Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
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Journal of continuing education for small animal veterinarians
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Kalhua, fêmea da raça labrador, fotografada em banheira no VetSpa, por Arthur Barretto www.vetspa.com.br
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A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart Vale Verde Parque Ecológico mamiferosecia@uol.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com
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Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br
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Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br
Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa FMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão UMESP, FESB e FAJ mouraogb@hotmail.com Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP; ALBA Alangarve@aol.com Jose Fernando Ibañez UniFMU, UNIBAN fe_ibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br
Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br
Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br
Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br
Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com
Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com
Fernando C. Maiorino Lab&Vet Diag. e Consult. Vet. fcmaiorino@uol.com.br
Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com
Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br
Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br
Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br
Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br
Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMVZ/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves FCAV/UNESP/Jaboticabal rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes CENA/USP/Piracicaba sadyzola@usp.com Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco Santos FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Depto. Meio Ambiente Foz Iguaçu cubas@foznet.com.br
Eduardo Alberto Tudury
Índice
Oncologia - 34
Compressão da cauda eqüina em cão fila brasileiro com mieloma múltiplo - relato de caso
José Guilherme Xavier
Cauda equina compression in fila brasileiro dog with multiple myeloma - case report Compresión de la cola de caballo en perro fila brasileiro con mieloma múltiple - relato de caso
Oncologia - 40
Carcinoma inflamatório de mama em cadela - relato de caso
Clínica médica - 46
Abordagem clínica e manejo conservativo do gato constipado
Clinical approach and conservative management of constipated cats Abordaje clínico y manejo conservativo del gato con estreñimiento
Clínica médica - 56
Radiografia lateral de abdômen de felino com retenção fecal sem dilatação do cólon
Tosse em cães e gatos: o que pensar?
Cough in dogs and cats: what to think? Qué pensar de la tos en perros y gatos?
Isabella Dib F. Gremião
Alexandre Dias Munhoz
Inflammatory mammary carcinoma in the bitch - case report Carcinoma mamario inflamatorio en perra - relato de caso
Viviane G. Vieira
Carcinoma inflamatório mamário apresentando blocos de células neoplásicas com áreas necróticas acompanhadas por intenso infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear e numerosos êmbolos neoplásicos
Imagem radiográfica (epidurografia) evidenciando: (seta amarela) deslocamento da linha de contraste e (seta vermelha) osteólise da porção dorsal do corpo de vértebra lombar seis
Saúde pública - 69
Cão caquético e com ascite, sugestivo de enfermidade cardíaca
Procedimento operacional padrão para o manejo de gatos com suspeita de esporotricose
General instructions for handling cats which might have a sporotrichosis condition Instrucciones generales para el manejo de gatos con sospecha de esporotricosis
Jairo Ramos de Jesus
Clínica médica - 72
Esporotricose cutânea em gato - relato de caso
Cutaneous sporotrichosis in a cat - case report Aspectos clínicos y tratamiento de la esporotricosis felina - un reporte de caso
Utilização de avental descartável e impermeável, com mangas longas e de luvas de procedimento durante o exame clínico de gato com esporotricose Hugo L. R. Costa
Clínica médica - 76
Alterações clínicas, laboratoriais e achados de necropsia decorrentes de acidente crotálico em um gato - relato de caso
Lesão cutânea em gato doméstico, causada por Sporotrix schenckii
Clinical alterations, laboratory results and necropsy findings from a crotalic accident in a cat - a case report Alteraciones clínicas, laboratoriales y resultado de necropsia de un accidente crotálico en un gato - relato de caso
Oncologia - 82
Síndrome da lise tumoral
Observa-se edema na região esquerda da face do animal, possível local da picada
Tumor lysis syndrome Síndrome de lisis tumoral
Seções
Editorial - 6 Reportagem - 8
Gestão, marketing e estratégia - 90
Notícias - 10
Mudanças climáticas: uma realidade Preparando-se para desastres
Como? Quando? Por que?
Banhos especiais, hidroterapia e outros serviços
Ecologia - 92
• Decreto regulamenta utilização de cães-guia • Eventos • Conpavepa e Pet South America • Especialidades • WSAVA 2006
10 12 14 20 22
Bem-estar animal - 28
I Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal supera as expectativas
Ciência - 88
Erratas
Comunicação entre espécies. O que diz a ciência
Lançamentos - 94 Negócios e oportunidades - 96
Ofertas de produtos e equipamentos
Serviços e especialidades - 97 Prestadores de serviços para clínicos veterinários
Agenda - 104
92 93
Edição n. 53, no artigo: “Como proceder nas lesões meniscais em cães - revisão” Pág. 49 - “...A presença do ligamento meniscotibial, associada à falta do ligamento meniscocapsular, faz com que o menisco lateral tenha maior mobilidade do que o menisco medial.” Onde se lê meniscotibial deve-se ler meniscofemoral: "A presença do ligamento meniscofemoral..." Pág. 52 - O número correto da lâmina de bisturi para realizar a meniscectomia é 11 mas no texto está 01.
Edição n. 64 Pág. 22 - na última pergunta feita ao dr. Stephen J. Ettinger, a resposta correta é: "Está comprovado que, de forma geral, as vacinas aplicadas pela via subcutânea conseguem imunização mais rápida e melhor que as intranasais. Eu prefiro a via subcutânea, pois ela é mais fácil de aplicar, melhor aceita pelo dono do cão e induz a uma melhor imunidade em animais que já receberam a primeira dose, ou que já tenham sido expostos ao agente infeccioso."
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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Editorial
rever o futuro, isto é de interesse dos homens, dos técnicos, dos médicos, de muitos. Porém, como conseguir? Talvez olhando os sinais da natureza, das políticas e da paz. O Greenpeace está em plena campanha pelo alerta às adversidades causadas pelas mudanças climáticas que estão ocorrendo no Brasil e no mundo. De um lado, temos secas, calor e desertificações. De outro, enchentes e ventos. Uma grande ajuda para que o clima piore é o incremento da produção bovina na região da amazônia. A prática não é sustentável e o volume com que isto é feito está intimamente relacionado à retirada ilegal de madeira da floresta. Associado a isso também temos as quantidades de grãos necessárias para alimentação humana mundial, muitíssimo inferior à que é gasta para alimentação animal. João Meirelles Filho é categórico ao afirmar que: "se no preço da carne bovina, produzida na amazônia, estivesse incluído o preço da floresta, esse seria o pior negócio do mundo". Meirelles coordena o Instituto Peabiru, no Estado do Pará, que, dentre as suas atividades, incentiva a viabilidade de projetos econômicos que preservam a floresta, interagindo homens, animais e natureza, de forma sustentável. No Estado do Amazonas, existe a Agência de Florestas e Negócios Sustentáveis do Amazonas (Afloram), que desenvolve projetos sustentáveis com quelônios, abelhas e jacarés (www.florestas.am.gov.br). Além do discurso ambientalista e de sustentabilidade, analisemos o mercado: o que ele quer, o que ele pede e o que ele não tem? Prefiro responder apenas a última. O mercado de pet food, por exemplo, não têm concorrência na área de alimentação vegetariana para pets. Por que pensar nisso? Pet vegetariano? Sim, os humanos vegetarianos sonham com a existência desse tipo de oferta. Na Itália, por exemplo, há empresa do setor de pet food que tem alimentos para cães e gatos sem qualquer inclusão de ingrediente de origem animal. No Brasil, só há uma empresa que produz uma ração vegetariana, mesmo assim, somente para cães. Faltam ofertas no setor e deseja-se que elas venham de empresas engajadas na preservação do meio ambiente. Elas terão mais sucesso em todo o contexto que rege o vegetarianismo, ou Alimento vegetariano para seja, a não violência, tanto ao ser vivo, quanto à natureza. cães e gatos produzidos na A dieta vegetariana em pet food, tecnicamente falando, além de viavél, é saudável. Itália - www.aminews.net "Percebe-se que em matéria de segurança alimentar, a dieta vegetariana é uma opção saudável também para cães e gatos, principalmente nestes tempos de síndrome de vaca louca e de gripe aviária. A síndrome da vaca louca já migrou dos ovinos para os bovinos, caprinos, cães, humanos, e gatos e, conforme noticiado pela mídia, a gripe aviária teria sido a causa da morte de um gato na Alemanha", esclarece o médico veterinário Walter de Albuquerque Araújo (diretor executivo da WS – Consultoria & Nutrição Científica S/C Ltda. e diretor e membro emérito do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal – CBNA), no artigo A dieta vegetariana para cães e gatos, publicado no Boletim Informativo - Nº47 - 2006, da Anclivepa-SP (www.anclivepa-sp.org.br/rev-47-04.htm). O vegetarianismo é uma restrição alimentar. Isto é fato. Mas não podemos esquecer que há pessoas com restrição alimentar por indicação médica, como os diabéticos, os celíacos, os alérgicos à lactose. Quem lembra deles ao se montar um cardápio para um evento de lançamento? Quem fizer, terá muito sucesso, pois eles não esquecerão de quem o ofertou. O mesmo cliente que reconhece essa atenção, paga mais caro, por exemplo, para comprar produtos orgânicos. Uma referência para essa afirmação é o sucesso gradativo da BioFach-América Latina (www.biofach-americalatina.com.br), récem realizada em São Paulo, a qual, por enquanto, carece de produtos no segmento pet. No setor cruelty free também faltam ofertas . Nos Estado Unidos da América a American Anti-Vivisection Society, além de colocar bastante informação disponível, através do compassionate shopping, promove o comércio dos mais variados produtos cruelty free. Produtos desse tipo ainda são raros no Brasil, mas já começam a aparecer nesse mercado sem concorrentes. Com o término de 2006, naturalmente pensa-se em 2007. Um bom momento para avaliar qual a sua imagem como pessoa, a da sua empresa, a dos seus serviços. Ela é boa para todos? Ou somente para alguns? Companhias aéreas já constataram pelo perfil dos sues clientes a importância de oferecem cardápios "Nos últimos cinco anos, em experiências de laratório, foram usados mais de 125.000.000 de especiais, por exemplo, para vegetarianos. Quem der uma espiada, verá, por bo ratos e camundongos, 1.000.000 de porquinhosexemplo, que o local mais fácil de encontrar ração vegetariana não é em pet da-índia, 125.000.000 de coelhos, 360.000 cães, shop, mas sim em lojas especializadas em produtos naturais as quais, na maio- 125.000 gatos e 200.000 primatas não humaria das vezes, não possuem médicos veterinários em seu quadro de funcinários, nos", alerta a mensagem de abertura no site da American Anti-Vivisection Society exigência que costuma ser cobrada dos estabelecimentos veterinários, con- www.aavs.org forme legislação. Os que observarem com atenção, verão que no Brasil há um grande mercado inexplorado e que os produtos cruelty free, por exemplo, podem ser valioso diferencial para o sucesso. Essa tendência mundial é muito bem ilustrada pela frase de Einsten: "Nossa missão deve ser libertar-nos.... Alargando nosso círculo de compaixão, para abraçar todas as criaturas vivas...". Boas festas e feliz 2007, desejando que a paz predomine em todas as atividades e atitudes.
Arthur de Vasconcelos Paes Barretto
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Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Reportagem
Banhos especiais, hidroterapia e outros serviços por Arthur Barretto diferenciados
O
alecrim (Rosmarinus officinalis) e a camomila (Anthemis nobilis) são exemplos de plantas utilizadas na aromaterapia. Na verdade, o que é utilizado são seus óleos essenciais. Na medicina veterinária a aromapterapia pode ser aplicada através de banhos terapêuticos. Eliane Gonçalves, responsável pelo VetSpa explica que: “para potencializarmos seus efeitos e para abrangermos mais indicações, podemos preparar banhos terapêuticos com até 3 tipos de óleos essenciais associados ”. O uso de outro tipo de banho, o ofurô, ou banho de imersão, tem aumentado bastante. Eles não são apenas modismo. Eles podem agir como uma ferramenta em problemas dermatológicos. Porém, a correta prescrição do banho é fundamental para o sucesso
O VetSpa (www.vetspa.com.br) faz juz ao seu nome. Oferece diversos serviços especializados para a o bem-estar animal, a reabilitação e o fitness. Alguns deles são: a hidroterapia, a aromaterapia, a acupuntura, os banhos terapêuticos e a massoterapia. Acima, além do buldogue inglês sendo submetido à hidroterapia, cadela da raça labrador aproveita seus momentos no turbilhão produzido na hidromassagem
Óleos essencias usados na aromaterapia tem diversas indicações, como o alívio de dores e ação antiinflamatória
no tratamento e para que não haja agravemento do quadro. Além dos banhos terapêuticos, também faz sucesso a terapia na água, ou
seja, a hidroterapia. Ela tem diversas indicações e a tendência mundial é que aumente tanto esse tipo de serviço, quanto o de profissionais especializados
Na Smart Clinic, fundada por Lowri Davies BVSc, a hidroterapia tem destaque. A profissional inglesa atende cães e cavalos, sendo certificada para a prática da acupuntura e reabilitação pela Bristol Veterinary School, (www.smartvetwales.co.uk)
O endereço www.handicappedpets.com nos leva ao portal que se dedica a oferecer suporte aos pets que necessitam de produtos e serviços de reabilitação
Situações em que se pode aplicar diferentes banhos terapêuticos para cães que apresentam problemas dermatológicos*
O Pet Country Spa (www.petcountryspa.com) oferece serviços médicos veterinários de reabilitação, com hidroterapia, tanto para cães, como para gatos
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1) Pele e pêlos ressecados sem descamação. 2) Pele e pêlos ressecados com descamação leve (seborréia seca). Pêlo curto. 3) Pele e pêlos ressecados com descamação leve (seborréia seca). Pêlo longo. 4) Foliculite com descamação (seborréia seca). Pêlo curto e longo. 5) Foliculite com muita descamação (seborréia seca). Pêlo curto e longo. 6) Foliculite e furunculose. Pêlo curto e longo. 7) Seborréia mista. Fração oleosa leve. Pêlo curto e longo. 8) Seborréia mista. Fração oleosa severa. Pêlo curto e longo. 9) Seborréia oleosa severa. Pêlo curto e longo. 10) Seborréia mista. Fração oleosa severa com malassezíaze. Pêlo curto e longo. 11) Animal com dermatites alérgicas e pele irritada ou sensível. Pêlo e curto e longo. * Prescritos pelo prof. dr. Ronaldo Lucas e aplicados no Vet Spa - www.vetspa.com.br
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
O Canine Rehabilitation Institute, nos E.U.A., oferece cursos sobre reabilitação canina, tanto para médicos veterinários, como para auxiliares (technicians) - www.caninerehabinstitute.com
em reabilitação, os fisioterapeutas. No Brasil, a Associação Nacional de Fisioterapia Veterinária (Anfivet www.anfivet.com.br), têm se empenhado para o desenvolvimento da especialidade. Tanto os cães, quanto os gatos podem se beneficiar da hidroterapia, que
pode ser feita tanto em piscinas, quanto nas esteiras aquáticas. Uma vantagem das esteiras é poder, por exemplo, controlar facilmente a temperatura da água e o seu volume. A etapa final de um banho diferenciado, que tenha sido realizado com a intenção de aplicar um tratamento comportamental, ou trazer benefícios de locomoção através de cuidadosos exercícios na água, não pode representar um retrocesso. Secar bem, de forma segura, tanto para o animal, quanto para o profissional, é tão importante quanto o banho aplicado ou a sessão de hidroterapia realizada. A melhor opção é a utilização de secadoras. Elas retiram dessa etapa do serviço o estresse da manipulação, que é causado por um secador manual convencional. A secagem, realizada dentro de um compartimento fechado, graças ao turbilhonamento de ar ao redor da superfície corporal do animal, é feita de forma bastante eficiente e segura.
Na Butterwick Boarding Kennels and Cattery (www.butterwickkennels.co.uk) a hidroterapia tem destaque
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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Decreto regulamenta utilização de cães-guia
N
o dia 21 de setembro de 2006 foi assinado o Decreto n. 5.904, que regulamenta a Lei n. 11.126, de 27 de junho de 2005, que dispõe sobre o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhada de cão-guia e dá outras providências. Ele foi publicado no Diário Oficial da União, de 22 de setembro de 2006, seção 1, páginas 1 e 2. Há muitos anos que se aguardava um gesto como esse do governo federal. Freqüentemente, deficientes visuais que portavam seus respectivos cães-guia, eram proibidos de ter acesso, por exemplo, a restaurantes e ao metrô. Com a publicação do Decreto n. 5.904, pode-se dizer que surge uma nova era. Bom seria, se fosse de reconhecimento. Porém, o mais provável é que se tenha uma longa jornada de exibição do que foi regulamentado e os direitos garantidos por ele. É justamente nessa etapa que todos os médicos veterinários,
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podem contribuir. No dia-a-dia, nas conversas com os clientes e amigos, sempre que surgir uma oportunidade, é importante abordar sobre os cães-guia e a forma como eles devem ser tratados e abordados na rua, bem como a pessoa que está sendo guiada. Outros pontos cruciais merecem destaque e ainda precisam ser tratados com mais atenção. Por exemplo, as facilitações para a formação de cães-guia e a sua conseqüente doação a um deficiente visual. Em algumas das etapas da formação do cão-guia consegue-se a colaboração voluntária e doações. Porém, é difícil ficar livre das despesas de adestramento, entre outras. Isenções, incentivos e subsídios são fundamentais e essenciais para que as entidades filantrópicas consigam prover a inclusão social de deficientes visuais, que é facilitada graças à conquista do direito de ir e vir,
por Arthur Barretto
proporcionada pela presença dos cães-guia junto aos deficientes visuais. No 31º Congresso da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA), realizado em outubro, na cidade de Praga, na República Tcheca, pôde-se constatar a postura digna que a organização teve ao inserir no evento o lema: “Não é porque os deficientes visuais não nos vêem que nós vamos fechar os olhos para ele. Não!”. Esta conduta dos colegas tchecos, visou, durante o congresso, a promoção e ajuda da escola tcheca de cães guia (SVVP - www.vodicipsi.cz). Eles deram um grande exemplo mostrando que podemos inserir em congressos, além do conteúdo científico, questões sociais e humanitárias que beneficiem tanto os animais, nossos amigos, quanto as pessoas que se relacionam com eles.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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Educação continuada no Peru
evento The Latin American Veterinary Conference (TLAVC www.tlavc-peru.org) foi realizado pelo The North American Veterinary Conference (TNAVC) em parceria com a Universidad Nacional Mayor de San Marcos (UNMSM) em Lima, no Peru, no período de 29/9 a 2/10/2006 e teve como objetivo principal incrementar a educação continuada voltada para as necessidades dos veterinários latinoamericanos especializados em animais de companhia. Durante o período de pré-congresso (22/9 a 28/9), as professoras da Universidade Federal Fluminense (UFF) Márcia Salomão e Flavya Mendes de Almeida, participaram do Curso de Práticas Médicas no hospital da Faculdade de Medicina Veterinária da UNMSM, onde observaram o atendimento realizado pelos médicos
veterinários peruanos e trocaram experiências sobre procedimentos, doenças e condutas adotados neste país cuja realidade é muito próxima a do Brasil. O alto nível técnico-científico das palestras nas diversas áreas da medicina interna de pequenos animais foi elogiado por todos da comissão brasileira. Além disso, os contatos estabelecidos com os palestrantes, Jorge Guerrero (presidente do TLAVC e do TNAVC), David Senior, Douglas Mader, Hermann Bourgeois (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Royal Canin - França), Geraldine Diethel-Mader, Hélio Autran de Moraes e Julia Flaminio e Norma Labarthe, possibilitarão a realização de pesquisas científicas em colaboração com as instituições brasileiras (UFF e UNIGRANRIO) nas diversas áreas da medicina veterinária.
Encontro do diretor do hospital veterinário, dr. Víctor Fernández Anhuamán com a equipe brasileira durante a visita à Universidad Nacional Mayor de San Marcos www.unmsm.edu.pe
Incrementando a troca de experiências, a comitiva brasileira também marcou presença ao apresentar trabalhos científicos
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Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária e a Rio Vet Trade Show, com seis edições realizadas, acumularam experiências e evoluiram bastante. Um exemplo disso é o 1º Encontro do Varejo Pet, realizado com sucesso absoluto em 2006, tendo sido criado em função do constante interesse do público que participou de atividades semelhantes nas edições anteriores. Boa parte desse sucesso se deve a Sergio Lobato, médico veterinário e coordenador, tanto do 1º Encontro do Varejo Pet, quanto do 2º Encontro de Varejo Pet, que já esta com data marcada em 2007. Sergio Lobato está com mais uma função, contribuindo para o sucesso do evento em 2007: diretor de marketing, sendo responsável pela imagem do evento junto ao público, aos parceiros e aos órgãos envolvidos com o segmento. Este cargo não existia nas edições anteriores e passa a existir no momento em que a Rio Vet Trade Show torna-se um evento capaz de atender as necessidades do mercado pet, que se torna cada vez mais exigente. “Em 2007, inovação, profissionalismo, idéias, produtos e serviços altamente qualificados e que realmente farão a diferença na vida pessoal e profissional de todos os participantes estão nos nossos projetos”, ressalta Sergio Lobato. 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária e Rio Vet Trade Show: www.riovet.com.br
UFMG sediou o 3º Congresso Mineiro da Anclivepa
ntre os dias 12 e 14 de outubro, aconteceu, na Escola de Veterinária da UFMG, em Belo Horizonte, MG, o 3º Congresso Mineiro da Anclivepa.
A novidade do “Se vira nos 15” motivou a platéia presente no 3º Congresso Mineiro
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Sucesso carioca
Fruto do trabalho de membros da nova diretoria, a contar pelas impressões da maioria dos participantes, o evento cumpriu o seu objetivo, trazendo para a classe de médicos veterinários de pequenos animais e estudantes das escolas de veterinárias de Belo Horizonte e interior de MG, palestrantes da região e também de outros estados do Brasil, que têm se destacado dentro da área de clínica e cirurgia de pequenos animais, apresentando temas diversos. Pela primeira vez em Congressos Mineiros da Anclivepa ocorreu a apresentação de temas livres. A modalidade, implantada este ano levou o nome de "Se Vira nos 15". Todos foram pré sele-
cionados e apresentados por colegas, que tiveram a oportunidade de mostrar experiências pessoais de sua rotina. Tanto pela qualidade das apresentações, bem como pela participação da platéia que lotou a sala, a experiência foi considerada um sucesso. Para a realização deste evento, a Anclivepa-MG contou com o apoio institucional do CRMV-MG e das empresas: Vetnil, Total alimentos, Royal Canin, Amici, Pfizer, Gekaefe 3M, revista Clínica Veterinária, Med Vep, Fresenius e dos laboratórios Hermes Pardini e TECSA. A empresa Vetnil comandou a parte social, com a realização da festa Vetnil, na sexta-feira, dia 13.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Número elevado de participantes no Conpavepa e na Pet South America
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6º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Conpavepa), realizado de 20 a 22 de setembro, no Hotel Transamérica, em São Paulo, SP, recebeu, aproximadamente, 1.300 participantes, representando um crescimento de 15% em relação à 2005.
por Arthur Barretto O evento contou com diversos palestrantes renomados, nacionais e internacionais, e com um pré-congresso dedicado à dermatologia. Nas 268 páginas dos anais do congresso pode-se encontrar tanto as palestras proferidas, quanto os trabalhos científicos aceitos no congresso. O 7º Conpavepa já está agendado: 26 a 28 de setembro de 2007, no Hotel Transamérica, em São Paulo, SP.
Congressistas tiveram muito interesse na palestra de Ronaldo Casimiro da Costa, sobre a abordagem clínica de problemas na coluna vertebral e medula espinhal
Durante o 6º Conpavepa a Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (ABOV) reuniu-se para tratar vários assuntos, dentre eles, o lançamento da “I Campanha Nacional de Saúde Oral para Cães e Gatos”. Acima, a diretoria da ABOV em reunião e Maria Izabel R. Valduga homenageando o presidente da ABOV, Marco Antonio Gioso, pelo apoio à campanha de saúde bucal realizada em Curitiba, PR, a qual, pelo sucesso alcançado, estimulou a realização da campanha nacional
Archivaldo Reche Junior, palestrante que teve grande audiência em sua palestra sobre doenças respiratórias de felinos
Ney Luis Pippi, José de Alvarenga e Cássio Ferrigno, todos cirurgiões de renome presentes como palestrantes no 6º Conpavepa
Thomas K. Graves, da Universidade de Illinois, nos E.U.A., participou do Conpavepa patrocinado pela Royal Canin. Durante os 3 dias do congresso ministrou diversas palestras sobre endocrinologia
ONGs participam da Pet South America
Além de produtos de destaque como o Avenger, a Ouro Fino esteve presente lançando mais um produto na área de pet food: a Ouro Fino Master
A ARCA Brasil lançou na Pet South America o display “Guia do proprietário responsável”, que contou com o apoio da Amici, fabricante de produtos de higiene e saúde, e da Guabi, produtora de rações, ambas parceiras da ARCA no programa Empresa Amiga dos Animais®. Com base na idéia de que a falta de informações é a maior responsável pelo sofrimento dos animais, foram distribuídos folders sobre os cuidados que se deve ter com eles, como educação, saúde, higiene e alimentação, além de orientações para a escolha consciente de um animal de estimação, pois: “Amigo é para sempre. Não basta ter, é preciso saber cuidar!”
Display “Guia do proprietário responsável”, uma nova investida em prol da conscientização da sociedade
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Cerca de 800 pessoas visitaram o estande das ONGs paulistas “Focinhos Gelados” e “Quintal de São Francisco”, afiliadas à WSPA. Segundo Fowler Braga Filho, diretor das entidades, com o grande número de visitantes, as ações educativas tiveram grande repercussão. “Instalamos um contador eletrônico que registrava automaticamente o número de animais que são mortos no Estado de São Paulo (dados do Instituto Pasteur). Este contador muda 20 unidades a cada 30 minutos. Passadas 56 horas, ao final do evento, o marcador indicava 2.280 animais mortos. Todos ficaram atônitos pois as pessoas desconhecem esta realidade”, diz Fowler. Além do marcador, as ONGs exibiram o vídeo de inauguração da Praça de Cãovivência e apresentaram oficialmente a campanha Animal saudável é o bicho!
Alimentos para pets, um dos segmentos do mercado onde a disputa é acirrada. Confira alguns dos presentes na Pet South America A Eukanuba, além de atender seus clientes e apresentar suas novidades, contou com a presença de Alexandre Rossi, da Organização Cão Cidadão (www.caocidadao.com.br), fazendo demonstrações de adestramento inteligente, método que, ao invés de punição, oferece premiação e carinho
Sempre presente, a Alltech se destaca pelos aditivos naturais e seguros que produz para rações de pets
Estande da Socil, que foi muito visitado em função da apresentação de seus novos alimentos
A Royal Canin esteve presente com dois estandes: um para os alimentos tradicionais e outro específico para a linha terapêutica Veterinary Diet. Ao lado, o prof. José Roberto Sartori, do Depto. de Melhoramento e Nutrição Animal da FMVZ/ Unesp-Botucatu, coordenador do Grupo de Estudos em Nutrição de Animais Monogástricos (GENAM - www.genam.com.br), acompanhado de alunos do curso de medicina veterinária, visitando o estande da Royal Canin que continha informações sobre a linha terapêutica Veterinary Diet
Pedigree com molho de carne e Whiskas Ponh foram os destaques da Masterfoods na Pet South America
A Purina, patrocinadora oficial do 6º Conpavepa, também teve destaque na Pet South America, sendo bastante visitada pelo público que, entre outros produtos, pôde conhecer o novo Dog Chow
Nutrindo amizades! A Supra, com esta proposta, tem inovado e realizado lançamentos, como os da linha Frost
A Premier usou a criatividade e apresentou aos visitantes o “Premier Experience”, uma caminhada seqüencial em um túnel, feita para despertar os sentidos e conhecer mais sobre os ingredientes e a matéria prima utilizada nos alimentos Premier. Além disso, o público pode conhecer o novo lançamento da empresa: Premier Ambientes Internos Light
Os alimentos Equilíbrio, Líder e Big Boss tiveram destaque no estande da Total Alimentos. Uma das novidades importantes, foi o lançamento da Equilíbrio Cães Adultos Sensíveis - Ovelha e Arroz
A Bayer deu ênfase ao lançamento do Portal de Relacionamento Bayer - BayerPet, que entrou on line no primeiro dia da feira: www.bayerpet.com.br
Agener União, presente com lançamentos para a classe médico veterinária: analgésico opióide e carprofeno injetável
A Merial deu destaque ao Previcox. A empresa também participou do 6º Conpavepa realizando um dia de palestras com temas relacionados ao controle da dor e cirurgias ortopédicas
Soluções que geram valor foi o foco da Pfizer na Pet South America. Seu lançamento: BronchiGuard
König, presente e conectada ao interesse do mercado A linha dermatológica da Virbac despertou grande interesse. Também, com a tecnologia Spherulites....
Produtos da Vetbrands: qualidade e praticidade conferidas pelo público
Biovet, 100% brasileira, presente no segmento pet. Imuno-Vet, um dos seus destaques...
Duramune LCI/GP, para a proteção contra leptospirose canina, foi a novidade da Fort Dodge
Labyes, a cada ano, sua participação atrai mais interessados na qualidade de seus produtos
Coveli, muitas visitas e muitas fotos. Visite o site e confira: www.coveli.com.br
A Centagro apresentou a Linha Pet Smack com novo visual, além de novidades na linha de xampus A Vetnil enfatizou sua linha de biológicos, novidade que em pouco tempo estará inserindo novos conceitos no mercado
A Schering-Plough focou o seu estande com a divulgação do antiinflamatório Zubrin, medicamento não-hormonal, indicado para cães, à base de tepoxalina, princípio ativo inovador e único no mercado
Produtos e serviços direcionados para o segmento de diagnóstico também estiveram presentes na Pet South America. Alguns deles: • a Control Lab, especializada em serviços para controle de qualidade de análises laboratoriais, oferece serviços de ensaios de proficiência, controle interno, calibração, assessoria e treinamento; • o BET Laboratories, especializado em endocrinologia veterinária; • o Provet e o Dognostic, ambos voltados para o setor de diagnóstico e especialidades veterinárias; • o Hemagen que expôs, durante a feira, o Analyst, analisador bioquímiwww.controllab.com.br co para uso em clínica veterinária • linha Idexx VetLab, com destaque para o mais recente lançamento, o VetStat Analyser, único equipamento de gasometria criado para médicos veterinários; • o BCQ: laboratório de microbiologia industrial licenciado pelo Ministério da Agricultura. Dentre os seus serviços destaca-se o doseamento microbiológico de antibióticos em rações e medicamentos www.provet.com.br
www.betlabs.com.br
www.dognostic.com.br
www.hemagen.com.br
Produtos para estética, higiene e bem-estar de cães e gatos tiveram grande destaque na feira. A Pet Society trouxe como novidades uma solução otológica e um creme dental. A FitoGuard, por sua vez, investiu no bem-estar, apresentando, linha de produtos fitoterápicos. Já a Bioveter, apresentou uma linha de xampus com fitopigmentos vegetais em sua composição que proporcionam uma coloração natural gradativa ao pêlo, reavivando a cor e deixando-o mais brilhante e saudável www.petsociety.com.br A esteira aquática da Fitness Dog, além da aplicação para fitness, também é muito útil para reabilitação e tratamento da obesidade
www.fitoguard.com.br
www.limpinho.com.br www.bioveter.com.br
O transporte de animais é mais um nicho. Atenta a isto, a Renault marcou presença
Cirurgia e anestesiologia em destaque
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“VII Congresso do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária”, realizado no mês de setembro, em Santos, SP, abrigou o “IX Congresso Mundial de Anestesiologia Veterinária” e o “4º Encontro Internacional de Dor” da International Veterinary Academy of Pain Management, ambos pela primeira vez na América Latina; o “III Simpósio de Fisioterapia Veterinária” (juntamente com a ANFIVET Associação Nacional de Fisioterapia Veterinária) e a “II Feira de Tecnologia Profissional”. O tema “dor” esteve presente tanto nas palestras, quanto na feira. Empresas como a Merial e a Pfizer deram foco aos seus produtos para o tratamento da dor, respectivamente, o Previcox® (firocoxib) e o Rimadyl® (carprofeno). A Agener União, realizou o lançamento de novos produtos para o tratamento da dor, como o opióide Dorless V®, e a apresentação injetável do Carproflan® (carprofeno). A Schering-Plough lançou o Zubrin® (tepoxalina), antiinflamatório não esteroidal para cães. Mais uma vez o CBCAV manteve unida a anestesiologia e a cirurgia veterinária. “A localização de nossos eventos caracteriza o CBCAV como uma entidade que realmente abrange o país como um todo, em todas as regiões”, enfatiza Stelio Pacca Loureiro Luna, presidente do CBCAV. Em fevereiro de
2004, o CBCAV promoveu o III Forum de Dor e Analgesia, na FMVZ, Unesp, Botucatu; em maio de 2005, o VII Encontro de Anestesiologia Veterinária, em São Luis do Maranhão, MA, com o tema “Anestesia local”, o qual foi um dos melhores encontros que a entidade promoveu dada a especificidade do tema e a possibilidade de trazer as experiências de cada especialista; e, em novembro de 2005, o “II Encontro de Cirurgia Veterinária” em Viçosa, MG, com o tema “O ensino da cirurgia veterinária e a formação do especialista”, demonstrando a importância de atuação do CBCAV, não apenas na área científica, mas também na área de educação, com novas propostas de ensino e métodos alternativos ao uso de animais vivos, para adequação à nova realidade com relação ao uso de animais. Os próximo eventos programados são o “Encontro de Cirurgia Veterinária em Pirenópolis, GO, o “Encontro de Anestesiologia Veterinária”, em Florianópolis, SC e o próximo congresso do CBCAV, em Recife, PE.
Os resumos dos trabalhos aprovados no VII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária foram publicados em dois suplementos do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (v. 58, supl.1 e v. 58, supl. 2)
Em 2009, encontro do IVRA irá ocorrer em Búzios, RJ
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e 7 a 11 de agosto passado aconteceu, em Vancouver, no Canadá, o 14º Encontro do International Veterinary Radiology Association, cujos anais estão no site da associação: www.acvr.org/ general/ivra/ index.html. Participou do referido evento uma comitiva brasileira, pequena, mas muito animada, alegre e unida, não só ávida pelas novidades relacionadas à radiologia veterinária mundial, mas também focada na captação para o Brasil da 15ª edição do referido evento. A coesão desta equipe proporcionou a conquista desse objetivo, pois o evento será realizado em 2009, em Búzios, RJ.
Da esquerda para a direita: Cássia G. Silva, Fernanda R. C. Medeiros, Silvia M. S. Neves, Daniela C. Marucci, Mara R. R. Massad, Ana Carolina B. C. F. Pinto, Laila Massad, Edgar L. Sommer e Taeco K. Sommer
X Congresso e XV Encontro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br Mini-cursos: 1. Reprodução de Animais Selvagens - prof. dr. Marcelo Alcindo de Barros Vaz Guimarães (FMVZ/USP); 2. Documentação Científica: Fotografia Analógica (filme) e Numérica (digital) - prof. dr. Idércio Luiz Sinhorini (curso teórico-prático) (FMVZ/USP); 3. Importância das Doenças Emergentes na Fauna Silvestre para a Saúde Pública - prof. dr. Ulisses E. C. Confalonieri (FIOCRUZ);
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22 a 25 de novembro Hotel Fazenda Fonte Colina Verde - São Pedro/SP
4. Medicina de Répteis - prof. dr. Rogério Ribas Lange (UFPR); 5. Manejo Comportamental en Animales de Zoológico - M. V. Gerardo Martínez del Castillo (Departamiento de Bienestar Animal de Africam Safári México); 6. Papel do Médico Veterinário na Conservação de Xenarthro (Tamanduás, Tatus e preguiças) - dras. Flávia Miranda (FPZSP) e Mariella Superina (University of New Orleans, Department of Biological Science).
Palestra Inaugural: "Literatura Infantil e Conservação da Biodiversidade" - prof. dr. Ângelo Machado (UFMG).
Condicionamiento - dr. Gerardo Martinez Del Castillo (Departamiento de Bienestar Animal de Africam Safári México)
Palestras: 1. Formas, Cores e Sexualidade Animal - prof. dr. Eduardo C. Farias (USP);
Mesa Redonda: "Gripe aviária X Saúde Pública: Riscos para a Conservação"?
2. Conservação de Carnívoros na Amazônia - M. V. Christina Whiteman (UFRA)
Moderador: profa. dra. Tânia de Freitas Raso
3. Obtención de Semen de Mamiferos Mediante
Participantes:
Debatedores: prof. dr. Ulisses E. C. Confalonieri (FIOCRUZ), dr. Adauto Luiz Veloso Nunes
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
(Zoológico de Sorocaba) e dr. Fernando Gomes Buchala (Ministério da Agricultura) Atividades Sociais: 1) Dia 22/11: Coquetel de abertura; 2) Dia 24/11: Baile a Fantasia Tema: "ABRAVAS na Selva"
31º Congresso Mundial da WSAVA
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raga, capital da República Tcheca, sediou, de 11 a 14 de outubro, o 31º Congresso Mundial da Associação de Veterinários de Pequenos Animais (World Animal Small Veterinary Association - WSAVA). Além dos trabalhos apresentados e diversas palestras com especialistas de renome internacional, os congressistas puderam desfrutar de um espetáculo a parte: a cidade de Praga, um verdadeiro museu ao ar livre. No centro da capital da República Tcheca, além da marcante presença dos estilos barroco, renascentista e gótico, entre outros, destaca-se também a alta qualidade da música erudita, preservada há séculos por músicos de grande talento. Jaroslav Sveceny, maestro e violonista tcheco, demonstrou isso em sua belíssima apresentação na cerimônia de abertura do congresso. A comissão organizadora do congresso, além de preparar uma eclética programação científica, preocupou-se também em realizar uma coletiva para a imprensa destacando dois projetos que merecem ampla divulgação em função dos benefícios que levam à população: a Escola Tcheca de Cães Guia (SVVP) e o programa educativo The Blue Dog. O trabalho de formação de cães guia desenvolvido pela SVVP é reconhecido
Cães da Escola Tcheca de Cães Guia (SVVP - www.vodicipsi.cz) circulando pela área de exibição do congresso
por Arthur Barretto
A versão impressa dos anais do congresso teve uma distribuição limitada. A versão em CD-Rom contou com uma distribuição mais ampla. Ainda é uma tendência produzir a versão impressa, que é muito mais onerosa que a versão eletrônica, sem saber quantas pessoas realmente a desejam. Uma forma controlada de fazer isso é incluir a sua solicitação na ficha de inscrição. A versão impressa não permite: • a realização de uma busca rápida e segura; • a consulta do seu conteúdo por mais de uma pessoa ao mesmo tempo; • a fácil duplicação do seu conteúdo. A versão eletrônica, em CD-Rom ou internet, permite tudo isso com economia de tempo e dinheiro, tanto na sua produção, quanto no envio
A cerimônia de abertura do congresso contou com a apresentação de concerto pelo maestro e violinista Jaroslav Sveceny
pelo governo local, que faz com que o deficiente visual receba um cão guia, sem custo algum, assumindo as despesas de treinamento, pagando à escola de cães guia a quantia aproximada de R$ 20.000,00 por cão treinado. O programa The Blue Dog, coordenado por Tiny De Keuster, foi criado devido aos altos índices, nos E.U.A. e na Europa, de acidentes domésticos envolvendo crianças e cães. The Blue Dog (www.thebluedog.org) consiste de um CD-Rom multimídia destinado às crianças na faixa etária de 3 a 6 anos e tem como objetivo a prevenção de casos de agressões por cães no próprio lar, ensinando a criança a relacionarse de forma segura com o cão da própria família. Além da Ponte Carlos, do século XVII, de estilo gótico e, à direita, o relógio astronômico da Câmara Municipal, construído em 1410
apresentação para a imprensa, o projeto The Blue Dog, foi divulgado na área de exibição e em palestras que formaram a grade de bemestar animal, a qual foi coordenada por Ray Butcher, também integrante do projeto.
O CD-Rom The Blue Dog é acompanhado de um manual que explica todos os quadros educativos. Acima, temos a foto de um dos quadros do CD-Rom no qual o cão está com o controle remoto da TV na boca. Destacamos com um círculo vermelho as opções interativas que a criança pode escolher. Ao escolher a mão amarela ocorrerá a mordida. A escolha certa, a da mão verde, trará um adulto ao local, que resolverá sem acidentes a disputa pelo controle remoto
Show de informática A informática esteve presente no WSAVA 2006
Imagens em 3D; transporte de dados de registros cardiológicos em pen drive, identificação eletrônica com microchips; aparelho de ultra-sonografia conectado ao laptop permitindo, por exemplo, que o filme dos exaO CD-Rom Radioquiz, criado por médicos mes sejam gravados em CD ou DVD; veterinários, apresenta casos radiográficos em sistemas de captura de imagens; animais de companhia de forma interativa, internet à disposição dos congressiscontando com mais de 200 radiografias e algumas animações em 3D. tas; anais do congresso e catálogo de Disponível em inglês, espanhol e francês. empresas em CD-Rom; tudo visando www.litiem.umontreal.ca facilitar e aprimorar os estudos, os diagnósticos e os tratamentos. Nesta página inserimos fotos feitas durante o congresso e que ilustram todos esses benefícios que a informática está tra- A VetRay, além de fornecer equizendo para a medicina pamentos para radiografia digital, também tem boas opções para veterinária.
Com o TELE Vet 200 conectado à porta USB do computador, realizam-se exames ultra-sonográficos, permitindo que as imagens sejam armazenadas diretamente no computador. www.manomedical.com
digitalizar imagens provenientes de aparelhos convencionais. www.vetray.de
A Royal Canin também aderiu ao catálogo em CD-Rom
Catálogo de produtos em CD-Rom, uma forma prática, moderna, econômica e com recursos únicos. A Meditools (www.meditools.cz), por exemplo, no catálogo eletrônico que distribuiu no congresso, inseriu filmes de cirurgias, além de fotos e manuais dos diversos equipamentos que comercializa A VetSpecs levou ao congresso aparelhos para o monitoramento de sinais vitais e ECG. O interessante em seus aparelhos é a possibilidade de gravar os exames em um pen drive, como mostra a imagem ao lado. Além desses equipamentos também levou um pequeno aparelho (VetSpecs PC-VSM3) que ao ser conectado ao computador, inclusive notebooks, permite a mensuração dos sinais vitais e ECG. www.vetspecs.com
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www.datamars.com Microchips continuam sendo uma boa opção para identificação eletrônica de animais. Por isso, continuam surgindo inovações como o leitor ao lado desenvolvido pela Datamars. Muito útil para aeroportos, clínicas de grande movimento, entre outros locais. Ao ser instalado na entrada da clínica, quando o cão passar por ele, permite que imediatamente seja visualizada a sua ficha
Variedades...
Escova de dentes com duas cabeças. Tecnologia para cães oferecida pela Petosan, disponível em 3 tamanhos, conforme o porte do cão. A empresa também oferece pasta específica para pets. www.petosan.com Em Praga, cães circulam pelo metrô, sem problemas, desde que paguem a passagem. Pelas ruas do centro encontram-se postes com sacos para recolhimento das fezes. No congresso os cães também eram bem vindos e alguns expositores até deixavam água à disposição deles
Buster Vet Examination Bag
No stand da Kruuse havia uma grande diversade de produtos. Muitos deles, inovadores, como a bolsa de contenção para gatos e cães pequenos, disponível em 4 tamanhos (www.kruuse.com)
Com a finalidade de substituir o colar elizabetano, a Vet Med Care criou a Dog&Cat Body, roupas com 90% de poliamida e 10% de elastano, fáceis de serem colocadas e com cobertura opcional para os membros. www.vetmedcare.at
Ao lado, sacolas higiênicas e acima, tarifa do metrô para os cães, entre outras...
Dermakit, da Agrolabo Diagnóstico A variedade de empresas expositoras voltadas ao diagnóstico foi grande. Veja, a seguir, a relação de Tipagem sangüínea algumas: Guildhay (www.guildhay.co.uk): possui kits voltados à area endocrinológica. Um deles, o Canine Cardio Screen NtproBNP test, com uma simples amostra de sangue, permite diagnosticar enfermidade cardíaTeste para determica antes que ela manifeste nação de anticorpos A EMS (www.ems-medical.com) presente sinais clínicos, através de mendivulgando seu equipamento que produz suração dos Natriuretic Peptides (NPs), terapia por ondas de choque, o Swiss hormônio secretado pelo coração. DolorClast® Vet Biogal (www.biogal.co.il): possui kits para diagnóstico de várias enfermidades e também para avaliar os resultados pós-vacinais, como o ImmunoComb VacciCheck. Alvedia (www.alvediavet.com): durante o evento, deu ênfase aos seus kits para tipagem sangüínea de cães e gatos. Agrolabo (www.agrolabo.it): oferece kits para diagnóstico de dermatomicose, ehrlichiose, FeLV/FIV e panleucopenia felina. Biopronix (www.agrolabo.it): oferece kits para diagnóstico de leishmaniose por meio de diferentes métodos: imunoEmpresas brasileiras, com o apoio da Apex Brasil cromatográfico, imunoenzimático e imu(www.apexbrasil.com.br) participaram do congresso. No nofluorescência. stand brasileiro, um dos pontos de encontro dos brasileiros, estavam a Vetnil (www.vetnil.com), o consórcio de exportação Conbraex-Pet e a Total Alimentos (www.totalalimentos.com.br)
Sidney, próximo congresso da WSAVA www.wsava2007.com Um excelente equipamento para tratamento fisioterápico, controle de peso e fitness apresentado no congresso foi a esteira aquática que estava no stand da Shor-Line (www.shor-line.co.uk). Outra empresa que estava apresentando produto voltado para a fisioterapia foi a S+BmedVET (www.submedvet.de). Ela levou ao congresso, entre outros aparelhos, o Physio-Therapy PT2000, direcionado para reabilitação física, produzindo estimulação muscular e nervosa controlada
A participação brasileira no WSAVA 2006
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lém dos pesquisadores brasileiros que estiveram presentes apresentando os resultados de suas pesquisas e representantes de empresas brasileiras que foram buscar novos mercados para exportação, destaca-se a presença de dois clínicos de pequenos animais: Eduardo Henrique P. Roscoi, de Belo Horizonte, MG, e Letícia Hebling, de Rio Claro, SP. A ida de ambos foi o prêmio conquistado ao vencerem o I Concurso Royal Canin de Casos Clínicos: Programa de Controle de Peso. Eduardo venceu em 1º lugar na categoria de tratamento de cão obeso e Letícia venceu em 1º lugar na categoria de tratamento de gato obeso. Além disso, após o congresso, ambos puderam conhecer de perto o complexo que compreende a fábrica e o centro de pesquisas da Royal Canin, em Airmargues, no sul da França.
Márcia Jericó (Anhembi-Morumbi)
André Selmi (Anhembi-Morumbi)
Maria Anete Lallo (Unip)
Yves Miceli (DMV - diretor técnico - Royal Canil do Brasil); dra. Márcia Jericó, coordenadora do Hospital Veterinário da Anhembi-Morumbi e profa. de clínica de pequenos animais; Letícia Hebling e Eduardo Roscoe, clínicos de pequenos animais que venceram o I Concurso Royal Canin de Casos Clínicos: Programa de Controle de Peso; Hermann Bourgeois (DMV - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Royal Canin - França). A Royal Canin do Brasil também participa das pesquisas desenvolvidas na faculdade Anhembi-Morumbi pelo núcleo de abordagem à obesidade, o Programa SPA-TAS, que é coordenado pela dra. Márcia Jericó. “As pesquisas desenvolvidas são muito importantes e a participação da Royal Canin é fundamental para os nossos estudos, pois os resultados obtidos são oriundos de casos clínicos. Na literatura científica, o mais comum, são resultados obtidos por meio de experimentos envolvendo obesidade induzida em beagles”, ressalta a dra. Márcia Jericó que teve dois trabalhos aprovados no WSAVA 2006.
Hélio Langoni (Unesp-Botucatu)
Trabalhos de pesquisadores brasileiros que constam nos anais do congresso Pág. 835: Enrofloxacin efficiency in urinary Pág. 862: Detection of Microsporidia spores in infection control of the dogs with transitional cell stools and urine of dogs Autores: M.A. Lallo, E.F. Bondan carcinoma Autores: A.L. Andrade, M.C.R. Luvizotto, M.G. Pág. 862: The use of cyclophosphamide and Laranjeira, F.R. Eugênio, M.A.R. Fernandes, levamisole in the treatment of canine malignat H.F. Ferrari mammary tumours Pág. 845: Dental proceedings in bush dog Autores: M.A. Lallo, E.F. Bondan (Speothos venaticus) in Brazil Pág. 863: Epidemiological aspects in toxoplasmosis Autores: M. Gioso, R. Fecchio, M. Gomes, J. in dogs from a small community of São Paulo state, Brazil Rossi Pág. 846: Clinical study of type-i collagen cell- Autores: H. Langoni, L.C. Souza, B.D. Menozzi, R.C. Silva binding (pepgen-p15®) in advanced periodontal Pág. 868: Evaluation of cytokines concentration lesions in dogs and percentage of survival of rabies virus infected Autores: M.A. Gioso, D.G. Ferro mice Pág. 851: Hyperthyroidism associated to a Autores: J. Megid, C.M. Appolinario, A.M. thyroid carcinoma in a dog Mazzini, M.F. Almeida Autores: M. Jericó, R. Laurentino, C. De Biaggi, A. Nishiya, R. D´Angelino, M. Moreira, J. Guerra Pág. 882: Effects of a fascial replacement technique following intercondylar notchplasty in dogs Pág. 851: Clinical evaluation of obese dogs Autores: A.L. Selmi, J.G. Padilha Filho, B.T. Autores: M. Jericó, A. Leonardi, V. Pereira, A. Lins, G.M. Mendes, J.P. Figueiredo Tirapelli, M. Moreira, A. Provasi, C. Schaeffer Pág. 882: Intercondylar stenosis after fascial Pág. 852: Effects of diet and physical activity in replacement in dogs with cranial cruciate ligament the clinical evaluation of obese dogs rupture Autores: M. Jericó, A. Silva, V. Pereira, A. Autores: A.L. Selmi, J.G. Padilha Filho, BT. Lins, G.M. Mendes, J.P. Figueiredo Tirapelli
Eduardo Roscoe - vencedor do I Concurso de Casos Clínicos: Programa de Controle de Peso - categoria cães Eduardo Roscoe já estava trabalhando com casos de obesidade quando foi convidado a participar do I Concurso de Casos Clínicos: Programa de Controle de Peso. “Aproveitei 6 animais que estavam em tratamento e enviei meu trabalho. Em nosso atendimento estamos preparados para realizar exames laboratoriais específicos para a obesidade, oferecemos os serviços de dog walker, para que os cães possam se exercitar regularmente, de fitness em esteira e de hotel, para fazer a reeducação alimentar”, explica Eduardo. Todo esse conjunto de serviços que são oferecidos em sua clínica têm trazido sucesso nos tratamentos, inclusive, recebendo pacientes indicados por colegas. Porém, há um outro fator muito importante: a prescrição controlada do alimento. “Abrimos todo pacote de alimento para tratamento da obesidade, fazemos pequenos pacotes que contém a quantidade de alimento que irá fornecer a energia metabólica diária necessária, voltamos todos eles para dentro do saco e anotamos quando irá acabar o alimento prescrito. Isso evita que o proprietário exceda a quantidade diária necessária e que não falte alimento para o tratamento”, explica Eduardo. Letícia Hebling - vencedora do I Concurso de Casos Clínicos: Programa de Controle de Peso - categoria gatos Letícia Hebling há anos prescreve os alimentos da Royal Canin. Quando foi convidada a participar do concurso estava justamente tratando de uma gata castrada que estava obesa. O tratamento da gata teve sucesso e hoje, a prescrição do alimento para a obesidade foi subtituída pelo alimento de manutenção. “Fiquei muito feliz com o prêmio, principalmente por ter sido uma escolha feita pelos colegas durante o Congresso da Anclivepa realizado em Vitória, ES”, comenta Letícia.
Almoço de gala Royal Canin
D
urante o WSAVA 2006, a Royal Canin realizou almoço de gala para os médicos veterinários que atuam na região da República Tcheca. Os convidados foram recebidos com um coquetel. Em seguida, Alain Guillemin (Chief Executive Officer - Royal Canin), apresentou a filosofia da empresa e as perspectivas do mercado mundial de pet food, citando o potencial de países como a China e o crescimento das unidades da Royal Canin, que em breve terá uma nova fábrica funcionando na Polônia. Ressaltou a preocupação da empresa de não ter o antropocentrismo como foco no desenvolvimento dos alimentos. “Em 1º lugar, os alimentos devem ser bons para cães e gatos”, salientou Alain Guillemin, que lembrou também a frase de Hipócrates: “seja o teu alimento o teu remédio e que o teu remé-
Alain Guillemin
dio seja o Médicos verinários atuantes na região da República Tcheca, durante as palestras de Alain Guillemin (Chief Executive teu aliOfficer - Royal Canin) e Denise Elliott (Director of Scientific mento.” Denise Elliott Communications, Royal Canin USA) Dando continuidade à programação, Denise apresentado as palestras: Nutritional Elliott abordou questões importantes management of canine obesity, Nutritional sobre as inovações nutricionais. Além considerations for the vomiting patient, dessa participação no almoço de gala Nutritional management of canine Royal Canin, ela também esteve presente pancreatitis e Chronic enteropathies in na programação do congresso, tendo dogs - which diet when?
Nutrição clínica
Denise Elliott (Director of Scientific Communications, Royal Canin USA) e Pascale Pibot (Scientific Publishing Manager, Royal Canin Communication Group), que dividem a autoria da recente obra Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition, com Vincent Biourge (Head of the Nutritional Research Program, Royal Canin Research Center).
O primeiro capítulo da enciclopédia detalha tema bastante atual, a obesidade, com dados de vários países, inclusive do Brasil
A aplicação da nutrição clínica foi abordada no congresso em quatro palestras ministradas pela dra. Denise Elliot. A obesidade, um dos temas abordados nas suas palestras, também foi foco de entrevista feita pela Clínica Veterinária com a especialista. “A obesidade é uma enfermidade, não sendo saudável para o animal. Associados à ela encontraremos, por exemplo, redução da longevidade, problemas osteoarticulares, problemas cardiorrespiratórios,
diabetes mellitus, redução da imunidade. Além de diagnosticá-la é essencial que os proprietários reconheçam a necessidade de tratá-la. Somente dessa maneira teremos sucesso em adotar procedimentos para o seu controle”, ressalta a dra. Elliott. Enfatiza também que: “não adianta simplesmente adotar uma dieta específica. É necessário a prática de exercícios. Caso o proprietário não possa se dedicar a isso, deve procurar serviços de profissionais como os dog walker ou dog day care. Deve-se dedicar 10 minutos por dia em caminhadas com os cães ou brincadeiras com os gatos. Para os cães com mais dificuldade em caminhadas, a natação ou simplesmente o acesso à água é uma ótima opção. Porém, cada caso terá um limite de atividade ou esforço e é essencial que a quantidade de exercício seja determinada e devidamente prescrita”. Outro fator importantíssimo para o sucesso no controle da obesidade é a mudança de hábitos no lar. “Ao preparar o almoço da família o pet não deve estar na cozinha. Ele deve ser levado para outro cômodo. Almoçar com o pet ao pé da mesa, nem pensar... Em resumo, não preparar alimentos e nem comer na frente deles”, frisou a dra. Elliott.
Quanto ao diagnóstico diferencial da obesidade a dra. Elliott forneceu algumas dicas importantes para o exame clínico: “se durante o exame clínico do cão for identificado o consumo excessivo de água, pode-se pensar em síndrome de Cushing. Outra situação seria cães com hipotireoidismo. Nesses casos encontraríamos o relato de que o cão já não está ativo como antes e com dificuldades respiratórias. Porém, deve-se estar atento ao fato de que esses casos representam menos de 5% dos cães obesos”. Além desses casos a dra. Elliott frisou a diferenciação dos casos de diabetes no cão e no gato. “A maioria dos cães diabéticos não são diagnosticados como obesos. Para eles devemos fornecer uma dieta diabética e não para perda de peso. Nos gatos, ela é geralmente causada pela obesidade. Nesses casos, além da administração de insulina, prescreve-se uma dieta rigorosa para perda de peso. Conseguindo-se um controle de peso do paciente, pode ser possível a suspenção da insulina, o que é benéfico tanto para o paciente quanto para o proprietário”, explicou a dra. Elliott. Sobre as pesquisas de ponta relacionadas à obesidade a dra. Elliott citou o estudo dos genes que podem controlar o metabolismo e regular o apetite e da ação metabólica de alguns hormônios, como por exemplo, a leptina.
Do WSAVA 2006 para o IV Congresso da FIAVAC
No centro, à frente, Yves Miceli (DMV - diretor técnico - Royal Canil do Brasil), acompanhando os membros da comitiva brasileira Royal Canin
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s membros da comitiva brasileira Royal Canin para o WSAVA 2006, além de terem participado do congresso, beneficiaram-se de tour por Praga, uma cidade de inestimável valor arquitetônico, aproveitando também para conhecer
3º Encontro Científico Internacional Atopia, mitos e verdades
• 5 países • 15 cidades • mais de 5.000 veterinários
Pont du Gard (www.pontdugard.fr), patrimônio mundial da Unesco, foi um dos locais visitados
pet shops locais. Ao término do congresso, à convite da Royal Canin, juntamente com as comitivas argentina e mexicana, foram levados ao sul da França, na região da Provence, para conhecer o campus da Royal Canin, onde se encontram a fábrica, o centro de pesquisas, o gatil e o canil. Mostraremos detalhes dessa visita na próxima edição. Além da visita técnica às instalações, os convidados puderam conhecer pontos históricos e turísticos do país, como Aguies Mortes, Nîmes e Paris. Em novembro inicia-se outro Concurso de Casos Clínicos Royal Canin e também o Terceiro Encontro Científico Internacional: um evento em 5 países, 15 cidades, com a participação de mais de 5.000 médicos ve te riná rios. Os inscritos no concurso e no Terceiro Encontro Científico Internacional estarão con correndo à viagem para o 4º Congresso da FIAVAC, em Viña del Mar, de 20 a 22 de abril, no Chile. Saiba mais visitando o endereço eletrônico: www.fiavac.org.
Praga exibe uma requintada arquitetura
Comitivas argentina, brasileira e mexicana que visitaram o campus da Royal Canin
Vencedores do Concurso de casos clínicos: Ana Flores Montes (México), Marcela Rodiño (Argentina) Eduardo Roscoi (Brasil), Letícia Hebling (Brasil) e Daniel Malagrino (Argentina) Lizanio de Paula Guimarães, Gabriela Becker da Silveira, Luiz Fernando Souza, vencedores do Challenger Vet, desafio para a força veterinária ligada à equipe de vendas da Royal Canin, acompanhados de Yves Miceli (DMV diretor técnico - Royal Canil do Brasil), durante visita à Nîmes. Os 3 vencedores ganharam uma visita ao campus da Royal Canin na França, aumentando a comitiva brasileira que foi para o WSAVA 2006
A cobertura do WSAVA 2006, pela Clínica Veterinária, foi gentilmente patrocinada pela
Bem-estar animal I Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal supera as expectativas
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I Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal, com cerca de 500 participantes, foi realizado com muito sucesso pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (World Society for the Protection Animal WSPA) de 16 a 18 de outubro, no Rio de Janeiro, RJ. Além da grande quantidade de inscritos, o evento contou com a participação de presidentes dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs) de 11 estados: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Ceará e Sergipe. Devido a importância do evento, o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) também compareceu. Um dos pontos importantes do congresso foi a realização de um painel que contou com a participação de oito presidentes de CRMVs, que resultou num documento a ser apresentado, em reunião dos CRMVs com o CFMV, que possui três recomendações básicas: introdução da disciplina de bem-estar animal nos currículos, revisão do juramento do médico veterinário e estabelecimento de um comitê de bem-estar animal em todos os CRMVs. O II Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal já tem data marcada. Será em 2007, no Riocentro (Rio de Janeiro, RJ), juntamente com a 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária.
Onze presidentes de CRMVs participaram do congresso, demonstrando interesse pelo tema bem-estar animal
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Melhores trabalhos apresentados no I Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal
www.wspabrasil.org
1 - A adoção do manejo racional melhora o bem-estar de bezerros leiteros
Lívia Carolina Magalhães Silva1,2 liviamagalhaeszoo@yahoo.com.br), Adriana P. Madureira1,3, Paula C. M. Ferreira1,2, Luciana de O. Lazaro1,2, Marcela Simões1,2, Guilherme de C. Abud 1,2 e Mateus J.R. Paranhos da Costa 1
Grupo ETCO, Departamento de Zootecnia, FCAV Unesp, Jaboticabal - SP, Brasil; 2 Graduação em Zootecnia; 3 Graduação em Medicina Veterinária
1
O estudo acadêmico do bem-estar animal não se deu por interesse exclusivamente científico, mas também em função da pressão do público, que quer saber mais sobre as formas de criação e tratamentos que recebem os animais de produção e, em especial, o que estes podem sentir. Com esta questão em mente decidimos desenvolver um estudo com o propósito de melhorar o manejo de bezerros em granjas leiteiras, que geralmente têm pouca oportunidade para interação social e não recebem atenção individual na rotina de manejo. O estudo foi desenvolvido na Fazenda Germânia (Taiaçu-SP) com implementação de uma nova rotina de manejo em setembro de 2005. Os dados foram coletados dos arquivos da fazenda tendo em conta as freqüências de uso de medicamentos totais, de uso de antibióticos e de óbitos de bezerros (machos e fêmeas) que ocorreram entre 1 e 30 dias de idade. Foram considerados os dois tipos de manejo: tradicional (MT)= de setembro de 2004 a julho de 2005 e racional (MR)= de setembro de 2005 a julho de 2006. No MT os bezerros foram mantidos em um galpão alojados em baias individuais (1,5x 0,75m), cujo piso era coberto com fina camada de maravalha; os bezerros recebiam em média 5 litros de leite por dia (em duas mamadas) em baldes individuais, havia concentrado e água à vontade. No MR os bezerros foram mantidos no mesmo galpão, mas a dimensão das baias passou a ser de 1,5x1,5m com o piso coberto por capim seco, com pelo menos 10 cm de cobertura; além disso, o leite passou a ser fornecido
em baldes com bico (para o bezerro sugar) e enquanto mamavam eram escovados pela tratadora até terminar a mamada. A análise dos dados foi realizada com a utilização do pacote estatístico SPSS, comparando-se as médias mês a mês pelo teste t emparelhado. Como esperado, houve menor número de óbitos no manejo racional (MT=7,09±3,73 e MR= 1,91±1,30; t=3,586; GL=10; P=0,005), bem como foi menor a freqüência de uso de antibióticos (MT=35,64±16,84 e MR= 12,91±9,50; t=3462; GL=10; P=0,006). Entretanto, não houve diferença significativa na freqüência de uso de medicamentos totais (MT= 59,27±28,88 e MR= 42,09±39,22; t= 0,991; GL= 10; P= 0,345). Além disso, os bezerros submetidos ao manejo racional se mostravam mais ativos e vigorosos. Assim, concluímos que mudanças simples de instalações e de manejo podem melhorar as condições de vida de bezerros leiteiros, com reflexos positivos na sua saúde e taxa de sobrevivência. ———— 2 - Ética animal: uma análise dos livros didáticos de ciências do primeiro segmento do ensino fundamental
Vanessa Barcelos Couto1 - vannybc@yahoo. com.br e Rita Leal Paixão2 - rpaixao@vm.uff.br
Bióloga, mestranda em geoquímica da Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 2 Médica veterinária, profa. do Depto. de Fisiologia e Farmacologia - Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ. 1
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3A - O comportamento de brincadeira em queixadas Tayassu pecari (Mammalia, Tayassuidae) e uma proposta de enriquecimento ambiental
Jackeline Prates Soledade - jackeprates@ hotmail.com, Sérgio Luis Gama Nogueira Filho e Selene Siqueira da Cunha Nogueira. Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, Bahia.
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3B - Comportamento de matrizes suínas gestantes em diferentes sistemas de contenção visando ao bem-estar animal
Héliton Pandorfi - pandorfi@ufrpe.br, Iran José Oliveira da Silva e Jefferson Luiz de Carvalho. UFRPE, Recife, PE
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Compressão da cauda eqüina em cão fila brasileiro com mieloma múltiplo relato de caso
Durval Baraúna Júnior
MV, mestre, prof. ass. I Colegiado de Medicina Veterinária - UFVASF durvalbarauna@hotmail.com
Eduardo Alberto Tudury MV, dr. prof. adj. IV DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br
Cláudio Roehsig
Cauda equina compression in fila brasileiro dog with multiple myeloma - case report
MV, mestre
roehsig@hotmail.com
Leandro Branco Rocha MV, mestre
Compresión de la cola de caballo en perro fila brasileiro con mieloma múltiple relato de caso Resumo: O mieloma múltiplo é o mais importante neoplasma de plasmócitos quando se consideram incidência e severidade. As lesões compressivas da medula espinhal decorrentes de extensão tumoral advinda do corpo vertebral geram sinais neurológicos. O objetivo deste trabalho é relatar um caso (tratamento e evolução) de compressão da cauda eqüina em cão fila brasileiro com mieloma múltiplo. O diagnóstico foi realizado por meio dos achados clínicos, de biópsia excisional e citologia de medula óssea. A descompressão da cauda eqüina e a quimioterapia (melfalano, prednisona e ciclofosfamida) induziram melhoras na qualidade de vida e nas funções neurológicas, embora o cão tenha vindo a óbito 13 meses mais tarde, devido à progressiva disfunção renal gerada pelas alterações neoplásicas e metabólicas que acompanham o neoplasma. Unitermos: Oncologia, coluna vertebral, neurologia, neoplasma Abstract: Multiple myeloma is the most important plasma cell neoplasm based on incidence and severity. The compressive injury of spinal cord following the neoplasm extension to the medular canal produce neurological signs. The aim of this article is to report one case (treatment and evolution) of the cauda equina compression in a Fila Brasileiro dog with multiple myeloma. The diagnosis was achieved through clinical examination, excisional biopsy and bone marrow examination. Surgical cauda equina decompression and chemotherapy (melphalan, prednisone and cyclophosphamide) produced improvement in life quality and neurological functions, although the dog died 13 months later, due to progressive renal dysfunction produced by neoplastic and metabolic alterations induced by the neoplasm. Keywords: Oncology, vertebral column, neurology, neoplasm Resumen: El mieloma múltiple es el neoplasma más importante de los plasmocitos, con base en incidencia y gravedad. Las lesiones de compresión de la médula espinal por la extensión tumoral oriunda del cuerpo vertebral generan signos neurológicos. El objetivo de este artículo es relatar un caso (tratamiento y evolución) de compresión de la cola de caballo de un perro fila brasileiro con mieloma múltiple. El diagnóstico se hizo por hallazgos clínicos, por biopsia excisional y por citología de la médula ósea. La descompresión de la cola de caballo y la quimioterapia (melfalán, prednisona y ciclofosfamida) brindaron mejoras en la calidad de vida y en las funciones neurológicas, aunque el perro murió 13 meses más tarde, debido a la progresiva disfunción renal causada por las alteraciones neoplásicas y metabólicas que acompañan el neoplasma. Palabras clave: Oncología, columna vertebral, neurología, neoplasma
Clínica Veterinária, n. 65, p. 34-38, 2006
INTRODUÇÃO Os plasmocitomas surgem da proliferação de linfócitos B que assumem a forma maligna. A ampla variedade de síndromes clínicas que são representadas pelos plasmocitomas inclui: o mieloma múltiplo, a macroglobulinemia de IgM (doença de Waldenstrom) e os plasmocitomas solitários, como os plasmocitomas ósseo e extramedular 1. O mieloma múltiplo pode atingir qualquer órgão 2 ou tecido do organismo, mas com freqüência – graças ao seu comportamento biológico – envolve as vértebras, sob a forma de neoplasma da medula óssea 3. Embora 34
seja um neoplasma maligno raro 4, o mieloma múltiplo é o neoplasma mais importante dos plasmócitos 1. Representa menos de 1% de todos os tumores malignos, aproximadamente 8% de todos os tumores hematopoéticos malignos 4 e 3,6% de todos os tumores primários e secundários que afetam os ossos de cães 5. A proliferação de um único clone de plasmócitos produz imunoglobulinas (IgA ou IgG) ou subunidades (cadeias leves ou pesadas) que, quando polimerizadas, podem aumentar a viscosidade do plasma sangüíneo 4. A hiperviscosidade sérica pode levar a anormalidades
leobrv@hotmail.com
Ana Paula Monteiro Tenório MV, dra. profa. adj. 1 DMV/UFRPE
paula_anestesia@yahoo.com.br
que incluem diátese hemorrágica, sinais neurológicos e alterações oftálmicas e cardíacas 5. O mieloma múltiplo pode se manifestar como lesão óssea localizada ou como moléstia sistêmica 6. A grande variedade de sinas clínicos depende da localização da lesão e da extensão da doença 1,4,5. As lesões compressivas da medula espinhal decorrentes da extensão tumoral advinda do corpo ou arco vertebral podem causar sinais neurológicos 2 como paresia, paralisia e incontinência urinária 7. O diagnóstico do mieloma múltiplo é confirmado quando três ou quatro das características citadas a seguir estão presentes: gamopatia monoclonal, plasmócitos neoplásicos ou plasmocitose na medula óssea, lesões ósseas líticas 4 e proteinúria de Bence Jones, caracterizada pela grande presença de imunoglobulinas de cadeia leve e de baixo peso molecular na urina 8. O tratamento do mieloma múltiplo deve ser direcionado ao combate das células, assim como dos efeitos secundários por ele desencadeados. A quimioterapia é bastante efetiva, reduzindo o número de células tumorais, aliviando a dor óssea (quando há comprometimento), permitindo a cicatrização do esqueleto e reduzindo os níveis de imunoglobulinas do soro 1. Os achados laboratoriais de hipercalcemia, proteinúria de Bence Jones e ex-
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Eduardo Alberto Tudury
tensas lesões ósseas em 60 cães com mieloma múltiplo foram correlacionadas à menor sobrevida. A azotemia não foi estatisticamente significativa quando correlacionada com o prognóstico, embora uma tendência para aumento do tempo de sobrevida tenha sido aparente no grupo de cães não azotêmicos 5. Tanto em seres humanos quanto em animais, falhas no tratamento quimioterápico do mieloma múltiplo, com morte do paciente em decorrência da progressiva deterioração da função renal têm sido relatadas 9,10. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso (tratamento e evolução) de compressão da cauda eqüina em cão fila brasileiro com mieloma múltiplo.
Figura 2 - Imagem fotográfica do canal vertebral após laminectomia evidenciando: A - Massa tumoral (seta preta) comprimindo a cauda eqüina (seta amarela); B - Cavitação da porção dorsal do corpo vertebral (seta amarela) de lombar seis (L6)
Com o consentimento da proprietária, procedeu-se à laminectomia exploratória de lombar seis ao sacro, que permitiu a visualização de massa arroxeada medindo 3,5 x 1,0 x 1,0cm, de consistência friável, comprimindo ventralmente a cauda eqüina. Após excisão da massa, observou-se uma área cavitária focalizada no piso do canal vertebral, na altura da vértebra lombar seis (Figura 2A e B). O fragmento excisado foi fixado em formol 10%, e encaminhado para exame histopatológico, no qual foi observada amostragem de tecido fibromuscular contendo neoplasma constituída por células redondas, predominantemente monomórficas, com citoplasma eosinofílico abundante e núcleo grande. Essas células apresentavam-se dispostas em cordões, separados por escasso estroma conjuntivo. Conjuntamente, observaram-se focos de hemorragia e mitoses freqüentes. O quadro morfológico foi considerado compatível com plasmocitoma, devendo ser considerada a possibilidade de mieloma múltiplo. Com base nos achados e na sugestão do exame histopatológico, iniciou-se
RELATO DO CASO Um cão, macho da raça fila brasileiro, com 10 anos de idade e pesando 45kg foi atendido na primeira quinzena do mês de agosto de 2004, com queixa de paralisia da cauda havia três meses, dificuldade para levantar e sentar, andar rígido, emagrecimento progressivo e dor. Nos exames clínico e neurológico foram constatadas as seguintes anormalidades: paraparesia, paralisia da cauda e dor intensa à palpação da região da articulação lombossacra; nos membros pélvicos observaram-se ausência de reflexos patelares, diminuição dos reflexos flexores e propriocepção prejudicada. No exame radiográfico simples foi evidenciada osteólise da porção dorsal do corpo da vértebra lombar seis e no contrastado (epidurografia) constatou-se deslocamento dorsal da coluna de contraste com compressão da cauda eqüina na mesma região (Figura 1).
Figura 3 - Fotomicrografia de exame citológico de medula óssea evidenciando incremento do número de plasmócitos característico de mieloma múltiplo. Panóptico rápido1000x
Eduardo Alberto Tudury
Eduardo Alberto Tudury
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Figura 1 - Imagem radiográfica (epidurografia) evidenciando: (seta amarela) deslocamento da linha de contraste e (seta vermelha) osteólise da porção dorsal do corpo de vértebra lombar seis
procedimento diagnóstico partindo da suspeita de mieloma múltiplo. Na citologia por punção de medula óssea os plasmócitos representaram 36,2% da celularidade, e apresentavam-se visivelmente aumentados, com morfologia variada, incluindo plasmócitos em chama, vacuolizados e agrupados (Figura 3). As avaliações bioquímicas permitiram a observação de hipercalcemia (11,9mg/dL) e creatinina sérica na concentração de 2,5mg/dL. A eletroforese das proteínas séricas revelou aumento das proteínas totais (12,30g/dL), diminuição da albumina (1,66g/dL), globulinas Alfa 1 (0,17g/dL) e Alfa 2 (0,41g/dL) dentro dos valores normais, aumento marcante das frações Beta (4,22g/dL) e Gama (5,84g/dL), além de diminuição da relação albumina/globulina (0,16), alterações características da gamopatia monoclonal (Figura 4). O valor do cálcio sérico corrigido pela fórmula: [cálcio (mg/dL) - albumina (g/dL)] + 3,5 = [ 11,9 - 1,66] + 3,5, foi de 13,24mg/dL. O hemograma apresentava 11.300mm3 de leucócitos, 434.000mm3 de plaquetas e 32% de hematócrito. À urinálise,
Figura 4 - Eletroforese das proteínas séricas. Notar pico de gamaglobulinas notavelmente aumentado
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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observou-se urina de cor amarelo citrino, ligeiramente turva, com densidade de 1.034, proteína ++++, várias bactérias móveis, numerosos leucócitos (26-32p/campo), várias hemácias (1014p/campo), várias células epiteliais de descamação, vários cilindros granulosos (4-6p/campo), numerosos cristais de fosfato triplo e presença de agulhas de tirosina, enquanto o teste da proteína de Bence Jones (precipitação pelo calor) apresentou resultado positivo. Com base nos resultados foi estabelecido o diagnóstico de mieloma múltiplo. A quimioterapia oral consistiu no uso de melfalano 0,1mg/kg em intervalos de 24 horas durante 10 dias, seguido de 0,5mg/kg em intervalos de 24 horas continuamente; administração de prednisona 0,5mg/kg em intervalos de 24 horas durante 10 dias, seguida de 0,5mg/kg a cada 48 horas durante 60 dias, e ciclofosfamida 50mg/m2 em intervalos de 24 horas durante quatro dias por semana, completando oito semanas. O acompanhamento foi realizado com auxílio de exame clínico geral e hemograma, em intervalos de 15 dias. Em nova punção de medula óssea, realizada dois meses após o início da quimioterapia, observou-se 3,4% de plasmócitos. Decorridos quatro meses do primeiro atendimento o animal voltou a realizar a guarda da casa, apresentando menor dificuldade para levantar e sentar, menos dor, ganho de peso e andar rígido, mas sem recuperar totalmente os movimentos da cauda. Após seis meses do início do tratamento a proprietária não retornou mais com o cão, apesar das recomendações para a monitoração do paciente. Em setembro de 2005, depois de sete meses da última avaliação, a proprietária retornou com o animal. Nessa nova consulta o animal apresentava emagrecimento severo. Nova série de exames foi realizada, e o mielograma revelou aumento da população dos plasmócitos, com hemograma apresentando 5.600mm3 de leucócitos totais, 280 linfócitos/mm3, 180.000 plaquetas/mm3 e 30% de hematócrito, enquanto as avaliações bioquímicas evidenciaram azotemia (creatinina sérica 17,0mg/dL) e densidade urinária com valor de 1.010, caracterizando quadro de doença renal. Em virtude do quadro geral foi indicada a internação do cão em unidade de terapia 36
intensiva, o que não foi realizado pela proprietária por dificuldades financeiras. Apesar dos procedimentos ambulatoriais realizados, não foi possível reverter o quadro de insuficiência renal e o animal veio a óbito, sem necropsia subseqüente por falta de autorização. DISCUSSÃO O mieloma múltiplo ficou confirmado pela identificação de plasmócitos neoplásicos na biópsia, pela plasmocitose da medula óssea, gamopatia monoclonal, lesão óssea lítica 7 e proteinúria de Bence Jones, corroborando os registros da literatura 2,8. A medula óssea normal apresenta menos de 5% de plasmócitos 1, enquanto o cão objeto deste relato apresentava 36,2%, excedendo grandemente os valores normais. Os achados neurológicos de paresia progressiva dos membros pélvicos, paraplegia e dor também foram relatados por outros autores em pacientes com mieloma múltiplo 4,7,10,11. O quadro laboratorial do paciente foi bem característico da afecção. As anormalidades metabólicas comumente relatadas na literatura incluem hipoalbuminemia absoluta (albumina < 2,5g/dL), azotemia renal (creatinina > 1,5g/dL em associação com isostenúria), hipercalcemia (cálcio > 11,5g/dL, com ajuste conforme a concentração de albumina) e urinálise com proteinúria não específica e presença de proteína de Bence Jones 5. A lesão encontrada no corpo e no canal vertebrais decorreu do agrupamento tumoral de plasmócitos, com resultante compressão da cauda eqüina e destruição óssea lítica, produzindo manifestação clínica 3. Cavitação no corpo das vértebras lombares três e quatro, com massa avermelhada projetando-se e comprimindo a medula espinhal de um cão da raça dobermann também foi anteriormente relatada 7. Outros neoplasmas que causam compressão medula espinhal extradural são o osteossarcoma, o condrossarcoma, o fibrossarcoma, o linfossarcoma e as metástases vertebrais (hemangiossarcomas, linfossarcomas e sarcomas indiferenciados) 12. A epidurografia foi essencial para evidenciar a compressão extradural decorrente da proliferação da massa tumoral e a lesão lítica no corpo vertebral da lombar seis e é o método de eleição para
avaliação da região lombossacra para alguns radiologistas 13. Em casos em que a lesão é mais cranial, é necessária a realização da mielografia para confirmação da lesão 5,7,11. Outros exames de imagem, como ressonância magnética 10 e tomografia computadorizada também são úteis para confirmar a compressão e a extensão da lesão 12. A laminectomia promoveu descompressão da medula espinhal e da cauda eqüina, com alívio da dor e melhora da sintomatologia neurológica, sendo indicada, de acordo com a literatura, em associação com a quimioterapia 7,10,11. Como a laminectomia dorsal com remoção dos processos articulares reduz a estabilidade da coluna vertebral 13, os processos articulares foram preservados limitando-se à lâmina óssea, e não estendendo a laminectomia além da lâmina de lombar sete, no intuito de minimizar esse problema. Deficiências mais graves do neurônio motor inferior conduzem a prognóstico menos favorável após a laminectomia 13, fato que neste paciente pode ter decorrido de degenerações axonais e/ou desmielinização da cauda eqüina. Eventualmente, o mieloma múltiplo não responde em longo prazo à quimioterapia disponível, e a morte é decorrente de falência renal, sepse ou eutanásia por dor óssea ou espinhal intratável 1,9; neste caso, o óbito do animal foi atribuído à doença renal instalada. Em 90% dos cães, a quimioterapia é bem respondida. Depois do sucesso da quimioterapia, o crescimento das células entra em uma fase de platô; que permanece estável até a resistência ao quimioterápico ser adquirida por uma fração de células. A lenta expansão dessa fração de células pode acontecer por eventual lapso durante a terapia, ou em decorrência da falta de resposta do paciente ao agente quimioterápico 5. No caso ora relatado, a quimioterapia foi in terrompida du rante um mês por falta do quimioterápico no mercado; nesse período o quadro do animal se agravou, conforme relato da proprietária, e evoluiu até a morte do cão. Mesmo assim, a proprietária mostrou-se satisfeita com o tempo de sobrevida alcançado com o tratamento, situação também relatada na literatura 1.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
A média de sobrevida em 60 cães com mieloma múltiplo tratados com quimioterapia e sem anormalidades metabólicas que piorassem o prognóstico foi de 18 meses 5. O tempo de sobrevida alcançado pelo animal objeto deste relato foi de 13 meses, apesar do prognóstico desfavorável em virtude das alterações metabólicas apresentadas pelo paciente. Em outro relato de caso clinico, um cão da raça setter irlandês manteve-se estável durante nove meses, apesar da persistente e progressiva azotemia, vindo a ser eutanasiado 14 meses depois do diagnóstico de mieloma múltiplo 9. CONCLUSÃO O mieloma múltiplo que se prolifera, a partir dos corpos vertebrais pode provocar sinais típicos de compressão da cauda eqüina e o tratamento constituído por laminectomia, excisão do tumor e quimioterapia fornecem um período satisfatório de sobrevida ao paciente.
REFERÊNCIAS
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Carcinoma inflamatório de mama em cadela relato de caso
Henri Donnarumma Levy Bentubo Médico veterinário autônomo hbentubo@yahoo.com.br
Renata Afonso Sobral
MV, profª. adj. FMV/UMESP Serviço de Oncologia Veterinária - PROVET provet@provet.com.br
Inflammatory mammary carcinoma in the bitch - case report
Carcinoma mamario inflamatorio en perra relato de caso Resumo: O carcinoma inflamatório de mama (CIM) é o tipo mais agressivo de tumor maligno de surgimento espontâneo que acomete a glândula mamária da cadela. Apenas em um estudo recente foi possível determinar o valor do gato doméstico como novo modelo animal para o CIM. Dadas as recentes descrições e os poucos relatos existentes na literatura médico-veterinária, as taxas de incidência e a prevalência da doença não são claramente estabelecidas, sendo alvos de considerações especulativas. Clinicamente, o CIM caracteriza-se por rápido crescimento associado a eritema, calor, dor e edema, e apresenta um alto potencial metastático. Histologicamente pode estar associado a diferentes tipos de carcinomas, principalmente os adenocarcinomas. A presença de infiltrado celular neoplásico nos vasos linfáticos da derme poderia ser considerada determinante no diagnóstico patológico do CIM em cadelas. Embora pouco freqüente, sua evolução é geralmente fatal. Não existe tratamento satisfatório até o momento. Unitermos: Cadela, glândula mamária
Rodrigo Ubukata
Médico veterinário Serviço de Oncologia Veterinária - PROVET provet@provet.com.br
Suzana Terumi Honda
Médica veterinária autônoma suzana.honda@uol.com.br
José Guilherme Xavier
MV, prof. tit. FMV/UNIP Setor de Patologia Celular - Lab. Genoa Veterinária jgxavier@uol.com.br
Abstract: Inflammatory mammary carcinoma (IMC) is the most aggressive spontaneous type of malignant tumor of the mammary gland of the bitch. In only one recent study it was possible to evaluate the domestic cat and its value as a new animal model for IMC. The incidence and prevalence ratios of this disease are not clearly established, being target of speculative considerations due to the new descriptions and the few cases reported in the veterinary literature. Clinically, it is characterized by a rapidly growing associated with erythema, warmth, pain and edema, presenting a high metastatic potential. Histologically, it may be associated with different types of carcinomas, especially adenocarcinomas. The presence of neoplastic cells infiltrate on the dermal lymphatic vessels should be considered a hallmark for the pathologic diagnosis of IMC in dogs. Although infrequent, the disease has generally a fatal outcome. At the moment, there is no satisfactory treatment. Keywords: bitch, mammary gland Resumen: El carcinoma mamario inflamatorio (CMI) es el tipo más agresivo de tumor mamario maligno que espontáneamente acomete a las perras. Solamente en un estudio reciente fue posible evaluar los gatos domésticos como un modelo animal en el CMI. La incidencia y prevalencia no están claramente establecidas, siendo estos datos considerados especulativos debido a las nuevas descripciones y escasos relatos en la literatura veterinaria. Clínicamente se caracteriza por un rápido crecimiento asociado con eritema, calor, dolor, edema y un elevado potencial metastático. Histológicamente puede estar asociado a diversos tipos de carcinoma, principalmente adenocarcinomas. La infiltración tumoral de los capilares linfáticos de la dermis es la característica más importante y puede ser considerada como determinante en el diagnóstico patológico del CMI en las perras. Aunque poco frecuente su evolución es generalmente fatal, no existiendo aún tratamiento eficaz. Palabras clave: perra, glándula mamaria
Clínica Veterinária, n. 65, p. 40-44, 2006
INTRODUÇÃO As neoplasias mamárias das cadelas apresentam ampla variação histológica e, por vezes, são malignas 1. O carcinoma inflamatório de mama (CIM), descrito com relativa excepcionalidade e pouco relatado no Brasil 2, é considerado uma entidade neoplásica extremamente distinta, com mau prognóstico e sem tratamento efetivo conhecido até o momento 3. A doença foi descrita, pela primeira vez, em 1983 em cadelas 4 e, mais recentemente, em gatas 5. Sua etiologia ainda é desconhecida, muito embora a literatura mencione que a influência de carcinógenos nutricionais e ambientais, freqüentemente 40
correlacionados ao aparecimento de tumores, sejam fatores relevantes 6. Comparado a outros tipos de tumores mamários malignos nas cadelas, o CIM é o tipo espontâneo mais agressivo 7. Sua freqüência na mulher é de 1% a 4% dentre as neoplasias mamárias malignas 8. Já em cadelas, não existem dados relativos à sua freqüência, embora se acredite que o percentual de acometimento não ultrapasse os 4% 8. Consultando a literatura disponível, não se encontrou nenhum relato anterior de CIM no Brasil. O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de CIM ocorrido em uma cadela atendida pelo serviço de Oncologia Veterinária,
PROVET (São Paulo, SP), e alertar os médicos veterinários em relação às suas particularidades, fornecendo subsídios para o seu diagnóstico, e contribuindo para futuros estudos relacionados à moléstia no Brasil. RELATO DO CASO CLÍNICO Uma cadela, cocker spaniel inglês, com seis anos e sete meses de idade, foi encaminhada ao Serviço de Oncologia Veterinária, PROVET, para avaliação clínica de suposta recidiva de neoplasia mamária. O animal fora submetido, 15 dias antes, à mastectomia unilateral para retirada de nódulo e à ovariossalpingohisterectomia (OSH).
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
José Guilherme Xavier
José Guilherme Xavier
José Guilherme Xavier
José Guilherme Xavier
Segundo o proprietário, os nódulos teriam surgido havia seis meses, e apresentaram crescimento expressivo 30 dias antes da cirurgia. Ao exame físico, o animal apresentava parâmetros normais e bom estado geral, exceto pela presença de formações nodulares aparentemente inflamadas, de consistência firme, temperatura elevada e não ulcerada, com aproximadamente 8x5cm, em região inguinal bilateral. Observou-se também, envolvimento de linfonodos Figura 1 - Carcinoma inflamatório de mama inguinais superficiais e alteração de linapresentando êmbolos tumorais em vasos linfonodos poplíteos, sugerindo semelhanfáticos em derme superficial – corado por Figura 2 - Carcinoma inflamatório mamário aprehematoxilina-eosina – aumento de 100x ça do quadro com o CIM. sentando blocos de células neoplásicas com áreas necróticas acompanhadas por intenso infilA paciente foi encaminhada ao laboJosé Guilherme Xavier trado inflamatório predominantemente mononuratório para a realização de radiografias clear e numerosos êmbolos neoplásicos – coratorácicas e colheita de material para hedo por hematoxilina-eosina – aumento de 100x mograma e testes séricos de avaliação das funções renal e hepática. Os campos pulmonares encontravam-se livres de qualquer imagem metastática e o hemograma apresentava discreta leucocitose. As funções renal e hepática revelaramse dentro dos valores de referência descritos para a espécie 9. Em cortes histológicos de tecido mamário identificou-se a presença de amplas áreas necróticas sendo freqüentes, Figura 3 - Detalhe de população celular a partir de derme superficial, êmbolos anaplásica distribuída difusamente pela derme tumorais em vasos linfáticos e sangüísuperficial em caso de carcinoma inflamatório mamário – corado por hematoxilina-eosina – neos (Figura 1); importante infiltrado Figura 4 - Elevada proporção de células neoaumento de 400x mononuclear (Figura 2); hipercelulariplásicas positivas para o antígeno nuclear de proliferação celular (PC-10) em carcinoma dade associada a intenso desarranjo inflamatório mamário – contracorado com com hematoxilina. arquitetural com o predomínio de estruhematoxilina – aumento de 400x A imunohistoquímica evidenciou turas tubulares constituídas por popuforte expressão PCNA (28% das células lação epitelial anaplásica, cuja relação neoplásicas) (Figura 4) e expressão de núcleo/citoplasma estava aumentada, receptores para estrógeno e progesteronucléolos evidentes, anisocariose e na em 6% (Figura 5) e 4,5% das células, estratificação (Figura 3). Não foram respectivamente. Com base no quadro identificados sítios de metaplasia e clínico e nos resultados laboratoriais, expansão mioepitelial. Constatou-se concluiu-se que o quadro era compatíausência de delimitação do processo. vel com carcinoma inflamatório de maPara melhor compreender o grau de ma grau III de malignidade 10,11. diferenciação e a agressividade da neoO tratamento quimioterápico foi reaplasia, realizou-se procedimento imunolizado com a aplicação de protocolo histoquímico, avaliando a atividade proFAC, preconizando o uso alternado de liferativa e a expressão de receptores de Doxorrubicina, 5-Fluoruracil e Cicloestrógeno e de progesterona nas células Figura 5 - Positividade de células neoplásicas pafosfamida. Entretanto, após a primeira neoplásicas (Quadro 1). Para tanto, prora receptor de progesterona (anticorpo PgR636) sessão do tratamento, o animal não cedeu-se à recuperação antigênica por em carcinoma inflamatório mamário – contracorado com hematoxilina – aumento de 400x apresentou qualquer resposta favorável. calor úmido em panela de pressão, seguida por incubação com anticorpo primário Quadro 1 - Anticorpos empregados no procedimento imunohistoquímico overnight, com auxílio de Anticorpo origem clone diluição laboratório sistema de amplificação PCNA monoclonal de camundongo anti-humano PC-10 1:100 DAKO LSAB e diaminobenzidina Receptor de estrógeno monoclonal de camundongo anti-humano 1D5 1:60 DAKO como cromógeno, sendo Receptor de progesterona monoclonal de camundongo anti-humano PgR636 1:60 DAKO os cortes contracorados Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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O tumor progrediu e, devido à evolução rápida e irreversível do quadro, a paciente foi submetida à eutanásia. DISCUSSÃO O CIM é caracterizado por seu rápido crescimento, associado a um eritema intenso, calor, dor e edema 8, como foi possível observar neste caso. O desenvolvimento do tumor, que se apresenta como uma massa firme e pouco circunscrita dá-se sob a forma de placas que podem se distribuir indeterminadamente sobre a superfície corpórea do animal de maneira rápida e difusa. Essa massa mantém-se bem aderida ao foco e pode inclusive, apresentar-se ulcerada 1,3,8. Não foi observado qualquer sinal de ulceração até a constatação de debilidade marcante no estado geral da paciente. A ulceração de lesões decorrentes de neoplasias mamárias é um processo não obrigatório nos estágios iniciais, mas geralmente ocorre em virtude de complicações durante a evolução da doença. Freqüentemente, essa massa – de crescimento desordenado e invasivo – ultrapassa os limites toracoabdominais ventrais e acomete as regiões laterais adjacentes ao foco no corpo do animal 10. O CIM possui alto poder metastático, e a primeira via de disseminação das células tumorais é a rede linfática 8. O enfartamento dos linfonodos regionais é facilmente observável por inspeção e palpação destes 8 e, não raramente, os animais acometidos apresentam edema em um ou mais membros, provavelmente em virtude da invasão tumoral sobre os vasos linfáticos aferentes dos gânglios axilares e/ou inguinais superficiais, o que geralmente leva à hipofuncionalidade desses membros 10,12. Na paciente objeto do presente relato, confirmou-se o acometimento de linfonodos ilíacos superficiais e poplíteos por meio dos métodos semiológicos tradicionais. As alterações nesses órgãos não foram suficientes para determinar restrições aos movimentos do animal, mas constatou-se que a dor foi o fator mais relevante para essa condição. Outros três sinais que podem estar associados ao crescimento desordenado do tumor são a disquesia, presente em alguns animais provavelmente pela compressão do cólon e, o vômito e anorexia, que ocorrem devido ao comprometimento hepático 10. 42
Comumente, os casos de CIM são correlacionados a anormalidades hemostáticas 4,13. Coagulação intravascular disseminada foi descrita em três cadelas 4, quadro este, atribuído a fatores como liberação de tromboplastina pela massa tumoral, estase vascular secundária, obstrução linfática decorrente do crescimento tumoral ou do dano sofrido pelo endotélio vascular durante a proliferação das metástases 8. Nenhum coagulograma foi realizado na paciente objeto deste relato. Afora a fragilidade vascular inerente ao processo de angiogênese tumoral, nenhum sinal sistêmico que sugerisse tal anormalidade hemostática foi observado, embora tal hipótese não possa ser descartada. Do ponto de vista clínico, embora o CIM seja uma expressão neoplásica singular, é necessário um diagnóstico conclusivo 10. Dessa maneira, é preconizada uma seqüência de exames necessários para a elucidação precoce do caso e o estabelecimento do prognóstico 1. O exame físico é realizado com a finalidade de conferir as características clínicas do tumor e determinar a extensão das lesões, confirmando o acometimento de regiões extrafoco e diferenciando os sinais observados de processos inflamatórios menos graves, como a mastite por exemplo 8. Para a analgesia mais profunda, caso esta seja necessária, exames hematológicos e bioquímicos séricos de rotina também são indicados como ferramentas úteis no acompanhamento do estado geral do paciente durante o curso da doença 10. Dado o potencial metastático apresentado pelo CIM 8,12, radiografias torácicas e ultra-sonografias abdominais constituem eficientes formas de monitoramento de possíveis focos metastáticos em campos pulmonares, hepáticos, do baço e de linfonodos mesentéricos ou ilíacos, e até mesmo de possível infiltração do tumor em glândulas adanais 4,10. Devido às alterações hemodinâmicas implícitas ao curso da doença 4,13, um coagulograma sugere a possibilidade da ocorrência de coagulação intravascular disseminada 8,10. Entretanto, a definição do diagnóstico depende do reconhecimento de células tumorais malignas em estudos citológicos ou histopatológicos 8. Do ponto de vista microscópico, o CIM caracteriza-se como um carcinoma pouco diferenciado,
com evidência de infiltrados celulares polimorfonuclear e mononuclear e população celular epitelial anaplásica 10, o que condiz perfeitamente com os achados laboratoriais obtidos no caso ora apresentado. Nem sempre a citologia fornece informações seguras para o estabelecimento diagnóstico do CIM uma vez que, freqüêntemente apresenta resultados falso-negativos para neoplasias malignas. Em virtude disso, a biópsia incisional é um procedimento mais efetivo 8. Em exames de histopatologia, o CIM nas cadelas, da mesma maneira que nas mulheres, pode estar associado a vários outros tipos de carcinomas que também acometem as mamas como carcinoma de células escamosas, carcinoma cirroso, carcinoma sólido, carcinoma anaplásico, tumor misto maligno, carcinoma tubular e carcinoma papilífero, muito embora se admita que o adenocarcinoma seja mais comumente observado nestes casos. Nas neoplasias mamárias, constata-se, com relativa freqüência, a coexistência de padrões histológicos diferentes; em tais situações, o diagnóstico é comumente baseado no padrão mais severo 7,8. Os adenocarcinomas mamários são neoplasias epiteliais dos ductos mamários maiores, dos ductos interlobulares, dos ductos intralobulares e dos alvéolos 14. Compreendem três padrões de proliferação: acinar, tubular ou papilar, dependendo do arranjo que as células neoplásicas apresentem embora, habitualmente, seja possível observar vários padrões em diferentes locais de uma mesma neoplasia 14. Além disso, proliferações mioepiteliais em matriz condromucinosa – que caracterizam as formações complexas – também podem ser observadas 14. Tanto o carcinoma tubular quanto o papilífero são quase tão freqüentes quanto os adenocarcinomas apresentando inclusive, os mesmos padrões citados anteriormente para essa variedade histológica 14. O carcinoma de células escamosas, atualmente denominado carcinoma espinocelular, é um tumor bastante freqüente em outras regiões do corpo dos animais domésticos mas, da mesma maneira, quando aflige o tecido mamário, distingue-se histologicamente pela proliferação celular em folhetos sólidos, cordões alongados e ninhos de queratina 14.
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Embora bem menos freqüentes, os demais tipos neoplásicos citados diferenciam-se por características histológicas relativamente particulares. O carcinoma cirroso, por exemplo, apresenta significativa proliferação fibroplásica que posteriormente se diferencia em tecido conjuntivo colagenoso denso e maturo acreditando-se que tal proliferação constituase apenas em uma resposta tecidual à presença de células neoplásicas 14. Os carcinomas anaplásico e sólido assemelham-se quanto ao pleomorfismo apresentado pelas células neoplásicas, mas vale ressaltar que o primeiro é de ocorrência mais rara 14. Os tumores mistos, por sua vez, apresentam proliferação de células mioepiteliais, à semelhança dos tipos complexos de adenocarcinoma mas, nesse caso, estas células se diferenciam em ilhas de tecido cartilagíneo e/ou ósseo podendo, inclusive, apresentar medula hematopoética 14. A invasão do estroma e dos linfáticos pode ser observada na maioria dos carcinomas e adenocarcinomas, inclusive no
CIM como relatam alguns autores 2,3,8. Esse padrão foi inclusive observado em gatos acometidos por CIM 5, e é considerado como requisito indispensável para o diagnóstico definitivo de CIM em mulheres 15 e cadelas 2,4. Deve-se ressaltar ainda, que cerca de 90% das cadelas acometidas por CIM apresentam essa infiltração dos linfáticos da derme 4. As células neoplásicas situadas no interior das vênulas e dos linfáticos são um sinal prognóstico sombrio, pois sugerem metástases aos linfonodos regionais e outros locais 16. Essa característica histológica foi observada também no caso ora descrito, o que reafirma que o acometimento dos linfáticos da derme seja uma característica importante no diagnóstico dessa doença. Atualmente, a imunohistoquímica constitui-se em um método bastante sensível para a identificação de marcadores tumorais e um repertório variado de marcadores vem sendo experimentalmente utilizado. Em trabalho recente 7, quatro marcadores foram testados, a
saber: Ki67 (marcador de proliferação celular), p53 (gene supressor de tumor), PR e ER (receptores esteróides). O índice de proliferação celular ki67 é um bom parâmetro de prognóstico para os tumores mamários malignos 17, mas há outros marcadores de proliferação, como as AgNORs e o PCNA 18,19, que vêm sendo cada vez mais utilizados na rotina laboratorial. No presente estudo obteve-se expressão de PCNA em 28% das células neoplásicas, o que evidencia elevada fração de crescimento na população neoplásica. Mutações em p53 – gene supressor de tumor – são encontradas em alguns tumores mamários espontâneos em cadelas 20. Tais mutações são responsáveis pela baixa expressão da proteína p53, o que tem sido associado a um mau prognóstico em cadelas com tumores mamários malignos 2,19,21. Expressões de 6% para receptores de estrógeno e 4,5% para receptores de progesterona foram obtidas em ensaios imunohistoquímicos realizados com fragmentos do tumor relatado
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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no presente trabalho. Estudo imunohistoquímico que avaliou a expressão desses receptores esteróides em tecidos mutados e normais de várias espécies ressalta a importância desse tipo de avaliação para o estabelecimento do prognóstico e o tratamento hormonal adjuvante à quimioterapia em algumas neoplasias 22. A expressão de receptores de progesterona (PR) e de estrógeno (ER) pode ser avaliada, relacionando-se a sua queda a maior potencial metastático 23,24. O CIM é uma neoplasia mamária maligna extremamente peculiar, altamente metastática e com mau prognóstico que afeta mulheres, gatas e cadelas 5,8. A cirurgia é uma modalidade terapêutica pouco recomendada pela maioria dos autores, segundo os quais essa conduta aumenta os riscos de disseminação do tumor 8,10. A quimioterapia é uma modalidade acessível e apresentou bons resultados em cães com adenocarcinoma mamário, através da aplicação de protocolos que combinam doxorrubicina e ciclofosfamida ou empregam cisplatina como agente único 10. Entretanto, no presente caso, não se obteve qualquer resposta favorável à vida do animal com a aplicação do protocolo FAC, empregado neste caso. A terapia radioativa ou radioterapia é uma modalidade ainda não utilizada na rotina médico veterinária no Brasil, mas relatos do exterior referem seu uso em caráter experimental em casos de CIM, embora advirtam sobre a possibilidade de piora do quadro em pacientes com doença inflamatória já instalada 10. Para tais pacientes, o uso de antiinflamatórios não esteroidais podem ser empregados como caráter paliativo 12. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora as técnicas diagnósticas empregadas venham sendo aprimoradas, a literatura traz poucos trabalhos a esse respeito, nenhum deles brasileiro. Todas as modalidades terapêuticas mencionadas, aliadas ao diagnóstico precoce e utilizadas criteriosamente em associações, ou seja, na forma de terapia combinada, podem resultar em maior sobrevida para esses pacientes. Entretanto, o CIM em cadelas ainda se constitui em uma doença pouco documentada, de difícil tratamento e que geralmente leva os animais à morte. 44
REFERÊNCIAS
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Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Abordagem clínica e manejo conservativo do gato constipado
Viviane Gonçalves Vieira
Médica veterinária, R2 Depto. Clínicas Veterinárias/HV/UEL vigvieira@hotmail.com
Pedro Luiz de Camargo
MV, MSc, dr. prof. adj. Depto. Clínicas Veterinárias/UEL p.camargo@uel.br
Clinical approach and conservative management of constipated cats
Abordaje clínico y manejo conservativo del gato con estreñimiento Resumo: A constipação – problema comum em gatos de estimação –, caracteriza-se pela pouca freqüência ou dificuldade de defecação e pelo acúmulo de fezes que se tornam endurecidas e volumosas. A retenção fecal pode ocorrer por diferentes motivos, por vezes não relacionados a doenças, mas como conseqüência do tipo de alimentação ou da retenção voluntária decorrente de fatores ambientais. Essa afecção também pode ser decorrente de processos que tornam a defecação dolorosa, de doenças neuromusculares, metabólicas ou fármacos que alteram a motilidade do cólon, bem como de obstruções mecânicas que impedem a progressão do bolo fecal. Embora a lista de causas de constipação em gatos seja vasta, usualmente o diagnóstico da doença primária é simples. Neste artigo são revistos os meios de diagnóstico e a avaliação do paciente felino constipado, além dos métodos atuais de tratamento descritos na literatura. Unitermos: disfunção colônica, problemas da defecação, megacólon, obstipação, terapia do cólon Abstract: Constipation is a common clinical problem to companion cats. It is characterized by infrequent or difficult defecation, which results in accumulation of bulked and hard feces in the colon. There are many causes of fecal retention. It is often unrelated to diseases and results from the dietary composition or voluntary retention secondary to environmental factors. It can also have its origins in processes that cause defecation to be painful or that impair colonic motility, such as neuromuscular or metabolic diseases or the administration of some drugs, as well as mechanical obstruction to fecal progression. In spite of the long list of potential causes to constipation, the identification of the source is usually simple. This paper reviews the clinical approach, diagnostic and evaluation methods of the constipated feline, as well as the current clinical and surgical treatments described in literature. Keywords: Colonic dysfunction, megacolon, obstipation, colonic therapy Resumen: El estreñimiento es un problema común en los gatos domésticos que se caracteriza por la infrecuencia o dificultad de defecación, con el acúmulo de heces que se tornan endurecidas y volumosas. La retención fecal puede ocurrir por diferentes motivos, por veces no relacionados a una enfermedad, como en consecuencia del tipo de alimentación o por la retención voluntaria causada por factores ambientales. Puede ser también resultado de procesos que producen una defecación dolorosa, o de enfermedades neuromusculares, metabólicas o fármacos que alteran la actividad peristáltica del colon, así como de obstrucciones mecánicas que impiden el paso de la materia fecal. Mismo habiendo una larga relación de causas de estreñimiento en los gatos, usualmente el diagnóstico de la enfermedad primaria es simple. En este artículo son revistos los medios de diagnóstico y evaluación del paciente y los métodos atuales de tratamiento del estreñimiento descritos en la literatura. Palabras clave: disfunción de colon, problemas en la defecación, megacolon, obstipación, terapia de colon
Clínica Veterinária, n. 65, p. 46-54, 2006
INTRODUÇÃO A constipação é definida como evacuação pouco freqüente ou difícil, com acúmulo de fezes que, progressivamente, tornam-se duras e secas. Os sinais clínicos da afecção são: esforço excessivo para defecar e emissão de volume reduzido de fezes, o que pode resultar em ausência de defecação 1,2,3,4. A constipação deve ser diferenciada da obstipação, estado de constipação intratável resultante de retenção fecal por período de tempo prolongado, no qual as fezes tornam-se excessivamente duras e secas 2,4,5,6. Nesta condição, a compactação fecal é tão severa que a defecação tornase progressivamente mais difícil, até ser 46
praticamente impossível 5,7,8. Gatos podem reter fezes no cólon por vários dias sem apresentar qualquer sinal clínico. Porém, a retenção promove a absorção continuada de água da massa fecal e resulta em desidratação e solidificação progressiva das fezes, que acaba por gerar sinais sugestivos do problema, como disquesia (defecação dolorosa), tenesmo (esforços improdutivos e repetidos de defecação) e distensão abdominal 3,9,10. A compactação fecal, se não tratada, provoca distensão anormal do cólon e, por conseqüência, perda da motilidade do órgão, que pode ser irreversível. O grau de distensão e a duração do quadro
necessários para gerar essas alterações são desconhecidos, mas são fatores importantes no desenvolvimento da atonia colônica secundária 7. O megacólon é definido como distensão exagerada e generalizada do cólon, e pode ser idiopático, secundário a fatores inibidores da defecação de diferentes origens ou decorrente de alterações funcionais e mecânicas 7. O megacólon idiopático acomete quase que exclusivamente gatos de meia-idade a idosos e, embora a patogenia do processo ainda seja desconhecida, suspeita-se que seja decorrente de disfunção da musculatura lisa do cólon 4,7,11. APRESENTAÇÃO E SINAIS CLÍNICOS Constipação, obstipação e megacólon podem ser observados em gatos de qualquer idade, sexo ou raça, embora a maioria dos casos ocorra em gatos machos, adultos e de raças de pêlos longos 4,12,13. Os felinos constipados podem apresentar desde dificuldade de defecar ou defecações pouco freqüentes até ausência de defecação por dias, semanas ou meses 9,13. O proprietário pode relatar que o animal passa muito tempo na caixa higiênica, alternando de posição, por vezes vocalizando, exercendo esforços repetidos e improdutivos para defecar 3,12. Alguns proprietários relatam
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somente diarréia ou hematoquesia durante a tentativa de defecar, enquanto os episódios de retenção fecal passam desapercebidos 1,12,13, mas a diarréia é resultado da secreção de fluidos e muco provocada pela irritação da mucosa do cólon pela massa fecal compacta 1,9,12,14. Esses fluidos que se acumulam passam entre os blocos de fezes retidas, e são eliminados apesar da retenção fecal 1,9,12,14. Gatos gravemente constipados podem apresentar anorexia, letargia e depressão, sinais atribuídos à absorção das toxinas produzidas pelas bactérias do lúmen intestinal 3,7,13. Em virtude da atuação das toxinas na zona quimiorreceptora disparadora, ou da estimulação vagal ao centro do vômito causada pela distensão do cólon, vômitos também podem ocorrer nesses pacientes 7. Alguns animais podem adotar uma postura curvada devido ao extremo desconforto abdominal 3,8,12,13. Os achados do exame físico geralmente são inespecíficos, exceto pela distensão firme do cólon, detectada à palpação abdominal. Dependendo da gravidade do quadro, o paciente pode apresentar desidratação, depressão e dor abdominal 3,12,13. Linfadenomegalia mesentérica discreta a moderada pode ser observada em gatos com megacólon idiopático 13. ETIOLOGIA A constipação é um problema comum nos gatos, e pode ser induzida por grande variedade de fatores e de doenças 15,16, como ingestão de corpos estranhos, dieta ou ambiente, processos dolorosos de grau moderado a grave na região do reto e do ânus, doenças neuromusculares e ortopédicas, distúrbios hidroeletrolíticos e efeitos provocados pela ingestão de drogas 16,17,18. Aparentemente, mais de 60% dos casos de constipação ou obstipação em felinos decorre de megacólon idiopático, e pouco mais de 20% é secundário a obstruções; destes últimos, a maioria (96%) resulta de estreitamento pélvico por fratura. As disfunções neurológicas são responsáveis por cerca de 10% dos casos, e um pequeno número é decorrente de neoplasias ou complicações de colopexia 7,12,19. Assim, embora seja importante considerar uma lista de diagnósticos diferenciais, as causas mais freqüentes 48
são idiopáticas, ortopédicas ou neurológicas 7,12,19. Fatores ambientais, psicológicos e comportamentais podem interferir no ato de defecação 9,15,17,18. A manutenção do animal em lugares estranhos, como hospitais e clínicas, a introdução de um novo animal na casa, ou a caixa sanitária constantemente suja podem inibir o estímulo de defecação, fazendo com que o gato retenha as fezes 9,15,17,18. A função sensorial do reto e do ânus é importante para a defecação 18,20. A defecação dolorosa – causada por doenças anorretais ou por alterações ortopédicas que limitam o posicionamento adequado para o ato de defecar – freqüentemente resulta em inibição voluntária desse ato, o que leva à constipação 9,14,17,20. Obstruções mecânicas à passagem das fezes podem ser conseqüência de processos intraluminais, como presença de corpos estranhos, neoplasias ou inflamações na região anorretal (saculite, abscessos e fístulas perianais) 15,17,18, ou extraluminais, mais comumente relacionadas ao estreitamento do canal pélvico decorrente de fratura e massas intra-abdominais; também o acúmulo excessivo de gordura intrapélvica em gatos obesos pode interferir na passagem normal das fezes, predispondo o animal à constipação 15. A formação de um tampão de fezes, com pêlos que se mantêm firmemente aderidos à região perianal (pseudocoprostase) também pode ser causa de retenção fecal, classicamente em gatos de pêlos longos 2,9,17. A ingestão de pêlos durante a higiene é um aspecto importante a ser considerado na formação de retenções colônicas, pois os pêlos incorporam-se facilmente ao bolo fecal 15,17. Da mesma forma, as fibras indigeríveis também podem se incorporar à massa fecal, levando à abrasão e à inflamação da mucosa e, conseqüentemente, à dificuldade de esvaziamento do cólon 20,21. Os distúrbios neuromusculares podem causar constipação, pois alteram a motilidade do cólon, pela disfunção de sua inervação, na própria musculatura lisa do órgão, ou por interferir na capacidade que o animal teria de assumir postura de defecação normal 1,14,17. A alteração da motilidade secundária à disfunção na inervação do cólon também ocorre em doenças que acometem a
medula espinhal – principalmente a região lombossacra –, e pode estar associada a uma deformidade congênita da região sacral da medula espinhal em gatos da raça manx 1,9,10,14,17. Além disso, alterações em qualquer local da coluna, assim como as disfunções de nervos periféricos, podem impedir que o animal adote a postura de defecação, o que pode induzir a coprostase 4,7,22. A deformidade sacral dos gatos manx pode promover agenesia ou deformidade vertebral acompanhadas de ausência parcial ou total de medula espinhal sacral. Em tais casos, outros sinais neurológicos, como paraparesia, paraplegia, atonia de bexiga urinária, incontinência fecal ou urinária e diminuição ou ausência de reflexo anal, podem estar associados à constipação 4,7,22,23. Havendo alteração também na inervação do ânus, a incontinência fecal poderá ser concomitante à constipação 7,9,17. A constipação também é um sinal clínico importante na disautonomia felina, polineuropatia que afeta o sistema nervoso autonômico e que é progressiva e fatal, observada mais comumente em gatos jovens; de causa desconhecida, é caracterizada pela degeneração difusa do sistema nervoso autônomo 9,15,22,23,24,25,26. Nos animais acometidos, a maioria dos sinais clínicos é atribuída à perda de inervação parassimpática, embora disfunções simpáticas também possam ser constatadas 22,23. Entre as alterações observadas incluemse depressão, regurgitação decorrente de megaesôfago, bradicardia, produção de lágrimas diminuída, protrusão da terceira pálpebra, midríase com diminuição do reflexo pupilar e, em alguns casos, ataxia ou paresia 12,22,23,24,25,26. A defecação normal depende da função adequada tanto da musculatura lisa do cólon como da musculatura estriada da parede abdominal e diafragmática. Sendo assim, a atrofia e a fraqueza desses grupos musculares dificultam a progressão e a eliminação da massa fecal, o que pode ocorrer em gatos idosos ou portadores de lesões na coluna vertebral 18,20. Os distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos podem predispor à constipação, pois diminuem a motilidade do cólon e a força de contração da parede abdominal. A desidratação causa excessiva absorção de água das fezes, tornando-as
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do diagnóstico da causa primária, como na escolha do tratamento do paciente, a participação de um somatório de fatores (dor, desidratação e hipocaliemia, por exemplo) deve ser considerado.
A presença de dor, sinais de fratura, luxação ou más-formações podem ser percebidas em avaliação ortopédica detalhada, com atenção aos membros pélvicos e à coluna vertebral 3,9,29. Ao exame neurológico, procuram-se sinais de lesões na medula espinhal ou no sistema nervoso central, que podem causar a constipação 3,7,9,12,29. Exames laboratoriais de rotina – como hemograma, urinálise e perfil bioquímico, incluindo dosagem sérica de glicose, cálcio e potássio – são indicados para pacientes com constipação recorrente, na tentativa de identificar doenças sistêmicas e distúrbios metabólicos subjacentes. Tais exames também são úteis para detectar as conseqüências metabólicas da retenção fecal prolongada, dentre as quais se incluem desequilíbrio hidroeletrolítico, endotoxemia e azotemia em pacientes severamente constipados ou obstipados 7,9,12,29. Embora o hipotireoidismo em gatos seja pouco freqüente, a avaliação da função da glândula tireóide deve ser implementada em pacientes com constipação recorrente e outros sinais compatíveis, como letargia, bradicardia, hipotermia, deficiência de crescimento, alopecia, seborréia ou outras alterações dermatológicas 9,12,13. A avaliação radiográfica do abdômen é importante em todos os casos de constipação. Por meio do exame radiográfico, a extensão da massa retida e a presença de dilatação exagerada do cólon podem ser avaliadas. O diagnóstico de megacólon é estabelecido quando o cólon apresenta-se totalmente dilatado e com quatro a cinco centímetros de diâmetro, ou quando o seu diâmetro é de duas vezes ou mais o comprimento da sétima vértebra lombar 18,21 (Figuras 1A e 1B). Além disso, as radiografias podem revelar a causa primária do problema, como a presença de corpos estranhos
DIAGNÓSTICO O diagnóstico de constipação baseiase na correlação dos dados de resenha, na história e nos sinais clínicos. Deve-se considerar a idade, a conformação corpórea e a pelagem do animal, com o objetivo de identificar fatores predisponentes (velhice, obesidade, pelame longo, por exemplo) 3,9,15. À anamnese, devem ser investigados o tipo de alimento oferecido ao animal, a ingestão de água, o ambiente, o comportamento, a freqüência de escovação, o histórico de traumas, a ingestão de corpos estranhos, as cirurgias realizadas, as fraturas anteriores, as medicações usadas, outros episódios de constipação além, é claro, de questionar a ocorrência de sinais que indiquem doença primária que possa resultar em coprostase 3,6,9,14,17. Na inspeção e no exame físico, é importante observar o estado geral e de hidratação do paciente, a deambulação, e procurar pontos de maior sensibilidade (dor lombar, mialgia, por exemplo) e sinais de alterações neurológicas. Na palpação abdominal do gato constipado percebe-se uma massa tubular dura e irregular no cólon 4,5,29. Alguns gatos podem apresentar salivação excessiva após a palpação abdominal 1,18. Na palpação retal deve-se tentar identificar obstruções anorretais – como estreitamentos, corpos estranhos, divertículos ou massas – e, preferencialmente, deve ser realizada com o paciente anestesiado 7,9,11,12. Alguns pacientes com história de tenesmo crônico ou persistente podem apresentar hérnia perianal 4,7,12.
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Viviane G. Vieira
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ressecadas, o que também favorece a retenção 9,15. A hipocaliemia (comum na insuficiência renal crônica) e a hipercalcemia (freqüente nas síndromes paraneoplásicas) diminuem a motilidade gastrintestinal 9,17,20. A uremia e a insuficiência cardíaca congestiva também podem promover a impactação fecal, por mecanismos ainda desconhecidos 2,18,20. A motilidade gastrintestinal dos felinos pode ser afetada por algumas endocrinopatias. No gato diabético, suspeita-se que a diminuição da motilidade do cólon seja decorrente de degeneração autonômica, desequilíbrios eletrolíticos, alterações na microcirculação e transtornos metabólicos 27. No hiperparatireoidismo pode ocorrer constipação decorrente de hipercalcemia, pois altas concentrações de cálcio influenciam na transmissão neuronal, gerando diminuição da motilidade gastrintestinal 27. Além disso, gatos com hipotireoidismo podem ter a motilidade gastrintestinal comprometida por conta da diminuição da atividade elétrica local, o que resultaria em retenção fecal 27. Alguns fármacos, como opióides, anticolinérgicos e fenotiazínicos – além de preparações que contenham cálcio, ferro ou sais de alumínio, como antiácidos com hidróxido de alumínio – contribuem para a retenção fecal, pois alteram a motilidade gastrintestinal. O sucralfato, o sulfato de bário, os diuréticos espoliadores de potássio (furosemida, por exemplo), e a administração crônica de laxantes também podem resultar em constipação 1,3,4,5,9,15,18,20,28. O megacólon pode ser idiopático ou adquirido, quando secundário à persistência dos fatores predisponentes à constipação. O megacólon idiopático acomete principalmente gatos de meiaidade a idosos, e parece estar associado à disfunção generalizada da musculatura lisa do cólon, conseqüente a alterações na mobilização do cálcio intracelular dos miofilamentos do músculo liso 7,11,13. Tendo em vista a ampla gama de alterações e de doenças que podem inibir a defecação e interferir negativamente na motilidade do cólon, deve-se considerar que o paciente felino pode desenvolver constipação, e mesmo obstipação, pela participação conjunta de diferentes fatores. Assim, tanto no estabelecimento
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Figura 1 - Radiografia lateral (A) e ventrodorsal (B) de abdômen de felino com distensão total do cólon e reto, sem sinal de processo obstrutivo. Diagnóstico de megacólon idiopático
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Figura 4 - Radiografia lateral de abdômen de felino com retenção fecal sem dilatação do cólon. Neste caso, a retenção fecal era secundária à retenção voluntária por problemas ambientais, associada à desidratação
Figura 2 - Radiografia oblíqua de pelve de felino com estreitamento de canal pélvico decorrente de fratura, exemplificando retenção fecal secundária a obstrução mecânica
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radiopacos, massas colônicas intra ou extraluminais, estreitamento pélvico (Figura 2) e alterações no canal vertebral 2,3,7,9,11,12,13. A presença de fratura da pelve, sem estreitamento do canal 50
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Figura 3 - Radiografia ventrodorsal de pelve realizada após remoção das fezes (A), e lateral de abdômen, realizada antes da remoção (B), em felino com fratura de pelve sem estreitamento. Neste caso, a constipação pode ser secundária à retenção fecal voluntária decorrente de dor à defecação
(Figuras 3A e 3B), sugere que a retenção fecal seja conseqüência da dor e da dificuldade de adotar posição adequada para a defecação. A retenção fecal sem dilatação colônica ou obstrução anatômica pode ser decorrente de de sidratação e/ou de fatores ambientais (Figura 4). A avaliação sonográfica do abdômen pode ser útil na detecção de massas na parede do intestino e na cavidade abdominal. Além disso, aumenta a segurança e a eficácia de punções aspirativas de massas ou de linfonodos aumentados 3,9,11,12,13. O exame endoscópico do cólon é bastante preciso para a identificação de massas intraluminais, lesões inflamatórias, estenoses ou divertículos, e permite a realização de biópsia para exame histopatológico. Radiografar o cólon após realizar enema com bário pode ser uma alternativa – se a colonoscopia não for disponível – para delinear massas, estenoses ou divertículos. Tanto o enema com bário como a colonoscopia são realizados com o paciente anestesiado e após a remoção das fezes solidificadas 1,3,4,7,9,11,13. Alguns pacientes com sinais de doença neurológica primária poderão necessitar de exames específicos, como a análise do líquido cerebrospinal, a mielografia, a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética 9,11,13. TRATAMENTO MÉDICO A escolha do tratamento mais adequado depende da gravidade da constipação, do estado atual do paciente e da causa primária ou subjacente 12,19. As modalidades de tratamento incluem a remoção do material compacto com o auxílio de enemas e da remoção manual das fezes, a administração de laxativos
orais, supositórios e agentes procinéticos, associadas ao manejo dietético adequado e à resolução de problemas comportamentais e ambientais 5,12,14. Vários pacientes terão um primeiro episódio de coprostase transitório e de resolução espontânea 12,13. Gatos com constipação leve a moderada, com pequena quantidade de fezes retidas e sem sinais sistêmicos (depressão, vômito e desidratação) podem responder bem à mudança da dieta, à administração isolada ou combinada de laxantes e/ou supositórios, e aos agentes procinéticos 12,13,18,19. Pacientes com constipação grave requerem um período de hospitalização para a correção das anormalidades hidroeletrolíticas, metabólicas, e para a realização de enemas e/ou extração manual das fezes; posteriormente, tais pacientes serão tratados com laxativos e fármacos procinéticos 12,13,18,19. As soluções de enema são usadas para hidratar e agregar volume às fezes duras e constritas, estimulando a motilidade do cólon e o reflexo da defecação, o que favorece o esvaziamento do cólon 1,9,20. Em pacientes cooperativos e portadores de constipação pouco grave, o enema pode ser realizado sem contenção química mas, em casos mais graves e em presença de desidratação, deve ser realizado após a correção da desidratação e com o paciente anestesiado. Assim, a solução de enema é administrada por meio de sonda flexível, lubrificada, e deve ser feita de forma lenta, para evitar o vômito induzido pela distensão do cólon 1,9,13,15. O enema pode ser feito utilizando-se apenas água ou solução salina isotônica amornada, na dose de 5 a 10mL/kg. A adição de sabões neutros à solução de enema, na proporção de 1:10, estimula o reflexo da defecação, pois irritam a mucosa; no entanto, estes sabões devem ser livres de hexaclorofeno, neurotóxico se absorvido 6,9,13,16,18. O óleo mineral, a lactulose e o dioctil sulfossuccinato de sódio podem ser instilados diretamente no reto – na dose de 5 a 10mL/gato –, para facilitar o amolecimento das fezes 6,9,13,16. Tanto na administração retal como naquela realizada por via oral, deve ser evitada a mistura de um docusato sódico com óleo mineral, pois o óleo recobre as fezes e o docusato promove a absorção do óleo na mucosa, o que reduz o efeito
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emoliente do dioctil sulfossuccinato de sódio 6,9,15. As soluções à base de fosfato de sódio – comumente utilizadas em pessoas –, não devem ser utilizadas em gatos, espécie na qual são absorvidas pela mucosa íntegra, e causam grave hiperfosfatemia, hipernatremia, hipocalcemia, hiperosmolaridade, hipovolemia e acidose, o que pode resultar na morte do paciente 1,6,9,15,18. Caso os enemas não resultem no efeito desejado, há que implementar a fragmentação e a extração manual das fezes solidificadas 3,9,12,13,15,18: enquanto a solução de enema com água ou salina morna é infundida, delicada manipulação abdominal é realizada, na tentativa de quebrar a massa fecal 9,15,18. Um fórceps ou uma pinça podem ser cuidadosamente introduzidos no reto para quebrar as fezes endurecidas 13. Se uma grande extensão do cólon contém fezes solidificadas, a remoção da massa fecal deve ser realizada em etapas, em intervalos de dois ou três dias. Isso diminui os riscos da anestesia prolongada, do trauma excessivo à mucosa intestinal e da perfuração do cólon desvitalizado 9,13. Removidas as fezes, institui-se imediatamente o tratamento com laxativos e agentes procinéticos 13,18: preferencialmente, adota-se um laxante formador de massa, evitando o uso de laxativos emolientes e osmóticos, que são irritantes à mucosa do cólon 16. Os agentes laxativos auxiliam a eliminação das fezes e o seu efeito pode ser melhorado pelo ajuste da dose 1,18. Os laxantes são classificados, segundo o seu modo de atuação, como formadores de massa, lubrificantes, emolientes, osmóticos e estimulantes 12,15,18. Os laxantes formadores de massa são polissacarídeos indigeríveis, com propriedades hidrofílicas derivadas da celulose 9,17,28. Assim, absorvem água e aumentam o volume do bolo fecal, promovendo o amaciamento das fezes e estimulando o peristaltismo 9,17,28. Os efeitos benéficos esperados são o aumento do peso da massa fecal e da freqüência de defecação; o amolecimento das fezes; a diminuição do tempo de trânsito intestinal e a redução da pressão intracolônica gerada durante a defecação 9,17. As fibras insolúveis são, principalmente, o farelo grosseiro de trigo e o Psyllium 8,12. São disponíveis no mercado 52
preparações de fibras para adição à dieta regular, como o psyllium, na dose de quatro colheres de chá em intervalos de 12 ou 24 horas, ou a fibra integral de trigo, na dose de uma a quatro colheres de sobremesa por refeição 1,12,18. Outra alternativa seria alimentar o paciente com ração rica em fibra bruta (maior que 10%) que, além da praticidade, é indicada na prevenção e controle da constipação 1,18. O tratamento de manutenção pela suplementação dietética com fibras é mais fisiológico – e usualmente melhor aceito pelo paciente – do que o uso continuado de outros tipos de laxantes 12. Porém, como fibras aumentam a retenção de água nas fezes, o paciente deve estar hidratado antes de se iniciar a suplementação, não apenas para maximizar o efeito terapêutico, como para prevenir a congestão de fibras no cólon 12,13. A suplementação dietética com fibras também pode resultar em compactação em pacientes com dilatação colônica já instalada 5. Nesses casos, é aconselhável introduzir a suplementação após a regressão da dilatação do cólon, caso esta ocorra. Os laxantes lubrificantes atuam recobrindo as fezes e dificultando a remoção da água fecal, o que amolece as fezes e facilita o deslizamento do bolo fecal, sem aumentar o peristaltismo intestinal 1,9,12,28. Seu efeito é moderado, razão pela qual são usados em casos menos graves e para a eliminação de bolas de pêlos 15. Os principais laxativos lubrificantes disponíveis são o óleo mineral e o petrolatum. O óleo pode ser administrado na dose de 10 a 25mL, PO, uma vez ao dia, e o petrolatum de 1 a 5mL ou 1 a 2cm da pasta, PO, em intervalos de 24 horas 9,13,18. Esses laxantes interferem na absorção das vitaminas lipossolúveis e, por isso, não devem ser administrados às refeições 9. Também devem ser administrados cuidadosamente, principalmente em pacientes debilitados pois, se aspirados, podem ocasionar pneumonia lipídica 9,12,18. Os laxativos emolientes atuam como detergentes, alterando a tensão superficial dos líquidos, facilitando a penetração de água e lipídios nas fezes, amolecendo-as e facilitando a sua evacuação 1. O dioctil sulfossuccinato de sódio e o dioctil sulfossuccinato de cálcio são
administrados na dose de 50mg por gato, PO, em intervalos de 24 horas 18. Como estes laxantes aumentam a perda intestinal de fluido, não devem ser administrados a pacientes desidratados 1,9,12. A eficácia dos laxantes emolientes no tratamento de gatos constipados ainda não foi estabelecida 1,12,13. O grupo de laxativos osmóticos é composto por polissacarídeos (lactose e lactulose), sais de magnésio (hidróxido, sulfato e citrato de magnésio) e substâncias inertes, como o polietilenoglicol 9,12. Essas substâncias são parcialmente absorvidas, criando um gradiente osmótico que resulta na retenção de água e no amolecimento das fezes. Os sais de magnésio e polietilenoglicol não são recomendados para o tratamento da constipação e do megacólon idiopático em felinos 9,12,13, sendo a lactulose considerada o laxante mais eficiente desse grupo. A lactulona é administrada em uma dose inicial de 0,5 a 1mL/kg, PO, em intervalos de 8 horas 9,13, dose que deverá ser ajustada para cada paciente, de forma a resultar em fezes pastosas porém não diarréicas 13. A inclusão de leite (lactose) na dieta – em quantidade suficiente para exceder a capacidade digestiva do intestino delgado – também pode resultar em um efeito laxativo brando 18. Os laxativos estimulantes são aqueles que têm a capacidade de aumentar a motilidade propulsiva do intestino grosso, seja por efeito irritativo local sobre a mucosa, seja por uma ação seletiva sobre os plexos mioentéricos 1,18. O bisacodil é o laxativo estimulante mais eficiente para gatos (5mg/gato/dia, PO), e constitui-se em uma boa opção para o tratamento de constipações de intensidade menos grave a moderada. Ainda assim, deve ser utilizado por curto período, pois o uso prolongado pode causar danos irreversíveis aos plexos mioentéricos 1,9,12,13,16. Uma vez que os laxantes estimulantes aumentam a motilidade intestinal, eles são contra-indicados para animais com qualquer tipo de obstrução mecânica (estreitamento pélvico, compactação fecal por corpos estranhos ou massas intraluminais) 9,15,18. O tratamento da constipação em gatos foi revolucionado pelo surgimento de agentes puramente procinéticos, como a cisaprida, cujo efeito serotoninérgico resulta na liberação de acetilcolina nos plexos mioentéricos, favorecendo a
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contração da musculatura lisa do estômago, do intestino delgado e do intestino grosso 5,9,25,26,28. Apesar do bom efeito, o uso da cisaprida foi associado a arritmias cardíacas fatais em algumas pessoas. Por essa razão, a comercialização desse fármaco foi proibida nos Estados Unidos da América e na Europa 5,30 , muito embora tais efeitos não tenham sido observados em cães ou gatos. A cisaprida teve sua fabricação suspensa no Brasil em setembro de 2004. A ranitidina e a nizatidina são conhecidos antiácidos antagonistas H2, embora seu efeito inibitório sobre a acetilcolinesterase resulte no aumento da disponibilidade de acetilcolina para a estimulação dos receptores muscarínicos da musculatura lisa do intestino, promovendo motilidade gastrintestinal. Por conta desse efeito procinético, a ranitidina (1 a 2mg/kg, PO, em intervalos de 12 horas) e a nizatidina (2,5 a 5mg/kg, PO, em intervalos de 12 ou 24 horas) podem ser úteis no tratamento do gato constipado 1. Outros antagonistas H2,
como cimetidina e famotidina, não possuem este efeito 3,4,12,18,28,31. Dois novos fármacos procinéticos – a prucalopride e o tegaserode – vêm sendo usados no tratamento da constipação e do megacólon felino 5,12,30. O tegaserode (0,03 a 0,3 mg/kg) estimula a contração do cólon nos cães, embora não haja relatos sobre os efeitos gastrintestinais que provoca nessa espécie; no que se refere aos gatos, a experiência é limitada 5,30. Diferentemente do tegaserode, a prucalopride (0,01 a 0,16 mg/kg) estimula o esvaziamento gástrico e a motilidade colônica em cães e gatos 30. Aparentemente, esse fármaco ainda não é comercializado no Brasil. A constipação leve pode ser tratada com supositórios como terapia única, ou associada a laxativos orais. Os supositórios podem ser úteis, por exemplo, para facilitar a evacuação em pacientes que sofreram fratura da pelve 1. Porém, o uso dos supositórios requer que o paciente seja cooperativo e que o proprietário esteja disposto a administrar o produto.
Os supositórios disponíveis, via de regra, têm como base a glicerina (laxativo lubrificante), o dioctil sulfossuccinato de sódio (laxativo emoliente) e o bisacodil (laxativo estimulante). Um a dois supositórios podem ser suficientes para o esvaziamento do cólon distal com fezes pouco compactas 1,9,13,15,18. MEDIDAS PREVENTIVAS Resolvida a impactação, medidas para prevenir recidiva devem ser instituídas 2,6. Uma vez identificados a causa primária e os fatores predisponentes, estes devem ser eliminados ou corrigidos 3,6,9. Se a ingestão de pêlos, por exemplo, for um fator contribuinte, o proprietário deverá ser orientado a escovar ou tosar o animal freqüentemente 8,9,14,20. O estímulo à ingestão de água – por meio da disponibilização de várias vasilhas com água limpa e fresca, mantidas em ambiente adequado – ajuda a prevenir a desidratação 3,9. Caixas sanitárias sempre limpas e em local de fácil acesso incentivam o gato a
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defecar regularmente 6,8,9,20. O fornecimento de dietas com alto teor de fibras, e/ou suplementação com laxativos formadores de massa – como os farelos ou psyllium – reduz a densidade fecal e tende a normalizar a motilidade colônica, constituindo-se em medidas úteis na prevenção de recidivas 3,8,14. Os pacientes constipados que não respondem ao tratamento clínico, com megacólon, ou aqueles cuja doença primária é de resolução cirúrgica – como as obstruções por corpos estranhos, massas ou estreitamento pélvico – devem ser alvo de resolução cirúrgica. As modalidades de tratamento cirúrgico para gatos constipados ou obstipados incluem colotomia, colectomia e osteotomia pélvica 7. PROGNÓSTICO O prognóstico para pacientes com constipação depende da gravidade e da duração da enfermidade, bem como da cooperação do proprietário em persistir com o tratamento 1,8,11. Em casos de constipação leve, o prognóstico é bom, desde que o tratamento médico adequado seja implementado 2,18,29. Já em pacientes portadores de constipação severa, obstipação ou megacólon – associados ao desenvolvimento de alterações irreversíveis na musculatura do cólon – o prognóstico é de reservado a ruim 18, o que não descarta a possibilidade de melhora do quadro se realizada a colectomia parcial 1,5,11,18. CONSIDERAÇÕES FINAIS A constipação é um problema comum em gatos. O tratamento conservativo adequado e efetivo depende do diagnóstico preciso da doença primária e do reconhecimento e da correção dos fatores intervenientes ambientais, comportamentais e nutricionais. É importante considerar que, mesmo tendo sido tratada a causa primária, uma vez instalada a dilatação e a hipomotilidade colônica, o tratamento conservativo usualmente é ineficiente, e a remoção cirúrgica do segmento afetado será a melhor opção terapêutica. REFERÊNCIAS
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Tosse em cães e gatos: o que pensar? Cough in dogs and cats: what to think?
Michelle de Carvalho Hohlenwerger Médica veterinária autônoma
biachelle@hotmail.com
Alexandre Dias Munhoz
MV, prof. adj. Depto. Ciências Agrárias e Ambientais -UESC munhoz@uesc.br
Qué pensar de la tos en perros y gatos? Resumo: O reflexo da tosse, sinal clínico freqüente em cães e gatos, normalmente está associado ao sistema cardiorrespiratório e deve ser levado em consideração, pois pode se constituir em alerta de doenças importantes. Há várias caracterizações da tosse: a freqüência, a sensibilidade, a intensidade, o tempo, a distribuição, o timbre e a natureza. Embora muitas vezes insuficientes para o estabelecimento do diagnóstico definitivo, algumas características da tosse, juntamente com fatores reconhecidamente predisponentes – como raça e idade –, podem apresentar algum valor. A causa específica da tosse pode ser identificada após a cuidadosa inspeção e o exame físico completo embora, muitas vezes, sejam necessários testes diagnósticos específicos, como radiografia torácica, lavado traqueal, traqueobroncoscopia, eletro/ecocardiograma, biópsia por aspiração e exames laboratoriais, de acordo com a suspeita clínica. Unitermos: Tosse, diagnóstico, cão, gato Abstract: Reflexive cough is a frequent clinical sign in dogs and cats that is usually associated to the cardiorespiratory system. It needs to be taken seriously, since it can be an alert of important diseases. The cough can be characterized according to its frequency, sensibility, intensity, distribution, timbre and class. Although this characterization may be at times insufficient to disclose a definitive diagnosis, some characteristics of the cough, associated to predisposing factors such as breed and age, may be of diagnostic value. The specific cause can arise after careful inspection and complete physical examination. Many times, however, specific diagnostic tests are necessary, such as thorax radiography, tracheal wash, tracheobronchoscopy, electro- or echocardiogram, as well as biopsy by aspiration and laboratory exams, according to the clinical suspicion. Keywords: Cough; diagnostic; dog; cat Resumen: El reflejo de la tos es una señal clínica frecuente en perros y gatos, asociado normalmente al sistema cardiorrespiratorio. Debe llevarse en consideración, pues puede ser un alerta de enfermedades importantes. Existen varias caracterizaciones de la tos: frecuencia, sensibilidad, intensidad, tiempo, distribución, timbre y naturaleza. Sin embargo a veces sean insuficientes para llegar a un diagnóstico definitivo, algunas características de la tos, juntamente con factores predisponentes (como raza y edad) pueden tener algún valor diagnóstico. La causa específica de la tos puede ser identificada tras una cuidadosa inspección y un examen físico completo, pero muchas veces serán necesarios testes diagnósticos específicos de acuerdo con la sospecha clínica, como radiografía torácica, lavado traqueal, traqueobroncoscopia, electro/ecocardiografía, biopsia por aspiración y exámenes laboratoriales. Palabras clave: Tos, diagnóstico, perro, gato
Clínica Veterinária, n. 65, p. 56-66, 2006 INTRODUÇÃO A tosse é um reflexo que contribui para a expulsão de materiais nocivos presentes nas vias respiratórias. Em cães e gatos, é observada em grande número de afecções com prognósticos reservados ou desfavoráveis, e pode vir a comprometer a sobrevivência. Enquanto sintoma, é irritante para o paciente e, freqüentemente, para o proprietário. Embora seja um reflexo protetor das vias aéreas, as enfermidades que a provocam não se limitam às vias respiratórias, mesmo considerando as doenças primárias e/ou secundárias; exemplo disso é a ocorrência desse sintoma em animais com problemas cardíacos ou comportamentais. O importante é que esse sintoma clínico seja compreendido e diagnosticado de acordo com as suas características, buscando sempre subsídios para tal fim, em virtude das suas diferentes etiologias 1. Portanto, o exame físico associado à criteriosa anamnese 56
conferirá suporte para o diagnóstico dos fatores etiológicos desencadeadores do processo. Ainda assim, determinadas enfermidades exigem a requisição de exames complementares, realizados em uma seqüência lógica e implementados de acordo com as hipóteses diagnósticas levantadas a partir da anamnese e do exame físico. O presente trabalho – que se constitui em uma revisão da literatura – tem como objetivo apontar os agentes passíveis de desencadear o reflexo da tosse em cães e gatos, de acordo com uma avaliação semiológica minuciosa. DEFINIÇÃO/ETIOLOGIA A tosse é o esforço expiratório que produz expulsão súbita e ruidosa de ar dos pulmões 2. É iniciada pela estimulação de receptores das vias aéreas centrais e, pela expiração forçada e em alta velocidade linear, proporciona a remoção do muco e de partículas estranhas
da laringe, traquéia, brônquios principais 3 e pulmões 2, sejam estas reais ou imaginárias, como na tosse psicogênica 2. Embora seja um sintoma importante de doenças do trato respiratório, a tosse também pode ocorrer em animais em virtude de enfermidades não respiratórias, como aquelas de origem cardíaca ou extratorácica 1. Assim, as causas de tosse podem ser agrupadas em cinco classes gerais, considerando o local de sua origem: (1) vias respiratórias superiores; (2) vias respiratórias inferiores; (3) cardiovasculares 4, (4) compressão externa das vias aéreas por estruturas intra ou extratorácicas 5; (5) sistema nervoso central – denominada psicogênica 2 –, caso em que o animal não sofre de afecção cardiorrespiratória, mas o centro da tosse é disparado pela ação da tensão nervosa sobre as atividades do bulbo cerebral 6 (Quadro 1). Ocasionalmente, o animal apresenta ânsia de vômito ou realmente vomita em seguida ao esforço provocado pela tosse 7,8, ocorrência esta que não deve ser equivocadamente interpretada como problema gastrintestinal, mesmo porque a proximidade dos centros da tosse e do vômito no bulbo cerebral justifica que a excitação conduzida ao primeiro possa induzir, por razões de vizinhança, o segundo. A tosse que produz esse efeito secundário é denominada tosse emética 7. A presença de ânsia de vômito terminal seja ela produtiva ou improdutiva, é significativa. Com freqüência, as tosses secas estão associadas a ânsias de vômito terminais não-produtivas, nas quais nada é expelido/vomitado. Já as tosses úmidas são habitualmente ca rac terizadas pela expectoração de material após o ato de tossir embora, na maioria das vezes, não seja possível determinar a sua natureza e o seu aspecto pois esse material geralmente é deglutido 2,9.
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A TOSSE COMO MECANISMO DE DEFESA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO A tosse é um importante mecanismo de defesa, que permite a eliminação de substâncias – que não podem ser eliminadas por outros mecanismos – das vias respiratórias 9,10. A tosse é particularmente útil porque ajuda a limpeza mucociliar do material, elimina partículas inaladas e protege as vias respiratórias de qualquer outro material nocivo 11,12. O muco pode ter origem nos bronquíolos respiratórios e terminais, nos brônquios e nas vias respiratórias superiores 13, onde a secreção alveolar o alcança em virtude dos efeitos da tensão superficial do surfactante, responsável por promover a estabilidade alveolar 12. A “escada rolante” mucociliar – apoiada pelos macrófagos alveolares e pelo tecido linfóide associado aos brônquios – constitui-se em um dos mecanismos protetores mais importantes das vias aéreas inferiores. O reflexo da tosse entra em cena quando esses mecanismos já foram superados, seja pelo acúmulo excessivo de exsudato ou muco, seja pela presença de material estranho. Esse reflexo também pode ser deflagrado por meio de estimulação mecânica local repetida, através de anormalidades estruturais, como colabamento traqueal ou compressão do brônquio principal esquerdo 14.
MECANISMO/FISIOPATOLOGIA DA TOSSE GERAL É importante salientar que a tosse é um ato reflexo de defesa que resulta da irritação das terminações dos nervos tri gê meo, glossofaríngeo, vago 7 e frênico 4, predominantemente nas chamadas zonas tussigênicas 7. Porém, uma vez que esses nervos se distribuem por órgãos respiratórios e não respiratórios – como conduto auditivo externo, meninges, mediastino e intestino –, a tosse pode ocorrer como resultado de uma ação irritante local nessas estruturas 7. Embora a tosse seja benéfica pois, como anteriormente comentado, é um reflexo protetor que remove materiais potencialmente nocivos do trato respiratório, o ato de tossir pode exacerbar a inflamação ou a irritação das vias aéreas, resultar em enfisema pela distensão exagerada dos alvéolos, causar pneumotórax pela ruptura das vesículas, bolhas ou de uma via aérea, produzir fraqueza e exaustão no paciente 15, provocar a disseminação de secreções e de agente microbiano em zonas íntegras do pulmão, além dos efeitos secundários sobre o tônus vascular periférico e sobre a circulação sangüínea intratorácica. Também pode ocorrer projeção, à distância, de matéria séptica que atua como fonte de contágio para outros animais e até para o homem 7.
Quadro 1 - Classes gerais e etiologia da tosse em cães e gatos
OS RECEPTORES DA TOSSE, SUAS LOCALIZAÇÕES E ATIVIDADES O reflexo da tosse implica na atividade de mecanorreceptores – que predominam nas vias respiratórias superiores –, e de quimiorreceptores (receptores irritantes), que se encontram nas vias respiratórias intermediárias 12. O número de receptores é especialmente elevado na laringe, na zona intermediária da traquéia e na bifurcação traqueal. Um pequeno número de receptores da tosse encontra-se nas vias respiratórias baixas, e nenhum nos bronquíolos respiratórios e nos alvéolos 4,11,16. A atividade dos mecanorreceptores ocorre por meio de pressão intra e extraluminal, e a dos quimiorreceptores ocorre por mediadores inflamatórios e outros irritantes, provocando a tosse. Sendo assim, em muitas enfermidades cardiopulmonares, como colapso traqueal, neoplasia primária e insuficiência cardíaca congestiva esquerda, a principal causa da tosse é a compressão mecânica. Enfermidades como traqueobronquite aguda, bronquite crônica e asma provocam tosse, por combinação das atividades de quimiorreceptores irritantes (inflamação) e mecanorreceptores (muco das vias respiratórias) 12. CLASSIFICAÇÃO DA TOSSE A classificação da natureza da tosse é necessária para identificar a sua origem.
2,4,17,40
Vias respiratórias superiores
Vias respiratórias inferiores
Cardiovasculares
Compressão externa ao sistema respiratório
Sistema nervoso central
Sinusite1 Rinite1 Faringite1 Amigdalite1 Traqueíte1 Laringite1 Paralisia de laringe2 Colabamento da traquéia2 Neoplasia da faringe, das amígdalas ou da traquéia3 Traumatismo da faringe,das amígdalas ou da traquéia4
Bronquite aguda1; 5 Crônica5 Bronquiectasia1; 5 Pneumonia1 Síndrome da imobilidade ciliar6 Fibrose ou abscesso pulmonar1 Hipertrofia hilar de linfonodo1 Neoplasia3 Infecções fúngicas1 Bronquite alérgica; IPE5 Granulomatose eosinofílica nodular1 Infecções fúngicas1 Histoplasmose Blastomicose Parasitos (vermes pulmonares)7 Corpo estranho brônquico4 Gases ou fumaças irritantes4 Colabamento de brônquios2 Neoplasia dos brônquios ou pulmões3
Insuficiência cardíaca esquerda, com dilatação atrial esquerda Dirofilariose7 Trombose pulmonar Edema pulmonar
Neoplasia das costelas, Psicogênica esterno, músculo, tireóide, linfoma mediastinal3
Categorias gerais: 1inflamatório e/ou infeccioso; 2deformidade da estrutura anatômica; 3neoplasia; 4traumatismo e fatores físicos; 5alérgica; 6 congênita; 7parasitária; IPE: Infiltrado Pulmonar Eosinofílico
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Quadro 2 - Classificação da tosse quanto à sua natureza 2,9,17, 31,35
Natureza da tosse
Produtiva
Tipo de secreção
Enfermidades associadas
Mucóide ou exsudativa
Bronquite crônica, alérgica; infecção bacteriana,micótica; doença parasitária; pneumonia por aspiração; neoplasia
Hemoptise
Dirofilariose, neoplasia, infecção fúngica, corpo estranho, doenças tromboembólicas, torção de lobo pulmonar, insuficiência cardíaca (IC) intensa, distúrbio sistêmico da coagulação IC, Choque elétrico, aumento da permeabilidade vascular pulmonar
Edema pulmonar Improdutiva
Traqueíte infecciosa canina; colabamento traqueal; compressão bronquial; infecção viral, bacteriana, micótica; enfermidade parasitária; neoplasia; corpo estranho; infiltrados pulmonares com eosinófilos
Ausente
Quanto à natureza, pode ser produtiva e improdutiva (Quadro 2). A tosse produtiva resulta da liberação de muco, exsudado, fluido de edema ou sangue das vias aéreas para a cavidade oral (hemoptise) 17. Nesses casos, os ruídos adventícios descontínuos (estertores) finos ou grosseiros e os ruídos adventícios contínuos de timbre agudo (sibilos) são freqüentes na ausculta da área pulmonar. As causas mais comuns de tosse produtiva são doenças inflamatórias ou infecciosas das vias aéreas, e insuficiência cardíaca em estágio avançado 17. A hemoptise ou tosse com sangue é indicativa de embolia pulmonar – como, por exemplo, em infestações maciças de Dirofilaria immitis, neoplasia do sistema pulmonar, traqueobronquite grave, corpo estranho, granuloma ou coagulopatia 2,5. A tosse não produtiva não apresenta qualquer relação com ruído úmido, e pode ser descrita como “grasnido de ganso”. As causas mais comuns de tosse não produtiva são doenças inflamatórias, infecciosas (antes que ocorra a excessiva formação de líquidos) ou compressivas da traquéia e brônquios maiores, e enfermidades do interstício pulmonar 2,17. A tosse seca normalmente está vinculada às enfermidades das vias respiratórias superiores 9. Além da natureza, a tosse também pode ser classificada de acordo com: - a freqüência com que são estimulados os receptores tussígenos – freqüente, intermitente e rara. A tosse freqüente ocorre nos casos de bronquite e laringite 18, a tosse intermitente acomete cães com colapso traqueal – 50% dos quais apresentam tosse de “grasnido de ganso” 19, característica associada à vibração no segmento em colapso –, e a tosse rara está presente no enfisema alveolar crônico. É digno de nota que enfermidades de curso crônico tendem a apresentar evolução 58
quanto à freqüência da tosse 20, que também pode se manifestar por acessos ou paroxismo com caráter convulsivo, no caso da ingestão e eliminação de corpo estranho ou inalação de agentes irritantes 18. - o modo/sensibilidade: pode ser fácil (sem dor) ou dolorosa. Em termos gerais, a tosse é indolor, mas, na laringite aguda ou na bronquite pode existir dor, que pode ser evidenciada pelo esforço que o animal faz para não tossir; também na pleurisia ocorre dor, em função da presença de aderências que restringem a elasticidade dos pulmões 20. - a força/intensidade: pode ser suave ou forte. Em enfermidades que afetam as vias respiratórias baixas, como broncopneumonia e edema pulmonar, a tosse é freqüentemente suave e ineficaz devido à escassez de receptores 12; isso também ocorre nos casos de enfisema pulmonar, caracterizados por distensão anormal do pulmão, causada pela ruptura das paredes alveolares, o que promove redução no volume de ar, dificuldade na respiração, com perda da elasticidade dos pulmões, resultando em expiração forçada (dispnéia expiratória) 21. A tosse forte está associada às doenças das grandes vias aéreas, como o colapso traqueobrônquico 14. Assim, de modo geral, nas vias aéreas superiores ocorrerá tosse forte com alta sonoridade e, nas vias aéreas inferiores, tosse suave/fraca. - o tempo: pode ser aguda – quando a duração for inferior a duas semanas –, e crônica - quando a duração for superior a esse período. Habitualmente, cães e gatos com manifestação crônica de tosse já apresentavam sintomas leves há anos, com exacerbação recente dos sinais. Deve-se prestar particular atenção à presença e à duração de outros sinais, como perda de peso ou vômito, que podem indicar um distúrbio sistêmico mais sério, como neoplasia 14.
- a distribuição: diurna, noturna ou matinal. Freqüentemente, a tosse manifestada durante o dia está associada a afecções de origem infecciosa, parasitária, alérgica ou neoplásica. Pneumonia, bronquite e bronquiectasia geram, a princípio, tosses diurnas, que não necessitam de qualquer estímulo para ter início, embora a excitação e a tração da coleira possam deflagrar paroxismos graves de tosse 2. As manifestações noturnas ocorrem nos casos de tosse psi cogênica 2, em virtude da presença do proprietário e, principalmente, nas afecções cardíacas com ou sem edema pulmonar pois, durante o decúbito, o volume sangüíneo intratorácico aumenta e, em consequência, a pressão venosa pulmonar pode aumentar e favorecer o desenvolvimento de congestão e edema. Por essa razão, a tosse ouvida primariamente à noite sugere uma causa cardíaca 22 (Quadro 3). - o timbre: a presença ou a ausência de exsudatos capazes de vibrar à passagem do ar confere características particulares à tosse, que toma as designações de gorda, semigorda ou seca se, respectivamente, existir muita, pouca ou nenhuma exsudação 7. Quadro 3 - Classificação da tosse quanto à sua distribuição (maior incidência durante o dia) em cães e gatos2,4,17,22,23
Distribuição
Enfermidades associadas
N OT U R N A
• início de afecção cardíaca • psicogênica • edema pulmonar • colapso de traquéia
DIURNA
• alérgica • inflamatória • infecciosa • neoplásica • parasitária
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As tosses gorda e semigorda só podem ser, portanto, de origem respiratória. A tosse seca pode ser respiratória se há irritação local, sem presença de exsudação, e é também, o timbre obrigatório das tosses de origem extrarrespiratórias. Contudo, a tosse cardíaca – que é naturalmente seca – pode modificar o seu timbre devido a fenômenos secundários relacionados à cardiopatia, como a irritação dos brônquios e a paralela exsudação, ou quando uma abundante exsudação alveolar resultante do edema pulmonar flui para os brônquios 7. DESENCADEAMENTO DA TOSSE DE ACORDO COM OS PRINCIPAIS GRUPOS DE AGENTES ETIOLÓGICOS Quando as vias aéreas tornam-se inflamadas, verificam-se eritema, hiperemia, edema de mucosa, aumento da produção de muco com proliferação de células caliciformes e infiltração de células inflamatórias. As causas mais comuns incluem infecções virais, bacterianas, respostas alérgicas ou de hipersensibilidade, materiais estranhos, compressão externa, anormalidades estruturais ou neoplasia 14. Nas doenças inflamatórias que acometem a faringe e a laringe é muito fácil provocar a tosse mas, quando a laringe apresenta ossificação acentuada (comum em cães idosos), torna-se difícil ou mesmo impossível fazê-lo 20. A bronquite alérgica é a inflamação das vias aéreas, causada por reação de hipersensibilidade em resposta a alérgenos inalados, agentes infecciosos, neoplasia ou antígenos desconhecidos 11,23, e resulta em obstrução das vias aéreas. Os lúmens bronquiais são estreitados como resultado do aumento do muco e do exsudato no interior das vias aéreas, da infiltração da parede das vias aéreas com células inflamatórias, da hiperplasia epitelial, da hipertrofia dos músculos bronquiais e do broncospasmo, mudanças essas passíveis de reversão. A inflamação prolongada pode causar fibrose, mudança irreversível descrita como bronquite crônica, comum em gatos, e ocasional em cães 23. Na insuficiência cardíaca a tosse é um sinal comum, especialmente em animais que apresentam regurgitação mitral, e está associada com a compressão do brônquio principal esquerdo pelo 60
átrio esquerdo. Alternativamente, cães com edema pulmonar severo podem apresentar tosse 24, condição raramente associada ao edema pulmonar de origem cardiogênica em gatos 22. A congestão venosa pulmonar pode resultar em estimulação dos receptores justapulmonares, acarretando broncoconstrição e aumento da produção de muco, que pode contribuir para a gênese da tosse “normal” observada em cães com cardiopatia 25. Nas afecções por parasitas no cão, têm-se Filaroides osleri ou Oslerus osleri (vermes pulmonares), que afetam mais comumente a região proximal à carina traqueal. Ocasionalmente, o verme afeta o lúmen e o revestimento dos brônquios mais calibrosos, porém, raramente ele se estenderá mais profundamente pelo sistema pulmonar 26. No gato, tem-se o Aelurostrongylus abstrusus, que provoca resposta intensa no hospedeiro, pois gera resposta inflamatória intrapulmonar, provocando a tosse 27. As larvas de primeiro estágio são eliminadas das vias respiratórias pela tosse, deglutidas e eliminadas pelas fezes. Ambas as espécies podem ser acometidas por D. immitis, que se localiza, preferencialmente, na artéria pulmonar e no ventrículo direito e tem suas larvas de primeiro estágio presentes na circulação sangüínea. Cães com colapso traqueal raramente tossem continuamente. A tosse pode ser intermitente e os paroxismos geralmente se exacerbam por estresse, excitação, estimulações mecânicas da traquéia 19, ingestão de água ou alimento 28. Em comparação aos cães, o colapso traqueal em gatos é extremamente incomum 29. Quando a origem é psicogênica, o animal tosse várias vezes por minuto, sintoma que desaparece quando o animal dorme ou está distraído. Ele não sofre de afecção cardiorrespiratória, mas a tensão nervosa influi nas atividades do bulbo cerebral, disparando o centro da tosse 6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ETIOLÓGICO RESENHA E ANAMNESE O conhecimento da predileção de certos processos cardiorrespiratórios – em função da idade e da raça do paciente – pode ser uma valiosa informação inicial para o diagnóstico. Há uma va-
riedade de enfermidades cardíacas, adquiridas ou congênitas, associadas à raça, como a cardiomiopatia dilatada em dobermans e bóxers, e a insuficiência valvular adquirida (IVA) nas raças de pequeno porte. As anormalidades anatômicas respiratórias são observadas em raças braquicefálicas, e sabe-se que o colapso traqueal predomina em raças toy. Com relação à idade, as enfermidades crônicas bronquiais, a IVA e as neoplasias pulmonares são observadas em cães de idade média a avançada, enquanto as traqueobronquites agudas apresentamse mais freqüentemente em cães jovens 9. De maneira geral, a tosse em animais jovens e de meia idade é sugestiva de enfermidades respiratórias, enquanto o oposto é observado naquelas de origem cardíaca. A investigação clínica da tosse inclui várias características, como frequência, modo/sensibilidade, força/intensidade, tempo, timbre, natureza, presença ou não de expectoração (os animais raramente expectoram o fluido, mas a deglutição pode ser vista após o episódio de tosse) e período do dia de maior freqüência 7,18. Na anamnese, é importante obter informações históricas, que devem incluir a exposição potencial a uma doença infecciosa (exposição aos outros animais), a história de viagem e/ou a área que o animal freqüenta – pois a incidência de doenças fúngicas ou de dirofilariose varia de região para região 15 – e o histórico de vacinação e vermifugação (importante para a avaliação de animais com suspeita de vermes pulmonares) 14. Com relação aos fatores ambientais, a doença infecciosa é menos provável em animais confinados em casa que, em contrapartida, podem estar expostos à fumaça de cigarros. Além disso, os animais mantidos no meio urbano estão mais expostos aos poluentes do ar, o que pode causar uma tosse crônica 4,15. O proprietário deve ser indagado quanto à manifestação do reflexo: a tosse após a ingestão de água está associada a enfermidades da traquéia, da laringe, cardíacas ou a enfermidades que causem disfagia; após a ingestão de alimentos está associada a disfagias faringeanas e transtornos no esôfago onde provavelmente há uma situação de engasgo, seguida de tosse; e após estresse/excitação
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Quadro 4 - Achados mais comuns associados às causas gerais de tosse em cães e gatos
Achados
Vias respiratórias superiores Ausente ou discreta Ausente ou discreta Ausente ou discreta Geralmente Ausente a grave
2,4,26
Vias respiratórias Cardiovasculares inferiores Discreta a grave Moderada a grave Discreta a acentuada Nenhuma a acentuada Discreta a acentuada Discreta a acentuada Ocasionalmente Ocasionalmente Discreta a grave Discreta a grave
Compressão Sistema externa ao sistema nervoso respiratório Discreta a grave Ausente Discreta a acentuada Ausente Discreta a acentuada Ausente Ocasionalmente Ocasionalmente Discreta a grave Ausente
Inspeção Supondo que o animal tolere a manipulação quando desperto, deve-se observar a faringe com breve abaixamento da língua o que, normalmente, requer uma tranquilização 25. Tonsilas aumentadas e protraindo-se das criptas tonsilares e faringe com aspecto eritematoso podem indicar inflamação local. O aumento unilateral da tonsila sugere suspeita de neoplasia tonsilar 14. 62
B A O exame direto da laringe é indicado quando se suspeita de anormalidades funcionais, com base na anamnese e nos achados físicos, mas exige sedação. Avalia-se a função laríngea à medida que o paciente se recupera de um plano anestésico leve. Pacientes com paralisia laríngea, geralmente, apresentam laringe de forma assimétrica, o que ajuda no diagnóstico 25. O exame deve incluir ainda avaliação de fundo de olho, para identificar anormalidades concomitantes ou que afetam secundariamente os pulmões, como micoses sistêmicas e neoplasias metastásicas 30. A condição corpórea do animal pode direcionar o diagnóstico: o baixo peso e a caquexia associados às enfermidades cardíacas (Figura 1A), e a obesidade, às doenças respiratórias (Figura 1B) 31. Uma vez presentes cianose e dispnéia podem estar associadas tanto a enfermidades cardíacas quanto respiratórias 5. Palpação Deve-se realizar palpação da laringe, da traquéia e do tórax à procura de deformidades, massas ou dor 2. A tosse pode ser provocada artificialmente,
Figura 1 - Escore corporal utilizado como indicativo da origem da tosse. (A) Cão caquético e com ascite, sugestivo de enfermidade cardíaca e (B) Gato obeso, sugestivo de enfermidade respiratória
comprimindo-se os anéis cartilaginosos da parte anterior da traquéia ou as cartilagens aritenóides da laringe, porque nessas áreas existem ramos sensitivos do vago 18. Esse reflexo é denominado reflexo laringotraqueal (Figura 2). Na maioria dos cães e gatos normais, pode-se induzir tosse seca e breve ao exame do reflexo laringotraqueal, contudo pode-se estimular paroxismos de tosse em animais com inflamação pré-existente causada por colabamento traqueal, bronquite crônica ou asma felina. A indução de tosse úmida ou produtiva deve levantar suspeita de broncopneumonia, bronquiectasia ou outras pneumopatias graves 14.
Alexandre Dias Munhoz
EXAME FÍSICO COMPLETO A realização do exame físico completo, de forma criteriosa e minuciosa em ambiente calmo, e a caracterização do tipo de tosse presente – particularmente quando se puder dispará-la –, poderão determinar a extensão do envolvimento 1. Essa conduta, aliada à resenha, à anamnese e, se necessário, a exames complementares, poderá fornecer subsídios para auxiliar na origem do processo, favorecendo o estabelecimento de diagnóstico etiológico definitivo (Quadro 5) e, por conseqüência, de tratamento adequado.
Alexandre Dias Munhoz
está associada geralmente à enfermidades de origem respiratória, enquanto que após exercícios, as de origem cardíaca 2,5. É relevante indagar ao proprietário se o animal apresenta outros sintomas não habituais, como depressão, letargia, anorexia, dispnéia e intolerância ao exercício 4. Ou se há presença e a duração de outros sintomas sistêmicos, como exemplo perda de peso ou vômito, que podem indicar um distúrbio sistêmico mais sério, como neoplasia 14 (Quadro 4).
Ausente Normais Ausentes Normal Normal
Alexandre Dias Munhoz
Depressão/letargia Febre Desidratação Tosse induzida Dispnéia Intolerância ao exercício Ausente a acentuada Discreta a acentuada Moderada a acentuada Discreta a acentuada Ruídos pulmonares Normais Anormais Anormais Normais Murmúrios cardíacos Ausentes Ausentes Presente Ausentes Leucograma Normal Normal ou aumentado Normal ou aumentado Normal ou aumentado Radiografia torácica Normal Anormal Anormal Anormal
Figura 2 - Realização do reflexo laringotraqueal em um cão
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Quadro 5 - Achados na resenha, anamnese, exame clínico, exames laboratoriais e exames radiográficos nas principais enfermidades cardiorrespiratórias que geram tosse em cães e gatos 2,4,9,11,14,17,29,30,35,40
Faringite/ laringite
Aguda
Traqueobronquite infecciosa Pneumonia bacteriana Pneumonia por aspiração
Cães
Colapso traqueal
Bronquite alérgica/IPE1
Crônica
Dirofilariose
Resenha, anamnese e exame clínico
-Tosse freqüente e forte, seguida de engasgo e deglutição de muco -Latido rouco -Hiperemia da faringe e das tonsilas -Ausência de sinais sistêmicos -Reflexo laringotraqueal positivo -Histórico de contacto com outros cães -Tosse seca, freqüente e forte -Ausência de sinais sistêmicos -Reflexo laringotraqueal positivo -Prostração, anorexia, febre -Dispnéia -Tosse suave e geralmente úmida -Auscultação pulmonar com presença de estertores -Histórico de anestesia geral, regurgitamento, vômitos ou megaesôfago -Tosse freqüente e úmida -Dispnéia -Febre -Auscultação pulmonar com presença de estertores -Raças toy, obesidade -Tosse intermitente, forte, seca e em “grasnido de ganso” -Dispnéia discreta -Auscultação revela estalo ao final da expiração -Tosse freqüente, seca ou produtiva -Dispnéia discreta a grave -Auscultação pulmonar com presença de estertores e sibilos -Animal em área endêmica -Perda de peso -Tosse freqüente e suave -Dispnéia discreta grave -Intolerância ao exercício
-Perda de peso -Tosse freqüente e suave Histoplasmose -Febre Blastomicose -Dispnéia discreta a grave -Comprometimento de diversos sistemas Insuficiência -Cães idosos, de raças de pequeno porte cardíaca -Tosse forte, exacerbada à noite esquerda -Dispnéia e intolerância ao exercício -Auscultação cardíaca com presença de sopro Rinotraqueíte virótica -Exposição a outros gatos -Coriza, lacrimejamento e congestão ocular -Tosse intermitente/rara Asma felina -Tosse paroxística, produtiva e forte -Dispnéia e cianose -Auscultação pulmonar com presença de estertores e sibilos Vermes pulmonares -Tosse intermitente, produtiva e forte -Ocasionalmente pode ocorrer dispnéia e auscultação pulmonar com presença de estertores e sibilos
Gatos Crônica
Aguda
Infecções micóticas
Dirofilariose
1
-Animal em área endêmica -Indiferença, apetite diminuído -Vômitos esporádicos -Tosse rara -Auscultação pulmonar com presença de estertores
Infiltrado Pulmonar Eosinofílico; 2 Eletrocardiograma.
Exames Laboratoriais
Radiografias
-Normais
-Normais
-Lavado traqueal indicativo de inflamação
-Normais
-Leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda ou leucograma normal
-Padrão de consolidação alveolar, com distribuição cranial
-Leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda ou leucograma de estresse
-Padrão de consolidação alveolar, com distribuição cranioventral
-Normais
-Colapso traqueal, intra ou extratorácico, melhor observado na broncoscopia ou fluoroscopia -Colapso brônquico -Padrão bronquial ou broncointersticial
-Eosinofilia periférica -Lavado bronquial sugerindo inflamação, com predominância eosinofílica -Eosinofilia periférica -Hiperglobulinemia -Positivo para microfilárias circulantes -Positivo para antígenos de D. immitis circulantes -Leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda
-ECG2 normal ou sugestivo de aumento atrioventricular esquerdo, com ou sem presença de arritmias de origem atrial -Leucometria global normal ou leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda -Eosinofilia periférica -Lavado traqueal indicando inflamação, com predominância de eosinófilos -Eosinofilia periférica -Presença de ovos ou larvas no lavado traqueal ou nas fezes (método de Baermann) -Eosinofilia periférica -Hiperglobulinemia -Positivo para microfilárias circulantes -Positivo para antígenos de D. immitis circulantes
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-Hipertrofia ventricular direita -Hipertrofia, desgaste e tortuosidade da artéria pulmonar -Consolidações focais nos pulmões, em particular nos lobos diafragmáticos -Densidades intersticiais nodulares difusas -Hipertrofia de linfonodos torácicos -Aumento atrial esquerdo -Dilatação das veias pulmonares -Edema pulmonar na base do coração -Normais -Padrão pulmonar bronquial ou broncointersticial -Pulmões hiperinsuflados -Padrão pulmonar bronquial ou broncointersticial -Hipertrofia das artérias pulmonares do lobo caudal -Hipertrofia ventricular direita discreta
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Se a palpação abdominal suscitar suspeita de ascite, deve-se implementar o golpeamento em um lado do abdômen, enquanto se coloca a palma da outra mão rente à parede abdominal oposta, para permitir a detecção de uma onda hídrica (frênito hídrico) movendo-se pelo abdômen 32. Esta detecção denomina-se sinal de piparote positivo. O animal deve ser examinado quanto aos sintomas de doenças cardíacas, incluindo TPC (tempo de perfusão capilar) prolongado, pulso fraco, irregular ou com déficit, pulso jugular positivo, ascite (Figura 1A) ou edema subcutâneo 17, sintomas estes que não tendem a ocorrer em enfermidades respiratórias. Percussão A percussão acústica, técnica não invasiva para detectar lesões pleurais e parenquimatosas superficiais, é indicada quando a auscultação dos pulmões revela sons respiratórios de intensidade anormal (mais ou menos audíveis). A anormalidade que mais freqüentemente requer percussão acústica é o abafamento dos sons pulmonares pela efusão pleural ou por lesões expansivas dos pulmões ou da cavidade pleural. O objetivo é determinar se existem áreas de maior ressonância ou macicez que possam indicar a presença de lesões 25. Auscultação A ausculta do sistema cardiorrespiratório é parte vital da avaliação de qualquer animal com tosse. Deve ser realizada com o paciente calmo e em ambiente silencioso. Um aspecto importante, particularmente nos cães, é observar se há ou não evidências de cardiopatia. Em seguida, devem-se observar todos os campos pulmonares e a traquéia cervical quanto à presença de ruídos anormais 14. Na auscultação das vias aéreas, o estetoscópio é colocado inicialmente sobre a traquéia, próximo à laringe. Roncos (ruídos adventícios contínuos de timbre grave) podem estar relacionados à cavidade nasal e à faringe, como resultado de obstrução por anormalidades estruturais, como palato mole alongado, ou por massas, muco e exsudato excessivos nas grandes vias respiratórias 33. Um estalo súbito pode ser ouvido em alguns cães com colapso traqueal 64
intratorácico ao final da expiração 17. Os sibilos (ruídos adventícios contínuos de timbre agudo) estão associados ao estreitamento das vias respiratórias e estão presentes nos casos de asma felina, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica. Quando somente sibilos inspiratórios (estridores) são auscultados, deve-se pensar em doenças laríngeas obstrutivas, como paralisia laríngea, neoplasia, inflamação ou corpos estranhos. Sons anormais resultantes de doenças extratorácicas são, geralmente, mais altos durante a inspiração 2,17,33. Nos campos pulmonares, a presença de ruídos adventícios descontínuos (estertores) finos e ou grosseiros normalmente está associada a enfermidades que culminam com a formação de edema (finos) ou exsudato (grosseiros) no interior das vias aéreas, o que justifica a presença da tosse 33. O sistema cardiovascular deve ser cuidadosamente avaliado, com auscultação dos quatro focos valvares (pulmonar, aórtico, mitral e tricúspide), à procura de murmúrios, arritmias e ritmos de galopes 31, normalmente ausentes em enfermidades respiratórias. Sopros de insuficiência mitral são freqüentemente auscultados em cães mais velhos de raças pequenas, embora a sua presença possa não implicar diagnóstico de insuficiência cardíaca 17.
Radiografia O exame radiográfico é complementar ao exame clínico do paciente com tosse. O aspecto anatômico normal e as doenças da região cervical e do tórax são melhor observadas ao exame radiográfico. A radiografia é o teste diagnóstico mais útil na avaliação de cães e gatos para identificar alterações no sistema respiratório superior 9,26,28, no sistema respiratório inferior, incluindo análise dos padrões pulmonares 26,33,34,35, no sistema cardiovascular 31, e presença de massas intra ou extratorácicas 33; sendo os achados expostos nos quadros 4,5 e 6.
EXAMES COMPLEMENTARES Há várias técnicas de diagnóstico para a sintomatologia da tosse. A extensão do planejamento diagnóstico depende da gravidade da tosse e de outros sintomas de doença sistêmica 15.
Lavagem traqueal O lavado traqueal pode fornecer informações diagnósticas valiosas para animais com tosse. É uma técnica que visa a coleta de amostra das vias aéreas para citologia, cultura microbiológica e antibiograma 36,37. O lavado é geralmente realizado após o histórico, o exame físico e a radiografia torácica 26. Necessita de equipamento pouco especializado, como cateter jugular, seringa e agulha hipodérmica (12-14G). O procedimento é conduzido preferencialmente sob sedação e com tricotomia, assepsia e anestesia local. O animal é posto em decúbito ventral e, com a cabeça elevada, introduz-se a agulha entre os anéis traqueais (transtraqueal) ou através do ligamento cricotireóideo (translaríngeo), passando o cateter através da agulha até o ponto de coleta, instilando solução fisiológica e aspirando o material em seguida 37. Alterações celulares ocorrem
Avaliação laboratorial A avaliação laboratorial deve ser feita na maioria dos pacientes com sinais de doença, como febre, depressão, anorexia e dispnéia que acompanham a tosse ou, então, nos casos de tosse crônica. Normalmente, são requisitados hemograma, perfil bioquímico e hormonal, urinálise, teste para dirofilariose (detecção do antígeno dos adultos e visualização das microfilárias), leucemia, imunodeficiência e peritonite infecciosa felina 4,14. O objetivo é determinar a existência de doença orgânica ou sistêmica que possa contribuir para a tosse.
Exame parasitológico de fezes A migração pulmonar de ascarídeos pode causar tosse, especialmente em cães e gatos intensamente parasitados. Em regiões onde vermes pulmonares são endêmicos, deve-se utilizar a técnica de flutuação de Baermann para detectar larvas de vermes pulmonares nas fezes. Entretanto, essas larvas nem sempre estão presente nas fezes, pois podem ocorrer em baixa quantidade, ou ser eliminadas intermitentemente. Em geral, avaliam-se amostras fecais durante três dias seguidos 14. O exame fecal para detecção de ovos e larvas é um artifício simples e não invasivo para o diagnóstico de O. osleri, A. abstrusus, Capillaria aerophila, Toxocara canis, T. cati e ancilostomídeos 23.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Quadro 6 - Diagnóstico etiológico da tosse de acordo com os diferentes tipos de padrões pulmonares (adaptado)23,33,34,35.
Padrão vascular Artérias aumentadas Dirofilariose Hipertensão pulmonar Doença tromboembólica
Padrão bronquial Bronquite alérgica Bronquite crônica Bronquiectasia Parasitas pulmonares
Veias aumentadas Insuficiência cardíaca esquerda
Bronquite bacteriana
Arteriais e veias pequenas Subcirculação pulmonar Estenose de válvula pulmonar Hiperinsuflação dos pulmões Bronquite alérgica
Padrão alveolar Edema pulmonar Doença inflamatória/Infecção Viral Bacteriana Protozoária Micótica
Padrão intersticial Infecção micótica Blastomicose Histoplasmose Neoplasia Parasitas pulmonares Abscessos
Parasitária Corpo estranho Pneumonia por aspiração IPE1 Neoplasia Hemorragia
IPE Lesões inativas
Infiltrado pulmonar eosinofílico
1
em transtornos respiratórios, enquanto nos transtornos cardíacos a citologia é normal. Traqueoscopia/broncoscopia O exame endoscópico permite a inspeção direta das vias respiratórias e a identificação de evidências de inflamação, ulceração e edema, a remoção de corpos estranhos, a demonstração de regiões colabadas, hipoplásicas, estenosadas, rompidas ou comprimidas 9, e pode ser empregado como meio de colheita de amostras em pacientes com doença não-diagnosticada do trato respiratório inferior 26. É particularmente útil na avaliação de pacientes com tosse crônica, mas uma de suas grandes desvantagens é a necessidade de submeter o animal à anestesia geral 4. Na maioria dos pacientes, ela é realizada para a colheita de amostras nos casos em que o lavado traqueal não for conclusivo. A broncoscopia é contra-indicada em animais com comprometimento respiratório grave, a menos que seja utilizada com finalidade terapêutica (remoção de corpo estranho) 26. Aspiração pulmonar com agulha fina Nos casos de afecção difusa do parênquima pulmonar em pacientes com tosse crônica (ou dispnéicos) quando, após o emprego dos processos descritos anteriormente, não foi possível chegar a um diagnóstico, deve-se considerar o uso de agulhas finas para a aspiração de tecido pulmonar. O perigo da ocorrência de hemorragia grave ou de pneumotórax é relativamente pequeno, desde que as seguintes regras sejam obedecidas: (1) não realizar a aspiração em pacientes
com distúrbios hemorrágicos ou de coagulação; (2) conter o paciente adequadamente (sedá-lo, se necessário); (3) desviar do coração e dos vasos importantes (localizar o ponto preferido para a aspiração nas radiografias); (4) não utilizar agulhas com calibre maior do que 20; (5) usar técnica adequada, introduzindo a agulha em linha reta, aspirando e retirando-a também em linha reta 4. Angiografia A angiografia é utilizada como teste confirmatório em gatos com suspeita de dirofilariose, mas com resultados de testes sangüíneos para antígeno de adultos e visualização das microfilárias negativos e achados ecocardiográficos sem alterações. A angiografia também é utilizada para confirmar o diagnóstico de doença tromboembólica. As artérias obstruídas são rombas ou não exibem afunilamento suave e arborização normal. As artérias não obstruídas podem estar dilatadas e tortuosas. Por ser muito específico, esse teste tem valor limitado e é pouco difundido/utilizado 26. Eletrocardiograma/ecocardiograma O eletrocardiograma tem como principal finalidade a detecção e a localização de arritmias 9, e pode sugerir evidência de dilatação de câmaras cardíacas 38. Em pacientes com enfermidades cardíacas, normalmente são observados taquicardia, aumento atrioventricular esquerdo e arritmias, enquanto nas enfermidades respiratórias o ritmo poderá estar normal, bradicárdico ou com arritmia sinusal marcante, além de, em alguns casos, se observar aumento atrioventricular direito 39. O ecocardiograma
confirmará a cardiomegalia e a causa provável de insuficiência cardíaca congestiva 9. É empregado para avaliar o tamanho das câmaras cardíacas, a espessura e o movimento de suas paredes, a configuração e o movimento das válvulas cardíacas e o estado dos grandes vasos proximais. A ultra-sonografia permite determinar as relações anatômicas e obter informação acerca da função cardíaca, e é sensível para detectar acúmulo de líquido pericárdico e pleural, possibilitando também a identificação de lesões compressivas dentro do coração e em suas adjacências. A maioria dos exames pode ser realizada com mínima ou nenhuma contenção química 38. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora a tosse aja como mecanismo de defesa, pacientes nos quais ela é a queixa principal ou o único sintoma merecem um cuidado especial, haja vista o grande número e a complexidade de etiologias que podem desencadeá-la, desde as mais benignas àquelas com prognóstico de reservado a desfavorável. Esforços com relação ao diagnóstico não devem ser poupados, principalmente na diferenciação entre a tosse de origem respiratória e aquela de origem cardíaca, discutida nas diferentes seções que compõem este artigo, pois o diagnóstico equivocado conduzirá a prognósticos errôneos e a tratamentos ineficazes, que podem comprometer a qualidade de vida e, de acordo com o estágio e a evolução da enfermidade, ser insuficientes para impedir o óbito do paciente. Ao se defrontar com um paciente
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com tosse, o clínico nunca deve desconsiderar a possibilidade de estar diante de enfermidades distintas, que desencadeiam de forma sinérgica o mesmo fenômeno. Assim, o conhecimento prévio da etiologia e das formas de manifestação dessas moléstias, associado ao exame clínico minucioso, com caracterização pormenorizada da tosse, auxiliarão na construção de um plano diagnóstico facilitando, caso necessário, a escolha dos exames complementares, cuja grande maioria é simples e está amplamente disponível no mercado. Dentro desse contexto espera-se que a presente revisão possa trazer subsídios ao clínico, auxiliando-o no diagnóstico da etiologia da tosse em cães e gatos e no direcionamento do protocolo terapêutico para a causa, e não para a sua conseqüência. AGRADECIMENTOS Ao médico veterinário Ângelo de Souza Jorge, Clínica Veterinária Alvorada, Campo Grande, RJ. REFERÊNCIAS
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Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Procedimento operacional padrão para o manejo de gatos com suspeita de esporotricose
Isabella Dib Ferreira Gremião
Médica veterinária, MSc Serviço de Zoonoses - IPEC/Fiocruz/ RJ dib@ipec.fiocruz.br
Sandro Antonio Pereira
Médico veterinário, MSc Serviço de Zoonoses - IPEC/Fiocruz/ RJ sandroantonio@ipec.fiocruz.br
Amary Nascimento Júnior
General instructions for handling cats which might have a sporotrichosis condition
MV, MSc, prof. FMV/UFF
amary@vm.uff.br
Fabiano Borges Figueiredo
MV, mestrando PPGDI Serviço de Zoonoses - IPEC/Fiocruz/ RJ
Instrucciones generales para el manejo de gatos con sospecha de esporotricosis
fabiano@ipec.fiocruz.br
Jéssica Nunes Silva
Graduanda FMV/UFF Bolsista PIBIC Fiocruz/CNPq Serviço de Zoonoses - IPEC/Fiocruz/ RJ jessica@ipec.fiocruz.br
Resumo: A esporotricose é causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii, que infecta humanos e animais. O gato apresenta elevado potencial zoonótico pela riqueza parasitária encontrada nas lesões cutâneas, diferentemente de outras espécies. A transmissão pode ocorrer pelo contacto com exsudatos de lesões, mordeduras ou arranhaduras de gatos. Desde 1998, o Serviço de Zoonoses da Fiocruz vem acompanhando uma epidemia de esporotricose envolvendo gatos, cães e humanos no Rio de Janeiro. Os cuidados adotados na rotina de atendimento de gatos com suspeita de esporotricose foram padronizadas pelos médicos veterinários desse serviço, com o intuito de garantir o mínimo de segurança para os profissionais e seus auxiliares uma vez que, nessa epidemia, a maioria das infecções em humanos ocorreu após acidentes com gatos. Unitermos: segurança, Felis catus, micoses, Sporothrix schenckii
Luiz Rodrigo Paes Leme
MV, mestrando PPGDI Serviço de Zoonoses - IPEC/Fiocruz/ RJ luizleme@ipec.fiocruz.br
Abstract: Sporotrichosis is caused by the dimorphic fungus Sporothrix schenckii which infects human and animals. The cat presents high zoonotic potential due to the high number of yeast-like cells detected in the cutaneous lesions, which differs from the other species. The transmission can occur through contact with lesions secretions, bites or scratches from cats. Since 1998, the Zoonosis Service has been following up a sporotrichosis epidemic in Rio de Janeiro involving cats, dogs and human beings. The veterinaries of the Zoonosis Service standardized the routine recommendations adopted in such cases to provide the least protection to other professionals since the majority of the human cases in this epidemic occurred after accidents involving cats. Keywords: safety, Felis catus, mycoses, Sporothrix schenckii
Clínica Veterinária, n. 65, p. 69-70, 2006
INTRODUÇÃO A esporotricose é causada pelo fungo dimórfico Sporothrix schenckii, que infecta os seres humanos e diversas espécies animais. Classicamente, a es porotricose decorre da inoculação traumática do fungo, que é encontrado no solo, em matéria orgânica e em plantas 1. A esporotricose felina apresenta um amplo espectro clínico, que varia desde a infecção subclínica, passando pela lesão cutânea única, até formas múltiplas e sistêmicas fatais, acompanhadas ou não de sinais extracutâneos (Figura 1). O gato apresenta elevado potencial zoonótico devido à riqueza parasitária encontrada nas lesões cutâneas, o que o difere de outras espécies. A transmissão
zoonótica pode ocorrer através de contacto com exsudatos de lesões, mordeduras ou arranhaduras de gatos 2. As lesões cutâneas podem ulcerar, drenando exsudato purulento, o que promove a formação de crostas espessas. Extensas áreas de necrose podem se desenvolver e expor ossos e músculos 3. Os casos de esporotricose felina podem ser tratados com iodeto de sódio, cetoconazol e itraconazol 2,4. Desde 1998, o Serviço de Zoonoses do IPEC/Fiocruz vem acompanhando uma epidemia de esporotricose, que apresenta características de zoonose e envolve gatos, cães e seres humanos, na região metropolitana do Rio de Janeiro 2,5 . Dos casos humanos de esporotricose
Médica veterinária, PhD Serviço de Zoonoses - IPEC/Fiocruz/ RJ schubach@ipec.fiocruz.br
Isabella Dib Ferreira Gremião
Resumen: La esporotricosis es causada por el hongo dimórfico Sporothrix schenckii, que infecta humanos y animales. El gato presenta elevado potencial zoonótico por la riqueza parasitaria encontrada en las lesiones cutáneas, al contrario de otras especies. La transmisión puede ocurrir por el contacto con exudación de las lesiones, mordeduras o arañazos de gatos. A partir de 1998, el Servicio de Zoonosis/Fiocruz viene observando una epidemia de esporotricosis envolviendo gatos, perros y humanos en Rio de Janeiro. Recomendaciones adoptadas en la rutina de atención a gatos con sospecha de esporotricosis fueron estandarizadas por los médicos veterinarios de este servicio, con el objetivo de garantizar el mínimo de seguridad para los profesionales y sus ayudantes, una vez que en esta epidemia la mayoría de los casos humanos ocurrió después de accidentes envolviendo gatos. Palabras clave: Seguridad, Felis catus, micosis, Sporothrix schenckii
Tânia Maria Pacheco Schubach
Figura 1 - Gato com esporotricose apresentando lesões cutâneas ulceradas na região cefálica
atendidos no IPEC durante o período de 1998 a 2001, 91% foram transmitidos por gatos 6. Por esse motivo, a equipe do Serviço de Zoonoses padronizou os cuidados rotineiramente adotados para o manejo de gatos com suspeita de esporotricose com o intuito de garantir o mínimo de segurança, visando preservar a saúde do médico veterinário e de seus auxiliares, uma vez que o papel do gato na transmissão para o ser humano vem crescendo nos últimos anos. Essas recomendações são baseadas na experiência e nas
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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observações da equipe do Serviço de Zoonoses, bem como na literatura especializada 7,8. RECOMENDAÇÕES PARA O PROFISSIONAL DE SAÚDE (Figura 2) - Usar avental impermeável e descartável, com mangas longas; - Usar máscara N-95 preferencialmente, ou máscara cirúrgica descartável; - Usar luvas de procedimento, e lavagem das mãos com água e anti-séptico (clorexidina 2%, PVPI 1% degermante) após a retirada das luvas; - Usar óculos de acrílico; - Usar calçados que não deixem os artelhos (dedos dos pés) expostos; - Manter os cabelos longos devidamente presos ou recobertos por touca; - No caso de acidentes com instrumentos perfurocortantes, ou de arranhadura ou mordedura, permitir o sangramento e, posteriormente, lavar a região lesionada com água corrente e sabão. Após esse procedimento, procurar atendimento médico quando necessário.
evitar arranhaduras ou mordeduras, ou sedação dos pacientes não cooperativos – deve ser implementada para a realização de exame clínico completo e coleta de material biológico para exames laboratoriais (Figuras 3 e 4). Os dejetos do animal devem ser descartados em saco branco leitoso com identificação de risco biológico. A descontaminação e a limpeza da caixa de transporte devem ser realizadas com hipoclorito 1% ou água sanitária diluída em água 1:3 por 10 minutos, no mínimo. Quando possível, a secagem deve ser realizada por exposição ao sol.
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Isabella Dib Ferreira Gremião
Isabella Dib Ferreira Gremião
Isabella Dib Ferreira Gremião
MANEJO DO LOCAL, DO MATERIAL E DOS INSTRUMENTOS - Descontaminação, limpeza e desinfecção 9 da mesa de atendimento após o procedimento (hipoclorito de sódio 1%, e posteriormente álcool 70%) por no mínimo 10 minutos, com o auxílio de papel toalha descartável; - Higienização e desinfecção do piso e das paredes diariamente (hipoclorito de sódio 1%); MANEJO DO PACIENTE - Descarte de materiais perfurocortantes Os proprietários são orientados a em recipientes de resíduos de serviços de saúde apropriados para esse fim; transportar os animais em caixas de - Descarte de luvas, máscaras, toucas, plástico de fácil limpeza, uma vez que aventais e outros materiais utilizados as caixas de madeira constituem-se em em sacos brancos leitosos com identifihábitat favorável para o crescimento do cação de risco biolófungo. gico; A contenção - Lavagem dos insfísica adequada trumentos cirúrgi– com cuidado cos utilizados nas especial para biópsias em água corrente, e esterilização por calor Figura 3 - Utilização de avental descartável e úmido no autoclave impermeável – mangas longas – e de luvas de ou forno Pasteur; procedimento durante o exame clínico de gato - Acondicionamento com esporotricose de animais submetidos à eutanásia e/ou necropsia em sacos brancos leitosos com identificação de risco biológico, até a realização da incineração. A experiência acumulada pela equipe do Figura 2 - Paramentação comFigura 4 - Contenção física de gato com pleta para manejo de gato suspeita de esporotricose para coleta de Serviço de Zoocom suspeita de esporotricose noses ao longo material biológico utilizando swab
de sete anos, durante os quais aproximadamente 1.200 casos de esporotricose felina foram avaliados, permite concluir que a adoção das medidas supracitadas proporciona maior segurança aos profissionais da área de saúde que trabalham com animais em relação aos quais haja suspeita de esporotricose. A implementação de tais medidas de maneira padronizada e sistemática tende a minimizar os riscos oriundos do contacto dos profissionais de saúde e dos proprietários com secreções, excreções ou mesmo traumatismos (arranhaduras e mordeduras) quando do manuseio de gatos com suspeita de esporotricose, possibilitando maior segurança no trabalho e conseqüente redução de acidentes ocupacionais. REFERÊNCIAS
1-RIPPON, J. Medical Mycology: The pathogenic fungi and the pathogenic actinomycetes. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1988. p. 325-352. 2-SCHUBACH, T. M. P.; SCHUBACH, A.; OKAMOTO, T.; BARROS, M. B.; FIGUEIREDO, F.; CUZZI, T.; FIALHO-MONTEIRO, P.; REIS, R.; PEREZ, M.; WANKE, B. Evaluation of an epidemic of sporotrichosis in cats: 347 cases (1998-2001). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 224, n. 10, p. 1623-1629. 2004. 3.SCOTT, D.; MILLER, W.; GRIFFIN, C. Doenças fúngicas da pele. In: SCOTT, D.; MILLER, W .; GRIFFIN, C. Muller & Kirk - Dermatologia de pequenos animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros Edições Ltda, 1996. p. 301-369. 4-BURKE, M. J.; GRAUER, G. F.; MACY, D. W. Successful treatment of cutaneolymphatic sporotrichosis in a cat with ketaconazole and sodium iodine. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 19, p. 542-547. 1983. 5-BARROS, M. B. L.; SCHUBACH, T. M.; GUTIERREZ GALHARDO, M. C.; SCHUBACH, A.; MONTEIRO, P. C.; REIS, R. S.; ZANCOPE-OLIVEIRA, R. M.; LAZERA, M.; CUZZI-MAYA, T.; BLANCO, T. C.; MARZOCHI, K. B.; WANKE, B. VALLE, A. C. Sporotrichosis: an emergent zoonosis in Rio de Janeiro. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 96, p. 777-779. 2001. 6-BARROS, M. B. L. Estudo de uma série de casos de esporotricose atendidos no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas. 2004. Tese. (Doutorado em Doenças Infecciosas e Parasitárias), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004. 7-BRASIL. Ministério da Saúde. Comissão Técnica de Biossegurança da Fiocruz (CTBio - Fiocruz). Procedimentos para a manipulação de microorganismos patogênicos e/ou recombinantes na Fiocruz. Rio de Janeiro. 1998. 8-ODA, L. M.; ÁVILA, S. M. Biossegurança em laboratório de saúde pública. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. 304 p. 9-BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 113, de 22 de novembro de 1993.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Esporotricose cutânea em gato - relato de caso
Jairo Ramos de Jesus
Médico veterinário autônomo pós-graduando - FAVET/UFRGS jairorj@terra.com.br
Sandra Márcia Tietz Marques
MV, profa., dra. - FAVET/UFRGS
Cutaneous sporotrichosis in a cat - case report
sandra.tietz@terra.com.br
Aspectos clínicos y tratamiento de la esporotricosis felina - un reporte de caso Resumo: A esporotricose é uma zoonose causada pelo fungo Sporothrix schenckii, que ocorre sob três formas clínicas: cutaneolinfática, cutânea e disseminada. É adquirida, via de regra, pela inoculação do fungo diretamente na pele através de traumatismos com fragmentos de vegetais, por arranhadura ou mordedura de animais. Nos felinos, a forma cutânea é a mais freqüente. O presente trabalho relata a esporotricose em gato macho, adulto, que apresentava lesão ulcerativa, crostosa, com secreção purulenta no membro anterior direito. A cultura micológica e a citologia por “imprint” permitiram o diagnóstico do fungo Sporotrix schenckii. Foi instituído o tratamento antifúngico sistêmico com itraconazol, associado a antibioticoterapia sistêmica e local por 60 dias, o que resultou na completa cicatrização da lesão. Unitermos: gato, Sporohtrix schenckii, zoonose, micose profunda subcutânea Abstract: Sporotrichosis is a zoonosis caused by the fungus Sporothrix schenckii, which occurs in lymphocutaneous, fixed cutaneous and disseminated forms. It is often acquired by traumatic inoculation of the fungus into the skin caused by plants, scratches or animal bites. The cutaneous form is the most common in felines. The present study describes the case of an adult male cat with an ulcerative, crusty and purulent lesion on the right front paw. The fungal culture and imprint cytology enabled the diagnosis of Sporothrix schenckii. Systemic antifungal treatment with itraconazole, associated with systemic and local antibiotic therapy for 60 days, was initiated and the lesion healed completely. Keywords: cats, Sporothrix schenckii, zoonosis, deep mycosis Resumen: La esporotricosis es una zoonosis causada por el hongo Sporothrix schenckii. Se han descrito tres formas clínicas de esporotricosis: la linfo-cutánea, la cutánea y la diseminada. Frecuentemente, el hongo se inocula en la piel a través de pequeños traumatismos producidos por contacto con plantas, arañazos o mordeduras de animales. En los felinos la forma más común es la cutánea. Se describe el caso de un gato macho adulto que presentaba una lesión ulcerativa, costrosa, con secreción purulenta, en el miembro anterior derecho. En el cultivo micológico y citología por impronta se halló Sporothrix schenckii. Se empezó el tratamiento antifúngico sistémico con itraconazol, asociado al uso de antibioticoterapia sistémica y local durante 60 días, y se logró la cicatrización completa de la lesión. Palabras clave: gato, Sporothrix schenckii, zoonosis, micosis cutánea profunda
Clínica Veterinária, n. 65, p. 72-74, 2006
INTRODUÇÃO A esporotricose é causada pelo fungo saprófita dimórfico denominado Sporothrix schenckii (S. schenckii), que possui distribuição mundial, encontrando-se sob a forma de micélio no meio ambiente, principalmente quando há grande concentração de matéria orgânica. Na forma leveduriforme, o organismo é encontrado infectando tecidos do hospedeiro 1. Acomete diversas espécies de animais domésticos como cães, gatos, suínos, bovinos e eqüinos. A infecção do homem está diretamente relacionada ao contacto com felinos ou com ambientes de criação de animais, e freqüentemente decorre de traumatismos cutâneos 2. A esporotricose é adquirida, via de regra, pela inoculação do organismo na 72
pele através de traumatismos com fragmentos de vegetais, por arranhadura ou mordedura de animais. O S. schenckii também pode ser isolado da casca de árvores, do musgo e de sementes de coníferas 3. Clinicamente, a doença apresenta-se sob três formas clínicas principais: cutaneolinfática, cutânea e disseminada. Em felinos, são mais freqüentes as formas cutânea localizada e disseminada, em virtude do hábito que os animais dessa espécie têm de cavar buracos e/ou cobrir seus dejetos com terra ou areia, ou de afiar suas garras em troncos de árvores. Esse conjunto de comportamentos leva os animais a manterem o organismo, assintomaticamente, em localização subungueal, o que os torna fontes de infecção para outros animais e para o homem. A doença é mais
freqüente em felinos em idade reprodutiva. A presença do agente na unha e no tegumento dos animais, aliada ao acesso à rua e ao hábito de disputas territoriais (brigas) ou por fêmeas com outros felinos favorecem a manutenção e a disseminação do agente 4. A esporotricose é considerada uma zoonose. Comumente, os casos de infecção humana são associados à transmissão pelo contacto com material ulcerado de gatos infectados, ou por traumatismos (arranhaduras ou mordeduras) decorrentes da manipulação desses animais 5,6,7. Os gatos infectados eliminam o microrganismo por diversas secreções e excreções (fezes), o que agrava o risco de infecção de proprietários, criadores e profissionais que manipulam animais de companhia, em especial os médicos veterinários 8,9. Diversos casos de esporotricose no homem foram relatados no Rio de Janeiro, em indivíduos que co-habitavam com gatos no domicílio, ou que mantinham contacto profissional com a espécie, sendo que 47% dos pacientes relataram histórico de arranhadura ou mordedura por felinos. O isolamento do fungo de lesões cutâneas reforça a preocupação de que a esporotricose constitua-se em uma doença profissional devendo, o médico veterinário, tomar cuidado quando do contacto com animais suspeitos, inclusive na ausência de traumatismos 10,11. Estudo da prevalência da esporo tri cose conduzido no Rio de Janeiro
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Relato de caso Foi atendido, em clínica particular localizada em Porto Alegre (RS), um felino macho, SRD, de oito meses, com 3,5kg de peso corporal. À admissão, o proprietário relatou que o animal apresentava lesão no membro anterior direito, com evolução de aproximadamente dois meses. O próprio proprietário havia iniciado o tratamento da lesão, mediante limpeza do ferimento e aplicação de pomada à base de neomicina. Não havendo remissão da lesão, o animal foi encaminhado aos cuidados do médico veterinário, que prontamente instituiu o tratamento antibacteriano tópico, com pomada à base de nitrofurazona, associado à terapia sistêmica com a associação entre espiramicina e metronidazol, 2mg/kg, via oral BID, por sete dias. Mesmo após a instituição do tratamento não houve regressão da lesão, agravada pela extrema sensibilidade dolorosa local. O proprietário relatou, ainda, que o felino tinha livre acesso à rua, envolvendo-se freqüentemente em disputas territoriais (brigas) com outros animais. Ao exame clínico, não se evidenciaram alterações significativas nos parâmetros fisiológicos do animal. Ao exame dermatológico foi observada lesão ulcerativa, crostosa, apresentando secreção purulenta, de aproximadamente 2cm de diâmetro, na região distal cárpica do membro anterior direito (Figura 1). À palpação, o animal apresentava intensa sensibilidade dolorosa local. Com base no histórico, nos sinais clínicos e no insucesso de tratamentos
Jairo Ramos de Jesus
Jairo Ramos de Jesus
assinalou 100% de S. schenckii em 148 gatos com lesão de pele, diagnosticados por biópsia da lesão cutânea. Destes, 84 eram aparentemente saudáveis, apresentando somente lesões cutâneas 12. Já estudo similar realizado no Rio Grande do Sul demonstrou a ausência de esporotricose em felinos residentes na região de Porto Alegre e em municípios vizinhos 13. Em face da baixa freqüência de descrição de casos de esporotricose em gatos no Estado do Rio Grande do Sul, e da relevância da doença no contexto da saúde pública, o presente relato descreve caso de esporotricose cutânea em gato, com efetiva resposta terapêutica.
Figura 1 - Lesão cutânea em gato doméstico, causada por Sporotrix schenckii
anteriores, aventou-se a hipótese de esporotricose ou neoplasia. Diante da suspeita clínica, foram realizadas a tricotomia e a limpeza local e coletados pele e pêlos da região afetada, para exame micológico e realização de citologia por imprint em lâmina. A terapia antimicrobiana prescrita foi mantida por mais sete dias. Para isolamento e identificação do fungo, o material foi semeado no meio Ágar-Sabouraud, e incubado em temperatura ambiente, em aerobiose, por cinco dias. O material para citologia foi processado rotineiramente e corado pela hematoxilina-eosina (HE). Tanto a cultura quanto o exame citológico revelaram a presença do fungo Sporotrix schenkii no material enviado 14. A partir dos dados da anamnese, dos sinais clínicos e dos exames complementares, foi firmado o diagnóstico de esporotricose felina. O proprietário foi informado do diagnóstico e esclarecido quanto aos riscos de contágio e às práticas de prevenção, já que se tratava de uma dermatozoonose. Foi instituído o tratamento com itraconazol, 10mg/kg, VO, SID, concomitantemente à antibioticoterapia sistêmica, por 60 dias consecutivos, logo após a alimentação, e a limpeza da lesão com clorexidine 0,2% BID até o retorno. Após 15 dias de tratamento, a área lesionada encontrava-se reduzida, com visível progressão do processo cicatricial, sem indícios de contaminação bacteriana secundária. Decorridos 30 dias de terapia, o animal apresentava cicatrização completa da lesão, sem sinais de sensibilidade dolorosa ou prurido local, e em ótimo estado geral (Figura 2). O tratamento foi mantido por
Figura 2 - Cicatrização de lesão cutânea em gato doméstico com esporotricose
mais 15 dias e, completados os 60 dias da terapia, o animal recebeu alta. Discussão e conclusões O presente relato descreve a esporotricose tegumentar em felino doméstico no município de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Ao contrário de outros estados – especialmente o Rio de Janeiro, no qual as condições climáticas parecem favorecer a disseminação do agente entre os felinos –, no Rio Grande do Sul a esporotricose não é relatada com freqüência em felinos. O histórico de livre acesso do animal à rua e o contacto com outros felinos provavelmente favoreceram a infecção cutânea do fungo, em virtude de traumatismos diversos, contacto com secreções de animais doentes e, especialmente, por veiculação transcutânea do agente, provocada por mordeduras e arranhaduras em disputas por território ou por fêmeas 5. A forma cutânea de esporotricose manifestada pelo animal relatado também tem sido assinalada em outros estudos como uma das apresentações clínicas mais freqüentes em felinos domésticos 5, incluindo o Brasil 4. No estado do Mato Grosso foram registrados dois casos clínicos de esporotricose felina. Desses dois animais, um apresentava dermatopatia alopécica pustulocrostosa, principalmente nas regiões da face e no membro pélvico direito. O outro animal apresentava lesão dermatológica circunscrita, arredondada, papular, com rarefação pilosa e encimada por crosta hemática. Nesses casos,
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o diagnóstico de S. schenckii foi firmado pela histopatologia de fragmentos de pele das lesões, e os animais foram tratados com itraconazol VO, 10 mg/kg, a cada 12 horas durante um mês, com cura clínica 2. O itraconazol tem se mostrado eficaz e seguro na terapia da esporotricose cutânea, em detrimento dos iodetos e do cetoconazol, pelos efeitos colaterais indesejáveis dessas drogas. Como medida de segurança, a terapia tem sido preconizada por mais 30 dias após a cura clínica dos animais, visto que sua interrupção antes desse período tem resultado em recidivas 5,14. Por essa razão, no caso ora relatado foi instituída terapia com o itraconazol, que mostrou boa tolerabilidade e resposta terapêutica. A esporotricose é considerada doença ocupacional, principalmente para trabalhadores que lidam com vegetais e solos contaminados, como jardineiros, floristas, horticultores, agricultores 1 e, especialmente, para pessoas que mantêm estreito contacto com felinos, como proprietários, tratadores e médicos veterinários 7,8,9. O isolamento dos animais suspeitos enquanto se procede ao diagnóstico, ou de animais doentes submetidos ao tratamento, é uma das principais medidas a ser adotada para minimizar os riscos de infecção de outros gatos, ou mesmo do homem. Em 2002 foi documentado um caso de esporotricose felina, com acometimento de três indivíduos contactantes: o médico veterinário que efetuou o exame clínico no animal e dois atendentes da clínica, expostos à infecção por arranhadura do animal 15. Antes da instituição de terapia no animal objeto deste relato, teve-se o cuidado de informar o proprietário quanto aos riscos de que pessoas que com ele tivessem contacto pudessem contrair a infecção 17. Assim, foram tomadas todas as precauções necessárias para a terapia segura do animal recomendando-se, entre outras
medidas, que os proprietários mantivessem-no em ambiente isolado, sem contacto com outros animais, e que somente a(s) pessoa(s) encarregada(s) de realizar o tratamento tivessem contacto com ele, utilizando obrigatoriamente luvas de procedimento durante o período da terapia. O presente relato ratifica a esporotricose cutânea como uma das manifestações clínicas mais freqüentes da esporotricose felina no Brasil, a efetividade do itraconazol na terapia e os cuidados que devem ser respeitados para a manipulação de animais suspeitos e doentes, com vistas a minimizar o contágio de outros animais e do homem. REFERÊNCIAS
01-RIPPON, J. Sporotrichosis. In: RIPPON, J. ed. Medical Mycology - The pathogenic Fungi and the Pathogenic Actinomycetes, 3. ed., Philadelphia: W.B. Saunders Company, p. 325352, 1988. 02-KAUFFMAN, C. A. Sporotrichosis. Clinical Infection Disease, v. 29, n. 2, p. 231-236, 1999. 03-LIMA, L. B.; PEREIRA Jr., A. C. Esporotricose - inquérito epidemiológico. Importância como doença profissional. Anais Brasileiro de Dermatologia, v. 56, n. 4, p. 243-248, 1981. 04-FERNANDES, C. G. N.; MOURA, S. T. De; DANTAS, A. F. M.; BLATT, M. C. S. Esporotricose felina - aspectos clínico-epidemiológicos: Relato de casos (Cuiabá, Mato Grosso, Brasil). Revista Científica de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação, v. 2, n. 5, p. 39-43, 2004. 05-ROSSER, E.; DUNSTAN, R. Sporotrichosis . In: GREENE C. Infectious diseases of the dog and cat. 2. ed., Philadelphia: W.B. Saunders Company, p. 707-710, 1998. 06-MARQUES, F. Epidemia comum de doença cutânea está em curso no estado do Rio de janeiro. Disponível em: http://fiocruz.br/ccs/ novidades/jun05/gato_fer.htm. Acesso em: 07.out.2005. 07-NUNES, F. C.; ESCOSTEGUY, C. C. Esporotricose humana associada à transmissão por gato doméstico. Relato de um caso e revisão de literatura. Clínica Veterinária, Ano X, n. 54, p. 66-68, 2005. 08-LOPES, J. O.; ALVES, S. H.; MARI, C. R.; BRUM, L. M.; WESTPHALEN, J. B.;
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www.sosfauna.org 74
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Alterações clínicas, laboratoriais e achados de necropsia decorrentes de acidente crotálico em um gato relato de caso Clinical alterations, laboratory results and necropsy findings from a crotalic accident in a cat - a case report
Alteraciones clínicas, laboratoriales y resultado de necropsia de un accidente crotálico en un gato - relato de caso
Carla Cristina Machado
Graduanda - FMVZ/UNESP-Botucatu cacrimac@yahoo.com.br
Hugo Leonardo Riani Costa
MV, residente Depto. Clínica Veterinária/FMVZ/UNESP-Botucatu hugoriani@yahoo.com.br
Cynthia de Assumpção Lucidi
MV, residente Depto. Clínica Veterinária/FMVZ/UNESP-Botucatu cylucidi@yahoo.com.br
Michiko Sakate
MV, profa. Depto. Clínica Veterinária/FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br
Denise Saretta Schwartz
MV, profa. Depto. Clínica Veterinária/FMVZ/UNESP-Botucatu dschwartz@fmvz.unesp.br
Regina Kiomi Takahira
MV, profa. Depto. Clínica Veterinária/FMVZ/UNESP-Botucatu takahira@fmvz.unesp.br
Resumo: Acidentes crotálicos em felinos são extremamente raros. A peçonha crotálica possui várias ações (neurotóxica, miotóxica e coagulante) que causam alterações clínicas como prostração, depressão, paralisia flácida, midríase, mialgia, insuficiência respiratória, êmese, diarréia e insuficiência renal aguda. As alterações laboratoriais mais freqüentes são leucocitose por neutrofilia, tempo de coagulação aumentado e azotemia. A soroterapia é o único tratamento curativo eficaz para a neutralização do veneno circulante. A fluidoterapia e a terapia de suporte são fundamentais para evitar o agravamento de lesões renais agudas e para a melhora do quadro. Relata-se o caso de um gato que apresentou sinais compatíveis com acidente crotálico, tendo o diagnóstico confirmado por meio de exames clínicos, laboratoriais e de necropsia. Unitermos: Envenenamento, venenos de crotalídeos, Crotalus durissus terrificus, felino Abstract: Crotalic accidents in felines are extremely rare. The crotalic venom has neurotoxic, myotoxic and coagulant actions that cause illness, flaccid paralysis, mydriasis, myalgia, respiratory failure, emesis, diarrhea and acute renal failure. The most frequent laboratory findings include neutrophilic leukocytosis, increased coagulation time and azotemia. Serotherapy is the only treatment that can neutralize the circulating venom. Fluid replacement and support therapies are fundamental to avoid aggravation of the acute renal lesions and to improve clinical signs. This article describes the case of a cat with signs of a crotalic accident, in which diagnosis was confirmed through clinical, laboratory and necropsy findings. Keywords: Poisoning, crotalid venoms, Crotalus durissus terrificus, feline Resumen: Accidentes crotálicos en felinos son raros. La ponzoña crotálica posee varias acciones (neurotóxica, miotóxica y coagulante) que causan alteraciones clínicas como postración, depresión, parálisis flácida, midriasis, mialgia, insuficiencia respiratoria, vómito, diarrea e insuficiencia renal aguda. Las alteraciones laboratoriales más frecuentes son leucocitosis por neutrofilia, tiempo de coagulación aumentado y azotemia. La fluidoterapia es el único tratamiento curativo eficaz para la neutralización del veneno circulante. La fluidoterapia y la terapia de soporte son fundamentales para evitar el agravamiento de lesiones renales agudas y para la mejora del cuadro. Se relata el caso de un gato que presentó señales compatibles con accidente crotálico, teniendo el diagnóstico comprobado por medio de exámenes clínicos, laboratoriales y de necropsia. Palabras clave: Envenenamiento, venenos crotálicos, Crotalus durissus terrificus, felino
Clínica Veterinária, n. 65, p. 76-80, 2006
INTRODUÇÃO A maioria dos acidentes ofídicos nos animais domésticos é causada por serpentes dos gêneros Bothrops (jararaca) e Crotalus (cascavel), e com menor freqüência pelos gêneros Lachesis (surucucu) e Micrurus (coral verdadeira) 1. No Brasil, os acidentes ofídicos mais comuns são o botrópico (80-90% dos casos) e o crotálico (8-15% dos casos), sendo este último o mais importante com relação à gravidade do quadro 76
clínico e à mortalidade 2,3. Na região de Botucatu, localizada no Centro-Oeste do Estado de São Paulo, a partir de um levantamento realizado no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP, de 149 casos de animais atendidos entre 1972 e 1989, com 17 mortes, constataram-se 128 provocados por serpentes do gênero Bothrops, 11 por Crotalus e 10 sem identificação da serpente. Desse total, a maioria atingida
foram cães, seguidos por eqüinos, bovinos, caprinos, dois gatos e um suíno 1,2. As espécies domésticas mais susceptíveis aos venenos de serpentes, em ordem decrescente, são: bovina, eqüina, ovina, caprina, canina, suína e felina 1,3. As serpentes do gênero Crotalus caracterizam-se por apresentar guizo ou chocalho na cauda, dentição solenóglifa (presas móveis inoculadoras de veneno), fosseta loreal e serem vivíparas. Habitam ambientes rochosos e secos, de vegetação baixa e aberta. Apresentam movimentos lentos, bote rápido, mas são pouco agressivas. O gênero Crotalus está representado no Brasil por uma única espécie, Crotalus durissus, que tem uma ampla distribuição geográfica, e é composto por seis subespécies: Crotalus durissus terrificus, C. d. collineatus, C. d. cascavella, C. d. ruruima, C. d. marajoensis e C. d. trigonicus 4. A peçonha crotálica é uma mistura complexa de proteínas e polipeptídios que interferem em vários processos fisiológicos, determinando efeitos variáveis nas diferentes espécies animais 1.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
ALTERAÇÕES CLÍNICAS O animal apresentava um quadro de intensa prostração, sem resposta a estímulos externos, hiporreflexia dos quatro membros – com paraparesia flácida de posteriores e paralisia flácida nos anteriores –, com a manutenção da movimentação da cauda. Os parâmetros aferidos foram: freqüência cardíaca 120 bpm; freqüência respiratória 60mpm; pulso regular; temperatura 36,2 ºC. Na região da face observaram-se quemose no olho esquerdo e um intenso edema na região esquerda, que poderia indicar o local da picada (Figuras 1 e 2). O animal exibia midríase bilateral não responsiva à luz. Não havia sangramento no local ou sinais de hemorragia, equimoses e epistaxis. No membro anterior esquerdo, havia também uma região com aumento de volume semelhante ao da face, mas de menor intensidade. Não foi observada dor evidente no local. Ao se passar a sonda uretral no animal foi obtida uma urina de coloração enegrecida (Figura 3).
Figura 1 - Observa-se edema na região esquerda da face do animal, possível local da picada
Figura 2 - Visão aproximada do olho esquerdo, no qual se nota intensa quemose
Hugo L. R. Costa
RELATO DE CASO Relata-se o caso, atendido no Hospital Veterinário da UNESP (campus de Botucatu), de um gato macho adulto, da raça siamês, com 2kg de peso, picado aproximadamente 11 horas antes do atendimento. O quadro de acidente crotálico foi identificado pelos dados clínicos e laboratoriais, bem como pelo relato do proprietário, da existência de serpentes desse gênero próximo à sua casa, localizada em ambiente rural.
Hugo L. R. Costa
A soroterapia é o único tratamento curativo eficaz existente para os casos de animais picados por serpentes, a fim de neutralizar o veneno circulante. Fluidoterapia intensa e terapia de suporte são fundamentais para a melhora do quadro clínico, bem como para evitar o agravamento de lesões renais agudas 1,4. Informações sobre a casuística e/ou estatísticas de acidentes ofídicos em animais domésticos ainda são muito escassas na literatura médico-veterinária brasileira 2,3, sendo extremamente raro o relato de acidentes crotálicos em felinos. Assim sendo, torna-se importante a notificação desse tipo de ocorrência para fornecer subsídios clínicos de atendimento emergencial, bem como para subsidiar futuros estudos.
Hugo L. R. Costa
O veneno é constituído por diversas frações, como: crotoxina (50%), crotamina, giroxina e convulxina. Possui ação neurotóxica, miotóxica, coagulante e tem uma alta nefrotoxicidade 2,3,5. A ação neurotóxica é produzida pela crotoxina, uma neurotoxina pré-sináptica que atua nas terminações nervosas motoras inibindo a liberação de acetilcolina pelos impulsos nervosos. Essa inibição é a principal responsável pelo bloqueio neuromuscular e, portanto, pelas paralisias motoras e respiratórias observadas. A ação miotóxica tem sido atribuída à crotoxina e mesmo à crotamina, que apresentam a capacidade de produzir lesões sistêmicas no tecido muscular esquelético, causando rabdomiólise, mialgia generalizada e mioglobinúria 1,2 As alterações laboratoriais observadas no acidente crotálico são de leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda. Geralmente não ocorre redução do número de plaquetas, embora seja observada diminuição ou ausência de agregação plaquetária nos primeiros dias após o acidente, demonstrando comprometimento da função plaquetária. Pode haver elevação da atividade de creatinaquinase (CK), mioglobinúria, prolongamento do tempo de coagulação sangüínea e azotemia em caso de insuficiência renal aguda (IRA) 2,3,4,6. As alterações clínicas comumente encontradas no acidente crotálico são prostração e depressão sem perda da consciência, paralisia flácida, midríase e mialgia generalizada. Podem ser observadas também insuficiência respiratória, sonolência, êmese, diarréia e, dependendo da gravidade, IRA 1,3. As alterações renais podem ser causadas por ação direta do veneno ou por ação indireta da mioglobina, que pode provocar a obstrução de túbulos renais e, conseqüentemente, a ocorrência de lesões tóxicas provocadas pelo miopigmento 2,3,4. Esse quadro clínico é tanto mais acentuado quanto maior o tempo decorrido entre a picada e o atendimento e, por óbvio, depende também da espécie animal atingida, da quantidade de veneno/kg inoculada, do local da picada, do gênero e da espécie da serpente agressora e da intensidade de manifestação dos sinais clínicos. É difícil visualizar o local da picada, uma vez que pode haver ou não um discreto edema 2,3.
Figura 3 - Urina coletada do animal, de coloração escura (mioglobinúria)
O proprietário não soube relatar sobre fezes, urina, episódios de êmese, diarréia ou convulsões do gato acidentado. O animal não havia sido medicado anteriormente, de acordo com o proprietário. ALTERAÇÕES LABORATORIAIS Ao hemograma, foram constatados valores como número de hemácias (10.570.000/µL), hemoglobina (17,2g/dL) e volume globular (47%) aumentados e associados à hipoproteinemia (5,2g/dL), caracterizando uma policitemia. No leucograma observou-se leucocitose (31.500/µL) com neutrofilia (30.240/µL) e linfopenia (630/µL), um indicativo de
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TRATAMENTO A soroterapia intravenosa foi iniciada lentamente, com soro antiofídico bivalente em volume suficiente para neutralizar 50mg do veneno crotálico (cinco ampolas, cada uma com capacidade para neutralizar 10mg do veneno). No momento da administração da terceira ampola, o animal apresentou parada cardiorrespiratória. Foi instituída a terapia emergencial, o animal foi intubado e procedeu-se à ventilação pulmonar assistida; adrenalina foi administrada para a reversão da parada cardíaca, além da massagem clássica, mas o animal foi a óbito poucos minutos depois. NECROPSIA O animal foi encaminhado à necropsia,
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B
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estresse. Na leitura das plaquetas (305.525/µL) verificou-se que elas estavam normais em número e morfologia. O animal apresentou incoagulabilidade sangüínea, observada pelo método de Lee – White 7 e, de acordo com a técnica de Rosenfeld 8, a pesquisa de mioglobina foi positiva na urina. Na urinálise, observaram-se coloração intensamente enegrecida, densidade elevada (>1,040mg/dL), proteinúria (500mg/dL), sangue oculto (++++), raras células de descamação e raros leucócitos por campo de grande aumento (40x), e cristais de fosfato amorfo (+++).
A Figura 4 - Necropsia com achados de intensa congestão hepática (A), hemorragias e enfisema pulmonar bilateral (B)
que apontou óbito por insuficiência respiratória, com presença de edema e hemorragia pulmonar. Foram observados outros processos decorrentes do acidente crotálico, como: mucosas oral e ocular hipocoradas, congestão hepática (Figura 4A), pulmão hemorrágico com áreas de enfisema (Figura 4B), gastrite moderada e enterite catarral-hemorrágica, além de congestão renal. O sangue não se coagulava. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO O animal apresentava diversas alterações clínicas compatíveis com as descritas na literatura, como prostração, hiporreflexia, midríase, ausência de sangramento local, urina de coloração escura. Apresentou algumas alterações não comumente relacionadas com acidente crotálico (quemose e aumento de
volume dos membros), mas estas não foram suficientes para alterar a suspeita diagnóstica. Entretanto, com maior número de relatos, essas alterações clínicas talvez se mostrem compatíveis com acidentes crotálicos na espécie. O eritrograma estava compatível com o esperado em acidente crotálico, revelando policitemia relativa. Isso ocorreu pois o veneno causa aumento dos níveis séricos de prostaglandinas que provocam, entre outros efeitos, queda de pressão arterial, vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular com perda de líquidos para os tecidos e hemoconcentração 4,9. Neste animal foi observada hipoproteinemia, indicando que a policitemia relativa também poderia estar sendo causada por contração esplênica secundária à dor. O leucograma revelou leucocitose com neutrofilia além de
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linfopenia, que também poderia estar associada à dor de aproximadamente 12 horas, tempo suficiente para causar um leucograma de estresse 5. A presença de sangue oculto na urina poderia indicar presença de hemácias (hematúria), hemoglobina (hemoglobinúria) ou mioglobina (mioglobinúria) 10. O exame do sedimento excluiu a hematúria e a pesquisa de mioglobina na urina positiva excluiu a hemoglobinúria, confirmando a mioglobinúria. A alta densidade urinária pode ser reflexo da hipovolemia e do baixo débito cardíaco 10. A proteinúria ocorreu por provável lesão renal, ou ainda pela presença de mioglobina na urina 10. A presença de fosfato amorfo provavelmente foi decorrente da rabdomiólise, já que as células musculares são ricas em fosfato 11. A insuficiência renal aguda é uma das principais complicações do acidente crotálico, devido à nefrotoxicidade da mioglobina associada aos efeitos diretos do veneno sobre os néfrons, ocasionando desidratação, hipotensão arterial, acidose metabólica e choque 2,3,4. A crotoxina induz a necrose muscular esquelética sistêmica, agindo principalmente em fibras musculares com grande capacidade oxidativa 2. Alterações anatomopatológicas musculares têm início quatro a seis horas após a inoculação do veneno, devido à sua ação miotóxica sistêmica. Desta forma, ocorre liberação de mioglobina para o sangue e a urina, com conseqüente mioglobinúria. O diagnóstico de rabdomiólise pode ser
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REFERÊNCIAS
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Local: CEFAS* Realização
comprovado pela presença de mioglobina no soro ou na urina, conforme constatado neste caso, e também pela elevação dos níveis séricos de CK, LDH e AST 2,4. É de extrema importância a notificação de casos envolvendo acidentes ofídicos em animais, principalmente em felinos, em especial relacionados a acidentes causados por serpente do gênero Crotalus sp, pela baixíssima incidência, pela falta de diagnósticos e pelas poucas informações disponíveis na literatura. Além da notificação do caso, este relato tem por objetivo evidenciar a importância de um atendimento clínico ambulatorial de emergência. A soroterapia específica é o único tratamento com eficácia comprovada e deve ser implementada tão logo constatado o incidente, para evitar o agravamento do quadro: quanto maior o período sem tratamento, pior será o prognóstico, considerando que, no acidente crotálico o animal, mesmo sendo tratado, pode evoluir para a morte devido à alta toxicidade do veneno. Como raramente o momento da picada é observado, a anamnese bem elaborada e o exame físico eficiente – juntamente com os exames laboratoriais – são de grande importância para o diagnóstico rápido e preciso, possibilitando o estabelecimento de terapia adequada,correta e efetiva.
*CEFAS Rua M. Nascimento Junior, 87 Jabaquara - Santos - SP
**2º BPE (Batalhão da Polícia do Exército) Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco Trav. da Av. Getúlio Vargas - Osasco/SP
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Local: 2º BPE**
Síndrome da lise tumoral
João Paulo Pereira Amadio
Graduando Escola de Medicina Veterinária/UEL amadio@uel.br
Tumor lysis syndrome
Kleber Moreno
MV, doutorando, prof. Depto. Clínicas Veterinárias/UEL
Síndrome de lisis tumoral Resumo: A compreensão da biologia dos tumores avançou significativamente nos últimos anos, o que possibilitou o desenvolvimento e o aprimoramento de protocolos terapêuticos antineoplásicos em medicina humana, os quais vêm sendo adaptados para a medicina veterinária. Esta revisão tem como propósito alertar os clínicos sobre as complicações comuns decorrentes do tratamento antineoplásico denominada síndrome da lise tumoral, caracterizada por distúrbios metabólicos desencadeados pela rápida e maciça liberação de metabólitos celulares na circulação sistêmica em virtude da lise de células tumorais. Isto determinará hiperuricemia, hipercaliemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia, que freqüentemente desencadeiam insuficiência renal aguda. Unitermos: Cães, oncologia, quimioterapia, insuficiência renal aguda Abstract: Knowledge on tumor biology has met important advancements in the last years, allowing the development and improvement of antineoplastic therapeutic protocols in human medicine, which have been adapted to veterinary applications. This review aims to alert clinicians about the so-called tumor lysis syndrome, a group of complications that frequently results from antineoplastic treatments. This syndrome is characterized by metabolic disturbs unleashed by the fast and massive release of cellular metabolites resulting from the lysis of tumoral cells in the systemic circulation. This leads to hyperuricemia, hyperkalemia, hyperphosphatemia and hypocalcemia, which can frequently lead to acute renal failure. Keywords: Dogs, oncology, chemotherapy, acute renal failure Resumen: En los últimos años, se han logrado importantes avances en la comprensión de la biología de los tumores. Esto posibilitó desarrollar y perfeccionar protocolos terapéuticos antineoplásicos en la medicina humana, que están siendo adaptados para la medicina veterinaria. Esta revisión tiene el propósito de alertar a los clínicos sobre las complicaciones comunes resultantes de tratamiento antineoplásico, denominado Síndrome de Lisis Tumoral. En este síndrome hay disturbios metabólicos desencadenados por la rápida y maciza liberación de metabolitos celulares en la circulación sistémica, como resultado de la lisis de células tumorales. Esto determinará hiperuricemia, hiperpotasemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia, que frecuentemente desencadenan insuficiencia renal aguda. Palabras clave: perros, oncología, quimioterapia, insuficiencia renal aguda
Clínica Veterinária, n. 65, p. 82-86, 2006
INTRODUÇÃO Alguns pacientes desenvolvem distúrbios metabólicos conseqüentes à ação de quimioterápicos sobre volumosa massa tumoral ou por sua apoptose, promovendo a liberação rápida e maciça de ânions e cátions intracelulares e de produtos de degradação das proteínas e ácidos nucléicos na circulação. 1 Dentre as substâncias liberadas incluem-se purinas, fósforo, ácido úrico, potássio e lactato. 2 A rápida liberação dessas substâncias em quantidades que superam a capacidade de excreção renal 1 propicia um acúmulo que pode resultar na síndrome denominada síndrome de lise tumoral (SLT). Essa síndrome foi descrita pela primeira vez em 1929 por Bedrna e Polcak em pacientes humanos com leucemia crônica, e é caracterizada por hiperuricemia, hipercaliemia, hiperfosfatemia e hipocalcemia durante o período de máxima lise das células tumorais – que normalmente corresponde à primeira semana de terapia antineoplásica – e pode promover a insuficiência renal aguda (IRA) 3,4. Em alguns 82
pacientes, a SLT pode determinar o aparecimento de uma síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS), com alteração hemodinâmica (hipotensão) e distúrbios da coagulação, inclusive com quadro de coagulação intravascular disseminada (CID). 5 Tais complicações podem resultar em falha na função de múltiplos órgãos e, embora geralmente reversível, pode ser fatal. 6,7 PATOGENIA Na medicina humana, a SLT é associada a tumores grandes ou de crescimento rápido que respondem prontamente à terapia antineoplásica, 3,8 e é comumente observada em leucemias hiperleucocitárias e nos linfomas devido à alta taxa de replicação celular dessas neoplasias. 9 Essa complicação também pode ser observada em associação com tumores sólidos, como o hepatoblastoma e o neuroblastoma estágio IV. 7,8 Dentre os fatores de risco considerados predisposição do paciente a alterações metabólicas encontradas em
kleber@uel.br
Mirian Siliane Batista de Souza MV, dra. profa. Depto. Clínicas Veterinárias/UEL msiliane@uel.br
quadros de SLT distingüem-se: doenças com formação de volumosa massa abdominal; nível de ácido úrico elevado, pré-tratamento antineoplásico; aumento no nível sérico de lactato desidrogenase; numerosas áreas isquêmicas intratumorais e oligúria. 2,7,10 A patogenia da SLT tem sido descrita como um conjunto de complicações metabólicas das células tumorais, que liberam grande quantia de purinas, fósforo, ácido úrico, potássio e lactato na circulação. 11 A saturação desses produtos depende da excreção renal, do metabolismo hepático, e da fagocitose pelo sistema retículoendotelial. A ocorrência de falha em um desses sistemas pode promover SLT, e seu diagnóstico será baseado na presença de quadro de hiperuricemia, hipercaliemia e hiperfosfatemia com secundária hipocalcemia, o que pode determinar insuficiência renal aguda. 3,7,8,12 A exata freqüência de insuficiência renal em pacientes com SLT não é bem descrita. Uma série de casos de pacientes humanos com linfoma de Burkitt revela taxa de 25% a 38%. 7 A causa da IRA associada à SLT é multifatorial, decorrente de infiltração do parênquima renal por células tumorais, obstrução uretral intra ou extramural, enfermidades vasculares, uso de medicamentos ne frotóxicos, hipovolemia, choque séptico e CID. 1,4,12,13 Muitos pacientes manifestam algum grau de depleção, decorrente de anorexia, febre, náusea e vômito, com conseqüente prejuízo na habilidade dos rins em excretar os metabólitos produzidos pela lise das células tumorais. 4 A administração de agentes não quimioterápicos tem resultado ocasionalmente em SLT, como verificado na utilização do tamoxifen no tratamento de câncer de mama, interferon
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
em linfoma non-Hodgkin, e irradiação esplênica em pacientes com leucemia mielóide crônica. A administração de methrotrexate intratecal e esteróides por via oral tem resultado em anormalidades metabólicas características. 10 Embora tais fatores sejam importantes no desenvolvimento da IRA em pacientes com neoplasias malignas, a hiperuricemia é o mais importante entre os pacientes com SLT. 1 Estudo publicado recentemente, que se constituiu em revisão retrospectiva de 755 casos de leucemia mielóide aguda e linfoma nonHodgkin em humanos, identificou hiperuricemia em 18,9% e 5,3% dos pacientes, respectivamente. 6 Nos seres humanos, o ácido úrico é o produto final do metabolismo dietético e endógeno das bases purínicas guanosina e adenosina. Essas bases são convertidas respectivamente em hipoxantina e xantina, formando o ácido úrico, que posteriormente é convertido em alantoína pela enzima uricase. 1 Em cães, praticamente todas as raças oxidam o ácido úrico pelo mesmo mecanismo, podendo também excretá-lo de forma inalterada na urina. Cães da raça dálmata apresentam menor quantidade dessa enzima, tornando-se mais susceptíveis à hiperuricemia. 11 A liberação do conteúdo nuclear de células tumorais durante sua lise incrementa a produção de ácido úrico que, em pH fisiológico, existe sob a forma solúvel de urato monossódico, substância 15 vezes mais solúvel que o ácido úrico. O urato é filtrado quase completamente pela membrana glomerular, e reabsorvido de 95% a 99% no segmento inicial do túbulo contorcido proximal. Nos túbulos contorcidos distais ocorre a secreção tubular de ácido úrico, que constitui a sua principal fonte de excreção. Em quadros de lise das células tumorais a carga de filtração do ácido úrico é aumentada de tal forma que supera a capacidade excretora dos túbulos renais, o que proporciona o aumento do nível sérico, situação esta denominada hiperuricemia. A hiperuricemia propicia a precipitação de cristais de ácido úrico nos túbulos contorcidos distais e nos ductos coletores. 4 Essa precipitação pode culminar em falhas renais obstrutivas, associadas a um déficit energético celular decorrente da utilização de cinco moléculas de ATP du rante a degradação
da purina para ácido úrico. 3 Hiperuricemia é diagnosticada se o ácido úrico sérico exceder 85mmol/L, e está associada ao aumento da síntese de ácido nucléico das células tumorais devido à sua alta taxa mitótica. 3 A hipercaliemia é uma urgência que ameaça de forma imediata a vida dos pacientes devido às alterações cardíacas, e desencadeia taquicardia supraventricular, arritmias ventriculares, bloqueio do nodo sinusal e parada diastólica, que podem culminar em morte súbita dos pacientes com SLT. A hipercaliemia pode se apresentar por três mecanismos distintos e ativos em pacientes com SLT: liberação maciça de potássio intracelular durante a lise de células tumorais; acidose metabólica; e incapacidade de excretar o potássio em pacientes oligúricos que apresentem IRA. 7 Discretos aumentos nos níveis séricos de potássio podem desencadear sinais clínicos gastrintestinais como náusea, vômito e diarréia. Alterações no sistema neuromuscular periférico também podem estar presentes, e manifestam-se sob a forma de parestesia, fraqueza muscular, hiporreflexia e paralisia flácida ascendente e simétrica, o que pode comprometer os músculos intercostais e o diafragma. 1 Na SLT, a hiperfosfatemia resulta da liberação intracelular de adenosina trifosfato e de ácido nucléico durante a lise de células tumorais malignas, que contêm aproximadamente quatro vezes a concentração do fósforo presente em células normais. 11 A hiperfosfatemia ocorre quando o limiar de excreção renal de fosfato é excedido e a excreção deste se torna uma função da taxa de filtração glomerular. Somado a isso, a falha na reutilização do fosfato tem importante papel na patogenia da hiperfosfatemia na SLT. Sugere-se que o rápido crescimento das células cancerígenas seja capaz de reutilizar o fosfato na formação de novas células tumorais. No entanto, como tais células são rapidamente destruídas durante a quimioterapia, não há tempo hábil para a formação de novas células tumorais, o que promove o aumento do fosfato liberado, caracterizando um quadro de hiperfosfatemia. 7 Freqüentemente, a hiperfosfatemia apresenta-se entre 12 e 24 horas após o início da quimioterapia. As manifestações clínicas da hiperfosfatemia
são náuseas, vômitos, diarréia, letargia, convulsões, prurido e mudanças necróticas na pele, secundários à precipitação de cristais de fosfato de cálcio na microvasculatura. 1 A hipocalcemia é secundária à hiperfosfatemia na manutenção da eletroneutralidade, e resulta da formação de fosfato de cálcio nos tecidos e dos níveis baixos de 1,25 dihidrocolecalciferol (vitamina D3) e do hormônio paratireóideo, inibido pelas altas concentrações de fósforo. 1,3 Habitualmente, o paciente hipocalcêmico é assintomático, mas esse transtorno pode causar anorexia, vômitos, hiperexcitabilidade neuromuscular com respostas exageradas a estímulos leves, e alterações do estado de consciência. 1,4 A hipocalcemia grave pode promover tetania, convulsões e arritmias cardíacas. 1 A acidose lática, que pode ser produzida por dois mecanismos – hipóxia tecidual e aumento da glicólise tumoral 9 – tem sido descrita em pacientes humanos com leucemia e tumores sólidos de fígado, atingindo taxas de mortalidade que variam de 50% a 85%. DIAGNÓSTICO A SLT não apresenta manifestações clínicas específicas. Os sinais clínicos dessa afecção estão relacionados às alterações bioquímicas e funcionais presentes no momento do diagnóstico. Há um complexo conjunto de eventos que podem ocorrer simultaneamente, com maior freqüência nos cinco primeiros dias de quimioterapia, e que exigem maior atenção do clínico veterinário para o seu rápido reconhecimento e a instituição de terapia adequada. 1 Informações semiológicas são importantes para compreender a progressão do quadro clínico, bem como para identificar sinais clínicos indicativos de SLT, elucidando quais exames complementares devem ser requisitados para a confirmação – e a posterior terapia – da SLT. Dados de anamnese Os dados de anamnese a serem considerados em pacientes com indícios de SLT são: 7 i. Início dos sinais clínicos relacionados ao câncer; ii. Dor e distensão abdominal; iii. Presença de sinais clínicos correspondentes a alterações do trato urinário
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
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(disúria, oligúria e hematúria); iv. Ocorrência de algum sinal inespecífico, indicativo de hipocaliemia (anorexia, vômitos, espasmos, estado mental alterado e tetania). Exame físico Habitualmente, ao exame físico de pacientes portadores de SLT, poucas alterações são encontradas. Atenção especial deve ser dada à auscultação cardíaca, que pode permitir a observação de alterações em ritmo cardíaco, como taquicardia e arritmias (em pacientes com hipercaliemia) e diminuição dos sons respiratórios em mediastino cranial (secundária à presença de massa torácica). Outras alterações relatadas com maior freqüência em pacientes humanos são: presença de prurido, necrose em pele, irites e artrites, secundárias à deposição de fosfato de cálcio. Há presença de tetania e de espasmos musculares em pacientes com hipocalcemia 7. Ainda assim, o manejo adequado tem início com a identificação dos pacientes com maior risco de desenvolver SLT. 1 Em humanos, pacientes com maior risco apresentarão um dos diagnósticos a seguir: leucemia linfóide aguda (crianças maiores de 10 anos); linfoma de Burkitt; leucemia ou linfoma não Hodgkin; organomegalias; adenopatias gigantes; desidratação; oligúria; nefropatias préexistentes; obstrução do fluxo urinário. 1 Acredita-se que as mesmas alterações possam ser fatores de maior risco para cães e gatos, embora para os cães possa ser acrescido, como possibilidade, o tumor venéreo transmissível (TVT). Em humanos, a SLT é definida com base nas seguintes alterações metabólicas: 7 - creatinina sérica duas vezes maior que o valor normal adaptado para a idade; - ácido úrico > 7mg/dL (>400mmol/L); - potássio sérico > 6mmol/L; - fósforo sérico > 3mmol/L; - cálcio < 2mmol/L; - relação cálcio fósforo > 5. TRATAMENTO A chave do manejo da SLT está na prevenção. 7 São necessárias medidas preventivas iniciais em pacientes de alto risco, que devem ser identificados antes da instituição da quimioterapia ou da radioterapia. 4 O contínuo monitoramento é necessário para promover resposta prematura 84
às mudanças na condição do paciente, e minimizar eventos adversos. Isso requer freqüentes provas sangüíneas no início do período de instabilidade clínica ou da potencial instabilidade. A estabilidade metabólica deve ser alcançada antes dos procedimentos de tratamento. O tratamento preventivo da SLT – e da conseqüente nefropatia por ácido úrico – tem três objetivos: aumentar o fluxo plasmático renal e a filtração glomerular mediante a expansão do volume intravascular com hiper-hidratação, que promove a excreção urinária de ácido úrico e de fosfato; prevenir ou reduzir a produção de ácido úrico; e alcalinizar a urina para facilitar a excreção de urato e hipoxantinas. 1 Somado a isso, o tratamento ainda requer medidas de controle dos distúrbios eletrolíticos. Hidratação O ideal é que a hidratação intravenosa, em pacientes de alto risco, tenha início 24 a 48 horas antes do início da terapia antineoplásica, e seja mantida por 48 a 72 horas depois de sua conclusão. 1 O estado de hidratação deve ser avaliado previamente, com vistas à correção de qualquer grau de desidratação. 1 A hidratação agressiva aumenta o volume intravascular e ajuda a sanar distúrbios eletrolíticos pela diluição do fluido extracelular, reduzindo a concentração sérica de ácido úrico, potássio e fosfato. Isso proporciona o aumento do volume, com melhora do fluxo sangüíneo renal, da taxa de filtração glomerular e do volume urinário produzido, o que promove a diminuição da concentração de solutos nos túbulos contorcidos distais e a microcirculação medular. 4 Em pacientes que estejam recebendo adequada hidratação pré e pós-início da quimioterapia, porém com diurese insatisfatória e ausência de uropatia obstrutiva, é indicada a utilização de diuréticos osmóticos, como o manitol. Caso esta manobra não seja eficaz para a obtenção de diurese satisfatória, recomenda-se a associação dos diuréticos osmóticos com furosemida. Em pacientes que não respondam adequadamente à terapia com manitol e furosemida, indica-se a administração de dopamina endovenosa, que tende a desencadear vasodilatação renal, melhorando a filtração renal. 1
Hiperuricemia Na prevenção ou redução da produção de ácido úrico pode-se utilizar o alopurinol, análogo estrutural da hipoxantina, que inibe a enzima xantinaoxidase e, por conseqüência, impede a conversão da hipoxantina em xantina, e a conversão desta em ácido úrico. 1,4,11,12 Dessa forma, há redução de uropatia obstrutiva em pacientes com maior risco. 1 Outro fármaco que pode ser utilizado na prevenção da hiperuricemia é a rasburicase. A rasburicase catalisa a conversão do ácido úrico em alantoína, que é 5-10 vezes mais solúvel que o ácido úrico, promovendo maior excreção urinária. 12 Controle dos distúrbios eletrolíticos Hipercaliemia: O controle da hipercaliemia requer agressivo manejo, direcionado a antagonizar o efeito membrana do potássio, conduzir potássio extracelular para o interior da célula, restringir o potássio na dieta, administrar fluidos endovenosos sem potássio, evitar transfusão de hemácias armazenadas por mais de 72 horas e corrigir a acidose metabólica com bicarbonato de sódio, seguido da aplicação endovenosa de gluconato de cálcio para melhorar a condução miocárdica. 1,4 Hiperfosfatemia: O tratamento da hiperfosfatemia inclui a manutenção de fluxo urinário adequado mediante a hiper-hidratação. A administração de bicarbonato de sódio para alcalinização da urina, sem permitir um pH urinário maior que sete, previne a precipitação de fosfato de cálcio, que é menos solúvel em pH alcalino nos túbulos renais. Além disto, pode-se administrar, por via oral, quelantes de fósforo como o hidróxido de alumínio. Na medicina humana e em grandes centros veterinários, pacientes com hiperfosfatemia grave são submetidos a hemodiálise, hemofiltração ou diálise peritonial. 1 Hipocalcemia: O tratamento da hipocalcemia em pacientes hiperfosfatêmicos pode conduzir à formação de calcificação nos tecidos, incluindo calcificações renais. Por este motivo, não se aconselha a correção do cálcio sérico em pacientes hipocalcêmicos assintomáticos. 1 Acidose lática: A acidose láctica em cães tem sido tratada experimentalmente
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com dicloroacetato. Este fármaco diminui o nível de lactato sangüíneo, aumentando a oxidação do piruvato. Em cães com acidose lática causada por hepatectomia experimental, a taxa de mortalidade diminuiu significativamente em relação ao grupo controle, de cães tratados com bicarbonato ou salina NaCl 0,9%. 3 Hemodiálise: A redução do nível sérico de ácido úrico (<10mg/dL) proporciona a ressolubilização dos depósitos intratubulares, restabelecendo a taxa de filtração glomerular. Com isto, quando não há respostas adequadas após a instituição do protocolo mencionado anteriormente, está indicada a realização de diálise. 10 Indicações de hemodiálise incluem a correção das anormalidades metabólicas, sobrecarga de fluidos em pacientes anúricos, uremia e que necessitem de remoção de ácido úrico e fosfato. 13 Hemodiálise, diálise peritoneal e hemofiltração têm sido usadas no tratamento de pacientes com SLT. 10,13,14 Dá-se preferência à hemodiálise, quando de sua disponibilidade, devido à sua maior eficácia na remoção do ácido úrico em relação à diálise peritoneal (cerca de 1020 vezes mais). Estima-se que, em seis horas de hemodiálise, seja possível reduzir os níveis de ácido úrico em 50%. 10,13 A hemodiálise oferece a vantagem de corrigir rapidamente as alterações eletrolíticas que coloquem em risco a vida do paciente, como hipercaliemia, hipocalcemia e hiperpotassemia. 1,14
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A SLT é compreendida como um complexo de fatores que resultam em complicações metabólicas importantes que, se não identificadas e devidamente tratadas, podem culminar com a morte do paciente. Os sinais clínicos têm relação com as diversas alterações bioquímicas e funcionais presentes no momento do diagnóstico. A identificação dos pacientes com maior risco e a adequada compreensão na patogenia da SLT permitem que o clínico atue de forma mais rápida e solicite exames complementares pertinentes ao quadro clínico. Identificado o paciente com SLT, contínuo monitoramento das funções vitais por meio da realização de exame físico e exames complementares, será necessário para reconhecer as complicações e contorná-las, impedindo ou dificultando o aparecimento de IRA. REFERÊNCIAS
01-SUÁREZ, A. Síndrome de lisis tumoral: un enfoque pediátrico. Revista Colombiana de Cancerologia. v. 8, n. 2, p. 31-39, 2004. 02-CALIA, C. M.; HOHENHAUS, A. E.; FOX, P. R.; MELEO, K. A. Acute lysis syndrome in a cat with lymphoma. Journal of Veterinary Internal Medicine. v. 10, n. 6, p. 409-411, 1996. 03-LAING, E. J.; CARTER, R. F. Acute tumor lysis syndrome following treatment of canine lymphoma. Journal of the American Hospital Association. v. 24, n. 6, p. 691-696, 1988. 04-SEWANI, H.H.; RABATIN, J. T. Acute tumor lysis syndrome in a patient with mixed small cell and non-small cell tumor. Mayo Clinic Proceedings; v. 77, n. 7, p. 722-728, 2002. 05-SAPOLNIK R. Suporte de terapia intensiva no
paciente oncológico. Jornal de Pediatria. v. 79, n. 2, p. 231-242, 2003. 06-CHESON, B. D.; FRAME, J. N.; VENA, D.; QUASHU, N.; SORENSEN, J. M. Tumor Lysis Syndrome: An uncommon complication of fludarabine therapy of chronic lymphocytic leukemia. Journal of Clinical Oncology. v. 16, n. 7, p. 2313-2320, 1998. 07-SARNAIK, A. P. Tumor Lysis Syndrome, Medicine Instant Acess to the Minds of Medicine, http://www.emedicine.com/ped/topic 2328.htm, February 7, 2003. 08-KRISHNAN, K. Tumor Lysis Syndrome, Medicine Instant Acess to the Minds of Medicine, http://www.emedicine.com/med/topic 2327.htm, July 10, 2002. 09-CHANTADA, G. L.; SIADO, J. P.; SACKMANN-MURIEL, F. Síndrome de lisis tumoral em pacientes pediátricos com linfoma de Burkitt, Medicina Infantil. v. IV, n. 3, p. 161165, 1997. 10-BURNEY, I. A. Acute tumor lysis syndrome after transcatheter chemoembolization of hepatocellular carcinoma, Southern Medical Journal. v. 91, n. 5, p. 467-470, 1998. 11-COHEN, L. F.; BALOW, J. E.; MAGRATH, I. T.; POPLACK, D. G.; ZIEGLER, J. L. Acute tumor lysis syndrome. A review of 37 patients with Burkitt's lymphoma. The American Journal of Medicine. v. 68, n. 4, p. 486-491, 1980. 12-HOLDSWORTH, M. T.; NGUYEN, P. Role of i.v. allopurinol and rasburicase in tumor lysis syndrome, American Journal Health-System Pharmacy. v. 60, p. 2213-2222, 2003. 13-BARROS, J. C.; PALLOTTA, R. S.; CASTRO, N. S.; Chiatton C. S. Incidência de síndrome de lise tumoral aguda em pacientes portadores de hemopatias malignas, Boletim da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. v. 16, n. 167, p. 267-270, 1994. 14-PACHALY, M. A.; CARVALHO J. G. R.; LAFFITE, A.; MULINARI A. S.; OTTO, G.; RIBEIRO, R. Hemodiálise e síndrome de lise tumoral, Jornal Brasileiro de Nefrologia. v. 12, n. 1, p. 34-36, 1980.
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Ciência
Comunicação entre espécies. O que diz a ciência
A
comunicação entre espécies pode ser comprovada cientificamente? Sim, e a pessoa principal nesta área é o biólogo inglês Rupert Sheldrake. Ele é o primeiro cientista da era moderna, que trouxe comprovação científica para este trabalho. Ele criou a Teoria dos Campos Mórficos que descreverei a seguir de forma resumida, sendo descrita com detalhes na sua obra Cães sabem quando seus donos estão chegando, publicada em português pela Editora Objetiva.
Mais detalhes sobre o trabalho de Rupert Sheldrake podem ser obtidos no endereço eletrônico: www.sheldrake.org
Os campos mórficos são campos de energia que existem envolvendo seres que têm relação entre si, seja uma relação de parentesco, como um grupo familiar, seja uma relação afetiva. Dentro destes campos de energia, pode circular todo tipo de informação. A circulação de informação pelos campos mórficos independe de tempo e espaço, de forma que dois seres dentro deste campo podem estar em países diferentes, e mesmo assim, podem estar se comunicando. E eu também posso enviar uma mensagem hoje que só vai ser captada por outra pessoa (dentro do mesmo campo mórfico) daqui a dois dias. Como as relações de afeto podem se 88
formar entre todos os tipos de seres, por exemplo, entre seres humanos e animais ou entre seres humanos e plantas, isto implicaria na possibilidade de comunicação entre espécies, a qual aconteceria dentro dos campos mórficos, com a informação transitando neste espaço. Até há pouco tempo, isso era ficção, e é surpreendente observar com que rapidez nosso mundo está mudando. Não apenas Sheldrake lida com esse tema, como os físicos modernos que formularam a Teoria da Complexidade. Eles falam sobre a dinâmica não linear, e nos trazem uma nova visão da realidade que vem substituir, em diversas disciplinas, a visão de mundo mecanicista e cartesiana. Não é o objetivo deste artigo, entrar na área científica em profundidade, mas sim, mostrar que a comunicação entre espécies é comprovada até do ponto de vista científico, já que este é um dos principais questionamentos que os acadêmicos e as pessoas com raciocínio linear, colocam-me, invariavelmente. Leituras de obras, como as de Rupert Sheldrake, são indispensáveis para que se possa ter embasamento para debates sobre o tema. Rupert Sheldrake, em seu último livro, A Sensação de estar sendo observado e outros aspectos da mente expandida, escreve sobre o ceticismo: “a palavra ceticismo vem do grego sceptic, que significa indagação ou dúvida, e não negação ou dogmatismo”. Ele coloca que é mais científico explorar fenômenos que não compreendemos do que fingir que não existem. Também diz que é menos amedrontador reconhecer que a A mais recente obra de Rupert Sheldrake, A Sensação de estar sendo observado e outros aspectos da mente expandida, já disponível em português
por Sheila Waligora*
telepatia faz parte da nossa natureza biológica, e é compartilhada com muitas outras espécies animais, do que tratar o assunto como estranho ou sobrenatural. Isto porque ele pensa que o ataque de muitas pessoas àqueles que fazem experiências com a telepatia é baseado num medo arcaico da bruxaria. Os fenômenos que se acredita serem sobrenaturais, tais como a telepatia, na verdade violam tabus muito poderosos. Um desses tabus é a crença de que a mente nada mais é do que uma atividade do cérebro. Esta crença é quase inquestionável para muitas pessoas, e com tal informação rígida dentro de si, fica bem mais difícil se abrir para a comunicação telepática. O que Sheldrake sugere não é que o cérebro seja irrelevante para o nosso entendimento da mente. Nossas mentes habitam nossos corpos e nossos cérebros especificamente. O que sugere é que a mente não está confinada ao cérebro, mas que atua além deste. Esta extensão ocorre através dos campos mentais, os quais existem tanto dentro quanto fora do cérebro. A idéia de campos em volta do corpo já nos é familiar. Por exemplo, o campo gravitacional da Terra estende-se muito além da superfície do planeta, permitindo que os satélites e a lua façam sua órbita em torno dela. Os campos magnéticos, assim como os campos elétrico e gravitacional, são invisíveis, mas são capazes de ter efeitos à distância. Assim como a comunicação à distância, ou comunicação telepática. Da mesma forma, afirma que nossos campos mentais não estão confinados dentro de nossas caixas cranianas, mas estendem-se além destas. Sugere que nossa atividade mental depende de campos invisíveis, que também podem produzir efeitos à distância! Talvez os leitores já tenham ouvido falar do “Princípio do centésimo macaco”, que foi descrito por Lyall Watson no livro intitulado Lifetide: The Biology
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of Consciousness. Watson descobriu que quando um grupo de macacos aprendeu um certo comportamento, numa ilha do Japão, ao mesmo tempo, em outras ilhas sem comunicação possível com esta primeira ilha, outros grupos de macacos começaram a ter o mesmo tipo de comportamento! Este caso vai de encontro ao que expliquei em relação aos campos mórficos: qualquer sistema mórfico, neste caso o dos macacos, pode “entrar em sintonia' com sistemas similares, como o dos macacos que estão na outra ilha. por meio desse processo cada macaco contribui para uma memória coletiva da espécie. “O reconhecimento de que nossas mentes vão além dos nossos cérebros nos liberta. Não estamos mais presos aos limites das nossas caixas cranianas, com mentes separadas e isoladas umas das outras. Não estamos mais alienados de nossos corpos, do nosso ambiente, e das outras espécies. Estamos todos interconectados com tudo o que existe”,
salienta Rupert Sheldrake. Através dos campos de percepção, nossas mentes alcançam os objetos que estamos olhando. Assim sendo, deveríamos ser capazes de influenciar as coisas simplesmente olhando para elas. Será que é possível? O melhor ponto de partida para essa conversa é pensar sobre os efeitos de olhar para outras pessoas, como Sheldrake estuda em seu último livro, já citado aqui, A sensação de estar sendo observado e outros aspectos da mente expandida. Ele demonstra como podemos saber que alguém está nos olhando mesmo que estejamos de costas para a pessoa que nos olha! A telepatia, assim como a sensação de estar sendo observado, somente é algo paranormal se aceitarmos como “normal” a teoria que a mente está confinada dentro do cérebro. Mas, se aceitarmos que nossas mentes podem alcançar além do cérebro e se conectar com outras mentes, então fenômenos como a
telapatia e a sensação de estar sendo observado são normais. Não são mais algo esquisito, às margens da psicologia humana anormal, mas são uma parte da nossa natureza biológica. * Sheila Waligora é médica veterinária e ensina comunicação entre espécies através de cursos pelo Brasil e do site www.comunicacaoentreespecies.com.br
• Legislação e bem-estar – o papel do médico veterinário • Bem-estar dos animais de companhia • Bem-estar animal na sociedade contemporânea • O bem-estar animal e os clínicos de pequenos animais do Estado do Rio de Janeiro • Bioética na medicina veterinária • Mesa-redonda sobre controle populacional de animais domésticos • Mesa-redonda sobre o uso de animais em ensino e pesquisa • Mesa- redonda : o clínico diante da morte • Mesa-redonda sobre bem-estar na produção animal • Mesa-redonda sobre bem-estar de eqüinos
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• Mesa- redonda sobre o bem-estar dos animais silvestres • Treinamento de animais de companhia • Socialização de cães e gatos e sua utilização na educação humana • Centros de Controle de Zoonoses • Direitos e deveres na tríade animal-proprietário-médico veterinário • Enriquecimento ambiental em zoológicos e em ambiente doméstico • Conexão entre violência doméstica e violência contra os animais • A relação homem e animal de estimação • Agressividade • Distúrbios alimentares – obesidade canina e anorexia felina • A dor nos animais – como avaliar e tratar
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Como? Onde? Por que?
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oje vamos começar nosso encontro nesta coluna tentando primeiramente esclarecer o porquê dessas perguntas iniciais que dão título ao nosso texto... Quando sou convidado para dar palestras costumo dividí-las em grupos: as conceituais e as práticas. Nas conceituais eu apresento aos colegas os conceitos do universo de marketing e nas palestras ditas práticas é o momento onde tento colocar, de forma clara, a aplicação dos conceitos apresentados, mostrando como, de alguma forma, já estão inseridos dentro da rotina das clínicas, consultórios e pet shops que eles administram. Então surgem as famosas perguntas na platéia: Como? Onde? Por que? Essas perguntas são o espelho da necessidade de orientação que o mercado veterinário ainda precisa para poder dar os primeiros passos, realmente firmes e sem erros, rumo ao estágio do profissionalismo em serviços que garantirá a geração de riqueza e estabilidade tão desejada pela classe veterinária. Costumo dizer que não existe mágica nem solução milagrosa para nenhuma ação de marketing que se pretenda desenvolver, e sim um passo a passo. Existem, digamos assim, receitas básicas que podem ser seguidas por todos, mas com adaptações e intervenções específicas e padronizadas a cada momento, estabelecimento ou cultura profissional. Este é um ponto fundamental, pois me assusta que as pessoas acreditem que as soluções sejam únicas e capazes de atender igualmente a todos os estabelecimentos, clínicas e consultórios deste país. Reforço aqui a idéia que quero dividir com todos: os conceitos, sim, são os mesmos para todos, mas suas traduções e aplicações devem ser muito cuidadosas, pois espera-se que as condições sejam diferentes, os problemas sejam similares, mas não iguais 100% e, principalmente, lembrar que as pessoas envolvidas são diferentes, seja na forma como encaram os problemas, em seus valores e percepções e, consequentemente, como irão resolver os seus problemas.
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Então o que pode ser aplicado a todos os estabelecimentos são as orientações que muitas vezes começam com questionários que são aplicados muito mais com o objetivo de fazer os responsáveis pelo negócio veterinário começarem a colocar de forma ordenada as informações que muitas vezes são parte de suas rotinas e são colocadas em segundo plano, quando essas mesmas informações poderiam, e muito, ajudar a solucionar muitos dos problemas. É como visualizar de forma ordenada o seu estabelecimento como um todo, em etapas, em pedaços, em capítulos ou porções. Vamos responder algumas perguntas? ! Quem abre a sua loja ou clínica? ! Quais as rotinas diárias? ! Quem é responsável por controlar estoque? ! Quem é responsável pelo caixa? ! Quem é responsável pelas compras? ! Quem atende clientes? ! Quem atende vendedores e promotores veterinários? ! Quem verifica a rotina da tosa? ! Quem é responsável pela limpeza da loja ou clínica? ! Quem é responsável pelo treinamento dos funcionários? ! Quem decide as estratégias da loja ou clínica? ! Quem estabelece os planos de metas da loja? ! Quem decide as parcerias estratégicas da loja? ! Quem faz os planos de re-marketing da loja? ! Quem é a loja ou a clínica? É muito importante que se determinem: ! funções; ! prazos; ! metas; ! políticas; ! estratégias.
Por Sergio Lobato www.sergiolobato.com.br
Responder questionários como esse ajuda o profissional a ver de forma mais clara todo o universo onde ele vive a maior parte de seu tempo. Como mudar? Respondendo a esse questionário! Onde? Dentro de sua rotina de trabalho. Ache tempo! Por que? Porque você tem o direito de profissionalizar o seu negócio veterinário cada vez mais. É seu direito. É sua obrigação! Você pode!
Sugestões para leitura: FLOSI, F. Plano de marketing na veterinária. São Paulo: Varela, 2001. 113 p.
KARSAKLIAN, E. Comportamento do consumidor. Consultations in feline internal medicine. 2. ed. São Paulo: Atlas. 2004. 339 p.
Lobato, S. Manual de Responsabilidade Técnica para Clínicas Veterinárias e Pet Shops. 1. ed. Rio de Janeiro: L.F. Livros, 2006. 238 p. PEREIRA, M.S. Marketing aplicado a clínica veterinária de animais de estimação. São Paulo: Robe Editorial, 2001. 294 p.
SAIANI, E. Loja viva: revolução no pequeno varejo brasileiro. São Paulo: Senac, 2001. 151p.
UNDERHILL, P. Vamos às compras! A ciência do consumo. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus. 1999. 232 p.
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Ecologia
Mudanças climáticas: uma realidade Mudanças do Clima, Mudanças de Vidas” revela, com depoimentos de pessoas das comunidades afetadas e análises de cientistas, como o aquecimento global já provoca vítimas, doenças e prejuízos econômicos em todo o Brasil
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afirma Carlos Rittl, coordenador da imagem das Cataratas do Iguacampanha de clima do Greenpeace. çu com quedas minguadas ou O relatório e o documentário completamente secas ainda está mostram também o que os goverfresca na memória dos brasileiros. nos, as indústrias e os cidadãos A diminuição no volume de água, podem fazer, com mudanças nos paque chegou a um décimo do normal drões de produção e de consumo, em julho, foi provocada por uma para evitar que o cenário de mudandas piores estiagens dos últimos ças climáticas, que já é grave, se anos no Paraná. No ano passado, a torne irreversível e catastrófico para Amazônia, que detém 20% da água toda a vida do planeta nos próximos doce do planeta, se transformou em anos. uma espécie de sertão, em uma das O documentário está sendo dissecas mais severas que já assolaram tribuído gratuitamente para fins edua região. cacionais para organizações não-goAinda em 2005, um tornado devernamentais, escolas, fundações, vastou o município de Muitos instituições de pesquisa e universiCapões (RS), no mesmo dia em que dades em todo o Brasil. Pessoas físio furacão Katrina arrasou Nova cas podem adquiri-lo a preço de Orleans, nos Estados Unidos. No custo. Os interessados podem obter o final de março de 2004, o furacão filme no endereço eletrônico: Catarina, o primeiro registrado no www.greenpeace.org.br/clima/filme. Atlântico Sul, matou 11 pessoas e causou destruição em dezenas de EVENTOS PÚBLICOS municípios da região Sul. Apenas A campanha do Greenpeace em Santa Catarina danificou mais “Mudanças do Clima, Mudanças de 32 mil casas, com prejuízos de de Vidas” percorreu o Brasil, levanmais de R$ 1 bilhão. Depoimentos do à população de dez cidades uma dos pesquisadores Carlos Nobre Durante meses, uma equipe do Greenpeace viajou por todo exposição fotográfica e uma insta(Inpe) e Francisco Aquino o Brasil, documentando os impactos das mudanças climátilação sensorial sobre os impactos (UFRGS) revelam que essas são cas em diversas regiões. O resultado foi um filme com imado aquecimento global. O evento evidências claras de que o mundo e gens impressionantes de seca, inundação e destruição, além de depoimentos emocionados de pessoas no Sul, na Ama zô passou por Brasília, São Paulo, várias regiões do Brasil são vulnenia e no Nordeste que sofreram, sofrem e podem sofrer ainda Florianópolis, Porto Alegre, Rio de ráveis aos impactos das mudanças mais com essas alterações do clima. O documentário traz Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, climáticas provocadas pelo aquetambém a opinião de cientistas sobre as causas do aqueciRecife, Belém e Manaus. mento global e o que o governo e a população podem fazer cimento global. para barrar já os impactos das mudanças climáticas. A exposição contou com 28 O documentário e o relatório painéis com fotos e textos explica“Mudanças do Clima, Mudanças tivos sobre como o aquecimento global de Vidas”, do Greenpeace, apresentam queimadas fazem do Brasil o quarto maior já afeta a vida de milhares de brasileitestemunhos de vítimas do aquecimento emissor de gás carbônico do planeta. ros. Os visitantes também conheceram global na Amazônia, no Nordeste, no Sul “O Brasil precisa assumir sua resum túnel que foi montado para que as e na zona litorânea brasileira. São pessoas ponsabilidade como grande emissor de pessoas pudessem visualizar e sentir os que viram suas casas destruídas por gases de efeito estufa. O governo deve efeitos das mudanças climáticas. Ao causa de ventos ou inundações, perderam combater o desmatamento de maneira final da visita, recebiam uma cartilha suas lavouras e seus animais por causa de implacável, promover as energias limpas com dicas do que podem fazer para ajusecas fora do normal ou foram afetadas e os programas de economia de energia. dar a restaurar o equilíbrio climático do por catástrofes climáticas antes descoOs brasileiros têm todo o direito de saber nosso planeta. nhecidas pelos brasileiros. O relatório e o onde somos mais vulneráveis aos efeitos documentário mostram ainda as relações devastadores do aquecimento global e Fonte: www.greenpeace.org.br entre a destruição da maior floresta tropicomo vamos reduzir nossa contribuição cal do mundo, a Amazônia, e o aquecia este problema. Não temos tempo a permento global, e como o desmatamento e as der nesta luta pela nossa sobrevivência”, 92
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Preparando-se para desastres
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istoricamente, o Brasil não é um país que tenha tido a ocorrência de desastres, como as causadas por furacões, terremotos e maremotos, entre outras manifestações da natureza. Porém, documentário recentemente produzido pelo Greenpeace veio mostrar que as mudanças climáticas que estão ocorrendo estão trazendo conseqüências drásticas para o Brasil, como inundações, secas e ventos devastadores. Além disso, há outro fator muito importante: não estamos preparados para essas ações de emergência. Uma ONG que atua internacionalmente em casos de desastres é a World Society for the Protection of Animals (WSPA). Em outubro de 2005, por exemplo, um terremoto medindo 7,6 na escala Richter atingiu o norte do
por Arthur Barretto
Paquistão. Em seguida ao desastre, a WSPA mobilizou cinco equipes de veterinários para levar ajuda emergencial e socorros. Mais recentemente a WSPA começou a desenvolver uma abordagem mais planejada para lidar com as conseqüências dos desastres. O objetivo é habilitar a população local a enfrentar essas ameaças, equi pando-as antecipadamente para salvar os animais de desnecessários e evitáveis danos. Nos EUA, os furacões Katrina, Rita e Wilma deixaram suas marcas pelo país. Milhares de animais de estimação foram perdidos. Algumas pessoas participaram como voluntários na árdua tarefa de recolher os animais perdidos e tentar localizar seus donos. Essa tarefa seria muito simples se todos os animais fossem microchipados. Para reconstruir tudo o que
Imagem de uma das propagandas de divulgação da campanha solidária feita pel Merial
foi perdido, além da valiosa ajuda de voluntários, as doações também foram muito importantes. A Merial, no intuito de ajudar as vítimas, lançou uma campanha na qual uma porcentagem na venda de Frontline® e Heartgard plus® (conhecido no Brasil como Cardomec) eram direcionadas para a American Veterinary Medical Association (AVMA - www.avma.org) e a Petfinder (www.petfinder.org), instituições engajadas nas ações de resgate. A campanha foi um sucesso e ainda continua. Porém, o objetivo atual é fazer um fundo de reservas para futuras catástrofes, pois todos estão conscientes que a qualquer momento, pode acontecer uma nova surpresa da natureza. A campanha de 2006 já conseguiu arrecadar mais de 1 milhão de dólares americanos! A AVMA tem um trabalho muito importante na divulgação de informação especializada. No site da associa ção po de-se encontrar tanto materiais técnicos que visam deixar preparados os médicos veterinários e os outros profissionais que possam estar engajados na prestação de socorro nos casos de desastres, quan to informativos genéricos para ajudar os proprietários de animais de pequeno e grande porte a mantêlos em segurança quan do houver a previsão ou a ocorrência de desastres, como furacões e enchentes. No Brasil, ainda não há material didático como esse, mas é bom pensar nisso, pois com as mudanças climáticas, os desastres podem acontecer por aqui. Por isso, recomenda-se que quem se encontra em área de risco deva começar, pelo menos, a pensar no assunto e preparar-se para uma eventualidade. Uma medida básica, simples e fundamental que deve ser recomendada aos proprietários é a implantação de www.avma.org/disaster/default.asp micro chipsnos animais.
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LANÇAMENTOS HIGIENE E ESTÉTICA FELINA
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Amici acaba de lançar produto que é exclusivo para gatos: o Shampoo Condicionador Extra Brilho exclusivo. O produto é termoativado, ou seja, seu efeito é potencializado pelo calor. Seus agentes condicionantes da pele e dos pêlos melhoram a penteabilidade e facilitam o desembarace.
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atos e cachorros dóceis, cheirosos, com Spray – spray de uso prático e eficiente o hálito puro e que evitam os lugares que garante a higiene bucal dos animais, mais íntimos do lar. Tudo isso por meio de retardando o surgimento do cálculo densoluções naturais de plantas, que não agrital e eliminando o mau hálito; FitoGuard dem e não oferecem qualquer tipo de efeiHigiene Bucal Gel – gel de uso prático e to colateral aos pets. Esta é a proposta da eficiente que garante a higiene bucal dos FitoGuard, primeira linha brasileira de animais; FitoGuard Anti Odores – spray produtos fitoterápicos para cães e gatos. que elimina os odores dos animais; Elaborada com plantas medicinais e FitoGuard Educador – spray que quando matérias-primas diferenciadas, a linha aplicado em determinado ambiente inibe FitoGuard é composta por 5 produtos a presença dos animais no mesmo. extremamente eficientes, que não agridem o meio ambiente e, principalmente, Sobre a fitoterapia e a aromaterapia não oferecem perigo aos animais e ao A fitoterapia utiliza plantas medicinais, homem: FitoGuard ou seja, aquelas que possuem em sua comComportamental – posição substâncias químicas sintetizadas spray de uso externo biologicamente a partir de nutrientes da que deve ser aplicado terra, ar, água e luz. Os princípios ativos nos ambientes de perdesses vegetais podem ser ministrados por manência do aniingestão ou inalação. Quando os óleos mal para acalmáessenciais das plantas são utilizados para a lo de maneira inalação, a ciência da aromaterapia entra natural e segura em ação. A fitoterapia e a aromaterapia em casos de oferecem inúmeras vantagens aos seus alterações de adeptos. Os princípios ativos dos vegecomportamentais atuam de forma natural, sem agredir to; FitoGuard o organismo do paciente e estimulando Higiene Bucal as defesas naturais do mesmo. www.fitoguard.com.br
ANESTÉSICO DISSOCIATIV0
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lém do Zoletil® 50, a Virbac agora também conta com o Zoletil® 100, ideal para a anestesia de animais de maior peso corporal. Zoletil® combina um agente anestésico dissociativo - o cloridrato de tiletamina - e um tranqüilizante do grupo dos benzodiazepínicos - o cloridrato de zolazepam, garantindo flexibilidade e alta margem de segurança em diversos procedimentos. Proporciona rápida indução, relaxamento muscular instantâneo e imediata analgesia superficial.
Há mais de uma década, Zoletil® está presente em diversos países da Europa, América Latina, Ásia e na área do Pacífico. A linha de anestésicos Virbac também conta com outros dois agentes: Virbaxyl® 2%, sedativo, analgésico e miorrelaxante, à base de xilazina e Francotar®, à base de quetamina, indicado para contenção, sedação e anestesia dissociativa de várias espécies. Virbac: 0800 13 6533 www.virbac.com.br
Zoletil® 100 - a eficácia, versatibilidade e segurança já conhecida através do Zoletil® 50, agora com o dobro da concentração
NOVA VACINA DURAMUNE LCI/GP
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Duramune LCI/GP é a primeira vacina específica contra leptospirose a reunir quatro diferentes sorotipos de Leptospira. Utilizando tecnologias de produção exclusivas e diferenciadas, como microfiltrações seriadas e tecnologia OMC, Duramune LCI/GP proporciona uma proteção mais ampla e segura contra a leptospirose, contemplando, além dos sorovares L. icterohaemorrhagiae e L. canicola, os sorovares L. pomona e L. 94
grippotyphosa. Duramune LCI/GP proporciona protocolos flexíveis de vacinação, sendo indicada para aqueles clínicos que desejam migrar do esquema vacinal baseado em protocolos convencionais para esquemas mais completos, que utilizam vacinas V10; ou para aqueles que recomendam revacinações semestrais contra a leptospirose. Fort Dodge: 0800 701 9987
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 65, novembro/dezembro, 2006
Duramune LCI/GP está disponível em caixas com 25 doses
OURO FINO MASTER
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uro Fino Pet Nutrição Animal lançou mais uma linha de alimento para cães: Ouro Fino Master. O produto possui versão para adultos e outra para filhotes O primeiro lançamento da área de nutrição pet foi em 2005, com os produtos da linha Ouro Fino Super Premium e Ouro Fino High Premium. Segundo o diretor da unidade, Luís Cláudio Sinelli, a Ouro Fino Master atende todas as necessidades nutricionais dos cães, sendo um alimento completo e balanceado. Ouro Fino Master possui em sua formulação o aditivo especial Yucca schidigera, que ajuda a diminuir o odor das fezes. “Além de todas essas vantagens, a linha Ouro Fino Master chega ao mercado com preços muito competitivos”, diz Sinelli. O produto já está sendo comercializado em pet shops de todo o país, em três apresentações: Ouro Fino Master Adultos, em embalagens de 15Kg e 25 Kg; e a Ouro Fino Master Filhotes, em embalagem de 15 Kg.
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ZUBRIN® - TEPOXALINA
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Schering-Plough Saúde Animal lançou o antiinflamatório Zubrin®, um medicamento não-hormonal, indicado para cães, à base de tepoxalina, de formulação inédita, que age diretamente na inflamação e na dor causada por osteoartrite ou por desordens músculo-esqueléticas agudas ou crônicas (como displasia coxofemoral, espondilose, síndrome do disco vertebral, traumas, contusões e compressões). “A Schering-Plough inova ao trazer esse medicamento para o Brasil. Nosso intuito de constantemente proporcionar Zubrin é encontrado em as melhores so3 apresentações: luções em saú• 200mg de animal se • 100mg • 50mg aplica muito bem nesse caso. É um antiinflamatório pioneiro que não induz a formação de úlceras, além disso, foi formulado para ser facilmente admi nistrado para um maior
aproveitamento e menor desconforto para o animal”, informa Gláucia Gigli, gerente de negócios da linha de Animais de Companhia da empresa. Zubrin® inibe as duas vias críticas da inflamação e da dor de forma balanceada, promovendo alívio e devolvendo o conforto ao animal. Além disso, é de fácil administração com uma exclusiva tecnologia: sua pastilha é de fácil dissolução e, em contato com saliva, desintrega-se em aproximadamente 4 segundos na boca do animal.
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ALIMENTO SUPER PREMIUM PARA AVES
a natureza as aves encontram uma combinação de alimentos que proporciona uma dieta nutricionalmente balanceada. Esta dieta extremamente diversificada, que combinar frutas, néctar, brotos, sementes, larvas, insetos e folhas, garante às aves seu pleno desenvolvimento, manutenção e sua atividade reprodutiva. Outra maneira de atender as necessidades nutricinais das aves, mas de uma forma prática, econômica e segura é através de dietas extrusadas. A NuTrópica, após 7 anos de pesquisa com mais de 300 aves de diferentes espécies, desenvolveu uma linha completa de alimentos que satisfazem a necessidades nutricionais específicas de psitacídeos e passeriformes criados em cativeiro. Cada embalagem de NuTrópica, contém uma combinação exclusiva, preparadas sob rigoroso controle de qualidade e utilizando as melhores técnicas em produção de alimentos. São mais de 40 ingredientes diferentes, incluindo vários tipos de grãos, frutas, ovo integral e mel, que juntos, na quantidade ideal, proporcionam os níveis ótimos de nutrientes necessários para a perfeita saúde, beleza, bem-estar e longevidade das aves.
ALIMENTO
INDICAÇÃO
NuTrópica® Araras
araras, jandaias e outros psitacídeos que necessitem de uma dieta com níveis mais altos de energia
NuTrópica® Papagaios
papagaios, cacatuas e outros psitacídeos que necessitem de uma dieta com níveis moderados de energia
NuTrópica® Calopsitas
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NuTrópica® Agapornis
agapornis
NuTrópica® Trinca-Ferro trinca-ferros NuTrópica® Sabiá & Pássaro Preto
sabiás, pássaros pretos e corrupiões
NuTrópica® Canários
canários
NuTrópica® Pássaros Exóticos
diamante gould, calafates, mandarin e outros pequenos pássaros exóticos
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curiós, bicudos, azulões, coleirinhas e outros pequenos passeriformes brasileiros
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NACIONAL 16 de novembro São Paulo - SP Alopecias não inflamatórias % (11) 5051-0908 16 a 19 de novembro Rio de Janeiro - RJ I Fórum internacional de ortopedia e reabilitação animal % (21) 3868-3731 18 a 19 de novembro Valença - RJ IV Encontro de ex-alunos e professores da Faculdade de Medicina Veterinária de Valença, RJ % (32) 9923-5164 21 de novembro Niterói - RJ Oncologia e anestesia ! pecrj@superig.com.br
22 a 23 de novembro Porto Alegre - RS II Ciclo Regional de Atualização Clínica % (51) 3475-2883 25 e 26 de novembro São Paulo - SP V Ciclo de emergências % (11) 3813-6568 25 e 26 de novembro Curitiba - PR I Curso de Medicina de Felinos % (41) 3297-4479
22 a 25 de novembro São Pedro - SP X Congresso e XV Encontro da Abravas ! www.abravas.org.br
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30 de novembro.a 1 de dezembro Pelotas - RS IX Simpósio em Pequenos Animais da Região Sul % (53) 3227-6603
25 a 28 de novembro Rio de Janeiro - RJ • II Simpósio de Comportamento e BemEstar Animal da UFRRJ ! www.simcobea.com 1 de dezembro Rio de Janeiro - RJ Terceiro Encontro Científico Internacional Royal Canin Brasil ! www.fiavac.org
21 e 22 de novembro Curitiba - PR III Curso teórico e prático de eletrocardiograma em pequenos animais % (41) 3297-4479 22 de novembro Londrina - PR Medicina Interna - animais de companhia % (43) 3342-6757
30 de novembro São Paulo - SP Terceiro Encontro Científico Internacional Royal Canin Brasil ! www.fiavac.org
27 de novembro Brasil - Recife Terceiro Encontro Científico Internacional Royal Canin Brasil ! www.fiavac.org
28 de novembro Salvador - BA Terceiro Encontro Científico Internacional Royal Canin Brasil ! www.fiavac.org
2 e 3 de dezembro Jaboticabal - SP Curso de Oftalmologia Veterinária % (16) 3209-1300 8 e 9 de dezembro São Paulo - SP Curso Prático: Miscelâneas cirúrgicas tóraco-abdominais % (11) 3836-0282 12 a 22 de dezembro Rio de Janeiro - RJ Curso intensivo de ultrasonografia em cães e gatos (teórico-prático) % (21) 2437-4879
12 de dezembro a 20 de abril Rio de Janeiro - RJ Curso avançado de ultrasonografia em cães e gatos (teórico-prático) % (21) 2437-4879 18 a 21 de dezembro Santos - SP Curso teórico-prático de anestesia veterinária % (11) 6995-9155 2007 janeiro São Paulo - SP Curso intensivo prático de ortopedia % (11) 3836-0282
7, 14 e 21 de janeiro; 4 e 11 de fevereiro Osasco - SP Curso teóricoprático de ortopedia em pequenos animais % (11) 6995-9155 7, 14 e 21 de janeiro; 4, 11 e 25 de fevereiro; 4 e 11 de março Osasco - SP Curso de oftamologia clínica e cirúrgica em pequenos animais % (11) 6995-9155 25 a 29 de janeiro Santos a Florianópolis Curso de felinos a bordo do navio Island Escape % (11) 6995-9155 3 a 4 de fevereiro São Paulo - SP Anestesiologia Veterinária (pós-graduação - lato sensu)
% (11) 5283-3228
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26 de fevereiro a 2 de março Jaboticabal - SP Curso teórico-prático de eletrocardiografia % (16) 3209-900
3 e 4 de março (início) Campinas - SP XIV Curso de homeopatia (um final de semana p/mês)
% (19) 3208-0993
4 e 18 de março; 1º e 15 de abril São Paulo - SP Curso de oncologia % (11) 6995-9155 10 e 11 de março Campinas - SP XII curso de acupuntura % (19) 3208-0993 16 a 18 de março Botucatu - SP Principais afecções em felinos domésticos e selvagens neotropicais % (14) 3811-6270 17 de março São Paulo - SP Curso de atualização ortopedia (500 horas) % (11) 3813-6568 17 e 18 de março Londrina - PR Neurologia em animais de companhia (NEUROVET) % (43) 3342-6757 17 e 18 de março Recife - PE Anestesiologia veterinária (pós-graduação - lato sensu)
% (11) 5283-3228
www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL início - página 104 21 a 24 de março Contagem - MG Pet e Vet Negócios % (31) 2103-8700 23 de março (início) São Paulo - SP Curso de especialização em homeopatia veterinária (1.200h) % (11) 3813-6568 14 e 15 de abril Londrina - PR III Curso de Atualização em Oncologia de Animais de Companhia ONCOPET 3 % (43) 3371-4062 25 a 27 de abril Guarujá - SP Congresso Mundial de Odontologia Veterinária ! www.wvdc2007.com.br 7 a 10 de maio Seropédica - RJ VII Semana de Dermatologia Veterinária e III Simpósio de Oncologia Veterinária da UFRRJ ! regina@vetskin.com.br 12 e 13 de maio Curitiba - PR IV Curso de Oncologia Veterinária % (41) 3297-4479 24 a 27 de maio Florianópolis - SC XXVIII Congresso Brasileiro da Anclivepa ! www.wvdc2007.com.br
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INTERNACIONAL 9 a 11 de agosto Rio de Janeiro - RJ • 7ª Conferência SulAmericana de Medicina Veterinária • 2º Encontro Nacional do Varejo Pet • II Congresso Internacional de Conceitos em BemEstar Animal • Seminário de alimentação e nutrição pet ! www.riovet.com.br
26 a 28 de setembro São Paulo - SP • 7º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Conpavepa) • Pet South America ! www.anclivepa-sp.org.br
2008 Data a confirmar Maceió - AL XXIX Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais -Anclivepa ! www.anclivepabrasil. com.br
11 de dezembro Buenos Aires - Argentina Tercera Gira Transcontinental - Atopia, hechos y ficción ! www.fiavac.org
12 de dezembro Mar del Prata - Argentina Tercera Gira Transcontinental - Atopia, hechos y ficción ! www.fiavac.org
13 de dezembro Córdoba - Argentina Tercera Gira Transcontinental - Atopia, hechos y ficción ! www.fiavac.org
13 a 17 de janeiro Zagreb - Croatia 1º European Diroflaria Days ! albert@vet.hr 26 de março a 1 de abril South Africa Veterinary World Cup 2007 ! mwarren@allerton.kzntl. gov.za
29 de março a 1º de abril Croatia XIII European FECAVA congress ! www.hvk.hr/fecavacongress-2007
14 de dezembro Rosario - Argentina Tercera Gira Transcontinental - Atopia, hechos y ficción ! www.fiavac.org
19 de dezembro Caracas - Venezuela Tercera Gira Transcontinental - Atopia, hechos y ficción ! www.fiavac.org
24 e 27 de maio México FCI - FCM - AMMVEPE World Congress of Veterinary Medicine ! www.fcmac.org.mx
25 a 27 abril de 2007 Guarujá - Brasil 10th World Veterinary Dental Congress ! www.anclivepa-sp.org.br 20 a 23 de agosto de 2007 Sidney - Austrália 32º Congresso Mundial da WSAVA ! www.wsava2007.com
19 a 23 de janeiro de 2008 Orlando - FL, EUA The North American Veterinary Conference ! www.tnavc.org
27 e 28 de abril Amsterdam - Holanda Voorjaarsdagen ! www.voorjaarsdagen.org
13 a 17 de janeiro Orlando - FL - USA The North American Veterinary Conference ! www.tnavc.org
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20 a 24 de agosto de 2008 Dublin - Irlanda 33º Congresso Mundial da WSAVA ! www.wsava2008.com