Espaรงo Cultural da Vallourec Julho de 2014
130 x 107 cm
Caminhos Traçados Ao viver na superfície terrestre, o homem nela se reflete, conferindo sua racionalidade ao mundo que o cerca. Estabelecendo relações lógicas ele se adapta aos fenômenos naturais, combinando o que traz em si com os processos da natureza. Nas áreas urbanas, a prevalência do poderio humano é bem notória, mas é no campo que a visualidade desta relação se torna mais interessante, visto que a sobrevivência biológica do indivíduo se origina de sua interação com o meio ambiente.
Neste espaço, ao se adaptar aos traços variáveis da fisionomia do solo ele se utiliza de números e cálculos, linhas e traçados lógicos, e sulca, recorta, divide, separa, insere, elimina, possibilitando o aproveitamento máximo da terra no cultivo dos bens destinados ao consumo de necessidade diversa dos humanos. E assim, a natureza formatada segundo seus modelos segue seu curso, seus hábitos, e, na busca de satisfazer suas necessidades naturais estabelece um diálogo com o seu ordenador.
Este trabalho se refere ao aspecto visual racional/natural da relação do homem com a natureza nos nossos dias, quando vivemos num mundo de tecnologia cada vez mais avançada e concorrência material intensiva, invadindo todas as nossas atividades. No conjunto, ele se direciona mais ao que sabemos do que ao que vemos em áreas de plantações, principalmente pela utilização de uma combinação de visão de topo e visão de frente numa superfície bidimensional. As formas utilizadas nem sempre são descritivas. Elas lembram elementos naturais em disposições que conectamos a imagens conhecidas. Recortes e colagens de desenhos organizados em uma superfície
lembram aí, em sua maioria, as disposições geométricas de áreas agrícolas quando observadas de uma visão aérea. Recombinações de imagens, recortes e colagens de desenhos de formas oriundas da natureza alinhadas, por vezes sobrepostas, são uma metáfora para os atos de selecionar, suprimir, eliminar, obstruir, separar, dividir, dispor, dar forma e mudar algo de lugar de maneira determinada. São atos racionais como os utilizados sobre a terra pelo homem, além de ser também, o próprio desenho um ato racional. Sobreposições de imagens a outras que existiam anteriormente na superfície do suporte se referem também à transitoriedade e praticidade da nossa época, quando, cada vez mais, nada é permanente: rapidamente as coisas acontecem, e, num abrir e fechar de olhos, tudo foi substituído. Somos todos transitórios. Glaura Pereira Junho 2013
92 x 73,5 cm
121 x 102 cm
61 x 48 cm
83 x 81 cm
74 x 80 cm
107 x 148 cm
105 x 150 cm
60 x 48 cm
Acompanho o trabalho de Glaura desde a década de 80. Sempre os vi como inquietos e belos “desenhos pintados” que escapam aos estereótipos de classificação e estão imantados na genética dos mistérios que o ser humano ainda guarda. Seus quadros parecem executados por um fluxo narrativo cheios de idas e vindas, veredas e escolhas. São imagens dotadas de mobilidade e o expectador pode encontrá-las onde menos espera. Um moto-contínuo em metamorfose, que nos induz a vivenciar suas aventuras, fazendo-nos decifrar seus caracteres ali reunidos e, por meio deles conhecer também a nós mesmos. Seus quadros me parecem indiferentes à organização dos acontecimentos. O seu ritmo é um ritmo de procura e penetração, que permite uma tensão psicológica. A linguagem é uma luta contra a razão, onde o sentido de epifania se perfaz em todos os níveis. A artista
parece conceber um tempo fracionado, feito de pequenos segmentos de duração que, recompondo-se incessantemente, só podem ser divisados de muito perto e num lampejo. Glaura, em vez de pintar descreve, conseguindo um efeito mágico de refluxo de imagens, deixando à mostra o “inexpressado”. Esses ‘desenhos pintados’ são ações integrais que incluem a ideia, a linguagem, o símbolo, a história e a sua capacidade de refletir de maneira crítica sobre a realidade tangível e subjetiva. Seus trabalhos são investigações artísticas. Glaura retira as sombras da sombra dando-lhes cores e transparências e uma vida independente. (Criar é, também, confrontar-se com limites.) Seu trabalho não se trata apenas da descoberta de um novo material, ou do encantamento de retornar uma tradição
artesanal. É como quem escreve à mão sobre o papel, rasurando letras e palavras, e não como quem pensa previamente os esquemas de um texto, escrevendo-o depois, sem mácula, através do teclado do computador. É por dentro da sua pesquisa plástica que a artista vai concedendo energia a suas ‘formas de vida’. Como convém a uma boa pintura, seus quadros estão à cata do indizível. Glaura tem desenvolvido uma pesquisa estética de grande renovação no âmbito da recepção múltipla de influências e códigos artísticos, o que revela uma criatividade renovada e uma preocupação de permanente atualização. A artista assumiu uma linguagem pictórica essencial, entendida em termos de um código formal interno e de uma rede tonal propositadamente simples. Seu ato criador está associado a uma profunda
reflexão sobre os modos e as matérias constitutivas da natureza. Seu imaginário é duplamente composto de: imagens visíveis (ou ícones) e imagens ocultas (ou mentais), que se descortinam suave e poeticamente diante de nós, revelando uma poeta que sente e um raciocínio que pensa. Sua forma de pensar o mundo passa pela realidade matérica e sensorial dos meios. As cores em seus trabalhos manifestam um movimento surdo e não são negligenciáveis porque a artista as molda com minúcias e requinte, simplesmente porque gosta delas. Essa minha tentativa de falar a respeito da pintura de Glaura pode ser resumida através de um dizer da Clarice Lispector: “Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento.”
Miguel Gontijo
artista plástico - agosto de 2013
151 x 132 cm
151 x 132 cm
120 x 118 cm
Glaura Pereira
Artista plástica nascida e criada em Belo Horizonte, MG. Desenhista e Gravadora. Graduada pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-graduada: MA e MFA por Illinois State University, em Normal, Ill, USA. Após uma base bastante sólida adquirida nos cursos de Graduação – Desenho e Gravura na EBA/UFMG, base esta mais aprofundada depois na Pós-Graduação, várias foram as atividades ao longo do fazer e viver arte, todas fontes de prazer e aprendizado, muitas delas ligadas ao ensino, administração, pesquisa e orientação de pesquisas, além de especialização e aperfeiçoamento em outros cursos. Tão importante quanto a formação institucional para a carreira artística e para a fundamentação do fazer arte, foi o convívio bem próximo à natureza em dois períodos distintos.
O primeiro, durante a infância, quando todas as férias escolares eram passadas com os avós paternos em Lagoa Dourada, MG, cercada de pessoas e hábitos de vida basicamente rurais à época. Memoráveis dias foram aqueles para uma criança da cidade: o convívio com a terra, animais e insetos vários, sabugos de milho, coleções de pedrinhas, folhas e sementes de cores e formas diversas, vegetação abundante e variada em todas as partes, gado, pássaros, lagos, monjolo, goiabeiras, cavalos e carros de bois, porteiras, casas coloniais, noites e “causos” à luz do lampião e do calor das brasas do fogão de lenha nas noites frias, bois e vaquinhas descendo o morro em direção ao curral ao cair da tarde sem que ninguém os conduzisse, coisas observadas e vividas, que davam origem a centenas de desenhos feitos nas tardes de sol quente, quando não se devia brincar lá fora. Os desenhos continuavam na volta para casa após as férias. Ali nasceram entendimento, amor e respeito irrestritos à natureza e a todas as coisas que se relacionam com ela.
Mais tarde, já professora de arte da Escola de Belas Artes da UFMG, quando selecionada com uma bolsa de estudos para cursos de pós-graduação nos Estados Unidos, eis que o acaso lhe surpreende ao avistar, ainda no avião, em processo de aterrissagem, lá embaixo, um maravilhoso tapete verde... O destino a colocou numa cidade universitária cercada de plantações de milho, lindas, projetadas com os recursos tecnológicos do lugar. Estas vivências se juntaram no trabalho de arte que apesar de variações na forma ao longo do tempo, tem conservado no conteúdo a relação entre homem e natureza.
Docencia:
Professora de cursos de Desenho, e de cursos de Gravura no Departamento de Desenho e no Departamento de Artes Plásticas da EBA/UFMG; Professora de Desenho no Departamento de Análise e Representação
da Forma da UFRJ; Orientação de alunos com Bolsa de Iniciação Científica–PRPQ-CNPQUFMG; Membro Titular de várias Bancas Examinadoras de Concursos para Docente dentro da UFMG e nas Universidades Federal de Uberlândia e Federal do Espírito Santo.
Principais ˜ participacoes em workshops:
“Printmaking Workshop”–University of Massachusetts, Amherst, Mass. USA “Teaching Methods Workshop”– Iowa State University, Yowa, Ia., USA “Procedência e Propriedade”- Workshop de Desenho e Conceitualização – Rio de Janeiro, RJ, BR.
˜ Exposicoes
Desenhos e Gravuras da artista fizeram parte de várias exposições e salões de arte reconhecidos e de Álbuns de Gravura editados. Alguns pertencem a coleções de instituições e coleções particulares no Brasil e Exterior.
Destaques em exposições individuais: DESENHOS - Exposição na Itaugaleria, em São Paulo, SP. DESENHOS - Exposição na Itaugaleria, em Ourinhos, SP. EXPOSIÇÃO DE DESENHOS, GRAVURAS E PINTURAS – Grande Galeria do Palácio das Artes, Belo Horizonte, MG. “LAND SURFACE IMAGES” Gallery II Center for the Visual Arts/Normal, Ill. USA. “WINDOW SERIES” Gallery II for the Center for the Visual Arts/Normal. Ill. USA.
Destaques em exposições coletivas: Salão Nacional de Artes Plásticas, em Goiânia, GO. (Prêmio de Aquisição) “Um ponto Qualquer entre Alfa e Ômega”- Palácio das Artes, BH, MG. ISU Graphics – CVA Gallery – ISU, Normal, Ill, USA. PRINTS - Art Department Gallery – University of Nebraska, Omaha, Neb. USA Moravian College Print National Moravian College, Bethlehem, Pa., USA Boston Printmakers 34th National Exhibition - De Cordova Museum, Boston, Mass. USA Vª Mostra Anual Cidade de Curitiba – Solar do Barão, Curitiba, PR. 6ªMostra do Desenho BrasileiroMuseu de Arte Contemporânea - Paraná, Curitiba, PR. (Prêmio pelo conjunto da Obra)
“Velha Mania’’- Exposição do Desenho Brasileiro - Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro, RJ. 42º Salão Paranaense – Museu de Arte Contemporânea do Paraná- Curitiba, PR.. (Prêmio pelo conjunto da Obra) “Premiados no 8º Salão Nacional de Artes Plásticas- Aquisições” Galeria Sérgio Milliet da Funarte, Rio de Janeiro, RJ. “Referência em Preto e Branco”– Galeria de Ate e Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES. IVº Salão Paulista de Arte Contemporânea – Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP. (Prêmio de Aquisição) VIIIº Salão Nacional De Artes Plásticas–Museu de Arte Moderna–Rio de Janeiro, RJ. (Prêmio de Aquisição) Mostra do Desenho Mineiro – Reitoria da UFJF, Juiz de Fora, MG.
1000 Metros de Arte – Campus da PUC/ MG, Belo Horizonte, MG. IV ª Bienal Nacional de Santos- Artes Visuais- Centro de Cultura Patrícia Galvão, Santos, SP. “Segredo de Estado” - Exposição de Obras pertencentes ao Acervo do Governo de Minas Gerais, realizada concomitantemente em prédios Públicos do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte, MG “Grande círculo das Pequenas Coisas-Artistas Brasileiros”- Grande Galeria do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, MG. .
Curadoria:
Robson Soares Projeto gráfico:
Ideiário Design Patrocínio: