Divulga Ciência - Março/2013

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Jornal do Inpa Manaus, Março 2013 - Ano V - Ed.30- ISSN 2175-0866

www.inpa.gov.br

Pesquisadora do Inpa descobre substância que pode ajudar em tratamento do câncer Cecília Nunez, autora da pesquisa, afirma que ainda é preciso realizar todas as etapas pré- clínica e clínica, antes de poder usá-la como medicamento. A substância foi uma das sete patentes depositadas em 2012 pelo Inpa Pág. 06

Foto: Acervo Pesquisador

Foto: Eduardo Gomes

Foto: Acervo pesquisador

Foto: Acervo pesquisador

Estudo do Inpa prevê cheia de 28,66 m para este ano no AM

Pesquisadores do Inpa participam de elaboração de documento sobre áreas úmidas

Inpa identifica sapo que utiliza necrofilia para evitar perda de ovos de fêmeas mortas

Novos dados permitiram reduzir a margem de erro no modelo de previsão de cheia desenvolvido pelo Inpa e MPIC

O documento é uma forma de proporcionar conhecimento e dar visibilidade às áreas úmidas

A morte de fêmeas durante o acasalamento ocorre em outras espécies, mas esse caso é o primeiro onde traz um ganho

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Boa Leitura Informações Técnicas nas Áreas de Serraria, Carpintaria, Marcenaria e Laminação Pág. 02

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Inpa recebe oitavo peixe-boi apenas no primeiro trimestre de 2013

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Inpa debate modelos para definir níveis de metais em águas no Vietnã Pág. 02

Inpa recebe termo de entrega da Reserva Adolpho Ducke Pág. 02

Inpa inaugura estrutura para aproximar pesquisas do setor produtivo Pág. 04


Página 02 - Março 2013 Fale com a redação

Expediente Assessor de Comunicação: Daniel Jordano (SRTE:518/AM) - Editora Chefe: Fernanda Farias - Repórteres: Daniel Jordano, Josiane Santos e Raiza Lucena - Editoração Eletrônica: Denys Serrão - Revisão: Fernanda Farias - Fotos: Eduardo Gomes, Daniel Jordano e Acervo Pesquisadores Tiragem: 1000 - Edição 30 - Março - ISSN 2175-0866. Produção: Assessoria de Comunicação do Inpa/MCTI.

+55 92 3643-3100 / 3104 digital.inpa@gmail.com ascom_inpa Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/MCTI

Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação

Tome Ciência Foto: Ampa

Foto: Acervo pesquisador

Foto: Eduardo Gomes

Inpa recebe oitavo peixeboi apenas no primeiro trimestre de 2013

Inpa debate modelos para definir níveis de metais em águas no Vietnã

Inpa recebe termo de entrega da Reserva Adolpho Ducke

A Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), parceira do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), recebeu no dia 21, um filhote de peixe-boi que foi encontrado à margem esquerda do Rio Negro na Comunidade de Panacarica, localizada na divisa do Amazonas com o sul do Estado de Roraima (RR). O filhote, de 73 cm e 6,5 kg, foi encontrado pela funcionária pública, Rosângela Vieira, e entregue à bióloga da Ampa, Isabel Reis. Este último animal que chegou é o de número 202 já trazido ao Projeto Peixe-boi desde sua criação, em 1974. De acordo com diretor-executivo da Ampa, Jone César, este é o segundo menor filhote recebido pela Associação nos últimos 10 anos.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) participa de uma série de debates promovidos pelo governo do Vietnã (Ásia), que pretende aplicar o modelo para definir os níveis de metais em suas águas e por isso, realiza eventos com pesquisadores de diferentes países, dentre eles, está o diretor do Instituto, Adalberto Val. Os pesquisadores apresentaram os resultados sobre o modelo chamado de ligante biótico (BLM, sigla em inglês). De acordo com Val, outros países da região estão interessados na metodologia, mas para várias regiões há necessidade de um inventário biológico e informações básicas sobre a química da água. “Apresentei o trabalho que desenvolvemos no LEEM, que tem sido tomado como referência uma vez que envolveu 14 diferentes espécies”.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) recebeu dia 25, o termo de entrega da Reserva Florestal Adolpho Ducke, entregue pelo Superintendente do Patrimônio da União (SPU/AM), Silas Garcia, em reunião com diretor do Inpa, Adalberto Val. A área da Reserva Ducke foi doada pelo governo do Estado do Amazonas ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) quando o Inpa era subordinado ao órgão. No fim dos anos 80 a área ficou sob a responsabilidade do Inpa, mas com titularidade da União. Segundo Val, a medida traz mais seguranças às ações do Inpa no local. “Sentíamos falta dessa documentação. Esse termo de entrega dá uma tranquilidade para fazer investimentos e pesquisas”, disse.

Boa Leitura - Informações Técnicas nas Áreas de Serraria, Carpintaria, Marcenaria e Laminação Mas uma cartilha da editora Inpa foi feita para você, que adora acompanhar os avanços das pesquisas que são realizadas nos nossos laboratórios. A obra "Informações Técnicas nas Áreas de Serraria, Carpintaria, Marcenaria e Laminação", traz informações básicas, de maneira muito dinâmica, sobre os desafios que podemos encontrar no segmento da industria da madeira, tudo isso em formato de quadrinhos, para facilitar ainda mais a leitura e deixá-la prazerosa enquanto você adquire conhecimento. A obra traz dicas importantes, para quem gostaria de iniciar uma carreira na área, como condições de umidade, principalmente na confecção de produtos, que segundo os autores, requer maior cuidado. Esta cartilha homenageia técnicos que participam no laboratório do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ao longo dos últimos 10 anos no processo de capacitação de comunitários com o objetivo de aproveitar seus conhecimentos e disponibilizá-los a sociedade. Para adquirir a cartilha entre em contato com a editora Inpa pelo número 3643-3223 ou pelo e-mail: editora@inpa.gov.br.


Pesquisa

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Estudo do Inpa prevê cheia de 28,66 m para este ano no AM Novos dados permitiram reduzir a margem de erro no modelo de previsão de cheia desenvolvido pelo Inpa e MPIC. De acordo com a pesquisa, apesar da previsão ser menor que em 2012, a cheia do Rio Negro será acima da média Foto: Eduardo Gomes

|Josiane Santos Da equipe do Divulga Ciência

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Medições As medições no Porto de Manaus são coletadas pela Agencia Nacional de Água (ANA) juntamente com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) armazenando todos os anos. Após essas coletas é possível calcular a

Quando tem o El Niño, geralmente a cheia é mais fraca, quando temos condições de La Niña, as cheias são mais pronunciadas

ocorre no final de outubro e início de novembro. Em 2012, Manaus registrou a maior cheia quando o nível do Rio Negro atingiu 29,97 m no dia 29 de maio, o maior já registrado desde 1903. Segundo avaliação do pesquisador, a cota para este ano - 1,30 m abaixo da 2012 - pode ser considerada relativamente alta. Baseado na média de cheias anteriores, o valor fica mais ou menos 80 cm acima da média das cheias já observadas em Manaus. Segundo Schöngart, vários fatores externos têm uma forte influência para que esses fenômenos de cheias e vazante aconteçam em períodos cada vez mais curtos. “O regime pluviométrico nas cabeceiras do rio Negro e Solimões resulta em cheias mais pronunciadas e menos pronunciadas. As chuvas nessas regiões são fortemente influenciadas pelo Pacífico Equatorial e também pelo Atlântico Tropical Norte. Quando tem o El Niño, geralmente a cheia é mais fraca, quando temos condições de La Niña, as cheias são mais pronunciadas”, explica. O pesquisador acrescenta que além desses fatores, o regime hidrológico na maior bacia hidrográfica da Amazônia é complexo.

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O novo modelo desenvolvido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e do Instituto Max Planck de Química (MPIC) prevê que o Rio Negro deverá ter uma cheia de 28,66 m (com margem de erro de 28,36 m a 28,96 m). A constatação foi feita após a inserção de novos dados ao modelo de previsão de cheia, o que permitiu informar valores mais precisos. O método permitiu reduzir a margem de erro de 38 cm para 30 cm para mais e para menos. “Após a cheia de 2012, nós começamos a trabalhar com outros modelos que consideram além do índice da Oscilação do Sul, anomalias de temperaturas superficiais do Oceano Pacífico naquela região que é conhecida como região El Nino 3.4, que fica no Pacífico Central Equatorial”, explica o pesquisador Jochen Schöngart, do MPIC. A área é considerada a região central dos fenômenos El Niño e La Ninã. “Espero que futuramente possamos produzir modelos mais robustos, e também expandir dentro da Bacia Amazônica para outras estações hidrológicas”, ressalta.

média, desvio padrão, as mínimas e máximas para cada data. De acordo com Schöngart, com o modelo de previsão elaborado é possível prever geralmente com 100 dias de antecedência a previsão de cheia para Manaus e arredores, que normalmente acontece na segunda quinzena do mês de junho. Cheias mais frequentes A Amazônia Central possui um ciclo hidrológico caracterizado por uma cheia, que ocorre geralmente na segunda quinzena de junho, e uma vazante, que


Divulga Ciência

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Inpa inaugura estrutura para aproximar pesquisas do setor produtivo A incubadora do Instituto servirá de base para transferência de tecnologia. A intenção é aproximar a pesquisa científica das empresas Foto: Eduardo Gomes

|Daniel Jordano Da equipe do Divulga Ciência

Com o objetivo de aproximar as pesquisas científicas do mercado, foi inaugurado, dia 20, o prédio da incubadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), onde funcionará a Coordenação de Extensão de Tecnologia e Inovação (CETI) do Inpa. O novo espaço permite a transferência de tecnologia para empresas interessadas em atuar em parceria com o Instituto. A finalidade é fazer com que as pesquisas possam virar produtos e processos que beneficiem a sociedade. De acordo com o diretor do Inpa, Adalberto Val, o novo espaço servirá de interface com a iniciativa privada e com a sociedade. “Não adianta fazer ciência e a informação ficar circulando apenas entre os cientistas. A ciência é uma atividade social com fins sociais, ela precisa voltar para a sociedade com o objetivo de contribuir para melhoria na qualidade de vida das pessoas. Então é preciso haver transferência. Por tanto, a incubadora vai trazer essas empresas e irá transferir essas tecnologias. Com isso ganhamos uma estrutura de interface com iniciativa privada com a sociedade de modo geral”, disse.

Empresas Hoje seis empresas não residentes estão incubadas pelo Inpa e já fazem parte do processo de transferência de tecnologia de pesquisas, por exemplo, com a farinha de pupunha, corantes naturais e desenvolvimento de cosméticos a partir de plantas da Amazônia. Segundo a coordenadora da CETI, Rosângela Bentes, as empresas poderão atuar em parceria com o Inpa para colocar no mercado os resultados de pesquisas já realizadas ou firmar cooperação para novos estudos. Ainda de acordo com Bentes, a ideia é auxiliar para que o setor privado participe das ações de inovação tecnológica. “Isso é uma porta para essas empresas se estruturarem e que pesquisas como a farinha de pupunha e outras possam chegar ao mercado” afirmou. Produtos incubados Produtos criados a partir das pesquisas do Inpa, como a Água Box e a farinha de pupunha, já estão em fase final para ir ao mercado. “Nesses dois casos as empresas já estão desenvolvendo a escala industrial dos produtos e em breve chegarão ao mercado”, ressaltou Bentes.

Seminário no Inpa discute alimentação saudável nas escolas O evento ocorreu dia 1° e contou com a participação de profissionais de nutrição e gastronomia Da redação da Ascom Da equipe do Divulga Ciência

Um debate para promover uma alimentação saudável desde a infância. Foi com esse objetivo que pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e coordenadores dos cursos de gastronomia e nutrição da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Universidade Federal de Pelotas do Rio Grande do Sul (UFPel) promoveram dia 1°, o seminário “Educação alimentar e nutricional para a alimentação saudável”. O evento, que ocorreu na sede do Inpa em Manaus, é resultado do projeto intitulado Estratégia de Educação Alimentar Nutricional para a Promoção de Alimentos Saudáveis na Infância, que envolve as três instituições. A pesquisadora do Inpa e coordenadora local do projeto, Dionísia Nagahama, afirmou que a ideia é fazer com que professores, merendeiras e demais pessoas que acompanham o processo alimentar das crianças, colaborem para uma alimentação mais saudável delas. “Discutimos as estratégias de alimentação saudável o que envolve todos, desde os pais, professores, merendeiras até chegar as crianças”, disse. Nagahama afirmou ainda que promover ações para alimentação saudável na infância significa reduzir o número de adultos com doenças ligadas à obesidade. “Você é o que você come. Doenças ligadas à obesidade como hipertensão e colesterol alto, podem ser prevenidas. Então é melhor prevenir”, ressaltou. Tendência saudável Para o coordenador do curso de gastronomia da UFPel, Alcides Gomes Neto, a estratégia é importante, pois incentiva à conscientização dos pais. “É igual aos livros, se os pais leem, os filhos também vão ler. Se há um bom hábito alimentar em casa certamente as crianças vão se alimentar melhor”, afirmou.


Educação e Sociedade

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ScienceCamp: estudantes do ensino médio têm contato com pesquisas feitas no Inpa Aproximadamente 90 alunas participaram do programa durante uma semana de evento. A programação, realizada pelo Inpa e embaixada dos Estados Unidos, contou com oficinas, palestras, excursões e visitas aos laboratórios Foto:Daniel Jordano

| Da redação da Ascom Da equipe do Divulga Ciência

tipo e fiquei muito feliz quando soube que viríamos”, afirmou. Atividades práticas ocorreram na reserva Adolpho Ducke onde as alunas aprenderam desde a coleta de insetos e fungos até aulas sobre biodiversidade e conservação da floresta em pé. Para Susan Bell, coordenadora do evento pela Embaixada, a experiên-

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Quando você vai conhecendo as pesquisas, acaba interagindo cada vez mais

cia de encontrar a natureza pessoalmente é fundamental na formação e na educação das estudantes. Já a estudante brasiliense, Carla Chaves Pereira, 17, selecionada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), afirma que participar do programa é uma novidade, uma vez que, de acordo com ela, seu interesse sempre foi por

ciências exatas.“Quando você vai conhecendo as pesquisas, acaba interagindo cada vez mais. É muito maravilhoso tudo isso”, destacou. No quarto dia de atividades as estudantes participaram de uma excursão em um barco-escola com trajeto pelo rio negro nas proximidades de Manaus. Na ocasião foram ministradas oficinas relacionadas à água e os animais e plantas que vivem nela. O diretor substituto do Inpa, Estevão Monteiro de Paula, destacou a importância do programa: “Houve essa identificação das estudantes com as pesquisadoras do Instituto. É importante motivá-las para o conhecimento de uma Amazônia melhor”, afirmou. A coordenadora do ScienceCamp pelo Inpa, Denise Gutierrez, acredita que a experiência foi um acréscimo no conhecimento das jovens. “Foi uma experiência fantástica houve muita aprendizagem, não só para as meninas, mas para toda a nossa equipe”, afirmou.

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Em uma ação evolvendo o Instituto Nacional de Pesquisas das Amazônia (Inpa/MCTI) e a Embaixada dos Estados Unidos, cerca de 90 alunas de ensino médio de todo o país participaram em março do “ScienceCamp: elas na ciência”. O objetivo do programa foi aproximar as jovens das pesquisas científicas. A abertura oficial ocorreu em Brasília, no dia 4 de março, com a extensão das atividades em Manaus. No Inpa, as atividades começaram com a palestra “Mulheres no mundo das Ciências”, ministrada pela pesquisadora do Instituto, Flávia Costa. “Ainda existem preconceitos fortes sobre a capacidade das mulheres na área científica, o que precisa ser revertido com uma mudança de cultura”, afirmou. As alunas também conheceram os laboratórios do Inpa e participaram de oficinas científicas. A estudante mineira Maria Raquel, 17, inscrita na oficina extra de nutrição comenta seu interesse em participar na área de científica. “Sempre tive vontade de fazer algo do


Tecnologia e Inovação

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Pesquisadora do Inpa descobre substância que pode ajudar em tratamento do câncer Cecília Nunez, autora da pesquisa, afirma que ainda é preciso realizar todas as etapas pré- clínica e clínica, antes de poder usá-la como medicamento. A substância foi uma das sete patentes depositadas em 2012 pelo Inpa Foto: Acervo pesquisador

| Raiza Lucena Da equipe do Divulga Ciência

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conhecer o potencial biológico das espécies amazônicas, então coletei diversas plantas, não só da família Rubiaceae, mas de outras e esse extrato mostrou uma grande atividade”, explica. De acordo com Nunez, esse foi o primeiro estudo com a espécie. “Essa

existe um potencial muito grande, mas é prematuro dizer para já se utilizar a planta (em tratamentos)

planta nunca teve nenhum estudo químico realizado”, afirma.

Já objetivando a busca de substâncias antitumorais nas plantas, o resultado veio após várias etapas de fracionamento na espécie. “Este alcaloide específico deu atividades sobre células tumorais de Leucemia humana, Adenocarcinoma gástrico (câncer de estômago) e Melanoma (câncer de pele), isso por enquanto em linhagens em células, ou seja, o ensaio in vitro. Ainda precisamos realizar os ensaios de todas as etapas pré-clínica e clínica”, destaca a pesquisadora. Ela ainda completa: “Pela alta atividade que esse alcaloide apresentou e pela baixa toxicidade em células sadias, existe um potencial muito grande, mas é prematuro dizer para já se utilizar a planta (em tratamentos)”. A pesquisa está dividida em duas frentes: a primeira é o estudo da planta para encontrar outros alcaloides minoritários com possíveis atividades ainda maiores e a segunda é a tentativa de obtenção da cultura de células da planta para uma produção maior deste alcaloide, já que a planta o produz em pequena quantidade, insuficiente ainda para passar às etapas in vivo.

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A pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Cecília Veronica Nunez, reconheceu em uma planta amazônica um alcaloide que possui potencial anticancerígeno. As pesquisas são realizadas há sete anos e em 2012 a substância fez parte da lista de patentes depositadas pelo Instituto. A pesquisa, iniciada em 2006, trata-se da coleta de material biológico, preparação de extratos e avaliação destes em diversos ensaios biológicos - procedimento chamado de bioprospecção, com a finalidade de explorar os recursos genéticos -, que neste caso foi a seleção de diversas plantas para a realização do fracionamento a fim de isolar as substâncias ativas. O alcalóide encontrado foi extraído da planta Duroia macrophylla, popularmente conhecida como puruígrande-da-mata. A espécie pertence à família Rubiaceae (a mesma do café) e possui um fruto comestível, porém não muito consumido. “Quis

Potencial anticancerígeno Podendo ser definido como uma substância de caráter básico, a pesquisadora explica que os alcaloides não são produzidos igualmente pelas plantas, há apenas algumas famílias de vegetais que os produzem, além de alguns micro-organismos e animais.


Pesquisa

Março 2013 - Página 07

Pesquisa do Inpa identifica espécie de sapo amazônico que utiliza necrofilia para evitar perda de ovos de fêmeas mortas Segundo observações dos pesquisadores, a morte de fêmeas durante o acasalamento ocorre em outras espécies de sapos, mas esse caso pode ser o primeiro onde traz um ganho, pois gera descendes da fêmea morta Foto: Acervo pesquisador

| Josiane Santos Da equipe do Divulga Ciência

vai embora, mas os machos ficam a noite inteira brigando por cada fêmea que chega”, explica. O estudo foi realizado na Reserva Florestal Adolpho Ducke, do Inpa, Km 26 da AM-010 (Manaus - Itacoatiara), com a coleta de 15 fêmeas em junho de 2001 e cinco fêmeas em junho de 2005 em duas lagoas diferentes durante a reprodução explosiva em que envolvem dezenas de machos.

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do os machos acidentalmente matam a fêmea por meio de afogamento, e depois extraem os ovos da fêmea. Todos os ovos foram coletados e armazenados até entrarem em estágio embrionário, só então foi confirmada a fertilização, quando começaram a apresentar girinos. “Nesse caso foi notado que quando o macho solta a fêmea, ela já não tem mais ovos na barriga, mesmo que a fêmea morra os ovos saem e então o macho fecunda os ovos”, explica Magnusson. A pesquisa observou que a maioria das fêmeas, após a reprodução, deixa o ambiente. Magnusson relata que a dificuldade de acompanhar a reprodução dessa espécie é grande porque ela não é vista com muita frequência. Além de pesquisadores do Inpa, William Magnusson e Albertina Lima, pesquisadores de outras instituições participaram: Thiago Izzo e Domingos Rodrigues, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); e Marcelo Menin, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

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Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Estudos Integrados da Biodiversidade Amazonas (Cenbam), coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), detectaram que na espécie de sapo Rhinella proboscidea os machos, durante o acasalamento, acabam acidentalmente matando as fêmeas por afogamento. A reprodução dos sapos da espécie R. proboscidea é chamada de reprodução explosiva, não muito comum em outras espécies de sapos. Segundo William Magnusson, pesquisador do Inpa e coordenador do Cenbam, na reprodução explosiva há grande competição entre machos, que se reúnem em grande número de indivíduos por dois ou três dias, em locais de reprodução - geralmente lagos, poças de água e nascente de rios - , disputando às fêmeas do local. “A fêmea está na água, têm muito machos e todos estão tentado subir na fêmea então ela fica embaixo e eles acabam afogando-a. Normalmente, quando a fêmea chega lá, ela desova e

mesmo que a fêmea morra os ovos saem e então o macho fecunda os ovos A fecundação dos sapos acontece por meio de estímulo do macho usando as patas dianteiras para segurar a fêmea na região peitoral (amplexo axilar) ou na região pelvina (amplexo inguinal). O amplexo (abraço) pode durar horas ou dias, antes da desova da fêmea. O estudo apontou que a necrofilia ocorre durante o acasalamento quan-


Meio Ambiente

Página 08 - Março 2013

Pesquisadores do Inpa participam de elaboração de documento sobre importância de áreas úmidas O documento é uma forma de proporcionar conhecimento e dar visibilidade as áreas úmidas, além de servir como abertura para discussões sobre o assunto. No Amazonas, ás áreas de várzea e igapós são exemplos Foto: Acervo pesquisador

| Raiza Lucena Da equipe do Divulga Ciência

áreas úmidas brasileiras e verificamos que faltam algumas informações fundamentais. O ponto principal seria a definição de área úmida, depois o segundo ponto importante, é a delimitação dessas áreas”, explica Junk sobre a elaboração do documento.

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ligados diretamente ao meio ambiente e à qualidade de vida da sociedade, está ao fato de que elas proporcionam a recarga de aquíferos, a purificação e fornecimento da água, a regulagem do microclima, o ecoturismo, além da estocagem periódica de água e sua lenta devolução para os igarapés, córregos e rios conectados (efeito esponja), reduzindo os perigos de enchentes e secas, problemas comuns no Brasil, inclusive na região amazônica. Tendo como maior ameaça a falta de uma legislação específica que regule sua proteção, as áreas úmidas estão sendo extintas e merecem atenção para a sua preservação e um consenso para seu uso de forma sustentável. “O ideal seria uma definição do uso e posse das áreas úmidas em nível federal, para que todos os estados possam se configurar a essas normas, além de uma efetiva educação ambiental”, atenta a pesquisadora Maria Piedade.

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Cientistas de todo o Brasil se reuniram na elaboração de um documento intitulado “Definição e Classificação das Áreas Úmidas (AUs) Brasileiras: Base Científica para uma Nova Política de Proteção e Manejo Sustentável” para definir o conceito de áreas úmidas e alertar para os riscos que essas áreas vêm sofrendo. No grupo composto por especialistas chamado de “Grupo de Peritos em Áreas Úmidas (AUs) Brasileiras”, três pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) contribuíram com suas pesquisas e com a elaboração do documento, sendo eles: a vice coordenadora do INCT ADAPTA, Maria Piedade; Jochen Schögart e Florian Wittmann, pesquisadores do Instituto Max-Planck de Química de Maiz, sediados no Inpa; além do pesquisadorcolaborador do Instituto, Wolfgang Junk, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU). “Sentimos a necessidade de compilar as informações disponíveis sobre as

O ideal seria uma definição do uso e posse das áreas úmidas em nível federal

Áreas úmidas Segundo o documento, as áreas úmidas podem ser definidas como ecossistemas na interface entre ambientes terrestres e aquáticos, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais, permanentemente ou periodicamente inundados por águas rasas ou com solos encharcados, doces, salobras ou salgadas, com comunidades de plantas e animais adaptadas à sua dinâmica hídrica. Entre os benefícios das áreas úmidas


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