E HISTÓRIA ORAL: ABORDAGEM HISTÓRICO-CRÍTICA, financiado pela Fapesp e coordenado por Valéria B. Magalhães, que tem por objetivo investigar a utilização da história oral e de suas técnicas nos diferentes estudos sobre migrações do Nordeste para o Sudeste. No trabalho, está sendo executado um levantamento da produção bibliográfica brasileira neste escopo, iniciada em dois outros projetos conduzidos no GEPHOM/USP e coordenados por Valéria B. Magalhães , um sobre as memórias de nordestinos residentes na Zona Leste da cidade de São Paulo (Fapesp) e outro que realizou um levantamento da produção brasileira de história oral sobre o tema da imigração (CNPq). Nesta etapa do projeto, busca-se especificamente levantar e analisar a produção brasileira sobre as migrações do Nordeste para o Sudeste que tenham se valido das técnicas de entrevistas de história oral. Um Museu para todos ou um museu de heróis? Reflexões sobre a formação de um Museu de Cidade no interior do Estado de São Paulo. Rafael José Barbi (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
A partir dos anos 1950 e 1960, o Governo do Estado de São Paulo imple-
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menta em cidades estratégicas do Estado, instituições museológicas com a alcunha de “Museus Histórico-Pedagógicos”, instituições que deveriam ser as guardiãs e as difusoras de toda a gloriosa história paulista e da localidade em que foram implementados. Em contrapartida, nos anos 80, surge uma discussão em torno do conceito de Museu de Cidade, que ganha notoriedade no campo museológico e histórico com o debate iniciado pelo Prof. Dr. Ulpiano de Menezes para pensar uma nova perspectiva para o Museu da Cidade de São Paulo. A partir desse referencial, algumas cidades do interior constroem processos museológicos com o objetivo de construir um Museu de Cidade, transformando dessa forma a lógica dos Museus Histórico- Pedagógicos. Nesse contexto, a presente comunicação apresenta uma reflexão em torno desse processo da criação de um museu de cidade no interior, analisando especificamente, o caso do Museu da Cidade de Salto, instituição inaugurada em 1991 e que trouxe avanços importantes para a história da museologia paulista. CEU, Memórias e Ação - O Olhar “de dentro” para transcender o território Elayne Pinheiro Fermandes (Secretaria Municipal de Educação de São Paulo),
Katia Rubio
(USP - Universidade de São Paulo),
Maria Alice Zimemrmann
(Secretaria Municipal de Educação de São Paulo)
Os CEUs – Centros Educacionais Unificados constituem espaços privilegiados de reflexão dos arredores da cidade e nos locais nos quais estão inseridos. Enquanto centros de referência de memórias vivas dos territórios, tem como marca principal, sua natureza histórica e sócio antropológica, seu comprometimento com as histórias que abriga, a necessidade de fazer com que toda a população usuária do equipamento, seja autora e protagonista, como promotor da ação, fomentando elos, sentidos e significados dos acervos patrimoniais materiais e imateriais locais, contribuindo para a formação da memória deste território e história da população paulistana.O projeto CEU, Memórias e Ação resgata a importância destes ícones identitários, nas relações estabelecidas antes mesmo de suas construções e com significativas representações políticas, intelectuais da cidade nos seus mais diversos territórios. Seus modos de viver, de pensar a cidade. Com suas narrativas, suas lembranças e o entendimento de IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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episódios marcantes do processo de construção de uma entidade que se construiu e se constitui juntamente com a necessidade de se estabelecer por meio de um serviço que há pouco tempo era inexistente. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Os ruídos do ressentimento em revolta na metrópole fragmentada. João Augusto Neves
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O Long Play “Grito suburbano” (1982), composto por diferentes variantes do punk, apresenta em suas tecituras os ressentimentos na metrópole paulistana. Ouvindo e lendo as informações contidas na sua performance, percebo a maneira pela qual essas emoções produziram uma narrativa, por vias de uma memória punk, sobre os subúrbios de São Paulo e região. Trabalhando com essa fonte fonográfica, pretendo exercitar uma escuta profunda para compreender as sensibilidades partilhadas nas décadas de 1980 e as mobilizações éticas e estéticas produzidas pelos ruídos do ressentimento em revolta naquela metrópole fragmentada. Imagem, memória e esquecimento na cidade de São Paulo: etnografia e arte na evocação dos lugares e conflitos silenciados Arlete Fonseca de Andrade (PUC-SP)
Na cidade de São Paulo há lugares – no espaço urbano - que apesar de não notarmos estão bem próximos de nós e dispostos a narrar acontecimentos históricos de uma época, de uma população, suas práticas e costumes. Um deles é o bairro da Liberdade, localizado na região central da cidade. No passado o território foi palco de conflitos sociais e políticos, escravismo e punição e no presente dialoga a partir dos poucos patrimônios de pedra e cal que restaram e dispostos a serem (re)descobertos em meio às interferências e interlocuções do cotidiano. A pesquisa exuma os lugares e demonstra que a etnografia aliada a práticas artísticas e culturais quebram barreiras do silêncio e revelam o pesado legado do patrimônio totalitário absorto em violência e repressão às minorias do passado centenário - grupos étnicos:
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África e povos de origem, pobres e marginalizados - e do esquecimento muito presente na intenção de serem despertados e tornarem-se seus próprios protagonistas e promover a reparação das vítimas das comunidades e grupos afetados. Entre diferentes vozes: Construção da Igreja do Rosário dos Homens Pretos do Paissandu como patrimônio cultural . São Paulo (1989-1992). Heloisa Rosa Costa Lima
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Partindo do processo de tombamento do Vale do Anhangabaú, realizado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP) e do livro: Os Pretos do Rosário de São Paulo, busco entender como se desenrolou o processo de valorização e de construção da Igreja do Rosário dos Homens Pretos do Paissandú como patrimônio cultural. Essa igreja foi tombada pelo Conpresp no ano de 1992, como parte dos edifícios pertencentes ao Vale do Anhangabáu e entorno, no entanto, o livro Os Pretos do Rosário de São Paulo, que é de autoria de Raul Joviano do Amaral, que foi um dos integrantes da irmandade dos homens pretos, foi publicado três anos antes do tombamento da igreja,1989. Entendemos que as memórias que dizem respeito aos integrantes da irmandade foram desconsideradas no processo de tombamento do Vale do Anhangabaú, cujas considerações sobre a Igreja documentam apenas seu estilo arquitetônico como parte de um conjunto de edificações integrantes da mancha urbana do Vale e que tais memórias carecem atualmente de salvaguarda. Assim temos por objetivo compreender as formas pelas quais a Igreja torna-se um bem cultural. Monumento Mãe Preta em Campinas: um polo de Memória e de construção da História Márcia Cristina Marques Martins Ramos (USP - Universidade de São Paulo)
Esta comunicação propõe uma reflexão sobre a relação dinâmica, do Monumento Mãe Preta em Campinas e, seu contexto histórico social. O monumento, de autoria de Júlio Guerra é uma réplica do original, localizado em São Paulo. A peça foi instalada pela comunidade negra e religiosa no ano de IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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1983, na Praça Ana Nery, em frente à Igreja de São Benedito em Campinas, porém o embasamento não teve verbas para a finalização do projeto, permanecendo a base em alvenaria de tijolos revestida com argamassa em cimento. Em 2015 associações de matriz africana se propuseram a participar de uma consolidação da peça por meio de um projeto de restauro com a Unicamp. A base foi enfim finalizada, com revestimento em granito. Nessa pesquisa foram consultados funcionários da Prefeitura Municipal de Campinas, integrantes de comunidades de Matriz Africana em Campinas, entrevistas com pessoas próximas geograficamente ao monumento e estudantes do ensino fundamental. O monumento é um ponto para comemorações e um centro simbólico da cultura africana. Este Monumento Mãe Preta é um feliz exemplo de interação de um investimento afetivo, um local de memória, de acordo com a concepção de Pierre Nora. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Centro de Convivência Cultural: valorização, preservação e uso do patrimônio moderno de Campinas Rafael Henrique Jaime Meireles (PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
Localizado na cidade paulista de Campinas, o Centro de Convivência Cultural Carlos Gomes foi construído entre 1966 e 1976 a partir de um projeto do arquiteto Fábio Penteado, que idealizou um complexo cultural multiuso com teatro interno, teatro de arena, área para café e salas de exposições. De arquitetura moderna, o Centro de Convivência é representante material de um período de grandes mudanças urbanísticas em Campinas e que nos remete à história dessa cidade. Porém, desde seu tombamento em 2008 como patrimônio cultural do município, o complexo enfrenta problemas de conservação de sua estrutura física, se tornando objeto constante da mídia local. Neste contexto, algumas questões se tornam importantes, como a valorização, preservação e uso desse patrimônio moderno. A utilização de algumas balizas metodológicas, como discussões sobre o conceito de patrimônio, cultura material, memória e práticas preservacionistas, além da utilização de matérias jornalísticas como fontes primárias, foram imprescindíveis para detectar diferentes pontos de vista da comunidade sobre valor arquitetônico, histórico e afetivo do Centro de Convivência nas suas disputas, discordâncias, interesses e ações.
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Cinelândia paulistana como memória: as salas de cinema de São Paulo no processo de tombamento do Vale do Anhangabaú. Thaís Valvano Vicentin
(USP - Universidade de São Paulo)
Este estudo tem por objetivo identificar os fatores que contribuíram para o processo de tombamento de algumas salas de cinema do centro da cidade de São Paulo, local que nos anos de 1950 ficou conhecido como Cinelândia paulistana. A discussão ocorre por meio da aceitação que o processo que terminou por preservar as salas de cinema tinha como objetivo tombar a região do Vale do Anhangabaú. Dado essa afirmativa, o trabalho propõe, além de um breve panorama dos anos de funcionamento de alguns cinemas, entender a importância desses edifícios para a população paulistana e para a memória da cidade. A resolução nº 37/92 que determinou o tombamento serve de fonte para este trabalho assim como outros documentos, sobre o tema, que estão presentes nos arquivos do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo (CONPRESP). Moradia, Memória e Processos: a construção da memória das residências-monumento de Ernesto Dias de Castro e Ramos de Azevedo no patrimônio paulista Carlos Thaniel Moura (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
A Avenida Paulista, espaço que presenciou as diversas transformações da urbanização paulistana foi palco nos anos 1980 de consideráveis conflitos preservacionistas em relação ao seu passado, enquanto lugar de residência de comerciantes estrangeiros. Compreendendo a atuação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo - CONDEPHAAT apresentaremos a partir da análise dos processos de tombamento das residências de Ramos de Azevedo e Ernesto Dias de Castro, as divergências quanto a preservação de edifícios residenciais pertencentes às famílias da elite paulista e dos imigrantes enriquecidos. Ainda que atrelado a família de Ramos de Azevedo, Ernesto Dias de Castro, advindo do Rio Grande do Sul, um migrante portanto, não estaria conectado à memória paulista, em que o discurso de rememoração da própria residência, atual Casa das Rosas, está associada ao seu sogro, Ramos de Azevedo. Essas IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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políticas preservacionistas retomam tão somente a identidade paulista em primeiro plano, quanto aos discursos presentes nas questões de moradia na capital entre seus processos e memórias ligados à história urbana. A outra face da cidade: subúrbios e segregação espacial - Manaus 1880-1910. Bruno Miranda Braga (PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
A comunicação apresenta os antagonismos da vida urbana, tendo como palco, a Cidade de Manaus, durante o período da Belle Époque -18801900. Apresentaremos o que se entendia por subúrbio naquele momento, e como estes se formavam espacialmente. Partimos dos objetivos que propõem evidenciar como se deu a transformação da aldeia em grande urbe no meio da selva Amazônica, e como adequação espacial por parte dos poderes e das pessoas envolvidas neste processo foi vivenciado. O sítio da cidade na segunda metade do século XIX, era o entorno do porto, mesmo que sem suas instalações. A cidade e sua sociabilidade estava diretamente ligada ao rio, como nos diz José Aldemir de Oliveira (2004), a cultura das cidades da Amazônia, colonizada por portugueses, estão diretamente ligadas à beira de rio. O rio era o primeiro contato com a cidade. Manaus estava mudando, estava crescendo, se expandindo. A cidade que crescera voltada para o rio, tenderia a se distanciar, especialmente do ímpeto topográfico que era mais visível em seu sítio. O plano modernizador implantado na cidade alterou grande parte da urbe, tornando a cidade soberba e presunçosa. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Do ‘’Sertão Carioca” a “Miami do Rio”: as diferentes faces morfológicas da Barra da Tijuca. Geise Brizotti Pasquotto
(USP - Universidade de São Paulo)
A evolução urbana da Barra da Tijuca- RJ caracterizou-se por um crescimento tardio, devido à sua localização, por ser um imenso areal e pela concentração de grandes extensões de terras nas mãos de poucos. Esta constatação reflete as ações posteriores da região, onde o processo de crescimento
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imobiliário e as conexões viárias foram o foco das ações urbanas. O Plano Piloto de Lucio Costa, de características modernistas, surge a partir da necessidade de adiantar-se ao processo de ocupação descontrolada e inevitável da área. O plano objetivava impedir a reprodução do que havia ocorrido com outros bairros da orla marítima carioca que sofriam um intenso adensamento. Após 50 anos diversas mudanças foram realizadas, para atualizar o plano à atualidade, para sanar alguns pontos em que o plano não tinha detalhamento suficiente e muitas que sucumbiram às pressões imobiliárias. Desta forma, o presente artigo visa analisar as transformações ocorridas na Barra da Tijuca, desde a implantação do plano até a malha urbana atual, verificando a atuação do desenho urbano e da pressão imobiliária como modeladores do bairro. Como pensar a história da modernização de um espaço? Reflexões a partir de registros fotográficos de Porto Alegre na década de 1970 Alexandra Lis Alvim
(PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul)
Doreen Massey (2009, p.40) reitera a imprescindibilidade em pensar tempo e espaço conjuntamente, pois a imaginação sobre um repercute na imaginação que temos sobre o outro. Através de uma concepção tabular e essencialista de espaço, muitas ações foram executadas em prol de um ideal de modernização que excluía a alteridade e a representava como reduzida a lugar na fila do tempo. Este pensamento serviu como legitimação tanto do colonialismo quanto das remoções promovidas pelo modernização autoritária durante a Ditadura no Brasil, subjugando outras formas de existência em nome do progresso. Este trabalho pretende analisar algumas fotografias produzidas pela Prefeitura de Porto Alegre que documentam as intensas reformas urbanas modernizadoras que redesenharam a cidade na década de 1970. Os registros fotográficos compõe uma narrativa visual que, entre a construção de grandes obras e viadutos e o crescimento das comunidades periféricas, sugerem algumas reflexões sobre a história da modernização de nossas cidades. Análise diacrônica do tecido urbano: a cartografia histórica na busca das permanências Cauana Lemes Conde Nandin
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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O trabalho tem como objetivo demonstrar como o cruzamento de fontes primárias de caráter distinto (textuais, cartográficas e iconográficas) pode ser base para a análise diacrônica do tecido urbano, considerando sua gênese e sua expansão. A metodologia se fundamenta na análise de séries cartográficas e sua comparação ao território atual, a partir de imagens aéreas, procurando perceber as mudanças e permanências do tecido urbano. Com base nessa metodologia, construiu-se a hipótese de formação do tecido urbano, de duas cidades da Região Metropolitana de Campinas, Nova Odessa e Sumaré, cuja gênese está ligada à criação dos núcleos coloniais de Nova Odessa e de Nova Veneza. Através da análise da cartografia histórica foram identificados os elementos primários que compõe o tecido original (as glebas rurais, os caminhos), e os elementos que se sobrepõe a estas preexistências, como o traçado viário, a ferrovia e o parcelamento das glebas rurais na forma de novos loteamentos. O trabalho busca ampliar a compreensão sobre os processos da formação urbana e territorial. As últimas memórias do espaço público Raíssa Pereira Cintra de Oliveira
(UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)
Esse trabalho procura sinalizar de que maneira o modelo de crescimento urbano periférico e fechado dos últimos vinte anos no interior de São Paulo ajudou a modificar exponencialmente as relações com os espaços públicos da cidade - o que deverá ter consequências futuras já sinalizadas por alguns estudiosos, porém, ainda pouco conhecidas sobre as interações sociais e, consequentemente, sobre a percepção da cidade, o senso de pertencimento, identidade, formação da cidadania e outros. Trata-se de um trabalho local e que vem sendo desenvolvido desde 2003 numa cidade de médio porte, Itapira, a partir das memórias orais focadas em dois espaços públicos considerados referências na cidade: a praça da igreja Matriz (Praça Bernardino de Campos) e o Parque Juca Mulato. O trabalho, cujo interesse teve como ponto do partida refletir sobre o direcionamento da preservação patrimonial e de uma política pública voltada à área da preservação dos bens imóveis na cidade, acabou evidenciando questões mais complexas sobre o viver urbano e, portanto, sobre o próprio sentido da preservação.
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GT 05 MEMÓRIA, PRÁTICAS CULTURAIS E SENSIBILIDADES Coordenação: Arnaldo Pinto Junior (FE/UNICAMP),
Maria Sílvia Duarte Hadler
(CMU - Centro de Memória-Unicamp) 29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Sentidos e sensibilidades: reflexões sobre fontes, práticas culturais e processos de educação Arnaldo Pinto Junior
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
Maria Silvia Duarte Hadler
(CMU/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho apresenta reflexões em torno da problemática da história dos sentidos e das sensibilidades, partindo do diálogo com autores e discussões que abordam práticas culturais potencialmente capazes de educar os sujeitos e suas sensibilidades nos espaços urbanos modernos. As várias instâncias temporais e espaciais de uma urbe, associadas aos inúmeros equipamentos ou produtos disponíveis para utilização e consumo, incidem na constituição das formas de viver e conceber a cidade, de agir e se relacionar em sociedade. Considerando a diversidade das produções culturais e das maneiras de atuação dos sujeitos nos espaços urbanos, focalizamos concepções que circulam por meio de publicações impressas ou virtuais, imagens publicitárias, fotografias, obras cinematográficas, emissões televisivas e práticas escolares, dentre outras. Assim, procuramos analisar a constituição das sensibilidades de indivíduos e grupos que constroem suas relações sociais nos espaços urbanos, problematizando a produção e recepção de visões de mundo que agem de modo descontínuo e heterogêneo nos processos de educação cultural.
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As interferências urbanas no Centro Simbólico de Cachoeiro de Itapemirim - E.S. (2002 - 2019) Silvana Maria Gomes da Rocha
(IFES - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo)
Entre 2002 e a primeira metade de 2019, o Centro Simbólico de Cachoeiro de Itapemirim, cidade localizada ao Sul do Espírito Santo, passou por oito intervenções urbanas: o plantio de palmeiras em frente ao Palácio Bernardino Monteiro, Sede da Prefeitura Municipal; a construção e a demolição de uma base de concreto que veria ser a Praça do Mármore, entre as Ruas 25 de Março e Sete de Setembro; a instalação de um monumento em homenagem à Bíblia; a troca da pavimentação da Ponte Municipal Governador Fernando de Abreu; a tentativa de cultivo de árvores nas calçadas na Rua Capitão Deslandes e duas obras que visavam substituir o asfalto pelos blocos intertravados na mesma rua. O presente artigo, portanto, tem como objetivo apresentar o discurso oficial com o qual a Municipalidade justificou tais obras e, principalmente, analisar o quanto elas são uma materialização das disputas de poder. Assim sendo, a Municipalidade, ao criar mecanismos legais para essas intervenções, permiti que algumas memórias aflorem e deixem suas marcas no tecido urbano, como também promove a destruição de outros sinais provenientes de memórias mais remotas. O patrimônio cultural na perspectiva da educação das sensibilidades: reflexões sobre a relação entre história e memória na contemporaneidade Márcia Regina Rodrigues Ferreira (Secretaria Municipal de Educação - Santa Teresa/ES)
Este trabalho analisa a Casa Lambert, patrimônio cultural de Santa Teresa-ES, como produção material e simbólica que expressa às complexas relações dos sujeitos contemporâneos com a história e memória das cidades. A patrimonialização de um espaço de habitar permite uma “leitura a contrapelo” da história local no sentido de desvelar as visões de mundo, imagens e valores imbricados no processo de educação das sensibilidades que envolve os sujeitos em circulação pelos diferentes cenários da cidade (BENJAMIN; GAY). A Casa Lambert como espaço dinâmico, relacionado às transformações do tempo e espaço em que está inserida, possibilita penIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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sar os patrimônios culturais como resultado das experiências dos sujeitos, dos sentidos construídos, compartilhados e até mesmo disputados na definição dos bens que devem ser selecionados como símbolos da coletividade (THOMPSON). Dessa forma, a transformação de um espaço de habitar em patrimônio cultural retrata visões e expectativas tanto do presente quanto do passado, possibilitando reflexões sobre as implicações das modernas práticas culturais nas formas como os sujeitos históricos produzem as suas formas de viver, sentir e conceber as cidades. “Meu bairro, minha cidade” e a inversão do eixo narrativo centro-periferia Elaine Aparecida Jardim (Museóloga)
A narrativa oficial da história da cidade de São Paulo parte de sua fundação pelos jesuítas (1554) e tem como marco o Pátio do Colégio, a partir do qual se organizou o núcleo urbano que se expandiu em direção às suas bordas, configurando os atuais bairros e periferias. Em 2003, foi concebido o projeto de memória Meu bairro, minha cidade: você também faz parte desta história, que inverteu esse eixo narrativo do centro para a periferia e definiu: “a cidade começa no lugar onde você mora”. O projeto concebido pela Secretaria Municipal da Educação como ação inaugural dos primeiros 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs), teve como vetor as comemorações dos 450 anos de fundação da cidade e foi estruturado em duas vertentes: o reconhecimento da história bairro no contexto da história oficial e a promoção da inclusão das memórias das periferias no conjunto dos referenciais patrimoniais da cidade. O presente artigo abordará os aspectos envolvidos nessa concepção e na definição do espaço escolar como privilegiado para as construções narrativas locais, a partir da inclusão do morador da periferia no rol dos construtores da cidade e, especialmente, como produtor de discursos sobre ela. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 Modernistas Espiritualistas: o Grupo de Festa nas primeiras décadas do século XX Luciana Lilian de Miranda
(Secretaria Municipal de Educação de São Paulo)
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Propomos apresentar algumas reflexões, desenvolvidas em nossa pesquisa de Pós-Doutorado, acerca do grupo de escritores reunidos em torno da revista modernista Festa. Formado em torno de Tasso da Silveira (18951968) e Andrade Muricy (1895-1984), no Rio de Janeiro, o grupo fundou o mensário, editado em duas fases (1927-1929; 1934-1935), dentre outras publicações. Compuseram ainda o projeto: Adelino Magalhães, Barreto Filho, Brasílio Itiberê, Henrique Abílio, Lacerda Pinto, Abgard Renault, Wellington Brandão, Cardillo Filho, Porfírio Soares Neto, Murilo Araújo, Cecília Meireles e Tristão de Ataíde. Nesse sentido, ao recuperar o pensamento e produções desses escritores, buscamos problematizar a atuação dos mesmos enquanto intelectuais mediadores culturais e as suas redes de sociabilidade na cidade, nas duas primeiras décadas do século XX. Os integrantes da revista deixaram o seu legado pelas reflexões e poesias imbuídas de elementos espirituais ancorados, sobretudo, nos valores do catolicismo. Almejavam compreender a modernidade e indagar sobre o destino do homem, sem romper completamente com o passado. Análise de frases ‘destacadas’: uma relação entre humor e memória nas práticas socioculturais como modo de articulação de sensibilidades Raquel Duarte Hadler (IEL/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Neste trabalho pretendemos discutir as relações entre humor, memória, práticas socioculturais e sensibilidades a partir do debate de alguns autores como Freud, Raskin, Skinner, Lewis, Dascal e Possenti, os quais abordam a função social do humor, tanto nas articulações cotidianas que os sujeitos tecem entre si, quanto na contribuição que o humor pode oferecer aos processos de mudança de uma sociedade. Podemos observar que o efeito do humor depende do tipo de acontecimento a que ele vincula-se, que pode ser visível ou não, e, consequentemente, requerer uma memória de curto ou longo prazo. A memoria articula-se dentro de uma trama de poderes, visto que os discursos humorísticos não têm um compromisso com a ‘verdade’, no entanto, muitas vezes revelam algo escondido, que está camuflado e implícito. Para abordar essas relações, este artigo irá discutir com mais ênfase discursos humorísticos que segundo Maingueneau possuem destacabilidade em relação ao contexto em que foram produzidas, visto que compõem enunciados mais livres, que evocam uma memória de IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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longo prazo, permitindo o conhecimento outras versões da ‘História’ e a construção de uma percepção mais plural do mundo. Os clubes portugueses em São Paulo e a negociação da lusobrasilidade (década de 1930) Samuel Ribeiro dos Santos Neto
(FEF/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O associativismo recreativo e esportivo foi um importante aspecto da vida cultural e política dos imigrantes portugueses na cidade de São Paulo, tendo particular relevância durante os anos 1920 e 1930. Esse foi um período no qual ganharam força discursos e debates envolvendo a noção de uma identidade luso-brasileira. O objetivo central desta pesquisa foi entender de que forma os processos de negociação dessa luso-brasilidade estiveram presentes nas práticas associativas (esportes, bailes, festas, solenidades, etc) dos clubes portugueses e no modo pelo qual tais instituições eram representadas na imprensa. O enfoque foi dado a três instituições que se destacaram no período: o Clube Português, o Portugal Clube e a Associação Portuguesa de Desportos. As fontes principais foram constituídas por veículos da grande imprensa, tais quais o Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo, bem como por edições da Revista Portuguesa, publicada por um dos clubes. A interpretação do problema demonstrou que tanto os clubes como a imprensa difundiam um ideário de fraternidade luso-brasileira ligado ao associativismo, compondo um importante substrato para os processos identitários dos imigrantes. Imin 80: A construção da memória através de romances (1980-1991) Luana Martina Magalhães Ueno (UEL - Universidade Estadual de Londrina)
O objetivo desse texto é analisar como se deu a construção da memória da imigração japonesa e da nikkei através de romances, no Brasil. Para isso, escolheu-se dois romances escrito por nikkeis e que retratam mulheres como personagens principais: “Ipê e Sakura: em busca da identidade” (1988) e “Sonhos Bloqueados” (1991). Delimitou-se o período de 1980 – período em que foi público livros que buscam a construção da memória da imigração japonesa e dos nipônicos – à 1991 – data da publicação do livro Sonhos Bloqueados –.
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Quanto à metodologia os livros serão analisados a partir das considerações de Antônio Candido de Mello Souza (2006). Além disso, utilizara-se o conceito de memória discutido por Michel Pollak (1988) e Pierre Nora (1993). 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Entre risos e pilhérias: O predomínio das Operetas e Revistas Musicais em Campinas no final do século XIX Lenita Waldige Mendes Nogueira (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este artigo trata de um momento específico da vida musical em Campinas, que, em meados do século XIX torna-se um dos mais importantes centros cafeeiros do Brasil. Com o incremento econômico a atividade musical se amplia, com a criação de diversas bandas de música, orquestras e grupos de câmara, o que resultou em grande oportunidade para instrumentistas, maestros e compositores, alguns locais, outros vindos de fora. Entre estas atividades destacase o Teatro São Carlos, que passou a receber companhias estrangeiras, tanto teatrais como de ópera. Esta última foi, durante muito tempo, a coqueluche da cidade e os cantores que ali chegavam eram recebidos calorosamente, em especial as mulheres que recebiam tratamento de diva. Este panorama foi sendo alterado e a predominância da ópera foi dando espaço a gêneros mais leves, em especial as operetas de origem francesa, as zarzuelas espanholas e as revistas musicais, em geral traduções para o português ou adaptações feitas por escritores brasileiros como Arthur Azevedo. A música ligeira toma o espaço e a cidade passa a receber artistas já consagrados na cena carioca com grande aceitação do público e a consequente expansão das plateias. A atuação musical feminina na docência e nos palcos: contribuições para uma educação feminina por meio do piano e do canto Patricia Amorim de Paula (FE/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A constituição de grupos sociais artísticos brasileiros entre os anos 1830 a 1889 e as condições históricas nas quais se configuraram a formação e trabalho na música, com a participação social de ambos os sexos, compõem um problema eminentemente sociológico, que carece sempre de reflexão. Este trabalho proIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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põe um exame histórico-sociológico da participação feminina no meio musical do período e sua contribuição para a formação das novas gerações de músicos e musicistas brasileiros. Para tanto, fazemos uso de pesquisa documental tendo como fontes: jornais, biografias, dicionários e enciclopédias de música, obras literárias, cartas, obras de história da música e também do Brasil, entre outros documentos relevantes à temática. O uso de “palavras-chave” na análise sociológica do passado permite-nos dar uma nova ênfase ao vocabulário geral que uma dada sociedade compartilhava, bem como aos modos de vida impressos na cultura e sociedade de um momento histórico distante do nosso. Trata-se de um método de investigação que se inspira nas análises de Raymond Williams sobre o contexto inglês, que guardadas as devidas proporções, será reorientado para a compreensão do contexto brasileiro. Os dizeres sobre a Festa de 16 de Julho no Jornal “Tribuna Popular” em Borda da Mata - MG Cleyton Antônio da Costa (UNIVÁS - Universidade do Vale do Sapucaí)
O estudo tem como objetivo analisar os discursos produzidos pela / na imprensa local sobre a festa de 16 de julho no município de Borda da Mata, localizado no Sul de Minas. Visando compreender a relação da Igreja Católica e da Prefeitura Municipal na constituição da festa, onde duas instituições que se agenciam, simultaneamente, com questões ideológicas diversas, que conta com práticas religiosas e políticas, como por exemplo shows, procissões, rezas, palanques, divulgação de vídeos institucionais, barracas de comércio de bebidas/comidas e de produtos variados. Como corpus de análise buscamos recortes do “Tribuna Popular”, único jornal impresso que circula na cidade, atualmente, esse material traz enunciados que significam o festejo para com seus leitores. Interpretar como os dizeres se movimentam na cidade e a circulação dos sentidos que são produzidos trata-se de uma das principais questões desta pesquisa. A festa é compreendida como um acontecimento discursivo, que compõe a memória histórica do sul de Minas Gerais, não sendo apenas como um espaço de sociabilidade, mas também de disputa, resistência, lazer, fé, tradição, política que produz sentidos em diferentes sujeitos. O significado do Centro Histórico de São Luiz do Paraitinga nas manifestações culturais
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Maria Cristina da Silva Schicchi
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas),
Renata Rendelucci Allucci
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
São Luiz do Paraitinga, cidade do Vale do Paraíba paulista, destaca-se pela realização de inúmeras manifestações culturais, de caráter religioso ou não, que tem lugar em seus espaços públicos. Esta comunicação tem por objetivo discutir aquelas que ocorrem especificamente no perímetro do Centro Histórico e as mudanças temporais e espaciais durante as festas. Evidenciam-se como construções são usadas como suporte para compor os cenários; como as casas deixam seu status doméstico para tornarem-se prestadoras de serviços; o papel das propagandas e dos discursos sobre a cidade; e o deslocamento de moradores para deixar espaço para os visitantes. Em contraste, há lugares, pessoas e grupos excluídos daquele que se configurou como território das manifestações culturais, evidenciados quando se analisam, por exemplo, os dados de investimentos da municipalidade. São práticas de poder que se ancoram nas memórias e nas relações de identidade atribuídas a estes espaços significativos da cidade. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Fronteira, Escravidão e Cotidianidades: leituras sobre o Oeste Paulista através dos registros de escravos Taís Temporim de Almeida
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A História possui vieses variáveis, visto que se consolida sobre as relações despendidas entre os homens no tempo e espaço. Nas últimas décadas, Local e Regional se sobressaíram como modo de ressignificar o histórico e seus agentes, pois sublevaram e redimensionaram os olhares ao habitual e cotidiano. Nesse ínterim, propiciam descortinar memórias, histórias, olhares e novas evidências ao constructo coletivo das sociabilidades humanas em cenários particulares. Assim, dentre as possibilidades da História Local e Regional, é possível que se compreenda a dinâmica de diversas dimensões e seus sujeitos, como esse texto se presta. Para tanto, busca compreender as particularidades desenhadas pela escravidão no Oeste Paulista no XIX e XX, quando do avanço da fronteira agrícola. Sobretudo, nas relações estabelecidas entre escravos, senhores e terceiros nos referidos microespaço e período. Ainda, se mune das perspectivas documentais propostas IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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pela Nova História para a percepção das articulações sociais, bem como suas especificidades, em que faz uso da fonte cartorial, que tão sutilmente explicita os sentidos e manifestações expressas nesses meandros relacionais. Jornal “O Patrocinio”: sociabilidade e luta por direitos em uma comunidade negra de Piracicaba (1926-1930). Douglas Pinheiro Graciano (IFSP - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo)
Esse trabalho versa sobre O Patrocinio, periódico da imprensa negra que circulou na cidade de Piracicaba (SP) no período de 1926 a 1930, publicando textos de natureza variada (literário, humorístico e de crítica social), dando visibilidade para personagens marginalizados na história local. De um total de 55 números publicados, foi possível verificar apenas 9 exemplares, porém essa lacuna não impede uma análise histórica da relevância desse veículo, comprovadas pelas referências encontradas em outros jornais da época, tanto da imprensa convencional (Jornal de Piracicaba) quanto da imprensa negra (O Clarim d’Alvorada). Em um país onde as atitudes racistas são acobertadas, é de extrema importância que a produção da imprensa negra seja pesquisada, fazendo ecoar as vozes daqueles que expressavam as dores e dificuldades que sentiam na pele, bem como as maneiras encontradas para superar as dificuldades. O Patrocinio será analisado dentro de dois recortes temáticos, sendo esses, a sociabilidade – analisando relatos sobre as festas no clube Treze de Maio, os passeios pelo centro da cidade e os jogos de futebol; e a luta por direitos – protagonizada pela figura do redator Alberto de Almeida. Músicos negros em Campinas Ana Paula de Lima
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A fundação da Corporação Musical Campineira dos Homens de Cor, grupo formado exclusivamente por homens negros, em 1933, deixou vários rastros de suas atividades, através dos estatutos, das partituras, de fotografias, de papéis avulsos, e dos livros atas. A partir de uma análise minuciosa desse conjunto documental, buscaremos reconstruir algumas das relações estabelecidas por esses sujeitos históricos, com outras associações negras, assim como, outros atores sociais que compunham a sociedade da época. Partimos da hipótese que a trajetória do grupo acima citado, poderá nos conduzir a um olhar privilegiado sobre redes de sociabilidade, conflitos e negociações
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realizadas diante de interesses nem sempre convergentes. A presente pesquisa objetiva ainda, investigar a circulação musical, por meio de uma análise das partituras que se encontram na sede Corporação Musical Campineira dos Homens de Cor, situada na rua Lusitana 127, no bairro do Bosque. Historia e memória afro-brasileira em Itu: silenciamento e segregação André Santos Luigi (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A historiografia da escravidão promoveu significativas inovações epistemológicas e metodológicas nas últimas três décadas. Novas abordagens trouxeram à tona uma perspectiva que rechaçou analises eurocentradas e evitaram reproduzir a tendência de reificar aqueles que foram escravizados ao longo da História do Brasil. História Atlântica, Diáspora e Agência Escrava são alguns dos conceitos que colocam em cena o escravizado como sujeito histórico de um mundo que articulou Europa, América e África. Tais estudos revelam novas dinâmicas políticas, sociais e culturais, bem como instituições construídas na resistência cotidiana dos trabalhadores escravizados. As irmandades negras, bem como as congadas, são algumas destas instituições afro-atlânticas que se reproduziram em todas as cidades que se conectaram ao mundo atlântico. Este trabalho aborda a Irmandade do Rosário de Itu, bem como a existência de seu líder na figura de Rei da irmandade. Busco reinterpretar a história de Itu à luz desta nova abordagem historiográfica. A partir desta reinterpretação desenvolvo uma reflexão critica sobre como a memória e seus mecanismos de silenciamento se tornaram um mecanismo de segregação racial em Itu Som de Valente: Bailes Negros em São Paulo Igor Santos Valvassori (USP - Universidade de São Paulo)
Esta apresentação tem como questão qual o significado dos bailes negros para São Paulo e para a problemática urbana. Baseado no método progressivo-regressivo proposto por Lefebvre (1999), a discussão inicia-se a partir do baile nostalgia, manifestação contemporânea dos bailes negros e é conduzida por toda a trajetória da relação da população negra com os IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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bailes desde o pós-abolição. Três períodos com características específicas foram categorizados: os bailes negros, do pós-abolição ao ano de 1958; os bailes black, de 1958 até 1994; e os atuais bailes nostalgia, de 1995 até 2016. Os bailes foram compreendidos como uma forma de encontro com conteúdos ligados às lutas, às resistências e ao vivido da população negra em articulação com o processo de produção do espaço urbano, que se faz de forma desigual socialmente e racializada. Entre estes conteúdos estão a produção de uma vida pública na cidade, a relação centro-periferia que se configura no meio do século XX e a memória corporal, coletiva e política dos negros no contexto de reprodução de espaços amnésicos e tempos efêmeros, que atinge diretamente os referenciais de identidade e vida da população paulistana. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 As Instituições Educativas Étnico-Japonesas (Brasil-Paraguai): algumas contribuições teóricas e metodológicas Markley Florentino de Carvalho (FE/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Neste texto abordamos as contribuições teóricas e metodológicas iniciais colhidas nas abordagens historiográficas desenvolvidas, por Julia (2001), Certeau (1982, 1994, 2003), Chartier (1990, 1991, 2001), Ginzburg (1987, 2007), Thompson (1987, 2001), entre outros, empreendemos um quadro constituído por dimensões históricas da imigração, dos conceitos pedagógicos, sociais e das práticas culturais das instituições educativas. A proposta objetiva promover os estudos da história da instituição escolar étnica, como também, para a compreensão das práticas culturais vivenciadas na escola japonesa, as quais suscitam importantes debates. Justificando-se assim o quão é oportuno é investigar a constituição e organização da instituição escolar, considerando os sujeitos e suas posturas no processo das normatizações do ensino e das ações pedagógicas ao longo da expansão do sistema educativo/cultural japonês na fronteira. A pesquisa tem contribuído em nível nacional e internacional para a discussão acerca da história das instituições no núcleo construído em torno da rede de pesquisadores sobre o presente tema das instituições educativas.
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João Baptista de Mello e Souza: trajetórias e memórias de um professor de História Sônia Maria da Silva Gabriel
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
João Baptista de Mello e Souza foi um professor nascido em 1888; membro de uma família de professores relatou em suas obras literárias e álbuns de lembranças as memórias das práticas pedagógicas vivenciadas, revelando o quanto o influenciaram. Iniciou a carreira docente, em 1914, no Colégio São Paulo, localizado no Rio de Janeiro. Atuou em diversas instituições culturais e educacionais e, em 1926, tornou-se catedrático do Colégio Pedro II; uma das teses que escreveu para concurso de ingresso como catedrático foi O ensino de História na formação do caráter, em que o professor argumentou a relevância da disciplina para o progresso da nação. Considerando as relações que se estabelecem nas memórias de João Baptista, esta pesquisa busca elementos no campo da História Cultural para analisá-las a partir de espólio composto de uma diversidade de fontes que são registros das citadas atuações durante a primeira metade do século XX. Teatro Documentário: Lugares da Memória na Pedagogia da NãoFicção Daniel Martins Alves Pereira (FAAL - Faculdade de Administração e Artes de Limeira)
O Teatro Documentário encontra suas raízes nas mais diversas fontes. Pode ter um antepassado direto nos primeiros experimentos cênicos realistas e naturalistas. Ou talvez no “agitprop” de Erwin Piscator. As aproximações com Peter Weiss e Augusto Boal ainda parecem os pontos de contato mais evidentes. Não obstante a rara bibliografia no Brasil, a prática documental tem inspirado as mais recentes e bem sucedidas incursões no circuito teatral brasileiro da atualidade. O chamado Teatro Documentário (diferente de práticas cênicas anteriores que já flertavam com o terreno do real) promove uma investigação das fontes por meio de registros imagéticos, textuais e sonoros, bem como da coleta de dados da cultura oral. Há em sua tessitura um posicionamento político patente, além de uma forte relação identitária entre a pesquisa e o coletivo. São essas proposições iniciais que convidam, dentro do já consagrado “Teatro-Educação”, a uma maior imersão nos caminhos e possibilidades de um “Teatro-Documentário-Educação”. O trato investigativo da realidade (na busca por outros olhares e vozes) e o resgate da memória em IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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cena tornam-se instrumentos de potente reverberação dentro da sala de aula. Hora Gymnasial: um programa radiofônico dedicado aos estudantes do Ensino Secundário no Distrito Federal (1939-1944) Patricia Coelho da Costa
(PUC/RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
Em 1 de abril de 1939, estreou a Hora Gymnasial, programa educacional radiofônico destinado aos estudantes do Ensino Secundário, aos seus professores e aos donos das escolas, dirigido por Lavoisier Sá, irradiado aos sábados das 19:15 às 20:00h, ao longo de quatro anos, pela Radio Vera Cruz, com o objetivo de divulgar e discutir os impactos dos Decretos n. 19.890 de 18 de abril de 1931 e 21.241 de 4 de abril de 1932 nas escolas. A programação era composta de duas partes: a primeira quando Frederico Ribeiro, representante das escolas secundárias particulares, expunha as reivindicações de diretores dos estabelecimentos de ensino ao governo, e a segunda quando estudantes apresentavam números musicais, minutos de poesias ou crônicas ao microfone. O foco desta pesquisa são as memórias da escola secundária carioca e de seus estudantes produzidas a partir das irradiações. A partir do entrecruzamento das fontes, a saber, a coluna Hora Gymnasial, publicada semanalmente na Gazeta de Notícias,gravações, a legislação e os scripts de programas irradiados, com a historiografia serão refletidas as interseções entre o rádio, a produção de memória e os espaços escolares e urbanos. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Indisciplina e inventividade infantil a partir da atuação do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (1934-1939) Matheus Henrique da Silveira (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Entre os anos de 1934 e 1939, no então Distrito Federal, o Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (S.O.H.M.), chefiado e criado por Arthur Ramos, produziu cerca de 2000 Fichas comportamentais com informações sobre crianças de 6 escolas experimentais. A Ficha de Ortofrenia e Higiene Mental marcava para Ramos uma primeira tentativa de se “joeirar” os casos problemas pelo Serviço, afim de que se reunisse o maior número de informações sobre as crianças que frequentavam as escolas experimentais do Rio de Janeiro e concomitantemente, sobre suas famílias. As “creanças problemas”, como foram designadas
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por Ramos, teriam, também segundo o médico, a causa de seus desajustamentos no ambiente familiar e, com isso, este espaço passou a ser alvo de um olhar privilegiado, ganhando importante espaço nas Fichas do Serviço. Este trabalho intenta apresentar as formas pelas quais, ao buscar atingir as realidades das crianças problemas, o Serviço registrou também minúcias da convivência cotidiana destas com suas famílias, com outros personagens escolares e com a cidade do Rio de Janeiro. Paz, entendimento entre os povos e americanidade nos livros didáticos de História no pós-guerra Diogo Henrique Vianna
(UNIFEOB - Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastos e UNICAMP)
Este trabalho apresenta uma análise das representações entorno da construção de uma identidade pan-americana e as práticas culturais resultantes na educação brasileira no período pós-guerra. Nosso objeto de estudo é o livro didático de História e pretendemos analisar a influência da documentação internacional publicada no período a partir da Organização das Nações Unidas-ONU: Toward Mutual Undertanding documento que apresenta as bases para o entendimento entre os povos e a promoção da paz; e um conjunto de normas, diretrizes e orientações, para o direcionamento na produção de livros e manuais didáticos publicada sob o título de A handbook for the improvement of textbooks and teaching materials as aids to internacional understanding, ambas publicações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura-UNESCO, datadas de 1947. A partir disso, pretende-se compreender as representações dadas às noções de paz, entendimento entre os povos e americanidade e sua apropriação e resultante prática cultural materializada nos livros didáticos de História brasileiros no período. REFLEXÕES SOBRE AÇÕES EDUCATIVAS EM ARTE: análise sobre caderno educativo em exposições. Dinalva Garcez dos Anjos
(Secretaria de Educação de Codó/MA)
A pesquisa analisou o uso do caderno educativo como recurso em ações de mediação em instituições culturais, materiais de exposições de âmbito nacional e de São Luís. Assim, procurou-se investigar a atuação dos mediadores e a utilização do educativo, assim como a recepção do recurso por IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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professores. Como um leque de possibilidades, o caderno facilita tanto o trabalho de mediação como o processo de aprendizagem em arte, através de textos reflexivos e atividades durante a visitação, e auxiliam os professores no desdobramento desse momento em sala de aula. “Um Passeio além do Temp(l)o”: Experiências lúdico-midiáticas e agenciamento da história no “Jardim Bíblico” do Templo de Salomão da IURD. Bianca Stella Pinheiro Freire-Medeiros (USP - Universidade de São Paulo),
Nathalia Pereira da Silva (Colégio Bandeirantes - SP)
O maior complexo evangélico do Brasil, conhecido como Templo de Salomão, foi inaugurado em 2014, em São Paulo. Por ali passam, semanalmente, centenas de interessados tanto nos serviços religiosos da IURD quanto em vivenciar a atmosfera das produções audiovisuais da Rede Record, reproduzida no tour pago pelo “Jardim Bíblico”. Esse “passeio além do tempo” reconta a trajetória da aliança dos homens com Deus, a partir de uma certa narrativa do Êxodo do povo hebreu. Conduzido por uma figura de autoridade híbrida – o sacerdote é pastor e guia -, o visitante percorre três edificações em que objetos variados ofertam fruição concomitantemente pedagógico-religiosa e lúdico-midiática. Em diálogo com o paradigma das mobilidades (Sheller e Urry) e com base num projeto de pesquisa socioetnográfico, esta comunicação objetiva: examinar como a sobreposição entre cosmologias religiosas, pactos narrativos próprios do turismo e estratégias de marketing originadas no campo do entretenimento permite novos agenciamentos da história; discutir como cultura material, espaço e memória coletiva (Halbwachs) se entrelaçam nesse território onde a noção de autenticidade (Bruner) ganha sentidos diversos. Filosofia e Oralidade: problematizações Ettore Guaranta
(PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
O presente estudo busca demonstrar a importância da oralidade na Antiguidade. Problematiza e exemplifica com o Mito da Atlântida, segundo
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Platão. É um estudo que busca demonstrar que a oralidade era a base da transmissão cultural e da educação na Antiguidade greco-romana. Tem o intuito de colaborar com os estudos sobre a oralidade na atualidade.
GT 06 MEMÓRIA E CULTURA MATERIAL Coordenação: Maria Aparecida Borrego (Museu Paulista/USP),
Odair da Cruz Paiva (UNIFESP)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Vidas em paralelo: o Museu Paulista e a construção da memória dos fundadores do Império Cecilia Helena Salles Oliveira (Museu Paulista - USP)
O objetivo principal da exposição é propor uma reflexão crítica sobre a decoração interna do Museu Paulista da USP, particularmente a coleção de retratos expostos nas galerias e no Salão Nobre, analisando sua influência na definição dos protagonistas da história da Independência e do Império bem como o significado da disposição ocupada pelos homens e mulheres “ilustres” que compuseram o panteão nacional ali erguido à época do centenário, em 1922. Trata-se de estudo que procura articular as dimensões da história e da memória em suas relações com a política e com a cultura material, abordando-se o espaço museológico como essencial na produção e difusão de conhecimentos que definiram alguns dos parâmetros ainda hoje presentes na historiografia dedicada à fundação do Império no século XIX. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Desenhos como intermediários no projeto de exposição de Taunay para o Museu Paulista: as aquarelas de José Domingues dos Santos Filho Ana Paula Nascimento (MPUSP/IHF)
Affonso d´Escragnolle Taunay, quando nomeado diretor em comissão do Museu Paulista (fevereiro de 1917), assume como principal incumbência preparar a instituição para as comemorações do primeiro Centenário da Independência. Estabelece então um programa que será executado ao longo de mais de duas décadas, tanto para o eixo monumental como para as salas dos dois andares do edifício, projeto este parcialmente finalizado em 1945, ano em que aposenta-se. Poucos meses após assumir a direção, Taunay contrata o desenhista-fotógrafo José Domingues dos Santos Filho, responsável pelas cópias de diversos mapas, desenhos científicos e ao menos uma série composta por 12 desenhos aquarelados, a maioria baseados nas obras de Hercule Florence. Tais aquarelas fizeram parte por um breve período da sala “Consagrada ‘a antiga iconografia paulista”, inaugurada em outubro de 1918, sendo posteriormente substituídas por telas em formatos maiores encomendadas a diferentes artistas atuantes na cidade de São Paulo. A pesquisa em desenvolvimento busca, ainda que lacunarmente, relacionar o contexto de produção de tais trabalhos, uso e circulação dos mesmos. Do suntuoso cortejo à sala de pouca luz: o trânsito do retrato de D. Pedro II em Campanha da Princesa. Carlos Rogerio Lima Junior
(MAC/USP - Museu de Arte Contemporânea / Universidade de São Paulo),
Francislei Lima da Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
No ano de 1862, a pedido da Câmara de Campanha, ao Sul das Minas Gerais, é pintado e enviado do Rio um retrato de D. Pedro II. Recebido com grande júbilo pelos homens do poder, foi também festejado pelo “povo” convidado a reverenciar a imagem do monarca. Uma vez disposto na Sala das Sessões caprichosamente preparada para recebê-lo no 18 de julho – efeméride relacionada à rememoração da sagração e coroação do Imperador –, a celebração de sua presença não se limitou a essa data. Pela documentação compulsada, sabe-se que a cada 2 de dezembro, dia natalício do Imperador, integrava a solenidade
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um cortejo cívico em encontro ao retrato, seguido de rituais religiosos. Distante das práticas culturais relacionadas à entronização e exibição do quadro do Imperador, atualmente, permanece exposto no Museu Regional do Sul de Minas, em uma sala improvisada que pouco remete ao seu passado “glorioso”. A problemática entre a distância temporal no que tange à sua confecção e usos, nos sugere um rico debate sobre a trajetória| trânsito & memória desse retrato – da retirada de seu espaço original de culto à destituição de sua relação de força enquanto “imagem lendária”, que abrigava o poder. Imágenes que resumen acontecimientos. Reflexiones en torno a la pintura de Botero y el conflicto armado colombiano. Natalia Vanessa Ramírez Peña
(UFPEL - Universidade Federal de Pelotas)
Esta propuesta espera desglosar un poco aquellos elementos narrativos presentes en los lienzos del artista Fernando Botero, especialmente los contextualizados en escenarios propios del conflicto armado en Colombia, pues instauran un conjunto de piezas que no solo aproximan al público de Latinoamérica y el mundo entero a hechos y personajes verídicos, sino que también los conducen a leer las representaciones de otros actos diversos, derivados de dicho conflicto, y cuyo origen data de la segunda mitad del siglo XX. A su vez, se espera reflexionar acerca del cómo los trabajos “Boteristas” convocados, nos recuerdan la importancia de la interacción, arte y memoria, ya que las manifestaciones artísticas ligadas a elementos sociales, contribuyen a la presentación simbólica de discursos personales e inclusive, culturales, en la medida en que, portan experiencias colectivas que con facilidad disparan la memoria de un grupo al dar cuenta muchas veces de lo no documentado, o simplemente, complementar lo que ya escrito. Se hace vital entonces, indagar en el diálogo arte-memoria, a fin de dar cuenta de la importancia de lo interdisciplinar en los estudios del arte Latinoamericano. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 O cenário dos momentos derradeiros de Rui Barbosa: uma cadeira como testemunho, o mordomo e o padre como testemunhas Márcia Pinheiro Ferreira
(FCRB - Fundação Casa de Rui Barbosa) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Nos últimos anos, o Museu Casa de Rui Barbosa vem propondo reflexões sobre o modelo conceitual museus-casas, sobre os usos da Villa Maria Augusta e as memórias dos ambientes que não puderam ser preservados. A valoração dos danos e das dissociações que fizeram parte da trajetória deste acervo museológico depende da análise dos dados fornecidos por sujeitos históricos mais modestos que conviveram com Rui Barbosa. Ao trocarmos a lente de seus famosos correligionários pelas lentes de outros moradores desta casa museu, voltamos à trajetória de uso primário dos objetos preservados in situ para identificar alguns conjuntos contextuais. Para isso, as áreas de documentação museológica, de educação e de conservação dos bens móveis do museu operam também em conjunto. A fração da pesquisa aqui apresentada exemplifica como os personagens principais, que são mais conhecidos do público, não deram conta da singularidade das memórias que estão recompondo o cenário dos momentos derradeiros de Rui Barbosa. Cultura Material e a produção de narrativas expográficas: o caso do Museu de Artes e Ofícios - Belo Horizonte/MG Vanessa Gonçalves de Vasconcelos
(UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto)
A análise da organização de objetos inseridos no contexto de uma exposição museológica permite a reflexão sobre a instituição de um discurso e as potencialidades do que ele representa/reproduz. Os objetos museológicos são recortes de uma cultura material e resultados de processos históricos, que permitem a formulação de questionamentos e por isso devem ser operados como objetos históricos, cuja dinâmica está atrelada à vida em sociedade. Dessa forma, os objetos selecionados e organizados para comporem a exposição de um museu podem servir como fontes/documentos, dos quais os historiadores extraem as informações para uma construção historiográfica. A exposição é o local no qual o público interage com o museu, constituindo-se assim como principal veículo de comunicação das instituições museais. O propósito dessa apresentação é refletir sobre a construção da narrativa museal do Museu de Museu de Artes e Ofícios, localizado na região central de Belo Horizonte (MG) e a produção de narrativas expográficas que proporcionam experiências sinestésicas e afetivas à luz de possibilidades da estetização do passado. Usos e ressignificações de objetos em exposições: o caso do Museu da Imigração em São Paulo.
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Odair da Cruz Paiva
(UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Esta reflexão tem como objetivo retomar uma questão ainda não superada nas exposições em museus: a utilização de artefatos como materialização de discursos que são prévios à sua inserção nas exposições. Em que pese a vasta literatura sobre a necessidade em compreender objetos como documentos, as práticas que incidem sobre a montagem de exposições ainda encontram muitas dificuldades em transpor os sentidos tradicionais atribuídos a estes. Pretendo utilizar os casos da cadeira de dentista da máquina “Pica-Pau” e do projetor de filmes – elementos presentes no Museu da Imigração do Estado de São Paulo em sua atual exposição “Migrar: experiências, memórias e identidades” -; como um recurso para apresentar três momentos da inserção destes objetos em exposições organizadas naquela instituição. A primeira apresentação destes objetos ocorreu no início da década de 1980 quando da montagem de exposição num dos espaços da antiga Hospedaria de Imigrantes, o Centro Histórico do Imigrante. A segunda se deu quando da exposição comemorativa dos 120 anos da Hospedaria, em 2008. A última apresentação destes ocorreu na montagem da exposição “Migrar ..., acima referenciada, em 2014. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Uma ausência reveladora: as vestimentas nos inventários do termo da Vila do Carmo (1722 - 1760) Luciana da Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho discute a ausência do registro de peças do vestuário em uma amostra de inventários produzida na Vila do Carmo e seu termo entre 1722 e 1760. Busca-se investigar as diferenças nas formas com que os conjuntos da rouparia do corpo eram anotados nesta documentação e, com o auxílio de testamentos, observar as possíveis motivações que levavam os inventariantes a omitirem os artefatos deste tipo das declarações que compunham os arrolamentos de bens. Por fim, objetiva-se compreender em que medida tais omissões eram fruto de necessidades cotidianas e sua relação para com sensibilidades diversas. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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A farda vermelha do capitão-mor de Itu: memória e materialidade Ligia Souza Guido
(Prefeitura Porto Feliz)
Vicente da Costa Taques Góes e Aranha, o Capitão-mor da vila de Itu ficou eternizado no cinema e em pinturas devido a um curioso evento com Dom Pedro I. A questão envolvia a farda antiga que o Capitão usava e a reação do imperador. Discutiremos como a imagem de Vicente foi construída com base em sua farda, um elemento material da cultura. Memórias e bordados dos mantos de Nossa Senhora Aparecida: um olhar sob a perspectiva da Cultura material Fuviane Galdino Moreira
(UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Pela descrição e análise dos mantos de Nossa Senhora Aparecida, padroeira deste país desde 1931, buscamos compreender as funções e os usos das vestes em esculturas sagradas, sobretudo do Brasil. Fundamentamo-nos em pesquisadores da Cultura material (PROWN, 1982), entendo-a como uma perspectiva de investigação originada na disciplina arqueológica, que abarca costumes e práticas sociais, produzidos materialmente pelo homem. Ao ultrapassamos os limites da história da arte sacra e avançarmos os estudos das vestimentas em devoções religiosas, somos autorizados a desafiar os velhos costumes de se ignorarem os objetos do cotidiano como fontes históricas e a reconhecer a importância das investigações sobre o artefato roupa, visto durante muito tempo inserto em simples jogos de narrativas menores. Vestes: Vestígios de memórias Cybelle Janaína Freitas de Souza Lima (IA/UNICAMP)
Haroldo Gallo (IA/Unicamp)
As indumentárias podem ser consideradas testemunhas das memórias dos costumes e expressões da vida ao oferecerem um universo complexo de informações a respeito do comportamento social, político e estético do passado de uma sociedade. Embora, alguns museus detenham indumen-
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tárias em seus acervos, ainda não está claro quais são os valores embutidos no indumento que promovem a sua certificação como vetor de memória. Dessa forma, objetivou-se neste estudo apontar os elementos memoriais atribuídos ao traje que permitem considerá-lo um patrimônio inserido em um espaço museal. Através da análise da vestimenta pelo viés memorial, utilizando fontes primárias e secundárias, identificamos evidências primordiais em algumas vestes da reserva técnica do Museu da Imigração de São Paulo que fornecem importantes dados sobre a sua trajetória como cultura material através dos processos imigratórios. Desta forma, o presente estudo indica o viés da memória como um componente essencial para a valorização do indumento e levanta uma discussão importante sobre o reconhecimento negligenciado da indumentária como uma possível obra memorial e museal. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Rap: Patrimônio Cultural e Decolonialidade Renato Modeneze do Nascimento (Prefeitura Municipal de Jaguariúna)
Considerar o rap como patrimônio cultural que representa determinadas comunidades carentes é extrapolar a compreensão de patrimônio para além da dimensão material, conforme propõem Aline Vieira de Carvalho e Maria de Fátima Guimarães, organizadoras do GT (Grupo de Trabalho) 7 – Memória, Patrimônio e Educação Patrimonial, ao definir patrimônio como “uma chave escolhida para expressar, organizar e representar determinadas comunidades, bem como permitir as mediações entre diferentes identidades, marcadas por suas dimensões simbólicas e materiais”. Ancorado nessa concepção de patrimônio, proponho considerar as músicas dos Racionais MC´s, grupo de rap que se originou no Capão Redondo, periferia da cidade de São Paulo, como patrimônio cultural que representa os sonhos, os medos, as revoltas, enfim, a realidade de tantas comunidades carentes brasileiras. Tal discussão será proposta a partir da análise de algumas letras de músicas do grupo Racionais MC´s, sobretudo Negro Drama, Da ponte pra cá, Diário de um detento e Fim de semana no parque, à luz de categorias decoloniais, no diálogo com as contribuições teóricas de DUSSEL (1980, 1995) e QUIJANO (2009). IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Notas sobre o patrimônio e as peças de cerâmica na Serra da Capivara Paula Layane Pereira de Sousa
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
As peças de cerâmica produzidas na Cerâmica Artesanal Serra da Capivara são frutos de um projeto social com o intuito de geração de renda, promoção e preservação do Parque Nacional Serra da Capivara. Sua estreita relação com o Parque, localizado em Coronel José DiasPI, mostra que, além de peças comercializáveis, elas são também uma possibilidade de entender as relações existentes na região. Enquanto objetos, as peças produzem simbolismos e agenciamentos que nos permitem entender o triângulo de relações entre patrimônio, comunidade e objetos de cerâmica. Elas são meios de questionar: o que as peças artesanais produzidas na região da Serra da Capivara nos dizem sobre a relação com o patrimônio, o Parque Nacional Serra da Capivara? Através de uma antropologia dos objetos este trabalho intenta entender a relação entre comunidade e patrimônio, percorrendo o caminho da produção, comercialização e materialidade das peças. O papel do sítio arqueológico de Pompéia na construção da memória da antiguidade romana Gabriela Isbaes (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Em vista de que o diálogo entre a Arqueologia e a História se faz presente, os vestígios arqueológicos de Pompéia se destacam na constituição da história das vivências de seus habitantes. Apesar desta compor uma pequena parcela do vasto Império Romano, a qual não se pode compreendê-la como representante de toda a vida urbana romana, estudos distantes da academia – a exemplo de textos veiculados na internet -, bem como materiais midiáticos do gênero documentário, tendem a exprimir visões que se adversam a isto, evidenciando, ainda, uma Pompéia envolta em sexo e ócio. Estas concepções, ao atingirem o grande público, contribuem para a idealização generalizada da romanidade. Destarte, pretende-se abordar as facetas culturais e sociais pompeianas por meio de sua materialidade, com enfoque nos grafites e pinturas parietais, a fim de salientar que, apesar de sua importância para as pesquisas, esta não retrata a miríade cultural do
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Império. Uma seleção de materiais que demonstrem as universalizações acerca da cidade vesuviana será apresentada, para que seja realizado um contraponto de perspectivas, demonstrando as possibilidades de alargamento da história que a cultura material traz. KÃDHAWÊ TAWÁ – CELEBRANDO O BARRO. Cerâmica tradicional, alteridade, saberes e fazeres estéticos. Paulo Roberto de Souza
(UFSB - Universidade Federal do Sul da Bahia)
Este trabalho procurou compreender a transmissão dos saberes, entendida como relações estabelecidas no espaço de produção e esse espaço compreendido como espaço informal de educação. Para desenvolver a análise inicial, além da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma pesquisa de campo na forma de observação sistemática do cotidiano das ceramistas tradicionais do distrito de Coqueiros, Maragogipe- BA e da Comunidade tradicional da Reserva Pataxó da Jaqueira em Porto Seguro- BA. Verificamos a predominância do trabalho feminino; do esquecimento, da lembrança e da permanência. Abordamos aspectos relativos aos saberes e fazeres artesanais do povo Pataxó perpassando os universos educacionais, tecnológicos e humanos da maestria até chegarmos a uma Tecnologia Social. Através de Dona Takwara Pataxó,(100 anos) de seus esquecimentos e de suas lembranças, foi possível restabelecer traços importantes da cerâmica praticada pelos Pataxó ha quase um século. Os seus saberes da infância são o fato gerador de todas as ações decorrentes. Dona Nega, como é conhecida, é uma mestra da cultura popular brasileira, um tesouro vivo da humanidade, e assim é reconhecida nesse trabalho. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Cultura Material e Consumo na cidade de Belo Horizonte na passagem para o século XX – fontes para o estudo dos temas Natânia Silva Ferreira
(IEL/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A temática da cultura material abarca uma multiplicidade de assuntos. Estudar a cultura material de determinada sociedade num período dado diz IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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respeito ao entendimento de costumes do cotidiano; concerne à produção e ao consumo de objetos de uso pessoal, utensílios domésticos e de trabalho; envolve as especificidades da alimentação e do vestuário; remete as transformações do espaço urbano (compreensão do uso e construção de habitações privadas e imóveis públicos, de ruas, praças e demais espaços públicos). Por meio do entendimento das particularidades da cultura material e do consumo, é possível assimilar as relações sociais, políticas, culturais, urbanas e econômicas de uma sociedade. Dessa forma, este trabalho objetiva analisar as fontes históricas que podem ser úteis para o estudo de cultura material e consumo em Belo Horizonte na passagem para o século XX. Os documentos utilizados para a compreensão dos temas são variados, tais como fontes textuais (diários pessoais, inventários post-mortem, testamentos, atas de Câmaras e demais documentos pertencentes aos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo), arqueológicas (acervos de objetos materiais) e impressas (jornais e revistas). O patrimônio educativo material da Etec Cônego José Bento e sua relação com a história de Jacareí Júlia Naomi Kanazawa (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A Etec Cônego José Bento, instituição escolar criada em 1935 no município de Jacareí, SP, atualmente faz parte da rede de escolas técnicas do Centro de Educação Tecnológica Paula Souza/CEETEPS. Foi a segunda das escolas profissionais agrícolas industriais mistas a ser implantada no estado de São Paulo pelo então governador do Estado de São Paulo Armando de Salles Oliveira. Além dos espaços e suas edificações que integram o patrimônio educativo material escolar, possui dois lugares de memória que abrigam e preservam , dentre outras fontes, objetos museológicos relacionados ao ensino técnico profissional agrícola paulista: o Centro de Memória Etec Cônego e o Espaço Memória Cônego José Bento. Os espaços, edificações e os lugares de memória com seus respectivos acervos constituem-se em patrimônio educativo material, que se relacionam com parte da história e memória de Jacareí. Também possuem imenso potencial como fontes para as pesquisas na área da história da educação brasileira. Assim, este trabalho objetiva apresentar este patrimônio educativo material cultural, suas potencialidades e sua relação com a história local.
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A preservação da arquitetura moderna no interior paulista: um estudo de caso Rodrigo Modesto Nascimento
(SEE-SP (Programa Ensino Integral) e UNIP)
A proposta desta comunicação de pesquisa é analisar e compreender a apropriação, pela sociedade local, do tombamento de uma edificação que seguiu os princípios da arquitetura modernista, realizado pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), órgão responsável pela proteção do patrimônio cultural paulista, em 2005, da Escola SENAC, construída entre 1955 e 1958, pelos arquitetos Oswaldo Correia Gonçalves, Rubens Carneiro Vianna e Ricardo Siervers, na cidade de Marília-SP, situada no Oeste Paulista. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Um monumento para o porto dos cuiabanos (Porto Feliz, 1920) Maria Aparecida de Menezes Borrego (USP - Universidade de São Paulo)
Em 26 de abril de 1920, foi inaugurado o Monumento às Monções, em Porto Feliz, idealizado por Affonso Taunay, diretor do Museu Paulista, a pedido do governo do Estado de São Paulo. A obra esculpida por Amadeo Zani conta com uma coluna em mármore arrematada com a esfera armilar em ferro batido. Em sua base, uma êxedra com encosto alto, no qual se encontram baixos relevos em bronze reproduzindo A partida da Expedição Langsdorff, no Rio Tietê, de Aimé-Adrien Taunay; A Partida da Monção, de José Ferraz de Almeida Júnior; a Partida de uma expedição mercantil de Porto Feliz para Cuiabá, de Hercule Florence. Figuram ainda as inscrições “Aos bandeirantes” e um trecho de um poema de Olavo Bilac. Nesta comunicação pretende-se analisar a associação estabelecida por Taunay entre a viagem científica de Langsdorff na década de 1820, as monções (expedições fluviais) do século 18 e as bandeiras seiscentistas por meio de imagens e textos na escultura cujos conteúdos se referem a diferentes contextos, e discutir o peso da palavra escrita sobre a iconografia para a construção de uma memória do passado paulista que glorifica o bandeirante e obscurece a atuação de outros atores sociais. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Identificação da rede do patrimônio cultural edificado e práticas para sua proteção em áreas de desastre: o caso de Mariana/MG Rodrigo da Silva
(Museu Paulista/USP - Universidade de São Paulo)
O desastre decorrente do rompimento da barragem de Fundão, no município mineiro de Mariana, promoveu, além dos danos socioeconômicos diversos, a destruição completa de dois povoados (os subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo) da cidade, a destruição parcial de um terceiro (Gesteira, no município de Barra Longa), o alagamento de um centro urbano (justamente o de Barra Longa), e pôs em risco mais de 5000 bens culturais com algum grau de acautelamento e distribuídos por 42 municípios em dois estados. A área “core” do desastre (em Bento Rodrigues) é circundada por uma rede de núcleos urbanos surgidos entre o final do século XVII e meados do XVIII. Eles representam um dos mais significativos conjuntos de bens culturais edificados oriundos deste período nas Minas Gerais e, em decorrência do desastre, foi exposto a pressões que tem acelerado seu processo de degradação. Chamados a coordenar os estudos de danos e valoração do patrimônio exposto aos efeitos do desastre para o Ministério Público Federal, fomos instados a identificar a natureza desses processos de degradação e propor metodologias de avaliação e práticas de proteção de tal conjunto de bens culturais edificados. A contribuição do desenho para a construção da memória da arquitetura residencial de Victor Dubugras em São Paulo Amanda Bianco Mitre
(USP - Universidade de São Paulo)
Nascido na França e com formação profissional adquirida em Buenos Aires, por volta de 1891 o arquiteto Victor Dubugras radicou-se na cidade de São Paulo e, durante os dois primeiros decênios do século XX, projetou numerosas residências para a burguesia paulistana. Apresentando uma grande sensibilidade frente às diferentes tendências arquitetônicas de seu tempo, seus projetos lançavam-se à utilização de diferentes orientações estilísticas, técnicas e materiais. Contudo, quase todas as suas obras nessa tipologia foram demolidas ao longo das décadas. Nesse sentido, há de ser ressaltado o papel dos desenhos de plantas e elevações presentes em alguns arquivos públicos, uma vez que neles estão contidos uma série de registros
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das características específicas dos projetos e são de suma importância para a preservação da memória da obra arquitetônica. Considerando a singularidade de edificações como a Villa Horácio Sabino (1903) e os projetos residenciais para João Dente (1912), este trabalho busca realizar uma análise dos projetos e baseia sua metodologia em fontes primárias disponibilizadas no acervo da FAU-USP e no conjunto documental presente no Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.
GT 07 MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL Coordenação: Aline Vieira de Carvalho (NEPAM/UNICAMP),
Maria de Fátima Guimarães (CEDAPH/USF)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 O Mercado Público de Bragança: educar e urbanizar através do comércio de gêneros alimentícios Lilian Florencio de Godoy
(USF - Universidade São Francisco)
Neste artigo abordamos pesquisas históricas que focalizam a emergência do Mercado Público de Bragança (SP) construído no ano de 1887. Edifício que localizado no mesmo local de sua fundação, área atualmente tomada como centro histórico de Bragança Paulista, onde se encontram edifícios públicos e comerciais, casarões e palacetes construídos no século XIX. Observamos o Mercado como espaço que acolhia práticas e saberes vinculados ao mundo rural, pois estava relacionado à produção e comércio de gêneros alimentícios em pequena escala, que atendia a cidade de Bragança e região. Nessas atividades, os trabalhadores eram formados em parte por pessoas pobres, dentre elas, muitos imigrantes, negros e descendentes. Os merIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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cados públicos surgiram no Brasil a partir da segunda metade do século XIX, ainda no período imperial. Com o regime republicano, a construção desses edifícios alcançaram boa parte das cidades brasileiras, sobretudo, nas cidades paulistas. Com a ampliação da alfabetização através da construção dos grupos escolares notamos relações entre neste projeto, com o comércio de gêneros alimentícios, entre a construção do Mercado de Bragança e a urbanização e modernização da cidade. Patrimônio arquitetônico e educação das sensibilidades: por entre memórias e processos de significação do espaço urbano Wesley Baptista
(USF - Universidade São Francisco)
Este trabalho visa refletir os processos de significação do espaço urbano que se desvelam a partir da seleção e tombamento de edifícios considerados como patrimônio arquitetônico na cidade de Bragança Paulista, sobretudo os que ladeiam as Praças Raul de Aguiar Leme e José Bonifácio. Para tanto, a pesquisa pautou-se na análise documental, privilegiando os processos de tombamento ocorridos entre os anos 2000 à 2015 e em caminhadas de percepção na perspectiva teórica da deriva (CARERI, 2013) para observação das práticas socioculturais de jovens que ocupavam o espaço das praças aos sábados, durante o ano de 2015. Destarte, a pesquisa identificou que a escolha de determinados edifícios segundo sua localização e estilo arquitetônico, orientam uma dada memória e educação das sensibilidades, logo, um sentimento de pertencimento a um território e de compartilhamento de seus significados por um dado grupo social, o que pode suscitar uma vontade de controle de determinados espaços da urbe por parte do poder público e por diferentes membros desse grupo, situação que pode gerar a discriminação, a segregação e a exclusão de sujeitos que não sejam reconhecidos como membros dessa territorialidade. Patrimônio cultural e participação social: a educação na construção de outras narrativas culturais Fernanda Gabriela Biondo
(Associação Pró-Memória Sumaré),
Mariana Kimie da Silva Nito (USP - Universidade de São Paulo)
Este artigo procura problematizar a educação patrimonial sob a ótica da
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participação social nas políticas de patrimônio. Para tanto, reflete-se sobre a memória social como chave de uma educação a contrapelo, e aborda possíveis métodos e ações educativas que fomentem processos participativos e democráticos, contribuindo para o empoderamento e a gestão compartilhada de um patrimônio cultural centralizado nos sujeitos. As políticas patrimoniais tem avançado e se repensado continuamente, tendo na Constituição Federal de 1988 seu fundamento para garantir a corresponsabilidade da preservação entre Estado e sociedade. Nesse contexto, o campo da Educação Patrimonial se destaca por seus recentes avanços legais e conceituais, como instrumento de valorização dos sujeitos sociais e de suas referências culturais. Este debate intensifica-se quando relacionado ao mapa desigual de bens culturais reconhecidos (Rubino, 1996) e nos abusos da memória (Todorov, 2000). Assim, as ações educativas apresentam-se como um caminho possível no reconhecimento das desigualdades sociais e na superação da hierarquia cultural (Chauí, 2006; Bordieu, 1993), construindo outras narrativas do patrimônio. A canção do Clube da Esquina como recurso pedagógico: Patrimônio Cultural e memória Andréa dos Reis Estanislau Bueno
(FaE/UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais)
Este trabalho tem como objetivo apresentar a proposta da Educação Patrimonial, que trata do processo de conhecimento, valorização, e preservação do patrimônio cultural no âmbito das instituições escolares. Nossa proposta é, partindo de um trabalho que tem como base a memória musical do Clube da Esquina, movimento liderado pelo cantor e compositor Milton Nascimento, promover a Educação Patrimonial, a valorização do patrimônio cultural e da memória. Analisaremos, aqui, a potencialidade das músicas do Clube da Esquina como instrumento didático articulador na promoção da preservação do patrimônio material e imaterial da cidade de Belo Horizonte. Faremos referência, ainda, à sensibilidade inerente à música, como um caminho de efetivação do trabalho com a Educação Patrimonial, tema que ainda parece distante da articulação com os conteúdos escolares e da vivência dos alunos. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Sessão 2 – 16h00 às 18h00 A importância da Educação Patrimonial para as cidades de pequeno porte: estudos e práticas em Patrocínio Paulista Beatriz Alves Goulart Rocha
(UFU - Universidade Federal de Uberlândia)
Neste artigo objetiva-se discutir a importância das atividades de Educação Patrimonial nas cidades de pequeno porte e com exemplares arquitetônicos modestos, apresentando os resultados de Oficinas de Educação Patrimonial realizadas na Escola Estadual Jorge Faleiros, como etapa da pesquisa de mestrado em desenvolvimento, que tem como objeto de estudo Patrocínio Paulista, pequena cidade no interior de São Paulo. Sabe-se da importância de práticas de Educação Patrimonial para todas as cidades, mas deve-se reconhecer que as pequenas e novas, frequentemente ficam à margem da preservação tradicional e institucionalizada, relegando à perda alguns exemplares significativos para a memória local. Justamente pelo conceito arraigado de patrimônio cultural vincular-se aos exemplares e instrumentos tradicionais de preservação, as populações locais deixam de reconhecerem o valor de seu patrimônio e sua responsabilidade em preservá-lo. Dessa forma, acredita-se que as práticas de Educação Patrimonial são capazes de aproximar comunidade e patrimônio, de maneira a despertar nela seu papel de agente na preservação da memória. Patrimônio histórico-cultural imaterial e a educação patrimonial: entrelaçando saberes da história regional e memória Jaqueline Ap. Martins Zarbato
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho pretende apresentar as abordagens da pesquisa(em andamento) sobre patrimônio histórico cultural material e imaterial em Mato Grosso do Sul, em que percebe-se a necessidade de discussões sobre o patrimônio histórico-cultural, tendo como reflexo o esquecimento, desvalorização e depredação de Igrejas, monumentos, prédios históricos, festas e elementos culturais. As abordagens sobre as contribuições culturais de diferentes grupos sociais ficam silenciadas e, assim, perdem-se os referenciais identitários, relacionados a história regional. A partir da constatação de que muitas edificações que contribuem com a história das cidades de Campo Grande e Corumbá não são “tombadas” e, mesmo as “tombadas”, estão em esta-
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do de destruição projetamos as abordagens da Educação Patrimonial com crianças e jovens, como um elemento de fundamentação de novas concepções de valorização, (re) conhecimento e preservação. Investigar, propor ações educativas com diferentes estratégias de motivação e conhecimento da cultura local e regional favorecem o sentido de preservação histórica. Educação Patrimonial e Roteiros no espaço urbano: Mapeamento e análise conceitual e metodológica dos Roteiros Turísticos e culturais a pé existentes nas cidades-capitais no Brasil Maria Goretti da Costa Tavares
(UFPA - Universidade Federal do Pará)
A temática de roteiros turísticos no Brasil carece de estudos, diagnósticos e análise tanto de sua forma como de seu conteúdo. Os Roteiros turísticos e ou culturais tem intima relação com a valorização do patrimônio cultural natural, material ou imaterial dos lugares, das cidades, do mundo. A problemática central da pesquisa consiste em seu objetivo geral mapear e analisar conceitualmente e metodologicamente os roteiros turísticos a pé existentes nas cidades-capitais. E em seus objetivos específicos: a) caracterizar e analisar o conteúdo conceitual e metodológico dos roteiros turísticos e culturais a pé existentes nas cidades-capitais do território brasileiro e sua importância para a educação patrimonial no espaço urbano. b) identificar os agentes que propõem os roteiros e o perfil de seus participantes. Nessa segunda parte apresentamos um breve referencial teórico e conceitual tratado sobre o conceito de roteiros, turismo, patrimônio, educação patrimonial e espaço e por fim quadros resumos da pesquisa realizada. I Patrimônio: Acesso à informação e cidadania Sandra Schmitt Soster
(USP - Universidade de São Paulo)
O projeto iPatrimônio (www.ipatrimonio.org) possui o intuito de georreferenciar informação sobre todo o patrimônio cultural (bens materiais e imateriais) oficializado no Brasil, nas quatro instâncias de preservação: Unesco, Iphan, estados e municípios. Contém mais de 9 mil bens tombados e registrados pela Unesco, pelo Iphan, por 18 estados e por centenas de municípios (incluindo todos os bens de Minas Gerais, nas quatro instâncias). Além de disseminar conhecimento sobre o paIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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trimônio cultural, o projeto contribui com duas importantes questões. Primeiramente, o georreferenciamento torna visível a desigualdade de distribuição espacial do patrimônio tombado/registrado. Em segundo lugar, os seis canais de comunicação com os usuários, sensibilizam sobre a importância do patrimônio cultural em seu sentido mais amplo, para estimular e qualificar a participação cidadã nas políticas de preservação. O trabalho é realizado de maneira voluntária e sem vínculo instituiconal por três cidadãos. Atualmente, reúne mais de 31 mil seguidores no Instagram e mais de 3 mil seguidores no Facebook. A plataforma teve mais de 300 mil visualizações de mais de 100 mil usuários únicos no ano de 2018. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Museologia comunitária como ação patrimonial: o caso do Ecomuseu+ em São José dos Campos, SP Maria Siqueira Santos
(Centro de Estudos da Cultura)
Quintais, ruas, parques, praças, escolas, locais onde se manifestam os patrimônios culturais de uma comunidade. O solo comum do povo de um lugar. É neste solo comum que acontecem as atividades do Ecomuseu+, em São José dos Campos. Rodas de conversa, mostras de saberes e fazeres, oficinas de comunicação, plantio em áreas de recuperação ambiental, hortas comunitárias, campanha de separação de resíduos e construção de hortas pedagógicas em escola são exemplos de ações realizadas desde 2015 no bairro Campos de São José e, a partir de 2018, também no Jd. Diamante e no Jd. Americano, na Zona Leste da cidade. Em diálogo com a Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários e amparado nas reflexões de Hugues de Varine, bem como apoiado em uma série de métodos de pesquisa de manifestações culturais, o Centro de Estudos da Cultura Popular (CECP) objetiva valorizar saberes e fazeres para fortalecer patrimônios culturais locais e, assim, dar sustentação às ações coletivas de moradores e desenvolver o exercício de cidadania. A conceituação, metodologia e atividades desenvolvidas pelo CECP, bem como reflexões sobre esta ação de educação patrimonial, serão apresentadas nesta ocasião.
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Museu e seus percursos pelas cidades Adriana Barão
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O mito de Museu, filho de Orfeu, aquele que percorre a vastidão dos caminhos e recompila a obra do pai, ou seja, a poesia espalhada no mundo, é o sentido que queremos discutir sobre educação museal. Especificamente, na atuação de dois museus de Campinas: Museu da Cidade e Museu da Imagem e do Som.Compreender estes acervos como potencializadores de sensibilidades, questionamentos e ausências, no discurso sobre a(s) cidade(s) de Campinas, diversas e complexas. Educação Museal no Reino Unido: um estudo preliminar sobre as estratégias educativas em museus britânicos Artur José Renda Vitorino
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas),
Isla Andrade Pereira de Matos
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
O texto a seguir apresenta um estudo preliminar sobre as estratégias educativas observadas em museus ingleses. Apresenta-se um panorama da educação museal britânica a partir de pesquisa de campo realizada em Londres, marcada pela observação de sessões educativas com escolares em museus, entrevistas com profissionais dos setores educativos desses museus e leitura de bibliografia sobre o tema. No que se refere a sessões educativas planejadas para escolares, constatou-se a existência de uma grande diversidade de estratégias, planejadas de acordo com o ano e o currículo escolares, observando o conteúdo e a linguagem de acordo com a faixa etária dos estudantes. Observou-se, ainda, a prática da contratação de freelancers especialistas para ministrarem as sessões educativas, bem como o alto número de freelancers com experiência docente, demonstrando uma aproximação entre o museu e a escola. Assim, em uma perspectiva comparada, foi possível observar o processo inverso entre os dois países: se no Brasil existe um movimento entre os profissionais de museus pela desescolarização dos museus, no Reino Unido as sessões educativas estão estritamente relacionadas ao currículo escolar. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Desejos de Memória e a ideia de criação do Museu de Território para a Reserva Florestal do Morro Grande - Cotia - SP Vilma Cristina Soutelo Assunção Noseda
(PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Este projeto visa refletir sobre a história e a memória do patrimônio cultural existente no bairro do Morro Grande município de Cotia (São Paulo), local que se encontra o Sítio do Padre Inácio, bem patrimonial tombado pelo IPHAN na década de 50 e a Reserva Florestal do Morro Grande, tombada pelo CONDEPHAAT, na década de 80. O objetivo é compreender por meio das narrativas de memória dos seus moradores, os seus hábitos e costumes, os valores e significados, que são atribuídos ao patrimônio cultural e ambiental do bairro do Morro Grande. A metodologia utilizada neste trabalho será por meio de levantamentos de campo, pesquisa bibliográfica, documental, iconográfica e história oral realizadas através de entrevistas individuais e rodas de memória envolvendo a elaboração de um inventário participativo com a comunidade. Com a intenção de fornecer subsídios para a elaboração de diretrizes metodológicas para um projeto de musealização do território que contemple a valorização e a instrumentalização da comunidade ao propiciar condições para reverter o quadro atual de subutilização do patrimônio cultural da região. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Lugares da diferença: o tombamento federal de terreiros de candomblé Natália do Carmo Louzada
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Entre os anos de 1984 e 2018 foram homologados onze tombamentos federais de terreiros de candomblé, contemplando as três mais expressivas tradições étnicas desta religião. As patrimonializações, contudo, não se estenderam a outras denominações afro-brasileiras consideradas mais sincréticas, assim como estiveram concentradas nos terreiros de nação ketu da cidade de Salvador, tidos pela antropologia como as matrizes do candomblé no país. Nesse sentido, se por um lado o tombamento de candomblés representou o cumprimento de um dever de memória amplamente reivindicado pela população afro-brasileira, o recurso às ideias de ancienidade e africanidade como justificativas recorrentes para a seleção destes bens nos convida a refletir sobre a problemática da
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persistência de uma noção de autenticidade como critério adotado para as patrimonializações promovidas pelo IPHAN. Não obstante, as diversas situações de vulnerabilidade que atravessam - e muitas vezes motivam - estes pedidos de tombamento instigam os estudos de patrimônio a uma matização das relações mantidas entre agências de cultura de Estado e grupos sociais subalternos, cujo reconhecimento é via de acesso à garantia de direitos. Entre memórias ambientais e o patrimônio: A atuação dos órgãos públicos na preservação da Serra do Mar em São Paulo (1977- 2006) Felipe Bueno Crispim
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A pesquisa investiga as ações de preservação da Serra do Mar em São Paulo através da dinâmica dos agentes e instituições que atuaram sobre esse espaço natural entre 1977 e 2006, considerando, a criação do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) em 1977 e a instituição de seu Plano de Manejo em 2006 como balizas temporais. A atuação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), por meio do tombamento estadual em 1985, assim como do Instituto Florestal na tutela desse espaço natural protegido são considerados elementos centrais do estudo. A historicidade dessas ações pode nos ajudar a compreender por que, ao longo do período em questão verificou-se o fortalecimento das políticas ambientais focadas na gestão do Parque Estadual, ao passo que a atuação do Condephaat enfraqueceu substancialmente, indicando assim a perda de referências da Serra do Mar enquanto patrimônio cultural. Pretende-se analisar assim os principais documentos técnicos produzidos no âmbito das práticas de preservação como é o caso do Plano Sistematizador do tombamento da Serra do Mar (1987) entre outros acervos presentes no repertório de ações dessas instituições. A musealização do folclore na abordagem da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro (1947-1968) Elaine Cristina Ventura Ferreira
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
O objetivo do presente artigo foi traçar uma reflexão acerca das abordagens construídas sobre o folclore. Com o intuito de alcançar essa, proposta a seguinte pergunta norteou o trabalho: de que forma as visões construídas sobre o folclore conduziu ao processo que levou a sua musealização? Qual o lugar IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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dessas narrativas no projeto de construção da identidade nacional brasileira? As questões foram respondidas mediante o mapeamento dos discursos dos folcloristas ocasião em que o folclore foi materializado na criação de Museus de Folclore. Quando o folclore foi musealizado uma nova concepção de patrimônio se ascendia, época em que o mesmo se tornava elemento da nacionalidade foram às conclusões do estudo. A Figura do Mestre no Bumba-meu-boi do Maranhão: Memória, Pertencimento e Oralidade Cristiane Rodrigues Serra
(PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
O Bumba-meu-boi do Maranhão tem na imagem do Mestre-cantador uma performance tradicional popular repleta de significados, seus elementos são cheios de simbologias e misticismo. Eles são responsáveis por manter viva a tradição, são pessoas que dedicam sua vida ao Boi e passam ensinamentos e fundamentos para seus brincantes através da oralidade, fazendo com que a história permaneça e a tradição continue. Suas memórias e saberes revelam uma rede de saberes construídos e reconstruídos. Onde o brincante com um olhar mais atento, pode perceber conexões através das palavras que suscitam dos versos das toadas, provocações e dialogismo, proporcionando diversos entendimentos culturais. O Mestre-cantador tem importantes papéis políticos, sociais, culturais contidos nas suas performances. Portanto, é importante investigar o que essa significação pode representar no espaçotempo, pois, ele é composto de relações múltiplas entre múltiplos sujeitos com saberes múltiplos, que aprendam/ensinam o tempo todo de múltiplas maneiras na tentativa de demostrar que o ensino e aprendizagem no espaçotempo das tradições segue a mesma lógica de múltiplos saberes por múltiplos sujeitos em espaços não formais. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Engenhos de Ilhabela: estratégias para sensibilização patrimonial Barbara Marie Van Sebroeck Lutiis Silveira Martins (IFCH/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A história da cana-de-açúcar em Ilhabela, com seus mais de trinta engenhos que desenvolveram atividades no fabrico de açúcar e aguardente,
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transformou radicalmente a paisagem da ilha graças aos cultivos extensivos de cana-de-açúcar. Boa parte desses antigas instalações não existe mais ou são sítios em ruínas, há um exemplar protegido (Engenho d’Água) e apenas um engenho ainda em funcionamento (Engenho da Toca). Este último localizado na Fazenda da Toca, que conta com 95% de sua área dentro do Parque Estadual de Ilhabela. A Cachoeira da Toca é um atrativo turístico de Ilhabela, idealizado por Joseph Albert Van Sebroeck que há 52 anos abriu três quedas d’água para o público. Além da visitação à cachoeira, desde 2014 foi implementada uma visita mediada ao engenho. No final de 2016 a autora colaborou com a montagem do Museu da Cachaça, que pretendia dar visibilidade a essa importante história da ilha. Fechado pouco tempo depois, permanece em suspenso essa narrativa. A comunicação pretende discutir como é possível sensibilizar e trabalhar os temas de um patrimônio pouco divulgado e reconhecido. Patrimônio e educação patrimonial: entretecendo experiências do letramento digital com o Ensino de História Cleonice Aparecida de Souza
(USF - Universidade São Francisco)
Esta pesquisa focalizou as potencialidades do uso de processos do Poder Judiciário no ensino de História. Essa empreitada é justificável porque o uso de documentos no ensino de História pode contribuir para “[...] o desenvolvimento intelectual dos alunos, em substituição de uma forma pedagógica limitada à simples acumulação de fatos e de uma história linear e global elaborada pelos manuais didáticos”. (BITTENCOURT, 2009, p. 327). Pressupomos que tais fontes podem facilitar e expandir as formas de construção de conhecimento escolar, principalmente quando se relacionam ao estudo das Histórias do cotidiano e do local, das memórias individuais e coletivas, das sensibilidades e da Educação Patrimonial. Sendo o letramento digital um conjunto de conhecimentos que permite às pessoas participarem das práticas letradas mediadas por computadores e outros dispositivos eletrônicos. A linguagem digital inclui a habilidade para construir sentido a partir de textos multimodais, isto é, textos que mesclam palavras, elementos pictóricos e sonoros numa mesma superfície. Inclui, também, a capacidade para localizar, filtrar e avaliar criticamente informações disponibilizadas eletrônica e digitalmente. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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História, Memória e Patrimônio: Uma articulação entre o Ensino de História e a Educação Patrimonial Vanessa Fernanda Mayrinck
(UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná)
O presente artigo visa apresentar discussões e os resultados de uma pesquisa qualitativa realizada com jovens estudantes do Ensino Médio do IfprCampus Jacarezinho. A pesquisa delineou-se sobre o Patrimônio Cultural, enfaticamente sobre seus significados, usos e abusos. Sendo assim, buscouse analisar e realizar um exame crítico acerca das perspectivas que esses jovens detinham sobre o tema antes, durante e depois da investigação. Para isso, foram selecionados dois bens patrimoniais locais para auxiliar os estudantes a compreender a complexa dinâmica do Patrimônio: a Capela São Benedito, construída por “ex-escravos” no final do século XIX e a Catedral Imaculada Conceição, que conta com obras do pintor ateu e comunista Eugênio Sigaud. A história que envolve a construção e perpetuação desses bens é relevante e também peculiar, fato este que ajudou a aguçar a curiosidade e, consequentemente, o interesse dos jovens estudantes por todas as questões referentes a eles. Cabe salientar, que toda a pesquisa foi fruto das discussões que afluíram da Unidade Curricular Patrimônio Cultural, ofertada pela primeira vez no Ifpr – Campus Jacarezinho/PR. Possibilidades da Educação Patrimonial em escolas municipais do Rio de Janeiro Ana Gabriela Saba de Alvarenga
(UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
A Educação Patrimonial tem se estabelecido como um campo de conflito (SCIFONI, 2017) pela preservação e valorização do Patrimônio Cultural no Brasil. O conceito estabelecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN entende por “Educação Patrimonial os processos educativos formais e não formais, construídos de forma coletiva e dialógica, que tem como foco o patrimônio cultural” (IPHAN, 2014). As possibilidades de ações de Educação Patrimonial mostram-se múltiplas e abrangentes, podendo ser realizadas em diversos ambientes, mas vale ressaltar a relevância dessas atividades estarem inseridas no ambiente escolar, que compreende o lócus da educação formal para todos os brasileiros. Este trabalho faz parte
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da pesquisa doutoral em andamento e busca apresentar a possibilidade de construções de projetos escolares por professores de história em escolas municipais na cidade do Rio de Janeiro, que tem como temática principal o patrimônio cultural. A observação dessas experiências (BENJAMIN, 1994) mostra que, mesmo que em alguns casos sem utilizar a nomenclatura, o trabalho de Educação Patrimonial tem sido desenvolvido nas escolas. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Porões invisíveis - (Re)conhecendo lugares de memória da ditadura civil-militar no Rio de Janeiro: roteiro para educação em Direitos Humanos Vinícius Ávila da Silva
(UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
A ausência de “lugares de consciência” relativos a ditadura civil-militar na cidade do Rio de Janeiro, guarda relação com o processo de redemocratização, mais especificamente, com a renúncia de grande parte da sociedade política e civil brasileira, bem como do Estado, em se construir um conjunto de ações com vistas à busca pela justiça, memória e verdade sobre os arbítrios da ditadura. Dessa forma, a ausência desses lugares de memória (Nora) cria obstáculos ao ensino de História comprometido com a promoção da cidadania, por meio dos métodos e abordagens próprios da Educação em Direitos Humanos. O objetivo desta proposta de trabalho é estabelecer uma relação direta entre os conteúdos e conceitos relativos ao ensino da ditadura civil militar brasileira na educação básica, com os locais que serviram ao Estado como base de tortura nesse mesmo período na cidade do Rio de Janeiro, passando por práticas e experiências em educação em direitos humanos. Em especial, a proposição de um roteiro pedagógico de educação patrimonial pelo Centro da cidade do Rio de Janeiro. A relevância do acervo histórico para a pesquisa: documentos do Judiciário no CDAPH Sandra Aparecida de Souza Machado (USF - Universidade São Francisco)
O trabalho apresentado focaliza as potencialidades do uso e preservação do acervo do Fundo do Poder Judiciário da Comarca de Bragança Paulista, IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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relativa ao período de 1798-1980, composto por mais de 80 mil processos depositados no Centro de Documentação e Apoio a Pesquisa em História da Educação (CDAPH), da Universidade São Francisco. Tem por objetivos enfatizar a relevância das práticas de pesquisa em tal acervo, analisar e refletir sobre as possibilidades de pesquisa em processos crimes da Comarca, sobretudo no Processo de Crime de 1911, contra Joseph Jubert. Para tanto, destacaremos a organização, preservação e acesso desse Fundo do Poder Judiciário e a importância dos procedimentos da pesquisa histórica em tal acervo, salientando o silenciamento de anarcossindicalistas na história regional, ao se reafirmar apenas uma história vinculada aos cafeicultores da região. A pesquisa visa contribuir para a história da educação, no sentido de expor as possibilidades de trabalho com fontes históricas, bem como incentivar a pesquisa em instituições que se voltam à preservação da memória (LE GOFF, HALBWACHS, MENESES).
GT 08 MEMÓRIA E HISTÓRIA PÚBLICA Coordenação: Marta Gouveia de Oliveira Rovai (UNIFAL),
Ricardo Santhiago (UNIFESP)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Práticas e processos educativos da população negra na cidade de Campinas-SP Renata Sieiro Fernandes
(UNISAL - Centro Universitário Salesiano de São Paulo),
Rogério Donizetti Bueno
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
Esta comunicação trata dos modos pelos quais, em um cotidiano de exclu-
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são social, os/as negros/as campineiros, descendentes de escravizados, resistiram e existiram por meio de sua cultura às restrições de acesso à educação formal. O objetivo é apresentar e analisar os processos e práticas educativas fora da escola como modos de existência e resistência da população negra campineira, a partir de depoimentos de moradores/as negros/as e velhos da cidade de Campinas-SP. A metodologia da pesquisa é de abordagem qualitativa, descritiva e analítica e o uso da História Oral. A amostra dos depoentes é de quarto entrevistados, sendo dois do sexo masculino e dois do feminino, com idades acima dos sessenta anos, moradores da cidade de Campinas-SP, todos autodeclarados negros. Como a história pública se ocupa do redimensionamento do saber histórico para além da academia e assume forma democrática de se escrever a história, conhecer e reconhecer os modos de fazer educação por essa parcela da população é tanto valorizar diferentes percursos formativos como atribuir valor e importância para as práticas que, por estarem às margens, são invisibilizadas. A tessitura de uma experiência de formação docente e História Pública Cyntia Simioni França
(UNESPAR - Universidade Estadual do Paraná)
O texto é um recorte da pesquisa de doutorado desenvolvida por um projeto de formação docente, com a participação de professores de Educação Básica, lotados em escolas públicas de Londrina, no estado do Paraná, que aceitaram o convite de narrar coletivamente as suas experiências pessoais e docentes. O trabalho focalizou as práticas de memórias e narrativas (BENJAMIN,1985) para movimentos de fortalecimento da dimensão humana dos professores, (re)significação da docência, a percepção do presente e a busca por outro futuro. Para desenvolver esta pesquisa-ação foi escolhida a obra Odisseia, do autor Homero, documento histórico (THOMPSON 1981) para ser lido com o intuito de potencializar as rememorações coletivas dos professores expressas em narrativas orais e escritas. Esta experiência de formação docente dialoga com a história pública por enveredar pelo itinerário da “história feita com o público” (SANTHIAGO, 2016). Apostamos no trabalho dialógico, interativo e colaborativo (de fazer pesquisa com os professores e não sobre os professores), com a potencialidade de tecer uma produção de conhecimentos históricos e educacionais, na perspectiva da autoridade compartilhada (FRISCH, 2018). IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Cidade, memória e produção coletiva de conhecimentos histórico-educacionais Nara Rúbia de Carvalho Cunha
(Secretaria de Estado de Educação de Minas)
Abordo uma produção de conhecimentos histórico-educacionais em formato de pesquisa-ação em parceria com professores da Educação Básica de Ouro Preto-MG, dentro de uma pesquisa de doutorado. A investigação teve como fio condutor a reelaboração de sentidos relativos à cidade Patrimônio Cultural da Humanidade e à relação dos sujeitos com a mesma, a fim de que fosse compreendido o engendramento histórico das experiências vividas no espaço urbano. Colocamos em diálogo diferentes imagens da cidade (elaborações eurocêntricas comuns em museus e numa historiografia elitista, propagandas para turistas, obras de artistas plásticos e imagens formuladas no cotidiano do morador local), por considerar que as experiências são tecidas na interface com a pluralidade de imagens. Na esteira do filósofo Walter Benjamin, desenvolvemos um processo coletivo de produção de conhecimentos concebendo a rememoração como meio de escavação de camadas de tempo e de (re)significação de sentidos partilhados. Ao final, as narrativas verbais e não-verbais dos professores foram organizadas em exposição artística na Casa dos Contos, em parceria com o Museu Casa Guignard, núcleo de desenvolvimento da pesquisa-ação. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 Narrativas de ex-au pairs brasileiras: história oral e história pública Amanda Arrais Mousinho
(USP - Universidade de São Paulo)
A au pair é uma jovem mulher oriunda de um país estrangeiro que mora com uma família anfitriã – normalmente por um período de 12 a 24 meses – para a qual trabalha prestando serviços de assistência à infância. O intercâmbio, no entanto, por vezes serve como porta de entrada para a imigração de brasileiras nos Estados Unidos, visto que são recorrentes casos de brasileiras que, em vez de voltar ao Brasil, como previsto pelo programa, optam por continuar a residir em território norte-americano após fim do
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intercâmbio. Portanto, o objetivo deste estudo é analisar a participação de brasileiras no programa Au Pair nos Estados Unidos buscando compreender as estratégias usadas pelas jovens para subverter a finalidade alegada do programa. O principal método utilizado é o da história oral, que permite o registro, em primeira mão, das experiências dos sujeitos em questão, bem como evidencia o desejo dessas entrevistadas de compartilhar suas trajetórias. As memórias e os patrimônios de Alfenas: como ver o visível Marta Gouveia de Oliveira Rovai
(UNIFAL-MG - Universidade Federal de Alfenas)
O trabalho tem como objetivo apresentar a pesquisa desenvolvida na cidade de Alfenas, a partir do levantamento de seu patrimônio material e imaterial, pelo grupo de pesquisa História do Brasil: memória, cultura e patrimônio. O levantamento é um exercício de inventário, porém, mais do que isso, propõe a criação de formas de visibilização e publicização dos patrimônios da cidade junto à sua população, em especial, aos estudantes das escolas públicas, estimulando práticas educativas em que as escolas possam elaborar formas de visibilização, discussão e ressignificação da cidade e das inúmeras identidades que a envolve. A pesquisa envolve, portanto, a compreensão de conceitos como memória, patrimônio e história pública, levando em conta não apenas os monumentos mas as múltiplas experiências e manifestações culturais que se tornam marcas da cidade. Para isso, usamos a história oral e a metodologia do inventário, além da educação patrimonial voltada à ampliação das audiências e também da produção de patrimônios. História pública, arte e estudos da cidade Ricardo Santhiago
(UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Nesta comunicação, irei apresentar os resultados iniciais da pesquisa «Arte e artistas da Zona Leste: História oral, memória e experiências urbanas (19501990)», desenvolvida na Universidade Federal de São Paulo como parte das atividades de implementação do Campus Zona Leste, voltado aos estudos da cidade e dos conflitos urbanos. A pesquisa em curso visa compreender, IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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por meio de narrações de experiência pessoal, como artistas de diferentes linguagens e modalidades oriundos da Zona Leste de São Paulo desenvolveram repertórios e estratégias para profissionalizarem-se, a partir de um espaço caracterizado pela multiplicidade cultural, mas também pela carência de espaços oficiais. A pesquisa é desenvolvida dentro da perspectiva da história pública, valendo-se de ferramentas colaborativas de coleta de dados, da elaboração de «produtos em processo», e da interpretação compartilha dos achados de pesquisa, aspectos que serão discutidos na presente ocasião. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Lições e memórias de uma Copa - Zagalo e a disputa pelo protagonismo na Copa do Mundo de 1970 Harian Pires Braga
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Considerada uma das melhores seleções masculinas de futebol do Brasil, a geração vitoriosa da Copa do Mundo de 1970 serve ainda hoje como parâmetro para a imagem positiva do estilo nacional de jogar futebol, identificado como futebol arte. Esse marco identitário, em muito ligado a um período de repressão política e de ufanismo, também dialoga com a recorrente disputa de agentes (imprensa, atletas, cronistas, militares, treinadores esportivos) pelo protagonismo do sucesso no campeonato. Neste trabalho analiso o livro de memória Lições da Copa do treinador principal da equipe campeã do mundo em 1970, Mário Jorge Lobo Zagallo. O livro publicado logo após o torneio no México corrobora com disputas pela memória do torneio, na qual além da importância apresentada pelo ex-atleta e treinador, orbitam imagens do talento inato ao futebolista brasileiro, bem como a importância de estudos do treinamento esportivo. Assim, o trabalho objetiva confrontar algumas dessas narrativas entorno da memória da Copa do Mundo de 1970 e suas nuanças com a questão identitária nacional. O futebol na Liga Bancária de Esportes Atléticos – São Paulo, década de 1930 Gabriela Marta Marques de Oliveira
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
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O Sindicato dos Trabalhadores Bancários de São Paulo foi, na década de 1930, um dos mais importantes da capital, oferecendo diversos tipos de serviços para seus membros. Um deles era a Liga Bancária de Esportes Atléticos, em que apenas clubes compostos por bancários podiam participar. Nesse momento tivemos grandes mudanças nos aspectos políticos e sociais do Brasil, com mudanças na legislação, fortalecimento do movimento dos trabalhadores, o início da legislação esportiva e a instalação do Estado Novo. Esta pesquisa tem como objetivo compreender que usos esse sindicato fazia dos esportes, como foram criados dois dos clubes bancários que participavam da Liga e como o Estado Novo mudou a forma como os esportes, e especificamente o futebol, foram inseridos nas políticas do sindicato. As principais fontes são o jornal e as revistas sindicais, as atas de reunião e estatutos de clubes, sindicato e Liga. As fontes sugerem que olhar para as questões de classe poderia ajudar a ter novas interpretações da prática do futebol em São Paulo, uma vez que se observa uma dinâmica diferente da praticada nos grandes espetáculos esportivos realizados pelos clubes oficiais. Crônicas do Brasil colonial: a importância dos registros a respeito do uso medicinal de frutas nativas para o desenvolvimento da ciência e preservação da biodiversidade Gabrieli Aparecida da Fonseca
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
O Brasil é um país muito rico em biodiversidade, apresentando grande variedade de frutas, as quais outrora foram muito utilizadas na alimentação e medicina popular. Contudo, devido à imposição alimentar e ao cultivo agrícola baseado na monocultura, tais usos foram sendo abandonados e esquecidos, tornando-se essas frutas cada vez mais escassas. Assim, este trabalho visa destacar a importância de documentos para o resgate do uso de frutas nativas pela medicina alternativa e preventiva e para sua inserção na medicina convencional. Com tal finalidade, foi realizada revisão de literatura de publicações de cronistas do período colonial, e a respeito de investigações científicas sobre o potencial medicinal de frutas nativas citadas pelos cronistas. Aqui se deteve a refletir sobre o caso de três frutas específicas: o bacupari, a grumixama e o araçá – todos em risco de extinção e elencados no catálogo Arca do Gosto. Essa três frutas tem se destacado em pesquisas científicas, confirmando o que a sabedoria popular já indicava. Enfim, as crônicas coloniais são documentos importantes para o resgate do uso de frutas nativas e contribuem para a ciência e para a preservação da biodiversidade. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Batismos de sangue: A Literatura e o Cinema como agentes sociais da divulgação da ditadura civil-militar Eduardo Augusto Carvalho Teixeira
(Escola Estadual José Franco - Caldas, MG)
O livro autobiográfico, “Batismo de Sangue”, escrito por frei Carlos Alberto Libânio Christo, o frei Betto, foi lançado no começo da década de 1980 e narra a perseguição e prisão de um grupo de frades dominicanos que apoiavam a resistência armada durante o regime ditatorial. Em 2007, a autobiografia de frei Betto foi adaptada para as grandes telas. Dirigida por Helvécio Ratton, um ex-combatente da ditadura, “Batismo de Sangue” é uma narrativa que procura representar os anos de chumbo de maneira crua, dando ênfase à trajetória de frei Tito de Alencar Lima, membro do grupo dominicano que suicidou-se na França no final dos anos 1970. Este trabalho busca discutir a Literatura e o Cinema não apenas como fontes históricas, mas como agentes sociais que permitem a divulgação de narrativas testemunhais que contestam os silêncios e a memória vigente sobre o processo da ditadura civil-militar. O Cinema e a Literatura não são apenas entretenimento, mas instrumentos para que as memórias dos “vencidos” conteste a atual ode à este período, através da denúncia e divulgação das violações aos direitos humanos cometidos nos 21 anos da ditadura. O apoio e o abandono do jornal O Estado de S. Paulo ao governo ditatorial do mal. Castelo Branco, por meio de suas charges Fernando Miramontes Forattini
(PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Com este trabalho pretendemos mostrar, por meio das charges presentes no jornal O Estado de S. Paulo (OESP), como este apoiou, inicialmente, o governo Castelo Branco e suas medidas políticas e econômicas repressivas; mas, ao longo do tempo, foi enfraquecendo este apoio, até chegar à condenação, especialmente após as medidas tidas como «liberalizantes” como as eleições de 1965. Pretendemos mostrar como o jornal irá tentar reinventar a história e a memória de si como um jornal de vertente liberal
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e democrática ao afirmar, hodiernamente, que não apoiou certos atos repressivos como o AI-2 e que romperam com a ditadura por estes motivos. Entretanto, veremos que não só apoiam este Ato, como criticam a falta de medidas mais duras por parte de Castelo – culminando com o apoio à candidatura de Costa e Silva, visto como alguém capaz de “salvar o espírito da revolução». Iremos mostrar essas posições políticas, e suas alternâncias, mediante o uso das charges presentes no jornal, pois estas são, até certo período da história da mídia, a expressão da opinião dos jornais expressa em seus editoriais.
GT 09 MEMÓRIA, ESCOLA E EDUCAÇÃO Coordenação: Maria Angela Borges Salvadori (FE/USP)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 O gerenciamento burocrático da instrução – memórias e espaços das instituições educacionais (Santa Catarina, 1911-1940) Carolina Cechella Philippi
(FE- Faculdade de Educação/UNICAMP)
Este trabalho tematiza a organização administrativa e o gerenciamento burocrático da instrução catarinense entre 1911 e 1940. Para tanto foi composta série documental de sete mil ofícios expedidos e recebidos pela Diretoria da Instrução, Departamento de Educação e Superintendência do Ensino. Interessou entender a organização burocrática do ensino como uma forma específica de organização das práticas, sendo a burocracia também parte de esforços de compreensão da memória dos processos de escolarização e do magistério. Sua análise dá embasamento metodológico para rastreamento de sujeitos políticos tais quais professores, inspetores, IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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diretores e alunos, sendo parte da memória escolar e da profissão docente. São consideradas as teorizações de Certeau (2002, 1985) e o entendimento que Formosinho empresta à burocracia (2007a; 2007b). Coube questionar os modos pelos quais suas ações são memorializadas e a composição dos quadros de gerenciamento das instituições escolares. O artigo traz a constatação de que a burocracia faz parte de uma maneira específica de atribuir sentido às instituições educativas, sendo parte importante de suas políticas de memória e institucionalização. A Legislação Como Memória Educacional André Paulo Castanha
(UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná)
As leis educacionais, como quaisquer outras leis, são fontes históricas. Como definiu Le Goff, são documentos e monumentos, pois são registros escritos datados e carregam a memória das ações e intenções dos homens em determinado tempo. Nos últimos anos, os estudos sobre a legislação educacional foram objetos de várias críticas, pois muitos estudiosos analisaram a lei pela lei, sem fazer a devida contextualização dos embates envolvidos na sua elaboração. Tenho me dedicado ao estudo da legislação educacional e venho interpretando-a como mediação, como sínteses de múltiplas determinações. Nesse sentido, tenho como objetivo neste texto analisar a legislação como um local da memória educacional, ou seja, demonstrar que é possível captar valores, práticas, princípios e anseios presentes na sociedade de um determinado período, pela análise da legislação educacional. Para tanto vou tomar como base de análise e interpretação a LDBEN de 1961 e a LDBEN de 1996, considerando a temática do ensino primário/fundamental. Assim, almejamos contribuir com o debate historiográfico sobre memória, fontes e uso e interpretação da legislação educacional. Alfabetização e aprovação nas estatísticas escolares do Estado de São Paulo entre 1935 e 1937 Silvia Vallezi
(UNIANCHIETA - Centro Universitário Padre Anchieta)
Esta comunicação tem por objetivo discutir os índices de alfabetização e aprovação no primeiro ano do ensino primário no Estado de São Paulo no
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período em que Almeida Júnior foi Diretor do Ensino (1935-1938). Os estudos estatísticos mostram-se como uma perspectiva de análise válida para a discussão das ações de reforma do ensino público posteriores à padronização das estatísticas escolares pretendidas pelo Convênio Interadministrativo firmado em 1931. Os modos pelos quais se associou a alfabetização e a aprovação na primeira série a partir do uso que se fez das estatísticas escolares permitiu a divulgação da eficiência e do rendimento escolar a partir de uma lógica organizada e consolidada no interior da Diretoria do Ensino. Essa lógica buscou mostrar as ações centralizadas e as iniciativas de controle da população escolar como meios para efetivação da educação popular. A partir dos conceitos de representação, apropriação e uso na perspectiva de Certeau e Chartier, percebe-se as estratégias de Almeida Júnior como operações que visaram a produção de uma política de reforma da educação pública cujos critérios de equidade e justiça eram, de fato, socialmente pouco efetivos. As escolas multisseriadas de Concórdia/SC: entre documentos e memórias Francini Coelli Schneider Schwingel
(Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - Campus Concórdia/SC),
Solange Aparecida Zotti
(Instituto Federal Catarinense)
A história de uma instituição escolar constrói-se a partir da triangulação entre as histórias anteriores, a memória e os documentos, para a sistematização de uma síntese orgânica da instituição e seu modelo pedagógico. Este trabalho tem o objetivo de apresentar os resultados do projeto história das escolas multisseriadas desativadas do município de Concórdia – SC, no que diz respeito aos fundamentos teórico-metodológicos da pesquisa que combinou o levantamento de fontes documentais e as memórias dos professores que atuaram nestas instituições. Na primeira parte (Ago.2016/ Ago.2017) realizamos o levantamento de fontes documentais de 80 escolas no arquivo da Secretaria de Municipal Educação. No segundo momento (Ago.2017/Ago.2018), realizamos o levantamento dos professores que atuaram em cada escola, sendo selecionados, para entrevista, professores que atuaram por, pelo menos, 5 anos. O objetivos foi conhecer a trajetória dos professores e suas práticas pedagógicas que constituíram singularmente estas instituições. A terceira etapa vem tecendo sínteses para compreensão desta instituição, seus professores e suas práticas pedagógicas. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Gênero, raça e trajetória escolar: Memórias das educandas do Projeto Educativo de Integração Social (PEIS) Bruna Melo Santos
(UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho foi desenvolvido como monografia em Licenciatura em História pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas e teve por objetivo analisar a trajetória escolar de mulheres negras, matriculadas na EJA, buscando compreender em que medida as categorias de gênero e raça estão presentes nesses relatos e na visão que as educandas constroem sobre si, em relação ao seu (não) lugar em processos formais de ensino. A pesquisa foi desenvolvida a partir da metodologia da História Oral, pensada desde as primeiras fases de concepção do projeto, e teve como principais eixos norteadores de sua análise os estudos que abarcam a intersecção das categorias de gênero, raça e classe, considerando o lugar que essas mulheres negras ocupam socialmente. Interessa para a presente proposta pensar como a educação tem sido formulada e como as práticas de ensino tem acolhido tais especificidades em seu interior. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 A memória da Educação Profissional e Tecnológica em foco: concepção e implantação do Programa Núcleo de Memória do IFRS Caroline Cataneo
(IFRS - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul)
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul é uma instituição de ensino criada em 2008 a partir da união de quatro autarquias federais de educação profissional presentes em diferentes cidades do estado. No decorrer dessa década foram criados ou incorporados outros campi que totalizam, no ano de 2019, dezessete unidades. As atuais unidades que compõe a instituição possuem tempo de atuação e de integração com as suas comunidades de abrangência bastante discrepantes: de meados do século XX há poucos anos de funcionamento. Foi no ano em que a nova institucionalidade completou uma década que foi criado o Programa Institucional Núcleo de Memória do IFRS, com o objetivo e o desafio de trabalhar com uma história plural e multifacetada que, ao mesmo tempo que possui diferenças, compreende um núcleo comum: a Educação Profissional e Tecnológica. O objetivo do Programa se assemelha aos
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dos Centros de Memória presentes nas mais diversas instituições: resgatar e (re)conhecer sua história, memória e identidade. Coleções científicas de ensino no século XIX: o caso do Museu do Ginásio Pernambucano Rômulo José Benito de Freitas Gonzales
(UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
Este trabalho tem por objetivo a analisar a formação da coleção inicial do Museu Louis do Ginásio Pernambucano (Recife-PE). A escola foi fundada em 1855 substituindo o antigo Liceu Provincial de Pernambuco fundado em 1825. Seguindo as reformas didáticas no Colégio Pedro II na década de 1850, o Ginásio Pernambucano procurou se alinhar a então escola modelo do país. Disciplinas como História Natural foram introduzidas, necessitando de espaços específicos para aulas práticas. Assim, foi criado o Museu do Ginásio, com coleções criadas principalmente pelo professor Louis Jacques Brunet, que lecionou na instituição entre 1855 e 1863. Assim, analisaremos a formação dessa coleção a partir da sua relação com o modelo educacional vigente. Analise Documental Histórica do Acervo Escolar do IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes sobre o Currículo da Matemática nos cursos de Iniciação Agrícola e Mestria Agrícola nas décadas de 1940 a 1950 Suellen Cássia da Silva (IF SUL DE MINAS)
O trabalho traz uma reflexão sobre o currículo da Disciplina de Matemática adotado nos cursos de Iniciação Agrícola e Mestria Agrícola oferecidos no Aprendizado Agrícola Visconde de Mauá nos anos de 1940 a 1950 sobre o olhar do Acervo Histórico Escolar do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – Campus Inconfidentes. Busca-se compreender qual formação escolar se pretendia nas atuais circunstâncias da instituição e do país, considerando a Matemática uma ciência ligada aos processos históricos construídos pela sociedade e compreender os processos de organização da instituição e relacionar as questões da História e trajetória educacionais no Brasil com o currículo de matemática dos cursos. Para isso é analisado os documentos históricos (normas, programas e ponderações) que descrevem o currículo da Disciplina oferecida nos cursos. A abordagem IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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metodológica utilizada será a qualitativa, aliando-se a modalidade técnica de pesquisa bibliográfica documental, entendendo que as análises realizadas não serão de caráter quantificáveis, mas observáveis, analisáveis do ponto de vista da pesquisa sócio histórica do arquivo. Os museus escolares: políticas e programas públicos vigentes no Brasil Vânia Maria Siqueira Alves
(UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros)
A incorporação do termo museu escolar é bem recente na Museologia e, em razão de sua singularidade ainda não é reconhecido como museu. O reconhecimento e a valorização nas políticas e programas públicos em torno desse tipo de instituição e patrimônio são muito limitados. Para análise dos museus escolares como objeto das políticas e programas públicos a pesquisa eletrônica foi crucial no levantamento de informações. Além do documento “Bases para a Política Nacional de Museus”, elaborado em 2003 analisa-se o “Programa Museu na Escola” da Secretaria de Educação do Paraná, o Projeto de Lei 01-00490/2013, que institui a implantação de um museu em cada escola do Município de São Paulo e o Programa “Mais Cultura nas Escolas” lançado em 2013. O estágio atual de proposições de programas e políticas públicas para reconhecimento e valorização dos museus escolares como museus e do patrimônio educativo escolar sugere a necessidade de atenção e inserção das atividades relacionadas à preservação desse patrimônio nos debates acadêmicos, na legislação brasileira, bem como levantamento cadastral de tais instituições e patrimônio. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Escola Municipal Miguel Couto: Memórias e História da Educação Dayane Freitas de Lourdes (Escola Dormevil Faria),
Marcilene Cardoso Oliveira Mendes
(UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso)
O presente artigo “Escola Miguel Couto: memórias e história da educação”, está vinculado ao grupo de pesquisa da Universidade Federal de Mato
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Grosso: Docência e memória social, ação política de sujeitos envolvidos na docência e no exercício de cargos políticos eletivos, coordenado pela doutora Marlene Gonçalves do Programa de Pós-graduação da UFMT. O objetivo é a partir das memórias de ex-alunos de uma escola em Mato Grosso remontar contextos educacionais de uma época. As indagações que intencionamos responder foram: Quais os contextos educacionais os alunos presenciaram? Como eram as relações dentro dessa escola? A metodologia utilizada foi pesquisa qualitativa, em que serão realizadas pesquisadas bibliográficas, como foi utilizada a ferramenta da história oral. Resultados alcançados: os depoentes presenciaram a escassez de escolas no estado de Mato Grosso, chegada da indústria em Mato Grosso, bem como vivenciaram uma escola voltada para o patriotismo e acentuada importância à figura do professor, em que ecoaram memórias de uma escola onde as relações com o diretor escolar configurou a tradição de castigos e do autoritarismo dentro da instituição. Histórias Escolares do Curso Normal no município de São Gonçalo: Memórias do Vivido Karyne Alves dos Santos
(UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
A pesquisa objetiva resgatar as histórias do vivido nos anos de formação docente inicial, numa instituição pública de ensino, no caso o Colégio Estadual Trasilbo Filgueiras, localizado no município de São Gonçalo – Rio de Janeiro. Apresento algumas histórias registradas pelos alunos do Curso normal, criado no ano de 1985 e que atualmente conta com 60(sessenta) alunos/as em suas turmas. Memórias escolares, expectativas da formação docente, medos e vitórias, fazem parte dos vestígios do ontem, tecidos pela institucionalização da formação de professores no Estado do Rio de Janeiro, em meados da década de 80. O referencial teórico baseia-se em LE GOFF ( 1992); TAVARES (2006); FARIA ( 2005), numa discussão sobre memória e esquecimento, e na valorização da formação docente em nível médio no período relacionado. As fontes primárias utilizadas foram: depoimentos, arquivos escolares, documentos pessoais e legislação especifica, com vistas a desvendar vestígios das histórias de professores na década de 80 daquela localidade. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Sobre as memórias das práticas pedagógicas: contribuições da História Oral Mellina Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Ouvir e contar, narrar e escrever, relatar experiências, recontar memórias, são atribuições de historiadores e pesquisadores da História Oral. História esta que abrange o contexto social, histórico e cultural, um relato de memória, uma escuta, o procedimento de análise e um texto. Este trabalho, portanto, tem como objetivo apresentar os conceitos do método de pesquisa da História Oral e exemplifica-lo a partir de uma pesquisa realizada durante o ano de 2018, com as memórias dos professores sobre a leitura e a escrita na Educação Infantil. Com o resultado obtido observou-se que, a utilização da História Oral em pesquisas na escola, os sujeitos participantes revisitam suas memórias, narram e retomam experiências particulares de suas prática pedagógicas. Destas memórias, foi possível observar dados do passado, pessoais e coletivos, que revelam entrelinhas, nem sempre divulgadas, do cotidiano escolar. Memórias de uma rede: propostas curriculares para a Educação Infantil Paulistana na década de 1970 Elisméia Ferreira Dias Sousa
(UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Esta proposta corresponde a um recorte da pesquisa de mestrado em desenvolvimento na Faculdade de Educação da UNIFESP orientada pela Profª Drª Cláudia Panizzolo, um trabalho de cunho historiográfico que tem como objetivo analisar as propostas curriculares para a Pré-Escola na Prefeitura de São Paulo na década de 1970, investigando as concepções pedagógicas presentes nesses documentos, bem como se deu o processo de implantação e implementação nessa rede municipal de ensino. Neste trabalho busca-se apresentar e evidenciar o processo de pesquisa, constituição e organização das fontes, bem como a importância dos arquivos da Memória Documental da SMESP, da Biblioteca Pedagógica Profª Alaíde Bueno Rodrigues da SMESP e da Biblioteca Ana Maria Poppovic da Fundação Carlos Chagas. Nesses acervos foram localizados os documentos: Programa de atividades de 1971, Plano de atividades de 1972 e Currículo
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Pré-Escolar de 1974, entre outros que têm muito a oferecer acerca da memória historiográfica da construção da rede paulistana de atendimento ao pré-escolar. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 O educador Thomaz do Bomfim Espindola nos arquivos de memória de Alagoas Edgleide de Oliveira Clemente da Silva
(UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Neste trabalho buscou-se traçar a trajetória do professor Thomaz do Bomfim Espindola (1832-1889) a partir das diferentes fontes encontradas nos arquivos de memória do estado de Alagoas. Para isso, foram realizadas pesquisas nos acervos do Arquivo Público do Estado de Alagoas – APA e no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas – IHGAL, onde se pôde descobrir matérias jornalísticas e artigos divulgados entre os períodos de 1854 a 1889, que relatam algumas de suas atividades profissionais como médico, professor de História, Cronologia e Geografia, inspetor geral de instrução pública, deputado provincial e geral e presidente de província, ambos cargos exercidos na província de Alagoas. Também foram encontrados nesses acervos livros, relatórios e artigos produzidos pelo autor, além de documentos que tratam sobre sua contribuição política e pedagógica escritos por renomados políticos, jornalistas e historiadores contemporâneos e posteriores a sua época. Assim, conforme Certeau (2008), buscou-se compreender o lugar de produção de Thomaz Espindola, em especial na escola, articulado ao seu tempo e espaço, que se construiu e intercruzou com a História da Educação Brasileira do século XIX. SUELY DE OLIVEIRA: mulher, professora, deputada (Rio Grande do Sul, 1915-1994) Taís Pereira Flôres
(FE/UNICAMP- Universidade Estadual de Campinas)
O presente trabalho intenta apresentar a trajetória de Suely de Oliveira, professora primária estadual sul-rio-grandense e primeira deputada estadual mulher do Rio Grande do Sul. Para a elaboração desta pesquiIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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sa, foi utilizado como fonte o livro “Suely de Oliveira: perfil biográfico, depoimentos e discursos (1915-1994)”, 11º volume da série Perfis Parlamentares, produzido e distribuído pela Assembleia Legislativa Sul-rio-grandense no ano de 2007. Para a realização desta pesquisa, mobilizou-se o conceito de experiência, de acordo com E. P. Thompson, buscando compreender marcas das vivências de Suely de Oliveira como docente, parlamentar pioneira, agente atuante e representante do magistério gaúcho. Metodologicamente, foram empregadas as discussões de P. Bourdieu sobre pesquisas com biografias, bem como as discussões de A. Prost sobre a construção de pesquisas historiográficas. Como resultados, a pesquisa mostra as diferentes percepções evocadas a respeito de Suely de Oliveira em seus contemporâneos de Assembleia Legislativa, as intersecções entre o público e o privado marcadas em seu fazer cotidiano e as ações realizadas em prol da profissionalização do magistério gaúcho. Livros de Leitura da Escola Gratuita São José (1897-1925) Arquivos, Escola e Memória Claudino Gilz
(FAE Centro Universitário)
A pesquisa tem como objetivo analisar os Livros de Leitura da Escola Gratuita São José (Petrópolis - RJ) em busca de elementos relacionados à memória e aos arquivos dessa referida escola, fins do século XIX e primeiras décadas do século XX no Brasil, em meio às demandas socioculturais, a debates relativos aos conhecimentos históricos e suas múltiplas formas de produção, difusão e circulação dos saberes. Parte do pressuposto que os referidos livros trazem memórias de tensões, disputas e possíveis silenciamentos de questões oriundas do processo da laicização da educação brasileira inerentes ao período. Indícios de fatores também relacionados à História da Educação, à imprensa, à memória dos recursos didáticos disponíveis na época e utilizados no ensino primário, à memória de acervos históricos escolares ainda inexplorados. Em face às contribuições teóricas de Le Goff (2003), De Certeau (1976), Ginzburg (1989), Thompson (1998), entre outros, a pesquisa desenvolvida possibilitou compreender o lastro de memória da atuação dos Franciscanos no âmbito da instrução primária na cidade de Petrópolis - RJ no período.
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O Colégio Santa Teresa e a formação de professoras em São Luís do Maranhão Téssia Luana Castro Guimarães
(UFMA - Universidade Federal do Maranhão)
O presente trabalho tem por interesse analisar o curso normal no Colégio Santa Teresa e a formação de professoras, a partir do cenário econômico, político, social e educacional vigente no início da República, em São Luís do Maranhão. Em que narra a construção de uma instituição de ensino, fundada há 125 anos, que a priori teve a incumbência de instruir mulheres através da educação moral e religiosa, sob a direção da Congregação das Irmãs de Santa Dorotéias, tais religiosas chegaram no Maranhão na virada do século XIX para o XX. Observa-se que a trajetória do curso normal no Colégio Santa Teresa marcou a sociedade ludovicense, já que muitas mulheres deixaram de ocupar somente o espaço privado para adentrarem no espaço público. Dessa maneira, o funcionamento do curso normal e as formaturas das professoras, tornaram-se um verdadeiro marco para a instituição e a sociedade local. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Orphanato Christovam Colombo: abrigo e abandono dos dois lados do muro – Cidade de São Paulo (1895-1919) Ricardo Felipe Santos da Costa
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
As escolas públicas, chamadas de Palácios ou Templos de Civilização, ainda que destinadas às classes populares, não eram acessíveis às crianças mais pobres, maltrapilhas e descalças. Tais espaços monumentais eram construídos para dar os ares de civilização pretendidos pelo novo regime republicano, que combinava modernidade e exclusão social. Assim, aos filhos dos imigrantes e ex-escravos, sem acesso inclusive às escolas isoladas de bairro (ou “de barro”), restavam as instituições assistenciais, sobretudo ligadas à Igreja. Sob a rubrica “Subvenções e Auxílios”, conforme documentação da Câmara Municipal de São Paulo, o Orphanato Christovam Colombo foi a instituição de assistência à criança que recebeu mais recursos da municipalidade. Esta pesquisa irá debruçar-se sobre as condições de abrigo e educação oferecidas às crianças pelo orfanato, particularmente sob a direção do Padre Faustino Consoni (1895-1919). O estudo terá como base, além da historiografia sobre a educação em São Paulo IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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e as biografias do Padre Faustino, a busca e análise de dados dos jornais, dos Livros de Registros e dos Papéis Avulsos do Orphanato Christovam Colombo. A Arquitetura Escolar Popular de Campinas Durante a Segunda Metade do Século XIX: A escola Corrêa de Mello Munir Abboud Pompeo de Camargo
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A pesquisa insere-se no campo da História da Educação com enfoque nas edificações das instituições de ensino no final do século XIX no Brasil. Procura-se compreender as discussões a respeito da educação, na cidade de Campinas, tendo como foco os ideais do grupo político que propôs a construção do edifício da escola Corrêa de Mello, levando em conta os projetos pedagógicos e arquitetônicos compatíveis com o pensamento político educacional da época. Estes elementos sendo analisados através das lentes da nova história cultural francesa. São discutidos os discursos que englobaram a construção da escola, apresentando as relações entre os associados e seus ideais educacionais dentro da sociedade campineira do século XIX. Apresenta-se ainda a trajetória do arquiteto do colégio, Francisco de Paula Ramos de Azevedo, formado na Bélgica, e suas relações com o grupo contratante. As fontes utilizadas serão periódicos do período que apresentem descrições dos espaços e discursos vinculados aos prédios idealizados, fotografias das escolas, estatutos da sociedade responsável pela manutenção do colégio, documentação oficial vinculada a reformas e alterações nos espaços. “Vai pela primeira vez no Brasil e sob os auspícios da ABE, realizarse a semana de educação”: a educação do corpo nas escolas cariocas (1928 - 1930) Leonardo Mattos da Motta Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
No Brasil urbano de 1920 e 1930, higiene, saúde e educação eram temas de debates daqueles que buscavam o desenvolvimento social e econômico do país, através de estratégias de educação do povo. Uma das estratégias foi a educação do corpo evidenciando práticas e discursos que sustentariam novos hábitos nas esferas pública e privada. Fundada em 1924, a Associação Brasileira de Educação (ABE), associação civil que procurou reformar a educação brasileira, importou dos Estados Unidos da América o evento chamado Semana de Educação. Tal evento era estruturado para ocorrer nas escolas durante sete dias; cada dia era destinado a um tema: higiene, lar, natureza, es-
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cola, artes, educação física, profissão. Este estudo utilizando-se de relatórios e trabalhos discentes, através da história cultural, teve como objetivo identificar as estratégias de educação do corpo traçadas pela ABE, tendo como objeto de estudo as Semanas de Educação de 1928, 1929 e 1930 no Rio de Janeiro. Foi possível perceber a educação do corpo como estratégia eleita para a constituição do projeto da ABE, que não estava restrito ao campo dos discursos, mas sim, objetivava intervir no cotidiano escolar e social. O canto orfeônico e a educação musical: embates entre a tradição e o novo no Estado da Guanabara (1960 a 1975) Vanessa Weber de Castro (Colégio Pedro II - RJ)
A presente pesquisa tem como objetivo analisar os embates entre diferentes concepções de ensino de música a partir da atuação de professores de canto orfeônico e de educação musical no contexto das reformas educacionais empreendidas nos anos 1960 e 1970 no Estado da Guanabara, atual município do Rio de Janeiro. As fontes de pesquisa são documentos referentes à organização educacional nacional e do estado da Guanabara; determinações legais relacionadas à educação musical; jornais e periódicos da época, e o depoimento de dois professores atuantes no período pesquisado. A metodologia utilizada foi da pesquisa bibliográfica, documental e da história oral. O referencial teórico abrange a história das disciplinas escolares e da cultura escolar (Chervel, 1990; Julia, 2001), a história oral (Meihy, 1994) e as questões que envolvem memória, silenciamentos e esquecimentos (Pollak, 1989). Os documentos oficiais silenciam os embates que existiram entre os defensores de uma tradição pautada no ensino de canto orfeônico e de adeptos de outras propostas para o ensino de música. No entanto, esses embates são evidenciados nos depoimento dos professores e em reportagens de jornais. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 A representação da mulher presente em obras de Afrânio Peixoto Cássia Aparecida Sales Magalhães Kirchner (Faculdade XV de Agosto)
O trabalho analisa a representação da mulher presente em diferentes momentos da atuação de Afrânio Peixoto ao integrar espaços educativos, políticos e IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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científicos no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX. O desenvolvimento da análise pautou-se no romance Maria Bonita (1914), em sua atuação como Diretor da Escola Normal (1915), Diretor da Instrução Pública (1916), Professor do Instituto de Educação (1932) e finaliza com as questões apresentadas no manual Eunice ou A Educação da Mulher (1936). O movimento de analise conta com o aportes teóricos de Roger Chartier para o campo historiográfico e tensiona os aspectos regionalistas construídos a partir das memórias e vivências do autor presentes no romance, os aspetos advindos da sua formação acadêmica sobretudo sobre eugenia e higiene, e as preocupações que apresenta ao inserir-se no campo educacional ao defender a importância do papel ativo da mulher na educação das novas gerações rumo ao progresso desde que esse papel não colocasse em risco a boa conduta feminina. As escolas de imigrantes: espaço de manutenção da cultura escolar alemã Fernanda Roma Sobreira (Fundação Getúlio Vargas)
Durante as últimas décadas, vem se discutindo a incorporação da cultura no processo de ensino-aprendizagem. Bauman (1998) já dizia que a cultura nasce e adquire forma na experiência trazida por cada um, em determinado lugar e tempo. No contexto das escolas étnicas alemãs, a memória escolar está intimamente articulada com a experiência coletiva de grupos e também com processos históricos de âmbitos locais, nacionais e mundiais. O projeto parte da coleta de depoimentos e analise de documentos do Colégio Cruzeiro, antiga Escola Alemã, e sua comunidade. A trajetória histórica da Instituição, com 156 anos de atuação, foi marcada por transformações do contexto mundial e local. Tais influências impactaram na formação dos alunos e professores, e podem servir de elementos constitutivos para ressignificar as práticas educativas adotadas pelo Colégio e construir impressões a partir do resgate da memória e dos recortes históricos. Além disso, servem como mecanismo para compreender a importância das instituições étnicas alemãs na história da educação brasileira, na preservação da cultura escolar Alemã e na formação de laços de identidade e pertencimento da cultura alemã na sociedade brasileira. Associativismo Negro em Campinas e seu símbolo maior: Escola São Benedito (1903-1936) Lúcia Helena Oliveira Silva
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(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
O acesso à escola foi uma das questões mais desejadas pelos emancipados no processo de reconfiguração de suas vidas em liberdade. De modo geral não havia dúvidas sobre a necessidade de se oportunizar instrução na vida em liberdade para os ex-escravos. O problema estava na diferença do tipo de educação desejada pelos libertos e aquela pensada pelos antigos senhores. Na região Sudeste, em especial São Paulo, trabalhadores viveram momentos de grande concorrência no mercado de trabalho devido à concorrência com os imigrantes europeus que vieram aos milhares no final do século XIX. Tendo uma situação de forte adversidade à frente, aos negros e afrodescendentes que viviam em São Paulo galgar uma melhor condição socioeconômica passava por obter a educação, significava principalmente ter acesso à escola e dominar minimamente o letramento. Esta comunicação traz a história de um Colégio particular chamado São Benedito feito pelos militantes negros da cidade de Campinas e sua importância como espaço identitário e de luta contra o racismo e alcance da cidadania no período em que existiu.
GT 10 MEMÓRIA, ARQUIVOS E EDUCAÇÃO Coordenação: Adriana Carvalho Koyama (FE/UNICAMP),
Ivana Denise Parrela (ECI/UFMG)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Relações e vínculos evocados no oficio de ensinar: reflexões a partir do Arquivo do Professor Rubin Santos Leão de Aquino Libania Nacif Xavier (PPGE UFRJ)
IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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A comunicação é parte da tese apresentada em novembro de 2018 para promoção ao cargo de professora titular da Faculdade de Educação da UFRJ. Aborda as particularidades e as marcas de geração (Sirinelli, 1986) inscritas no Arquivo pessoal de Rubin Santos Leão de Aquino. Formado em 1963, pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia, ele atuou como professor de história do ensino médio em escolas do Rio de Janeiro, assim como se envolveu em diversos projetos de construção democrática e de combate ao regime militar, instaurado no Brasil, em 1964. Percebemos este arquivo, ou melhor a parte pedagógica da ampla massa documental que o compõe como expressão do artesanato intelectual a que se refere W. Mills (2009), no qual o professor construiu os registros de sua carreira, passo a passo, em paralelo com o processo de construção de sua própria identidade pessoal e profissional. Arquivo pessoal de Júlio César de Mello e Souza: da rede de contatos para as correspondências Claudiana dos Reis de Sousa Morais
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A presente proposta ocupa-se de uma pesquisa realizada no Centro de Memória da Educação da Unicamp (CME/UNICAMP). Tal pesquisa explorou o arquivo pessoal de Júlio César de Mello e Sousa, o acervo “Malba Tahan”, resultando na dissertação de mestrado “Registros do acervo de Júlio César de Mello e Souza: Rede de contatos em fundos de documentação pessoal”. A documentação analisada apresentou características pertinentes às relações experimentadas por Júlio César de Mello e Souza, além de ter permitido identificar sua numerosa rede de contatos, bem como a sua expansão. O objetivo será apresentar o percurso que determinou a rede de contatos deste autor e avistar como esta mesma documentação encaminhou para uma nova pesquisa a partir de suas correspondências. As cartas no acervo, ganharam destaque e dirigem um novo propósito de investigação. Desta maneira, essas cartas serão objetos de estudos do doutorado em andamento “Correspondências de Júlio César de Mello e Souza: Redes de Sociabilidade e Trajetória Intelectual”. O estudo se restringirá ao tipo documental carta e reunirá todas as correspondências de Júlio César de Mello e Souza que se encontram preservadas neste acervo. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 Inventário biográfico de Analia Franco Rosangela Molento Ferreira
(UNISANTOS - Universidade Católica de Santos)
123 IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
Este projeto trata de um inventário das informações sobre as atividades educacionais e literárias de Analia Franco, com o objetivo de embasar a pesquisa em variadas fontes primárias e secundárias, buscando referenciá-las de forma ampla, com maiores possibilidades de investigações transdisciplinares e diversidade documental. Analia Emília Franco nasceu na cidade de Resende, Rio de Janeiro; foi batizada no dia 29 de março de 1853, na Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Resende – RJ, pelo vigário Ignácio Ferreira Franco, e os pais: Antonio Mariano Franco Junior e Dona Teresa Emília Franco. Em novembro de 1901, Analia fundou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo, a AFBI, e, por meio desta, criou escolas maternais, creches, liceus, escolas noturnas, oficinas profissionalizantes e asilos na capital paulista e em outras cidades do estado. Existem profusas fontes documentais, primárias e secundárias, que relatam e atestam sobre as atividades pedagógicas e artísticas, as condições financeiras, o movimento de alunos e a filantropia da AFBI, como arquivos digitais, jornais, sites, livros, fotos, revistas, atas, relatórios, cartas, documentos oficiais e outros mais. Os Centros de Memória como espaço de formação e reflexão das identidades Bruno Almeida Regis dos Santos
(UFF - Universidade Federal Fluminense),
Isabella Belmiro Araujo
(UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Essa pesquisa discutirá a importância dos Centros de Memória da Fundação de Apoio a Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro como espaço de formação e reflexão das identidades. Trataremos especialmente do Centro de Memória da Escola Técnica Estadual Henrique Lage (CMETHL), que integra a Rede FAETEC e que está localizada no bairro do Barreto, na cidade de Niterói. O desenvolvimento desta pesquisa terá inicialmente uma abordagem macro acerca da importância dos Centros de Memória da Rede FAETEC como espaços de disseminação da pesquisa fora da academia e que contribuem para a formação de estudantes e professores. Em um segundo momento, trataremos do CMETHL, enfatizando a estrutura desse espaço, seu acervo, bem como sua relação com os atores que integram a escola e a comunidade que a cerca. O entrelaçamento entre essa instituição de ensino profissional e o bairro do Barreto fica evidente na medida em que na década de 1930, período da instalação da escola no bairro, consistiu em um importante bairro proletário do Estado do Rio de Janeiro. Reforçando, assim, a importância do Centro de Memória para além dos muros da escola. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Práticas educativas em patrimônio: reflexões sobre terminologias e usos Luiza Angelica Lisboa Pinto
(UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro)
Educação patrimonial, educação para o patrimônio, educação com o patrimônio, educação extraescolar, educação permanente, ações educativas, estes são alguns dos termos utilizados para denominar ações com viés educativo em instituições arquivísticas e museais. Mas qual é a definição de cada termo e como estes surgiram? Entendemos que compreender suas definições auxilia não só o uso correto de cada um, como também proporciona um melhor entendimento da trajetória das ações desenvolvidas até então. O presente artigo visa levantar as terminologias utilizadas para denominação das práticas educativas em patrimônio de modo a enfatizar sua evolução e seus usos, na Arquivologia e na Museologia, por meio de pesquisa bibliográfica. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 A conflituosa relação entre arquivo e memória institucional de uma escola de educação profissional Antonio Henrique Pinto
(IFES - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia),
Janda Tamara de Sousa
(IFES - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo)
Este trabalho analisa a importância da preservação dos documentos de arquivos do Instituto Federal do Espírito Santo. Objetiva mostrar como a organização de um acervo de memórias, numa perspectiva de facilitar seu acesso, contribui para a constituição identitária da educação profissional e da formação para o mundo do trabalho, salientando as mudanças e transformações no ensino profissional no Brasil ao longo do século XX. Perpassando os conceitos da arquivística verificamos a íntima relação que esse procedimento possui para a constituição da memória e identidade da educação profissional nos dias atuais. Observamos na metodologia da descrição arquivística, a inter-relação entre os documentos, de suas séries com seu grupo e dos grupos com os fundos ou coleção, a ampliação do acesso por meio dos instrumentos de pesquisa. O uso de plataforma de acesso
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digital, permite a preservação do patrimônio documental compondo assim uma estrutura de organização que direciona o pesquisador para o acesso direto aos documentos digitais. Assim os produtos descritivos cumprem um papel de preservação ao reduzirem o manuseio dos documentos originais, permitindo seu alcance remoto via web para difusão. Os processos crime do Poder Judiciário como fontes históricas em sala de aula Maria Augusta Belucci
(USF - Universidade São Francisco)
Pesquisa na área da História da Educação.Na linha Educação, Sociedade e Processos Formativos do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade São Francisco (USF) e articula-se ao Grupo de Pesquisas Rastros: História, Memória e Educação. Focaliza o uso de processos do Poder Judiciário e periódico em sala de aula para pesquisa e ensino de História sobre a região Bragantina. O recorte temporal é de 1900-1920. A identificação, análise e seleção dos processos e periódicos serão voltados às temáticas da cidade e da questão étnica racial relacionada à mulher e a criança. Objetivos: investigar quais são as possibilidades do ensino da História Regional através dos processos crime do Poder Judiciário; pesquisar como os professores utilizam as fontes históricas, as histórias e memórias locais para construir narrativas e desenvolverem atividades nas quais propõem que os alunos façam análises, comparações e explicações históricas; estimular a partilha das experiências de ensino de História para além do ambiente escolar, com pesquisas no CDAPH. Estudo etnográfico, com análise documental e observação de campo, com aportes metodológicos da história oral. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 A história do centro de memória Fiep - PR Desiré Luciane Dominschek
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho buscou apresentar o Centro de Memória do Sistema Fiep a partir de uma pesquisa documental e descritiva e de campo. Nossa análise IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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identifica os arquivos como lugares de memória, onde o historiador encontra suas fontes. Entendemos que as fontes não falam por si, assim como por si não se tornam documento; o que as fontes transmitem confronta-se com a subjetividade ou a objetividade do historiador. A realidade do passado e a intencionalidade do historiador necessitam de um aporte teórico de conceitos e procedimentos. E aos historiadores cabe a responsabilidade pelas escolhas e recortes destes conceitos e procedimentos metodológicos. Segundo Le GOFF (1991), a história é que transforma os documentos em monumentos, e neste sentido esta pesquisa explora a importância do Centro de Memória FIEP. Identifica-se a relevância deste estudo para a área de história e também para a história da educação na medida em que o objetivo norteador do trabalho foi apresentar o arquivo enquanto espaço de memórias e que produz memórias e histórias a partir da intencionalidade do historiador. Memórias da escola: LIAME (Laboratório de Informação, Arquivo e Memória da Educação) Gabriela Cordeiro Santos
(UNISANTOS - Universidade Católica de Santos)
O LIAME (Laboratório de Informação, Arquivo e Memória da Educação) foi instituído em 2006 por alunos e professores da Pós-graduação em Educação da Universidade Católica de Santos (Santos – SP) e registrado no CNPq no mesmo ano. O objetivo dessa comunicação é apresentar o acervo do LIAME, como uma instituição arquivística e museológica, tendo como pretensão preservar a história e a memória da educação da Baixada Santista (São Paulo). O acervo do LIAME é de grande importância, pois através dele é possível recuperar materiais para o estudo do Patrimônio Histórico Escolar da Baixada Santista. Esses materiais tem servido para a elaboração de dissertações, teses e pesquisas no âmbito da historiografia da educação da região. A fundamentação teórica dessa pesquisa está baseada em estudos de: a) Agustín Escolano Benito (2010) e Antonio Viñao Frago (1995), onde ambos os autores valorizam a cultura escolar, onde fazem uma nova leitura das fontes tradicionais. As fontes utilizadas fazem parte do acervo do LIAME: documentos escritos, (livros didáticos, cadernos, folhetos, atas de reuniões escolares etc.) entrevistas, iconográficos e alguns objetos de material escolar. Fontes documentais para a História da Educação: o Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II
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Tatyana Marques de Macedo Cardoso (Colégio Pedro II -RJ)
O Colégio Pedro II (CPII) tem um lugar especial na história da educação brasileira. Referir-se à essa instituição de ensino é traçar o perfil de um colégio modelo, de disciplina austera e de excelência do seu ensino. Essa memória coletiva definida como “o que fica do passado no vivido dos grupos ou o que os grupos fazem do passado” (HALBWACHS, 2004, p.24) aplica-se particularmente ao Colégio Pedro II. Por entre vozes e memórias, cristalizase uma fala padronizada que nos chega ao pé do ouvido. Muitas pesquisas já realizadas utilizaram o acervo do Núcleo de Documentação e Memória (NUDOM), contemplando várias temáticas. Localizado no Rio de Janeiro, o NUDOM reúne diversas fontes documentais, tais como cadernos escolares, livros de ocorrência disciplinar, livros didáticos, fotografias, etc. Assim, cabe ressaltar a importância dos arquivos escolares como espaços de pesquisa para a História da Educação, tornando tangível o passado vivido. A partir de seus acervos, há variadas possibilidades de construção de objetos de pesquisa que podem contribuir para se resgatar o protagonismo dos sujeitos na história, ampliando a compreensão sobre os processos de escolarização. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Instituições Escolares: a reconstituição das práticas através dos arquivos Mariza da Gama Leite de Oliveira (Prefeitura de Duque de Caxias -RJ)
Este artigo apresenta o processo de organização do Centro de Memória de uma escola da rede FAETEC, no Rio de Janeiro, por 4 bolsistas do curso de Pedagogia da UFRJ, 2 doutorandos e 1 professora da instituição. A pesquisa esteve vinculada ao grupo de pesquisa coordenado pela professora Dra. Irma Rizzini - “Centro de Memória Ferreira Vianna: documentos, ensino e infância trabalhadora no Rio de Janeiro (1888 – 1942)”, que se propunha a resgatar a memória e relações históricas acerca da infância desvalida e trabalhadora por meio das fontes documentais de duas instituições educacionais criadas no final do século XIX: o Asylo de Meninos Desvalidos (PROEDES/UFRJ) e a Casa de São José (nome original da IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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escola técnica). A organização e análise documental, que durou de 2010 a 2014, possibilitou a elaboração de artigos, monografias, dissertações e teses. Intenta-se neste artigo discorrer sobre o conteúdo dessas pesquisas acadêmicas. O conteúdo didático do curso de Engenharia Química da Escola Técnica do Exército (1934-1935) Elias da Silva Maia
(MAST - Museu de Astronomia e Ciências Afins)
A apresentação se dará em torno de um conjunto de documentos que se refere ao Curso de Engenharia Química da Escola Técnica do Exército e que foi produzido/acumulado pelo engenheiro militar Orlando Rangel, nos anos 1934 e 1935. Esse conjunto objeto é composto por 21 volumes encadernados e ligam-se a trajetória do militar como aluno na instituição. Trazem informações das atividades do curso, seus regulamentos e estrutura, suas disciplinas e o que estava programado para elas, o que levou a organização física e intelectual desses documentos. Nossa intenção é dar um panorama que indique as perspectivas no processo de organização e uma problematização no perfil/reflexo institucional presente nessa parte do acervo desse cientista. Desejamos possibilitar a visualização e compreensão da representatividade desses registros, que reflete o período que os documentos foram produzidos, além de indicar a opção da organização que é proposta pelo AHC/MAST. A documentação sobre o CEQ da ETE pode contribuir para distintas pesquisas em relação aos aspectos biográficos do autor, aos subsídios para a História da Ciência e da Química no Brasil, como também sobre essa instituição militar de ensino. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Impressos comerciais e a memória da teleducação no Estado da Guanabara (1960-1975) Cíntia Nascimento de Oliveira Conceição
(PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
Essa comunicação tem o objetivo de analisar o uso dos impressos na pesquisa sobre a história da educação brasileira a partir de jornais em circulação no Estado da Guanabara, no período de 1960 a 1975. O corpus do-
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cumental é constituído por cadernos e colunas sobre educação e televisão, publicados nos impressos comerciais: Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal do Brasil, O Globo e Revista do Rádio. Os conteúdos analisados abordam a teleducação e os cursos de formação de professores para o uso da televisão educativa. O método de pesquisa é a análise de conteúdo, a partir dos pressupostos da nova história e da teoria social se apoiam na ideia de que a realidade é social e culturalmente construída. Os impressos pesquisados pertencem ao acervo digitalizado da Hemeroteca Digital Brasileira da Fundação Biblioteca Nacional e do jornal O Globo. Também compõe esse quadro de fontes: recortes de jornais e revistas pertencentes ao arquivo pessoal das famílias dos intelectuais Gilson Amado e Lourival Marques, bem como documentos do Centro de Memória Institucional do Instituto de Educação do Estado do Rio de Janeiro (CEMI/ISERJ).
GT 11 MEMÓRIA, HISTÓRIA ECONÔMICA E DEMOGRAFIA HISTÓRICA Coordenação: Maísa Faleiros da Cunha (NEPO/UNICAMP),
Maria Alice Rosa Ribeiro
(UNESP/CMU/UNICAMP) 29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Para além do tabuleiro e da escravidão: a atividade das quitandeiras nas Minas Gerais do século XIX Juliana Bonomo
(USP - Universidade de São Paulo)
Essa pesquisa pretende analisar a interação das quitandeiras de Minas GeIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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rais com o mundo do trabalho ao longo do século XIX. Até o momento, a historiografia mineira dedicou-se amplamente ao estudo das quitandeiras no contexto da mineração, deixando a incerteza sobre a presença delas nos Oitocentos. Nesse sentido, a nossa pesquisa não só atestou a presença de quitandeiras na província mineira do século XIX, como também evidenciou a diferença racial e social entre elas. Em vista disso, levantamos uma discussão sobre outras formas de se vender comestíveis, ainda de maneira informal, para além do tabuleiro e das ruas. Para tanto, utilizamos como principais fontes: os dados relativos ao levantamento populacional efetuado em Minas Gerais em 1804; a base de dados Poplin-Minas 1830, compilada pelo CEDEPLAR/UFMG, baseada nas Listas Nominativas de 1830/1832; o Recenseamento Imperial de 1872 e relatos memorialísticos, como os de Ciro Arno, em “Memória de um estudante (1885-1906)” e de Helena Morley, em “Minha vida de menina”. Mercado de trabalho em Minas Gerais (1841 – 1845): notas de pesquisa sobre as listas nominais de trabalhadores em obras viárias Télio Cravo
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O objetivo deste trabalho é analisar os dados contidos nas Listas Nominais de Trabalhadores empregados nas construções de estradas e pontes, apontando suas possibilidades como fonte de informação histórica ainda pouco explorada. Diante do investimento do Governo Provincial na infraestrutura viária, as intervenções exigiram a contratação de trabalhadores braçais e qualificados. Pretende-se neste estudo explorar a faixa de remuneração e a estrutura ocupacional dos trabalhadores livres, libertos e a disseminação do sistema de aluguel de cativos durante a execução das obras. Esta pesquisa também apresenta as características da posse de escravos alugados e estimativas da taxa de retorno bruta anual. Secas e epidemias: o contexto da mortalidade em Natal e Fortaleza (1870-1880) Dayane Julia Carvalho Dias
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A população brasileira do passado, como outras populações tradicionais,
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apresentava altas taxas de natalidade e de mortalidade. Neste período, denominado de pré-transicional, predominavam os óbitos causados por doenças infectocontagiosas. Na província do Ceará e do Rio Grande do Norte as secas eram agravantes da situação, ao aumentar os riscos de disseminação das doenças epidêmicas. Historicamente, as secas e as epidemias estiveram presentes nas províncias do norte (hoje, denominado Nordeste), afetando o crescimento populacional e ocasionando alta mortalidade entre a população. Diante disso, esta proposta de comunicação tem por objetivo analisar e comparar as características da mortalidade da população de livres e escravizados na freguesia de Nossa Senhora da Apresentação (Natal) e na freguesia de São José (Fortaleza), entre 1870 a 1880 e suas relações com os anos de secas (1871 e 1877). As fontes são os registros paroquiais de óbitos e, a partir deles, propõe-se realizar um exercício metodológico para avaliar as possibilidades do estudo da mortalidade e das condições da saúde pública de Fortaleza e Natal. Os óbitos serão analisados por: idade, sexo, ano, condição jurídica e causa. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 “Como na sagrada mesa, comungam todos os benefícios da caridade”: escravos enfermos da Santa Casa de Misericórdia de Campinas Matheus Alves Albino
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Neste artigo, buscamos identificar o perfil demográfico dos escravos atendidos pela Santa Casa de Misericórdia de Campinas de 1876 a 1888, período no qual essa instituição admitiu esse grupo da população mediante o pagamento da estadia pelos seus proprietários. Utilizando a documentação das Matrículas de Enfermos, Relatórios dos Provedores da Irmandade de Misericórdia e Almanaques de Campinas, respondemos a questões como: quem eram os proprietários que concediam tratamento hospitalar aos seus escravos? Quais ocupações esses enfermos desempenhavam? Com quais doenças procuravam ajuda e quais as causas principais envolvidas nos óbitos? Diante disso, levantamos a hipótese de que os escravos internados foram em grande parte homens em idade ativa sem especialização pertencentes a proprietários doadores da Santa Casa, cujo incentivo econômico em prover tratamento hospitalar é evidente. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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As alforrias de pia batismal e as possibilidades de liberdade em pequenas, médias e grandes posses de Campinas (1774-1871) Talison Mendes Picheli
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Tenho por objetivo apresentar como se relacionaram as alforrias de pia batismal, concedidas em Campinas, e a estrutura das posses em que elas aconteceram, entre fins do século XVIII e a Lei do Ventre Livre, em 1871. Levando em consideração as especificidades históricas dessa localidade, que se transforma de maneira significativa ao longo do oitocentos, procuro também investigar como essa relação informou o significado atribuído pelos cativos ao fenômeno das manumissões. Da mesma forma, busco analisar as trajetórias, experiências e estratégias cotidianas de pais e mães escravizados que, na luta pela conquista de suas próprias liberdades, acabaram conseguindo libertar do cativeiro seus filhos e filhas recém-nascidos. Para essa apresentação, recorro aos registros de batismo das paróquias de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Cruz, aos censos populacionais realizados em Campinas entre os anos de 1779 e 1836, e aos testamentos e inventários daqueles senhores e senhoras que concederam as alforrias de pia batismal. Escravidão e abolição na comarca do Rio das Mortes: estrutura e posse de escravos nos distritos da Lage e Ressaca (1850-1870) Paula Chaves Teixeira Pinto
(UFSJ - Universidade Federal de São João Del Rei)
A comunicação versará sobre abolição da escravidão numa área não-exportadora, cuja economia estava integrada aos circuitos de abastecimento interno, com forte apego a utilização da mão de obra escrava. Partindo da estrutura e posse das escravarias dos distritos da Lage e Ressaca, termo da vila de São José Del Rei, comarca do Rio das Mortes, província de Minas Gerais, buscamos refletir acerca das estratégias adotadas pelos fazendeiros para garantir a reprodução do suprimento da mão de obra para suas fazendas. Tendo como hipótese, a reprodução natural de escravos como uma estratégia dos fazendeiros de assegurar a reprodução da mão de obra cativa, bem como o instrumento que lhes permitiu manter-se como proprietários de homens e capital e, ainda, reter escravos no contexto de recrudescimento do tráfico interno e concentração da escravidão nas áreas de plantation, estudo acerca da demografia
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escrava na conjuntura de crise do sistema escravista brasileiro contribui com a historiografia sobre a abolição da escravidão em suas perspectivas regionais. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 O capital e o Banco do Sul de Minas: um olhar sobre os acionistas nos anos da Grande Depressão Rafaela Carvalho Pinheiro
(USP - Universidade de São Paulo)
A partir de 1929 o mundo conheceu um período que ficou conhecido como os anos da Grande Depressão. Em que pese os efeitos dessa grave crise na economia brasileira, bem como as políticas econômicas de Getúlio Vargas para a época, em 1932 foi fundado no Sul de Minas Gerais o Banco do Sul de Minas, com sede na cidade de Varginha. Iniciando suas atividades com um capital de 500:000$000, o banco teve iniciativa individual, organizado já sob a forma de sociedade anônima, alcançando duas agências (Santa Rita do Sapucahy e Campo Bello), e dois escritórios (Caxambú e Villa de Santa Catharina), além da sede. Porém, o banco abriu falência com apenas 5 anos de funcionamento, em 1937. Nesse sentido, interessa-nos, por meio da análise dos acionistas do banco, compreender a origem do capital e do crédito na região, dado o contexto economicamente conturbado. Para tanto, nos utilizamos da documentação de falência do referido banco, disponível, na época da coleta de dados, no Arquivo do Fórum Municipal de Varginha. Café, terras e hipotecas no Sudoeste de Minas Gerais (Brasil 1890-1930) Renato Leite Marcondes
(USP - Universidade de São Paulo)
O Sudoeste de Minas Gerais foi uma das principais regiões brasileiras de produção do café entre 1890 e 1930. O objetivo é compreender, comparativamente à literatura, o financiamento condicionado pela produção agrícola e pela estrutura fundiária. A partir de dados das hipotecas e do censo de 1920, verificamos, relativamente a uma área paulista, que o povoamento mais antigo, a acumulação prévia de capital, a economia rural mais diversificada, a estrutura fundiária baseada em propriedades menores IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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e a menor institucionalização do registro hipotecário permitiram o crescimento da cafeicultura com menor necessidade ou possibilidade de financiamento por meio da hipoteca. Entre hipotecas e fazendas de café, as estratégias do lavrador Joaquim da Cunha Diniz Junqueira para a composição de seu patrimônio (Ribeirão Preto - 1892 a 1915) Carlo Guimarães Monti
(UNIFESSPA - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará)
Buscamos desvendar o comportamento econômico de Joaquim da Cunha Diniz Junqueira por meio do estudo de parte da sua contabilidade, para abarcarmos a diversificação dos negócios realizados por ele. Em específico queremos analisar o processo de pulverização em seus negócios, compreender o papel das hipotecas, dos empréstimos, da sociedade em uma casa de comissariado e, da produção de café em sua fazenda. Logo, vamos abranger, em nossa análise, a relação entre as suas práticas comerciais e o crédito. Buscando demonstrar como o exercício comercial promovido por ele, era ora direcionado por fatores tradicionais, ora por fatores racionais e modernos. Como elemento de análise, temos os negócios realizados a partir da diversificação e estratagemas na organização de suas práticas. Buscamos fazer a história, sucessão de formas e experiências, das atividades econômicas entre a economia de troca e de mercado, promovida por um lavrador e negociante de café entre os anos de 1890 e 1915 em Ribeirão Preto, por meio da análise da documentação da Fazenda Boa Vista e de arquivos públicos. Memória e história econômica: A indústria vinícola como local de memória e ressignificação para a História do município de Andradas* Ricardo Luiz de Souza (PMA)
O presente trabalho tem como objetivo escamotear parte da História que concerne a introdução e desenvolvimento da vitivinicultura em Andradas-MG, entre o final do século XIX e começo do século XX. Tal estudo também se designa a desvelar os agentes perpetuadores de tal indústria no município, já que Andradas tornou-se o maior centro produtor de vinhos
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em Minas Gerais no decorrer do século passado. Nisso, avaliou-se como tal atividade econômica é permeada de várias memórias, nas quais carregam alto valor simbólico no desenvolvimento da imigração italiana da cidade, já que esses grupo instalou-se na região como alternativa para o trabalho na lavoura cafeeira, substituindo assim o elemento servil negro. Assim, após essas numerosas familias de origem italiana adquirirem pequenos lotes de terra, consequentemente, elas passam a ser os principais expoentes da vitivinicultura no município. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Italianos no interior paulista: aspectos da nupcialidade em um município receptor de imigrantes. Franca: 1906-1920 José Victor Maritan Gonçalves
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
O objetivo desse trabalho é apresentar os resultados do emprego de fontes primárias para a análise das práticas matrimoniais em um município que recebeu um importante contingente de imigrantes italianos a partir da década de 1880. A união dos registros paroquiais com as proclamas de casamento do registro civil e a sessão comercial dos Almanaques permitiu reconstituir uma imagem das famílias que se formaram no período, observando as redes de parentesco, os meios de acesso ao trabalho e a vida urbana. O recorte temporal respeita a disponibilidade das fontes civis e dos Almanaques, que permitem obter dados sobre a profissão dos nubentes. Embora as uniões endogâmicas prevalecessem por uma parcela da população, o acesso ao mundo urbano e as atividades comerciais propiciaram mudanças comportamentais que resultaram em alianças matrimoniais mais abertas entre jovens italianos e pessoas da sociedade local. Dessa forma, apoiados nos avanços da Demografia Histórica e da História da Família apostamos na análise quantitativa e nominativa para explorar as práticas culturais que esses imigrantes construíram na sociedade receptora. Os três principais fluxos imigratórios dos japoneses para o Brasil (1908-1958): migração, família e características demográficas Thiago Fernando Bonatti
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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O presente trabalho propõe uma análise da composição e das características sociodemográficas dos três principais fluxos de imigrantes japoneses chegados ao Brasil (1908-1924; 1925-1941; 1952-1958), à partir dos dados disponibilizados pelo Censo The Japanese Immigrant in Brazil. A composição familiar e suas características são de fundamental importância para a compreensão dos possíveis diferenciais entre os fluxos dos imigrantes. Busca-se verificar os diferentes processos institucionais que viabilizaram a chegada desses imigrantes, e como estes se tornaram elementos condicionantes à imigração. A partir da construção de perfis comparativos dos três fluxos, propõe-se identificar diferenciais na composição etária, familiar, tamanho da família, contexto histórico (político, econômico e social) que influenciou a decisão de emigrar e registros individuais ilustrativos dos imigrantes. GETÚLIO E AS GARÇONETES O Decreto n. 21.417-A e a regulação do trabalho das mulheres (Brasil, primeiro governo de Vargas) José Flávio Motta (FEA / USP),
Luciana Suarez Lopes
(USP - Universidade de São Paulo)
Nosso objeto é a tentativa de Vargas de regulação das condições de trabalho das mulheres em estabelecimentos comerciais e industriais. Em especial, nossa atenção está na proibição do trabalho noturno das mulheres. Nossas fontes são vários jornais da imprensa brasileira no período de 1930 a 1939. Numa primeira seção do artigo, notícias acerca da adesão de diversos países às Convenções da OIT, bem como informes sobre a atuação de organizações femininas no Brasil, são destacados como condicionantes valiosos para um contexto favorável a iniciativas como a do decreto n. 21.417-A. Em seguida, as disposições do decreto no tocante à proibição do trabalho noturno das mulheres fornecem os elementos por nós contemplados para ilustrar e analisar o seu impacto sobre o segmento formado pelas garçonetes. O eventual recurso à fraude, a possível fiscalização insuficiente e, sobretudo, a discrepância entre a legislação trabalhista e os dispositivos constitucionais compõem um conjunto de motivos explicativos para as evidências de que, apesar da vigência da aludida proibição, o trabalho noturno das garçonetes tenha continuado a ser exercido no decurso de todo o decênio de 1930.
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Sobre os Dízimos e os Direitos de Saída na São Paulo Provincial Camila Scacchetti
(USP - Universidade de São Paulo)
Por meio do estudo das leis orçamentárias, dos Relatórios de Presidente de Província, e da documentação manuscrita preservada pelo Acervo Histórico da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no período 1835-1889, o presente trabalhou busca demonstrar a trajetória ascendente do dízimo, posteriormente denominado de direitos de saída, nas finanças públicas paulistas durante o século XIX. No período de pouco mais de meio século, os direitos de saída tornaram-se a principal fonte de arrecadação da Província de São Paulo. Em boa medida, tal comportamento relaciona-se com a evolução das atividades agrícolas, notadamente o café, em território paulista. O aumento das exportações paulistas, dessa maneira, se traduziu num aumento de arrecadação tributária. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 Itu, a vila do açúcar (1780 a 1830) Fabiana Leite de Camargo Francischinelli (UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
A vila de Itu sempre se mostrou como importante espaço do interior paulista no período que compreende a segunda parte do século XVIII e primeira metade do século XIX, este papel de destaque se justifica pela ascensão econômica motivada pela monocultura canavieira. Inventários, maços da população, Atas da Câmara, entre outras fontes encontradas no Arquivo Histórico do Museu Republicano permitem um entendimento mais amplo do período. É possível pelos inventários observar os padrões de riqueza dos habitantes, bem como mensurar os bens tidos como de maior valor, etc. Os maços da população são capazes de fornecer informações que vão desde um crescimento populacional até mesmo identificar novos atores que surgem num núcleo urbano em expansão, sejam estes artífices, comerciantes, etc. Vemos flutuar em torno dos senhores de engenhos, além dos escravos, homens livres que ainda que não absorvidos pela grande produção mercantil de forma direta, dentre eles os agregados. É possível a partir das fontes primária descritas observar uma mudança na posse de objetos, mobiliários, vestimentas, de modo a cultura material refletir o crescimento econômico da vila. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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A família escrava nas grandes propriedades rurais: Campinas, São Paulo, Brasil (1794-1830). Paulo Eduardo Teixeira
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
O objetivo deste trabalho é analisar as condições de existência da família escrava dentro de algumas grandes propriedades rurais da vila de Campinas durante os primeiros anos do século XIX, momento em que o Brasil ainda tinha liberdade para manter o tráfico internacional de escravos. Avaliaremos o impacto do crescimento vegetativo na composição de cada grupo a partir das informações sobre a razão de sexo dentro de cada propriedade escravista, o estado conjugal dos cativos, e a distribuição etária. Para tanto utilizaremos como fontes de pesquisa as Listas Nominativas de habitantes para Campinas, bem como os Registros Paroquiais de Batismos de escravos. A partir do cruzamento das informações contidas nestes documentos fizemos o levantamento das famílias escravas que foram alvo das nossas considerações. Para esse estudo, consideramos a posse de escravos de 13 grandes proprietários, de forma que a soma dos cativos representam pouco mais de 25% do total existente na vila de Campinas no ano de 1829, ou seja, 1.315 escravos. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Americana-SP: uma história entre rios Gabriela Simonetti Trevisan
UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
Ariana Spaulucci Feltrin (Colégio Ethos)
A história da cidade de Americana, bastante inspirada na obra de pesquisadores consagrados na região de Campinas, como Jolumá Brito e Celso Maria de Mello Pupo, é atrelada à Fazenda Salto Grande. A partir do plantio de cana-de-açúcar e, posteriormente, café e algodão, teria se dado a povoação da região entre os rios Atibaia e Jaguari, consolidando-se no final do século XVIII. Algumas questões, contudo, foram analisadas com profundidade, atentando-se para a construção de uma genealogia dos donos de terras na região, bem como datas e demarcações geográficas foram revistas e mapeadas. Neste sentido, a busca de fontes historiográficas revelaram lacunas e novas descobertas sobre a história da cidade, desmontando a narrativa que até então se produziu localmente e apresentando outros dados, como novos nomes e novas datas ainda não abordados. Assim, o
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estudo “Americana-SP, uma história entre rios” se propôs a seguir o percurso da construção da história da cidade, retomando documentos e buscando publicizar uma nova perspectiva para essa narrativa, embasando-se em uma pesquisa rigorosa feita pelos Historiadores Independentes de Carioba. Estratégias familiares dos criadores de gado de Palmas-PR Daniele Weigert
(USP - Universidade de São Paulo)
O presente estudo pretende abordar os arranjos familiares dos fazendeiros de Palmas-PR no oitocentos, destacando algumas das famílias pioneiras. A região dos Campos de Palmas, localizado no terceiro planalto paranaense, foi colonizada no século XIX, por filhos de criadores e negociantes de gado, os quais se apossaram dos territórios dos índios Kaingang e fundaram grandes latifúndios pecuaristas. Afirmando-se no cenário político e econômico da região, as famílias dos primeiros fazendeiros, entretanto, tiveram que mobilizar estratégias ao longo do tempo, para se manter no topo das hierarquias sociais. Para estudar as estratégias familiares, pretende-se analisar os registros paroquiais (batismo, casamento e óbito), registros cartoriais (escrituras de compra e venda e testamentos, etc.), autos cíveis (inventários de bens, tutoria, licença para casar, etc.) entre outras fontes. Por meio destes documentos, perseguiremos trajetórias familiares, conjeturando as possíveis estratégias contidas nas escolhas das famílias, tendo em vista que o recorte temporal perpassa a fase de ocupação da região, o período de crise da atividade pecuarista e o fim da escravidão. Imigrantes e Fazendeiros no alvorecer da indústria paulista: a formação da Cia. Mecânica e Importadora de São Paulo (1882-1892) Gustavo Pereira da Silva
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
Em que pese a historiografia econômica apontar uma dupla matriz social dos primeiros industriais paulistas – imigrantes e fazendeiros -, constatamos que há uma numerosa gama de trabalhos que destacam o papel dos estrangeiros como industriais e, em contrapartida, poucas análises sobre a atuação dos fazendeiros. Dessa forma, o artigo busca mostrar que na formação da maior empresa de bens de capital paulista do final do XIX e décadas iniciais do século XX, a Cia. Mecânica e Importadora de São Paulo - a partir da incorporação da Lacerda, Camargo & Cia. (São Paulo-SP) e da Engelberg, Siciliano & Cia. (Piracicaba-SP) – concorreram IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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tanto nacionais quanto estrangeiros, que comandavam as empresas que foram incorporadas. Para tanto, utilizaremos as demonstrações financeiras, relatórios, contratos e atas das seguintes empresas: J. Arbenz & Cia.; Lacerda, Camargo & Arbenz; Lacerda, Camargo & Cia; Cia. Mecânica e Importadora de São Paulo, além de anúncios do jornal Correio Paulistano no período 1882-1893. As evidências demonstram que a simbiose entre o capital nacional e o estrangeiro permitiu a formação de uma empresa maior que as antecessoras e constituída como uma sociedade por ações.
GT 12 MEMÓRIA E SAÚDE PÚBLICA Coordenação: André Mota (FM/USP)
29/07/2019 Sessão 1 -14h00 às 15h45 A Pauliceia adoecida - salubridade e urbanização na cidade de São Paulo em fins do século XIX Diógenes Rodrigues de Sousa
(PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
Em fins do século XIX, com a fundação da Sociedade Promotora de Imigração (SPI), e a entrada de milhares de imigrantes, ocorreu uma enorme expansão demográfica na cidade, que pode ser identificada como responsável por diversos problemas sociais, como as aglomerações urbanas, a falta de moradia e a insalubridade. Entre os anos de 1891 e 1893, o Serviço Sanitário foi organizado, sendo subordinado à Secretaria de Estado do Interior. Para sua atuação foram criados um Conselho de Saúde Pública e uma Diretoria de Higiene, que visavam tratar das questões do saneamento básico, do policiamento sanitário e das desinfecções. No ano de 1894, foi promulgado o primeiro Código Sanitário composto por 520 artigos que regulamentavam tanto o espaço público quanto o privado. A intenção desta comunicação é perceber a necessidade do poder público em criar
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mecanismos para dirimir as mazelas causadas pela falta de infraestrutura sanitária na cidade de São Paulo e os desdobramentos de tais iniciativas na urbanização e na construção dos casarios no cumprimento desta legislação. A Gripe Espanhola em Botucatu – SP: Arquivos, Memória e Corporeidade Anna Cristina Rodopiano de Carvalho Ribeiro (USP - Universidade de São Paulo)
Considerando que a lógica da investigação histórica assenta-se no desenvolvimento da pesquisa empírica, este trabalho discorre sobre desafios na construção de história local sobre a Epidemia de Gripe Espanhola em Botucatu - São Paulo-, diante de acervos dispersos, fragmentados, sem tratamento arquivístico e com materialidade comprometida. Discute os lugares produtores da memória e como a seleção e articulação do passado reflete o que se pretende preservar em torno de discursos e representações locais pelos aparelhos de poder, atestando o controle do registro e da memorialística. Por fim, aponta que neste jogo dialético entre o passado que não cessou, mas sim que se presentifica no poder dos arquivos, na força da memória coletiva e na legitimidade da memória pessoal se abriga um dos ofícios do historiador: fazer emergir - a partir da divulgação e análise documental - falas e silêncios contidos em vestígios do pretérito, descortinando o pronunciamento de outras vozes em suas dimensões políticas e afetivas e conferindo reconhecimento a corporalidades soterradas pelas “versões oficiais”. Contribuição de Maria Antonieta de Castro para o estudo do desenvolvimento físico dos escolares de São Paulo (década 1930) Ariadne Lopes Ecar
(USP - Universidade de São Paulo)
Este trabalho pretende dar visibilidade à pesquisa empreendida por Maria Antonieta de Castro e apresentada em forma de tese à cadeira de Estatística, da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, em 1934, intitulada “Peso e altura dos escolares de S. Paulo”. A tese foi publicada pela Gazeta Clínica, em novembro de 1942, revista mensal, que divulgava artigos sobre a medicina paulista desde 1903. A tese de Maria Antonieta de Castro socializava dados de uma pesquisa realizada com mais de oito mil alunos de grupos escolares da cidade de São Paulo, com idade entre 7 e 14 anos. Os dados IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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foram obtidos por meio de fichas individuais coligidas por 30 educadoras sanitárias, quando Maria Antonieta atuava no Serviço de Antropometria Pedagógica (1932-1933). A tese, aprovada “com distinção” passou pela banca examinadora composta por Walter Leser, Pedro Egídio de Carvalho e Samuel H. Lowrie. A pesquisa de Maria Antonieta de Castro estabelece um ponto de inflexão nas pesquisas sobre saúde de escolares do Serviço de Antropometria Pedagógica, colocando em questão estudos que demonstravam peso e altura como medidas únicas para determinação do estado nutricional da criança. A conservação das crianças em São Paulo na década de 1930: dos hábitos populares aos médico-científicos Márcia Guedes Soares
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A proposta dessa comunicação é analisar as representações de hábitos saudáveis postos à mulher em função maternal pela Cruzada Pró-Infância, instituição assistencialista, criada em São Paulo em 1930. São apontados os costumes populares que deveriam ser mudados e os novos hábitos a serem adquiridos na luta contra a mortalidade infantil. Segundo Donzelot (1986) a conquista dos mercados do parto, das doenças das parturientes e das doenças infantis pela medicina científica implicou na destruição da medicina popular. Na Cruzada, atuava Maria Antonietta de Castro, educadora sanitária cujas redes de sociabilidade se relacionavam à medicina divulgada no Instituto de Higiene e no Serviço Sanitário de São Paulo. Os principais espaços utilizados pela Cruzada para a divulgação de preceitos higiênicos eram a escola, os dispensários da Cruzada Pró-Infância e os centros de saúde do Serviço Sanitário. Meios de comunicação de massa, como jornais, revistas e a rádio também serviam para disseminar os novos hábitos, civilizados, que a população deveria adotar. As fontes principais são documentos do acervo da Cruzada Pró-Infância, disponível no arquivo do Museu de Saúde Pública Emílio Ribas. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 A importância dos arquivos acadêmicos da Ensp/Fiocruz para memória da educação em saúde Adriana Coimbra Buin Lins (Fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz)
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O artigo apresenta a importância dos arquivos acadêmicos da Ensp/Fiocruz para memória da educação em saúde. Uma análise de um estudo de caso sobre o processo de organização do acervo de ensino que contribuiu para sistematização dos registros acadêmicos e pedagógicos viabilizando a apreciação detalhada dos documentos de ensino, como os currículos dos cursos e suas modificações ao longo de suas edições. A Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp) é uma unidade técnica-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vinculada ao Ministério da Saúde. A preservação e a gestão de documentos e arquivos no ensino favoreceram uma observação criteriosa dos registros que associados a legislações e contextos históricos revelaram o potencial dos registros educacionais para pesquisa, memória e tomadas de decisões institucionais. O estudo destaca registros de cursos, em arquivos acadêmicos, de uma instituição de educação em saúde, mas apresenta determinantes que podem ser aplicados a outras instituições ou áreas. Pesquisa de iniciação científica no Centro de Memória e Arquivo Ivan Luiz Martins Franco do Amaral
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
Rubens Bedrikow
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O Centro de Memória e Arquivo da FCM/UNICAMP (CMA/FCM) recebeu a doação do acervo completo da primeira publicação da Instituição, denominada “O Patológico”. Esses documentos, de responsabilidade do Centro Acadêmico Adolfo Lutz - entidade máxima de representação estudantil na Faculdade, foram publicados entre 1964 e 2013. O objetivo de sua guarda é a conservação, preservação e pesquisa como fonte primária. O Grupo de Pesquisa do CMA/FCM iniciou o estudo desses exemplares com a pesquisa «Bioética no curso de medicina: análise da primeira publicação (1964-1974)”, que inclui aluna de iniciação científica e na qual se buscará analisar como temas relacionados à Bioética eram apresentados em publicações das décadas de 1960 e 1970, fase de incubação da Bioética. Este trabalho tem objetivo apresentar a relação entre preservação de fontes primárias e sua utilização na pesquisa por alunos de graduação em medicina, a viabilidade de documentos produzidos pelo Centro Acadêmico tornarem-se fonte de pesquisa na área das ciências da saúde e a apropriação do espaço do Centro de Documentação por alunos da faculdade interessados em desenvolver pesquisas com documentos do acervo. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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“Hospital Matarazzo”: um patrimônio em transformação Thaís Teixeira Dias da Conceição
(PUCSP - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)
A comunicação pretende explorar os usos e transformações de um dos conjuntos arquitetônicos paulistanos tombados pelo CONDEPHAAT, o antigo hospital Umberto Primo, conhecido popularmente como hospital Matarazzo. O hospital foi inaugurado em 1904 e tombado em 1986, por ser considerado um representante da participação e da importância da imigração italiana para a cidade, como pelo seu valor social e seu caráter assistencialista. O declínio da imigração italiana para o Brasil, a morte de vários italianos da chama primeira geração, podem ter sido motivos da crise pela qual o hospital passou no final dos anos de 80 e começo dos anos 90. Devido a essas dificuldades em 1993 o hospital encerrou definitivamente suas atividades, uma visita do departamento de vigilância sanitária da capital decretou sua interdição, os prédios ficam abandonados, depois vão a leilão em 1996 e são comprados pela Previ, porém continuam sem uso, em 1998 passou por uma invasão do movimento sem terra, até que foi definitivamente comprado pelo grupo Allard, que hoje constrói um luxuoso complexo de escritórios e shopping center. Memória arquitetônica: a trajetória do Museu Biológico do Instituto Butantan (1900-1970) Sergio De Simone (Instituto Butantan)
O estudo analisa as alterações do prédio do atual Museu Biológico - antiga cocheira de animais imunizados-, a partir de documentos de seu Centro de Memória. Outros aspectos, versam sobre o processo de institucionalização do acervo museológico como objeto de divulgação científica sobre ofidismo e da imagem da instituição, que desde início, buscou organizar museu pedagógico como agente. O caso do Biológico é específico em São Paulo em dois aspectos: primeiro, indefinição quanto à especificidade da coleção; oriunda de seu antigo museu (acervo de interesse geral sobre estudos de biologia e zoologia). Depois, sua itinerância por diversos prédios adaptados. A oportunidade de uma sede definitiva se ofereceu, em 1966, na mudança de local afastado da cidade para o trato dos equinos. O taba-
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lho procura traçar essa trajetória, desdobramentos, controvérsias e avaliar modelos, como Manguinhos (Fiocruz) e o Instituto Pasteur - usados em comparações sobre a produção arquitetônica de organizações congêneres. O papel do Núcleo de Documentação do Instituto Butantan foi preponderante quanto aos registros que permitiram alinhavar e cotejar as diversas informações que registraram esse percurso. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 O Eletrochoque como terapêutica psiquiátrica: o caso do Hospital de Juquery (1936 - 1945) Gustavo Querodia Tarelow (Museu Histórico da FMUSP)
O presente trabalho explora o contexto histórico, o alcance e as contradições que permearam a introdução das técnicas de Convulsoterapia aplicadas nos pacientes internados no Hospital de Juquery entre 1936 e 1945. A abordagem parte de reflexões acerca das especificidades das práticas psiquiátricas que, neste período, estiveram calcadas em ideais eugênicos e organicistas que pautaram a lógica terapêutica daquele sanatório ao longo da gestão de seu segundo Diretor, Antonio Carlos Pacheco e Silva, psiquiatra responsável pelas primeiras experiências sobre as terapias de choque no Brasil. Para tanto, aborda-se o processo de transição do uso de princípios químicos para provocar tais convulsões e a sua gradativa substituição pelo Eletrochoque, técnica que, segundo alguns psiquiatras, traria maiores benefícios e menor custo no tratamento dos distúrbios mentais. Com isso em vista, o trabalho aponta as contradições evidenciadas no discurso médico a partir da análise das publicações científicas produzidas pelos médicos do Juquery e dos prontuários médicos dos pacientes ali internados, explorando as aproximações e distanciamentos entre as descrições localizadas nessas duas fontes documentais. A construção simbólica da Escola Paulista de Medicina Legal: história e memória de uma narrativa mítica João Denardi Machado
(FFLCH/USP - Universidade de São Paulo) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Durante a primeira metade do século XX, no lastro da modernização conservadora que as elites sociais buscavam instaurar em São Paulo, inclusive através da medicalização da sociedade e da higienização dos costumes, consolidou-se a auto-proclamada “Escola Paulista de Medicina Legal”, centrada na cadeira de Medicina Legal da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo (tornada Instituto Oscar Freire [IOF] da FMUSP, em 1933), decisiva para aglutinar médicos e juristas paulistanos na luta pela garantia da ordem num contexto de tensão urbana e social. Bem posicionados no tecido institucional, médicos como Flamínio Fávero e Hilário de Carvalho criaram uma narrativa mítica da medicina legal biodeterminista em São Paulo, que remetem ao legado de personagens como Nina Rodrigues e Oscar Freire, cujas figuras patriarcais ajudaram na construção de uma escola médica hierárquica, secreta (em oposição a pública) e codificada em seus próprios termos. No cerne desse processo, os médicos legistas organizaram um acervo histórico e de memória no IOF, ainda conservado parcialmente, que fornece indícios sobre as motivações e enviesamentos por de trás dessa invenção de tradição. O discurso psiquiátrico sobre a loucura na Revista Médica de São Paulo (1898-1914) Raquel Saad de Avila Morales (USP - Universidade de São Paulo)
A presente pesquisa investiga o discurso produzido pela classe psiquiátrica sobre a loucura na cidade de São Paulo a partir das publicações feitas na Revista Médica de São Paulo (1898-1914), buscando delinear a matriz ideológica produtora do conhecimento psiquiátrico que foi estruturada nesse período. Com a transição de um sistema econômico escravocrata e colonial para uma economia moderna e capitalista, começaram a ser considerados loucos aqueles que não se incorporavam à cadeia econômica em consolidação e/ou tinham atitudes consideradas moralmente recrimináveis. A partir do final do século XIX, inserida dentro de um contexto de imposição de padrões científicos, da higienização das cidades e de normalização de condutas, a Medicina brasileira buscou sua legitimação a partir do discurso científico produzido nos laboratórios, da regulamentação da profissão e de sua organização enquanto classe por meio de sociedades, congressos e imprensa especializada. É neste mesmo período que os médicos brasileiros começam a se apropriar da visão evolucionista da degeneres-
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cência, chamando para si a missão da regeneração nacional que colocaria - através da ordem - o país no caminho do progresso. O valor de um inventário: o caso da compra da biblioteca de Oscar Freire pelo governo paulista Regina Célia de Sá
(USP - Universidade de São Paulo)
O presente estudo apresenta uma análise sobre o inventário do cientista e catedrático de medicina legal, o baiano Oscar Freire (1882-1923), e o processo de constituição, transferência e venda de sua biblioteca particular ao governo de São Paulo em 1925, posteriormente doada à faculdade de medicina paulista. O acesso ao principal registro histórico, guardado no Arquivo Público do Estado da Bahia, revelou aspectos relevantes acerca da trajetória institucional da biblioteca particular de Freire. A análise documental identificou que houve dispersão do acervo em função da ausência de princípios arquivísticos básicos, como indivisibilidade e organicidade da coleção. Notável referência no campo da medicina legal, Oscar Freire de Carvalho deixou uma valiosa coleção de títulos de sua especialidade, daí o interesse em trazer o acervo para a instituição paulista. No entanto, o impasse frente ao destino final da biblioteca resultou em uma comprovada dispersão de livros, evidenciada por escolhas administrativas que não levaram em conta a preservação da coleção e da memória do fundador da cátedra de medicina legal de São Paulo. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Práticas médicas em diálogo na história do Sistema Único de Saúde: a medicina científica moderna e a medicina tradicional oriental na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares Iara Cecília Pimentel Rolim
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este trabalho tem como foco específico a inserção do yoga no SUS como uma técnica terapêutica pertencente a uma racionalidade médica (a medicina ayurvédica), mas também como prática mente-corpo. O yoga é um conjunto de IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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atitudes, preceitos e práticas que foi sistematizado por volta do século II a.C. na Índia e que por vezes se confunde com a própria história desta sociedade. Originalmente o yoga está ligado ao Hinduísmo, ao Budismo e ao Jainismo, mas vem sofrendo adaptações e acomodações provenientes do seu desenvolvimento fora da Índia. No ocidente o yoga foi introduzido nos Estados Unidos pelo Swami Vivekananda por volta de 1893 e no Brasil o yoga surgiu em 1936, com a vinda para Porto Alegre do francês então residente no Uruguai, Swami Asuri Kapila e nos anos de 1940, Caio Miranda começa a ensinar a prática no Rio de Janeiro. O Yoga pode ser compreendido hoje como uma ponte de diálogo entre diferentes culturas e apresenta questões específicas neste contexto de sua inserção como PICS no ocidente. Diante deste quadro, esta apresentação se propõe a compreender as especificidades desta interação entre diferentes práticas médicas na história da medicina e do SUS. Instituições de assistência nos planos orçamentários do governo de São Paulo (1892-1910) Soraya Lodola
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
No estado de São Paulo, a assistência à saúde individual era realizada por instituições filantrópicas, de auxílio mútuo ou particulares. O governo estadual não intervia na gestão dessas organizações, mas assumia a responsabilidade de alocar recursos, realizar fiscalizações e, em alguns momentos, firmar parcerias. Observando os orçamentos governamentais paulistas entre os anos de 1892 e 1910, identificamos que os valores repassados a essas instituições eram volumosos se comparados a outras organizações públicas de saúde. Buscaremos analisar nesse artigo quem eram essas instituições, como se relacionavam com o governo, como formavam parcerias e quais motivos levaram o estado a promover essas políticas de subvenções. Como material empírico utilizaremos os planos orçamentários, os relatórios da Secretaria do Interior, os discursos da Câmara dos Deputados e artigos jornalísticos. Concluímos que o governo optou pela política de subvenções influenciado por dois fatores: um de ordem ideológica que primava um estado liberal e outra, de ordem econômica, que contabilizava ser mais barato alocar verbas em instituições já existentes no lugar de criar suas próprias estruturas. A saúde pública em foco: as fotografias de Geraldo Paula Souza nos Estados Unidos, 1918-1920
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Cristina de Campos
(Universidade São Judas)
No inicio do século XX, a Saúde Pública era um campo disciplinar que estava em processo de institucionalização acadêmica. A Universidade Johns Hopkins organizou o seu primeiro curso de Higiene e Saúde Pública, com o apoio do board de saúde da Fundação Rockefeller. A ajuda financeira possibilitou a organização de um curso em Saúde Pública que visava formar profissionais dentro dos requisitos estabelecidos pelo board da fundação. Entre os estudantes, estava Geraldo Horácio de Paula Souza, professor da Cadeira de Higiene da Faculdade de Medicina de São Paulo. Paula Souza foi realizar o doutoramento em Higiene e Saúde Pública entre 1918 e 1920. Entre as novas abordagens trazidas pelo curso da Universidade Johns Hopkins estavam o trabalho de campo e o registro de tais visitas pela fotografia. Neste período, a fotografia se disseminava e ganhava novos adeptos devido aos baixos custos envolvendo o ato de fotografar, o que permitiu sua transformação em produto de massas. O objetivo é analisar as fotografias realizadas por Paula Souza e discutir seu papel enquanto fonte de pesquisa, que permitem conhecer o campo científico da saúde pública, além de revelar outras possibilidades de análise. Medicina Tropical à sombra do cacau escravo: a campanha contra a doença do sono na ilha do Príncipe, 1911-1914 Ewerton Luiz Figueiredo Moura da Silva (USP - Universidade de São Paulo)
Doenças como a malária e a doença do sono representaram um sério obstáculo para a viabilidade dos impérios europeus na África no início do século XX. Portugal, metrópole militar e economicamente frágil, possuía um vasto império cuja colônia mais rentável eram as ilhas de São Tomé e Príncipe. O arquipélago era o segundo maior produtor de cacau do mundo e dependia de levas de trabalhadores forçados provenientes de Angola. A existência de condições análogas à escravidão, bem como as disputas imperialistas europeias, conduziram à tenaz campanha do chocolateiro britânico William Cadbury pelo boicote à compra do “cacau escravo são-tomense” em 1908. Além disso, a ilha do Príncipe tornou-se um cemitério para os trabalhadores angolanos devido ao grave quadro epidêmico representado pela doença do sono. Tais condições alimentaram a constituição de uma campanha contra a doença na ilha organizada IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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por médicos da Escola de Medicina Tropical de Lisboa. Os métodos da campanha incluíam a destruição da mata nativa, o extermínio da fauna selvagem e a proibição de trabalhadores doentes de deixar a ilha. A eliminação das tsé-tsés, transmissoras da doença, em 1914, trouxe impactos ambientais e sociais.
GT 13 MEMÓRIA E RELIGIOSIDADE Coordenação: João Paulo Berto (CMU/UNICAMP),
Rafael Capelatto (PUCCAMP)
29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 A Consagração a Nossa Senhora Aparecida nas ondas do rádio: memória e devoção Felipe Manoel Zangari Flor
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
A comunicação tem por objetivo situar a pesquisa que está sendo produzida a para obtenção do Mestrado em Ciências da Religião. A linha-mestra do trabalho é realizar um estudo de caso sobre a transmissão radiofônica da “Consagração a Nossa Senhora Aparecida”, com a finalidade de fazer um levantamento histórico desse momento de devoção e, em seguida, buscar compreender a sua lógica interna por meio de uma análise de conteúdo, visto que sua realização permanece tradicional mesmo dentro de um contexto pós-moderno. O atual estágio da pesquisa tem levado, fudamentalmente, ao alcance do primeiro dos três objetivos específicos da pesquisa – qual seja, o de investigar a memória histórica por trás do programa de rádio Consagração a Nossa Senhora Aparecida. A pesquisa vem buscando compreender a relação entre esse momento de devoção e a chegada, a presença e a atuação do Missionários Redentoristas e o papel da Congregação Religiosa neste processo. A pesquisa documental nos acervos da Rádio Aparecida e no Centro de Documentação e Memória do Santuário Nacional tem sido basilar para o andamento dos trabalhos.
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Construção de concepções e suas intencionalidades: reflexões a partir do documentário “Marias, a fé no feminino” Adailton Antônio Galiza Nunes
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Partindo de Maria, personagem do catolicismo, o presente artigo reflete como representações históricas e religiosas deste feminino divinizado são provenientes de memórias institucionalizadas pela Igreja Católica Apostólica Romana, de crenças relativas a deusas ancestrais, de relações sociais ordinárias e de práticas culturais. Como fonte para discutirmos o processo de construção de concepções marianas, o documentário “Marias: a fé no feminino” é abordado, levando em consideração a multiplicidade de sujeitos envolvidos, seu cotidiano e os grupos aos quais estão vinculados. E é entre espaços sagrados e profanos, entre distintas temporalidades e espacialidades e entre Igreja e cinema que algumas intencionalidades cerceadoras de concepções marianas são evidenciadas. O Castigo das Almas: práticas e expressões da religiosidade popular no sertão da Paraíba José Anchieta Bezerra de Melo
(UFPB - Universidade Federal da Paraíba)
Este trabalho é resultado parcial de uma pesquisa de doutorado, em andamento, que pretende analisar a memória e as experiências devocionais de velhos rezadores e rezadoras do município de Tavares, sertão da Paraíba, em torno da Santa Cruz do Deserto. Além de compreender a história de vida desses narradores, objetivamos perceber a formação de suas identidades enquanto guardiões da memória local e do monumento religioso, a Cruz, que é dotado de toda uma simbologia que envolve a crença nos milagres, a imposição de respeito aos mais velhos e o medo do castigo das almas. Neste trabalho a História Oral constitui um instrumento privilegiado para análise e interpretação de dados na medida em que incorpora experiências subjetivas que possibilitam o entendimento de processos mais amplos de mudanças e permanências mescladas a contextos sociais, que envolvem a família, o trabalho, a religião e mesmo a definição dos critérios de justiça e sociabilidade. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Sessão 2 – 16h00 às 18h00 A “maldição das freiras”: A construção da memória coletiva de uma lenda urbana Renan Baptistin Dantas
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O presente trabalho observa uma lenda popular existente na cidade de Ribeirão Preto (SP), chamada localmente de “maldição das freiras”. A lenda surgiu entre 1996 e 1999, quando o prédio do antigo “Colégio Santa Úrsula” – primeiro colégio católico da cidade construído em 1912 pelas irmãs ursulinas – foi demolido e se iniciaram as construções do “Shopping Santa Úrsula”, empreendimento comercial que manteve parte da memória histórica do lugar primeiro por meio de seu nome, da exposição de fotografias do antigo prédio em sua parte externa e da instalação de uma capela dedicada a Santa. Segundo boatos, durante a construção foram encontradas ossadas de recém-nascidos, supostamente enterrados por freiras que haviam quebrado o voto de castidade, engravidado, e temendo as represálias teriam agido dessa forma. De tal forma, observamos a maneira como é construída e vivida a memória coletiva desta lenda urbana pelos habitantes do lugar, assim como sua relação com o passado do mesmo. Passado em parte formado por uma controvérsia coletivamente ignorada, mas publicamente materializada na manchete da Revista Revide de maio de 1997: “Cidade deve perder patrimônio histórico”. Herança africana e patrimônio cultural imaterial em Juiz de Fora/MG Gabriella Oliveira Araujo
(UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora)
Os africanos trazidos ao Brasil de forma compulsória e submetidos ao trabalho forçado buscaram meios de restabelecer laços de pertencimento com suas origens. Durante a passagem desses africanos por Juiz de Fora, um dos maiores plantéis escravistas de Minas Gerais no século XIX, esses indivíduos recriaram seus rituais religiosos. Passado mais de um século destes acontecimentos ainda encontramos na cidade terreiros de umbanda que nos remetem a este momento da história, como o terreiro “Santo Antônio de Umbanda”. O presente trabalho IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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visa discutir como este espaço pode ser enxergado como um patrimônio cultural imaterial da cidade de Juiz de Fora por preservar e disseminar a herança cultural e religiosa legada por seus ancestrais, buscando-se também pensar maneiras de salvaguardar elementos constituintes do patrimônio de herança africana na cidade, levando-se em conta que dentre os quase 200 bens reconhecidos como patrimônio na cidade apenas um relacionado diz respeito a comunidade negra. Tradição Umbandista: um estudo de memória coletiva Ana Clara Tomaz Carneiro
(UFABC - Fundação Universidade Federal do ABC)
Pretende-se compreender os estudos sobre Umbanda destacando as relações de transmissão da tradição umbandista dentro da Tenda de Umbanda Estrela Matutina localizada em Campinas a partir da pesquisa etnográfica analisada a partir do arcabouço teórico que visa expandir os estudos sobre umbanda ao escopo dos estudos de memória, relacionando memória e experiência. Entende-se que a permanência e transmissão da tradição umbandista, passada oralmente para seus integrantes, tem um forte apelo às memórias desse grupo, em que é necessário compreender e evocar momentos passados que definem as atuais circunstâncias do presente. Tendo em vista essa perspectiva, o entendimento da memória para a manutenção e reprodução dos rituais e ensinamentos umbandistas é uma das fontes da própria constituição religiosa assim como dos integrantes do grupo. Compreender como se processa a tradição umbandista também é entender como os integrantes desse grupo se manifestam e se identificam na atual conjuntura de identidades fragmentadas, retomando os aspectos da tradição oral e transmitindo a tradição. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 Fundação de freguesias e conflitos entre as Dioceses de Mariana e São Paulo na região a oeste do rio Sapucaí na segunda metade do século XVIII Carolina Farnetani de Almeida
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas),
Renata Baesso Pereira
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
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O presente artigo tem como finalidade demonstrar o papel da Igreja Católica na fundação de freguesias localizadas na região a oeste do rio Sapucaí, que atualmente corresponde à parte do sudoeste do estado de Minas Gerais. Também são analisados os conflitos relacionados à definição dos limite entre os bispados de São Paulo e Mariana neste território, a partir de 1745, com a criação dessas novas dioceses. A região foi ocupada pela ação dos paulistas, que fundaram os primeiros arraiais ligados à mineração. As primeiras freguesias do território foram: Santana do Sapucaí (1748 - atual Silvianópolis), Ouro Fino (1749), Jacuí (1762) e Cabo Verde (1765). Todas foram elevadas pelo bispado de São Paulo, mas foram alvo de reivindicação pelo Bispado de Mariana. Em 1759, o Bispado de São Paulo retoma a posse dessas freguesias, mesmo que o território do ponto de vista civil pertencesse à Capitania de Minas Gerais. O trabalho se estrutura a partir da análise de documentos primários como os livros do tombo das paróquias, cartografia histórica e correspondência de bispos e governadores. Demonstra-se a complexidade da formação da rede urbana na região e o papel da Igreja e do Estado neste processo. A Provincia Eclesiastica de Sao Paulo (1908). O caso especifico de Campinas segundo documentaçao do Arquivo Secreto Vaticano Rafael Capelato
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
A Provincia Eclesiástica de Campinas foi constituida canonicamente pela Santa Sé em 1908. Na ocasião, a Diocese de Sao Paulo foi desmembrada para dar origem a cinco novas dioceses no Estado de Sao Paulo. Dentre elas, Campinas foi constituída como Bispado, num contexto de grande desenvolvimento econômico e cultural da cidade. A apresentação se insere no âmbito das pesquisas feitas para o doutorado e se baseia em documentos inédito do Arquivo Secreto Vaticano. Pretende-se apresentar o caso especifico de Campinas no que tange ao fomento de recursos locais para a criação do Bispado e o modo como o clero e lideranças da cidade, entre os anos 1903 e 1908, empreenderam as tratativas para que a cidade fosse escolhida como sede episcopal. Nesse sentido, é possível analisar o «espírito» religioso juntamente com a auto-compreensão das raízes locais permeadas do ufanismo suscitado pelo ambiente cultural e econômico do café e da primeira industrialização. A exposição consistirá igualmente em buscar respostas para a solução dada pela Igreja Católica, no interior de São IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Paulo, para as dotações financeiras necessárias, com o fim das côngruas do Padroado regalista extinto em 1890. A Irmandade do Santíssimo Sacramento de Campinas no contexto das Reformas Ultramontanas: 1847 – 1908 Gabriel de Barros Amstalden (PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
Diante da grande relevância da problemática que envolve religião, política e sociedade, a presente pesquisa analisa o processo de reconfiguração da Irmandade do Santíssimo Sacramento em Campinas SP, à luz do contexto religioso, político e social do Brasil na segunda metade do séc. XIX e início do XX. Esse contexto será posto sob análise a partir da atuação da referida Irmandade enquanto extrato social, assimilando recomendações oficiais da Igreja e ao mesmo tempo adicionando à essa mesma Igreja, costumes e tradições populares que acabam sendo incorporadas pela instituição durante as Reformas Ultramontanas, com o intuito de se fazer presente e influente mesmo em localidades distantes do bispado, responsável pela administração da Igreja. Um exemplo disso é o uso do sino principal da Matriz da cidade de Campinas, que foi doado pela Irmandade do Santíssimo Sacramento e só poderia ser usado em ocasiões que envolvessem o sodalício campineiro e no caso de descumprimento desse acordo, a própria Irmandade poderia exercer o seu direito de retirar o sino da torre. A pesquisa objetiva compreender parte significativa da história de Campinas, pouco explorada pela historiografia local. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Livros de Tombo Histórico e de Belas Artes do SPHAN: Como foram empregados no Estado de São Paulo, nas décadas de 1930 e 1940, para os bens de religiosos católicos Bruna Valença Mallorga
(UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Em 1936, Mário de Andrade (responsável pelo anteprojeto de criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN - na década de 1930) em Correspondência a Rodrigo Melo Franco de Andrade (figura
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central na criação e consolidação do SPHAN) afirmou que o Estado de São Paulo não contava com patrimônios com característica semelhantes às de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e da Paraíba, características essas voltadas para perspectiva do belo. São Paulo deveria conformar-se em tombar aquilo que permaneceu dos séculos XVI e XVII, pensando principalmente na perspectiva histórica, já que beleza não havia. Tal visão ficou consagrada na historiografia que versa sobre o órgão de preservação e o patrimônio no Brasil. Desejamos observar os processos de tombamento abertos pelo IPHAN no Estado de São Paulo nas décadas de 1930 e 1940, período em que Mário de Andrade contribuiu com o órgão federal, focando nos bens de perspectiva religiosa católica para observarmos se o posicionamento de Mário de Andrade foi incorporado às técnicas do órgão de preservação nessa região. Os museus e a preservação do patrimônio cultural da Igreja Católica no Brasil: tipologias e desafios João Paulo Berto
(Centro de Memória-Unicamp)
Pretende-se apresentar um panorama das questões que envolvem a preservação e a gestão dos bens culturais da Igreja Católica no contexto brasileiro, tomando como destaque o papel das instituições museológicas. Tendo em vista as consequências devastadoras de alguns movimentos históricos que colocaram em cheque a questão da salvaguarda de acervos de natureza eclesiástica, entre eles o Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-196), vários fatores levaram ao desaparecimento, à desintegração e à destruição de acervos de igrejas, capelas, basílicas, mosteiros e santuários, seja nacional ou internacionalmente. Levando em conta o valor inestimável destes conjuntos, várias instituições de cunho preservacionista surgiram com o intuito de salvar este patrimônio de cunho material, entre elas os museus, tanto públicos quanto privados. Assim, intenta-se entender como este movimento ocorreu no contexto brasileiro, apresentando um panorama das instituições e levando em conta as tipologias e os desafios no que se refere à preservação, estudo, pesquisa, educação, contemplação e fruição destes bens culturais, sobretudo a partir das dimensões suscitadas pelo acervo (sobretudo culto e ritual). 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Capela de Santa Bárbara em Artur Nogueira: contradições entre memória e história Janaina Silva Xavier
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Na cidade de Artur Nogueira há uma capela abandonada e uma imagem de Santa Bárbara de 1663. De acordo com os habitantes, a edificação seria uma das construções mais antigas da região, estando ligada aos seus primeiros moradores. Diversas tradições orais envolvem a capela, entre elas, a de que estaria próxima à estrada bandeirante dos Goiases, de que em uma fazenda na região teria se hospedado Auguste de Saint-Hilaire em sua expedição pelo interior de São Paulo e sobre indígenas e um missionário espanhol no século XVII. A fim de trazer informações históricas que pudessem corroborar com essa memória oral e para compreender a existência da edificação e da imagem sacra foi realizado um inventário pelos cursos de Arquitetura e Urbanismo e História do UNASP. Sem a pretensão de elucidar completamente a questão e sem desconsiderar as tradições orais, o estudo pautou-se no estudo documental, bibliográfico, entrevistas e na análise arquitetônica da capela, tomando como ponto de partida as memórias dos moradores. Poucas foram as fontes encontradas sobre a edificação, porém conseguiu-se avançar em importantes aspectos e trazer novas interpretações para o templo religioso e sua história. Religiosidade peregrina: o repertório ornamental sacro de Miguel Dutra durante os oitocentos Silvana Meirielle Cardoso
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Miguel Archanjo Benício D’ Assumpção Dutra arquiteto, entalhador, armador e compositor ituano nascido em 1812 e falecido na cidade de Piracicaba em 1875 constitui um ponto marcante no que diz respeito a arte paulista, principalmente por ter servido de base fundamental para as abordagens e problemáticas do pretensioso projeto histórico do protagonismo paulista cujo principal articulador é Afonso Taunay. Não procuramos afirmar um posicionamento em defesa ou contra o mérito de um artista que expressamente traduziu os anseios da brasilidade tão caro a crítica modernista, que disseminou a abordagem em torno da afirmação da genialidade desse artista mulato. Isso já fora realizado
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por pessoas muito competentes, trata-se de fato de uma tentativa de demonstrar o tocante de seu relacionamento e a importância de seu repertório ornamental e sacro contido no documento manuscrito de sua autoria intitulado “Depósito dos Trabalhos” datado de 1847, explorando a intersecção entre história, memória e religiosidade e os ofícios exercidos por ele ao longo trajetória. Heranças e Verbas testamentárias: a família de Francisco Novaes de Magalhães e a ornamentação da Igreja Matriz de Itu Colonial Anicleide Zequini
(USP - Universidade de São Paulo)
A partir de uma pesquisa documental em elaboração, pretende-se apresentar a dinâmica de recursos que foram destinados pela família de Francisco Novaes de Magalhães à Matriz de Nossa Senhora da Candelária de Itu a partir de sua inauguração no ano de 1780. A partir da segunda metade do século XVIII, a economia açucareira de Itu enriqueceu seus moradores, refletindo-se diretamente na urbanização da Vila e ornamentação de suas Igrejas financiadas pelos recursos deixados pelos legados de heranças e verbas testamentárias provenientes das famílias mais abastadas da localidade, entre elas, a Matriz de Nossa Senhora da Candelária inaugurada em 1780. Dentre estas famílias, destaca-se a de Francisco Novaes de Magalhães, considerado o mais rico da Vila da Itu Colonial, sua esposa D. Maria Francisca Vieyra e seus filhos, que destinaram parte de sua riqueza que foram registrados nos Inventários e Testamentos dos familiares para benfeitorias e contratação de artífices para ornamentação da recém-inaugurada Matriz de Itu. Em 1786 com José Patricío da Silva Manso para os trabalhos no retábulo do altar mor e douramento das talhas e, em 1788 o entalhador Bartholomeu Teixeira. Sessão 6 – 16h00 às 18h00 Ex-votos, religiosidade e cultura material Marcos Tognon
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Os registros da tradição ex-votiva pictórica são usualmente considerados maIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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nifestações populares, de pouca qualidade artística, suportes de uma tradição narrativa primitiva, direta e objetiva, e quase sempre rasos em seu conteúdo centrado na narração da tragédia pessoal e sua respectiva graça alcançada. Pretendemos enfatizar que os ex-votos em formato de quadros ou telas, especialmente do século XIX, podem trazer importantes testemunhos narrativos alocados para além da ênfase dramática sob o qual o seu comitente foi submetido. Assim, por meio do estudo do conjunto de ex-votos na coleção do Santuário de Congonhas do Campo, Minas Gerais, patrimônio sacro protegido pelo IPHAN, pretendemos analisar as diversas expressões de fé e de cultura material contidas nas diversas estratégias de representação figurativa, da tragédia inesperada aos milagres alcançados, do cotidiano à epifania milagrosa! A memória das festas religiosas no tratado de Andrea Pozzo Mateus Alves Silva
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este artigo se propõe a analisar o tratado de desenho do jesuíta Andrea Pozzo (1642-1709) intitulado Perspectiva Pictorum et Architectorum (Roma, 1693 e 1700) como um documento essencial de memória das festas e aparatos efêmeros realizados em diversas igrejas italianas na segunda metade do século XVII. Ao se transformar o espaço interno dos templos por meio de estruturas temporárias, almejava-se apelar à fé do indivíduo e promover uma profundidade da experiência religiosa ligada àquela festa. Em seu tratado, Andrea Pozzo apresenta os fundamentos do desenho de perspectiva aplicada à pintura, arquitetura e escultura e, para tanto, utiliza-se de diversos exemplos por ele realizados para a construção de estruturas efêmeras para festas religiosas. Essas invenções se tornaram modelos de emulação e apropriação após a sua publicação. Almeja-se compreender como esse tratado, também um livro de memória do artista, foi assimilado como referência para as mais diversas manifestações religiosas por meio da arte. E ainda, ultrapassando as fronteiras geográficas, tem-se diversos indícios de seu uso em terras brasileiras, ressaltando a sua importância. Memória Artística de um Momento Hierofânico: as pinturas relativas à Nossa Senhora do Carmo nas Ordens Terceiras Carmelitanas de Minas Gerais - séculos XVIII e XIX Leandro Gonçalves de Rezende
(Escola Estadual Serafim Ribeiro de Rezende)
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Contrariando a proibição do estabelecimento de clérigos regulares nas Minas, os ideais das Ordens Mendicantes fizeram-se presentes nessa região, desde meados do século XVIII, quando alvoreceram as associações de leigos denominadas Ordens Terceiras. Esses sodalícios cultivavam uma espiritualidade depurada e, por conseguinte, apresentavam um repertório iconográfico bem específico, de acordo com valores defendidos por cada instituição fraternal. No caso das Ordens Terceiras do Carmo mineiras destacam-se imagens e símbolos que exaltam a vivência contemplativa carmelitana, aludindo a acontecimentos históricos, míticos e místicos, para tecer sua história e transmitir sua mensagem de fé. Nesta oportunidade, analisaremos as pinturas decorativas nos forros das Ordens Terceiras do Carmo, alusivas à aparição de Nossa Senhora do Carmo a São Simão Stock, considerado o fundador histórico da Ordem. Esse fato miraculoso, que teria ocorrido em meados do século XIII, ao se cristalizar em representações pictóricas, é imbricado de uma função pedagógica, constituindo-se em uma memória artístico religiosa, com a intenção de introduzir e instruir o fiel no “corpo místico” carmelitano.
GT 14 MEMÓRIA, HISTÓRIA REGIONAL E CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO URBANO Coordenação: Ana Maria Reis de Góis Monteiro (FEC/UNICAMP)
30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 A análise de Inventários como recurso metodológico para a reconstituição do espaço da cidade de Campinas no século XIX Ana Beatris Fernandes Menegaldo
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
O trabalho desenvolve uma metodologia de reconstrução do espaço da cidade de Campinas-SP, na segunda metade do século XIX, através da interpretação de documentos primários. A investigação crítica de InventáIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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rios, junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, da Comarca de Campinas localizados no CMU, quando cruzados a outras fontes como: cartografias históricas, fotografias e levantamentos de campo, possibilitam a espacialização como ferramenta de análise fundiária de Campinas-SP em distintas escalas. Esse cruzamento enseja relações que ultrapassam a análise histórica-geográfica, construindo hipóteses para o processo de ocupação urbana, a partir da análise fundiária de Campinas, no século XIX. A metodologia é aplicada para propriedades do Barão de Itapura, um representante da elite local. Exploram-se, em distintas escalas, hipóteses de espacializações fundiárias: na territorial, para a fazenda Chapadão; na urbana, para Chácara Itapura, e na arquitetônica para o Palácio Itapura. Contribui-se, portanto, para a manipulação de fontes documentais como recurso metodológico do processo de ocupação e transformação do espaço urbano e na compreensão da cidade como espelho de relações sociais. Os Registros Paroquiais de Terras no estudo do processo de formação do território: o estudo de caso da Freguesia de Caconde-SP, século XIX Rafael Augusto Silva Ferreira
(PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
Os Registros Paroquiais de Terras, elaborados entre 1854 e 1856 em decorrência da Lei de Terras de 1850, realizaram o registro das propriedades rurais de todas as freguesias do Império. No presente estudo trabalhamos sobre o Registro Paroquial da Freguesia de Caconde, atual município de Caconde-SP que, fundado em meados do século XVIII, teve seu território desmembrado no século XIX com a formação de novos municípios a partir de patrimônios religiosos. O Registro Paroquial de Caconde relaciona 83 propriedades distintas e permite analisar esse processo de formação territorial em curso. Procuramos espacializar, em bases cartográficas, as propriedades contidas no Registro Paroquial de Terras, trabalhando a hipótese de que as mesmas revelam a relação de costumes e usos predominantes com a terra em cada paróquia, evidenciando o processo de transformação da terra rural em urbana no século XIX. A partir de um olhar da micro história, que valoriza as realidades e singularidades locais, objetivamos, em uma perspectiva Braudeliana, relacionar esse evento da micro história às estruturas temporais de longa duração, com vista à ressignificação dessa série documental para o estudo da rede urbana.
162 IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
Nos trilhos do noroeste paulista: o desembarque da estação Eduardo Bacani Ribeiro
(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo)
Houve um tempo em que o conceito de velocidade estava associado ao tilintar das ferraduras sobre os calçamentos de pedra e a nuvem de poeira levantada do chão. Entre as construções de taipa de pilão tão características do território paulista, os deslocamentos terrestres ficavam limitados às condicionantes da tração animal e da qualidade dos caminhos a serem percorridos. Logo, após acessar a bibliografia que fundamenta esta observação, não é difícil imaginar que a introdução das linhas férreas, e junto delas todo o aparato ferroviário, refletiu na vida cultural, ambiental, econômica e social das cidades do Estado de São Paulo, de forma que não foram apenas um instrumento redutor das distancias mas um caminho para o progresso. Esta apresentação tem por objetivo discutir as estações ferroviárias pertencente à Estrada de Ferro Araraquara (EFA), fundada em 1895 e responsável por um significativo desenvolvimento do noroeste paulista. Com o fim do transporte de passageiros, esse Patrimônio Ferroviário Urbano, não cumpridor de sua função social, mantém-se ausente de proposta de proteção e ressignificação, denotando a irresponsabilidade social e política de repensá-lo. A produção da paisagem urbana de Santa Bárbara d’Oeste na Era Vargas (1930-1945): contextos, agentes e imprensa André Frota Contreras Faraco
(André Frota Contreras Faraco - MEI)
O presente trabalho tem como objetivo investigar a produção da paisagem urbana de Santa Bárbara d’Oeste, SP, no período da Era Vargas (1930-1945). A partir da análise das transformações econômicas e sociais acarretadas pela industrialização do país e do entendimento da estrutura centralizadora e intervencionista do estado e dos instrumentos que se utiliza – como os departamentos de assistência aos municípios e o controle da imprensa por meio do Departamento de Imprensa e Propaganda –, buscamos compreender quais os reflexos provocados no contexto de Santa Bárbara d’Oeste, tomando a imprensa local como fonte de pesquisa fundamental. Assim, o texto identifica os principais agentes produtores da cidade no período e quais papeis desempenharam, além de constatar os meios que utilizaram para legitimar e IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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difundir os ideais que orientavam as políticas urbanas que eram empreendidas, ampliando, assim, o embasamento dos valores histórico, arquitetônico, urbanístico e paisagístico dos edifícios e dos locais que foram produzidos na época que, como testemunhos históricos, além de comporem a paisagem urbana, constituem significativo conjunto patrimonial. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Jornalismo e Política na década de 1860: entre a Corte e a localidade Beatriz Piva Momesso
(UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
O estudo de novas tendências políticas entre intelectuais na década de 1860, ao mesmo tempo que rompe o binarismo conservadores x liberais ainda dominante na historiografia, aponta para a articulação entre a Corte Imperial e localidades, como Campinas na Província de São Paulo. Por isso, nossa investigação atual concentra-se no editor da Gazeta de Campinas, Francisco Quirino dos Santos. Jornalista, advogado, poeta, romancista e teatrólogo, escreveu no jornal local artigos de apoio ao Centro Liberal, primeiro movimento político brasileiro fundado por políticos da Corte a inserir a emancipação dos escravos em seu programa de governo em 1868. O jornalista não só reproduzia artigos publicados em jornais da corte, mas descreveu. opinou e articulou a política em Campinas, tendo por base tais acontecimentos nacionais. De tendência abolicionista e republicana, suas poesias sobre os sofrimentos da escravidão precederam a Castro Alves. A pesquisa fundamentada no jornal Gazeta de Campinas e no material de arquivo de Francisco Quirino dos Santos, também pretende discutir quem eram os intelectuais antes dos anos de 1870, refletindo a partir da localidade. 31/07/2019 Sessão 5 – 14h00 às 15h45 A Representação da mulher negra Ituana na Obra de Francisco Nardy Filho Juliana de Lima Lopes
(CEUNSP - Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio)
164 IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
O presente artigo visa apresentar a forma como é realizada a representação da mulher negra de Itu por Francisco Nardy Filho, sendo utilizado como linha teórica a História Cultural. Ressaltando a importância da obra de Nardy para desenharmos a Cidade de Itu durante os anos que escreve sobre ela, período de fim do Império e proclamação da Republica, bem como para compreendermos a forma com que o homem de 1940, compreende o passado próximo. Francisco Nardy Filho é parada obrigatória para aqueles que pretendem estudar a história da cidade de Itu, pois foi um grande pesquisador de arquivos sobre a cidade e a região que a compreende. Por fim, este artigo apresenta a utilização da literatura e o uso de crônicas como importante ferramenta para o ensino e aprendizado de História, podendo despertar o interesse do aluno na busca pelo conhecimento histórico. A importância da memória local para a construção do personagem Mario Fava, de Bariri, no início do século XXI Ana Clara Frasson (USC - Universidade do Sagrado Coração)
O presente artigo tem como objetivo principal a valorização da memória local e principalmente do personagem Mario Fava, um grande desbravador baririense que teve seu feito histórico reconhecido há pouco tempo, a partir do início do século XXI, quando os autores Osni Ferrari, José Augusto Barboza Cava e Beto Braga, ambos cidadãos baririenses, escrevem três grandes obras: “Eu não sabia que era tão longe”, “Museu Mario Fava” e “O Brasil através das três Américas”, os quais divulgam os feitos de três grandes brasileiros, o mecânico Mario Fava,o comandante Leônidas Borges de Oliveira e o observador Francisco Lopes da Cruz, com dois carros do modelo Ford T, protagonizam a maior aventura do automobilismo mundial, durante os anos de 1928 a 1938, atravessando o Brasil para chegar aos Estados Unidos, um feito inédito para o período. Portanto, serão analisados os livros publicados sobre o tema, relacionando-os com o patrimônio histórico imaterial ( fontes orais) e o patrimônio histórico material (o Museu Mario Fava da cidade de Bariri, suas imagens e a presença de um dos carros que participou da expedição, o Brasil). Os negros da cidade de Jacarezinho/PR: direito à memória e à cidadania Janete Leiko Tanno
(Universidade Estadual do Norte do Paraná/ CJ) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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A pesquisa discute sobre o direito à memória e à cidadania dos negros na cidade de Jacarezinho/ PR. como parte intrínseca de uma sociedade democrática. Interessa, conhecer os significados da preservação das memórias desse grupo para ele mesmo e suas relações com o direito à cidadania. De que forma, as memórias do grupo negro estão inscritas nos espaços da cidade e como os negros percebem e se apropriam delas como direito, como formas de construção de suas identidades ligadas a um patrimônio cultural de seus antepassados que sempre foi objeto de rejeição e exclusão. Observa-se que o direito à cultura, à memória e à ocupação dos espaços urbanos, sempre foram negados aos negros ao longo da história da sociedade brasileira o que exigiu por parte deles organizarem-se em grupos de pressões e lutas para conquista desses direitos que, atualmente, estão sendo colocados novamente em risco, em uma onda de recrudescimento de exclusões, racismo e preconceitos. Diante do quadro político e social hodierno, faz-se necessário discutirmos e exigirmos os direitos a que todas as pessoas têm à memória, à ocupação e usufruto das cidades e de pleno exercício da cidadania. Entre o Cristalizado e o Vivido nas Memórias dos Sujeitos Históricos de um distrito periférico de São Paulo: vida cotidiana em São Mateus (1946-1992) Adriano Jose de Sousa
(USP - Universidade de São Paulo)
No artigo em questão será abordada a agência histórica dos sujeitos das transformações urbanas na região de São Mateus, zona leste da cidade de São Paulo, a partir do estudo das memórias de um grupo de moradores idosos implicados nesse processo. Para isso, serão analisados os temas e os modos específicos de rememorar dos colaboradores entrevistados pelo pesquisador e das memórias cristalizadas do bairro, inscritas em folders produzidos pelo poder público, textos de memorialistas e matérias dos jornais locais. Serão utilizados como principais referências para este exercício: de um lado o estudo clássico de Eclea Bosi (1979) sobre memórias urbanas de idosos em São Paulo e de Ulpiano Menezes (1992), abordando a memória como fonte de pesquisa histórica; e, de outro, as pesquisas de Sheila Alice Silva (2016) pontuando as memórias negras de Guaianases e de Lucirene Carignato (2007), sobre as vivências femininas no Movimento de Saúde da Zona Leste, ambas tratando da difícil vida cotidiana em bairros da periferia leste de São Paulo durante seus processos de urbanização. Sessão 6 – 16h00 às 18h00
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Congadas da Cidade de Itapira e a Construção de uma Memória Regional Cristiane da Rosa Elias
(UNICENTRO - Universidade Estadual do Centro Oeste)
A partir dos livros, sobre as Congadas da cidade de Itapira-SP, de Odette Coppos, vamos analisar a construção da memória regional da cidade pensando essas Congadas para além de expressões culturais; mas também, como práticas de saberes em constante movimento e diálogo com a cidade em questão. Trabalharemos com os conceitos de espaço, região, memória entre outros para sermos capazes de explorar de forma mais sensível essa outra possibilidade de compreensão da Congada e da história da cidade. E assim, aprofundar sobre aspectos da história de Itapira que não somente a dos cafeicultores e coronéis benevolentes, mas também dos povos marginalizados e esquecidos na construção da histórica dessa região.
GT 15 MEMÓRIA, FOTOGRAFIA E CINEMA Coordenação: Alfredo Suppia (IA/UNICAMP),
Iara Lis Schiavinatto
(IFCH/IA/UNICAMP) 29/07/2019 Sessão 1 – 14h00 às 15h45 Passagens: sobreposições de tempos e lugares nos livros de artista Luise Weiss
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Fotografias de paisagem, cartas, cartões postais familiares remontam aos anos de 1925 a 1950, época nas quais as viagens de navios preponderavam. Levas de emigrações. As famílias mantinham contatos com os parentes residentes na Europa. Com a minha família não foi diferente. Visitei em IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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viagens curtas de pesquisa essas paisagens que já não pertenciam à família, eram espaços não vividos por mim, mas registrados por fotografias. A partir delas iniciei uma investigação poética incorporada na produção de livros de artista. A partir do manuseio das fotografias produzi material com sobreposições, ampliações/reduções incorporando-os à narrativa visual. A questão do tempo, da memória estava amplamente impregnada nas fotografias e no folhear dos livros, página após página. Cinema educativo e educação popular em São Paulo e no Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930: Um estudo sócio histórico Rodrigo Leal da Silveira
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A presente proposta visa realizar um levantamento da produção bibliográfica e documental acerca do cinema educativo nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930, plena em debates sobre a cinematografia e sua relação com a educação. Pretende-se mapear obras de referência de intelectuais que participaram do que se poderia chamar de movimento de cinema educativo brasileiro nesses dois centros urbanos, assim como suas produções bibliográficas sobre essa temática a partir deste levantamento, e se utilizando das discussões metodológicas da Nova História Cultural, busca-se identificar o papel dos intelectuais na construção do cinema educativo brasileiro em termos de produção bibliográfica, sobretudo na análise duas obras centrais que inauguram o pensamento cinematográfico no Brasil e sua importância para educação: “Cinema Contra Cinema” Joaquim C. M. de Almeida e “Cinema e Educação” de Jonathas Serrano e Francisco V. Filho. Pretende-se analisar como o INCE, criado em 1937, se apropriou dessas duas obras e como esses intelectuais estavam dialogando com o pensamento social brasileiro sob a forma de um pensamento visual que influenciaram diretamente na atuação do INCE. Uma longa viagem, de Lucia Murat: uma narrativa documental da memória sobrevivente nas instâncias coletiva e pessoal da História Rafaella Maria Bossonello Bianchini
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
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No documentário Uma longa viagem (2011), de Lucia Murat, múltiplas camadas de recursos narrativos, estéticos e de recolha de arquivo (como fotografias de acervo pessoal e excertos de obras audiovisuais de fontes externas; depoimentos; performance; narração verbal; edição de imagens e de sons por sobreposição e justaposição temática alternada, entre outros modos) acessam e esmiúçam memórias em busca de uma releitura do passado, daí extraindo significações múltiplas e atuais. Assim como as múltiplas camadas de recursos narrativos, a obra perpassa instâncias coletivas e pessoais de memórias sobreviventes: a do passado histórico e político social dos anos de 1960 e 1970, a geracional e a pessoal e familiar. A narrativa fílmica, construída e refletida por uma autora que é co-protagonista dessas memórias e pelo seu personagem objeto, criam um novo documento sobre o passado, ressignificado pelo cinema. Este trabalho busca analisar as construções das memórias pública e privada na obra de Lucia Murat através de autores como Francisco Elinaldo Teixeira (2004), Philippe Dubois (2004), Arlindo Machado (2008) e outros. Sessão 2 – 16h00 às 18h00 Uma memória crítica do sonho americano Annateresa Fabris
(USP - Universidade de São Paulo)
Ao afirmar que a memória é mais interessante do que a realidade, James Rosenquist coloca em movimento um mecanismo conceitual para o qual convergem passado e presente de maneira complexa. O artista faz essa afirmação a partir de uma “forma crua de surrealismo” encontrada em velhos exemplares da revista Life (décadas de 1940 e 1950), cujos anúncios publicitários fotográficos eram, não raro, caracterizados por justaposições insólitas de imagens. Esse universo de “imagens soltas e instáveis” será transferido pelo artista para quadros nos quais a obsessão pelo novo, pelo brilhante e pelo chamativo, própria da cultura publicitária, é submetida a um escrutínio rigoroso. A relação entre fotografia e publicidade, que se consolida nos Estados Unidos na década de 1920, é parte constitutiva do sonho americano, e é a ela que se dirige a operação crítica de Rosenquist. Em nome do filho Mariarosaria Fabris
(USP - Universidade de São Paulo) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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No romance Petrolio (1992), Pier Paolo Pasolini registra que, na Itália, o primeiro confronto de “guerrilha urbana” digno desse nome se deu em 1972, o mesmo ano em que Mauro Bolognini lança Imputazione di omicidio per uno studente (Assassinato de um inocente), que tem como pano de fundo esse conturbado período. Durante um violento choque entre policiais e estudantes que apoiam uma manifestação por moradias populares, cada um dos lados sofre uma baixa, mas a investigação só se dedica a descobrir quem matou o agente da lei. A acusação recai sobre o estudante errado, uma vez que o verdadeiro culpado é o filho do juiz encarregado do caso. Depois de uma carreira dedicada a servir o sistema, o juiz resolve interessar-se pelos ideais dos jovens e se dispõe a tentar entender o gesto do filho, mesmo sabendo que ele é culpado, pois o diálogo lhe parece o melhor caminho para resolver a situação explosiva que o país está vivendo. Baseado em roteiro de Ugo Pirro e Ugo Liberatore, os quais, no calor da hora, esquadrinham os acontecimentos com um olhar carregado de intenções políticas e sociológicas, esse filme de Bolognini oferece vários dados para uma abordagem retrospectiva do período em tela. 30/07/2019 Sessão 3 – 14h00 às 15h45 MOFO: a memória de um movimento fotográfico em Campinas Paulo de Tarso Coutinho Viana de Souza
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Nos anos 70 do século XX, Campinas viu surgir através de um grupo de jovens estudantes das Universidades, UNICAMP E PUC Campinas, um movimento de renovação da fotografia. A partir da UNICAMP, pessoas já vinham se interessando pelo desenvolvimento da arte fotográfica, com objetivos diversos; contestação social, artístico e documental. Nestes anos 70 se instalou um Studio fotográfico profissional, que se propôs além do trabalho comercial, aulas de iniciação a fotografia. Egressos destes cursos se juntaram a estudantes de arquitetura que por sua vez se juntaram ao grupo da UNICAMP formando o MOFO. O grupo começou a se reunir na república de estudantes, onde Ronaldo Simões Gomes (antropólogo, mais conhecido como Batata, figura na cidade e na UNICAMP). Foi criado um provocativo nome MOFO, que é o pior que pode acontecer à fotografia, Movimento Fotográfico. Este grupo estreou de maneira ruidosa ao invadir,
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a galeria de arte do Centro de Convivência, a exposição de Stefania Bril, fotógrafa. O grupo representou também uma resistência à ditatura. É uma história que precisa ser contada, no âmbito das artes, em especial a fotografia em Campinas. Vídeo comunitário estudantil: a autorrepresentação da Moradia Estudantil da UNICAMP Eduardo de Souza de Oliveira
(UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
A presente pesquisa busca investigar videodocumentários realizados por estudantes/moradores universitários acerca da Moradia Estudantil da UNICAMP. A análise de três videodocumentários, “Moradia da Unicamp: um espaço de conquistas”, “Amoradia” e “Moras à Luta”, permite abordar a autorrepresentação dessas comunidades, imagética, textual e sonoramente construídas por meio da linguagem documentária. As condições de vivência, convivência, pertencimento, memória afetiva e reivindicação política a partir da abordagem da moradia estudantil vinculada à UNICAMP permitem caracterizar realizações audiovisuais sintonizadas com práticas contemporâneas de autorrepresentação social e com a potencialidade tecnológica da imagem digital. Através dos videodocumentários analisados, observo que as imagens de arquivo, depoimentos, registro de atividades comunitárias e de ações contestatórias e reivindicatórias pela melhoria de infra-estrutura presentes nas obras resgatam a memória de engajamento político que acarretou na construção do espaço e marcam os afetos subjetivos que caraterizam um sentido comunitário do local. Touca e avental: da empregada doméstica à Martha de Atwood Rafaela Cristina Martins
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Através da cultura visual este trabalho propõe aproximar e analisar dois conjuntos visuais e uma obra de arte: uma série de propagandas de máquinas de lavar, veiculadas em 1960 na revista Cruzeiro; a obra HausfrauenKüchenschürze [Donas de Casa - Avental de Cozinha] da artista Birgit Jürgenssen, datada de 1975; e imagens do seriado produzido para a televisão americana em 2017, The Handmaid’s Tale. As análises procuraram IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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mostrar a princípio como propagandas, veiculadas na década de 1960 no Brasil, trazem similaridade visual com a obra crítica da artista Birgit Jürgenssen. Cada material contém informações e finalidades bem específicas e quase contraditórias. Através da análise desses dois materiais é possível entender as tensões e discussões que perpassam o papel social da mulher, especialmente em relação ao trabalho doméstico. Já em The Handsmaid’s Tale, de 2017, as representações e figurinos das Marthas e Aias exibem elementos visuais que remetem às imagens do passado em um futuro distópico. Tal análise oferece pistas sobre como as discussões feministas acerca do corpo e o papel da mulher na sociedade apresentam continuidades na contemporaneidade. Sessão 4 – 16h00 às 18h00 Memórias ambientais da Amazônia em Iracema, uma Transa Amazônica (1974), de Jorge Bodansky e Orlando Senna Janaína Welle
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A presente comunicação visa refletir sobre as potencialidades do documentário Iracema, uma Transa Amazônica (1974), de Jorge Bodansky e Orlando Senna, como dispositivo gerador e construtor de memórias sobre a região amazônica. O cinema não é somente um modo de representar o mundo, mas também um modo de construção desse mundo. São construtores também de uma memória social e ambiental. Iracema, uma Transa Amazônica é um documentário emblemático, que disseminou mundo afora as primeiras imagens de grandes incêndios na floresta amazônica. Realizado em 1974, em pleno regime militar, o filme foi censurado e liberado somente em 1981 e questiona o discurso oficial, mostrando o trabalho escravo, a prostituição infantil, a devastação da floresta e os conflitos por terra que ocorriam na região. Iremos explorar as estratégias narrativas e estilísticas que sustentam as representações sociais e ambientais da Amazônia no documentário em questão e que amparam a construção de memórias ambientais. Cenas do “passado na livre memória”: o uso do testemunho nos filmes de cangaço Vagner Silva Ramos Filho
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
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A produção cinematográfica sobre o cangaço parece ser um dos terrenos mais férteis para pensar o lugar desse tipo de banditismo nordestino no imaginário da cultura brasileira. Diante disso, o trabalho propõe-se a analisar ressignificações de sua memória agenciadas por determinados intelectuais através da cultura visual constituída em torno do gênero chamado “filmes de cangaço” (DÍDIMO, 2007). Busca realizar um levantamento de usos dos testemunhos de época, sobretudo de ex-cangaceiros e ex-volantes, na composição dos filmes, tentando “dar conta do presente desta experiência, da memória que ela convocava, do porvir a que ela se engajava” (DIDI-HUBERMAN, 2015). Com base na história intelectual, privilegia-se o circuito de produções no qual está inserido Glauber Rocha, cineasta associado ao Cinema Novo atento à dita “cultura popular”, que combinou “inserção criativa na reflexão de longo prazo sobre a cultura brasileira e vontade de intervenção direta na vida política” (XAVIER, 2007). Eis uma forma de investigar como parte de uma “memória comunicativa” cangaceira foi tornando-se uma “memória cultural” (ASSMANN, 2011) tão apropriada no debate público acerca da cultura nacional.
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PÔSTERES
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Exposição e Sessão de Apresentação 30/07/2019 18h00 A Comissão Nacional da Verdade: considerações sobre a democracia, justiça de transição e história pública Vinícius Pedro Costa da Fonseca
(UNIFAL-MG - Universidade Federal de Alfenas)
Esta pesquisa de Iniciação Científica Voluntária procurou analisar e compreender o histórico de formação e trajetória, os discursos e ações da Comissão Nacional da Verdade, criada no Brasil em 2012, pela presidenta Dilma Rousseff. O estudo foi desenvolvido por dois discentes, com a finalidade de estudar os resultados do relatório final da Comissão apresentado em 2014 e os depoimentos públicos de perpetradores e vítimas. A pesquisa analisou os encaminhamentos e ações da Comissão, por meio de seu acervo virtual, as audiências públicas e suas recomendações, analisando como a história pública pode contribuir para a ampliação da memória e o debate público sobre o “passado vivo”. Ambos analisaram a comissão sob a perspectiva teórico-conceitual de história e memória, testemunho, lugares e sítios de memória e história pública. Para isso, foram orientandos pela leitura e debate de autores como Paul Ricoeur, Selligman Silva, Esteban Cuya, Márcia Briones, Juniele Rabelo,Marta Rovai, Ricardo Santhiago e Maurice Halbwachs. A inserção de imigrantes portugueses na cidade de Campinas-SP: um estudo a partir da nupcialidade entre 1880 e 1920 Lucas Costa André
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A pesquisa que ora se apresenta objetiva traçar o perfil sociodemográfico de imigrantes portugueses, através da variável nupcialidade, na cidade de IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Campinas - São Paulo, de 1880 a 1920. Um lugar e tempo marcados por grandes mudanças demográficas, políticas e socioeconômicas na história do Brasil, que apesar de estarem presentes em vasta bibliografia, pouco tratam da temática da nupcialidade que foi tão importante para a reprodução não só biológica, mas, também, social do país. Para isso, nos valemos da análise do banco de dados informatizado “Eventos Vitais: Campinas 1875-1921”, criado no Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” da Unicamp e gentilmente cedido pela Professora Dra. Maria Silvia Bassanezi, que sistematiza as atas de casamento do registro civil. Vale ressaltar, ainda, que este estudo se integra a um projeto mais amplo que contou com apoio da FAPESP e objetivava desvendar como se configuraram histórica e socialmente os processos de inserção, assimilação e de afirmação da identidade étnica dos grupos de imigrantes estrangeiros predominantes em território paulista entre 1880-1950. Carta de amizade x Noticiário Epistolar: uma reflexão sobre o emprego da tipologia documental em arquivos pessoais Cecilia de Araujo Capetine Fiore
UFF - Universidade Federal Fluminense
Como bolsista de iniciação científica no projeto “Tipologia Documental da Família Barbosa de Oliveira”, uma das minhas funções é traduzir documentos em francês para o português, para que os mesmos possam ser batizados corretamente com suas respectivas espécies e tipos documentais. Uma das cartas que traduzi é de 21 de fevereiro de 1888, tem a procedência Rueil na França e foi endereçada ao bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Sem à tradução da mesma, existia a dúvida se a mesma era uma carta de amizade ou um noticiário epistolar. Posto isto, após a tradução percebemos que ao início da carta nos remete a uma carta de amizade, porém com a tradução completa percebemos que se tratava de um noticiário epistolar. O batismo sobre a carta de noticiário epistolar, tem como justificativa a função que originou o documento, ou seja, narrar diferente fatos ocorridos. Ao observamos o documento desse período percebemos que é a troca de fatos ocorridos em famílias abastadas. Dessa maneira, temos como objetivos: examinar o contexto histórico da escrita desse noticiário epistolar; relatar a experiência do batismo da espécie e tipo documental; e identificar à memória em arquivos pessoais.
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Chanacomchana: um estudo sobre a resistência lésbica-feminista na ditadura militar no Brasil Leandro de Almeida Costa
(UEMASUL - Universidade da Região Tocantina do Maranhão)
A presente comunicação objetiva analisar o surgimento, no final da década de 1970, de um novo movimento de oposição ao regime militar, organizado pela frente LGBTs e pelo grupo de ação lésbica-feminista-GALF, entre outros. Esses grupos disseminavam através de mídias alternativas ações pautadas na igualdade de gênero e na volta da participação democrática popular. Entre os veículos utilizados vamos analisar em específico o jornal ‘Lampião da Esquina’ que deu origem ao boletim ‘Chanacomchana’, importantes ferramentas de visibilidade e luta política do segmento. Temas como o papel da mulher na sociedade, os padrões de masculino e feminino, os debates sobre a categorização da feminilidade, além das denúncias sobre a repressão contra as comunidades LGBTs eram destaques em suas publicações. O acesso a documentos derivados dos jornais e boletins da época, nos permitiram analisar as dinâmicas de resistências de grupos marginalizados, em um dos períodos mais opressores da república brasileira. Concepções da modernidade impressas nos livros de leitura: projetos socioculturais e a educação primária em Campinas (1900-1910) Júlia Dumard de Siqueira
(FE-UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Este projeto de pesquisa analisou livros de leitura destinados à educação primária, adotados em escolas de Campinas na primeira década do século XX, com o objetivo de refletir sobre as relações estabelecidas entre os conhecimentos escolares e os projetos socioculturais vigentes. Como em diversas partes do mundo, a aceleração do crescimento dessa urbe no início do regime republicano foi um processo histórico associado ao avanço das concepções da modernidade capitalista (BENJAMIN, 2009). Objeto da cultura escolar, os livros didáticos exerceram papel significativo tanto na consolidação dos conteúdos programáticos quanto no desenvolvimento de determinadas práticas de ensino e aprendizagem. Ao considerarmos a complexidade dos processos educativos, procuramos dialogar com referências metodológicas da história da educação e da história cultural com o IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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intuito de potencializar as análises acerca das articulações entre os projetos curriculares e a materialidade das fontes, bem como das evidências de conflitos, tensões e resistências culturais dos grupos sociais em ação no período focalizado. Contribuições do acervo do Grupo de Pesquisa “História da educação e do ensino de língua e literatura no Brasil” para a produção científica sobre a temática: um instrumento de pesquisa Amanda Cristina de Carvalho Alves da Cruz
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho),
Guilherme Herreira Alves
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
O acervo documental e bibliográfico do Grupo de Pesquisa História da Educação e do Ensino de Língua e Literatura no Brasil, criado em 1994 e sediado na UNESP-Marília, contém mais de 4000 itens impressos, manuscritos e iconográficos, datados predominantemente dos séculos XIX e XX. Esse acervo tem propiciado desenvolvimento de pesquisas históricas referentes a alfabetização, ensino de língua portuguesa e literatura, literatura infantil, formação de professores, memória e história da educação. A fim de compreender suas contribuições para a produção científica do grupo, vem se elaborando um instrumento de pesquisa por meio de procedimentos de localização, recuperação, reunião e ordenação de referências de trabalhos acadêmicos que têm como objeto de estudo o acervo (história, organização etc.) ou itens documentais de suas seções (livros didáticos, de literatura infantil, cadernos escolares, documentos oficiais, revistas pedagógicas etc.). Análise preliminar das 91 referências reunidas até o momento, conforme a Norma Brasileira de Referências–6023 (ABNT, 2018), confirma a importância desse acervo e sua preservação para pesquisa histórica na temática e para subsidiar pesquisas correlatas. Das fugas a Marginalidade: Uma análise sobre os descendentes de escravos a partir de 1888 Alice Junqueira Mota
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
As complexidades e diversas questões no processo de abolição da escravidão não finalizam com o documento oficial no 13 de Maio de 1888.
178 IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
Ainda antes da abolição, em 28 de Setembro de 1871 é promulgada a Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre Livre que concedia aos filhos de mulheres escravizada, a partir daquela data, a alforria junto ao nascimento. No entanto, isso não significou a liberdade do inocente de imediato. Era afirmado que as mãe escravas não possuíam condições de cuidar dessas crianças, e necessário que fossem entregues a homens de bem que se comprometessem a educa-las. Surge a figura dos “homens idôneos”, basicamente doutores ou outros status respeitáveis, que passaram a ser tutores dessas crianças. São os processos de tutelas. A questão é que estes tais tutores não cumpriam o dever estipulado em cuidar e educar esses jovens, o que se encontra é uma tentativa de prolongamento da escravidão no serviço das crianças a estes, no que resultou em muitas fugas e em consequência, na marginalização do jovem negro. Dialogando com o arquivo do professor Rubim Santos Leão de Aquino Fernanda Anversi Uchoa
(UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro),
Mariana dos Santos Vieira
(UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro),
Mariana Oliveira Correia Pinto
(UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
O pôster se articula ao Proedes - UFRJ, e tem como objetivo conhecer as trajetórias de professore (a)s que atuaram na educação básica e, nessa condição, se empenharam em consolidar a profissão e difundir valores caros à liberdade de pensamento e ao conhecimento crítico. As reflexões que desenvolvemos foram proporcionadas pela exploração dos documentos que constam do acervo do professor Rubim Santos Leão de Aquino (1929-2013). Apresentaremos os seus dados biográficos e exploraremos os documentos da parte pedagógica de seu arquivo. Ao final, discorreremos sobre o seu acervo bibliográfico, destacando os livros de sua autoria. Com base nos jornais guardados em seu acervo, será possível conhecer o contexto no qual ele atuou. Do ponto de vista teórico, o grupo se apoia no conceito de intelectuais mediadores (J. F. Sirinelli, 2003), assim como na noção de estrutura de sentimento romântico revolucionária (Marcelo Ridenti, 2000). Entre os resultados previstos, está a organização de um catálogo com as fontes de seu acervo documental para ser disponibilizado ao público interessado. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Digitalização e Difusão do Conjunto Adolpho Gordo do Centro de Memória-Unicamp Ligia Cruz Ruiz
(CMU/UNICAMP),
Marileide Rayane De Macedo Da Silva (CMU/UNICAMP),
Tainá Monteiro de Andrade e Silva (CMU/UNICAMP)
Gabrielle Caroline dos Santos Garcia (CMU/UNICAMP)
Busca-se apresentar as ações de digitalização e difusão do conjunto documental do político republicano Adolpho Affonso da Silva Gordo, sob a guarda do CMU. Gordo destaca-se no contexto político da transição do Império para a República no Brasil, tendo atuado em projetos como o de isenção de impostos a lavoura, da instituição do divórcio e a favor da luta pela concessão do sufrágio feminino. Trabalhou pela aprovação das leis de Expulsão de Estrangeiros, de Acidentes no Trabalho e de Imprensa, conhecidas como Leis Adolpho Gordo. Levando em conta o potencial de pesquisa do conjunto e a importância de tais fontes primárias para a revisão da história nacional, assim como a necessidade de sua salvaguarda e do pleno acesso a informação, as ações de digitalização da documentação pautaram-se visando sua difusão. Para tanto, foi constituído um ambiente de preservação e acesso a partir de softwares livres e gratuitos, com o Archivematica como Repositório Arquivístico Digital Confiável, concatenado com o AtoM (Access to Memory), como Plataforma de Descrição, Difusão e Acesso. Assim, o projeto busca servir de referência ao desenvolvimento de um programa de difusão do acervo do CMU na internet. Educação agrícola no Brasil entre 1945 e 1950: compreendendo o contexto educacional no Aprendizado Agrícola Visconde de Mauá – Inconfidentes/MG Milena Gemelgo de Morais
(Instituto Federal do Sul de Minas Inconfidentes)
A partir de pesquisas nos arquivos escolares da instituição é possível analisar os processos educativos e quais seus impactos de tais fatos no desenvol-
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vimento de Escolas Agrícolas, tais como Instituto Federal, especificamente o Campus Inconfidentes. Desta forma, o objeto de análise deste são os documentos históricos redigidos por essa instituição ao longo dos seus 100 anos, análise que deverá ser realizada mediante a recuperação e preservação do acervo arquivística da entidade. Diante do exposto, o presente trabalho desenvolveu suas análises entre os anos de 1946 a 1950, primeiros anos pós Segunda Guerra Mundial, a fim de observar se houve impacto em termos de educação rural das ações parceiras estabelecidas no findar do referido conflito. Desta forma, tendo em vista o contexto da educação profissional agrícola em geral, o presente projeto busca resgatar a história da educação no Campus Inconfidentes, visto que a instituição foi alvo de diversas reformas político-educacionais, tais como a Lei Orgânica de Ensino Agrícola, que impactaram diretamente em seu cotidiano educacional. Educação e Quilombo: O Gbeiru nas escolas do Beiru/Tancredo Neves-SALVADOR/BA Jennifer Kessie Ramos Figueiredo
(UNEB - Universidade do Estado da Bahia)
O artigo visa discutir a diáspora, contexto existente na América Portuguesa durante muito tempo, para entender as reminiscências da escravização do século XIX, em Salvador. Neste sentido,a imagem do Gbeiru, fundador do quilombo na região do Cabula representa a busca pela liberdade e o fim de um antigo sistema, para compreender como as heranças negras se integram dentro das comunidades escolares, principalmente, no antigo Quilombo.Assim, a partir da DBR – Design-Based Research, há o interesse em analisar como os discentes das escolas públicas do Beiru, enxergam seu passado de resistência de um povo que sofreu com as amarras do sistema escravocrata. Tal metodologia visa inserir o estudante como ativo na construção e coleta dos dados dos estudos estabelecidos. Além disso, a pesquisa se associa as dinâmicas da lei 10.639/2003 pelo bairro contar com a presença de alto contingente de negros. Com base nos estudos feitos foi percebido que os estudantes desconhecem a História Local e sua importância das resistências negras, os moradores mais antigos trazem em suas falas as estórias e Histórias do negro da região de Oió, responsável por um espaço para os negros se refugiarem da opressão. Elis Regina: O papel do feminino na resistência à Ditadura Militar Brasileira (1968-1980) IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Maria Helena Oliveira Ferreira
(CEUNSP - Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio)
Por meio do prisma de gênero, música e política, o artigo propõe a investigação da personalidade e identidade da intérprete brasileira Elis Regina (1945-1982), levando em consideração seus aspectos de ambiguidade e subversão para a compreensão de sua relação com os movimentos de resistência à Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Ressalta-se nas características de suas obras, a presença do regionalismo e a valorização da mulher regional em sua trajetória de resistência, presentes em álbuns como “Saudade do Brasil” (1980), no qual apresenta ao público um país que merecia ser amado não por imposição militar, mas pela sua valorização cultural. Tais questões buscam evocar na figura e na obra de Elis Regina sua complexidade e seu viés multifacetado como pilar para entendimento do Brasil de sua época. Enciclopédia dos Adventistas do Sétimo Dia: procedimentos historiográficos para a construção de verbetes Daniel Fernandes Teodoro
(UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)
Em 2020 será lançada uma nova versão da Encyclopedia of Seventh-day Adventist (ESDA) com verbetes biográficos sobre a história dos pioneiros adventistas de todo o mundo. O Centro de Pesquisas Ellen G. White Brasil ficou encarregado de investigar e redigir sobre os pioneiros brasileiros. Para esta construção enciclopédica, tem sido feito o uso de cartas, documentos pessoais dos biografados e demais fontes primárias presentes no acervo patrimonial do Centro Nacional da Memória Adventista. Com isso, o presente trabalho busca discutir sobre a institucionalização dos documentos adventistas como fontes de pesquisa e o trabalho do historiador na interpretação documental. Sobre a ótica historiográfica de que o caráter histórico do passado humano não reside nas fontes sozinhas, a discussão enfatiza os modelos de interpretação, dos quais provém informações que também podem ser classificadas como fontes. Assim, o presente trabalho propõe dar voz ao historiador, imbuído do método historiográfico, ao analisar fontes patrimoniais para escrita da ESDA. Experiências e memórias: Escola Municipal “João Lúcio dos Santos” - Congonhal (MG)
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Matheus Jerônimo Henrique Lopes
(UNIVÁS - Universidade do Vale do Sapucaí)
O estudo busca investigar as diversas memórias de diferentes sujeitos da Escola Municipal João Lúcio dos Santos na cidade de Congonhal – MG. A escola, em um olhar amplo é vista como um espaço de conhecimentos, práticas e sujeitos que formam uma memória da instituição. É a partir dessas diversas experiências vivenciadas que a pesquisa se forma por meio das lembranças e sentidos, nas quais cada pessoa formou e forma particularmente sua memória acerca da escola. Como técnica de pesquisa, o trabalho analisa as narrativas orais de sujeitos que trabalharam, estudaram ou ainda atuam nessa instituição. Serão considerados também fotografias, que ajudarão na compreensão da história da instituição, festas e práticas. A escola oportuniza o tempo da aprendizagem através de práticas utilizadas na infância e juventude, sendo essas práticas como normas e regimentos; transmissão de valores; indumentária específica; o percurso traçado até à escola; brincadeiras e desafios; experiências com o grupo; festejos, reuniões e encontros; material didático utilizado e outros acontecimentos que ganham sentido na relação social com o cotidiano. Isso mostra a escola enquanto lugar de múltiplas memórias. Fotobiografias Urbanas: as Memórias Como Patrimônio no Poço da Draga em Fortaleza-CE Francisco Felipe Pinto Braga
(UFC - Universidade Federal do Ceará)
O objetivo desse trabalho é a partir de uma ação de extensão da Universidade Federal do Ceará, refletir sobre como podemos através das fotografias e relatos orais desvelar as biografias individuais, mas também as biografias presentes na constituição da cidade de Fortaleza/CE. Tomamos o território do “Poço da Draga” a partir das fotografias que as pessoas guardam em suas casas e escutamos suas narrativas. Partimos da ideia de que esse território se dá muito mais por mapas falados do que apenas pela cartografia geográfica. Intuímos que a cada visita, percorremos pelo tempo das imagens, os fios da memória que gestam outros olhares sobre a história dessa parte da cidade. Como podemos tomar essas paisagens narrativas como patrimônios da cidade? Como podemos a partir dos movimentos da memória refleti-los como “espaços da recordação”, que nos permitem repensar a própria leiIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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tura social, histórica e antropológica de Fortaleza? As imagens fotográficas tem nos levado às pessoas, como Dona Zenir que nos apresenta o seu território de vivência nos possibilitando pensar as diferentes experiências urbanas e como nelas podemos colher rastros da história da cidade que até, então, não conhecíamos. História da Educação do Negro no Patronato Agrícola Visconde de Mauá Yuri Jefferson Mattos
(IF SUL DE MINAS - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais)
O presente trabalho tem como objetivo compreender a História da Educação do negro na Primeira República e sua efetivação no Patronato Agrícola Visconde de Mauá. O referido deu origem ao campus Inconfidentes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais. No período republicano, com os negros em liberdade, observou-se no plano educativo propostas de educação para a formação de mão de obra. O decreto 7.566 de 23 de setembro de 1909, cria nas capitais as Escolas de Aprendizes e Artífices e nove anos mais tarde a lei 12.893 de 28 de fevereiro de 1918 cria Patronatos Agrícolas em núcleos coloniais e fazendas modelos para educação de menores desvalidos, pelo país. Para a primeira etapa da pesquisa, propôs-se um levantamento bibliográfico que corroborasse para a compreensão da educação profissional entre o final do século XIX e início do século XX. Após a primeira etapa, foi feito um levantamento fotográfico nos arquivos do referido patronato hoje atual IFSULDEMINAS – Campus Inconfidentes, com o intuito de analisar evidências de estudantes negros. História e Memória do Aprendizado Agrícola Visconde de Mauá sobre as décadas 1930 e 1940 Isabela Luíza Rodrigues Silva (IFSULDEMINAS)
O presente trabalho tem como foco o estudo de uma instituição educativa com 101 anos de existência, o campus de Inconfidentes do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais. Sua criação data de 28 de fevereiro de 1918, pelo Decreto nº 12.893, que criava os Patro-
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natos Agrícolas, escolas para formação de mão de obra qualificada para o trabalho no campo. O objetivo deste trabalho é compreender e analisar o contexto histórico da época, além dos programas educacionais que deram origem às iniciativas de trazer os menores desvalidos para aprender os ofícios rurais. Foi efetuado levantamento e estudo de documentos que compõem o acervo do arquivo escolar do IFSULDEMINAS Campus de Inconfidentes e referencial bibliográfico a fim de compreender metodologias empregadas e políticas educacionais que estavam em vigor no período estudado. Observou-se algumas mudanças educativas no país que pouco impacto tiveram nesse modelo de educação para o trabalho. Histórias e memórias impressas em livros de leitura: educação e modernidade na cidade de Campinas Héri Anaí Wavrita Oliveira
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Esta pesquisa analisa visões de história e memórias impressas em livros de leitura destinados à educação primária no período inicial do regime republicano. Considerando a complexidade das fontes e dos processos educativos, selecionamos para este trabalho o 3º e o 4º livro da Série Graduada de leitura Puiggari-Barreto, destacando-se a autoria de um professor campineiro que atuou no ensino público em um contexto marcado pela aceleração da urbanização e avanço das concepções da modernidade no país. Imbricadas nos projetos socioculturais prevalecentes, essas fontes podem ter contribuído para a reconstrução de narrativas relativas ao passado, ressignificando memórias coletivas e fatos emblemáticos na perspectiva dos grupos responsáveis por sua produção e circulação. O referencial metodológico dialoga com a História Cultural, potencializando reflexões acerca das práticas de leitura e das forças sociais em ação. Identidade e memória do centro de São José dos Campos Daniele Siqueira Estrela
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
O presente estudo tem como objetivo entender a atual situação da região central da cidade de São José dos Campos, uma cidade voltada para o desenvolvimento tecnológico, porém, com sua história, expressa através da arquitetura, apagada e negligenciada. É no centro onde se encontram IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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os prédios mais antigos do município, a maioria em estado deteriorado, trazendo o questionamento do por quê essas construções não serem preservadas. As metodologias utilizadas envolvem análise e comparação de fotos antigas e atuais, afim de datar as construções e definir o movimento artístico\arquitetônico no contexto em que se encontram; visitas em campo; e busca em documentos antigos da cidade, afim de definir quais funções possuíam aquelas construções em seu tempo. Identidade social e percepção do patrimônio a partir de um edifício escolar: contribuições do Programa de Residência Pedagógica Felipe Lopes Pereira
(UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo),
Joubert Johnson Nogueira Ferreira
(UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo),
Lucas Almeida dos Santos
(UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo)
Após a proclamação da República, núcleos coloniais se desenvolveram ao longo da Estrada de Ferro Funilense. Na Estação Guaiaquica, um grupo belga estabeleceu uma escola rural masculina para filhos de colonos, que mais tarde também passou a receber meninas. O governo Jânio Quadros transformou a escola do bairro de Engenheiro Coelho, pertencente à cidade de Artur Nogueira, na Escola Estadual Antônio Alves Cavalheiro. Com a emancipação de Engenheiro Coelho, em 1991, a instituição de ensino, tornou-se, juntamente com o prédio da estação ferroviária e a capela, em uma das três referências patrimoniais do novo município. Em 2018, o Programa de Residência Pedagógica, do Governo Federal, passou a ser desenvolvido na escola pelos alunos da Licenciatura em História do UNASP, nas turmas de nível Fundamental II. A partir de então, os acadêmicos, com o apoio da comunidade escolar, têm realizado pesquisas sobre a localidade no acervo virtual da Hemeroteca da Biblioteca Nacional. Essa prática pedagógica busca ressignificar o ensino de História, direcionando os conteúdos curriculares para a percepção e valorização do patrimônio escolar, incentivando a formação da identidade social. Impactos Sócio-Históricos acarretados com a construção da barragem de Paraibuna/Paraitinga
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Débora Antunes Pereira
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
No ano de 1964 iniciou a construção da barragem Paraibuna/Paraitinga, o objetivo prioritário era de diminuir e acabar com as enchentes causadas pela cheia do rio Paraibuna. Para a construção de tal barragem, foi necessário a submersão das terras de três cidades: Paraibuna, Natividade da Serra e Redenção da Serra. Ela provocou uma mudança de vida drástica para aqueles que viviam onde futuramente seria a represa, forçados a sair de seus lares, onde a maioria das famílias tinha seu sustento vindo da agricultura e da criação de gado, além da pesca familiar. Todos esses meios de produção e sustento tiveram que ser alterados, sem as suas terras os moradores não tinham onde plantar ou colocar seu gado, e com o represamento do rio, não há como ocorrer a piracema (que é o fenômeno onde os peixes sobem o rio para a desova), assim não havendo peixes para se pescar. Mesmo tendo passado cerca de 40 anos de construção, os antigos moradores dessas localidades, ainda se sentem pertencentes a elas, mesmo tendo um pensamento que a construção da represa traria avanços e benefícios, ainda há uma saudade latente e uma vontade de voltar para aquele antigo lugar. Inventário - Ressalvo à memória gráfica do ateliê de gravura da EBA-UFMG Daniel Pizani Marçal
(UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais)
Este projeto tem por objetos de estudo dois assuntos complementares: o primeiro, inventário de obras de gravura pertencentes a escola de Belas Artes da UFMG; por segundo, a compilação de manuais não formais que circulavam nos ateliês de gravura. Ambas as pesquisas convergem para a constituição de base para investigações sobre o fazer e o pensar a arte gráfica neste locus específico: o ateliê de gravura da UFMG. Por intermédio das imagens observa-se os caminhos das poéticas. Pelos manuais, averiguou-se as condutas do fazer. Realizou-se uma pesquisa detalhada de diversos manuais técnicos utilizados por artistas para o ensino nos ateliês; estes manuais contêm técnicas peculiares com que cada artista adaptava os materiais para nossa realidade. Como forma de assegurar informações valiosas e relevantes para o meio acadêmico e de pesquisa, este trabalho surge da ausência de informações mais profundas referentes a artistas e procedimentos que de uma forma ou de outra transitaram pela escola de Belas Artes, deixando obras e condutas que hoje fazem parte do patrimônio. IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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Itinerários para o Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico Regional Giovana Cirone da Silva
(UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba)
O projeto da pesquisa de iniciação científica objetiva elaborar itinerários de patrimônios arquitetônicos, urbanísticos e paisagísticos situados na região da Aglomeração Urbana de Piracicaba e nas cidades de Santa Bárbara d’Oeste, Americana e Nova Odessa. O trabalho foi desenvolvido com leituras sobre cidade, urbanismo e urbanização, leituras sobre os patrimônios regionais e estudos sobre a base de dados elaborada pela pesquisa de iniciação antecedente a esta. A leitura bibliografia também inclui livros sobre preservação patrimonial. A pesquisa encontra-se em andamento e obteve como resultados parciais tabelas contendo informações sobre os patrimônios regionais elencados e mapa para estudo de locomoção entre as cidades como as rodovias. Através das tabelas desenvolvidas, foi possível analisar as frequências de tipologias das edificações patrimoniais na região, a concentração dos patrimônios nos municípios e a organização das cidades em relação a preservação de seus bens dispondo de órgãos ou departamentos com maior dedicação a conservação destes. A finalização da pesquisa ocorrerá com a escolha de locais para visita a fim de elaborar os itinerários propostos. Lembrar é preciso: Autoetnografia e Ego-história nos memoriais acadêmicos da Universidade de São Paulo (2000 - 2015) Rafaela Duarte Vieira
(UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho)
Os memoriais acadêmicos são documentos de cunho burocrático, solicitados pelas universidades brasileiras para entrada na instituição ou progressão de carreira. O principal objetivo desse documento ao ser elaborado é um relato da trajetória intelectual e acadêmica do docente, embora eventualmente a dimensão vivencial também possa se manifestar. Os documentos analisados, de mulheres dos departamentos de História e Antropologia da USP, entre 2000 e 2015, não apresentam um formato rígido para o seu desenvolvimento, possuindo características físicas e textuais heterogêneas. Acreditamos que tais relatos, de natureza autobiográfica, no caso de antropólogos podem ser identificados como uma forma de autoetnografia e no caso dos historiadores como ego-história (SILVA, 2009) , e que permitem tanto a apresentação de
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si como do outro, ao dimensionar, de formas distintas, em tais narrativa a figura pública e a privada, o individual e o coletivo. Memória e Esquecimento em o Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus Lavínia Dias Fadul Cunha
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
Este artigo pretende estudar os impasses sobre memória e esquecimento na obra “Quarto de Despejo” da autora Carolina Maria de Jesus, bem como os impactos de suas reflexões acerca da favela do Canindé em São Paulo datado entre 1955 e 1960, assim como sua condição de vida naquele espaço geográfico e em seu meio social. Propõe-se analisar o processo de cristalização da experiência que passa pelos conteúdos da memória em um ambiente influenciado pelo processo de favelização, onde houve um processo expansionista de urbanização e desajustamento estrutural do negro, “a sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio destino, deitando sobre seus ombros a responsabilidade de reeducar-se e de transformar-se para corresponder aos novos padrões e ideais de homem, criados pelo advento do trabalho livre, do regime republicano e capitalista.” (Fernandes, 1965, p.35.). Como resultado dessas indagações, procura-se mostrar, como a experiência criada no presente influi a partir do passado, constituindo a memória ao mesmo tempo que cai no esquecimento devido a marginalização a que foram submetidas. Memória e Identidade: o ensino de História carregada de influências da elite, reforça ideia de que apenas a elite faz história? Alvaro Elias De Souza Nogueira (UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
No ensino de história é corriqueiro que se tenha foco apenas em personagens, que na grande maioria, pertenciam, em seu contexto histórico, a alguma elite, seja ela regional ou nacional. Entretanto estes protagonistas não se firmavam apenas com suas soberanias e imponências, sendo, em boa parte, auxiliados e até mesmo mantidos por pessoas ou povos que não possuíam tanto poderio, tanto no aspecto financeiro como na imagem influente. Um dos pontos principais para que os alunos tenham maior atração e prazer com a história em si, é a criação de identidade com aquilo que lhe é ensinado. E se nos atentarmos ao fato de que as instituições de ensino básico, fundamenIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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tal e médio, são compostas por uma grande massa de aluno que não possuem alto poder aquisitivo ou influência, vem átona um questionamento: Com quem o educando de identifica? Sendo assim o presente estudo visa demonstrar a importância do professor, que também é um material didático humano, trazer em suas abordagens de aulas, referências e metodologias que demonstrem a construção da história por todas as classes, etnias e gêneros, ou seja, o educador incitar em seus alunos de que todos fazemos história. Memória, História e Patrimônio do Bairro de Santana: São José dos Campos Iago de Oliveira Almeida
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba),
Kennedy Luiz Ribeiro Machado
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
Essa pesquisa objetiva demonstra que o bairro mais antigo localizado no município de São José dos Campos denominado de “Santana”, teve a sua estruturação determinada pela Fase Sanatorial, considerando que a cidade foi uma Estância Hidromineral e Climática assinalada pelo Decreto 7007 de 12 de março de 1935. O Bairro de Santana fundado em 1869, teve seu desenvolvimento comercial com a chegada da ferrovia em meados de 1876, e sua localização privilegiada contribuiu para o seu povoamento. Da condição de uma pequena vila, se tornou o primeiro polo industrial da cidade, em decorrência do zoneamento do município no ano de 1932, que resultou na divisão da cidade nas áreas residencial, comercial e sanatorial, acrescentando, em 1933, a zona industrial. Na condição de zona industrial o Bairro de Santana passou a abrigar as primeiras indústrias da cidade, sendo elas, Tecelagem Parahyba (1925), que colaborou com a construção de uma vila operária, escola da fábrica para os filhos dos operários, e cooperativa de alimentos; Cerâmica Weiss (1942), com produção de louças comercializadas em diversas cidades do Brasil; e a Rhodosá de Rayon (1946) fabricante de fios artificiais. Memórias de Campos do Jordão: Estância Climática (1926-1950) Natanael Francis Silva
(UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba)
Essa pesquisa apresenta como objetivo demonstrar a estruturação da localidade de Campos do Jordão como centro de tratamento e cura da tuberculose, considerando que era procurada pelos tuberculosos em fins do século XIX e
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início do século XX. A Lei Estadual número 2.140 assinada em 1926, determinou a elaboração de um plano para a implantação de uma Estância Climatérica voltada ao atendimento dessas pessoas. Sendo assim, o Poder Executivo deveria se responsabilizar pelos serviços de infraestrutura, que também envolveu a criação do Posto de Higiene, Dispensário, Pensões e Sanatórios. Foi inaugurado no ano de 1926, o Posto de Higiene de Campos do Jordão que publicava Boletins alertando a população sobre a tuberculose. O Dispensário era considerado como local de cadastramento e atendimento às pessoas sem recursos financeiros com prestação de serviços de Raios X, pneumotórax, vacinas, medicamentos , entre outros. No período de 1926 a 1941, existiam em Campos do Jordão 31 Pensões Sanatoriais que nesse período atenderam 3563 doentes. O primeiro sanatório de Campos do Jordão foi instalado no ano de 1929, sendo que, no ano de 1948 a cidade de Campos do Jordão já dispunha de 15 sanatórios. Memórias de mulheres brasileiras exiladas da geração de 1964: uma discussão sobre questões femininas Bárbara Fernanda Estevanato
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
A partir de estudos sobre a Ditadura, Rollemberg aponta que o exílio político no Brasil é dividido em duas gerações (1964-1968) e a partir do AI-5/Ato Institucional nº 5 (1968). Desta forma, este trabalho procurou analisar o exílio pela narrativa recorrendo à uma série de depoimentos de mulheres da primeira geração que aparecem no livro Memórias das Mulheres do Exílio para compreender três momentos essenciais do exílio: Desesperança e Desenraizamento, Transculturação e Ressignificação do exílio (Vásquez;Araújo, 1988). Por meio disso, pode-se chegar a compreender que o exílio diante da necessidade de adaptação busca o tempo todo referências nas suas origens e que constroem uma imagem identitária, principalmente na questão feminina, tornando essencial para fortalecer o direito de a recuperação da memória e compressão da História. O acervo documental do curso de Aluno Aprendiz da Escola Industrial Silva Freire Eleutério Conrado de Oliveira Neto
(CEUCLAR - Centro Universitário Claretiano)
O projeto tem como proposta a preservação do passado ferroviário, tendo em vista a crescente transformação da memória ferroviária em objeto de política IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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pública, com a edição da Lei nº 11.483/2007. Este projeto pretende ser mais um movimento de valorização do passado ferroviário, resgatando a história da educação profissional da cidade do Rio de Janeiro, através da manutenção do acervo documental da antiga Escola Industrial Silva Freire, que por mais de um século formou profissionais para a indústria, através do Centro de formação profissional para menores aprendizes. Tal acervo é composto dos dossiês de milhares de alunos que estudaram e trabalharam nas oficinas de Engenho de Dentro, Deodoro (Rio de Janeiro/RJ), dentre outras, e permite reconstituir a estrutura das diversas edições do curso, acompanhando as mudanças político educacionais. Objetivos: a) Criar um ambiente higiênico e propício à pesquisa. b) Acondicionar adequadamente os documentos em pastas, estantes e arquivos. c) Promover a higienização dos documentos e dossiês dos alunos. Resultado esperado: criação de um ambiente higiênico de preservação documental, visando receber pesquisadores de diversas instituições. O ensino no sudoeste baiano: uma história de avanços e retrocessos Flávio Evans Soares Brito Júnior
(UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)
A educação no sudoeste baiano esteve vinculada em seu início aos filhos das elites agrária e política, contudo, com o advento da República, percebe-se na região, extremamente marcada pelo coronelismo, o desenvolvimento do ensino para além dos limites do latifúndio, visando atender um maior contingente populacional. Contudo tal processo foi paulatino e marcado por uma relação íntima com a política. Por isso se trata de uma história de avanços, mas também de retrocessos. O presente trabalho trata dos primórdios da educação no sudoeste baiano, especialmente na região de Vitória da Conquista. O objetivo é mostrar como se deu o desenvolvimento do processo de ensino, bem como uma retrospectiva histórica. Como resultado, conclui-se que apesar de a educação ser inicialmente um direito dos homens de famílias abastadas, os quais contavam com uma estrutura patriarcal que lhes assegurava o ensino como um privilégio, em meados do século XX, mesmo com o índice elevado de analfabetismo e a falta de instituições e profissionais qualificados em número de modo a atender a população, já se percebe o início de uma ampliação e popularização no ensino. O impacto do período da Ditadura Militar brasileira no então Ginásio Agrícola “Visconde de Mauá”
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Nestor Rodrigues de Almeida Neto (IF Inconfidentes)
O presente trabalho tem como foco uma instituição educativa com 101 anos de existência, o Campus Inconfidentes do IFSULDEMINAS. Sua origem se deu em 28 de fevereiro de 1918 pelo decreto 12.893, que criava os Patronatos Agrícolas. Ao longo de seu centenário passou por muitas transformações acompanhando a evolução política e social do país. O objetivo deste trabalho é compreender contexto histórico da época trazendo às consequências no então Ginásio Agrícola “Visconde de Mauá” da mudança política ocorrida a parti de 1964. O impacto da ditadura na educação brasileira refletiu de forma significativa no então Ginásio Agrícola “Visconde de Mauá” gerando crise por falta de recurso e por consequência diminuindo o número de alunos atendidos. Para o desenvolvimento dessa pesquisa utilizamos a análise dos documentos obtidos no arquivo do Campus Inconfidentes, além da pesquisa bibliográfica com o propósito de contextualizar o tema a história educativa das instituições e a sua relação com a sociedade em que estava inserido. O Processamento Técnico do conjunto documental de Adolpho Affonso da Silva Gordo do Centro de Memória-Unicamp (CMU) Marina Cruz de Albuquerque (IFCH/CMU/UNICAMP),
Stefanny Lopes da Silva
(IFCH/CMU/UNICAMP),
Susana Cristina Santos (IEL/CMU/UNICAMP)
Pretende-se abordar o processamento técnico arquivístico do conjunto documental de Adolpho Affonso da Silva Gordo, sob a guarda do CMU. Formado por mais de 4 mil itens dos gêneros textual, iconográfico e bibliográfico, datados entre 1835 e 1970, o conjunto abrange a vida pessoal e profissional do titular, seu envolvimento no movimento republicano e sua trajetória política no período da Primeira República, além de documentos post-mortem. Destaca-se a correspondência, jornais, discursos, publicações oficiais e projetos de lei relativos aos processos eleitorais, às leis e decretos nos quais teve participação direta, além de sua trajetória profissional como advogado. Visando sua difusão em sistema informatizado, os itens foram descritos segundo a Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística (ISAD-G) e ordenados em grupos de modo a refletir as três esferas IX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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da vida de Gordo: pessoal, profissional e política, os quais se desenvolvem em séries, subséries e dossiês de ordem temática, funcional e por tipologias. Assim, busca-se apresentar o processo de organização do conjunto documental, revelando sua raridade, ineditismo e importância para a pesquisa histórica em nível nacional. Pai rico, filho nobre, neto pobre Leonardo Augusto de Oliveira (CEUNSP - Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio)
Sabendo do papel dos inventários como documento histórico capazes de salvaguardar a história e preservar a memória, este trabalho apresenta o estudo de três gerações da família Silveira Leite, de Itu, interior paulista. Pretende-se analisar as informações contidas nos inventários de cada geração, no período que vai de 1837 até 1913, e investigar as mudanças e permanências ao longo das três gerações, o destino dado aos objetos herdados, e entender os valores embutidos neles para se conhecer o legado que cada representante de sua geração deixou e também o seu modo de vida. Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico Regional: Arquivos Digitais Paula Dias Porto (UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba)
A pesquisa teve o objetivo de reunir arquivos digitais alusivos ao patrimônio cultural da região de Piracicaba para a elaborar bases documentais para projetos em áreas de interesse cultural. Este trabalho tem embasamento teórico voltado para o estudo das cidades, urbanismo e urbanização e do patrimônio urbanístico e arquitetônico. Os elementos empíricos coletados referem-se: a plataformas digitais que disponibilizam arquivo sobre patrimônio no Brasil e no mundo; a dados geográficos, de inserção urbana e regional, patrimônio e reconhecimento da área selecionada para estudo – Aglomeração Urbana de Piracicaba e adendo de três cidades, Americana, Santa Bárbara d’Oeste e Nova Odessa – com os quais foram montados mapas e gráficos para análise e verificação dos dados. A partir disso, fo-
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ram selecionadas quatro cidades para aprofundamento da pesquisa nos documentos municipais, onde foi possível perceber a carência de inventários patrimoniais e pessoal habilitado para a elaboração de tal documentação, de forma a concluir que as cidades poderiam se utilizar dos recursos que a UNIMEP pode oferecer no campo da preservação, sendo um polo acadêmico de grande importância para a região estudada. Patrimônio Edificado - O Projeto de Restauro do Sobrado Coronel Esmédio em Porto Feliz/SP Gabriela Buschinelli Strutz (PUC-CAMPINAS - Pontifícia Universidade Católica de Campinas)
Esta pesquisa (em andamento, previsão de término em julho de 2019), faz parte do Plano de Pesquisa desenvolvido pelo orientador (Profa. Dra. Ana Paula Farah), no qual, tem por objetivo, analisar projetos contemporâneos e suas implicações nas tomadas de decisões projetuais, no que se refere ao campo disciplinar do restauro arquitetônico. Portanto, este plano de pesquisa para o desenvolvimento desta iniciação científica, voltase para o entendimento dessas práticas contemporâneas e seu rebatimento no ambiente construído preexistente, no território brasileiro, analisando, especificamente, o concurso realizado, em 2012 – dos quais foram contemplados três projetos de restauro, e um desses projetos está sendo objeto desta iniciação cientifica: o Sobrado Coronel Esmédio localizado na Praça Coronel Esmédio, n. 82 na cidade de Porto Feliz [Processo de Tombamento 07859/69 e Resolução 35 de 11/05/1982] –, pelo Conselho de Defesa do patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico do estado de São Paulo (CONDEPHAAT/SP), incentivado, através do Programa de Ação Cultural (ProAC), premissa transformadora, do ponto de vista de um avanço significativo do campo disciplinar do restauro. Patrimônio ferroviário paulista e métodos de pesquisa: Estudo de tombamento das estações da Companhia Paulista de Estradas de Ferro Flávia Romera Alves (USP - Universidade de São Paulo)
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Dentro da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH) realizei dois estudos de tombamentos, um deles referente a estações ferroviárias da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O trabalho compreende um histórico geral da CPEF e cinco estudos sobre a relação entre ferrovia x cidade, mediada através da estação, e sobre a ocupação e usos que se tem atualmente desses espaços, destacando seu valor para a comunidade. As cidades trabalhadas foram Barretos, Pirassununga, Dois Córregos, Santa Cruz das Palmeiras e Araraquara, que será priorizada no pôster. As pesquisas foram orientadas pelo arquiteto Antônio Zagato e pela historiadora Deborah Neves. Apesar de ter sido realizada dentro da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo com finalidade de tombamento, foi autorizado que eu apresentasse o estudo da CPEF no IX Seminário. A ideia é apresentar não só o resultado final, mas também apontar os meios e ferramentas adotados na experiência que tive dentro do programa de estágio de um órgão público que realiza tombamentos no nível estadual. Ramal Férreo Campineiro: a ferrovia e o café na região de Arraial dos Souzas, Joaquim Egídio e Cabras em Campinas, 18841960 Henrique da Silva Zorzetti
(UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Por meio da determinação do governo português durante o século XVIII, o território paulista passa a se fortalecer na agricultura, propiciando o surgimento de uma próspera cultura canavieira e que, posteriormente, seria substituída pela produção cafeeira. Nas décadas finais do século XIX, a nova dinâmica econômica internacional impôs um processo de modernização intenso da economia brasileira e a implantação de um complexo ferroviário respondeu por essa e todas as outras modificações socioespaciais. A região de Arraial dos Souzas, Joaquim Egídio e Cabras tiveram grande destaque na produção cafeeira e a implantação do Ramal Férreo Campineiro ampliou o transporte da rubiácea. Objetiva-se com este trabalho, uma análise dos impactos sobre as práticas espaciais da região que compreendem os aspectos da ampliação da circulação de bens, mercadorias, pessoas, no controle social e político. Sob a perspectiva da geografia histórica é possível uma empirização espaço-temporal, favorecendo para a compreensão das análises trabalhadas.
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Teatro Clássico Indiano: memória e religião a partir do Natyasastra Raquel Belém de Andrade da Silva (IFFluminense)
Natyasastra é considerado o manual do teatro indiano. Sua origem baseiase na experiência religiosa do indiano Baratha Muni com seu deus Brahma. A partir de suas orientações o Teatro Clássico indiano resistiu através do tempo, e hoje sua estética e performance é estudada por diferentes áreas de conhecimento. Desta maneira, a presente pesquisa visa estudar a sacralização do teatro indiano. Para isto foi realizada revisão bibliográfica a partir da leitura de autores de diferentes áreas como Sociologia, Teatro e Ciências das Religiões. Aponta o Natyasastra como manual de maior influência para que haja um teatro sagrado. Destaca o Hinduísmo como a tradição religiosa orientadora do papel religioso de seus atores. Mostra que o palco é sagrado e que toda encenação é um ritual sagrado repleto de cores, devoção e misticismo, preservado através dos anos a partir da memória de um povo. Tratamento e Restauro do Conjunto Adolpho Gordo. Breve Histórico de Um Percurso Érica Priscila Cardozo de Farias
(CMU/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas),
João Guilherme Souza dos Santos
(CMU/UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
O objetivo da apresentação é divulgar os resultados do trabalho realizado no Laboratório de Conservação e Restauro do Centro de Memória da Unicamp para o tratamento do Conjunto Adolpho Affonso da Silva Gordo. Constituído por cerca de cinco mil itens datados de 1870 a 1962, o conjunto foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. O conjunto de Adolpho Gordo, eminente figura no contexto político da transição do Império para a República no Brasil, é composto de documentos nos gêneros textual, iconográfico e bibliográfico. Visando à preparação de tais itens documentais para a etapa de digitalização, foram adotados critérios de intervenção para garantir os reparos em danos com maior potencial de interferência na legibilidade da informação. Para tanto, o trabalho de conservação foi plaIX Seminário Nacional do Centro de Memória-Unicamp & I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural
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nejado em etapas, organizado de acordo com um levantamento preliminar realizado em todos os documentos. É um breve histórico dessas etapas que a comunicação pretende expor, incentivando o diálogo e a troca de experiências entre os interessados.
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Realização
Apoio SANASA
C A M P I N A S