CAPÍTULO 12 SURPRESAS NO PARQUE
Fazia uma belíssima tarde de sol em Nova York, apesar das nuvens negras que podiam ser vistas no horizonte. Tentando esquecer um pouco a incessante procura pelo paradeiro de William Blos e ajudar M.J. a conquistar Chloe de uma vez, Melissa pegou o metrô e seguiu com os dois amigos mais Aaron até um grande parque de diversões que ficava em Coney Island. Ao chegarem no Deno’s Wonder Wheel, com era chamado o lugar, Aaron e Mel começaram a executar o plano que haviam tramado no dia anterior. De posse de uma infinidade de fichas, os dois se perderam intencionalmente no meio de toda a criançada para deixar Chloe e Marvin a sós. -Acha que isso vai dar certo? – perguntou Melissa escondida pela barraquinha de tiro ao alvo, enquanto olhava os dois amigos ao longe, que pareciam à procura deles. -Não sei “Pimenta”. Ontem o Marvin estava decidido a conquistá-la, mas hoje de manhã ele teve até dor de barriga, acredita nisso? -Ah, acredito! Porque a Chloe teve quase a mesma coisa. É engraçado o que a paixão faz com as pessoas, não é? -Uhum. Deixa a gente louco. Capaz de qualquer coisa, mesmo que seja a mais idiota do mundo. –Aaron afirmou lançando-lhe um daqueles sorrisos maravilhosos que fazia as garotas se derreterem. Com a face bem mais rosada do que de costume, Mel se virou para a barraquinha de tiro ao alvo na tentativa de esconder o nervosismo por estar tão perto do amigo. -Ei, já que estamos aqui quer brincar um pouco? – perguntou ela tirando duas fichas muito amassadas que estavam em seu bolso. -Claro. Nós já fizemos a nossa parte na operação cupido. Agora vamos nos divertir. –Aaron decretou puxando-a pela mão.
Empolgados com a brincadeira oferecida pela barraquinha de tiro, os dois pegaram as inofensivas armas de chumbinho e atiraram na direção das fileiras de patinhos amarelos que se movimentavam com extrema rapidez. Graças a sua péssima pontaria Melissa gastou quase todas as chances sem conseguir derrubar um único pato, o que a fez receber duas pulseirinhas rosa de plástico como prêmio de consolação. Aaron, por sua vez, concentrou-se no jogo e mirando exatamente em cada alvo, derrubou todos os patos da fileira. Devido a essa façanha incrível, ele ganhou o prêmio máximo da barraquinha, uma Hello Kitty enorme que fez os olhos de Mel brilharem de cobiça ao vê-la. -Pois é... Eu pensei em dar isso pra Sophie, mas acho que você vai cuidar melhor dela. – disse Aaron estendendo a boneca de pelúcia para Melissa que pulou como uma criança. -Sério? Ai você é demais sabia! – agradeceu a garota abraçando-o em um rompante de felicidade. Naquele momento, Aaron e Mel ficaram quietos, com os olhos fechados, apenas sentindo o calorzinho gostoso um do corpo do outro. A mente de Aaron havia ficado vazia e seu cérebro não conseguia pensar em mais nada, há não ser o quanto aqueles minutos estavam sendo maravilhosos. O abraço apertado dos dois durou mais do que deveria e só chegou ao fim quando Chloe apareceu de repente atrás deles. -Oops, acho que cheguei em má hora. – ela sussurrou meio sem graça, por atrapalhar aquele momento tão romântico entre os dois. -Ah! Oi, amiga... Eu estava agradecendo ao Aaron pela Hello Kitty que ele ganhou na barraquinha de tiro e me deu. Mas cadê o Marvin, ele não estava com você? Chloe apenas apontou para a direita onde ao longe, com a cabeça enfiada em uma lixeira do parque, M.J. vomitava tudo o quê havia comido no café da manhã. Vendo a cara de nojo das meninas, Aaron foi até o amigo para socorrê-lo como podia, o que acabou resumindo-se a compra de um refrigerante e uma boa bala de menta para tirar o gosto ruim da boca de Marvin. Mesmo diante do vexame de M.J, Mel sabia que Chloe gostava dele e por isso insistiu mais uma vez em deixá-los sozinhos. Aproveitando-se do fato da
amiga estar de saia e Marvin ainda um pouco enjoado, Melissa teve a brilhante idéia de ir à cama elástica com Aaron. Entediada vendo os amigos se divertindo no brinquedo e ela não, Chloe resolveu arrastar M.J. até a roda gigante, já que era o único brinquedo do parque que, segundo ele, não o enjoaria tanto. Sozinhos mais uma vez, Aaron e Mel pareciam duas crianças pequenas pulando na redonda cama elástica. Era engraçado vê-los gargalhando a cada tombo e a cada salto no brinquedo. Sem falar nos mergulho hilários de Aaron que sempre acabavam derrubando a amiga e causando mais uma sessão de risadas devido ao jeito desengonçado que Mel caia. Todas as preocupações com o casamento, o colégio interno e o mistério de William Blos foram esquecidos pela garota, que agora só queria se divertir ao lado do melhor amigo. E Aaron, por sua vez, também havia esquecido do nervosismo que o corroia por estar a poucas horas do tão esperado encontro com Sophie. Durante alguns minutos, ele voltou a ser aquele menino magrelo e dentuço, de apenas dez anos, que não tinha qualquer preocupação na vida. Imitando o amigo, Mel começou a mergulhar também como se estivesse em uma grande piscina e acabou gostando tanto da brincadeira que fez isso várias vezes seguidas; até que sem querer derrubou Aaron, que com muito custo tentava ficar de pé na cama elástica. Desequilibrado, ele caiu bem em cima de Melissa, o que fez os dois gargalharem ainda mais devido a cena hilária que protagonizaram. Por alguns instantes ambos riram como meras crianças bobas, até que sem que eles esperassem, ou entendessem o porquê, os sorrisos foram se desfazendo e um clima diferente começou a pairar entre os dois. Devido à queda, os rostos de Mel e Aaron ficaram tão próximos que os lábios delicados dela quase tocaram a boca suave e desejada do garoto. Com os corpos colados, Mel pode sentir o coração de Aaron palpitar bem forte, como se seu peito não fosse suficiente para contê-lo. Os dois olharam-se hipnotizados pelas belas cores que seus olhos possuíam e finalmente Aaron inclinou a cabeça bem devagar, como se fosse beijá-la. Sentindo a respiração do garoto cada vez mais perto, Mel já havia fechado os olhos esperando
ansiosa pelos lábios dele, quando Aaron levantou-se de forma abrupta da cama elástica. -É... bem... Não sei se é uma boa idéia deixarmos o Marvin e a Chloe sozinhos. O M.J. pode estragar tudo. – ele gaguejou cambaleante, tentando fingir que nada havia acontecido. Embaraçada com aquela situação, Melissa nem ao menos pensou que talvez pusesse fim às chances de Marvin com Chloe. Pegando a Hello Kitty gigante que havia deixado ao lado da cama elástica, dirigiu-se com Aaron em silêncio até a fila da famosa roda gigante Wonder Wheel, onde os amigos esperavam há algum tempo para andar no brinquedo. -Cansaram da cama elástica? – perguntou Chloe, achando que os dois estivessem ruborizados graças aos pulos no brinquedo. -Um pouco. – respondeu Aaron evasivo. -Cara, essa roda gigante está uma droga. Já emperrou duas vezes. Por que nós não vamos em outro brinquedo? – Marvin questionou. -Porque esse talvez seja o único, além do carrossel, que não vai fazer você vomitar na minha roupa! – Chloe exclamou, fazendo sem querer com que M.J. ficasse mais nervoso ainda. Conformando-se com a longa fila que ainda teriam de enfrentar e os sons estranhos que saíam do estômago de Marvin, os quatro amigos continuaram a espera para irem à roda gigante quase centenária. Enquanto isso, Mel e Aaron nem se olhavam mais. Não sabiam direito o que havia acontecido entre eles, mas também não estavam dispostos a conversar sobre aquele assunto tão embaraçoso. Enquanto ela preferia analisar os pequeninos detalhes da roupa de sua Hello Kitty, Aaron fingia interessar-se pelas nuvens negras de formas engraçadas que começavam a se aglomerar sobre o céu de Coney Island. Apesar da longa espera e da quase desistência de Marvin em ficar na fila, a vez dos quatro amigos irem à roda gigante chegou afinal. Como as “gaiolas” coloridas não comportavam muitas pessoas e algumas delas chacoalhavam e deslizavam, tornando o passeio mais eletrizante (especialmente as de cor vermelha e azul), Chloe e M.J. sentaram-se juntos preferindo ir na gaiola branca estacionária (pelo menos assim Marvin não correria o risco de passar mal de novo) enquanto
que Aaron e Melissa, apesar de ainda estarem
envergonhados um com o outro, preferiram não ficar separados e acabaram escolhendo a gaiola vermelha. Mesmo morrendo de nervosismo por estar ao lado da garota por quem era apaixonado, Marvin tentou segurar a incrível vontade de vomitar que sentia. Em sua mente, ele tinha consciência que esta poderia ser sua última chance, então procurou não desperdiçá-la. -Chloe, eu sei que...que... é meio estranho dizer isso do nada, mas eu... acho você a garota mais gata da escola. -Sério? Então foi por isso que você ficou nervoso a tarde inteira? -É, foi. – disse M.J. corando. – Eu nunca conheci ninguém como você. Esperta, meiga, bonita, perfeita, gent... -Marvin. - interrompeu Chloe. -O quê? -Eu sempre te achei uma gracinha... Chloe então se aproximou do garoto, e sem que ele esperasse o beijou com doçura na boca fazendo as pernas dele tremerem de tanta felicidade. Depois do susto, Marvin percebeu que Chloe gostava dele e, sem medo e esquecendose de sua dor no estômago, ele a abraçou com toda a paixão que sentia beijando-a logo em seguida como sempre sonhou. Sentados na “gaiola” vermelha que estava um pouco mais à frente dos amigos, depois de terem encarado uma série de giros alucinantes, Melissa e Aaron olhavam de forma disfarçada para Marvin e Chloe, felizes por terem os ajudado a se entenderem. -Hum... Parece que deu tudo certo com o nosso casal de trapalhões. Eles conseguiram se acertar afinal. – disse Mel sorrindo. -É incrível mesmo. Eu sempre achei que o amor platônico do Marvin pela Chloe nunca ia dar em nada por causa da timidez dele, mas olha só agora os dois juntos! E você é a responsável por isso “Pimenta”. -Eu?! – perguntou a garota surpresa virando-se para Aaron. -Você sim! Desde que chegou as coisas parecem estar dando certo pra todo mundo, até pra mim. Há um mês atrás a Sophie nem olhava na minha cara e hoje nós vamos sair juntos. Não foi o destino que fez isso, foi você.
- Ah, Aaron... não fale o que você não sabe. – murmurou Melissa olhando friamente para o céu que agora ameaçava uma grande tempestade. -Como assim? Eu não entendi... -Lembra que eu te fiz uma promessa no Central Park ? Aquela que eu disse que ia falar com a Sophie sobre você? Pois é, eu nunca toquei nesse assunto com ela e pra ser sincera eu nunca ia falar. -Mas por quê? Você me prometeu! Receosa em dizer o verdadeiro motivo para Aaron, Melissa preferiu mentir usando a primeira desculpa que lhe veio à mente. -É que... com vocês dois saindo juntos e namorando, você ia se esquecer de mim. Não ia ter mais espaço na sua vida pra “Pimenta”, uma amiga boba dos tempos de criança. Só pra sua bela e maravilhosa Sophie... Aaron fitou os olhos azuis de Melissa por alguns segundos exibindo agora uma expressão indecifrável em seu rosto. -Olha Mel, eu te juro que isso não vai acontecer! A Sophie nunca vai ocupar o seu lugar na minha vida. Você já faz parte de mim e eu não trocaria minha melhor amiga de tantos anos por nenhuma garota, porque as paixões passam, mas a amizade fica pra sempre. – afirmou ele segurando as mãos da garota. Feliz por ter preferência no coração dele, mas triste por não ser da forma como queria, Mel sorriu ao ouvir aquelas palavras. Mesmo com a roda gigante tendo acabado de emperrar com os dois no ponto mais alto, tudo parecia pequeno demais diante do sorriso maravilhoso que Aaron lhe lançava. Durante os dez minutos que eles ficaram no brinquedo, presos e encharcados pela chuva forte que caía e penetrava sem licença dentro da “gaiola”, Mel pela primeira vez sentiu que talvez no fundo do coração de Aaron, perdida entre as imagens de Sophie, ainda havia uma chance bem pequena dela poder conquistá-lo. E, depois de lembrar o que havia ocorrido na cama elástica, ela se agarrou ainda mais nessa frágil possibilidade.
*
*
*
*
*
Ainda que uma forte chuva tivesse caído horas atrás, o céu de Manhattan tinha poucos vestígios das nuvens negras de antes. Um tanto ofuscadas pelas luzes da cidade, mas nem por isso menos majestosas, as estrelas agora brilhavam dando aos “Nova Yorquinos” uma bela noite de verão. No saguão luxuoso do hotel Meditteranean, em meio ao grande movimento de pessoas e carrinhos carregados de malas, Aaron andava de um lado ao outro nervoso com o atraso de Sophie. Afinal, já havia se passado quarenta minutos do horário combinado e ela ainda não havia aparecido e muito menos ligado para explicar a demora. Do outro lado do balcão do hotel, o gerente Le Blanc se divertia com o nervosismo do garoto. Mesmo sem saber do que se tratava, deduziu pelo excesso de perfume de Aaron e suas constantes olhadas no relógio que ele com certeza teria um encontro naquela noite. Como não possuía mais unhas para serem roídas, Aaron já ia começar a morder os sabugos dos dedos, quando Sophie saiu deslumbrante do elevador e parou diante dele exibindo um vestidinho preto Stella McCartney que apresentava um decote enlouquecedor nas costas. -E então? Gostou? – perguntou ela enquanto girava o corpo de forma sedutora. -É... Você está muito bem. -sussurrou ele meio desconcertado. -Eu poderia dizer que demorei esse tempo todo pra me arrumar pra você, mas nós dois sabemos que isso é uma grande mentira. A verdade é que fui visitar a doentinha da minha irmã, mas só porque meu pai insistiu muito, é claro! -Ei, espera aí Sophie. - Aaron disse fazendo um sinal de pare com a mão. Eu estive com a Mel há horas atrás e ela não tinha nada... -Acontece queridinho, que ela ficou gripada graças aquela chuvinha que vocês pegaram e agora está gripada, só que o mais estranho é que o doutor Brownwaite já a medicou, mas parece que a febre não cede de jeito nenhum. Ele disse que ela provavelmente deve estar sofrendo de febre emocional ou coisa parecida e pra Missy melhorar só depende dela. Bom, mas como nós não estamos doentes é melhor irmos pro nosso encontro.
-Não Sophie, nem pensar! – disse Aaron se desvencilhando da mão pela qual ela o puxava. – Eu não posso sair e deixar a Mel assim. -Aaron você não é médico e nem eu, se a gente ficar aqui ela vai continuar doente do mesmo jeito. Além disso, eu não comprei esse vestido de quase cinco mil dólares pra ficar em um sábado à noite ao lado de alguém que só sabe espirrar e suar frio. Aparentando um grande desapontamento, Aaron olhou Sophie de forma dura e repreensiva, como se ela fosse o inseto mais asqueroso que ele já tinha visto na terra. -Você não tem coração garota! Nem sei como pode ser irmã gêmea de alguém tão legal como a Melissa. E quer saber? Não tem mais encontro nenhum! Vá jantar com o seu próprio umbigo, já que você se ama tanto. -Ah, é?! Por mim não tem problema! Eu só queria mesmo fazer ciúmes ao Oliver e aquela vadia da Ashley que ele convidou pra ir ao Nobu. Pra falar a verdade, acho que é até melhor assim, por mais que te chamem de “irmão perfeito” você não está a minha altura Stonewell. Além disso, eu tenho uma série de números de garotos na agenda do meu celular que dariam a própria conta bancária pra ter um encontro comigo. É só discar e pronto, eu não preciso “jantar com meu próprio umbigo”. -Nossa como eu fico feliz por você! Agora que já terminou o discurso, a bruxa do leste vai me desculpar, mas uma pessoa realmente importante está precisando de mim! – ironizou Aaron, dando um tchauzinho mal criado para a garota. Irada com o fora, Sophie ameaçou jogar o celular no chão, mas conteve-se. Tinha de arranjar um par bonito e milionário em menos de meia hora para fazer ciúmes a Oliver, e tudo dependia agora dos tão alardeados números que estavam na agenda de seu telefone. *
*
*
*
Algum tempo depois disso, quatro andares acima do térreo (ou mais precisamente na suíte de Mel) Albert havia acabado de sair do quarto dela na companhia do médico da família. Deitada em sua cama, envolta por uma série
de travesseiros e um edredom enorme, Melissa repousava depois de ter uma febre de quase quarenta graus e alguns momentos de delírio, por sorte incompreensíveis para o doutor Brownwaite e Albert, já que todos envolviam Sophie e Aaron. A televisão de plasma havia sido ligada no canal CBS para distraí-la um pouco, mas a garota ignorou por completo a série que passava graças à terrível febre que ainda a consumia. De forma suave alguém bateu na porta ao que Mel, pensando tratar-se de seu pai ou do doutor Brownwaite, mandou na mesma hora que entrasse. Envolta no seu fofo edredom, ela viu Aaron entrar no quarto empurrando um carrinho do hotel e parar diante dela com aquele sorriso lindo que ela admirava tanto. Por uns instantes Mel pensou estar delirando, até que o garoto sentou-se perto dela na cama e ajeitou o vermelho nariz de palhaço que usava. -Para a princesa Melissa melhorar, um bobo da corte como eu você terá de agüentar. – brincou ele fazendo uma pomposa reverência com a mão. -Mas Aaron, você não tinha um encontro com a Sophie hoje? - perguntou Mel, sentando-se na cama com certa dificuldade. -Lembra o que eu te disse no parque? Que os amigos vêm em primeiro lugar? Eu não podia deixar você sozinha desse jeito. - ele rebateu, lhe lançando um olhar carinhoso. -Você não existe Aaron Stonewell! Não existe! – Mel disse sorrindo. -Ah, mas a senhorita ainda não viu nada. –falou o garoto levantando-se da cama e indo até o carrinho do hotel que havia trazido. – Vamos ver o que temos aqui.... Hum... cupcakes, pipoca, M&M’s, algumas maçãs carameladas, um pacote de Pringles e ora vejam só, um pote cheio de balinhas de gelatina coloridas! Mas para que tudo isso você deve estar se perguntando, não é?! Ao dizer isso, Aaron tirou do bolso um pequeno papel onde não havia nada escrito. -Deixe-me ver, deixe-me ver... Ah, sim! Aqui diz que você ganhou um ingresso para uma sessão de cinema, mas como a senhorita não pode sair, o cinema veio então até a senhorita. – afirmou ele pegando logo depois o DVD de “A nova Cinderela” que havia escondido na parte de baixo do carrinho.
Mel não se conteve de alegria quando se deparou com Aaron segurando seu filme favorito. Estava tão animada por seu melhor amigo estar ali com ela e não com Sophie, que a sensação de mal-estar típica da febre simplesmente sumiu como num passe de mágica. Sentando-se ao lado dela e comendo um pouco de pipoca enquanto assistia ao filme, Aaron também parecia feliz por estar com Mel e, por incrível que pareça, não sentia remorso algum de ter desmarcado o encontro com Sophie. Acalentada pelo amigo e cansada devido ao dia cheio e à gripe, Melissa acabou rendendo-se ao sono – por mais que tivesse lutado contra ele - bem na parte que mais gostava: o momento em que Hillary Duff e Chad Michael dançam no coreto cheio de flores ao som de violinos. Como a amiga havia adormecido em seu colo, Aaron não teve coragem de acordá-la, preferiu ficar no exato lugar onde estava e dormir sentado daquele jeito mesmo se é que isso era possível. Durante a noite enquanto se remexia, Mel teve uma série de sonhos confusos e sem sentido envolvendo o amigo e a irmã, mas o mais incrível de tudo é que ela sentia como se fossem reais as mãos de Aaron percorrendo sua testa e depois descansarem em sua cabeça fazendo um carinho suave em seus cabelos. No meio da madrugada, como a amiga havia rolado para o outro lado da cama, Aaron pode deixar o quarto dela afinal e tentar dormir um pouco, já que passara quase toda a noite em claro, verificando se a febre de Mel havia baixado. Mas apesar de estar todo dolorido devido à péssima posição que ficara e o cansaço que dominava seu corpo, ele não conseguiu fechar os olhos uma única vez. Deitado na cama de sua suíte enquanto olhava fixo para o teto, seus pensamentos vaguearam perto das lembranças de Mel e isso o fez despertar de tal forma, que dormir agora parecia impossível. Ainda sentia o perfume de Melissa em suas roupas, a suavidade de seus cabelos, o seu corpo quente... Aaron não sabia por que andava pensando tanto na amiga nestes últimos dias, mas para não ocupar sua cabeça com tão estranhos pensamentos, resolveu levantar-se e andar um pouco. Talvez uma boa caminhada pelas ruas de Nova York fosse suficiente pra isso.