tecendo
REDES Boletim informativo do projeto Florestação - nº 1 www.cetra.org.br/florestacao
Troca de conhecimento agroecológico na área do agricultor Zé Arthur
Você está recebendo o Tecendo Redes, boletim informativo do projeto Florestação. O projeto Florestação, uma realização do CETRA com patrocínio Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental, quer alçar grandes voos. Mas para criar asas sabemos que é preciso ter raízes. E as nossas raízes foram consolidadas na experiência de agricultores e agricultoras do Território Vales do Curu e Aracatiaçu. O trabalho com agricultores familiares proporcionou o fortalecimento das raízes no Território e agora é hora de sonhar mais alto. Nosso sonho tem como semente os princípios agroecológicos e, para tornar o sonho realidade, agricultores e agricultoras, juntamente com a equipe técnica do Florestação, estão trabalhando no intuito de ampliar a sustentabilidade em agroecossistemas familiares a partir de práticas de conservação ambiental, de quintais agroecológicos e sistemas agroflorestais. No Tecendo Redes você irá acompanhar atividades como intercâmbios de experiência, campanhas de educação ambiental, eventos, feiras agroecológicas e receitas. Boa leitura!
Intercâmbio
Receita
SAF
Confira a troca de experiência entre os agricultores/as do Cariri e do Território Vales do Curu e Aracatiaçu.
Aprenda a fazer extrato de tomate em casa a partir da receita do agricultor experimentador Vilmar Lermer.
Entenda o que é um Sistema Agroflorestal (SAF) na seção Práticas Agroecológicas.
Realização
Patrocínio
Experiência e saber agroecológico no Cariri O intercâmbio de experiência é parte fundamental do processo de formação realizado pelo Florestação: a intenção é que a partir da troca de experiência os agricultores e agricultoras possam tirar dúvidas sobre os princípios e práticas da agrofloresta, além de buscar entender sobre a dinâmica das famílias em relação ao manejo sustentável e produtivo dos seus agroecossistemas e acerca da diversidade dos subsistemas visitados. Os intercâmbios de experiência são momentos fundamentais para que os agricultores e agricultoras possam aprofundar seus conhecimentos agroecológicos diante de uma experiência prática que é liderada e compartilhada de agricultor/a para agricultor/a. Em fevereiro de 2014 aconteceu o intercâmbio intermunicipal do projeto Florestação, que saiu de Itapipoca e cortou o sertão cearense para aportar na cidade do Crato, no Cariri. A viagem, que partiu no meio da manhã de Itapipoca, passou por vários municípios; Apuiarés, Canindé, Madalena, Quixeramobim, Acopiara, Várzea Alegre, Iguatu e finalmente; Crato, que recebeu os/as agricultores/as dos Vales do Curu e Aracatiaçu com muita chuva e frio, no pé da Chapada do Araripe, onde todos foram presenteados com uma bela paisagem onde se via acima a Chapada e embaixo a cidade do Crato. “Minha vida é andar por esse país, pra ver se um dia descanso feliz” Apesar da jornada cansativa, o grupo de 25 agricultores acordou cedo e estava empolgado com a viagem até a agrofloresta de Vilmar e Silvanete, experiência acompanhada pela Associação Cristã de Base - ACB, através de sua coordenadora executiva Socorro Silva. Fomos guiados até a comunidade Paus Dóia, que fica em Exu, Pernambuco, terra do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que fez acender a luz da memória afetiva de vários agricultores que, aos poucos, foram lembrando do homem que "cantou a vida do sertanejo" como bem lembrava, saudosista, o Pessoa, da comunidade Caldeirão dos Neto, em Itapipoca. Enquanto cantavam alguns versos de "Seu Luiz" a bela vista da reserva florestal do Araripe ia conduzindo os viajantes até o segundo Mandacaru que marcava a entrada para o sítio de Vilmar. Chegando na agrofloresta foram todos recepcionados por Silvanete e Vilmar. Depois das apresentações foram todos seguindo o pulsante Vilmar, que é uma espécie de enciclopédia botânica do Araripe: conhece, cientificamente, todas as plantas que cultiva, diz o nome popular e científico e enquanto numera as utilidades e possibilidades de cada fruta, hortaliça ou leguminosa, arranca perguntas dos agricultores que se mostram surpresos com a quantidade de informações que acumula sobre o solo e a agrofloresta que mantém em sua propriedade. Os agricultores e agricultoras puderam levar várias mudas, de macaxeira à ingá, de pimenta à frutíferas, conheceram novas espécies, como o cambuí, que Vilmar transforma em licor da melhor qualidade. O
anfitrião trouxe aos visitantes a importância do manejo em consórcio e de como é preciso entender a natureza das plantas, o desenvolvimento delas, a forma como lidam com a falta e o excesso de água. Vilmar ressalta que é preciso observar e experimentar sempre, saber conviver com os animais que criamos e, sobretuO agricultor experimentador Vilmar Lermer mostra uma variação de palma existente no seu SAF do, os selvagens, que transitam por ali atrás de alimento. nais de cultivo, evitando, por exemplo a queimada e o Após o almoço, Vilmar e Silvanete falaram da imporuso de agrotóxicos. tância do armazenamento de sementes e a criatividade na confecção de produtos. Ele lembrou que a agroeExperiência da Feira Agroecológica do Crato e cologia lhe garantiu uma produção mais diversificada Quintal de Seu Juvenal e com isso pode criar geleias, licores, cachaças, doces e demais produtos que lhes garantiam renda durante a No último dia do intercâmbio o grupo de agricultores e estiagem. agricultoras acordou cedo. Nem o sol tinha apontado Saindo da comunidade Paus Dóia e da experiência de no alto da Chapada do Araripe e todos estavam no Vilmar, o grupo tomou a estrada novamente, voltando ônibus, rumo a rua Cariris, no bairro Independência, para o Ceará, rumo a Nova Olinda, onde reside seu Zé para conhecer a Feira Agroecológica do Crato, Arthur, outro agricultor agroflorestal. Dessa vez ao tradição na comercialização solidária com mais de 11 som de “Juazeiro, Juazeiro, me ‘arresponda’ por favor, anos na praça. A visita serviu para comprar alguns Juazeiro velho amigo, onde anda meu amor...”. produtos, mel, hortaliças, sementes, defensivos naturais. Depois da visita, e do bate-papo que se Zé Arthur estendia de barraca em barraca, a ACB abriu suas portas pra receber os participantes do intercâmbio e Depois da visita em Paus Dóia, Socorro levou o grupo poder contar um pouco sobre a história da feira, como até a experiência de Seu "Zé Arthur" e Dona Bastinha, surgiu, as dificuldades iniciais, os feirantes e a que fica na comunidade de Sítios Patos, em Nova comercialização. Olinda, outra experiência de sucesso acompanhada Quem conduziu a conversa foi Socorro Silva, da ACB. pela ACB. Além de unidade agroecológica, a proprieAlguns dos agricultores que estavam no intercâmbio dade de Zé Arthur e Bastinha é uma pousada de também são feirantes agroecológicos e participam turismo rural, onde o hóspede pode conhecer um ativamente da Rede de Agricultores/as Agroecológicos pouco mais da agrofloresta e do cotidiano da família, e Solidários dos Vales do Curu e Aracatiaçu. Foi possível além do contato direto com a natureza e as tradições avaliar as dificuldades com a produção, devido a da cultura local. estiagem, os produtos que conseguem vender bem em Zé Arthur é um senhor de idade, mas como ele mesmo cada região e os obstáculos em relação a comercializadiz "não se troca por nenhum menino mais novo". Zé ção e organização em rede ou associação. O feirante Zé guia o grupo por sua propriedade, mostrando o cultivo Valdo vai além e diz: “Além da diversidade de produtos, do feijão e demais produtos, fala do manejo específico tem essa coisa do valor sentimental, contribui muito na de algumas espécies frutíferas e conversa bastante qualidade do produto”. sobre o processo de transição agroecológica: "Quem Após a visita na ACB o grupo se dirigiu até o bairro de não tem experiência para plantar no 'mato' é compliBatateiras, zona urbana do Crato, umas das regiões mais cado, mas basta trabalhar", e completa dizendo "tá no periféricas. Nessa parte da cidade encontramos seu produtor querer fazer, o 'cabra' tem que acreditar, na Juvenal, que também estava na Feira e nos convidou hora que ele vê que dá certo e fica melhor do que para conhecer a casa de sementes que mantém em sua queimando, aí sim, ele muda e nunca mais volta". casa. O grupo foi recebido na casa de sementes, onde seu Enquanto Zé Arthur conversa com os agricultores, Juvenal contou a história de persistência que foi criar e Dona Bastinha mostra a grande quantidade de polpa manter esse espaço, mas reitera que todas essas adverside frutas que armazenam em sua propriedade. São dades foram importantes para sua conscientização cerca de 2 freezers grandes, cheios de polpas de ambiental e política. manga e acerola, um dos produtos que lhes garantem renda mensal equilibrada e ameniza consideravelmenPara saber mais sobre o intercâmbio, acesse: te os impactos da estiagem. No fim, Zé Arthur mostrou www.cetra.org.br/florestacao a transformação que sua propriedade passou a partir do momento em que decidiu largar as formas tradicio-
Práticas Agroecológicas _ Sistema Agroflorestal (SAF)
Sistema agroflorestal (SAF) é um nome relativamente recente dado para experiências antigas de comunidades tradicionais em várias partes do mundo que tinham a intenção de produzir alimentos e recursos visando à própria sobrevivência. Os Sistemas Agroflorestais estão em uma categoria de produção que aliam culturas agrícolas com espécies arbóreas nativas e florestais, visando sua interação ao ponto de beneficiá-las. O seu desenvolvimento permite um equilíbrio de diversos aspectos que dispensa o uso de insumos externos a esse subsistema. Dentre esses benefícios podemos citar a alta renovação de nutrientes e, por consequência, a manutenção da fertilidade, manutenção da cobertura do solo, da umidade do solo, do controle natural de insetos e doenças, e o provimento de uma série de recursos para as famílias que possuem um SAF dentro de seu agroecossistema. Os princípios básicos para a implementação de um SAF é reconhecer a “lógica da mata”, ou seja, entender a estrutura da vegetação nativa, suas espécies, o solo, o clima e seu funcionamento, as interações entre as espécies, sua dinâmica e seu fluxo de energia e matéria. Essa lógica muda muito a forma de se ver a agricultura, que não é a da competição entre as espécies, mas sim a complementaridade que cada uma pode fornecer para outra, considerando assim a função que cada ser tem no sistema. A exemplo disso
passamos a perceber a importância de uma aranha, que é predadora de insetos e ácaros, ao invés de procurar formas de combatê-la. O papel do ser humano é entender essa complexidade e saber onde ele vai fazer a intervenção para se beneficiar de uma diversidade de recursos. É facilitar para que a natureza trabalhe melhor cada ambiente, gerando ainda mais vida e riqueza. O conhecimento associado às populações locais que tem uma relação de interdependência mais direta com a natureza é essencial para intervir em cada região.
Compartilhando Sementes Receita de Extrato de Tomate Vilmar Luiz Lemer | Agricultor experimentador de Exu - PE
O Sistema Agroflorestal é de grande relevância na área da família, pois aumenta a sustentabilidade do agroecossistema garantindo uma reserva de recursos para a família, sejam alimentares, forrageiros, medicinais ou artesanais. O SAF contribui também para a melhoria do clima, para abrigo de animais nativos e recuperação de espécies nativas que antes não eram consideradas.
Ingredientes: - 1 kg de tomate (também pode ser feito com tomate-cereja, tomate-seriguela, tomate-cajá) Modo de fazer: Selecione os tomates que for utilizar, lave e coloque para escorrer. Abra um por um e retire as sementes. Triture no liquidificador e, em seguida, coloque para cozinhar em fogo baixo (se ao triturar os tomates no liquidificador não fizer muito liquido, coloque um pouco de água ao cozinhar só para não grudar). Sempre mexendo, deixe ferver em fogo baixo. Adicione sal e açúcar (a gosto) e volte a mexer. Quando estiver “enxugando” desligue o fogo e continue mexendo até esfriar. Armazene em pacotes no congelador ou freezer caso não vá utilizar todo o extrato de uma só vez.
Feiras Agroecológicas Apuiarés - Praça Joaquim Paraíba
Tururu - Praça da Matriz
Todas as quartas-feiras
Última sexta-feira do mês
Itapipoca - Praça Perilo Teixeira
Trairi - Praça José Granja Ribeiro
Setembro: dias 03 e 17 | Outubro: dias 01, 15 e 29 | Novembro: dias 12 e 26 Dezembro: dias 10 e 24
Setembro: dias 10 e 24 | Outubro: dias 08 e 22 | Novembro: dias 05 e 19 Dezembro: dias 03, 17 e 31
Plante essa ideia Conhecer não é só saber o nome. É descobrir os benefícios que a mata nativa traz que vão desde a regulação do clima até a produção de alimentos e medicamentos. Conhecer é saber que a mata e a agricultura familiar andam juntas e possuem as mesmas raízes. Pensando nisso, o projeto Florestação vem trabalhando com a campanha de educação ambiental “Ter raízes” que tem como tema principal a preservação das espécies nativas. Conservar as plantas nativas da nossa região é compreender que as nossas raízes são essenciais para construir nosso espaço de bem viver onde seja possível plantar, colher, preservar e ser feliz. Tudo sem uso de veneno e trabalhando de forma agroecológica! Sabemos que algumas espécies nativas não foram conservadas, por isso também reflorestar é uma tarefa muito importante. Por meio das agroflorestas, é possível produzir alimentos de maneira sustentável e ainda melhorar as condições da área com relação ao solo, à água e à própria vida. Outro ponto da campanha “Ter raízes” é a valorização do conhecimento popular e de sua partilha. A sabedoria popular é uma terra fértil onde são semeados ensinamentos sobre a nossa mata nativa, seus usos medicinais, entre outros. Exemplos de espécies nativas: Pau D’arco, Sabiá, Carnaúba, Oiticica, Murici, Batiputá, Jenipapo, Aroeira, Mororó, Pajeú, Mulungu, Pau Ferro, Marmeleiro, Cedro, Gonçalo Alves, Xixá, Sapoti, Cumaru, Pau Branco, Mufumbo.
Frutos do Murici e do Batiputá - São José e Buriti (CE)
Ter Raízes é conhecer. Ter raízes é preservar. Ter raízes é partilhar. Vamos nos unir para preservar nossas espécies nativas!
Expediente Fotografia: Arquivo CETRA Projeto Gráfico: Abracadabra Design Diagramação: Giulianne Cidade
Realização
Texto: Amanda Sampaio Alexandre Greco Luis Eduardo Sobral
Patrocínio