Terras do
norte minas de
O Vale do São Francisco entre o Ribeirão Pandeiros e o Rio Peruaçu
Gilda de Castro - texto Juninho Motta - fotos
Belo Horizonte Edição do autor 2015
Terras do norte de minas O vale do São francisco entre o ribeirão pandeiros e o rio peruaçu PRONAC: 145513/ Ministério da Cultura ISBN: 978-85-918143-0-5 Proponente [Proponent]: Elaine Machado de Lima Soares CoordenaçÃO do projeto [Project management]: Robson Soares AutorA [Author]: Gilda de Castro colaboradores - Textos [Contributors - Texts]: Célio Valle (p. 198) Eliana Toledo Gonçalves (pp. 67, 81) João Damascena de Almeida (p. 50) Manfred Leyerer (pp. 4, 65, 77) Maria Madalena Moura (p. 49) Maura Moreira Silva (p. 100) Paulo César Ricaldone Barbosa (p. 152) Rita Mattos Carneiro Rolón (p. 52) Ruth Mattos (p. 137) Fotografias [Photographs]: Juninho Motta colaboradores - fotos [Contributors - photographs]: Angelo Issa (pp. 214, 215) Edgar Corrêa Kanaykõ (pp. 201 e 202) Fernanda Mann Azevedo (pp. 176, 177, 180, 181, 317, 319) Gilda de Castro (pp. 78, 79, 289 ) João Henrique Abreu (pp. 101, 102, 104, 106, 107, 136) João Marcos Rosa - NITRO (pp. 32, 50, 178, 179, 199, 274) José Carlos de Souza (pp. 212, 213, 214) Leo Drumond - NITRO (pp. 34, 36, 37, 40, 43, 64, 128, 275, 277, 278, 281) Manfred Leyerer (pp. 30, 68 a 73, 76, 77, 79, 210, 211, 224, 306) Paulo Ferreira Alencar (pp. 254, 265, 320) Rodrigo Ribeiro Rennó (p. 255) Design [Graphic design]: Ideiário Design - Clara Gontijo Revisão [Proofreading]: Fátima Campos Tradução [English version]: Stellar Soluções em Linguagem Ltda Patrocínio [Sponsorship]: Vallourec
Gilda de Castro - texto Juninho Motta - fotos
Terras do
norte minas de
O Vale do São Francisco entre o Ribeirão Pandeiros e o Rio Peruaçu
Belo Horizonte 2015
Apresentação Manfred Leyerer
Foram duas, entre várias viagens ao Norte de Minas, que me impressionaram muito. Ambas tiveram a cidade de Januária como centro ou ponto de partida. Na primeira viagem, o que me levou foi a curiosidade de conhecer um dos parques estaduais: Veredas do Peruaçu, uns 80 km a nordeste de Januária que também abriga a fonte do Rio Peruaçu. Fiquei hospedado na sede do IEF por uma semana e tive a oportunidade de conhecer a riqueza e variedade da flora e fauna do Cerrado em companhia de estudantes de várias faculdades. Somente aqui compreendi a importância e o significado de uma “vereda” do sertão, uma experiência que vai além de palavras e descrições - precisa-se sentir. Apreendi a ler as pegadas dos animais noturnos; identificar as da anta e do tamanduá; vi como o lobo-guará marca seu território; tive receio de seguir as pegadas da onça na areia e me recusei a entrar no escuro da vereda para procurar o lugar da sucuri. Anos depois fui convidado a conhecer uma fazenda, produtora de cachaça envelhecida em tonéis de umburana, em Brejo do Amparo, a uns 2 km de Januária, com a oportunidade de também visitar o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Nesta minha segunda visita, fiquei surpreso com a diversidade de passeios agradáveis que é possível de se fazer. Portanto não poderia me furtar de mencionar tais passeios. Navegar pelo Rio São Francisco em direção ao Ribeirão Pandeiros, amplo pantanal escondido, repleto de fauna e flora próprias; almoçar no barco e
retornar à noitinha admirando o céu estrelado, numa total escuridão com direito a estrelas cadentes; passar um dia inteiro no Rio Bocaina com suas águas calmas a correr sobre nossos pés por baixo de cadeiras e mesas estrategicamente colocadas no meio do rio; visitar as cachaçarias em Brejo do Amparo (aliás, excelentes cachaças são produzidas na região e envelhecidas em dornas de umburana-de-cheiro), e me deparar com a inusitada presença de seis igrejas de religiões diferentes, numa mesma avenida, quase uma ao lado da outra, convivendo pacificamente num povoado miudinho; e além de muitos outros passeios me encantar com as cavernas do Peruaçu repletas de pinturas rupestres, não esquecendo a principal atração que é a parte subterrânea do Rio Peruaçu e as claraboias. A beleza e a grandiosidade delas se encontram registradas em fotos do interior do livro. As lembranças de inúmeras atividades proporcionadas não poderiam deixar de ser mostradas. Surgiu daí a ideia de um livro para deixar registrado e levar ao conhecimento do maior número possível de pessoas todo o potencial turístico de um lugar mais conhecido por sua simplicidade, seu clima quente e sua carne de sol, mas que esconde belezas diferentes e únicas, rico em histórias da formação de nosso Estado das Minas Gerais. A Vallourec Tubos do Brasil, ao promover o presente livro, busca dividir a emoção em visitar Januária e seu redor no Norte de Minas Gerais, bem como apreciar e valorizar as belezas naturais e culturais oferecidas em abundância.
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Presentation Manfred Leyerer
Amongst several trips to the north of Minas Gerais, two affected me deeply. Both had the city of Januária as the destination or starting point. On the first trip, I was curious to know one of the state parks, Veredas do Peruaçu, some 80 km northeast of Januária, where the source of the Peruaçu River is also located. I stayed at the State Forestry Institute (“IEF”) headquarters for one week and had the chance to get to know the wealth and variety of the Cerrado’s flora and fauna together with students from various colleges. Only here was I able to understand the importance and the meaning of a “path” (vereda) in the backlands, an experience that goes beyond words and descriptions one has to feel it. I learned to read the footprint of nocturnal animals; I saw how the maned wolf marks its territory; I was afraid to follow a jaguar’s footprints in the sand and I refused to walk in the dark to look for the anaconda’s nest. Years later, I was invited to visit a farm where cachaça Umburana was produced, in Brejo do Amparo, some 2 km from Januária, and I was also able to visit the Peruaçu Caves National Park. On my second trip, I was impressed by the various pleasing tours one can take. Therefore, I feel the need to mention these tours. Cruising the São Francisco River towards the Pandeiros River, a wide hidden swampland, full of unique fauna
and flora; having lunch on the boat and returning at night admiring the starry sky in complete darkness, being able to watch falling stars; spending a whole day on the Bocaina River with its calm waters running under our feet beneath chairs and tables strategically placed in the middle of the river; visiting the cachaça makers in Brejo de Amparo (by the way, excellent cachaças aged in umburana (Amburana cearensis) with vats that are made in the region), and coming across six churches of different religions on the same avenue, one virtually next to the other, peacefully coexisting in a tiny village; and besides many other tours, the marvel with the Peruaçu Caves filled with rupestrian paintings, not to mention the main attraction which is the underground portion of the Peruaçu River with its skylights. The beauty and immensity of all these were captured by the pictures in this book. The memories of countless experiences had to be shared. And, in order to do that, the idea of this book came up, to register and to show to a greater number of people the tourism potential of a place which is better known for its simplicity, its hot weather and its sun-dried meat, but is an area which boasts hidden and unique beauties, and which contributed to the history of our state of Minas Gerais. By sponsoring this book, Vallourec Tubos do Brasil seeks to share the thrill of visiting Januária and its surroundings in the north of Minas Gerais, as well as to value their abundant cultural and natural beauties.
Sumário 9
9 12 14
33 34 38 40 42 44 49 50 52
Introdução
- A importância do livro Terras do Norte de Minas - Mata Atlântica, Cerrado, Mata Seca e Caatinga, biomas presentes no Norte de Minas - O Movimento Catrumano e a criação do Dia dos Gerais
Capítulo I - O Rio São Francisco
- O Rio São Francisco da nascente à foz, no Oceano Atlântico - A importância do Rio São Francisco no processo de colonização de Minas Gerais, desde o século XVI - As carrancas na proa das barcas do Rio São Francisco - Os vapores que circularam pelo Rio São Francisco desde 1871 - Importância do rio para os ribeirinhos - Rio São Francisco - Maria Madalena Moura - Rio Gente - João Damascena de Almeida - A enchente de 1979 - Rita Mattos Carneiro Rolón
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Capítulo II - A região entre o Ribeirão Pandeiros e a divisa com a Bahia
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Capítulo III - Januária: cidade-matriz do Extremo-Norte de Minas Gerais
56 57 58 60 61 62 62 65 67 77 78 81
92 95 98 100 108 112 118
- Bonito de Minas - Itacarambi - Cônego Marinho - Pedras de Maria da Cruz - São João das Missões - Matias Cardoso - Manga, Juvenília, Miravânia e Montalvânia - Dona Maria da Cruz - Manfred Leyerer - Castelos e fortalezas de pedras - Eliana Toledo Gonçalves - “Champs-Élysées” de Fabião - Manfred Leyerer - O artesanato nesses municípios - Candeal - Artesanato em argila - Eliana Toledo Gonçalves
- Terra Boa - Cleuber Carneiro - História de Januária - A Casa da Memória do Vale do São Francisco - Casa da Memória do Vale do São Francisco - Maura Moreira Silva - O Distrito Brejo do Amparo e a Igreja Nossa Senhora do Rosário - A cachaça envelhecida em tonéis de umburana-de-cheiro - Mercado de Januária
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118 120 128 132 137 152
- A feira de Januária - Alimentação dos januarenses - Celebrações populares - Mitologia no universo dos ribeirinhos - A musicalidade em Januária - Ruth Mattos - O falso prefeito de Januária em Belo Horizonte - Paulo César Ricaldone Barbosa
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Capítulo IV - O Ribeirão Pandeiros
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Capítulo V - O Vale do Rio Peruaçu
196 198 200 204 250
- O Parque Estadual Veredas do Peruaçu, no Município de Bonito de Minas - Cachorro-vinagre - Célio Valle - A tribo Xakriabá - O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu - Inscrições rupestres no Vale do Rio Peruaçu
258 Considerações finais 264 English version 328 Referências bibliográficas
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Introdução A importância do livro Terras do Norte de Minas O consagrado escritor João Guimarães Rosa escreveu, certa vez, que Minas são muitas, baseando-se em suas viagens pelo noroeste do Estado, onde existem municípios extensos com população rarefeita. Penetrando a alma das comunidades, ele imortalizou sua cosmologia, cativando admiradores mundo afora. Sua afirmação confirma teorias que expõem a diversidade cultural existente em território mineiro, que tem 588.528 km², onde viviam, em 2010, 19.595.309 habitantes. Essas variações resultam de adaptações a diferentes ecossistemas, que condicionam a economia, além do contato com populações autóctones e outros brasileiros. Houve intenso intercâmbio de instrumentos e atitudes, moldando vários sistemas simbólico-ideológicos, apesar da elaboração do estereótipo de mineiridade, no quadro geral da sociedade brasileira. Este livro propicia uma análise das peculiaridades de um trecho do Vale do São Francisco, entre o Ribeirão Pandeiros e os rios Carinhanha/Verde Grande. Ele apresenta uma conjunção de magníficos aspectos naturais e culturais, que justificaram a criação, desde o final do século XX, de sete áreas de preservação ambiental: o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Parque Estadual Serra das Araras, Parque Estadual Veredas do Peruaçu, Parque Nacional Lagoa do Cajueiro, Parque Estadual do Verde Grande e Parque Estadual da Mata Seca. Foram iniciativas para preservar fauna, flora, inscrições rupestres e fenômenos geológicos, protegendo-os de inadequada exploração econômica e depredação por visitantes desse singular patrimônio no Norte de Minas Gerais. Esses parques ficam dentro do antigo Município de Januária, conforme mostra o mapa abaixo, publicado no Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Gerais 1927. Naquele tempo, o território de Januária era delimitado pelo Estado da Bahia a oeste e, ao norte, marcado pelos rios Carinhanha e Verde Grande; a leste, pelos municípios de Grão Mogol e Tremedal, marcado pelo Rio Verde Grande; a sudeste, pelo Município de São Francisco, marcado pelo Rio São Francisco, e ao sul, pelo Município de Paracatu, marcado pelo Rio Pardo. Ele foi fracionado, posteriormente, para constituir os municípios de Manga, Bonito de Minas, Cônego Marinho, São João das Missões, Pedras de Maria da Cruz e parte de Jaíba. E, a partir de Manga, surgiram depois Montalvânia, Juvenília, Matias Cardoso e Miravânia.
Mapa do Município de Januária, em 1927. Cf. Album Chorographico Municipal do Estado de Minas Gerais 1927
Observam-se, nesse mapa de 1927, registros de Região Deserta Semiárida, no atual Município de Matias Cardoso; dos Cerradões de Mangabeiras; de muitos afluentes do Ribeirão Pandeiros e do forte traço para assinalar o Rio São Francisco, indicando sua portentosa presença naquela área, antes de seu desgaste nos anos seguintes. A situação piorou, nos últimos anos, porque os agentes econômicos não acatam princípios da sustentabilidade, desmatando, eliminando nascentes, substituindo matas nativas por pastagens e reflorestando com eucaliptos. Houve, mesmo assim, perseverança dos residentes, que mantêm agricultura de subsistência e pesca artesanal para alimentar sua família e ter algum recurso para adquirir bens de consumo. Não abandonaram uma terra com a crueza da Caatinga, caracterizada por terreno pouco fértil e baixa precipitação pluviométrica. Essa área de Minas Gerais foi encampada, em 1957, pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que criou políticas públicas para atender às necessidades sociais e introduzir técnicas próprias da modernidade. O turismo foi uma das medidas para fomentar a economia do litoral nordestino, mas, apesar dos resultados favoráveis, não se estendeu para o Norte de Minas, embora haja vários tesouros no Vale do São Francisco. A hidrovia do Velho Chico pode atrair, por exemplo, viajantes que apreciam a navegação fluvial, com paradas em pontos estratégicos para conhecer cidadezinhas, grutas, cavernas e os afluentes. A viagem pode tornar-se mais interessante se abordar culinária regional, cosmologia dos ribeirinhos e hospitalidade de famílias acostumadas a chegadas e partidas de barcos que, em outros tempos, circulavam entre Pirapora e Juazeiro/Petrolina, tendo como pontos intermediários São Francisco, São Romão, Januária, Manga e Matias Cardoso. O eixo deste livro é, portanto, o Rio São Francisco, que desperta sempre a afeição dos habitantes de cinco estados e marcou o processo de povoamento de Minas Gerais. A Bacia Hidrográfica do São Francisco foi devastada, desde o século XVII, para extrair metais preciosos, combater os gentios e assentar homens livres, em benefício da Coroa portuguesa. Os desbravadores cumpriam determinação real, esperando angariar prestígio e favores da Corte. Muitas riquezas foram retiradas dela, mas ainda existe precioso patrimônio cultural, arqueológico e ambiental, em grutas, cavernas e inscrições rupestres de até 11 mil anos. Elas indicam a presença humana, nesse território, muito antes da fixação do colonizador europeu, no século XVII. As imagens neste livro explicitam essa beleza e incentivam o turismo vinculado à história, à curtição da natureza e ao desejo de viver situações inusitadas, como entrar em espaços rochosos singulares, que levam ao mágico palpável; portanto, misterioso e instigante, quanto a modelações geradas, ao longo de milhões de anos, por água e minerais, terra e vento, fauna e flora, além da intervenção humana. O rio era conhecido pelos indígenas por Opará, diante da imensidão de seu leito, mas recebeu outro nome, em 4 de outubro de 1501, porque Américo Vespúcio e André Gonçalves identificaram sua foz, no Oceano Atlântico, no dia consagrado a São Francisco. Os ribeirinhos o amam, porque é um amigo das antigas: não falha nunca, enquanto escoa rapidamente, fomentando a fé de que dias melhores virão, com muita água, bastante peixe e oportunidade de viagens a baixo custo. O modus vivendi, no Norte de Minas Gerais, foi forjado ao longo de muitos anos, marcado pela coragem para que o povo criasse raízes, adaptando-se àquele ecossistema. No século XVII, uma parte veio de São Paulo e outra, de Porto Seguro, Bahia, tendo o São Francisco como rota estratégica e sempre repleta de peixes para alimentação durante a viagem. Muitas expedições seguiram o seu curso, em busca de metais preciosos e consolidação do domínio português. No século XVI, não houve fixação de homens brancos no vale, que era ocupado por aborígenes e negros fugidos de cativeiro. A partir do século XVIII, a navegação fluvial entre Pirapora e Juazeiro incrementou o intercâmbio entre os ribeirinhos e a região das minas, explorada por bandeirantes oriundos de São Paulo. Isso repercutiu em vários setores, como economia, alimentação, linguagem, arquitetura, senso estético, religiosidade, mitologia, técnicas de produção, equipamentos domésticos e celebrações populares. Os registros da faceta cultural estão justapostos às características de cursos d’água, fauna, flora e formações rochosas com misteriosas cavernas. A adaptação das comunidades à Caatinga sustenta as diferenças em relação a outras áreas de Minas Gerais. Suas atividades cotidianas estão integradas a peculiares tradições e aos recursos naturais fixados nesse bioma, junto àquele trecho do São Francisco. Januária é o município-mãe da região, porque deu origem aos citados anteriormente. Foi importante entreposto comercial pelo contato de tropeiros de Goiás com barqueiros, em que se trocavam mercadorias, informações e experiências de vida. O rio gerava carinho especial nos ribeirinhos, pois fornecia água e peixe em abundância, sem restrição de propriedade; ou seja, todos tinham acesso a esse colosso da natureza. Viabilizava deliciosa experiência aos amargurados, que curtiam o grande volume de água correndo à sua frente, como se ela estivesse levando tristeza, frustração e mágoas. Constituía, também, o melhor caminho para ir a outras vilas e trazer novidades de terras distantes. Assim, os ribeirinhos preservam-no dentro da alma, embora tenha havido redução de seu volume e de peixes, que não são colhidos mais com as mãos, como acontecia até alguns anos atrás.
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Parque Estadual da Mata Seca MunicĂpio de Manga, MG Foto: Juninho Motta
Mata Atlântica, Cerrado, Mata Seca e Caatinga, biomas presentes no Norte de Minas O Norte de Minas Gerais apresenta quatro biomas, tendo como denominador comum a baixa precipitação pluviométrica. Diante desse problema, que é mais sério em alguns anos, percebe-se a força do sertanejo, que sofre os rigores do clima, perdendo lavouras e gado. A natureza regenera-se com as primeiras chuvas, especialmente nas áreas de Mata Seca, onde as árvores recuperam as folhas verdes rapidamente. Distinguem-se, em diferentes pontos dos municípios descritos aqui, elevações formadas por rochas com o seguinte perfil: no alto, há uma chapada; vem, em seguida, o paredão e, depois, o sopé do penhasco. A parte intermediária apresenta saliências ou sulcos no sentido vertical, decorrentes do desgaste da água da chuva no calcário, ao longo de milhões de anos. O chão dá início ao vale que é terra fértil, porque a água desce pela escarpa, gerando alta umidade no solo. Há, às vezes, árvores barrigudas nessas rochas, com exposição de suas raízes. O acesso à Caverna do Janelão apresenta um paredão, numa lateral, que tem rara beleza. O Cerrado integra aquela região, como segundo bioma mais importante do território brasileiro. Estende-se entre os estados do Centro-Oeste, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão e Tocantins, além do Distrito Federal e de enclaves na Região Norte. Apresenta magnífica biodiversidade, pois existem nele mais de 10 mil espécies de vegetais, 837 aves e 161 mamíferos (Silveira, 2003), além de répteis, insetos e anfíbios. Muitas são exclusivas desse tipo de bioma. Algumas espécies vegetais são usadas pelos nativos em terapia humana e veterinária, como arnica, barbatimão, mentrasto, velame, catuaba, hortelã, copaíba e carqueja. Outras integram técnicas culinárias, como pequi, jatobá-do-cerrado, murici e buriti. Ainda há as adequadas ao artesanato e à construção civil e naval. Isso gera demanda tão intensa que fomentou o desmatamento, prejudicial à Bacia Hidrográfica do São Francisco. Estão nesse caso a aroeira, o angico e o murici. Alguns animais típicos desse bioma são: jiboia, cascavel, jararaca, lagarto teiú, ema, seriema, joão-de-barro, arara, anu-preto, curicaca, urubu-caçador, urubu-rei, lobo-guará, anta, gavião, tucano, papagaio, tamanduá-bandeira, veado-campeiro, cachorrodo-mato, cachorro-vinagre, jaguatirica, onça-parda e onça-pintada. O Cerrado é, portanto, um fenômeno inesgotável, como savana muito especial, porque abriga também inúmeras nascentes de cursos d’água que alimentam as bacias Amazônica, do São Francisco e do Prata. Era pouco valorizado, até a construção de Brasília, quando a população do país concentrava-se numa faixa de 500 km do litoral, onde a Mata Atlântica predomina. Tornou-se importante área de ocupação humana e do agronegócio, perdendo muito de seu estado primitivo, especialmente quanto à cobertura vegetal. É constituído por mata xerófita dos planaltos, com formação arbórea aberta, em que a vegetação herbácea é abundante. As árvores são, geralmente, pequenas e tortas, tendo casca grossa e suberosa. O Cerrado existe em áreas de clima semiúmido, com duas estações bem definidas: chuvosa e seca. No Norte de Minas Gerais, é interrompido pela Caatinga, mas tem muitas variações. Há desde o Campo Limpo, nas superfícies mais elevadas, com alguns arbustos e poucas árvores, até o Cerradão, passando por Cerrado típico, Cerrado ralo, Campo Sujo e Campo Cerrado, contando com veredas, matas ciliares e buritizais, além de espécies endêmicas da flora e fauna. O Cerradão bem fechado e com árvores altas prevalece em solos razoavelmente ricos em sais minerais e água, permitindo o cultivo de milho, algodão e soja, além de propiciar bons resultados para a pecuária e silvicultura.
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Na discussão teórica sobre o que é Mata Seca, prevalece o consenso de que é uma transição entre Cerrado e Caatinga, com vegetação que perde as folhas na estiagem e sem cursos d’água. As manchas desse bioma estão muito presentes entre o Ribeirão Pandeiros e o Rio Carinhanha. A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, sendo o menos protegido e um dos mais degradados. Existe desde o Norte de Minas Gerais até o Piauí, ocupando grande parte do Nordeste. Os rigores do clima, caracterizados pela baixa precipitação pluviométrica, propiciaram flora e fauna únicas no mundo. Esta é afetada pela pobreza na região, porque alguns animais silvestres são caçados para alimentar a família. Está nesse caso o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), que é capturado facilmente quando enrola o corpo para se proteger. Quanto à vegetação, predominam plantas xerófilas, como árvores e arbustos, com formação armada de espinhos, como as cactáceas, os mandacarus e as bromeliáceas. Os vaqueiros usam, então, roupas de couro para circular pela mata sem se ferir. A palma tem formidável reserva hídrica para manter o gado durante estiagem prolongada. Sendo uma das regiões semiáridas do mundo com mais densidade populacional, a Caatinga sofre com a agricultura, pecuária e irrigação operadas com técnicas inadequadas. Há, ali, carvoarias para alimentar as siderúrgicas mineiras, gerando desmatamento, e a medida compensatória tem sido o plantio de eucalipto, prejudicial ao solo e ao parque aquífero. Esse complexo vegetal varia desde o arbustivo ralo até o arbóreo, mas há sempre considerável perda de folhas durante a estiagem. Muitas espécies vegetais são de fácil recuperação e rápido desenvolvimento, após as primeiras chuvas; assim, a mata fica verde rapidamente, propiciando espetáculo inesquecível aos visitantes. A Caatinga não forma, no Norte de Minas Gerais, floresta densa, mas seu estrato arbustivo é rico em espécies. A arbórea ocupa, preferencialmente, as encostas, enquanto a arbustiva instala-se, geralmente, onde os solos são rasos e arenosos. Nas áreas de solos sílico-argilosos, a Caatinga arbustiva apresenta alguns elementos típicos do Cerrado, como pequizeiro, algodãodo-campo e Eugenia dysenterica. Entre os dois grupos, é possível identificar a presença de aroeiras, braúnas, catingueiras, umbuzeiros, mandacarus, xiquexiques, cabeças-de-frade, bromeliáceas macambiras e barrigudas (Chorisia sp e Cavallinesia sp). Essas árvores são da família das bombacáceas, com tronco ventrudo pela grande quantidade de água armazenada. Chegam a 20 metros de altura e sua madeira é leve. Têm folhas ovaladas e flores vermelhas com margem branca e grandes cápsulas roxas. Extrai-se delas uma paina, usada na confecção de barbante e em estofados. Os moradores acreditam que sua presença indica terra de boa qualidade. A coroa-de-frade é frequente nas áreas mais inóspitas da Caatinga e sua parte inferior encerra muitos espinhos. Mesmo assim, a população local aproveita a polpa para fazer doce que fica com gosto semelhante ao de mamão. Costuma também triturá-la para adicionar à rapadura, conferindo-lhe sabor especial. O pequizeiro é da família das cariocaráceas e tem boa madeira para a construção civil e naval. Suas flores são esverdeadas ou brancas. A polpa é alaranjada com amêndoas de espinho. Os nativos fazem licor com os frutos ou misturam sua massa no arroz. Extraem das sementes e polpas, que são comestíveis, o óleo para cozinhar, que confere sabor peculiar aos alimentos. Esse produto do pequi é um dos principais itens na feira de Januária, sendo vendido em garrafas pet, aproveitadas após o consumo de refrigerantes produzidos no país.
Município de Januária, MG
O Movimento Catrumano e a criação do Dia dos Gerais Conforme descrição de Bruno Terra Dias, formou-se, no Norte de Minas, em 2005, um grupo de intelectuais e autoridades para resgatar verdades históricas que viriam superar o sentimento de desprestígio e não pertencimento daquela área à história do Estado. Eles destacavam o processo de ocupação, no século XVII, a partir de antigos documentos e da tese de João Batista Costa, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade de Brasília. A iniciativa foi rotulada por Movimento Catrumano para mostrar que ele não se esgotaria em poucos atos, mas permaneceria até que os objetivos fossem alcançados. O adjetivo catrumano, embora seja pejorativo entre o povo dos gerais, é dotado também de sentido positivo, pois remete à gente desses sertões, seu peculiar modo de vida, costumes e mundividência, como afirma Téo Azevedo, em seu Dicionário Catrumano. O grupo pretendia valorizar, revitalizar e desenvolver o Norte do Estado, no processo de integração ao território de Minas Gerais, expondo a articulação da sociedade das minas com a sociedade dos gerais, que permitiria interpretar essa unidade da Federação, nos séculos seguintes. Concluiu, a partir de vários levantamentos, que era preciso reescrever a história de Minas Gerais, porque o Estado foi composto a partir da região de exploração aurífera e da região pastoril são-franciscana, fornecedora de alimentos que sustentaram a nascente sociedade na terra infértil em que ocorria a mineração. O trânsito comercial de Morrinhos - Arraial de Mathias Cardoso, atualmente Município de Matias Cardoso - era com Salvador, pois a margem direita do São Francisco pertencia à Capitania da Bahia. A vocação regional era explorar currais de gado, voltada às necessidades da antiga capital colonial. O fornecimento de víveres à sociedade aurífera deslocou atenções e, diante de conveniências da Coroa portuguesa, integrou-se no eixo formador da nova Capitania de Minas Gerais, em 1720. Ela visava manter a mineração, criando laços com a sociedade pastoril, que a sustentava com alimentos, e manter fechado o trânsito mercantil com Salvador, o que ocorria por decisão oficial, desde 1702, pois o ouro obtido com o abastecimento de víveres escoava sem controle. Isso afetou os currais da Bahia, que envolviam a região são-franciscana no Norte de Minas, pois os negócios de gado com a região das minas ficou limitado à Capitania de Minas Gerais. Ficou proibida, então, a venda de outros produtos oriundos de Salvador. O pujante comércio com a sociedade mineradora perdeu importância, em pouco tempo, pois os contatos da última
Parque Estadual da Mata Seca Município de Manga, MG
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com o Rio de Janeiro foram facilitados e aumentados. O Norte de Minas, sem intercâmbio com Salvador, foi afastado também dos negócios com a sociedade mineradora e Morrinhos caiu no esquecimento. Mesmo assim, a Capitania de Minas Gerais formou-se da exploração aurífera nas minas e da atividade pastoril nos gerais. O vocábulo Gerais tem, portanto, o sentido dos campos que se estendem por vasta extensão, onde Mathias Cardoso fez história. Com a promulgação da Emenda Constitucional 89, pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em 2011, houve reconhecimento daquela área na formação da Capitania de Minas Gerais e isso autorizava recontar a história, nas salas de aula, do que é hoje o Estado de Minas Gerais. Uma data cívica, denominada Dia dos Gerais, vem simbolizando a força da história regional, porque ficou evidente a coexistência de duas sociedades distintas, a mineradora e a pastoril, no período colonial. Os autores não se entendem quanto à época da fundação de Morrinhos, mas a documentação e bibliografia disponíveis indicam que o povoado começou antes do último quartel seiscentista, pois a instituição da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos ocorreu em 8 de dezembro de 1695, por ato do Arcebispo de Salvador, Dom Frei Manuel da Ressurreição. Na dúvida quanto a essa data, o legislador estadual elegeu esse dia para celebrar o reconhecimento da importância da sociedade pastoril na fundação do atual Estado de Minas Gerais. Não se discutiu a primazia do Município de Mariana, no que toca à formação da sociedade mineradora, em 16 de julho de 1696. Para contar a verdade da formação da Capitania e do Estado de Minas Gerais, reconheceu-se seu caráter dual, constituído de duas sociedades distintas - a mineradora e a pastoril - que são complementares, pois a opulência da extração aurífera não teria ocorrido se não fossem as restrições comerciais a que foi submetida a sociedade produtora de víveres instalada no Vale do Rio São Francisco (Cf. Dias, 2011). Assim, desde 2011, a capital de Minas Gerais é simbolicamente transferida, no dia 8 de dezembro, para Matias Cardoso, com a presença de autoridades estaduais. Nessa oportunidade, mulheres são agraciadas com a Medalha Maria da Cruz, e homens, com a Matias Cardoso, para registrar o mérito cívico de pessoas que tenham contribuído para o desenvolvimento do Norte do Estado. Isso constitui importante reconhecimento da participação efetiva dos sertanejos na construção de Minas Gerais, desde o final do século XVII. Afinal, aquela área merece atenção do poder central com sede em Belo Horizonte, para superar, definitivamente, o tempo em que os habitantes da margem esquerda atravessavam o Rio São Francisco, até 1996, apenas por barco ou dentro de seus veículos levados por balsa. Isso limitava bastante o contato até com Montes Claros e interferia em seu bem-estar pelos parcos recursos existentes na região.
Parque Estadual da Mata Seca MunicĂpio de Manga, MG
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Parque Estadual da Mata Seca MunicĂpio de Manga, MG
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Parque Estadual da Mata Seca MunicĂpio de Manga, MG
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Coroas-de-frade Parque Estadual da Mata Seca MunicĂpio de Manga, MG
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Parque Estadual da Mata Seca MunicĂpio de Manga, MG
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Gameleiras ou figueiras-bravas (Ficus organensis) Vale do Peruaçu - próximo à gruta do Brejal
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Barrigudas ou embarés (tupi-guarani). Paineira da família Bombacácea, de tronco grosso e ventrudo, pela grande quantidade de água armazenada Município de Januária, MG
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Barriguda em flor MunicĂpio de JanuĂĄria, MG Foto: Manfred Leyerer e Eliana Toledo
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Rio São Francisco Município de Januária, MG Foto: João Marcos Rosa - NITRO
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Capítulo I O rio São Francisco
“Os homens têm o rio dentro d’alma”
A Bacia Hidrográfica do São Francisco ocupa grande parte do Estado de Minas Gerais. Considerando sua sequência no Nordeste, abrange 631.133 km², em 521 municípios. Há nessa área 16.400.000 habitantes, sendo que 56% deles encontram-se no Alto São Francisco, que inclui a Região Metropolitana de Belo Horizonte. A importância dessa bacia sedimenta-se na extensão do curso principal, no papel histórico para o povoamento do país, na economia, no fornecimento de peixes aos ribeirinhos e no potencial de geração de energia para o país. Ela está com o volume reduzido, pois a desordenada ocupação humana, a eliminação de nascentes de milhares de córregos, as atividades econômicas nocivas a parques aquíferos, o desmatamento com destruição da mata ciliar, a contaminação por produtos químicos e a poluição por esgoto sanitário geraram danos em muitos pontos. Isso é mais marcante em Minas Gerais, que abriga os afluentes mais caudalosos com extensa capilaridade de ribeirões, riachos e córregos, além das lagoas marginais. A bacia tem sido, mesmo assim, importante celeiro em Minas Gerais, desde o início do século XVIII. A região de Januária, por exemplo, abastecia a área de mineração com peixe salgado, carne seca e cereais, porque as atividades agropecuárias eram impraticáveis em Vila Rica. O Rio São Francisco tem, aproximadamente, 2.814 km, recebendo 168 afluentes, sendo 99 perenes. Em seu vale, há os seguintes biomas: Cerrado, Mata Atlântica, Mata Seca e Caatinga. A precipitação pluviométrica variava entre 1.900 mm, na Serra da Canastra, e 350 mm, no semiárido nordestino. Houve, entretanto, redução de chuva, nos últimos anos, com perda de volume dos cursos d’água e das lagoas, o que afeta a fauna aquática. Ele sinaliza risco de extinção, pois o leito está raso e a velocidade da correnteza é menor, sendo incapaz de arrastar a areia que se acumula em muitos pontos, formando bancos prejudiciais à navegação. Não há medidas efetivas para recuperar os cursos d’água e seus respectivos vales. Todos ignoram que uma bacia hidrográfica mantém-se com o concurso de inúmeros filetes de água, procurando pontos de escoamento nas frestas do relevo; sem a preservação desses canais de diferentes volumes, ela se esgotará em poucos anos. Apesar de suas ações nocivas aos rios, os ribeirinhos mantêm grande amor pelo Velho Chico e lamentam a perda do êxtase de outros tempos, em região repleta de pântanos, córregos, riachos e lagoas. Parecia que era uma dádiva divina viver na mais importante bacia hidrográfica inteiramente brasileira. Como não houve educação ambiental e predominaram intervenções inadequadas, o ecossistema foi afetado, mas pescadores, barqueiros, barranqueiros, vazanteiros e roceiros esperam por dias melhores em seu espaço natal.
O Rio São Francisco da nascente à foz, no Oceano Atlântico Os colonizadores, empolgados com a cachoeira Casca D’Anta, consideraram, no século XVII, que a nascente do Rio São Francisco encontrava-se na Serra da Canastra, Município de São Roque de Minas, sudoeste de Minas Gerais. Surgiu, entretanto, alguns anos atrás, a proposta para reconhecer o Rio Samburá como curso principal. Ele nasce na Serra d’Água, Município de Medeiros, Planalto de Araxá, e é mais extenso e caudaloso do que o primeiro, apresentando vazão maior quando os dois se encontram na junção dos municípios de Medeiros, Piumhi e São Roque de Minas; por isso, os pescadores dali denominam a outra calha como Francisquinho. Em 1972, foi criado o Parque Nacional da Serra da Canastra, com 200 mil hectares, para proteger seus recursos naturais, como as nascentes, a fauna e a flora. Tenta-se, assim, impedir atividades econômicas distantes da sustentabilidade e bloquear o acesso de caçadores, pescadores e predadores. Ali, começa o Alto São Francisco, que vai até Pirapora e representa 17,5% da bacia hidrográfica, mas abriga 56% da população dessa área. A alta densidade demográfica ocorre pela abrangência da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que tinha, em 2014, 5.767.414 habitantes, em 34 municípios. Os principais afluentes são, pela margem direita, os rios São Domingos, Pará e Paraopeba e, pela margem esquerda, o Samburá, Bambuí, São Mateus, Marmelada, Indaiá e Abaeté. Há também o Rio das Velhas, que nasce no Município de Ouro Preto e, correndo no sentido noroeste, deságua no Médio São Francisco, entre os municípios de Pirapora e Várzea da Palma. O Médio São Francisco começa em Pirapora e estende-se até Remanso, que fica no Norte da Bahia, próximo do Piauí. A área corresponde a 53% do total da bacia hidrográfica, mas tem baixa densidade demográfica, abrigando 24% da população, em 339.763 km². O ecossistema é, a princípio, de Cerrado, e, a partir do Norte de Minas, de Caatinga. Seus principais afluentes são, pela margem direita, o Rio das Velhas, o Rio Jequitaí e o Rio Verde Grande; pela margem esquerda, são o Rio Paracatu, o Rio Urucuia, o Rio Pardo, o Ribeirão Pandeiros, o Rio Peruaçu e o Rio Carinhanha. Todos nascem em Minas Gerais. O Submédio São Francisco vai de Remanso a Paulo Afonso, envolvendo uma área de 155.637 km², que abriga 24,4% da população. Situam-se, aí, Petrolina (Pernambuco) e Juazeiro (Bahia), que estão a 1.370 km de Pirapora. Esse trecho foi, por mais de 400 anos, uma hidrovia com tanto movimento, que parecia uma estrada viva. Era a melhor opção para transporte de passageiros e mercadorias, tendo atingido seu apogeu entre 1958 e 1972. O comércio intenso beneficiava Januária. Havia muito trabalho para os touros do cais do porto, estivadores que carregavam nas costas sacos de 60 kg. Todos aproveitavam a troca de
Ponte Marechal Hermes sobre o Rio São Francisco Pirapora, MG Foto: Leo Drumond
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experiências com viajantes em técnicas, costumes e cosmologia. Isso conferiu forte influência nordestina ao modus vivendi da população naquela região de Minas Gerais. A instalação da Hidrelétrica de Sobradinho, antes de Petrolina/Juazeiro, afetou a navegação de pequenos barcos, embora a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) tenha construído uma eclusa, na barragem, para garantir o fluxo na hidrovia, mas os turistas podem passear, desde Xique-Xique, apenas em embarcações maiores, porque o imenso lago viabiliza a formação de altas ondas. Essa usina fornece eletricidade para o Nordeste desde os anos 1970. O assoreamento e a redução do volume de água inviabilizaram a hidrovia no Médio São Francisco, exceto para pequenas embarcações. A construção da barragem de Três Marias, em 1960, tinha reduzido os problemas com os bancos de areia, porque os comandantes de vapores pediam, por rádio, que a direção da hidrelétrica liberasse mais água das comportas da represa e eles flutuavam com mais facilidade. A redução do lago, nos últimos anos, comprometeu essa solução. Embora o Médio São Francisco receba as águas de importantes afluentes, como o Paracatu e o Urucuia, há problema de navegabilidade de Januária a Matias Cardoso, durante as estiagens mais intensas. Depois de Paulo Afonso, há o Baixo São Francisco, que vai até a foz, no Oceano Atlântico, entre os estados de Alagoas e Sergipe. São apenas 32.013 km², que abrigam 5,1% da população da bacia. Nesse trecho, fica a Hidrelétrica de Xingó, construída no final do século XX para gerar energia para o Nordeste. O rio passa por extenso cânion, formando belas paisagens. A vegetação é própria de Caatinga nas duas margens e há muitas cavernas, que eram ocupadas por povos muito antigos. A Chesf mantém o Museu de Arqueologia de Xingó (Max) com peças de até nove mil anos. Na foz, o mar avançou dentro do rio, destruindo o povoado Cabeço e isolando um farol bem antigo, mas permanece ali a cidade alagoana Piaçabuçu. O grande problema é a salinização da água do Rio São Francisco, comprometendo o trabalho dos ribeirinhos na sua experiência de pescar em água doce. Existem, hoje, em Januária, menos pescadores, porque a redução de peixes desarticulou sua profissão. O transporte de pessoas e cargas é realizado, atualmente, por rodovias, mas há apenas uma ponte entre Pirapora e a divisa com a Bahia; ela fica entre os municípios de Januária e Pedras de Maria da Cruz, tendo sido inaugurada em 1996. Os veículos ficam dependentes de balsas, por exemplo, entre Manga e Matias Cardoso, afetando a economia na área. A solução seria um sistema integrado de rodovias, hidrovia e ferrovias, para permitir a circulação de passageiros e mercadorias, mas ainda não se definiu uma política permanente para recuperar a bacia e, consequentemente, a hidrovia. O porto de Januária foi desativado; permanece apenas um acanhado ancoradouro para canoas de pescadores que dependem do pescado para sua alimentação e venda de um excedente.
Rio São Francisco, antes da Cachoeira Casca d’Anta Parque Nacional Serra da Canastra Município São Roque de Minas, MG
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A Cachoeira Casca d’Anta é a maior queda d’água do São Francisco e se forma quando o rio deixa a Serra da Canastra. Parque Nacional Serra da Canastra Município São Roque de Minas, MG. Fotos: Leo Drumond – NITRO
A importância do Rio São Francisco no processo de colonização de Minas Gerais, desde o século XVI O Rio São Francisco foi descoberto por André Gonçalves e Américo Vespúcio, tendo recebido esse nome em homenagem a esse santo italiano. Os indígenas denominavam-no Opará, que significa rio grande ou rio-mar. Foi chamado, depois, no Norte de Minas, por Rio dos Currais, Rio da Passagem, Rio do Gado, Rio dos Caminhos do Transporte de Ouro e Rio dos Vapores. Ele se tornou o principal acesso ao interior da nova colônia portuguesa. Em 1522, o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, iniciou a criação de gado, próximo à foz; o São Francisco ficou, então, conhecido por Rio dos Currais. Era referência segura para quem desbravava a selva, porque os exploradores retornavam ao litoral sem se perder em território imenso, com muitas feras e tribos hostis. O percurso implicava subir o rio na direção oeste e, depois, sul, para chegar à área que iria formar o Estado de Minas Gerais, muitos anos depois. Percebia-se, facilmente, que havia muitos afluentes, mais ou menos caudalosos e com peixes em profusão, o que garantia farta alimentação aos viajantes. Segundo o Professor Manoel Ambrósio, os primeiros exploradores que chegaram à região de Januária teriam sido o castelhano Francisco Bruza Espinosa e o jesuíta João de Aspicuelta Navarro, que vieram da Europa com Tomé de Souza. O rei Dom João III ordenara que o segundo governador-geral do Brasil, Duarte Costa, explorasse as margens do rio, em busca de uma serra refulgente, como se fosse um sol. Com 12 homens cristãos e alguns silvícolas, Aspicuelta e Espinosa saíram de Porto Seguro no dia 3 de junho de 1553. O padre iria procurar tesouros de almas e o outro queria encontrar ouro. Extasiaram-se diante da Serra
Rio São Francisco Município de Januária, MG
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Resplandecente, que seria o Morro do Chapéu, defronte a Januária (Almeida M. J. de., 1960: 8). Antônio Emílio Pereira afirma, entretanto, que a partida de Porto Seguro aconteceu em março de 1554 e eles chegaram à Barra do Mangaí entre junho e julho de 1554. Fixaram uma grande cruz na entrada de uma aldeia de nativos e construíram uma ermida (Pereira, 2013: 39-40). Essa informação de data e do ponto de chegada é a mesma apresentada por Diniz, Mota e Diniz (2009: 97). Em 24 de junho de 1555, Aspicuelta divulgou uma carta, que é o documento mais antigo da civilização mineira. Ele relatou sobre os Tapuya, que seriam ferozes, nus, de cabelos compridos, com fala bárbara e carniceiros (Almeida, Maria Inês. 2011: 122). Pereira afirma que o sacerdote não escreveu que teria visto a Serra Resplandecente, embora tenha descido o Rio São Francisco por 18 km (Pereira, 2013: 42); passou, portanto, pelo Morro do Chapéu, na área que seria, depois, o Município de Januária. A notícia de que havia minerais na região espalhou-se pelo litoral, incentivando a formação de outras expedições. O clima era ameno e metais preciosos estariam ocultos em solo prodigioso. Isso despertava a cobiça de aventureiros, que seriam, depois, recompensados pelo rei português, interessado em extrair riqueza sem fim da nova colônia. O Rio São Francisco tornava-se, então, movimentada hidrovia entre o litoral e o alto sertão nas décadas seguintes. Houve isolamento do Norte de Minas no século XIX, razão para que surgisse um universo cultural autônomo, com contribuições de vaqueiros, tropeiros, barqueiros, barranqueiros, vazanteiros, carranqueiros, remeiros e pescadores. Teria perfil estético e técnico do norte-mineiro, manifesto em chapéu de couro, gibão de campear, arreios, cordas, canoas, barcos de tábua e hábitos de alimentação, além de cosmologia própria. Isso contribuiria para criar, depois, uma cultura são-franciscana.
As carrancas na proa das barcas do Rio São Francisco Os barqueiros do São Francisco fixavam carrancas na proa das embarcações de médio porte. São esculturas com forma zoomorfa ou antropomorfa, que embelezam as barcas de frete para completar a estrutura e permitir sua identificação a distância ou por analfabetos. Protegem também o barco e rompem as águas, espantando os maus espíritos que se aproximam. Tornaram-se elementos totêmicos que conferiam segurança aos navegantes, em meio ao perigo e ao trabalho de mover um veículo com a força de seus braços, em condições adversas, como sol escaldante, correnteza em rio acima, tempestade, bancos de areia ou redemoinhos inesperados. Os ribeirinhos com habilidade artística esculpiam a madeira, soltando a imaginação para criar essas figuras de barca e isso viria distinguir os barqueiros do São Francisco no quadro geral dos navegantes do país. As primeiras referências a carrancas são de 1888, mas figuras esculpidas em proas de embarcações existiam na Antiguidade, bem como em navios ingleses, espanhóis e portugueses que aportavam no Brasil. Os barqueiros queriam uma explicação sobrenatural para encalhe de barcos, naufrágio, afogamento de tripulantes e intervenção de duendes, que podiam virar a embarcação, acarretando perda total da carga. As carrancas tornaram-se, depois, ornamento em residências com decoração arrojada, em cidades muito distantes, mas prevaleceram, no São Francisco, pelos seus atributos místicos para afugentar os seres malignos que povoam o rio e suas margens. Os pescadores dizem que as carrancas gemem três vezes para advertir a tripulação sobre aproximação do perigo, como o Caboclo d’Água. As viagens noturnas são mais temidas, porque acreditam que o rio dorme nas horas mortas; assim, ninguém deve mexer na água para não acordá-lo, evitando desgraças. Segundo a sabedoria popular: enquanto o rio dorme, os peixes deitam no fundo, a mãe d’água vem para fora pentear os cabelos louros, as cobras perdem o veneno, os afogados saem do fundo do rio para as estrelas (apud Diniz, Mota e Diniz, 2009: 106). Antônio Régis Filho, conhecido por Mestre Bufunfa, foi o carranqueiro de Januária mais famoso. Atualmente, há poucos artesãos nesse setor e o destaque é Liko de Oliveira. No início, ele trabalhava o cedro com facão, martelo e serrotinho, mas, hoje, usa motosserra, serrote, plaina, enxó, martelo e sargento. Suas peças estão em diversos pontos da cidade ou em luxuosas residências de outras cidades. Tem sofrido rejeição de grupos evangélicos, que consideram as carrancas figuras demoníacas. As suas obras inseridas nas fotos ao lado pertencem ao Serviço Social do Comércio (Sesc) de Januária. A primeira apresenta um perfil feliz e dócil, pois estaria satisfeita com a vida. A segunda registra, nas suas feições, ódio e aversão às pessoas, além de suas presas avantajadas. Como denominador comum, ambas têm olhos esbugalhados.
Inserção do vapor Benjamim Guimarães junto à praia do Rio São Francisco, frequentada pelos januarenses. Há ali uma carranca esculpida por Liko de Oliveira. As carrancas menores são também obras desse artista e pertencem ao Sesc. Município Pedras de Maria da Cruz, MG Foto de fundo: Leo Drumond
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Os vapores que circularam pelo Rio São Francisco desde 1871 Esses barcos tinham tripulação diversificada, composta de taifeiros, marinheiros, foguistas, cozinheiros, despenseiros, comandantes e contramestres, recrutados entre os ribeirinhos para atender às necessidades impostas pelo transporte de cargas e de passageiros. Os menos qualificados sofriam preconceito em suas vilas, porque estavam próximo do crime e realizavam tarefas iníquas por baixos salários. Os remeiros das pequenas embarcações trabalhavam com uma longa vara presa ao seu corpo por uma faixa que lanhava o peito, deixando ferimentos profundos. Era, entretanto, para todos esses profissionais, uma aventura viajar pelo rio, pois os navegantes conheciam muita gente e frequentavam prostíbulos em pontos de parada, engravidando mulheres que criariam os filhos sem apoio paterno. Os januarenses dizem, atualmente, que é a prole sem nota fiscal. A tripulação fazia também negócios clandestinos, denominados cururus, que lhe propiciavam ótima renda além do salário. Homens maduros contam, atualmente, como foi sua infância, andando no apito dos motores de um vapor, desde os 11 ou 12 anos. O nome vapor vem do tipo de energia derivada, pois era movido pelo vapor obtido em caldeira fixada junto à fornalha, onde a lenha era queimada. A tripulação foi denominada vapozeiro, uma forma sincopada de vaporzeiro, rótulo criado pelos ribeirinhos para nominar a equipe desse tipo de embarcação. O primeiro vapor que navegou no São Francisco foi o Saldanha Marinho. Em 1867, o engenheiro Henrique Dumont firmou contrato com o presidente da Província de Minas Gerais, conselheiro Joaquim Saldanha Marinho, para construir ou adquirir uma embarcação a vapor. Depois de uma viagem experimental, esse barco saiu de Sabará, descendo o Rio das Velhas, no dia 10 de janeiro de 1871. Atingiu o Rio São Francisco, pela primeira vez, em 3 de fevereiro do mesmo ano e foi até Boa Vista, no Pernambuco. Em 1877, foi fretado pela Companhia Cedro e Cachoeira, que, por muitos anos, comercializou seus tecidos ao longo do rio. Foi desativado no final do século XX e está, atualmente, numa praça de Juazeiro (Bahia), repleto de lembranças de seu passado. Muitos vapores circularam bastante pelo São Francisco, como o Matta Machado, Luiz Vianna, Djalma Dutra, Cordeiro de Miranda, Siqueira Campos, Barão de Cotegipe, Governador Valadares, Raul Soares, Engenheiro Halfeld, Antônio Moniz, Delsuc Moscoso, Fernandes da Cunha, Paracatu, Affonso Arinos, Curvello, Iguassu, Antônio Nascimento, São Salvador, São Francisco, Santa Clara, Otávio Carneiro, Juracy Magalhães, Jansen Melo, Bahia, Coronel Ramos, Sertanejo e Baependi. Há muitas histórias sobre eles. O Affonso Arinos navegava no Rio Paracatu. O Santa Clara naufragou em sua segunda viagem, em 1932. Durante a Ditadura Vargas, muitos presos foram despejados no rio, do Baependi, para morrer afogados (Diniz, Mota e Diniz, 2009). Durante a Segunda Guerra Mundial, o Barão de Cotegipe transportava pracinhas entre Pirapora e Juazeiro, quando eles iam patrulhar o Nordeste, porque esse deslocamento pelo interior evitava ataques de submarinos nazistas na costa leste do país. O Governador Valadares naufragou logo abaixo de Lapa, Bahia, no dia 6 de setembro de 1950. O mesmo aconteceu com o Fernandes da Cunha. O São Francisco foi recuperado em 2000, mas um incêndio destruiu-o totalmente, logo depois, enquanto estava ancorado próximo ao porto de Pirapora. O São Salvador é usado, atualmente, em Ibotirama (BA), como navio-escola. O Wenceslau Brás era o mais luxuoso, tendo iniciado a navegação no dia 26 de maio de 1919. Ele patrulhou as margens do Rio São Francisco, quando a Coluna Prestes atravessava o sertão, entre 1924 e 1927. Foi o primeiro vapor adaptado para turismo. Era conhecido por Paraíso das Damas, tal o conforto gozado pelos passageiros da primeira classe. Havia saraus, após o jantar, em que eles dançavam, ao som de sanfona, violão e pandeiro. Turistas estrangeiros viajavam do Rio de Janeiro para Belo Horizonte em avião. Iam, em seguida, para Pirapora, usando luxuosas cabines da ferrovia Central do Brasil, inaugurada em Pirapora, em 1910. Ali, pegavam o vapor até Juazeiro, passando por Januária. Partiam depois para Salvador, onde embarcavam para seu país. Certa vez, o vapor ficou encalhado, por vários dias, em frente à fazenda do Tamuá. Os ribeirinhos aproveitaram para vender milho verde, laranja, manga, pequi, tamarindo e umbu, além de doce de buriti, abóbora e coco. Apesar desse alto nível, esse vapor virou sucata, ancorada em algum ponto do rio. O Mauá era muito procurado, embora gastasse de oito a nove dias para descer o São Francisco e de 12 a 14 dias para subir. Ficava mais lento nos trechos encascalhados ou com bancos de areia. Por muitas vezes, encalhou e a tripulação usava escaler para comprar o básico das fazendas, às margens do rio, e reabastecer a cozinha dos trabalhadores e dos passageiros. O vapor mais famoso foi o Benjamim Guimarães. Não há prova documental, mas reza a tradição de que foi montado nos
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Estados Unidos, em 1913, por James Rees Sons & Co. Teria navegado no Rio Mississipi e foi vendido para a empresa Amazon River Plate Co. para circular pelo Rio Amazonas (Diniz, Mota e Diniz, 2009: 140). Adquirido por Júlio Mourão Guimarães, foi montado, em Pirapora, em 1920, para navegar pelo Velho Chico. Atraía muitos passageiros, que se encantavam com o trajeto entre aquela cidade e Juazeiro. Januária estava no caminho. Esse vapor ficou algum tempo inativo. Tombado, em 1985, pelo Iepha, foi transferido para a Prefeitura Municipal de Pirapora, em 1997, que o restaurou, em convênio com a União. Reinaugurado em 2004, fez passeios turísticos na região de Pirapora até 2014, quando o baixo nível da água comprometeu a segurança da navegação. Ele tinha, no início, capacidade para 200 passageiros. Navegava a uma velocidade de 19 km por hora, ao descer o rio, e 8 km, ao subir. Os passageiros de primeira classe usufruíam boa acomodação e eram servidos em restaurante montado com esmero. Os de segunda classe recebiam a comida em frente à cozinha, em prato esmaltado. Em junho de 2015, não havia previsão de quando ele retomaria os passeios no trecho próximo de Pirapora. Como o assoreamento foi crescente, indicado pelas coroas de areia que surgiam no meio do rio ou coladas às margens, a navegação por vapor tornara-se onerosa. Era também desconfortável para os passageiros, que sofriam restrição alimentar, atrasavam-se para seus compromissos e ficavam inseguros. Uma viagem longa criava oportunidade para aflorar paixão, ódio e ciúme, enquanto o prolongamento da jornada despertava o sentimento de impotência, pois o grupo estava prisioneiro pela dificuldade de sair da embarcação. Os tripulantes tentavam resolver todos os problemas, mesmo que isso demandasse esforços heroicos para libertar o barco dos bancos de areia ou das águas rasas. Esse assoreamento era consequência da destruição da mata ciliar, para alimentar as fornalhas dos barcos a vapor, e da extração de madeiras de lei, exportadas para os Estados Unidos, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Nessa época, imensos troncos de árvore eram amarrados uns aos outros e desciam o rio como se fossem jangadas pilotadas por um ou dois homens, munidos apenas de um candeeiro. A navegação fluvial tinha sido bom negócio para Januária e outras cidades ribeirinhas, desde o final do século XVIII até os anos 1970. Várias empresas exploraram essa atividade, por muitas décadas, como a Companhia Viação Central do Brasil, Viação Baiana do São Francisco, Empresa de Viação e Comércio do São Francisco, Empresa Fluvial Ltda., Companhia Indústria e Viação de Pirapora e Navegação Mineira do Rio São Francisco (Diniz, Mota e Diniz, 2009: 113). Em 24 de janeiro de 1963, foi constituída a Companhia de Navegação do São Francisco (Franave), com o patrimônio das empresas acima, para promover a navegação no rio. Era uma sociedade de economia mista com participação da União, de Minas Gerais, da Bahia e de particulares. Ela foi extinta por decreto do governo federal, em 22 de janeiro de 2007. Os vapores foram queimados ou desmanchados, sendo as peças negociadas em ferro-velho; isso revoltou a população de Januária.
Embarcações de três épocas no porto de Januária: a barca de coxias com carranca, o vapor e, entre os dois, um ajoujo de canoas. Foto Collares, do livro “Januária Relicário Fotográfico”, de Antônio Emílio Pereira
Benjamim Guimarães no Rio São Francisco, em Pirapora Foto: Leo Drumond
Importância do rio para os ribeirinhos Um rio é muito importante para os habitantes de seu vale, embora provoque, algumas vezes, inundação, gerando perda de lavouras, sacrificando os animais e destruindo o patrimônio material duramente construído. Os benefícios superam, entretanto, esses problemas, porque todos têm acesso gratuito a bens indispensáveis à sobrevivência, como a água e o pescado. Eles garantem conforto e alimentação, além do excedente para a comercialização; ou seja, uma renda para participar do mercado. O Rio São Francisco foi reconhecido pelos ribeirinhos, durante séculos, pela sua importância, porque tinha grande volume desde o primeiro segmento, alimentado por dezenas de afluentes e subafluentes. Isso garantia as atividades agrárias, criava especial cosmologia a partir das experiências vividas em suas margens e, durante a navegação, propiciava intensa mobilidade ao longo de todo o segmento médio, em que as viagens implicavam vigoroso comércio, aventuras, contato com populações distantes e mesa farta. O rio era de todos os habitantes do vale que o usufruíam para o lazer, a higiene corporal, a limpeza do ambiente e a alimentação. A familiaridade com os peixes ficou tão acentuada que eles desenvolveram técnicas para usá-los em procedimentos terapêuticos, como os casos de gripe, cólica renal e dor de ouvido. Tinham também segurança para atravessar o rio em frágeis embarcações e se divertir de várias maneiras. O rio era seu mundo. Era seu universo. O país ganhará muito se houver um bom programa de revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, com recuperação das nascentes e dos mananciais, na porção mineira, incluindo proteção das matas ciliares e da vegetação nativa, instalação de medidas sanitárias e opção por atividades econômicas pautadas pela sustentabilidade. O turismo é a melhor delas, porque ele se estrutura na atração de viajantes que queiram apreciar tesouros naturais preservados na sua magnitude, na salubridade e nos pontos de hospedagem com a garantia de segurança, conforto e experiências singulares.
Rio São Francisco, à margem direita Pedras de Maria da Cruz, MG
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Ponte João Martins da Silva Maia sobre o Rio São Francisco, entre os municípios de Pedras de Maria da Cruz e Januária.
Rio São Francisco Município de Januária, MG
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Rio São Francisco
Maria Madalena Moura (96 anos)
Rio de São Francisco, Rio de água cristalina Fui criada com sua água Desde que era menina. Rio de São Francisco, Que distância nós ficamos Você passa onde eu morava E eu estou aqui Só vejo você de perto Quando vou a Itacarambi. Rio de São Francisco, A vida ninguém compra A morte ninguém paga Não tem dinheiro no mundo Que compre a sua água. Rio de São Francisco, Você que mata nossa sede, nossa fome Agora você está morrendo Com a mão pesada do homem. Rio de São Francisco, Deus não deixa você morrer Sem a sua santa água Nós não podemos viver. Querido rio bonito, Nós precisamos muito de você. Declamado pelo marido da poetisa, Benedito Dionísio da Silva (Binu), que estava com 104 anos, no dia 16/7/2014.
São Francisco River
Maria Madalena Moura (96 years old) River of Saint Francis, River of crystal clear water I was raised along with your waters Since I was a little girl. River of Saint Francis, How far apart we are from each other You continue to run where I lived And now I am here I only see you up close When I travel to Itacarambi. River of Saint Francis, Nobody buys life Nobody pays for death And there’s no money in the world That could ever buy your water. River of Saint Francis, You, who quench our thirst, who satisfies our hunger Now you are dying By the heavy hands of men. River of Saint Francis, God won’t let you die Without your holy water We just can’t live. Dear beautiful river, We really, really need you. Recited by the poetess’ husband, Benedito Dionísio da Silva, who was 104, on Jul/16/2014.
Rio Gente
João Damascena de Almeida O meu destino, amigo, Desde menino corre paralelo ao rio, Pois também eu vivo buscando Contornar os meus desafios E encontrar o meu mar. Também eu tento ser forte, Gigante e superar a minha morte. Eu, sertanejo, pescador ou vaqueiro, Alimento das proezas e da valentia De quem, assim como eu, tenta, simplesmente, Só sobreviver. O meu destino, amigo, É amenizar com a poesia a dor E a nostalgia de muita gente Que também viu o São Francisco, Um grande RIO MAR bravo Se fazendo respeitar em lendas, causos E até assombrações sem iguais. Agora está a definhar. Hoje, leito raso, correndo cansado E como tua gente também pede socorro Para sobreviver a tua triste castração. O meu destino, amigo, Do rio em nada é diferente. Ele que na verdade, para mim, é quase gente, Dorme, acorda, canta, encanta E, em toda parte, a tua imensa barranca É a riqueza da nossa tão sofrida gente. Januária, 18/9/2002 Publicado, anteriormente, em ALMEIDA, João Damascena de. A Cidade, o Rio e o Poeta. Januária: edição do autor, 2010, p. 18
Rio São Francisco Município de Januária, MG Foto: João Marcos Rosa -NITRO
River-Person
João Damascena de Almeida My destiny, my friend, since I was a boy, runs parallel to the river. For I, too, keep trying to work my way through challenges and find my sea. I try to be strong as well, gigantic, and overcome my own death. I, a countryman, fisherman or herdsman, fuel for the prowess and bravery of those who, just like me, try, simply, to survive. My destiny, my friend, is to soften pain with poetry and the nostalgia of many who have also seen the São Francisco. A great, raging RIVER SEA, which, gaining respect through its legends, stories, and even matchless ghosts, is now wasting away. Now, with a shallow bed, running weary, see how your people begs for help, to survive its sad castration. My destiny, my friend, is not a bit different from that of the river. River who, actually, to me, is almost a person, who sleeps, wakes up, sings, charms and, everywhere, its huge gorge is the wealth of our suffering people. Januária, Sep/18/2002 Published, formerly, in ALMEIDA, João Damascena de. A Cidade, o Rio e o Poeta. Januária: edição do autor, 2010, p. 18
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A enchente de 1979
Rita Mattos Carneiro Rolón
As águas do Rio São Francisco, até então calmas e serenas, transformaram-se num fluxo furioso e ameaçador que culminou na tragédia da Grande Enchente ocorrida no ano de 1979, atingindo as cidades ribeirinhas do Norte de Minas Gerais. Segundo os mais antigos, essa enchente foi a maior desde 1906. Nessa época, em Januária, ainda havia porto natural, um para a época das cheias e outro para a época da seca, como assim os denominávamos. O rio era volumoso o suficiente para a navegação de vapozeiros e barqueiros. As pequenas barcas e canoas trafegavam continuamente, transportando pessoas, além de produtos comerciáveis. A vida dos barranqueiros estava atrelada ao “Velho Chico”, que sempre foi importante fonte de economia, de pesca, de cultivo de alimentos e um meio de transporte essencial.
The 1979 Flood
Rita Mattos Carneiro Rolón The waters of the São Francisco River, until then calm and peaceful, turned into a furious and threatening flow that culminated in the tragedy of the Great Flood of 1979, hitting riverside towns of Northern Minas. According to some elderly inhabitants, that flood was the greatest one since 1906. At that time, in Januária, there were two natural ports, one for the flood season and another one for times of drought, as we used to call them. The river was voluminous enough for the navigation of steamers and small boats. Small ferries and canoes sailed continually, transporting people and products. The life of riverside dwellers was closely connected to the Old Chico, as the river is called, a continuous source of livelihood, fish, irrigation and transportation.
Em 1979, os dias que antecederam à tomada da cidade de Januária pelas águas foram de muita chuva, mas, apesar dessa intensidade, corria tudo normal, com o rio cheio e bem alto. De repente, um acanhado aviso à surdina: “até meia-noite, Januária será totalmente invadida pelas águas”; outros diziam o motivo: “a barragem de Três Marias não tem como reter o volume das águas da chuva e poderá se romper a qualquer hora”. E foi o caos... Antes de 24 horas, a cidade estava com 90% do seu território invadido.
In 1979, the days that preceded the covering of the city by the Waters were of much rain, but, despite such intensity, life was pretty much normal, with the river high and full. Suddenly, a shy warning was heard: “until midnight, Januária will be totally taken by the waters”; others stated the reason: “the dam at Três Marias cannot hold the whole storm water volume and may break at any time”. And then came chaos... In less than 24 hours, the city had 90% of its territory taken.
Toda a população, indiscriminadamente, foi atingida. As pessoas foram para as partes mais altas da cidade, para os distritos mais próximos, para os prédios escolares não atingidos, para casas de parentes e amigos, para barracas cedidas pelo Exército ou até mesmo para barracas improvisadas.
The whole population, indistinctly, was struck. People ran to the highest parts of the city, to the nearest districts, to school buildings still uncovered by the waters, to the houses of relatives and friends, to tents given by the Army or even to makeshift tents.
Vários foram os apoios recebidos pela população vindos dos poderes públicos de todos os níveis. Foi formada uma comissão com representantes da sociedade; muitas entidades e pessoas se desdobraram para o atendimento dos necessitados: entre elas, funcionários públicos, policiais, vigilância sanitária, médicos, enfermeiros, voluntários e a igreja se revezavam num trabalho árduo e incessante. Diversos recursos foram disponibilizados, como distribuição de cestas básicas para a população carente, intensa campanha de vacinação, assistência médica dos profissionais locais e também do Exército, o qual atendia na cidade ou transportava pessoas nos aviões chamados “búfalos”. Isso muito contribuiu para conduzir enfermos que necessitavam de tratamentos mais sérios. A situação mais crítica durou, aproximadamente, trinta dias. O local, após a enchente, transformou-se em uma cidade fantasma. O cenário era desolador, ruas desertas, casas arrasadas, doenças, muito lixo, grandes perdas materiais e humanas. Apesar das dificuldades, as pessoas foram voltando aos poucos à vida normal, tentando adaptarse àquela nova e precária situação. Mas o povo barranqueiro é forte, aguerrido e o seu ânimo e determinação foram ocupando o lugar da tristeza e desencanto; a sua força foi se fazendo presente na ânsia de sobrevivência. Da tragédia emerge a lição de fé e de solidariedade entre os homens, refletida nas ações conjuntas, em que não há espaço para divisões de classes, de posições e poderes. Assim, uma catástrofe natural dessa dimensão nos coloca na condição de iguais, de sobreviventes. Em meio ao caos, o homem refaz sua história, convoca as suas forças, faz brotar do seu âmago um ser que está além do sofrimento e que se capacita com seus mais refinados recursos de luta e superação.
The population received support from all government levels. A committee was formed with society representatives; many entities and persons endeavored to help those in need: among them, civil servants, policemen, health surveillance, medical doctors, nurses, volunteers and the catholic church took turns in a hard and ceaseless work. Funds were made available, food was distributed to the poor, vaccination drives were launched, health care was provided from local doctors and the Army, which was present in the city and, occasionally, transported people in airplanes known as “buffalos”, contributing to the treatment of those who needed more serious care. The situation was critical for about 30 days. After the flood, the place became a ghost town. The scene was disheartening, streets were empty, houses were devastated, diseases and garbage abounded, with great losses, both human and material. Despite the difficulties, people gradually came back to their normal lives, trying to get adapted to that new and precarious situation. But the riverside population is strong, staunch, and their courage and determination soon took the place of sadness and despair; their strength became even more present in their eagerness to survive. From that tragedy emerged a lesson of Faith and solidarity among men, reflected in joint efforts, in which there is no room for divisions of class, position or power. Therefore, a natural catastrophe of such proportions puts us in the condition of equals and survivors. In the middle of chaos, people rebuild their history, gather up strength, bring forth from their innermost being the willingness to go beyond suffering and the ability to fight and overcome.
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Praça Artur Bernardes e Rua Padre Henrique
Residência qu
e foi demolid
a da Mestra Maria das D ores. Praça Artur Ber nardes
l aulo, atua icente de P ) V A o ã IV S E l a ncisco (C o Hospit s. Ao fund do São Fra te le a en d V a o ir d Praça T Integrado Educação Centro de
Rua Cônego Levínio
Fotos da enchente de 1979 retiradas do livro “Januária Relicário Fotográfico”, de Antônio Emílio Pereira. Arquivos da Foto Vivianny Januária, MG
Ribeirão Pandeiros e sede do Distrito de Pandeiros Município de Januária, MG
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Capítulo II A região entre o Ribeirão Pandeiros e a divisa com a Bahia Nessa região, a densidade demográfica é baixa, inviabilizando a subdivisão do território em municípios menores, porque não é possível oferecer todos os serviços vinculados à administração municipal, conforme prescrição da legislação brasileira. Os custos não seriam cobertos por ínfima receita das prefeituras de pequenas comunidades. Os municípios descritos aqui estão situados entre o Ribeirão Pandeiros e o Rio Carinhanha. Todos pertenciam ao Município de Januária, até o século XX. São: Bonito de Minas, Cônego Marinho, Itacarambi, Pedras de Maria da Cruz, Matias Cardoso e São João das Missões. A população é dependente da primeira cidade em relação a comércio, assistência médica, escolas de nível superior, agências bancárias e muitos outros serviços.
Bonito de Minas O Município de Bonito de Minas tem 3.905 km², onde viviam, em 2010, 9.673 pessoas (IBGE: Censo Demográfico). Recebeu esse nome pela beleza da vegetação de Cerrado, que se estende até a Bahia, tendo vários cursos d’água e veredas de buritizeiros. Isso motivou a criação do Parque Estadual Veredas do Peruaçu, para impedir extração da madeira, formação de pastagens, esgotamento dos recursos hídricos e empobrecimento do solo. Tem uma delimitação muito extensa com aquele Estado, marcado pelo Rio Carinhanha, afluente pela margem esquerda do São Francisco. A sede fica distante do Rio São Francisco e o município nem chega até ele, mas a cidade está ligada por estrada asfaltada a Januária e a Cônego Marinho. É separado, ao sul, de Januária pelo Ribeirão Pandeiros. Encontra-se ali a nascente de seu afluente, Córrego Catolé, que tem um balneário. Vereda é um ecossistema próprio de Cerrado, existindo em locais com umidade permanente e buritizeiros. Trata-se de uma reserva de água a céu aberto para abrigar os animais em meio às chapadas cobertas próprias daquele bioma. Torna-se, assim, uma fonte de alimentos e local de reprodução para a fauna terrestre e aquática. Além disso, suas nascentes mantêm perenes os cursos d’água durante a estiagem. Bonito de Minas foi, até 1937, local para descanso dos tropeiros de Goiás a caminho do porto de Januária. Um deles pediu ao proprietário, João Antônio Coutinho, que criasse um povoado. Um terreno foi demarcado para alocar residências, escola, casas comerciais, praças, igreja e campo de futebol, seguindo um projeto urbanístico. Foram distribuídos lotes para quem quis residir ali. Em seguida, foi construída a Igreja do Bom Jesus, inaugurada em 1939, com entronização de imagens do padroeiro e de Nossa Senhora do Socorro, adquiridas em Bom Jesus da Lapa, Bahia. O município emancipou-se de Januária em 1995, mas foi instalado apenas em 1º de janeiro de 1997. Além do Balneário do Catolé, abriga também parte do pantanal do Ribeirão Pandeiros e o complexo de cachoeiras do Gavião, no Rio Carinhanha. A cidade está a 653 km de Belo Horizonte e conta com poucos equipamentos urbanos.
Vista aérea de Bonito de Minas, MG
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Itacarambi O Município de Itacarambi é cortado pelo São Francisco, ficando uma parcela na margem direita desse rio. Abrange 1.225 km², onde viviam, em 2010, 17.720 habitantes (IBGE: Censo Demográfico). Encontra-se ali parte considerável do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, que abriga em torno de 80 sítios arqueológicos e 140 cavernas. Pertencia a Januária, tendo se emancipado em 1962. O bioma divide-se em Cerrado, Mata Seca e Caatinga. Seu nome está relacionado ao morro próximo à sede municipal, porque seu formato é um quadrado e era denominado pelos índios por ita (pedra), caram (cara ou face) e bi (dois). A população mantém com o Rio São Francisco intensa familiaridade, porque a cidade encontra-se às suas margens. Há uma praça, junto à murada do ancoradouro de barcos, que se tornou ponto de lazer da comunidade. Ali, existem equipamentos próprios desse espaço, como uma passarela para caminhada, bancos e quiosque. Há também estátuas com seres mitológicos (Caboclo d’Água, Mãe d’Água e Mula sem Cabeça), animais das matas próximas (onça-pintada, anta e jacaré) e os peixes maiores do rio, como surubim, curimatã e dourado. Itacarambi está implantando o projeto Cidadania Ribeirinha para fomentar o turismo no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Espera oferecer amplo programa de apoio aos viajantes, com infraestrutura para visitas guiadas aos principais pontos de seus tesouros arqueológicos e espeleológicos.
Cônego Marinho O Município de Cônego Marinho tem 1.642 km², onde viviam, em 2010, 7.101 habitantes (IBGE: Censo Demográfico). Encerra os biomas Cerrado, Mata Seca e Caatinga. Encontra-se ali a maior parte do Parque Estadual Veredas do Peruaçu. O povoado surgiu em 1800, no Município de Januária, com o nome Saco dos Bois. As terras eram férteis e havia fartura de água, apresentando boas condições para a pecuária extensiva. Em 1923, ele se tornou Distrito Cônego Marinho. Emancipou-se em 1995, mantendo essa toponímia. Conta com poucos equipamentos urbanos. Existe, ali, o povoado de Candeal, junto a uma área com argila de alta qualidade para modelagem. As mulheres desenvolveram um tipo de cerâmica, inspirando-se na tradição indígena das tribos que viviam ali, para fazer vasilhames que lhes fossem úteis na lida doméstica e nas celebrações públicas. Como são muito hábeis, receberam apoio do Comunidade Solidária, entre 1995 e 2002. Esse programa federal visava à capacitação de mão de obra, geração de renda e valorização da arte tradicional para elevação da autoestima de artesãos. Foi construído o Galpão dos Oleiros do Candeal para que as ceramistas trabalhassem com mais conforto e entrosamento, mas ele está ocioso, por morte ou mudança de algumas participantes. As que persistem não conseguem escoar sua produção e obter renda à altura de seu trabalho.
Matriz de São Vicente de Paula Cônego Marinho, MG
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Essas ceramistas são conhecidas por Paneleiras do Candeal. Participaram, em 1996, de uma feira de artesanato, no Museu do Folclore do Rio de Janeiro, e venderam muitas peças para a elite carioca que decora suas casas com arte popular. Estiveram também na Feira Nacional do Artesanato, em Belo Horizonte. Elas têm, às vezes, problema com atravessadores, que fazem escambo desleal. Expõem, atualmente, suas peças para venda, no Centro de Artesanato da Região de Januária - Ponto de Cultura. São bules, moringas, travessas, xícaras, jarras e potes de diferentes tamanhos, com estética própria que registra nitidamente sua regionalidade. Quando vão modelar, testam a liga do barro, rejeitando o muito forte e o muito fraco. Abrandam o primeiro com areia ou fortalecem o segundo com esterco de curral. Essa argila é levada ao pilão ou à peneira. Em seguida, é amassada em gamela com água. Usam cacos de cuia, sabugos de milho, sola, facas, pincéis, sementes de mucumã, molambos e tampos de madeira para moldar as peças. Tingem com anilina industrial e tauá dissolvidas em água; recorrem também ao jenipapo e urucum. Cada artesã criou sua logomarca que é aplicada à peça como assinatura. Uma faixa pintada na parede do galpão reúne esses símbolos, para registrar as integrantes do grupo. Elas acreditam que sua produção é afetada quando tiram o barro ou queimam a louça na Lua minguante ou nova. Não gostam quando chega alguém com olho ruim, pois o invejoso desencadeia desgraça, como fazer a massa desandar, quebrar peças prontas ou encalhar as vendas.
Pedras de Maria da Cruz O Município de Pedras de Maria da Cruz abrange uma área de 1.526 km², que envolve Cerrado e Caatinga. Ali, viviam, em 2010, 10.315 habitantes (IBGE: Censo Demográfico). Situa-se à margem direita do São Francisco. Pertencia ao Município de Januária. O rio é portentoso nessa altura e atrai muitos pescadores de diferentes pontos de Minas Gerais. Existe ali a única ponte sobre o rio, desde Pirapora até o limite com a Bahia, tendo sido inaugurada em 1996. Até então, a mobilidade para Januária e outros núcleos populacionais da margem esquerda era por barco ou balsa, com intenso desgaste físico. Seu nome é em homenagem a Maria da Cruz Porto Carreiro, que nasceu em Penedo, à margem esquerda do Rio São Francisco, em Alagoas. Embora haja, atualmente, avaliações negativas sobre ela, entre a população local, é considerada por outros a maior heroína do sertão do Norte de Minas Gerais, no século XVIII. Segundo Diogo de Vasconcelos e Waldemar de Almeida Barbosa, ela foi a personalidade mais respeitada na região são-franciscana, desde o Guararavacã do Guaicuí até o Carinhanha. Maria da Cruz era filha de Domingas Francisca Travassos e Pedro Gomes de Abreu. Casou-se com Salvador Cardoso de Oliveira, sobrinho de Mathias Cardoso de Almeida, fundador de Morrinhos, atual Município de Matias Cardoso. O casal fixou residência em Brejo do Salgado, mas transferiu-se, logo depois, para a área denominada Pedras de Baixo, do outro lado do rio. Ali, ela promoveu a instrução dos marginalizados, ensinando noções de higiene e direitos de cidadania. Instalou também teares de algodão, oficinas de couro, tendas de ferreiro, carpintaria e escolas de música e leitura para qualificação profissional dos jovens. Conquistou a amizade dos moradores, mas despertou aversão de autoridades ligadas à Metrópole. Tendo ficado viúva, com três filhos, assumiu os negócios de suas terras e do gado, fornecendo alimentos para a região da mineração. Em 1736, foi denunciada como líder de revoltas contra o tributo da Capitação, denominadas Motins do Sertão; por duas vezes, homens armados atacaram São Romão, sede do governo regional, e praticaram atos violentos no percurso. Maria da Cruz foi presa, com seu filho, Pedro Cardoso de Oliveira, além de outros rebeldes. Foram transferidos para Ouro Preto e, posteriormente, para uma fortaleza, no Rio de Janeiro. Levados para Salvador, eles foram julgados pelo Tribunal de Relação, em 1738. Pedro Cardoso foi condenado ao degredo em Moçambique, onde morreu. Maria da Cruz sofreu a mesma pena, mas recebeu, antes do embarque, o perdão do Rei de Portugal, Dom João V. Retornou, alguns anos depois, a Pedras de Baixo, onde seu testamento foi aberto em 23 de junho de 1760.
Rio São Francisco e a cidade Pedras de Maria da Cruz, à margem direita.
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O Distrito Pedras de Maria da Cruz foi criado no dia 30 de agosto de 1911, subordinado ao Município de Januária. Foi elevado à categoria de município com a denominação de Pedras de Maria da Cruz em 27 de abril de 1992. Instalou-se em 1º de janeiro de 1993, abrangendo, além do distrito-sede, o Distrito de São Pedro das Tabocas. A economia está sedimentada na agricultura e pecuária. A cidade conta com poucos equipamentos urbanos.
São João das Missões É um pequeno município que pertenceu, anteriormente, a Januária e a Itacarambi. Viviam ali, em 2010, 11.715 habitantes (Censo Demográfico 2010). Sua área territorial é de 678,274 km²; a densidade demográfica era, portanto, naquele ano, de 17,27 habitantes/km². Situa-se em seu território a reserva indígena dos Xakriabá. Eles são descritos à frente. Está a 18 km do Rio São Francisco. Os biomas são Cerrado e Caatinga. A base da economia é agropecuária. Os primeiros habitantes da região foram os Xakriabá. A ocupação da região está ligada ao bandeirante Mathias Cardoso de Almeida, que chegou ali no final do século XVII, estabelecendo-se na fazenda Morrinhos, hoje Município de Matias Cardoso. São João das Missões chamava-se, antes, São João dos Índios, porque existia ali uma árvore muito comum no lugar, conhecida como São João. Na época da ocupação, foi encontrada, naquele território, uma imagem dentro de um tronco de árvore, com características indígenas. Ela foi levada para Morrinhos, mas reapareceu no mesmo local. Os moradores atribuíram o fato a um milagre, atraindo para o arraial pessoas de toda a região e iniciando uma romaria. Foi construída uma capela que é hoje a Igreja de São João das Missões; ela abriga aquela imagem preservada. A data correta da construção não é conhecida. No cruzeiro que havia em frente à igreja, estava registrado 1810. A festa de São João Batista, comemorada desde então, é a maior celebração do município. Acontece do dia 22 a 25 de junho, atraindo fiéis e visitantes de toda a região.
Matias Cardoso Matias Cardoso é o último Município de Minas Gerais, à margem direita do Rio São Francisco. Dispõe de uma área territorial com 1.950 km², onde viviam, em 2010, 9.979 habitantes. Tem esse nome em homenagem ao fundador. Em 2011, obteve reconhecimento oficial, pela Emenda 89 à Constituição de Minas Gerais, de primeiro povoamento fixo em Minas Gerais, embora o território pertencesse, no século XVII, à Capitania da Bahia, e a freguesia, ao Arcebispado de Salvador. Desde então, a capital do Estado é transferida, simbolicamente, para lá, no dia 8 de dezembro, como data magna do Dia dos Gerais. O Capitão Mathias Cardoso de Almeida integrava a Bandeira de Fernão Dias Paes e gozava de inteira confiança do líder, mas abandonou a expedição e aderiu ao novo governador e administrador das Esmeraldas, Dom Rodrigo Castelo Branco, que foi assassinado pelo grupo de Borba Gato, no Vale do Rio das Velhas. Depois disso, Mathias Cardoso foi nomeado Capitão de Campo, pelo governador de São Vicente e São Paulo, para combater índios e quilombolas no Médio São Francisco e em vários pontos do Nordeste. Ele organizou uma expedição com o Coronel João Amaro Maciel e 1.200 homens, formando dois destacamentos. Chegou, em 1690, ao Rio Verde Grande, onde fundou o Arraial do Meio ou de Mathias Cardoso. Viajou, depois, com seu filho, Januário Cardoso, para o Ceará e Rio Grande do Norte, cumprindo aquela missão. Quando o jovem retornou, constatou a degradação do povoado fundado pelo pai, por inundações e ataques de marginalizados. Transferiu-o, então, para três colinas à margem do São Francisco e construiu uma igreja em louvor a Nossa Senhora da Conceição. Ela viabilizaria a primeira freguesia no futuro Estado de Minas Gerais, instalada em 1695, por determinação do Arcebispo de Salvador. O distrito foi criado com o nome Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos, por alvará de 1755. Em 1923, ele foi retirado do Município de Januária para compor o novo Município de Manga, com o nome Distrito de Matias Cardoso. Em 1992, tornou-se município, desmembrando de Manga e mantendo aquela toponímia. Foi instalado em 1º de janeiro de 1993. Abriga, atualmente, o Parque Estadual Verde Grande e o Parque Estadual Lagoa do Cajueiro. A cidade está próximo ao Rio São Francisco. Outros municípios surgiram a partir de 1923, com o fracionamento do extenso território de Januária.
Manga, Juvenília, Miravânia e Montalvânia Manga é o penúltimo município mineiro no Vale do São Francisco, pela margem esquerda. Abrange uma área de 1.968 km², que, em 2010, abrigava 19.846 habitantes. Tem como limites Montalvânia, Juvenília, Malhada (BA), Matias Cardoso, São João das Missões e Miravânia. O clima é semiárido. A cidade situa-se a 709 km de Belo Horizonte e os viajantes precisam usar balsa para alcançar a margem direita do Rio São Francisco.
O Rio São Francisco e a cidade de Matias Cardoso, mostrando a Matriz Nossa Senhora da Conceição, uma das igrejas mais antigas de Minas Gerais
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Sua história começou no final do século XVII, quando os bandeirantes Antônio Filgueiras, Januário Cardoso e Mathias Cardoso de Almeida combateram os indígenas que habitavam as margens do São Francisco. Vencendo as batalhas, fundaram arraiais na região em que havia ouro e pedras preciosas. Filgueiras instalou o primeiro engenho de rapadura do Extremo-Norte de Minas, em São Caetano do Tapuré, por volta de 1694. Uma igreja católica foi também edificada ali. Esse povoado estava a cinco léguas de distância de um porto no Rio São Francisco, no lugar denominado Mangas (Cf. IBGE, 2015).. Viveu ali o homem que seria o primeiro ditador da América do Sul, Manoel Nunes Viana, ex-mascate português, que comandou a Revolta dos Emboabas. Em 1891, foi criado o Distrito São Caetano do Japoré, que foi elevado à categoria de Município com a denominação de Manga, em 1923, desmembrando-se de Januária (Cf. IBGE, 2015).. Deu origem, nas décadas seguintes, aos municípios de Juvenília, Miravânia e Montalvânia, bem como a Matias Cardoso, descrito anteriormente. Juvenília se emancipou de Manga em 1996. É o último município à margem esquerda do Rio São Francisco, em Minas Gerais. Tem uma área de 1.065 km² e 5.708 habitantes. É banhado pelo Rio Carinhanha que divide esse Estado com a Bahia. Está delimitado pelos municípios baianos Feira da Mata, Carinhanha e Malhada, e pelos mineiros Manga e Montalvânia. O clima é semiárido e os biomas são Cerrado e Caatinga. A cidade fica a 803 km de Belo Horizonte, por estrada sem pavimentação até Manga, e está distante do Rio São Francisco. Miravânia dispõe de uma área de 602 km², com 4.549 habitantes. Desmembrou-se de Manga em 1995. O município é delimitado por Montalvânia, Manga, São João das Missões e Cônego Marinho. O clima é semiárido. A cidade está a 97 km de Januária e a 700 km de Belo Horizonte. Montalvânia dispõe de uma área territorial com 1.504 km², onde viviam, em 2010, 15.862 habitantes. Os municípios limítrofes são: Cocos (Bahia), Juvenília, Manga, Miravânia, Cônego Marinho e Bonito de Minas. A cidade está a 782 km de Belo Horizonte. Sua história começou com Antônio Lopo Montalvão que pretendia cessar as arbitrariedades dos coronéis de Manga. Fundou, então, um povoado onde as pessoas pudessem viver em paz, comprando uma fazenda, em 1952, e dando o nome de Montalvânia, que se emancipou em 1962. Januária tem capítulo à parte, pela sua importância como cidade-mãe dessa imensa área. Há também o dinamismo da sua economia que garante polarização regional, embora esteja sob a órbita de Montes Claros, principal cidade do Norte de Minas.
Matriz Nossa Senhora da Conceição Pedras de Maria da Cruz, MG Foto: Leo Drumond / Nitro
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Dona Maria da Cruz Manfred Leyerer Excurso histórico: Dona Maria da Cruz, nascida em Vila do Penedo (perto da foz do Rio São Francisco) e casada com Salvador Cardoso de Oliveira (de São Paulo) viu-se metida, em 1736 (já viúva e avó), em belicosa reação contra a cobrança da Capitação, imposto criado para substituir o Quinto do Ouro. Na época, os insurgentes do sertão mineiro não admitiam que a nova taxa recaísse sobre os moradores daquelas paragens tão afastadas das minas e, quando foi implantada, uma nuvem de rebeldia, muitas vezes impregnada de atos de violência chocantes, varreu o território são-franciscano, desde a divisa com a Bahia até a barra do Rio das Velhas, onde espocou em 22 de março de 1736 o primeiro tumulto dessa vultosa desordem, que duraria até os últimos dias de agosto. Sossegado novamente o sertão, foram aprofundadas as investigações, que tinham começado em plena turbulência, para determinar os principais responsáveis pelo ocorrido. Ficaram então apontados como os cabeças da revolta: Maria da Cruz, seu filho Pedro Cardoso e o cunhado Domingos do Prado. Este último conseguiu ludibriar as forças que no ano seguinte, em setembro 1737, tentaram prendê-lo, mas Maria da Cruz e seu filho Pedro foram capturados e levados, primeiro, para Ouro Preto e, poucos dias depois, transferidos para uma fortaleza no Rio de Janeiro em que permaneceram detidos por um ano, seguindo, após esse tempo, em 1738, para Salvador, onde foram julgados pelo Tribunal da Relação. A pena foi pagar 100 mil réis para as despesas do Tribunal da Relação, seis anos de degredo para um lugar na África e não tornar mais ao Sítio das Pedras, onde moravam. Em 1739, pelo Alvará de Perdão de Dom João, Rei de Portugal e Algarves, foram perdoados o degredo e a proibição de tornar ao Sítio das Pedras para a Maria da Cruz (Resta saber que Maria da Cruz e Pedro Cardoso eram sogra e cunhado do coronel Domingos Martins Pereira, irmão do vigário geral da Bahia, pessoas muito poderosas no seu tempo). Maria da Cruz morreu em junho de1760. Fontes: - “Alvará de Perdão Concedido a Dona Maria da Cruz, Viúva”, de Giselle Fagundes e Nahílson Martins, Montes Claros, 4/9/2006; - “A ‘Dona’ do Sertão: mulher, rebelião e discurso político em Minas Gerais no século XVIII”, de Alexandre Rodrigues de Souza, Niterói – RJ, 2011.
Maria da Cruz Manfred Leyerer Historical note: Dona Maria da Cruz, born in Vila do Penedo (near the mouth of the São Francisco River) and married to Salvador Cardoso de Oliveira (from São Paulo) found herself, in 1736 (then already a widow and grandmother), in a belligerent reaction against the Capitation Tax, created to replace the Quinto do Ouro. At that time, the rebels from the countryside of Minas Gerais did not admit that a new tax could be charged upon the inhabitants of the place, which was so far away from the gold mines, and, when it was put into effect, a cloud of rebelliousness, often marked by shocking acts of violence, swept across the territory of the São Francisco, from the border with Bahia all the way through mouth of the Das Velhas River, where, on March 22, 1736, the first riot erupted, which would last until the final days of August. After peace was restored to the countryside, investigations, which had begun in the middle of the turmoil, were intensified, in order to determine those who were responsible for the events that took place. The following were named as head of the revolt: Maria da Cruz, her son Pedro Cardoso and her brother-in-law Domingos do Prado. Domingos was able to delude those who tried to arrest him in September, 1737, but Maria da Cruz and her son Pedro were captured and taken, first, to Ouro Preto and, a few days later, transferred to a fortress in Rio de Janeiro, in which they remained in custody for a year, and, after that, taken to Salvador, in 1738, where they were tried. The penalty was the payment of 100 thousand réis for the court expenses, six years of exile to a place in Africa and a banning order not to return to the Sítio das Pedras Ranch, where they lived. In 1739, through a Decree of Forgiveness given by Dom João, King of Portugal and the Algarve, Maria da Cruz was pardoned from the penalties of exile and banning to return to the Sítio das Pedras Ranch (we must remember that Maria da Cruz and Pedro Cardoso were the mother-in-law and the brother-in-law of Colonel Domingos Martins Pereira, brother of Bahia’s vicargeneral, both of them very powerful in their time). Maria da Cruz died in June, 1760. Sources: - Alvará de Perdão Concedido a Dona Maria da Cruz, Viúva. Giselle Fagundes and Nahílson Martins, Montes Claros, Sep/04/2006; - A “Dona” do Sertão: mulher, rebelião e discurso político em Minas Gerais no século XVIII. Alexandre Rodrigues de Souza, Niterói, RJ, 2011.
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Castelos e fortalezas de pedras Eliana Toledo Gonçalves
De Brejo do Amparo em direção a Cônego Marinho, perto do trevo para Bonito de Minas, encontram-se os castelos e as fortalezas de pedras; imponentes e bem vistas pela estrada de passagem. Surgem simplesmente, sem maiores pretensões, pontuando todo o entorno da estrada. À medida que passam reparamos nas formas que exibem. São muitas e muitas rochas que residem aqui em formatos de figuras e imagens. Com um pouco de imaginação se vê rostos, animais, figuras de xadrez e pássaros, tudo esculpido pelo tempo, o sol e a chuva. Na verdade, testemunha-se uma tragédia, uma luta pelo resistir e para permanecer. Durante milhares de anos, a terra se aplaina em função da erosão, leva sedimentos com a água ou o vento. Só a rocha mais compacta e dura resiste aos ataques do sol e da chuva. Será por quanto tempo? Ao final a luta será perdida? Talvez, ganha aquela formação que permanecer por último. No alto das pedras, as condições são áridas. Pouca vegetação aguenta aqui e se adapta às condições, pois falta terra. Água é rara e escorre rápido; principalmente na época da seca. O orvalho da noite deve ajudar a manter a umidade. Só há fartura de sol e calor. Lugar privilegiado para os cactos e as suculentas que conseguem lidar com essas condições e não precisam brigar pelo espaço com outras plantas, pois tem muito afloramento de rochas. A melhor visita ao lugar se faz nas primeiras horas do dia (antes das 9 h) ou bem à tarde (depois das 16 h) quando o sol ilumina perfeitamente os picos das rochas.
Stones Castles and Fortresses Eliana Toledo Gonçalves
From Brejo do Amparo to Cônego Marinho, close to the Bonito de Minas exit, spectacular stone castles and fortresses, which can be seen from the road, are found. They simply appear, unpretentiously, all around the road. As we pass by, we notice the shapes they display. Many, many rocks shaped as pictures and images reside here. With a little bit of imagination, we see faces, animals, chess figures and birds, all carved by time, sun and rain. In fact, we witness a tragedy, a struggle to resist and to stay. For thousands of years, the land flattens due to erosion, and sediments are taken by water or wind. Only the most compact and hard rock resists the sun and rain attacks. How long will they last? In the end, will they lose the fight? Perhaps the winning formation will be the last one standing. At the top of the rocks, the conditions are harsh. Little vegetation survives here and adapts to the conditions, due to the lack of soil. The water is rare and runs quickly, especially during the dry season. The night dew helps keeping the humidity. There is an abundance of only sun and heat. A privileged place for cacti and succulents, which can cope with these conditions and do not need to fight for space with other plants, since there are many rock outcroppings. The best time to visit the place is early in the morning (before 9:00 AM) or late in the afternoon (after 4:00 PM) when the sun perfectly shines on the rock peaks.
“Castelos de pedras” vistos na estrada entre Brejo do Amparo e Cônego Marinho
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Apesar da aridez nas rochas, surge frequentemente vegetação em suas fendas. Fotos: Manfred Leyerer
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“Castelos de pedras” vistos na estrada entre Brejo do Amparo e Cônego Marinho Foto: Manfred Leyerer
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Apesar da aridez nas rochas, surge frequentemente vegetação em suas fendas. Fotos: Manfred Leyerer
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“Castelos de pedras” na estrada entre Brejo do Amparo e Cônego Marinho
Igrejas no Distrito de Fabião Município de Januária, MG Fotos: Manfred Leyerer
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“Champs-Élysées” de Fabião Manfred Leyerer
The “Champs-Élysées” of Fabião Village Manfred Leyerer
Se um dia o Espírito Santo resolver baixar na terra, ele não terá como evitar passar também pelo campo das igrejas no vilarejo Fabião II, entre Januária e Itacarambi.
If the Holy Spirit should ever come down to earth, He could not avoid passing across the field of the churches at Fabião II Village, between Januária and Itacarambi.
Num espaço de poucos metros tumultuam-se uma série de pequenas igrejas simples, porém com fachadas bonitas em uma mistura do art déco com o barroco mineiro do interior.
In a space of just a few meters, one can find a disorderly arrangement of many churches that are simple, but with beautiful façades, in a mix of art déco with a baroque interior.
A religiosidade do Fabião é mais antiga que sua própria existência. A hierarquia católica esforçou-se desde o início por controlar a aculturação religiosa dos índios e negros para preservar a “pureza da fé” e do culto diante do centro. Os índios foram educados na nova doutrina nos aldeamentos estabelecendo a ideia da catequese.
The religiosity of Fabião is older than its own existence. The catholic hierarchy has strived, since the very beginning, to control the cultural assimilation of Indians and Africans, in order to preserve the “purity of the faith and worship”. Indians were educated in the new doctrine at the villages, establishing the idea of catechesis.
Com a vinda do padre Geraldo Nalbach em 1964 para Itacarambi, acentuou-se a prática religiosa em toda a região. A igreja do Fabião foi fundada por esse vigário no dia 10 de julho de 1967, com a presença do bispo diocesano Dom João Batista e do prefeito da época, Omerindo Azevedo.
With the coming of Father Geraldo Nalbach to Itacarambi in 1964, religious fervor grew in the whole region. The church of Fabião was founded by that vicar on July 10, 1967, with the presence of the Bishop Dom João Batista and of the mayor at that time, Omerindo Azevedo.
Os padroeiros da igrejinha, São Pedro e São Paulo, são festejados entre os dias 24 e 29 de junho.
The church’s patron saints, Saint Peter and Saint Paul, have their feasts between June 24 and 29.
O artesanato nesses municípios O Ponto de Cultura está instalado em Januária, reunindo artesanato dessa cidade, de Bonito de Minas, Cônego Marinho, Pedras de Maria da Cruz e diversas vilas. São peças muito variadas, como pilões de madeira, funilaria, cestas de fibras vegetais, gamelas e redes de palhas de buritis. Há também estandartes, maquetes de vapor, cerâmicas, esculturas em madeira de santos, carrancas, figuras humanas e animais, dentro da estética regional. Os gameleiros de Bom Sucesso, por exemplo, pertencem a 25 famílias voltadas para esse trabalho. Usam cedro, umburanade-cheiro, umburana branca, taipoca ou tamboril para fazer gamelas, bacias, pratos, pilões, tábuas para carne, dornas para aguardente, pratos e cinzeiros. As mulheres ficam no acabamento, lixando as peças, que são comercializadas na beira da estrada. Durante a chuva, os artesãos trabalham na agricultura, para estocar alimentos em sua despensa e garantir comida para o ano inteiro. O mestre de funilaria é Irênio de Souza Santana, que ainda trabalha, em Januária, aos 96 anos. Ele usa folha de flandres e chapas de zinco para fazer canecas, lamparinas, raladores, baldes, tachos, chocolateiras, cuscuzeiras, tabuleiros, formas, fogareiros, funis e candeeiros. Esse ofício é conhecido também por funileiro, latoeiro, folheiro, flandreiro ou bate-folha. Esse artesão trabalha por encomenda, desde que a demanda diminuiu com o predomínio do plástico facilmente adquirido no mercado. A casa é mantida pelas prefeituras, mas enfrenta dificuldade para assegurar boa renda aos artesãos filiados a ela.
Artesanato regional à venda no Ponto de Cultura Rua Visconde de Ouro Preto, 92 Januária, MG Foto: Gilda de Castro
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Sala de representação das manifestações culturais e religiosas. Ponto de Cultura, Januária, MG Foto: Gilda de Castro
Peças de artesanato regional Foto: Manfred Leyerer
Oleira Emília Nunes de Souza esculpindo o barro no Galpão dos Oleiros do Candeal Candeal, Município de Cônego Marinho, MG
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Candeal Artesanato em argila
Eliana Toledo Gonçalves
Uma olaria de artesanato de argila regional encontra-se em Candeal, a uns 10 km de Cônego Marinho, em direção a Miravânia. É um lugar de moradias bem simples e ruas de terra batida, e em um galpão reúne-se um grupo de mulheres e homens de várias idades. Pertencem à comunidade local e passam o dia a realizar trabalhos em argila, extraída de um riacho perto da olaria. Enquanto os pais, tios e parentes trabalham, as crianças brincam ao redor e quando chegam desconhecidos correm a rir e alardear a presença estranha. As peças esculpidas à mão, na maioria potes de enfeite, gamelas, pratos ou utensílios para o uso diário, são produzidas em fornos artesanais e bem rústicos. Quem não tiver tempo para visitar a olaria poderá apreciar e comprar as peças em lojas de artesanato situadas no Centro de Januária.
Candeal Clay crafts
Eliana Toledo Gonçalves There is a regional pottery in Candeal, approximately 10 km from Cônego Marinho on the way to Miravânia. It is a place with humble houses and unpaved streets where in a warehouse a group of men and women of different ages gather. They are part of the local community and spend their day working with clay, extracted from a stream close to the pottery. While parents, uncles and relatives work, children play around and when strangers arrive, they run laughing to announce the arrival. The pieces sculpted by hand, mostly decorative pots, bowls, dishes, or utensils for everyday use are made in handmade, basic ovens. Those who do not have time to visit the pottery may admire and buy the pieces at the craft market located in the Januária Center.
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Galpão dos Oleiros do Candeal, com as logomarcas de cada artesã pintadas na parede da varanda para identificação das peças e posterior acerto da venda. Comunidade do Candeal, Município de Cônego Marinho, MG
Artesanato do Candeal Galpão dos Oleiros do Candeal Município Cônego Marinho, MG
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Avenida São Francisco e o muro pintado por Waldecir Guimarães, retratando situações típicas do município Januária, MG
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Capítulo III Januária: cidade-matriz do Extremo-Norte de Minas Gerais Januária é a principal cidade do Extremo-Norte de Minas Gerais, porque sedia comércio diversificado e órgãos públicos regionais. Conta com muitos profissionais liberais e escolas de nível superior, sendo considerada uma cidade universitária. Mesmo assim, alguns estudantes preferem estudar em Montes Claros, viajando, diariamente, para fazer cursos que não existem na cidade. O município situa-se na Microrregião de Januária e na Mesorregião do Norte de Minas. Tem o formato de um U, em que a cidade fica na junção dos dois braços, o que dificulta a administração municipal. Abrangendo os distritos São Joaquim, Riacho da Cruz, Levinópolis, Tejuco, Várzea Bonita, Brejo do Amparo e Pandeiros, seus limites são Cônego Marinho, Bonito de Minas, Estado da Bahia, Itacarambi, Pedras de Maria da Cruz, São Francisco e Chapada Gaúcha. É o quarto município mais extenso de Minas Gerais, tendo, atualmente, 6.662 km², onde viviam, em 2010, 65.463 habitantes (IBGE: Censo Demográfico). Era bem maior, no início do século XX, conforme mostra o mapa da página 9. Naquele tempo, seus limites eram definidos pelos rios Carinhanha, Verde Grande, São Francisco e Pardo. Atualmente, existem ali dez outros municípios: Bonito de Minas, Itacarambi, Cônego Marinho, São João das Missões, Pedras de Maria da Cruz e Manga, sendo que, deste último, surgiram Miravânia, Juvenília, Montalvânia e Matias Cardoso. A cidade situa-se a 603 km de Belo Horizonte e a 160 km de Montes Claros. Januária foi importante entreposto comercial na época em que a navegação pelo São Francisco era intensa, entre Pirapora (Minas Gerais) e Juazeiro (Bahia) ou Petrolina (Pernambuco). Tropeiros de Goiás encontravam ali barqueiros para trocar mercadorias, técnicas e informações. A dramática perda de volume do rio e dos peixes reduziu a pesca e eliminou a circulação de vapores que transportavam cargas e muitos passageiros entre o Nordeste e o interior de Minas Gerais. Januária mantevese como polo regional, preservando os negócios fundados na agropecuária, com desdobramento na produção de laticínios e cachaça. Enfrenta dificuldades, porque a precipitação pluviométrica é baixa. O desmatamento para pastagens, o plantio de eucalipto para produzir carvão e a comercialização de madeiras de lei trouxeram mais problemas ambientais, mas a área encerra também alguns tesouros naturais e arqueológicos.
A cidade situa-se em área plana, com leves ondulações, à margem esquerda do Rio São Francisco. O ponto mais elevado do município é o Morro do Itapiraçaba, cuja altitude é 794 m. O mais baixo está na foz do Rio Peruaçu, com 444 m. O subsolo é formado por rochas sedimentares do grupo bambuí, arcóseos, siltitos, calcários e dolomitos. Chovia bastante na região até os anos 1970, entre outubro e fevereiro. As enchentes eram rotina e acarretavam prejuízo, especialmente na parte baixa da cidade, como aconteceu em 1979. Veio, depois, redução da precipitação pluviométrica, afetando a navegação, e o rio distanciou-se do antigo porto, que foi extinto. Predomina no município vegetação xeromorfa; ou seja, formas adaptadas à Mata Seca e Caatinga, mas ainda existem veredas cobertas por buritizeiros, especialmente na área próxima à nascente do Ribeirão Pandeiros. A palha seca do buriti é usada por artesãos que trabalham em cestaria, seguindo tradição indígena. Há ainda, nas matas do município, aroeiras, tinguis, muricis, pequizeiros, jatobás, araticuns e embarés. Esta última é conhecida também como barriguda, citada anteriormente. Quanto a reservas minerais, o Município de Januária encerra jazidas de chumbo, zinco, prata, cristal e calcário. Muitas ruas são estreitas e pavimentadas com chapas lisas de uma espécie de mármore, extraído ali mesmo. Predomina o estilo arquitetônico nordestino, em que as casas são geminadas. Várias têm porta pela frente para montagem de pequeno comércio no primeiro cômodo, enquanto a família vive na parte posterior. Elas são, às vezes, pintadas com cores vibrantes, dando colorido especial a algumas ruas. Alguns imóveis têm linhas da arquitetura portuguesa, apresentando, nas fachadas, volutas, ornamentos florais, figuras geométricas e, às vezes, data da construção ou nome da família. A edificação da Prefeitura Municipal é de 1894 e tem estilo eclético com platibanda e 32 janelas. Seu formato é de um H, em piso único. A elite mudou-se, alguns anos atrás, para uma área mais elevada, a caminho da Vila Brejo do Amparo, formando o bairro Alto dos Poções. Os lotes são grandes e as casas, recuadas, com muros altos ou grades; não ficam, portanto, à vista dos transeuntes. Segundo uma entrevistada, antigamente, enquanto os caixões subiam por ali, desciam os carros de boi. Os januarenses tiveram sua história vinculada ao Rio São Francisco, porque ele era a principal fonte de alimento, sendo território livre para a pesca, justamente numa região em que os latifundiários são muito rigorosos na preservação de suas terras. Isso garantia às famílias mesa farta, sem custo monetário, exigindo apenas pescar, o que era uma mistura de trabalho, lazer e aventura. Na linguagem dos velhos pescadores, havia tanto peixe que eles eram colhidos com as mãos, gerando a satisfação
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de obter surubins, curimatãs e dourados que pesavam 50 quilos ou mais. Para alguns críticos de hoje, isso teria deixado a população preguiçosa, porque era muito fácil prover a família; não precisava, portanto, trabalhar a terra, com mais desgaste pelo baixo rendimento e técnicas rudimentares de cultivo. Essa atividade nunca tem o tom da aventura como a pescaria, que é repleta de imprevistos e sonhos de fisgar peixes enormes. Havia também a formação de parcerias entre os pescadores com as contradições subjacentes de afeição e ódio, lealdade e aversão, respeito e desilusão, mas tudo encaminhava para experiência satisfatória, pois havia o pertencimento à corporação. Algumas famílias podiam contar com a agricultura de vazante em terras junto à margem do rio, após inundação durante as cheias. Depois que as águas baixavam, ficava a lama fértil, rica em húmus. Os vazanteiros cultivavam, então, nesse espaço, mandioca, abóbora, batata-doce, frutas, maxixe, feijão, tamarindo, cana-de-açúcar e hortaliças, que enchiam suas despensas e permitiam a comercialização do excedente. Era uma fartura para a família, que usufruía a colheita sem dividir com dono de terra. O rio era, sobretudo, a melhor alternativa em viagens de negócios, lazer e busca de oportunidades na Bahia, no Pernambuco ou na região central de Minas Gerais. No último caso, havia duas opções: navegar até Várzea da Palma e subir o Rio das Velhas, chegando a Sabará, ou navegar até Pirapora e pegar o trem da Central do Brasil, que ligava aquela cidade a Belo Horizonte e ao Rio de Janeiro. Essa linha férrea foi desativada, no final do século XX, e os januarenses resolvem, atualmente, vários de seus problemas em Montes Claros, de onde podem viajar para outros pontos do país. Com a redução da vazão do São Francisco, o mato ocupou o antigo leito, diante da cidade, e obstruiu a visão do rio, exceto no ponto em que ficava o cais para os vapores. As duas colunas, que formavam o portal do antigo porto, foram demolidas. Nesse vazio, foram construídas uma estrada para os automóveis e uma rampa para as pessoas alcançarem a areia e o curso d’água. Dali, elas pegam uma canoa para ir até a praia da margem direita do São Francisco, no Município de Pedras de Maria da Cruz, em seus momentos de lazer. A murada tem, pelo lado interno, em torno de oito metros de altura, indicando como o rio era portentoso ali. Parece que o apego dos januarenses pelo Velho Chico diminuiu, porque eles não podem ver a água fluindo. Lamentam essa perda, dizendo que sentiam, antes, como se o rio estivesse levando suas frustrações, dores e mágoas. Não pescam, tampouco, com a facilidade de antes e perderam, sobretudo, a hidrovia tão útil em outros tempos para viagens a outras cidades.
Sede da CEIVA (Centro de Educação Integrado do Vale do São Francisco) Praça Tiradentes Januária, MG
Centro Comercial de Januรกria
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Terra Boa! “A terra aqui é muito boa. Num outro lugar, poderia existir terra até igual, mas não melhor. Se tiver chuva, a colheita será farta!” (Cleuber Carneiro, um fazendeiro de 75 anos, sobre o vale do Rio São Francisco, na região de Januária.)
Ponte João Martins da Silva Maia sobre o Rio São Francisco, ligando os municípios de Pedras de Maria da Cruz e Januária.
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Detalhes da arquitetura local Januรกria, MG
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História de Januária A expedição chefiada por Espinosa e padre Navarro saiu de Porto Seguro, em 1554, e chegou à Barra do Mangaí, quatro meses depois. Outras expedições passaram por ali, nas décadas seguintes, e os conflitos com os nativos foram inevitáveis, dizimando homens adultos e subjugando mulheres. O Capitão-Mor Fernão Dias Paes, autorizado por Carta Régia, saiu de São Paulo, em 24 de setembro de 1664, à procura de pedras preciosas no território que viria constituir o Estado de Minas Gerais. Conforme referência anterior, Mathias Cardoso de Almeida participava dessa expedição, mas aderiu a Dom Rodrigo de Castelo Branco, quando ele se tornou governador e administrador das Esmeraldas, substituindo aquele bandeirante; saíram de São Paulo em abril de 1681. Houve revolta liderada por Borba Gato e esse fidalgo foi assassinado no Vale do Rio das Velhas (Pereira, 2013: 50-51). Nessa época, muitos brancos foragidos da Justiça, degredados da Corte, ciganos e negros imiscuíam-se nas tribos que viviam no Vale do São Francisco, incitando-as para o banditismo (Pereira, 2013: 59). O governador da província nomeou, então, Mathias Cardoso de Almeida como Capitão de Campo para que ele pacificasse o Médio São Francisco. Viajou com seu filho, Januário Cardoso, obtendo a adesão de Manoel Pires Maciel, que vivia na aldeia dos Caiapó, em Itapiraçaba, e tinha um filho com a filha do cacique; mesmo assim, ele expulsou a tribo, raptando a moça e o menino. Batizou-a com o nome de Catarina e casou-se com ela. Fundou, em seguida, um povoado, que ele denominou Brejo do Salgado, porque a água de riachos e pântanos era salobra. Iniciou a lavoura, especialmente de cana-de-açúcar, e montou o primeiro engenho para produzir aguardente. Construiu também uma capela em louvor a Nossa Senhora do Amparo, que seria a padroeira do arraial. Isso teria acontecido entre 1699 e 1703 (Pereira, 2013: 76). A fama da riqueza mineral da área e essas iniciativas atraíram aventureiros, gente culta e abastados negociantes da Metrópole. Nessa época, os escravos lavravam a terra, os homens livres exploravam as minas e os nobres vestiam-se pelos figurinos de Paris. Em poucos anos, o comércio tornou-se intenso e a produção escoava em um ponto do Rio São Francisco, a uma légua de distância, que ficou conhecido por Porto do Salgado. Os barqueiros, vindos da Bahia, paravam para negociar querosene e sal com os tropeiros oriundos de Goiás, que vendiam fumo, rapadura e couro. Nesse ínterim, a escrava Januária fugiu de uma fazenda e estabeleceu-se ali com uma pousada, onde os viajantes dormiam. Brejo do Salgado foi elevado à categoria de Julgado, por alvará do Príncipe Regente, em 1814, desligando-se de São Romão, que tinha essa condição desde 1720. Tornou-se Vila em 1833, por resolução do presidente da província, e a sede foi transferida para o Porto do Salgado, em 12 de outubro de 1834. Esse povoado recebeu nova denominação - Januária - em homenagem à Princesa Imperial, filha de Dom Pedro I. Emancipou-se pela Lei 1.093, no dia 7 de outubro de 1860. Tinha, nessa época, mais de 500 casas bem construídas, formando ruas alinhadas que seguiam princípios de urbanismo. Apesar da versão oficial quanto à definição do nome da cidade, há duas outras para justificá-lo: a primeira seria em reconhecimento a Januário Cardoso, pioneiro na região; a segunda consagraria a escrava Januária, pelos seus anseios de liberdade e pela linguagem usada pelos viajantes: vou parar na [pousada de] Januária ou vou dormir na Januária. Essa cortesã teria sido, portanto, figura central do arraial portuário, ao acolher os que passavam por ali, pois havia instalado o primeiro ponto para negócios entre barqueiros do Rio São Francisco e tropeiros de Goiás. A economia de Januária foi sedimentada na agricultura, com destaque para o cultivo de cana-de-açúcar, fava, arroz, mandioca, batata-doce, algodão, milho, manga, melancia, laranja e mamona. A produção de cachaça começou no século XVII. Os januarenses desenvolveram técnicas próprias nos alambiques, sobretudo para o processo de envelhecimento, em tonéis de umburana-de-cheiro. Isso garantiu reconhecimento de alta qualidade no século XXI. Enquanto houve muito movimento de embarcações entre Pirapora e Juazeiro, Januária beneficiou-se bastante, pois seu porto estava em ponto estratégico do Rio São Francisco. Como passavam por ali os comerciantes que negociavam produtos agrícolas e manufaturados, isso asseguraria sua condição de polo regional, por muitos anos. A expansão das igrejas evangélicas tem sido constante no município, mas, ainda hoje, sua população é predominantemente católica. A Diocese de Januária foi criada, em 15 de junho de 1957, pela Bula Lacto Auspicio (Com Auspiciosa Alegria) do Papa Pio XII, por desmembramento da Diocese de Montes Claros e anexação de parte da Prelazia de Paracatu. É sufragânea da Arquidiocese de Diamantina. Tem uma área de 56.341 km², abrangendo paróquias de 17 municípios. Sua padroeira é Nossa Senhora das Dores, que é também padroeira da cidade de Januária. Foi instalada no dia 26 de outubro de 1958, durante a Festa do Cristo Rei, com a posse do primeiro bispo, Dom Daniel Tavares Baeta Neves. A celebração contou com a presença do presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que inaugurou, naquela oportunidade, a Usina Central de Pandeiros, dotando Januária de energia elétrica.
“Alguns imóveis têm linhas da arquitetura portuguesa, apresentando, nas fachadas, volutas, ornamentos florais, figuras geométricas e, às vezes, data da construção ou nome da família”
Minas Hotel, desativado há vários anos
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Prefeitura Municipal de Januária, construída no final do século XIX
Hospital Municipal de Januária
A Casa da Memória do Vale do São Francisco Essa instituição foi criada pela Lei Municipal nº 1066, de 20 de maio de 1981, e é dirigida pela professora Maura Moreira Silva. Não tem fins lucrativos e reúne precioso acervo sobre o Vale do Rio São Francisco. Visa promover pesquisas nas áreas de Arqueologia, História, Artesanato, Música e Folclore, nos municípios do Médio São Francisco; despertar na população o respeito pelo acervo arqueológico, histórico e artístico da região; realizar cursos e seminários sobre folclore, artesanato, teatro e música e firmar convênios com instituições governamentais ou particulares para execução de projetos e programas de interesse cultural na região. Esses objetivos permitem registrar a história da ocupação humana, desde o século XVII, naquela área; preservar as tradições, os instrumentos e as técnicas de exploração do ambiente; receber visitantes que pretendem conhecer as belezas naturais do vale; enfim, criar um ambiente que modele o comprometimento da população local e dos turistas em relação ao Rio São Francisco. Está instalada no antigo Fórum da Comarca de Januária, que funcionou ali até o início dos anos 1970 e tinha virado um depósito da Prefeitura. Havia sofrido, por muitas vezes, o flagelo das enchentes do rio. O estado da edificação era crítico, mas ela foi restaurada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha), em 1986. Trata-se de uma construção neoclássica em dois pavimentos, no principal logradouro da cidade: a Praça Artur Bernardes. Foi inaugurada parcialmente em 1885 e terminada em 1904. Abrigava, no térreo, a cadeia pública; por isso, suas paredes têm quase um metro de espessura e há grades de ferro reforçado nas janelas e portas de quatro salas, que funcionavam como celas dos presos. Outras salas atendiam às atividades do Poder Judiciário, como o Cartório do 2º Ofício. Esse tipo de edificação que reunia o fórum e a cadeia pública era comum em outras cidades de Minas Gerais, entre o século XIX e a primeira metade do século XX.
Casa da Memória do Vale do São Francisco. A edificação foi inaugurada em 1904 e abrigou a Cadeia Pública e o Fórum até os anos 1970. Januária, MG
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Algumas foram demolidas e outras, requalificadas. A de Januária ficou na segunda opção, abrigando esse centro de memória. Atualmente, funcionam, nas salas do térreo, a diretoria, a biblioteca e as aulas de pintura, música e costura, que são oferecidas à comunidade, por baixo custo. O segundo piso, que abrigava o Fórum da Comarca de Januária, acomoda, hoje, muitos objetos antigos para compor o futuro museu da cidade. Chega-se a ele por uma escada de madeira com três lances e grades torneadas de pau-d’arco. Há uma antessala com uma larga porta dobrável que abre para uma sacada. Ela dá acesso também ao salão do Tribunal de Júri e a um corredor que leva à antiga sala do juiz. Nesse andar superior, há 15 janelas. Na platibanda que arremata as paredes, são vistos desenhos em alto-relevo de estrelas e arranjos florais, que eram comuns em construções suntuosas do início do século XX. O acervo contém paramentos religiosos, móveis de famílias ilustres, documentos do município e da Igreja Católica, instrumentos de trabalho, imagens sacras, fotografias de personalidades da cidade, peças antigas de decoração, material pedagógico e muitos outros objetos que merecem tratamento dentro dos paradigmas da Museologia, para assumir o status de Museu do Vale do São Francisco. Funciona ainda, na antiga sala de júri, o Salão de Artes Álvaro Andrada para encenação de peças teatrais, reuniões, cursos, exposição de artes e artesanato. Ele dispõe de acomodação para 70 pessoas assentadas.
Casa da Memória do Vale do São Francisco Maura Moreira Silva
Costumo dizer que a Casa da Memória é o escrínio onde depositamos as joias da nossa cultura. É uma entidade sem fins lucrativos que surgiu da ousadia do trio formado por mim junto a Beltrando Caribé Filho e Zélia Maria Lima de Sá. Tudo começou assim: Soubemos que o prédio da antiga cadeia - Fórum seria demolido. Procuramos, então, o prefeito, Euler Tupiná Bastos, para pedir que nos cedesse o prédio para instalar uma Casa de Cultura. Questionamentos, muitos: Quando? Como? Quem? Obtivemos o apoio do Senhor Prefeito e saímos dispostos a tudo. Beltraninho, como o chamávamos, era o mais influente e, graças a ele, recebemos a visita do professor Wilson Chaves e de Bartolomeu do Palácio das Artes de Belo Horizonte, que nos deram as primeiras instruções, visando ao desenvolvimento do projeto. Conseguimos verba do Iepha para recuperação do imóvel, completamente deteriorado, e ele foi restaurado em curto espaço de tempo. No dia 6 de outubro de 1981, no salão da Biblioteca Municipal Professor Manoel Ambrósio, realizou-se uma reunião para eleger a primeira diretoria da Casa da Memória. O prefeito tornou-se o presidente e o professor Dr. Paulo Alvarenga Junqueira (UFMG), o diretor executivo. Foram definidos os seguintes setores: Arqueologia, História, Artesanato, Folclore, Música e Cultura. O deputado Cleuber Brandão Carneiro conseguiu que o Dr. Paulo Alvarenga Junqueira permanecesse aqui, por dois anos, em regime de adjunção, para nos orientar na elaboração dos estatutos e da documentação exigida em casos semelhantes. Assim nasceu a Casa da Memória, entidade respeitada por sua conduta e trabalho. Ela vem atendendo à comunidade local e toda a região Norte mineira, no sentido de informar aspectos históricos e culturais. Ela é visitada por alunos, professores, pesquisadores do Brasil e do exterior. Ressalto o trabalho voluntário da equipe, pois costumamos dizer que nosso salário é o prazer de divulgar a nossa cultura e acompanhar o sucesso dos que por aqui passam e participam de nossas oficinas. São poetas, escritores, compositores, artistas plásticos, atores e artesãos. A casa sobrevive de doações e promoções que realizamos. Nosso plano de trabalho inclui oficinas de arte, cursos de pinturas e costura, informática, flores, culinária regional, teatro, enfim, tudo que estiver ao nosso alcance. Atividades da Casa da Memória: - atendimento, em pesquisa, a estudantes e professores do nível fundamental ao universitário, da cidade, da região e de outros estados;
Home of the São Francisco Valley Memorial Maura Moreira Silva
I have often said that the Casa de Memória is the deposit box where we store the jewels of our culture. This is a non-profit entity that came from the boldness of a group of three people led by me, together with Beltrando Caribé Filho and Zélia Maria Lima de Sá. This is how it all began: - The old jail and court building is being demolished. That’s what we heard. Then we went to see the mayor, Mr. Euler Tupiná Bastos, to request the building for us to set up there a Culture House. Questions were fired upon us: When? How? Who? As soon as the mayor gave us his support, we were ready for anything. Beltraninho, as we called him, was the most influent person and, thanks to him, we received the visit from Prof. Wilson Chaves and from Bartolomeu, who then worked for the Palácio das Artes of Belo Horizonte, who gave us the first instructions for the development of the project. We raised funding from the Institute of Historical and Artistic Heritage of Minas Gerais (IEPHA) for the renovation of the building, which was totally deteriorated, and it was restored in a very short time. On October 06, 1981, at the hall of the Prof. Manoel Ambrósio Municipal Library, a meeting took place to elect the Casa da Memória’s first board for directors.The mayor became the chairman and Prof. Dr. Paulo Alvarenga Junqueira (UFMG) the CEO. The following departments were defined: Archaeology, History, Crafts, Folklore, Music and Culture. Mr. Cleuber Brandão Carneiro, state representative, persuaded Dr. Paulo Alvarenga Junqueira to stay, for two years, as adjunct, to guide us in the preparation of the internal regulations and the documentation required in such cases. Thus was Casa da Memória born, an entity respected for its conduct and work. It serves the local community and all Northern Minas, as a source of information as far as historical and cultural aspects are concerned. It is regularly visited by students, teachers and researchers from Brazil and abroad. I emphasize the voluntary work of the whole team, and we always say that our salary is the pleasure of spreading our culture and being a part of the success of those who come and participate in our workshops. They are poets, writers, composers, painters, actors and artisans. The house is kept by donations and events that we promote. Our work plan consists of art workshops, training courses in painting and sewing, computing, flower arrangements, regional cuisine, drama, and everything else that comes at hand. Activities of the Casa da Memória:
- realização de festivais de folclore, poesia e música;
- Helping students and teachers, from elementary school to college, coming from all places, in their research work.
- realização de cursos de teatro, dança e artesanato;
- Promotion of folklore, poetry and music festivals.
- realização do projeto “Reconhecendo Valores”, homenageando pessoas ou entidades que se destacaram em atividades que venham a engrandecer a nossa região. - incentivo a jovens talentos que se revelem nas áreas: musical, poética, teatral, artesanal; - realização de saraus culturais em parceria com as faculdades Unimontes e Ceiva; - apoio à realização de oficinas culturais, entre essas, as da Fundação Clóvis Salgado de Belo Horizonte. Eis o nosso trabalho que desempenhamos sem retribuição financeira, voltado somente para o desenvolvimento de uma região, isolada desde os primórdios do descobrimento do Brasil. A Casa da Memória se orgulha, entretanto, do potencial artístico-cultural do seu povo e não perde a esperança de um dia ocupar o lugar que bem merece. Casa da Memória do Vale do São Francisco Praça Artur Bernardes, 22 39.480-000 - Januária, MG, Brasil. Expediente: das 7 às 18 horas, de segunda a sexta-feira.
- Promotion of training courses in Drama, Dance and Handicraft. - Project “Reconhecendo Valores” (Ackowledging Values), rendering tribute to persons or entities that contribute in the development of the region. - Encouraging young talents in the areas of Music, Poetry, Drama and Handicraft. - Promoting Cultural Evening Festivals in partnership with local colleges (UNIMONTES and CEIVA). - Supporting cultural workshops, among which those of Fundação Clovis Salgado, located in Belo Horizonte. This is a work that we do without pay, aimed solely at the development of a region, which has been isolated since Brazil’s early days. It takes pride, nonetheless, in the artistic and cultural potential of its people and does not lose hope of, one day, taking its rightful place. Casa da Memória do Vale do São Francisco Praça Artur Bernardes, 22 39480-000 - Januária, MG, Brazil Working hours: from 7 am to 6 pm, Monday through Friday
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Ladrilho hidráulico da época da construção (século XIX), ainda existente no térreo da edificação. Grades que fechavam as celas dos presos na Cadeia Pública, mantidas nas salas de administração. Casa da Memória do Vale do São Francisco Januária, MG Foto: João Henrique Abreu
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Galeria dos presidentes da Câmara Municipal de Januária Casa da Memória do Vale do São Francisco Januária, MG Foto: João Henrique Abreu
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Acervo de objetos antigos para formação de um museu em Januária. Casa da Memória do Vale do São Francisco Januária, MG Foto: João Henrique Abreu
Guarda-corpo da escada em pau-d’arco Casa da Memória do Vale do São Francisco Januária, MG Foto: João Henrique Abreu
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Antiga sala do Tribunal de Júri e atual Salão de Artes Álvaro Andrada Casa da Memória do Vale do São Francisco Januária, MG Foto: João Henrique Abreu
O Distrito Brejo do Amparo e a Igreja Nossa Senhora do Rosário Brejo do Amparo é um distrito no Município de Januária e sua sede está a 6 km dessa cidade. Seu antigo nome era Brejo do Salgado, fundado no final do século XVII. Dedica-se à agricultura, especialmente à cana-de-açúcar, vendida para mais de 30 engenhos que produzem cachaça. Seu casario tem forte inspiração baiana e os proprietários optam por cores muito vivas para pintar as fachadas. No adro da Igreja Nossa Senhora do Amparo, que substituiu a original, demolida tempos atrás, acontecem as principais celebrações da comunidade, como as Cavalhadas, no mês de setembro dos anos pares. Nesse distrito, existe, na área denominada Barro Alto, um templo muito bonito: a Igreja Nossa Senhora do Rosário, construída, em 1744, segundo análise de Pereira (2013: 454), embora esteja inscrito em sua fachada o ano 1688. A iniciativa teria sido de jesuítas, na sua catequese de quilombos e tribos indígenas. Não há, atualmente, nenhuma residência, em raio de mais de 500 metros de distância, e a estrada de 6 km, desde a Vila Brejo do Amparo, é precária. Mesmo assim, é visitada por peregrinos para pagar promessas ou suplicar apoio em momentos difíceis. Eles acendem velas na soleira da porta, que é almofadada com retângulos e losangos para representar os diamantes de Minas Gerais. O bispo celebra ali Missa com certa regularidade. Encontra-se em processo de restauração pelo Iepha, mas o trabalho é lento e depende da recuperação das imagens originais, pois restam apenas uma Nossa Senhora Aparecida e uma Nossa Senhora do Rosário.
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Percebe-se, na sua arquitetura, influência baiana. Esse templo tem proporções médias, com uma torre, em seu lado direito, de três andares. Em seu interior, há os itens indispensáveis a uma igreja católica, como o altar-mor, em plano superior, dois altares laterais, o coro cercado com guarda-corpo em ripas trabalhadas, acima da porta de entrada, e o púlpito para as homilias do celebrante. O piso é em campas de madeira, cobrindo antigas sepulturas, como era tradição no Brasil até o final do século XVIII. O forro e o altar são pintados com motivos religiosos, destacando uma faixa em que se lê: Rainha do Sacratíssimo Rosário fazei-nos amar a Jesus. Não podemos dizer se essas pinturas são setecentistas ou mais recentes. O altar-mor tem vários arcos com colunas retorcidas e nichos para imagens menores. Tudo é simples, mas representativo de igrejas do século XVIII, em áreas com poucas pessoas de posse. A torre tem enquadramento em madeira e sineira. Havia ali, até 2005, um sino de bronze original, que pesava 300 kg. Ele foi roubado, numa noite, e ninguém identificou os ladrões nem os receptadores. A cobertura piramidal de alvenaria é encimada por um cata-vento. Essa igreja é cercada por muros baixos de pedra e se completa com um cruzeiro à frente e um cemitério do lado direito, a poucos metros de distância. Ele ainda é usado para sepultar os mortos da região, tendo, inclusive, túmulos mais recentes em granito.
Igreja Nossa Senhora do Rosário construída em 1744 Distrito Brejo do Amparo, Município de Januária, MG
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Igreja Nossa Senhora do Rosário construída em 1744 Distrito Brejo do Amparo, Município de Januária, MG
A cachaça envelhecida em tonéis de umburana-de-cheiro Os gregos produziam a acqua ardens como uma bebida que teria propriedades medicinais e seria elixir da longa vida. Os árabes conheceram-na, no século XI, em contato com os cruzados, e inventaram o alambique para destilar a bebida, feito, geralmente, de cobre. Ela se popularizou, porque amenizava o frio intenso do inverno europeu. Perdeu, depois, seu caráter sagrado, tornando-se uma mercadoria do prazer. Os portugueses inventaram a bagaceira, destilando a uva, e trouxeram essa bebida para o Brasil. Descobriram aqui o vinho da cana-de-açúcar, observando os índios fabricarem o cauim, uma bebida obtida a partir da fermentação do milho (Brizola Junior, 2006: 54-55). O cultivo de cana-de-açúcar e a montagem do primeiro engenho começaram em Brejo do Amparo, no final do século XVII, quando a produção de açúcar, na Zona da Mata nordestina, era fundamental na economia da Colônia, em benefício de Portugal. A aguardente circulava pelos engenhos, porque era resíduo da produção de açúcar, sendo uma bebida adequada aos escravos e a outros lavradores, para que suportassem a extensa jornada de trabalho, além da fome e do frio em precária moradia. Ela se tornou também moeda no comércio de escravos com a África, mas a descoberta das minas de ouro no Vale do Rio das Velhas reorganizou a economia da Colônia, afetando os negócios na região do Brejo do Amparo. Sua produção foi um sucesso, naquele distrito, porque havia adequada umidade natural do solo, clima quente na maior parte do ano e grande quantidade de fertilizantes naturais, propiciando o cultivo satisfatório de cana-de-açúcar, principal matériaprima da bebida. Ela tem sabor característico da região, porque há concentração de muitos produtores que desenvolveram um jeito particular na produção da aguardente artesanal. Quando os rios eram mais cheios, usavam água corrente para dar o choque necessário à destilação. Optaram, depois, pelo alambique com serpentina, para aplicar calor na extração do álcool de uma substância muito fluida. Ele evapora mais depressa que a água e pode ser recolhido durante a condensação. Esse processo
Tonéis de umburana para envelhecimento de cachaça Distrito Brejo do Amparo Município de Januária, MG
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foi mantido através dos séculos, reconhecendo que a cachaça de alambique tem cabeça, coração e rabo. A cabeça é o primeiro produto da alambicada (10% dela é jogado fora). O coração é parte central, correspondendo a 80%; é líquido e puro. O rabo é uma água fraca que pode voltar para o alambique (Brizola Junior, 2006: 56). A área denominada Sítio, no atual Distrito Brejo do Amparo, é a principal zona produtora de cachaça de Januária. Existem, ali, em torno de 30 alambiques que usam técnicas tradicionais, mas repassam seu produto para quem pode fazer refinamento da bebida, eliminando as impurezas e guardando-a, por dois anos, em dornas de carvalho ou umburana-de-cheiro para que haja envelhecimento sofisticado. Essa cachaça está entre as melhores do Brasil e tem boa aceitação pelos clientes, mas ainda não se fixou no mercado comercial como marca expressiva do tipo Cachaça de Januária. Mesmo assim, é vendida, por alto preço, em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e no exterior. Algumas marcas de cachaça do município: Velha Januária, Caribe, Insinuante, Maria da Cruz, Sentinela, Princesa Januária, Porto Estrela, Veredas de Cônego Marinho, Várzea, Delicana, Sagarana, Januária Única e Peruaçu. A mais famosa é a Claudionor, cuja fabricação começou em 1925, época em que a aguardente era vendida em garrafões e dornas para os comerciantes e barqueiros que navegavam pelo Rio São Francisco. Quem passava pela cidade procurava a Cachaça Januária do Claudionor. Isso foi reduzido para Aguardente Claudionor, que pertence, agora, aos netos de Claudionor Carneiro. Alguns anos atrás, 28 produtores de aguardente formaram a Cooperativa dos Produtores de Cana-de-açúcar e Derivados Ltda., em Brejo do Amparo, visando reestruturar a cachaça e lançar uma marca permanente no mercado. Cada cooperado entregaria, aproximadamente, 50 toneladas de cana-de-açúcar para processamento na sede da cooperativa e receberia 35 litros da aguardente in natura. O restante seria engarrafado com o nome Princesa Januária para ser comercializado, mas isso não tem sido fácil.
Alambique Distrito Brejo do Amparo, MG Município de Januária
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Bagaço de cana-de-açúcar após a moagem para produção de aguardente Distrito Brejo do Amparo, Município de Januária, MG
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Mercado de Januária O mercado está instalado num galpão que ocupa uma quadra inteira, em área comercial no centro da cidade, não muito distante da feira. A Prefeitura Municipal não interfere na administração. Cada loja tem seu proprietário para vender souvenir, louça, instrumentos de trabalho para o campo ou as residências, indumentária, alumínio e objetos industrializados. Um amplo salão abriga muitas bancas de alimentos, como carne, cereais, doces e condimentos. Funciona diariamente, mas sua importância no abastecimento dos januarenses é menor do que a feira, porque alguns comerciantes desse espaço não comparecem aos sábados. As fotos mostram em detalhe produtos de artesãos nesse mercado, como berrantes para tanger o gado e chapéus de vaqueiros em modelo típico do Nordeste. As peneiras, os cestos e as vassouras feitas com a fibra das folhas de buritizeiro são outra linha de produção ajustada às necessidades das donas de casa da área, obedecendo a um antigo padrão da área rural do Estado de Minas Gerais.
A feira de Januária A feira semanal é uma das mais caras tradições das cidades nordestinas, porque os habitantes vão ali para comprar os itens importantes em seu cotidiano e operar seu modelo de relacionamento com amigos, parentes, vizinhos, fornecedores e clientes nos negócios. Os que se dedicam a atividades urbanas precisam adquirir os produtos indispensáveis à sua alimentação. Os proprietários rurais têm a oportunidade para negociar sua produção agrícola e comprar manufaturados. Os artistas conseguem espaço para apresentar suas habilidades, como cantorias e literatura de cordel. O evento não se restringe, portanto, à transação comercial, porque todos trocam informações, inteiram-se sobre as novidades locais, regionais e nacionais, esclarecem suas dúvidas sobre vários problemas e põem a prosa em dia quanto à família, aos vizinhos, aos concorrentes e aos inimigos. Januária expressa muito bem sua tradição nordestina nessa instituição-chave daquela região. É controlada pela Prefeitura Municipal, que delimitou o espaço com um muro baixo, denominou-a Feira Viva, padronizou as barracas, numerando-as Mercado Municipal Januária, MG
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e especificando o nome do licenciado, estabeleceu o sábado como seu dia e cobra uma taxa mensal do feirante. Certamente, isso inclui fiscalização sanitária, proporcionando à clientela ambiente limpo e qualidade dos alimentos à venda. É possível dizer que ali se vende de um tudo, embora haja feirantes que se fixam em determinado produto dentro de um leque bem definido. Há, então, barracas de polvilho, massa para tapioca, condimentos, doces, legumes, frutas, queijos, rapaduras, carnes, toucinho e ervas medicinais. É fácil perceber que produtos são da região. Entre os vegetais bem nordestinos, há o feijão-de-corda ou feijão catador, o maxixe, a fruta-pão e os frutos do Cerrado, como mangaba, murici, cagaita, araçá, pequi, bacupari, saputá, grão-de-galo, gabiroba, milho-de-grilo, araticum, baru e jenipapo. O mel está também presente em várias bancas e é obtido das abelhas jataí, borá-manso, cupinheira, marmelada, mandassaia, sete-portas e mumbuca. Os temperos mais comercializados são de urucum, açafrão, pimenta-do-reino, cominho, pimenta-malagueta, coentro e orégano, oferecidos moídos, secos ou em conserva. Muitos produtos que passaram por processamento apresentam peculiaridades locais, que encantam os visitantes, pois não será possível adquiri-los em outra cidade. Um deles é a rapadura mole ou com mistura de amendoim, carqueja ou coco-da-baía. Ela tem formato diferenciado e com desenho, que talvez expresse o nome do produtor. Outro é a paçoca, feita de farinha de mandioca e carne seca. Existem ainda as iguarias obtidas do pequi, como doce em compota ou em pasta, além do óleo para cozinhar e o condimento. O uso de balança é raro, pois os feirantes preferem negociar o produto numa garrafa pet ou por litro que é a medida preferencial para o feijão ou outro cereal. Há também os pacotes de polvilho ou de massa de tapioca. Os queijos são por unidade e eles pesam em torno de 1 kg. O clima é amistoso entre os feirantes que conversam sobre diferentes assuntos, socorrem no troco e dão informações aos clientes sobre que barraca vende algum produto. Todos recebem muito bem a freguesia e são capazes de identificar facilmente quem reside na cidade e quem é forasteiro. Em área especial, há uma gaiola para manter aves vivas que são vendidas para clientela específica. Existe também uma máquina usada para extrair o caldo da cana-de-açúcar, muito apreciado no Nordeste.
Alimentação dos januarenses Os januarenses consomem vários alimentos que são típicos da região. Um deles é uma massa obtida da mandioca e denominada puba. Sua preparação tem as seguintes etapas: mergulham o tubérculo com casca na água e deixam-no ali por vários dias. Quando ele fica bem macio, escorrem a água, tiram a casca e fazem muitos bolinhos. Põem ao sol para secar e esperam que endureçam. Em seguida, armazenam em local apropriado, porque vão usar essa massa, por vários meses, para fazer iguarias, como mingau, cuscuz e bolo. Outro alimento muito apreciado feito com massa de mandioca é o beiju ou tapioca, indispensável no café da manhã. Há diversos tipos de quitandas, como o biscoito escaldado, o toalha, os sequilhos, as petas e o pão de queijo. Apreciam para o almoço arroz com pequi, paçoca, feijão-tropeiro com torresmo, frango, carne de sol e, principalmente, peixe assado, frito ou cozido. Neste caso, fazem moqueca.
Feijão-catador ou feijão-de-corda e maracujá-do-mato Feira Viva Januária, MG
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Uma importante fonte de proteína é o feijão-de-corda ou feijão catador, cultivado intensamente na região semiárida, porque é colhido 45 dias após a semeadura. Os produtores livram-se, assim, de riscos de perda da safra pelo sol escaldante. É um dos produtos mais procurados na feira de Januária, em diversas fases de secagem. Sua comercialização pode ser a granel, bem fresquinho, ou seco, acondicionado em garrafas de plástico. O maxixe é um legume muito apreciado naquela área e os januarenses preferem digeri-lo refogado aos pedacinhos como mistura, no almoço ou jantar. As frutas mais consumidas são as do Cerrado ou da Caatinga, como manga, goiaba, cagaita, umbu, maracujá-do-mato, gabiroba, fruta-pão e banana.
Produtos agrĂcolas in natura, doces, condimentos e artesanato regional Feira Viva JanuĂĄria, MG
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Artesanato regional Mercado Municipal Januรกria, MG
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Galpão para comercialização de produtos agrícolas em bancas de proprietários autônomos. Mercado Municipal Januária, MG
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Celebrações populares Caracterizam-se como eventos do Catolicismo popular. São práticas culturais e musicais centenárias, com forte influência portuguesa. Os organizadores aproveitam a oportunidade para arrecadar donativos em louvor aos santos, por gosto, devoção ou pagamento de promessa. Essas festas atraem outros participantes, além dos atores, porque são momentos de alegria entre os residentes no campo ou na periferia da cidade. Terno dos Temerosos ou Reis dos Cacetes - É um evento que integra o Ciclo Natalino por devoção aos Santos Reis, havendo registro de sua existência em Januária desde 1950. Recebe também o nome de Marujada de Água Doce. Trata-se de uma mistura de Reisado, Congado e Maculelê. Existe em outros pontos do Médio São Francisco, mas sem o mesmo entusiasmo da equipe januarense. Acontece entre os dias 2 e 6 de janeiro, embora possa se apresentar, ao longo do ano, em outros eventos artísticos e culturais da região. Os participantes cultuam também Nossa Senhora da Conceição/Nossa Senhora do Rosário, tida como protetora dos negros. A figura central é o Imperador, que lidera o folguedo. O primeiro de Januária foi o pescador Norberto Gonçalves de Souza, conhecido por Berto Preto, que residia na Rua de Baixo, Colônia dos Pescadores. Ele conquistou muitos seguidores, na época em que a navegação no São Francisco era intensa entre Pirapora e Juazeiro. Atualmente, todos os integrantes são filhos ou netos de pescadores. Usam roupas de marinheiro, durante a dança, querendo expressar sua tradição, na farda complementada por espadas e bastões de madeira de 1,20 m. Reúnem-se na residência do Imperador, às 18 horas, do dia 2 de janeiro, soltando rojões que atraem seguidores para o giro pela cidade, com roteiro previamente acertado com os anfitriões. Rezam o Pai Nosso e a Ave-Maria para pedir proteção e graças. Em seguida, os maiores têm acesso ao esquenta, que é um gole de pinga da terra. Os menores ganham guaraná ou suco. A folia parte para as visitas, cantando e tendo sempre à frente a bandeira do terno. O repertório consiste de Canto dos Reis, sambas, Retirada e marchas de rua, usando instrumentos de percussão. O momento é solene durante o primeiro ato, mantendo os integrantes alinhados em fila dupla à porta da casa. Na sequência de sambas, os integrantes fazem uma roda e começam a bater os bastões, enquanto vão gingando e girando em sentido horário. É uma fase de descontração, em que a equipe aceita pedidos dos dançadores e dos anfitriões. A visita é encerrada com a retirada ou despedida dos Temerosos. O grupo se dispõe novamente em duas alas para retomar o cortejo. São sempre bem recebidos pelos residentes das casas, que ficam emocionados ao empunhar a bandeira do Terno.
Terno dos Temerosos em apresentação no Rio São Francisco Januária, MG Foto: Leo Drumond
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São servidos, geralmente, nas casas, cachaça, licor de jenipapo ou cerveja aos adultos, e refrigerante ou suco às crianças. Numa delas, há jantar, cujo cardápio é regional: arroz de pequi, farofa, picado de arroz com carne e capim-canela, entre outras iguarias. Os anfitriões depositam, depois, dinheiro em um lenço fornecido pelo Imperador ou na bandeira do Terno. O valor arrecadado serve para cobrir as despesas e financiar uma festa do grupo, no primeiro domingo após a Epifania. Canto de Reis Nós pastores, lentamente, Boas novas viemos dar Que nasceu em um presépio Que nasceu em um presépio Veio ao mundo nos salvar.
Oriente da minh’alma Três Reis Magos vêm guiar Que Jesus recém-nascido Que Jesus recém-nascido Su’ homenagem vem prestar.
Folia de Reis - Pode acontecer o ano inteiro, sempre em louvor a algum santo, como Santa Luzia, São Sebastião, São José, Santa Isabel, Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida. Durante a Quaresma, é em louvor ao Divino Espírito Santo. Trata-se de um grupo de homens que usam camisetas iguais com uma estampa de cunho religioso para visitar uma família, residente na periferia da cidade. Durante o percurso a pé, eles cantam, acompanhados por instrumentos tradicionais, como violas, sanfonas, reco-recos, bombos e pandeiros. Chegando ao destino, apresentam-se com uma saudação especial e dançam. Cada folião vai ao centro da roda como destaque, enquanto a plateia marca o ritmo com palmas. Os anfitriões servem uma refeição a esse grupo. Logo depois, chegam muitas outras pessoas. As mulheres assumem a liderança para rezar, incluindo ladainhas, agradecimento por graças alcançadas e súplicas aos santos de sua devoção. Há mais cantoria dos foliões e, depois, começa um baile que mobiliza boa parte dos presentes. É sempre aos pares de homem e mulher de diferentes idades para dançar samba ou lundu. As músicas são à moda de viola, no princípio, mas usam, depois, instrumentos mais modernos, como guitarra e teclado. Terno das Ciganas - É oriundo da Itália e chegou a Januária com Dona Estela Dourado, conhecida por Dona Tezinha. A celebração acontece entre dezembro e janeiro e há uma ligação com os ciganos. As participantes usam trajes típicos desse grupo étnico, que envolvem longas saias coloridas, blusas e lenços vermelhos e muitos colares e brincos. Festejos de Santa Cruz - Essa celebração religiosa acontece entre 27 de abril e 3 de maio. Consiste de uma Missa celebrada pelo bispo, levantamento de mastro, barraquinhas e comidas típicas. Há participação do Grupo de Jovens da Sagrada Família, grupos de oração e Legião de Maria, sob a direção de comitê organizador.
Cavalhadas em Brejo do Amparo - Trata-se de uma representação da guerra, na Península Ibérica, durante a Idade Média, entre cristãos e mouros, que teria acontecido porque a rainha moura Florípedes queria ser batizada, convertendo-se ao Cristianismo. A celebração acontece, desde 1851, de dois em dois anos, na primeira vila do Município de Januária. Formam-se dois grupos de oito cavaleiros, em traje de gala. Há os marcadores que animam a festa e recolhem donativos dos presentes. Todos os animais têm fitas coloridas e os arreios são cuidadosamente polidos. Na primeira noite, há levantamento de mastro por vários homens, apresentação de banda de música e espetáculo pirotécnico. Em seguida, um grupo de cavaleiros desfila em círculo, carregando uma tocha acesa. O rei dos cristãos e o dos mouros surgem da multidão e dirigem-se, lado a lado, ao palanque montado como uma sala de trono. O primeiro usa luxuosa roupa azul, coroa e uma capa com uma cruz, enquanto o outro segue o mesmo padrão, mas em vermelho e um sol nesse complemento do vestuário. Uma moça bonita representa a rainha Florípedes, que deseja a conversão ao Cristianismo. Um general cristão desafia o rei mouro de que raptará a rainha para batizá-la, de dentro de uma biga romana. O soberano retruca, afirmando que isso não acontecerá. Aproveitando momentânea ausência do adversário, o militar segura a mão de Florípedes e a carrega para seu veículo, partindo para fora da arena. Os cavaleiros de farda azul dão cobertura à fuga. Um deles desfila garbosamente pela arena, enquanto os mouros, usando roupa vermelha, chegam e postamse de outro lado da arena. Começa logo a simulação da luta, em que duplas partem de seu ponto para o confronto no centro. Eles disparam para o chão seu bacamarte e logo se dispersam para dar uma volta próximo à plateia e retornar ao seu posto na extremidade da arena. A banda de música nunca para de tocar e todos os cavaleiros mostram destreza para a montaria e controle de seus animais. Usam diferentes tipos de galope: carreira da porta, carreira de quebra-garupa, carreira de alcância e carreira de partir. Essa encenação é repetida por várias vezes, por diferentes duplas. Termina aí a apresentação do primeiro dia. No sábado, há a entrada solene dos dois reis, enquanto a banda de música toca. A rainha Florípedes volta e é acompanhada até o trono pelo rei Carlos Magno. Começa a apresentação das duplas de cavaleiros dos dois grupos que vão e voltam pela arena simulando batalha. Empunham seus bacamartes e atiram para baixo quando se encontram no meio. Dois palhaços ameaçam um e outro exército. O general cristão desafia novamente o rei mouro para que ele aceite a conversão ao Cristianismo e o casamento de Florípedes com o rei Carlos Magno. Os cavaleiros encenam por várias vezes a batalha. A celebração é encerrada no terceiro dia, pela manhã, com Missa na Igreja Nossa Senhora do Amparo. Os fiéis fazem uma procissão para acompanhar o crucifixo e os mastros dos cristãos e mouros, ao som da banda de música. Em seguida, o bispo batiza simbolicamente os mouros que se converteram ao Cristianismo, passando cinza na testa de cada um. Ele joga, depois, água benta nos cavaleiros cristãos. O rei Carlos Magno faz um discurso, junto à rainha Florípedes, sobre a importância da conversão, da fraternidade e do amor em Cristo. A vitória dos cavaleiros cristãos fica expressa no amor universal. O rei mouro também fala sobre isso. O organizador do evento faz, depois, o sorteio, entre os inscritos, de quem serão os protagonistas na próxima celebração. Em seguida, entrega faixas de imperatriz a duas senhoras da comunidade e presenteia com uma garrafa de cachaça os guerreiros daquele ano. A Cavalhada de Brejo do Amparo atrai muitos assistentes de vários pontos da região, que formam duas torcidas, acomodadas em arquibancadas. Reis de Boi - É conhecido em todo o país, com diferentes denominações. Há uma mistura de personagens, cantados durante
Dança de São Gonçalo (2004) Foto do arquivo Casa da Memória do Vale do São Francisco
Grupo de cavaleiros cristãos antes da Cavalhada em 2001 Distrito Brejo do Amparo, Município de Januária, MG Foto do arquivo Antônio Emílio Pereira Fotos extraídas do livro “Januária Relicário Fotográfico” Antônio Emílio Pereira - 2008
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Reis do Tamanduá, extensão do Reis de Boi (2004) Foto do arquivo Santa do Carmo Pereira
Reis de Boi, às vezes ligada ao Reis de Caixa, do Tamanduá, da Mulinha de Ouro e do Marimbondo (2004) Foto do arquivo Santa do Carmo Pereira
a folia. Além do motivo principal, o Natal, os reiseiros introduzem outros personagens, como o Boi; o Vaqueiro e a Catita, sua muié; a grávida, que deseja comer um pedaço da carne do Boi; o Tamanduá, uma figura grotesca que apavora as crianças; a Mulinha de Ouro, que ostenta roupas enriquecidas com brilho, espelhos e várias camadas de filó; o Babau, espécie de cavalo; o Caipora e o Jaraguá. Tudo gira em torno do boi. Festa dos Santos do Rio - Essa festa foi criada em 2001, como parte das celebrações dos 500 anos do descobrimento do Rio São Francisco. Seu objetivo é conscientizar a comunidade para a preservação desse precioso patrimônio natural, alertando a população quanto à redução do volume e da qualidade das águas do Velho Chico. Como foi sucesso na primeira vez, ela se fixou no calendário da cidade próximo a 4 de outubro, Dia de São Francisco. Consiste de três procissões: a imagem da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores, sai da Catedral; a de São Pedro começa na Colônia dos Pescadores, como homenagem a seu padroeiro, e a de São Francisco vem pelo rio, trazida pelos fiéis em um barco, entre mais de 100 embarcações, à luz de velas. O encontro dos participantes dos três deslocamentos acontece na areia, junto à orla, onde há Missa campal, cantorias e apresentações folclóricas e musicais. Há também show pirotécnico, marcando o que os januarenses consideram uma romaria das águas, pois justificam que os homens têm o rio dentro d’alma. Dança de São Gonçalo do Amarante - É uma celebração popular, de origem portuguesa, e não tem data certa para acontecer, porque serve para agradecer boa colheita de cereais, graça alcançada ou suplicar apoio a causas importantes, como arrumar casamento, trazer de volta o marido que sumiu, conseguir emprego ou curar-se de uma enfermidade. Serve também para pedir que chova na região. A coreografia é muito elaborada. Apenas as mulheres dançam, mas o marcador é homem. Elas se vestem de branco e trazem um arco enfeitado de papel branco de seda. Prometem ao Santo um número de rodas, que devem ser executadas. Após o cumprimento da promessa, retira-se o santo do local e começa a parte profana, chamada contradança. Apresentam-se com o ritmo de palmas e sapateados. Terno das Pastorinhas Imaculada Conceição - Integra o Ciclo Natalino. O grupo é formado por 32 pastoras, que têm entre 10 e 76 anos, mais oito instrumentistas. A coordenação é de Neide de Oliveira Cardoso. Faz saudação ao presépio de Natal, com reverência à Sagrada Família, aos pastores e aos Reis Magos. Carnaval - A cidade tinha uma celebração tradicional, que era muito animada, até os anos 1970. Querendo desenvolver o turismo, investiu bastante nesse evento, no final do século XX, a partir do modelo baiano de trios elétricos e bandas. Os januarenses pretendem que o carnaval de Januária seja o melhor do Norte de Minas para atrair muitos turistas de outras cidades e outros estados. Agora, são cinco dias de folia com aqueles recursos que vão das 20 horas até amanhecer. Os blocos Couro do Gato II, Juventude Independente, Bloco da Carne, Tô Garrado e Janucaré tomam conta da Praça Getúlio Vargas, que se transforma em passarela do samba. Há o Rei Momo e a Rainha , escolhidos no Grito de Carnaval, realizado antes. Barracas espalhadas pela praça oferecem cerveja gelada, churrasco e caldos de diferentes sabores.
Mitologia no universo dos ribeirinhos Os mitos têm especial relevância na cosmologia de uma sociedade, porque encerram crenças que atravessam gerações com explicação sistemática sobre fenômenos temidos pelas pessoas, por sua incapacidade para controlálos. Tornam-se, então, um mapa cognitivo para que todos se orientem no seu dia a dia, acautelando-se quanto a poderosas forças oriundas de um universo indevassável subjacente ao cotidiano, passível de materializar-se a qualquer momento. A partir daí, as narrativas fascinam, seduzem e submetem os indivíduos aos ditames prescritos para que sobrevivam apesar de constantes riscos. Uma ótima análise sobre esse universo é apresentada por Neves (2011), que pesquisou em Pirapora, mas os mesmos mitos eram citados pelos januarenses, em 2014. Vivendo às margens do caudaloso Rio São Francisco, podiam sofrer enchentes devastadoras no campo e nas residências, em que as famílias perdiam a maioria de seus bens em poucas horas. Sentiam também ameaças à sua vida, embora elas fossem mais prementes para os navegantes, pois seu cotidiano era pautado pelos riscos de barcos encalhados, naufrágios e afogamentos. A tripulação dos barcos ficava mais apreensiva à noite, porque o rio dorme nas horas mortas e ninguém deve mexer na água para não desencadear desgraças. Esse ambiente aparentemente perigoso demanda, então, buscar a proteção de forças sobrenaturais, que seriam conferidas pelos santos católicos para grande parcela da população do Norte de Minas. A devoção maior é pelo Bom Jesus da Lapa, o protetor do gado, da pesca, das roças e dos viajantes em vapores, barcas, ajoujos, balsas e paquetes. Daí, a necessidade de participar da romaria, no mês de agosto, à gruta sagrada, próximo a Santa Maria da Vitória (Bahia). Outros santos são louvados pelos januarenses, pois os momentos de aflição e a penúria são frequentes; daí, é indispensável pedir proteção e agradecer, logo depois, as graças alcançadas. Elas são, às vezes, pequenas vitórias, como a cura de uma enfermidade, uma viagem sem atropelos ou emprego estável para um jovem. Junto a esse universo religioso, há também um sistema de crenças em relação a entes malévolos, que podem surgir, inesperadamente, trazendo infortúnio, prejuízo ou mesmo morte. Isso exige buscar recursos especiais em amuletos e outras orações próprias do Catolicismo popular.
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Os visitantes apreciam histórias sobre as experiências dos moradores com esses entes extranaturais. Percebem que elas traduzem um universo mágico com eventos fascinantes sobre o cotidiano de um povo simples, que interpreta à sua maneira a mata, o rio, os imprevistos, as conquistas ou tragédias repletas de dor, angústia ou desencanto. Uma roda de ouvintes e contadores em torno de uma mesa com iguarias regionais pode avançar noite adentro, indicando como se constrói entrosamento entre nativos e turistas se estes querem mesmo conhecer a alma da região visitada. Em Januária, é sempre possível ouvir muitas histórias sobre seres extraordinários. A crença no Caboclo d’Água existe entre diferentes populações ribeirinhas, ao longo do São Francisco, em Minas Gerais. É chamado também de Bicho d’Água ou Negro d’Água, sendo descrito como um ser anfíbio e ubíquo, porque está em todos os lugares ao mesmo tempo. Pode ser também um moleque parrudo e de baixa estatura. Habita o fundo do rio e vem à tona para reagir contra quem lhe tira o sossego, podendo revirar a embarcação. Nesse caso, os barqueiros jogam fumo ou cachaça na água para acalmá-lo e tremem de medo enquanto fazem isso. Outros dizem que veem esse ser mítico sobre as pedras, à margem do rio, e ele foge por temer os humanos; nessa versão, ele não faz mal a ninguém. O Minhocão é uma minhoca grande, molenga e feroz. Segundo alguns relatos, ele mede 40 metros de comprimento por 70 cm de diâmetro. Tem a forma de barril, sem escamas, cor de bronze e uma boca pequena e bigoduda. É ubíquo e anfíbio. Persegue a presa para comê-la. Segundo Alves (2011:240), ele pode também virar barcos, provocar queda de barreiras e destruir roças e casas nas margens do rio. Espalha, então, medo entre barqueiros e ribeirinhos, pois pratica apenas o mal. O mito do Famaliá, o diabinho preso numa garrafa, veio de Portugal, no século XVI, pois estava presente na Bahia em 1591. É um tipo de demônio que atrai os incautos, prometendo riqueza e mulheres bonitas para quem fizer o pacto com ele, mas leva, depois, a alma do protegido para o inferno. É a explicação de muitas pessoas dali e de outras áreas de Minas Gerais quando comentam que alguém enriqueceu rapidamente. O Romãozinho é, segundo Neves (2011), um personagem mítico muito popular nas áreas rurais do Pernambuco, da Bahia e de Minas Gerais. Trata-se de um duende menino, cujo comportamento decorre das intrigas que surgiam entre seu pai, um homem violento, e sua mãe, uma mulher humilde, dedicada ao trabalho doméstico. Alguns barranqueiros afirmam que esse comportamento resultou de uma praga de mãe; e praga de mãe, todo mundo sabe, pega mesmo. Daí, ele virou um duende malfazejo. Suas artes são contadas e recontadas, despertando medo nas pessoas; por isso,
Escultura do Caboclo d’Água “Praça da Água Viva” Itacarambi, MG
Escultura da Mãe d’Água Praça da Água Viva Itacarambi, MG
os barranqueiros não desejam sua visita. Comenta-se que ele pode estourar boiadas, jogar pedras em telhado ou excrementos dentro das panelas, estragando, irremediavelmente, a comida. Quebra potes e quartinhas. Irrita os animais nos currais e pastos ou pode implicar, como o Caboclo d’Água, com algum morador a ponto de forçá-lo a mudar para outro lugar. Cavalga, às vezes, sozinho ou na garupa de vaqueiros. Apaga os candeeiros nas festas, forrós e brigas de jegues. Nessas ocasiões, bebe toda a cachaça (de preferência a Januária), deixando os festeiros na mão. Reclama se a pinga é ruim, especialmente se for catuzeira; isto é, produzida em Icatu, Estado da Bahia (Cf. Alves, 2011: 241-242). É uma figura próxima do Saci Pererê de outras regiões do Brasil, embora não seja mutilado de uma perna. O Violeiro do Rio Abaixo é um capeta exímio tocador de viola. Ele desce o rio no casco de uma cuia ou numa canoa furada. Como por encanto, aparece nas festas, no momento mais animado, e não gosta de ouvir o nome de Deus nem de Nossa Senhora. Se isso acontece, dá um estouro e desaparece, deixando um terrível cheiro de enxofre. A crença na Mãe d’Água veio com os portugueses. É uma mulher bonita, sendo metade gente, metade peixe. Seus encantos atraem os canoeiros desavisados e eles são seduzidos, desgraçando suas vidas. Tudo indica que é a versão local para a sereia, um mito presente entre muitos povos que singram rios ou mares. Ou seria a Iara da mitologia indígena. Segundo os ribeirinhos
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do Norte de Minas, ela habita um suntuoso palácio nas profundezas do rio. Vem à superfície com frequência, assenta-se nas pedras e penteia, graciosamente, seus longos cabelos de fios dourados à luz do luar. Seu olhar encanta todos que ousam fitá-la. É sensível à beleza física dos homens: gosta de jovens bonitos para seduzi-los e levá-los para o fundo do rio (Alves, 2011: 239-240). Os sertanejos moradores nas vizinhanças da Cachoeira de Pandeiros contam que os seres encantados de todo o mundo são governados por uma princesa gerada das espumas do São Francisco. É tão formosa que magnetiza quem fixa em sua silhueta, fitando seus lindos olhos de safira. Ela se preocupa muito com seus cabelos, cujos fios são de ouro e compridos até os pés. Vestese de nuvens e adora o sol e os astros da noite. Sua cútis é branca como os raios da lua e reflete uma frescura tão branda como o espelho dos lagos. Ela domina as correntezas. É vaidosa e senhora absoluta de todos os segredos mergulhados no coração das águas. Às vezes, canoeiros a surpreendem à tona dos rios, alisando os cabelos com um pente verde, imponentemente sentada num trono de pedraria. Medrosos, baixam os olhos para fugir ao deslumbre, batem os remos depressa e gritam roucos de medo: É a princesa, é a Mãe d’Água! (Saul Martins, Os barranqueiros). Os januarenses acreditam também que existe uma serpente de asas longas e corpo emplumado presa no fundo da gruta da Lapa do Bom Jesus. Se sair, matará todos os homens, exterminará os rebanhos e provocará uma seca inclemente que consumirá rios e pastos. O mundo, então, acabará. Os romeiros rezam todos os dias o Ofício de Nossa Senhora para que caiam as penas de suas asas; assim, a serpente não poderá voar nem sair da gruta. Rejeitam o peixe cari, da família dos Doradídeos, sendo conhecido também como cascudo. Ele teria ridicularizado Nossa Senhora, quando ela pediu ajuda para atravessar o rio. Virou, então, o peixe mais feio do São Francisco e ninguém gosta de comê-lo, jogando-o fora quando é pescado. Os januarenses e outros ribeirinhos dizem que já viram o vapor Matta Machado, que naufragou na Bahia e retorna em noites especiais. Apresenta-se todo iluminado e cheio de passageiros, a certa distância dos barcos que estejam navegando pelo São Francisco. Ele nunca se aproxima de qualquer vivente, não usa apito nem faz marola, porque é uma embarcação assombrada que atemoriza bastante os pescadores, tripulantes e viajantes.
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Antigos instrumentos musicais compondo o acervo para o museu que será formado na Casa da Memória do Vale do São Francisco. Foto: João Henrique Abreu
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A musicalidade em Januária Ruth Mattos
A riqueza natural que Januária possui, através do seu rio, vegetação, suas lendas e costumes, tudo isso concorre para o desenvolvimento das atividades artísticas, como música, poesia e artes em geral. Desde os primórdios da fundação de Januária, já se tem notícia do seu desenvolvimento cultural e musical. Inúmeras foram as orquestras no passado, como Euterpe, Lira Januarense, Filhas de Euterpe, a orquestra de cordas feminina do Ginásio São João e a Banda de Música do Estudante do mesmo colégio, surgindo daí a revelação de compositores e músicos januarenses. Regentes de bandas musicais: Professor Batistinha, Manoel Leite, Chiquinho Músico e Tertuliano Silva. Na regência da orquestra de cordas feminina, destacou-se a mestra Maria Alice Correa (D. Zizi). Grandes músicos se destacaram em Januária e fora dos nossos limites, como os januarenses Cláudio Correa, Raul Albernaz, Benito Juarez (este atuou na regência da sinfônica de Campinas - São Paulo), Mestre Quincas, José Ferro Velho, Manoel Acende a Vela e outros. Enriqueceram o conjunto de peças musicais no Brasil as músicas: “Amor de Mãe”, “Os sinos dobram”, “Implorando à Januária”, sendo esta da autoria da religiosa Irmã Maria de Lourdes Porto tudo tendo por cima “Januária Terra Amada”, que é considerada o hino da cidade. Ainda como músicos do passado, citamos: Basto Preto e filhos e Zé Mocó do Brejo do Amparo. Na atualidade, citamos o trabalho musical de januarenses como Jorge Silva, Zanone Campos, Choquito, Reginaldo Ribeiro, Nice Paiva, Augusto Picão. Menção honrosa às professoras de música Odalice Lagoeiro e Maria de Lourdes Magalhães.
Musicality in Januária Ruth Mattos
The natural wealth found in Januária, through its river, vegetation, legends and traditions, contributes to the development of artistic activities, such as music, poetry and arts in general. From the early days since the foundation of Januária, the city’s cultural and musical development has been widely known. Orchestras, such as Euterpe, Lira Januarense, Filhas de Euterpe, the Women’s String Orchestra of the Ginásio São João and the Student’s Music Band from that same school abounded in the past giving rise to many composers and musicians from Januária. Some conductors of music bands have also become known: Professor Batistinha, Manoel Leite, Chiquinho Músico and Tertuliano Silva. Mrs. Maria Alice Correa (D. Zizi) did a great work in the conduction of the Women’s String Orchestra. Great local musicians have gained renown in Januária and outside its limits as well, such as Cláudio Correa, Raul Albernaz, Benito Juarez (who conducted the symphonic orchestra of Campinas - São Paulo), Mestre Quincas, José Ferro Velho, Manoel Acende a Vela and others. These songs have enriched the repertoire of musical works in Brazil: “Amor de Mãe” (Mother’s Love), “Os sinos dobram” (The Bells Toll), and “Implorando a Januária” (Begging Januária), which was composed by the nun Maria de Lourdes Porto – not to mention “Januária Terra Amada” (Januária, Our Beloved Land), considered the city’s hymn. Also worthy of mention are the following musicians from the past: Basto Preto and sons and Zé Mocó do Brejo do Amparo. In our days, we can mention the musical work of januarenses such as Jorge Silva, Zanone Campos, Choquito, Reginaldo Ribeiro, Nice Paiva and Augusto Picão. Odalice Lagoeiro and Maria de Lourdes Magalhães, music teachers, deserve honorable mention.
Orquestra de cordas do Ginásio São João regida pela maestrina Maria Alice Correa Januária, MG Foto arquivo Zilma Aquino Filardi - Extraída do livro “Januária Relicário Fotográfico”, de Antônio Emílio Pereira, 2008
Moradia de trabalhador na รกrea rural de Januรกria, MG
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Santeiro e carranqueiro Liko de Oliveira enquanto esculpia no cedro um crucifixo de 104 cm. O trabalho foi realizado em quatro dias. Januรกria, MG
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Oleira Emília Nunes de Sauza em atividade no Galpão dos Oleiros do Candeal. Município de Cônego Marinho, MG
Salgamento de banha de porco Mercado Municipal Januรกria, MG
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Vendedor de raízes medicinais na Feira Viva Januária, MG
Vaqueiro no Distrito do Fabião Município de Januária, MG
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O pescador aposentado Benedito Dionísio da Silva (Seu Binu), aos 104 anos. Ele declamou a poesia de sua esposa que consta na página 49. Colônia dos Pescadores Januária, MG
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Curral para ordenha de bovinos em pequena propriedade rural no MunicĂpio de JanuĂĄria, MG
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O falso prefeito de Januária em Belo Horizonte
The false mayor of Januária in Belo Horizonte
Foi em uma das viagens a Januária que conheci um rapaz cheio de histórias para contar - Pelotinha (leia-se Pilotinha). Moço engraçado, que se tornou um ótimo amigo. Entre idas e vindas à cidade do norte mineiro, a afeição por ele e por sua família foi crescendo e a curiosidade também. Por que te chamam de ‘Pilotinha’?, eu quis saber. Ora, porque sou filho de Zé Pelota (leia-se Zé Pilota), respondeu ele.
It was in one of my trips to Januária that I met a guy who was full of stories - Pelotinha (or Pilotinha). Funny guy, who became a great friend of mine. During the many trips I made to that city of Northern Minas, my affection for him and his family, as well as my curiosity, kept growing. Why do they call you ‘Pilotinha’?, I asked. Why, because I am Zé Pelota’s son (or Zé Pilota), he answered.
A amizade atravessou o tempo e, com isso, tive o privilégio de conhecer Seu Zé Pilota, grande contador de causos. Casado com dona Fátima, homem religioso, adepto do futebol com os amigos e voluntário das causas sociais do município - ajudou a construir a nova sede da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Januária.
Our friendship crossed the borders of time, and I had the privilege of meeting Mr. Zé Pilota, a great storyteller. Married to Mrs. Fátima, he was a religious man who loved a good soccer match with his friends and a volunteer for social causes of the city – he helped in the construction of the new headquarters of the Association of Parents and Friends of the Disabled (Apae) of Januária.
E foi nos jardins acolhedores de sua casa, entre flores plantadas por dona Fátima, que Zé Pilota me recebeu contando casos de sua cidade. Assim, indaguei sobre a origem de seu apelido. Contou-me que, quando criança, ajudava a família a levar a criação de porcos para ser vendida na feira de Januária. Vinham em um carro de boi desde a fazenda, nos arredores de Januária, até a feira do sábado que acontecia no centro da cidade. No trajeto com seu estilingue ele vinha dando pelotadas certeiras nos cupins e troncos de árvores.
It was in the pleasant gardens of his house, between flowers planted by Mrs. Fátima, that Zé Pilota welcomed me, while telling stories from his cities. So, I inquired him about the origin of his nickname. He then told me that, when he was a child, he helped his family to carry pigs from the farm to the market where they were sold in Januária. They came in an ox-pulled cart all the way from the farm, in the outskirts of Januária, to the market held every Saturday in the middle of the city. On the way, with his sling, he threw unerring stones (pelotas) on termites and tree barks.
Paulo César Ricaldone Barbosa
E foi lembrando de sua infância que Seu Zé Pilota me contou uma de suas histórias. Segundo ele, quando vinha para a cidade acompanhando seu pai, trazia porcos de diversos tamanhos “trazia de 7 kg, 8 kg, até de 50 kg nós levava moço” para serem comercializados em Januária. No entanto, o comércio para ele não se mostrou muito promissor, pois o único comprador de porcos que havia na cidade descontava “míseros” 13 kg por porco a título de barrigada - Barrigada, segundo os costumes da região, significa as vísceras do animal, que não têm valor comercial independente do tamanho e do peso. Assim, ao longo do tempo, verificou que o negócio não estava trazendo os frutos que toda família esperava, vez que às vezes, quando se tratava de porcos de pouco peso, como os de 7 kg por exemplo, a conta ficava negativa, leia-se menos 6 kg de saldo devedor, e assim o comprador fazia o balanço das compras, o que contribuía para a vida apertada de toda a família Pilota. Nesse contexto, Zé Pilota verificou que algo estava errado e que essa não era a vida que almejava para si. Assim, segundo conta, resolveu encarar os estudos com afinco para que seu destino não fosse tão duro como vinha sendo, e assim o fez. De volta ao personagem principal, nosso amigo Pilotinha, filho de Seu Zé Pilota, moço protagonista de várias e várias histórias hilariantes, sendo uma delas, na minha opinião, a campeã. Certa vez, por acaso, descobri que um dos sonhos do meu amigo Pilotinha era conhecer uma determinada Casa Noturna da capital e, em um de seus aniversários, resolvi realizar esse sonho. Ao adentrar a casa, anunciei ao gerente que se tratava do aniversário de uma pessoa muito importante, o futuro prefeito de Januária, tudo isso sem contar para o meu amigo aniversariante.
Paulo César Ricaldone Barbosa
One day, Mr. Zé Pilota told me one of his stories about his childhood. According to him, when he was coming to the city with his father, they were bringing pigs of various sizes - “some weighed 7 kg, 8 kg, even 50 kg” – to be sold in Januária. However, such commerce did not show itself very promising to him, since the only buyer used to discount “scarce” 13 kg per pig because of the guts, which did not have any commercial value – regardless of the animal’s size and weight. Therefore, as time passed, they realized that such business did not produce the fruits expected by the family, since, sometimes, when pigs did not weigh much, as was the case of, for example, those of 7 kg, the result was negative, -6kg of balance due, and thus the buyer balanced his purchases, contributing to the poor lifestyle of all the family. In that context, Zé Pilota realized that something was wrong and that was not the kind of life he had longed for. So, according to him, he decided to study hard to have a better destiny, and that’s what he did. But back to our main character, our friend Pilotinha, son of Mr. Zé Pilota, leading figure of many hilarious stories, one of which, in my opinion, supersedes them all. One day, by chance, I found out that one of the dreams of my friend Pilotinha was to know a certain nightclub in Belo Horizonte (the capital) and, in one of his birthdays, I decided to make that dream come true. When I entered the house, I announced to the manager that it was the birthday of a very important person, the future mayor of Januária, without telling anything to my friend.
153 Dito isso, em um momento do espetáculo da casa, foi anunciado ao microfone um caloroso parabéns para o futuro prefeito de Januária e, como cortesia da casa, foi também dado como presente um simbólico bolo para Pilotinha, ao “Futuro Prefeito” de uma noite. No entanto, não se trata do bolo que você leitor imagina, pois de dentro dele, ao invés de ser recheado com as delícias de confeitarias, saiu uma linda representante da casa que, de forma entusiasmada, bradava vivas ao “Futuro Prefeito” por uma noite. Na casa, havia várias personalidades políticas importantes que, confusas, resolveram perguntar ao jovem moço se era uma verdade. Pilotinha, no entusiasmo do grande presente, respondeu: “Moço, essa pergunta é difícil de responder, mas hoje eu sou sim!” E haja história... Em nosso último encontro, saboreando uma deliciosa peixada preparada na fazenda Santo Antônio e apreciando uma cachaça Amburana, Zé Pilota divertia os presentes com seu jeito vivo de contar suas histórias. Dona Fátima, com sua fala mansa, disse: Zé está bom como um coco! Um colega de mesa solta: Ihhhh, Zé! Lá em minha cidade pra mulher falar assim da gente, tem que soltar o cartão! E dona Fátima retruca: É, mas tem coco de todo tipo... Ihhhhhhh Zé Pilota! Agora, moço, você vai ter que jogar pelotas é no cofrinho! Brincadeirinha! Se bem conhecemos dona Fátima, ela dá muito mais valor a pétalas do que a moedas!
That said, in a moment of the show, the microphone announced a resounding “happy birthday” to the future mayor of Januária and, as a courtesy, a cake would be given as symbolic gift to Pilotinha, the ‘future mayor for one night”. However, this was not the type of cake the reader is probably thinking, because, inside of it, instead of delicious treats, a beautiful girl from the house came out and, enthusiastically, cried “long live the future mayor for one night”. In the house, there were several political personalities who, confused, decided to ask the young man if that was true. Pilotinha, elated with that great gift, answered: Man, that’s not an easy question to answer, but today I really am. And the stories were many... Last time we met, while savoring a delicious fish prepared in the Santo Antônio Ranch and drinking an Amburana (cachaça), Zé Pilota entertained his guests with his lively way of telling stories. Mrs. Fátima, talking softly, said: Zé is as good as a coconut! One of the guests said: Wellllllll, Zé! In my town, a woman says something like that only when you open the savings box! And Mrs. Fátima replied: Yes, but you have all kinds of coconuts... Well, Zé Pilota, now, buddy, you will have to throw stones upon the savings box! Just kidding! Knowing Mrs. Fátima as we do, she values petals much more than coins!
Vale do Ribeirão Pandeiros Município de Januária, MG
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Capítulo IV O Ribeirão Pandeiros A Serra do Gibão situa-se no Município de Januária, mas predomina ali um planalto bem uniforme, com altitudes acima de 500 metros, que se estende para o sudoeste da Bahia . É uma região de Cerrado, com muitas nascentes, florestas residuais, lagoas marginais e veredas de buritizeiros. Algumas dessas florestas são do tipo estacional, semidesideral. Nessa área, a 48 km de Januária, começa o Ribeirão Pandeiros, próximo da nascente do Córrego dos Bois, que toma a direção oeste e torna-se afluente do Rio Carinhanha, delimitação entre os estados da Bahia e de Minas Gerais. Enquanto isso, o Pandeiros segue no sentido sudeste, bordeja a Serra da Mescla e separa, por um pequeno trecho, o Município de Januária do de Bonito de Minas. Ele recebe, nesse percurso, vários afluentes, que vêm, especialmente, das serras da Mescla e dos Tropeiros, no Município de Bonito de Minas. Um deles é o Córrego Catolé; outro é o Riacho Borrachudo. No curso principal, a água é cristalina. Os peixes, vivendo em Área de Preservação Ambiental (APA), ficam mais protegidos de redes ou outros instrumentos de pesca nocivos à fauna fluvial. São, às vezes, muito grandes, tendo o ribeirão como lar seguro e saudável, pois ele está livre de agentes tóxicos. O fundo é coberto por vegetação aquática, indicando a inexistência de poluição orgânica ou material, tão comuns nos rios brasileiros, alvos do descarte irresponsável de esgoto sanitário ou lixo, especialmente de plásticos ou vidros de prolongada decomposição. Existem muitos aguapés na calha principal e nas bordas, mas eles não indicam sujeira do ribeirão. Apresentam, ao contrário, um sistema sucessório da vegetação, mostrando folhagens mais novas e outras mais antigas. Podemos supor que eles estejam, talvez, protegendo o Pandeiros de intensa evaporação, pela alta incidência solar naquela área; isso contribuiria para preservar a reserva hídrica de todo o vale. Há uma mata de babaçu próximo à cidade Bonito de Minas, cujo fruto é muito apreciado pela população local, pois as sementes oleaginosas têm vários usos industriais, além de serem comestíveis. As folhas e espatas são também matéria-prima para a cestaria ou cobertura de habitações rústicas. As árvores podem atingir 20 metros de altura, conferindo beleza singular ao descampado. Os frutos existem às centenas em grandes cachos. As veredas de buritizeiros são outro encanto do Vale do Ribeirão Pandeiros, sendo que uma delas tem 42 km de extensão.
Tratam-se de afloramentos de água, sendo, frequentemente, mata ciliar de algum córrego, e quebram, de alguma maneira, a monotonia de vegetação rasteira do Cerrado. Uma vereda caracteriza-se como campo ou terreno brejoso situado em encosta, perto de cabeceira de rio, geralmente coberto com vegetação rasteira graminosa. Pode ser também uma região na Caatinga localizada entre montanhas e em vale de rios com mais água e vegetação. No Cerrado, encontra-se, entretanto, junto a cursos d’água orlados por buritizais. Centenas de frutos formam também grandes cachos que mostram a vitalidade da árvore. Os limites brancos apresentados em fotos deste livro são o contorno natural, delimitando o solo hidromorfo de vereda do solo de Cerrado e Caatinga. Um buritizeiro é aproveitado de diferentes maneiras: as palmas podem ser cobertura de casas rústicas; as drupas são matéria-prima para fazer doces e as sementes oleaginosas permitem produzir óleo para cozinhar e são usadas também para amaciar e envernizar o couro. É também possível extrair um líquido que, após a fermentação, transforma-se no vinho de buriti. Fornece ainda um palmito que pode passar por processos industriais e ser vendido em centros urbanos. Há sete lagoas nesse Vale do Ribeirão Pandeiros, como a conhecida Lagoa Azul, que fica próximo a um reservatório desativado que pertencia à Cemig. A usina foi instalada no braço direito desse curso d’água para gerar energia para a região, em 1958. Quanto ao lago, ele era maior, mas a formação de pastagens e o desmatamento estão inviabilizando sua sobrevivência. Na descrição de Saul Martins, o Poço Verde alegrava muito, em 1960, a vida naquele pedaço de sertão bruto. Ele fica a pouco mais de cinco léguas do Ribeirão Pandeiros, próximo das vertentes do Rio Pardo. É redondo e, naquele tempo, parecia um círculo de esmeralda líquida a refletir raios verdes no arvoredo que o circundava, conferindo grande beleza à área. Mitigava
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também a sede das pessoas que dele se aproximavam. As araras e os periquitos que o sobrevoavam tomavam a cor de suas águas e aumentavam o colorido. Tudo era verde! Continua existindo, mas é hoje um poço barrento sem a vegetação exuberante de outros tempos que assegurava o encanto das redondezas. É melhor seguir com as impressões de Martins, para sentir como a natureza, sem a pesada mão do homem com suas práticas destrutivas, propicia prazeres maiores. Esse autor continuou descrevendo: “Sua água é gostosa e, no copo, clara como a prata. Não cresce nem diminui. Seu nível é constante. Talvez levado pelo parentesco da cor, aquele poço é o bebedouro preferido pelas cobras verdes, pelos calangos, periquitos e jandaias. Até suas piabinhas são pontículos verdes que cintilam na intimidade das águas. Dizem os moradores das cercanias que o Poço Verde é filho de uma fada. Dentro dele, residem vários animais. Por baixo de suas águas, há uma linda cidade e grandes tesouros. À noite, não raro, do seu seio emergem relinchos de cavalos, mugidos de bezerros ou, nas madrugadas, ouve-se o cantar de galos e seriemas. É encantado” (Martins, 1960: 45).
Ribeirão Pandeiros Município de Januária, MG
As fotos aéreas registram a sinuosidade do Ribeirão Pandeiros, que, em meio a uma área tão plana, buscou, naturalmente, fendas mais profundas no relevo para jorrar até o Rio São Francisco, conferindo mais beleza ao local. Isso aumenta o espaço de irrigação natural, beneficiando os transeuntes com mais água para saciar a sede ou mesmo contemplar uma região mais bonita e atraente. Em alguns pontos, a mata ciliar confere mais proteção ao Ribeirão Pandeiros, mantendo o nível de oxigenação da água mais alto e servindo de abrigo seguro da fauna local. A população humana nesse vale é rarefeita, mas trata-se de bom espaço para lazer em acampamento, pois suas águas são cristalinas e a vegetação permanece exuberante, mesmo no tempo da estiagem, numa região em que o desgaste das árvores é muito intenso. Propicia, então, um ambiente de paz, aspiração de quem busca descanso do estresse urbano junto à natureza. Apesar de poucos desníveis no terreno, há três cachoeiras: Cachoeira das Pedras, Cachoeira do Buriti e Balneário de Pandeiros. Uma delas tem três metros de altura e 15 de largura. Em outros tempos, o Ribeirão Pandeiros era mais caudaloso e os jovens faziam canoagem, aproveitando as corredeiras. Seu volume diminuiu muito nos últimos tempos. Esse curso d’água amplia-se, a um quilômetro de sua foz, no Rio São Francisco, em um pântano, que é único em Minas Gerais, como planície inundável. Ele constitui o berçário de 70% dos peixes do trecho mineiro do Médio São Francisco, pois a riqueza hídrica protegida pela exuberante vegetação propicia ambiente salutar para a piracema, que ocorre todos os anos, entre novembro e fevereiro. Estão catalogadas 82 espécies de peixes que se abrigam ali, como surubim, dourado, curimatã-pacu,
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pirá, traíra e pacamã. Algumas estão ameaçadas pela introdução de peixes estranhos à bacia, como o tucunaré, o mambaqui e a tilápia. Esse pântano é também ambiente favorável para outros animais, como iguanas, jacarés, jaguatiricas, macacos e serpentes. Entre as aves, destacam-se carcarás, corujas-buraqueiras, papagaios, garças, gaviões, tucanos e patos-pretos. Esse tesouro natural justificou a criação da Área de Preservação Ambiental, para que haja proteção oficial de ações predatórias do homem por pesca, caça, extrativismo ou agropecuária. O Instituto Estadual de Florestas (IEF) tem o Projeto de Desenvolvimento Sustentável da Região de Pandeiros, Gibão e Cochá para conciliar atividades produtivas que assegurem desenvolvimento social, econômico, tecnológico e ambiental, respeitando as premissas de conservação da biodiversidade. Ele identifica milhares de nascentes no Vale do Pandeiros, com água de boa qualidade em pleno semiárido do Norte de Minas. Reconhece, entretanto, que esse paraíso está ameaçado pelo desmatamento, por queimadas, pela exaustão do solo e por uma população ribeirinha sem instrução que abrange 10 mil pessoas em 40 comunidades. A solução estaria no desenvolvimento de atividades econômicas alternativas, como agropecuária de subsistência, extrativismo do pequi e formação de tanques para criação de peixes sem explorar a mão de obra infantil. Isso implicaria retirar os habitantes das veredas e recuperar as áreas degradadas. Seria, então, um pacto coletivo para proteger bem os recursos naturais.
Veredas do Ribeirão Pandeiros Área de Proteção Ambiental Estadual Cochá e Gibão
Veredas na APA do Ribeir達o Pandeiros
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Veredas na APA do Ribeir達o Pandeiros
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Babaรงu
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Buriti
Terceira Cachoeira do Balneรกrio do Ribeirรฃo Pandeiros
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Segunda Cachoeira do Balneรกrio do Ribeirรฃo Pandeiros
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Ribeirão Pandeiros Município de Januária, MG
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Ribeirão Pandeiros Município de Januária, MG
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Flora Fotos: Fernanda Mann Azevedo
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Veado fêmea Foto: João Marcos Rosa
Capivara Foto: Juninho Motta
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Iguana Foto: Juninho Motta
Tamanduรก-bandeira Foto: Joรฃo Marcos Rosa
Aves Fotos: Fernanda Mann Azevedo
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Lagoa Azul Vale do Ribeirão Pandeiros Município de Januária, MG
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Ribeirão Pandeiros Bacia Hidrográfica do São Francisco Município de Januária, MG
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Cachoeira do Gavi達o, no Rio Carinhanha Divisa de Minas Gerais e Bahia
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Rio Carinhanha Divisa de Minas Gerais e Bahia
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Formação Geológica Urucuia
Rio Peruaçu, que divide os municípios de Itacarambi (margem esquerda) e Januária (margem direita)
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Capítulo V O Vale do Rio Peruaçu A nascente do Rio Peruaçu está extinta, mas ele é alimentado por olhos d’água existentes no antigo leito que começa entre os municípios de Bonito de Minas e Cônego Marinho, acima da nascente do Riacho Borrachudo, afluente do Ribeirão Pandeiros, numa área conhecida como Chapadão das Gerais. Ele toma, em seguida, a direção norte e, depois, sudeste, atravessando o território de Cônego Marinho, abaixo da Serra do Carmo. O Peruaçu bordeja, logo depois, a reserva indígena dos Xakriabá, que se situa no município São João das Missões, e entra na área do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, tornando-se subterrâneo na Caverna do Janelão, antes de desaguar no Rio São Francisco, entre os municípios de Itacarambi e Januária. Está inserido na região semiárida, englobada pelo Polígono das Secas. Recebe, portanto, assistência da Sudene. O Rio Peruaçu é muito importante para os Xakriabá, mas foi afetado pela pavimentação da estrada que liga Cônego Marinho a Miravânia, em 2011, porque houve retirada de muita água em pouco tempo. Muito óleo do motor de sucção foi derramado nele e nas lagoas que servem para desova dos peixes. A obra causou também erosão e afetou as veredas, oásis de buritizeiros e de várias outras espécies de plantas, aves e animais.
O Parque Estadual Veredas do Peruaçu, no Município de Bonito de Minas Essa Área de Preservação Ambiental (APA) foi criada em 1994, ficando sob a administração do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Situa-se nos municípios de Bonito de Minas, Cônego Marinho e São João das Missões. Tinha, inicialmente, uma área de 31.226 ha, mas foi ampliado para 151.897 ha. Ficou, então, com um perímetro de 326.305 metros, abrangendo dois ecossistemas distintos. Existem nele seis lagoas: Jatobá, dos Patos, do Meio, Junco, Carrasco e do Jacaré. Sua fauna é diversificada, encontrando-se aí veado-mateiro, lobo-guará, jaguatirica, mico-estrela, onça-parda, tamanduá-bandeira, caititu, tatu, paca, jacaré, jararaca, cascavel e sucuri. Estão catalogadas 250 espécies de pássaros, como o mocó, a maritaca e o quem-quem. O animal mais misterioso é o mamífero conhecido por cachorro-vinagre. Trata-se de quase uma figura mítica, diante da dificuldade para encontrá-lo na mata ou da distância que ele mantém dos aglomerados humanos. Segundo Bourscheit (2012), o cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é um animal muito arredio e com hábitos praticamente desconhecidos pela ciência; até pesquisadores teriam admitido ser ele um fantasma. A espécie foi descrita em 1842 pelo dinamarquês Peter Wilhelm Lund, considerado o pai da paleontologia brasileira. Desde então, os últimos relatos oficiais em Minas Gerais foram rastros e dois animais mortos. Em 2012, um exemplar vivo foi filmado no Parque Estadual Veredas do Peruaçu. Isso foi possível com armadilhas fotográficas instaladas numa parceria entre o WWF-Brasil e o Instituto Biotrópicos.
Veredas do Ribeirão Pandeiros Área de Proteção Ambiental Estadual Cochá e Gibão
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O cachorro-vinagre tem pelagem marrom escura, corpo alongado de até 70 cm, pernas e orelhas curtas e pesa cerca de 5 quilos. Existe no Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia e é um dos menores e mais sociáveis canídeos da América do Sul, pois forma bandos permanentes com até uma dezena de animais. “Isso permite ao grupo caçar presas de grande porte. Esse comportamento não é visto em outras espécies, como o lobo-guará, o graxaim ou a raposa-do-campo”, disse Frederico Lemos, professor na Universidade Federal de Goiás. A espécie está em situação vulnerável no país e ameaçada em Minas Gerais. Desmatamento, conflitos com populações, ataques e transmissão de doenças por animais de estimação são seus principais inimigos. Daí, a importância da conexão entre áreas protegidas, do respeito à legislação em propriedades rurais e dos cuidados com a saúde de animais domésticos em todo o Vale do Rio Peruaçu, onde o registro ocorreu. Segundo Ferreira (s/d), havia um cachorro-vinagre no Zoológico de Belo Horizonte, tempos atrás. Ele decidiu estudá-lo no Vale do Peruaçu e teve dificuldade para encontrá-lo. Usou câmeras instaladas em alguns pontos para fotografá-lo à noite. Ele se alimenta exclusivamente de outros animais, podendo capturar tatus e pacas. A região faz parte do Mosaico de Unidades de Conservação Sertão Veredas-Peruaçu, que se espalha por quase dois milhões de hectares do norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia. Para o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Michael Becker, a descoberta reforça a importância das unidades de conservação para o Cerrado. “O registro deixa claro o papel das áreas protegidas, especialmente no Cerrado, que tem menos de 3% de sua área efetivamente resguardada pelo poder público. Só assim o Brasil conseguirá cumprir suas metas de conservação da biodiversidade e manter serviços ambientais, como regulação do clima e fornecimento de água”, ressaltou. A parceria entre o Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil e o Instituto Biotrópicos está ampliando o monitoramento científico sobre mamíferos de médio e grande porte no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e nos parques estaduais da Mata Seca e Veredas do Peruaçu.
Cachorro-vinagre
Por Célio Valle
No Parque Estadual Rio Peruaçu há indícios da existência do cachorro-vinagre. O cachorro-vinagre, também conhecido como cachorro-do-mato-vinagre, janauira, perro-vinagre (em língua espanhola), jaguara-caipora (termo indígena) ou jagua yvyguy (em língua guarani), é nativo da mastofauna da América do Sul e foi descrito e denominado cientificamente pela primeira vez por Peter Lund entre 1838 e 1842. O cachorro-vinagre pertence à família Canidae, gênero Speothos venaticus (Lund, 1842). Na “Quarta memória sobre a fauna das cavernas”, Peter Lund registrou a história da captura de dois exemplares vivos de um “misterioso animal”: “Até agora não inclui na lista dos animais vivos desta região um mamífero cuja existência já conhecia, mas cuja posição no quadro sistemático não podia determinar bem, por causa da carência de seu estudo anatômico. Alguns caçadores tinham-me falado de um animal que se encontra às vezes nas matas, semelhante ao cão, .... É encontrado em pequenos bandos a caçar, com latidos parecidos com os cães. De todos os caçadores que, desde muitos anos interrogo a esse respeito, só três declaram ter visto pessoalmente esse mamífero... Afinal, depois de ter prometido durante muitos anos um prêmio elevado à pessoa que me trouxesse um desses animais, tive há alguns dias o prazer de ver satisfeito o meu desejo antigo... Com auxílio de cacetes conseguiram derrubar dois deles, que trouxeram. Um estava muito machucado e morto; o outro ainda vivia, tendo eu esperança de salvá-lo. Tinha, pois, diante de mim, o misterioso animal! Reconheci imediatamente que se tratava de uma espécie nova, ainda não descrita”. Esse pequeno cão silvestre de patas, cauda e orelhas curtas é registrado em ambientes florestais e frequenta de preferência o interior e a borda das matas ciliares, formando grupos cooperativos de caçadores diurnos que se escondem à noite em tocas. São os mais sociais dos canídeos do Brasil, podendo se reunir em matilhas familiares e hierarquizadas de quatro a dez indivíduos. Dentro da pequena matilha, apenas um casal é dominante. Parece que só a fêmea desse casal dominante se reproduz com sucesso. O cachorro-vinagre é considerado inimigo natural das pacas, mas caça também cutias, ratos-de-espinho, gambás, tapitis, patos, rãs, répteis, etc. Ele frequenta rios e lagos, mergulha e nada com certa facilidade, entrando na água em perseguição de suas presas. Apesar da sua ampla distribuição zoogeográfica, América do Sul, o cachorro-vinagre é o mais raro e menos conhecido canídeo vivo na América do Sul e vem desaparecendo regionalmente. Trata-se de um sensível “fugitivo da cultura”, pois se extingue à medida do avanço de grupos humanos e sua cultura. Ele é hoje classificado pela IUCN como vulnerável. Célio Valle (Biólogo - extraído de: Valle, Célio - Janauira, ou cachorro-do-matovinagre de Peter Lund, Belo Horizonte, 2002, 40 p. CDD: 599.74442)
Bush Dog By Célio Valle
At the Rio Peruaçu State Park, evidence can be found for the existence of the bush dog. The bush dog, also known as cachorro-do-mato-vinagre (bush vinegar dog), janauira, perro vinagre (in Spanish), jaguaracaipora (in the indigenous language) or jagua yvyguy (in the Guarani language), is a native animal from the mammal fauna of South America and was described and scientifically named for the first time by Peter Lund, at some point between 1838 and 1842. The bush dog is part of the Canidae family, species Speothos venaticus (Lund, 1842). In his “Fourth Memory about the Cave Fauna”, Peter Lund recorded the history of the capture of two living specimens of a “mysterious animal”: “So far I have not included in the list of living animals of this region a mammal whose existence I already knew, but whose position in the systematic chart I could not accurately determine, due to the lack of the academic study thereof. Some hunters had already told me about an animal that is found, sometimes, in the woods, similar to a dog, .... It is found in small groups hunting, with a bark similar to that of a dog. Only three of the hunters I have interviewed stated having seen such mammal... Finally, after promising for many years a high prize to the person bringing me one of those animals, I had, a few days ago, the pleasure of having my old desire satisfied... With the help of clubs, they were able to knock down two of them, which they brought to me. One of them was seriously injured and dead; the other one was alive, and I had hopes of saving it. I had, therefore, right in front of me, a mysterious animal! Immediately I realized that it was a new species, not yet described”. This small wild dog with short paws, tail and ears has been seen in the woodlands and prefers to live in the innermost and at the outer circles of riparian forests, forming cooperating groups of daytime hunters that hide in burrows during the night. They are the most gregarious among all Brazilian canidae, gathering in hierarchical family groups of 4 to 10 individuals. Within the small group, only one couple is dominant. It seems that only the female of that dominant couple is capable for reproduction. The bush dog is considered the natural enemy of pacas, but it also hunts agoutis, echimyidae, possums, tapetis, ducks, frogs, reptiles etc. It can be seen in rivers and lakes, is a good swimmer and diver, entering into the water after its prey. Despite its wide zoogeographical distribution in South America, the bush dog is the rarest and least known existent canid in the continent and has been gradually disappearing from the region. This animal is a very sensitive “culture fugitive”, inasmuch as it becomes rarer when humans advance over its habitat. It is now classified by the IUCN as vulnerable. Célio Valle (Biologist – extracted from: Valle, Célio - Janauira, ou cachorro-domato-vinagre de Peter Lund, Belo Horizonte, 2002, 40 p. CDD: 599.74442)
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Cachorro-do-mato-vinagre Foto: Jo達o Marcos Rosa - NITRO
A tribo Xakriabá Os Xakriabá vivem numa reserva situada no Município de São João das Missões. Sobreviveram ao contato com os bandeirantes, entre os séculos XVII e XVIII, e, depois, com as frentes pecuaristas e garimpeiras. Pertencem à família linguística Jê, conforme identificação no Handbook of South American Indians. A subdivisão é Akwe. Esse grupo abrangia 9.196 pessoas, em 2010, segundo levantamento da Funasa, distribuídas entre 27 aldeias e 25 subaldeias. No século XVIII, os missionários promoveram o aldeamento para catequizar e dominá-lo. Impuseram-lhe o Catolicismo, a língua portuguesa e as tradições europeias. Há, atualmente, conversões ao protestantismo, que não admite a conciliação com a crença em Yayá, ao contrário do que acontece com os católicos. A figura mais forte na religiosidade Xakriabá é São João dos Índios, que é o santo mais festejado e solicitado. Os indígenas contam que uma imagem foi encontrada em tronco de árvore, mas os jesuítas levaram-na para a igreja de Matias Cardoso. No dia seguinte, ela estava no lugar anterior, e assim ocorreu várias vezes. Os missionários perceberam que, se o santo não ficava naquele templo, isso era milagre. Fizeram, então, uma capela no local e São João tornou-se o santo padroeiro da comunidade. Os Xakriabá fazem novenas com peregrinações para obtenção de graças, como chuva abundante. Outra prática é a confecção de lapinhas, espécie de presépio ornado com flores de papel ou plantas verdes; é muito usado pelas moças em busca de marido. Rezadores, raizeiros e curandeiros realizam rituais para lidar com o sobrenatural. A doença é vista, muitas vezes, como resultado de feitiço e apenas o curandeiro é capaz de vencê-la. Usa para isso fumigações e rezas na língua “dos antigos”. A Terra Indígena Xakriabá foi homologada em 1987. Em 2003, foi anexada a ela a Xakriabá Rancharia. Situa-se no Vale do Peruaçu, onde existem pequenos rios temporários e permanentes. Há ali maciços de calcário com cavernas. A vegetação predominante é o Cerrado, mas existem também trechos de Mata Seca e veredas. Os Xakriabá caçam veados, cotia, tatu, coelho, raposa, tamanduá, gambá e seriema. Alguns animais se encontram em extinção, devido à caça sem controle e fora de época. Eles também coletam frutos, tais como cagaita, cabeça-denegro, jabuticaba, maracujá, melão-de-são-caetano e xixá. Como houve alteração do ecossistema e competição por alimentos, ficou impossível a sobrevivência do grupo nos moldes tradicionais de sua organização social. Ele adotou, então, a agricultura como atividade econômica predominante. Nas roças feitas nos lugares secos, plantam feijão-andu, mandioca, batata-doce e gergelim. A agricultura desenvolvida nos baixios é diferente quanto ao método de plantio e aos produtos cultivados, pois a área é muito fértil e irrigada; logo, a intensidade da exploração é maior. Lá são plantados feijão das águas, arroz, banana, canade-açúcar, milho, cará, mamão, fumo, mamona, alho e cebola. A cana-de-açúcar é transformada em rapadura em engenhos comunitários. Ela é importante para o acesso ao mercado regional, pois garante ao grupo a obtenção de bens que não produzem: café, roupa, cigarros, sal, fósforos etc. Há ainda criação de gado por várias famílias. Quase todos têm cavalos, que são fundamentais para a circulação das pessoas na reserva. Os Xakriabá não se detêm no conceito de propriedade privada no que tange à posse da terra. Os critérios para definir o acesso à posse baseiam-se na maturidade do indivíduo, geralmente identificada a partir da efetiva constituição da família. O novo chefe de núcleo familiar tem o direito de optar por qualquer parte da terra para instalar sua roça e construir sua casa. Eles se casam em torno de 14 a 16 anos de idade. Vão viver, geralmente por um ano, na casa dos pais da noiva, a não ser que os pais do noivo tenham melhor condição. Esse período é o tempo necessário para a construção da casa e abertura da roça para o novo casal. Podem, então, instalar-se por conta própria, na aldeia dos pais, pois as alianças se estabelecem, preferencialmente, entre membros de uma mesma aldeia e/ou de uma mesma família.
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“Quem pinta o corpo pinta a alma: Jovem mulher Xakriabá durante festa tradicional de seu povo” Terra Indígena Xakriabá - São João das Missões/MG Foto: Edgar Corrêa Kanaykõ
O cacique lidera a comunidade como um todo e é responsável pela sua representação externa e pela solução de questões interétnicas. É também o principal articulador de soluções internas que evitem o conflito. Cada aldeia tem o seu representante, com as mesmas funções do cacique quanto às suas questões internas. Cada uma tem o seu conselho, que é composto pelos chefes das famílias daquela comunidade. O toré é dançado no meio do mato. O terreiro é precedido de uma área onde fica a árvore sagrada, que define quem deve ou não ter acesso ao local. A árvore é um coqueiro de três galhas, visível somente àqueles que Yayá considera aptos para visitar o espaço. O chão é batido e limpo de toda vegetação, tem forma retangular e fica próximo às grutas, morada de Yayá. Numa de suas extremidades, há um monte de pedras, onde se guardam os objetos do ritual, inclusive os restos da bebida sagrada com propriedades alucinógenas. Edvaldo Gonçalves de Oliveira (Dé) liderou a criação do Projeto Casa de Cultura Xakriabá, na aldeia Sumaré, para iniciar outras pessoas da comunidade no artesanato. Esse artesão ampliou um barraco, onde já trabalhava fabricando objetos indígenas, e encontrou logo parceiros, especialmente a Faculdade de Educação (FAE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que mantém o Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas, desde 2004. A Prof.ª Ana Maria Rabelo Gomes e a Associação Indígena Xakriabá Aldeia Barreiro Preto obtiveram recursos da Província de Modena (Itália), que financia aquela unidade através da ISCOS - Emilia Romagna. Há também apoio da Prefeitura Municipal de São João das Missões. Esse projeto envolve a construção da sede e o Ponto de Cultura Loas, financiado pelo Fundo Estadual de Cultura para as atividades de artesanato, as oficinas ligadas à arte tradicional e o usufruto do território. Ele fomenta o intercâmbio entre as aldeias e é referência para outros indígenas de Minas Gerais e do país.
“Mais uma noite enluarada ” Casa de Cultura, Terra Indígena Xakriabá São João dasnoite Missões/MG “Mais uma enluarada” Foto: Edgar Corrêa Kanaykõ Casa de Cultura, Terra Indígena Xakriabá São João das Missões, MG Foto: Edgar Corrêa Kanaykõ
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Todas as atividades são realizadas com participação coletiva para compartilhar o conhecimento sobre sabão, fitoterapia do Cerrado, Website, produção de livros com materiais recicláveis, fotografia e vídeo, entre outras, ficando tudo disponível para os Xakriabá de todas as idades e comunidades. O projeto tem usado mídias alternativas para fortalecer o vínculo com a terra e a cultura e vem obtendo resultados muito positivos com os jovens. Edgar Corrêa Kanaykõ, da etnia Xakriabá, tem um trabalho voltado para a valorização sociocultural por meio da etnofotografia. O trabalho com as imagens é visto como uma ferramenta importante de luta dos povos indígenas, nos dias atuais; assim como o arco e flecha são utilizados para atingir o alvo com um objetivo, o uso de uma câmera também não é diferente. Ele explica: “Os jovens aprendem a usar ferramentas de multimídia para captar e registrar aspectos da cultura para que não se percam e possam ser repassados para a comunidade e também usados como material didático pelas escolas. Ainda é bem recente, mas alguns produtos já foram feitos, como pequenos livros e documentários etnográficos em andamento. Lembrando que muitos desses produtos surgem dos projetos realizados pela AIXABP - Associação Indígena Xakriabá Aldeia Barreiro Preto, à qual a Casa de Cultura Xakriabá está ligada.” Ao mesmo tempo, os idosos exercem um papel singular na organização das atividades que reforçam a retomada das tradições Xakriabá. O projeto realiza também ações de caráter artístico, cultural, econômico e social de maneira integrada, como as “noites culturais” e os encontros com danças, batuques, narrativas históricas e loas.
O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu foi criado por decreto federal de 21 de setembro de 1999. Abrange 56.800 ha situados entre os municípios de Itacarambi, Januária e São João das Missões. É administrado pelo Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade (ICMBio), que mantém brigadistas para monitorar o parque permanentemente, impedindo danos ao patrimônio por roubo, vandalismo ou atividade econômica inadequada à biodiversidade. O acesso é restrito a pesquisadores, para preservar o bioma, a integridade dos tesouros naturais e os vestígios da presença humana de até 11 mil anos. Ali, existem mais de 140 cavernas e 80 sítios arqueológicos. As formações rochosas em calcário e a rica biodiversidade completam um quadro de rara beleza. Situa-se numa região com clima tropical semiárido, em que a temperatura média anual é de 24º C. O período de chuva acontece entre outubro e abril. Os objetivos das medidas conservacionistas estão expressos no Artigo 1º do Decreto de 21 de setembro de 1999 com as seguintes palavras: “proteger o patrimônio geológico e arqueológico, amostras representativas de cerrado, floresta estacional e demais formas de vegetação natural existentes, ecótonos e encraves entre estas formações, a fauna, as paisagens, os recursos hídricos, e os demais atributos bióticos e abióticos da região”. É preciso, portanto, que o parque seja espaço para preservação de ecossistemas naturais, diante da constante atividade econômica na área sem os cuidados mínimos com a sustentabilidade. Torna-se importante que haja educação ambiental e recreação que obedeça aos princípios do turismo ecológico. A origem do nome Peruaçu remete aos índios Xakriabá, habitantes da área que faziam referência à fenda ou buraco (peru) muito grande (açu). A região era, antes, a Fazenda Retiro/Morro do Angu. A fauna tem destaque especial porque há 39 espécies ameaçadas de extinção, entre as 250 espécies de aves, como maritaca, seriema, maria-preta, arapaçu e beija-flor-de-asa-de-sabre. Há ainda os mamíferos veado-mateiro, mocó, mico-estrela, tatu, capivara, lobo-guará, lagarto teiú, onça-pintada, onça-parda, gato-maracajá e gato-palheiro (jaguatirica). Na vegetação, destacam-se aroeira-do-sertão, braúna, pau-santo, cabiúna-do-cerrado, murici, jatobá e pequizeiro. Seriam 1.072 espécies vegetais e algumas são raras e pouco conhecidas. O parque situa-se em área com formações de Floresta Decidual Estacional Montana, Floresta Estacional Semidecidual, Savana Arborizada e áreas de tensão ecológica entre Savana Estépica e Floresta Estacional. Trata-se de um maciço de calcário. Quase todas as cavernas estão associadas ao tipo de relevo chamado carste, baseado em rochas carbonáticas. O carste é uma área de recarga de aquífero, onde os lençóis freáticos são realimentados. Os trâmites de regularização fundiária ainda estão em andamento, para que os antigos proprietários sejam indenizados e encerrem suas atividades agropecuárias dentro do parque. Isso pode impedir, no futuro, coivara, desmatamento, plantação de eucalipto, caça e pesca. Um levantamento constante no Plano de Manejo indica que toda a área do parque e seu entorno imediato são de domínio privado. A existência de moradores sem comprovação de propriedade da terra ou a presença de invasores na área do parque torna a situação fundiária problemática. Há muitas pequenas propriedades rurais no limite próximo do PNCP, bem como latifúndios e a reserva da etnia Xakriabá. O Rio Peruaçu fascina os visitantes, porque mergulha nas rochas que deram formação à Caverna do Janelão. Sua entrada está no fundo de uma grota; portanto, é preciso descer bastante uma encosta, em meio à aridez de Mata Seca. O esforço compensa,
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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porque a experiência é fascinante, diante da beleza das rochas internas, que são multicoloridas, e do rio subterrâneo que corre sem sinal de poluição para ressurgir depois a céu aberto até a sua foz no São Francisco. Trata-se de belíssimo fenômeno, mas existem outras cavernas no Vale do Peruaçu e sua variedade desafia pesquisadores e turistas que pretendem explorar todas, apesar do intenso esforço físico, pois se situam em meio à vegetação castigada pela seca e às oscilações do relevo. A Caverna do Janelão apresenta represas de travertinos com escorrimentos calcíticos. Eles são um tipo de rocha calcária, composta de calcita, aragonita e limonita. São bandas compactas, paralelas entre si, com pequenas cavidades, por onde a água doce infiltrou, ao longo de milhares de anos, levando carbonato de cálcio (CaCO3). A gruta é formada por esse rio que dissolve as camadas de calcário originais. Ou seja, depois da percolação de água pelas fraturas da rocha, surge a gruta, bem como as ornamentações internas que se apresentam, atualmente, em diferentes tons de branco, cinza, bege e rosa. As estalactites vêm do teto. As estalagmites crescem do chão. Às vezes, elas se encontram, formando colunas. Quando elas estão mais alinhadas, como um grande barrado, diz-se que formaram uma cortina. Todos esses espeleotemas são formações rochosas originadas pela dissolução de minerais e sua recristalização em níveis inferiores no teto, paredes e chão das cavernas. Os geólogos acreditam que essas formações crescem de 6 a 25 milímetros por século. Podemos, então, deduzir que as ornamentações dessa caverna atingiram essa beleza ao longo de muito tempo. As claraboias surgiram com desabamento do teto da caverna. Isso acontece também para formar dolinas, que propiciam lagos ou buracos topográficos. O solo proveniente da decomposição do calcário é fértil, porque a água promove a decomposição da rocha. Aliás, a água de chuva faz parte do intemperismo, que é a conjugação dos efeitos físicos - chuva, calor do sol e frio da noite - que provocam trincas, por onde a água percola e decompõe a rocha. A Caverna do Janelão tem 3 km de extensão e mantém altura média de 80 m por 35 m de largura. O principal salão é denominado Dolina dos Macacos, apresentando pé-direito com mais de 100 metros. Muitas estalactites projetam-se do teto em diferentes formatos. Uma delas é a Perna de Bailarina que tem 28 metros. Nas paredes, há saliências especiais, como cogumelos sobrepostos em diferentes tamanhos e cores, embora predomine a rosa. A mais curiosa é uma rocha que se projeta sobre o rio submerso, em tons brancos. Em todos, é possível imaginar como o gotejamento de água, ao longo de centenas de milhares de anos, esculpiu formas tão variadas no calcário, para gerar esse resultado surpreendente. Na entrada da caverna, há um trecho do Rio Peruaçu que sai da cavidade entre uma murada natural e uma espécie de mata ciliar. Logo à frente, ele passa por um cânion de 15 quilômetros, a caminho do Rio São Francisco. A iluminação na Caverna do Janelão está assegurada por claraboias naturais, destacando a que tem formato de coração, de onde partem, em determinados horários, feixes de luz solar que se tornam azulados pelo seu reflexo nas paredes da caverna junto a um arco, conferindo espetáculo grandioso. Esses detalhes são inimagináveis para quem ainda não visitou a caverna, pois foram construídos por diversos fatores naturais, abaixo da superfície, ao longo de milhares de anos. Outras cavernas existentes no Vale do Rio Peruaçu, às vezes com nomes bem curiosos: Lapa do Rezar, Gruta do Índio, Gruta do Boquete, Gruta do Gato, Gruta da Mãe Joana, Gruta do Zé da Hora, Gruta do Piolho de Urubu, Gruta da Lapinha, Gruta Bonita, Gruta do Morcego Rompante, Lapa do Malhador, Lapa dos Corvos, Lapa dos Tocantins, Lapa do Salitre e Lapa dos Bichos (Pereira, 2013: 485-486).
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Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu. Fotos: Manfred Leyerer
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Caverna do Janelão - Parque Nacional Cavernas do Peruaçu Fotos: José Carlos de Souza
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Caverna do Janelão - Parque Nacional Cavernas do Peruaçu Foto: José Carlos de Souza
Segunda maior estalactite do mundo, chamada de “Perna da Bailarina”, na Caverna do Janelão Foto: Angelo Issa
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Rio Peruaรงu na Caverna do Janelรฃo Foto: Angelo Issa
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Arco do André Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Caverna do Janelรฃo - Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu Foto: Manfred Leyerer
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Rio Peruaรงu na Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Detalhes da formação rochosa na Caverna do Janelão Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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Claraboia na Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Entrada da Gruta do Carlúcio Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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Gruta do Carlúcio Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Rio Peruaรงu na Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Caverna do Janelรฃo Parque Nacional Cavernas do Peruaรงu
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Inscrições rupestres no Vale do Rio Peruaçu Outro tesouro existente no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é constituído pelos sítios arqueológicos com inscrições rupestres. Constam neste livro fotos tiradas na Lapa do Caboclo e em outros lugares no Vale do Peruaçu. Isso nos desafia para buscar uma interpretação consistente, pois os antropólogos ainda não esclareceram o processo de humanização de um tipo de primata, que adquiriu a postura bípede e a capacidade de simbolizar, condição sine qua non para o desenvolvimento da cultura. Há um consenso de que isso teria ocorrido no sul da África, há, pelo menos, dois milhões de anos. Quais foram os caminhos para que a dispersão levasse à ocupação dos cinco continentes e às diferenciações físicas e culturais evidenciadas com as grandes navegações que marcaram o final do século XV e início do século XVI? A chegada dos portugueses a um território, que é reconhecido hoje como Brasil, foi um confronto de dois grandes grupos com tradições muito distintas, especialmente no que se referia a contrato social, tecnologia, cosmologia e universo simbólico. Havia aqui muitas tribos com notáveis diferenças entre si, mas também com convergência no que se referia a instrumentos, técnicas de obtenção da subsistência e princípios quanto à relação com a natureza, que eram muito diferentes naquele tempo. Como construir, então, a trajetória desde as savanas africanas até o Vale do Rio Peruaçu?
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Os portugueses aportaram, em 1500, no litoral que é, atualmente, o Estado da Bahia e exploraram, depois, todo o território. Seguiram um grande curso d’água, que foi denominado Rio São Francisco, chegando ao Vale do Rio Peruaçu em 1554. Baseado em diferentes estudos realizados em Minas Gerais e nas peças arqueológicas, é possível confirmar a presença humana ali há 11 mil anos. Esses tesouros são as inscrições rupestres, mas não é fácil explicar o que elas representariam para seus autores, pois nem o comportamento humano nem o universo simbólico fossilizam-se. Temos, então, apenas peças materiais que indicariam alguns elementos do modus vivendi de grupos sociais que habitaram aquela área, tempos atrás. André Prous analisou esses grafismos em diferentes pontos do Vale do Rio Peruaçu e em outras áreas de Minas Gerais. Ele teoriza sobre eles, ressaltando que não tinham apenas um valor estético. Expressavam também crenças religiosas, posse de território ou registro de eventos importantes para o grupo social. Mantiveram-se até os tempos atuais os que foram feitos em abrigos naturais secos, pois outros registros em osso, madeira, cerâmica, entrecasca ou concha não suportam o desgaste natural ao longo de milhares de anos. Esse autor escreve que os povos pré-históricos viviam em aldeias a céu aberto e não em abrigos sob rocha nem em cavernas. Algumas fotos das inscrições expostas aqui são da Lapa do Caboclo. Ela se situa numa elevação que emerge em amplo terreno plano, cuja vegetação é típica de Mata Seca e sem cursos d’água à vista. Chega-se ali por uma escada rústica que tem 166 degraus. O platô é pequeno e a parede rochosa com os desenhos fica à direita da gruta que não é profunda e tem um teto abobadado com muitas estalactites. Fica na área que hoje constitui o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em trecho do Município de Januária.
Inscrições rupestres no Abrigo do Malhador Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
Esse monumento pré-histórico é formado por centenas de figuras construídas por diferentes temas antropomorfos, zoomorfos, fitomorfos, biomorfos, astronômicos e geométricos. Foram feitas com carvão e pigmentos minerais, como óxidos de ferro vermelhos e amarelos e dióxido de manganês marrom ou preto, que são elementos facilmente encontrados na região. O branco foi conseguido por um trabalho com argila (caulim), carbonatos ou osso calcinado. Os executores aplicavam esses produtos com os dedos ou pincéis feitos com talos vegetais ou chumaços de algodão (Prous, 2011: 107-117). Não é fácil interpretar esse conjunto de artes rupestres, pois, como acontece com qualquer signo, o significado dado pelos autores não prevaleceu, porque fica no plano abstrato da linguagem. Estamos convictos, portanto, de que há uma estética e lógica conferida por diferentes grupos sociais que ali viveram e empenharam-se no registro de sua presença talvez por um longo espaço de tempo, nos últimos 11 mil anos. Talvez tenham datações muito diferentes, tendo sido produzidas ao longo de vários séculos. Trata-se, de qualquer forma, de um conjunto de manifestação artística com instrumentos rústicos e inspirações inusitadas. Há, por exemplo, uma figura humana estilizada que indica uma situação de susto ou surpresa. Uma ave de pescoço e pernas longos deixa a impressão de que o autor tinha o sentido da proporcionalidade em que ajustou essas partes do animal ao tamanho da cabeça e do corpo. Existem vários grupos de figuras geométricas em alinhamento, sendo que algumas são barras com desenhos internos com notável simetria. É instigante verificar a variação das cores, pois elas resultam do aproveitamento de pigmentos diversos obtidos de minerais existentes ali.
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As inscrições em outras cavernas são muito simples, destoando-se do complexo painel da Lapa do Caboclo e aproximando-se das existentes em outros estados. Todos os sítios arqueológicos do Vale do Peruaçu merecem proteção especial, para que não sejam destruídos por vândalos, incêndios ou erosão da rocha. Afinal, segundo Igor Fuser (1999), em um cânion de 17 km de comprimento e 60 metros de largura, estão os afrescos pré-históricos mais espetaculares do país. Eles se destacam pelo uso de cores variadas e pelos grafismos geométricos (apud Campos e Faria, 2005: 21). Resta dizer que há, no vale desse rio, pela margem esquerda, as comunidades Sumaré e Pindaíbas, além da cidade de Itacarambi. Pela margem direita, no Município de Januária, existem os seguintes povoados: Pitanga, Fabião, Levinópolis e Jatobá. A vegetação predominante da área é de Mata Seca, que se caracteriza por formações florestais do Cerrado sem associação com cursos de água; por isso, apresentam variados níveis de queda das folhas durante a estação seca, que encontra seu ápice entre julho e agosto, pela baixa precipitação pluviométrica na região.
Inscrições rupestres na Lapa do Caboclo Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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Inscrições rupestres na Lapa dos Desenhos Parque Nacional Cavernas do Peruaçu Foto: Paulo Ferreira Alencar
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Inscrições rupestres na Lapa do Caboclo Parque Nacional Cavernas do Peruaçu Foto: Juninho Motta
Inscrições rupestres na Lapa dos Desenhos Parque Nacional Cavernas do Peruaçu Foto: Rodrigo Ribeiro Rennó
Sítio arqueológico Abrigo do Malhador Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
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Considerações Finais O trecho do Vale do São Francisco entre o Ribeirão Pandeiros e a divisa com a Bahia reúne pontos magníficos para turistas que pretendem viver experiências interessantes quando saem do mundo cosmopolita. Eles querem, geralmente, conhecer um povo que tenha história marcante na trajetória de uma nação, explorar um ambiente com belezas naturais e viver uma logística que encerre aventura, especificidade regional e aconchego oriundo do hospedeiro na sua rotina alicerçada na sabedoria, nas técnicas locais e no calor humano. O Norte de Minas Gerais pode propiciar tudo isso, se houver investimento na infraestrutura, recuperação do Velho Chico, qualificação profissional dos nativos e roteiros fundados na hidrovia usada por mais de 400 anos. Ela está comprometida pelo assoreamento, pela redução do volume d’água e pela falta de políticas públicas que promovam a navegação fluvial como o melhor meio de transporte de passageiros e cargas em todos os territórios beneficiados por hidrografia favorável à navegação. Os barcos a vapor tiveram papel estratégico no deslocamento de pessoas ao longo do Médio São Francisco, por mais de 100 anos, mas os brasileiros definiram outras prioridades mais dispendiosas para sua mobilidade, sem obter avanços significativos em rodovias e ferrovias. As poucas estradas entre as cidades daquela região dificultam o cotidiano da população local, e a desativação da estação ferroviária de Pirapora que pertencia à Central do Brasil complicou bastante o contato com Belo Horizonte. Reformulando essa postura e criando recursos para hospedagem e viagem dos turistas até Januária, basta divulgar os tesouros naturais e culturais existentes na região, sendo que vários estão apresentados aqui.
Alagados no Rio São Francisco nas proximidades de Pedras de Maria da Cruz
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O Rio São Francisco é a principal atração, porque ele ainda impressiona pela sua marcante presença em cinco estados brasileiros. Nele, chegam vários afluentes que também são navegáveis, como o Rio Paracatu, o Rio das Velhas, o Rio Urucuia e o Ribeirão Pandeiros, possibilitando intensa mobilidade entre diferentes pontos de Minas Gerais e da Bahia. A experiência da navegação fluvial encerra sempre clima de aventura pelos imprevistos e pela mistura de tradição e modernidade. Trata-se de um tipo de deslocamento criado há milhares de anos em muitos pontos do planeta, tendo sido fartamente utilizado pelos aborígenes brasileiros. No terceiro milênio, há várias opções de modelos e tamanhos das embarcações, que poderiam ser introduzidos no Médio São Francisco. A partir daí, os turistas vasculhariam a região, parando em ancoradouros construídos nos pontos estratégicos, onde haveria os recursos essenciais para viajantes, como albergues, alimentação, primeiros socorros e lojas de conveniência. Visitariam, então, o Vale do Ribeirão Pandeiros, com toda a sua exuberância de fauna e flora. Seguiriam depois para o Vale do Peruaçu, que demanda vários dias para conhecer as cavernas e os sítios arqueológicos, além de observar as características de Cerrado, Caatinga e Mata Seca, que se apresentam muito diferentes no “tempo das águas” e no “tempo da seca”. Pedras de Maria da Cruz e Matias Cardoso têm sua importância histórica no processo de colonização de Minas Gerais e são bem interessantes como pequenas cidades junto ao rio. Januária seria o polo de todos os serviços de turismo, onde não faltariam restaurantes, hotéis, assistência médica e comércio diversificado, com destaque para a cachaça, que tem qualidades próprias obtidas nas técnicas locais de produção e envelhecimento.
Rio S達o Francisco
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Vale do Ribeirão Pandeiros Bacia Hidrográfica do São Francisco
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Foreword - The significance of the book - Atlantic Forest, Cerrado, Dry Forest and Caatinga: biomes of northern Minas Gerais - The Catrumano Movement and the creation of the Gerais Day
Chapter I - The São Francisco River - The São Francisco River from its source to the mouth in the Atlantic Ocean - The importance of the São Francisco River on the colonisation of Minas Gerais since the sixteenth century - The carrancas on the prow of the São Francisco River barges - The steamboats that cruise the São Francisco River since 1871 - The importance of the São Francisco River to the riverside population
Chapter II - The region between the Pandeiros Creek and the border with Bahia - Bonito de Minas - Cônego Marinho - Itacarambi - Pedras de Maria da Cruz - São João das Missões - Matias Cardoso - Manga, Juvenília, Miravânia e Montalvânia - Handicraft in those municipalities
Chapter III - Januária: matrix city in the northernmost portion of Minas Gerais - The History of Januária - Home of the São Francisco Valley Memorial - The Brejo do Amparo District and Our Lady of the Rosary Church - Cachaça aged in umburana-de-cheiro (Amburana cearensis) vats - The Street Market of Januária - The Market of Januária - Food Habits of Januarenses - Mythology in the universe of the riverside population - Popular Festivities
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Chapter IV - The Pandeiros Creek
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Chapter V - The Peruaçu River Valley
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- Parque Estadual Veredas do Peruaçu, in the Municipality of Bonito de Minas - The Xakriabá Tribe - Cavernas do Peruaçu National Park -Rupestrian Inscriptions in Rio Peruaçu Valley
Final Remarks
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Lands of Northern The
Minas The Sรฃo Francisco River Valley between the Pandeiros Creek and the Carinhanha River
Peruaรงu caves Photo: Paulo Ferreira Alencar
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Foreword The significance of the book The Lands of Northern Minas The celebrated writer João Guimarães Rosa once wrote that Minas are many, based on his travels in the north-western portion of the state, where there are large municipalities with dwindling population. Penetrating the souls of the communities, he immortalised their cosmology, captivating admirers worldwide. His statement reinforces the theories of the cultural diversity in the territory of Minas Gerais, an area of 588,528 square kilometres, where, in 2010, 19,595,309 people lived. These variations stem from the adaptations to different ecosystems, which affect the economy, as well as contacts with indigenous populations and other Brazilians. There was intense exchange of tools and attitudes, shaping various symbolic and ideological systems, despite the stereotype of the “mineiro” within the general framework of Brazilian society. This book provides an analysis of the peculiarities of one stretch of the São Francisco River Valley between Pandeiros Creek and the Carinhanha / Verde Grande Rivers. It features a combination of magnificent natural and cultural aspects, which, since the late twentieth century, justified the creation, of seven environmental preservation areas (EPA): the Grande Sertão Veredas National Park, Peruaçu Caves National Park, Serra das Araras State Park, Veredas do Peruaçu State Park, Lagoa do Cajueiro National Park, Verde Grande State Park and Mata Seca Forest Park. These were attempts to preserve the fauna, flora, cave paintings and geological phenomena, protecting them from inappropriate economic exploitation and destruction by visitors of this unique heritage in northern Minas Gerais. These EPAs are within the old district of Januária, as shown on page 9, published in the Album Chorographico Municipal of the State of Minas Gerais of 1927. At that time, the territory of Januária bordered the state of Bahia to the east and to the north, marked by the Carinhanha and Verde Grande Rivers; to the east, the municipalities of Grão Mogol and Tremedal, marked by the Verde Grande River; to the southeast, the municipality of São Francisco, marked by the San Francisco River, and to the south, the municipality of
Paracatu, marked by the Pardo River. Later on, it was divided into the municipalities of Montalvânia, Manga, Matias Cardoso, Bonito de Minas, Cônego Marinho, São João das Missões, Miravânia, Pedras de Maria da Cruz, Itacarambi and part of Jaíba. We may find, on the 1927 map of Januária, records of a Semiarid Desert Region in the current municipality of Matias Cardoso, of Cerradões de Mangabeiras, of many tributaries of the Pandeiros Creek and a strong line marking the São Francisco River, indicating its portentous presence in that area before being sapped in the following years. The situation has worsened in recent years because the economic agents do not observe the principles of sustainability, causing deforestation, drying springs, replacing native forests with pasture and reforesting with eucalyptus. The residents, nevertheless, persevered, keeping on with the subsistence farming and artisanal fishing to feed their families and to have some wherewithall to buy consumer goods. They did not abandon a land with the bleakness of the Caatinga, characterised by infertile soil and low rainfall. This area of Minas Gerais was taken over in 1957 by the Northeastern Development Agency (SUDENE), which generated public policies to meet social needs and to introduce modern and appropriate techniques. Tourism was one of the measures to promote the economy, but, despite favourable results in the Northeastern coast of Brazil, it did not reach northern Minas Gerais, despite the existence of many treasures in the São Francisco Valley. The Waterway of Old Chico, as the São Francisco River is affectionately called, can attract, for example, travellers who enjoy cruising rivers, stopping at strategic points to explore towns, caves, caverns and the tributaries. The journey can become more interesting if it also explores the regional cuisine, the cosmology of the local people and hospitality of families accustomed to arrivals and departures of boats that, in other times, travelled between Pirapora and Juazeiro, calling at São Francisco, São Romão, Januária, Manga and Matias Cardoso. The axis of this book is therefore the São Francisco River, which is loved by the inhabitants of five states and was crucial to the settlement process in Minas Gerais.
The São Francisco River basin has been maltreated since the seventeenth century. Precious metals were extracted, indigenous people were fought and for the benefit of the Portuguese crown, free men settled. The frontiersmen followed royal instructions, hoping to gain prestige and favours from the Crown. Riches were taken, but there is still precious cultural, archaeological and environmental heritage, in caves, caverns and cave paintings up to 11,000 years old. They indicate human presence in this territory long before the arrival of European settlers in the late seventeenth century. The images in this book show the beauty and encourage tourism related to history, enjoyment of nature and the desire to experience rare opportunities, such as entering singular areas, that leads to the magic, thus mysterious and intriguing, created over millions of years by water and minerals, earth and wind, fauna and flora, as well as human intervention. The River was known to the natives by the name of Opará, given the immensity of its bed, but on October 4, 1501, it received a different name, because Amerigo Vespucci and André Gonçalves identified its mouth on the Atlantic Ocean on the day dedicated to St. Francis (São Francisco in Portuguese). The inhabitants of the riverbanks love it because it is a friend of old times: it never fails while flowing quickly, it encourages the faith that better days will come, with copious water, an abundance of fish and low-cost travel opportunities. The modus vivendi in the north of Minas Gerais was forged over many years, and shows the courage of the people who took up root there, adapting to that ecosystem. In the sixteenth century, white men did not settle in the valley, which was occupied by indigenous people and black men who had escaped from captivity. In the seventeenth century, pioneers arrived from São Paulo and other adventurers from Porto Seguro, Bahia, making the São Francisco River a strategic route; it was always full of fish for food during the trip. Later, several expeditions followed its course, searching for precious metals and aiming to consolidate Portuguese rule. From the eighteenth century on, river travel between Pirapora and Juazeiro increased exchanges between the local inhabitants and the
mining region exploited by the pioneers. This was reflected in various sectors such as the economy, food, language, architecture, aesthetic sense, religion, mythology, production techniques, household equipment and popular celebrations. Records of the cultural facet are juxtaposed to the description of waterways, fauna, flora and rock formations with their mysterious caves. The adaptation of the communities to the Caatinga differentiates them from other areas of Minas Gerais. Their daily activities are full of unique traditions and are intertwined with the natural resources of this biome, on this stretch of São Francisco River. Januária is the parent municipality in the region, because it gave rise to the abovementioned municipalities. It was an important trading post, where cattle breeders from Goiás had contact with boaters, where goods, information and life experience were exchanged. The locals had special affection for the river, since it supplied water and fish in abundance with no ownership restrictions; that is, everyone had access to this colossus of nature. For the bitter people, it provided a delightful experience in which they could they could see huge volumes of water flowing away, like it was carrying away the sadness, frustration and bad feeling It was also the best way to travel to different towns and to bring news from distant lands. Therefore, the local people keep the River in their souls, despite the decrease in volume and fish, which are no longer caught with the hands, as they were a few years ago.
Atlantic Forest, Cerrado, Dry Forest and Caatinga: biomes of northern Minas Gerais. The northern Minas Gerais has four biomes with the common denominator being low rainfall. Faced with this problem, which is more serious in certain years, one notices the strength of the local inhabitant, who suffers the rigorous climate, failing crops and loss of cattle. Nature regenerates with the first rains, especially in the areas of Dry Forest, where the trees soon regain their green leaves. At several spots in the municipalities described here, elevations formed by rock stand out, with the following profile: at the top, there is a plateau, followed by a great wall
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and then, below, the foot of a mountain. The middle section has vertical crevices, resulting from the wear caused by rainwater on the limestone over thousands of years. The valley has fertile soil because the water runs down the slope, collecting and generating high moisture in the soil. There are sometimes bellied trees in these rocks, exposing their roots. The access to the Janelão Cave forms a wall, on one side, which is extremely beautiful. This is repeated in a canyon, on the way to André Arc. The Cerrado, the second most important biome in Brazil, also forms part of the region. It lies between the states of the mideastern states of Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão and Tocantins, and the federal district of Brasilia, as well as being found in a few enclaves in the north. It has a magnificent biodiversity, boasting more than 10 thousand species of plants, 837 birds and 161 mammals (Silveira, 2003), as well as reptiles, amphibians and insects. Many are unique to this biome. Some plant species, such as arnica, barbatimão, mentrasto, velame, catuaba, mint, copaíba and carqueja, are used by the natives for human and veterinary therapy. Others, such as pequi, jatobá-do-cerrado, murici and buriti, are used in cooking. In addition, there are those used in crafts as well as construction and boatbuilding. This has generated such high demand that it has encouraged deforestation, which is harmful to the watershed of the
São Francisco. Aroeira, angico and murici are some of the endangered trees. Some typical animals of this biome are: python, rattlesnake, pit viper, teiú lizzard, emu, seriema, rufous hornero, macaw, smooth-billed ani, turkey vulture, king vulture, maned-wolf, tapir, hawk, toucan, parrot, giant anteater, pampas deer, wood fox, bush dog, ocelot, puma and jaguar. The Cerrado is therefore an inexhaustible phenomenon and a very special savannah, because it also houses numerous sources of streams that feed the Amazon, São Francisco and La Plata basins. It was not valued until the construction of Brasília, a time when the country’s population lived in a band 500 km from the coast, where the Atlantic Forest dominates. It then became an important area of human occupation and agribusiness, losing much of its primitive state, especially the vegetation. It consists of xerophyte forest in the highlands, with open tree formation, where herbaceous vegetation is abundant. Trees are generally small and bent, with thick, corky bark. The Cerrado exists in semi-humid climate areas with two distinct seasons: rainy and dry. In northern Minas Gerais, it is interspersed with Caatinga, but it varies quite a lot. There is the so-called Campo Limpo on higher lands, with some shrubs and a few trees, and the Cerradão, encompassing the typical Cerrado, scattered Cerrado, Dirty Field and
Cerrado Field, with paths, riparian forests and clusters of buritis, as well as endemic species of flora and fauna. The Cerradão with tall trees is prevalent in soils fairly rich in minerals and water, enabling the cultivation of corn, cotton and soybeans, as well as cattle breeding and forestry. In the theoretical discussion of what constitutes Mata Seca (Dry Forest), the prevailing consensus is that it is a transition between Cerrado and Caatinga, with vegetation that sheds its leaves during the dry season and with no waterways. Spots of this biome are present between Pandeiros Creek and the Carinhanha River. The Caatinga is an exclusively Brazilian biome, and it is the least protected and the most degraded. It stretches from the north of Minas Gerais to Piauí, occupying much of the Northeastern region. The harshness of the climate, characterised by low rainfall, has provided unique flora and fauna. They are affected by the region’s poverty, since wild animals are hunted to feed families. This happens with the three-banded armadillo (Tolypeutes tricinctus), which is easily captured when they curl up their bodies into a ball to protect themselves. As for the vegetation, xerophilous plants predominate, such as trees and bushes, armed with thorns, like cacti, palms, mandacarus and bromeliads. Therefore, cowboys wear leather to move through the woods without getting hurt. The cacti have great water reserves and can maintain livestock during prolonged drought. Being one of the world’s semiarid regions with high population density, the Caatinga suffers from the effects of agriculture, livestock breeding and poor irrigation techniques. There we find charcoal production to feed the steel mills, causing deforestation. To compensate, eucalyptus trees are planted, which damage the soil and aquifers. This complex vegetation includes shrubs and trees, and there is always a considerable loss of leaves during the dry season. Many plant species recover easily and develop fast after the first rains; thus, the forest turns green quickly, providing an unforgettable spectacle for visitors. In the north of Minas Gerais, the Caatinga does not form a dense forest, but its shrub component is rich in species. The trees
preferably occupy the slopes, while the shrubs grow where the soil is shallow and sandy. In areas of sand-clay soil, the shrubby Caatinga presents some typical elements of the Cerrado, such as the pequizeiro, algodão-docampo and Eugenia dysenterica. Within the two groups, one can identify the presence of aroeiras, braúnas, catingueiras, umbuzeiros, mandacarus, xiquexiques, cabeça-de-frade and different species of bromeliads (Chorisia sp and Cavallinesia sp). The trees belong to the bombacaceae family, and present a thick trunk due to the large amount of stored water. They reach 20 metres in height and their wood is light. They have oval leaves and red flowers with a white border and big purple pods. From them, silk cotton is extracted, used for making string and upholstery. The residents believe that their presence indicates good soil. The coroa-de-frade cactus is often present in the most inhospitable areas of the Caatinga and has, in its lower portion, many thorns. Still, the local population takes advantage of the pulp to make a sweet that tastes like papaya. It is also common to crush it and add it to brown sugar, giving it a special taste. The pequizeiro belongs to the caryocaraceae family and its wood is used in construction and boatbuilding. Its flowers are greenish or white. Its pulp is orange with thorn almonds. The natives make liquor with the fruit or mix it with rice. They extract the seeds and pulp, which are edible, and the oil for cooking, which gives a special flavour to food. This pequi product is one of the main items in the Januária market, being sold in PET bottles, reused after the consumption of soft drinks produced by large companies.
The Catrumano Movement and the creation of the Gerais Day As Bruno Terra Dias describes, a group of intellectuals and officials gathered in the north of Minas in 2005 to save historical values, to banish the idea of the area not being part of the State’s history. They drew attention to the occupation in the seventeenth century, based on ancient documents and the thesis of João Batista Costa, submitted to the Graduate Program in Anthropology at the University of Brasilia
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The initiative was labelled the Catrumano Movement to show that it would not be exhausted in a few acts, but would remain until its objectives were achieved. The adjective “catrumano”, although pejorative among the people of Minas Gerais, is also endowed with a positive sense, since it refers to the people of these hinterlands, their unique way of life, their customs and worldview, as stated by Téo Azevedo in his Catrumano Dictionary (Dias, 2011). The group intended to value, revitalise and develop the northern part of the state, integrating it to the territory of Minas Gerais, so that the mining society (Minas) would be joined with the hinterland society (Gerais), in such a way that this unit of the Brazilian Federation would be recognized in the following centuries. They concluded that it was necessary to rewrite the history of Minas Gerais, because the state was formed from two regions: one focused on gold exploitation and another, located in the hinterland of the São Francisco Valley, on cattle breeding. The mining land was a barren and therefore relied on the second one to provide food. The commercial traffic between Morrinhos and Arraial Mathias Cardozo, nowadays the Municipality of Matias Cardoso, was with Salvador, because the right bank of the São Francisco River belonged to the Captaincy of Bahia. The regional vocation was to explore
cattle ranches to meet the needs of the former colonial capital, Salvador. The supply of foodstuffs to the gold mining society, at the discretion of the Portuguese crown, became part of the new axis that would become the Captaincy of Minas Gerais in 1720. Its objective was to sustain the mining activities, as well as to create ties with the pastoral, foodproviding society and to end the commercial traffic with Salvador, following an official decision of 1702, because gold earned from the supply of food flowed with no control (Dias, 2011). This affected the corrals of Bahia, which involved the region of the São Francisco River in the north of Minas, since the cattle trade with the mining regions was limited to the Captaincy of Minas Gerais. The sale of other products from Salvador was then prohibited. The thriving trade with the mining society soon lost importance, when contact with Rio de Janeiro increased. The north of Minas Gerais, with no trade with Salvador, was also kept away from doing business with the mining society, thus Morrinhos crumbled. Still, the Captaincy of Minas Gerais was formed from the gold mining in “Minas” and the pastoral activity in “Gerais”. Therefore, the word Gerais represents fields that span vast areas, where Mathias Cardoso made history (Dias, 2011). With the enactment of Constitutional Amendment 89, by the Legislative Assembly
of Minas Gerais, in 2011, the importance of the area in the creation of Minas Gerais Captaincy was acknowledged. History could then be retold, in the classrooms, of what is now the State of Minas Gerais. A civic date, called the “Dia das Gerais” now symbolises the strength of the region’s history, because the coexistence of two separate societies during the colonial period became clear: the mining and the pastoral ones (Dias, 2011). Historians do not agree on the date Morrinhos was founded, but the documentation and literature available indicate that the town began before the last quarter of the seventeenth century, as the creation of the Parish of Our Lady of the Conception of Morrinhos occurred on December 8, 1695, by an act of the Archbishop of Salvador, Dom Frei Manuel da Ressurreição. As the exact date is in doubt, the state legislature has chosen this day to celebrate the recognition of the importance of the pastoral society on the foundation of the current state of Minas Gerais (Dias, 2011). The primacy of Mariana Municipality, regarding the formation of the mining society, on 16 July 1696 was not discussed. In order to fully recognise the truth about the creation of the Captancy and the State of Minas Gerais, its dual character was
acknowledged, consisting of two separate societies - the mining and the pastoral ones - that are complementary because the opulence of the auriferous extraction would not have occurred were it not for the trade restrictions to which the society of the São Francisco River Valley was submitted (Cf. Dias, 2011). Thus, since 2011, the capital of Minas Gerais is symbolically transferred, on December 8, to Matias Cardoso, with presence of state authorities. On this date, women are awarded the Medal of Maria da Cruz, and men the Commendation Matias Cardoso, to celebrate the civic merit of people who have contributed to the development of the north of the State. This signals the recognition of the effective participation of the hinterlands in the construction of Minas Gerais, since the late seventeenth century. The local people, especially the inhabitants of the left bank of the São Francisco River, deserve much more attention from the state government, located in Belo Horizonte, because they still have little contact even with Montes Claros, due to the lack of bridges over the São Francisco on a long stretch of the river. This greatly limits the contact between the two banks of the river and interferes with their well-being due to the meagre resources of the region.
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São Francisco river, Januária MG Photo: João Marcos Rosa
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Chapter I
The São Francisco River
“Men have the river in their soul”
A Januária saying
The São Francisco River basin occupies a large portion of the state of Minas Gerais. Including the stretch in the northeast region, it covers 631,133 square kilometres in 521 municipalities. There are, in the area, 16,400,000 inhabitants, 56% of which are on the Upper São Francisco, including the metropolitan region of Belo Horizonte. The importance of this basin lies in the length of its main course, its historic role on the country’s settlement, the economy, the supply of fish to the riverside population and the potential for hydro-electrical power generation for the country. The water volume has reduced as a result of human occupation, a loss of thousands of streams flowing into the River, economic activities harmful to the aquifer, deforestation with destruction of riparian vegetation, contamination by chemicals as well as pollution from sewage. This is most striking in Minas Gerais, where mighty tributaries with an extensive network of streams, creeks and small rivers, in addition to marginal lagoons, can be found. The basin has been, nonetheless, an important food producing area of Minas Gerais since the early eighteenth century. The region of Januária, for example, supplied the mining area with salted fish, dried meat
São Francisco river - São Francisco, MG Photo: Leo Drumond - NITRO
and grains, since agricultural activities were impossible in Vila Rica. The São Francisco River is approximately 2814 kilometres long, receiving 168 tributaries, 99 of which are perennial. Its valley contains the following biomes: Cerrado, Atlantic Forest, Dry Forest and Caatinga. Rainfall ranges from 1,900 mm in Serra da Canastra to 350 mm in the semi-arid northeast. In recent years, there has been less rain, with a consequent reduction in the volumes of the rivers and lagoons, which affects the aquatic fauna. The watershed is endangered because the riverbed is shallow and the water’s speed is lower, making it incapable of carrying the sediments, which accumulate in many spots forming banks that impair navigation. No effective measures have been taken to repair the watercourses and their valleys. People ignore the fact that a river basin is made up of numerous water sources that search for fissures in the soil to flow. If these channels of different volumes are not preserved, the basin will run dry in a few years. Despite the harm they have done to the rivers, riverside populations have great appreciation for the Old Chico and mourn the loss of the plentifulness of old times, of a region filled
with lagoons, streams, creeks and ponds. Living in the most important watershed entirely in Brazilian territory seemed like a godsend gift. As there was no environmental education and inappropriate intercessions prevailed, the ecosystem was affected but fishermen, boatmen, local workers and farmers await better days in their homeland. The São Francisco River from its source to the mouth in the Atlantic Ocean In the seventeenth century, colonisers, excited about the Casca d’Anta waterfall, considered that the source of the São Francisco River was located in Serra da Canastra, municipality of São Roque de Minas, southwest Minas Gerais. A few years ago, however, it was proposed that the Samburá River should be considered as the main course. It rises in Serra d’Agua, municipality of Medeiros, Araxá Plateau, and it is more extensive and voluminous than the São Francisco, with a greater flow when the two meet where the municipalities of Medeiros, Piumhi and São Roque de Minas join. This is why local fishermen call the other bed Francisquinho (meaning “Little Francisco”). In 1972, the 200,000 hectare Serra da Canastra National Park was created to protect its natural resources such as springs, fauna and flora. Its creation was an attempt to prevent non-sustainable economic activities and to block the access of hunters, fishermen and poachers. This is where the Upper São Francisco starts, stretching as far as Pirapora. It represents 17.5% of the river’s watershed, but is home to 56% of the population of the river’s entire basin. The high population density is due to the metropolitan region of Belo Horizonte, which had 5,767,414 inhabitants in 2014 within 34 municipalities. The river’s main tributaries are, on the right bank, the Santo Domingo, Pará, and Paraopeba Rivers and on the left bank, the Samburá, Bambuí, São Mateus, Marmelada, Indaiá and Abaeté Rivers. There is also the Das Velhas River, which rises in the municipality of Ouro Preto and runs in a northwestly direction, flowing into the Mid São Francisco, between Pirapora and Várzea da Palma.
The Mid São Francisco runs from Pirapora to Remanso, which is in the north of Bahia, near the state of Piauí. The area corresponds to 53% of the total watershed but has a low population density, housing 24% of the river’s population on 339,763 km² of land. Initially, the river flows through the Cerrado biome but from the north of Minas Gerais onwards, it changes to Caatinga. The main tributaries are, on the right bank, the Das Velhas, Jequitaí, and Verde Grande Rivers, and on the left bank, the Paracatu, Urucuia, Pardo, Pandeiros, Peruaçu and Carinhanha Rivers. They all spring in Minas Gerais. The Sub-Mid São Francisco stretches from Remanso until Paulo Afonso, encompassing an area of 155,637 square kilometres, home to 24.4% of the river’s population. Petrolina (Pernambuco) and Juazeiro (Bahia) are located in the area, 1,370 km from Pirapora. This stretch has been, for over 400 years, a very busy waterway, which resembled a living road. It was the best way to transport passengers and goods, reaching its peak between 1958 and 1972. The intense trade benefited Januária. There was plenty of work for the dock “bulls” or stevedores who carried bags of 60 kg on their backs. Everyone gained from the exchange of experiences with travellers, in terms of techniques, customs and cosmology. Thus, the modus vivendi of the population of that area of Minas Gerais has a strong influence on the Northeastern Brazil. The building of the Sobradinho Hydroelectric Plant, before Petrolina / Juazeiro, affected the waterway, although the São Francisco Hydroelectric Company (CHESF) built a lock by the dam to ensure the free passage of vessels. The tourists can go through, from Xique-Xique, in larger vessels, because the huge lake is subject to very big waves. This plant has provided electricity to the Northeastern region of Brazil since the 1970s. Its reservoir starts in Xique-Xique and, from there, the São Francisco River passes through canyons. Tourists can cruise in calm waters and see beautiful rock cliffs. Siltation and a reduction in water volume have made the waterway in the Mid San Francisco only suitable for small boats. The construction of the Três Marias dam in 1960 had reduced problems caused by sandbanks, because the steamboats’ captains would radio the Hydroelectric Plant’s staff to ask
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them to release more water from the dam’s floodgates so they could more easily float. The reduction in the lake’s size in recent years has compromised this solution. Although the Mid São Francisco receives water from important tributaries, such as the Paracatu and Urucuia, cruising from Januária to Matias Cardoso may be a problem during the most intense droughts. After Paulo Afonso, there is the Lower São Francisco, which runs through the states of Alagoas and Sergipe to its mouth in the Atlantic Ocean between. Its 32,013 square kilometres are home to 5.1% of the population of the river’s watershed. In this stretch, we find the Xingó Hydroelectric Plant, built in the end of the 20th century to generate power for the Northeastern region. The river runs through a large beautiful canyon. The Caatinga-type vegetation is present on both sides and there are many caves, which were occupied by ancient peoples. CHESF maintains the Xingó Archaeological Museum (MAX) with up to nine thousand years old artefacts.
road, but there is only one bridge between Pirapora and the border with Bahia, at Pedras de Maria da Cruz, which opened in 1996. The vehicles depend on ferries, for example between Manga and Matias Cardoso, affecting the region’s economy. The solution would be an integrated system of highways, waterways and railways, to allow the movement of passengers and goods, but a permanent policy to revitalize the basin and hence the waterway has yet to be defined. Januária port has been shut: there remains only a tiny anchorage for fishermen’s canoes who depend on fish for their own food and money by selling their surplus catch.
The importance of the São Francisco River on the colonisation of Minas Gerais since the sixteenth century.
In the mouth, the sea has advanced into the river, destroying Cabeço village and isolating a very old lighthouse, but the city of Piaçabuçu in the state of Alagoas still stands. The greatest problem is the salinisation of the São Francisco River water, which affects the work of the riverside people accustomed to fishing in freshwater.
The São Francisco River was discovered by André Gonçalves and Amerigo Vespucci and was named in honour of the Italian saint. However, Indigenous people called it Opará, which means great river or sea-river. Later on, in the North of Minas Gerais, it has been called Rio dos Currais (Corrals River), Rio da Passagem (Passage River), Rio do Gado (Cattle River), Rio dos Caminhos do Transporte de Ouro (Gold Transport Way River) and Rio dos Vapores (Steamboats River).
The number of fishermen in Januária has decreased due to the reduction of fish, which affected their trade. The transport of passengers and cargo is currently by
It became the main access to the hinterland of the new Portuguese colony. In 1522, the first proprietary of the captaincy of Pernambuco, Duarte Coelho, started raising cattle near the
Fishermen in São Franscico river, Pedras de Maria da Cruz MG Photo: Leo Drumond
mouth; São Francisco was then known as Rio dos Currais. It was a safe reference for those entering the jungle, because the explorers could return to the shore without getting lost in the immense territory, with many beasts and hostile tribes. The route involved traveling upstream toward the west and then south to reach the area that would many years later form the State of Minas Gerais. It was easy to realize that there were many tributaries, more or less mighty and with abundant fish, guaranteeing plenty of food to the travellers. According to Januária-born Professor Manoel Ambrosio, the first explorers who came to the Januária region would have been the Castilian Francisco Bruza Espinosa and the Jesuit John Aspicuelta Navarro, who came from Europe with Tomé de Souza. King João III ordered the second governor-general of Brazil, Duarte Costa, to explore the riverbanks in search of a blazing mountain, which looked like a sun. With 12 Christian and some indigenous men, Aspicuelta and Espinosa left Porto Seguro on June 3, 1553. The priest would seek soul treasures and the other one wanted to find gold. They were in awe at the Resplendente Range, which would be Morro do Chapéu (Hat Hill), next to Januária (Almeida, M. J. 1960: 8). Antonio Emilio Pereira, however, claims that the departure of Porto Seguro took place in March 1554 and that they reached Barra do Mangaí between June and July 1554. They fixed a large cross at the entrance of a native village and built a small church (Pereira, 2013: 39-40). This information regarding the date and the arrival point is the same as that presented by Diniz, Mota and Diniz (2009: 97).
Benjamim Guimarães ship in São Francisco river Photo: Leo Drumond - NITRO
On June 24, 1555, Aspicuelta wrote a letter, which is the oldest document of the Minas Gerais civilization. He reported on the Tapuya people, who were fierce, naked, longhaired, sanguinary and with a barbaric language (Almeida, Maria Inês de 2011: 122). Pereira asserts that the priest did not claim he had seen the Resplendente Range, although he went 18 km downstream the São Francisco River (Pereira, 2013: 42), thus passing Morro do Chapéu, in the area that would become the municipality of Januária. The news that there were minerals in the region spread along the coast, encouraging other expeditions. The weather was mild and precious metals were hidden in prodigious soil. This aroused the greed of adventurers, who would then be rewarded by the Portuguese king, interested in extracting endless wealth of the new colony. The São Francisco River then became, in the following decades, a busy waterway between the coast and the countryside. The North of Minas was isolated in the nineteenth century, and that is the reason why an autonomous cultural universe was created, with contributions from cowboys, cattle drivers, boaters, “barranqueiros”, “carranqueiros”, rowers and fishermen. It presented the aesthetic and technical profile of the inhabitant of the North of Minas, manifested in a leather hat, special clothing, saddlery, ropes, canoes, board boats and eating habits, besides their own cosmology. This would become, later on, the São Francisco culture.
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The carrancas on the prow of the São Francisco River barges The boatmen of the São Francisco River attached carrancas – a distorted head carved in wood - on mid-sized vessels’ prow. They are zoomorphic or anthropomorphic sculptures, which embellish the freight barges to complete the structure and so that they can be identified at a distance, or by illiterate people. They would also protect the boat and break the water, scaring away evil spirits. They became totemic elements that provided sailors with the strength to face dangers and to move a vessel with the strength of one’s arms, in adverse conditions such as scorching sun, upstream current, storms, sandbanks or unexpected swirls. The riverside inhabitants with artistic skills sculpted the wood, setting imagination free to create these barge figures that differentiate the boatmen of the São Francisco River from the overall framework of the country’s sailors. The first references to the carrancas date back to 1888, but carved figures were found at the prow of boats since Ancient times and, many years later, were found on English, Spanish and Portuguese ships that arrived at the Brazilian shores. The boatmen craved for a supernatural explanation for stranding boats, sinking, drowning crew and the action of “elves” who could turn the vessel, resulting in total cargo loss. The carrancas then became ornaments in nicely decorated homes in distant cities, but they in the São Francisco, they remain for their mystical attributes to chase away evil beings that inhabit the river and its banks. Fishermen say that the carrancas groan three times to warn the crew of danger, as the “Caboclo d’Água” creature. The night trips are the most feared, because it is believed that the river sleeps in the dead hours so no one should stir the water to wake it up, preventing misfortunes. According to popular wisdom, as the river sleeps, fish lay on its bottom, the water’s mother comes out to comb her blond hair, snakes lose their venom, and the ones who drowned leave the bottom of the river to the stars (quoted by Diniz, Mota and Diniz, 2009: 106). Antonio Régis Filho, known as Master Bufunfa, was the most famous carranca artist of Januária. Currently, there are few artisans working and Liko de Oliveira is the
outstanding one. In the beginning, he used to carve the cedar with a machete, a hammer and a little saw, but today he uses chainsaws, saws, planes, cutting tools, hammer and carpenter’s clamps. His pieces are spread throughout the city or in luxurious houses of different cities, and have two opposing characteristics: some present a happy and docile profile, showing satisfaction with life, and others register, on their features, hatred and aversion to people, as well as wellendowed teeth. As a common denominator, both have bulging eyes. Evangelical groups disapprove the artist since the carrancas are considered to be demonic images.
The steamboats that cruise the São Francisco River since 1871 These boats had a diverse crew, consisting of stewards, sailors, firemen, cooks, pantry men, masters and foremen recruited among the riverside population to meet the needs of cargo and passengers transportation. The less skilled ones were discriminated in their villages because they were close to crime and performed iniquous tasks at low wages. The rowers of the small vessels worked with a long pole attached to their bodies by a band that would bruise their chests, causing deep wounds. Travelling on the river was, however, for these workers, a great adventure because the sailors would get in contact with different people and go to brothels in the calling points, getting women pregnant. Children would grow up without the father support.People from Januária nowadays say that they are the offspring without an official invoice. The crew also did illegal business, called “cururus”, that provided them with an excellent income besides the salary. Older men now tell stories of their childhood, when they walked on the whistle of a steamboat since they were 11 or 12. The boats are called steamboats (“vapores” in Portuguese) because they were driven by steam produced in a boiler fixed beside the furnace where wood was burned. The crewmembers were called “vapozeiro”, a syncopated form of “vaporzeiro”, a label created by the riverside people to name this type of vessel’s crew.
The first steamboat to sail the São Francisco was called Saldanha Marinho. In 1867, the engineer Henrique Dumont signed an agreement with the president of the Minas Gerais Province, director Joaquim Saldanha Marinho, to build or to acquire a steam vessel. After a trial trip, the boat left Sabará downstream Rio das Velhas, on January 10, 1871. It reached the São Francisco River for the first time on February 3 of that year and went to Boa Vista, in Pernambuco. In 1877, it was chartered by the fabric manufacturer, Companhia Cedro Cachoeira that, for many years, sold their fabrics by the river. It was disabled in the late twentieth century and it is currently in a square of Juazeiro (Bahia, restored and full of memories of its glorious past in the São Francisco waterway. Several steamboats cruised the São Francisco River, such as Matta Machado, Luiz Vianna, Djalma Dutra, Cordeiro de Miranda, Siqueira Campos, Barão de Cotegipe, Governador Valadares, Raul Soares, Engenheiro Halfeld, Antonio Moniz, Delsuc Moscoso, Fernandes da Cunha, Paracatu, Affonso Arinos, Curvello, Iguassu, Antonio Nascimento, São Salvador, São Francisco, Santa Clara, Otavio Carneiro, Juracy Magalhães, Jansen Melo, Bahia, Coronel Ramos, Sertanejo and Baependi Many stories are told about them. The Affonso Arinos sailed the Paracatu River. The Santa Clara sank on its second voyage in 1932. During the dictatorship of Getulio Vargas, many prisoners were dumped into the river, from Baependi, to drown (Diniz, Mota and Diniz, 2009). During World War II, the Barão de Cotegipe carried troops between Pirapora and Juazeiro, when they were patrolling the Northeastern region, because the inland displacement avoided Nazi submarine attacks on the Brazilian east coast. The Governador Valadares sank downstream of Lapa, Bahia, on September 6, 1950. The São Francisco was restored in 2000, but soon after a fire completed destroyed it, while anchored near the port of Pirapora. The São Salvador is currently being used in Ibotirama (BA) as a training ship. The Wenceslau Brás was the most luxurious one, and started cruising on May 26 1919. She patrolled the banks of the São Francisco River, when the so-called Prestes Column
crossed the hinterland, between 1924 and 1927. She was the first steamboat to be adapted to tourism. She was known as Ladies’ Paradise, due to the comfort enjoyed by first-class passengers. There were parties after dinner when the guests danced to the sound of accordion, guitar and tambourine. Foreign tourists flew from Rio de Janeiro to Belo Horizonte. They would then go to Pirapora on luxurious cabins of the Central do Brasil railway, opened in Pirapora, in 1910. There, they would take the steamboat to Juazeiro, through Januária. They would then go to Salvador, in order to start the voyage to their home country. Once the steamboat was stranded for several days in front of the Tamuá farm. The local population took the opportunity to sell corn, orange, mango, pequi, tamarind and umbu, as well as sweet made of buriti, pumpkin and coconut. Despite its high standard, this steamboat became scrap and is moored somewhere along the river. The Mauá was sought after, despite the fact that the downstream trip on the São Francisco took 8 to 9 days and the upstream one, 12 to 14 days. She was slower in stretches full of gravel or sandy banks. For several times, she ran aground and the crew had to use a boat to buy the staples from farms on the riverbanks, to replenish the kitchen both for crewmembers and passengers. The most famous steamboat was the Benjamin Guimarães. There is no documentary evidence, but according to tradition, she was assembled in the United States in 1913 by James Rees & Sons Co. She navigated the Mississippi River and was then sold to the Amazon River Plate Co. to cruise the Amazon River (Diniz, Mota and Diniz, 2009: 140). Acquired by Julio Mourão Guimarães, she was assembled in Pirapora, in 1920, to navigate the Old Chico. She attracted many passengers, who were delighted with the route between Pirapora and Juazeiro. Januária was a calling point. This steamboat was inactive, for some time. In 1985, she was listed by the State Institute for Historic Heritage, and was transferred to the Municipality of Pirapora in 1997, which restored her in partnership with the Federal Government. In 2004, she was relaunched, and was used for sightseeing trips
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Fishermen in Sรฃo Franscico river Januรกria, MG Photo: Leo Drumond
in the Pirapora region until 2014, when the low water level risked navigation. Her capacity was, at first, 200 passengers. She sailed at 19 km per hour downstream, and 8 km/h, upstream. The firstclass passengers enjoyed good accommodation and a very nice restaurant. The second-class ones had their meals in front of the kitchen served in enamelled plates. It is not known when the tours around Pirapora will resume. As the siltation, indicated by sand crowns that appeared in the middle of the river bed or next to the margins, increased, so did the discomfort of travellers and the trip became burdensome. It was also uncomfortable for passengers, who had to endure food restriction and delays on their commitments, feeling unsafe. A long journey was an opportunity for passion, hatred and jealousy to arise, while prolonging the journey also aroused the feeling of impotence, since the group was imprisoned, not being able to leave the vessel. The crew tried to solve all the problems, even if it demanded heroic efforts to free the boat of sandy banks or shallow waters. This siltation was a result of the destruction of the riparian vegetation, used to feed the steamboats’ furnaces, as well as extraction of hardwood, exported to the United States, Belo Horizonte and Rio de Janeiro. At that time, huge tree trunks were tied together and travelled downstream as if they were rafts piloted by one or two men, armed with a lamp. River navigation was economically good for Januária and other cities along the riverbanks from the late eighteenth century to the 1970s. Several companies explored this activity for many decades, such as the Companhia Viação Central do Brasil, Viação Baiana do São Francisco, Empresa de Viação e Comércio do São Francisco, Empresa Fluvial Ltda., Companhia Indústria e Viação de Pirapora and Navegação Mineira do Rio São Francisco (Diniz, Mota and Diniz, 2009: 113). On January 24, 1963, the Companhia de Navegação do São Francisco (Franave) was established with the assets of the above companies to promote navigation on the river. It was a government-controlled private company, with shares belonging to the Federal Government, the State of Minas Gerais, the state of Bahia and individuals. The company was dissolved by a Federal Government decree on January 22, 2007. The steamboats were burnt or disassembled, the pieces being traded
in junkyards, for the astonishment of the population of Januária.
The importance of the São Francisco River to the riverside population. A river is very important for the inhabitants of its valley, although it may sometimes flood, causing loss of crops, slaughtering animals and destroying assets that were hard to build. The benefits, however, outweigh these problems because everyone has free access to goods essential to survival, such as water and fish. They ensure comfort and food, plus the surplus for trading, that is, an income to buy other goods produced elsewhere. For centuries, the population along the São Francisco River have acknowledged its importance due to the great volume of its bed, fed by dozens of tributaries and subtributaries. This would guarantee agricultural activities, creating a special cosmology from experiences in its margins and, through navigation, it provided mobility throughout the middle stretch, where the trips entailed vigorous trade, adventures, contact with distant populations and abundant food. The river belonged to the inhabitants of the valley that used it for amusement, for personal hygiene, for environmental cleaning and for food. They were so familiar with the fish that they developed techniques to use them in therapeutic procedures, such as to cure flu, renal colic and earache. They could also safely cross the river in fragile vessels and enjoy themselves in many ways. The river was their world. It was their universe. The country will profit immensely from a proper regeneration program for the São Francisco River Basin, including the recuperation of springs and fountains in Minas Gerais, the protection of riparian forests and native vegetation, the implementation of sanitary measures and sustainable economic activities. Among them, tourism is the most suitable one, since it is aimed at travellers who want to enjoy natural treasures preserved in their best, in healthy conditions and with hosting spots that guarantees safety, comfort and unique experiences.
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Chapter II
The region between the Pandeiros Creek and the border with Bahia This an area of low population density, in which the subdivision into smaller municipalities is almost impossible, inasmuch as urban services cannot be properly provided the way they are prescribed by the applicable laws of Brazil due to their costs, which cannot be covered by the budget of small communities. Municipalities herein described are located between the Pandeiros Creek and the Carinhanha River, and were selected among others of the Extreme-North of the State of Minas Gerais considering their touristic singularity. All of them belonged to the Municipality of Januária until the 20th century: Bonito de Minas, Cônego Marinho, Itacarambi, Pedras de Maria da Cruz, Matias Cardoso and São João das Missões. The population of all those towns is highly dependent on Januária as far as commerce, health care, higher education, banking and other services are concerned.
Bonito de Minas The municipality of Bonito de Minas has an area of 3,905 km², with a population of 9,673 inhabitants (2010 - IBGE: Demographic Census). The name, which means “beautiful”, is a tribute to the beauty of the vegetation of the Cerrado, stretching all the way to
Bonito de Minas, MG
Bahia, with various watercourses and buriti palms along the way. This motivated the creation of the Veredas do Peruaçu State Park, preventing the extraction of wood and establishment of pastures, as well as the depletion of the soil and water resources. The border with the State of Bahia is very long, along the Carinhanha River, a tributary of the left margin of the São Francisco River. The municipality is distant from the São Francisco River, but it is connected by paved road to Januária and Cônego Marinho. The southern boundary with Januária is marked by the Pandeiros Creek. The spring of the Catolé Brook, Pandeiros’ main tributary, is also located there. Vereda is an ecosystem characteristic of the Cerrado, existing in places with permanent humidity and buriti palms. It is an openair water reservation that shelters animals among the chapadas, which abound in that biome. It thus become a source of food and a place for the reproduction of the aquatic and terrestrial fauna. In addition, its springs keep the watercourses perennial during drought periods. Bonito de Minas was, until 1937, a resting spot for cattle drivers from Goiás on their way to the Januária port. One of them made a request to the owner of the place, Mr.
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João Antônio Coutinho, to create a village. A piece of land was delimited for the allocation of residences, a school, shops, squares, a church and a football field, according to the urbanistic design. Small lots where distributed for those wanting to reside there. Afterwards, the Bom Jesus Church was built, opened in 1939, with the enthroning of the images of the patron saint and of Our Lady of Help, acquired in Bom Jesus da Lapa, Bahia. The municipality became independent of Januária in 1995 and was established on the first day of 1997. In addition to the Catolé Bathing Resort, it also encompasses part of the Pandeiros Creek wetlands as well as the Gavião Waterfalls, in Carinhanha River. The town is located 653 km from Belo Horizonte and has scarce urban services available.
Cônego Marinho The Municipality of Cônego Marinho has an area of 1,642 km², with a population of 7.101 inhabitants (2010 - IBGE: Demographic Census). It contains three biomes: Cerrado, Mata Seca (Dry Forest) and Caatinga. The village appeared in 1800, in the Municipality of Januária, with the name of Saco dos Bois. The lands were fertile and water was abundant, presenting good conditions for extensive cattle breeding. In 1923, it became the District of Cônego Marinho. It was finally emancipated in 1995, keeping the same name. It has scarce urban services available, such as hospitals, leisure areas and
Main church in Brejo do Amparo, MG
diversified commerce. The village of Candeal is located there, with an area where a high-quality clay can be found, which is very useful for modelling. Women have developed a type of ceramic inspired by the local indigenous tradition, used for manufacturing various vessels, both for domestic use and public celebrations. Because of their great skill, they received the support of the “Comunidade Solidária” program between 1995 and 2002. That federal program was aimed at the improvement of the work force qualification, as well as generation of income and recognition of the traditional art, elevating the crafters’ selfesteem. The Candeal Potters’ Warehouse (Galpão dos Oleiros do Candeal) was built for the ceramic crafters, so that they could work more comfortably as a team. However, due to the death and departure of some of the participants, the Warehouse is idle now. The crafters that persist find it difficult to sell their products and earn a reasonable income from their work. Those ceramic workers are known as Paneleiras do Candeal. They participated, in 1996, of a handicraft fair at the Rio de Janeiro Museum of the Folklore and sold many pieces for the members of the elite of Rio, who decorate their houses with popular art. They were also present at the National Handicraft Fair, in Belo Horizonte. They sometimes have problems with intermediaries, who make an unfair trade. Now they exhibit and sell their art at the Centro de Artesanato da Região de Januária - Ponto de Cultura. Their
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art consists of teapots, jugs, dishes, cups, jars and pots of different sizes, with a singular aesthetic, which often preserves their regional characteristics. When they model the clay, they first test its consistency, rejecting it when it is too strong or too weak. When the clay is too strong, they soften it with sand and, when too weak, they strengthen it with manure. The clay is then transported to the pestle or to the sieve. Afterwards, it is crushed with water in a trough. Then they use pieces of gourd, corncobs, shoe soles, knives, paintbrushes, mucumã seeds, rags and wood covers to mold the pieces. Dying is made with industrial aniline and yellow clay dissolved in water, as well as huito and achiote. Every artisan has created her own logo, which is stamped on each piece as a signature. A banner painted on the warehouse’s wall shows all those logos, identifying the group members. They believe that their craft is affected when they handle the clay either in the waning or in the new moon. They do not like it when someone casts an “evil eye”, since envy brings forth disgrace, affecting the product’s quality, breaking finished pieces or jeopardizing the sales.
Itacarambi The São Francisco River flows through the municipality of Itacarambi, so that part of the town is located at its right margin. The total area covers 1,225 km², with 17,720 inhabitants (2010 - IBGE: Demographic Census). A considerable part of the Cavernas do Peruaçu National Park is located there, sheltering around 80 archaeological sites and 140 caves. It belonged to Januária until 1962, when it became independent. The biome is divided into Cerrado, Mata Seca and Caatinga. Its name is related to the hill located near the Town Hall, square-shaped and formerly called by the indigenous people ita (stone), caram (face) and bi (two). The population keeps a close relationship with the São Francisco River, because the town is located at its margins. There is a square, close to the pier, which became a meeting point for the community. That space features a footbridge, benches and a kiosk. There are also statues of folkloric mythological entities (Caboclo d’Água, Mãe d’Água and MulaSem-Cabeça), animals of the nearby forests
(jaguar, tapir and alligator) and big fish of the river, such as surubim, curimatã and gilded catfish (dourado fish). Itacarambi is implementing the project known as “Cidadania Ribeirinha” (Riverside Citizenship) to foster touristic activities at the Cavernas do Peruaçu National Park. The project’s goal is to provide an ample support program to travellers, with an infrastructure for guided visits to the main points of its archaeological and speleological treasures.
Pedras de Maria da Cruz The Municipality of Pedras de Maria da Cruz covers an area of 1,526 km², with the biomes of Cerrado and Caatinga. Its population is 10,315 inhabitants (2010 IBGE: Demographic Census). It is located at the right margin of the São Francisco River. It was part of Januária until April 27, 1992. At that point, the river is voluminous and attracts many fishermen from different points of the State of Minas Gerais. The only bridge over the river between the city of Pirapora and the border with the State of Bahia is located there, and its construction was finished in 1996. Until then, mobility to Januária and other population centres of the left margin was possible only by boat or ferry, which was extremely wearisome. Its name is a tribute to Maria da Cruz Porto Carreiro, who was born in Penedo, near the mouth of the São Francisco River, in Alagoas. She became a leading figure of the rural areas of Northern Minas Gerais in the eighteenth century. According to Diogo de Vasconcelos and Waldemar de Almeida Barbosa, she was the most respected person of that region, from the Guararavacã do Guaicuí all the way to the Carinhanha River. Maria da Cruz’ parents were Domingas Francisca Travassos and Pedro Gomes de Abreu. She married Salvador Cardoso de Oliveira, nephew of Mathias Cardoso de Almeida, founder of Morrinhos, today part of the Municipality of Matias Cardoso. They both decided to live in Brejo do Salgado, but she did not feel happy about it, because she could not see the São Francisco. Her husband then purchased a piece of land, called Pedras de Baixo, at the other side of the river. There, she dedicated herself to the instruction of outcasts, teaching them notions of hygiene
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and citizenship rights. She implemented, in the village, cotton looms, leather workshops, blacksmith tents, carpentry workshops, music schools and regular schools for the professional qualification of youths. She gained their friendship, but at the same time angered the authorities from Portugal. After becoming a young widow with three children, she took over the business (land and cattle) and began to supply the mining region with food. In 1736, she was denounced as leader of the rebellion known as “Motins do Sertão”, against the “Capitação” Tax. In two occasions, armed men attacked São Romão, where the local government was located, being very violent on their way. Maria da Cruz was arrested, along with her son, Pedro Cardoso de Oliveira and other rebels. They were then transferred to Ouro Preto and, later, to a fortress in Rio de Janeiro. After being taken to Salvador, they were tried in 1738. Pedro Cardoso was sentenced to exile in Mozambique, where he died. Maria da Cruz was also sentenced to exile, but received amnesty from Dom João V, king of Portugal, short before departing. A few years later, she returned to her farm, in Pedras de Baixo, where her will was opened on June 23, 1760. The District of Pedras de Maria da Cruz was created on August 30, 1911, under the Municipality of Januária. It was raised to the category of independent municipality with the name of Pedras de Maria da Cruz on April 27, 1992. It was established on the first day of 1993, comprising, in addition to the main district, the District of São Pedro das Tabocas. The economy is based on agriculture and livestock. It is a very small town, with few urban services available.
São João das Missões São João das Missões is a small town, formerly part of Januária and Itacarambi. The population is 11,715 inhabitants (2010 - IBGE: Demographic Census). It covers an area of 678.274 km²; the population density is, therefore, 17.27 inhabitants/km². The inhabitants are referred to as “missionenses”. The indigenous reservation of the Xacriabás is located there. It is located 18 km away from the São Francisco River. The biomes are Cerrado and Caatinga. The economy is based on
agriculture and livestock. The first inhabitants were the Xakriabás. The pioneer Mathias Cardoso de Almeida, who arrived there by the end of the seventeenth century, founding the Ranch Morrinhos, which became the present Municipality of Matias Cardoso, first settled the region. São João das Missões was called São João dos Índios, due to a tree, very common in the region, known as “São João”. At the time when it was being settled, an image with indigenous features was found inside the hollow of a tree. It was taken to Morrinhos, but reappeared at the very same place. The inhabitants ascribed the fact to a miracle, attracting people from distant lands to the village, turning it into a place of pilgrimage. A chapel was built, which became the Church of São João das Missões, where the old image is still preserved. The exact date of the building remains unknown. At a cross, placed in front of the church, the year 1810 is printed. The feast of Saint John the Baptist, celebrated since then, is the town’s greatest celebration. It takes place from June 22 to June 25 every year, attracting pilgrims and visitors from the entire region.
Matias Cardoso Matias Cardoso is the northernmost municipality of the State of Minas Gerais at the right bank of the São Francisco River. It covers an area of 1,950 km², with 9,979 inhabitants according to the 2010 census. The name is a tribute to its founder. In 2011, it was officially recognized, by means of the 89th Amendment to the Constitution of Minas Gerais, as the state’s first fixed settlement, although its territory was part, during the seventeenth century, of the Captaincy of Bahia, and the parish was part of the Archdiocese of Salvador. Since that year, that small town becomes the State Capital every December 8, to celebrate the “Gerais Day”. Captain Mathias Cardoso de Almeida was a member of the Bandeira expedition led by Fernão Dias Paes and was fully trusted by his leader, but nevertheless left the expedition and joined the new governor and administrator of Esmeraldas, Dom Rodrigo Castelo Branco, who was murdered by the group led by Borba Gato, at the valley of
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the Das Velhas River. Afterwards, Mathias Cardoso was appointed Field Captain by the governor of the province of São Vicente and São Paulo, to fight against the indigenous people and the quilombolas (runaway slaves) at the margins of the São Francisco and in various parts of the Northeastern Region. He led an expedition with Colonel João Amaro Maciel and 1,200 men, forming two groups. He arrived, in 1690, at the Verde Grande River, where he founded a village. Then he travelled with his son, Januário Cardoso, to the states of Ceará and Rio Grande do Norte, accomplishing his mission. When his son returned, he found the degradation of the village founded by his father, due to floods and attacks by outcasts. He then transferred the village to three hills at the margin of the São Francisco and built a church to honour Our Lady of the Conception. That village formed the first parish of the future State of Minas Gerais, established in 1695, by order of the archbishop of Salvador. The district was created with the name Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos, through a decree of 1755. In 1923, it was separated from the Municipality of Januária to form the new Municipality of Manga, with the name of District of Matias Cardoso. In 1992, it became a Municipality, being independent of Manga and keeping the name. It was established on the first day of 1993. Today, it shelters the Verde Grande State Park and the Lagoa do Cajueiro State Park. The city is close to the São Francisco River. Other municipalities have been created since
Craft sale at the “Ponto de Cultura” (Culture spot) Photo: Gilda de Castro
1923, after the fragmentation of Januária’s large territory.
Manga, Juvenília, Miravânia e Montalvânia Manga, located at the São Francisco Valley, at the left margin, lies right before the last municipality of Minas Gerais. It covers an area of 1,968 km², having, in 2010, 19,846 inhabitants. Bordering towns are Montalvânia, Juvenília, Malhada (BA), Matias Cardoso, São João das Missões and Miravânia. The climate is semi-arid. It is located 709 km away from Belo Horizonte and travelers need to take the ferry to reach the right margin of the São Francisco River. Its history began by the end of the 17th century, when the bandeirantes Antônio Filgueiras, Januário Cardoso and Mathias Cardoso de Almeida fought against the indigenous people who inhabited the margins of the São Francisco River. After winning the battles, they founded villages in that region, which abounded in gold and precious stones. Filgueiras founded the first sugar cane mill (engenho) of the Far-Northern Region of Minas Gerais, in São Caetano do Tapuré, around 1694. A catholic church was also built there. The village was located five leagues away from a harbor in the São Francisco River, at the place known as “Mangas”. (IBGE, 2015). There lived the man who would turn out to be
the first dictator in South America, Manoel Nunes Viana, a former traveling salesman of Portuguese nationality who led the so called Emboabas War. In 1891, the District of São Caetano do Japoré was created and it became a municipality with the official denomination of “Manga” in 1923, after being emancipated from Januária (IBGE 2015). It gave rise, in the following decades, to the municipalities of Juvenília, Miravânia and Montalvânia, as well as Matias Cardoso, as already described. Juvenília is the last town of the left margin of the São Francisco River, in the State of Minas Gerais. It has an area of 1,065 km² and 5,708 inhabitants. Its border with the State of Bahia is marked by the Carinhanha River. The surrounding municipalities are Feira da Mata, Carinhanha and Malhada, located in Bahia, as well as Manga and Montalvânia, located in Minas Gerais. It was emancipated from Manga in 1996. The climate is semi-arid and the biomes are Cerrado and Caatinga. It is located 803 km away from Belo Horizonte, through unpaved road to Manga, and is far from the São Francisco River. Miravânia covers an area of 602 km², with 4,549 inhabitants. It was emancipated from Manga in 1995. The town is surrounded by Montalvânia, Manga, São João das Missões and Cônego Marinho. The climate is semi-arid. It is located 97 km away from Januária and 700 km away from Belo Horizonte. Montalvânia covers an area of 1,504 km², with a population of 15,862 inhabitants in 2010. Surrounding towns are: Cocos (Bahia), Juvenília, Manga, Miravânia, Cônego Marinho e Bonito de Minas. It is located 782 km away from Belo Horizonte, and its history began with Antônio Lopo Montalvão, who, with the intention of stopping the arbitrary acts of the coronéis (oligarchs) of Manga, founded a village where people could live in peace, buying a farm in 1952 and calling it Montalvânia, which was emancipated in 1962. Januária has a chapter of its own, due to
its importance as the mother-city of this large area. Its dynamic economy makes it a regional pole, although it still orbits the city of Montes Claros, the main city of the North of the State.
Handicraft in those municipalities Ponto de Cultura (Culture Spot) is established in Januária, gathering craftwork from that city, as well as from Bonito de Minas, Cônego Marinho, Pedras de Maria da Cruz and many other villages to be sold. There are several types of works, such as wooden pestles, funnels, plant fibre baskets, troughs and hammocks made from moriche straw. There are also flags, miniature steam ships, ceramic artefacts, wooden sculptures of saints, carrancas, both human and animal figureheads, all of them built with the regional aesthetics. The gameleiros (trough makers) of Bom Sucesso, for example, belong to 25 families who live out of that work. The use cedar, umburana-de-cheiro, umburana branca, taipoca or tamboril to craft troughs, basins, plates, pestles, boards for cutting meat, barrels for aguardente (sugar cane rum) and ashtrays. The women stay in the village, polishing the pieces, which are then sold at the side of the road. During the rainy season, the artisans work in the fields, in order to store up food in their houses and ensure food supply for the whole year. The master of tinsmith craft is Irênio de Souza Santana, who, being 96 years old, still works in Januária. He uses tinplate and zinc plates to craft mugs, lanterns, graters, buckets, pans, chocolate pans, couscous pans, trays, moulds, fire-pans, funnels and candlesticks. His craft of tinsmith is also known by several names in Portuguese: funileiro, latoeiro, folheiro, flandreiro and bate-folha. He has been working on request since the decrease of the demand, due to the advent of plastic materials, which are easily affordable. The craft house is kept by the local government and ensures part of the income of the member artisans.
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Chapter III
Januária: matrix city in the northernmost portion of Minas Gerais Januária is the most important city in the northernmost portion of the state of Minas Gerais. It is the centre of diverse business activities and regional public services, as well as several higher education institutions. Considered a college town, it is also home to a large number of independent professionals. Some students still travel to neighbouring Montes Claros to attend courses that are not offered in the city.
Carinhanha, Verde Grande, São Francisco and Pardo Rivers defined its limits. There are now 10 new municipalities within that area: Bonito de Minas, Itacarambi, Cônego Marinho, São João das Missões, Pedras de Maria da Cruz and Manga; from the latter sprung Miravânia, Juvenília, Montalvânia and Matias Cardoso. The city is located 603 km from Belo Horizonte and 160 km from Montes Claros.
The municipality is located in the Januária Microregion and in the Northern Minas Gerais Mesoregion. It is U shaped and the city is placed at the junction of the two arms of the U, which adds challenge to its administration. Encompassing the districts of São Joaquim, Riacho da Cruz, Cruz, Levinópolis, Tejuco, Várzea Bonita, Brejo do Amparo and Pandeiros, the limits of the municipality are Cônego Marinho, Bonito de Minas, State of Bahia, Itacarambi, Pedras de Maria da Cruz, São Francisco and Chapada Gaúcha.
Januária was an important commercial outpost at the time when navigation on the São Francisco River, between Pirapora (Minas Gerais) and Juazeiro (Bahia) was intense. It was where the cattle drivers from Goiás and the boatmen gathered and exchanged merchandise, ideas, and information. The river’s dramatic decrease in flow and fishery reduced fishing, and ended the operation of steamboats, that once transported cargo and many passengers between the Northeastern region of Brazil and the interior of the state of Minas Gerais. The city kept its position as a regional hub by preserving farm-based businesses and developing a dairy industry, as well as by the production of the Brazilian sugarcane rum known as cachaça. Nevertheless, it faces challenges
It is the fourth largest municipality in the state of Minas Gerais, occupying an area of 6,662 km2, with a population of 65,463 inhabitants according to the IBGE census of 2010. It was of considerably larger area at the beginning of the 20th century. Back then, the
Januária pier with walls painted by artist Waldecir Guimarães
brought about by low rainfall. Deforestation to create grazing areas, the implementation of eucalyptus plantations to produce charcoal and the harvest and commercialization of hardwoods caused further environmental degradation. However, the area also contains some natural and archaeological treasures. The city is located in a flat area, with slight variations in elevations, on the left bank of the São Francisco River. The highest point of the municipality is Morro do Itapiraçaba, which is 794m high. The lowest point is at the mouth of the Peruaçu River, at 444m. The soil is formed from sedimentary rocks of the Bambui Group, consisting of arkosites, limestone and dolomites. Prior to the 1970’s, it rained a lot in the region between October and February. Floods were common and caused economic losses, particularly in the lower parts of the city, as occurred in 1979. After this period, there was a reduction in rainfall amounts, affecting navigation, the river moved farther away from the old wharf, which was then abandoned. The predominant vegetation is xerophyte, that is to say, vegetation adapted to the dry conditions of the Mata Seca and the Caatinga biomes. However, there are still buriti thickets, particularly near the head of the Pandeiros Creek. The dry palm fronds from the buriti are used by craft artists to weave baskets in the indigenous tradition. There is also mastic, tinguis, muricis, pequi, jatobas, araticuns and embares in the forests of the municipality.
Município de Januária, MG
The mineral resources within the Januária Municipality are comprised of lead, zinc, silver, crystals and limestone. Many of the streets are narrow and paved with flat sheets of a local marble. The predominant architectural style is as that of the Northeast of Brazil, with terrace houses. Commonly, houses have a front door that leads to a room to be used as a small shop or family business, and the family lives in the back. Sometimes the houses are painted in vibrant colours, giving a special colourfulness to some streets. Some properties are in the Portuguese architectural style and display volutes, floral ornaments, geometric figures, and sometimes the date of the construction or the family name. The town hall was built in 1894 in the eclectic style, with wide eaves and 32 windows. It is a one level building in the shape of an H. The elite moved, some years ago, to a more elevated area, on the way to the Vila Brejo do Amparo, forming the Alto dos Poções neighbourhood. The lots are large, and the houses sit back from the street, with high walls or railings in front and therefore out of sight of passersby. According to an interviewee, in the old days, while coffins went up that way, oxcarts came down. The Januarenses (people of Januária) have their history linked to the São Francisco River, as the river was their main source of food, and fishing was free, in an area where the large landowners were very strict in the preservation of their landownership. The river
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guaranteed abundant food, at no monetary cost, requiring just fishing, which was a mix of work, leisure and adventure. According to old fishermen, fish were so abundant that they could be caught by hand, there was great satisfaction when they caught surubins, curimatas and dourados that weighed 50 kg or more. For some present day critics, that would have led local people to become lazy, because it was easy to provide for the family, and therefore they did not need to work the land, which was also more difficult because of rudimentary equipment and technology. Farming did not come with adventure, as fishing did, with all the unforeseen situations and the dream of catching the biggest fish. There was also the partnership and alliances formed among the fisherman, with its contradictions of love and hate, loyalties and aversions, respect and disillusionment. But overall it led to a rewarding experience, as the feeling that prevailed was that of belonging to a guild of fishermen. Some families relied on farming the land near the riverbanks after the annual flood. When the water level lowered, a fertile mud, rich in nutrients was left on these lands. Local families then grew manioc, squash, sweet potatoes, fruit, maxixe, beans, tamarind, sugarcane and vegetables, which filled their pantries and provided surplus for selling. It meant abundance for the family, as they did not have to share the crop with a landowner. The river was, above all, the best choice for travelling on business or tourism, and for searching opportunities in Bahia, Pernambuco or in the central areas of Minas Gerais. To travel to Minas Gerais there were two options: to navigate to Várzea das Palmas and then take the Das Velhas River to Sabará, or to navigate to Pirapora and from there take the Central do Brasil train to either Belo Horizonte or to Rio de Janeiro. This railroad was decommissioned at the end of the 20th century, and the people of Januária now address most of their needs in Montes Claros, from where they can travel to other parts of the country. After the reduction in river flow, grass took over the old riverbed and now the river can no longer be seen from the city, except from the point where the old wharf was located. The two columns that formed the entrance to the old port were demolished. A road and a
ramp were built. The ramp is used to access the riverbank and, from there, a canoe is used to cross to the beach on the other side of the São Francisco River, in the municipality of Pedras de Maria da Cruz. The river wall is around 8 meters high on the riverside, which shows how mighty the river used to be. The Januarenses can no longer watch the old River flow. They mourn the loss saying that, previously, they felt as if the river could take away their sorrow, pain, and sadness. It is not as easy to fish any longer and they have lost, above all, the waterway, that was so useful when travelling to other cities.
The History of Januária The expedition led by Espinosa and Father Navarro left Porto Seguro in 1554 and arrived at Barra do Mangaí four months later. During the next decades, other expeditions came, and conflicts with indigenous people were inevitable. Adult men were decimated and women were enslaved. Provincial Governor Fernão Dias Paes, commissioned by the King, left São Paulo on September 24, 1664, on a search for precious stones in the territory that would later become the state of Minas Gerais. According to previous reference, Mathias Cardoso de Almeida was on this first expedition, but joined Dom Rodrigo de Castelo Branco’s expedition later, when Castelo Branco became Governor and Administrator of Esmeraldas and took over Dias Paes’s position. They left São Paulo in April of 1681. An uprising commanded by Borba Gato took place in the Valley of the Das Velhas River and led to the assassination of Castelo Branco (Pereira, 2013: 50-51). At that time numerous gypsies, fugitives, escaped convicts and slaves found their way into the tribes that lived in the São Francisco Valley and incited them into violence (Pereira, 2013: 59). The governor of the province then assigned Mathias Cardoso de Almeida as Field Captain to pacify the Middle São Francisco River. The Captain traveled with his son, Januário Cardoso, and obtained the support of Manoel Pires Maciel, who lived with the Caiapós Indians in Itapiraçaba and had a son with the daughter of the tribe’s chief. In spite of the kinship, Maciel expelled
the tribe from their land, and kidnapped the woman and child. He had the woman baptized as Catarina, and married her. He then founded a village and named it Brejo do Salgado (Salty Swamp), because the water in the creeks and swamps was salty. He started farming in the area and produced mainly sugar cane. He built the first mill to produce sugar cane rum. He also built a chapel in honor of Nossa Senhora do Amparo (Our Lady of Perpetual Help), which became the patron saint for the village. This happened between 1699 and 1703 (Pereira, 2013: 76). The area’s reputation for its mineral wealth and developments attracted to the area adventurers, cultivated people, and rich merchants from the capital city. At that time, slaves worked the land, free men explored the mines, and the nobility dressed according to the fashion of Paris. In a few years, trade became strong. Production was transported through a port on the river, which became known as Porto do Salgado, located about 4 miles away from the village. Boatmen coming from Bahia would stop to trade kerosene and salt with the cattle drivers from Goiás, who supplied tobacco, raw brown sugar and hides. Meanwhile, a slave named Januária escaped from a farm, established herself in the area and started a boarding house, where travelers would spend the night. In 1814, Brejo do Salgado became a “Julgado” (a community with a judge) through order of the Prince Regent, and disconnected itself from São Romão, which had had this status since 1720. It became a Village in 1833, by resolution of the President of the Province, and its headquarters was transferred to Porto Salgado on October 12th, 1834. The village then received its new name – Januária - in honor of the Imperial Princess, daughter of Dom Pedro I. Emancipated by Law 1.093 on October 7th, 1860, Januária had, at that time, 500 well-built houses, forming aligned streets that followed the principles of urban design. As for the decision on the name of the city, besides the official version, there are two other versions. The first one says it was in honor of Januário Cardoso, a pioneer in the region. The second is that it was in recognition of the slave Januária, for her longing for freedom and because of her
notoriety with travelers: I’m going to stop at Januária’s (boarding house) or I’m going to sleep at Januária’s. This hostess was, therefore, an important reference in the port village, as she accommodated the passersby’s and established the first trading post for the boatmen of the São Francisco River and the muleteers from Goás. The economy of Januária was based on agriculture. The main crops were sugar cane, beans, rice, cassava, sweet potatoes, cotton, corn, mango, watermelon, orange, and castor oil beans. The production of cachaça started in the 17th century. The Januárians (people originally from Januária) developed their own distilling techniques in local distilleries and developed a special process for ageing the cachaça in barrels made of umburana, a Brazilian hardwood. This ensured recognition of the high quality of their product into the 21st century. Januária benefited greatly from the intense traffic of boats between Pirapora and Juazeiro, as its port was located at a strategic point on the São Francisco River. Many merchants came by and traded agricultural and manufactured products, which granted the city, for several years, the position of a regional center. Although Evangelical churches have been steadily expanding their presence in the municipality, the population is still predominantly Catholic. The Diocese of Januária was established on June 15, 1957, by Pope Pius XII’s Bull Lacto Auspicio (Auspicious Happiness), which broke up the Montes Claros Diocese and annexed the Paracatu Prelacy. The Diocese of Januária is a suffragan to the Archdiocese of Diamantina. It covers an area of 56,341 km2, encompassing parishes of 17 municipalities. Our Lady of Sorrows is the patron saint for both the city of Januária and the Archdiocese of Diamantina. The inauguration ceremony and enthronement of the first bishop, Dom Daniel Tavares Baeta Neves, took place during the Festivities of Christ the King, on October 26, 1958. The celebration was attended by the president, Jucelino Kubitschek de Oliveira, who, at that time, also inaugurated the Usina Central de Pandeiros electrical power plant, providing Januária with electricity.
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Home of the São Francisco Valley Memorial This memorial was created by Municipal Law nº 1066, on May 20th, 1981. It is a nonprofit organization, headed by Professor Maura Moreira da Silva. It houses a precious collection on the Valley of the São Francisco River, and encourages research on Archeology, History, Crafts, Music and Folklore in the municipalities of the Mid São Francisco Valley. Its collections are a source of admiration and respect by the local people for the archeologic, historic, and artistic wealth of the region. The institution promotes courses and seminars on folklore, craft, theater and music; it also enters into agreements with governmental and private agencies for the implementation of cultural projects and programs. The activities of the Memorial made it possible to record human occupation in the region since the 17th century, and to preserve traditions, tools and techniques used in the development of the area. It also serves as a visitor center, receiving those interested in discovering the natural beauties of the valley. Ultimately, it helps create the right environment to develop a sense of commitment in the local population and visitors alike, concerning the São Francisco River. The building that houses the São Francisco Valley Memorial was occupied, until 1970, by the old Januária County Courthouse; after that, it was used as a warehouse by City Hall. It had been damaged by several river floods and
Home of the São Francisco Valley Memorial
was in critical conditions, but was restored by the State Institute of Historical and Artistic Heritage of Minas Gerais (IEPHA) in 1986. It is a neoclassical building with two floors, at Plaza Arthur Bernardes, the principal location in the city. The construction of the building, partially finished at its inauguration in 1885, was completed in 1904. The structure housed the city’s jail on the first floor, and for that reason, its walls are almost one meter thick, and there are reinforced iron bars on the windows and doors of four rooms, which were used as cells for prisoners. Other rooms were used by the Judiciary System, housing offices such as the Second Notary Office. This type of structure, housing both the Court House and city’s prison was also found in other cities in the state of Minas Gerais between the end of the nineteenth century and the first half of the twentieth century. Some of these buildings were demolished and others were repurposed. The one in Januária was repurposed and now houses this memorial center. Currently, the board, the library and classrooms occupy the first floor. Painting, music and sewing lessons are offered to the community at low cost. The second floor, which used to house the Januária County Court, now contains several antique items that will form the future city museum. Leading up to it, there is a threeflight wooden staircase with curved railings. There is an anteroom with a wide foldable door that opens onto a balcony facing Marechal Deodoro Avenue. The staircase also leads to the Courtroom and to a hallway
accessing the old justice’s office. On this upper floor, there are fifteen windows. The parapet finishing the walls boasts embossed stars and floral arrangements, which were common in sumptuous buildings of the early twentieth century. The collection contains religious robes, furniture from illustrious local families, documents of the municipality and of the Catholic Church, work tools, religious statues, photographs of city personalities, antique home decorations, educational materials and many other objects that will be preserved according to museology parameters, in order for the assets to acquire the status of Museum of The São Francisco Valley. In the old courtroom, a new venue was created. The Alvaro Andrada Art Salon seats 70 people and is used for the performance of theatrical plays, for meetings, courses, and arts and crafts exhibits.
The Brejo do Amparo District and Our Lady of the Rosary Church Brejo do Amparo is a district of the municipality of Januária, located about 6 km from this town. Its previous name was Brejo do Salgado, and it was founded in the late seventeenth century. Its main crop, sugarcane, is sold to more than 30 distilleries that produce cachaça, the sugarcane rum. The houses show strong Bahian inspiration and the owners opt for very bright colors
Rosary Church - Brejo do Amparo, MG
to paint their facades. The churchyard of Nossa Senhora do Amparo Church, which is a replacement of the original one which was demolished some time ago, is where the main community celebrations take place. One such celebration is the Cavalhadas, which is held in September of every even-numbered year. In this district there is a very beautiful temple in the neighborhood of Barro Alto: The Church of Our Lady of the Rosary, built in 1744, according to the analysis by Pereira (2013: 454). However, the number written on the façade is 1688. It was supposedly built by Jesuits, as part of their efforts to convert runaway slaves and indigenous tribes. There are no residences within over 500 meters of the church, and the 6km road to the Brejo do Amparo Village is precarious. However, pilgrims visit the church to fulfill promises or to pray for support in difficult moments. They place lit candles at the doorway, which is embossed with rectangles and diamonds to represent the diamonds of Minas Gerais. The bishop celebrates Mass there on a relatively regular basis. The church is in the process of restoration by IEPHA, but work is slow and depends on the recovery of the original statues, as there are only two left, one of Our Lady of Aparecida and one of Our Lady of the Rosary. A Bahian architectural influence is noticeable. This temple is of medium proportions, with a three-level tower on its right side. Inside, there are the items indispensable to a Catholic church, such as the main altar, rising above two side altars; the choir loft surrounded with balustrades in woodwork above the
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entrance door, and the pulpit for sermons by the celebrant. The floor is of wooden vaults, covering ancient graves, as was the tradition in Brazil until the late eighteenth century. The ceiling is painted with religious motifs, and a banner at the back of the altar is highlighted, which reads: Queen of the Most Holy Rosary make us love Jesus. It is impossible to say whether these paintings are eighteenth century or more recent. The main altar consists of several arches with spiral columns and niches for smaller statues. Everything is simple, but representative of churches of the eighteenth century, in areas with few wealthy people. The tower is framed in wood and had a bell. There was, until 2005, an original brass bell, which weighed 300 kg. It was stolen one night, and no one ever identified the thieves or the recipients. The pyramidal roof masonry is topped by a weather vane. This church is surrounded by low stone walls and has a cross in front and a cemetery on the right, a few meters away. The cemetery is still used to bury the dead from the region, with more recent tombs made of granite.
Cachaça aged in umburana-de-cheiro (Amburana cearensis) vats The Greeks produced acqua ardens as a beverage that allegedly possessed medicinal properties and was considered an elixir of long life. The Arabs first came across it, in the eleventh century, while in contact with the Crusaders, and soon invented the alembic for distilling the drink, which was usually made of copper. It became popular then, as it soothed the harsh cold European winter. Afterwards, it lost its sacred character and became a merchandise of pleasure and delight. The Portuguese invented the bagaceira (a brandy made of husks of grapes) and brought this drink to Brazil. Here, they found the sugarcane wine, as they first saw the Indigenous natives making the cauim, a beverage obtained from the fermentation of corn (Brizola Jr., 2006: 54-55). The cultivation of sugarcane and the construction of the first sugarcane mill started in Brejo do Salgado, towards the end of the seventeenth century, while the
production of sugar in the Zona da Mata in the Northeastern region of Brazil was an essential economic element in the Colony, favoring Portugal. The brandy was widely consumed within the mills, as it was the leftovers in the production of sugar. It was suitable for the slaves and other laborers so that they could withstand long working hours, the hunger, and the cold in such precarious housing conditions. The brandy also became a trading currency with Africa and the slaves, but the findings of the gold mines in the Das Velhas River Valley changed the economy of the Colony, which, in turn, jeopardized the business in the region of Brejo do Amparo. Its production became quite a success in that district because there was suitable natural soil moisture, warm weather most of the year, and large quantities of natural fertilizers which privileged the cultivation of sugarcane, the main raw material used for the brandy. It has a distinctive flavor of the region, as several local producers developed their own distinctive method in the production of the artisanal spirits. When the rivers become quite full and abundant, they would use the water to provide the necessary shock to distillation. Later on, they opted for the coil alembic in order to apply heat in the extraction of alcohol from a highly fluid substance. The alcohol evaporates much faster than water and can be collected during condensation. Such process was observed for centuries naming the alembic brandy as “head,” “heart,” and “tail.” The head is the first batch of the cachaça (10% of which is thrown away). The heart is the middle batch and corresponds to 80% of it; it is plain liquid. The tail is just poor water that can go back into production (Brizola Junior, 2006: 56). The area called Sítio, in today’s Brejo do Amparo District, is the main cachaça producer area of Januária. There are around 30 alembic stills using traditional techniques, but they pass their products on to those who can refine the brandy removing impurities and aging it for two years in either oak or umburana-de-cheiro vats, so that its aging method is more sophisticated. This cachaça stands among the best in Brazil and customers are very satisfied with it but it has not yet taken off in the commercial market as an expressive brand representative of Cachaça de Januária. However, it is sold at
high prices in Belo Horizonte, São Paulo, and Rio de Janeiro as well as abroad. Some brands of the cachaça in the municipality are: Velha Januária, Caribe, Insinuante, Maria da Cruz, Sentinela, Princesa Januária, Porto Estrela, Veredas de Cônego Marinho, Várzea, Delicana, Sagarana, Januária Única and Peruaçu. The most famous is Claudionor, whose production started in 1925, a time when it used to be sold in carboys and barrels to traders and boatmen sailing the São Francisco River. Those who passed through town would ask for Claudionor’s Cachaça de Januária. From then on, it was called only “Aguardente Claudionor” which now belongs to the grandchildren of Claudionor Carneiro. A few years ago, 28 manufacturers of the spirits set up a sugarcane cooperative called Cooperativa dos Produtores de Cana-deaçúcar e Derivados Ltda., in Brejo do Amparo, aiming at restructuring the production of cachaça and launching a permanent brand in the market. Each member would deliver approximately 50 tons of sugarcane to be processed at the cooperative headquarters and would receive, in turn, 35 liters of innatura spirits. The remaining spirits would be bottled under the brand name Princesa Januária to be commercialized. However, it has not been easy.
The Market of Januária The market is housed in a huge warehouse that occupies an entire block in a commercial area downtown, not far from the street market. The Municipality is not involved in its administration. Each store has its owner where they sell souvenirs, crockery and chinaware, tools for rural and residential uses, clothing, aluminum pots, pans and utensils as well as industrial objects. A large court is home to many stalls that sell food such as meat, cereals, pastries and condiments. It is open every day but it does not supply the locals with their basic needs as much as the street market because some traders will not trade there on Saturdays. One can also find there some products from the local artisans, such as horns to drive the cattle and typical regional cowboy hats. Sieves, baskets and brooms made with buriti
fibers represent a production line especially tailor-designed to meet the old local tradition in rural areas of the State of Minas Gerais.
The Street Market of Januária The weekly street market is one of the richest traditions in the Northeastern towns, since people go there to buy their day-to-day needs as well as to socialize with relatives, friends, neighbours, suppliers, and customers. Those involved with the urban everyday life, on one hand, need to buy products for their livelihoods. Farmers, on the other hand, have the chance to sell their produce and buy manufactured goods. Artists get to display their abilities and craftsmanship such as singings and string literature (Cordel). Therefore, this event is not only limited to commercial trade, as they all exchange ideas, information, get updated on local, regional and national news, clarify their questionings on different issues, and chitchat with family members, neighbours, competitors and enemies. Januária portrays very well this Northeastern tradition in such essential part of the region. The street market is regulated by the Municipality, which delimited the area with a low wall, called it “Feira Viva” (Live Market), standardized the stalls - which are numbered and show the licensee’s name - established it as a Saturday event and charge a monthly fee from the market traders. Of course, this also includes necessary sanitary inspections to provide the clientele with clean environment and to ensure the good quality of food for sale. It is fair to say that it is a place where anything can be bought and sold there, although some traders stick to a certain product within a well-defined range. There are stalls for cassava flour, tapioca, spices, sweets, vegetables, fruit, cheese, rapadura (blocks of raw brown sugar), meat, bacon and medicinal herbs. It is quite easy to recognize the products as typically regional. Among the typical Northeastern vegetables we find the cowpeas or catador beans, bur gherkin (maxixe), breadfruit; and the fruits of the Cerrado vegetation, such as mangaba, murici, cagaita, araçá (strawberry guava), pequi, bacupari, saputá, grão-degalo, gabiroba, milho-de-grilo, araticum, baru
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and genipap. There is also honey available in many stalls obtained from the varieties of bees such as the jataí, borá-manso, cupinheira, marmelada, mandassaia, seteportas and mumbuca. The most traded spices are the urucum (annatto), saffron, blackpepper, cumin, red chili peppers, cilantro and oregano - available dry, ground or pickled. Various products that have undergone processing have some rather local characteristics, which delight visitors because nowhere else can one buy exactly the same. One of them is the rapadura mole (soft raw brown sugar paste) or rapadura mixed with either peanuts, carqueja (broom) or coconut (Cocos nucifera). Its shape is quite peculiar and the design may represent the brand name. Another one is the paçoca, made from cassava flour and sun-dried beef. There are also the delicacies made from the pequi fruit, such as sweet compote or paste, as well as the oil for cooking and flavoring typical dishes. Rarely do they use the scale because vendors prefer to trade the products in plastic bottles or by the liter, which is preferable for beans and other cereals. The cassava flour and tapioca are sold in packages. The cheeses are sold per unit and they usually weigh 1 kilogram. One can sense a very nice atmosphere among the vendors who constantly chitchat about ordinary subjects, help each other of changes and provide information to customers about where to get this or that item they need. They warmly welcome the customers and are capable of distinguishing those who resides in town from those who are outsiders.
Market of Januária
In a separate area, there is a cage to keep live poultry which is sold to specific clientele. There is also a crusher used to extract sugarcane juice, which is very much appreciated in the Northeast.
Food Habits of Januarenses Januarenses consume several foods that are typical in the region. One of them is the “Puba,” cassava dough. It is made following these steps: the cassava is soaked unpeeled in water for several days. When it is quite tender, they drain the water, peel it and make several rolls. These are kept under the sun to dry up and harden up. Afterwards, they are stored in proper conditions as they will be later used for many months to make delicacies such as cassava porridge, couscous and cakes. Another much appreciated meal made from the cassava dough is the beiju (tapioca pancake) - an essential part of breakfast. There are many baked goods, such as the biscoito escaldado, the toalha, the sequilhos, the petas and the cheese buns. For lunch, the main meal of the day, they appreciate rice with pequi, the paçoca, the tropeiro beans (cooked beans with cassava flour, eggs, pork, and collard greens with cracklings) chicken, sun-dried beef; and, especially, grilled, fried of baked fish. They use fish to make moqueca - a typical fish stew. An important source of protein is the cowpeas or the catador beans largely cultivated in the semiarid region because it is harvested only
45 days after sowing. Producers do not run the risk of harvest losses as a result of the scorching sun. It is one of the most sought after products at the street market in Januária, in the various phases of drying. It is sold in bulk, fresh and tender or dried, packed in plastic bottles. The bur gherkin (maxixe) is a very much appreciated vegetable in that area and the Januarenses prefer to eat it diced and sautéed both for lunch and dinner. Their fruit of preference are those typical in the Cerrado and Caatinga vegetation, such as mango, guava, cagaita, umbu, maracujádo-mato (passion fruit), gabiroba, breadfruit and banana.
Mythology in the universe of the riverside population Myths play an important role in the cosmology of a culture, because they hold beliefs that go from generation to generation with systematic explanation of phenomena feared by the people and their inability to control them. They then become a cognitive map which will guide people in their day to day lives, while cautioning against powerful forces coming from an impenetrable universe lurking at us in our daily lives, about to materialize at any given time. From there, the narratives fascinate, seduce and subject individuals to precepts so that they can survive despite constant risks.
Street Market of Januária
An exceptional analysis of this universe is presented by Neves (2011), who carried out researches in Pirapora; the same myths were told by the Januarenses in 2014. Living on the banks of the abundant and mighty São Francisco River, they also felt their lives were threatened, although these threats were most pressing for sailors as their lives were constantly in fear of finding themselves with stranded boats, shipwrecks and drowning. At the same time, the riverside population ran the risks of witnessing devastating floods both in the fields and in their homes, an occasion when families would lose most of their possessions in a matter of a few hours. Boat crew members became more apprehensive at night because the river sleeps in the dead hours and must not be disturbed so as to avoid triggering disaster. Under this apparently dangerous scenario, it is necessary to search for supernatural protection forces, which, for a large portion of the population of the North of the State of Minas Gerais, would be conferred by Catholic saints. Their Saint of devotion is Bom Jesus da Lapa, the patron Saint of the cattle, fishing, crops, and travelers on steamboats, barges, outriggers, ferry and passenger boats. This is why they participate in the pilgrimage, in August, to the Sacred Cave, near Santa Maria da Vitória (in Bahia State). Januarenses also praise other Saints, for moments of despair and poverty are not uncommon; hence, it is essential to ask for protection and give thanks, afterwards, for
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the graces received. These are often small victories, such as the recovery from an illness, a safe trip or a steady job for a young person.
and houses in the riverbanks. Therefore, it spreads fear amongst boatmen and local riverside folks, as it does only evil;
Along with this religious nature of universe, there is also a system of belief regarding malevolent entities which could strike anytime bringing about misfortune, injury or even death. They feel they need to seek special resources elsewhere, in charms and with other popular Catholic prayers of their own.
- The myth of the Famaliá, the little devil trapped in a bottle come from Portugal in the sixteenth century, because it existed in the State of Bahia in the year 1591. It is a type of demon that lures the unwary, promising wealth and beautiful women to those who pact with him, taking their souls to hell afterwards. It is the explanation given by many people there and other parts of Minas Gerais when someone gets rich quickly;
Visitors enjoy the stories they hear about the local’s experiences with supernatural beings. They realize these beliefs show a magical universe with fascinating events of the daily lives of humble folks who have their own view on the forest, the river, the unexpected; gains and tragedies filled with pain, anguish or disillusionment. A circle of listeners and storytellers around a table full of local delicacies may well advance into the night, indicating how a true rapport between natives and tourists can be built, if they really want to know the heart and soul of the region they are visiting. In Januária, it is always possible to hear stories about the following supernatural beings: - The belief in Caboclo d’Água exists in Januária as well as among other riverside populations along the São Francisco River in the State of Minas Gerais. It is also called Bicho d’Água or Negro d’Água, and is described as an amphibian and ubiquitous being, as it exists everywhere at the same time. It can also be described as a scamp, thickset and short in build. It lives in the bottom of the river and comes up to the surface in order to react against whoever is disturbing the calmness and may overturn the boats. In such cases, the boatmen throw tobacco or cachaça into the water to calm him down, scared to death while they do this. Some say they see this mythical being on the rocks by the river, and it runs away for fear of humans; in this version, it is incapable of hurting anyone; - The Minhocão is a large earthworm, limp and fierce. By some accounts, it is 40 meters in length by 70 cm in diameter. It is a ubiquitous amphibian creature; it has the shape of a barrel, without scales, has the color of bronze and a small mustachioed mouth. It will chase its prey to devour it. It can also overturn boats, causing landslides and destroying fields
- Romãozinho, according to Neves (2011:241), is a very popular mythical character in the rural areas of the States of Pernambuco, Bahia and Minas Gerais. It is a young elf whose behavior is a result of intrigues caused by his father’s violent temper and his mother’s, a humble, totally dedicated housewife. Some vendors claim that his behavior is a curse from his mother a mother’s curse, everyone knows, never fails. He became a malevolent elf. His mischief are told and re-told causing fear among the people; that is why the vendors do not wish to see him. It is said that he may destroy herds, throw stones at roofs or excrement inside pots and pans, thus spoiling the food altogether. It breaks pots and clay jars; upsets the cattle in corrals and pasturelands or may as the Caboclo d’Água - infuriate some of the inhabitants to the point of forcing them to move elsewhere. It rides horses, sometimes by himself and other times just riding double with cowboys. He will blow out the oil lamps at parties, dance events and donkey fights. On these occasions, he drinks all the cachaça (preferably the Januária Cachaça) leaving the partiers without a single drop. He will complain if the cachaça is of poor quality, especially if it is the Catuzeira, the one produced in Icatu, in the State of Bahia (Cf. Neves, 2011: 241-242). It is a creature that resembles Saci Pererê of other regions in Brazil, although it is not crippled of a leg; - The Rio Abaixo Violist is a devil who is an expert violist. It comes down the river on a calabash shell or a broken canoe. Like magic, it appears at parties at its liveliest hour and dislikes to hear the name of God or Our Lady. If so happens, it bursts out and disappears leaving behind a horrible smell of sulfur;
- The belief in Mãe d’Água came with the Portuguese. It is a pretty woman, half human and half fish. She will charm and seduce unwary boatmen and then disgrace their lives. It presumably indicates that it is a local version of the mermaid, a popular myth heard of among several people around the world who sail the rivers and seas. It may also be Iara, a figure of Brazilian Indigenous mythology. According to the riverside folks of the North of Minas Gerais, she inhabits a magnificent palace in the depths of the river. She comes to the surface quite often, sits on the rocks and gracefully combs her long hair, golden in color under the moonlight. Her gaze charms all who dare look at her. She is devoted to physical beauty and is inclined to cute young men to seduce them and take them to the bottom of the river (Alves, 2011: 239-240); - The rural population in the vicinity of Cachoeira de Pandeiros (waterfall) claims that all enchanted entities around the world are ruled by a princess born from the foams of the São Francisco River. She is so beautiful she entices whoever stares at her silhouette and her gorgeous sapphire-colored eyes. She cares very much about her hair which is long, gold strands of hair stretching to her feet. She is dressed in clouds and adores the sun and the night stars. Her skin is as white as snow and reflects the gentle freshness of the mirror-like lakes. She controls the water currents. She is proud of her appearance and an absolute master of all secrets buried in the heart of the waters. Sometimes boatmen catch sight of her in the surface, combing her long hair with a green comb, majestically seated on a jeweled throne. Fearful, they lower their eyes so as to avoid her enchantment, and row away fast screaming hoarsely with terror: It’s the princess! It’s Mãe d’Água!” (Saul Martins, Os Barranqueiros); - The Januarenses also believe there is a longwinged snake with feathered body trapped at the bottom of the cave of Lapa do Bom Jesus. If it escapes, it will kill all mankind, extinguish the herds and cause such harsh drought that it will dry up all rivers and pastureland. The world will then come to an end. The pilgrims pray the Office of the Blessed Virgin Mary every single day so that this creature loses the feathers on its wings. Then, it will not be able to fly and come out of the cave;
- The Januarenses reject the cari fish (thorny catfish), also known as cascudo, of the family Doradidae. According to legend, it would have mocked Our Lady when She asked for help to cross the river. It became the ugliest fish in São Francisco and no one likes to eat it. They throw them back into the water when they are caught; - The Januarenses and other riverside inhabitants report to have already seen the Steamer Matta Machado, which sank in the State of Bahia, and appears back on special occasions. It is seen all brightly lit up and full of passengers inside at a certain distance from boats sailing on São Francisco. It never approaches the living, does not use a whistle or stir up the water because it is a haunted steamer that terribly scares the fishermen, crew and passengers.
Popular Festivities The festivities are characterized as popular Catholicism events. These are both cultural and musical traditions that are centuries old and include rather strong Portuguese influence. The organizers take these opportunities to raise donations in honor of the saints, by choice, devotion or to fulfill a vow. The festivities attract other participants, besides the actors, as these are moments of joy among rural residents and from nearby communities. - Cavalhadas in Brejo do Amparo (Cavalcade) It is a representation of the medieval war between the Christians and the Moors, in the Iberian Peninsula, presumably because Moorish Queen Floripedes wanted to be baptized and converted to Christianity. This celebration has been taking place every two years since 1851, in the first village of the Municipality of Januária. Two groups of eight cavaliers are formed - all dressed in full attire. There are members who animate the event and collect gift donations. Beautiful animals are adorned with quite colorful ribbons and have carefully polished saddles. On the first night, several men lift the Flagstaff, the musical band plays on and there is fireworks display. Then, a group of cavaliers parades in a circle bringing along a lit torch. The kings of the Christians and the Moors emerge from the crowd, side by side, and head towards
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the podium, mounted as a throne room. The Christian wear a luxurious blue uniform, a crown and a cloak with a cross, while the Moor dresses the same but in red with an embroidered sun. A beautiful girl represents Queen Floripedes, who wishes to convert to Christianity. A Christian general challenges the Moorish king threatening to kidnap the queen to baptize her inside a Roman chariot. In response, the Moorish king states that it will not happen. Taking advantage of a momentary absence of the adversary, the general takes Floripedes by the hand and leads her to his chariot, leaving the arena. The Christian cavaliers provide cover for them to escape. One of them parades graciously around the arena, while the Moors, wearing red uniforms, arrive and stand on the other side of the arena. The simulation of the fight starts - each opponent pair rides from their side to the center of the arena. They fire their blunderbuss towards the ground and then disperse for a ride near the audience; afterwards they go back to their positions at the end of the arena. The musical band never stops playing and all cavaliers exhibit their fine skills and horsemanship. They perform different types of gallops and trots, such as: carreira da porta, carreira de quebra-garupa, carreira de alcância and carreira de partir. This staging is repeated several times by different pairs. This is the end of the first day. On Saturday, the two kings enter the scenario solemnly while the band plays on. The Queen is escorted to the throne by King Charlemagne. The presentation of the
Cavalhadas in Brejo do Amparo (Cavalcade)
opponent pairs of cavaliers trotting back and forth around the arena begins in simulation of a battle. They wield their blunderbusses and shoot down when the opponents meet at the center. Two clowns threaten the opposing army. The Christian general once again challenges the Moorish king so that he will accept Queen Floripedes’ conversion to Christianity and her marriage to King Charlemagne. The cavaliers enact the battle several times. Celebration is over on the third day, in the morning, with a Mass at the Church of Nossa Senhora do Amparo. The faithful follow in procession the crucifix and the masts of Christians and the Moors while the band plays on. Next, the bishop symbolically baptizes the Moors that converted into Christianity and smears ashes on their foreheads. Afterwards, he uses holy water to sprinkle the Christian cavaliers. Alongside Queen Floripedes, King Charlemagne lectures on the importance of conversion, fraternity and the love of Christ. The victory of the Christian knights is expressed in universal love. The Moorish king also talks about it. The organizers of the event will then draw from a list of applicants the names of those actors who will participate in the next celebration. Afterwards, they will deliver the Empress Sash to two ladies from the community and will present the knights of that year with a bottle of cachaça. The Cavalhada of Brejo do Amparo attracts many spectators from various parts of the region. They form two cheering groups, accommodated in bleachers.
- Terno dos Temerosos or Reis dos Cacetes (Ternary of the Fearful or Kings of the Batons) It is an event that is part of Christmas festivities for devotion to the Three Wise Men and dates back to 1950 in the history of Januária. It is also called Marujada de Água Doce. It is a mixture of Reisado, Congado and the Maculelê (popular dramatic folk dances). These are also celebrated in other regions of mid São Francisco River, but not as enthusiastically as it is celebrated in Januária. It takes place between January 2nd and 6th, although it could be performed all throughout the year in other cultural events in the region. The participants also worship Our Lady of Conception / Our Lady of the Rosary, the patron Saints of the Afrodescendants. The main character in the festivity is the Emperor. He is the one who leads the celebration. The first one in Januária was the fisherman Norberto Gonçalves dos Santos, known as ‘Berto Preto,’ who lived on Rua de Baixo, at the Fishermen’s Colony. He attracted the affection of many followers around that time, when sailing in the São Francisco River was quite intense between Pirapora and Juazeiro. Nowadays, all participants are either children or grandchildren of fishermen. They wear sailors’ suits during the dances as a means to express their tradition, sashes holding their swords and 1.2-meterlong wooden batons.
Ternary of the Fearful or Kings of the Batons Photo: Manfred Leyerer
Folks gather at the residence of the Emperor at 6PM on January 2nd, letting off fireworks that attract followers for a tour around town, whose route has been previously planned with the hosts. They pray the Our Father and Holy Mary to ask for protection and grace. Afterwards, the adults have some esquenta which is a shot of pinga da terra (alcoholic beverage), while the children will have guraraná (Brazilian soda) or fruit juice. The revelry goes on a visiting tour, singing and walking behind the Ternary flag. The repertoire consists of percussion instruments and Cantos dos Reis, sambas, retirada and popular street marching songs. It is a solemn moment during the first act, as the members are well aligned in double lines in front of the host’s home. While the samba is played and sung, the members gather in a circle and begin to beat the batons rhythmically while dancing and moving clockwise. It is a phase of relaxation, when the team accepts requests from the dancers and the hosts. The visit is over with the performance of the retirada (withdrawal) or farewell of the Temerosos (the fearful). The group then forms the two lines to resume the procession. They are always welcomed by the host families, who are quite thrilled as they hold the Ternary flag. Usually, hosts offer the adults some cachaça, genipap liqueur or beer; soft drinks or fruit juices for the children. In one of the homes, dinner is served and the cuisine is typically
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regional: rice with pequi, farofa (seasoned and toasted cassava flour), rice and meat strips stew with capim-canela (cinnamon), among other delicacies. Afterwards, the hosts donate some cash in a handkerchief or a Ternary flag provided by the Emperor. The money collected will pay for the party for the group to be held on the first Sunday after the Epiphany. Kings Chant We, shepherds, slowly Good news we come to give In a manger was born In a manger was born Into the world He came to save us East of my soul Three Wise Men come to say That newborn Jesus That newborn Jesus A tribute to Him to pay. - Folia de Reis (Kings Feast) It could take place at any time of the year, but it is always in praise of a saint, such as Saint Luzia, Saint Sebastian, Saint Joseph, Saint Isobel, Jesus and Our Lady of Aparecida. During Lent, this is in praise of the Divine Holy Spirit. It consists of a group of men wearing the same style t-shirts with a print of religious nature, who go and visit a family in the outskirts of town. On their way, they walk and sing accompanied by traditional musical instruments such as viols, accordions, guiros, bass drums and tambourines. When they reach their destination, they introduce themselves by means of a special greeting and they dance. Each reveler in turn dances in the center of the circle in highlight as the crowds set the pace by clapping hands. This group is offered a meal by the hosts. Afterwards, many more people come and join them. Women take the lead now to pray; litanies, thanksgiving for graces received and supplications to their saints of devotion. There is more singing and afterwards the dancing starts with the participation of most of the crowd. It is always a pair, man and woman, of different ages who dance to the samba or to the lundum. The viol is the predominant style of music at first, but then, a bit later, they will use more modern instruments such as guitars and keyboards.
- Feast of the Saints of the River This feast was created in 2001, as part of the celebrations of the 500th anniversary of the discovery of Rio São Francisco. Its main objective is to raise the community’s awareness for the need to preserve such precious natural resource, and alert them about the low water volume and poorer water quality of the Old Chico. As it turned out to be a success the first time, the feast has now become an official religious tradition in the town, around the 4th of October, the celebration of the nativity of St Francis of Assisi. It consists of three processions: the Image of the town Patroness, Nossa Senhora das Dores, leaves from the Cathedral; St Francis’ start at the Convent of Franciscan Sisters; and, St Peter’s procession starts at Pedras de Maria da Cruz, carried by fishermen in the midst of more than 100 candle-lit boats. The participants of the three processions meet at the beach, a place formed by the retreat of the river, where there used to be a port. There is an outdoor Mass, celebrated by the Bishop, some singing and folk musical and dance performances. There is also some firework display indicating what the Januarenses consider a pilgrimage of the waters; they claim they have the river inside their souls. - Dance of São Gonçalo do Amarante It is a popular celebration of Portuguese origin. It does not have a fixed calendar date as it serves to thank God for good grain harvest, graces received or supplicate for important causes, such as to find a spouse, bring back a husband that has run away, get a job or get cured from a disease. It serves as well to ask for rain in the region. The choreography is very elaborate. Only the women will dance but it is a man who shouts out the commands and organizes the circle dance. They dress in white and bring along a wire arch adorned with soft white tissue paper. They make vows to the saints of a certain number of dance circles which they must perform. After the vows are fulfilled, the image of the Saint is taken away, and the profane part begins and it is called quadrille. They perform clapping their hands and tap dancing.
- Ternary of Pastorinhas Imaculada Conceição (Shepherdesses) It is part of the Christmas cycle. The group consists of 32 shepherdesses, aged from 10 to 76 and eight musicians. It is coordinated by Ms Neide de Oliveira Cardoso. It greets and praises the nativity scene with reverence to the Holy Family, the shepherds and the Three Wise Men. - Reis de Boi (Ox Epiphany) This is very popular all over the country, under different names. Diverse characters are sung about during the revelry. In addition to the main reason for this celebration, Christmas, the Reiseiros (those who celebrate the Epiphany) introduce new characters, such as the Boi (Ox); the Vaqueiro (cowboy), and his wife, Catita; the pregnant woman who craves for the flesh of the Boi; the Tamanduá (anteater) with its grotesque appearance who scares the children; the Mulinha de Ouro (golden little mule) who dresses up in glossy, shiny costumes full of layers of tulle; the Babau – a kind of horse; the Caipora (a goblin) and the Jaraguá. The whole story is all about the ox. - Ternary of the Gypsies It originated in Italy, and reached Januária through Ms Estela Dourado, known as “Dona Tezinha.” The celebration takes place between December and January, and it is somehow related to the gypsies. The participants wear typical gypsy costumes which are long, colorful skirts, red blouses and scarves, adorned with many necklaces and earrings.
- Festivities of Santa Cruz This religious celebration takes place between April 17th and May 3rd. It consists of a Mass, celebrated by the Bishop, lifting of the mast, stands and typical food. The Youth Group of the Holy Family participates, as well as the Prayers Group and the Legion of Mary, under the coordination of the organizing committee. - Carnival The town used to have a traditional celebration of Carnival, which was very vibrant up until the 70’s. Intent on developing regional tourism, the town invested quite a lot in this event towards the late twentieth century, inspired by the Bahia State celebration model consisting of Trios Elétricos (trucks equipped with very loud typical music) and bands. The Januarenses want the Carnival to be the most exciting in the North of Minas Gerais so that it may attract many tourists from other towns and other states, as well. Right now, the festivities last for five days with trios elétricos and bands that will perform from 8PM until the wee hours of dawn. Many Carnival groups take over Praça Getulio Vargas (Main Square) such as the Couro do Gato II, Juventude Independente, Bloco da Carne, Tô Garrado and the Janucaré. The public square transforms into a big stage for samba parades. The Rei Momo (King of Carnival) and the Rainha do Carnaval (Queen of Carnaval) are previously chosen during the Grito de Carnaval (the start of the celebrations). Stalls scattered around the square cater for cold beer, barbecue and different kinds of broths and soups.
Reis de Boi (Ox Epiphany) Photo from the book “Januária Relicário Fotográfico”, Antônio Emílio Pereira - 2008 Archive: Santa do Carmo Pereira
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Chapter IV
The Pandeiros Creek The Gibão Mountains are located in the municipality of Januária, but the prevailing landscape is a very uniform plateau, with altitudes exceeding 500 meters, which extends to southwestern Bahia. This is a Cerrado region with many springs, residual forests, riverside lagoons and buriti palm thickets. Some of these forests are seasonal, semidesideral. In this area, 48 km from Januária, the Pandeiros Creek rises, near the spring that originates Córrego dos Bois, flowing west and becoming a tributary of the Carinhanha River, the state line between the states of Bahia and Minas Gerais. Meanwhile, the Pandeiros Creek follows a southeastern path, bordering the Mescla Mountains and separates, for a short stretch, the municipality of Januária from the municipality of Bonito de Minas. It receives, along this route, several tributaries that rise mainly in the Mescla Mountains and the Tropeiros Mountains, in the municipality of Bonito de Minas. One of these streams is the Catolé Creek, and the other one is the Borrachudo Creek. In the main course, the water is crystal clear. The fish, living in a Environmental Conservation Area (ECA), are safer from hooks, nets or other fishing gear, harmful to the river fauna. They are sometimes quite large, and have the creek as a home, a safe and healthy environment. They are, above all, free from toxic agents or material
Pandeiros Creek
pollution, common in Brazilian rivers, which are targets for the irresponsible disposal of sewage or trash, especially plastic or glass, which decomposed extremely slowly. There are many water hyacinth in the main channel and along the edges, but they do not indicate that the creek is dirty. Rather, they represent a succession system of vegetation, some plants having younger foliage, and others, older foliage. We may assume that, perhaps, they are protecting the Pandeiros Creek from intense evaporation, due to the strong sunshine in this area. The hyacinth would thus help to preserve the water reserves of the entire valley. There is a babaçu forest near the municipality of Bonito de Minas, whose fruit is very much appreciated by the local population, since its oleaginous seeds have several industrial applications, in addition to being edible. The leaves and sheaths are also used as raw material for basketry or as roofing for rustic dwellings. The trees can reach 20 meters of height, affording a unique beauty to the open fields. The fruits are the hundreds, and in large bunches. Buriti palm thickets are another charm of the Pandeiros Creek Valley, one of which extending for 42 km. They are in water outcrops, and often riparian forest to some stream, and break, in a certain way, the monotony of low-lying vegetation of the
Cerrado. A growth is characterized as a field or swampy land in hillside near river bedside, usually covered with low-lying grassy vegetation. It may also be a region in the Caatinga located between mountains and river valleys, with more water and vegetation. In the Cerrado, however, they exist along the waterways bordered by clusters of buritis. Hundreds of fruits also form large clusters that show the vitality of the tree. There are white limits that are a natural contour delimiting the hydromorphic growth soil from the Cerrado and Caatinga soil. A cluster of buritis is used in many different ways: the palms may become roofing for rustic cottages; the drupes are raw material for candy and the oleaginous seeds are used in the production of cooking oil, and are also used to soften and apply varnish to leather. It is also possible to extract a liquid which, after fermentation, becomes buriti wine. The palm also provides palm hearts that can be industrially processed and sold in urban centers. There are seven lakes in the Pandeiros Creek Valley, such as the well-known Blue Lagoon, which is close to a former water dam that belonged to Cemig (the state power company). The power plant was constructed on the right branch of that waterway to generate power for the region in 1958. As for the lake, it used to be larger, but the creation of pastures and deforestation are hindering its survival. According to Saul Martins’ description, Poço Verde (Green Well) was a great source of joy to life in that stretch of rough backcountry back in 1960. It is little more than five leagues from the Pandeiros Creek, near the slopes of the Pardo River. It is round, and at that time, it looked like a circle of liquid emerald reflecting green rays on the woods around it, affording great beauty to the area. It also quenched the thirst of those who came close to it. The macaws and parakeets that flew over it took the color of its waters and became even more colorful. Everything was green! It still exists, but nowadays, it is a muddy pit without the lush vegetation of other times, which ensured its enchanting surroundings. It is better to recall Martins impressions, to fathom how nature, without men’s heavy hands and their destructive practices, can provide great pleasures. The author went on
describing it: “Its water tastes great and, in the glass, is clear as silver. It does not grow or diminish. Its level is constant. Maybe due to the kinship in color, that well is the preferred watering hole of green snakes, lizards, parrots and jandaya parakeets. Even its small fish are green glistening points shining in the intimacy of the waters. The residents of the area say that the Green Well is the son of a fairy. Inside it, several animals live. Underneath its waters, there is a beautiful city and great treasures. In the evening, and not rarely, from its bosom one can hear horses neighing, calves bellowing or, at dawn, roosters crowing and the cry of seriemas. It is enchanted.” (Martins, 1960: 45). The Pandeiros Creek is winding and, in flat areas, it naturally sought the deeper crevices in the geography to flow toward the São Francisco River, making the area even more beautiful. That increases the naturally irrigated area, benefiting passersby with water to quench their thirst or even just allowing them to gaze at a more beautiful and attractive space. At some points, the riparian forest gives more protection to the Pandeiros Creek, maintaining the level of oxygenation of water higher and serving as a safe haven for the local fauna. The human population in this valley is sparse, but it is a great area for camping because its waters are crystal clear and the vegetation remains lush, even in the dry season, in a region where trees are intensely worn down. It then offers a peaceful environment, a common desire of those who seek rest from urban stress in nature. Despite the few level differences in the terrain, there are three waterfalls: Cachoeira das Pedras, Cachoeira do Buriti and Balneário de Pandeiros. One of them is three meters high and 15 wide. At other times, the Pandeiros Creek was more voluminous and young people would practice canoeing to enjoy the rapids. Its water volume has decreased a lot in recent times.
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One kilometer from its delta at the São Francisco River, this creek becomes a swamp, a unique floodplain feature in Minas Gerais. It is the nursery of 70% of the fish of the Minas Gerais stretch of the São Francisco River, because the rich water is protected by lush vegetation and provides a healthy environment for fish spawning, which takes place every year between November and February. There are 82 species of fish cataloged that take refuge in that area, such as surubim, dourado, curimatã-pacu, pirá, traíra and pacamã. Some are threatened by the introduction of foreign fish to the basin, such as the tucunaré, mambaqui and tilápia. This swamp is also a favorable environment for other animals such as lizards, caymans, jaguatiricas, monkeys and snakes. Among the birds, carcarás, corujas-buraqueiras, parrots, herons, hawks, toucans and black ducks stand out. This natural treasure justified the creation of the Environmental Conservation Area (ECA) to afford official protection from the predatory actions of man represented by fishing, hunting, extraction or farming.
Pandeiros Creek
The State Forestry Institute runs the Sustainable Development Project for the Pandeiros, Gibão e Cochá Region, to reconcile productive activities that ensure social, economic, technological and environmental development, at the same time respecting the biodiversity conservation premises. It identifies thousands of springs in the Pandeiros Creek Valley, with good quality water right in the middle of the semi-arid region of northern Minas Gerais. It recognizes, however, that this paradise is threatened by deforestation, fires, soil exhaustion and a local population with no access to education comprised of 10,000 people in 40 communities. The solution would be in the development of alternative economic activities such as subsistence agriculture, extraction of pequi and the creation of tanks to raise fish, but without exploiting child labor. This would involve removing the inhabitants from the buriti palm growth areas and recovering degraded areas. It would then be a collective pact to protect natural resources.
Pandeiros Creek
Pandeiros Creek
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Chapter V
The Peruaçu River Valley The riverhead of the Peruaçu River has run dry, but the river is fed by trickles of water in the old river bed that starts between the municipalities of Bonito de Minas and Cônego Marinho, above the source of the Borrachudo Creek, a tributary of the Pandeiros Creek, in an area known as Chapadão das Gerais. It then takes a northern route, then goes east, and afterward southeast through the territory of Cônego Marinho, by the Carmo mountains. Right after that, the Peruaçu borders the Xakriabá Indian Reservation, located in São João das Missões, and enters the area of the Peruaçu Caves National Park, where it goes underground in the Janelão Cave, before flowing into the São Francisco River, between the towns of Itacarambi and Januária. It is located in the semiarid region encompassed by the “Drought Polygon” (Polígono das Secas in Portuguese). It receives, therefore, assistance from the Superintendency for the Development of the Northeast. The Peruaçu River is very important for the Xakriabá, but was affected in 2011 when the road that connects Cônego Marinho to Miravânia was paved, because too much water was taken from it in a very short time. A lot of suction motor oil was poured into it and into ponds that are used for fish spawning. The work also caused erosion and affected the vegetation thickets, buriti palms oasis and several other species of plants, birds and animals.
Peruaçu Valley Photo: Fernanda Mann Azevedo
Parque Estadual Veredas do Peruaçu, in the Municipality of Bonito de Minas This Environmental Conservation Area was created in the municipality of Januária in 1994, and it is under the administration of the State Forestry Institute). Currently, it lies in the municipalities of Bonito de Minas, Cônego Marinho, Montalvânia, Miravânia and São João das Missões. It was initially an area of 31.226 ha, but was expanded to 151.897 ha. It had then a perimeter of 326,305 meters and encompassed two ecosystems. There are six lakes on it: Jatobá, Patos, Meio, Junco, Carrasco and Jacaré. Its fauna is diverse, and, among other animals, you can find red brocket, manned wolf, jaguatirica (a type of oncelot), blacktufted marmoset, light brown cougar, giant anteater, collared pecary, armadillo, lowland paca, cayman, jararaca snake, rattlesnake and eunectes. 250 species of birds are cataloged, such as mocó, maritaca and quem quem. The most mysterious animal in the region is a mammal known as cachorro-vinagre (bush dog). It is almost a mythical figure, given the difficulty to find it in the woods or the distance it keeps from human settlements. According to Bourscheit (2012), the bush dog (Speothos venaticus) is a very elusive animals with habits almost unknown by science - even researchers have admitted
that it is a ghost. The species was described in 1842 by Danish paleontologist Peter Wilhelm Lund, considered to be the father of Brazilian paleontology. Since then, the most recent official reports of sightings in Minas Gerais were only footprints and two dead animals. In 2012, a live specimen was filmed in Veredas do Peruaçu State Park. This was made possible with the use of camera traps installed in a partnership between WWFBrazil and the Biotrópicos Institute. The bush dog has dark brown fur, a long body up to 70-cm long, short legs and ears and weighs approximately 5 kilos. It lives in the Cerrado, the Atlantic Forest and the Amazon and is one of the smaller and more sociable canines in South America, as it creates permanent packs with up to ten animals. “This allows the group to hunt large prey. This behavior is not seen in other species such as the lobo-guará, graxaim (pampas fox) or raposa-do-campo (hoary fox) “, says professor Frederico Lemos from the Federal University of Goiás. It is a vulnerable species in the country and it is threatened in Minas Gerais. Deforestation, conflicts with humans, attacks and disease transmission by pets are their main enemies. Hence, the importance of the connections between protected areas, the respect for the legislation in rural properties, and of health care of domestic animals throughout the Peruaçu River Valley, where the sighting took place. According to Ferreira (s/d), once there was a bush dog in the Belo Horizonte Zoo. He decided to study it in the Peruaçu Valley and had trouble finding the animal. He used cameras installed in different places to photograph it at night. The bush dog feeds only on other animals and can capture armadillos and pacas. The region is part of the Mosaic of Hinterland Conservation Units of the Veredas-Peruaçu Valley, which spreads throughout nearly two million hectares in northern Minas Gerais and southwestern Bahia. To the WWF-Brazil Conservation superintendent, Michael Becker, the discovery reinforces the importance of protected areas for the Cerrado. “The sighting record makes it clear the role the protected areas have, especially in the Cerrado, which has an area smaller than 3% effectively preserved by the government. Only in this way,
can Brazil meet its biodiversity conservation goals and maintain environmental services such as climate regulation and water supply”, he emphasizes. The partnership between the CerradoPantanal Program of WWF-Brasil and the Biotrópicos Institute is expanding scientific monitoring of medium and large mammals in Cavernas do Peruaçu National Park and Mata Seca and Veredas do Peruaçu State Parks.
The Xakriabá Tribe The Xakriabás live on an indian reservation located in the municipality of São João da Missões, having survived the initial contact with the pioneers, between the 17th and 18th centuries, and afterward, with the cattleraising and mining groups. They belong to the Jê language family, as identified in the Handbook of South American Indians. It belongs to the Akwe subdivision. In 2010. this group comprised 9,196 people, according to a survey of Funasa (National Indian Foundation). In the 18th century, missionaries promoted the creation of villages to catechize and dominate this indigenous group. They imposed Catholicism, the Portuguese language and European traditions. Today, there are conversions to Protestantism, which does not allow reconciliation with the belief in Yayá, unlike the Catholics. The strongest religious figure in Xakriabá religion is São João dos Índios, the most celebrated and requested saint. The indians tell a story about an image found in the trunk of a tree that the Jesuits took to the church in Matias Cardoso. The next day, it was back in its original place, and so it has happened several times. The missionaries realized that, if the saint would not stay in the temple, that was a miracle. They then built a chapel on the site and São João (Saint John) became the patron saint of the community. The Xakriabá carry out nine-day prayers with pilgrimages to ask for favors such as abundant rain. Another practice is to make lapinhas, which are a sort of ornate nativity scene decorated with paper flowers or green plants, and widely used by young women in search of a husband.
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Prayers, herb doctors and healers perform rituals for dealing with the supernatural. Disease is often seen as the result of sorcery and only healers can beat it. In order to achieve that, they use fumigation and prayers in the language of the ancient.
because the area is very fertile and irrigated, therefore, exploitation is more intense. In those ares, the following are planted: waterbeans, rice, banana, sugarcane, corn, yams, papaya, tobacco, castor beans, garlic and onion.
The Xakriabá were granted their land in 1987. In 2003, the Xakriabá hut camp was annexed to it.
They make rapadura (sugarcane molasses brickets) in community mills. Access to the regional market is important as it allows the group to acquire goods that they themselves do not produce, such as coffee, clothing, cigarettes, salt and matches. Several families are also engaged in cattle-raising. Almost all have horses, a key element for transportation in the reservation.
It is located in the region of the Peruaçu Valley, where there are small temporary and permanent rivers. The area has massive limestone outcrops with caves. The predominant vegetation is the Cerrado, but there are also areas of Dry Forest and vegetation growths. The Xakriabá hunt deer, agouti, armadillo, rabbit, fox, anteater, skunk and seriema. Some animals are in extinction because of the uncontrolled offseason hunting. They also gather fruit such as cagaita, cabeça-de-negro, jabuticaba, maracujá, melão-de-são-caetano and xixá. As the ecosystem changed and there was more competition for food, it became impossible for the group to survive in the traditional ways of their social organization. The group then adopted agriculture as the predominant economic activity. In dry areas, they plant feijão-andu, cassava, sweet potato and sesame. The agriculture developed in the lowlands is different as to the planting method and produce cultivated,
Peruaçu Valley Photo: Fernanda Mann Azevedo
The Xakriabá ignore the concept of private property as far as land property is concerned. The criteria to define access to land ownership are based upon the individual’s maturity, usually identified from the effective constitution of a family. The new household head has the right to choose any plot of land to build his farm and house. The Xakriabá marry when they are about 14 to 16 years old. They usually live for a year at the bride’s parents’ home, unless the groom’s parents have better conditions. This is the time required for building the house and planting a garden for the newlywed couple. Then they can settle on their own, in their parents village, as alliances are established, preferably between members of the same
village and/or the same family. The chief represents the community as a whole and is responsible for its outside representation and for the resolution of interethnic issues. He is also the one who articulates internal solutions in order to avoid conflict. Each village has its own representative, with the same roles as the chief, as far as internal issues are concerned. Each village has its council, composed of the heads of the families of that community. The toré is danced in the woods. The yard is preceded by an area where the sacred tree is, which decides who should or should not have access to the site. The tree is a coconut three with 3 leaves, visible only to those who Yayá considers worthy of visiting the site. The floor is beaten and cleared of all vegetation, has a rectangular shape, and is close to the caves where Yayá lives. On one of its ends, there is pile of rocks, where the objects used in the ritual are kept, including the rest of the sacred drink with hallucinogenic properties. Edvaldo Gonçalves de Oliveira (also known as Dé) was the leading creator of the Project Casa de Cultura Xakriabá (Xakriabá House of Culture), in the village of Sumaré, to teach the people from the community the art of handicraft. He expanded a shed, where he already worked manufacturing indigenous objects, and found partners, especially the Faculty of Education (FAE) of the Federal University of Minas Gerais (UFMG), which still maintains the Intercultural Training
Peruaçu cave Photo: Paulo Ferreira Alencar
Course for Indigenous Educators since 2004. Prof. Ana Maria Rabelo Gomes and the Indigenous Association Xakriabá - Aldeia Barreiro Preto obtained funding from the Province of Modena (Italy) through the ISCOS - Emilia Romagna. They also have support from the Local Government of São João das Missões. That project involves the construction of the headquarters and the Ponto de Cultura Loas, funded by the State Cultural Fund for handicraft, traditional art workshops and use of the territory. It encourages the activities of interchange between villages and is a reference for other indigenous projects from Minas Gerais and the rest of the Country. All activities are performed with the participation of the community in order to share knowledge about soap-making, phytotherapy of the Cerrado plants, web design, printing of books with recyclable material, photography and video, among others, all available to the Xakriabá Indians of all ages and communities. The Project has used alternative media to strengthen the bond with the land and the local culture, and the results have been promising, especially among the youth. Edgar Corrêa Kanaykõ, a Xakriabá indian himself, works with social and cultural recognition through ethnophotography. The work with images is considered an important tool for the indigenous population nowadays.
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Just like bow and arrow are used to reach the target, the use of a camera has a similar goal. He explains: “Young people learn to use multimedia tools to capture and record aspects of their culture in order to preserve it and pass it on to the community, as well as to use it as learning material in schools. Although this is still in an early stage, some products have already been completed, such as small books and ethnographic documentaries in progress. Many of these products come from projects carried out by AIXABP – the Aldeia Barreiro Preto Indigenous Xakriabá Association, to which the Casa de Cultura Xakriabá is related.” At the same time, the elders play a singular role in the organization of activities that reinforce the old traditions of the Xakriabás. The Project also performs artistic, cultural, economic and social integrated activities, such as the “cultural nights” and gatherings with dance, drum-playing, historical narratives and loas.
Cavernas do Peruaçu National Park The Cavernas do Peruaçu National Park was created by federal decree on September 21, 1999. It covers 56,800 ha located between the municipalities of Itacarambi, Januária and São João das Missões. It is administered by the Chico Mendes Institute for Biodiversity Protection (ICMBio), which maintains a brigade to permanently monitor the park, in order to prevent damage to the property caused by theft, vandalism or economic activity improper for biodiversity. Access is restricted to researchers, in order to preserve the biome, the integrity of natural treasures and traces of human presence from up to 11,000 years ago. There are more than 140 caves and 80 archaeological sites. The rock formations in limestone and the rich biodiversity compose a picture of rare beauty. It is located in a region with semiarid tropical climate, where the average yearly temperature is 24ºC. The rainy season is between October and April. The objectives of the conservation measures are expressed in Article 1 of the Decree from September 21, 1999 with the following words: “to protect the geological and archaeological
heritage, representative samples of cerrado, seasonal forest and other forms of natural vegetation that exist, ecotones and enclaves between such formations, fauna, landscapes, water resources, and other biotic and abiotic attributes of the region”. Therefore, it is necessary that the park become a space for the preservation of natural ecosystems in the face of constant economic activity in the area without the least regard for sustainability. It is important to have environmental education and recreation that follows the precepts of ecotourism. The name Peruaçu comes from the Xakriabá Indians, the inhabitants of the area that talked about a crack or hole (peru) that was very large (açu). The region used to be the Retiro/Morro do Angu Farm. The fauna should receive a special highlight because there are 39 endangered species, including 250 species of birds, such as maritaca, seriema, maria-preta, arapaçu and beija-flor-de-asa-de-sabre (sabrewing hummingbird). The following mammals are also present: red brocket, rock cavy, black-tufted marmoset, armadillo, capybara, manned wolf, teiú lizard, spotted jaguar, puma, margay and pampas cat. The vegetation highlights are aroeira do sertão, braúna, pau-santo, cabiúna-docerrado, murici, jatobá and pequizeiro. There are about 1,072 plant species and some are rare and little known. The park is located in an area with seasonal deciduous montane forest, seasonal semideciduous forest, tree savanna and areas of ecological tension between steppe savanna and seasonal forest. It is a limestone plateau. Almost all the caves are associated with a type of relief called Karst, based on carbonate rocks. The karst is an aquifer recharge area, where water tables are replenished. Land property regularization procedures are still in progress, in order to indemnify former owners so that they stop their agricultural activities within the park - only then, will there be no secondary burning, deforestation, eucalyptus plantations, hunting or fishing. An ongoing survey of the Management Plan indicates that the whole park area and its immediate surroundings is private domain. The existence of residents without proof of
land ownership, or the presence of trespassers in the park area make the land property issue even more complicated. There are many small rural properties along the border of the National Park, as well as large properties and the Xakriabá reservation, whose population is spread in 27 villages and 25 sub-villages. The Peruaçu River, for example, fascinates visitors because it dives into the rocks that created the Janelão Cave. Its entrance is at the bottom of a grotto, therefore, you must climb down quite a hillside in the arid dry forest. However, the effort pays off because the experience is fascinating, as you gaze at the beauty of the multicolored rocks inside, and the underground river that flows free from pollution only to resurface under a clear sky in the journey to its delta on the São Francisco. It is an absolutely beautiful phenomenon, but there are other caves in the Peruaçu Valley, and the cave variety challenges researchers and tourists alike who wish to explore every single one, despite the intense physical effort, since they are located amidst vegetation punished by the drought and in uneven terrain. The Janelão Cave features travertine dams with calcite runoffs. They are a type of limestone made up from calcite, aragonite and limonite. They are parallel compact bands with minuscule openings, through which fresh water has infiltrated over thousands of years, transporting calcium carbonate (CaCO3). The cave is formed by the river dissolving the original limestone layers. That means that after the water percolates through the fractures in the rock, the cave appears and displays its internal formations that today are in different shades of white, gray, beige and pink. Stalactites grow from the ceiling. Stalagmites grow from the ground. When they meet, they form a column. When they are aligned as to almost form a line of bars, we call them draperies. All these speleothems are rock formations caused by the dissolution of minerals and their recrystallization at lower levels in cave ceiling, walls and floor. Geologists believe these formations grow 6 to 25 mm per century. Therefore, one can conclude that the Janelão Cave formations have become this beautiful over a very long period of time. The skylights have appeared due to collapses of the cave ceiling. This also happens so as to
form dolines, which allow the formation of lakes or topographic holes. The soil from decomposition of limestone is fertile, because water promotes the decomposition of the rocks. In fact, rainwater is part of weathering, which is the combination of physical effects - rain, sunshine and cold nights - that cause the cracks through which water percolates and decomposes the rock. The Janelão Cave is 3-km long and has an average height of 80 m and 35 m wide. The main hall is called Dolina dos Macacos (Dolina of the Apes), whose ceiling is over 100 meters high. Many stalactites hang from the ceiling in different shapes. One of them is the is the Perna de Bailarina (Dancer’s Leg) which is 28 m tall. In the walls, there are special projections, like mushrooms superimposed in different sizes and colors, although pink is their predominant color. The most curious rock is one in white tones that juts out over the submerged river. But, in all of them, one can imagine how the water dripped, over hundreds of thousands of years, and sculpted such diverse shapes in limestone, in order to create such an awesome sight. At the cave entrance, there is a section of the Peruaçu River that comes out of the cave and flows between a natural wall and a kind of riparian forest. Just ahead, it goes through a 15-kilometer long canyon on its way to the São Francisco River. The lighting in the Janelão Cave is provided by natural skylights, one of which is a heartshaped attraction from where, at certain times, sunlight beams become bluish because of the reflection on the cave walls along an arc – a really great spectacle. These details are unimaginable to those who have not visited the cave, as they were built by several natural factors, beneath the surface, over thousands of years. Other caves or coves exist in the Peruaçu River Valley, some of them with very odd names: Lapa do Rezar, Gruta do Índio, Gruta do Boquete, Gruta do Gato, Gruta da Mãe Joana, Gruta do Zé da Hora, Gruta do Piolho de Urubu, Gruta da Lapinha, Gruta Bonita, Gruta do Morcego Rompante, Lapa do Malhador, Lapa dos Corvos, Lapa dos Tocantins, Lapa do Salitre and Lapa dos
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Bichos (Pereira, 2013: 485-486).
Rupestrian Inscriptions in Rio Peruaçu Valley Another treasure that exists in the Cavernas do Peruaçu National Park is the archaeological sites with rupestrian inscriptions, as is the case in Lapa do Caboclo (Caboclo Cave). However, there are more than 80 sites in the Peruaçu Valley. They challenge us to seek a consistent interpretation, because anthropologists have not yet clarified the humanization process of a type of primate, which acquired a bipedal posture and the ability to create symbols, a sine qua non condition for the development of culture. The prevailing consensus is that this would have happened in southern Africa at least two million years ago. Which events caused the dispersion that would lead to the occupation of the five continents, and to the physical and cultural differences brought to light by the great voyages that marked the late 15th century and early 16th century? The arrival of the Portuguese to a territory today known as Brazil was a clash of two great groups with very different traditions,
Rupestrian Inscriptions in Rio Peruaçu Valley
especially when it came to social contract, technology, cosmology and the symbolic universe. Here, there existed many tribes with notable differences, but also with a convergence when it came to the tools, techniques for obtaining subsistence and principles regarding their relationship with nature, which were very different in those days. How can we build, then, the trajectory from the African savannas to the Peruaçu River Valley? In 1500, the Portuguese landed on the coast, in a place where today lies the State of Bahia and then explored the whole territory. They followed a large watercourse, which was called the São Francisco River, and arrived at Peruaçu River Valley in 1554. Based on different studies conducted in Minas Gerais and on the archaeological pieces, it is possible to confirm human presence in the region 11,000 years ago. These treasures are the rupestrian inscriptions, but it is not easy to explain what they represented to their creators, because neither human behavior nor the symbolic universe are fossilized. We then have only material evidence that would indicate some elements of the modus
vivendi of the social groups that inhabited this area long ago. André Prous analyzed this pictorial art in different parts of the Peruaçu River Valley and in other areas of Minas Gerais. He theorizes about them, pointing out that they did not have only an aesthetic value. They also expressed religious beliefs, territory ownership or records of important events for the social group. They have been preserved until today because they were created in naturally dry shelters, as other artifacts in bone, wood, ceramic, bark or shell cannot withstand the natural wear over thousands of years. This author writes that prehistoric people lived in open villages and not in rock shelters or caves. The Caboclo Cave is located on a hill that grows from level ground, and whose vegetation is typical of dry forest and without any watercourses in sight. One can only reach it by climbing a rustic staircase with 166 steps. The plateau is small and the rocky wall with the drawings is to the right of the cave, which is not very deep and has a vaulted ceiling with many stalactites. It is in the area that is now the Cavernas do Peruaçu National Park. This prehistoric monument is made up of hundreds of figures constructed by different anthropomorphic, zoomorphic, phytomorphic, biomorphic, astronomical and geometric themes. They were made with coal and mineral pigments such as red and yellow iron oxides, and brown or black manganese dioxide, elements which are easily found in the region. White was created by working with clay (kaolin), carbonates or calcined bones. The artists applied these products with their fingers or with brushes made from plant stems or cotton balls (Prous 2011: 107-117). It is not easy to interpret this rupestrian art heritage, because, as with any other sign, the meaning given by the authors did not prevail, since it lies in the plane of abstract language. Therefore, we believe that there is an aesthetic and logic meaning given by different social groups who lived there and wanted to make their presence known, perhaps for a long time. They may have very different dating,
having been produced over several centuries. It is, in any case, a collection of artistic expression created with rustic instruments and unusual inspiration. There is, for example, a stylized human figure indicating a state of fright or surprise. A bird with long neck and legs conveys the impression that the artist had a sense of proportionality and adjusted these parts of the animal to the size of the head and body. There are several groups of geometric figures in alignment, and some are bars with internal designs with remarkable symmetry. It is exciting to analyze the variation of colors, since it results from the use of various pigments obtained from the minerals available in the region. Inscriptions in other caves are very simple, and quite different from the complex panel at the Caboclo Cave, but are very close to other inscriptions in other states. All the archaeological sites of the Peruaçu Valley deserve special protection, to prevent destruction by vandals, fires or rock erosion. After all, according to Igor Fuser (1999), in a 17-km long and 60-m wide canyon, are the most spectacular prehistoric frescoes in the country. They stand out by the use of assorted colors and by the careful geometric artwork (apud Campos e Faria, 2005: 21). We must still say that in this river valley, on the left bank, are the communities of Sumaré and Pindaíbas and also the city of Itacarambi. On the right bank, lies the municipality of Januária, and the following villages: Pitanga, Fabião, Levinópolis and Jatobá. The area vegetation is the dry forest, characterized by the forest formations of the Cerrado, with no association with watercourses, therefore with different levels of falling leaves during the dry season, which reaches its driest in July and August, due to the low rainfall in the region during this season.
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Final Remarks The São Francisco River Valley stretch between the Pandeiros Creek and the Bahia border combines magnificent spots for tourists who want to enjoy amazing experiences when they leave the cosmopolitan world. They usually want to meet people that has had an important role in the nation’s history, to explore a naturally beautiful environment and to experience adventure, regional specificity and warmth coming from their host, whose routine is grounded in wisdom, local techniques and friendliness. The extreme north of Minas Gerais can provide all this, but investment is needed in infrastructure, recovery of the Old Chico, professional qualification of locals and routes based in the waterway that has been used for over 400 years. It is jeopardized by siltation, by the decrease in water volume and by the lack of public policies that promote internal navigation as the best means of transporting passengers and cargo in all territories where river networks present favorable conditions for navigation. The steamboats have had a strategic role in transporting people along the Mid São Francisco River for more than 100 years, but Brazilians set other more expensive priorities with regards to transportation. These had led, however, to no significant improvement in railways and roads. The few roads that exist between the towns of the region complicate the daily lives of local people, and the decommission of the train station in Pirapora, which belonged to Central do Brasil Railways, has rendered contact with Belo Horizonte difficult. In order to change this situation, it is important to create transportation options and lodging for tourists in Januária. They would be attracted by the widely known natural and cultural treasures that exist between the Pandeiros Creek Valley and the Bahia border, along the Old Chico.
The river is the main attraction, due to its strong presence in five Brazilian states and to the various tributaries, which are also navigable, such as the Paracatu River, the Das Velhas River, the Urucuia River and the Pandeiros Creek. Together they enable intense mobility between different points of Minas Gerais. The experience of cruising the river is always exciting, due to the unforeseen and to the blend of tradition and modernity. It is a type of transportation created thousands of years ago in many parts of the world, having been copiously used by Brazilian indigenous population. In the third millennium, there are several options of vessels’ designs and sizes, which could be introduced in the Mid São Francisco River. From there, tourists would travel all over the region, stopping at anchorages built in strategic places where there would be the essential resources for travelers, such as hostels, first-aid centres and convenience stores. They would then visit then the Pandeiros Creek Valley, with its exuberant fauna and flora. After that, they would proceed to the Peruaçu Valley, where they would need to spend several days in order to visit the caves and the archaeological sites, and appreciate the main features of the Caatinga and Mata Seca, which are very different in the “rainy” and the “dry” seasons. Pedras de Maria da Cruz and Matias Cardoso have their historical importance in the Minas Gerais colonization process and are very interesting as small towns along the river. Januária would be the hub, offering services such as restaurants, hotels, healthcare centres, and commerce, especially with sales of cachaça, which has its own characteristics due to the local production and aging techniques.
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Catalogação na Publicação (CIP)
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Castro, Gilda de Terras do Norte de Minas : o Vale do São Francisco entre o Ribeirão Pandeiros e o Rio Peruaçu / texto Gilda de Castro ; fotos Juninho Motta. - Belo Horizonte : Ed. do Autor, 2015. 332 p. il. color. Ed. bilíngue português-inglês ISBN XXXXXXX 1. São Francisco, Vale, Rio (MG-AL) 2. Minas Gerais, Nortehistória 3. Januária (MG) I. Motta, Juninho II. Título
Manfred Leyerer com amigos e Pelotinha (à esquerda) em viagem pela região entre o Ribeirão Pandeiros e Vale do Peruaçu. Seu entusiasmo pelo patrimônio natural e cultural do Estado de Minas Gerais incentivou a realização deste e de outros projetos que valorizam a história de nossa terra de Minas.
Da esquerda para direita: Juninho Motta [fotógrafo], Angelo Issa, Gilda de Castro [autora], Tiago Alberione e Clara Gontijo [designer], Elaine Machado de Lima [proponente], Robson Soares [coordenador], Eliana Toledo e Manfred Leyerer [Diretor financeiro Vallourec], Miguel Gontijo e Marilete Gontijo.
Bibliotecária responsável: Cleide A. Fernandes CRB6/2334
CDD: 981.51