Divulga Ciência - Janeiro/2010

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Divulga Ciência Jornal do Inpa

www.inpa.gov.br

Manaus, Janeiro de 2010 · Ano II · Ed. 05 · ISSN 2175-0866

Distribuição Gratuita

Couro de peixe terá centro tecnológico em cur timento Economia

A produção de couro da pele de peixes vai incrementar geração de renda no setor pesqueiro, aumentando o rendimento econômico dos produtos derivados do pescado. Pág. 7 Foto: Tabajara Moreno

Para a produção de couro, tanto a pele de peixes lisos quanto de peixes com escamas pode ser utilizada no processo de beneficiamento. O resultado é a redução nos impactos ambientais e o aumento da qualidade de vida dos produtores.

Saúde

Foto: Lucia Yuyama

Pesquisa

Foto: Tabajara Moreno

Educação & Sociedade

Foto: Acervo Inpa

Experimentos demonstram a potencialidade da farinha de Cubiu como fonte de fibra alimentar. Pág. 4

No Amazonas, a aplicação de vacina interfere no diagnóstico de Leishmaniose em cães. Pág. 3

Em 2009, Inpa depositou mais nove patentes, ao todo, o Instituto possui 33. Pág. 8

Pesquisa

Meio Ambiente

Meio Ambiente

Estudo aponta diminuição de diversidade genética das Harpias

Nasce filhote de peixe-boi nos tanques do Inpa/MCT

Barreira de areia pode ajudar no combate a cupins

Com a tese, o biólogo Áureo Banhos já recebeu três premiações. Pág. 3

O animal é o sexto a nascer em cativeiro no Inpa. Pág. 5

O método ecologicamente correto evita uso de produtos químicos. Pág. 6


Expediente

Cartas

Chefe da Divisão de Comunicação Social: Tatiana Lima (MTB 4214/MG) · Edição: Tabajara Moreno · Repórteres: Tharcila Martins (SRTE-AM/0354), Kleiton Renzo, Eduardo Gomes, Mário Bentes, Annyelle Bezerra e Daniel Jordano · Editoração Eletrônica: Kleiton Renzo · Estagiário: Everton Martins · Revisão: Séfora Antela (SRTE-AM/0403)

+55 92 3643-3100 / 3104 ascom@inpa.gov.br

Tiragem: 1000 · Edição 05 · Janeiro de 2010 · ISSN 2175-0866 Produção: Divisão de Comunicação Social do Inpa/MCT.

Tome Ciência Documentários mostram história dos pioneiros do Inpa

Pesquisador Philip Fearnside recebe prêmio internacional

Inpa terá unidade de pesquisa em São Gabriel da Cachoeira

Foto: Eduardo Gomes

Foto: Tabajara Moreno

Foto: Tabajara Moreno

O projeto “Memória da Ciência e da Cultura”, coordenado pela Associação dos Pesquisadores do Instituto (Aspi), produziu cinco documentários, com a duração de 30 minutos, relatando a vida e o trabalho de alguns dos pioneiros da ciência no Inpa/MCT. Entre os registrados estão Antonio Azevedo Correia, um dos pioneiros dos estudos de papel, celulose e carvão vegetal na Amazônia; Arthur Araújo Loureiro, engenheiro florestal; Ilse Walker, uma das maiores autoridades mundiais em biologia teórica; Algenir Ferraz Suano da Silva, fundadora da biblioteca do Inpa/MCT. O próximo documentário do projeto está em fase de produção e vai falar sobre a vida de William Rodrigues, um dos fundadores da Coordenação de Pesquisas em Botânica. Os documentários estão disponíveis para empréstimo na biblioteca do Inpa/MCT.

O cientista do Inpa/MCT, Philip Fearnside, recebeu, em setembro do ano passado, no Rio de Janeiro, o Prêmio Scopus em reconhecimento ao trabalho de pesquisa desenvolvido por ele na região amazônica. O prêmio é uma iniciativa da editora de publicações científicas Elsevier e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O pesquisador que morou dois anos na rodovia Transamazônica, estuda problemas ambientais na Amazônia brasileira desde 1974. Fearnside é referência em pesquisas ecológicas, incluindo a estimativa de capacidade de suporte de agroecossistemas tropicais para populações humanas e estudos sobre impactos e perspectivas de diferentes modos de desenvolvimento na Amazônia.

O Inpa/MCT deve inaugurar até o fim de 2010 um núcleo de pesquisas em São Gabriel da Cachoeira (AM), distante 850km de Manaus. O anúncio da nova unidade foi feito pelo coordenador geral das Unidades de Pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Carlos Oití Berbet, no dia 22 de setembro, durante o II Workshop do Projeto Fronteira. Para o diretor do Inpa, Adalberto Luis Val, a expansão das unidades para outras cidades amazônicas é fundamental. “É muito importante tomar todas as providências para que os estudos feitos nos principais centros do país possam ser socializados com o maior número de pessoas, seja em localidades distantes, ou em pólos de desenvolvimento regional”. Além de Manaus, o Inpa/MCT já possui unidades de pesquisa em Boa Vista (Roraima), Porto Velho (Rondônia) e Rio Branco (Acre).

Foto: Divulgação

Boa Leitura Livro reúne informações sobre lagartos amazônicos Publicado em 2008 e escrito por Laurie Vitt, William Magnusson, Tereza Pires e Albertina Lima, o livro informativo sobre as espécies de lagartos encontrados na Reserva Florestal Adolpho Ducke (RFAD) traz uma série de curiosidades sobre a vida e o comportamento dos lagartos. Escrito em português e inglês, repleto de fotografias e com uma linguagem de fácil compreensão, a obra apresenta aos leitores os principais traços das 35 espécies de lagartos encontrados na Reserva. Além das informações coletadas na RFAD, o livro agrega também dados coletados em outras regiões do Amazonas, Pará, Acre, Roraima, Rondônia e até do Equador. O guia disponibiliza uma ficha catalográfica com informações como tamanho, cor, hábitos, temperatura corporal e localização geográfica de cada uma das espécies encontradas. Para adquirir os livros da Editora INPA, ligue (92) 3643 3223.


Pesquisa · Divulga Ciência

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Estudo do Laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas do Inpa/MCT indica que cães vacinados apresentam diagnóstico falsamente positivos Foto: Tabajara Moreno

Diminuição da diversidade genética das Harpias A conclusão é parte da tese de doutorado do biólogo Aureo Banhos

Variabilidade auxilia sobrevivência das aves

| Tabajara Moreno

O Inpa analisa se os cães podem transmitir a Leishmaniose tegumentar para seres humanos

| Annyelle Bezerra

A aplicação de vacina contra Leishmaniose Visceral nos cães do Amazonas pode ser um entrave ao desenvolvimento de estudos sobre a doença no Estado. A conclusão faz parte de um estudo realizado pela pesquisadora do Laboratório de Leishmaniose e Doença de Chagas do Inpa, Sônia Rolim Reis, e supervisionado pela pesquisadora do Instituto, Antonia Ramos Franco. De acordo com Reis, a utilização da vacina em animais pode provocar um grande atraso nas pesquisas referentes à Leishmania, pois, além de não ser necessária sua utilização, uma vez que no Estado não foram diagnosticados casos contraídos no próprio território de Leishmaniose Visceral, uma das vacinas presentes no mercado torna os animais falsamente positivos, processo chamado de soroconversão. Segundo a pesquisadora, o animal quando submetido a exames sorológicos, acaba apresentando soroconversão; sendo necessário descobrir a origem da positividade da doença nos animais. “Se tivermos que nos desviar para identificar se a positividade é vacinal ou da infecção teremos um atraso nas pesquisas, além do transtorno para a realização dos testes sorológicos”, explica. “Na pior das hipóteses, mesmo não havendo a doença no Amazonas, se os clínicos veterinários ou os proprietá-

rios dos animais quiserem vaciná-los, então, que seja utilizada uma vacina que não provoque soroconversão, dessa forma, não haverá alteração no diagnóstico”, enfatizou. Estudo da transmissão da doença O Laboratório do Inpa também está analisando se os cães têm participação na transmissão da Leishmaniose Tegumentar para os seres humanos. O estudo está sob a responsabilidade de Reis, que afirma ser importante verificar essa possibilidade para buscar as melhores formas de diagnosticar a doença e assim adotar medidas de controle e prevenção. “A Tegumentar não é letal, por isso, nós temos tempo para pesquisar e encontrar soluções para o tratamento da doença nos animais, o que na visceral não é possível, uma vez que, é proibido o tratamento de animais infectados, segundo determinação técnica do Ministério da Saúde, do Ministério da Agricultura e Conselho Federal de Medicina Veterinária”, afirma a pesquisadora. O Conselho Regional de Medicina Veterinária - Amazonas (CRM-VAM) pretende enviar um documento alertando todos os clínicos veterinários do Estado sobre a aplicação desnecessária contra Leishmaniose Visceral nos animais.

O Gavião-Real (Harpia harpyja), maior ave de rapina das Américas, também é uma das espécies brasileiras que tem sofrido com o desmatamento. A ameaça é sentida pela diminuição da sua diversidade genética, o que implica na perda da capacidade de adaptação a possíveis mudanças ocorridas no meio ambiente. Diversidade genética é um termo usado para medir a variação de segmentos de DNA das populações de espécies. A diminuição dessa diversidade somada à degradação ambiental da floresta amazônica e da Mata Atlântica pode aumentar os riscos de extinção da harpia. “A variabilidade genética é muito importante para as espécies, quanto maior, melhor a taxa de reprodução e sobrevivência das espécies às mudanças ambientais”, afirma o biólogo Aureo Banhos, responsável pela tese “Genética, Distribuição e Conservação do GaviãoReal”, desenvolvida durante o curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do Inpa/MCT. Banhos analisou amostras de DNA de exemplares históricos e atuais da ave no Brasil, comparando a diversidade genética da espécie entre o passado e o presente da Mata Atlântica e entre as regiões preservadas e desmatadas da Amazônia. Segundo a tese, a perda da cobertura florestal brasileira nos últimos 50 anos foi responsável pela redução de cerca de 30% da distribuição da ave no país. Para auxiliar no trabalho de proteção e conservação do gavião-real, o Inpa realiza desde 1997, o programa de conservação da ave, com o monitoramento viasatélite de ninhos, resgate e reabilitação das aves.

Foto: João Marcos Rosa

Vacina interfere no diagnóstico de Leishmaniose em cães


Saúde · Divulga Ciência

Pupunha reforça leite materno

Farinha de Cubiu: possível aliado no combate as doenças cardiovasculares? Experimentos realizados no Inpa demonstram a potencialidade da farinha de Cubiu como fonte de fibra alimentar Foto: Lúcia Yuyama

Foto: Acervo Ascom

Pesquisa demonstrou que a suplementação com a farinha de pupunha aumenta a concentração de vitamina A no leite materno

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Fruta típica da região Norte com boa incidência

| Annyelle Bezerra e Tabajara Moreno

A suplementação alimentar de gestantes com farinha de pupunha aumenta a concentração da vitamina A no leite materno e pode melhorar a saúde dos bebês prematuros. A vitamina A é um nutriente essencial para o bebê recém nascido, principalmente para os prematuros que têm baixa imunidade, sendo responsável pela acuidade visual, integridade da mucosa e da pele, e também pelo sistema imunológico. O enriquecimento do leite com a farinha de pupunha poderá evitar infecções respiratórias, intestinais e gastrintestinais no bebê. Para verificar o poder da farinha de pupunha no enriquecimento do leite materno, o Inpa/MCT, em parceria com o Banco de Leite Humano do Estado do Amazonas (BLH – AM), analisaram os índices de vitamina A existente no leite destinado aos bebês prematuros. A farinha de pupunha também ajuda a combater a desnutrição nas mães, por ser rica em vitamina A e em lipídios. A farinha possui proteínas e outros nutrientes importantes para o estado nutricional das crianças e pode ser encontrada em bancas da feira da Panair - Colônia Oliveira Machado zona sul de Manaus. O estudo foi desenvolvido como parte da dissertação de mestrado da nutricionista Tânia Batista sob orientação da pesquisadora da Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde (CPCS) do Inpa, Helyde Albuquerque Marinho.

O Cubiu é usado no Amazonas como alimento, medicamento e até na fabricação de produtos cosméticos

| Annyelle Bezerra

O Inpa vem desenvolvendo estudos com frutas da região amazônica em busca de fontes potenciais e funcionais como vitaminas, fibras alimentares e antioxidantes. Resgatar a cultura do povo da região e incentivar o consumo de frutas, a segurança alimentar e nutricional são as principais propostas do estudo. Segundo a pesquisadora Lucia Yuyama, responsável pela pesquisa no Inpa, o foco tem sido frutas com pigmentação partindo do alaranjado ao avermelhado. As frutas que possuem essa coloração são fontes de provitamina A e em particular beta caroteno. Entre os frutos alaranjados estudados estão: pupunha (Bactris gasipaes), tucumã (Astrocaryum aculeatum) e buriti (Mauritia flexuosa). Entre os de cor púrpura e ricos em antocianinas, potente antioxidante, está o açaí (Euterpe oleracea). “Enquanto grupos de alimentos e nutrição, nós trabalhamos, em primeira instância, na viabilização do diagnóstico das condições de saúde e nutrição de diferentes segmentos populacionais. Em seguida, buscamos ações que previnam ou reduzam os processos de carência, por meio da inserção de alimentos regionais, poten-

cialmente nutritivos”, relata Yuyama. O Cubiu é uma fruta de baixa densidade energética (aproximadamente 30 kcal), que possui grande quantidade de água. Entre as propriedades do fruto, destaca-se ainda a presença de pectina, fibra alimentar solúvel capaz de se ligar à água, aumentando a viscosidade do conteúdo intestinal. Yuyama explica que isso ocorre graças a formação de um gel que retarda o esvaziamento gástrico e reduz a absorção de lipídios e açúcares, tornando-se, desta forma, substrato para formação da flora bacteriana, diminuindo a concentração de colesterol e glicose. Mas, segundo a pesquisadora, a grande pergunta ainda é se a fibra alimentar do Cubiu reduz o colesterol. Conforme Yuyama, o estudo com o Cubiu está em fase de testes préclínicos, tendo inicialmente, ratos como modelo experimental, e, posteriormente, seres humanos. Outra constatação referente ao produto é a sua capacidade de controlar o diabetes “Nós induzimos o diabetes nos animais em laboratório e a farinha de Cubiu apresentou uma ação hipoglicemiante satisfatória”, afirma Yuyama.


Meio Ambiente · Divulga Ciência

Nasce filhote de peixe-boi no Inpa Esse é o sexto animal nascido em cativeiro

Segundo estudo, desenvolvido no Inpa/MCT, a espécie Bertholletia excelsa pode ser usada com sucesso para plantios destinados a recuperação de áreas altamente degradadas, demonstrando um alto grau de adaptação e crescimento O bebê nasceu com 98 cm, pesando 13,2 KG

| Annyelle Bezerra

O plantio da Castanheira-da-Amazônia (Bertholletia excelsa) em áreas degradadas pela ação do homem pode ser uma ação eficaz para recuperar o meio ambiente. Essa constatação é resultado de um estudo desenvolvido no Inpa/MCT pelo estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências de Florestas Tropicais, Marciel José Ferreira. A tese rendeu a Ferreira uma premiação no XII Congresso Brasileiro de Fisiologia Vegetal (CBFV), realizado em Fortaleza (CE), em setembro do ano passado. A área de reserva usada para o plantio de cerca de mil mudas de Castanheira-daAmazônia utilizada na pesquisa está situada na área urbana de Manaus, no bairro do São Jorge, e pertence ao 1º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), em Manaus. Segundo Ferreira, o espaço de aproximadamente três hectares foi desmatado por volta da década de 80. Depois disso, a área foi abandonada por mais de vinte anos e o solo ficou exposto sem que ocorresse a formação de uma floresta secundária. “Na área desmatada foi retirada, além da cobertura florestal nativa, uma camada de solo de cerca de três metros de profundidade. Então, como não foi feita a construção das instalações, a área foi abandonada e ocorreram diversos processos erosivos resultando em uma área que nós costumamos chamar de altamente degradada, criando até grandes voçorocas”, relata. O ponto crucial do estudo, segundo o pesquisador, foi a interpretação das respostas ecofisiológicas das plantas nas condições dos tratamentos de adubação aplicados, uma vez que, as alterações sofridas pelo solo exigem condições diferenciadas de adaptação. “Na Floresta Primária é possível observar um microclima diferenciado daquele de uma área degradada onde há toda uma alteração

Castanheira ajuda recuperar áreas degradadas

da camada superficial do solo, e, consequentemente, da dinâmica de nutrientes, resultando em uma área aberta onde os níveis de luz e temperaturas são mais elevados do que os do sub-bosque florestal. Então, nós precisamos selecionar plantas com potencial para se adaptar a essas novas condições criadas”, explica. Segundo Ferreira, o plantio de espécies amazônicas vem sendo realizado na área desde 2004 pelo pesquisador do Inpa e também orientador do trabalho, João Baptista Silva Ferraz, em parceria com o 1° BIS. Porém, foi apenas a partir de 2007, com seu ingresso no mestrado, que o estudo sobre os aspectos ecofisiológicos das plantas de Castanheira-da-Amazônia começou a ser desenvolvido junto ao Laboratório de Fisiologia e BioquímicaVegetal do Inpa (LFBV), sob coorientação do também pesquisador do Inpa, José Francisco de Carvalho Gonçalves. A pesquisa procurou abordar o comportamento da espécie em plantio sem adubação, com adubação química convencional, baseada na utilização de fertilizante mineral e com adubação alternativa (adubação verde), resultante da poda de plantas da capoeira adjacente a área do experimento. Entreosresultadosdapesquisa,destacouse a potencialidade da Castanheira como uma espécie que pode ser utilizada com sucesso para compor plantios destinados a recuperação de áreas altamente degradadas. Segundo o pesquisador, entre as causas para o comportamento favorável da planta está a alta taxa fotossintética apresentada na experimentação com adubação verde, que, geralmente, está associada a um maior crescimento da planta. “Portanto, trata-se de uma espécie vigorosa e rústica que pode ser indicada para ocupar estes ambientes”, afirma Ferreira.

| Eduardo Gomes

Depois de três dias em trabalho de parto, o peixe-boi fêmea “Boo” deu a luz a um filhote macho nos tanques do Laboratório de Mamífero Aquáticos (LMA) do Inpa/MCT. O filhote é o sexto animal nascido em cativeiro no Instituto. Com o nascimento, o número de peixes-boi nos tanques do Inpa salta para 42. “Boo” é o peixe-boi mais antigo do Inpa, estando no local desde 1974. O animal já passou por quatro gestações, porém, em uma das ocasiões o filhote nasceu morto. Segundo o veterinário do LMA, Anselmo D’Affonseca, um peixe-boi vive em média 60 anos; mas, como os intervalos entre as gestações são longas – quatro ou cinco anos –, o número de filhotes que o mamífero pode ter ao longo da vida, é pequeno; o que reforça o trabalho de pesquisa e preservação realizado pelo Inpa. Durante os quase 13 meses de gestação, o peixe-boi fêmea “Boo” foi acompanhado nos laboratórios do LMA, por meio de exames de ultrassonografia e dosagem hormonal. Além disso, o animal recebeu uma alimentação balanceada, composta por capim, alface, couve, repolho, macaxeira, banana e abóbora. Além de ser o exemplar de peixeboi mais antigo do Inpa, “Boo” é a pioneira da maternidade em cativeiro. Em oito de abril de 1998, ela deu a luz, nos tanques de peixe-boi do Inpa, ao seu primeiro filhote. O bebê, batizado de Erê, teve seu nome escolhido após um concurso nacional entre alunos de escolas públicas.

Foto: Eduardo Gomes

Castanheira auxilia na recuperação de áreas degradadas

Foto: Mário Bentes

Janeiro de 2010 · Página 5


Meio Ambiente · Divulga Ciência

Janeiro de 2010 · Página 6

Barreira de areia tem ação eficaz no combate a cupins Estudo revela que um método ecologicamente correto pode evitar o uso de produtos químicos, na tentativa de proteger a madeira e, com isso, reduzir o corte de novas árvores

Foto: Eduardo Gomes

| Eduardo Gomes

Uma areia comum de construção civil, a base de silicatos - quartzo, sem qualquer substância adicionada, e que tem como única particularidade: uma granulometria especial; pode ajudar no combate aos cupins. O Inpa/MCT foi o primeiro a desenvolver esse tipo de pesquisa no Brasil. Os estudos começaram em 2007, com a orientação do responsável pela Coordenação de Pesquisas em Produtos Florestais (CPPF), Basílio Vianez (foto), sendo um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e uma dissertação de mestrado concluída em agosto de 2009. De acordo com Vianez, as vantagens da pesquisa se devem a grande ocorrência de cupins no solo da região amazônica onde, consequentemente, a maneira mais utilizada para combater esses insetos é a aplicação de produtos altamente tóxicos. “A barreira de areia tornase mais vantajosa do que os métodos tradicionais”, disse. A aplicação de produtos tóxicos é feita diretamente na madeira ou no solo em volta das edificações. O processo não é considerado ecologicamente correto, pois ao envenenar o solo, na tentativa de combater os insetos, também traz riscos para os lençóis subterrâneos de água. Em países como Austrália, Canadá, Estados Unidos e Japão, essas barreiras já são aplicadas e possuem empresas especializadas para este tipo de serviço, o que não se enquadra no mesmo patamar do Brasil. Existem várias bibliografias com trabalhos científicos, desenvolvidos em todos esses países, comprovando a eficácia do produto. Para o pesquisador, o que se precisa fazer na Amazônia são adequações a areia para impedir o ataque desse tipo de inseto que ocorre na região. “O que precisa ser feito no

A barreira de areia é eficaz e ecologicamente correta, podendo substituir o uso de produtos tóxicos

Brasil é apenas determinar a formulação mais adequada para bloquear o ataque dos nossos cupins. Talvez daqui a dois anos é possível que tenhamos um produto definido para a aplicação na nossa região”, declarou. Ele explicou que os grãos de areia ficam muito próximos, isso impede que os cupins passem entre elas; além de serem muito duras para serem dissolvidas pela saliva desses insetos.

“A barreira de areia tornase mais vantajosa do que os métodos tradicionais”, enfatizou Vianez Segundo Vianez, os produtos químicos aplicados no solo, próximo a estruturas de madeira, quando combinados com ações naturais como a chuva, por exemplo, podem comprometer o solo, deixando-o contaminado. “Com as chuvas, esses produtos químicos poderão ser levados para os leitos dos rios ou para níveis mais profundos do solo, atingindo os lençóis freáticos”, enfatizou. O tecnólogo em madeiras, Cristian Souza, que teve sua dissertação de mestrado baseada no estudo dessas barreiras, explica que um

de seus interesses pela a pesquisa ocorreu por causa da inexistência de estudos voltados a este assunto no Brasil e a outros tipos de cupins do mundo. “Esse tema foi o foco de meu estudo dissertativo no mestrado, sendo bem justificado por ser uma técnica inédita no Brasil e o primeiro registro com barreiras de areia contra cupins no mundo”, declarou. Souza também destaca as vantagens que podem ajudar a introduzir o uso das barreiras de areias no combate aos cupins, contrapondoas com o uso dos produtos tóxicos. “A maior vantagem das barreiras de areia é que elas são amplamente disponíveis, relativamente baratas, de material não-sintético, não tóxico e de longa duração, o que a caracteriza como um produto ecologicamente correto”, contou. Além de usar o método como combate a esses insetos, um dos diferenciais do estudo é que a pesquisa foi voltada também para um tipo específico de cupim, como relatou Souza. “Fui mais além e decidi estudar barreiras feitas com areia de construção civil com os cupins do gênero Nasutitermes (Isoptera: Termitidae), inseto responsável pelos maiores danos em estruturas de madeira em nossa região e com freqüência maior que 80%, na cidade de Manaus”, enfatizou.


Economia · Divulga Ciência

Janeiro de 2010 · Página 7

Couro de peixe revela mercado promissor Curtição da pele de peixes pode ajudar a diminuir a poluição dos rios e aumentar o rendimento econômico dos produtos Fotos: Tabajara Moreno

A produção de sapatos, roupas, bolsas e outros acessórios com o couro de peixes da região será impulsionada com a criação do centro

| Eduardo Gomes

Segundo estimativas do Inpa/MCT, diariamente 500 kg de pele de peixe são despejados nos rios amazônicos. Mas essa realidade pode mudar com a implantação de um Centro Tecnológico em Curtimento de Couros do peixe. A iniciativa tem como base o projeto “Utilização de pele de peixe da água doce para curtimento”. Desenvolvido há 15 anos pela Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA). O projeto visa reduzir o nível de poluição dos rios e aumentar o rendimento econômico da atividade pesqueira, revertendo o quadro de desperdício da matéria-prima regional. Segundo Nilson Carvalho (foto), pesquisador responsável pelo projeto, atualmente o estudo ganhou um incentivo financeiro de aproximadamente R$ 1,5 milhões da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para a construção da unidade de beneficiamento da pele dos peixes. O local será construído em parceria com a Secretaria de Produção Rural (SEPROR/ AM) em um terreno no Parque de Exposições Angelino Beviláqua, situado no quilômetro 14 da AM 010. O pesquisador destacou a importância que os investimentos no setor vão trazer. “Com os equipamentos poderemos ter produtos de alta qualidade para competir igualmente com similares, em nível nacional e interna-

cional”, ressaltou Carvalho. Além do desenvolvimento de inovação na pesquisa, uma das novidades que a nova fase do projeto vai trazer será a promoção de cursos de extensão, voltados a universitários e alunos de escolas técnicas, ensinando o processo de curtimento da pele do peixe.

“poderemos ter produtos de alta qualidade para competir igualmente com similares, em nível nacional e internacional” De acordo com Carvalho, com a implantação de indústrias de beneficiamento de pescado no Estado, o interesse no aproveitamento das peles para geração de roupas, sapatos e outros acessórios deve aumentar. “Com a implantação de indústrias de beneficiamento de pescado, nosso interesse no aproveitamento de resíduos também vai aumentar. Além de ser uma atividade economicamente rentável para as comunidades, o curtimento da pele é considerado também como um setor promissor no mercado das confecções de roupas, calçados, cintos, acessórios entre outros produtos”, enfatiza. Curtindo a pele do peixe

Estudo ganhou incentivo financeiro da Suframa

Até a finalização do processo de curtimento da pele do peixe, o material passa pelos processos de classificação, rebaixamento, neutralização, tingimento, engraxe, fixação e acabamento. Somente depois disso, a pele pode ser transformada em couro útil a confecção de bolsas, roupas e outros produtos, feitos com couro de animais. Para a produção de couro, tanto a pele de peixes lisos, quanto à de peixes com escamas podem ser utilizados no processo para viabilizar economicamente as espécies. Com isso, há uma redução nos impactos ambientais, pois antes essa pele era desperdiçada.


Educação & Sociedade · Divulga Ciência

Janeiro de 2010 · Página 8

Em 2009, Inpa depositou mais nove patentes Ao todo, o Instituto possui 33 patentes

O Inpa/MCT fechou 2009 com mais nove patentes depositadas junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Os novos produtos e processos têm aplicação na produção agrícola, controle de pragas, doenças, purificação de água, fabricação de papel de cauaçu e bolinhos pré-prontos de peixe. A proteção aos trabalhos, oriundos da pesquisa científica, é uma forma de resguardar conhecimento, mas sobretudo de colocá-lo a disposição da sociedade; através da negociação das patentes com as empresas. “O Inpa disponibiliza produtos e processos protegidos com viabilidade econômica para comercialização junto às empresas que se interessarem em desenvolvê-los, dando retorno à sociedade e assim popularizando a ciência”, explica a coordenadora da Divisão de Propriedade Intelectual e Negócios (DPIN), Rosângela Bentes. Produtos O “Bolinho de Pirarucu pré-frito e congelado” é uma das nove patentes conquistadas pelo Inpa ano passado. O produto, elaborado na Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos (CPTA) do Inpa por Denise CerávoloVerreschi e Jorge Harison Pereira do Nascimento, é feito do peixe amazônico e deve ser fornecido ao mercado consumidor como um produto pré-frito congelado e a desidratação do pirarucu sem perder todas suas qualidades nutricionais. Outro trabalho do Instituto que também gerou uma patente foi o “Água Box”, um equipamento portátil movido a energia solar , capaz de desinfectar por hora até mil litros de água poluída, sem gerar nenhum resíduo nocivo ao meio ambiente. Dentro do equipamento, a água contaminada é submetida a purificação por meio da radiação ultravioleta (UVC), gerada artificialmente por uma lâmpada de vapor de mercúrio. Depois da ação, a água fica livre de bactérias e boa para o consumo humano. A adição da energia solar ao processo foi uma inovação do pesquisador RolandVetter, do Laboratório de Energia Solar Renovável

do Inpa, idealizador do equipamento. No Laboratório de Celulose e Papel/Carvão Vegetal do Inpa foi desenvolvido o “Briquete de Açaí”. Além de ser um tipo de carvão menos poluente; o briquete, feito a partir do caroço do açaí, também tem a vantagem de ser feito a partir de um resíduo agroflorestal descartado na natureza. O Laboratório de Celulose e Papel/Carvão Vegetal também desenvolveu um papel a partir da planta Cauaçu. O produto é resultado de uma pesquisa elaborada com a finalidade de dar uma resposta científica aos resíduos gerados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã por um grupo de artesãos locais. O “Papel deCauaçu” apresenta forte apelo ambiental e oferece uma série de opções de uso, podendo ser utilizado na produção de cartões, folders e capas de caderno. Além disso, o papel também serve como papel para impressão, revestimento, embalagem e para decorações, variando apenas na gramatura para precisão da utilização final.

“O Inpa disponibiliza produtos e processos protegidos com viabilidade econômica para comercialização...” O Buriti é outra planta regional que serviu como base para a criação de um produto por pesquisadores do Inpa. A partir dele, o pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Produtos Florestais (CPPF) do Inpa, Jadir de Souza Rocha, em parceria com Cyntia Lins Falcone, Tereza Maria Farias Bessa e Vânia Maria Oliveira da Câmara Lima, elaborou o “Compensado de Buriti”. O produto é feito da palmeira do Buriti e pode ser usado como forro e divisória em casas e empresas. A tecnologia possibilita às indústrias de compensado fazerem um produto de ótima qualidade, extremamente leve que não seria possível com nenhuma espécie arbórea. Entre as patentes depositadas, estão o material “Cimentício” para

Novas patentes voltam-se ao cotidiano

utilização de reforço de placas, através da fabricação de tela ou tecido com fibra vegetal. Realizado em parceria do Inpa com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o material foi elaborado por Maria Gorett dos Santos Marques, Raimundo Vasconcelos, Romildo Dias Toledo Filho, João de Almeida Melo Filho, Maria de JesusVarejão e Jadir de Souza Rocha. O “Piper Aduncum”, criado por Solange de Melo Verás, Sergio Nunomura, Laura Cristina P. de Oliveira e KaoruYuyama, consiste em um processo de bioprospecção no controle da bactéria Ralstonia solanacearum que ataca as bananeiras. A nova tecnologia elaborada pelo Inpa em parceria com aUfam poderá ser utilizada em campos de produção agrícola, no controle de doenças de plantas de forma efetiva e ecologicamente correta e a baixo custo. A “Garrafa Kemenes”, desenvolvida pelo pesquisador do Inpa/MCT, Alexandre Kemenes, é uma garrafa que tem o intuito de coletar água em quaisquer profundidades de reservatórios ou em outros ambientes aquáticos naturais ou artificiais, realizando coletas de amostras de gases no fundo de reservatórios ou outros ambientes aquáticos profundos com a conservação das concentrações gasosas dessas amostras, durante seu deslocamento do fundo para superfície. Outra das patentes depositadas pelo Inpa é a “Câmara Coletora”. O trabalho foi desenvolvido pelo pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde (CPCS) do Inpa, Plínio da Silva, e é destinado à pesquisa com diversidade, estratificação levantamento ou investigação da fauna de insetos com armadilhas luminosas para identificação taxonômica de insetos mais frágeis.

Foto: Tabajara Moreno

| Kleiton Renzo e Tabajara Moreno


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