entre pontos Mara Martins
entre pontos Mara Martins
Espaรงo Cultural da Vallourec Agosto de 2014
Abrem-se portas e surge um jogo. Figuras, linhas, planos e espaços. Um mundo onde linhas criam territórios e imagens brotam em vestígios arquitetônicos. Constroe-se um universo lúdico, inquietante e muitas vezes absurdo, que corresponde ou não a um pensamento, a um sonho, costurados no canto escuro da memória. A pintura aparece como suporte da transfiguração do cotidiano, das histórias não contadas, como um diálogo entre o real e o descobrimento do imaginário. Mara Martins
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Mara Martins pinta há muito tempo. Eu a conheço há pouco menos de quatro anos e nos tornamos amigos. As nossas pinturas têm o mesmo berço (ou a mesma cova?). Transitamos esteticamente numa combinação de realismo mágico com elementos da velha pintura metafísica e enxertamos “pseudo” colagens e textos nas nossas composições plásticas. Se na linguagem temos nossas aproximações, no conteúdo nós nos afastamos. Mara tem um trabalho rigorosamente organizacional, compartimentado e pré-elaborado. Imbuída dos acontecimentos que a rodeia a artista provoca um corte no tempo e trabalha a matéria atemporal como uma ponte entre os momentos. Seu trabalho se plasma como se fosse uma mera arqueologia, redefinindo símbolos e significações através de uma lógica mais contemporânea. Isso evidencia sua convicção irremediável de estar atuante dentro dos mundos que ela cria com seus céus e seus infernos. Suas pinturas, expostas em todas as suas matizes, permitem antever cumplicidades e referências por detrás de cada traço. Seu trabalho é resultado de um diálogo com a tradição da arte ocidental com o novo tempo que o abriga. É um anseio de exprimir e comunicar uma experiência de mundo e de vida, que vai além das impressões sensoriais e das emoções ordinárias.
A personalidade artística de Mara apresenta uma combinação bastante singular de racionalidade construtivista e de vivência mágica, revelando inequívocas afinidades animistas. Encontramos nessas suas pinturas uma linguagem plástica muito contida, inspirada frequentemente numa reinterpretação criativa de sua história e anseios particulares, criando, assim, imagens complexas e fascinantes. Mara não é apenas uma artista intuitiva. Sabe onde pisa e com quem o artista de hoje tem que se confrontar. Seus quadros revelam velando e velam revelando, com relatos que parecem possuir um sentido próprio e pessoal. Possíveis chaves de interpretação dão acesso a diferentes aspectos. Nenhuma possui um sentido absoluto e definitivo. São signos esvaziados, signos brancos. Descrevem ausências, restos de uma vida social. Seres que não são seres. São atores que assombram o vazio de nossos palcos. Simulacros despojados da aura do sentido. E é Baudelaire que vem encerrar esse meu texto:
“Quanto mais filosoficamente clara a arte quiser ser, mas ela se degradará e retornará ao hieróglifo infantil; inversamente, quanto mais se afastar do ensino e das leis, mais se elevará à beleza pura e desinteressada.” Miguel Gontijo / artista plástico
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Tríptico 150 x 150 cm cada Acrílica s/ tela - 2014
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PolĂptico - 16 telas 50 x 50 cm cada
Curadoria: Robson Soares Fotografia: Sérgio D’ Souza Projeto gráfico: Ideiário Design Exposição realizada no Espaço Cultural Vallourec em agosto de 2014. As obras expostas são pinturas em acrílica sobre tela, formato 50 x 50 cm, do ano de 2014. Contato com a artista: artmaramartins@yahoo.com.br
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