Jônatas Campos - Mundos Possiveis

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J么natas Campos mundos poss铆veis Textos de

Wasney de Almeida Ferreira



Jônatas Campos mundos possíveis Textos de

Wasney de Almeida Ferreira

Espaço Cultural Vallourec julho de 2013


MUNDOS POSSÍVEIS Há uma diversidade de mundos intersubjetivos que emerge de um mesmo vazio, porém cheio de possibilidades imanentes. Nele, todas as probabilidades de existência se encontram emaranhadas, sobrepostas, à espera de uma consciência, para que a realidade se manifeste. Aquilo que chamamos de realidade nada mais é que um mundo possível, aprendido desde a concepção e aceito como verdadeiro, por ser pragmaticamente eficiente. Não é por acaso a existência de expressões como “mundo do crime”, “mundo da prostituição”, “mundo da religião”, “mundo da ciência”, dentre outras. Para entrar em um novo universo de sentidos é preciso querer, saber e poder transcender as barreiras do eu-espaço-tempo.







REALISMO, IDEALISMO e EXPERIENCIALISMO Existe um mundo externo e independente da linguagem, da cognição e da cultura? Os realistas materialistas afirmam que há apenas um mundo objetivo. Além de concreto, ele é universal e regido por leis naturais. Independentemente dos valores culturais e idiomas, o mundo é sempre o mesmo para todos os indivíduos. Por ser objetivo e universal, o mundo pode ser conhecido por meio dos sentidos ou aparelhos. Nesse âmbito, a verdade é entendida como uma correspondência literal entre as proposições e as coisas-mesmas. No entanto, para muitos idealistas, não existe nenhum mundo “lá fora”, externo e independente dos indivíduos. Embora haja diversas concepções de idealismo, a existência e cogniscência objetiva do mundo são no mínimo questionáveis. Se existe algum mundo objetivo, ninguém tem acesso direto às coisas-mesmas, mas apenas aos fenômenos. Aquilo que os indivíduos chamam de realidade é apenas uma criação da consciência ou construção sócio-histórica. Portanto, a verdade é entendida como uma capacidade argumentativa, ideológica e pragmática de convencimento. Diante esses extremos, alguns experimentalistas dizem que não existe apenas um mundo, mas uma diversidade de mundos intersubjetivos. Eles não são naturais ou culturais, mas emergenciais, já que são regidos tanto por leis naturais quanto por regras sociais. Além disso, eles não são individuais ou sociais, mas psicossociais, já que emergem da dialética entre o caos e a ordem. Os mundos possíveis não existem ou existem, tão pouco são verdadeiros ou falsos, mas persistem enquanto probabilidades.







VERIFICACIONISMO, PRAGMATICISMO e FALSIFICACIONISMO A verdade não se reduz a verificação de uma ideia, tão pouco se limita a efetividade de uma argumentação, mas depende da falseabilidade intermundos. Para grande parte dos verificacionistas, a verdade encontra-se na relação entre as proposições e o mundo objetivo, natural e universal. Os indivíduos precisam se abster de seus desejos, sentimentos e tendenciosidades para que possam conhecer as coisasmesmas. Portanto, embora haja uma diversidade de subjetividades, há apenas uma verdade passiva de ser comprovada. Já para grande parte dos pragmaticistas, a verdade é entendida como efetividade do ato de fala em contexto argumentativo. Ela depende da capacidade argumentativa do enunciador em convencer o enunciatário de que sua explicação é mais adequada. Logo, não existe uma verdade universal, mas uma diversidade de “verdades”, que são verdadeiras ou falsas a depender do contexto sócio-histórico. Entre o pragmaticismo relativista e o verificacionismo universalista, o falsificacionismo busca transcender essas dicotomias. Os falsificacionistas, embora sejam diversificados, entendem que mais importante que provar ou refutar uma hipótese é permitir que seja falseada. Como o observador está sócio-historicamente situado, a verificação de uma ideia, por si, não é suficiente, embora seja necessária. Não basta “ver para crer”, mas também “crer para ver”, pois a sobrevivência de uma hipótese depende do paradigma normativo. Portanto, a verdade não é objetiva ou subjetiva, mas intersubjetiva, já que precisa sobreviver a testes rigorosos em diferentes mundos.







NATURALISMO, CULTURALISMO e EMERGENCIALISMO O ser humano emerge a partir da interação que o corpo estabelece com o ambiente físico, químico, biológico e sociocultural. Independente de qualquer julgamento, todo recém-nascido é um animal, um homo sapiens sapiens, regido por mecanismos biológicos. Na medida em que desenvolve a lingua(gem) e a motricidade, amparado por outros, ele pode se transformar em humano. No entanto, o desenvolvimento da moralidade depende também do mundo possível onde esse primata nasce. Quando um indivíduo diz: “Eu sou ...”, percebemos, na estrutura gramatical, as categorias de pessoa, espaço e tempo. O predicativo do sujeito, dito pelo enunciador, evidencia as funções ontológicas da lingua(gem) e do trabalho. Entretanto, para ser alguém, é preciso não unicamente falar e fazer, mas também ser reconhecido. Nesse mundo possível, os indivíduos falam, pensam, agem e se sentem assim, já que sancionaram essa descrição-prescrição. A predisposição ao desenvolvimento da lingua(gem) e do trabalho são o que possibilita ao homo sapiens sapiens desenvolver o humanismo. Todavia, sem um processo ativo de educação, a probabilidade de manter-se animalizado é maior que desenvolver a moralidade. Sem um outro, de outro mundo, a emergência do eu-aqui-agora seria determinada no mundo de origem. O ser humano vai além da natureza e da cultura, por ser uma entidade emergente, cocriadora de mundos possíveis.




Mundos dos Indivíduos:

A

B

legenda: Mundo do indivíduo A4 A Mundo do indivíduo B4 B Intersubjetividade 4 A B Objetividade 4 A B Subjetividade do indivíduo A4 A-(A B) Subjetividade do indivíduo B4 B-(A B)

Mundos das populações:

A

legenda: Mundo da população A4 A Mundo da população B4 B Intersubjetividade 4 A B Objetividade 4 A B Subjetividade da população A4 A-(A B) Subjetividade da população B4 B-(A B)

B




CAOS, ORDEM e SISTEMAS Os mundos não são caóticos, tão pouco organizados, mas regidos por leis naturais e regras sociais, que formam padrões sistêmicos. Por um lado, se existisse apenas um mundo objetivo regido por leis naturais, os indivíduos seriam determinados pelas contingências. Por outro lado, se existissem infinitos mundos subjetivos regidos por regras sociais, os indivíduos seriam caóticos. No entanto, ao mesmo tempo em que é determinado pelo mundo de origem, o indivíduo tem liberdade de escolha dentro de seu contexto. Se um homo sapiens sapiens nasce num determinado mundo possível, é provável que se desenvolva como um ser desse mundo. Ele tem liberdade para escolher apenas o que se encontra acessível e disponível, pois aquilo que se encontra fora do mundo não existe. Sem a dialética entre seres de diferentes mundos, o indivíduo continuaria fechado, pensando, sentindo e agindo mecanicamente. Entretanto, se esse mundo fosse demasiadamente aberto, o indivíduo entraria em caos e cairia no vazio. Por serem regidos não unicamente por leis eternas e imutáveis, mas também por regras finitas e relativas, os mundos persistem probabilisticamente. Os indivíduos de um mesmo mundo precisam falar, pensar e agir num mesmo sentido, para que as coisas continuem existindo de forma concreta, real e verdadeira. Metaforicamente, os graus e níveis hierárquicos de complexidade dos mundos possíveis vão desde o vazio, passando pelo corpo e a biosfera, trespassando os multiuniversos.






Agradeรงo a todos que vieram antes de mim


REFERÊNCIAS DOS TEXTOS: ABBAGNANO, N.. Dicionário de filosofia. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. AUSTIN, J. L.. How to do things with words. New York: Oxford University Press, 1962. CAPRA, F.. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. CASTANEDA, C.. Portas para o infinito. Rio de Janeiro: Record, 1974 FERREIRA, W. de A.. The role of the observer in the collapse of the wave func-tion: A cognitive and linguistic analysis of the double slits experiment. Neu-roQuantology, v. 9, n. 1, p. 166-181, 2011. KÖVECSES, Z.. Metaphor in culture: Universality and variation. New York: Cam-bridge University Press, 2006. KUHN, T. La estructura de las revoluciones cientificas. Fondo de Cultura Econômica: México, 1971. LAKOFF, G & JOHNSON, M.. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press, 1980. LANGACKER, R. W.. Foundations of cognitive grammar: Theoretical prerequi-sites. Stanford, California: Stanford University Press, 1987. v. 01. MATURANA, H.. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001. OLIVEIRA, I. S.. Física moderna para iniciados, Interessados e aficionados. São Paulo: Livraria da Física, 2005. POPPER, K. R.. A lógica Cultrix: São Paulo, 1972

da

pesquisa

científica.

UNDERHILL. J. W.. Humboldt, worldview and language. George Square: Edin-burgh University Press Ltd, 2009.

legenda das obras:

técnica mista - 50 x 70 cm - 2012/2013

Curadoria: Robson Soares Fotos das obras: Marcelo Menezes Textos: Wasney de Almeida Ferreira Projeto gráfico:

Clara Gontijo




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