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Dua Busẽ

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Ikã Muru

Ikã Muru

u sou Manuel Vandique Kaxinawá, Dua Busẽ. Tenho 77 anos de idade. Dirijo, Bus como pajé, medicina tradicional, história como pajé, medicina tradicional, história de antigamente, cura com rapé e cantoria de nossa reza de tratamento, para qualquer paciente, quando está com problema de doença.

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Eu nasci no Seringal de São João de Tarauacá, município Kaxinawá. Moro no Jordão, na aldeia Coração da Floresta, acima do Belo Monte, mas pertenço a Aldeia Belo Monte. E daí, como já pesquisei bastante medicina, eu aprendi 352 espécies de medicina, e conhecer as doenças tradicionais como Kupia, que é o nome das doenças que nós indicamos, como nosso povo de antigamente dizia, nome de doenças, relacionando com animais. Como existem nomes de doenças de animais, existem nomes de plantas, de ervas medicinais.

E aí como eu entendi tudinho, pensei em publicar no Livro, pensando no futuro, presente para meus netos, para meus fi lhos, para meus genros, para meus parentes, aqueles que não sabem medicina, doença, como tratar.

Agora, hoje em dia, está fi cando assim liberto, como nós estamos publicando livro, com meu primo Agostinho Ikã Muru, para aqueles alunos entenderem, e aprenderem também, para não esquecerem nossa cultura, nossa medicina, nossas doenças, nossas histórias, nosso batismo, nosso Mariri, nosso Nixi Pae.

Eu pensei, no meu pensamento, aí peguei toda a lista dos nomes indígenas das medicinas para conhecer, e também aquelas espécies de medicina, que existem, dois, três nomes. Eu estou fazendo este primeiro livro, no começo, assim só com nomes de espécies, nomes de doenças estão completos; nomes de medicinas estão completos. E vai sair um livro indígena para essas crianças que estão crescendo agora, estão nascendo e crescendo, daqui por diante, de cada aldeia. Têm que aprender mesmo, entender, conhecer e tratar das doenças com as ervas.

Isso aqui é que nós estamos fazendo, com eu estou dizendo aqui, para o meu povo Kaxinawá aprender. Também estou vendo, este livro já está saindo, falta pegar aula dos pajés, conhecer como o pajé vai dar aula, ensinar a espécie de medicina, para os alunos.

Lá em casa, eu já trabalho com meus alunos, ensinado e praticando para eles, com meu genro, o professor José Maia, meu fi lho, que é agente de saúde, e Jose Dionísio, também Kaxinawá, nome indígena Maná. A gente sabe que tem que aprender mesmo. E a parteira também tem que aprender as seis espécies quais são. Quando a grávida sente, a parteira tem que fazer remédio. É importante as parteiras aprenderem também.

Bom, minha história é tudo isso que, no pensamento, pensei. A valência é que nós estamos aqui, fazendo essa ofi cina na aldeia São Joaquim, no nosso Centro de

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Memória. Aqueles pajés estão juntos, estão aproveitando. Aqueles que não vieram ou não foram avisados, este livro será distribuído para cada aldeia, para cada pajé ler junto com professor, agente de saúde e parteira. E os meninos também estão com vontade de aprender também isto que nós vamos ensinar.

Lá na minha aldeia, eu preciso de muitas coisas também, porque nós estamos lá há três anos. Tem o nome de Aldeia Coração da Floresta. E nossa escola indígena tem só nome, porque não está feita ainda. A escola se chama Aldeia Indígena Jardim da Floresta e tem um parque também. O parque tem 110 metros de comprimento e 70 de largura.

Eu já plantei 22 adequados, com 750 pés de medicina, com 32 nomes diferentes. Eu quero organizar mais, mas estou precisando de uma ajudazinha para eu ajuntar meu povo e organizar meu parque, junto com os pajés, com lideranças, professores e o agente de saúde.

Eu também botei nome do meu centro, dentro do meu parque. O nome do meu centro, parque, botei debaixo de um cumaruzão. Esse Cumaru tem força, tem energia e tem história também do Cumã. Eu botei nome de Centro Imagem Espírito da Floresta. É o nome do meu centro, lá onde a gente pesquisa medicina. Senta lá, toma rapé, vai contar medicina, como surgiu medicina, e também contar das doenças, como dão as doenças, como surgiram as doenças, isso tudo é que eu dou na aula dentro do meu parque, para meus fi lhos, para meu genro.

Eu também já fi z um parque lá na Novo Segredo, para o meu povo, para o meu genro, que ele pediu uma ajuda.

Eu também já marquei cá em baixo, na Três Fazendas, 80 metros de comprimento, 70 de largura. Levantei quatro adequados, plantando quatro espécies de medicinas, com 148 pés de medicinas plantados lá na Três Fazendas.

Cá mais embaixo, na Belo Monte, eu abri o Parque Belo Monte primeiro, e não estava dando certo, porque o

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gado estava invadindo, por isso que eu fui mais para cima. E lá que eu abri parque. E lá no Pai do Senhor também, onde mora o agente de saúde, que é o meu sobrinho.

Em cada aldeia, nós temos que levantar um parquezinho, onde o pajé, agente de saúde, parteira, vão plantar espécies de medicinas para fazerem tratamento.

Esse aí é o futuro que nós estamos pensando. É o que eu já pensava, futuro, passado e presente. E, hoje em dia, nós estamos no presente.

Isso é o que eu pensei, que este livro pode ajudar, até para plantar mais parques, para todos aqueles pajés, agentes de saúde... Porque tem 32 aldeias. Essas 32 aldeias têm pajé, professor, agente de saúde e parteira, por isso Agostinho está cuidando aqui da aldeia dele, com os fi lhos, com os netos, com os genros, com os parentes.

E lá onde eu estou, estamos precisando também. Já estou ensinando que cada aldeia tem que fazer assim. Como lá dentro de Tarauacá, Independẽncia, Altamira, Nova União, Flor da mata... Lá dentro de Tarauacá também existe pajé, existe professor, agente de saúde, parteira e tudo.

Eu pensei assim, no meu pensamento, o pajé técnico de medicina está aqui, sou eu. O pajé organizador é o Agostinho. Como vocês estão vendo, fi lmando e gravando as imagens do espírito que nasceu antes. Isso é que nós estamos vendo. Eu não sei se nosso povo vai querer assim mesmo, não sei como é que vai fi car, mas eles estão todos animados. Dizem que não conhecem doenças, medicinas, mas agora estou espraiando e plantando para crescer mais, muito mais, porque nós estamos nesse claro, que o sol, a lua e as estrelas estão conosco, e a terra, o vento, o mar, estão aí conosco, o nosso Yuxibu, tudo bem.

Eu também estou querendo que ninguém pare mais daqui para frente. Nós temos que publicar mais outros livros, outro livro de história, livro de cantoria, livro de nosso Pacarin, que é nossa reza. Tem muita coisa ainda para esses jovens fazerem.

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Acho que no livro fi ca mais guardado e mais seguro, porque a gente não pode andar daqui pracolá ensinando para os jovens. Eu posso andar apenas no dia marcado do mês, da semana, para dar aula. Eu quero levantar ao menos, não é uma escola, se diz Kupixawa, para eu ensinar meu povo dentro, que escola já é do professor, que vai ensinar saber ler e escrever. Tem que ter lugar do pajé, assim um espaço, num lugar macio, frio, para gente entender melhor, ensinar melhor...

Eu também já escrevi sobre dieta indígena, acho que está aí no meio do livro. Isso já é de outra parte. Regimento indígena para criança até de 18 anos. Para fazer dieta, para não comer fígado, não comer ovos de animais, do nambu, do jabuti, essas coisas. Depois de 18, 20 anos já pode comer fígado, para evitar estragar os dentes. Como não evitei, está tudo estragado. Se não evita, o menino, de repente, pega dor de dente, estraga dente, porque comeu o fígado, não fez dieta. É dieta assim, para não comer animal fi lhote. Só comer animal fi lhote aqueles velhinhas, velhinhos. Meu povo antigamente fazia isso. Fazendo dieta, meu povo vivia muitos anos sem adoecer. Vivia até 800 anos. Mas, hoje em dia, não fazendo dieta, os novos já pegam doença. Então, por isso que pensei em resgatar as origens de nossa cultura.

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