cap10-garota_Ny

Page 1

CAPÍTULO 10 VOCÊ É UM ANJO

De férias em um balneário turístico no Pacífico Sul, o senhor e a senhora McQueen não faziam idéia da enorme festa que se realizava a milhares de quilômetros dali, no terraço do badalado bar 230 Fifth. Embora a filha tivesse lhes dito que faria apenas uma reuniãozinha para comemorar seu aniversário, já que segundo ela a maioria de seus amigos estava aproveitando o verão escaldante nas Bahamas ou em Martha’s Vineyard, Vicky na verdade parecia ter convidado Nova York inteira, a julgar pela enorme quantidade de pessoas espremidas por metro quadrado ali. A decoração da festa parecia ter sido preparada para uma superprodução Hollywoodiana ao ar livre. Havia vários holofotes apontando seus fachos de luz para o céu de Manhattan enquanto pisca-picas amarelos entrelaçados nas palmeiras e plantas do lugar iluminavam o ambiente juntamente com uma grande quantidade de velas vermelhas que se encontravam espalhadas pelas mesas. A maioria dos bancos de madeira do terraço havia sido retirada para que os convidados pudessem circular com facilidade e curtir o verdadeiro Halloween fora de época que Vicky havia planejado para seu aniversário de quinze anos. No deck oeste do jardim que havia sido adaptado para funcionar como um pequeno palco, a Nonsense tocava animada para dezenas de pessoas, em sua maioria garotas, que se aglomeravam enlouquecidas diante da banda. Mesmo M.J. estando fantasiado de Slash, o exótico guitarrista do Guns ‘n Roses e isso chamasse bastante a atenção pela peruca e cartola que cobriam quase todo seu rosto, ainda assim era para Aaron que as meninas olhavam. Sem querer ele havia arrumado uma fantasia que contribuiu para arrancar mais suspiros daquelas garotas, já que a casaca azul marinho com arabescos o fazia parecer ter acabado de sair de um conto de fadas.


-Nossa! Por que esse gato não mia no meu telhado hein?! – perguntou Vicky enquanto ajeitava sua dourada e chamativa roupa de Cleópatra. -Pra mim ele é gato vira-lata. Além disso, eu tenho certeza que já vi aquela fantasia em algum lugar. – afirmou Sophie rodopiando sem parar a cumprida cauda negra de sua fantasia de gatinha. -É, eu também tive esta impressão. Ele deve ter comprado no mesmo lugar que nós. E falando em fantasia, onde está a sua irmã? Estou morrendo de curiosidade pra ver de que tipo de aberração ela vai se vestir. Já que eu a tive de convidar por causa do Aaron espero que a sua maninha pelo menos me divirta aparecendo com uma fantasia beeeem ridícula. -Conhecendo a Missy como eu conheço com certeza ela vai colocar alguma coisa super brega só pra me irritar. Ela adora bancar a coitadinha que odeia o luxo. Ainda bem que nós não somos gêmeas idênticas. Imagine só se ela tivesse o meu belo rosto e essa alma de pobre?! Seria vergonhoso pra minha reputação. – imaginou Sophie enquanto pegava uma taça de cosmopolitan da bandeja de um garçom que passava naquele momento. Alguns metros longe das duas, passando pelas portas de vidro que davam para o terraço, Mel e Chloe haviam acabado de chegar a cobertura do bar 230 Fifth. Embora Melissa não se sentisse muito confortável devido à armação das asas de sua fantasia de anjo, era impossível olhar para ela e não achar que havia de fato caído do céu. Não era a garota mais linda daquela festa, afinal Chloe também estava deslumbrante em seu traje rosa de bailarina, mas o vestido branquíssimo de renda que Mel vestia e as plumas que ostentava em suas asas davam-lhe um ar doce, bem suave. Depois de deixarem os presentes de Vicky em um canto da entrada onde tantos outros se empilhavam, Mel e Chloe andaram com dificuldade até o deck oeste, devido ao grande número de pessoas. Sob as luzes de diversas lâmpadas coloridas que iluminavam o lugar especialmente para o show da Nonsense, Melissa sentiu o coração bater mais forte ao ver Aaron cantando com muita animação no palco improvisado. -Já reparou quantas garotas estão de olho no seu príncipe encantado? – perguntou Chloe falando no ouvido da amiga devido aos acordes estridentes que soavam muito alto no terraço.


-Já, mas o que é que eu posso fazer? Ele é lindo, e ainda vem fantasiado como se estivesse pronto pra dançar a valsa com a Cinderela... Acho que você e a Sophie são as únicas que não querem ser a princesa dele. -É, mas você pode ser. –Chloe insinuou com um olhar desafiador. -Ah, ta bom! Com a Marilyn Monroe e a salva-vidas de S.O.S. Malibu tão coladas ao palco acho difícil que ele possa me ver aqui. – ironizou Mel referindo-se as duas garotas de fantasias nada comportadas que tentavam chamar a atenção de Aaron. Após tocar as últimas notas da música Dirty Little Secrets do All American Rejects e receber uma salva de palmas acompanhada de alguns gritos atrevidos de lindo e gostoso que o deixaram um pouco sem graça, Aaron encostou a guitarra em uma das caixas de som que circundavam o mini palco e olhou em volta como se estivesse à procura de alguém. Sem que ele esperasse, seus olhos verdes conseguiram encontrar Melissa e Chloe distantes apenas alguns metros, escondidas pelas folhas de uma pequena palmeira que ficava bem perto da entrada do terraço. Depois de avisar a Doug que a Nonsense daria um “break” por alguns minutos e chamar M.J. para lhe acompanhar , Aaron e o garoto desceram do palco e se espremeram em meio a infinidade de garotas que suspiravam ao vê-lo passar, indo logo em seguida até o lugar onde as amigas estavam. Quando Aaron parou diante das duas e olhou para Mel seus olhos brilharam de uma forma diferente. Apesar de conhecê-la desde os cinco anos de idade ele teve certeza que nunca a tinha visto tão bonita como naquela noite. Pela primeira vez Aaron havia ficado nervoso com a presença dela. Sentia uma sensação estranha, um certo nó na garganta que ele mesmo não conseguia entender o por que. Até quis elogiar Melissa de forma poética comparando sua beleza a uma manhã primaveril, mas a única frase que saiu de sua boca foi a mais óbvia, porém verdadeira possível: -Você está linda, sabia? – -Obrigada “Dentinho”, você também está. - ela respondeu visivelmente encabulada. - É uma fantasia de príncipe encantado a sua, não é?


-Príncipe sim, encantado não! Este quem vos fala é Hamlet, o sombrio e angustiado príncipe do romance de William Shakespeare. – floreou Aaron, fazendo uma pomposa reverência para as garotas. - Hmmm... Não sabia que Hamlet usava tênis All Star e tinha cabelo arrepiado. – ela salientou. -Bem Lady “Pimenta”, vamos dizer que eu tenha dado um toque “teen” ao clássico. -Cara, pra que esse discurso todo? Fala logo que nós não encontramos os sapatos na sala de figurino da escola. – revelou M.J. enquanto tentava tirar algumas mexas da peruca preta que insistia em esconder seus olhos. -Ah, então é por isso que eu estava achando que conhecia essa roupa de algum lugar. É da peça que a companhia de teatro da escola apresentou no fim do ano passado! Mas espere aí, como vocês entraram na Sinclair Academy? A escola não está fechada por causa das férias? – quis saber Chloe. Sem graça devido à pergunta da garota, Marvin baixou a cabeça. Não havia outra maneira de responder a Chloe sem mencionar o fato de que seu pai era o faxineiro da Sinclair Academy, algo que embora fosse uma profissão digna, sempre fez M.J. ser o maior alvo de chacotas da turma. -O senhor Smith, pai do Marvin, tem quase todas as chaves de lá. E como a gente estava meio sem grana fizemos um pequeno empréstimo, mas amanhã mesmo nós vamos devolver. – prometeu Aaron. -Hmm... Sei. Vocês vão tocar mais algumas músicas? -Não Chloe, depois de “Alice’s fall” já vamos encerrar. Nós combinamos uma apresentação pequena com a Vicky e, além disso, ela contratou os caras do Positron para serem os DJ’s da noite. Por mais que o pessoal da escola goste da Nonsense não dá pra concorrer com eles. -Ah, nem vêm ! – interrompeu Marvin tirando a cartola e a peruca de Slash. – No que diz respeito ao gosto feminino a nossa banda dá de dez à zero nesses DJ’s aí. É claro que parte disso é por causa do outro irmão perfeito ser o vocalista, mas o que interessa é que eu tenho certeza que todo mundo prefere a gente. -É... De Dentinho para o outro irmão perfeito foi uma grande evolução. – brincou Mel tentando não demonstrar ciúmes.


Sorrindo, Aaron balançou negativamente a cabeça, como se não concordasse com as palavras de M.J. . Apesar das dezenas de garotas que disputavam sua atenção, ele não acreditava que fosse assim perfeito como o apelido dizia. -Cara é só olhar em volta que você vai ver um bando de garotas suspirando por você. – afirmou Marvin apontando para a multidão que os cercava. Mas ao contrário do que M.J. queria lhe mostrar, Aaron não viu um bando de adolescentes histéricas babando por ele. Ao olhar para sua esquerda, ele deparou-se com um antigo inimigo da escola fantasiado de imperador Romano e fitando Melissa com um olhar desejoso a poucos metros de distância. Aaron sabia que Daniel Russo poderia ter a garota que quisesse naquela noite, afinal depois que ele foi transferido para a Trinity School havia ficado muito forte e agora fazia um sucesso enorme com o sexo feminino. Mas na mesma hora Aaron soube também que a julgar pelos olhares de cobiça do garoto para Mel, a antiga inveja que Russo mantinha sobre tudo que ele possuía não havia morrido quando o garoto saiu da Sinclair Academy. Não que Aaron e Mel tivessem alguma coisa. A questão é que era isso que Russo pensava e não pouparia esforços para tirar Mel de Aaron naquela noite. Seduzir era seu jogo preferido, mas seduzir a garota de seu antigo rival teria um gostinho melhor ainda. Por alguns segundos Aaron fitou o “Don Juan” de meia tigela seriamente, com um ar de poucos amigos, mas Daniel ignorou os olhares duros do garoto, pois se encontrava ocupado demais analisando todos os detalhes do corpo de Mel. É, definitivamente aquela conquista não seria nenhum sacrifício para Russo. -Alô, Terra para Aaron, Terra para Aaron, temos uma apresentação para terminar. – brincou M.J. tentando chamar a atenção do garoto que agora encarava Daniel com os punhos cerrados. -Eu já ouvi Marvin, estava pensando nisso agora mesmo! Garotas por que vocês não vêm com a gente e ficam ao lado do palco para dar uma força à banda?! – perguntou ele, logo depois começando a puxar Mel pela mão sem nem ao menos esperar por sua resposta. Ainda que não tivessem entendido a razão de toda aquela pressa repentina, Chloe e Mel acabaram seguindo os dois integrantes da Nonsense até bem perto


do palco, onde se espremeram entre a Marilyn Monroe e a salva vidas de S.O.S Malibu. Com Melissa tão perto e Russo bem longe dela, Aaron agora conseguiria concentrar-se e dar o melhor de si na última música que a banda tocaria naquela noite. E foi assim, aliviado por saber que tinha livrado a amiga de um cafajeste, que o garoto começou a tocar com empolgação as cordas de sua velha guitarra Les Paul. Em menos de um minuto o apartamento inteiro começou a pulsar no ritmo do punk rock agitado da Nonsense. Era incrível ver todas aquelas pessoas se divertindo e pulando ao som da voz afinada de Aaron, que interpretava diante do microfone a música Alice’s fall com uma paixão incomparável. Seguindo o líder da banda, M.J. e Doug também pareciam muito mais animados do que antes. Marvin, agora sem a peruca, pulava facilmente de um lado pro outro no palco com seu baixo cheio de adesivos de caveiras e vez ou outra chegava perto do microfone de Aaron para fazer sua parte no coro da música, enquanto Doug, fantasiado de Neo do filme Matrix, exibia-se espancando a bateria e lançando sorrisos maliciosos para várias garotas. O verão Nova Yorquino era sempre muito quente, é verdade, mas a Nonsense estava definitivamente conseguindo fazer aquela noite pegar fogo, incendiando tudo com as notas musicais que saiam do baixo de M.J. e da guitarra de Aaron. Mesmo “Alices’ falls” sendo uma canção ainda inédita, não demorou para que todos na festa decorassem o refrão e cantassem junto com a banda fazendo um coro de dar inveja. Era uma música de ritmo agitado e letra fácil que grudava como chiclete na cabeça e não queria mais sair. Because she is... Fallinf, falling, falling Oh, baby you’re going down Honey, honey, honey I’m holding my hands out Leaving, leaving, leaving Is easy, do it now


Darling, darling, darling I’ll always be around Be around, be around And your time in wonderland is running out! Até aquele momento tudo parecia caminhar para um encerramento triunfal da Nonsense, quando Aaron viu apenas Chloe dançando espremida em meio à multidão de adolescentes ao redor do palco. Surpreso por Mel não estar ao lado dela, o garoto sentiu que toda a empolgação havia sumido de seu corpo, como se tivesse sido tragada por um buraco negro. Em vez de pular e dançar com a guitarra do jeito que estava fazendo antes, sua única preocupação agora era saber onde Melissa havia se metido. Tentando disfarçar um certo nervosismo que começava a dominá-lo, Aaron andou de um lado ao outro do palco enquanto fazia seu solo de guitarra e olhava algumas vezes para as dezenas de garotas que estavam por ali, na esperança de que veria a amiga a qualquer momento. Mas para sua decepção Mel não estava em lugar algum, o que acabou fazendo com que seu cérebro imaginasse várias cenas em que ela estava nos braços de Russo em algum canto daquele terraço. Torturado por esses pensamentos sem sentido que estranhamente o deixaram raivoso, Aaron nem mesmo esperou pelos aplausos dos convidados. Assim que os últimos acordes do baixo de Marvin soaram e a multidão de adolescentes explodiu em aplausos e gritos, ele jogou a paleta no chão, encostou sua guitarra na mesma caixa de som de antes e desceu do palco indo como uma flecha ao encontro de Chloe. -Cadê a Mel? – perguntou ele visivelmente apreensivo. -Foi pegar alguma coisa pra beber. Ela já deve estar voltando e... Mas Aaron sequer ouviu a última frase da garota. Preocupado, abriu caminho em meio ao mar de gente diante dele decidido a encontrar Melissa, mesmo que tivesse de vasculhar o prédio inteiro para isso. Após sair da parte oeste do terraço onde recebeu um bando de cumprimentos pelo ótimo show e tapinhas de encorajamento nas costas ao


qual não respondeu, o primeiro lugar que Aaron decidiu procurar pela amiga foi num outro mini terraço que existia bem em cima do bar onde vários barman’s faziam malabarismos com garrafas de absinto e Uísque. Aaron não sabia o porquê, mas em sua mente aquele seria o lugar perfeito para Russo levar Mel, afinal tinha uma vista maravilhosa da cidade, além de ser bem mais reservado que os outros cantos da cobertura. Assim ele poderia jogar seu charme de conquistador barato sobre ela com mais facilidade sem ser incomodado por ninguém. Raivoso só de pensar na cena dos dois juntos, Aaron subiu com pressa a escada que levava ao mini terraço, mas ao invés do que havia imaginado encontrou apenas Sophie sentada no chão, chorando e soluçando feito uma criança. Sem ter idéia do que fazer, o garoto ficou parado alguns segundos na escada, enquanto uma pequena guerra se desenrolava em seu cérebro. De um lado havia a vontade enorme de ficar ali e conversar com sua paixão sobre o que tinha lhe acontecido, já do outro o desejo de salvar Mel da ameaça chamada Daniel Russo que provavelmente estaria rondando a amiga naquele momento. Com lágrimas escorrendo pelo rosto inchado de tanto chorar, Sophie parecia não se importar com a presença de Aaron. Estava tão triste por ter visto Oliver combinar um encontro romântico com uma garota, sábado no restaurante Nobu e depois ficar aos amassos pelos cantos com outra, que nada mais conseguiria piorar seu humor. -Veio apreciar a vista, Aaron? –ela perguntou secando as lágrimas e catando a tiara com orelhinhas de gato que havia atirado furiosa no chão do terraço minutos antes. -Bem, na verdade eu estava procurando a Mel... Mas agora fiquei preocupado com você, aconteceu algo sério? -Eu preferiria não falar sobre isso. Só quero te perguntar uma coisa, mas é pra responder com toda a sinceridade, está bem? -Ok, pode falar. – prometeu Aaron aproximando-se dela. -Honestamente pra você, eu sou uma pessoa ruim? Por favor, diga a verdade, não precisa ter medo de me magoar.


-Olha, às vezes você é um pouco esnobe e irritante. – afirmou ele ajoelhando-se diante de Sophie. – Mas eu sei que existe uma garota muito legal por trás dessa fachada de princesinha do Upper East Side. Sophie pareceu um pouco desconcertada com a resposta de Aaron, já que não era isso que ela esperava ouvir, pelo menos não com tanta sinceridade, mas acabou esboçando um leve sorriso para ele. -Sabe Stonewell, você não é tão chato como eu pensava. – disse ela levantando-se. –Agora eu sei por que a Mel gosta tanto de você. -Ei, você já vai? Não quer conversar mesmo sobre o que aconteceu? -Não. Já ouvi o que precisava. Acho melhor eu retocar a maquiagem. Não quero que todos me vejam com esses olhos vermelhos e inchados. Afinal, eu tenho uma reputação a zelar, não é? -É... claro... sua reputação. - concordou Aaron meio que desapontado vendo-a ir sem poder fazer nada. Já descendo a escada, Sophie parou de repente, pensou várias vezes na atitude louca que seu cérebro pedia-lhe para tomar, até que se encheu de coragem e num ímpeto decidiu voltar para o mini terraço. -Aaron, eu queria te perguntar outra coisa. –ela disse num fôlego só. Pego de surpresa, o garoto tirou os olhos da vista magnífica do prédio Empire State a sua frente e virou-se na mesma hora para encarar Sophie. -Será que você gostaria de jantar comigo no restaurante Nobu, sábado, às nove? -Com você? Sábado? – Aaron repetiu meio embasbacado. - Hã...claro, claro eu adoraria! -Então fica combinado assim: a gente se encontra no saguão do hotel oito e meia está bem? Não se atrase! Dizendo isso Sophie deixou o mini terraço sem se dar conta do quanto Aaron havia ficado surpreso com aquele convite. Por mais que fosse estranho o fato de que até ontem ela o ignorava, Aaron não quis pensar nisso e muito menos em como Oliver iria reagir sabendo que os dois teriam um encontro, afinal ele estava tão feliz que sua única vontade era contar para sua melhor amiga o que tinha acontecido.


E foi naquele momento, como se tivesse acabado de sair do mundo das maravilhas, como dizia sua música, que Aaron caiu na realidade. Distraído com Sophie ele havia se esquecido por completo de Mel e Russo, e conhecendo o conquistador barato como ele conhecia, era preciso agir logo, antes que aquelas cenas torturantes que tinha imaginado minutos atrás se tornassem reais. Tomado então por uma sensação estranha que nada tinha haver com a felicidade por ter um encontro com Sophie ou mesmo o ódio por Daniel, Aaron começou a descer as escadas do mini terraço e prometendo a si mesmo de que encontraria Mel, lançou-se mais uma vez a procura da garota por toda a cobertura do bar 230 Fifth. Ele não queria admitir, mas todo aquele empenho tinha uma simples razão: ciúmes...

*

*

*

*

*

Do outro lado do terraço, Melissa havia acabado de sair do bar que ficava perto do deck leste. Com dois copos de refrigerante nas mãos e as duas asas nada práticas de sua fantasia, passar pela multidão que dançava enlouquecida sob uma agitada música trance havia se tornado um desafio. Mel até tentou se espremer pelos minúsculos espaços que ainda sobravam, mas mesmo com o máximo de cuidado que teve, o destino dos refrigerantes acabou sendo o terno roxo de um garoto fantasiado de Curinga que resmungou de raiva. Depois das milhares de desculpas e ainda com muita sede, ela decidiu voltar para onde Chloe estava, porém antes que pensasse em seguir na direção do deck oeste, uma suave mão segurou seu braço. -Até que enfim eu te encontrei. – disse a voz difícil de ser reconhecida devido à música alta. Ao voltar-se para onde viria o som, Melissa deparou-se com um rosto que nuca tinha visto antes. Segurando seu braço estava Daniel Russo olhando-a sedutoramente com seus olhos castanhos.


-Eu conheço você? – perguntou Mel tentando livrar o braço das mãos do garoto. - Não, mas pelos olhares que você me deu acho que nem precisamos, já fomos mais do que apresentados. -Olhares?! Você é louco ou o quê?! Eu nunca te vi na vida garoto! -Ah, que isso gatinha. Eu sei que você me deu umas boas olhadas, é normal que você prefira um cara como eu do que um franguinho metido a Rock Star. Então para com esse jogo de “gato e rato” e vamos logo ao que interessa. – disse Russo puxando Mel para perto de seu corpo. -Me solta garoto! Me solta! – gritou Mel fazendo força para se afastar dele. -Me dá logo um beijo vai. Não se faça de difícil, você quer tanto quanto eu gatinha. –Russo afirmou pressionando Mel contra seu corpo. Mesmo sobre os protestos e gritos dela, Daniel ainda assim não a soltou e acabou por tentar beijá-la à força. Enojada, a garota debateu-se de um lado para o outro tentando evitar que aquele idiota conseguisse o que queria, quando de súbito alguém puxou Russo pelo cabelos com tanta força que quase o fez cair no chão. -Solta ela seu babaca! – bradou Aaron com os olhos cheios de fúria. -Ora, ora, se não é um dos irmãos perfeitos. – Russo disse rindo enquanto se recompunha. - O que foi? Não gosta de um pouco de competição? Ah, já sei, tem medo de perder pra mim agora que eu não sou mais aquele nerd fracote que morria de medo de você! Está vendo isso aqui? São músculos cara, que vão fazer um estrago nesse seu rostinho de bom moço. –Daniel acrescentou apontando para os músculos gigantescos de seu braço. -Russo eu odeio violência e não vou gastar meu tempo brigando com você, então cai fora e vê se supera essas suas neuras em casa. Vamos Mel. –disse Aaron, enlaçando a mão da amiga e dando as costas para o antigo rival. Irado com a atitude racional do garoto Daniel, que não gostava nem um pouco de sair por baixo, partiu pra cima de Aaron feito um verdadeiro touro. Na mesma hora abriu-se um enorme círculo no meio do terraço, onde as pessoas começaram a se aglomerar em volta para ver a briga. Sob os gritos de “luta, luta, luta” que saiam da boca de quase todos que estavam ao redor dos dois e se deliciavam com aquilo Aaron deu um potente soco de direita em


Daniel. Num primeiro momento o canalha pareceu ter ficado desnorteado, até que segundos depois sacudiu a cabeça e revidou o golpe com toda a força que possuía no corpo. Não foi um soco certeiro, porém o suficiente para fazer Aaron se desequilibrar e cair de costas no chão. Aproveitando-se disso Daniel sentou-se em cima do antigo rival, parecendo um daqueles lutadores de valetudo, e após erguer seu braço o mais alto que pode, golpeou Aaron fazendo seu supercílio sangrar. Achando que daria uma surra no garoto, Russo não percebeu uma pequena movimentação atrás dele, apenas sentiu o impacto de alguma coisa quebrando em sua cabeça e depois disso, caiu tonto no chão gritando de dor. -Vem comigo, Aaron! – ordenou Mel, ajudando-o a se levantar depois da corajosa “jarrada” que dera na cabeça de Daniel. O garoto apoiou o braço em Melissa e com um pouco de dificuldade ela o levou para a cozinha do bar onde poderia lavar o ferimento dele e ficar bem longe daquele idiota chamado Daniel Russo que Mel havia conhecido a menos de dez minutos, mas já odiava mortalmente por ter feito aquilo com seu melhor amigo. -Senta aí, deixa eu cuidar de você. – disse ela carinhosa, apontando para a bancada que ficava ao lado de um fogão industrial. Os funcionários contratados para fazer o Buffet da festa não se sensibilizaram nem um pouco com a situação de Aaron e continuaram seus afazeres na cozinha ignorando os dois como se Melissa e Aaron não estivessem ali. -Mel, não foi nada. – ele disse tentando amenizar a preocupação da amiga. -Nada?! Aaron você está sangrando! Eu vou limpar um pouco esse machucado, mas depois nós vamos pro hospital! -Hã?! Não mesmo, foi só um corte pequeno e olha só, eu nem preciso levar pontos. – retorquiu o garoto passando levemente a mão sobre o ferimento, na tentativa de demonstrar que não havia sido nada grave. Mas Mel não quis lhe dar ouvido. Ao vasculhar os armários da cozinha em busca de alguma coisa que servisse para limpar todo aquele sangue, a única coisa que ela encontrou foi um rolo de papel toalha esquecido no fundo da prateleira.


-Já que não temos muitas opções, isso vai ter que servir. – conformou-se a garota umedecendo um pouco o papel com a água que jorrava da torneira da pia. Aaron mesmo machucado e furioso com Russo ainda assim sentiu-se bem com toda aquela atenção que Mel estava lhe dando. Não sabia por que, mas estar ao lado dela e ver o quanto a garota se preocupava com ele fazia seu coração bater mais rápido do que de costume. Com suavidade para não machucá-lo mais, Melissa limpou todo o sangue que estava ao redor do supercílio dele, o que a fez constatar que de fato não havia sido um corte profundo como ela pensara. Ainda limpando o ferimento do garoto, Mel sentiu um certo arrepio na espinha quando viu os olhos cor verde esmeralda de Aaron fitarem os dela docemente. -Você é um anjo, sabia? – disse ele afagando de forma suave a mão da garota, enquanto ela ainda limpava seu rosto. -E você é um maluco! – rebateu Mel sorrindo. – Não precisava ter feito aquilo por mim, brigar não leva a nada. -Eu sei, mas é que quando eu vi o cafajeste do Russo com aquelas mãos sujas em cima de você eu perdi a cabeça. Não quero que nenhum idiota te magoe. Nunca vou deixar isso acontecer, eu juro! – prometeu o garoto descendo da bancada onde estava sentado. Apesar do pequeno corte no supercílio e a fantasia manchada por algumas gotas de sangue, nada conseguia acabar com o ar charmoso que Aaron possuía. Mel até tentou desviar olhos, mas era difícil ignorar a presença daquele garoto tão perto dela, lançando-lhe um olhar que faziam todos os seus pensamentos se confundirem. Calados, ela e Aaron se olharam imóveis durante um bom tempo, até que Chloe e Marvin surgiram na cozinha interrompendo aquele momento tão estranho entre os dois. -Cara que briga foi aquela?! Eu pensei que o Russo ia te matar. – disse M.J. sem se dar conta do comentário idiota que havia feito. -Meu Deus! Você está bem Aaron? – quis saber Chloe franzindo a testa de nervoso enquanto olhava o supercílio aberto do garoto. -Calma gente, eu vou ficar legal. Foi só um corte bem pequeno, não se preocupem.


-Cara, você sabe que é como se fosse um irmão pra mim e que eu daria minha vida pra te proteger, mas quando eu vi o tamanho do Russo minhas pernas não conseguiram sair do lugar. Ele está um monstro, dá medo só de ver. Nem parece que tem quinze anos! Como será que ele ficou tão forte daquele jeito? Será que ele está usando anabolizantes? -Marvin, acho que isso não é importante quando se está com uma grande dor de cabeça e um dos supercílios aberto. – repreendeu Mel após ver Aaron levar as mãos à cabeça e fazer uma careta típica de dor. -É, desculpa irmão, foi mal. É melhor você ir por hotel, pode deixar que eu levo a sua guitarra pra minha casa. -Valeu M.J., eu não estou mesmo com cabeça pra pensar nisso. Amanhã de manhã eu passo lá pra pegar. – disse Aaron se despedindo do garoto dando dois tapinhas no ombro dele. Sem Chloe, que deu um tchauzinho ao mesmo tempo que lançava um certo olhar de entendimento para a amiga quando disse que ainda ficaria na festa, Mel e Aaron dirigiram-se sozinhos até a saída do terraço sem terem por sorte encontrado com Daniel Russo que, depois de tanto perambular pela cobertura, agora se vangloriava para um grupinho de meninas por ter dado uma lição no famoso Irmão Perfeito. Após pegarem um táxi com destino ao Hotel Meditteranean, Aaron se acomodou na poltrona do carro e como uma criança manhosa encostou a cabeça no ombro de Mel, que começou a fazer um suave cafuné no cabelo dele enquanto conversavam. Quando a noite terminou para a garota e ela já se encontrava sozinha em sua suíte, as surpreendentes confidências que Aaron havia lhe feito no banco do táxi ecoaram duras e avassaladoras pelo seu pensamento. Mel não queria acreditar, mas ele e Sophie teriam um encontro e não havia nada que ela pudesse fazer em relação a isso, a não ser chorar de raiva.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.