Gameleiras, dos primórdios à emancipação

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

DOS PRIMÓRDIOS À EMANCIPAÇÃO

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

DOS PRIMÓRDIOS À EMANCIPAÇÃO

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

ZAURINDO FERNANDES BALEEIRO

ZAURINDO FERNANDES BALEEIRO

DOS PRIMÓRDIOS À EMANCIPAÇÃO

DOS PRIMÓRDIOS À EMANCIPAÇÃO

Montes Claros 2006

Montes Claros 2006 3

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Zaurindo Fernandes Baleeiro Copyright © : Universidade Estadual de Montes Claros

Copyright © : Universidade Estadual de Montes Claros

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

REITOR Paulo César Gonçalves de Almeida VICE-REITORA Tânia Marta Maia Fialho DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota COORDENADOR DA IMPRENSA UNIVERSITÁRIA Humberto Velloso Reis REVISÃO Benedito Said

B183g

Zaurindo Fernandes Baleeiro

CONSELHO EDITORIAL Adherbal Murta de Almeida Maria Cleonice Souto de Freitas Reivaldo Canela Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda

CRIAÇÃO/ IMPRESSÃO/ MONTAGEM Imprensa Universitária/ Unimontes EDITORAÇÃO GRÁFICA/CAPA Maria Rodrigues Mendes

Baleeiro, Zaurindo Fernandes. Gameleiras : dos primórdios à emancipação / Zaurindo Fernandes Baleeiro. – Montes Claros : Ed. Unimontes, 2006. 111 p. : il.

REITOR Paulo César Gonçalves de Almeida VICE-REITORA Tânia Marta Maia Fialho DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Giulliano Vieira Mota COORDENADOR DA IMPRENSA UNIVERSITÁRIA Humberto Velloso Reis REVISÃO Said/ Telma

B183g

ISBN: 85-7739-016-0

CRIAÇÃO/ IMPRESSÃO/ MONTAGEM Imprensa Universitária/ Unimontes EDITORAÇÃO GRÁFICA/CAPA Maria Rodrigues Mendes

Baleeiro, Zaurindo Fernandes. Gameleiras : dos primórdios à emancipação / Zaurindo Fernandes Baleeiro. – Montes Claros : Ed. Unimontes, 2006. 111 p. : il.

ISBN: 85-7739-016-0

1. Gameleiras (MG) – História. 2. Gameleiras (MG) – Aspectos culturais. 3. Gameleiras (MG) – Aspectos sociais. I. Título.

1. Gameleiras (MG) – História. 2. Gameleiras (MG) – Aspectos culturais. 3. Gameleiras (MG) – Aspectos sociais. I. Título.

CDD–981.51 Catalogação: Divisão de Biblioteca Central Professor Antônio Jorge – Unimontes Ficha catalográfica: Bibliotecária Sônia Marcelino – CRB/6 2247

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CONSELHO EDITORIAL Adherbal Murta de Almeida Maria Cleonice Souto de Freitas Reivaldo Canela Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda

CDD–981.51 Catalogação: Divisão de Biblioteca Central Professor Antônio Jorge – Unimontes Ficha catalográfica: Bibliotecária Sônia Marcelino – CRB/6 2247

2006 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

2006 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Prof. Darcy Ribeiro – s/n Cx. Postal: 126 – Cep: 39401-089 – Montes Claros (MG) – e-mail: editora@unimontes.br - Fone:(038) 3229-8210

EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Prof. Darcy Ribeiro – s/n Cx. Postal: 126 – Cep: 39401-089 – Montes Claros (MG) – e-mail: editora@unimontes.br - Fone:(038) 3229-8210

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

AGRADEÇO

AGRADEÇO

A Deus, pelo dom da vida. Aos professores da UNIMONTES, especialmente à professora Regina Célia Caleiro, pela orientação precisa e competente, pelo estímulo e confiança depositados em mim.

A Deus, pelo dom da vida. Aos professores da UNIMONTES, especialmente à professora Regina Célia Caleiro, pela orientação precisa e competente, pelo estímulo e confiança depositados em mim.

Aos meus familiares, pelo apoio e pela estabilidade proporcionada.

Aos meus familiares, pelo apoio e pela estabilidade proporcionada.

Ao soldado Josdag Pedreira do Oliveira e à professora Arlene Nunes Almeida, pelas observações e sugestões.

Ao soldado Josdag Pedreira do Oliveira e à professora Arlene Nunes Almeida, pelas observações e sugestões.

À professora Márcia Pereira da Silva, por uma frase que me comoveu: “o importante não é onde a gente chega, é de onde a gente sai”.

À professora Márcia Pereira da Silva, por uma frase que me comoveu: “o importante não é onde a gente chega, é de onde a gente sai”.

Agradeço de coração a todos os entrevistados pela educação com que me receberam e pelas informações prestadas no decorrer desta pesquisa, revelando, assim, os seus conhecimentos em prol da História.

Agradeço de coração a todos os entrevistados pela educação com que me receberam e pelas informações prestadas no decorrer desta pesquisa, revelando, assim, os seus conhecimentos em prol da História.

Finalmente, agradeço a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente na realização desta pesquisa.

Finalmente, agradeço a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente na realização desta pesquisa.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

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APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO

“Único campo válido da experiência moderna, a cidade é corpo onde se inscrevem emoções e paixões, experiências intransmissíveis e singulares que o poetaalegorista canta.” A citação de Olgária Matos, publicada na obra Os arcanos do inteiramente ouro em 1989, faz referência clara aos grandes centros urbanos, locais em que a permanência e a transformação misturam memória e expectativas futuras. No entanto, para moradores mais afastados das capitais de um dado país, o crescimento urbano, mesmo tímido, tem o mesmo efeito.

“Único campo válido da experiência moderna, a cidade é corpo onde se inscrevem emoções e paixões, experiências intransmissíveis e singulares que o poetaalegorista canta.” A citação de Olgária Matos, publicada na obra Os arcanos do inteiramente ouro em 1989, faz referência clara aos grandes centros urbanos, locais em que a permanência e a transformação misturam memória e expectativas futuras. No entanto, para moradores mais afastados das capitais de um dado país, o crescimento urbano, mesmo tímido, tem o mesmo efeito.

Numa primeira análise, a história das cidades, se consideradas no mesmo país e no mesmo tempo histórico, parece que se repete; do pequeno arraial, para o distrito e a fundação do município, passando pela construção da Igreja, do cemitério, dos primeiros bairros; normalmente desenvolvem atividades agrárias e comércio de pequeno porte para, enfim, desenvolverem o centro urbano e a industrialização. Se é verdade que em alguns pontos as cidades crescem de forma mais ou menos igual, também é verdade que em outros os municípios guardam peculiaridades inconfundíveis. Nesse sentido, faz-se urgente estudar a história de municípios do interior do país na compreensão da história urbana do Brasil.

Numa primeira análise, a história das cidades, se consideradas no mesmo país e no mesmo tempo histórico, parece que se repete; do pequeno arraial, para o distrito e a fundação do município, passando pela construção da Igreja, do cemitério, dos primeiros bairros; normalmente desenvolvem atividades agrárias e comércio de pequeno porte para, enfim, desenvolverem o centro urbano e a industrialização. Se é verdade que em alguns pontos as cidades crescem de forma mais ou menos igual, também é verdade que em outros os municípios guardam peculiaridades inconfundíveis. Nesse sentido, faz-se urgente estudar a história de municípios do interior do país na compreensão da história urbana do Brasil.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

De forma geral, informações acerca de diferentes municípios brasileiros tem sido divulgadas em dois tipos de trabalhos; aqueles produzidos no seio da academia, como maior ou menor rigor metodológico, para conclusão de mestrados e doutorados; e os que chegam ao público como fruto da demanda da população local em conhecer sua própria história.

De forma geral, informações acerca de diferentes municípios brasileiros tem sido divulgadas em dois tipos de trabalhos; aqueles produzidos no seio da academia, como maior ou menor rigor metodológico, para conclusão de mestrados e doutorados; e os que chegam ao público como fruto da demanda da população local em conhecer sua própria história.

Zaurindo Fernandes Baleeiro, filho da região, escreveu o texto que ora apresento por ocasião do Curso de Especialização em História da Universidade Estadual de Montes Claros — UNIMONTES, com a orientação da Professora Doutora Regina Célia Lima Caleiro. O produto da investigação do autor é o levantamento parcial da história de Gameleiras, feito com a reunião de informações até então espalhadas em materiais bibliográficos vários com depoimentos orais. No primeiro capítulo, o autor trata da fundação do “sítio dos Mártires e das Piranhas”, do arraial do “Brejo dos Mártires”, do distrito de “Boa Vista do Tremendal” e depois de “Gameleiras”. No segundo capítulo, o autor descreve as primeiras experiências do município de Gameleiras propriamente dito e as histórias de seus habitantes. No capítulo terceiro aparecem apontamentos da cidade após 1950. Merece destaque a lista de “expressões e ditos populares do povo de Gameleiras’, de leitura interessante e curiosa

Zaurindo Fernandes Baleeiro, filho da região, escreveu o texto que ora apresento por ocasião do Curso de Especialização em História da Universidade Estadual de Montes Claros — UNIMONTES, com a orientação da Professora Doutora Regina Célia Lima Caleiro. O produto da investigação do autor é o levantamento parcial da história de Gameleiras, feito com a reunião de informações até então espalhadas em materiais bibliográficos vários com depoimentos orais. No primeiro capítulo, o autor trata da fundação do “sítio dos Mártires e das Piranhas”, do arraial do “Brejo dos Mártires”, do distrito de “Boa Vista do Tremendal” e depois de “Gameleiras”. No segundo capítulo, o autor descreve as primeiras experiências do município de Gameleiras propriamente dito e as histórias de seus habitantes. No capítulo terceiro aparecem apontamentos da cidade após 1950. Merece destaque a lista de “expressões e ditos populares do povo de Gameleiras’, de leitura interessante e curiosa

No conjunto, o livro representa um esforço bem sucedido de um povo para conhecer sua própria história, na busca da manutenção e valorização da memória.

No conjunto, o livro representa um esforço bem sucedido de um povo para conhecer sua própria história, na busca da manutenção e valorização da memória.

Márcia Pereira da Silva Doutora em História pela UFMG Docente da UNIMONTES

Márcia Pereira da Silva Doutora em História pela UFMG Docente da UNIMONTES

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................. CAPÍTULO I – A origem do Sítio dos Mártires e das Piranhas............................................................................ A fundação do arraial dos Mártires................................. A introdução da agropecuária em Gameleiras............. A origem do nome Gameleiras e de alguns povoados da Zona Rural................................................................. A violência no Brejo dos Mártires................................. O distrito de Brejo dos Mártires....................................... O bispo D. Lúcio Antunes de Souza............................... CAPÍTULO II – A fundação do povoado de Gameleiras..................................................................... Os primeiros habitantes de Gameleiras........................ O mercado......................................................................... A transferência do distrito de Brejo dos Mártires para a povoação de Gameleiras.............................................. A produção de alimentos................................................ A agricultura................................................................... O cultivo do arroz e sua comercialização.................... O cultivo da cana-de-açúcar.......................................... Produção de milho......................................................... O cultivo da mamona...................................................... O cultivo da mandioca.................................................... A caça e a pesca.............................................................. A produção dos bens de consumo................................. A fabricação do sabão..................................................... A fabricação de catres e colchões.................................

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

SUMÁRIO

9 21 26 29 29 33 36 36 39 40 41 41 43 43 44 46 46 47 47 47 50 50 50 9

INTRODUÇÃO.................................................................. CAPÍTULO I – A origem do Sítio dos Mártires e das Piranhas............................................................................ A fundação do arraial dos Mártires................................. A introdução da agropecuária em Gameleiras............. A origem do nome Gameleiras e de alguns povoados da Zona Rural................................................................. A violência no Brejo dos Mártires................................. O distrito de Brejo dos Mártires....................................... O bispo D. Lúcio Antunes de Souza............................... CAPÍTULO II – A fundação do povoado de Gameleiras..................................................................... Os primeiros habitantes de Gameleiras........................ O mercado......................................................................... A transferência do distrito de Brejo dos Mártires para a povoação de Gameleiras.............................................. A produção de alimentos................................................ A agricultura................................................................... O cultivo do arroz e sua comercialização.................... O cultivo da cana-de-açúcar.......................................... Produção de milho......................................................... O cultivo da mamona...................................................... O cultivo da mandioca.................................................... A caça e a pesca.............................................................. A produção dos bens de consumo................................. A fabricação do sabão..................................................... A fabricação de catres e colchões.................................

9 21 26 29 29 33 36 36 39 40 41 41 43 43 44 46 46 47 47 47 50 50 50 9


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Os teares.......................................................................... 51 O isqueiro.......................................................................... 51 Os utensílios domésticos................................................. 51 As construções............................................................... 49 Avião X medo.................................................................. 50 Saúde.............................................................................. 50 Educação......................................................................... 54 CAPÍTULO III – A chegada do progresso ao distrito de Gameleira após a década de 1950.................... 65 Máquina de beneficiar arroz.......................................... 65 O trator............................................................................. 66 O transporte...................................................................... 67 O rádio.............................................................................. 69 Os benefícios de aposentadorias dos trabalhadores rurais............................................................................... 70 Água encanada................................................................ 71 A energia elétrica........................................................... 71 Brincadeiras populares................................................. 72 O telefone....................................................................... 74 As festas e tradições culturais....................................... 74 A Quaresma.................................................................... 75 Os evangélicos em Gameleiras.................................... 76 As novenas...................................................................... 77 As festas juninas............................................................ 77 A novena do Bom Jesus em Jacu das Piranhas e em Boqueirão do Encantado.............................................. 79 A excursão de Jacaré Grande......................................... 79 As festas de casamento.................................................. 81 As lendas........................................................................ 84 Cronologia histórica........................................................ 84 O processo de emancipação de Gameleiras................. 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................... 93 FONTES.......................................................................... 97 REFERÊNCIAS............................................................... 99 ENTREVISTAS............................................................. 101 ANEXOS.........................................................................103

Os teares.......................................................................... 51 O isqueiro.......................................................................... 51 Os utensílios domésticos................................................. 51 As construções............................................................... 49 Avião X medo.................................................................. 50 Saúde.............................................................................. 50 Educação......................................................................... 54 CAPÍTULO III – A chegada do progresso ao distrito de Gameleira após a década de 1950.................... 65 Máquina de beneficiar arroz.......................................... 65 O trator............................................................................. 66 O transporte...................................................................... 67 O rádio.............................................................................. 69 Os benefícios de aposentadorias dos trabalhadores rurais............................................................................... 70 Água encanada................................................................ 71 A energia elétrica........................................................... 71 Brincadeiras populares................................................. 72 O telefone....................................................................... 74 As festas e tradições culturais....................................... 74 A Quaresma.................................................................... 75 Os evangélicos em Gameleiras.................................... 76 As novenas...................................................................... 77 As festas juninas............................................................ 77 A novena do Bom Jesus em Jacu das Piranhas e em Boqueirão do Encantado.............................................. 79 A excursão de Jacaré Grande......................................... 79 As festas de casamento.................................................. 81 As lendas........................................................................ 84 Cronologia histórica........................................................ 84 O processo de emancipação de Gameleiras................. 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................... 93 FONTES.......................................................................... 97 REFERÊNCIAS............................................................... 99 ENTREVISTAS............................................................. 101 ANEXOS.........................................................................103

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

ameleiras, município emancipado de Monte Azul, pela lei 12.030 de 21/12/1995, está localizado na mesorregião norte de Minas Gerais e na microrregião de Janaúba (veja mapa no anexo n°1).

G

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Suas coordenadas geográficas são: Lat s 15º 041 5211 2. Longw 43º 071 2611 4 e Altitude 515 m, na sede da cidade.

Suas coordenadas geográficas são: Lat s 15º 041 5211 2. Longw 43º 071 2611 4 e Altitude 515 m, na sede da cidade.

O município possui uma área territorial de 1.753, 80 km2. A porção leste é ocupada por pequenos e médios proprietários rurais, a sede da cidade e a maioria dos povoados rurais. Na porção oeste, encontra-se um vazio demográfico, porque as terras dessa região pertencem a grandes latifundiários que se dedicam à pecuária.

O município possui uma área territorial de 1.753, 80 km2. A porção leste é ocupada por pequenos e médios proprietários rurais, a sede da cidade e a maioria dos povoados rurais. Na porção oeste, encontra-se um vazio demográfico, porque as terras dessa região pertencem a grandes latifundiários que se dedicam à pecuária.

Sua topografia é plana, pertence à bacia hidrográfica do rio Verde Grande.

Sua topografia é plana, pertence à bacia hidrográfica do rio Verde Grande.

Os principais rios são: Gorutuba, Pacuí, Verde Grande, Coronel, Jacu das Piranhas e Gameleira.

Os principais rios são: Gorutuba, Pacuí, Verde Grande, Coronel, Jacu das Piranhas e Gameleira.

Distância de Monte Azul: 55 km de estrada de terra.

Distância de Monte Azul: 55 km de estrada de terra.

Distância de Mato Verde: 60 km de estrada de terra.

Distância de Mato Verde: 60 km de estrada de terra.

Distância de Montes Claros: 250 km.

Distância de Montes Claros: 250 km.

Distância de Belo Horizonte: 700 km.

Distância de Belo Horizonte: 700 km. 11

ameleiras, município emancipado de Monte Azul, pela lei 12.030 de 21/12/1995, está localizado na mesorregião norte de Minas Gerais e na microrregião de Janaúba (veja mapa no anexo n°1).

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

A população foi estimada em 5.263 habitantes, no censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2000.

A população foi estimada em 5.263 habitantes, no censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2000.

A principal atividade econômica é a agropecuária.

A principal atividade econômica é a agropecuária.

A barragem sobre o rio Gameleira apresenta um volume útil de 1.750.000m3, com vazão média regularizadora de 100 l/s, sendo um importante recurso hídrico a ser aproveitado para piscicultura, irrigação ou turismo.

A barragem sobre o rio Gameleira apresenta um volume útil de 1.750.000m3, com vazão média regularizadora de 100 l/s, sendo um importante recurso hídrico a ser aproveitado para piscicultura, irrigação ou turismo.

Em julho de 2003, a CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) elaborou o projeto para instalar o sistema de irrigação nesta barragem. O orçamento desse empreendimento foi avaliado em RS 927.000.20.

Em julho de 2003, a CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) elaborou o projeto para instalar o sistema de irrigação nesta barragem. O orçamento desse empreendimento foi avaliado em RS 927.000.20.

A execução desse projeto é de fundamental importância para a economia do município de Gameleiras. Portanto, a população espera de seus representantes políticos melhor atuação nesse sentido.

A execução desse projeto é de fundamental importância para a economia do município de Gameleiras. Portanto, a população espera de seus representantes políticos melhor atuação nesse sentido.

O que se pretende com este trabalho é discutir como se iniciou o processo de ocupação no território do atual município de Gameleiras, inicialmente ocupado por tribos indígenas da nação Tapuia. Posteriormente, investigar as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais ocorridas no decurso da história do município.

O que se pretende com este trabalho é discutir como se iniciou o processo de ocupação no território do atual município de Gameleiras, inicialmente ocupado por tribos indígenas da nação Tapuia. Posteriormente, investigar as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais ocorridas no decurso da história do município.

Para compreender a origem da povoação do arraial da Gameleira, é preciso analisar a origem do Brejo dos Mártires, do Sítio dos Mártires e do Sítio das Piranhas no contexto do bandeirismo.

Para compreender a origem da povoação do arraial da Gameleira, é preciso analisar a origem do Brejo dos Mártires, do Sítio dos Mártires e do Sítio das Piranhas no contexto do bandeirismo.

A interiorização da colonização brasileira através dos bandeirantes é significativa na história de Minas Gerais e do Brasil e constitui uma miríade de temas que se ramificam em vários e significativos momentos históricos,

A interiorização da colonização brasileira através dos bandeirantes é significativa na história de Minas Gerais e do Brasil e constitui uma miríade de temas que se ramificam em vários e significativos momentos históricos,

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

que, notadamente, neste trabalho, onde se analisa a influência dessa interiorização da colonização brasileira no espaço geográfico norte-mineiro e, sobretudo, no Sítio dos Mártires e no Sítio das Piranhas.

que, notadamente, neste trabalho, onde se analisa a influência dessa interiorização da colonização brasileira no espaço geográfico norte-mineiro e, sobretudo, no Sítio dos Mártires e no Sítio das Piranhas.

A primeira expedição a percorrer o sertão norte-mineiro foi a Bandeira comandada pelo castelhano Francisco Bruzza Spinosa. Diogo de Vasconcelos afirma o pioneirismo de Spinosa quando diz o seguinte:

A primeira expedição a percorrer o sertão norte-mineiro foi a Bandeira comandada pelo castelhano Francisco Bruzza Spinosa. Diogo de Vasconcelos afirma o pioneirismo de Spinosa quando diz o seguinte:

A expedição de Spinosa, com efeito, a primeira que penetrou nos sertões, partiu de Porto Seguro em março de 1554, data esta averiguada, em vista da carta do padre Anchieta, dirigida em julho desse ano ao provincial dos jesuítas, dando-lhe conta do serviço em que andava o padre João de Aspicuelta Navarro, como capelão e missionário daquela comitiva.1

A expedição de Spinosa, com efeito, a primeira que penetrou nos sertões, partiu de Porto Seguro em março de 1554, data esta averiguada, em vista da carta do padre Anchieta, dirigida em julho desse ano ao provincial dos jesuítas, dando-lhe conta do serviço em que andava o padre João de Aspicuelta Navarro, como capelão e missionário daquela comitiva.1

Brasiliano Braz descreve a garra, a coragem, o heroísmo e o espírito de sacrifício desses pioneiros do bandeirismo na missão de descortinar o sertão e interiorizar a civilização.

Brasiliano Braz descreve a garra, a coragem, o heroísmo e o espírito de sacrifício desses pioneiros do bandeirismo na missão de descortinar o sertão e interiorizar a civilização.

Esta arrancada a pé, da Bandeira de Espinosa pelo interior do sertão desconhecido, habitado por feras e índios cruéis e sanguinários, nos comove mais pelo espírito de sacrifício verdadeiramente cristão daqueles pioneiros do bandeirismo. Ela muito se assemelha em grandeza àquela outra peregrinação de que nos fala a Bíblia Sagrada quando Moisés, obedecendo a ordem do Senhor, voltou ao Egito para arrancar do cativeiro as Doze tribos de Israel e conduzi-las à terra prometida.2

Esta arrancada a pé, da Bandeira de Espinosa pelo interior do sertão desconhecido, habitado por feras e índios cruéis e sanguinários, nos comove mais pelo espírito de sacrifício verdadeiramente cristão daqueles pioneiros do bandeirismo. Ela muito se assemelha em grandeza àquela outra peregrinação de que nos fala a Bíblia Sagrada quando Moisés, obedecendo a ordem do Senhor, voltou ao Egito para arrancar do cativeiro as Doze tribos de Israel e conduzi-las à terra prometida.2

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VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p.14. BRAZ. São Francisco nos Caminhos da História. 1977, p. 38.

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VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p.14. BRAZ. São Francisco nos Caminhos da História. 1977, p. 38. 13


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

A expedição Spinosa-Navarro encontrou vários obstáculos na tentativa de desbravar o sertão. Talvez, ela não tenha alcançado os objetivos de imediato, mas serviu de suporte para conhecer o interior, conforme nos explica Diogo de Vasconcelos: “Spinosa tomou as latitudes, examinou os terrenos, e colheu informações, encontrou indícios geológicos de ouro e de outros metais, sobre certificados também mais positivos da região diamantina, como de fato mais tarde se descobriu”.3

A expedição Spinosa-Navarro encontrou vários obstáculos na tentativa de desbravar o sertão. Talvez, ela não tenha alcançado os objetivos de imediato, mas serviu de suporte para conhecer o interior, conforme nos explica Diogo de Vasconcelos: “Spinosa tomou as latitudes, examinou os terrenos, e colheu informações, encontrou indícios geológicos de ouro e de outros metais, sobre certificados também mais positivos da região diamantina, como de fato mais tarde se descobriu”.3

Além da expedição Espinosa - Navarro, outras bandeiras foram organizadas para conquistar o sertão. Eis alguns bandeirantes mencionados por Diogo de Vasconcelos que se empenharam nessa conquista: Dom Vasco Rodrigues Calda, Martim de Carvalho, Sebastião Fernandes Tourinho, Antônio Dias Adorno, Fernão Dias e Matias Cardoso de Almeida.

Além da expedição Espinosa - Navarro, outras bandeiras foram organizadas para conquistar o sertão. Eis alguns bandeirantes mencionados por Diogo de Vasconcelos que se empenharam nessa conquista: Dom Vasco Rodrigues Calda, Martim de Carvalho, Sebastião Fernandes Tourinho, Antônio Dias Adorno, Fernão Dias e Matias Cardoso de Almeida.

Indiscutivelmente, o bandeirismo foi responsável pela interiorização da colonização brasileira e a descoberta das minas.

Indiscutivelmente, o bandeirismo foi responsável pela interiorização da colonização brasileira e a descoberta das minas.

A data da descoberta do ouro nas gerais nunca foi bem esclarecida. Brasiliano Braz estima que foi no Governo de Artur de Sá e Menezes, após julho de 1.697. Mas Afonso d’ E. Taunay antecipa essa data para 1.681.

A data da descoberta do ouro nas gerais nunca foi bem esclarecida. Brasiliano Braz estima que foi no Governo de Artur de Sá e Menezes, após julho de 1.697. Mas Afonso d’ E. Taunay antecipa essa data para 1.681.

Não é de fundamental importância aprofundar a discussão para esclarecer os detalhes do bandeirismo, pois os bandeirantes, fascinados por fabulosa riqueza na região aurífera, não demonstraram interesse em se fixar no norte de Minas Gerais para desenvolver o povoamento dessa região. Daniel Antunes Júnior, ilustre historia-

Não é de fundamental importância aprofundar a discussão para esclarecer os detalhes do bandeirismo, pois os bandeirantes, fascinados por fabulosa riqueza na região aurífera, não demonstraram interesse em se fixar no norte de Minas Gerais para desenvolver o povoamento dessa região. Daniel Antunes Júnior, ilustre historia-

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VASCONCELOS. História Antiga das Minas Gerais. 1974, p. 54.

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VASCONCELOS. História Antiga das Minas Gerais. 1974, p. 54.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

dor da cidade de Espinosa-MG, questiona a atitude dos bandeirantes que sucederam Spinosa.

dor da cidade de Espinosa-MG, questiona a atitude dos bandeirantes que sucederam Spinosa.

... Apesar do caminho aberto nos fascinantes mistérios do “hinterland” e das valiosas informações da primeira expedição comandada por Francisco Bruza Spinosa, nenhuma delas se mostrou interessada ou capaz de fixar nos sertões bravios de nossa terra. Tudo o que essas outras expedições fizeram foi a obra de vandalismo e rapinagem em meio a uma confusão geral, imposta por bandos de malfeitores em busca de fortuna fácil.4

... Apesar do caminho aberto nos fascinantes mistérios do “hinterland” e das valiosas informações da primeira expedição comandada por Francisco Bruza Spinosa, nenhuma delas se mostrou interessada ou capaz de fixar nos sertões bravios de nossa terra. Tudo o que essas outras expedições fizeram foi a obra de vandalismo e rapinagem em meio a uma confusão geral, imposta por bandos de malfeitores em busca de fortuna fácil.4

A colonização do sertão norte–mineiro teve início entre 1.663 e 1.690, pelo Mestre-de-Campo Antônio Guedes Brito, através dos currais de gado do rio São Francisco e do rio Verde, dentro dos limites do Morgado Guedes Brito, criado por seus pais Antônio de Brito Correia e sua esposa D. Maria Guedes.

A colonização do sertão norte–mineiro teve início entre 1.663 e 1.690, pelo Mestre-de-Campo Antônio Guedes Brito, através dos currais de gado do rio São Francisco e do rio Verde, dentro dos limites do Morgado Guedes Brito, criado por seus pais Antônio de Brito Correia e sua esposa D. Maria Guedes.

O potentado Antônio Guedes de Brito foi contratado pelo governador-geral para conquistar e pacificar o rio São Francisco infestado de bandidos. Diogo de Vasconcelos explica o porquê dessa escolha:

O potentado Antônio Guedes de Brito foi contratado pelo governador-geral para conquistar e pacificar o rio São Francisco infestado de bandidos. Diogo de Vasconcelos explica o porquê dessa escolha:

[...] já tinha um corpo de armas em defensiva e que facilmente podia com este marchar à conquista do rio. Era também o homem de confiança, que podia levantar forças no sertão. Contratado, pois, o serviço, deu-lhe o Governador a patente de Mestre – de Campo, e a provisão de Regente do São Francisco, ajuntando – lhe a doação de cento e sessenta léguas, que mediriam do Morro do Chapéu até onde se completavam, em rumo às nascenças do rio Das Velhas.5

[...] já tinha um corpo de armas em defensiva e que facilmente podia com este marchar à conquista do rio. Era também o homem de confiança, que podia levantar forças no sertão. Contratado, pois, o serviço, deu-lhe o Governador a patente de Mestre – de Campo, e a provisão de Regente do São Francisco, ajuntando – lhe a doação de cento e sessenta léguas, que mediriam do Morro do Chapéu até onde se completavam, em rumo às nascenças do rio Das Velhas.5

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ANTUNES JÚNIOR. Lençóis do Rio Verde: Crônica do Meu Sertão. [19—], p. 16. 5 VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p. 21-22.

ANTUNES JÚNIOR. Lençóis do Rio Verde: Crônica do Meu Sertão. [19—], p. 16. 5 VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p. 21-22.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

As Conquistas de Antônio Guedes de Brito foram analisadas por Simeão Ribeiro Pires da seguinte maneira:

As Conquistas de Antônio Guedes de Brito foram analisadas por Simeão Ribeiro Pires da seguinte maneira:

[...] Antônio Guedes de Brito, ao integralizar por doações, heranças e compras os seus dilatados domínios, à frente de sua milícia, subiu o São Francisco percorrendo os seus afluentes, como o rio Das Velhas e o rio Jequitaí, reprimindo as constantes desordens dos fascinerosos. Entretanto, logo após realizar o seu sonho de papa – terras, veio a falecer.6

[...] Antônio Guedes de Brito, ao integralizar por doações, heranças e compras os seus dilatados domínios, à frente de sua milícia, subiu o São Francisco percorrendo os seus afluentes, como o rio Das Velhas e o rio Jequitaí, reprimindo as constantes desordens dos fascinerosos. Entretanto, logo após realizar o seu sonho de papa – terras, veio a falecer.6

Após a morte prematura de Antônio Guedes de Brito, seu corpo de armas foi dissolvendo gradativamente, e a desordem aumentando no vasto latifúndio sem dono. Mas Diogo de Vasconcelos afirma que, pouco tempo depois, a ordem foi restabelecida pelo coronel Matias Cardoso de Almeida. “Não levou muito tempo a chegar o Mestre – de – Campo, Matias Cardoso de Almeida, e a fundar nas margens do grande rio o arraial de seu nome, fixando então a era definitiva da conquista.”7

Após a morte prematura de Antônio Guedes de Brito, seu corpo de armas foi dissolvendo gradativamente, e a desordem aumentando no vasto latifúndio sem dono. Mas Diogo de Vasconcelos afirma que, pouco tempo depois, a ordem foi restabelecida pelo coronel Matias Cardoso de Almeida. “Não levou muito tempo a chegar o Mestre – de – Campo, Matias Cardoso de Almeida, e a fundar nas margens do grande rio o arraial de seu nome, fixando então a era definitiva da conquista.”7

O arraial fundado por Matias Cardoso foi transferido de lugar, pelo coronel Januário Cardoso devido a sua má posição geográfica. Pois se encontrava no leito maior do rio, sujeito a inundações periódicas.

O arraial fundado por Matias Cardoso foi transferido de lugar, pelo coronel Januário Cardoso devido a sua má posição geográfica. Pois se encontrava no leito maior do rio, sujeito a inundações periódicas.

Segundo Diogo de Vasconcelos, quando o coronel Januário chegou ao arraial de Matias Cardoso identificou a seguinte situação:

Segundo Diogo de Vasconcelos, quando o coronel Januário chegou ao arraial de Matias Cardoso identificou a seguinte situação:

Verificou em pouco tempo a má posição em que estava colocado abaixo das enchentes pelo que transferiu a sede para um sítio a pouca distância, que também reconheceu ao nível de igual inconveniência. Em conseqüência resolveu passar – se para um local in-

Verificou em pouco tempo a má posição em que estava colocado abaixo das enchentes pelo que transferiu a sede para um sítio a pouca distância, que também reconheceu ao nível de igual inconveniência. Em conseqüência resolveu passar – se para um local in-

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PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 46. VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p. 22.

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PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 46. VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p. 22.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

teiramente livre do rio e fundou o seu novo arraial na encosta de três colinas, o qual, embora fosse conhecido por muito tempo com o nome de Januário Cardoso, veio depois a chamar – se Morrinhos, em conseqüência de sua feição topográfica...8

teiramente livre do rio e fundou o seu novo arraial na encosta de três colinas, o qual, embora fosse conhecido por muito tempo com o nome de Januário Cardoso, veio depois a chamar – se Morrinhos, em conseqüência de sua feição topográfica...8

Morrinhos foi um importante centro comercial no norte de Minas Gerais e um dos mais antigos arraiais do território mineiro.

Morrinhos foi um importante centro comercial no norte de Minas Gerais e um dos mais antigos arraiais do território mineiro.

Vários tropeiros se deslocavam de Lençóis do Rio Verde (Espinosa), Tremedal (Monte Azul), Rapadura (Mato Verde) e do Brejo dos Mártires para Morrinhos, levando e trazendo mercadorias.

Vários tropeiros se deslocavam de Lençóis do Rio Verde (Espinosa), Tremedal (Monte Azul), Rapadura (Mato Verde) e do Brejo dos Mártires para Morrinhos, levando e trazendo mercadorias.

Antonino da Silva Neves descreve os caminhos percorridos por esses tropeiros.

Antonino da Silva Neves descreve os caminhos percorridos por esses tropeiros.

[...] Constam – se três caminhos pelos quais se transitam os que se dirigem a Morrinhos: o do Brejo dos Mártires, que é o mais central, mais curto e mais escabroso; o de Riachinho, que é o mais austral, bem transitável e cultivado; o de Santa Rita, o mais septentrional, largo, comprido, plano, sempre margeando o rio Verde Pequeno quase intransito na estação chuvosa, devido aos igapós.9

[...] Constam – se três caminhos pelos quais se transitam os que se dirigem a Morrinhos: o do Brejo dos Mártires, que é o mais central, mais curto e mais escabroso; o de Riachinho, que é o mais austral, bem transitável e cultivado; o de Santa Rita, o mais septentrional, largo, comprido, plano, sempre margeando o rio Verde Pequeno quase intransito na estação chuvosa, devido aos igapós.9

Durante a realização desta pesquisa, um dos principais obstáculos foi a carência de fontes. No início, deparamos com um mau ato atribuído ao Coronel Donato Gonçalves Dias, chefe político da cidade de Boa Vista do Tremedal, (atual, Monte Azul) em arrancar uma página do livro de tombo com as descrições do Sítio dos Márti-

Durante a realização desta pesquisa, um dos principais obstáculos foi a carência de fontes. No início, deparamos com um mau ato atribuído ao Coronel Donato Gonçalves Dias, chefe político da cidade de Boa Vista do Tremedal, (atual, Monte Azul) em arrancar uma página do livro de tombo com as descrições do Sítio dos Márti-

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VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p. 34. NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 122. 17

VASCONCELOS. História Média de Minas Gerais. 1974, p. 34. NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 122. 17


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

res e das Piranhas, o que será discutido no primeiro capítulo deste trabalho. Outro problema foi referente a uma transferência de cartório ocorrida em 1962. O Sr João de Oliveira Primo explicou o fato da seguinte maneira.

res e das Piranhas, o que será discutido no primeiro capítulo deste trabalho. Outro problema foi referente a uma transferência de cartório ocorrida em 1962. O Sr João de Oliveira Primo explicou o fato da seguinte maneira.

O senhor Ilídio José de Oliveira estava exercendo o cargo de escrivão do Cartório de Paz Registro Civil do Distrito de Gameleira, quando o Dr Porfírio dos Reis Leal (Dr. Leal) foi eleito nas eleições de 1962, derrotando o candidato Lamartine Sacramento, apoiado pelo Coronel Levi Sousa e Silva. Antes que o prefeito eleito (Dr. Leal) tomasse posse, a liderança política que o apoiou levou a documentação do cartório do distrito de Gameleira para a cidade de Monte Azul, com a intenção de transferir o mesmo, a um correligionário político. Na oportunidade, o Sr Antônio Fernandes Barbosa assumiu o cargo de escrivão do cartório. Insatisfeito com a atitude da oposição política, provavelmente, o Sr Ilídio não entregou toda a documentação do cartório ao novo escrivão.10

O senhor Ilídio José de Oliveira estava exercendo o cargo de escrivão do Cartório de Paz Registro Civil do Distrito de Gameleira, quando o Dr Porfírio dos Reis Leal (Dr. Leal) foi eleito nas eleições de 1962, derrotando o candidato Lamartine Sacramento, apoiado pelo Coronel Levi Sousa e Silva. Antes que o prefeito eleito (Dr. Leal) tomasse posse, a liderança política que o apoiou levou a documentação do cartório do distrito de Gameleira para a cidade de Monte Azul, com a intenção de transferir o mesmo, a um correligionário político. Na oportunidade, o Sr Antônio Fernandes Barbosa assumiu o cargo de escrivão do cartório. Insatisfeito com a atitude da oposição política, provavelmente, o Sr Ilídio não entregou toda a documentação do cartório ao novo escrivão.10

Não se tem uma informação precisa sobre onde estão os documentos. O que se tem notícia é que, em 1890, Brejo dos Mártires já era Distrito de Boa Vista do Tremedal (Monte Azul) e, em 1915, a sede do distrito foi transferida para o povoado da Gameleira, e os documentos mais antigos que se encontram no cartório são do final da década de 1920.

Não se tem uma informação precisa sobre onde estão os documentos. O que se tem notícia é que, em 1890, Brejo dos Mártires já era Distrito de Boa Vista do Tremedal (Monte Azul) e, em 1915, a sede do distrito foi transferida para o povoado da Gameleira, e os documentos mais antigos que se encontram no cartório são do final da década de 1920.

Com base em algumas bibliografias e nas fontes orais, foi possível realizar uma pesquisa que permite uma discussão analítica das origens e das transformações ocorridas na história do município de Gameleiras.

Com base em algumas bibliografias e nas fontes orais, foi possível realizar uma pesquisa que permite uma discussão analítica das origens e das transformações ocorridas na história do município de Gameleiras.

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O depoente não aceitou gravar a entrevista citada, 2005.

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O depoente não aceitou gravar a entrevista citada, 2005.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

O texto foi dividido em três capítulos. No primeiro, estão sendo abordados:

O texto foi dividido em três capítulos. No primeiro, estão sendo abordados:

z O processo de ocupação do homem branco na região da qual, futuramente, surgiria o Sítio dos Mártires e o das Piranhas.

z O processo de ocupação do homem branco na região da qual, futuramente, surgiria o Sítio dos Mártires e o das Piranhas.

z

A fundação do arraial de Brejo dos Mártires.

z

z A origem do nome Gameleira e de alguns povoados da Zona Rural.

A fundação do arraial de Brejo dos Mártires.

z A origem do nome Gameleira e de alguns povoados da Zona Rural.

z

A violência no Brejo dos Mártires.

z

A violência no Brejo dos Mártires.

z

O Distrito de Brejo dos Mártires.

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O Distrito de Brejo dos Mártires.

O segundo capítulo discute a fundação do povoado de Gameleira, a transferência do Distrito de Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira e as dificuldades enfrentadas pela população da região até a década de 1960.

O segundo capítulo discute a fundação do povoado de Gameleira, a transferência do Distrito de Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira e as dificuldades enfrentadas pela população da região até a década de 1960.

O terceiro e último capítulo aborda o surgimento gradativo do progresso na região a partir do final da década de 1950, as festas culturais e o processo de emancipação de Gameleiras.

O terceiro e último capítulo aborda o surgimento gradativo do progresso na região a partir do final da década de 1950, as festas culturais e o processo de emancipação de Gameleiras.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

CAPÍTULO I

CAPÍTULO I

A Origem do sítio dos Mártires e das Piranhas

A Origem do sítio dos Mártires e das Piranhas

s bandeirantes foram responsáveis pela conquista do sertão e pela descoberta das minas de ouro que ocorreu por volta de 1690. Dessa época, até o ano de 1763, quando a sede do Governo-geral foi transferida da cidade de Salvador para o Rio de Janeiro, o ouro era transportado das minas para a cidade de Salvador através da via fluvial do São Francisco.

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s bandeirantes foram responsáveis pela conquista do sertão e pela descoberta das minas de ouro que ocorreu por volta de 1690. Dessa época, até o ano de 1763, quando a sede do Governo-geral foi transferida da cidade de Salvador para o Rio de Janeiro, o ouro era transportado das minas para a cidade de Salvador através da via fluvial do São Francisco.

Segundo Diogo de Vasconcelos, as imensas riquezas que subiam e desciam pelas águas do São Francisco transformaram as margens do grande rio em um campo agitado de anarquia, pois os bandidos uniam – se aos índios e nas aldeias encontravam abrigos e pontos estratégicos para atacar e roubar os carregamentos de ouro, colocando em risco a liberdade do comércio. Diante desta situação, o Governo-geral convocou o coronel Januário Cardoso de Almeida, com poderes absolutos de regente, para pacificar o rio, ainda que a peso de armas.

Segundo Diogo de Vasconcelos, as imensas riquezas que subiam e desciam pelas águas do São Francisco transformaram as margens do grande rio em um campo agitado de anarquia, pois os bandidos uniam – se aos índios e nas aldeias encontravam abrigos e pontos estratégicos para atacar e roubar os carregamentos de ouro, colocando em risco a liberdade do comércio. Diante desta situação, o Governo-geral convocou o coronel Januário Cardoso de Almeida, com poderes absolutos de regente, para pacificar o rio, ainda que a peso de armas.

O coronel Januário Cardoso, após cumprir sua tarefa, chegou no arraial de Matias Cardoso e verificou que este se encontrava localizado abaixo das enchentes. Por esse motivo, transferiu a sede do arraial para um sítio a pouca distância e, posteriormente, para uma encosta de três colinas. Durante muito tempo o arraial ficou conheci-

O coronel Januário Cardoso, após cumprir sua tarefa, chegou no arraial de Matias Cardoso e verificou que este se encontrava localizado abaixo das enchentes. Por esse motivo, transferiu a sede do arraial para um sítio a pouca distância e, posteriormente, para uma encosta de três colinas. Durante muito tempo o arraial ficou conheci-

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

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do como Januário Cardoso, e depois veio a chamar – se Morrinhos, conforme já discutido anteriormente.

do como Januário Cardoso, e depois veio a chamar – se Morrinhos, conforme já discutido anteriormente.

O povoado de Morrinhos contribuiu para o homem branco expandir a civilização pelo território norte – mineiro, por ser um importante centro comercial na época. Mas a bibliografia analisada durante a pesquisa, discute o processo de ocupação do norte de Minas Gerais, do Sítio dos Mártires e do Sítio das Piranhas, através do Morgado “Guedes de Brito”. Portanto, para compreender a origem desses dois sítios é preciso conhecer um pouco da história desse Morgado, desde o seu início até a gestão do 6º conde da Ponte, D. João de Saldanha da Gama Mello Torres de Guedes de Brito.

O povoado de Morrinhos contribuiu para o homem branco expandir a civilização pelo território norte – mineiro, por ser um importante centro comercial na época. Mas a bibliografia analisada durante a pesquisa, discute o processo de ocupação do norte de Minas Gerais, do Sítio dos Mártires e do Sítio das Piranhas, através do Morgado “Guedes de Brito”. Portanto, para compreender a origem desses dois sítios é preciso conhecer um pouco da história desse Morgado, desde o seu início até a gestão do 6º conde da Ponte, D. João de Saldanha da Gama Mello Torres de Guedes de Brito.

O Morgado1 “Guedes de Brito”, criado por Antônio de Brito Correia e sua mulher D. Maria Guedes, foi herdado por seu filho, Antônio Guedes de Brito, que foi contratado pelo governador-geral para levantar forças no sertão, porque ele tinha um corpo de armas em defensiva capaz de realizar tal missão. Mas, logo no início de suas conquistas, veio este a falecer, e, após a sua morte prematura, o morgado passou a pertencer D. Izabel Maria Guedes de Brito, sua filha. Em 06 de setembro de 1706, D.Izabel já era viúva, conforme registra o livro de tombo do Mosteiro de São Bento, da cidade de Salvador, analisado por Simeão Ribeiro.2

O Morgado1 “Guedes de Brito”, criado por Antônio de Brito Correia e sua mulher D. Maria Guedes, foi herdado por seu filho, Antônio Guedes de Brito, que foi contratado pelo governador-geral para levantar forças no sertão, porque ele tinha um corpo de armas em defensiva capaz de realizar tal missão. Mas, logo no início de suas conquistas, veio este a falecer, e, após a sua morte prematura, o morgado passou a pertencer D. Izabel Maria Guedes de Brito, sua filha. Em 06 de setembro de 1706, D.Izabel já era viúva, conforme registra o livro de tombo do Mosteiro de São Bento, da cidade de Salvador, analisado por Simeão Ribeiro.2

Para administrar seus vastos domínios, D. Izabel nomeou Manoel Nunes Vianna ao cargo de administrador e procurador-geral de seus bens. Manuel Nunes Vianna enfrentou diversas lutas com o Sr. governador e capitão

Para administrar seus vastos domínios, D. Izabel nomeou Manoel Nunes Vianna ao cargo de administrador e procurador-geral de seus bens. Manuel Nunes Vianna enfrentou diversas lutas com o Sr. governador e capitão

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Morgado era vínculo dado a certos bens que deveriam ser transferidos ao primogênito sem que este os pudesse vender. 2 PIRES. Raízes de Minas. 1979.

Morgado era vínculo dado a certos bens que deveriam ser transferidos ao primogênito sem que este os pudesse vender. 2 PIRES. Raízes de Minas. 1979.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

general das minas, o conde de Assumar, D. Pedro de Almeida, para salvar as terras de D. Izabel no Distrito do rio das Velhas.

general das minas, o conde de Assumar, D. Pedro de Almeida, para salvar as terras de D. Izabel no Distrito do rio das Velhas.

No exercício de procurador de uma donatária distante, Nunes Vianna possuía também um interesse econômico próprio, conforme descreve Simeão Ribeiro Pires. “O exercício de uma donatária distante aliava – se a grandes interesses econômicos do próprio Nunes Vianna, em comandar os currais de gado e a salga de peixes (peixe seco), que alimentavam as minas.”3

No exercício de procurador de uma donatária distante, Nunes Vianna possuía também um interesse econômico próprio, conforme descreve Simeão Ribeiro Pires. “O exercício de uma donatária distante aliava – se a grandes interesses econômicos do próprio Nunes Vianna, em comandar os currais de gado e a salga de peixes (peixe seco), que alimentavam as minas.”3

Uma das estratégias adotadas por Nunes Vianna para derrotar o conde de Assumar, foi a proibição da engorda de gado na região dos currais para as minas. Mas Nunes Vianna, certamente, “não executou tal medida, aconselhado pelo governador-geral da Bahia e vice – rei do Brasil, D. Sancho de Faro e Souza – o conde de Vimieiro”.4

Uma das estratégias adotadas por Nunes Vianna para derrotar o conde de Assumar, foi a proibição da engorda de gado na região dos currais para as minas. Mas Nunes Vianna, certamente, “não executou tal medida, aconselhado pelo governador-geral da Bahia e vice – rei do Brasil, D. Sancho de Faro e Souza – o conde de Vimieiro”.4

Os argumentos de D. Izabel, lamentando os trabalhos de seu pai nas conquistas e descobrimentos das terras como pioneiro na edificação de currais de gado, as lutas e as estratégias de Nunes Vianna foram sufocadas pela seguinte razão: “é que a luta era profundamente econômica. Ao rei interessava o ouro. E para obtê–lo precisava do gado”.5

Os argumentos de D. Izabel, lamentando os trabalhos de seu pai nas conquistas e descobrimentos das terras como pioneiro na edificação de currais de gado, as lutas e as estratégias de Nunes Vianna foram sufocadas pela seguinte razão: “é que a luta era profundamente econômica. Ao rei interessava o ouro. E para obtê–lo precisava do gado”.5

Nessa luta, D. Izabel acabou perdendo as povoações e os currais de gado no Distrito do rio das Velhas. Perdeu também o seu procurador Manuel Nunes Vianna. D. Joana Caldeira Pimentel Guedes de Brito, filha de

Nessa luta, D. Izabel acabou perdendo as povoações e os currais de gado no Distrito do rio das Velhas. Perdeu também o seu procurador Manuel Nunes Vianna. D. Joana Caldeira Pimentel Guedes de Brito, filha de

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PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 101 PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 127. 5 PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 186.

PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 101 PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 127. 5 PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 186. 23

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

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D.Izabel, casou – se com D. João de Mascarenhas. Dona Joana ficou viúva sem ter filhos. A viúva D. Joana pediu a Portugal um fidalgo para o seu novo matrimônio. D. Manuel de Saldanha da Gama foi o escolhido. Ele veio a Salvador, casou e após ficar viúvo, mudou – se novamente para Portugal. Riquíssimo, e sem filhos para contrair novas núpcias, e lá passou tudo o que os Brito acumularam para a Casa da Ponte.6

D.Izabel, casou – se com D. João de Mascarenhas. Dona Joana ficou viúva sem ter filhos. A viúva D. Joana pediu a Portugal um fidalgo para o seu novo matrimônio. D. Manuel de Saldanha da Gama foi o escolhido. Ele veio a Salvador, casou e após ficar viúvo, mudou – se novamente para Portugal. Riquíssimo, e sem filhos para contrair novas núpcias, e lá passou tudo o que os Brito acumularam para a Casa da Ponte.6

Após a morte de Manuel de Saldanha da Gama, seu filho primogênito, D. João de Saldanha da Gama, foi chamado à sucessão da Casa da Ponte, como 6º conde e, 52º Governador-Geral da Bahia (veja figura no anexo n°2).

Após a morte de Manuel de Saldanha da Gama, seu filho primogênito, D. João de Saldanha da Gama, foi chamado à sucessão da Casa da Ponte, como 6º conde e, 52º Governador-Geral da Bahia (veja figura no anexo n°2).

Simeão Ribeiro diagnosticou que D. João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito foi nomeado Governador e Capitão-Geral da Bahia em 15 de agosto de 1.805 e tomou posse neste cargo em dezembro do mesmo ano.7

Simeão Ribeiro diagnosticou que D. João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito foi nomeado Governador e Capitão-Geral da Bahia em 15 de agosto de 1.805 e tomou posse neste cargo em dezembro do mesmo ano.7

Em 1806, D. João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito ordenou que o administrador-geral dos bens da Casa da Ponte estabelecesse as normas para arrendamentos e vendas dos sítios pertencentes a esta casa (veja normas no anexo n°3).

Em 1806, D. João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito ordenou que o administrador-geral dos bens da Casa da Ponte estabelecesse as normas para arrendamentos e vendas dos sítios pertencentes a esta casa (veja normas no anexo n°3).

Dentre os vários sítios pertencentes à Casa da Ponte, localizados no sertão do Rio Pardo, encontravam – se o Sítio dos Mártires e o das Piranhas.

Dentre os vários sítios pertencentes à Casa da Ponte, localizados no sertão do Rio Pardo, encontravam – se o Sítio dos Mártires e o das Piranhas.

Certamente, o 6º conde da Ponte D. João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito decidiu arrendar e vender os sítios pertencentes à Casa da Ponte,

Certamente, o 6º conde da Ponte D. João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito decidiu arrendar e vender os sítios pertencentes à Casa da Ponte,

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Segundo José Esteves Rodrigues, Casa da Ponte era o nome da casa de Manuel de Saldanha da Gama em Portugal. 7 PIRES. Raízes de Minas. 1979.

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Segundo José Esteves Rodrigues, Casa da Ponte era o nome da casa de Manuel de Saldanha da Gama em Portugal. 7 PIRES. Raízes de Minas. 1979.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

porque o seu grande latifúndio estava sendo ocupado por fazendeiros e pequenos povoados. Esse processo de ocupação poderia resultar na perda do domínio de suas terras, conforme aconteceu com D. Izabel Maria Guedes de Brito no distrito do Rio das Velhas.

porque o seu grande latifúndio estava sendo ocupado por fazendeiros e pequenos povoados. Esse processo de ocupação poderia resultar na perda do domínio de suas terras, conforme aconteceu com D. Izabel Maria Guedes de Brito no distrito do Rio das Velhas.

As descrições dos sítios situados no sertão do Rio Pardo foram escritas em um códice que foi analisado pelo Dr. Heitor Antunes de Sousa, entre os anos de 1927 e 1928, quando exercia o cargo de promotor de Justiça na cidade de Espinosa-MG, já com uma página arrancada onde estavam as descrições do Sítio dos Mártires, de nº17, e das Piranhas, de nº18. Não se sabe como a página do livro foi arrancada.

As descrições dos sítios situados no sertão do Rio Pardo foram escritas em um códice que foi analisado pelo Dr. Heitor Antunes de Sousa, entre os anos de 1927 e 1928, quando exercia o cargo de promotor de Justiça na cidade de Espinosa-MG, já com uma página arrancada onde estavam as descrições do Sítio dos Mártires, de nº17, e das Piranhas, de nº18. Não se sabe como a página do livro foi arrancada.

Heitor Antunes de Sousa explica o fato da seguinte maneira: O padre Guilhermino Fernandes Tolentino, pároco de Espinosa, emprestou o livro ao coronel Donato Gonçalves Dias, prefeito da cidade de Monte Azul, que o devolveu sem uma página.8

Heitor Antunes de Sousa explica o fato da seguinte maneira: O padre Guilhermino Fernandes Tolentino, pároco de Espinosa, emprestou o livro ao coronel Donato Gonçalves Dias, prefeito da cidade de Monte Azul, que o devolveu sem uma página.8

Provavelmente o coronel Donato G. Dias temia a divulgação do sítio dos Mártires e das Piranhas, por ser uma região muito cobiçada. Era o celeiro de arroz do município de Monte Azul, conforme descreveu o historiador Antonino da Silva Neves em 1908. Também possuia muita mata e solo propício à pecuária bovina por causa da abundância da pastagem natural nas planícies do rio Gorutuba e do Verde Grande.

Provavelmente o coronel Donato G. Dias temia a divulgação do sítio dos Mártires e das Piranhas, por ser uma região muito cobiçada. Era o celeiro de arroz do município de Monte Azul, conforme descreveu o historiador Antonino da Silva Neves em 1908. Também possuia muita mata e solo propício à pecuária bovina por causa da abundância da pastagem natural nas planícies do rio Gorutuba e do Verde Grande.

Quanto ao início da ocupação do Sítio dos Mártires, Antonino da Silva Neves diz o seguinte: “Data dos primeiros tempos da colonização do sertão do Rio Pardo”.9

Quanto ao início da ocupação do Sítio dos Mártires, Antonino da Silva Neves diz o seguinte: “Data dos primeiros tempos da colonização do sertão do Rio Pardo”.9

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SOUZA. Um Códice Interessante. [s.d.] NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 134. 25

SOUZA. Um Códice Interessante. [s.d.] NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 134. 25


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

A colonização do Rio Pardo iniciou no Contexto ao ciclo do couro, período que antecedeu ao ciclo do ouro, conforme descreve a Enciclopédia dos Municípios Mineiros.

A colonização do Rio Pardo iniciou no Contexto ao ciclo do couro, período que antecedeu ao ciclo do ouro, conforme descreve a Enciclopédia dos Municípios Mineiros.

[...] desde que Francisco Bruza Espinosa, ainda em 1553, varou os sertões do Norte e Nordeste da futura Província de Minas Gerais, que toda aquela vasta região passou a ser freqüentada pelos chamados vaqueiros baianos, que desde Pernambuco e Bahia tangiam seus rebanhos para as pastagens naturais que vão do São Francisco ao Jequitinhonha. Era o ciclo do couro da colonização das Gerais, com povoados surgindo junto às fazendas de pecuária extensiva, que, por demandarem pouca mão-de-obra, atraíam poucos moradores e tinham um crescimento particularmente lento.9

[...] desde que Francisco Bruza Espinosa, ainda em 1553, varou os sertões do Norte e Nordeste da futura Província de Minas Gerais, que toda aquela vasta região passou a ser freqüentada pelos chamados vaqueiros baianos, que desde Pernambuco e Bahia tangiam seus rebanhos para as pastagens naturais que vão do São Francisco ao Jequitinhonha. Era o ciclo do couro da colonização das Gerais, com povoados surgindo junto às fazendas de pecuária extensiva, que, por demandarem pouca mão-de-obra, atraíam poucos moradores e tinham um crescimento particularmente lento.9

O senhor Neves informou ainda que “o Sítio dos Mártires foi arrendado por vinte mil réis anuais a Antônio Moreira Parafita, representado por seu procurador e cunhado Amador de Araújo Moreira em 25 de outubro de 1806 e, tempos depois vendido a José Antônio Teixeira, por um conto de réis”.10

O senhor Neves informou ainda que “o Sítio dos Mártires foi arrendado por vinte mil réis anuais a Antônio Moreira Parafita, representado por seu procurador e cunhado Amador de Araújo Moreira em 25 de outubro de 1806 e, tempos depois vendido a José Antônio Teixeira, por um conto de réis”.10

O senhor João de Oliveira Primo prestou o seguinte depoimento sobre os Mártires:

O senhor João de Oliveira Primo prestou o seguinte depoimento sobre os Mártires:

[...] os caçadores de ouro vinham navegando pelo rio São Francisco. Quando chegou no encontro do rio Verde (foz) com o São Francisco, percebeu que podia encontrar esmeraldas subindo pelo rio Verde, porque as águas desse rio é de cor verde. No encontro do rio Verde com o rio Gorutuba, ele parou, amarrou os bar-

[...] os caçadores de ouro vinham navegando pelo rio São Francisco. Quando chegou no encontro do rio Verde (foz) com o São Francisco, percebeu que podia encontrar esmeraldas subindo pelo rio Verde, porque as águas desse rio é de cor verde. No encontro do rio Verde com o rio Gorutuba, ele parou, amarrou os bar-

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CARVALHO. Enciclopédia dos Municípios Mineiros. 1 v. , 1998. NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 134.

CARVALHO. Enciclopédia dos Municípios Mineiros. 1 v. , 1998. NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 134.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

cos e acampou naquela região. Mais na beira do rio Verde e do Gorutuba o solo não é propício ao cultivo de arroz, nem de cana. Então eles subiram para a beira da serra e fez o brejo de cana e arroz. Aí o lugar ficou conhecido como o Brejo dos Mártires.11

cos e acampou naquela região. Mais na beira do rio Verde e do Gorutuba o solo não é propício ao cultivo de arroz, nem de cana. Então eles subiram para a beira da serra e fez o brejo de cana e arroz. Aí o lugar ficou conhecido como o Brejo dos Mártires.11

Segundo o depoimento do senhor João de Oliveira Primo e o que reza a tradição oral, uma observação nos parece justa:

Segundo o depoimento do senhor João de Oliveira Primo e o que reza a tradição oral, uma observação nos parece justa:

a ocupação no Sítio dos Mártires iniciou nas proximidades da foz do rio Gorutuba com o rio Verde, onde fixou – se a sede do sítio e a uns 30 km rumo ao leste foi descoberto o Brejo (região alagada e propícia ao cultivo de arroz e cana-de-açúcar), que posteriormente ficou conhecido como o Brejo dos Mártires.

a ocupação no Sítio dos Mártires iniciou nas proximidades da foz do rio Gorutuba com o rio Verde, onde fixou – se a sede do sítio e a uns 30 km rumo ao leste foi descoberto o Brejo (região alagada e propícia ao cultivo de arroz e cana-de-açúcar), que posteriormente ficou conhecido como o Brejo dos Mártires.

Provavelmente, o início do processo de ocupação no Sítio dos Mártires ocorreu por volta do ano 1700, pois o dr Heitor Antunes de Sousa discute que “em 1702, as regiões do rio Gorutuba e do rio Verde davam passagem livre ao transporte de viajantes e de mercadorias que das Minas Gerais se dirigiam ou se destinavam à Bahia e vice–versa”.12

Provavelmente, o início do processo de ocupação no Sítio dos Mártires ocorreu por volta do ano 1700, pois o dr Heitor Antunes de Sousa discute que “em 1702, as regiões do rio Gorutuba e do rio Verde davam passagem livre ao transporte de viajantes e de mercadorias que das Minas Gerais se dirigiam ou se destinavam à Bahia e vice–versa”.12

Diante da necessidade de expandir as áreas cultiváveis de cana-de-açúcar e arroz e regar essas plantações, foi preciso fazer açudes nos rios e abrir canais em suas margens. Esses canais são conhecidos até os dias atuais como regos.

Diante da necessidade de expandir as áreas cultiváveis de cana-de-açúcar e arroz e regar essas plantações, foi preciso fazer açudes nos rios e abrir canais em suas margens. Esses canais são conhecidos até os dias atuais como regos.

Todos os rios que cruzam o município de Gameleiras no sentido leste – oeste possuem vários açudes, com um rego para conduzir água até as lavouras. Atualmen-

Todos os rios que cruzam o município de Gameleiras no sentido leste – oeste possuem vários açudes, com um rego para conduzir água até as lavouras. Atualmen-

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O depoente não aceitou gravar a entrevista citada. SOUZA. Um Códice Interessante. [s.d.], p. 183.

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O depoente não aceitou gravar a entrevista citada. SOUZA. Um Códice Interessante. [s.d.], p. 183. 27


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

te, devido ao assoreamento dos rios e de suas nascentes, alguns açudes estão sendo abandonados.

te, devido ao assoreamento dos rios e de suas nascentes, alguns açudes estão sendo abandonados.

Na maioria desses regos, há trechos com até três metros de profundidade, cavados sobre a rocha. Segundo a tradição oral, esse trabalho foi realizado pelos escravos.

Na maioria desses regos, há trechos com até três metros de profundidade, cavados sobre a rocha. Segundo a tradição oral, esse trabalho foi realizado pelos escravos.

A fundação do arraial de Brejo dos Mártires

A fundação do arraial de Brejo dos Mártires

A pecuária e o cultivo da cana-de-açúcar, do arroz e de outros produtos agrícolas no Brejo dos Mártires foram progredindo lentamente e aumentando a população da região. Apesar de lento, esse aumento populacional contribuiu para que em 1850 fosse fundado o arraial de Brejo dos Mártires e erguida a capela de Santo Antônio, o padroeiro local. Essa afirmativa encontra suporte nas palavras do senhor Antonino da Silva Neves: “No meiado do século passado (1850), Antônio Dias Correia e outros fundaram o arraial de Brejo dos Mártires, edificando uma capelinha e meia dúzia de casas ruraes”.13

A pecuária e o cultivo da cana-de-açúcar, do arroz e de outros produtos agrícolas no Brejo dos Mártires foram progredindo lentamente e aumentando a população da região. Apesar de lento, esse aumento populacional contribuiu para que em 1850 fosse fundado o arraial de Brejo dos Mártires e erguida a capela de Santo Antônio, o padroeiro local. Essa afirmativa encontra suporte nas palavras do senhor Antonino da Silva Neves: “No meiado do século passado (1850), Antônio Dias Correia e outros fundaram o arraial de Brejo dos Mártires, edificando uma capelinha e meia dúzia de casas ruraes”.13

Além da informação do senhor Neves, o Dicionário Histórico – Geográfico de Minas Gerais também permite compreender que o arraial de Brejo dos Mártires foi fundado por volta de 1850.

Além da informação do senhor Neves, o Dicionário Histórico – Geográfico de Minas Gerais também permite compreender que o arraial de Brejo dos Mártires foi fundado por volta de 1850.

GAMELEIRAS _ Distrito do município de Monte Azul. Embora a região fosse povoada desde o século XVIII, pois data desse século o Sítio dos Mártires, foi só em meados do século passado que Antônio Dias Correia e outros edificaram a capela de Santo Antônio e formaram o arraial denominado Brejo dos Mártires.14

GAMELEIRAS _ Distrito do município de Monte Azul. Embora a região fosse povoada desde o século XVIII, pois data desse século o Sítio dos Mártires, foi só em meados do século passado que Antônio Dias Correia e outros edificaram a capela de Santo Antônio e formaram o arraial denominado Brejo dos Mártires.14

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NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 134. 14 BARBOSA. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. 1971.

NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 134. 14 BARBOSA. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. 1971.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

A introdução da agropecuária em Gameleiras

A introdução da agropecuária em Gameleiras

A pecuária foi introduzida nessa região de forma extensiva. Até a década de 1960, o gado era criado solto, as propriedades não eram cercadas. Cada proprietário delimitava os limites de seus terrenos através de mourão. Os vaqueiros percorriam vários quilômetros com o objetivo de cuidar dos rebanhos. O sino no pescoço de alguns animais era um instrumento importante para localizar o gado com maior facilidade nas matas.

A pecuária foi introduzida nessa região de forma extensiva. Até a década de 1960, o gado era criado solto, as propriedades não eram cercadas. Cada proprietário delimitava os limites de seus terrenos através de mourão. Os vaqueiros percorriam vários quilômetros com o objetivo de cuidar dos rebanhos. O sino no pescoço de alguns animais era um instrumento importante para localizar o gado com maior facilidade nas matas.

Cada agricultor precisava cercar sua roça, para evitar que ela fosse destruída pelo gado ou outros animais. Geralmente essa cerca era uma entulhada, ou seja, era feita com galhos de árvores, principalmente de espinhos. Também eram feitas cercas de madeira. O arame farpado surgiu na região de Gameleira a partir do final da década de 1960 e, no início, poucos conseguiam comprá-lo.

Cada agricultor precisava cercar sua roça, para evitar que ela fosse destruída pelo gado ou outros animais. Geralmente essa cerca era uma entulhada, ou seja, era feita com galhos de árvores, principalmente de espinhos. Também eram feitas cercas de madeira. O arame farpado surgiu na região de Gameleira a partir do final da década de 1960 e, no início, poucos conseguiam comprá-lo.

Em 1968, alguns agricultores não cercaram suas roças. Esses homens começaram a matar os animais que estragassem suas plantações. Esse fato gerou vários confrontos entre criadores e agricultores. Portanto, a partir de 1969 foi proibido criar animais soltos. Essa proibição foi responsável para sensibilizar e conscientizar os proprietários sobre a necessidade de cercar seus terrenos.

Em 1968, alguns agricultores não cercaram suas roças. Esses homens começaram a matar os animais que estragassem suas plantações. Esse fato gerou vários confrontos entre criadores e agricultores. Portanto, a partir de 1969 foi proibido criar animais soltos. Essa proibição foi responsável para sensibilizar e conscientizar os proprietários sobre a necessidade de cercar seus terrenos.

A origem do nome Gameleira e de alguns povoados da Zona Rural

A origem do nome Gameleira e de alguns povoados da Zona Rural

Antes de explicar a origem do nome Gameleira e de alguns povoados, é preciso apresentar algumas versões sobre Mártires, pois o arraial da Gameleira surgiu no Sítio dos Mártires.

Antes de explicar a origem do nome Gameleira e de alguns povoados, é preciso apresentar algumas versões sobre Mártires, pois o arraial da Gameleira surgiu no Sítio dos Mártires.

Simeão Ribeiro Pires questiona a possibilidade de se-

Simeão Ribeiro Pires questiona a possibilidade de se-

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

rem de terras devolutas a área do sítio dos Mártires, pois na Dívida Ativa de 1826, numa extensa relação de devedores, consta o nome de José Antônio Teixeira como devedor por compras de fazendas, na quantia de 1:000S000, e ainda faz uma observação referente ao Sítio. (veja relação de devedores no anexo n° 4)

rem de terras devolutas a área do sítio dos Mártires, pois na Dívida Ativa de 1826, numa extensa relação de devedores, consta o nome de José Antônio Teixeira como devedor por compras de fazendas, na quantia de 1:000S000, e ainda faz uma observação referente ao Sítio. (veja relação de devedores no anexo n° 4)

O Sítio dos Mártires, já pelo seu nome, por atrasos de pagamentos, pelas brigas do Cel. Donato Dias em arrancar folhas de livros do seu registro e descrição e, muito mais, nos nossos dias, tem sido um verdadeiro martírio, para os seus martirizados possuidores.15

O Sítio dos Mártires, já pelo seu nome, por atrasos de pagamentos, pelas brigas do Cel. Donato Dias em arrancar folhas de livros do seu registro e descrição e, muito mais, nos nossos dias, tem sido um verdadeiro martírio, para os seus martirizados possuidores.15

A tradição oral discute que o nome Mártires era o sobrenome dos ocupantes do sítio, que vieram de Portugal. Com relação a Mártires, o senhor Izídio Rodrigues de Oliveira prestou o seguinte depoimento:

A tradição oral discute que o nome Mártires era o sobrenome dos ocupantes do sítio, que vieram de Portugal. Com relação a Mártires, o senhor Izídio Rodrigues de Oliveira prestou o seguinte depoimento:

Aqui chama Brejo dos Martes por causa dos Martes, uma família que veio de Portugal, em 1846. Essa história era o padre Moacir que me contava. E aí eles fez o Brejo e o sobrenome deles era Martes, eles acamparam lá na Gorutuba, lá ficou o lugar lá por nome Martes, já viu falar nos Martes? É perto da cruz, então lá era as pedinhas, chamava Pedinhas. Então ficou os Martes. Mas era o sobrenome deles, entendeu? Era o sobrenome deles. Então saiu os filho dele e o genro dele pra qui pra riba, pro Brejo, chegou aqui, mesmo ali onde era o terreno de Loriano, e aí eles fizeram o Brejo, aí era só aroeira, aí eles fizeram o Brejo, agora ficava Brejo dos Martes, mas Martes era eles lá, era o sobrenome deles.16

Aqui chama Brejo dos Martes por causa dos Martes, uma família que veio de Portugal, em 1846. Essa história era o padre Moacir que me contava. E aí eles fez o Brejo e o sobrenome deles era Martes, eles acamparam lá na Gorutuba, lá ficou o lugar lá por nome Martes, já viu falar nos Martes? É perto da cruz, então lá era as pedinhas, chamava Pedinhas. Então ficou os Martes. Mas era o sobrenome deles, entendeu? Era o sobrenome deles. Então saiu os filho dele e o genro dele pra qui pra riba, pro Brejo, chegou aqui, mesmo ali onde era o terreno de Loriano, e aí eles fizeram o Brejo, aí era só aroeira, aí eles fizeram o Brejo, agora ficava Brejo dos Martes, mas Martes era eles lá, era o sobrenome deles.16

O senhor Izídio informou também que por volta de 1850

O senhor Izídio informou também que por volta de 1850

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PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 253. Depoimento do Sr. Izidio Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Brejo dos Mártires dia 20/12/2002.

PIRES. Raízes de Minas. 1979, p. 253. Depoimento do Sr. Izidio Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Brejo dos Mártires dia 20/12/2002.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

existia uma fábrica de tacho em Brejo dos Mártires. O cobre, matéria-prima utilizada na fabricação deste produto, era trazido da Bahia em cargueiros de burro.

existia uma fábrica de tacho em Brejo dos Mártires. O cobre, matéria-prima utilizada na fabricação deste produto, era trazido da Bahia em cargueiros de burro.

A civilização no município de Gameleiras teve início no Sítio dos Mártires e no Brejo dos Mártires. Devido à carência dos utensílios domésticos de plástico e alumínio, as pessoas utilizavam a madeira e a argila para fazer estes produtos.

A civilização no município de Gameleiras teve início no Sítio dos Mártires e no Brejo dos Mártires. Devido à carência dos utensílios domésticos de plástico e alumínio, as pessoas utilizavam a madeira e a argila para fazer estes produtos.

Sobre a origem dos nomes Gameleira e Boa Vista, o senhor Izídio Rodrigues de Oliveira informou que as pessoas saíam do Brejo dos Mártires com destino ao rio que futuramente viria a ser o rio Gameleira para fazer Gamela. Nessa época, Gameleira era o lugar onde fazia gamela.

Sobre a origem dos nomes Gameleira e Boa Vista, o senhor Izídio Rodrigues de Oliveira informou que as pessoas saíam do Brejo dos Mártires com destino ao rio que futuramente viria a ser o rio Gameleira para fazer Gamela. Nessa época, Gameleira era o lugar onde fazia gamela.

Após a fundação do arraial de Gameleira em 1910, o senhor Izídio José de Oliveira plantou uma árvore chamada gameleira. Essa planta contribuiu para fixar o nome desse povoado. (veja foto no anexo n°5)

Após a fundação do arraial de Gameleira em 1910, o senhor Izídio José de Oliveira plantou uma árvore chamada gameleira. Essa planta contribuiu para fixar o nome desse povoado. (veja foto no anexo n°5)

O povoado de Boa Vista chamava-se Zispera, porque as pessoas trabalhavam durante o dia fazendo gamela. No final do dia, elas iam esperar veados e outros bichos nas esperas. Então criou–se o hábito de dizer, “estou indo pra Zispera”, ao invés de dizerem estou indo para as esperas.

O povoado de Boa Vista chamava-se Zispera, porque as pessoas trabalhavam durante o dia fazendo gamela. No final do dia, elas iam esperar veados e outros bichos nas esperas. Então criou–se o hábito de dizer, “estou indo pra Zispera”, ao invés de dizerem estou indo para as esperas.

Por volta de 1970, a comunidade inconformada com o nome Zispera, resolveu mudar este topônimo para Boa Vista.

Por volta de 1970, a comunidade inconformada com o nome Zispera, resolveu mudar este topônimo para Boa Vista.

O povoado de Pesqueiro recebeu este nome porque nele havia um poço muito grande e profundo sobre o rio do Engenho, onde realizavam–se grandes pescarias.

O povoado de Pesqueiro recebeu este nome porque nele havia um poço muito grande e profundo sobre o rio do Engenho, onde realizavam–se grandes pescarias.

A uma distância de aproximadamente 10 km do povoa-

A uma distância de aproximadamente 10 km do povoa-

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

do de Brejo dos Mártires, há uma comunidade por nome de Curral Velho. Este local, provavelmente, era um dos currais de gado dos “Guedes Brito”.

do de Brejo dos Mártires, há uma comunidade por nome de Curral Velho. Este local, provavelmente, era um dos currais de gado dos “Guedes Brito”.

A região do Jacu das Piranhas é de ocupação muito antiga. Pois o Sítio das Piranhas era um dos sítios do Conde da Ponte. Este foi arrendado em 1806 ao senhor João de Figueiredo Mascarenhas por vinte mil réis anuais (20S000). A terra foi avaliada em oitocentos mil réis (800S000).

A região do Jacu das Piranhas é de ocupação muito antiga. Pois o Sítio das Piranhas era um dos sítios do Conde da Ponte. Este foi arrendado em 1806 ao senhor João de Figueiredo Mascarenhas por vinte mil réis anuais (20S000). A terra foi avaliada em oitocentos mil réis (800S000).

O senhor Diolino Pereira Freires informou que os desbravadores do Jacu das Piranhas foram o senhor João de Paulo Fernandes Baleeiro e sua esposa D. Missia que vieram com seus escravos para essa região e descortinaram aquelas paragens. Seus filhos Atanázio Fernandes Baleeiro, Ricardo Fernandes Baleeiro e Josefa Fernandes Baleeiro deram continuidade ao trabalho dos pais.17

O senhor Diolino Pereira Freires informou que os desbravadores do Jacu das Piranhas foram o senhor João de Paulo Fernandes Baleeiro e sua esposa D. Missia que vieram com seus escravos para essa região e descortinaram aquelas paragens. Seus filhos Atanázio Fernandes Baleeiro, Ricardo Fernandes Baleeiro e Josefa Fernandes Baleeiro deram continuidade ao trabalho dos pais.17

O senhor Amando do Prado Pinto afirmou que a Fazenda do Tapuio, de propriedade de Valdivino do Prado Rocha, possui ainda um do tronco de aroeira onde os escravos eram chicoteados.18

O senhor Amando do Prado Pinto afirmou que a Fazenda do Tapuio, de propriedade de Valdivino do Prado Rocha, possui ainda um do tronco de aroeira onde os escravos eram chicoteados.18

Quanto ao nome Piranhas, o senhor Amando do Prado Pinto informou que este é oriundo de uma lagoa que existia na propriedade do senhor Cícero Camargo de Oliveira. Essa lagoa era conhecida como Barreiro das Piranhas, porque havia muitos peixes com este nome na época das pescarias e o nome Jacu por causa da grande quantidade de aves denominadas de jacu.

Quanto ao nome Piranhas, o senhor Amando do Prado Pinto informou que este é oriundo de uma lagoa que existia na propriedade do senhor Cícero Camargo de Oliveira. Essa lagoa era conhecida como Barreiro das Piranhas, porque havia muitos peixes com este nome na época das pescarias e o nome Jacu por causa da grande quantidade de aves denominadas de jacu.

17 Depoimento do Sr. Diolino Pereira Freires, trabalhador rural aposentado em Jacu das Piranhas dia 21/08/2003. 18 Depoimento do Sr. Amando do Prado Pinto, agropecuarista aposentado em Jacu das Piranhas dia 22/08/2003.

17 Depoimento do Sr. Diolino Pereira Freires, trabalhador rural aposentado em Jacu das Piranhas dia 21/08/2003. 18 Depoimento do Sr. Amando do Prado Pinto, agropecuarista aposentado em Jacu das Piranhas dia 22/08/2003.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

A Vila da Raposa recebeu este nome por que durante a abertura da estrada que liga Gado Bravo (Matias Cardoso) ao município de Espinosa, por volta 1979, pela Ruralminas, mataram-se muitas raposas.

A Vila da Raposa recebeu este nome por que durante a abertura da estrada que liga Gado Bravo (Matias Cardoso) ao município de Espinosa, por volta 1979, pela Ruralminas, mataram-se muitas raposas.

A vila da Raposa está localizada nas margens do rio Poço Triste no extremo norte do município de Gameleiras. O senhor Quirino Francisco de Carvalho explicou a origem do nome deste rio da seguinte maneira:

A vila da Raposa está localizada nas margens do rio Poço Triste no extremo norte do município de Gameleiras. O senhor Quirino Francisco de Carvalho explicou a origem do nome deste rio da seguinte maneira:

Diz os antigo que é porque tinha um poço muito fundo lá no lugar onde é Poço Triste hoje. Os cara roçando lá, a foice saiu do cabo, e caiu no poço, o cara foi virou pro outro e falou esse poço aí é triste! Já morreu gente aí afogado, a foice não tem jeito de panhar não.19

Diz os antigo que é porque tinha um poço muito fundo lá no lugar onde é Poço Triste hoje. Os cara roçando lá, a foice saiu do cabo, e caiu no poço, o cara foi virou pro outro e falou esse poço aí é triste! Já morreu gente aí afogado, a foice não tem jeito de panhar não.19

A violência no Brejo dos Mártires

A violência no Brejo dos Mártires

Sobre a violência na região dos Mártires, Antonino da Silva Neves descreve o seguinte:

Sobre a violência na região dos Mártires, Antonino da Silva Neves descreve o seguinte:

Outrora famoso pelas grandes brigas espalhafatosas e grandes assassinatos perpetrados pelos famigerados Picuambas e Correinhas.O senhor Neves explica que Picuamba era um gorutubano, que, aos 21 anos de idade, dizem ter assassinado 22 pessoas, e este morreu vítima de um tiro no município de Grão-Mogol, entre os anos de 1885 – 1890.20

Outrora famoso pelas grandes brigas espalhafatosas e grandes assassinatos perpetrados pelos famigerados Picuambas e Correinhas.O senhor Neves explica que Picuamba era um gorutubano, que, aos 21 anos de idade, dizem ter assassinado 22 pessoas, e este morreu vítima de um tiro no município de Grão-Mogol, entre os anos de 1885 – 1890.20

O senhor Izídio Rodrigues de Oliveira informou que havia no povoado de Brejo dos Mártires um tronco que servia de prisão. Nele, a pessoa era presa pelo pescoço e

O senhor Izídio Rodrigues de Oliveira informou que havia no povoado de Brejo dos Mártires um tronco que servia de prisão. Nele, a pessoa era presa pelo pescoço e

19 Depoimento do Sr. Quirino Francisco Carvalho, trabalhador rural aposentado em Roçado Velho dia 23/09/2003. 20 NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 135.

19 Depoimento do Sr. Quirino Francisco Carvalho, trabalhador rural aposentado em Roçado Velho dia 23/09/2003. 20 NEVES. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremendal. 1908, p. 135.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

pelos braços e ficava de um dia para o outro.

pelos braços e ficava de um dia para o outro.

Segundo reza a tradição oral, outro famigerado no Brejo dos Mártires foi o senhor Laurêncio Canavieira. Para elucidar melhor o assunto segue o depoimento do senhor Aureliano José de Sousa:

Segundo reza a tradição oral, outro famigerado no Brejo dos Mártires foi o senhor Laurêncio Canavieira. Para elucidar melhor o assunto segue o depoimento do senhor Aureliano José de Sousa:

O Lorenço era um homem maldoso, qualquer coisa ele atirava num. À traição, era sempre traiçoeiro, matava sempre à traição. Gostava muito de prissiguir as muié dos vizim, podia ser sobrinha dele, ele prissiguia. Então tinha uma sobrinha dele lá, ela foi buscar água no ri, ele tocaiou ela na estrada, pediu ela, ela não deu, ele quis agridir ela, ela correu, caiu, o pote caiu, quebrou o pote, aí ela foi embora pra casa, chegou lá contou que tinha quebrado o pote, aí o marido perguntou porque, ela contou que foi Lorenço que atacou ela na estrada, ela tropeçou o pote quebrou. Aí ele foi contou o caso pro irmão, e procurou o irmão, o que ele podia fazer, pricisava dar um jeito nesse Lorenço, que num tinha quem guentava. Que antigamente, ce sabe, se uma pessoa, se uma muié disreipeitasse o marido, costumava o marido matar e ficar por isso mesmo né, tem que respeitar, aí eles falou, carregou a espingarda com bala batizada, tudo eles usava, porcaria!, e batizou o mandacaru e levou e foi exprementar a espingarda no mandacaru, levou a espingarda, a espingarda negou o tiro, pisou, tornou levar, tornou pisar, aí num tinha mais jeito, molou uma foice bem molada, e foi, chegou lá, mandou a foice, a foice cepou a mandacaru, essa aqui serve. Eles dois saiu meio-dia, e foi chegou na casa de Lorenço, é, Lorenço tava sentado na porta. Pra onde que vai minino? Eu vou furar um arapuá meu ti. Ué, furar arapuá cum sol quente desse, num deixa o sol esfriar. Não meu ti, o bicho é brabo mesmo, quarquer hora ta bom pra furar. Vamo entrar, vamo tomar um cafezim. É meu ti, se tiver feito nós bebe. Tá. Aí os minino entrou, ele foi lá na sala. Esse povo de antigamente costumava as muié era difícil sair na varan-

O Lorenço era um homem maldoso, qualquer coisa ele atirava num. À traição, era sempre traiçoeiro, matava sempre à traição. Gostava muito de prissiguir as muié dos vizim, podia ser sobrinha dele, ele prissiguia. Então tinha uma sobrinha dele lá, ela foi buscar água no ri, ele tocaiou ela na estrada, pediu ela, ela não deu, ele quis agridir ela, ela correu, caiu, o pote caiu, quebrou o pote, aí ela foi embora pra casa, chegou lá contou que tinha quebrado o pote, aí o marido perguntou porque, ela contou que foi Lorenço que atacou ela na estrada, ela tropeçou o pote quebrou. Aí ele foi contou o caso pro irmão, e procurou o irmão, o que ele podia fazer, pricisava dar um jeito nesse Lorenço, que num tinha quem guentava. Que antigamente, ce sabe, se uma pessoa, se uma muié disreipeitasse o marido, costumava o marido matar e ficar por isso mesmo né, tem que respeitar, aí eles falou, carregou a espingarda com bala batizada, tudo eles usava, porcaria!, e batizou o mandacaru e levou e foi exprementar a espingarda no mandacaru, levou a espingarda, a espingarda negou o tiro, pisou, tornou levar, tornou pisar, aí num tinha mais jeito, molou uma foice bem molada, e foi, chegou lá, mandou a foice, a foice cepou a mandacaru, essa aqui serve. Eles dois saiu meio-dia, e foi chegou na casa de Lorenço, é, Lorenço tava sentado na porta. Pra onde que vai minino? Eu vou furar um arapuá meu ti. Ué, furar arapuá cum sol quente desse, num deixa o sol esfriar. Não meu ti, o bicho é brabo mesmo, quarquer hora ta bom pra furar. Vamo entrar, vamo tomar um cafezim. É meu ti, se tiver feito nós bebe. Tá. Aí os minino entrou, ele foi lá na sala. Esse povo de antigamente costumava as muié era difícil sair na varan-

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

da. Aí foi lá na sala e trouxe a bandejinha de café. Pôs o café pra eles. Aí ele perguntou tava bom meus fi, tava gostoso? Cês quer mais minino? Se tivesse era bom meu ti? Aí ele virou pra ir panhar, mas ele não ia panhar café, ia panhar era a carabina, era costume dele fazer era isso. Aí quando ele virou, virou as costas, passou a mão, panhou a foice e mandou no cangote dele, a cabeça vuou lá, ficou seguro no couro do pescoço.21

da. Aí foi lá na sala e trouxe a bandejinha de café. Pôs o café pra eles. Aí ele perguntou tava bom meus fi, tava gostoso? Cês quer mais minino? Se tivesse era bom meu ti? Aí ele virou pra ir panhar, mas ele não ia panhar café, ia panhar era a carabina, era costume dele fazer era isso. Aí quando ele virou, virou as costas, passou a mão, panhou a foice e mandou no cangote dele, a cabeça vuou lá, ficou seguro no couro do pescoço.21

O senhor Aureliano informou ainda que a morte de Laurêncio Canavieira ocorreu por volta de 1932 e, desta época, até 1980, não aconteceram crimes em Brejo dos Mártires. De 1980 até o ano de 1997 ocorreram vários assassinatos nesta comunidade.

O senhor Aureliano informou ainda que a morte de Laurêncio Canavieira ocorreu por volta de 1932 e, desta época, até 1980, não aconteceram crimes em Brejo dos Mártires. De 1980 até o ano de 1997 ocorreram vários assassinatos nesta comunidade.

Quanto à estratégia de matar o Laurêncio com a foice, após testá–la num mandacaru batizado é por causa da lenda de que este senhor tinha o corpo fechado. Essa lenda era muito comum no Norte de Minas Gerais. Um exemplo dessa natureza é o fato mencionado por Abdênago Lisboa e Apolo H. Lisboa. Quando um policial recebeu quinhentos mil réis e um revólver tanque para assassinar o Cel. Horácio de Matos, famoso perseguidor da Coluna Prestes. Mas

Quanto à estratégia de matar o Laurêncio com a foice, após testá–la num mandacaru batizado é por causa da lenda de que este senhor tinha o corpo fechado. Essa lenda era muito comum no Norte de Minas Gerais. Um exemplo dessa natureza é o fato mencionado por Abdênago Lisboa e Apolo H. Lisboa. Quando um policial recebeu quinhentos mil réis e um revólver tanque para assassinar o Cel. Horácio de Matos, famoso perseguidor da Coluna Prestes. Mas

a lenda de que Horácio tem o corpo fechado faz o policial tremer de medo e tomar as necessárias precauções. Leva, então, as balas que deverão ser usadas a um candomblé do Retiro e as entrega a uma mãe-desanto que as cura, passando em cruz, na vagina, durante dias, único meio de quebrar encanto. Assim o grande caudilho foi morto com três tiros de revólver, ao entardecer de 15 de maio de 1931.22

a lenda de que Horácio tem o corpo fechado faz o policial tremer de medo e tomar as necessárias precauções. Leva, então, as balas que deverão ser usadas a um candomblé do Retiro e as entrega a uma mãe-desanto que as cura, passando em cruz, na vagina, durante dias, único meio de quebrar encanto. Assim o grande caudilho foi morto com três tiros de revólver, ao entardecer de 15 de maio de 1931.22

21 Depoimento do senhor Aureliano José de Souza, trabalhador rural aposentado em Brejo dos Mártires dia 23/03/2003. 22 LISBOA, Abdênago; HENRIGER, Apolo (Org.). 1992, p. 307.

21 Depoimento do senhor Aureliano José de Souza, trabalhador rural aposentado em Brejo dos Mártires dia 23/03/2003. 22 LISBOA, Abdênago; HENRIGER, Apolo (Org.). 1992, p. 307.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Após a instalação do destacamento policial em Gameleiras no ano de 1997, o hábito de os homens andarem armados com facão, faca, revólver, garrucha etc foi abolido em quase 100%. Alguns que ainda insistem em portar armas, as utilizam bem escondidas. Antes do policiamento, as armas eram bem expostas. Na visão da sociedade, o homem sem arma na cintura, principalmente um facão, sem bigode e sem chapéu não era homem.

Após a instalação do destacamento policial em Gameleiras no ano de 1997, o hábito de os homens andarem armados com facão, faca, revólver, garrucha etc foi abolido em quase 100%. Alguns que ainda insistem em portar armas, as utilizam bem escondidas. Antes do policiamento, as armas eram bem expostas. Na visão da sociedade, o homem sem arma na cintura, principalmente um facão, sem bigode e sem chapéu não era homem.

O Distrito de Brejo dos Mártires

O Distrito de Brejo dos Mártires

Muito lentamente a povoação do Brejo dos Mártires foi aumentando e, em 1890 o povoado foi elevado à categoria de distrito de Boa Vista do Tremedal. Eis o decreto que criou esse distrito: “O decreto nº 166, de 19 de agosto de 1890, no seu artigo 1º: fica criado um distrito de paz na povoação denominada Brejo dos Mártires, município de Boa Vista do Tremedal. À distância de 6 km da sede distrital havia o povoado da Gameleira”.

Muito lentamente a povoação do Brejo dos Mártires foi aumentando e, em 1890 o povoado foi elevado à categoria de distrito de Boa Vista do Tremedal. Eis o decreto que criou esse distrito: “O decreto nº 166, de 19 de agosto de 1890, no seu artigo 1º: fica criado um distrito de paz na povoação denominada Brejo dos Mártires, município de Boa Vista do Tremedal. À distância de 6 km da sede distrital havia o povoado da Gameleira”.

O povoado da Gameleira mencionado acima refere–se a algumas casas que existiam nas margens do rio Gameleira, pois o arraial de Gameleira foi fundado em 1910, conforme discussão no próximo capítulo deste trabalho.

O povoado da Gameleira mencionado acima refere–se a algumas casas que existiam nas margens do rio Gameleira, pois o arraial de Gameleira foi fundado em 1910, conforme discussão no próximo capítulo deste trabalho.

O bispo D. Lúcio Antunes de Souza

O bispo D. Lúcio Antunes de Souza

A nomeação do padre Lúcio Antunes de Souza em dezembro de 1890 foi outro fato marcante na história da comunidade do Brejo dos Mártires, pois esse padre nasceu nas proximidades desse arraial. Conforme registro no Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Monte Azul, não foi possível diagnosticar a data

A nomeação do padre Lúcio Antunes de Souza em dezembro de 1890 foi outro fato marcante na história da comunidade do Brejo dos Mártires, pois esse padre nasceu nas proximidades desse arraial. Conforme registro no Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Monte Azul, não foi possível diagnosticar a data

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

do seu nascimento. Mas esse livro registra que Lúcio Antunes de Souza morreu bispo em Botucatu SP, em 19 de outubro de 1923.

do seu nascimento. Mas esse livro registra que Lúcio Antunes de Souza morreu bispo em Botucatu SP, em 19 de outubro de 1923.

Em Dezembro de 1890, foi nomear vigário o padre Lúcio Antunes de Souza. Este padre Lúcio nasceu nesta freguesia, no arraial do Brejo dos Martyres, não podendo obter a data do seu nascimento. Morreu bispo de Botucatu em 19 de outubro de 1923.23

Em Dezembro de 1890, foi nomear vigário o padre Lúcio Antunes de Souza. Este padre Lúcio nasceu nesta freguesia, no arraial do Brejo dos Martyres, não podendo obter a data do seu nascimento. Morreu bispo de Botucatu em 19 de outubro de 1923.23

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1° Livro do Tombo da Igreja Nossa Senhora das Graças. Monte Azul, 1887-1938.

1° Livro do Tombo da Igreja Nossa Senhora das Graças. Monte Azul, 1887-1938.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

CAPÍTULO II

CAPÍTULO II

A fundação do povoado de Gameleira

A fundação do povoado de Gameleira

povoado da Gameleira foi fundado em 1910, pelo tenente-coronel da Guarda Nacional (patente com prada à época, não de carreira militar) João Rodrigues de Oliveira.

O

povoado da Gameleira foi fundado em 1910, pelo tenente-coronel da Guarda Nacional (patente com prada à época, não de carreira militar) João Rodrigues de Oliveira.

O

Segundo a tradição oral, o senhor João Rodrigues de Oliveira ficou rico através de uma promessa. Para esclarecer melhor o assunto o senhor João de Oliveira Primo prestou o seguinte depoimento.

Segundo a tradição oral, o senhor João Rodrigues de Oliveira ficou rico através de uma promessa. Para esclarecer melhor o assunto o senhor João de Oliveira Primo prestou o seguinte depoimento.

O João Rodrigues, meu bisavô, prometeu que se ficasse rico ia a Bom Jesus da Lapa (BA), montado na garupa de um burro. Ele tornou grande fazendeiro, comprou uma patente de tenente-coronel da Guarda Nacional e não cumpriu a promessa durante vida. Após a sua morte, ele veio e falou com o senhor José Rodrigues de Oliveira (Zeca), que é bisavô do atual prefeito de Gameleiras, Domingos Ferreira de Souza, para convidar o senhor Selvino lá no Brejo Velho, próximo do povoado de Riachinho, no município de Monte Azul, para lhe ajudar a cumprir sua promessa. O senhor Selvino aceitou o convite, veio no povoado de Gameleira, levou o espírito do senhor João Rodrigues de Oliveira até a cidade de Bom Jesus da Lapa. Este percurso era realizado à noite. O senhor Selvino não via o João Rodrigues, mas andava a noite toda sentido um frio nas costas. Durante o dia o senhor Selvino preparava o almoço, almoçava e descansava para continuar a jornada durante a noite. A viagem durou 12

O João Rodrigues, meu bisavô, prometeu que se ficasse rico ia a Bom Jesus da Lapa (BA), montado na garupa de um burro. Ele tornou grande fazendeiro, comprou uma patente de tenente-coronel da Guarda Nacional e não cumpriu a promessa durante vida. Após a sua morte, ele veio e falou com o senhor José Rodrigues de Oliveira (Zeca), que é bisavô do atual prefeito de Gameleiras, Domingos Ferreira de Souza, para convidar o senhor Selvino lá no Brejo Velho, próximo do povoado de Riachinho, no município de Monte Azul, para lhe ajudar a cumprir sua promessa. O senhor Selvino aceitou o convite, veio no povoado de Gameleira, levou o espírito do senhor João Rodrigues de Oliveira até a cidade de Bom Jesus da Lapa. Este percurso era realizado à noite. O senhor Selvino não via o João Rodrigues, mas andava a noite toda sentido um frio nas costas. Durante o dia o senhor Selvino preparava o almoço, almoçava e descansava para continuar a jornada durante a noite. A viagem durou 12

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

dias, seis para ir e seis para voltar. Eles chegaram na cidade de Bom Jesus da Lapa à noite, a Igreja já estava fechada. Então, o senhor Selvino pediu para o zelador abrir a Igreja justificando que estava acompanhando uma alma que tinha vindo para pagar promessa. E essa promessa só podia ser paga a noite. Após a conversa, o zelador abriu a Igreja e o senhor João Rodrigues pagou a promessa e, logo em seguida, retornaram a viagem. Quando eles chegaram de volta, daí uns três dias o burro morreu.1

dias, seis para ir e seis para voltar. Eles chegaram na cidade de Bom Jesus da Lapa à noite, a Igreja já estava fechada. Então, o senhor Selvino pediu para o zelador abrir a Igreja justificando que estava acompanhando uma alma que tinha vindo para pagar promessa. E essa promessa só podia ser paga a noite. Após a conversa, o zelador abriu a Igreja e o senhor João Rodrigues pagou a promessa e, logo em seguida, retornaram a viagem. Quando eles chegaram de volta, daí uns três dias o burro morreu.1

O medo de espírito era muito comum em Gameleira. Mas a partir de 1982, com a chegada da energia elétrica, a sociedade começou a interagir com culturas diferentes, a ver cenas de violência pela televisão, como seqüestros, assaltos, chacinas, levando as pessoas a outra concepção cultural, e, gradativamente, deixando de ter medo dos mortos, passando a temer os vivos, eliminando superstições.

O medo de espírito era muito comum em Gameleira. Mas a partir de 1982, com a chegada da energia elétrica, a sociedade começou a interagir com culturas diferentes, a ver cenas de violência pela televisão, como seqüestros, assaltos, chacinas, levando as pessoas a outra concepção cultural, e, gradativamente, deixando de ter medo dos mortos, passando a temer os vivos, eliminando superstições.

Os primeiros habitantes da Gameleira

Os primeiros habitantes da Gameleira

O senhor João de Oliveira Primo informou que os primeiros habitantes foram:

O senhor João de Oliveira Primo informou que os primeiros habitantes foram:

z Izídio José de Oliveira e D. Francisca Rodrigues de Oliveira.

z Izídio José de Oliveira e D. Francisca Rodrigues de Oliveira.

João Rodrigues de Oliveira e D. Sinhana.

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z Apolinário Rodrigues de Oliveira e D. Josefa Cardoso de Oliveira.

João Rodrigues de Oliveira e D. Sinhana.

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z Apolinário Rodrigues de Oliveira e D. Josefa Cardoso de Oliveira.

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Kalisto Antunes de Sousa e D. Apilicara.

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Kalisto Antunes de Sousa e D. Apilicara.

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O depoente não aceitou gravar a entrevista citada.

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O depoente não aceitou gravar a entrevista citada.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

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Ludjero José Oliveira e D. Selutra.

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Ludjero José Oliveira e D. Selutra.

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Aristides Monção e D. Elisa.

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Aristides Monção e D. Elisa.

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Tumaz José de Oliveira e D. Inácia.

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Tumaz José de Oliveira e D. Inácia.

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Florêncio Rodrigues de Oliveira e D. Feliciana.

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Florêncio Rodrigues de Oliveira e D. Feliciana.

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Joaquim Alves e D. Jacinta.

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Joaquim Alves e D. Jacinta.

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João de Souza.

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João de Souza.

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Manuel Carneiro.

z

Manuel Carneiro.

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Joaquim Rodrigues de Oliveira.

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Joaquim Rodrigues de Oliveira.

O mercado

O mercado

O senhor João de Oliveira Primo informou também que desde a fundação do povoado da Gameleira, em 1910, até o final da década de 1950, havia um mercadinho. Muitos acreditam que esse mercado acabou porque funcionava só aos domingos, o Dia do Senhor, dia de oração e descanso. Até nos dias atuais, poucas pessoas trabalham no domingo e nos dias santos, por serem considerados dias sagrados.

O senhor João de Oliveira Primo informou também que desde a fundação do povoado da Gameleira, em 1910, até o final da década de 1950, havia um mercadinho. Muitos acreditam que esse mercado acabou porque funcionava só aos domingos, o Dia do Senhor, dia de oração e descanso. Até nos dias atuais, poucas pessoas trabalham no domingo e nos dias santos, por serem considerados dias sagrados.

A transferência do distrito de Brejo dos Mártires para a povoação da Gameleira

A transferência do distrito de Brejo dos Mártires para a povoação da Gameleira

No ano de 1915, o senhor João de Sousa exercia o cargo de escrivão do cartório em Brejo dos Mártires. Naquele ano, ele conseguiu transferir a categoria de Distrito do Brejo dos Mártires para a Gameleira, comunidade onde ele residia.

No ano de 1915, o senhor João de Sousa exercia o cargo de escrivão do cartório em Brejo dos Mártires. Naquele ano, ele conseguiu transferir a categoria de Distrito do Brejo dos Mártires para a Gameleira, comunidade onde ele residia.

O senhor Izídio Rodrigues de Oliveira, residente no

O senhor Izídio Rodrigues de Oliveira, residente no

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

povoado de Brejo dos Mártires, explicou o processo de transferência do cartório da seguinte maneira.

povoado de Brejo dos Mártires, explicou o processo de transferência do cartório da seguinte maneira.

Aqui era o distrito de Monte Azul. O finado João de Souza era o escrivão, era o João Escrivão. Então o finado João de Souza vinha todo dia de lá pra cá, todo dia pra qui, e aqui tinha o Odilon que era o Juiz de Paz, e evai, ele foi ni Monte Azul e falou pra dá um jeito de passar pra Gameleira. É só cê ajeitar uma assinatura do Juiz de Paz, ele falou. Eu arranjo. Chegou e falou pro besta aí, o Odilon, pra ele dá um jeito de assinar pra passar pra Gameleira. Não, aliás, ele não falou que era pra passar, tava precisando assinar, ele assinou. Quando veio de Monte Azul, já veio para Gameleira. Tomou o distrito daqui pra lá. Mas era aqui.2

Aqui era o distrito de Monte Azul. O finado João de Souza era o escrivão, era o João Escrivão. Então o finado João de Souza vinha todo dia de lá pra cá, todo dia pra qui, e aqui tinha o Odilon que era o Juiz de Paz, e evai, ele foi ni Monte Azul e falou pra dá um jeito de passar pra Gameleira. É só cê ajeitar uma assinatura do Juiz de Paz, ele falou. Eu arranjo. Chegou e falou pro besta aí, o Odilon, pra ele dá um jeito de assinar pra passar pra Gameleira. Não, aliás, ele não falou que era pra passar, tava precisando assinar, ele assinou. Quando veio de Monte Azul, já veio para Gameleira. Tomou o distrito daqui pra lá. Mas era aqui.2

O depoimento do senhor Izídio Rodrigues de Oliveira, nos permite compreender que a transferência da categoria de distrito de Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira foi um arranjo político. Se houve ajeito ou não nesse processo, a transferência teve um aparato legal. Veja a lei que transferiu a categoria de distrito do Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira.

O depoimento do senhor Izídio Rodrigues de Oliveira, nos permite compreender que a transferência da categoria de distrito de Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira foi um arranjo político. Se houve ajeito ou não nesse processo, a transferência teve um aparato legal. Veja a lei que transferiu a categoria de distrito do Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira.

A lei nº 663, de 18 de setembro de 1915, transferiu a sede do distrito do Brejo dos Mártires para a povoação da Gameleira. Apesar de ser Brejo dos Mártires o nome do distrito criado pelo decreto 166. de 1890, e cuja sede foi transferida para Gameleira, a lei nº 843, de 07 de setembro de 1923, determinou a mudança de denominação do distrito de Santo Antônio do Brejo do Mártires para Gameleira.

A lei nº 663, de 18 de setembro de 1915, transferiu a sede do distrito do Brejo dos Mártires para a povoação da Gameleira. Apesar de ser Brejo dos Mártires o nome do distrito criado pelo decreto 166. de 1890, e cuja sede foi transferida para Gameleira, a lei nº 843, de 07 de setembro de 1923, determinou a mudança de denominação do distrito de Santo Antônio do Brejo do Mártires para Gameleira.

Essa transferência de distrito em 1915 foi um fato mui-

Essa transferência de distrito em 1915 foi um fato mui-

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Depoimento do senhor Izídio Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Brejo dos Mártires dia 20/12/2002.

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Depoimento do senhor Izídio Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Brejo dos Mártires dia 20/12/2002.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

to importante para a população da Gameleira, pois, em 1995, esse povoado teve o privilégio de ser a sede do município de Gameleiras emancipado de Monte Azul pela lei 12030, de 21/12/1995.

to importante para a população da Gameleira, pois, em 1995, esse povoado teve o privilégio de ser a sede do município de Gameleiras emancipado de Monte Azul pela lei 12030, de 21/12/1995.

O senhor Antônio Fernandes Barbosa informou que os sucessores do escrivão João de Sousa foram os seguintes: Cirilo José de Oliveira, Filomeno José de Oliveira, Joaquim de Oliveira Primo, Nicolau Antunes de Sousa, Ludjero José de Oliveira Sobrinho, Ilídio José de Oliveira, Antônio Fernandes Barbosa (25/06/1962 a 10/07/ 1995), José Maria Fernandes Barbosa (11/07/1995 até os dias atuais).3

O senhor Antônio Fernandes Barbosa informou que os sucessores do escrivão João de Sousa foram os seguintes: Cirilo José de Oliveira, Filomeno José de Oliveira, Joaquim de Oliveira Primo, Nicolau Antunes de Sousa, Ludjero José de Oliveira Sobrinho, Ilídio José de Oliveira, Antônio Fernandes Barbosa (25/06/1962 a 10/07/ 1995), José Maria Fernandes Barbosa (11/07/1995 até os dias atuais).3

A produção de alimentos

A produção de alimentos

Até a década de 1950, a população que habitava o território do distrito de Gameleira vivia à margem do progresso. Os meios de transportes e comunicações eram precários e utilizando-se de ferramentas e de outros meios de produção rudimentares, a sociedade era responsável pela produção de quase tudo que consumia.

Até a década de 1950, a população que habitava o território do distrito de Gameleira vivia à margem do progresso. Os meios de transportes e comunicações eram precários e utilizando-se de ferramentas e de outros meios de produção rudimentares, a sociedade era responsável pela produção de quase tudo que consumia.

A agricultura

A agricultura

Não dispondo de ferramentas modernas, os agricultores adotavam a prática do roçado para facilitar a capina da lavoura. O roçado era a derrubada das árvores, umas sobre as outras, sem retirar a lenha, para o fogo agir com grande intensidade. Com isso, durante uns dois ou três anos, emergiam poucas ervas daninhas, facilitando, as-

Não dispondo de ferramentas modernas, os agricultores adotavam a prática do roçado para facilitar a capina da lavoura. O roçado era a derrubada das árvores, umas sobre as outras, sem retirar a lenha, para o fogo agir com grande intensidade. Com isso, durante uns dois ou três anos, emergiam poucas ervas daninhas, facilitando, as-

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Depoimento do senhor Antônio Fernandes Barbosa, agropecuarista e aposentado como escrivão de cartório em Gameleiras, dia 20/12/2002. 43

Depoimento do senhor Antônio Fernandes Barbosa, agropecuarista e aposentado como escrivão de cartório em Gameleiras, dia 20/12/2002. 43


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

sim, o trabalho do agricultor.

sim, o trabalho do agricultor.

Depois de uns três anos, aquela área era abandonada e o agricultor providenciava a realização de um novo roçado. Essa prática do roçado contribuiu para um desmatamento desorganizado, pois muita madeira foi destruída. Mas o período de desmatamento acelerado foi na década de 1990, devido à chegada do bicudo do algodoeiro. O bicudo é um inseto que destrói a florada do algodão. Não dispondo da colheita do algodão, que muito contribuía no orçamento familiar, os agricultores começaram a derrubar as matas para fazer carvão vegetal.

Depois de uns três anos, aquela área era abandonada e o agricultor providenciava a realização de um novo roçado. Essa prática do roçado contribuiu para um desmatamento desorganizado, pois muita madeira foi destruída. Mas o período de desmatamento acelerado foi na década de 1990, devido à chegada do bicudo do algodoeiro. O bicudo é um inseto que destrói a florada do algodão. Não dispondo da colheita do algodão, que muito contribuía no orçamento familiar, os agricultores começaram a derrubar as matas para fazer carvão vegetal.

Os principais produtos agrícolas cultivados pelos nossos agricultores eram o arroz, a cana-de-açúcar, o feijão, o milho, a mamona, a mandioca e o algodão. Atualmente, o cultivo da mamona foi extinto e a cana é ainda cultivada em pequena quantidade.

Os principais produtos agrícolas cultivados pelos nossos agricultores eram o arroz, a cana-de-açúcar, o feijão, o milho, a mamona, a mandioca e o algodão. Atualmente, o cultivo da mamona foi extinto e a cana é ainda cultivada em pequena quantidade.

O cultivo do arroz e sua comercialização

O cultivo do arroz e sua comercialização

Após a semeadura dos grãos de arroz sobre o solo, os agricultores reúnem para retirar a sujeira dos regos, e fazer o açude sobre o rio para regar as plantações.

Após a semeadura dos grãos de arroz sobre o solo, os agricultores reúnem para retirar a sujeira dos regos, e fazer o açude sobre o rio para regar as plantações.

Na época da capina do arroz, geralmente, a roça está alagada. Por esse motivo, as pessoas aprenderam a utilizar a técnica do mutirão, alegando a dificuldade de trabalhar sozinho e na lama durante muitos dias. A prática do mutirão ainda é utilizada com muita freqüência pelos agricultores da região e funciona como uma troca de serviço. Pode-se dar um exemplo: vinte homens são convidados para capinar a roça de arroz de seu José. Agora, com sua lavoura capinada, esse senhor precisa comparecer aos mutirões das pessoas que lhe ajudaram.

Na época da capina do arroz, geralmente, a roça está alagada. Por esse motivo, as pessoas aprenderam a utilizar a técnica do mutirão, alegando a dificuldade de trabalhar sozinho e na lama durante muitos dias. A prática do mutirão ainda é utilizada com muita freqüência pelos agricultores da região e funciona como uma troca de serviço. Pode-se dar um exemplo: vinte homens são convidados para capinar a roça de arroz de seu José. Agora, com sua lavoura capinada, esse senhor precisa comparecer aos mutirões das pessoas que lhe ajudaram.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Nos mutirões, os homens cantam bastante, principalmente no final da tarde, quando alguns dos trabalhadores já tomaram umas pingas, o que é comum nessa prática de trabalho.

Nos mutirões, os homens cantam bastante, principalmente no final da tarde, quando alguns dos trabalhadores já tomaram umas pingas, o que é comum nessa prática de trabalho.

Quando o arroz está no ponto de colheita, o agricultor retira a água da roça, corta os cachos e os amontoa em pequenos lotes sobre as covas de arroz para secar. Depois, faz um terreiro no meio da roça e junta o arroz em um monte só. Os trabalhadores espalham sobre o terreiro pequenas quantidades de arroz e batem com o cambão (dois pedaços de pau, um amarrado ao outro), para separar os grãos dos cachos. Em seguida, retiram aquelas palhas e colocam mais cachos de arroz. Nesse ritmo, continua o trabalho o dia todo.

Quando o arroz está no ponto de colheita, o agricultor retira a água da roça, corta os cachos e os amontoa em pequenos lotes sobre as covas de arroz para secar. Depois, faz um terreiro no meio da roça e junta o arroz em um monte só. Os trabalhadores espalham sobre o terreiro pequenas quantidades de arroz e batem com o cambão (dois pedaços de pau, um amarrado ao outro), para separar os grãos dos cachos. Em seguida, retiram aquelas palhas e colocam mais cachos de arroz. Nesse ritmo, continua o trabalho o dia todo.

Após separar os grãos de arroz dos cachos, o agricultor tem ainda mais um trabalho: retirar os pedaços de palha e outras impurezas. Este trabalho é realizado, de preferência, em um dia em que estiver ventando. Uma pessoa joga o arroz para cima, o vento carrega uma parte das impurezas e, com o auxílio de com um pedaço de couro, chamado, abanador, o agricultor retira o resto da sujeira.

Após separar os grãos de arroz dos cachos, o agricultor tem ainda mais um trabalho: retirar os pedaços de palha e outras impurezas. Este trabalho é realizado, de preferência, em um dia em que estiver ventando. Uma pessoa joga o arroz para cima, o vento carrega uma parte das impurezas e, com o auxílio de com um pedaço de couro, chamado, abanador, o agricultor retira o resto da sujeira.

Depois de colhido e retiradas as impurezas, o arroz é armazenado no paiol por alguns anos, para que este se torne um produto de boa qualidade. O arroz é igual ao vinho: quanto mais velho, melhor é a qualidade.

Depois de colhido e retiradas as impurezas, o arroz é armazenado no paiol por alguns anos, para que este se torne um produto de boa qualidade. O arroz é igual ao vinho: quanto mais velho, melhor é a qualidade.

O arroz, para ser consumido ou comercializado, era socado no pilão. Alguns homens conseguiam socar até um alqueire de arroz (110 k de arroz com casca) por dia. Este produto era transportado em cargueiros de burro e em carros de boi até a cidade de Mato Verde ou de Monte Azul, onde era vendido ou trocado por outra mercadoria.

O arroz, para ser consumido ou comercializado, era socado no pilão. Alguns homens conseguiam socar até um alqueire de arroz (110 k de arroz com casca) por dia. Este produto era transportado em cargueiros de burro e em carros de boi até a cidade de Mato Verde ou de Monte Azul, onde era vendido ou trocado por outra mercadoria.

As viagens dos tropeiros eram mais rápidas, porque eles

As viagens dos tropeiros eram mais rápidas, porque eles

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

atravessavam a serra Central, que atualmente faz fronteira com os municípios de Monte Azul e de Mamonas. Esse percurso reduz a distância de Gameleiras a Monte Azul em quase a metade. Mas a trilha sobre a serra só permite o transporte de pedestres, cavaleiros e tropeiros. Nos dias atuais, essa trilha está sendo mais utilizada para a prática de motocross.

atravessavam a serra Central, que atualmente faz fronteira com os municípios de Monte Azul e de Mamonas. Esse percurso reduz a distância de Gameleiras a Monte Azul em quase a metade. Mas a trilha sobre a serra só permite o transporte de pedestres, cavaleiros e tropeiros. Nos dias atuais, essa trilha está sendo mais utilizada para a prática de motocross.

As viagens de carro de boi duravam quatro dias. Os carreiros saiam de Gameleira com destino a Monte Azul ou Mato Verde na madrugada de quinta-feira e retornavam no domingo à tarde, ou à noite.

As viagens de carro de boi duravam quatro dias. Os carreiros saiam de Gameleira com destino a Monte Azul ou Mato Verde na madrugada de quinta-feira e retornavam no domingo à tarde, ou à noite.

O cultivo da cana-de-açúcar

O cultivo da cana-de-açúcar

A cana cultivada era destinada à produção de rapadura, que era fabricada nos engenhos da região. Este produto era de fundamental importância nesta época, porque não existia açúcar. Então, a rapadura era utilizada para adoçar a água de preparar o café, fazer bolos e outras receitas da cozinha regional.

A cana cultivada era destinada à produção de rapadura, que era fabricada nos engenhos da região. Este produto era de fundamental importância nesta época, porque não existia açúcar. Então, a rapadura era utilizada para adoçar a água de preparar o café, fazer bolos e outras receitas da cozinha regional.

O café é a bebida mais tradicional do povo de Gameleiras. Está sempre presente toda vez que chegar uma visita. As pessoas têm o prazer de oferecer café às visitas, se essas recusarem, são taxadas como “gente prosa”.

O café é a bebida mais tradicional do povo de Gameleiras. Está sempre presente toda vez que chegar uma visita. As pessoas têm o prazer de oferecer café às visitas, se essas recusarem, são taxadas como “gente prosa”.

Vários engenhos movidos à força animal foram instalados ao longo do território do atual município de Gameleiras. Sendo que o principal objetivo deles era a produção de rapadura, que muito raramente faltava na despensa das casas, pois era com ela que se preparava o tradicional café.

Vários engenhos movidos à força animal foram instalados ao longo do território do atual município de Gameleiras. Sendo que o principal objetivo deles era a produção de rapadura, que muito raramente faltava na despensa das casas, pois era com ela que se preparava o tradicional café.

Produção de milho

Produção de milho

A produção do milho sempre foi destinada à alimenta-

A produção do milho sempre foi destinada à alimenta-

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

ção das galinhas e dos porcos no quintal. Dessa forma, surgem novas fontes de alimentação, pois as galinhas fornecem a carne e ovos, dos porcos retiram-se a carne, o toucinho e a gordura para preparar a comida. Ainda é muito freqüente o hábito de consumir comida gordurosa na região. A feijoada típica da região é o feijão cozido com toucinho de porco. O milho também era socado no pilão para fazer canjica ou retirar fubá, um ingrediente utilizado na preparação de bolos.

ção das galinhas e dos porcos no quintal. Dessa forma, surgem novas fontes de alimentação, pois as galinhas fornecem a carne e ovos, dos porcos retiram-se a carne, o toucinho e a gordura para preparar a comida. Ainda é muito freqüente o hábito de consumir comida gordurosa na região. A feijoada típica da região é o feijão cozido com toucinho de porco. O milho também era socado no pilão para fazer canjica ou retirar fubá, um ingrediente utilizado na preparação de bolos.

O cultivo da mamona

O cultivo da mamona

A mamona era também um produto de fundamental importância na vida das pessoas. Dela extraía–se o azeite para colocar no candeeiro que iluminava os lares durante a noite, pois não havia querosene, nem energia elétrica. O querosene chegou a Gameleira a partir do final da década de 1950. Com isso, o cultivo da mamona foi sendo progressivamente abandonado.

A mamona era também um produto de fundamental importância na vida das pessoas. Dela extraía–se o azeite para colocar no candeeiro que iluminava os lares durante a noite, pois não havia querosene, nem energia elétrica. O querosene chegou a Gameleira a partir do final da década de 1950. Com isso, o cultivo da mamona foi sendo progressivamente abandonado.

O cultivo da mandioca

O cultivo da mandioca

A mandioca exercia um papel muito importante na culinária regional. Além de ser, até nos dias atuais, uma comida típica, dela se extrai a farinha, a goma (fécula de mandioca) e o beiju. Esses produtos são extraídos nas casas de roda.

A mandioca exercia um papel muito importante na culinária regional. Além de ser, até nos dias atuais, uma comida típica, dela se extrai a farinha, a goma (fécula de mandioca) e o beiju. Esses produtos são extraídos nas casas de roda.

A caça e a pesca

A caça e a pesca

Devido à abundância de peixes e animais silvestres, a caça e a pesca eram duas significativas fontes de alimentos. Nos dias ou horas de folga, as crianças diverti-

Devido à abundância de peixes e animais silvestres, a caça e a pesca eram duas significativas fontes de alimentos. Nos dias ou horas de folga, as crianças diverti-

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

am-se trabalhando, armando arapucas, caçando com o bodoque e pescando nos rios.

am-se trabalhando, armando arapucas, caçando com o bodoque e pescando nos rios.

A produção dos bens de consumo

A produção dos bens de consumo

Os bens de consumo eram produzidos pela própria sociedade, pois esses não vinham de outras regiões devido à precariedade dos meios de transportes e de comunicação.

Os bens de consumo eram produzidos pela própria sociedade, pois esses não vinham de outras regiões devido à precariedade dos meios de transportes e de comunicação.

A fabricação do sabão

A fabricação do sabão

Para fabricar o sabão, as pessoas aproveitavam os restos de gordura de porco, tripa, sebo e outros ingredientes. Não havendo a soda cáustica, foi desenvolvida uma técnica chamada decoada4 para substituí-la. A decoada era extraída através de um destilador (espécie de jirau com a boca larga e o fundo estreito). Esse jirau era forrado com palhas secas de arroz e, sobre as palhas, colocavam-se cinzas de uma madeira chamada Sorocaba. Após a instalação do destilador, era regado um pouco de água sobre ele, para que esta se infiltrasse lentamente e caísse numa vasilha. O líquido infiltrado era a decoada.

Para fabricar o sabão, as pessoas aproveitavam os restos de gordura de porco, tripa, sebo e outros ingredientes. Não havendo a soda cáustica, foi desenvolvida uma técnica chamada decoada4 para substituí-la. A decoada era extraída através de um destilador (espécie de jirau com a boca larga e o fundo estreito). Esse jirau era forrado com palhas secas de arroz e, sobre as palhas, colocavam-se cinzas de uma madeira chamada Sorocaba. Após a instalação do destilador, era regado um pouco de água sobre ele, para que esta se infiltrasse lentamente e caísse numa vasilha. O líquido infiltrado era a decoada.

Esse processo devia ser realizado com muito cuidado, pois o produto, se ingerido por pessoas ou animais, provoca a morte, e o contato dele com os olhos resulta em cegueira.

Esse processo devia ser realizado com muito cuidado, pois o produto, se ingerido por pessoas ou animais, provoca a morte, e o contato dele com os olhos resulta em cegueira.

A fabricação de catres e colchões

A fabricação de catres e colchões

Para dormir, uns possuíam o catre que era feito de madeira e trançado com fatias de couro de boi por artesãos da

Para dormir, uns possuíam o catre que era feito de madeira e trançado com fatias de couro de boi por artesãos da

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Na linguagem popular o sabão decoada virou dicuada ou diquada.

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Na linguagem popular o sabão decoada virou dicuada ou diquada.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

região. Após costurar o forro dos colchões e dos travesseiros, as pessoas os enchiam com palhas secas retiradas das bananeiras. Quem não podia possuir um catre, estendia um couro de boi sobre o chão para servir-lhe de cama.

região. Após costurar o forro dos colchões e dos travesseiros, as pessoas os enchiam com palhas secas retiradas das bananeiras. Quem não podia possuir um catre, estendia um couro de boi sobre o chão para servir-lhe de cama.

Os teares

Os teares

Além de cuidar da roça, trabalhar no engenho e na casa de roda, as famílias precisavam dedicar um tempo à produção de tecido.

Além de cuidar da roça, trabalhar no engenho e na casa de roda, as famílias precisavam dedicar um tempo à produção de tecido.

O tear também exigia muito trabalho. Precisava descaroçar o algodão, fiá-lo na roda para fabricar as linhas, amarrar todas linhas no tear e depois tecer. Quando as pessoas pretendiam fabricar um tecido colorido, elas pegavam pedras de anil e as dissolviam em um pote com água e tingiam as linhas antes de tecê-las.

O tear também exigia muito trabalho. Precisava descaroçar o algodão, fiá-lo na roda para fabricar as linhas, amarrar todas linhas no tear e depois tecer. Quando as pessoas pretendiam fabricar um tecido colorido, elas pegavam pedras de anil e as dissolviam em um pote com água e tingiam as linhas antes de tecê-las.

O isqueiro

O isqueiro

O isqueiro, também conhecido como thac, conforme a linguagem local, era feito com uma ponta de chifre de boi como as antigas bingas. Dentro dela colocava – se pólvora, algodão desfiado e, com o auxílio de um pedaço de lima de afiar ferramentas, que era batido sobre uma pedra, surgiam faíscas de fogo. Com esse fogo, ascendia – se o fogão a lenha que mantinha as brasas acesas até o fim do dia.

O isqueiro, também conhecido como thac, conforme a linguagem local, era feito com uma ponta de chifre de boi como as antigas bingas. Dentro dela colocava – se pólvora, algodão desfiado e, com o auxílio de um pedaço de lima de afiar ferramentas, que era batido sobre uma pedra, surgiam faíscas de fogo. Com esse fogo, ascendia – se o fogão a lenha que mantinha as brasas acesas até o fim do dia.

Os utensílios domésticos

Os utensílios domésticos

Pratos, colheres, bacias, panelas e outros utensílios domésticos eram fabricados com madeira e argila. Louças eram peças raras e vindas de Morrinhos (Matias Cardoso), em cargueiros de bois, porque esses andavam a passos lentos. Posteriormente, esses produtos passaram a vir de Mato Verde ou de Monte Azul, trazidos nos carros de bois pelos carreiros que iam vender arroz.

Pratos, colheres, bacias, panelas e outros utensílios domésticos eram fabricados com madeira e argila. Louças eram peças raras e vindas de Morrinhos (Matias Cardoso), em cargueiros de bois, porque esses andavam a passos lentos. Posteriormente, esses produtos passaram a vir de Mato Verde ou de Monte Azul, trazidos nos carros de bois pelos carreiros que iam vender arroz.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

As construções

As construções

Até por volta de 1980, às construções eram feitas de paua-pique e adobes, madeiras roliças, portas fechadas com taramelas, fogão a lenha, banco de madeira para as pessoas se sentarem, piso de chão batido, as paredes rebocadas com barro e pintadas com tabatinga.

Até por volta de 1980, às construções eram feitas de paua-pique e adobes, madeiras roliças, portas fechadas com taramelas, fogão a lenha, banco de madeira para as pessoas se sentarem, piso de chão batido, as paredes rebocadas com barro e pintadas com tabatinga.

Avião X medo

Avião X medo

O primeiro avião que sobrevoou nos céus de Gameleira provocou um medo terrível nas pessoas. Muita gente ficou o resto do dia e da noite rezando, pois imaginavam ser uma cruz que estava descendo do céu para anunciar o fim dos tempos. O senhor Osvaldo Antunes de Sousa calcula que esse fato aconteceu por volta de 1920 ou 1930.5

O primeiro avião que sobrevoou nos céus de Gameleira provocou um medo terrível nas pessoas. Muita gente ficou o resto do dia e da noite rezando, pois imaginavam ser uma cruz que estava descendo do céu para anunciar o fim dos tempos. O senhor Osvaldo Antunes de Sousa calcula que esse fato aconteceu por volta de 1920 ou 1930.5

Saúde

Saúde

Devido à precariedade dos meios de transporte e de comunicação, a sociedade precisava recorrer aos remédios caseiros e aos benzedores para curar as doenças.Quando o benzedor ou o remédio caseiro não resolvia o problema do paciente, algum parente ou amigo montava em um cavalo ou em um burro, atravessava a serra e ia até Monte Azul para tomar as devidas providências. Explicava-se o estado de saúde do paciente ao médico que, logo após a conversa, lhe emitia a receita. No mesmo dia, ou no dia seguinte, chegava o remédio.

Devido à precariedade dos meios de transporte e de comunicação, a sociedade precisava recorrer aos remédios caseiros e aos benzedores para curar as doenças.Quando o benzedor ou o remédio caseiro não resolvia o problema do paciente, algum parente ou amigo montava em um cavalo ou em um burro, atravessava a serra e ia até Monte Azul para tomar as devidas providências. Explicava-se o estado de saúde do paciente ao médico que, logo após a conversa, lhe emitia a receita. No mesmo dia, ou no dia seguinte, chegava o remédio.

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Depoimento do senhor Osvaldo Antunes de Souza, trabalhador rural aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2003.

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Depoimento do senhor Osvaldo Antunes de Souza, trabalhador rural aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2003.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Nos casos de emergência, quando precisavam retirar o paciente, era uma dificuldade imensa, por causa da carência dos transportes. Muitos doentes foram levados de Gameleira até Monte Azul deitados em redes ou em catres que eram conduzidos por quatro homens.

Nos casos de emergência, quando precisavam retirar o paciente, era uma dificuldade imensa, por causa da carência dos transportes. Muitos doentes foram levados de Gameleira até Monte Azul deitados em redes ou em catres que eram conduzidos por quatro homens.

O senhor Joaquim Rodrigues de Oliveira (Joaquim Genro) foi conduzido até a cidade de Mato Verde em cima de um catre. Veja o depoimento do senhor Artur Rodrigues de Oliveira.

O senhor Joaquim Rodrigues de Oliveira (Joaquim Genro) foi conduzido até a cidade de Mato Verde em cima de um catre. Veja o depoimento do senhor Artur Rodrigues de Oliveira.

Em 1941 eu perdi meu pai. Ele morava ali naquela casa veia. Ali ele já caiu. Em 41 ele adoeceu de uma dor de barriga, aí a minha mãe e os meus ti inventou de tirar ele para Porterinha, para fazer o tratamento. Mas como é que exportava, teve de pegar aquelas camas de correia, cate, chamada cate. Pôs dois varão por baixo e marrou e tirou ele. Gastou três dias daqui ni Mato Verde. Chegando em Mato Verde não ficou um dia em Mato Verde, depois conseguiu arrumar um caminhão véio. Pôs ele em cima do caminhão e levou ele para Porterinha. Chegando em Porterinha, no outro dia ele faleceu. Lá fez o sepulto. Daí minha mãe e meus ti vieram embora. Quando eles chegou aqui é que nós ficou sabendo que ele tinha morrido.6

Em 1941 eu perdi meu pai. Ele morava ali naquela casa veia. Ali ele já caiu. Em 41 ele adoeceu de uma dor de barriga, aí a minha mãe e os meus ti inventou de tirar ele para Porterinha, para fazer o tratamento. Mas como é que exportava, teve de pegar aquelas camas de correia, cate, chamada cate. Pôs dois varão por baixo e marrou e tirou ele. Gastou três dias daqui ni Mato Verde. Chegando em Mato Verde não ficou um dia em Mato Verde, depois conseguiu arrumar um caminhão véio. Pôs ele em cima do caminhão e levou ele para Porterinha. Chegando em Porterinha, no outro dia ele faleceu. Lá fez o sepulto. Daí minha mãe e meus ti vieram embora. Quando eles chegou aqui é que nós ficou sabendo que ele tinha morrido.6

O senhor Dionísio Fernandes Baleeiro também comentou sobre essa carência dos meios de transportes e as dificuldades na área da saúde, prestando o seguinte depoimento:

O senhor Dionísio Fernandes Baleeiro também comentou sobre essa carência dos meios de transportes e as dificuldades na área da saúde, prestando o seguinte depoimento:

Em 63, eu tava com um menino doente. Levei ele ni Monte Azul um cado de vez. Aqui pra serra né, uma capa grande punhava na cabeça dos arreio e colocava o menino em cima, então eu fui diversas vez. Só ti-

Em 63, eu tava com um menino doente. Levei ele ni Monte Azul um cado de vez. Aqui pra serra né, uma capa grande punhava na cabeça dos arreio e colocava o menino em cima, então eu fui diversas vez. Só ti-

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Depoimento do senhor Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002. 51

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Depoimento do senhor Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002. 51


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

nha Doutor Leal. Quando chegava lá com um menino ruim era aquele enchou! Aí ele foi arruinando, arruinando, aí um dia cumpadre Patrício falou. Cumpadre tá bom do cê levar esse menino pra Montes Claros. Quer dizer que tinha de pegar o trem em Catuti pra ir pra Montes Claros. Quando nós chegou em Catuti, aí o menino tava ruim. Nós foi pra pensão daquele véio, seu Joaquim. Aí fiquemos lá, quando foi duas horas da madrugada o menino morreu. E o menino já tava com dois anos. E agora a preocupação pra eu voltar com esse menino morto na cabeça dos arreio. Avalença de Deus que Suna naquela época já tinha um Jeep. Ele tinha ido pra Montes Claros e deixado o Jeep ni Catuti né; que gente viajava de trem né, naquela época pra Montes Claros. Ele deixou o Jeep lá né. No outro dia, eu conversei com seu Joaquim, seu Joaquim falou: ué Niz tem um Jeep de Suna aí, se achar um motorista, que até motorista naquela época era difícil. Aí ele deu umas voltas lá e conseguiu o motorista, mas a gasolina que tinha não dava pra ir e voltar. Aí teve que ir em Mato Verde abastecer o Jeep, aí que nós veio com o menino.7

nha Doutor Leal. Quando chegava lá com um menino ruim era aquele enchou! Aí ele foi arruinando, arruinando, aí um dia cumpadre Patrício falou. Cumpadre tá bom do cê levar esse menino pra Montes Claros. Quer dizer que tinha de pegar o trem em Catuti pra ir pra Montes Claros. Quando nós chegou em Catuti, aí o menino tava ruim. Nós foi pra pensão daquele véio, seu Joaquim. Aí fiquemos lá, quando foi duas horas da madrugada o menino morreu. E o menino já tava com dois anos. E agora a preocupação pra eu voltar com esse menino morto na cabeça dos arreio. Avalença de Deus que Suna naquela época já tinha um Jeep. Ele tinha ido pra Montes Claros e deixado o Jeep ni Catuti né; que gente viajava de trem né, naquela época pra Montes Claros. Ele deixou o Jeep lá né. No outro dia, eu conversei com seu Joaquim, seu Joaquim falou: ué Niz tem um Jeep de Suna aí, se achar um motorista, que até motorista naquela época era difícil. Aí ele deu umas voltas lá e conseguiu o motorista, mas a gasolina que tinha não dava pra ir e voltar. Aí teve que ir em Mato Verde abastecer o Jeep, aí que nós veio com o menino.7

Conforme os depoimentos dos senhores Artur Rodrigues de Oliveira e Dionísio Fernandes Baleeiro é possível perceber o grande isolamento da sociedade do distrito da Gameleira em relação aos centros urbanos e as dificuldades enfrentadas pelas pessoas daquela região nesse contexto.

Conforme os depoimentos dos senhores Artur Rodrigues de Oliveira e Dionísio Fernandes Baleeiro é possível perceber o grande isolamento da sociedade do distrito da Gameleira em relação aos centros urbanos e as dificuldades enfrentadas pelas pessoas daquela região nesse contexto.

O uso de remédio de fábrica foi uma novidade para o povo da vila de Gameleira e região na década de 1960. Nessa época, o senhor Adelino do Prado Pinto (Suna) começou a vender Sonrizal em seu comércio no povoado de Gameleira. Ao orientar as pessoas para consumir o remédio, ele dizia que precisava esperar ferver antes

O uso de remédio de fábrica foi uma novidade para o povo da vila de Gameleira e região na década de 1960. Nessa época, o senhor Adelino do Prado Pinto (Suna) começou a vender Sonrizal em seu comércio no povoado de Gameleira. Ao orientar as pessoas para consumir o remédio, ele dizia que precisava esperar ferver antes

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Depoimento do senhor Dionísio Fernandes Baleeiro, trabalhador rural aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002.

Depoimento do senhor Dionísio Fernandes Baleeiro, trabalhador rural aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

de tomar, porque esse produto é efervescente. Muita gente colocava o Sonrizal na água quente para ferver.

de tomar, porque esse produto é efervescente. Muita gente colocava o Sonrizal na água quente para ferver.

A verminose era muito freqüente devido às precárias condições higiênicas da sociedade. Não havia banheiro sanitário. Então as pessoas defecavam em volta da casa. Folhas do mato serviam como papel higiênico. As galinhas comiam essas fezes e, logo após, a dona de casa matava a galinha para preparar a comida. A maioria das pessoas não tinha o hábito de lavar as mãos antes das refeições. A água consumida era trazida do rio onde todas as famílias tomavam banho e lavavam as roupas. Além de tudo isso, a água não era filtrada porque não existia filtro.

A verminose era muito freqüente devido às precárias condições higiênicas da sociedade. Não havia banheiro sanitário. Então as pessoas defecavam em volta da casa. Folhas do mato serviam como papel higiênico. As galinhas comiam essas fezes e, logo após, a dona de casa matava a galinha para preparar a comida. A maioria das pessoas não tinha o hábito de lavar as mãos antes das refeições. A água consumida era trazida do rio onde todas as famílias tomavam banho e lavavam as roupas. Além de tudo isso, a água não era filtrada porque não existia filtro.

A maioria das pessoas de Gameleira, que faziam consulta em Monte Azul, estava infectada por vermes, devido às precárias condições higiênicas. Diante dessa situação, a Secretaria de Saúde da cidade de Monte Azul elaborou um projeto para construção de privadas no distrito de Gameleira. Esse projeto foi executado entre os anos de 1980 e 1981. O povoado de Gameleira e o de Vereda de Gameleira foram beneficiados com essas construções sanitárias. Essa iniciativa contribuiu para sensibilizar a sociedade sobre a importância das instalações sanitárias em suas residências.

A maioria das pessoas de Gameleira, que faziam consulta em Monte Azul, estava infectada por vermes, devido às precárias condições higiênicas. Diante dessa situação, a Secretaria de Saúde da cidade de Monte Azul elaborou um projeto para construção de privadas no distrito de Gameleira. Esse projeto foi executado entre os anos de 1980 e 1981. O povoado de Gameleira e o de Vereda de Gameleira foram beneficiados com essas construções sanitárias. Essa iniciativa contribuiu para sensibilizar a sociedade sobre a importância das instalações sanitárias em suas residências.

Em 1980, a senhora Maria Oliveira Baleeiro, após alguns treinamentos, começou a atuar como enfermeira leiga, fazendo pequenas suturas e curativos, aplicando vacinas e medindo pressão arterial. Maria Oliveira ficou na história por ter sido a primeira pessoa, no distrito de Gameleira, a atuar nessa área da saúde.

Em 1980, a senhora Maria Oliveira Baleeiro, após alguns treinamentos, começou a atuar como enfermeira leiga, fazendo pequenas suturas e curativos, aplicando vacinas e medindo pressão arterial. Maria Oliveira ficou na história por ter sido a primeira pessoa, no distrito de Gameleira, a atuar nessa área da saúde.

Após a morte de D. Maria Oliveira Baleeiro, em 1991, a senhora Ana Antunes Martins, que já atuava nessa área, ficou sendo sua substituta.

Após a morte de D. Maria Oliveira Baleeiro, em 1991, a senhora Ana Antunes Martins, que já atuava nessa área, ficou sendo sua substituta.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Na primeira gestão administrativa do município de Gameleiras (1997 – 2000), foi implantado o Programa Saúde da Família (PSF). A partir daí, Gameleiras passou a ter direito a um médico, uma enfermeira habilitada e um grupo de agentes de saúde.

Na primeira gestão administrativa do município de Gameleiras (1997 – 2000), foi implantado o Programa Saúde da Família (PSF). A partir daí, Gameleiras passou a ter direito a um médico, uma enfermeira habilitada e um grupo de agentes de saúde.

Educação

Educação

A principal preocupação dos pais era ensinar os filhos a trabalhar. As crianças eram educadas à base do chicote. Escola, só de vez quando, porque a garotada estava quase sempre ocupada ajudando os pais na lavoura, nas casas de roda ou nos engenhos.

A principal preocupação dos pais era ensinar os filhos a trabalhar. As crianças eram educadas à base do chicote. Escola, só de vez quando, porque a garotada estava quase sempre ocupada ajudando os pais na lavoura, nas casas de roda ou nos engenhos.

Em 1910, quando foi fundado o povoado de Gameleira, o senhor João de Sousa começou a trabalhar como professor na comunidade. Ele lecionava em sua casa. Nessa seqüência, atuaram outros professores que também lecionavam em suas casas:Maria Alice Telles de Menezes, Justina Maria Dias (popular mestra Tima), Geralda Mendes de Oliveira e Geralda Antunes de Oliveira.

Em 1910, quando foi fundado o povoado de Gameleira, o senhor João de Sousa começou a trabalhar como professor na comunidade. Ele lecionava em sua casa. Nessa seqüência, atuaram outros professores que também lecionavam em suas casas:Maria Alice Telles de Menezes, Justina Maria Dias (popular mestra Tima), Geralda Mendes de Oliveira e Geralda Antunes de Oliveira.

A última professora mencionada atuou até 1959, ano em que faleceu. De maio de 1959 até agosto de 1961, a escola do povoado de Gameleira ficou sem professor.

A última professora mencionada atuou até 1959, ano em que faleceu. De maio de 1959 até agosto de 1961, a escola do povoado de Gameleira ficou sem professor.

No período de 1910 a 1959, para ser professor na região do distrito de Gameleira bastava saber ler e escrever algumas palavras. Nenhum dos professores acima citados concluiu a 4ª série do antigo Ensino Primário. O objetivo dos nossos primeiros professores era ensinar a carta de sílabas e o bê-a-bá. O que atualmente nós chamamos de avaliação, nossos primeiros professores chamavam de argüição (grumentação), sendo punitiva, imposta, autoritária e acompanhada de castigo físico de diversas

No período de 1910 a 1959, para ser professor na região do distrito de Gameleira bastava saber ler e escrever algumas palavras. Nenhum dos professores acima citados concluiu a 4ª série do antigo Ensino Primário. O objetivo dos nossos primeiros professores era ensinar a carta de sílabas e o bê-a-bá. O que atualmente nós chamamos de avaliação, nossos primeiros professores chamavam de argüição (grumentação), sendo punitiva, imposta, autoritária e acompanhada de castigo físico de diversas

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

formas. Exemplos: palmatória, ajoelhar crianças em grãos de milho ou em cascalho, colocar crianças em frente ao quadro de braços abertos, deixar aluno sem recreio, puxões de orelha.

formas. Exemplos: palmatória, ajoelhar crianças em grãos de milho ou em cascalho, colocar crianças em frente ao quadro de braços abertos, deixar aluno sem recreio, puxões de orelha.

No final do ano de 1961, o senhor Edir Prates, assessor do então governador José Magalhães Pinto, o senhor Manoel Teixeira Sobrinho e o senhor José Olímpio Fernandes reuniram – se com o povo no distrito de Gameleira. Nessa reunião, ficou decidida a implantação de sete salas de aula no distrito. Essas turmas ficaram divididas da seguinte maneira: uma em Boqueirão do Encantado; uma em Zispera (Boa Vista); duas em Gameleira; uma em Jacu das Piranhas; uma em Brejo dos Mártires, e uma no Vale do Gorutuba.7

No final do ano de 1961, o senhor Edir Prates, assessor do então governador José Magalhães Pinto, o senhor Manoel Teixeira Sobrinho e o senhor José Olímpio Fernandes reuniram – se com o povo no distrito de Gameleira. Nessa reunião, ficou decidida a implantação de sete salas de aula no distrito. Essas turmas ficaram divididas da seguinte maneira: uma em Boqueirão do Encantado; uma em Zispera (Boa Vista); duas em Gameleira; uma em Jacu das Piranhas; uma em Brejo dos Mártires, e uma no Vale do Gorutuba.7

Em 1965, foi construído o prédio da Escola Estadual de Gameleira, que, inicialmente, compunha-se de duas salas de aula, uma cozinha e duas privadas (banheiro sem vaso sanitário) e uma sala onde funcionava o posto de saúde. A construção foi realizada na gestão do prefeito de Monte Azul, Doutor Porfírio dos Reis Leal (dr. Leal). A área do terreno (dois mil e quinhentos metros quadrados) foi doada pelo senhor Mário José de Oliveira, em 22/12/1964.

Em 1965, foi construído o prédio da Escola Estadual de Gameleira, que, inicialmente, compunha-se de duas salas de aula, uma cozinha e duas privadas (banheiro sem vaso sanitário) e uma sala onde funcionava o posto de saúde. A construção foi realizada na gestão do prefeito de Monte Azul, Doutor Porfírio dos Reis Leal (dr. Leal). A área do terreno (dois mil e quinhentos metros quadrados) foi doada pelo senhor Mário José de Oliveira, em 22/12/1964.

Em dezembro de 1970, aconteceu a primeira formatura de 4ª série do Ensino Primário, tendo como professora a senhora Orvalina do Prado Barbosa, a primeira professora com formação primária (4ª série) na região do distrito de Gameleira. Poucos anos depois, começou também a ter formatura de 4ª série nas comunidades vizinhas. Em 1973, em Jacu das Piranhas e, em 1978, em

Em dezembro de 1970, aconteceu a primeira formatura de 4ª série do Ensino Primário, tendo como professora a senhora Orvalina do Prado Barbosa, a primeira professora com formação primária (4ª série) na região do distrito de Gameleira. Poucos anos depois, começou também a ter formatura de 4ª série nas comunidades vizinhas. Em 1973, em Jacu das Piranhas e, em 1978, em

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Informações obtidas a partir dos depoimentos de Antônio Fernandes Barbosa e Izídio Rodrigues de Oliveira. 55

Informações obtidas a partir dos depoimentos de Antônio Fernandes Barbosa e Izídio Rodrigues de Oliveira. 55


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Brejo dos Mártires.

Brejo dos Mártires.

De 1970 até 1984, vários alunos se deslocaram do distrito de Gameleira para a cidade de Monte Azul ou Espinosa, com o objetivo de concluírem o Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) e o magistério. Uns alcançaram o objetivo e outros encerraram no meio da jornada.

De 1970 até 1984, vários alunos se deslocaram do distrito de Gameleira para a cidade de Monte Azul ou Espinosa, com o objetivo de concluírem o Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) e o magistério. Uns alcançaram o objetivo e outros encerraram no meio da jornada.

Para facilitar a vida desses estudantes, a resolução nº 5587/85 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª série), a partir do ano de 1985 na E.E. de Gameleira. Em 1988, realizou-se a primeira festa de formatura de conclusão do Ensino Fundamental em Gameleira. A Resolução nº 6743/90 de 25/04/1990 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª) na E.E. de Brejo dos Mártires, a partir de 1990, e em 1994 foi realizada a primeira festa de formatura de 8ª série nessa comunidade. A Resolução nº 9196/98 de 26/03/1998 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª) na E. M. Taciano Antunes de Sousa na comunidade do Engenho, e a Resolução 9146/98 de 23/ 03/98 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª) na E.M. Izídio José de Oliveira, na comunidade de Jacu das Piranhas.

Para facilitar a vida desses estudantes, a resolução nº 5587/85 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª série), a partir do ano de 1985 na E.E. de Gameleira. Em 1988, realizou-se a primeira festa de formatura de conclusão do Ensino Fundamental em Gameleira. A Resolução nº 6743/90 de 25/04/1990 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª) na E.E. de Brejo dos Mártires, a partir de 1990, e em 1994 foi realizada a primeira festa de formatura de 8ª série nessa comunidade. A Resolução nº 9196/98 de 26/03/1998 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª) na E. M. Taciano Antunes de Sousa na comunidade do Engenho, e a Resolução 9146/98 de 23/ 03/98 autorizou a extensão de séries (5ª a 8ª) na E.M. Izídio José de Oliveira, na comunidade de Jacu das Piranhas.

De 1989 até o ano de 1997, alguns alunos continuaram os estudos na cidade de Monte Azul, cursando o magistério. Outros desistiram ou foram para outras cidades, principalmente do Estado de São Paulo.

De 1989 até o ano de 1997, alguns alunos continuaram os estudos na cidade de Monte Azul, cursando o magistério. Outros desistiram ou foram para outras cidades, principalmente do Estado de São Paulo.

No ano de 1998, conforme a portaria 546/98, iniciouse na E. E. de Gameleira, o curso de Nível Médio na modalidade itinerante, com duas turmas de 1º ano e uma de 2º. A turma de 2º ano estudava em Monte Azul. Dessa forma, em 1999 aconteceu a primeira festa de formatura de 3º ano do Ensino Médio na cidade de Gameleiras.

No ano de 1998, conforme a portaria 546/98, iniciouse na E. E. de Gameleira, o curso de Nível Médio na modalidade itinerante, com duas turmas de 1º ano e uma de 2º. A turma de 2º ano estudava em Monte Azul. Dessa forma, em 1999 aconteceu a primeira festa de formatura de 3º ano do Ensino Médio na cidade de Gameleiras.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

O transporte escolar contribui bastante para que as crianças e adolescentes freqüentem as aulas. A grande maioria dos alunos em todas as escolas do nosso município depende desse transporte para o acesso e permanência na escola, principalmente os alunos do Ensino Médio, cuja maioria reside nas comunidades rurais.

O transporte escolar contribui bastante para que as crianças e adolescentes freqüentem as aulas. A grande maioria dos alunos em todas as escolas do nosso município depende desse transporte para o acesso e permanência na escola, principalmente os alunos do Ensino Médio, cuja maioria reside nas comunidades rurais.

Atualmente, o objetivo da maioria dos jovens do município de Gameleiras é concluir o Ensino Médio e ir para o Estado de São Paulo à procura de melhores condições de vida. A sociedade do município precisa lutar para conquistar alternativas de trabalho para os jovens e evitar o êxodo rural.

Atualmente, o objetivo da maioria dos jovens do município de Gameleiras é concluir o Ensino Médio e ir para o Estado de São Paulo à procura de melhores condições de vida. A sociedade do município precisa lutar para conquistar alternativas de trabalho para os jovens e evitar o êxodo rural.

A sociedade de Gameleiras, como as demais do Norte de Minas Gerais, possue um vocabulário regional bem diferente daquele técnico e científico. Atualmente, com a difusão e interação do conhecimento, esse vocabulário está sofrendo algumas transformações. Mas muitas palavras, expressões e ditos populares continuam vivos no nosso cotidiano, principalmente entre as pessoas da terceira idade. Veja algumas dessas palavras, expressões e ditos populares do povo de Gameleiras.

A sociedade de Gameleiras, como as demais do Norte de Minas Gerais, possue um vocabulário regional bem diferente daquele técnico e científico. Atualmente, com a difusão e interação do conhecimento, esse vocabulário está sofrendo algumas transformações. Mas muitas palavras, expressões e ditos populares continuam vivos no nosso cotidiano, principalmente entre as pessoas da terceira idade. Veja algumas dessas palavras, expressões e ditos populares do povo de Gameleiras.

z

Acanhado: tímido.

z

z Achou o ninho da égua: quando surge um motivo de muita gargalhada. z

Acochar: apertar.

z Achou o ninho da égua: quando surge um motivo de muita gargalhada. z

z Acoitar: conceder razão a alguém que infringiu as normas da sociedade.

Acanhado: tímido.

Acochar: apertar.

z Acoitar: conceder razão a alguém que infringiu as normas da sociedade.

z

Amisco: mau cheiro.

z

Amisco: mau cheiro.

z

Andaço: epidemia de diarréia.

z

Andaço: epidemia de diarréia.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

z

Apurar as vistas: ler em local escuro ou após as refeições.

z

Apurar as vistas: ler em local escuro ou após as refeições.

z

Armador de rede: clavícula.

z

Armador de rede: clavícula.

z

Arribar: erguer.

z

Arribar: erguer.

z

Arrumar o cavalo: soltar o cavalo no pasto.

z

Arrumar o cavalo: soltar o cavalo no pasto.

z

Assuntar: escutar, ouvir com atenção.

z

Assuntar: escutar, ouvir com atenção.

z

Avalença: por sorte algo não aconteceu.

z

Avalença: por sorte algo não aconteceu.

z

Babau: adeus.

z

Babau: adeus.

z

Baita ou bitelo: grande.

z

Baita ou bitelo: grande.

z

Beiços: lábios.

z

Beiços: lábios.

z

Biboca: lugar de difícil acesso.

z

Biboca: lugar de difícil acesso.

z

Bistunta: tomar uma decisão inesperada.

z

Bistunta: tomar uma decisão inesperada.

z

Borboleta do ouvido: tímpano.

z

Borboleta do ouvido: tímpano.

z

Breu: escuridão.

z

Breu: escuridão.

z

Cabiceiro: travesseiro.

z

Cabiceiro: travesseiro.

z

Caçoar, mangar ou debochar: rir dos outros; caçoar.

z

Caçoar, mangar ou debochar: rir dos outros; caçoar.

z

Cacunda: costas ou coluna.

z

Cacunda: costas ou coluna.

z

Calundu: choro prolongado.

z

Calundu: choro prolongado.

z

Cangote: parte de traz do pescoço.

z

Cangote: parte de traz do pescoço.

z

Caxingando: mancando.

z

Caxingando: mancando.

z

Cessar: peneirar .

z

Cessar: peneirar .

z

Chuete: pequeno descanso.

z

Chuete: pequeno descanso.

z

Cocá: galinha de Angola.

z

Cocá: galinha de Angola.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

z Correu com Bernado: espantou a fome com a chegada do feijão comum, conhecido como feijão catador ou gorutuba.

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

z Correu com Bernado: espantou a fome com a chegada do feijão comum, conhecido como feijão catador ou gorutuba.

z

Cuia: cabaça serrada ao meio.

z

Cuia: cabaça serrada ao meio.

z

Dar bença: pedir a bênção.

z

Dar bença: pedir a bênção.

z

Dar um rela: emitir uma má resposta a alguém.

z

Dar um rela: emitir uma má resposta a alguém.

z

Dar uma pisa: bater bastante em alguém.

z

Dar uma pisa: bater bastante em alguém.

z

Dar uns tebefes ou dar um surdão: bater em alguém.

z

Dar uns tebefes ou dar um surdão: bater em alguém.

z

Derradeiro: último.

z

Derradeiro: último.

z

Desarnando: desenvolvendo.

z

Desarnando: desenvolvendo.

z

Desmentir: deslocar junta do corpo.

z

Desmentir: deslocar junta do corpo.

z

Deu fé: percebeu ou desconfiou.

z

Deu fé: percebeu ou desconfiou.

z

Deu quinéu ou deu que fazer: demorou bastante.

z

Deu quinéu ou deu que fazer: demorou bastante.

z

Dicumê: comida.

z

Dicumê: comida.

z

Enxambrado: um pouco úmido.

z

Enxambrado: um pouco úmido.

z

Enxumo: dores no estômago.

z

Enxumo: dores no estômago.

Escrafunchar: procurar por todos os lados; escarafunchar.

z

Escrafunchar: procurar por todos os lados; escarafunchar.

z

z

Espinhaço: coluna.

z

Espinhaço: coluna.

z

Esprivitado: bem esclarecido.

z

Esprivitado: bem esclarecido.

z Está borrando: está nervoso, contrariado com alguma coisa ou alguém. z

Está ovando: está falando ou fazendo besteiras.

z Está borrando: está nervoso, contrariado com alguma coisa ou alguém. z

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Está ovando: está falando ou fazendo besteiras. 59


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

z Estamporar ou fazer arte: ingerir alimentos quentes e depois frios.

z Estamporar ou fazer arte: ingerir alimentos quentes e depois frios.

z

Filho particular: filho com mulher concubina.

z

Filho particular: filho com mulher concubina.

z

Folhinha: calendário.

z

Folhinha: calendário.

z

Gavar: elogiar.

z

Gavar: elogiar.

z

Gibeira: bolso de camisa ou paletó; algibeira.

z

Gibeira: bolso de camisa ou paletó; algibeira.

z

Goma: polvilho ou fécula de mandioca.

z

Goma: polvilho ou fécula de mandioca.

z

Gorduroso: comida.

z

Gorduroso: comida.

z

Guela: garganta; goela.

z

Guela: garganta; goela.

z

Inseguerado: viciado

z

Inseguerado: viciado

z

Inverno: tempo chuvoso.

z

Inverno: tempo chuvoso.

z

Laboro: muita conversa ao mesmo tempo.

z

Laboro: muita conversa ao mesmo tempo.

z

Lançar ou gumitar: fazer vômitos.

z

Lançar ou gumitar: fazer vômitos.

z

Librina ou lubrina: neblina.

z

Librina ou lubrina: neblina.

z

Lorde: bem vestido.

z

Lorde: bem vestido.

z

Machante: açougueiro.

z

Machante: açougueiro.

z

Matutando: pensando concentrado.

z

Matutando: pensando concentrado.

z Morrer à míngua: morrer sem assistência médica ou da família.

z Morrer à míngua: morrer sem assistência médica ou da família.

z

Mulher incomodada: mulher sentindo dores do parto.

z

Mulher incomodada: mulher sentindo dores do parto.

z

Narigada: pitada.

z

Narigada: pitada.

z

Nascida: cabeça-de-prego ou furúnculo.

z

Nascida: cabeça-de-prego ou furúnculo.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

z

Nem mi nem égua: nenhuma coisa e nem outra.

z

Nem mi nem égua: nenhuma coisa e nem outra.

z

Ocê ou ucê: você.

z

Ocê ou ucê: você.

z

Paga meu ano bom: gesto de desejar feliz ano novo.

z

Paga meu ano bom: gesto de desejar feliz ano novo.

z

Pelejando: tentando com freqüência.

z

Pelejando: tentando com freqüência.

z

Penicar: beliscar.

z

Penicar: beliscar.

z

Pessoa tirada a machado: pessoa mal-educada.

z

Pessoa tirada a machado: pessoa mal-educada.

z

Pestana: sobrancelha.

z

Pestana: sobrancelha.

z

Pinóia: coisa ruim.

z

Pinóia: coisa ruim.

z

Pintar e bordar: fazer anarquia.

z

Pintar e bordar: fazer anarquia.

z

Pispiar: começar ou iniciar.

z

Pispiar: começar ou iniciar.

z

Pó-de-arroz: talco.

z

Pó-de-arroz: talco.

z

Precata: sandália.

z

Precata: sandália.

z

Prusiar: bate-papo entre amigos.

z

Prusiar: bate-papo entre amigos.

z

Quebranto: mau-olhado que adoece.

z

Quebranto: mau-olhado que adoece.

z

Regalar: divertir, comer ou beber bastante.

z

Regalar: divertir, comer ou beber bastante.

z

Remedar: imitar alguém.

z

Remedar: imitar alguém.

z Responsar alguém: procurar alguém que trabalha com magia para descobrir quem praticou algo errado. z

Rudiar: dar a volta.

z Responsar alguém: procurar alguém que trabalha com magia para descobrir quem praticou algo errado. z

z Rudo: pessoa que apresenta baixo desenvolvimento intelectual.

Rudiar: dar a volta.

z Rudo: pessoa que apresenta baixo desenvolvimento intelectual.

z

Sem adagem: sem ânimo.

z

Sem adagem: sem ânimo.

z

Sem bri e sem termo: sem-vergonha ou sem respeito.

z

Sem bri e sem termo: sem-vergonha ou sem respeito.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

z

Sustança: força ou energia.

z

Sustança: força ou energia.

z

Suturão: muito silêncio.

z

Suturão: muito silêncio.

z

Suverteu: desapareceu.

z

Suverteu: desapareceu.

z

Terra boa: solo rico em fertilidade.

z

Terra boa: solo rico em fertilidade.

z

Terra ruim: solo pobre em fertilidade.

z

Terra ruim: solo pobre em fertilidade.

z

Tinindo: bem apertado.

z

Tinindo: bem apertado.

z

Tomar pó: tomar rapé.

z

Tomar pó: tomar rapé.

z

Tomar um moca: tomar café.

z

Tomar um moca: tomar café.

z

Transando: indo e voltando de um lugar para outro.

z

Transando: indo e voltando de um lugar para outro.

z

Vadiar: perambular ou brincar.

z

Vadiar: perambular ou brincar.

z Vai desculpando: Costume popular de pedir desculpas a alguém.

z Vai desculpando: Costume popular de pedir desculpas a alguém.

z

Verter água: urinar.

z

Verter água: urinar.

z

Zanzando: andando sem destino.

z

Zanzando: andando sem destino.

z O alfabeto era pronunciado da seguinte maneira:A, B, C, D, E, Fê, Guê, H, I, Ji, K, Lê, Mê, Nê, O, P, Q, Rê, Si, T, U, V, X, Piscilone, Z.

z O alfabeto era pronunciado da seguinte maneira:A, B, C, D, E, Fê, Guê, H, I, Ji, K, Lê, Mê, Nê, O, P, Q, Rê, Si, T, U, V, X, Piscilone, Z.

Ditos populares

Ditos populares

z

A gente põe o chapéu onde à mão alcança.

z

A gente põe o chapéu onde à mão alcança.

z

Antes que o mal cresça corte a cabeça.

z

Antes que o mal cresça corte a cabeça.

z

Casa de ferreiro espeto de pau.

z

Casa de ferreiro espeto de pau.

z

Cavalo dado ninguém olha muda.

z

Cavalo dado ninguém olha muda.

z

Coitadinho é filho de rato que nasce pelado.

z

Coitadinho é filho de rato que nasce pelado.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

z

De grão em grão a galinha enche o papo.

z

De grão em grão a galinha enche o papo.

z

Enquanto descansa carrega pedra.

z

Enquanto descansa carrega pedra.

z

Filho de peixe peixinho é.

z

Filho de peixe peixinho é.

z Lenha verde pouco acende, quem muito dorme pouco aprende. z

Macaco velho não pula em galho seco.

z Lenha verde pouco acende, quem muito dorme pouco aprende. z

Mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro. z

Macaco velho não pula em galho seco.

Mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro. z

z

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

z

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.

z

O dono do defunto pega na cabeça.

z

O dono do defunto pega na cabeça.

z

Para fazer o bem não deve olhar a quem.

z

Para fazer o bem não deve olhar a quem.

z

Praga de urubu magro não pega em cavalo gordo.

z

Praga de urubu magro não pega em cavalo gordo.

z

Quando a esmola é muito até o santo desconfia.

z

Quando a esmola é muito até o santo desconfia.

z

Quem cochicha o rabo espicha.

z

Quem cochicha o rabo espicha.

z

Quem corre cansa, quem anda alcança.

z

Quem corre cansa, quem anda alcança.

z

Quem fala muito dá bom dia cavalo.

z

Quem fala muito dá bom dia cavalo.

z

Quem fez seu angu que se come.

z

Quem fez seu angu que se come.

z

Quem não quer molhar, não vai na chuva.

z

Quem não quer molhar, não vai na chuva.

z

Quem não tem cachorro caça com gato.

z

Quem não tem cachorro caça com gato.

z

Quem tem sua dor, que se geme.

z

Quem tem sua dor, que se geme.

z

Se o caso da velha for certo, você está enrolado.

z

Se o caso da velha for certo, você está enrolado.

z Serviço de mulher e menino é pouco, mas quem perde é louco.

z Serviço de mulher e menino é pouco, mas quem perde é louco.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

z

Todo amigo é um irmão nem todo irmão é um amigo.

z

Todo amigo é um irmão nem todo irmão é um amigo.

z

Uma andorinha voando sozinha não faz verão.

z

Uma andorinha voando sozinha não faz verão.

z

Vendi minha viola para não escutar toque.

z

Vendi minha viola para não escutar toque.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

CAPÍTULO III

CAPÍTULO III

A chegada do progresso ao distrito de Gameleira após a década de 1950

A chegada do progresso ao distrito de Gameleira após a década de 1950

A

partir da década de 1950, os horizontes do distrito de Gameleira se nortearam rumo ao progresso.

A

partir da década de 1950, os horizontes do distrito de Gameleira se nortearam rumo ao progresso.

Na agricultura, foi possível ampliar as áreas cultivadas devido à chegada do arado de tração animal, de uma máquina manual de semear arroz e de outros cereais. Essas novas ferramentas chegaram a Gameleira por volta de 1955, sendo que os primeiros proprietários de tais avanços foram Domingos José de Oliveira, José de Oliveira, Miguel Rodrigues de Oliveira, Artur Rodrigues de Oliveira. Muita gente saia das comunidades vizinhas para ver as pessoas trabalhando com essas novas ferramentas e todos voltavam admirados com a novidade. Esse fato pode ser considerado como a primeira revolução agrícola do distrito.

Na agricultura, foi possível ampliar as áreas cultivadas devido à chegada do arado de tração animal, de uma máquina manual de semear arroz e de outros cereais. Essas novas ferramentas chegaram a Gameleira por volta de 1955, sendo que os primeiros proprietários de tais avanços foram Domingos José de Oliveira, José de Oliveira, Miguel Rodrigues de Oliveira, Artur Rodrigues de Oliveira. Muita gente saia das comunidades vizinhas para ver as pessoas trabalhando com essas novas ferramentas e todos voltavam admirados com a novidade. Esse fato pode ser considerado como a primeira revolução agrícola do distrito.

Máquina de beneficiar arroz

Máquina de beneficiar arroz

No início da década 1960, o senhor Antônio Nunes Pereira (Tone de Doro) instalou uma máquina de beneficiar arroz na comunidade do Brejo dos Mártires, e o senhor Adelino do Prado (Suna) instalou outra no povoado da Gameleira. A máquina contribuiu para beneficiar

No início da década 1960, o senhor Antônio Nunes Pereira (Tone de Doro) instalou uma máquina de beneficiar arroz na comunidade do Brejo dos Mártires, e o senhor Adelino do Prado (Suna) instalou outra no povoado da Gameleira. A máquina contribuiu para beneficiar

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

o arroz com maior rapidez, com isso, a população foi lentamente abandonando o pilão.

o arroz com maior rapidez, com isso, a população foi lentamente abandonando o pilão.

O trator

O trator

Em 1978, o senhor Valdomiro José de Oliveira, residente a poucos quilômetros de Brejo dos Mártires, comprou um trator com os equipamentos agrícolas. Naquele mesmo ano, o senhor Carlos do Prado Pinto, residente em Jacu das Piranhas, também comprou um trator equipado. No ano seguinte, 1979, o senhor José de Oliveira Filho, residente na sede do distrito de Gameleira, comprou um trator.O trator do senhor José de Oliveira Filho, por ser de cor vermelha e pelo fato dos agricultores prepararem o solo para o plantio (tombar a terra) sempre com o auxílio da força de bois, ficou conhecido como “boi vermelho”.

Em 1978, o senhor Valdomiro José de Oliveira, residente a poucos quilômetros de Brejo dos Mártires, comprou um trator com os equipamentos agrícolas. Naquele mesmo ano, o senhor Carlos do Prado Pinto, residente em Jacu das Piranhas, também comprou um trator equipado. No ano seguinte, 1979, o senhor José de Oliveira Filho, residente na sede do distrito de Gameleira, comprou um trator.O trator do senhor José de Oliveira Filho, por ser de cor vermelha e pelo fato dos agricultores prepararem o solo para o plantio (tombar a terra) sempre com o auxílio da força de bois, ficou conhecido como “boi vermelho”.

Com a presença do trator, houve aumento significativo das áreas agrícolas cultivadas, principalmente de arroz. Na década de 1980, o caminhoneiro Durval Fernandes Barbosa transportava toda semana um caminhão truque carregado de arroz beneficiado, de Gameleira para o Estado da Bahia. Além desse comércio realizado pelo senhor Durval, outros comerciantes, ou mesmo os agricultores, vendiam arroz em Espinosa, Monte Azul e Mato Verde.

Com a presença do trator, houve aumento significativo das áreas agrícolas cultivadas, principalmente de arroz. Na década de 1980, o caminhoneiro Durval Fernandes Barbosa transportava toda semana um caminhão truque carregado de arroz beneficiado, de Gameleira para o Estado da Bahia. Além desse comércio realizado pelo senhor Durval, outros comerciantes, ou mesmo os agricultores, vendiam arroz em Espinosa, Monte Azul e Mato Verde.

Atualmente, o arroz produzido em Gameleiras não é suficiente nem para abastecer a população do município. A principal causa da crise na produção desse produto é o assoreamento dos rios e de suas nascentes. Em 2001, o sargento do destacamento policial de Gameleiras, Nilton Flávio Soares Barbosa, iniciou um trabalho com mais alguns voluntários: Arlindo Rodrigues de Oliveira, Hélio Rodrigues de Oliveira,

Atualmente, o arroz produzido em Gameleiras não é suficiente nem para abastecer a população do município. A principal causa da crise na produção desse produto é o assoreamento dos rios e de suas nascentes. Em 2001, o sargento do destacamento policial de Gameleiras, Nilton Flávio Soares Barbosa, iniciou um trabalho com mais alguns voluntários: Arlindo Rodrigues de Oliveira, Hélio Rodrigues de Oliveira,

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Zaurindo Fernandes Baleeiro, o cabo Vanderlei e o cinegrafista Renilson, realizando visitas na área das nascentes dos rios que cruzam o município de Gameleiras no sentido leste-oeste.

Zaurindo Fernandes Baleeiro, o cabo Vanderlei e o cinegrafista Renilson, realizando visitas na área das nascentes dos rios que cruzam o município de Gameleiras no sentido leste-oeste.

Nessas visitas, vários lugares foram filmados e fotografados. As fotos e o vídeo serviram para informar e sensibilizar a sociedade sobre o desmatamento e reflorestamento com eucalipto que estão destruindo as nascentes dos rios.

Nessas visitas, vários lugares foram filmados e fotografados. As fotos e o vídeo serviram para informar e sensibilizar a sociedade sobre o desmatamento e reflorestamento com eucalipto que estão destruindo as nascentes dos rios.

Durante o trabalho de sensibilização da sociedade, foram reproduzidas várias fitas de vídeo para serem apresentadas nas escolas e nas comunidades rurais. A equipe organizadora do trabalho enviou vídeos a vários órgãos como IBAMA, IEF, EMATER-MG, Igreja Católica e promotoria de Justiça de Monte Azul.

Durante o trabalho de sensibilização da sociedade, foram reproduzidas várias fitas de vídeo para serem apresentadas nas escolas e nas comunidades rurais. A equipe organizadora do trabalho enviou vídeos a vários órgãos como IBAMA, IEF, EMATER-MG, Igreja Católica e promotoria de Justiça de Monte Azul.

O trabalho até agora resultou em algumas medidas paliativas, mas o que a sociedade de Gameleiras espera é um tombamento da área para que as nascentes fiquem protegidas do desmatamento e da erosão.

O trabalho até agora resultou em algumas medidas paliativas, mas o que a sociedade de Gameleiras espera é um tombamento da área para que as nascentes fiquem protegidas do desmatamento e da erosão.

O transporte

O transporte

Os meios de transporte utilizados pela sociedade do distrito de Gameleira eram o carro de boi, o cavalo e as tropas de burro. No final da década de 1950, o Cel. Levi Souza e Silva, chefe político, temido e respeitado no Norte de Minas Gerais, reuniu vários homens com o objetivo de abrir a estrada para ligar o povoado de Gameleira à cidade de Monte Azul.

Os meios de transporte utilizados pela sociedade do distrito de Gameleira eram o carro de boi, o cavalo e as tropas de burro. No final da década de 1950, o Cel. Levi Souza e Silva, chefe político, temido e respeitado no Norte de Minas Gerais, reuniu vários homens com o objetivo de abrir a estrada para ligar o povoado de Gameleira à cidade de Monte Azul.

Quando eu era rapaz, morava ali com minha vó. O Cel Levi mandou vim fazer a abertura aqui pra fazer a rodagem. Ele mandou o finado ti Mário juntar uns bois brabos que tinha aí, pra pegar os bois pra matar

Quando eu era rapaz, morava ali com minha vó. O Cel Levi mandou vim fazer a abertura aqui pra fazer a rodagem. Ele mandou o finado ti Mário juntar uns bois brabos que tinha aí, pra pegar os bois pra matar

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

pra fazer o mutirão, pra dá comida o povo. Então essa turma reuniu tudo aí na casa da minha vó, a turma que veio para trabalhar. Eles começaram aqui num juazeirão grande que tinha ali, arrancou o juazeirão grande pra raiz, arrancou outro aqui ni Lídio, seguiu daqui pra frente, arrancando os pau tudo de enxadão e machado. Era, cavava com o enxadão e cortava com o machado, cada um pauzão.1

pra fazer o mutirão, pra dá comida o povo. Então essa turma reuniu tudo aí na casa da minha vó, a turma que veio para trabalhar. Eles começaram aqui num juazeirão grande que tinha ali, arrancou o juazeirão grande pra raiz, arrancou outro aqui ni Lídio, seguiu daqui pra frente, arrancando os pau tudo de enxadão e machado. Era, cavava com o enxadão e cortava com o machado, cada um pauzão.1

Durante a abertura da estrada, as pessoas não acreditavam que viria o progresso para o distrito de Gameleira. Um dia, o senhor Mário José de Oliveira disse o seguinte:

Durante a abertura da estrada, as pessoas não acreditavam que viria o progresso para o distrito de Gameleira. Um dia, o senhor Mário José de Oliveira disse o seguinte:

o finado ti Mário falou. Tá vendo isso aqui ó. Não vai valer nem nada pra nós, vai servir pros nossos netos, o primeiro carro que vim andar, pra vim aqui vai ser dos neto nosso, nós nenhum vai ver carro aqui.2

o finado ti Mário falou. Tá vendo isso aqui ó. Não vai valer nem nada pra nós, vai servir pros nossos netos, o primeiro carro que vim andar, pra vim aqui vai ser dos neto nosso, nós nenhum vai ver carro aqui.2

A falta de confiança do senhor Mário José de Oliveira e de outros habitantes do distrito de Gameleira em relação ao progresso foi separada após a abertura da estrada. O senhor Artur Rodrigues de Oliveira comenta esse assunto da seguinte maneira: “ora moço, hora que a estrada saiu lá só por maior, daí a pouco, carro, foi carro, gente comprou carro aqui, daí a pouco clareou”.3

A falta de confiança do senhor Mário José de Oliveira e de outros habitantes do distrito de Gameleira em relação ao progresso foi separada após a abertura da estrada. O senhor Artur Rodrigues de Oliveira comenta esse assunto da seguinte maneira: “ora moço, hora que a estrada saiu lá só por maior, daí a pouco, carro, foi carro, gente comprou carro aqui, daí a pouco clareou”.3

A abertura da estrada para ligar o distrito de Gameleira à cidade de Monte Azul, no início da década de 1960, significou um grande avanço dos meios de transportes. O velho carro de boi foi substituído pelos veículos

A abertura da estrada para ligar o distrito de Gameleira à cidade de Monte Azul, no início da década de 1960, significou um grande avanço dos meios de transportes. O velho carro de boi foi substituído pelos veículos

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Depoimento do Sr. Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002. 2 Depoimento do Sr. Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002. 3 Depoimento do Sr. Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002.

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Depoimento do Sr. Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002. 2 Depoimento do Sr. Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002. 3 Depoimento do Sr. Artur Rodrigues de Oliveira, agropecuarista aposentado em Gameleiras, dia 20/12/2002.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

automotores, facilitando, assim, as viagens da população de Gameleira e região.

automotores, facilitando, assim, as viagens da população de Gameleira e região.

Os primeiros proprietários de veículos automotores no distrito de Gameleira foram Adelino do Prado Pinto, Antônio Fernandes Barbosa, Izídio Rodrigues de Oliveira, Artur Rodrigues de Oliveira.

Os primeiros proprietários de veículos automotores no distrito de Gameleira foram Adelino do Prado Pinto, Antônio Fernandes Barbosa, Izídio Rodrigues de Oliveira, Artur Rodrigues de Oliveira.

Em 1978, o senhor João Alves Martins, popular João de Vera, saiu de Mamonas para residir em Brejo dos Mártires com o objetivo de transportar passageiros desse povoado até a cidade de Monte Azul em seu caminhão. No ano seguinte, o senhor João de Vera vendeu o caminhão e comprou um ônibus. Esse foi o primeiro ônibus a fazer linha do Brejo dos Mártires a Monte Azul.

Em 1978, o senhor João Alves Martins, popular João de Vera, saiu de Mamonas para residir em Brejo dos Mártires com o objetivo de transportar passageiros desse povoado até a cidade de Monte Azul em seu caminhão. No ano seguinte, o senhor João de Vera vendeu o caminhão e comprou um ônibus. Esse foi o primeiro ônibus a fazer linha do Brejo dos Mártires a Monte Azul.

O rádio

O rádio

A sociedade vivia isolada dos meios de comunicação. O único meio das pessoas se comunicarem era a carta. Mas poucas pessoas sabiam ler ou escrever uma correspondência dessa natureza. Conforme já registrado neste trabalho, a primeira formatura de 4ª série do Ensino Primário aconteceu em 1970. Portanto, a grande maioria da população era analfabeta.

A sociedade vivia isolada dos meios de comunicação. O único meio das pessoas se comunicarem era a carta. Mas poucas pessoas sabiam ler ou escrever uma correspondência dessa natureza. Conforme já registrado neste trabalho, a primeira formatura de 4ª série do Ensino Primário aconteceu em 1970. Portanto, a grande maioria da população era analfabeta.

No início da década de 1960, o senhor Adelino do Prado Pinto (Suna) comprou um rádio à pilha. Por ser o primeiro rádio que apareceu no distrito de Gameleira, esse aparelho foi marcante na vida das pessoas, pois muita gente deslocava-se de suas residências e ia até o povoado da Gameleira para ouvir este meio de comunicação. Muita gente percorria até 30 km de distância para conferir de perto essa novidade.

No início da década de 1960, o senhor Adelino do Prado Pinto (Suna) comprou um rádio à pilha. Por ser o primeiro rádio que apareceu no distrito de Gameleira, esse aparelho foi marcante na vida das pessoas, pois muita gente deslocava-se de suas residências e ia até o povoado da Gameleira para ouvir este meio de comunicação. Muita gente percorria até 30 km de distância para conferir de perto essa novidade.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

O hábito de pedir bênção aos pais, aos tios e aos idosos é conhecido em Gameleiras até os dias atuais como dar bença. Portanto, quando os cantores se apresentavam ou se despediam em algum programa de rádio, a criançada toda dava “bença” ao mesmo tempo.

O hábito de pedir bênção aos pais, aos tios e aos idosos é conhecido em Gameleiras até os dias atuais como dar bença. Portanto, quando os cantores se apresentavam ou se despediam em algum programa de rádio, a criançada toda dava “bença” ao mesmo tempo.

Depois do senhor Adelino do Prado Pinto, outras pessoas também compraram rádio. Esse novo meio de comunicação exerceu um papel muito importante na integração regional do distrito de Gameleira.

Depois do senhor Adelino do Prado Pinto, outras pessoas também compraram rádio. Esse novo meio de comunicação exerceu um papel muito importante na integração regional do distrito de Gameleira.

A atração preferida da grande maioria das pessoas era o programa do Zé Bétio pela rádio Record/AM de São Paulo. Quando assassinaram o sanfoneiro Arlindo Bétio, irmão do apresentador de rádio Zé Bétio, muita gente em Gameleiras chorou, além da meninada dando bênção aos cantores sertanejos e apresentadores de rádio.

A atração preferida da grande maioria das pessoas era o programa do Zé Bétio pela rádio Record/AM de São Paulo. Quando assassinaram o sanfoneiro Arlindo Bétio, irmão do apresentador de rádio Zé Bétio, muita gente em Gameleiras chorou, além da meninada dando bênção aos cantores sertanejos e apresentadores de rádio.

Os benefícios de aposentadorias dos trabalhadores rurais

Os benefícios de aposentadorias dos trabalhadores rurais

O FUNRURAL (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) foi criado pela lei nº 4.214, de 02 de março de 1963. Mas foi no início da década de 1970, que os primeiros trabalhadores rurais do distrito de Gameleira, foram à cidade de Espinosa requerer o benefício junto ao FUNRURAL.

O FUNRURAL (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) foi criado pela lei nº 4.214, de 02 de março de 1963. Mas foi no início da década de 1970, que os primeiros trabalhadores rurais do distrito de Gameleira, foram à cidade de Espinosa requerer o benefício junto ao FUNRURAL.

As primeiras pessoas que requereram o benefício foram os senhores Ludjero José de Oliveira, Albino Rodrigues de Oliveira, Sancho Fernandes Baleeiro.

As primeiras pessoas que requereram o benefício foram os senhores Ludjero José de Oliveira, Albino Rodrigues de Oliveira, Sancho Fernandes Baleeiro.

No início, as pessoas tinham medo de se aposentar, por-

No início, as pessoas tinham medo de se aposentar, por-

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

que eles imaginavam que o governo estava querendo matar os idosos. Surgiram até comentários de que os velhos iam ser enviados para o frigorífico.

que eles imaginavam que o governo estava querendo matar os idosos. Surgiram até comentários de que os velhos iam ser enviados para o frigorífico.

Nos dias atuais, nossos trabalhadores rurais ficam ansiosos para completar a idade-limite e requerer o benefício.

Nos dias atuais, nossos trabalhadores rurais ficam ansiosos para completar a idade-limite e requerer o benefício.

Água encanada

Água encanada

A partir da década de 1970 surgiram as primeiras encanações de água. Esse fato facilitou a vida das donas de casa que, a partir dessa época, não precisavam mais buscar água e nem lavar roupas no rio. Algumas famílias começaram a construir banheiros. Com isso, o hábito de tomar banho no rio foi se extinguindo.

A partir da década de 1970 surgiram as primeiras encanações de água. Esse fato facilitou a vida das donas de casa que, a partir dessa época, não precisavam mais buscar água e nem lavar roupas no rio. Algumas famílias começaram a construir banheiros. Com isso, o hábito de tomar banho no rio foi se extinguindo.

A energia elétrica

A energia elétrica

Em 1982, foi instalada a energia elétrica nos povoados do Engenho, da Gameleira e do Brejo dos Mártires e, posteriormente, as instalações de energia elétrica foram se espalhando pelas demais comunidades rurais. Atualmente, mais de 95% dos lares do município de Gameleiras encontram-se beneficiados com a energia elétrica.

Em 1982, foi instalada a energia elétrica nos povoados do Engenho, da Gameleira e do Brejo dos Mártires e, posteriormente, as instalações de energia elétrica foram se espalhando pelas demais comunidades rurais. Atualmente, mais de 95% dos lares do município de Gameleiras encontram-se beneficiados com a energia elétrica.

A instalação da energia elétrica em Gameleira provocou profundas transformações na sociedade e na cultura da região. Com ela veio a televisão, um importante meio de comunicação e também de alienação.

A instalação da energia elétrica em Gameleira provocou profundas transformações na sociedade e na cultura da região. Com ela veio a televisão, um importante meio de comunicação e também de alienação.

Antes da televisão, as famílias se reuniam para bater papo e contar histórias. Enquanto isso, as crianças e os jovens divertiam-se muito, brincando de chutar latas,

Antes da televisão, as famílias se reuniam para bater papo e contar histórias. Enquanto isso, as crianças e os jovens divertiam-se muito, brincando de chutar latas,

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

pilunga, mulinha, cantigas de roda e outras brincadeiras. Esses costumes foram sendo substituídos pelas novelas e demais programas atrativos da televisão.

pilunga, mulinha, cantigas de roda e outras brincadeiras. Esses costumes foram sendo substituídos pelas novelas e demais programas atrativos da televisão.

No início, poucas pessoas possuíam o aparelho de televisão. Durante a transmissão das novelas e das partidas de futebol, às vezes, até 40 pessoas ficavam em frente da televisão, era um verdadeiro cinema.

No início, poucas pessoas possuíam o aparelho de televisão. Durante a transmissão das novelas e das partidas de futebol, às vezes, até 40 pessoas ficavam em frente da televisão, era um verdadeiro cinema.

Além da televisão, outras novidades surgiram com a chegada da energia elétrica, como o ferro elétrico, a geladeira, o chuveiro, os aparelhos de som, computadores e outros eletroeletrônicos. Essas inovações tecnológicas foram responsáveis por profundas transformações nos valores culturais da sociedade de Gameleiras.

Além da televisão, outras novidades surgiram com a chegada da energia elétrica, como o ferro elétrico, a geladeira, o chuveiro, os aparelhos de som, computadores e outros eletroeletrônicos. Essas inovações tecnológicas foram responsáveis por profundas transformações nos valores culturais da sociedade de Gameleiras.

Brincadeiras Populares

Brincadeiras Populares

As brincadeiras populares das nossas crianças e adolescentes funcionam da seguinte maneira:

As brincadeiras populares das nossas crianças e adolescentes funcionam da seguinte maneira:

Chutar lata

Chutar lata

Os jovens reúnem-se na frente de determinada casa. Um deles amarra um pano nos olhos, até que os demais se escondam. Em seguida, o jovem retira o pano dos olhos e vai procurar os colegas que se esconderam e deixa uma lata em um círculo no meio do quintal. Cada colega que ele vê corre até a lata e grita: um, dois, três, latinha. Fala o nome da pessoa e o local onde ela se encontra. Então este jovem está pego e vai para o quintal. O primeiro participante continua pegando os demais. Se um dos escondidos aparecer e chutar a lata, todos que foram pegos correm e vão se esconder novamente. A brincadeira continua até o jovem pegar todos os escondidos.

Os jovens reúnem-se na frente de determinada casa. Um deles amarra um pano nos olhos, até que os demais se escondam. Em seguida, o jovem retira o pano dos olhos e vai procurar os colegas que se esconderam e deixa uma lata em um círculo no meio do quintal. Cada colega que ele vê corre até a lata e grita: um, dois, três, latinha. Fala o nome da pessoa e o local onde ela se encontra. Então este jovem está pego e vai para o quintal. O primeiro participante continua pegando os demais. Se um dos escondidos aparecer e chutar a lata, todos que foram pegos correm e vão se esconder novamente. A brincadeira continua até o jovem pegar todos os escondidos.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Pilunga

Pilunga

Primeiro, os jovens delimitam dois picos (ou pique). Um deles fica no meio do quintal com os braços abertos, os outros seguram em seus dedos. Quando o jovem grita pilunga, todos correm na direção de um dos picos. Durante a travessia das pessoas de um pico para o outro, o que está no meio agarra um deles e bate três vezes nas costas e diz, um, dois, três, pilunga. Os que forem sendo pegos vão ajudando a pegar os demais. A brincadeira só termina depois de se pegar todos os participantes. Os mais fortes e mais ágeis, certamente, são os últimos a serem pegos.

Primeiro, os jovens delimitam dois picos (ou pique). Um deles fica no meio do quintal com os braços abertos, os outros seguram em seus dedos. Quando o jovem grita pilunga, todos correm na direção de um dos picos. Durante a travessia das pessoas de um pico para o outro, o que está no meio agarra um deles e bate três vezes nas costas e diz, um, dois, três, pilunga. Os que forem sendo pegos vão ajudando a pegar os demais. A brincadeira só termina depois de se pegar todos os participantes. Os mais fortes e mais ágeis, certamente, são os últimos a serem pegos.

Raminho

Raminho

Nessa brincadeira, as moças ficam de um lado e os rapazes do outro. Uma das moças pega um ramo de planta e se dirige para onde estão os rapazes. Lá, escolhe um de sua preferência e o leva ao local onde estão as moças. Este escolhe uma das moças e retorna para onde estão os rapazes. Nesse ritmo, a brincadeira continua até que todos os participantes formem casais.

Nessa brincadeira, as moças ficam de um lado e os rapazes do outro. Uma das moças pega um ramo de planta e se dirige para onde estão os rapazes. Lá, escolhe um de sua preferência e o leva ao local onde estão as moças. Este escolhe uma das moças e retorna para onde estão os rapazes. Nesse ritmo, a brincadeira continua até que todos os participantes formem casais.

Cantigas de roda

Cantigas de roda

Os jovens que pretendem participar da brincadeira formam uma roda (círculo). Todos vão girando e cantando de mãos dadas. O grupo escolhe um verso para servir de refrão. Cada vez que todos do grupo cantam o refrão, uma pessoa da roda joga um verso.

Os jovens que pretendem participar da brincadeira formam uma roda (círculo). Todos vão girando e cantando de mãos dadas. O grupo escolhe um verso para servir de refrão. Cada vez que todos do grupo cantam o refrão, uma pessoa da roda joga um verso.

EX: Pisa na canoa, canoeiro, pisa na canoa devagar.Pisa na canoa, canoeiro, deixa meu bem passear. Eu joguei meu lenço branco na porta do cemitério. Se não for pra

EX: Pisa na canoa, canoeiro, pisa na canoa devagar.Pisa na canoa, canoeiro, deixa meu bem passear. Eu joguei meu lenço branco na porta do cemitério. Se não for pra

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

mim casar, namorar também não quero. (bis)

mim casar, namorar também não quero. (bis)

No fundo da minha casa tem um caminho pra ir pro céu. Quem quiser casar comigo, vai na loja e compra um véu. (bis)

No fundo da minha casa tem um caminho pra ir pro céu. Quem quiser casar comigo, vai na loja e compra um véu. (bis)

Eu não corto meu cabelo, pra não viver na regalia.Meu cabelo já deu laço pra eu laçar quem eu queria.(bis) Chove, chove chuva fina, na aba do meu chapéu.Pai nosso de rapaz, não leva ninguém pro céu. (bis)

Eu não corto meu cabelo, pra não viver na regalia.Meu cabelo já deu laço pra eu laçar quem eu queria.(bis) Chove, chove chuva fina, na aba do meu chapéu.Pai nosso de rapaz, não leva ninguém pro céu. (bis)

Vou mandar fazer uma casa com 25 janelas.Pra morar com minha sogra e toda família dela. (bis)

Vou mandar fazer uma casa com 25 janelas.Pra morar com minha sogra e toda família dela. (bis)

Em cima daquela serra tem um pé de jatobá.Quem casar com mulher velha tem pelanca pra chupar. (bis)

Em cima daquela serra tem um pé de jatobá.Quem casar com mulher velha tem pelanca pra chupar. (bis)

Quem tiver seu namorado, guarda dentro do baú.Porque as moças de hoje em dia tão pior que urubu.(bis) Subi no pé de lima, chupei lima sem querer.Abracei com o pé de lima, pensando que era você. (bis)

Quem tiver seu namorado, guarda dentro do baú.Porque as moças de hoje em dia tão pior que urubu.(bis) Subi no pé de lima, chupei lima sem querer.Abracei com o pé de lima, pensando que era você. (bis)

De lá de cima da serra vejo o tempo que evém.Vejo a casa do meu sogro e a fazenda do meu bem. (bis)

De lá de cima da serra vejo o tempo que evém.Vejo a casa do meu sogro e a fazenda do meu bem. (bis)

Meu bem comeu pimenta, pensando que não ardia.Namorou com outra moça, pensando que eu não sabia. (bis)

Meu bem comeu pimenta, pensando que não ardia.Namorou com outra moça, pensando que eu não sabia. (bis)

Subi na escada pra falar com nossa Senhora.Se namorar for pecado, to pecando toda hora.

Subi na escada pra falar com nossa Senhora.Se namorar for pecado, to pecando toda hora.

Havia também outros versos que as pessoas utilizavam como refrão.Eu tava na peneira, eu tava peneirando.Eu tava no namoro, eu tava namorando. Xô minha sabiá, xô minha zabelê, toda meia-noite eu sonho com você. Se você tá duvidando, vou sonhar pra você ver.

Havia também outros versos que as pessoas utilizavam como refrão.Eu tava na peneira, eu tava peneirando.Eu tava no namoro, eu tava namorando. Xô minha sabiá, xô minha zabelê, toda meia-noite eu sonho com você. Se você tá duvidando, vou sonhar pra você ver.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

O telefone

O telefone

Com a instalação do posto telefônico em 1985, o distrito de Gameleira ganhou um meio de comunicação de fundamental importância para a população. Contribuiu para a integração regional.

Com a instalação do posto telefônico em 1985, o distrito de Gameleira ganhou um meio de comunicação de fundamental importância para a população. Contribuiu para a integração regional.

As festas e tradições culturais

As festas e tradições culturais

A virada de ano é marcada pela Folia de Reis. Na noite de 31 de dezembro, os foliões pegam seus instrumentos e vão de casa em casa cantar reis. Cada dono de casa dá uma esmola aos Santos Reis (arroz, feijão, galinha, dinheiro; e aqueles que têm promessa, dão uma esmola maior: porco, bezerro, saco de arroz etc). Em cada uma dessas esmolas de maior valor, o violeiro da folia amarra um ramo de mato na viola que será exibido até o final da festa e ainda faz um batuque na sala do senhor que acaba de cumprir a promessa.

A virada de ano é marcada pela Folia de Reis. Na noite de 31 de dezembro, os foliões pegam seus instrumentos e vão de casa em casa cantar reis. Cada dono de casa dá uma esmola aos Santos Reis (arroz, feijão, galinha, dinheiro; e aqueles que têm promessa, dão uma esmola maior: porco, bezerro, saco de arroz etc). Em cada uma dessas esmolas de maior valor, o violeiro da folia amarra um ramo de mato na viola que será exibido até o final da festa e ainda faz um batuque na sala do senhor que acaba de cumprir a promessa.

Tudo o que os foliões arrecadam durante as visitas, cantando reis é destinado à festa do dia 06 de janeiro, onde as famílias se reúnem na casa do dono da folia para o jantar e rezar o terço em homenagem aos santos. Após o terço, os foliões pegam as caixas, os bumbas e demais instrumentos para formarem a roda de batuque que não tem hora para encerrar. Geralmente, essa batucada durava até o dia amanhecer. Mas, nos dias atuais, essa festa cultural está sendo pouco valorizada pela maioria da sociedade de Gameleiras, principalmente pelos jovens.

Tudo o que os foliões arrecadam durante as visitas, cantando reis é destinado à festa do dia 06 de janeiro, onde as famílias se reúnem na casa do dono da folia para o jantar e rezar o terço em homenagem aos santos. Após o terço, os foliões pegam as caixas, os bumbas e demais instrumentos para formarem a roda de batuque que não tem hora para encerrar. Geralmente, essa batucada durava até o dia amanhecer. Mas, nos dias atuais, essa festa cultural está sendo pouco valorizada pela maioria da sociedade de Gameleiras, principalmente pelos jovens.

Nos últimos anos, a E. E. de Gameleira, tentando resgatar esses valores culturais, convida os foliões para participarem da festa do folclore que a escola organiza em agosto. Eles sempre comparecem com o maior prazer e fazem a festa com muita satisfação.

Nos últimos anos, a E. E. de Gameleira, tentando resgatar esses valores culturais, convida os foliões para participarem da festa do folclore que a escola organiza em agosto. Eles sempre comparecem com o maior prazer e fazem a festa com muita satisfação.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

A Quaresma

A Quaresma

A quarta – feira de cinzas marca o início de um período de silêncio e de muita oração. Para a maioria dos idosos, durante a Quaresma é proibido cortar o cabelo, fazer a barba, dançar forró, falar palavrões, bater nas crianças. É também proibido comer carne nos dias de quarta – feira e sexta - feira no período da quaresma e durante toda a Semana Santa.

A quarta – feira de cinzas marca o início de um período de silêncio e de muita oração. Para a maioria dos idosos, durante a Quaresma é proibido cortar o cabelo, fazer a barba, dançar forró, falar palavrões, bater nas crianças. É também proibido comer carne nos dias de quarta – feira e sexta - feira no período da quaresma e durante toda a Semana Santa.

Na quinta – feira e na sexta – feira da Semana Santa era um silêncio profundo, pois era proibido falar alto, varrer a casa, correr, pular, andar a cavalo ou de bicicleta, enfim, esses dois dias eram exclusivamente dedicados à oração.

Na quinta – feira e na sexta – feira da Semana Santa era um silêncio profundo, pois era proibido falar alto, varrer a casa, correr, pular, andar a cavalo ou de bicicleta, enfim, esses dois dias eram exclusivamente dedicados à oração.

Atualmente, esses costumes estão sendo transformados pelas novas gerações que, embaladas pela onda da moda e do progresso, estão rompendo com esses valores culturais.

Atualmente, esses costumes estão sendo transformados pelas novas gerações que, embaladas pela onda da moda e do progresso, estão rompendo com esses valores culturais.

Os evangélicos em Gameleiras

Os evangélicos em Gameleiras

Até 1964, havia no distrito de Gameleira apenas a Igreja Católica. A partir dessa data o senhor Gerulino Alves Teixeira, primeiro evangélico da Congregação Cristã do Brasil nesta região, informou “que em 02/05/1964 houve o primeiro batismo na Vila do Jacu das Piranhas e, em 05/05/1964, ele atendeu o primeiro culto e, em 1982, foi construído o templo da Congregação Cristã do Brasil nessa comunidade”.4

Até 1964, havia no distrito de Gameleira apenas a Igreja Católica. A partir dessa data o senhor Gerulino Alves Teixeira, primeiro evangélico da Congregação Cristã do Brasil nesta região, informou “que em 02/05/1964 houve o primeiro batismo na Vila do Jacu das Piranhas e, em 05/05/1964, ele atendeu o primeiro culto e, em 1982, foi construído o templo da Congregação Cristã do Brasil nessa comunidade”.4

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Depoimento do senhor Gerulino Alves Teixeira, trabalhador rural em Jacu das Piranhas, dia 10/08/2003.

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Depoimento do senhor Gerulino Alves Teixeira, trabalhador rural em Jacu das Piranhas, dia 10/08/2003.


Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Atualmente, a Congregação Cristã do Brasil conta com cerca cerca 300 fiéis e três templos construídos: o da Vila do Jacu das Piranhas, o do Povoado do Engenho e o de Gameleiras.

Atualmente, a Congregação Cristã do Brasil conta com cerca cerca 300 fiéis e três templos construídos: o da Vila do Jacu das Piranhas, o do Povoado do Engenho e o de Gameleiras.

A Assembléia de Deus, que iniciou trabalhos no Brejo dos Mártires por volta de 1970, conta com uns 90 fiéis. Dois templos construídos: um em Brejo dos Mártires e outro na cidade de Gameleiras.

A Assembléia de Deus, que iniciou trabalhos no Brejo dos Mártires por volta de 1970, conta com uns 90 fiéis. Dois templos construídos: um em Brejo dos Mártires e outro na cidade de Gameleiras.

As novenas

As novenas

No mês de janeiro é celebrada a novena de São Sebastião na residência de dona Cecília Antunes de Sousa, viúva do senhor Lucas Rodrigues de Oliveira, à rua Nicolau Antunes s/nº, no centro de Gameleiras. Essa é a primeira novena do ano, e acontece no período de 12 a 20 de janeiro.

No mês de janeiro é celebrada a novena de São Sebastião na residência de dona Cecília Antunes de Sousa, viúva do senhor Lucas Rodrigues de Oliveira, à rua Nicolau Antunes s/nº, no centro de Gameleiras. Essa é a primeira novena do ano, e acontece no período de 12 a 20 de janeiro.

A novena de Menino Jesus não tinha uma data fixa para iniciar. O início desta novena era programado de maneira que o último dia fosse no feriado de Corpus Christi. Após a emancipação de Gameleiras, determinou – se que a novena seria iniciada todos os anos no dia 23 e terminaria no dia 31 de maio. O 31 de maio é o Dia do Padroeiro da cidade e é feriado municipal em Gameleiras.

A novena de Menino Jesus não tinha uma data fixa para iniciar. O início desta novena era programado de maneira que o último dia fosse no feriado de Corpus Christi. Após a emancipação de Gameleiras, determinou – se que a novena seria iniciada todos os anos no dia 23 e terminaria no dia 31 de maio. O 31 de maio é o Dia do Padroeiro da cidade e é feriado municipal em Gameleiras.

As festas juninas

As festas juninas

As festas juninas iniciam-se no Brejo dos Mártires com a trezena de Santo Antônio, padroeiro desta comunidade, no período de 01 a 13 de junho. Os organizadores dessa trezena ainda preservam o ritmo tradicional de celebração.

As festas juninas iniciam-se no Brejo dos Mártires com a trezena de Santo Antônio, padroeiro desta comunidade, no período de 01 a 13 de junho. Os organizadores dessa trezena ainda preservam o ritmo tradicional de celebração.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

As festas juninas continuam com a novena de São João Batista, padroeiro do povoado do Engenho. Essa novena é celebrada no povoado do Engenho, da Boa Vista, na cidade de Gameleiras e, às vezes, em Brejo dos Mártires, no período de 14 a 24 de junho. No dia 23 de junho é a grande festa da fogueira.

As festas juninas continuam com a novena de São João Batista, padroeiro do povoado do Engenho. Essa novena é celebrada no povoado do Engenho, da Boa Vista, na cidade de Gameleiras e, às vezes, em Brejo dos Mártires, no período de 14 a 24 de junho. No dia 23 de junho é a grande festa da fogueira.

Nessa festa, as famílias fazem biscoitos, assam galinhas caipiras, bodes ou porcos e à noite acendem uma fogueira na frente da casa. Tomam café, comem os biscoitos e os assados, soltam fogos de artifício. Depois que a lenha da fogueira acaba de ser queimada, algumas pessoas andam sobre as brasas e não queimam os pés. Até nos dias atuais, há muita gente que anda sobre as brasas da fogueira. Segundo essas pessoas, é preciso ter fé para realizar essa atitude.

Nessa festa, as famílias fazem biscoitos, assam galinhas caipiras, bodes ou porcos e à noite acendem uma fogueira na frente da casa. Tomam café, comem os biscoitos e os assados, soltam fogos de artifício. Depois que a lenha da fogueira acaba de ser queimada, algumas pessoas andam sobre as brasas e não queimam os pés. Até nos dias atuais, há muita gente que anda sobre as brasas da fogueira. Segundo essas pessoas, é preciso ter fé para realizar essa atitude.

Há várias superstições sobre a festa da fogueira:

Há várias superstições sobre a festa da fogueira:

z Se a fogueira foi acesa próxima de uma planta, esta não será queimada pelo fogo.

z Se a fogueira foi acesa próxima de uma planta, esta não será queimada pelo fogo.

Algumas pessoas escrevem os nomes dos 12 meses do ano numa folha de papel. Colocam sobre os nomes uma pitada de sal e, em seguida, a folha será colocada no sereno durante a noite de 23 de junho. No dia seguinte, onde a pitada de sal derreter significa que naquele mês irá chover.

Algumas pessoas escrevem os nomes dos 12 meses do ano numa folha de papel. Colocam sobre os nomes uma pitada de sal e, em seguida, a folha será colocada no sereno durante a noite de 23 de junho. No dia seguinte, onde a pitada de sal derreter significa que naquele mês irá chover.

z

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O fogo da fogueira não queima pastagens.

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O fogo da fogueira não queima pastagens.

As festas juninas encerram-se no dia 29 de junho, dia de São Pedro. Esse é o dia das viúvas e dos viúvos acenderem fogueira.

As festas juninas encerram-se no dia 29 de junho, dia de São Pedro. Esse é o dia das viúvas e dos viúvos acenderem fogueira.

No mês de julho acontece a novena de Senhora Santana na comunidade de Boa Vista. Segundo a tradição oral, essa novena foi introduzida nessa comunidade pelo

No mês de julho acontece a novena de Senhora Santana na comunidade de Boa Vista. Segundo a tradição oral, essa novena foi introduzida nessa comunidade pelo

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

senhor Valério José de Oliveira e sua esposa D. Maria Antunes de Souza. Ela se inicia no dia 18 e termina no dia 26 de julho.

senhor Valério José de Oliveira e sua esposa D. Maria Antunes de Souza. Ela se inicia no dia 18 e termina no dia 26 de julho.

No mês de julho, as pessoas organizam as romarias para visitar o Bom Jesus da Lapa na Bahia. Até por volta da década de 1960, o percurso dessa viagem era realizado em cima de lombo de burro ou a cavalo, e durava em média 12 dias. O senhor Joaquim Antunes de Souza, residente na comunidade de Boa Vista, afirmou ter feito essa viagem a cavalo duas vezes. Na década de 1960, surgiu o caminhão que facilitou o percurso dessas romarias. Atualmente, devido à fiscalização nas rodovias, os romeiros vão de ônibus. A viagem é mais confortável, mas muita gente ainda lembra com saudade das viagens no pau-dearara.

No mês de julho, as pessoas organizam as romarias para visitar o Bom Jesus da Lapa na Bahia. Até por volta da década de 1960, o percurso dessa viagem era realizado em cima de lombo de burro ou a cavalo, e durava em média 12 dias. O senhor Joaquim Antunes de Souza, residente na comunidade de Boa Vista, afirmou ter feito essa viagem a cavalo duas vezes. Na década de 1960, surgiu o caminhão que facilitou o percurso dessas romarias. Atualmente, devido à fiscalização nas rodovias, os romeiros vão de ônibus. A viagem é mais confortável, mas muita gente ainda lembra com saudade das viagens no pau-dearara.

A novena do Bom Jesus em Jacu das Piranhas e em Boqueirão do Encantado

A novena do Bom Jesus em Jacu das Piranhas e em Boqueirão do Encantado

No dia 29 de julho inicia-se a novena do Bom Jesus nas comunidades de Jacu das Piranhas e de Boqueirão do Encantado. Começa no dia 29 de julho e termina no dia 06 de agosto.

No dia 29 de julho inicia-se a novena do Bom Jesus nas comunidades de Jacu das Piranhas e de Boqueirão do Encantado. Começa no dia 29 de julho e termina no dia 06 de agosto.

No dia 07 de agosto, inicia-se a novena Virgem do Rosário na Igreja Menino Jesus em Gameleiras e termina no dia 15 de agosto.

No dia 07 de agosto, inicia-se a novena Virgem do Rosário na Igreja Menino Jesus em Gameleiras e termina no dia 15 de agosto.

A excursão de Jacaré Grande

A excursão de Jacaré Grande

Em setembro, a maioria da população de Gameleiras vai visitar Nossa Senhora da Saúde em Jacaré Grande, no município de Janaúba. As pessoas saem no dia 07, pela manhã, e retornam no dia 08, à tarde. Os que vão a pé,

Em setembro, a maioria da população de Gameleiras vai visitar Nossa Senhora da Saúde em Jacaré Grande, no município de Janaúba. As pessoas saem no dia 07, pela manhã, e retornam no dia 08, à tarde. Os que vão a pé,

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

saem no dia 04, à noite, e chegam lá no dia 05, à tardinha. A viagem é cansativa. São em média 70 km de estrada, mas os fiéis acreditam que, com o poder da santa, todos conseguem chegar; basta ter fé. O senhor Florentino Alves Martins e sua esposa dona Jovercina Antunes de Oliveira há anos fazem esta viagem pagando promessa. Eles dizem que nunca ficou ninguém cansado na estrada ou sem conseguir concluir a viagem. Às vezes, vão até 70 pessoas, sendo que a grande maioria vai pagar promessa.

saem no dia 04, à noite, e chegam lá no dia 05, à tardinha. A viagem é cansativa. São em média 70 km de estrada, mas os fiéis acreditam que, com o poder da santa, todos conseguem chegar; basta ter fé. O senhor Florentino Alves Martins e sua esposa dona Jovercina Antunes de Oliveira há anos fazem esta viagem pagando promessa. Eles dizem que nunca ficou ninguém cansado na estrada ou sem conseguir concluir a viagem. Às vezes, vão até 70 pessoas, sendo que a grande maioria vai pagar promessa.

Nos dias 07 e 08 de setembro, é um silêncio profundo em Gameleiras, pois a maioria das pessoas viaja para a comunidade de Jacaré Grande.

Nos dias 07 e 08 de setembro, é um silêncio profundo em Gameleiras, pois a maioria das pessoas viaja para a comunidade de Jacaré Grande.

Do dia 04 a 12 de outubro é celebrada a novena de Nossa Senhora Aparecida na cidade de Gameleiras e nas comunidades de Jacu das Piranhas e Raposa. No dia 12 de outubro, os fiéis realizam uma procissão com a imagem da padroeira do Brasil, a Senhora Aparecida.

Do dia 04 a 12 de outubro é celebrada a novena de Nossa Senhora Aparecida na cidade de Gameleiras e nas comunidades de Jacu das Piranhas e Raposa. No dia 12 de outubro, os fiéis realizam uma procissão com a imagem da padroeira do Brasil, a Senhora Aparecida.

No dia de finados, 02 de novembro, as pessoas visitam e fazem orações para os seus entes queridos e amigos que se foram, no cemitério.No dia 13 de dezembro, muita gente reza o terço em homenagem à Santa Luzia, protetora dos olhos e da visão.

No dia de finados, 02 de novembro, as pessoas visitam e fazem orações para os seus entes queridos e amigos que se foram, no cemitério.No dia 13 de dezembro, muita gente reza o terço em homenagem à Santa Luzia, protetora dos olhos e da visão.

Às vésperas do Natal, as famílias reúnem-se em grupos para rezar a Via Sacra. Durante essa novena, as pessoas arrecadam cestas de alimentos que são distribuídas às famílias carentes no Dia de Natal.

Às vésperas do Natal, as famílias reúnem-se em grupos para rezar a Via Sacra. Durante essa novena, as pessoas arrecadam cestas de alimentos que são distribuídas às famílias carentes no Dia de Natal.

No dia 25 de dezembro, após a novena da Via Sacra e a distribuição das cestas de alimentos, os foliões se apresentam, cantam reis na Igreja e, em seguida, nas lapinhas. É o início da organização das festas de Santos Reis que vão até o dia 06 de janeiro.

No dia 25 de dezembro, após a novena da Via Sacra e a distribuição das cestas de alimentos, os foliões se apresentam, cantam reis na Igreja e, em seguida, nas lapinhas. É o início da organização das festas de Santos Reis que vão até o dia 06 de janeiro.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Até por volta de 1970, os religiosos utilizavam velas de cera, durante a celebração da novena, enquanto rezavam o terço, nos velórios e em outras ocasiões, pois a sociedade não conhecia a vela industrializada.

Até por volta de 1970, os religiosos utilizavam velas de cera, durante a celebração da novena, enquanto rezavam o terço, nos velórios e em outras ocasiões, pois a sociedade não conhecia a vela industrializada.

Em todas as novenas, os organizadores realizam um leilão de mesa com o objetivo de arrecadar dinheiro para manutenção da Igreja. Geralmente, esse leilão é realizado no 8º dia de novena, por ser o dia que reúne mais gente, devido à levantada do mastro com a bandeira do (a) santo (a) homenageado (a). Além disso, as pessoas podem ficar até mais tarde, porque o 9º e último dia da novena é Dia Santo, ou seja, dia em que “não se pode trabalhar”. Os leilões são doados e arrematados pelos fiéis.

Em todas as novenas, os organizadores realizam um leilão de mesa com o objetivo de arrecadar dinheiro para manutenção da Igreja. Geralmente, esse leilão é realizado no 8º dia de novena, por ser o dia que reúne mais gente, devido à levantada do mastro com a bandeira do (a) santo (a) homenageado (a). Além disso, as pessoas podem ficar até mais tarde, porque o 9º e último dia da novena é Dia Santo, ou seja, dia em que “não se pode trabalhar”. Os leilões são doados e arrematados pelos fiéis.

As festas de casamento

As festas de casamento

A maioria das festas de casamento acontece no mês de julho. Há também casamentos em outros meses do ano, com exceção de agosto, pois há uma superstição de que casar em agosto é sinal de desgosto.

A maioria das festas de casamento acontece no mês de julho. Há também casamentos em outros meses do ano, com exceção de agosto, pois há uma superstição de que casar em agosto é sinal de desgosto.

Até por volta da década de 1950, a maioria dos casamentos era definida pelos pais. Ex: dois senhores dialogando, dizendo um para o outro: “meu filho está bom de casar, e a sua filha também está. Então vamos casar eles”. Ambos entravam em um acordo e marcavam o casamento dos filhos. Em outras situações, um rapaz se dirigia até a casa de uma moça, falava com o pai dela: “estou interessado em casar com sua filha”. Da sala, o pai mostrava a filha na cozinha. Os dois se olhavam e o rapaz marcava com o pai o dia casamento. A partir desse dia os jovens só se encontrariam no dia do casamento. Segundo reza a tradição oral, às vezes, o pai apresentava a filha mais nova e mais bonita, mas no dia do casamento

Até por volta da década de 1950, a maioria dos casamentos era definida pelos pais. Ex: dois senhores dialogando, dizendo um para o outro: “meu filho está bom de casar, e a sua filha também está. Então vamos casar eles”. Ambos entravam em um acordo e marcavam o casamento dos filhos. Em outras situações, um rapaz se dirigia até a casa de uma moça, falava com o pai dela: “estou interessado em casar com sua filha”. Da sala, o pai mostrava a filha na cozinha. Os dois se olhavam e o rapaz marcava com o pai o dia casamento. A partir desse dia os jovens só se encontrariam no dia do casamento. Segundo reza a tradição oral, às vezes, o pai apresentava a filha mais nova e mais bonita, mas no dia do casamento

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

levava a mais velha para casar.

levava a mais velha para casar.

Há ainda casais no nosso município que não namoraram antes do casamento. D. Maria Ramos de Barros e demais pessoas idosas contam que a noiva ficava com mão gelada na hora que pegava na mão do noivo. O impressionante é que esses casais não se separavam. A não separação está ligada à fidelidade religiosa dessas pessoas que temiam a Deus e, assim, seguiam rigorosamente o que o padre diz no matrimônio religioso: “o que Deus une, o homem não separa”.

Há ainda casais no nosso município que não namoraram antes do casamento. D. Maria Ramos de Barros e demais pessoas idosas contam que a noiva ficava com mão gelada na hora que pegava na mão do noivo. O impressionante é que esses casais não se separavam. A não separação está ligada à fidelidade religiosa dessas pessoas que temiam a Deus e, assim, seguiam rigorosamente o que o padre diz no matrimônio religioso: “o que Deus une, o homem não separa”.

No dia do casamento, o noivo se arrumava numa casa próxima à residência da noiva. Quando os noivos estivessem arrumados, soltavam um foguete de lá e outro de cá. A noiva saía com seus convidados para encontrar com o noivo e seus convidados na estrada. Após esse encontro, ambos se direcionavam para a casa da noiva, onde ocorria o casamento. Em seguida, os noivos iam para o meio do salão (uma barraca erguida de madeira e coberta com galhos de árvores, essa barraca é conhecida como latada). Embaixo da latada, os convidados faziam três círculos para cantar os parabéns para os noivos. Um de crianças, outro de mulheres e o terceiro de homens.

No dia do casamento, o noivo se arrumava numa casa próxima à residência da noiva. Quando os noivos estivessem arrumados, soltavam um foguete de lá e outro de cá. A noiva saía com seus convidados para encontrar com o noivo e seus convidados na estrada. Após esse encontro, ambos se direcionavam para a casa da noiva, onde ocorria o casamento. Em seguida, os noivos iam para o meio do salão (uma barraca erguida de madeira e coberta com galhos de árvores, essa barraca é conhecida como latada). Embaixo da latada, os convidados faziam três círculos para cantar os parabéns para os noivos. Um de crianças, outro de mulheres e o terceiro de homens.

Os convidados cantavam parabéns aos noivos, acompanhando o ritmo do sanfoneiro e batendo palmas. Além dos parabéns, as pessoas cantavam outras músicas. Eis algumas delas:

Os convidados cantavam parabéns aos noivos, acompanhando o ritmo do sanfoneiro e batendo palmas. Além dos parabéns, as pessoas cantavam outras músicas. Eis algumas delas:

Chegou a Hora da Fogueira. Chegou a hora da fogueira, é noite de São João, o céu fica todo estrelado, fica todo iluminado, pintadinho de balão. Pensando na cabocla a noite inteira, eu também fiz a fogueira dentro do meu coração. Pula fogueira I.Á.Á. Pula fogueira I.Ô.Ô. Cuidado pra não se queimar, porque a fogueira já queimou o meu amor. Quando eu era pequenino

Chegou a Hora da Fogueira. Chegou a hora da fogueira, é noite de São João, o céu fica todo estrelado, fica todo iluminado, pintadinho de balão. Pensando na cabocla a noite inteira, eu também fiz a fogueira dentro do meu coração. Pula fogueira I.Á.Á. Pula fogueira I.Ô.Ô. Cuidado pra não se queimar, porque a fogueira já queimou o meu amor. Quando eu era pequenino

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

de pé no chão, as meninas me chamavam pra dançar bailão. Eu Te Amo meu Brasil. Eu te amo meu Brasil de madrugada. Chá. Lá. Lá. Lá. Lá. A mãe de Deus abençoou a terra brasileira, vou plantar o amor. As praias do Brasil têm mais estrelas, as praias do Brasil é esplendor. A mãe de Deus abençoou a terra brasileira, a mulher que nasce aqui tem mais amor. Eu te amo meu Brasil, eu te amo meu Brasil. Eu te amo. Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil. Eu te amo meu Brasil. Ninguém segura a juventude do Brasil. Eu te amo meu Brasil. Eu te amo.

de pé no chão, as meninas me chamavam pra dançar bailão. Eu Te Amo meu Brasil. Eu te amo meu Brasil de madrugada. Chá. Lá. Lá. Lá. Lá. A mãe de Deus abençoou a terra brasileira, vou plantar o amor. As praias do Brasil têm mais estrelas, as praias do Brasil é esplendor. A mãe de Deus abençoou a terra brasileira, a mulher que nasce aqui tem mais amor. Eu te amo meu Brasil, eu te amo meu Brasil. Eu te amo. Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil. Eu te amo meu Brasil. Ninguém segura a juventude do Brasil. Eu te amo meu Brasil. Eu te amo.

O sanfoneiro era o responsável para animar a festa. Ele acompanhava os noivos para o encontro, tocava a valsa e o forró para os convidados até raiar o dia. Durante o forró, a mulher que entrasse no baile precisava dançar com todos os homens que a convidassem. Quando estivesse cansada, ela tinha o direito de ter um descanso, mas se quisesse retornar à dança, procuraria o último que a convidou. Uma senhora ou senhorita recusar um convite para dançar significava para o homem que a convidou uma tábua. E levar uma tábua no forró era uma ofensa à sociedade machista. Essa tradição da tábua provocou muitas brigas nas festas de casamento.

O sanfoneiro era o responsável para animar a festa. Ele acompanhava os noivos para o encontro, tocava a valsa e o forró para os convidados até raiar o dia. Durante o forró, a mulher que entrasse no baile precisava dançar com todos os homens que a convidassem. Quando estivesse cansada, ela tinha o direito de ter um descanso, mas se quisesse retornar à dança, procuraria o último que a convidou. Uma senhora ou senhorita recusar um convite para dançar significava para o homem que a convidou uma tábua. E levar uma tábua no forró era uma ofensa à sociedade machista. Essa tradição da tábua provocou muitas brigas nas festas de casamento.

Na primeira campanha eleitoral de Gameleiras, para as eleições de 1996, o forró de sanfona começou a ser substituído pelo teclado. O primeiro tecladista a fazer shows ao vivo em Gameleiras foi Isael José de Oliveira. Nos primeiros shows pouca gente dançava, pois a maioria das pessoas preferia ver e ouvir o artista cantando e tocando, porque estavam surpresos com essa novidade. Depois veio João Miranda, Tito Show, ambos da cidade de Monte Azul, e demais artistas como Doro do Brasa Mundo, Banda Kalistones, Janine e Banda Grave, Robério e seus teclados. Os artistas preferidos pela maio-

Na primeira campanha eleitoral de Gameleiras, para as eleições de 1996, o forró de sanfona começou a ser substituído pelo teclado. O primeiro tecladista a fazer shows ao vivo em Gameleiras foi Isael José de Oliveira. Nos primeiros shows pouca gente dançava, pois a maioria das pessoas preferia ver e ouvir o artista cantando e tocando, porque estavam surpresos com essa novidade. Depois veio João Miranda, Tito Show, ambos da cidade de Monte Azul, e demais artistas como Doro do Brasa Mundo, Banda Kalistones, Janine e Banda Grave, Robério e seus teclados. Os artistas preferidos pela maio-

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

ria do nosso povo são os que tocam forró.

ria do nosso povo são os que tocam forró.

Em pouco tempo, o teclado virou moda e a sanfona transformou-se numa relíquia. Nas festas de casamento não há mais a presença do sanfoneiro e a velha tradição de passar tábua também foi abolida. A abolição da tábua nas festas de forró aconteceu devido a um avanço da sociedade e ao surgimento do teclado, pois o tecladista não faz intervalo de uma música para outra.

Em pouco tempo, o teclado virou moda e a sanfona transformou-se numa relíquia. Nas festas de casamento não há mais a presença do sanfoneiro e a velha tradição de passar tábua também foi abolida. A abolição da tábua nas festas de forró aconteceu devido a um avanço da sociedade e ao surgimento do teclado, pois o tecladista não faz intervalo de uma música para outra.

As lendas

As lendas

z Segundo a tradição oral, os povos mais antigos dessa região levantavam toda madrugada para irem à beira da serra buscar a barra do dia. Esse povo acreditava que se eles não fossem buscar o dia, a noite não terminava.

z Segundo a tradição oral, os povos mais antigos dessa região levantavam toda madrugada para irem à beira da serra buscar a barra do dia. Esse povo acreditava que se eles não fossem buscar o dia, a noite não terminava.

z O horário “determinado pela sociedade” para o galo cantar é quando o dia está amanhecendo. Até nos dias atuais, se um galo cantar fora desse horário, não serve mais para ser galo. Acaba na panela.

z O horário “determinado pela sociedade” para o galo cantar é quando o dia está amanhecendo. Até nos dias atuais, se um galo cantar fora desse horário, não serve mais para ser galo. Acaba na panela.

z A gameleira plantada pelo senhor Izídio José de Oliveira caiu na noite em que faleceu o coronel Levi Souza e Silva. Dizem que é porque este coronel falou em discurso no Brejo dos Mártires que a referida gameleira só servia para o capeta descansar debaixo. Mas os motivos dessa frondosa árvore ter caído são porque a maioria de suas raízes foi cortada para abrir a estrada nas suas proximidades e ainda por causa dos fortes ventos que sopram em Gameleiras.

z A gameleira plantada pelo senhor Izídio José de Oliveira caiu na noite em que faleceu o coronel Levi Souza e Silva. Dizem que é porque este coronel falou em discurso no Brejo dos Mártires que a referida gameleira só servia para o capeta descansar debaixo. Mas os motivos dessa frondosa árvore ter caído são porque a maioria de suas raízes foi cortada para abrir a estrada nas suas proximidades e ainda por causa dos fortes ventos que sopram em Gameleiras.

z Até por volta de 1980, muitas famílias ainda acreditavam em malfeito de bruxas. Quando nascia uma criança, a família deixava um candeeiro aceso durante 07 noites, no 14º dia do nascimento da criança acendia – se novamente o candeeiro. Essa atitude era re-

z Até por volta de 1980, muitas famílias ainda acreditavam em malfeito de bruxas. Quando nascia uma criança, a família deixava um candeeiro aceso durante 07 noites, no 14º dia do nascimento da criança acendia – se novamente o candeeiro. Essa atitude era re-

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

petida de sete em sete dias, no período de uns três meses.

petida de sete em sete dias, no período de uns três meses.

Cronologia Histórica

Cronologia Histórica

z

Outubro de 1806. O sítio dos Mártires foi arrendado ao senhor Amador de Araújo Moreira, que pagava renda anual de 20S000. O sítio foi avaliado no valor de um conto de réis. 1000S000.

z

z Outubro de 1806. O sítio das Piranhas foi arrendado ao senhor João de Figueiredo Mascarenhas, que pagava renda anual de 20S000. O sítio foi avaliado em oitocentos mil réis, 800S000.

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Agosto de 1890. Brejo dos Mártires é elevado à categoria de Distrito pelo decreto nº 166, de 19 de agosto de 1890.

z

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Dezembro de 1890. O padre Lúcio Antunes de Souza, foi nomeado vigário de Tremedal (Monte Azul). O padre Lúcio nasceu em uma casa a quinhentos metros do povoado do Brejo dos Mártires.

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z Em 1910, o tenente-coronel da Guarda Nacional, João Rodrigues de Oliveira, patente comprada à época, não de carreira militar, doou o terreno onde iniciou a povoação da Gameleira e, pouco tempo depois, o senhor Izídio José de Oliveira plantou uma árvore de nome gameleira na praça do povoado.

z Em 1910, o tenente-coronel da Guarda Nacional, João Rodrigues de Oliveira, patente comprada à época, não de carreira militar, doou o terreno onde iniciou a povoação da Gameleira e, pouco tempo depois, o senhor Izídio José de Oliveira plantou uma árvore de nome gameleira na praça do povoado.

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Em 1915, a lei nº 663, de 18 de setembro de 1915, transferiu a sede do distrito do Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira.

Em 1915, a lei nº 663, de 18 de setembro de 1915, transferiu a sede do distrito do Brejo dos Mártires para o povoado da Gameleira.

z Setembro de 1923. A lei nº 843, de 07 de setembro de 1923, determinou a mudança de denominação do distri-

z Setembro de 1923. A lei nº 843, de 07 de setembro de 1923, determinou a mudança de denominação do distri-

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Outubro de 1806. O sítio dos Mártires foi arrendado ao senhor Amador de Araújo Moreira, que pagava renda anual de 20S000. O sítio foi avaliado no valor de um conto de réis. 1000S000.

Outubro de 1806. O sítio das Piranhas foi arrendado ao senhor João de Figueiredo Mascarenhas, que pagava renda anual de 20S000. O sítio foi avaliado em oitocentos mil réis, 800S000. Agosto de 1890. Brejo dos Mártires é elevado à categoria de Distrito pelo decreto nº 166, de 19 de agosto de 1890. Dezembro de 1890. O padre Lúcio Antunes de Souza, foi nomeado vigário de Tremedal (Monte Azul). O padre Lúcio nasceu em uma casa a quinhentos metros do povoado do Brejo dos Mártires.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

to de Santo Antônio do Brejo dos Mártires para Gameleira.

to de Santo Antônio do Brejo dos Mártires para Gameleira.

z Outubro de 1923. Lúcio Antunes de Sousa morreu bispo em Botucatu. SP.

z Outubro de 1923. Lúcio Antunes de Sousa morreu bispo em Botucatu. SP.

z Em 20 de julho de 1972, faleceu o cel. Levi Sousa e Silva. Nessa mesma data caiu a gameleira plantada pelo senhor Izídio José de Oliveira.

z Em 20 de julho de 1972, faleceu o cel. Levi Sousa e Silva. Nessa mesma data caiu a gameleira plantada pelo senhor Izídio José de Oliveira.

z Em 1964, o senhor Mário José de Oliveira doou o terreno com uma área de 2.500 metros quadrados para construir o prédio da E. E. de Gameleira.

z Em 1964, o senhor Mário José de Oliveira doou o terreno com uma área de 2.500 metros quadrados para construir o prédio da E. E. de Gameleira.

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Em 1965, foi construído o prédio da E. E. de Gameleira.

z

Em 1965, foi construído o prédio da E. E. de Gameleira.

z Em 17/11/1970, aconteceu a primeira festa de formatura de 4ª série do ensino primário no distrito de Gameleira.

z Em 17/11/1970, aconteceu a primeira festa de formatura de 4ª série do ensino primário no distrito de Gameleira.

z Em 1988, aconteceu a primeira festa de formatura de 8ª série do Ensino Fundamental.

z Em 1988, aconteceu a primeira festa de formatura de 8ª série do Ensino Fundamental.

z Em 1999, aconteceu a primeira festa de formatura de terceiro ano do Ensino Médio.

z Em 1999, aconteceu a primeira festa de formatura de terceiro ano do Ensino Médio.

z Em 1972, o senhor Valdomiro José de Oliveira foi eleito vereador para compor o Legislativo de Monte Azul. Nessa época, o cargo de vereador não era remunerado.

z Em 1972, o senhor Valdomiro José de Oliveira foi eleito vereador para compor o Legislativo de Monte Azul. Nessa época, o cargo de vereador não era remunerado.

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De novembro de 1989 a maio de 1991, foi construída a barragem sobre o rio Gameleira.

De novembro de 1989 a maio de 1991, foi construída a barragem sobre o rio Gameleira.

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Em 01/09/1989, a lei nº 228 de 1º de setembro de 1989 estabeleceu o perímetro urbano da sede do distrito de Gameleira.

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Em 11/04/1995, o prefeito de Monte Azul assinou a declaração afirmando que o distrito de Gameleira havia

Em 11/04/1995, o prefeito de Monte Azul assinou a declaração afirmando que o distrito de Gameleira havia

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Em 01/09/1989, a lei nº 228 de 1º de setembro de 1989 estabeleceu o perímetro urbano da sede do distrito de Gameleira.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

núcleo urbano com mais de 400 casas, e que este era capaz de sediar como cidade o novo governo municipal.

núcleo urbano com mais de 400 casas, e que este era capaz de sediar como cidade o novo governo municipal.

z Em 19 de novembro de 1995, 92% dos 1808 eleitores que compareceram para votar disseram Sim no plebiscito para a emancipação do distrito de Gameleira; 66 eleitores votaram Não; 49 votaram em branco, e 20 anularam o voto. Compareceram 56.5 % dos eleitores inscritos na época.

z Em 19 de novembro de 1995, 92% dos 1808 eleitores que compareceram para votar disseram Sim no plebiscito para a emancipação do distrito de Gameleira; 66 eleitores votaram Não; 49 votaram em branco, e 20 anularam o voto. Compareceram 56.5 % dos eleitores inscritos na época.

z 21 de dezembro de 1995, a lei 12.030, de 21/12/1995 emancipou o distrito de Gameleira com o topônimo de Gameleiras.

z 21 de dezembro de 1995, a lei 12.030, de 21/12/1995 emancipou o distrito de Gameleira com o topônimo de Gameleiras.

z 03/10/1996 foi realizada a primeira eleição em Gameleiras, para escolha de prefeito, vice-prefeito e vereadores.

z 03/10/1996 foi realizada a primeira eleição em Gameleiras, para escolha de prefeito, vice-prefeito e vereadores.

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01/01/1997 foi instalado o município de Gameleiras.

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01/01/1997 foi instalado o município de Gameleiras.

z Nos dias 22, 23 e 24 de julho foi realizada a primeira Festa do Arroz em Gameleiras.

z Nos dias 22, 23 e 24 de julho foi realizada a primeira Festa do Arroz em Gameleiras.

O processo de emancipação de Gameleiras

O processo de emancipação de Gameleiras

Nas eleições de 1992, o povo do Distrito de Gameleira elegeu os seguintes vereadores: Osvaldo Teixeira de Oliveira, Valdir Rodrigues de Oliveira, Carlos do Prado Pinto, Durval Fernandes Barbosa e Artur Rodrigues de Oliveira. Esses cinco vereadores representavam 1/5 do legislativo de Monte Azul, cidade mãe do município de Gameleiras, que se compunha de 15 vereadores.

Nas eleições de 1992, o povo do Distrito de Gameleira elegeu os seguintes vereadores: Osvaldo Teixeira de Oliveira, Valdir Rodrigues de Oliveira, Carlos do Prado Pinto, Durval Fernandes Barbosa e Artur Rodrigues de Oliveira. Esses cinco vereadores representavam 1/5 do legislativo de Monte Azul, cidade mãe do município de Gameleiras, que se compunha de 15 vereadores.

Esses representantes do povo, juntamente com dr. Deusdete Rodrigues de Oliveira, assessor jurídico da prefeitura de Monte Azul, formaram uma comissão com

Esses representantes do povo, juntamente com dr. Deusdete Rodrigues de Oliveira, assessor jurídico da prefeitura de Monte Azul, formaram uma comissão com

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

o objetivo de lutar pela emancipação do Distrito de Gameleira. O objetivo dessa comissão foi alcançado em 21/12/1995, quando o Distrito de Gameleira foi emancipado de Monte Azul pela lei 12. 030 de 21/12/1995.

o objetivo de lutar pela emancipação do Distrito de Gameleira. O objetivo dessa comissão foi alcançado em 21/12/1995, quando o Distrito de Gameleira foi emancipado de Monte Azul pela lei 12. 030 de 21/12/1995.

Em 1996, foi realizada a primeira eleição de Gameleiras. O povo elegeu para ser o primeiro prefeito desse novo município o senhor Osvaldo Teixeira de Oliveira, do PFL, com 1.809 votos. O seu vice era o senhor Valdir Rodrigues de Oliveira, do PMDB. O candidato da oposição foi o senhor Durval Fernandes Barbosa, tendo como vice o senhor Aracir do Prado Pinto, ambos do PSDB, e tiveram 809 votos. Os vereadores eleitos para compor o legislativo municipal, foram os seguintes:

Em 1996, foi realizada a primeira eleição de Gameleiras. O povo elegeu para ser o primeiro prefeito desse novo município o senhor Osvaldo Teixeira de Oliveira, do PFL, com 1.809 votos. O seu vice era o senhor Valdir Rodrigues de Oliveira, do PMDB. O candidato da oposição foi o senhor Durval Fernandes Barbosa, tendo como vice o senhor Aracir do Prado Pinto, ambos do PSDB, e tiveram 809 votos. Os vereadores eleitos para compor o legislativo municipal, foram os seguintes:

z

Domingos Ferreira de Sousa (PFL), 212 votos.

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Domingos Ferreira de Sousa (PFL), 212 votos.

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Clarindo José de Oliveira (PFL), 181 votos.

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Clarindo José de Oliveira (PFL), 181 votos.

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José Rodrigues de Oliveira (PMDB), 180 votos.

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José Rodrigues de Oliveira (PMDB), 180 votos.

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José Antunes de Souza (PMDB), 177 votos.

z

José Antunes de Souza (PMDB), 177 votos.

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Artur Rodrigues de Oliveira (PFL), 147 votos.

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Artur Rodrigues de Oliveira (PFL), 147 votos.

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Aneci Carneiro do Prado (PFL), 146 votos.

z

Aneci Carneiro do Prado (PFL), 146 votos.

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Aparecido José de Oliveira (PFL), 145 votos.

z

Aparecido José de Oliveira (PFL), 145 votos.

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Durval José de Oliveira (PSDB), 137 votos.

z

Durval José de Oliveira (PSDB), 137 votos.

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Orvalina do Prado Barbosa (PSDB), 120 votos.

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Orvalina do Prado Barbosa (PSDB), 120 votos.

Em janeiro de 1997, foi instalada a sede do novo município. O prefeito eleito, Osvaldo Teixeira de Oliveira, e os nove vereadores eleitos tomaram posse em 01/01/ 1997, dando início aos trabalhos do Executivo e do Legislativo do recém-emancipado município de Gameleiras. Nessa mesma data, foi instalado o desta-

Em janeiro de 1997, foi instalada a sede do novo município. O prefeito eleito, Osvaldo Teixeira de Oliveira, e os nove vereadores eleitos tomaram posse em 01/01/ 1997, dando início aos trabalhos do Executivo e do Legislativo do recém-emancipado município de Gameleiras. Nessa mesma data, foi instalado o desta-

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

camento policial em Gameleiras que contava com quatro policiais: o 3º Sargento Nilton Flávio Soares Barbosa, os soldados Aquino, Amaral e Sarmento.

camento policial em Gameleiras que contava com quatro policiais: o 3º Sargento Nilton Flávio Soares Barbosa, os soldados Aquino, Amaral e Sarmento.

No início da campanha eleitoral do ano 2000, o povo de Gameleiras seguiu o exemplo das cidades vizinhas, dando nome ou apelido às coligações políticas. Eis alguns nomes de coligações de municípios vizinhos. Monte Azul (Peru e Cocá); Catuti (Ai Mel e Chorão); Espinosa (Pé Mole e Pé Duro); Mato Verde (Lioba e Gabiroba) e Gameleiras (Bem de Vida e Caldeirão Furado).

No início da campanha eleitoral do ano 2000, o povo de Gameleiras seguiu o exemplo das cidades vizinhas, dando nome ou apelido às coligações políticas. Eis alguns nomes de coligações de municípios vizinhos. Monte Azul (Peru e Cocá); Catuti (Ai Mel e Chorão); Espinosa (Pé Mole e Pé Duro); Mato Verde (Lioba e Gabiroba) e Gameleiras (Bem de Vida e Caldeirão Furado).

A segunda eleição aconteceu em 01/10/2000, depois de 06 meses de campanha eleitoral. Foram escolhidos, para administrar na gestão 2001/2004, o senhor Osvaldo Teixeira de Oliveira, reeleito com 2.090 votos. Dessa vez, o seu vice-prefeito foi o senhor Domingos Ferreira de Sousa. O candidato da oposição, Valdir Rodrigues de Oliveira, obteve 1.218 votos, e o seu candidato ao cargo de vice-prefeito foi o senhor Durval Fernandes Barbosa. Os vereadores eleitos foram os seguintes:

A segunda eleição aconteceu em 01/10/2000, depois de 06 meses de campanha eleitoral. Foram escolhidos, para administrar na gestão 2001/2004, o senhor Osvaldo Teixeira de Oliveira, reeleito com 2.090 votos. Dessa vez, o seu vice-prefeito foi o senhor Domingos Ferreira de Sousa. O candidato da oposição, Valdir Rodrigues de Oliveira, obteve 1.218 votos, e o seu candidato ao cargo de vice-prefeito foi o senhor Durval Fernandes Barbosa. Os vereadores eleitos foram os seguintes:

z

Geraldino do Prado Rocha (PFL/PPB), 296 votos.

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Geraldino do Prado Rocha (PFL/PPB), 296 votos.

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Clarindo José de Oliveira (PFL/PPB), 290 votos.

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Clarindo José de Oliveira (PFL/PPB), 290 votos.

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Artur Rodrigues de Oliveira (PFL/PPB), 276 votos.

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Artur Rodrigues de Oliveira (PFL/PPB), 276 votos.

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Valdecir Antunes de oliveira (PFL/PPB), 262 votos.

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Valdecir Antunes de oliveira (PFL/PPB), 262 votos.

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Antônio Antunes Martins (PFL/PPB), 241 votos.

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Antônio Antunes Martins (PFL/PPB), 241 votos.

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Aclides Rodrigues de Oliveira (PFL/PPB), 226 votos.

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Aclides Rodrigues de Oliveira (PFL/PPB), 226 votos.

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José Antunes de Souza (PMDB/PPB/PSDB), 123 votos.

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José Antunes de Souza (PMDB/PPB/PSDB), 123 votos.

Gerônimo Figueiredo dos Santos (PMDB/PTB/PSDB), 116 votos.

Gerônimo Figueiredo dos Santos (PMDB/PTB/PSDB), 116 votos.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

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Durval José de Oliveira (PMDB/PPB/PSDB), 114 votos.

Zaurindo Fernandes Baleeiro

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Durval José de Oliveira (PMDB/PPB/PSDB), 114 votos.

Na campanha eleitoral para as eleições de 03/10/2004, a rivalidade entre as coligações “Povo Forte”, ou Bem de Vida, e “A Força do Povo”, ou Caldeirão Furado, foi bastante acentuada. Houve muita briga e muitos fogos de artifício. A Vila do Jacu das Piranhas ficou conhecida como a Vila do Bagdá, devido à grande quantidade de confusões e explosões de foguetes.

Na campanha eleitoral para as eleições de 03/10/2004, a rivalidade entre as coligações “Povo Forte”, ou Bem de Vida, e “A Força do Povo”, ou Caldeirão Furado, foi bastante acentuada. Houve muita briga e muitos fogos de artifício. A Vila do Jacu das Piranhas ficou conhecida como a Vila do Bagdá, devido à grande quantidade de confusões e explosões de foguetes.

Nos quatro últimos dias de campanha surgiu um movimento que ficou conhecido como a correria. Nessa correria, que durava 24 horas por dia, a turma do Caldeirão Furado fiscalizava os Bem de Vida para que não houvesse compra de votos. Os Bem de Vida faziam o mesmo. Essa campanha eleitoral foi a mais acirrada de Gameleiras, teve alguns feridos, e muitos confrontos com pessoas armadas. Mas, felizmente, não houve vítimas fatais. Houve um confronto no povoado de Brejo dos Mártires, entre os Bem de Vida e o Caldeirão Furado, que nem a polícia conseguiu conter os manifestantes.

Nos quatro últimos dias de campanha surgiu um movimento que ficou conhecido como a correria. Nessa correria, que durava 24 horas por dia, a turma do Caldeirão Furado fiscalizava os Bem de Vida para que não houvesse compra de votos. Os Bem de Vida faziam o mesmo. Essa campanha eleitoral foi a mais acirrada de Gameleiras, teve alguns feridos, e muitos confrontos com pessoas armadas. Mas, felizmente, não houve vítimas fatais. Houve um confronto no povoado de Brejo dos Mártires, entre os Bem de Vida e o Caldeirão Furado, que nem a polícia conseguiu conter os manifestantes.

Dessa vez, a diferença de votos entre as coligações foi pequena, apenas 243 votos. Sendo que o candidato da coligação Povo Forte, Domingos Ferreira de Souza, foi eleito com 1885 votos, tendo como vice a senhora Orvalina do Prado Barbosa. O candidato da Coligação A Força do Povo, Valdir Rodrigues de Oliveira, obteve 1.642 votos. O seu candidato ao cargo de vive-prefeito dessa vez foi senhor Arlindo Rodrigues de Oliveira. Foram eleitos também os seguintes vereadores:

Dessa vez, a diferença de votos entre as coligações foi pequena, apenas 243 votos. Sendo que o candidato da coligação Povo Forte, Domingos Ferreira de Souza, foi eleito com 1885 votos, tendo como vice a senhora Orvalina do Prado Barbosa. O candidato da Coligação A Força do Povo, Valdir Rodrigues de Oliveira, obteve 1.642 votos. O seu candidato ao cargo de vive-prefeito dessa vez foi senhor Arlindo Rodrigues de Oliveira. Foram eleitos também os seguintes vereadores:

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Valdeci Antunes de oliveira (Povo Forte), 284 votos.

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Valdeci Antunes de oliveira (Povo Forte), 284 votos.

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Juraci Mendes da Luz (Povo Forte), 248 votos.

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Juraci Mendes da Luz (Povo Forte), 248 votos.

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Geraldino do Prado Rocha (A Força do povo), 246 votos.

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Geraldino do Prado Rocha (A Força do povo), 246 votos.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

z Isaurino Fernandes Teixeira (A Força do Povo), 224 votos.

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

z Isaurino Fernandes Teixeira (A Força do Povo), 224 votos.

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José Maria Fernandes Barbosa (Povo Forte), 212 votos.

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José Maria Fernandes Barbosa (Povo Forte), 212 votos.

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Antônio Alves Martins (Povo Forte), 209 votos.

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Antônio Alves Martins (Povo Forte), 209 votos.

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Ageni Teixeira Barbosa (Povo Forte), 207 votos.

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Ageni Teixeira Barbosa (Povo Forte), 207 votos.

z Sebastião Rodrigues de oliveira (A Força do Povo), 150 votos.

z Sebastião Rodrigues de oliveira (A Força do Povo), 150 votos.

Os presidentes da Câmara Municipal de Gameleiras na 1ª gestão administrativa; (1997–2000) foram os seguintes: Domingos Ferreira de Souza (1997), Clarindo José de Oliveira (1998), José Rodrigues de Oliveira (1999), Aparecido José de oliveira (2000).

Os presidentes da Câmara Municipal de Gameleiras na 1ª gestão administrativa; (1997–2000) foram os seguintes: Domingos Ferreira de Souza (1997), Clarindo José de Oliveira (1998), José Rodrigues de Oliveira (1999), Aparecido José de oliveira (2000).

Na 2ª Gestão administrativa; (2001–2004), o vereador Geraldino do Prado Rocha foi presidente da Câmara durante os 04 anos consecutivos.

Na 2ª Gestão administrativa; (2001–2004), o vereador Geraldino do Prado Rocha foi presidente da Câmara durante os 04 anos consecutivos.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS

pesar das dificuldades em encontrar fontes correlacionadas aos fatos de sustentação deste trabalho, foi possível realizar uma pesquisa que teve como um dos objetivos principais registrar as informações históricas do município de Gameleiras, que, até então, se encontravam isoladas e dispersas no tempo e no espaço, sujeitas à morte em suas raízes.

A

A

O Norte de Minas Gerais foi inicialmente ocupado por tribos indígenas da nação tapuia. Há ainda em nossa sociedade, alguns resquícios da cultura indígena. Na comunidade do Jacu das Piranhas há um cemitério, já abandonado, conhecido como o Tapuio, uma Escola Municipal Rui Barbosa no povoado do Tapuio e uma fazenda do Tapuio, de propriedade do senhor Valdivino do Prado Rocha. Muita gente da terceira idade ainda tem o hábito de prever o tempo, utilizando elementos da natureza, uma idéia semelhante à dos índios que acreditavam nos deuses da natureza. Eis alguns exemplos: se a lua nova aparecer um pouco decaída para a esquerda ou para a direita, naquele mês haverá uma pequena possibilidade de chover; nas noites estreladas as pessoas observam duas constelações conhecidas como as covas de Adão e Eva. Se uma delas não tiver visível no céu, é porque esta foi buscar a chuva; quando o sapo cururu coaxar na beira do rio, daí 60 dias a chuva chega. Essas

O Norte de Minas Gerais foi inicialmente ocupado por tribos indígenas da nação tapuia. Há ainda em nossa sociedade, alguns resquícios da cultura indígena. Na comunidade do Jacu das Piranhas há um cemitério, já abandonado, conhecido como o Tapuio, uma Escola Municipal Rui Barbosa no povoado do Tapuio e uma fazenda do Tapuio, de propriedade do senhor Valdivino do Prado Rocha. Muita gente da terceira idade ainda tem o hábito de prever o tempo, utilizando elementos da natureza, uma idéia semelhante à dos índios que acreditavam nos deuses da natureza. Eis alguns exemplos: se a lua nova aparecer um pouco decaída para a esquerda ou para a direita, naquele mês haverá uma pequena possibilidade de chover; nas noites estreladas as pessoas observam duas constelações conhecidas como as covas de Adão e Eva. Se uma delas não tiver visível no céu, é porque esta foi buscar a chuva; quando o sapo cururu coaxar na beira do rio, daí 60 dias a chuva chega. Essas

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pesar das dificuldades em encontrar fontes correlacionadas aos fatos de sustentação deste trabalho, foi possível realizar uma pesquisa que teve como um dos objetivos principais registrar as informações históricas do município de Gameleiras, que, até então, se encontravam isoladas e dispersas no tempo e no espaço, sujeitas à morte em suas raízes.


Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

crenças populares de previsão do tempo sofreram profundas transformações com a chegada do aparelho de TV, em 1982. Quando a televisão mostrava a previsão climática, as pessoas diziam que era o fim dos tempos, pois o homem estava querendo descobrir os segredos de Deus.

crenças populares de previsão do tempo sofreram profundas transformações com a chegada do aparelho de TV, em 1982. Quando a televisão mostrava a previsão climática, as pessoas diziam que era o fim dos tempos, pois o homem estava querendo descobrir os segredos de Deus.

Provavelmente, o início do processo de ocupação do Sítio dos Mártires ocorreu por volta do ano 1700, nas proximidades da foz do rio Gorutuba com o rio Verde Grande por viajantes que transportavam mercadorias das Minas para a Bahia e vice-versa. Esses viajantes fixaram-se nessa região e, tempos depois, descobriram o brejo, região alagada e propícia ao cultivo de cana e de arroz nas proximidades da serra central. Em seguida, vieram com seus escravos para desbravar as matas e fazer suas plantações. Por volta de 1850, fundaram o arraial de Brejo dos Mártires.

Provavelmente, o início do processo de ocupação do Sítio dos Mártires ocorreu por volta do ano 1700, nas proximidades da foz do rio Gorutuba com o rio Verde Grande por viajantes que transportavam mercadorias das Minas para a Bahia e vice-versa. Esses viajantes fixaram-se nessa região e, tempos depois, descobriram o brejo, região alagada e propícia ao cultivo de cana e de arroz nas proximidades da serra central. Em seguida, vieram com seus escravos para desbravar as matas e fazer suas plantações. Por volta de 1850, fundaram o arraial de Brejo dos Mártires.

Antonino da Silva Neves discute que o início do povoamento regular do território do distrito do Brejo dos Mártires data dos primeiros tempos da colonização do Sertão do Rio Pardo. A Enciclopédia dos Municípios Mineiros afirma que a colonização do sertão do Rio Pardo iniciou–se no contexto do ciclo do couro, período que antecedeu ao ciclo do ouro.

Antonino da Silva Neves discute que o início do povoamento regular do território do distrito do Brejo dos Mártires data dos primeiros tempos da colonização do Sertão do Rio Pardo. A Enciclopédia dos Municípios Mineiros afirma que a colonização do sertão do Rio Pardo iniciou–se no contexto do ciclo do couro, período que antecedeu ao ciclo do ouro.

Todavia, o fato de a família Guedes Brito ser possuidora de tão grande porção de terra, é questionável. Pois, tanto Matias Cardoso de Almeida, sucessor de Antônio Guedes de Brito, no controle das desordens do Sertão do São Francisco, como outros bandeirantes e, ainda, alguns fazendeiros que atuaram no Norte de Minas Gerais, supostamente tiveram posse nessa área.

Todavia, o fato de a família Guedes Brito ser possuidora de tão grande porção de terra, é questionável. Pois, tanto Matias Cardoso de Almeida, sucessor de Antônio Guedes de Brito, no controle das desordens do Sertão do São Francisco, como outros bandeirantes e, ainda, alguns fazendeiros que atuaram no Norte de Minas Gerais, supostamente tiveram posse nessa área.

Quanto à decisão de João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito de arrendar e vender os bens

Quanto à decisão de João de Saldanha da Gama Melo e Torres Guedes de Brito de arrendar e vender os bens

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

pertencentes à Casa da Ponte, em 1806, é também um fato questionável. Será que ele temia perder o domínio de suas terras para os fazendeiros que lentamente ocupavam o seu vasto latifúndio?

pertencentes à Casa da Ponte, em 1806, é também um fato questionável. Será que ele temia perder o domínio de suas terras para os fazendeiros que lentamente ocupavam o seu vasto latifúndio?

O povoado da Gameleira teve o privilégio de ser a sede do município de Gameleiras, emancipado de Monte Azul em 1995, graças à transferência do distrito de Brejo dos Mártires para a Vila da Gameleira, em 1915, pelo senhor João de Souza. Esse senhor devia ser considerado o herói desse município. Mas, infelizmente, nenhum patrimônio público recebeu o seu nome.

O povoado da Gameleira teve o privilégio de ser a sede do município de Gameleiras, emancipado de Monte Azul em 1995, graças à transferência do distrito de Brejo dos Mártires para a Vila da Gameleira, em 1915, pelo senhor João de Souza. Esse senhor devia ser considerado o herói desse município. Mas, infelizmente, nenhum patrimônio público recebeu o seu nome.

A sociedade de Gameleiras constitui-se de uma população carente devido à má distribuição das chuvas no sertão Norte de Minas Gerais que, às vezes, comprometem a produção agropecuária dessa região.

A sociedade de Gameleiras constitui-se de uma população carente devido à má distribuição das chuvas no sertão Norte de Minas Gerais que, às vezes, comprometem a produção agropecuária dessa região.

Durante a pesquisa, procurei registrar o máximo de informações para descrever este trabalho. Acredito que ele será apenas uma base para os pesquisadores que se interessarem em investigar a História desse recém-emancipado município que ainda tem muito a ser estudado, principalmente a partir da cultura rica do povo de Gameleiras.

Durante a pesquisa, procurei registrar o máximo de informações para descrever este trabalho. Acredito que ele será apenas uma base para os pesquisadores que se interessarem em investigar a História desse recém-emancipado município que ainda tem muito a ser estudado, principalmente a partir da cultura rica do povo de Gameleiras.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

FONTES

FONTES

Arquivos da Secretaria da E.E. de Gameleira, da E.E. de Brejo dos Mártires e do Setor Municipal de Educação de Gameleiras.

Arquivos da Secretaria da E.E. de Gameleira, da E.E. de Brejo dos Mártires e do Setor Municipal de Educação de Gameleiras.

Câmara Municipal de Gameleiras - MG. Livros de atas.

Câmara Municipal de Gameleiras - MG. Livros de atas.

CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), de Montes Claros - MG. Dados e fotos referentes à barragem construída sobre o rio Gameleira.

CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco), de Montes Claros - MG. Dados e fotos referentes à barragem construída sobre o rio Gameleira.

IBGE, Escritório da cidade de Janaúba. Censo Populacional de Gameleiras do ano 2000 e as coordenadas geográficas.

IBGE, Escritório da cidade de Janaúba. Censo Populacional de Gameleiras do ano 2000 e as coordenadas geográficas.

Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças de Monte Azul - MG. 1º Livro de Tombo, 1887–1938.

Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças de Monte Azul - MG. 1º Livro de Tombo, 1887–1938.

Posto do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) da cidade de Espinosa - MG. Histórico da Previdência Social.

Posto do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) da cidade de Espinosa - MG. Histórico da Previdência Social.

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Volume XI. 1964. Diretores: Copérnico Pinto Coelho e Salomão de Vasconcelos. Arquivo pessoal de Daniel Antunes Júnior.

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Volume XI. 1964. Diretores: Copérnico Pinto Coelho e Salomão de Vasconcelos. Arquivo pessoal de Daniel Antunes Júnior.

Sala de Advocacia do Dr. Deusdete Rodrigues de Oliveira. Documentos referentes ao processo de emancipação de Gameleiras.

Sala de Advocacia do Dr. Deusdete Rodrigues de Oliveira. Documentos referentes ao processo de emancipação de Gameleiras.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário HistóricoGeográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: [s.n.], 1971.

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário HistóricoGeográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: [s.n.], 1971.

BRAZ, Brasiliano. São Francisco nos Caminhos da História. Belo Horizonte: Lemis, 1977.

BRAZ, Brasiliano. São Francisco nos Caminhos da História. Belo Horizonte: Lemis, 1977.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001.

JÚNIOR ANTUNES, Daniel. Lençóis do Rio Verde: Crônica Meu Sertão. Belo Horizonte: Comunicação. 1976.

JÚNIOR ANTUNES, Daniel. Lençóis do Rio Verde: Crônica Meu Sertão. Belo Horizonte: Comunicação. 1976.

LISBOA, Abdênago. Uma Odisséia do Norte de Minas Gerais. Belo Horizonte: Canaã, 1992.

LISBOA, Abdênago. Uma Odisséia do Norte de Minas Gerais. Belo Horizonte: Canaã, 1992.

NEVES, Antonino da Silva. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremedal. Belo Horizonte: [s.n.], 1908.

NEVES, Antonino da Silva. Chorographia do Município de Boa Vista do Tremedal. Belo Horizonte: [s.n.], 1908.

PEREIRA, Laurindo Mékie. A Cidade do Favor. Montes Claros em meados do Século XX. Montes Claros. Ed. UNIMONTES, 2002.

PEREIRA, Laurindo Mékie. A Cidade do Favor. Montes Claros em meados do Século XX. Montes Claros. Ed. UNIMONTES, 2002.

PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979.

PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979.

VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. 4. ed. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1974.

VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. 4. ed. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1974.

VASCONCELOS, Diogo de. História Média das Minas

VASCONCELOS, Diogo de. História Média das Minas

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Gerais. 4. ed. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1974.

Gerais. 4. ed. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1974.

VIANNA, Urbino de Sousa. Monographia do MunicĂ­pio de Montes Claros. Belo Horizonte: [s.n.], 1916.

VIANNA, Urbino de Sousa. Monographia do MunicĂ­pio de Montes Claros. Belo Horizonte: [s.n.], 1916.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

ENTREVISTAS

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

ENTREVISTAS

Antônio Fernandes Barbosa

Antônio Fernandes Barbosa

Data: 20/12/2002.

Data: 20/12/2002.

Nasceu em Boa Vista, reside em Gameleiras, é agropecuarista e aposentado como escrivão de cartório.

Nasceu em Boa Vista, reside em Gameleiras, é agropecuarista e aposentado como escrivão de cartório.

Osvaldo Antunes de Sousa

Osvaldo Antunes de Sousa

Data: 20/12/2002.

Data: 20/12/2002.

Nasceu em Gameleiras e é trabalhador rural aposentado.

Nasceu em Gameleiras e é trabalhador rural aposentado.

Izídio Rodrigues de Oliveira

Izídio Rodrigues de Oliveira

Data: 20/12/2002.

Data: 20/12/2002.

Nasceu em Gameleiras, reside em Brejo dos Mártires, é agropecuarista aposentado.

Nasceu em Gameleiras, reside em Brejo dos Mártires, é agropecuarista aposentado.

Artur Rodrigues de Oliveira

Artur Rodrigues de Oliveira

Data: 20/12/2002.

Data: 20/12/2002.

Nasceu em Gameleiras, é agropecuarista aposentado.

Nasceu em Gameleiras, é agropecuarista aposentado.

Dionísio Fernandes Baleeiro

Dionísio Fernandes Baleeiro

Data: 20/12/2002.

Data: 20/12/2002. 101

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Nasceu em Boa Vista, reside em Vereda de Gameleira, é trabalhador rural aposentado.

Nasceu em Boa Vista, reside em Vereda de Gameleira, é trabalhador rural aposentado.

Aureliano José de Sousa

Aureliano José de Sousa

Data: 23/03/2003.

Data: 23/03/2003.

Nasceu em Brejo dos Mártires, reside nesse povoado, é trabalhador rural aposentado.

Nasceu em Brejo dos Mártires, reside nesse povoado, é trabalhador rural aposentado.

Gerulino Alves Teixeira

Gerulino Alves Teixeira

Data: 10/ 08/ 2003

Data: 10/ 08/ 2003

Nasceu em Jacu das Piranhas e reside em Gameleiras, é trabalhador rural aposentado.

Nasceu em Jacu das Piranhas e reside em Gameleiras, é trabalhador rural aposentado.

Diolino Pereira Freires

Diolino Pereira Freires

Data: 21/08/2003.

Data: 21/08/2003.

Nasceu e reside na Vereda do Jacu das Piranhas, é trabalhador rural aposentado.

Nasceu e reside na Vereda do Jacu das Piranhas, é trabalhador rural aposentado.

Amando do Prado Pinto

Amando do Prado Pinto

Data: 22/08/2003.

Data: 22/08/2003.

Nasceu e reside em Jacu das Piranhas, é agropecuarista aposentado.

Nasceu e reside em Jacu das Piranhas, é agropecuarista aposentado.

Quirino Francisco de Carvalho

Quirino Francisco de Carvalho

Data: 23/09/2003.

Data: 23/09/2003.

Nasceu e reside na comunidade do Roçado Velho, às margens do rio Poço Triste, é trabalhador rural aposentado.

Nasceu e reside na comunidade do Roçado Velho, às margens do rio Poço Triste, é trabalhador rural aposentado.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

ANEXOS

ANEXOS

Anexo n° A

Anexo n° A

Disponível em: <http://www.apontador.com.br/bussula/print>. Acesso em: 20 de out. 2005.

Disponível em: <http://www.apontador.com.br/bussula/print>. Acesso em: 20 de out. 2005.

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Anexo n° B

Anexo n° B

Referência: PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979. p. 213.

Referência: PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979. p. 213.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Anexo n° C

Anexo n° C

Normas para arrendamentos e vendas dos sítios.

Normas para arrendamentos e vendas dos sítios.

Do arquivo da Casa da Ponte em Lisboa copiamos as normas a serem seguidas pelos administradores Distritais.

Do arquivo da Casa da Ponte em Lisboa copiamos as normas a serem seguidas pelos administradores Distritais.

“Translado da carta que acompanha a remessa dos livros e procurações à incumbência do capitão Manuel Moreira da Trindade.”

“Translado da carta que acompanha a remessa dos livros e procurações à incumbência do capitão Manuel Moreira da Trindade.”

Ilmo. Sr.

Ilmo. Sr.

Capitão Manuel Moreira da Trindade.

Capitão Manuel Moreira da Trindade.

Por Thomaz José da Costa lhe dirijo quatro de novos encadernados, capa de couro de veado em uma bolsa forrada de baeta, na qual deve transitar aonde seja necessário para serem menos expostos às avarias das jornadas.

Por Thomaz José da Costa lhe dirijo quatro de novos encadernados, capa de couro de veado em uma bolsa forrada de baeta, na qual deve transitar aonde seja necessário para serem menos expostos às avarias das jornadas.

No livro que diz – Tombamento – com 82 folhas, numeradas, são transcritos os prédios arrendados, nomes dos herdeiros, quantias que pagam, confrontações, quantidade de terras que ocupam e o valor em que seu dono as estima, que por menos as não vende. Neste livro às fls. 6, vai escrita a NOTA que regula o sistema de vender os prédios, com preferência a seus cultivadores, e não querendo estes, a qualquer outro licitante que oferece cobertura ao valor estipulado.

No livro que diz – Tombamento – com 82 folhas, numeradas, são transcritos os prédios arrendados, nomes dos herdeiros, quantias que pagam, confrontações, quantidade de terras que ocupam e o valor em que seu dono as estima, que por menos as não vende. Neste livro às fls. 6, vai escrita a NOTA que regula o sistema de vender os prédios, com preferência a seus cultivadores, e não querendo estes, a qualquer outro licitante que oferece cobertura ao valor estipulado.

Outro livro que diz – ESCRITURAS – com 156 folhas numeradas, também nas notas de folhas 2 a folhas 7, vai designado o sistema de escrituração que é aplicado,

Outro livro que diz – ESCRITURAS – com 156 folhas numeradas, também nas notas de folhas 2 a folhas 7, vai designado o sistema de escrituração que é aplicado,

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

bem como o translado da procuração-geral que autoriza para vender, a qual é preciso rever todas as vezes que se trata de qualquer venda por escritura: ou escrito privado.

bem como o translado da procuração-geral que autoriza para vender, a qual é preciso rever todas as vezes que se trata de qualquer venda por escritura: ou escrito privado.

No outro, que diz _ ARRENDAMENTOS _ com 100 folhas numeradas, vai o translado da procuração-geral, para que seja presente em qualquer fatura dos novos arrendamentos que se oferece, bem como para os que se houver de ratificar pelo sistema de normas, fl. 4, segundo a nota fl.5.

No outro, que diz _ ARRENDAMENTOS _ com 100 folhas numeradas, vai o translado da procuração-geral, para que seja presente em qualquer fatura dos novos arrendamentos que se oferece, bem como para os que se houver de ratificar pelo sistema de normas, fl. 4, segundo a nota fl.5.

O outro que diz _ RENDAS VENCIDAS _ com 98 folhas numeradas no título, fl.1 e na nota fl.1, se mostra o seu destino, e as contas em cada página são em suma a renda vencida de cada um dos prédios por seu nº de tombamento até os dias, meses, e anos escritos, em cujo balanço só deve levar em conta ao vendeiro os recibos que apresentam dos procuradores transatos, escrevendo na mesma página o nome do recebedor, e o dia, mês e ano que cobrou.

O outro que diz _ RENDAS VENCIDAS _ com 98 folhas numeradas no título, fl.1 e na nota fl.1, se mostra o seu destino, e as contas em cada página são em suma a renda vencida de cada um dos prédios por seu nº de tombamento até os dias, meses, e anos escritos, em cujo balanço só deve levar em conta ao vendeiro os recibos que apresentam dos procuradores transatos, escrevendo na mesma página o nome do recebedor, e o dia, mês e ano que cobrou.

Estes quatro livros, que por seus destinos jogam, em separados uns dos outros, devem presidir a todas as transações que se promoverem, isto é: na vida do prédio, formalidade das condições, ajustamento das vendas vencidas, ou para ratificar as novas obrigações de vendas futuras, que por isso se faz a despesa da dita bolsa.

Estes quatro livros, que por seus destinos jogam, em separados uns dos outros, devem presidir a todas as transações que se promoverem, isto é: na vida do prédio, formalidade das condições, ajustamento das vendas vencidas, ou para ratificar as novas obrigações de vendas futuras, que por isso se faz a despesa da dita bolsa.

Para se tratar a venda de qualquer prédio, se há de mostrar ao comprador no livro do tombo as extremas, e confrontações transcritas no seu termo, e o preço estipulado, declarado que sobre as mesmas extremas, e preços versa o seu ajuste, causando tratar de aumento de terreno, nem mais, nem menos do que se acha tombado, nem do valor que seu dono quer.

Para se tratar a venda de qualquer prédio, se há de mostrar ao comprador no livro do tombo as extremas, e confrontações transcritas no seu termo, e o preço estipulado, declarado que sobre as mesmas extremas, e preços versa o seu ajuste, causando tratar de aumento de terreno, nem mais, nem menos do que se acha tombado, nem do valor que seu dono quer.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Depois que o rendeiro, ou qualquer outro pretendente a compra do prédio que se demonstrou no livro do tombo, se disponha a tratar por escritura, ou escrito privado, se lhe deve fazer presente as normas das escrituras, e concordando nas condições, escrever – se nesse mesmo livro o que se tratar, e assinado pelo comprador, e procurador do vendedor, extrair pelo amanuense da administração do translado, que também se deve assinar para o comprador fazer a distribuição, e lançar na nota a quem trocar, firmar – se a escritura na forma do costume.

Depois que o rendeiro, ou qualquer outro pretendente a compra do prédio que se demonstrou no livro do tombo, se disponha a tratar por escritura, ou escrito privado, se lhe deve fazer presente as normas das escrituras, e concordando nas condições, escrever – se nesse mesmo livro o que se tratar, e assinado pelo comprador, e procurador do vendedor, extrair pelo amanuense da administração do translado, que também se deve assinar para o comprador fazer a distribuição, e lançar na nota a quem trocar, firmar – se a escritura na forma do costume.

Tratando que seja a venda do prédio por inteiro, e nunca dividido, sendo o comprador rendeiro, segue – se a revista no livro de Rendas Vencidas, e formando – se o seu balanço qualquer que seja o saldo, que mostrar até o dia, mês e ano, que firmou a escritura de compra, pagar o dinheiro, ou (não pagando) passar crédito em uma folha de papel, declarando que deve ao Exmo. Sr . Conde da Ponte, a quantia de tanto, proveniente da venda vencida do prédio que nesta data comprou por escritura na Nota do Tabelião F., ou escrito privado pelo seu bastante procurador, cuja quantia se obriga a pagar em tal dia, mês e ano, sem a isso por dúvida alguma.

Tratando que seja a venda do prédio por inteiro, e nunca dividido, sendo o comprador rendeiro, segue – se a revista no livro de Rendas Vencidas, e formando – se o seu balanço qualquer que seja o saldo, que mostrar até o dia, mês e ano, que firmou a escritura de compra, pagar o dinheiro, ou (não pagando) passar crédito em uma folha de papel, declarando que deve ao Exmo. Sr . Conde da Ponte, a quantia de tanto, proveniente da venda vencida do prédio que nesta data comprou por escritura na Nota do Tabelião F., ou escrito privado pelo seu bastante procurador, cuja quantia se obriga a pagar em tal dia, mês e ano, sem a isso por dúvida alguma.

Não concordando o rendeiro na compra do prédio que desfruta, deve logo passar novo arrendamento no livro que para isso é consignado, com todas as cláusulas apontadas na norma. Fl. 4, do mesmo livro, respeitando sempre a permanência do mesmo prédio, e suas confrontações transcritas no Tombamento.

Não concordando o rendeiro na compra do prédio que desfruta, deve logo passar novo arrendamento no livro que para isso é consignado, com todas as cláusulas apontadas na norma. Fl. 4, do mesmo livro, respeitando sempre a permanência do mesmo prédio, e suas confrontações transcritas no Tombamento.

É aqui provada a dependência destes quatro livros inseparáveis como necessários na diligência de vender, e a Arrendar os prédios: nem se entenda prolixidade as cláusulas apontadas, que todas são tendentes, à

É aqui provada a dependência destes quatro livros inseparáveis como necessários na diligência de vender, e a Arrendar os prédios: nem se entenda prolixidade as cláusulas apontadas, que todas são tendentes, à

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

firmeza dos contratos, e acautelar perturbações entre os heróis confinantes, para cada um se conter nos seus limites em boa harmonia com os vizinhos.

firmeza dos contratos, e acautelar perturbações entre os heróis confinantes, para cada um se conter nos seus limites em boa harmonia com os vizinhos.

Os sítios arrendados, ou devolutos, ainda incultos que por qualquer dos lados toquem nas extremas das terras vinculadas, que vem a ser, as oito fazendas beira Rio São Francisco, e fazenda Carneíba de fora, não se vendem a comprador algum, mas pode ser arrendada como anexo ao Morgado de Guedes Brito, com a condição de não prejudicar as fábricas de culturas das referidas fazendas, e este conhecimento é compatível à diligência do Senhor Administrador Companheiro.

Os sítios arrendados, ou devolutos, ainda incultos que por qualquer dos lados toquem nas extremas das terras vinculadas, que vem a ser, as oito fazendas beira Rio São Francisco, e fazenda Carneíba de fora, não se vendem a comprador algum, mas pode ser arrendada como anexo ao Morgado de Guedes Brito, com a condição de não prejudicar as fábricas de culturas das referidas fazendas, e este conhecimento é compatível à diligência do Senhor Administrador Companheiro.

Os prédios situados nos confins do Termo do Urubu não transcritos no livro respectivo do Tombamento, deliberou–se por comodidade tombarem–se na Divisões do Julgado do Xique–Xique, pelas vertentes ao Rio Paramirim, e do Rio Pardo, pelas vertentes do Rio Verde, ambos na incumbência do Thomás José da Costa.

Os prédios situados nos confins do Termo do Urubu não transcritos no livro respectivo do Tombamento, deliberou–se por comodidade tombarem–se na Divisões do Julgado do Xique–Xique, pelas vertentes ao Rio Paramirim, e do Rio Pardo, pelas vertentes do Rio Verde, ambos na incumbência do Thomás José da Costa.

No fim de cada um ano cumpre extrair relatório circunstanciado que de classe os prédios por seu nome, e número designados no livro do tombamento, que se houverem vencidos, nome do comprador, quantia, pagamentos tratados, dia, mês e ano, que se celebrou a Escritura, ou Escrito Privado, dirigindo o mesmo relatório ao arquivo da administração nesta cidade.

No fim de cada um ano cumpre extrair relatório circunstanciado que de classe os prédios por seu nome, e número designados no livro do tombamento, que se houverem vencidos, nome do comprador, quantia, pagamentos tratados, dia, mês e ano, que se celebrou a Escritura, ou Escrito Privado, dirigindo o mesmo relatório ao arquivo da administração nesta cidade.

Da mesma sorte participar as alternativas e obstáculos encontrados na exploração de vender e arrendar, bem como de todos os mais objetos administrativos que exigirem providências.

Da mesma sorte participar as alternativas e obstáculos encontrados na exploração de vender e arrendar, bem como de todos os mais objetos administrativos que exigirem providências.

O Ilmo. e Exmo. Senhor Conde da Ponte nosso constituinte, confia mais na probidade dos seus administradores do que em advertências deduzidas e escritura-

O Ilmo. e Exmo. Senhor Conde da Ponte nosso constituinte, confia mais na probidade dos seus administradores do que em advertências deduzidas e escritura-

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

das, ampliando finalmente que tratem os seus negócios com a mesma liberdade de propriedades.

das, ampliando finalmente que tratem os seus negócios com a mesma liberdade de propriedades.

Assim o espera o S. Excia, nem eu hei de ser omisso na parte que me tacar em qualquer objeto do interesse administrativo, porque, além da obrigação, sou S.

Assim o espera o S. Excia, nem eu hei de ser omisso na parte que me tacar em qualquer objeto do interesse administrativo, porque, além da obrigação, sou S.

Igual remessa de livros e recomendações instrutivas foram dirigidas na mesma data aos Distritos, que contém os Prédios indicados no resumo antecedentes, isto é: Rio de Contas, Rios Pardo, Caitité, Urubu, Xique – Xique e Jacobina, perfazendo vinte e quatro livros, que todos existem em poder dos incumbidos, e são responsáveis; escriturados neles suas contas anuais.

Igual remessa de livros e recomendações instrutivas foram dirigidas na mesma data aos Distritos, que contém os Prédios indicados no resumo antecedentes, isto é: Rio de Contas, Rios Pardo, Caitité, Urubu, Xique – Xique e Jacobina, perfazendo vinte e quatro livros, que todos existem em poder dos incumbidos, e são responsáveis; escriturados neles suas contas anuais.

O Prêmio Comicional que a administração estipulou aos comissários vendedores vem a ser dez por cento, de celebrar a escritura de venda do prédio com as formalidades minutadas nos referidos livros, outros dez por cento, das vendas vencidas que cobrar dos inquilinos na forma do estilo apontado no predito livro de vendas.

O Prêmio Comicional que a administração estipulou aos comissários vendedores vem a ser dez por cento, de celebrar a escritura de venda do prédio com as formalidades minutadas nos referidos livros, outros dez por cento, das vendas vencidas que cobrar dos inquilinos na forma do estilo apontado no predito livro de vendas.

a) Pedro Francisco de Castro

a) Pedro Francisco de Castro

Referência: PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979. p. 233, 234 e 235

Referência: PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979. p. 233, 234 e 235

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Zaurindo Fernandes Baleeiro

Zaurindo Fernandes Baleeiro

Anexo n° D

Anexo n° D

Referência: PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979. p. 290-291.

Referência: PIRES, Simeão Ribeiro. Raízes de Minas. Montes Claros: [s.n.], 1979. p. 290-291.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Anexo n° E

Anexo n° E

Arquivo pessoal de Francisca Mendes do Prado.

Arquivo pessoal de Francisca Mendes do Prado.

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Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Gameleiras – dos Primórdios à Emancipação

Para receber periodicamente informações sobre as nossas publicações e onde adquiri-las, basta preencher este cupom e enviá-lo à EDITORA UNIMONTES:

Para receber periodicamente informações sobre as nossas publicações e onde adquiri-las, basta preencher este cupom e enviá-lo à EDITORA UNIMONTES:

Campus Universitário Prof. Darcy Ribeiro, s/n - Prédio da Biblioteca Central - Montes Claros-MG - CEP: 39401-089 - C. Postal 126 Telefone:(38)3229-8221 Fax:(38)3229-8311

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Nome: ............................................................................................................. Endereço: ........................................................................................................ Cidade: ....................................................Estado: .......................................... Fone: ....................................... Fax: ....................................... CEP.:..... .............. e-mail:............................................................................................................. Livro que o(a) atende: ....................................................................................

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