MIGUEL GONTIJO - em duas coleções Belo Horizonte agosto de 2014
Curadoria e produção: Ricardo Pentagna Guimarães Segismundo Marques Gontijo Design gráfico: Ideiário Design - Clara Gontijo Fotografia: Júlio Hübner Obras da capa, folha de rosto e páginas 4 e 5: Desenho escolar - Nanquim s/ papel - 21 x 30 cm - 1964 Página ao lado: Enquanto o fogo durar (detalhe) - 2003 Exposição realizada no Memorial Minas Gerais Vale - Praça da Liberdade, Belo Horizonte / MG © Copyright 2014, Miguel Gontijo Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização do ar tista. [Forbidden reproduction in whole or par t without the ar tist’s permission]
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O Memorial Minas Gerais Vale é um espaço vivo com pulsações culturais constantes. Acreditamos no poder transformador da ar te e investimos em diversos segmentos da cultura mineira. O Memorial vem se consolidando cada vez mais na relação com o estado de Minas Gerais. A visitação tem crescido a cada ano e o espaço tem oferecido gratuitamente uma ampla programação que vai do consagrado ao experimental, do tradicional ao contemporâneo. Na área das ar tes visuais o museu tem focado em exposições de jovens ar tistas, mas acreditamos que também é necessário enaltecer o trabalho de pessoas consagradas como Miguel Gontijo e sua instigante produção. Olhar para a obra do Miguel Gontijo é tentar responder uma pergunta, desvendar um enigma. O Memorial Minas Gerais Vale sente-se honrado em receber essa exposição comemorativa dos 50 anos de carreira do ar tista e agradece aos colecionadores Segismundo Marques Gontijo e Ricardo Pentagna Guimarães pela opor tunidade. Wagner Tameirão Gestor Memorial Minas Gerais Vale
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Série: All face Máscara mor tuária de Rubens Acrílica / óleo s/ tela 2010
Para compor a exposição do Memorial Minas Gerais – Vale, estabelecemos como prioridade escolher um ar tista mineiro que tivesse obras presentes nas nossas duas coleções. Nossa decisão recaiu em Miguel Gontijo, não só pela profunda admiração que temos pelo ar tista e sua obra, mas também pelo fato de que em 2014 ele completa cinquenta anos de brilhante envolvimento no campo das ar tes plásticas. Ar tista múltiplo, inquieto, detentor de vários prêmios (dentre eles o premio “Mário Pedrosa, 2010”, concedido pela ABCA - Associação Brasileira dos Críticos de Ar te). Sua ar te pode ser interpretada como um exercício de autoconhecimento, mas a vibrante diversidade de seu trabalho nos mostra que o conhecimento de si é uma interação com o mundo a nossa volta. O que estamos mostrando é apenas um recor te das nossas coleções, compostas de algumas pinturas representativas do ar tista. É o desejo de tornar público esta brilhante parcela que nos é estritamente reservada. Sentimo-nos honrados em prestigiar esse grande ar tista no Memorial Minas Gerais Vale, integrante do Circuito Cultural da Praça da Liberdade. Ricardo Pentagna Guimarães Segismundo Marques Gontijo Julho de 2014
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O destino por um fio Acrílica / óleo s/ tela 2009
Uma Coleção de Ar te vai sendo formada através de perseverante procura. E quando atinge um grau significativo por seu conteúdo, se torna indivisível, toma vida própria e como uma entidade, vai atraindo a quem lhe impor ta. Neste momento, o colecionador se torna seu instrumento e a coleção, um projeto de vida. Três requisitos são impor tantes para um ar tista: conhecimento das rupturas anteriores, uma linguagem pessoal e o pleno domínio do desenho, fundamento iniludível da pintura. É sobretudo nessas perspectivas que proponho um olhar na produção de Miguel Gontijo. Imagens, formas, cores aparecem nos seus trabalhos, montando um vocabulário diverso dentro de uma linguagem que se repete, renovando e se modificando sempre. E é o seu significado, a sua organização técnica, as relações existentes entre suas par tes e cada uma delas e a estrutura global que nos emociona e se transformam numa extraordinária peça de engenho e sabedoria. De uma visão procede outra visão eternamente curiosa sobre a harmonia entre as coisas e a Ar te. Os quadros são dominados por um conhecimento seguro dos propósitos que os levaram a ser criados e nos revela que seu fim é cada um por si e a par tir de si. A fruição da beleza não é obra do acaso. Parece tão inevitável quanto a vida. Exata. Nietzsche ensinou a profunda significação da falta de sentido da vida e mostrou como se pode transformar isso em ar te. Esse vazio terrível é a verdadeira beleza imper turbável e despida de alma e de matéria. Miguel, no seu esforço para dar ao vazio uma expressão, penetra no âmago do dilema existencial do homem contemporâneo. Isso faz com que encontremos em seus temas e subtemas, na sua técnica, na desordem e emoção de suas composições, na cor e no vazio, na sua quietude e no silêncio, indícios de solidão, fuga, alheamento, frustações e irrealizações pessoais. Mas nada irá contaminar a qualidade irretocável de seus quadros, nem sua convicção de que a ar te é a melhor forma de realização do ser humano. Imponderável, seu trabalho traça rumos, enrijece espíritos e ao encará-los, nos diluímos em suas cores e nos tornamos mais for tes e mais audazes. Ricardo Pentagna Guimarães Julho de 2014
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Série: Miguel e o Ornitorrinco Bico de Pena / acrílico / óleo s/ pvc expandido - 135 x 128 cm 2012
Há muito conheço Miguel Gontijo. Na primeira exposição do ar tista em que estive presente confesso que senti em sua obra alguma coisa que me incomodava. Indiferença não era porque fui um dos primeiros a chegar e o último a sair. Sou um colecionador arredio à pintura “adocicada”. Aprecio obras for tes e contundentes, a moda Iberé Camargo e Caravaggio. Para mim o universo de Miguel ainda era desconhecido. Mesmo assim continuava vendo seus trabalhos e exposições, num escondido desejo de adentrar em seu mundo. Miguel não é apenas um pintor. Muito menos um ar tista que se repete. Ele atua em diversas áreas e todas com propriedade e legitimidade. Seus trabalhos são estruturados em conhecimento e domínio técnico. Entendendo esse seu universo fica fácil desvendar o seu talento. A par tir de então a sua obra passa a ser para mim um ‘fetiche’ irresistível. Nunca vou conseguir situá-lo no tempo ou enquadrá-lo em uma corrente explicita e definida. Sei que aos 13 anos, cometendo um ato de desobediência escolar, produziu uma série de desenhos geométricos\construtivista, que acaba apontando uma direção para sua futura carreira. Ao longo de sua história Miguel aventurou-se por diversos caminhos da ar te, passando pelo surrealismo, abstracionismo, expressionismo, tendo sempre como referência a Pop ar te, como seu por to seguro. De temperamento anárquico, ideal liber tário, um príncipe dos rebeldes, busca em solidão seu próprio caminho, sem mestres e orientadores. Antevejo que seu estilo plural e atemporal deixará marcas indeléveis na nossa história. Miguel se apropria de elementos de sua trajetória pessoal, da cultura popular, da erudita e até do Youtube e os repensa com refinado senso critico e bom humor. Sua obra nos é apresentada através de um imaginário tor tuoso, disfuncional, grotesco e cômico, onde se registra nossas fraquezas, prazeres e perversões. As imagens e seus fragmentos misturam-se em redemoinhos de cor e forma, cujas sutilezas levam a uma atitude investigativa. Não se trata de um jogo de esconder e, sim, a uma aproximação com a poética do informal. É uma ar te inteligente e sutil que estimula quem a aprecia a pensar sobre uma série de infinitos assuntos. Com seu talento e técnica inconfundíveis, Miguel Gontijo propõe uma viagem pela alma humana, oferecendo-nos grande riqueza de imagens. A obra desse ar tista exercita-se na utilização de supor tes que vão desde o tradicional desenho até novos meios, transcendendo-os a fim de compor um universo único. Hoje, quando deparo com seus trabalhos, as imagens são acolhidas em meu imaginário, acusando-me, no passado, de eu apenas tê-las visto de relance. Segismundo Marques Gontijo julho, 2014
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Série: Miguel e o Ornitorrinco Bico de Pena / acrílico / óleo s/ pvc expandido - 135 x 128 cm 2012
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Diálogo Impossível Acrílica / óleo s/ tela 2011
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Série: Círculo vicioso Ritual de Acasalamento Acrílica e óleo s/ mdf - 137cm ø 2011
Série: Círculo vicioso O divórcio dos Arnolfinis Acrílica e óleo s/ mdf - 137cm ø 2004
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Apocalipse Acrílica s/ eucatex 1988
Díptico: O inferno sou eu - Acrílica / óleo s/ tela - 2011
Díptico: O céu é você - Acrílica / óleo s/ tela - 2013
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Série: All face Dízimo Acrílica / óleo s/ tela 2010
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Série: All face Tramas do céu Acrílica / óleo s/ tela 2010
Meu pai Bruegel I - Acr铆lica / 贸leo s/ eucatex - 1980
Meu pai Bruegel II- Acr铆lica / 贸leo s/ eucatex - 1980
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Meia japonesa esgarçåda Acrílica / óleo s/ tela 2011
Um ar tista nunca deve ser: prisioneiro de sà mesmo, prisioneiro de um estilo, prisioneiro de uma reputação, prisioneiro de um sucesso. Matisse
Obras dos colecionadores Ricardo Pentagna Guimar達es e Segismundo Marques Gontijo