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AMOR QUE FICA

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SABER ANCESTRAL

SABER ANCESTRAL

Uma das certezas da vida, a perda de algo ou alguém é marcada por sentimentos intensos que diferem de ser para ser; até a aceitação, são várias as fases, que incluem negação, raiva e barganha

dela nasceu já desenganado pelos médicos. Viveu por 21 anos. Quando ele se foi, a negação veio com força. Junto com ela, a revolta. “Você quer saber por quê isso aconteceu com você, aí nega toda fé que tem, tudo que já viveu. É uma dor tão intensa... Pode vir Deus falar com você e você não quer saber”, lembra. “Ficava pensado: para tudo tem remédio... E aí você toma um susto, olha e pensa que não tem jeito, não tem jeito mesmo”.

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A estudante Amanda Reis Mattoso, 19, também sentiu isso na pele. Ela escolheu não enfrentar o luto de primeira quando o pai morreu. “Foram três anos da minha vida que eu apaguei. Não lembro o nome dos meus professores, nem o que eu fazia”. O retorno foi lento e difícil. “Tudo o que acontecia, usava a morte do meu pai como desculpa”. Um ano mais velha, a irmã de Amanda, a também estudante Isabela Mattoso, sentiu o luto de outra maneira. “Eu me desesperei, e procurei um substituto para o meu pai logo de cara, que era meu irmão, e aí procurei escapes para não pensar naquilo. Foquei em preparar minha festa de 15 anos e me entregar totalmente à escola”, conta Isabela.

A morte está mais presente no dia a dia do que se pensa. Ela é vivida de diversas maneiras. A gravidez e o nascimento de um filho, as separações, a velhice e o fim da infância são consideradas mortes. Na verdade, tudo aquilo que se chega ao fim, que se perde, é considerado morte de algo. Cada pequena ou grande perda produz um luto que nos coloca diante da finitude. “O luto não é doença e não é a morte. É um processo psicológico que vem após uma perda importante ou significativa que pode ser uma morte concreta ou não”, conclui o especialista em tanatologia.

A estudante Paloma Albuquerque, 19, vivenciou a morte simbólica quando passou pelo fim de um relacionamento. “É mais traumático com o nosso primeiro amor, né? Que a gente se envolve mais, se entrega mais, que a gente ainda não sabe que as coisas podem dar errado”, opina. O reconhecimento do ponto final foi um processo difícil. “Quando acaba, a gente percebe que não é assim, as pessoas erram. A gente erra também e não é porque a gente ama uma pessoa que as coisas vão dar certo”, comenta.

Na segunda fase descrita pelos estudiosos, nomeada como “anseio e busca da figura perdida”, são comuns as alucinações e delírios. "Eu tentava procurá-lo em todos os lugares, queria que ele estivesse aqui. Tinha vezes que o enxergava de verdade e, quando chegava mais perto, percebia que não era ele", lembra Amanda. Ela tinha 3 anos quando o pai descobriu um tumor no cérebro. Ele conviveu S e a morte é uma das certezas que se tem na vida, passar pelo luto também é inevitável. Quando se perde alguém ou algo, seja simbolicamente ou de forma concreta, também se perde um pouco de si mesmo. Viver pode não ter mais sentido e acordar fica mais difícil. Esse é o processo de luto, geralmente marcado por muitas idas e vindas, caos, fuga e dor. “Nós temos uma sequência a ser cumprida na existência. A gente nasce e um dia a gente morre. A morte é universal. Você não tem como não querer isso. É um fato. Então por que não busco trabalhar para aprender a lidar com esse fato inapelável que é a ideia de que um dia vamos morrer?”, questiona o psicólogo clínico Carlos Henrique de Aragão Neto, especialista em tanatologia.

A tanatologia é responsável pelo estudo da morte e do morrer. É um campo do conhecimento que se dedica à pesquisa dos aspectos psicológicos e sociais e mostra como o fenômeno da morte desencadeia reações e dificuldades em vários campos de atuação, como o luto, os cuidados paliativos, o suicídio, a eutanásia, dentre outros. Aragão Neto observa que o processo difere de ser para ser. “Cada um vai entrar do seu jeito, da sua forma, no seu tempo e às vezes não entra na mesma velocidade. Você pode estar ali na barganha com Deus e depois voltar a negar e ter raiva”.

A primeira das fases neste longo processo é o entorpecimento. “A pessoa fica completamente desnorteada. Perde a noção de tempo e de espaço. Isso pode acontecer por horas, dias ou até mesmo anos", explica o especialista em tanatologia. Ele cita o psicanalista britânico John Bowlby, responsável pela Teoria do Apego, segundo a qual existe um profundo vínculo afetivo entre um indivíduo e outro ou mesmo com um fato (ver box). O estudo busca compreender a forte reação emocional que ocorre quando esses laços são ameaçados ou rompidos, como no luto pós morte.

A jornalista Adriana Soares, 52 anos, sabe bem o que é isso. O filho “O luto não é doença e não é a morte. É um processo psicológico que vem após uma perda importante ou significativa”

Carlos Aragão Neto, especialista em tanatologia

ADRIANA USOU o artesanato como uma das formas de escape para a dor do luto

com a doença por nove anos. A menina estava no colégio quando recebeu a notícia. “Minhas primas foram me buscar mais cedo e falaram: seu pai deu uma piorada. Naquela hora eu sabia que ele tinha ido”.

Nessa fase, o enlutado começa a assimilar devagarinho os fatos e, ao mesmo tempo, faz de tudo para sentir novamente a presença da pessoa que se foi. “Você faz um esforço gigantesco ao ponto de alucinar para trazer essa pessoa de volta, mesmo que simbolicamente”, explica Aragão Neto. Duas sensações se alternam com frequência nessa etapa: o racional tenta entender que a morte aconteceu e sofrer com a situação, enquanto o emocional tem dificuldades em aceitar. “Eu sempre pensava: vou chegar em casa e vou contar essa novidade para ela. Mas quando eu chegava, ela não estava lá. Aí bate a falta da pessoa...”, conta a publicitária, Mariana Brasil, de 25 anos, que perdeu a mãe para um câncer de pâncreas.

Depois de um tempo, se entende que, com todo esforço e alucinação, não é possível fazer ninguém voltar. E a realidade começa, aos poucos, a ser percebida. É a fase nomeada por Bowlby de desorganização, marcada por sentir o luto da forma mais aguda até reconhecë-lo integralmente. A dor da ausência aperta. É quando se busca "ficar amigo da escuridão antes de ver a luz". A assistente social Jamilla Trevizan, especialista em cuidados paliativos, observa que esta

TEORIAS SOBRE O LUTO

EDWARD JOHN MOSTYN BOWLBY: nascido em Londres, atuou como psicólogo, psiquiatra e psicanalista. Desenvolveu a Teoria do Apego a partir do estudo do vínculo desenvolvido por recém-nascidos com as mães e outros cuidadores. Pela teoria, apego significa um vínculo afetivo ou ligação entre um indivíduo e uma figura e o luto é composto por quatro fases: Entorpecimento: Fase inicial marcada pelo estado de choque e explosões de aflição; Anseio e busca da figura perdida: Misto de raiva e culpa. Racionalmente, tenta entender que a morte aconteceu, mas tem dificuldades; Desorganização e desespero: Predomínio de forte sentimento de culpa e falta da pessoa ; Reorganização: O enlutado começa a entender melhor a situação. ELIZABETH KÜBLER–ROSS: No livro Sobre a Morte e o Morrer, lista os 5 estágios do luto, fruto da observação com pacientes terminais: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Negação: "Isso não pode estar acontecendo comigo". Pacientes ou familiares se recusam a aceitar a notícia; Raiva: "Por que isso está acontecendo comigo?". Entra o sentimento de revolta, e o indivíduo se sente injustiçado; Barganha: "Se o senhor me curar, vou ser uma pessoa melhor". A pessoa já negou e se revoltou, então começa a negociar (geralmente com Deus) e a fazer promessas; Depressão: "Não posso suportar a ideia de morrer". A depressão não é a forma clínica conhecida hoje. É uma fase de tristeza profunda, melancolia e isolamento; Aceitação: "Estou pronto". Existe certo grau de “tranquila expectativa”, que não se deve confundir com felicidade. O indivíduo entende a situação que passa e se prepara.

fase costuma ser acompanhada por arrependimento e culpa. “Vem o peso na consciência. Eu sabia que ele estava ruim, por que não o visitei? Por que não estive mais do lado dele?”.

O luto é um processo que foge do controle de qualquer um e não tem data certa para acabar, se é que acaba um dia. É preciso coragem para abraçá-lo e senti-lo. O que não se deve fazer é jogá-lo em uma gaveta e fingir que nunca existiu. Mais cedo ou mais tarde, sem perceber, ele volta. Três anos depois da morte do pai, Amanda se permitiu sentir novamente e abraçou a dor. “Como eu fiquei muito tempo desligada, quando eu voltei, percebi que perdi um tempo importante da minha vida, que era para eu ter me descoberto. Passei a ter muitas crises de ansiedade e a chorar muito”.

A artesã Cynara Brito, 39, passou por essa fase depois de ter sofrido uma perda gestacional. “Foi como se eu tivesse dado um pulo no escuro sem saber onde ia cair, porque foi realmente isso. Quando descobri que ela não tinha chance de nascer viva, foi como se tivessem tirado o chão dos meus pés, eu no escuro sem ter uma parede para encostar, para poder me apoiar”. A sensação de se perder no tempo e no espaço é comum, como relata Adriana. “Eu sentia que tinha um buraco tão grande na minha frente e imenso, com um abismo enorme e eu estava na ponta”. Até que conseguisse sentir o luto, foi necessário algum tempo. "Aí eu vivi esse luto tanto. Vivi intensamente. E eu pensava que eu tinha direito. Gente, qual é? Perdi um filho. Tenho direito, sim. É um sentimento meu".

Recém-casada, Adriana engravidou e teve uma gestação complicada. No sexto mês de gravidez, precisou fazer o parto para salvar a si e ao filho, Fernando. O menino nasceu prematuro, muito pequeno e com uma doença rara. Ele tinha mielomenigocele, o tipo mais grave de espinha bífida, quando os ossos da coluna vertebral do bebê não se desenvolvem adequadamente durante a gestação, causando o aparecimento de uma bolsa nas costas que contém a medula, nervos e líquido. Além disso, Fernando não tinha os rins. “Os médicos falavam que ele não ia sobreviver. Chegaram a dizer que ele seria um vegetal”.

Depois de praticamente dois anos no hospital e uma série de cirurgias, Adriana e o marido levaram Fernando para casa. O menino foi crescendo, aprendeu a falar, era internado de vez em quando e vivia um dia após o outro. “Ele viveu 21 anos bem, e feliz. Claro que dentro das limitações dele. Ele foi um presente para nós. Mas a gente sempre sabia que, uma hora, ele ia embora”.

Adriana perdeu o filho para uma doença chamada peritonite, que é uma inflamação da membrana que reveste a parte interna do abdômen e recobre a maioria dos órgãos da região abdominal. “Os médicos nunca acreditaram, porque o normal desses pacientes é que tenham pelo menos duas ou três infecções por ano. Mas o Fê nunca tinha tido nenhuma. Porém, a primeira que ele pegou, o levou”.

A cultura de hoje muitas vezes não permite que a pessoa viva essa fase de luto e, especialmente, a fase da desorganização. Existe uma certa cobrança pela negação da dor. "As pessoas não têm tempo para nada hoje em dia. O tempo todo é para produzir. Você vai ter tempo para sentar com alguém para conversar sobre morte?”, questiona Aragão Neto.

A morte já foi considerada como natural e tranquila pelo ser humano. Antigamente, era marcada por rituais e cerimônias públicas nas quais todos participavam e eram autorizados a expressar os sentimentos pela perda. Na Idade Média, por exemplo, já existiam rituais para despedidas, onde a morte era encarada como tranquila e dividida entre os familiares.

Com o passar do tempo, embora vista como algo certeiro, a morte começou a ser percebida como fracasso, colocando em evidência a impotência diante dela, em um modelo social em que todos trabalham para adiá-la. A sociedade começou a ter dificuldade em lidar com a ideia de finitude e passou a ter uma busca incessante pela imortalidade. “As pessoas querem viver 150 anos a qualquer custo, nem que seja vegetando. Alimenta-se insanamente a juventude”, analisa Aragão Neto.

Os “fast funerals”, ou funerais rápidos, que encurtam etapas como velório e cerimônias, são exemplos da tentativa de contornar a dor. "No passado, você iria em um velório de dois dias. Hoje em dia, dura duas, três, quatro horas e muitas vezes o parente está aqui do lado e não tem nem tempo para vir se despedir", acrescenta o JAMILLA MOSTRA o quadro no qual todos os pacientes deixam uma lembrança “Esse buraco que você sente é o vazio que ele deixou. Você precisa amar esse buraco. Aprender a conviver com ele. Olhá-lo com amor e saber que agora existe" Adriana, que perdeu o filho

psicólogo. É a cobrança social para se evitar a vivência do luto. "É preciso seguir em frente", "foi melhor assim" são frases que buscam consolar, mas evitam que as pessoas extravasem o que sentem de fato e as obriga a seguir com a vida como se nada tivesse acontecido. "Todo mundo dizia ‘não chora que para ele é pior’. Gente é muito doloroso e torturador, porque a pessoa tem que chorar, tem que sofrer, tem que viver aquilo. Como é que eu não ia chorar?", questiona Adriana.

Se o luto é um processo, a escuridão do luto é uma experiência necessária. É um tempo natural de depressão, de quietude, de instabilidade e de dor. Mas, mesmo nesta etapa de escuridão, se deve alcançar pequenas clareiras. Para Adriana, foi o momento de se aprender a cuidar da dor, a compreender que era algo dela que não poderia dividir e que teria que aprender a lidar. Foi quando buscou ajuda. "A médica virou para mim e disse: Esse buraco que você está sentindo é o vazio que ele deixou. Você vai ter que amar esse buraco. Vai ter que aprender a conviver com ele. Olhar para ele com amor e saber que agora existe".

As datas importantes parecem ampliar a perda. Passar por um dia que seria considerado feliz em outras circunstâncias, sem ter, pelo menos, uma pontinha de saudade é normal. “O aniversário dele, Natal, Ano Novo e Dia dos Pais. Essas quatro datas, para mim, são as que a saudade aperta um pouco mais. Eu me lembro no dia a dia, posso lembrar da presença dele e tudo mais, porém dói menos do que nessas datas”, conta Isabela.

Mariana lembra como foi a formatura em publicidade. “Foi o pior dia da minha vida. Todo mundo falava comigo: ‘Ah, sua mãe ía estar muito feliz, ía gostar muito de estar aqui’”. Esses sentimentos em datas comemorativas são comuns. Aquele que se ama segue para sempre na memória. É preciso reaprender a conviver com esses dias e vivenciá-los de um jeito diferente. “Aquela pessoa passou pela sua vida e vai deixar marcas, de preferência cicatrizadas, porque, se ficar aberta, infecciona. Vão ficar as memórias, as recordações, as lembranças.... Eventualmente, em uma data significativa, vai ficar um pouco mais triste, ao escutar uma música, passar por um lugar”, explica o psicólogo.

Todo esforço enquanto a pessoa ainda está viva é válido. “É preciso lembrar que nos momentos que podia estar perto, você estava. As broncas que tinha que levar, levou. E sempre lembrar da pessoa nos momentos felizes. Eu nunca gostaria que lembrassem de mim em uma hora triste, sempre quero que lembrem dos momentos bons que a gente passou”, complementa Jamilla. Cynara aconselha a sentir ao máximo cada momento. "Mesmo com tudo o que fiz, poderia ter me dedicado mais, feito coisas que não fiz. Cada minuto é precioso”.

A artesã foi surpreendida por uma gravidez não planejada aos 36 anos. Era um namoro recém-iniciado. Quando deu a notícia ao namorado, ele começou uma série de questionamentos e acabaram terminando. Com cinco meses de gestação, descobriu que o bebê poderia não sobreviver “Sentaram comigo e disseram para eu me preparar, que, a qualquer momento, ela podia morrer dentro da minha barriga". O tempo foi passando e Cynara chegou aos nove meses de gestação. A filha dela tinha cinco deficiências graves no coração, duas no cérebro, aparelho digestivo com má formação e lábio leporino. Prestes a completar 40 semanas de gestação, sentiu que algo estava errado e foi ao hospital. Melissa tinha morrido. “Fiquei com ela meia hora e é um momento que eu nunca vou esquecer. Foi uma coisa muito forte, a lembrança do corpo dela nos meus braços, marcou demais”, conta, emocionada.

Ombro amigo

O luto como processo individual está diretamente ligado ao social. O indivíduo está inserido num contexto que exerce influências sobre os sentimentos. Depois dos primeiros dias após a morte, as outras pessoas voltam para as suas vidas e é comum se evitar falar sobre o assunto. Depois do enterro, do fim simbólico, vem o silêncio. “Eu notava que algumas pessoas fugiam. Outras perguntam: Como você está? E na hora que você vai falar, mudam de assunto. Então ela estava esperando você dizer: ‘estou bem’. Mesmo sabendo que você não está. E quando você vai dizer que não está bem, ela corta imediatamente”, lembra Adriana.

Quando se evita falar sobre, quando se tenta mudar de assunto ou se diz: “Você precisa seguir em frente”, contribui-se para a interrupção de “Falar é a melhor solução. Então, quando você fala, se acalma, se alivia, isso te dá condições de elaborar uma melhora” Gilson, voluntário do CVV TATUAGEM FEITA em homenagem à filha de Cynara, que passou pela perda

parte do processo. Não é possível dividir a dor. Mas ter empatia e conversar sobre as perdas é essencial. “Eu lidei com a dor do que eu senti, principalmente me apoiando em amigos. Eles me mostravam que podia seguir em frente, ser maior do que aquilo que estava sentindo. Amigos que não julgaram minha dor e estiveram sempre lá, para entender e auxiliar”, lembra Paloma, quando teve o relacionamento desfeito.

A grande diferença é estar presente em todo o processo de luto e não só no da despedida. “Quando eu converso, eu me escuto, eu me entendo e aí procuro resistência e força para dar continuidade à minha vida. Falar é a melhor solução. Então quando você fala, se acalma, se alivia, isso te dá condições de elaborar uma melhora”, explica Gilson Aguiar, voluntário do CVV-Brasília. A entidade atua no apoio emocional e na prevenção ao suicídio e, entre os atendimentos, está o Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio, destinado a familiares e amigos das pessoas que se mataram. O apoio em grupo também foi o caminho de Cynara. Ela participa do Mãe de Estrelas, que tem o objetivo de propiciar a troca de experiências das que passaram pela perda gestacional. “É um grupo de mães que querem aliviar um pouco a dor, compartilhar as experiências. As coisas que são compartilhadas acabam fortalecendo a todas”.

ESPECIALISTAS OBSERVAM que não é possível dividir a dor, mas conversar e ter empatia é fundamental

Não precisa de muito, apenas estar presente. Nos momentos das primeiras risadas ou de dor intensa. Ouvir sem julgamento. “Se as pessoas tivessem noção do quanto podem ser úteis, só ouvindo, estando do lado. Só o fato de poder ligar a hora que quiser e sem cobrar. Poder contar com aquela pessoa é maravilhoso”, conta Adriana, que teve na família e nos familiares o apoio que buscava. Com a fase da organização, o caminho é investir a energia em outras relações e compreender que é possível continuar. “A pessoa fica num movimento entre a dor e a vida, entre a dor e a restauração. Com o tempo, a bolinha da dor vai diminuindo progressivamente e a da vida vai aumentando, até que chega uma hora que a bolinha da dor vai virar uma saudade, uma marca”.

É importante haver uma reconciliação entre a dor e a morte. Uma hora, a tristeza e a dor encontram o seu lugar e o que resta é a saudade. Isabela, que sofreu intensamente o luto pela perda do pai, procura lembrar os momentos bons, os aprendizados. Ela cita como inspiração o escritor brasileiro José Mauro de Vasconcelos, autor de Meu pé de laranja lima: “Aprendi com a vida que você não morre nem de saudade e nem de sofrimento”. A literatura também é usada por Adriana. "É como dizem: a saudade é o amor que fica", conclui.

ONDE PROCURAR AJUDA?

CVV Apoio emocional e prevenção ao suicídio por telefone, chat, Skype ou presencialmente. Contato: cvv.org. br ou 141. GASS Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio. Vinculado ao CVV, tem o objetivo de reunir e amparar pelo diálogo pessoas que foram afetadas pelo suicídio. Reuniões mensais. Informações por gassbrasilia@ gmail.com ou pelo 141.

Grupo Mães de Estrelas Uma vez por mês, mulheres que passaram por perda gestacional se reúnem para trocar experiências e apoio. Contato via Facebook (@ maesdeestrela) ou pelo telefone 9 9301-4884.

Você por você Você também pode ser um ponto de apoio para os que estão passando pela dor. Se você tem algum familiar ou amigo passando por isso, acolha-o com empatia e escute.

Vam os Falar sobre o luto? Cinco amigas que passaram pelo processo do luto se reuniram e criaram uma plataforma digital de inspiração e informação para quem vive o luto também. Acesso em www.vamosfalarsobreoluto.com.

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