Juçara Costta - Catálogo 2009

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Pinturas de Juรงara Costta

marรงo de 2009



V&M DO BRASIL apresenta:

Pinturas de Juรงara Costta

Belo Horizonte, marรงo de 2009 Curadoria: Robson Soares



Há algo de ancestral nas pinturas de Juçara. Algo que lembra os primeiros medos e as primeiras histórias em volta da fogueira. Fogueira que cria, com o seu crepitar, uma imensidão de imagens simbólicas, profundas e desconcertantes. Fogo de antiga origem, que nunca deixou de ser alimentado e cuja vida persiste, ao abrigo das cinzas, desde anos inumeráveis. Em torno da fogueira Juçara se une aos alquimistas a exaltar mistérios da matéria colocando-os no mesmo plano do “espírito celeste” do cristianismo. E para isto ela cria imensidões de imagens simbólicas tão profundas quanto desconcertantes. Imagens inspiradas pelo lado sombrio da natureza: o espírito da terra. A forma utilizada para expressá-las é fabulosa, sonhadora e irreal e passa a fornecer ao mundo um novo significado: transformar em ouro os metais é o equivalente a transformar o homem em espírito. Seus quadros são imagens cósmicas, mas também imagens das nossas casas. A magia destas pinturas apoia-se, em grande parte, na nossa insegurança e medo do desconhecido, em nossas debilidades e vulnerabilidades e na convicção quase sublime de que somos capazes de fazer milagres. (E também desastres.) É, portanto, uma resposta ao conhecimento dos aspectos paranóicos comprometidos e absurdos de nossa existência. Uma resposta que soa como um enigma oracular, alertando-nos: o cordeiro e o tigre são um mesmo ser, carne, tenra, dentes fortes. Nas telas existem grandes manchas de animado pigmento que se fundem em silhuetas fantasmagóricas e rostos atávicos. O mistério deste inquietante efeito indica a sutil capacidade de, simultaneamente, comunicar uma presença e uma ausência. Como um mago a artista lança mão de sua habilidade técnica, não para desfazer mistérios e sim, para situá-los como centro de nossas experiências. Juçara não realiza suas pinturas para dizer algo aos espectadores, pois ela sabe que a prova da existência da água é a sede. E seu trabalho tem sede. Muita. Sede de imagens cujos significados dependem da formação e do gosto dos espectadores, que pode atribuir o poder que quiser a estas imagens, sem jamais esquecê-las. Destes quadros duas profundezas se conjugam, repercutem-se em ecos, que vão da profundeza do ser do mundo à profundeza do ser da artista sonhadora. E, diante dos quadros, resta-me perguntar: o que vem a ser um belo quadro senão uma loucura retocada? será o que vejo um pouco de ordem poética imposta às imagens aberrantes? ou a manutenção de uma inteligente sobriedade diante dos devaneios - os loucos devaneios - que conduzem à vida? serão eles apenas o fósforo para dar continuidade à atávica fogueira? ou pretensiosas lamparinas de querosene roubadas da portentosa chama de Prometeu? E estes quadros me respondem revelando aos meus olhos um mundo majestoso. Eles são uma obra sonhada como mundo em toda sua redondeza de mundo. Ou... uma redondeza de fruta. A Fruta do Paraíso a nos fornecer a primeira mordida e, com isto, em contrapartida, um ingresso á nossa expulsão, pois mordê-la é um início para se inteirar do mundo.

Miguel Gontijo Artista Plástico

“Vi terras de meu mundo por outras terra andei mas o que ficou gravado em meu olho fatigado foram terras que inventei.” janeiro de 2009


















“...essa Juçara Costta, artista plástica, já acumula a sua experiência pregressa, certas vivências – embora de outra natureza que, quando exercitada em tempo anterior e com as medidas impostas pelo artefazer de outras artes, lhe determinavam técnicas especiais. Refiro-me às suas experiências pessoais de vivenciar e dilatar o campo relacionado com o teatro e com a dança que ela aprendeu. (...) Visitem com a devida atenção essa transfiguração da natureza, advindas do singelo artefazer da nossa artista.” (fragmento do último texto do professor Moacyr Laterza, ainda inédito.)

Pinturas de Juçara Costta

Exposição realizada no Espaço Cultural da V&M do Brasil. Todos os trabalhos são pinturas acrílicas sobre tela. Contato com a artista:

jucara-costta@uol.com.br (31) 3225 7113 | (31) 9297 1467 Design gráfico: claragontijo.com.br Foto: Júlio Hubner



A arte de Juçara sai do fundo de sua alma e se espalha sobre a tela numa exuberância de cores, texturas e matizes. E o ser primitivo - sua origem, seus mitos e seus deuses - toma forma e ocupa seu espaço. Seu trabalho é um convite para desvendar os mistérios que nos atordoam. Ângelo Issa Artista plástico


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