Miguel Gontijo - 20 centavos

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Dezembro de 2013


“O artista é aquele que cabe, a partir de numerosas coisas fazer delas uma só, e, a partir da menor parte de uma só coisa fazer um mundo.” Rilke No mundo dos Super-heróis quase todos os nossos românticos mocinhos, em busca da liberdade, ocultam-se por detrás das máscaras. Dentre muitos, cito: Durango Kid, Zorro, Batman e Robin, Fantasma, Homem Aranha, Spirit e, sem esquecer, o Pierrot, a Colombina, o mistério do põe e tira óculos do Superman e do sofrido Fantasma da ópera. Em 1981 lançou-se nos Estados Unidos a historia em quadrinho “V de Vingança*”. Um hino à resistência e à necessidade de liberdade. Nessa história, como em quase todas as outras dos meus queridos super-heróis, o galã usa uma máscara. E foi essa máscara o símbolo desse recente movimento de junho.

‘... enquanto isso, na Sala de Imprensa...” as máscaras tiveram seu uso proibido.... Os quadros dessa mostra não falam de máscaras. Falam de pessoas que em busca de justiça colocaram suas caras a tapas estampadas nas redes sociais. E são essas imagens, que roubei do Facebook, que serviram de sustentação para que eu fale de dois movimentos distintos deflagrados por causas semelhantes. As imagens que compõem os meus quadros são as de hoje, os símbolos que nelas interferem e as interrogam são os de ontem. Um diálogo entre dois tempos.

Em outro momento essa não seria minha arma para registrar esses fatos, pois não gosto de arte engajada, preferiria (preferi) os arroubos físicos da juventude. Foi na minha juventude que o livro “1984”, de George Orwell, fez grande sucesso. E dele retiro o comando de ordem: “Mantenha-se o sistema!” E é esse mesmo comando que ecoa até nós, nos dias de hoje. O mesmo povo jovem, ufanista, viril e forte que toma conta das ruas, rapidamente se verga diante do poder constituído e se vende por míseros “Vinte Centavos”. A mesma rede social que mostra esse povo novo registra também as mesmas ideias do pequeno burguês abominável da minha geração. Para mim, o que restou foi a poesia do momento, pois tudo não passou de um carnaval temporão, cantando a uma só voz a modinha dos anos setenta: “... foi tudo ilusão passageira, que a brisa primeira levou...” Essa série de pinturas é feita de intrigas, despreparos, combates, aventuras, vandalismos e presepadas. Como bem convém a emoção é também feita de enigmas, calúnias, ódios e amores. Portanto é dedicada aos poetas, visionários e guerreiros do meu mundo místico. Miguel Gontijo novembro de 2013 * - Alan Moore (roteiro) e David Lloyd (arte)


Durango Kid


1 - A construção do nada 2 - Uma mão a mais



1 - Dada 2 - Grito



1 - Onde estรก Geni? 2 - ... um pouco antes



1 - Massa 2 - Quem poderรก nos ajudar?



1 - Robot 2 - Cavalo



1 - A bolha 2 - Barraco



1 - The wall 2 - Aquele que perde a cabeça de véspera




Nunca, em nossa história, vinte centavos valeram tanto. Quando criança, eu comprava dois picolés. Também podia comprar um algodão doce, ou dois sorvetes de Maria-mole, ou uma caixinha de surpresa ou, em caso de muita sede, quatro chup-chupes. Por vinte centavos. Para as crianças de pé descalço que éramos, era o tempero do dia. Hoje, tudo isso adoça a memória, aquece o coração, é melodia do passado. E hoje também, vinte centavos deixaram de comprar doces para comprar direitos, respeito e dignidade. Pelo menos alguma. Numa moeda cabe um passado inteiro, um presente conquistado e um feito para contar no futuro. Enquanto falo de todas essas coisas que, num passe de mágica, passam a caber no meu bolso, falo de mim... e de um país inteiro. Uma moeda é um país inteiro. É preciso ter vivido, ter um nó na garganta, um grito abafado por décadas para, em um momento limite, olhar para a palma da mão e nela ver, reluzente, uma bomba... que explodirá em Guernicas furiosas, em máscaras de gibi, gases iluminados que liberam roxos guardados, vermelhos quentes, laranjas ácidos e outras violências plásticas. Na multidão, Miguel Gontijo contempla. Capta a cor de um grito, o cheiro das palavras de ordem, a sensação tátil de cada passo no asfalto e, em meio ao ruído azul escuro... se cala para não desperdiçar todas as imagens recolhidas nas ruas. Agora, ele retira do bolso suas moedas e as distribui em telas. Em cada cena onde o delírio do artista se transmuta em formas pintadas por todo um país, posso ler a minha história... algodão doce na mão... ouvindo o som do meu grito, em meio à multidão.

Sérgio Vaz

Mestre professor em artes - artista plástico. Nov de 20013

Paisagem noturna


Naufrรกgio


Voz das ruas


1 - De frente pro crime 2 - Os sobrinhos do capit達o



Na Rede


Galeria de Arte Curadoria: Goodson Caldas Adelson Macêdo

Avenida Prudente de Morais, 78 - Cidade Jardim Belo Horizonte / MG

Projeto gráfico: Clara Gontijo Miguel Gontijo

www.quadrumgaleria.com.br quadrum@quadrumgaleria.com.br Tel: 55 31 3296-4866

Todos os quadros medem 69 x 64 cm Pinturas acrílica e óleo sobre tela colada sobre tela. ano: 2013

PINTURAS DE

MIGUEL GONTIJO



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