Revista CHK - Ed 11

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solidariedade Eles decidiram agir e estão construindo um mundo melhor com as próprias mãos

Ano 2 | Edição 11 | Distribuição Gratuita


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ÍNDICE Revista CHK, edição 11

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Veja mais

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Corrente do bem

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Amar é estar vivo

30 O bem em meu nome 40

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Coração de mãe

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Alegria compartilhada

36 Caminhando juntos 46 Klabinho

Eles decidiram agir e estão construindo um mundo melhor

Mãe de primeira viagem, Acácia montou um grupo de apoio para ajudar outras mães

A luta de Cristina pelos animais traz valorosas lições sobre a vida

Conversamos com voluntários do NABEM e da Mãe Florinda, que ajudam famílias carentes

Rodolfo perdeu a filha e decidiu homenageá-la criando parques acessíveis

Educar crianças com autismo exige dedicação, entrega e principalmente amor

Movendo montanhas

Há quinze anos João vive para ajudar pessoas na região da Cracolândia

O vento que derrubou a árvore de Klabinho também trouxe a semente da cidadania

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Guia de Serviços


CARTA AO LEITOR

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ue o mundo está cheio de problemas a gente já sabe. Por isso, nesta edição, decidimos mudar um pouco o ponto de vista e dedicar todas as nossas páginas de matérias a pessoas que saíram do lugar comum da reclamação e que empenham-se em construir um mundo melhor com as próprias mãos. Pessoas comuns, como eu e você, que encontraram na ajuda ao próximo um meio de enfrentar as adversidades e de melhorar a vida de outras pessoas. Histórias como a de Rudi Fischer, idealizador do Anna Laura Parques para Todos, que constrói voluntariamente parques acessíveis onde crianças com e sem deficiência podem brincar juntas. Ou a do João “Boca”, da Missão Cena, que há mais de 15 anos ajuda pessoas em situação de risco na região conhecida como Cracolândia. Ou ainda a luta da Cristina Freire com a 4 Cão, ONG que auxilia animais abandonados em São Paulo, mas que tem muito a ensinar para qualquer ser humano. Conversamos também com voluntários da Obra Assistencial Mãe Florinda e do Núcleo Assistencial Bezerra de Menezes, que ajudam centenas de famílias com alimentos para o corpo e para a alma. Ainda nesta edição, o grupo Somos Mães de Primeira Viagem, uma iniciativa da jornalista e empresária Acácia Lima, em que mães, gestantes e tentantes compartilham as dores e delícias da maternidade, e o trabalho da pedagoga Adriana Ramos com o Centro Lumi, dedicado à educação de crianças com autismo. Que todas essas histórias possam inspirá-lo a entrar nessa corrente do bem. Boa leitura!

Publisher Daniel Moral Editorial/ Gráfico

Direção de Arte: Propaga Design Jornalista: Vitor Ranieri Revisor de texto: Fanny Almeida

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Roteiro: Denise Ortega Direção de Arte: Tomaz Edson Criação e Produção: Gibiosfera

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Daniel Moral daniel.moral@chk.com.br




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Eles decidiram agir e est찾o construindo um mundo melhor com as pr처prias m찾os

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esmond Tutu, arcebispo sul-africano e notável ativista dos direitos humanos, disse certa vez que “a sensação vivida por aquele que ajuda ao próximo consegue ser ainda maior do que a sentida por aquele que é ajudado”. Se a mensagem soar familiar, pode ser porque tais ideias estão também na base de muitas religiões e filosofias praticadas por gente das mais diferentes épocas e culturas no mundo todo, do amor ao próximo do cristianismo, ao ubuntu do povo africano, conceito que simboliza a coletividade, generosidade e cortesia entre as pessoas. Mesmo em tempos em que o consumidor substitui o cidadão e o coletivo é preterido pelo individual, essas ideias insistem em não sair de moda. Mais que isso: vividas na prática, transformam e dão sentido à vida de muitas pessoas. Entre as mais diferentes acepções da palavra, pode-se reunir tais idealizações sob o termo solidariedade. A expressão já é batida: assim como o amor, a igualdade, a liberdade e a paz, a solidariedade é um tema bastante utilizado pelo marketing, da política às campanhas de multinacionais. Mas é preciso discernir. Além do que significa no senso comum – geralmente restrito a doações financeiras, por exemplo –, o tema é discutido desde os tempos clássicos da filosofia grega e pode gerar reflexões profundas sobre o modo como enxergamos o mundo e nossos semelhantes.

Entre os principais significados, podemos destacar três linhas de pensamento: a solidariedade como conceito emocional, moral e metafísico. O primeiro está associado ao sentimento de compaixão por aquele que sofre, que inspira ações de caridade, por exemplo. O segundo está mais próximo da solidariedade organizacional e as leis que buscam garantir direitos e igualdade social, ou mesmo o dever essencial para com o próximo, explícito em sociedades com menor divisão do trabalho e maior interdependência, como tribos, tropas ou até times de futebol – para um vencer, todos precisam vencer. A visão metafísica de solidariedade está mais ligada ao ser do que ao fazer. Tem a ver com perceber a conexão, defendida pelas filosofias orientais antigas aos mais modernos estudos científicos, que há entre a parte e o todo e entre o todo e a parte. Ou seja: em um universo baseado em relações, desde elétrons até o movimento de planetas, é um fato real que tudo está conectado e que todas as pessoas fazem parte do mesmo sistema. As três visões, complementares, apontam a mesma direção: a superação do individualismo e a plena convivência com o outro como caminho para a plenitude. Por isso, nesta edição da CHK, decidimos ir atrás de pessoas que estão vivendo a solidariedade na prática e construindo um mundo melhor com as próprias mãos. Todas as histórias nas páginas a seguir reunidas falam de pessoas comuns, como eu e você, que encontraram no amor ao próximo alívio e sentido para viver. Ainda há tempo!




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coração de mãe

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cácia Lima foi mãe tarde, após os 40 anos. Quando Mariana nasceu, a jornalista e empresária bem estabelecida na carreira, se sentiu à flor da pele com a maternidade. “Um turbilhão de sentimentos por qual toda mãe passa”, afirma. Não demorou para Acácia perceber que esse era um problema comum entre as mulheres que viviam o mesmo momento – entre amigas próximas, encontrou um caso de depressão pós-parto e outro de ansiedade extrema. Os relatos ouvidos e sua própria experiência apontavam uma grande angústia em situações em que essas novas mães eram pressionadas a resolver problemas pelos quais nunca haviam passado, sob o risco de falharem e não serem “boas mães”. Além do desafio natural de serem mães pela primeira vez, precisavam lidar com incontáveis cobranças que vinham de todos os lados. A volta ao trabalho, o emagrecimento, o casamento,

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mil conselhos sobre como deveriam criar seus filhos, o afastamento dos amigos e compromissos sociais. “Além do julgamento dos outros, acontece de a mãe internalizar esse sentimento de culpa, o que torna a maternidade por vezes dolorosa. Compreensão e respeito são importantes nesse momento, para criar um ambiente que facilite o processo e não traga mais pressão”, afirma. Assim surgiu a ideia de criar um grupo que reunisse mães na mesma situação, para que essas compartilhassem suas histórias, trocassem dicas, se ouvissem e se sentissem amparadas. Há pouco mais de um ano nasceu o Somos Mães de Primeira Viagem, um grupo fechado criado no Facebook que rapidamente alcançou a marca de 800 pessoas entre mães, gestantes e tentantes. “Grupos de apoio entre mães são ricos demais, pois a troca vai muito além de dicas e informações sobre o universo da maternidade. As mães têm muitas dúvidas sobre tudo, produtos, atitudes, escolhas, e ter um universo que traga diversas informações torna a experiência mais leve. É muito importante saber que você não é a única passando por determinada situação ou encontrar um apoio de quem entende exatamente o que você está vivendo”, afirma Simone Tafner Moraes, mãe, moradora da Chácara Klabin e participante do grupo.

A delícia de ser mãe de primeira viagem é a descoberta do amor Mais do que ajudar outras mães, o grupo serviu para a própria Acácia lidar com sua maternidade. “A delícia de ser mãe de primeira viagem é a descoberta do amor. Tira o chão da gente e ao mesmo tempo dá uma força muito grande. A mulher descobre que ela não sabe nada, mas que ela pode tudo. Nessa hora, acho que o que une as mães é a solidariedade. Saber que a gente combina, na dor e na alegria. São experiências diferentes, mas a dor e alegria são as mesmas e ambas são enriquecedoras”, conta. “Para mim e para outras mães com quem conversei, o grupo ajudou bastante em construir um ambiente livre de julgamentos, sem imposição de regras e capaz de recuperar um pouco da leveza da maternidade”, completa. O sucesso da iniciativa incentivou Acácia a não parar por aí. “Nós sentimos a necessidade de expandir o grupo, que atualmente é restrito apenas para mães. Estamos agora lançando uma plataforma virtual e um aplicativo para ampliar ainda mais esse universo, com respaldo médico e de profissionais especializados para discutir temas como a UTI neonatal, auxílio para as

tentantes e grávidas e cuidados com os recém-nascidos, além de chat para as participantes conversarem entre si. A ideia é ser um espaço para que as mães aprendam, compartilhem, descubram e vivam cada vez mais intensamente o universo tão encantador de ser mãe”, comemora. A fanpage, também com o mesmo nome, já passa de 15 mil seguidores. Além do Somos Mães de Primeira Viagem, a jornalista prepara o lançamento da ONG Caminho de Mãe, que terá como objetivo auxiliar mães de baixa renda, tentantes e grávidas, sendo uma ponte entre profissionais, marcas e empresas no auxílio a mulheres carentes que estão no caminho da maternidade. Perguntada sobre os motivos de continuar com a iniciativa, Acácia não tem dúvidas. “Ajudar outras mães se tornou primordial pra mim. Em primeiro lugar por gratidão, não só pela ajuda que recebi, mas por ter conseguido engravidar depois dos 40 anos e ter tido uma filha saudável, mesmo contra as estatísticas para esses casos. Além disso, hoje tenho certeza de que uma mãe feliz gera um filho feliz. Então é uma forma de também fazer do mundo um lugar melhor”.




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Amar é estar vivo

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á um conhecido ensinamento de Dalai Lama, mestre budista tibetano, que diz: “Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”. Não é preciso ir tão longe para confirmar a veracidade dessas palavras: cinco minutos de conversa com Cristina Freire podem ensinar o mesmo. Cris, como prefere, é conhecida por seu trabalho à frente da 4Cão, organização sem fins lucrativos que luta ativamente para mudar a história de animais em situação de

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abandono. Sua contribuição para o mundo, entretanto, vai além dos milhares de cães salvos pelo projeto. O ativismo de Cristina pela vida é sua grande mensagem, capaz de transformar também a história das pessoas. Há quatro anos a publicitária foi diagnosticada com esclerose múltipla, uma doença crônica do sistema nervoso central que afeta o cérebro e a medula espinhal e que pode interferir no controle de funções como caminhar, enxergar e falar. Há dois anos, Cristina se tornou cadeirante. Na mesma época, suas duas cachorras, Gaya e Cacau, faleceram. O fim, porém, deu lugar a um novo começo. Procurando um cão para adotar, encon-


conta com a ajuda de pessoas que decidem apadrinhar trou em um abrigo o pitbull Snow. “Assim que vi seu olhar cães abandonados e arcam com os custos da castração de abandono, profundamente deprimido, não tive dúvidas (em torno de R$60). em levá-lo comigo”, conta. Outra situação frequente para a 4Cão é o resgate de Além da adoção, ao ver tantos cachorros em más conanimais em más condições. “Uma vez fizemos uma interdições, Cristina sentiu que precisava fazer algo para ajudar venção em Tremembé, em uma casa onde uma mulher aqueles animais. Na mesma semana começou a trabalhar havia falecido e deixado para a mãe, uma senhora já de voluntariamente no abrigo. “Por causa da doença, precisei idade, cerca de 20 cães criados a vida inteira em caixas sair da publicidade. Decidi então que ia trabalhar com todas de transporte. A cena era horrível. Muitos estavam atroas minhas forças para salvar a vida daqueles e de outros fiados, por causa do confinamento. Outros apresentacães. Por um lado, foi um jeito de me sentir viva e útil. Ao vam tumores e outras doenças. Nós conseguimos fazer o mesmo tempo, despertou em mim uma necessidade urresgate de alguns deles e submetê-los a cirurgias. Infelizgente de agir. Além de sentir que era uma obrigação moral, mente, alguns não resistiram. Para os que ainda residem não havia e não há até hoje uma iniciativa do Estado que no local, nós fazemos doações mensais de ração para ampare animais em situação de abandono. Escolhi assumir ajudar a dona”, conta. a responsabilidade”, afirma. Além dos desafios inerentes ao trabalho, Cristina precisa A ajuda institucionalizada, porém, logo trouxe conflitos. adaptar suas atividades às dificuldades impostas pela sua “Presenciei coisas que não eram corretas, como desvio de saúde. Mas isso está longe de ser motivo de lamentação. ração e coisas do tipo, e achei melhor sair”. Mas a causa “Eu faço o máximo que estava longe de enfraqueposso. Divido meu temcer na vida de Cristina. Não tenho tempo para ficar po entre resgates aos Assim, em 2012 surgiu finais de semana e nos a 4Cão, reunindo voparada me lamentando. Viver outros dias faço tudo luntários para promover é agir, é estar em movimento! que consigo pelo commutirões de banho, castraputador. O importante é ção, vacinação, campanhas fazer, essa é a lição que de arrecadação de ração e aprendi. Uma noite eu fui dormir normalmente e acordei cobertores, construção e reforma em abrigos e casas de quinze dias depois na UTI. Não tenho tempo para ficar paprotetores independentes, além de fornecer auxílio médirada me lamentando. Viver é agir, é estar em movimento!”, co-veterinário a custo zero ou valores solidários. “Nós atuaensina. “Se você consegue mexer um dedo, mexa um dedo. mos na linha de frente dessa luta, dedicando nosso tempo Se você for capaz apenas de sussurrar, sussurre o mais alto e esforço para ajudar animais que são praticamente invisíque puder”. veis para o resto das pessoas”. Perguntada sobre o que a faz continuar, Cristina se emoEm pouco mais de dois anos, a ONG já ajudou milhares ciona. “Às vezes uma pequena atitude pode mudar comde cães com suas atividades. Uma delas é investir na caspletamente a vida de uma criatura, seja ela um animal ou tração de animais de rua, para tentar diminuir a reproduuma pessoa. E isso é o que me traz satisfação e bem-estar. ção descontrolada que causa a superpopulação e só coloca Toda vez que ajudo alguém, sinto que é uma vitória. Não mais animais em condições de abandono. Para isso, a 4Cão importam as dificuldades, eu jamais me rendi e tenho cerconta até com método próprio de castração, desenvolvido teza que estou recebendo tudo de volta”, conclui. Que exispor um professor de farmacologia veterinária visando o ta uma Cristina em cada um de nós. mínimo de dor possível aos cães. Em muitos casos a ONG




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Alegria compartilhada

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mento com as pessoas tem me ensiisele Doho sempre procurou nado muito, especialmente as crianças. uma oportunidade para fazer Elas são meu primeiro pensamento ao a diferença na vida das pesacordar”, completa. soas. No ano passado, uma amiga lhe Mãe Florinda, que dá nome à ONG, apresentou o trabalho da Obra Assisfoi benzedeira na cidade de Casa Brantencial Mãe Florinda, que tem ajudaca, interior de São Paulo. Agradecidas, do centenas de famílias na região da as pessoas que a procuravam retribuFreguesia do Ó há mais de três décaíam as orações com alimentos, que a das. “Há algum tempo já colaborava senhora repassava para pessoas mais com instituições, fazendo doações de necessitadas alimentos quando que ela. Após surgia a oportuniÉ uma troca sua morte, seu dade, mas sentia constante, visando neto, João Baque ainda havia tista de Souza uma lacuna”. a evolução Filho, decidiu A resposta, conta, de todos como continuar com veio com o envolviseres humanos a missão solidámento mais próxiria. Atualmente, mo e pessoal com a Obra ajuda 160 pessoas – divididas a instituição. “Deixou de ser uma ajuda em 36 famílias – em situação de misésimplesmente financeira e virou uma ria, com alimentos, roupas, utensílios doação do meu tempo, do meu carinho de higiene pessoal e para casa, cobere amor. E foi isso que acabou me mostores, material escolar para as crianças, trando o sentido maior de participar do enxoval completo para os bebês das trabalho”, diz a gestora de marketing, gestantes. Ao mesmo tempo, oferece que há um ano assumiu voluntariamenoficinas e palestras para os adultos, aute a comunicação da Obra. “O envolvi-

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las de Judô e desenho para os mais novos, além de atendimento médico e odontológico para os participantes. “É um processo de capacitação dessas pessoas como cidadãos e cidadãs, até que elas alcancem condições de caminhar sozinhas”, afirma Michele Neregato, a amiga que levou Gisele até a instituição. Ainda segundo Michele, a transformação que o trabalho produz pode ser sentida tanto pelas famílias ajudadas, quanto pelos voluntários. “São realidades muito difíceis e conhecê-las de perto tem um impacto muito grande no peso que dou para os meus problemas. Aprendi a ser grata por um prato de arroz e feijão, por exemplo. Há problemas muito mais reais do que as nossas preocupações comuns do dia a dia”, explica. “É uma troca constante, visan-

do a evolução de todos como seres humanos. Ninguém é tratado como coitado. O pleno exercício do amor traz esse sentimento de igualdade entre as pessoas”, afirma Marilene Simão Kehdi, psicóloga e diretora – ao lado de seu marido, João Batista – da Obra Assistencial Mãe Florinda. Marilene é uma dessas vidas transformadas. O que começou como trabalho voluntário se transformou em carreira. “Ajudar as pessoas na Mãe Florinda me motivou a estudar psicologia, trabalho que exerço atualmente com especialização em atendimento clínico. Depois da faculdade, vieram as pós-graduações em Psicossomática e em Psicopatologia, Psicofarmacologia e Saúde Mental, e a decisão de me tornar escritora. Hoje estou no meu sétimo livro, todos eles pensados

para ajudar o leitor a encontrar equilíbrio emocional e uma vida mais feliz”, conta. Mas essa não é a maior realização para a psicóloga. “O que realmente me faz feliz é ver vidas sendo salvas. Crianças, por exemplo, que chegam até a ONG e apresentam um comportamento agressivo, desconfiado, muitas vezes com histórico de maus tratos, e, aos poucos, são tocadas pelo amor dos voluntários e acabam sendo muito transformadas. Com certeza essas crianças serão adultos muito diferentes graças ao apoio dessas pessoas”, acredita. A afirmação não é à toa. “Certa vez, o João estava andando na rua, quando foi parado por um jovem de aproximadamente uns 20 anos. Ele parecia muito animado e começou a contar sua história. Disse que frequentou a Obra Assistencial Mãe Florinda desde os cinco anos de idade e que lembrava da alegria da mãe e da avó quando recebiam as cestas básicas. Contou então que agora ele estava se formando engenheiro químico e que as cestas doadas não só garantiram a saúde da família, mas com o dinheiro economizado ele pôde comprar os livros que usou para estudar. Disse ainda que na Obra ele aprendeu o valor da família e que trazia isso com ele até hoje. Esse tipo de história faz a gente enxergar que a nossa caminhada está valendo a pena”, conta.


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Caminho de esperança

Andrea Tarazona começou a frequentar o Núcleo Assistencial Bezerra de Menezes, na Chácara Klabin, em 1990. Convidada pelo marido, que já participava das atividades do Bezerra, a psicóloga a princípio assistia palestras e comparecia aos eventos. Após o nascimento dos dois filhos, se interessou pelo trabalho social mantido pela casa e em 1998 se tornou voluntária. “Desde a adolescência já participava de campanhas beneficentes. Conheci o trabalho que a instituição fazia na região de Cananeia, uma das mais pobres do Estado de São Paulo, e decidi participar. No começo, era a única atividade que realizava como voluntária, indo a Cananeia uma vez ao mês. Logo depois comecei a me envolver também com as atividades da unidade em São Paulo”, lembra. Quando Andrea conheceu o Bezerra de Menezes, a organização sem fins lucrativos já tinha mais de uma década. A fundação aconteceu no dia 6 de dezembro de 1979, por um grupo liderado pelo Sr. Geraldo Belletti Britto, em um sobrado na Rua Pelotas, Vila Mariana. Três anos depois, o Núcleo Assistencial Bezerra de Menezes receberia da Prefeitura a concessão de uso do terreno na Av. Prefeito Fábio Prado, onde está até hoje. Desde o começo, o objetivo da instituição é auxiliar pessoas carentes em suas necessidades, sejam elas sociais, financeiras ou emocionais. De lá pra cá o trabalho não parou de crescer. Atualmente são cerca de 300 famílias cadastradas (São Paulo e Cananeia) que recebem cestas básicas mensalmente e orientação familiar. Além dessas, quase 900 pessoas frequentam o Bezerra semanalmente, participando das atividades e palestras oferecidas pelo Núcleo. “Cada pessoa precisa de um tipo diferente de assistência. Há situações urgentes em que, antes de qualquer coisa, aquela família precisa de alimento. Outras pessoas estão carentes de um ambiente onde possam refletir sobre o atual momento de suas vidas e, aos poucos, encontrar novas alternativas para resolver seus conflitos. O trabalho

dos voluntários dedica-se a prestar apoio nas duas situações”, afirma Andrea. E tem dado certo. Todo mês o Bezerra de Menezes arrecada em média 4,5 toneladas de alimentos, além das campanhas sazonais, como a de Natal, que presenteia mais de 2.000 crianças carentes com roupas e brinquedos novos. “Para esses meninos e meninas, o Natal começa em novembro, quando as doações da campanha serão, muitas vezes, o úni-

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co presente que eles irão receber. Mais do que um brinquedo ou uma roupa, o contato com os voluntários desperta nessas crianças um sentimento de gratidão e de amor também. Quando elas recebem os presentes, elas cantam, beijam, abraçam e não desgrudam do Papai Noel nem por um minuto. A resposta do trabalho está no olhar desses pequeninos”, conta. Ao mesmo tempo, a procura pelas atividades no Bezerra está sempre em alta. Destaque para a criação do Centro de Convivência, que está completando um ano, e que oferece gratuitamente atividades como ioga, meditação, artesanato, dança de salão, aulas de culinária, informática e dança circular. “Antes de abrirmos já havia fila de espera. Havia uma demanda grande de pessoas carentes dessas atividades sociais e ocupacionais. Recebemos senhoras que superaram a solidão e agora estão aprendendo como lidar com o computador para conversarem com um neto que mora longe, realizando pesquisas via internet. Recebemos também outras que redescobriram o próprio corpo de uma maneira mais saudável após começarem a participar da ioga ou das danças”, comemora. Ambos os trabalhos contribuem para o surgimento de um terceiro tipo de auxílio prestado aos frequentadores, segundo a psicóloga. “Quando essa pessoa começa a se transformar e se sentir mais feliz, que é a filosofia da casa, a chance é grande de que ela também multiplique essas ações em favor

dos outros. E isso tem um grande poder de transformação: sair de si mesmo e identificar-se com a necessidade do outro, mobilizando o que estiver ao seu alcance para ajudar ao próximo. Essa é uma porta de entrada para o voluntariado”. Atualmente, o Bezerra conta com mais de 400 voluntários, com as mais diversas funções dentro da organização. “Existe o cuidado de encaminhar o voluntário a uma atividade com a qual ele se identifique e acompanhá-lo para que se sinta realizado naquilo que faz. Todos que desenvolvem uma atividade voluntária na casa podem colaborar em forma de auxílio material (como sócio mantenedor, com doações para as campanhas, prestigiando os eventos e bazares) e oferecendo seu tempo, dedicação e compromisso, doando aquilo que transcende o material”, explica Andrea, que hoje é diretora da área de Assistência Social - Campanhas, no Bezerra. “Batalhamos para que a casa funcione com toda sua estrutura, para que as atividades se realizem e para atingirmos nossas metas. Ao mesmo tempo, é uma imensa satisfação ver a evolução daqueles que nos procuram. Quanto mais caminharmos nesse sentido, mais poderemos evoluir como pessoas e, mesmo que por alguns instantes, sentirmos o gosto de viver o pleno amor ao próximo”, conclui.






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O bem em meu nome

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nna Laura Petlik Fischer nasceu no dia 12 de junho de 2008 para mudar a vida de muita gente. A começar por seus pais, Rodolfo e Claudia. A primeira filha trouxe ao casal um novo sentido para viver. Quem ama como pais e mães? E se o amor é algo que aproxima do divino, quem poderia ensinar melhor do que uma doce e angelical criança? Alegre, astuta, curiosa e amada, foi, desde os seus primeiros dias, uma luz para sua família e amigos. Mas a vida funciona de um jeito que nenhum homem pode compreender. No dia 30 de maio de 2012, perto de completar 4 anos de

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idade, Anna Laura deixou este mundo. “Enterrar um filho é morrer em vida. Essa minha morte levou tempo. Morri lentamente dessa vida que Anna me havia dado”, diz Rodolfo no livro Em Nome de Anna, escrito após a partida de Anna Laura. É difícil pensar em algo que diminua a dor ou dê sentido a uma perda como a do casal. Mas Rudi, como é conhecido, encontraria em seus dias de desespero uma maneira de transformar a história de Anna Laura em uma iniciativa que ajudasse outras crianças. “Algumas semanas depois, em uma viagem a Israel em busca de conforto espiritual, aprendi pelos


preceitos do judaísmo que se você quiser elevar a alma de alguém que ama, deve fazer coisas boas em sua homenagem”, conta. A ideia nasceu em Jaffa, cidade próxima a Jerusalém, quando Rudi e Claudia viram um escorregador acessível para crianças com deficiência. Assim que voltaram a São Paulo, o executivo aposentado entrou em contato com a Prefeitura e com a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) para saber se havia na cidade parques que dispusessem daquela estrutura. Nascia o projeto Alpapato (Anna Laura Parques Para Todos), com o objetivo de construir parques acessíveis que possibilitassem que crianças típicas e deficientes brincassem juntas. O Anna Laura Parques Para Todos reuniu profissionais de destaque em suas áreas, de arquitetos a terapeutas, e começou a projetar a primeira construção do projeto, em uma unidade da AACD no Parque da Mooca, Zona Leste de São Paulo. Com o auxílio dos parceiros, que diminuíram ao máximo seus custos ou deixaram de cobrar, Rudi bancou a obra de seu próprio bolso e concluiu o primeiro parque acessível da cidade. Após esse, vieram mais dois, na APAE Araraquara e no Parque do Cordeiro, em Santo Amaro.

Com brinquedos criados especialmente pela equipe do Alpapato, os parques têm três focos de atuação: lazer, terapia e socialização. “Há uma cena comum em famílias que têm filhos com e sem deficiência. Enquanto um deles brinca, o outro fica apenas olhando. Os brinquedos acessíveis possibilitam essa interação. Além disso, possibilitam que as crianças trabalhem sua capacidade motora, cognitiva e sensorial brincando”, afirma Rudi. “Os parques também são utilizados pelas terapeutas da AACD para sessões ao ar livre com os alunos. O retorno tem sido ótimo”, completa. Com três parques finalizados, Rudi projeta a construção de mais 4 nos próximos anos, um no Rio de Janeiro, outro em Recife e em outras duas unidades da AACD ainda não definidas. Além disso, está nos planos do pai de Anna Laura uma ONG para auxiliar outros pais em luto. Parar não é uma opção para Rudi. “Minha motivação para continuar trabalhando com o projeto é a minha filha. Tudo o que faço é em homenagem a ela”. Transformada e unida, a família Fischer hoje tem dois filhos, Arthur e o mais novo, Felipe. Além desses, abriga outras centenas de irmãos e irmãs de Anna Laura, que em algum plano em comum, compartilham a mesma alegria.






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Caminhando juntos

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escobrir que um filho tem autismo costuma ser um processo doloroso e confuso para os pais. Por volta do primeiro ano completo, geralmente, os sintomas começam a ser notados no comportamento da criança, que apresenta atraso no desenvolvimento, principalmente na área da comunicação e socialização. Não há, porém, um exame laboratorial que ateste a síndrome, o que pode resultar em diferentes diagnósticos até que o autismo seja confirmado. Quando vem a notícia, os relatos são de profundo desespero e dificuldade em entender uma condição que não tem causa confirmada e para a qual não há cura. É o começo de uma jornada cheia de desafios, que exigirá empenho dos pais e do filho, mas que os recompensará com um amor puro e transformador.

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Parte essencial do processo é o acompanhamento especializado. “Há diferentes níveis dentro do espectro do autismo, mas na maioria dos casos o tratamento pode ajudar a pessoa a conquistar uma vida mais independente”, afirma Adriana Moral Ramos, Diretora Pedagógica do Centro Lumi, que atua com educação especial individualizada para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Dedicado a crianças que não conseguem acompanhar o ensino tradicional – muitas chegam ao Lumi com traumas pela não

adaptação –, o Centro desenvolve um trabalho que combina a parte educacional com a terapêutica, unindo professores e psicólogos em um programa educacional e clínico chamado TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children), que tem como base a teoria comportamental e psicolinguística. Pedagoga de formação, Adriana começou a trabalhar com crianças com autismo durante a faculdade, quando estagiou

na Escola Novos Caminhos, especializada em alunos dentro do espectro da síndrome. Após algum tempo, a escola precisou fechar as portas. “Os pais de um aluno que eu atendia, chamado Lucas Miluzzi, me pediram para não interromper o tratamento. Comecei então a atendê-lo a domicílio, mas percebemos que a casa não era o local ideal para o atendimento. Foi quando surgiu a ideia de montar uma sala perto de onde a família morava, em Itapecerica. Eu e a Estela Shimabukuro, que atuava como terapeuta do Lucas, encontramos uma casa no Butantã e começamos o Lumi, que leva as iniciais do nosso primeiro aluno”, conta.

Quando o Lumi começou, em 2002, enfrentou dificuldades naturais para se estabilizar. “Nós tínhamos duas cadeiras e uma mesa, e o dinheiro só dava para o aluguel da casa. O começo é difícil por ser uma área delicada, em que é preciso primeiro conquistar a confiança de pais e outros profissionais. Basta pensar que grande parte dos alunos não fala e não conseguiria comunicar aos pais qualquer tipo de maus tratos”, explica. “Além disso, desde aquela época, atender pessoas com autismo não era uma atividade de grande retorno financeiro, ao mesmo tempo que exige muita dedicação e entrega. A maioria está nessa área por paixão”, completa. No Lumi, as salas de aula são formadas, no máximo, com 5 alunos, agrupados de acordo com seu nível de desenvolvimento. As atividades vão desde artes e leitura até tarefas da vida


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cotidiana, como despir-se, fazer a ser cuidados conforme envelheAdriana também é mãe. Seu fihigiene pessoal, usar os talheres, cem, a família de uma criança com lho é uma criança típica, mas a reavarrer, lavar a louça e andar na autismo preocupa-se com o futuro lidade de famílias como as atendirua. Outra parte importante são e sobre como o filho irá se manter das pelo Lumi trouxe para sua vida as ações de integração entre aluquando não tiver mais os pais por um olhar diferente para aquilo que nos do Centro e crianças típicas de perto”, complementa. os outros pais consideram como outras escolas. “Acreditamos que a Por isso, Adriana ressalta a imnormal. “Me sinto agradecida por inclusão social acontece pelo conportância de que a relação da escada passo do desenvolvimento vívio da pessoa com necessidades cola com a família seja de apoio. dele. Além disso, aprendi a encaespeciais e a sociedade. Nessas “A síndrome mexe com a dinâmica rar as coisas de forma mais simatividades, promovemos situações da família inteira. O fato do autisples. Nós damos muito peso para em que o aluno conproblemas que não siga aprimorar o seu são tão complexos repertório, dando a assim”. A experiência Há diferentes níveis dentro ele condições para com o Lumi também do espectro do autismo, lidar com diversas inspirou Adriana a mas na maioria dos casos o situações sociais, criar, em 2010, o adquirindo assim Instituto Lumi, uma tratamento pode ajudar a maior autonomia e ONG criada em parpessoa a conquistar uma vida favorecendo a meceria com famílias mais independente lhora da qualidade de alunos e profisde vida”, afirma. sionais da área, que Além do ambiente oferece atendimenescolar, a pedagoga explica que a mo não apresentar nenhum traço tos gratuitos ou a valores simbólicasa do aluno é um elemento igualfísico, por exemplo, faz com que cos, além de eventos de conscienmente importante para seu desena sociedade julgue à primeira vistização e integração. volvimento. “A criança com autista um comportamento atípico da A motivação, para o trabalho e mo costuma ter dificuldade com criança como falta de educação para a missão que exerce fora da generalizações. Isso quer dizer, por correta por parte dos pais. Muitos escola, vem do crescimento dos exemplo, que para que ela faça em param de sair para evitar cons“meninos”, como os chama. O pricasa o suco de laranja que aprentrangimentos. Outros casais chemeiro aluno do Lumi é um deles. deu na escola, é preciso que os pais gam a se divorciar. Quem quiser “Costumo dizer que o Lucas é o transportem para casa o mesmo ajudar precisa primeiro acolher, fundador da nossa escola”, brinca. método ensinado pelos professoantes de dar conselhos. Quando “Nós o atendemos desde os 5 anos res. São coisas simples, mas que envolvemos a família no tratade idade e hoje ele está fazendo impactam diretamente o dia a dia mento, cada pequena vitória do faculdade de pedagogia, para trada família”, aponta. “Enquanto os filho representa um pouco mais balhar na área e ajudar outras pespais de crianças típicas vão deide força para os pais enfrentarem soas. Não há vitória maior do que xando de ser cuidadores e passam o processo”, declara. essa”, conta emocionada.

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Movendo montanhas

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ndar ao lado de João Boca pela região conhecida como Cracolândia faz o local parecer menos assustador. Por alguns minutos, não há “craqueiros”, “zumbis”, ou qualquer outro termo que desumanize ainda mais os moradores da área, mas pessoas chamadas pelo nome, de quem João sabe a história e oferece ajuda. Desde 1996, o pastor desenvolve trabalhos com a Missão Cena, que atende a população em situação de rua, crianças em situação de risco, travestis, garotas de programa e dependentes químicos. “Sem cobrar um centavo de ninguém”, faz questão de dizer. João Carlos Batista virou “Boca” quando deixou Campo Mourão, no Paraná, para vir para a região também conhecida como Boca do Lixo, onde hoje está a Cracolândia. “Comecei trabalhando com presídios, na pastoral carcerária. Na época conseguimos tirar da cadeia muita gente que já estava com o processo vencido fazia tempo, uma situação bastante comum até hoje”, lembra. A motivação de ajudar, conta, veio de família. “Não me lembro de nenhuma época da minha infância em que não tivesse algum morador de rua em casa, pessoas que a minha mãe ajudava”, conta João.

Quando chegou, a Missão Cena já existia há quase uma década, desde 1987. “Começou com apenas uma pessoa, distribuindo choco-

late quente para os moradores de rua da região. Depois começaram a acontecer os cultos em uma borracharia, até surgir a oportunidade do Cena ter uma sede, na General Osório”. No espaço, os voluntários ofereciam banho, comida e orientação para as pessoas resgatadas. O surgimento do nome Cena vem dessa época: Comunidade Evangélica Nova Aurora é uma referência ao endereço da Borracharia 5 Esquinas, na Rua Aurora à época. Em 1995, a Missão receberia a doação de 34 alqueires de terra na região de Juquitiba, onde nasceu a Fazenda Nova Aurora, que se tornou peça-chave para o processo de restauração dos dependentes que frequentavam o Cena. “Após triagem na sede, as pessoas que querem largar o vício são encaminhadas para a fazenda, onde têm a oportunidade de ficar longe do ambiente da droga e de praticar a laborterapia, que envolve trabalhar na terra, marcenaria, artesanato, além de conhecer a fundo a mensagem cristã”, explica. O tratamento dura em média nove meses e é bancado por doações de pessoas apoiadoras e igrejas. Além do resgate, restauração e reintegração dos dependentes químicos e pessoas em situação de risco, merece destaque outro trabalho do Cena: a prevenção. “Em 2009 nós pudemos criar a Creche Esperança, uma tentativa de quebrar esse ciclo de prostituição, drogas


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e pobreza, atingindo crianças que, na maioria dos casos, são familiares de dependentes químicos”. Localizada na antiga sede totalmente reformada – hoje o Cena conta com outra unidade para atendimento aos adultos, o Clube Esperança Nova Aurora, ou “Casa Amarela” –, a Creche oferece educação infantil, alimentação e atividades para cerca de 30 crianças. A estrutura impressiona e pode ser comparada a de muitas escolas de alto padrão. A luta é contínua e exige empenho. Para João, falta vontade do poder público para resolver o problema na região. Mas não acredita que o desinteresse seja uma exclusividade do alto escalão. “As pessoas daqui são invisíveis para o

resto da cidade. Mas não só elas. Pouca gente tem o hábito de dar bom dia para um gari que seja. Ninguém se importa com ninguém. Nós não suportamos lixo na rua, um carro velho abandonado na nossa porta ou um cocô de cachorro deixado na calçada, mas conseguimos conviver com um ser humano caído e largado à própria sorte”, declara. Para o pastor, fazer algo a respeito dá mais trabalho do que dar uma esmola ou assinar um cheque, mas traz um ganho imensurável. “Você aprende a valorizar o que tem e a minimizar problemas que na prática não são tão grandes assim. Acima de tudo, amar ao próximo traz sentido para a vida”, aconselha. O prêmio vem

com histórias como a de Sueli. Há 17 anos no projeto, a dona de um largo sorriso também foi dependente química e moradora da Cracolândia. Da época, carrega uma cicatriz que cruza o pescoço e o peito. “Uma navalhada durante uma briga, que não me matou por milímetros”, conta. “Antigamente eu tinha muita vergonha dessa marca e fazia de tudo para escondê-la. Hoje tenho alegria em saber que essa cicatriz simboliza o amor de Deus por mim, que me permitiu sobreviver e colocou o Cena no meu caminho”. Hoje Sueli é uma das missionárias do projeto e trabalha para salvar a vida de outras pessoas na situação que viveu por anos. Quem lê, pode se sentir protegido a situações extremas como as atendidas pelo Cena. Mas, para o pastor, “há muitas Cracolândias por aí na vida das pessoas, mesmo que não haja dependência química ou outra miséria visível”. Independente do problema, João acredita que há salvação. “Você é o maior patrimônio da humanidade”, diz a placa na entrada do Clube Esperança. Perder a esperança não está nos planos de João.

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Você vive dizendo que não consegue aprender inglês?

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possível que você nunca tenha pensado que, além das várias coisas que você pode fazer para facilitar seu aprendizado de inglês, cuidar do pensamento seja uma de crucial importância. Uma vez que que as palavras e ações são frutos do nosso pensamento, nada mais razoável que nos importemos com ele. É sabido que quando buscamos alcançar nossas metas, nossos pensamentos são também fundamentais para obtermos sucesso. Na prática, eles podem ser nossos aliados, quando positivos nos deixam mais confiantes, ou nossos potenciais inimigos, quando negativos podem nos impedir de alcançarmos melhorias e até mesmo de percebê-las. Aqueles pensamentos regulares, repetitivos, acabam se tornando nosso padrão de pensamento e poucas pessoas se dão conta da sua força

quando estão engajadas em aprender algo. Pensamentos positivos geram emoções positivas e acredita-se que isso deixe o cérebro mais “favorável” a novos aprendizados. A fala constante de que inglês é difícil ou que você tem muita dificuldade com inglês se transforma em hábito, impedindo você de perceber seus avanços. Não se trata de mentir ou não enxergar a realidade, trata-se de acreditar nos seus esforços e reconhecer algum progresso, por menor que ele seja. A mudança de hábitos, mesmo que seja de pensamentos, é reconhecidamente difícil, mas, segundo alguns estudiosos, uma boa alternativa é criarmos novos hábitos que venham a substituir os antigos. Há uma frase atribuída a Sócrates que diz: “Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é

um feito, mas um hábito”. Então, construa um hábito positivo, crie constantemente ideias de que você é capaz e cuide para que suas palavras estejam na mesma sintonia. Se entendermos também que o que fazemos é resultado de nossos pensamentos, somos, portanto, o que repetidamente pensamos. So take care of your thoughts and be careful about what you keep saying. It might have a significant impact on your learning process. ____________________________________________ Vânia F. Sampaio English Language Coach Vania.f.sampaio7@gmail.com (11) 98194-8789

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Modo de Preparo Coloque no liquidificador os ovos, o açúcar e óleo e bata até virar uma mistura homogênea. Coloque o restante dos ingredientes secos em uma vasilha, a farinha o bicarbonato e o fermento. Logo após despeje a mistura do liquidificador sobre eles. Coloque a banana a maçã e as nozes. Misture tudo e coloque em uma forma redonda de 22 cm de diâmetro. Asse por 40 minutos.

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