Clinica Veterinária n. 137, nov / dez, 2018

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Índice

Artigos científicos

Endocrinologia 24

Avaliação da frequência de hiperlipidemia de jejum e pós-prandial em schnauzers hígidos e das alterações hepáticas e resistência insulínica em schnauzers hiperlipidêmicos Evaluation of the frequency of fasting and postprandial hyperlipidemia in healthy Schnauzers and of hepatic changes and insulin resistance in hyperlipidemic Schnauzers

24

Frecuencia de hiperlipidemia pre y postprandial en Schnauzers sanos y de las alteraciones hepáticas y resistencia insulínica en Schnauzers hiperlipidémicos

Zoonoses 32

Exames post mortem em primatas não humanos durante epizootia de febre amarela na região metropolitana de Sorocaba, SP, Brasil

32

Postmortem exams in nonhuman primates during yellow fever epizootic in Sorocaba Metropolitan Region (RMS), SP, Brazil

44

Exámenes post mortem en primates no humanos durante una epizootia de fiebre amarilla en la Región Metropolitana de Sorocaba, SP, Brasil

Oncologia 44

Feocromocitoma maligno em cão – relato de caso Malignant pheochromocytoma in a dog – case report Feocromocitoma maligno en perro – relato de caso

Clínica 58 Esporotricose em um felino soropositivo para FeLV – relato de caso Sporotrichosis in a FeLV seropositive feline – case report Esporotricosis en un gato FeLV positivo – relato de caso

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58 30


PARA PEQUENO, MÉDIO E GRANDE PORTES.

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

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Índice

Medicina veterinária do coletivo

14

Bem estar animal

70

18

• Quanto custam os castramóveis e suas castrações • Impacto de cães nas praias brasileiras.

• Breve histórico da experimentação animal e do desenvolvimento dos métodos alternativos ao uso de animais

Saúde pública

76

CFMV

82

Especialidades

88

• Oficina sobre toxoplasmose para gestantes em Unidade Básica de Saúde da Família

14

76

• CFMV aprova resolução que define maus-tratos a animais e orienta profissionais • Marcação em orelha de felinos pode ser procedimento técnico viável

• X Leishvet • Virbac Skin Internacional reuniu grandes nomes da dermatologia veterinária mundial

Lançamentos

94

Gestão, marketing e estratégia

Vet Agenda

96

• Gratidão

Novidade no mercado pet, Vetlima chega à América Latina

92

• https://vet-agenda.com

Errata

Osteotomia de nivelamento do platô tibial na ruptura do ligamento cruzado cranial em cães – revisão, publicado na Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 136, p. 30-56, 2018: • no título: onde está Ostectomía, ler Osteotomía. • no resumen: onde está syendo, ler siendo. • na página 35: na figura 6 – suprimir a palavra diáfise. • na página 36: na figura 7 – suprimir a palavra normal.

do platô tibial, as chamadas da figura, no item: 1 - onde está (Figura 16), ler (Figura 12). • na página 47, no subtítulo Osteotomia de nivelamento do platô tibial, as chamadas das figuras, no item: 5 - onde está (Figura 17), ler (Figura 13) .

• na página 46, no subtítulo Artrotomia medial e avaliação dos meniscos, as chamadas das figuras, nos itens: 1 - onde está (Figura 15), ler (Figura 20); 3 - onde está (Figura 16), ler (Figura 12).

• na página 48, no subtítulo Osteotomia de nivelamento do platô tibial, as chamadas das figuras, nos itens: 8 - onde está (Figura 18), ler (Figura 14); 10 - onde está (Figura 18), ler (Figura 14); 15 - onde está (Figura 19A), ler (Figura 15A); 16 - onde está (Figura 19B), ler (Figura 15B); 17 - onde está (Figura 20A), ler (Figura 16A); 18 - onde está (Figura 20A), ler (Figura 16B).

• na página 46, no subtítulo Osteotomia de nivelamento

• na página 51: onde está ceroma, ler seroma.

• na página 46, na figura 20, no item 28) Caixa de placa. onde está 2,9/2,7/3,5, ler 2/2,7/3,5.

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Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018


Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

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Editorial Gratidão e compaixão

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E o que temos de melhor? Em meio ao nosso emaranhado de qualidades e defeitos, temos sem dúvida uma saída sempre segura e infalível: a compaixão. É ela que pode nos levar a ter o olhar mais centrado no outro do que em nós mesmos, a valorizar nossa disposição de tentar ver e entender melhor, e colocar sempre em questão nosso desejo de fazer prevalecer o que imaginamos já saber. Compaixão: a escolha de seguir com abertura de ânimo, com compreensão, com o coração disposto a acolher e a mente disposta a mudar o que precisa ser mudado em nós. É o ponto de partida mais seguro. É o que pode nos dar a força necessária para enfrentar da melhor maneira o ciclo que se inicia. Gratidão e compaixão – esses são nossos votos para todos em 2019.

creativemarc / ShutterStock

Um ciclo se encerra, outro se inicia – um lugar-comum, o velho processo definidor da vida, mas que define muito bem nosso momento atual. São vários os ciclos que se encerram agora. O ano de 2018, com todos os seus conflitos e surpresas, abre caminho para 2019. O país também encerra de certo modo um ciclo e desenha novas perspectivas – e novas incertezas. Nossa revista conclui um ciclo de 23 anos e revigora neste momento suas forças para o início de um novo ciclo que aponta para novos desafios. Em todos esses ciclos, há a tensão entre o que foi e o que virá – uma tensão que cabe a nós compreender e viver exatamente no momento presente, esse eterno protagonista. Olhos no presente, portanto. O fim de um ciclo nos convida a desapegar-nos dos percursos conhecidos, às vezes confortáveis, às vezes desgastados, e a apostar na renovação, com grandes expectativas, com alguma insegurança, e sabendo que o que vem não são apenas novos horizontes, mas também velhos obstáculos que a inércia sempre preserva. De qualquer modo, é hora antes de mais nada de sentir gratidão por tudo o que conseguimos, pela energia que nos fez chegar até aqui, por tudo o que aprendemos. Gratidão pelas oportunidades que surgem agora e que certamente nos obrigarão a lidar não só com aquilo que tivermos de enfrentar fora de nós, mas com as nossas próprias convicções, com nossos jeitos mais assentados de ver e de fazer as coisas. Hora de atentar para as mudanças externas, mas principalmente uma grande oportunidade de atentar ainda mais para o nosso interior, de fazer um grande esforço para preparar nosso ambiente interno de modo a poder contribuir com o que temos de melhor – e colher os frutos desse esforço.

Maria Angela Sanches Fessel CRMV-SP 10.159

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Alívio da dor aguda e crônica em cães.

Alta Eficácia Fácil Administração Tolerância comprovada Cimalgex é um anti-inflamatório não esteroidal - COX 2 seletivo, indicado para o tratamento da dor e inflamação associada com osteoartrite e manejo da dor pré e pós-operatória devido a cirurgia ortopédica ou tecido mole em cães.

/vetoquinol Informações: (11) 3568-1111 www.vetoquinol.com.br


Instruções aos autores EDITORA / PUBLISHER Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

Consultores científicos Adriano B. Carregaro

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EDITORAÇÃO ELETÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

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FMVZ/USP-São Paulo

FMVZ/USP-São Paulo

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DCV/CCA/UEL

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Anhembi/Morumbi e Unifran

IVAC-Argentina

FioCruz-RJ

FMU

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Alexandre G. T. Daniel Alexandre L. Andrade Alexander W. Biondo Aline Machado Zoppa Aline Souza

Aloysio M. F. Cerqueira Ana Claudia Balda Ananda Müller Pereira Ana P. F. L. Bracarense André Luis Selmi Angela Bacic de A. e Silva

Clínica Veterinária é uma re­vis­ta técnicocientífica bi­mes­tral, di­rigida aos clínicos vete­rinários de pe­que­nos animais, estudantes e pro­­fes­so­res de medicina veteri­ná­­ria, publicada pela Editora Guará Ltda.

Antonio M. Guimarães

Arlei Marcili

Christina Joselevitch

Clair Motos de Oliveira

Aury Nunes de Moraes Ayne Murata Hayashi Beatriz Martiarena

Clarissa Niciporciukas Cleber Oliveira Soares Cristina Massoco

Benedicto W. De Martin

Berenice A. Rodrigues Camila I. Vannucchi

Carla Batista Lorigados Carla Holms

Daisy Pontes Netto

Daniel C. de M. Müller Daniel G. Ferro Daniel Macieira Denise T. Fantoni

Carlos Alexandre Pessoa

Carlos E. Ambrosio

Carlos E. S. Goulart

Carlos Roberto Daleck Carlos Mucha

Dominguita L. Graça Edgar L. Sommer Edison L. P. Farias Eduardo A. Tudury Elba Lemos

Cassio R. A. Ferrigno Ceres Faraco

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Cibele F. Carvalho

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10

A. Nancy B. Mariana

Eliana R. Matushima Elisangela de Freitas

@ Na Internet

As opiniões em artigos assinados não são ne­­ces­sa­ria­men­te com­­­parti­lha­das pe­los editores.

A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.

César A. D. Pereira

FCAV/Unesp-Jaboticabal

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Aparecido A. Camacho

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Estela Molina

Iaskara Saldanha

Marcello Otake Sato

Monica Vicky Bahr Arias

Rita Leal Paixão

FCV/UBA

Lab. Badiglian

FM/UFTO

FMV/UEL

FMV/UFF

UJAM-Mendoza

UFLA

FMVZ/USP-São Paulo

FMV/UFF

Hosp. Cães e Gatos; Unicsul

FMV/UFPR

FMV/UFF

FMVZ/USP-São Paulo

Instituto Adolfo Lutz

DMV/UFRPE

FioCruz

FMVZ/USP-São Paulo

FMV/UFF

IB/UFF

FMV/UTP

Zoo SBC,SP

CMV/UFPR

FAMi

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/USP-São Paulo

FCV/UBA

Vetpet

FMV/UEL

UAM e Unisa

FMVZ/USP-São Paulo

Fejal/CESMAC/FCBS

UFRPE, IBMC-Triade

FMVZ/USP-São Paulo

FMVZ/USP-São Paulo

DCV/CCA/UEL

FCAV/Unesp-Jaboticabal

UNB

FMV/Unesp-Botucatu

FMVZ/USP-São Paulo

UFRRJ

FMVZ/USP-Pirassununga

FMV/UFFe FioCruz

CPAM

UAM

Biogénesis-Bagó Saúde Animal

FMVZ/USP-Leste

Patrícia Mendes Pereira

Sady Alexis C. Valdes

Provet

Odontovet

FMVZ/Unesp-Botucatu

DCV/CCA/UEL

Unipam-Patos de Minas

Univ. Estácio de Sá

Universidade da Pennsylvania

FMVZ/USP-São Paulo

Zoo de Campinas

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/USP

PUC-PR

FMVZ/USP-São Paulo

UNIP/SP

Criadouro Ilha dos Porcos

FALM/UENP

CMV/Unesp-Araçatuba

FMVZ/Unesp-Botucatu

ICMBio/Cenap

FMVZ/Unesp-Botucatu

FCAV/Unesp-Jaboticabal

FMV/UFV

Unimes, Uniban

FMVZ/USP-São Paulo

Ufersa

Unipar

FMV/UFF

FMVZ/USP-São Paulo

FMVZ/USP-São Paulo

Provet

FMVZ/USP

VCA/Sepah

FSP/USP

FMVZ/USP-São Paulo

FCV/UBA

FCV/UBA

DCV/CCA/UEL

DCV/CCA/UEL

FMVZ/USP, UAM

UFFS-Realeza

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMV/UFSM

Hemovet/Unisa

ICB/UFMG

Lab. Werner e Werner

FMVZ/USP-São Paulo

Hovet Pompéia

FMVZ/Unesp-Botucatu

DMV/UFLA

FMVZ/UFMG

CMV/Unesp-Araçatuba

FMV/UFRRJ

UEPB

Esalq/USP

UEL

FMVZ/USP-São Paulo

Esalq/USP

FMV/UFPR

Instituto PetSmile

FCAV/Unesp-Jaboticabal

CMV/Unesp-Araçatuba

Onco Cane Veterinária

Int. Fund for Animal Welfare

FCV/UBA

Lab&Vet

FMVZ/USP-São Paulo

Unoeste-Pres. Prudente

Unoeste

EMV/FERN/UAB

Ceva Saúde Animal

Falm/Uenp

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/Unesp-Botucatu

Dep. Clin. Sci./Oregon S. U.

FMV/UFRPE

Psicologia PUC-SP

All Care Vet / FMU

FCV/UBA

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/USP-São Paulo

Odontovet

UFPR

PUC-MG

FMV/UFRRJ

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/Unesp-Botucatu

CAV/Udesc

UNISA e NAYA

Odontovet

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMV/UEL

FMV/UFPR

UNISA e CREUPI

Koala H. A. e Inst. Dog Bakery

FMVZ/Unesp-Botucatu

Uniube

IV/UFRRJ

Itaipu Binacional

Fabian Minovich Fabiano Montiani-Ferreira

Fabiano Séllos Costa Fabio Otero Ascol Fabricio Lorenzini Felipe A. Ruiz Sueiro Fernando C. Maiorino Fernando de Biasi Fernando Ferreira Filipe Dantas-Torres Flávia R. R. Mazzo Flavia Toledo Flavio Massone Francisco E. S. Vilardo Francisco J. Teixeira N. F. Marlon C. Feijo

Franz Naoki Yoshitoshi Gabriela Pidal Gabrielle Coelho Freitas

Geovanni D. Cassali Geraldo M. da Costa Gerson Barreto Mourão Hannelore Fuchs Hector Daniel Herrera Hector Mario Gomez Hélio Autran de Moraes Hélio Langoni

Heloisa J. M. de Souza Herbert Lima Corrêa Iara Levino dos Santos

Idael C. A. Santa Rosa Ismar Moraes Jairo Barreras James N. B. M. Andrade

Jane Megid Janis R. M. Gonzalez Jean Carlos R. Silva João G. Padilha Filho João Luiz H. Faccini João Pedro A. Neto Jonathan Ferreira Jorge Guerrero José de Alvarenga

Jose Fernando Ibañez José Luiz Laus José Ricardo Pachaly José Roberto Kfoury Jr. Juan Carlos Troiano Juliana Brondani Juliana Werner

Julio C. C. Veado

Julio Cesar de Freitas Karin Werther Leonardo D. da Costa Leonardo Pinto Brandão

Leucio Alves

Luciana Torres Lucy M. R. de Muniz Luiz Carlos Vulcano Luiz Henrique Machado

Marcelo Bahia Labruna Marcelo de C. Pereira Marcelo Faustino

Marcelo S. Gomes Marcia Kahvegian Márcia Marques Jericó Marcia M. Kogika Marcio B. Castro Marcio Brunetto Marcio Dentello Lustoza

Márcio Garcia Ribeiro Marco Antonio Gioso Marconi R. de Farias

Maria Cecilia R. Luvizotto

M. Cristina F. N. S. Hage

Maria Cristina Nobre M. de Lourdes E. Faria Maria Isabel M. Martins M. Jaqueline Mamprim Maria Lúcia Z. Dagli Marion B. de Koivisto Marta Brito

Mary Marcondes Masao Iwasaki

Mauro J. Lahm Cardoso

Mauro Lantzman Michele A. F. A. Venturini Michiko Sakate Miriam Siliane Batista Moacir S. de Lacerda

Nadia Almosny Natália C. C. A. Fernandes

Nayro X. Alencar Nei Moreira Nelida Gomez Nilson R. Benites Nobuko Kasai

Noeme Sousa Rocha Norma V. Labarthe Patricia C. B. B. Braga

Paulo Anselmo Paulo César Maiorka Paulo Iamaguti Paulo S. Salzo

Paulo Sérgio M. Barros Pedro Germano

Pedro Luiz Camargo Rafael Almeida Fighera Rafael Costa Jorge Regina H. R. Ramadinha

Renata A. Sermarini Renata Afonso Sobral Renata Navarro Cassu Renée Laufer Amorim Ricardo Duarte

Ricardo G. D’O. C. Vilani Ricardo S. Vasconcellos

Rita de Cassia Garcia Rita de Cassia Meneses

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

Robson F. Giglio Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi

Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu

Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba

Ronaldo C. da Costa CVM/Ohio State University

Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio

Rosângela de O. Alves EV/UFG

Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG

Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sheila Canavese Rahal

Silvia E. Crusco

Silvia Neri Godoy Silvia R. G. Cortopassi

Silvia R. R. Lucas Silvio A. Vascon­cellos Silvio Luis P. de Souza

Simone Gonçalves Stelio Pacca L. Luna Tiago A. de Oliveira Tilde R. Froes Paiva Valéria Ruoppolo Vamilton Santarém

Vania M. V. Machado

Victor Castillo

Vitor Marcio Ribeiro Viviani de Marco Wagner S. Ushikoshi Zalmir S. Cubas

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Instruções aos autores

A

Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Enviar por e-mail (cvredacao@editoraguara.com.br) ou pelo site da revista (http://revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-de-artigos-cientificos) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na lar­ gura de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitali­za­das, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de re­da­ção cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acom­pa­nha­das de identificação de propriedade e autor). Devem ser en­viadas também a identificação de cada um dos autores do trabalho (nome completo por extenso, CRMV, RG, CPF, endereço residencial com cep, tel­efones e e-mail) e uma foto 3x4 de rosto. Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus tí­tulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser re­lacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugerese como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 12, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas

em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Uti­li­zar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utili­zar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições an­te­riores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar in­for­mações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utili­za­do, cada capítulo deverá ser considerado uma referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). Somente autores de trabalhos originais devem ser citados, e nunca de revisões. É preciso ser ético pois os créditos são daqueles que fizeram os trabalhos originais. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www. xxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabalho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. Nesse subtítulo devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado.

Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo, SP cvredacao@editoraguara.com.br

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Medicina veterinária do coletivo

Respaldo legal As Unidades Móveis de Esterilização e Educação em Saúde (Umees) para cães e gatos, vulgarmente chamadas de “castramóveis”, são regidas pela Resolução CFMV no 962, de 27 de agosto de 2010 1, que “normatiza os procedimentos de contracepção de cães e gatos em programas de educação em saúde, guarda responsável e esterilização cirúrgica com a finalidade de controle populacional”. Em prosseguimento, seguiu-se a Resolução CFMV nº 1.015, de 9 de novembro de 2012 2, que “conceitua e estabelece condições para o funcionamento de estabelecimentos médico-veterinários de atendimento a pequenos animais e dá outras providências”, e que regulamentou as unidades móveis de atendimento médico-veterinário. Recentemente, a Resolução CRMV-SP nº 2.750, de 14 de março de 2018 3, estabeleceu para o estado de São Paulo a normatização dos “critérios para instalações e condições de funcionamento dos serviços médico-veterinários móveis para cães e gatos no estado de São Paulo”, especificando uma série de exigências para garantir que os serviços sejam oferecidos com toda a qualidade e segurança necessárias. Em 2012, o deputado federal Ricardo Izar apresentou uma solicitação de orçamento da União para a concessão de 5 mil castramóveis em todo o país. Em resposta à demanda legislativa, o então ministro da Saúde Ricardo Barros publicou uma portaria em julho de 2017, autorizando as prefeituras a solicitarem os castramóveis – ou seja, o Ministério da Saúde passou a financiar unidades móveis para controle de zoonoses, apelidadas de “castramóveis”, aos municípios 4. O recurso destinado à compra dos castramóveis e dos equipamentos necessários teve como origem o Fundo Nacional de Saúde (órgão vinculado ao Ministério da Saúde), com a justificativa de que o manejo populacional impacta diretamente a saúde pública. A aquisição de castramóveis para os Centros de Controle de Zoonoses foi garantida por um total de R$ 24 milhões para atender a 198 propostas 5. O ministério estimou à época o custo de R$ 120 mil para cada castramóvel – mais barato, pois o veículo teria rodas, mas não motor, precisando ser rebocado. As unidades móveis por reboque, mais baratas e atualmente chamadas de “castraboques”, pois não se movimentam independentemente, têm sido adquiridas por dezenas de prefeituras de vários estados brasileiros, 14

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Quanto custam os castramóveis e suas castrações

mesmo sem previsão de recursos para pessoal e material de consumo. Estimativa populacional A exigência técnica para as castrações é de que elas sejam realizadas dentro de condições mínimas e éticas, regidas pelas resoluções dos Conselhos Regionais e Federal de Medicina Veterinária. Como os cães e gatos ainda não estão incluídos no censo nacional do IBGE, deve-se realizar uma pesquisa prévia dessa população animal no local a ser beneficiado pelas castrações, de modo a se poder avaliar o seu impacto e os indicadores da efetividade do programa de manejo populacional 6. Se for avaliado apenas pelas mudanças no total da população, o efeito das esterilizações será subestimado. O efeito esperado deveria ser o aumento da fração populacional estéril, e não o decréscimo da população domiciliada, pois a quantidade de cães nos domicílios é determinada pelas pessoas que optaram por conviver com cães 7. Ou seja, deveríamos saber antecipadamente a população estimada total e o percentual de cães e gatos castrados antes de iniciar as atividades de manejo populacional, de modo que esse percentual se torne o indicador de efetividade do programa. Custos das castrações em castramóvel Embora os “castraboques” tenham sido um avanço notável no sentido de oferecer castrações em vários pontos do Brasil, os custos de mão de obra de médicos-veterinários, bem como do material de consumo, de equipamentos e deslocamentos dos castraboques também devem ser

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Item

Descrição

Custo (%)

1

Mão de obra especializada (médicosveterinários, técnicos, motoristas)

25

2

Impostos

21

3

Materiais e medicamentos (pré, trans e pós-cirúrgicos)

15

4

Microchip (compra e aplicação)

10

5

Lucro

10

6

Manutenção da unidade móvel

9

7

Manutenção de equipamentos

7

8

Manutenção de material permanente

2

9

Deslocamento de veículos

1 Total

100

Figura 2 – Descrição dos itens e percentuais dos custos e lucros médios da realização de 100 castrações de animais de porte médio. (Dados da Clínica Veterinária Ricardo, 2018.) Figura 1 – Fluxograma de castração no castramóvel, incluindo triagem, pré-anestesia, cirurgia, pós-operatório, microchipagem e retorno ao tutor do animal. (Dados pessoais da Clínica Veterinária Ricardo, 2018.)

planejados e previstos. Um fluxograma de castrações deve ser planejado, de modo a garantir rapidez sem comprometer a qualidade dos procedimentos (Figura 1). Com a experiência na realização de milhares de castrações (18 mil em Curitiba no período de um ano), a Clínica Veterinária Ricardo estima que a mão de obra especializada representa aproximadamente 25% do custo total em cada 100 castrações; os impostos consistem em 21%; os materiais, 15%; e somente 10% são gastos com a manutenção e o deslocamento das unidades móveis (Figura 2). Isso significa que, apesar da verba alocada pelo Ministério da Saúde para quase 200 castramóveis, 90% dos gastos com as castrações terão de ser custeados por outras fontes de recursos.

Figura 3 – Os programas de castramóveis e castração deveriam estar inseridos em um programa maior que envolvesse a educação em guarda responsável de animais domésticos e a inserisse no Ensino Fundamental da rede municipal de ensino

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Figura 4 – Concurso Veterinário-Mirim de 2010 que escolheu o desenho e o mascote de proteção animal de São José dos Pinhais, PR, município com população estimada de 300 mil habitantes (IBGE, 2018). A) O desenho vencedor foi o “Pelucho”, da aluna Alana Goedert Dalprá, estudante do Cras Alcídio Zaniolo. B) Após ser adaptado pela prefeitura, o Pelucho virou o logotipo oficial da rede de proteção animal do município. C) A criadora do desenho viu o boneco do mascote no dia da premiação. D) O Pelucho leva o programa de educação às escolas junto com o Feniquez, mascote de gato que também foi escolhido por concurso

Programa de guarda responsável A esterilização para finalidade de controle populacional deveria, segundo as Resoluções CFMV nº 962/2010 e nº 1.015/2012, inserir-se em um programa de educação em guarda responsável (Figura 3), e não o inverso – ou seja, não apenas um programa de castração estruturado em educação com vídeos e folhetos distribuídos aos tutores enquanto aguardam os procedimentos cirúrgicos de seus animais. Diante da limitação de recursos, deveriam ser priorizadas as intervenções mais efetivas, que como a castração pediátrica modificam os determinantes mais influentes da dinâmica populacional. A utilização de unidades móveis tem por objetivo principal a oferta de serviços junto às co16

munidades periféricas, geralmente de difícil acesso e com baixa infraestrutura. Neste momento, faz-se necessário um cuidado no respaldo técnico para que as atividades cirúrgicas de castração sejam vinculadas às de educação formal em guarda responsável, o que poderia ser feito numa contrapartida dos municípios interessados em adquirir os recursos para a Umees. A educação formal poderia ser implantada com a inserção do conteúdo em guarda responsável de animais domésticos no respectivo Ensino Fundamental municipal, com material didático bibliográfico aprovado pelas respectivas secretarias Municipal e Estadual e pelo Ministério da Educação. Exemplos bem-sucedidos dessa inserção acontecem

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há anos em vários municípios da região metropolitana de Curitiba, onde o tópico é inserido no conteúdo de ciências, biosfera, relação homem/animais, na grade da 3ª série/4º ano do Ensino Fundamental municipal de Piraquara, Pinhais, São José dos Pinhais, Lapa, Curitiba e em outros municípios do estado do Paraná (Figura 4). O programa de guarda responsável dos animais domésticos VeterinárioMirim, lançado em 2006 em vários municípios da região metropolitana de Curitiba, escolheu em 2010 o desenho e o mascote de proteção animal de São José dos Pinhais, município com população estimada de 300 mil habitantes (IBGE, 2018). O desenho vencedor foi o “Pelucho”, da aluna Alana Goedert Dalprá, estudante do Cras Alcídio Zaniollo. Após ser adaptado pela prefeitura, tornou-se o logotipo oficial da rede de proteção animal do município. A criadora do desenho viu o boneco do mascote no dia da premiação, e ainda hoje o Pelucho leva o programa de educação às escolas junto com o Feniquez, mascote de gato que também foi escolhido por concurso feito na rede municipal de ensino. O Veterinário-Mirim existe há mais de 10 anos em Pinhais, sendo ganhador pelo município da Lapa do Troféu Destaque Nacional da União dos Vereadores do Brasil, realizado em Brasília no ano de 2016 8. Considerações finais A esterilização para finalidade de controle populacional deve ser instrumento de um programa maior de educação em guarda responsável, inserida na rede municipal de Ensino Fundamental. Embora a aquisição de um castramóvel ou castraboque pelo município seja uma excelente iniciativa, seu custo de manutenção representa apenas 10% dos custos operacionais de castração, que devem ser previstos e incluídos no orçamento municipal. Refêrencias 01-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução no 962, de 27 de agosto de 2010. Normatiza os procedimentos de contracepção de cães e gatos em programas de educação em saúde, guarda responsável e esterilização cirúrgica com a finalidade de controle populacional. CFMV, 2010. Disponível em: <http://portal.cfmv.gov.br/lei/index/ id/298>. Acesso em 29 de outubro de 2018. 02-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº 1015, de 09 de novembro de 2012. Conceitua e estabelece condições para o funcionamento de estabelecimentos médicos veterinários e dá outras providências. CFMV, 2012. Disponível em: <http://portal.cfmv.gov.br/lei/

index/id/441>. Acesso em 29 de outubro de 2018. 03-CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº. 2750 de 14 de março de 2018. Normatiza os critérios para instalações e condições de funcionamento dos serviços médico-veterinários móveis para cães e gatos no Estado de São Paulo. São Paulo: CRMV, 2018. Disponível em: <https://www.crmvsp.gov.br/arquivo_legislacao/2750. pdf>. Acesso em 29 de outubro de 2018. 04-CÂMARA DOS DEPUTADOS. Sessão: 195.3.55.O, de 13 de julho de 2017. <http://www.camara.leg.br/internet/plenario/notas/ordinari/2017/7/V1307171400.pdf>. Acesso em 29 de outubro de 2018. 05-BARROS, R. Execução do orçamento. Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: <http://portalarquivos2.saude.gov.br/ images/pdf/2018/janeiro/04/execucao-do-orcamento-2017. pdf>. Acesso em 29 de outubro de 2018. 06-DALLAZEN, C. F. G. ; MARTINS, C. M. ; BAQUERO, O. S. ; BIONDO, A. W. Inclusão de cães e gatos no censo IBGE 2020. Clínica Veterinária, ano XXIII, n. 132, p. 26-30, 2018. ISSN: 1413-571X. 07-BAQUERO, O. S. ; AMAKU, M.; BIONDO, A. W. Além da castração e da redução do número de cães. Clínica Veterinária, ano XXII, n. 129, p. 28-32, 2017. ISSN: 1413-571-x. 08-MEIRELLES, S. Projeto Veterinário Mirim, da UFPR, ganha prêmio nacional por ser lei na Lapa/PR. Universidade Federal do Paraná, 2016. Disponível em: <http://www.ufpr. br/portalufpr/noticias/projeto-veterinario-mirim-da-ufpr-ganha-premio-nacional-por-ser-lei-na-lapapr/>. Acesso em 29 de outubro de 2018.

Ricardo de Almeida Souza Médico Veterinário Clínica Veterinária Ricardo ricardo_vet@terra.com.br

Gabriela Zangrossi Souza

Aluna de graduação CMV/UNISO gabriela_zangrossi@hotmail.com

Alexander Welker Biondo MV, MSc, PhD, prof. UFPR abiondo@ufpr.br

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O

Introdução s animais têm cada vez mais desempenhado um papel significativo na vida humana, uma vez que trazem benefícios psicológicos e saúde a seus tutores 1, além de atuarem como “facilitadores sociais” 2. Os cães são considerados membros significativos da família 3 e cada vez mais vistos pelos moradores da cidade como um grupo de seres vivos cujas necessidades sociais e comportamentais devem ser acomodadas além do espaço privado do lar 4. A preocupação em criar áreas públicas para animais de estimação não é recente. Em 1979, um grupo de moradores liderado por Martha Scott Benedict e Doris Richards estabeleceu o primeiro parque para cães no mundo, batizado de Ohlone Dog Park, em Berkeley, Califórnia, Estados Unidos, oficializado em 1983 e mais tarde rebatizado de Martha Scott Benedict Dog Park, o que pode ter gerado a força motriz das reivindicações por mais espaços públicos, atualmente designados pet friendly 5 nos Estados Unidos. Praia amiga dos cães no mundo Além dos parques, as famosas “praias amigas dos cães” (do inglês pet friendly beaches) estão sendo cada vez mais reivindicadas pelas populações que frequentam praias. Vários países, particularmente os Estados Unidos, têm liberado o acesso a dezenas de praias para os cães. A cidade de Laguna Beach, localizada no estado da Califórnia, permite em seu Código Municipal que os tutores levem seus cães a praias públicas, desde que obedecido o uso de coleira e guia e que o tutor se responsabilize por recolher os dejetos de seus animais. No entanto, não é permitido levar os animais à praia nos meses mais quentes (15 de junho a 10 de setembro) nem nos horários entre 9h e 18h, período de maior movimento de turistas nas areias 6. A praia do Porto da Areia Norte, em Peniche, Portugal, foi inaugurada em 2017 como a segunda praia amiga dos cães de Portugal, permitindo a permanência e a circulação dos animais durante todo o ano. Os tutores são obrigados a manter os cães na guia e na coleira, usar a focinheira em caso de animais de raça perigosa, recolher os dejetos e ter o registro do animal (microchip e placas de identificação na coleira), atestado sanitário atualizado e certificado por médico-veterinário. 18

Fernando Gonsales 2018

Impacto de cães nas praias brasileiras Cuidado com as “praias amigas dos cães” no Brasil

Cães e gatos, predadores exímios e incansáveis, têm impacto negativo na fauna nativa terrestre e marinha de praias com grande biodiversidade, como as do litoral brasileiro. (Desenho: Fernando Gonsales, 2018.)

Praia amiga dos cães no Brasil No Brasil, pessoas com deficiência sensorial, mental, orgânica e motora podem transitar acompanhadas de cães de assistência em locais públicos e privados de uso coletivo, segundo o projeto de lei do Senado nº 411, de 2015, que alterará a Lei nº 11.126, de junho de 2005, que dispõe apenas sobre os cães-guia 7. Muitos estados litorâneos costumam intensificar a fiscalização nas praias durante o verão, por meio de leis sancionadas que impedem a presença dos animais na praia. Apesar das placas ao longo dos calçadões de muitas estâncias balneárias indicando a proibição da presença de animais na praia, muitas pessoas decidem levar animais domésticos para um passeio na areia (Figura 1), em parte com a justificativa de que cães semi ou não domiciliados já costumam frequentá-las, por vezes diariamente (Figura 2). Existe uma grande importância da zona costeira e marinha brasileira, principalmente pelos recursos naturais presentes nesses biomas. A grande biodiversidade dessas áreas faz com que muitos organismos dependam de forma direta ou indireta dos ecossistemas costeiros, utilizando-os essencialmente como locais para reprodução, alimentação e refúgio. O equilíbrio dos diferentes ecossistemas que compõem a grande extensão da costa brasileira está diretamente relacionado a diversos aspectos, como a cadeia alimentar local, o ciclo dos

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Figura 1 – Lei Municipal nº 1.008, de 24 de abril de 2006, de Matinhos, município do litoral paranaense, proíbe cães na areia das praias da cidade. Apesar disso, os banhistas, entre turistas e moradores, levam seus cães às praias

nutrientes presentes, o grau de degradação ao qual o local é exposto, as espécies da flora e da fauna que ocorrem na região. A inclusão de animais domésticos, principalmente os cães, nas praias brasileiras ainda vem sendo discutida pelo potencial impacto que essa conduta pode causar nas suas condições naturais. Não podemos priorizar o lazer da fauna doméstica de companhia (exótica) em detrimento da fauna nativa brasileira, tanto marinha quanto terrestre. Com relação a esses aspectos, alguns pontos importantes devem ser sempre previamente discutidos, como a potencial ameaça para a fauna nativa terrestre e marinha pela introdução desses animais nas praias, bem como a veiculação de doenças e a contaminação da areia pela permanência dos cães nesses locais. Areia limpa, praia saudável A Organização Mundial da Saúde, por meio do guia Guidelines for Safe Recreational Waters – vol. 1 – Coastal and Fresh waters, exterioriza a preocupação com a qualidade das areias da praia, principalmente em áreas de balneabilidade, devido à possibilidade de esses locais atuarem como reservatórios de patógenos e de vetores de doenças importantes para a saúde pública 8. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) define, na Resolução nº 274 de 29 de novembro de 2000, os critérios de balneabilidade em águas brasileiras, apenas recomendando, no Art. 8º, a avaliação pelos órgãos ambientais das condições parasitológicas e microbiológicas

da área, visando futuras padronizações 9. Da mesma maneira, no estado de São Paulo, a Lei nº 14.366, de 15 de março de 2011, inclui a análise periódica da qualidade da areia das praias do litoral, dos rios e das represas 10. Existem iniciativas para estabelecer indicadores e realizar a avaliação sanitária das areias da praia 11, a exemplo da Europa, por meio da Associação Bandeira Azul 12, e recentemente do estado do Rio de Janeiro, por meio da resolução da Secretaria do Meio Ambiente (SMAC) nº 468, de 28 de janeiro de 2010, que define limites máximos para a classificação de areias das praias destinadas à recreação de contato primário, como a natação e o mergulho 13. A avaliação sanitária e as ações de prevenção são primordiais para a manutenção de uma costa litorânea limpa e saudável, enquanto outros métodos devem ser utilizados apenas em eventos de poluição extrema e não rotineiramente. Ações corretivas, como a renovação da areia, demostraram a redução da carga bacteriana da areia e da água 14; entretanto, causam grande impacto na fauna litorânea 15, além de acarretar perda das propriedades físicas da praia 16. A contaminação ambiental causada por dejetos de animais domésticos nas praias e em logradouros públicos pode oferecer riscos para a saúde única. Os estágios larvares, por serem notavelmente aquáticos, necessitam de umidade e temperatura adequadas, características facilmente

Figura 2 – Independentemente da legislação vigente, cães sem tutores, sem vermífugos, sem vacinas e sem assistência médicoveterinária frequentam as praias de praticamente todo o litoral brasileiro, causando agravos e doenças que podem impactar negativamente a fauna nativa e a saúde pública (zoonoses). Ilha do Mel, 2010

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encontradas na região litorânea, tanto pela constituição do solo arenoso com partículas entre 0,02 a 2 mm, que favorece a retenção de água, quanto pelas chuvas e temperaturas propícias para o desenvolvimento parasitário 17. Doenças potencialmente transmitidas por cães nas praias Uma das doenças transmitidas por meio do contato com as fezes de cães infectados e facilmente adquirida por pessoas na praia é a Larva migrans cutânea. Conhecida popularmente como bicho-geográfico, o ciclo errático do parasita Ancylostoma caninum 18 causa lesões tortuosas entre a derme e a epiderme de pessoas de forma semelhante a um mapa. Além disso, a Larva migrans visceral, causada principalmente pelo parasita Toxocara canis, também é uma zoonose parasitária importante, que pode levar a complicações variáveis e até mesmo à cegueira 19. Em pesquisa relativamente recente das amostras de areia coletadas nas praias litorâneas do município de Santos, 458/2.520 (18,2%) estavam contaminadas com geo -helmintos; dessas, 148/458 (32,3%) estavam localizadas em playgrounds, onde há uma grande concentração de pessoas, principalmente crianças. A presença de formas parasitárias zoonóticas foi observada tanto em amostras de larvas de Ancylostoma sp (82,5%) como em ovos de Toxocara sp (59,4%) 20. Em Pernambuco, as amostras de areia analisadas revelaram que a praia de Porto de Galinhas era a mais contaminada, com 42% de larvas de Ancylostoma sp; e 13% de Trichuris sp. Na praia do Muro Alto também havia um predomínio de amostras contaminadas por Ancylostoma sp. (30%), mas não foram encontradas formas parasitárias em Maracaípe, o que pode estar associado à dificuldade de obtenção de amostras e pela ausência de cães na região 21. Em São Paulo, no município de Praia Grande, a ocorrência de Larva migrans foi avaliada por meio do recolhimento de fezes de cães coletadas nos canteiros da orla marítima, local utilizado pelos visitantes tanto para descanso quanto para a limpeza da areia dos pés. Como resultado, das amostras analisadas, 118/257 (45,9%) mostraram-se positivas para ovos de Ancylostoma sp 22. No Rio Grande do Sul, da mesma maneira, a maioria das amostras fecais analisadas no município de Balneário Cassino – 169/237 (71,3%) – tinha predominância de ovos e larvas de Ancylostoma sp; dentre as positivas, 20/169 (11,8%) já apresentavam larvas rabditoides e filarioides 23 – esta última uma forma infectante (L3) responsável pela penetração ativa na pele de hospedeiros erráticos, como os seres humanos 24. 20

Fauna doméstica versus fauna nativa Outro problema que particularmente acomete países com rica fauna nativa é que as espécies exóticas são reconhecidas como a segunda maior ameaça à saúde única 25. Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), as “espécies exóticas” correspondem a todas as que ocorrem fora da sua área de distribuição natural, e as “espécies exóticas invasoras”, àquelas com capacidade de ameaçar os ecossistemas, favorecidas pela ausência de predadores naturais e pela capacidade de se instalar em diversos ecossistemas, sejam eles antropizados ou não 26. As espécies invasoras apresentam eficiência de dispersão, rápido crescimento e são exímias predadoras 27. Tanto o cão doméstico (Canis familiaris) quanto o gato doméstico (Felis catus) são carnívoros do topo da cadeia alimentar, e podem apresentar essas características 28 quando deixam a vida doméstica e se reintegram de forma exótica ao ambiente selvagem natural. Nesse contexto, são considerados potenciais ameaças à fauna nativa, principalmente pela sua capacidade de manter a pressão predatória e altos níveis de concorrência 29. Segundo pesquisadores do Instituto Smithsonian de Biologia da Conservação e do Departamento de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, os gatos domésticos errantes são capazes de aniquilar em média 2,4 bilhões de aves e 12,3 bilhões de mamíferos anualmente, além de 478 milhões de répteis e 173 milhões de anfíbios todos os anos só naquele país 30. De maneira geral, o impacto de espécies não nativas pode ser agrupado em cinco categorias principais: predação e herbivorismo; concorrência com outras espécies; introdução e manutenção de enfermidades; distúrbio ambiental físico e químico; e acasalamento com população nativa. Dependendo de que espécies e ambientes são afetados, os impactos provocados podem ser de interesse ecológico ou econômico, ou de ambos 31, podendo ainda ser reversíveis ou irreversíveis. A observação do impacto dos cães em áreas naturais não é recente. Em 1898, a expedição liderada por Stanford Hopkins ao arquipélago de Galápagos notou a destruição em larga escala de áreas de nidificação de tartarugas invadidas por cães 32; o mesmo se verificou com as iguanas terrestres no noroeste da ilha, onde grande número de animais foram dizimados 33. Nessa época, os cães selvagens eram inclusive descritos como “pragas terríveis” 34. Atualmente, muitos parques liberam o acesso para passeios com animais de estimação, mas exigindo o uso da coleira, que muitas vezes não é respeitado, oferecendo riscos para a fauna presente nessas áreas. Um estudo realizado

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instituições, elaborou o Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Limícolas Migratórias (PAN Aves Limícolas Migratórias), um de cujos objetivos consiste em reduzir o impacto de animais domésticos nas áreas de ocorrência dessas aves. As interferências antrópicas negativas ocorrem devido à caça e à coleta de ovos para consumo ou à predação por animais domésticos, e pelo trânsito de pessoas nos locais de forrageamento, dificultando o ganho energético e consequentemente o voo e o sucesso reprodutivo 40.

Figura 3 – Riscos para a implantação de praias/parques amigos dos cães. Na biodiversidade brasileira, o ponto crucial é estabelecer com segurança o exato impacto que os cães podem ter na fauna e na flora nativas terrestres e marinhas. (Adaptado de: “Cães sem coleira em praias & parques – Relatório de engajamento da comunidade” – Kelowna, Colúmbia Britânica, Canadá 41)

durante os anos de 1991 a 1998 no Mornington Peninsula National Park, na Austrália, conhecido pela importância da reprodução da Thinornis rubricolli (ave marinha nativa desse país), observou que, após sete anos de campanhas de conscientização e aplicação das leis, apenas 22,4% dos cães eram controlados por guias 35. Os cães podem atacar, esmagar e causar muitas vezes o abandono de ninhos 36,37, além de o estresse da perseguição poder resultar em morte da presa 28. Em uma pesquisa de percepção das atitudes dos proprietários de cães perante a conservação de aves, realizada com visitantes das praias da Nova Zelândia, mesmo sabendo da ameaça aos pássaros nidificantes, quase a metade dos entrevistados (42%) acreditavam que se devia permitir a presença de cães nas praias 38. O principal desafio para a conservação das aves marinhas se deve ao compartilhamento de habitats costeiros com seres humanos e animais de estimação. Seria necessária uma distância mínima de cerca de 30 metros da concentração de aves limícolas, como o maçarico-branco (Calidris alba), associada ao uso de coleiras nos cães, evitando assim que esses animais corram livremente, e, em consequência, permitindo que as aves costeiras gastem mais tempo procurando alimento e evitando os seres humanos e os animais 39. No Brasil, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em conjunto com outras

Considerações finais É crescente o apelo da população a locais que permitam o acesso de animais domésticos, particularmente de companhia, e os pedidos por praias amigas dos cães já são uma realidade em vários municípios litorâneos brasileiros. A criação de praias amigas dos cães deve considerar cuidadosamente os impactos sobre a flora e a fauna nativa, bem como as condições higiênico-sanitárias das areias e das águas. Para atender a esses cidadãos e seus animais, uma alternativa é a criação de locais específicos em praias que não possuam fauna marinha ou terrestre, e em que os tutores mantenham permanentemente os seus animais sob guarda, visando reduzir os danos ao ecossistema local. De extrema importância ao liberar o acesso de animais às praias é o comprometimento dos tutores em seguir as regras que devem reger esses locais, garantindo a segurança dos animais, dos banhistas e a preservação do ambiente. É imprescindível que, mesmo no local especifico para os animais na praia, eles sejam mantidos com guia e coleira, apresentem plaquinha de identificação na coleira e/ ou microchip, tenham atestado veterinário de sanidade, e que seus tutores se responsabilizem pelo recolhimento dos dejetos. A criação de praias amigas dos cães deve também considerar a opinião da população que as frequenta, bem como dos residentes da região; por isso, é importante realizar consultas públicas e projetos-pilotos antes da efetiva criação desses espaços, bem como acompanhar o fluxo de ações a ser seguido quando da criação de praias/parques amigos dos cães (Figura 3). Somente com a escolha de um local apropriado, sem fauna ou onde a presença de cães não afete a fauna nativa marinha e terrestre, e com a aceitação da população residente e dos frequentadores do local, a conscientização dos tutores em relação a suas obrigações quando fizerem uso da praia junto aos seus animais, o monitoramento sanitário das areias e a fiscalização ativa durante o período mais

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movimentado do ano, é possível a criação de praias amigas dos cães, garantindo assim a segurança e a saúde dos frequentadores e de seus animais de companhia, e também a preservação da fauna e da flora nativas da região. É de crucial importância um prévio e adequado estudo e o planejamento das consequências, mesmo que em áreas aparentemente de pouco impacto ambiental, feitos com respaldo técnico de médicos-veterinários, biólogos, zootecnistas e outros profissionais afins. Referências 01-BARKER, S. B. ; DAWSON, K. S. The effects of animal-assisted therapy on anxiety ratings of hospitalized psychiatric patients. Psychiatric Services, v. 49, n. 6, p. 797-801, 1998. doi: 10.1176/ ps.49.6.797. 02-BLACKSHAW, J. K. ; MARRIOTT, J. ; HARLOCK JACKSON PTY LTD. Public open space and dogs: a design and management guide for open space professionals and local government. Hawthorn East: Harlock Jackson Pty Ltd Planning and Development Consultants, 1995. 34 p. ISBN: 978-0949492159. 03-CARR, N. ; COHEN, S. Holidaying with the family pet: no dogs allowed!. Tourism and Hospitality Research, v. 9, n. 4, p. 290304, 2009. doi: 10.1057/thr.2009.10. 04-URBANIK, J. ; MORGAN, M. A tale of tails: the place of dog parks in the urban imaginary. Geoforum, v. 44, p. 292-302, 2013. doi: 10.1016/j.geoforum.2012.08.001. 05-BERKELEY. HISTORICAL PLAGUE PROJECT. Ohlone Dog Park. Disponível em: http://berkeleyplaques.org/plaque/ohlonedog-park/ Acesso em: 3 de março de 2018. 06-LAGUNA BEACH MUNICIPAL CODE. Dogs on beaches, in parks and school grounds – when and where prohibited. 2016. Disponível em: <http://www.qcode.us/codes/lagunabeach/>. Acesso em: 16 de junho de 2018. 07-BRASIL. Projeto de lei do senado nº 411, de 2015. Altera a Lei nº 11.126, de 27 de junho de 2005, que dispõe sobre cãoguia, para garantir às pessoas com deficiência o direito de se fazer acompanhar do cão de assistência em veículos e estabelecimentos de uso coletivo. Congresso Nacional, 2005. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/ documento?dm=580794&disposition=inline>. Acesso em: 16 de junho de 2018. 08-WHO. Guidelines for safe recreational water environments. Volume 1: coastal and fresh waters. Geneva: World Health Organization, 2003. 253 p. ISBN: 9241545801. Disponível em: <http://www.who.int/water_sanitation_health/publications/srwe1/ en/>. Acesso em: 4 de maio de 2018. 09-MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Resolução CONAMA nº 274, de 29 novembro de 2000. Define os critérios de balneabilidade em águas brasileiras. 2000. Disponível em: <http://www2.mma. gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=272>. Acesso em 26 de abril 2018. 10-ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÂO PAULO. Lei Estadual nº 14.366, de 15 de março de 2011. Inclui no monitoramento das Praias a análise periódica da qualidade da areia das praias do litoral, dos rios e represas do Estado de São Paulo. São Paulo, 2011. Disponível em: <https://governo-sp.

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Amanda Haisi

Médica veterinária amanda.haisi@gmail.com

Suzana Maria Rocha Médica veterinária suzana.rocha@ufpr.br

Evelyn Cristine da Silva Médica veterinária evelyn.cristine@ufpr.br

Vivien Midori Morikawa

MV, MSc, PhD. profa. – DMV/UFPR Rede de Proteção Animal de Curitiba vmorikawa@smma.curitiba.pr.gov.br

Alexander Welker Biondo

MV, MSc, PhD. prof. – DMV/UFPR abiondo@ufpr.br

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Endocrinologia Avaliação da frequência de hiperlipidemia de jejum e pósprandial em schnauzers hígidos e das alterações hepáticas e resistência insulínica em schnauzers hiperlipidêmicos Evaluation of the frequency of fasting and postprandial hyperlipidemia in healthy Schnauzers and of hepatic changes and insulin resistance in hyperlipidemic Schnauzers Frecuencia de hiperlipidemia pre y postprandial en Schnauzers sanos y de las alteraciones hepáticas y resistencia insulínica en Schnauzers hiperlipidémicos Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, p. 24-30, 2018 Marcela Fuzeti Gonçalves Netto Médica veterinária Universidade Anhembi Morumbi Naya Especialidades Abev Mafuzeti@gmail.com

Gabryella Fraga Ramos Mello Médica veterinária

gabryella25@yahoo.com

Viviani De Marco

MV, mestre, dra., profa. Universidade Santo Amaro Naya Especialidades Presidente - Abev vivianidemarco@gmail.com

Resumo: A hiperlipidemia pode ser primária ou secundária. A forma secundária é mais frequente e está associada a endocrinopatias, obesidade e uso de glicocorticoides. A hipertrigliceridemia primária do schnauzer é uma condição bastante conhecida e pode predispor ao desenvolvimento de pancreatite, diabetes, alterações hepáticas e neurológicas. Este trabalho avaliou a frequência de hiperlipidemia em 55 cães hígidos da raça schnauzer e de alterações hepáticas e resistência insulínica nos cães hiperlipidêmicos. Dos 55 cães, 56,4% apresentavam hiperlipidemia primária, sendo a hipertrigliceridemia isolada identificada em 23,6% dos casos, a hipercolesterolemia isolada em 20% e a hiperlipidemia mista em 12,7%. Em 21,8% dos casos, a hipertrigliceridemia foi considerada leve, e em 14,5%, de moderada a grave. A ALT e a FA estavam elevadas em 32,3% e 38,7% dos casos, e a resistência insulínica foi observada em 90,3%. Dadas a elevada incidência de hiperlipidemia em nossa casuística e as complicações metabólicas constatadas, sugere-se que a mesma seja investigada em cães hígidos da raça schnauzer, permitindo assim, o diagnóstico precoce desta enfermidade. Unitermos: cães, triglicérides, colesterol, VLDL, hiperinsulinemia Abstract: Hyperlipidemia in dogs can be primary or secondary. Secondary hyperlipidemia is the most frequent form, and it is associated to endocrine disorders ,obesity, and glucocorticoid therapy. Primary hypertriglyceridemia of Miniature Schnauzers is a well-known condition and may predispose to the development of pancreatitis, diabetes, liver and neurological disorders. The goal of this study was to identify the prevalence of hyperlipidemia in 55 asymptomatic Miniature Schnauzers, and the frequency of hepatic changes and insulin resistance in hyperlipidemic dogs. Of the 55 dogs in the study, 56.4% had primary hyperlipidemia. In 23.6% of these cases the hyperlipidemia was characterized by isolated hypertriglyceridemia, while isolated hypercholesterolemia was present in 20% of the cases. Mixed hyperlipidemia was observed in 12.7% of hyperlipidemic dogs. Hypertriglyceridemia was considered mild in 21.8% of the cases, and moderate to severe in 14.5% of them. Serum ALT was elevated in 32.3% of hyperlipidemic dogs and serum AF was elevated in 38.7% of the cases. Insulin resistance was observed in 90.3% of hyperlipidemic dogs. Given the high prevalence of hyperlipidemia in our sample, and the observed metabolic changes in hyperlipidemic dogs, we suggest that all Miniature Schnauzers are screened for hyperlipidemia as an aid to early diagnosis of this disorder and prevention of complications. Keywords: dog, triglycerides, cholesterol, VLDL, insulin resistance Resumen: La hiperlipidemia puede ser de origen primario o secundario. La forma secundaria es la más frecuente y se la relaciona con endocrinopatías, obesidad y uso de glucocorticoides. La hipertrigliceridemia primaria del Schnauzer es una alteración muy conocida que puede predisponer a la aparición de pancreatitis, diabetes, alteraciones hepáticas y cuadros neurológicos. Este trabajo analizó la frecuencia de hiperlipidemia en 55 perros Schnauzer sanos, así como también las alteraciones hepáticas y la resistencia insulínica en los perros hiperlipidémicos. De los 55 perros, el 56,4% presentó hiperlipidemia primaria; la hipertrigliceridemia aislada se identificó en el 23,6% de los casos, la hipercolesterolemia aislada en el 20% y la hiperlipidemia mixta en el 12,7%. En el 21,8% de los animales, la hipertrigliceridemia fue considerada como leve, y en el 14,5%, de moderada a grave. La ALT y la FA se presentaron elevadas en el 32,3% y 38,7% de los casos, respectivamente, y la resistencia insulínica fue observada en el 90,3% de los animales. Dada la elevada incidencia de hiperlipidemia en nuestra casuística y las complicaciones metabólicas constatadas, sugerimos que este examen se investigue en perros Schnauzer sanos, de forma tal que permita un eventual diagnóstico precoz de esta enfermedad. Palabras clave: perros, triglicéridos, colesterol, VLDL, hiperinsulinemia

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Introdução O termo hiperlipidemia ou dislipidemia refere-se ao aumento das concentrações de lipídios no sangue. Esse aumento pode ser unicamente de triglicérides (hipertrigliceridemia), de colesterol (hipercolesterolemia) ou de ambos (hiperlipidemia mista). O termo lipemia é usado para descrever o aspecto turvo ou leitoso do soro ou plasma sanguíneo, resultante da elevação de quilomícrons ou triglicérides, perceptível já quando a concentração de triglicérides é superior a 200 mg/dL 1,2. A lipemia pós-prandial é fisiológica e transitória, e normalmente se resolve em 7 a 12 horas após a refeição, dependendo do teor de gordura presente no alimento 3. Já em jejum, a lipemia não deve estar presente, e quando isso ocorre pode ter como causas: o aumento da produção de quilomícrons (aumento da ingestão de lipídios na dieta), a retirada ineficaz da partícula de quilomícron, o aumento na produção de VLDL (lipoproteína de densidade muito baixa) por ingestão excessiva de lipídios e/ou carboidratos na dieta ou pela produção endógena excessiva ou mobilização de lipídios, ou ainda a eliminação ineficaz de partículas VLDL 4,5. A hiperlipidemia é relativamente comum em cães, podendo ser primária ou secundária. Como regra geral, deve-se suspeitar das dislipidemias quando as concentrações séricas de colesterol e de triglicerídeos em cães adultos excederem, respectivamente, 300 mg/dL e 150 mg/dL, após jejum alimentar de 12 horas. Quase sempre a hipertrigliceridemia é diagnosticada, macroscopicamente, por achado de lipemia em amostra de sangue 3,4. A hiperlipidemia secundária é a forma mais comum e pode ser resultado de doenças endócrinas como hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, diabetes melito, além de obesidade, pancreatite, nefropatia com perda proteica, coléstase, alimentação rica em gordura e corticoterapia 1,6,7. A hiperlipidemia primária é menos frequente e parece ter um caráter hereditário, por estar associada a raças específicas 3,4,8. A hipertrigliceridemia idiopática é uma condição que acomete principalmente a raça schnauzer miniatura, embora outras raças ou mestiços possam ser afetados. O diagnóstico presuntivo de hipertrigliceridemia idiopática só pode ser feito mediante a exclusão de todas as outras causas secundárias 3,8. A causa de hipertrigliceridemia idiopática dos schnauzers miniatura não é clara e ainda não foi identificada, mas acredita-se que esteja relacionada ao aumento de produção ou à diminuição da eliminação de VLDL e quilomícrons, ou ambos. A lipoproteína lipase é a enzima mais envolvida na eliminação de triglicérides, e por esse fato a deficiência

dessa enzima vem sendo estudada como possível causa da hipertrigliceridemia, apresentando ainda resultados inconclusivos e contraditórios 9-11. O fato de estar ligada principalmente à raça schnauzer sugere possível mecanismo hereditário. Em seres humanos, as causas hereditárias de hiperlipidemia são comumente documentadas, tais como: hipertrigliceridemia hereditária autossômica dominante de etiologia desconhecida, deficiência autossômica recessiva da enzima lipoproteína lipase e a deficiência hereditária de apolipoproteína CII, transmitida por alteração recessiva e autossômica 3. Cerca de 11,5% dos schnauzers miniatura assintomáticos apresentam hipertrigliceridemia de moderada a grave, que pode ou não estar associada a hipercolesterolemia, resultante da redução do metabolismo e/ou do aumento da produção de quilomícrons e VLDL, já que ambas as moléculas possuem pequenas quantidades de colesterol livre e esterificado 3. Embora muitos animais dislipidêmicos sejam assintomáticos, as consequências clínicas podem ser bastante drásticas. Os sintomas clínicos da hipercolesterolemia são mais discretos, manifestando-se de forma mais crônica. Os cães com hipercolesterolemia sustentada por um período superior a seis meses apresentam maior risco de desenvolver aterosclerose, lesões endoteliais e disfunções cardiovasculares, tais como o comprometimento da aorta, de artérias coronárias, renais, cerebrais e periféricas 9,12. A hipertrigliceridemia, por outro lado, pode se manifestar de maneira aguda e é um fator de risco para o desenvolvimento, principalmente, de pancreatite e alterações neurológicas, como vestibulopatias e convulsões. Em médio e longo prazo, pode provocar alterações hepáticas, hepatopatia vacuolar, alterações oculares como a lipemia retinalis, além de resistência insulínica e maior predisposição ao diabetes melito 13-15. Por tudo isso, faz-se necessária a identificação precoce das hiperlipidemias, sejam elas primárias ou secundárias, para que se possam empregar estratégias terapêuticas a fim de evitar prejuízos à saúde do animal. O manejo terapêutico inicial da hiperlipidemia compreende um dieta pobre em gordura, inicialmente (< 8% ou < 25 g/1.000 kcal) associada ao óleo de peixe ômega 3, e, em casos de hiperlipidemia grave, pode ser necessária a intervenção medicamentosa com fibratos, como, por exemplo, o bezafibrato. Vale lembrar que em casos de hiperlipidemia secundária, a doença de base deve ser tratada, e os cães obesos devem ser submetidos a restrição calórica 2,4,16-18. Dessa forma, nossos objetivos foram: avaliar a frequência de hiperlipidemia de jejum e pós-prandial em cães

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Zoonoses Exames post mortem em primatas não humanos durante epizootia de febre amarela na região metropolitana de Sorocaba, SP, Brasil Postmortem exams in nonhuman primates during yellow fever epizootic in Sorocaba Metropolitan Region (RMS), SP, Brazil Exámenes post mortem en primates no humanos durante una epizootia de fiebre amarilla en la Región Metropolitana de Sorocaba, SP, Brasil Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, p. 32-42, 2018 Rodrigo Hidalgo Friciello Teixeira Médico veterinário Prefeitura Municipal de Sorocaba Aluno de doutorado PPGAS Unesp-Botucatu Uniso-Sorocaba rhftzoo@hotmail.com

Thais Eleonora Madeira Buti Médica veterinária, chefe Zoonoses - Prefeitura de Sorocaba tbuti@sorocaba.sp.gov.br

André Luiz Mota da Costa

Médico veterinário Prefeitura Municipal de Sorocaba almotacosta@yahoo.com.br

Resumo: As principais causas de mortalidade em primatas neotropicais são enfermidades virais, bacterianas, parasitárias e traumas. Em todos os casos, necrópsias e exames complementares são essenciais para a determinação da causa mortis do paciente. Durante os meses de maio de 2017 a maio de 2018, 59 primatas não humanos de vida livre ou mantidos sob cuidados humanos de cinco espécies dos gêneros Callithrix, Alouatta e Sapajus foram examinados, sendo o material biológico coletado e enviado ao laboratório do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Os exames foram direcionados ao diagnóstico do vírus amarílico, porém, ao longo do período do estudo, outras causas foram diagnosticadas. Os óbitos dos animais foram principalmente provocados por traumas, agressões, arma de fogo, pneumonia, intoxicação por carbamato, febre amarela e por causa indeterminada, durante a epizootia de febre amarela na região metropolitana de Sorocaba. Unitermos: necrópsia, arbovírus, óbito em primatas, causas de morte, trauma Abstract: Main mortality causes of neotropical primates are trauma and viral, bacterial and parasitic diseases. In all cases of animal death necropsy, histopathology, and complementary exams are essential to determine the cause of death. Between May 2017 and May 2018, 59 cases of death of non-human primates were registered during the Yellow Fever outbreak in the metro-region of Sorocaba (São Paulo, Brazil). Five species of the genera Callithrix, Alouatta and Sapajus were identified. Wildlife and captivity animals were represented. All biological materials collected during necropsies were submitted to Instituto Adolfo Lutz (in São Paulo, Brazil) to be tested for the Yellow Fever virus. Documented causes of death included Yellow Fever, unspecified trauma, interspecies and intraspecies aggression, firearm-induced trauma, pneumonia, and carbamate toxicosis. Keywords: necropsy, arboviruses, death in primates, mortality causes, trauma Resumen: Los principales motivos de muerte de los primates neotropicales son las enfermedades de origen viral, bacterianas, parasitarias y los traumas. En cualquiera de estos casos es importante que se realice una necropsia y exámenes de laboratorio a fin de determinar la muerte del paciente. Entre mayo de 2017 y mayo de 2018 fueron examinados 59 cadáveres de primates no humanos (vida libre y bajo cuidados humanos) de cinco especies de los géneros Callithrix, Alouatta y Sapajus, y el material biológico fue enviado al laboratorio del Instituto Adolfo Lutz en São Paulo, Brasil. El objetivo era comprobar la presencia del virus de la fiebre amarilla, si bien que a lo largo del presente estudio fueron diagnosticadas otras posibles causas de muerte. Los óbitos fueron provocados por traumas, agresiones, armas de fuego, neumonía, intoxicación por carbamatos, fiebre amarilla y, en algunos casos, no se halló la causa de la muerte. Este trabajo se desarrolló durante una epizootia de fiebre amarilla en la región metropolitana de Sorocaba, São Paulo, Brasil. Palabras claves: necropsia, arbovirus, muerte en primates, causas de muerte, trauma

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Introdução Os primatas não humanos (PNH), nossos parentes biológicos mais próximos, participam ativamente na vida dos seres humanos como meio de subsistência, por meio da cultura, da religião, em algumas sociedades, de estudos da evolução humana, da biologia e do comportamento, e compartilhamos interesses em ameaças de enfermidades emergentes 1. Atualmente, existem 504 espécies de primatas distribuídos em 79 gêneros, nas Américas, na África continental, em Madagáscar e na Ásia; de forma alarmante, cerca de 60% das espécies de primatas do mundo estão ameaçadas de extinção, e aproximadamente 75% estão em declínio populacional 2. Todas as espécies de platirrinos, também conhecidos como primatas do Novo Mundo, naturais das Américas – sul do México, América Central e norte da América do Sul – estão no apêndice II da Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), e 26 espécies de primatas da fauna autóctone figuram na lista nacional dos animais ameaçados de extinção, comprovando o grau de vulnerabilidade do grupo 3,4. O Brasil possui enorme variedade de espécies de primatas distribuídos por todo o território nacional. Os bugios -ruivos (Alouatta clamitans – Cabrera, 1940) habitam a região de floresta pluvial e semidecídua do leste do Brasil. A distribuição geográfica se inicia ao norte do Rio de Janeiro, estendendo-se pelo interior de São Paulo, sudeste de Minas Gerais e estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul 5. A espécie bugio-vermelho (Alouatta seniculus – Lönnberg, 1941), é encontrada nos estados do Acre e do Amazonas e nos países vizinhos Peru e Colômbia. Ambas as espécies se alimentam de folhas, frutos e flores no dossel superior das matas. O macaco-prego (Sapajus nigrittus – Goldfuss, 1809) ocorre naturalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, é característico da Mata Atlântica e tem o hábito alimentar mais variado 6. O sagui-de-tufos-brancos ou mico-estrela (Callithrix jacchus – Linnaeus, 1758) se distribuía desde o estado do Maranhão até o norte do rio São Francisco, limite sul da espécie, ocupando o bioma da caatinga do Nordeste brasileiro. Atualmente a espécie está representada em quase todos os biomas brasileiros, introduzida por seres humanos. O sagui-de-tufos-pretos (C. penicillata – E. Geoffroy, 1812) ocorre naturalmente nos estados de Tocantins, Goiás, norte do Mato Grosso do Sul, parte de Piauí, Bahia, Minas Gerais e norte de São Paulo, e na Região Centro-Oeste brasileira, ocupando o bioma do Cerrado. Os saguis são animais onívoros, alimentando-se de uma gama extensa de itens, com destaque para goma de árvores, insetos, pequenos vertebrados, frutas e frutos 7.

As principais causas de mortalidade de primatas neotropicais podem variar de enfermidades virais, bacterianas e parasitárias a traumas, sendo a realização de necrópsias e exames macro e microscópicos, além de exames complementares, essenciais para a determinação da causa mortis dos animais 8. A febre amarela (FA), caracterizada por uma febre aguda, não contagiosa, de elevada mortalidade, causada por arbovírus da família Flaviviridae, gênero Flavivirus, é uma das doenças infecciosas que podem acometer os primatas neotropicais. A enfermidade é endêmica e enzoótica em regiões tropicais das Américas e da África, e existem registros esporádicos de epizootias, surtos e epidemias de magnitude variável em território nacional 9,10. No Brasil, são conhecidos dois ciclos de transmissão do vírus da FA: um urbano, com ciclo biológico homem/ mosquito/homem, do qual o Aedes aegypti é o principal vetor; e outro silvestre, com ciclo biológico centrado nos primatas não humanos e em mosquitos, podendo envolver também seres humanos, porém com diferentes espécies de mosquitos transmissores, de acordo com a região do país. Os dípteros da família Culicidae estão envolvidos no ciclo silvestre, com importância vetorial dos gêneros Haemagogus e Sabethes, e das espécies H. janthinomys, H. albomaculatus, H. leucocelaenus e S. chloropterus 11. Apesar de o Aedes aegypti estar amplamente disseminado nos estados brasileiros, a transmissão do ciclo urbano da febre amarela não é verificada no país desde 1942; em Sena Madureira, no estado do Acre, foi assinalado o último episódio de febre amarela urbana no país 12. Os primatas não humanos (PNH) são altamente suscetíveis ao vírus amarílico, amplificando-o durante a fase virêmica e servindo como sentinela, ao sinalizar a circulação do vírus em determinada área. Não existe consenso a respeito da comprovação científica do início ou da manutenção de epizootias, mas é certo que os primatas não humanos, os mosquitos e os seres humanos estão diretamente envolvidos no ciclo de transmissão da febre amarela 13. Nos casos específicos dos bugios (gênero Alouatta), diversos estudos sobre ecologia e comportamento relatam que grandes grupos sociais podem viver em pequenas áreas de mata com menos de 10 hectares. A dieta rica em folhas, de difícil digestão e baixa conversão em energia, caracteriza a espécie como um animal lento e de deslocamento limitado – entre 300 e 800 metros por dia, raramente excedendo mil metros –, que permanece grande parte do dia descansando 14. Os dípteros, fundamentais na vetoração de enfermidades virais, são considerados o grupo de maior importância em saúde pública, com ênfase nos mosquitos da família Culicidae 15. As espécies de mosquitos do gênero

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Os alimentos grain free são livres de grãos para agradar ao paladar mais primitivo dos cães. Esses animais são originalmente carnívoros e consumiam quantidade reduzida de carboidratos. Equilíbrio Grain Free é livre grãos e possui proteínas de alta qualidade. Sua composição leva carne e ingredientes selecionados, que proporcionam excelente aproveitamento dos nutrientes. Além disso, possuí partículas em tamanho adequado para raças miniaturas.

Filhotes

Adultos

RAÇAS MINIATURAS Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

Sênior

Adultos

RAÇAS MÉDIAS E GRANDES

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Oncologia Feocromocitoma maligno em cão – relato de caso Malignant pheochromocytoma in a dog – case report Feocromocitoma maligno en perro – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, p. 44-57, 2018

Viviani De Marco

MV, mestre, dra., profa. Universidade Santo Amaro Naya Especialidades Presidente - Abev vivianidemarco@gmail.com

Rodrigo Ubukata

MV, mestre, diplomado Abrovet Serviço de Oncologia Veterinária - Provet oncologia@provet.com.br

Bianca M. Gonçalves

MV, mestre, aluna de doutorado FM/Unesp-Botucatu bianca.mariani@unesp.br

Nilson Kage

Médico veterinário Naya Especialidades nilsonkage@yahoo.com.br

Marcia Kahvegian

MV, dra., profa., Unicsul Provet e All Care Vet makahve@gmail.com

Resumo: O feocromocitoma é um tumor secretor de catecolaminas de difícil diagnóstico, pois as manifestações clínicas nem sempre estão presentes, já que a secreção de epinefrina e norepinefrina ocorre de maneira episódica. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um cão maltês macho, de nove anos de idade, assintomático, que apresentava uma massa adrenal identificada ao acaso durante um exame ultrassonográfico. Foi indicado o tratamento cirúrgico, que no entanto não foi realizado inicialmente. Após oito meses, o animal apresentou trombo neoplásico em veia cava caudal, sendo submetido a adrenalectomia e trombectomia. A análise histopatológica revelou um feocromocitoma maligno e trombo neoplásico. Ressaltase aqui a importância do diagnóstico e do tratamento cirúrgico dos tumores adrenais, mesmo quando identificados ao acaso em animais assintomáticos. Atualmente, cinco anos após o tratamento cirúrgico, o paciente encontra-se estável, saudável e sem recidiva ou evidências de metástase do tumor. Unitermos: canino, tumor adrenal, medula adrenal, adrenalectomia, trombo neoplásico Abstract: Pheochromocytoma is a catecholamine secreting tumor that may be difficult to diagnose because clinical signs are not always present due to the episodic secretion of epinephrine and norepinephrine. We report a case of pheochromocytoma in an asymptomatic 9-year-old intact male maltese, The adrenal mass was an incidental finding during an abdominal ultrasonographic exam. Surgical treatment was declined by the owner. Eight months later the animal was presented with neoplastic thrombus in the caudal vena cava, and was submitted to adrenalectomy with venotomy and thrombectomy. The histopathological exam confirmed the diagnosis malignant pheochromocytoma and neoplastic thrombus. The importance of diagnosis and surgical treatment of adrenal tumors, including cases of incidental finding in asymptomatic animals is emphasized here. Currently, five years after surgery, the dog is stable, healthy and without recurrence or evidences of tumor metastasis. Keywords: canine, adrenal tumor, adrenal medulla, adrenalectomy, neoplastic thrombus Resumen: El feocromocitoma es un tumor secretor de catecolaminas de difícil diagnóstico debido a que pocas veces presenta signos clínicos, dado que la secreción de epinefrina y norepinefrina no son constantes. El objetivo de este trabajo fue relatar el caso de un perro Maltés macho de nueve años, asintomático, que presentaba una masa adrenal encontrada casualmente durante un examen ecográfico. Se indicó el tratamiento quirúrgico, pero no fue realizado en forma inmediata. Ocho meses después, el paciente presentó un trombo neoplásico en vena cava caudal, por lo que se realizó una adrenalectomía y trombectomía. En el examen histopatológico fue diagnosticado un feocromocitoma maligno y presencia de trombo neoplásico. Destacamos la importancia del diagnóstico y del tratamiento quirúrgico de los tumores adrenales, aún cuando se los identifica en forma casual en animales asintomáticos. Actualmente, cinco años después de la cirugía, el paciente se encuentra estable, sin alteraciones clínicas ni evidencias de metástasis del tumor. Palabras claves: canino, tumor adrenal, medula adrenal, adrenalectomía, trombo neoplásico

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Introdução Técnicas avançadas de imagem, como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, permitiram um grande avanço no reconhecimento de lesões adrenais, e atualmente a mensuração e a avaliação das glândulas adrenais é considerada parte essencial de qualquer exame ultrassonográfico. Isso tem levado à crescente identificação de rotina de massas adrenais incidentais, uni ou bilaterais, denominadas incidentalomas, tanto em seres humanos como na espécie canina 1,2. Os incidentalomas são definidos como presença de nódulo ou massa na glândula adrenal com dimensão maior ou igual a 1 cm de diâmetro em pacientes sem histórico prévio de doença adrenal 1,3. Um estudo retrospectivo de uma série de casos identificou massas adrenais incidentais em 25 de 270 cães (9,3% dos casos) submetidos a tomografia computadorizada abdominal. Já a prevalência de lesões adrenais incidentais identificadas pelo ultrassom abdominal foi de 4% (n = 151/3.748) dos casos 1. A etiologia dos incidentalomas adrenais varia e inclui lesões benignas ou malignas, derivadas do córtex ou da medula. Embora a maioria dos incidentalomas seja representada por adenomas não funcionais, outras possibilidades diagnósticas incluem carcinoma, feocromocitoma, metástase, mielolipoma, cisto, hemorragia e nódulo hiperplásico 4-6. Segundo a literatura veterinária, tumores adrenais primários são relativamente infrequentes em cães, representando 1 a 2% de todas as neoplasias caninas. No entanto, na prática clínica veterinária, alterações ultrassonográficas nas glândulas adrenais têm sido observadas com maior frequência, representadas por nódulos, massas ou aumento glandular inespecífico uni ou bilateral em animais completamente assintomáticos, podendo indicar diferentes processos patológicos 7,8. Vários relatos de séries de casos nas duas últimas décadas têm documentado os resultados de adrenalectomias realizadas em cães com tumores adrenais, incluindo os incidentalomas. O diagnóstico histológico de 191 tumores adrenais provenientes dessas publicações combinadas apontaram os seguintes resultados: 153 tumores do córtex (80%), 33 tumores da medula, representados por feocromocitoma (17%), 2 mielolipomas (1%) e 1 fibrossarcoma, 1 linfoma e 1 leiomiossarcoma (0,5% cada). E dentre os tumores do córtex adrenal, 50% (63/125) foram considerados carcinomas, 43% (54/125) adenomas e 6% (8/125) lesões hiperplásicas 7-9. Aproximadamente 15% dos incidentalomas adrenais identificados na população humana 10,11 e 11,3% na espécie canina podem ocorrer bilateralmente 1,12.

Assim como em seres humanos, o feocromocitoma (tumor secretor de catecolaminas) é considerado um tumor raro em cães, representando 0,01 a 0,1% de todos os tumores caninos, mas possivelmente sua incidência seja subestimada, pois esses dados são provenientes principalmente de achados de necrópsia 2. Atualmente, o aumento da realização de adrenalectomias bem sucedidas e a interpretação do exame histopatológico dos tumores adrenais têm possibilitado um diagnóstico mais preciso e a percepção de que os feocromocitomas não são tão incomuns como pareciam. E que eles podem estar presentes em cães absolutamente assintomáticos, sendo por esse motivo frequentemente considerados incidentalomas no primeiro momento 10,13,14. O objetivo deste estudo é relatar o caso de um animal da espécie canina assintomático e sem alterações laboratoriais, ecocardiográficas e eletrocardiográficas, portador de um incidentaloma adrenal com invasão vascular, submetido oito meses depois a adrenalectomia, cujo laudo histopatológico foi de feocromocitoma maligno com trombo metastático. Atualmente, cinco anos após o tratamento cirúrgico, o paciente encontra-se estável, saudável e sem recidiva ou evidências de metástase do tumor. Relato de caso Um cão maltês macho, inteiro, nove anos de idade, pesando 6,2 kg, com escore de condição corpórea 5/9, foi atendido na clínica Naya Especialidades em março de 2013 por encaminhamento de colega, devido ao achado incidental de uma formação em adrenal direita. Essa formação foi encontrada durante a realização de ultrassom (US) abdominal para avaliação pré-anestésica para profilaxia de doença periodontal. Durante a anamnese, o proprietário negou sintomas de poliúria, polidipsia, polifagia e ganho de peso. Negou também alterações cardiorrespiratórias e neuromusculares. O animal era domiciliado, sem caninos ou felinos contactantes, com vermifugação e imunização adequados, e, aparentemente, completamente assintomático. O exame físico mostrou-se inalterado, com os seguintes parâmetros: ECC 5/9, temperatura de 38,1°C, linfonodos sem alterações, mucosas normocoradas, auscultação cardiopulmonar com bulhas cardíacas normofonéticas, ausência de sopro cardíaco e de arritmia, campos pulmonares limpos, frequência cardíaca de 120 batimentos por minuto (bpm), ausência de hepatomegalia e sensibilidade abdominal, e pressão arterial sistêmica de 130 mmHg. O animal foi submetido a exame ultrassonográfico que confirmou a presença de formação globosa em adrenal direita [AD (2,45 x 1,04 cm)], estando a adrenal esquerda

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Clínica

Esporotricose em um felino soropositivo para FeLV – relato de caso Sporotrichosis in a FeLV seropositive feline – case report Esporotricosis en un gato FeLV positivo – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, p. 58-68, 2018

Gustavo Soares Forlani

MV, mestre, prof. DCV/UFPel gustavo.forlani@hotmail.com

Risciela Salardi Alves de Brito MV, aluna de mestrado UFPel risciela234@yahoo.com.br

Jéssica Paola Salame

MV, residente UFPEL dassi.jessica@hotmail.com

Angelita dos Reis Gomes MV, dra., profa. UFPEL angelitagomes@gmail.com

Márcia de Oliveira Nobre MV, dra., profa. UFPEL marciaonobre@gmail.com

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Resumo: A esporotricose é uma micose subcutânea causada pelos fungos do complexo Sporothrix schenckii. Essa doença afeta homens e animais, sendo particularmente grave em gatos. A infecção ocorre principalmente pela inoculação traumática do fungo, ou seja, por meio de arranhaduras e mordeduras de animais infectados. Doenças imunossupressoras como a FeLV e a dificuldade na administração dos medicamentos são fatores que complicam o prognóstico desses pacientes. O objetivo do presente artigo é relatar o manejo terapêutico da esporotricose em um gato soropositivo para FeLV, que levou à regressão das lesões e a uma importante melhora clínica do paciente. Unitermos: itraconazol, medicina felina, timomodulina, zoonose Abstrac: Sporotrichosis is a subcutaneous mycosis caused by the fungi of the Sporothrix schencki complex. The disease affects men and animals and is particularly severe in cats. The infection is typically acquired by traumatic inoculation of the fungus through scratches and bites from infected animals. Prognosis is worse in patients with immunodepressive diseases such as FeLV, and when administration of treatment is challenging. We report the therapeutic management of sporotrichosis in a cat seropositive for FeLV. Treatment resulted in regression of lesions and marked improvement of clinical signs. Keywords: itraconazole, feline medicine, thymomodulin, zoonosis Resumen: La esporotricosis es una micosis subcutánea provocada por hongos del complejo Sporothrix schencki. Esta enfermedad puede afectar tanto al hombre como a los animales, siendo particularmente grave en los gatos. La infección se produce en general por inoculación traumática del hongo, es decir, mediante arañazos y mordeduras de animales infectados. Entre los factores que complican el pronóstico de estos pacientes pueden contarse, por un lado a las enfermedades inmunosupresoras como la FeLV, y por otro la dificultad que existe para la administración de medicamentos en esta especie. El objetivo del presente trabajo es relatar el manejo terapéutico de un gato con esporotricosis que era positivo para FeLV, en el cual se consiguió la regresión de las lesiones y una importante mejoría clínica del paciente. Palabras claves: itraconazol, medicina felina, timomodulina, zoonosis

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Introdução A esporotricose é uma micose subcutânea causada pelos fungos do complexo Sporothrix schenckii, sendo o S. brasiliensis o de maior prevalência no Brasil. Os fungos desse complexo são dimórficos e sapróbios, ou seja, apresentam duas fases, sendo a fase filamentosa encontrada em matéria orgânica no ambiente (25 °C), e a fase leveduriforme, em animais acometidos pela micose 1. A infecção ocorre pela inoculação traumática do fungo, ou seja, por meio de arranhaduras ou mordeduras de animais infectados e, mais raramente, por contato com matéria orgânica contaminada. Após a infecção, começa o processo de incubação, que pode durar de uma semana a 90 dias, quando surgirão os sinais clínicos da doença. As manifestações iniciais predominantes são lesões ulcerativas ou nodulares no local da inoculação, podendo progredir localmente, disseminar-se para outras áreas cutâneas e, nos casos mais graves, para órgãos internos como pulmão, fígado e baço, entre outros 2-4. Diversos animais domésticos e silvestres podem ser acometidos pela doença, sendo os de maior interesse para os clínicos de pequenos animais os cães e principalmente os gatos. Essa afecção é mais prevalente em regiões de clima tropical e subtropical úmido. No Brasil, o número de casos de esporotricose cresce anualmente, sendo relatado em várias regiões; contudo, os locais com maior frequência são o estado do Rio de Janeiro 5 e a região sul do Rio Grande do Sul 6. O padrão-ouro para diagnóstico é o isolamento do Sporothrix spp. em meios de cultura fúngica com ágar Sabouraud acrescido ou não de cloranfenicol e cicloheximida. Outros métodos diagnósticos também podem ser empregados, com destaque para a citologia, devido a sua alta sensibilidade (79%), praticidade e rapidez; também é possível diagnosticar a esporotricose por meio de exame histopatológico, reação em cadeia de polimerase (PCR) e imuno-histoquímica 2. O tratamento para esporotricose representa um grande desafio, seja pelo seu custo, pela via de administração, duração, falta de conscientização e principalmente pelo seu potencial zoonótico, requerendo cuidados do tutor em relação ao manejo do felino. O fármaco de primeira escolha para essa afecção é o itraconazol, contudo, outros fármacos são relatados pela literatura, tais como o fluconazol, a terbinafina, a anfotericina B e o antitireoideano iodeto de potássio (KI) 4,7. Normalmente, além da terapia antifúngica, o paciente necessitará de outros fármacos, como antibióticos, imunomoduladores e analgésicos, além de cuidados de suporte, como hidratação e nutrição. O prognóstico é variável, podendo ser bom, na apresentação cutânea localizada, e ruim, nos quadros disseminados. Outro fator que pode

influenciar o prognóstico são os pacientes positivos para FeLV, especialmente nos estágios avançados em que os sinais clínicos característicos dessa infecção estão presentes. A FeLV é causada por um RNA vírus (vírus da leucemia felina), que se caracteriza por possuir fita simples e, ao ser transcrito pela enzima transcriptase reversa no DNA do hospedeiro, dá origem a um provírus que se integra no genoma celular dos gatos infectados. Existem quatro subgrupos de FeLV, que são classificados conforme a estrutura antigênica da glicoproteína do envelope gp70 8. O FeLV A e o FeLV T são geralmente associados a quadros imunossupressores; o FeLV B é associado a linfomas e leucemias; e o FeLV C, a anemias não regenerativas. Contudo, essas características podem variar conforme a resposta individual de cada gato 9 . Uma vez infectados, há quatro possíveis desfechos: a infecção pode ser classificada como abortiva, quando o sistema imune impede a replicação viral, fazendo com que esses gatos não se tornem virêmicos; regressiva, quando ocorre um período transitório de viremia, porém o sistema imune consegue eliminar o vírus; e focal ou atípica, quando a replicação se limita a um sítio específico, como os olhos ou o intestino delgado; a quarta, e de pior prognóstico, é denominada progressiva, pois está associada a uma replicação viral maciça por um período prolongado (superior a 18 semanas), tornando esse paciente persistentemente virêmico e, após o período de incubação, altamente suscetível a desenvolver os sinais clínicos da doença, além de se tornar um foco de infecção para outros gatos 9,10. O diagnóstico da FeLV pode ser realizado por PCR, Elisa, imunocromatografia, imunofluorescência e isolamento viral. O isolamento viral é considerado padrão-ouro para o diagnóstico de FeLV, porém raramente é utilizado na rotina clínica, devido à dificuldade da técnica e ao tempo necessário para a sua realização. A técnica de PCR detecta o RNA viral ou DNA proviral, a partir de sangue, medula óssea e tecidos. Essa técnica apresenta alta sensibilidade na detecção do antígeno p27; comparativamente, 10% dos gatos com resultado negativo no Elisa podem apresentar-se positivos pelo método de PCR. A PCR quantitativa consegue correlacionar altas leituras de vírus com a apresentação de viremia, porém não distingue gatos virêmicos dos não virêmicos, o que seria importante para o diagnóstico de infecções e doenças associadas ao vírus. Os testes Elisa e imunocromatrográfico apresentam alta sensibilidade e especificidade diagnóstica, podendo ser utilizados como exames de triagem durante o atendimento veterinário. Esses testes indicam a presença de um componente proteico do vírus da FeLV chamado p27 e permitem a análise simultânea da presença da IgG para FIV. O teste imunocromatográfico torna-se mais

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Bem-estar animal Breve histórico da experimentação animal e do desenvolvimento dos métodos alternativos ao uso de animais Os métodos alternativos ao uso de animais no ensino e na pesquisa estão em grande desenvolvimento. O estímulo para o seu crescimento surge dos conflitos da experimentação animal, que podem incluir questões ideológicas, religiosas, financeiras e/ou jurídicas. Para a melhor compreensão desse cenário, é importante conhecer a história da experimentação animal e as mudanças ocorridas ao longo dos séculos, que culminaram na formação dos ideais que regem atualmente o uso de animais nos meios científico e didático. Historicamente, os primeiros registros encontrados sobre o estudo de animais datam de 500 a.C., com Alcméon, considerado o avô da medicina – um estudioso grego que dissecava animais para a realização de estudos anatômicos. Posteriormente, em 400 a.C., dando continuidade aos estudos de Alcméon, Hipócrates realizou outros experimentos, dentre os quais vários estudos sobre a circulação sanguínea, concluindo de forma equivocada que as artérias eram preenchidas por ar, uma vez que suas observações eram baseadas exclusivamente em animais mortos. Nos anos 300 a.C., Aristóteles sustentava uma concepção sobre a natureza da vida,

Alcméon “O homem distingue-se dos demais seres por ser o único que compreende. Pois todos os demais percebem, mas não compreendem.”

500 a.C. 70

distinguindo-a em três classes – vegetativa, animal e intelectual –, sendo que na mesma ordem uma classe existe para o bem da outra, ou seja, os vegetais para o bem dos animais, e os animais para o bem dos homens. Baseado nessa concepção, Aristóteles encontrou justificativa para o uso dos animais sem nenhuma ressalva, partindo do princípio de que era para o bem do homem; sendo assim, também realizou dissecações em animais para seus estudos de anatomia comparada, nos quais utilizou mais de 50 espécies diferentes. Na mesma época, na Escola de Alexandria, Herófilo realizou pela primeira vez a dissecação de um cadáver animal em público, e Erasístrato foi o primeiro a utilizar animais vivos para realizar experimentos, o que derrubou a antiga ideia de que as artérias eram preenchidas por ar. Galeno (129 d.C.-199 d.C.) realizou diversos experimentos que revolucionaram a medicina do seu tempo. Utilizando principalmente macacos nos seus estudos, já que era proibido o uso de seres humanos, criou a teoria de que o cérebro controlaria o movimento de todos os músculos do corpo; incluiu ainda a distinção entre nervos sensitivos e motores. Galeno também foi o primeiro a demonstrar que os rins constituem o

Galeno

René Descartes

O criador da fisiologia experimental realizava atuações públicas de vivissecções em animais

“Os animais não sentem dor por não possuírem uma alma racional.”

129 a 199 d.C

1637

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órgão excretor de urina. Após a morte de Galeno, os registros de estudos nessa área cessaram, retornando apenas no século XVI. A experimentação animal volta a ser documentada por Vesalius (1514-1564), na grande obra De Humani Corporis Fabrica (A estrutura do corpo humano). Esse livro é considerado uma das mais influentes obras científicas de todos os tempos, pois compreende um atlas de anatomia completo e de extrema riqueza de detalhes, inclusive refutando algumas descrições previamente realizadas por Galeno. Um dos capítulos intitula-se “A dissecação de animais vivos” e descreve diversos experimentos realizados na época, como a excisão do baço, as secções da medula espinhal e a perfuração da parede torácica, demonstrando que era possível manter um animal vivo mesmo com presença de ar no tórax. Pouco tempo depois, William Harvey (1578-1657) publicou o Estudo anatômico do movimento do coração e do sangue nos animais, no qual descreve a circulação sanguínea de 80 diferentes espécies. Reinier de Graaf (1641-1673), um fisiologista holandês, realizou estudos em cães para compreender o funcionamento do pâncreas e de algumas enzimas digestivas, que o consagraram como um dos principais fisiologistas do seu tempo. Nos desenhos do seu trabalho podemos visualizar a laparatomia realizada para criar uma fístula no ducto pancreático para a coleta do suco pancreático. Nesses mesmos desenhos, notamos que o cão é amarrado a uma mesa e amordaçado para permitir a realização do

Claude Bernard “O fisiologista [...] não ouve o grito dos animais nem vê o sangue que escorre. Só vê a sua vida e só repara nos organismos que lhe escondem problemas que ele quer descobrir.”

1813 a 1875

procedimento de forma consciente. Para que fosse possível que o animal respirasse, mesmo amordaçado, realizava-se uma traqueostomia. Muitos pesquisadores seguiram com a experimentação animal baseados no pensamento de René Descartes, relatado no livro Discours de la méthode (Discurso sobre o método) (1637), segundo o qual os animais não sentiam dor por não possuírem uma alma racional. Na mesma época, no entanto, já se notavam alguns cientistas que atentavam para o sofrimento animal. Robert Hooke (1635-1703) e Robert Boyle (1627-1691) utilizaram animais em alguns experimentos e notaram o seu intenso sofrimento, o que os levou a não querer repetir esses procedimentos. Um dos trabalhos realizados pela dupla foi “Experimento com um pássaro numa bomba de ar”, no qual um pássaro era mantido em um balão de vidro cujo fluxo de ar podia ser controlado. Com o objetivo de avaliar as propriedades do ar, o fluxo era reduzido até o vácuo, e as reações do animal eram analisadas. Outro cientista, Edmund O’Meara (1614-1681), disse que a agonia a que os animais eram submetidos distorcia os resultados obtidos. Ainda de acordo com os pensamentos de Descartes, diversos cientistas impulsionaram a experimentação animal ao longo do século XVIII, considerada no século XIX um importante método científico. Claude Bernard (1813-1878), médico francês, utilizava animais vivos em seus experimentos, e foi considerado o maior fisiologista de todos os tempos. Foi o responsável pela descoberta e pelo entendimento

Marshall Hall Publica o livro Princípios éticos da experimentação animal

1831

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Bem-estar animal

da homeostase; também descobriu a ação do pâncreas na digestão e provou que o consumo de oxigênio ocorre nos tecidos, mediado pelo sangue, e não nos pulmões. Ele também foi o responsável por incluir a experimentação animal nas instituições de ensino. Segundo Bernard: “A experimentação animal é um direito integral e absoluto. O fisiologista não é um homem do mundo, é um sábio, é um homem que está empenhado e absorto por uma ideia científica que prossegue. Não ouve o grito dos animais nem vê o sangue que escorre. Só vê a sua vida e só repara nos organismos que lhe escondem problemas que ele quer descobrir.” Paralelamente a Bernard, outros profissionais se importavam com o sofrimento animal, tais como o neurologista Marshall Hall, que em 1831 publicou “The principles of investigation in physiology”, com o objetivo de que se buscasse o menor sofrimento possível na experimentação. Ele preconizava que a experimentação devia ser realizada apenas quando a observação não fosse suficiente, e a repetição dos experimentos somente quando se mostrasse realmente necessária. Em 1824, na Inglaterra, surge o primeiro órgão responsável pela proteção animal, a Society for the Prevention of Cruelty to Animals (SPCA), que reconhecia a necessidade de algumas experimentações com animais, porém com a ressalva de que esses procedimentos fossem realizados de forma humanitária. Em 1837, a rainha Vitória deu permissão para adicionar o R ao nome da SPCA, e,

Criação da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA)

1824 72

em 1840, o nome foi alterado para Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA), como é hoje mundialmente conhecida. Nesse período foram criadas outras associações para o controle do uso de animais, como a Société Protectrice des Animaux (SPA), fundada na França em 1845. Em 1876, ainda na Inglaterra, diante do aumento do debate sobre o uso de animais, foi criada a primeira lei que regulamentava a experimentação animal: The Cruelty to Animals Act, 1876. Em 1954 Charles Hume, fundador da Universities Federation for Animal Welfare (UFAW), propôs o desenvolvimento de um estudo sobre técnicas humanitárias para a experimentação com animais. Os responsáveis por esse estudo foram William Moy Russell e Rex Burch, que publicaram como resultado o livro The Principles of Humane Experimental Technique, no ano de 1959. Nesse livro encontra-se um dos grandes resultados dessa evolução sobre o bem-estar animal, o desenvolvimento do princípio dos 3 Rs. Tal fundamento embasa-se no conceito de redução do número de animais (reduction), escolhendo a melhor estratégia para a execução e o delineamento estatístico da pesquisa; na substituição (replacement) de animais vertebrados sempre que possível por outros materiais inanimados, plantas ou a alternativa que estiver mais viável; e no refinamento (refinement) das técnicas utilizadas, para amenizar ao máximo o sofrimento dos animais ainda expostos aos experimentos. Após o princípio dos 3Rs, o grande impulso para

Criação da primeira lei que regulamenta a experimentação animal na medicina: The Cruelty to Animals Act, 1876

1876

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018


o desenvolvimento dos métodos alternativos ocorreu em 1961, quando três instituições britânicas (British Union for the Abolition of Vivisection, National Anti-Vivisection Society e Scottish Society for the Prevention of Vivisection) se uniram para a criação do Lawson Tait Medical and Scientific Research Trust, um fundo de investimentos para pesquisadores que não utilizassem animais em seus experimentos. Na mesma década foi criada a United Action for Animals (UAA), em 1967, nos Estados Unidos, e a Fund for Replacement of Animals in Medical Experiments (Frame), em 1969, na Inglaterra, ambas com grande relevância também no incentivo à substituição dos animais na pesquisa. Outro fato relevante da década foi que em 1969 o ganhador do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1960 – maior prêmio concedido a um cientista no mundo –, o brasileiro naturalizado britânico Peter Medawar, afirmou que acreditava que o uso de animais iria gradativamente diminuir, até o momento em que não seria mais necessário, dando ainda mais força às pesquisas em alternativas. Na década de 1970 os interesses sobre alternativas continuaram a crescer. Em 1971, o Conselho Europeu adotou a Recomendação 621, que regulamenta e realiza a autorização de quais experimentos com o uso de animais serão permitidos, além de estabelecer um fundo de apoio internacional para o uso de alternativas. Nessa mesma década, a Suécia criou o Central Committee on Experimental Animals, que mobilizou cerca de 90 mil dólares para o

Criação da primeira Sociedade Protetora dos Animais no Brasil, em Minas Gerais

1925

desenvolvimento de pesquisas em alternativas ao uso de animais, e para isso incluiu uma sessão focada nas alternativas no curso de medicina veterinária. Após investimentos adicionais dos Estados Unidos pela American Fund for Alternatives to Animal Research (Afaar), o primeiro método alternativo bem-sucedido em larga escala foi divulgado: a utilização de cultura celular para testes de toxicidade, em lugar dos testes em animais. As alternativas continuaram se desenvolvendo e ganhando espaço no meio científico durante a década de 1980. Em 1986, após o Office of Technology Assessment, o U.S. Congress Office of Technology Assessment publicou o livro Alternatives to Animal Use in Research, Testing, and Education, que compilava e ensinava diversos métodos alternativos, tanto para a pesquisa quanto para o ensino em universidades, além de discutir os aspectos éticos e econômicos do uso de animais. Nesse livro, algumas das técnicas apresentadas são a utilização de computadores para simulação da circulação sanguínea; de bombas de infusão para simulação de perfusão de órgãos; de cadáveres e até de suínos, que na época eram considerados um método alternativo ao uso de cães. Durante essa década, as instituições de ensino de medicina dos Estados Unidos e da Europa iniciaram gradativamente o encerramento do uso de animais em seus laboratórios, com um declínio constante e progressivo até os dias atuais. Nos Estados Unidos e no Canadá, todas as escolas de medicina aboliram o uso de animais no ensino desde

Publicação do princípio dos 3R’s (reduction, replacement e refinement) por Russell e Burch no livro The Principles of Humane Experimental Technique

Peter Medawar “[...] o uso de animais irá gradativamente diminuir, até o momento em que não será mais necessário, dando ainda mais força às pesquisas em alternativas”

1959 Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

1969 73


Bem-estar animal

2016. Depois disso, a Grã-Bretanha e a Alemanha também aboliram o uso de animais do ensino da medicina. Outros marcos importantes na história atual da experimentação animal se dão no que diz respeito à quebra do arcaico pensamento cartesiano de que os animais não têm uma alma racional. Em 2012, durante a Francis Crick Memorial Conference, na Universidade de Cambridge, foi proclamada a Declaração de Cambridge sobre a Consciência Animal, na qual se reconhece que diversos animais, dentre os quais os mamíferos, as aves e os polvos, têm consciência, e portanto expressam sentimentos, sentem dor e sofrem. Poucos anos após, em 2015, a França mudou sua Constituição, assumindo também os animais não humanos como seres sencientes pelo novo artigo no 515-14. Com esse reconhecimento, os animais passam a ser tratados como sujeitos de direito, assim como os seres humanos, em vez de propriedades ou bens de consumo, como anteriormente. No Brasil, os primeiros sinais da preocupação com o bem-estar animal se iniciaram em 1925, com a implantação da Sociedade Protetora dos Animais, em Minas Gerais. Apesar disso, o interesse pelas pesquisas nas áreas de métodos alternativos se iniciou apenas em 1999, com Thales Tréz, que influenciou a difusão do conceito de educação humanitária no Brasil. Um marco de grande impacto sobre as considerações relativas ao bem-estar animal e às buscas por métodos alternativos foi a produção do vídeo Não matarás, pelo Instituto Nina Rosa, em 2006. Por meio de cenas chocantes, esse vídeo objetiva sensibilizar os Publicação do livro Alternatives to Animal Use in Research, Testing, and Education pelo U.S. Congress Office of Technology Assessment

1986 74

espectadores sobre o sofrimento dos animais usados no ensino e na pesquisa, promovendo grande debate sobre a questão. Outra medida significativa realizada no país foi a implantação da Lei no 11.794/2008, também conhecida como Lei Arouca, que estabelece a necessidade do uso dos 3Rs na experimentação animal e no ensino, e também cria o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). Desde então, as pesquisas para desenvolvimento de métodos alternativos têm se intensificado nos diferentes ramos da educação, com o apoio de órgãos relacionados e instituições de ensino. Na medicina veterinária, os modelos experimentais ainda não estão amplamente desenvolvidos para substituir todos os tipos de práticas com animais, porém já existem modelos para treinamento de diversos procedimentos que dispensam o seu uso, tais como os utilizados em suturas de pele, punção de acesso venoso, realização de antissepsia, ossos sintéticos para osteossíntese de fraturas e até mesmo modelos de cães inteiros para estudos de anatomia e fisiologia. Alguns estudos realizados com estudantes de medicina veterinária já mostram a opinião favorável dos alunos à utilização de métodos alternativos ao uso de animais nas aulas práticas, com o objetivo de minimizar o sofrimento animal. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), desde 2014 iniciou-se o desenvolvimento de métodos alternativos próprios para o ensino de semiologia e clínica médica de pequenos animais, buscando métodos acessíveis e de baixo custo. Com o auxílio dos

Produção e divulgação do vídeo Não matarás pelo Instituto Nina Rosa no Brasil. “Filósofos, cientistas e ativistas revelam o que é mantido em segredo. Depois de saber, você não será mais o mesmo.”

2006 Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

Implantação no Brasil da lei no 11.794/2008 e criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea)

2008


projetos de iniciação científica, mestrado e doutorado, os modelos são desenvolvidos e posteriormente testados em aulas práticas para verificar a aceitação do método pelos alunos. Métodos como modelo para palpação prostática, coluna para simulação de lesões medulares e membro torácico para treinamento de acesso venoso já têm mostrado resultados positivos sobre a aquisição de habilidades práticas e crescente aceitação pelos alunos. A utilização de métodos alternativos como modalidade de ensino e pesquisa tem se mostrado de extrema utilidade nas mais diversas áreas do conhecimento. Com o avanço da tecnologia, as possibilidades de métodos mais fiéis a um animal vivo aumentam, melhorando a qualidade dos modelos, das aulas ministradas, do aprendizado dos alunos e das pesquisas que os utilizam. Referências

01-DUNLOP, R. H. ; WILLIAMS, D. J. Veterinary medicine: an illustrated history. 1. ed. Missouri: Mosby-Year Book, 1996. 692 p. ISBN: 978-0801632099. 02-BALLS, M. ; GOLDBERG, A. M. ; FENTEM, J. H. ; BROADHEAD, C. L. ; BURCH, R. L. ; FESTING, M. F. ; FRAZIER, J. M. ; HENDRIKSEN, C. F. ; JENNINGS, M. ; VAN DER KAMP, M. D. ; MORTON, D. B. ; ROWAN, A. N. ; RUSSELL, C. ; RUSSELL, W. M. ; SPIELMANN, H. ; STEPHENS, M. L. ; STOKES, W. S. ; STRAUGHAN, D. W. ; YAGER, J. D. ; ZURLO, J. ; VAN ZUTPHEN, B. F. The three Rs: the way forward: the report and recommendations of ECVAM Workshop 11. Alternatives to Laboratory Animals, v. 23, n. 6, p. 838-866, 1995. 03-LOW, P. The Cambridge declaration on consciousness. 2012. 2 p. Disponível em: <http://fcmconference.org/img/

Philip Low “[...] não é mais possível dizer que não sabíamos”, sobre o manifesto que admite a existência de consciência em todos os mamíferos, aves e outras criaturas

2012

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Matheus Barbosa Gomes Cruz MV, aluno de mestrado PPGCV/UFPR mbgcruz@gmail.com

Carolina Trochmann Cordeiro MSc, aluna de doutorado PPGCV/UFPR caroltrochmann@gmail.com

Simone Tostes de Oliveira Stedile MV, MSc, PhD, profa. UFPR tostesimone@gmail.com

ONG Fondation 30 Millions d’Amis – idealizadora da lei que reconhece os animais como seres sencientes na França

2015

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Saúde pública Oficina sobre toxoplasmose para gestantes em Unidade Básica de Saúde da Família

O

programa Estratégia Saúde da Família (ESF) faz parte dos pilares organizacionais da Atenção Básica à Saúde, que tem como objetivo agir diretamente na população com base nas características socioculturais de cada região. Dessa maneira, as equipes da ESF atendem a áreas delimitadas de acordo com os problemas identificados naquela população, facilitando a gestão e a execução das ações na área da saúde 1,2. Em 2008, no intuito de apoiar as equipes da ESF, o Ministério da Saúde criou o Núcleo Ampliado de Saúde da Família (Nasf), aumentando a abrangência das ações e tornando a equipe mais interdisciplinar, inserindo nela profissionais de diversas áreas da saúde, como nutricionistas, fonoaudiólogos e psicólogos 3. A inserção do médico-veterinário no rol dos profissionais da saúde ocorreu em 1998, com a publicação da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 287/1998. No entanto, a incorporação desse profissional no grupo que compõe o Nasf se concretizou apenas 13 anos mais tarde, por meio da Portaria do Ministério da Saúde nº 2.488, de 21 de outubro de 2011 4, que aprovou a Política Nacional de Atenção Básica (Pnab) para o Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, fica explícita a importância do papel do médico-veterinário na promoção da saúde, da prevenção e do controle de doenças e agravos, e principalmente na avaliação dos riscos e no controle de transmissão de zoonoses. A atuação desse profissional no campo das interações entre seres humanos, animais e meio ambiente auxilia na relação com as famílias, facilitando o diálogo e a identificação dos fatores que colocam em risco a saúde dos indivíduos e das

comunidades, promovendo a educação popular 5. Permite também a atuação direta nas medidas sanitárias fundamentais para a efetivação da atenção primária. Além disso, diversos estudos demonstram que as orientações realizadas pessoalmente por meio dos profissionais de saúde são mais efetivas quando comparadas com as de outros meios de comunicação 6-8. A toxoplasmose é uma doença zoonótica causada por um protozoário intracelular obrigatório de células nucleadas, chamado Toxoplasma gondii, pertencente ao filo Apicomplexa e à ordem Eucoccidia 9. A enfermidade apresenta distribuição mundial e elevada frequência de infecções assintomáticas; cerca de 90% das infecções gestacionais agudas não apresentam sintomas clínicos, e, quando sintomáticas, assemelham-se a um quadro gripal 10. O protozoário é transmitido verticalmente durante a fase de parasitemia materna 11. Os sinais clínicos clássicos sugestivos de toxoplasmose congênita são conhecidos como tétrade de Sabin (hidrocefalia, coriorretinite, calcificação cerebral e retardo mental) 12 . A doença neonatal manifesta-se na forma generalizada, neurológica ou em ambas. Entretanto, estudos recentes demonstram que 80% das crianças com infecção subclínica apresentarão somente sequelas oculares em algum momento da vida 13. No intuito de disseminar o conhecimento atuando na saúde coletiva e das famílias, uma equipe de médicos-veterinários residentes em medicina veterinária do coletivo na UFPR promoveu um dia de ação e conscientização sobre a toxoplasmose (Figura 1). Foram abordados assuntos referentes às implicações clínicas da doença e às formas

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UBS São Domingos – Curitiba, PR

UBS São Domingos – Curitiba, PR

Figura 1 – Palestra e conscientização sobre a toxoplasmose e dinâmica interativa com grupo de gestantes


de transmissão e de contaminação, com informações voltadas especificamente para o grupo de gestantes. A ação foi realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS) São Domingos, no bairro de Cajuru, em Curitiba, PR, e envolveu um grupo de gestantes que faz acompanhamento contínuo nessa UBS. Participaram da oficina profissionais médicos-veterinários e farmacêuticos, além da diretora da UBS e de nove gestantes acompanhadas nessa unidade. A oficina se desenvolveu com dinâmicas participativas em que se procurou estimular, no contexto do conhecimento individual, a manifestação por parte das gestantes em relação a essa doença de significativa importância para mulheres grávidas, a fim de compreender a demanda necessária para a completa conscientização sobre as suas formas de contaminação, transmissão, desenvolvimento e prevenção. Para uma das dinâmicas educativas realizadas, o grupo de grávidas foi colocado em círculo, umas de frente para as outras, e na testa de cada uma foi colado um papel com uma

possível fonte de contaminação da toxoplasmose, sem que elas soubessem o que estava escrito nele. Dessa forma, as outras grávidas precisavam dar dicas para que cada uma descobrisse a fonte de contaminação colada em sua testa. Essa dinâmica serviu como uma atividade de descontração para que depois lhes fossem feitas perguntas sobre a toxoplasmose, a fim de avaliar o seu grau de discernimento sobre a doença. Nesse sentido, as grávidas puderam ter noção da gravidade da doença, como afirmou uma das participantes do grupo: “É uma doença perigosa, principalmente para gestantes, pois pode causar problemas para o bebê”. De acordo com o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba, entre os anos de 2004 e 2016 foram confirmados 93 casos de toxoplasmose congênita e 662 casos de toxoplasmose em gestantes. Apenas no ano de 2016 ocorreram 58 casos, apresentando coeficiente de detecção – ou seja, a função da incidência real dos casos e

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Saúde pública

da agilidade no diagnóstico – de 2,73. Concomitantemente, em 2016 o número de casos de toxoplasmose congênita aumentou significativamente quando comparado aos anos anteriores, sendo 24 casos confirmados, com coeficiente de incidência de 1,35, o maior observado desde o ano de 2004. A toxoplasmose adquire enorme relevância durante a gestação, pelo risco de transmissão vertical. É de suma importância que a educação em saúde seja amplamente discutida entre profissionais da saúde e gestantes, com o propósito de reforçar as informações acerca da doença. Somente assim a difusão das informações será fidedigna: “As pessoas pegam toxoplasmose pelo contato com a terra, pelo contato com os animais e comendo carne crua.” (Futura mãe, participante do grupo de gestantes.) As formas mais frequentes de infecção durante a gestação são por meio da ingestão de carne crua ou malcozida; de leite não pasteurizado contaminado por cistos do T. gondii; de frutas, verduras e água contaminadas por oocistos do parasita; e pelo contato direto com terra (jardinagem) ou areia (caixa de dejetos) contaminados com oocistos liberados nas fezes dos gatos em fase de parasitemia 14. As gestantes da UBS São Domingos reconheceram que os felinos domésticos são importantes no ciclo epidemiológico da doença, porém se equivocaram em relação à fonte de transmissão quando afirmaram “Pega pelo arranhão do gato” e “Se você está comendo e o pelo do gato cai na comida, você pode pegar toxoplasmose”; uma vez que os gatos são os hospedeiros definitivos, e apenas quando infectados podem eliminar os oocistos do parasita nas fezes.

A principal forma de infecção envolvida nesse ciclo se dá por via oral/fecal, por meio da ingestão dos oocistos liberados pelas fezes dos gatos, demostrando que é necessário reforçar a educação básica e insistir na inserção de assuntos relacionados às doenças passíveis de transmissão entre seres humanos e animais, conhecidas como zoonoses. Para compreender a profilaxia, é necessário entender o ciclo parasitológico, seus principais participantes e o ciclo de transmissão e contaminação pelo agente. O T. gondii apresenta um ciclo heteroxênico, ou seja, diferentes formas evolutivas do parasito são encontradas em diferentes hospedeiros. Os felinos são os hospedeiros definitivos (onde o parasito completa o ciclo evolutivo), e apenas quando infectados excretam os oocistos (forma infectante) no ambiente, juntamente com as fezes 15-17. A infecção do hospedeiro intermediário (homem e outros mamíferos – espécies em que o parasito não completa seu ciclo evolutivo) se dá, na maior parte das vezes, pela ingestão de esporozoítos ou bradizoítos (diferentes formas evolutivas do parasito), presentes em cistos na carne. Pode também ocorrer ingestão de oocistos por meio de alimentos crus contaminados que foram mal lavados. O ciclo é compreendido por uma fase sexuada, que ocorre no hospedeiro definitivo (felinos), e por uma fase assexuada, que ocorre no hospedeiro intermediário (homem e outros mamíferos). Em todos os hospedeiros, após a contaminação, ocorre a digestão do cisto ou do oocisto, liberando bradizoítos ou

Flávia Helena Bellandi

Figura 2 – Ciclo de transmissão e contaminação pelo T. gondii

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esporozoítos, respectivamente; em seguida se dá a penetração nas células epiteliais, que podem se desenvolver de duas formas: por reprodução assexuada, em que os enterócitos se degeneram e liberam os taquizoítos que penetrarão em novas células, assegurando a difusão e a manutenção da parasitose; ou por reprodução sexuada, em que os taquizoítos se transformam, no interior dos enterócitos, em gametas masculinos e femininos, ocorrendo a seguir a fecundação e a formação de oocistos imaturos (não infectantes) que serão eliminados com as fezes dos gatos 14,18. A eliminação dos oocistos por parte dos felinos ocorre normalmente na primoinfecção, durante um período compreendido entre uma e duas semanas após a infecção. Passado esse período, tornam-se imunes por toda a vida 19. Tais oocistos imaturos (não esporulados) tornam-se infectantes (esporulados) aproximadamente 24 horas após sua eliminação junto às fezes. Sendo assim, apesar de possível, a contaminação por parte do hospedeiro intermediário é dificultada quando a limpeza da caixa de areia dos gatos domésticos é realizada diariamente. As formas de transmissão e contaminação da doença são variáveis, uma vez que há uma diversidade de espécies suscetíveis. O gato, por exemplo, se contamina pelo hábito de caça, ao ingerir espécies contaminadas com cistos de T. gondii, como ratos e aves (Figura 2). O agente, após se desenvolver nas células epiteliais, é eliminado juntamente com as fezes do gato. Quando há eliminação das fezes em local impróprio, como hortas, pastagens e outros lugares próximos a fontes de água e expostos ao ambiente, outras

espécies se contaminam pela ingestão indireta dos oocistos fecais, por meio de água e vegetais contaminados, e carne crua ou malcozida contaminada. O contato direto e inadequado com as fezes dos gatos presentes nas caixas de areia há mais de 24 horas também representa uma forma comum de infecção por parte do ser humano. Depois de contaminado, o ser humano pode transmitir a toxoplasmose por transfusão sanguínea e, no caso das gestantes, verticalmente, através do cordão umbilical para o bebê. Trata-se de um amplo ciclo de transmissão que pode ser facilmente combatido pela educação continuada em saúde. A educação em saúde ou prevenção primária envolve a promoção do conhecimento sobre os meios de prevenção da infecção por T. gondii, de maneira geral, orientando as gestantes a evitar o consumo de carne crua ou malcozida, lavar as mãos ao manipular carne crua, lavar bem as frutas e legumes antes da ingestão e evitar o consumo de água não filtrada e de leite não pasteurizado, bem como de alimentos expostos a moscas, ratos, baratas e outros insetos que podem atuar como vetores do parasita 8. Outras orientações no intuito de prevenir a infecção devem ser repassadas (Figura 3): a gestante deve evitar contato direto com o solo e usar luvas apropriadas durante a jardinagem e ao manusear materiais potencialmente contaminados com fezes de gatos, como as caixas de areia. A atenção quanto aos cuidados com os animais domésticos é fundamental, principalmente com os gatos, devido à sua importância como perpetuadores do parasita no meio ambiente. Esses animais, portanto, não devem se alimentar Flávia Helena Bellandi

Figura 3 – Orientações sobre como evitar a contaminação por T. gondii durante a gravidez Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

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Saúde pública

de carnes cruas ou malcozidas, vísceras ou ossos, além de evitar atividades como a caça 7,15,20, o que contribuirá inclusive para o seu bem-estar e a sua sanidade. A valorização da educação em saúde no programa Estratégia Saúde da Família contribui para a promoção da saúde e para a garantia dos direitos humanos fundamentais. Ressaltar a importância da educação junto às ações de assistência integral familiar é propiciar ao indivíduo autonomia para cuidar de si e da família, estimular o conhecimento, contribuindo para que a população se torne cada vez mais independente, e promover a saúde coletiva. Com o trabalho de conscientização sobre as formas de contaminação e transmissão, o comportamento do agente e as espécies envolvidas nos ciclos, as gestantes tiveram acesso a um importante conhecimento para a promoção da sua saúde e da do seu bebê e, dessa forma, entender o valor fundamental do trabalho dos profissionais atuantes na Estratégia Saúde da Família. Aprenderam os conceitos da transmissão da doença e também a se prevenir, tendo em vista a facilidade de aplicação prática dos métodos de profilaxia da toxoplasmose. Referências

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19-DUBEY, J. P. ; THULLIEZ, P. Persistence of tissue cysts in edible tissues of cattle fed Toxoplasma gondii oocysts. American Journal of Veterinary Research, v. 54, n. 2, p. 270-273, 1993. ISNN: 00029645. 20-MARTINS, C. S. ; VIANA, J. A. Toxoplasmose: o que todo profissional de saúde deve saber. Clínica Veterinária, ano III, n. 15, p. 33-37, 1998.

Rita de Cassia Maria Garcia MV, dra. profa. UFPR ritamaria@ufpr.br

Daniel Agibert Luz

João Henrique Perotta

Médico veterinário autônomo daniel_agibert@hotmail.com

MV, dr. prof. UFPR perotta@ufpr.br

Amanda Haisi

Simone Tostes de Oliveira Stedile

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MV, MSc, PhD, profa. UFPR tostesimone@gmail.com

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CFMV CFMV aprova resolução que define maus-tratos a animais e orienta profissionais

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Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou em 26/10/2018, a Resolução nº 1.236, que institui o regulamento para a conduta do médico-veterinário e do zootecnista em relação à constatação de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais. Pela primeira vez, uma norma brasileira traz conceitos claros e diferencia práticas de maus-tratos, de crueldade e de abuso. O objetivo é fortalecer a segurança jurídica e auxiliar os profissionais que atuam em perícias médicoveterinárias, bem como servir de referência técnico-científica para decisões judiciais relacionadas aos maus-tratos praticados contra os animais. Dessa forma, a resolução define que maus-tratos são atos ou até omissões que provoquem dor ou sofrimento desnecessários aos animais. Crueldade é submeter os animais a maus-tratos de forma intencional e/ou continuada. Abuso é qualquer ato intencional que implique o uso despropositado, indevido, excessivo, demasiado ou incorreto de animais, causando prejuízos de ordem física e/ou psicológica, incluindo os atos caracterizados como abuso sexual.

Maus-tratos Os indicadores de bem-estar (nutricionais, ambientais, sanitários e comportamentais), que podem variar de acordo com a espécie e com a situação em que se encontram os animais, compõem um instrumento reconhecido para o diagnóstico de seu bem-estar e abrangem os principais aspectos que influenciam a sua qualidade de vida. Os médicos-veterinários e zootecnistas, quando capacitados em etologia e bem-estar animal, são profissionais habilitados para o diagnóstico do grau de bem-estar dos animais. Diante desses indicadores, considerando que os animais são seres sencientes – com capacidade de sentir – e atendendo ao apelo da sociedade para a promoção do seu bem-estar, a resolução do CFMV, em seu artigo 5º, traz 29 itens do que são considerados maus-tratos. Entre eles, o abandono de animais. “Deixar o tutor ou responsável de buscar assistência médico-veterinária quando necessária” significa que o médico-veterinário deve prevenir práticas de abandono de animais por meio 82

de orientação para a guarda responsável. A resolução do CFMV recomenda que quando os animais precisam ser submetidos a condições estressantes, que provoquem certo grau de sofrimento e por período transitório, é mandatória a adoção de medidas de mitigação, a exemplo das boas práticas no transporte de animais vivos. Também são considerados maus-tratos manter animais em número acima da capacidade de provimento de cuidados para lhes assegurar boas condições de saúde e de bem-estar, exceto nas situações transitórias de transporte e comercialização; e submetê-los a atividades excessivas por coerção ou esforço físico por mais de quatro horas, sem descanso, água ou alimento. Nesse rol também está contemplada a alimentação forçada, técnica para provocar a degeneração gordurosa do fígado para a produção de foie gras. A partir de agora, com a resolução, a prática entra na categoria de maus-tratos Denúncia O profissional que constatar a prática de crueldade, abuso ou maus-tratos ou suspeitar disso deve registrá-la em prontuário médico, indicando responsável, local, data, fatos e situações, e finalizando com assinatura, carimbo e data do documento. Além disso, o profissional deve enviar o relatório médico ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) de sua circunscrição, por qualquer meio físico ou eletrônico, para registro temporal, podendo o CRMV enviar o respectivo documento para as autoridades competentes. E se a pessoa envolvida na suspeita for médico-veterinário ou zootecnista? 
A lei é para todos e não exime o médico-veterinário ou o zootecnista de arcar com as consequências éticas, além de penais, pois ambos os profissionais dispõem de códigos de ética que proíbem a prática de maus-tratos e os obriga a preservar o bem-estar animal. Nesse caso, além de enviar a denúncia aos órgãos competentes (polícia, ministério público, Ibama e secretarias de Meio Ambiente), ela deve ser encaminhada para o

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CRMV do estado em que a ocorrência foi observada, uma vez que esses são os organismos responsáveis por apurar os fatos e fiscalizar o exercício legal da profissão nos estados. Após a apuração, se houver indícios de maus-tratos, o CRMV abrirá um processo ético-profissional. Competem ao CRMV no qual o profissional está inscrito o julgamento dos processos disciplinares, em primeira instância, bem como a aplicação das penalidades previstas no artigo 33 da Lei nº 5.517. Ao Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) cabe julgar os processos disciplinares em segunda e última instância, a partir dos recursos interpostos contra decisões proferidas pelos CRMVs, conforme Resolução CFMV nº 875, de 12 de dezembro de 2007, que aprova o Código de Processo Ético-Profissional.

Material de orientação produzido pelo CFMV para encaminhamento de denúncias de maus-tratos contra animais

Fonte: Assessoria de Comunicação do CFMV

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CFMV RESOLUÇÃO Nº 1236, DE 26 DE OUTUBRO DE 2018 Define e caracteriza crueldade, abuso e maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos veterinários e zootecnistas e dá outras providências. O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA – CFMV, no uso das atribuições que lhe são conferidas na alínea “f” e “h”, do artigo 16, da Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968, e o artigo 4º, da Lei nº 5.550, de 4 de dezembro de 1968; considerando a proibição de crueldade contra animais expressa no artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; considerando o artigo 32, da Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, de Crimes Ambientais, que proíbe atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais nativos ou exóticos, domésticos, domesticados ou silvestres; considerando o art. 29 do Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008, que trata da prática de ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos; considerando a EC nº 96/2017 e a Lei Federal nº 13.364/2016, que tratam o rodeio e a vaquejada, como expressões artístico-culturais elevando-as à condição de manifestação cultural nacional e de patrimônio cultural imaterial; considerando as atribuições dos Conselho Federal e Regionais de Medicina Veterinária de fiscalizar o exercício da Medicina Veterinária e da Zootecnia, bem como orientar, supervisionar e disciplinar as atividades dos profissionais, sempre com a finalidade de promover o bem-estar animal e em respeito aos direitos e interesses da sociedade; considerando a Resolução CFMV nº 1.138, de 16 de dezembro de 2016, que aprova o Código de Ética do Médico Veterinário, e a Resolução CFMV nº 413, de 10 de dezembro de 1982, que aprova o Código de Deontologia e de Ética Profissional Zootécnico, e norteiam comportamentos baseados na manutenção da saúde e na promoção do bem-estar animal; considerando as competências dos zootecnistas e as privativas dos médicos veterinários relacionadas à criação, manejo, produção, reprodução, atendimento clínico e tratamentos clínicos e cirúrgicos dos animais, respeitadas as respectivas áreas de atuação; considerando a falta de definição para a caracterização de “crueldade”, “abuso” e “maus tratos” aos animais na legislação para que seja o entendimento na prática da Medicina Veterinária e Zootecnia, principalmente nas situações que envolvam a perícia e julgamentos executados pelos profissionais; considerando que os médicos veterinários são os profissionais capacitados para identificar, caracterizar e diagnosticar casos de crueldade, abuso e maustratos em animais; considerando que os zootecnistas são os profissionais capacitados para identificar e caracterizar casos de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais; considerando a necessidade de orientar o pessoal envolvido nos locais sob responsabilidade técnica de médico veterinário ou zootecnista no que se refere a necessidade de prevenir e evitar a crueldade, abuso e os maus-tratos aos animais. considerando que os animais devem ser tratados observando-se os princípios de ética e bem-estar animal; considerando que bem-estar animal é um conceito que envolve aspectos fisiológicos, psicológicos, comportamentais e do ambiente sobre cada indivíduo; e, considerando a crescente preocupação da sociedade quanto ao bem-estar animal e o impedimento ético e legal de crueldade, abuso e maus-tratos contra animais. RESOLVE: Art. 1º - Instituir norma reguladora relativa à conduta do médico veterinário e do zootecnista em relação a constatação de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais. Art. 2º - Para os fins desta Resolução, devem ser consideradas as seguintes definições: I - animais vertebrados: o conjunto de indivíduos pertencentes ao reino animal, filo dos Cordados, subfilo dos Vertebrados, incluindo indivíduos de quaisquer

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espécies domésticas, domesticadas ou silvestres, nativas ou exóticas; II - maus-tratos: qualquer ato, direto ou indireto, comissivo ou omissivo, que intencionalmente ou por negligência, imperícia ou imprudência provoque dor ou sofrimento desnecessários aos animais; III - crueldade: qualquer ato intencional que provoque dor ou sofrimento desnecessários nos animais, bem como intencionalmente impetrar maus tratos continuamente aos animais; IV - abuso: qualquer ato intencional, comissivo ou omissivo, que implique no uso despropositado, indevido, excessivo, demasiado, incorreto de animais, causando prejuízos de ordem física e/ou psicológica, incluindo os atos caracterizados como abuso sexual; V - abate: conjunto de procedimentos utilizados nos estabelecimentos autorizados para provocar a morte de animais destinados ao aproveitamento de seus produtos e subprodutos, baseados em conhecimento científico visando minimizar dor, sofrimento e/ou estresse; VI - transporte – deslocamento do(s) animal(is) por período transitório no qual subsiste com ou sem suporte alimentar e/ou hídrico; VII - comercialização – situação transitória de exposição de animais para a venda no qual subsiste com ou sem suporte alimentar e/ou hídrico; VIII - depopulação: procedimento para promover a eliminação de determinado número de animais simultaneamente, visando minimizar sofrimento, dor e/ou estresse, utilizado em casos de emergência, controle sanitário e/ou ambiental; IX - eutanásia: indução da cessação da vida, por meio de método tecnicamente aceitável e cientificamente comprovado, realizado, assistido e/ ou supervisionado por médico veterinário, para garantir uma morte sem dor e sofrimento ao animal; X - animais sinantrópicos – animais que se adaptaram a viver junto ao homem, a despeito da vontade deste. Podem causar prejuízos econômicos, transmitir doenças, causar agravos à saúde do homem ou de outros animais, portanto, são considerados, em muitos casos, indesejáveis e problemas de saúde pública e/ou ambiental; XI - corpo de delito – conjunto de vestígios materiais resultantes da prática de maus-tratos, abuso e/ou crueldade contra os animais; XII - contenção física – uso de mecanismos mecânicos ou manuais para restringir a movimentação visando a proteção do animal ou de terceiros durante procedimentos; e, XIII - contenção química – uso de fármacos analgésicos, anestésicos ou psicotrópicos, cujo uso é de competência exclusiva de médico veterinário, para restringir a movimentação visando a proteção do animal ou de terceiros durante procedimentos. Art. 3º - Constitui-se em infração ética a prática, direta ou indiretamente, de atos de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais, por médico veterinário ou zootecnista. Art. 4º - É dever do médico veterinário e do zootecnista manter constante atenção à possibilidade da ocorrência de crueldade, abuso e maus-tratos aos animais. § 1° - O médico veterinário e o zootecnista têm o dever de prevenir e evitar atos de crueldade, abuso e maus-tratos, recomendando procedimentos de manejo, sistemas de produção, criação e manutenção alinhados com as necessidades fisiológicas, comportamentais, psicológicas e ambientais das espécies. § 2° - O médico veterinário deve registrar a constatação ou suspeita de crueldade, abuso ou maus-tratos no prontuário médico, parecer ou relatório, e o zootecnista, em termo de constatação, parecer ou relatório, para se eximir da participação ou omissão em face do ato danoso ao(s) animal(is), indicando responsável, local, data, fatos e situações pormenorizados, finalizando com sua assinatura, carimbo e data do documento. Tal documento deve ser remetido imediatamente ao CRMV de sua circunscrição, por qualquer meio físico ou eletrônico, para registro temporal, podendo o CRMV enviar o respectivo documento para as autoridades competentes. § 3° - Caso a constatação ou suspeita de crueldade, abuso e/ou maus-tratos recaia sobre médico veterinário ou zootecnista, a comunicação deve ser feita

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também ao CRMV pertinente ao(s) profissional(is). Art. 5º - Consideram-se maus tratos: I - executar procedimentos invasivos ou cirúrgicos sem os devidos cuidados anestésicos, analgésicos e higiênico-sanitários, tecnicamente recomendados; II - permitir ou autorizar a realização de procedimentos anestésicos, analgésicos, invasivos, cirúrgicos ou injuriantes por pessoa sem qualificação técnica profissional; III - agredir fisicamente ou agir para causar dor, sofrimento ou dano ao animal; IV - abandonar animais; deixar o tutor ou responsável de buscar assistência medico-veterinária ou zootécnica quando necessária; V - deixar de orientar o tutor ou responsável a buscar assistência médico veterinária ou zootécnica quando necessária; VI - não adotar medidas atenuantes a animais que estão em situação de clausura junto com outros da mesma espécie, ou de espécies diferentes, que o aterrorizem ou o agridam fisicamente; VII - deixar de adotar medidas minimizadoras de desconforto e sofrimento para animais em situação de clausura isolada ou coletiva, inclusive nas situações transitórias de transporte, comercialização e exibição, enquanto responsável técnico ou equivalente; VIII - manter animal sem acesso adequado a água, alimentação e temperatura compatíveis com as suas necessidades e em local desprovido de ventilação e luminosidade adequadas, exceto por recomendação de médico veterinário ou zootecnista, respeitadas as respectivas áreas de atuação, observandose critérios técnicos, princípios éticos e as normas vigentes para situações transitórias específicas como transporte e comercialização;

IX - manter animais de forma que não lhes permita acesso a abrigo contra intempéries, salvo condição natural que se sujeitaria; X - manter animais em número acima da capacidade de provimento de cuidados para assegurar boas condições de saúde e de bem-estar animal, exceto nas situações transitórias de transporte e comercialização; XI - manter animal em local desprovido das condições mínimas de higiene e asseio; XII - impedir a movimentação ou o descanso de animais; XIII - manter animais em condições ambientais de modo a propiciar a proliferação de microrganismos nocivos; XIV - submeter ou obrigar animal a atividades excessivas, que ameacem sua condição física e/ou psicológica, para dele obter esforços ou comportamentos que não se observariam senão sob coerção; XV - submeter animal, observada espécie, a trabalho ou a esforço físico por mais de quatro horas ininterruptas sem que lhe sejam oferecidos água, alimento e descanso; XVI - utilizar animal enfermo, cego, extenuado, sem proteção apropriada ou em condições fisiológicas inadequadas para realização de serviços; XVII - transportar animal em desrespeito às recomendações técnicas de órgãos competentes de trânsito, ambiental ou de saúde animal ou em condições que causem sofrimento, dor e/ou lesões físicas; XVIII - adotar métodos não aprovados por autoridade competente ou sem embasamento técnico-científico para o abate de animais; XIX - mutilar animais, exceto quando houver indicação clínico-cirúrgica veterinária ou zootécnica;

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CFMV

XX - executar medidas de depopulacão por métodos não aprovados pelos órgãos ou entidades oficiais, como utilizar afogamento ou outras formas cruéis; XXI - induzir a morte de animal utilizando método não aprovado ou não recomendado pelos órgãos ou entidades oficiais e sem profissional devidamente habilitado; XXII - utilizar de métodos punitivos, baseados em dor ou sofrimento com a finalidade de treinamento, exibição ou entretenimento; XXIII - utilizar agentes ou equipamentos que inflinjam dor ou sofrimento com o intuito de induzir comportamentos desejados durante práticas esportivas, de entretenimento e de atividade laborativa, incluindo apresentações e eventos similares, exceto quando em situações de risco de morte para pessoas e/ou animais ou tolerados enquanto estas práticas forem legalmente permitidas; XXIV - submeter animal a eventos, ações publicitárias, filmagens, exposições e/ou produções artísticas e/ou culturais para os quais não tenham sido devidamente preparados física e emocionalmente ou de forma a prevenir ou evitar dor, estresse e/ou sofrimento; XXV - fazer uso e/ou permitir o uso de agentes químicos e/ou físicos para inibir a dor ou que possibilitam modificar o desempenho fisiológico para fins de participação em competição, exposições, entretenimento e/ou atividades laborativas. XXVI - utilizar alimentação forçada, exceto quando para fins de tratamento prescrito por médico veterinário; XXVII – estimular, manter, criar, incentivar, utilizar animais da mesma espécie ou de espécies diferentes em lutas; XXVIII - estimular, manter, criar, incentivar, adestrar, utilizar animais para a prática de abuso sexual; XXIX - realizar ou incentivar acasalamentos que tenham elevado risco de problemas congênitos e que afetem a saúde da prole e/ou progenitora, ou que perpetuem problemas de saúde pré-existentes dos progenitores. § 1º - A eutanásia, o abate e a depopulação para fins de controle sanitário, especialmente de animais sinantrópicos, não são considerados maus-tratos, desde que seguidas as normas e recomendações técnicas vigentes para as referidas práticas. § 2º - Sistemas produtivos ou de experimentação (ensino e pesquisa) que utilizam alojamento que restringem severamente a movimentação e expressão de comportamentos naturais, a exemplo gaiolas, celas, baias e práticas de manejo, serão tolerados enquanto estes sistemas forem legalmente permitidos. § 3º - O médico veterinário ou o zootecnista, observados os respectivos

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MV Francisco Cavalcanti de Almeida Presidente CRMV-SP 1.012

MV Helio Blume Secretário-Geral em Exercício CRMV-DF 1.551

Marcação em orelha de felinos pode ser procedimento técnico viável

m notícia publicada em 20 de agosto de 2018 no Portal do FMV, o CFMV se posicionou a respeito da questão da marcação de orelha em felinos que passam por castração visando controle populacional. Felinos abandonados e capturados para castração costumam ser marcados com pequenos cortes na ponta da orelha, sinalizando que já passaram pelo processo de esterilização. O objetivo é facilitar o reconhecimento visual dos gatos castrados e evitar que sejam desnecessariamente recapturados para outra intervenção. O CFMV entende que a marcação na orelha de felinos feita junto com o processo da castração, realizada por médico-veterinário, com o animal ainda anestesiado, em 86

campos de atuação, poderá identificar outros casos de crueldade, abuso e maus-tratos, além dos previstos nos incisos deste artigo. § 4º - Cabe ao médico veterinário ou ao zootecnista a autonomia de atuação de suas atividades, respeitando suas respectivas atribuições, ainda que haja prejuízo transitório para o bem-estar animal, desde que com o exclusivo propósito de protegê-lo e/ou curá-lo, e no menor tempo possível para que seja reestabelecida uma boa condição de bem-estar, devendo documentar todo o período de intervenção. § 5º - O médico veterinário e o zootecnista têm o dever de orientar os tutores ou proprietários de animais sobre condutas que implicam em maustratos, abusos e crueldade e suas consequências, bem como sobre sua responsabilidade quanto ao bem-estar dos animais e suas necessidades. § 6º - A caracterização de crueldade, abuso e maus-tratos depende da avaliação da duração e do grau de severidade, quando houver intenção de provocar sofrimento ou sempre que houver o comprometimento de um ou mais dos quatro conjuntos de indicadores. Art. 6º - Em casos não previstos no caput do artigo 5º, os médicos veterinários procederão ao diagnóstico de crueldade, abuso e maus-tratos mediante exame de corpo de delito consubstanciado em laudo pericial ou parecer técnico, podendo incluir exames necroscópicos ou, em caso de animais vivos, a avaliação da saúde física e comportamental e do grau de bem-estar dos animais, considerando os conjuntos de indicadores nutricionais, ambientais, de saúde e comportamentais, validados em protocolos reconhecidos internacionalmente. Art. 7º - Em casos não previstos no caput do artigo 5º, os zootecnistas procederão a constatação de crueldade, abuso e maus-tratos mediante termo de constatação, parecer ou relatório, considerando os conjuntos de indicadores nutricionais, ambientais, de saúde e comportamentais, validados em protocolos reconhecidos internacionalmente. Art. 8º - A não observância do disposto nesta Resolução implicará em infração ética, estando o profissional sujeito às penalidades previstas nos Códigos de Ética das respectivas profissões, sem prejuízo das sanções cíveis, penais ou administrativas, no que couber. Art. 9º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

ambiente cirúrgico apropriado e seguindo os protocolos científicos corretos, é um procedimento técnico viável, não configura maus-tratos, nem ato de crueldade. O Conselho não considera que seja mutilação estética, tanto que não o inclui no rol de procedimentos proibidos, previstos na Resolução CFMV nº 1027, de 10 de maio de 2013. Cabe, no entanto, que os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária fiscalizem os locais onde ocorrem as cirurgias para avaliar se os estabelecimentos de castração possuem médicos-veterinários como responsáveis técnicos. Fonte: http://portal.cfmv.gov.br/noticia/index/id/5808/secao/6

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X Leishvet

o dia 20 de outubro passado, em Madri, na Espanha, ocorreu o Simpósio Leishvet, como parte da XII Southern European Veterinary Conference e do o 53 Congresso Nacional Avepa, celebrados entre os dias 18 e 20 de outubro. Os palestrantes do Simpósio Leishvet foram o prof. Gad Baneth, da Hebrew University, Rehovot, Israel; o prof. Patrick Bourdeau, da École Nationale Vétérinaire, Agroalimentaire et de l’Alimentation Nantes-Atlantique, França; o prof. Luís Cardoso, da Universidade de Trásos-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal; a dra. María Ángeles Daza González, da Universidad Complutense de Madrid, Espanha; o prof. Lluis Ferrer, da Tufts Cummings School of Veterinary Medicine, Massachusetts, Estados Unidos; o prof. Rogelio López-Vélez, da Unidad de Referencia Nacional para Enfermedades Tropicales Importadas do Hospital Universitario Ramón y Cajal, Madri, Espanha; a profa. Guadalupe Miró, da Universidad Complutense de Madrid, Espanha; o prof. Fábio Nogueira, da Fundação Educacional de Andradina, Brasil, e do Grupo Brasileish; o prof. Gaetano Oliva, da Università degli Studi di Napoli, Itália; a profa. Maria Grazia Pennisi, da Università degli Studi di Messina, Itália; e a profa. Laia Solano-Gallego, da Universitat Autónoma de Barcelona, Espanha. O Simpósio Leishvet foi muito produtivo, reforçando a

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Evento reuniu grandes especialistas

importância de se manter o intercâmbio entre os pesquisadores de todo o mundo e em especial com o grupo Brasileish. A palestra de Patrick Bourdeau a respeito de novos reservatórios foi muito importante. Também se comemorou o aniversário de 10 anos do Leishvet.

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

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de 07 a 10 de abril

Phil Fox Cardiologia

Ann Hohenhausen Oncologia

Charlotte Lacroix Administração clinica

Eric García Marketing digital

Melinda Merck CSI animal

Deborah Stone Bem-estar Animal / Liderança Empresarial

Urs Giger Hematologia

Brook Niemiec Palestrante WSAVA Odontologia

Terry Curtis Etologia clínica

Tom Schubert Neurologia

Ross Palmer Cirurgia ortopédica

Natalia Vologzhanina Oftalmologia

Leann Kuebelbeck Cirurgia

Earl Gaughan Medicina interna

Isabelle Kilkoyne Emergências

Sharon Spier Medicina equina

Diego Calderón Gestão e Produção

Raúl Guerrero Segurança Alimentar

P rograma científico em:

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Especialidades Virbac Skin Internacional reuniu grandes nomes da dermatologia veterinária mundial

A

Virbac, reafirmando seu pioneirismo na dermatologia veterinária e sua imagem como empresa parceira do médico-veterinário, trouxe este ano a segunda versão do Virbac Skin Internacional. O evento, já reconhecido e requisitado pelos profissionais da área, ocorreu nos dias 19 e 20 de outubro, na cidade de Itu, interior de São Paulo. Estiveram presentes mais de 500 veterinários de diferentes especialidades, como clínicos gerais, patologistas clínicos, dermatólogos e dermatologistas, que lotaram a sala do evento durante os dois dias. O motivo principal de tanta procura deveu-se principalmente à grade científica do evento, que contou com palestras de grandes nomes da dermatologia veterinária mundial: • o dr. Carlos Eduardo Larsson – fundador e chefe do serviço de dermatologia veterinária do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, professor dessa mesma instituição por mais de 30 anos, coautor do Tratado de medicina externa: dermatologia veterinária e autor de diversos artigos – abordou o tema das doenças autoimunes da pele, em especial o pênfigo foliáceo, e trouxe importantes informações e dicas de como diferenciar clinicamente essa enfermidade da foliculite bacteriana superficial, já que ambas podem apresentar, em comum, o sinal clínico de pústulas; • o dr. Ronaldo Lucas – que junto com o dr. Larsson escreveu o Tratado de medicina externa: dermatologia veterinária, já foi contratado do serviço de dermatologia veterinária do Hovet da FMVZ/USP, é professor de clínica médica da Universidade Anhembi Morumbi

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e coordena o curso de especialização em dermatologia da Equalis – Educação em Medicina Veterinária – tirou muitas dúvidas sobre otite em felinos, esclarecendo as diferenças dessa doença em gatos e em cães. Além disso, brilhou junto com a dra. Romeika Reis Lima, da clínica veterinária Canis & Catus, que atua na área de dermatologia veterinária há mais de 15 anos, em uma palestra conjunta, onde apresentaram casos clínicos desafiadores no formato de questionário, com a participação ativa dos ouvintes. O evento contou ainda com a presença internacional da dra. Sandra Koch, da Universidade de Minnesota (EUA), e do dr. Thierry Olivry, da Universidade da Carolina do Norte (EUA). O dr. Olivry abordou assuntos relativos a sua maior especialidade: alergias. Falou sobre a relação entre as alergias alimentares e a dermatite atópica canina, analisando os aspectos imunológicos e as maiores atualidades na terapia tópica e sistêmica dessa doença, além de abordar com profundidade a terapia imunossupressora em medicina veterinária. A dra. Sandra Koch, por sua vez, abriu e fechou o evento com chave de ouro, passeando por diferentes temas como piodermites multirresistentes, dermatoses isquêmicas e paraneoplásicas, dermatoses atípicas em gatos, testes alérgicos e imunoterapia, tema ainda muito controverso e pouco conhecido no Brasil. Ao abordar temas atuais e relevantes e alcançar um grande número de médicos-veterinários, o evento recebeu respostas muito favoráveis nas pesquisas de satisfação, e contribuiu mais uma vez para o desenvolvimento da profissão no país.

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Gestão, marketing & estratégia

Abscent / ShutterStock

Gratidão

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ompartilhamos um enorme sentimento de GRATIDÃO a tudo e a todos, por todos os acontecimentos, em sua inteireza, neste ano que agora se encerra. GRATIDÃO a nossos parceiros e clientes, aos nossos consultores, aos nossos leitores, a todos os colegas veterinários, aos nossos amados animais e a todos que dedicaram e dedicam seu precioso tempo à construção de uma revista melhor, permitindo sua continuidade. Saudamos a todos em reconhecimento a esta imensa GRATIDÃO pelo passado, pelo presente e pelo futuro, que estamos semeando desde sempre, no nosso dia-adia, com a verdadeira intenção de sermos úteis e transformadores, para que todos possam vibrar juntos os sentimentos da alegria, da felicidade, do sorriso, do amor, da iluminação. Votos sinceros para que todos nós alcancemos o verdadeiro estado da felicidade, buscando sempre a união e o equilíbrio perfeitos entre o espírito, a mente e o corpo. Que a espiritualidade seja a força motora da transformação, em sintonia com a nova era e a vibração do universo. Que a elevação espiritual de cada um possa engrandecer as relações com gestos simples, mas de grande 92

poder transformador, como a gentileza, o elogio, a gratidão, o perdão e o servir. Agindo com serenidade, sabedoria, sorriso, silêncio e sentimentos positivos, façamos com que isso se reflita em nós como ânimo, amor, apreço, amizade, alegria, aceitação e aproximaçao, e obteremos como resultado uma longevidade saudável, com prosperidade, harmonia e saúde. Nós da revista Clínica Veterinária estamos virando mais uma página da nossa história e iniciando um novo ciclo, buscando o amparo de princípios e valores espiritualistas, e reafirmando nossa intenção de sermos úteis a todos os colegas, clientes, colaboradores, fornecedores e aos animais, promovendo a felicidade de todos. Convidamos todos a refletir sobre o exposto, mas, principalmente a praticar, ir para a ação efetiva. Com certeza, veremos então que o universo conspira a nosso favor, positivamente. É esse o nosso sincero desejo.

Celso Morishita

Gestor empresarial espiritualista celsomorishita@yahoo.com

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018


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Lançamentos Novidade no mercado pet, Vetlima chega à América Latina A Vetlima é uma indústria farmacêutica fundada em 1972, com sede em Portugal e vasta experiência no mercado europeu. Já presente em outras partes do mundo (Ásia, África e Oriente Médio), agora é a vez de os brasileiros e latino-americanos conhecerem a qualidade e a tecnologia atestadas pelos vários órgãos internacionais, que resultaram em diversos prêmios e certificações, tais como: PME Líder, certificação ISO 9001:2008 e Good Manufacturing Practice (GMP), entre outros. A empresa também conta com o apoio do governo de Portugal e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Social. No mercado global, a empresa atua em três frentes: nutrição animal, saúde animal e biossegurança. A implantação da Vetlima Latin America será faseada e, no primeiro momento, trará ao mercado a linha para cães e gatos Nutrapet, a linha Avieuro para aves ornamentais e o sucesso de vendas Easy Pill. Quem nunca teve dificuldades para dar a seu cão ou gato aquele comprimido prescrito pelo médico-veterinário? O Easy Pill é um snack de alta palatabilidade em formato de uma massa modelável. Assim, torna-se possível envolver o medicamento prescrito com o tablete e dar ao animal como se fosse uma recompensa. Além disso, também podemos aplicar medicamentos em

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pó ao Easy Pill, já que a massa tem alta capacidade de absorção. Segundo o sócio-administrador da empresa, dr. Mauricio Carlos Solorzano Arreaza, médico-veterinário e proprietário de um hospital veterinário no Rio de Janeiro: “Não conheci uma empresa que esteja tão próxima do seu próprio slogan, “a better way to animal health”. Nossa preocupação sempre é oferecer o melhor, seja pela qualidade dos produtos, pelo menor impacto possível ao meio ambiente ou pela busca constante da tecnologia mais avançada possível, entre outras características”.

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Divulgação Oficial

Colaboração

Montadora/Apoio Local

Evento Paralelo

Organização

Local


VET AGENDA

ANESTESIOLOGIA

CLÍNICA

IMAGENOLOGIA

14 a 16 de novembro

10 e 11 de novembro

7 a 9 de novembro

XIII Congresso de Anestesiologia Veterin-ária

XVIII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina

NAUS - Capacitação em Ultrassonografia Abdominal Avançada em pequenos animais (nível 2)

Brasilia - DF

http://congressocbav.com.br

ANIMAIS SELVAGENS 24 e 25 de novembro Porto Alegre - RS

Intensivo de clínica e emergência em aves silvestres e exóticas http://goo.gl/KknXQv

CARDIOLOGIA 7 a 9 de novembro

Campos do Jordão - SP

III CBCVET

https://goo.gl/YZzkCz

Belo Horizonte - MG

http://brasileish.com.br

10 de novembro São Paulo - SP

5º Simpósio de Clínica Médica e Nutrologia PremieRpet® https://goo.gl/hCy1QL

2019

15 março a 7 junho

Encontro Anual de Etologia

30 de novembro a 1 de dezembro São Paulo - SP

Curso Cirurgia em Felinos https://goo.gl/J8oVTd

https://goo.gl/teuqcL

DERMATOLOGIA 29 de novembro Campinas - SP Papo Vet - Abordagem em Cães cp, Dermatopatias Crônicas https://goo.gl/Z3S2qS

Ribeirão Preto - SP

12 a 17 de novembro Goiânia - GO

Curso Básico de Ultrassonografia https://goo.gl/v3ZnBd

18 a 20 de novembro Goiânia - GO

Curso Avançado de Ultrassonografia https://goo.gl/5cENop

21 a 30 de novembro São Paulo - SP

2 a 4 de dezembro

10 de novembro

Curso de confecção de próteses utilizando tecnologia de impressão 3D

Vet Conferência – 1º Meeting De Gestão Da Abhv

23 a 25 de novembro

Curitiba - PR

https://goo.gl/wvZBCG

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GESTÃO & MARKETING São Paulo - SP

https://goo.gl/hCy1QL

Curso de ultrassonografia em pequenos animais https://goo.gl/9KUr5K

Capacitação em Ultrassonografia Abdominal Avançado em pequenos animais (nível I)

NAUS – Capacitação em Ultrassonografia Abdominal em pequenos animais (módulo básico)

BEM-ESTAR ANIMAL

Jaboticabal - SP

http://jiufatesa.com.br

http://bit.ly/2JePhNa

Ouro Preto - MG

23 a 25 de novembro

5 a 8 de dezembro

X Jornada Internacional de Ultrassonografia

Ultrassonografia e especialidades veterinárias

COMPORTAMENTO

https://goo.gl/sDDyGy

Ribeirão Preto - SP

https://goo.gl/Pnjakx

XVIII curso teórico-prático de eletrocardiografia em cães e gatos

CIRURGIA

9 de novembro

9 de novembro

Curso de aperfeiçoamento em clínica médica de cães e gatos

19 a 22 de novembro

https://goo.gl/HronZz

https://goo.gl/P1Scrx

Jaboticabal - SP

23 a 30 de novembro Jaboticabal - SP

São Paulo - SP

Ressonância magnética e tomografia computadorizada em pequenos animais: casos clínicos

https://goo.gl/865rx4

Botucatu - SP

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

São Paulo - SP

https://goo.gl/JsuUEw

MEDICINA FELINA 19 a 21 de novembro Viña del Mar - Chile

Panamericanos de Medicina Felina 2018 https://goo.gl/fEcLhc

MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO 23 e 24 de maio de 2019 João Pessoa - PB Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo 2019 https://goo.gl/GbgnxR

MEDICINA VETERINÁRIA INTEGRATIVA 24 e 25 de novembro São Paulo - SP

Perícia Forense Veterinária https://goo.gl/DAaZeY


Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

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VET AGENDA

2019

23 a 25 de maio São Paulo - SP

II CIMVI

https://goo.gl/RACFBT

NEUROLOGIA 10 e 11 de novembro Olinda - PE Simpósio Internacional de Neurologia Clínica Veterinária – Petnor http://simposiopetnor.com.br/ 2019

23 de fevereiro a 21 de julho Jaboticabal - SP

IV Curso Teórico-Prático De Neurologia E Neurocirurgia De Cães E Gatos https://goo.gl/g8NnEr

ONCOLOGIA 10 a 11 de novembro Jaboticabal - SP

Módulo 7 (24 e 25 de agosto de 2019):

Cirurgias do quadril:

Módulo 8 (21 e 22 de setembro de 2019):

Cirurgias ortopédicas corretivas e artrodeses.

Módulo 9 (19 e 20 de outubro de 2019):

Cirurgias do cotovelo e ombro.

Módulo 10 (23 e 24 de novembro de 2019):

Complicações e enxertia.

Módulo 11 (07 e 08 de dezembro de 2019):

Reabilitação, dor e anestesia em pacientes ortopédicos.

Módulo 12 (18 e 19 de janeiro de 2020):

Fraturas e luxações da coluna vertebral. https://goo.gl/xekVzS

14 a 16 de junho de 2019 Jaboticabal - SP

I Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia de Pequenos Animais http://www.funep.org.br

SAÚDE PÚBLICA

14 a 16 de novembro

http://darwinday.org

XIII Congresso Brasileiro de Anestesiologia Veterinária

22 e 23 de fevereiro

19 a 22 de novembro

https://goo.gl/Qeboep

Brasília - DF

http://congressocbav.com.br

Ouro Preto - MG

27 de fevereiro a 2 de março

26 e 27 de novembro

contacto.convetex@gmail.com

http://www.etologiabrasil.org.br

Montevideo - Uruguay

Congreso Multidisciplinario de Ciencias Veterinarias https://goo.gl/s2BNw7

2019

28 a 30 de março

2 a 4 de abril

https://goo.gl/kBuVcw

24 a 26 de novembro Belém - PA

Curso de oncologia em cães e gatos http://anclivepa-pa.com.br

ORTOPEDIA 30 de novembro e 1 de dezembro São Paulo - SP CIPO – Módulo de Ortopedia de Hastes e Placas Bloqueadas www.cipo.vet.br 2019

Fevereiro de 2019 a Janeiro de 2020 Jaboticabal - SP

IV Curso de aprimoramento em ortopedia de cães e gatos

Módulos: Módulo 1 (23 e 24 de fevereiro de 2019):

Introdução e princípios da cirurgia ortopédica. Módulo 5 (29 e 30 de junho de 2019):

Fixadores esqueléticos externos. Módulo 6 (27 e 28 de julho de 2019):

Cirurgias do joelho.

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16 a 19 de maio de 2019 Araçatuba - SP

XXV Semana de Estudos de Medicina Veterinária – SEMEV – Araçatuba 2019 http://fb.com/semev.aracatuba

FEIRAS & CONGRESSOS 6 a 8 de novembro Rio de Janeiro - RJ

VII Congresso Estadual de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais – Rio Vet http://riovet.rio.br

7 a 9 de novembro

Campos do Jordão - SP

Feira Super Pet

http://feirasuperpet.com.br

Brasília - DF

http://anclivepadf.com.br

AGENDA INTERNACIONAL 24 e 25 de novembro de 2018

Las Vegas, Nevada - EUA

2019 ACVS Surgery Summit https://goo.gl/CfU8GV

17 a 19 de outubro

Houston, Texas - EUA

2019 Veterinary Cancer Society Annual Conference https://goo.gl/vP5tvS

26 a 27 de abril

Zaragoza - Espanha

XVIII Congreso de Especialidades Veterinarias

26 a 29 de março

4 a 7 de dezembro de 2018 Valdivia, Chile

BA / ISAE 2018

https://goo.gl/A4Z3Q1 2019

19 a 23 de janeiro

Orlando, Florida - EUA

VMX: Veterinary Meeting & Expo http://navc.com/conference

https://goo.gl/9PMwGg

http://brasileish.com.br

16 a 19 de outubro

https://goo.gl/6drMLq

40° Reunión Científica AVEPA – GMCAE. Exóticos

10 e 11 de novembro XVIII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina

Toronto - Canadá

https://www.zaragoza.es/sede/servicio/ cultura/evento/7676

22 e 23 de fevereiro

Belo Horizonte - MG

http://tlavc-peru.org/index.php

Illetas, Balearic Islands, Spain

III Congresso Brasileiro de Cardiologia Veterinária http://www.sbcv.org.br

Latin American Veterinary Conference – LAVC 2019

http://goo.gl/muyX8t

Campinas - SP

40º Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa)

SEMANAS ACADÊMICAS

Lima, Peru

World Small Animal VeterinaryAssociation Congress

XVIII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina

O Estado da Arte da Oncologia Veterinária e Perspectivas Futuras - 2 a edição

7 a 9 de abril

http://inrio.vet.br

12 e 13 de novembro

http://brasileish.com.br

Convetex - 1o congreso de medicina veterinaria de animales exoticos

16 a 19 de julho

Vets In Rio

16 a 18 de maio

São Paulo - SP

Santiago - Chile

Rio de Janeiro - RJ

10 e 11 de novembro Belo Horizonte - MG

III The European Congress of Veterinary Nephrology

XXXVI Encontro Anual de Etologia da SBEt

3º Curso de aperfeiçoamento em cirurgia oncológica e reconstrutiva em cães e gatos https://goo.gl/sbYPQU

Bucuresti, Romania

Bucaresti - Romênia

International Congress of Veterinary Nephrology 12 de fevereiro

Newark, Delaware - EUA

International Darwin Day

Clínica Veterinária, Ano XXIII, n. 137, novembro/dezembro, 2018

2020

Tóquio - Japão

2020 Annual Conference of the Veterinary Cancer Society (VCS) http://vetcancersociety.org

23 a 26 de setembro Varsóvia - Polônia

World Small Animal Veterinary Association Congress http://goo.gl/ggz57A

20 a 24 de outubro Sydney - Austrália

9th World Congress of Veterinary Dermatology http://www.vetdermsydney.com

21 a 24 de outubro

Washington, DC - EUA

2020 ACVS Surgery Summit https://goo.gl/R5Lv4t


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