Divulga Ciência - Abril-Maio/2011

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Jornal do Inpa Distribuição Gratuita

Manaus, Abril/Maio 2011 - Ano III - Ed.13 - ISSN 2175-0866

www.inpa.gov.br

Mandíbula de formiga inspira criação de grampo sutura Por meio da observação dos sistemas da natureza, conhecido como técnica biônica, a pesquisa desenvolveu um grampo para utilização nos pontos cirúrgicos Pág. 06 Foto: Reprodução

Foto: Acervo Pesquisador

Foto: Ilustração

Foto: Jochen Schöngart / Acervo Pesquisador

Ações contra malária devem levar em conta características próprias de cada região

Pesquisa em mudanças climáticas poderá auxiliar na previsão fenômenos naturais extremos

Inovações no manejo florestal para área de várzea no Estado

Pesquisa, feita em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), analisou os casos de malária com fatores ambientais.

Os resultados servirão de base para gerenciar recursos e avaliar impactos nas mudanças climáticas e na sociedade

Por meio de análises no crescimento de espécies arbóreas da várzea, estudo prevê mudanças no ciclo de corte

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Boa leitura

Manual expõe árvores de várzea da Amazônia Central Pág. 02

Bosque da Ciência e Ampa recebem Certificação de Mérito Ambiental

INCT Adapta realiza III Workshop Pág. 02

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Inpa é destaque no prêmio de Jornalismo Científico da Fapeam Pág. 02

Os efeitos da Química Pág. 04


Página 02 - Abril/Maio 2011 Expediente Chefe da Divisão de Comunicação Social: Tatiana Lima (MTB 4214/MG) Editor Chefe: Eduardo Gomes - Repórteres: Aline Cardoso, Clarissa Bacellar, Daniel Jordano, Josiane Santos e Fernanda Farias Editoração Eletrônica: Flávio Ribeiro - Revisão: Josiane Santos - Secretário de Redação: Everton Martins. Fotos: Anselmo D`Affônseca, Daniel Jordano, Eduardo Gomes e Flavio Ribeiro Tiragem: 1000 - Edição 13 - Abril/Maio 2011 - ISSN 2175-0866. Produção: Divisão de Comunicação Social do Inpa/MCT.

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+55 92 3643-3100 / 3104 ascom@inpa.gov.br www.twitter.com/ascom_inpa www.facebook.com/inpamct Ministério da Ciência e Tecnologia

Tome Ciência Foto: Eduardo Gomes

Foto: Flavio Ribeiro

Eduardo Gomes

Bosque da Ciência e Ampa recebem Certificação de Mérito Ambiental

Inpa é destaque no prêmio de Jornalismo Científico da Fapeam

INCT Adapta realiza III Workshop

O Bosque da Ciência e a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), que trabalha em parceria com o Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT), receberam o Certificado de Mérito Ambiental durante a 5ª Conferência Latino Americana de Preservação ao Meio Ambiente em Manaus. A homenagem é uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN), uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que desenvolve projetos socioambientais. Segundo o Coordenador do Bosque, Jorge Lobato, receber a certificação é a retribuição do trabalho de socialização que o Bosque vem exercendo.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) foi destaque na cerimônia de entrega do prêmio de Jornalismo Científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Estudantes e profissionais da assessoria de comunicação do Instituto venceram nas modalidades internet, jornal impresso, revista e rádio. A Assessoria de Comunicação do Instituto teve cinco indicações ao prêmio, mais dois colaboradores da Revista “Ciência para Todos”, que indicados totalizaram sete finalistas. O evento ocorreu no Centro Cultural Palácio Rio Negro, e elegeu as 16 melhores reportagens que estavam dividas nas categorias comunicação de massa e institucional.

O INCT Centro e Estudo de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta) realizou entre os dias 18 e 20 de abril, no Auditório da Ciência do Inpa, o III Workshop para a apresentação de resultados e discussão de novos rumos. O objetivo deste projeto é fazer uma analise da expressão gênica comparativa de organismos sob diferentes condições ambientais. Na ocasião, foram apresentados os trabalhos de base que estão sendo realizados no âmbito do Adapta para conduzir as definições daquilo que será analisado nos novos equipamentos adquiridos pelo projeto. Um ponto importante é o pioneirismo deste projeto para a Amazônia. A proposta representa uma abordagem pioneira do ponto de vista científico.

Boa leitura| Manual de árvores de várzea da Amazönia Central Ao ler o “Manual de árvores de várzea da Amazônia Central” você irá conhecer mais sobre a taxonomia, ecologia e uso das espécies. As florestas de várzea são áreas alagáveis influenciadas por rios de águas brancas. É o que explica, um dos principais pesquisadores que compõem o Manual, Florian Wittimann, em uma leitura interessante, com gráficos, fotos e esquemas, como as florestas alagadas influenciam o clima local e regional. Por mais de uma década de trabalhos sobre ecologia e a ecofisiologia de árvores de várzea, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) em cooperação com o Grupo de Trabalho de Ecologia Tropical do Instituto Max – Planck, elaborou este manual das florestas alagadas, para todas as pessoas interessadas na conservação e ecologia do majestoso ecossistema Amazônico. Os pesquisadores expõem no manual, a relevância de introduzir planos de manejo florestal sustentáveis para manter a biodiversidade das áreas alagadas, pois essas áreas de várzea são fontes de recursos para a grande maioria da população rural da Amazônia.


Saúde - Divulga Ciência

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Ações contra malária devem levar em conta características próprias de cada região Pesquisa, feita pelo Inpa em parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), analisou os casos de malária com fatores ambientais como a temperatura, chuva, nível d'água dos rios e repiquete em 4 cidades do Amazonas. Foto: Acervo Pesquisador

Estudo objetiva identificar relações de aumento ou diminuição dos casos de malária

|Daniel Jordano Da Equipe do Divulga Ciência

importante, pois havia poucos estudos que viabilizam essa relação”, disse. Essa relação foi feita a partir do cruzamento de variáveis ambientais dos municípios com os dados de casos de malária. Wolfarth explica que cada município apresentou característi- cas próprias em relação aos casos. “Coari, por ser uma área onde predomina a terra firme, teve relação maior

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Quando ocorre o repiquete, há um pico anormal de casos que ocorre em março ou abril

amazônica caracterizado pela descida repentina do nível do rio em época de cheia, ou a subida repentina do nível da água em época de vazante. O tempo de duração total do repiquete pode variar de 9 a 56 dias. No inverno, o repiquete pode causar o aumento dos casos de Malária, poisquando o nível d'água baixa forma lagoas provisórias e forma o ambiente perfeito para a proliferação de mosquitos. “Os picos dos casos de malária ocorrem geralmente entre julho a setembro, e quando ocorre o repiquete (mais freqüente em março na região do estudo), há um pico anormal de casos que ocorre em março ou abril”, declara Wolfarth. Os municípios que apresentaram o maior risco de aquisição da malária foram Manacapuru e Coari, respectivamente. Os estudos podem auxiliar as autoridades no combate a doença à direcionar as ações de controle ajustadas às características peculiares de transmissão. A pesquisa foi orientada pelo Dr. Naziano Pantoja Filizola Júnior, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), professor colaborador no Programa de Clima e Ambiente do Inpa/UEA

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As ações públicas contra o mosquito da malária (Anopheles darlingi) ganham mais um dado importante. Uma pesquisa feita em parceira com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) fez análises estatísticas de dados que levam em conta fatores ambientais de cada município estudado. Os municípios de Coari, Codajás, Manacapuru e Manaus fizeram parte da dissertação de Mestrado de Bruna Raquel Wolfarth que teve como título “Análise Epidemiológica Espacial, Temporal e suas Relações com as Variáveis Ambientais sobre a Incidência da Malária no Período de 2003 a 2009 em 4 Municípios do Estado do Amazonas, Brasil". A pesquisa leva em consideração itens como temperatura, chuva, nível d'água dos rios e repiquete. De acordo com Wolfarth, o estudo teve o intuito de identificar relações significativas de aumento ou diminuição dos casos de malária em uma série de dados de 7 anos (2003 a 2009). “A finalidade de relacionar os casos de malária com os níveis de água dos rios, por exemplo, é

entre casos de malária e a precipitação de chuvas. Já o município de Manaca-puru, mostrou relação mais próxima dos casos de malária com o nível d'água já que é uma região com mais características de várzea onde predominam lagos em seu entorno” declarou. O repiquete É um fenômeno hidrológico de oscilação do nível d'água, atípico em relação à sazonalidade dos rios da região


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Tipos de solo influenciam diferenças genéticas em mandioca Estudo foi realizado com base na variação do DNA a partir das folhas

Pesquisa - Divulga Ciência

Os efeitos da Química Workshop procurou expor conhecimentos químicos, discutir com os conhecimentos tradicionais amazônicos e sua autonomia científica |Aline Cardoso Da equipe do Divulga Ciência

|Aline Cardoso Da equipe do Divulga Ciência

|Clarissa Bacellar Da equipe do Divulga Ciência

Foto: André Monteiro

Diferentes tipos de solo, constituem fator importante na diferenciação genética da espécie.

Foi constatado que o tipo de solo em que a mandioca (Manihot esculenta CRANTZ) é cultivada influencia a variação genética encontrada entre as variedades da planta. A comprovação desse fato é resultado da pesquisa, realizada ao longo de dois anos, pelo pesquisador Alessandro Alves Pereira, mestrando do Curso de Genética e Conservação e Biologia Evolutiva (PPG-GCBEv) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT). O estudo denominado “Dinâmica evolutiva de mandioca (Manihot esculenta CRANTZ) em três tipos de solos manejados por caboclos na região do médio Rio Madeira, Amazonas” foi desenvolvido sob orientação do pesquisador, Charles Clement, da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas (CPCA), em comunidades rurais de Manicoré, no interior do Amazonas

De acordo com o pesquisador Alessandro Pereira, os diferentes tipos de solos amazônicos, onde a mandioca é cultivada, constituem um fator importante na diferenciação genética entre as variedades da espécie. Esses resultados foram alcançados a partir da análise, em laboratório, da variação em porções do DNA (denominadas microssatélites) das plantas coletadas em diferentes roçados (áreas de cultivo) e diferentes tipos de solo nessas comunidades rurais. “A mandioca é um cultivo amazônico com uma grande quantidade de estudos genéticos, entretanto o aspecto do manejo em diferentes solos ainda não havia sido considerado”, disse Pereira. As variedades de mandioca cultivadas na várzea são geneticamente diferenciadas das variedades que são cultivadas em solos de terra firme, sejam elas manejadas em Latossolos (solos inférteis) ou solos antropogênicos (terras pretas ou mulatas, com alta fertilidade). “Além da diferenciação entre tipos de solo, foi encontrada uma grande variabilidade genética nas variedades cultivadas na região. Na prática, estes resultados são importantes porque quanto mais variação genética existir em uma espécie, maior será a probabilidade de que ela possa resistir às mudanças ambientais’’. ‘‘Com isso nós esperamos que este estudo sirva também para a valorização das práticas tradicionais de cultivo dos agricultores da região, uma vez que eles manejam uma grande diversidade genética e são colaboradores para a conservação dos recursos genéticos da mandioca”, conclui o pesquisador.

No mês de abril, o III Workshop Internacional História e Sociologia da Química na América Latina: “autonomia científica e saberes tradicionais na Amazônia”, ofereceu um circuito de mesas-redondas realizadas na Casa da Ciência, localizada no Bosque da Ciência, em busca de discutir o uso amplo da química dos produtos naturais, a fitoquímica, as cadeias produtivas e de relacionar os saberes tradicionais (chás, xaropes, entre outros) e científicos. Segundo organizadores do evento, pesquisadores do Inpa, Reinaldo Corrêa Costa e Cecilia Veronica Nunez, está sendo elaborado um documento com os resultados alcançados pelo workshop, que será encaminhado ao Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Eles afirmam que a elaboração deste documento servirá “para que a legislação acompanhe a realidade da sociedade e das pesquisas e incentive seu desenvolvimento, para não torná-las restritivas, o que favorece o atraso das ciências e a dependência externa do Brasil”, explicam os pesquisadores. O pesquisador ressaltou ainda que da forma atual tornamos o país dependente do desenvolvimento de outros países. “Assim impossibilita conhecermos nossa própria natureza, biodiversidade e suas potencialidades”, comentou Costa. O workshop possibilitou também, o lançamento do livro “Raimundo Lopes: dois estudos resgatados”, organizado por Alfredo Wagner Berno de Almeida, do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA –PPGSCA/UFAM) e Heloisa Maria Bertol Domingues, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST).


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Meio-Ambiente - Divulga Ciência

Inovações no manejo florestal para área de várzea no Estado Por meio de análises no crescimento de espécies arbóreas da várzea, estudo prevê mudanças no ciclo de corte Foto: Jochen Schöngart / Acervo Pesquisador

A Instrução Normatia nº 009 define novas formas de manejo em florestas de várzea | Eduardo Gomes Da equipe do Divulga Ciência

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que foram visualizadas pelas políticas públicas para transformar os resultados obtidos em legislação, desta maneira trazendo benefícios diretos e indiretos para a sociedade brasileira”, disse. Para Piedade, a iniciativa que une políticas públicas, aliadas à pesquisa científica é de grande relevância. “Essa

Existe a necessidade de diferenciar os manejos florestais considerando aspectos da estrutura populacional e regeneração da espécie

mínimos de corte, baseado em análises dos anéis de crescimento (dendrocronologia). “Mostramos por meio destas análises que tais critérios de manejo variam entre 3 e 32 anos para o ciclo de corte. Já os diâmetros mínimos de corte podem variar entre 47 e 125 cm, e que existe a necessidade de diferenciar os manejos florestais considerando aspectos da estrutura populacional e regeneração da espécie”, explica. O pesquisador ressaltou que o estudo na formulação do conceito GOL (Growth-Oriented Logging) publicado na revista Forest Ecology and Management, que prevê para os manejos florestais, critérios de manejo diferenciado entre espécies da várzea. Pesquisadores estão expandindo o conceito GOL para outras tipologias alagáveis capacitando jovens pesquisadores pelos Programas de Pós-Graduação do Inpa em Ecologia, Botânica, e Clima & Ambiente no âmbito do Projeto Núcleo de Excelência (Pronex) coordenado pela pesquisadora Maria Teresa Piedade. O programa apoia grupos de alta competência que tenham liderança e papel nucleador no setor de ciência e tecnologia do Amazonas. O Pronex “Tipologias Alagáveis” conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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Estudos realizados por meio da cooperação bilateral entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e o Instituto Max Planck de Química da Alemanha, coordenado no Inpa pela pesquisadora Maria Teresa Piedade, resultaram na implementação de uma Instrução Normativa (IN) pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS). A IN nº 009 estabelecida pela SDS em 12 de novembro de 2010 define novas formas de manejo em florestas de várzea (alagáveis por água branca, rica em nutrientes). A exploração de madeiras na várzea, geralmente é realizada em manejos de pequena escala ou manejos comunitários, onde é adotado um único ciclo de corte de 25 anos e um diâmetro mínimo de corte de 50 cm para várias espécies madeireiras, independente de suas taxas de incremento em diâmetro e volume, estrutura populacional e a regeneração das espécies utilizadas neste tipo de manejo. Para o pesquisador do Instituto Max Planck, Jochen Schöngart os estudos explicitam a colaboração das pesquisas que podem auxiliar as políticas públicas em benefício da sociedade. “O estudo é um belo exemplo da transformação de pesquisas básicas para pesquisas aplicadas

importante iniciativa de modernidade em gestão pública deve ser louvada. Somente parcerias inteligentes, aglutinadas ao redor dos interesses da região, sua preservação e manutenção de seus ambientes únicos poderão assegurar a integridade e múltiplas funções de um de seus mais importantes patrimônios: suas áreas úmidas”, enfatizou. Jochen explicou que juntamente com os pesquisadores Maria Teresa Piedade e Florian Wittmann partiram de pesquisas básicas para pesquisas aplicadas, modelando o crescimento da madeira de diferentes espécies arbóreas comerciais para definir especificamente ciclos de corte e diâmetros


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Pesquisa - Divulga Ciência

Mandíbula de formiga inspira criação de grampo sutura Por meio da observação dos sistemas da natureza, conhecido como técnica biônica, a pesquisa desenvolveu um grampo para utilização nos pontos cirúrgicos | Josiane Santos Da equipe do Divulga Ciência Foto: Reprodução

Pesquisa inspirada na cena do filme Apocalíptico, do diretor Mel Gibson (Reprodução acima. Difícil encontrar alguém que não tenha uma cicatriz de pontos causada por alguma cirurgia. Os pontos, também chamados de sutura, aproximam a pele facilitando a cicatrização. Dentre os tipos de sutura estão: sutura por fio absorvível (como categute, vicryl e dexon) e fio não absorvível (como nylon, seda e algodão), sutura por adesivo e sutura por grampo metálico. Utilizando como base os sistemas vivos da natureza para empregar em processos, técnicas ou princípios que possam ajudar na criação de projetos (técnica biônica), a designer industrial Thays Obando Brito da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) desenvolveu em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) o grampo de sutura baseado no formato da mandíbula da formiga saúva soldado do gêneroAtta, conhecida como formiga cortadeira. O grampo de sutura está entre os patenteados pelo Inpa em 2010.

Os materiais utilizados a liga de aço cromo e o silicone, já existem no mercado e são de baixo custo, além do mais, os grampos são também coloridos, criados principalmente para o público infantil. “Eu me preocupei com essa questão psicológica para ter um diferencial no mercado”, destaca Brito.

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Observando a aplicação da formiga na sutura que os índios utilizavam, comecei a imaginar e consequentemente a criar

zavam, comecei a imaginar e consequentemente a criar. Foi quando descobri nos livros de medicina sobre sutura, que realmente eles utilizavam a mandíbula da formiga para suturar as feridas”, disse. A manipulação do objeto acontece por meio do porta agulha, instrumento comum no centro cirúrgico, a fim de introduzir o grampo na pele aproximando as bordas da ferida. “Também tive a preocupação com a questão econômica, por isso esse grampo tem outro diferencial, ou seja, o mesmo não necessita de um instrumento próprio, bem diferente do grampo metálico já existente em que necessita de grampeador próprio para sua fixação na pele”, enfatiza Brito. O grampo também tem um dispositivo externo que serve como tampa de proteção. A pesquisa teve a orientação do pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Entomologia (CPEN) Jorge Luiz Pereira de Souza e da professora da Ufam Magnólia Granjeiro Quirino.

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Ela conta que a ideia do projeto surgiu inspirada na cena do filme Apocalíptico, do diretor Mel Gibson, que retrata a cultura e história das civilizações pré-colombianas da América Central. Em uma das cenas, a mãe aplica a mandíbula da formiga para suturar o ferimento da criança.“Observando a aplicação da formiga na sutura que os índios ultili-


Abril/Maio 2011 - Página 07

Ciência e Tecnologia - Divulga Ciência

Pesquisa em mudanças climáticas poderá auxiliar na previsão fenômenos naturais extremos A precipitação (chuva) é um dos fenômenos climáticos mais importantes, sobretudo na região amazônica e, a alteração nos padrões da precipitação causará grande impacto nas mudanças climáticas e na sociedade Foto: Ilustração

Estudo objetiva identificar relações de aumento ou diminuição dos casos de malária

| Aline Cardoso Da Equipe do Divulga Ciência

de downscaling (redução da escala para análise de dados) é uma forma de levar em consideração a própria incerteza presente nos cenários de clima futuros, que na região Amazônica, são regidos de acordo com fenômenos meteorológicos em diversas escalas de tempo e espaço.

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A pesquisa tenta prever eventos extremos como chuvas mais intensas ou períodos de secas mais severas “A pesquisa se propõe a fazer uma análise dos dados obtidos com base em observação de anos anteriores e partir disso, tentar prever com mais precisão eventos extremos como chuvas mais intensas ou períodos de secas mais severas”, explica a pesquisadora Jeanne Sousa. A pesquisadora tem como orientadores os pesquisadores Luiz Candido e Julio Tota, do Programa da Grande Escala da BiosferaAtmosfera na Amazônia(LBA), e

desenvolve sua pesquisa nas dependências do Inpa. Uma das mais importantes questões relacionadas a fenômenos climáticos extremos – chuvas ou períodos de seca intensos – é a capacidade de prever quando, como e, em que proporções eles acontecerão. As previsões climáticas para o fim do século, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), indicam que se as atuais emissões de gases de efeito estufa (GEE) foram mantidas, ocorrerá um aumento de temperatura global de 1,4 a 5,0°C (graus Celsius). Nessa perspectiva que a proposta de pesquisa se estabelece visando avaliar uma estratégia de modelagem regional para a Amazônia, considerando uma diversidade de escalas, os cenários climáticos existentes atualmente. “Com o aumento da resolução horizontal nos modelos climáticos, espera-se obter simulações mais realistas”, diz Sousa.

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As questões relacionadas à ocorrência de eventos climáticos extremos relacionados à precipitação, tanto a curto quanto a longo prazo, tem sido discutidas com bastante frequência nos últimos anos, principalmente devido ao modo como esses eventos vêm ocorrendo, causando danos de ordem econômica e social. A proposta de pesquisa denominada: “Downscaling dinâmico de cenários climáticos para a Amazônia utilizando o modelo WRF” é da pesquisadora Jeanne Sousa, aluna do Programa de PósGraduação em Clima e Ambiente (CLIAMB), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e com incentivos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Os resultados servirão de base para gerenciar recursos e avaliar impactos. Para regionalizar e prever com mais mais precisão a ocorrência desses eventos na nossa região, a técnica


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Educação e Sociedade - Divulga Ciência

A influência do Isopreno sobre o clima Medido diretamente na folha, somente três trabalhos foram realizados: em Rondônia, por um grupo de pesquisa da Alemanha; outro em seis locais da Amazônia, por um grupo de pesquisa dos Estados Unidos; e este agora Foto: Acervo Pesquisador

Pesquisa aponta que o isopreno pode ser emitido em maior quantidade em temperaturas mais elevadas.

|Jessica Vasconcelos Da Equipe do Divulga Ciência

da folhas e também de diferentes níveis de luz e temperatura. Segundo Eliane, aqui na Amazônia alguns trabalhos já foram feitos para se saber a concentração de alguns gases como o isopreno na atmosfera, mas medido diretamente na folha somente três trabalhos foram realizados: um em Rondônia, por um

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traram que em temperaturas entre, aproximadamente, 25°C e 45°C a emissão de isopreno foi crescente, indicando que a planta poderia emitir ainda mais do que foi apresentado na temperatura máxima em que foi possível expor a folha”, explica Eliane. O aumento das emissões de isopreno em função de mudanças de temperatura, poderá ocasionar padrões diferenciados nas reações químicas na atmosfera, pois o isopreno reage com outro composto chamado radical hidroxila, o qual também reage com o gás de efeito estufa metano. No entanto, o radical hidroxila reage de forma mais eficiente com o isopreno, o que pode aumentar o tempo de vida do metano na atmosfera, intensificando o efeito estufa. Apesar dos resultados, Eliane lembra que muitas pesquisas ainda devem ser feitas, pois com os instrumentos por ela utilizados não se pôde provocar temperaturas maiores que 45°C na folha e também outras espécies de plantas devem ser consideradas.

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O Isopreno é um composto químico emitido naturalmente por muitas plantas. Em sua composição, contém carbono e hidrogênio, portanto este composto tem importância para estudos sobre o balanço de carbono e também sobre a química atmosférica, pois em decorrência de sua emissão muitas reações químicas acontecem o que tem influência direta e indireta sobre o clima. A pesquisa realizada no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) pela aluna do Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente (Cliamb) Eliane Gomes Alves, orientada pelo pesquisador José Francisco Carvalho Gonçalves do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), teve como objetivo saber como alguns fatores ambientais como incidência de radiação solar e temperatura podem influenciar na emissão de isopreno pela planta, para isso foram selecionados três tipos de folhas da espécie Matamatá verdadeira (Eschweilera coriacea), em estados de amadurecimento diferentes para verificar se existia a variação de emissão desse composto em função de diferentes idades

No meu trabalho, eu condicionei a planta a diferentes níveis de temperatura tentando identificar e quantificar sua emissão

grupo de pesquisa da Alemanha; outro em seis locais da Amazônia, por um grupo de pesquisa dos Estados Unidos; e agora este realizado aqui. Pesquisas têm apontado que o isopreno pode ser emitido em maior quantidade em temperaturas mais elevadas. “No meu trabalho, eu condicionei a planta a diferentes níveis de temperatura tentando identificar e quantificar sua emissão, os resultados demons-


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