Uma garota em Nova York

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Prólogo E-mails de Melissa Fenner Caixa de entrada (1)

===================================================================== De: Albert Fenner < fenner_a@mail.com> Para: Melissa N. Fenner < melfenner@brazilmail.com> Querida filha Sophie e eu aguardamos ansiosos por sua chegada amanhã. Como já lhe disse, irei recebê-la no aeroporto e a levarei para nosso hotel na Rua Central Park West, onde estamos hospedados por um tempo devido a reformas na cobertura da Quinta Avenida. Ainda hoje telefonarei para certirficar-me que você está bem e recebeu este e-mail. Dê lembranças a sua tia Verônica por mim e a agradeça por estes meses que ela cuidou de você enquanto providenciávamos sua volta para Nova York. Saudades Seu pai Albert

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Capítulo 1 De volta a Big Apple Parecia um dia ensolarado de verão. Algumas crianças barulhentas brincavam no gramado, enquanto outras passeavam de um lado para o outro de bicicleta com os pais pelo parque. Havia muito verde por toda a parte, e Mel encontrava-se recostada no tronco de uma árvore aproveitando a sombra fresca que ela oferecia. De repente a figura de uma mulher surgiu de forma inesperada a poucos metros da garota. A luz brilhante que dela emanava ofuscou por alguns minutos os belos olhos azuis de Melissa, até que finalmente desapareceu. Diante da garota, de pés descalços e usando um vestido branco que cobria-lhe quase todo o corpo, estava Helena sua mãe. Embora a vontade de Mel fosse abraçá-la e beijá-la, devido a imensa saudade que sentia, a bela mulher não deixou que sua filha se aproxima-se. -Apenas me ouça querida, nós temos pouco tempo. - disse ela. -Mas mãe... -Não, não fale, por favor. Eu sei o que você está sentindo, sei das suas angústias, das suas tristezas, do medo de ir para Nova York. É normal que você esteja assustada, todos nós ficamos com medo quando temos de enfrentar coisas novas. Mas é preciso ter força filha, ainda mais agora que você encontrará muitas pessoas. Algumas não são o que parecem, são falsas, ruins, mas tenha certeza que você também encontrará outras que são justas, verdadeiras e que estão te esperando há muito tempo, só que ainda não se deram conta disso. Sei que o que estou lhe dizendo agora parece não fazer sentido, mas o importante é que você saiba que eu estarei sempre do seu lado, lhe protegendo. Confie em mim querida, tudo dará certo não se preocupe... Por uns instantes, Mel ficou em silêncio totalmente paralisada. Seu cérebro tinha formulado uma série de frases e perguntas para a mãe, mas nenhuma palavra conseguia sair de sua boca. Helena por sua vez também não disse mais nada, simplesmente olhou Melissa de uma forma doce e sorriu. A luz suave de antes começou então a envolver novamente seu corpo, até se tornar tão intensa que a garota teve de virar o rosto para proteger seus olhos da claridade. -Senhorita?! Senhorita acorde, por favor!- disse uma voz desconhecida que agora soava cada vez mais perto em meio a toda aquela luz. Desnorteada Mel abriu os olhos de forma abrupta, dando ao mesmo tempo um pequeno solavanco na cadeira graças ao susto. Os óculos que estavam em suas mãos rolaram direto para o chão da aeronave, juntando-se a uma revista que havia caído ali desde que Mel pegara no sono. -Perdoe-me o incômodo senhorita, mas é que já vamos aterrissar, por favor, afivele seus cintos, ok? Ainda sob o efeito do estranho sonho, Melissa apenas balançou afirmativamente a cabeça. A jovem aeromoça de maquiagem carregada sorriu exibindo seu chamativo batom, e continuou a andar rebolativa pelo corredor acordando as poucas pessoas que ainda dormiam. “Foi um sonho, apenas um sonho” pensou Mel enquanto tateava o chão a procura dos óculos. “Essas coisas não existem, eu sei que não“. Mas embora tentasse se convencer de que tudo havia sido uma grande confusão de seu cérebro, o encontro com a mãe parecia tão real quanto o fato de ela estar ali,


naquele avião. Quando afinal encontrou os odiados óculos de lentes grossas, colocou-o de qualquer jeito no rosto e afivelou rápido o cinto como a aeromoça havia mandado. Ao olhar pela janela, pode ver Nova York brilhando sob o sol quente da tarde e a pista do aeroporto internacional John Kennedy se aproximar cada vez mais. -É, bem vinda a América Melissa. - disse ela respirando fundo enquanto se olhava no reflexo pouco nítido do vidro. - finalmente você voltou pra casa. *

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A alguns quilômetros dali, no coração verde de Manhattam, Aaron Stonewell encontrava-se distraído. Sentado no gramado vistoso do Central Park sob a sombra de uma árvore, parecia não reparar nas duas lindas ciclistas que passavam pela milésima vez de propósito na sua frente. Seus olhos estavam vidrados na tela de seu laptop, que exibia em pequenos intervalos as inúmeras fotos tiradas no último show de sua banda a Nonsense. Por mais que já as tivesses visto antes, era impossível para ele não admirar toda a vibração do público que parecia transbordar pela pequena tela. Apesar de aquele ter sido apenas o décimo show de sua jovem e inexperiente banda, eles haviam arrasado e isso valia para ele muito mais do que o cachê oferecido pelo dono do clube onde tocaram. Que por sinal havia pagado bem abaixo do valor combinado com os rapazes da banda. Sem que Aaron percebesse qualquer coisa, uma figura esgueirou-se sorrateira pelas suas costas e com cuidado para não chamar a atenção, caminhou de forma suave até chegar bem próximo dele. Entretanto a pessoa misteriosa não contava com o estalo denunciante de um galho seco de árvore que por descuido havia acabado de pisar. - Boa tentativa Marvin James. - disse Aaron virando-se para o amigo. - Cara você é muito distraído, imagina só seu eu fosse um assaltante?! - Com certeza não estaria carregando um baixo nas costas e um estojo de microfone... A não ser que fosse um bandido musical. -Ha-ha-ha muito engraçado, sinto cólicas de tanto rir, mas afinal que é que você está vendo aí que te deixou tão vidrado?- perguntou o garoto de olhos negros e cabelo cacheado sentando-se ao lado de Aaron. -São as fotos do nosso último show. Elas ficaram demais não é? -É. - disse Marvin esticando o pescoço para vê-las. - Pena que Sophie, sua musa inspiradora não foi. -E a Chloe, sua eterna paixãozinha também não. - revidou Aaron em tom ríspido. -Hei, eu sou apenas filho do faxineiro da escola, não tenho chance com aquela garota, mas você cara pode ter qualquer uma a qualquer hora. Esqueceu que chamam você e o Oliver de “os irmãos perfeitos”? Todas as garotas da Eugenne Sinclair Academy babam por você... -Será mesmo M.J.? Eu não tenho tanta certeza disso. - suspirou ele baixando a cabeça. O fato de que Aaron Stonewell era adorado por boa parte da ala feminina da escola não era novidade para ninguém. O outro “irmão perfeito”, como as garotas o começaram a apelidar na sétima série, realmente possuía uma beleza fora do comum. Era alto, magro, tinha olhos verdes penetrantes daqueles que a gente não consegue parar de olhar, cabelo curto de um negro


intenso arrepiado de forma charmosa na frente, além de um rosto lindo e um sorriso luminoso que eram pura perfeição. O único defeito real dele era ser apaixonado justamente pela agora ex-namorada de seu irmão Oliver. E por mais que Marvin mostra-se ao amigo a infinidade de garotas que se derretiam por ele nos corredores da escola e nos shows, Sophie era de quem gostava e sofria por sua incrível indiferença. -Esquece a “paty” metida cara, você sabe que ela ainda gosta do Oliver. Amanhã mesmo eles já devem reatar o namoro, fizeram tanto isso... Não é a primeira vez que brigam. - disse M.J. agora colocando o laptop em seu colo para ver detalhadamente as fotos. -Mas dessa vez foi sério, o idiota do meu irmão estava com outra garota e a Sophie viu. Essa pode ser a minha chance de conquistá-la, acredite não existe nenhuma garota como ela nessa cidade. Marvin que até então parecia não concordar com o amigo sorriu. Realmente Sophie devia ser a única criatura em Manhattam, ou talvez em todo o planeta, capaz de ser tão bela e egoísta ao mesmo tempo. Só não se comparava em maldade a Darth Vader porque este era de outra galáxia e a disputa limitava-se apenas ao espaço terrestre. -Concordo, ela é bem bonita. Mas não sei, acho que falta algo. - disse Marvin apertando as teclas do laptop para que as fotos passassem mais rápido. -O quê?- perguntou Aaron. Embora a resposta de M.J. fosse “coração”, algo o fez parar repentinamente e sorrir para tela do mini-computador. Ali, em uma foto que parecia bem antiga, encontravam-se duas crianças sorridentes e abraçadas, que não lembravam em nada o último show da banda. -Hei! Quem são a balofa e o dentuço de aparelho?-perguntou gargalhando para o garoto. Quando Aaron olhou o laptop, não conseguiu entender como aquela foto que devia estar perdida pelos inúmeros arquivos do computador, havia parado logo ali, junto aos registros da Nonsense. -Bem, o dentuço sou eu e a balofa é a Melissa, irmã da Sophie que chega hoje. -Sério? Você melhorou muito hein cara e que coisa absurda, a garota chega hoje e aparece essa foto dela do nada. Hei, mas porque você tem ela no seu laptop? Paixão de infância, é, é? -Não viaja Marvin, nós brincávamos juntos, éramos grandes amigos e aprontávamos todas. Mas aí ela foi pro Brasil e nós perdemos contato, nunca mais falei com a Melissa. - disse Aaron fechando o laptop. - e por falar nela, acho que já é hora de irmos pro hotel arrumar as coisas. Hoje o cachê vale a pena e ainda vai ser pago com antecedência. -Ô, nem me fale. Depois daquela ninharia que a gente ganhou no último show eu pensei em desistir da carreira. - debochou o baixista levantando-se. Apesar de estarem um pouco atrasados em relação à hora que havia sido acordada com o dono do hotel, Aaron e Marvin caminharam tranqüilos em direção a saída oeste do Central Park, cada um pensando no que mais lhe importava. O baixista no cachê alto e Aaron em Sophie, até que seu pensamento resvalou sem querer na lembrança infantil de Mel. Por uns instantes lembrou-se das confusões que os dois aprontaram juntos e isto o fez sorrir, mas logo a imagem da amiga se perdeu, e Sophie voltou a dominar sua mente fazendo seu jovem coração doer mais uma vez.


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O saguão do aeroporto John Kennedy encontrava-se lotado quando Melissa desembarcou. Parecia que todas as crianças de Nova York haviam resolvido viajar bem na primeira semana de suas férias escolares, a julgar pela quantidade de meninos e meninas que brincavam com os carrinhos de bagagem, sob os olhares já impacientes de seus pais. Ao sair do portão de desembarque carregando suas duas pesadas malas, Mel olhou ao redor e em meio a todo aquele tumulto viu seu pai, distante a poucos passos dela usando um elegante terno cinza que dava-lhe um ar sério, de alto executivo. Albert não havia mudado tanto como ela pensara. Embora seus cabelos agora tivessem alguns fios brancos espalhados pela cabeça, ele ainda conservava o jeitinho de galã que fazia a mãe de Mel ,enquanto ainda eram casados, ter tantos ciúmes. -Oi pai. - disse ela aproximando-se timidamente dele. -Meu Deus, não pode ser! Querida como você cresceu!- espantou-se Albert olhando-a dos pés a cabeça. - Está tão alta e tão bonita... Mel sorriu um pouco sem graça e corou. Não estava acostumada a ouvir elogios e como vivia insatisfeita com sua aparência, possuía uma imagem bem distorcida de si mesma. -Ah, não exagera pai! Alta sim, mas bonita? A míope aqui sou eu lembra?brincou ela abraçando-o carinhosamente. -É bom ter você por perto de novo minha princesinha. Não imagina com sua irmã e eu sentimos sua falta... Aconchegando a filha naquele abraço repleto de saudade, Albert fechou os olhos e na mesma hora sua mente o transportou no tempo para quatro anos atrás, onde ele abraçara Melissa pela última vez naquele mesmo aeroporto. Havia sido uma separação dolorosa e os anos que se seguiram foram mais tristes ainda, já que graças a teimosia de Helena, sua ex-mulher, que não lhe dera o endereço de onde morava, ele nunca as pode visitar no Brasil e muito menos enviar os presentes de aniversário e natal que ele comprava pra Mel. -Espera deixa eu te olhar de novo. - disse Albert se desvencilhando dos braços dela. - Não consigo acreditar que a minha menininha de antes agora é uma adolescente de quinze anos. -É pai, sou eu sim. Mas chega que esse papo já está ficando meloso demais. Você disse as mesmas coisas quando eu te mandei umas fotos por e-mail lembra? Apesar da alegria que sentia, Albert preferiu não chatear mais Melissa com aqueles comentários sobre crescimento típicos de tias solteironas em reuniões familiares. Queria que ela se sentisse bem em estar de volta e principalmente, esquecesse da triste morte de sua mãe meses atrás. Virando-se então para o segurança que o esperava imóvel como um soldado inglês a alguns metros de distancia, Albert fez um gesto com a mão para que o empregado se aproximasse. -Tome filha, acho que isto é seu. - disse ele pegando algo das mãos do segurança e colocando na cabeça de Mel. Na mesma hora ela reconheceu surpresa o seu velho boné azul de estimação do New York Yankees, o time de baseball que adorava quando era criança.


-Nossa eu pensei que tinha perdido ele durante a mudança pro Brasil, valeu mesmo pai!- agradeceu Melissa enquanto ajeitava melhor o boné. -Não filha, não me agradeça ainda. Tenho outra pequena surpresa para você e acho que vai gostar muito mais do que isso. Mesmo sem forças devido à viagem e seu corpo pedindo uma cama com urgência, a aparência cansada de Melissa deu lugar a uma animação repentina. Havia ficado curiosa para saber o que Albert estava aprontando. -Surpresa? Ah, pai me conta vai... -Não posso! Se não perderá a graça! Por enquanto acho melhor irmos andando para a limusine. O trânsito de Manhattam não deve estar muito bom a essa hora.- afirmou ele indicando as malas de Melissa para que o segurança as levasse ,embora ele não fosse pago para aquela função. -Espere aí, desde quando a gente anda em limusines?-perguntou Mel surpresa parando de repente. -Isso é uma longa história que eu poderei contar pra você a caminho do hotel, mas se quer saber de forma bem resumida, sou hoje um dos homens mais ricos de Nova York segundo a revista Fortune. A expressão na face de Melissa mudou completamente ao ouvir as palavras de Albert. Se antes ela havia ficado surpresa, agora encontrava-se boquiaberta, sem saber ao certo o que dizer. Afinal quando mudou-se com a mãe para o Brasil seu pai não era pobre, pelo contrario já possuía um amplo patrimônio; mas daí a ser um dos homens mais ricos de Nova York parecia algo inimaginável para ela. “Não dá pra acreditar. Meu pai, um milionário e ainda por cima famoso a ponto de aparecer na Fortune?! Só pode ser piada” pensou Mel enquanto o acompanhava até a saída do aeroporto. Com passos rápidos, Albert percorreu todo o saguão, feliz por ter a filha de volta ao seu lado, e cruzando a porta automática que dava para a rua, foi em direção à magnífica limusine que os esperava a pouco do lado de fora. -Então? Pronta para a sua primeira volta?- perguntou ele abrindo a porta do luxuoso carro para que a garota entrasse. Ao ver a limusine bem diante de seus olhos Mel engoliu seco espantada. -Ela é sua mesmo?! -Bem, na verdade é oferecida apenas para os clientes vip's do hotel Meditteranean, mas hoje ordenei que ficasse inteiramente a sua disposição querida. -Uma limusine? Só pra mim? Fala sério pai, você chama isso de pequena surpresa?- admirou-se Mel enquanto se acomodava no banco fofo do carro. Albert sentou-se ao lado dela risonho e depois de fechar a porta da limusine, foi até o frigobar onde pegou uma garrafinha de água mineral Glaceau para matar a sede. -Mas eu não disse que essa era a surpresa. -afirmou ele lembrando-se do que os aguardava no restaurante do hotel . - Você ainda não viu nada querida e pra ser sincero, as emoções desta noite estão apenas começando.


Capítulo 2 Pimenta e Dentinho Depois de tantas retenções típicas de Manhattam, a limusine finalmente entrou na Central Park West, onde ficava o famoso e admirado hotel Meditteranean. Com os olhos atentos ao movimento contínuo de pessoas que passeavam pelas calçadas naquele início de noite, Mel demorou a reconhecer o verde inconfundível do Central Park que ladeava a rua. -Chegamos? -perguntou ela ajeitando seus odiados óculos que teimava em escorregar até quase a altura do meio do nariz. -Não acredito que você não esteja reconhecendo o hotel filha. Ele até sofreu algumas reformas, mas elas não o deixaram tão diferente assim. - disse Albert abrindo a porta do carro. Quando Mel saiu da limusine e olhou para a fachada imponente do Meditteranean, foi impossível para ela não admirar como se fosse à primeira vez o majestoso hotel que figurava na sua frente. É verdade que havia crescido por aqueles corredores e conhecia até os mínimos detalhes do lugar, contudo depois de tanto anos fora, voltar e olhar para todas aquelas janelinhas brancas, as bandeiras americanas tremulantes ao sabor do vento e os andares que quase se perdia de vista, era algo mágico e emocionante para Mel. “Nossa, nem acredito que voltei" pensou ela enquanto adentrava o grande hall do Meditteranean na companhia de seu pai. Ao colocarem os pés no luxuoso tapete que completava a sofisticação do lugar, Melissa foi logo reconhecida pelo gerente do hotel (e puxa-saco oficial de seu pai) o senhor Pierre Le Blanc. -Mademoiselle Fenner, que honrra a terrmes aqui! Mas por mon Dieu, como você crresceu. Quando foi emborra nem conseguia olharr porr cima do balcon e agorra já está quase do meu tamanho. Oh! Estou ficando velho. - disse ele dramaticamente com seu sotaque francês engraçado que se recusava a perder. -É bom vê-lo também senhor. -respondeu a garota. Mel sabia que havia mudado bastante, afinal tinha perdido vários quilos e estava muito mais alta, mas ficar ali ouvindo aquele blá-blá-blá sobre o quanto havia crescido era quase um tortura. Por sorte, seu pai que também não estava muito paciente naquela noite para agüentar as tagarelices do gerente Pierre acabou finalizando a conversa mesmo diante das insistentes continuações dele. -É. Oui, oui, oui Le Blanc, nós gostaríamos muito de conversar, mas infelizmente estamos atrasados para um compromisso no restaurante. Até mais tarde. Vamos filha. - disse ele quase que arrastando a garota pelo braço. Após livrar-se de Pierre, Melissa pode afinal reparar nas coisas estonteantes que estavam a sua volta. O saguão do hotel parecia muito mais luxuoso agora do que quando ela era criança. No centro ficava a grande recepção ladeada pela direita e esquerda por duas gigantescas escadas de mármore, as quais ela sempre descia escorregando pelo corrimão para desespero do gerente Le Blanc. Havia hoje muitas plantas, flores e obras de arte que se espalhavam pelas diversas paredes decoradas ao estilo europeu. No teto além de uma pintura inspiradora com anjos e nuvens, ficava o caríssimo lustre de cristal que era difícil não ser notado por todos que entravam. Apesar do pouco tempo que passaram no saguão, Mel ficou impressionada pelo alto luxo que o Meditteranean agora ostentava.


-É maravilhoso, eu sei. -disse Albert no elevador enquanto olhava a garota pelo reflexo do espelho. -Não imaginava que havia ficado assim. Parece mais um palácio do que um hotel. - afirmou Melissa. -Sim, mas agora é o seu palácio minha querida. -acrescentou ele sorridente saindo pela porta de metal que havia acabado de se abrir. No corredor bem iluminado e repleto de pequenas obras de arte, Mel e o pai caminharam até as belas portas de madeira e vidro do Chateau D'ore. Apesar do silêncio que dominava o lugar e a ausência de pessoas entrando e saindo, o que seria normal para aquele horário, a garota não percebeu o clima estranho que pairava ali. -Você primeiro filha. -disse Albert enigmático empurrando-a de leve pelas costas. Quando entrou no restaurante, Mel se viu mergulhada em uma sombria escuridão. Não enxergando nada diante de si, pensou em voltar recuando alguns passos na direção da porta, mas repentinamente as luzes se acenderam e uma chuva de bolas coloridas e muito papel picado caíram sobre ela. Sem que a garota esperasse várias pessoas, em sua maioria adolescentes que encontravam-se escondidos na sacada do restaurante, surgiram batendo palmas e falando alto. -Seja bem vinda senhorita Fenner. -disse uma mulher de cabelos ruivos que aparentava ter passado há pouco tempo dos trinta anos. -Querida esta é Rebeca Pitty, minha secretária pessoal. Ela que me ajudou a planejar toda essa festa pra você. -Ah é? Então obrigada senhorita Pitty, é muito bom conhece-la. cumprimentou Mel retribuindo o sorriso para a secretária. Sophie que encontrava-se a poucos metros de distância aproximou-se do três, seguida por Chloe e Vicky, suas inseparáveis amigas que mais pareciam uma dupla de seguranças atrás dela. Quando as irmãs finalmente ficaram frente a frente, Mel teve a ligeira impressão que Sophie não estava muito animada com a sua volta. Ela olhou-a de cima a baixo como se as roupas de Melissa fossem uma ofensa para aquele lugar, e respirou fundo daquele jeito que se faz quando vai se tornar um remédio horrível. -Seja bem vinda Mel. -disse a irmã abraçando-a com cuidado para não amarrotar sua blusinha caríssima Marc Jacobs. -É bom ver você Sophie, faz tanto tempo não é? -Quatro anos pra ser precisa. - respondeu ela com um timbre seco na voz. -Nossa! Eu pensei que vocês fossem gêmeas tipo, Mary Kate e Ashley Olsen, mas olhando pras duas vocês não tem quase nada em comum.comentou Vicky analisando Mel como se ela fosse um animal exótico em exposição. De fato as irmãs não eram muito parecidas, afinal não eram idênticas e o tempo havia colaborado ainda mais para acentuar estas diferenças. Sophie era linda como uma pintura. Tinha cabelos loiros macios e lisos, uma pele alva que lhe dava um ar de boneca de porcelana, possuía olhos azuis tentadores e lábios finos bem rosados. Apesar de Mel ter a mesma cor dos olhos e dos cabelos da irmã, ao olhar para ela sentiu-se feia. Não era na verdade, mas quando comparou-se a Sophie achou que seu cabelo ondulado e opaco não chegava aos pés do dela.


-Você tem alguma preferência musical querida?- quis saber Albert. - Não tinha idéia do que gostava, então contratei uma banda e um DJ especialmente. O que quer ouvir? - Ah, eu sou fã daquela cantora a Pink sabe... -respondeu Mel fingindo não notar que Sophie olhava para seu tênis All star cinza e torcia o nariz. Mesmo não fazendo a mínima idéia de quem era a tal Pink que a filha havia mencionado, Albert dirigiu-se de imediato a um canto do salão para atender ao pedido dela. Lá apertados entre o bar e a porta da sacada devido à quantidade de gente na festa, estavam Aaron, Marvin e Doug esperando apenas o repertório ser escolhido para começarem mais um show da Nonsense. -Bem, já que a Sophie não nos apresenta, sou Victoria McQueen. - disse Vicky apertando a mão da garota. -Oi, seja bem vinda. Você já me conhece sou Chloe Von Bondenburg lembra?- cumprimentou a outra garota de cabelos castanhos, franja curta e olhos cor de mel. -Chloe "Dumbo"? A que estudou comigo na Eugenne Academy? Não pode ser você tinha orelhas enormes! Sophie e Vicky entreolharam-se receosas, só esperando que Chloe explodisse. Mel sem querer havia tocado em um assunto delicado para a garota, mas ao invés de uma resposta mal educada ela apenas corou e respondeu. -Meu pai é cirurgião plástico. Ele me deu a cirurgia de presente no ano retrasado. Ficou ótima não é? Ah, mas por favor, poucas pessoas sabem disso, não espalhe está bem? -Tá. -respondeu Melissa atônita diante do fato de que alguém da mesma idade que ela já havia feito plástica. -Ai meu Deus!-bradou Vicky. - Que roupa é aquela que a Ashley Palmer está usando?! Ela deve ter comprado em uma liquidação com certeza. -Isso por que você ainda não viu a sandália Prada da Charlotte Brant. Tenho certeza que é da coleção do ano retrasado. Eca totalmente fora de moda. acrescentou Sophie com ar de nojo. Ao lado daquelas esnobes que agora ignoravam sua presença devido às críticas ao vestuário das outras, Mel parecia não acreditar no que estava ouvindo. Sentiu que quando a festa terminasse, ela seria o alvo de Sophie e Vicky. Com certeza a dupla falaria mal de seu cabelo, do jeans desbotado que vestia e principalmente da blusa baby look rosa choque com a foto da Pink estampada. Quando olhou em volta e viu que não reconhecia nenhuma das pessoas que estavam na festa, Melissa sentiu-se uma estranha no meio delas. Todas as garotas que circulavam ali eram lindas e delicadas. Tinham corpos perfeitos como o das modelos da Victoria's Secret , cabelos lisos sedosos parecidos com aqueles de propaganda de xampu, além de estarem vestidas com belas roupas caras. Decididamente ela não sentia-se confortável naquele lugar pois aquele não era o mundo que estava acostumada a viver. De repente acordes melodiosos começaram a ser ouvidos e a atenção de todos na festa voltou-se para o grupo que tocava no canto do restaurante. A voz suave de Aaron Stonewell cantando as primeiras frases da música "Who Knew" da Pink ecoou pelo salão fazendo todas as garotas dali vidrarem nele. Depois que os olhos de Mel encontraram pela primeira vez o vocalista da Nonsense, parecia que ninguém mais além dele existia no mundo. Aaron tinha


olhos grandes de um verde intenso e sorriso capaz de derreter o coração mais gelado de todos. O jeito charmoso como tocava compenetrado a guitarra encantou Melissa de tal maneira que ela não conseguia tirar os olhos dele. Seu coração agora palpitava como se fosse sair pela boca e saltitar pelo chão. Era uma sensação estranha, diferente, que ela nunca havia sentido antes. -Ai, ele é perfeito!-suspirou Vicky mordendo os lábios. -Não sei o que todo mundo vê no Aaron, o Oliver é muito mais bonito que ele. E você Chloe pare de olhar pro Marvin marciano. Não sei onde você estava com a cabeça quando pensou em ir ao último show deles. Devia me agradecer por eu não ter deixado você ser vista com o filhote de faxineiro. - disse Sophie em um tom duro. -Sophie, você por um acaso falou Aaron?- perguntou Mel surpresa. -É isso mesmo. Aaron Stonewell, aquele seu amiguinho babaca que vivia com você pra cima e pra baixo só aprontando confusões. Não sei o que aconteceu, mas de uns anos pra cá ele ficou muito popular na escola e com as garotas. -Ele ficou é lindo, você quer dizer. -corrigiu Vicky. -Não dá pra entender como consegue rejeitar um gato desses, ele tem uma queda por você. -Que seja, mas agora eu vou atrás de quem realmente vale a pena.- disse Sophie dando um tchauzinho para as amigas depois que viu Oliver passar perto dela. -Espera nós vamos com você amiga. -disseram Vicky e Chloe quase em coro seguindo Sophie logo atrás. Mel não conseguia acreditar no que a irmã havia dito. Aquele garoto lindo e perfeito que estava tocando diante dela era Aaron, ou melhor, "Dentinho" seu grande amigo de infância. Estava muito diferente, e não lembrava em nada o menino magrelo e dentuço que brincava com ela pelo hotel. Mesmo um pouco hipnotizada pela figura de Aaron que encontrava-se a alguns passos dela, a garota ainda conseguiu ver seu pai dirigir-se para a sacada do restaurante e diante da expressão perturbada de Albert alguma coisa séria havia ocorrido. Como ninguém estava mesmo ligando para ela naquela festa, Mel foi até a sacada passando tão perto da banda que pode até sentir o perfume doce de Aaron se espalhando pelo ambiente. Chegando lá, a garota viu Rebeca Pitty sentada bem calma em uma mesa, enquanto Albert andava de um lado ao outro preocupado. Ela não conseguiu ouvir toda a conversa devido à altura do som que rolava na festa, mas pode perceber perfeitamente algumas palavras como "explosão" e "pobre Linda" saírem da boca de Albert. -Aconteceu algo grave pai?- perguntou ela aproximando-se dos dois. -Ah querida, me perdoe. Hoje é a sua festa de boas vindas e eu não estou lhe dando atenção. Mas é que o apartamento da minha noiva Linda acabou de explodir. -respondeu ele tentando disfarçar a aflição. -Mas ela está bem? -Está sim, não se preocupe. Só que eu preciso avisar aos filhos dela. -disse Albert agora virando-se para a secretária. -Rebeca, por favor, peça ao Aaron para vir aqui enquanto irei procurar o Oliver. Quero dar essa triste notícia de uma só vez. Sozinha novamente depois que Albert e a secretária voltaram para dentro do restaurante, Mel ficou observando a magnífica vista que a sacada oferecia. Debruçada no gradil com os olhos fixos no Central Park, ela nem mesmo


percebeu que a melodia agitada da Nonsense havia parado e agora um ritmo tecno dominava o ambiente. "Não acredito que o meu pai vai se casar com a senhora Stonewell, mãe do Aaron", pensou Mel não se dando conta da presença de uma pessoa que havia acabado de entrar na sacada. -Oi, desculpa se eu to atrapalhando, mas disseram pra eu esperar uma pessoa aqui. Quando Mel virou-se para trás viu os belos olhos verdes de Aaron fitaram os seus profundamente. -Não que isso... Eu só estava olhando o parque, sem problemas... -Você não lembra de mim não é “Pimenta”? -Na verdade eu lembro sim Aaron, só não te reconheci. E nossa ninguém me chama de “Pimenta” há anos... - Eu entendo, desde que você foi embora o apelido “Dentinho” também morreu. Tudo bem que o fato de eu ter tirado o aparelho ajudou e... Mas Aaron não completou a frase, apenas debruçou-se no gradil e pôs-se a olhar o Central Park. -... Sabe você mudou bastante. Quase não te reconheci. -É. Agora ninguém pode mais me chamar de balofa. -sorriu a garota ajeitando os óculos. - só de quatro olhos. -Melissa... -O quê? -Sinto muito pela sua mãe, de verdade ... -Também sinto pelo seu pai. Eu só soube agora a pouco quando estava vindo pro hotel, o meu pai me contou. Foi há alguns anos não é? -Uhum, de enfarto. Foram tempos bastante difíceis. -disse ele respirando bem fundo o ar ameno da noite. -É, os meus também. Eu nunca lidei muito bem com esse lance de morte. Lembra quando meu hamister morreu? O "Peludinho"? E eu pedi pra você enterrá-lo no Central Park? -Claro. Eu fiz uma mini-lápide escrita "descanse em paz Peludinho" e ainda fingi que rezava em latim pela alma dele. Era o mínimo que podia fazer pra te deixar melhor, você chorou muito naquela tarde e eu detestava te ver triste. -disse ele admirando-a com seus olhos que agora pareciam duas esmeraldas de tão verdejantes. Interrompendo a conversa, Albert apareceu de repente na sacada com Oliver a tira-colo. Aaron olhou para os dois intrigado, não fazendo a mínima idéia do que o futuro padrasto queria com aquela pequena "reunião familiar". -Rapazes a notícia que tenho não é muito boa. Antes que vocês se desesperem saibam que Linda está bem e nada aconteceu com ela. Só que o apartamento de vocês explodiu a mais ou menos uma hora. -O quê, mas como?- perguntou Aaron boquiaberto. -Disseram que foi devido a um vazamento de gás. Se vocês quiserem vir comigo e saber o que aconteceu... -Claro. Vamos sim. -disse Oliver ainda confuso com a notícia. Sem ao menos se despedirem, os três saíram o mais rápido da festa deixando Melissa sozinha com Rebeca na sacada. -Quer alguma coisa senhorita?-perguntou Pitty atenciosa. Ao olhar para as pessoas que ela não conhecia e divertiam-se alheias a sua presença, Mel suspirou revelando um certo desânimo.


-Sim, pra falar a verdade eu queria ir pro meu quarto. Não sei por que, mas essa festa já perdeu a graça. Capítulo 3 Bela,mas cruel Melissa espreguiçou-se deliciosamente, apesar de seus olhos ainda estarem ofuscados devido à claridade intensa que entrava pela janela de sua suíte. Ela já havia acordado a um certo tempo e trocado de roupa, mas ao invés de ligar para a recepção pedindo um bom café da manhã preferiu ficar alguns minutos ali,diante da janela ,admirando a rua Central Park West. Por incrível que pareça, havia sentido falta da agitação constante de Manhattam, ao contrário de sua mãe que em nenhum momento no Brasil mencionou ter saudades de tudo aquilo. Mel ainda estava cansada da viagem, é verdade, mas só de observar o movimento intenso de carros e táxis amarelos que seguiam pelas duas vias da rua, ela sentiu-se misteriosamente disposta naquela manhã. Antes mesmo de tomar o café, decidiu desfazer as malas e arrumar suas roupas no closet da suíte. Afinal, não sabia quanto tempo ficariam no hotel até o apartamento da Quinta Avenida ficar pronto, o que a julgar pelo perfeccionismo de seu pai, poderia levar meses e mais meses. Dirigindo-se então para a mesa, onde uma de suas malas repousava aberta em cima, os olhos de Mel encontraram meio que por acaso seu boné de estimação dos Yankees, caído despreocupadamente no chão da suíte ao lado da poltrona de cor creme que decorava o ambiente. Apesar de estar velho e um tanto desgastado, ele lhe trazia boas lembranças de quando era criança. Pois o tinha ganhado de seu melhor amigo Aaron, durante a inesquecível vitória em casa dos New York Yankees sobre seu grande rival, o Boston Red Sox. Subitamente cortando os pensamentos de Mel, alguém bateu com força na porta. Imaginando que seria algum funcionário bajulador do Meditteranean, Melissa espantou-se quando ouviu a voz de seu pai soar do lado de fora da porta. -Bom dia Missy, espero que não a tenha acordado. -disse ele entrando sorridente na suíte com Rebeca Pitty segurando duas sacolas logo atrás dele. -Não se preocupe pai, levantei há alguns minutos, só não tomei café ainda. -respondeu ela enquanto recebia um carinhoso beijo na testa de Albert. -Bom, é só pedir pelo telefone e eles lhe enviarão o melhor café da manhã de Manhattam, agora se quiser fazer a refeição no Chateau D'ore terá a companhia de sua irmã e as amigas dela que dormiram aqui ontem a noite. -Seria um ótimo momento para você se re-enturmar não? Apesar de achar que seu pai estava querendo empurrá-la para uma socialização relâmpago com as amigas de Sophie, Mel decidiu aceitar a sugestão e tomar o café da amanhã no Chateau D'ore. Achava que a irmã poderia estar mais receptiva do que na noite anterior. -Espere! Não tão rápido mocinha! - disse ele vendo-a pegar um pé do tênis All Star cinza na intenção de calçá-lo. - Tenho uma coisa pra você. Albert voltou-se para Rebeca Pitty que os observava a alguns passos distante de distância, e recebendo dela as duas sacolas onde podia-se ler os nomes Gucci e Manolo, entregou-as para Mel sem dizer do que se tratavam


No momento em que Melissa abriu a primeira sacola, tirou dela uma caixa de sapatos onde encontrava-se um a bela sandália, com tiras transparentes e um salto altíssimo de cor vinho. Depois ao verificar curiosa o interior da outra, encontrou um vestido de mesma cor da sandália, feito de seda e rendas brancas, que apesar de não ser lá muito seu estilo de roupas (ela preferiria com certeza um jeans ou sainhas pregueadas) até cogitou a possibilidade de usá-lo algumas vezes. -Nossa eu nunca vi um código de barras com tanto zeros. - comentou Mel vendo a etiqueta do vestido Gucci. -Querida! Isso é o preço, provavelmente a vendedora deve ter se esquecido de tirá-lo. -retrucou Albert. - Preço? Com que esse vestido foi feito? Algodão raro que só floresce duas vezes nas margens do Rio Nilo? -Não, na verdade foi produzido por bichos-da-seda geneticamente modificados criados na Tailândia. Sem saber se o pai estava falando sério ou apenas tirando um sarro de sua cara, Melissa agradeceu o presente e já ia guardá-lo no closet de qualquer jeito quando Albert fez com a mão para que parasse. -Não Missy, não enfurne-os já. Eu quero que use o vestido e a sandália hoje, esta noite. Temos um evento especial para irmos. -Espero que não seja mais uma de suas festinhas surpresas. -brincou Mel. -E não é. Jantaremos com um de meus sócios, o senhor Mitsuko no melhor restaurante japonês da cidade. Tenho certeza que você irá adorar o Masa, o sushi de lá é inebriante. - afirmou Albert pegando o outro pé do All Star de Mel que encontrava-se jogado perto dele. Depois de acomodar o belo vestido em um cabide e enfiá-lo no armário com todo cuidado, Melissa já ia em direção ao pai para pegar o pé esquerdo de seu tênis quando o bolso da calça de Albert começou a vibrar e emitir uma irritante musiquinha. -Pensa rápido. -disse ele de súbito jogando o All Star cinza para ela e atendendo logo em seguida seu iphone preto. Sentando-se na poltrona para calçar os sapatos, Mel viu o pai circular pela suíte quase aos berros no celular, com uma expressão tão mal humorada no rosto que nem parecia o mesmo Albert sorridente e brincalhão de minutos atrás. -Não se assuste senhorita, por incrível que pareça ele está apenas conversando sobre negócios. - amenizou Rebeca Pitty manifestando-se pela primeira vez desde que entrara no quarto. -É? E esse surto de "senhor Burns dos Simpsons" dura quanto tempo?perguntou Melissa. A secretária pessoal de Albert sorriu devido à ingenuidade da garota. Ela com certeza não fazia idéia do trabalho que era manter um império como o que seu pai possuía. -Se quer um conselho senhorita, vá tomar seu café da manhã. Depois da primeira ligação ele só irá parar quando as bolsas fecharem, e acredite em mim, isso ainda vai demorar umas boas horas... *

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Devido aos acontecimentos da noite anterior, Aaron não tinha conseguido dormir. Enquanto Oliver babava no fofo travesseiro do hotel, ele havia passado a madrugada inteira sentado em uma poltrona olhando para o Central Park. Tinha perdido praticamente tudo e só o que lhe restava agora era um lap top, celular, sua velha guitarra Les Paul e as roupas do próprio corpo. Linda que dormia na suíte ao lado dos garotos, entrou pela porta que ligava os quartos com um ar tão alegre que mais parecia ter ganho na loteria do perdido um apartamento inteiro. -Bom dia queridos. -disse ela com suas bochechas rijas devido ao botóx. -Hoje nós voltaremos aos tempos de glória. Albert ficou com pena de nossa situação e liberou um cartão de crédito apenas para nossas despesas com vestuário. Quem quer ir às compras e depois almoçar em um restaurante fabuloso? -Tô dentro!-disse Oliver meio sonolento levantando-se da cama. -Esquece, eu não vou gastar um dinheiro que não é meu. Já basta nós estarmos aqui de favor. -reclamou Aaron fitando a mãe severamente. -Sabe filho, eu tenho pena de você. Nasceu com o DNA de fracassado do seu pai e nunca vai chegar a ser nada na vida. Se pelo menos aprendesse a ser ambicioso como o Oliver, talvez tivesse alguma chance. Diante daquelas palavras tão cruéis, Aaron levantou-se da poltrona e ficou quase face a face com a mãe. Seus olhos verdes agora possuíam um brilho triste. -Chance? Chance de que? De me tornar um monstro egoísta e acerebrado? Não mãe obrigado, mas prefiro continuar sendo eu mesmo. -disse o garoto calçando o tênis e pegando sua blusa no chão. -Aonde você vai Aaron?-perguntou Linda exaltada. -Na Macy's comprar algumas coisas com o dinheiro que EU ganhei ontem com meus shows. Não tenho vergonha de usar roupas da loja de departamentos. A dignidade das pessoas não se constrói com um terno Armani ou uma roupa Versace mãe, e agora que estamos falidos você já deveria saber disso. *

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Após despedir-se com um tchauzinho de Albert que ainda parecia furioso ao telefone, Mel seguiu para o Chateau D'ore onde finalmente poderia tomar seu café da manhã. Ao entrar no restaurante que nem mesmo parecia ter abrigado uma grande festa na noite anterior, ela olhou em volta e como não vira a irmã ou suas amigas por ali, decidiu ir até o bufê que oferecia um magnífico café da manhã. Sentada na sacada aproveitando o belo dia ensolarado que fazia em Manhattam, Sophie levou a boca um gole de chá mate e fingiu que não vira Mel entrando no Chateau D'ore. -Hei amiga, não é a sua irmã ali?-perguntou Chloe tirando os óculos escuros para enxergar melhor o interior do restaurante. -Não, você deve estar vendo coisas. -dissimulou Sophie. -Hã?! Não, é ela sim! Hei Mel! Oi, aqui!-gritou Chloe tentando chamar a atenção da garota que já se preparava para sentar sozinha em uma das muitas mesas vazias no salão.


Mesmo sob os olhares nada agradáveis de Sophie e Vicky, Melissa aproximou-se e lançando um sorrisinho típico de quem não tinha muita idéia do que dizer, se acomodou ao lado de Chloe, a única que não parecia incomodada com a presença dela. Ao olhar discretamente sobre o arranjo de flores que decorava a mesa do restaurante, Sophie quase teve um ataque de nervos quando viu o prato da irmã repleto por brownies e fatias de pão com manteiga de amendoim. Queria emagrecer dois quilos (embora não precisasse) e aquilo decididamente era uma tentação odiosa que a fazia pensar duas vezes antes de comer os biscoitinhos sem graça de arroz que a dieta lhe obrigava a ingerir toda manhã. -E então Mel como é que era viver na floresta? Eu soube que sua mãe trabalhava em uma Ong para proteger a Amazônia, é verdade?- quis saber Chloe curiosa. -É . Minha tia Verônica era a dona da Ong e minha mãe trabalhava como advogada. Ela cuidava das questões legais... Quero dizer, a gente não morava na floresta, mas sim em uma cidade perto dela. Só íamos pra mata mesmo nos fins de semana acompanhando os biólogos que coletavam alguns dados para um dossiê sobre o impacto do aquecimento global na Amazônia. -Sei, e aí você se transformou na versão feminina do Tarzan. Pronto, acabou a grande história. -interrompeu Sophie irônica enquanto passava um pouco de geléia diet no biscoito de arroz para que ficasse mais agradável ao paladar. Vicky levou o guardanapo de tecido aos lábios tentado disfarçar o sorriso, mas era evidente que havia adorado a alfinetada da amiga. Aborrecida, Mel enfiou um brownie quase inteiro na boca, na tentativa de não mandar a irmã para o lugar pouco educado que havia acabado de pensar. - Ah, deve ter sido legal. Você gostou de viver lá não foi Mel?-perguntou Chloe tentando contornar a situação. Vicky franziu a testa de forma descrente para Sophie, que revirou os olhos de tédio do outro lado da mesa. Ambas não conseguiam conceber a idéia de que viver no meio da mata com um bando de mosquitos pudesse ser legal. - Bom, acho que minha mãe gostava muito mais do que eu. Dizia que essa aqui era a verdadeira selva, a estressante selva de pedra de Manhattan. Acho que ela só queria um pouco de paz quando pensou em se mudar. - E aí escolheu a filhinha preferida pra viver com ela bem longe da civilização. Que lindo! Só que eu tenho mais o que fazer. -disse Sophie irritada levantandose da cadeira. -Isso não é verdade, você é que não quis ir com a gente. Não sabe como a nossa mãe sentiu sua falta e sofreu quando você não queria falar com ela por telefone. -rebateu Mel levantando-se também. A expressão no rosto de Sophie agora era fria. Ela havia jogado seus macios cabelos dourados para trás, e colocado às mãos na cintura, pose que Mel lembrava-se muito bem, era prenúncio de uma resposta cruel a caminho. -Olha aqui sua renegada da selva, eu não me importo se você viveu na Amazônia ou no Japão. Então não me encha a paciência com essas historinhas idiotas sobre a nossa mãe e essa droga de floresta. Por mim ela podia acabar hoje mesmo!-bradou Sophie colocando seus grandes óculos escuros Dolce & Gabanna no rosto extremamente maquiado. - Vamos meninas, vamos fazer umas comprinhas básicas na Prada e desfrutar da civilização, essa conversa ecológica já me cansou.


Após pegarem suas bolsas que encontravam-se repousando em uma cadeira perto delas, Sophie e Vicky saíram de imediato da sacada. Chloe ainda lançou um olhar para Mel como se quisesse dizer alguma coisa, mas sem coragem deu apenas um tchau para ela em silêncio, e pôs-se a correr atrás das amigas que já haviam passado pelas portas de vidro do Chateau D'ore. Sentando-se novamente na mesa, Mel bufou de raiva enquanto olhava para a vista deslumbrante do Central Park a sua frente. Sabia que sua volta à Nova York não seria simples como seu pai dissera, só não pensava que, a julgar pela recepção de Sophie, seria tão difícil assim.

Capítulo 4 – Um jantar desastroso O sol já havia se posto há algumas horas, e agora dava lugar a uma enorme lua cheia, que despontava no céu de Manhattam.Como Rebeca Pitty havia ligado a cerca de meia hora lhe pedindo que se arruma-se para o tal jantar com o sócio de seu pai, Mel enfiou-se debaixo do chuveiro começando a tomar logo em seguida um delicioso banho quente sob a música agitada contida no Dvd da Pink, que a TV havia começado a exibir. Dançando no chuveiro em meio aos vapores quentes que subiam e se espalhavam pelo Box, Mel assustou-se quando um estranho silêncio tomou conta de sua suíte. A música de da Pink havia misteriosamente parado. - Tem alguém aí?- perguntou ela receosa fechando o chuveiro. -Sou eu, não precisa gritar!-respondeu Sophie surgindo com um belíssimo vestido rosa na porta do banheiro que encontrava-se entreaberta. -Como você entrou? Eu tranquei a suíte a chave! - É, mas a porta que liga os nossos quartos não gênio! Olha, eu só vim falar rápido com você, já vou embora está bem... Sem muita animação, Mel deu de ombros e voltou a tomar seu banho quente parecendo ignorar a presença da irmã. Encostando-se na pia do banheiro de braços cruzados, Sophie sentia-se embaraçada pelo que diria a seguir. - Missy, eu queria te pedir desculpas por hoje de manhã, não sabia o que estava dizendo... -sussurrou ela. De dentro do Box, Melissa ouvira tudo atenta, protegida pelo vidro fosco que separava o ambiente do chuveiro. Estava disposta a desculpar Sophie, só não sabia se aquele arrependimento era verdadeiro ou pura “cena” da irmã que sempre fora boa nisso. - Sem problemas. Eu já esqueci o que aconteceu se quer saber... - Ótimo. Fico mais aliviada com as suas desculpas. Então acho que vou indo, ainda preciso finalizar meu “make”. Tchau maninha. -disse ela saindo rapidamente do banheiro. Não entendendo aquela mudança repentina de Sophie, Mel a ouviu fechar a porta do banheiro e ligar novamente o DVD player que exibia um show da Pink. Enquanto isso, do lado de fora da suíte, Albert, Linda e Oliver já esperavam impacientes pelas duas irmãs, quando Sophie apareceu no corredor balançando a cabeça de forma negativa.


- É pai foi o que eu disse, a Mel nem começou a tomar banho. Bem que eu tentei apressa-la, mas você sabe como ela é uma lesma. Pelo menos foi consciente e disse para nós irmos andando... - Não, nada disso! Nós devemos chegar como uma família no restaurante!protestou Albert deixando que Sophie ajeita-se sua gravata azul que encontrava-se torta. - E fazer o senhor Mitsuko esperar? Isso seria o cúmulo da deselegância querido. -disse Linda intrometendo-se na conversa.- Aaron chegou a pouco e também ainda está se arrumando, ele pode perfeitamente ir mais tarde com Melissa. Se quiser ligarei para o celular dele agora mesmo... Pensando no que foi dito por sua noiva e vendo em seu caríssimo relógio Rolex que já passavam das oito horas, Albert acabou aceitando a idéia ainda que um pouco relutante. Afinal realmente não seria nada agradável chegar atrasado no próprio jantar em que era o anfitrião. Sem perderem mais tempo naquele corredor, os quatro, além do segurança de Albert que já os esperava no saguão do hotel, dirigiram-se até a luxuosa limusine, onde seguiram para o time Warner na Columbus Circle, que abrigava o melhor e mais caro restaurante japonês de Manhattam. Nenhum deles, excerto Sophie, sabia o que realmente estava se passando naquele momento com Mel no Meditteranean. E apesar da maldade gigantesca que fizera, Sophie não sentia remorso algum por aquilo. *

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Aaron já se preparava para bater na porta da suíte de Melissa, quando ouviu um grito abafado de socorro misturar-se a melodia extremamente alta de “Don’t let me get me” da Pink que saía do quarto. Mesmo sem ter a certeza que o pedido de ajuda provinha dali, ele abriu rapidamente a porta da suíte e deparou-se com um ambiente vazio. Havia algumas roupas e um par de tênis largados pelo chão, além da enorme TV de plasma ligada, mas nenhum sinal de alguém que precisasse ser socorrido. Aaron pensara em deixar o quarto acreditando que seus ouvidos pela primeira vez o haviam enganado, até que o som alto de algo sendo esmurrado ecoou pelo lugar. Ele dirigiu-se então curioso até o outro ambiente do quarto e logo avistou uma das cadeiras da suíte colocada de tal forma diante da porta do banheiro, que era impossível abri-la pelo lado de dentro. Sob gritos de socorro e socos que sacudiam a porta, o garoto tirou a cadeira e viu Melissa surgir diante dele quase sem fôlego na soleira da porta. Por uma fração de segundos ela o olhou admirada, pois Aaron conseguia estar ainda mais gato do que no dia anterior. Vestia uma camisa social preta de risca de giz, e suas mangas encontravam-se dobradas até os cotovelos. Sem falar no jeans escuro e tênis que usava e completavam seu charmoso visual, ainda que a primeira vista parecesse uma combinação um tanto inadequada com aquela blusa. - Bem... er... Acho melhor eu nem perguntar o que aconteceu aqui. - sorriu ele virando seus belos olhos verdes para o lado oposto de Mel, já que a amiga estava usando apenas uma toalha de banho. - Ai... Desculpa Aaron, mas não dá pra explicar agora. Eu to mais do que atrasada!- afirmou ela meio sem graça pegando rapidamente o vestido que estava em cima da cama.


Aaron mal pensara em se acomodar na poltrona da suíte, já que havia sido incumbido de esperar Melissa, quando a garota soltou um grito pavoroso no banheiro capaz de ser ouvido até mesmo pelos hóspedes dos quartos mais afastados. -Deus o que foi agora?- perguntou ele abrindo a porta do banheiro preocupado. - Ai ela me paga! Me paga! -vociferou Mel furiosa sacudindo seu vestido novo que agora se encontrava misteriosamente rasgado. - Aquela dublê de palito de dente não perde por esperar! Isso não vai ficar barato assim Sophie! Não mesmo! *

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O fantástico Masa na era tão grande como todos imaginavam, na verdade abrigava no máximo vinte e seis pessoas, e talvez isso aliado ao gostoso cardápio o torna-se tão famoso entre os ricassos de Nova York. Distantes do sushi bar que abrigava atrás uma singela coluna de bambus em uma rasa piscina, a conversa desenrolava-se animadamente na mesa que Albert havia reservado para o jantar. Ele e seu sócio Mitsuko, um japonês de feições rudes e olhos glaciais, pareciam não querer falar de negócios naquela noite, o que os fez conversarem sobre assuntos mais amenos como suas paixões por golfe e pôquer. Linda Stonewell e a senhora Mitsuko rasgavam-se de elogios uma para a outra, ainda que tivessem se odiado desde o primeiro minuto graças a incrível má sorte de terem escolhido o mesmo vestido Channel preto para usarem naquela noite. Enquanto isso, em outro ponto da mesa, Oliver devorava tudo o que estava em seu prato sem lançar um mínimo olhar para Sophie, agora oficialmente sua ex-namorada. Absortos em meio aos pequenos focos de conversa que dominavam o jantar, ninguém percebeu quando Melissa surgiu no restaurante ao lado de Aaron e da atenciosa recepcionista japonesa, que prestara-se a acompanha-los até a mesa onde deveriam se sentar. -Me perdoem pela demora, mas é que eu tive alguns imprevistos nada agradáveis a pouco e acabei me atrasando. –desculpou-se Mel fuzilando a irmã com o olhar. Sentada a sua frente, Sophie o retribuía furiosa, parecendo que ia pular por cima da mesa e esganá-la com todas as suas forças devido a audácia da irmã. Melissa estava usando uma de suas calças Diesel, e a blusa frente única cor carmim da Dior que ela vestira no máximo duas vezes e havia ganhado de Oliver quando fizeram um ano de namoro. É claro que Mel não fazia a mínima idéia disso, só queria irritar a irmã usando uma de suas roupas, o que acabou conseguindo já que escolhera ao acaso justamente a que Sophie mais gostava. -Ah, ainda bem que chegou filha. -disse Albert levantando-se e ignorando o fato de que ela não estava usando o vestido que comprara. – Venha quero que conheça o senhor Keitaro Mitsuko e sua adorável esposa Michiko. Não sabendo qual o tipo de cumprimento deveria fazer, Mel inclinou-se para a reverência típica dos japoneses que fez finalmente o sócio de seu pai sorrir.


Depois das demais apresentações de Aaron e elogios aduladores da senhora Michiko para ele e Mel, todos sentaram-se continuando as “agradáveis” conversas que tinham sido interrompidas. Oliver até então com a boca entupida por uma dezena de sushis, deu uma golada no saquê de Linda sem que ela percebe-se e encarou Melissa pela primeira vez desde que ela chegara a Manhattam. -Hei Mel, eu to curioso pra saber, você ainda tem aquele apetite feroz do tempo que era baleia? Como era mesmo aquela sua música? Ah, lembrei... “Olha a Mel, rolando apressada, devolvam para o mar ou ela fica encalhada”. – cantarolou ele gargalhando. Sem graça, Melissa baixou os olhos e fingiu sorrir. Sentado ao lado dela na mesa, Aaron olhou o irmão irritado. Aproveitando-se que Albert e a mãe encontravam-se mergulhados em suas conversas, deu um chute tão forte em Oliver por debaixo da mesa, que o irmão teve de segurar o urro de dor mordendo os lábios com extrema força. Devido ao fato de não poder revidar, Oliver xingou-o baixinho de “ retardado” ao que Aaron retrucou com um “idiota”, que pode ser perfeitamente lido em seus lábios. -Obrigada, mas você não precisava fazer isso. – cochichou Mel no ouvido do amigo que apenas sorriu. A conversa que até aquele momento se concentrava em pequenos grupos, finalmente começou a dominar a mesa. Albert parecia ter esgotado todos os seus assuntos em comum com Mitsuko, e como se recusava a falar sobre negócios, virou-se para o futuro enteado que estava ao seu lado. -E então Oliver, no final do ano você irá se formar, já tem alguma faculdade em vista? -Ah, mas é claro!- respondeu Linda não deixando que o filho falasse. – Sabe Albert, Oliver é o capitão da equipe de futebol americano da escola e se a Saintclair Academy vencer o jogo final do torneio onde sempre aparecem dúzias de olheiros das faculdades, ele com certeza terá uma vaga garantida em Harvard, que por sinal é uma tradição em nossa família. Aaron é que não deve segui-la devido a esse seu jeito meio rebelde que repele qualquer tradição. -Bom, mãe, se ser rebelde é continuar fiel aos meus valores e opiniões não me importando com o que digam, então acho que realmente sou um. – disse ele sarcástico enfiando logo depois um pedaço de Kani na boca. Sophie que parecia muda naquela noite devido à raiva que sentia de Mel e a indiferença mortal de Oliver, sem querer fixou seus olhos azuis nos brincos estonteantes que Linda usava. Tinha certeza que já os vira em outras ocasiões e não poderia perder aquela oportunidade de infernizar a madrasta. -Por falar em tradição Linda, estes não são os brincos de diamantes que estão na sua família por gerações?- perguntou ela desconfiada. -Sim, são eles mesmos. Por quê? -Você disse que não havia sobrado nada na explosão do apartamento, eles por acaso são como a Fênix, ressurgem das cinzas? -Ora. – disse a madrasta bebendo o saque. – Eles estavam guardados em um banco querida, nunca se sabe até que ponto os empregados são fiéis... Embora Sophie não tivesse se convencido com aquela duvidosa explicação de Linda, Albert finalmente quebrou a promessa que fizera a si mesmo, e


começou a conversar com seu sócio Mitsuko sobre investimentos e a construção de outras filiais do Meditteranean na Europa. Sabendo que aquele assunto ainda iria durar por um bom tempo, a julgar pelo entusiasmo que seu pai falava, Mel devorou mais um prato de sushi sem nem mesmo se preocupar do que eram feitos os pedacinhos rosa e branco cortados em tirinhas que acompanhavam o peixe. De repente, sem que pudesse entender o que estava acontecendo, Melissa começou a sentir como se seus pulmões tivessem perdido todo o ar que haviam respirado. A garganta agora parecia estar se fechando pouco a pouco e não lhe deixava emitir nem um mínimo som gutural. Mel tentava desesperadamente abrir mais a boca, como se aquilo fosse suficiente para acabar com a terrível falta de ar que sentia. -Melissa, filha, você está ficando roxa! Respire!- gritou Albert levantando-se para socorrer a filha que se debatia na cadeira. -Tome isto, talvez ajude. – sugeriu Linda lhe estendendo um pequeno copo. Ao beber o que a madrasta lhe deu, a garota sentiu como se um fogo terrível estivesse consumindo sua boca. Com um solavanco na cadeira, ela cuspiu acertando em Linda todo o saquê que a madrasta havia lhe dado para beber, e caiu no chão completamente tonta, ainda sem conseguir respirar direito. Prestes a desmaiar e sentindo que um grande buraco negro a engolia, sua última lembrança daquela noite foi a voz de Aaron, muito distante, chamando seu nome. Depois disso, Mel não viu mais nada ao seu redor, apenas mergulhou na escuridão que tomava seus olhos e dando um último suspiro ficou inconsciente.

Capítulo 5- O pedido de Aaron -Não fique assim querida, isso poderia ter acontecido com qualquer um. – disse Albert carinhoso enquanto colocava duas gotas de adoçante em seu café. Sentada diante dele, com uma expressão triste no rosto melissa remexia com o garfo o último pedaço de waffles que havia sobrado em seu prato. Estava tão envergonhada pela noite anterior que nem mesmo tinha coragem de olhar para Albert. -Ah pai, confessa que foi um vexame aqueles para médicos entrando no Masa. – ressaltou Sophie depois de limpar os lábios com o guardanapo. – E ela nem teve nada demais, foi só um ataque de alergia resolvido com uma simples injeção. -Sophie, você sabe que sua irmã é alérgica a camarão e siri. Deus sabe o que teria acontecido se a ambulância não tivesse chegado a tempo. Portanto se não tiver nada agradável a dizer fique quieta está bem? – censurou Albert ríspido. Como um importante compromisso a aguardava na casa de Vicky e ela não suportava mais aquele clima de “pobre Mel” que havia impregnado todo o café da manhã, Sophie despediu-se dos dois e saiu irada do Chateau D’ore.


-Acho que ela não gostou muito do que você disse pai. – sussurrou Melissa encarando-o finalmente. -Ah, não se preocupe. Em se tratando de Sophie não há nada que um bom cartão de créditos sem limites não resolva. Oquê importa mesmo é que você esteja feliz, e você está? – perguntou ele. Por alguns minutos Mel pensou um pouco antes de responder. Desde que havia chegado tudo estava dando errado para ela, e isso incluía o triste fato de estar gostando justamente do garoto que tinha uma queda por sua irmã. É verdade que a presença do pai e a volta a sua antiga “casa” a deixava feliz, mas uma parte do seu coração ainda parecia triste. -Eu gosto de estar aqui, só que está um pouco difícil de eu me acostumar. Além disso, tudo parece tão diferente sem a mamãe. Ainda sinto falta dela sabe... -Acredite filha, eu também. Juro pra você que seu eu soubesse da doença de Helena teria largado tudo como ela queria, e jamais teria me separado dela. Me sinto culpado até hoje por não ter percebido o porque daquela rejeição a riqueza. Ela só queria viver de verdade o tempo que lhe restava e eu agi como um mero materialista. -Não se culpe tanto pai, a mamãe não contou pra ninguém que já estava doente. Você não tinha como saber. E eu confesso que a idéia repentina de mudar pro Brasil foi um pouco assustadora pra mim também, mesmo com a tia Verônica morando lá há alguns anos. Eu entendo porque a Sophie quis ficar com você e não com a mamãe como eu fiz. – disse Mel apertando a mão dele. Com os olhos lacrimosos, Albert beijou s mãos da filha e pôs-se a observá-la em silêncio. Era incrível como ela lembrava Helena quando ainda era jovem. Possuía os mesmo olhos, os mesmo cabelos, o mesmo sorriso contagiante... Olhar para Mel era como ver um retrato antigo que falava e se mexia diante dele. -Bem filha, eu gostaria muito de ficar aqui conversando com você, mas tenho uma vídeo conferência com os engenheiros que estão construindo um Meditteranean em Las Vegas e não posso me atrasar.. – disse ele olhando preocupado para o relógio antigo na parede do restaurante. -Pai, hoje é domingo! -Eu sei, mas negócios não respeitam férias, nem fins de semana querida. Aproveite que hoje está um lindo dia de sol e vá passear por Manhattam está bem?- sugeriu Albert beijando-a na testa e saindo logo em seguida com um pedaço de torrada na mão. Um pouco mais animada do que estava, pois havia esquecido por alguns instantes do péssimo episódio no Masa, Mel espreguiçou-se e já ia ajeitar os óculos quando lembrou-se que havia colocado suas lentes de contato que usara poucas vezes na vida. Queria ficar mais bonita para um certo alguém e ela decididamente sabia que seus antigos óculos não causavam uma boa impressão. Sem que ela percebesse, Aaron entrou sorrateiro no restaurante e chegando de mansinho falou ao seu ouvido tentando imitar um sotaque francês. -Bom jour mademoiselle Pimenta! -Bom jour messiê Dentinho, aceita tomar um café? – perguntou ela com polidez ao reconhecer sua voz.


- Não na verdade tenho um convite pra te fazer. Eu, o pessoal da banda e uns amigos vamos jogar futebol no central Park. E então quer ir? -Mas eu não sei jogar! -Nem eu, é só pra se divertir. Vamos, por favor! – disse ele fazendo uma carinha fofa à qual Mel não resistiu. - Tá bom, mas você sabe que eu sou péssima hein! – concordou Melissa levantando-se da cadeira. Quando Aaron e Mel apareceram gargalhando no hall do hotel, Pierre Lê Blanc parou imediatamente o que fazia para observá-los. Em outros tempos ele esperaria vigilante alguma diabrura daquela dupla, mas hoje atrás do balcão, o gerente do meditteranean apenas sorria. Contente por ver aqueles grande amigos juntos de novo. Na calçada do hotel os dois acabaram encontrando com Chloe que mancando, praguejava aos céus, irada, graças ao salto da sandália novinha que havia acabado de quebrar. - Oi gente desculpa a pressa, mas é que eu nem ia passar aqui, só vim pegar uma sandália emprestada com a Sophie. Eu até compraria uma, mas vocês acreditam que eu acabei de estourar meu terceiro cartão? -É inacreditável mesmo Chloe. – respondeu Mel rindo da cena engraçada protagonizada pela amiga. - só que a Sophie agora mesmo, foi pra casa da Vicky. -Da Vicky? Mas ela nem me chamou. - Ah, se você estiver com tempo livre eu, a Mel, o Marvin e umas outras pessoas vamos jogar futebol ali, no Central park. – convidou Aaron imaginando o quanto M.J. ia agradecê-lo se ela aparecesse. -Gente eu to descalça! – lembrou a garota. -que eu saiba não se joga futebol de salto alto. – frizou Aaron. Um pouco insegura Chloe não aceitou logo. Mel que lembrava o quanto a amiga era boa nos esportes quando criança encorajou-a o máximo possível, mas o fato de Marvin por quem era apaixonada em segredo estar lá, foi o que realmente fez Chloe aceitar o convite. -Ah! Não deve ser tão ruim assim não é?! Eu vou com vocês sim. – disse ela sentindo um frio na barriga só de pensar que encontraria M.J. - Mas antes será que você poderia me emprestar um tênis Melissa? *

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No gramado do Central Park que mais parecia um tapete verdejante, o jogo já havia começado quando os três amigos apareceram. Marvin ,que corria feito um louco com a bola de futebol nos pés perseguido por vários garotos, parou de repente quando seus olhos castanhos avistaram o rosto delicado de Chloe olhando para ele. - Hei vamos re-organizar esse time, chegaram mais três pessoas para jogar. – disse Aaron cumprimentando Doug, o baterista da Nonsense com um leve soquinho no ombro. – Pessoal, pra quem não conhece essa loirinha aqui é a Mel e a outra que lembra a Jenifer Love Hewitt na verdade é a Chloe, ok? Meninas, esse é o pessoal, com o tempo vocês vão gravar os nomes, não se preocupem. -Cara eu te amo, você trouxe ela! – disse M.J. abraçando tão forte o amigo que Aaron quase não conseguiu respirar.


-Não em agradeça, a Mel também ajudou. Agora me larga e vai lá falar com a Chloe antes que ela desista de ficar e vá embora. – disse ele. Enquanto Marvin gaguejava nervosamente apenas um “oi” para a garota, Aaron e Doug se reuniam no meio do “campo” para formarem dois times que ficassem razoavelmente equilibrados. -Que tal eu, você, Chloe, Amy, Ed .... – sugeriu Aaron para Doug. – contra o Marvin, Harry, mel, Puro Osso e Jack? -É, acho que assim fica legal, você não sabe jogar mesmo. – respondeu o amigo irônico pegando a bola de futebol que estava no chão. Depois de definir o espaço que seria usado e o tamanho dos gols, os dois times se posicionaram um em cada lado do campo. Como a equipe de Aaron tinha mais meninas, ficou decidido que eles começariam com a bola e dois gols de vantagem, o que pareceu muito justo, já que Chloe e Amy não aparentavam ser boas jogadoras. Entretanto nos primeiros lances do jogo uma coisa totalmente inesperada aconteceu. Chloe que havia sido ignorada pelo time devido ao seu jeito delicado, apareceu livre no canto direito do campo e Doug não tendo opção cruzou a bola pra ela. Surpreendendo a todos, a garota desviou de um, dois, três marcadores e correndo como nunca, acabou fazendo um belíssimo gol. -Fala sério, não é que a filhinha de papai joga bem?! – comentou o tal “Puro Osso” que fazia parte do time de Marvin. -Eu ouvi isso hein! – gritou Chloe enquanto dançava de forma engraçada para comemorar seu feito incrível. Após o primeiro ponto, os lances que se seguiram no jogo apreciam dignos de um time profissional de futebol. Chloe que até então diziam ter tido sorte de principiante continuou a fazer vários gols, e a deixar Marvin babando de admiração. O jogo parecia caminhar para uma incrível “lavada” do time dela e Aaron quando Mel, que quase não participava, se aventurou a fazer como a amiga. Sem a rapidez e a agilidade dela, Melissa ameaçou um chute, mas foi impedida brutalmente pelo gigante do outro time chamado Ed, que a arremessou com força no chão depois de uma "dividida". Aaron após ver o lance de longe e ouvir os gemidos de dor da garota, correu rapidamente ao seu encontro. -Pimenta fala comigo, você ta legal? -Minha perna ta doendo muito, mas eu acho que dá pra andar. - afirmou ela franzindo a testa devido ao sol escaldante que lhe queimava o rosto. -Vem, vamos pra sombra. Eu vou cuidar de você. - decretou o garoto se aproximando. Mesmo sobre um certo protesto de Mel, ele a pegou docemente no colo e tirou-a do campo. Ali, tão colada ao corpo de Aaron,ela pode sentir a gostosa fragrância que o garoto usava e se confundia com o suave aroma do gel que perfumava seus fios arrepiados. Devido à proximidade dos dois, Mel viu bem de perto os olhos verdes do garoto e constatou que eram mais lindos e brilhantes do que quando se viam de longe. Aaron era realmente perfeito como as garotas diziam, além de ser a criatura mais fofa do mundo por fazer coisas sempre tão gentis como aquela. -E então, dói aqui? - perguntou ele tocando o tornozelo dela depois de tê-la posto cuidadosamente no chão. -Um pouquinho,mas já ta passando. Foi só um susto. - amenizou a garota.


-Pelo visto nós não vamos fazer falta nas nossas equipes. - disse Aaron sentando-se ao lado dela enquanto os amigos reiniciavam o jogo. - Não se preocupe, a Chloe dá conta do recado por você!- brincou Melissa. Ela está muito diferente, mas eu sabia que ainda tinha alguma coisa da antiga Chloe que eu conheci. -É, todos nós mudamos Mel. Eu, a Chloe, mas você nem parece a Pimenta de antes, e eu não estou dizendo isso só pela aparência. Eu lembro que sabia tudo que você gostava e odiava, às vezes até no que estava pensando, mas hoje eu sinto que não sei mais nada sobre sua vida. - disse ele agora se deitando no gramado para olhar a copa das árvores. -E o que você quer saber? - perguntou ela fazendo o mesmo. -Sei lá,o que fez esse tempo todo longe, qual o som que você curte, do que gosta... -Acho que não tem muita coisa pra saber. Eu morei no Brasil e participei como voluntária na Ong que minha mãe trabalhava para proteger a floresta. - Uau, to impressionado! - disse Aaron sentando-se novamente. - Mais alguma coisa politicamente correta, tipo, virou ativista do Green Peace e fez passeatas contra o aquecimento global? -Não, não. - sorriu Mel. - Na verdade o resto é bem normal. Sou fã da Pink e viciada naquelas balinhas de gelatina coloridas... Sem falar que eu adoro "A nova Cinderela", embora eu ache a interpretação da Hillary Duff no filme digna de ância de vomito. E olha que eu gosto da Hillary hein... Aaron ,que agora fitava os grandes olhos azuis de Melissa, sorriu. Era incrível como apesar de serem gêmeas, ela e a irmã fossem tão diferentes. Sophie gostava de ver "The Simple Life" por causa de seu ídolo Paris Hilton, tomar Coca Zero,e fazer compras, muitas compras. Coisas que Aaron não gostava, mas respeitava já que estava a fim dela. -Mas e você dentinho? - perguntou Mel. -Eu? -É. Do que gosta? -Ah, eu não vou pro céu como você! Meu grupo favorito é o "Offspring" como dá pra ver pela camisa que eu to usando, não passo uma semana sem comer um bom Big Mac, toco guitarra, tenho uma banda de Punk Rock e adoro ver "Robot Chicken" que é um programa de humor passado no horário adulto do Cartoon Netwoork. Ah, e é claro, meu passatempo principal é implicar com o poço de testosterona e músculos que diz ser o meu irmão, embora eu não veja nenhuma semelhança genética entre eu e aquela ameba loira. - disse ele sorridente tirando uma folha que havia caído no cabelo de Mel. -Você pode ter mudado na aparência, mas o humor ainda é o mesmo daquele garoto dentuço que fingia para mãe aprender violino enquanto na verdade ia pras aula de guitarra! -É verdade... E por falar nos velhos tempos vem comigo! Quero te mostrar uma coisa. – disse ele puxando a garota pela mão. Não sentindo mais dor alguma no tornozelo, Mel seguiu Aaron que se pôs a procurar alguma coisa em meio ao bosque do Central Park. Por mais que as árvores dali fossem praticamente iguais, Melissa sentiu uma certa familiaridade naquela paisagem. Aaron que até então parecia não fazer a mínima idéia de que direção seguir, parou de repente. -É aqui! tenho certeza. -afirmou ele levantando o galho do arbusto para que a garota pudesse ver o que estava no chão.


-Mas essa é a pedra do túmulo do Peludinho!- disse Mel se aproximando. Como você ainda se lembrava que era aqui? Aaron apontou para a árvore que estava a direita dos dois. No tronco, talhado com pequenas letras estavam as inicias de seus apelidos " P" e "d", e abaixo a data de cinco anos atrás. -Eu gostava muito do "Peludinho". Pena que a Sophie o matou depois de dar uns doces malucos cheios de açúcar pro coitadinho comer. - disse Mel olhando a "mini-lápide". -É a Sophie... sussurrou Aaron meio que sem jeito para falar com a garota. Mel eu queria que você me ajudasse... -Ajudar? Em quê ? - perguntou ela. -É que eu... eu.. eu gosto da Sophie e como vocês são irmãs, sei lá talvez você pudesse me ajudar com ela...-disse o garoto ficando vermelho como um tomate. Vazia por dentro de pois daquela confissão de Aaron, Mel quis gritar de raiva, mas resistiu. Embora as palavras ecoassem por seu cérebro e a vontade de dizer um "Não" bem grande na cara dele tomasse todo seu corpo, ela preferiu ficar quieta tentando fazer com que aquele pedido se perdesse no silêncio. Mas ao contrário do que ela pensou que aconteceria, Aaron olhou-a de um jeito tão meigo que, em nome da antiga amizade deles, Melissa resolveu passar por cima do amor próprio ferido e ajudá-lo. -Vou ver o que posso fazer. - disse ela friamente dando as costas para o amigo. - Sophie não gosta muito de mim, mas talvez eu consiga um encontro entre vocês dois. -Sério? - perguntou o garoto animado voltando à cor original. - Pimenta se você fizer isso vou ficar te devendo pro resto da vida. Ao som daquelas palavras, Mel adiantou o passo pra voltar ao local do jogo. Já tinha escutado o suficiente para aquele dia, e com certeza não estava com a menor paciência de ouvir Aaron falando deslumbrado sobre o quanto Sophie era linda e perfeita.

Capítulo 6 Amigos para sempre Sentados em silêncio sob a sombra das árvores do Central Park, Mel e Aaron observavam novamente o jogo. Desde a conversa sobre Sophie diante do túmulo de “Peludinho”, Melissa não havia dito uma palavra sequer. Apenas mantinha os olhos fixos em um ponto no chão como se nada ao redor fosse tão importante quanto aquele pequeno tufo verde de grama. Aaron graças a sua personalidade distraída pareceu não perceber o desânimo que tomava conta de “Pimenta”. Além disso, o jogo estava tão animado com Chloe dando uma verdadeira “surra” nos meninos, que era difícil não tirar os olhos do campo. Repentinamente a bolsa de Chloe, que encontrava-se perto dos dois, começou a vibrar e emitir uma musiquinha bem agitada. Mel tentou avisá-la de que seu celular estava tocando, mas a amiga aprecia tão compenetrada em fazer outros gols que acabou pedindo a ela para que atendesse. Ao abrir a bolsa marrom da Louis Vitton, Melissa teve de procurar bastante naquela


bagunça repleta de maquiagens, perfumes e lencinhos de papel até achar o maldito telefone que insistia em tocar. -Alô. – disse a garota finalmente pelo celular. -Melissa, é você?- perguntou a voz familiar do outro lado da linha. – O que é que você está fazendo com telefone da Chloe? -Ah, oi Sophie. É que ela não pode atender no momento. Quer deixar recado? -Recado? Olha, eu não sei o que está acontecendo aí, mas foi bom você ter atendido, eu preciso falar urgentemente com você, é sobre nosso pai. -Sophie não minta pra mim, aconteceu alguma coisa?- perguntou Mel começando a ficar aflita. - Sim, e é bem grave. Venha pro hotel com a Chloe. Aqui eu vou te explicar tudo. – disse ela desligando enigmática. -Você está pálida Mel, o que houve? – perguntou Aaron preocupado devido a fisionomia alterada da garota. Mas Mel emudeceu. Temendo que alguma coisa ruim tivesse acontecido com seu pai, ela nem mesmo se despediu direito do pessoal. Arrancou Chloe à força do jogo e saiu correndo feito louca pelas ruas do Central Park. *

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Quando Mel entrou ofegante pela porta da luxuosa suíte de Sophie, deparouse com a irmã sentada, totalmente calma tomando Coca Zero em uma tacinha de cristal. -Meu Deus o que você fez com ela?-perguntou sophie olhando para Chloe que estava suja da cabeça aos pés. -Estávamos jogando futebol com o pessoal da banda do Aaron, mas isso não importa agora. O que aconteceu? -É claro que importa! – disse Sophie levantando-se da cadeira. – Então é isso que eu recebo Chloe Von Bondenburg? Eu transformo uma feia e fracassada na garota mais popular da escola, e agora você quês estragar todo esse esforço em um jogo idiota, com gente idiota?! Chloe nem mesmo ousou encarar Sophie nos olhos. Baixou a cabeça e ficou em silêncio, pois sabia que nada poderia parar agora a fúria da amiga. -Hei! Quem você acha que é? Deus?!- berrou Mel esquecendo por uns instantes da preocupação com Albert. -Tudo que ela é hoje deve a mim. Eu a ensinei a se vestir, se maquiar, coloquei minha reputação em jogo quando a trouxe pro meu círculo de amizades, fiz dela a rainha do baile de outono na oitava série, arranjei o encontro com Jeff Stephens zagueiro do time de futebol americano da escola. Eu criei você Chloe, e por isso me deve lealdade e um mínimo de consideração! -Ela é sua amiga e não uma marionete!- disse Melissa enfiando o dedo na cara da irmã. -Não, por favor, não briguem por minha causa. Eu vou pra casa tomar um banho e me arrumar. Desculpe Sophie. – sussurrou a garota saindo do quarto. Admirada com a atitude covarde que Chloe havia tomado, Mel sentou-se na cama lançando um olhar de repúdio a irmã. Não conseguia entender como


Sophie podia fazer aquilo com uma de suas melhores amigas, e nem por que Chloe se sujeitava a agir seguindo as estúpidas ordens dela. -Bom, esse ato insano da Chloe fica pra depois. Chamei você aqui irmãzinha por isso. – disse ela pegando o celular e mostrando uma foto que havia tirado com ele. Apesar das poderosas lentes de contato que Melissa estava usando, ela reconheceu apenas o rosto de Linda quase sem definição na pequena tela do celular de Sophie. Escondido pelo cabelo loiro da noiva oxigenada de seu pai, havia um homem que a garota não conseguiu ver, mas teve a certeza que não se tratava de Albert. -Você fez aquele alarde, e me fez vir correndo feito uma maluca pra me mostrar uma foto da Linda de péssima qualidade?! -Alooou! Eu não menti quando disse que o caso era grave... Não é óbvio que essa vaca está traindo o nosso pai? Eu vi com meus próprios olhos de dentro da limusine quando estava parada no sinal de trânsito. A vadia da Linda e esse tal cara estavam se beijando em um restaurante! Nós não podemos deixar nosso pai casar com essa vigarista, porque se ela realmente explodiu a cobertura como eu acho que ela fez só pra receber o seguro, depois do casamento ela vai ser capaz de tudo pra ficar com o nosso dinheiro. -Hã?! A Linda explodiu o próprio apartamento? Você não está falando isso só porque odeia ela, não é? -Bem, eu não tenho provas. Mas eu to quase certa que ela fez isso sim! É só pensar um pouco e você também vai chegar à mesma conclusão que eu. Mel, ela estava falida, sem dinheiro algum porque o pai do Aaron deixou todos os bens dele,com exceção do apartamento que explodiu, para a amante. Foi um escândalo na época, você nem imagina... Outra coisa que me fez ter quase certeza de que a Linda premeditou tudo é que aquele colar de diamantes que ela usou no jantar foi o único que ela não vendeu pra pagar as dívidas. O Oliver me disse uma vez que a mãe adorava tanto aquele colar que nunca, em hipótese alguma, o deixou aos cuidados de um banco, por mais que o senhor Stonewell insistisse. Ela o guardava no cofre dela, no apartamento que explodiu! Ou seja, se ela tirou ele dias antes é porque já estava tramando o suposto “acidente” de gás no apartamento. Então se ela fez isso mesmo como eu acho que fez, nosso pai vai estar em sérios apuros se casar com ela...Imagine o que ela pode fazer com ele, ou melhor, contra a vida dele... Sophie nem precisou continuar as explicações, Mel já havia se arrepiado só com aquele pensamento. Ela conhecia há anos a senhora Stonewell e apesar dela sempre tê-la tratado bem, algo estranho e obscuro parecia circundar aquela mulher que era obcecada por dinheiro. Devido a isso, Melissa não achou a acusação de Sophie, sobre a explosão forjada do apartamento de Linda, uma mera “viagem” da irmã. -Mas o que a gente pode fazer? Essa foto não prova nada e por mais que o nosso pai nos ame ele não vai acreditar em você. Vai achar que é apenas ciúme de filha mimada. – afirmou Melissa fechando o celular de Sophie. -Eu sei, mas foi por isso que eu chamei você aqui. Apesar de nós duas não suportarmos uma a outra, precisamos agir em dupla pra detonar a senhorita Botox. Você é inteligente, ou pelo menos era quando criança. Acha que consegue bolar algum plano? -Talvez. – respondeu Mel hesitante. Posso pensar em alguma coisa, mas não garanto que dê certo.


-Ah vai sim. – disse a garota determinada ficando frente a frente com a irmã. Ou eu não me chamo Sophie Anabeth Fenner. *

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A noite ainda não havia caído sobre Manhattam, mas as notas tímidas da guitarra de Aaron já haviam se espalhado pelo terraço do hotel. Embora a intenção dele estar ali fosse terminar a letra de uma de suas músicas com a inspiração proporcionada pela vista do Central Park, o garoto havia passado mais tempo tocando do que propriamente fazendo a canção. A verdade é que Aaron estava exultante de felicidade com a volta de Mel e o fato dela ajudá-lo com Sophie, e por isso resolveu externar toda a sua animação através da maneira que mais gostava: a música. Empolgado com os acordes que fluíam de sua velha guitarra, ele nem mesmo se deu conta que Mel tinha acabado de surgir no terraço e agora o observava em silêncio, escondida por uma pilha de caixas de papelão. Parada ali, oculta por aquela pequena barreira que os separava, Melissa não quis interrompê-lo pois assim podia olhá-lo e desejá-lo, sem ter que disfarçar seus suspiros de admiração como fez a manhã toda durante o jogo. Ainda que estivesse irada com Aaron pelo pedido de ajuda com a irmã era impossível para ela não sentir as pernas tremerem e o coração disparar ao vêlo. Por mais que tentasse não se apaixonar pelo garoto, ele era lindo e charmoso demais, o que o tornava praticamente irresistível. -Você vai ficar aí parada com vergonha ou vai vir falar comigo? – perguntou Aaron parando de tocar a guitarra. -Mas como você sabia que eu estava aqui? - Reparei só agora. Vamos dizer que um certo tênis All Star cinza não estava muito bem escondido atrás das caixas. – respondeu ele virando-se para a garota com um sorriso maravilhoso. -Olha, eu juro que não estava espionando. É que você estava tocando tão bem que eu não quis atrapalhar. – justificou Mel. - Você nunca me atrapalha “Pimenta”. Além disso eu não estava fazendo nada demais, não se preocupe. – disse ele encostando a guitarra em uma cadeira quebrada que se encontrava no terraço. -Bom, eu estava procurando por você pra te pedir desculpas por ter saído daquele jeito do Central Park. Foi o Oliver que disse que você estava aqui. -Mas aconteceu alguma coisa grave naquela hora? -Não. Na verdade foi só a Sophie com a péssima mania de achar que o mundo gira em torno dela. Me assustou à toa. – disfarçou Melissa lembrando que Aaron infelizmente era filho de Linda. -Hum...Hei quer aprender a tocar guitarra?- perguntou ele pegando de novo o instrumento. -Acha que eu consigo?! -Não vai saber se não tentar... Com cuidado, Aaron deu a guitarra e a palheta para Mel e se colocando atrás dela, enlaçou-a com seus longos braços. -Esse dedo você coloca nessa corda, o indicador nessa outra e o resto aqui e aqui. Isso é um DÓ, ok? -Tá. Entendi.


-Agora nós vamos fazer um RÉ. – disse ele segurando a mão da garota delicadamente. Mel até tentou prestar atenção no que Aaron dizia, mas estava sendo difícil manter a concentração com ele tão perto. O hálito quente que saia de sua boca e tocava suavemente o pescoço dela a fazia ficara arrepiada, sem falar na voz doce que parecia sussurrar ao seu ouvido. Naquele momento a vontade da garota era se virar e beijá-lo por longos minutos, mas embora seu coração esperasse por isso desde a primeira vez que o reviu, aquele pensamento logo saiu de sua cabeça. Lembrou-se que Aaron a via apenas como uma grande amiga e com certeza iria se assustar com aquela atitude impensada. -Ah, deixa pra lá isso é muito difícil. – disse ela devolvendo a guitarra. -Eu achei que você estava indo muito bem. – afirmou ele. – Só esta faltando um pouco de prática. -Ah, ta bom. Se existe uma coisa que você nunca soube fazer foi mentir Aaron Stonewell. E eu decididamente não nasci talentosa como você. -Sério?! Acha mesmo que eu sou bom?- perguntou o garoto meio inseguro. -Eu vi você tocando. Se não for o melhor é um dos melhores com certeza. -Você é demais sabia?! –a firmou Aaron sorrindo enquanto a abraçava de um modo fraternal. –É muito bom ter você de volta. Por alguns minutos, Melissa quis aproveitar aquele gostoso abraço e não pensar em mais nada além de Aaron. Sabia que em seu coração nunca sairia do “posto” de amiga. E por isso abraçou-o fortemente fingindo que, pelo menos naquele momento, ela era mais do que aquilo.

Capítulo 7 - A ameaça Sem nada de interessante para fazer naquela manhã e morrendo de preguiça, Mel nem mesmo trocou de roupa. Preferiu ficar sentada, de pijamas, tomando um suco de maçã e vendo despreocupada a MTV. Às vezes ainda pensava na noite anterior em que estivera com Aaron e isso lhe alegrava um pouco, mas depois sua memória insistia em lembrar-lhe de que eram apenas grandes amigos e que provavelmente se dependesse do garoto nada ia rolar entre os dois. Com esse triste pensamento na cabeça e o coração doendo, mel ouviu baterem na porta de sua suíte. Embora estivesse apenas vestida com sua camisola da Hello Kitty, a garota nem mesmo preocupou-se em perguntar quem era. Colocando o copo de suco na cabeceira da cama, ela bocejou e pediu que entrasse. -Bom dia querida. – disse Albert sorrindo e aproximando-se para beijá-la na testa. -Como vai Melissa? Será que chegamos em má hora? – perguntou Linda com um ar esnobe olhando para a camisola da garota. -Não, eu só estava assistindo TV. -Filha, Linda está aqui por que quer a sua opinião e a de Sophie sobre os vestidos das damas de honra.


-E também convidá-la para ser uma delas! - completou a noiva de seu pai fingindo não reparar nas roupas jogadas pelo chão do quarto. Albert foi então até a porta que unia a suíte de Mel a da irmã e bateu fortemente chamando pela outra filha. Com uma camisola de renda rosa e o rosto inchado de tanto sono, Sophie apareceu no quarto ainda meio tonta. Sem a costumeira maquiagem que adorava usar ,a garota mais parecia uma folha de papel de tão pálida que estava. -Bom dia minha princesa. Linda quer falar umas coisas com vocês sobre o casamento. – disse Albert acompanhando a filha até a cama de Mel. -Pai !São dez horas da manhã e eu preciso de um blush e um corretivo líquido, será que a gente podia deixar essa conversa pra mais tarde?perguntou ela bocejando. -Ah querida Sophie, infelizmente Margareth Beitzner, aquela famosa estilista está esperando lá fora e ela tem hora marcada com outra cliente às onze. Não podemos adiar. – afirmou Linda sorrindo de forma falsa. Como sempre atrasado para alguma reunião importante de negócios, Albert olhou para o relógio e se despediu das três beijando cada uma na testa. -Meninas sejam boazinhas com a Linda. – disse ele saindo apressado. Depois de alguns minutos a senhorita Beitzner ,que aguardava já impaciente do lado de fora, foi convidada a entrar. Embora fosse uma estilista de sucesso, se vestia tão mal que mais parecia uma neo-hippie do que um ícone fashion. -E então garotas? Vocês aceitam ser damas de honra no meu casamento? – perguntou Linda como se estivesse fazendo o melhor convite da vida delas. Mel e Sophie olharam-se por alguns relutantes, mas acabaram aceitando o pedido, pois haviam pensado na terrível decepção que seu pai teria se elas dissessem não. -Eu não perderia este circo de horrores por nada. – disse Sophie cruzando os braços e encarando Linda com um certo ódio no olhar. -É claro querida, lugar de palhaço é no circo e o horror eu deixo por sua conta, já que você tem essa aparência tão peculiar pela manhã. – alfinetou ela. Sophie nada respondeu apesar da incrível vontade de mandar Linda para aquele lugar. Respirando fundo, foi até a mesa onde Beitzner havia se sentado com a vaca loira ,e pôs-se a olhar o grosso livro negro com os vários croquis que a tal estilista havia trago. -Eu achei esse aqui bonito. – disse Mel chegando atrás da irmã e apontando para a folha do catálogo que mostrava um vestido de mangas cumpridas. Meu bem, se eu quisesse que vocês usassem uma sauna ambulante eu teria comprado qualquer peça na liquidação da Macy’s. Nós estamos no verão e não no inverno. Lembre-se disso se o seu Q.I. permitir. O que eu acho muito difícil... -Prefiro esse com a parte de cima tomara-que-caia. – disse Sophie azeda. -É. Eu também. - concordou Mel de imediato tentando se livrar logo daquela presença insuportável. -Ok. Então já temos o modelo. Agora definamos a cor, eu adoraria que fosse roxo. – opinou Linda. -O quê? Roxo? – espantou-se Sophie. – Quer que a gente pareça dois hematomas gigantes no altar? Eu não entro na igreja com essa cor nem morta! -Ah querida, mas porquê ? Combina tanto com suas belíssimas olheiras. – ironizou a madrasta.


Agora Sophie parecia que ia perder totalmente o controle. Estava tão acostumada a sempre pisar nos outros, que receber o golpe de volta era novidade para aquela patricinha metida. -Pelo menos as minhas olheiras são causadas pelo fato de eu ser muito branca e não porque passo os dias descarregando energia com meu amante que é o que você faz. – revidou a garota mostrando sua cara de desprezo para Linda. Mel que apenas ouvia calda a troca de farpas levou as duas mãos a cabeça e suspirou. Sem querer Sophie havia dado de graça o trunfo que elas tinham contra Linda, e agora com a vaca oxigenada sabendo de tudo ficaria muito mais difícil pegá-la em flagrante com o tal homem da foto. -Eu nunca fui tão insultada em toda minha vida. Escute aqui sua pirralha. Não adianta inventar mentiras a meu respeito, vou me casar com seu pai sim! E sabe qual a primeira providência que eu tomarei? Enfiar vocês duas em um bom colégio interno bem longe de preferência, suas pestes adolescentes. Ah e mais uma coisa, já está decidido,a cor da roupa de vocês será roxa ouviram bem? – disse ela indo em direção a porta acompanhada pela estilista. – Tenham um bom dia se puderem! Dizendo isso, Linda bateu com força a porta e deixou as irmãs sentadas na cama, perplexas com ameaça que haviam acabado de sofrer. -É inacreditável! – resmungou Melissa. -Eu sei. Quem usa roxo em casamentos? – perguntou Sophie fazendo a cara esnobe de sempre. -Não sua anta! Eu to falando do colégio interno! E você nem pra segurar essa língua não é?! Agora ela sabe que a gente sabe do amante, e com certeza vai tomar muito mais cuidado quando for se encontrar com ele. -É, eu sei. Mas eu não preciso me preocupar. Você e aquele idiota do Aaron viviam inventando planinhos e bancando os detetives, ainda deve ter um pouco daquela genialidade nessa sua cabeça oca. – disse Sophie batendo com o punho fechado na cabeça da irmã. -Acontece que descobrir onde foi parar um colar de esmeraldas de uma das hospedes do Hotel que achou ter perdido ele não se compara com flagrar uma cena de adultério! – afirmou Mel levantando-se da cama e indo olhar pela janela. – Eu preciso pensar em um plano e rápido, porque se essa mulher se casar com nosso pai, nosso destino final será em algum colégio distante, mas muito distante mesmo daqui. *

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Espalhados um em cada sofá na gigantesca apartamento de Doug, Aaron e Marvin pareciam concentrados diante das folhas de papel que seguravam. Ao contrario do que eles haviam pensado, a escolha das músicas para o Cd Demo estava sendo um pouco difícil, já que a banda possuía uma infinidade de canções e quase todas eram realmente boas. -Vocês deveriam ter aceitado o dinheiro que meu pai quis emprestar, pelo menos com aquela grana toda dava pra gravar umas dez faixas em um bom estúdio. Assim a gente não teria que passar por essa tortura de escolher quatro músicas e ainda gravar em um estúdio furreca. – disse Doug, o baterista,


jogando despreocupadamente mais uma folha no tapete que estava coberto por quase tantas outras. -Cara! Esse seu “apê” chega a dar eco de tão grande. – afirmou Marvin que encontrava-se deitado de cabeça para baixo no sofá. – Eu fico até com vergonha de ser o único pobre da banda. -Ah, claro...Tirando o fato de que meu apartamento explodiu, o meu pai morreu deixando toda a herança pra amante e eu não tenho mais nada...É M.J., você é o único pobre da Nonsense. – ironizou Aaron pegando outros papéis pra ler. Um pouco arrependido por ter trazido à tona sem querer aquelas terríveis lembranças que magoavam o amigo, Marvin levantou-se do sofá e foi analisar uma belíssima escultura de um casal se beijando que ficava quase escondida no canto da sala de estar dos Ojemann. -Acho que “Conscience”, “Rebel” e “No rules” mereciam entrar na Demo. – sugeriu Aaron. -Concordo, mas você é o líder da banda, e portanto a decisão final é sua. – afirmou Doug deitando-se no sofá. -Nada disso. A banda é nossa e todas as decisões devem ser tomadas de forma democrática. Então eu proponho uma votação. Que é que você acha M.J. ? -Por mim elas entram. -Aleluia! Até que enfim nós concordamos em alguma coisa. – disse Doug jogando de brincadeira uma almofada em Marvin que por pouco não atingiu a escultura. Interrompendo inesperadamente a conversa do trio, a bela, jovem, e mais nova senhora Ojemann entrou na sala de estar, apenas vestida com um minúsculo biquíni branco e um roupão de banho aberto que nada escondia. Diante daquela mulher loira com formas tão bem delineadas e um tanto desavergonhada, Aaron e M.J. ficaram perplexos. -Douguito! Você sabe onde meu docinho de morango foi? – perguntou ela se referindo ao senhor Ojemann enquanto ajeitava o biquíni. -Anette por um acaso você já ouviu falar na palavra trabalho? Já?! Pois é com isso que ele paga o seu cartão de crédito. – respondeu Doug em um tom ríspido. Pouco ligando para o comentário sarcástico do enteado, a bela jovem apenas deu um sorrisinho para os garotos e saiu da sala rebolativa, voltando para mais uma sessão na máquina de bronzeamento artificial que ela havia comprado a menos de uma semana. -Não consigo entender como meu pai teve coragem de trocar minha mãe por essa coisa. – disse Doug fechando a porta do salão para que ninguém mais os interrompesse. -Acho que eu sei porquê. –disse Marvin desenhado no ar com as duas mãos a figura de um corpo voluptuoso, o que o fez levar mais uma almofadada do amigo. -Deixa só a Chloe ouvir isso, aí mesmo você perde as poucas chances que tem com ela. – lembrou Aaron. -Já que você tocou nesse assunto das garotas, que queria saber uma coisa...A Melissa não tem namorado não é? – perguntou Doug parecendo muito interessado.


Aaron que até então gargalhava desfez rapidamente o sorriso e assumiu um ar sério. -Por que é que você quer saber? -Fala sério, ela é bem mais gostosa que a irmã você não acha? -Hei, pode esquecer Douglas! A Mel não é pra você. – decretou Aaron chamando o amigo estranhamente pelo nome. – Ela é tímida, meiga, gentil, muito diferente do tipo de garota que você gosta. -Desculpa se toquei em um ponto delicado. Não sabia que vocês tinham alguma coisa... -E não temos! – disparou Aaron. –Somo amigos há anos e além disso, ela prometeu me ajudar com a Sophie que vocês estão cansados de saber é a garota que eu sou afim. Só estou dizendo que a Mel não é pra você porque eu a considero como uma irmã e por isso não vou deixar ela cair nas suas garras. Você fala do seu pai, mas acaba agindo do mesmo jeito que ele age com as garotas e sabe disso! -Ok ! Não se fala mais nesse assunto. – disse Doug se conformando. Depois daquela pequena discussão, a conversa entre os garotos acabou morrendo por alguns minutos. Com desculpa de escolher mais uma música para o Cd Demo, Aaron se sentou no tapete Indiano longe dos amigos e fingiu que prestava atenção não tirou os olhos do papel que segurava, embora seu pensamento estivesse muito longe dali. Marvin que ouvira calado a discussão recostou-se folgadamente no sofá e colocando os pés na mesinha de vidro que decorava o centro da sala, ficou examinando Aaron de longe meio que tentando entender o verdadeiro motivo daquela sua mudança de humor. -Galera olha só, não queria interromper o “momento reflexão” que “baixou” aqui, mas eu acho melhor a gente deixar essa escolha pra depois e ensaiar. Afinal a gente só vai gravar a Demo no final do ano e além disso, semana que vem nós vamos tocar no aniversário da Vicky. Lembram? – perguntou Doug. -Relaxa cara. A gente só vai cantar três músicas. Você sabe muito bem que ela só contratou a banda porque sabia que se não fosse pra tocar o Aaron nunca iria aparecer na festa dela. A garota ta caidinha por ele... -Só ela? E a Ashley, a Torrance, a Kitty, a Amanda, a Debby, a Mena?enumerou Doug. –É só ele estalar os dedos assim e elas vem correndo atrás do “irmão perfeito”. Ainda com uma expressão dura no rosto, Aaron levantou-se e jogou o papel que segurava em cima da mesa de centro onde Marvin estava com os pés. Sentia que uma pequena fagulha de raiva havia surgido sem eu corpo devido à pergunta de Doug sobre Mel. Afinal, gostava demais da amiga para aceitar vêla nas mãos de Doug que ele sabia muito bem gostava apenas de se “divertir” com as garotas. -Vamos ensaiar. – ordenou ele de forma seca indo em direção a porta. – Pelo menos assim vocês não falam tanta besteira! *

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A água estava uma delícia quando Melissa mergulhou na piscina coberta do hotel. Apesar do dia extremamente quente que fazia em Nova York, só havia duas crianças ali ,que graças á pouca idade e aos avisos histéricos das babás


ficavam apenas na parte rasa da piscina deixando um enorme espaço para a garota nadar a vontade. Ainda que tivesse ficado tantos anos longe, Mel lembrava-se com exatidão do ambiente da piscina, já que passava grande parte do tempo naquele lugar quando não estava aprontando com Aaron. Por algum motivo nadar a deixava relaxada e era isso que a garota fazia sempre quando tinha algum problema ou uma angústia qualquer. Mas hoje, ao contrário dos tempos de infância, mel não queria fugir de anda. Mergulhava naquela água transparente apenas para brincar e se divertir como as crianças barulhentas que nadavam seguros por suas bóias coloridas a alguns metros dela. -Foi difícil achar você sabia? Procurei por todo hotel até que lembrei da sua vocação pra ser peixe e vim pra cá. – disse Chloe surpreendendo a garota e sentando-se logo em seguida na borda da piscina. -O que foi? Por um acaso a Sophie brigou de novo com você por causa daquelas regras malucas dela? – perguntou Mel enquanto boiava com os olhos fechados. -Na verdade não. Eu vim agradecer por você ter me defendido ontem e dizer que não vou mais agüentar as coisas estúpidas que ela faz comigo. Você me ajudou a cair na real. Acho que é a única amiga de verdade que eu tenho hoje. – disse ela timidamente. Feliz com a decisão corajosa de Chloe, Mel saiu da piscina e enrolando-se em uma toalha que havia deixado na espreguiçadeira foi sentar-se ao lado da garota com os cabelos ainda encharcados de tanta água. -Você estava perdendo sua alma Chloe, tirando a franja e o cabelo castanho você mais parecia uma cópia da Sophie. – afirmou Mel enxugando suas mechas loiras com outra toalha. -Eu sei, mas você também sabe como era ser chamada por aqueles apelidos horríveis na escola, ter uma droga de musiquinha com o seu nome...Todo mundo me achava feia, esquisita e os garotos só queriam saber de mim quando era aula de educação física. Aí sim eles queriam ficar perto da “Dumbo” aqui porque ela jogava bem. Mas quando a Sophie começou a falar comigo, as coisas mudaram e da noite por dia eu passei da “Chloe quem?“ pra “Ah sim! A Chloe Von Bondenburg!”. Eu achava que devia tudo a sua irmã e que sem ela eu ia voltar a ser a esquisita de sempre. Por isso só fazia o que ela mandava... -Até se afastar do Marvin mesmo gostando d ele não é? – perguntou Mel compreensiva. -É. De todas as coisas que eu fiz essa é a de que eu mais me arrependo. Mesmo com o corpo ainda úmido, melissa abraçou Chloe que graças a decisão de não ser mais igual a Sophie, não reclamou do fato que a amiga estava molhando sua blusinha de seda da Gucci. -Então, quando é que você vai contar que está apaixonada por ele? -No mesmo dia que você disser pro Aaron o quê sente. – respondeu Chloe encarando-a. Envergonhada, Mel desviou os olhos e pôs-se a admirar o fundo azulado da piscina que ostentava um gigantesco “M” de Meditteranean no centro. Por mais que não tentasse ficar embaraçada, o fato de Chloe já ter notado seus suspiros por Aaron a havia deixado extremamente vermelha, como se todo o sangue de seu corpo tivesse subido a face.


-Mas quem disse isso? Eu e o Aaron somos amigos há muito tempo, o que eu sinto por ele é um carinho especial de irmã mesmo, entende? – disse Melissa tentando disfarçar o nervosismo. -Mel, eu posso até parecer, mas não sou burra e você mais do que ninguém sabe disso. Eu vi o jeito que olhou pra ele no jogo. Era um olhar de desejo e não de amizade. Você ”secou” ele quase o tempo todo! -To vendo que você continua esperta como antes hein, senhorita Von Bondenburg! – sorriu a garota voltando seus olhos para Chloe. Sabendo que não conseguiria esconder nada da amiga, Mel resolveu “abrir o coração” para ela e contar o que realmente sentia por Aaron, ainda que ficasse envergonhada só de mencionar o nome dele. Durante horas as duas amigas ficaram sentadas na borda da piscina conversando sobre suas respectivas paixões não correspondidas. As crianças que brincavam naquele local já haviam ido embora com suas babás, o que contribuiu para que a conversa sobre amor fluísse mais facilmente entre elas. Chloe até mesmo ousou se arriscar no campo da psicologia, que conhecia muito pouco é verdade, para expor sua teoria de que Aaron não gostava de verdade de Sophie, apenas insistia naquela paixão proibida pela namorada do irmão porque tinha medo de se dedicar a um amor de verdade e acabar sofrendo. Mel não acreditou muito nas teorias da amiga, mas divertiu-se tanto com elas que nem mesmo viu a hora e seus dedos ficarem enrugados devido ao fato de estar todo aquele tempo com os pés enfiados na piscina. Conforme a tarde foi caindo, as duas foram para suíte de Melissa e acompanhadas por uma gostosa pizza Marguerita e algumas latinhas de refrigerante continuaram relembrando histórias engraçadas de quando ainda estudavam juntas. O que acabou gerando uma série de gargalhadas ininterruptas e acessos de vergonha principalmente por parte de Chloe, que havia sido a campeã em “micos” e “bizarrices” na escola. Embora para ela fosse um pouco estranho não falar de roupas, maquiagens e contagem de calorias, o que seria uma heresia diante daquelas gordurosas fatias de pizza, o dia havia sido tão legal na companhia de Melissa que por um momento Chloe esqueceu os anos de futilidade que vivera e voltou a ser a menina esperta e engraçada da quinta série. Quando afinal as duas se separaram já era noite em Nova York, e ambas estavam felizes por terem reatado apenas em uma tarde a amizade de seis anos que havia sido interrompida pela mudança de Mel para o Brasil. Mas que daquele dia em diante, segundo elas, seria eterna e muito mais forte do que nos tempos de infância.

Capítulo 8 – Quase Sherlock Holmes Uma semana já havia se passado desde que Linda ameaçara cruelmente as irmãs com a historia do colégio interno. Apesar do que Mel havia prometido a Sophie, a garota tinha gasto a maior parte de seu tempo em passeios por NY com Chloe e Aaron, ao invés de tentar bolar um plano razoável para deter a madrasta mercenária. Sabia que o calendário estava contra ela e que o


casamento se aproximava a passos rápidos, mas era difícil para Mel ignorar a presença da melhor amiga e do garoto que gostava para pensar em algo maquiavélico. Até imaginou, quando estava sozinha em seu quarto prestes a dormir, umas duas ou três formas que poderiam desmascarar a miss botóx porém, as idéias que passaram por sua cabeça foram embora tão rápido quanto surgiram, já que eram mirabolantes e totalmente absurdas. Desnorteada por não ter conseguido pensar em algo, e certa de que havia perdido a sua genialidade infantil, Melissa decidiu tomar café sozinha no restaurante do Meditteranean ao invés de pedir à recepção que levassem ao seu quarto. Entretanto, graças a um lance do destino, ela nem mesmo chegou a entrar no elevador que a levaria ao Chateau D’or. Parada, prestes a fechar a porta de sua suíte, Mel viu Linda sair do quarto que ocupava e desaparecer rápido na curva que levava a um outro corredor do hotel. Por alguns instantes a garota ficou naquela mesma posição com o olhar vago e ar pensativo, até que um milagroso estalo soou em seu cérebro adolescente. Sob gritinhos animados de “É isso, é isso, é isso” que ela repetiu por várias vezes,Mel entrou novamente no quarto e sem demora correu até aporta que unia sua suíte a de Sophie. Fazendo um incrível alarde ao mesmo tempo em que esmurrava sem piedade a madeira da porta, ela acabou acordando a irmã que dormia tranqüilamente. -Olha só, acho bom ser algo importante porque eu acordei morrendo de enxaqueca e com pouquíssima paciência pra te aturar hoje. – disse Sophie entrando na suíte com o cabelo desgrenhado e o típico rosto pálido que pedia urgente alguma maquiagem. -Você não queria que eu tivesse uma idéia pra detonar a vaca loira? Pois é, acabei de ter uma e já vou colocar em prática, apenas me siga e não faça perguntas. -Mas eu vou assim? Espera aí, pra onde vamos afinal? -Eu já disse que depois te explico, nós não podemos é perder mais tempo. Vem logo! – ordenou Mel saindo do quarto. Como era de manhã cedo e a maioria das pessoas ainda não tinham acordado, Sophie que estava de camisola, não teve o desprazer de encontrar algum hóspede perambulando pelo corredor do hotel. Ao entrarem na suíte de Linda, as garotas encontraram uma das arrumadeiras do hotel que viera limpar o quarto dela reclamando alguma coisa incompreensível em espanhol, e rogando a Nossa Senhora de Guadalupe por outra coisa que as duas irmãs não conseguiram entender. -Consuelo fora! – disse Sophie autoritária utilizando-se do fato de que ra filha do dono do hotel. – Depois você arruma esse quarto. Sem questionar as ordens da garota, a arrumadeira saiu da suíte sussurrando alguns palavrões em espanhol que Sophie não entendeu. -Ok. Preste atenção Sophie! Nós temos que procurar ,com cuidado pra não desarrumar nada, alguma coisa que comprometa a Linda. Caderno de telefone, diário, cartas, e-mails, agenda...qualquer um desse porque se ela realmente explodiu o apartamento deve ter guardado essas coisas, assim como guardou as jóias. Vamos começar já, antes que ela volte ou o Aaron e o Oliver acordem e venham falar com a mãe. – ordenou Melissa.


As duas puseram-se a vasculhar a luxuosa suíte da noiva de Albert, cada uma em um lugar específico para assim não se cometer o erro de olhar o mesmo local várias vezes. Mel que examinava as mesinhas de cabeceira ao lado da cama, encontrou apenas vários frascos de remédios para dor de cabeça e até mesmo alguns antidepressivos. Fora isso, as gavetas encontravam-se repletas de papéis insignificantes e envelopes vazios que possuíam o logotipo de um grande banco de Nova York. Sophie também não teve sorte, procurando no armário da vaca loira viu apenas uma coleção enorme de sapatos novos, além de inúmeras roupas da Prada, Chanel e Dior que entulhavam o local e praticamente excediam a capacidade do closet. Quando tudo parecia perdido e Mel já havia sentado na cama revoltada por não ter encontrado nada que pudesse lhes ajudar, Sophie sem querer achou uma pequena agenda de couro preta que encontrava-se muito bem escondida no armário do banheiro. -Muito bom mana. Isso deve nos ajudar a encontrar o endereço do amante dela ou pelo menos nos dizer o nome dele. Vamos pro nosso quarto, precisamos ler e devolvê-la antes que a Linda volte. – disse Mel saindo apressado pela porta com um sorriso de satisfação no rosto. Depois de chegarem na suíte de Sophie que ficava um pouco mais perto do quarto da madrasta, as duas irmãs jogaram-se na cama e folhearam ansiosas a agenda em busca de algum nome estranho ou algum compromisso misterioso. Mas ao contrário do que pensavam não havia nada de comprometedor nela. Apenas registros de reuniões sociais, endereços de amigos ricaços e duas listas de convidados para a festa do tão odiado casamento. Desapontadas com o fato de terem feito tudo aquilo pra nada, Sophie socou raivosa seu travesseiro de plumas e jogando as duas listas inúteis na cama, foi até a penteadeira onde começou a desembaraçar sem a menor paciência seus longos cabelos loiros. -Eu não acredito nisso. Ela explode o apartamento, dá o golpe do baú no nosso pai e a gente é que vai pra uma prisão longe daqui?! Sim, porque colégio interno é apenas um sinônimo pra palavra “prisão”. Se for religioso então pior ainda, vai ser comer, estudar, rezar, comer, estudar, rezar. Um inferno! – resmungou Sophie olhando a irmã pelo espelho da penteadeira. Mel que agora estava calada e com os olhos voltados para agenda nem mesmo prestou atenção nas palavras dela. Embora não tivesse achado nada suspeito, um pequeno detalhe na folha de endereços que ficava no final da agenda acabou chamando sua atenção. Ali, bem no canto da página, misturado entre outros nomes encontravam-se as iniciais W.B. pouco legíveis, e ao seu lado um borrão rasurado que Melissa supôs se tratar de um número telefone. Mesmo aquilo não representando nenhum avanço na pequena investigação, Mel sentiu que se descobrisse a quem pertenciam as iniciais aquilo poderia acabar lhe trazendo mais uma peça para o quebra-cabeça da madrasta. -Sophie, a linda fez duas listas para a festa de casamento, não foi? E a primeira tinha mais convidados que a segunda, certo? -É. A da folha rosa parece que foi a primeira que ela fez. Acho que cortou uns vinte nomes dos cento e cinqüenta que ela tinha pensado em convidar e fez


essa outra aí da folha amarela. Mas por quê você quer saber disso? – perguntou Sophie virando-se para a irmã não entendendo onde a garota queria chegar com aquilo. Mel não respondeu, apenas pegou as duas listas que encontravam-se em cima da cama ,e comparando-as leu em voz alta os único nomes que tinham as iniciais W.B. e que haviam sido riscados por Linda. -Warren Brukbaker, William Blos, e Wilfrid Bronson. Sophie, você conhece algum desses homens? -Só um, Wilfrid Bronson. É um caipira texano que enriqueceu quando descobriu petróleo nas terras dele. Nosso pai e ele quase não se falam, só quando Bronson se hospeda no hotel. Talvez a Linda o tenha cortado por isso. Já os outros eu nunca ouvi falar. -Hum... Será que posso usar o seu laptop? – perguntou Mel ainda com um ar misterioso depois de ouvir a irmã. -Pode pegar, mas no que essa coisa vai ajudar a gente? -Vamos fazer uma procura na net, se esses homens forem apenas ricaços deve existir alguma notícia sobre eles em sites de revistas, jornais ou até mesmo colunas sociais. Eu estou tendo um pressentimento e ele me diz que nós precisamos saber quem são Warren Brukbaker e William Blos. – disse a garota levantando-se imediatamente para pegar o minicomputador de Sophie. Ao digitar o primeiro nome no pequeno quadrado do site de buscas, Mel viu diante de seus olhos aparecerem dezenas de resultados para Warren Brukbaker. Após clicar em pelo menos dez links no qual aparecia o nome de Warren, as duas irmãs puderam certificar-se de que o tal homem tratava-se apenas do chefe do departamento de admissões em Harvard, e que a julgar pela já avançada idade dificilmente seria o amante de Linda. -Bom, agora já sabemos como a miss botóx pretendia garantir a vaga do Oliver na faculdade. – ironizou Melissa embora a irmã não tivesse achado a menor graça. Depois de apagar a pesquisa sobre BrukBaker, mel digitou o segundo nome desconhecido da lista. Ao contrário do chefe de admissões de Harvard, o nome Willian Blos apareceu pouquíssimas vezes na tel, já que a maioria dos links mostrava apenas outras pessoas que possuíam o mesmo sobrenome que ele. Procurando clicar em um, dos três únicos resultados que eram realmente sobre William Blos, Mel e a irmã não acreditaram quando viram surgir na tela uma pequenina e antiga matéria do New York Times que dizia: “Socialite volta atrás e inocenta corretor de seguros” O caso da misteriosa explosão de uma luxuosa cobertura em Manhattam sofreu mais uma reviravolta nesta terça-feira. Louise Richardson a dona do apartamento que havia confessado tê-lo explodido com ajuda de William Blos, corretor da empresa de seguros “Blos & Sons”, retificou no último dia doze o depoimento que havia dado a polícia. Dizendo ter sido ameaçada e coagida por alguns policiais que cuidavam do caso para incriminar o corretor, a senhora Richardson deu um novo testemunho ontem negando o envolvimento de Blos na explosão.


Procurado pelo New York Times na empresa onde trabalha com o pai Benjamin e o irmão Thomas, William Blos não foi encontrado e a família recusasse a falar sobre o assunto. O caso continua sob investigação da polícia de Nova York. Estranhando a incrível coincidência de que o apartamento de Linda havia explodido apenas oito meses depois do caso noticiado no New York Times e que ela havia convidado o tal corretor para a festa de seu casamento, Melissa clicou no outro link que o site de buscas indicava sobre William Blos. Quando Sophie olhou para a tela do computador e viu a foto de um homem acompanhado da manchete ”Corretor é cúmplice em explosão”, a garota não teve a menor dúvida de que William Blos era o homem que ela tinha visto a uma semana atrás aos beijos com Linda. -Eu não acredito! É ele, é ele sim! O tal que estava se agarrando com a vaca loira na rua! Tenho certeza que é ele. – disse Sophie agitada ficando de pé na cama. – Sei que vou me arrepender disso depois, mas você é um gênio Melissa Fenner, um gênio! -Acho melhor você não ir comemorando, a gente ainda precisa saber onde fica essa empresa de seguros, a “Blos & Sons”. Só indo lá é que nós vamos poder descobrir o endereço do William Blos, e depois quem sabe conseguir umas fotos comprometedoras da Linda com ele. – imaginou Mel. -Então o que a gente faz agora? – perguntou Sophie com um ar estranhamente doce descendo da cama. -Eu vou procurar na net, com certeza eles devem ter uma homepage com o endereço da seguradora, isso se a empresa não acabou depois do escândalo da explosão. Enquanto isso você vai devolver a agenda pro mesmo lugar que tirou. A Linda não pode nem desconfiar que nós a descobrimos, se não maninha...Nosso plano já era! *

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Desde que a limusine havia saído do hotel Melissa encontrava-se pensativa. Com o endereço da seguradora nas mãos e um certo frio na barriga, a garota ficou repassando mentalmente o que diria quando chegassem a “Blos & Sons” enquanto Sophie, que estava ao seu lado e também partilhava da mesma ansiedade, olhava sem parar para a janela do carro esperando o momento que a limusine finalmente chegaria ao seu destino no Financial District. -Lion, será que dá pra você acelerar essa coisa? Até mesmo uma lesma consegue andar mais rápido que a gente! – gritou Sophie voltando ao seu típico humor irritante. -Nem precisa, olha o prédio ali. – disse Mel apontando para um edifício que parecia espremer-se entre outros dois gigantescos. Temerosas, mas determinadas a levar o plano adiante, Mel e Sophie saíram do carro sabendo que o futuro das duas em Nova York ,e não em um internato longínquo, dependia daquela visita bem sucedida a seguradora. O prédio que abrigava a “Blos & Sons” era muito diferente dos luxuosos e requintados que se via por Manhattan. Com apenas dez andares e os dois elevadores quebrados, as garotas tiveram de subir pela escada de serviço que


encontrava-se muito empoeirada e até mesmo um pouco ensebada, o que causou por várias vezes ânsia de vômito em Sophie. Ao chegarem afinal no sétimo andar onde agora deveria funcionar a seguradora, Mel e a irmã depararam-se com uma minúscula sala de espera onde em um canto, uma estranha secretária encontrava-se com os pés na mesa lixando de forma despreocupada suas unhas. -Boa tarde. Nós queríamos falar com o senhor Willian Blos ele está? – disse Sophie tentando sem sucesso ser gentil. Vocês são da imprensa? – perguntou a tal secretária mascando um chiclete já sem cor que podia ser visto graças ao seu péssimo costume de fazer isso com a boca aberta. -Aloou! Nós temos apenas quinze anos, no máximo faríamos parte do jornal da escola! – replicou Sophie irritando-se com aquela pergunta idiota. -Então, o que querem com o senhor Blos? -Olha...Charlene não é? – perguntou Mel lendo a placa com o nome dela que estava em cima da mesa. –É um assunto muito importante, acho até que não deveria ser discutido neste escritório. Sabe como é, questões pessoais...Talvez seria melhor se você nos desse o endereço da casa dele... -Questões pessoais? Sei... Eu adoraria ajudar as fofinhas loirinhas, mas o senhor Blos não trabalha aqui a mais de três meses. -E por quê você não disse isso antes sua aberração? – indagou Sophie vendo que perdia seu temp ali. -Qual o problema com a bonequinha de luxo hein? Não conseguiu vomitar a única folha de alface que comeu no almoço ou viu alguém na rua com o vestido igual ao dela? – ironizou Charlene dirigindo a pergunta para Mel. Vendo que a situação tomaria um rumo diferente do que havia pensado graças a secretária louca e aos acessos pedantes de Sophie, Melissa tentou contornar o problema da melhor forma possível. -Charlene, eu sei que deve ser bem chato ficar o dia inteiro nesta sala, ter que agüentar um monte de pessoas idiotas o tempo todo e ainda ser mal paga pra isso, mas será que não teria ninguém aqui que talvez soubesse o endereço do senhor Blos? -Sabe você deveria ser política garota, leva jeito pra fingir que se importa com o problema dos outros. O único que ainda trabalha na seguradora é o dono o senhor Benjamin Blos. Devem conseguir alguma informação do filho com ele. Podem entrar por essa porta aqui... -Hei, você não deveria anunciar antes? – perguntou Sophie colocando as mãos na cintura. -Claro benzinho. – disse a secretária sem animação apertando um botão do telefone. – Senhor Blos a Cachinhos Dourados e a Barbie Malibu estão entrando pra falar com o senhor. Ah e mais uma coisinha, se o meu pagamento não sair até semana que vem o senhor não vai ver mais esse telefone. Assustadas com a exótica secretária, mel e Sophie entraram na pequena porém iluminada sala do senhor Blos rapidamente. O velho e gordo Benjamin não havia entendido o que Charlene quis dizer com Cachinhos Dourados e Barbie Malibú, mas a pequena interrupção o havia feito se desconcentrar do jogo de “Paciência” que brincava no computador. - Sentem-se por favor. O que traz tão bonitas jovens aqui? – perguntou ele tentando sorrir embora seus dentes não aparecessem devido aos grotesco bigode grisalho que possuía.


-O senhor é pai de William Blos não é? – indagou Mel mesmo já sabendo a resposta. -Infelizmente sou, mas gora aquele infeliz não trabalha mais aqui. Depois de envergonhar a família daquele jeito e tentar me passar pra trás despedi-lo foi a decisão mais acertada. – disse o velho em remorso. -Antes que o senhor pergunte, nós não somos da imprensa ouviu?! – resmungou Sophie esclarecendo as coisas. -E que nosso pai está envolvido com Blos na explosão do nosso apartamento e ele fez isso para dar o dinheiro a amante. E agora eu, minha irmã e nossa mãe doente estamos na rua. Por isso precisávamos falar com William porque ele é o único que sabe o paradeiro de nosso pai. O senhor por acaso teria o endereço dele? – perguntou Mel usando toda a sua veia artística para comover o velho homem. -Aquele safado, vigarista...Nós éramos uma excelente empresa, tínhamos um escritório maravilhoso muito bem localizado no coração financeiro de Manhattan até que ele inventou essa história de fazer seguros milionários para os ricos de NY. Depois começou a agir desonestamente pelas minhas costas explodindo apartamentos pra dividir o seguro com os proprietários, e acabou arruinando essa empresa que eu construí com tanto afinco. Eu vou lhes dar o endereço daquele miserável. Eu sei que é meu filho, mas não pode continuar prejudicando pessoas de bem. Tomem, aqui está, mas não sei se ele ainda mora neste endereço, nós rompemos relações há algum tempo. – disse o velho levantando-se para abrir a porta, já que Melissa e Sophie pareciam querer sair o mais rápido dali. -Obrigada senhor Blos, não faz idéia de como isso pode nos ajudar. – agradeceu Mel saindo por último notando entretanto uma estranha foto de Jhon Lenon com um rapaz risonho que decorava a sala do velho Benjamin. Como dois relâmpagos, as garotas passaram rápidas pela sala de Charlene que despediu-se debochada delas, e desceram os sete andares do edifício em apenas poucos minutos graças a euforia de terem conseguido finalmente aquela tão desejada informação. Na calçada em frente ao prédio dos horrores, Mel e Sophie vibraram de alegria pulando e se abraçando feito loucas, não se importando com os olhares admirados das pessoas que passavam. -Hoje não vai dar tempo pra verificar se esse é mesmo o endereço do Blos, mas amanhã bem cedo nós vamos imediatamente procurar a casa dele. – disse Melissa. -Ok ! Você que manda por enquanto “Sherlock”, mas eu ainda tenho uma dúvida que está me incomodando muito... -O quê foi? -Eu é que sou a Barbie Malibu né?- perguntou Sophie retomando a seus acessos de futilidade. -Ai Deus...É Sophie. - respondeu Mel rindo com aquela pergunta sem cabimento da irmã. – Tão oca quanto....


Capítulo 9- Ainda resta uma esperança O fato de estar cada vez mais próximo o dia em que Linda seria desmascarada era uma das poucas coisas que conseguia deixar Sophie de bom humor. Mesmo tendo de admitir que tudo aquilo se devia a esperteza de Mel, o que decididamente não agradara nem um pouco seu lado egoísta, a garota ainda assim comemorava eufórica imaginando como seria a cara de susto da vaca loira quando revelassem a traição e todo o seu plano sórdido. Cantando baixinho uma música da Beyoncé enquanto passava seu “golden gloss” da Yves Saint Laurent diante do espelho do banheiro, Sophie nem mesmo reparou quando Linda entrou sorrateiramente no quarto, aproveitando que a porta tinha sido destrancada pela arrumadeira. Após terminar o visual com um blush rosa escuro e dar um beijinho no espelho como costuma fazer para tirar o excesso de gloss, a garota finalmente abriu a porta e quando viu os olhos ameaçadores de Linda a fuzilarem, sua única reação foi deixar cair a nécessaire onde guardava a maquiagem. -Surpresa em me ver Sophie? – ironizou a madrasta de forma tranqüila, sentada em uma cadeira. -Quem lhe deu permissão para entrar assim no meu quarto sua loira oxigenada? – perguntou a garota voltando a sua personalidade atrevida e inconseqüente de sempre. -Incrível como essa também é a resposta que eu quero saber. Quem foi que lhe autorizou a entrar no meu quarto ontem Sophie? Eu cheguei no exato momento em que você saia dele ainda de camisola. -Querida desculpe dizer isso, mas o botóx deve ter sido absorvido pelo seu cérebro e está te causando uma série de alucinações. – dissimulou a garota pegando a bolsa no chão. -Escute aqui sua pirralha metida à gente! – gritou Linda levantando-se da cadeira a aproximando-se dela. –Você pode ser venenosa, mas eu sou muito mais. Se eu souber que está aprontando alguma coisa contra mim, nem queira imaginar o que pode acontecer com esse seu rostinho lindo de boneca de porcelana. Muito cuidado comigo garota, você e aquela idiota da sua irmã não sabem do que sou capaz. Dizendo isso da forma mais ameaçadora possível e com os olhos cheios de cólera, Linda saiu do quarto. Desnorteada devido as palavras raivosas da madrasta, Sophie sentou-se na cama ao mesmo tempo em que Mel e Chloe apareceram de forma repentina na suíte passando pela porta que unia os dois quartos. -Nem precisa falar, nós ouvimos tudo. – disse Melissa visivelmente preocupada. -Será que a vaca loira sabe o que nós descobrimos? – perguntou Sophie mordendo o lábio, um gesto típico que sempre fazia quando ficava muito nervosa. -Acho que não. Ela falou que viu você saindo, então quer dizer que não te viu com a agenda. Além disso as únicas coisas sobre William Blos que estavam escritas nela eram as iniciais quase apagadas do nome dele. Linda acha que nós somos duas adolescentes burras e mimadas e que nunca conseguiríamos juntar as peças pra descobrir o nome do cara.


-É verdade... Hei o que essa mal agradecida está fazendo aqui? – perguntou Sophie olhando desdenhosa para Chloe, já se esquecendo do que havia acabado de ocorrer. -Eu tenho nome caso você não se lembre. – revidou a garota sem medo como nunca tinha feito antes. -Sophie não começa, ok? A Chloe veio trazer minha fantasia pra festa de aniversário da Vicky que eu fui convidada (mesmo você tendo dito por mim antecipadamente que eu não iria), e além ela disso vai nos ajudar com o William Blos. É melhor descermos rápido porque o táxi já está nos esperando. -Ou, ou, ou stop agora mesmo! Por que um táxi e no que a sua puxa saco oficial pode nos ajudar? – perguntou a irmã colocando-se na frente das duas e impedindo a passagem. -Ô Barbie, raciocine apenas uma vez na vida. Imagine a gente chegando com a limusine, que é algo pouco chamativo, e apertando a campainha do amante de nossa futura madrasta que provavelmente conhece o nosso rosto. Nós nos arriscamos muito indo até a seguradora e não podemos correr o risco de estragar o nosso plano mais uma vez. -É, faz sentido... Mas você deveria ter falado comigo antes de chamar essa aí. -Então chega de conversa e vamos embora. – ordenou Melissa. –Estamos perdendo tempo aqui. Não fazendo a menor idéia se a pista que estavam seguindo as levariam realmente ao tal William Blos e receosas pelo que as esperava no endereço que o senhor Benjamin havia lhes dado, as garotas saíram o mais rápido que puderam do hotel Meditteranean e tomaram um táxi até Chelsea onde o amante de Linda supostamente moraria. Antes de o carro adentrar a extensa e pouco arborizada rua daquele bairro residencial, Chloe e Melissa procuraram repassar apenas mais uma vez a desculpa que a garota daria para o tal homem se eles ficassem frente a frente. Apesar de Chloe estar muito nervosa e morrendo de medo de estragar tudo o que a amiga havia planejado, sua aparência era tão calma que dificilmente alguém poderia adivinhar o que passava em sua mente. -Pronto. Chegamos onde à senhorita pediu. – alertou o taxista. – Estamos a cinco casas do número mil duzentos e quinze como ficou combinado. -Ótimo, assim nós mantemos uma boa distância e o Blos não vai conseguir ver a gente. Chloe, você sabe o que fazer. – disse Mel segurando as mãos da amiga em sinal de boa sorte. Um pouco insegura, a garota desceu devagar do táxi e ao subir a calçada andou calmamente até a casa de Blos, embora algumas vezes tivesse se virado para dar umas olhadelas nervosas em direção ao carro que as amigas estavam. -Ela vai estragar tudo com certeza. – disso Sophie colocando seus óculos escuros Dolce & Gabannna achando que com aquilo ninguém a reconheceria. -Não vai não. Eu confio nele. – afirmou Mel olhando fixo para a garota que agora subia a pequena escada que levava a porta do número mil duzentos e quinze. Devido a um frondoso arbusto que crescia muito rente a parede da suposta casa de Blos ficou impossível para Sophie e Melissa verem a amiga do ângulo que estavam. Por mais que tentassem se esgueirar para a esquerda no banco do táxi com a intenção de vê-la, o máximo que conseguiram foi observar a


ponta esvoaçante da saia de Chloe que tremulava graças a leve brisa de Chelsea. Mesmo ansiosas para verem o rosto do amante de Linda, as gêmeas conformaram-se em esperar a volta da amiga bem quietinhas no carro, já que não seria nada prudente ficar se exibindo pelo território inimigo. -Não sabia que você ia a festa a fantasia da Vicky. –disse Sophie iniciando uma conversa apenas para matar o tempo. -É, ela me convidou ontem à noite novamente pra ir ao niver dela. Mas eu só vou porque o Aaron insistiu. – respondeu Mel. -Ah é mesmo, o projeto de rockstar vai estar lá. Mas me diz uma coisa, com qual fantasia você vai a festa? Não, espera aí, não responde não....Hum, deixa eu pensar... Ah já sei, de ativista mal cheirosa e peluda do Green Peace! Não?! Hum...Então você vai de baleia Orca, pra relembrar os seus velhos tempos de alta concentração de gordura adiposa, acertei? -Sophie, quando é que você vai entender que pensar é uma atividade de risco pro seu cérebro?! – perguntou Melissa sarcástica não percebendo que o taxista marroquino se divertia com a discussão das duas. – Não adianta, você só vai ver a fantasia na hora da festa. Isso se conseguir se agüentar de tanta curiosidade até lá... -Curiosidade? Eu? Alguém aqui está se achando o centro das atenções ultimamente hein! -Melhor eu achar que sou alguma coisa do que ser um Barbie anoréxica de cérebro pequeno e ego inflado. -Hei. Quem é você pra falar mal de mim sua caipira mal vestida?! Olha só pra esse tênis nojento que não sai do seu pé. Aposto que se tirar ele agora vai matar a gente com essa arma química de destruição em massa. – revidou Sophie apontando para o All Star cinza de Mel. -Não irmãzinha, ele não tem todo esse poder mortal que você pensa, mas até que se for arremessado com força dá pra fazer um belo estrago no rostinho de uma Patty metida. – disse a garota raivosa ameaçando tirar o tênis. Sabendo muito bem que Melissa seria capaz de cumprir a ameaça, Sophie saiu rapidamente do carro dando gritinhos agudos que tornavam a cena hilária. -Sua imbecil! Você quer que o Blos veja a gente é? – reclamou Mel. -Calma meninas, podem relaxar. – disse Chloe aparecendo do nada ao lado do táxi. –Ele não mora mais aqui, se mudou há cinco meses atrás. -O que? Quer dizer então que nós tivemos todo esse trabalho pra nada? – perguntou Sophie tirando os óculos escuros. Ainda querendo acreditar que seu plano não tinha ido por água a baixo, Mel saiu angustiada do carro e pediu que Chloe explicasse pausadamente e com todos os detalhes, o que havia acontecido na agora ex-casa de William Blos. -Quando cheguei lá, apertei a campainha e aí uma mulher ruiva me atendeu. Eu disse tudo aquilo que nós tínhamos combinado e perguntei sobre ele, mas a mulher não sabia de nada. Comprou a residência do Blos a uns cinco meses atrás e depois nunca mais o viu. Eu até perguntei se ele tinha deixado algum endereço ou telefone, mas o cara sumiu sem deixar rastros. -Tem certeza que ela não era uma comparsa dele, quem sabe uma outra amante? – perguntou Melissa levantando todas as possibilidades. -Não. Tinha umas três crianças brincando e acabando com o lugar, sem falar no bebê que se esgoelava em algum canto. Era uma típica família americana,


em um típico sábado de férias escolares. – argumentou Chloe lançando um olhar de “eu bem que tentei para a amiga”. Pensativa Mel recostou-se no táxi e por alguns minutos fitou o asfalto cinza daquela rua de Chelsea. Não se conformava em ter chegado tão perto de desmascarar Linda e agora voltar em apenas poucas horas ao mesmo ponto de partida. -Aquela vaca loira tem uma sorte gigantesca. – resmungou Sophie com um aparente desânimo. -Não, nem tudo está perdido. Aquela mulher do jornal que explodiu o apartamento com o Blos pode nos ajudar. – disse Mel sabendo que aquele seria seu último trunfo. -A que foi comparsa dele e que mentiu pra polícia sobre o envolvimento do cara na explosão? Não mesmo, essa Louise Richardson já deve estar bem longe daqui com o dinheiro que ela recebeu do seguro. – afirmou Sophie. -Hei, espera um pouco...Você disse Louise Richardson? – quis saber Chloe com um olhar interrogativo. -É, por quê? -Gente, eu sei onde ela mora hoje. Minha mãe estudou psicologia na Columbia com ela. Sempre foram grandes amigas e nós fomos visitá-la depois que o escândalo da explosão foi parar no “Times”. Ela está aguardando o julgamento em liberdade, mas tenho certeza que vai nos ajudar com alguma informação sobre o Blos. Reanimada com aquela coincidência incrível, Melissa finalmente começou a acreditar que a sorte estava do seu lado. Falar com Louise Richardson seria melhor ainda do que apenas encontrar o endereço do amante de Linda, pois a desconhecida mulher poderia esclarecer uma série de coisas sobre ele, e assim conhecendo intimamente o inimigo, ficaria bem mais fácil pegá-lo.

Capítulo 10 – Você é um anjo De férias em um balneário turístico no Pacífico Sul, o senhor e a senhora McQueen não faziam idéia da enorme festa que se realizava a milhares de quilômetros dali no seu apartamento em Manhattan.



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