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DEPOIS DO ENCANTAMENTO, O ABANDONO

CASTRAÇÃO É o melhor método para solucionar definitivamente o problema de super polução de cães e gatos

Brasília tem pelo menos 30 mil cães e gatos que vivem e se reproduzem, indiscriminadamente na ruas

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BRUNA ANDRADE

Éno ninho, ainda junto com a mãe, que eles costumam chamar a atenção de quem sonha em ter um animal de estimação em casa. Ali, nas feiras de adoções ou nas lojas onde são vendidos, os filhotes parecem sempre encantadores, dóceis, sem nenhum traço de travessura. É quando são comprados ou adotados por muita gente que, poucos meses depois perde o encanto e acaba por abandoná-los e ajudar a engrossar a estatística que aponta a existência de pelo menos 30 mil cães e gatos nas ruas do Distrito Federal, segundo as ONGs que atuam na causa. Como o tempo de média de vida de um cão é de 13 anos e de um gato de 15 anos, a tendência é que se nada for feito, esse número só tende a crescer. Só para se ter uma ideia, sem castração ou vacina, uma cadela pode dar à luz até 50 filhotes por ano. Uma gata pode ter até 90.

O trabalho das ONGs e pessoas que trabalham com proteção e defesa dos animais. É essenciais para o resgate e cuidados dos bichos que são descartados pelos donos. O que eles têm em comum, além do amor aos animais é a força, empenho e dedicação para cuidar. São horas dedicadas a eles. Sem ajuda financeira do estado, eles se viram do jeito que podem, por meio de doações de pessoas que acreditam na causa e no trabalho realizado.

A protetora de animais Orcilene Arruda de Carvalho, 52 anos, é a responsável pelo abrigo Flora e Fauna. O local que existe há 12 anos é a consequência do trabalho que ela desenvolve. “Não foi algo premeditado. Desde criança eu acolhia animais na rua e levava para casa e a minha vida seguiu assim”. Orcilene lembra que no começo mantinha 50 animais, mas faltava comida para tanto bicho. Muitas vezes, ela conseguia a alimentação por um único dia, e ia para a cama à noite preocupada com o que dar de comer no dia seguinte.

Nessa época ela viu que incomodava a vizinhança com a quantidade de animais, por isso, viu a necessidade de ter um local mais adequado para eles. Então, Orcilene foi morar em uma chácara, que hoje é o abrigo. A protetora lembra que a primeira parceria foi com uma protetora que tinha 60 animais em um apartamento no Plano. Depois de conhecer o trabalho da Orcilene a pareceria começou. “Na medida em que ela entrava com os animais, ela castrava os que estavam sobre o meu poder e alimentava todos, eu tinha o espaço e ela o recurso”, lembra. Atualmente, o abrigo é responsável por 400 cães e 200 gatos.

Os animais chegam ao abrigo de diversas formas. Alguns a protetora resgata na rua. Outras vezes ela recebe pedidos de ajuda de pessoas que encontram animais na rua e não têm condições de ficar com eles. A maioria, no entanto, é abandonada na porta do abrigo. “As pessoas são oportunistas. Elas veem esse trabalho como se a responsabilidade fosse somente nossa e descartam os animais”, alega. Segundo Orcilene, a adoção no Flora e Fauna é flexível porque ela dá o direito da pessoa devolver o animal e, conforme a protetora, a devolução é bastante recorrente. “É melhor devolver do que abandonar. A gente ampara os bichinhos, tira da situação de risco e dá um conforto. Não queremos que eles voltem para as ruas”, comenta. Orcilene ressalta que uma vez dentro do abrigo os animais não são mais “coitadinhos”, porque o abrigo foi fundado exclusivamente para eles e, nele eles têm qualidade de vida e dignidade.

O principal desafio de quem trabalha em abrigo e feiras de adoções é encontrar adotantes de animais que estejam dispostos a enfrentar as dificuldades que qualquer animal apresenta, como os casos de doenças, por exemplo. “É natural o animal adoecer e essa devolução prova que a pessoa não está pronta”, diz. “A gente é só um lugar temporário, uma casa de passagem. Os protetores tiram os animais da indigência, da invisibilidade e transformam em seres com qualidade de vida”, afirma.

Proteção aos animais

A Associação Protetora dos Animais (ProAnima), de caráter socioambientalista, desenvolve um trabalho que vai além do resgate aos animais domésticos. A ProAnima trabalha pelo avanço da legislação e de políticas

Os protetores tiram os animais da indigência, da invisibilidade e transformam em seres com qualidade de vida” Orcilene Arruda, protetora de animais A BIÓLOGA e protetora Ana Teresa trabalha com animais há 20 anos

públicas de proteção aos animais, segundo a diretora da fundação, Suzana Coelho A associação não mantém abrigo e os animais são amparados por ela ficam em lares temporários, de pessoas comuns que se dispõem, com o apoio financeiro, médico e material da associação a cuidar deles até que sejam doados.

Segundo Suzana, as dificuldades enfrentadas pela ProAnima são vividas por muitas outras associações do tipo. “Todo nosso trabalho é feito por voluntários e mantido com doações. Portanto, nossas ações ficam limitadas aos recursos disponíveis”, explica. Atualmente, a fundação é responsável por cinco gatos, 13 cães e um cavalo. O histórico desses animais é de situações de maus-tratos e negligência.

O processo de adoção adotado pela fundação ProAnima envolve o preenchimento de um questionário, com perguntas dirigidas, que fazem com que o adotante pense na responsabilidade envolvida. Estando tudo certo, a pessoa é convidada a conhecer o animal. “A adoção é um ato muito sério, deve haver consenso entre os membros de uma família, quando se resolve levar um animal para fazer parte dela”, destaca a diretora da associação.

De acordo com ela, as pessoas precisam estar cientes de que um animal doméstico vive, em média, de 10 a 15 anos. Portanto, é um compromisso longo que estará sendo assumido. Além disso, haverá gastos com alimentação e assistência veterinária, pois cães e gatos precisam ser vacinados, vermifugados e ter acompanhamento. “É preciso zelar pela segurança e bem-estar deles”.

Outra questão importante a ser observada é a castração, método recomendado por sociedades de proteção animal de todo mundo e, também pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para solucionar definitivamente o problema de superpolução de cães e gatos. Além disso, a cirurgia traz benefícios para a saúde e o bem-estar do animal e facilita a convivência deste com humanos e outros animais.

A ProAnima mantém outros programas, como o Pangaré, voltado para o acompanhamento, principalmente, da legislação do DF que veta o uso de cavalos em carroças. A iniciativa também é voltada para a assistência direta a esses animais, resgatando-os de situações de negligência e abandono, encaminhando-os em parceria com a Secretaria de Agricultura do DF (Seagri) e o Hospital Veterinário da UnB, para tratamento, recuperação e encaminhamento para lares de aposentadoria.

O Veganize tem o objetivo de estimular as pessoas a repensarem os hábitos alimentares e de consumo e a adotarem um estilo e vida que não patrocine eventos que impliquem o sofrimento animal, como circos, rodeios, vaquejadas e touradas. O Pelos Amigos ampara cães e gatos provenientes principalmente de apreensões decorrentes de denúncias e maus-tratos. Esses animais são encaminhados a lares temporários, recebem tratamento veterinário, são vacinados, vermifugados, castrados, socializados e encaminhados, por meio de criterioso processo de adoção, a lares definitivos.

Trabalho Voluntário

A bancária Lucianna Guerrante Schlottfels 37 anos, é voluntária do projeto desde 2014, quando resgatou um cachorro e entrou em contato com a ProAnima que ajudou a socorrê-lo. Ela nao conhecia o trabalho deles e foi convidada para ajudar. A bancária participa de alguns projetos da associação como o projeto pelos amigos, onde ela faz a triagem das pessoas que querem adotar um animal.

De acordo com Lucianna, é uma maneira de garantir que seja uma adoção responsável. Então é aplicado um questionário e partir dele é avaliado o perfil do animal e a expectativa do interessado na adoção. “A “Eu achei um gato na rua. Depois outro. Depois que comecei a pegar animais, em todo lugar eu via”

Thaís Barbosa, dona de casa

PARA ADOTAR UM BICHINHO

Abrigo Flora e Fauna - feiras todos os sábados das 11h às 16h na 108 sul ao lado do pet shop di petti. ProAnima - Para adotar um dos animais da associação os interessados devem escrever para queroadotar@proanima.org.br Thais - pelo facebook Thais Barbosa Projeto acalanto - basta acessar a página no facebook do Projeto Acalanto Atevi - pela pagina no facebook Atevi Anate Casasanta ou pelo e-mail atevi.df@gmail.com

O ABRIGO Flora e Fauna organiza feiras de doação

DE ACORDO com as ONGs que atuam na causa há pelo menos 30 mil cães e gatos nas ruas do Distrito Federal

gente faz essa triagem e tenta fazer a melhor combinação possível”, relata a bancária que acredita que o questionário é importante pois irá fazer a pessoa refletir se ela realmente quer o animal e as responsabilidades. Ela, também ajuda no projeto de lar temporário, onde ela atualmente cuida de 5 gatos da associação.

Dedicação em tempo integral

A dona de casa Thais Fernanda Barbosa, 23 anos, é uma protetora independente. Ea começou a se interessar pelo resgate e cuidado com os animais aos 19 anos. “Eu achei um gato na rua. Depois outro. Antes eu não via nenhum gato, depois que comecei a pegar animais na rua, em todo lugar que eu ia, via”. Thais ainda lembra que chegou a ter 72 gatos em casa. Atualmente la cuida de sete cães e 55 gatos. Ela diz que ainda existe muito preconceito com os gatos, porque as pessoas dizem que eles não gostam do dono. “É um animal mais arisco, que vai embora”, explica. Thais ressalta que quem quer ter gato precisa morar em casa segura, com tela nas janelas.

Os animais cuidados por Thais são mantidos por meio de ajuda de amigos que acompanham o trabalho da protetora e, pela divulgação do trabalho no Facebook (Thais Barbosa). “Geralmente eles me dão o dinheiro ou depositam na conta do veterinário e eu mando os recibos, tiro foto do animal, das rações que chegam. Eles tegidos”, que são resgatados das ruas. Para Lucimar a castração é importante porque é por meio dela que existe o controle populacional e consequentemente a diminuição do abandono, doenças sexualmente transmissíveis. “Castração deveria ser obrigatória. Quem sofre são os animais por conta da covardia do ser humano”, acredita.

Projeto Atevi

depositam eu presto conta de tudo”.

Geralmente o histórico dos animais que chegam até Thais são de abandono e maus-tratos. “São pessoas que dizem gostar de animais, mas não tem coragem de castrar o gato ou o cachorro e, quando procriam, tem a coragem de abandonar o filhote, que é mais indefeso”, conta a protetora que lembra já ter achado dois gatos em uma BR.

Projeto acalanto

A assistente administrativa Lucimar Aparecida Pereira, 44 anos, se encantou com os animais desde criança. Naquela época ela já pegava cachorros e gatos da rua e levava para casa escondido dos pais. Hoje, ela trabalha na proteção aos e criou o projeto acalanto. “Temos parceiros como veterinários. Não conseguimos nada de graça. Faço rifas e bazar para arcar com as despesas veterinárias. Também recebo ração de uma amiga”, comenta Lucimar que diz quem em casos graves publica a conta da clínica veterinária em sua página no Facebook e as pessoas depositam para ajudar nos custos.

A assistente administrativa não tem ONG, apenas um quarto e um banheiro em casa onde acolhe os “pro

A bióloga e professora Ana Teresa Casasanta França, 44 anos, trabalha com o resgate de animais há 20 anos. Ela desenvolve um trabalho educativo com jovens, onde é ensinado a proteger e respeitar os animais. “Na medida do possível temos ajudado outros protetores e abrigo do DF”, ressalta. A história dela é semelhante às outras, seu encanto pelos animais ocorreu ainda na infância. A bióloga é responsável pela ong Atevi, onde eles cuidam dos gatos da UnB, de todas as colônias dos campus no qual eles são alimentados, castrados e tratados, no total são aproximadamente 1.500 gatos.

Saúde dos animais

A veterinária e professora universitária Paula Diniz Galera, 48 anos, explica que por falta de cuidados adequados um animal de rua pode trazer algumas doenças que são chamadas de zoonoses e, de acordo com ela, alguns exemplos clássicos são a raiva e a leptospirose. Há, ainda, uma série de doenças que podem ser transmitidas para os outros animais, levando-os a uma situação deplorável de saúde

Na opinião da veterinária, deveriam ser incentivadas ações de políticas públicas voltadas à medicina do coletivo, com foco na guarda responsável, por meio da educação. “Esta seria uma forma de conscientizar a população sobre a responsabilidade das pessoas sobre os animais que estão sob sua guarda, evitando o ciclo do abandono”, comenta.

“Todo nosso trabalho é feito por voluntários e mantido com doações. Suzana Coelho, diretora do ProAnima

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