Adolpho Affonso da Silva Gordo – O homem e seu tempo Catálogo da Exposição Virtual
1876 1889 1929
Maria Alice Rosa Ribeiro
Adolpho Affonso da Silva Gordo – O homem e seu tempo Catálogo da Exposição Virtual
1a edição
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Centro de Memória - Unicamp Campinas - SP 2019
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Reitor: Marcelo Knobel COORDENADORIA DE CENTROS E NÚCLEOS (COCEN) Coordenadora: Ana Carolina de Moura Delfim Maciel
André Luiz Paulilo (Diretor) Edivaldo Gois Junior (Diretor associado) Projeto ProAC-CMU “Digitalização e difusão do conjunto Adolpho Gordo dos Arquivos Históricos do CMU”. Equipe do Projeto: Maria Alice Rosa Ribeiro (UNESP/ CMU-Unicamp) Alessandra Andrade França Barbosa (CMU-Unicamp) Ana Cláudia Cermaria Berto (CMU-Unicamp) Ema Elisabete Rodrigues Camillo (CMU-Unicamp) Jeisel Licursi Meira Lima (CMU-Unicamp) João Paulo Berto (CMU-Unicamp) Marli Aparecida Marcondes (CMU-Unicamp) Sinara Barbanti (CMU-Unicamp)
Produção do Catálogo da Exposição Virtual: Texto, pesquisa e seleção de imagens: Maria Alice Rosa Ribeiro 1a Revisão do texto: Leda Farah Revisão final: Sinara Barbanti Projeto Gráfico e Diagramação: Carlos Lamari
Agradecimentos especiais a: Alessandra Andrade França Barbosa, Maria Aparecida Alvim de Camargo Penteado, Munir Abboud Pompeu de Camargo.
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Estagiárias e Estagiários Caroline Fazio Douglas da Silva Rufino Erica Priscila Cardozo de Farias Gabrielle Caroline dos Santos Garcia João Guilherme S. Santos Ligia Cruz Ruiz Luciana Fernandes Silva Marileide Rayane de Macedo da Silva Marina Cruz de Albuquerque Renato Borges Rosa Stefanny Lopes da Silva Susana Cristina Santos Tainá Monteiro de Andrade e Silva
O Princípio: A família de Adolpho Affonso da Silva Gordo guardou, por mais de 70 anos, documentos: cartas, discursos, folhetos, jornais, anais, fragmentos de fatos, resquícios das atividades, das ações e do pensamento que o envolveram. Em 2003, Alice Beatriz da Silva Gordo Lang, neta de Adolpho Gordo, doou o conjunto documental pertencente à família ao Centro de Memória – Unicamp, CMU. A doação revestiu-se de um caráter especial, pois se trata de um conjunto documental parcialmente ordenado por séries temáticas e estudado na tese de doutoramento da doadora, que versa sobre a questão da representação política na Primeira República (LANG, 1986). Em agosto de 2018, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, por meio do Programa de Ação Cultural – ProAC –, em Edital n.º 19/2018, premiou em primeiro lugar o projeto “Digitalização e difusão do conjunto Adolpho Gordo dos Arquivos Históricos do CMU”. Em setembro de 2018, a proponente do projeto junto à secretaria de cultura, pesquisadora colaboradora do CMU, Maria Alice Rosa Ribeiro, assinou o contrato para o desenvolvimento do
projeto no prazo de dez meses. Assim, desde outubro de 2018, as equipes da Conservação e Restauro, do Processamento técnico e Documentação digital e da Tecnologia da Informação do CMU, auxiliadas por sete estagiários, dedicaram-se à execução do projeto. Seu encerramento foi marcado por ações de difusão: - O lançamento do vídeo Adolpho da Silva Gordo: memórias de um senador da República, realizado em parceria com a RTV – Unicamp e o CMU, composto por cinco vídeos, nos quais historiadores discorrem sobre temas que afloram do conjunto de documentos e um clipe que conta o processo de desenvolvimento do projeto; Disponível no Canal Net Campinas, Canal Vivo Fibra, Youtube da RTV-Unicamp, Portal da Unicamp e Facebook da Unicamp.
- A Exposição Virtual “Adolpho Affonso da Silva Gordo: o homem e seu tempo (1858-1929)”, com Cura-
doria de Maria Alice Rosa Ribeiro (UNESP/CMU-UNICAMP) e Maria Aparecida Alvim de Camargo Penteado (Historiadora/ SEESP) no Google Arts & Culture; Disponível no site do CMU, no endereço: https:// artsandculture.google.com/partner/centro-dememoria-unicamp
- O lançamento da plataforma de difusão e acesso AtoM, que disponibiliza o conjunto de quase 4.512 documentos; Disponível no endereço: https://atom.cmu.unicamp.br
- O I Colóquio Gestão do Patrimônio Cultural, realizado em 1.º de agosto de 2019, no CMU, no qual o projeto e o seu desenvolvimento foram apresentados contemplando suas etapas até o lançamento da plataforma AtoM. Por fim, o catálogo completa a difusão, permitindo ao público conhecer os temas que cruzam o conjunto documental.
Abreviaturas AEL – Arquivo Edgard Leuenroth. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Universidade Estadual de Campinas. Unicamp AG – Adolpho Affonso da Silva Gordo GSJ– Geraldo Sesso Júnior HI – História de Indústria JFT – João Falchi Trinca
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SACOP – Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo SBIR – Sociedade Beneficente Isabel Redentora
O Catálogo
O Tempo e o Historiador
O tempo transcorrido 1858 - 1929
Tudo que se guarda envolve um processo de seleção no qual se deixam visíveis as marcas mais nobres, as circunstâncias mais favoráveis e os momentos mais significativos, para serem evocados nas lembranças. Outras marcas restam silenciadas, apagadas e descartadas. A história que emerge do conjunto dos documentos guardados não é a única possível. É História fragmentada em documentos guardados. Essa história vem à tona e torna-se visível aos nossos olhos de hoje, porque foi recontada por nós, à luz das nossas preocupações do tempo presente.
O tempo é a coisa mais importante para o historiador; sem ele os acontecimentos pairam soltos no ar, se desarranjam, perdem sentido, os fatos deixam de dizer alguma coisa sobre o homem. História é sempre a História do Homem... A história é o estudo dos homens no tempo, nos ensinaram Braudel e Bloch. A vida segue no seu tempo. O historiador precisa do tempo – não do tempo neutro, monocromático, estático, parado, estagnado, inerte, mas do tempo movimento, dinâmico, de cores variadas –, precisa do tempo de mudança, do tempo da transformação.
Segundo Reinado, Fim do Império e Primeira República
Aos 4.512 itens pertencentes ao conjunto Adolpho Gordo, procuramos os elos de um documento a outro e da trama nascesse um sentido, ainda que não único. Encontramos registros distantes no tempo, no espaço, e produzidos por pessoas em distintas posições ou ocupações tais como: jornalistas, editores e articulistas de periódicos, parlamentares, amigos, adversários, anônimos, parentes, contraparentes.
Em apoio à Exposição Virtual, o catálogo procura mostrar a virada dos ventos dos acontecimentos e captar a policromia e a polifonia que os acontecimentos carregam. O que dá sentido ao tempo é o agir de homens e mulheres. O passado não é construído por documentos/monumentos inertes, expostos ou conservados em algum arquivo, em um museu, desprovidos de movimentos e de ação – ao contrário, eles espelham os homens na prática do cotidiano.
1850-1889
O catálogo busca dar um sentido à vida de Adolpho Affonso da Silva Gordo - AG - dentro de distintos contextos da família e da coletividade, nos quais ele foi filho, irmão, marido, pai, cunhado, tio, primo, genro, amigo, advogado, político, candidato, correligionário, adversário. No catálogo mostra-se a complexidade da vida, que não se pode resumir a uma única face, mas se reparte em múltiplas, que se completam, se contradizem e se opõem – entretanto, fazem parte daquela pessoa. Em síntese, o catálogo procura trazer ao leitor um sentido, em um esboço de um homem controverso e inseparável do seu tempo histórico.
Acontecimentos transcorridos ao longo do tempo histórico de Adolpho Gordo – do nascimento, em 1858, à morte, em 1929 – são as nossas preocupações e servem de norte ao presente catálogo.
Tudo era café, e o que não fosse café dependia do café!
O segundo reinado do imperador D. Pedro II foi sustentado pelo café do Vale do Paraíba, em terras fluminenses, “berço do Estado Imperial” (SALLES, 2008). A cultura itinerante da rubiácea traçou seu roteiro e seguiu por terras paulistas, penetrando em um vasto interior, por terras antes açucareiras. “É de Campinas, como referi, que parte a expansão cafeeira que se alastrará pelo oeste paulista” (PRADO JR., 1967, p.165). O município de Campinas foi o coração da expansão cafeeira para a imensidão do Oeste paulista e foi o palco do movimento republicano, em contraposição ao Imperial Vale do Paraíba. A expansão cafeeira, o declínio da oferta de escravos, a crescente imigração europeia, as ferrovias, a industrialização, a urbanização e o crescente poder econômico do capital mercantil-financeiro consolidaram novos interesses – defesa do federalismo, da autonomia financeira, econômica e da autonomia política das províncias, separação do Estado da Igre-
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O que ocorreu entre 1858 e 1929? Que impacto provocou no percurso da vida de AG? Quais oportunidades foram abertas, vislumbradas, agarradas e seguidas? Quantas outras perdidas, ou sequer percebidas? Os fluxos e os refluxos dos atos e dos fatos desenham movimentos e descrevem momentos. E a vida seguiu caminhos, às vezes, inesperados, impostos por circunstâncias inimagináveis.
Em São Paulo, a década que se iniciou em 1850 e que se estendeu até fins da década de 1920 foi marcada pelo domínio das atividades econômicas: comércio, serviços, ferrovias, finanças, crédito etc., ligadas direta ou indiretamente à economia cafeeira.
ja etc. A ideia republicana espalhou-se pelo ar. A mudança de regime político, de Monarquia para República, acompanhou – e foi impulsionada por elas – as transformações nas formas de organização da vida material e da cultura.
Por 40 anos a cafeicultura paulista, mineira, fluminense e capixaba dominou a política econômica e a sociedade brasileiras. Somente a grande crise de 1929 pôs fim a um século de economia exportadora cafeeira.
1888-1889
A derrocada econômica trouxe o declínio do poder político da burguesia ligada à economia cafeeira.
Fim do Império. Entretanto, um único e exclusivo acontecimento marcou profundamente a sociedade brasileira, mais do que a mudança de regime político: a tardia abolição do trabalho escravo, cujas consequências repercutem até hoje entre nós, na mais profunda desigualdade social e econômica. Quinze de novembro de 1889: a Proclamação da República encontrou um Império débil, com os dias contados. Quando a Princesa Regente assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, no mesmo ato sepultou o Terceiro Reinado que seria de Isabel. “Uma simples passeata militar foi suficiente para lhe arrancar o último suspiro...” (PRADO JR., 1963, p. 94). Entretanto, em que pese a mudança de regime político... O café continuou seu reinado. Se o café foi Império, foi também República.
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1889-1930 A Primeira República ampliou a base econômica da cultura do café e, consequentemente, expandiu a rede de relações que giravam ao seu redor.
A derrota política foi selada na Revolução de 1930. A ruptura de 1930 foi mais profunda do que a da Monarquia para a República. Da Monarquia para a República, mudou a forma de regime; entretanto, permaneceu, ao longo do primeiro período republicano, a base econômica cafeeira que propiciou uma diversificação produtiva interna: indústria, serviços, urbanização, porém, limitada pelo movimento de expansão e crise da economia brasileira.
Escravidão, terra, comércio, monarquia, república Três acontecimentos marcaram o ano de 1850 e foram decisivos na estruturação da sociedade brasileira na segunda metade do século XIX: A Abolição do Tráfico de Escravos, que pôs fim ao comércio internacional de escravos vindos da África, eliminou a principal fonte de abastecimento da oferta de escravos para o Brasil e colocou na ordem do dia a questão do trabalho escravo e do mercado de trabalho. A lei Eusébio de Queiroz, como era conhecida, também agiu no sentido de liberar capitais aplicados no tráfico africano, para investir na expansão das lavouras de café; no financiamento das lavouras, por meio do sistema bancário e financeiro; nas ferrovias; no comércio de exportação e importação. O segun-
do acontecimento foi a Lei de Terras, que tornou a propriedade da terra dependente de transações de compra e venda e, consequentemente, restringiu o acesso à terra, proibindo, ou melhor, inibindo a posse (SILVA, 2008). Por fim, o Código Comercial que definiu um conjunto de regras e procedimentos jurídicos na esfera das trocas comerciais e das transações bancárias e financeiras. Nos fins da década de 1880, novos marcos institucionais – a Abolição da Escravidão (1888) e a queda da Monarquia (1889) – alteraram de forma definitiva e profunda a organização econômica, política e social, com a instalação do regime de trabalho livre e do mercado de trabalho livre e com o novo sistema político, a República, presidencialista e federalista. As mudanças de 1850 encontraram a Província de São Paulo em um momento de transição. A economia açucareira cedia lugar à expansão do café, que avançava em direção ao Oeste e Noroeste de São Paulo. Partindo do antigo “quadrilátero do açúcar”–Jundiaí, Sorocaba, Piracicaba, Mogi Guaçu –, o café avançava dia após dia em direção a Limeira, Rio Claro, São Carlos do Pinhal, Araraquara, Mogi Mirim, Casa Branca, São Simão, Ribeirão Preto, Franca. A sociedade açucareira, que dominou desde os fins do século XVIII até meados do século XIX, que recuperou a capitania das graves crises de abastecimento e de pobreza e se expandiu pela região das terras da “Serra Acima”, mostrava sinais de perda de vigor, diante da concorrência do café, insuflado pelos preços elevados no mercado mundial. A economia cafeeira expandia-se, aproveitando-se das benfeitorias construídas pela economia açucareira. O açúcar “[...] preparou a infraestrutura econômica que facilitou a rápida propagação dos cafezais no planalto” (PETRONE, 1968, p.7). Em São Paulo, o açúcar criou a escravidão em massa, criou a elite proprietária e construiu os caminhos de
Por toda a segunda metade do século XIX, o café, o “ouro verde”, penetrou e fixou-se nas terras paulistas até a crise de 1929. Dominou o território e propiciou a geração de renda, a entrada da grande massa de imigrantes, a formação de mercado de trabalho livre, a diversificação produtiva, a indústria, os serviços, o comércio, a organização do espaço urbano, das cidades do interior e da capital da província.
A vida de Adolpho Gordo percorreu esse
tempo e se situou nesse espaço geográfico cujas transformações culturais, políticas e econômicas se processavam de forma galopante. Foi na região conhecida por Oeste paulista que Adolpho Gordo passou uma parte de sua infância, adolescência e vida adulta, como advogado e político. Nessa região localizavam-se os famosos 7.º e 8.º distritos eleitorais (Decreto n.° 8.113, de 21 de maio de
Mapa agrícola do Estado de São Paulo. 1906. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
1881 ou Lei Saraiva) (GALDINO, 2006, p.228), território onde as ideias republicanas vicejavam e os republicanos faziam “barba, cabelo e bigode” nas eleições municipais e provinciais, no enfrentamento com os partidos monárquicos, o Conservador e o Liberal. Por ali avançavam o café, as ferrovias, os imigrantes e os votos republicanos. Em 1906, essa região passou a constituir o 3.º distrito eleitoral, o qual deu a vitória a Adolpho Gordo, elegendo-o deputado federal, representante de São Paulo na Câmara Federal. Em 1913, AG foi eleito senador pelo estado de São Paulo.
Mapa agrícola do Estado de São Paulo. 1906. “Oeste Paulista”
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terra e a “calçada de Lorena” para o porto de Santos (BACELLAR, 1997).
1858 -1861 –Vila Nova da Constituição (1822) e Cidade de Constituição (1856). Piracicaba (1877) O município de Constituição fazia parte da expansão da lavoura cafeeira, mas, ainda nos anos de 1850, em suas terras predominavam “o verde claro dos canaviais”, os grandes engenhos e a cultura
de alimentos, milho, feijão, mandioca, arroz, chá e criação de porcos e gado. Nas margens do rio Piracicaba, os engenhos aproveitavam suas águas para o transporte e para o processamento do açú-
car. Em 1857, o município produzia 100 mil arrobas de açúcar e 80 mil arrobas de café. Na década seguinte ocorreu a inversão produtiva – a produção de açúcar caiu para 39.400 arrobas e a de café elevou-se para 112.830 arrobas (1866) (TORRES, 2010, p.46, Pfromm Netto, 2013). A cultura cafeeira penetrava no “verde claro” do canavial, e a paisagem pintava-se de verde escuro do cafezal. A cidade de Constituição gozava de uma posição geográfica privilegiada: continha um verdadeiro cruzamento de estradas, ligando a capital de São Paulo a Cuiabá. Um pequeno centro comercial de distribuição de mercadorias para a província do Mato Grosso formou-se, favorecido pela localização. Embora a cidade tivesse um ar pacato e simples, com uma população beirando 6.228 habitantes, 1.370 eram escravos, ou seja, 22% da população (MOTTA, 2012, p.52). Nas ruas “vagueavam cães, cabras e porcos, aguadas a exigir limpeza, ruas cheias de formigueiros, carros de bois incomodando com o seu chiar [...]” (TORRES, 2009, p. 79-82)
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A Família Silva Gordo
Salto do Rio Piracicaba. [1900-1909]. SACOP_00_00697. Centro de Memória-Unicamp.
Foi nesse cenário que, em 12 de agosto de 1858, nasceu Adolpho Affonso da Silva Gordo, filho de Antonio José da Silva Gordo (Porto (?), 1804/1805–Santos, 1868) e de Ana Brandina de Barros Silva (Itu, 1826–São Paulo, 1916).
pitão o oficio de administrador de engenhos e de fazendas e trabalhou na administração da fazenda de propriedade de Manuel Rodri-
gues Jordão, Brigadeiro Jordão (1781-1827), na encosta do Morro Azul, atualmente Limeira.
Adolpho Gordo e seu pai, 1860. Busch, 1970, p. 132-133. Centro de Memória-Unicamp Fazenda Morro Azul (1920). SACOP_00_00543-3. Centro de Memória-Unicamp.
Como empregado do Brigadeiro Jordão, ascendeu socialmente e adquiriu reconhecimento da sociedade piracicabana. Em 1830/1831, casou-se com a viúva do Capitão Manoel Ferraz de Campos, Francisca de Assis Leite de Negreiros,
futura avó de Manoel Ferraz de Campos Salles (1841-1913), de Alberto Salles (1857-1904) e de Maria do Carmo Salles, Nhá Lica (GÓES, 2007, p.71). Em diversas legislaturas, Antonio José exerceu a vereança na Vila Nova da Constituição. Em 1831,
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O pai de Adolpho Gordo, Antonio José da Silva Gordo, era português, de origem muito pobre e veio para o Brasil, fugido da casa materna, para tentar a sorte na colônia portuguesa da América em 1816 ou 1817. Conseguiu trabalho no engenho Benfica, de propriedade do capitão Caetano José Gomes Carneiro (1774 – 18_ _) em Itu (BUSCH, 1970; GRELLET, 1973). Aprendeu com o ca-
os vereadores o empossaram no cargo de juiz de paz da Freguesia de Nossa Senhora das Dores do Tatuibí, futura Limeira. Dessa forma, Antonio José tornou-se a primeira autoridade civil do município de Limeira, quando do seu desmembramento da Vila Nova da Constituição em 1831 (GUERRINI, 2009a, p. 219). Ao lado do liberal Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (1778-1859), Senador Vergueiro, Antonio José participou da Revolta Liberal de 1842. Organizou um pelotão de 50 homens para o Combate da Venda Grande em Campinas, onde foram derrotados pelas forças conservadoras lideradas pelo Barão de Caxias, Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880) (BUSCH, 1970, p. 135).
Monumento em homenagem aos mortos no Combate da Venda Grande, 07/06/1842. Centro de Ciências, Letras e Artes e Sociedade dos Amigos da Cidade, Campinas, 2002. (Foto: Maria Alice Rosa Ribeiro).
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Após o combate, Antonio José conseguiu fugir e refugiou-se em Piracicaba. Dois anos após as escaramuças liberais, sua esposa, Francisca Negreiros, faleceu, deixando órfãos os filhos: Mariana da Silva Gordo (1830-1_ _ _), Antonio José da Silva Gordo Filho (1831-1861) e José Antonio da Silva Gordo (1832-1_ _ _).
Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Por: Sebastião Augusto Sisson. Museu Histórico e Pedagógico de Limeira “José Levy Sobrinho”
Em 1845, Antonio José casou-se com Ana Brandina de Barros (1826-1916), filha do falecido Major Joaquim Dias Ferraz (1784-1841) e Maria Thereza da Apresentação Barros Carneiro (18021_ _ _), proprietários de engenho em Itu. A noiva era neta do seu antigo protetor, o capitão Caetano José Gomes Carneiro e Ana Maria Soares de
Barros (17_ _-18_ _), que o auxiliaram no começo de sua vida em São Paulo. O casal fixou residência em Piracicaba. Em 1846, Antonio José solicitou à Câmara de Piracicaba a doação de um terreno contíguo a sua casa de morada. Contestada a demanda por um vereador, Antonio José solicitou a data de terras ao Governo Provincial, obtendo finalmente a doação. Era prática comum, entre os “homens de bem”, proprietários com renda superior a 200$000 (duzentos mil réis) solicitarem doação de terras urbanas ao poder público municipal e provincial (TORRES, 2009, p. 71; GUERRINI, 2009a, p. 331).
adquiriu a fazenda Bom Jardim, nos limites entre Piracicaba e Capivari. A fazenda possuía engenho de açúcar e cultura de café. O filho mais velho homônimo, que tivera com sua pri-
meira esposa Francisca Negreiros, Antonio José da Silva Gordo Júnior, administrava a propriedade (VEIGA, [s.d.], p.12; GUERRINI, 2009a p. 396-397).
Engenho Central. [1919]. SACOP_00_01535-1. Centro de Memória-Unicamp.
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Antonio José e Ana Brandina tiveram cinco filhas e um único varão: Maria Ignes, Adelaide, Ana Elisa, Rita, Adolpho e Elisa. Por ocasião do nascimento de Adolpho, o casal
1860 - 1861 – Revolta escrava e mudança para Santos Antonio José, Ana Brandina e os filhos menores encontravam-se em Itu, quando dois acontecimentos abalaram profundamente a família: a revolta dos escravos da fazenda Bom Jardim e o falecimento de Antonio José da Silva Gordo Júnior. Embora a morte do filho não tenha sido provocada pela revolta escrava, provavelmente os acontecimentos e o julgamento dos escravos rebeldes tenham afetado a saúde do jovem administrador (VEIGA, [s.d.], p. 12-13).
1861 Inconformado com o falecimento do filho, Antonio José decidiu vender a fazenda Bom Jardim para o Barão de Serra Negra, Francisco José da Conceição (1822-1_ _ _). Em seguida, mudou-se para Santos, onde abriu a casa comissária Silva Gordo & Comp., localizada à Rua Direita, n.º 50, e passou a se dedicar ao comércio, como comissário, e à atividade de capitalista, emprestador de dinheiro a juros (LUNE, A. J. B.; FONSECA, P. D., 1873, p. 276). Nos novos empreendimentos,
como comissário e capitalista, Antonio José amealhou fortuna, graças ao crescimento dos negócios com o aumento da produção cafeeira para o mercado mundial e pela entrada em operação da estrada de ferro Santos-Jundiaí, São Paulo Railway (1867), que reduziu o tempo de deslocamento e o custo de transporte entre a região produtora de café, a cidade de São Paulo e Santos, único porto paulista exportador e importador em grande escala.
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No julgamento que se seguiu à rebelião, o tribunal de júri condenou à forca Francisco e Anselmo, os dois líderes da revolta contra os maus tratos infligidos pelo feitor da fazenda Bom Jardim. É provável que os escravos não tenham sido enforcados na época, pois a forca havia sido destruída pelo fogo (GUERRINI, 2009a, p. 391). Em 1865, o Correio Paulistano anunciou que o escravo Francisco, 36 anos, morrera na enfermaria da cadeia em Constituição, vítima de queimaduras (CORREIO PAULISTANO, 1865, p. 2).
Correio Paulistano, 1865, p.2. Edição 02714(1). Biblioteca Nacional. Hemeroteca virtual.
Cia Docas de Santos (1909). SACOP_ 00_00634. Centro de Memória-Unicamp.
1864 -1870 – Tempos de guerra A invasão do Mato Grosso pelas tropas de Solano Lopes provocou a eclosão da Guerra do Paraguai em março de 1864. A guerra causou o aumento das necessidades de abastecimento das tropas com alimentos, fardamentos e armamentos e incrementou as transações da praça comercial de Santos, beneficiando negócios de Sil-
va Gordo. Além disso, o conflito bélico desnudou a sociedade brasileira liberal e independente. Mostrou-a como a única nação monárquica e a única nação escravista da América, cuja defesa da nação e da pátria contra outra nação se fazia por meio de batalhões de escravos. Enfim, a guerra pôs em questão a Escravidão e o Império.
1866 – Laços de famílias Em 28 de maio de 1866, Adelaide Benvinda da Silva Gordo (Santos, 1848 – Berlim, 1911), filha de Antonio José e Ana Brandina, casou-se com o jovem advogado Prudente José de Moraes Barros (Itu, 1841–Piracicaba, 1902) em cerimônia realizada no luxuoso casarão dos pais da noiva em Santos. Antonio José era padrinho de Prudente de Moraes, que, por sua vez, era enteado do major Caetano José Gomes Carneiro II (1799-1878), tio de Ana Brandina, irmão de Maria Thereza da Apresentação (GRELLET, 1973, COSTA, 2016). O jovem casal foi morar em Piracicaba, onde Prudente de Moraes exercia a advocacia e a vereança, eleito pelo Partido Liberal em 1864 (GUERRINI, 2009b, p. 28).
[ALBUM da Guerra do Paraguay]. [S.l.: s.n.], 1872. S. Majestade o Sñr. Dom Pedro II, S. Alteza o Sñr. Conde d’Eu, e S. Alteza o Sñr. Duque de Saxe quando estiveram, em Uruguayana, em 1865] Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon1387682_90/ icon1387682_90.pdf. Acesso em: 11 ago. 2019.
Seis anos antes, em oratório particular, em Piracicaba, a filha mais velha de Antonio José e Ana Brandina, Maria Ignez (1845-19_ _) casou-se com Manoel de Moraes Barros (1838-1902), advogado e político, irmão mais velho de Prudente de Moraes (Casamentos, Livro 3). Assim, as duas irmãs Silva Gordo contraíram núpcias com os dois irmãos Moraes Barros. Outra filha, Rita da Silva Gordo (18_ _-19_ _), casou-se com Antonio Carlos Ferraz Salles (1840-19_ _), primo de Manoel Ferraz de Campos Salles (1841-1913). Na época dos casamentos de suas irmãs, Adolpho tinha, somente, 2 e 8 anos.
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Prudente de Moraes, 1882 (LOVE, Joseph Le Roy, 1982). Centro de MemóriaUnicamp.Adelaide Prudente de Moraes. Centro de Memória-Unicamp.
1868 – Morte do pai. Ana Brandina assume os negócios em Santos
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Com apenas 10 anos de idade, AG tornou-se órfão. Em 27 de novembro de 1868 faleceu seu pai, Antonio José, que ostentava a patente militar de tenente-coronel e desempenhou muitas atividades: administrador de fazenda de terceiros, proprietário de engenho e fazenda de café, comissário de café, comerciante exportador e importador. Destacou-se também na vida política e no Partido Liberal. Participou
Almanak da Província de São Paulo. Capa. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
da administração municipal de Piracicaba e de Limeira como vereador e juiz de paz (GUERRINI, 2009b v. 2, p.38). A família, a partir de então comandada pela viúva, Ana Brandina, continuou os negócios, com a casa comissária e os contratos de empréstimos a juros em Santos. Provavelmente, José Antonio da Silva Gordo, meio-irmão de
Almanak da Província de São Paulo. Capitalistas e Proprietários. Santos. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
Adolpho, ajudava a madrasta na administração dos negócios. As informações referentes ao ano de 1872-3 do almanaque da Província de São Paulo registraram na lista de capitalistas proprietários o nome de D. Anna Brandina Barros e Silva e a casa comissária Silva Gordo & Cia. (LUNE, A. J. B.; FONSECA, P. D. 1873, p. 274-6).
Almanak da Província de São Paulo. Santos. Comissários. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
Adolpho Gordo estudou no Instituto Santista, colégio particular dirigido pelo Bacharel Augusto Freire da Silva (LUNE, A. J. B.; FONSECA, P. D., 1873, p.273). Permaneceu no colégio de Freire da Silva até sua transferência para o colégio São Luiz, em Itu, onde realizou o curso preparatório para o ingresso na Academia de Direito do Largo de São Francisco (SAMPAIO, 1958, p.78).
1870 – Manifesto Republicano Rio de Janeiro. Com o término da Guerra do Paraguai, as manifestações favoráveis à mudança de regime intensificaram-se. No dia 3 de dezembro de 1870, foi lançado o Manifesto Republicano, redigido por Quintino Bocaiúva (1836-1912) e inspirado por Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), publicado no primeiro número do jornal A República. Manuel de Moraes Barros, cunhado de Adolpho Gordo, aderiu imediatamente à causa republicana e enviou votos de solidariedade aos redatores do manifesto. Prudente de Moraes, mais cauteloso, continuou nas fileiras do Partido Liberal. Ainda não era chegada a hora da adesão.
1871 – A primeira libertação: a do Ventre Aprovação da Lei do Ventre Livre. A Lei Rio Branco, que libertou os filhos de escravas nascidos a partir de 28 de setembro de 1871, representou um passo decisivo na política abolicionista gradual encaminhada pelo governo imperial, ao arrepio da elite escravista (SALLES, 2008). Por Debret:
O Jantar. DEBRET, Jean-Baptiste. Litografia de Thierry Frères,Succrs. De Engelmann &Cie. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. 1835 (BANDEIRA, 2008, p.555)
apud. BANDEIRA, 2008, p.177 )
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Almanak da Província de São Paulo. Santos. Colégios e Escolas Particulares. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
No Rio de Janeiro e em todas as outras cidades do Brasil, é costume, durante o tête-à-tête de um jantar conjugal, que o marido se ocupe silenciosamente dos seus interesses e a mulher se distraia com os seus negrinhos, que substituem a raça dos cachorrinhos “Carlins”, quase extinta a Europa. Esses moleques mimados até a idade de cinco ou seis anos, são em seguida entregues à tirania dos outros serviçais, que os domam a chicotadas e, assim, os obrigam a compartilhar as penas e os desgostos do serviço. (Debret, J. B.,1827
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Nos anos de 1870, a ideia republicana encontrou terreno fértil para se espalhar pelo Oeste paulista, por onde se expandia a economia cafeeira. A 20 de dezembro de 1870, 17 dias após a publicação do Manifesto Republicano, Américo Brasiliense de Almeida Mello (1833-1895) comunicava aos republicanos do Rio de Janeiro que o Clube Radical de São Paulo se transformara em Clube Republicano (COSTA, 2015, p.157, SANTOS, 1942). Clubes e núcleos republicanos multiplicaram-se, o período de propaganda republicana iniciava-se. A semente do ideário republicano, lançada em solo paulista, fez brotar clubes por diversas cidades da frente pioneira da expansão do café. A Convenção de Itu culminou com a fundação do Partido Republicano Paulista, PRP.
ocorrer durante os festejos da inauguração da Estrada de Ferro Ituana, que ligava Jundiaí a Itu, no dia 18 de abril de 1873. Os fazendeiros eram os financiadores da construção da ferrovia, e muitos deles eram republicanos e convencionais.
O encontro dos republicanos foi marcado para
Dos 133 convencionais, 78 (59%) eram fazen-
Américo Brasiliense de Almeida Mello, Campinas. Museu Republicano Convenção de Itu-USP.
Com 10.821 habitantes, dos quais 4.245 eram escravos, rodeada por cafezais e canaviais, a pequena Itu recepcionou os convencionais vindos do Rio de Janeiro, de São Paulo e das cidades de Amparo, Botucatu, Bragança, Campinas, Capivari, Indaiatuba, Itatiba, Itapetininga, da própria Itu, Jundiaí, Jaú, Mogi Mirim, Monte-Mor, Piracicaba, Porto Feliz, Sorocaba e Tietê. Nota-se que não havia representantes da região Vale do Paraíba paulista, a mais antiga região cafeeira e apoiadora da Monarquia.
Manoel de Moraes Barros. Piracicaba Museu Republicano Convenção de Itu-USP.
deiros escravistas cujas propriedades estavam situadas na franja pioneira de expansão da cultura cafeeira do Centro e do Oeste paulista (COSTA, 2015, p. 167-183). Manoel de Moraes Barros, cunhado de Adolpho Gordo, foi convencional representante de Piracicaba. Prudente de Moraes teve seu nome acrescentado à ata em caneta preta. Uma pequena observação manuscrita feita à margem da ata esclarece que seu nome não estava escrito no Livro de Presença, pois somente convencionais eleitos pelos clubes republicanos de suas respectivas cidades poderiam assinar. Se ele participou dos debates como ouvinte, sem direito a voto, é uma dúvida eterna. Américo Brasiliense foi secretário dos trabalhos e redator da ata (ZEQUINI, 2017, p. 68 e 158). Prudente de Moraes filiou-se ao Partido Republicano Paulista, PRP, somente depois de 1876.
Francisco Glicério Cerqueira Leite, Campinas. Museu Republicano Convenção de Itu-USP.
reunião, em assembleia anual, dos representantes dos municípios eleitos por sufrágio universal (bastava ter 21 anos e não ter condenação criminal), abolindo o eleitor censitário, cujo requisito para ser eleitor ou eleito era a renda de duzentos a quatrocentos mil réis (200$000 e 400$000). Debateu-se a forma de propaganda das ideias republicanas: imprensa, palestras e cursos nos clubes e núcleos.
Naqueles dias de abril, vivas à República ecoaram por Itu e pela imprensa de São Paulo e Rio de Janeiro. Uma das exaltações que ressoaram e marcaram os acontecimentos foi pronunciada pelo médico republicano, Dr. Barata Ribeiro (1843-1910): “Um dia o povo é rei!” (SANTOS, 1943, p.135, COSTA, 2015, p.168)
Partida para a colheita do café com carro de boi. [1885] Marc Ferrez Coleção Gilberto Ferrez / Acervo Instituto Moreira Salles. Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br. Acesso em: 14 ago. 2019
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O resultado mais expressivo da Convenção de Itu foi a criação do Partido Republicano Paulista, PRP, e a escolha da primeira direção partidária, a Comissão Permanente, composta por João Tibiriçá Piratininga (1829-1888) e Américo Brasiliense, encarregada de elaborar um anteprojeto de Constituição. Nas discussões foram definidos alguns princípios para a construção do partido:
-se o federalismo, ou seja, a liberdade econômica das províncias, a descentralização das decisões econômicas, tributárias, fiscais e creditícias. Federação significava defender-se das mazelas da centralização monárquica. Federação significava romper com a arrecadação centralizada de recursos extraídos das províncias para serem empregados na administração do Império.
PRP e seu programa - A Abolição da Escravidão Desde os anos de propaganda, o PRP se esquivou com relação à questão da abolição da escravidão. Por ser constituído por uma maioria de fazendeiros escravistas, não convinha adotar a defesa da abolição imediata e imperativa ou uma posição diretamente abolicionista. Não sem razão, porque muitos fazendeiros simpáticos à República temeriam participar ou apoiar uma agremiação política que fosse abertamente abolicionista, a qual colocaria em risco seu capital investido em escravos. Denunciavam os republicanos que, com o propósito de minar a base de apoio do partido, os monarquistas propalavam ideias maledicentes, como a de que o PRP iria abolir o trabalho escravo. Antes de tudo, os republicanos defendiam o direito de propriedade, sagrado e inviolável e, assim, eles eram coerentes com a base social escravista que o constituía e o apoiava. O PRP e a República não ameaçavam a escravidão. A atitude esquiva do partido foi mantida até dezembro de 1887.
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PRP e seu programa - República e Federalismo “[...] Federação não se harmoniza com a monarquia, porque ela é uma correlata da República”, afirmava Alberto Salles, irmão de Campos Salles, o ideólogo do PRP, na conferência nomeada “Quem quer Federação quer a República?”, em 3 de maio de 1887 (SALLES, 1887, apud GALDINO, 2016, p. 143, VITA, 1965).
Alberto Salles [1903]. VITA, 1965.
O que explica a adesão dos cafeicultores escravistas do Centro e do Oeste paulista à ideia de República? O que pesava na escolha dos fazendeiros da frente pioneira de expansão cafeeira, para aderirem às ideias republicanas? Sem dúvida, o que explicava a adesão à República era a defesa da autonomia política, ou seja, a defesa da prerrogativa de eleger os presidentes de província e demais cargos administrativo-burocráticos, segundo seus interesses e suas razões, e não depender das escolhas do Imperador ou de partidos monarquistas de outras regiões, que desconheciam as reais necessidades da província de São Paulo e as razões do Oeste Paulista. Associado à autonomia política encontrava-
São Paulo, por ser o principal exportador mundial de café e, consequentemente, a província responsável pela maior parcela da geração da renda nacional, sentia-se terrivelmente espoliado pelo governo Imperial, dominado pelos senhores do Vale do Paraíba fluminense e pela aristocracia açucareira nordestina (CASALECCHI, 1987, p.47, COSTA, 2015, p.174). Aos olhos da elite, proprietários de terras e de escravos, comerciantes, banqueiros etc. ligados à região econômica mais dinâmica, por onde seguiam as lavouras cafeeiras, a mecanização, as ferrovias e os imigrantes, somente a federação poderia garantir a continuidade do progresso e do desenvolvimento material de São Paulo. O Império era um entrave. Na década de 1870, a zona central, nucleada por Campinas, Itu, Bragança e Jundiaí, entrou em pleno auge cafeeiro, e entre 1874 e 1886 a zona pioneira do Oeste Paulista, tributária das ferrovias Mogiana e Paulista, juntava-se à central, para formarem o maior território produtor de café da província de São Paulo e do Brasil. Como afirma Milliet (1982, p. 24): “O oeste é o ponto cardeal do agricultor, o horizonte para o qual se dirige e que recua sempre e sempre até perder-se no norte do Paraná, onde, desde alguns anos, se vêm instalando as primeiras fazendas tributárias das estradas de ferro paulistas”.
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Estação Alta da Serra do Mar. Caminho de ferro para Santos. SP. [1909]. SACOP_ 00_01060. Centro de Memória-Unicamp.
20
Cia Docas de Santos (1909). SACOP_ 00_00748. Centro de Memória-Unicamp.
21
Fazenda Santa Silvéria. [190_.] SP. SACOP_ 00_00731. Centro de Memória-Unicamp.
1875-1879– Adolpho Gordo na Academia de Direito
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São Paulo das Arcadas. Adolpho Gordo foi o primeiro descendente de Antonio José da Silva Gordo a cruzar as Arcadas e concluir o curso de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Como único varão do casal Ana Brandina e Antonio José, cabia a ele a responsabilidade de ingressar na tradicional Academia de Direito de São Paulo do Largo São Francisco. Apesar de órfão de pai, Adolpho conviveu em um ambiente familiar marcado pela presença de dois cunhados bem mais velhos, Manoel de Moraes Barros e Prudente de Moraes, que exerceram o papel de autoridade paterna e influenciaram a escolha do jovem pela carreira de advogado e pelo ingresso na política. Tanto Manoel como Prudente foram acadêmicos de Direito e grandes lideranças republicanas. Manoel formou-se na Academia de Direito, em 1857, e Prudente, em 1863. Criada em 1827, a Academia de Direito era a instituição chave para formar a elite nacional de governantes, burocratas e administradores do aparelho de Estado imperial. E, de fato, cumpriu seu papel, pois os bacharéis de direito ascenderam aos postos mais elevados do Império, ocupando cargos nos poderes executivo, legislativo e judiciário. O título de bacharel em ciências jurídicas e sociais tornou-se o passaporte de ingresso na vida pública nacional e de acesso aos privilégios desfrutados por uma restrita parcela da população de proprietários de escravos e terras (ADORNO, 1988). Além da defesa do status quo das elites políticas e econômicas, a academia abrigou no seu interior debates de temas nacionais dos mais acalorados, muitas vezes, contrários aos interesses da própria elite, como Aboli-
Faculdade de Direito. [1900-1909]. SACOP_ 00_00777. Centro de Memória-Unicamp.
ção da Escravidão e República - principalmente, a partir da segunda metade do século XIX. Nas brechas abertas pela instituição, o jornalismo literário-político consolidou-se e exerceu influência decisiva na formação dos estudantes, preparando intelectuais para serem: administradores públicos, parlamentares, magistrados, professores e literatos. Disso resultaram duas assertivas não excludentes, mas complementares: ser acadêmico de Direito é a condição
sine qua non para pertencer ao “mandarinato imperial” e “ser estudante de Direito era, pois dedicar-se ao jornalismo, “[...] ser bom orador, participar dos grêmios literários e políticos, das sociedades secretas e das lojas maçônicas” (VENÂNCIO FILHO, 1977, p. 136 apud ADORNO, 1988, p. 162-165). Na imprensa acadêmica forjou-se um aprendizado que extrapolava o ensino da sala de aula, fundamentado na premissa de que fazer política envolvia a “palavra escrita e falada” (ADORNO, 1988, p. 163).
Esse grupo de estudantes, com idades entre 15 e 16 anos, ingressou na turma de 1859 e
Manoel Ferraz de Campos Salles. JFT_00_00148 Centro de Memória-Unicamp.
diplomou-se em 1863. Em 1862, Campos Salles, Francisco Quirino dos Santos, Francisco Rangel Pestana e outros lançaram a folha acadêmica A Razão, voltada para fazer, ainda que com pinceladas tênues, a crítica dos negócios públicos e do sistema eleitoral no Império. Nos anos seguintes, esse grupo lideraria a propaganda republicana e a organização do Partido Republicano Paulista. Francisco Quirino dos Santos fundaria a Gazeta de Campinas (1869) e Rangel Pestana o jornal A Província de S. Paulo (1874-5), mais tarde O Estado de S. Paulo, adquirido por José Alves de Cerqueira César, sogro de Júlio César Ferreira de Mesquita. Todos ocuparam posições no primeiro escalão da República. Um deles tornar-se-ia o primeiro presidente civil, Prudente de Morais, entre 1894 e 1898, e outro o sucederia, Campos Salles, entre 1898 e 1902.
Francisco Quirino dos Santos. CAMPOS SALLES, M. F. , 1887. Biblioteca “José Roberto do Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp. Centro de Memória-Unicamp.
Bernardino de Campos . CAMPOS FILHO, 1941. Biblioteca “José Roberto do Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
Após 1870, alguns periódicos acadêmicos passaram a ser “porta-vozes” do movimento republicano como reflexo do Manifesto Republicano (1870), da Convenção de Itu (1873) e do processo de organização do PRP. Foi quando a crítica leve contra a permanência da monarquia constitucional se fez mais intensa. Nesse ambiente acadêmico, Adolpho Gordo começou os estudos de ciências jurídicas e sociais.
Adolpho Gordo. 1877. AG-1-1-2. Centro de Memória-Unicamp.
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Nos anos de 1860, as ideias republicanas insinuaram-se pelas arcadas e atraíram uma geração de jovens vindos do interior - Manoel Ferraz de Campos Salles (1841-1913), Francisco Quirino dos Santos (1841-1886), Bernardino de Campos (1841-1915), Prudente de Moraes (1841-1902) (NOGUEIRA, 1977, v.5, p. 265; DEBES, 1977a, p.37). Uma coincidência temporal reuniu esses jovens oriundos de Campinas, Amparo, Rio Claro e Piracicaba, que traziam em suas malas a experiência de viver naquelas localidades, por onde se processavam difusas transformações culturais e econômicas. “Foi esta, no século XIX, uma das mais brilhantes e numerosas turmas [112] saídas das Arcadas franciscanas”, assegurava Nogueira (1977, v.5, p.251).
Adolpho Gordo e Antonio Augusto Rodrigues de Moraes [1877-1879]. AG-1-1-8. Centro de Memória-Unicamp.
Adolpho Gordo. [1873-1879] AG-1-1-3. Centro de Memória-Unicamp.
Adolpho Gordo [1875-1879]. AG-1-1-9. Centro de Memória-Unicamp.
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Participou ativamente da vida estudantil e integrou-se à causa republicana. Fundou o Clube Republicano Acadêmico, em 1876, e a revista acadêmica, A República, órgão oficial do clube, do qual foi redator. Em 1877, o periódico estampava o conteúdo essencial da propaganda republicana do PRP: O nosso programa compõe-se, pois, das instituições e princípios democráticos que resumiremos em breves termos: Sufrágio direto e generalizado; Liberdade de imprensa e tribuna; Instrução primária gratuita, obrigatória e secular (vide mandato Contratual de Victor Hugo, de 28 de dezembro de 1871); Separação absoluta da Igreja do Estado [...]; Plenos direitos políticos para a mulher; Abolição do poder moderador; Federação, isto é, descentralização política e administrativa; Magistratura independente e incompatível para todos os cargos políticos; Todos os poderes políticos eletivos, temporários e responsáveis [...]. (A REPÚBLICA, 16 jun. 1877 apud ADORNO, 1986, p. 231)
Adolpho Gordo e colegas da Academia de Direito. [1875-79] Sentados: esquerda Adolpho Gordo e direita Antonio Augusto Rodrigues de Moraes. Em pé: esquerda José Maria Lamanéres e direita Boaventura Antonio da Costa. AG-1-1-7. Centro de Memória-Unicamp.
1880-1887– AG, advogado e militante republicano em Capivari Depois de diplomado, Adolpho Gordo estabeleceu-se em Capivari, onde passou a se dedicar à advocacia. Casou-se com Ana Pereira de Campos Vergueiro (1853-1902), filha de Luiz Pereira de Campos Vergueiro (1806- 19_ _) e Balbina Alexandrina da Silva Machado (1815-19_ _), neta, pelo
lado materno, de João da Silva Machado, Barão de Antonina (1782-1875), e, pelo lado paterno, do Senador Vergueiro, companheiro do pai de Adolpho Gordo na Revolta Liberal de 1842. Com o matrimônio, consolidou-se uma nova aliança entre as famílias da elite paulista - Silva Gordo e Ver-
gueiro. Essa aliança incorporava-se às que resultaram dos casamentos das irmãs de Adolpho Gordo – com os Moraes Barros e com Antonio Carlos Ferraz Salles. O casal teve dois filhos: Nicolau Vergueiro da Silva Gordo (1880-19_ _) e Adolpho Affonso da Silva Gordo Júnior (1885-1918).
Capivari desenvolveu-se como uma extensão territorial de Itu, Porto Feliz e Piracicaba estimulada pela expansão canavieira. As novas gerações, filhos
e netos, dos antigos senhores de engenho dessas localidades procuravam novas terras férteis para o cultivo de cana, café e algodão e foram se espalhan-
do pelo território (PETRONE, 1968, p.51). Em 1872, a população total era de 8.197 habitantes, sendo 3.189, ou seja, quase 40%, cativos.
25
Família Silva Gordo e suas conexões I. Elaborado por Maria Aparecida Alvim de Camargo Penteado. CMU-Unicamp, Campinas, 2019.
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Em 1876, os trilhos do ramal da Estrada de Ferro Ituana atingiram Capivari. Partindo de Itaici, a ferrovia passava por Capivari e seguia em direção a Piracicaba, que alcançou em 1878. Capivari e Piracicaba eram os maiores produtores de açúcar da província nos anos de 1870 e 1880. Dos dez engenhos centrais de açúcar estabelecidos em São Paulo, um funcionava em Capivari - Engenho Central da Vila Rafard. Na década seguinte, a produção de café superou a de açúcar (CANABRAVA; MENDES, 1938; MEIRA, 2010). Em 1886, quando ainda AG residia em Capivari, a população atingiu 10.494 habitantes, enquanto a população escrava decrescia para 2.003, de acordo com a matrícula de escravos de 30 de março de 1887 (BASSANEZI, 1999). Paralelamente à advocacia, Adolpho Gordo participou ativamente da propaganda republicana. Fundou, com o médico Dr. Cesário Motta Júnior (1847-1897), o partido republicano, em Capivari, e elegeu-se vereador (FREITAS, 1918, p. 7). Um dos projetos, que envolveu o jovem vereador e o Dr. Cesário Motta Jú-
nior foi a construção do mercado municipal de Capivari entre 1884 e 1885. (ARQUIVO DA CÂMARA DE CAPIVARI)
Dr. Cesário N. Motta Magalhães Junior Museu Republicano Convenção de Itu-USP.
Capivari. Câmara Municipal. [1884-1887]. Arquivo da Câmara Municipal de Capivari.
Capivari. Mercado Municipal [1884-1887]. Arquivo da Câmara Municipal de Capivari.
Capivari. Rua XV de novembro [1890]. Arquivo da Câmara Municipal de Capivari.
1881– As eleições e os distritos eleitorais paulistas A Lei Saraiva redefiniu os distritos eleitorais da Província de São Paulo. O decreto n.° 8.113, de 21 de maio de 1881, delimitou do seguinte modo os nove distritos eleitorais paulistas. Em todas as quatro disputas que ocorreram entre 1881 e 1889, o PRP passou a ter presença permanente na Assembleia Provincial até o final do Império, elegendo candidatos notadamente nos 7.º, 8.º e 9.º distritos eleitorais (GALDINO, 2006, p. 229).
tuba; Ubatuba; Villa Bella; Natividade; Parahybuna; S. José de Parahytinga. 7.° Distrito Eleitoral: Campinas (cabeça); Amparo; Serra Negra; Itatiba; Mogy-Mirim; Penha de Mogy-Mirim; Patrocínio das Araras; Socorro; Pirassununga. 8.° Distrito Eleitoral – Municípios: S. João do Rio
Claro (cabeça); Piracicaba; Capivary; Jahú; Brotas; Dous Corregos; Limeira; Santa Bárbara; Araraquara; S. Carlos do Pinhal; Jaboticabal. 9.° Distrito Eleitoral: Casa Branca (cabeça); Espírito Santo do Pinhal; S. João da Boa Vista; Caconde; Mococa; Batataes; Cajurú; Santa Rita do Paraíso; Franca; S. Simão; Belém do Descalvado; Entre-Rios.
1.° Distrito Eleitoral: S. Paulo (cabeça); Santo Amaro; Itapecerica; Atibaia; Nazareth; Santo Antonio da Cachoeira; Bragança; Mogy das Cruzes; Cutia; Parnahyba. 2.° Distrito Eleitoral: Taubaté (cabeça); Santa Isabel; Patrocínio; Jacarehy; Santa Branca; Caçapava; S. José dos Campos; Redempção; S. Luis; Cunha; S. Bento; Jambeiro. 3.° Distrito Eleitoral: Lorena (cabeça); Pinda monhangaba; Guaratinguetá; Cruzeiro; Queluz; Bananal; Arêas; Silveiras; S. José do Barreiro. 4.° Distrito Eleitoral: Itu (cabeça); Sorocaba; Campo Largo de Sorocaba; Piedade; Tatuhy; Tietê; Monte-Mór; Indaiatuba; Cabreúva; S. Roque; Araçariguama; Una; Jundiahy; Porto Feliz.
6.° Distrito Eleitoral – Municípios: Santos (cabeça); Iguape; Xiririca; Apiahy; Cananéa; Iporanga; Itanhaen; S. Vicente; S. Sebastião; Caraguata-
LOVE, 1982, p. 42. Mapa das regiões da Província de São Paulo. Biblioteca “José Roberto do Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp.
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5.° Distrito Eleitoral: Itapetininga (cabeça); Botucatu; Santa Bárbara do Rio Pardo; Santa Cruz do Rio Pardo; Rio Novo; Lenções; Sarapuhy; Itapeva de Faxina; Rio Verde; Paranapanema.
1882 - Auge da propaganda republicana
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O êxito do partido republicano paulista estampava-se na vitoriosa bancada de deputados republicanos na Assembleia Legislativa da Província de São Paulo. Seis deputados formavam uma bancada aguerrida do PRP: Martinho (Martini co) da Silva Prado Júnior, Manoel Ferraz de Campos Salles, Gabriel Toledo Piza e Almeida, Francisco Rangel Pestana, Prudente de Moraes e Antonio Gomes Pinheiro Machado. Foram colegas na Academia de Direito do Largo São Francisco - turma de 1859-1863 - Martinho Prado Júnior, Francisco Rangel Pestana, Manoel Ferraz de Campos Salles, Prudente de Moraes e Bernardino de Campos. Seis deputados do Partido Republicano Paulista, PRP, 1882. Da esquerda para a direita, sentados: Francisco Rangel Pestana, Prudente de Moraes e Antonio Gomes Pinheiro Machado. Da esquerda para a direita, em pé: Martinho da Silva Prado Jr. Manoel Ferraz de Campos Salles, Gabriel Toledo Piza e Almeida. LOVE, Joseph Le Roy, 1982. Centro de Memória-Unicamp.
Republicanos [1886]. Da esquerda para direita, sentados: Jorge de Miranda de Cerqueira Leite, Francisco Glicério de Cerqueira Leite e Francisco Rangel Pestana. Da esquerda para direita, em pé: Martinho da Silva Prado Júnior, Manoel Ferraz de Campos Salles e Quintino Bocaiúva. GSJ PI 1 .00025. Centro de Memória-Unicamp.
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A Festa Republicana e o banquete no Teatro São Carlos, em Campinas, registraram o momento de auge do PRP. Banquete Republicano de 1882 em homenagem aos Deputados Provinciais do PRP. (Gazeta de Campinas, 8 de janeiro de 1882).
1884 – O imigrantismo e o escravismo A Assembleia Legislativa da província de São Paulo aprovou a concessão de passagens gratuitas aos imigrantes que se destinassem à agricultura. Iniciava-se o movimento da grande imigração subsidiada, que visava substituir o trabalho escravo na lavoura cafeeira. Por meio da política de subvenção estatal, liberavam-se os imigrantes dos custos de transportes, que se transforma-
vam em dívidas impagáveis junto aos fazendeiros e liberavam-se os próprios fazendeiros do adiantamento de capital para custear a vinda de trabalhadores. A experiência pioneira de formação do mercado de trabalho livre, com base na imigração subsidiada, financiada pela província de São Paulo, surpreendeu o viajante Pierre Denis, que registrou que o mundo moderno jamais havia
visto “espetáculo semelhante ao deste Governo incumbir-se de importar, em massa, operários agrícolas” (DENIS, 1909 apud RIBEIRO, 1993, p. 15). O deputado republicano Martinho da Silva Prado Júnior, o mesmo que se havia manifestado contra a libertação no ventre da escrava, foi o autor da proposta. Imigrantismo, sim, mas com a manutenção da escravidão até o último escravo vivo.
1885 - Segunda libertação: dos escravos idosos
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Libertação dos escravos maiores de 60 anos. A Lei n.º 3.270, de 28 de setembro de 1885, decretada pelo Imperador D. Pedro II, determinou nova matrícula de escravos e as alforrias, por meio do fundo de emancipação e dos pecúlios; definiu o valor da escrava como inferior em 25% ao valor do escravo; libertou os escravos maiores de 60 anos, após a prestação de serviços pelo prazo de três anos, a título de indenização a seus ex-proprietários. A lei dos sexagenários, como ficou conhecida, mostrava a opção da elite proprietária pelo caminho gradual para se chegar à abolição definitiva.
Escravo idoso. Projeto Monumenta. Porto Alegre-RS. Três escravos com cestos. Projeto Monumenta. Porto Alegre-RS
1886 - Imigrantes em massa para São Paulo ra. Em 1886, o deputado estadual republicano Martinho da Silva Prado Junior foi à Itália promover a imigração e recrutar trabalhadores (LEVI, 1977, p. 149). A política imigratória, ao trazer um contingente imenso de estrangeiros, italianos, espanhóis e portu-
gueses, extrapolou os objetivos iniciais e levou à formação do mercado de trabalho para indústria, comércio e serviços, acelerando a urbanização de São Paulo. Em 10 anos de existência, de 1886 a 1895, a SPI introduziu 620 mil colonos para o café. Em 1895, o número de entradas foi recorde: 140 mil somente nesse ano (RIBEIRO, 1993).
Hospedaria dos Imigrantes. [1900-1909] SACOP 00_01635-02. Centro de Memória-Unicamp.
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Criação da Sociedade Promotora da Imigração - SPI. Antonio de Queiroz Teles, Barão de Jundiaí, foi o maior incentivador da SPI, que reuniu os grandes cafeicultores para conduzir a política imigratória subsidiada pelo estado. SPI foi a sociedade de interesse privado executora da política de imigração, sob a tutela da elite cafeiculto-
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Pátio da Hospedaria dos Imigrantes. [1900-1909] SACOP 00_00596. Centro de Memória-Unicamp.
1887– AG na direção do PRP Por ter sido eleito para compor a Comissão Permanente do PRP, Adolpho Gordo mudou-se para São Paulo. Ainda muito jovem, com 29 anos, AG tornou-se membro da direção partidária. Campos Salles e Bernardino de Campos também fixaram residências e abriram escritório de advocacia na capital (DEBES, 1977a, p. 220). Também AG abriu seu escritório de advocacia com Antonio Maria Honorato Mercado.
Rua XV de Novembro. São Paulo. [1896-1909]. SACOP_00_00621. Centro de Memória-Unicamp.
Viaduto do Chá. São Paulo. [1892-1909].SACOP_00_00620. Centro de Memória-Unicamp.
Adolpho Gordo. [191_]. AG-1-1-350 Centro de Memória-Unicamp.
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Nos anos de 1880, São Paulo tornou-se o epicentro da política, sede do governo da província, com uma população de quase 55 mil habitantes (1886) e vivenciava um extraordinário processo de urbanização (MORSE, 1970).
1888 – A abolição da escravidão A abolição da escravidão chegou mais cedo do que a liderança do PRP imaginava. Em dezembro de 1887, na assembleia da Associação Libertadora e Organizadora do Trabalho, ocorrida na capital, deliberou-se a libertação dos escravos para um prazo mínimo de três anos. A liderança da associação era exercida pela comissão constituída por Antonio da Silva Prado (Conselheiro Antonio Prado), Joaquim Egydio de Souza Aranha (Marquês de Três Rios), Leôncio de Carvalho, Rafael de Paes de Barros e M. J. Albuquerque Lins.
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Campos Salles e outros republicanos presentes na assembleia defenderam a libertação imediata e incondicional, mas perderam na votação e, em protesto, se retiraram da assembleia. Campos Salles, que havia alforriado seus escravos, exigindo a obrigação de servi-lo por mais quatro anos, foi duramente criticado pelos participantes da associação. A saraivada de críticas levou o proprietário do Banharão, Campos Salles, a reverter sua decisão e conceder “150 liberdades incondicionais” (DEBES, 1977a, p. 206, p. 213-215). Portanto, em dezembro de 1887, a elite escravista paulista aceitava como razoável, para a abolição definitiva, no mínimo mais três anos. Sem imaginar mudança nos acontecimentos, conservadores, liberais e republicanos foram surpreendidos pelo 13 de maio de 1888, quando 720 mil escravos no Brasil foram libertados sem qualquer obrigação compensatória! Na província de São Paulo, a matrícula de março de 1887 registrou 107.329 cativos. Calculou-se, entretanto que as alforrias e as frequentes fugas somavam 39.538, entre a matrícula de março de 1887 e 13 de maio de 1888. Assim, estimou-se que na data da assinatura da Lei Áurea a população
escrava na província fosse de 66.372 em março de 1888 (BASSANEZI, 1999; DEBES, 1977 a, p.213). Em um único ato – a assinatura da lei – encerravam-se mais de 300 anos de escravidão. Em dois lacônicos artigos, a Princesa Regente decretou e sancionou a Lei nº 3.353, Lei Áurea, a qual dizia: “É declarada extincta, desde a data desta Lei, a escravidão no Brasil”; “Revogam-se as leis contrárias”.
vida econômica. Entretanto, a lei, que aboliu a legalidade do trabalho escravo, não previu qualquer anteparo ou qualquer proteção ao recém-saído do cativeiro, como acesso à terra, à educação, à saúde, ao trabalho e remuneração dignos. Esse é o legado que nós carregamos ainda hoje – extrema desigualdade social, política e econômica, uma cidadania incompleta.
O Brasil foi o último país do mundo a extinguir o regime de trabalho escravo, base sobre a qual se construiu a sociedade, a cultura, os costumes e a
Princesa Isabel. SBIR_00_00043f. Centro de Memória-Unicamp.
Família Imperial [1889] SBIR-00-00042f. Centro de Memória-Unicamp.
1889 – A República Para 23 de março de 1889, a comissão permanente do PRP convocou o Congresso Provincial. Sob a presidência de Dr. Cesário Motta, o congresso deliberou adotar a linha de conduta do Manifesto de 24 de maio de 1888, o que significava atacar as instituições monárquicas e denunciar a inviabilidade de reformar a monarquia centralizada para transformá-la em monarquia federativa, sem extirpar a própria
monarquia. Os republicanos paulistas entendiam que a abolição da escravatura constituiu o primeiro passo para a República, e não para o fortalecimento da Monarquia já em decadência. O Manifesto de 1888 propunha a radicalização da propaganda republicana contra a continuidade da monarquia ou o provável terceiro reinado da Princesa Isabel, que se fortalecera com a assinatura de Lei Áurea.
A orientação “revolucionária” propalada traduzia-se em “combater o terceiro reinado em todos os terrenos” (DEBES, 1977a, p. 244). Por fim, o congresso provincial reconduziu a Comissão Permanente do partido: Presidência: Campos Salles; Secretário: Adolpho Gordo e Tesouraria: Manoel Lopes de Oliveira, e mais os seguintes membros: Francisco Glicério e Domingos de Morais.
1889 – Entre o radicalismo e a evolucionismo Em 2 de maio de 1889, teve lugar o Congresso Nacional Republicano, ocorrido em São Paulo, que deliberou orientação totalmente contrária à do congresso provincial. A adoção de uma linha de condução política oposta significou distanciar-se do manifesto de 24 de maio de 1888 e referendar a orientação “evolucionista”, segundo a qual a República viria pelo processo evolutivo. Em outras palavras, a linha evo-
lucionista significava que a República era inexorável e viria por meio de conquistas graduais e pelo constante esclarecimento da opinião pública. Os representantes paulistas, Campos Salles, Prudente de Moraes, Bernardino de Campos, Francisco Glicério e Américo de Campos, concordaram em manter a linha evolutiva na condução do partido, contrariando as decisões do congresso provincial paulista.
Na percepção dos críticos da orientação “evolutiva”, Francisco Rangel Pestana e Antonio da Silva Jardim (1860-1891), a “evolução” pregava a imobilidade do partido e preconizava a espera de um momento qualquer em que algum chefe monarquista “desgostoso ou despeitado” proclamaria a República (DEBES, 1977a, p. 245).
Na articulação da deposição de D. Pedro II, o PRP esteve ausente. O principal partido republicano do País não teve qualquer protagonismo na Proclamação da República. Em 6 de novembro de 1889, o presidente do partido, Campos Salles, foi comunicado por carta de Aristides Lobo de uma movimentação no Rio de Janeiro. Campos Salles comunicou a notícia aos demais dirigentes, Prudente de Moraes, Rangel Pestana e Bernardino de Campos, que alegaram impedimento para se des-
locar para capital. Em atenção ao chamamento de Aristides Lobo e de Campos Salles, Francisco Glicério e Adolpho Gordo, membros da direção do PRP, se prontificaram e se deslocaram para a corte (DEBES, 1977, p. 262).
Enfim, a República chegou! Sob o clima “evolutivo”, o PRP esperou a República chegar pelo golpe militar desfechado pelo Exército. Os republicanos paulistas, atropelados pelos acontecimentos, comemoraram no dia seguinte, ao som de La Marseillaise acompanhado pelos gritos de “Viva a Republica Brazileira! 15 de Novembro de 1889! Centenário da Tomada de Bastilha!” (GUERRINI, 2009 b, p.187).
Em 1916, AG por ocasião das homenagens a Francisco Glicério, Adolpho Gordo relembrou daqueles dias, e em suas recordações transparecem que os dois dirigentes do principal partido repu-
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Chegou o 15 de novembro de 1889!
blicano do País assistiram a tudo de longe, na espreita de uma janela de hotel. De certo modo, as memórias de AG confirmavam a célebre frase de Aristides Lobo: “o povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava” (CARVALHO, 1987, p. 9; CASALECCHI, 1987, p.34).
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Mas, distintamente do povo, os republicanos paulistas tinham conhecimento do que significava a mudança de regime. Logo seriam convocados para assumir a direção dos ministérios e dos governos das províncias, pois o exército, que golpeara o Imperador, não tinha condições institucionais para cuidar da administração e da burocracia do novo Estado que emergia da República. Assim, o jovem secretário do PRP narrou os acontecimentos da véspera do dia 15 de novembro de 1889:
Secretário da comissão diretora do partido em 1889, por determinação dos meus ilustres companheiros, vim para esta Capital no dia 13 de novembro. A noite de 14 para 15 de novembro passamos [Glicério e Gordo] em um hotel existente no largo da Lapa. Não nos deitamos durante toda a noite, e de momento a momento, íamos a uma janela do hotel observar uma força que estacionara nesse largo. Que intuitos tinha essa força? Como tivesse vindo ao nosso conhecimento que o Governo descobrira o movimento e estava agindo com a máxima energia, em certa ocasião perguntei ao Glycério se ainda confiava no sucesso do movimento. Responde-me com um tom de profunda segurança, de grande convicção e de imenso júbilo: “A República está feita e nada mais poderá impedir o seu advento (CONGRESSO NACIONAL, Rio de Janeiro, 1918, p. 145)
1889 - AG, Presidente do Estado do Rio Grande do Norte. Após a Proclamação da República, AG foi nomeado pelo chefe do Governo Provisório da República Federativa, Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (1827-1892), para ocupar o cargo de governador do estado do Rio Grande do Norte. Com a mudança de regime político, os presidentes de província nomeados pelo Imperador foram destituídos e indicados novos presidentes para os estados, novo nome dado às províncias. É provável que não existisse um nome local comprometido com o republicanismo para ocupar o governo potiguar. Eram poucas as províncias onde o partido republicano estava organizado. Nos Congressos Nacionais dos republicanos realizados anualmente, 8 das 21 províncias brasileiras possuíam representação: São Paulo, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe, Paraná Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Assim, o republicano paulista, AG, tornou-se o homem de confiança do novo governo para realizar a transição de regime no estado nordestino. Permaneceu em Natal, por poucos meses, resignou o cargo e retornou a São Paulo para ocupar a presidência da comissão permanente do PRP no lugar de Campos Salles, que assumira o Ministério da Justiça. Cabia à comissão permanente organizar as listas de candidatos para o senado e para a câmara federal, visando à formação urgente da Assembleia Constituinte para a elaboração da Carta Magna da República.
1890 - Os Constituintes A lista dos representantes de São Paulo para a Assembleia Constituinte elaborada pela direção do PRP compunha-se desta forma: para o Senado: Prudente de Moraes, Campos Salles e Rangel Pestana; para a Câmara de Deputados, os republicanos históricos: Américo Brasiliense, Bernardino de Campos, Francisco Glicério, Adolpho Gordo, Cesário Mota Júnior, Martinho Prado Jr., Manoel de Moraes Barros, Alfredo Ellis, Rodolfo N. da Rocha de Miranda, Carlos Augusto Garcia Ferreira, Luiz Pereira Barreto, Domingos Corrêa de Moraes, Paulino Carlos de Arruda Botelho, Ângelo Pinheiro Machado, João Thomaz Carvalhal, Antonio José da Costa Júnior e Antonio Moreira da Silva. Na lista foram incluídos os conservadores e os liberais
convertidos em republicanos pós-proclamação: Antonio da Silva Prado, Francisco de Paula Rodrigues Alves, João Álvares Rubião Júnior, José Luiz Almeida Nogueira, Joaquim Lopes Chaves (cunhado de Américo Brasiliense) e o coronel do exército, comandante da guarnição de São Paulo por ocasião da proclamação da República no dia 15 de novembro, Joaquim de Souza Mursa (FREITAS, 1918, p.9-10; SAMPAIO, 1958, p. 81). É visível na elaboração da lista a preocupação da direção em buscar a conciliação ou a “política de acomodação e de concessões” entre os republicanos históricos e os conservadores e os liberais. Dos 42 mil sufragistas, 35 mil apoiaram a chapa do PRP, ou seja, 83,33% (LOVE, 1982, p. 211).
1891 - A Primeira Constituição dos Estados Unidos do Brasil Prudente de Moraes foi eleito presidente da Assembleia Nacional Constituinte. AG foi escolhido como representante de São Paulo na Comissão dos 21, instituída para analisar o projeto da Constituição, elaborado por Saldanha Marinho, Rangel Pestana, Antonio Luiz dos Santos Werneck, Américo Brasiliense e José Antonio Pedreira de Magalhães e revisto por Ruy Barbosa, Ministro da Fazenda, e por Campos Salles, Ministro da Justiça. Na Constituinte, AG acompanhou a orientação da bancada paulista liderada por seus dois cunhados - Prudente de Moraes e Manoel de Moraes Barros (LANG, 1986, p.272; SAMPAIO, 1958).
Um dos debates mais acalorados na Constituinte dizia respeito ao princípio básico de escolha dos governantes – sufrágio direto ou indireto, que forma deveria ser consagrada na Carta Magna? O PRP se posicionava contrário à realização das eleições diretas para a presidência da República como regra geral. O Partido Republicano Rio-Grandense, PRR, liderado por Júlio de Castilhos (1860-1903), propunha as elei-
ções diretas para todos os níveis de representação e venceu. O sufrágio direto foi o sistema consagrado na Constituição de 1891. Entretanto, os constituintes do PRP venceram quanto à forma da primeira eleição presidencial, sendo aprovada a eleição indireta para presidente e vice-presidente e tendo como colégio eleitoral os constituintes (Disposições Transitórias da Constituinte de 1891). No seio da Assembleia Constituinte articulou-se a candidatura civil de Prudente de Moraes contra a do Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, candidatura militar. Venceu Deodoro, por 129 votos contra 97 dados a Prudente, mas o vice-presidente vencedor foi da chapa de Prudente de Moraes, Floriano Peixoto, pertencente à ala dissidente do Exército.
A primeira Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil foi aprovada em 24 de fevereiro de 1891. Na Carta Magna consolidaram-se: Princípio de uma ordem civil democrática republicana. Princípio do Estado laico - separação do Estado da Igreja.
Princípio do Presidencialismo - o regime presidencialista legava plenos poderes ao presidente para escolha de seu ministério e da política econômica, fiscal, creditícia.
Prudente de Moraes (no centro) preside a Constituinte republicana. Óleo de Aurélio de Figueiredo. Museu da República Rio de Janeiro.
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 1891
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Princípio da Federação - independência do governo federal dos governos estaduais e vice-versa. Autonomia das 21 unidades federadas na escolha de seus governantes, por meio das eleições diretas e na gestão econômica e financeira.
De fevereiro a novembro de1891 - Reina Deodoro! “Tudo vai de mal a pior”, confidenciava o vice-presidente, Floriano Peixoto, a Prudente de Moraes, em abril de 1891 (CASALECCHI, 1987, p. 61). De fevereiro a novembro de 1891, cresceram as tensões entre o executivo e o legislativo. Tempos conturbados. No plano econômico, a crise financeira e bancária e a especulação desenfreada na bolsa (Encilhamento 1890-1892) desencadeada pelas facilidades no crédito e na fundação de sociedades anônimas provocaram aumento dos preços, inflação, queda do câmbio e, finalmente, a bancarrota de bancos e de empresas (Franco, 1990, Schulz, 2013). No plano político, a jovem República sofreu um golpe desferido pelo próprio marechal Deodoro, que fechou o Congresso Nacional, em 3 de novembro de 1891, arvorando-se plenos poderes
ditatoriais e violando a Constituição recém-promulgada. Porém, o marechal não resistiu às pressões contrárias, vindas da Armada e de civis, e renunciou ao mandato em 15 de dezembro de 1891. Durante o governo do marechal-presidente surgiu a primeira dissidência entre os republicanos paulistas. No governo paulista, Américo Brasiliense de Almeida e Melo (1833-1896), presidente de São Paulo, favorável a Deodoro, abandonou o governo definitivamente, em 15 de dezembro de 1891, com a renúncia do “generalíssimo” (Marechal Deodoro). José Alves Cerqueira César (18351911), vice-presidente, assumiu, com apoio dos líderes republicanos ligados naquele momento a Floriano Pei-
xoto, incluindo a parentela de AG, comandada por Moraes Barros, Prudente, Manoel e seus cunhados. No plano federal, Floriano Peixoto, o vice-presidente, assumiu a presidência da República, mas, com o desenrolar dos acontecimentos, de aliado, tornou-se inimigo dos republicanos paulistas. Não cumprira a Constituição, que determinava que na vacância do cargo de presidente e faltando mais de dois anos para o término do mandato, deviam ser convocadas novas eleições. Ignorando a Carta Magna, Floriano Peixoto conduziu seu governo como nas palavras com que ele próprio se referia ao governo do “generalíssimo”: “de mal a pior”, até o término em 1894.
1894 - Prudente, o primeiro Presidente Civil
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Na primeira eleição direta para a presidência da República foi eleito o primeiro presidente civil, Prudente de Moraes. Começou o governo, enfrentando a oposição de Floriano Peixoto, que se retirava da presidência sem ao menos dar posse ao novo presidente da República cambaleante. Prudente governou de forma a consolidar o regime republicano. Não foram tempos fáceis: enfrentou lutas sangrentas - a guerra civil no Rio Grande do Sul e a cruenta luta investida contra uma suposta rebelião monarquista liderada por Antonio Conselheiro em Canudos, Bahia. Em 1897, a vitória sobre Canudos revelou ser uma “vitória de Pirro”, a vitória sobre uma população de pobres e miseráveis, destroçada por quatro campanhas do exército. Apesar de a República consagrar
a separação entre o Estado e a Igreja, a campanha de Canudos pôs à mostra a forte aliança entre eles. Nas homenagens ao comandante vitorioso, um inimaginável atentado foi desferido contra o presidente Prudente de Moraes, o qual foi salvo pelo homenageado, Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt (1840-1897), que derrotara Antonio Conselheiro no campo de batalha, mas perdeu a vida na defesa do Presidente da República na cerimônia de sua consagração como herói de Canudos. Ao encerrar o mandato, o primeiro presidente civil saía fortalecido, exitoso em fazer seu sucessor o republicano histórico Manoel Ferraz de Campos Salles, que, eleito em março, tomou posse em 15 de novembro de 1898.
Prudente de Moraes. [1898] Museu Histórico e Pedagógico “Prudente de Moraes”. Piracicaba-SP.
1896 - A crise de superprodução de café Ainda no governo de Prudente de Moraes eclodiu a primeira crise de superprodução de café, resultante do desequilíbrio entre a oferta e a demanda pelo produto no mercado mundial. O brutal aumento da produção, que passou de 5,2 milhões (1886-1890) para 9,3 milhões de sacas na safra de 1896-1897 e, em seguida, para 11,2 milhões de sacas na safra de 1897-1898, levou a uma queda nos preços internacionais, provocando redução da renda dos cafeicultores (DELFIM NETTO, 1981, p. 30-31). Para evitar o prejuízo da elite cafeeira, a política econômica implementada pelos ministros da fazenda, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1894-1896) e Bernardino de Campos (1896-1898), jogou as perdas para a sociedade –“socialização das perdas” –, por meio da desvalorização cambial, ou seja, da depreciação da moeda nacional, o réis, em face da libra esterlina. Como consequência da desvalorização cambial, o custo de vida aumentou e a crise financeira do estado brasileiro aprofundou-se, com elevação das despesas internas e do pagamento da dívida externa brasileira. Em outras palavras, os preços das importações tornavam-se mais elevados, a inflação disparava e as finanças públicas se desequilibravam. Em compensação, a desvalorização cambial gerava lucros importantes aos cafeicultores e aos comerciantes nacionais (FURTADO, 1974, p. 165-173, DELFIM NETO, 1981, p. 34).
fundo de empréstimo que previa a suspensão dos juros da dívida por 3 anos e das garantias de juros dados às estradas de ferro, as quais seriam pagas com títulos do governo, ao invés de dinheiro. Por fim, o acordo previa a suspensão dos pagamentos do principal de todos os empréstimos, por 13 anos. O acordo encer-
rava-se em 1.º de julho de 1911. Em compensação, a Casa de Rothschild exigiu a suspensão da política de desvalorização cambial e a adoção de uma política de austeridade monetária, redução do papel-moeda em circulação e restrição do crédito (FRANCO, 1990, p.27; VILLELA; SUZIGAN, 2001).
Uma vez eleito, mas ainda não empossado, o futuro presidente, Campos Salles, foi encarregado por Prudente de Moraes de negociar um prolongamento de prazo para o pagamento da dívida externa brasileira com o principal credor do Brasil – a Casa de Rothschild. A negociação com os banqueiros ingleses foi um sucesso, e se firmou o acordo Funding loan, o primeiro
Trabalhador no terreiro de café. HI_13_imagem_646. Arquivo Edgard Leuenroth. AEL-Unicamp.
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Funding loan
tores e dos grandes comerciantes exportadores crescia dia a dia diante das flutuações do preço do café e da impossibilidade da defesa da renda, por meio da desvalorização cambial, pois o governo adotara a política de estabilidade cambial e de restrição de crédito. Para enfrentar a oposição, Campos Salles gestou a “política dos governadores” ou o “pacto oligárquico”, pelo qual o governo central privilegiaria os grupos dominantes de cada estado em troca do apoio à política do Presidente da República. Para burlar os resultados eleitorais, base real da política dos governadores, o governo federal montou uma “Comissão de Verificação dos Poderes”, interna à Câmara, que comandava a diplomação dos deputados eleitos, impondo a “degola” dos oposicionistas, sob alegações nebulosas de “fraudes” no processo eleitoral para favorecer o candidato do governador. Dessa forma, forjava-se uma Câmara situacionista, ligada aos governadores e, fundamentalmente, não hostil ao poder executivo federal. Essa política inaugurou, de fato, a Primeira República e perduraria até a Revolução de 1930.
1901– Cisão do Partido Republicano Paulista. Dr. Campos Salles. [1898-1902] JFT_00_00121. Centro de Memória-Unicamp.
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1898 - Campos Salles: austeridade, presidencialismo e política dos governadores Campos Salles tomou posse na presidência com o compromisso de realização do saneamento monetário, retirada do excesso de dinheiro, contração do crédito, estabilidade cambial e equilíbrio orçamentário. No plano econômico, a austeridade marcou seu governo, levada a efeito pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Duarte Murtinho (1848-1911). O descontentamento dos cafeicul-
A política econômica recessiva, a “política dos governadores”, o presidencialismo exacerbado e o fortalecimento do poder pessoal de Campos Salles levaram à cisão do PRP. Mas a gota d’água foi a indicação de Rodrigues Alves para a presidência da República e de Bernardino de Campos para governador do estado de São Paulo, feita por Campos Salles sem consultar o partido (CASALECCHI, 1987). A oposição ao governo de Campos Salles foi liderada por Prudente de Moraes, que agregou os dissidentes em uma nova agremiação partidária: o Partido Republicano Dissidente de São Paulo (PRD). Como coroamento da nova agremiação partidária, foi publicado o manifesto de 7 de setembro de 1901 pelo jornal O Estado de S. Paulo, pertencente ao dissidente Júlio Mesquita, provavelmente, o responsável pela redação do manifesto. AG acompanhou a parentela dos Moraes Barros e Ferraz Salles e os líderes republicanos históricos José Alves Cerqueira César, Cincinato Braga, Antonio Mercado, Alfredo Pujol e Júlio Mesquita.
A scisão em S. Paulo. Resumo de discurso do Dep. Federal A. Gordo. 21 set. [1902. AG-3-2-1-21 Centro de MemóriaUnicamp.
Ano das grandes perdas. Em 22 de setembro de 1902, faleceu a primeira esposa de AG, Ana Pereira de Campos Vergueiro, deixando os filhos Nicolau e Adolpho. No mesmo ano, AG perdeu seus dois maiores amigos e conselheiros, os cunhados, Prudente de Moraes, que faleceu em 3 de dezembro, e Manoel de Moraes Barros, então senador, em 20 de dezembro. O luto pelos entes queridos e a frustração com a política do partido PRP, que AG lutara para construir, marcaram aquele ano.
so Nacional, estadual ou nas câmaras municipais. A Carta Magna estabelecia que o Congresso Nacional (Câmara Federal e Senado) deveria reunir-se na Capital Federal e indicava 3 de maio de cada ano para a abertura dos trabalhos legislativos e o funcionamento por quatro meses desde a abertura (Secção I. Do poder legislativo, Capítulo I, Disposições Gerais. art. 17.º da Constituição de 1891).
1903 - AG e o ostracismo político Para as legislaturas de 1891-1894, 1894-1898 e18981902, Adolpho Gordo sempre foi eleito deputado federal pelo PRP. Em 1903, na primeira eleição em que concorreu a deputado federal pelo Partido Republicano Dissidente, PRD, perdeu e sentiu o amargor da política forjada por Campos Salles, Rodrigues Alves e Bernardino de Campos. A “oligarquia” “degolava” os adversários. Dificilmente os oposicionistas ao governo estadual ou federal seriam eleitos representantes nas instâncias municipal, estadual e federal. Não havia lugar para as minorias. Restava o ostracismo. Sem mandato, entre 1903 e 1906, Adolpho Gordo dedicou-se à profissão de advogado e à organização do PRD. Desde que se transferira para São Paulo, Gordo mantinha um escritório de advocacia em sociedade com o político republicano paulista Antonio Mercado. Não havia incompatibilidade entre o exercício da profissão liberal e o mandato de deputado federal. A Constituição de 1891 permitia o exercício profissional e a representação política no Congres-
Marca do escritório. Extraída da Carta de encaminhamento de Antônio Maria Honorato Mercado a Adolpho Affonso da Silva Gordo, 1907. AG-2-1-7. Centro de Memória-Unicamp.
1904 - Entre tios, sobrinhos, cunhados e primos: laços de família Em 1904, Gordo casou-se com Albertina Vieira de Carvalho (1877-1944). Uma nova rede de sociabilidade familiar consolidou-se com os Vieira de Carvalho. Albertina era filha do professor da Academia de Direito do Largo de São Francisco, Joaquim José Vieira de Carvalho (1842-1899) e de Carolina Xavier de Carva-
lho (1841-1899) e irmã do Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho (1867-1920), fundador da Faculdade de Medicina (1912), responsável pelo convênio de colaboração com a Fundação Rockefeller. Adolpho e Albertina tiveram cinco filhos: Carolina da Silva Gordo (1905-19_ _), Alberto da Silva Gordo (1906-19_ _), Álvaro da Silva Gordo (1909-19_ _), Paulo Vieira de Carvalho da Silva Gordo (1911- 1959) e Helena da Silva Gordo (1914-19_ _). Percebe-se facilmente que a parentela foi ampliada pela quantidade de sobrinhos. Alguns deles entraram para a vida partidária e/ou participaram ativamente do mundo político: Prudente José de Moraes Barros Filho (1874-1943), Antonio de Moraes Barros (1870-1931) e Paulo de Moraes Barros (1866- 1940): os dois últimos eram filhos de Manoel de Moraes Barros e Paulo era considerado o herdeiro político da família. Pelo lado da família Vergueiro, de sua primeira esposa, Gordo era cunhado, amigo e correligionário de Arthur Nicolau de Vergueiro (LANG, 1986, p. 83-84). Com a união aos Vieira de Carvalho, AG tornou-se tio de dois filhos e de uma filha de Júlio Mesquita (1862-1927): Júlio César de Mesquita Filho (1892-1969), casado com Marina Vieira de Carvalho (1898-1975); Francisco Mesquita, casado com Alice Vieira de Carvalho; e Judith Mesquita, casada com Carlos Vieira de Carvalho. Por sua vez, os braços da parentela estenderam-se a José Alves de Cerqueira César, que era casado com Maria do Carmo de Campos Salles, Nhá Lica, irmã de Campos Salles. Em 1884, Júlio Mesquita casou-se com Lucilla Cerqueira César (1866-1916), filha de Nhá Lica e Cerqueira César; portanto, Júlio Mesquita tornou-se genro de Cerqueira César e sobrinho de Manoel Ferraz de Campos Salles e de Alberto Salles (GÓES, 2007, p.69-79). Esse emaranhado de relacionamentos familiares penetrava na política, nas alianças e, algumas vezes, nas dissensões. Entre as famílias nem tudo era concórdia, pois havia momentos de negociação e outros
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1902 - Perdas e Danos
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de discórdia. Durante as campanhas eleitorais, momentos cruciais para a definição dos candidatos e dos políticos que iriam ascender ao poder, as parentelas exerciam um papel fundamental na mobilização do eleitorado. Necessariamente, a união da parentela e a conquista de eleitores envolviam concessões de favores, privilégios, cargos, acesso a rendas etc. Na ausência de concursos públicos para o recrutamento dos funcionários da máquina administrativa pública municipal,
estadual e federal, a parentela operava como base do sistema de recrutamento, seleção e distribuição dos privilégios. O domínio da parentela era tão reconhecido pela opinião pública e pela própria população que a cisão de 1901 do PRP foi batizada de “briga de família” e, portanto, como em todas as brigas de família, mais cedo ou mais tarde, viria a reconciliação para continuar a usufruir as benesses do poder político e econômico.
Família Silva Gordo e suas conexões II. Elaborado por Maria Aparecida Alvim Camargo Penteado. CMU-Unicamp, Campinas, 2019.
Adolpho e Albertina em Paris. [1906 -1916]. AG-1-1-57. Centro de Memória-Unicamp.
1906 - AG de volta ao Congresso Nacional e o congraçamento da família republicana paulista Estimulado pela mudança na lei eleitoral, Lei Rosa e Silva, Lei n.º 1.269, de 15 de novembro de 1904, a qual assegurava uma brecha na representação das minorias por voto cumulativo, AG candidatou-se à Câmara Federal pelo Partido Republicano Dissidente, nas eleições de 30 de janeiro de 1906. Foi eleito deputado federal, porém, mais importante do que ser eleito, obteve a diplomação, não foi “degolado” (SAMPAIO, 1958, p. 84). Era o início da reaproximação com os líderes do PRP. Finalmente, o congraçamento ocorreu com o encerramento das atividades do Partido Republicano Dissidente, o único partido de oposição verdadeiramente organizado. Em 1906, teve início o regresso dos dissidentes ao antigo ninho republicano, PRP. A iniciativa de entabular as primeiras conversações pela paz entre os republicanos históricos coube a Jorge Tibiriçá (1855-1928), presidente do estado de São Paulo (1904-1908). No editorial do jor-
nal O Estado de S. Paulo, o dissidente Júlio Mesquita definiu o seu entendimento do congraçamento – o momento da distensão, o momento de guardar as armas: Congraçar é antes de tudo um ato de amizade, de concórdia, em que a reconciliação pressupõe a avaliação dos erros, permite revisões e recuos, com o restabelecimento das antigas praxes democráticas da política republicana [...] que imperaram no tempo da propaganda e que deram tanto brilho e pujança a esse Partido. (O Estado de S. Paulo, 30 set. 1906, apud CASALECCHI, 1987, p. 128)
Formou-se uma nova comissão diretora do PRP, com um representante de cada um dos cinco chefes históricos do partido. Coube a AG representar a facção liderada por Prudente de Moraes. AG abandonou a comissão somente em 1915, por discordar da maioria na escolha do candidato a presidência do estado de S. Paulo (LANG, 1986, p. 67; SAMPAIO, 1958, p. 84).
Júlio Mesquita [1900-1920]. JFT_00_00132 Centro de MemóriaUnicamp.
O momento era o mais propício para o congraçamento ou para o “enrolar a bandeira da dissidência” e colaborar “franca e lealmente com o governo” na solução dos graves problemas econômicos, diria AG (LANG, 1986, p. 68). O governo paulista, sob o comando de Jorge Tibiriçá, firmara o Convênio de Taubaté, pelo qual o estado de São Paulo colocava em operação a mais duradora política de intervenção no mercado cafeeiro, cunhada como Política de Valorização do Café (1906-1929). A defesa da economia cafeeira consistia na compra, pelo governo paulista, dos es-
toques invendáveis de café, a preço compensador para o cafeicultor, de maneira a garantir os lucros ao setor. Sem solucionar o problema estrutural da superprodução cafeeira ou do desequilíbrio entre a crescente oferta brasileira e a estabilidade da demanda internacional, a política de valorização injetou mais ânimo à expansão das plantações de café. Ao invés de permitir que o “livre jogo das forças de mercado” eliminasse os cafeicultores menos eficientes, reduzindo a oferta, a política de valorização premiou a todos e com isso recriava as condições que alimen-
tavam a própria superprodução. Além de aprofundar o problema estrutural, a política de valorização, ao manter os preços do café artificialmente elevados no mercado mundial, estimulou a entrada de novos concorrentes mais competitivos (Colômbia, África colonial francesa, inglesa e belga), que acabaram por desbancar o Brasil como maior produtor mundial de café. Por fim, o “outubro negro” de 1929, com a crise da bolsa de New York, representou a derrota definitiva da política brasileira de controle dos preços do café no mercado mundial.
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1906 - Convênio de Taubaté - a política de valorização do café
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Colheita de café. Santa Gertrudes [19_ _] SACOP_00_01058. Centro de Memória-Unicamp.
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Trabalhadores na lavoura cafeeira. Colheita de café. HI_13_imagem_630. Arquivo Edgard Leuenroth. AEL-Unicamp.
1907 - AG e a repressão ao movimento operário. Lei Adolpho Gordo, lei de expulsão de estrangeiros.
1913 - Anarquistas sem as graças de Deus Mais arrochos foram incorporados à lei de expulsão de estrangeiros. De acordo com o crescimento do movimento operário, os legisladores, o governo e a polícia agiam com maior rigor na repressão. Em 1911, Washington Luís, então Secretário da Justiça e da Segurança Pública do governo de Albuquerque Lins, presidente do estado de São Paulo, relatou que a vigilância sobre os líderes anarquistas e socialistas havia sido redobrada. O Gabinete de Investigações e Capturas, criado em 1910, abriu, em 1911,118 prontuários de investigação de líderes operários; em 1912, 98; em 1913, 45. Em 15 anos de atuação, o gabinete elaborou 2.800 prontuários de ditos “agitadores” (FONSECA, 1996, p.36).
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Como deputado federal, Gordo apresentou o projeto de lei de expulsão de estrangeiros, que representou uma represália à organização do operariado, ao I Congresso Operário (1906) e à greve dos ferroviários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1906). Das estações de Jundiaí, Campinas e Rio Claro, o movimento dos ferroviá rios atingiu a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e outros setores industriais, como a Cervejaria de Rio Claro, a Fábrica Mac Hardy, a Lidgerwood, Faber. e alastrou-se para outras regiões, chegando a Ribeirão Preto e Sorocaba. Um movimento com essa dimensão a sociedade paulista jamais havia presenciado. Imediatamente o PRP uniu-se em solidariedade à família Prado, controladora da Cia. Paulista de Estradas de Ferro. O conselheiro Antonio Prado requereu ação repressiva da polícia junto ao presidente do estado, Jorge Tibiriçá. Esse prontamente enviou a força pública, que desfechou violenta repressão contra os operários. Era preciso prevenir o avanço da organização operária, e o PRP encarregou o deputado federal Adolpho Gordo de apresentar o projeto que visava, sobretudo, os militantes anarquistas italianos, espanhóis e portugueses. Pelo decreto n.º 1.641, de 7 de janeiro de 1907, o Presidente Afonso Pena sancionou a expulsão de estrangeiros do território nacional, sob alegação de comprometer a segurança pública ou a tranquilidade pública (LOPREATO, 2010). Definiu como estrangeiro passível de ser expulso o nascido fora de território nacional e aqui residente há dois anos, sem esposa e sem filhos. A lei acabou conhecida por “Lei Adolpho Gordo”.
Na cidade de São Paulo, concentrou-se o maior número de fábricas e, consequentemente de operários, e mais de 80% dos trabalhadores fabris eram de origem estrangeira, predominantemente, italianos, espanhóis e portugueses.
A expulsão de estrangeiros [entre 1906 e 1907] AG-3-2-9-1-1. Centro de Memória-Unicamp.
Militantes operários, trabalhadores imigrantes e as precárias condições de trabalho nas fábricas foram o fermento para o nascimento do movimento operário na cidade de São Paulo e no Rio de Janeiro. Na imprensa operária e nas portas de fábrica anarquistas, anarco-sindicalistas, socialistas denunciavam os baixos salários, as longas jornadas, a exploração do trabalho das crianças e das mulheres. O aumento na mobilização operária justificou uma nova discussão na Câmara dos Deputados,
A expulsão de Estrangeiros. Discursos de Adolpho Gordo 1912-1913. AG-3-2-9-1-03. Centro de Memória-Unicamp.
com o objetivo de manter a segurança social e política. Foi aprovada uma nova lei de expulsão de estrangeiros, mais rigorosa, prevendo a expulsão do estrangeiro que residisse há mais de dois anos e sem direito a “habeas corpus”. Consolidou-se a ideia de que a expulsão era um ato legítimo do poder executivo, cabendo ao poder
judiciário tão somente a observação da legalidade. O decreto n.º 2.741, de 8 de janeiro de 1913, revogava os artigos 3.º, 4.º e 8.º do decreto n.º 1.641, de 7 de janeiro de 1907. Na mira da lei estava a repressão às greves urbanas, mas também a prevenção delas no meio rural (LANG, 1986, p.148).
Moinho Matarazzo - Ensaccadores e costuradores [1904 - 1906] .SACOP 00_01660_23. Centro de Memória-Unicamp.
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visando abolir o artigo 3.º da Lei de Expulsão – Lei Adolpho Gordo –, que não permitia a expulsão de estrangeiro residente há mais de dois anos no País ou que fosse casado com brasileira ou tivesse filho brasileiro. AG defendeu maior rigor na legislação, sustentando o direito de expulsão como direito de soberania do País,
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Fiação e Tecelagem “Mariangela” – Tecelans” [1904 - 1906]. SACOP 00_01660_51. Centro de Memória-Unicamp.
1913 - AG, Senador da República. dor. Distintamente do pleito para deputado federal, a eleição para senador envolvia o colégio eleitoral de todo o estado, e não apenas em um único distrito. Gordo foi eleito por uma diferença expressiva de votos em relação ao adversário – 50.072 contra 6.029. AG saiu do pleito consagrado como representante da política do PRP e com reconhecimento dos eleitores de todo o estado. Elegeu-se para cumprir o período
Passe livre. E.F.Central do Brasil. 1921. AG-1-1-443 Centro de Memória-Unicamp.
Passe livre. E.F. Sorocabana. AG-1-1-479-1 Centro de Memória-Unicamp.
Passe Livre. SP Railway Cia. AG-1-1-481-1 Centro de Memória-Unicamp.
Passe livre. Cia Mogiana E.F e N. AG-1-1-483-3. Centro de Memória-Unicamp.
do mandato interrompido, o qual se encerraria em 1921. Os passes livres nas estradas férreas de São Paulo e na Central do Brasil disponíveis ao senador mostravam o quanto o político deveria percorrer para visitar seu eleitorado. Circulação por um vasto território cruzado por estradas de ferro.
Passe livre. Cantareira, Funilense e Campos do Jordão. AG-1-1-444-2. Centro de Memória-Unicamp.
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Com o repentino falecimento de Campos Salles, em 28 de junho de 1913, a representação paulista no Congresso Nacional perdeu seu senador. Novas eleições foram realizadas, tendo o deputado federal Adolpho Gordo como candidato do PRP. Detentor da preferência do partido majoritário, Gordo disputou a eleição de 17 de agosto de 1913 com Plínio de Godoy Moreira e Costa, do Partido Republicano Conserva-
1914 -1918 –Primeira Guerra Mundial A guerra marcou indelevelmente o “fim do longo século XIX”, “feito por e para a burguesia” constata o historiador britânico Hobsbawm. Um novo mundo emergiu das trincheiras, da queda dos impérios (russo, austro-húngaro e otomano), da revolução russa e da crescente influência dos Estados Unidos. O Brasil não ficou imune a essas transformações,
viu-se deslocado para o novo sistema econômico, político e cultural, girando na órbita da América no Norte (RIBEIRO, 2014). Um dos impactos mais sentidos pelos trabalhadores urbanos, principalmente nas capitais dos estados, nos anos do conflito europeu, foi o desa-
bastecimento e, consequentemente, a carestia. Em 1917, os alimentos e os bens de primeira necessidade, como vela, sabão, lenha, carvão, querosene, escasseavam nos mercados da capital paulista. Os preços eram exorbitantes. A insatisfação penetrou no movimento dos trabalhadores nas jornadas de julho de 1917.
1917– Greve geral de trabalhadores. Lei de expulsão de estrangeiros
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Por três dias, 11, 12 e 13 de julho de 1917, a cidade de São Paulo foi completamente paralisada. Era a Greve Geral, iniciada com a greve dos trabalhadores têxteis do Cotonifício Rodolfo Crespi, que reivindicavam aumento salarial e melhorias nas condições de trabalho (ALBERT, 1988). De uma greve aparentemente localizada, o movimento alastrou-se, após a morte do jovem sapateiro espanhol de 21 anos, José Ineguez Martinez, baleado pela força policial na frente da fábrica de tecidos Mariângela pertencente a Francisco Matarazzo, e integrava o complexo fabril - Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo - IRFM. O cortejo fúnebre cruzou o centro da cidade e chegou ao cemitério do Araçá com uma multidão de 10 mil pessoas. Nesse dia 11 de julho, 54 fábricas paralisaram e contabilizaram-se 20 mil grevistas. A repressão policial foi implacável, violenta, resultando em 3 mortes, 47 feridos e 2 mil presos (LOPREATO, 2000, p. 29, 38, 53). As imagens fotográficas feitas pela revista A Cigarra mostraram uma
massa compacta percorrendo as ruas estreitas do centro, envergando bandeiras vermelhas. Nunca, antes, a burguesia, a classe média e o governo paulista viram algo semelhante. Ao término das negociações entre os operários e o governo de Altino Arantes (1876-1965), presidente do estado de São Paulo entre 1916 e 1920, foi aplicada a lei de expulsão de estrangeiros de 1913 a mais arrojada. Foram deportados 5 dos 6 membros do Comitê de Defesa Proletária, que havia negociado as reivindicações e o acordo para o final da greve: Edgard Leuenroth (1881-1968), Antonio Duarte Candeias, Gigi Damiani, Theodoro Monicelli, Francisco Cianci (LANG, 1986, p. 156). Os estrangeiros entraram com pedido de habeas corpus defendidos pelo advogado Evaristo de Moraes. Temendo decisão do Supremo Tribunal Federal favorável à aceitação do habeas corpus, o Secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Eloy Chaves (1875-1964), solicitou a AG fazer a defesa da expulsão no Congresso Nacional. Com o intuído de persuadir o senador, Eloy Cha-
ves enviou-lhe uma carta em 14 de setembro de 1917, na qual asseverava: É pois obra de salvação pública. Além disso tal decisão poupa outros sacrifícios e evita talvez um futuro próximo derramamento de sangue. Adeus, meu caro Gordo, eu mto confio em seus talentos na defesa da boa causa.
AG fez a defesa no discurso proferido no senado, em 26 de setembro de 1917: [...] toda a nação tem direito, por motivos de ordem pública, de expulsar os estrangeiros que estão em seu território, sem restrições fundadas em residência ou domicílio – a lei brasileira de 8 de janeiro de 1913 é perfeitamente constitucional e vem satisfazer uma necessidade pública (Correio da Manhã, RJ, 26/09/1917)
Em telegrama, Altino Arantes, presidente do estado de São Paulo (1916-1920), comunicava ao chefe de polícia de Pernambuco a passagem do navio Curvello,
presos pelo governo paulista depois do término da greve e estavam a caminho de Fernando de Noronha e de lá para a Europa (Jornal do Commercio, RJ, 07/10/1917).
Carta de Eloy Chaves ao Senador Adolpho Gordo. AG-3-2-9-1-4–1 e 2. Centro de Memória-Unicamp.
Expulsão de Estrangeiro. Correio da Manhã, RJ., 26/09/1917. AG-3-2-9-1-6. Centro de memória-Unicamp.
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com “nove perigosos anarquistas... não convindo deixar que eles se comuniquem com quem quer que seja” (LANG, 1986, p. 156). Os “perigosos anarquistas” foram
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Expulsão de Estrangeiros. Jornal do Commercio. RJ., 07/10/1917. AG-3-2-91-10. Centro de MemóriaUnicamp.
Comício. Greve de 1917. HI_09_imagem_361. Arquivo Edgard Leuenroth. AEL-Unicamp.
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Cortejo fúnebre. Greve de 1917. HI_07_imagem_147. Arquivo Edgard Leuenroth. AEL-Unicamp.
1919– AG e a primeira lei trabalhista nacional – Lei de Acidentes de Trabalho
Do desleixo dos industriais paulistanos e do pouco caso ligado à segurança do operário - exatamente as causas mais fáceis de serem removidas e os aparelhos mais simples de se tornarem protegidos sem grande trabalho nem despesas excessivas – que causam tão grande número de aciden-
tes, que incapacitam, no mínimo ou permanentemente, tantas dezenas de trabalhadores que poderiam continuar a servir como elementos úteis para o nosso progresso industrial. (Boletim do Departamento Estadual do Trabalho, nº 10, 1º trimestre de 1914, p. 25, apud RIBEIRO, 1988, p. 118)
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O pós-guerra mudou a relação entre o capital e o trabalho, e a questão do operariado passou a ser vista como integrante da agenda social. Naqueles anos a preocupação girava em torno da formulação de uma legislação de proteção ao trabalho em nível internacional. A assinatura do Tratado de Versalhes pelo governo brasileiro e o apoio à Organização Internacional do Trabalho (ILO), homologados pelo Congresso Nacional brasileiro contribuíram para a discussão da legislação trabalhista no Brasil. Coube a AG a iniciativa de propor um projeto de lei de acidentes de trabalho. Com base nos estudos realizados pelo Departamento Estadual do Trabalho do Estado de São Paulo (DET), órgão da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, AG fundamentou a sua proposta. Desde sua criação, em 1911-1912, o DET passou a reunir informações relativas à Hospedaria de Imigrantes, à agência oficial de colocação de empregados, ao patronato agrícola etc. (CHAVES, 2012). Em 1912, diante da deterioração das instalações fabris e do avanço do movimento operário, o DET começou a fazer inquéritos sobre as condições das fábricas da capital. Em um dos inquéritos, o departamento apontou como causas de acidentes de trabalho o emprego de instrumentos e máquinas sem segurança adequada para o trabalhador. Eram as polias, serras, plainas mecânicas, engrenagens, correias e corrente elétrica que provocavam acidentes, e não a imprudência ou a falta de atenção do trabalhador. Segundo o DET, os acidentes resultavam:
Marcenaria. [1904-1909] SACOP_ 00_00746. Centro de Memória-Unicamp.
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Lavanderia. [1904-1909] SACOP_00_01635-03. Centro de Memória-Unicamp.
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Fiação. [1904-1912] SACOP_00_01660-47. Centro de Memória-Unicamp.
trabalhista (CHAVES, 2012, p. 96). O princípio norteador da lei dizia que os acidentes no trabalho eram de responsabilidade do proprietário dos estabelecimentos industrial, comercial, de prestação de serviços e agrícolas mecanizados, que era obrigado, na forma da lei, a pagar uma indenização ao operário ou a sua família.
Projetos de Lei de Acidentes de Trabalho. DET. 1917. AG-3-2-12-1-11. Centro de MemóriaUnicamp.
Projeto do Código do Trabalho. AG-3-2-12-1-12. Centro de Memória-Unicamp.
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Carta DET a Adolpho Gordo. 1917-1919. AG-3-2-12-1-09. Centro de Memória-Unicamp.
Atuando de comum acordo com o DET, AG formulou a Lei n.º 3.724, de 15 de janeiro de 1919, Lei de Acidentes de Trabalho, também denominada “Lei Adolpho Gordo”. O DET foi chamado a colaborar na regulamentação e na defesa, diante das investidas contrárias dos industriais e do Centro Industrial do Brasil, opositores ferrenhos da legislação
“trama insurrecional anarquista” (FONSECA, 1996, p.32). Assim, imediatamente os debates tomaram conta do congresso, resultando no decreto de 1921, o qual regulava a entrada e a expulsão de estrangeiros e impedia o desembarque nos portos nacionais de indivíduos nocivos à saúde (doentes), à moral (prostitutas) e à economia (velhos, mendigos, aleijados). Coube ao poder executivo federal a proibição de entrada de estrangeiros expulsos de outro país ou considerados, pela polícia do país es-
trangeiro, perigosos à ordem pública. Ampliaram-se os critérios para expulsão de estrangeiros, estendendo-se às pessoas não nascidas no Brasil e aqui residentes por cinco anos ou menos e que cometessem atos contrários à segurança pública. Dez dias após ter assinado o decreto n.º 4.247, o presidente Epitácio Pessoa assinou outro, destinado explicitamente à repressão ao anarquismo, Decreto nº 4.269 de 17 de janeiro de 1921 (LOPREATO, 2003, p.88).
Parecer n. 308. Repressão ao anarquismo. 1919. AG-3-2-9-3-2. Centro de Memória-Unicamp.
Greve contra à carestia [1917-1919] HI-10_imagem 385. Arquivo Edgard Leuenroth. AEL-Unicamp.
Acidentes de Trabalho Lei e Regulamento. 1919.
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1921– Os “indesejáveis” e a repressão ao anarquismo A política de repressão e expulsão dos indesejáveis voltou à tona no Decreto n.º 4.247, de 6 de janeiro de 1921, como uma ação do congresso nacional na defesa dos interesses dos industriais e comerciantes. Em 1919, ocorreu uma explosão acidental de uma bomba caseira, e imediatamente o caso foi denunciado como uma
gislação. Presidiu a comissão especial solicitada a dar o parecer sobre o projeto do Código Comercial, redigido pelo jurisconsulto Inglez de Souza. Atuou como membro da comissão especial incumbida de dar parecer sobre o projeto do Código Civil e da Comissão Consultiva do Ministério da Agricultura sobre acidentes de trabalho. Defendeu da tribuna do senado: a produção nacional, em especial a política de valorização do café, as leis preventivas e repres-
sivas do anarquismo, a expulsão de estrangeiros, a lei de acidentes no trabalho, “o divórcio com dissolução do vínculo em casos gravíssimos em que a continuação da vida em comum entre os esposos se torna impossível”. Da tribuna, manifestou-se a favor da liberdade de testar e da reforma da lei das sociedades anônimas, etc. Elegeu-se senador para a legislatura de 1921 a 1930, sendo interrompido por seu falecimento, em junho de 1929.
Carta de Washington Luís. Expulsão de estrangeiros. 1920. AG-3-2-9-1-18. Centro de Memória-Unicamp.
Findo o mandato de senador, AG recebeu o apoio da Comissão Diretora do PRP para se candidatar à reeleição. As eleições ocorreriam em 20 de fevereiro de 1921. Na condição de candidato e pedindo o voto dos eleitores, AG fez um balanço da sua atuação no Senado da República no período de 1913 a 1921. Foi presidente da Comissão de Justiça e Le-
Carta aos correligionários de 21 de janeiro de 1921. Balanço de sua atuação no senado de 1913 a 1921. AG-3-1-2-142. Centro de MemóriaUnicamp.
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1921 - Novas eleições para o Senado Federal
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1921 - O Caso da São Paulo Northern Railroad: Epaminondas versus Paul Deleuze. Esse caso extrapolou o escritório de advocacia de Adolpho Gordo e Antonio Mercado para ganhar as páginas dos principais jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Não foi como representante de São Paulo no Senado Federal que Adolpho Gordo atuou nesse caso, mas como advogado.
Primeiramente como advogado de Paul Deleuze e depois como feroz acusador da fraude montada por Deleuze ao fundar nos Estados Unidos da América a empresa São Paulo Northern Railroad, compradora da massa falida da Estrada de Ferro de Araraquara. A imensa documentação reunida
no conjunto Adolpho Gordo permite estabelecer nova interpretação do ruidoso caso dos negócios envolvendo companhias de estradas de ferro. Epaminondas foi o pseudônimo usado por AG nos artigos publicados no O Estado de S. Paulo para denunciar a falcatruas de Deleuze.
O caso da Northern nos devidos eixos. Livro de artigos publicados no jornal O Estado de S.Paulo. 1921. AG-2-1-14-233. Centro de Memória-Unicamp.
Caso Northern. Jornal do Commercio, 12.07.1922, p.10. AG-2-1-14-322. Centro de Memória-Unicamp.
Recorte do jornal O Estado de S. Paulo. 1920. Estrada de Ferro de Araraquara AG-2-1-14-175. Centro de Memória-Unicamp.
ao governo daquele estado, e eram bastante comprometedoras. Nelas Bernardes afirmava, em um linguajar depreciativo, que soubera do banquete “ridículo e acintoso” oferecido por Hermes da Fonseca aos “seus apaniguados”. Se isso já era terrível, o pior estava por vir: Bernardes qualificou o ex-presidente Hermes da Fonseca (1910-1914) como “esse sargentão sem compostura” e os convidados ao banquete de “canalhas”, “ousados” e “generais anarchisadores” (SILVA, 1971, p. 51). Bernardes negou a autoria. Desde o início, o grande enigma, apontado por Ruy Barbosa ao opinar pela não autenticidade das cartas, era a falta de resposta à pergunta: Como foram as cartas parar nas mãos de Oldemar Lacerda, que as vendeu para o jornal Correio da Manhã, opositor ao PRP? Não foi preciso mais nada para a disputa colocar o exército contrário à candidatura de Bernardes, ao PRP e ao PRM e apoiar a de Nilo Peçanha, da Reação Republicana. Ao fim e ao cabo, Bernardes venceu seu adversário, por 466 mil votos contra 317 mil (SILVA, 1971, p.92). Passe livre. Estrada de Ferro. Araraquara. AG-1-1-480-1 e 2. Centro de Memória-Unicamp.
A sucessão presidencial de Epitácio Pessoa revestiu-se de uma disputa acirrada e tumultuada entre Arthur Bernardes, apoiado pelo Partido Republicano Paulista, PRP, e pelo Partido Republicano
Mineiro, PRM, e Nilo Peçanha, com apoio da Reação Republicana, que reuniu as Forças Armadas e os republicanos de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco. O que diferiu essa eleição de outras disputas presidenciais normalmente acirradas foi a publicação, no jornal oposicionista Correio da Manhã do Rio de Janeiro das chamadas “cartas falsas”. As missivas compreendiam uma correspondência entre Arthur Bernardes, então presidente do estado de Minas Gerais, e Raul Soares, candidato
De qualquer modo, independentemente da veracidade ou não das missivas, o governo de Bernardes (1922-1926) sofreu brutal oposição das Forças Armadas, que o obrigaram a manter, por quase todo o seu mandato, o “estado de sítio” e a suspensão dos direitos constitucionais. Bernardes tomou posse em 15 de novembro de 1922.
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1921-1922 - As “cartas falsas” e a tumultuada campanha presidencial de 1921
Finalmente, após os resultados das eleições, o caso das “cartas” foi solucionado com a confissão de Oldemar Lacerda e de Jacinto Guimarães, o calígrafo, de serem autores da falsificação e da chantagem (SILVA, 1971, p. 78-79, p. 82-84).
1922–AG e Lei de Imprensa - Lei Adolpho Gordo O episódio das “cartas falsas” foi o antecedente que levou AG a apresentar no senado um projeto de estudos para a elaboração da lei de imprensa. Tanto o PRP quanto o PRM, abalados pelo caso das cartas, temiam novas ações dos adversários. AG atendia à resolução definida pelos chefes do partido, do presidente do estado, Washington Luiz, e das bancadas do Congresso Nacional. AG afirmava que seu projeto pretendia contribuir para discutir e formular uma lei sobre a imprensa que garantisse a “máxima liberdade crítica”, mas também a máxima responsabilidade (Diário do Congresso, Senado Federal sessão de 05/08/1922, apud. LANG, 1986, p.218).
tado de sítio na capital da República e no estado do Rio de Janeiro, imposto por Epitácio Pessoa. Porém, o Congresso funcionava perfeitamente e a imprensa também. Houve muito barulho por nada! Pouca coisa restava no projeto que não estivesse já na legislação existente, quer na Constituição, quer no Código Penal. Portanto, toda a crítica suscitada tencionava polemizar com o governo. O mesmo poderia ser dito do apoio que se fazia para enaltecer a iniciativa do partido do governo. E o estranho era a alusão às “cartas falsas”, pois elas não eram anônimas, ao contrário eram supostamente assinadas por Arthur Bernardes. O problema consistia no fato de que eram falsas e produzidas por escroques e falsários! Como prevenir-se contra a ação de escroques e falsários?
O anonimato era a principal preocupação do senador, que propôs sua proibição nas sessões editoriais e nas livres dos jornais. De fato, o projeto parecia apenas suscitar a discussão, pois não modificava nada em relação à Constituição de 1891, que determinava, no artigo 72, parágrafo 12: Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento pela imprensa e pela tribuna, sem dependência de censura, responsabilizando cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato.
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Aparentemente, o aspecto inovador era a instituição do direito de resposta, que seguia o modelo francês, segundo AG. De mais nada o projeto tratava, mantendo as disposições do Código Penal quanto aos delitos de injúria e calúnia. Muita polêmica o projeto causou e muitas críticas – e, até mesmo, ameaça de morte AG recebeu, em carta assinada por: um que sabe.
Carta de ameaça de morte. 20/12/1922. AG-1-1-478. Centro de Memória-Unicamp.
Na imprensa, a recepção ao projeto apenas aprofundou a divisão já existente entre apoiadores e opositores ao governo. No Rio de Janeiro, dois jornais monopolizavam a discussão: O País, a favor do governo, e o Correio da Manhã, contra o governo por excelência. Em São Paulo, dos jornais de maior circulação, O Estado de S. Paulo era dito “independente” e o Correio Paulistano era o órgão oficial do PRP. Os demais eram todos favoráveis ao governo. O Estado de S. Paulo sustentava não ser o momento oportuno para discutir, pois imperava o es-
Por fim, a obrigatoriedade de assinatura nos editoriais dos jornais, proposta no projeto, foi retirada pelo próprio autor, que concordou ser desnecessária, pois nos editoriais constava a opinião do dono do jornal; logo, eram implicitamente assinados. Quanto ao direito de resposta, aprovou-se que o direito fosse exercido no mesmo espaço e nas mesmas dimensões. Tanta polêmica concentrou-se no projeto de lei de imprensa, que AG desabafava com familiares que já estava “farto do Irineu [Machado, senador pelo DF entre 1916 e 1923], do projeto da imprensa e da própria imprensa!” (Familiares. Carta de 14/10/1922 apud LANG, 1986, p. 239). AG, fiel às orientações partidárias, resistia. O jornal O Malho, de 10 de novembro de 1923, critica a atuação do AG na lei da imprensa. A imprensa está presa na gaiola e o melro, surpreso com a situação, pergunta:
- Quem vos metteu aqui? - Foi aquelle homem gordo. Elle é tão feio!...
1926 – Reforma da Constituição: o fortalecimento do presidencialismo e o enfraquecimento do federalismo Durante o tumultuado governo de Arthur Bernardes (1922-1926), o PRP e o PRM propuseram a reforma nos artigos da Constituição de 1891 que tratavam do relacionamento entre o poder central e as unidades federadas. Uma revisão, segundo os partidos governistas, tornava-se cada dia mais urgente, para viabilizar o funcionamento do governo. O foco era o artigo 6.º, referente à intervenção federal nos estados. Em síntese, a proposta equivalia a conferir maior poder ao governo central da União, em detrimento dos estados federados. Uma crítica constantemente feita à Constituição de 1891 apontava seu excessivo liberalismo. AG participava como redator da comissão especial de 21 membros formada para avaliar o excesso de liberalismo e a forma de eliminá-lo por meio da reforma da Constituição de 1891.
posta pelo Executivo e decidida no Congresso Nacional e/ou no Superior Tribunal Federal. Reservava a decisão monocrática ao poder executivo, no caso de invasão estrangeira, guerra civil e de invasão de um estado por outro. Ainda como fortalecimento do poder central, a emenda ao artigo 37 garantia o veto total ou parcial do presidente a projeto aprovado no Congresso Nacional. Outra
O Malho, RJ. 10 de novembro de 1923. A charge critica a iniciativa de AG na Lei de Imprensa. AG-3-2-7-057. Centro de Memória-Unicamp.
Por fim, o projeto foi aprovado na sessão do senado de 29/10/1923, mas tão desfigurado, que pouco lembrava o projeto original de AG. Mesmo assim, recebeu o nome do senador que tomara pioneiramente a iniciativa de apresentá-lo. Foi sancionado pelo Presidente Arthur Bernardes como Decreto n.º 4.743, de 31 de outubro de 1923.
A reforma passou pelo Senado, foi para a Câmara, onde foi aprovada, em 10 de julho de 1926, e seguiu novamente para o Senado. Finalmente, as duas casas do Congresso a aprovaram, em 28 de agosto de 1926. Foram aprovadas cinco emendas à Constituição de 1891. A primeira, referente ao artigo 6.º, que determinava as situações nas quais o poder executivo da União poderia intervir nos estados, ampliando as prerrogativas de intervenção: em estados insolventes; para garantir autonomia municipal e para encerrar conflitos civis (LANG, 1986, p. 311). Em todos os casos, a intervenção era pro-
Carta de ameaça de morte. 15/11/1925. AG-1-1-593. Centro de Memória-Unicamp.
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Uma nova ameaça foi dirigida ao senador Gordo: um Aviso cujo teor da ameaça remete ao assassinato de José Gomes Pinheiro Machado (1851-1915), ocorrido no Hotel dos Estrangeiros, apunhalado pelas costas. Casualmente, no mesmo hotel onde AG se hospedava.
emenda ao artigo 72 atribuía ao Presidente da República a prerrogativa de expulsar estrangeiros “perniciosos à ordem pública”, sem que os atingidos pela medida tivessem direito de impetrar recursos ao Poder Judiciário. O desequilíbrio entre os poderes ganhou maior realce com o impedimento do poder judiciário de julgar atos do executivo ou do legislativo durante o estado de sítio ou em intervenções nos estados. A reação à reforma foi imediata: o jornal O Estado de S. Paulo posicionou-se radicalmente contrário ao fortalecimento do poder presidencial de forma desmedida e à redução da autonomia dos estados. Recomeçava uma nova cisão na família do partido republicano paulista.
perdeu o registro no governo de Arthur Bernardes: tendo sido posto na clandestinidade, somente o recuperou em 1927. A Revolução de 1924, em São Paulo, chefiada por Isidoro Dias Lopes, que visava à
derrubada de Arthur Bernardes, e a Coluna Prestes, que percorreu os sertões para descobrir o Brasil desconhecido, foram outros eventos que agitaram a década de 1920.
1927 Conférence Parlementaire Internacionale du Commerce. Rio de Janeiro. Rudolf Hilferding no Brasil. Adolpho Gordo participou no mínimo de três Conferências Parlamentares Internacionais de Comér-
cio: em Roma, em 1925, no Rio de Janeiro, em 1927, e em Versailles, em 1928.
1926 - Formação do Partido Democrático de São Paulo: uma nova cisão do PRP
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A reforma da constituinte gerou nova cisão entre os republicanos paulistas. Os últimos dissidentes de 1901 do PRP fundaram o Partido Democrático. Uma parte da parentela de Adolpho Gordo aderiu ao novo partido: Júlio Mesquita, Paulo de Moraes Barros, Frederico Vergueiro Steidel e Prudente de Moraes Neto. AG manteve-se no PRP – pela primeira vez, afastava-se da parentela para permanecer junto ao governo. Nos agitados anos da década de 1920, registraram-se outros acontecimentos, desde as grandes efemérides, como o centenário da Independência (1922), à revolução cultural proposta pelos artistas e poetas da Semana de Arte Moderna em São Paulo. Aos acontecimentos culturais mesclaram-se os políticos, como a fundação do Partido Comunista Brasileiro, PCB, em 1922, que funcionou legalmente de março a julho. O PCB
Fotografia de um grupo de pessoas entre elas Adolpho Gordo e o comandante do navio na viagem para Roma. Conferência Parlamentar Internacional de Comércio. Roma, 1925 AG-3-2-6-9-42. Centro de Memória-Unicamp.
Conférence Parlementaire Internacionale du Commerce. RJ.,1927 AG-3-2-6-9-62. Centro de Memória-Unicamp.
No turbilhão de acontecimentos que envolveram a década de 1920, AG levou ao senado a discussão da extensão do direito à cidadania às mulheres, por
criação de um banco de crédito agrícola internacional. No ano de 1927, a cidade do Rio de Janeiro foi a anfitriã da conferência que contou com a importante participação da delegação da Alemanha liderada Rudolf Hilferding (1877-1941), então deputado do Reichs-
tag e ex-ministro das Finanças da República de Weimar (1923 e 1928-1929). Hilferding foi o responsável pela redação da Primeira Resolução da Conferência a qual propunha restrições aos abusos do poder monopolista dos conglomerados “Cartéis e Trustes”.
Retrato dos delegados da Conferência Parlamentar Internacional do Comércio, RJ, 1927. Sentados da esquerda para direita: em terceiro lugar, Adolpho Gordo e em quinto lugar, ao centro, Rudolf Hilferding. AG-1-1-782. Centro de Memória-Unicamp.
meio do direito ao voto, do direito de escolher seus representantes e de candidatar-se a cargos legislativos e executivos e a questão do divórcio com disso-
lução dos laços matrimoniais e o reconhecimento de uma segunda núpcia.
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O crédito agrícola, a organização hipotecária agrícola, assim como, a exploração de riquezas para o comércio entre as nações foram os temas tratados pelo senador. Foi eleito vice-presidente da comissão permanente de crédito agrícola, que visava estudar a
1927 - AG e o voto feminino Em 1927, quando AG subiu à tribuna do senado em defesa da extensão do sufrágio às mulheres, amplificou a luta política travada pela Federação Brasi-
leira para o Progresso Feminino, FBPF. Em 1919, o senador pelo estado do Pará, Justo Chermon, apresentou um projeto, franqueando às mulheres direito
ao voto, porém, o projeto foi rejeitado e engavetado (MARQUES, 2016). AG desengavetou o projeto em atenção à luta das mulheres ligadas à FBPF.
Telegrama de Bertha Lutz. Voto feminino no Rio Grande do Norte. AG-3-2-14-011. Centro de Memória-Unicamp.
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Carta de Bertha Lutz a Adolpho Gordo. 1924. AG-3-2-14-005 Centro de Memória-Unicamp.
Criada em 1927, a FBPF, presidida por Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976), orientou a luta pelo voto feminino para a conquista de apoio dentro do poder legislativo. E foi AG quem assumiu a defesa da constitucionalidade da luta da organização feminina. Um primeiro tópico abordado dizia respeito à constitucionalidade ou não do voto feminino. Alguns senadores defendiam
que a Carta Magna de 1891 negara o direito do voto às mulheres. No célebre discurso de 12 de dezembro de 1927, no senado, AG destacou cada um dos argumentos lançados pelos opositores do direito ao sufrágio feminino. Destrinchou seus conteúdos, mostrou suas incongruências e contra-argumentou. Examinou sob o ponto de vista jurídico e constitucional e contestou que a Carta Magna negasse à mulher o direito ao sufrágio, indicando o artigo 70 e 69, nos quais não havia qualquer dispositivo contrário ao direito político da mulher. Os opositores contra-argumentaram que, se as mulheres fossem consideradas como qualquer cidadão brasileiro também deveriam prestar serviço militar. Outro opositor ligado à corrente filosófica
Estatutos da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. 1927. AG-3-2-14. Centro de Memória-Unicamp.
positivista retrucou que o direito ao voto iria afastar a mulher da família e da sua “missão educar os filhos”. Por fim, Thomaz Rodrigues, senador pelo Ceará, argumentou que a mulher “deve feminizar-se cada vez mais para felicidade e encanto da vida”, e o direito ao voto “masculiniza” a mulher (Trechos do discurso de AG de 12/12/1927, na defesa do voto feminino).
Propaganda do voto feminino. Rio Grande Norte. 1928. AG-3-2-14-125. Centro de Memória-Unicamp.
Rio Grande do Norte foi o primeiro estado a aceitar mulheres no alistamento eleitoral, graças ao senador potiguar Juvenal Lamartine, que renunciou à senatoria para disputar a candidatura à Presidência do estado. Na campanha de seu sucessor ao senado, a direção da FBPF revolucionou a campanha do presidente do estado e do senador. Bertha e Maria Eugenia sobrevoaram a cidade de Natal, lançando os panfletos dos candidatos e da FBPF. Era um acontecimento inusitado e deu à FBPF grande visibilidade.
O candidato venceu as eleições, mas o senado federal anulou os votos das mulheres (MARQUES, 2016). No senado, construiu-se uma barreira contra o direito político da mulher e, assim, novamente, o projeto levado por AG foi rejeitado. Somente em 1932, Getúlio Vargas assinou decreto regulando o direito ao voto feminino.
Movimento Feminista Brasileiro. O Paiz. 1925. AG-3-2-14-006. Centro de Memória-Unicamp.
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Discurso de AG a favor do voto feminino. 1927. AG-3-2-14-037. Centro de Memória-Unicamp.
1929 – A discussão do divórcio Três momentos foram assinalados pela discussão do divórcio: em 1901 e 1912, quando do debate do Código Civil e em 1929, quando o tema voltou ao senado, conduzido pelo senador AG. O divórcio foi uma das últimas discussões que AG travou no Congresso Nacional.
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No Império, a anulação ou a separação de casamento era da alçada do Tribunal Eclesiástico, pois o casamento constituía um sacramento religioso da Igreja Católica Apostólica Romana. A anulação era prevista para casos nos quais não houvesse a consumação do casamento, enquanto a separação dependia da comprovação de adultério, sevícias, abandono do lar, injúria grave ou doenças infecciosas. De qualquer modo, não se admitia uma nova união. Na República, com a separação da Igreja do Estado, instituiu-se o casamento civil, o único juridicamente reconhecido. Pelo Decreto n.º 181, de 24 de janeiro de 1890, instituiu-se a separação legal ou divórcio, no qual não se dissolviam os laços matrimoniais, as partes permaneciam casadas, mas não coabitavam e, consequentemente, não era permitido novo matrimonio. A Constituição de 1891 referendou as mesmas condições do divórcio constantes do decreto de 1890, com manutenção dos laços matrimoniais “a mensa et thoro”, impedindo novo casamento. Na longa e interminável discussão do Código Civil, no capítulo do Direito de Família, a questão veio à tona, mas não foi estabelecida a dissolução dos vínculos matrimoniais. Foram acrescentadas mais razões para fundamentar a concessão do divórcio: condenação do cônjuge em crimes previstos no Código Penal; condenação por mais de 20 anos; demência ou loucura irremediável, depois de três anos de constância do casamento (LANG, 1986, p.166). Em 1929, AG levou o debate do divórcio ao Senado, por estar alarmado com as mudanças dos tempos e dos
costumes, com a enorme quantidade de pedidos de desquites e por estar convencido de que somente o divórcio a vínculo preservaria a família (A Manhã, Rio de Janeiro, 21 de maio de 1929, p. 1, apud LANG, 1986, p. 173). Na retomada do debate, AG retornou aos principais pontos do programa republicano. Dois pontos mereceram destaque: a separação da Igreja do Estado e a concepção do casamento como um contrato. A República fundou o Estado laico, ou seja, o não reconhecimento de nenhuma religião como oficial; entretanto, a manutenção dos vínculos matrimoniais, uma exigência religiosa, negava o princípio da separação da Igreja do Estado. Portanto, a República não poderia se submeter aos sacramentos de uma única religião em detrimento de outras. Apesar de todos os protestos das bancadas católicas e da pressão da Igreja, AG defendeu, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o divórcio com dissolução dos laços matrimoniais. Em um discurso memorável, transcrito no Diário do Congresso Nacional, em 02 de julho de 1929, fez a mais ardorosa defesa do rompimento dos laços matrimoniais.
Diário do Congresso Nacional. 02 de julho de 1929, ano XL, nº 50, p. 996. AG-3-1-2-3-236. Centro de MemóriaUnicamp.
Um segundo aspecto abordado por AG dizia respeito ao contrato de casamento. Sob o ponto de vista jurídico, na República, o contrato não podia ser indissolúvel, o que feria a liberdade dos indivíduos. Assim, a indissolubilidade do casamento desvirtuava o princípio do contrato, transformando um dogma em lei. Iniciado em 20 de maio de 1929, o debate foi interrompido com a morte súbita do senador. O epílogo ocorreu em 1977. A Lei n.º 6.515, de 26 de dezembro de 1977, lei do divórcio, com a dissolução dos laços matrimoniais, foi aprovada, após longa luta de AG e continuada pelo senador Nelson Carneiro (1910-1996).
1929 - Adeus a Adolpho Gordo Na manhã de 29 de junho de 1929, ao se dirigir ao velório do senador fluminense Joaquim Monteiro, no Rio de Janeiro, AG foi atropelado por um caminhão. Sem perceber a aproximação do veículo, que trafegava em alta velocidade, AG não teve tempo para esboçar qualquer reação. O acidente foi fatal. Ironicamente, o acidente ocorreu à Rua Senador Vergueiro, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, companheiro de seu pai nas lutas liberais e patriarca da família à qual AG pertencia por vínculos de casamento, amizade e políticos e avó de sua primeira esposa. O corpo do senador foi traslado para São Paulo. Chegou à estação do Norte e seguiu para o cemitério da Ordem Terceira do Carmo, onde foi sepultado. Há no conjunto Adolpho Gordo o escapulário de N. S.
Funerais do senador Adolpho Gordo. 1929. AG-1-1-1-049. Centro de Memória-Unicamp.
Recorte do periódico Diário de S. Paulo de 30 jun. 1929. Acidente e falecimento de Adolpho Affonso da Silva Gordo. AG-1-1-1-6. Centro de Memória-Unicamp.
Escapulário N.S. do Carmo. AG-1-1-861. Centro de Memória-Unicamp.
Albertina e Adolpho. AG-1-1-783. Centro de Memória-Unicamp.
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do Carmo da mesma ordem onde foi enterrado. Esse escapulário deu origem ao uso de escapulários dos santos católicos de devoção para obter proteção contra os inimigos. No centro do escapulário encontra-se a estampa da Virgem Maria e o Menino, representando Nossa Senhora do Carmo, padroeira da ordem dos Carmelitas.
De forma trágica, Adolpho Affonso da Silva Gordo, aos 71 anos, deixava a vida. Adolpho Gordo viveu um tempo de grandes mudanças - propaganda republicana, organização do PRP, abolição da escravidão, política imigratória, queda da monarquia, proclamação da República, movimento operário, anarquismo, expulsão dos estrangeiros, divórcio, valorização do café, industrialização, voto feminino, cisões e congraçamentos. Sua vida foi construída na família e na política, tendo legado leis, projetos, debates, ideias que marcaram a sociedade paulista e brasileira da Primeira República.
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O conjunto Adolpho Gordo é um convite para se conhecer mais dessa história.
Adolpho Gordo com bengala. AG-1-1-784. Centro de Memória-Unicamp.
Roteiro das Imagens Capa: Adolpho Gordo. [1873-1879]. AG-1-1-3. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo. [1875-1879] . AG-1-1-10. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
[ALBUM da Guerra do Paraguay]. [s.l.: s.n.]. 1872. S. Majestade o Sñr. Dom Pedro II, S. Alteza o Sñr. Conde d’Eu, e S. Alteza o Sñr. Duque de Saxe quando estiveram em Uruguayana, em 1865] Disponível em: http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/ div_iconografia/icon1387682_90/icon1387682_90.pdf. Acesso em: 11 ago. 2019. Prudente de Moraes. 1882. Adelaide Prudente de Moraes. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Adolpho Gordo. [1925-1929]. AG-1-1-783. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Mapa agrícola do Estado de São Paulo. 1906. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Detalhe do mapa agrícola do Estado de São Paulo. 1906. “Oeste Paulista”. Biblioteca “José Roberto Amaral Lapa”. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Salto do Rio Piracicaba. [1900-1909]. Autoria não identificada. SACOP_00_00697. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo e seu pai. 1860. Autoria não identificada. Busch, 1970, p. 132-133. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
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Cia Docas de Santos. (1909). Autoria não identificada. SACOP_ 00_00634. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Cia Docas de Santos. (1909). Autoria não identificada. SACOP_ 00_00748. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
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Texto do catálogo:
Fazenda Santa Silvéria. [190_] SP. Autoria não identificada. SACOP_ 00_00731. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Seis deputados do Partido Republicano Paulista, PRP. 1882. LOVE, 1982. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Faculdade de Direito. [1900-1909]. Autoria não identificada. SACOP_ 00_00777. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
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Manoel Ferraz de Campos Salles. JFT_00_00148. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Francisco Quirino dos Santos. CAMPOS SALLES, M. F. Homenagem póstuma a F. Quirino dos Santos. Apontamentos biográficos. Campinas: J. Salles Pinto, 1887. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Bernardino de Campos. CAMPOS FILHO, Sylvio de. Bernardino de Campos. São Paulo: Livraria Martins, 1941. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo. 1877. AG-1-1-2. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo. [1875-1879]. AG-1-1-9. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo e Antonio Augusto Rodrigues de Moraes. [1877-1879]. AG-1-1-8. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo e colegas da Academia de Direito. [1875-1879]. AG-1-1-7. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Família Silva Gordo e suas conexões I. Elaborado por Maria Aparecida Alvim de Camargo Penteado. 2019. Dr. Cesário N. Motta Magalhães Junior Museu Republicano Convenção de Itu-SP (USP).
Projeto Monumenta – Três escravos com cestos. Porto Alegre-RS. Hospedaria dos Imigrantes. [1900-1909]. Autoria não identificada. SACOP 00_01635-02. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Pátio da Hospedaria dos Imigrantes. [1900-1909]. Autoria não identificada. SACOP 00_00596. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Rua XV de Novembro. São Paulo. [1896-1909]. Autoria não identificada. SACOP_00_00621. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Viaduto do Chá. São Paulo. [1892-1909]. Autoria não identificada. SACOP_00_00620. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Adolpho Gordo. [191_]. AG-1-1-350. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Princesa Isabel. SBIR_00_00043f. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Família Real. [1889]. SBIR-00-00042f. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. 1891. Prudente de Moraes (no centro) preside a Constituinte republicana. Óleo de Aurélio de Figueiredo. Museu da República Rio de Janeiro-RJ.
Capivari. Câmara Municipal. [1884-1887]. Arquivo da Câmara Municipal de Capivari-SP. Capivari. Mercado Municipal. [1884-1887]. Arquivo da Câmara Municipal de Capivari-SP.
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Expulsão de Estrangeiro. Correio da Manhã. Rio de Janeiro-RJ. 26/09/1917. AG-3-2-9-1-6. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Adolpho e Albertina em Paris. [1906 -1916]. AG-1-1-57-F. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Expulsão de Estrangeiros. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro-RJ. 07/10/1917. AG-3-2-9-1-10. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
Júlio Mesquita. [1900-1920]. JFT_00_00132. Centro de Memória-Unicamp, Campinas-SP.
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