“Os ninguéns: os filhos de ninguém, os dono de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos...” (Eduardo Galeano )
Grandes pedaços de qualquer coisa são obras em grande formato sobre pessoas de pouca ou nenhuma importância... os ninguéns. Os donos de nada, sem nenhuma influencia na história. Vivendo sem oportunidade e sem perspectiva alguma. Com o olhar vazio, em direção a um horizonte apagado. Possuem um nome? Zé-ninguém, joão-ninguém, pobre-coitado ou qualquer outro, não faz diferença. Têm um corpo? Não se pode dizer que têm um corpo, mas se tiverem o corpo não é deles: qualquer um pode dar sumiço nesse corpo e nunca mais o encontram. Pior ainda, nem o procuraram. Os ninguéns, reduzidos ao desamparo de meninos órfãos... Algumas vezes me sinto um ninguém. Angelo Issa Setembro/2015
“Somos uma criança a quem se repete continuamente: _ Não prestas para nada; nunca serás nada...” (Manuel Bomfim)
Quem sou eu? Acrítlica s/ tela, 140 x 116 cm 2014
“O Brasil só pode tornar-se alguma coisa se os brasileiros desaparecerem; trata-se de uma população inepta, viciada até a medula, pela qual não se pode fazer nada ...” (Joseph Arthur de Gobineau )
O Rato vermelho Acrítlica s/ tela, 140 x 116 cm 2014
“Onças, antas, tamanduás. Sagüis, capivaras, tatus. Preás, ariranhas e catitus. Todos tomando nos cus.” (Sebastião Nunes )
Da Lei AcrĂtlica s/ tela, 140 x 116 cm 2014
A pintura desconcertante de Angelo Issa Luiz Sérgio de Oliveira 1
Angelo Issa é um cronista visual comprometido com o real. Um cronista que lida com um tipo de real que rejeita subterfúgios ou máscaras e que prefere ser narrado de forma direta e crua. Angelo Issa parece empenhado em trazer para o universo da arte uma realidade que, muitas vezes, preferimos manter à distância, como se fosse uma possibilidade. Essa realidade, desobediente, contraria nossos desejos, se impõe e nos afronta. E a pintura de Angelo Issa é isso: uma afronta. Ela nos confronta ao tentar desconhecer restrições e dogmas que se impuseram à arte da pintura no último século e que assumiram o controle da escritura da história da arte. Angelo Issa empreende um caminho na contramão dessas prescrições da criação artística em seu embate pela produção de uma pintura que trata do real, que com o real se compromete e que se dedica às coisas do mundo e do cotidiano em sua plena rudeza, em sua plena contundência. Isso é o real e o real não é mais que isso. A pintura de Angelo Issa nos afronta e nos confronta com uma realidade que tentamos em vão ignorar. Trata-se de uma pintura que, em suas escolhas e agudeza, acaba por assumir certo caráter público ao lidar com temas e questões que a todos pertencem, que nos rodeiam e que nos atormentam em nosso cotidiano coletivo. Temas e questões que, como presença real ou como virtualidade, habitam enraizadas em nossa vida social. Na pintura de Angelo Issa, esses fantasmas e medos coletivos são trazidos diretamente das páginas policiais dos matutinos para o universo da arte, para o universo da pintura, de onde nos assombram em narrativas que parecem dizer que ninguém está efetivamente seguro, nem mesmo no território da arte, espaço inventado de (des)conforto e (in)segurança controlados. Ao escolher temas e questões que supostamente conteriam o tempo do efêmero, prontos a ser superados a cada nova manhã nos noticiários da polícia e da política, a pintura de Angelo Issa introduz outra duração e outro tempo de permanência desses fantasmas que nos cercam
e que nos dominam. Neste sentido, ela nos alerta para o fato de que não se trata aqui de meras imagens, mas, ao contrário, da presença do real. Um real com presença e potência para nos assombrar e nos atormentar a cada manhã, tarde ou noite. Quando apresentada nos espaços formatados e protegidos das exposições de arte em galerias, museus e centros culturais, a pintura de Angelo Issa parece gerar certo desconforto e certa sensação de deslocamento. Em parte porque ela parece trilhar o caminho contrário às prescrições do mainstream da história da pintura, pautada nos bons modos e orientada pelo bom gosto. Além disso, a pintura de Angelo Issa traz para os espaços expositivos mais do que centelhas do real em duração alongada no âmbito da arte e da pintura. A opção do artista por manter suas pinturas sustentadas em telas amolecidas, sem as armaduras do chassi e da moldura, acentua seu caráter de emergência e de precariedade, como se tivessem sido arrancadas das ruas, dos muros despelados para assumir a condição de obra de arte no espaço de exposição. Neste sentido, a pintura de Angelo Issa cria tensões e fricções tanto no campo circunscrito da pintura quanto no campo da arte e de seu sistema expositivo. Angelo Issa se embrenha sem cerimônia pelo território da pintura e sem respeito enfrenta os dogmas que orientam as práticas da pintura, garantindo, acima de tudo, o espaço para a expressão do desejo pessoal de dar voz a uma indignação diante de certo real que nos oprime. Além disso, em razão de suas questões e de sua temática, a pintura de Angelo Issa promove certa colisão de interesses e de significados ao trazer para o espaço expositivo algo que parece deslocado, que parece pertencer a outro universo, ao território das ruas. Angelo Issa nos obriga a alargar nossa percepção e nossa compreensão da arte e da pintura para abrigar algo que parece fora de lugar, algo que, vindo direto das ruas, carreia suas mazelas, suas contradições e sua riqueza, de maneira a contaminar um universo que, por uma tradição inventada, supostamente se fez livre das impurezas do mundo real. 1
Artista e professor do PPG em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense, Niterói.
Garotos AcrĂtlica s/ tela, 140 x 116 cm 2014
Olhos nos olhos! AcrĂtlica s/ tela, 140 x 116 cm 2015
“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.” (Martin Luther King)
Ninguém é de ninguém Acrítlica s/ tela, 140 x 116 cm 2014
País do futebol Acrítlica s/ tela, 140 x 116 cm 2015
“ O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar.” ( Oscar Niemeyer)
Sem pé e sem cabeça Acrítlica s/ tela, 140 x 116 cm 2015
“O passado é mudo? Ou continuamos sendo surdos?”. (Eduardo Galeano)
Rotina AcrĂtlica s/ tela, 140 x 116 cm 2014
Exposições Individuais: 2015 - “Grandes Pedaços de Qualquer Coisa” - Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, Rio de Janeiro, RJ. 2014 - “Silêncio...” - Espaço Cultural do STJ, Brasília DF. 2014 - “Sentido Obrigatório” - Espaço Cultural do Cine Brasil, Belo Horizonte/MG. 2013 - “Acerca de” – Museu Inimá de Paula, Belo Horizonte/MG 2013 - ”Silêncio...” - Espaço Cultural da Assembléia Legislativa de MG, Belo Horizonte/MG. 2012 - “Parasitas e Predadores” – Academia Mineira de Letras, Belo Horizonte/MG. 2010 - “Eu não matei Van Gogh” – Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães, na Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais. 2009 - “Retratos Imaginários” – Galeria do Teatro Cidade, Belo Horizonte/MG. 2009 - “Razão e Sensibilidade” – (Artista convidado a expor na Feira de Desenvolvimento Econômico de Itabirito/MG.) 2008 - “Grito” – Galeria de arte da Câmara Municipal de Belo Horizonte/MG. 2008 - “Repressão” – Galeria Contemplo, Belo Horizonte/MG. 2007 - “Pinturas” - Espaço Cultural do Centro Administrativo da V&M, Belo Horizonte/MG.
Exposições Coletivas: 2015 - “Não confie em ninguém com mais de 40” - Viaduto das Artes - Belo Horizonte/MG. 2010 - “Entre Amigos” – Juçara Costa Espaço de Arte, Belo Horizonte/MG. 2009 - “Obras Inéditas em Fine Art” – Espaço Cultural do Hospital Mater Dei, Belo Horizonte/MG. 2008 - “Pequenos Formatos” - Galeria Contemplo. Belo Horizonte/MG.
Livros e Catálogos 2014 - Sentido Obrigatório - Catálogo. 2013 - Silêncio... - Catálogo. 2013 - A Cerca de - Catálogo. 2012 - Parasitas e Predadores – Livro, romance, 252 páginas, ilustrações e texto de Angelo Issa. 2010 - Eu Não Matei Van Gogh - Catálogo. 2009 - Pinturas 2006 – 2008 - Livro sobre a obra do artista, 62 páginas, publicação da CEMIG.
Projeto e Produção: Marcia Zoé Ramos Curadoria: Luiz Sérgio de Oliveira Coordenação de Produção: Mirela Luz Fotografia: Paulo Afonso G. da Silva (catálogo) e Virna Santólia ( mostra) Assessoria de Imprensa: Frase Comunicação Design: Ana Tavares (exposição) e Clara Gontijo (catálogo) Sinalização: Ginga design Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro: Eduardo Paes Secretário Municipal de Cultura: Marcelo Calero Subsecretaria de Cultura: Danielle Nigromonte Gerente de Centros Culturais: Sônia Gentile Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas Gerente: Gilson de Barros Administração: Sandra Henrique Teatro: Ana Paula Batista, Fernanda Nicoles, Liliane da Silva Técnicos: André Muniz Melo, Denilson Batalha, Marcus Vinicius F. da Silva Assistente: Guilherme Rosa
angeloissa53@gmail.com www.angeloissa.blogspot.com Pr o j e to :
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