R E V I S T A ISSN 1517-6959
9912287428 - DR/BSB CFMV
ANO 19 – EDIÇÃO N° 58 | JAN / FEV / MAR / ABR - 2013
M U L H E R E S na Medicina Veterinária e na Zootecnia As mulheres são mais sensíveis às questões de bem-estar animal
A trajetória da mulher nos cursos de Medicina Veterinária no Brasil
A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia. A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos bem como solicitação de assinaturas devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:
SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: cfmv@cfmv.gov.br
A Revista CFMV é indexada na base de dados Agrobase. Revista CFMV. – v.19, n. 58 (2013) Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2013 Quadrimestral ISSN 1517 – 6959 1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos. I. Conselho Federal de Medicina Veterinária. AGRIS L70 CDU619(81)(05)
Sumário 4
editorial
5
entrevista
7
especial sobre a atuação da mulher na Medicina veterinária e na zootecnia
28
panorama da educação
32
residência multiprofissional
34
nutrição animal
39
destaques
42
CFMv na mídia
43
suplemento científico
68
Conselho em ação
70
educação ambiental
73
Cirurgia
78
pesquisa básica
80
opinião
82
publicações
|
Maria josé de sena
EDITORIAL
A MULHER NA MEDICINA VETERINÁRIA E NA ZOOTECNIA As conquistas da mulher na política, na economia, na gestão pública e privada, fazem com que a sociedade e o próprio estado brasileiro reconheçam o seu valor e a vejam com olhar diferente, de acordo com a cultura em que ela está inserida. A sociedade evoluiu e continua evoluindo com as conquistas obtidas, conferindo-lhes direitos sociais, políticos e econômicos. Neste contexto, as mulheres estão se capacitando para assumir não apenas outras funções no mercado de trabalho, mas sim para assumir aquelas de comando e liderança, cargos em que antes predominavam o terno e a gravata. Essa guinada em seu papel social reflete não apenas nas relações de trabalhos em si, mas fundamentalmente nas relações sociais com os homens de maneira em
geral. Isto significa que mudanças no papel da mulher requerem mudanças no papel do homem, ao ter de dividir um espaço no qual outrora reinava absoluto. Mulheres com maior grau de escolaridade diminuem as taxas de natalidade, têm menos filhos, casam-se com idades mais avançadas, possuem maior expectativa de vida e podem assumir comandos na família e na empresa. Na estrutura administrativa do CFMV, dos atuais servidores, 56% são mulheres e em diversas Comissões Assessoras elas estão presentes e são atuantes. De forma a consolidar e disponibilizar as informações, esta edição da Revista CFMV apresenta dados atuais da Médica Veterinária e da Zootecnista atuante no Brasil e nas diversas áreas.
EXPEDIENTE
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA sia – trecho 6 – Lotes 130 e 140 brasília–dF – Cep: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br Tiragem: 95.000 exemplares DIRETORIA EXECUTIVA presidente
Benedito Fortes de Arruda CrMv-go nº 0272 viCe-presidente
Eduardo Luiz Silva Costa CrMv-se nº 0037
CONSELHEIROS EFETIVOS Adeilton Ricardo da Silva CrMv-ro nº 002/z
Fred Júlio Costa Monteiro CrMv-ap nº 0073
José Saraiva Neves CrMv-pb nº 0237
LÍder da Área de CoMuniCaÇão
Flávia Tonin
CrMv-Ma nº 0454
Nivaldo de Azevedo Costa CrMv-pe nº 1051
CONSELHEIROS SUPLENTES Francisco Pereira Ramos heitor David Medeiros
CrMv-es nº 0093
Márcia Leite
Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho
seCretÁrio-geraL
Amilson Pereira Said
seCretÁrio-geraL
Ricardo Junqueira Del Carlo
CrMv-dF nº 0594
Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk tesoureiro
PRESIDENTE Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk
Marcello Rodrigues da Roza
CrMv-to nº 0019
CrMv-pr nº 0850
CONSELHO EDITORIAL
editor
subeditora
Joaquim Lair
Coordenador de CoMissÕes
EDITOR Ricardo Junqueira Del Carlo
CrMv-Mg nº 1759
JORNALISTA RESPONSÁVEL Flávia Tonin
CrMv-Mt nº 0951
Mtb nº 039263/sp
João Esteves Neto
PROJETO E DIAGRAMAÇÃO duo design Comunicação
José helton Martins de Sousa
IMPRESSÃO novo Horizonte Comunicação
CrMv-aC nº 0007
CrMv-rn nº 0154
É PERMITIDA A REPRODUçÃO DE ARTIGOS DA REVISTA, DESDE QUE SEJA CITADA A FONTE. OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV. AS FOTOS ENVIADAS SERÃO AUTOMATICAMENTE CADASTRADAS NO BANCO DE IMAGENS DO CFMV COM O DEVIDO CRÉDITO.
4
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
ENTREVISTA
MARIA JOSÉ DE SENA Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE (1989), graduação em Biologia pela Universidade Católica de Pernambuco (1989), graduação em Licenciatura em Ciências Agrárias pela UFRPE (1992) e doutorado em Medicina Veterinária Preventiva pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG (2000). Tem experiência na área de Medicina Veterinária Preventiva, com ênfase em Saúde Pública, atuando, principalmente, nos seguintes temas: qualidade, leite e queijo. Foi agraciada com o Prêmio Professor José Wanderley Braga em 2009. Membro Titular da Academia Pernambucana de Medicina Veterinária (2010). Vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária por dois mandatos. Ingressou na Academia Pernambucana de Medicina Veterinária em 2010. Atualmente é a reitora da UFRPE com mandato de 2012 a 2016. Em 2013, comemoramos os 45 anos de existência do Sistema CFMV/CRMVs e é nossa intenção dar um destaque especial ao “papel da mulher na Medicina Veterinária e zootecnia”. qual é sua opinião a respeito deste tema? Inicialmente, parabenizo a iniciativa, uma vez que, atualmente, o papel da mulher Médica Veterinária já está reconhecido pela sociedade, algo que não ocorria há alguns anos. Como e quando se deu seu encontro com a Medicina Veterinária? Tenho origem na área rural, nasci em um engenho que cultivava cana-de-açúcar e sempre convivi com animais. Não se tratava apenas de apego, porque eu Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
os achava “bonitinhos” ou coisa assim, minha relação com as ovelhas, os cavalos, os bovinos era um convívio diferente; pensava sempre que poderia cuidar deles. Mas era muito nova à época e não tinha ideia daquele sentimento, depois é que fui entender o que se passava. Eu queria mesmo era ser Médica Veterinária. Como é ser mulher, mãe, esposa, educadora e administradora? Como é administrar carreira e família? Não é fácil, a jornada às vezes é tripla. Conciliar tudo isso requer disciplina e objetividade muito grandes, mesmo porque a família precisa estar no mesmo nível de importância da carreira. Um não pode ser mais importante que o outro.
5
ENTREVISTA
mulheres estão conscientes de sua competência e estão buscando espaços. Mas elas precisam ser mais ousadas. Creio que o que falta é a mulher ter consciência de que ela tem capacidade de assumir esses espaços e ser esposa, companheira e mãe. Eu percebo esse receio em algumas.
Cerimônia de posse da reitora da uFRPE.
Veterinária e administradora. A missão é maior por ser mulher? Com certeza. Existe ainda uma resistência natural da sociedade em relação à mulher Médica Veterinária e à mulher administradora. Muita gente ainda pensa que Medicina Veterinária é profissão de homem e que administrar ficou também para os homens. É incrível, mas ainda existem pessoas que pensam assim, e nesse sentido, nós temos que superar todos os desafios com muita competência, porque tem sempre alguém esperando que não consigamos. Pesquisas realizadas no Brasil demonstram a pouca presença das mulheres em cargos de comando. Apesar de as mulheres ainda serem minoria, a senhora percebe avanço da presença feminina nestas funções? E a Médica Veterinária e a zootecnista? Acredito que o quadro está mudando. Já percebemos a presença da mulher em vários cargos de comando importantes, seja na política, na empresa pública ou privada. Com relação à Médica Veterinária e à Zootecnista, a mudança ainda não é muito expressiva, mas existe. O estilo de administração é realmente diferente entre homens e mulheres, ou isso é um mito? Existe algum dado específico que evidencie essa diferença? Na realidade, é natural existir diferença entre o estilo de administrar das pessoas, com relação ao sexo. Percebo que a mulher se compromete mais e se envolve mais com suas atividades, e isso faz com que ela tenha domínio maior sobre o todo. Mas isso é da natureza da mulher. Quanto à questão de a mulher ter capacidade de realizar múltiplas ações ao mesmo tempo e o homem não, isso eu acredito ser um mito, mesmo porque estudos científicos já demonstram isso(Revista Psychological Science). qual a sua opinião sobre o cenário político nacional com as mulheres ganhando espaço? Será possível ampliar mais? O que falta para isso? Eu acho ótimo. A mulher tem muito a contribuir com a administração pública em nosso país. hoje, as
6
A sociedade continua sendo conservadora em relação às mulheres Médico-Veterinárias e zootecnistas e só existem alguns focos que saem desse ciclo ou a sociedade já evoluiu nesse sentido? Ainda existe um conservadorismo muito acentuado em relação à presença da mulher em cargos de comando. O que precisa ser esclarecido é que não existe intenção de competir com o homem. A mulher é competente, ela tem demonstrado isso com muita naturalidade. Fora a violência física, as mulheres sofrem constantemente com a violência verbal; são diminuídas e hostilizadas. Como uma sociedade, como a brasileira, recebe a mulher profissional atuante? Mormente, a Médica Veterinária e zootecnista que trabalha no campo? Ainda com reservas. Até hoje eu escuto frases como “isso é profissão de homem”. Imagine como não era há 25 anos, quando eu prestei vestibular para Medicina Vetterinária? Foi difícil convencer minha família de que eu não ia “derrubar boi no pasto”, porque esse era o pensamento à época. A senhora possui uma proposta temática para a academia e para a profissional Médica Veterinária e zootecnista? Sim. Uma proposta que contemple a valorização da mulher profissional Médica Veterinária e Zootecnista, na qual ela possa ser vista como profissional, capaz de desenvolver suas atividades com ética e competência. qual a sua avaliação da educação pública ofertada no Brasil? E em Pernambuco? A educação pública no Brasil vem evoluindo em qualidade na última década, mas a passos muito lentos. A melhoria da educação pública não depende apenas de um ou de outro fator ou tomada de decisão, são vários fatores. Não podemos pensar em qualidade na educação sem falar em capacitação do corpo docente, estrutura digna de sala de aula, salário digno para os docentes e profissionais da educação, revisão curricular e muitos outros. E tudo isso depende de vontade política, prioridade, e da decisão do que realmente se quer para o futuro do País. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
A MULhER MÉDICA VETERINÁRIA E A ZOOTECNISTA
DESAFIO PARA AS PROFISSIONAIS:
A Medicina Veterinária, desde a sua origem exercida principalmente por homens, atualmente apresenta taxas elevadas de participação feminina, ou seja, observa-se uma crescente expansão das mulheres em campos tradicionalmente ocupados por homens (LAWRENCE, 1997). Nos EUA e no Reino Unido, a proporção entre os gêneros masculino e feminino vem sofrendo acentuada modificação nas últimas três ou quatro décadas. Em A maior presença da mulher na Medicina Veterinária é realidade em diversos países. 1960, as mulheres constituíam apenas 2% da Medicina Veterinária (ROWAN, 2006). No Brasil, a tendência ao crescimento das muAtualmente, as mulheres representam mais de 50% lheres na Medicina Veterinária acompanha o que da profissão e entre os estudantes dos cursos de vem ocorrendo no mundo. Alguns estudos têm se Medicina Veterinária, as mulheres alcançam taxas de proposto a investigar porque a Medicina Veterinária 80% (VETERINARY RECORD, 2010). Percebe-se que vem se tornando uma profissão feminina (LINCOLN, a entrada de mulheres na Medicina Veterinária, em 2010) e algumas indagações surgem referentes à diversos países, vem aumentando progressivamente influência do gênero sobre as práticas profissionais a cada ano (DUNLOP & WILLIAMS, 1996). (SMITh, 2006). Afinal, podemos admitir que se as práticas sociais são sexualizadas, também a inserção no mercado de trabalho e a forma de atuação desses profissionais apresentam aspectos peculiares a cada gênero (CEBEA, 2013). Ao analisar o número de inscrições primárias no Sistema de Conselhos Federal e Regional de Medicina Veterinária (Sistema CFMV/CRMVs), a participação da mulher até os anos 80 era inferior a 20%. Após 20 anos, em 2000, foi o primeiro ano que as mulheres ultrapassaram os homens em número de inscrições, somando mais de 50% dos novos inseridos no Sistema CFMV/CRMVS. Na última década, elas mantiveram a supremacia em todos os anos, com mais de 50% das inscrições. Sua participação continua em ascensão, já que, no ano passado, responderam por 55% das inscrições primárias realizadas. Os homens completam os demais 45% de novos inscritos (Gráfico 1). Mantido o crescimento, a tendência é que as mulheres sejam a maioria na profissão. Até janeiro de 2013, elas somaram 52.218 inscrições primárias no Atividade profissional em laboratório é área de atuação. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
arquivo CFMv
IGUALDADE JUSTA, VERDADEIRA E SEM GÊNERO
7
A MULhER MÉDICA VETERINÁRIA E A ZOOTECNISTA
Tabela 1. Inscrições primárias de Médicas Veterinárias nos Estados da Federação, nas regiões geográficas do Brasil e percentual de Médicas Veterinárias, com base nas informações do Sistema de Cadastro do CFMV e CRMV-MG em janeiro de 2013. uF PR RS SC Região SU AC AM AP PA RO RR TO Região NO DF GO MS MT Região CO ES RJ SP MG* Região SE BA CE AL MA PB PE PI RN SE Região NE Brasil
Inscrições Primárias – Médicas Veterinárias Masc.
Fem.
Total inscritos
% Feminino
6.348 7.771 3.385 17.504 185 408 76 1.217 745 132 703 3.466 1.449 3.574 2.892 2.250 10.165 867 5.773 14.874 8.548 30.062 2.322 1.606 486 763 710 2.404 707 497 424 9.919 71.116
4.308 4.694 1.997 10.999 51 254 53 902 299 55 323 1.937 1.324 1.704 1.428 1.076 5.532 708 6.022 16.186 4.835 27.751 1.523 743 250 603 359 1.560 337 308 316 5.999 52.218
10.656 12.465 5.382 28.503 236 662 129 2.119 1.044 187 1.026 5.403 2.773 5.278 4.320 3326 15.697 1.575 11.795 31.060 13.383 57813 3.845 2.349 736 1.366 1.069 3.964 1.044 805 740 15.918 123.334
40 38 37 39 22 38 41 43 29 29 31 36 48 32 33 32 35 45 51 52 36 48 40 32 34 44 34 39 32 38 43 38 42
60
% de inscritos
50 40 30 20
1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
10
Fonte: sisteMa de Castrado do CFMv (sisCad) e CrMv-Mg eM janeiro de 2013 para insCriÇÕes priMÁrias de MédiCas veterinÁrias.
Gráfico 1. Evolução do percentual de Médicas Veterinárias com inscrições primárias no Sistema CFMV/CRMVs em relação ao total de Médicos Veterinários inscritos a cada ano, com base no Sistema de Cadastro do CFMV e CRMV-MG em janeiro de 2013
8
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Sistema CFMV/CRMVs, representando 42% do total de Médicos Veterinários no Brasil. Os homens completam o montante com 71.116 inscrições primárias (total de 123.334) (Tabela1). No que diz respeito à Zootecnista, observa-se, ainda, a superioridade numérica de profissionais homens, mas como a profissão é mais recente e com sua consolidação durante o reestabelecimento do
“É notória a participação da mulher na Medicina Veterinária em maior percentual, em relação ao de homens, nas Escolas do Brasil, tema que também é visível na maioria dos países do mundo, a exemplo dos Estados Unidos e de outros que se equiparam aos parâmetros dos percentuais do Brasil. A destacada atuação da Médica Veterinária no âmbito da pluralidade do exercício profissional e no contexto das oportunidades oferecidas pelo tecido social e ação inéditas merecem destaque. Este ganho, da mulher, é da maior importância, pois ela imprime por natureza, feminilidade, sensibilidade, dedicação ao estudo e ao trabalho, mudanças nas academias, no perfil profissional, na formação acadêmica dos egressos, na educação global, quebrando paradigmas nos hábitos culturais da sociedade, gerando novas perspectivas no relacionamento humano, nos ambientes e na relação de trabalho no meio rural. A mulher está vencendo barreiras, rompendo obstáculos e ganhando
regime democrático no Brasil, a cultura discriminatória a respeito da mulher é menos marcada. Com isto, é provável que o caminho da representatividade aconteça de forma natural (CONAP, 2013). As Mulheres são atuantes, críticas e trazem novas preocupações para as profissões, há reconhecido trabalho em áreas como a clínica de pequenos animais selvagens e trabalhos de campo. (ARRUDA, B. F.)
espaço profissional num mercado de trabalho discriminatório, marcado por resquícios de preconceitos predominantemente machistas que exige da profissional fatia significativa das atividades para o exercício doméstico, desempenho do papel feminino e maternal, ainda como prerrogativas mais importantes do seu papel social. Ela é bem-sucedida pela demonstração inconteste de destacado conhecimento, habilidade na aplicação do saber e caráter firme na relação interpessoal, ganhando credibilidade, confiança, respeito e espaço num regime capitalista duro, cruel que lhe cobra preço alto. Ela paga, com o sacrifício da própria saúde, mas ela vence, ganha e caminha para universalidade dos direitos, dos deveres e das responsabilidades destemida e imbatível.” CARLOS huMBERTO RIBEIRO FILhO, Médico Veterinário – CRMV-BA nº 0454 Membro Conap/CFMV
Referências Bibliográficas ARRUDA, B. F. Presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária. 2013. CEBEA. “As mulheres tem sido apontadas como mais sensíveis às questões que se relacionam ao bem-estar animal”. Revista CFMV v.58, jan, fev, mar, abr. 2013. CONAP. Representatividade Institucional e Política. No caso da Veterinária e Zootecnista um viés discriminatório já na sua origem. Revista CFMV v.58, jan, fev, mar, abr. 2013.
DUNLOP, R. h& WILLIAMS, D.J. Veterinary M e d i c i n e – a n i l u s t rate d h i s to r y. Missouri: Mosby – Year Book, Inc., 1996, 692p. LAWRENCE, E. A. A Woman veterinary student in the fifties: the view from the Approaching Millenium. Anthrozoös v.10, n.4, p. 160-169, 1997. LINCOLN, A. E. The shifting supply ofmen and women to occupations: feminization
inveterinary education. Social forces v.88, p. 1.969-1.998, 2010. SMITh, C.A. The gender shift in veterinary medicine: cause and effect. Veterinary clinics small animal. v.36, p. 329-339, 2006. VETERINARY RECORD. Comment: sex and the profession. Veterinary record. v.167, p. 916, 2010.
Dados dos Autores RICARDO JuNquEIRA DEL CARLO MédicoVeterinário – CRMV-MG nº 1759, Editor da Revista CFMV artigos@cfmv.gov.br
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
FLAVIA BATISTELA TONIN GONçALEz Jornalista – MTB nº 039263/SP
9
O PAPEL DA MULhER NA ZOOTECNIA
MULHER NA ZOOTECNIA
CONTRIBUINDO PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO Ao historiar, Domingues (1998) relata que a Zootecnia, para a cultura latina, como ciência, nasceu em 1848, na França, no “Instituto Versailles” com a criação de uma disciplina destinada ao estudo da criação de animais domésticos. No ano de 1929, foi definida pelo professor Octávio Domingues como “a ciência aplicada que estuda e aperfeiçoa os meios de promover a adaptação econômica do animal ao ambiente criatório, e deste àquele”. Desde a década de 1970, as mulheres, além de ocuparem espaços no cenário nacional, em profissões costumeiramente femininas, iniciaram a sua trajetória pela Zootecnia. O primeiro Curso de Zootecnia, no Brasil, foi criado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), na cidade de Uruguaiana, no Estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1966. A profissão de Zootecnista foi regulamentada em 4 de dezembro de 1968 pela Lei Federal nº 5.550. Em 14 de maio de 1973, inscreve-se no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul a primeira mulher Zootecnista, a Sra. Laurene Liesenfeld, hoje não mais atuante, e, em setembro de 1974, inscreve-se a segunda mulher formada em Zootecnia, ainda atuante, a Sra. Iracilde Goulart de Souza. Em 1975, outras duas Zootecnistas recebem o registro profissional, também no CRMV-RS. A agitada década de 1970 termina com as mulheres Zootecnistas representando 14% do total de Zootecnistas inscritos no CFMV/CRMVs, número signifi-
cativo se analisarmos que nessa década, de acordo com a Fundação Carlos Chagas, 18% das mulheres brasileiras trabalhavam. O crescimento da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro, a partir da década de 1970, foi uma das mais marcantes transformações ocorridas no País. Em 1980, 26% das mulheres brasileiras trabalhavam; em 1990, 40%, chegando a 52%, em 2007 (http://www.fcc.org.br ). No mesmo período também é verificado o maior interesse pela Zootecnia por parte das mulheres, como pode ser observado no Gráfico 1. O gráfico retrata o aumento linear da participação da mulher na Zootecnia. Na década de 1970, as mulheres representavam 14% dos inscritos; na década de 1980, 22%, percentual que se elevou para 30% na década de 1990, e nos dez primeiros anos desse século, para 37%. Nos dois últimos anos, 41% das inscrições primárias para Zootecnia são de mulheres. Das primeiras inscrições realizadas na década de 1970 no sistema CFMV/CRMVs até os dias atuais, mulheres Zootecnistas representam 30% dos Zootecnistas com inscrição primária. É possível observar que o percentual de mulheres Zootecnistas é semelhante em todas as regiões. De Norte a Sul do Brasil, as mulheres Zootecnistas estão presentes, com o seu trabalho e dedicação nas diferentes áreas de atuação, contribuindo de forma ímpar para o desenvolvimento do agronegócio do Brasil. arquivo Cnez
A mulher está presente nas mais diversas atuações da Zootecnia como no julgamento em exposições.
10
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Tabela 1. Inscrições primárias de Zootecnistas nos Estados da Federação, nas regiões geográficas do Brasil e percentual em relação ao total de inscritos em Zootecnia, com base nas informações do Sistema de Cadastro do CFMV (agosto 2012) e CRMV-MG (dezembro 2012) uF
Inscrições Primárias – zootecnista Fem. Total inscritos 382 1.196 223 928 57 214 662 2.338 7 26 18 59 8 18 78 230 46 164 7 39 68 227 232 763 91 283 412 1.378 207 741 128 489 838 2.891 82 246 274 801 1.208 3.262 359 1.858 1.923 6.167 76 289 66 196 54 155 13 90 66 221 204 610 11 57 80 191 13 44 583 1.853 4.238 14.012
Masc. 814 705 157 1.676 19 41 10 152 118 32 159 531 192 966 534 361 2.053 164 527 2.054 1.499 4.244 213 130 101 77 155 406 46 111 31 1.270 9.774
PR RS SC Região Su AC AM AP PA RO RR TO Região NO DF GO MS MT Região CO ES RJ SP MG* Região SE BA CE AL MA PB PE PI RN SE Região NE Brasil
% Feminino 32% 24% 27% 28% 27% 31% 44% 34% 28% 18% 30% 30% 32% 30% 28% 26% 29% 33% 34% 37% 19% 31% 26% 34% 35% 14% 30% 33% 19% 42% 30% 31% 30%
45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10%
2012
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1999
1998
1997
1996
1995
1994
1993
1992
1991
1990
1989
1988
1987
1986
1985
1984
1983
1982
1981
1980
1979
1978
1977
1976
1975
1974
1973
5%
Gráfico 1. Evolução do percentual de Zootecnistas com inscrições primárias no Sistema CFMV/CRMVs em relação ao total de Zootecnistas inscritos a cada ano com base no Sistema de Cadastro do CFMV (agosto 2012) e CRMV-MG (dezembro 2012) Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
11
O PAPEL DA MULhER NA ZOOTECNIA
DEPOIMENTOS DE MULHERES QUE SE DESTACAM NA ZOOTECNIA Produzir alimentos de origem animal com qualidade para bilhões de pessoas, garantindo a sustentabilidade no planeta é o desafio da Zootecnia. Para tanto lança mão de tecnologias que tiveram o seu desenvolvimento impulsionados pela demanda de mercado, cabendo aos profissionais atuar ao lado das empresas agropecuárias para alcançar resultados competitivos. A participação da mulher vem engrandecer este mercado pela sua flexibilidade, dedicação e detalhamento nas atividades, e elas tem se destacado no cenário na-
cional em todas as áreas pela luta e disposição em atingir metas. Ao escolher a profissão de Zootecnista, sempre ainda muito jovem, a adolescente que ingressa no ensino superior com todos os seus ideais, vê um mundo profissional abrir-se à sua frente com uma vasta área de atuação. Como exemplo, foram eleitas algumas mulheres de destaque no Brasil. Diante de tantos exemplos de sucesso, algumas foram escolhidas, pelo dinamismo, juventude, brilhantismo, empreendedorismo, persistência e coragem em acreditar nos seus ideais dentro da Zootecnia.
LuCyANA MALOSSI quEIROz Graduou-se em Zootecnia pela Faculdade Associadas de Uberaba, MG (Fazu), em 2009, e especializou-se em Exterior e Julgamento de Zebuínos, em 2011. “As mulheres, hoje, têm se destacado de forma positiva no meio rural, onde ocupam diferentes áreas dentro da Zootecnia, e têm realizado papel fundamental em muitas empresas. Isso acontece, sem dúvida, por mostrarem sua capacidade e sua ética no trabalho realizado. Teria muito que falar da mulher e da Zootecnia separadamente, mas quando unem as duas palavras “mulher Zootecnista”, posso, por conta própria, resumir em apenas uma: paixão, paixão pelo campo, pelos animais e, principalmente, pela profissão escolhida.”
MARIA NORMA RIBEIRO Graduada em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba (1987), mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal da Paraíba (1990) e doutorado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1997). Especializou-se em Conservação de Recursos Genéticos Animais, pela Universidade de Córdoba, na Espanha (2002). “A Zootecnia tem papel fundamental na produção de alimentos em bases sustentáveis, já que a maior parte da produção de alimentos é feita em base familiar no Brasil, e na maioria dos países em desenvolvimento. Apesar da tendência de distribuição de renda por parte de governos recentes, ainda temos um grande contingente de pessoas em condições de miséria e extrema pobreza no nosso país. Os percentuais equivalem a aproximadamente a população da Espanha ou a seis ‘Portugais’, o que representa aproximadamente 30% da população do Brasil. Nesses sistemas de produção, a mulher camponesa tem tido papel de destaque como mostram muitos estudos. Por isso, a ONU destaca como uma das prioridades dentro dos Objetivos do Milênio, a conservação da diversidade biológica integrada à conservação da diversidade cultural (MEA, 2005), e chama atenção para o fato de que no Brasil existem alimentos suficientes para alimentar toda sua população. O País carece de planos de desenvolvimento sustentáveis e de políticas de distribuição de renda.”
12
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
JENECy DE FATIMA APARECIDA Graduada pela Faculdade de Zootecnia de Uberaba, MG (Fazu), em 1984; concluiu o Mestrado em Nutrição de Ruminantes em 1988, pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais . “Como todas as profissões existentes no mercado nacional, existem seus desafios independentemente de idade, cor e sexo. Vejo esses desafios como ponto básico e muito importante para a superação e crescimento do profissional de Zootecnia em sua área de atuação. As mulheres atuantes na área de Zootecnia, principalmente em propriedades rurais são em menor número do que profissionais do sexo masculino, mas eu percebi que a mulher pode ocupar esse espaço da mesma forma e, com bons resultados. Há fatores de fundamental importância para permanecermos nessa área tão masculina. A primeira coisa é nos respeitarmos e fazer por onde sermos respeitadas como mulheres e profissionais . A segunda é ter sabedoria para dizer não quando não soubermos realizar uma atividade e ter iniciativa para buscar as parcerias e fazermos o melhor para a empresa e a pecuária nacional e, terceiro, para trabalhar em empresas rurais, no campo, devemos ser bem determinadas e ter coragem para enfrentar todos os obstáculos e fazer as coisas acontecerem da melhor forma, obtendo melhor custo-benefício.”
RAquEL PEREIRA CAPuTO Graduada em 2005 pela UPIS Faculdades Integradas. Concluiu, em 2007, sua primeira especialização: Produção de Bovinos de Corte pelo Centro Universitário Newton Paiva/ RehAgro; em 2009 pela Universidade de Brasília (UnB) especializou-se em Gestão de Agronegócios e, em 2012, obteve o título de Especialista em Nutrição de Bovinos de Corte: FAZU/RehAgro. “A Zootecnia é uma área em expansão, cuja tendência é ser cada dia mais valorizada devido a seu imenso impacto ao agronegócio, pois os Zootecnistas trabalham diretamente no aperfeiçoamento da criação, produção e exploração sustentável dos animais.” Na visão de Raquel Caputo, percebese que é crescente o número de mulheres Zootecnistas no mercado de trabalho e que elas estão assumindo cargos importantes em propriedades rurais, empresas públicas e privadas, bem como em associações e cooperativas. A Fiscal arremata relatando que “os pilares da Zootecnia (nutrição, manejo e melhoramento genético) visam melhorar a produtividade nos aspectos quantitativos, qualitativos, econômicos e sociais das diversas cadeias pecuárias e, para isso, é necessário muita dedicação, preciosismo e paixão pelo trabalho, características que, em geral, as mulheres possuem naturalmente.”
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE ENSINO DA zOOTECNIA (CNEz) DO CFMV ANA CLÁuDIA AMBIEL CORRAL CAMARGO (PRESIDENTE) Zootecnista, CRMV-SP nº 01148/Z anaambiel.cnez@cfmv.gov.br ANTONIA DE MARIA FILhA RIBEIRO Zootecnista, CRMV-MG nº 0097/Z
ELIS APARECIDO BENTO Zootecnista, CRMV-GO nº 0254/Z JOSIANE VELOSO DA SILVA Zootecnista, CRMV-MA nº 0030/Z
ADRIANA EVANGELISTA RODRIGuES Zootecnista, CRMV-PB nº 0176/Z
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
13
A MULhER E O BEM-ESTAR ANIMAL
AS MULHERES SÃO MAIS SENSÍVEIS ÀS QUESTÕES QUE SE RELACIONAM AO BEM-ESTAR ANIMAL
arquivo CFMv
Interação é importante no entendimento dos desafios.
introduÇão O processo de socialização, que institui valores e práticas no imaginário das crianças, produz sujeitos que concebem o mundo de sua própria maneira e desenvolvem determinadas posturas corporais, hábitos e comportamentos (SANTOS, 2004). Assim emergem os estereótipos do que é ou não adequado nas formas de agir e representar o mundo de homens e mulheres. No que se refere aos animais, também têm sido observadas algumas diferentes formas de perceber e de agir em relação a eles entre homens e mulheres. Vários estudos identificam um viés de gênero, revelando que mulheres, de forma geral, apresentam atitudes mais positivas ou de cuidado em relação ao bem-estar animal e aos direitos dos animais (COLEMAN, 2008). De modo geral, as mulheres têm sido apontadas como mais sensíveis às questões que se relacionam ao bem-estar animal. É importante destacar que se concorda aqui com o pressuposto de que não existe uma essência feminina ou masculina a priori, mas que as identidades, subjetividades e comportamentos de homens e mulheres foram sendo estruturados ao longo de um processo histórico, em sociedades concretas e específicas. Os gêneros são construídos por meio de processos de interação social, apresentando, Ricardessa forma, um caráter eminentemente relacional e interdependente (SANTOS, 2004). Nesse sentido,
14
o conhecimento de estudos que abordam questões de gênero e formas de percepção e interação com os animais são importantes no entendimento dos desafios e perspectivas que se anunciam na Medicina Veterinária, especialmente no momento em que se observa essa grande entrada de mulheres na profissão. Portanto, trazer à tona algumas dessas questões de gênero, especialmente relacionadas ao bem-estar animal, é a proposta desse artigo.
atitudes reLaCionadas aos aniMais e questÕes de gênero Anna Kingsford era ainda uma jovem inglesa quando se recusou a usar animais durante seu curso de Medicina. No tempo em que a prática da vivissecção era considerada parte do treinamento de qualquer estudante de Medicina pelos professores da época, Anna Kingsford demonstrou que eles estavam errados e formou-se em 1880, sem usar animais, após uma grande batalha pessoal (RYDER, 1989). Anna Kingsford representa um dos primeiros registros de oposição feminina à prática da vivissecção em salas de aula. No entanto, foi necessário um longo tempo até que mudanças de atitudes humanas em relação aos animais começassem a ocorrer de forma significativa, no final da segunda metade do século XX, inicialmente em países euroRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
peus e de língua inglesa, só depois se espalhando pelo mundo. Essas mudanças de atitudes não ocorreram somente relacionadas ao uso de animais no ensino, mas praticamente ao mesmo tempo para os vários aspectos do uso de animais pelo ser humano (FRASER, 2012). A segunda metade do século XX representa também o momento histórico em que mais mulheres ingressaram nas universidades, em diversas áreas e, especialmente, na Medicina Veterinária. Diversos estudos indicam importante papel das mulheres nesse processo de mudança em relação aos animais, especialmente na busca de aliviar o sofrimento dos animais e de se extinguir práticas cruéis em relação a eles, as quais se pautam na visão do animal como simples objeto ou máquina. Nesse sentido, Knight e colaboradores (2004) revelaram em seu estudo que aqueles que acreditam que os animais possuem mentes são os que mais desaprovam o uso de animais em diversas situações, incluindo a experimentação, o ensino e o uso com finalidade de entretenimento. Ainda segundo o mesmo estudo, nessas situações, as mulheres desaprovam mais o uso de animais do que os homens. Em relação à experimentação animal, o estudo de Broida e colaboradores (1993) realizado com estudantes de sete Universidades americanas, que cursavam Psicologia, Biologia e o Básico em Medicina e Medicina Veterinária, revelou que esses estudantes eram mais contrários à prática com animais, do que quando comparados a estudantes de outras áreas. E, ainda, que as mulheres, mais do que os homens, opunhamse a esse uso de animais. Pifer e colaboradores (1994) arquivo CFMv
A preocupação com a dor e a maior afeição representam um viés de gênero importante. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
também concluíram que há diferenças de gênero nas atitudes em relação ao uso de animais em pesquisas, apresentando as mulheres maior oposição a essa prática. Em 2012, os autores de um estudo sobre atitudes de estudantes de Medicina Veterinária, na Austrália e na Turquia, concluíram que as estudantes do sexo feminino são mais preocupadas que os homens em relação às questões de bem-estar animal, especialmente no uso de animais em experimentos, zoológicos, entretenimento, esportes, alimentação e vestuário. Para Serpell (2004), o gênero feminino é o que permite prever as atitudes humanas em relação aos animais e o uso de animais entre os estudantes, pois as mulheres demonstram mais atitudes de cuidados em relação aos animais. Nesse mesmo estudo, Serpell (2004) destaca uma preferência por parte dos homens em seguir a carreira na Medicina Veterinária, trabalhando com produção animal. Coerentemente com esse achado, também há registros de que essa não é uma área de atuação escolhida preferencialmente pelas mulheres (hERZOG et al., 1991). Em relação aos animais de produção, é importante destacar que a famosa obra Animal Machines foi escrita por uma mulher, Ruth harison, em 1964, na qual ela denunciava o fato de que animais eram tratados como se fossem meras máquinas de produção e submetidos a intenso sofrimento nas criações intensivas. Essa denúncia teve papel relevante em chamar a atenção para o sofrimento dos animais e para a necessidade de mudanças, pois a partir dos movimentos sociais decorrentes desse tipo de denúncia, as investigações sobre o bem-estar animal entraram na pauta política e científica de diversas sociedades, favorecendo a emergência da própria ciência do bem-estar animal e o crescimento das demandas por direitos dos animais. Os movimentos em prol dos animais, tanto defendendo os direitos quanto aqueles que apoiam o bem-estar cresceram dramaticamente após os anos 1980 (KRUSE, 1999). O achado mais notável e consistente das pesquisas sociais que emergiram, a partir dos estudos desses grupos de defesa dos animais, tem sido o papel central da mulher nesse movimento (hERZOG et al., 1991; KRUSE, 1999). Talvez tal situação esteja relacionada a uma substancial diferença de gênero na forma de perceber a natureza. Os homens apresentam uma atitude mais favorável à exploração e ao controle do mundo natural, quando comparados às mulheres, as quais expressam sistematicamente maior afeição pelos animais e preocupações éticas em relação ao ambiente (KELLERT, 1996).
15
A MULhER E O BEM-ESTAR ANIMAL
Nesse sentido, a preocupação com a dor animal também apresenta um viés de gênero importante, especialmente percebida na atuação em Medicina Veterinária, como veremos a seguir.
a MuLHer no ConteXto do trataMento da dor aniMaL
bém houve diferença significativa na administração de analgésicos aos animais, sendo as mulheres as responsáveis por promover maior analgesia e demonstrarem vínculo importante entre percepção e tratamento da dor. No que se refere à clínica de pequenos animais, estudos em diferentes países demonstram que as mulheres preocupam-se mais com a dor dos animais e que isso se reflete na forma de conduzir as suas atividades profissionais no âmbito da clínica (DOhOO & DOhOO, 1996; CAPNER et al., 1999; LASCELLES et al., 1999; hUGONNARD et al., 2004; BUENO, 2005). Foi observado em 2003, na Finlândia, por Raekallio e colaboradores, tal como se observa nesses estudos em geral, que não só as mulheres atribuem escores de dor mais alto aos animais em situações dolorosas, como tratam a dor com mais frequência, do que os colegas do gênero masculino. No Brasil, em estudo realizado em 2005, na cidade do Rio de Janeiro com 279 médicos veterinários atuantes em clínicas de pequenos animais, os achados de outros países foram confirmados, demonstrando que as mulheres não só atribuem escores de dor mais alto para os animais, como tratam mais a dor (BUENO, 2005). Um achado particularmente interessante nesse estudo de Bueno (2005) foi que os resultados mostraram que as mulheres se preocupam com outros fatores além da terapia analgésica propriamente dita, quando estão diante de um animal com dor. Foi observado que elas buscam proporcionar um ambiente calmo para o animal que está com dor, buscando diminuir, assim, o estresse, e prezam
Bernad Rollin (2002) afirmou que: “Na verdade, ao longo da maior parte do século XX, os veterinários foram mal preparados, em termos de educação e de ideologia, para tratar da dor animal, da mesma forma que o controle da dor não foi historicamente uma prioridade para os clínicos humanos”. há indícios de que a preocupação com o ensino da relevância da dor para o bem-estar animal em cursos de Medicina Veterinária no Brasil ainda seja insuficiente em pleno século XXI (BORGES et al., 2013). Várias razões podem ser recrutadas para interpretar esse fenômeno, como a ideologia científica e um conjunto de racionalizações e dogmatismos, na própria Medicina Veterinária, tal como a crença de que “os animais sentem menos dor” (ROLLIN, 2002). Nesse sentido, a adequada percepção da dor nos animais e seu tratamento são fundamentais para o bem-estar do animal e uma abordagem que possa ser considerada ética. É nesse contexto que a preocupação com a dor dos animais vem progressivamente aumentando na Medicina Veterinária, com estudos que indicam uma atitude diferenciada das mulheres em relação aos homens, no que se refere à atenção com a dor animal. Gallup e Beckstead (1988) identificaram em seu estudo que estudantes do sexo feminino demonstram maior preocupação com arquivo CFMv a dor e o sofrimento dos animais de laboratório do que os estudantes masculinos. Em relação à atenção à dor e ao uso de analgésicos, especialmente de bovinos, huxley e Whay (2006) realizaram um estudo no Reino Unido, em que obtiveram retorno de 641 respondentes ao questionário enviado. Entre os achados desse estudo, observou-se que as mulheres atribuem escores significativamente maiores de dor, na maior parte das situações dolorosas que acometem bovinos, quando comparadas aos homens. Nesse caso, tam- A adequada percepção do mecanismo da dor é uma abordagem ética.
16
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
aCervo gp bio-Fauna-uFra
Estudantes do sexo feminino estão preocupadas especialmente com uso de animais em experimentação.
por um tratamento carinhoso com os animais. Nesse sentido, revelam melhor abordagem da complexidade do fenômeno doloroso, do animal como um indivíduo e dos desafios da prática médica entre os paradigmas do “curar” e do “cuidar”.
ConsideraÇÕes Finais há especulações sobre o futuro da Medicina Veterinária e sua inserção social considerando as significativas mudanças que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo. A emergência do bem-estar e dos direitos dos animais, como reivindicações sociais, e a entrada das mulheres na Medicina Veterinária são fatos inegáveis, paralelos, crescentes e relevantes. É importante destacar que, quando diversas modificações ocorrem concomitantemente, é preciso cautela ao se atribuir qualquer relação de causa e efeito. No entanto, entender as motivações envolvidas nas atitudes pode contribuir significativamente para o entendimento de determinadas realidades. Embora existam várias propostas de modelos que buscam categorizar os tipos de atitudes em relação aos animais, um modelo relativamente simples de entendimento das atitudes humanas em relação aos animais foi proposto por Serpell (2004), a partir do qual podemos considerar que existem duas motivações primárias para tais atitudes: 1) emocional – representa o afeto das pessoas e/ou a resposta emocional aos animais e, 2) utilitária – representa a percepção que a pessoa Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
tem do valor instrumental do animal. Concomitante a essas motivações, emocional ou utilitária, Serpell (2004) explica que outros fatores podem atuar modificando a resposta emocional das pessoas aos animais ou a percepção que elas têm da utilidade do animal para os humanos. O fator considerado amplamente mais importante relacionado à característica individual da pessoa foi o fato dela ser mulher ou não, isto é, as mulheres demonstram motivações afetivas mais fortes e utilitárias mais fracas, quando comparadas aos homens. aCervo gp bio-Fauna-uFra
As mulheres atribuem escores de dor mais alto aos animais.
17
A questão que nos parece bastante relevante nesse momento, é que essas diferentes motivações podem entrar em conflito de várias formas, nos indivíduos e nas sociedades, ocasionando dilemas éticos em relação aos animais. hoje, diversos conflitos éticos permeiam a Medicina Veterinária. Knight e colaboradores (2004) revelaram que as pessoas adaptam suas atitudes aos seus contextos específicos e podem
ativamente evitar saber mais sobre usos de animais e procedimentos específicos a fim de minimizar o seu conflito cognitivo. Porém, a Medicina Veterinária não pode esquivar-se de saber mais sobre o viés de gênero, sobre os animais, de abordar a questão do sofrimento dos animais e enfrentar os possíveis conflitos em prol de uma convivência mais justa para mulheres e animais e mais feliz para todos.
Referências Bibliográficas BORGES, T.D., SANS, E.C.O., BRAGA, J.S., MAChADO, M.F., MOLENTO, C.F.M. Ensino de bem-estar e dor animal em cursos de medicina veterinária no Brasil. Arquivo brasileiro de medicina veterinária e zootecnia, v.65, n.1, p. 29-36, 2013. BROIDA, J., TINGLEY, L., KIMBALL, R., MIELE J. Personality differences in pro- and antivivisectionists. Society and animals, v.1, p. 129-144, 1993. BUENO, D.P.D. Atitudes de médicos veterinários do município do Rio de Janeiro em relação a questões éticas e de bem-estar animal na prática clínica de pequenos animais. 2005, 248p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Veterinária. Universidade Federal Fluminense. CAPNER, C. A.; LASCELLES, B. D. X.; WATERMAN-PEARSON, A. E. Current British veterinary attitudes to perioperative analgesia for dogs. Veterinary record. v. 145, p. 95-99, 1999. COLEMAN, G.J. Public perceptions of animal welfare – an international perspective. AAWS08 International animal welfare conference, Gold Coast, Queensland, September 2008.
FRASER, D. Compreendendo o bem-estar animal – a ciência no seu contexto cultural. Londrina: EDUEL, 2012, 434p. GALLUP, G.G.Jr.; BECKSTEAD, J.W. Attitudes toward animal research. American psychologist, v.43, p. 474-476, 1988. hERZOG, h.A., BETChART, N.S., PITTMAN, R. B. gender, sex role orientation, and attitudes toward animals.Anthrozoös,v.4,n.3,p.184-191,1991.
LASCELLES, B. D. X.; CAPNER, C. A.; WATERMAN-PEARSON, A. E. Current british veterinary attitudes to perioperative analgesia for cats and small mammals. Veterinary record. v. 145, p. 601-604, 1999. PIFER, L.; ShIMIZU, K.; PIFER, R. Public attitudes towards animal research: some international comparisons. Society and animals, v. 2, p. 95-113, 1994.
hUGONNARD, M. Attitudes and concerns of french veterinarians towards pain and analgesia in dogs and cats. Veterinary anaesthesia and analgesia. v. 31, p. 154-163, 2004.
RAEKALLIO, M.; hEINONEN, K.M; KUUSSAARI, J; VAINIO, O. Pain alleviation in animals: attitudes and practices of finnish veterinarians. Veterinary journal, v. 165, n.2, p. 131-135, 2003.
hUXLEY, J. N.; WhAY, h. R.Current attitudes of cattle practitioners to pain and the use of analgesics in cattle.Veterinary record, v.159, p. 159:662, 2006.
ROLLIN, B. A ética do controle da dor em animais de companhia. In: hELLEBREKERS, L.J. (ed.). Dorem animais. São Paulo: Ed. Manole, 2002, p. 17-35
IZMIRLI, S., PhILLIPS, C.J. Attitudes of australian and turkish veterinary faculty toward animal welfare. Journal of veterinary medical education, v.39, n.2, p. 200-207, 2012.
ROWAN, A. N. Veterinarians and animal welfare: what role should the profession play? AAAS Symposium – August 1, 2006.
KELLERT, S.F. The value of life: biological diversity and human society. Washington: Island Press, 1996, 280p.
DOhOO, S.; DOhOO, I. Factors influencing the postoperative use of analgesics in dogs and cats by Canadian veterinarians. Canadian veterinary journal,. v. 37, p. 552-556, 1996.
KNIGhT, S., VRIJ, A., ChERRYMAN, J., NUNKOOSING, K. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoös, v.17, n.1, p. 43-62, 2004.
DUNLOP, R. h& WILLIAMS, D.J. Veterinary medicine – an ilustrated history. Missouri: Mosby –Year Book, Inc., 1996, 692p.
KRUSE, C. R. Gender, views of nature, and support for animal rights. Society and animals, v.7, n.3, p. 179-198, 1999.
RYDER, R. Animal revolution. Changing attitudes towardsspeciesism. Oxford: Basil Blackwell, 1989, 385p. SANTOS, T. S. Gênero e carreira profissional na Medicina. Mulher e trabalho, v. 4, p. 73-88, 2004. SERPELL, J.A. Factors influencing human attitudes to animals and their welfare. Animal welfare, v. 13, Suppl., p. S145-S151, 2004.
Dados dos Autores RITA LEAL PAIxÃO Médica Veterinária, CRMV – RJ nº 3.937 Membro da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (Cebea/CFMV). ritapaixao.cebea@cfmv.gov.br
MARIA DAS DORES PALhA Médica Veterinária, CRMV-PA nº 0917 Membro CEBEA/CFMV .
CARLA FORTE MAIOLINO MOLENTO Médica Veterinária, CRMV-PR nº 2.870 Membro CEBEA/CFMV.
18
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
A ESTUDANTE VETERINÁRIA
A TRAJETÓRIA DA MULHER
NOS CURSOS DE MEDICINA VETERINÁRIA NO BRASIL arquivo CFMv
As mulheres são maioria em sala de aula no curso de Medicina Veterinária.
A história da Medicina Veterinária brasileira inicia-se efetivamente em 1910 com a criação da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, instituição que, em 1948, passou a integrar a atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Sucederam as criações dos cursos de Medicina Veterinária nos Estados de São Paulo (1919); Minas Gerais (1920); Rio Grande do Sul (1923); Paraná (1931); Rio de Janeiro/Niterói (1936); Pernambuco (1950), e Bahia (1951). No período de 1910 a 1929, funcionaram no Brasil dez cursos de Medicina Veterinária; alguns deles, por curto período de tempo, os quais diplomaram 394 profissionais. Durante as décadas de 1960, 1970 e 1980 foi autorizado o funcionamento de oito novos cursos por década, sendo, nesse período, criados os primeiros de natureza privada. A nova Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, reafirRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
mava que a educação nacional, em todos os seus níveis, é aberta à iniciativa privada, respeitados os padrões de qualidade emanados pelo Poder Público. Esse dispositivo somado à crescente demanda de jovens pela educação superior e aliado ao baixo investimento do governo com o setor educacional, resultou em considerável expansão do ensino superior no País, com forte proliferação do número de instituições e cursos, especialmente de vinculação privada, a partir da década de 1990. Dessa forma, no contexto da Medicina Veterinária, ao final do ano de 2011, verificou-se a existência de 178 cursos em funcionamento no País, oferecendo 18.147 vagas anuais, o que resultou na graduação de 6.675 novos Médicos Veterinários, nesse último ano de referência. O perfil dos estudantes dos cursos de Medicina Veterinária no País sofreu extraordinária modificação ao longo dos anos, sobretudo nas duas últimas
19
A ESTUDANTE VETERINÁRIA
Tabela 1. Total de alunos matriculados em cursos de Medicina Veterinária no Brasil e o percentual de mulheres, divididos por unidade da Federação, nos anos de 1991, 2001 e 2011.
1991
Estados sem cursos de Medicina Veterinária
2001
2011
Estado com maioria masculina de matriculados (até 60%) Estados com maioria feminina de matriculados (até 60%) Estado com grande maioria feminina de matriculados (mais de 60%)
Fonte: Inep
décadas. Até a metade do século XX, havia predomínio absoluto de estudantes do sexo masculino. De um total de 1.122 Médicos Veterinários, diplomados até o ano de 1952, por todas as Faculdades de Veterinária existentes nas diferentes regiões do País, apenas 14 (1,2%) eram do sexo feminino. Consta que a primeira mulher diplomada em Medicina Veterinária no Brasil foi a Dra. Nair Eugenia Lobo, na turma de 1929, pela atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Também deve ser ressaltado que a maioria absoluta dos estudantes da época possuía forte vin-
20
culação com o meio rural. Contribuiu parcialmente para tal a chamada “Lei do Boi”, instituída em 1968, pelo Congresso Nacional, ao estabelecer que “As Escolas Superiores de Agricultura e Veterinária mantidas pela União, reservarão anualmente, 50% de suas vagas a candidatos agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam na zona rural e 30% a agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam em cidades.” A aludida lei foi revogada em 1985. Coincidentemente, a partir dos anos 1980, intensificou-se o processo de urbanização da MeRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
dicina Veterinária que, de forma gradual, porém contínua, passou a enfatizar suas ações nas áreas de clínica e cirurgia de animais de companhia. Os projetos pedagógicos e as matrizes curriculares dos cursos criados a partir dos anos 1990, exibiam forte apelo para a Medicina Veterinária de pequenos animais. Similarmente às instalações físicas, tinham como epicentro o hospital veterinário, ainda que, perifericamente, contasse com alguns laboratórios de Medicina Veterinária preventiva, tecnologia e inspeção de produtos de origem animal e mais modestamente com fazenda experimental. O progresso técnico-científico ocorrido na área de animais de companhia e as novas oportunidades decorrentes da diversificação das atividades nesta área resultaram em forte estímulo para os novos ingressantes, sobretudo os do sexo feminino, o que resultou em gradativo aumento do público feminino nos cursos de Medicina Veterinária, com incremento médio anual de aproximadamente 1% das matrículas no País. De acordo com os dados disponibilizados pelo Inep, em 1991, haviam 12.076 alunos matriculados em cursos de graduação em Medicina Veterinária no País, dos quais 5.015 (41,5%) eram do sexo feminino. Naquele ano, apenas o Estado do Rio de Janeiro revelava a preponderância de alunas matriculadas. Essa tendência vem sendo paulatinamente consolidada, de tal forma que, em 2001, o universo de alunos do sexo feminino, em termos nacionais, já se tornara maioria, atingindo o percentual de 53,3%. Naquela ocasião, despontavam como extremos os Estados do Rio de Janeiro com maior contingente de alunas matriculadas (62,1%) e, como contraponto, o Mato Grosso do Sul deti-
nha a maior população masculina (67,4%). Mais uma década passara-se e, em 2011, o público feminino atingia o elevado patamar de 57,5% das matriculas nos cursos de Medicina Veterinária no País. Registram os maiores índices de matrículas femininas os Estados do Rio de Janeiro (69,2%), São Paulo (64,1%) e Distrito Federal (63,6%), enquanto nos Estados de Rondônia (59,2%), Tocantins (51,9%) e Goiás (51,7%) ainda preponderam matrículas de estudantes do sexo masculino. Esses mesmos dados disponibilizados indicam que em 2011, em termos nacionais, os concluintes do sexo feminino atingiram a cifra de 56,1%. Já os ingressantes perfizeram índices ainda mais elevados, chegando a 59,6% do total de aspirantes ao curso de Medicina Veterinária. É lícito supor que esses percentuais ainda não se encontram estabilizados, permanecendo a tendência de aumento gradativo do número de ingressantes do sexo feminino nos diferentes cursos de Medicina Veterinária no País. Atualmente, são poucos os Estados em que o número de ingressantes do sexo masculino continua sendo maior que os do sexo feminino. Nesse contexto, há de se destacar os Estados de maior expansão das fronteiras pecuárias e que mais contribuem para o agronegócio, demonstrando uma inequívoca identidade entre os futuros profissionais do sexo masculino com este ramo de atividade. E m t e r m o s p r o f i s s i o n a i s , a e xe m p l o d a América do Norte e da Europa, verifica-se forte tendência da crescente vinculação entre a Medicina Veterinária com a clínica e a cirurgia de animais de companhia.
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE ENSINO DA MEDICINA VETERINÁRIA (CNEMV) do CFMV RAFAEL GIANELLA MONDADORI (PRESIDENTE) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 5672 rafaelmondadori.cnemv@cfmv.gov.br BRENO SChuMAhER hENRIquE Médico Veterinário, CRMV-AM nº 0303 CELSO PIANTA Médico Veterinário, CRMV-RS nº 1732 FRANCISCO EDSON GOMES Médico Veterinário, CRMV-RR nº 0177
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
JOÃO CARLOS PEREIRA DA SILVA Médico Veterinário, CRMV-MG nº 1239 PAuLO CéSAR MAIORkA Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6928 MARCELO DINIz DOS SANTOS Médico Veterinário, CRMV-MT nº 0818 ROGéRIO MARTINS AMORIM Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6757
21
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA E A MULhER
“NUNCA TIVE MEDO DE ENFRENTAR O NOVO COM TODOS OS SEUS DESAFIOS E DÚVIDAS.” Muniz, L.M.r.
O caminho em busca da igualdade e da independência financeira está sendo trilhado à custa de muito suor e determinação, e o sucesso que as mulheres são capazes de desfrutar é em parte, resultado dos esforços de pioneiras que tiveram coragem de batalhar pelo direito de escrever a própria história. A partir dos anos 1970, mais mulheres ingressaram no mercado de trabalho, que se mostrava hostil e extremamente preconceituoso. Mesmo com a estagnação econômica, as conquistas avançaram durante toda década de 1980 para culminar, nos anos 1990, com a maciça abertura para o público feminino. Parte do sucesso deve-se a características reverenciadas no mundo dos negócios e que são inatas do público feminino, como sensibilidade e paciência, que tornam a mulher naturalmente apta a lidar com clientes dos mais variados tipos, além das habilidades de saber ouvir, aconselhar e ser criativa. Atualmente, percebe-se número cada vez maior de candidatos do sexo feminino nas seleções aos programas de pós-graduação, inclusive nos de Residência. É interessante ressaltar que, apesar de a formação oportunizar trabalho numa variedade
Professora Lucy em exame radiológico na década de 1970.
de serviços, muitas mulheres têm optado por áreas antes dominadas pelos homens, como cirurgia, reprodução e clínica de grandes animais. No processo seletivo/2013 do Programa de Residência em Medicina Veterinária da Universidade
pioneirisMo eM residênCia veterinÁria Atualmente, não é difícil encontrar exemplos de profissionais mulheres de sucesso em Medicina Veterinária. Entretanto, a realidade era bastante diferente na década de 1970, quando se formou a Professora Dra. Lucy Marie Ribeiro Muniz, ingressante do primeiro Programa de Residência em Medicina Veterinária no Brasil, pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB), atualmente Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, campus Botucatu. “Em 1974, juntamente com outros colegas – mas só mais uma mulher, comecei a residência na área de cirurgia. Naquela época, o residente fazia exame de ingresso para uma das grandes áreas e, apenas no segundo ano do programa, ele fazia a área de seu interesse. No meu caso específico, Radiologia Veterinária”. Ela conta que no final do mesmo ano foi aprovada como docente da disciplina de Radiologia Veterinária. “A experiência que tive como residente, além de me abrir portas para o campo profissional, também me fez encarar com mais segurança o início da vida docente, já que eu não tinha só o conhecimento teórico do assunto, mas, também, conhecimento prático”. No decorrer do tempo, os cursos de Medicina Veterinária foram modificando-se, passando a exigir novas áreas, mas os programas de residência continuam sendo de extrema importância profissional. “A meu ver, é aconselhável ao jovem veterinário que faça residência para ser mais rapidamente um bom profissional, seguro e experiente”, e acrescenta: “nunca tive medo de enfrentar o novo com todos os seus desafios e dúvidas, pois, na qualidade de mulher, fui no Brasil uma das primeiras residentes, a primeira residente em Radiologia Veterinária e a primeira Radiologista Veterinária”.
22
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
a residente na atuaLidade hoje, mais do que nos anos anteriores, o treinamento em serviço é de fundamental importância para o profissional recém-graduado encaixar-se no mercado de trabalho. Larissa Morais Souza, 23 anos, é Médica Veterinária graduada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e, cursa residência na área de Anestesiologia Veterinária e Medicina de Emergência, também pela UFG. Como Anestesiologista, estou bastante empolgada. Nós, Anestesiologistas Veterinários, somos capacitados para aliviar a dor dos animais, possibilitar a realização de procedimentos cirúrgicos de forma segura, pela monitoração do paciente e a elaboração de protocolos anestésicos adequados para cada indivíduo, além de ter conhecimentos sobre o manejo correto dos pacientes em estado crítico”. Larissa lembra que “apesar de algumas pesquisas mostrarem que a mulher está dominando o mercado de trabalho, na maioria das situações, elas ainda não são indicadas para os cargos mais altos dentro das empresas e ganham menos que os homens para realizarem o mesmo trabalho. Essa situação está deixando de existir, e chegará a igualdade entre os sexos. Isso nos leva a concluir que o futuro da Medicina Veterinária é promissor, quando profissionais especializados e do sexo feminino serão mais valorizados”.
de Marília, 80% dos candidatos foram do sexo feminino. Das onze vagas ofertadas, sete para R1 e quatro para R2, o Programa contará com nove mulheres, inclusive na área que envolve grandes animais; essa teve grande predominância feminina, desde sua criação, em 2007. Também, nos dois últimos processos seletivos da Universidade Luterana do Brasil, 89% dos inscritos foi do sexo feminino. Das 13 vagas ofertadas, 12 foram ocupadas por mulheres. Igualmente, na última seleção para residência da Universidade Federal Rural de Pernambuco, de 22 vagas ofertadas, 15 foram ocupadas por mulheres. Em trabalho desenvolvido pela Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária do CFMV, avaliando o perfil do Médico Veterinário Residente
egresso de programas reconhecidos pelo CFMV, no período de 2004 a 2010, observou-se que dos 105 residentes participantes da avaliação, 63,8% eram do sexo feminino, e 36,2% do sexo masculino. Existem várias profissionais que podem servir como exemplo de perseverança na conquista pelo objetivo de ser uma Médica Veterinária diferenciada, como é o caso da Professora Dra. Virgínia Bocorny Lunardi. “Em 2013 completo 20 anos de formatura, 20 anos de Médica Veterinária, profissão que escolhi e que, acima de tudo, realiza-me”, afirma. Lunardi ressalta que “a residência é a melhor forma de adquirir segurança profissional, de moldar habilidades, de aprender a trabalhar sob pressão, lidar com frustrações, saber trabalhar em equipe e respeitar diferentes condutas e hierarquias”.
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA EM MEDICINA VETERINÁRIA (CNRMV) do CFMV BENEDITO DIAS DE OLIVEIRA FILhO (PRESIDENTE) Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0438 beneditodias.cnrmv@cfmv.gov.br ANTôNIO JOSé DE ARAúJO AGuIAR Médico Veterinário, CRMV-SP nº 4982 AuRy NuNES DE MORAES Médico Veterinário, CRMV-SC nº 0542 CARLOS AFONSO DE CASTRO BECk Médico Veterinário, CRMV-RS nº 4658
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
FÁBIO FERNANDO RIBEIRO MANhOSO Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6983 FERNANDO LEANDRO DOS SANTOS Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1492 LuíS CLÁuDIO LOPES CORREIA DA SILVA Médico Veterinário, CRMV-SP nº 5993 VIRGíNIA BOCORNy LuNARDI Médico Veterinário, CRMV-RS nº 5258
23
LIDERANçA E SOCIEDADE
REPRESENTATIVIDADE INSTITUCIONAL E POLÍTICA: UM VIÉS DISCRIMINATÓRIO JÁ NA SUA ORIGEM A complexidade do mundo do trabalho e de suas intrincadas relações na sociedade têm sido um dos grandes desafios para todas as profissões no mundo contemporâneo. A partir do século XX, as principais atividades profissionais foram abrigadas sob marcos regulatórios que lhes asseguraram direitos e deveres, constituindo-se no seu direcionador de vanguarda e futuro. Com isso, é corrente a inserção de suas lideranças à frente dos principais anseios dos seus liderados e da própria sociedade, o que, de certa forma, estabelece subliminarmente a relevância da profissão. No entanto, a representatividade institucional, por mais democrática que seja, não ocorre de forma equânime numa sociedade, pois suas demandas são multidisciplinares e aquelas profissões mais bem reconhecidas acabam predominando. A Medicina Veterinária no Brasil, com quase um século de existência, conseguiu incluir o Médico Veterinário em diversos ambientes institucionais do Estado ou das organizações da sociedade civil como um representante da profissão, especialmente na última década. Por outro lado, a Zootecnia, como atividade profissional mais recente, ainda está buscando alcançar os níveis desejáveis dessa representatividade. Contudo, em ambas as profissões, a participação da mulher tem sido muito modesta, possivelmente como reflexo da própria estrutura social brasileira. A presença da mulher na Medicina Veterinária brasileira foi muito discreta nos primeiros 50 anos da profissão, possivelmente pela própria natureza
da criação dela no País, com fortes laços à Escola de Veterinária do Exército e às atribuições específicas da profissão para o Estado. Em ambas as origens, é crível assegurar o forte cunho de uma atividade prioritária do gênero masculino e assim foi ao longo de muitos anos. No entanto, vale ressaltar que isso apenas criou mais uma dificuldade para a representatividade da mulher veterinária, pois a partir de uma breve retrospectiva, situação semelhante também é observada em outras atividades profissionais. Portanto, se na maioria das profissões não existiu, a priori, um direcionamento para o homem, imaginemos no caso da Veterinária, um viés discriminatório já na sua origem. A participação de uma profissão no âmbito político/institucional depende muito de como está estruturada a organização profissional, suas sociedades de classe, conselhos e sindicatos. Além disso, colabora a construção de uma verdadeira imagem de credibilidade e de atuação frente aos principais problemas da sociedade com relação direta à profissão ou ao que apresente uma interface com essa. Porém, isso configura uma percepção de “demanda” pela classe profissional e não uma vanguarda de “oferta” colaborativa para o aperfeiçoamento dos próprios atos e ações dessa sociedade. Assim tem sido a participação do Médico Veterinário – muito mais observando espaços de demanda para sua inclusão como representante ou líder institucional e político – do que um propositor de caminhos e alternativas para a ocupação
Quadro 1. Parâmetros de relacionamento profissional do Médico Veterinário associados ao gênero conforme a década. DéCADAS
DIMENSÃO
24
1970
1990
2010
Relação homem/mulher
+ 90% homens
Equilíbrio
+ 65% mulheres
Atividades profissionais prioritárias
Clínica de grandes animais; Saúde animal; higiene e Inspeção de Alimentos
Clínica médica de várias espécies; Inspeção e controle de qualidade de alimentos; Saúde pública veterinária; Produção animal
Clínica de animais de companhia; Gestão e controle de qualidade de alimentos; Saúde pública veterinária; Reprodução animal
Inserção política e institucional da profissão
Mínima
Discreta
Discreta, mas com alguns destaques
Inserção política e institucional da mulher
Inexistente
Mínima e apenas dentro da categoria profissional (intrainstitucional)
Intenso, mas apenas dentro da profissão (intrainstitucional)
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
desses espaços. Dessa forma, se a cultura da profissão ainda não está preparada para a atuação ativa independente do gênero do seu agente, acreditase que os reflexos restritivos são potencializados no caso da mulher. Vale lembrar que ela estava em menor número até o final da década de 1990 e, inclusive dentro das próprias organizações de classe, identificava-se também uma discreta presença de representatividade (Figura 1). Um levantamento realizado pela Conap na busca de identificar mulheres Veterinárias ou Zootecnistas que tenham participado ativamente em instituições de classe, órgãos de representatividade na sociedade, em atividades parlamentares ou de gestão pública, apontaram dados desanimadores. Portanto, é possível afirmar que a representação feminina é muito modesta. Contudo, para evitar qualquer abordagem excludente, preferiuse não fazer referência nominal a qualquer colega que tenha atuado ou esteja responsável por uma representação política de destaque. Desse modo, este texto pode constituir-se num chamamento àqueles que construíram e constroem a história das profissões, no sentido de criarem mecanismos de registros que possibilitem reconstruir uma verdadeira imagem da profissão nas suas diferentes dimensões, sendo a do gênero uma delas. No âmbito das atribuições da Conap, atenção tem sido dada a todos os aspec tos que envolvem qualquer natureza regulatória ou institucional que possam conter no seu escopo implicações que resultem em desigualdades entre homens e mulheres nas profissões. Ressalte-se que, felizmente, pela evolução que passa o Estado brasileiro, tem sido coibida quaisquer
nuance que possa conduzir a atos ou implicações discricionárias. O aumento considerável de mulheres na Medicina Veterinária e em níveis que superam, inclusive ao dos homens, pode contribuir para a maior participação delas em questões institucionais. Associado a isso, a ocupação de diferentes espaços profissionais e, especialmente, naqueles de maior contato social como a saúde pública, a docência, o bem-estar animal, a qualidade dos alimentos e a medicina e estética de animais de companhia, trarão consequências promissoras para a representatividade política da mulher veterinária na sociedade brasileira. No que diz respeito à Zootecnista, observa-se, ainda, a superioridade numérica de profissionais homens, mas como a profissão é mais recente e com sua consolidação durante o reestabelecimento do regime democrático no Brasil, a cultura discriminatória a respeito da mulher é menos marcada. Com isso, é provável que o caminho da representatividade seja de forma natural. As demandas da sociedade no mundo contemporâneo e de comunicações globais são amplas, dinâmicas e contextualizadas por conjunturas que ultrapassam governos e instituições. Elas exigem do profissional o conhecimento e as habilidades cognitivas para capacitá-lo a executar tarefas específicas. No entanto, dada a complexidade da sua natureza, exigem também do profissional as habilidades afetivas, o talento, a capacidade de aprender e a de tolerar o contraditório. Nesse sentido, é provável que a mulher, dada a sua natureza, e que nos permite positivamente diferenciá-la, esteja mais bem preparada para a representatividade política e institucional da profissão.
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE ASSuNTOS POLíTICOS (CONAP) do CFMV JúLIO O. J. BARCELLOS (PRESIDENTE) Médico Veterinário – CRMV-RS nº 3185 juliobarcellos.conap@cfmv.gov.br CARLOS huMBERTO ALMEIDA RIBEIRO FILhO Médico Veterinário - CRMV-BA nº 0454 GERALDO MARCELINO CARNEIRO PEREIRA DO RÊGO Médico Veterinário - CRMV-RN nº 0015
NILTON ABREu zANCO Médico Veterinário - CRMV-SP nº 6956 RICARDO PEDROSO OAIGEN Médico Veterinário - CRMV-PA nº 2272 ROBERTO BARACAT DE ARAúJO Médico Veterinário - CRMV-MG nº 1755
MARCELO hENRIquE PuLS DA SILVEIRA Médico Veterinário - CRMV-SC nº 1646
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
25
NOVAS ÁREAS
A MULHER ESTÁ AMPLAMENTE REPRESENTADA NA MEDICINA VETERINÁRIA DE ANIMAIS SELVAGENS
26
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
joão rosa
O exercício da medicina de animais selvagens não diverge do exercício das demais áreas da Medicina Veterinária no Brasil. Uma característica que chama a atenção e que parece ser a tônica de quem procura pela área de medicina de animais selvagens, tanto os neófitos masculinos quanto femininos, é uma visão sonhadora e sentimental, muitas vezes equivocada, calcada em amor pelos animais, pela natureza, pela fauna. O que é totalmente desejável, po- Monitoramento de tamanduá por meio de colar no Pantanal/MS. rém insuficiente. há estrita necessidade de entusiasmo animais, biotérios, instituições de pesquisa, órgãos pela clínica, cirurgia, fisiologia, patologia, epidepúblicos, saúde pública e projetos de conservação. miologia, terapêutica, parasitologia, e tantas outras Embora a atuação do Médico Veterinário na área de ferramentas fundamentais para o bom exercício da selvagens pressuponha o uso de armas de arremesso medicina de animais selvagens. Dessa forma, muitas de dardos anestésicos, a lida com feras, o manejo de vezes vemos recém-ingressos nas academias, muito grandes carnívoros, animais peçonhentos entre ouentusiastas da natureza e do amor aos animais e tros, o que frequentemente arremete a uma imagem pouco dedicados à labuta ambulatorial e hospitalar. masculina e destemida; a realidade é completamente A base conceitual da medicina de animais selvagens diferente! O poder feminino está presente ampla e é fundamentalmente a medicina de cães e gatos com competentemente representado no Brasil. complementação de conceitos e conhecimentos da São inúmeros os exemplos de profissionais do medicina de animais de fazenda, medicina de aves sexo feminino espalhadas pelo Brasil que desenpraticada na produção comercial avícola de carne e volvem pesquisas nesta área, com as mais variadas ovos e mesmo da medicina humana. espécies de animais selvagens. Entre elas, destaca-se Apesar do interesse crescente nesta área, os a colega Flávia Miranda, que durante alguns anos vem acadêmicos ainda enfrentam dificuldades em obter se dedicando ao estudo de Xenartras, ordem que enconhecimento sobre animais selvagens, pois nem globa tatus, bichos-preguiça, tamaduaís e tamanduás. todos os cursos de Medicina Veterinária no País ofePara esta última espécie, Flávia coordenou trabalhos recem disciplinas específicas dessa área de conhecide catalogação de histórico de vida dos animais em mento e atuação profissional. cativeiro em todo o Brasil e em seu ambiente natural, O mercado de trabalho da medicina de animais resultando na publicação de uma obra literária de selvagens teve franco desenvolvimento nas últimas grande valor para conservação da vida selvagem: “Madécadas. A atuação do médico veterinário de aninutenção de tamanduás em cativeiro”. Natural de Curimais selvagens já foi unicamente em zoológicos e tiba (PR), Flávia mudou-se para Campo Grande(MS) essas instituições caracterizavam o perfil da especiaonde, durante a adolescência, atuou como voluntária lidade. Atualmente, a especialidade encontra espaço de um centro de reabilitação de animais selvagens, fecundo de ação em criadouros particulares que definindo, então, na escolha pela profissão de Médica proliferam, centros de triagem, clínicas de pequenos Veterinária. Após a conclusão do curso de Medicina
arquivo Cnas
Veterinária, Flávia foi a primeira mulher residente em clínica médica e manejo de animais selvagens do Brasil, fazendo curso na Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Apesar de ser referência mundial em medicina e manejo da ordem Xenartra, Flávia também atua com outras espécies de animais selvagens como o albatroz (ave marinha) e toninhas (espécie de golfinho). Mariangela Allgayer trilhou outro caminho na área de animais selvagens, dedicou-se à criação comercial de araras e papagaios, mercado crescente no Brasil. Tal atuação resultou em conhecimentos específicos sobre neonatologia que se tornaram capítulo do “Tratado sobre Animais Selvagens: manejo e conservação” . Atualmente docente da Universidade Luterana do Brasil, desenvolveu interesse nesta área e buscou conhecimento em estágios e cursos com diversos profissionais. Enfatiza que atualmente grande número de graduandas têm se interessado em realizar Medicina de animais selvagens está além da visão sonhadora e sentimental. atividades em áreas que englobam os aniaprendeu, inspirada pelo avô, a respeitar e amar mais selvagens como zoológicos, clínica, criação, conesses seres tão incríveis e singulares em suas variedaservação e manejo dessas espécies. Trabalhar nessa des de espécies. E então, o desejo de trabalhar com especialidade engloba conhecimentos específicos a conservação e preservação foi crescendo cada vez de diversos táxons, abrangendo conteúdos multidismais. Durante a graduação, dedicou-se a estágios e ciplinares e envolvendo a capacidade de interação pesquisas na área de selvagens. Ainda com a carêncom diferentes profissionais. Salienta que a medicina cia de matérias específicas de clínica e manejo de de animais selvagens está em ampla expansão e as selvagens, optou por adquirir conhecimentos não Médicas Veterinárias estão cada vez mais se inserindo somente com os estágios, mas, também, assistindo neste mercado de trabalho. disciplinas voltadas para a conservação e ecologia, Para a acadêmica de Medicina Veterinária, Maria em outros cursos com foco em animais selvagens, Cristina Valdetaro Rangel, o mundo animal em geral, tendo como objetivo a construção de uma carreira mas principalmente o “mundo selvagem”, sempre foi ligada aos animais selvagens. algo que lhe dava brilho nos olhos. Desde a infância,
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE ANIMAIS SELVAGENS (CNAS) do CFMV ROGéRIO RIBAS LANGE (PRESIDENTE) Médico Veterinário, CRMV-PR nº 0955 rogeriolange.cnas@cfmv.gov.br ALBERT LANG Médico Veterinário, CRMV-SC nº 1617 MARIÂNGELA DA COSTA ALLGAyER Médico Veterinário, CRMV-RS nº 6352
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
ISAAC MANOEL BARROS ALBuquERquE Médico Veterinário, CRMV-AL nº 0479 JOÃO LuIz ROSSI JuNIOR Médico Veterinário, CRMV-SP nº 11607 LAERzIO ChIESORIN NETO Médico Veterinário, CRMV-AM nº 0284
27
PANORAMA DA EDUCAçÃO
O ATUAL ENSINO DA MEDICINA
VETERINÁRIA NO BRASIL introduÇão Nas últimas duas décadas vivenciou-se uma explosão na oferta da educação superior no Brasil. No contexto da Medicina Veterinária, de acordo com os dados disponibilizados pelo MEC em 1991 o País possuía 33 cursos, passando a ter 197 no ano de 2012 (Tabela 1), representando um crescimento de 497%. Nenhum outro país do mundo apresentou esta expansão no mesmo período, sendo a média de expansão anual do Brasil nos últimos seis anos de 11%. Para compreender-se melhor a situação do ensino da Medicina Veterinária no Brasil faz-se necessária uma visão globalizada, como também regionalizada, do ensino superior. O processo de globalização impõe novos desafios geopolíticos, econômicos e educacionais. Essas mudanças seguem algumas premissas básicas como: • a elevação da escolaridade das pessoas em todo o mundo cresce a cada ano e não há nenhuma evidência de que este movimento possa regredir nos próximos dez anos; • a educação é um objeto tanto de necessidade como de expectativa e desejo, servindo como importante elemento de status social; • a educação é o principal elemento de ascensão social e de diminuição da pobreza estrutural; • o conceito e a prática da educação permanente e continuada, durante toda a vida (longlife learning), ainda se encontra na infância de seu desenvolvimento. Tais premissas têm gerado macrotendências do ensino superior mundial, potencializando o processo de globalização educacional. Dentre as macrotendências destacam-se: • a quebra do monopólio geográfico com internacionalização da oferta de ensino superior; • formação de consórcios, parcerias, joint ventures e outras formas de arranjos institucionais ; • aumento do ensino a distância (EaD); • aumento da mobilidade internacional de estudantes, tanto em cursos presenciais como EaD; • surgimento da “indústria do conhecimento”; • influência da indústria do entretenimento na educação; • crescente massificação do Ensino Superior;
28
• • • • •
forte aumento da segmentação do mercado, com o surgimento de instituições mais especializadas; diversificação dos “produtos” oferecidos pelas instituições; aumento gradativo das atividades extra-acadêmicas e da educação continuada; mudança do modelo “docenciocêntrico” para o modelo “alunocêntrico”; recursos públicos reduzidos ou estagnados.
Dessa forma, pode-se compreender a expansão do ensino da Medicina Veterinária, principalmente nacional, contextualizada com o processo de globalização educacional. Tabela 1. Número de escolas de Medicina Veterinária em alguns países PAíS África do Sul Alemanha Argélia Argentina Austrália Brasil Canadá Chile China Coreia do Sul Espanha Estados Unidos França holanda Índia Itália Japão México Nova Zelândia Portugal Reino Unido Rússia
NúMERO DE ESCOLAS DE MEDICINA VETERINÁRIA 1 5 5 13 7 197 5 7 23 10 11 29 4 1 40 13 16 18 1 9 7 41
Fontes: XX seminário de ensino de Medicina Veterinária do CFMV. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_schools_of_veterinary_medicine#Brazil http://emec.mec.gov.br
panoraMa naCionaL Atualmente, o Brasil possui 197 cursos de Medicina Veterinária, sendo cerca de 70% deles de natureza privada (e-MEC, 2013). A Figura 1 mostra um comparativo Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
0/1
Fonte: e-MEC
do número de cursos existentes em 1991 (numerador) e em 2013 (denominador), revelando distribuição desigual destas escolas nos Estados da federação, com a maioria dos cursos concentrados na região sudeste. A idade do estudante ingressante nos cursos de Medicina Veterinária está 0/1 em torno de 18 anos, sendo a maioria do sexo feminino. A expansão do ensino da Medicina Veterinária no Brasil pode ser observada pelo aumento no número de cursos e vagas (Tabela 2). Em 2001, o País oferecia 9.662 vagas em 100 cursos e, em 2011, passaria a oferecer 18.147 vagas em 178 cursos, gerando crescimento superior a 87% e 78% no número de vagas e cursos, respectivamente. Por outro lado, o número de ingressantes nos cursos de Medicina Veterinária cresceu 64%, passando de 8.127, em 2001, para 13.351, em 2011 (Tabela 2). A análise da Tabela 2 comprova a tese do crescimento exagerado do número de cursos/vagas de Medicina Veterinária no Brasil, pois revela que o percentual de ocupação das vagas oferecidas nos cursos de Medicina Veterinária caiu de 84,11%, em 2001, para 73,28%, em 2011, que corresponde a 4.796 vagas não preenchidas nos processos seletivos de acesso ao curso. O Brasil possui aproximadamente 90.000 Médicos Veterinários e, em 2011, graduou 6.675 novos profissionais (Sinopse da educação superior 2011 – Inep) oriundos de cursos que, segundo a legislação, devem ter, no mínimo, cinco anos de duração e carga horária total mínima de 4.000 horas.. A Figura 2, além de demonstrar o crescimento do número de concluintes no decorrer dos anos, mostra uma inversão a partir do ano de 2002, na qual, a maioria dos egressos é oriunda de instituições privadas de ensino. Uma das questões mais importantes a ser discutida a respeito da educação superior no Brasil, incluindo, o ensino da Medicina Veterinária, é a polarização entre o processo de expansão do ensino, como um objeto, tanto de necessidade, como de expectativa e desejo, servindo como importante elemento de ascensão social e de diminuição da pobreza estrutural. Certamente, em um país com a dimensão do Brasil, o número de
0/0
0/2
1/3
1/2
1/3
0/1 1/3
1/2 0/1
0/4 0/4
1/4
1/7
0/2
0/2
0/4 1/9 4/26
1/5
0/6 9/44
1991/2013
3/15
2/24 1/10 5/12
Figura 1. Comparativo do número de cursos de Medicina Veterinária por Estado brasileiro em 1991 e 2013 (13/2/2013)
Médicos Veterinários atuantes influencia diretamente na qualidade de vida da população, quer seja relacionada à produção e à inspeção e à tecnologia de produtos de origem animal, à saúde publica ou à preservação do meio ambiente, bem como nos cuidados necessários sobre a crescente população de animais em seus campos específicos de atuação em saúde animal e clínica veterinária, Medicina Veterinária preventiva, Zootecnia, produção e reprodução animal, entre outras importantes áreas de atuação da profissão. Não temos indicadores precisos de aferição sobre o o número ideal de Médicos Veterinários por estado brasileiro. Nesse sentido, estudos devem ser realizados para definir-se este padrão, sem perder de vista a melhoria da qualidade de vida da população e a saturação do mercado de trabalho. Dados como o número de habitantes, de animais de produção (ruminantes, aves, suínos etc.), agroindústriais e de animais de companhia, trabalho e esporte, podem contribuir para definir-se o número de Médicos Veterinários necessários no País.
Tabela 2. Número de cursos de Medicina Veterinária no Brasil, de vagas disponíveis, de ingressantes e de vagas ocupadas de 2001 a 2011. 2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
100
109
114
119
130
139
146
156
162
168
178
vagas anuais ofertadas
9.662
11.261
11.734
12.284
13.311
13.984
15.615
17.366
16.642
16.657
18.147
ingressantes
8.167
8.676
8.834
8.653
9.787
10.253
10.206
10.270
9.945
11.206
13.351
vagas preenchidas (%)
84,11
77,04
75,29
70,44
73,53
73,32
65,36
59,14
59,76
67,28
73,57
cursos
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
29
ENSINO DA MEDICINA VETERINÁRIA
7.000 6.000
5.673 5.223
5.000 3.863
4.000 3.000
4.292
6.099 5.516
4.634
4.185
Total Privado Público
2.805
2.490
2.000 1.000
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2007
2006
2008
2009
Figura 2. Concluintes dos cursos de graduação em Medicina Veterinária, segundo a natureza administrativa.
Fonte: inep/MeC, sigras/estação de trabalho iMs/uerj do observarH, 2011
3.600 3.400 3.200 3.000 2.800 2.600 2.400 2.200 habitantes
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
3.632
3.552
3.332
3.133
2.986
2.808
2.688
2.564
2.445
2.399
2.330
Figura 3. Relação do número de habitantes por Médico Veterinário no Brasil entre 2001 e 2011.
Observa-se na Tabela 3 a situação atual do número de Médicos Veterinários inscritos nos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs) por unidades federativas. De modo geral, os países da Europa e da América do Norte mantêm uma relação de um Médico Veterinário para cada 3.500 habitantes. A análise da Figura 3 revela que a relação entre o número de habitantes e de Médicos Veterinários vem caindo gradativamente no Brasil, passando de 3.632 habitantes/Médico Veterinário, em 2001, para 2.330 habitantes/Médico Veterinário, em 2011. A mesma tendência pode ser observada quando se compara o número de bovinos (Figura 4) e o número de cães (Figura 5) por MédicoVeterinário entre os anos de 2001 e 2011. Por fim, a Figura 6 mostra que essa expansão na formação de Médicos Veterinários reflete também nos cursos de pós-graduação em Medicina Veterinária do País com um crescimento de aproximadamente 112% no total de pós-graduados (mestres e doutores).
ConCLusão Avaliando os dados disponíveis no e-MEC referentes à avaliação trienal dos cursos de Medicina Veterinária brasileiros, conforme previsto na legislação, é possível observar que os cursos com CPC (Conceito Preliminar de Curso) 4 e 5 que correspondem aos cursos de melhor qualidade, segundo os critérios do Ministério da Educação, estão concentrados, especialmente nas regiões Sul e Sudeste.
30
Tabela 3. Número de Médicos Veterinários inscritos por Estado brasileiro em 4 de fevereiro de 2013. AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO TOTAL
Registrados 236 736 662 126 3.837 2.341 2.764 1.575 5.269 1.365 13.174 4.320 3.321 2.118 1.058 3.963 1.043 10.655 11.795 804 1.042 187 12.433 5.378 740 31.060 1.025 123.027
Atuantes 168 536 459 112 2.921 1.331 1.780 1.204 3.736 1.018 9.488 3.332 2.474 1.597 765 2.522 769 7.558 8.380 578 776 110 8.836 3.972 600 24.753 767 90.542
Fonte: CFMv
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
3.700 3.500 3.300 3.100 2.900 2.700 2.500
Bovinos
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
3.686
3.734
3.646
3.538
3.373
3.115
2.861
2.736
2.621
2.601
2.544
Figura 4. Relação do número de bovinos por Médico Veterinário no Brasil entre 2001 e 2011. 540 520 500 480 460 440 420 400 Cães
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
529
528
503
474
456
436
425
419
409
410
410
Figura 5. Relação do número de cães por Médico Veterinário no Brasil entre 2001 e 2011. 1100 1000 900 800 700 600 500 400
Concluintes
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
454
561
706
594
752
810
715
910
927
1040
Figura 6. Número de concluintes (mestrado e doutorado) em cursos de pós-graduação de medicina veterinária no Brasil.
Esses dados permitem concluir que o ensino da Medicina Veterinária no Brasil sofreu uma grande expansão no número de cursos e vagas oferecidas, culminando com o aumento no número de Médicos Veterinários formados, concentrados principalmente nas regiões Sudeste e Sul do País.
Assim sendo, o CFMV, conforme vem trabalhando ao longo dos anos, continuará subsidiando os cursos de Medicina Veterinária e os órgãos competentes em busca da elevação dos padrões de qualidade dos cursos de Medicina Veterinária do País.
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE ENSINO DA MEDICINA VETERINÁRIA (CNEMV) do CFMV Rafael Gianella Mondadori (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-RS nº 5672 rafaelmondadori.cnemv@cfmv.gov.br
João Carlos Pereira da Silva Médico Veterinário, CRMV-MG nº1239
Breno Schumaher Henrique Médico Veterinário, CRMV-AM nº 0303
Paulo César Maiorka Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6928
Celso Pianta Médico Veterinário, CRMV-RS nº 1732
Marcelo Diniz dos Santos Médico Veterinário, CRMV-MT nº 0818
Francisco Edson Gomes Médico Veterinário, CRMV-RR nº 0177
Rogério Martins Amorim Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6757
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
31
RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL
Fotos: arquivo CFMv
DESAFIOS DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM MEDICINA VETERINÁRIA
O trabalho deixou de ser focado no indivíduo, ampliando os horizontes profissionais.
Por meio da Lei nº 11.129/2005, que regulamentou os Programas de Residência Multiprofissional e em Área Profissional da Saúde, houve uma radical mudança de paradigma acerca do modelo de funcionamento dos programas de residência, especialmente no que se refere às atividades práticas e aos objetivos do treinamento. Todas as profissões da área da saúde que tinham seus programas sem regulamentação por parte do Ministério da Educação (MEC) passaram a tê-lo, incluindo a Medicina Veterinária. Neste novo modelo, a integração entre as profissões é fundamental como meio de preparar o profissional para as questões da saúde pública no País, efetivando as políticas de saúde do Estado. Essa é a maior mudança de paradigma. Deixou-se de lado o indivíduo e passou-se a focar o coletivo. Esse reconhecimento, no âmbito do MEC, introduziu novos parâmetros e objetivos aos programas de residência. Entre eles, pode-se destacar a uniformização da carga horária dos programas, do valor da bolsa e da contextualização do papel das profissões na sociedade.
32
As Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) estão tendo acesso ao financiamento federal dos programas, em razão de o MEC ser o mantenedor dessas instituições. Desde 2011, foram autorizadas provisoriamente mais de 200 bolsas, com possibilidade de ampliação. As instituições estaduais e as privadas não dispõem do financiamento do MEC, devendo buscar suas respectivas fontes de financiamento ou concorrendo em editais específicos do Ministério da Saúde. Pa ra e nte n d e r o t a m a n h o d o d e s a f i o, é importante relembrar que a história da residência em Medicina Veterinária remonta à década de 1970. Inicialmente, na Unesp-Botucatu e, daí, para outras instituições de ensino. Teve como fonte de inspiração a residência médica, fundamentalmente baseada na rotina hospitalar, quando as atividades envolvem a prática em serviço, intensiva, em determinada área específica de conhecimento. Daí, a necessidade de modificar a forma de capacitar o profissional nas práticas em serviço, sensibilizando-o e capacitando-o para enfrentar os Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
desafios da saúde pública no Brasil a partir de uma visão holística da sociedade e não limitada a problemas de uma área específica do conhecimento. Este será o desafio para os próximos anos: como conseguir reestruturar um modelo de pensamento, de objetivos e funcionamento dos PRMV? São mais de 30 anos de exercício de um modelo que foi aperfeiçoado até onde se encontra e, aqui, se destaca o relevante papel exercido pelo Sistema CFMV/CRMVs nas discussões e regulamentação dos PRMVs. O Conselho Federal de Medicina Veterinária, desde meados da década de 1980, exerceu seu papel de regulamentar as ati- Capacitação profissional em serviço. vidades dos PRMVs em busca da qualidade. Em 2003, criou a Comissão Nacional de Residência A discussão está aberta e ela é o caminho para em Medicina Veterinária (CNRMV), que aperfeiçoou o estabelecimento desses novos referenciais, as normas regulamentadoras dos PRMVs e, por fim, parâmetros, e outros aspectos importantes dos criou as diretrizes desses programas, possibilitando programas. Neste ano, acontecerá o IV Seminário oferecer um referencial mínimo de qualidade aos Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária, residentes. Nesse modelo, os programas estavam cujo objetivo principal será a socialização das organizados por áreas e subáreas de exercício. No informações às instituições que oferecem PRMVs, modelo em execução pelo MEC, cada subárea consde modo que elas possam adequar-se às normas titui-se em um programa a ser reconhecido. Parece do MEC e, assim, obter o reconhecimento dentro uma mudança simples, pequena, mas não é, pois do sistema federal de ensino, ou seja, terem seus ao proponente cabe demonstrar como cada um se certificados com validade nacional. articula com as políticas de saúde pública do País. Enquanto o seminário não ocorre, convida-se a Essa nova realidade do processo de reconhecimentodos a buscar maiores informações quanto às norto pelo MEC leva todos a se debruçarem-se sobre a mas regulamentadoras dos programas de residênmudança de paradigma. cia no portal da Comissão Nacional de Residência A fonte de inspiração, ou caso assim se queira Multiprofissional em Saúde (CNRMS) do MEC, www. chamar, referencial para estruturação de um PRMV, cnrms.mec.gov.br ou http://portal.mec.gov.br/ são as diretrizes elaboradas pelo CFMV que precisam index.php?option=com_content&view=article&iser modificadas, absorvendo as mudanças. d=12501&Itemid=813.
Dados dos Autores COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA EM MEDICINA VETERINÁRIA (CNRMV) do CFMV Benedito Dias de Oliveira Filho (Presidente) Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0438 beneditodias.cnrmv@cfmv.gov.br Antônio José de Araújo Aguiar Médico Veterinário, CRMV-SP nº 4982 Aury Nunes de Moraes Médico Veterinário, CRMV-SC nº 0542 Carlos Afonso de Castro Beck Médico Veterinário, CRMV-RS nº 4658
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Fábio Fernando Ribeiro Manhoso Médico Veterinário, CRMV-SP nº 6983 Fernando Leandro dos Santos Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1492 Luís Cláudio Lopes Correia da Silva Médico Veterinário, CRMV-SP nº 5993 Virgínia Bocorny Lunardi Médico Veterinário, CRMV-RS nº 5258
33
NUTRIçÃO ANIMAL
SUPLEMENTAÇÃO DE VACAS
introduÇão O produto final das propriedades de cria é o bezerro e desta forma a eficiência reprodutiva dos rebanhos é a medida mais importante nestes sistemas. Atualmente, inúmeros processos tecnológicos podem ser utilizados para avaliar e monitorar os índices reprodutivos do rebanho, como por exemplo, o diagnóstico de gestação precoce utilizando aparelhos de ultrassonografia, as técnicas de inseminação artificial em tempo fixo ou não, os exames preventivos Vacas parturientes com escore corporal adequado. dos reprodutores e das matrizes, etc. Apesar de importantes, neigual a 6,0 foram mais eficientes que suas contemponhum desses têm tanto impacto quanto as condições râneas com ECC 5,0, enquanto para as multíparas os nutricionais das vacas, assim como a adoção de estraíndices de ECC entre 5,0 e 6,0 foram adequados. tégias que levam em consideração os aspectos nutriRuas et al. (2000), estudaram os efeitos da suplecionais e reprodutivos como o estabelecimento de esmentação proteica pós-parto sobre o consumo, o ECC e tação de monta e a suplementação das matrizes. Esses o peso das vacas e dos bezerros. Vacas Nelore foram suaspectos tornam-se ainda mais importantes quando plementadas ou não com 1 ou 2 kg de um suplemento levamos em consideração que a base alimentar das vacontendo 60% de farelo de soja e 40% de farelo de algocas é a pastagem nativa e cultivada, sendo que em sua dão. Os autores observaram que não houve alteração maioria por questões econômicas, localizadas em solos no consumo dos animais que na média foi de 2,13% do de menor fertilidade e com o agravante do crescente peso vivo (PV), mas verificaram aumentos no ECC e no estágio de degradação. peso dos bezerros para os lotes suplementados. Este artigo tem o propósito de apresentar susConforme Santos et al. (2002), vacas manticintamente alguns fatores que afetam a eficiência das em pastagens nativas de bom valor nutricioreprodutiva dos rebanhos de corte, trazendo para a nal, contendo níveis de proteína bruta acima de discussão alguns pontos ainda em processo de vali10% e de digestibilidade in vitro acima de 60%, dação, assim como apresentando medidas estratégiapresentaram consumo de 2,0% do PV e consecas práticas, de baixo custo e com alto impacto sobre guiram manter-se com bom ECC e ter alta eficios índices reprodutivos do rebanho. ência reprodutiva. esCore de CondiÇão CorporaL Assumindo, hipoteticamente, o consumo de e baLanÇo energétiCo uma vaca em 2,0% do PV e comparando o aporte de Uma medida eficiente de avaliação do estado nunutrientes com as estimativas de exigências de enertricional das vacas é a observação visual do escore de gia do NRC (1996), é possível estabelecer o balanço condição corporal (ECC). Estudos clássicos mostraram a energético anual de uma vaca em reprodução. Abaiforte relação entre o nível de reserva energética e a perxo estão apresentadas duas curvas anuais de Balanço formance reprodutiva de vacas de corte (WILTIBANK et Energético de uma vaca, consumindo uma dieta com al., 1962, DONALDSON, 1967) comprovando a eficiên60% de Nutrientes Digestíveis Totais (NDT) (Figura 1) cia da observação visual e do ECC. Spitzer et al. (1992), e outra com 50% de NDT (Figura 2). estudando as relações entre o ECC e a performance Na Figura 1, observamos que mesmo no período reprodutiva de vacas de corte, concluíram que em uma de maior exigência e menor consumo (logo após o escala de 1 a 9, vacas primíparas que pariram com ECC parto), o Balanço Energético permanece positivo
34
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Fotos: arquivo do autor
DE CORTE EM PRÉ OU PÓS-PARTO
5,00 4,50
Balanço energético (Mcal)
4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 NTD 60 1,50 1,00 0,50 0,00 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Meses após o parto
Figura 1. Balanço energético anual de uma vaca de corte em dieta com alta energia (NDT = 60%), consumindo 2,0% do PV conforme estimativas de exigências pelo NRC (1996).
(acima do eixo “x”), o mesmo acontecendo nas outras fases do ano. Evidente que essa situação favorável e constante não ocorre nas condições naturais, servindo este modelo apenas para interpretar os resultados observados no campo e auxiliar nas tomadas de decisão sobre as oportunidades adequadas de suplementação das matrizes. Da mesma forma observamos na Figura 2 um déficit energético por boa parte do ano, interrompido por um breve intervalo entre o desmame e o último terço da gestação, provocado pelo elevado crescimento do feto e as restrições alimentares.
O balanço energético negativo na maior parte do ano tem como principal consequência a redução dos índices de natalidade do rebanho, levando à “síndrome da vaca falhada”, que por razões nutricionais não consegue ter energia suficiente para suas necessidades basais, atividade, amamentação do bezerro e estabelecimento de sua fertilidade no pós-parto. Esses dados coincidem com os levantamentos realizados por Abreu et al. (2001), em propriedades de cria da região do Pantanal, onde nos sistemas tradicionais de produção os índices de natalidade são da ordem de 45% a 56%.
2,00
Balanço energético (Mcal)
1,00
0,00 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
NTD 50
-1,00
-2,00
-3,00
-4,00
Meses após o parto
Figura 2. Balanço energético anual de uma vaca de corte em dieta com baixa energia (NDT = 50%), consumindo 2,0% do PV conforme estimativas de exigências pelo NRC (1996).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
35
NUTRIçÃO ANIMAL
supLeMentaÇão pré ou pÓs-parto? Wiltibank et al. (1962), avaliaram os efeitos dos níveis de energia da dieta sobre os fenômenos reprodutivos e os índices de reconcepção de vacas hereford por meio de estratégias de suplementação pré e pós-parto, concluindo que a suplementação de energia no pré -parto foi altamente eficaz para a elevação dos índices reprodutivos, enquanto a suplementação pós-parto pouco influenciou no desempenho. A nutrição inadequada atrasa o reinício da atividade ovariana luteal cíclica no pós-parto, provocando baixos índices reprodutivos no rebanho (STABENFELDT, 1993). Desta forma a alimentação de qualidade no final da gestação (pré-parto) e no início da lactação, melhora a eficiência reprodutiva do rebanho (SPITZER et al., 1995). O primeiro mês após a fertilização é crítico para a sobrevivência embrionária, sendo que em alguns casos a suplementação neste período poderá melhorar a taxa de prenhez do rebanho (NRC, 1996). Para se entender os efeitos nutricionais sobre a reprodução é necessária a análise de uma complexa relação com inúmeras variáveis como a quantidade e a qualidade do alimento consumido, a competição fisiológica pelos nutrientes e o nível de reserva nutricional, que agem sobre o mecanismo de controle do ciclo estral, coordenado por uma afinada relação de hormônios sintetizados pelo hipotálamo, pituitária e ovário (ShORT et al., 1990). Conforme estes autores, os nutrientes absorvidos e metabolizados respeitam certa ordem de prioridades, determinadas institivamente pelos animais da seguinte forma: metabolismo basal; atividade; crescimento; reserva energética basal; gestação; lactação; reserva energética adicional; ciclo estral e início de gestação; reserva energética excessiva. Godoy et al. (2004), estudando a suplementação pré e pós-parto de vacas zebuínas, observaram melhores taxas de reconcepção para vacas suplementadas no pré -parto e que deram a cria com ECC acima de 5,0. Santos et al. (2009), não verificaram diferenças nas taxas de reconcepção em vacas suplementadas no pré ou no pós-parto, mas concluíram que o ECC é uma importante ferramenta de avaliação e manejo, recomendando destinar as melhores pastagens para as vacas prenhas, a fim de que elas cheguem ao parto com ECC entre 5,0 e 6,0.
CoMo supLeMentar vaCas de Corte? Talvez a maior dificuldade da suplementação de vacas de corte seja a logística de implantação do processo. Várias são as razões como o tamanho do lote, geralmente
36
Lote de nulíparas em suplementação. Fazenda Rancho Alegre/MS.
grande número, a demanda por área de cocho, o armazenamento no campo, as condições do clima e do ambiente, o transporte etc. Diante de tamanha dificuldade, a melhor opção é tentar oferecer suplementos com alta densidade energética, com ingredientes que controlem e uniformizem o consumo e custos compatíveis. Suplementos contendo gordura vegetal como óleos (soja, palma, algodão), farelos gordurosos e caroço de algodão são alternativas interessantes para a concentração energética do produto, pois em média são capazes de liberar 2,3 vezes mais energia que a mesma quantidade liberada pelos carboidratos contidos na forma de amido presentes nos grãos de milho e sorgo (JENKINS, 1993). As principais limitações do uso da gordura vegetal de forma concentrada em um suplemento estão associadas às dificuldades de manipulação (mistura industrial e oferecimento). A gordura protegida por sais de cálcio reduz a transformação (biohidrogenação) dos ácidos graxos insaturados no rúmen, aumentando a absorção de ácidos graxos essenciais como o linolênico n-3 (C18:3) e o linoleico n-6 (C18:2), importantes para os aspectos reprodutivos (STAPLES et al., 1998). Apesar destes efeitos na reprodução e da facilidade de manipulação industrial (apresenta-se na forma sólida), seus resultados ainda têm sido contraditórios em fêmeas de corte (GUARDIEIRO et al. 2010). Em um estudo com fêmeas primíparas, Lopes et al. (2009), compararam um grupo que recebera 500 g de um suplemento contendo uma mistura de gordura protegida, milho e farelo de soja com outro grupo que recebera 500 g do mesmo suplemento apenas substituindo a gordura protegida por uma substância inerte e observaram aumento nos índices de concepção pela técnica de inseminação em tempo fixo no lote suplementado com gordura. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Para corrigir o efeito do poder energético da gordura em relação aos carboidratos, Guardieiro et al. (2010), repetiram a suplementação alterando apenas a quantidade fornecida do suplemento sem gordura, que passou para 800 g/animal/dia. Os autores observaram que apesar de o nível de progesterona circulante ter aumentado nos animais que receberam gordura, não houve aumento do folículo ovulatório e do volume luteal. Em razão destes estudos, recomenda-se, assim, sua inclusão no suplemento de forma equilibrada com outras fontes de gordura líquida (óleos) e de carboidratos (grãos).
Estratégias para aumentar a eficiência reprodutiva Segundo Short et al. (1990), os efeitos da mamada e a condição nutricional são os fatores que têm maior impacto sobre a infertilidade pós-parto e a eficiência reprodutiva do rebanho. Para minimizar seus efeitos sugerem a adoção das seguintes práticas: redução da estação de monta, melhoria das condições nutricionais, redução do estresse, introdução de machos estéreis no período pré-monta e finalmente estratégias de controle de mamada. A mamada pode ser controlada por meio de técnicas como a restrição da mamada (permitir mamada em períodos restritos do dia), interrupção da mamada (retirada dos bezerros por 48 horas) e, finalmente, a desmama precoce. Entretanto, deve-se tomar cuidado quanto ao aumento da incidência de doenças e dos custos da suplementação (Short et al., 1990). Conforme Sampaio et al. (2002), a técnica de alimentação suplementar denominada de creep feeding (cocho privativo), pode reduzir a fase de terminação dos animais, além de proporcionar significativo descanso da matriz, com consequente aumento nos seus
índices reprodutivos. Taylor & Field (1999) citam o aumento do ganho de peso, a redução do estresse, a desmama e o descanso da matriz, entre outras vantagens proporcionadas pela alimentação em creep feeding. Técnicas de desmame precoce têm sido estudadas com o objetivo de melhorar a performance reprodutiva (taxas de penhez) das vacas de corte (Vaz et al., 2010), e segundo Almeida et al. (2003), o desmame precoce não prejudica o peso ao abate de machos aos 24 meses, quando realizado corretamente. Vaz et al. (2011), compararam o desmame precoce aos 80 dias com o desmame tradicional aos 152 dias de 105 bezerros Braford em pastagens cultivadas e nativas do Rio Grande do Sul. Após o desmame, os bezerros foram suplementados com ração contendo 18% de proteína bruta e 75% de NDT, em nível de 1% do peso vivo, manejados em pastagens de milheto e de Brachiaria brizantha e pesados periodicamente até os 24 meses de idade. Tanto o peso ao abate quanto o ganho de peso dos animais foram semelhantes, demonstrando que a técnica não interfere no desempenho produtivo dos animais.
ConSIDERAÇÕES FINAIS Conhecer a eficiência reprodutiva dos rebanhos de cria é uma medida de extrema importância; no entanto, são as ações voltadas à melhoria das condições nutricionais das matrizes as de maior impacto. A mamada exerce forte efeito sobre a infertilidade no pós-parto e pode ser controlada por técnicas como a restrição ou a interrupção da mamada, devendo-se tomar cuidado com o aumento da incidência de doenças e com os custos. A suplementação em creep feeding e a desmama precoce são alternativas que podem ser
Lote de vacas recebendo suplemento proteinado. Fazenda Pantanal/MS. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
37
NUTRIçÃO ANIMAL
utilizadas para melhorar a eficiência reprodutiva do rebanho, devendo-se realizar prévia avaliação dos custos desta prática, já que os resultados não são conclusivos a este respeito. Medidas práticas como o estabelecimento de uma estação de mon-
ta reduzida, melhoria das condições nutricionais, redução do estresse e introdução de machos estéreis no período pré-monta além da facilidade de adoção apresentam alto impacto sobre a eficiência reprodutiva do rebanho de corte.
Referências Bibliográficas ABREU, U.G.P., MORAES, A.S., SEIDL, A.F. Tecnologias Apropriadas para o Desenvolvimento Sustentado da Bovinocultura de Corte no Pantanal. Corumbá-MS: EMBRAPA Pantanal, 2001. 31p. (EMBRAPACPAP. Documentos, 24). ALMEIDA, L.S.P., LOBATO, J.F.P., SChENKEL, F.S. Idade de desmame e suplementação no desenvolvimento e em características de carcaças de novilhos de corte. Revista Brasileira de zootecnia, v.32, n.6, p.171301721, 2003 (supl.1). DONALDSON, L.E. Relationships between body condition, lactation and pregnancy in beef cattle. Autralian Veterinary Journal, v.45, n.12, p.577-581, 1969. GODOY, M.M, ALVES, J.B., MONTEIRO, A.L.G., VALERIO FILhO, W.V. Parâmetros Reprodutivo e Metabólico de Vacas da Raça Guzerá Suplementadas no Pré e Pós-Parto. Revista Brasileira de zootecnia, v.33, n.1, p.103-111, 2004. JENKINS, T.C. Lipid metabolism in the rumen, Journal Dairy Science, v.76, n.12, p.3851-3863, 1993. LOPES, C.N., SCARPA, A.B., CAPPELLOZZA, B.I., COOKE, R.F., VASCONCELOS, J.L.M. Effects of rumen-protected polyunsaturated fatty acid supplementation on reproductive performance of Bos indicus beef cows. Journal of Animal Science, v.87, p. 3.9353.943, 2009. NATIONAL RESEARCh COUNCIL. Nutrient requirements of beef cattle. 7.th.ed.
Washington, DC:National Academic Press, 1996. 242p. RUAS, J.R.M., TORRES, C.A.A., VALADARES FILhO, S.C., PEREIRA, J.C., BORGES, L . E . , M A R C AT T I N E TO, A . E f e i t o d a suplementação proteica a pasto sobre consumo de forragens, ganho de peso e condição corporal em vacas Nelore. Revista brasileira de zootecnia, v.29, n.3, p. 930-934, 2000. SAMPAIO, A.A.M., BRITO, R.M., CRUZ, G.M., ALENCAR, M.M., BARBOSA, P.F., BARBOSA, R.T. Utilização de NaCl no Suplemento como Alternativa para Viabilizar o sistema de Alimentação de Bezerros em Creep Feeding. Revista brasileira de zootecnia, v.31, n.1, p. 164-172, 2002. SANTOS, S.A. COSTA, C., SOUZA, G.S., MORAES, A.S. ARRIGONI, M.D.B. Qualidade da dieta selecionada por bovinos na Sub-Região da Nhecolândia, Pantanal. Revista brasileira de zootecnia, v.31, n.4, p. 1.6631.673, 2002. SANTOS, S.A., ABREU, U.P.G., SOUZA, G.S., CATTO, J.B. Condição corporal, variação de peso e desempenho reprodutivo de vacas de cria em pastagem nativa no Pantanal. Revista brasileira de zootecnia, v.38, n.2, p. 354-360, 2009. ShORT, R.E., BELLOWS, R.A., STAIGMILLER, R.B., BERARDINELLI, J.G., CUSTER, E.E. Physiological mechanisms controlling anestrus and infertility in postpartum beef cattle. Journal animal science, v.68, n.2, p. 799816, 1990.
SPITZER, J.C., MORRISON, D.G., WETTEMAN, R.P. FAULNER, L.C. Reproductive responses and calf birth and weaning weights as affected by body condition at parturition and postpartum weight gain in primiparous beef cows. Journal of animal science, v.73, n.5, p. 1.251-1.257, 1995. STABENFELDT, G.h. Reprodução e lactação. IN: CUNNIGhAN, J. (Ed.) Tratado de Fisiologia Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 317, 1993.. STAPLES, C.R. BURKE, J.M. ThATChER, W.W. Influence of supplemental fats on reproductive tissues and performance of lactating cows. Journal of dairy science, v. 81, 856-871. VAZ, R.Z., LOBATO, J.F.P., RESTLE, J. Productivity and efficiency of cow herds submitted to two weaning ages. Revista brasileira de zootecnia, v.39, n.8, p.18491856, 2010. VAZ, R.Z., LOBATO, J.F.P., PASCOAL, L.L. Desenvolvimento de bezerros de corte desmamados aos 80 ou 152 dias até os 1516 meses de idade. Revista brasileira de zootecnia, v.40, n.1, p.221-229, 2011. TAYLOR, R.E., FIELD, T.G. Beef production management decisions. 3. ed. New Jersey: Prentice hall, 714p, 1999. WILTIBANK, J.N., ROWDEN, W.W., INGALLS, J.E., GREGORY, K.E., KOCK, R.M. Effect of energy level on reproductive phenomena of mature hereford cows. Journal animal science, v.21, n.1, p. 219-225, 1962.
Dados dos Autores LuIz ORCIRIO FIALhO DE OLIVEIRA Médico Veterinário, CRMV-MS nº 1714, Doutor em Ciência Animal, Embrapa Pantanal. luiz.orcirio@embrapa.br uRBANO GOMES PINTO DE ABREu Médico veterinário, CRMV-MS nº 0631, Doutor em Zootecnia, Embrapa Pantanal. éRIkLIS NOGuEIRA Médico Veterinário, CRMV-MS nº1862, Doutor em Medicina Veterinária, Embrapa Pantanal. DAyANNA SChIAVI DO NASCIMENTO BATISTA Zootecnista, CRMV-MS nº 0611/Z, Mestre em Ciência Animal, Embrapa Pantanal.
38
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
DESTAQUES
CFMv e oie reaLizarão ConFerênCia MundiaL no brasiL
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) confirmou a realização, no Brasil, da maior conferência mundial de educação da Medicina Veterinária. O evento terá como tema “A Conferência Global sobre Educação Veterinária e o Papel das Organizações na Medicina Veterinária – Garantindo Excelência e Ética Profissional” e será realizado na cidade de Foz do Iguaçu/PR, de 4 e 6 de dezembro de 2013. O evento contará com o apoio do CFMV e do Ministério da Agricultura, além de autoridades brasileiras e europeias. Para o representante regional da OIE para as Américas, Luiz Barcos, o principal objetivo da Conferência será conseguir que todas as Instituições de Ensino Superior de Medicina Veterinária adotem as diretrizes mundiais da organização. “Essa é uma importante meta. Se conseguirmos essa adesão às diretrizes será um importante avanço”, avalia.
A Conferência também abordará a necessidade de harmonização global na educação veterinária, com base nas orientações da OIE; e o fortalecimento do papel das organizações na regulação da atuação dos profissionais da Medicina Veterinária, garantindo qualidade e ética na área. Benedito Fortes de Arruda, presidente do CFMV, destaca que a Conferência será uma grande oportunidade para um debate global envolvendo Instituições de Ensino Superior da Medicina Veterinária do mundo e ampliação do trabalho Institucional que já vem sendo desenvolvido. “Trabalhamos para garantir à sociedade um serviço com profissionalismo e ética. Aguardamos a participação de representantes dos 178 países membros da OIE e de profissionais de todo o Brasil”. São esperados cerca de 500 participantes, oriundos da África, Europa, América Latina e Ásia. Mais informações em www.oie.int
Com o objetivo de ampliar as discussões essenciais para a Medicina Veterinária e de trazer ao Brasil a opinião de palestrantes internacionais e de prestígio, o CFMV realizará pela primeira vez um congresso nacional, tendo como tema: A Amplitude do Mercado de Trabalho. O I Congresso Nacional da Medicina Veterinária está confirmado para os dias 2 e 3 de dezembro de 2013, e antecederá a Conferência Mundial da OIE, na cidade de Foz do Iguaçu/PR. A expectativa do CFMV, organizador do Congresso, é apresentar conteúdos variados, técnicos e científicos relacionados ao mercado de trabalho, além de palestras inéditas com temas educacionais e culturais. Os participantes contarão com tradução simultânea em inglês, fran-
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
cês e por tuguês. Mais informações, programação e eventos paralelos serão divulgados, oportunamente, nos diversos canais de comunicação do CFMV e inclusive no site: www.cfmv.gov.br.
sHutterstoCk
i Congresso naCionaL da MediCina veterinÁria serÁ proMovido peLo CFMv
39
DESTAQUES
novos Critérios para FunCionaMento de estabeLeCiMentos veterinÁrios entraM eM vigor no segundo seMestre A partir do mês de agosto, deverão entrar em vigor as novas exigências para funcionamento de estabelecimentos médico-veterinários (hospitais, clínicas e consultórios), conforme determina a Resolução CFMV nº 1.015, publicada em 31 de janeiro de 2013. A medida estabelece atualizações para o acompanhamento das exigências de mercado e dos avanços tecnológicos, garantia de melhores condições de atendimento aos animais e adequação à legislação sanitária vigente. Dentre as mudanças, a nova resolução amplia a exigência de equipamentos necessários para o setor cirúrgico. Os procedimentos cirúrgicos e de recuperação anestésica deverão contar com sistemas de monitoramento e aquecimento, para observação dos animais, além da implantação de sistemas de provisão de oxigênio e ventilação mecânica.
Não há determinação de obrigatoriedade de utilização de veículos próprios para transporte de pacientes, mas o estabelecimento que disponibilizar o serviço deverá adequar-se às novas regras. Os veículos estão separados em duas categorias: as unidades de transporte, que terão a função única de remoção dos animais e, para as ambulâncias, a exigência é de que o veículo seja utilizado somente em atendimentos emergenciais ou de urgências, que deverão ser prestados, obrigatoriamente, por um Médico Veterinário. A norma prevê que a ambulância tenha equipamentos indispensáveis como sistema de maca, sistema para aplicação de fluídos e sistema de provisão de oxigênio e ventilação mecânica, além de monitorização. A Resolução completa pode ser consultada em www.cfmv.gov.br no menu “Legislação”.
Morre no rio de janeiro uM dos beneMéritos da proFissão MediCo-veterinÁria Um dos maiores defensores da Medicina Veterinária do País, Sadi Coube Bogado, ex-deputado e autor da Lei n° 5.517/1968, que regulamenta a profissão de Médico Veterinário no Brasil, faleceu em dezembro passado, em Campos dos Goytacazes, RJ. Nascido em Nova Friburgo/RJ, em 15 de janeiro de 1928, Sadi transferiu-se para Campos logo após se formar em Medicina, casando-se com Selma Vital Brasil Bogado, com quem teve sete filhos. Em 1966, foi eleito deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), tendo o mandato cassado após a edição do Ato Institucional
nº 5, em 1968. “Ele teve um papel fundamental para a história da Medicina Veterinária, um marco para a profissão, foi um homem íntegro e terá sempre o respeito e a admiração de todos os Médicos Veterinários do País”, declara o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. Sadi Bogado integrou um grupo de 173 deputados federais cassados ao longo de 1964 a 1977. Ele teve o seu mandato de deputado federal simbolicamente devolvido na Câmara Federal, oito dias antes de seu falecimento. Na ocasião, Sadi estava hospitalizado e passava por sessões de hemodiálise.
Médicos Veterinários e Zootecnistas Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMv.
40
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
CFMv atua no Congresso naCionaL eM deFessa dos interesses de MédiCos veterinÁrios e zooteCnistas A Diretoria do CFMV apresentou ao Governo Federal, em março, um Projeto de Lei (PL) que estabelece eleição direta para o Conselho Federal. De acordo com o texto, os membros serão escolhidos por voto direto e secreto.“Se o PL for aprovado, todos os profissionais registrados no Sistema CFMV/CRMV poderão votar. Vence a chapa que obtiver a maioria dos votos. A atual gestão sempre defendeu esta mudança. Consideramos que o momento é ideal para ela”, observa o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. O CFMV apresentou, também, um segundo projeto que reestabelece o Exame Nacional de Certificação Profissional (ENCP), que já foi aplicado entre os anos de 2002 e 2005. A aprovação no exame habilitaria os formandos da Medicina Veterinária e da Zootecnia para o exercício da profissão. A mesma proposta define ainda que tanto os profissionais de nível médio quanto os tecnólogos com atuação voltada à pecuária devem ser registrados no Sistema CFMV/CRMV. Atentos aos projetos de lei em andamento no Congresso Nacional, o Conselho manifestou
preocupação em relação ao PL 3661/2012, que tramita na Câmara dos Deputados para alterar a Lei que regula o exercício da Profissão de Técnico em Radiologia (Lei 7.394/1985). O CFMV adverte que pelo texto do PL, somente os técnicos e tecnólogos em Radiologia, além dos bacharéis em Ciências Radiológicas, poderão realizar exames de imagem. “Em animais, a maioria dos exames dessa natureza demanda profundo domínio de anatomia e da patologia em apreço, sendo privativos ao Médico Veterinário, único profissional habilitado e com competência para tal prática”, avalia Arruda.
seMinÁrio naCionaL de zooteCnia reaLiza suaterCeira ediÇão eM Foz do iguaÇu, pr Para discutir temas de interessa da Zootecnia, o CFMV promoveu o III Seminário Nacional de Ensino da Zootecnia – SNEZ. O evento o co r reu em Foz do Iguaçu, PR, no início de maio, durante a 23ª edição do Zootec. Com a participação de coordenadores de curso, membros de comissões de ensino da Zootecnia dos Conselhos Regionais, professores e estudantes, o seminário tratou da discussão globalizada sobre a transmissão do conhecimento e o exercício da Zootecnia. Também foi abordada a
internacionalização da profissão frente aos desafios da produção animal, com colaboração de profissionais de outros países da América do Sul. As apresentações discorreram ainda sobre a inovação e a responsabilidade técnica no ensino e no exercício da Zootecnia. A terceiras edição do evento superou a expec tativa de público e abriu com sucesso o calendárido de eventos em comemoração aos 45 anos do Sistema CFMV/CRMVs .
receba via twitter e facebook as notícias e informações de importância da Medicina veterinária e da zootecnia. no twitter procure, por CFMv_oficial e no Facebook por portal CFMv.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
41
CFMV NA MÍDIA
MUDANçA NOS ESTABELECIMENTOS VETERINÁRIOS SEXTA-FEIRA, 1 DE FEVEREIRO DE 2013
Cidades/Metrópole C7
Viaduto da Favela do Moinho vai fechar das 5h às 22h Caio do Valle
A Prefeitura de São Paulo informou ontem que o Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, na região central, ficará fechado para carros e motos das 5h às 22h por causa de obras na estrutura na passagem, que teve as fundações atingidaspor umincêndio naFavela do Moinho em setembro. A medida, que valerá inclusive
aos sábados e domingos, entra em vigor na segunda-feira e poderá ser mantida até o fim do mês na ligação norte-centro. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não informou por quanto tempo exatamente a restrição valerá, mas, segundo o Estado apurou, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Siurb) espera liberar o viaduto por completo apenas de-
pois desse período. O viaduto passará por obras de recuperação estrutural – a Favela do Moinho fica debaixo dele. Com isso, somente os ônibus da São Paulo Transporte (SPTrans) poderão atravessar a estrutura.Desdeoincêndio,otrânsito desses veículos estava proibido. Até então, só os carros e as motos podiam circular por ali. Mas agora a situação se inver-
te e a Prefeitura revela que a medida é para “privilegiar o transporte coletivo”. Por hora, cerca de 120 ônibus se deslocavam por sentido no viaduto, totalizando 124 mil passageiros transportados por dia pela estrutura antes de ele ser fechado. Os coletivos poderão atingir no máximo 40 km/h na estrutura. Fogo. O incêndio que resultou
no fechamento parcial da ligação atingiu casas na Favela do Moinho, matando uma pessoa. Outro incêndio já havia atingido a comunidade em dezembro de 2011, deixando dois mortos. A CET recomenda que os motoristas procurem rotas alternativas para atravessar as linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) na região central. Entre eles, estão os
Amigo vet
Viadutos Pacaembu e Antártica, na Barra Funda, na zona oeste da cidade. O Viaduto Pompeia, que noanopassadotambémficouinterditadoporcausa de umincêndio, pode ser outra opção, embora mais distante. Motoristas que não quiserem se distanciar do viaduto poderão seguir,nosentidocentro,naAvenidaRudge, pela via lateral da estrutura, virar à esquerda na Rua Sólon, dobrar à direita na Rua Anhaiae,porfim,àdireitanaAlameda Nothmann, até chegar à Avenida Rio Branco.
Motoboys ameaçam protesto hoje contra regras mais duras
Aumenta a exigência de receituário para medicamentos veterinários Para proteção de humanos e animais, 133 substâncias de uso veterinário somente poderão ser comercializadas com apresentação de receituário médico-veterinário Por BENEDITO FORTES DE ARRUDA
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
A
partir de maio de 2013, será necessário apresentar prescrição de médico-veterinário para adquirir medicamentos destinados a animais, desde que contenham alguma das 133 substâncias listadas na instrução Normativa 25, de 8 de novembro de 2012, da secretaria de Defesa agropecuária. essas substâncias estão presentes basicamente em produtos analgésicos, anestésicos, tranquilizantes e com hormônios. a iniciativa do Ministério da agricultura, Pecuária e abastecimento, órgão responsável pelo controle de produtos veterinários, é um avanço na proteção da saúde pública, já que haverá um aumento considerável na quantidade de substâncias com comercialização sujeita a prescrição de médico-veterinário. atualmente, passam por esse controle apenas 17 substâncias, desde 2002, sem haver muita fiscalização.
Pacote de segurança que exige curso e itens de proteção entra em vigor amanhã, mas categoria quer aumentar prazo pela quarta vez
A revista Pet Center, publicação direcionada a lojistas de pet shops, publicou uma edição especial sobre sustentabilidade e destacou o trabalho desenvolvido pelo CFMV para incentivar o cuidado e a preservação com o meio ambiente. Na edição de janeiro, a revista trouxe uma entrevista com o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, que detalha a importância do Compromisso Público dos profissionais da Medicina Veterinária e da Zootecnia com a sustentabilidade. A publicação traz também entrevista e artigo da Comissão Nacional de Meio Ambiente do CFMV.
PREOCUPAçÃO COM O BEM-ESTAR ANIMAL A partir deste O mundo ano, o conceito não quer o sofrimento dos de bem-estar animais A animal deve deixar de ser uma promessa de exigência comercial para ser uma realidade. Esse é o conceito que o presidente da Comissão de Ética, Bioética e Bem-Estar Animal do CFMV, Alberto Neves Costa, discorreu em artigo publicado na Revista dinheiro rural de janeiro. artigo
cia, realizada em novembro do ano passado na Malásia, o principal objetivo do encontro foi discutir a importância da adoção dos padrões estabelecidos pela instituição, por seus 178 países membros. E também que a implantação da legislação deve ser capitaneada por médicos veterinários e zootecnistas. Além da UE e da OIE, organismos internacionais como a Associação Mundial de Veterinária e federações e associações europeias e americanas têm discutido as práticas de bem-estar animal, principalmente para as fases de transporte e abate. Até o mundo islâmico, cujo abate precisa seguir mais as regras religiosas do que as produtivas, também está atento à necessidade de se adapAlberto Neves tar aos padrões de bem-estar animal. CostA é Engana-se quem pensa nesse tema como produto para presidente da comissão de nicho de mercado. Daqui para a frente, a cobrança externa e bioética do interna mudará definitivamente os paradigmas da produção. Conselho Federal Por isso, produtores e indústrias brasileiras precisam ser próde Medicina ativos para incorporar as melhores práticas já estabelecidas Veterinária pelas pesquisas e organismos internacionais. Ao Brasil, como passos largos, a partir deste ano, o conceito de bem-estar uma das potências mundiais na produção e exportação de animal deve deixar de ser uma promessa de possível carnes, cabe implantar definitivamente as regras de bemexigência comercial para ser uma realidade na produção estar animal em toda a cadeia produtiva. Mostrar que faz a de carne. As evidências estão aí e somente tapam os olhos coisa certa, além da responsabilidade ética, também representa garantia de manutenção de mercado. Dados do aqueles que não querem que o seu negócio tenha vida longa. Na União Europeia (UE), a partir deste mês, entra em Ministério da Agricultura, divulgados no final do ano passavigor o Regulamento 1099/2009 que prevê diversas exigências do, mostram que em 2011 somente os países que formam a para o abate, todas baseadas nos resultados de pesquisas sobre UE importaram do Brasil 50% da carne bovina industrialibem-estar animal. Os anizada e 11% da carne bovina in natura, além de 83% da carne mais, por exemplo, somente de frango industrializada e 5% podem ser abatidos após atordoamento, seguindo da carne de frango in natura. No mercado interno, o requisitos claros sobre a perda de consciência antes consumidor brasileiro tamdo processo industrial. A bém está atento. Pesquisas apontam que, quando inforexigência de atordoamento é aplicada no Brasil, mas mado, o consumidor está discom pouca transparência. posto a pagar mais por um No regulamento da UE produto que segue as regras há padrões minuciosos para de bem-estar animal. De cada espécie, como a ampeacordo com uma pesquisa ragem específica dos aparerealizada com 500 pessoas no lhos de atordoamento para Paraná, sua importância na os vários tipos de aves (frandecisão de compra aumentou go, peru, pato e codorna). O em cinco vezes, após a visude olho na qualidade: no mercado interno, o regulamento também aponalização de fotos de diferenconsumidor também está atento ao que compra ta que as importações protes sistemas de produção de venientes de países fora da aves, passando a figurar UE devem seguir os mesmos requisitos exigidos para os paí- entre as principais preocupações desses consumidores. ses do bloco, acompanhadas de um certificado que confirme a Pesquisa semelhante foi realizada também no Rio de observância das regras ou aplicações correspondentes. Janeiro e se chegou aos mesmos resultados. Com base em A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), da qual informações de pesquisa como essas, empresas do segmeno Brasil é signatário, também tem uma divisão específica to de aves e suínos que já perceberam essa tendência estão para pesquisa e aplicação dos padrões de bem-estar animal. certificando seus sistemas de produção. No entanto, no A OIE é referência para os padrões veterinários no âmbito mercado de bovinos pouco tem sido feito, apesar da imporda Organização Mundial do Comércio. Na última conferên- tância desse setor na cadeia de carnes do País.
● No
Estado
21 mil
motoboys em todo o Estado já fizeram o curso de capacitação previsto na lei – o número equivale a apenas 4,2% do total de motofretistas trabalhando em território paulista – cerca de 500 mil.
que,das 645 cidades paulistas, só 14 – incluindo a capital – regulamentaram a atividade profissional de motofretistas, como prevê a lei de 2009 sobre o tema. A categoria afirmou não ser contrária às normas, mas ao prazo dado pelo governo federal paraaadequaçãodetodososprofissionais. Na capital paulista, trabalham entre 200 mil e 220 mil motoboys, segundo o Sindimoto-SP.Atéontem,noentanto,somente 14 mil deles (7%) já haviam passado pelo curso obrigatório, que tem 30 horas de duração, entre aulas teóricas e práticas, abordando temas como ética, cidadania e segurança. Agendamento. Uma das dificuldades é agendar datas rapidamente para o curso. Ontem, a reportagemligouparaduasautoescolasda cidade e recebeu a informação de que não há vagas antes do dia 17. Além disso, o preço – entreR$160eR$200,dependendo do Centro de Formação de Condutores (CFCs) – afasta boa parte dos motoqueiros.
Coibir usos ilícitos
Um dos objetivos da exigência de receituário é evitar o consumo de substâncias para fins
Em agosto, ao prorrogar pela terceira vez o início da fiscalização das regras, o Contran permitiu que os CFCs também oferecessemocurso.Massó17autoescolas do Estado inteiro passaram a dispor desse serviço. Na capital, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) já dava aulas, de graça. Contudo, o número de vagas é bem pequeno para a demanda. A rede do Serviço Social do Transporte (Sest) também dá o curso, mas cobra R$ 160. Além de assistirem às aulas, os motoboys devem instalar na moto antenacorta-pipaeprotetordepernas. O capacete e o colete precisam ganhar faixas reflexivas. /
Justiça barra obra de Rodoviária da Vila Sônia ● A Justiça barrou, em 1ª instân-
cia, a construção do Terminal Rodoviário da Vila Sônia, na zona oeste. Com isso, ao menos provisoriamente, estão suspensas 15 importantes obras para o transporte público que fazem parte do mesmo pacote de licitações. O juiz Adriano Laroca, da 9ª Vara da Fazenda Pública, já havia concedido liminar com o mesmo posicionamento. Na última decisão,
42
quados e prejudiciais para outras situações e espécies.
Proteção para humanos
Os antidepressivos são controlados rigorosamente para uso humano, porém, há preocupação, com a venda sem controle para uso veterinário, até o momento. Pessoas que buscassem erroneamente produtos desse tipo em casas de produtos para animais ficariam sujeitas a consumo impróprio e às suas consequências. Uma outra substância que chama a atenção e que tem uso indiscriminado por humanos é o clembuterol, responsável por uma série de mortes, principalmente em fisiculturistas que buscam acelerar a “queima de gordura”. Tratase de um broncodilatador, de uso exclusivo em equinos, que tem como “efeito colateral” a interferência no metabolismo da gordura. acontece que substâncias utilizadas tanto em medicamentos veterinários quanto humanos têm formulações e dosagens totalmente diferentes, que podem variar muito conforme a espécie à qual se destinam e produzir resultados catastróficos se o consumo for incorreto.
Alerta para os controles
Para o Conselho Federal de Medicina Veterinária, a nova norma somente poderá ser efetiva quando houver implantação, nas casas de produtos veterinários, do mesmo sistema de escrituração eletrônica de entradas e saídas de medicamentos praticado nas farmácias humanas. Por enquanto, o sistema estabelecido é o de anotações em livros, o que pode representar risco para a eficiência do controle.
E os antibióticos?
Outro alerta é referente à necessidade de os antibióticos serem incluídos na lista de produtos controlados, uma vez que o consumo inadequado desses medicamentos é um dos grandes problemas da saúde pública. É importante coibir o uso desregrado de antibióticos em animais, sem orientação médico-veterinária, bem como por pessoas que compram antibióticos veterinários para consumo próprio, temeridade da qual já se tem notícia.
afirmou que o projeto da rodoviária não foi devidamente discutido com a população afetada. Para a construção, seriam desapropriadas ao menos 74 casas. O juiz questiona o tamanho do terminal rodoviário, maior do que o previsto em plano de 2004. O pacote de mobilidade urbana suspenso inclui as Rodoviárias de Parelheiros e Jardim Ângela, na zona sul, e Itaquera, na leste. A suspensão abrange 68,5 km de corredores de ônibus – 3,3 km na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini. A Prefeitura disse que não foi notificada. / ARTUR RODRIGUES E C.V.
Lista das 133 substâncias a instrução Normativa com a lista de substâncias sujeitas a controle (anexo i) se encontra no Diário Oficial de 21 de novembro de 2012, e pode ser vista em www.crmvsc. org.br/arquivos/iN25-21-11-2012.pdf.
Medicação correta e dosagem certa: fundamentais para o êxito do tratamento e para evitar efeitos colaterais nocivos
Benedito Fortes de Arruda é médico-veterinário e presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
CÃes & Cia • 404
59
C.V.
Pets
TÁXI DOG É VETADO EM CASO DE EMERGÊNCIA Transporte a clínica agora deve ser de ambulância Fábio Brito
O
Conselho Federal deMedicinaVeterinária publicou ontem no Diário Oficial da União uma resolução que define novos critérios para o funcionamento de hospitais,clínicaseconsultóriosveterinários, além determinar o tipo de transporte para animais encaminhados para esses estabelecimentos. A nova regra traz exigências de equipamentos de
emergências e a proibição do uso de táxi dog para a remoção em atendimentos veterinários, senãoestiveremvinculadosaclínica, hospital ou consultório. Além disso, cria duas categorias de veículos autorizados para esse serviço: a “unidade de transporte e remoção” e a “ambulância veterinária”. Noprimeirocaso,oveículodeve ser destinado à remoção de animais que não necessitem de atendimento de urgência, como vacinações e consultas, por exemplo. Em caso de emergên-
Falecimentos Carmen Villela Gonçalves – Ontem, aos 98 anos, era filha de Marietta de Assis Villela e Francisco Villela Filho; viúva de João Gonçalves Neto. Deixa os filhos Ricardo e Júnia, netos e sobrinhos.
cias, apenas as ambulâncias, com a presença obrigatória de ummédico veterinário ede equipamento de suporte à vida, podemfazero transporte.A utilização desses veículos para serviços de banho e tosa é proibida e passíveldemulta. Oscarrostambémdevemterseusdadoscadastrados nos conselhos regionais – hoje não existe esse cadastro – e a identificação externa indicando que transportam animais. ParaAntonioRonzino,quetrabalha com táxi dog há sete anos, a nova resolução poderá tornar inviável seu negócio. “Fazemos o transporte para clínicas que nos indicam porque confiam em nossotrabalho, maslevamosanimais para lugares que os clientes pedem. Ficar vinculado fará com que eu perca mais de 80% dos meus clientes.” Segundo Ronzino, na madrugada é comum ha-
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
ver solicitações de emergências. O consumidor também deverá pagar mais por isso. O custo médio de um táxi dog para levar um pet para uma clínica e devolvê-lo ao seu dono é de R$ 50 e, de ambulância, a partir de R$ 190. Na capital, existem empresas de transporte no segmento, mas vinculadaaumhospitalveterinário apenas o Santa Inês, que fica na zona norte e tem ambulância da própria instituição que atende à resolução. Tranquilidade. Segundo o presidente do conselho, Benedito Fortes de Arruda, a atualização da norma garante que o atendimento aos animais seja prestado dentro das condições necessárias de segurança. “É uma forma de protegê-los, garantindo seu bem-estar e a tranquilidade de seus proprietários.”
Antonio Cavassa – Aos 75 anos, era filho de Eliza Correia Cavassa e Julio Cavassa; casado com Gracia da Conceição Ribeiro Cavassa. Deixa Filhos. O enterro foi realizado no Cemitério Parque dos Girassóis.
NOTA DE FALECIMENTO LUIZ CARLOS SANTOS
Massahiro Tiba – Terça-feira, aos 70 anos, era viúvo de Junko Tiba. Deixa os filhos Eduardo, Cristina e Erica. O enterro foi anteontem em no Cemitério de Congonhas. Alcides Zanella – Aos 60 anos, era filho de Justina Turato e Giuzeppe Zanella. Deixa filhos. O enterro foi realizado no Cemitério Parque dos Girassóis. Paulo Alves da Silva – Aos 55 anos, era filho de Deixa os filhos Jefferson, Liliane, Paulo Rodrigo e Robson. O enterro foi realizado no Cemitério da Vila Formosa II.
Maria Helena Brant de Carvalho Britto – Hoje, às 18 horas, na Paróquia Nossa Senhora Mãe do Salvador (Igreja da Cruz Torta), localizada na Avenida Professor Frederico Herrmann Junior, 105, Alto de Pinheiros (7º dia). Daisy Almeida Vasconcellos – Amanhã, às 11 horas, na Paróquia da Santíssima Trindade, localizado na Praça Olavo Bilac, 63, Santa Cecília (in memoriam). Ana Cecília Cunha Celidonio – Amanhã, às 15h30, na Igreja Santa Teresinha, na Rua Maranhão, 617, Higienópolis (1 ano). Maria Helena dos Santos Car-
cumprem o doloroso dever de informar o
MISSAS
falecimento de seu ex-presidente Luiz Carlos
O Des. Ennio de Barros comunica o falecimento de sua querida companheira
Santos. O sepultamento será hoje (01/02), às 11h, no Cemitério do Morumbi (SP).
MARIA ZENAIDE NOVAES GUIMARAES
e convida para missa de 7 º dia que será celebrada, amanhã 02/02/13, às 15:00 horas na Igreja N. Sra. Mãe de Salvador (Cruz Torta) na Av. prof. Frederico Hermann Jr, 105 -Alto de Pinheiros.
Maior proteção e bem-estar para os animais; mais tranquilidade para os proprietários deles. Esses são os benefícios que deverão ser proporcionados pelas novas normas do Conselho Federal de Medicina Veterinária para hospitais, clínicas, consultórios e ambulatórios veterinários Por BENEDITO FORTES DE ARRUDA
E
m julho, entrarão em vigor novos critérios de funcionamento para estabelecimentos médicos veterinários, suas instalações e equipamentos, conforme determina resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (Resolução 1015, publicada em 31 de janeiro de 2013). Essas novas normas valerão para os estabelecimentos médicos veterinários do País que atendem a todas as espécies animais. São um avanço, por definirem, sob a ótica moderna, as condições mínimas necessárias para os estabelecimentos médico-veterinários oferecerem atendimento aos animais com segurança, sanidade e estrutura. A Resolução substitui a legislação anterior, de 2000, que, para garantir melhores condições de atendimento aos animais, exigia atualização por parte dos profissionais de modo a acompanhar as mudanças do mercado, o que incluia estar a par do desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia bem como da legislação sanitária vigente.
Cirurgias
Entre as alterações, a nova resolução determina que o setor cirúrgico dos hospitais e das clínicas veterinárias seja dividido em sala de preparo de paciente, sala de assepsia, sala de lavagem e esterilização de materiais, unidade de recuperação anestésica e sala cirúrgica. Essas adequações asseguram, principalmente, a não contaminação e a redução dos riscos nas cirurgias. Os procedimentos cirúrgicos e de recuperação anestésica deverão contar com sistemas de monitoramento e aquecimento para observação dos animais e de provisão de oxigênio e ventilação mecânica. Há novas obrigatoriedades também para a sala cirúrgica, como presença de desfibrilador, foco cirúrgico, bombas de infusão e aspirador cirúrgico, além de material cirúrgico em quantidade e qualidade adequadas.
Transporte de animais
Os veículos disponibilizados pelos estabelecimentos veterinários passam a ser divididos CÃes & Cia • 406
Cirurgias: infra-estrutura mínima obrigatória incorpora novas tecnologias e conhecimentos em duas categorias: unidade de transporte e remoção, para animais que não necessitem de atendimento de urgência, e ambulância veterinária, utilizada somente para estabilização e transporte de doentes que necessitem de atendimento de urgência ou emergência, cujo serviço deverá ser prestado obrigatoriamente por médico-veterinário. A norma prevê, ainda, que as ambulâncias tenham equipamentos indispensáveis, como sistema de maca, sistema para aplicação de fluídos e sistema de provisão de oxigênio e ventilação mecânica, além de monitorização. Não há obrigatoriedade de os hospitais ou clínicas veterinárias terem veículo, porém, se o ofertarem, precisam seguir a normatização. As exigências buscam garantir que haja profissional e equipamentos necessários para atendimento no local de emergência, além de defenderem o consumidor que, ao chamar uma ambulância veterinária, espera contar com capacidade para a realização dos procedimentos iniciais necessários para salvar a vida de seu animal. Como medida preventiva, para evitar a contaminação de animais sadios, os veículos de estabelecimentos veterinários estão proibi-
Amigo vet
‘Paciente’. Veículo deve ter aparelhos de suporte à vida
damone – Amanhã, às 16 horas, na Paróquia São Luís Gonzaga, na Avenida Paulista, 2.378, Cerqueira César (1 mês). Elisabeth Lucia Alexandrina Strongoli Nemes – Domingo, às 11h30, na Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, na Alameda Franca, 889, Cerqueira César (1 mês). Clesio Roberto Oliveira Rodrigues – Hoje, às 18horas, na Igreja N. Sra. da Esperança, na Av. dos Eucaliptos, 556, Moema (2 anos). Thiago Dias Soares do Amaral
– Amanhã, às 15 horas, na Igreja São José, Rua Dinamarca, 32, Jardim Europa (1 ano). Humberto Vecchio – Domingo, às 10 horas, na Igreja Nossa Senhora Aparecida, localizada na Rua Labatut, 781, Ipiranga (100 anos de nascimento). Felippe José Vicente de Azevedo Franceschini – Domingo, às 20 horas, na Igreja Imaculada Conceição, que fica localizada na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 2.071, Bela Vista (12 anos).
A esposa Madalena, os filhos, genros, netos e bisneto de
AOUD ID
agradecem as manifestações de carinho e convidam para a missa de 7º dia a ser celebrada dia 02/02/2013, às 16:00 hs., na Paróquia N. Sra. Aparecida - Obras Sociais Dom Bosco, à Rua Álvaro de Mendonça, 456 - Itaquera - SP.
Os amigos de
ELLY ACHER
convidam para a missa de 40 dias a se realizar domingo 03/02/2013 às 11:30h na Igreja Grega Ortodoxa à Rua Bresser, 793, Brás.
Diferenças de cada categoria de estabelecimento
Novos critérios
Para um atendimento imediato e com mais qualidade é importante mostrar aos proprietários de animais as diferenças entre as categorias de estabelecimentos veterinários:
Conselho Federal de Medicina Veterinária publicou em janeiro resolução que define alguns novos critérios para o funcionamento de estabelecimentos veterinários como hospitais, clínicas e consultórios. Importantes exigências também no setor cirúrgico
A
Resolução n° 1.015, que define alguns novos critérios para o funcionamento de estabelecimentos veterinários como hospitais, clínicas e consultórios, foi publicada no dia 31 de janeiro de 2013, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV, Brasília/DF). De acordo com informações da assessoria de imprensa, o novo texto altera a Resolução n° 670 de 2000 e estabelece atualizações para acompanhar as mudanças do mercado, garantir melhores condições de atendimento aos animais, acompanhar o desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia como também, alinhar-se à legislação sanitária vigente. O presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, explica que a atualização da norma garante que o atendimento aos animais seja prestado dentro das condições necessárias de segurança, sanidade e estrutura adequada, principalmente para os procedimentos cirúrgicos. “É uma forma de proteger os animais garantindo o seu bem-estar e, também, a tranquilidade de seus proprietários”, frisa. Os estabelecimentos veterinários, segundo Benedito, terão seis meses para se adequar às novas exigências e poderão consultar os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs) para orientações. A fiscalização dos estabelecimentos também será realizada pelos CRMVs. “Cada Conselho Regional tem autonomia para definir a sua rotina de fiscalização.
14 • cães & gatos • 2013 • Edição 164
CFMV no. 670/2000, medida anterior a essa em vigor, estava em estudo há algum tempo. Nesse período, ela recebeu sugestões de alteração dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária. Eles avaliam a realidade local e fazem as sugestões ao Conselho Federal de Medicina Veterinária de acordo com suas necessidades. Além disso, os Conselheiros do CFMV também fizeram seus estudos em sugestões. Em seguida, foi formado um grupo de trabalho que reuniu as informações e fez a proposta final submetida à aprovação da Sessão Plenária do CFMV”, explica. Contudo, essa nova Resolução não trará contratempos para os estabelecimentos, na avalição de Benedito, visto que a estrutura física não foi modificada e muitos estabelecimentos já possuem pelo menos grande parte destes equipamentos, uma vez que os profissionais se reciclam e se equipam para poder prestar um atendimento de qualidade a seus pacientes. As mudanças
Benedito Fortes de Arruda, presidente do CFMV
1
Há novas obrigatoriedades também para a estrutura das salas cirúrgicas
Lembramos que a norma somente será válida a partir de seis meses da data de sua publicação. Sendo assim, até essa data, os profissionais poderão procurar os Conselhos Regionais para esclarecimentos de suas dúvidas e orientações”, orienta Benedito. O presidente do CFMV explica ainda que essa resolução só foi publicada agora, pois toda atividade de legislação exige um tempo de tramitação. “Após a identificação da necessidade de alteração é demandado um tempo de estudo por parte do conselho. Especificamente a Resolução
no setor cirúrgico Dentre as alterações, de acordo com inforinfor mações do CFMV, a nova resolução amplia a exigência de equipamentos necessários para o setor cirúrgico, o qual deverá ser dividido em sala de preparo de paciente, sala de assepsia, sala de lavagem e esterilização de materiais, unidade de recuperação anestésica e sala cirúrgica. Os procedimentos cirúrgicos e de recuperação anestésica, segundo a resolução,
1
Em todas as A edições da Revista Cães e Cia,, o CFMV evidencia um tema de interesse relacio nado aos pe quenos animais. Os últimos artigos foram: mudanças nos estabelecimentos veterinários e suas implicações (fev/2013); importância dos criatórios legalizados para garantir a continuidade das espécies silvestres ( jan/2013); maior exigência de receituá rio para medicamentos veterinários (dez/2012) e banho e tosa: os indícios de um animal bem tratado em pet shop (nov/2012). DE ARRUDA
gurada pela supervisã o de um médico-v eterinário responsável técnico. Incentivar os criatórios é uma forma , optar por de gamal de estimaçã o silvestre somente ter ani- rantir a conserva ção das e ético se toda e qualquer aquisição é lícito espécies. Um exemplo veniente de criatórios for pro- disso é o pássaro Curió. legalizadas e licenciad e lojas devidamente Ele já esteve na as. listagem Algumas espécies de animais ameaçad Azul-de-Spix (Cyanops , como a Ararinhaos de extinção, itta spixii), por plo, foram dizimada exem- ao sucesso mas graças s pela ação ilegal da reprodumem que, sem do Ho- ção consciência, vê em cativeiro está a Natureza como um grande preservado a ponto disponíveis para almoxarifado de animais de existirem mais a espécio tráfico oferece coleta. E, nesse aspecto, mes opções cada vez pecializadas e mais es- no em cativeiro que profissionais. ambiente natural. Comprar animais Uma silvestres característica ou selvagens de coletores da Natureza apenas da criação organizad destruição da incentiva a a fauna. é selecionar os acasaNacional de CombateDe acordo com a Rede lamentos para reforçar Selvagens, o tráfico ao Tráfico de Animais características que de animais capturad na Natureza é estios mulam o responsável pela interesse pelos retirada anual de cerca de 38 milhões de espécimes de animais. No caso dos seus habitats. Esse número é Aquisição de animal muito superior Curiós, a qualidade mais ao dos animais silvestre: deve ser feita em criatórios comercializados, aprimorada é o canto. e lojas legalizadas rante o processo já que, duda Para os papagaio tos no Instituto ção, ocorrem muitas captura e comercializaBrasileiro de seleção tende s, o trabalho zootécnico e dos Recursos Naturais do Meio Ambiente para cada 10 animais mortes. Estima-se que, a produzir aves ceis, com maior mais dó- As Renováveis (Ibama). traficados, apenas habilidade para sobreviva. exigências variam um viver com falar e conde acordo as pessoas, o que torna os papa- cie e a reprodução é permitida com a espégaios de estimaçã somente por criatórios registrad Animais legais garantem o cada vez mais os. de acordo a conservação com o que as pessoas desejam. Antes de adquirir Quem compra um animal silvestre animais ilegais importante que crime sujeito comete Onde é o futuro a pena e multa, está a garantia? um médico-veterinário comprador procure assim acontece com quem trafica, comercia como A nota registrado no Conselho Regional simplesmente liza ou garante fiscal de venda é o documen ameaça animais. to que da espécie , para entender as necessid ao comprador Compact com os coletores ades e receber as devidas incentiva o crescime uar pra do animal silvestre, a legalidade da comorientações. do tráfico, além É preciso sendo nto constar de expor a própria o código de identifica que nela deve mal silvestre ter em mente que cuidar de anirisco de saúde, família a Esse exige maior dedicação ção do animal. pois conviverá código está tário do que cuidar do propriecom um animal sem procedên conhecido tambémregistrado no microchip, cia conhecemos melhorde cão ou gato, dos quais rá transmitir doenças conhecida, que podecomo transpon é o método de os der, hábitos. tropicais, que É necessário também que a como raiva, identificação mais herpes vírus e sociedade febre e exigido para indicado tos exportação. No há casos de criançasamarela. No Nordeste sobre as necessida tenha esclarecimencaso de aves silvestres destinada des biológicas infectadas com mentação dos por mordedura e de alis ao mercado raiva aceita animais silvestres de nacional é também a colocaçã , bem como tidos como animais Saguis capturados, mano de anilha lacrada, dos comportamentos das o que deve ser de estimação. espécies, rantir o bem-esta feito logo após Por outro lado, r. Mais important para gao nascimento da ave. A nota e ainda é ter a consciência de fiscal precisa ser monitorados desde animais de criatório são que acordo com as regras estabelec emitida de dedicação e cuidado todo animal precisa de cuidados necessári o nascimento, recebem os idas pelo Ibama e é necessár por toda a vida. os e têm a sanidade io que a loja, asse- criatório CÃes & Cia • de origem do animal, assim como o 405 Benedito estejam inscriFortes de Arruda é médico-vete dente do
SERVIçOS VETERINÁRIOS RESPONDEM POR APENAS 6% DOS GASTOS COM PET Reportagem de capa da edição nº 163 da Revista Cães e Gatos trouxe como tema o avanço do mercado pet, com arrecadação estimada de R$ 13,6 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento de 11,42% frente ao ano anterior. O CFMV participou da reportagem com análise crítica sobre a par ticipação do M édico Veterinário e a falta de valorização e reconhecimento de seu trabalho.
capa
auxiliam os profissionais das empresas e médicos veterinários a decidir os próximos passos de seus negócios. A Comac hoje conta com o apoio das 12 maiores empresas do mercado de saúde animal pet, juntas elas representam 85% do faturamento de farmacêuticos pet.
de olho nos profissionais Apesar de todo ganho econômico que o setor vem atingindo, na avaliação do médico veterinário e secretário geral do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Antonio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk, os médicos veterinários, principais atores para a garantia da saúde dos animais e pela responsabilidade técnica das empresas, são os que menos compartilham desse ganho econômico. Dados da Abinpet, afirma Antonio, mostram que 16% são gastos com “serviços”, o que inclui os médicos veterinários e também, hotéis, serviço de pet sitter e dog walker. Ele destaca ainda que, de acordo com uma consultoria do setor, os serviços veterinários respondem por apenas 6% dos gastos com pets. “Por outro lado, os profissionais continuam investindo. O que se viu na medicina veterinária é o crescimento no uso de técnicas, procedimentos e exames mais complexos, os quais não eram aplicados no setor com tanta frequência. Estavam restritos às universidades ou algumas clínicas de grandes centros. Essa também é uma tendência para 2013”, ressalta. Para Antonio, o médico veterinário de hoje tem um perfil empreendedor, que busca oferecer novos serviços e alternativas. “O jovem tem preferência pela iniciativa privada e está pronto para aceitar as mudanças que ocorrem com muita rapidez na profissão. Também está ciente da necessidade de constante atualização com a educação continuada”, avalia. Por isso, para este novo ano, Antonio acredita os médicos veterinários devem investir na progressiva qualificação e estar cientes da importância e valor de seu trabalho. “Estamos certos de que a valorização das profissões resultará em uma atividade empresarial ainda mais rentável”, afirma e completa: “O mercado de pets este ano continuará em expansão. Os donos de pets estarão cada vez mais exigentes para com a qualidade dos serviços prestados. Para a medicina veterinária há a necessidade de atualização constante para atender a todas as demandas”. Em 2012, Antonio recorda a preocupação com os maus tratos em locais que prestam serviços para os animas, como os pet shops, objeto de ampla divulgação nacional. “Um desafio é a educação da popu-
lação para que se atentem aos cuidados no atendimento e evidenciar a importância da responsabilidade técnica de um médico veterinário para todos os estabelecimentos que pratiquem atividades relacionadas à medicina veterinária”, frisa. Desafio que segue este na opinião de Antonio. Além disso, ele afirma que o objetivo é tornar os pet shops mais sustentáveis, principalmente com práticas ambientais para o tratamento da água utilizada no banho e para o destino correto de resíduos, cujo principal é o pelo. “O pelo resultante da tosa também é considerado um problema de saúde pública, pois pode conter agentes contaminantes.
os Médicos veterinários, principAis Atores pArA A gArAntiA dA sAúde dos AniMAis e pelA responsAbilidAde técnicA dAs eMpresAs, sãO Os quE MEnOs COMPARTIlhAM DEssE gAnhO ECOnôMICO AnTOnIO WOuk, dA cFMv
Acreditamos que também será importante o treinamento do pessoal que faz o atendimento e a higiene de equipamentos para evitar o risco de contaminação e infecções”, alerta.
ações No ano passado, de acordo com Antonio, o CFMV apoiou diversos eventos técnicos nacionais que complementam a educação continuada dos profissionais devido a disseminação de novas tecnologias, técnicas e tratamentos. Em questões políticas, o CFMV atuou no aperfeiçoamento da legislação sobre o bem-estar animal, como a atualização da regulamentação que trata da eutanásia animal (Resolução CFMV no. 1000). Além disso, Antonio adianta que em breve, também haverá um guia, direcionado aos profissionais, sobre o tema. “O CFMV também está inserido e é atuante em câmaras setoriais de pequenos animais existentes para orientação do governo federal”, informa. Além disso, o conselho assumiu em 2012 um compromisso público com o desenvolvimento sustentável, a partir de uma declaração de comprometimento da categoria. “O conselho também se posicionou contra os maus tratos em animais, em casos divulgados na mídia, ressaltando a importância da posse responsável”, completa Antonio. Este ano, o CFMV celebrará 45 anos do Sistema de CFMV/CRMVs (Conselho Federal e Conselhos Regionais de Medicina Veterinária). “Estaremos ainda mais atuantes para que os profissionais das classes representadas, médicos veterinários e zootecnistas, estejam unidos, sinérgicos e tenham o reconhecimento da importância da sua atuação para a saúde de animais, saúde das pessoas e do planeta”, conclui Antonio.
34 • cães & gatos • 2013 • Edição 163
por Mariana Vilela, sucursal Curitiba (PR) Por Camila de Oliveira Pereira e Fernanda Vieira Amorim da Costa
4/5/13 5:17:01 PM
Benedito Fortes de Arruda é médico-veterinário e presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Animais silvest legalizado a continuidade res das espécies s garantem
fauna brasileira tem a maior diversida do mundo e a de cada tas novas espécies ano são descober. Por outro lado, lizmente, nosso infepaís também está líderes mundiais entre do tráfico de animais. os combater esse Para problema
MERCADO
DINhEIRO RURAl/099-JANEIRO-2013
dos de transportar animais para banho e tosa.
Categorias de estabelecimentos
Para direcionar corretamente a busca por atendimento imediato das necessidades do animal é importante que os proprietários entendam as diferenças entre as categorias de estabelecimentos veterinários. • Hospital veterinário: assegura assistência médica curativa e preventiva com funcionamento obrigatório em período integral. É obrigatória a presença permanente de médico-veterinário e um profissional deve ser o responsável técnico; • Clínica veterinária: nela se fazem consultas e tratamentos clínico-cirúrgicos de animais, podendo ou não ocorrer internação, sob a responsabilidade técnica e presença de médico veterinário; • Consultório veterinário: nesse tipo de estabelecimento, as internações são proibidas, bem como os procedimentos anestésicos e cirúrgicos. Destina-se ao ato básico de consulta clínica e de curativos e vacinações de animais feitos por médico-veterinário.
Cresce o interes silvestres, mas se por animais de estimação importante que contribua para édesest cada imular o tráfico aquisição
Os jornais Folha de São Paulo e o estado de São Paulo destacaram a Resolução CFMV nº 1.015, publicada em 31 de janeiro, que determina novos critérios para funcionamento de estabelecimentos veterinários. O tema também foi destaque na mídia televisiva. O principal jornal nacional da Rede Bandeirantes – Jornal da Band – apresentou um hospital com os equipamentos necessários. No Canal rural, a notícia foi direcionada para hospitais de animais de grande porte. A pauta também foi tema da TV Brasil. A notícia foi destaque em veículos de comunicação do todo o Brasil como Portal G1, Agência Brasil, Estadão on line, Pet Guide, Rádio Liberdade e Rádio Jaraguá, Rádio gaúcha, Rede notícias, Gazeta do Povo, Correio Braziliense Online, JB Online, Exame Online, Jornal Dia a Dia, Agrosoft, Gazeta do Sul entre outros. A diretoria e o corpo de funcionários de Furnas
Amigo vet
Novas regras aprimorarão atendimento em estabelecimentos veterinários
Por BENEDITO FORTES
Para publicar anúncio fúnebre: Balcão Iguatemi – Shopping Iguatemi 1a - 04, tel. 3815-3523 / fax 3814-0120 – Atendimento de 2ª a sábado, das 10 às 22 horas, e aos domingos, das 14 às 20 horas. Balcão Limão – Av. Prof. Celestino Bourroul, 100, tel. 3856-2139 / fax 3856-2852 – Atendimento de 2ª a 6ª das 9 às 19 horas. Só serão publicadas notícias de falecimento/missa encaminhadas pelo e-mail falecimentos@estadao.com, com nome do remetente, endereço, RG e telefone
Fotos: arquivo C&G
82
Rev_Rural99_Artigo.indd 2
Tranquilizantes e antidepressivos para uso veterinário em animais, inclusive de pequeno porte, como o diazepam, já estavam entre as 17 substâncias sujeitas a prescrição. agora, a lista desse grupo foi ampliada com a intenção é coibir ainda mais o uso indiscriminado, já que, principalmente em épocas de festas ou de comemorações com rojões, alguns proprietários deliberadamente utilizam medicamentos contendo essas substâncias para tranquilizar seus animais de estimação, mas o fazem sem prescrição de médico-veterinário, colocando os animais em risco. É importante que o uso de medicamento ocorra somente quando necessário, situação que deve ser avaliada por médico-veterinário. Quando o uso for recomendável, o proprietário do animal sairá da consulta sabendo qual medicamento é mais indicado e qual é a dosagem correta a ser aplicada, informações essenciais, pois o medicamento e a dosagem que são bons para uma situação e espécie podem ser inade-
Fila. Fiscalização já foi prorrogada 3 vezes: só 7% dos motofretistas da capital fizeram curso
foto: ShutterStock
“Engana-se quem trata o bem-estar na cadeia da carne como produto para nicho de mercado”
tério Público Federal, na Rua Frei Caneca – o plano é entregar um ofício para tentar prorrogar pela quarta vez a data de início da fiscalização. O Contran informou ontem que não adiará mais uma vez a entrada em vigor da medida. Opresidente dosindicato,GilbertoAlmeida dosSantos, levanta outra questão: a maioria dos municípios ainda não regulamentoualeiqueestabeleceamudança. Sem isso, os motoboys não podem emplacar as motos na categoria certa – a de placa vermelha. O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-SP) divulgou
Proteção para os animais
Hope Studio
Motoboys da cidade de São Paulo planejam para hoje de manhã uma manifestação entre o Brooklin, na zona sul, e a Avenida Paulista, na região central, para protestar contra o início da fiscalização das regras que tornam a profissão mais segura. Uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) prevê que, a partir de amanhã, motofretistas que circularem sem ter feito um curso preparatório e com motos sem equipamentos de segurança poderão receber multa de R$ 191,54 e ter o veículo apreendido. O assunto vai ser debatido em assembleia marcada para 10h na Rua Doutor Eurico Rangel, na frente do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas e Ciclistas de São Paulo (Sindimoto-SP). Depois, motoqueiros ameaçam fazer uma marcha até a porta do prédio do gabinete da Presidência da República em São Paulo, naesquina da Rua Augusta com a AvenidaPaulista. Alémdisso,podemseguirrumoàsededoMinis-
ilícitos. Um exemplo é o da quetamina, anestésico utilizado em cães, gatos e até mesmo em aves, mas que é desviado para servir de droga de abuso em festas, com o nome de “droga recreativa”. esse mesmo anestésico é empregado também em golpes como o da “boa noite, Cinderela”, por meio do qual a vítima ingere a substância misturada com bebida e, sob seu efeito, passa a obedecer inconscientemente a comandos, podendo sofrer roubos e abusos.
deverão contar com sistemas de monito monitoramento e aquecimento, para observação dos animais, como também a implantação de sistemas de provisão de oxigênio e ventilação mecânica. Além disso, há novas obrigatoriedades também para a estrutura das salas cirúrgicas como desfibrilador, foco cirúrgico, bombas de infusão e aspi aspirador cirúrgico, além de material cirúrgico em quantidade e qualidade adequadas. Foram acrescentados ainda a necessidade de bordas e dispositivos de drenagem para a mesa cirúrgica impermeável e ventila ventiladores mecânicos aos equipamentos para anestesia inalatória. Na avaliação do conselheiro do CFMV, Marcello Rodrigues da Roza, também médico veterinário e clínico de pequenos animais, esses novos equipamentos ofere oferecem a garantia mínima para o atendimento de emergências durante um procedimento cirúrgico. Ele destaca também que já é grande o número de estabelecimentos que atendem as exigências e, com certeza, os demais terão condições de se adequar den dentro do prazo estabelecido pela resolução. No transporte Outra alteração, segundo a Resolução, é a exigência de que os veículos que trans transportam animais estejam divididos em duas categorias: unidades de transporte e ambulâncias veterinárias. A primeira terá a função única de remoção dos animais e a ambulância deverá ser utilizada somen somente para atendimentos emergenciais ou
Dentre as alterações a nova resolução amplia a exigência de equipamentos necessários para o setor cirúrgico de urgências que deverão ser prestados, obrigatoriamente, por um médico veterinário. Na ambulância, a norma prevê, ainda, equipamentos indispensáveis como sistema de maca, sistema para aplicação de fluídos e sistema de provisão de oxigênio e ventilação mecânica, além de monitorização. Além disso, a normativa também se alinha à legislação sanitária vigente ao exigir maior controle de acesso aos medicamentos e também exige convênios com empresas para o recolhimento de cadáveres e lixo hospitalar.
Sun Flowers in Bloom
O ESTADO DE S. PAULO
Vezznay / Vet News Daily
%HermesFileInfo:C-7:20130201:
TEMAS TÉCNICOS EVIDENCIADOS PARA CRIADORES DE CÃES E GATOS
Fotos: divulgação
MEDICINA VETERINÁRIA E SUSTENTABILIDADE
2 3
Hospitais veterinários são capazes de assegurar assistência médica curativa e preventiva aos animais, de funcionamento obrigatório em período integral (24 horas), com a presença permanente e sob a responsabilidade técnica de médico veterinário. Clínicas veterinárias são destinadas ao atendimento de animais para consultas e tratamentos clínicocirúrgicos, podendo ou não ter internamentos, sob a responsabilidade técnica e presença de médico veterinário.
Consultórios veterinários são de propriedade de médico veterinário, destinados ao ato básico de consulta clínica, curativos e vacinações de animais, sendo vedadas a realização de procedimentos anestésicos e/ ou cirúrgicos e a internação.
Fonte: Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV, Brasília/DF)
Edição 164 • 2013 • cães & gatos • 15
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Conselho Federal
rinário e preside Medicina Veterinária (CFMV). 39
SuplementoCientífico avaliação microbiológica, sensorial e pH da carne de caranguejo-uçá comercializada nos municípios de belém e Maracanã Sammy Machado Abud / Leandro Lopes Ramos / Paulo Sérgio Rodrigues / Sebastião Tavares Rolim Filho
Sun Flowers in Bloom
em
estudo comparativo dos diferentes cortes de carne bovina entre eua e brasil Gustavo Durante Cruz / Guilherme Durante Cruz / Fernando Cintra Lopes Carapeto / Roberto D. Sainz
esterilização cirúrgica de cães e gatos no município de anápolis, goiás, no período de 2010 a 2012 Raquel de Sousa Braga / Glauciane de Melo Ferreira
pitiose equina: aspectos clínico-epidemiológicos, diagnósticos e imunoterápicos Érico Silva de Loreto / Juliana Simoni Moraes Tondolo / Sydney Hartz Alves / Carlos Eduardo Pereira dos Santos / Raquel Soares Juliano / Jean Paul Santos Rocha / Janio Morais Santurio
REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XVIII - Edição N° 58 - 2013 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA sia – trecho 6 – Lotes 130 e 140 brasília-dF – Cep: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br DIRETORIA EXECUTIVA presidente
Benedito Fortes de Arruda viCe-presidente
Eduardo Luiz Silva Costa seCretÁrio-geraL
Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk
Ricardo Junqueira Del Carlo CrMv-Mg nº 1759
COMITÊ CIENTÍFICO DA REVISTA CFMV
presidente
CONSELHO EDITORIAL
Cláudio Lisias Mafra de Siqueira
editor da revista CFMv
presidente
Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk seCretÁrio-geraL
Márcia Leite
LÍder da Área de CoMuniCaÇão
Ricardo Junqueira Del Carlo editor
Flávia Tonin subeditora
Joaquim Lair
CrMv-Mg nº 5170
Roberto Baracat de Araújo CrMv-Mg nº1755
Gilson helio Toniollo CrMv-sp nº 2113
João Luis Rossi Júnior
CrMv-sp nº 11607 e CrMv-es nº 1206/vs
Luiz Fernando Teixeira Albino CrMv-Mg nº 0018/z
Coordenador de CoMissÕes
tesoureiro
Amilson Pereira Said
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
43
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
AVALIAçÃO MICROBIOLóGICA, SENSORIAL E ph DA CARNE DE CARANGuEJO-uçÁ COMERCIALIzADA NOS MuNICíPIOS DE BELéM E MARACANà miCrobioloGiCal, sensory and ph Conditions of meat from uÇÁ Crab sold in belÉm and maraCanà Cities Resumo Foram avaliadas as condições microbiológicas, sensoriais e o ph da carne de caranguejo-uçá comercializada nos municípios de Belém e Maracanã. Foram coletadas 20 amostras de carne (massa) e pata de caranguejo nos estabelecimentos comerciais de alimentação de Belém, de março a abril de 2006, e sete, e em agosto de 2007 em Maracanã. As amostras foram coletadas por técnicos do nível central – Sespa, transportadas em sacos plásticos apropriados, em caixas isotérmicas com gelo, e levadas ao Laboratório Central do Estado do Pará. As 27 (100%) amostras analisadas apresentavam níveis microbiológicos (Coliforme fecais, Staphylococcus aureus e Salmonella sp.) aceitáveis em relação a legislação em vigor, porém apresentavam ph acima de 8,0, estando em processo de deterioração. As sete amostras do município de Maracanã apresentaram características sensoriais próprias, enquanto as 18 amostras de Belém apresentaram-se impróprias para consumo. A causa pode ser o maior tempo de armazenamento da carne de caranguejo em gelo e as variações de temperatura no transporte desde a catação até a comercialização. Palavras-chave: caranguejo uçá, ph, Coliformes fecais, Staphylococcus aureus
Abstract Resumo Were evaluate the microbiological, sensory and ph conditions of meat from uçá crab sold in Belém and Maracanã cities. Twenty samples of meat (mass) and crab leg was collected in Belém food shops, in the period of March-April 2006 and 07 samples in the month of August 2007 in Maracanã city. All samples were collected by technicians of SESP, transported in suitable plastic bags for isothermal boxes with ice and taken to the Central Laboratory of the State of Pará. The results showed that 27 (100%) samples had levels microbiological (fecal coliform, Staphilococcus aureus and Salmonella sp.) acceptable for the law, but had ph above 8.0, therefore in a state of deterioration. The seven samples of the Maracanã city had sensory own, while 18 samples of Belém were unfit for consumption. This may caused by the longer storage on ice and possible changes in temperature of the transport, since the meet sorting until marketing. keywords: uçá crab, ph, Coliformes fecais, Staphylococcus aureus
introduÇão O caranguejo-uçá (Ucides cordatus), de apreciado sabor e valor socioeconômico (CINTRA, 1999), destaca-se como recurso pesqueiro e fonte de renda para milhares de pescadores da costa brasileira (RODRIGUES, 2000).
44
A produção e comercialização da carne é uma atividade bastante explorada em alguns municípios do estado do Pará e a obtenção do produto se dá pela extração manual, realizada por várias famílias as quais, em sua maioria, não possuem hábitos adequados de higiene (MIYAKE, 2008). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
A contaminação da carne do caranguejo pode ocorrer por manuseio descuidado por parte dos pescadores, pelo inadequado acondicionamento e pela longa trajetória desde a captura até o consumo (César, 2002). O Centro de Pesquisa Pesqueira do Litoral Norte – Cepnor/Ibama apud Miyake (2008) fez uma estimativa da produção em 4.678.500 toneladas no estado do Pará, no ano de 2004. Em 2005, os dados foram de 5.652.000 toneladas, representando 6,8% do total da atividade pesqueira no estado. A quase totalidade da produção destina-se à região metropolitana de Belém, que inclui também os distritos de Icoaraci, Mosqueiro e o município de Ananindeua. Uma parcela do produto é destinada ao consumo do tirador e de sua família, uma pequena quantidade é colocada à venda no mercado municipal, cabendo notar que alguns produtores, em épocas como: carnaval, semana santa e no mês de julho, separam parte da captura para vender em suas casas (MANESCHY, 1993). Miyake (2008) ressaltou a qualidade higiênicosanitária como fator de segurança alimentar amplamente estudada e discutida, pois as doenças vei culadas por alimentos são fatores contribuintes para os índices de morbidade na América Latina. Leitão (1988), ao comparar outros alimentos de origem animal com a carne de caranguejo, descreve que esta pode sofrer processos variados de deterioração como atividades de enzimas autolíticas, processos de rancificação de gorduras e principalmente a atividades de microorganismos, presentes em sua superfície e no trato intestinal. Embora os fatores de deterioração variem em função da decomposição do pescado, condições de captura e estocagem e intensidade de manuseio, sabe-se que a atividade microbiana é um dos principais fatores determinantes da vida útil desse alimento. Não existindo legislação voltada para estabelecer padrões higiênico-sanitários na cadeia produtiva da carne de caranguejo, torna-se necessário fazer análises bacteriológicas, físico-químicas e sensoriais deste produto, objetivando mensurar os riscos para o consumidor e para a tomada de medidas preventivas. O objetivo deste estudo foi avaliar as condições microbiológicas, sensoriais e o pH da carne de caranguejo-uçá comercializada nos municípios de Belém e de Maracanã.
MATERIAL E MÉTODOS
COLETA DAS AMOSTRAS
Foram coletadas amostras de carne (massa) e pata de caranguejo nos estabelecimentos comerciais de alimentação nos municípios de Belém e Maracanã, sendo Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
vinte amostras no período de março a abril de 2006 e sete no mês de agosto de 2007, respectivamente. Todas as amostras, de 1 kg, foram coletadas por técnicos do nível central-Sespa, transportadas em sacos plásticos apropriados em caixas isotérmicas com gelo e levadas ao Laboratório Central do Estado do Pará (Lacen-PA). Outros dados para a realização deste trabalho foram retirados de planilhas do arquivo da Secretaria de Saúde do Estado do Pará – Sespa – Departamento de Vigilância Sanitária –Visa, fornecidos pelas Medicas Veterinárias do setor.
ANÁLISES DAS AMOSTRAS Análise de pH Primeiramente, foi aferido pH neutro com solução tampão: pH 7 a 20°C; em seguida, foram colocadas cerca de 350 g de amostra preparada em um béquer de 100 mL e adicionada quantidade mínima de água destilada fervida recentemente. Posteriormente, foram feitas as leituras diretamente no pHgâmetro. Análises das características sensoriais As análises das características sensoriais foram baseadas no regulamento do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa, art. 442) que estabelece que os crustáceos, pescado fresco próprio para consumo, devem possuir aspecto geral brilhante, úmido; coloração própria da espécie, sem qualquer pigmentação estranha; cheiro próprio e suave. Análise microbiológica Os padrões microbiológicos para a carne de caranguejo foram baseados na atual legislação brasileira (RDC nº 12/2001 – Anvisa), pela qual devem ser realizadas análises de coliformes fecais (coliformes a 45º/g), Staphylococcus aureus (Estafilococos coagulase positiva) e Salmonella sp/25 g. Os resultados obtidos foram comparados aos estabelecidos por esta resolução cujo produto pode estar: 1) de acordo com os padrões legais vigentes, quando apresentar resultados abaixo ou igual ao estabelecido para amostra indicativa e 2) impróprio para o consumo humano, quando demonstrar resultados acima dos limites estabelecidos; presença de outros microorganismos patogênicos ou de toxinas que representem riscos à saúde do consumidor. Enumeração e Identificação de Staphylococcus aureus A determinação de S. aureus realizou-se por meio do método de plaqueamento em superfície, a partir
45
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
de 25 g da amostra diluída em 225 mL de Solução Tampão de Butterfield (10-1). A partir desta, outras diluições de 10-2 e 10-3 foram preparadas em 9 mL do mesmo tampão e inoculadas (0,1 mL) em placas de ágar Baird Parker (BP) a 35ºC/24-48h. DETERMINAçÃO DO NúMERO MAIS PROVÁVEL (NMP) DE COLIFORMES FECAIS (CF) Este grupo foi enumerado a partir da técnica dos tubos múltiplos ou NMP, recomendada pela America Public health Association (Apha). Para a inoculação, foram utilizados os caldos Lauril Sulfato (LST) a 35ºC/48h e o de Escherichia coli a 44,5ºC/24 h como meios considerados presuntivos e confirmativos, respectivamente, para os coliformes fecais. DETECçÃO DE SALMoNeLLA SP A metodologia para a detecção de Salmonella sp. utilizou quatro etapas: 1) pré-enriquecimento de 25 g da amostra em 225 mL de água peptonada (APT), 2) enriquecimento nos caldos Selenito-Cistina e Rappaport-Vassiliadis, 3) plaqueamento em meios seletivos-indicadores (SS, hE, XLD) e caracterização bioquímica. Durante a realização dos testes bioquímicos foram utilizados como controle cepas-padrão de Salmonella enteritidis.
resuLtados e disCussão No presente estudo foi constatado que todas as amostras apresentavam níveis microbiológicos aceitáveis de acordo com a Resolução RDC nº 12 de 12 de janeiro de 2001 da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como mostra a tabela 1. Oliveira (1997) encontrou resultado semelhante aos dados apresentados no presente estudo, ao analisar 15 amostras de carne congelada de caranguejo-uçá coletadas nos mercados e feiras livres do município de Belém-PA, encontrando valores para coliformes fecais < 1,0 x 102 UFC/g e ausência total de Salmonela sp em 25 g da amostra, estando tais amostras em condições higiênico-sanitárias adequadas para o consumo humano. Da mesma forma, Lourenço et al. (2006), ao analisar a carne in natura deste crustáceo, constataram ausência de Salmonella sp nas dez amostras
coletadas no município de Belém e presença do microorganismo em apenas 20% das dez amostras coletadas em São Caetano de Odivelas. Porém, constataram níveis de coliformes fecais e Staphylococcus aureus acima do permitido pela Anvisa, em ambas as cidades. Esses resultados, segundo Silva et al. (1997), podem acontecer em função de vários fatores desfavoráveis à Salmonella sp no alimento, como a existência de microbiota competitiva e cepas de Salmonella sp em números reduzidos e/ou injuriadas pelo processo de preservação, entre eles o congelamento. Devido aos fatores desfavoráveis descritos em relação a este micro-organismo, Grisi e Lira (2007) constataram presença de Salomella sp em apenas duas das 12 amostras coletadas na cidade de Cabedelo-PB. Para Santos e Santos (2008), a velocidade de congelamento influi de forma importante na viabilidade microbiana. A velocidade de congelamento baixa (0,15-0,2°C por minuto) implica em maior morte microbiana devido a características como: formação de cristais extracelulares; migração de soluto as frações líquidas; diminuição da atividade de água (Aw); saída de água do interior dos microorganismos e as grandes tensões osmóticas entre as frações líquidas e o interior das células microbianas levando a ruptura da membrana. Porém, é importante ressaltar que este procedimento, apesar de causar inativação, não higieniza a carne. Por outro lado, o presente trabalho corrobora os achados de César (2002) que, ao analisar a carne de caranguejo-uçá em dois municípios litorâneos do estado do Pará, constatou que 12 das 30 amostras apresentavam níveis de coliformes fecais acima do limite estabelecido pela legislação em vigor. A ocorrência total de S. aureus nestas amostras foi de 40% e Salmonella de apenas 6,66%. Lima (1999), também detectou uma alta incidência de coliformes fecais em suas amostras, cujos valores médios foram de 2,0 x 106 e 9,8 x 102 NMP/g. Em relação aos valores de ph, foi verificado que todas as amostras analisadas estavam com ph elevado, demonstrado na Tabela 2, caracterizando-se como alteradas e indicando produto em processo de deterioração.
Tabela 1. Concentrações bacterianas na carne beneficiada do caranguejo-uçá nos municípios de Maracanã-PA e Belém-PA – 2006/2007 (Número Mais Provável de Coliformes Fecais NMP/g e Unidade Formadora de Colônia de Staphylococcus aureus UFC/g).
46
Municípios
Nº Amostras
Coliformes fecais
Staphylococcus aureus
Salmonella sp
Maracanã
7
NMP< 3g = Satisfatório
< 102 UFC/g = Satisfatório
Ausência em 25 g
Belém
20
NPM< 3g = Satisfatório
< 102 UFC/G = Satisfatório
Ausência em 25 g
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Tabela 2. Valores do pH das amostras de carne de caranguejo comercializadas nos municípios de Maracanã-PA e Belém-PA – 2006/2007. Municípios Maracanã
Belém
Nº Amostras
pH
4
9.0
3
8.0
15
8.0
1
8.5
4
9.0
De acordo com Leitão (1988), alimentos pouco ácidos apresentam uma microflora bastante variada com condições para o desenvolvimento de um grande número de bactérias. No presente trabalho, apesar de não se ter encontrado contaminação microbiana relevante nas amostras analisadas, os valores de pH foram elevados, sinalizando que todas as amostras estão impróprias para consumo, segundo o que regulamenta o Riispoa (art. 446. alínea 2): “o pH da carne externa deve ser inferior a 6,8 e da interna inferior a 6,5 nos peixes”. No art. 445, alínea 9: “considera-se impróprio para consumo o pescado que não se enquadrar nos limites físicos e químicos fixados para o pescado fresco”. Grisi e Lira (2007) encontraram valores de pH semelhantes ao presente trabalho, em torno de 7,9 e 8,4, para a carne de caranguejo, in natura, nas feiras de João Pessoa-PB e Cabedelo-PB, respectivamente. Valores de pH ainda mais elevados foram achados por César (2002) que encontrou valores entre 8,0 e 9,0, cuja média variou em torno de 8,4 para o município de São Caetano de Odivelas-PA e em torno de 8,2 para a vila de Caratateua/Bragança-PA. No que diz respeito às características sensoriais, demonstradas na Tabela 3, as amostras provenientes do município de Maracanã foram todas satisfatórias para o consumo, porém a maioria das amostras coletadas no município de Belém foram consideradas impróprias. Araújo (1999) relata que a carne de caranguejo elaborada é acondicionada em saco plástico e estocada em freezer ou refrigerador doméstico por período variado entre três dias a um mês, sendo este tempo suficiente para ocorrerem mudanças
nas características físicas e químicas. Ogawa (1973) analisou o pH de carnes de caranguejo e descobriu que todos os lotes sofreram modificações no 30º dia de estocagem. De acordo com Tononi (2009), o congelamento lento, aquele realizado pelo refrigerador doméstico, produz cristais de gelo muito grandes que no descongelamento irão danificar a estrutura do pescado, tais como textura e cor. Tendo em vista a íntima relação entre as características físico-químicas e sensoriais deste produto, acredita-se que as amostras impróprias encontradas em Belémtêm como causa o maior tempo de armazenamento em gelo, proveniente de congelamento lento e possíveis variações de temperatura (CÉSAR, 2002). Reporta-se, ainda, que o maior problema da pesca artesanal é a conservação do pescado, dada a carência de infraestrutura na distribuição até o consumidor final, isto é, falta de caixas para o acondicionamento do produto, gelo e transporte isotérmico ou ausência de conhecimentos dos atravessadores e consumidores de modo geral, havendo a necessidade de uma campanha educativa em nível regional, sobre manipulação do pescado, para assegurar-lhe todas as características próprias (OGAWA e MAIA, 1999). Dessa forma, acredita-se que, em relação às características sensoriais, as amostras analisadas provenientes do município de Maracanã foram todas próprias para consumo devido, dentre outros, ao menor tempo de congelamento e à ausência ou menor variação de temperatura durante o armazenamento.
CONCLUSÕES Não contaminação microbiana relevante nas amostras analisadas, mas os valores de pH elevados, sinalizaram que todas as amostras estão impróprias para consumo. Há boa qualidade microbiológica em relação a bactérias patogênicas da carne de caranguejo comercializada nos municípios. Mas é necessário monitoramento microbiológico do produto, bem como orientação aos catadores e manipuladores ao longo
Tabela 3. Características sensoriais da carne beneficiada do caranguejo-uçá nos municípios de Maracanã-PA e Belém-PA – 2006/2007, analisadas segundo o Riispoa. Município
Aspecto/Amostra
Cor/Amostra
Sabor/Amostra
Odor/Amostra
Maracanã
Própria (7)
Própria
Não Analisado
Próprio
Belém
Próprias (2) Alteradas (18)
Característicos (04) Alterados (16)
N/A
Característicos (04) Alterados (16)
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
47
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
de toda a cadeia de processamento para que adotem cuidados higiênico-sanitários. Parte das amostras de carne de caranguejo, provenientes do município de Belém, estava imprópria
para consumo devido ao maior tempo de armazenamento em gelo, considerando o congelamento lento e possíveis variações de temperatura durante o transporte e distribuição.
Referências Bibliográficas ARAÚJO, M. D. A catação do caranguejo -uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), no município de São Caetano de Odivelas-Pará: aspectos socioeconômicos, descrição do beneficiamento artesanal e composição química. 1999. 28f. Monografia (Especialização em Ecologia e higiene do Pescado). Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Belém, 1999. BRASIL Resolução RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001a. Anvisa. Aprova o Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Disponível em:< http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/ showAct.php?id=144>. Acesso em: 04 de Abr. 2009. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Legislação. SisLegis. Decreto nº 30.691, de 29 março de 1952. Aprova o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (Riispoa). Disponível em: hTTP: extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao. Acesso em: 4 de Abr. 2009.
GRISI, T. C. S. L. de.; LIRA, K. G. Ocorrência de bactérias patogênicas em carne de caranguejo (Ucides cordatus), comercializada em feiras-livres de João Pessoa e Cabedelo, PB. Revista higiene Alimentar v.21, n.154, p. 69-70, 2007. LEITÃO, M. F. F. Microbiologia e deterioração do pescado fresco e refrigerado de origem fluvial e marinha. Campinas. Ital. 1988. 40p. LIMA, T. C. S. Ocorrência de bactérias patogênicas na carne do caranguejo-uçá (Ucides cordatus), água e sedimentos do mangue do Rio Paraíba do Norte-PB. João Pessoa: UFPB, 1999. Dissertação de Mestrado, 1999. LOURENçO, L. F. h. de. Análises físicoquimicas e microbiológicas de carne de caranguejo-uçá Ucides cordatus (linnaeus, 1763), comercializada nos municípios de São Caetano de Odivelas e Belém-PA. Revista higiene Alimentar v.20, n.142, p. 90-95, 2006.
CÉSAR, K. L. V. Análise higiênico-sanitária da carne do caranguejo-uçá, comercializada em dois municípios litorâneos do estado do Pará. 2002. 81 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Mestrado em Doenças Tropicais, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Pará, Belém, 2002.
MANESSChY, M. C. Pescadores nos manguezais: estratégias técnicas e relações sócias de produção na captura de caranguejo. In: FURTADO, L.; LEITÃO, W.; MELO, A. F. Povos das águas: realidade e perspectivas a Amazônia. Belém: MPEG, 1993. p. 19-61.
CINTRA, I. h. et al. A catação do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1973) no Município da São Caetano de Odivelas-Pará: Aspectos socioeconômicos, descrição do beneficiamento artesanal e composição química. In: Conbep, 11, Recife, 1999. Anais... Recife, 1999, p. 323-330.
MIYAKE, S. T. M. Avaliação das Boas Práticas de Fabricação (BPF) durante a obtenção da carne de caranguejo-uçá, ucides cordatus (Linnaeus, 1763). Monografia –UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia. 54f. TCC –Curso de Medicina Veterinária. Belém, 2008.
OGAWA,M.; MAIA, E. L. Manual de pesca: ciência e tecnologia do pescado. v.1. São Paulo: Varela, 1999. 412p. OGAWA, M.; ALVES, T. T.; NORONhA, M. C. da.; ARARIPE, C. A. E.; MAIA, L. E. Industrialização do caranguejo-uçá, Ucides cordatus (linnaeus). I – Técnicas para o processamento da carne. Arquivo de ciências do mar, v.12, n.1, p. 31-37, 1973. OLIVEIRA, C. F. de. Aspectos da bioecologia e composição química aproximada da carne de caranguejo-uçá, Ucides cordatus (Linnaeus, 1763), comercializada no município de Belém-Pará. 1997. 28f. Monografia (Especialização em Tecnologia do Pescado). Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Belém, 1997. RODRIGUES, A. M. T. Exploração do caranguejo Ucides cordatus (Decapoda: Ocypodidae) e o processo de gestão participativa para a normatização para a normatização da atividade na região Sudeste-Sul do Brasil. Boletim do Instituto de Pesca v.26, n.1, p. 63-78, 2000. SANTOS, T. M.; SANTOS, W. L. M. Conservação de carnes pelo frio. PuBVET v.2, n.25, art. 263, 2008. SILVA, N.; JUNQUEIRA, V. C. A.; SILVEIRA, N. F. A. Manual de métodos de análise microbiológica de alimentos. São Paulo: Varela, 1997. TONONI, J. R. Indústria do pescado. 2009. Disponível em: <http://www. vix.sebraees. com.br/arquivos/biblioteca>. Acessado em: 6 de abril de 2009.
Dados dos Autores SAMMy MAChADO ABuD Médico Veterinário Sanitarista, CRMV-PA nº 1937. Fiscal de Vigilância Sanitária do Município de Marituba –PA. sammyabud@yahoo.com.br; sammyabud@hotmail.com LEANDRO LOPES RAMOS Médico Veterinário, CRMV-PA nº 1965. Fiscal Agropecuário da Agencia de Defesa e Inspeção Agropecuária do Estado do Pará. PAuLO SéRGIO RODRIGuES SANTANA Médico Veterinário, CRMV-PA nº 1928. Fiscal Agropecuário da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Estado do Amapá. SEBASTIÃO TAVARES ROLIM FILhO Médico Veterinário, CRMV-PA nº 1604. Professor Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA.
48
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Estudo comparativo dos diferentes cortes de carne bovina entre EUA e Brasil Comparative study of different cuts of beef between the USA and Brazil Resumo Analisando os cortes de carnes comumente comercializados nos EUA e no Brasil nota-se uma enorme diferença entre eles. Essa revisão de literatura foi feita com o objetivo de esclarecer cientificamente esta questão. As diferenças começam no momento da separação dos quartos dianteiro e traseiro, onde, nos EUA, o corte é feito entre a 12ª e 13ª costelas, enquanto, no Brasil, esse corte é entre a 5ª e 6ª costelas. A disparidade continua no decorrer do processamento da carcaça, e isso é devido, principalmente, a utilização de cortes mecânicos pelos norte-americanos e cortes manuais e mais anatômicos pelos brasileiros. Essas diferenças ocorrem principalmente pela preferência do consumidor. Concluindo, independente das dificuldades para a elaboração de um determinado produto, este somente será produzido ser houver demanda para tal. Palavras-chave: padronização de cortes, carne bovina, carcaça bovina
Abstract Resumo Analyzing the meat cuts commonly sold in the USA and Brazil one could easily noticed a huge difference between them, so this reveiw was done to scientifically clarify this question. The difference begin when separating the quarters, the hindquarter from the forequarter; while this separation in the US is done at the 12th and 13th rib, in Brazil is done at the 5th and 6th rib. In addition to this disparity, there are many more differences along the carcass processing due to mainly the use of mechanical equipment by North-Americans and labor force by the Brazilians which the last one will generate a more anatomical cut. These differences manly occur due to dissimilarities between consumers taste and preference. In conclusion, a country will produce a product based on the demand for it, independent of the difficulties associated with it. Keywords: bovine meat, bovine carcass, cuts standardization
Introdução Consumidores de toda parte do mundo sabem o que querem quando vão às compras, ou seja, buscam produtos de qualidade. Em sua maioria, produtos agrícolas como verduras e frutas são comercializados de forma padronizada, pois são vendidos in natura, mas produtos de origem animal Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
variam conforme o mercado. Neste artigo, baseado nesta particularidade de mercado, serão discutidas algumas diferenças entre os cortes de carne bovina comercializados nos Estados Unidos e no Brasil. A produção de carne bovina tem sofrido alterações no decorrer dos anos, reflexo da mudança no perfil do consumidor, que passou a ser mais
49
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
exigente, procurando por produtos seguros e com alto valor nutricional. Outro fator é a competição com outras carnes, como a suína e a de aves, que são, normalmente, mais baratas e padronizadas, em parte em função de maiores investimentos na padronização quando comparado com o setor bovino (EMBRAPA GADO DE CORTE, 2009). Cada país tem seu modo de produção, que é guiado pela exigência do mercado consumidor e características específicas de cada sistema produtivo. Aqui no Brasil, a Portaria nº 5, de 8 de novembro de 1988, aprovou a Padronização dos Cortes de Carne Bovina, proposta pela Divisão de Padronização e Classificação de Produtos de Origem Animal (Dipac). Por exemplo, os cortes de carnes no Brasil são diferentes dos seus principais concorrentes expor tadores, EUA e Austrália. Uma das razões dessa diferença é o alto custo da mão de obra nesses dois últimos países, o que leva à maior utilização de máquinas e, consequentemente, cortes menos específicos. Frigoríficos brasileiros utilizam mais cor tes manuais do que os americanos, processando, obviamente, menos carcaças por dia. Outra explicação são as diferentes colonizações (inglesa x portuguesa) que reflete em diferentes formas de se preparar a carne. A carcaça estando limpa e dividida ao meio, inicia-se o processo de cortes. Nos EUA, quartos dianteiro e traseiro são separados por corte perpendicular à coluna vertebral entre a décima segunda e a décima terceira costelas. No Brasil, essa divisão é feita entre a quinta e a sexta costelas. Com os quartos separados, no Brasil é usado o corte mecânico somente para separar as costelas dos quartos, e os demais cortes são todos feitos à mão, enquanto nos EUA os cortes são totalmente automatizados (MEATS CUTS AND MUSCLE FOODS, 2000). O quarto dianteiro ou “forequarter” nos EUA é separado em “Chuck” e “Primal-rib” entre a quinta e a sexta costelas e estes são separados em “Brisket” e “Plate”, respectivamente, por meio de corte feito paralelo à coluna vertebral. O “Rib steak” é dividido em “Rib cuts” (Rib-eyes), compostos pelos Spinalis dorsi e Longissimus dorsi. O “Chuck” é cortado em cortes paralelos à quinta costela, o “Arm steaks” é formado por cortes perpendiculares ao úmero;, o “Shank” é feito com cortes perpendiculares aos ossos rádio e ulna, e o “Plate” pode ser cortado em cubos com pequenos ossos das costelas (THE MEAT BUYERS GUIDE, 1992 e POPESKO, 1990.
50
No Brasil, o dianteiro é todo desossado com cortes manuais, exceto quando se separa a costela. Inicia-se com a retirada da Paleta, quando é extraída a Pá, constituída pela escápula, úmero e músculos correspondentes, os quais darão origem aos seguintes cortes: Raquete (Infraspinatus), Peixinho (Supraspinatus) e Coração da Paleta (Tríceps brachii). Os músculos extensores e flexores são desossados, dando origem ao Músculo do dianteiro. Retirada a Paleta, temos no dianteiro: Pescoço, Acém (Trapezius, Rhomboideus e Serratus ventralis), Costela do dianteiro e Peito. Em animais Bos indicus, a parte superior dos músculos Trapezius e Rhomboideus pode ser separada, dando origem ao corte Cupim (SEBRAE, 1999 e POPESKO, 1990. O quarto traseiro ou“hindquarter”, nos EUA, é dividido em “Loin”, “Sirloin”, “hip” e “Flank”. Este é separado por um corte iniciado na parte anterior do Rectus femoris, ponto onde o Tensor fasciae latae está mais distendido, tendo como fim a décima segunda costela, aproximadamente 20 cm da coluna vertebral. O “Round” é separado do “Rump” por um corte iniciado 1 cm distal do Ischium, ou ísquio, terminando próximo à cabeça do fêmur. O“Rump”é separado do“Sirloin”por um corte entre a quarta e a quinta vértebra sacral. O “Loin” é separado do “Sirloin” entre a quinta e a sexta vértebra lombar. Os “Loin steaks” são cortados perpendicularmente à coluna vertebral, onde o corte mais anterior é chamado “Wing” ou “Club steaks”, tendo como conteúdo muscular o Longissimus dorsi (JONES et al., 2004). Em seguida o “T-bone steaks” é incrementado por um novo músculo, o Psoas major, cujos dois ou três últimos bifes são os “Porterhouse steaks” que, além dos dois últimos músculos citados, é incluído o Psoas minor. Aqui, quando retiradas as vértebras cria-se um novo corte chamado de “New-York Strip-Loin” (JONES et al., 2004). O “Sirloin” é dividido em quatro cortes perpendiculares ao Ilium, ou ílio: 1) Pin bone, 2) Flat bone ou Double bone, 3) Round bone e 4) Wedge bone. O “Rump” pode ser usado com os ossos ou sem (“Boneless Rump”). O “hidlimp” pode ser cortado com um corte completo, perpendicular ao fêmur, englobando todos os músculos ou serem feitos cortes paralelos criando o “Inside” ou “Top Round” (Semimembranosus and Adductor) e o “Outside” ou “Bottom Round” (Semitendinosus e Biceps femoris). Algumas vezes, o Semitendinosus é removido formando o “Eye of The Round” (ThE MEAT BUYERS GUIDE, 1992 e POPESKO, 1990.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
O traseiro, no Brasil, é dividido em Lombo, Alcatra, Coxão e Ponta de Agulha. O único momento em que se usa um corte mecânico é na separação desse último, restando o Traseiro-Serrote. O Lombo é separado do Traseiro-Serrote na sexta costela até a face anterior do Ilium, englobando todo o músculo Longissimus dorsi. Do lombo retiram-se os ossos, remanescendo o Contrafilé, este então dividido em Filé-de-Costela, que vai da sexta à décima costela, e Filé-de-Lombo, que vai da décima primeira ao início do Ilium. Dos músculos superficiais do Filé-de-Costela (Trapezius e Rhomboideus) é removida a Capa-de-Filé. Os músculos Psoas major, Psoas minor e Iliacus também são separados do Lombo, formando o Filé Mignon. Bistecas são cortes formados por qualquer parte do Lombo e o Tibone são bifes retirados apenas da parte lombar. Do traseiro especial é separada a Alcatra, onde são incluso os mús c u l o s G l u te u s , Te n s o r fa s c i a e l a t a e e B í ce p s femoris (Picanha). A parte remanescente após a retirada da Alcatra é o Coxão, do qual são subtraídos os demais cortes: Coxão Duro (porção do Biceps femoris), Lagarto (Semitendinosus), Patinho (todo o grupo Quadriceps femoris: Rectus femoris, Vastus medialis, Vastus intermedius
e Vastus lateralis), Músculo-Mole (Gastrocnemius e músculos associados), Coxão Mole (Pectineus, Adductor, Semimembranosus, Gracilis e Sartorius) e Músculo-Duro (extensores e flexores ao redor da tíbia). Ponta de agulha é a região remanescente composta pela costela do traseiro e vazio (flanco), cujo músculo Obliquus abdominus internus recebe o nome de Fraldinha (CARNES E CORTES, 1999 e POPESKO, 1990.
Conclusão e Discussão Existem aqueles que defendem a unificação dos cortes de carne bovina, pois isso facilitaria o comércio internacional e simplificaria a comunicação entre exportadores e importadores, porém não se muda facilmente tradição por trás de cada corte. Cada país possui suas dificuldades para produzir, podendo tornar o produto mais, ou menos oneroso. Porém, o grande gerenciador não são os custos de produção, mas, sim, o mercado, consumidor. Na sala de desossa de um frigorífico exportador, nota-se o processamento de diferentes tipos de cortes ao mesmo tempo, cada um de acordo com o pedido do país importador.
Referências Bibliográficas EMBRAPA. Gado de Corte- http://www. cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/ doc107/028.html. Acessado em 16/12/09. JONES, S.J., Guru, A., SINGH, V., CARPENTER, B., CALKINS, C.R., and Johnson, D. BOVINE myology and muscle profiling, 2004, disponível em http:// bovine.unl.edu
MEATS CUTS AND MUSCLE FOODS, 1a edição, Nottingham, Howard J Swatland, 2000. POPESKO, Peter. Atlas de anatomia topográfica dos animais domésticos, vol. II e III, Editora Manole, 1990. PORTARIA Nº 5, de 8 de novembro de 1988 em http://extranet.agricultura.gov.
br/sislegis-consulta/consultarLegislacao SEBRAE. Carnes e cortes. Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas do Estado de São Paulo, 1999. THE MEAT BUYERS GUIDE, National Association of Meat Purveyors, 3a edição, 1992.
Dados dos Autores Gustavo Durante Cruz Zootecnista – pós-graduando da Universidade da Califórnia, Davis gusdcruz@gmail.com Guilherme Durante Cruz Médico Veterinário – CRMV-SP nº 18.787, Departamento de Patologia Unisa Fernando Cintra Lopes Carapeto Médico Veterinário – CRMV-SP nº 22.579 Roberto D. Sainz PhD Nutrição Animal – Universidade da Califórnia, Davis Animal
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
51
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
ESTERILIzAçÃO CIRúRGICA DE CÃES E GATOS NO MuNICíPIO DE ANÁPOLIS, GOIÁS, NO PERíODO DE 2010 A 2012 surGiCal sterilization of doGs and Cats in anÁpolis City – GoiÁs in 2010 to 2012 Resumo Avaliaram-se campanhas de esterilização cirúrgica de cães e gatos no município de Anápolis (GO) no período de 2010 a 2012 realizadas pelo Centro de Controle de Zoonoses e entidades privadas. Foram pré-cadastrados por telefone os proprietários interessados, e realizada visita domiciliar para cadastramento definitivo. Para cada ação foi pré-estabelecido um número de animais a serem castrados de acordo com disponibilidade de material e de profissionais. Para realização dos procedimentos cirúrgicos foram utilizadas as instalações do hospital Veterinário da Faculdade Anhanguera de Anápolis. Foram castrados 243 animais e os resultados quantificados segundo espécie e sexo. houve aumento no número de fêmeas castradas após a primeira ação. Observou-se a necessidade de maior conscientização dos proprietários sobre posse responsável. Verificou-se a necessidade de cadastrar um quantitativo 30% superior a meta. Palavras-chave: castração, cão, gato, controle populacional
Abstract Resumo Were evaluated the campaigns of surgical sterilization of dogs and cats in the city of Anapolis (GO) in the period of 2010 to 2012, initiative of the Zoonosis Control Centre with participation of private entities. The interested owners were pre-registered by phone and a home visit was performed for final registration. For each action a number of animals to be spayed were predetermined according to material and professionals availability. Were used the facilities of the Veterinary hospital of the Anhanguera College in Anapolis to perform the surgical procedure. 243 animals were spayed and the results were quantified according to species and sex. There was an increase in the number of spayed females after the first action. There is a need for greater awareness among owners about responsible ownership and the castration importance. It was found that to spay the desired number of animals would need to register an amount exceeding 30% the target. keywords: castration, dog, cat, population’s control
introduÇão A convivência entre homem e animal tem aumentado consideravelmente, estreitando sobremaneira a relação entre as duas espécies, principalmente, os animais ditos de companhia como o cão e o gato, que contribuem para o bem estar humano através de sua simples presença. Muitos proprietários criam seus animais com
52
qualidade de vida oferecendo-lhes alimentação adequada, cuidados médicos e, sobretudo, amor. No entanto, nem todas as pessoas têm esse mesmo comportamento, muitos criam os animais deixando-os abandonados à própria sorte, soltos pelas ruas, expostos a perigos diversos, contribuindo para um problema urbano crescente. Esses animais podem ser vítimas e causadores de Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Arquivo do autor
acidentes, podem agredir pessoas e tornarem-se fontes de doença para a própria espécie e para o ser humano (MORAIS et al., 2008). Um dos fatores que leva ao abandono de animais é o cruzamento indesejável. Na maioria dos casos, os proprietários não sabem o que fazer com as ninhadas; algumas vezes dão em adoção, outras “descartam” os animais, ainda filhotes em logradouros públicos, levando esses à morte por atropelamento, fome ou doenças. O controle de natalidade de animais de companhia é uma ferramenta importante no controle populacional de cães e gatos, visto as fêmeas são Figura 1. Programa de esterilização de cães e gatos realizado pelo CCZ de Anápolis (GO). pluríparas de gestação curta, com grande potencial de produção de proles numerosas machos. É recomendada para evitar ou corrigir que podem atingir a maturidade sexual a partir de doenças dependentes de hormônios sexuais e neseis meses de idade (VIEIRA, 2008). oplasias em trato reprodutivo. Auxilia no controle A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma de doenças transmissíveis entre animais, como o que atividades isoladas de recolhimento e eliminaTumor Venéreo Transmissível (TVT) e no combate ção de cães e gatos não são efetivas para o controle de zoonoses (CARVALHO et al., 2007). da população. Deve-se atuar na causa do problema: Com o intuito de minimizar o problema consti a procriação animal sem controle e a falta de restuído pelas crescentes populações de cães e gatos ponsabilidade do ser humano quanto à sua guarda nas cidades têm surgido programas de controle (WHO, 1990). O sacrifício em massa é realizado a por parte de ONGs e associações, e também algulongas datas e, isolado, nunca se mostrou eficiente mas prefeituras, onde o foco é esterilizar animais no controle populacional de cães e gatos (COSTA, de pessoas de baixa renda, que não têm condições 2004). Além de ineficaz, em trabalho realizado de contratar o serviço de clínicas particulares. Essa por Cáceres (2004) foi verificado que o custo da medida tem contribuído para a diminuição de esterilização de uma cadela correspondeu a 68,5% animais errantes, mas ainda não é suficiente para do valor da eutanásia deste animal pelo Centro de evitar o recolhimento e sacrifício de animais pelos Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo, levando CCZs (COSTA, 2004). também à dúvida de sua acessibilidade. Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar Ainda, segundo a OMS (WHO, 1990) o controle e relatar o programa de esterilização cirúrgica repopulacional pode ser efetuado de três formas: resalizado pelo Centro de Controle de Zoonoses no trição de movimento do animal, controle de habitat e município de Anápolis em três ações anuais, de controle da reprodução. 2010 a 2012. (Figura1) Na clínica obstétrica de pequenos animais, a MATERIAL E MÉTODOS esterilização é considerada método de controle No período de 2010 a início de 2012 foram rea populacional de eleição comprovadamente lizadas três campanhas anuais de esterilização efetivo, definitivo e seguro. Esse procedimento cirúrgica em cães e gatos no município de Anápolis cirúrgico consiste na remoção dos testículos em - Goiás. Todas elas realizadas pelo Centro de Controle machos (orquiectomia) e na retirada dos ováde Zoonoses do município e parcerias da Rede Vet rios, tubas e útero, denominada ovariohisterec(Associação de Pet Shops e Clínicas Veterinárias de tomia (OSH) nas fêmeas. Goiás) e Escola de Medicina Veterinária da Faculdade A gonadectomia muitas vezes é realizada com Anhanguera de Anápolis. o intuito de corrigir comportamentos indesejáveis Meses antes das ações foi realizada divulgação dos animais como a agressividade (com outros nas rádios da cidade, convidando os proprietários animais e/ou pessoas) e a perambulação dos
53
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
interessados que ligaram para o CCZ para um précadastro. Após essa primeira etapa um número estipulado de proprietários foi visitado para verificação da condição social, cadastramento definitivo, repasse de informações sobre o procedimento cirúrgico e preenchimento do Termo de Ciência e Consentimento. O número de proprietários selecionados foi relacionado à meta prevista de animais a serem castrados em um dia, diretamente relacionada à disponibilidade de profissionais e materiais, sendo que a quantidade máxima de castração dia foi de 120 e a mínima de 60 animais. Os procedimentos cirúrgicos foram realizados no bloco da técnica operatória do hospital Veterinário da Faculdade Anhanguera de Anápolis. Os animais foram contidos de maneira adequada, visando o bem-estar e em seguida foi aplicada a medicação pré-anestésica, acepromazina a 0,2%. Após a tranquilização foi feita a tricotomia e o animal foi encaminhado para a sala cirúrgica. Utilizou-se o protocolo anestésico: atropina (sulfato de Atropina) + xilazina (cloridrato de xilazina) + cetamina (cloridrato de Ketamina). A técnica cirúrgica utilizada nas fêmeas foi a ovariohisterectomia realizada pela Técnica do Gancho com incisão na linha alba ou no flanco direito, tornando a recuperação menos dolorosa e mais rápida. Nos machos caninos foi feita a técnica de orquiectomia pré-escrotal e nos felinos a orquiectomia escrotal. No pós-cirúrgico foram injetados os fármacos penicilina + associação e anti-inflamatório flunixina meglumina (1,1 mg/kg). Para tratamento domiciliar foram prescritos e doados enrofloxacino (5 mg/kg) para os animais de pequeno porte e amoxicilina + clavulanato (12,5 mg/
2010
kg) para os de grande porte, por seis dias, de 12 em 12 horas e três dias do anti-inflamatório flunixina meglumina. Os animais retornaram com 8 a 10 dias para a avaliação clínica e retirada dos pontos.
resuLtados e disCussão No total foram esterilizados 243 animais, sendo 109 cães (48 machos e 61 fêmeas) e 134 gatos (66 machos e 68 fêmeas). O número de machos (Figura 2) foi maior no primeiro ano do programa devido à inexperiência quanto ao tempo gasto na cirurgia de cada animal, principalmente fêmeas, pois a técnica é mais laboriosa. Além disso, o consumo de material cirúrgico era incerto, por ser doação e houve dificuldade em determinar a quantidade exata de anestésico na indução das fêmeas, devido aos diferentes portes. Dessa forma foi pré-cadastrado número maior de machos em relação ao de fêmeas. Além da busca pelo controle populacional, a castração de animais machos influência, beneficamente, um comportamento menos agressivo e na restrição de território. Machos orquiectomizados, ao contrário dos deferentectomizados, perdem progressivamente a libido, diminuindo, portanto, a possibilidade da formação de grupos de animais, minimizando a ocorrência de brigas, agravos a humanos e transmissão de enfermidades (VIEIRA et al., 2005). Os machos castrados ocupam sempre a posição mais baixa da pirâmide social. Quando um gato é castrado, ele começa a perder posição na comunidade, pois logo após a cirurgia os níveis plasmáticos de testosterona diminuem, tal como o odor acentuado masculino presente na urina (TAYLOR, 2006).
2011
2012 14,0%
13,0%
12,0% 9,5%
9,0% 6,0%
6,0%
5,0% 3,0%
Nº cães machos castrados
11,0%
9,0%
2,5%
Nº cadelas castradas
Nº de gatos machos castrados
Nº de gatas castradas
CCZ/Anápolis Figura 2. Percentagem de animais castrados nos anos de 2010 a 2012, CCZ/Anápolis
54
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
2010
2011
2012 154 128 86
85 46
52
65 30
Cadastro/proprietário
37
57
47
Prop. presentes na ação
100
Cadastro/total animais
Nº de animais castrados
Figura 3. Números de cadastros e ações realizadas nos anos de 2010 a 2012,CCZ/Anápolis CCZ/Anápolis
A maioria dos gatos adotam os muros da casa como fronteiras territoriais, o tamanho do território depende da idade, da condição sexual e da personalidade do animal, as fêmeas e os machos castrados se contentam com áreas menores, enquanto o macho não castrado tem necessidade de patrulhar e defender espaços grandes (FOGLE, 2001) favorecendo assim possíveis procriações. Em 2011 e 2012, já com aquisição de prática, pôde-se diminuir o número de machos e aumentar o de fêmeas castradas. A busca por um maior número de fêmeas castradas deve-se a importância direta desses animais na geração de novos e também na prevenção de prenhez no caso de fuga de domicílio, evitando a reprodução indesejada. A indicação primária para cirurgias do trato reprodutivo é limitar a reprodução, mas também auxilia no tratamento de doenças sistêmicas como diabetes e epilepsia, podem ser realizadas para evitar ou tratar tumores influenciados por hormônios reprodutivos como é o exemplo da neoplasia mamária, que corresponde a aproximadamente metade de todos os tumores observados em cadelas. Embora sua prevalência seja menor em gatas, é o terceiro tipo mais comum. Acometem mais animais idosos com média de dez anos de idade e fêmeas inteiras ou que foram castradas tardiamente (MORAIS e SILVA et al., 2009). A esterilização cirúrgica antes da puberdade ou a partir de oito semanas de vida apresenta as vantagens de evitar o risco da ocorrência da primeira cria dos cães e gatos, além de diminuir significativamente a incidência do tumor de mama nas fêmeas. É um procedimento seguro, mais rápido e de menor custo que nos adultos, e os animais apresentam rápida recuperação. A gonadectomia antes da puberdade diminui a incidência de obesidade nos caninos e a inRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
continência urinária nas cadelas (VIEIRA et al., 2005). A puberdade nas cadelas ocorre entre nove a dezesseis meses de idade (CÁCERES, 2004). A cadela é uma fêmea monoéstrica, isto é, exibe apenas um ciclo éstrico por época reprodutiva. O número anual de épocas reprodutivas depende principalmente da raça, variando entre 1 a 3 (em média 2). Isto significa que não ocorrendo gestação num ciclo, aquela só poderá potencialmente ocorrer na próxima época reprodutiva (seis meses a um ano depois) (ALVES et. al., 2002). Se fosse possível uma gestação por ano, com média de cinco filhotes nascidos vivos, as 61 cadelas castradas evitaram uma média de 300 filhotes ao ano. Pensando nos cães machos castrados, não é possível ter noção de crias evitadas, mas pode-se imaginar o número de fêmeas que não se tornaram gestantes desses 48 cães castrados. As gatas domésticas, geralmente, alcançam a puberdade aos 6-9 meses de idade ou com peso corporal de 2,3 a 2,5 kg (VERSTEGEN, 2000). Como a atividade sexual de gatos de vida livre depende do fotoperíodo, o inicio da puberdade pode ser influenciado pelo período do ano em que a fêmea nasce. Em condições naturais, gatas situadas em regiões temperadas, podem produzir duas a três ninhadas de um a nove filhotes por ano com média entre três a cinco gatinhos por ninhada, sendo a proporção macho:fêmea entre 1:1 a 4:3 (MONTEIRO, 2008). A raça, condição corporal e o número de partos anteriores afetam o tamanho da ninhada (ROOT et al., 1995). Portanto, se fossem possíveis três gestações ao ano, com média de quatro filhotes por ninhada, as 68 gatas castradas no programa evitaram a procriação média de 800 filhotes/ano. Silva et al. (2010) perceberam que muitos dos tutores possuíam em sua residência vários animais da mesma espécie e de sexos diferentes, estes consequentemente reproduziam entre si, por isso
55
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
Total
% 367
243 163 124
114 70
Cadastro proprietário
Prop. presentes na ação
49
66 34
30
Proprietários desistentes
Cadastro/total animais
Nº de animais castrados
Nº de animais ausentes
Figura 4. Número total e percentagens das ações realizadas pelo CCZ/ Anápolis no período de 2010 a 2012.
essas pessoas procuravam os serviços do projeto para castrar os animais visando o controle da natalidade. Já outros possuíam apenas um animal e procuravam a realização da cirurgia evitando que animais de rua procurassem sua fêmea no estro para reproduzir, isso era mais relatado por tutores de felinos, tendo em vista que esses animais possuem maior habilidade de fuga do que os caninos. A procura da cirurgia com o objetivo de reduzir a probabilidade de desenvolvimento de doenças era rara, provavelmente, devido à falta de conhecimento da população a respeito do assunto. Uma das dificuldades encontradas para realização do programa foi a desistência de proprietários no dia da cirurgia dos animais. Nos três anos houve aumento no número de proprietários cadastrados (Figura 3), consequentemente, aumento no número de animais cadastrados e castrados. No entanto, observou-se também aumento no número de desistentes, com proporção média de 30% de desistentes ao ano, ou seja, média de 16 proprietários faltosos em cada ação realizada, o que resultou em 124 animais, 34% dos cadastrados, que não foram castrados por esse motivo (Figura 4). Além dos proprietários que foram cadastrados e não compareceram à ação, houve também aqueles que foram, mas deixaram de levar algum animal cadastrado, influenciando na redução do número de animais que não foram castrados. Na última ação realizada, alguns proprietários não levaram o animal macho cadastrado porque acharam que esse ficaria muito dócil, característica desinteressante em cão de guarda. Silva e colaboradores (2010) relataram dificuldade devido ao preconceito de alguns proprietários, principalmente nas castrações de machos, o que resultou em redução das participações desses nas campanhas feitas em Pernambuco.
56
Outra dificuldade encontrada para realização do programa foi quanto à adesão de veterinários às ações. Nas três campanhas realizadas poucos proprietários retornaram com os animais ao CCZ para retirada dos pontos. Essa baixa ocorrência de retornos motivou contato telefônico com os participantes para constatar sobre ocorrências no pós-operatório. Para formação de amostra representativa foi realizada amostragem aleatória dos cadastros por sorteio, correspondente a 50% dos animais castrados em cada ação. Foram contactados 12 proprietários em 2010, total de 28 animais, com relato de uma complicação. Uma gata absteve de alimento e água após recuperação anestésica e veio a óbito três dias após a cirurgia. O laudo da necropsia relatou debilidade do animal e outras complicações pré-existentes, não detectadas no momento da cirurgia, pois não foram realizados exames prévios para a ação. Em 2011 foram contactados 23 proprietários, total de 43 animais, sem relato de complicação pós-operatória. Uma cadela da raça poodle veio a óbito durante ato cirúrgico devido à anemia pré-existente, não informada pelo proprietário. Foram feitos todos os procedimentos necessários para reanimação do animal, inclusive transfusão sanguínea. Em 2012 foram contactados 28 proprietários, total de 54 animais. Desses uma gata apresentou abscesso subcutâneo, não fistuloso, na região do flanco. O animal estava sem o colar elizabetano devido à rejeição relatada pela proprietária. Foi realizada punção. Segundo Santos et al. (2009) a complicação mais comum durante a realização da ovariohisterectomia é a hemorragia, e entre as encontradas no pós-opeRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
ratório podem ser citadas: hemorragias, ligadura ou trauma ao ureter, incontinência urinária, tratos fistulosos e granulomas, síndrome do ovário remanescente, problemas relacionados à celiotomia, à piometra de coto e a obstruções intestinais.
CONCLUSÕES A redução do tempo gasto em cada castração devido ao aprimoramento dos procedimentos permite o aumento do número de animais cadastrados e castrados. É necessário o cadastro de pelo menos 30% a mais de animais do que se pretende
castrar para compensação de faltosos, sendo necessários equivalência de animais cadastrados e material disponível. Sugere-se orientação dos proprietários sobre a importância da castração e posse responsável, bem como para o controle da população errante, para que haja maior comprometimento e colaboração efetiva. A pequena ocorrência de complicações pós-operatórias favorece a participação dos proprietários, que a cada ação tem mais confiança no procedimento cirúrgico realizado.
Referências Bibliográficas ALVES, I. ; MATEUS, M.; LOPES DA COSTA, L. Monitorização do ciclo éstrico da cadela para inseminação artificial ou cruzamento. In. CONGRESSO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS, Oeiras, 2002. Anais... Oeiras, SPCV, 2002, p. 6.
A. P.; SILVA, R. M. N. Posse responsável de cães: uma questão de consciência. In. ENCONTRO DE EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE, 3 Paraíba, 2008. Anais... Paraíba, 2008.
CÁCERES, L. P. N. Estudo do programa de esterilizações canina e felina no município de São Paulo, período de 2001 a 2003. São Paulo, 2004, 83 f. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Universidade de São Paulo.
MORAIS E SILVA, G. M.; SILVA, V. R.; SILVA, E. N.; ESMERALDO, B. A. M.; COSTA, R. A.; MARVULO, M. F. V.; BATISTA, C. A. V.; CHIORATO, R.; MAGALHÃES, F. J. R.; SILVA, G. C. R. Esterilização e posse responsável de cães e gatos na região metropolitana e agreste de Pernambuco. In. JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 9 Recife, 2009. Anais... Recife, JEPEX, 2009, p. 4.
CARVALHO, M. P. P.; KOIVISTO, M. B.; PERRI, S. L. V.; SAMPAIO, T. S. M. C. Estudo retrospectivo da esterilização em cães e gatos no município de Araçatuba, SP. Revista Ciência em Extensão, v.3, n.2, p. 81-94, 2007. COSTA, R. M. Métodos de esterilização cirúrgica e não cirúrgica no controle populacional de cães e gatos. Salvador, 2004. Monografia (graduação) - Escola de Medicina Veterinária. Universidade Federal da Bahia. FOGLE, B. Entenda seu gato, São Paulo: Globo, 2001, 110p. MONTEIRO, C. L. B. Avaliação da gestação em gatas domésticas: Parâmetros ultrassonográficos, reprodutivos e Perfil biométrico dos filhotes ao nascimento. Fortaleza, 2008. 90 f. Dissertação (mestrado) - Faculdade de Veterinária. Universidade Estadual do Ceará. MORAIS, F. C. S.; FERREIRA, A. F.; MACHADO, P. C. R.; FÉLIX, I. B.; MEDEIROS, M. D.; SOUZA,
POLETTO, R. Ações sobre posse responsável e censo de animais em um bairro – Vila Ipê – que teve alto número de atendimentos anti-rábicos humanos no ano de 2007, no município de Caxias do Sul /RS. In., CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 35 Gramado, 2008. Anais... Gramado, CONBRAVET, 2008, p. 5. ROOT, M. V.; JOHNSTON S. D.; OLSON, P. N. Estrous length, pregnancy rate, gestation and parturition lengths, litter size, and juvenile mortality in the domestic cat. Journal of American Animal Hospital Association, v. 31, p. 429-433, 1995. SANTOS, F. C.; CORRÊA, T. P.; RAHAL, S. C.; CRESPILHO, A. M.; LOPES, M. D.; MAMPRIM, M. J. Complicações da esterilização cirúrgica de fêmeas caninas e felinas. Revisão da
literatura. Veterinária & Zootecnia, v.16, p. 8-18, 2009. SILVA, J. H. C.; SANTOS, W. P. P.; BRANCO, M. C.; ALMEIDA, E. L.; MARANHÃO, F. E. C. B. Histerectomia aplicada na prevenção da reprodução e das patologias em cadelas e gatas. In. JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 10 Recife, 2010. Anais... Recife, JEPEX, 2010, p. 2. TAYLOR, D. Os gatos, São Paulo: Melhoramentos, 2006. 186p., p. 8-10, 26,27. VERSTEGEN, J. Feline Reproduction In. ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine,5th, Saunders, 2000, p. 1585-1598. VIEIRA, A. M. L.; ALMEIDA, A. B.; MAGNABOSCO, C.; FERREIRA, J. C. P.; LUNA, S. L. P.; CARVALHO, J. L. B.; GOMES, L. H.; PARANHOS, N. T.; REICHMANN, M. L.; GARCIA; R. C.; NUNES, V. F. P.; CABRAL, V. B. Programa de controle de cães e gatos do Estado de São Paulo. Boletim Epidemiológico Paulista, n.23, 2005. VIEIRA, A. M. L. Controle populacional de cães e gatos: Aspectos técnicos e operacionais. Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 11, suplemento 1, p. 102-105, 2008. WHO. WSPA. World Health Organization; World Society for the Protection of Animals. Guidelines for dog population management. Geneva, 1990. 116p.
Dados dos Autores Raquel de Sousa Braga Médica Veterinária, CRMV-GO nº 5214. Analista em Saúde Pública/ CCZ de Anápolis (GO). rsbvet@hotmail.com Glauciane de Melo Ferreira Médica Veterinária, CRMV-GO nº 1324. Coordenadora do Centro de Controle de Zoonoses de Anápolis (GO).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
57
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
PITIOSE EquINA: ASPECTOS CLíNICO-EPIDEMIOLóGICOS, DIAGNóSTICOS E IMuNOTERÁPICOS eQuine pythiosis: CliniCal and epidemioloGiCal aspeCts, diaGnosis and immunotherapy Resumo A pitiose equina é uma doença ulcerativa e proliferativa causada pelo oomiceto Pythium insidiosum que afeta primariamente o tecido cutâneo e subcutâneo dos membros locomotores, região toracoabdominal ventral e cabeça dos animais – sítios anatômicos comumente em contato com a água de lagos e banhados contaminados com zoósporos de P. insidiosum. A doença já foi observada em todas as regiões do Brasil e apresenta evolução progressiva crônica, sendo geralmente fatal nos animais não tratados. Não há tratamento quimioterápico eficaz e a excisão cirúrgica de todo tecido afetado apresenta bons resultados em lesões pequenas e superficiais. A imunoterapia é uma alternativa não invasiva que apresenta índices de cura superiores a 70% quando associada com diagnóstico precoce. Palavras-chave: Oomiceto, Pythium insidiosum, terapia
Abstract Resumo The equine pythiosis is an ulcerative and proliferative disease caused by oomycete Pythium insidiosum that primarily affects the skin and subcutaneous tissue of the limbs, thoracic and abdominal regions and head of the animal - anatomical sites commonly in contact with the water of lakes and swamps contaminated with zoospores of P. insidiosum. The disease has been observed in all regions of Brazil, has a chronic and progressive evolution and is usually fatal in untreated animals. There is no effective chemotherapy and surgical excision of all affected tissue shows good results in small and superficial lesions. Immunotherapy is a non-invasive alternative with more than 70% of cure rates when combined with an early diagnosis. key words: Oomycete, Pythium insidiosum, therapy
introduÇão A pitiose equina, também conhecida como ferida da moda, swamp cancer, Florida leeches, bursattee, ficomicose ou dermatite granular é uma doença causada pelo oomiceto Pythium insidiosum, micro-organismo que apresenta similaridades fisiológicas e morfológicas com fungos. Embora microscopicamente o P. insidiosum forme estruturas micelianas, não é um fungo, uma vez que é incapaz de sintetizar ergosterol, componente da membrana
58
plasmática característica dos fungos verdadeiros (MENDOZA, 2009). O homem e diversas espécies de outros mamíferos podem desenvolver a pitiose. No entanto, a maioria dos casos descritos afeta equinos e caninos imunocompetentes, normalmente com formas clínicas cutâneas ou intestinais. O Brasil é local endêmico de pitiose, sendo a região do Pantanal brasileiro considerada como o de maior incidência e prevalência de pitiose equina do mundo (SANTURIO e FERREIRO, 2008). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Fotos: arquivo do autor
A
B
C
D
E
F
Figura 1. Extensa lesão facial ulcerada consequente de pitiose (A e B). A sequência de imagens (C-E) foi obtida em intervalos de 14 dias, coincidindo com a aplicação de imunoterapia (PitiumVac®). Após cinco doses observa-se a lesão cicatricial e completa resolução do caso (F). Adaptado de Santos et al. (2011a).
O desafio no tratamento da pitiose está caracterizado pela severidade da doença em mamíferos (fatal se não tratado) e pelo insucesso terapêutico nos tratamentos com antifúngicos. Considerando que os principais fármacos antifúngicos agem direta ou indiretamente sobre o ergosterol, é compreensível que casos de pitiose não respondam satisfatoriamente ao tratamento. A imunoterapia representa uma alternativa concreta e não invasiva, com resposta clínica favorável em mais de 70% dos casos (MENDOZA e NEWTON, 2005; SANTURIO e FERREIRO, 2008; SANTOS et al., 2011c).
aspeCtos epideMioLÓgiCos da pitiose equina Os casos de pitiose humana e animal são provenientes de regiões de clima tropical e subtropical. Apesar de serem mais diagnosticados na Austrália, Ásia e América Latina, alguns casos são procedentes de áreas temperadas do Japão, Coréia do Sul, Estados Unidos, Oceania e África (MENDOZA, 2009; MENDOZA e VILELA, 2009). O primeiro relato de pitiose equina no Brasil ocorreu no Rio Grande do Sul (SANTOS e LONDERO, 1974) e casos da doença já foram descritos em todas as regiões do País (SANTURIO e FERREIRO, 2008). Embora não haja dados epidemiológicos bem definidos estima-se que a incidência de 1% entre os aproximadamente 120 mil equinos, somente da região do Pantanal, acarretaria em custos com a perda de animais doentes que poderiam alcançar Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
R$ 1.000.000,00 para o ano de 2009 (TOMICh et al., 2010). Santos et al. (2011d) observaram em uma população de 3205 equinos, entre 2009 e 2010, na região do Pantanal norte, incidência de 5,88 a 28,57% de casos de pitiose, com índices de mortalidade e letalidade (similares) variando de 40% a 100% e risco para equinos de 12,5%. O ciclo biológico do P. insidiosum está caracterizado pela colonização de plantas aquáticas, em áreas alagadas ou pantanosas, as quais servem de substrato para o crescimento vegetativo miceliano e formação assexuada de zoósporos biflagelados móveis que se movimentam pela água, encontram outro hospedeiro, encistam e formam novo micélio, iniciando nova colonização. As hifas de P. insidiosum não apresentam capacidade suficiente para penetrar na pele saudável, o que sugere que lesões macro ou microscópicas são necessárias para a infecção ocorrer em homens e animais (SANTURIO e FERREIRO, 2008; MENDOZA, 2009). No panorama deste ciclo biológico, os casos de pitiose estão associados ao contato humano ou animal com áreas onde ocorre acúmulo de água contendo zoósporos (banhados e lagos) e com temperatura ambiental entre 30 e 40ºC. A maioria dos relatos de pitiose animal é descrita em equinos que vivem em áreas pantanosas ou entram periodicamente em açudes ou lagos. No Brasil, distribuem-se principalmente entre os meses de ápice do período chuvoso de cada região. Em humanos, uma maior frequência tem sido observada em
59
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
pacientes talassêmicos tailandeses, onde é comum o trabalho em áreas alagadas de cultivo do arroz (SANTURIO e FERREIRO, 2008; MENDOZA e VILELA, 2009; SANTOS et al., 2011d).
aspeCtos CLÍniCos da pitiose equina Os equinos são os mamíferos mais atingidos pela pitiose, não havendo predisposição de idade, raça ou sexo. As lesões mais características são subcutâneas e apresentamse, principalmente, nas extremidades distais dos membros, porção ventral da parede toracoabdominal e face, as quais representam regiões Figura 2. Excisão cirúrgica de granuloma por pitiose em equino. Numerosos kunkers formados por hifas anatômicas que permanecem maior de Pythium insidosum recobertas por eosinófilos (setas), são observados. tempo em contato com águas contaminadas com os zoósporos de P. no Pantanal brasileiro em que os animais com insidiosum (REIS et al., 2003; SANTOS et al., 2011c; pitiose apresentam emagrecimento progressivo, SANTOS et al., 2011d). com lesões deformantes recobertas com pele esClinicamente, os animais apresentam bom estacurecida e espessa, mas sem a constante saída de do corporal inicial, mas ocorre rápida perda de peso secreções e manutenção do aspecto e tamanho a partir da segunda ou terceira semana de evolução após um ano de observação (SANTURIO e FERdas lesões cutâneas (SANTOS et al., 2011d). As lesões REIRO, 2008; SANTOS et al., 2011d). são ulcerativas, granulomatosas e de aparência A pitiose intestinal representa a segunda forma tumoral, aumentam progressivamente e podem mais comum da doença nos equinos e caracterizaformar massas teciduais com mais de 50 cm de diâse por episódios de cólica devido à presença de metro. O tamanho das lesões é dependente da duramassas tumorais que causam a diminuição ou obsção e do local da infecção e comumente apresentam trução do lúmen intestinal. Os dados de excisão secreção serossanguinolenta, mucossanguinolenta cirúrgica e necropsia mostram ulceração intestinal ou mucopurulenta (Figura 1) e os animais normale massas nodulares que podem atingir até 20 cm mente mutilam a lesão, provavelmente para aliviar o de diâmetro localizadas na parede do jejuno (SANdesconforto do intenso prurido. TURIO e FERREIRO, 2008). As lesões apresentam bordas irregulares e conSecundariamente às lesões cutâneas podem ocortêm hifas recobertas por células necróticas, as quais rer o acometimento ósseo e a disseminação através formam massas branco-amareladas semelhantes a do sistema linfático para os pulmões e linfonodos recorais, conhecidas como kunkers. Os kunkers (Figura gionais. As lesões ósseas geralmente são limitadas aos 2), encontrados no interior de sinus, são formados ossos adjacentes às lesões subcutâneas crônicas dos dentro do tecido granular, medem de 2 a 10 mm de membros, comumente são refratárias aos tratamendiâmetro, têm forma irregular e aspecto arenoso, tos convencionais, caracterizando-se por exostoses, sendo considerados patognomônicos da pitiose áreas de osteólise e sinais de osteomielite ao exame equina. Os kunkers geralmente são facilmente extraíradiológico, além de identificação de hifas em áreas dos ao realizar-se pressão sobre as lesões. de necrose ao exame histopatológico (ALFARO e MENA claudicação é comum entre os cavalos com DOZA, 1990; POOLE e BRAShIER, 2003). lesões nos membros e a maioria dos relatos clíniO envolvimento dos linfonodos cervicais incos descreve apenas uma lesão em cada animal. feriores, inguinais e submandibulares já foram No entanto, há descrição de lesões cutâneas multidescritos nos casos de metástase via sistema linfáfocais (SANTURIO e FERREIRO, 2008; SANTOS et al., tico, uma vez que são responsáveis pela drenagem 2011c; SANTOS et al., 2011d), disseminação para linfática da região atingida pela lesão subcutânea. órgãos internos (REIS et al., 2003) e casos atípicos Na maioria dos casos de pitiose subcutânea os lin-
60
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
fonodos regionais estão aumentados de volume e podem conter kunkers nos casos disseminados da doença (SANTURIO e FERREIRO, 2008).
diagnÓstiCo LaboratoriaL da pitiose equina Embora compartilhe semelhança estrutural com micro-organismos fúngicos, o P. insidiosum apresenta características peculiares em seu ciclo biológico que faz com que a maioria dos laboratórios não disponha de estrutura funcional necessária para sua identificação. O diagnóstico clássico da pitiose é realizado através dos aspectos clínicos e histopatológicos, além das características em cultura, morfológicas e reprodutivas in vitro. O diagnóstico diferencial inclui habronemose, neoplasias, tecido de granulação exuberante e granulomas fúngicos ou bacterianos (SANTURIO e FERREIRO, 2008). Na avaliação microscópica com emprego de KOh 10% (exame direto), realizada geralmente da extração manual de kunkers (massas necróticas), observa-se P. insidiosum desenvolvendo hifas hialinas e eventualmente septadas, morfologia que facilmente pode ser confundida com a maioria dos fungos filamentosos (MENDOZA e VILELA, 2009). A cultura, geralmente a partir de biópsias com kunkers, pode ser realizada no ágar V8 ou ágar farinha de milho (CMA). O crescimento de hifas pode ser visto a partir de 24 horas após a incubação a 37ºC, e estas se apresentam submersas no meio e com coloração branca ou hialina (GROOTERS et al., 2002). Uma vez que P. insidiosum não produz estruturas reprodutivas nos meios tradicionais de cultura, a indução
da zoosporogênese (formação assexuada de zoósporos) pode ser obtida a partir do cultivo de P. insidiosum em folhas de grama estéreis que posteriormente são transferidas para uma solução de sais minerais (PEREIRA et al., 2008). No entanto, a correta identificação desta espécie deve ser confirmada com metodologias moleculares (GROOTERS e GEE, 2002; SChURKO et al., 2004; VANITTANAKOM et al., 2004; BOTTON et al., 2011). O diagnóstico precoce da pitiose pode ser feito com métodos imuno-histoquímicos (TROST et al., 2009) ou através de testes sorológicos para a detecção de anticorpos, tais como imunodifusão em gel de ágar, Enzyme-Linked Immunosorbent Assay (ELISA), Western blot, aglutinação em látex e testes imunocromatográficos (GROOTERS e GEE, 2002; KRAJAEJUN et al., 2002; SChURKO et al., 2004; VANITTANAKOM et al., 2004; SANTURIO et al., 2006; JINDAYOK et al., 2009; KRAJAEJUN et al., 2009; SUPABANDhU et al., 2009; BOTTON et al., 2011). Nos casos de pitiose equina em que o animal está distante dos laboratórios de referência, o envio de soro para a realização de Elisa, de kunkers e tecidos para o cultivo microbiológico e análise histopatológica estão entre as principais formas de diagnóstico utilizadas.
iMunoterapia na pitiose equina A remoção cirúrgica de todo o tecido afetado é o tratamento tradicional e mais utilizado na pitiose equina. A intervenção apresenta bons resultados em lesões pequenas e superficiais. No entanto, a remoção da lesão com margem de segurança para evitar recidivas muitas vezes é dificultada pelas re-
Figura 3. Pitiose equina múltipla (peito e tórax ventral) com 70 dias de evolução e rápida perda de peso (A1 e A2). A sequência de imagens (B e C) mostra a evolução após terapia com imunoterápico (PitiumVac®), com recuperação do peso corporal e cicatrização das lesões, em outros animais. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
61
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
Tabela 1. Efeitos de imunoterápicos provenientes de diversos processos de fabricação na pitiose equina.
Equinos tratados
Doses
Cura (%)
Referência
hifas sonicadas
30
3
53
MILLER (1981)
Antígenos solúveis
5
3
60
MENDOZA e ALFARO (1986)
30 e 41
1a2
60 e 70
MENDOZA et al. (1992)
hifas liquidificadas ou maceradas liofilizadasb
110
6
83
MONTEIRO (1999)
Antígeno solúvel + hifas sonicadas
18
3
72
MENDOZA et al. (2003)
hifas maceradas liofilizadasb
1
5 e 4d
100%
SANTOS et al. (2011b)
hifas maceradas liofilizadasb
1c
5
100%
SANTOS et al. (2011a)
hifas maceradas liofilizadas
b
8
nd
75%
SANTOS et al. (2011d)
hifas maceradas liofilizadas
b
10
2a8
90%
SANTOS et al. (2011c)
Processo de fabricação
Massa celular e antígeno solúvela
a
comparação entre técnicas; bPitiumVac®; cpitiose facial; dApós reinfecção dois anos seguintes; nd = não descrito.
giões anatômicas envolvidas (extremidades distais dos membros e porção ventral da parede tóraco-abdominal) (SANTURIO e FERREIRO, 2008), enquanto que o tratamento quimioterápico com antifúngicos apresenta resultados contraditórios (MENDOZA et al., 2004; KRAJAEJUN et al., 2006b; MENDOZA, 2009). Enquanto que os antígenos utilizados na preparação das vacinas têm o objetivo de desencadear no sistema imune do hospedeiro uma resposta protetora (produção de anticorpos), o princípio da imunoterapia objetiva a modificação da resposta imunológica do hospedeiro para uma resposta eficaz contra uma enfermidade já instalada. Apesar de atualmente não existir uma vacina protetora contra a pitiose, a imunoterapia desenvolvida a partir de extratos proteicos obtidos de culturas de P. insidiosum representa uma alternativa não invasiva no tratamento desta doença em humanos e animais. Miller (1981) foi o primeiro pesquisador a relatar o uso de antígenos de P. insidiosum (hifas sonicadas) com potencial terapêutico quando injetados em cavalos (n=30), resultando na cura de 53% dos animais com pitiose. No ano seguinte, o mesmo autor descreveu índice de eficiência do imunoterápico de 75% quando associado à remoção cirúrgica (MILLER e CAMPBELL, 1982). Trabalhos subsequentes demonstraram que os casos de pitiose crônica apresentando lesões com mais de dois meses de evolução apresentavam índices de cura de aproximadamente 20 a 40% com a imunoterapia e que, taxas de 100% de cura foram obtidas quando as lesões apresentam menos 1
62
de 20 dias de evolução (MENDOZA e ALFARO, 1986; MENDOZA et al., 1992; MENDOZA et al., 2003). Além do tempo de evolução das lesões, observouse também que a forma como o micélio de P. insidiosum é rompido para a obtenção dos antígenos está relacionada com a eficácia da imunoterapia e, neste contexto, modificações na técnica original descrita por Miller com o objetivo de aumentar a eficácia da imunoterapia foram desenvolvidas. Mendoza et al. (1992) testaram dois imunoterápicos utilizando massa celular ou antígeno solúvel concentrado como antígeno e obtiveram eficácia de 60% e 70%, respectivamente, no tratamento de 71 equinos. Mendoza et al. (2003) descreveram que o imunoterápico produzido com antígenos solúveis e hifas sonicadas de P. insidiosum curaram 72% de equinos (n=18) com pitiose (Tabela 1). Santurio et al. (2003) realizaram uma análise comparativa da atividade de imunoterápicos preparados a partir de hifas submetidas à sonicação, à maceração (ou liquidificação) ou pela combinação destas duas técnicas na pitiose experimental em coelhos e observaram que apenas o imunoterápico macerado foi efetivo, levando a uma redução de 71,8% no tamanho das lesões com a cura clínica de dois coelhos (n=5). Estudos com equinos do Pantanal brasileiro utilizando o imunoterápico macerado (PitiumVac®1) demonstraram índices de cura de 83% (n= 110) (MONTEIRO, 1999), 75% (n= 8) (SANTOS et al., 2011d) e de até 90% quando este foi associado à excisão cirúrgica (n=11) (SANTOS et al., 2011c) (Tabela 1). PitiumVac® vem sendo utilizado no tratamento
PitiumVac® – Imuterápico produzido pelo Lapemi – UFSM (lapemi@gmail.com)
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Tabela 2. Perfil e evolução clínica de equídeos acometidos por pitiose cutânea. Adaptado de Santos et al. (2011c).
Perfil animal
Perfil lesão
Perfil terapêutico
Idade (anos)
Sexo
Local
Apresentação
Tempo de evolução (dias)
Tratamento n° de doses
Evolução
Equina
2,5
Macho
Membro
Única
45
A-3
Cura
Equina
1,5
Macho
Membros
Múltipla
60
B-6
Cura
Equina
2
Fêmea
Membro
Única
21
A-6
Cura
Equina
6
Fêmea
Abdômen
Única
15
A-2
Cura
Equina
3,5
Macho
Membro
Única
90
B-8
Cura
Equina
3
Fêmea
Membros
Múltipla
30
A-2
Cura
Equina
16
Fêmea
Períneo Membros
Múltipla
270
C
Óbito
Equina
9
Macho
Membros
Única
180
A-6
Cura
Muar
5
Fêmea
Membro Tórax
Múltipla
360 90
A-5
Óbito
Equina
2
Fêmea
Membro
Única
30
A-5
Cura
Equina
3
Fêmea
Membro
Múltipla
7
A-3
Cura
Espécie
A –Somente imunoterapia (PitiumVac ); B – Imunoterapia (PitiumVac ) associada à exérese cirúrgica; C– não tratado. ®
da pitiose equina no Brasil (Figuras 1 e 3) e os melhores resultados geralmente são observados quando a abordagem terapêutica é realizada durante os estágios iniciais da doença. O período de tratamento (número de doses) com o imunoterápico está relacionado com o tamanho, local, tempo de evolução das lesões e resposta individual do paciente. Santos et al. (2011c) descreveram que um equino com evolução de 90 dias da doença necessitou de cinco meses de tratamento (oito aplicações) para a cicatrização completa das lesões, ressaltando-se que a lentidão na resposta à imunoterapia não pode ser interpretada como refratariedade e resultar na desistência precoce do tratamento. Por outro lado, apenas duas a três aplicações foram eficazes para promover a cura de quatro equinos em que as lesões apresentavam entre sete e 45 dias de evolução (Tabela 2). Estes estudos demonstram que a injeção de imunógenos de P. insidiosum na forma de imunoterápico, torna disponíveis para o sistema imune do hospedeiro os antígenos que não são apresentados durante a infecção ativa, estimulando uma resposta curativa e a formação de resposta imune com presença de células mononucleares e o desaparecimento da reação eosinofílica ao redor das hifas. O mecanismo proposto para o sucesso terapêutico da imunoterapia está baseado na mudanRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
®
ça da resposta celular. A resposta imunológica observada na pitiose envolve inflamação eosinofílica e expressão de linfócitos T auxiliares tipo 2 (Th2), com liberação de interleucinas (IL-4 e IL-5) e com a mobilização de eosinófilos e mastócitos. Os antígenos do imunoterápico produzem a expressão de linfócitos T auxiliares tipo 1 (Th1), produção de IL 2 e interferon-γ, com mobilização de linfócitos T e macrófagos que destroem as células de P. insidiosum (MENDOZA e NEWTON, 2005). Adicionalmente, ocorre também um aumento do número de anticorpos anti-P. insidiosum após o tratamento imunoterápico, o que está diretamente correlacionado com o auxilio na cura da doença (NEWTON e ROSS, 1993). No entanto, o uso da imunoterapia contra a pitiose não induz uma resposta protetora contra reinfecções. Animais que já contraíram a pitiose e evoluíram para a cura através da imunoterapia são suscetíveis a reinfecções se mantidos no meio ambiente que propiciou as lesões iniciais. Santos et al. (2011b) descreveram um caso de reinfecção com intervalo de dois anos após término de tratamento e cura com imunoterapia contra a pitiose. A reinfecção ocorreu em sítio anatômico diferente do inicial (abdômen versus membro pélvico esquerdo) e apesar da nova lesão ser maior (edema
63
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
perilesional de 60 cm), a cura foi obtida com quatro aplicações do imunoterápico (versus cinco no tratamento primário). Diante do exposto, podemos concluir que o tratamento eficaz da pitiose equina pode ser obtido quando ocorre a combinação de um diagnóstico precoce e correto – por meio dos sinais clínicos, presença de kunkers, cultura do agente e detecção de anticorpos (Elisa) – e de medidas terapêuticas adequadas, como a imunoterapia associada ou não à excisão cirúrgica.
antígenos brutos de P. insidiosum, alguns estudos descrevem a identificação de antígenos imunodominantes de 74 kilodaltons (KRAJAEJUN et al., 2006a; KRAJAEJUN et al., 2010) que poderiam ser utilizados para o desenvolvimento de uma vacina preventiva. Além disso, a avaliação de adjuvantes e o desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas que permitam o diagnóstico precoce da doença resultarão em um melhor tratamento e prognóstico favorável para a pitiose em equinos.
perspeCtivas
agradeCiMentos
Embora as técnicas de imunoterapia utilizadas atualmente no tratamento da pitiose utilizem
À Capes pela concessão de bolsa no Programa de Pós Doutorado. Érico Silva Loreto é bolsista PNPD-Capes.
Referências Bibliográficas ALFARO, A. A.; MENDOZA, L. Four cases of equine bone lesions caused by Pythium insidiosum. Equine Vet. J., v.22, n.4, p. 295-297, 1990. BOTTON, S. A.; PEREIRA, D. I. B.; COSTA, M. M.; AZEVEDO, M. I.; ARGENTA, J. S.; JESUS, F. P. K.; ALVES, S. h.; SANTURIO, J. M. Identification of Pythium insidiosum by nested PCR in cutaneous lesions of Brazilian horses and rabbits. Curr. Microbiol., v.62, n.4, p.1225-1229, 2011. GROOTERS, A. M.; GEE, M. K. Development of a nested polymerase chain reaction assay for the detection and identification of Pythium insidiosum. J. Vet. Intern. Med., v.16, n.2, p.147-152, 2002. GROOTERS, A. M.; WhIT TINGTON, A.; LOPEZ, M. K.; BOROUGhS, M. N.; ROY, A. E. Evaluation of microbial culture techniques for the isolation of Pythium insidiosum from equine tissues. J. Vet. Diagn. Invest., v.14, n.4, p. 288-294, 2002. JINDAYOK , T.; PIROMSONTIKORN, S.; SRIMUANG, S.; KhUPULSUP, K.; KRAJAEJUN, T. hemagglutination test for rapid serodiagnosis of human pythiosis. Clin. Vaccine Immunol., v.16, n.7, p. 1.0471.051, 2009. KRAJAEJUN, T.; IMKhIEO, S.; INTARAMAT, A.; RATANABANANGKOON, K. Development of an immunochromatographic test for rapid serodiagnosis of human pythiosis. Clin. Vaccine Immunol., v.16, n.4, p. 506-509, 2009. KRAJAEJUN, T.; KEERATIJARUT, A.; SRIWANIChRAK, K.; LOWhNOO, T.; RUJIRAWAT, T.; PE TChThONG, T.; YINGYONG, W.; KALAMBAhETI, T.; SMIT TIPAT, N.; JUThAYOThIN, T.; SULLIVAN, T. D. The 74-Ki-
64
lodalton immunodominant antigen of the pathogenic Oomycete Pythium insidiosum is a putative exo-1,3-betaglucanase. Clin. Vaccine Immunol., v.17, n.8, p.1203-1210, 2010. K R A J A E J U N , T. ; K U N A K O R N , M . ; N I E M h O M , S . ; C h O N G T R A KO O L , P. ; PRAChARKTAM, R. Development and evaluation of an in-house enzyme-linked Immunosorbent assay for early diagnosis and monitoring of human pythiosis. Clin. Diagn. Lab. Immunol., v.9, n.2, p.378382, 2002.
Research Tools. hoboken, N.J.: John Wiley & Sons, 2009. p. 387-405. MENDOZA, L.; ALFARO, A. A. Equine pythiosis in Costa Rica - Report of 39 Cases. Mycopathologia, v.94, n.2, p. 123-129, 1986. MENDOZA, L.; MANDY, W.; GLASS, R. An improved Pythium insidiosum-vaccine formulation with enhanced immunotherapeutic properties in horses and dogs with pythiosis. Vaccine, v.21, n.21-22, p. 2.797-2.804, 2003.
KRAJAEJUN, T.; KUNAKORN, M.; PRAChARK TAM, R.; ChONGTRAKOOL, P.; SAThAPATAYAVONGS, B.; ChAIPRASERT, A.; VANITTANAKOM, N.; ChINDAMPORN, A.; MOOTSIKAPUN, P. Identification of a novel 74-kilodalton immunodominant antigen of Pythium insidiosum recognized by sera from human patients with pythiosis. J. Clin. Microbiol., v.44, n.5, p. 1.674-1.680, 2006a.
MENDOZA, L.; NEWTON, J. C. Immunology and immunotherapy of the infections caused by Pythium insidiosum. Med. Mycol., v.43, n.6, p. 477-486, 2005.
KRAJAEJUN, T.; SAThAPATAYAVONGS, B.; PRAChARKTAM, R.; NITIYANANT, P.; LEELAChAIKUL, P.; WANAChIWANAWIN, W.; ChAIPRASERT, A.; ASSANASEN, P.; SAIPETCh, M.; MOOTSIKAPUN, P.; ChETChOTISAKD, P.; LEKhAKULA, A.; MITARNUN, W.; KALNAUWAKUL, S.; SUPPARATPINYO, K.; ChAIWARITh, R.; ChIEWChANVIT, S.; TANANUVAT, N.; SRISIRI, S.; SUANKRATAY, C.; KULWIChIT, W.; WONGSAISUWAN, M.; SOMKAEW, S. Clinical and epidemiological analyses of human pythiosis in Thailand. Clin. Infect. Dis., v.43, n.5, p. 569-576, 2006b.
MENDOZA, L.; VILELA, R. Anomalous fungal and fungal-like infections: lacaziosis, pythiosis, and rhinosporidiosis. In: ANAISSIE, E. J.; MCGINNIS, M. R.; PFALLER, M. A. (Ed.). Clinical mycology. Edinburgh: Churchill Livingstone/Elsevier, 2009. p. 403-415.
MENDOZA, L. Pythium insidiosum and mammalian hosts. In: LAMOUR, K.; KAMOUN, S. (Ed.). Oomycete Genetics and Genomics : Diversity, Interactions and
MENDOZA, L.; PRASLA, S. h.; AJELLO, L. Orbital pythiosis: a non-fungal disease mimicking orbital mycotic infections, with a retrospective review of the literature. Mycoses, v.47, n.1-2, p. 14-23, 2004.
MENDOZA, L.; VILLALOBOS, J.; CALLEJA, C. E.; SOLIS, A. Evaluation of two vaccines for the treatment of pythiosis insidiosi in horses. Mycopathologia, v.119, n.2, p. 89-95, 1992. MILLER, R. I. Treatment of equine phyc o myc o s i s b y i m m u n o t h e r a p y a n d surgery. Aust. Vet. J., v.57, n.8, p. 377382, 1981.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
MILLER, R. I.; CAMPBELL, R. S. F. Clinical observations on equine phycomycosis. Aust. Vet. J., v.58, n.6, p. 221-226, 1982. MONTEIRO, A. B. Imunoterapia da pitiose equina: teste de eficácia de um imunobiológico e avaliação leucocitária em animais infectados naturalmente pelo Pythium insidiosum. Santa Maria, RS, 1999. 52 f. (Mestrado em Medicina Veterinária), Universidade Federal de Santa Maria. NEWTON, J. C.; ROSS, P. S. Equine pythiosis - an overview of immunotherapy. Comp. Cont. Educ. Pract. Vet, v.15, n.3, p.491-493, 1993. PEREIRA, D. I. B.; SANTURIO, J. M.; ALVES, S. H.; ARGENTA, J. S.; CAVALHEIRO, A. S.; FERREIRO, L. In vitro zoosporogenesis among oomycetes Pythium insidiosum isolates. Cienc. Rural, v.38, n.1, p. 143147, 2008. POOLE, H. M.; BRASHIER, M. K. Equine cutaneous pythiosis. Comp. Cont. Educ. Pract. Vet, v.25, n.3, p. 229-235, 2003. REIS, J. L.; DE CARVALHO, E. C. Q.; NOGUEIRA, R. H. G.; LEMOS, L. S.; MENDOZA, L. Disseminated pythiosis in three horses. Vet. Microbiol., v.96, n.3, p. 289-295, 2003. SANTOS, C. E. P.; JULIANO, R. S.; SANTURIO, J. M.; MARQUES, L. C. Efficacy of immunotherapy in the treatment of facial horse pythiosis. Acta Sci. Vet., v.39, n.1, p. 955(1-5), 2011a. SANTOS, C. E. P.; MARQUES, L. C.; ZANETTE, R. A.; JESUS, F. P. K.; SANTURIO,
J. M . D o e s i m m u n o t h e ra py p ro te c t equines from reinfection by the oomycete Pythium insidiosum? Clin. Vaccine Immunol., v.18, n.8, p. 1.397-1.399, 2011b. SANTOS, C. E. P.; SANTURIO, J. M.; COLODEL, E. M.; JULIANO, R. S.; SILVA, J. A.; MARQUES, L. C. Contribution to the study of cutaneous pythiosis in equidae. Ars Vet., v.27, n.3, p. 134-140, 2011c. SANTOS, C. E. P.; SANTURIO, J. M.; MARQUES, L. C. Pythiosis of livestock in the Pantanal, Mato Grosso, Brazil. Pesquisa Vet. Brasil., v.31, n.12, p. 1.083-1.089, 2011d. SANTOS, M. N.; LONDERO, A. T. Subcutaneous zygomycosis in horses. Pesquisa Agropecuária Brasileira - Série Veterinária, v.9, p.7-8, 1974. SANTURIO, J. M.; FERREIRO, L. Pitiose: uma abordagem micológica e terapêutica. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. 111p. SANTURIO, J. M.; LEAL, A. T.; LEAL, A. B. M.; ALVES, S. H.; LUBECK, I.; GRIEBELER, J.; COPETTI, M. V. Indirect ELISA for the serodiagnostic of pythiosis. Pesquisa Vet. Brasil., v.26, n.1, p. 47-50, 2006. SANTURIO, J. M.; LEAL, A. T.; LEAL, A. B. M.; FESTUGATTO, R.; LUBECK, I.; SALLIS, E. S. V.; COPETTI, M. V.; ALVES, S. A.; FERREIRO, L. Three types of immunotherapics against pythiosis insidiosi developed and evaluated. Vaccine, v.21, n.19-20, p. 2.535-2.540, 2003.
SCHURKO, A. M.; MENDOZA, L.; DE COCK, A. W. A. M.; BEDARD, J. E. J.; KLASSEN, G. R. Development of a species-specific probe for Pythium insidiosum and the diagnosis of pythiosis. J. Clin. Microbiol., v.42, n.6, p. 2.411-2.418, 2004. SUPABANDHU, J.; VANIT TANAKOM, P.; LAOHAPENSANG, K.; VANITTANAKOM, N. Application of immunoblot assay for rapid diagnosis of human pythiosis. J. Med. Assoc. Thai., v.92, n.8, p. 1.0631.071, 2009. TOMICH, T. R.; MORAES, A. S.; JULIANO, R. S.; ABREU, U. G. P.; RACHEL, R. C.; SANTURIO, J. M. Impacto econômico decorrente do controle de pitiose equina empregando-se o Imunoterápico PITIUM-VAC. In: 5° Simpósio sobre recursos naturais e socioeconômicos do Pantanal, Corumbá-MS. p. 1-4, 2010. TROST, M. E.; GABRIEL, A. L.; MASUDA, E. K.; FIGHERA, R. A.; IRIGOYEN, L. F.; KOMMERS, G. D. Clinical, morphologic a n d i m m u n o h i s to c h e m i c a l a s p e c t s of canine gastr intestinal pythiosis. Pe s q u i s a Ve t. B ra s i l. , v. 2 9 , n . 8 , p. 673-679, 2009. VANITTANAKOM, N.; SUPABANDHU, J.; KHAMWAN, C.; PRAPARAT TANAPAN, J.; THIRACH, S.; PRASERTWITAYAKIJ, N.; LOUTHRENOO, W.; CHIEWCHANVIT, S.; TANANUVAT, N. Identification of emerging human-pathogenic Pythium insidiosum by serological and molecular assay-based methods. J. Clin. Microbiol., v.42, n.9, p. 3.970-3.974, 2004.
Dados dos Autores Érico Silva de Loreto Farmacêutico bioquímico - CRF-RS nº 7409, pós-doutorando, UFSM-RS erico.loreto@gmail.com Juliana Simoni Moraes Tondolo Farmacêutica bioquímica - CRF-RS nº 5473, pós-graduanda UFSM-RS Sydney Hartz Alves Farmacêutico bioquímico - CRF-RS nº 2555, Departamento de Microbiologia UFSM-RS Carlos Eduardo Pereira dos Santos Médico Veterinário – CRMV-MT nº 1108, Departamento de Clínica Médica e Veterinária, UFSM-RS Raquel Soares Juliano Médico Veterinário - CRMV-MS nº 1208, Embrapa – Centro de Pesquisa do Pantanal Jean Paul Santos Rocha Médico Veterinário - CRMV-MG nº 5608, Exército Brasileiro Janio Morais Santurio Médico Veterinário - CRMV-RS nº 1663, Exército Brasileiro
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
65
SUPLEMENTO CIENTÍFICO
NORMAS PARA APRESENTAçÃO DE ARTIGOS inForMaÇÕes gerais O Suplemento Científico da Revista do CFMV tem como objetivo a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e de Zootecnia. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres ad hoc terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral.
Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A critério do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução CFMV nº 879, de fevereiro de 2008, ou naquela que a substituir.
A inscrição e tramitação é exclusivamente eletrônica em www.cfmv.gov.br
norMas editoriais Os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim como uma versão do título.
ARTIGOS DE REVISÃO E DE EDuCAçÃO CONTINuADA Os artigos de revisão e de educação continuada devem ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências Bibliográficas e Agradecimentos (quando houver). A divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es).
ARTIGOS CIENTíFICOS Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Introdução, Material e
APRESENTAçÃO Os manuscritos encaminhados deverão estar digitados com o uso do editor de textos Microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, com margens laterais de 3,0cm e margens superior e inferior de 2,5cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. O artigo completo deverá ter no máximo 12 páginas.
TíTuLO O título do artigo, com 15 palavras no máximo, deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract.
AuTORES Citar respectivos registros em conselhos de classe à excessão de alunos de graduação.
RESuMO E ABSTrACT O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract, não podem ultrapassar 250 palavras, com in-
TRAMITAÇÃO ELETRÔNICA O envio de artigos ficou mais fácil, ágil e transparente. Acesse www.cfmv.gov.br
66
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
formações que informem o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões.
Palavras-chave e Keywords No máximo cinco palavras serão representadas em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.
Texto Principal Deverá ser apresentado em espaço simples, fonte Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico Internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, GH = hormônio do crescimento. As citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al. (1998), (Gonçalves et al., 1998).
Referências Bibliográficas A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados. Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p. Abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas.
Artigo de periódico EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Livros MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: Funep, 1994. 296p.
Capítulos de livro WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.; LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986. p.187-206.
Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado) MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias. Universidade Estadual Paulista.
Artigos apresentados em congressos, reuniões e seminários RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19.
Tabelas, Quadros e Ilustrações As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. Uma em cada página. Serão numerados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est. v. 24, p.42-60, 1963).
Fotografias As fotografias deverão estar em boa resolução (nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato TIF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (JPEG). Ao enviá-las o autor automaticamente autoriza sua inclusão no banco de imagens do CFMV, com o devido crédito.
Avaliações/Revisões Os artigos sofrerão as seguintes avaliações/revisões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial.
67
CONSELhO EM AçÃO
CAMPANHA DE COMBATE AO TRÁFICO DE ANIMAIS SELVAGENS SERÁ MARCO EM 2013 animais selvagens para conscientizar e mobilizar a sociedade e as autoridades envolvidas no assunto. O tráfico de animais selvagens não é uma mazela A ideia é marcar as comemorações dos 45 anos do recente no Brasil. Embora a atividade tenha ganhado Sistema CFMV/CRMVs levantando uma bandeira que proporções avassaladoras nas últimas décadas, ela possa, de fato, promover mudanças neste cenário existe desde a chegada dos europeus no continente preocupante e cruel. Para se ter uma ideia, relatórios americano. historiadores registram que uma semana da Renctas, organização não governamental que luta após atracarem no litoral brasileiro em 1500, colonicontra o tráfico de animais silvestres, apontam que, zadores enviaram pelo menos duas araras e alguns a cada ano, 38 milhões de espécimes selvagens são papagaios, frutos de escambo com os índios, ao rei capturadas da natureza em território brasileiro. Cerca de Portugal. hoje, apesar de ainda não se ter exata de quatro milhões são vendidas. De cada dez animais dimensão da situação e dos danos que ela tem cautraficados, apenas um sobrevive – 90% morrem dusado, estima-se que o comércio ilegal de animais morante o transporte. vimenta, anualmente, de 10 a 20 bilhões de dólares O comércio ilegal de animais selvagens, depois em todo o mundo e que o Brasil participa com cerca do tráfico de drogas e de armas, é a maior atividade 5% a 15% desse total. de clandestina no mundo. Devido a sua imensa Atento à questão, o Conselho Federal de Mebiodiversidade, o Brasil é um dos principais alvos dicina Veterinária (CFMV ) promoverá este ano dos traficantes. De dimensões continentais, o País uma campanha nacional de combate ao tráfico de abriga mais de 100 mil espécies de invertebrados e, aproximadamente, 8,2 mil espécies vertebraarquivo Cnas das – 713 mamíferos, 1.826 aves, 721 répteis, 875 anfíbios, 2.800 peixes continentais e 1.300 peixes marinhos –, das quais 627 estão ameaçadas de extinção. Os dados são do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “Estão nos roubando muito mais do que animais. É o nosso patrimônio, parte da identidade do País, que está sendo dizimada. Mais de 10% dos 1,4 milhões de seres vivos catalogados no planeta estão em solo brasileiro. Na classificação mundial em biodiversidade de espécies, o Brasil é o país com maior número de primatas, borboletas e anfíbios”, ressalta o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. Ele recorda que a devastação das florestas e a retirada criminosa de animais selvagens da fauna já causaram a extinção de inúmeras espécies. “Exemplares diversos, por vezes até ferozes, pagam com a vida para sustentar a O comércio ilegal de animais selvagens, depois do tráfico de drogas e de armas, é a maior vaidade de pessoas em exibir raridades em atividade clandestina no mundo. por: márcia neri – Jornalista/mtb nº 26452
68
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
arquivo CNAS
De cada dez animais traficados, 90% morrem durante o transporte.
suas coleções”, observa. Há, ainda, um crescente e perigoso mercado ilegal de espécies que fornecem substâncias químicas e servem como item fundamental para pesquisa de produção de medicamentos. “Nossa campanha alertará a sociedade para a gravidade do problema. Muitos compradores adquirem animais selvagens sem compreender o mal que fazem. Alguns acreditam estar protegendo o bicho esquecendo que, em cativeiro, ele perde a capacidade de caçar e defender-se de predadores. Assim, se libertados, a maioria dos animais acaba não sobrevivendo”, detalha Arruda. Até que cheguem ao destino imposto por traficantes – e vale lembrar que, pela lei, quem compra também é considerado um criminoso –, os caminhos percorridos pelas espécies retiradas de seu habitat natural são os mais diversos. No ano passado, quase 14 mil animais foram apreendidos em operações da Polícia Federal, a maioria nas regiões Norte e Nordeste. Porém, as autoridades sabem que o contingente apreendido é somente uma ínfima parcela do total que atualmente é contrabandeado. A captura, geralmente, ocorre em lugares de grande biodiversidade que agregam, de certa forma, pobreza sob o ponto de vista socioeconômico. “Muitos animais são encontrados feridos, dopados ou mesmo mortos quando os policiais conseguem fazer uma interceptação”, lamenta o presidente do CFMV. Os estados do Maranhão, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais e, o Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
restante da Região Amazônica, são os locais onde os bichos correm mais risco. Depois de apanhados, eles passam por vários intermediários até chegarem aos grandes contrabandistas que ficam no eixo Rio–São Paulo. Das duas capitais, são despachados a outras regiões na América do Sul e até outros continentes pelas mãos de brasileiros e estrangeiros. As ações que estão sendo planejadas pelo CFMV para a campanha contra o tráfico de animais selvagens pretendem, além de alertar a sociedade brasileira, engajar a população a exigir soluções e denunciar o comércio ilegal de animais. “Também queremos chamar a atenção para a necessidade de melhora na estrutura dos centros que recebem os animais apreendidos nas operações policiais. Entendo que a campanha será um primeiro passo para garantirmos a preservação do nosso patrimônio, a conservação da nossa biodiversidade”, avalia Arruda. Ele acrescenta que os traficantes especializaram-se, contam com estruturas eficientes e com o apoio de outras atividades ilegais. “Nós precisamos reagir. Atualmente, estamos perdendo essa luta”, conclui.
O que diz a lei A Lei de Crimes Ambientais, criada em fevereiro de 1998, considera os animais, seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, propriedade do Estado, considerando que a compra, a venda, a criação ou qualquer outro negócio envolvendo animais silvestres é crime inafiançável.
69
EDUCAçÃO AMBIENTAL
Fotos: prograMa prÓ-pirÁ
MÉDICO VETERINÁRIO MUDA REALIDADE LOCAL NA AMAZÔNIA
A educação ambiental passou a fazer parte do imaginário da cidade. No detalhe, Kenji acompanha grupo de estudantes.
por: flávia tonin, jornalista Cfmv mtb 039263 É possível imaginar, em pleno centro urbano, adultos pescando em horários de folga e as crianças brincando em aquário municipal de peixes, a céu aberto? O cenário, na província de Kagoshima, no Japão, região que, no pós-guerra, teve organismos aquáticos dizimados pelo uso abusivo de insumos químicos e defensivos agrícolas, foi inspirador para o Médico Veterinário Kenji Oikawa. Filho de imigrantes japoneses, mas morador da região amazônica desde os oitos anos, estava convencido de que a educação ambiental poderia resultar em uma mudança cultural com vistas à preservação e conseguiu. Com apoio do governo japonês, iniciou na região de Inhangapi-PA, o programa Pró-Pirá (Pirá, significa peixe, em língua indígena) para transformar a realidade local. Com a atividade predatória, alguns pecadores e pessoas da cidade, principalmente da população dos municípios vizinhos arrasaram seu próprio sustento e da população ribeirinha. Sem falar na falta de cuidado com os ambientes aquáticos e matas ciliares causados pelo crescimento desor-
70
denado dos centros urbanos e indústrias. De uma oficina, iniciada com apenas 30 alunos de escolas municipais, após oito anos, o projeto atinge todos os estudantes da rede pública local. Além disso, no ano passado, o Pró-Pirá foi reconhecido como lei municipal. As ações também trouxeram nova realidade turística, com eventos para incentivar a preservação e a aquicultura. “A mudança da realidade de uma comunidade, município, estado e de uma nação não pode ser programada para o curto ou médio prazo”, avalia Oikawa, lembrando-se de sua visita ao Japão há 15 anos. Ele reconhece que os recursos financeiros são muito importantes para os projetos, mas perdem o valor se não houver apoio e participação da sociedade local. “Sem a conquista da sociedade, o projeto termina quando acabam os recursos”, sentencia o Médico Veterinário. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
A aquicultura incentivou a educação ambiental Há dez anos, o governo e a Emater do Estado do Pará iniciaram um projeto para revitalização das microbacias hidrográficas do Estado, com o objetivo de recuperar a fauna aquática, principalmente íctica, tendo em vista a drástica diminuição da piscosidade desses rios. Para o início dos trabalhos, foi selecionado o município de Palestras técnicas foram utilizadas para incentivar a piscicultura. Inhangapi, distante 90 quilômetros da capital, Belém, com pouco mais de 10.000 haelas nunca tinham criado peixes e muito menos nesse bitantes, sendo 30% residente na zona urbana e 70% sistema. Para essas pessoas, o peixe sempre foi abunna zona rural. A hidrografia tem grande importância dante na natureza”, relata Oikawa. Ele lembra que outro econômica e social para a comunidade local, pois o obstáculo foi a baixa escolaridade da grande maioria. pescado é a principal fonte de alimento de origem aniPara convencê-los, optou-se pela instalação, por um mal da população amazônica. De acordo com a Rede ano, de uma Unidade Demonstrativa de Piscicultura de Pesca e Aquicultura da Amazônia (SUDAM, 2000), em tanques rede e acompanhamentos permanenteo consumo médio do peixe pelos ribeirinhos é de 118 mente de biometria, arraçoamento, monitoramento da kg/ano/per capita, enquanto a média nacional está em qualidade de água, manejo etc. “O exemplo funcionaria 7 kg/ano/per capita. melhor do que cartilhas e planilhas escritas”, diz. O Pró-Pirá iniciou com 38 famílias que receberam o Para incentivar o trabalho, concomitante às atividaincentivo para a atividade de piscicultura: 12 tanques des, o grupo Pró-Pirá organizou a I Expo-Pirá – Exposição redes, alevinos, rações e assistência técnica.“A dificuldade Peixes Nativos da Bacia do Rio Inhangapi, em meio à de foi convencer essas pessoas a criarem os peixes nestradicional festa local –o Festival de Açaí. Para a realização se ‘cubículo’ de tanque rede (cada um com 7 m³), pois do evento, foram utilizados 13 aquários confeccionados artesanalmente e expostos aproximadamente 30 exemplares de peixes nativos do rio Inhangapi. “O que nos Projetos em estudo, andamento ou surpreendeu foi a reação das pessoas da comunidade consolidados dentro do Programa Pró-Pirá: local que não sabiam da existência de algumas espécies Fepami – Festival Pró-Ambiente de Inhangapi nos rios da cidade”. A partir dessa percepção, o Médico Alimentar – Meu quintal, fonte de alimentos Veterinário entendeu que havia espaço para expandir PiráFest – Festival de peixes criados em cativeiro ação para a educação ambiental. Apenas dessa forma se Torpecam – Torneio de Pesca Esportiva Ecolória possível convencê-los sobre a preservação e a imporgica da Amazônia tância da aquicultura.“Como podemos falar em proteger Flori – Festival das flores de Inhangapi a natureza e a ecologia se as pessoas não conhecem as Tuecoi – Turismo Ecológico de Inhangapi riquezas naturais a sua volta. É preciso conhecer para que Bopi – Bosque de Inhangapi as valorizem e as protejam”, constatou Oikawa. Feili – Feira Livre de Inhangapi Volta pra casa – Festival de piracema de Educação ambiental de crianças e jovens Inhangapi Ceama – Centro Educacional Socioambiental O próximo passo do projeto foi buscar tecnologia da Amazônia De 2006 a 2008, o Pró-Pirá conquistou apoio interna Imep – Inhangapi minha empresa cional da Agência de Cooperação Internacional do Fundesa – Fundo de Desenvolvimento SocioJapão (Jica) com recurso de aproximadamente R$ 150 ambiental de Inhangapi mil e treinamento. A parceria iniciou-se com oficinas Pai – Patrulha Ambiental de Inhangapi direcionadas para crianças e adolescentes, coordena Aproveitar – Piscicultura nas cavas após a exda pelo técnico Katsumi Nakahata, do aquário público tração de argilas pelas empresas de cerâmica da província de Kagoshima, no Japão. Das 19 oficinas Pró-peixe – Desenvolvimento da piscicultupraticadas no Japão, o técnico japonês iniciou a imra familiar plantação de cinco: “confecção de peixes nativos com Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
71
EDUCAçÃO AMBIENTAL
o papel machê”, “origami (arte de dobradura de papel) para confecção de peixes nativos”, “estudos dos peixes nativos (ictiologia)”, “o que é plâncton?” e “pintura de peixe nativo no pano de seda”. Todas as temáticas foram relacionadas ao rio Inhangapi, patrimônio responsável pelo sustento das pessoas locais. As práticas foram adaptadas à cultura e ao sistema educacional do Brasil. Após finalizados, os trabalhos foram apresentados durante a Expo-Pirá, que já se encontrava em sua terceira edição. A oficina “O que é plâncton?” é a que mais chamou a atenção, passando a ser aplicada em cidades vizinhas com os trabalhos apresentados em suas respectivas feiras locais até os dias de hoje. No início, com apenas 30 crianças, elas representaram todas as escolas de ensino fundamental de Inhangapi. Elas foram eleitas com apoio da secretaria municipal de educação, diretores e professoras. “As vagas iniciais eram poucas, mas tentamos chamar a atenção de representantes de todas as escolas para o projeto que se iniciava”, comenta Oikawa sobre o processo de conquista. Ele enfatiza que o apoio de professores e diretores é importante para que as ações sejam colocadas em prática e sem nenhum custo. Elas passam a ser rotina nas salas de aula, lavatórios, jardins etc.
projeto atinge Maior nÚMero de pessoas Em 2008, ocorreu o lançamento da I Oficina Pró-Pirá – Educação Ambiental Aquática para Crianças e Adolescentes, com oficinas para crianças e adolescentes. Além disso, por três anos consecutivos houve intercâmbio técnico entre professores de ensino fundamental e básico do Brasil e do Japão. O projeto chamou a atenção do consulado geral do Japão e da imprensa japonesa. Mesmo após findada a parceria internacional, o Pró-Pirá continuou sendo sustentando por mais de 30 colaboradores entre instituições, associações, escola e empresas públicas e privadas. Resultado foi a marca de 2.000 alunos do munícipios que passaram pelas oficinas do Pró-Pirá, o que representa a totalidade dos matriculados nas escolas públicas da zona urbana e rural. O trabalho com as crianças tem por intuito mudar a cultura e criar consciência ecológica e respeito ao meio ambiente. Para isso, as ações iniciam nas creches passando pelos alunos de ensino fundamental, básico e médio. “Quando esses jovens já estiverem nas universidades ou exercendo quaisquer atividades profissionais, já irão com a noção e a responsabilidade ambiental”, acredita Oikawa. Ele defende que o engajamento deve ser de toda a sociedade, com ações contínuas e interdependentes. “Verificamos que sempre há uma ação pontual em
72
Professores japoneses estiveram no Brasil e compartilharam experiências.
datas como ‘dia da árvore’, ‘dia do meio ambiente’ ou ‘dia da água’. Isso ainda é tratado com muito romantismo. É preciso mudar essa mentalidade com ações contínuas e concretas para que não haja retrocesso”, avaliou Oikawa.
resuLtados Conquistados peLo prÓ-pirÁ Nos rios, constatou-se o retorno de algumas espécies ícticas que haviam desaparecido. Exemplos são o aracu tuca (Pseudanos trimaculatus) e o piranambu (Pimelodus ornatos). A Expo-Pirá também pode apresentar maior número de espécies. Neste ano, em sua décima edição, estão previstos 30 aquários, com aproximadamente 60 espécies. Exatamente o dobro do que foi apresentado na primeira edição da feira. O projeto também recebeu, no ano passado, o IV Prêmio Sesc de Responsabilidade Ambiental. A preservação também passou a ser questão política, com a instituição, há dois anos, de lei que proíbe a pesca predatória para proteção do estoque existente. O projeto Fepani – Festival Pró-Ambiente de Inhangapi do programa Pró-Pirá em 2012, também foi transformado em lei municipal para maior força e apoio de suas ações. Também há uma preocupação com o mercado de trabalho, já que os filhos dos ribeirinhos que concluem os estudos passam a ver a atividade como um negócio e com maior autoestima. Por trás dos números, o maior resultado está na educação ambiental que passa a fazer parte do imaginário da cidade. Em 2008, no desfile escolar em comemoração ao Dia da Pátria, o Pró-Pirá foi homenageado por uma escola pública de ensino fundamental. Em 2012, todo o desfile cívico considerou o tema “Água e sustentabilidade”, com engajamento de todas as escolas que se reuniram e se preparam para apresentar a temática para a sociedade. Estima-se que em sua totalidade, com diversas ações, o projeto já atingiu diretamente dez mil pessoas, principalmente crianças e adolescentes. Em breve, Inhangapi, será considerada modelo regional de desenvolvimento sustentável. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
CIRURGIA
DESVIOS EXTRA-HEPÁTICOS SÃO ANOMALIAS VASCULARES POUCOS DIAGNOSTICADAS introduÇão Os desvios porto-sistêmicos (DPS) ou shunt porto-sistêmico são anomalias vasculares que comunicam a circulação portal (vasos provenientes do estômago, intestinos, baço e pâncreas) diretamente ao sistema venoso sistêmico, desviando, parcialmente, o fluxo sanguíneo do fígado (TOBIAS, 2007; WhITING e BREZNOCK, 2008). Nos DPS, substâncias hepatotróficas oriundas dos intestinos e pâncreas, como insulina, glucagon e nutrientes não atingem o fígado, resultando em atrofia e disfunção hepática. Por sua vez, toxinas como amônia, metionina/mercaptanas, ácidos graxos de cadeia curta, ácido g-aminobutírico e benzodiazepinas endógenas, que seriam desativadas no fígado, alcançam a circulação sistêmica. O excesso dessas toxinas circulantes atravessa a barreira hematoencefálica causando alterações no sistema nervoso central caracterizando a encefalopatia hepática, responsável pelo quadro clínico no paciente com desvio (FOSSUM, 2005). Cerca de 80% do fluxo sanguíneo e 50% do fluxo de oxigênio que chega ao fígado é fornecido pela veia porta, e o restante é provido pela artéria hepática (TOBIAS, 2007). Os desvios porto-sistêmicos podem ser classificados como intra ou extra-hepáticos, únicos (simples) ou múltiplos, adquiridos ou congênitos (TOBIAS, 2007; WhITING e BREZNOCK, 2008). Os desvios intra-hepáticos geralmente são únicos e congênitos e têm como etiologia a falha no correto fechamento no duto venoso após o nascimento, ou ocorrem por anastomoses da veia porta com a veia hepática ou cava caudal e constituem apro-
ximadamente 35% dos desvios únicos em cães (FOSSUM, 2005). Os desvios extra-hepáticos podem ser congênitos ou adquiridos. Os congênitos ocorrem, geralmente, por presença de vasos anômalos que permitem o fluxo sanguíneo anormal do sistema portal para a circulação sistêmica e representam 63% dos desvios únicos em cães. Os desvios extra-hepáticos adquiridos, geralmente são múltiplos, sua etiologia está relacionada à resistência ao fluxo sanguíneo portal e a hipertensão portal subsequente e correspondem a 20% de todos os DPS caninos (FOSSUM, 2005).
predisposiÇão O cães de raças puras apresentam maior risco e gatos domésticos de pelo curto, são mais comumente afetados (FOSSUM, 2005; JOhNSON e ShERDING, 2008). DPS únicos são na maioria das vezes congênitos e mais diagnosticados em animais jovens, e os extra-hepáticos foram diagnosticados, em geral, em cães de raça miniatura e toy (FOSSUM, 2005; TOBIAS 2007), sendo o yorkshire terrier a raça mais acometida. Supõem-se que são hereditários em malteses, yorkshire terrier, boiadeiros australianos, irish wolfhounds e em schnauzers (TOBIAS, 2007) e que nos cairn terriers esta relacionada a herança autossômica poligênica ou monogênica com expressão variável (WATSON e BUNCh, 2010). DPS intra-hepáticos são mais diagnosticados em cães de raças médias e grandes (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2005). Machos afetados, caninos e felinos, geralmente são criptorquidas (JOhNSON e ShERDING, 2008).
Figura 1. Desvios portossistêmicos. A. Veia porta para veia cava caudal. B. Veia porta para veia ázigos. C. Veia gástrica esquerda para veia cava caudal. D. Veia esplênica para veia cava caudal. E. Veias gástricas esquerda, mesentérica cranial e caudal ou gastroduodenal para veia cava caudal. F. Combinações das anteriores. Adaptado de Fossum (2005). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
73
CIRURGIA
A maioria dos cães e gatos no DPS congênito apresenta sinais crônicos e agudos da doença até um ou dois anos de idade. Entretanto, também pode ser diagnosticada em cães de meia idade ou mais velhos (10-12 anos) se os sinais forem discretos ou leves (WINKLER et al., 2003; WORLEY e hOLT ,2008; JOhNSON e ShERDING, 2008).
HistÓriCo e sinais CLÍniCos
As hepatopatias, de forma geral, podem ser diagnosticadas com base nos sinais clínicos, achados laboratoriais e exames de imagem. Os resultados laboratoriais apoiam o diagnóstico, mas não proporcionam diagnóstico definitivo. (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007; WhITING e BREZNOCK, 2008; JOhNSON, 2008). O exame histopatológico é importante, bem como os exames de raios X e ultrassom que podem revelar a presença de fígado com tamanho reduzido, rins moderadamente grandes, ascite, e o deslocamento cranial do estômago que quase sempre é indicativo de microhepatia. No ultrassom, ainda é possível diferenciar os desvios intra dos extra-hepáticos e identificar se há presença de vasos tortuosos e anecóicos, observados junto a fístulas arteriovenosas hepáticas e avaliar a vesícula urinária e pelves renais em busca de cálculos de uratos (FOSSUM, 2005). No doppler de fluxo colorido será demonstrado padrão anormal de fluxo sanguíneo do sistema porta (TOBIAS, 2007). A portografia com contraste positivo é o exame de escolha para a determinação do tipo e localização do desvio. Em animais normais, o sangue porta circula pelo fígado, delimitando a veia porta e suas ramificações. Já animais com desvio portossistêmico congênito, o vaso do desvio é delineado conforme o sangue é desviado para o sistema venoso sistêmico de baixa pressão (TOBIAS, 2007; TOBIN, 2007; JOhNSON e ShERDING, 2008; JOhNSON, 2008). Nos portogramas pode-se diferenciar o desvio intra ou extra-hepático (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007). A cintilografia portal transcolônica nuclear é outro meio diagnóstico de desvios portossistêmicos. É uma alternativa não invasiva para a portografia mesentérica e não requer sedação ou anestesia (FOS-
Fotos: arquivos dos autores
Os sinais clínicos do DPS congênito relacionamse com os sistemas nervoso central, gastrintestinal e urinário. Os animais podem apresentar subdesenvolvimento ou baixo ganho de peso, estatura corporal pequena, quando comparado a animais da mesma ninhada, perda de peso, febre, intolerância a anestésicos ou tranquilizantes. Anormalidades neurológicas manifestam-se devido à encefalopatia hepática e são comuns: alterações comportamentais, depressão, letargia, deambulação em círculos, ataxia, fraqueza, estupor, compressão na cabeça, movimentos de pedalagem, convulsões ou coma, amaurose e vocalização, ocorrendo, geralmente, de forma intermitente e piorando com dietas ricas em proteínas, sangramento gastrintestinal associado a parasitas, úlceras ou terapia medicamentosa, pela administração de acidificantes urinários à base de metionina ou por agentes lipotrópicos (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007; JOhNSON, 2008). Devido à redução na produção de uréia e ao aumento na produção de amônia pode ser observada poliúria, polaciúria, estrangúria, infecções e outras alterações no trato urinário (TOBIAS, 2007). Geralmente, animais com DPS apresentam micro hepatia e rins proeminentes, bem como pode ser observada coloração dourada ou acobreada na íris de gatos. Ascite e edema são características raras (TOBIAS, 2007; JOhNSON, 2008)
diagnÓstiCo
Figuras 2 e 3. Apresentação de um desvio portocava único, com diminuição do diâmetro da porta cranial a comunicação.
74
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
SUM, 2005; TOBIAS, 2007; JOHNSON e SHERDING, 2008; JOHNSON, 2008). A angiografia tomográfica computadorizada é outra técnica acessível de rápida e fácil execução, pouco invasiva, permitindo a visualização de todas as tributárias portais e ramos portais intra-hepáticos com a desvantagem da impossibilidade de aferição do fluxo sanguíneo portal e a necessidade de submeter o paciente à anestesia (SILVA et al., 2009). Na Medicina Veterinária, a associação dos dados de anamnese, histórico, sinais clínicos e dados laboratoriais sugerem fortemente a comunicação vascular; contudo, o diagnóstico definitivo será conferido pela exploração cirúrgica no mesmo momento em que se pode realizar o tratamento curativo por meio da ligadura do vaso anômalo (FOSSUM, 2005; JOHNSON, 2008).
TRATAMENTO O tratamento clínico de animais com DPS é paliativo e tem como objetivo diminuir a absorção de toxinas produzidas por bactérias intestinais, reduzir a interação das bactérias intestinais com substâncias nitrogenadas, restringir a ingesta proteica, corrigir os desequilíbrios hidroeletrolíticos, acidobásicos, de glicose e prevenir a encefalopatia hepática, com expectativa de vida variando de dois meses a dois anos (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007). Terapias com lactulose, dissacarídeo não metabolizável tem se mostrado eficientes (BRUM et al., 2007; TOBIAS, 2007). Antibióticos de amplo espectro como neomicina, metronidazol ou ampicilina por via oral, a curto prazo reduzem a população de bactérias produtoras de urease (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007; JOHNSON e SHERDING, 2008; JOHNSON, 2008). Antibióticos sistêmicos como amoxicilina, metronidazol e ampicilina também se mostram eficazes (FOSSUM, 2005; JOHNSON, 2008). A cirurgia constitui o tratamento de eleição e tem por objetivo identificar e ligar ou atenuar o vaso anormal. Para a anestesia, deve-se evitar administrar fármacos metabolizados exclusivamente pelo fígado, intensamente ligados a proteínas ou hepatotóxicos, devido à função hepática comprometida, hipoalbuminemia, fluxo sanguíneo anormal (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007).
Raramente é possível que os desvios estejam associados a outros vasos. Os desvios portocava extra -hepáticos com frequência desembocam do lado esquerdo da veia cava caudal, cranialmente as veias renais e adjacentemente ao forame epiplóico. Desvios portoázigos são frequentemente observados em cães com dois anos de idade ou mais e muitas vezes atravessam o diafragma, nos pilares ou no hiato esofágico ficando encobertos por vísceras adjacentes no abdome cranial (TOBIAS, 2007). A maioria dos desvios extra-hepáticos únicos é encontrada ao longo da curvatura menor do estômago em direção ao diafragma. A criação de uma janela no omento permite maior observação. Retrai-se o estômago cranialmente, o lobo esquerdo do pâncreas caudalmente e o duodeno para a direita ventralmente para facilitar a identificação do vaso anômalo, que geralmente é tortuoso e com um calibre maior que qualquer outro vaso da vasculatura circulante (Figura 4). A presença de fluxo sanguíneo turbulento é facilmente observada através da delgada parede do desvio (WHITING e BREZNOCK, 2008; JOHNSON, 2008). OS DPS extra-hepáticos podem ser ligados, na maioria das vezes, em cães sem histórico de encefalopatia; contudo, de 40% a 68% dos animais submetidos a correção cirúrgica toleram apenas ligação parcial. Antes da correção permanente, o desvio deve ser ocluído temporariamente, por três a cinco minutos, para a observação das vísceras quanto à hipertensão portal (palidez, cianose dos intestinos, aumento de peristaltismo, cianose ou edema do pâncreas e aumento das pulsações vasculares mesentéricas), a pressão arterial portal deve ser aferida (Figura 5) e ocorrendo sinais objetivos ou subjetivos de hipertensão portal a ligadura devera ser afrouxada até que esses sinais não estejam mais presentes (TOBIAS, 2007).
TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA DPS EXTRA-HEPÁTICOS Os DPS extra-hepáticos localizam-se caudalmente ao fígado, e podem ser do tipo: desvios portocava, entre a veia porta e a veia cava caudal (Figuras 2 e 3) ou portoázigos, entre a veia porta e a veia ázigos. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Figura 4. Identificação do DPS solitário com calibre maior do que a porção da porta após a comunicação.
75
CIRURGIA
Fonte: verMote (2007).
Figura 5. Aferição da pressão portal para aplicação da ligadura na comunicação anômala.
Figura 6. Colocação de constritor em desvio portossistêmico extra-hepático e tamanhos variados de constritor aneróide.
Quando se realiza sutura para a oclusão dos desvios pode ocorrer hipertensão portal de 2 a 24 horas após a cirurgia, deve-se ficar atento para o aparecimento de distensão abdominal, dor, diarreia sanguinolenta, íleo paralitico, choque endotóxico e colapso cardiovascular (TOBIAS, 2007). Tendo em vista essas complicações da oclusão abrupta, para a oclusão gradativa do desvio portossistêmico extra-hepático pode-se utilizar o constritor
ameróide (Figura 6), feito de material caseínico higroscópico circundado por um anel de aço inoxidável. Deve-se fazer uma dissecação leve ao redor do vaso para a colocação do dispositivo, cuidando-se para não dissecar de forma excessiva e fazendo com que o constritor se movimente e provoque a obstrução aguda do vaso (Figuras 7 e 8). Antes da aplicação do constritor, a “chave”, uma pequena coluna de caseína que completa o anel constritor é retirada. O constritor é colocado ao redor do desvio e a chave de caseína é recolocada (Figura 9). A caseína do constritor começa a absorver o líquido corporal e a inchar; o lúmen do anel diminui gradativamente, causando a oclusão progressiva do vaso. O constritor não se fecha por completo, porém a reação do tecido fibroso estimulada pelo ameróide resulta em oclusão do vaso de quatro a cinco semanas, sendo mais rápida no primeiros três a 14 dias após a cirurgia, diminuindo a velocidade de fechamento gradativamente após esse período, evitando hipertensão portal aguda (TOBIAS, 2007). Outro método de constrição progressiva dos desvios portossistêmicos extra-hepáticos é a utilização de faixas de celofane (Figura 10). A faixa é formada pelo dobramento longitudinal, em terços, de uma tira de 1,2 cm de largura de celofane esterilizado com óxido de etileno (TOBIAS, 2007). As complicações agudas após tratamento cirúrgico dos desvios portossistêmicos incluem: hemorragia, anemia, hipoglicemia, hipotermia, convulsões, hipertensão portal e recidiva dos sinais clínicos (TOBIAS, 2007). Após a cirurgia deve-se monitorar o paciente quanto à temperatura, hematócrita, concentração sérica de proteínas, hiperamonemia, hipóxia, desequilíbrios eletrolíticos e acidobásicos, hipertensão e hipoglicemia. Deve-se manter a fluidoterapia no pós-operatório, fornecer dieta pobre em proteína e gorduras e medica-
Figuras 7 e 8: Aplicação do constritor ameróide no vaso anômalo, onde se observa a dissecação cautelosa e mínima, para que as estruturas adjacentes acomodem o dispositivo sem permitir dar mais espaço que ele dobre e promova a oclusão vascular.
76
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
mentos como lactulose e neomicina ou metronidazol por via oral, sendo a terapia mantida por quatro a oito semanas ou mais, até a oclusão completa do vaso e a regeneração do parênquima hepático (FOSSUM, 2005; TOBIAS, 2007; JOHNSON, 2008). A porcentagem de complicação é baixa em cães com desvio extra-hepático e sem encefalopatia hepática, quando utilizada a ligadura total, e que sobreviverem ao período pós-operatório imediato, particularmente para cães que realizaram atenuação gradual. A porcentagem de mortalidade varia de 0% a 25% de acordo com a experiência do cirurgião, localização do desvio, método e grau de atenuação do desvio e estado de saúde do paciente (TOBIAS, 2007).
Figura 9. Fechamento do dispositivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 10: Visão laparoscópica mostrando uma faixa de celofane em volta de um desvio portossistêmico extra-hepático (entre as setas). Adaptado de Mueller e Fowler (2006).
Os DPS extra-hepáticos promovem sinais clínicos inespecíficos e a alteração morfológica sempre deverá fazer parte da investigação clínica. Quando diagnosticado, o tratamento cirúrgico é a eleição, assim que o paciente tiver sido estabilizado clinicamente.
Referências Bibliográficas BIRCHARD, S.J. Cirurgia de Fígado e Trato Biliar In: BIRCHARD, S. J.; SHERDING, R. G. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, p. 830838, 2008. BRUM, A. M. et al. Utilização de probiótico e de lactulose no controle de hiperamonemia causada por desvio vascular portossistêmico congênito em um cão. Ciência rural, v.37, n.2, p. 572-574, 2007. FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. In:______. Cirurgia hepática. 2.ed. São Paulo: Roca, 2005. p. 451-469, 2005. JOHNSON, S. E. Tratado de medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Hepatopatias crônicas 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2 v. p. 1.369-1.398, 2008. JOHNSON S.E.; SHERDING, R.G. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Hepa-
topatias e doenças do trato biliar. 3. ed. São Paulo: Roca, p. 900-950, 2008. MILLER, J.M.; FOWLER, J.D. Laparoscopic portosystemic shunt attenuation in two dogs. Journal of the american animal hospital association v.42, p. 160-164, 2006. SILVA, V.C. et al. Ultrassonografia doppler e angiografia tomográfica computadorizada no diagnostico de desvios porto-sistêmicos. Revisão de Literatura. Clínica veterinária n.78, p. 70-78, 2009. TOBIAS K.M. Manual de cirurgia de pequenos animais. In: SLATTER, D.H. Desvios portossistêmicos e outras anomalias vasculares hepáticas. 3. ed. Barueri: Manole, 2007. 2 v, p. 727-751, 2007. TOBIN, E. Diagnostic imaging of the liver. Companion animal v.12, n.4, p. 82-86, 2007. VERMOTE K.; RISSELADA, M.; HAERS H.; SAUNDERS, J.; PAEPE, D.; DAMINET, S. Surgical manage-
ment of congenital extrahepatic portosystemic shunts in dogs and cats. VlaamsDiergeneeskundigTijdschrift76,p.401-409. WATSON, P.J.; BUNCH, S.E. Medicina interna de pequenos animais. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Distúrbios hepatobiliares e do pâncreas exócrino. 4.ed., Rio de Janeiro: Elsevier, p. 485-608. 2010. WINKLER J.T.; BOHLING M.W.; TILLSON D.M., et al. Portosystemic shunts: diagnosis, prognosis and treatment of 64 cases (1993–2001). J Am Anim Hosp Assoc, v.39, p. 169-185, 2003. WHITING, P. G.; BREZNOCK, E. M. Desvios portossistêmicos. In: BOJRAB, M. Joseph. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, p. 280-284, 2008. WORLEY D.R.; HOLT D.E. Clinical outcome of congenital extrahepatic portosystemic shunt attenuation in dogs aged five years and older: 17 cases (1992-2005). J Am Vet Med Assoc v.232, n.5, p. 722-727, 2008.
Dados dos Autores Eros Luiz de Sousa Médico Veterinário – CRMV-PR nº 4432, Faculdade Evangélica do Paraná eros.luiz@fepar.edu.br Georgia Consuelo Karwowski Machaso Magnoni Acadêmica de Medicina Veterinária da Faculdade Evangélica do Paraná
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
77
PESQUISA BÁSICA
TRANSGENIA:
FERRAMENTA DE PESQUISA DISPONÍVEL NO BRASIL A tecnologia de DNA recombinante (TDR), desenvolvida no final dos anos 1970, reúne uma série de métodos bioquímicos para a manipulação de moléculas de DNA, para construir genes de interesse e inseri-los no genoma de diferentes organismos. Inicialmente aplicada a micro-organismos e em seguida a plantas, essa biotecnologia foi avançando e sofisticando-se, de forma que no início dos anos 1980 passou a ser capaz de inserir um gene construído no laboratório (um transgene) no genoma de camundongos, criando os chamados camundongos transgênicos. A transgenia em camundongos rapidamente consolidou-se como uma poderosa ferramenta de pesquisa no mundo todo. A técnica permite o desenho de experimentos para entender-se função gênica, desenvolvimento embrionário, assim como câncer e outros processos fisiológicos normais e patogênicos em mamíferos. Com as TDR, pode-se construir transgenes com elementos de diferentes espécies: por exemplo, o gene da proteína verde fluorescente da água viva (GFP) sob o controle de uma sequência reguladora humana de função desconhecida. Animais transgênicos expressarão a GFP nos tecidos determinados pela sequência reguladora humana, mostrando, então, a sua função. Pode-se usar estratégia similar para testar se um novo gene é responsável pelo desenvolvimento de tumores. Nesse caso, faz-se um transgene unindo a sequência reguladora de um vírus, que faz o gene ligado a ela ser fortemente expresso em qualquer tecido, ao gene candidato, cria-se um animal transgênico contendo essa construção, e observa-se se nele há formação de tumores. Já em 1989, foi desenvolvida outra ferramenta de manipulação do genoma do camundongo, chamada de recombinação homóloga, que criou os chamados camundongos knockout. Enquanto na transgenia um transgene construído pelas TDR é inserido em local aleatório do genoma murino, constituindo um novo gene adicional naquele genoma, na recombinação homóloga o objetivo é modificar-se um gene
78
endógeno do genoma daquele animal. A técnica permite a geração de animais com mutações em genes específicos de seu genoma, o que, por sua vez, leva à criação de modelos animais para doenças genéticas humanas. Observe-se o exemplo da síndrome de Marfan. Essa é uma doença genética do tecido conjuntivo, de herança autossômica dominante, e que afeta os sistemas ósseo, ocular e cardiovascular, levando à morte de pacientes por ruptura da aorta. O gene mutado nessa síndrome, chamado FBN1, foi identificado em 1991, e codifica uma proteína de matriz extracelular – a fibrilina-1. Para melhor entender a progressão da doença e para testar novas estratégias terapêuticas para síndrome de Marfan, utilizou-se-se a técnica de recombinação homóloga para criar camundongos contendo mutações no gene da fibrilina-1 murina (Fbn1). Esses animais manifestam os fenótipos ósseo e cardiovascular da doença, e foram fundamentais para a descoberta dos mecanismos de patogênese da síndrome. A partir desses novos conhecimentos, novas estratégias terapêuticas foram propostas, comprovadas nesses mesmos modelos animais, e, atualmente, estão sendo experimentadas em pacientes. Como a transgenia, a técnica de geração de animais knockout foi rapidamente assimilada por grupos de pesquisa no mundo todo, e esses animais são utilizados tanto como modelos de doenças genéticas humanas quanto em estudos de função gênica. Em 2007, o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia foi dado aos três cientistas que desenvolveram essa técnica. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
Shutterstock
Além de extremamente poderosas, as tecnologias de manipulação do genoma murino são técnicas complexas, que requerem diferentes competências e infraestruturas – biologia molecular (para a construção dos transgenes e dos vetores de recombinação homóloga), cultura celular (no caso dos animais knockout), embriologia, e veterinária (para o manejo da colônia de camundongos). Por isso, é inviável cada grupo interessado gerar um animal geneticamente modificado e implementar a técnica em seu laboratório. Assim, foram criados laboratórios de prestação de serviços (ou facilities) cuja função é exclusivamente a geração dos animais transgênicos e/ou knockout para diferentes grupos de pesquisa. Essas facilities surgiram inicialmente dentro de centros de pesquisa para atender à sua demanda interna, e, atualmente, existem até empresas que oferecem o serviço para quem quiser. A disponibilidade desses serviços permite o desenvolvimento de pesquisas profundas, de alto impacto. No Brasil, apesar de inúmeras tentativas, até o início dos anos 2000 não existia nenhum grupo capaz de gerar camundongos transgênicos. Importante ressaltar que a técnica foi desenvolvida nos EUA no início dos anos 1980. As principais dificuldades eram 1) biotérios adequados; e 2) fixação de mão de obra técnica especializada. Com o financiamento da Fapesp, em 1998, iniciou-se um projeto para a implementação da técnica de geração de animais knockout na USP. Reuniram-se as diferentes competências, contando com o apoio do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia e do Instituto de Biociências da USP, e em 2000 gerou-se o primeiro camundongo knockout. A ideia era oferecer a tecnologia para grupos nacionais, mas não houve interesse suficiente na ferramenta de pesquisa. Como a comunidade científica brasileira não tinha o hábito de ter essa ferramenta à mão, ainda não sabia direito o que fazer com ela, como utilizá-la para responder a suas perguntas científicas. Além disso, na época, eram necessários 18 meses para a geração do modelo animal, o que desestimulou alguns grupos interessados.
Manipulação de núcleo celular.
Dada a falta de demanda, não se conseguiu manter a estrutura nem o grupo formado para aquele fim. Os estudos sobre a síndrome de Marfan com os modelos gerados prosseguem, mas não foi criado outro camundongo knockout desde então. Dez anos se passaram e, agora, finalmente, há dois laboratórios de prestação de serviços produzindo animais transgênicos no Brasil: o Laboratório de Modificação do Genoma (LMG), parte do Laboratório Nacional de Biociências, em Campinas; e o Cedeme, na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), em São Paulo. Eles oferecem ampla lista de serviços de modificações genéticas em camundongos, incorporando as tecnologias mais modernas que utilizam vírus e outros tipos de vetores. Essas são iniciativas exemplares, que podem de fato melhorar a qualidade da pesquisa feita no País. Resta, agora, educar os cientistas brasileiros e divulgar essas poderosas ferramentas de investigação para que elas sejam incorporadas na nossa forma de fazer ciência. Chega de “comer pelas bordas”, vamos nos aprofundar nas questões biológicas que queremos desvendar.
Dados dos Autores Lygia da Veiga Pereira PhD em ciências biomédicas – Laboratório Nacional de Células Tronco Embrionárias, Depto. Genética e Biologia Evolutiva, USP; lpereira@usp.br Bruno Lazzari de Lima Médico Veterinário. CRMV-SP nº 30663. Pet Cure Centro Veterinário
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
79
OPINIÃO
MUITO ALÉM DO TÉCNICO rafael Costa jorge
Médico Veterinário (USP); Residência em cirurgia de pequenos animais (USP); Hospital Veterinário Pompéia-SP.
há cerca de três anos, fui convidado pelo CFMV calcular, ler, observar e interpretar. A capacidade da para participar de um ciclo de debates sobre a residênpessoa em mobilizar suas habilidades (saber fazer), cia médica quando expus minha preocupação com seus conhecimentos (saber) e suas atitudes (saber o tecnicismo das faculdades de medicina veterinária ser) para solucionar determinada situação-problema e de seus programas de residência. Atualmente, veé chamada por alguns educadores como compemos que pouco mudou. Temos poucos currículos de tência. Assim, entender os conceitos é uma coisa, cursos que dedicam carga horária para orientação interpretá-los é outra e posicionar-se diante disso é dos futuros profissionais quanto a comportamentos outra. Nesse sentido os conhecimentos adquiridos e habilidades que farão diferença na manutenção de na forma pura/científica pelos estudantes de vetesua empresa, emprego e sustento. Pesquisa na área rinária/zootecnia sem o desenvolvimento de uma médica demonstra que para um cliente a capacidade visão mais ampla, humanística e contextualizada ao técnica do médico é o 5º item avaliado em uma lista de ambiente administrativo acaba por restringir suas importância, ficando atrás de pontualidade, limpeza, potencialidades, gerar conflitos, e consequentemenapresentação e atendimento personalizado. Isso não te frustração na relação de trabalho. é surpresa, visto que o cliente, como leigo, não tem O profissionalismo é ponto importante e pouco capacidade de avaliar o profissional. abordado na formação de nossos alunos e residenNão pretendo minimizar a importância do contes. Cito aqui dois exemplos que facilitam a compreteúdo técnico, mas enfatizar que não é esse conteúdo ensão: o primeiro é aquele profissional com grande isoladamente que será determinante para seu sucesso. Muitas empresas, atualmente, têm voltado seu processo seletivo para identificar habilidades, competências e valores prioritários ao desempenho teórico. Isto se deve ao fato de que estas empresas desenvolvem programas de treinamento para os recém-contratados com o objetivo de padronizar o conhecimento e promover a cultura organizacional, as universidades corporativas. Garantindo, dessa forma, um quadro de profissionais bem preparados, flexíveis e com o“DNA”da empresa. Como definiu Philippe Perrenoud sociólogo suíço: “na área da educação, habilidade é o saber fazer”. É a capacidade do indivíduo de realizar algo, como classificar, montar, Local, equipamentos e postura adequados durante o atendimento.
80
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
capacidade de comunicação, que se faz entender e possui excelente relacionamento com o cliente, apesar do conhecimento restrito. Está sempre com grande número de clientes, sabe cobrar honorários, se apresenta bem vestido e procura agradar/confortar o cliente. O outro, é aquele profissional de grande conhecimento técnico, estudioso e com um currículo enorme, mas que não tem postura, veste-se mal, não tem habilidades de comunicação, não se valoriza, apresenta dificuldade de expressão A boa apresentação está entre os cincos itens mais importantes na avaliação do cliente. e que por timidez ou descuido não se preocupa em entender as angústias e as dificílima e um programa de residência intenso, denecessidades de seus clientes. O bom profissional sistiram da profissão com 3 ou 4 anos de formados... além da busca constante do conhecimento (saber) Quanto recurso público e quantos anos desperdiçae do treinamento das habilidades (saber fazer) nedos pela falta de planejamento. Muitos buscam a pós cessita, também, para solidificar sua carreira e colher graduação como refúgio. Provavelmente, motivado os frutos do sucesso, possuir boa capacidade de expelo tecnicismo acadêmico sem planejamento de carpressão e de comunicação; capacidade de trabalho reira. Acredito que a falha está na ausência de preparo em equipe; ser flexibilidade; possuir visão sistêmica e do profissional para que possa entender as nuances associar informações; ser compreensivo, identificar e do mercado e ser capaz de inserir-se nele. suprir as necessidades do cliente, preocupar-se com A remuneração profissional, por vezes, é tratada o paciente e, principalmente, ser pontual; ter postura como tema polêmico durante a graduação. Quem e boa apresentação. Saber valorizar-se é o primeiro presta o vestibular para veterinária na maioria das vezes passo para que seus clientes também o façam. é porque “gosta de animais”. Gostar de animais, espeA valorização deve partir dos próprios profissiocialmente para quem irá seguir na clinica médica, é funnais. Quando nos apresentamos de tênis sujo, calça damental para que mantenha prazerosa sua atividade, jeans desfiada e camiseta por baixo de um jaleco enmas é também fundamental que se goste de pessoas. cardido, que mensagem estamos passando? Que reO sucesso depende disso! Mas, há que separar a visão muneração esperamos? Insisto: nosso conhecimento romântica do profissional. Sua remuneração deverá ser é intangível aos olhos do cliente! A maneira como um adequada para suprir as necessidades pessoais, mas, consultor em produtividade de gado de corte apretambém, permitir que sejam cobertos os impostos e senta seu plano de negócios, sua proposta com plaencargos; que o profissional possa investir na educação nilhas completas, demonstrando expectativas com continuada e, que, em casos específicos possa dar retorclareza refletirá no reconhecimento profissional. no financeiro ao empregador. Este lucro é fundamental No dia 18 de fevereiro a Folha de São Paulo publipara que a empresa continue investindo na melhora da cou reportagem sobre a inclusão de conteúdo de eduestrutura e serviços que oferece, continue empregando cação financeira no currículo do ensino fundamental e gere dividendos para se manter atuante. e médio das escolas públicas após a identificação do Com o mercado pet do País crescendo acima da “analfabetismo” financeiro de nossas crianças. Essa inflação e sendo, atualmente, o terceiro maior em inclusão demonstrou, em projeto-piloto com 900 faturamento mundial, abaixo de China e EUA , com o escolas do ensino médio, uma melhora na consciênBrasil se firmando como o maior produtor e fornececia financeira e potencial aumento na capacidade de dor mundial de proteína animal, é chegada a hora do poupança dos alunos. Com o sucesso deste projetosalto qualitativo em nossa profissionalização. Há que piloto no ensino médio de escolas públicas podemos se identificar e valorizar as habilidades e competênprojetar o impacto que teria a inclusão no currículo cias durante a formação. Sem diminuir a importância das faculdades de medicina veterinária e zootecnia da formação técnica, faz-se necessário inserir conceio planejamento de carreira. Tive a oportunidade de tos de profissionalismo e estimular o planejamento acompanhar bons profissionais, formados em univerde carreira de forma a gerar um profissional valorizasidades públicas de renome e que, após uma seleção do, preparado e reconhecido socialmente. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
81
PUBLICAçÕES
TéCNICAS CIRúRGICAS EM PEquENOS ANIMAIS André Lacerda de Abreu Oliveira
EDITORA ELSEVIER www.elsevier.com.br/ veterinaria
O material é composto por 33 capítulos dedicados ao ensino das principais técnicas cirúrgicas veterinárias. Além disto, contempla assuntos como a história da cirurgia, profilaxia das infecções, fases fundamentais da técnica cirúrgica, acessos cirúrgicos, cicatrização, métodos de ensino e biossegurança. Um grande diferencial deste trabalho é a inclusão de inúmeros vídeos online das principais técnicas cirúrgicas, facilitando a compreensão de diversos procedimentos cirúrgicos. DOENçAS DOS SuíNOS – Segunda edição Jurij Sobestiansky e David Barcellos
CÂNONE EDITORIAL cânone@brturbo.com.br
Esta edição é o resultado do trabalho de 38 veterinários reconhecidos pelo segmento, que trazem o que há de mais atual no controle de doenças de suínos e reafirmam a importância da prevenção, a vacinação adequada dos plantéis e do uso prudente de antimicrobianos. São apresentadas as mais destacadas doenças dos suínos numa forma simples, amplamente ilustrada e esquematizada. PLANTAS TóxICAS DO BRASIL PARA ANIMAIS DE PRODuçÃO – Segunda edição
EDITORA hELIANThuS http://www.livreiroonline. com/editora/editorahelianthus-ltda-me
O livro traz a experiência de mais de 60 anos de pesquisa dos autores, reúne todas as informações publicadas em revistas cientificas sobre o tema. A obra de 566 páginas está ricamente ilustrada com 790 fotografias e 68 desenhos em cores, 67 mapas, e traz o aspecto das diferentes plantas, os quadros clínicos que provocam, os achados de necropsia e a histopatologia. Os mapas indicam a distribuição dessas plantas no Brasil. Também são descritas as condições em que ocorrem as intoxicações. MANuTENçÃO DE TAMANDuÁS EM CATIVEIRO Flávia Miranda
EDITORA CuBO www.editoracubo.com.br e contato@tamandua.
82
Um guia completo e didático, atualizado e útil a respeito destas famílias de animais, com a esperança de alcançar o máximo impacto acerca da manutenção adequada aos tamanduás mantidos em cativeiro, assim como beneficiar aqueles que persistem em estado selvagem. Escrito por 22 autores, de diferentes países, fornece os recursos necessários ao conhecimento da biologia básica das 3 espécies brasileiras de tamanduás, além de elucidar técnicas que auxiliam no seu manejo. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 58 - 2013
13 de maio
Promover a qualidade dos produtos do campo, impulsionar o agronegócio, contribuir para a garantia da segurança alimentar, da produção animal e do bem-estar da humanidade. É por tudo isso, que esse profissional merece o nosso respeito.
Parabéns pelo seu dia!
Dia do Zootecnista 13 de maio
Dia do Zootecnista
Em 2013, o Sistema CFMV/CRMVs comemora 45 anos com campanhas inéditas, eventos e muito mais. Tudo isso em homenagem aos profissionais da Medicina Veterinária e da Zootecnia. Conselho Federal de Medicina Veterinária SIA Trecho 6, lotes 130 e 140 | Brasília-DF | 71205-060 | www.cfmv.gov.br