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30% DOS GASTOS MÉDICOS SÃO DESNECESSÁRIOS – E 20% DAS CIRURGIAS TAMBÉM No Réveillon de 2011, o carioca Márcio Alexandre Calhau, de 40 anos, sentiu uma forte dor nas costas. Procurou um médico, que o diagnosticou com hérnia de disco. Ele começou a tomar anti-inflamatórios e fazer fisioterapia. Quatro meses depois, não estava melhor, e o médico sugeriu um procedimento simples: injeções de corticoide na coluna. Marcio ficou dois dias no hospital e saiu com mais dores do que antes. No total, passou por oito intervenções cirúrgicas nos últimos quatro anos. Cada uma delas piorou um pouco seu estado. “Virou um pesadelo. Sinto dores agudas e constantes”, relata. Hoje, ele não trabalha e mal sai de casa. Seu caso ilustra um grande problema da medicina moderna: o excesso de procedimentos. Entre os médicos, essa tendência é chamada de “procedimentalização”. Ela é consequência de dois fatores. O primeiro é a própria evolução da medicina, que dispõe de cada vez mais ferramentas para tratar as pessoas (e as utiliza mais vezes). O outro é a estrutura do sistema de saúde, que coloca incentivos financeiros para que haja mais procedimentos (pois os hospitais são pagos de acordo com a quantidade deles, e não com a saúde do paciente). Uma investigação feita em 2012 pelo jornal USA Today, que analisou os prontuários de milhares de pessoas, apontou que até 20% das cirurgias realizadas são desnecessárias (principalmente em áreas como ortopedia e cardiologia). Segundo a American Board of Internal Medicine, que criou um projeto para coibir o excesso de operações, 30% dos gastos em saúde vão para procedimentos desnecessários. No Brasil, o hospital Albert Einstein criou o Projeto Coluna, em que médicos oferecem uma segunda opinião para pacientes aos quais foi sugerido fazer cirurgia. Em 60% dos casos, a pessoa acaba desistindo da operação.
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REPERTÓRIO CULTURAL TEXTO 1
CONSELHO DE MÉDICOS RECEBEU 47 DENÚNCIAS POR MÊS EM 2 ANOS FISCALIZAÇÃO Segundo dados do Cremeb, 62% dos 1.141 casos registrados se referem a erros de procedimentos FRANCO ADAILTON
O Conselho Regional de Medicina fiscaliza a atuação dos médicos no Estado
Desde o nascimento, a auxiliar administrativa Milena Ramos, de 23 anos, carrega no corpo as marcas de um braço inutilizado, junto com as sequelas deixadas por uma clavícula quebrada. Ao longo da vida, Milena conta que ouviu de diversos profissionais de saúde que o parto dela, que pesava 5,1 kg ao nascer, não poderia ter sido natural. A jovem, assim como a mãe, atribui a atual condição física a um erro médico, falha profissional que, nos últimos dois anos, correspondeu diretamente a cerca de 62% das 1.141 denúncias contra profissionais registradas no Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), por conta de ocorrências verificadas em todo o estado. Isso dá uma média de 47 casos por mês. Atualmente, o órgão fiscalizador de classe está com 561 processos em tramitação, referentes a denúncias diversas. Queixas Já entre 2012 e 2016, o Cremeb acumulou 3.947 queixas, incluídas aquelas ligadas estritamente ao exercício da medicina. “Esses números não representam apenas procedimentos em que há relação como ato médico no sentido restrito”, informou, via e-mail, o corregedor do Conselho Regional de Medicina, José Abelardo Garcia de Menezes. “Entre esses casos que recebemos no Cremeb também existem denúncias de administração hospitalar, remuneração profissional, entre outros”, acrescentou Menezes. Julgamento No intervalo acima, foram absolvidos 562 dos 962 profissionais que passaram pelo julgamento dos conselheiros. O Conselho aplicou, ainda, 157 censuras confidenciais, 116 censuras públicas em diário oficial, 107 advertências confidenciais, 14 suspensões por 30 dias, além de três cassações de registros. Segundo informou o corregedor, a média para o julgamento de um processo no Conselho é de 30 meses. São 42 conselhei-
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ros, além de 17 delegados regionais, para fiscalizar o exercício de 21.447 médicos ativos nos 417 municípios da Bahia. Questionado sobre as dificuldades para julgar as denúncias recebidas, o corregedor do Cremeb respondeu que deve ser considerada a extensão territorial da Bahia, além do baixo número deconselheiros para a quantidade de profissionais em atividade. Outros aspectos destacados são “os limites impostos pela legislação para a atuação dos conselhos de medicina, a liberalidade para a constituição de empresas sem a previsão legal para a presença de médicos nos estabelecimentos”. Menezes enumera outros fatores como a interposição de terceiros na relação médico-paciente, no caso, operadoras de planos de saúde e os gestores públicos, a partir das restrições de atendimento e limitações aos usuários. O conselheiro citou, ainda, como fator que dificulta a agilidade nas respostas, “o aumento da oferta de mão de obra por meio das políticas que permitiram a introdução de intercambistas, a exemplo do programa Mais Médicos, sem estarem jurisdicionados aos conselhos de medicina”. “Além da abertura de novos cursos e ampliação de vagas nos já existentes, sem condições mínimas para o ensino adequado de uma profissão que cuida da saúde e da vida das pessoas”, finalizou. Parto mal sucedido Apesar de ter ficado com sequelas permanentes por causa do parto mal sucedido, Milena conta que a mãe não chegou a fazer denúncia ao Cremeb, à época. “Dados não representam só o ato médico no sentido restrito” ABELARDO GARCIA Cremeb
Durante o acompanhamento médico que teve ao longo dos anos, ouviu de diversos profissionais médicos que o peso excessivo dela ao nascer exigiria uma cirurgia cesariana. A moça perdeu a mobilidade no braço direito, o que exige depender da mãe para atividades simples. “É um braço praticamente inútil. Eu preciso de minha mãe para quase tudo. Até para pentear o cabelo”, relata a jovem. A auxiliar administrativa também diz sentir fortes dores na coluna por causa da clavícula quebrada após o parto. 561 denúncias de natureza diversa estão sob apuração no Cremeb atualmente. Órgão tem equipe enxuta para fiscalizar 21,4 mil médicos na Bahia Autoestima Milena conta que as sequelas afetaram sua autoestima durante boa parte da infância e adolescência. “No início, não aceitava minha condição, mas vi casos que são piores que o meu”, disse. Mais Médicos é apontado como fator que dificulta a agilidade nas respostas Mesmo com as limitações, a jovem superou a própria deficiência para ingressar no mercado de trabalho. “Com o tempo, eu aprendi a utilizar a mão esquerda. Hoje, no trabalho, eu digito usando apenas uma das mãos”, relata.
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MACHISMO É PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA Julieta Palmeira Médica, secretária de estado de Políticas para Mulheres da Bahia
A Lei Maria da Penha (LMP) é um marco civilizatório. Ao completar 11 anos de vigência, neste mês de agosto, cabe uma reflexão no que se refere ao impacto da legislação no enfrentamento à violência contra as mulheres. A luta da farmacêutica Maria da Penha inspirou a denominação da lei que combate a violência contra mulheres. Dados do Instituto de Pesquisa Economica Aplicada (Ipea) indicam que essa lei fez diminuir em cerca de 10% a taxa de homicídio contra as mulheres dentro das residências. Essa diminuição, embora significativa, não foi suficiente para retirar o Brasil da vergonhosa posição do 5o país que mais mata mulheres por violência gênero, em sua maioria negras e economicamente desfavorecidas. A Bahia está acima da média nacional em feminicídio íntimo e em agressões às mulheres, de acordo com ultima pesquisa do Ipea. Somente no primeiro semestre de 2017 foram registrados 23,4 mil casos de violência contra as mulheres, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Mas há que se considerar a subnotificação. É importante frisar que as mulheres e meninas são mortas, com mais frequência na esfera doméstica, por seus namorados, companheiros, ex-companheiros, maridos, ex-maridos, pais, avôs, local em que deveriam estar mais protegidas. A 2a Conferência Nacional de Saúde das Mulheres, realizada recentemente em Brasília,reunindo 1261 delegadas, aprovou que o machismo é um problema de saúde pública. De fato, o machismo em nosso país, e as violências decorrentes dele contra as mulheres, é um problema de saúde pública porque afeta a vida das brasileiras quando não lhes tira a vida pelo feminicídio. Iniciativas têm sido implementadas na Bahia com a ampliação da Ronda Maria da Penha;o esforço de ampliação do número de delegacias especializadas; o atendimento de equipe interdisciplinar no Hospital da Mulher no acolhimento às mulheres; além da execução do projeto “RespeitaAsMina” que envolve campanhas de sensibilização e publicitárias, caravanas de enfrentamento à violência nos municípios e nas escolas em parceria com os municípios. É fundamental para a aplicação da LMP a ampliação da Rede de Atenção às Mulheres em Situação de Violência que envolve as esferas municipais e estaduais. O marco civilizatório, que é a LMP, não consegue atacar ainda o machismo, que faz com que as violências de gênero sejam naturalizadas. A educação não discriminatória,o empoderamento feminino para ocupar espaços públicos e autonomia econômica e social das mulheres são fundamentais. A atitude diante de uma urgência pública é decisão política e atuação conjunta da sociedade e das várias esferas do governo para enfrentar esse problema. Vivemos algo semelhante a uma guerra civil prolongada com a morte de 13 brasileiras por dia em decorrência de machismo.
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SAÚDE É QUESTÃO DE JUSTIÇA Diante de uma pessoa que necessita de um medicamento caro, a sociedade tem duas escolhas: abandoná-la à própria sorte ou acolhê-la. O direito à saúde merece a garantia da proteção judiciária Em breve o Supremo Tribunal Federal deverá decidir se o Poder Judiciário pode ordenar ao Estado que forneça medicamentos ou tratamentos médicos de alto custo aos cidadãos que não têm como arcar com essas despesas. O julgamento é de extrema importância. A decisão a ser proferida pela corte vai orientar as decisões de inúmeros outros casos idênticos em trâmite nas instâncias inferiores. A natureza não é justa nem injusta, mas por vezes ela pode ser cruel — e atingir de forma aleatória a saúde de qualquer pessoa. Diante da necessidade de um medicamento ou de um tratamento de alto custo, todos se tornam vulneráveis. Com isso, a sociedade tem duas escolhas: abandonar o indivíduo à própria sorte ou acolhê-lo, provendo o necessário para a manutenção de sua saúde. A primeira opção assemelha-se à escolha de algumas sociedades antigas em que doentes ou deficientes eram abandonados ou, em casos extremos, atirados do penhasco. A segunda representa o reconhecimento de uma obrigação moral de que vivemos em uma sociedade solidária e que os agraciados com boa saúde devem proteger aqueles que não o são. Se a escolha certa é a segunda — e é no que acredito —, então, a obrigação moral é fazer o melhor para garantir amparo aos necessitados. A discussão travada nos processos é para saber se a assistência à saúde fica a cargo exclusivo da esfera administrativa ou se ela pode se submeter a uma determinação judicial. A Constituição de 1988 consagrou o direito à saúde como um direito fundamental. Ao fazê-lo, tornou a questão passível de ser levada à Justiça. Os críticos dessa medida afirmam que a autoridade administrativa — neste caso, gestores de órgãos de saúde pública — estaria mais bem posicionada que a autoridade judicial para decidir como devem ser alocados os recursos na saúde. Afirmam que a interferência judicial no assunto afetaria a racionalidade da distribuição das verbas, uma vez que daria preferência às necessidades individuais, e não às coletivas. Aqui cabem, porém, algumas perguntas. Por que decisões judiciais na esfera da saúde não podem ser orientadas racionalmente? E por que elas não podem representar, assim como ocorre em outros campos do direito, uma salutar supervisão da atividade administrativa em prol da garantia de direitos fundamentais? A “judicialização da saúde” comporta situações diferenciadas que precisam ser bem compreendidas. No decorrer da ação processual, cabe ao administrador dizer as razões pelas quais não fornecerá o medicamento ou tratamento solicitado, mas outro, ou, então, por que não fornecerá nenhum. O julgador, então, vai verificar se existe ou não uma política pública para o tratamento da doença. Em caso afirmativo, se o medicamento já integra a listagem dos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), não poderá haver recusa de fornecimento. Diferente é a situação em que o medicamento buscado não está inserido na listagem do SUS, mas outro, igualmente
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LIVRO 01 indicado para o tratamento daquela moléstia, está. Nesse caso, é natural que deva ser priorizado o tratamento disponível pelo SUS, sem afastar a possibilidade de o paciente buscar uma alternativa medicamentosa em virtude de razões específicas do seu organismo. Finalmente, a situação mais difícil é quando não há política pública alguma, como ocorre com a grande maioria das doenças raras. O argumento genérico que tem sido utilizado pela administração pública para negar o fornecimento de medicamento ou tratamento de alto custo nessas situações é o do orçamento insuficiente. Disso, discordo. A falta de gestão eficiente dos recursos humanos, físicos e financeiros, somada ao mau emprego do recurso público, é, sem dúvida, a grande vilã dessa tragédia. Negar qualquer medicamento ou tratamento representa abandono, em nenhum aspecto compatível com o reconhecimento do direito à saúde como fundamento ou com a aludida obrigação moral. A autora deste artigo teve a oportunidade de atuar em várias demandas judiciais para obter medicamento de alto custo e uso contínuo para portadores de doenças raras. Pôde constatar que o sistema adotado pelo SUS nem sempre se baseia em justificativas racionais. Ilustrativamente, em algumas ações, buscava-se o componente miglustate para tratamento da grave doença degenerativa NP-C. O SUS não oferece nenhum tratamento para essa doença. Contudo, disponibiliza aquele mesmo medicamento para outra doença, também grave e rara. Aqui se tem um claro exemplo da má gestão do sistema, além de grave afronta ao princípio da igualdade. Se o mesmo medicamento é comprovadamente único e adequado ao tratamento de duas enfermidades distintas, nada justifica que o Estado deva fornecê-lo para uma e não para a outra. O abandono de um doente remete às sociedades antigas em que deficientes eram atirados do penhasco Mas há também inúmeras outras ações em trâmite nas serventias judiciais para obtenção de medicamentos que não constam da listagem do SUS. Na verdade, são inúmeros pedidos de socorro e de esperança lançados nas mãos dos julgadores. Para esses casos, as perguntas que precisam ser feitas são: por que não há protocolo padronizado para a doença em questão? Estaria havendo uma omissão administrativa? Trata-se de uma descoberta recente ainda não incorporada? De ausência de comprovação da eficácia daquele tratamento? A Anvisa tem cumprido o seu papel de analisar os pedidos de registro dos fármacos ou tem atuado negligentemente para blindar a administração de ser compelida a fornecê-lo? O registro na Food and Drug Administration (FDA) pode suprir a omissão da Anvisa? Essas questões podem ser racionalmente controladas e decididas pela autoridade judiciária, desde que devidamente informada pelas partes, incluindo a administração pública. É por isso que a resposta que se espera da Suprema Corte é o reconhecimento de que o direito à saúde, tão fundamental como os direitos clássicos, merece a garantia da proteção judiciária. A negativa genérica dessa proteção implicaria deixar ao arbítrio completo da autoridade administrativa a satisfação desse direito, o que infelizmente, como a prática revela, representará, em vários casos, o completo abandono do desafortunado à própria sorte.
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TEXTO 4 JOSÉ HORÁCIO ABOUDIB
“CUIDADO: MÉDICOS DESPREPARADOS ESTÃO EXERCENDO A CIRURGIA PLÁSTICA” O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica alerta para o risco da invasão da área por profissionais não capacitados. A ferida abriu e não parece haver remédio capaz de estancar o sangue. Essa ideia simboliza o sentimento de médicos integrantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) Eles denunciam, por meio do presidente da entidade, José Horácio Aboudib, a invasão de profissionais não especializados na atividade para a qual se preparam durante 11 anos - seis de faculdade, dois de residência geral e mais três de especialização. O exercício de profissionais não preparados especifícamente em cirurgia plástica tem gerado má fama para a classe toda. Levantamento do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) revela que. entre janeiro de 2001 e julho de 2008, foram analisados títulos de processos contra 289 médicos envolvidos em cirurgia plástica Mas apenas 2.1% eram em de fato cirurgiões especializados Os demais foram procedimentos feitos por profissionais de outras áreas. Aboudib chama a Sociedade Brasileira de Medicina Estética de fraudadora e diz que a Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia Estética é uma entidade mais cafajeste ainda. Ambas são entidades não referendadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e compostas por médicos que, segundo ele, “fizeram cursos de fim de semana” para ganhar títulos e invadir a área. “Só querem saber de grana”, afirma. Capixaba e residente no Rio de Janeiro, casado, três filhos, Aboudib é, também, coordenador de Cirurgia Plástica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Ele deu a seguinte entrevista à ISTOÉ. por ELIANE LOBATO
ISTOÉ - Por que o Sr. afirma que há uma invasão no campo da cirurgia plástica no Brasil? ABOUDIB - Existe uma coisa que se denomina medicina estética, que não é nada porque essa especialidade não existe. Não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, pela Sociedade Brasileira de Medicina, pelo Ministério da Educação, pela Associação Médica Brasileira. Medicina estética é fraude do início ao fim. Mas existe uma Sociedade Brasileira de Medicina Estética, presidida pelo médico Aloizio Faria de Souza, que só pensa em ganhar dinheiro. ISTOÉ - Por que o Sr. diz isso? ABOUDIB - A dita sociedade oferece cursos de fim de semana, os quais habilitam médicos sem residência médica a atuar como cirurgiões plásticos. O resultado é o número escandaloso apurado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo: 97% dos médicos que respondem a processos relacionados à cirurgia plástica não possuem títulos de especialistas na área. Apenas seis cirurgiões plásticos e um dermatologista estão entre os 289 médicos processados por problemas em procedimentos relacionados à cirurgia plástica entre 2001 e 2008. Mas a péssima fama recai sobre todos os cirurgiões.
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CURSO EXTENSIVO ISTOÉ - Qual a diferença entre o médico especializado em cirurgia plástica e o da medicina estética? ABOUDIB - Gigantesca: a formação do especialista, seja cirurgião plástico, seja dermatologista, requer, após a formatura na faculdade de medicina, residência médica de 60 horas semanais, o que dá 240 horas mensais, 2,8 mil horas por ano. E são dois anos de residência em cirurgia geral e mais três anos de especialização. No total de cinco anos, são 14,4 mil horas na formação e no treinamento de um cirurgião plástico. Na chamada medicina estética, fazem cursos de um ano. Se não é uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina, como pode dar título? São fraudes em sequência. ISTOÉ - Quais? ABOUDIB - A segunda fraude são as aulas dadas em um fim de semana por mês durante um ano. Vamos considerar que sejam oito horas de duração no sábado e o mesmo no domingo. Isso dá uma carga horária de 192 horas por ano. Depois disso, a pessoa recebe título de especialista e está apta a operar. 192 horas por ano contra as 14,4 mil exigidas pela SBCR ISTOÉ - Quais os outros problemas? ABOUDIB - Aterceira fraude é o fato de enganarem os pacientes dizendo que são especialistas sem ser. Medicina estética só visa ganhar dinheiro. Mas, agora, surgiu outra entidade mais cafajeste ainda: intitula-se Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia Estética, presidida por um cirurgião-geral chamado Edson Teixeira, que ficou famoso há uns 40 anos quando fez transplante de pâncreas em um ser humano, e o paciente morreu. É totalmente amoral, faz qualquer coisa para ganhar dinheiro. ISTOÉ - Por que essa entidade é pior? ABOUDIB - Vi um folder deles anunciando um curso de mamoplastia (cirurgia plástica nas mamas) em apenas um fim de semana. Um colega médico ligou para lá para confirmar e a mulher que atendeu perguntou: “O Sr. sabe dar ponto?”. Quando ele respondeu que sim, ela disse: “Então, o Sr. faz o curso sábado e domingo e já pode marcar sua primeira operação de plástica de mama para a segunda-feira.” Ou seja, tem paciente correndo risco nas mãos de pessoas (des)preparadas assim. Mas eles ganham fortunas dando esses cursos. Essa turma só quer saber de grana, não é de medicina. O nosso diploma e o da dermatologia são referendados por entidades sérias. O deles não é referendado por nada. Não estão pensando em ensinar, em formar profissionais. Só n estão pensando em enriquecer, em faturar com o ensino. ISTOÉ - Quais os riscos que os pacientes correm? ABOUDIB - De todo tipo. Infecções, resultados desastrosos, por exemplo. E inclusive a morte. Por isso cuidado: médicos despreparados estão exercendo a cirurgia plástica. ISTOÉ - Há áreas preferidas por esses profissionais não especializados? ABOUDIB - A chamada medicina estética só quer faturar, não importa a área. E não é só em cirurgia. Tem alguns que, na endocrinologia, repassam a receitinha de dieta que pegaram nos cursos.
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DISTÚRBIOS MENTAIS SÃO A TERCEIRA PRINCIPAL CAUSA DE AFASTAMENTO DE TRABALHADORES Depressão pela falta de resultados no trabalho pode levar ao suicídio, diz psicóloga GILSON JORGE
Há três semanas, um administrador de empresas soteropolitano, com síndrome do esgotamento (burn out), foi obrigado pela chefia a tirar férias de 15 dias para que não ficasse caracterizado o papel do ambiente de trabalho em seu adoecimento. Mas não há como mascarar. Pesquisa encomendada pelo governo federal indica que distúrbios mentais são a terceira principal causa de afastamento de trabalhadores no Brasil. Especialistas em saúde do trabalhador apontam que a ansiedade por resultados pode se transformar em depressão e, eventualmente, levar ao suicídio. Desde 2014, a campanha Setembro Amarelo se dedica à prevenção desse tipo de morte. “As empresas têm medo de dano à sua imagem e não admitem os casos de burn out”, explica Rodrigo Guimarães, sócio-fundador do Instituto Baiano de Análise do Comportamento (Ibaac), uma clínica que reúne 15 psicólogos acostumados a avaliar o impacto de transtornos mentais em ambientes profissionais. O roteiro é parecido. Com cobranças cada vez maiores, exigência de resultados e o império das novas tecnologias que deixam o profissional ligado durante todo o dia, aumentam a frustração e a sensação de incapacidade, e os profissionais afetados tendem a diminuir a produtividade e buscar o isolamento. “Com a atual situação do país, cada vez mais pessoas se sujeitam a trabalhos que as deixam infelizes”, afirma Guimarães, que também cita o caso de um professor universitário que adquiriu a síndrome do esgotamento após se dividir entre diferentes faculdades particulares. Mestre em psicologia médica e doutoranda em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Thaís Rabane a considera que o estresse ocupacional pode ser extremamente prejudicial à saúde mental do trabalhador. “De fato, os transtornos psiquiátricos estão entre as principais causas de afastamentos associados ao trabalho no Brasil. Os dados fornecidos pela Previdência Social apontaram um importante aumento de casos nos últimos anos”, afirma Thaís. Assim como Guimarães, ela destaca que dentre os principais distúrbios mentais destaca-se a depressão. “Não apenas por abranger cerca de metade dos casos registrados, mas, sobretudo, pela sua gravidade enfatizada pelo risco de suicídio associado. Plataforma digital A crise comportamental que assola ambientes profissionais estressantes, como consultórios médicos, escolas e grandes corporações, também é vista como uma oportunidade para empreendedores. Há um ano, o médico Rui Brandão e o engenheiro José Simões lançaram o Zenklub, uma plataforma digital que aposta no anonimato da internet para incentivar profissionais com problemas a buscar ajuda. “Muita gente não tem coragem de falar de seus problemas frente a frente”, afirma Brandão. No modelo Zenklub para Empresas, a companhia paga uma taxa, que varia de R$80 a R$200 por consulta, e permite que o funcionário faça videoconsultas em casa, fora do seu horário de trabalho.
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LIVRO 01 Mas é possível fazer mais do que correr atrás do prejuízo. “As empresas devem se planejar e estruturar de modo a evitar a sobrecarga de tarefas e garantir a remuneração adequada aos seus profissionais”, destaca Thaís. Ela considera importante, por exemplo, que, em caso de tarefas de alta complexidade, a empresa disponibilize suporte ou haja colegas para oferecer auxílio. TEXTO 6
POPULAÇÃO VIVE MAIS COM MENOS QUALIDADE DE VIDA Marcus Lima Médico cirurgião, especializado em videolaparoscopia, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), integra a Diretoria do Colégio Brasileiro de Cirurgiões – Capítulo Bahia.
Comemoramos o aumento da expectativa de vida no mundo, mas, em contrapartida, a saúde e qualidade de vida da população está declinando. A maioria das pessoas está vivendo esses anos adicionais doentes. A atenção à saúde é dada em situações de doença, quando, na verdade, o cuidado deveria ser uma prioridade no dia a dia das pessoas. O estresse, má alimentação e sedentarismo estão contribuindo para uma pandemia que vem afetando todo o mundo: a obesidade. Mais da metade da população brasileira está acima do peso. Em Salvador, o índice de obesos chega a 19,9%, maior que a média nacional de 18,9%, em 2016, segundo dados divulgados esse ano, pelo Ministério da Saúde. A obesidade deve ser prevenida, principalmente, pelos problemas de saúde associados ao excesso de peso e hábitos desequilibrados, que interferem diretamente na qualidade de vida. É cada vez mais comum nos depararmos com famílias obesas. Esse cenário aponta para a necessidade do cuidado com a saúde em casa. Para enfrentar o desafio da obesidade, os bons hábitos alimentares devem ser estimulados desde cedo, na infância. O novo desafio global é incentivar as famílias a adotarem uma alimentação saudável, seguindo a lógica do “descascar mais e desembalar menos”. O pensamento é sempre melhorar o comportamento alimentar e estimular os hábitos saudáveis, muito além da perda de peso. A boa notícia é que está crescendo o consumo regular de frutas e hortaliças, reduzimos o consumo de refrigerantes e sucos artificiais e as pessoas estão praticando mais atividade física no lazer, hábitos fundamentais para combater o aumento da obesidade. Para ter uma vida mais longeva, saudável e feliz, é necessário alimentar bem não só o corpo, mas também a mente. Passar mais tempo com a família, em atividades ao ar livre, sair do sedentarismo e melhorar a alimentação são hábitos que contribuem para manter o corpo e cérebro saudáveis por mais tempo. Os hábitos dos brasileiros impactam no crescimento da obesidade, problema que está relacionado à uma série de outras doenças como hipertensão, diabetes e problemas circulatórios. A cirurgia bariátrica tem sido uma ferramenta eficaz de auxílio no tratamento da obesidade, como mecanismo de controle da diabetes tipo 2, hipertensão e outras doenças associadas. O procedimento é indicado para pacientes com obesidade severa, sob acompanhamento clínico e sem resolução do quadro. O ideal, no entanto, é que se adote medidas para evitar chegar neste estado. É necessário um esforço conjunto na sociedade que incentive o indivíduo a zelar mais por si e dissemine a importância de voltar-se mais para a saúde e menos para a doença.
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DISTIMIA, EU? Despedido de um jornal, em 1919, pois não tinha imaginação nem boas ideias. Walt Disney. Em 1956, o mestre da arte pop mundial, deu uma de suas peças para o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, de graça, mas foi rejeitada. Andy Warhol. Quando estreou em 1979, a RSO Records declinou uma proposta do grupo e disse que a banda não se enquadrava em seu perfil. Venderam 150 milhões de discos, 22 prêmios Grammy e a turnê com a maior bilheteria da história. Banda U2. Essa é boa mesmo, ela foi despedida como repórter da WJZ-TV de Baltimore, porque não podia separar suas emoções das matérias que apresentava no jornal. Oprah Winfrey. Muitas emoções e uma variedade enorme de sentimentos estas personagens da história sentiram ao ter seu ofício, seu talento, suas perspectivas bloqueadas. Só temos uma noção exata do momento, às vezes, muito tempo depois. E, nem sempre, nos damos conta do que é sentir uma rejeição. Sentir uma palavra (mal) dita. Fere como bisturi. Não tenho certeza e nem posso afirmar, mas minha intuição me diz que podem ter sentido uma depressão levemente crônica. Há momentos na vida que lutamos contra constantes sentimentos de negatividade. Inseguranças de trabalho, de sobrevivência, de relações. Vivemos dias de muitas incertezas. De muitas “opiniões” e poucas “execuções”. Todo mundo se mete em tudo e poucos ouvem a voz interior do acolhimento e do olhar para o próximo. D i s n e y, Wa r h o l , U 2 , Oprah. E nós que somos anônimos? Quantos já desistiram no primeiro não? Recebemos desestímulos a todo instante. Vivem no anonimato da Distimia. Que é um tipo de depressão que se caracteriza principalmente pela falta de prazer ou divertimento na vida e pelo constante sentimento de negatividade. O mundo dos negócios nos torna vulneráveis a esse tipo de postura. Absorver de forma direta os negativistas de plantão. Muito cuidado com alguns que demonstram aquele humor para baixo, deprimido. Aqueles que empurram nossa autoestima para negatividade. Tem gente que é tão ansioso que pergunta, responde e analisa a própria resposta. Recomendo o livro Problemas? Oba! De R. Shinyashiki. “É importante compreender a lógica que rege os acontecimentos para se aproveitar as oportunidades no mundo dos negócios em tempos de crise”, fala o autor. De leitura agradável, direta e simples. Alguns me dizem que falo de gente famosa, pessoas consagradas no mundo inteiro. Mas, tem um pequeno detalhe nestas pessoas: à época, eles só sabiam que tinham algo para fazer de muito especial. Eles acreditaram na ideia de fazer algo bom e que fariam a diferença. Não, eles não tinham ideia no que se tornariam. Eles construíram. Distimia: para bem longe!
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Redução da maioridade penal cria sistema incerto Adolescentes teriam que ficar em locais exclusivos, mas deputados e especialistas divergem sobre moldes e viabilidade da proposta; se a medida estivesse em vigor em SP, valeria para 4,52% dos jovens por Renan Truffi — publicado 22/07/2015 04h35
Dos 25.192 delitos praticados por adolescentes em 2013, 4.087 (16,23%) são considerados graves
Há um longo caminho para que a redução da maioridade penal possa ser aprovada de forma definitiva no Congresso. A proposta ainda precisa ser referendada em segundo turno na Câmara antes de seguir para o Senado. Mas já é possível analisar a aplicação da medida no Brasil com base no texto da emenda aglutinativa que recebeu apoio da maioria dos parlamentares. A proposta aprovada define que a redução deve incidir sobre adolescentes com mais de 16 anos que cometeram homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte ou crimes hediondos, com exceção de tráfico. O ponto que mais gera controvérsia no texto, no entanto, é a “criação” de locais de detenção que exclusivos para a aplicação dessas penas, já que o texto diz que esses adolescentes têm que ficar separados tanto dos adultos como dos demais jovens. A Constituição Brasileira estabelece dois caminhos para a responsabilização no Brasil. No caso dos adultos, é determinado pelo Código Penal. Para os menores de 18 anos, as normas são definidas por legislação especial, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê sanções a pessoas com idade a partir de 12 anos. A proposta aprovada na Câmara dos Deputados determina que adolescentes com mais de 16 anos passem a ser responsabilizados pelo Código Penal dependendo do crime que cometeram. Por outro lado, o mesmo texto diz que a pena não pode ser aplicada em instituição para adolescentes nem nas cadeias comuns. Como solução para o impasse, a emenda sugere a criação de um “estabelecimento” penitenciário independente que não está previsto no ordenamento jurídico brasileiro. “O sistema brasileiro prevê pena ou sistema socioeducativo. Não existe outra modalidade”, critica a presidenta da Fundação Casa, Berenice Gianella, responsável pela aplicação de medidas socioeducativas para adolescentes em São Paulo. “A partir do momento em que a emenda constitucional diz que ele responde como adulto, ele passa a ser imputável aos 16 anos. Então, o juiz criminal é que vai julgar. Se ele vai aplicar uma pena, tem que ser executada dentro do sistema penitenciário”, contraria. Se hoje vários estados brasileiros têm dificuldade até mesmo de manter instituições para adolescentes envolvidos com crimes, o receio é que, na prática, os adolescentes fiquem juntos dos adultos, mas em alas separadas, o que não evitaria o contato com presos de facções criminosas.
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