TODOS SOMOS AUTORES DE FICÇÕES DA MANIPULAÇÃO FOTOGRÁFICA AOS DISTINTOS PONTOS DE VISTA Claudia Inês Hamerski RESUMO Desde que surge no homem o desejo de representar o mundo, mesmo que exista o esforço e a pretensão de interpretar fielmente o que se vê, existe um desvio entre percepção e representação. Somado a isso está certo grau de ficção que é adicionado às imagens através da manipulação. O presente artigo trata de questões que se referem à ficcionalização do referente fotográfico. Para isso o texto parte da consideração de que todos somos autores de ficções, fazendo uso de apontamentos de Joan Fontcuberta sobre a manipulação e os conceitos de verdade e realidade no uso da fotografia. Ao fazer referência à ficção no processo de criação de um trabalho artístico, é relatado o processo desenvolvido na realização desse trabalho, que utiliza a fotografia e o desenho enfocando a possibilidade de uma reflexão sobre a imagem com destaque à desdimensionalização da paisagem a partir do detalhe. PALAVRAS-CHAVE Ínfimo; Ficção; Manipulação; Verdade.
Todos somos autores de ficções. Pontos de vista distintos que apontam para recortes do mundo, dos fatos, do visível e do que se mostra. A todo tempo estamos ficcionalizando até no modo como vivemos. A princípio é possível afirmar que temos concepções e visões diferentes do mundo e da vivência do que convencionamos chamar de realidade. O mundo como o percebemos, o andamento da vida e dos acontecimentos é sentido de modos distintos entre os diversos habitantes do planeta. O que vejo, penso e como me relaciono com o mundo é diferente de como meu vizinho ou meu irmão percebem ou experienciam o mesmo mundo. Ao tratar de um fato ou apontar para detalhes, visões, recortes no fluxo do cotidiano lançamos apontamentos de nossa percepção, nesse sentido não podemos escapar ao fato de que perseguimos obsessivamente a mesma questão e que esta geralmente diz respeito a posturas muito pessoais, de certo modo autobiográficas. Compartilhando do pensamento de Fontcuberta (2010, p. 9) podemos nos ater ao modo como interpretamos os acontecimentos, um fato simples do cotidiano como um dia de chuva pode parecer a muitos uma visão de calmaria e é possível que se pense no som da chuva, na água correndo nas vidraças, ou nos boeiros colados às calçadas, a água que corre na terra e fará o solo úmido e propenso à vida, o brotar das sementes e a frescura da mata. A outro pode parecer um dia infernal, onde não
34