Revista cfmv 64

Page 1

64

JANEIRO A MARÇO 2015 ano xxI brasília df ISSN 1517-6959

Revista

Saúde Pública

Doenças emergentes e reemergentes. Como se antecipar?

Medicina Veterinária

ENTREVISTA

Dr. Eduardo G. Pereira Médico Veterinário e empresário rural

Os desafios na educação Métodos favorecem o desenvolvimento de competências humanísticas



SUMÁRIO

nº 64 Janeiro a Março 2015 CAPA 23 Desafios da educação 27 Vivência do projeto evidencia seus pontos fortes 32 Com a técnica correta, é possível aplicar em todas as disciplinas

23

05 ENTREVISTA Eduardo Graciano Pereira

08 Revista CFMV: 20 anos 12 Doenças emergentes e reemergentes. Como se antecipar? 16 Programas de Residência e Aprimoramento poderão obter a chancela do CFMV 17 Empregabilidade e áreas emergentes e decadentes 18 Documentos veterinários são padronizados pelo CFMV 19 Destaques CFMV 22 CFMV na mídia 36 Diretrizes curriculares nacionais e o profissional do futuro 39 Aplicações e métodos de sexagem de sêmen bovino 45 Saúde e conservação das tartarugas marinhas no Brasil 49 Solução salina hipertônica no choque circulatório em grandes animais 54 Em dia com a fiscalização 55 Suplemento científico 84 Vamos enfrentar o Dr. Google? 86 Publicações

08

39 45


Agora é trimestral

EDITORIAL

Nesta nova gestão, uma das nossas primeiras ações foi oferecer mais uma edição por ano da Revista CFMV para os profissionais atuantes no Sistema CFMV/CRMVs. Essa foi uma demanda levantada pelos Médicos Veterinários e Zootecnistas no Diagnóstico CFMV, realizado em 2012. Com quatro edições por ano, levamos aos profissionais informações atualizadas e disponibilizamos mais matérias técnicas e de educação continuada. A partir deste número, a Revista também apresenta novas seções, cujo objetivo é dirimir dúvidas sobre a legislação que rege as profissões. Com informação, nos tornamos mais fortes, nos protegemos e defendemos nossa profissão, além de podermos participar, efetivamente, de sua construção. A edição nº 64 traz entre suas matérias os primeiros resultados de um projeto de educação capitaneado pelo CFMV, com apoio dos coordenadores de curso. Ao mudar o formato das aulas, ele incentiva o desenvolvimento de competências humanísticas, ou seja, aquelas que vão além dos quesitos técnicos. Somos reconhecidamente excelentes nas qualidades técnicas, mas nossa formação requer cada vez mais habilidades humanísticas. O CFMV, atento às transformações mundiais, também apresenta os resultados dos trabalhos de reformulação das diretrizes curriculares que serão encaminhados ao MEC. O ano de 2015 inicia uma nova etapa de nossos trabalhos e gostaríamos de contar sempre com a colaboração de todos os profissionais. Boa leitura!

Benedito Fortes de Arruda Presidente do CFMV

A Revista CFMV é trimestral e destina-se à divulgação de ações do CFMV, de promoção da educação continuada e de valorização da Medicina Veterinária e da Zootecnia. Distribuída a todos os

AGRIS L70 CDU619 (81)(05)

É permitida a reprodução de artigos da revista, desde que seja citada a fonte. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFMV. As fotos enviadas serão automaticamente cadastradas no banco de imagens do CFMV com o devido crédito.

EXPEDIENTE

profissionais atuantes, está disponível em www.cfmv.gov.br. É indexada na base de dados Agrobase.

Conselho Federal de Medicina Veterinária SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília-DF – CEP 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br Tiragem: 100.000 exemplares Diretoria Executiva Presidente Benedito Fortes de Arruda CRMV-GO no 0272 Vice-Presidente Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE no 0037 Secretário-Geral Marcello Rodrigues da Roza CRMV-DF no 0594 Tesoureiro Amilson Pereira Said CRMV-ES no 0093 Conselheiros Conselheiros Efetivos Adeilton Ricardo da Silva CRMV-RO no 002/Z Cláudio Regis Depes CRMV-SP no 4010 Gerson Harrop Filho CRMV-PE no 0678 Gilmar Nogueira Rocha CRMV-AM no 0195 Moacir Tonet CRMV-SC no 0837 Sérgio Carmona de São Clemente CRMV-RJ no 1537 Conselheiros Suplentes Felipe José Feitosa Bastos CRMV-AL no 0451 Flávio Pinto de Oliveira CRMV-PB no 0385 Laudélio Santos Fonseca CRMV-BA no 0599 Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho CRMV-MA no 0454 Reginaldo Santos Nogueira CRMV-TO no 0164 Rísia Lopes Negreiros CRMV-MT no 1379 Conselho Editorial Presidente Marcello Rodrigues da Roza CRMV-DF no 0594 Líder da Área de Comunicação Lívia Domeneghetti Davanzo Editor Ricardo Junqueira Del Carlo Subeditora Flávia Tonin Revista CFMV Editor Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG no 1759 Jornalista Responsável Flávia Tonin MTB no 039263/SP Projeto e Diagramação Ideorama Comunicação Ltda EPP Impressão Esdeva Indústria Gráfica


ENTREVISTA

Fotos: arquivo do autor

O senhor é membro de uma holding familiar. Em que consiste esse sistema de administração? Nossa empresa agropecuária tem cinco sócios: meu pai e quatro filhos. Cada sócio é responsável por um setor. Optamos por criar uma holding para melhorar o relacionamento entre os sócios, com normas de funcionamento, e pensando também na sucessão pelas futuras gerações. Trata-se de um sistema que resulta em tranquilidade administrativa, com protocolos familiares definidos e frequentes reuniões de acompanhamento. Houve profissionalização do relacionamento e da gestão. Qual é o seu papel na empresa como Médico Veterinário? Sou gerente de pecuária leiteira, responsável por essa atividade. Minhas atribuições maiores são: controle sanitário, determinação e controle de índices zootécnicos, compras de insumos, coordenação e treinamento de mão de obra, além do gerenciamento econômico. O nível da pecuária profissional exige o gerenciamento de uma pessoa especializada.

Eduardo Graciano Pereira Médico Veterinário graduado pela Unifenas em 1993 e empresário rural, é um dos responsáveis pela Agropecuária 4 irmãos, que conta com fazendas em Goiás e Minas Gerais, com faturamento de R$ 16 milhões por ano. As principais atividades são café, agricultura e pecuária de corte e leite, sendo esta de responsabilidade de Pereira. No rebanho, estão 800 vacas das raças Holandesa e Girolando, com produção anual de 2,4 milhões de litros de leite. O negócio de tradição familiar está em constante atualização, em busca de sistemas que propiciem a melhor produção e rentabilidade, e a formação médico-veterinária somente veio a contribuir com esse objetivo.

Atualmente, a empresa opta pela produção em sistema denominado compost barn. Qual era o sistema de produção anterior e o que motivou a mudança? Trabalhávamos com o pastejo rotacionado no verão e pista de alimentação no inverno, quando fornecíamos silagem de milho. Notamos, com o passar dos anos, que o sistema de produção limitava nossa escala de produção e optamos pelo compost barn. Trata-se de um tipo de confinamento novo no Brasil, que consiste em cama coletiva para vacas. Confinar as vacas de leite é uma escolha difícil, pois vários parâmetros precisam ser atendidos como, por exemplo, capacidade de produção de alimentos, qualidade e grau do sangue das vacas, mão de obra disponível, entre outros. Quais são os maiores desafios para criar e recriar, considerando a adoção do sistema compost barn? Nos sistemas intensivos de produção de leite, um dos maiores desafios é sem dúvida a reposição dos animais. No compost barn, temos a expectativa de aumentar a vida útil da vaca, o que normalmente não é fácil. Mesmo assim, a cria e recria são fundamentais, pois geram a capacidade de descarte e crescimento do rebanho. Temos que acelerar a recria, visando a ter uma taxa de reposição mais alta. No

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

5


ENTREVISTA Eduardo Graciano Pereira

nosso caso, é uma das principais ferramentas visando à melhoria da genética e ao aumento da produção das vacas. E os aspectos relacionados à reprodução e maternidade? Algo que possa ser destacado? A reprodução demanda o maior serviço veterinário em nossa fazenda. Uma fazenda leiteira só terá sucesso se a reprodução dos animais for eficiente. Utilizamos acompanhamento quinzenal das vacas, com exames ginecológicos e adoção de protocolos reprodutiVista panorâmica de uma das fazendas da holding, em Minas Gerais

vos para aumentar a taxa concepção do rebanho. A maternidade é outro ponto importante de atenção, exigindo acompanhamento das vacas. É importante a presença para garantir a saúde da mãe e o fornecimento do colostro com eficiência e rapidez. É interessante que os cuidados básicos que aprendemos há 20 anos ainda são os mais importantes para garantia da saúde da vaca e sua cria. Como é feita a escolha dos acasalamentos e reprodutores? Utilizamos a inseminação artificial, por ser uma técnica mais econômica e prática para o melhoramento genético, a partir de critérios estabelecidos que permitiram corrigir deficiências observadas no rebanho. Atualmente, focamos na melhoria do sistema mamário e saú-

6

de. Com as prioridades em mãos, analisamos os pedigrees e a faixa de preço de sêmen e escolhemos as melhores opções.

ambiente, não são usados produ-

Qual é a sua opinião se considerarmos o bem-estar animal num sistema aberto e em um sistema de confinamento? E quanto ao meio ambiente?

e retornados em forma de adubos,

No meu ponto de vista, existe erro ao acreditar que o confinamento não traz bem-estar. No sistema compost barn, as vacas ficam deitadas literalmente e dormindo, o que nos sugere que estão em conforto. O pastejo nos traz a visão bucólica de animais pastando em campos verdes, mas, na realidade, o desafio é enorme para que se mantenha o conforto em grandes rebanhos. Com relação ao meio

lizar profissionalmente?

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

tos carrapaticidas e bernicidas e é possível controlar todos os dejetos dos animais, que são aproveitados gerando economia e substituição de produtos químicos. Por estar em constante atividade na fazenda, como faz para se atua-

Procuro ler e participar de eventos ligados ao setor. Outra forma interessante é fazer visitas a fazendas que investem em novidades. Geralmente, as fazendas leiteiras são muito receptivas. Sua empresa tem por meta a alta produtividade. O senhor busca consultorias? Qual é a sua opinião sobre a especialização profissio-


ENTREVISTA Eduardo Graciano Pereira

nal e o mercado de trabalho para o Medico Veterinário que atua na pecuária leiteira? É muito difícil gerenciar uma fazenda leiteira sem a ajuda de especialistas. Há colegas que são grandes especialistas em suas áreas e necessitamos dessa orientação. Na pecuária leiteira, deixamos de ter apenas um clínico geral para contar com especialistas em cascos, mamites, nutrição e reprodução. A Medicina Veterinária se especializou muito e esses colegas são os mais requisitados. Acredito no aperfeiçoamento profissional como parte do sucesso no mercado de trabalho atual. Os produtores de leite, de maneira geral, são pessimistas quanto à atividade. O senhor, ao contrário, vem investindo muito. De onde vem essa motivação? Vejo a atividade leiteira como um negócio qualquer que necessita de planejamento e eficiência. Muitas vezes, a atividade é mal vista, porém sem embasamento em estudos de viabilidade econômica. Acreditamos na necessidade de avaliar e, há um ano, estamos inseridos em um programa (Educampo) que nos permite estabelecer um planejamento com metas que precisamos alcançar para permanecer na atividade, por isso não deixamos de investir.

Produção de leite no sistema compost barn

Vejo a atividade leiteira como um negócio qualquer que necessita de planejamento e eficiência.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

7


20 anos e o presente ĂŠ seu!


A Revista CFMV agora é trimestral, com mais uma edição por ano.


A Revista CFMV nasceu em janeiro de 1995,

com o objetivo de levar informação, para todo o Brasil, sobre as realizações do Sistema CFMV/ CRMVs, além de matérias de atualização técnica profissional e artigos de educação continuada. “A revista seria a melhor forma de atingirmos nosso objetivo, principalmente para as regiões mais distantes com pouco acesso à informação”, lembra o presidente do CFMV na época, Benedito Fortes de Arruda, que transformou o jornal da entidade na publicação atual. Nesses anos, foram impressas 65 edições, com temas que trataram de produção, clínicas médica e cirúrgica, epidemiologia e saúde pública, ensino, novas tecnologias, mercado de trabalho, meio ambiente, entre outros.

Em 1996, na edição nº 7, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, felicitou todos os profissionais por meio da Revista CFMV. “Valho-me do CFMV, por meio da Revista CFMV, para fazer chegar a todos os Médicos Veterinários uma saudação pelo dia 9 de setembro e também um agradecimento pelos serviços prestados ao Brasil”. A Revista CFMV também recebeu, em 2013, um “Voto de Congratulações e Aplauso” no Senado.

O ensino foi um tema recorrente, com publicação de artigos em todas as Revistas CFMV, além de ser tema de capa de oito edições.

10

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Informar os leitores sobre as ações do conselho foi uma constante nesses 20 anos. Resoluções importantes foram temas de capa, como também foram divulgados os Médicos Veterinários e Zootecnistas reconhecidos com premiações pelo CFMV, além dos resultados obtidos em eventos.

A publicação também apresentou temas de alta tecnologia desenvolvidos no Brasil, principalmente ligados às biotecnologias, como clonagem, células-tronco, transgenia e nanotecnologia. Ainda, se antecipou na discussão do papel do Médico Veterinário nas doenças emergentes e reemergentes.


Suas páginas são fonte de dados inéditos sobre a Medicina Veterinária e a Zootecnia. Diversas matérias trouxeram os números de profissionais, área de atuação, preferências, salários, formação etc. Por duas vezes, o papel da mulher foi tema de matérias especiais. A revista também divulgou, por vários anos, dados das diversas escolas de Medicina Veterinária e Zootecnia, das Academias de Medicina Veterinária e dos Conselhos Regionais.

Desde o primeiro número, um profissional de destaque foi entrevistado. Na edição nº 13, de 1998, o escolhido foi o primeiro presidente do CFMV, Ivo Torturella (CFMV 0001). Outros pioneiros entrevistados foram Miguel Cione Pardi, Júlio Carvalho Fernandes, Victor Alberto Crusis, Jadyr Voguel, João Barrison Villares, Clotilde Lourdes Germiani Branco, entre muitos profissionais atuantes.

A partir da edição nº 19, em 2000, a Revista passou a ter uma editoria específica para os artigos científicos. Os textos submetidos passaram por consultores e correções, para posterior aprovação antes da publicação. Houve também a indexação da publicação ao Agrobase. Os consultores são especialistas em suas respectivas áreas, de todo o Brasil, e a tramitação de artigos, que já foi feita via Correios, agora é eletrônica. Profissionais e acadêmicos submetem artigos para publicação.

Alertar para a necessidade de mais atuação do profissional também foi papel da Revista CFMV. Em 1997, na edição nº 10, o texto relatou a preocupação com a falta de atuação na área de pescados e possível perda de mercado de trabalho. Em 2004 a edição nº 33 alertou para o combate contra a dengue. A possível epidemia de H1N1 foi capa da edição nº 35, em 2009. A medicina de conservação também foi evidenciada como área de atuação em 2001, na edição nº 22. São temas que até os dias de hoje continuam em pauta.

A Zootecnia, e não somente a produção animal, marcou seu espaço com a divulgação de informações sobre a profissão, o perfil, entrevistas e a atuação dos profissionais nas comissões técnicas assessoras do CFMV. O tema esteve sempre presente nas páginas da Revista CFMV.

Em sua primeira edição, a Revista CFMV teve tiragem de 35.000 exemplares e objetivava atender a Médicos Veterinários e Zootecnistas de todo o Brasil. Atualmente, supera 100.000 unidades por edição e é distribuída para profissionais, além de parlamentares, ministros de Estado, secretarias de governo, embaixadas, coordenadores de curso, estudantes, bibliotecas, centros acadêmicos e outras entidades de interesse. Um exemplo é a edição nº 56, de 2012, que foi requisitada por órgãos internacionais (Organização Mundial da Saúde - OMS) e abordou a atuação de Médicos Veterinários brasileiros no Haiti.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

11


Cuidados com corpo de vítima de doença do vírus ebola

Doenças emergentes e reemergentes. Como se antecipar? As saúdes humana, animal e do ambiente estão intimamente ligadas. A seriedade e eficácia da gestão ambiental e o comportamento da humanidade nunca foram tão necessários e imprescindíveis para assegurar o futuro da saúde. A Medicina Veterinária faz cada vez mais parte desse cenário

E

specialistas em saúde de todo o mundo vêm se reunindo em torno da estratégia Um mundo, uma saúde

sando encefalopatia espongiforme (SCHATZMAYR,

(One world, one health), estudando os movimentos atuais e

estão intimamente ligadas. Naquele momento, já

potenciais de doenças entre humanos, animais domésticos

se previa que esses surtos poderiam virar rotina

e populações de animais selvagens. Como fruto desse tra-

nos próximos anos se não fosse montada uma rede

balho, chegou-se aos “princípios de Manhattan”, que listam

global para monitorar o surgimento dos novos mi-

12 recomendações para o estabelecimento de uma aborda-

crorganismos que atacam o homem, uma vez que

gem mais holística para a prevenção de epidemia/epizootia

os vírus, as bactérias e, atualmente, os príons des-

e a manutenção da integridade do ecossistema em benefí-

conhecem fronteiras geográficas (GRISOTTI, 2010).

cio das pessoas e seus animais domésticos, bem como da biodiversidade mundial que os apoia.

12

2001), lembram que as saúdes humana e animal

Uma compreensão mais ampla da saúde e da doença exige uma unidade de abordagem, atingida

Epidemias procedentes do vírus da hepatite C, do ebo-

somente por meio da ampliação do olhar para a saú-

lavírus (que causou surtos extensos no Zaire e Sudão em

de, levando em consideração os humanos, os animais

1976, tendo ressurgido no Zaire em 1995, com taxa de le-

domésticos e a saúde dos animais selvagens: Uma

talidade em torno de 77%), da síndrome da incoordenação

saúde (One health). Os Fenômenos como perda de

motora em bovinos (doença da vaca louca), causada pela

espécies, degradação do habitat, poluição, espécies

encefalopatia espongiforme bovina, e o reconhecimento,

exóticas invasoras, mudanças climáticas globais, en-

em 1996, da existência de 52 casos humanos de uma nova

curtamento das distâncias-tempo (globalização mun-

forma da Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), ambas cau-

dial), urbanização, além do desafio da produção de

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Fotos: UNMEER

Saúde pública


Os vírus, as bactérias e, atualmente, os príons desconhecem fronteiras geográficas.

alimentos em grandes escalas, estão fundamentalmente alterando a vida em nosso planeta. A ascensão dos países emergentes e o ressurgimento de doenças infecciosas como ameaça não apenas aos seres humanos (e seus suprimentos de comida e economias), mas também à fauna e flora que compõem a biodiversidade mundial, precisam ser repensados. A seriedade e eficácia da gestão ambiental e o comportamento da humanidade nunca foram tão necessários e imprescindíveis para assegurar o futuro da nossa saúde. As batalhas contra as doenças do século XXI, assegurando a integridade biológica da Terra para as gerações futuras, exigem abordagens interdisciplinares e intersetoriais para a prevenção de doenças, vigilância, monitoramento, controle e mitigação, bem como a conservação do meio ambiente de forma mais ampla. Doenças emergentes e reemergentes são aquelas cuja incidência em uma população vem aumentando nas últimas duas décadas ou ameaça aumentar num futuro próximo. Verificam-se dois principais focos de atenção: o surgimento ou identificação de novos problemas de saúde e novos agentes infecciosos; e a mudança no comportamento epidemiológico de doenças já conhecidas, incluindo a introdução de agentes conhecidos em novas populações de hospedeiros suscetíveis. Um número muito grande de fatores está envolvido na determinação da emergência e reemergência de doenças infecciosas, entre os quais podemos citar os fatores: demográficos; sociais e políticos; econômicos; ambientais; relacionados ao desempenho do setor da saúde; relacionados às mudanças e adaptação dos microrganismos, além da manipulação de microrganismos com vistas ao desenvolvimento de armas biológicas e da exposição às modificações genéticas. Mas o que de fato há de novo nesses fenômenos? Há mais de uma década, se pergunta se estaria mesmo ocorrendo uma alteração dos perfis de

Cuidados para evitar a proliferação de doenças

morbidade e mortalidade em nível mundial. O que há de comum entre eventos aparentemente tão díspares? Estaria realmente acontecendo uma volta das epidemias e pestes já relegadas aos livros de história? Existiriam mesmo as doenças infecciosas emergentes e reemergentes? Desse contexto geral das doenças emergentes, a problemática dos hospedeiros, dos vetores de doenças humanas e de animais, em particular, representa uma ameaça constante, cuja expansão precisa ser estudada e monitorada. Se observarmos os exemplos de infecções originadas como zoonoses (doenças que circulam entre os homens e outros vertebrados), verificaremos que elas poderão sugerir uma importante e potencialmente rica origem de doenças

Uma Saúde Uma saúde (One health) é uma estratégia mundial para a expansão das colaborações interdisciplinares e comunicações em todos os aspectos dos cuidados de saúde para os seres humanos, animais e meio ambiente. Reconhecendo que as saúdes humana, animal e do ambiente estão intimamente ligadas, visa a promover, melhorar e defender a saúde e o bem-estar de todas as espécies, no reforço da cooperação e colaboração entre médicos, Médicos Veterinários e outros profissionais da saúde e do meio ambiente. Estratégia mundial para a expansão das colaborações interdisciplinares. Fonte: onehealthinitiative.com

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

13


Este é o mais extenso e duradouro surto da DVE já identificado no mundo, com letalidade de 68%. Pelas características da transmissão do ebolavírus, é considerada improvável uma disseminação para outros continentes. Entretanto, pode ocorrer a detecção, em qualquer região do mundo, de casos em viajantes provenientes de países com transmissão. emergentes. Muitos novos agentes patogênicos que têm emergido mundialmente foram originados de animais ou de produtos de origem animal. Muitas espécies animais, bem como categorias de agentes, têm sido envolvidas na emergência de doenças (GRISOTTI, 2010). O processo de mudança contínuo das interações entre as populações humanas, animais e de microrganismos e delas com o meio ambiente induzirá a condições que irão propiciar, no desequilíbrio gerado, a possibilidade de situações de emergência e reemergência, sucessões e, eventualmente o desaparecimento de doenças infecciosas e parasitárias. Essas interações mostram que é preciso aprender a respeitar a tríade formada pelos animais, pessoas e meio ambiente, de modo que não se perpetue a criação de vítimas das práticas errôneas de vidas sem parâmetros e/ou regramentos. Um claro exemplo dessa interação e desequilíbrio está no surto de Doença pelo Vírus Ebola (DVE) que ocorre, desde dezembro de 2013, na África Ocidental. Guiné, Libéria e Serra Leoa são os países em que está estabelecida a transmissão acelerada de pessoa a pessoa. Além desses, alguns casos foram confirmados fora da África Ocidental, mas sem transmissão sustentada. A Organização Mundial da Saúde, pela gravidade da situação epidemiológica da DVE, decretou em 8 de agosto de 2014 a Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII), para alerta dos países e mobilização de recursos para as áreas afetadas. De acordo com as evidências científicas disponíveis, o vírus é zoonótico e o morcego é o reservatório mais provável.

14

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Resumidamente, poder-se-ia dizer que a principal medida a ser desenvolvida para o adequado enfrentamento das doenças infecciosas emergentes e reemergentes seria o reforço e a valorização da vigilância epidemiológica. Essa medida, enunciada dessa forma, parece simples, mas sua execução pode se revelar mais complexa do que aparenta. O aprimoramento da capacidade de detecção e resposta às doenças infecciosas emergentes e reemergentes exige a participação de todos os profissionais envolvidos direta ou indiretamente com a saúde pública. Médicos, Enfermeiros, Médicos Veterinários e demais profissionais envolvidos com a assistência serão os primeiros a receber os casos suspeitos. É necessário, então, que esses profissionais estejam capacitados a iniciar sua investigação, conscientes das possíveis implicações da detecção de um caso de uma doença emergente. Isso não é simples, pois a maioria dos profissionais foi e continua a ser formada dentro dos marcos da teoria da transição epidemiológica. Há que se investir na formação dos novos profissionais e na educação continuada dos demais, estimulando sua curiosidade na investigação diagnóstica dos casos suspeitos de doenças infecciosas, buscando o diagnóstico etiológico e tendo clareza da necessidade de investigação epidemiológica e notificação (LUNA, 2002). Por se tratar de uma zoonose, os conhecimentos da Medicina Veterinária em relação à etiologia, meios de transmissão, prevenção e controle, além do diagnóstico definitivo e diferencial, têm sido importantíssimos na atuação integrada entre os profissionais de saúde, governos e demais envolvidos.


São necessárias cooperações eficientes, por meio de parcerias nacionais e internacionais, para

O que de fato há de novo nesses fenômenos?

informar e preparar os profissionais sobre as doenças circulantes nos diversos países e a necessidade de revisar os currículos de graduação, com o objetivo de capacitar os futuros Médicos Veterinários para os desafios da saúde pública mundial. Em que pese a importância do Médico Veterinário na saúde pública, esse entendimento por parte da categoria ainda carece de assimilação, haja vista que a maioria dos cursos de Medicina Veterinária brasileiros não possui uma estrutura favorável ao desenvolvimento de atividades práticas relativas à saúde pública, o que dificulta a ocupação de novos

Está mesmo ocorrendo uma alteração dos perfis de morbidade e mortalidade em nível mundial? O que há de comum entre eventos aparentemente tão díspares? Está realmente acontecendo uma volta das epidemias e pestes já relegadas aos livros de história?

espaços nessa área de atuação. Torna-se cada vez

Existem mesmo as doenças infecciosas emergentes e reemergentes?

mais necessária a consolidação das posições conquistadas por esse profissional na saúde pública. O desafio para os Médicos Veterinários do século XXI está na ênfase de uma formação em que se destaque a saúde pública e na qual o profissional tenha um nível de competência consistente com as demandas da sociedade. Ademais, a comunidade ainda carece de plena conscientização dos diferentes papéis que os Médicos Veterinários podem assumir e de como podem contribuir dentro da saúde pública (SOUZA et al., 2010). A Medicina Veterinária precisa continuar atenta, atualizada e à frente dos trabalhos de planejamento e avaliação das medidas preventivas e de controle dessa e de outras doenças, no tocante às ações e medidas que evitem, reduzam e/ou minimizem agravos à saúde. AUTORES REFERÊNCIAS GRISOTTI, M. Doenças infecciosas emergentes e a emergência das doenças: uma revisão conceitual e novas questões. Ciência. Saúde Coletiva v.15, supl.1, 2010 . LUNA, E.J.A. A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas emergentes e reemergentes no Brasil. Rev. Bras. Epidemiol. v.5, n.3, 2002 . One Health Initiative. Disponível em: http://www.onehealthinitiative. com/. Acesso em: 05/01/2015. One World, One Health. Disponível em: http://www.oneworldonehealth. org/. Acesso em: 05/01/2015. SCHATZMAYR H.G. Viroses emergentes e reemergentes. Cadernos Saúde Publica v.17, p.209-213, 2001. SOUZA, P.C.A; AMÓRA, S.S.A.; FIGUEIREDO NETO, A.B. et al. Ensino em Saúde Pública nas Escolas de Medicina Veterinária do Brasil. Revista CFMV n.51, p.16-23, 2010.

COMISSÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA CNSPV/CFMV Gestão 2011/2014 comissoes@cfmv.gov.br Celso Bittencourt dos Anjos (Presidente) Médico Veterinário CRMV-RS nº 1664

Marcelo Jostmeier Vallandro Médico Veterinário CRMV-RS nº 4716

Aurélio Belém de Figueiredo Neto Médico Veterinário CRMV-RS nº 1664

Roberto Francisco Lucena Médico Veterinário CRMV-RS nº 4716

Lúcia Regina Montebello Pereira Médica Veterinária CRMV-RS nº 7715

Sthenia dos Santos Albano Amora Médica Veterinária CRMV-RN nº 0710

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

15


CFMV EM AÇÃO

Programas de Residência e Aprimoramento poderão obter a chancela do CFMV Programa de Treinamento em Serviço: Novamente o CFMV se preocupa com a qualidade do ensino e institui um rigoroso sistema de acreditação Por Flávia Lobo

16

tribuída dentro da necessidade da área, em um ou

A regulamentação e padronização dos Programas de Residência e de Aprimoramento em Medicina Veterinária sempre foram preocupações do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Essa atenção à questão resultou na publicação de uma nova norma que define critérios para a acreditação oferecida pela autarquia aos Programas de Residência e Aprimoramento que comprovarem qualidade no ensino (Resolução CFMV nº 1076/2014, publicada em 23 de fevereiro no Diário Oficial da União).

dois anos, constituídos por níveis. Além disso, os

O presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, explica que, com as regras, o profissional que escolher fazer a residência ou aprimoramento em uma instituição acreditada pelo conselho certamente encontrará maior conhecimento e experiência, devidamente comprovados, e serviços de melhor qualidade. “O CFMV garante a credibilidade no processo de acreditação. Às universidades interessadas, enviaremos especialistas, que farão visitas in loco para analisar a infraestrutura, casuística, que é o conjunto de casos relativos a determinado assunto da Medicina Veterinária, orientação, organização e outros fatores”, explica.

dução do conhecimento.

Com isso, o CFMV atestará a qualidade do serviço da instituição de ensino, orientando e detalhando os padrões de referência para criação e manutenção dos programas. Por ser um processo voluntário, as universidades interessadas poderão manifestar ao conselho seu interesse pela acreditação.

panhamento, o desenvolvimento dos residentes),

Entre as normas estabelecidas na resolução, estão: o programa deve desenvolver no residente senso de responsabilidade inerente ao exercício de suas atividades profissionais e a carga horária dos programas deve ser dis-

tuições de Ensino serão publicados em breve e, em

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

programas de residência e aprimoramento devem contemplar atividades didáticas integradas por seminários, discussões anatomoclínicas - método que enfatiza a estrutura e a função à medida que se relacionam com a prática da medicina e outras áreas da saúde - e, também, se for o caso, disciplinas do ciclo comum, destinadas à discussão da ética profissional, bioética e metodologia da proO aluno deve ser avaliado de forma gradual, ao longo do desenvolvimento do programa, no que diz respeito às habilidades e aos conhecimentos técnicos adquiridos, assiduidade, interesse e participação, capacidade de trabalho em grupo, amadurecimento técnico-profissional e comportamento ético. A resolução também regulamenta o papel dos preceptores (profissionais responsáveis por conduzir e supervisionar, por meio de orientação e acomque devem ser, preferencialmente, portadores do título de doutor ou comprovar a capacitação técnica com título de mestre ou especialista, certificados de residência ou de aprimoramento. Os procedimentos para candidatura das Instiseguida, os coordenadores interessados poderão inscrever seus cursos. Acompanhe mais informações em www.cfmv.gov.br.


Empregabilidade, áreas emergentes e decadentes

PROFISSÃO

“Eu gosto do impossível, porque lá a concorrência é menor.” (Walt Disney) Há diversas possibilidades de analisar áreas emergentes, assim como as decadentes. Existem áreas que eram exclusivas dos Médicos Veterinários e que estão deixando de sê-lo. Citam-se a piscicultura, a inspeção de produtos de origem animal, algumas responsabilidades técnicas, dentre outras. Quais as causas de não termos profissionais se aplicando a elas? Porque falta interesse? Estão em desacordo com a política de governo? Seriam os baixos salários? Falta de contratação pelo mercado ou falta de iniciativa nas faculdades? Melhor remuneração em outras áreas? Aumento da consciência do vegetarianismo, veganismo? Ou quem sabe a falta de sustentabilidade em algumas formas de criação e produção? As hipóteses são muitas. Outras áreas refletem interesse e expansão, dentre elas: Saúde pública/Saúde da família (Nasf), Bioterrorismo, bem-estar Animal, Bioética, Segurança Alimentar, Meio Ambiente, Vigilância Sanitária, Animais Silvestres e Selvagens, Bioterismo, Gestão e Empreendedorismo. O mercado costuma moldar os profissionais, em qualquer profissão, independente dos profissionais estarem aliados a sua vocação e a possibilidade de subsistência com a atividade praticada. Pergunta-se: é possível aliar vocação ao empreendedorismo?

Inicialmente, é preciso compreender que a grande capacidade do empreendedor é olhar além do que todos observam e perceber nichos de mercado, oportunidades de desenvolver uma atividade produtiva com sucesso, criando riqueza e trabalho. Pesquisas indicam que 5% das pessoas são geneticamente equipadas a empreender em qualquer área. Ou seja, esta pequena parte dos acadêmicos serão Médicos Veterinários com aptidão ao empreendedorismo, e farão da sua profissão um negócio, em geral que visa o lucro.

O que são exatamente os empreendedores dentro de uma profissão específica?

São pessoas que conhecem a teoria daquela sua profissão, mas vão além em aceitar correr muito mais riscos que a média da população, quando vislumbram a oportunidade de inovar, de resolver problemas ou de administrar situações de forma criativa, visando o lucro ou superávit de empresas, permitindo criar mais empregos, ajudando a desenvolver o país. A palavra lucro gera consternação em algumas pessoas, exatamente em parte dos 95% que não são geneticamente empreendedores. Vale lembrar que empreendedor não é empresário. Este último é que tem empresa, podendo ou não ser empreendedor. Empreendedores tem 3 fortes características: tem visão do que querem exatamente e quando; tem iniciativa de construir sua visão (realizam de fato); e arriscam muito além de uma pessoa normal. A educação brasileira não favorece o empreendedorismo e, na Medicina Veterinária, há possibilidade de empreender em qualquer área de atuação. Falta incentivo à formação?

Apesar de que apenas uma minoria das pessoas tem características natas dos empreendedores, é possível adquirir conduta empreendedora. Aprende-se a empreender! Reflexões profundas devem ser tomadas para o futuro da profissão. O antigo e a maneira habitual de fazer precisam ser revistos. Refletir sobre o futuro da profissão precisa ser tarefa constante. É preciso sair da mesmice, sair do habitual, da zona de conforto, e mudarmos hoje, para melhorar o amanhã. AUTOR Marco Antonio Gioso Médico Veterinário CRMV-SP no. 5642 DSc, livre docente FMVZ-USP. Diplomado AVDC

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

17


Legislação em pauta

Documentos veterinários são padronizados pelo CFMV A padronização e emissão dos documentos dão segurança ao Médico Veterinário e garantem a execução de procedimentos autorizados Por Flávia Tonin Focados no atendimento e nas ações técnicas para socorrer os animais, alguns profissionais não atentam para a necessidade de documentar a autorização para exames, tratamentos, internação, procedimentos anestésicos e eutanásia e podem, por alguma divergência com o cliente, não estar respaldados em processos jurídicos ou éticos. Por outro lado, sem os documentos, os clientes ficam sem garantias da execução do procedimento. Para que exista um padrão mínimo de informações em todo o Brasil, o Conselho Federal de Medicina Veterinária instituiu uma normativa contendo modelos e orientações para os documentos (Resolução CFMV nº 1.071/2014, publicada em 2 de fevereiro de 2015).

Benedito Fortes de Arruda, presidente do CFMV, diz que a nova resolução orienta os Médicos Veterinários sobre os tipos de documento que devem ser emitidos. “Essa norma vai permitir a padronização de documentos veterinários e garantir que o atendimento aos animais seja restrito aos procedimentos autorizados, salvo em caso iminente de morte ou incapacidade permanente do paciente”, afirma. O profissional pode emitir outros documentos não listados na resolução. Os modelos propostos trazem o conteúdo mínimo e podem ser modificados, lembrando que cópia dos documentos também deverá ser entregue ao dono no momento da autorização de procedimentos clínicos e/ou cirúrgicos. A responsabilidade de arquivo do material é do estabelecimento veterinário por cinco anos, período em que os donos poderão procurar as clínicas caso precisem de cópia do prontuário de seus animais. A padronização envolve os seguintes documentos:

18

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

autorização para exames ou procedimentos terapêuticos que possam oferecer riscos iminentes de reação adversa ou morte;

autorização para internação e tratamento clínico ou cirúrgico;

autorização para procedimentos cirúrgicos de qualquer natureza;

autorização para procedimentos anestésicos;

consentimento para procedimento de eutanásia.


Destaques Cfmv

Nova diretoria e conselheiros do CFMV tomam posse em Brasília A cerimônia de posse da nova Diretoria Executiva e conselheiros efetivos e suplentes do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) - referentes ao triênio dez/2014 a dez/2017 - foi prestigiada por cerca de cem pessoas. A solenidade aconteceu

em 11 de dezembro, na sede do CFMV, em Brasília, e contou com a presença dos colaboradores, de presidentes e representantes dos Conselhos Regionais (CRMVs), de conselheiros e de integrantes das comissões técnicas da autarquia.

Conselheiros e diretores da gestão dez/2014 a dez/2017.

Expectativas Reeleito para o cargo, o atual presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, comandou a solenidade e falou sobre suas expectativas: “Espero efetivar este trabalho sistêmico e harmonioso em conjunto com os Conselhos Regionais de Medicina Diretoria Executiva, Marcello Roza (secretário-geral), Eduardo Costa (vice-presidente), Benedito Arruda (presidente) e Amilson Said (tesoureiro)

Veterinária,

colocando-os

dentro do planejamento estratégico. Nosso objetivo é ter uma gestão pública rápida, eficiente e econômica”. A diretoria e demais conselheiros eleitos para a nova gestão também ressaltaram a importância da continuidade do crescimento e fortalecimento das profissões de Médico Veterinário e Zootecnista, de forma compartilhada com os regionais. Além disso,

O presidente Benedito Fortes de Arruda assina o termo de posse

destacaram o trabalho das comissões e o desejo de que

tenham cada vez mais participação, para que seus trabalhos sejam aprimorados. O presidente do CFMV destacou como um dos avanços mais significativos do Sistema CFMV/CRMVs o planejamento estratégico, responsável por mapear todos os processos do conselho. “O mundo contemporâneo exige que tenhamos programas e metas a cumprir e, sem planejamento, todas as nossas estratégias estarão fadadas ao fracasso”, constatou. Como projetos para o novo triênio, o presidente espera trabalhar pelo maior reconhecimento da Medicina Veterinária e da Zootecnia pela sociedade brasileira e para que o Sistema CFMV/CRMVs ocupe posição de destaque no cenário nacional.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

19


DESTAQUES CFMV

Grupo de trabalho atua para reformulação do Código de Ética do Zootecnista Foi criado um grupo de trabalho para reformular o Código de Ética do Zootecnista, com vistas a sugerir atualizações e alterações no texto do documento, criado pela Resolução CFMV nº 413, de 10 de dezembro de 1982. O grupo é formado pelos Zootecnistas Bruno de Souza Mariano, Elis Aparecido Bento e Luis Fernando Batista Pinto. A necessidade de atualização do código não é de hoje. A Comissão Nacional de Ensino da Zootecnia iniciou as discussões sobre o tema em 2008 e diversos debates têm sido fei-

tos pela categoria nos fóruns da área. Segundo os integrantes do grupo, esta é a fase final de um longo processo. “Temos afinidade e estamos alinhados com o que já tem sido feito e, com isso, temos a expectativa de concluir esse trabalho de forma criteriosa e harmônica, atendendo à legislação e aos anseios da categoria profissional”, explica Elis. A previsão é de que o texto esteja finalizado neste semestre e, em seguida, seja submetido à consulta pública da categoria.

Resolução do CFMV cria novas regras para estabelecimentos comerciais e de comercialização de animais Estabelecimentos comerciais, de exposição, manutenção, higiene estética e venda ou doação de animais passaram a ter regras nacionais editadas por meio da Resolução CFMV nº 1.069/2014. A norma, publicada no dia 12 de janeiro no Diário Oficial da União (DOU), já entrou em vigor. Seu texto estabelece orientações sobre procedimentos a ser observados em exposição, manutenção, estética, venda e doação de animais. O objetivo é garantir, com o apoio do Médico Veterinário, a segurança, a saúde e o bem-estar

20

dos animais que estiverem sob o cuidado dos estabelecimentos. A norma não proíbe sua venda ou exposição. Relacionadas também a procedimentos de higiene e estética, as diretrizes deverão ser seguidas pelos Médicos Veterinários que atuam como responsáveis técnicos em pet shops, exposições e feiras. “A Resolução nº 1.069/2014 veio para padronizar a forma de atuação desses profissionais em todo o país”, explica o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arru-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

da. Em caso de descumprimento da resolução, as pessoas deverão comunicar o fato ao conselho regional de seu estado, que tomará as providências necessárias.


DESTAQUES CFMV

Novas regras para o funcionamento dos estabelecimentos veterinários Após realizar uma ampla consulta pública e um trabalho minucioso, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou, em 2014, a Resolução CFMV nº 1.015/2012, que conceitua e estabelece as condições para o funcionamento de hospitais, clínicas, ambulatórios e consultórios veterinários de atendimento a pequenos animais. As regras começaram a vigorar em 15 de janeiro de 2015.

sica para cada um deles. Um consultório veterinário, por exemplo, não pode realizar procedimentos anestésicos e cirúrgicos nem fazer internações. Já em uma clínica veterinária, que é destinada a consultas e tratamentos clínicocirúrgicos, pode haver internações desde que o local funcione por 24 horas, com a presença de um Médico Veterinário em tempo integral, mesmo que não haja atendimento ao público.

A nova norma define quatro tipos de estabelecimento e determina os serviços e a estrutura bá-

Entre as exigências para que os hospitais veterinários assegurem assistência curativa e preven-

tiva aos animais, está a obrigatoriedade de permanecerem abertos ao público de forma ininterrupta, com a presença permanente e sob a responsabilidade técnica de um Médico Veterinário.. Já nos ambulatórios veterinários, que são as dependências de estabelecimentos comerciais, de recreação ou de ensino, há permissão para realizar curativos e exames clínicos exclusivamente nos animais que pertençam a esses locais. Confira a íntegra da resolução no portal do CFMV.

I Encontro Administrativo do Sistema CFMV/CRMVs O I Encontro Administrativo do Sistema CFMV/CRMVs foi um marco na história das autarquias, pois conseguiu reunir, em um só lugar, 118 representantes de todos os estados brasileiros. Entre os dias 24 e 26 de novembro de 2014, em Brasília, eles definiram, em conjunto, Procedimentos

Operacionais Padrões (POPs) a ser

os principais atores foram lem-

adotados por todos os conselhos.

brados: os funcionários de todos

A iniciativa pretende garantir um

os conselhos. Eles trouxeram seus

serviço de melhor qualidade,

anseios para que juntos pudés-

mais ágil e eficaz aos profissionais

semos pensar as ações.”, disse

e à sociedade.

o presidente do CFMV, Benedito

“Este é um momento de grande realização. Um palco no qual

www

Fortes de Arruda, no encerramento do evento. Cadastre-se em www.cfmv.gov.br e receba o boletim CFMV Informa. twitter.com/CFMV_oficial facebook.com/cfmvoficial

Zootecnistas, fiquem atentos às nossas redes sociais! Em breve, uma campanha especial para você. Participe.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

21


CFMV NA mídia

Nova resolução

A normativa estabelecida pelo CFMV com princípios e normas que garantem a segurança, a saúde e o bem-estar dos animais que estiverem em exposição, venda e doação (Resolução CFMV nº 1069) foi noticiada em todo o país por veículos como: Jornal Hoje, DF TV, Bom Dia SP, Bom Dia AM e Bom Dia DF, da TV Globo. Também foi divulgada

Clínicas e consultórios

pelo SBT, TV Record e TV Brasil, além das rádios CBN, EBC, Senado e Sorriso. Na internet, a publicação foi pauta no portal da UOL, Agência Brasil e Página Rural. Na mídia impressa, o destaque aconteceu nos jornais Estado de S. Paulo (SP), O Popular (GO), Correio Braziliense (DF), o Estado (MS), O Tempo (MG), entre outros.

Para dar continuidade aos esclarecimentos sobre a Resolução CFMV nº 1015 que trata das normas para consultório, clínicas e hospitais, o CFMV intensificou sua atuação na mídia. O material foi divulgado, principalmente, na internet, como no Portal Animal Livre e Portal Sistema FAEG.

Cães Extintômetro

Com dados sobre o tráfico de animais, foi feita a divulgação do aplicativo Extintômetro lançado pelo CFMV. O material rendeu entrevistas e matéria jornalística na TV Record, além das rádios Record e EBC. Também saíram notícias na Revista Cães e Gatos, Gazeta do Povo, Portal R7, Brasil Post, Estado de Minas, Diário do Nordeste e Portal UOL.

22

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

O CFMV segue com sua contribuição para a Revista Cães & Cia com artigos mensais. Entre as últimas publicações, destaca-se texto sobre o turismo com animais, com orientações para garantir o bem-estar dos cães e gatos nas viagens.


Formação profissional

Desafios da educação Como desenvolver as competências humanísticas nas escolas de Medicina Veterinária? Quais métodos realmente funcionam? O que fizeram aqueles que já conseguiram introduzi-las? Como elas passaram a fazer parte das aulas ministradas nos cursos? O CFMV se antecipa e traz a fórmula para garantir que as competências humanísticas sejam trabalhadas na formação do profissional

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

23


Para a aula, o professor usa a estratégia de um jogo na disciplina Empreendedorismo e Marketing do Curso de Medicina Veterinária da Fepar, em Curitiba (PR).

Flávia Tonin e Ricardo Junqueira Del Carlo Entre as expectativas para o Médico Veterinário do futuro, está a necessidade de que ele seja um multiespecialista, tenha uma formação multidisciplinar aprofundada e trate os problemas de forma holística, apesar de sua

humanísticas sejam trabalhadas em sua formação. Por esse motivo, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) se antecipa às exigências e regulamentações nacionais e internacionais de educação. O mais recente exemplo está no desenvolvimento de uma forma de aplicar as compe-

complexidade. Para que a sociedade tenha esse profissio-

tências humanísticas na formação do profissional,

nal à sua disposição, necessita-se que as competências

sem que, para isso, seja necessária a introdução de novas disciplinas. Como resultado do XX Seminário de Ensino, organizado pelo CFMV em 2013 e com participação ativa de diversos coordenadores e docentes de curso, foi elaborado o documento Estratégias de ensino-aprendizagem para desenvolvimento de competências humanísticas - propostas para formar médicos veterinários para um mundo melhor. O objetivo da publicação é nortear as instituições de ensino superior a aplicar essas estratégias, para formar profissionais capazes de corresponder às demandas sociais, tecnológicas e ambientais. A proposta é a aquisição de conhecimento técnico, associada ao desenvolvimento das competências humanísticas, as quais devem passar a fazer parte da realidade de cada profis-

24

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


sional. No processo de ensino-aprendizagem, sugere-se a utilização de novas estratégias, ou seja, novas formas de apresentar o conteúdo técnico, permitindo o desenvolvimento e manifestação das competências humanísticas.

ferramentas que estão em consonância com o que as organizações mundiais, como a OIE e a Associação Americana de Medicina Veterinária (NAVMEC), têm como desafios da formação profissional de Médicos Veterinários.

O conteúdo que precisa ser ministrado não muda!

O projeto-piloto do CFMV propôs, inicialmente, a imO QUE SUGERE SÃOdas NOVAS A publicação, bilíngue, foi lançada peloSE CFMV plantação estratégias de ensino em dois cursos de MeESTRATÉGIAS E NOVAS FORMAS na Conferência da Organização Mundial da Saúde dicina Veterinária no Brasil: Faculdade Evangélica do Paraná DE APRESENTA-LO. Animal (OIE), realizada em dezembro de 2013, em (Fepar) e Universidade de Cuiabá (Unic). Com a apresentaFoz do Iguaçu (PR). Na ocasião, as propostas foram tempo ção desses resultados, no ano passado, no XXI Seminário Ao mesmo em que o reconhecidas internacionalmente e avaliadas como de Ensino da Medicina conteúdo é apresentado aos alunos,Veterinária, de imediato, quase 50

as competências humanísticas são desenvolvidas.

COMPETÊNCIAS HUMANÍSTICAS COMPETÊNCIA

Combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressa pelo desempenho profissional dentro de determinado contexto social, econômico, cultural e ambiental, que agrega valor à pessoa e à sociedade (CARBONE et al., 2005).

HUMANÍSTICA

Denominação introduzida para diferenciar as competências técnicas das complementares, que se relacionam à capacidade do profissional de se inserir socialmente nas situações de sua atuação. Aliadas às competências técnicas, tornam possível formar um profissional adaptável.

Competências humanísticas requeridas na Medicina Veterinária ATENÇÃO À SAÚDE: capacidade de compreender a saúde como um todo, a partir da identificação das partes ou elementos de uma situação ou contexto, e perceber a interação e a interferência de uma parte sobre as demais alternativas, escolhendo a melhor opção para implementar uma ação ou resolver uma situação. ADMINISTRAÇÃO E GERENCIAMENTO: capacidade de gerir pessoas e recursos disponíveis e processos, traçando objetivos e ações, acompanhando a implementação das ações, tomando medidas preventivas e corretivas e avaliando processos e resultados. COMUNICAÇÃO: capacidade de construir textos ou apresentar ideias para uma pessoa, um grupo, uma plateia ou uma multidão de pessoas. EDUCAÇÃO PERMANENTE: capacidade de aprender continuamente, tanto pela aquisição de novos conhecimentos e ampliação dos existentes quanto pela experiência ao longo do tempo. LIDERANÇA: capacidade de influenciar e inspirar indivíduos ou grupos a realizar tarefas voluntariamente.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

25


Foto: Fepar

instituições, inclusive públicas, demonstraram interesse em aderir ao projeto proposto pelo conselho. Em 2015, no primeiro semestre, inicia-se a implantação em outras quatro instituições: Universidade Federal do Piauí (UFPI), Centro Regional Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal), Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e Centro Universitário Filadélfia (Unifil). Outras 40 estão em fase de assinatura do termo de cooperação e definição do cronograma. Para a cooperação, é necessário que a instituição se comprometa a participar do projeto por um ano. São realizadas pelo CFMV duas oficinas de trabalho para apresentação e motivação do projeto, sendo uma com professores e outra com alunos. Em seguida, é deixado um cronograma com os passos da implantação e o CFMV se mantém a distância como órgão consultor. A instituição deverá instituir uma Comissão de Coordenação do Projeto para acompanhamento e contato oficial com o conselho. A proposta desafia os docentes a modificar o formato expositivo de aula e os alunos a ser participativos, porém a busca pelas competências humanísticas não se restringe à formação universitária. Mesmo o profissional formado deve fazer uma autoavaliação de seu conhecimento humanístico e, se necessário, buscar aperfeiçoamento.

A interação entre o professor e o aluno é fortalecida com o uso das metodologias ativas

Adesão ao projeto CFMV

2 Escolas

participaram do projeto-piloto

4 Escolas

estão em processo de implantação no primeiro semestre de 2015

40 Escolas demonstraram interesse em participar

26

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Estratégias de ensinoaprendizagem para desenvolvimento de competências humanísticas – propostas para formar médicos veterinários para um mundo melhor está disponível em

www.cfmv.gov.br

Instituições que se interessarem em desenvolver o projeto deverão escrever para:

educacao@cfmv.gov.br


Colocando as técnicas em prática, foi possível identificar que o conteúdo foi mais bem compreendido, há maior reflexão e os alunos participam da construção do conhecimento

Metodologia ativa abordando sistema respiratório desenvolvida na Unic

A iniciativa de desenvolver as competências humanísticas sai do papel e uma das instituições que participou do projeto-piloto, em 2013 e 2014, foi a Universidade de Cuiabá (Unic), fundada em 1995. Nessa primeira fase, o públicoalvo correspondia a estudantes do sexto e oitavo semestres, nos períodos de 2013/02 e 2014/01, sendo preconizada a aplicação em, no mínimo, seis conteúdos por disciplina no período de 2013/02 e quatro em 2014/01. As metodologias ativas foram aplicadas em seis disciplinas no sexto semestre e em cinco disciplinas no oitavo, totalizando sua utilização em 11 conteúdos, nos períodos informados. Após cada aula, o professor preencheu uma planilha de acompanhamento das estratégias metodológicas implementadas. Ao final de cada semestre, os alunos e professores responderam a um questionário emitindo sua percepção da aplicação das metodologias ativas, o que permitiu o acompanhamento e avaliação.

Fotos: Unic

Vivência do projeto evidencia seus pontos fortes

Resultados Obtidos

As metodologias ativas mais utilizadas pelos professores foram: a tempestade cerebral, solução de problemas, estudo de caso e de texto. As percepções dos professores quanto a essas metodologias estão descritas no Quadro 1. As demais metodologias utilizadas estão ilustradas no Infográfico 1. No tocante à aplicação das metodologias (Infográfico 2), os professores concordam que sua utilização contribuiu para o desenvolvimento de competências humanísticas, bem como para aumentar o interesse e participação dos alunos, e favoreceu a aquisição do conhecimento. As mesmas percepções aparecem na avaliação dos discentes (Infográfico 2). Observou-se divergência entre as turmas no que se refere aos quesitos 4 (foi conduzida satisfatoriamente pelo professor) e 5 (favoreceu o andamento da disciplina). As turmas de 2013 tiveram percepção mais favorável do que as de 2014. Provavelmente, essa diferença foi resultado do desempenho dos alunos em sala de aula, que as metodologias ativas exigem maior participação dos discentes. Assim, turmas menos participativas se envolvem menos com as atividades, dificultando o desenvolvimento destas e prejudicando o andamento da disciplina.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

27


Pontos positivos na aplicação

Pontos críticos na aplicação

O conteúdo ministrado foi mais bem compreendido e teve maior participação dos discentes.

A execução e implementação requerem domínio e preparo do professor. A orientação da equipe pedagógica do CFMV é essencial.

Houve maior interação e reflexão entre docentes e discentes, com aprendizagem mais relevante e consistente.

A escolha das estratégias deve ser baseada no espaço físico, recursos disponíveis e número de alunos por sala de aula. Por exemplo, debates apresentam melhor resultado com turmas reduzidas.

Os alunos participaram ativamente na construção do conhecimento.

Aplicação dificultada em disciplinas com pequena carga horária, pois as estratégias podem consumir mais tempo, quando comparadas às aulas expositivas tradicionais.

Infográfico 1 - Metodologias ativas escolhidas pelos professores para o desenvolvimento de competências humanísticas, no segundo semestre de 2013 e primeiro semestre de 2014 - Unic.

Tempestade cerebral

Solução de problema

Estudo de caso

Elaboração de fluxograma

Estudo de texto

Estudo dirigido

Mapa conceitual

Oficina de trabalho

Seminário

Infográfico

Dramatização

Workshop

Fórum

Tomada de decisão

6º semestre / 2013

12 9

8

6

4

4

2

6º semestre / 2014

2

2

1

11 8

7

8º semestre / 2013

13 10

28

6

5

3

3

3

5

4

3

2

1

1

1

8º semestre / 2014

2

1

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

1

7

7

6

5

4

4

4

2

1

1

1


Infográfico 2 - AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DAS METODOLOGIAS - UNIC

PROFESSORES

Concordo totalmente

ALUNOS

Apenas concordo

Sem opinião formada

53%

2014

33% 60%

13% 40%

1. Favoreceu o desenvolvimento das competências humanísticas?

2. O material disponibilizado foi útil para o planejamento das aulas? 2013 2014

33% 33%

53% 60%

13% 7%

2014

27% 27%

60% 67%

2014

40% 40%

40% 40%

13% 7%

2014

47% 47%

40% 27%

20% 20%

2014

33% 13%

33% 27%

13% 27% 33% 53%

7%

7. As metodologias foram úteis para a formação profissional dos alunos? 2013 2014

40% 13%

33% 60%

27% 27%

40%

2014

53% 53%

7% 47%

9. As metodologias favoreceram o andamento da disciplina? 2013 2014

20% 9%

67% 60%

13% 33%

2014

20% 13%

40% 60%

33% 27%

45%

41%

14%

6 semestre / 2014

44%

44%

13%

8 semestre / 2014

75%

13%

13%

2. Aumentou meu interesse e dedicação? 6o semestre / 2013

35%

35%

25%

8 semestre / 2013

24%

28%

45%

3%

6 semestre / 2014

56%

25%

13%

6%

8 semestre / 2014

25%

38%

38%

o

o

1%

6o semestre / 2013

45%

30%

25%

8o semestre / 2013

24%

28%

24%

6o semestre / 2014

25%

44%

31%

8o semestre / 2014

25%

50%

53%

3% 13%

13%

4. Foi conduzida satisfatoriamente pelo professor? 6o semestre / 2013

45%

40%

15%

8o semestre / 2013

24%

38%

34%

3%

6o semestre / 2014

25%

25%

44%

6%

8o semestre / 2014

25%

25%

25%

25%

6o semestre / 2013

25%

65%

5%

5%

8o semestre / 2013

34%

28%

28%

10%

6o semestre / 2014

38%

31%

31%

8 semestre / 2014

13%

75%

13%

o

6. Favoreceu a aquisição do conhecimento?

10. As metodologias proporcionaram o desenvolvimento das competências humanísticas? 2013

8 semestre / 2013

10%

5. Favoreceu o andamento da disciplina?

8. As metodologias despertaram o interesse dos alunos? 2013

5%

3. Foi útil para a minha formação profissional?

6. Os alunos valorizaram a utilização da metodologia? 2013

20%

o

5. A aplicação das metodologias favoreceu meu desempenho como docente? 2013

65%

o

o

4. A aplicação das metodologias favoreceu o meu desenvolvimento profissional? 2013

6o semestre / 2013

o

3. O material disponibilizado foi útil para a condução das aulas? 2013

Discordo totalmente

A aplicação das metodologias ativas:

1. Utilizei as estratégias metodológicas? 2013

Apenas discordo

7%

6o semestre / 2013

45%

40%

15%

8 semestre / 2013

24%

38%

28%

6 semestre / 2014

13%

63%

25%

8 semestre / 2014

13%

38%

25%

o

o

o

10% 13%

13%

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

29


Quadro 1 - Pontos positivos e críticos das principais metodologias utilizadas em 2013/02 e 2014/01, segundo a avaliação dos professores da Unic, em comparação com a aula expositiva tradicional

Pontos positivos

1

Tempestade cerebral

• • • • • •

Pontos críticos

• •

Grande interesse e participação dos alunos Aula mais dinâmica Melhora a aprendizagem Percepção da necessidade de conhecimento prévio Promove fixação de conteúdo Interdisciplinaridade Maior interação, atenção e dedicação ao conteúdo Promove questionamentos Estimula os mais tímidos

• • •

Falta de interesse e comprometimento de alguns alunos Metodologia difícil de ser aplicada Turmas menos participativas dificultam a aplicação

• • • • • •

Grande aceitação pelos alunos Promove fixação do conteúdo Complementa o aprendizado Promove maior conhecimento Abordagem mais leve e produtiva Participação ativa dos alunos

• • • •

Grande resistência por parte de alguns alunos Os alunos têm dificuldade de entender a importância da metodologia Em grupos, alguns alunos não participam Metodologia de difícil preparo

• • • • • •

Grande interesse por parte da maioria dos alunos Muita aceitação Maior participação Maior dedicação e aproveitamento Aumenta a construção do conhecimento Mais interativa, permitindo debates

• • • •

Ausência de preparo de alguns alunos Metodologia difícil de ser aplicada Difícil aplicação em turmas grandes Baixo interesse de alguns alunos

Pontos críticos

Pontos positivos

Pontos críticos

Pontos positivos

• • • • • • • • •

Pontos positivos

3

Estudo de texto

4 30

Solução de problema

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Conteúdos extensos se tornam cansativos e geram baixa participação Dificuldade de participação de alguns alunos por falta de conhecimento prévio

Pontos críticos

2

Estudo de caso

Deixa a aula mais dinâmica Melhora a discussão e participação do aluno Aumenta o interesse dos alunos Permite avaliar o conhecimento prévio do aluno Promove interdisciplinaridade Promove melhor aprendizagem, maior aproveitamento e questionamento do conteúdo Promove nivelamento da turma Gera maior produtividade, desempenho e interação


A

metodologia ativa de ensino é interessante, pois proporciona maior participação dos alunos, prendendo, assim, a atenção da turma toda, em vez de apenas receber o conteúdo ministrado pelos professores. É um método ótimo no desenvolvimento de raciocínio, tanto nos casos clínicos apresentados quanto no aprendizado adquirido de todas as disciplinas ministradas durante o curso.”

Rosália Maria Neves Campos Médica Veterinária, na época aluna do 8º semestre

A

chei interessante, pois a metodologia chama mais a atenção de todos para o aprendizado. Há menor dispersão e a aula conquista o aluno, além de treinar outras características. Ao utilizá-la desde o início do curso, acredito que despertará maior interesse dos alunos e reduzirá o número de desistências.”

Carolina Nicola Thome Médica Veterinária, na época aluna do 8ª semestre

O

ano de 2013 foi um divisor de águas na minha carreira docente. Estou na docência há 15 anos, participando ativamente na formação de Médicos Veterinários na região Centro-Oeste do país, sempre procurando tornar minhas aulas mais dinâmicas. Em julho de 2013 quando iniciamos o ProjetoPiloto para Desenvolvimento das Competências Humanísticas, pude observar que o envolvimento dos professores foi fantástico, desde as reuniões de planejamento até a execução em sala de aula. Quando desenvolvemos essas metodologias, a participação e o interesse aumentam e o aprendizado torna-se real, pois os alunos, com o professor, fazem parte ativa da consolidação. Continuo inserindo as metodologias ativas em sala de aula, com o objetivo de desenvolver competências humanísticas nos futuros Médicos Veterinários, as quais são imprescindíveis para que esses profissionais se insiram no mercado de trabalho atual.”

Profa. Andreia Rizzieri Yamanaka Unic

Considerações sobre a aplicação das estratégias

As estratégias de ensino aplicadas contribuíram significativamente para o desenvolvimento de competências humanísticas, imprescindíveis para a inserção do profissional no mercado de trabalho. Aplicar essas metodologias deve ser uma rotina na formação do Médico Veterinário, quando objetivamos formar profissionais competentes.

AUTORES

Raquel de Souza Lemos Médica Veterinária CRMV-MT nº 3843 MSc raquel.ufpr@gmail.com

Lazaro Manoel de Camargo Médico Veterinário CRMV-MT nº 1523 DSc

Andreia Rizzieri Yamanaka Médica Veterinária CRMV-MT nº 1622 MSc

Marcelo Diniz dos Santos Médico Veterinário CRMV-MT nº 0818 MSc, DSc

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

31


Com a técnica correta, é possível aplicar em todas as disciplinas No último semestre de aplicação, todos os alunos e professores estavam envolvidos e participaram nas diversas estratégias de ensino e aprendizagem A segunda instituição de ensino que aceitou participar do projeto-piloto foi a Faculdade Evangélica do Paraná (Fepar), de Curitiba (PR), com implantação em turmas em 2013 e 2014, em todos os semestres. A faculdade optou, na primeira etapa (2013), pela utilização de uma equipe reduzida de docentes, objetivando manter a execução do processo o mais homogêneo possível. As estratégias foram aplicadas inicialmente em seis disciplinas (Histologia e Embriologia Veterinária, Patologia Geral, Técnica Operatória, Melhoramento Animal, Produção e Doença de Suínos e Clínica Médica de Animais de Companhia I e II). No ano seguinte,

fessores e alunos registraram, em formulários específicos, suas impressões. A escolha das estratégias de ensino-aprendizagem se baseou nas sugeridas pelo documento do CFMV, com adaptações conforme a percepção do docente em relação à sua disciplina, ao conteúdo ministrado e ao perfil da turma. É importante ressaltar que, em algumas atividades, houve associação de duas ou mais estratégias. O Quadro 1 relaciona algumas das estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas e as respectivas disciplinas.

foram inseridas outras seis disciplinas (Bioquímica Veterinária, Fisiologia Veterinária I e II, Parasitologia Veterinária, Anatomia Patológica e Patologia Clínica). Posterioremente, no segundo semestre de 2014, todas as disciplinas do curso de Medicina Veterinária foram envolvidas. O grupo de docentes responsáveis por essas disciplinas recebeu orientações do CFMV sobre a correta aplicação do projeto, nas suas diferentes etapas. Essas orientações ocorreram tanto de forma presencial quanto a distância. Para a aplicação das metodologias de ensino-aprendizagem, houve acompanhamento psicopedagógico da equipe

QUADRO 1 - Associação de algumas disciplinas do Curso de Medicina Veterinária da FEPAR com as estratégias utilizadas durante o projeto-piloto do CFMV - 2014.

DISCIPLINA

ESTRATÉGIA DE ENSINOAPRENDIZAGEM UTILIZADA

Técnica Operatória

Júri simulado

Melhoramento Animal Patologia Clínica

da Fepar, o que facilitou o entendimento do processo e favoreceu a readequação, quando necessário.

Histologia e Embriologia

Escolha das competências e estratégias

Todas as estratégias de ensino-aprendizagem aplicadas contemplaram três competências humanísticas, sendo atenção à saúde comum a todas as disciplinas e duas de

Clínica Médica de Pequenos Animais I e II

livre escolha do docente, entre tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento e educação permanente. No último semestre do projeto-piloto, pelo menos duas estratégias diferentes foram aplicadas em cada turma, por

Fisiologia Veterinária I e II

do desenvolvimento das competências humanísticas em

Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais Parasitologia Veterinária

todas as estratégias utilizadas. Ao final das atividades, pro-

Anatomia Patológica

disciplina. A cada atividade, os acadêmicos eram informados previamente e sensibilizados quanto à importância

32

Deontologia

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Associação de estudo do meio, seminário e portfólio Associação de estudo de caso e estudo de texto Seminário Portfólio Mapa conceitual Associação de estudo dirigido e aula expositiva dialogada Associação de estudo de caso e dramatização Fôlder Oficina de trabalho Infográfico Estudo dirigido Infográfico Seminário Aprendizado baseado em equipes Infográfico Seminário Portfólio Associação de dramatização e estudo de caso


Infográfico 1 - AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO DAS METODOLOGIAS - Fepar

Professores

Concordo totalmente

Apenas concordo

Alunos

Sem opinião formada

1. Favoreceu o andamento da disciplina?

55,6%

44,4%

2. Despertou o interesse dos alunos?

55,6%

44,4% 66,7%

11,1%

6. Desempenho docente

33,3%

73,8%

23,0%

2,2%

0,6%

0,4%

62,3%

28,3%

7,8%

1,3%

0,3%

21,3%

3,8%

0,6%

0,1%

11,1%

5. Os alunos valorizaram?

22,2%

1. Percepção sobre as atividades

2. Aumento do interesse e dedicação pela disciplina

77,8%

4. Os alunos desenvolveram as competências?

44,4%

Discordo totalmente

44,4%

3. Foi útil para os alunos?

22,2%

Apenas discordo

3. Foi útil?

73,2%

66,7%

7. Desenvolvimento profissional

55,6%

22,2%

22,2%

55,6%

11,1%

4. Foi aplicada satisfatoriamente pelo professor?

8. Condução

33,3%

75,5%

22,0%

2,0%

0,5%

9. O planejamento foi útil?

55,6%

33,3%

11,1%

5. Favoreceu o andamento da disciplina?

10. As estratégias foram utilizadas?

55,6%

44,4%

Todos os critérios avaliados por professores e alunos obtiveram resultados positivos, reforçando que os objetivos do projeto foram alcançados. Os alunos se mostraram, de forma geral, comprometidos com as atividades propostas, desenvolvendo-as com criatividade. Vários professores identificaram diferentes qualidades nos estudantes, que não se manifestavam nas aulas expositivas dialogadas tradicionais. Ainda, o desafio os levou à autorreflexão e autoavaliação e esses momentos foram acompanhados pela equipe psicopedagógica da insituição, que elaborou relatórios das atividades. As dificuldades encontradas pelos professores na execução das atividades foram discutidas nos encontros periódicos das equipes da Fepar e do CFMV.

72,5%

21,8%

4,9%

0,4%

0,4%

Durante a execução do projeto, ficou evidente que um semestre era insuficiente para análise e desenvolvimento pleno das competências humanísticas nos alunos, tornando-se necessário acompanhar a evolução do acadêmico por, pelo menos, mais dois semestres subsequentes. Inicialmente, a implantação das estratégias foi desafiadora, inspirando muita motivação na equipe de professores. O docente que é dinâmico e procura inovar em suas aulas já utiliza rotineiramente as diferentes estratégias de ensino-aprendizagem, porém se percebeu que, quando há metodologia na aplicação, sensibilizando previamente os alunos quanto à importância do desenvolvimento das competências humanísticas, se desperta o interesse e melhora-se o aproveitamento, inclusive da aquisição do conhecimento técnico.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

33


Na disciplina Agrostologia, foi usado o estudo do meio, com a participação ativa de todos

Outra estratégia foi o júri simulado, nas aulas de Técnica Operatória

Muitas estratégias de ensino-aprendizagem descritas no documento do CFMV foram adaptadas pelos professores. Um exemplo ocorreu na disciplina Anatomia Patológica, em que o docente aplicou o estudo de caso em equipes como primeira avaliação do semestre; para minimizar o estresse da atividade, dois cães treinados como animais de terapia estavam presentes.

Considerações sobre a aplicação das estratégias

Os alunos se mostraram receptivos e é importante que o professor tenha a sensibilidade de adequar a estratégia ao perfil da turma e sua disciplina, para que haja pleno aproveitamento da atividade e os objetivos técnicos e humanísticos possam ser alcançados. Em geral, os docentes do curso de Medicina Veterinária são eminentemente técnicos e a adoção das estraté-

FIGURA 1 - Mapa conceitual desenvolvido pelos alunos

Função de fornecer níveis adequados de O2 para diferentes tecidos do corpo por meio do sistema circulatório e remover CO2 desses tecidos

Branquial A respiração consiste em 4 eventos:

1. Ventilação

2. Respiração externa

Sistema respiratório

SISTEMA RESPIRATÓRIO

3. Transporte de gás

Sistema circulatório

Tecidos

Epitélio pavimentoso estratificado queratinizado

Vestíbulo da cavidade nasal

Epitélio pseudoestratificado ciliado (epitélio respiratório)

Respiratório da cavidade nasal

Epitélio pseudoestratificado

Região olfatória da cavidade nasal

Epitélio respiratório

34

Nasofaringe Laringe Traqueia e brônquios primários

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Aves

Possuem sacos aéreos

Pulmonar 4. Respiração interna

Porção Extrapulmonar

Epitélio colunar pseudoestratificado ciliado (epitélio respiratório) Epitélio pavimentoso estratificado e colunar, pseudoextratificado ciliado

Cutâneo

Porção condutora

Transportar, filtrar, umedecer e aquecer Epitélio colunar pseudoestratificado ciliado (epitélio respiratório) Epitélio colunar simples a cúbico símples Epitélio cúbico simples

Porção respiratória Brônquios respiratórios

Porção intrapulmonar Brônquios secundários (intrapulmonares)

Brônquios (primários)

Bronquíolos terminais

Epitélio cúbico simples e pavimentoso simples

Dutos alveolares

Epitélio pavimentoso simples

Sacos alveolares

Epitélio pavimentoso simples

Alvéolos

Epitélio pavimentoso simples

Pneumatócitos tipo I Pneumatócitos tipo II (surfactante) Sistema respiratório Sistema respiratório pulmonar possui a pulmonar possui o ÓRGÃO REGIÃO OLFATÓRIA, que VOMERONASAL tem função é responsável pelo odor de aumentar a sensibilidade ou olfato e possui três de quimiorrecepção nas tipos celulares: células de espécies domésticas e sustentação, células basais e selvagens células olfatórias


gias de ensino-aprendizagem de competências humanísticas exige preparo prévio, tanto do ponto de vista pedagógico quanto psicológico. Esse docente tende a reproduzir o formato de aula que vivenciou na sua graduação, ficando atrelado a paradigmas, muitas vezes não atualizados. As próprias atitudes com relação à tecnologia, como computadores e celulares, assim como a interação com programas para apresentação didática, devem ser revistas. Com a extensão do projeto por dois semestres, foi possível avaliar as mesmas turmas em períodos subsequentes. Foi percebida a evolução dos alunos nas atividades do mesmo semestre, que se tornou evidente no semestre seguinte, com independência em relação à elaboração da atividade. Alguns alunos que participavam de projetos de extensão passaram a utilizar as estratégias para o desenvolvimento dessas atividades. Foram importantes a união dos docentes envolvidos, o apoio da coordenação do curso e a anuência do corpo diretivo da instituição. O acompanhamento contínuo do CFMV na execução do projeto nas demais instituições de ensino é fundamental, para que não haja dispersão do grupo de docentes, bem como dos objetivos propostos.

“A turma respondeu bem às atividades propostas, apresentando evolução pessoal e técnica após seu desenvolvimento.” Prof. Emanuel Faleiros, disciplina Clínica Médica e Cirúrgica de Ruminantes

“Ao longo das atividades, foram perceptíveis a intenção e o sucesso do projeto, pois era notável o engajamento dos alunos e professores. Foi de grande proveito para mim, uma vez que, após a nossa formação, lidaremos não apenas com animais, mas também com pessoas, sejam elas colegas de trabalho ou clientes, tarefa que o ensino teórico comum não iria abranger.” Acadêmico Luiz Guilherme Rasmussen Torri, disciplina Melhoramento Animal e Produção e Doenças de Suínos, 5° período

AUTORES

Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade Médico Veterinário CRMV-PR nº 4414 DSc

“O projeto tem como foco principal os alunos, porém ficou claro o crescimento dos professores, que puderam ampliar suas metodologias de ensino, favorecendo melhor aproveitamento da disciplina, sem qualquer prejuízo ao conteúdo programático. As atividades propiciaram maior proximidade dos professores e acadêmicos, desenvolvendo em ambos competências humanísticas. Esse projeto foi um divisor de águas para o curso.”

Gisele Ludwig Tesserolli de Andrade Médica Veterinária CRMV-PR nº 7470 MSc

Profa. Rebeca Bacchi Villanova, disciplina Clínica Médica de Pequenos Animais

Eros Luiz de Sousa Médico Veterinário CRMV-PR nº 4432 MSc Silvana Maris Cirio Médica Veterinária CRMV-PR nº 1461 DSc Rebeca Bacchi Villanova Médica Veterinária CRMV-PR nº 7470 MSc

Patrícia Erdmann Mosko Médica Veterinária CRMV-PR nº 5529 MSc

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

35


Educação

Diretrizes curriculares nacionais e o profissional do futuro As modificações sugeridas modernizam o documento original, tornando-o mais objetivo e claro, a fim de dirimir dúvidas surgidas durante a aplicação das diretrizes curriculares nacionais atuais, bem como atendendo à dinamicidade das demandas sociais 36

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

A

s Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) da Medicina Veterinária, instituídas pela Resolução CNE/CES nº 1, de 18 de fevereiro de 2003, representam uma legislação de concepção moderna e que está em consonância, em termos gerais, com o anseio mundial do perfil do Médico Veterinário a ser graduado. No entanto, por ser um documento publicado há mais de dez anos, seus termos foram discutidos anteriormente a essa data e, devido à dinamicidade das demandas sociais, faz-se necessária sua atualização. Além das áreas clássicas da Medicina Veterinária, as demandas sociais atuais concentram-se na produção e no abastecimento global de alimentos, no abastecimento de alimentos seguros e protegidos, nas doenças emergentes e reemergentes, na conservação da fauna e na gestão da saúde pública e ambiental. Assim sendo, a educação em Medicina Veterinária enfrenta, em ritmo acelerado, grandes desafios surgidos com a necessidade de oferecer respostas às mudanças rápidas e substanciais da própria humanidade. Durante o período de vigência das atuais DCNs, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), a Associação Pan-Americana de Ciências Veterinárias (Panvet) e a Associação Americana de Faculdades


de Medicina Veterinária (AAVMC), publicaram documentos que tratam do perfil e das habilidades e competências dos graduados em Medicina Veterinária. Resumidamente, esses documentos tratam de conceitos como a responsabilidade do profissional, independentemente da sua área de atuação, nos campos promoção da saúde e bem-estar animal, saúde pública e segurança alimentar, saúde dos ecossistemas, entre outros. Diante desse novo cenário, o CFMV, por meio da sua Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária (CNEMV), optou por fazer avaliação detalhada e metódica visando à atualização das atuais DCNs da Medicina Veterinária durante o 21o Seminário Nacional de Educação da Medicina Veterinária (SENEMEV), ocorrido em Brasília - DF, de 3 a 5 de novembro de 2014. O referido evento contou com participantes (docentes, gestores de curso, estudantes) de todas as regiões do país. Para tanto, foi utilizada a metodologia World Café, em que há uma sistematização que permite que todos os participantes possam expressar suas ideias, que são socializadas, discutidas e, posteriormente, descritas em documento específico. Considerando as diversas contribuições colhidas durante o SENEMEV, bem como aquelas enviadas pelas comissões assessoras do CFMV, a CNEMV elaborou uma minuta para atualização das DCNs. A seguir, estão descritos, de maneira geral, os principais pontos em que foram sugeridas modificações na legislação vigente: 1. foi incluído um artigo que assinala princípios a ser observados no exercício da profissão, que são: (1) respeito ao bem-estar animal, (2) sustentabilidade ambiental, (3) observância da ética e (4) atendimento às expectativas humanas e sociais no exercício das atividades profissionais; 2. no perfil profissional, foram reafirmadas áreas, às vezes negligenciadas, para a capacitação do Médico Veterinário, tais como: saúde pública e ambiental, bem-estar animal e sustentabilidade econômica, social e ambiental; 3. no artigo que trata das competências e habilidades específicas, bem como no que trata dos conteúdos essenciais, foram inseridas modificações no texto objetivando sua melhor compreensão. Também foram adicionados temas a ser abordados no transcorrer do curso, em especial:

a) bem-estar animal; b) saúde ambiental; c) bioterismo; d) saúde pública com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS); e) saúde única; f) doenças emergentes e reemergentes; 4. foram incluídos como itens obrigatórios do projeto pedagógico do curso: a) a carga horária mínima de 4.000 horas-relógio; b) contextualização dos objetivos gerais do curso; c) condições objetivas de oferta e vocação do curso; d) formas de realização da interdisciplinaridade; e) modos de integração entre graduação e pós-graduação, quando houver; f) incentivo à pesquisa; g) regulamentação do trabalho de conclusão de curso; h) concepção e composição das atividades de estágio supervisionado e atividades complementares; i) registro dos seguintes itens obrigatórios para cada disciplina: i. carga horária teórica e prática; ii. objetivos gerais e específicos; iii. competências e habilidades a ser desenvolvidas; iv. conteúdos a ser desenvolvidos; v. metodologias de ensino; vi. cenários de aprendizagem; vii. modos de integração entre teoria e prática; viii. sistema de avaliação do ensino e da aprendizagem; ix. bibliografias básica e complementar; 5. recomendam-se fortemente a utilização de metodologias ativas e o desenvolvimento de instrumentos de verificação de estrutura, processos e resultados, em consonância com o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES); 6. recomenda-se fortemente a manutenção de programa permanente de capacitação e atualização docente; 7. carga horária máxima de atividades complementares não deve exceder 10% da carga horária total do curso; 8. obrigatoriedade de o curso ser ministrado no período diurno, sob pena de infringir o disposto no § 4º do art. 47 da Lei nº 9.394/1996.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

37


O que diz o

CNE? Luiz Roberto Liza Curi é conselheiro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), ligado ao Seminário reuniu coordenadores de curso de todas as regiões do país

Conforme pode ser observado, as modificações sugeridas não alteram a concepção do documento original, apenas o modernizam. Outras mudanças propostas têm por objetivo tornar o documento mais objetivo e claro, dirimindo dúvidas surgidas durante a aplicação das DCNs atuais. Após revisão no âmbito do CFMV, a referida minuta deverá ser encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Espera-se que, no decorrer de 2015, o CNE promova a discussão e tramitação necessária, incluindo a realização de uma audiência pública, para que as novas DCNs sejam implantadas o mais breve possível, de modo a assegurar que o Médico Veterinário receba uma formação que lhe garanta competências, responsabilidade e ética condizentes com o que a sociedade espera de sua atuação.

Como avalia a iniciativa do CFMV de tratar da atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)? Foi uma relevante oportunidade para discussão. Vimos que o conselho está preocupado com a organização curricular, o que contribuirá para o desenvolvimento da profissão. O senhor participou do seminário de ensino, que, com os coordenadores de curso, discutiu o tema. Qual é a importância de uma maior interação com o representante do CNE? A aproximação foi positiva. Coordenadores em articulação com o CFMV podem estabelecer um ordenamento para uma discussão mais ampla sobre quais pontos podem ser revistos e novamente discutidos com a sociedade. Após o envio das sugestões pelo CFMV, como se dará a tramitação no CNE?

AUTORES

Rafael Gianella Mondadori Médico Veterinário CRMV-RS nº 5672 (Presidente)

João Carlos Pereira da Silva Médico Veterinário CRMV-MG nº 1239

Breno Schumaher Henrique Médico Veterinário CRMV-AM nº 0303

Paulo César Maiorka Médico Veterinário CRMV-SP nº 6928

Feita a formalização, o debate é ampliado para outros personagens que não atuam no campo acadêmico, mas têm relação com a área. São exemplos a indústria médica e os responsáveis por práticas inovadoras. Essa articulação contribui para a amplitude das diretrizes. Elas precisam ser amplas, pois são um convite para que a universidade não seja conservadora.

Celso Pianta Médico Veterinário CRMV-RS nº 1732

Marcelo Diniz dos Santos Médico Veterinário CRMV-MT nº 0818

Após a tramitação, existe previsão de implantação? Qual seria o prazo?

Francisco Edson Gomes Médico Veterinário CRMV-RR nº 0177

Rogério Martins Amorim Médico Veterinário CRMV-SP nº 6757

A implantação levaria alguns meses. Será constituída uma comissão que fará a descrição e o diálogo com a academia e fora dela. O prazo não é longo.

COMISSÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA (CNEMV) do CFMV – Gestão 2011-2014 comissões@cfmv.gov.br

38

Ministério da Educação.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


Reprodução Animal

Aplicações e métodos de sexagem de sêmen bovino O uso do sêmen sexado produz proporções ideais de machos e fêmeas, permitindo vantagens de características limitadas e influenciadas pelo sexo No Brasil, apesar de a venda de sêmen ter crescido 50% nos últimos dez anos, estima-se que somente 10% das fêmeas em idade reprodutiva são inseminadas. Quando considerada a bovinocultura de corte e de leite, um dos fatores que determinam o desempenho do agronegócio é o sexo do bezerro, com o macho muito valorizado na primeira e pouco na segunda. Em atenção a essas particularidades, uma biotecnologia disponível é o uso do sêmen sexado (BARUSELLI et al., 2007), que é comercializado no país desde 2004 (MEIRELLES et al., 2008). A sexagem é a separação do sêmen em partes ricas de espermatozoides (sptz) contendo cromossomos sexuais específicos, o que possibilita a seleção do sexo do futuro embrião (NEVES et al., 2009). Mesmo com as vantagens da produção de bovinos com sêmen sexado, é preciso evidenciar as limitações (MEIRELLES et al., 2008). Métodos de sexagem Citometria de fluxo

A citometria de fluxo permite a sexagem do sêmen por separação dos sptz contendo cromossomo X dos Y com base no DNA, com eficiência comprovada (DELL’AQUA et al., 2011). A sexagem dos sptz, de acordo com conteúdo de DNA, demorou aproximadamente 20 anos para se estabelecer (GARNER; SEIDEL JR, 2003). Em bovinos, o cromossomo X apresenta cerca de 4% a mais de DNA em relação ao Y (CARVALHO et al., 2009) e a medida de DNA é tão exata que a variação entre X

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

39


e Y tem sido determinada em vários mamíferos (GARNER, 2006). Em touros, a raça Jersey apresentou diferença maior (4,24%) em comparação com Angus (4,05%), Hereford (4,03%), Holstein (3,98%) e Brahman (3,73%) (HOSSEPIAN DE LIMA, 2007) Garner (2006) também verificou a variação e os resultados são demonstrados na Figura 1.

deto de propídio às células coradas pelo Hoechst 33342, porém o iodeto foi substituído para evitar efeitos mutagênicos (SEIDEL JR; GARNER, 2002). A sexagem pelo citômetro de fluxo inicia-se com a coloração dos sptz com o Hoechst 33342, a 34-38 °C, durante 60-90 minutos, que é o tempo necessário para o equilíbrio estequiométrico e para reflitir a quantidade do conteúdo de DNA (GARNER; SEIDEL JR, 2003). Posteriormente, os sptz são bombeados em um fluxo passando por um feixe de laser e os que estão corados emitem fluorescência azul brilhante (GARNER; SEIDEL JR, 2008). O corante fluorescente é excitado pela luz do laser, em posição de 0° e 90°, que é reconhecida em um computador que processa os sinais elétricos. De acordo com a intensidade de fluorescência

figurA 1 Diferença na quantidade de DNA entre sptz X e Y (%), de acordo com as raças de bovinos. Fonte: Adaptado de Garner (2006)

Como sptz com cromossomos X apresentam maior conteúdo de DNA, as células são coradas com Hoechst 33342 e, de acordo com a intensidade de fluorescência, são separadas (DELL’AQUA et al., 2011). Sendo assim, o corante se liga 4% a mais ao DNA de sptz X do que aos de Y; consequentemente, eles emitem mais 4% de fluorescência, devido à penetração com facilidade na membrana da célula e ligação ao seu DNA (SEIDEL JR, 2007). Para a seleção de células danificadas ou mortas, usase o corante Hoechst 33258. Os dois corantes ligam-se ao DNA praticamente da mesma forma, porém as membranas celulares, sem danos, dos sptz vivos impedem a entrada do Hoechst 33258 e evitam que ele apague a fluorescência emitida pelo Hoechst 33342, que exibe maior sinal de fluorescência em relação aos sptz danificados (GOSÁLVEZ et al., 2011).

40

emitida pela superfície plana do sptz e se a posição estiver adequada, estes são selecionados em X ou Y (KLINC; RATH, 2006). O fluido sai do citômetro de fluxo e, por ação de um vibrador, é separado em gotas pequenas, sendo formadas por volta de 70.000 a 80.000 gotículas por segundo. Dessa quantidade, próximo de um terço das gotas contém sptz e os outros dois terços estão vazios. Se a gotícula apresentar um sptz X, carga elétrica positiva será adicionada a ela e, se for composta por sptz Y, será adicionada carga negativa. Não contendo sptz ou sendo eles múltiplos, danificados ou com DNA indistinguível, nenhuma carga será colocada sobre a gota (SEIDEL JR, 2007). As gotas, ao caírem, passam por campos elétricos negativos e positivos (Figura 2) e, como cargas opostas se atraem (GARNER; SEIDEL JR, 2008), gotas com carga positiva (sptz X) se direcionam à par-

Após serem coradas, as células passam pelo citômetro de fluxo (DELL’AQUA et al., 2011), quando são expostas a um comprimento de onda luminosa, normalmente por um laser; com isso, o corante fluoresce, permitindo a sexagem (SEIDEL JR, 2007). A coloração com o Hoechst 33342 e a exposição ao laser ultravioleta, durante a sexagem, podem provocar danos genéticos ao DNA (GARNER; SEIDEL JR, 2008). Há suspeita de que ocorra nascimento de bezerros anormais produzidos por sêmen sexado, mas em estudos feitos por Seidel Jr (2007) não foi demonstrada nenhuma evidência.

te negativa do campo; sptz Y que apresentam car-

Antes do Hoechst 33258, a classificação das células mortas ou danificadas era conduzida com a adição de io-

do sêmen sexado com 75% de acurácia, que, em

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

ga negativa, para o campo positivo; e aqueles sem carga continuam o fluxo sem sofrer desvio (SEIDEL JR, 2007). Mais da metade dos sptz é descartada, pois não é precisamente sexada (GARNER; SEIDEL JR, 2008). A precisão da citometria de fluxo na sexagem de sptz é de 85% a 95% (GARNER; SEIDEL JR, 2003), mas pode ser alterada para aumentar o rendimento da técnica, sendo uma alternativa o uso pesquisas, não demonstrou diferença nas taxas de


concepção, variando entre 75% e 85% (SÁ FILHO et al., 2012). Doses com 75% de acuidade já são vendidas no Brasil, com menor preço em relação às palhetas com 90%.

figurA 2 Citômetro de fluxo: sptz X e Y se direcionam para campos opostos, enquanto sptz danificados (sem carga) seguem o fluxo sem sofrer desvio. Fonte: Adaptado de Sexing Technologies

Entretanto, a técnica envolve etapas capazes de promover mudanças na funcionalidade da membrana, na motilidade e na morfologia dos sptz (ARRUDA et al., 2012), devido a estresses mecânicos e químicos, oriundos do manejo excessivo dos sptz, adição de corante, incubação, mudança de pressão no decorrer da classificação e centrifugação. Para formação da gota, são submetidos a forças de vibração, exposição ao laser ultravioleta, carga elétrica, alta gravidade, alta diluição e estresses durante a criopreservação (ARRUDA et al., 2012). Também foram encontradas diferenças de densidade, peso, conteúdo proteico e propriedades imunológicas (ARRUDA et al., 2012). Com isso, novos métodos estão sendo desenvolvidos, como melhoria no citômetro, capazes de aumentar o rendimento e produzir maior quantidade de células intactas durante a classificação, diminuindo os custos (SHARPE; EVANS, 2009). Centrifugação em gradiente de densidade

Os sptz de bovinos apresentam uma diferença de densidade de 7x10-4 g/cm³, resultado da variação no conteúdo de DNA entre X e Y; com isso, os X são 0,06% mais densos que os Y, possibilitando a separação dos sptz usando gradientes com alta resolução de densidade (HOSSEPIAN DE LIMA,

2007). Se ambos os cromossomos forem submetidos a uma mesma força centrífuga, é esperado que os sptz X se sedimentem com maior velocidade (HOSSEPIAN DE LIMA et al., 2011). Esses gradientes são compostos por soluções isotônicas feitas a partir de substâncias de partículas coloidais (Percoll®), que permitem separação de impurezas, como sptz imaturos, células e bactérias, que ficam retidas nas frações superiores dos sptz viáveis (frações mais densas), separando também sptz X dos Y com uma única centrifugação (OLIVEIRA et al., 2011). De acordo com Kobayashi et al. (2004), essa separação ocorre devido à motilidade antes da centrifugação, pois os sptz X possuem motilidade maior em relação aos Y, interferindo na sedimentação das células pelo gradiente de densidade. No entanto, Hossepian de Lima (2007) não obteve melhor seleção em amostras que possuíam maior motilidade antes da centrifugação. Um menor número de centrifugações e manipulações diminui as lesões nos sptz, preservando-os para a criopreservação (HOSSEPIAN DE LIMA, 2007). Hossepian de Lima et al. (2011), utilizando sêmen bovino congelado, realizaram sexagem por meio da centrifugação em 13 diferentes gradientes de densidade de Percoll®. A proporção de sptz X e Y nas frações superiores e inferiores foi verificada com a avaliação da presença do corpúsculo F, que é a região distal do braço curto do cromossomo Y, observada como um ponto fluorescente na cabeça do sptz corado pela quinacrina mustarda e analisada por microscópio de fluorescência. Entre os gradientes testados, dois apresentaram alta eficiência, sendo 74,38% e 74,73% dos sptz Y, na porção superior, e 25,55% e 25,45%, no sedimento. Os resultados indicaram eficiência na separação dos sptz X e Y, com acuidade de 75%. A acuidade é menor quando comparada à citometria de fluxo, porém, com a centrifugação, é possível produzir pelo menos 450 milhões de sptz sexados em uma hora, mais, portanto, que a produção do citômetro de fluxo no mesmo período (HOSSEPIAN DE LIMA, 2007). Outra vantagem é a recuperação de 80% dos sptz com motilidade (HOSSEPIAN DE LIMA et al., 2011). O aumento do número de células móveis também foi constatado por Carvalho et al. (2009). As dificuldades da técnica estão relacionadas à produção de gradientes de densidade em grande escala. Há a impossibilidade de armazenamento dos gradientes, determinando utilização logo após a colheita ou descongelamento do sêmen, e a limitação na formação de várias camadas, dependendo da habilidade do técnico (HOSSEPIAN DE LIMA, 2007).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

41


figurA 4 Fêmeas resultantes de melhoramento genético

Foto: Fazenda Santa Maria

Em estudo com centrifugação, foi obtida 75% de prenhez na inseminação artificial, com nascimento, em média, de 70,7% de fêmeas (HOSSEPIAN DE LIMA et al., 2011). Entretanto, é necessário melhorar tanto os métodos de sexagem por centrifugação em gradiente de densidade quanto os modos de preservação, previnindo danos (OLIVEIRA et al., 2011).

tanto, Kurykin et al. (2007), em outro experimento, observaram que o local de deposição não afetou as taxas de prenhez.

Aplicações do sêmen sexado

Sá Filho et al. (2010) observaram maior taxa de concepção quando foi realizada inseminação artificial entre 16h e 24h, em comparação com as inseminações entre 12h e 16h, após o início do estro. Já Baruselli et al. (2007) não observaram diferença significativa, porém o atraso da inseminação aumentou em 9% a taxa de prenhez quando utilizado sêmen sexado (Figura 3).

O uso do sêmen sexado na inseminação artificial tem aumentado, porém com taxas de prenhez de 70% a 80% da obtida com sêmen convencional (DEJARNETTE et al., 2008). Para aumentar a fertilidade, em bovinos, foi testada a inseminação com sêmen sexado no corno uterino. Seidel Jr et al. (1999) utilizaram três grupos de novilhas, sendo: (1) inseminação artificial com sêmen sexado no corpo uterino, (2) inseminação artificial com sêmen sexado no corno uterino e o (3) sêmen convencional no corpo do útero. Os resultados em relação à taxa de concepção foram, respectivamente, 40%, 62% e 51%, indicando que a inseminação artificial no corno uterino apresentou melhores resultados. Entre-

Outros autores recomendam a inseminação artificial, do modo convencional, no corpo uterino, pois há pouca vantagem quando se deposita o sêmem no corno (GARNER; SEIDEL JR, 2003).

Considerando o uso do sêmen sexado na Transferência de Embrião (TE), esperam-se vantagens econômicas e expansão de mercado (VRIES et al., 2008). A maioria das vacas que passam por protocolos de superovulação tem taxas de fertilização de oócitos menores em relação a animais não superovulados. Com isso, a viabilidade e a concentração espermática usadas nesses procedimentos são muito importantes, existindo muitas dúvidas sobre o uso de sêmen sexado em TE (BARUSELLI et al., 2011). Mesmo com diminuição da produção de embriões, a utilização do sêmen sexado, com acurácia de 90%, permite produzir maior quantidade de embriões do sexo desejado (BARUSELLI et al., 2007) e aumento do ganho genético (ARRUDA et al., 2012).

figurA 3 Efeito do momento da inseminação artificial e do tipo de sêmen na taxa de concepção após inseminação artificial em tempo fixo em vacas Nelore no pós-parto. Fonte: Adaptado de Baruselli et al. (2007).

42

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Já na Fertilização In Vitro (FIV), é maior a proporção de embriões machos produzidos em comparação a fêmeas; portanto, a utilização do sêmen


sexado pode inverter essa proporção, consequentemente aumentando valores econômicos, uma vez que fêmeas têm maior valor comercial (ARRUDA et al., 2012). Na FIV, uma vantagem interessante é a necessidade de menor quantidade de sptz (WHEELER et al., 2006). Consequentemente, podem ser utilizadas palhetas com dose de 100.000 ou menos sptz, quantidade necessária para fertilizar cem óvulos, podendo o processo de sexagem ser mais lento, para diminuir danos (WEIGEL, 2004). Resultados melhores foram obtidos com a redução da pressão do citômetro de fluxo de 50 para 40 psi durante a sexagem (BARCELÓ-FIMBRES et al., 2011). Vantagens e Desvantagens do sêmen sexado

Mesmo com menor taxa de prenhez, o uso do sêmen sexado aumenta, efetivamente, o número de bezerras nascidas (BARUSSELI et al., 2011). Portanto, sua utilização tem sido útil para produzir novilhas que serão excelentes substitutas, pois animais mais jovens, em propriedades sob programas de melhoramento genético (Figura 4), apresentam genética superior à das vacas mais velhas (SEIDEL JR, 2007). As taxas de prenhez com uso do sêmen sexado são maiores quando utilizado em novilhas. Outra vantagem de novilhas parirem fêmeas é que bezer-

Foto: Faider Villadiego

ras, no nascimento, pesam menos em relação aos bezerros machos, com menor incidência de distocias (GARNER; SEIDEL JR, 2008). Com a disponibilidade do sêmen sexado, é possível expandir e manter o rebanho fechado (VRIES et al., 2008). Evita-se a exposição a novos patógenos introduzidos por animais externos, prevenindo o aumento da taxa de descarte involuntário, ocasionado por doenças (WEIGEL, 2004). Consequentemente, a expansão do rebanho ocorre rapidamente e sem necessidade de aquisição de animais (SEIDEL JR, 2007). Essa expansão somente é possível com o uso do sêmen sexado e de embriões, porém esse benefício de biossegurança muitas vezes é esquecido (WEIGEL, 2004). Em bovinos de corte, a sexagem aumenta a produtividade e permite a obtenção de maior quantidade de machos (Figura 5), que apresentam maior peso na desmama, preço de venda mais elevado, ganho de peso, conversão alimentar e rendimento de carcaça maiores, consequentemente custo por arroba menor em comparação às fêmeas (COUTINHO FILHO et al., 2006). Entre as desvantagens, cita-se a fertilidade reduzida em comparação ao sêmen convencional, devido aos danos promovidos nos sptz durante o processo de sexagem (GOSÁLVEZ et al., 2011). De acordo com Moreira e Costa (2009), as taxas de prenhez são menores com o uso do sêmen sexado, devido à excessiva manipulação durante a classificação, quando os sptz são expostos a um ambiente que pode afetar a capacitação espermática, permitindo capacitação parcial e, consequentemente, com tempo mais curto de vida. Essa capacitação prematura dos sptz sexados pela citometria é uma desvantagem para sêmen destinado à criopreservação e uma vantagem para sêmen utilizado logo após a sexagem, para uso na FIV, pois não é necessário induzir a capacitação dos sptz antes da fertilização (JONHSON, 2000). Outra explicação para redução de fertilidade é a concentração espermática do sêmen sexado, em uma dose, que é menor em relação ao sêmen convencional (MEIRELLES et al., 2008). Para aumentar a eficiência da sexagem que é de baixa velocidade, a dose do sêmen sexado contém cerca de 2x106 sptz por palheta (BARUSELLI et al., 2007).

figurA 5 Bezerros nascidos após inseminação artificial com sêmen sexado

Além da baixa fertilidade, outro fator limitante para utilização do sêmen sexado é seu custo (VRIES et al., 2008). Em 2007, na maioria dos países, o custo de uma dose de sexado era duas vezes o de uma dose do convencional do mesmo touro (SEIDEL JR, 2007). O preço

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

43


mais alto deve-se ao elevado custo do equipamento, à sua manutenção e às perdas de sptz durante a sexagem (GARNER, 2006).

Revista Brasileira de Zootecnia v.36, p.219-228, 2007.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

JOHNSON, L.A. Sexing mammalian sperm for production of offspring: the state-of-the-art. Animal Reproduction Science v.61, p.93-107, 2000.

Como existem diferenças econômicas após o nascimento de fêmeas e machos, tanto de aptidão leiteira quanto de corte, a utilização do sêmen sexado é uma alternativa para aumentar o rendimento, sendo ele pouco utilizado no Brasil, pois apresenta fertilidade reduzida. Também existem dúvidas quanto aos métodos de inseminação artificial, momento mais adequado para inseminar, local da deposição do sêmen e concentração espermática. Além da baixa fertilidade, o custo do sêmen sexado dificulta a expansão da comercialização, sendo necessário diminuir o custo de produção, aumentar o rendimento, diminuir danos aos sptz e aumentar a acuidade da centrifugação. REFERÊNCIAS ARRUDA, R.P.; CELEGHINI, E.C.C.; ALONSO, M.A. et al. Aspectos relacionados com a técnica e a utilização do sêmen sexado in vitro e in vivo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE EMBRIÕES, 26, 2012, Foz do Iguaçu. Anais..., 2012. p. 238-246. BARCELÓ-FIMBRES, M.; CAMPOS-CHILLÓN, L.F. et al. In vitro fertilization using nonsexed and sexed bovine sperm: sperm concentration, sorter pressure, and bull effects. Reproduction in Domestic Animals v.46, p.495-502, 2011. BARUSELLI, P.S.; SOUZA, A.H.; MARTINS, C.L. et al. Sêmen sexado: inseminação artificial e transferência de embriões. Revista Brasileira Reprodução Animal v.31, n.3, p.374-381, 2007. BARUSELLI, P.S.; SÁ FILHO, M.F.; SOUZA, A.H. Avanços nos protocolos reprodutivos em fêmeas de corte com adição de sêmen convencional ou sexado. In: SIMPÓSIO DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, 7, 2011, Lavras. Anais..., 2011. p.333-362. CARVALHO, J.O.; SARTORI, R.; LEMES, A.P. et al. Cinética de espermatozoides criopreservados de bovinos após sexagem por citometria de fluxo. Pesquisa Agropecuária Brasileira v.44, n.10, p.1346-1351, 2009. COUTINHO FILHO, J.L. V.; PERES, R.M.; JUSTO, C.L. Produção de carne de bovinos contemporâneos, machos e fêmeas, terminados em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia v.35, n.5, p.2043-2049, 2006. DEJARNETTE, J.M.; NEBEL, R.L.; MARSHALL, C.E. et al. Effect of sex-sorted sperm dosage on conception rates in Holstein heifers and lactating cows. American Dairy Science Association v.91, n.5, p.1778-1785, 2008.

HOSSEPIAN DE LIMA, V.F.M.; FILHO, C.A.M.; LUCIO, A.C. et al. Sexagem de espermatozoides bovinos por centrifugação em gradiente descontínuo de densidade de Percoll. Revista Brasileira de Zootecnia v.40, n.8, p.16801685, 2011.

KLINC, P.; RATH, D. Application of flow cytometrically sexed spermatozoa in different. Arch. Tierz, Dummerstorf v.49, n.1, p.41-54, 2006. KOBAYASHI, J.; OGURO, H.; UCHIDA, H. et al. Assessment of bovine X- and Y-bearing spermatozoa in fractions by discontinuous percoll gradients with rapid fluorescence in situ hybridization. The Journal Of Reproduction and Development v.50, n.4, p.463-469, 2004. KURYKIN, J.; JAAKMA, U.; JALAKAS, M. et al. Pregnancy percentage following deposition of sex-sorted sperm at different sites within the uterus in estrus –synchronized heifers. Theriogenology v.67, p.754-759, 2007. MEIRELLES, C.; FARIA, V.R.; SOUZA, A.B. et al. Eficiência da inseminação artificial com sêmen sexado bovino: aspectos de viabilidade reprodutiva e econômica. Archiyes of Veterinary Science, v.3, n.2, p.98-103, 2008. MOREIRA, J.S.; COSTA, D.S. Uso de sêmen sexado para produção de touros nelore no estado de Mato Grosso do Sul, 2009. Disponível em: <www. propp.ufms.br/gestor/titan.php?target=openFile&fileId=542> Acesso em: 23 set. 2012. OLIVEIRA, L.Z.; ARRUDA, R.P.; CELEGHINI, E.C.C. et al. Taxa de recuperação e características espermáticas após a sexagem por centrifugação em gradiente de densidade em espermatozoides descongelados. Revista Brasileira de Reprodução Animal v.35, n.1, p.41-48, 2011. SÁ FILHO, M.F.; AYRES, H.; FERREIRA, R.M. et al. Strategies to improve pregnancy per insemination using sexed semen in dairy heifers detected in estrus. Theriogenology v.74, p.1636-1642, 2010. SÁ FILHO, M.F.; MONTEIRO, B.M.; CAMPOS FILHO, E.P. et al. Uso do sêmen sexado 75% de pureza na IATF de vaca Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DE EMBRIÕES, 26, 2012, Foz do Iguaçu. Anais..., 2012. p. 370. SEIDEL JR, G.E.; SCHENK, J.L.; HERICKHOFF, L.A. et al. Insemination of heifers with sexed sperm. Theriogenology v.52, p.1407-1420, 1999. SEIDEL JR, G.E.; GARNER, D.L.; Current status of sexing mammalian spermatozoa. Society for Reproduction and Fertility v.124, p.733-743, 2002. SEIDEL JR, G.E.; Overview of sexing sperm. Theriogenology v.68, p.443446, 2007. VRIES, A.D.; OVERTON, M.; FETROW, J. et al. Exploring the impact of sexed semen on structure of the dairy industry. Journal of Dairy Science v.91, n.2, p.847-856, 2008. WEELER, M.B.; RUTLEDGE, J.J.; FISCHER-BROWN, A. et al. Application of sexed semen technology to in vitro embryo production in cattle. Theriogenology v.65, p.219-227, 2006. WEIGEL, K.A. Exploring the role of sexed semen in dairy production systems. Journal of Dairy Science v.87, p.120-130, 2004.

DELL’AQUA, C.P.F.; DELL’AQUA JR, J.A.; CRESPILHO, A.M. et al. Variações metodológicas na criopreservação de sêmen sexado de bovinos. Veterinária e Zootecnia v.18, n.1, p.147-155, 2011. GARNER, D.L.; SEIDEL JR, G.E. Past, present and future perspectives on sexing sperm. Canadian Journal Of Animal Science p.375-384, 2003.

AUTORES

GARNER, D.L. Flow cytometric sexing of mammalian sperm. Theriogenology v.65, p.943-957, 2006. GARNER, D.L.; SEIDEL JR, G.E. History of commercializing sexed semen for cattle. Theriogenology v.69, p.886-895, 2008. GARNER, D.L. Hoechst 33342: The dye that enabled differentiation of living X and Y chromosome bearing mammalian sperm. Theriogenology v.71, p.11-21, 2009. GOSÁLVEZ, J.; RAMIREZ, M.A.; LÓPEZ-FERNÁNDEZ, C. et al. Sex-sorted bovine spermatozoa and DNA damage: I. Static features. Theriogenology v.75, p.197-205, 2011. HOSSEPIAN DE LIMA, V.F.M. Avanços metodológicos na seleção do sexo de espermatozoides bovinos para utilização no melhoramento genético e na produção animal.

44

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Wekisley Silvério Crispim Médico Veterinário CRMV-MG nº 13453 wekisleysilverio@yahoo.com.br Adauto de Carvalho Rosas Filho Médico Veterinário CRMV-MG nº 7499


Saúde e conservação das tartarugas marinhas no Brasil

Foto: Fotolia

Medicina da Conservação

Os estudos dos efeitos das mudanças no ambiente sobre a biologia e a ecologia dos peixes servem para avaliar o impacto das ações humanas nos ambientes aquáticos O Brasil é uma nação de proporções continentais. Seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados abrigam sete biomas: Floresta Amazônica, Mata atlântica, cerrado, caatinga, Pantanal, campos sulinos e o ecossistema marinho. Quando se trata de biodiversidade, o Brasil é um país privilegiado, pois abriga cerca de 20% da diversidade biológica mundial. Entre os ecossistemas, o marinho é o menos beneficiado por ações de con-

servação, especialmente em relação a áreas protegidas, que compreendem apenas 2% do mar territorial brasileiro. No país, existem cinco espécies de tartarugas marinhas: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), tartarugade-pente (Eretmochelys imbricata) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea), todas presentes nas listas de espécies ameaçadas de extinção em escalas nacional e mundial. As

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

45


Doenças emergentes em tartarugas marinhas têm assumido a cada dia um papel de destaque entre as ameaças para a conservação das espécies que existem no Brasil. Muito pouco se sabe a respeito da etiologia, epidemiologia, patogenia, diagnóstico e tratamento das enfermidades que ocorrem no ambiente natural e do seu real impacto nas populações de tartarugas marinhas no país. Enfermidades

Nas últimas décadas, a fibropapilomatose das tartarugas-verdes tem se destacado entre as doenças que ocorrem nas populações selvagens. As tartarugas-verdes, em sua fase juvenil, apresentam uma distribuição costeira associada às áreas de alimentação. Tal característica faz com que a espécie esteja presente nas áreas mais impactadas e degradadas pelas atividades humanas, portanto, constantemente exposta a injúrias, contaminantes e enfermidades. Fibropapilomatose em tartarugas-verdes

principais ameaças à conservação de tartarugas marinhas no Brasil são os impactos antrópicos na costa, conflitos com a pesca, mudanças climáticas, poluição e doenças emergentes. A contaminação do ambiente marinho por efluentes industriais, agrícolas e domésticos é extremamente prejudicial aos organismos aquáticos, pois, além de alterar os recursos alimentares, proporciona um cenário extremamente favorável à ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias.

A fibropapilomatose é uma neoplasia benigna epizoótica, caracterizada por tumores cutâneos que podem chegar a 30 cm de diâmetro. O mesmo animal pode ter dezenas de tumores de diferentes tamanhos, tornando-se desfigurado. Sua etiologia ainda não está totalmente esclarecida, mas existe uma forte associação com um alfa-herpesvírus. A enfermidade tem caráter crônico e debilitante, na medida em que compromete a visão, locomoção e alimentação. Tartarugas portadoras da fibropapilomatose são frequentemente associadas a quadros de caquexia, imunossupressão e infecções secundárias, além de serem alvo mais fácil de predadores e estarem mais propensas a sofrer acidentes com embarcações, li-

Instituto Marcos Daniel e sua atuação Fundado em 2004, o Instituto de Ensino, Pesquisa e Preservação Ambiental Marcos Daniel é reconhecido pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). É uma associação civil sem fins lucrativos situada em Vitória (ES), que também tem atuação em outros estados. Tem por objetivo promover a conservação da biodiversidade, por meio de educação ambiental, cursos de capacitação e eventos técnico-científicos, pesquisas, projetos de conservação e consultorias técnicas. Possui uma equipe multidisciplinar com 12 profissionais, entre Médicos Veterinários, biólogos e outros profissionais. O instituto estuda a interface entre as saúdes ambiental, animal e humana, promovendo a pesquisa e a conservação da biodiversidade no Brasil sob a óptica da medicina da conservação. Atua sempre em parceria com outras instituições não governamentais, empresas, universidades e órgãos públicos, compartilhando recursos e o conhecimento nos projetos que desenvolve.

46

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


nhas de pesca e redes. A doença está presente em toda a costa brasileira com prevalência elevada, mas não foi relatada nas ilhas oceânicas, que são distantes da costa e das fontes de poluição. Além da fibropapilomatose, as doenças helmínticas têm sido um achado frequentemente associado à mortalidade de tartarugas marinhas pelos Médicos Veterinários nos programas de monitoramento de encalhes de animais marinhos, desenvolvidos como condicionantes ambientais das atividades de petróleo e gás no mar. A descoberta de novos patógenos e a compreensão dos efeitos dos parasitas sobre a saúde populacional das tartarugas e sua relação com outras doenças são campos de estudo abertos para atuação dos Médicos Veterinários.

Animais são monitorados em três estados

Desafio está na capacitação e pesquisa de novos patógenos

Atividade de campo com tartarugas-verdes em Abrolhos, BA

O resgate e reabilitação de tartarugas, aves e mamíferos marinhos também são efetuados nos programas de monitoramento e têm demandado uma mão de obra veterinária que não está disponível, uma vez que o ensino de Medicina Veterinária de animais selvagens ainda não ganhou o devido destaque dentro dos cursos brasileiros, menos ainda animais marinhos. Essa capacitação, na maioria das vezes, é feita na prática, com erros e acertos, à custa do bem-estar e da vida dos pacientes.

Projetos principais

Simbora pro Parque:

Chelonia mydas:

estuda o efeito dos impactos antrópicos sobre a ocorrência de enfermidades infecciosas nas populações de tartarugas marinhas no Brasil.

Cayman, Jacarés da Mata Atlântica:

estuda a saúde e conservação do jacaré do papo amarelo (Cayman latirostris) na Mata Atlântica do Espírito Santo.

Pró-Tapir:

projeto de monitoramento e conservação da anta (Tapirus terrestris) na Mata Atlântica do Espírito Santo.

promove a educação ambiental para a sociedade civil em unidades de conservação brasileiras e a capacitação e formação de ecoempreendedores nas comunidades tradicionais da região serrana do Espírito Santo.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

47


Projeto Chelonia mydas

Frente ao importante impacto das doenças emergentes nas populações de tartarugas marinhas no Brasil e à necessidade crescente de informação técnico-científica a respeito das relações ecoepidemiológicas, o Instituto Marcos Daniel desenvolve o Projeto Chelonia mydas, que visa a mapear e compreender os processos e a ocorrência de enfermidades nas populações desses animais em ambientes impactados pelo homem e ambientes preservados, para subsidiar ações conservacionistas e aperfeiçoar e aplicar técnicas de biomonitoramento ambiental e diagnóstico dessas enfermidades. As atividades do projeto envolvem estudos

de ecologia, ecotoxicologia, epidemiologia, patologia, hematologia, bioquímica plasmática e imunologia. De 2012 a 2014, o instituto monitorou e desenvolveu atividades científicas em 180 espécimes de Chelonia mydas juvenis selvagens, em três diferentes áreas de alimentação: Vitória (ES), Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (BA) e Reserva Biológica do Atol das Rocas (RN).

O Médico Veterinário que atua na área de saúde e medicina da conservação aplicada a tartarugas marinhas tem um desafio árduo, porém gratificante. Deve ter como características o apreço pela ciência e a capacidade de trabalhar em equipes multidisciplinares, pois as doenças infecciosas não ocorrem isoladamente do ecossistema, devendo o processo de doença ser visto no contexto das interações ecológicas em um bioma extremamente dinâmico.

população, bem como da homeostasia do ambiente em que se encontra. Assim, a Medicina Veterinária como ciência se integra à biologia e ecologia marinha e à oceanografia biológica para alcançar um patamar ecossistêmico.

A Medicina Veterinária de tartarugas marinhas tem um grande desafio no que diz respeito a pesquisar e descobrir patógenos e seus ciclos biológicos, a patogenia das enfermidades, métodos diagnósticos e terapêuticos eficientes, além das dificuldades práticas que o trabalho no ambiente marinho impõe.

AUTORES

As tartarugas marinhas são espécies sentinelas, portanto a compreensão da relação ecoepidemiológica dos impactos antrópicos e a ocorrência de enfermidades nos fornecem informações importantes a respeito da saúde daquela

48

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Marcelo Renan de Deus Santos Médico Veterinário CRMV-ES nº 0361 MSc, Presidente do Instituto Marcos Daniel e docente na Universidade Vila Velha (UVV) mrenansantos@gmail.com Yhuri Cardoso Nóbrega Médico Veterinário CRMV-ES nº 1937 Instituto Marcos Daniel


Solução salina hipertônica no choque circulatório em grandes animais Os desequilíbrios hidroeletrolíticos estão, comumente, associados a inúmeras situações que acometem os grandes animais. A escolha apropriada da solução de reposição, o conhecimento da quantidade de fluidos e a indicação para sua utilização dependerão da clínica de cada paciente, da enfermidade em questão e dos resultados dos exames complementares Dependendo da intensidade do desequilíbrio hidroeletrolítico, as soluções isotônicas não são suficientes para repor as perdas e manter a condição clínica adequada do animal enfermo; portanto, a solução salina hipertônica pode ser empregada quando o choque circulatório já estiver instalado. O reconhecimento precoce do choque circulatório e o fornecimento imediato de suporte efetivo são essenciais. O objetivo é tentar restaurar a perfusão e a liberação de oxigênio aos tecidos, enquanto é corrigida a causa primária. A demora, tanto no diagnóstico quanto no início do tratamento, levará ao desenvolvimento de falha vascular periférica e alterações sistêmicas irreversíveis, favorecendo a disfunção orgânica (MELO et al., 2010).

Na espécie equina, por exemplo, é necessário grande volume de fluidos isotônicos para manutenção, porém cerca de 30% do fluido administrado permanece na circulação sanguínea por apenas 30 minutos, por isso a busca por fluidos alternativos, como a solução salina hipertônica e as soluções coloidais (CORLEY, 2009). A solução salina hipertônica é utilizada, desde 1909, em seres humanos portadores de choque hipovolêmico e, nos casos de choque hemorrágico, desde 1919. Em 1980, já era administrada em cães com quadros hemorrágicos intensos. Nos bovinos, as soluções hipertônicas com cloreto de sódio são administradas há mais de 30 anos, havendo relatos de 1975 da administração rotineira de soluções de cloreto de sódio a 2,7% em bovinos adultos após cirurgias de vólvulo abomasal (CONSTABLE, 1999).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

49


Alguns estudos descrevem a eficiência da solução salina hipertônica 7,2% em bezerros e vacas endotoxêmicos, em ovelhas e vacas hipocalêmicas, hipoclorêmicas e apresentando alcalose metabólica ou choque hemorrágico (CONSTABLE, 2003). Em equinos, a solução é muito utilizada na presença de alterações gastrointestinais, devido à intensa perda de líquidos e em decorrência de processos endotoxêmicos (SEAHORN; SEAHORN, 2003). Entendendo o choque circulatório

O choque circulatório é uma falha aguda na circulação, com déficit na liberação de oxigênio e nutrientes aos tecidos, resultando em hipóxia celular (Figura 1). As consequências dessa perfusão inadequada estão relacionadas com a produção e liberação de mediadores do processo inflamatório na corrente sanguínea, comprometendo a funcionalidade de vários órgãos (MELO et al., 2010).

Figura 1. Consequências da hipovolemia sobre os tecidos do organismo. Fonte: Adaptado de Marino (2012)

Os sinais clínicos que caracterizam o choque circulatório incluem taquicardia, hipotensão, colapso circulatório, estupor, coma, mucosas pálidas e desidratação. São facilmente reconhecidos, porém não são patognomônicos de choque (DAY; BATEMAN, 2006). A resposta inicial relacionada com a depleção do volume sanguíneo circulante é a passagem do fluido intersticial para o lúmen vascular. O volume intersticial pode ser aumentado pela ingestão de água ou por fluidoterapia. Os sinais clínicos relacionados com perda de sangue aguda, superior a 15% ou 20% do volume total, são redução do débito cardíaco e pressão arterial (HOLCOMBE, 2006). O choque hipovolêmico, caracterizado pela redução do volume sanguíneo circulante, tem a hemorragia como principal causa. Perda de volume acontece no hemoperitônio secundário (Figura 2), na hemorragia esplênica, neoplásica ou hepática, coagulopatias, hemorragia gastrointestinal, epistaxe e lacerações traumáticas de artérias e outros vasos sanguíneos principais. O choque hipovolêmico não hemorrágico está relacionado com hipovolemia relativa, sem perda direta de sangue total, ou seja, perda de volume plasmático, como na desidratação grave (DAY; BATEMAN, 2006). No choque cardiogênico, as doenças cardíacas podem estar relacionadas a causas adquiridas ou congênitas, sendo mais frequente na presença de enfermidades relacionadas com falha na contratilidade miocárdica. Crepitações pulmonares, decorrentes de edema pulmonar, podem ser consequentes à insuficiência cardíaca congestiva (DAY; BATEMAN, 2006). Nesse tipo de choque, a solução salina hipertônica não compõe o tratamento.

50

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

A

B

Figura 2. Equino apresentando hemoperitônio ssecundário, em neoplasia: (a) aumento de volume abdominal; (b) sangue oriundo de hemoperitônio coletado por paracentese abdominal

A obstrução mecânica do fluxo sanguíneo na circulação pulmonar ou sistêmica e o desequilíbrio causado entre demanda tecidual e oferta de oxigênio, por alteração na distribuição, caracterizam, respectivamente, os choques obstrutivo e distributivo (MELO et al., 2010). A descompensação hemodinâmica produzida pela presença de agentes infecciosos e/ou seus mediadores (endotoxinas) ocasiona diminuição da pré-carga por sequestro de líquidos, diminuição da pós-carga por vasodilatação, lesão celular direta e disfunção miocárdica, podendo gerar choque séptico (Figura 3).


A fluidoterapia é uma forma de restabelecer a oxigenação no organismo de um animal em estado de choque, pois restaura o volume intravascular e melhora a perfusão tecidual, além de superar as deficiências circulatórias regionais. Os fluidos mais utilizados são os cristaloides, cujo componente principal é o sódio (HOLCOMBE, 2006). A solução salina hipertônica deve ser utilizada nos choques que alteram o equilíbrio hidroeletrolítico, como séptico, hipovolêmico e distributivo. Solução salina hipertônica

Os cristaloides são utilizados para correção de alterações de volume, eletrólitos, níveis de energia e equilíbrio ácido básico (Figura 4). As soluções hipertônicas possuem os níveis de osmolaridade e de sódio superiores aos das isotônicas (DEARO, 2001). A solução salina hipertônica (NaCl 7,5%) é utilizada para recuperação do volume sanguíneo em pacientes apresentando choque hipovolêmico ou séptico, pois favorece a passagem de fluidos intersticiais para o interior dos vasos sanguíneos e, consequentemente, aumenta o volume circulante. Deve ser empregada somente nos casos emergenciais, com perda significativa de líquido, suficiente para comprometer a vida do paciente (DEARO, 2001). Koch e Kaske (2008) testaram a eficiência da solução hipertônica de cloreto de sódio a 5,85% e de solução de bicarbonato de sódio a 8,4% e concluíram que a primeira pode ser utilizada com sucesso em bezerros com acidose metabólica leve e que, em casos mais graves, a solução de bicarbonato está mais indicada.

Figura 4. Ações da solução salina hipertônica no choque circulatório. Fonte: Adaptado de Marino (2012)

Em humanos, a solução hipertônica é utilizada na lesão cerebral aguda, incluindo traumatismo cranioencefálico, hemorragia intracraniana associada a tumor cerebral e edema e isquemia associados ao acidente vascular cerebral isquêmico (ZIAI et al., 2007). A osmolaridade da solução é de 2.400 mOsm/L de cloreto de sódio, sendo recomendada para bovinos, suínos, ovinos, caprinos e equinos a dose de 4 mL/kg, por via endovenosa, por um período de quatro minutos (CONSTABLE, 1999). Já Zimmel (2003) recomenda 4 a 6 mL/Kg, durante dez a 20 minutos, seguidos de soluções isotônicas por um período posterior de duas ou três horas. Os efeitos hemodinâmicos benéficos são consequência da expansão rápida de volume plasmático (pré-carga aumentada), vasodilatação transitória (pós-carga diminuída) e aumento da frequência cardíaca (CONSTABLE, 1999). Além do efeito sobre o equilíbrio hidroeletrolítico, a solução salina hipertônica impede a falência múltipla de órgãos mediada por reações imunológicas em casos de trauma e choque hemorrágico (KIM et al., 2012). Segundo Kelmer (2009), a solução hipertônica pode ter uma concentração de cloreto de sódio a 7% para uso em equinos. Constable (2003) relata bons resultados em bovinos com a concentração de 7,2%. Na rotina clínica, a concentração de 7,5% é a mais utilizada.

Figura 3. Equino em choque séptico - coloração de mucosa rósea com áreas cianóticas, denominadas halos toxêmicos (seta). Arquivo do autor.

A duração dos efeitos é curta, necessitando, após a administração, um suporte intravascular adicional com coloides permitindo a manutenção da expansão do volume. O hidroxietilamido e o dextran-70 são dois coloides, que podem ser associados com o objetivo de prolongar o tempo de ação e seus respectivos efeitos. As taxas de administra-

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

51


uma ação sinérgica das propriedades hipertônicas do cloreto de sódio com as propriedades hiperoncóticas do dextrano. O dextran mantém os efeitos do cloreto de sódio a 7,5%, mobilizando os fluidos no espaço intravascular e aumentando a pressão oncótica (CONSTABLE, 2003).

Figura 5. Equídeo portador de desequilíbrio hidroeletrolítico

ção da solução hipertônica não devem exceder 1 mL/kg/ min (DAY; BATEMAN, 2006). A solução foi empregada no tratamento de disfunção isquêmica ventricular esquerda após oclusão transitória das coronárias de suínos. Foi administrada por curto período de tempo, tendo sido observado aumento da contratilidade miocárdica, além de redução da resistência vascular sistêmica (SIDI et al., 2007). Estudo realizado por Brito et al. (2003) sobre o efeito da correção volêmica, com diferentes tipos de solução, na mucosa do intestino de ratos mostrou que o cloreto de sódio a 7,5% desempenha um papel benéfico sobre a mucosa do intestino delgado. Os coloides são substâncias de alto peso molecular que possuem a capacidade de aumentar a pressão coloidosmótica intravascular, estimulando a passagem de líquido intersticial para o líquido plasmático. O dextran-70 e o plasma (coloides sintético e natural, respectivamente) são os mais utilizados, mas seus altos custos limitam sua utilização (DEARO, 2001). Há anos, estudos vêm demonstrando a eficácia da associação da solução hipertônica com coloides (Figuras 5 e 6). Strecker et al. (1993) relatam que o dextrano continua sendo superior ao hidroxietilamido, porém com efeito satisfatório na primeira hora após o início do tratamento. A eficácia da solução hipertônica associada com o dextran-70 foi comprovada por Wade et al. (1990) em suínos com hemorragia induzida. Estudos têm avaliado o efeito dessa solução associada com dextran em bezerros com diarreia e em ovinos desidratados com choque hemorrágico. Os efeitos benéficos do dextrano têm sido atribuídos a

52

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

A solução hipertônica associada ao dextran (2.400 mOsm/L em 6% de dextran-70, 4-5 ml/kg durante 4-5 minutos, intravenoso) pode ser administrada, com segurança, em bezerros desidratados e endotoxêmicos. No entanto, não deve ser administrada de forma isolada, sem associação com solução eletrolítica isotônica oral, não devendo o tratamento ser repetido. Bezerros que não respondem ao tratamento intravenoso e com soluções isotônicas orais devem ter seu equilíbrio ácido básico determinado por meio de exames laboratoriais (CONSTABLE, 2003). Efeitos colaterais após uso de cloreto de sódio a 7,5%

A infusão intravenosa de soluções hipertônicas pode gerar desequilíbrios hidroeletrolíticos. Além disso, a infusão rápida pode causar hipotensão grave e aguda, anterior à melhora cardiovascular. Na presença de hemorragia não controlada, a solução hipertônica aumenta o sangramento, devido à expansão do volume circulatório, sendo necessária a sua correção. Além da hipotensão seguida de bradicardia, o broncoespasmo, a taquipneia e a respiração superficial também podem ser observados. A administração deve ser feita de acordo com as recomendações prescritas, para não gerar esses efeitos colaterais (DAY; BATEMAN, 2006). Como a principal função da solução salina hipertônica é a reanimação a partir do deslocamento do líquido extravascular para dentro dos vasos, a desidratação pode ser consequência de seu uso. Entretanto, o efeito diurético provoca perda contínua de fluido e exacerba, ainda mais, a hipovolemia (KIEN et al., 1998). A desidratação celular é pior quando os pacientes já estão desidratados (DAY; BATEMAN, 2006). A concentração de sódio circulante deve ser monitorada para evitar a hipernatremia (DAY; BATEMAN, 2006). O dextran também pode desencadear reações anafiláticas e a alteração dos fatores de coagulação. O edema é uma resposta ao uso de coloides em pacientes traumatizados com lesão microvascular, seguido de perda da integridade ca-


pilar, contribuindo para o sequestro de fluido para o espaço intersticial. Concentrações excessivas de solução salina (>10%) podem causar hemólise intravascular significativa, porém, quando a solução tem concentração de 7,5%, a hemólise, a flebite ou danos histopatológicos não são observados (KIEN et al., 1998). Considerações finais

Compreender o choque circulatório em grandes animais é de extrema importância para saber como agir diante de emergências. A solução salina hipertônica a 7,5% em casos de perdas excessivas de líquidos corpóreos, como no choque hipovolêmico, séptico ou distributivo, é empregada a fim de reanimar o paciente nos primeiros minutos após o início do choque. Como o tempo de ação dessa solução é muito curto, durando cerca de 15 a 20 minutos na circulação, soluções à base de coloides auxiliam no aumento do tempo de ação dessa solução, favorecendo um maior volume circulatório até restabelecer o paciente. Além de proporcionar um aumento do volume circulante, alguns efeitos colaterais são comumente observados quando a solução é empregada de forma errônea, como nos pacientes que apresentam desidratação grave. A infusão rápida da solução favorece quadros de bradicardia, hipotensão, consequentes problemas respiratórios e desequilíbrios hidroeletrolíticos.

Figura 6. Equídeo desidratado em tratamento

KIEN, N.D.; REITAN, J.A.; MOORE, P.G. Hypertonic saline: Current research and clinical implications. Seminars in Anesthesia, Perioperative Medicine and Pain. v.17, n.3, p. 167-173, 1998. KIM, J.Y.; HONG, Y.S.; CHOI, S.H. et al. Effect of hypertonic saline on apoptosis of polymorphonuclear cells. Journal of Surgical Research n.8, 2012. KOCH, A.; KASKE, M. Clinical efficacy of intravenous hypertonic saline solution or hypertonic bicarbonate solution in the treatment of innapetent calves with neonatal diarrhea. J. Vet. Intern. Med. v.22, p.202-211, 2008. MELO, U.P.; FERREIRA, C.; PALHARES, M.S. et al.Choque circulatório em equinos. Revista Semina: Ciências Agrárias v.31, n.1, p.205-230, 2010. SEAHORN, J.L.; SEAHORN, T.L. Fluid therapy in horses with gastrointestinal disease. Veterinary Clinics North America: Equine Practice n.19, p.665-679, 2003. SIDI, A.; MUEHLSCHLEGEL, J.D.; KIRBY, D.S. et al. Treating ischemic left ventricular dysfunction with hypertonic saline administered after coronary occlusion in pigs. Journal of Cardiothoracic and Vascular Anesthesia v.21, n.3, p.400-405, 2007. STRECKER, U.; DICK, W.; MADJEDI, A. et al. The effect of the type od colloid on the efficacy of hypertonic saline colloid. Ressuscitation v. 25, p.41-57, 1993. ZIAI, W.C.; TOUNG, T.J.K.; BRADWAJ, A. Hypertonic saline: First-line therapy for cerebral edema? Journal of the Neurological Sciences v.261, p.157-166, 2007. ZIMMEL, D.N. Management of pain and dehydration in horses with colic. In: ROBINSON, N.E. Current Therapy in Equine Medicine, 5th ed, 2003. p.119. WADE, C.E.; HANNON, J.P.; BOSSONE, C.A. et al. Superiority of hypertonic saline/dextran over hypertonic saline during the first 30 min of resuscitation following hemorrhagic hypotension in conscious swine. Ressuscitation n.20, p.49-56, 1990.

REFERÊNCIAS BRITO, M.V.H.; NIGRO, A.J.T.; MONTERO, E.F.S. et al. Viabilidade celular da mucosa do instestino delgado de ratos, após correção de choque hipovolêmico com solução de NaCl 7,5%. Acta Cirúrgica Brasileira v.18, n.4. p.326-331, 2003. CONSTABLE, P.D. Hypertonic Saline.Veterinary Clinics of North America/ Food Animal Practice v.15, n.3. p.559-585, 1999. CONSTABLE, P. Fluid and electrolyte therapy in ruminants. Veterinary Clinics of North America/ Food Animal Practice v.19, n.3, p.579-580, 2003. CORLEY, K.T.T. Fluid therapy for horses with gastrointestinal diseases. In: SMITH, B.P. Large Animal Internal Medicine. 4th ed, Mosny Elsevier, 2009, p.769-770. DAY, T.K.; BATEMAN, S. Shock syndromes. In: DIBARTOLA, S.P. Fluid, electrolyte, and acid-base disorders in small animal practice. Saunders Elsevier, 3rd ed, 2006, p.540-563. DEARO, A.C.O. Fluidoterapia em grandes animais. Parte I: água corpórea, indicações e tipos de fluidos. Revista Educação Continuada CRMV-SP v.4, p.3-8, 2001. HOLCOMBE, S.J. Shock: Pathophysiology, Diagnosis, and Treatment. In: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. 3rd ed, Saunders Elsevier, 2006, p.4-6. KELMER, G. Update on treatments for endotoxemia. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice v.25 p.259-270, 2009.

AUTORAS

Polyana Carolina Marino Médica Veterinária CRMV-PR nº 9411 Universidade Estadual do Norte do Paraná pcm.vet@bol.com.br

Caroline Cella Geron Médica Veterinária CRMV-PR nº 11500

Flávia Nesi Maria Médica Veterinária CRMV-PR nº 11334

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

53


EM DIA COM A FISCALIZAÇÃO Tenho sido questionado sobre a legalidade ou não da manutenção de animais em gaiolas metálicas durante a exposição para comercialização. Isso é proibido? A Resolução CFMV nº 1.069//2014 trata do tema. Os estabelecimentos devem estar registrados no Sistema CFMV/ CRMVs, manter um Médico Veterinário como Responsável Técnico (RT) e podem comercializar mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Quanto às instalações e locais de manutenção, devem garantir aos animais liberdade para expressar seu comportamento natural e ausência de fome, sede, desnutrição, doenças, ferimentos, dor ou desconforto, medo e estresse, ou seja, nada impede que sejam mantidos em gaiolas, desde que esses princípios sejam observados na avaliação do RT. Deve-se prevenir o acesso direto aos animais, ficando o contato restrito a situações de venda iminente. Para informações detalhadas sobre a responsabilidade técnica, consulte o conselho regional.

Fui contratado para implantar um projeto pecuário por dois anos em outro estado. Como devo proceder com minha inscrição? A Resolução CFMV nº 1.041/2013 trata do tema. Para o exercício de atividade em outro estado, por prazo superior a 90 dias ou em caso de atuação periódica, o profissional deverá requerer a inscrição secundária e, dessa forma, manterá os dois registros. Outra opção, caso o profissional esteja em situação regular, será pedir a transferência definitiva. Nos dois casos, haverá necessidade de apresentação de documentação e pagamento de taxas e anuidade. Para a inscrição secundária, há o pagamento de anuidade integral para o conselho principal e 50% para o conselho da inscrição secundária, pois ambas as inscrições estarão ativas. Se feita a transferência, caso a anuidade já tenha sido paga, o repasse será entre os regionais, como também a comunicação para o cancelamento no estado de origem. A legislação está em constante atualização e existem particularidades entre estados.Para mais detalhes, consulte o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) de sua jurisdição.


Suplemento científico Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

56

Insights clínicos e de patogenia da osteopatia hipertrófica em cão

O Comitê Científico da Revista CFMV é composto pelos presidentes das Comissões Assessoras do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

64

Abordagem fisiológica do processamento do sêmen ovino

72

Avaliação clínica e laboratorial de equídeos de tração atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia

77

Conduta pós-cirúrgica no carcinoma folicular tireoidiano em cão

As normas para apresentação dos artigos estÃO em www.cfmv.gov.br e a tramitação é exclusivamente eletrônica.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

55


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INSIGHTS CLÍNICOS E DE PATOGENIA DA OSTEOPATIA HIPERTRÓFICA EM CÃO CLINICAL AND PATHOGENIC INSIGHTS OF HYPERTROPHIC OSTEOPATHY IN DOG

RESUMO

A osteopatia hipertrófica é uma síndrome paraneoplásica descrita com mais frequência em cães portadores de neoplasias torácicas que culmina com formação de osso novo em periósteo. A etiologia está relacionada, na maioria dos casos, a neoplasias primárias ou secundárias, sendo as abdominais mais raras do que as pulmonares. Foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa uma cadela de dez anos de idade, da raça poodle, apresentando neoplasia pulmonar e reação periosteal nos quatro membros. Teorias sugerem que lesões pulmonares acarretam alterações plaquetárias, de crescimento vascular e de expansão tecidual que culminam em reações periosteais. Sempre que possível, a remoção completa da causa de base deve ser realizada, esperando-se a remissão dos sintomas relacionados ao tecido ósseo. Palavras-chave: síndrome paraneoplásica, periósteo, plaquetas.

ABSTRACT

Hypertrophic osteopathy (OH) is a paraneoplastic syndrome described more often in dogs with thoracic neoplasms, culminating in new bone formation by the periosteum. In most cases, the etiology is associated to primary or secondary neoplasms, and abdominal tumors are rarer than the lung ones. It was brought for medical care at the Veterinary Hospital of the Viçosa Federal University; a female dog, 10 years old, poodle, with lung tumor and periosteal reaction in all four limbs. The pathogenesis is still imprecise and theories suggest that platelet changes caused by pulmonary lesions, vascular tissue expansion and growth what would influence periosteal reactions. Whenever possible, the complete removal of the base cause should be conducted and the remission of symptoms related to bone tissue is expected. Keywords: paraneoplastic syndrome, periosteum, platelets.

56

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO A Osteopatia Hipertrófica (OH) é uma doença rara, que evidencia reação periosteal osteoproliferativa. Em cães, as alterações tendem a ser bilaterais, simétricas e envolver os quatro membros (LENEHAN; FETTER, 1985). Ocorrem com maior severidade onde o periósteo é livre das inserções tendíneas e em ossos adjacentes (THOMPSON, 2007). Além dos cães, os gatos, os cavalos, os bovinos e os humanos são acometidos. Nos humanos é referida como Osteoartropatia Hipertrófica (OAH) (GUYOT et al., 2011). A OH é uma síndrome paraneoplásica que pode ser de origem primária ou metastática pulmonar, possuindo também causas neoplásicas extrapulmonares, como, por exemplo, sarcoma indiferenciado, rabdomiossarcoma de bexiga, carcinoma de células transicionais (GRILLO et al., 2007) e nefroblastoma (ANDERSON et al., 2004), além de neoplasias hepáticas e ovarianas (FILGUEIRAS et al., 2002). Outras etiologias são infecções por Dirofilaria immitis, doenças pulmonares inflamatórias ou infecciosas, endocardite bacteriana, granulomas esofágicos secundários à Spirocerca lupi, persistência de duto arterioso, corpo estranho esofágico e, ainda, megaesôfago congênito (DUNN et al., 2007). Teorias sugerem que lesões pulmonares estimulam a ação do nervo vago, promovendo alterações vasomotoras reflexas, resultando no aumento do fluxo sanguíneo nos membros (WEISBRODE, 2009), shunts e ações hormonais (GRILLO et al., 2007). Em humanos saudáveis, fisiologicamente, os megacariócitos são fragmentados antes de atingir a circulação sistêmica. Entretanto, quando há alteração na circulação pulmonar, como em neoplasias pulmonares ou cardiopatias, essas células não são fragmentadas, alcançam a circulação periférica e provocam microtrombos plaquetários (MASLOVSKY, 2005). A interação das plaquetas com as células endoteliais cursa com a liberação de fatores de crescimento, justificando a hiperplasia vascular, a expansão tecidual, o aumento do fluxo sanguíneo e o edema (MARTINEZ-LAVIN, 2007). Hiporexia, letargia, claudicação, dor à palpação dos membros e dificuldade de levantar são manifestações do desconforto estabelecido (KILARU et al., 2012),

além do aumento de volume e incapacidade funcional dos membros (SALYUSARENKO, 2013). A presença de pirexia contribui para a severidade dos sinais clínicos (WATROUS; BLUMENFELD, 2002) e está associada ao estresse, dor e excitação (WITHERS et al., 2013). Investigações mostram, nesses cães, altos níveis de citocinas, como IL-1, IL-6, TNF-alfa e interferons, juntamente a prostaglanginas promotoras da febre (BERGMAN, 2007). Salyusarenko (2013) encontrou leucocitose neutrofílica, além de alta contagem de plaquetas, em cães. Outras alterações hematológicas são anemia, neutrofilia com ou sem desvio à esquerda, trombocitose ou trombocitopenia, hipoalbuminemia e hipoglobulinemia, além de elevados níveis séricos de fosfatase alcalina, decorrentes da deposição de novo tecido ósseo (BUSH, 2004). A opção terapêutica mais indicada é a eliminação da lesão primária que gerou a síndrome (THOMPSON, 2007). A lobectomia, na presença de lesões pulmonares primárias e focais, pode levar à remissão da claudicação, por diminuição da dor e do edema, em algumas semanas, enquanto as lesões ósseas regridem, progressivamente, em meses (WATSON, 1990). A resolução pode não ser passageira quando ocorre metástase (LEE et al., 2012). Este trabalho aborda detalhes clínicos e de patogenia de uma síndrome paraneoplásica bem definida, para a qual se evidencia uma relação causal com tumores subjacentes, bem como uma relação temporal. Também se destina a permitir reconhecer os padrões clínicos típicos e tirar conclusões diagnósticas e terapêuticas adequadas. RELATO DE CASO Uma cadela de dez anos de idade, da raça poodle, pesando 6,1 Kg, foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa e, à anamnese, foi informado que o animal não se mantinha em estação, apresentava aumento de volume nos quatro membros e dor ao toque, há duas semanas. A paciente havia sido submetida à mastectomia, há cerca de 12 meses, obtendo-se diagnóstico de sarcoma anaplásico e sarcoma em tumor misto.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

57


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Ao exame físico, foram observados apatia, decúbito lateral preferencial e resistência à deambulação. Os quatro membros apresentavam edema difuso, aumento de volume firme com hipertermia e intensa algia à palpação. À ausculta torácica, foi evidenciada hiperfonese pulmonar. Os exames complementares realizados foram hemograma completo, dosagem das enzimas ALT, AST e FA, ureia e creatinina, glicose, cálcio, fósforo, sódio e potássio. O hemograma revelou anemia normocítica normocrômica e leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda e os testes bioquímicos evidenciaram aumento de Fosfatase Alcalina (FA), discreta hipoglicemia, hipocalcemia, hiponatremia e hipocalemia. Foram realizadas radiografias dos membros torácicos e pélvicos nas projeções craniocaudal, mediolateral, dorsopalmar e dorsoplantar, assim como ventrodorsal e laterolateral direita e esquerda do tórax. No tórax, foi visibilizada uma estrutura esférica de radiopacidade água e bordas regulares e bem delimitadas em lobo pulmonar caudal esquerdo, de aproximadamente 6 cm de diâmetro, com sinal de silhueta negativo, principalmente na projeção laterolateral. Adicionalmente, foi observado o deslocamento lateral direito da silhueta cardíaca (Figura 1). No úmero, rádio, ulna, metacarpos, tíbia, metatarsos, ossos do tarso e falanges, foi identificada reação periosteal dos tipos paliçada e

Figura 1. Exame radiográfico do tórax de cão portador de osteopatia hipertrófica. A) Projeção láterolateral direita – estrutura esférica de radiopacidade água (setas) em parênquima pulmonar; (b) projeção ventrodorsal evidenciando o deslocamento da silhueta cardíaca (cabeça de seta) para o antímero direito e estrutura em lobo caudal esquerdo (seta)

lamelar, com o osso cortical preservado (Figura 2). O exame ultrassonográfico abdominal evidenciou três estruturas na cortical do rim esquerdo, hiperecogênicas em relação a essa região, sendo a maior com as dimensões de 0,7 cm x 0,4 cm e as outras duas na forma de nódulos, com 0,4 cm de diâmetro. No rim direito, observaram-se múltiplos nódulos na região cortical, de aproximadamente 0,4 cm a 0,8 cm de diâmetro, hiperecogênicos em relação à cortical. O fígado apresentou tamanho e ecogenicidade preservados, com presença de três estruturas hiperecogênicas em relação ao parênquima, uma delas medindo 1,6 cm x 1 cm de diâmetro, adjacente à vesícula biliar, e duas outras, próximas à impressão renal, no lobo direito, medindo 1,78 cm x 2,2 cm.

58

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

A análise dos exames realizados permitiu o diagnóstico de OH e a recomendação de lobectomia total do lobo pulmonar caudal esquerdo. Previamente ao ato cirúrgico, foram administrados cefazolina (20 mg/kg) e meloxicam (0,2 mg/kg), ambos por via intravenosa. Durante a toracotomia, foram identificados outros pequenos nódulos disseminados pelo parênquima pulmonar de remoção inviável, mantendo-se a lobectomia restrita ao lobo pulmonar caudal esquerdo, no qual se localizava a grande massa. No período pós-operatório foi, administrado meloxicam (0,2 mg/kg, SID, IV), amoxicilina + clavulanato de potássio (20 mg/kg, BID, IV), ranitidina (2 mg/kg, BID, SC) e infusão contínua de Fentanil, Lidocaína e Cetamina (FLK) (10 ml/kg/h). Foram


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

No quarto dia, a paciente vocalizava com mais frequência e optou-se por substituir o FLK pela associação de morfina (0,3 mg/kg) com cetamina (1 mg/kg), por via intramuscular a cada seis horas. Na terapia anti-inflamatória, o anti-inflamatório não esteroide (AINE) também foi substituído pela prednisona (1 mg/ kg, BID, VO). O novo tratamento resultou em conforto para a paciente, que passou a vocalizar com menor frequência e obteve mais horas de sono. Foi constatada uma cistite bacteriana por meio de urinálise. Ao fim do dia, o animal iniciou quadro de distrição respiratória, com crepitação à ausculta pulmonar, seguido de baixa saturação de oxigênio (SpO2), em média 79%, sendo iniciada a oxigenioterapia. No quinto dia de internamento, foi realizado exame radiográfico de tórax, que evidenciou padrão pulmonar alveolar, que entre os diagnósticos diferenciais foi compatível com edema. Instituíram-se, então, a terapia, tapotagem e nebulização com solução fisiológica, além de furosemida (2 mg/kg, IV), dose única. Nova avaliação hematológica identificou anemia normocítica normocrômica e leucocitose neutrofílica com desvio à Figura 2. Exame radiográfico dos membros de cão portador de OH: (a) projeção Projeção mediolateral de membro torácico direito; (b) projeção mediolateral de membro pélvico direito; (c) projeção mediolateral de membro torácico esquerdo. D) Projeção mediolateral de membro pélvico esquerdo – presença de reação periosteal dos tipos paliçada (setas) e lamelar (cabeças de seta); osso cortical preservado, assim como os espaços articulares

esquerda, demonstrando um agravo em relação ao primeiro exame. Na bioquímica sérica, houve aumento de FA e da enzima Gamaglutamil Transferase (GGT), além de hipoproteinemia, por discreta hipoalbuminemia, hipocalcemia e hipernatremia. Na sequência, a paciente apresentou parada cardiorrespiratória, não respondeu às manobras de ressuscitação cardiopulmonar e veio a óbito.

realizadas drenagem torácica de líquido serosanguinolento a cada hora, troca de decúbito a cada três horas, além de sondagem uretral, para conforto da paciente. A alimentação foi à base de ração úmida hipercalórica e água, forçada com auxílio de seringa. O animal apresentou vocalização intermitente, provavelmente em virtude da dor e do desconforto. No terceiro dia de internamento, a dose do meloxicam foi reduzida para 0,1 mg/kg e a drenagem torácica, realizada a cada duas horas. O animal permaneceu estável, não demonstrando melhora do quadro clínico e mantendo a algia nos membros, principalmente durante as trocas de decúbito.

O exame necroscópico revelou edema nos membros e região ventral do pescoço e presença de líquido seroso, translúcido, amarelo pálido na cavidade peritoneal. Foi encontrada pequena quantidade de espuma na traqueia, porém, durante os procedimentos de ressuscitação, foi removida uma quantidade considerável por sonda endotraqueal. Foram encontrados múltiplos nódulos firmes, esbranquiçados, de tamanhos diversos, em vários órgãos e na superfície da pleura parietal (Figura 3). No pulmão, os nódulos estavam distribuídos em todos os lobos (Figura 4), superficiais e no interior do parênquima, desde minúsculos grãos perceptíveis ao tato até

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

59


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

massas maiores (2 cm x 3,5 cm no lobo cranial direito). No fígado (Figura 5), havia nódulos disseminados, de até 5 cm de diâmetro. Ambos os rins estavam afetados tanto na região medular quanto na cortical (Figura 6).

Figura 3. Aspecto macroscópico em exame post mortem – presença de nódulo na parede torácica (seta).

A ulna direita apresentou uma lesão cística, com conteúdo seroso, marrom, coincidente com área radioluzente bem definida no exame radiográfico. A cavidade articular escápulo-umeral continha líquido semelhante, que se infiltrava para a porção distal da espinha da escápula. O exame histopatológico das neoformações pulmonares (Figura 7), hepáticas (Figura 8) e renais (Figura 9) revelou proliferação celular fusiforme com formação de trabéculas de matriz osteoide, sendo compatível com osteossarcoma. DISCUSSÃO A OH é uma síndrome paraneoplásica, pois não é causada ​​diretamente pelo tumor ou por suas metástases, mas, sim, mediada por fatores solúveis, como hormônios e citocinas derivados de um tumor. Ainda, é uma consequência de mecanismos imunes humorais ou celulares, dirigidos contra as células do tumor. Dessa forma, muitas vezes as síndromes paraneoplásicas ocorrem em regiões distantes da doença subjacente. Esses conceitos contradizem teorias que relacionam a OH ao estímulo mecânico local, promovido pela massa tumoral, como, por exemplo, os estímulos vagais promovidos pelas neoplasias torácicas (WEISBRODE, 2009).

Figura 4. Aspecto macroscópico do parênquima pulmonar – presença de nódulos de diversos tamanhos (setas)

Figura 5. Aspecto mascroscópico do parênquima hepático – presença de nódulos (setas)

60

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Figura 6. Aspecto macroscópico do parênquima renal. – presença de nódulos em região cortical (ponta de setas) e medular (cabeça de seta)


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

No caso relatado, havia diagnostico anterior, há cerca de 12 meses, de sarcoma anaplásico e sarcoma em tumor misto, sem sintomatologia óssea, mas a neoplasia pode ter gerado a metástase com neoformações características de osteossarcoma nas diversas vísceras. Além de neoplasia, a OH está associada a uma variedade de processos inflamatórios (MAKUNGU, 2007). As alterações hematológicas, como anemia normocítica normocrômica e leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda, condizem com alterações relatadas no estudos de Lee et al., (2012) e Salyusarenko (2013). O aumento de FA encontrado na bioquímica sérica, seFigura 7. Aspecto microscópico da neoplasia pulmonar – presença de proliferação celular fusiforme com formação de trabéculas de matriz osteoide (seta) – HE, 40X

gundo Bush (2004), ocorre pelo aumento da atividade osteoblástica. A hipoalbuminemia é justificada pela diminuição da produção pelos hepatócitos em resposta à ação de interleucinas pró-inflamatórias (IL-1 e IL6). A hipocalcemia pode ter sido resultado da menor concentração de proteínas de carga negativa (hipoalbuminemia) e, portanto, de cálcio ligado à proteína. Essa condição é denominada pseudo-hipocalcemia, porque a concentração de cálcio livre (cálcio ionizado) não diminui e os sinais de hipocalcemia não ocorrem (STOCKHAM; SCOTT, 2011). No exame radiográfico, foi constatada reação periosteal dos tipos paliçada e lamelar, comumente encon-

Figura 8. Aspecto microscópico da neoplasia hepática – presença de proliferação celular fusiforme com formação de trabéculas de matriz osteoide (seta) – HE, 40X

trada na OH (KEALY; McALLISTER, 2005). O presente caso acrescenta como novidade a associação entre neoplasias abdominais e torácicas correlacionadas com a afecção mais comum, que é o acometimento torácico (BECKER et al., 1999). Considere-se, ainda, que o animal era assintomático para as neoplasias e que, em uma situação paraneoplásica, existirá uma relação temporal entre o aparecimento de sintomas musculoesqueléticos e o diagnóstico de um tumor. A prova definitiva da natureza de uma condição paraneoplásica é fornecida pela regressão rápida de todos os sintomas após a remoção completa das células tumorais, seja por meio de cirurgia, quimioterapia ou radioterapia (MANGER; SCHETT, 2014). Entretanto,

Figura 8. Aspecto microscópico da neoplasia renal – presença de proliferação celular fusiforme com formação de trabéculas de matriz osteoide (seta) – HE, 40X

o animal veio a óbito antes da remissão dos sintomas, além de não ter sido possível a remoção completa de todos os tumores.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

61


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Apesar da presença de nódulos hepáticos e renais, a condição é raramente associada a lesões intra-abdominais (JOHNSON; LENS, 2011). A OH não está relacionada somente com malignidades pulmonares e torácicas; suas características também estão associadas a desordens inflamatórias ou hipoxêmicas e, por isso, têm gerado uma série de hipóteses sobre patogenia (MARTINEZ-LAVIN, 2007; RUTHERFORD, 2013) que incluem o papel inicial de um fator solúvel, produzido pelo pulmão afetado, influenciando tecidos periféricos. Um estudo (GOSNEY, 1990) encontrou elevadas concentrações séricas de hormônio do crescimento, em pacientes humanos com neoplasias brônquicas e paquidermoperiostite. A superprodução de um fator de crescimento de fibroblastos também foi proposta como fator comum em OH e várias doenças malignas e foi hipotetizado que a liberação do fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) de pequenos vasos da ponta dos dedos, em resposta ao acúmulo de fragmentos de megacariócitos ou agregados plaquetários que ultrapassariam a rede capilar pulmonar, em várias doenças cardíacas e pulmonares, pode aumentar a vascularização, a permeabilidade e o crescimento do número das células mesenquimais, promovendo a formação de osso novo (DICKINSON; MARTIN, 1987). Essa hipótese foi suportada por achados histopatológicos de microtrombos de plaquetas em dígitos humanos espessados (FOX et al., 1991) e altos níveis de antígeno do fator de Von Willebrand, na circulação de pacientes com OAH, como consequência da ativação de plaquetas ou de células endoteliais (MATUCCI-CERINIC, 1992).

tímulo para a síntese do VEGF, em todos os pacientes

CONCLUSÃO Como a OH é uma síndrome paraneoplásica, na presença de um caso suspeito deve ser procurada a doença de base. As opções terapêuticas dependerão da sintomatologia demonstrada e, para a remissão dos sintomas relacionados ao tecido ósseo, sempre que possível, a remoção completa da causa de base deve

com OAH secundária, aqueles com malignidades sub-

ser realizada.

Estudos imuno-histoquímicos têm mostrado que o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) está mais aumentado que o PDGF e que ambos podem atuar em sinergia na patogênese da doença (ATKINSON; FOX , 2004). Embora a hipoxemia seja o maior es-

62

jacentes demonstraram os mais elevados níveis plasmáticos de VEGF (ABE et al., 2002). Em um paciente, a remoção cirúrgica de um tumor do pulmão resultou no desaparecimento de todos os sintomas clínicos associados à OAH, coincidentemente, ou não, após a normalização da concentração de VEGF. Estudos histoquímicos confirmaram que o tecido tumoral expressava níveis anormais de VEGF (OLAN et al., 2004). Além do efeito conhecido do VEGF na diferenciação osteoblástica de células do periósteo, estudos evidenciam seu papel de citocina importante na patogênese da periostite proliferativa em OAH (HA et al., 2011). Em humanos, outros estudos investigaram a origem genética da OAH primária, uma doença hereditária semelhante à OAH paraneoplásica, tendo observado várias mutações em genes envolvidos no metabolismo e transporte, além de elevação significativa dos níveis circulantes de prostaglandina E2 (ZHANG et al., 2013), que é um potente estimulador de ativação de osteoblastos e formação óssea mediadas por VEGF, atuando na patogênese da periostite proliferativa (HARADA et al., 1994). A periostite e a dor óssea, geralmente, respondem bem à inibição das prostaglandinas pelos AINEs (PINEDA; MARTÍNEZ-LAVÍN, 2013), o que é consistente com a detecção de mutações em enzimas do metabolismo da prostaglandina, acompanhadas por níveis circulantes elevados de PGE2, observados na OAH primária. O prognóstico para OH dependerá da causa de base. Pode ser de bom a reservado nos casos em que são possíveis a identificação e a remoção da etiologia, pois as lesões hipertróficas se resolverão espontaneamente.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

AUTORES Mayara Coutinho Carlos de Souza Médica Veterinária CRMV-MG nº 13629 Residente da Universidade Federal de Viçosa (UFV) mayaracoutinho.vet@gmail.com Ricardo Junqueira Del Carlo Médico Veterinário CRMV-MG nº 1759 MSc, DSc, docente UFV

Evandro Silva Favarato Médico Veterinário CRMV-MG nº 8836 MSc, DSc, docente da UFV

Tatiana Schmitz Duarte Médica Veterinária CRMV–MG nº 6092 MSc, DSc

Emily Correna Carlo Reis Médica Veterinária CRMV-MG nº 8246 MSc, DSc, docente UFV

Fabrício Luciani Valente Médico Veterinário CRMV-MG nº 8090

Vanessa Bezerra Lopes Médica Veterinária CRMV–MG nº 14989 Mayara Pereira Lotério Médica Veterinária CRMV-MG nº 13440 Natália Alves Fernandes Médica Veterinária CRMV-MG nº 13607

Camila Almeida Ramalho Médica Veterinária CRMV-MG nº 14383 Lara Barbosa Esteves Médica Veterinária CRMV-MG nº 13324 Alan Peruzzo Paganini Médico Veterinário CRMV-MG nº 14544

referências ANDERSON, T.P.; WALKER, M.C.; GORING, R.L. Cardiogenic hypertrophic osteopathy in a dog with a right-to-left shunting patent ductus arteriosus. Journal of the American Veterinary Medical Association v.224, p.1464–1466, 2004.

HAH, Y.S. et al. Vascular endothelial growth factor stimulates osteoblastic differentiation of cultured human periosteal-derived cells expressing vascular endothelial growth factor receptors. Mol. Biol. Rep. v.38, p.1443–1450, 2011.

ATKINSON, S.; FOX, S.B. Vascular endothelial growth factor (VEGF) and platelet derived growth factor (PDGF) play a central role in the pathogenesis of digital clubbing. J. Pathol. v.203, p.721728, 2004.

HARADA, S. et al. Induction of vascular endothelial growth factor expression by prostaglandin

BECKER, T.J.; PERRY, R.L.; WATSON, G.L. Regression of hypertrophic osteopathy in a cat after surgical excision of an adrenocortical carcinoma. J. Am. Vet. Med. Assoc. v.35, p.499-505, 1999.

JOHNSON, R.L.; LENZ, S.D. Hypertrophic osteopathy associated with a renal adenoma in a cat. J. Vet. Diagn. Invest. v.23, p.171–175, 2011.

BERGMAN, P.J. Paraneoplastic syndromes. In: Withrow and MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology. 4ed. Saunders Elsevier: St Louis. 2007. BUSH, B.M. Interpretação de Resultados Laboratoriais Para Clínicos de Pequenos Animais. Roca: São Paulo, p.96-99, 2004. DICKINSON, C.J.; MARTIN, J.F. Megakaryocytes and platelet clumps as the cause of finger clubbing. Lancet v.2, p.1434–1435, 1987. DUNN, M.E.; BLOND, L.; LETARD, D. et al. Hypertrophic osteopathy associated with infective endocarditis in an adult boxer dog. The Journal of Small Animal Practicev. 48, p.99–103, 2007. FILGUEIRAS, R.R.; SILVA, J.C.P.; VILÓRIA, M.I.V. et al. Osteopatia hipertrófica em cão – relato de caso. Clínica Veterinária v.7, n.36, p.28-32, 2002. FOX, S.B.; DAY, C.A.; GATTER, K.C. Association between platelet microthrombi and finger club-

E2 and E1 in osteoblasts. J. Clin. Invest. v.93, p.2490–2496, 1994.

KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Diagnostic Radiology and Ultrasonography of the Dog and Cat. 4th edition. Saunders, Philadelphia, pp.377-379, 2005. KILARU, M.; VITALE, C. MONTAGNINI M. Pain management in hypertrophic pulmonary osteoarthropathy: an illustrative case and review. The American Journal of Hospice & Palliative Care v.29, p302-307, 2012..

GRILLO, T.P.; BRANDAO, C.V.S.; MAMPRIM, M.J. et al. Hypertrophic osteopathy associated with renal pelvis transitional. Veterinary and Comparative Oncology doi: 10.1111/vco.12026, 2007. GUYOT, H.; SANDERSEN, C.; ROLLIN, F. A case of hypertrophic osteoarthropathy in a Belgian blue cow. Can. Vet. J. v.52, n.12, p.1308–1311, 2011.

MARTINEZ-LAVIN, M. Digital clubbing and hypertrophic osteoarthropathy: a unifying hypothesis. J. Rheumatol. v.14, p.6-8, 1987. OLAN, F. et al. Circulating vascular endothelial growth factor concentrations in a case of pulmonary hypertrophic osteoarthropathy. J. Rheumatol. v.31, p.614–616, 2004. PINEDA, C.; MARTINEZ-LAVIN, M. Hypertrophic osteoarthropathy: what a rheumatologist should know about this uncommon condition. Rheum. Dis. Clin. North Am. v.39, p.383–400, 2013. RUTHERFORD, J.D. Digital clubbing. Circulation v.127, p.1997–1999, 2013. SALYUSARENKO, M.; PEERIi, D.; BIBRING, U. et al. Hypertrophic Osteopathy: a Retrospective Case Control Study of 30 Dogs. Israel Journal of Veterinary Medicine v.68, n.3, 2013.

LEE, J.H.; LEE, J.H.; YOON, H.Y. et al. Hypertrophic osteopathy associated with pulmonary adenosquamous carcinoma in a dog. Journal of Veterinary Medical Science v.74, p.667–672, 2012.

STOCKHAM, S.L.; SCOTT, M.A.; Fundamentos de Patologia Clínica Veterinária. Guanabara Koogan. 2ed., p. 497-505, 2011.

LENEHAN, T.M.; FETTER, A.W. Hypertrophic osteopathy. In: Textbook of Small Animal Orthopaedics. NEWTON C.D.; NUNAMAKER, C.M. Eds. Lippincott: Philadelphia, p.603–609, 1985.

THOMPSON, K. Bones and Joints. In: MAXIE, M.G. (Ed.): Pathology of Domestic Animals. Elsevier-Saunders: New York, p.107-108, 2007.

MAKUNGU, M.; MALAGO, J.; MUHAIRWA, A.P. et al. Hypertrophic osteopathy secondary to oesophageal foreign body in a dog – a case report. Veterinarski Archiv v.77, p.463–467, 2007.

ZHANG, Z., HE, J.W., FU, W.Z. et al. A novel mutation in the SLCO2A1 gene in a Chinese family with primary hypertrophic osteoarthropathy. Gene n.521, p.191–194, 2013.

bing. Lancet 338, 313–314, 1991. GOSNEY, M.A., GOSNEY, J.R.; LYE, M. Plasma growth hormone and digital clubbing in carcinoma of the bronchus. Thorax v.45, p.545–547, 1990.

MASLOVSKY, I.; GEVEL, D. What causes clubbing? Am. J. Med. v.118, p.1350-1351, 2005.

MANGER, B.; SCHETT, G. Paraneoplastic syndromes in rheumatology. doi:10.1038/nrrheum. 138, 2014. MARTINEZ-LAVIN, M. Exploring the cause of the most ancient clinical sign of medicine: finger clubbing. Sem. Arthr. Rheumat. v.36, p380-385, 2007. MATUCCI-CERINIC, M., MARTINEZ-LAVIN, M., ROJO, F. et al. Von Willebrand factor antigen in hypertrophic osteoarthropathy. J. Rheumatol. v.19, p.765–767, 1992.

WATROUS, B.J.; BLUMENFELD, B. Congenital megaesophagus with hypertrophic osteopathy in a 6-year-old dog. Veterinary Radiology & Ultrasound v.43, p.545–549, 2002. WEISBRODE, A.E. Ossos e articulações, In: Bases da Patologia em Veterinária. McGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. 4ed., Mosby Elsevier, 2009. p.1084. WITHERS, S.S.; JOHNSON, E.G.; CULP, W.T. et al. Paraneoplastic hypertrophic osteopathy in 30 dogs. Vet. Comp. Oncol. 2013.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

63


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

ABORDAGEM FISIOLÓGICA DO PROCESSAMENTO DO SÊMEN OVINO A PHYSIOLOGICAL APPROACH ABOUT RAM SEMEN PROCESSING RESUMO

O processamento do sêmen ovino é realizado desde o início do século XX, com esforços concentrados na fisiologia e perfil metabólico do espermatozoide, desenvolvimento de métodos de conservação, uso do sêmen fresco, processamentos para refrigeração e congelamento.. Como os métodos criopreservadores proporcionam danos ultraestruturais, bioquímicos e funcionais às células espermáticas, foram desenvolvidos diluidores, crioprotetores, tampões e antioxidantes, bem como técnicas mais eficazes de avaliação da qualidade espermática. Os resultados práticos das pesquisas em qualidade do sêmen ovino ainda são incipientes e agravados por limitações anatomofisiológicas das ovelhas. Palavras-chave: fisiologia reprodutiva, reprodução ovina, viabilidade espermática.

ABSTRACT

The ram semen processing is performed since the early twentieth century, with concentrated efforts in the physiology and metabolic profile of sperm, developing methods for conservation, use of fresh semen, processing refrigeration and freezing. Because methods of cryopreservation provide ultrastructural, biochemical and functional damage to sperm cells, thinners, cryoprotectants, buffers and antioxidants have been developed, as well as most effective techniques for evaluation of sperm quality. The practical results of the research in quality of ram semen are still incipient and are exacerbated by anatomical and physiological limitations of the ewe. Keywords: reproductive physiology, sheep reproduction, sperm viability.

64

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


REVISÃO DE LITERATURA Transporte, metabolismo e fertilidade da célula espermática de ovinos Na Inseminação Artificial (IA), a deposição de sêmen poderá ser vaginal, cervical ou intrauterina, com relação direta entre a concentração espermática e o

Laboratório de Reprodução Animal UESC

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

tipo de sêmen a ser utilizado: fresco, refrigerado ou criopreservado. Quanto mais internamente for depositada a dose, maior será a probabilidade de melhor índice de prenhez (FISHER NETO, 2009). Tal evidência está relacionada, entre outros aspectos, ao transporte espermático e viabilidade do espermatozoide (sptz),

Figura 1. Inseminação de ovelhas pela técnica de retração cervical

que pode sofrer limitações de acordo com o ambien-

Restall (1970) analisa diversos parâmetros do metabolismo de sptz incubados na presença de fluidos genitais de ovelhas e demonstra o efeito da diluição promovida pelo fluido da tuba uterina sobre a respiração celular. Quando a concentração foi maior, o consumo de oxigênio foi menor, enquanto a glicólise e geração de lactato tiveram efeito linear e maior quando comparadas à solução salina de controle (Tabela 1). O processo de congelamento/descongelamento do sêmen ovino causa danos ultraestruturais, bioquímicos e funcionais a número significativo de sptz, acompanhados por redução da fertilidade e prejuízos no transporte e viabilidade no trato genital feminino, quando se trata de IA cervical. Salamon e Maxwell (1995) destacam alguns danos causados pelo processo criogênico, tais como: (i) perdas de proteínas por mudanças morfológicas da bainha de mitocôndrias, com conse-

te uterino e processo de conservação. Hawk (1983) reporta diversos fatores que proporcionam falhas na taxa de fertilidade após IA, entre eles, a manipulação do trato reprodutivo, que pode ocasionar produção de compostos espermicidas. Mattner et al. (1969) inseminaram ovelhas, via cervical (Figura 1), com sêmen fresco ou congelado, observando grande número de sptz presentes na cérvix, útero e tubas uterinas com uso de sêmen fresco, quatro e 24 horas após a IA, enquanto o número foi pequeno ou nulo com sêmen congelado. A porcentagem de sptz intactos, recuperados na tuba uterina, é maior após IA intrauterina no estro natural ou sincronizado (64% e 60%), quando comparada à IA cervical (37% e 19%, respectivamente), demonstrando que o menor trajeto percorrido minimiza danos e mantém a capacidade fecundante (FUKUI; ROBERTS, 1977).

Tabela 1. Metabolismo (µmoles/108 células) dos sptz ovinos incubados em fluido de tuba uterina em diferentes diluições. Fonte: Adaptado de Restall (1970) Diluição do fluido

Consumo total de oxigênio*

Carbono oxidado* (µg-átomos)

Glicose utilizada*

Lactato acumulado*

Salina controle

2,23

1,79

1,321

1,491

1:2

1,12

0,59

3,66

7,08

1:4

1,52

1,02

3,37

5,82

1:8

2,07

1,60

2,81

4,33

1:16

2,67

2,09

2,38

3,32

Notas: * Efeito linear dentro da diluição (p<0,01); 1 diluições vs. controle (p<0,01).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

65


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

quentes reduções na síntese de trifosfato de adenosina (ATP) e difosfato de adenosina (ADP); (ii)distorções no axonema; (iii) liberação de Transaminase Glutâmico-Oxaloacética (TGO), importante no ciclo de Krebs para produção de energia; (iv) perdas de lipoproteínas, fosfolipídios e aminoácidos; (v) redução da atividade de fosfatase; (vi) aumento do conteúdo de íons Na+ e diminuição de K+ do sptz; e (vii) inativação de enzimas hialuronidase e acrosina no acrossoma. Citam, ainda, a possibilidade de sptz com danos poderem ser “inativados” no canal cervical por reação imune provocada por anticorpos específicos e não específicos presentes na secreção cervical. Variações na conservação em função da fisiologia do SPTZ Segundo Watson (2000), a conservação do sêmen, em especial a criopreservação, afeta a fertilidade dos sptz, devido ao choque provocado pelo resfriamento, à taxa de resfriamento, ao estresse osmótico e tóxico pela exposição a concentrações molares de crioprotetores e à formação e dissolução de cristais de gelo no ambiente extracelular. O status funcional dos sptz sobreviventes está relacionado à estabilidade de membrana, estresse oxidativo, integridade de receptores de membrana e estrutura nuclear. Sêmen refrigerado A utilização de sêmen refrigerado permite aproveitamento de bons reprodutores em propriedades próximas o suficiente para viabilizar o deslocamento. No entanto, são grandes as variações na taxa de prenhez, independentemente dos diluentes utilizados, pois existe influência dos carneiros, ejaculados, inseminadores, momento da IA, dose inseminante, qualidade dos sptz, tipo de estro, status fisiológico da ovelha e local de deposição do sêmen (MILCZEWSKI et al., 2000a). O efeito do número de sptz e tempo de estocagem do sêmen diluído com 3% ou 7% de gema de ovo e resfriado a 5 °C foi avaliado por Martin e Watson (1976). Foi observada influência da quantidade de sptz/dose nas taxas de prenhez após IA cervical, sendo, em média, 41,22% usando 100 x 106 sptz e

66

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

24,34% com 25 x 106 sptz, não ocorrendo diferenças entre concentrações de gema de ovo e estocagem por 5h ou 18h. Outro estudo envolveu IA cervical, com sêmen diluído em solução glicose-salina tampão (1:10 ou 1:30), contendo 1,5% ou 6% de gema de ovo, resfriado a 5 °C e utilizado imediatamente ou após estocagem de 24-48h, uma centrifugação para reconcentração em 108 sptz/dose (100µL), além de um grupo de controle com sêmen não diluído. O processo de diluição e reconcentração diminuiu significativamente a taxa de não retorno ao estro nos dias 28 e 45 entre IA controle com sêmen não diluído (63,8%), IA até 1,5h pós-diluição (48,3%), após 24h resfriado a 5 °C (21,9%) e 48h a 5 °C (6,1%). Aventou-se a possibilidade de ocorrer, em função da diluição, redução na concentração de componentes do plasma seminal, distúrbios na proporção de vários eletrólitos ou mesmo a introdução de substâncias deletérias no diluente. Não houve influência das diluições 1:10 e 1:30, mas relatou-se que a gema de ovo pode inibir a concepção elevando-se seus níveis nos diluentes, apesar de serem úteis aos sptz em termos de motilidade e morfologia (WATSON; MARTIN, 1976). Milczewski et al. (2000b) observam melhores resultados, especialmente para turbilhonamento (0 a 5). Os diluentes citrato-gema (2,64), Cornell University Extender (CUE), Cornell University 16 (CU-16), TRIS-gema e leite desnatado UHT-gema não diferiram entre si (2,30, 2,21, 2,36 e 1,98, respectivamente) e o pior diluente foi glicina-gema (1,06), sendo que todos apresentaram redução significativa em comparação ao sêmen fresco (4,02). Okukpe et al. (2012) avaliam diluentes com CUE e leite de soja em sêmen ovino refrigerado a 5 °C por quatro dias. Foi observada influência negativa do leite de soja na motilidade progressiva e porcentagem de vivos (Tabela 2), que foi atribuída à presença de fontes proteicas diferentes (gema de ovo vs. leite de soja), embora na mesma proporção, mas com diferenças na fonte de aminoácidos essenciais e não essenciais, além de possíveis fatores antinutricionais. Na Noruega, comprovou-se uma forma eficiente de IA vaginal, em larga escala, em rebanhos comerciais ao


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Tabela 2. Composição dos diluidores para sêmen ovino resfriado e respectivos parâmetros de qualidade espermática. Fonte: Adaptado de Okupke et al. (2012) Leite soja – glicerol (g)

Leite soja – CUE (g)

Componente do diluidor

CUE (g)

Leite vaca glicerol (g)

Citrato de sódio di-hidratado

14,50

-

-

14,50

Bicarbonato de sódio

2,10

-

-

2,10

Cloreto de potássio

0,40

-

-

0,40

Glicose

3,00

0,5

0,5

3,00

Glicina

9,37

-

-

9,37

Sulfanilamida

3,00

-

-

3,00

Ácido cítrico

0,87

-

-

0,87

1000,00

50,00

50,00

1000,00

Tampão (%)

80,00

3,00

3,00

80,00

Gema de ovo (%)

20,00

10,00

10,00

-

Leite integral (%)

-

87,00

-

-

Leite de soja (%)

-

-

87,00

20,00

Motilidade espermática (%)

40,64 *

40,06 *

22,25 *

36,06 *

Porcentagem de vivos (%)

44,89 *

45,78 *

27,17 *

35,95 *

Água destilada (mL)

Nota: * CUE: Cornell University Extender; a,b: p<0,05.

estro natural, usando-se diluente à base de leite em pó

No Brasil, Machado et al. (2006) pesquisaram a ferti-

desnatado (11%) e gema de ovo (5%) e refrigeração a

lidade de ovelhas deslanadas inseminadas por via cer-

5 °C, com doses de 150 x 10 sptz/0,25mL (PAULENZ

vical ou laparoscópica utilizando diluidores à base de

et al., 2003).

Água de Coco in Natura (ACN) ou em pó (ACP-102®),

6

No Uruguai, foi avaliado sêmen diluído com leite des-

em sêmen resfriado a 4 °C, por até 6h. As taxas de pre-

natado e estocado a 15 °C por 6h ou diluído com leite

nhez após IATF cervical (0,25 mL) foram: ACN 25,8% e

desnatado-citrato trissódio com gema de ovo, resfriado

ACP-102® 48,0%; após IATF por laparoscopia (0,5 mL)

a 5 °C por 24h, contendo 120 x 10 sptz/dose (0,05, 0,1

foram ACN 72,9% e ACP-102® 70,3%. Embora tenha

ou 0,2 mL). Ovelhas submetidas à Inseminação Artificial

ocorrido possível influência da idade dos cocos quan-

em Tempo Fixo (IATF)em diferentes tempos após reti-

to ao pH e osmolaridade na elaboração do ACN, com

rada do pessário (MAP-60 mg) manifestaram taxas de

consequente diminuição da fertilidade, recomenda-se

prenhez e parto com sêmen resfriado a 5 °C de 36,5%

a tecnologia em condições de campo, desde que feita

e 31,1%, em 42h, 52,0% e 45,3%, em 46h, e 24,0% e

com cocos em torno de seis meses de idade.

6

20,0%, em 50h; a taxa média de prenhez foi superior

O estresse oxidativo pode causar danos à funciona-

com uso de sêmen estocado a 15 °C/6h vs. 5 °C/24h

lidade do sptz, sendo potencializado pela presença

– 56,7% e 37,5%, respectivamente. Como não houve

de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa. Por

efeito da diluição, foi considerada satisfatória a simila-

outro lado, é reconhecido que a formação de radical

ridade entre as taxas médias de prenhez usando sêmen

superóxido é necessária para eventos que precedem

15 °C/6h e 5 °C/24h (58,7% e 52,0%) após 46h do pro-

a fertilização. Como a criopreservação induz formação

tocolo progestágeno (FERNANDEZ-ABELLA et al., 2003).

de Espécies Reativas ao Oxigênio (EROs), deletérias

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

67


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

ao desempenho funcional do sptz, a incorporação de antioxidantes aos diluidores é de grande importância (WATSON, 2000), influenciando de forma benéfica a manutenção da motilidade e integridade do acrossoma quando adicionados ao diluente refrigerado, como superóxido dismutase, catalase, citocromo C e glutationa peroxidase (SALAMON; MAXWELL, 2000). Martí et al. (2003) utilizam o procedimento denominado swim-up, que elimina o plasma seminal, debris, células esfoliativas, e sptz mortos, imóveis ou sem velocidade de progressão direcional, obtendo-se uma amostra limpa, com sptz que exibem excelente motilidade, usual em reprodução humana assistida. Essa técnica impede que haja interferência do plasma seminal na avaliação antioxidante. Os diluentes avaliados, nesse experimento, foram à base de leite-gema e sacarose e os antioxidantes foram glutationa redutase, glutationa peroxidase e superóxido dismutase.Evidenciam a importância de avaliar o sistema de enzimas antioxidantes, visto que o sptz conservado em estado líquido por mais de 24h pode apresentar modificações no seu status funcional de membrana, parcialmente devido ao acúmulo de EROs, produtos tóxicos do me-

tabolismo produzidos por sptz mortos, e peróxidos, que se decompõem em formas altamente reativas de radicais livres e causam danos à célula. Portanto, por mais que uma amostra de sêmen possa apresentar motilidade e morfologia normais, a baixa capacidade do sistema enzimático antioxidante pode resultar em infertilidade por degradação prematura da membrana espermática pela peroxidação lipídica no trato reprodutivo feminino. Çoyan et al. (2010) estudam a metionina e o ditioeritritol, baseando-se no fato de que a metionina age como um aminoácido precursor da glutationa na proteção de células contra estresse oxidativo e que o antioxidante ditiotreitol (com propriedades similares ao ditioeritritol) é um agente redutor, que previne oxidação de grupos sulfidrilas, que, possivelmente, danificam membranas submetidas ao congelamento. Observam que esses agentes não influenciam a peroxidação lipídica nas condições estudadas. Câmara et al. (2011) relatam que a adição de 100 e 200 U/mL de catalase reduziu o efeito negativo da refrigeração sobre a motilidade total do sêmen ovino mantido a 5 °C, por 24h, sem afetar a funcionalidade da membrana espermática , devido à influência na restauração do equilíbrio entre a quantidade de EROs produzidos e eliminados. Em contrapartida, 400 UI/mL da glutationa reduzida no diluidor apresentaram efeito deletério nos parâmetros de velocidade espermática, possivelmente por influenciar a homeostase celular de Ca++ , que, em elevadas concentrações, pode deixar o sptz suscetível a danos na criopreservação. Yániz et al. (2010) demonstram a importância da avaliação da contaminação bacteriana no sêmen ovino. Ejaculados de carneiros Aragoneza foram submetidos à cultura bacteriana; dos 68 ejaculados, 66 foram positivos para bactérias aeróbicas, sendo as mais frequentes: Escherichia coli, Proteus mirabilis, Enterobacter cloacae, Staphilococcus epidermidis e S. aureus, repre-

Gráfico 1. Porcentagem da atividade enzimática/célula em relação à atividade inicial (0h) para glutationa redutase (a), glutationa peroxidase (b) e superóxido dismutase (c) de sptz ovinos selecionados por swim-up diluídos com leite-gema (▲) ou sacarose (■) e incubados a 15 °C por 2, 4 ou 6h. Fonte: Adaptado de Martí et al. (2003)

68

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

sentando 97% das contaminações. Todas as bactérias foram sensíveis à gentamicina e ceftiofur, identificando-se 53% de resistência à penicilina e 15% para estreptomicina, antibióticos comuns nos diluidores.


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Sêmen criopreservado O congelamento de sêmen ovino se iniciou na década de 1930, com glicerol. Na década de 1940, estudos com vitrificação foram conduzidos sem glicerol e, a partir da década de 1950, a criopreservação do sêmen ovino seguiu métodos aplicados ao sêmen bovino, com resultados mal sucedidos (SALAMON; MAXWELL, 2000). Gil et al. (2002) demonstram que a substituição do processo de centrifugação e reconcentração de sptz (P1) por ajuste da concentração espermática por diluição gradual do sêmen ovino (P2), embora tenha revelado resultados piores em motilidade progressiva pela Computer-Assisted Sperm Analysis (CASA) (67,3% P1 e 34,4% P2) e integridade de membrana (64,4% P1 e 37,8% P2), não apresentou diferença significativa nas taxas de prenhez (21,9% P1 e 21,4% P2), indicando que esse protocolo de ajuste (P2), com maior número de sptz viáveis, pode ser uma alternativa pré-congelamento, em condições de campo. Há várias décadas, a gema de ovo é utilizada como crioprotetor, em diluição de sêmen, , porém análises revelam diferenças entre as fontes de gema (VALENTE et al., 2010). Ali et al. (2013), por meio de FIV e subsequente desenvolvimento de embriões, avaliam a substituição da gema de ovo de galinha na diluição do sêmen ovino (20% e meio TRIS-citrato-frutose-glicerol) por outras fontes: perdiz, avestruz, peru, pato ou tartaruga. Observam aumento significativo na proporção de oócitos maduros fertilizados quando usada gema de ovo de perdiz comparada com outras fontes. Além disso, o número de blastocistos no dia 6 após FIV foi maior com gemas de perdiz, avestruz, peru e pato, comparadas às de tartaruga e galinha. Alternativas de crioprotetores foram investigadas em substituição aoglicerol, que é potencialmente citotóxico (WATSON, 2000). A trealose promove desidratação e reduz o efeito negativo do fluxo de água por meio da membrana plasmática ao congelamento; a lipoproteína

de baixa densidade (LDL) geralmente liga-se a proteínas do plasma seminal, prevenindo interações com a membrana plasmática. Tonieto et al. (2010) realizaram testes com esses dois crioprotetores, tendo encontrado resultados pós-descongelamento (motilidade, integridade de membrana e integridade de acrossoma) compatíveis com a crioproteção convencional com glicerol (Figura 2). Moustacas et al. (2011) estudaram a LDL natural ou liofilizada, em completa substituição à gema de ovo, na diluição de sêmen de ovinos Santa Inês (100 x 106/0,25 mL), tendo observado que a liofilização diminuiu a capacidade protetora da LDL. A interação da trealose com glicerol foi testada em cinco combinações: três concentrações de trealose (T - 0, 50 e 100 mM) e duas de glicerol, (G - 5% e 7%) no diluente à base de lecitina de soja. A combinação T100G5 produziu os melhores resultados de avaliação espermática, adequando-se a um diluente à base de lecitina de soja (NAJAFI et al., 2013). Cirit et al. (2013) avaliam a influência de diferentes crioprotetores na diluição do sêmen colhido por eletroejaculação, utilizando o iodixanol, mais comum em sêmen de touros, além de trealose e cisteamina, comuns em diluições de sêmen colhido por vagina artificial. Em relação aos tratamentos contendo crioprotetores isolados ou combinados em solução à base de TRIS e inclusão de glicerol no método de diluição two-step, os auto-

Laboratório de Reprodução Animal UESC

Também foi avaliado o efeito da adição de culturas puras das bactérias mais frequentes nos parâmetros de qualidade do sêmen resfriado a 15 °C. Observou-se que o sêmen com E. coli apresentou redução drástica na motilidade, velocidade e viabilidade.

Figura 2. Avaliação da morfologia de sptz corados por rosa bengala

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

69


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

res observaram forte efeito protetor do iodixanol a 5%, evidenciado pela motilidade progressiva, integridade de membrana e acrossoma e danos morfológicos. Não foi observado efeito da trealose na motilidade e morfologia espermáticas. A suplementação com cisteamina teve efeito prejudicial no sêmen de eletroejaculação. O uso de um diluidor comercial apropriado para bovinos, o Bioexcell® (IMV, L’Aigle, França), foi testado para congelamento de sêmen ovino no Uruguai. Gil et al. (2003) comparam a diluição two-step do Bioexcell® com diluidor à base de leite-gema de ovo. Foram avaliados os parâmetros de qualidade do sêmen e a IA cervical foi realizada em 970 ovelhas Corriedale sincronizadas e inseminadas a.m./p.m. Não foram encontradas diferenças entre os tratamentos, tanto para avaliação espermática quanto para taxas reprodutivas (Tabela 3). No Brasil, Monreal et al. (2012) observaram superioridade do diluidor Botu Bov®, uma inovação nacional à base de gema de ovo, comparado ao TRIS no sêmen descongelado de carneiros nativos, tanto para motilidade (40,56% vs. 24,28%) quanto para vigor (3,0 vs. 1,5). Maia et al. (2010) investigaram a inclusão da catalase e do Trolox como antioxidantes, ambos controlando a peroxidação lipídica e geração de peróxido de hidrogênio durante o congelamento/descongelamento. Contudo, não há sucesso com esses antioxidantes quando são incluídos no suplemento com PBS, após descongelação e posterior incubação a 37 °C/5 minutos, visto que a peroxidação lipídica e formação de EROs ocorrem desde os primeiros procedimentos de diluição e congelamento (SICHERLE et al., 2011). O manganês (III) meso-tetracis (4-ácido benzoico) porfirina (MnTBAP) é um composto sintético que penetra através da membrana celular e age como potente antioxidante tanto no citoplasma quanto nas mitocôndrias e pode ser uma alternativa na diluição do sêmen criopreservado, com resultados mais eficientes quando incluído a 150 µM (FOROUZANFAR et al., 2013). Tem sido descrita a participação de fatores de crescimento no desenvolvimento de células espermáticas e na conservação do sêmen, como o GM-CSF, uma citosina capaz de estimular a proliferação, diferenciação, maturação e ativação de granulócitos e macrófagos.

70

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Tabela 3. Percentuais médios (± desvio padrão) de parâmetros espermáticos pós-descongelamento e taxas reprodutivas para sêmen ovino com diluidor à base de leite ou Bioexcell®. Fonte: Adaptadode Gil et al. (2003) Parâmetro (%)

Diluídos leite (controle)

Bioexcell®

Motilidade

46,5 ±4,4

47,0 ± 6,0

Integridade de membrana

37,7 ± 6,6

38,0 ± 8,2

Não capacitados

26,3 ± 4,1

28,5 ± 6,4

Capacitados

61,1 ± 1,6

61,3 ± 2,7

Não retorno estro 21d

35,7 ± 9,0

33,1 ± 5,5

Não retorno estro 36d

34,7 ± 8,7

32,5 ± 5,5

Taxa de prenhez 50d

28,3 ± 7,2

27,2 ± 6,5

Presente em diversas células não hematopoiéticas, entre as quais, os sptz, estima-se que tenha funções relacionadas à proliferação e processo de diferenciação da espermatogênese, bem como motilidade, o que pode sugerir sua contribuição no processo de fertilização. Sua atividade biológica é controlada por receptores de superfície celular, compostos por subunidades alfa e beta (RODRÍGUEZ-GIL et al., 2007). Padilha et al. (2012) investigaram a influência do IGF-1 na qualidade e fertilidade do sêmen, tendo observado melhora nos parâmetros de motilidade e integridade de membrana de sptz submetidos à criopreservação, porém sem efeito na taxa de prenhez. CONSIDERAÇÕES FINAIS A tecnologia aplicada ao sêmen ovino tem evoluído e adotado diversas linhas de investigação: metabolismo celular, parâmetros qualitativos, transporte no

AUTORES Caio Tacito Gomes Alvares Médico Veterinário CRMV-BA nº 2178 MSc, doutorando e docente Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) caioalvares@uol.com.br Jurandir Ferreira da Cruz Médico Veterinário CRMV-BA nº 0962 UESB Antonio Jorge Moura Del Rei Médico Veterinário CRMV-BA nº 1060 UESB


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

trato reprodutivo, tipos de inseminação, métodos de conservação, avaliação de diluentes e suas composições. Contudo, os resultados, quando aplicados, são mundialmente incipientes e inconsistentes. A célula espermática é comprometida pela criopreservação,

que provoca danos ultraestruturais, bioquímicos e funcionais que reduzem sua eficiência. Também, as características anatomofisiológicas das ovelhas impedem a obtenção do pleno sucesso da aplicação das biotécnicas reprodutivas.

referências ALI, A.B.T.; BOMBOI, G.; FLORIS, B. Replacing chicken yolk with yolks from other sources in RAM sêmen diluents and their effects on fertility in vitro. Small Ruminant Res. v.113, p.405-410, 2013. CÂMARA, D.R.; MELL-PINTO, M.M.C.; PINTO, L.C. et al. Effects of reduced glutathione and catalase on the kinematics and membrane functionality of sperm during liquid storage of ram semen. Small Ruminant. Res. v.100, p.44-49, 2011. CIRIT, Ü.; BAGIS, H.; DEMIR, K. et al. Comparison of cryoprotective effects of iodixanol, trehalose and cysteamine on ram semen. Anim. Reprod. Sci. v.139, p.38-44, 2013. ÇOYAN, K.; BASPINAR, N.; BUCAK, M.N. et al. Influence of methionine and dithioerythritol on sperm motility, lipid peroxidation and antioxidant capacities during liquid storage of ram semen. Res. Vet. Sci. v.89, p.426-431, 2010. FERNANDEZ-ABELLA, D.; PREVE, M.O.; VILLEGAS, N. Insemination time and dilution rate of cooled and chilled RAM sêmen affects fertility. Theriogenology v.60, p.21-26, 2003. FISCHER NETO, A. Aplicação comercial das biotécnicas reprodutivas em ovinos. Rev. Bras. Repr. Anim v.6, p.182-186, 2009. FOROUZANFAR, M.; ERSHAD, S.F.; HOSSEINI, S.M. et al. Can permeable super oxide dismutase mimetic agents improve the quality of frozen-thawed ram semen? Cryobiology v.66, p.126-130, 2013. FUKUI, Y.; ROBERTS, E.M. Sperm transport after non-surgical intrauterine insemination with frozen semen in ewes treated with prostaglandin F-2α. J. Reprod. Fert. v.51, p.141-143, 1977. GIL, J.; RODRIGUEZ-IRAZOQUI, M.; LUNDEHEIM, N. et al. Fertility of ram semen frozen in a Bioexcell® and used for cervical artificial insemination. Theriogenology v.59, p.1157-1170, 2003. GIL, J.; RODRIGUEZ-IRAZOQUI, M.; SÖDERQUIST, L. et al. Influence of centrifugation or low extension rates prefreezing on the fertility of RAM sêmen after cervical insemination. Theriogenology v.57, p.1781-1792, 2002.

MAIA, M.S.; BICUDO, S.D.; SICHERLE, C.C. et al. Lipid peroxidation and generation of hydrogen peroxide in frozen-thawed ram sêmen cryopreserved in extenders with antioxidants. Anim. Repro. Sci. v.122, p.118-123, 2010.

PAULENZ, H.; SÖDERQUIST, L.; ADNOY, T. et al. Effect of Milk- and TRIS- based extenders on the fertility of sheep inseminated vaginally once or twice with liquid semen. Theriogenology v. 60, p.759-766, 2003.

MARTÍ, J.I.; MARTÍ, E.; CEBRIÁN-PÉREZ et al. Survival rate and antioxidant enzyme activity of ram spermatozoa after dilution with different extenders or selection by a dextran swim-up procedure. Theriogenology v.60, p.1025-1037, 2003.

RESTALL, B.J. Effect of incubation conditions on the metabolic response of ram spermatozoa in the presence of fluids from the genital tract of the ewes. Aust. J. biol. Sci. v.23, p.1255-1264, 1970.

MARTIN, I.C.A.; WATSON, P.F. Artificial insemination of sheep: effects on fertility of number of spermatozoa inseminated and the storage of diluted semen for up to 18 hours at 5ºC. Theriogenology v.5, n.1, p.29-35, 1976.

RODRIGUEZ-GIL, J.E.; SILVERS, G.; FOLRES, E. et al. Expression of the GM-CSF receptor in ovine spermatozoa: GM-CSF effect on sperm viability and motility of sperm subpopulations after the freezing-thawing process. Theriogenology v.67, p.1359-1370, 2007.

MATTNER, P.E.; ENTWISTLE, K.W.; MARTIN, I.C.A. Passage, survival and fertility of deep-frozen ram semen in the genital tract of the ewe. Aust. J. biol. Sci. v.22, p.181-187, 1969. MILCZEWSKI, V.; KOZICKI, L.E.; LUZ, S.L.N. et al. Inseminação artificial intrauterina e cervical em ovelhas utilizando sêmen refrigerado. Arch. Vet. Sci. v.5, p.35-39, 2000a. MILCZEWSKI, V.; KOZICKI, L.E.; NEVES, J.P. Viabilidade do sêmen ovino refrigerado em diferentes diluentes. Arch. Vet. Sci. v.5, p.29-33, 2000b. MONREAL, A.C.D.; SCHIMID, R.F.; de PAULA, J.G.S. et al. Diluentes para semen de carneiros nativos de Mato Grosso do Sul. Rev. Agr. v.5, n.17, p.281287, 2012. MOUSTACAS, V.S.; ZAFFALON, F.G.; LAGARES, M.A. et al. Natural, but not lyophilized, low density lypoproteins were an acceptable alternative to egg yolk for cryopreservation of ram semen. Theriogenology v.75, p.300-307, 2011. NAJAFI, A.; ZHANDI, M.; TOWHIDI, A. et al. Trehalose and glycerol have a dose-dependent synergistic effect on the post-thawing quality of ram semen cryopreserved in a soybean lecithin-based extender. Cryobiology v.66, p.275282, 2013.

SALAMON, S.; MAXWELL, W.M.C. Frozen storage of ram semen II. Cause of low fertility after cervical insemination and methods of improvement. Anim. Reprod. Sci, v.38, p.1-36, 1995. SALAMON, S.; MAXWELL, W.M.C. Storage of ram semen. Anim. Reprod. Sci, v.62, p.77-111, 2000. SICHERLE, C.C.; MAIA, M.S.; BICUDO, S.D. et al. Lipid peroxidation and generation of hydrogen peroxide in frozen-thawed ram semen supplemented with catalase or Trolox. Small Ruminant Res. v.95, p.144-149, 2011. TONIETO, R.A.; GOULARTE, K.L.; GASTAL, G.D.A. et al. Cryoprotectant effect of trehalose and low-density lipoprotein in extenders for frozen ram semen. Small Ruminant Res. v.93, p.206209, 2010. VALENTE, S.S.; PEREIRA, R.M.; BAPTISTA, M.C. et al. In vitro and in vivo fertility of RAM semen cryopreserved in different extenders. Anim.Reprod. Sci. v.117, p.74-77, 2010. WATSON, P.F. The causes of reduced fertility with cryopreserved semen. Anim. Reprod. Sci. v.6, n.61, p.481-492, 2000.

HAWK, H.W. Sperm survival and transport in the female reproductive tract. J. Dairy Sci. v.66, p.2645-2660, 1983.

OKUKPE, K.M.; ADELOYE, A.A.; ADEYEMI, K.D. et al. Effects of extender types on ram semen colleted with eletroejaculator in a tropical environment. Asian J. Anim. Sci. v.6, n.5, p.249-255, 2012.

WATSON, P.F.; MARTIN, I.C.A. Artificial insemination of sheep: the fertility of semen extended in diluents containing egg yolk and inseminated soon after dilution or stored at 5ºC for 24 or 48 hours. Theriogenology v.6, p.553-558, 1976.

MACHADO, V.S.; NUNES, J.F.; ARAÚJO, A.A. et al. Fertilidade após inseminação artificial intra-cervical ou laparoscópica intra-uterina de ovelhas utilizando diluidores à base de água de coco. Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. v.43, p.43-49, 2006.

PADILHA, R.T.; MAGALHÃES-PADILHA, D.M.; CAVALCANTE, M.M. et al. Effect of insulin-like growth factor-I on some quality traits and fertility of cryopreserved ovine semen. Theriogenology v.78, p.907-913, 2012.

YÁNIZ, J.L.; MARCO-AGUADO, M.A.; MATEOS, J.A. et al. Bacterial contamination of ram semen, antibiotic sensitivities and effects on sperm quality during storage at 15ºC. Anim. Reprod. Sci. v.122, p.142-149, 2010.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

71


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DE EQUÍDEOS DE TRAÇÃO ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA CLINICAL AND LABORATORY EVALUATION OF TRACTION EQUINES EXAMINEDS AT THE VETERINARY HOSPITAL OF THE FEDERAL UNIVERSITY OF UBERLÂNDIA RESUMO

Foram avaliados a casuística das enfermidades e os perfis hematológico e parasitário de equídeos de tração utilizados por carroceiros e atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (MG), no período de 2011 a 2013. Dos 130 animais atendidos, 98,4% (128/130) eram equinos, 0,8% (1/130), asininos e 0,8% (1/130), muares, sendo 62,3% (81/130) machos e 47,7% (49/130) fêmeas. Os principais sistemas afetados foram o locomotor – 32,3% (42/130) – e gastrointestinal – 16,9% (22/130). No exame coproparasitológico, foram encontrados os gêneros Strongyloides sp e Parascaris sp e em 47,7% dos animais foram observados mais de 350 ovos por grama (OPG). Apresentaram-se anêmicos 38,5% dos equídeos, 20,8% com leucocitose e 3,8% com leucopenia. A maioria dos animais não está apta a realizar as tarefas a eles atribuídas. Palavras-chave: animais de carroça, leucograma, hemograma.

ABSTRACT

Was evaluated the diseases series and the hematological and parasitic profiles of traction equine used by teamsters, examined at the Veterinary Hospital of the Federal University of Uberlândia, MG, during 2011 to 2013. Among 130 animals, 98.4% (128/130) were horses, 0.8% (1/130) donkeys and 0.8% (1/130) mules, and 62.3% (81/130) were males and 47,7% (49/130) females. The locomotor 32.3% (42/130) and gastrointestinal 16.9% (22/130) systems were the most affected. In the stool examinations were found parasites of the genera Strongyloides sp and Parascaris sp, where 47.7% of the animals presented more than 350 eggs per gram (EPG). In hematological evaluation, 38.5% of horses were anemic, 20.8% presented leukocytosis and 3.8% leukopenia. Those results show that most of animals are not medically fit to perform the tasks normally done by wagon animals. Keywords: kart animals, leucogram, hemogram.

72

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO Em várias cidades brasileiras, muitas famílias utilizam a carroça tracionada por equídeos como meio de sustento ou complemento da renda. A sustentabilidade dessas pessoas depende diretamente da saúde dos animais, pois, sem eles, torna-se mais difícil realizar longos trajetos à procura de produtos recicláveis para venda (PAZ, 2013). Estima-se que existam em torno de 300 milhões de animais de tração, utilizados por dois bilhões de pessoas, em cerca de 30 países (SOUZA, 2006). Os problemas clínicos que mais acometem esses equídeos estão relacionados aos sistemas locomotor, digestório e tegumentar, principalmente as cólicas e parasitoses (NAVIAUX, 1998; REICHMANN, 2003; OLIVEIRA et al., 2007). Deficiência de eletrólitos e perda de energia e água devido ao prolongado ou extenuante esforço físico levam ao estresse e podem ser a causa de diversas patologias do sistema musculoesquelético (SAVAGE; LEWIS, 2006). A eficiência no casqueamento e ferrageamento é fator que influencia o desempenho e integridade dos equinos e evita o aparecimento de tais doenças (STASHAK et al., 2006). Devido à escassez de dados sobre as condições sanitárias dos equídeos de tração do município de Uberlândia e ao fato de os proprietários não possuírem conhecimento técnico da saúde e bem-estar animal, objetivou-se avaliar a casuística das enfermidades e os perfis hematológico e parasitário de equídeos de tração utilizados por carroceiros e atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (HV-UFU), no período de 2011 a 2013. MATERIAL E MÉTODOS Um total de 294 equídeos foram atendidos no Setor de Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais do HV -UFU, durante o período de 2011 a 2013. Destes, 130 foram encaminhados pela Secretaria de Serviços Urbanos da Prefeitura Municipal ou trazidos por proprietários carroceiros por meio do Projeto de Extensão de Atendimento Gratuito. Todos os procedimentos clínicos e cirúrgicos foram realizados de acordo com os protocolos e princípios éticos e de biossegurança do HV-UFU. Os animais foram identificados de acordo com a espécie, raça e sexo. Em seguida, realizou-se a avaliação

dos parâmetros vitais, estado nutricional e exame clínico de todos os sistemas (FEITOSA, 2008). O peso dos animais foi estimado com auxílio de uma fita para cálculo do peso em equinos (Ruralban®). Foram coletadas amostras de sangue por meio de punção da veia jugular, em tubo a vácuo com anticoagulante EDTAK3 (10%). O hemograma foi processado em contador automático de células ABC Vet Animal Blood Counter (Horiba ABX Diagnostic Ltda., São Paulo, Brasil) e a contagem diferencial dos leucócitos nos esfregaços sanguíneos, corados pelo método de MayGrunwald Giemsa (MATOS; MATOS, 1988), com a identificação e contagem de 100 células em microscopia óptica com objetiva de imersão (100x), estabelecendo a porcentagem de cada tipo de leucócito ou fórmula leucocitária relativa. Para a pesquisa de hemoparasitas, coletou-se sangue periférico com tubo capilar de micro-hematócrito heparinizado. Após a punção de ponta de orelha com auxílio de uma agulha (25x8), procedeu-se ao esfregaço sanguíneo, de acordo com Garcia e Navarro (2005). As amostras fecais foram coletadas diretamente da ampola retal. A contagem de ovos por grama (OPG) de fezes foi feita pelo método de McMaster, descrito por Urquhart et al. (1998). Todos os exames foram processados no Laboratório de Análises Clínicas da UFU. RESULTADOS E DISCUSSÃO No período avaliado, foram examinados 130 equídeos, que apresentaram, na avaliação clínica, principalmente problemas relacionados aos sistemas locomotor e gastrointestinal. Além disso, observaram-se anemia, presença de hemoparasitos, verminose e alterações no leucograma (leucopenia e leucocitose). Em relação à espécie, 98,4% eram equinos, 0,8%, asininos e 0,8%, muares, sendo 62,3% machos e 47,7% fêmeas. A idade média dos animais atendidos foi de 9 ± 4 anos, sendo que o mais jovem apresentava dois meses e o mais velho 20 anos. Os parâmetros vitais (Tabela 1) permaneceram em sua maioria alterados e com uma média superior aos valores de referência descritos por Feitosa (2008). Supõe-se que esses parâmetros vitais, como temperatura corporal, frequência cardíaca e frequência respiratória, estavam alterados

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

73


Arquivo do autor

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Figura 1. Equino de tração em avaliação e tratamento médico

devido às diversas enfermidades diagnosticadas, que causam modificações não só no sistema acometido, como também no estado físico geral dos pacientes. Na avaliação clínica, notou-se que 56,1% dos equídeos foram classificados com condição corporal normal, porém parte dos animais estava magra (39,2%) ou caquética (3,9%). Sua média de peso foi de 270 ± 46 kg, variando entre 60 e 418 kg. Os resultados reforçam o descrito por Reichman (2003) e Silva Filho et al. (2004), pois mais de 40% dos animais estavam abaixo do peso. Esses autores constatam que a maioria dos equídeos de tração, que trabalham todos os dias, intensamente, apresenta certo grau de subnutrição, com escore corporal abaixo do recomendado. Os principais motivos das consultas (Tabela 2) foram relacionados ao sistema locomotor (32,3%), sendo

que o diagnóstico mais frequente correspondeu às inflamações nos tendões flexor digital superficial e flexor digital profundo, observadas tanto nos membros pélvicos quanto nos torácicos (39%). Em segundo lugar, foram os problemas gastrointestinais, com 16,9%, em sua maioria (53%) devido à compactação da digesta no cólon maior, principalmente, na flexura pélvica. De acordo com Maranhão et al. (2006) e Oliveira et al. (2007), a sobrecarga articular e mudanças biomecânicas desencadeadas por desequilíbrios podais e flacidez de ligamentos, junto à alimentação inadequada e de má qualidade, contribuem para o desenvolvimento de lesões do sistema locomotor de equinos de tração. Tendinites e fraturas ósseas foram as principais injúrias diagnosticadas no sistema locomotor dos animais. Estudo realizado em 2007 com carroceiros e equídeos de tração, também em Uberlândia (OLIVEIRA et al., 2007), mostra que os principais componentes da dieta dos equinos de carroceiros eram farelo de trigo (100%), capim (93%) e palha de milho (73%). Sabese que há efeitos deletérios na ingestão excessiva do farelo de trigo (LEWIS, 2000) e a alta quantidade de fibras, presentes em alimentos como palha de milho, associada à falta de oferta de água, pode provocar a compactação estomacal ou mesmo do intestino delgado ou ceco, podendo ocorrer obstrução intestinal e cólica (PESCONI, 2000). Outro fator que pode influenciar a presença dos distúrbios gastrointestinais nos animais estudados é a baixa ingestão de água, que

Tabela 1. Valor médio, desvio padrão, valor máximo e valor mínimo de temperatura retal, frequência respiratória e frequência cardíaca dos equídeos de tração atendidos no HV-UFU (2011-2013) Temperatura Retal (ºC)

Sistema Locomotor Gastrointestinal Tegumentar Geniturinário Muscular Nervoso Oftálmico Exame clínico Total Valor de referência*

Média 37,7 ± 1,4 38,6 ± 0,6 38,1 ± 0,4 38,3 ± 0,3 38,6 ± 0,2 38,5 ± 1,0 38,1 ± 0,1 38,0 ± 0,7 38,3 ± 0,8 37,5 – 38,5

Max3 – Min4 39,4 – 35,7 39,0 – 37,7 38,5 – 37,5 38,6 – 37,9 39,0 – 38,4 39,5 – 36,7 38,2 – 38,0 38,7 – 36,8 39,5 – 36,8

Frequência Cardíaca (bpm)1

Média 42 ± 17 68 ± 12 47 ± 6 44 ± 11 64 ± 3 50 ± 9 41 ± 1 51 ± 12 50 ± 12 28 – 40

Max3 – Min4 80 - 36 76 - 48 52 - 40 62 - 36 68 - 60 68 - 46 42 - 40 72 - 36 80 - 36

Notas: 1 Batimentos por minuto; 2Movimentos por minuto; 3Máximo; 4Mínimo; *Feitosa (2008).

74

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

Frequência Respiratória (mpm)2

Média 22 ± 16 60 ± 19 27 ± 3 31 ± 4 30 ± 6 32 ± 5 20 ± 0 34 ± 15 30 ± 13 10 - 25

Max3 – Min4 58 - 16 65 - 24 32 - 24 38 - 28 32 - 20 40 - 28 20 - 20 52 - 12 65 - 12


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Tabela 2. Casuística dos principais sistemas acometidos dos equídeos de tração atendidos no HV-UFU (2011-2013)

Sistema

Casuística

Locomotor

32,3% (42/130)

Gastrointestinal

16,9% (22/130)

Tegumentar

11,5% (15/130)

Geniturinário

4,6% (6/130)

Muscular

4,6% (6/130)

Nervoso

3,9% (5/130)

Oftálmico

1,5% (2/130)

Exame clínico*

23,1% (30/130)

Total

de ovos que os animais eliminam no ambiente. Essa alta prevalência reflete claramente os resultados encontrados por Oliveira et al. (2007), pois 93% dos carroceiros entrevistados em Uberlândia realizavam a administração de vermífugo para seus animais e somente 46% realizavam a desverminação duas vezes ao ano. Entretanto, esses procedimentos, de acordo com Andrade (1983), não são suficientes para manter níveis baixos de infestação por endoparasitos. Verificou-se que 24,6% (32/130) dos animais estavam com as mucosas (oral e ocular) pálidas, 6,9%

130

(9/130), com mucosas congestas e 68,5% (89/130)

Nota: *Feldman et al. (2000).

apresentaram mucosas normais. Apenas 3,8% dos animais foram diagnosticados com hemoparasitose, sendo encontrado o Anaplasma phagocytophylum. somente é oferecida no intervalo entre fretes e nem

Provavelmente, a prevalência de animais infectados

sempre nas condições adequadas de higiene e tem-

deve ser maior, pois a leitura de esfregaços sanguíneos

peratura (OLIVEIRA et al., 2007). Esses fatores podem

corados apresenta limitações, especialmente durante

justificar a incidência de patologias relacionadas ao

infecções crônicas, quando a baixa parasitemia pode

sistema gastrointestinal.

resultar em grande número de diagnósticos falsos ne-

No exame coproparasitológico, foram encontrados,

gativos (DE WALL, 1992; BÖSE, 1995).

principalmente, Strongiloides sp. e Parascaris sp. Em

Na avaliação dos hemogramas, notou-se que 47,7%

47,7% dos animais (n = 62), foram achados mais de

(50/130) dos equídeos estavam anêmicos. Essa anemia

350 OPG. Esses valores não são exatos em relação à

pode estar relacionada tanto à deficiência de nutrientes

quantidade de parasitas que infestam o animal (UHLIN-

provocada por alimentação de baixa qualidade quan-

GER, 1993), porém, Fausto et al. (2010) consideram re-

to ao parasitismo apresentado (ANDRADE et al., 2009).

sultados acima de 350 OPG altos, devido à quantidade

Também pode-se observar na Tabela 2 que, em média,

Tabela 3. Valores médios, desvio padrão, valor máximo, valor mínimo e valores de referência dos hemogramas de equídeos de tração atendidos no HV-UFU (2011-2013)

Parâmetro Avaliado

Média

Desvio Padrão

Mínimo

Máximo

Valor de Referência*

Hemácia (106/mm³)

6,9

0,5

4,4

12,1

6,8 - 12,9

Hemoglobina (g/dl) Hematócrito (%)

10,2 32,2

1,0 3,6

5,8 17,6

22,0 62,5

11 – 019 32 – 53

Plaqueta (10³/mm³)

199,6

22,7

80,0

429,0

100 – 600

Leucócitos (10³/μL)

13,5

2,3

3,0

21,8

5 - 14,5

Não segmentados (10³/μL) Segmentados (10³/μL) Linfócitos (10³/μL) Eosinófilos (10³/μL) Basófilos (10³/μL) Monócitos (10³/μL)

0,5 6,9 3,3 5,2 0,6 0,4

0,4 1,7 5,5 0,3 0,2 0,2

0,0 0,1 0,5 0,0 0,0 0,0

7,6 20,1 21,2 43,2 0,5 0,9

0 - 0,1 2,26 - 8,58 1,5 - 7,7 0–1 0 - 0,29 0–1

Nota: *Feldman et al. (2000).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

75


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

a maioria dos valores do eritrograma está abaixo ou no

rência corresponde aos eosinófilos, corroborando o

limite inferior dos valores normais de referência.

alto parasitismo.

As alterações verificadas no leucograma estão, provavelmente, relacionadas às diferentes enfermidades

CONCLUSÃO

que cada animal apresentava no momento do atendi-

Os resultados evidenciam que grande parte dos

mento e colheita. Observou-se leucocitose em 20,8%

equídeos não está apta a realizar as tarefas atribuídas,

dos animais , além de leucopenia em 3,8%. A Tabela

pois apresenta alterações como anemia, leucocitose e

3 apresenta a média dos valores do hemograma e o

endoparasitismo elevado. Os proprietários precisam

único parâmetro avaliado acima dos valores de refe-

ser orientados quanto ao manejo geral e sanidade.

AUTORES Felipe Gonçalves Garcia Médico Veterinário CRMV-MG nº 12585 UFU felipe_g_garcia@hotmail.com

Paula Mara Ribeiro Troncha Médica Veterinária CRMV-MG nº 13252

Antonio Vicente Mundim Médico Veterinário CRMV-MG nº 1944 Nayara Resende Nasciutti Médica Veterinária CRMV-MG nº 10756

Carolina dos Anjos Médica Veterinária CRMV-MG nº 13674

Patricia Magalhães Oliveira Médica Veterinária CRMV-TO nº 1248 Cristovão Costa Gondim Graduando de Medicina Veterinária UFU

Mariana Barbosa Bisinoto Graduanda de Medicina Veterinária UFU João Paulo Elsen Saut Médico Veterinário CRMV-MG nº 11110 DSc, docente da UFU

referências

ANDRADE, R.L.F.S.; SOBRAL, J.C.; SILVA, K.M. Avaliação clínica, hematológica e parasitária em equinos de tração na cidade de Aracaju, Sergipe. Acta Veterinária Brasilica, v.3, n.3, p.138-142, 2009. ANDRADE, L.S. Fisiologia e Manejo da reprodução equina. Recife: Guanabara Koogan, 1983. 388p. BÖSE, R., JORGENSEN, W. K.; DALGLIESH, R. J. et al. Current state and future trends in the diagnosis of babesiosis. Veterinary Parasitology, v. 57,n. 1/3,p. 61-74, 1995. COLES, E.H. Patologia Clínica Veterinária. São Paulo: Manole, 1984. 566p. DE WALL, D.T. Equine piroplasmosis: A Review. British Veterinary Journal, v.148, n.1, p. 6-14, 1992. FAUSTO, D.A.; SILVA, L.S.; FRANÇA, L.M.G. Levantamento epidemiológico de verminoses em equinos de tração do município de São Luis de Montes Belos. In. Anais da IV Jornada e V Mostra da Faculdade de Medicina Veterinária, Rio Verde; 2010. p. 37-40. FEITOSA, F.L.F. Exame físico geral ou de rotina. In: FEITOSA, F.L.F. Semiologia veterinária – A arte do diagnóstico. São Paulo: Roca, 2008. p.77-102. FELDMAN, B.F.; ZINKL, J. G.; JAIN, N. C. (Ed) Schalm`s Veterinary Hematology. 5th ed., Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins, 2000. 1344p

76

GARCIA-NAVARRO, C.E.K. Manual de Hematologia Veterinária. 2ed. São Paulo: Editora Varela. 2005. 74p. LEWIS, L.D. Nutrição clínica equina: alimentação e cuidados. São Paulo: Roca, 2000. 710p. MATOS, M.S.; MATOS, P.F. Laboratório clínico médico-veterinário. Rio de Janeiro: Atheneu. 1988. 238p. MARANHÃO, R.P.A.; PAKHARES, M.S.; MELO, U.P. et al. Afecções mais frequentes do aparelho locomotor dos equídeos de tração no município de Belo Horizonte. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. v.58, n.1, p. 21-27, 2006. MESSER, N.T. The use of laboratory tests in equine practice. Veterinary Clinics of North America - Equine Practice, v. 11, n. 3, p. 345-50, 1995. NAVIAUX, J.L. Cavalos na Saúde e na Doença. 2ed. São Paulo: Roca, 1988. 285p. OLIVEIRA, L.M.; MARQUES, R.L.; NUNES, C.H. et al. Carroceiros e equídeos de tração: um problema sócio- ambiental. Rev. Cam. Geo, v.8, n.24, p.204216, 2007.

curso Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Federal de Uberlândia. REICHMANN, P. Projeto Carroceiro: 10 anos de atuação. Revista Estação, v.1, n.2, p.1-3, 2003. STASHAK, T.S.; HILL, C.; KLIMESHI, R. et al. Cuidados com os cascos e colocação de ferraduras para equilíbrio e integridade. In: STASHAK, T.S. Claudicação em equinos segundo Adams. 5º ed.São Paulo: Roca, 2006. p.10 SAVAGE, C.J.; LEWIS, L.D. Papel da nutrição no desenvolvimento e na doença musculoesquelética. In: STASHAK, T.S. Claudicação em eqüinos segundo Adams. 5º ed. São Paulo: Roca, 2006. p.339-361. SILVA-FILHO, J.M.; PALHARES, M.S.; MARANHÃO, R.P.A. et al. Manejo alimentar dos animais de tração da regional Pampulha – Belo Horizonte. In. 2º CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, Belo Horizonte, 2004. Anais ... Belo Horizonte, UFMG, 2004. p.34-37. SOUZA, M.F.A. Implicações para o bem-estar para equinos utilizados para tração de veículos. Revista Brasileira de Direito Animal, v.1, n.1, p.1-6, 2006..

PAZ, C.F.R.; PAGANELA J.C.; OLIVEIRA, D.P. et al. Padrão biométrico dos cavalos de tração da cidade de Pelotas no Rio Grande do Sul. Ciencia Animal Brasileira, v.14, n.2, p159-163, 2013

UHLINGER, C.A. Use of fecal egg count data in equine practice. Comp. contin. Educ. Pract. Vet. v.15, n.5, p.742-748, 1993.

PESCONI, I.P. Síndrome cólica: incidência e causas em equinos de tração em Uberlândia, MG. Uberlândia, 2000. 33 p. Trabalho de conclusão de

URQUHART, G.M.; ARMOUR, J.; DUNCAN, J.L. et al. Parasitologia Veterinária. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1998. 273p.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

CONDUTA PÓS-CIRÚRGICA NO CARCINOMA FOLICULAR TIREOIDIANO EM CÃO AFTER SURGERY TREATMENT IN DOG THYROID FOLLICULAR CARCINOMA RESUMO

As neoplasias de tireoide, como o carcinoma folicular, representam a minoria dos casos tumorais caninos. Cães com idade média de nove anos, de raças de grande porte, são os mais predispostos e a remoção cirúrgica com subsequente reposição hormonal é o tratamento recomendado. Avalia-se um cão, macho, sem raça definida, de seis anos de idade, portador de uma massa em região cervical ventral, de 10 cm de diâmetro, aderida, firme, não ulcerada, indolor à palpação e com evolução clínica de 15 dias. Nos exames físico, hematológicos e bioquímicos séricos, as únicas alterações evidenciadas foram redução leve nos valores do T4 livre e aumento do hormônio estimulante tireoidiano (TSH). O exame citológico sugeriu carcinoma folicular tireoidiano, confirmado após a tiroidectomia unilateral. A suplementação constou de levotiroxina, cálcio e vitamina D. O cão apresentou sinais neurológicos uma semana após um segundo procedimento cirúrgico, necessitando de aumento das doses de levotiroxina e cálcio. Atualmente, ele se encontra em reposição hormonal, suplementação de cálcio oral e acompanhamentos clínico e laboratorial. Palavras-chave: reposição hormonal, neoplasia tireoidiana, tireoide.

ABSTRACT

Cancers of the thyroid, such as follicular carcinoma, represent the minority of canine tumor cases. Big-sized breeds are the most predisposed, affecting dogs with an average age of nine years, and having surgical removal as the recommended treatment with hormone replacement. A six-year-old dog, male mongrel, with a mass of 10 cm in diameter, attached, firm, not ulcerated in the ventral cervical region, painless to palpation, and with a clinical course of 15 days. On physical examination, hematological and serum biochemical examinations have not shown significant changes, but showed lower values of free T4 and increased thyroid stimulating hormone (TSH). The cytology of the nodule suggested thyroid follicular carcinoma. Supplementation was initiated with levothyroxine, calcium and vitamin D. However, the dog presented neurological signs one week after the second surgical procedure, with subsequent treatment and increase in the dosages of levothyroxine and oral calcium. Currently, the dog is under hormone replacement therapy and oral calcium supplementation, not presenting clinical and laboratorial. Keywords: hormonal reposition, thyroid cancer, thyroid.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

77


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

vimento rápido, com caráter de malignidade de 87,5%

As neoplasias de tireoide representam cerca de

e propensão à invasão de estruturas vizinhas, incluin-

1,2% a 3,7% do total de neoplasias caninas (MORRIS;

do traqueia, laringe, veias jugulares e bainha carotídea

DOBSON, 2007) e de 10% a 15% dos tumores de ca-

(BIRCHARD; ROESEL, 1981). Aproximadamente, 67% a

beça e pescoço (KONDO et al., 2006). No entanto, 90%

75% dos carcinomas de tireoide são unilaterais e 25%

desses tumores são carcinomas, determinando mani-

a 33%, bilaterais, com desenvolvido simultâneo ou

festações clínicas (CAPEN, 2002). Kondo et al. (2006)

por meio de metástases contralaterais (CARVER et al.,

relatam que o carcinoma folicular corresponde a cerca

1995). Nos cães, a maioria das neoplasias tireoidianas

de 10% das neoplasias de tireoide na medicina, com a

é maligna e não funcional, mas alguns casos podem

descrição histopatológica baseada na presença de células foliculares bem diferenciadas, ausentes de alterações nucleares, disposição celular em arranjo folicular, sólido ou trabecular. Além disso, os carcinomas foliculares são encapsulados, com infiltração capsular e/ou invasão vascular, o que faz a sua distinção dos adenomas foliculares (FERREIRA et al., 2004). A idade média dos cães acometidos por carcinoma tireoidiano está entre nove e dez anos (PETERSON, 2003) e os riscos de desenvolvimento aumentam com a idade. Haley et al.) citam aumento de 1,1% ao ano em cães com idade entre oito e 12 anos e 4% entre os de idade de 12 a 15 anos. Quando comparados aos dados relatados na medicina referente à evolução e incidência das neoplasias de tireoide, os descritos em cães e gatos não estão bem estabelecidos (LEAV et al., 1976), provavelmente em virtude de o diagnóstico ser realizado, muitas vezes, na necropsia, impossibilitando determinar a evolução tumoral (SCARLETT, 1994). As raças mais predisponentes são boxer, beagle e golden retriever (SCARLETT, 1994). Autores relatam que a prevalência dos carcinomas em fêmeas pode estar relacionada ao fato da expressão tumoral frente aos receptores hormonais de estrógeno e progestero-

mo secundário (HERRING et al., 2002, DALECK et al., 2009), em virtude de as células neoplásicas produzirem ou destruírem o parênquima glandular (OGILVIE, 1996; HERRING et al., 2002). Clinicamente, os carcinomas de tireoide são caracterizados, inicialmente, por massa de consistência firme palpável em região cervical, não dolorosa, circunscrita, móvel ou difusa, infiltrativa e fixa (PETERSON, 2003). Os sinais observados são disfagia, perda de peso, tosse, disfonia, dispneia, edema subcutâneo em região de cabeça e pescoço, sinais resultantes da compressão das vias aéreas superiores ou metástases pulmonares, além do comprometimento vascular e retorno venoso local (CARVER et al., 1995; GRUBOR; HAYNES, 2005). Ademais, cabe ressaltar que a maioria dos cães não apresenta sinais clínicos de função anormal da tireoide (HARARI et al., 1986; HERRING et al., 2002). O diagnóstico do carcinoma tireoidiano é baseado no exame histopatológico obtido por biopsia da glândula, com a citologia podendo auxiliar em alguns casos. Entretanto, a resenha, exame físico, hemograma e perfil bioquímico sérico, urinálise, dosagens hormonais tireoidianas, radiografias torácicas e avaliação dos

na dispostos no epitélio da tireoide (CAPEN, 2002; DA-

linfonodos regionais nunca devem ser descartados

LECK et al., 2009). Quanto à predisposição sexual, não

(HARARI et al., 1986). O estadiamento tumoral deve

existem dados descritos (SCARLETT, 1994).

ser realizado de acordo com a Organização Mundial da

As neoplasias da tireoide, normalmente, estão loca-

78

desenvolver sinais clínicos de hipo ou hipertireoidis-

Saúde (OMS) (OWEN, 1980).

lizadas na região ventral do pescoço e caudalmente

O tratamento de eleição é a remoção cirúrgica, as-

à laringe, embora possam se desenvolver na tireoide

sociada com quimioterapia à base de doxorrubicina,

vestigial, tecido presente na base da língua que se

isolada ou associada, com ciclofosfamida e vincristina

estende até a base do coração (GIRARD et al., 1999;

(HARARI et al., 1986). A terapia à base de iodo radioa-

KENT, 2002). Os carcinomas apresentam um desenvol-

tivo também é recomendada (LURYE; BEHREND, 2001).

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

A sobrevida de cães com carcinomas da tiroide móveis, tratados à base de tiroidectomia, é aproximadamente de dois a três anos. Os carcinomas fixos, com o desenvolvimento metastático, permitem três a dez meses de sobrevida (WORTH et al., 2005; LIPTAK, 2007). Este artigo descreve a evolução e as alterações clínicas e laboratoriais evidenciadas desde o momento do diagnóstico e as intercorrências clínicas durante o período de avaliação, após tiroidectomia em um cão portador de carcinoma folicular bilateral, em acompanhamento de 12 meses. RELATO DE CASO Um cão de seis anos, sem raça definida, de pelagem preta e pesando 28 kg foi encaminhado para atendimento por apresentar aumento de volume na região cervical, com evolução de 15 dias. Ao exame físico, na região cervical, foi identificado um aumento de volume ventral lateral, medindo aproximadamente 10 cm de diâmetro, aderido a planos profundos, não ulcerado e ausente de dor à palpação. Outros parâmetros clínicos estavam dentro dos padrões de normalidade, suspeitando-se de uma neoplasia tireoidiana. Na sequência, foi realizada Citologia Aspirativa com Agulha Fina (CAAF), com resultado de carcinoma folicular tireoidiano (Figura 1) e indicação de tiroidectomia unilateral. Inicialmente, realizou-se a avaliação pré-anestésica do animal, com a mensuração dos valores de hemograma e bioquímicos séricos, além da dosagem hormonal do T4 livre por diálise e hormônio estimulante tireoidiano (TSH). Os resultados demonstraram aumento discreto na creatinina sérica (2,5 mg/dL) e leve redução

de T4 livre por diálise (0,80 ng/gl) e TSH (0,95 ng/gl), sugerindo um quadro de hipotireoidismo secundário (THRALL et al., 2007). A tiroidectomia unilateral foi realizada, sem intercorrências cirúrgicas e anestésicas, e permitiu a inspeção e biopsia da tireoide contralateral. No pós-operatório imediato, foram prescritos omeprazol (1,0 mg/kg/ SID/10 dias), cloridrato de tramadol (4,0 mg/kg/BID/5 dias), meloxicam (0,1 mg/kg/SID/3 dias) e cefalexina (25,0 mg/kg/BID/10 dias), por via oral (VO), além de pomada cicatrizante (Vetagloss®) na lesão cirúrgica. O exame macroscópico da peça cirúrgica, que mediu 6,5 cm no comprimento maior, evidenciou coloração acastanhada e áreas mais escuras entremeadas no centro da lesão (Figura 1A). Na microscopia, a maior parte da lesão possuía padrão sólido, densamente celular, organizado na forma de aglomerados e de cordões separados por estroma de tecido conjuntivo. As células tinham morfologia que variava de arredondada a ovalada, com citoplasma que ora continha granulação eosinofílica, ora não. Os núcleos variaram de redondos a elípticos, de cromatina finamente granular, com presença de nucléolo único e evidente. Figuras de mitose eram raras. A massa era ricamente vascularizada e no interior de um vaso sanguíneo observou-se êmbolo de células neoplásicas (Figura 1B). No interior da neoplasia de forma multifocal, foi observada a presença de estruturas histológicas semelhantes a folículos tireoidianos, que continham coloide no seu interior. O diagnóstico foi carcinoma folicular do tipo sólido. Aos 15 dias de pós-cirúrgico, foram removidos os pontos aplicados e realizado novo perfil bioquímico renal, evidenciando normalização dos valores da creatinina sérica, e nova tiroidectomia, agora contralateral, em virtude do comprometimento da glândula, foi marcada 40 dias após o primeiro procedimento. Os exames pré-operatórios (Tabelas 1 e 2) evidenciaram ausência de alterações no hemograma e bioquímica sérica, mas permanência na redução dos valores do T4 livre (0,94 ng/gl), aumento do TSH (1,39 ng/gl),

Figura 1. Aspectos macros de microscópicos: (a) massa removida da região cervical do cão, com a glândula tireoide, evidenciando aspecto heterogêneo da lesão; (b) fotomicrografia da neoplasia, evidenciando presença do êmbolo neoplásico no interior do vaso (seta) - HE, 40X

hipercalcemia (18,8 mg/dL) e hipercalemia sérica (5,95 mmol/L). Decidiu-se por iniciar a terapia de suplementação, 15 dias prévios à cirurgia, com levotiroxina

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

79


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

(20 µg/kg/BID/VO). Após a cirurgia, foram instituídos

ca, com a melhora clínica gradativa, nas primeiras 24

levotiroxina, cálcio (25 mg/kg/SID) e vitamina D (13 UI/

horas, e posterior remissão dos sinais clínicos. Assim,

kg/SID), todos por VO.

a terapia clínica foi mantida à base de levotiroxina, au-

Sete dias após a segunda cirurgia, foram evidencia-

mentando a dosagem para 40,0 µg/kg/BID/VO, com a

dos aumento dos valores de T4 livre, redução do TSH

suplementação de cálcio oral (50 mg/kg/VO) e corre-

e hipocalcemia sérica (5,7 mg/dL). Entretanto, aos 10

ção da dieta, indicando a utilização de rações enrique-

dias o animal começou a apresentar sinais clínicos de

cidas com cálcio e vitamina D. Avaliações realizadas

incoordenação motora, andar em círculos, tremores e

quatro meses após não identificaram alterações clíni-

episódios convulsivos, quadro clínico compatível com

cas ou laboratoriais.

o hipotireoidismo, hipocalcemia e hipoglicemia secun-

Um ano após a tiroidectomia bilateral, o cão foi ava-

dária à tiroidectomia bilateral, confirmado por exames

liado e apresentou bom escore corporal e ausência de

laboratoriais. Imediatamente, iniciou-se a terapia clíni-

sinais clínicos compatíveis com hipotireoidismo se-

ca emergencial à base de solução glicosada a 5% (10

cundário. Exames laboratoriais evidenciaram hipocal-

mL/kg/hora), diazepan (0,5 mg/kg) e propofol (4,0 mg/

cemia e hiperfosfatemia sérica e aumento nos valores

kg), endovenosos, associados à metoclopramida (0,5

de TSH, com manutenção dos valores de T4 livre, quan-

mg/kg) e cimetidina (10,0 mg/kg) por via subcutânea

do comparados aos anteriores (Tabela 2).

(SC) e gluconato de cálcio a 10% (0,2 mg/Kg) endo-

Como é possível o desenvolvimento da cardiomiopa-

venoso. Além disso, foi realizada a administração de

tia dilatada, secundária ao hipotireoidismo, foi realizada

levotiroxina (20 µg/kg/BID/VO) diluída em solução

uma avaliação cardiológica completa. Radiografias torá-

de cloreto de sódio a 0,9% por sondagem orogástri-

cicas, nas projeções lateral e ventrodorsal, demonstra-

Tabela 1. Valores referentes à avaliação hematológica e bioquímica sérica de um cão portador de carcinoma folicular de tireoide bilateral, antes e após tiroidectomia bilateral

1ª CIRURGIA

2ª CIRURGIA

7 DIAS

Eritrócito (X106)

6,11 X 106

6,46 X 106

6,27 X 106

6,8

5,5 – 8,5 X 106

15,7 70,9

15,5 69,2

13,68 67,62

13,7 75,3

12 – 18 60 – 72

7,2

-----------

-----------

7,2

5,4 - 7,8

Plaquetas 1000x

11/campo

16/campo

16/campo

18/ campo

< 11/campo

Hematócrito (%) CHCM (%) Índice ictérico Leucócitos (p/mm³) Ureia (mg/dL) Creatinina (mg/dL) ALT (UI/L) FA (UI/L) Albumina (g/dL) Cálcio (mg/dL) Fósforo (mmol/L) Potássio (mmol/L)

43,3 36,3 2 9,6 X 103 2,5 10 -

45 34,7 2 9,1 X 103 19 1,5 73 18,8 5,9

42,4 32,26 2 10,5 X 103 21 1,8 57 1,18 5,7 -

45,8 29,9 __ 9,9 x 103 28 2,0 41 49 2,8 5,1 14,3 -

37 – 55 34 – 38

Hemoglobina (g/dL) VCM (fl) PPT (g/dL)

1 ANO

VALORES NORMALIDADE*

VARIÁVEL*

6 – 17 X 103 21,4-59,9 0,9-1,7 10-120 20-150 2,3 -3,3 9 – 11,2 2,8-6,1 3,9-5,65

Notas: VCM= volume corpuscular médio; CHCM= concentração de hemoglobina corpuscular média; PPT= proteína plasmática total; ALT= alaninoaminotransferase; FA=fosfatase alcalina; * THRALL et al., 2007.

80

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Tabela 2. Valores referentes à avaliação hematológica e bioquímica sérica de um cão portador de carcinoma folicular de tireoide bilateral, antes e após tiroidectomia bilateral

VARIÁVEl

BASAL

1ª CIRURGIA

2ª CIRURGIA

1 ANO

REFERÊNCIA*

T4 livre\diálise (ng/gl)

0,80

0,94

2,9

1,57

1,21-3,4

TSH (ng/gl)

0,95

1,39

0,03

1,09

0,1-0,45

Nota: * Thrall et al., (2007).

ram ausência de cardiomegalia e de lesões compatíveis com metástases pulmonares. No eletrocardiograma (ECG), predominou arritmia sinusal respiratória com frequência cardíacavariando entre 94 e 112 batimentos por minuto (bpm), já a ecodopplercardiografia bidimensional e modo-M evidenciaram a presença de hipertrofia do septo ventricular, aumento no Diâmetro Interno do Ventrículo Esquerdo (DIVE) e da relação AE/Ao (1,5), com fração de ejeção de 70% e fração de encurtamento de 33% do miocárdio, dentro dos padrões de normalidade (BOON, 1998). No estudo de Doppler espectral do fluxo transmitral, pode-se observar relação E:A da mitral de 1,08, Tempo de Relaxamento Isovolumétrico (TRIV) de 0,85 segundos e inversão na relação E:TRIV (0,94); nos demais fluxos valvulares, não se observaram alterações. No Doppler tecidual do miocárdio, verificou-se, nas velocidades do fluxo tecidual do ânulo parietal e septal da válvula mitral, a inversão na relação E, bem como no ânulo parietal da válvula tricúspide, resultados que sugerem a ocorrência de disfunção diastólica do ventrículo esquerdo e a ausência do comprometimento da função sistólica ventricular esquerda, esta comumente descrita no desenvolvimento da cardiomiopatia dilatada canina (MARTIN et al., 2009). DISCUSSÃO O aumento de volume cervical não determinou sinais clínicos de dispneia, disfagia ou mixedema, em virtude da ausência de compressão ou deslocamento esofágico e traqueal, bem como dos sinais clínicos de hipotireoidismo secundário (JOHNSON; PATERSON, 1981; GRUBOR; HAYNES, 2005). O carcinoma folicular de tireoide foi, inicialmente, identificado por CAAF e confirmado por histopatologia. Entretanto, Harari et al. (1986) descrevem que a CAAF não é o exame complementar mais indicado, pois não permite avaliar o grau de malignidade da neopla-

sia. A descrição histopatológica da biopsia cirúrgica da tireoide evidenciou alterações microscópicas semelhantes às descritas por Capen (2002) e Torres et al. (2002). As análises laboratoriais, que demonstraram hipocalcemia com hiperfosfatemia sérica, podem ser justificadas pela remoção concomitante da paratireoide nos procedimentos cirúrgicos, determinando redução da produção do paratormônio (PHT) e alteração doc learance renal de fosfato (BICHARD), necessitando da suplementação à base de cálcio oral, conforme recomendado por Sakorafas et al. (2005). Inicialmente, foi evidenciada ausência de sinais clínicos do hipotireoidismo, mesmo com a redução leve nos valores de T4 livre e TSH, previamente à primeira tiroidectomia, à semelhança do relatado por outros autores (GONZALEZ; SILVA, 2006; SCOTT-MONCRIEFF, 2007; TRAON et al., 2010) ao descrever que a maioria dos cães é assintomática para o hipotireoidismo secundário, mesmo com a presença da neoplasia tireoidiana. Os valores de TSH e T4 livre, após o primeiro procedimento, se apresentaram, respectivamente, aumentado e reduzido, justificando o estímulo do eixo hipotálamo-hipófise e a necessidade da realização da reposição hormonal, mesmo nos casos de remoção cirúrgica da tireoide (MCGRIFF et al., 2002). A quimioterapia estará indicada à época do procedimento cirúrgico ou na possibilidade de ocorrência de metástase, utilizando-se a doxorrubicina isolada ou associada à ciclofosfamida e vincristina (THEON et al., 2000; SLENSKY et al., 2003). Entretanto, a terapia não foi preconizada pela possível ausência de metástases e para evitar efeitos colaterais sistêmicos. A tiroidectomia bilateral foi realizada em dois procedimentos, pois a neoplasia se apresentava em ambas as glândulas, com mobilidade e ausência de invasão a tecidos adjacentes, o que favoreceu a excisão cirúrgica

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

81


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

completa. A mesma abordagem é sugerida por Harari et al. (1986). O prognóstico para os cães portadores de carcinomas malignos de tireoide é de bom a excelente quando o tratamento é apropriado (LIPTAK, 2007), com tempo de sobrevida de 20 a 36 meses, quando removidos completamente (KLEIN, 1995). A recorrência ou progressão dos tumores, posteriormente à tiroidectomia, é de 30% (KENT et al., 2002), com taxa de metástase de 40% (THEON et al., 2000). Para Capen (2002) e Carver et al. (1995), os carcinomas foliculares ou bem diferenciados apresentam alto r isco de recorrência. Após 12 meses, realizou-se avaliação cardiológica do cão pela possibilidade de desenvolvimento da cardiomiopatia dilatada secundária ao hipotireoidismo, originado do carcinoma folicular e da tiroidectomia bilateral. Segundo Panciera (2001), a redução do cálcio

sérico interfere na repolarização celular, devido à redução na atividade dos canais de cálcio celular, promovendo diminuição da contratilidade do miocárdio. Para Brito et al. (2003), o aparecimento da cardiomiopatia é também ocasionado pela hipocalcemia sérica, pois o cálcio ionizado é essencial na regulação da função contrátil miocárdica. Já Scott-Moncrieff (2007) relata que cães portadores de hipotireoidismo podem apresentar alterações cardiovasculares, em virtude da presença de receptores hormonais tireoidianos no miocárdio, afetando diretamente a função sistólica miocárdica. CONCLUSÃO A tiroidectomia bilateral, associada à suplementação hormonal e de cálcio, é eficiente para tratamento e controle de cão portador de carcinoma de tireoide folicular, mas depende de avaliação continuada e minuciosa.

AUTORES Rafael Cerântola Siqueira Médico Veterinário CRMV-SP nº 31571 Universidade de Marília (Unimar) rafasika@hotmail.com Inajara Nakamura Hirota Médica Veterinária CRMV-SP nº 29860 Unimar

Agatha de Graaf Corrêa Graduanda em Medicina Veterinária Unimar

Cláudia Fonseca Repetti Médica Veterinária CRMV-SP nº 12144 DSc, Unimar

Alessandre Hataka Médica Veterinária CRMV-SP nº 9423 DSc, Unimar

Camila Dias Porto Médica Veterinária CRMV-PR nº 9433 MSC, Unimar

Rodrigo Prevedello Franco Médico Veterinário CRMV-SP nº 15737 DSc, Unimar

referências BARBER, L.G. Thyroid tumors in dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice v.37, n.7, p.55-773, 2007. BICHARD, S.J. Thyroidectomy in the cat. Clinical Techniques in Small Animal Practice v.21, n.1, p.29-33, 2006. BIRCHARD, S.J.; ROESEL, O.F. Neoplasia of the thyroid gland in the dogs. A retrospective study of 16 cases. Journal of the American Animal Hospital Association v.17, p.369-372, 1981. BRITO, D.; PERDRO, M.; BORDALO, A. et al. Miocardiopatia dilatada por dupla disfunção endócrina. Revista Portuguesa de Cardiologia v.22, n.3, p.377-387.2003. CALVERT, C.J.G.; MEDLEAU, L.; PICKUS, C. et al. Thyroidstimulating hormone stimulation tests in cardiomyopathic Doberman pinschers: a retrospective study. Journal of Veterinary Internal Medicine v.12, n.5, p.343-348, 1998.

82

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

CAPEN, C.C. Tumors of the endocrine gland. In______: MEUTEN, D.J. Tumours in domestic animals. 4.ed. Ames, Iowa: Iowa State, 2002. Cap.13, p.607-696. CARVER, J.R.; KAPATKIN, A.; PATNAIK, A.K. A comparison of medullary thyroid carcinoma and thyroid adenocarcinoma in dogs: a retrospective study of 38 cases. Veterinary Surgery v.24, n.4, p.315-319, 1995. DALECK, C.R.; NARDI, A.B.; RODASKY, S. Oncologia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2009. 612p. FLOOD, J.A.; HOOVER, J.P. Improvement in myocardial dysfunction in a hypothyroid dog. The Canadian Veterinary Journal v.50, n.8, p.828-834, 2009. FEITOSA, F.L.F. Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico. 2ed. São Paulo: Roca, 2008.


SUPLEMENTO CIENTÍFICO

FERREIRA, R.R.; COLOMÉ, L.M.; FERREIRA, M.P. et al. Adenocarcinoma de tireóide em um cão – relato de caso. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da Unipar v.7, n.2, p.35, 2004.

OGILVIE, G.K. Tumors of the endocrine system. In: WITHROW, S.J.; MacEWEN, E.G. Small animal clinical oncology. 2ed., Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1996. cap.21, p.316-46.

FOSSUM, T.W.; HULSE, D.A.; JOHNSON, A.L. et al. Cirurgia de Pequenos Animais. 3.ed, Ed. Roca; 2005.

OWEN, L.N. TNM classification of tumours in domestic animals. Geneva (IL): World Health Organization. 1980, p.51-52.

GIRARD, C.; HELIE, P.; ODI, M. Intrapericardial neoplasia in dogs. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation v.11, p.73-78, 1999.

PANCIERA, D.L. Conditions associated with canine hypothyroidism. The Veterinary Clinics of North. AmericaSmall Animal Practice v.31, n.5, p.935950, 2001.

GONZÁLEZ, F.H.D.; SILVA, S.C. Introdução à bioquímica clínica veterinária, 2ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2006. p.299-308. GRUBOR, B.; HAYNES, J.S. Thyroid carcinosarcoma in a dog. Veterinary Pathology v.42, n.1, p.84-87, 2005. HALEY, P.J.; HAHN, F.F.; MUGGEBURG, B.A. et al. Thyroid neoplasms in a colony of beagle dogs. Veterinary Pathology v.26, n.5, p.438-441, 1989. HARARI, J.; PATTERSON, J.S.; ROSENTHAL, R.C. Clinical and pathologic features of thyroid tumors in 26 dogs. Journal of the American Veterinary Medical Aassociation v.188, n.10, p.1160-1164, 1986. HERRING, E.S.; SMITH, M.M.; ROBERTSON, J.L. Lymph node staging of oral and maxillofacial neoplasms in 31 dogs and cats. Journal of Veterinary Dentistry v.19, p.122-126, 2002. JOHNSON, J.A.; PATTERSON, A.M. Multifocal myxedema and mixed thyroid neoplasm in a dog. Veterinary Pathology v.18, n.1, p.13-20, 1981. KENT, M.S.; GRIFFEY, S.M.; VERSTRAETE, F.J.M. et al. Computer-assisted image analysis of neovascularization in thyroid neoplasms from dogs. American Journal of Veterinary Research v.63, n.3, p.363-369, 2002. KLEIN, M.K.; POWERS, B.E.; WITHROW, S.J. et al. Treatment of thyroid carcinoma in dogs by surgical resection alone: 20 cases (1981-1989). American Veterinary Medical Association v.206, n.7, p.1007-1009, 1995. KONDO, T.; EZZAT, S.; ASA, S.L. Pathogenetic mechanisms in thyroid follicularcell neoplasia. Nature Reviews Cancer v.6, p.92-306, 2006. LEAV, I., SCHILLER, A.L., RIJNBERK, A. et al. Adenomas and carcinomas of the canine and feline thyroid. American Journal of Pathology v.83, n.1, p.61-93, 1976. LIPTAK, J.M. Canine Thyroid Carcinoma. Clinical Techniques in Small Animal Pratice v.22, n.2, p.75-81, 2007. LURYE, J.C.; BEHREND, E.N. Endocrine tumors. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice v.31, n.5, p.1083-1110, 2001. MARTIN, M.W.S.; STAFFORD J.M.J.; CELONA, B. Canine dilated cardiomyopathy: a retrospective study of signalment, presentation and clinical findings in 369 cases. Journal of Small Animal Practice v.50, n.1, p.23-29, 2009. MCGIFF, N.J.; CSAKO, G.; GOURGIOTIS, L. et al. Effects of thyroid hormone suppression therapy on adverse clinical outcomes in thyroid cancer. Annals of Medicine v.34, n.7-8, p.554-564, 2002. MORRIS, J.; DOBSON, J. Oncologia de pequenos animais. São Paulo: Roca; 2007, 300p. NELSON , R.W.; COUTO, G.C. Medicina interna de pequenos animais. 4 ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan. 2010. 901p.

PETERSON, M.E. Doenças Tireoideanas. In: BIRCHARD, S.J.; SHERDING R.G. Manual Saunders. Clínica de pequenos animais. 2ed. São Paulo: Roca, 2003. p.270-274. PHILLIPS, D.; HARKIN, K. Hypothyroidism and myocardial failure in two Great Danes. Journal of the American Animal Hospital Association v.39, n.2, p.133-137, 2003. RODRIGUES, A.; MASUDA, E.K.; INKELMANN, M.A. et al. Carcinossarcoma tireoidiano em um cão. Ciência Rural v.37, n.4, p.1188-1191, 2007. SAKORAFAS, G.H.; STAFYLA, V.; BRAMIS, C. et al. Incidental parathyroidectomy during thyroid surgery: an underappreciated complication of thyroidectomy. World Journal of Surgery v.29, n.12, p.1539-1543, 2005. SCARLETT, J.M. Epidemiology of thyroid diseases of dogs and cats. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice v.24, n.3, p.477-486, 1994. SCOTT-MONCRIEFF, C.J. Clinical signs and concurrent diseases of hypothyroidism in dogs and cats. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice v.37, n.4, p.709-722, 2007. SLENSKY, K. A.; VOLK, S.W.; SCHWARTZ, T. et al. Acute severe hemorrhage secondary to arterial invasion in a dog with thyroid carcinoma. Journal of the American Veterinary Medical Association v.223, n.5, p.649-653, 2003. SULLIVAN, M.; COX, F.; PEAD, M.J. et al. Thyroid tumours in the dog. Journal of Small Animal Practice v.28, p.505–12, 1987. THEON, A.P.; MARKS, S.L.; FELDMAN, E.S. et al. Prognostic factors and patterns of treatment failure in dogs with unresectable differentiated thyroid carcinomas treated with megavoltage irradiation. Journal of the American Veterinary Medical Association v.216, n.11, p.1775-1779, 2000. THRALL, M.A.; BAKER, D.C.; CAMPBELL, T.W. et al. Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária. São Paulo: Roca, 2007. TORRES, O.J.M.; CALDAS, L.R.A.; PALACIO, R.L. et al. Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) em nódulo da tireóide: análise de 61 casos. Revista Brasileira de Cancerologia v.48, n.4, p.511-515, 2002. TRAON, G.L.; BRENNAN, S.F.; BURGAUD, S. et al. Clinical evaluation of a novel liquid formulation of L-thyroxine for once daily treatment of dogs with hypothyroidism. Journal of Veterinary Internal Medicine v.23, n.1, p.43-49, 2009. VON SANDERSLEBEN, J.; HÄNICHEN, T. Tumors of the thyroid gland. Bulletin of World Health Organization v.50, p.35-42, 1974. WORTH, A.T., ZUBER, R.M., HOCKIN, M. Radioiodide (131I) therapy for the treatment of canine thyroid carcinoma. Australian Veterinary Journal v.83, p.08-14, 2005.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

83


opinião

Marcos Fernandes Médico Veterinário homeopata, CRMV-SP nº 7287, mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, psicanalista e comunicador (programa “Saúde Animal”) da Rádio Mundial (95,7 FM)

Vamos enfrentar o Dr. Google? Estamos vivendo um momento de grandes transfor-

Cria-se uma nova figura profissional acessória

mações, quebras de paradigmas, inovações tecnológicas,

ao Médico Veterinário, um consultor ou um profis-

mudança de hábitos e costumes e grande parte dessas mu-

sional virtual que está diuturnamente à disposição

danças tem a internet como pano de fundo.

para sanar quaisquer dúvidas.

Na era da informação, surge a grande ferramenta de busca mundial, conhecida como Google. É ali que simplesmente você encontra tudo! Tudo mesmo! O sucesso de audiência do Dr. Google (área de saúde)

84

Conhecer bem esse novo cenário de trabalho que se apresenta é a chave para que possamos fazer com que o Dr. Google atue a nosso favor, minimizando seus efeitos negativos e tendo-o como um aliado.

atravessa sem pedir licença a relação médico-paciente

Atualmente, a grande maioria dos clientes dos

(Médicos, Dentistas, Fisioterapeutas etc.) e, no caso do Mé-

consultórios veterinários se vale dessa ferramenta

dico Veterinário a relação médico-cliente.

antes ou depois da realização do atendimento do

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015


seu animal, apresentando uma fala que é clássica: “Doutor, antes de marcar a consulta com o senhor, eu vi no Google que meu animal pode ter esta ou aquela doença e que o tratamento pode ser este ou aquele medicamento”. A questão é que a população leiga não tem como compreender as informações ali contidas de forma clara e objetiva, criando, na maioria das vezes, uma condição de importância para o problema aquém ou além do que deveria ter em relação à situação real. É comum chegarem aos consultórios proprietários de animais transtornados, porque tiveram acesso às informações inadequadas de uma doença que, muitas vezes, nem tinha gravidade. O grande perigo é o inverso, ou seja, donos de pets podem deixar de levar seu animal ao Médico Veterinário por terem encontrado na internet os sintomas que ele apresentava e associarem com doenças que julgam pouco importantes. Quando a consulta é no Google geral, o problema está relacionado à qualidade da informação, pois a internet aceita tudo! Quando a informação é obtida no Google Acadêmico (publicações científicas), a situação é pior, pois, ainda que as informa-

ções sejam confiáveis, são pouco compreendidas e dão ao leitor uma sensação de falso saber, ideal para aquele tutor narcisista que gosta de “testar” o profissional. Estou convicto de que a melhor forma de nos relacionarmos com esse cliente cada vez mais informado (ainda que mal) está em frequentarmos faculdades de Medicina Veterinária bem estruturadas, com qualidade de ensino adequada, e nos tornarmos profissionais especializados, com capacidade de atender às demandas do mercado e em constante atualização. Utilizo o Dr. Google a meu favor da seguinte forma: Assim que fecho o diagnóstico do meu paciente e prescrevo meu tratamento, eu procuro explicar com detalhes o que está acontecendo com o animal (especialmente com relação ao prognóstico e à cura ou não, em caso de doença crônica). Na sequência, finalizando minhas explicações, escrevo no verso da receita o nome da doença (por exemplo, dermatite atópica em cães) e solicito para que o cliente vá ao Dr. Google (já com as palavras-chave corretas), que lhe permitirá ler textos a respeito, ou seja, dando vazão à sua pulsão ansiosa de querer saber sobre o que está acontecendo com seu “filho” (assim considerado muitas vezes o animal de estimação). Finalizando, sugiro aos colegas Médicos Veterinários que passem a escrever mais e a publicar na internet textos relacionados à sua área de atuação. Dessa forma, o internauta terá acesso a uma maior quantidade de informações de qualidade, pois pior que não ter a informação é tê-la por meio de fonte despreparada para fornecê-la.

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

85


Publicações

Doença de Chagas canina no semiárido paraibano Almir Pereira de Souza, Vanessa Lira de Santana e Rodrigo de Souza Mendes Paco Editorial contato@editorialpaco.com.br

Medicina interna de pequenos animais 5ª edição Richard W. Nelson e C. Guillermo Couto Elsevier www.elsevier.com.br

Cirurgia de pequenos animais 4ª edição Theresa Welch Fossum Roca www.grupogen.com.br

Videocirurgia em pequenos animais Maurício Veloso Brun Roca www.grupogen.com.br

86

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 64 Janeiro a Março 2015

O livro será útil tanto para estudantes de Medicina Veterinária quanto de Ciências Biológicas e da Saúde, que encontrarão nele não só dados obtidos com o resultado das pesquisas, mas também uma rica revisão de literatura acerca da temática central, a doença de Chagas. São investigados os achados clínicos da doença e as questões epidemiológicas envolvidas na permanência do agente etiológico na região. A nova edição fornece um passo a passo minucioso de cada procedimento, acompanhado de novas fotografias, algoritmos, ilustrações coloridas, quadros, representações esquemáticas e tabelas. O manejo da insuficiência cardíaca e a doença mitral; o colapso da traqueia e doenças infecciosas respiratórias complexas; a diabetes; recomendações alimentares para a obesidade; diagnóstico e abordagem clínica dos distúrbios convulsivos; e novos diagnósticos e tratamentos em cães e gatos com câncer são exemplos de temas retratados de forma inteiramente atualizada. A obra apresenta procedimentos básicos, bem como cirurgias mais avançadas. Novos autores oferecem diferentes perspectivas e discutem os avanços em áreas fundamentais, como métodos de imagem, medicina regenerativa, cirurgia minimamente invasiva e neurologia. Um novo capítulo sobre exame neurológico fornece uma base sólida em neuroanatomia, eletrodiagnóstico e física, além de princípios básicos da Imagem por Ressonância Magnética (IRM). Outro capítulo sobre medicina regenerativa fornece informações atuais sobre a pesquisa com células-tronco. Videocirurgia em pequenos animais preenche uma lacuna na literatura sobre o tema, apresentando um rico conteúdo dividido em 25 capítulos, com descrições e ilustrações detalhadas. A experiência do autor e dos colaboradores está refletida na qualidade do texto e na seleção dos temas que compõem este livro, garantindo à comunidade médico-veterinária uma excelente fonte de informação sobre essa especialidade, que representa mais que o futuro da cirurgia veterinária: a realidade de oferecer resoluções cirúrgicas com menos desconforto, dor e lesão aos animais de companhia.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.