Revista Ser Familia 19 edição

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Ser Família A sua revista de desenvolvimento familiar e muito mais

Ano III • Nº19

SAÚDE E COMPORTAMENTO Gripe suína. A famosa vacina: tomar ou não tomar? QUALIDADE DE VIDA Exemplos reais de forças que nascem da união  EDUCAR HOJE 2 Meninas superestimuladas Paramos no tempo ou elas “cresceram” antes da hora?

DeAlémbem com a vida da alegria, muito além: felicidade!





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Instituto

Ser Família A Revista Ser Família é uma publicação bimestral que oferece respostas criativas, alternativas inteligentes e soluções eficazes para viver bem.

editorial

Presidente Ludmila G. Antunes de Souza Diretor Executivo Autimio A. de Souza Neto Conselho Editorial Dora Porto Carmen Silvia Porto Conselho Consultivo Arthur Dissei Ciro Ferraz Porto José Carlos Reis de Magalhães Paulo Brito

Projeto gráfico e Direção de Arte Claudio Tito Braghini Junior e-mail: claudiojuninho@hotmail.com Jornalista responsável Silvia Kuntz Pinto Lima – Mtb 47.467 e-mail: redacao@serfamilia.com.br Colaboradores Encar Torre-Enciso Luis Fernando Carbonari Firmina Floripes Ferreira Renato Rodrigues Produção e Impressão Ediouro Fale com a gente Pedro Dias (55 11) 3849-0909 site: www.serfamilia.com.br e-mail: revista@serfamilia.com.br Tiragem - 40.000 exemplares Para anunciar Telefax: (55 11) 3849-0909 e-mail: anuncio@serfamilia.com.br

Instituição beneficiada Do Berço para a vida toda Do Berço para a vida toda

Presidente Honorária Renata de Camargo Nascimento Presidente Vera Helena M. Pires Oliveira Dias Vice Presidente Aline Rios Ramalho Foz Secretária Marta Hegg Financeira Maria Bernadette Magalhães Captação de Recurso Cristina X. da Silveiras

Patrocínio

Realização / Parceira

C

ontribuir para uma vida feliz e repleta de alegrias é muito mais do que o investimento em projetos profissionais e sociais: é assim que pensa a revista Ser Família. Significa também fazer aquilo que realmente interessa: trazer de volta à nossa vida o que mais importa, o que é mais valioso – a vida de quem amamos. E estar com as pessoas que amamos é aproveitar o melhor da vida. A Ser Família quer ajudar você a construir sua verdadeira história, a biografia especial de uma família unida pelos momentos que sempre farão nosso coração vibrar com sentimentos e emoções únicos. Não perca a oportunidade de transformar sonhos em histórias para serem lembradas, inesquecíveis. O que mais queremos é ajudar você a construir uma família mais feliz.

Autimio Antunes


09 14 24 30 42 Breves

Calorias e dependência

intimidade De bem com a vida

educar hoje 2 Meninas superestimuladas

Sociedade Enxergar... a vida!

Saúde e comportamento Gripe Suína: vacinar ou não?

10 20 34 38 46 entrevista Corisco professor de Karatê

educar hoje 1 Como conseguir que seu pequeno obedeça às suas ordens...

Colunista

Liderar -se para ser líder no amor

Qualidade de Vida Vencendo Juntos

viagem e cultura Pantanal



breves >> pág. 9

e dependência “

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artar-se de alimentos com alto valor calórico pode ser tão viciante quanto usar nicotina ou cocaína, além de causar obesidade. A conclusão é de uma pesquisa publicada na revista Nature Neuroscience.

O estudo, feito em ratos, pode ajudar a compreender a obesidade e a achar alternativas de tratamento. A pesquisa mostrou que o consumo de alimentos muito calóricos pode desencadear no cérebro respostas similares às de um dependente. Em ratos com sobrepeso foi identificada queda nos níveis de dopamina (substância que promove sensação de prazer), como ocorre com dependentes de drogas. Segundo Paul Kenny, autor do estudo feito no Instituto de Pesquisa Scripps, na Flórida, a obesidade pode gerar compulsão por alimentos. ‘Tratamentos aplicados em outras formas de compulsão, como o vício em drogas, podem ser eficazes na terapia contra a obesidade’, diz. Para a pesquisa, Kenny comprou alimentos com alto valor calórico, comidas saudáveis e fez uma dieta para três grupos de ratos. Um deles ganhou dieta balanceada. Outro recebia comida saudável, mas tinha acesso durante uma hora por dia a alimentos com alto valor calórico. Os do terceiro grupo comiam apenas alimentos calóricos e, logo, tornaram-se obesos. Luizemir Lago (diretora do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas - Cratrod) explica que a falta desse tipo de comida pode gerar uma hipoglicemia, por exemplo. ‘O alimento calórico mexe com a dinâmica do organismo. Não haverá abstinência, como acontece com quem usa substâncias psicoativas, mas haverá insulina em excesso. O colesterol aumentará e a pessoa carregará um peso acima do que seu corpo pode suportar.’ Para evitar a dependência de alimentos calóricos é preciso ter hábitos alimentares saudáveis desde a infância. ‘Esse é um problema sério que as pessoas muitas vezes não percebem.’” ( Jornal da Tarde, MARCELA SPINOSA, com REUTERS)


ENTREVISTA >> pág. 10

karatê

ensinamentos para vida Por Silvia Kuntz

Professor de Karatê

José Alberto Campos (Corisco):

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m dos lemas do karatê se traduz em esforçarse para a formação do caráter. Como esse ideal “transborda” da luta para a vida pessoal de um lutador?

Enxergar esse lema como um objetivo é muito pouco. Mas quando esse objetivo se transforma em ideal, aí sim, ele passa a impregnar a vida inteira da pessoa.

Seria um serviço para a humanidade. É uma coisa muito rica, satisfatória, alegre. Profissão pela profissão te deixa muito preso a ela, vira um peso, uma obrigação.

Depende de como se encara. Se é apenas o lema pelo lema em si, ele não vai transbordar para a sua vida pessoal. O segredo é dar um sentido maior para esse lema, isso te desperta uma vontade muito maior de fazer esforço que não é por um motivo só seu, só para você, para cumprir uma regra, um código de conduta.

Na vida, cada um tem uma missão. Que peso a profissão tem, para você, neste aspecto?

Com a sua profissão, você tem um “papel” na sociedade. É uma maneira de se preocupar mais em servir a humanidade do que receber algo.

A profissão pode ser um instrumento para se cumprir uma missão. Sem esse sentido, a pessoa só espera reconhecimento, dinheiro, gratidão... Mas se a missão entra no jogo também, você tira tudo isso da frente.

Quando alguém te procuram para ter aulas, ou treinar, você simplesmente passa os exercícios, ou pensa também em ajudá-lo como pessoa?


A primeira coisa é a aproximação com a pessoa. No começo eu nem penso em técnica. O karatê é muito humano... Tem muita ordem: para levantar uma mão tem hora, para abaixar a mão tem a ver com o movimento da outra mão, com os pés, com os olhos, com a boca. Às vezes a pessoa se concentra na mão, mas os olhos estão desconcentrados, os pés não apontam para aquilo, não têm o mesmo foco. Um aluno que está com a camiseta toda torcida, por exemplo... Não é só a camiseta, ele é quem está todo torcido por dentro. Às vezes a aula começa aí. Eu observo como ele dobra uma roupa, tira um tênis, como ele deixa as coisas no vestiário, a atenção que ele põe nisso, até como penteia o cabelo! A pessoa se revela, mesmo sem querer... Em 36 anos que eu pratico karatê, nunca vi uma pessoa ser desorganizada nessas coisas pessoais e ter uma técnica boa, ser um cara bom de luta... Até o golpe sofre com isso e não sai bonito, fica tudo atrapalhado. Você treina alguns executivos... Imagino que eles não te procurem para seguir uma carreira dentro do karatê no futuro... A luta tem um “poder” de relaxar? Por que o Karatê? Eles descansam com o Karatê e a vida deles, às vezes começa a ter mais sentido. Muitas vezes,

antes de fazer viagens importantes, eles me pedem para fazer uma aula. O karatê exige uma série de coisas que a vida profissional também requer. Se a pessoa adquire isso na luta, já é um treino para que ela pratique fora, na vida pessoal. Para lutar Karatê é preciso concentração, intensidade, constância... a luta envolve muita praticidade, dinamismo e força de vontade. E existem duas coisas básicas indispensáveis para lutar: a paciência e a disciplina. Se um empresário consegue aperfeiçoar tudo isso enquanto faz aulas de karatê, ele ganha uma desenvoltura muito melhor no ambiente de trabalho. Até a postura fica mais elegante. Ele adquire segurança e, por ter conseguido a segurança necessária, ele obtém naturalidade. Eles atendem muita gente, dão emprego a muita gente direta ou indiretamente, são referências no meio deles. Por isso, quanto mais os outros percebem que eles estão “para cima”, melhor! Então as aulas têm que ser mais personalizadas, dependendo do aluno? Você tem que conhecer muito bem cada um deles... É, mas não é difícil conhecêlos logo de cara. Só a maneira como ele chega para a aula já diz muito. Alguns chegam

imponentes, arrogantes, outros inseguros... Tem alunos para os quais eu não posso demonstrar um golpe com toda a força, por exemplo, porque isso pode assustá-los. Tem muita gente com bloqueios. Mas, para outros, isso motiva. Para que alguns se concentrem, por exemplo, tenho que fazê-los imaginar, enquanto fazem determinado golpe, que são médicos e estão operando o coração de alguém muito querido. Se a pessoa não tem afeto, não consegue ser concentrada para receber uma técnica mais difícil. Tem alguma história de algum aluno que mudou por causa da luta? Eu tive um aluno que não conseguia fazer aula de matemática, agredia as pessoas. Era uma pessoa muito defensiva e, geralmente, as pessoas defensivas, ao mesmo tempo são também muito indefesas. Quando ele chegou, não tinha segurança nem para amarrar um tênis, imagine então para ir a um campeonato! E ele se tornou um atleta da seleção brasileira! Em geral, nos primeiros dois anos, a luta do aluno é pela permanência. Se ele resiste, exercita uma coisa importante que é a força de vontade. E a força de vontade é o mais importante para uma mudança pessoal. 11



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Por Dora Porto Máster em Matrimonio e Família Instituto de Ciencias para la Familia – Universidade de Navarra.


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felicidade é aquilo à que todos aspiramos, ainda que sem sabê-lo, pelo mero fato de vivermos. Na verdade, ninguém decide se quer ou não ser feliz. É uma aspiração natural da pessoa. O que muda é apenas a forma como cada um busca a felicidade. Costuma-se dizer que a felicidade é uma consequência, não se pode alcançar por si mesma. Exige a plenitude de desenvolvimento em todas as dimensões humanas. Não é apenas um sentimento passageiro, mas a posse de um bem duradouro. Somos nós que utilizamos mal as palavras e afirmamos estarmos “felizes”, quando o mais correto seria dizer que estamos alegres ou que aquilo nos deu imenso prazer. Podemos entender melhor esse “bem duradouro” se pensarmos nas outras possibilidades de possuirmos bens que são o prazer e a alegria. No prazer, alcançamos um bem que desejamos, mas é bastante passageiro. Por exemplo, o prazer de tomar um sorvete num dia de calor, de tomar um banho refrescante

no final do dia, de tomar um bom vinho, de saborear uma comida diferente etc. Já a alegria é um pouco mais duradoura, não é tão efêmera quanto o prazer. Podemos estar

felicidade não é um sentimento, nem um prazer, nem um estado, nem um hábito, mas uma condição da própria pessoa

alegres com a companhia de uma pessoa querida, com a visita de um filho, com o abraço de um neto, com um negócio realizado, um momento vivido entre amigos, mas isto também tem a sua caducidade. Não dura para sempre. A felicidade é, como dissemos, a posse de um bem duradouro. Mas como alcançaremos algo duradouro, se somos seres finitos? Se as pessoas que amamos, um dia se vão e deixam uma lacuna em nossas vidas, se passamos por momentos difíceis, por decepções, fracassos? Será possível esta “tal” felicidade? O que, afinal, pode nos proporcionar felicidade? Como somos seres finitos, é natural que nossa felicidade

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nesta terra seja também relativa. E enquanto estamos por aqui, podemos buscar esta felicidade ainda que relativa. Se viver é a capacidade de construir projetos e depois executálos, nós seremos felizes na medida em que alcançamos aquilo a que aspiramos. Muitas vezes é aí que mora o perigo, pois nos frustramos porque colocamos toda a nossa aspiração apenas em coisas “úteis”, materiais, finitas, que por si mesmas não têm o poder de dar uma satisfação permanente. É o sonho da casa própria, aquele carro, aquela viagem, aquele notebook etc. Felicidade não é a satisfação do seu “sonho de consumo”. Esta satisfação pode nos dar um prazer ou uma alegria passageira. Felicidade não é um sentimento, nem um prazer, nem um estado, nem um hábito, mas uma condição da própria pessoa. Pois bem, mas quais seriam esses bens valiosos que perduram e que tornam felizes as pessoas? Afirmam os antropólogos que o que nos proporciona


humana que nos permite usufruir de uma felicidade cada vez mais profunda. Uma felicidade que é compatível com a dor, com sofrimentos, com as decepções e fracassos.

felicidade são as realidades que transformam o próprio homem, que nos dão um modo de ser. Trocando em miúdos, são realidades que, uma vez adquiridas, já passam a fazer parte de nós, ninguém mais pode nos tirar. Por exemplo, uma pessoa sincera. Ela pode não ter nascido assim, mas graças à educação e ao esforço diário, tornou-se uma pessoa que ama a verdade e é transparente, sem máscaras. Uma pessoa encantadora graças à sua forma de ser, graças aos bons hábitos (virtudes) que foi adquirindo com o esforço e a repetição. O saber e a virtude, portanto, fazem parte desse tipo de bem duradouro. Quando adquirimos um conhecimento, e mais do que isto, quando vamos adquirindo sabedoria com o passar dos anos, tornamo-nos pessoas com qualidades humanas, amáveis, responsáveis, prudentes, fortes, simples, humildes, vamos adquirindo uma plenitude

Mas, além de tudo isto, boa parte da felicidade radica em ter a quem amar e amá-lo efetivamente até fazê-lo feliz. Não há nada que nos proporcione mais felicidade do que amar. Querer o bem do outro, abrir-se à doação pessoal, são âmbitos principalmente ligados à felicidade. Por esse motivo é que o amor familiar é um dos bens que humanamente mais podem nos proporcionar felicidade. Somos felizes não pelo que temos, mas pelo fato de aqueles que amamos existirem. Já notaram o olhar daqueles que se amam? Quando nasce um bebê, o coração de toda uma família fica preenchido, pois mais um ser querido veio à vida! Que felicidade! Mas, importante mesmo é recordar que o mais profundo e elevado do homem está no seu interior. Se procurarmos a felicidade apenas externamente, certamente não a encontraremos. “A plenitude humana leva consigo riqueza de espírito, paz e harmonia na alma, serenidade” (Fundamentos de Antropologia, Ricardo Yepes). É por isso que esse mundo onde se corre desenfreadamente, onde ninguém tem tempo para parar, refletir... Há tantas pessoas que se dizem infelizes.

O que nos falta? O que é preciso recuperar? Segundo os especialistas precisamos recuperar uma formação moral sólida, aberta e pluralista, que não dê prioridade ao êxito material, ao prazer e ao dinheiro. Conseguir ser homens e mulheres mais dignos, que querem ser mais cultos para serem mais livre; construir um mundo mais cordial e compreensivo; criar um espaço mais afetivo onde se interliguem o material, o espiritual e o cultural. O homem das próximas décadas, se colocar empenho, poderá ser mais profundo, moralmente forte e coerente na sua vida e consequentemente muito mais feliz. Frente ao homem “light”, oco, sem convicções, que busca sua felicidade apenas no prazer, no imediato, podemos optar por sermos pessoas comprometidas, com perspectivas para o futuro, pessoas que com sua própria

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vida são incentivos para outros, exemplo vital de teoria e prática. Quem de nós não conhece pessoas desse calibre? Pessoas que pela sua trajetória de vida deixaram marcas profundas em nossas vidas. Pessoas que mostraram com suas vidas, com sua luta, seu trabalho, que a vida vale a pena. São pessoas que atrás de si deixam rastros profundos, exemplos encarnados. É feliz quem é leal aos seus princípios, persevera nos seus ideais ainda que custe, persiste em manter critérios de conduta, é fiel aos seus compromissos, independente da agitação e do vai-e-vem de tantas circunstâncias. Mas isto não é tudo. Podemos colocar obstáculos à felicidade. Sim, digo colocar obstáculos, pois somos nós mesmos os que impedimos que a felicidade seja uma realidade em nossa vida. E os principais obstáculos são o medo e a falta de imaginação. O medo tem o poder de nos paralisar, brecar atitudes audaciosas, não permitir que assumamos o menor risco, de fazer estarmos sempre querendo nos cercar de uma 18

segurança absoluta e, ao mesmo tempo, impossível. É como uma pessoa que com medo de não conseguir um emprego, já nem tenta, nem arrisca. Fecha-se num medo inútil e paralisante e não experimenta o sabor agradável de vencer-se.

diz-se que a diferença entre os vitoriosos e os fracassados é que o vitorioso não desistiu quando fracassou Já a falta de imaginação nos leva a projetos vitais pouco pessoais, com os quais não nos comprometemos e não nos identificamos. Ficamos estacionados na vida, culpando a tudo e todos pelos nossos fracassos ou nossa má sorte. Não são poucas as histórias de vida de pessoas que depois de um grande fracasso, de uma grade derrota pessoal ou profissional, souberam erguerse, e com criatividade buscar novas alternativas. Diz-se que a diferença entre os vitoriosos e os fracassados é que o vitorioso não desistiu quando fracassou! Por esse motivo podemos afirmar que se pode ser feliz no meio do sofrimento e ser infeliz mesmo cercado de bens e prazeres. A felicidade, diz Julian Marias, nasce da conformidade entre o que se quer e o que se vive.

Uma pessoa feliz, “de bem com a vida”, como se costuma dizer, faz mil coisas triviais ao longo do dia, que não estão relacionadas com a felicidade, mas graças ao bom espírito de quem as pratica ficam embebidas de uma felicidade contagiante. Fico pensando em incontáveis mães, cujas mãos abençoadas são capazes de fazer uma comida cheirosa, temperada com seu amor e sacrifício! Quando o filho entra em casa e sente o aroma da comida da mamãe, daquele molho ao sugo que só ela sabe fazer, seu estômago certamente se prepara, mas seu coração fica inundado de um outro tipo de sabor: o sabor da felicidade. Naquele molho tem muito mais do que tomates, cebolas e temperos! O que concluímos é que a felicidade não deve ser buscada em coisas extraordinárias, eventuais, mas no dia a dia vivido com intensidade, com o desejo mais profundo de fazer os outros felizes. Esta é a grande fórmula: se queremos de verdade ser felizes, comecemos por nos ocupar da felicidade dos que nos cercam. A nossa? Ah... Essa virá como consequência!



educar hoje 1 >> pรกg. 20

Como conseguir que seu pequeno


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às suas ordens...

Por Carmen Silvia Máster em Matrimônio e Família pela Universidade de Navarra - Espanha Diretora do Instituto Ser Família


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everidade. Eis uma atitude da qual temos medo de intensificar demais na educação dos nossos filhos. Afinal, fazer muitas restrições pode, de repente, asfixiá-los... Por um lado, isso é verdade. Mas, por outro, corremos o risco de sermos muito moles e indulgentes. Muitas vezes esse temor nos deixa paralisados na hora de exercer a autoridade.

Se você costuma ter muitos desses pensamentos, pode ser um sinal de que precisa exigir mais dos seus filhos:

crianças sofram uma quantidade de frustrações crescente e gradual, de acordo com a maturidade.

-Gosto muito do meu filho, ele é muito pequeno para não ganhar a bicicleta que tanto quer...

Como sempre, tudo em excesso faz mal, e, neste caso, repreensão demais ou muita tolerância pode formar indivíduos sem motivação, com dificuldade de decidir seu futuro e vivendo em permanente estado de dependência. O segredo, como sempre, é o equilíbrio...

-Por que ele precisa passar por esta frustração de não sair com os amigos agora se quando crescer não poderá fazer muitas coisas que desejar?

Usar a empatia (pensar o que o filho está sentindo em cada situação) é muito saudável, ajuda a entender os motivos que fazem os filhos reagirem de uma maneira ou de outra, facilitando a forma de ensinar a enfrentar as contrariedades, desenvolvendo neles, consequentemente, a capacidade de se colocarem no lugar do outro.

Como é que os nossos filhos vão aprender a enfrentar a realidade e as inevitáveis frustrações da vida, se nunca dissermos “não”? E nem precisa ser um não a algo proibido! Às vezes é bom privá-los de coisas boas para fortalecê-los. Restrição com bom senso é um ótimo caminho para a educação. E isso se faz com pequenas exigências no dia a dia, como, por exemplo, estabelecer um horário para o uso do computador e cobrar o cumprimento à risca.

Alguns indícios de um comportamento contraditório ao educar 22

-Trabalho muito e não vou dizer não para meu pequeno que deixo tantas vezes nas mãos de outros....

-Gosto de ter uma relação de amigo dos meus filhos e não de mandão... -Para que meus filhos têm que sofrer tantas proibições como eu? -Vou comprar muitos presentes para compensar o tempo que não estive junto dele hoje... -Vou concordar com o que ele quer para não ter brigas em casa... -Não ponho meus filhos cedo na cama porque parece que quero sossego... A ordem dada visa o bem futuro de seus filhos e é nas pequenas contrariedades que eles poderão adquirir fortaleza para vencer outras situações. O ideal é mandar com muito carinho e permitir que as

A nossa coerência é também fundamental. Se determinamos que tal atitude é a que se deve tomar, temos de tomá-la (nós, em primeiro lugar), custe o que custar. As ordens dadas devem também ser seguidas pelos pais. Proibir as ligações telefônicas dos filhos, por exemplo, e falar com as amigas horas a fio, será um motivo claro para que eles não sigam a ordem estabelecida. Não se pode esquecer que a relação entre pais e filhos é uma relação hierárquica e os limites são necessários. Os filhos buscam autoridade nos pais e precisam dela para orientar seu aprendizado.

Nossa autoridade é eficaz quando... • Existe consenso entre os pais. • O casal exerce de modo participativo e sabe chegar a acordos.


• A finalidade é educar e fazer com que os filhos ganhem autonomia. • É coerente com a conduta dos pais. • Apoia-se em valores e normas estáveis. • Traduz-se em fatos.

forma eficaz de conseguir a obediência dos filhos. Geralmente, a primeira reação diante de uma ordem forte é oferecer resistência. A pergunta, pelo contrário, desconserta. A criança demora mais para reagir porque é obrigada a refletir... Em vez de lançar simplesmente um “não, você não vai ao shopping!” , pode ser mais interessante continuar a

conversa: “acho uma boa ideia você ir, mas que horas você vai acabar sua lição de casa? Como vai até lá? Será que você vai conseguir chegar antes do jantar?” A criança analisará todas as respostas e decidirá por si mesma que não poderá satisfazer sua vontade e cumprir todas as atividades que deve.

Mais do que ser duro ao mandar, fazer perguntas é uma

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educar hoje 2 >> pág. 24

Por Dora Porto Máster em Matrimônio e Família pela Universidade de Navarra - Espanha Diretora do Instituto Ser Família Autora do livro “ Pais inteligentes, filhos resolvidos”


Meninas

superestimuladas


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á alguns anos, elas calçavam os sapatos de salto de suas mães, para brincar de adultas. Agora vemos nossas filhas saindo para festinhas, não apenas “mal vestidas”, mas vestidas como miniadultas, correspondendo aos modelos que a moda e a mídia lhes impõem. O que está acontecendo? Isto é normal? “Muito cedo, desde bebês, nossas meninas estão sendo superestimuladas, supersensualizadas e superexpostas”. Quem faz esta afirmação é Maggie Hamilton, autora, editora, comentarista e grande observadora de tendências e modas, com mestrado em Literatura Inglesa, cujos livros já foram publicados na Itália, Holanda e Arábia Saudita. Maggie realizou uma pesquisa, entrevistando um grande número de meninas e adolescentes para chegar a esta afirmação. Ela diz em seu livro - “O que está acontecendo com nossas garotas?” -, e todos somos obrigados a concordar, que “em poucas décadas quase todas as partes da vida das jovens foram transformadas, trazendo liberdades com as quais as gerações anteriores só podiam sonhar”. O que ela quer dizer com isso? Que em quase todos os aspectos da vida de nossas meninas houve uma mudança

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quase mais rápida que a velocidade da luz. O que uma menina, que agora tem 12 anos, vivenciou aos 7, é muito diferente do que vivencia uma garota com 7 anos em 2010.

a oportunidade de viver a infância com pureza e ingenuidade, características próprias da idade, é praticamente enterrada pelo esforço de transformá-las em “boas miniconsumidoras”. Por isso fica tão difícil compreender a vida das meninas de hoje. Mas ao lado dessas novas possibilidades é preciso apurar o que elas ganharam e o que perderam. Será que isso representa um crescimento? Até há pouco tempo, elas brincavam com bonecas e panelinhas, e agora veem-se gastando grande parte de seu tempo na frente de DVDs, programas de TV, videogames, cujos enredos e temas enviam mensagens subliminares a todo tempo. Isso sem falar dos “advergames”, jogos que têm a intenção de promover produtos para as pré-

adolescentes, já que elas passam horas se divertindo com eles, o que não acontece com os comerciais de TV, que têm apenas alguns segundos de duração. A oportunidade de viver a infância com pureza e ingenuidade, características próprias da idade, é praticamente enterrada pelo esforço de transformá-las em “boas miniconsumidoras”. O que nos preocupa e deve preocupar a todos os pais é que não estamos cientes do quanto elas estão expostas aos marketeiros na TV, revistas, shoppings, áreas de alimentação e quanto é fácil coletar informações para novas campanhas publicitárias. Resultado: nossas menininhas, ingenuamente, são estimuladas a comprar! E não são responsáveis só aqueles que fazem a publicidade, mas também as mães que estimulam a ida aos shoppings como forma de diversão, e os pais que se desentendem da sua educação. Hoje, pode-se observar que, para muitas garotinhas, comprar é um vício! ( Note-se que se fala apenas das meninas, pois este foi o objeto da pesquisa, mas o mesmo acontece com o meninos). E o pior de tudo isso, nem é o simples fato de serem estimuladas a comprar, mas sim os produtos que compram... Maquiagens, roupas de adultos,


serviços de beleza (como depilação, tintura de cabelos, unhas etc)... E mal saíram das fraldas! Com esta atitude (muitas vezes bem intencionada) das mães, estas meninas são obrigadas a crescer a toque de caixa, a queimar etapas importantes da sua infância e puberdade. Hoje, as meninas com 9 anos de idade apresentam comportamentos das de 14 de ontem. Outra grande influência é o modelo apresentado por artistas, “reality shows” e outros programas de TV. Adultos que servem de “exemplo” para elas, e que não se importam com isso e nem deveriam ter esse papel. Não estão ali para educálas, mas acabam sendo imitados... O que acontece é o que afirma a autora: “ter um comportamento precocemente sexy e fora de controle parece a melhor forma de virar notícia, e talvez isso explique por que as meninas se envolvem em situações de risco ainda tão jovens”. E “virar notícia” é para muitas meninas o maior “sonho de consumo”! Afirmam os especialistas, em carta para The Telegraph: “As crianças hoje são levadas, pelas forças do mercado, a agir e a vestir-se como miniadultas e ficam expostas à mídia eletrônica e a conteúdos que, até recentemente, eram considerados inadequados para esta faixa etária”. Mas, afinal, o que querem as pré-adolescentes? Podemos

afirmar, sem medo de errar, que querem ser amadas! E para ter certeza disso, parece que precisam ser notadas, fazer parte, integrar, pertencer. Ou seja, o “todo mundo faz” passa a ser a palavra de ordem que deixa muitos pais calados, por falta de argumentação. Hoje, por obra e graça de alguns programas televisivos, o sonho da adolescente é “ser famosa” e poder lucrar muito com esta fama. Só resta saber que “lucro” é este! Isto também tem suas consequências no que se refere à preocupação com seu corpo. Muitas meninas, ainda bem pequenas, adquirem uma verdadeira neurose por regimes e “malhação”, pois o que interessa é manter a forma. Algumas, graças a Deus não a maioria, podem até se submeter a exageros no “não comer” para adquirir um corpinho perfeito. Casos de anorexia infelizmente são mais frequentes do que se poderia supor há alguns anos. A mensagem é clara: “é proibido ser mais gordinha e não corresponder ao padrão de beleza estabelecido”. E as inúmeras meninas que não se enquadram nesse padrão começam a se sentir marginalizadas. Sentem uma flechada na sua autoestima. Também há um aspecto importante e preocupante que deriva dessa hiperestimulação, proveniente de permanecerem o tempo todo “online”. Diferente dos adultos, acostumados a processar

grandes volumes de informação captados da mídia, as crianças não podem suportar a mesma carga. Permanentemente ocupadas, elas não têm tempo para a reflexão, nem para aprenderem a relaxar por algumas horas, e acabam não tendo oportunidade de desenvolver experiências enriquecedoras que as leve a desenvolver sua criatividade. Pré-adolescentes que têm tudo, acostumadas a adquirir aquilo que querem de qualquer forma, estão muito mais vulneráveis. São as mesmas que estarão brevemente expostas a outro tipo de pressão para o consumo, como as drogas, a prática do sexo, o excesso de bebidas e a pornografia. O papel dos pais é cada vez mais importante e requer reflexão e criatividade, pois é costume que as adolescentes desdenhem daquilo que vem por parte de seus pais, se estes não tiverem criado uma autoridade moral e sobretudo um canal aberto de comunicação. É muito frequente que as mães e os pais não tenham “a menor ideia” do que realmente estão pensando e vivendo suas filhas pré-adolescentes. Sua própria experiência de vida parece não lhes render muitos argumentos. Mas, ao contrário do que podem pensar, os adolescentes “se importam com o que pensam seus pais”. 27


Cabe a nós, pais, um ativo encorajamento para que nossas meninas desenvolvam sua própria identidade, em contraposição aos modelos tão superficiais representados pela mídia. É preciso animá-las a adquirir habilidades que vão se refletir na conduta, a valorizar as oportunidades que a vida de família oferece, a valorizar os acertos e corrigir os erros com otimismo, a fomentar expectativas altas mas de forma atrativa, e sobretudo a relacionar a sexualidade com a vida e o amor. Mães, cuidado para não serem vocês mesmas que estimulem comportamentos que vão trazer consequências tão nocivas no futuro. Refiro-me à certa tendência, também verificada no Brasil, segundo matéria da Revista Crescer onde se afirma que “em quase dez anos triplicou a proporção de jovens que se submetem a plásticas em busca, principalmente,de narizes e seios mais bonitos”. Em 1994, apenas 5% das cirurgias eram realizadas em jovens, contra 15% hoje. Os especialistas advertem ainda que muitas dessas meninas se submetem a

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é preciso propôr condutas mais ricas, fruto do desenvolvimento de habilidades que as torne capazes de conduzirem seus próprios atos. Uma préadolescente que não sabe tomar decisões, que não sabe identificar as pressões e emoções pelas quais passa, será, infelizmente, muito mais vulnerável

cirurgias enquanto seus corpos estão em desenvolvimento, que só é concluído entre os 18 e 21 anos. Existem ainda muitos outros fatores que influenciam na vida dessas pré-adolescentes, como a importância que dão à opinião das amigas, ao fenômeno do Bullying, que pode chegar a níveis insuspeitados de crueldade, problemas sérios de autoestima, por não corresponderem aos padrões impostos, e ao uso do sexo como mais um objeto “de consumo”. E, como qualquer produto, vende mais quem mais inova! O resultado é que muitas meninas acabam se expondo na internet, não somente seus rostos, mas sua intimidade. E sabemos que a disseminação de imagens postadas na internet é de uma velocidade e violência incomparáveis. Infelizmente, nossas meninas não estão sendo preparadas para viver uma sexualidade inteligente, cheia de sentido e beleza. Estão sendo levadas a ver o sexo como mais uma


forma de consumo, que habitualmente está muito relacionada com álcool e drogas. As meninas “oferecem” seus corpos como forma de atrair os meninos e se afastam cada vez mais do sentido do sexo dentro de um relacionamento de amor verdadeiro e duradouro. Quando as jovens são sexualizadas, seu foco se afasta do pensamento de como são e do que querem fazer com suas vidas, para centrar-se em como satisfazer os outros e conseguir mais atenção. O que vem acontecendo é que as meninas, hoje, podem saber muito sobre sexo, mas sabem muito pouco sobre o amor, o valor da intimidade, tão importante nos relacionamentos. Também sabemos que dificilmente uma menina sai de casa com o firme propósito de embebedar-se ou drogar-se, mas são facilmente levadas a embriagar-se e depois já não são mais donas de seus atos. E tudo começa porque não foram educadas a dizer não, a refletir sobre o que lhes convém ou não de forma

própria e autônoma, a prever situações de maior risco. É preciso propôr condutas mais ricas, fruto do desenvolvimento de habilidades que as torne capazes de conduzirem seus próprios atos. Uma préadolescente que não sabe tomar decisões, que não sabe identificar as pressões e emoções pelas quais passa, será, infelizmente, muito mais vulnerável. Em outras palavras, sua conduta não é humana, pois não é fruto da sua liberdade. E não são raros os casos de depressão, e até suicídio, em consequência do estado que chegam a ficar algumas adolescentes. E o que mais preocupa é que muitas dessas adolescentes convivem diariamente com seus pais, sob o mesmo teto, mas não têm com eles a menor abertura, a menor confiança, a menor intimidade. Podemos dizer que esses pais são maus? Sinceramente não acredito que algum pai, em sã consciência, deseje este fim para algum de seus filhos. O importante é ter consciência de que simplesmente “deixar o

tempo passar” não é a solução mais adequada. Precisamos, desde muito cedo, acompanhar nossos filhos, conversar com eles sobre todos os assuntos, fazê-los pensar, refletir sobre seus atos, para que tenham uma visão própria do mundo e não uma visão “emprestada” de pessoas que não estão habilitadas para formá-los: os amigos, o grupo, a internet, a mídia em geral, e sabemos que o resultado pode ser trágico. Podemos estabelecer uma conexão emocional com nossos filhos, propôr ideais altos, incentivar a que vivam com qualidade cada etapa de sua vida, para que se habituem desde bebês a confiar em seus pais, na força que pode exercer sua família no seu real desenvolvimento. O que nos falta? Estar conscientes de que precisamos nos capacitar para exercermos nosso papel de pais com excelência. Fonte de pesquisa: Hamilton, Maggie- “O que está contecendo com nossas garotas?” Editora Novo Conceito

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sociedade >> pág. 30

Enxergar...

a Vida! Por Marta Lanner Fossatti Psicopedagoga (PUCRS) E Especialista em Estimulação Precoce Atuação Clinica mlanner@terra.com.br


N

a nossa existência estamos sujeitos a fatalidades...

O diagnóstico de um tumor cerebral em uma filha, no início da adolescência, foi como se o mundo houvesse desabado sobre nós... Era maligno! Toda a família, cada qual de sua maneira, posicionou-se de frente com a realidade dos transtornos de percurso... Duas irmãs mais velhas, um irmão mais novo, todos em momentos da vida em que é imprescindível a ajuda dos pais. A mais velha cursava medicina, a outra se preparava para entrar na faculdade e o menino era ainda préadolescente! Internação, cirurgia, recuperação, tratamento, reabilitação à nova condição de vida. Além de se tornar muito frágil, devido ao grande número de radioterapia, também perdeu a visão, portanto passou a necessitar de mais atenção, carinho, apoio e compreensão. Difícil foi aceitar suas perdas, mas esperávamos reverter o quadro com o avanço da ciência, e, principalmente, trazer de volta o mais importante dos sentidos: a visão. Que bom seria se tudo o que estávamos passando fosse apenas um pesadelo... Ela havia concluído o 1º ano do Ensino Médio em uma

conceituada escola de Porto Alegre. Iniciado o ano letivo, quando ingressaria no 2º ano, sua cadeira ficou a sua espera, bem como seu nome na chamada, por um bom período. Isto se deu ao fato de acharmos que tudo se resolveria bem rápido e sem sequelas. Até o dia em que a consciência me desnudou da fantasia e, em prantos, fui à escola para cancelar sua

o que deveríamos fazer era proporcionar-lhe as condições para seguir matrícula. Um ano e meio para “recuperar-se”. Assim, aquela menina linda, inteligente, cheia de vida, percebeu-se fragilizada. E agora? O que faria? Diante de tanto sofrimento, nossa procura por Deus se tornava cada vez mais intensa, fazendo de nossa fé o alicerce para uma nova construção. Então, o que deveríamos fazer era proporcionar-lhe as condições para seguir. Foi com dificuldade, enfrentando as novas situações, vencendo os obstáculos, adaptando-se à nova forma de escrita e leitura em Braille, que concluiu o segundo grau.

Este período também acarretou muito sofrimento para mim: assistia seu esforço para vencer a nova situação que a vida lhe impunha. Pensando em ajudá-la, prometi a mim mesma cursar a faculdade junto com ela. A medicina, curso do seu sonho, foi posta de lado e ela ingressou na pedagogia com ênfase em orientação. Na época, a faculdade não possuía recursos, mas as condições melhoraram. Com sua chegada foi instalado um laboratório de apoio às suas necessidades e também para os outros cegos que, porventura, a unidade acataria. Ingressamos no mesmo curso e dividimos por um tempo a mesma sala de aula. Tudo com o intuito de auxiliála nas demandas surgidas. Iniciativa que soou limitante para ela, pois meus olhos acrescentavam sua deficiência na medida em que eu me antecipava nas decisões, prejudicando sua liberdade e até o convívio espontâneo com os colegas. Desistir de estar ali, ambiente que também me engrandecia como ser humano, não estava nos meus planos, mesmo que o prejuízo fosse notado por todos. No meu pensar, eu precisava protegê-la. Mas, quando nos é imposta uma situação, Deus já nos apresenta a forma apropriada 31


de vencê-la. Foi quando a universidade ofereceu um novo curso no mesmo prédio em que estávamos. Essa era a solução! Parti para o curso de Psicopedagogia, assim estaria distante e perto dela ao mesmo tempo: ela convivendo com sua turma e eu com a minha. Assim ela pôde desenvolver sua autonomia, e os nossos encontros passaram a ser ocasionais ou apenas no momento de irmos para casa. Foi neste contexto que encontrei força e coragem para ir em busca de uma realização pessoal, encontrada na clínica psicopedagógica. Minha filha, Mônica, também tem o seu trabalho e acabou lançando um livro: METALEXIA – UMA

PEDAGOGIA PARA O DEFICIENTE VISUAL – Mônica Lanner Fossatti. Nesta obra, Mônica expõe o que já vinha há muito tempo registrando com suas observações – a problemática que envolve a comunicação com o cego. Mas o fato concreto que deu início a este projeto foi a falta de sintonia do educador com o cego, que ela sentiu “na pele”. Dentro desta questão, criou um enredo na sala de aula, ao apresentar um trabalho, onde professores e colegas sentiram-se empáticos a ela. Pediu para todos virarem de costas para a lousa e começou a dar aula normalmente, como eles faziam... Nem precisaria dizer que todos entenderam o que ela queria demonstrar.

o fato concreto que deu início a este projeto foi a falta de sintonia do educador com o cego, que ela sentiu “na pele”

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É curiosa a sutileza de seus depoimentos, já que a sociedade “acolhe” um grande número de cegos. Com a inclusão social, nos mais diversos setores, a obra vem beneficiar o bom convívio: familiar, escolar, de trabalho e lazer. Áreas públicas, escolas, universidades nas suas respectivas áreas de Pedagogia, Turismo, Comunicação e em outras que apresentam oportunidades. Nessa caminhada aprendi muito com a minha filha. Diante de um problema, curvar-se e recolher-se não seria o mais recomendado e sim erguer-se à estatura do problema, procurando fazer da situação dolorosa uma oportunidade de aprendizado e crescimento pessoal.


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colunista >> pág. 34

Liderar -se e ser líder no amor

Por Antônio Jorge Pereira Jr. Doutor e Mestre em Direito pela Universidade de São Paulo. Diretor Acadêmico do Centro de Extensão Universitária, Departamento de Direito do Instituto Internacional de Ciências Sociais. E-mail: ajorge@iics.org.br


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o livro O Monge e o Executivo, James Hunter transmite uma visão de temas fundamentais da vida humana de modo inteligente e agradável. Não foi à toa que se tornou um Best Seller diferenciado, pela capacidade de abrir horizontes aos leitores. A história se desenvolve como narrativa de um dos personagens, participante de uma espécie de retiro espiritual conduzido pelo monge. São seis os “retirantes”, três homens e três mulheres, chefes em suas respectivas atividades profissionais. O próprio monge, antes de recolher-se em um mosteiro, fora pai de família e executivo de sucesso internacional. Todos saem transformados do retiro. Compreendem que a autêntica liderança é um serviço de amor. Ser um líder genuíno – em casa, no trabalho, com os amigos - é saber amar verdadeiramente. E, para amar de verdade, é necessário saber a diferença entre “amar” e “gostar” e reconhecer a necessidade de cultivar virtudes para poder amar de verdade. Vamos nos deter no primeiro desses dois pontos.

Amar e gostar: atitudes diferentes Em 2005, quando concluía a tese de doutorado, necessitava de um instrumento que facilitasse explicar o processo do dano moral causado na criança por um programa de televisão inadequado. Criei

uma tabela que relaciona condutas às dimensões da inteligência, vontade e afetividade. Trago aqui parte dela. Acredito que ajudará a compreender o que o monge Simeão mostra aos retirantes, no diálogo mais adiante. Dimensões ou Inteligência Vontade Afetividade potências humanas Objetos de atração Verdade Bondade (Valores) Beleza Atos próprios Conhecer, pensar, Querer, decidir, deliberar, amar, Sentir, apreciar, deleitar-se, (exemplos) ponderar comprometer-se gostar Tipos de educação Educação formal (escolar) Educação ética Educação artística diretamente implicados Prejuízo da capacidade de Prejuízo no exercício da Hipertrofia da busca de Efeitos da carência de compreender o mundo e a liberdade e do amor: querer prazer. Sobrevalorização do formação si mesmo. fraco, não dirigido a valores. ter sobre o ser. Consumismo.

Na tabela, amar e gostar estão em quadrantes diferentes. Gostar é ação da afetividade. Amar é ato da vontade. Traduzem atitudes diferentes e possuem diferentes objetos de atração. Hoje, poucas pessoas se dão conta dessa extraordinária distinção. A falta dessa percepção explica muito das crises familiares. A confusão faz com que muitos pensem não amar mais, porque não sentem o amor, enquanto outros pensam que amam pelo fato de sentirem, quando na verdade apenas gostam. Qual a distinção? Amar pressupõe conhecer, ou seja, possuir intelectualmente a forma (imaterial) do bem que nos atrai. Amar leva a trabalhar para o bem do ser amado, a despeito de nós mesmos. Quem ama, gasta-se pelo bem do outro. Enquanto isso, gostar pressupõe experimentar uma sensação, ou seja, viver a experiência sensorial de algo que deleita. Quando se gosta de algo gostar vem de gosto – experimenta-se satisfação na posse do bem que deleita.

Quem ama, sai de si, transcende-se. Quem gosta, na ação de gostar, estaciona em si. São dois verbos pertencentes a

amar nos leva a trabalhar para o bem do ser amado, a despeito de nós mesmos planos distintos. E, sendo atos de dimensões diferentes, não se excluem mutuamente. Podem dar-se simultaneamente, no mesmo sentido - amar e gostar - ou em sentidos opostos - amar e detestar ou odiar e gostar. A melhor das situações é aquela em que amamos e gostamos simultaneamente. Mas nem sempre experimentamos essa harmonização. Nesses momentos as virtudes nos fazem falta, para antepormos ao desejo de satisfação imediata, ao gosto, o esforço inteligente por alcançar um bem de mais alto valor. Ao amar vivemos a experiência da transcendência: o motor de 35


nosso agir está fora de nós, e nos leva a nos expandirmos como pessoa, indo ao encontro de outra(s) pessoa(s), ou de um ideal. Ao gostar, atendemos especialmente os chamados da nossa afetividade e corporeidade, que são realidades que estão nos limites do nosso próprio ser. Um diálogo de O Monge e o Executivo traz a distinção entre amar e gostar de modo bastante elucidativo. Os grifos não estão no original:

“- É verdade, Simeão - a diretora concordou. - De fato, ontem à noite fui à biblioteca e procurei amor no dicionário. Havia três definições e eu as escrevi todas: número um, forte afeição; número dois, ligação calorosa; número três, atração baseada em sentimentos sexuais. - Você vê o que eu quero dizer, Teresa? O amor é definido um tanto mesquinhamente, e a maioria das definições envolve sentimentos positivos. O professor de línguas me explicou que muito do Novo Testamento foi originalmente escrito em grego, e os gregos usavam várias palavras  diferentes para descrever o multifacetado fenômeno do amor. Se bem me lembro, uma dessas palavras era eros, da qual se deriva a palavra erótico, e significa sentimentos baseados em atração sexual e desejo ardente. Outra palavra grega para amor, storgé, é afeição, especialmente com a família e entre os seus membros. Nem eros nem storgé aparecem nas escrituras do Novo Testamento. Outra palavra grega para amor era philos, ou fraternidade, amor recíproco. Uma espécie de amor condicional, do tipo “você me faz o bem e eu faço o bem a você”. Finalmente, os gregos usavam o substantivo ágape e o verbo correspondente agapaó para descrever um amor incondicional, baseado no comportamento com os outros, sem exigir nada em troca. É o amor da escolha deliberada. Quando Jesus fala de amor no Novo Testamento, usa a palavra ágape, um amor traduzido pelo comportamento e pela escolha, não o sentimento do amor. - Pensando nisso agora - a enfermeira acrescentou -, parece bobagem tentar mandar alguém ter um sentimento ou emoção por alguém. Neste sentido, aparentemente Jesus Cristo não queria dizer que nós devemos fazer de conta que as pessoas ruins não são ruins, ou nos sentir bem a respeito de pessoas que agem indignamente. O que ele queria dizer era que devemos nos comportar bem em relação a elas. Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira. A treinadora aparteou: - Claro! Os sentimentos de amor talvez possam ser a linguagem do amor ou a expressão do amor, mas esses sentimentos não são o que o amor é. Como Teresa disse ontem, “o amor é o que o amor faz”. - Falando nisso - acrescentei -, eu percebo claramente que há ocasiões em que minha mulher não gosta muito de mim. Mas ela permanece ao meu lado, de qualquer modo. Ela pode não gostar de mim, mas continua a me amar e manifesta isso por suas ações e envolvimento. - Sim - o sargento acrescentou surpreendentemente. - Ouvi sujeitos me falarem muitas e muitas vezes o quanto amam suas esposas. Eles falam isso sentados nos bares, caçando mulheres. Ou pais que se derretem de amor pelos filhos mas não conseguem separar 15 minutos do dia para ficar com eles. E alguns dos companheiros de Exército, que fazem grandes declarações de amor às garotas quando o que querem é ir para a cama com elas. Portanto, dizer e fazer não são a mesma coisa, não é? - Você pegou a ideia - disse Simeão sorrindo. - Nem sempre posso controlar o que sinto a respeito de outra pessoa, mas posso controlar como me comporto em relação a outras pessoas. Os sentimentos variam, dependendo do que aconteceu na véspera! Meu vizinho talvez seja difícil e eu posso não gostar muito dele, mas posso me comportar amorosamente. Posso ser paciente com ele, honesto e respeitoso, embora ele opte por comportar-se mal”.

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Qual a descoberta da treinadora de basquete? “Os sentimentos de amor talvez possam ser a linguagem do amor ou a expressão do amor, mas esses sentimentos não são o que o amor é”. Esta frase esclarece muito acerca da natureza do amor e do sentimento ou afeto. Podemos amar uma pessoa de quem não gostamos. Manifestamos amor quando fazemos livremente o bem às pessoas sem distinção de raça, credo, nacionalidade, time de futebol. Mas isso não significa que gostemos dessas pessoas: pode ser que não nos atraia conviver com elas, ou seja, talvez não nos deleite sequer estarmos próximos delas. Pense-se na Madre Teresa de Calcutá que servia, por amor, aos mais miseráveis. Com certeza não desfrutava de prazer sensorial algum quando os recolhia nas latrinas da Índia. Ela tratava com carinho os rejeitados da sociedade, com cheiro e

aparência de podridão. Com certeza os amava. E por isso os servia.

desejar alguém sem que isso signifique que queiramos o seu bem. Uma falsificação do amor.

Também nos momentos de discussão ou conflito nas relações familiares é fácil perceber a distinção. Quando os pais colocam os filhos de castigo, estes não gostam dos pais: têm a sensação desagradável, sentem raiva dos pais. Mas, apesar da raiva - sensação - os filhos continuam a amar os pais - bemquerença. E vice-versa.

Compreende-se, assim, o equívoco em chamar de amor a qualquer relação sexual. Ausente a postura de doação com vistas a realizar o outro, a relação sexual manifesta comércio sexual. O amor é uma realidade mais rica. As relações perduráveis entre homem e mulher vão além. Constroemse mediante  compromisso de amor, que ultrapassa a dimensão dos afetos. Compromisso implica fidelidade. Fidelidade é uma virtude. E para ser fiel a um compromisso, é necessário desenvolver outras tantas virtudes, que deem suporte aos momentos em que os afetos desorientem. Sem virtudes, é mais difícil que o amor vença o gosto, quando apontam para direções opostas. Para ter um amor sólido, portanto, é necessário desenvolver virtudes. Somente assim uma pessoa pode liderar-se, e ser líder no amor.

Podemos também gostar de alguém que não amamos. Nessa situação, podemos mesmo simular a aparência de amor, quando, na verdade, queremos extrair do outro algo que nos satisfaz. Sentimo-nos atraídos porque o outro nos torna a vida mais agradável. Queremos servir-nos dele. Assim dizia a música, cantada por Zizi Possi: “Perigo é ter você perto dos olhos, mas longe do coração. Perigo é ter você assim sorrindo, isso é muita tentação”. Podemos

manifestamos amor quando fazemos livremente o bem às pessoas sem distinção de raça, credo, nacionalidade, time de futebol. Mas isso não significa que gostemos dessas pessoas 37


qualidade de vida >> pรกg. 38

Vencendo

Juntos


R

essurgir sempre

É verdade que a chegada do primeiro filho traz muitas mudanças para a vida de um casal. Quando o Rafael chegou, já tínhamos planejado várias delas: a restrição de sono, os ajustes financeiros, espaços da casa, o tipo do carro, e tantos outros acertos na rotina. E jamais imaginamos o quanto o planejamento poderia sair do nosso controle! Nosso filho nasceu com uma doença congênita no fígado, chamada atresia de vias biliares, infelizmente diagnosticada tardiamente, com 2 meses e meio de vida (idade considerada avançada para o caso), necessitando, assim, uma cirurgia de urgência. Não tínhamos experiência alguma e nem tempo para tentar outra alternativa médica. Fomos para uma simples consulta e, de repente, nosso bebê estava internado em estado grave. Sem dúvida, uma das noites mais difíceis de nossas vidas. Foram duas cirurgias realizadas com sucesso, mas a doença seguiu evoluindo, como ocorre em 75% dos casos, e o diagnóstico, dois meses depois, era da necessidade de um transplante de fígado. O Rafael entrou para a lista de transplantes e então passamos a frequentar ainda mais o hospital. Internações para exames, pioras no estado de saúde, UTI, enfim, a rotina

hospitalar não é nada fácil de superar, ainda mais quando não temos certeza dos rumos que a doença pode seguir. Ou, melhor, temos certeza dos rumos, mas não sabemos quanto tempo temos. Ao mesmo tempo, nossos parâmetros sobre “estar bem” vão se alargando, pois vamos conhecendo casos muito piores do que o nosso.

Apesar de todas as dificuldades, estivemos sempre juntos e, além disso, tínhamos um apoio incansável de nossas famílias, da equipe médica e, claro, sempre apoiados em nossa fé. Após quase um ano hospitalizado, aos 10 meses de idade, nosso filho realizou o transplante de fígado. No total foram 5 cirurgias antes do primeiro ano de vida dele, que comemoramos em casa. Na verdade, esperávamos apenas que nosso filho sobrevivesse. Por isso, recebemos com alegria (apesar de parecer contraditório) a notícia de que o Rafael tem uma doença crônica, ou seja, sem cura, exigindo cuidados especiais para o resto da vida dele.

Enquanto isso, continuávamos (e não poderia ser diferente) com nossas rotinas de trabalho: meu marido trabalhando no escritório com as mesmas demandas e eu cursando o segundo ano do mestrado, escrevendo a dissertação. Minha rotina de trabalho foi reduzida drasticamente (trabalhava cerca de 8 horas semanais na dissertação) e o restante do tempo permanecia junto ao nosso filho no hospital. Como uma benção, ainda em 2008 consegui ser aprovada para o curso de doutorado e, em fevereiro de 2009, defender o mestrado. É impressionante como o trabalho rende com a falta de tempo!

Talvez seja até óbvio dizer que a dor ensina. Nosso casamento foi fortalecido com o aprendizado desse nosso primeiro filho. Hoje ele já tem 2 anos e nossa preocupação, como até o momento ainda é nosso único filho, gira em torno de não superprotegê-lo ou “passar a mão” demais. Pretendemos ter mais filhos ainda este ano, o que acreditamos que também irá ajudar o Rafael a ter uma vida “normal”. Por Fernanda Brandão Médica Veterinária Pedro Martins de Oliveira Administrador de empresas 39


Quer

, a m r o em f

quer não Por Letícia Moreira Médica Ginecologista

I

magine a cena: você vai à primeira reunião de pais, após as férias de verão, na escola de sua filha, onde todos já te conhecem do ano anterior. Enquanto isso, seu marido busca a pequena na natação, num clube que fica no mesmo quarteirão. Acaba a reunião e lá está ele, com sua filha no colo, esperando para voltarem juntos para casa... Então um casal próximo comenta espantado: olha só, ela trocou de marido! E não é que ele se dá bem com a filha dela!? Esta é uma de muitas situações engraçadas ocorridas após meu marido ter perdido mais de 50 Kg! Pois é! Conhecemo-nos quando ele tinha 18 anos e eu 15. Começamos a namorar, casamos, tivemos filhos, e lá se vão quase 20 anos. Desde que

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o conheci, ele já era gordinho e travava uma luta diária com a balança. Apesar disto não afetar a nossa relação, eu me preocupava com a sua saúde e

desde que o conheci, ele já era gordinho e travava uma luta diária com a balança. Apesar disto não afetar a nossa relação, eu me preocupava com a sua saúde... era muito cobrada pela família, principalmente a dele, para que fizesse alguma coisa. Entretanto, pensava que a

decisão deveria vir dele e que a sua condição física não era problema para nós. Após o casamento, o gordinho se tornou um obeso e, posteriormente, um obeso mórbido. Roupas só em casas especializadas. Camisas tamanho 9, ou calças 58, às vezes 60, eram comuns em nosso guarda-roupas. Mas, repito, isto, excetuando-se a questão da saúde, nunca foi problema para nós. Sempre fomos um casal feliz e resolvido neste aspecto. Com minha primeira gravidez, houve o primeiro estalo no Rodrigo. Academia, caminhada, perda de 1Kg/ mês, mas ainda era pouco. A Ana Carolina nasceu e dos 125Kg alcançados a grande custo no período que precedeu


a sua chegada, para voltar a engordar e chegar aos 150Kg foi um tapa. Um dia, preocupado com o seu futuro em razão dos 150Kg alcançados, ele cogitou a possibilidade de fazer a cirurgia de redução do estômago. Imediatamente me opus! Como médica, sabia dos riscos inerentes ao procedimento, e, como esposa, acreditava na capacidade e na força de vontade do Rodrigo. Lemos um anúncio de jornal e decidimos procurar um centro de reabilitação de obesos, a quem, carinhosamente, meu marido chama de “Gordos Anônimos”. Iniciou-se então a dieta... Talvez tenham sido os dois piores meses da minha vida! Ele ficou impaciente e malhumorado e a minha grande parcela de cooperação foi aguentar tudo isto!

Começaram também as caminhadas, que se transformaram em corridas. Os treinos tomavam da família um tempo precioso, mas era um preço a se pagar. Primeira prova de 10Km... E eu estava lá! Maio, frio de 7 graus... Não podia abandoná-lo naquele momento, que hoje se repete em muitos domingos. Mas nem tudo foi só sofrimento. Aderimos à dieta para ajudá-lo, pois cortamos de nossas geladeira e despensa qualquer alimento que não estivesse incluído em seu plano alimentar. Fui beneficiada diretamente, pois emagreci junto, além de modificar a alimentação da família para hábitos de vida mais saudáveis. 50Kg mais magro, e a vida não mudou! A luta é diária para não ganhar peso, já que é muito fácil engordar novamente. Atualmente, está com 113Kg, lutando para

voltar aos 95Kg! Somos tão felizes quanto éramos antes e é muito gratificante a manutenção desta conquista, principalmente pelos hábitos de saúde adquiridos. Sei que esta luta não tem fim, exige paciência para enfrentar os altos e baixos de uma manutenção de peso e exige o exercício da constância. Tento auxiliá-lo nestas questões de comportamento e valores, principalmente por meio de conselhos e conversas, o que me rendeu o carinhoso apelido de Grilo-Falante (a consciência do Pinóquio). Enfim, ser família é isso! Minhas filhas e eu estaremos sempre aqui para auxiliá-lo nesta luta. Se ele vencer, se lutar eternamente, se fracassar... Continuaremos amando-o de qualquer forma! Afinal de contas, não o amamos por suas vitórias, mas pelo simples fato de sua existência fazer nossa vida ser melhor!

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SAÚDE E COMPORTAMENTO >> pág. 42

Gripe Suína: vacinar ou não?


N

o início de 2009 foram divulgados os casos de gripe H1N1 que surgiram no hemisfério norte e América Central. No 2º trimestre os casos chegaram ao Brasil, espalhando-se rapidamente por todo o território, e já definido como pandemia. Conforme informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), 212 países tiveram casos confirmados laboratorialmente, com 15.921 mortes no mundo, até 19/02/2010. No Brasil, tivemos 39.679 casos graves e 1.705 óbitos entre 25/04/2009 e 31/12/2009. Visando contribuir para a redução da mortalidade por esse vírus e manter a infraestrutura dos serviços de saúde para atendimento à população, o Ministério da Saúde (Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica) lançou a “Estratégia Nacional de Vacinação contra o vírus influenza pandêmico (H1N1) 2009”, com os seguintes objetivos: - diminuir o risco de expansão da transmissão do vírus da influenza pandêmica;

- vacinar trabalhadores de saúde de modo que os serviços de saúde sejam mantidos em pleno funcionamento; - e vacinar os grupos prioritários.

isso não quer dizer que as pessoas alheias ao grupo de risco não possam ser vacinadas. Embora não seja essencial, é até aconselhável Ficou definido como grupo prioritário para vacinação no Brasil: trabalhadores de saúde; população indígena aldeada; gestantes em qualquer idade gestacional; crianças entre seis meses e dois anos incompletos; pessoas portadoras de doenças crônicas (conforme listagem do Ministério da Saúde); e adultos entre 20 e 39 anos (faixa com maior número ou taxa de hospitalização e mortes).

atendimento à população sejam mantidos e para proteger os grupos mais atingidos. Isso não quer dizer que as pessoas alheias ao grupo de risco não possam ser vacinadas. Embora não seja essencial, é até aconselhável, se possível. Ainda não foi divulgado o preço da dose, mas tendo em conta que a vacina contra a gripe sazonal em 2009 custava R$50,00, é provável que a da gripe suína seja mais cara. Só não é aconselhável tomar a vacina quem tem antecedentes de reação anafilática (alérgica) severa a componentes da vacina e/ou doenças agudas graves. Mas a vacina é apenas um instrumento para prevenir a gripe, portanto é fundamental seguir todos os cuidados sugeridos: lavar as mãos com frequência e sempre que tossir ou espirrar; utilizar lenço descartável para a higiene nasal; cobrir o nariz e a boca quando espirrar ou tossir; e evitar tocar as mucosas dos olhos, nariz e boca. Maria Angélica Muller Kerber

Existem pessoas que não estão enquadradas nesse esquema vacinal. O importante a salientar é que a estratégia não foi elaborada para a proteção individual, mas para proteger os profissionais de saúde para que os serviços de

Enfermeira do Trabalho da Associação Hospitalar Moinhos de Vento – Porto Alegre - RS Material extraído do Informe Técnico Operacional do Ministério da Saúde (2010) 43


Trabalho em um hospital e tenho duas dúvidas: já existe protocolo de diagnóstico para a gripe suína (H1N1)? Como fazer para evitar o contágio, mas sem histeria? “O protocolo nos hospitais para

pesquisa de anticorpos e

o diagnóstico da gripe suína é a

antivírus. Quanto às formas de

coleta de secreção do nariz e da

prevenção do H1N1, a melhor é

orofaringe -região anatômica

a vacina disponível em postos

que fica logo após a boca, entre

de saúde desde o começo do

a raiz da língua e a epiglote. A

mês, que tem comprovado

partir dessa secreção,

totalmente sua eficácia.

procuramos pesquisar a presença do vírus H1N1. Outra

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Agora, se você ainda não foi

possibilidade é fazer a sorologia

vacinado, não é necessário

do vírus: você tira o sangue do

entrar em pânico. Basta

indivíduo com suspeita de gripe

adotar algumas medidas

e o transforma, por meio de um

preventivas. Se estiver

procedimento de laboratório,

gripado, fique em casa

em soro. Nele é feita uma

descansando. E, quando

espirrar, tossir e falar, coloque as mãos sobre a boca. A segunda medida é básica: lave as mãos constantemente. Profissionais da saúde devem trabalhar com a máscara, mas não o dia todo. Só devem utilizá-la quando estiverem em contato com doentes suspeitos de ter o vírus da gripe.” (David Uip, diretor do Instituto Emílio Ribas) Fonte: O Estado de São Paulo, Caderno .Edu, “Autógrafo” , 30 de março de 2010, pp. 4



viagem e cultura >> pรกg. 46


PANTANAL

Texto e fotos: Família Muller

-MT


A

Ao visitar o Pantanal com as crianças você oferece aos seus filhos a oportunidade única de interagir com a natureza, aprender sobre o rico ecossistema e vivenciar momentos inesquecíveis. Descobrimos que o lado do Pantanal que se espalha pelo estado do Mato Grosso é ainda mais belo, quase inexplorado e mais selvagem. A única estrada que leva o turista ao coração do Pantanal é a rodovia Transpantaneira, que fica a 102 km de Cuiabá e começa na cidade de Poconé. Muitos dos hotéis e pousadas com fácil acesso deste lado do Pantanal se localizam ao longo desta rodovia. A maioria oferece aos hóspedes um pacote com todos os passeios pantaneiros incluídos.

Araras Eco Lodge Escolhemos a Pousada Araras Eco Lodge. O motivo ficou por conta da responsabilidade ambiental e social que envolve todo o trabalho ecológico e sustentável da pousada. Desde a sua construção até as atividades desenvolvidas especialmente para os hóspedes foram pensadas e preparadas em perfeita harmonia com o meio ambiente.

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Caminhada e cavalgada O dia começa bem cedo e observar a diversidade da fauna do Pantanal é o principal atrativo das atividades. Às 7h o grupo é reunido para o início da caminhada dentro da reserva da pousada.

o dia começa bem cedo e observar a diversidade da fauna do Pantanal é o principal atrativo das atividades Acompanhados por guias, adentramos na mata composta de florestas, cerrado, campos, além da vegetação característica dos alagadiços. Ouvíamos os pássaros cantando bem perto, mas era difícil enxergá-los. Apenas quando você está totalmente envolvido no ambiente é que começa a ver o que há ao seu redor. Um ninho de araras azuis estava bem pertinho. Tucanos multicoloridos escondem-se na vegetação. Jacarés e capivaras são figuras fáceis de encontrar... Ao longe, três emas passaram apressadas e o astro do dia foi um tamanduá mirim que acabara de descer de um tronco e, imóvel, esperava não ser visto

por nós. Logo nos deu as costas e saiu andando. Todos ficam encantados com a diversidade dos animais avistados, uma grata experiência para pais e filhos. Cavalgar pelos alagados é a melhor forma de explorar o local, imperdível em terras pantaneiras. Nas árvores distantes, garças, colhereiros, periquitos, araras e outras aves. Ao nosso lado, um jacaré tinha acabado de abocanhar uma ave! Que cena! Ficamos gratos por estar no lombo dos cavalos. De repente um porco do mato aparece para ver o que há de novo. Curiosos e perigosos, normalmente andam em bandos que atacam quando se sentem ameaçados — este ficou ali, espiou e logo sumiu na mata. Não é preciso ter experiência para cavalgar, os animais são bem mansos e andam bem devagar, justamente para que todos tenham oportunidade de conhecer o ecossistema e avistar os animais.

Safáris Fotográficos A Transpantaneira é mais um palco dos famosos safáris fotográficos no Pantanal. Construída como aterro, a estrada é elevada, o que facilita a vista da flora e fauna


pantaneiras. Perto do portal, todos são convidados a assistir a um dos mais belos espetáculos da natureza: nos campos alagados, animais de diversas espécies convivem pacificamente. O safári oferecido pelo Araras Eco Lodge percorre boa parte desta estrada num caminhão adaptado, parando em locais estratégicos para observação e ótimas fotos. A vida no Pantanal muda completamente ao anoitecer. A focagem noturna é imperdível. O mais incrível é a forma como os guias localizam os animais: atentos aos sons que emitem, muito diferentes dos diurnos, localizam várias espécies. No passeio que fizemos, eles “ouviram” e focalizaram duas grandes corujas, uma família de lobinhos, dois guaxinins e um Tamanduá Bandeira que cruzou a estrada bem na nossa frente.

a Transpantaneira é mais um palco dos famosos safáris fotográficos no Pantanal. Construída como aterro, a estrada é elevada, o que facilita a vista da flora e fauna pantaneiras Canoagem e churrasco à pantaneira A bordo de canoas canadenses, entramos nas águas do Rio Clarinho. As novidades na fauna eram as aves representadas por outras espécies, como o SocóBeija-Flor, que tivemos o privilégio de avistar, e as ariranhas, que circulam de um lado a outro do rio em busca de comida. Para o almoço, o churrasco preparado à maneira do Pantanal, tudo muito bom! Antes de voltar,

pescamos algumas piranhas para a sopa do jantar, mas claro que algumas acabaram na boca do jacaré que estava ali de plantão, só esperando...

Pôr-do-sol na Torre do Bugio O pôr-do-sol é um dos momentos mais especiais no Pantanal. Nada melhor do que assisti-lo de uma Torre a 25m do chão. Como já diz o nome, os macacos Bugios habitam as copas das árvores próximas à torre, o que não sabíamos é que estávamos sendo seguidos por eles. Ao chegarmos à torre, três macacos, dois machos (pretos) e uma fêmea (castanha), nos surpreenderam. Com a época da seca estes animais têm medo de descer das árvores para beber água e serem caçados por predadores. Sabendo que a maioria dos turistas leva água consigo, chegam de mansinho e roubam-lhes as garrafas. Muito espertos, já sabem tomar a água no gargalo ou em copos. Interagir com eles é uma experiência inesquecível! Aos poucos o céu se tinge de tons alaranjados. As aves apresentam um show de revoadas, ninguém fala, o fim do dia neste paraíso natural é apenas de contemplação, lindo! Quando cai a noite, em volta da fogueira o convite para a roda de viola com os melhores violeiros da região, oportunidade para compartilhar da cultura pantaneira.

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Hospedagem e passeios: Pousada Araras Eco Lodge

Escolha quando ir

Estrada Parque Transpantaneira Km 32

Na seca, entre julho e novembro, é mais fácil de avistar os animais.

A diária inclui pensão completa e atividades pantaneiras. Tel: 65 3682-2800 www.araraslodge.com.br

Como chegar: Várias companhias aéreas operam voos das capitais para Cuiabá. O Araras Eco Lodge oferece os traslados de ida e volta a partir do aeroporto de Cuiabá. Em São Paulo contate: Vip´s Turismo e Câmbio Morumbi Shopping – Rua Roque Petroni Jr., 1089 – lj 235-S Tel: 11 5181-2192

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Entre fim de dezembro a março, época de chuvas, a vegetação fica mais exuberante. Na vazante, que compreende o período entre as duas estações, as águas baixam e começam a revelar outras belezas escondidas por elas. www.vipsturecambio.com.br A agência se encarrega do pacote completo desde São Paulo para o Pantanal, com a vantagem de oferecer várias opções de pagamento.

Timex: www.timex.com.br Trilhas & Rumos: www. trilhaserumos.com.br Skygraf: www.skygraf.com.br

Apoio de: Copa Gastronomia e futebol: www.restaurantecopa.com.br VIP´s Tur e Câmbio: www. vipsturecambio.com.br Poddium Restaurante: www. poddium.net Gatorade: www.gatorade.com.br Visite o site da Família Muller: www.familiamulleraventura.com.br Para contratar nossa palestra motivacional envie um e-mail para: falecom@familiamulleraventura. com.br


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