silêncio
João Guimarães Rosa, ao citar no prefácio de Tutaméia que “O livro pode valer pelo muito que nele não deveu caber”, instiga-nos a buscar, no livro, o que nele não está narrado. Também na linguagem oral, algumas vezes o silencio pode ser mais significativo do que as palavras. O não dito costuma valer mais do que o dito. Na linguagem musical é o silencio que suspende e prolonga a emoção. Sem o silencio a separar os sons, não haveria a música. Na linguagem da pintura, o silencio é tão importante quanto na linguagem escrita, oral ou musical. O silêncio pode significar quietude, paz, solidão, sozinhez. Pode significar ausência e presença, pode significar distância e proximidade e pode significar concordância e discordância. São muitas as formas do silêncio. Uma das formas é o mar, que com toda sua grandeza dá-nos a sensação de paz. Ouvimos sons e vemos pessoas passando, escutamos o ruído das ondas e mesmo assim temos a sensação de silêncio. O movimento repetitivo das ondas, num monótono ir e vir, são como o movimento provocado pela respiração de uma criança dormindo, em silêncio.
Por isso, gosto de me assentar na praia de frente para o mar, mergulhado na solidão, sentindo o encanto do eco da presença do que nele “não deveu caber”. Nessa mostra, faço uma pausa dos trabalhos viscerais que expus recentemente e trago um pouco do meu silêncio. Procuro mostrar a presença, tão real quanto a ausência e o som, tão alto quanto o silêncio. De frente para o mar, olhando as pessoas passeando sem rumo e sem propósito, numa presença quase ausente, estou em silêncio. Estar em silêncio não significa que estou mudo, pois existe o pensamento, a contemplação e a reflexão, que como ondas vão e voltam. E neste silêncio as imagens vêm e vão, num ritmo monótono como as ondas à minha frente... Passado e presente, tristezas e alegrias, doces lembranças e saudade. Angelo Issa
luz tépida Um imenso litoral, que ameaça não terminar caso o artista persista. Um mar que perpassa os homens, denunciando sua frágil matéria: memória. Há um gesto de alguém que interfere, que invade a intimidade com esse movimento de ir e vir, horizontal, vertical, diagonal.
Pode parecer que falo de coisas sensíveis quanto falo de matéria. E é assim mesmo, e é também o contrário. Nos mares de Ângelo Issa, não posso ignorar a mão que cava a tinta espessa e o artista que insiste em afirmar: eu vi o mar. Às vezes, a pintura se prolonga em apêndices, parêntesis... devaneios. E quando vejo a pintura, sinto o calor leve que não vem do sol, mas da luz. O sol se ressente, tenho a impressão, pois ainda que todos os que povoam aquela areia encontrassem sombra, ainda estaria a luz, tépida. Mas é cor de tinta, é mão que movimenta o mar, espessura da memória... Sérgio Vaz
Individuais: 2013 - “Silêncio...” - Espaço Cultural da Assembleia Legislativa do Estado de MG. 2013 - “Acerca de” - Museu Inimá de Paula. 2012 - “Parasitas e Predadores” - Academia Mineira de Letras, Belo Horizonte. 2010 - “Eu não matei Van Gogh” - Galeria de Arte Paulo Campos Guimarães. Biblioteca Pública do Estado de Minas Gerais. 2009 - “Retratos Imaginários” - Pequena Galeria do Teatro Cidade. 2009 - “Razão e Sensibilidade” - (Artista convidado a expor na Feira de Desenvolvimento Econômico de Itabirito/MG.) 2008 - “Grito” – Galeria de arte da Câmara Municipal de Belo Horizonte. 2008 - “Repressão” – Galeria Contemplo / BH. 2007 - “Pinturas” - Espaço Cultural do Centro Administrativo da V&M Coletivas: 2010 - “Entre Amigos” – Juçara Costa Espaço de Arte. 2009 - “Obras Inéditas em Fine Art” – Espaço Cultural do Hospital Mater Dei 2008 - “Pequenos Formatos” - Galeria Contemplo. Belo Horizonte
Livros: 2013 - Acerca de – sobre a exposição realizada no museu Inimá de Paula 2012 - Parasitas e Predadores – romance ilustrado, 252 páginas. 2009 - Pinturas 2006 – 2008, uma publicação da CEMIG, 62 páginas.
Catálogos: 2013 - Silencio... 2010 - Eu Não Matei Van Gogh. 2009 - Retratos Imaginários. 2008 - Grito. 2007 - Coletânea.
Dados técnicos das obras: Pinturas em acrílica sobre MDF ou tela Dimensões variadas www.angeloissa.blogspot.com.br
Design: Clara Gontijo Fotos: Zeca Issa Produção e realização: Robson Soares Textos: Angelo Issa e Sérgio Vaz
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