Quixadá, Ceará | Junho de 2017
Todo dia é dia de resistir! Luta, tradição e desafios do povo quilombola do Sítio Veiga Lugar de luta, resistência e tradição, estamos falando do Quilombo Sítio Veiga, comunidade localizada a 25 km da sede do Município de Quixadá, em meio a Serra do Estevão. A primeira família a chegar nesse lugar migrou de Pau dos Ferros (Rio Grande do Norte), a princípio fugindo da perseguição sofrida naquela região. O casal Maria Ribeiro e Chiquinho Ribeiro , conhecido por Pai Xingano, chegaram por volta de 1906 na região da Serra do Estevão se fixando na época no Sítio Sorocaba. Na comunidade atualmente residem 39 famílias, o acesso à terra ainda hoje é precário, poucas famílias possuem a posse e outras tantas trabalham em terras alheias na condição de rendeiros, repassando maior parte da produção para os mesmos. O processo de regularização fundiárias das terras, 967,5 hectares, está em curso. A organização comunitária conta com a associação dos remanescentes de quilombolas do Sítio Veiga. Em 2005 a comunidade recebeu o Projeto Dom Helder Câmara, assessorado pelo CETRA, beneficiando 28 famílias com a construção da tecnologia social a cisterna de primeira água, essa iniciativa ajudou a fortalecer o processo de organização do povo quilombola do Sítio Veiga. Desde então o processo de identificação e pesquisa sobre a origem e identidade da comunidade não parou mais. Em 2009 no 9° Encontro Estadual das Comunidades Quilombolas rurais no Ceará os/as remanescentes do Sítio Veiga foram reconhecidos pela Fundação Cultural Palmares como uma comunidade remanescente quilombola. A ausência da posse da terra limita muitas vezes a comunidade de acessar projetos produtivos, como por exemplo a criação de cabras leiteiras, avicultura dentre outros. “Só não temos mais projetos porque param por falta de terra. Se queremos fazer um açude, por exemplo, não é possível”, fala com indignação o Sr. Antônio Lopes. A luta por reconhecimento de sua identidade e direitos vem de longe, mais muitos frutos a comunidade já vêm colhendo, hoje todas as famílias possuem cis-
ternas de primeira água, 05 cisternas calçadão e 17 Cisternas de Enxurrada, além da Casa do Mel “Mãe Luzia”, a Casa de Sementes “Pai Xingano” e a cisterna comunitária, que são tecnologias sociais de Convivência para o Semiárido. A comunidade desenvolve projetos no campo da apicultura, na criação e melhoramento genético de galinhas no sistema caipira, quintais produtivos agroecológicos, além da produção de doces e de projetos de corte e costura. A dança de São Gonçalo – celebração e tradição A dança de São Gonçalo é uma manifestação religiosa considerada patrimônio cultural da comunidade. A dança envolve homens, mulheres e jovens. Essa expressão cultural vem sendo repassada de geração para geração, algo que eles e elas defendem com muito orgulho. Animada pelo neto de Pai Xingano e Maria Ribeiro, Seu Joaquim Roseno , 78 anos de idade, assume a função de mestre da dança. Em 2010 ele foi reconhecido pela Secretaria da cultura do estado do Ceará como Mestre da cultura. Anualmente a comunidade realiza a semana da consciência negra como forma de fortalecer as expressões culturais do quilombo. O empoderamento das mulheres quilombolas é outro aspecto bastante abordado, o Ser Negra, o reconhecimento das raízes afro descendentes são trabalhadas a partir do uso de turbantes, das tranças, da capoeira e danças. A garantia e demarcação das terras permanece como o maior desafio enfrentado pelas famílias quilombolas do Sítio Veiga, uma dívida do estado brasileiro com as comunidades tradicionais. A identidade com esse território se expressa na fala de Meire, quando diz, “não pretendo sair desse Veiga pra canto nenhum” e complementa Ana Eugenia, “se eu sair do quilombo minhas raízes se quebram e eu morro, para mudar não dá certo”.
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