CAPÍTULO 14 ARTHUR MCVEIGH
Sentados a mesa do Chateau D’ore, Albert e Linda conversavam eufóricos sobre o casamento. Levando uma xícara de chá a boca, Mel fitou a futura madrasta com dureza, pois já conseguia ver uma série de cifrõezinhos brilhando em seus olhos com a proximidade da cerimônia. Ao seu lado, alheia ao o que ocorria na mesa, Sophie nunca havia desejado tanto que seu celular tocasse. -Aconteceu alguma coisa filha? – Albert indagou. –Você não tira os olhos desse telefone. -Ah querido, Sophie deve estar esperando a ligação de algum namoradinho. Não vê a ansiedade em seus olhos? Só acho uma pena que ela tenha terminado com o Oliver. Eu já estava me acostumando como o fato de ter uma “noraenteada” – disse Linda lançando um sorriso falso para a garota. Pouco animada em retribuir, Sophie virou o rosto e pôs-se a olhar a linda vista do Central Park, demonstrando de forma notória que aquilo era muito mais interessante do que a conversa chata que se desenrolava a mesa. -Estou tão feliz Linda! Tudo está correndo como previsto e até mesmo as obras de nossa cobertura na Quinta Avenida já estão quase prontas. Quando chegarmos da lua-de-mel em Saint Tropez, poderemos ir diretamente para nosso apartamento. -Que maravilha amor! Mas eu estive pensando... Quando voltarmos as crianças já estarão tendo aula, você por um acaso matriculou nossa querida Melissa na Eugenne Sinclair Academy? -Hmm... Não. Estou um pouco atarefado nestes últimos dias, nem sei como consegui essa brecha na agenda para estar aqui com vocês. Mas antes mesmo
de nosso casamento eu farei isso! – afirmou ele virando-se para Mel enquanto apertava a mão da filha de forma paternal. Com uma vibração forte e cada vez maior, o moderno celular de Sophie começou a rastejar sobre a mesa chamando a atenção de todos. Ansiosa, a garota olhou seu visor e quando se certificou de quem a aguardava do outro lado da linha, levantou-se da mesa como um furacão sem nem ao menos explicar o motivo de tanto nervosismo. Mel que já sabia quem estaria ligando, mas não o porquê daquilo, seguiu a irmã logo atrás despedindo-se tão rápido de Albert e Linda, que nem chegou a ouvir os apelos do pai para que ficasse mais um pouco. No corredor que levava a suíte da irmã, Mel tentou interrogá-la, no entanto Sophie estava irredutível e só esclareceu o mistério quando abriu a porta do quarto e viu que seu convidado tinha acabado de chegar. De pé, a alguns passos de Beck, que havia a pouco lhe telefonado e também estava na suíte, encontrava-se um homem alto, moreno, de feições rudes, barba mal feita e um ar arrepiante que fez o corpo inteiro de Melissa gelar. Ao vê-las entrando, o tal homem ajeitou o paletó fora de moda que usava sobre uma camisa xadrez horrenda e foi na direção de ambas para cumprimentá-las. -Este Mel é a nossa salvação, senhor Arthur Mcveigh. Fotógrafo nas horas vagas e detetive particular com mais de mil casos solucionados. – disse Sophie. -É um prazer conhecê-la senhorita Melissa Fenner. – cumprimentou ele apertando a mão da garota com força. Embora já tivesse entendido o porquê da presença de McVeigh ali, Mel pareceu não confiar nele. Sentira um certo ar de charlatanice no detetive, e por isso preferiu que Sophie explicasse toda a história que as afligia, assim como quem seria o principal alvo na investigação. Tomando pela primeira vez as rédeas do plano pra desmascarar Linda, Sophie pegou uma pasta preta que continha todas as informações conseguidas sobre a madrasta e seu amante criminoso, William Blos. -Detetive McVeigh nossa vida depende disso entendeu? Já fizemos a metade do seu trabalho. Temos o endereço do amante dela e até os nomes falsos que
ele usa. Agora eu quero fotos, gravações ou qualquer coisa que prove o quanto Linda Stonewell é golpista. Mas eu preciso dessas provas o quanto antes, o tempo não está ao nosso favor. Entendeu? – frisou Sophie entregando a pasta preta nas mãos do detetive. -Não se preocupe senhorita, pegar os pombinhos no ninho vai ser a coisa mais fácil que eu já fiz na vida. Em menos de uma semana eu terei as provas de que precisa. -Ótimo. O resto do pagamento virá depois como nós combinamos no seu escritório. Agora acho melhor o senhor ir. Ninguém pode vê-lo aqui no hotel. Vá de escada e tente ser discreto, ok? Após ouvir as recomendações de Sophie, McVeigh despediu-se de Mel e enfiando a pasta preta na mala executiva que trazia, saiu do aposento acompanhado por Rebeca Pitty que ia mostrar-lhe o caminho mais reservado para que pudesse sair do Meditteranean incógnito. Sentando-se preocupada na cama, Melissa parecia não estar muito certa de que aquela seria a melhor atitude a ser tomada, mas na falta de uma idéia melhor, McVeigh infelizmente parecia ser a única solução. -Então, o quê você acha? – perguntou Sophie sentando-se ao lado da irmã. -Sei lá, ele me pareceu meio...vigarista. – confessou Mel receosa. -Ah, pelo anúncio dele no Google acho que é um excelente detetive. -Hã? Google? Você contratou esse cara por um anúncio na Internet?! Sophie nós precisamos de um dos melhores detetives de Manhattan, e não de uma criatura que parece ter saído de um episódio dos Sopranos! -Pra sua informação, ele já resolveu mil casos dificílimos. E eu tenho certeza que vai conseguir as provas que a gente precisa contra a vaca loira. Agora, se você está fazendo tudo isso só porque não foi o gênio que teve a idéia primeiro, aprenda a perder irmãzinha.... Como eu aprendi quando vi que a mamãe gostava mais de você do que de mim. -Você não entende, não é?! – afirmou Melissa levantando-se irada. – Isso não é uma disputa pra saber quem é melhor, é a nossa vida e eu quero tanto quanto você desmascarar a Miss Botox. Só que eu não confio nesse McVeigh. -Pois passe a confiar Missy, querendo ou não ele é a nossa única saída. – disse Sophie apresentando uma estranha calma.
Sentindo que se ficasse ali acabaria discutindo sério com a irmã, Mel saiu bufando do quarto, irritada com a idéia idiota e as insinuações mentirosas que ela havia feito. Agora mais do que nunca, sabia que precisava se acalmar e pensar um pouco para arranjar uma solução e assim não deixar seu destino apenas nas mãos de McVeigh. Mas ainda assim era difícil ignorar as palavras revoltantes de Sophie. Como facas afiadas, elas a feriram de tal maneira, que só existia um lugar onde Melissa poderia esfriar a cabeça e esquecer-se de todas as angústias que a afligiam naquele momento: o tranqüilo e deserto ambiente da piscina.
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Não muito longe do Meditteranean, na residência suntuosa dos Ojemann, Marvin nem mesmo teve tempo de parar e conversar um pouco com Anette, a jovem madrasta de Doug. Estava tão atrasado para o ensaio, graças a uma ligação inesperada que recebera de Chloe quando estava prestes a sair de casa, que ao entrar no apartamento do amigo seguiu direto pelo longo corredor decorado por belos quadros Renascentistas, só parando para respirar quando abriu a porta do salão onde sempre aconteciam os ensaios da Nonsense. -Ah, não! Me diz que eu não corri por Manhattan feito um louco pra chegar aqui e não ter ensaio. – bradou M.J. olhando para a reluzente bateria de Doug que estava vazia. No canto do salão, rodeado por dezenas de revistas de cifras musicais e jogado no escandaloso pufe de couro de vaca comprado por Anette, Aaron não mexeu sequer um músculo ao ver Marvin entrar pela porta de madeira que ostentava um grande pôster do grupo Green Day. Seu rosto estava lívido e além do cansaço que exibia, era evidente que algo importante preocupava o garoto naquele momento.
-Ei cara! Eu to falando com você. Será que eu to invisível?! – questionou-se M.J. abrindo os braços. – Hmm... pela sua cara o encontro com a Sophie não foi muito bom, acertei? -Não teve encontro nenhum. Eu preferi ficar cuidando da Mel que estava ardendo em febre na noite retrasada e não me arrependo, porque eu vi afinal que a Sophie é apenas um poço fundo de maldade e egoísmo. Mas o que está me deixando nervoso mesmo é isso aqui. – disse Aaron tirando um envelope amassado do bolso e jogando no colo de M.J. que agora encontrava-se sentado ao seu lado. Boquiaberto com as primeiras frases do pequeno texto contido na carta, Marvin urrou de felicidade e em um rompante cômico, abraçou Aaron que quase caiu no chão devido à força descomunal que o amigo havia empregado. -Cara você passou em segundo lugar! Você vai estudar no Conservatório Schubert, na Califórnia. Isso é demais! -vibrou M.J. dando um soquinho leve no braço do amigo. Mas ao contrário da reação de Marvin, Aaron não parecia tão entusiasmado com o curso e a viagem. Sua vida havia tomado um rumo estranho depois da explosão de seu apartamento e tudo o que sempre desejou, agora parecia não ter tanta importância como antes. -Marvin, pra ser sincero eu não sei mais se quero ir pra Califórnia. – revelou Aaron. -O quê?! Depois de meses estudando pra prova você vai perder essa oportunidade? O curso é quase um passaporte pra estudar na Juilliard! -Eu sei... Mas eu não quero ficar longe de Nova York tanto tempo. Não quero me afastar agora. Com uma expressão de entendimento no rosto, Marvin captou em poucos segundos a causadora da enorme dúvida que pairava na mente de Aaron. -Sei. Você quis dizer que não quer ficar longe da Mel, não é? – corrigiu o amigo. -Do que você está falando cara? A Mel é apenas minha amiga, esqueceu? -Aaron será que só você ainda não se ligou que o que está sentindo por ela é mais que amizade? Você discutiu com o Doug por causa dela, desmarcou o encontro com a Sophie, brigou feio com o monstro do Russo mesmo sabendo
que poderia parar no hospital... Cara, tudo isso só quer dizer uma coisa: você se apaixonou pela Melissa. – concluiu M.J. olhando fundo nos olhos do amigo. Por alguns instantes Aaron emudeceu. Em sua mente passaram-se todas as cenas que Marvin havia descrito, assim como o beijo que, por impulso, ele quase dera em Mel quando brincavam na cama elástica do parque de diversões. -Droga M.J, eu não sei o que esta acontecendo comigo! Não consigo mais ver a Mel como antes. Sei lá, é uma sensação tão estranha que eu sinto quando ela está por perto. Me dá uns calafrios, meu coração fica a mil como se eu tivesse corrido uma maratona. E se eu não estou com ela, eu sonho com ela, se eu não to dormindo eu penso nela. Cara é muito estranho... -Aaron, você não está apaixonado. Está é terrivelmente apaixonado! – frisou Marvin sorrindo. -Tá, tá bom... E se eu estiver? - perguntou ele finalmente admitindo e ficando com a face avermelhada. – Ela me vê apenas como um amigo, um irmão. -Isso é o que você acha. Por que é que não vai lá no hotel agora e fala o que está sentindo, ou sei lá, rouba um beijo pra ver a reação dela? -Você só pode estar louco! Ela com certeza vai dizer que eu estou confundindo as coisas, que estou me aproveitando do fato de sermos amigos! É lógico que ela vai me rejeitar... -Não, ela não vai! – afirmou Marvin pegando a guitarra do garoto que estava encostada em uma mesinha e devolvendo a ele. – Você é um dos “irmãos perfeitos” lembra? O cara que arranca suspiros das garotas! E além do mais, eu vi o climão que estava rolando entre você e a Mel quando ela estava limpando seu supercílio machucado depois da briga com o Russo. Eu acho que ela gosta de você sim, vai por mim cara. Um pouco mais confiante com o apoio que M.J. havia lhe dado, Aaron se encheu de coragem, pegou sua velha guitarra e saiu correndo da cobertura dos Ojemann com o coração quase explodindo. Não sabia ainda o que diria a Melissa quando chegasse a hora, mas só de estar a caminho do Meditteranean decidido a declarar-se, já era um importante começo para ele.
CAPÍTULO 15 CONFISSÕES
Não havia ninguém no ambiente da piscina, com exceção de Mel que se encontrava deitada pensativa na espreguiçadeira. A discussão com Sophie e o encontro com McVeigh a haviam deixado angustiada, e por mais que tivesse
pensado em uma forma de não deixar seu futuro nas mãos do detetive charlatão, nenhuma idéia boa ou ruim tinha passado por sua mente. Triste devido a este fato, Mel resolveu tirar o roupão branco do hotel e mergulhar na piscina, tentando esquecer um pouco através daquela água refrescante os problemas enormes que a esperavam fora dela. Nadando de um lado ao outro, praticamente colada ao fundo graças ao incrível fôlego que tinha desde criança, ela deu duas voltas sem levantar-se para respirar, até que ao retornar para a superfície, ela viu Aaron de pé, a menos de um passo da borda, olhando-a com aqueles seus sedutores olhos cor de esmeralda. -Ei! Você não deveria estar no ensaio? – Melissa perguntou vendo a guitarra do amigo largada na espreguiçadeira, onde até minutos antes ela estava deitada. -Deveria, mas o Doug não encara a banda como eu e o Marvin. Pra ele é apenas uma forma de ser popular na escola e “ganhar” muitas garotas. Deve ter saído com alguma delas e se esqueceu da gente. Não é a primeira vez que faz isso, já estamos acostumados. – disse Aaron dando de ombros. -Hmm...entendi... Bom, já que você não tem mais ensaio por que não vem dar um mergulho comigo? A água está ótima. -Eu até queria, mas estou com muita preguiça de ir na minha suíte trocar de roupa. Prefiro ficar aqui vendo você nadar como uma sereia, sempre foi tão boa nisso. -Não, tudo bem, eu já ia sair mesmo. Meus dedos estão todos enrugados iguais aos de uma velhinha. – mentiu Melissa com um sorrisinho duvidoso no canto dos lábios. – Vêm me ajuda a sair. Estendendo a mão para Aaron, a garota ficou a espera de que o amigo se aproximasse um pouco mais da piscina e, quando ele finalmente agachou-se para segurar sua mão, Mel puxou a dele com toda a força. Isso o fez perder o equilíbrio e cair logo depois como um bloco de chumbo, esparramando assim uma grande quantidade de água pelas bordas da piscina. Entre borbulhas e leves ondas que se formaram, Aaron voltou à superfície onde Melissa agora emitia uma sonora gargalhada e não aparentava o menor remorso pela brincadeira infantil que fizera.
-Quatro anos se passaram e eu ainda caio no mesmo truque idiota. Quando será que eu vou aprender? – questionou-se ele sorrindo, apesar de sua roupa encharcada parecer pesar uns dez quilos agora. -Certas coisas nunca mudam Dentinho. -É mesmo... ainda bem... -Hã? Não entendi a ironia. – resmungou Melissa aproximando-se mais do amigo. -Não foi ironia. É que alguns dias antes de você voltar pra NY, eu me lembrei das nossas brincadeiras, da várias broncas que a gente levava e pra falar a verdade, fiquei com medo de que você me tratasse como um estranho. Achei que ia passar por mim na rua e virar o rosto. Sei lá, eu pensava que ia ignorar a nossa amizade de tantos anos. Mas aí você falou comigo na sua festa de boas vindas e parecia a mesma Melissa de sempre. Era como se esses quatro anos tivessem sido apenas mais um daqueles fins de semana que você passava com seus pais na casa de praia em South Hamptons. Nada havia mudado. -Quer dizer então que eu ainda sou aquela balofa tampinha que não aguentava apostar corrida com você, é? -perguntou Mel brincando. -Não foi isso que eu quis dizer, garota complicada! – exclamou Aaron ficando frente a frente da amiga. – E se quer saber, esses anos todos fizeram você ficar linda. -Ah, opinião de melhor amigo não vale... -É, mas antes de ser seu amigo eu sou um garoto como outro qualquer, e na minha opinião sincera de garoto eu te acho muito bonita, mais do que a Sophie ou qualquer outra garota da escola. Naquele momento Mel que fugia dos olhares diretos de Aaron encarou-o afinal. A proximidade entre os dois era tamanha que ele agora apenas sussurrava, como se as palavras que dizia fizessem parte de um segredo. -Sabe, você tem os olhos mais lindos que eu já vi. É incrível como em todos esses anos eu nunca reparei neles, como nunca reparei no seu rosto, na sua boca... O coração de Aaron palpitava de tanto nervosismo. O mesmo clima estranho que tinha rolado entre eles no parque de diversões e na festa de Vicky havia
voltado, e por mais que Mel tivesse percebido, ela preferiu ficar quieta olhando profundamente nos olhos do amigo enquanto esperava sua reação. Durante alguns segundos Aaron permaneceu imóvel, hesitante, até que tomado pela vontade irresistível que o consumia, foi aproximando-se cada vez mais e mais do rosto de Melissa e enlaçando-a de forma suave com seus longos braços dentro d’água finalmente a beijou. No começo os lábios dos dois tocaram-se como se fossem dois cristais finos prestes a quebrarem, mas depois arrebatado pela sensação inexplicável que percorria todo seu corpo, Aaron abraçou Mel de um jeito ainda mais forte fazendo com que o corpo dos dois ficassem colados como nunca. Ali, sentindo o coração acelerado um do outro, o beijo que até então era suave tornou-se ardente, agarrado, apaixonado como nos filmes. A diferença de altura entre eles parecia não ser problema. Apesar de Aaron ser bem mais alto, os dois encaixavam-se como se tivessem sido feitos um para o outro. Mel cabia direitinho nos braços dele. Longos minutos se passaram durante o beijo, mas ambos mergulhados na incrível sensação que sentiam perderam por completo a noção de tempo e espaço. Nem mesmo o leve cheiro de cloro da piscina os incomodava. De repente, acordando para aquela estranha realidade, Melissa empurrou Aaron, que sem nada entender ficou paralisado a olhando. -Eu tenho que ir. – disse Mel assustada. -Não! Espera! Eu preciso falar com você! – protestou Aaron. Mas ela não quis ouvir o que o garoto tinha a lhe dizer, apenas saiu agitada da piscina e pegando o roupão do hotel que estava na espreguiçadeira colocou-o de qualquer forma sobre o corpo molhado. Aaron ainda pediu várias vezes para que ela esperasse, só que antes mesmo dele sair da piscina, Mel já havia sumido após passar pela pequena porta de madeira que dava para o corredor. Ensopado e muito chateado com a reação da amiga, ele sentou-se na espreguiçadeira onde encontrava-se sua guitarra e tirou a camisa com uma expressão confusa no rosto. Enquanto torcia sua encharcada blusa preta com o símbolo dos Rolling Stones, a cena do beijo voltou a sua cabeça e, ainda que se sentisse feliz por ter acontecido o que tanto queria, uma pontinha de
tristeza e medo tomou seu coração. Afinal, não agüentaria se no dia seguinte Mel começasse a ignorá-lo por causa daquilo. Seria duro demais pra ele perder de uma só vez sua melhor amiga e agora a garota por quem estava perdidamente apaixonado.
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-Você sabe que eu gostaria de ficar e conversar mais sobre o lance do Aaron, mas os meus pais vão jantar no Allain Ducassi hoje. Sabe como é, meu pai esqueceu o aniversário da mamãe e agora vai ver se conserta as coisas com uma jóia cara da Tiffany’s e um bom restaurante. Então eu vou ter que ajudá-lo a escolher o tal presente de desculpas. – disse Chloe debruçada no parapeito do terraço enquanto observava as luzes da cidade. -Não tem problema. Você já fez muito vindo aqui me ver mesmo estando no meio de um encontro com o Marvin. Desculpa por estragar tudo. Acho que nestas últimas semanas eu só tenho feito isso. – suspirou Melissa sentada no chão do terraço ao lado de onde a amiga estava. -Isso não é verdade Mel! Está certo que fugir do garoto que é apaixonada e se esconder no terraço não é um atitude lá muito normal, mas pelo menos é compreensível. -Chloe ele me beijou! Eu gostei sim, gostei muito, na verdade era o que mais queria desde que eu o vi na festa de boas vindas, só que talvez ele tenha feito isso porque o lance com a Sophie não deu certo e ele agora está carente. -Duvido amiga. O Aaron não faz esse tipo de coisa. Quando ele se apaixona por alguém de verdade, não olha pra mais ninguém apesar de quase todas as garotas da escola se jogarem em cima dele. Se quer um conselho, tome um banho, tire esse cloro do cabelo, essa roupa que você vestiu de qualquer jeito sobre o biquíni e vá falar com ele. Só assim vai saber o que o Aaron sente de verdade. – afirmou Chloe, agora agachada, abraçando a amiga e encostando sua cabeça de forma terna na dela.
Surpreendendo as duas garotas, um barulho estranho de porta rangendo ecoou pelo terraço. Após passar pelas inúmeras pilhas de caixas de papelão que se amontoavam cada vez mais no local, Aaron apareceu diante delas que em um impulso levantaram-se rápido devido a sua presença. Ele estava lindo, com as mãos no bolso de uma calça jeans clara e uma blusa vermelha, onde se encontrava escrita a frase “I’m your guitar hero”. Cheirava a uma mistura de gel e perfume Polo Blue que, apesar de serem um pouco diferentes, causavam uma sensação deliciosa e irresistível ao olfato. -Oi Aaron. Ih, caramba! Olha a hora! Meu pai já deve estar arrancando os cabelos de raiva. – disse Chloe olhando teatralmente para o relógio. –Sério, eu tenho que ir, amanhã a gente conversa amiga. Apressada, Chloe deu um tchauzinho para Aaron e quase que correndo, mesmo não estando tão atrasada assim como havia afirmado, atravessou a porta de metal do terraço que rangeu devido à falta de óleo. Sozinhos de novo, Melissa preferiu fugir dos olhos sedutores de Aaron e encostando-se no parapeito do terraço ficou de costas para ele, olhando o movimento agitado da cidade que nunca dorme. Um pouco sem jeito, Aaron aproximou-se dela e mesmo com a amiga o ignorando, tomou fôlego para dizer tudo que havia ensaiado enquanto tomava banho. -Mel, olha pra mim, por favor. – pediu ele. –Eu não sei se você se arrependeu do que rolou na piscina, mas eu só queria dizer que eu não me arrependi de ter te beijado. Surpresa por aquelas palavras Melissa virou-se para o garoto. Todo o seu corpo vibrava naquele momento. -É, não me arrependi. – continuou Aaron. -E se pudesse beijaria você de novo e de novo, porque acho que eu estou... apaixonado... E se você estiver sentindo o mesmo, eu não vou pro curso de música que me ofereceram na Califórnia. Por que nós já passamos quatro anos longe um do outro e eu não quero passar mais três meses. Mas se você disser que não sente nada por mim, embora eu ache que sinta, amanhã mesmo eu começo a preparar tudo para a viagem. -É? E a Sophie? Você não era a fim dela? – Mel perguntou com firmeza.
-Ah, eu estava vidrado em uma ilusão e demorei pra descobrir isso. Não senti pela Sophie em um ano o que eu senti por você em um mês. Mas agora que eu descobri porque que meu coração parece dar cambalhotas quando te vejo, não quero perder mais tempo, não quero perder você... Aquela declaração de Aaron havia derretido Mel. Uma alegria e euforia incríveis tomaram seu coração e apesar da timidez, ela sentiu que era hora de dizer a verdade ou então poderia perdê-lo pra sempre. -Eu... me apaixonei por você quando te vi na festa de boas vindas. Não sabia que era o meu melhor amigo de tantos anos, só sabia que era o garoto mais charmoso que eu já tinha visto. -Então você... E Aaron chegou bem pertinho do rosto de Mel. -É eu gosto sim. – completou a garota, inclinando sua boca na direção da dele. Como se fosse um sonho, Mel fechou os olhos e sentiu os lábios suaves de Aaron tocarem os seus mais uma vez. O beijo dele era quente, macio, gostoso e a fez sentir que levitava enquanto seus braços enlaçavam sua cintura com paixão. Melissa não ouviu fogos, nem sinos como alguns dizem que acontece, mas a sensação de estar com Aaron havia sido indescritível. Ele era um sonho, o garoto perfeito que todas as meninas desejavam e agora para sua felicidade era seu, só seu...