Clínica Veterinária n. 71

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ISSN 1413-571X

Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007 - R$ 13,00

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Hummm! DESPULG A! DESPULGA! Correto!

Só ele DESPULGA! DESPULGA! Acaba A caba ccom om aass p pulgas ulgas d do o aanimal nimal e d do o aambiente. mbiente. Age ttambém Age ambém contra contra vvermes ermes iintestinais, ntestinais, sarna, sarna, ssarna arna d dee o ouvido, uvido, p piolhos, iolhos, vverme erme d do o coração coração e aauxilia uxilia n no o ccontrole ontrole d dee ccarrapatos. arrapatos.

LLaboratórios a b o ra t ó r i o s P Pfizer f i ze r LLtda. td a . - D Divisão ivisão d dee S Saúde aúde A Animal nimal - 0 0800 80 0 0 01 11 1 19 9 1 19 9 - w www.pfizersaudeanimal.com.br w w. p f i z e r s a u d e a n i m a l . c o m . b r

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PPULGA? ULGA?


Saúde pública - 34

Fabiana Augusta Ikeda-Garcia

Índice

Métodos de diagnóstico da leishmaniose visceral canina Diagnostic methods of canine visceral leishmaniasis Métodos de diagnóstico de la leishmaniasis visceral canina

Saúde pública - 44 Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral urbana no Brasil Epidemiological aspects of visceral leishmaniasis in Brazil Aspectos epidemiológicos de la leishmaniasis visceral urbana en Brasil Juliana G. Machado

Saúde pública - 50 Imunopatologia da leishmaniose visceral canina Immunopathology of canine visceral leishmaniasis Inmunopatología de la leishmaniasis visceral canina

Fotomicrografia de exame citológico de linfonodo de cão; observar a presença de formas amastigotas de Leishmania. Panóptico rápido, 100x

Saúde pública - 60

experimentalmente com L. chagasi

Francisco Assis L. Costa

Caracterização histopatológica e imunoistoquímica da nefropatia da leishmaniose visceral experimental Imprint do baço de hamster sírio douem hamster rado (Mesocricetus auratus) infectado Histopathological and immunohistochemical characterization of the nephropathy due to experimental visceral leishmaniasis in hamster Caracterización histopatológica e inmunohistoquímica de la nefropatía de leishmaniasis visceral experimental en hámster

Saúde pública - 66 Leishmaniose visceral canina: aspectos de tratamento e controle

Rim. Hamster. 90 dias pós-infecção. Depósito de amilóide no mesângio e membrana basal dos capilares glomerulares. 140x

Treatment and control aspectsof canine leishmaniasis Leishmaniasis visceral canina: aspectos de tratamiento y control Vitor Márcio Ribeiro

Saúde pública - 78 Aspectos clínicos de cães naturalmente infectados por Leishmania (Leishmania) chagasi na região metropolitana do Recife Clinical aspects of dogs naturally infected by Leishmania (Leishmania) chagasi in the metropolitan region of Recife Aspectos clínicos de perros naturalmente infectados por Leishmania (Leishmania) chagasi en la región metropolitana de Recife

Detalhe da coleta de material para realização de imunohistoquímica

Saúde pública - 82 Leishmaniose tegumentar americana: uma visão da epidemiologia da doença na Região Sul American tegumentary leishmaniasis: epidemiological vision about this disease in south region Leishmaniasis cutánea: una visión epidemiológica de la enfermedad en la región sur

Saúde pública - 86 Leishmaniose visceral canina: aspectos de saúde pública e controle

Seções

Canine visceral leishmaniasis: aspects of public health and control Leishmaniasis visceral canina: aspectos de salud pública y control

• 7º CONPAVEPA 18 • Pet South America 2007 20 • Congresso destacou a importância do médico veterinário na promoção da saúde 26

Editorial - 5 Opinião - 6 Notícias - 10 • Centro de esterilização e educação é inaugurado no RJ 8 • UFRGS deixa de usar animais nas aulas práticas de medicina 10 • Faculdade de Medicina do ABC é a 1ª no País a proibir experimentação com animais vivos 10 • LAVC 2007 12 • Reabilitação animal 12 • Dermatologia em destaque 12 • 12º Nestlé Purina Nutrition Forum 12 • Organnact adquire Fitovet 14 • Empresas brasileiras marcam presença no congresso da WSAVA 16

Bem-estar animal - 94 Experiências de comunicação no Elephant Nature Park

Gestão, marketing e estratégia - 96 Posicionamento profissional? Onde? Quando? Como?

Pesquisa - 100 Teste rápido para diagnóstico da leptospirose

Lançamentos - 102 Negócios e oportunidades - 104 Ofertas de produtos e equipamentos

Serviços e especialidades - 105 Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Agenda - 112

Livros - 98 Preparação pedagógica aplicada à medicina veterinária

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

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Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br

Journal of continuing education for small animal veterinarians

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

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Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br

CAPA / COVER Poodle soropositivo para leishmaniose visceral canina

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PUBLICIDADE / ADVERTISING João Paulo S. Brandão midia@editoraguara.com.br (11) 3672-9497

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

IMPRESSÃO / PRINT

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Joakim M. C. da Cunha

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CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. - Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 - São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Instruções aos autores

Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/Mbrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).

Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@anestciruvet.com.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br

Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FMV/UEL fibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Luciane Biazzono DCV/CCA/UEL biazzono@uel.br

Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio Dentello Lustoza Agener União mdlustoza@uol.com.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial

stamos encerrando este ano com uma edição especial sobre leishmaniose – uma questão que, infelizmente,

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ainda constitui grave problema para boa parte da população mundial. Apesar dos esforços contínuos de pesquisadores e agentes de saúde em todo o mundo, esse mal continua afetando principalmente parcelas

da população imunologicamente comprometidas – como crianças, idosos e imunossuprimidos, com especial atenção aos portadores de coinfecção com o vírus da aids, – e vem hoje recrudescendo com intensidade preocupante em algumas regiões do planeta, como em nosso País. Os problemas gerados pela enfermidade atingem proporções assustadoras, pois envolvem não somente os doentes mas toda a comunidade, em decorrência dos aspectos relacionados à sua transmissão. Causada por protozoários do gênero Leishmania, ela tem como principais vetores mosquitos da família dos flebotomíneos. Até recentemente não havia vacinas que pudessem ser utilizadas com sucesso contra protozoários e, embora finalmente tenhamos uma disponível, ainda levará algum tempo para que venha a ser amplamente empregada não somente no nosso país, mas em todo o mundo. As dificuldades com o controle dos vetores são imensas, principalmente em países quentes e grandes como o nosso, com condições de reprodução facilitadas e poucos recursos humanos e financeiros para lidar com extensos territórios. Outro aspecto da maior importância são os reservatórios. Cães têm sido exaustivamente eliminados em todo o planeta, na tentativa frustrada de controlar a doença. Há muitos fatores relacionados a esse insucesso, desde a dificuldade de obter métodos de diagnóstico de desempenho ótimo que apresentem, principalmente, altas sensibilidade e especificidade, rapidez e custo acessível, até a carência de conhecimentos sobre guarda responsável e mesmo a imediata reposição de cães, entre outros, sem contar com os reservatórios silvestres, cujo controle é ainda mais difícil. O aumento e a melhor divulgação do conhecimento sobre essa enfermidade e seus muitos aspectos tem contribuído para o surgimento e implementação de alternativas de controle, como a utilização de bloqueadores químicos e físicos contra os vetores, e a própria vacina, bem como o cuidado e o destino dos reservatórios. Uma das maiores e mais atuais polêmicas sobre o assunto está relacionada ao tratamento de cães positivos. Por um lado, os cães são vítimas e merecem respeito e cuidados, sendo imprescindível uma nova abordagem no relacionamento entre os homens e as demais espécies. Por outro lado, é preciso conhecer muito bem e controlar criteriosamente as condições do tratamento dos cães, que se mantêm como reservatórios e podem ajudar a manter crescente o número de vítimas humanas e animais afetadas por esse mal. Ao médico veterinário, um dos principais agentes envolvidos nessa polêmica, cabe conhecer – o mais amplamente possível – todos os aspectos referentes ao assunto, para poder formar sua opinião e se conscientizar dos riscos implicados em suas atitudes. A importância que animais como o cão têm hoje na vida das pessoas é indiscutível e, felizmente, suas vidas têm sido valorizadas. Não obstante, o médico veterinário precisa estar atento para orientar profundamente seus clientes a respeito dos riscos a que os próprios familiares estão expostos, principalmente as crianças e os imunossuprimidos, para evitar que futuramente venha a se envolver em problemas, incluindo processos jurídicos decorrentes da transmissão dessa enfermidade a partir de animais em tratamento. Com esse intuito, nesta edição oferecemos aos leitores trabalhos de diversos pesquisadores brasileiros, renomados por sua experiência e competência no trato dessa enfermidade. Boa leitura. Maria Angela Sanches Fessel Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

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Opinião

A opção de ser um aliado da comunidade Por Arthur Barretto - editor - revista Clínica Veterinária

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em cidades pequenas, é a falta de interesse no assunto pelos gestores, pois a impopularidade da ação não agrega votos. Pelo contrário, pode até tirar. Em todo o Brasil, os serviços de controle de zoonoses não atingem 50% da população. A partir de 2005, esse panorama vem mudando. Com iniciativa do Instituto de Tecnologia em Educação e Controle Animal (ITEC), já foram formados mais de 500 Oficiais de Controle Animal (OCAs). Cada agente de saúde formado pelo Curso FOCA recebe aulas téoricas e práticas sobre manejo etológico, passando a reconhecer os sinais que os animais podem apresentar, principalmente os que envolvem a agressão, e de bem-estar aniTécnicas cruéis e inadequadas de manejo fazem com que a comunidade mal. Com esses hostilize os agentes da saúde

conceitos aplicados, a abordagem de cães e gatos nas ruas perde o aspecto cruel e, aos poucos, conquista-se o apoio da comunidade para o sucesso das ações de prevenção, que passa a reconhecer e a confiar no Oficial de Controle Animal. Outro ponto fundamenteal para o bem-estar animal é a eutanásia. Ela somente poderá ser chamada de eutanásia se, por exemplo, o cão que receberá a injeção letal tiver sido capturado com tranqüilidade. Caso contrário, o cão, desde a captura, estará estressado e inseguro em função de não saber os procedimentos que o esperam. O mais interessante na implantação dos conceitos preconizados durante o Curso FOCA é a observação na mudança de postura de alguns agentes de saúde, que de cruéis ou exibidos mudaram para Oficiais de Controle Animal exemplares. Confira. Veja o filme do Curso FOCA que está on line (www.itecbr.org). É possível mudar e isto faz a diferença. Principalmente, para diminuir os casos de agressão por cães e a matança desnecessária de cães, entre outros benefícios.

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integração das atividades veterinárias aos serviços de promoção da saúde à população é fundamental para a prevenção e controle de zoonoses. Para isso acontecer é fundamental que o bem-estar animal seja preconizado, pois sem ele é difícil contar com a participação e apoio da comunidade. As marcas de balas e pedras em viaturas de captura de cães e gatos, as "carrocinhas", mostram bem como a comunidade revoltada recebe o serviço. Uma das conseqüências disso, principalmente

As mudanças de linguagem, de postura e de atitude são fundamentais para interação positiva com a comunidade. Acima, os estrangeiros Jo-Anne Roman e Rigoberto Neira demonstrando, durante Curso FOCA, a tranqüilidade na abordagem de qualquer cão

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Assista ao filme sobre o curso FOCA www.itecbr.org

Oficial de Controle Animal agindo com tranqüilidade. Uma grande mudança

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Centro de esterilização e educação é inaugurado no RJ

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O Centro de Esterilização e Educação possui sala de educação (ao lado), sala administrativa, sala de exames précirúrgicos, sala de preparo cirúrgico, sala de cirurgia (acima), sala de recuperação, sala de paramentação e sala de esterilização de material

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

Divulgação

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O CEE está funcionando de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, na rua Doutor Manoel Cotrim, 61 - bairro do Riachuelo, Rio de Janeiro, RJ, e realiza as cirurgias mediante agendamento prévio. O centro conta com uma equipe de profissionais com capacidade para operar diariamente dez animais. Futuramente estima-se atuar com duas equipes/dia, podendo dobrar e até mesmo triplicar o número de cirurgias. O programa educativo, desenvolvido para difundir o respeito aos animais e os conceitos mais modernos de bem-estar animal, inclui palestras e vídeos educativos para os proprietários de animais, seminários para públicos diversos e cursos técnicos dirigidos a profissionais que trabalham com animais. Acadêmicos e médicos veterinários também podem procurar o CEE para atualização profissional. CEE: (21) 2582-6646 www.defensoresdosanimais.org.br

Divulgação

oi inaugurado no Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 2007, o Centro de Esterilização e Educação (CEE). Trata-se da primeira clínica veterinária no país especializada em cirurgias de esterilização de cães e gatos e em programas educativos para o respeito a toda forma de vida. O CEE é um projeto de cunho social, criado pela associação "Defensores dos Animais", que possui, em seu quadro diretor, dois médicos veterinários, uma psicóloga, uma advogada, uma pedagoga e uma engenheira. A instalação do CEE foi possível com o patrocínio da WSPA - Sociedade Mundial de Proteção Animal. O projeto do CEE tem três objetivos básicos: a) esterilizar, com o menor custo e com qualidade, o maior número de cães e de gatos; b) educar, para a guarda responsável e para o respeito a toda forma de vida, o maior número de pessoas; e c) servir de modelo humanitário e eficiente para o controle desses animais.



UFRGS deixa de usar animais nas aulas práticas de medicina

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direção do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul montou um laboratório diferente para as aulas práticas de técnicas operatórias, que antes utilizavam animais vivos. O local conta com simuladores plásticos de braços e pedaços de pele usados para fazer incisões e suturas, e um torso onde os alunos poderão fazer punções e colher sangue artificial. Para o diretor da faculdade de medicina Mauro Czepienewski, a intenção da

direção do curso era acabar com o problema que sempre existiu nas universidades e mexe com o senso moral de muitas pessoas: “Algumas universidades criam os animais para usá-los nas aulas, ainda vivos. Mas, e depois, o que se faz com eles? Uma eutanásia provocada? Alguém vai passar a cuidar deles? (...) Nos víamos, então, diante da questão: acabar com a vida para preservar a vida. Por isso, passamos a nos dedicar a uma alternativa”.

Suturas dos intestinos grosso e delgado, que são mais complexas, também podem ser feitas no material que simula os órgãos, onde até a mucosa e a textura são semelhantes às do corpo humano. Professor adjunto de urologia e um dos coordenadores do Laboratório de Técnica Operatória e Habilidades Cirúrgicas, Milton Berger é um entusiasta da idéia. Segundo ele, o método tranqüiliza os alunos, que se sentem mais seguros para aprender.

Faculdade de Medicina do ABC é a primeira no País a proibir experimentação com animais vivos na graduação

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Faculdade de Medicina da Fundação do ABC proibiu o uso de qualquer animal vivo nas aulas de graduação. Portaria em vigor desde 17 de agosto coloca a instituição como primeira no País a abolir completamente essa prática, que agora fica liberada somente para pesquisas inéditas, com relevância científica e previamente aprovadas pelo CEEA - Comitê de Ética em Experimentação Animal da FMABC. Apesar de comum em faculdades e universidades com graduações em saúde, a experimentação animal é proibida por lei sempre que existirem recursos alternativos. Nos Estados Unidos, instituições de renome como Harvard, Yale, Stanford e Mayo Medical School há tempos não utilizam animais no ensino médico. “Existe movimento mundial para substituição do uso de animais na graduação por outros modelos. Atendemos solicitações de diversos docentes e alunos e resolvemos tentar, para posteriormente termos opinião definitiva”, explica o diretor da Faculdade de Medicina do ABC, dr. Luiz Henrique Paschoal.

A substituição de animais por métodos alternativos chega a 71% em instituições de ensino superior da Itália. Além disso, 68% das escolas médicas norte-americanas não usam animais em cursos de farmacologia, fisiologia ou cirurgia. “Usar animais vivos é prática cruel e desestimula o aluno”, acrescenta a professora da FMABC e membro do CEEA, dra. Odete Miranda. As alternativas para substituição de animais vivos incluem, por exemplo, softwares, animais quimicamente preservados e incorporação dos cursos básicos à prática clínica, quando o aluno passa a aprender com casos reais, em seres humanos. “Nossa missão é formar médicos humanos, mais envolvidos com o paciente e sensíveis à dor do próximo. Evitar que o aluno seja coadjuvante da morte ou do sofrimento de animais melhora o aprendizado, pois elimina o estresse do sentimento de culpa, além de incentivar a valorização e o respeito por toda forma de vida. Isso certamente será refletido na relação médico/paciente após a formação acadêmica”, completa a dra. Nédia Maria Hallage,

professora da FMABC e membro do Comitê de Ética em Experimentação Animal. Para a dra. Odete Miranda, a continuidade da experimentação animal no País tem como principais motivos tradição e resistência a mudanças, desconhecimento de métodos substitutivos e atraso tecnológico: “O Brasil está quase dois séculos atrás de países europeus e dos Estados Unidos”, garante. Em relação à economia, a dra. Nédia Maria Hallage considera mito achar mais barato a morte de animais: “É comum pensar que matar animais sai mais barato que investir em tecnologia alternativa. Para utilizar animais no ensino é necessária a manutenção ética, que implica em alimentação digna, funcionários habilitados, controle de zoonoses e estrutura própria no biotério para cada espécie. No caso do investimento em bonecos ou softwares, são todas técnicas duráveis, que abrangem maior número de alunos e que substituem animais em diversos temas de aulas”, completa a dra. Hallage. Faculdade de Medicina do ABC: www.fmabc.br

DVD Não Matarás - os animais e os homens nos bastidores da ciência - 65 minutos Menus interativos em português, inglês, espanhol e francês

www.ninarosa.org

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LAVC 2007

Dermatologia em destaque

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Jorge Guerrero (à esquerda), presidente da North American Veterinary Conference (NAVC), em companhia da comitiva brasileira

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Conferência Latino-Americana de Medicina Veterinária (LAVC), realizada em outubro, em Lima, no Peru, contou com a participação de grupo de brasileiros, que levaram trabalhos para apresentar. Também houve a participação de Norma Labarthe (UFF) como moderadora das conferências apresentadas pela dra. Jennifer Devey (Universidade de Guelph).

Reabilitação animal

O primeiro curso promovido pela Chattanooga para médicos veterinários teve o privilégio de ser formado por um grupo 100% brasileiro

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Chattanooga Group, empresa que lançou no começo do ano o exclusivo aparelho veterinário para reabilitação animal, o Intelec Vet, promoveu, em agosto de 2007, seu primeiro curso para médicos veterinários para um grupo formado por brasileiros. Para os interessados na área, nos dias 24 e 25 de novembro de 2007, ocorrerá, em São Paulo, SP, o III Simpósio Internacional de Fisioterapia Veterinária (www.anfivet.com.br). David Levine, autor de um dos mais importantes livros de reabilitação animal, especialista de referência na área, e Eliane Gonçalves, médica veterinária do Vet Spa (www.vetspa.com.br) e organizadora do grupo brasileiro. “O foco do curso ministrado por Levine foi a eletroterapia (todas as correntes, TENS, FES, US e laserterapia)”, destacou Gonçalves

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e 19 a 21 de outubro aconteceu, em Botucatu, SP, o curso de atualização em dermatologia de cães e gatos, que detalhou diversos temas da especialidade. O evento foi organizado pelos docentes e residentes do Serviço de Dermatologia Veterinária da FMVZUnesp campus de Botucatu, com a participação de Carlos Eduardo Larsson (USP), Marconi Rodrigues de Farias (PUC/PR) e Luiz Henrique de Araújo Machado (Unesp/Botucatu).

O curso de atualização em dermatologia de cães e gatos realizado em Botucatu, SP, contou com aproximadamente 240 participantes, sendo a maioria de profissionais, dos mais variados estados, contando, inclusive, com uma participante da Argentina

Foram abordados os seguintes temas: neoplasias cutâneas, dermatoses psicogênicas, dermatofitoses, micoses úlcero-gomosas, complexo granuloma eosinofílico, dermatozoonoses, charadas dermatológicas, terapêutica tópica, síndromes paraneoplásicas cutâneas, dermatite atópica, dermatite trofoalérgica, dermatite actínica. No início de novembro, a dermatologia também foi destaque em Porto Alegre, RS, durante o Simpósio Internacional de Dermatologia Veterinária realizado pela Patronalvet/RS. Ainda em 2007, através de iniciativa da Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV), a especialidade irá aparecer mais uma vez em destaque. De 14 a 16 de dezembro ocorrerá a Jornada Hispano-Brasileira de Dermatologia. O evento será realizado em São Paulo, SP, na FMVZ/USP. Os assuntos programados são: leishmaniose – formas cutâneas atípicas; disfunção adrenal e alopecia – terapia com trilostano; atopia – terapia com cilosporina e esteróides tópicos; otite externa – desafio contínuo; complexo eritema multiforme; dermatofitose – causas de resistência à terapia. Mais informações podem ser encontradas no endereço www.sbdv. com.br.

12º Nestlé Purina Nutrition Forum

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Nestlé Purina do Brasil levou a dra. Márcia Mery Kogika, professora de clínica médica na FMVZ/USP e o dr. Archivaldo Reche Junior, especialista em clínica médica de felinos, para participar da 12ª edição do Nestlé Purina Nutrition Forum, um dos maiores congressos de nutrição de animais de estimação, realizado em setembro, em St. Louis, Missouri (EUA). A cidade sedia um dos três centros de pesquisa da Nestlé Purina. A pauta deste ano foram os felinos e suas particularidades fisiológicas, metabólicas e nutricionais, bem como patologias inerentes a esta singular espécie. “Tópicos absolutamente atuais receberam especial atenção, como nutrição nas doenças renais crônicas de gatos, prevenção de urolitíases em felinos, manejo nutricional da doença intestinal inflamatória e muitos outros”, enfatizou Reche Junior. “Além das palestras, os trabalhos científicos também tiveram destaque pela apresentação de temas de grande interesse para a nutrição de felinos, como também o workshop sobre ‘Comunicação na medicina veterinária’, assunto este em que a importância vem sendo cada vez mais focalizada para melhor aplicação dos conhecimentos, como também pelo melhor desempenho profissional do médico veterinário”, destacou Kogika. Médicos veterinários, nutricionistas, pesquisadores e professores universitários de várias nacionalidades assistiram a palestras ministradas por renomados profissionais sobre requerimentos minerais, obesidade felina, doença renal, urolitíase, hipertireoidismo, entre outras. Um banquete em homenagem aos doutores James G. Morris e Quinton R. Rogers, da Universidade de Davis-CA, pioneiros no estudo da nutrição de felinos, encerrou as atividades. Luciana Brandi (Nestlé Purina Brasil), Márcia Mery Kogika (FMVZ/ USP) e Archivaldo Reche Junior (FMVZ/USP)

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Organnact adquire Fitovet e amplia atuação em produtos naturais e ecologicamente corretos para animais

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Organnact, empresa sediada em Curitiba (PR) e especializada na fabricação de suplementos probióticos para animais de produção e de companhia, adquiriu o controle acionário da gaúcha Fitovet, laboratório de produtos fitoterápicos para saúde animal. Com o negócio, estimado em R$ 1,2 milhão, a Organnact dá um sólido passo em sua estratégia de oferecer a pequenos, médios e grandes animais soluções naturais, sem aditivos químicos. A aquisição da Fitovet foi uma decisão lógica para a Organnact, empresa com doze anos de atuação no mercado brasileiro, focada em produtos nutracêuticos, ou seja, desenvolvidos para atuar em necessidades específicas dos animais. “A Organnact desenvolve insumos para fases específicas dos pequenos

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animais, eqüinos, bovinos e suínos, a partir do uso de leveduras vivas. Entendemos que o segmento de produtos naturais e ecologicamente corretos tem extremo potencial e, cada vez mais, atrai proprietários de animais e criadores. Essa filosofia, que representa a base de atuação e da própria existência da Organnact, leva a empresa a crescer em novos produtos e aquisições de organizações com perfis complementares, como é o caso da Fitovet”, explica o médico veterinário Antonio Roberto Bacila, diretor-presidente da Organnact. “A marca Fitovet, reconhecida pela qualidade dos seus produtos fitoterápicos, não será descontinuada. O objetivo da Organnact é fortalecê-la ainda mais, levando-a da região Sul, onde está baseada e onde tem seu principal mercado, para todo o País. Para isso, a estrutura

de distribuição da Organnact, que possui sessenta pontos de distribuição espalhados por todas as regiões brasileiras, será decisiva”, destacou Bacila. No momento, há doze produtos registrados pela Fitovet e a equipe técnica da Organnact/Fitovet investe em pesquisas para desenvolver novos itens, fortalecendo e complementando a linha. A Organnact é uma empresa de capital nacional, sediada em Curitiba (PR) e com atuação concentrada no desenvolvimento de suplementos probióticos, vitamínicos minerais e aminoácidos. A organização conta com mais de três dezenas de produtos, número que deve dobrar a curto prazo, a partir da decisão estratégica de aumentar consistentemente as opções em produtos nutracêuticos ou funcionais. Organnact: www.organnact.com.br

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Pela terceira vez consecutiva, empresas brasileiras marcam presença no congresso mundial de clínicos veterinários de pequenos animais (WSAVA) por Ronald Glanzmann

Centralvet

Produtos das empresas brasileiras despertam interesse nos congressistas, pois associam qualidade e preços competitivos

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Divulgação

Este ano, notou-se a presença marcante da grande tendência de aprimoraBayer, Intervet, Virbac, Fort Dodge, mento no mundo da nutrição, através de Merial, Hill´s, Eukanuba, Nestlé Purina novos alimentos lançados, indicados e Royal Canin também realizaram lancomo preventivos ou coadjuvantes ao çamentos de novas moléculas e produtratamento de doenças, assim como tos, com destaque à Fort Dodge, com o nutracêuticos. antipulgas Promeris, e à Virbac, com Nota-se também o aumento crescente ampliação da linha de uso odontológico. da disponibilização de equipamentos cada vez mais sofisticados e totalmente customizados para o uso em medicina veterinária, tanto para a área diagnóstica de procedimentos cirúrgicos, clínicos e odontológicos, como de acompanhamento do paciente crítico. A vedete do evento ficou com o laboratório Belga Janssen, pertencente à Johnson & Johnson, com foco total em inovação, lançando no mercado o Yarvitan, produto indicado para promoO novo lançamento internacional da Fort Dodge, ver a perda de peso de cães obesos em o antipulgas Promeris, possui site próprio, com oito semanas. O produto promete 10% detalhes do mecanismo de ação do produto de perda neste período de uso. A prewww.promeris.com visão de lançamento no Brasil é para o congresso mundial da WSAVA de 2009, que será em São Paulo, SP. Será o primeiro em território brasileiro e o segundo no continente latino-americano. Demais empresas multinacionais conhecidas no Bra- Resultado rápido e visível em 8 semanas é o que promete Yarvitan, produto sil como, Pfizer, para o controle da obesidade lançado pela Jannsen - www.yarvitan.eu

Divulgação

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Ronald Glanzmann, à frente da Centralvet, empreendimento que oferece assessoria às empresas brasileiras na exportação de seus produtos. A iniciativa é promissora e no congresso da WSAVA, na Austrália, pode-se constatar o crescente aumento do interesse de empresas de países estrangeiros pelos produtos brasileiros

Centralvet

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esde 2004, a APEX, agência de promoção a exportações vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, subsidia a presença de pavilhões brasileiros nas mais importantes feiras e congressos ligados à medicina veterinária e aos pequenos animais. A ação é liderada pela AnfalPet Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Pequenos Animais, e engloba todo e qualquer produto ou empresa destinado aos pequenos animais ou veterinários de pequenos animais. Estivemos presentes no México em 2005 com sete empresas brasileiras, na República Tcheca em 2006 com doze empresas e agora na Austrália com a Vetnil Group (três empresas) e a Centralvet, novo empreendimento do exvice-presidente da Vetnil, Ronald Glanzmann, que tem como um de seus objetivos assessorar empresas brasileiras na exportação de seus produtos. Nesta primeira participação da Centralvet conseguiu-se a adesão de sete empresas: Ibasa, Duprat, Brasmed, Pet Minato, Sanol Dog, Organnact e Bionext. A expectativa da nova empresa é a adesão de pelo menos mais três empresas ainda este ano. Notamos que as sementes plantadas desde 2004, através do projeto Brasil Pet Products, começaram a propiciar os primeiros frutos. Importadores e médicos veterinários visitaram e registraram o fato de terem interesse nos produtos de nosso país, devido à qualidade, aliada ao preço competitivo dos mesmos. Durante o congresso, prospectamos contatos interessados em importar produtos de todas as linhas, especialmente porque a presença nos mundiais tem indiretamente auxiliado na promoção de nosso país, que será sede do Congresso Mundial de Clínicos de Pequenos Animais de 2009 (WSAVA 2009). Nenhum projeto de exportação de outro país tem presença nos mundiais. O único país a ter este tipo de ação nestes eventos é o Brasil.


Aquilo que você sempre pensou já existe! Seja nosso associado, "PARTINESS DOG BAKERY" Conhecemos seu dia-a-dia. E sabemos como seria bom você poder contar com uma instituição veterinária otimamente estruturada, para você exercer com tranqüilidade e eficácia a nobre arte de salvar, curar e proteger nossos amigos de patas. Nascemos em 02/01/2007 com esta finalidade: dar ao médico veterinário a real dimensão da qualidade em medicina, que sempre buscou. Nossa estrutura hospitalar disponibiliza todo equipamento necessário para dar ao nosso parceiro a certeza que seu paciente irá contar com o que há de melhor na medicina veterinária. Sua associação ao nosso instituto significará uma extensão de sua atuação profissional. As portas do Instituto Dog Bakery estão 24h ao seu lado, caro veterinário parceiro. A "PARTINESS DOG BAKERY" propõe um compromisso ético nessa relação. Nossos serviços disponíveis: • consultas com especialistas em todas as áreas; • internações; • cirurgias e locação de centro-cirúrgico; • laboratório de análises patológicas (próprio); • raios X, ultra-som, ECG e eco;

• doppler colorido (1) • hemodiálise; • fisioterapia, esteira aquática e banheira de hidromassagem; • tomografia computadorizada (1) • radioterapia (2)

(1) - Previsão de entrada em dezembro de 2007 (2) - Em 15/10/2007 foi adquirido um aparelho de radioterapia. Ele deverá estar em funcionamento em 120 dias, pois necessita de uma planta específica elaborada por um físico nuclear com credenciamento na Agência de Energia Atômica. Com esse equipamento nosso instituto será o mais completo Hospital Veterinário Particular da América Latina.

Instituto Dog Bakery De mãos dadas com os veterinários em prol da excelência médica animal institutodogbakery@terra.com.br


7º CONPAVEPA - Muito mais que evento científico

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alta qualidade da programação científica do CONPAVEPA vem sendo comprovada há anos, e esta sua sétima edição não poderia ser diferente. Diversas áreas, como odontologia, dermatologia, oftalmologia, comportamento, cardiologia, entre outras, foram contempladas com palestras por profissionais de renome. Importante contribuição também foi dada por Michael M. Pavletic, do Angell Animal Medical Center de Boston, que ministrou diversas palestras sobre cirurgia.

desse porte, sem sofrer ingerências governamentais, mas que esteja aberto ao uso por este órgãos, o que seria desejável (CCZs, prefeituras, Ongs etc). A essência do microchip é esta; porém, o que importa é que o animal seja cadastrado no banco de dados. Chipar e não exigir o cadastro é jogar dinheiro fora e talvez imperícia ou imprudência do médico veterinário”, destaca Gioso. A implantação de microchips é um procedimento útil para os

Alain Van Weert, da empresa suíça Data Mars (www.datamars.com) veio especialmente ao Brasil para falar da identificação por radiofreqüência (RF-ID) “A implantação de microchips é um procedimento útil para os proprietários, para os médicos veterinários e para o sistema de saúde pública”, enfatizou Marco A. Gioso, presidente da Anclivepa-SP

A exposição de trabalhos científicos ocorreu na mesma área da Pet South America, no pavilhão de exposição do Hotel Transamérica. Essa disposição ajudou a integrar o ambiente do congresso ao da feira

Além do pré-congresso de oncologia e do pós-congresso de homeopatia, a Anclivepa-SP incluiu dois pontos de extrema importância para a atividade profissional: a apresentação do sistema Pet Link de identificação animal e a participação política dos médicos veterinários nas legislações em face do andamento de leis e projetos de lei que são diretamente pertinentes à classe médico-veterinária.

A versão em português do sistema Pet Link pode ser consultado no endereço eletrônico: www.petlink.net/brasil. A versão internacional do sistema também está disponível no endereço www.petlink.net

Sistema Pet Link Com auditório lotado, Marco Antonio Gioso, presidente da Anclivepa-SP, apresentou a versão brasileira do sistema Pet Link (www.petlink.net/brasil), que funciona totalmente integrado no mundo todo (www.petlink.net). “A Anclivepa-SP acredita que o Brasil necessita ter um banco de dados único, moderno e eficiente e que, acima de tudo, seja gerido por uma associação de clínicos idônea. Os clínicos de pequenos animais de todo o Brasil merecem e precisam usufruir de um banco de dados

proprietários, para os médicos veterinários e para o sistema de saúde pública, desde que siga os padrões ISO 11.784 e 11.785. Por isso, é fundamental que o procedimento seja feito por um médico veterinário consciente da existência desses padrões, evitando-se a utilização de microchips em desacordo com as normas ISO. O sistema Pet Link Brasil foi resultado de dois anos de negociação entre a Anclivepa-SP e a Datamars, empresa suíça de microchips. “A Anclivepa-SP somente aceitou

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Durante a Pet South America, médicos veterinários puderam conhecer de perto a funcionalidade do sistema Pet Link

esta parceria com a empresa suíça Datamars exatamente porque o comércio dos microchips será feito concomitantemente com a obrigatoriedade do registro no banco de dados Petlink. As empresas envolvidas estão comprometidas com esta regra mundial que será controlada pela Datamars e pela Anclivepa-SP. A empresa que comercializará o chip, chamada New Image, de São Paulo, não venderá chip, mas um sistema de reencontro entre animal e dono! A Anclivepa-SP pesquisou colegas que chiparam animais e nem sabem

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onde está o cadastro, se é que ele foi feito. Já ocorreu de um proprietário aparecer com um saquinho transparente com um microchip (não estéril) dentro, pedindo para que um veterinário o implantasse! Isso mostra claramente que precisamos informar melhor os colegas. A maioria não sabe ainda o que é transponder ou microchip”, esclarece Gioso. Além disso, Gioso destaca que “este é o papel da Anclivepa-SP: levar informação precisa aos associados e demais colegas. O que nos importa mais como associação é que o colega use um serviço idôneo, com material descartável e estéril, mas principalmente que o animal microchipado seja cadastrado. Todavia, o sistema Pet Link oferecerá outros serviços, isto é, o veterinário poderá deixar on line outras informações do animal. Por exemplo, dia da imunização, se ele é diabético ou cardiopata, suas medicações diárias e quaisquer outros dados essenciais. Caso um médico veterinário de outra cidade, Estado ou mesmo outro país precise dessas informações, elas poderão estar lá, dependendo apenas do colega querer ou não registrá-las. O Pet Link ainda enviará automaticamente e-mails, caso o animal seja encontrado, e o próprio dono poderá entrar no website, colocar uma foto e avisar que seu animal foi perdido. Existem estatísticas na Europa e nos EUA que mostram que muitos animais (milhões!) vêm sendo roubados dos seus lares. O sistema ajudará muito no reencontro desses animais. Alguns países já têm delegacias de polícia que possuem leitoras disponíveis para o caso de encontrarem animais perdidos”. Polêmicas em leis e projetos de lei As polêmicas oriundas do Projeto de Lei 700/2007, do deputado estadual Feliciano Filho, e da Lei nº 14.483/ 2007, do vereador Roberto Tripoli, fizeram com que a Anclivepa-SP aproveitasse o ensejo do 7º Conpavepa e abrisse espaço na programação para discuti-los. Em vigor desde o dia 17 de julho de 2007, a Lei nº 14.483, de 16 de julho de 2007, dispõe sobre a criação e venda, no varejo, de cães e gatos por estabelecimentos comerciais no município de São Paulo, bem como sobre doações, em eventos, de animais.

O Projeto de Lei 700/2007 e a Lei 14.483/2007 foram alvo de discussão durante o 7º CONPAVEPA

O ponto mais polêmico dessa lei é a exigência da castração, aos 2 meses de idade, de todo filhote que não for selecionado pelo criador como reprodutor, pois com essa idade o criador não tem parâmetros para selecionar o filhote como reprodutor. Isto somente pode ser feito quando o animal atinge a fase adulta. Em muitas raças a comprovação da ausência de displasia coxofemoral é indispensável para a seleção. Edgar Sommer, especialista em radiologia, ao ser entrevistado pela revista Clínica Veterinária esclareceu que: “Todos os cães das raças grandes e gigantes deveriam ser submetidas ao diagnóstico radiográfico da displasia coxofemoral. Infelizmente não é o que acontece na prática. As raças que são mais comumente submetidas ao referido diagnóstico, além do pastor alemão e do rottweiler, são o labrador retriever, o golden retriever e, mais recentemente, o bernese mountain dog. Outras raças grandes e gigantes menos freqüentemente radiografadas são bull mastiff, mastiff inglês e chow-chow e, de médio porte, bulldog inglês e cocker spaniel. O diagnóstico definitivo, segundo as normas do Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária, é feito a partir dos 24 meses completos de idade”. Com relação ao procedimento cirúrgico realizado em tenra idade, vale ressaltar que há diversas informações na literatura que viabilizam o procedimento precoce. A revista Clínica Veterinária, por exemplo, publicou, na sua edição n. 13, revisão de literatura sobre o tema. A médica veterinária Cláudia Paula Ferreira da Costa, criadora de cães da raça pastor alemão, pronunciou-se contra a lei, pois argumentou a inviabilização da seleção de reprodutores. Por outro lado, Luciana Hardt Gomes, médica veterinária sanitarista, enxerga a lei com bons olhos, pois ela inviabiliza a atividade do mau criador, tanto por meio da denúncia quanto pela

fiscalização, ajudando a controlar o aumento da população canina. Infelizmente, a lei do vereador Tripoli não proibiu o comércio de cães e gatos em lojas e pet shops. Muitos animais passam muitos dias em uma pequena gaiola até que chegue o comprador que irá livrá-lo do sofrimento causado pelo estresse da clausura. Esta poderia ter sido uma ótima opção para coibir o aumento da população de cães e gatos, pois suprimiria a venda por impulso, praticada, principalmente, pelo mau criador. O consumidor que realmente quisesse comprar um cão ou gato, precisaria fazê-lo dirigindo-se a canis ou gatis particulares, ou até municipais, procurando pela adoção. O Projeto de Lei 700/2007 do deputado estadual Feliciano Filho também foi discutido, e o próprio deputado reconheceu erros no projeto e declarou publicamente que tomaria as providências para a elaboração do substitutivo ao Projeto de Lei em questão. O principal tema polêmico do projeto proposto pelo deputado é a proibição da eutanásia e a permissão da mesma somente com o aval de um médico veterinário ligado à proteção animal. Muitos questionamentos foram feitos, inclusive por médico veterinário do próprio CCZ de Campinas, onde o mesmo Projeto de Lei que está sendo proposto para a esfera estadual já existe na âmbito municipal. Muitos cães da raça pit bull, sem condições de serem encaminhados para a adoção, têm que ser mantidos por tempos muito longos em áreas de isolamento, causando tal sofrimento aos animais que estes chegam a destruir o canil. Outro problema é o prolongamento do sofrimento de cães em fase terminal ou politraumatizados, que são mantidos vivos até a chegada do médico veterinário ligado à proteção animal para que seja autorizada a eutanásia. Em ambos os exemplos, os esforços para a proteção animal causam sofrimento aos animais. Como ainda será apresentado um substitutivo ao Projeto de Lei 700/2007, opiniões, críticas e sugestões podem e devem ser enviadas ao deputado. Para os que desejarem contribuir, o deputado possui um formulário para envio de mensagens em sua página na internet: www.felicianofilho.com.br.

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Pet South America 2007 - mais de 20 mil visitantes e 250 expositores

A Royal Canin, além de apresentar seus novos alimentos, como por exemplo, os específicos para as raças bulldog e boxer (ao lado), organizou circuitos de palestras técnicas (acima)

Acima mobiliário para clínica veterinária sorteado durante a feira. Ao lado, o felizardo contemplado com a promoção: o médico veterinário José Gannan

Pro Plan Puppy com Optistart Plus foi o principal destaque da Nestlé Purina. Todo o portfólio de alimentos para cães e gatos das marcas Dog Chow, Cat Chow, Friskies, Beneful e Snacks também estiveram em exposição. A empresa também foi patrocinadora oficial do 7º Conpavepa

Alltech, que marcou presença no evento, tornou-se referência mundial no uso da biotecnologia no setor de nutrição animal

Visitantes puderam conhecer etapas do processo de fabricação dos alimentos que levam a marca Pedigree

A marca Pedigree também esteve presente no stand da Arca Brasil. No local, foi divulgado a campanha Adotar é tudo de bom, que leva o opoio da marca Pedigree, que tem o objetivo de incentivar a adoção responsável e consciente, ao invés da compra ou adoção por impulso

Além da tradicional linha Bravo, a Supra levou a linha Frost High Premium, alimento para cães e gatos de alta digestibilidade

A Premier Pet, consolidada no segmento de pet food com excelentes alimentos para cães e gatos, comemora seus 10 anos de atividade A Ouro Fino Pet, que avança com sucesso no mercado de pet food, também aproveitou o evento para divulgar seu novo lançamento, o AziCox-2, associação de azitromicina e meloxicam

A Anfal Pet (Associação dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação) divulgou o Programa Integrado de Qualidade Pet (Piq Pet), que tem o objetivo de contribuir para evolução da qualidade dos alimentos oferecidos para os animais de companhia

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A Total Alimentos apresentou toda a sua linha de alimentos para cães e gatos, com destaque para os lançamentos da linha super Premium: Equilíbrio Gatos Castrados, Equilíbrio Mature Active e Supreme Cães Sensíveis. Além disso, a empresa realizou a premiação do 2º Prêmio de Incentivo à Pesquisa em Nutrição de Cães e Gatos



Fenzol Pet (fembendazol) e Agemoxi CL (antibacteriano de largo espectro), lançamentos da Agener União, foram foco da empresa no evento

A Centagro, que até 30 de dezembro está desenvolvendo a promoção 20 anos de Centagro, esteve presente com sua linha de ectoparasiticidas, medicamentos, higiene e beleza

A Bayer apresentou sua campanha interativa contra os parasitas transmissores de doenças para os cães e à família A Intervet focou a divulgação da sua grande novidade: o site em português da coleira de deltametrina Scalibor: www.scalibor.com.br

Bravet participou da feira mostrando novas apresentações de produtos da sua linha pet

Os produtos fitoterápicos da FitoGuard atraíram a atenção dos que buscam produtos naturais

Além de mostrar suas linhas de produtos para o segmento pet, a Biovet mostrou sua maturidade na indústria veterinária brasileira: 50 anos

A campanha “Proteção plus Frontline” destacou-se no evento pelos benefícios que oferece O importante trabalho de conscientização para o tratamento e alívio da dor que a Schering-Plough vem desenvolvendo, desde o lançamento de Zubrin, no ano passado, perpetuou durante o evento desse ano

Laboratórios Duprat, empresa genuinamente brasileira e com grande prospecção no mercado A atraente campanha “Revolution - só ele despulga!” foi o foco da Pfizer

A König atraiu visitantes que buscavam, por exemplo, a praticidade e a qualidade encontradas no antihelmíntico basken plus

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A apresentação injetável de sulfato de condroitina para cães e gatos (Condroitín) foi um dos produtos da Labyes que despertou o interesse do público que visitou o seu stand

A amici esteve presente expondo as novidades das linhas allegri, profissionale e dottori

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Avitrino e Coprovet, destaques da Coveli A Intervet focou a divulgação da sua grande novidade: o site em português da coleira de deltametrina Scalibor: www.scalibor.com.br

Luca Mifano (à esquerda), presidente da Virbac, esteve pessoalmente no evento. A empresa, que comemora 20 anos de Brasil, levou ao evento toda sua linha de produtos. Vitaminthe, suplemento vitamínico mineral, altamente calórico, é indicado para cães e gatos, em todas as condições de alta exigência nutricional

Muitos bons negócios no stand da Vetnil e música muito boa também. O happy hour promovido pela empresa contou um excelente forró proporcionado pelo Trio Virgulino. O trio, no começo de sua carreira, alegrou diversas festas juninas da FMVZ/ USP

Toing, ao centro, um dos brinquedos duráveis da Buddy Toys

A Sanol demonstrou no local os benefícios de sua linha de higiene e embelezamento

A Amicus, empresa mineira que apresentou ano passado a coleira anti-latido, inovou mais uma vez lançando a Cerca Virtual Stop Cresce linha pet da Vansil. Durante o evento, uma das novidades apresentadas foi o Pró-Artro 500 (sulfato de condroitina)

Na Organnact, além de lançamentos da empresa, a divulgação da incorporação da empresa Fitovet

Solv Cat, a areia para gatos que diagnostica, foi uma das novidades que a Marco Polo apresentou na feira

A participação da Fort Dodge foi Revolution, prático sistema de ampla. Dedicou-se ao atendimento dos anestesia veterinário em clientes na feira e trouxe para o exposição no stand Oxigel Conpavepa dois palestrantes internaCentral Vet, bons negócios no cionais: Cesar Torrano e Bonnie Brasil e exterior Barclay, que falaram sobre importantes temas da vacinação animal

Na Brasmed e na Med-Sinal, diversas ofertas para clínicas e hospitais veterinários

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Diversos clientes procuraram o laboratório Hermes Pardini, que pela 1ª vez participou da feira

O Sysmex pocH-100iV, equipamento específico para hematologia veterinária, foi destaque da Roche Diagnóstica

Ecafix Pet, equipamentos específicos para cardiologia veterinária (oxímetros, eletrocardiógrafos e monitores multiparamétricos)

O BET Laboratories esteve presente divulgando sua linha de exames focados no segmento da endocrinologia veterinária

Dirigentes e especialistas do Provet marcaram presença no stand da empresa, onde receberam novos e antigos clientes

A Control Lab repetiu sua presença no evento, oferecendo serviços específicos em controle de qualidade

Lab Pack, outra empresa da área médica, que está atuante no segmento de equipamentos A Bio Brasil, distribuidora no Brasil da para Idexx Laboratories, participou com diversas diagnóstico opções de equipamentos para diagnóstico veterinário



Congresso em Fortaleza destacou a importância do médico veterinário na promoção da saúde por Arthur Barretto objetivo de congregar os médicos veterinários que atuam no campo da saúde pública veterinária no Brasil ou que se interessam pela área, bem como os estudantes de medicina veterinária que olham com atenção a especialização do segmento. Os temas que compuseram a programação científica do congresso Pronunciamento do Governador do Estado do foram muito bem escolhidos e propíCE sobre os investimentos no setor da saúde cios, não somenlotou o auditório no II CNSPVET te para a região, O II Congresso de Saúde Pública Veterinária contou Trabalhos científicos escolhidos como Casos de raiva canina de janeiro mas para todo o a setembro de 2007 com mais de 1.000 inscritos, favorecendo a troca de os melhores entre os 592 apresentados experiências e conhecimento. Além de um grande no II CNSPVET, em suas respectivas BA 3 casos Brasil. Lúcia Renúmero de palestras com temas atuais, o evento concategorias MA 3 casos gina Montebello tou com a apresentação de trabalhos científicos, que • Experiência bem-sucedida: RN 2 casos Pereira, do Miforam feitas por meio de apresentações orais e de Edinaidy Suianny Rocha de Moura - ImMG 1 caso mais de 500 pôsteres abrangendo assuntos como o nistério da Saúde plantação do Programa de Controle de MT 2 casos controle de zoonoses, as políticas de saúde, a vigiRoedores no Município de Mossoró/RN: - Serviço de Vigilância sanitária e a vigilância à saúde MS 4 casos uma ação intersetorial bem sucedida. lância em Saúde PA 27 casos • Apresentação oral: e 8 a 11 de outubro de 2007, (MS/SVS), mosPE 13 casos Ana Lys Bezerra Barradas Mineiro - FluFortaleza, CE, sediou o II trou importantes RO 2 casos tuação mensal da população de RS 1 caso Lutzomyia longipalpis em Timon, MA, Congresso de Saúde Pública dados da situa1998 – 2006 TO 1 caso Veterinária, que teve como tema "O ção da raiva ur• Pôsteres Total 59 casos médico veterinário na promoção da bana, que está Alberto L. Begot - Situação epidemiolóFonte: SVS - Secretaria de saúde", evento promovido pela Associapresente em 11 Vigilância em Saúde gica da raiva após os surtos de raiva hução Brasileira de Saúde Pública Veterimana transmitidos por morcegos. Estados do BraEstado do Pará. 2006 e 2007 nária (ABSPV - www.abspv.org.br). A sil, e destacou o Wanessa de Andrade Pacheco - Exiniciativa da associação busca preencher Estado de Pernambuco, onde o registro creção de Brucella Abortus, estirpe uma antiga lacuna relativa à dispersão do número de casos de raiva aumentou, B19 pelo leite/urina de fêmeas bovinas de diferentes faixas etárias vacinadas dos vários segmentos que atuam na também porque houve intensificação das contra brucelose como potencial zoosaúde pública veterinária no país, ações de vigilância. nótico. favorecendo o fortalecimento da identiOutro tema de enorme interesse, dade do médico veterinário com atuação imposição da eutanásia tem feito com abordado na programação científica, foi em saúde pública. A Associação que proprietários levem seus cães soroa leishmaniose visceral canina (LVC), Brasileira de Saúde Pública Veterinária positivos para outras áreas que não teenfermidade que a partir do início da (ABSPV) foi fundada em 2 de março de nham o inquérito sorológico, promodécada de 80 deixou de estar restrita ao 2005, na cidade de Brasília, DF, com o vendo, com a fuga, a expansão da enfermeio rural, passando a ser encontrada midade, como aconteceu nas regiões de em grandes centros urbaBauru e Araçatuba. No Estado de Minas nos, muitas vezes associada Gerais, proprietários ganharam na justià pobreza e à desnutrição. ça o direito de tratar seu cão soropositiAdicionando-se a essa preovo para leishmaniose visceral canina. E cupante situação o fato de a mais recentemente, os proprietários de leishmaniose visceral ser cães em Campo Grande, MS, ganharam o uma das doenças considedireito a mais um exame diagnóstico para radas como negligenciadas leishmaniose visceral canina, antes da é muito difícil que a popuindicação da eutanásia. Enfim, sem o lação aceite facilmente a inapoio da população e da Anclivepa, ter a dicação de eutanásia para eutanásia como a principal forma de os casos de cães que sejam controle da leishmaniose visceral canisoropositivos para leishmaA Biblioteca Virtual em Saúde Anina pode acarretar o insucesso da ação. niose visceral, sendo que mal - BVS -(bvs.panaftosa.org.br), foi um dos destaques divulgados pode haver outra opção paA participação da população nas aos congressistas pela Organiza- ra eles. Aliás, há anos que a ações é fundamental, possível e atual.

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ção Pan-Americana de Saúde (OPAS)

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007


Inclusão do médico veterinário nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) Uma importante moção foi votada, por unanimidade, na Assembléia Geral da ABSPV no II Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária, realizado de 8 a 11 de outubro de 2007, em Fortaleza/CE. Tal moção trata da inclusão do médico veterinário nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), ao lado de outras profissões do campo da saúde. Com base em razões técnicas, foi aprovado o encaminhamento pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, ao Ministério da Saúde, para que seja procedida a inclusão do médico veterinário no NASF. Essa moção se justifica pela necessidade de qualificação e redirecionamento de estratégias de Saúde da Família, atenção integral, exercício do controle social, territorialização, ocupação e manejo dos espaços, promoção a saúde e prevenção de agravos, incluindo aqueles causados por animais e, principalmente, no que se refere às doenças emergentes e reemergentes, que em sua larga maioria têm procedência animal. Justifica-se também, e fundamentalmente, pelo que representa na defesa e no fortalecimento do SUS. Em atendimento a essa deliberação da Assembléia, foi encaminhado pelo Presidente da ABSPV o Ofício Nº56-ABSPV, de 10/10/2007, para o dr. Luis Fernando Rolim Sampaio, diretor do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde. É fundamental que todos os associados se empenhem em divulgar essa demanda pela inclusão dos médicos veterinários nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), agindo junto aos Conselhos Regionais e as representações de deputados e senadores de seus estados, para que se obtenha apoio dos parlamentares no encaminhamento desse pleito ao Ministério da Saúde. A mobilização de todos é muito importante!

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

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Luis Fernando Leanes, Rita de Cássia Garcia, Adriana M. L. Vieira e Fernando Ferreira dedicaram um dia inteiro para ministrar curso sobre o controle da população animal em zonas urbanas DVD Oficial de Controle Animal - Um aliado da comunidade

O Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos no Estado de São Paulo, suplemento 5 do Boletim Epidemiológico Paulista - volume 3 (www.cve.saude.sp.gov.br) e o DVD Oficial de Controle Animal - Um aliado da comunidade são algumas opções que ajudam a capacitar profissionais que lidam com a prevenção da saúde da comunidade. Para a abordagem das crianças, o Núcleo de Controle de Zoonoses de Itajaí/SC (ncz.sms@itajai.sc.gov.br), tem a ajuda de Peixerinho, personagem de gibi que foi criado para transmitir conceitos de guarda responsável

Isso foi claramente apresentado no curso de controle de população em zonas urbanas, coordenado por Luis Fernando Leanes, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), e ministrado por Adriana M. L. Vieira (CCZ/SP), Fernando Ferreira e Rita de Cássia Garcia, os dois últimos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Impor medidas, principalmente drásticas, é uma opção que não gera adesão. Por outro lado, fácil adesão pode ocorrer com a reunião da comunidade e a avaliação das suas reais necessidades. Isso está sendo feita na região de Vargem Grande, periferia de São Paulo. A coordenação do projeto é o trabalho de doutorado da palestrante Rita de Cássia Garcia. Adriana M. L. Vieira, do CCZ/SP, e reforça a necessidade da abordagem coordenada da comunidade. E para o sucesso na ação Vieira enfatiza a importância da necessidade de agir fazendo-se a integração da saúde pública com o bem-estar animal. “Por que um agente de saúde que laçar um cão precisa exibi-lo pendurado pelo pescoço e depois jogá-lo na viatura?” Adriana citou o exemplo do município de Jacareí, que para

Leishmaniose: STJ exige que a eutanásia de cães seja mais criteriosa O processo de número 2007.015237-9, julgado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS), teve a seguinte conclusão do despacho de f. 199/200: "(...) concedo, parcialmente, o pedido de antecipação da tutela pleiteada, para: 1) suspender a eutanásia de animais: diagnosticados com leishmaniose visceral canina quando se utiliza, isoladamente, os métodos de Imunofluorescência (I.F.I.) ou método Imunoenzimático (E.I.E.), sendo somente permitidas aquelas eutanásias cujos resultados tenham sido comprovados mediante a execução simultânea de outro exame

comprobatório, ou pela utilização combinada dos exames I.F.I. e E.I.E., ou após autorização, por escrito, do proprietário do animal; 2) determinar que o CCZ/CG elabore e utilize, obrigatoriamente, instrumentos legais de formalidade e controle de seus atos tais como: a) Termo (Auto) de consentimento livre e esclarecido para adentrar nas residências (art. 5o, inciso XI, da CF); b) Termo (Auto) de cientificação de animais sorologicamente positivos; c)Termo (Auto) de consentimento livre e esclarecido para realização de eutanásia em animais portadores de doenças graves ou termo de

recusa deste consentimento e de responsabilidade pelo tratamento do animal, sob supervisão do veterinário responsável. Intimem-se os agravados para, querendo, apresentarem contra-minuta no prazo de 10 (dez) dias. (...). P.I. Esta medida imposta pelo TJ-MS foi mantida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), que não aceitou o pedido de suspensão de liminar (https://ww2.stj. gov.br/revistaeletronica/REJ.cgi/MON?seq =3394759&formato=PDF), instruindo o município de Campo Grande (MS) a ter mais rigor antes de realizar a eutanásia dos cães portadores de leishmaniose visceral canina.

capacidade técnica para suprir a necessidade infecta mais de 300 milhões e mata 1 milhão de de gerar novos medicamentos de combate a pessoas a cada ano. A tuberculose, para a qual elas. não se lança um novo medicamento há 30 Segundo ele, com vontade política, parceCerca de 90% dos recursos para pesquisa anos, ceifa 2 milhões de vidas por ano. Só no rias junto ao setor privado e uma política mais e desenvolvimento no setor de fármacos são Brasil, 46 mil pessoas morrem anualmente robusta de ciência e tecnologia – que favoredestinados para medicamentos contra com doenças infecciosas. cesse a inovação – o país poderia aproveitar doenças que atingem 10% da população Para o professor Carlos Morel, diretor do uma oportunidade única de se tornar um promundial, como hipertensão e diabetes. Centro de Desenvolvimento Tecnológico em dutor de medicamentos para essas doenças, Enquanto isso, a dengue atinge cerca de 50 Saúde (CDTS) da Fundação Oswaldo Cruz melhorando sua infra-estrutura industrial e milhões de pessoas em mais de cem países. A (Fiocruz), o Brasil, ao contrário da maioria dos beneficiando a população com menos recursos. malária, para a qual não há medicamentos, países que sofrem com essas doenças, tem *Fonte: Por Fábio de Castro - Agência Fapesp - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7850

Doenças negligenciadas*


mudar drasticamente a postura cruel com animais trocou seus agentes, que antes eram homens, por mulheres. Mais de uma centena de municípios tem procurado mudar essa postura dos seus centros de controle de zoonoses. E seus agentes de saúde, agora conhecidos como Oficiais de Controle Animal, trabalham com mais segurança, integrando-se com a comunidade e, o mais importante, reconhecidos pela competência, amabilidade e respeito com os animais. A difusão dessa postura ética e eficaz tem sido possível graças ao curso de Formação de Oficiais de Controle Animal, popularmente conhecido por FOCA, desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia em Educação e Controle Animal (ITEC). Os participantes do curso de controle de população animal em zonas urbanas puderam conhecer bem a proposta do FOCA, mas a forma mais fácil de

Acima, jogos criados para a educação e prevenção de zoonoses, que são utilizados no Programa de Saúde Ambiental, no Recife, PE. À esquerda, modelo de sacola para recolhimento de fezes de cães, outra campanha municipal que faz parte do programa

entender os conceitos preconizados é assistindo ao documentário institucional do FOCA. Ele conta com os depoimentos de membros da comunidade e de “ex-laçadores” de cães que passaram a exercer, com satisfação e orgulho, a posição de Oficiais de Controle Animal. Para assisti-lo, basta acessar o endereço www.itecbr.org. Outro assunto fundamental apresentado no curso foi o dimensionamento dos efeitos da eutanásia e da castração na população de cães. Ficou evidente, após a apresentação de Fernando Ferreira, que praticar a eutanásia e/ou a castração como medida de controle populacional, sem possuir baixas taxas de abandono, não é eficaz. “Esterelizandose 10% da população animal por ano consegue-se redução de 20% da população em 20 anos. Incrementando-se a taxa de esterilização para 20%, a população, em 20 anos, pode ter redução de até 40%. Porém, desde que não haja o abandono. Esses modelos são úteis para que se possa subtituir análises subjetivas da população animal por quantitativas. Além disso, é preciso ter consciência da impossibilidade de praticar a eutanásia em 100% da população, pois as estruturas do serviço de saúde e das comunidades não permitem que isso

Bromy, novo produto da Biovet para o controle de ratos e camundongos, em exposição no stand da Rodagro (www.rodagro.com), não pôe em risco a vida dos pets. Para um cão de 15 quilos, Bromy Isca Fresca só ofereceria risco, por exemplo, a partir da ingestão de 3 kg (300 sachês)

Fiocruz e Genzyme assinam parceria* A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a empresa norte-americana de biotecnologia Genzyme Corporation anunciaram, em julho último, uma parceria em pesquisa e desenvolvimento de novos tratamentos contra doenças consideradas negligenciadas, como malária, leishmaniose e mal de Chagas. Com o acordo, cientistas da Fiocruz e da Genzyme trabalharão em conjunto nos laboratórios das duas instituições. Caso sejam feitas descobertas que possam ser exploradas

comercialmente, a fundação brasileira ficará isenta do pagamento de royalties. A parceria se concentrará inicialmente na pesquisa de novos tratamentos contra a doença de Chagas. Um dos estudos testará um tratamento que neutraliza a proteína causadora de problemas cardíacos nos pacientes chagásicos. Com sede em Boston, a Genzyme desenvolveu nos últimos anos produtos contra doenças genéticas raras, imunológicas, insuficiência renal e câncer. Segundo a Fiocruz, a

ocorra”, explicou Ferreira. Todas essas ações, na prática, estão integradas com as atividade de promoção da saúde. Porém, é importante que isso seja reconhecido em todos os setores. Exemplo dessa necessidade é o não reconhecimento pelo MEC da residência em medicina veterinária, sendo que já foram avaliados pela Comissão Nacional de Residência Médico-Veterinária (CNRMV) do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) 30 programas de residência em medicina veterinária e que já existe, entre outras sub-áreas, a residência em saúde pública. Felipe Wouk e Júlio C. Cambraia Veado, membros da CNRMV/CFMV, estiveram em Fortaleza, juntamente com Mauro M. de Arruda, do Ministério da Saúde, discutindo o tema, que merece atenção e participação. Leishmaniose - situação atual Tratamento da leishmaniose visceral canina Ana Nilce Silveira Maia Elkhoury (MS/SVS), em sua apresentação sobre leishmaniose, destacou o resultado de reunião promovida pelo Ministério da Saúde: "mesmo a despeito da defesa e do interesse da Anclivepa-MG, representada por Vitor Márcio Ribeiro e Manfredo Werkrauser, em realizar o tratamento de cães com leishmaniose visceral e, conseqüentemente, evitar a eutanásia, a instituição manterá a contraindicação do tratamento de cães infectados e/ou doentes no Brasil, tendo em vista o risco para a saúde humana que tal conduta acarreta. Estará proibido o tratamento canino no Brasil, até que novas evidências científicas possam estar contribuindo para que se tome uma nova decisão por meio de discussões parceria permitirá expandir o apoio da empresa às atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil e na América Latina. Com o programa Assistência Humanitária em Doenças Negligenciadas, a empresa faz um trabalho sistemático de identificação, avaliação e gerenciamento de projetos científicos e parcerias focadas nessas enfermidades. As doenças negligenciadas atingem centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Mas os tratamentos e diagnósticos para elas não costumam receber grandes investimentos, uma vez que atingem predominantemente indivíduos de baixo poder aquisitivo.

*Fonte: Agência Fapesp - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7490


técnicas e científicas". As justificativas para tal conduta foram: “- cães assintomáticos permanecem como fonte de infecção para o vetor e que são responsáveis pela expansão da doença; - não há, até o momento, nenhum fármaco ou esquema terapêutico que garanta a eficácia do tratamento canino, bem como a redução do risco de transmissão; - há risco de cães em tratamento manterem-se como reservatórios e fonte de infecção para o vetor; - não há evidências científicas da redução ou interrupção da transmissão; - há extrema dificuldade da realização de tratamento e acompanhamento a longo prazo; - não existem medidas de eficácia comprovada que garantam a não infectividade do cão em tratamento; - há risco de indução de seleção de cepas resistentes aos medicamentos disponíveis”.

A Intervet esteve presente no congresso promovendo a coleira Scalibor, produto reconhecido pela OMS como eficaz na prevenção da leishmaniose visceral canina

Além das várias justificativas apresentadas por Elkhoury para proibir no Brasil o tratamento da leishmaniose visceral canina estarem sendo contestadas por diversos especialistas, há a falta de dis- Ana Nilce Silveira Maia Elkhoury (MS/SVS), Leucio Alves (UFRPE) e Egon da Silva (MAPA), que juntamente com Carlos Henrique Nery Costa cussão do tema. Vieira (UFPI), participaram da seção de leishmaniose apresentada no congresso. A reunião no Mi- Alves ressaltou a importância do ciclo silvestre e das ações ambientais para nistério da Saúde o controle da leishmaniose visceral, salientando que elas podem levar a (MS), citada por melhores resultados que qualquer outra medida Elkhoury, para a discussão do tratamento da leishmacional de Leishmaniose Visceral 2008 o niose visceral canina, não foi aberta, e sacrifício animal como forma de controtodos os convidados, com exceção dos le da leishmaniose visceral canina. Esdois clínicos veterinários de pequenos pera-se que o MS participe e que, em animais, eram favoráveis à mesma conconjunto com a comunidade científica e duta, ou seja à proibição do tratamento. os clínicos veterinários de pequenos Além dessa reunião desigual, o MS, por animais, sejam esclarecidos mitos e verexemplo, mesmo convidado, não endades sobre o tema. viou representante ao Simpósio InternaOutro palestrante que abordou a cional de Leishmaniose Visceral Canileishmaniose foi Carlos Henrique Nery na, que ocorre anualmente em Belo HoCosta, especialista que possui doutorado rizonte, que pudesse discutir a questão em Saúde Pública Tropical (Harvard do tratamento canino, ou seja, esquivouUniversity), e é professor da Universise das discussões técnicas e científicas e dade Federal do Piauí, médico do Gosubstituiu um documento redigido em verno do Estado do Piauí e Coordenador conjunto pela Anclivepa e por técnicos Executivo da Rede Nordeste de Biotecnodo MS, que normatizaria o tratamento logia. Costa destacou que não existe na da leishmaniose visceral canina, por um literatura evidência direta de que os outro que o proíbe por completo. Pricães representam um risco para os seres mando pelas discussões científicas, a humanos adquirirem leishmaniose visAnclivepa-MG, em desacordo com essa ceral. “As evidências indiretas, através postura atual do MS, programou como da retirada de animais, são conflitantes tema principal para o Simpósio Internae incompletas. Além disso, a metodologia

Scalibor passa a ter site também em português: www.scalibor.com.br A versão em português do site da coleira Scalibor foi lançada recentemente. Nela constam informações e um vídeo explicativo sobre o uso e propriedades da coleira inseticida Scalibor, desenvolvida com tecnologia exclusiva pela Intervet. Também são encontrados dados sobre a situação da doença em humanos no Brasil, explicações sobre a enfermidade em cães, sobre o inseto, como combater este e outros problemas, além de um divertido jogo interativo. Técnicos poderão ler artigos científicos em área de acesso restrito, que estará liberada após cadastro feito no próprio site. A coleira Scalibor constitui-se num dos instrumentos para controlar a disseminação da leishmaniose por repelir ou matar os insetos

transmissores, evitando a contaminação de cães e, conseqüentemente, dos seres humanos. Evidenciando sua importância, na Europa, que igualmente sofre com o problema, o escritório regional da Organização Mundial de Saúde recomenda o uso deste tipo de coleira, produzida com exclusividade pela Intervet, para a proteção dos cães. No Brasil seu emprego vem crescendo, por exemplo, ao ser adotada em programas de combate à leishmaniose visceral canina de prefeituras como as de Campo Grande e Três Lagoas, ambas no Mato Grosso do Sul. Além de ajudar a controlar os insetos vetores, a coleira possui boa eficácia contra outros parasitas externos como o carrapato.


de triagem faz com que muitos cães sadios sejam mortos, sendo eliminados inutilmente, mediante argumentos de baixíssimo suporte científico. Finalmente, retirar um cão e deixar insetos infectados pode estar desviando repastos infectantes para pessoas suscetíveis. As gerações futuras vão se referir a isto como atitudes de uma era ignorante e brutal”, conclui o especialista. Vacinação como prevenção da leishmaniose visceral canina Com relação à vacina contra a leishmaniose visceral canina, Elkhoury salientou que “não existem, ainda, evidências adequadas e suficientes que comprovem: a eficácia vacinal para prevenção da infecção canina; a eficácia em termos da competência do cão vacinado como fonte de infeção para o flebotomíneo; o bloqueio da trasmissão através de flebotomíneos infectados para cães vacinados; e que comprovem a existência de testes de diagnósticos válidos que discriminem cães vacinados de cães naturalmente infectados. Por isso, o MS ainda não recomenda a vacina como medida de vigilância e controle”, finalizou Elkhoury . No evento não havia representantes da Fort Dodge, fabricante da vacina contra leishmaniose que está no mercado, a Leishmune, mas Ingrid Menz, médica veterinária da empresa, rebate as colocações da palestrante com as seguintes informações: • existem trabalhos que comprovam a eficácia vacinal em cães, de 76 a 80% (proteção de 92 e 95%) em área endêmica. Estes trabalhos, além de vários outros, serviram para o registro no MAPA em junho de 2003; • existem, até o momento, dois trabalhos científicos publicados em 2005 na revista Vaccine (The FML-vaccine (Leishmune) against canine visceral leishmaniasis: a transmission blocking vaccine, de Saraiva et al. e Leishmune vaccine blocks the transmission of canine leishmaniasis. Absence of leishmanis parasites in blood, skin and lymph nodes of vaccinated exposed dogs, de Nogueira et al.), e mais um, pelo menos, que está em publicação, que comprovam que cães vacinados não são transmissores;

• existem várias maneiras de diferenciar cães doentes infectados de vacinados: 1- cães vacinados têm atestado de vacinação em duas vias, com assinatura do médico veterinário e do proprietário, além de endereço, telefone, datas de vacinação etc.; 2- existem vários testes parasitológicos que provam a infecção, como o citológico direto e a imunocitoquímica de pele. Para saber se são infectantes, há o PCR de medula óssea ou de linfonodo, ou até a cultura, mais demorada mas muito sensível. Também existe na literatura provas de que kits de diagnóstico por ELISA, que utilizam antígenos recombinantes, mostram resultados negativos nos cães vacinados e positivos em animais doentes; • existe, no Brasil, kit comercial ELISA, com antígenos recombinantes, diferente do kit com antígeno bruto utilizado pelo serviço público. Egon Vieira da Silva, do MAPA, ao abordar o tema Registro e controle de imunógenos de uso veterinário também defendeu a vacina Leishmune: “é uma ferramenta que não deve ser descartada. A febre aftosa, doença de grande importância para a economia brasileira, é controlada basicamente através de um programa de vacinação”. Além disso, criticou o descaso com o trânsito de cães de uma região contaminada para outra. “Ele somente deveria ser permitido a partir do momento em que o animal portasse laudo negativo para leishmaniose”.

Cães da comunidade da praia de Canoa Quebrada, que pertence ao município de Aracati, CE, área endêmica de leishmaniose visceral canina

Perspectivas para o controle da leishmaniose visceral canina Não há dúvida de que a prevenção da leishmaniose visceral canina é a melhor forma de lidar com a enfermidade, tanto através de ações no ambiente quanto na Folheto educativo elaborado e distribuído pela população canina. O detalhe fundamen- Clínica Veterinária Santo Agostinho, de Belo tal é a hora certa de iniciar a prevenção. Horizonte, MG, que explica sobre a gravidade da O que está sendo constatado atualmente leishmaniose e como fazer a prevenção é que a prevenção, quando é preconizada, limita-se apenas às áreas endêmicas. E, enquanto isso, a enfermidade ganha espaço no território brasileiro e cães circulam livremente entre as áreas endêmicas e não endêmicas, seja em companhia de seus proo encerramento do congresso, ficou evidente o cresciprietários ou para participação Durante mento da medicina veterinária na saúde pública. O trabalho da Associação Brasileira de Saúde Pública Veterinária - ABSPV (www.abspv.org.br) tem sido fundamental para isto


de exposições promovidas pelas entidades de cinofilia. Uma medida que contribuiria muito para o controle, não somente da leishmaniose, mas de diversas zoonoses, é a aplicação dos conceitos de bem-estar animal no gerenciamento das atividades dos centro de controle de zoonoses. Isso foi claramente apresentado no curso de controle da população animal em zonas urbanas. Outra medida vital é o Ministério da

Saúde trabalhar de forma integrada com os clínicos veterinários de pequenos animais, pois no exercício de suas atividades eles exercem papel crucial na prevenção de diversas zoonoses. No caso da leishmaniose visceral canina, não são poucos os clínicos que se dedicam ao esclarecimento da população: alguns investem em folhetos educativos como mais uma forma de despertar o interesse dos proprietários para a prevenção e

Mais saúde, menos sonegação* O problema do sistema de saúde brasileiro não é a gestão, é a falta de recursos. Para aumentar recursos e superar a crise no setor, o país precisa diminuir a concentração de renda por meio de uma reforma tributária. A idéia foi defendida pelo ex-ministro da Saúde Adib Jatene, do Hospital do Coração, durante o 3º Simpósio Avanços em Pesquisas Médicas, ocorrido em 27 de setembro de 2007, em São Paulo, SP. O evento foi promovido pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Traçando um diagnóstico do setor de saúde, Jatene defendeu enfaticamente que a gestão do sistema, embora tenha problemas, é bastante eficiente em relação aos recursos de que dispõe. “A área econômica do governo e parte do setor empresarial procuram impor à população a idéia de que não nos faltam recursos e sim gestão. Dizem que a carga tributária é elevada e o volume de recursos à disposição do setor é muito grande. Isso é uma completa falácia”, disse Jatene à Agência FAPESP. De acordo com ele, a Constituição estabelece que a saúde deveria receber 30% do orçamento da seguridade, que é de R$ 370 bilhões em 2007. O valor seria de R$ 110 bilhões, mas o orçamento do Ministério da Saúde não passa de R$ 44 bilhões, incluindo a parte contingenciada. “É ruim uma gestão que consegue, com esses recursos, internar 11,5 milhões de pessoas, financiar todos os transplantes de órgãos, mais de 70% das cirurgias cardíacas, quase toda a hemodiálise e medicação para análise, e fazer uma vacinação em larga escala que é a melhor do mundo?”, questionou o professor. A organização do sistema único de saúde num país sem tradição democrática foi, de acordo com Jatene, uma demonstração de boa gestão. “É uma engenharia complexa articular decisões numa Federação, contando com Conselhos em três níveis de governo, com participação popular.”

Eliminar fraudes e irregularidades, criar a programação integrada, estimular a organização dos municípios em consórcios intermunicipais, de acordo com o ex-ministro, são outros exemplos de gestão bem-sucedida. O Programa de Saúde da Família, segundo ele, também foi fruto de gestão. Como uma grande massa da população mora em lugares onde os profissionais de saúde não querem morar, não se podia montar um sistema de atenção básica centrada no médico. A estratégia foi centrá-lo no agente comunitário de saúde. O agente, explicou Jatene, mora na comunidade e acompanha de perto um núcleo de 100 a 200 famílias, atuando em prevenção. A cada cinco agentes são agregados, num posto de saúde, um médico em tempo integral, uma enfermeira e um auxiliar de enfermagem. “Isso teve um impacto dramático na redução da mortalidade infantil e no aumento da expectativa de vida”, afirmou. Segundo Jatene, hoje há 200 mil agentes e 30 mil equipes de saúde da família cuidando de cerca de 80 milhões de pessoas. “Mas isso não chega à metade da população brasileira. O programa não pode se esgotar nesse modelo, que funciona bem, mas não tem como ser expandido. São necessárias equipes de especialistas para dar cobertura às equipes de saúde da família. Evidentemente é preciso aumentar os recursos.” Concentração de renda e sonegação O ex-ministro afirmou que a deficiência da infra-estrutura é desproporcional à riqueza do país. O problema do financiamento da saúde, de acordo com ele, está relacionado à má distribuição de renda, que tem base em várias formas de elisão e evasão fiscal. “Somos o país de maior concentração de renda do mundo. Isso acontece por uma única razão: quem gera a renda se apropria dela. Só existe uma maneira de se fazer isso: sonegando”, disse.

outros, por exemplo, dedicam-se a palestras em comunidades e igrejas. Outra medida bastante louvável seria facilitar o acesso da população aos produtos utilizados na prevenção, não somente da leishmaniose, mas de todas as zoonoses, através da isenção total de impostos. E isso não depende de estudos científicos, apenas de vontade política. Enquanto isso, a LVC ronda a cidade de São Paulo... Para o professor, a carga tributária do país não pode ser considerada elevada. “Essa carga de 35% que se apregoa não é correta, porque ela é calculada sobre o [Produto Interno Bruto] PIB oficial, mas o PIB real é 20% a 30% maior”, disse. Além disso, a fatia da previdência social, de 15% da arrecadação federal, não deveria ser considerada como recurso tributário do governo, de acordo com Jatene. “Previdência é recurso dos aposentados. Isso não pode servir para dizer que a carga tributária é alta. Na verdade, ela só é alta para quem ganha pouco, porque no Brasil o sistema é baseado na taxação de produtos, bens e serviços, atingindo o consumidor”, explicou. Nesse contexto, diz o professor, a arrecadação do governo é pequena e não consegue atender às necessidades de uma população que se urbanizou em grande velocidade. “Temos que fazer uma reforma tributária, mas isso é uma grande encrenca, porque quem deve fazê-la é o Congresso. E quem o elege não é quem vota e sim quem financia campanhas e tem interesse em manter a concentração de renda”, disse. O ex-ministro utilizou o caso da CPMF para ilustrar a profundidade do problema fiscal. De acordo com ele, quando foi regulamentada, a contribuição foi acompanhada de um artigo que proibia que a Receita Federal usasse seus dados para fiscalizar o pagamento de imposto de renda, encobrindo a sonegação. Quando se permitiu o cruzamento de informações, de acordo com ele, a arrecadação Federal passou de R$ 6,5 bilhões por mês para mais de R$ 20 bilhões por mês. Dos cem maiores contribuintes da CPMF, 62 nunca tinham pago imposto de renda. “Quando cruzamos informações a arrecadação triplicou e isso não quebrou ninguém, as exportações vão bem e as reservas se mantêm. Mas, além da CPMF, a legislação ainda tem muitos outros mecanismos de elisão, de não-pagamento de tributos, de evasão de recursos por multinacionais e isenção de toda ordem”, declarou.

*Fonte: Por Fábio de Castro - Agência Fapesp - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7815



Métodos de diagnóstico da leishmaniose visceral canina

Fabiana Augusta Ikeda-Garcia MV, mestre, doutoranda FCAV/Unesp-Jaboticabal fabikeda@bol.com.br

Mary Marcondes MV, profa. ass. dra. CMV/Unesp-Araçatuba

Diagnostic methods of canine visceral leishmaniasis Métodos de diagnóstico de la leishmaniasis visceral canina Resumo: Protozoários do gênero Leishmania são os agentes causais da leishmaniose visceral. Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937) é a espécie encontrada no Brasil. A doença acomete o homem e outras espécies animais, principalmente os cães. A transmissão entre hospedeiros vertebrados ocorre por meio da picada de flebotomíneo. O diagnóstico clínico da leishmaniose visceral canina é difícil de ser realizado devido à variedade de sintomas da doença. Os achados clínicos não são patognomônicos, à semelhança do que ocorre em outras enfermidades infecciosas. A confirmação do diagnóstico da leishmaniose visceral deve se basear em métodos parasitológicos, sorológicos ou moleculares, desde que conhecidas as limitações de cada método diagnóstico utilizado. A presente revisão procura abordar a etiopatogenia, os sintomas e os diferentes métodos de diagnóstico da doença. Unitermos: Cães, Leishmania chagasi, zoonose Abstract: Protozoa of the genus Leishmania are the causal agents of visceral leishmaniasis. Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937) is the species found in Brazil. The disease affects humans and other animal species, but mainly dogs. The transmission between vertebrate hosts occurs through the bite of a phlebotomine. Clinical diagnosis of canine visceral leishmaniasis is difficult due to the variety of clinical manifestations that the disease may present. The clinical signs are not pathognomonic, bearing similarities to other infectious illnesses. Diagnosis confirmation is usually based on molecular, serological and parasitological methods, once the limitations of each method are known. The current review attempts to approach the etiopathogenesis, the symptoms and the different diagnostic methods of the disease. Keywords: Dogs, Leishmania chagasi, zoonozis Resumen: Los protozoarios del género Leishmania son los agentes causales de la leishmaniasis visceral. Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937) es la especie encontrada en Brasil. La enfermedad afecta el hombre y otras especies animales, principalmente los perros. La transmisión entre huéspedes vertebrados ocurre a través de la picadura de flebotomos. El establecimiento de diagnóstico de leishmaniasis visceral canina es difícil por la gran diversidad de síntomas de la enfermedad. Los aspectos clínicos no son patognomónicos, a semejanza de otras enfermedades infecciosas. La confirmación del diagnóstico de leishmaniasis visceral es normalmente basada en métodos moleculares, serológicos y parasitológicos, desde que conocidas las limitaciones de cada método de diagnóstico usado. Esta revisión describe la etiopatogénesis, los síntomas y los diferentes métodos de diagnóstico de la enfermedad. Palabras clave: Perros, Leishmania chagasi, zoonosis

Clínica Veterinária, n. 71, p. 34-42, 2007

INTRODUÇÃO A leishmaniose visceral é uma enfermidade causada por protozoário pertencente à ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e gênero Leishmania 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10. No Brasil o agente etiológico é Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937) 1,2,3,4,6,7,8,10,11. Os parasitos são transmitidos pela picada de insetos denominados flebotomíneos, que veiculam as formas promastigotas do parasito de animais infectados para animais susceptíveis, ou para o homem. Esses vetores pertencem a várias espécies do gênero Lutzomyia, dentre as quais a L. longipalpis e a L. cruzi são encontradas no Brasil 6,8,10. Muitas espécies de mamíferos, como cão, gato, canídeos silvestres, marsupiais e roedores são naturalmente infectadas 34

por Leishmania sp. 2,3,6,8,10. Entretanto, em áreas endêmicas, os cães são de grande importância na manutenção do ciclo da doença, constituindo o principal elo na cadeia de transmissão da leishmaniose visceral 10,12,13. PATOGENIA Durante o repasto sangüíneo em um hospedeiro vertebrado infectado, o flebotomíneo ingere macrófagos parasitados por formas amastigotas de Leishmania sp. 2,6,7,10,14. Estas sofrem divisão binária, multiplicação e diferenciação em formas paramastigotas, as quais colonizam o esôfago e a faringe do vetor, onde permanecem aderidas ao epitélio pelo flagelo. Diferenciam-se em formas promastigotas metacíclicas, que são as formas infectantes. O ciclo biológico completa-se com a picada do flebótomo

marcondes@fmva.unesp.br

infectado e subseqüente inoculação de formas promastigotas do parasito na corrente sangüínea de um novo hospedeiro vertebrado. As formas infectantes são liberadas na epiderme do hospedeiro e fagocitadas por células do sistema mononuclear fagocitário. No interior dos macrófagos diferenciam-se em formas amastigotas, que se multiplicam intensamente por divisão binária. Os macrófagos, repletos de amastigotas, tornam-se desvitalizados e rompem-se liberando essas formas, que serão fagocitadas por novos macrófagos em um processo contínuo. Ocorre então a disseminação hematogênica e linfática para outros tecidos ricos em células do sistema mononuclear fagocitário 2,6,10,14. A infecção dissemina-se para os linfonodos, o baço e a medula óssea dentro das primeiras horas. As principais células responsáveis pela resposta imune à infecção são as células natural killer 15. Em camundongos, demonstrou-se que os macrófagos, as células dendríticas e as células de Langerhans infectadas por parasitos atuam como células apresentadoras de antígenos, ativando linfócitos (CD4+) Ta1 ou Ta2 5,11. Após a ativação por células Ta1 ocorre a produção de citocinas pró-inflamatórias tais como o interferon gama (IFN-a), o fator de necrose tumoral (TNF) e a interleucina 2 (IL-2), as quais aumentam a eficiência das células fagocíticas e de linfócitos citotóxicos. Os macrófagos ativados, por sua vez, produzem radicais livres dependentes de oxigênio, tóxicos para os parasitos e que podem promover o controle do parasitismo, com eliminação da infecção 5,7,11,16. Em contraste, quando a infecção está associada com a indução de linfócitos Ta2, tem-se a produção de citocinas anti-inflamatórias como a interleucina 4 (IL-4), a interleucina 5 (IL-5) e a interleucina 10 (IL-10), e a proliferação de células B com a subseqüente produção de anticorpos. A produção de imunoglobulinas

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Figura 2 - Fotomicrografia de exame citológico de medula óssea de cão; observar a presença de formas amastigotas de Leishmania. Panóptico rápido, 100x, Araçatuba - SP Fabiana Augusta Ikeda-Garcia

DIAGNÓSTICO Diagnóstico clínico O diagnóstico clínico da leishmaniose visceral canina é difícil de ser realizado devido à variedade de sintomas da doença 18,26. Os achados clínicos são comuns a outras enfermidades, tornando o diagnóstico laboratorial ou parasitológico necessários para a confirmação da suspeita 23,27. Por outro lado, enquanto a prevalência da infecção em cães em áreas endêmicas pode chegar a 50% ou mais, a prevalência da doença clínica ocorre entre 3% e 10%, demonstrando que a maioria dos cães infectados não desenvolve sintomas, o que dificulta sobremaneira o diagnóstico 28. Os animais podem permanecer assintomáticos por toda a vida ou desenvolver sintomas após períodos que variam de três meses a alguns anos 29,30. As alterações laboratoriais encontradas no hemograma, ou nos exames de função renal ou hepática, são inespecíficas 26. As alterações histopatológicas também são inespecíficas e as lesões são semelhantes àquelas observadas em outras doenças infecciosas e imunomediadas. Até o momento, não está disponível teste diagnóstico que apresente 100% de especificidade e sensibilidade para a doença 18,26. Em virtude da necessidade de notificação compulsória da doença, o diagnóstico da leishmaniose visceral deve ser feito da forma mais precisa possível. Para tanto, é importante que se conheça o método utilizado, as suas limitações e interpretação clínica 6,18. A confirmação do diagnóstico da leishmaniose visceral pode se basear em métodos parasitológicos, sorológicos e moleculares 18,31.

Figura 1 - Fotomicrografia de exame citológico de linfonodo de cão; observar a presença de formas amastigotas de Leishmania. Panóptico rápido, 100x, Araçatuba - SP Fabiana Augusta Ikeda-Garcia

ASPECTOS CLÍNICOS A infecção usualmente causa doença sistêmica crônica 11. Classicamente, a leishmaniose em cães manifesta-se por febre, perda de peso, linfadenomegalia localizada ou generalizada, lesões dermatológicas, diarréia, falência renal, lesões oftálmicas, epistaxe, anemia e onicogrifose. Ocasionalmente são observadas alterações locomotoras, hepáticas, respiratórias, cardíacas e/ou neurológicas 1,4,5,7,9,10,11,16,18,19,20,21,22,23,24,25.

Diagnóstico parasitológico Apesar de discordâncias entre alguns autores, o exame parasitológico é considerado, ainda, o teste ouro para o diagnóstico da doença 27,31,32. Podem ser observadas formas amastigotas do parasito em esfregaços de linfonodos (Figura 1), medula óssea (Figura 2), aspirado esplênico, biópsia hepática e esfregaços sangüíneos corados com corantes de rotina, tais como Giemsa, Wright e Panótico 6,18. Alguns pesquisadores têm sugerido o aspirado esplênico ao invés do aspirado de linfonodo como de escolha para o diagnóstico parasitológico 33. A citologia aspirativa é um método de fácil execução, amplamente utilizado no diagnóstico, especialmente em clínicas veterinárias. A técnica caracteriza-se pela rapidez de execução e baixa agressão tecidual 18. A especificidade desse método é virtualmente elevada mas, dependendo do tempo despendido procurando o parasito, a sensibilidade passa a ser de no máximo 80% em cães sintomáticos, e ainda menor em cães assintomáticos 4,6. A sensibilidade depende do grau de parasitemia, do tipo de material biológico coletado e do tempo de leitura da lâmina 6. Em alguns pacientes, a visualização de parasitos é muito laboriosa e os resultados negativos não são incomuns, especialmente nos casos crônicos 13,34. Ocasionalmente, também se observam parasitos em impressões citológicas obtidas abaixo de crostas e escamas cutâneas, ou através de aspiração de nódulos cutâneos 1,6. Também é possível realizar biópsias de pele coletadas de áreas macroscopicamente normais. O local mais recomendado é a parte superior do focinho, a área preferencial dos vetores 35. As formas amastigotas são reconhecidas pela sua forma esférica a ovóide, medem 2-5µm e contêm núcleo arredondado e um cinetoplasto alongado 4. O encontro de parasitos no material examinado depende do número de campos observados, e sua identificação não é difícil se os parasitos são numerosos 6. Contudo, em muitos casos, especialmente em animais assintomáticos, nos quais poucas formas amastigotas estão presentes, ou em amostras hemodiluídas, podem ocorrer resultados falso negativos. Esse problema pode ser solucionado com a utilização de técnicas mais sensíveis, como a imuno-histoquímica 18,29,36,37.

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é intensa, embora tenha pouca efetividade na resposta imune efetiva contra o parasito 5,7,11,15,16,17.

Figura 3 - Fotomicrografia de pele de cão naturalmente infectado por Leishmania sp.; observar marcação antigênica em castanho escuro, sem interferência de marcações inespecíficas. LSAB, AO 40x, Araçatuba - SP

Técnicas de imuno-histoquímica ou imunocitoquímica são métodos altamente sensíveis e específicos para a detecção do antígeno de Leishmania em tecidos 38. Nessas técnicas, imunoglobulinas conjugadas a enzimas são utilizadas para identificar antígenos em cortes histológicos parafinados ou congelados, exames citológicos e esfregaços sangüíneos 36. As vantagens das técnicas de imuno-histoquímica são a sensibilidade, a especificidade e a simplicidade de execução. O alto grau de contraste obtido entre os parasitos e as células hospedeiras permite rápido diagnóstico da infecção, mesmo quando o número de parasitos é baixo 36,37,38. Para tanto são utilizados vários tecidos, sendo os mais utilizados a pele (Figura 3), o fígado e os órgãos linfóides 36,37. A imuno-histoquímica

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possui uma grande vantagem em relação às técnicas de imunofluorescência, porque os tecidos podem ser examinados por meio de microscopia de luz convencional 39. Diagnóstico sorológico A detecção de anticorpos anti-Leishmania circulantes utilizando técnicas sorodiagnósticas constitui instrumento importante no diagnóstico da leishmaniose visceral canina 7,18. Animais doentes desenvolvem resposta imune humoral e produzem altos títulos de IgG antiLeishmania 18,28. A soroconversão ocorre aproximadamente três meses após a infecção e os títulos permanecem elevados por, pelo menos, dois anos 28. Entretanto, os testes sorológicos devem ser interpretados com cautela, uma vez que não são 100% sensíveis. Os testes podem falhar em detectar cães infectados no período pré-patente e antes da soroconversão, em animais que nunca farão soroconversão e ainda em cães soropositivos que se convertem em soronegativos, mas ainda permanecem infectados 30,31. Animais com menos de três meses de idade não devem ser avaliados por métodos sorológicos, pois podem apresentar resultados positivos pela presença de anticorpos maternos 40. Uma possível associação entre os títulos de anticorpos anti-Leishmania e a severidade dos sintomas da doença ainda é controversa 7,30. A colheita de material biológico para o diagnóstico sorológico pode ser realizada utilizando soro sangüíneo, ou por meio da obtenção de um eluato (sangue eluído), método no qual amostras de sangue são colhidas por punção da veia marginal auricular do cão com o auxílio de microlancetas descartáveis, e transferidas por capilaridade para papel filtro padronizado 6. O sangue obtido no papel filtro é posteriormente ressuspendido em solução salina tamponada com fosfato. Os resultados obtidos com o eluato devem ser analisados com cautela, pois quando comparados com técnicas realizadas no soro apresentam sensibilidade inferior 40. Muitos testes sorológicos estão disponíveis, tais como fixação de complemento, hemaglutinação indireta, aglutinação em látex, aglutinação direta, imunoeletroforese, imunofluorescência indireta, ELISA (com diferentes modificações 36

tais como Dot-ELISA, FML-ELISA, Fast-ELISA, BSM-ELISA, slideELISA), imunoprecipitação em gel e Western blot 1,7,30,41,42,43,44,45,46,47. As técnicas sorológicas recomendadas atualmente pelo Ministério da Saúde para o inquérito canino são a imunofluorescência indireta (RIFI) e o ELISA 6. A RIFI ainda é o teste de eleição para ser utilizado em inquéritos epidemiológicos por reunir uma série de vantagens, como fácil execução, rapidez, baixo custo e sensibilidade e especificidade adequadas quando comparada a outras técnicas 44. A reação de imunofluorescência indireta (RIFI) apresenta sensibilidade que varia entre 68 e 100% e especificidade variando de 74% a 100% 13,44,45,46,47,48,49,50. A especificidade é prejudicada devido à ocorrência de reações cruzadas com doenças causadas por outros tripanossomatídeos e outros microrganismos 13,41,47. Portanto, seus resultados não devem ser utilizados como indicadores de infecção leishmaniótica específica 44,51. O teste de ELISA apresenta sensibilidade que varia entre 71% e 100%, e uma especificidade entre 85% e 100% 13,41,42,43,46,47,48,49,52,53,54. A sensibilidade e a especificidade desse método dependem do tipo de antígeno empregado (espécie ou forma evolutiva do parasito) e de mudanças no protocolo experimental padrão (tempo de incubação ou tipo de microplacas utilizadas) 53. As técnicas que utilizam antígenos totais são limitadas em termos de especificidade, apresentando reações cruzadas não somente com outras espécies da família Trypanosomatidae, mas também com outros organismos filogeneticamente distantes 12,13,55,56. A utilização de antígenos recombinantes ou purificados, como as glicoproteínas de membrana gp63, gp72 e gp70 específicas do gênero Leishmania, melhoram a sensibilidade e a especificidade da técnica de ELISA. Entretanto, ainda podem ocorrer reações cruzadas com outros tripanossomatídeos 43,44,57,58. Alguns antígenos recombinantes, como o rK39, rK9 e rK26, parecem conferir grande sensibilidade quando da realização do teste sorológico 43,44,59,60. Existem ainda testes comerciais de imunocromatografia, utilizados em humanos e animais 26,53,61,62,63,64, que consistem de métodos que empregam anticorpos monoclonais anti-IgG de cão e

antígenos de Leishmania de diferentes fontes. Esses métodos são atrativos devido à simplicidade de uso e à rápida resposta, cerca de dez minutos 26. A avaliação da eficácia de kits para a detecção de leishmaniose visceral canina demonstrou especificidade entre 61 e 100%, e sensibilidade variando de 35 a 100% 12,13,26,53,54. A avaliação das subclasses de IgG tem sido sugerida como indicador confiável da doença comparativamente às dosagens de IgG total 16,65,66,67,68,69,70. Existem contradições na literatura quanto à associação entre IgG1 ou IgG2 e o desenvolvimento ou não de sintomas. Determinados estudos associam a elevação de IgG2 a infecções assintomáticas, e a IgG1 a sintomas clínicos 65,66. Contrariamente, investigações similares não têm sido capazes de demonstrar essa relação entre as subclasses de IgG e a presença ou não de manifestações clínicas nos animais 67,70,71,72,73,74,75,76. Estudos recentes sugerem a avaliação de quatro subclasses de IgG (IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4) uma vez que, em contraste com estudos anteriores, os resultados sugerem que IgG2 deva ser regulada de forma diferente, e que as subclasses IgG1, IgG3 e IgG4 sejam os melhores marcadores para a resistência ou a susceptibilidade de cães à leishmaniose visceral 69. Embora a avaliação das subclasses de imunoglobulinas ainda não se constitua no método de escolha para o diagnóstico da doença, pode ser de extrema importância para diferenciar animais vacinados de animais naturalmente infectados 77. Diagnóstico molecular Dentre os métodos moleculares, a reação em cadeia da polimerase (PCR) permite identificar e ampliar seletivamente seqüências de DNA do parasito 4,5,18. A detecção do DNA do parasito é possível em uma variedade de tecidos, incluindo medula óssea, biópsias cutâneas, aspirados de linfonodos, sangue, cortes histológicos de tecidos parafinados, e também no vetor 18,78,79,80,81. Nas amostras de sangue a sensibilidade é baixa, provavelmente devido ao número de parasitos presentes no sangue periférico 18,82. Amostras obtidas de medula óssea têm apresentado menor sensibilidade do que as de pele para a detecção do DNA do parasito 31,80,83. Um resultado positivo

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obtido a partir de amostra de medula óssea evidencia a disseminação do parasito para os órgãos internos após a inoculação da pele 31. A principal desvantagem das técnicas moleculares é que estas requerem laboratórios bem equipados e habilidade técnica 6,18. Durante infecções naturais, recomenda-se que múltiplos métodos diagnósticos sejam utilizados, tendo em vista que o uso isolado de determinada técnica pode não identificar todos os animais infectados 28,84. Diagnóstico imunológico A intradermo-reação, teste de leishmanina ou teste intradérmico de Montenegro 85 é um teste cutâneo que avalia a resposta imune celular, mediante reação de hipersensibilidade do tipo tardia, e tem se mostrado método auxiliar no diagnóstico da leishmaniose tegumentar nas suas formas clínicas cutânea e cutânea-mucosa 1. A leishmanina utilizada como antígeno consiste de promastigotas cultivadas in vitro, lavadas e diluídas em solução salina, para a obtenção de suspensão de organismos mortos e preservados. Amostras de solução salina devem ser usadas como reagente controle. A suspensão é homogeneizada e aplicada por via intradérmica, e a leitura é realizada após 48 a 72 horas. Em seguida, o local é palpado para aferir o tamanho da reação granulomatosa 72,86. Ao contrário do que ocorre na leishmaniose tegumentar, na forma visceral humana a intradermo-reação é sempre negativa durante o curso clínico da doença. No entanto, pode ser positiva em indivíduos assintomáticos ou após a cura clínica 14. Para a utilização em humanos, já há padronizações quanto às concentrações de promastigotas e às características das preparações de leishmaninas. Já em cães, poucos estudos foram conduzidos sobre a doença, e ainda não existe padronização do método 14,72,87,88,89,90,91. OUTROS MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO Cultivo parasitológico O diagnóstico também pode ser estabelecido visando a detecção do parasito por cultivo em meios específicos. Formas amastigotas do parasito, inoculadas em meios de cultura especiais contendo ágar e sangue de coelho, 38

transformam-se em formas promastigotas. Porém, seu crescimento leva pelo menos de três a cinco dias. O clássico meio de NNN (Novy, Mc Neal e Nicolle) é o mais comumente empregado, seguido de outros meios como RPMI-1640 e HO-MEM 6,14,18. Esses meios de diagnóstico têm baixa sensibilidade, especialmente nos estágios iniciais da doença, nos quais a carga parasitária é pequena. Embora as culturas sejam úteis para o isolamento e a identificação do parasito, elas são pouco utilizadas na rotina 18. Inoculação experimental A inoculação experimental em hamsters com amostras de tecidos de pacientes com suspeita de leishmaniose visceral não tem valor prático no diagnóstico da doença devido ao seu longo tempo de positividade, que pode chegar a seis meses 4,6,14,18,64. Além disso, podem ocorrer resultados falso negativos 52. Xenodiagnóstico A técnica de xenodiagnóstico é utilizada para a detecção e o isolamento de patógenos utilizando seu vetor natural. Esse método não tem sido proposto como técnica diagnóstica de rotina, uma vez que requer a formação de colônias de vetores 26,92. O xenodiagnóstico tem sido empregado para investigar aspectos epidemiológicos com relação ao estado clínico, o tratamento de cães com leishmaniose visceral e à infectividade dos vetores 93,94. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar da introdução de novas técnicas e do melhor desempenho dos métodos clássicos de diagnóstico da leishmaniose visceral canina, não está disponível teste que, isoladamente, reúna todas as características consideradas desejáveis para o diagnóstico, quais sejam: fácil execução, custo acessível, rapidez e alta especificidade e sensibilidade 26. O diagnóstico da infecção pode se basear em vários testes. Entretanto, recomenda-se que o diagnóstico da doença seja realizado com base nos sintomas clínicos, nas condições epidemiológicas da região e nos exames subsidiários laboratoriais (sorológicos, citológicos, parasitológicos e/ou moleculares), que devem sempre ser interpretados com cautela 28.

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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007


Clínica Veterinária, Ano XIX, n. 109, março/abril, 2014


Aspectos epidemiológicos da leishmaniose visceral urbana no Brasil

Cláudia Souza e Silva Boraschi Médica veterinária, pós-graduanda UNESP-Araçatuba clauril@terra.com.br

Caris Maroni Nunes Médica veterinária, dra. DMV/UNESP-Araçatuba caris@fmva.unesp.br

Epidemiological aspects of visceral leishmaniasis in Brazil Aspectos epidemiológicos de la leishmaniasis visceral urbana en Brasil Resumo: A leishmaniose visceral encontra-se em expansão no Brasil, especialmente no meio urbano. Como a urbanização da doença é um fenômeno recente, são escassas as informações sobre a epidemiologia e as relações entre os componentes da cadeia de transmissão nesse novo cenário. O presente estudo procurou revisar os principais aspectos epidemiológicos relacionados à infecção dos animais domésticos e do homem, bem como os que favorecem a manutenção da população do vetor da leishmaniose visceral. Como resultado desta revisão, foi observado que medidas voltadas ao meio ambiente e ao peridomicílio com o objetivo de diminuir a densidade populacional de vetores, retirar possíveis fontes de alimento ou de criadouros destes, bem como controlar a invasão das áreas urbanas por animais silvestres em busca de alimentos, podem ser adotadas pela comunidade, diminuindo o elo existente entre os ciclos urbanos e silvestres. Unitermos: Epidemiologia, Leishmania, peridomicilio Abstract: The occurrence of visceral leishmaniasis is currently increasing in Brazil, especially in urban areas. Since the urbanization of this disease is a recent phenomenon, not much is known about its epidemiology and the relationship between the components of its transmission chain in this new scenario. In this study we reviewed the epidemiological aspects related to the infection of humans and domestic animals, as well as those that favor the maintenance of the visceral leishmaniasis vector population. As result of this review we suggest that measures intended to reduce the vector population density in the environment and peridomestic area can help reduce the link between urban and wild cycles of the disease. These include avoiding the creation and maintenance of food sources or vector breeding, as well as controlling the invasion of the urban area by wild animals searching for food. Keywords: Epidemiology, Leishmania, peridomestic area Resumen: La leishmaniasis visceral está en expansión en Brasil, sobre todo en la zona urbana. Como la urbanización de esta enfermedad es un fenómeno reciente, poco se sabe sobre su epidemiología y la relación ente los componentes de su cadena de transmisión en este nuevo panorama. En este estudio se revisan los aspectos epidemiológicos relacionados con la infección del hombre y de los animales domésticos, así como los que pueden favorecer el mantenimiento de la población del vector de la leishmaniasis visceral. Como resultado de esta revisión observamos que las medidas direccionadas al ambiente y al espacio peridoméstico, intentando la reducción de la densidad demográfica del vector, retirando fuentes de alimento o de cría del vector y también controlando la invasión del área urbana por animales salvajes que buscan alimento, pueden ser adoptadas por la comunidad reduciendo la ligazón existente entre los ciclos urbanos y salvajes. Palabras clave: Epidemiología, Leishmania, peridomicilio

Clínica Veterinária, n. 71, p. 44-48, 2007

Generalidades da epidemiologia da leishmaniose As leishmanioses, doenças endêmicas registradas em 66 países do Velho Mundo e 22 países do Novo Mundo, são consideradas importantes pelo impacto que produzem na saúde pública, notadamente pela alta incidência, letalidade e implicações econômicas, constituindose em sério problema sanitário e econômico-social pela depleção da força de trabalho. O Brasil está entre os países da América Latina que apresentam cerca de 90% dos novos casos anuais 1,2,3. A transmissão da Leishmania chagasi (L. chagasi), principal agente etiológico da leishmaniose visceral no 44

Brasil 3,4, ocorre em dois hospedeiros: o vetor e um hospedeiro vertebrado. O vetor é representado por insetos dípteros conhecidos como flebotomíneos, tendo como principal representante no Brasil a Lutzomyia longipalpis (L. longipalpis), embora mais recentemente a Lutzomyia cruzi também tenha sido incriminada como vetor no Estado do Mato Grosso do Sul 2,3,4,5. Outros possíveis vetores para a L. chagasi no Brasil são a L. intermedia e a L. whitmani 6. Os hospedeiros vertebrados são representados pelo homem e pelos mamíferos domésticos ou silvestres 2,4,5. A forma flagelar infectante de L. chagasi, denominada promastigota, é encontrada

no aparelho bucal do vetor, e a forma amastigota se multiplica em células do sistema mononuclear fagocitário do hospedeiro vertebrado. Uma vez que o vetor entra em contato com a forma amastigota através da picada no hospedeiro vertebrado, esta forma modifica-se no interior do aparelho digestivo até chegar à forma infectante, que pode ser inoculada em outro hospedeiro ou reservatório 2,4,5. A leishmaniose visceral (LV), inicialmente descrita como doença de ambiente silvestre ou rural, na atualidade é apontada como doença reemergente, com incidência crescente e em franco processo de urbanização 3,7. No Brasil, a LV encontra-se em expansão desde 1999. Estima-se que, dos 27 estados brasileiros, 19 já apresentaram casos de leishmaniose visceral. Os ciclos urbanos têm sido responsáveis pela expansão nos estados das regiões centro-oeste e sudeste. Os principais responsáveis pelos níveis epidêmicos da LV nos grandes centros são o estreito convívio entre o homem e os reservatórios, o aumento da densidade do vetor, o desmatamento acentuado e/ou o constante processo migratório 1,4. O controle da LV tem objetivado interromper a cadeia de transmissão nos diferentes níveis. No Brasil, o Ministério da Saúde tem preconizado o diagnóstico precoce e o tratamento do paciente humano, a redução do contato homem/ vetor pelo uso de telas, mosquiteiros, repelentes tópicos e borrifação ambiental, e a identificação e a eliminação do reservatório doméstico 7. As medidas empregadas, embora teoricamente adequadas, não têm sido

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007


NOTÍCIAS totalmente efetivas, uma vez que desordenado das cidades, houve a despossíveis abrigos e criadouros para o doenças transmitidas por vetores biolótruição de ecótopos silvestres. A muvetor 3. A L. longipalpis pode ser encontrada gicos associados a reservatórios domésdança no contexto da doença foi desenticos e a aspectos ambientais são recocadeada pela adaptação de vetores à durante toda a noite, em todos os meses do ano, próxima às habitações de aninhecidamente de difícil controle. Além nova realidade. A devastação de áreas disso, como a urbanização da LV é um silvestres fez com que os vetores e os mais domésticos e do homem. De maUnião realizou nos dias hospedeiros silvestres migrassem para o fenômeno Agener novo, não estão completaneira geral, há um aumento na densi21 e 22 de setembro de 2013 dade populacional de flebótomos nas mente esclarecidas todas as nuances da o peridomicílio humano em busca de aliIV Simpósio epidemiologia nos focos Agener urbanos.União Adi- – mento 10. O entendimento das interações épocas de altas temperaturas e alta umiNeurologiaasVeterinária, comos o prof. dade relativa do ar, que coincidem com cionalmente, relações entre com-dr. entre as mudanças do meio ambiente Ronaldo Costa (MV,nos MSc, urbano e os flebótomos é fundamental, ponentes da Casimiro cadeia dedatransmissão o maior período de transmissão da inPhD,urbanos Dipl. ACVIM – Neurologia). centros mostram-se bem maisFo- visto que a L. longipalpis é uma espécie fecção da LV, que ocorre predominanteram 16 horas dedicadas vasto complexas e variadas do aque noconteúammente durante as estações chuvosas, sinantrópica, com alta adaptabilidade a do sobre quando os insetos invadem os domicíbiente rural 4.importantes tópicos da neuro- ambientes domésticos, e considerada logia veterinária presentes tanto no um dos fatores mais importantes na lios à noite para se alimentar do sangue Os abrigos de animais domésticos atendimento clínico quanto cirúrgico. de seres humanos e de cães 3,5,8,10,12,13. Os próximos às habitações, a ausência de cadeia da transmissão da leishmaniose 3,4 O dr. Ronaldo Casimiro Costa é visceral . boas condições de higiene e osdacapões flebotomíneos são encontrados em e chefe do Serviço de NeuroNo peridomicílio, os ambientes prode professor mata nativa próximos às moradias todos os horários, embora com maior gia e Neurocirurgia sãolofatores que favorecemVeterinária a concen-da pícios para a população de vetores são freqüência entre as 19 e as 23 horas. As Thede Ohio State University, em Colum- aqueles com presença de lixo, abrigo de tração flebótomos e de reservatórios diferenças de horário tendem a variar de 8 bus, EUA, e referência mundial em animais, galinheiros, estábulos, arborimamíferos próximos ao homem . acordo com as condições locais da área neurologia veterinária, Diante desse cenário, ministrando procurou-sepa- zação abundante, proximidade de domie o comportamento das populações do lestras em congressos internacionais, cílios e ambientes de criação de anirevisar os principais aspectos da epideflebótomo 13. como da ocorreu no Congresso docom Colé- mais, lagos, rios ou matas caducifólias Os flebotomíneos, assim como muimiologia leishmaniose visceral, 5,10,11 gio Americano de Cirurgiões Veteri tos outros dípteros hematófagos, necescaatinga o intuito de fornecer subsídios para asná- ouProf. . Em estudo realizado dr. Ronaldo Casimiro riosde(ACVS), 2013, sitam de suprimentos de carboidratos ações controleem nooutubro homem,denos ani-no emdaMontes Claros, MG, foi identificada Costa no IV Simpósio Texas, que, na natureza, adquirem diretamente mais e nosEUA. vetores. L.Agener longipalpis com maior predominânUnião No IV Simpósio Agener União, o cia no peridomicílio (65,3%) do que no da seiva de plantas, do néctar, de secre3 professor começou sua apresentação intradomicílio vocado. De nada adianta ções de afídeos e de frutas maduras. Fatores epidemiológicos relacionados (4,7%) . Noter Maranhão, o melhor recurso Para as fêmeas, esses nutrientes são aosfrisando vetores conceitos básicos da neurolo- 84% das fêmeas de L.diagnóstilongipalpis foram gia veterinária:hábitats “É comum ouvir co possível exemplo,e 16% no complementados pela alimentação sanConsideram-se naturais dadizer L. encontradas no (por peridomicílio, que neurologia é muito difícilase cacom- intradomicílio ressonância14. Em magnética) güínea, que possibilita a maturação dos longipalpis as fendas de rochas, estudos epidemioplicada. Este úmido dogma rico tem em se disseminaquando se sabe ovários. A maior parte dos dados dispovernas e o solo matéria lógicos danão doença há a região necessidade de do e talvez porouisso a neurologia é fre- seaanalisar ser examinada. Portanto, níveis na literatura mostra que o caráter orgânica vegetal animal em decoma densidade vetorial e corquentemente por último plano para que se obtenha sucesoportunista parece predominar na alimenposição, os quaisdeixada são encontrados em relacioná-la com os aspectos ambientais 5,8,9 nos currículos acadêmicos. O fato no diagnóstico e tratatação desses insetos, que podem sugar abundância em matas . Com a ação do é dosoperidomicílio, tais como presença de que ano neurologia não é mais difícil ou vegetação, mento deraízes, problemas neuroampla variedade de vertebrados. Assim, homem meio ambiente, secundária troncos de árvores e "Durante a fácil que outras lógicos é fundamental que oabordagem conhecimento dos hábitos alimentares aosmais desmatamentos, e o especialidades, crescimento matéria orgânica no solo, representando mas requer, diferentemente de outras o processo se inicie pela localização clínica de áreas, que se aborde o paciente inician- das lesões”. pacientes do pelo mais importante O simpósio foi realizado noCurso Hotel decom sinais Curso de Curso de clínica e cirurgia fundamento Curso de atualização em cirurgia, da gatos neurologia clínica que éanestesia a localiza- e ortopedia Blue Tree Morumbi, em São Paulo, SP, neurológicos dermatologia dos domésticos endocrinologia ção de lesões. Quando se aborda o e pode-se afirmar que foi mais um é muito importante avaliar a locomo2 e 16 de dezembro 16 e 17 de fevereiro; 1, 2, 15, 16, 29 e 30 de março; 12, 17 e 24 de fevereiro; 2, 16 e 30 2 e 9 17 de fevereiro; paciente suspeito evento sucesso realizado horário: das 8h às 17h de ter um13,problema 26 e 27 de abril; 3, 4, 17de e 18 de maio; 1, 15 e 29pela de Agener março; de 2008ou anorção do animal.deEla é normal de março; de 2008 neurológico usando um exame rápido e de julho junho; 13 e 27 de 2008 horário: quais das 8h às 12h União, pois contou com a participação Se anormal, membros horário: das mal? 8h às 12h horário: daso8h àsde 17h500 veterinários de todo o Brasil e Palestrante: Heloisa logo de tentando Profª estabelecer início estão afetados? Pélvicos, todos, ipsiPalestrante:o prof. dr. Justen M. de Souza diagnóstico ou possíveis diagnósticos, Palestrante: obteve índice dos laterais?", destacou Palestrantes: Profº Newtonalto Nunes; Aline de M. desatisfação Profª da AnaCosta Claudia Balda Profª dra. Deise Carla Casimiro muitas vezes o diagnóstico final é equiRonaldo participantes: Zoppa; João Guilherme Padilha 95%.

IV Simpósio Agener União – Neurologia Veterinária

A

Lipidose hepática; alimentação enteral; desobstrução uretral; doenças do trato respiratório; hipertiroidismo; distúrbios comportamentais; doença renal policistica autossômica; FIV/FeLV; peritonite infecciosa; emergências gastrintestinais Local: Instituto Biológico* Realização

Anestesia: pré-anestesia; anestesias gerais injetáveis e inalatórias; anestesias locais e regionais; Cirurgias: da cabeça e do pescoço; das cavidades torácica e abdominal; do trato genito-urinário; da região perineal; da pele; miscelâneas cirúrgicas; Ortopedia: exames; redução de fraturas; implantes e placas; luxações; displasias; osteocondrite dissecante Local: 21º Depósito de Suprimentos**

Informações e inscrições: fone: (11) 6995-9155 • fax: (11) 6995-6860 juna.eventos@uol.com.br - www.junaeventos.com

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Almeida Leite Dellova

Hipotireoidismo; terapia hormonal; diabetes; emergências; insulinoma; hiperadrenocorticismo; papel dos hormônios na insuficência renal

Dermatologia; semiologia dermatológica; dermatites parasitárias e alérgicas; dermatofitoses e dermatomicoses; piodermites; dermatoses auto-imunes

Local: Instituto Biológico*

Local: Instituto Biológico*

* Instituto Biológico Rua Conselheiro Rodrigues Alves 1252 - 4º andar Vila Mariana - São Paulo - SP (próximo a estação Ana Rosa do metrô)

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007 Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 107, novembro/dezembro, 2013

** 21º Depósito de Suprimentos Rua Raimundo Pereira de Magalhães, 147 Lapa - Vl. Anastácio - São Paulo - SP

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de espécies de flebotomíneos e de suas fontes sangüíneas tem contribuído para o entendimento da epidemiologia da leishmaniose 14. Na Colômbia, demonstrou-se que a L. longipalpis não é altamente antropofílica e nem tem grande atração pelos cães 15. No Brasil, em estudo conduzido no Rio de Janeiro, as fêmeas foram encontradas alimentando-se principalmente em roedores e, secundariamente, em aves, cães e humanos 16. No Maranhão, estudo similar mostrou 87,9% dos flebotomíneos alimentando-se em aves, e o restante em outros vertebrados como roedores, humanos, cães, gambás e eqüinos 14. Outro estudo demonstrou a alimentação de L. longipalpis em raposas identificadas como Lycalopex vetulus e Cerdocyon thous 6. Em cães, estudo experimental avaliou a transmissão de L. chagasi pela pulga Ctenocephalides felis felis e pelo carrapato Rhipichephalus sanguíneus. Os resultados demonstraram que os carrapatos podem se infectar com o protozoário, indicando a possibilidade de estes invertebrados atuarem como vetores alternativos para a transmissão de L. chagasi entre os cães 17. Animais domésticos, selvagens e sinantrópicos como reservatórios A epidemiologia das leishmanioses no Novo Mundo é extremamente complexa, envolvendo grande variedade de flebotomíneos como vetores, e mamíferos como reservatórios. A identificação de hospedeiros naturais das leishmânias é de fundamental importância para determinar o ciclo natural do parasito e, conseqüentemente, para o reconhecimento da epidemiologia da doença 18. O vetor L. longipalpis já foi observado alimentando-se em grande variedade de vertebrados, incluindo bois, cavalos, macacos, galinhas, porcos, cachorros do mato, gambás e roedores 10. No entanto, no ambiente doméstico, os cães (Canis familiaris) têm maior importância epidemiológica, pois essa espécie doméstica convive e compartilha o domicílio com o homem 3,4,10. Os cães também possuem elevada ocorrência de infecções inaparentes 3,19 e, nos casos oligossintomáticos, podem apresentar intenso parasitismo cutâneo 3. Assim, o cão representa uma fonte de infecção preferencial para o vetor, e é reconhecido 46

como importante elo na transmissão da doença para o homem 3. A prevalência de leishmaniose em cães é alta em áreas endêmicas, podendo acometer 20 a 40% da população 19. A maior incidência da LV em cães parece estar associada a moradias próximas de matas e ao compartilhamento do peridomicílio com galinhas, porcos e gambás 11,20. Os cães possuem maior risco de se infectar após o primeiro ano de vida. Refere-se que há maior prevalência da doença em cães de pelagem curta, condição provavelmente relacionada à barreira mecânica oferecida pela pelagem longa ao vetor 11. Hospedeiros silvestres como a raposa (Lycalopex vetulus e Cerdocyon thous) e o gambá (Didelphis albiventris) são animais com hábitos sinantrópicos que podem propiciar elo epidemiológico entre os ciclos silvestres e domésticos 4,14,20,21 Os hospedeiros silvestres que representam maiores riscos de infecção para os cães ou humanos têm sido os didelfídeos ou gambás (Didelphis marsupiallis e Didelphis albiventris), de ampla distribuição geográfica nas Américas, e de grande atração pelo ambiente domiciliar 14. Os gambás são apontados como os primeiros mamíferos não-canídeos encontrados naturalmente infectados com L. chagasi no continente americano 4,18. Assume-se que a presença desse animal no peridomicílio aumenta o risco da infecção 20,21. No Brasil, na região da Amazônia, grande número de D. marsupialis foi capturado nos quintais ou domicílios de pacientes com leishmaniose visceral americana 6. No Maranhão, em áreas endêmicas, os animais sinantrópicos mais citados pela comunidade como freqüentadores do peridomicílio foram o gambá (39,3%), o rato (37,9%), o morcego (14,2%), o guaxinin (3,6%) e a raposa (Cerdocyon thous) (2,1%) 14. A raposa, animal onívoro de hábitos noturnos e crepusculares encontrada na fronteira entre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e no Nordeste, foi descrita como naturalmente infectada por L. chagasi 4,22,23. No Nordeste há alta ocorrência de raposas C. thous infectadas nos focos de LV 6. Outras raposas (Dusicyon vetulusi, Lycalopex vetulus), encontradas somente no Brasil central, também têm sido citadas como envolvidas

no ciclo da leishmaniose 4,10,21,22,23. A principal espécie de roedores envolvida na leishmaniose é o Rattus rattus. Estes roedores sinantrópicos são comuns, capturados dentro de habitações humanas em vários municípios, apresentando positividade para L. chagasi 14,24. O impacto dos animais domésticos como reservatórios da doença, incluindo bovinos, eqüinos, asininos, caprinos e principalmente suínos, ainda não foi completamente elucidado. No entanto, é consenso que as espécies domésticas são importantes para a manutenção da população de vetores, pois há vários estudos mostrando a soropositividade para leishmaniose em vilas onde está arraigado o hábito de manter criatórios e instalações de animais domésticos próximos às moradias humanas 11. A participação das aves domésticas na peridomiciliação de L. longipalpis, assim como na epidemiologia da leishmaniose, tem sido motivo de reflexão. A existência de flebótomos infectados no peridomicílio depende da presença de reservatórios sinantrópicos como a raposa, o gambá, os roedores e outros animais susceptíveis à infecção, como o cão, que representa importante reservatório doméstico. Sugere-se, portanto, que a presença de galinheiros no peridomicílio aumenta os riscos de transmissão da LV, uma vez que permite a manutenção da população de vetores 11,14,25. Adicionalmente, estudo realizado em galinheiros observou a presença de urina e fezes de raposas no local onde foram capturados L. longipalpis 6. A leishmaniose visceral é uma doença complexa, cujas circunstâncias de transmissão são continuamente modificadas pois sofrem interferência do meio ambiente e das regiões geográficas, notadamente com nuances bioclimáticas, variedade de espécies animais e vetores susceptíveis, bem como fatores do comportamento humano 2,26 que alteram a estabilidade e a harmonia dos ecossistemas. Considerações finais O estudo da epidemiologia é fator decisivo para o planejamento efetivo de estratégias para o controle da LV. Novas medidas de controle da leishmaniose visceral através de ações sobre a população canina, que substituam a eliminação do reservatório canino, têm sido

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propostas e tendem a ser mais efetivas por contar com maior apoio da comunidade. O uso de coleiras caninas impregnadas com inseticidas, e a vacinação de cães com frações de glicoproteínas purificadas (Fucose-ManoseLigant), esta última ainda não recomendada pelo Programa de Controle da LV no Brasil, podem ser alternativas bastante úteis em regiões com alta endemicidade para a LV, embora de custo elevado para serem adotadas em larga escala. Propõe-se que as ações de controle e profilaxia da doença sejam mais direcionadas a evitar mudanças bruscas em ecossistemas estáveis, ou qualquer fator que favoreça o aumento da densidade do vetor. A comunidade pode colaborar adotando medidas simples, como a retirada de possíveis fontes de alimento ou de criadouros do vetor no peridomicílio, bem como controlar a invasão das áreas peridomiciliares por animais silvestres em busca de alimentos, diminuindo assim o elo existente entre os ciclos urbanos e silvestres. Agradecimento Ao relator (anônimo), pelas sugestões e correções. Referências 01-DESJEUX, P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Disease, v. 27, n. 5, p. 305-318, 2004. 02-GRAMICCIA, M. ; GRADONI, L. The current status of zoonotic leishmaniasis and approaches to disease control. International Journal for Parasitology, v. 35, n. 11-12, p. 1169-1180, 2005. 03-MONTEIRO, E. M. ; SILVA, J. C. F. ; COSTA, R. T. ; COSTA, D. C. ; BARATA, R. A. ; PAULA, E. V. ; COELHO, G. L. L. M. ; ROCHA, M. F. ; DIAS, C. L. F. ; DIAS, E. D. Leishmaniose visceral: estudo de flebotomíneos e infecção canina em Montes Claros, Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, n. 2, p. 147-152, 2005. 04-GONTIJO, C. M. F. ; MELO, M. N. Leishmaniose visceral no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, n. 3, p. 338-349, 2004. 05-GALATI, E. A. B. ; NUNES, V. L. B. ; JUNIOR, F. A. R. ; OSHIRO, E. T. ; CHANG, M. R. Estudo de flebotomíneos (Díptera: Psychodidae) em foco de leishmaniose visceral no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 31, n. 4, p. 378-390, 1997. 06-LAINSON, R. ; RANGEL, E. F. Lutzomya longipalpis and the eco-epidemiology of American visceral leishmaniasis, with particular reference to Brazil - A review. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 100, n. 8, p. 811-827, 2005.

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Imunopatologia da leishmaniose visceral canina

Juliana Giantomassi Machado MV, doutoranda FM-Unesp-Botucatu julianamachado2002@yahoo.com.br

Juliano Leônidas Hoffmann MV, mestrando FMVZ-Unesp-Botucatu

Immunopathology of canine visceral leishmaniasis Inmunopatología de la leishmaniasis visceral canina Resumo: A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma zoonose com ampla distribuição mundial, cujos sinais clínicos têm sido associados com alterações imunológicas. A resposta imune celular direcionada para células Th1 predomina nos cães assintomáticos e tem sido relacionada à possível resistência à doença. Embora o papel das citocinas de células Th2 nos casos sintomáticos seja ainda controverso, há evidências de sua correlação com a progressão da doença. As alterações patológicas na LVC são causadas tanto pela ação direta do parasito nos tecidos – levando à formação de lesões inflamatórias não supurativas –, quanto pela deposição de imunocomplexos em vários órgãos e tecidos, principalmente no baço, no fígado e nos rins. O estudo da resposta imune hospedeiro-parasita como fator de desencadeamento e severidade das lesões clínicas é essencial para melhor compreensão e caracterização da doença. Unitermos: Cão; Leishmania chagasi; imunologia Abstract: Canine visceral leishmaniasis (CVL) is a zoonosis with worldwide distribution. The clinical signs of this disease have been associated to immunological alterations. The cellular immune response directed to Th1 cells is predominant in asymptomatic dogs and has been for this reason related to a potential resistance to the disease. Although the role of cytokines from Th2 cells in symptomatic cases is still controversial, there is evidence of a relation to CVL progression. Pathological alterations of CVL are caused either by the direct damage of tissues caused by the parasite, which leads to the formation of non suppurative inflammatory lesions, or by immune complex deposition in several organs and tissues such as the spleen, liver and kidneys. The study of host-parasite responses as triggers and severity factors of clinical lesions is essential for a better comprehension and characterization of this disease. Keywords: Dog; Leishmania chagasi; immunology Resumen: La leishmaniasis visceral canina (LVC) es una zoonosis de amplia distribución mundial, cuyos señales clínicos han sido asociados a alteraciones inmunológicas. La respuesta inmune celular dirigida para células Th1 predomina en los perros asintomáticos y ha sido relacionada a la posible resistencia a la enfermedad. Aunque el papel de las citoquinas de células Th2 en los casos sintomáticos todavía sea discutible, hay evidencias de su correlación con la progresión de la enfermedad. Las alteraciones patológicas en la LVC son causadas tanto por la lesión directa del parásito en los tejidos, llevando a formación de lesiones inflamatorias no supurativas, cuanto por la deposición de complejos inmunes en varios órganos y tejidos, principalmente en bazo, hígado y riñones. El estudio de la respuesta inmune hospedero-parásito como factor de desarrollo y severidad de las lesiones clínicas es esencial para una mejor comprensión y caracterización de esta enfermedad. Palabras clave: Perro; Leishmania chagasi; inmunología

Clínica Veterinária, n. 71, p. 50-58, 2007

Introdução As leishmanioses têm como agentes etiológicos, protozoários tripanossomatídeos do gênero Leishmania. São doenças endêmicas que ocorrem em vários continentes, predominantemente em regiões tropicais e subtropicais. Estima-se que 400 milhões de indivíduos no mundo estejam expostos à infecção por Leishmania spp, com incidência anual de 600 mil casos 1. A leishmaniose visceral (LV) ou calazar é uma zoonose com ampla distribuição, tanto no Velho Mundo como nas Américas. É causada por um protozoário pertencente à ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e gênero Leishmania 2. No complexo Leishmania donovani, atualmente são reconhecidas 50

três espécies envolvidas na etiologia da doença: Leishmania (Leishmania) donovani 2 e Leishmania (Leishmania) infantum 3 no Velho Mundo e Leishmania (Leishmania) chagasi 4 no Novo Mundo, inclusive no Brasil. Sugere-se que a L. (L.) chagasi e a L. (L.) infantum são a mesma espécie, em virtude de suas semelhanças bioquímicas e moleculares 5. Entretanto, estudos baseados em diferenças ecológicas e epidemiológicas postulam que a L. (L.) chagasi seja realmente uma espécie indígena e autóctone da América do Sul, pois encontraram altas taxas de infecção em canídeos originários da Amazônia 6. A Leishmania chagasi é um parasita heteróxeno, que completa o seu ciclo de vida em dois tipos de hospedeiros:

hoffmann1804@yahoo.com.br

Helio Langoni MV, prof. tit. Depto. Hig. Vet. S. Púb. - FMVZ-Unesp-Botucatu Pesquisador científico do CNPq hlangoni@fmvz.unesp.br

vertebrados (canídeos, roedores ou humanos) e invertebrados (dípteros hematófagos da família Phlebotomidae), que pertencem ao gênero Phlebotomus, com várias espécies vetoras no Velho Mundo, e ao gênero Lutzomyia, com a espécie Lutzomyia longipalpis, no novo mundo. Recentemente, foi evidenciada a possibilidade de outras espécies de Lutzomyia, tais como a Lutzomyia evansi e Lutzomyia cruzi, servirem como vetores 7,8. Ocorrem dois ciclos epidemiológicos no calazar: o ciclo silvestre, cujos reservatórios são as raposas, e o ciclo doméstico ou peridoméstico, no qual o cão (Canis familiaris) é o principal reservatório, provavelmente devido ao maior parasitismo cutâneo, segundo estudos conduzidos na Europa e nas Américas. No Brasil, a espécie encontra-se infectada em quase todos os focos de calazar humano. No homem e nos animais vertebrados, o ciclo apresenta uma fase intracelular e outra extracelular. Na fase intracelular, formas amastigotas parasitam o interior de células do sistema mononuclear fagocitário (SMF), principalmente macrófagos. Ocorre divisão abundante no interior das células parasitadas, provocando sua ruptura. As amastigotas livres são novamente fagocitadas ou ingeridas pelo vetor durante seu repasto sangüíneo. No tubo digestivo do vetor, as formas amastigotas transformam-se em promastigotas, que se multiplicam bloqueando o proventrículo do flebótomo e provocam regurgitamento de sangue, favorecendo a inoculação das formas infectantes. No vertebrado suscetível, as formas promastigotas são fagocitadas pelas células do SMF e perdem o flagelo, transformando-se em formas amastigotas 9 (Figura 1).

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Juliana Giantomassi Machado

Figura 1 - Imprint do baço de hamster sírio dourado (Mesocricetus auratus) infectado experimentalmente com L. chagasi. Botucatu, SP, 2007

Leishmaniose visceral no Brasil No Brasil, a leishmaniose visceral (LV) é doença de notificação compulsória, que requer ampla investigação epidemiológica para definir as estratégias de controle. O programa de controle coordenado pelo Ministério da Saúde tem como objetivo reduzir as taxas de letalidade, o grau de morbidade e os riscos de transmissão, mediante o controle das populações de reservatórios e do vetor, além do diagnóstico e tratamento precoce dos casos humanos da doença 10. Historicamente, a doença predominava nas zonas rurais até o final da década de 70. Atualmente, encontrase em franca expansão em áreas urbanas ou periurbanas. A importância em saúde pública se deve ao aumento do número de casos e à gravidade da doença. Estudos de casos humanos e de cães têm revelado a ocorrência da urbanização da leishmaniose visceral nas grandes cidades brasileiras 11,12,13.

A LV tem sido apontada como doença reemergente, caracterizada por nítido processo de transição epidemiológica, apresentando incidência crescente nos últimos anos nas áreas onde ocorria tradicionalmente. É notória a expansão geográfica para os estados do sudeste e sul do país, e também um franco processo de urbanização em cidades localizadas em regiões distintas, como Nordeste e Sudeste. Cidades como Boa Vista e Santarém (Região Norte); Teresina, São Luis, Natal e Aracaju (Região Nordeste); Montes Claros, Belo Horizonte, Araçuaí, Sabará, Perdões e Rio de Janeiro (Região Sudeste) e Cuiabá (Região Centro-Oeste) já vivenciaram ou vivenciam atualmente epidemias de LV humana e canina 14. No Estado de São Paulo, a doença era conhecida apenas pelos casos humanos não autóctones. Em 1998 foi diagnosticada, pelo Serviço de Patologia do Hospital Veterinário da UNESP, a primeira ocorrência de leishmaniose visceral canina no Estado de São Paulo, na cidade de Araçatuba (região Nordeste do estado) 15 e, em 1999, foi confirmado o primeiro caso humano autóctone, também no município de Araçatuba. Até dezembro de 2003, mais de 300 casos humanos foram confirmados na região oeste do Estado, com 35 municípios classificados como de transmissão, dos quais 20 apresentavam casos humanos autóctones 16.

Leishmaniose visceral canina (LVC) Estudos de soroprevalência canina realizados na Espanha, na França, na Itália e em Portugal estimam que 2,5 milhões de cães daqueles países estão infectados com leishmania visceral. O número de cães infectados na América do Sul é também estimado em milhões, com altas taxas de infecção relatadas em algumas áreas do Brasil 17. A maior parte dos sinais clínicos da LVC inclui hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, lesões cutâneas, ceratoconjuntivite, alopecia, apatia, onicogrifose, anorexia e severa perda de peso 18. Uma característica importante da leishmaniose em cães é a forma inaparente da doença por longos períodos. Os animais assintomáticos representam grande problema para a saúde pública pois detectar a infecção é difícil, o que impossibilita a adoção de medidas adequadas de controle. Em Monte Argentário, na Toscana, Itália, foram examinados 171 cães, dos quais 41% eram sintomáticos e 59% assintomáticos 19. Com a evolução da leishmaniose, um ano após o primeiro exame 88% dos cães com sinais clínicos morreram, enquanto 12% apresentavam sinais da doença. A evolução dos casos assintomáticos foi mais complexa: 52% conseguiram aparentemente recuperar-se, com o desaparecimento de anticorpos específicos no soro; 12% continuaram positivos na RIFI, sem sinais clínicos da doença; 18% desenvolveram a doença, manifestando sinais; e 18% morreram.

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Resposta imune Durante a infecção parasitária, o sistema imune controla tanto o número de parasitas presentes no organismo quanto a resistência à reinfecção, mas também pode induzir a doença associada ao parasitismo. As células T desempenham papel muito importante, tanto diretamente, por mediarem respostas celulares, quanto indiretamente, na regulação e produção de anticorpos produzidos por plasmócitos que derivam de linfócitos B 20. Os linfócitos T constituem-se de duas principais subpopulações: as células CD4+ e CD8+. Em resposta aos antígenos protéicos dos microrganismos, as células TCD4+ auxiliares podem se diferenciar em subpopulações de células efetoras, que produzem distintos grupos de citocinas. As subpopulações de células TCD4+ auxiliares efetoras melhor definidas são denominadas Th1 e Th2, sendo o IFN-a, a IL-2 e o TNF as citocinas características das células Th1, e a IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13 as citocinas definidoras das células Th2. O IFN-a secretado pelas células Th1 promove diferenciação de Th1 e inibe a proliferação das células Th2. Inversamente, a IL-4 produzida pelas células Th2 promove a diferenciação das próprias células Th2 e, juntamente com a IL-10, inibe a ativação das células Th1. A diferenciação para subpopulações de células Th1 e Th2 está relacionada a três fatores: as citocinas presentes no ambiente da estimulação, o tipo de célula apresentadora de antígeno (APC) e a natureza e quantidade de antígeno. A IL-12 é a principal indutora das células Th1, e a IL-4 das Th2. A principal função das células Th1 é a defesa mediada por fagócitos, especialmente no combate a microrganismos intracelulares; já a da Th2 ocorre nas reações imunes mediadas pela IgE e pelos eosinófilos/mastócitos 20. A resistência à infecção é associada à ativação de células TCD4+Th1 específicas para Leishmania spp, que produzem IFN-a e, desse modo, ativam os macrófagos para destruírem as amastigotas intracelulares. Os macrófagos desempenham papel importante no curso da infecção causada pela Leishmania spp, servindo como células hospedeiras, células apresentadoras de antígeno, que modulam a resposta imune celular 52

específica e, ainda, após a ativação, como células efetoras na eliminação das formas intracelulares. Inversamente, a ativação das células Th2 pelo protozoário resulta no aumento da sobrevivência do parasita e na exacerbação das lesões, em razão das ações supressivas de suas citocinas nos macrófagos 20. Resposta imune na leishmaniose visceral canina (LVC) As conseqüências da LVC são muito variáveis. Cães infectados podem desenvolver sintomas da infecção resultando em morte, enquanto outros permanecem assintomáticos, ou podem desenvolver um ou mais sintomas brandos, sendo classificados como oligossintomáticos 21. A sintomatologia da LVC tem sido associada com mudanças imunológicas envolvendo linfócitos T. Essas mudanças incluem ausência de hipersensibilidade do tipo tardia para antígenos de Leishmania, diminuição do número de linfócitos T no sangue periférico e diminuição, in vitro, da produção de TNF e IL-2 pelas células mononucleares do sangue periférico. Além disso, altos títulos de anticorpos anti-Leishmania, não imunoprotetores, são detectados em animais sintomáticos, principalmente o IgG 22. As subclasses de IgG1 e IgG2 têm sido utilizadas como indicadoras da evolução da LVC, sendo consideradas mais adequadas do que o IgG total. A correlação direta entre a indução de altos títulos de IgG1 anti-Leishmania e o aparecimento de sinais clínicos foi demonstrada em cães infectados com L. infantum, enquanto anticorpos IgG2 foram associados com cães assintomáticos 23,24,25. No entanto, em estudo realizado em cães com diferentes formas clínicas de LVC, foi observado que animais assintomáticos possuíam níveis de IgG1 mais elevados, que decaíam à medida que havia progressão dos sintomas, e que níveis elevados de IgG2 estariam associados com a morbidade 26. Também foi observada forte relação entre títulos de IgG e IgG2 em cães sintomáticos 27. Além disso, sugere-se que a produção policlonal de anticorpos anti-Leishmania, que inclui IgE, poderia caracterizar a resposta Th2 na LVC. A hipótese segundo a qual susceptibilidade e resistência da LVC estão associadas à produção de anticorpos específicos IgG1 e IgG2,

respectivamente, não foi confirmada 28. Sugere-se ainda que cães que desenvolvem resposta imune mediada pela célula T são provavelmente capazes de evitar a disseminação do parasito para a superfície mucosa e, como conseqüência, produzem níveis menores ou básicos de IgA específica, reconhecida como a principal imunoglobulina componente do sistema imune das mucosas 29. A resposta imune celular direcionada para Th1, mediada por IFN-a e TNF-_, é predominante em cães assintomáticos, exibindo assim aparente resistência à leishmaniose visceral. Por outro lado, o papel das citocinas Th2, tais como IL-4 e IL-10 em animais sintomáticos, é controverso, existindo evidências da relação entre elas e a doença progressiva. As células TCD8 citotóxicas parecem estar envolvidas com a resistência à infecção na leishmaniose visceral canina 30. Estudos de reconstituição usando camundongos atímicos BALB/c (nu/nu), e experimentos de depleção de células em camundongos BALB/c (nu/+) utilizando anticorpos monoclonais antiCD4 ou anti-CD8, mostraram a necessidade de ambas as células, TCD4 e TCD8, na proteção contra a infecção por L. donovani 31. Camundongos BALB/c infectados com L. donovani mostraram a participação de diferentes populações de células no curso da infecção: células L3T4+(CD4+) são importantes nas duas semanas iniciais da infecção, quando a replicação do parasita está ocorrendo principalmente com a formação de granulomas hepáticos. Com a evolução da infecção, a população de células decresce e é substituída por células Lyt-2+(CD8+), quando o processo infeccioso é controlado 32. O papel protetor das células TCD8+ na LVC sugere que a migração preferencial dessas células possa ocorrer para o baço parasitado, com o objetivo de promover a lise de macrófagos infectados 26. Esses dados reforçam o importante papel desempenhado pelos esplenócitos TCD8+ de cães assintomáticos, mostrando que tais células poderiam participar ativamente do processo inflamatório, desempenhando importante função imunoprotetora e garantindo o equilíbrio parasito-hospedeiro, uma vez que os autores observaram menor parasitismo no baço de cães assintomáticos.

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Assim, sugere-se que a LVC evolui progressivamente a partir de uma forma assintomática, com baixo parasitismo tecidual e habilidade de montar uma resposta imune antígeno-específica mediada por linfócitos TCD8, seguida por um estágio intermediário, oligossintomático, até o desenvolvimento da forma clínica sintomática grave, na qual é observada falência da resposta imune de um modo geral. Essa falência é caracterizada por franca diminuição de linfócitos T, B, e monócitos com baixa resposta linfoproliferativa in vitro, tanto induzida por mitógenos quanto por estímulos específicos 26. Imunopatologia da leishmaniose visceral canina A leishmaniose canina pode ser considerada como uma doença imunomediada, visto que o gênero Leishmania tem a capacidade de modificar o sistema imunológico do hospedeiro 33. No ser humano, a patogenia e as características clínicas da doença variam de acordo com o tropismo pelos diferentes órgãos e propriedades das espécies de Leishmania infectantes, mas também dependem da competência imunológica do hospedeiro. Além disso, a Leishmania spp é um parasita intracelular obrigatório, e a defesa do hospedeiro depende da atividade das células T. Sem o suporte das células T, os macrófagos não são capazes de inativar as formas amastigotas 34. Nos cães, a Leishmania parece desenvolver um modelo imune, caracterizado pela elevada atividade das células B e pela completa ausência da imunidade mediada por células para antígenos da Leishmania 34. Na infecção experimental, ocorre rápida depleção das regiões de células T e proliferação das regiões de células B nos órgãos linfóides 35. Na infecção natural de cães, as formas amastigotas são usualmente disseminadas por todo o corpo, apesar dos altos níveis de anticorpos circulantes 34. A produção de imunoglobulinas é elevada, mas promove mais danos do que proteção ao hospedeiro 36. Vários anticorpos são produzidos, e nem todos parecem ser específicos contra os antígenos, incluindo os auto-anticorpos, que podem estar associados ao desenvolvimento de fenômenos patológicos 34. Anticorpos específicos opsonizam as formas amastigotas, que são fagocitadas 54

pelos macrófagos, permitindo ao parasito contínua multiplicação dentro das células 37. Níveis elevados de IgG1 estão associados a alterações patológicas e sintomatologia em cães, pois essa imunoglobulina é fator de ativação do sistema complemento 24. O principal risco do distúrbio na regulação das células T e da atividade exuberante das células B é a formação de grande quantidade de complexos imunes circulantes 34. As alterações causadas pela LVC se devem tanto à ação direta do parasito nos tecidos – o que leva à formação de lesões inflamatórias não supurativas –, quanto à deposição dos imunocomplexos em vários órgãos e tecidos 38. A leishmaniose visceral é caracterizada pela diversidade e complexidade das manifestações clínicas, mas tem uma característica histológica comum: o acúmulo inicial de células fagocíticas mononucleares nos tecidos invadidos, o que promove a hiperplasia das células do retículo endotelial (REC) dos órgãos envolvidos 39. As principais lesões histopatológicas observadas em cães são hipertrofia e hiperplasia das células do sistema fagocítico mononuclear (baço, linfonodo, fígado e medula óssea, principalmente), inflamação crônica na pele 35, reação granulomatosa inflamatória no fígado e no baço 40, hepatite com granulomas intralobulares, pneumonia intersticial e glomerulonefrite 41. Estudos da resposta imune compartimentalizada na LVC ainda são escassos 26. Estudos histopatológicos do compartimento esplênico revelaram, nos casos mais graves, alterações importantes como decréscimo no número de linfócitos na bainha periarteriolar, elevada proliferação de macrófagos, hiperplasia folicular e aumento da polpa vermelha, com predomínio de macrófagos e plasmócitos 42. A patologia da leishmaniose visceral é influenciada pela supressão específica da imunidade mediada por células, permitindo a disseminação e a multiplicação descontrolada. A hiperplasia das REC conseqüente à infecção com L. donovani afeta o baço, o fígado, a mucosa do intestino delgado, a medula óssea e os linfonodos 39. Na LVC a linfadenopatia é um sinal clínico comum da doença, observado em 88,7% dos casos na Itália 21 e em 81%

em Araçatuba, SP 33. Cães com LV apresentam generalizada linfadenopatia, principalmente nos linfonodos poplíteos e cervicais. Histologicamente, observam-se aumento no número e no tamanho dos folículos linfóides e notável hipertrofia e hiperplasia dos macrófagos medulares 43. Descreve-se predominância de plasmócitos em detrimento de linfócitos em linfonodos de cães natural e experimentalmente infectados com L. infantum, sugerindo depleção das células T, falta de atividade dos linfócitos T específicos e proliferação das células B, com conseqüente hiperglobulinemia 44. A diversidade na qualidade e na intensidade da imunidade do hospedeiro contra a infecção do patógeno é visível quando distintos órgãos são examinados. Modelos experimentais de LV são as mais claras representações dessa diversidade. A infecção hepática é usualmente autolimitante, e a resposta imune hepática é um bom exemplo de resposta inflamatória granulomatosa predominada por células mononucleares envolvendo células de Kupffer, monócitos, células TCD4 e TCD8. Múltiplas citocinas (IFN-a, IL-12, IL-4) e níveis moderados de TNF produzido no granuloma hepático contribuem para o efeito protetor no fígado 45. O TNF é uma citocina próinflamatória que coordena o desenvolvimento do complexo microarquitetônico do baço e de outros tecidos linfóides, e é um mediador benéfico para a imunidade anti-Leishmania no fígado 46. No entanto, o excesso de TNF nesse ambiente linfóide torna-se um mediador de dano na arquitetura e disfunção imunológica associada a um estado inflamatório crônico 45. A resistência hepática está relacionada à produção de reativo de oxigênio e reativo intermediário de nitrogênio 46. No estágio inicial da infecção, a produção de ambos tem papel significativo na diminuição da multiplicação das formas amastigotas. Durante a fase tardia da infecção, quando a resistência hepática é evidenciada devido ao declínio do número de amastigotas, o gene que regula a síntese de óxido nítrico (NOS-2) mostra-se mais dominante, e a produção de óxido nítrico (NO) reflete-se principalmente na ativação dos macrófagos dependentes de células T. O INF-a estimula os macrófagos a produzir iNOS, enzima que cataliza a formação de NO,

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uma molécula final efetora necessária para a morte das amastigotas intracelulares 47. Por outro lado, a produção de inibidores do gene NOS-2, a IL-10 e o TGF-`‚ está relacionada à redução no combate e morte do parasito 39. Pode ocorrer redução na habilidade fagocítica de monócitos em cães infectados, quando comparados a cães não infectados 48. Adicionalmente, monócitos do sangue periférico de cães infectados com L. infantum perdem o efeito leishmanicida mediado por óxido nítrico 49. Simultaneamente ao processo de resolução da infecção no fígado, ocorre a multiplicação das amastigotas no baço 39. Os parasitas persistem no baço e na medula óssea por mecanismos ainda pouco compreendidos. A persistência dos parasitos é acompanhada por falha na formação do granuloma e pela variedade de mudanças patológicas, incluindo esplenomegalia, alteração da microarquitetura do tecido linfóide e aumento da atividade hematopoiética 46. No baço, a zona marginal é um lugar importante para a captura de patógenos presentes

no sangue, e uma passagem para os linfócitos adentrarem a polpa branca. A infecção com L. donovani resulta em notável perda seletiva dos macrófagos da zona marginal 45. O modelo murino (Balb/c) é o mais representativo da infecção subclínica humana, e tem sido objeto de estudo da progressão da infecção e da resposta imune celular esplênica, para melhor compreensão do mecanismo relacionado ao controle da infecção por L. donovani 50. Após a inoculação sistêmica de L. donovani, os parasitas se localizaram, primariamente e em grande quantidade, nos macrófagos esplênicos da polpa vermelha. No início do curso da infecção, foi observada produção de IL-10 na zona marginal, e maior produção de TGF-` por células da polpa vermelha. Esses macrófagos inibidores de citocinas podem contribuir para estabilizar a infecção e a replicação inicial do parasito. No 28º dia pós-infecção, quando a carga parasitária visceral (baço e fígado) declinou, o número de células esplênicas produtoras de IL-10 iniciou o

retorno para níveis basais. No entanto, a produção de IFN-a era alta e o número de células produtoras de IL-12 foi aumentando drasticamente. Além disso, as células T e as células dendríticas migraram para o folículo linfóide e a zona marginal da polpa vermelha, onde os parasitos estavam localizados. Os autores sugerem que o controle da infecção está associado à produção de IFN-a e IL-12, e à migração de células T e dendríticas para o local do parasitismo crônico 50. Poucos estudos relatam a associação entre a progressão da doença e o estabelecimento da imunidade mediada por células em cães. Vários estudos têm mostrado a deficiência de imunidade específica mediada por células em cães sintomáticos, caracterizada pela redução da resposta linfoproliferativa para antígenos de Leishmania e pelo decréscimo de células TCD4 51,52. Na Venezuela, foi caracterizada a resposta imune in situ no fígado e no baço de cães naturalmente infectados de uma área endêmica 53. Os cães foram


classificados em sintomáticos e assintomáticos após avaliação sorológica e física. Os animais sintomáticos apresentaram maior carga parasitária no fígado e no baço do que os animais assintomáticos, sugerindo, assim, a diminuição da infecção ou um controle mais eficiente da replicação do parasita em cães assintomáticos. O fígado de cães assintomáticos mostra imunidade efetiva, com granulomas bem organizados restringindo os parasitas em um ambiente central de células T de memória, e ativando células T efetoras, células dendríticas e células que expressam CD18 e CD44. Tais eventos permitem que os animais assintomáticos permaneçam cronicamente infectados, com baixa carga parasitária e sinais clínicos indetectáveis. No entanto, os fígados dos animais sintomáticos apresentaram infiltrado não organizado e não efetivo composto por células T e células de Kupffer densamente parasitadas, com diminuição da expressão das moléculas de ativação. Nos granulomas hepáticos foi observado aumento de determinadas células (CD11c+ e MHC II+), sugerindo efetiva interação entre células apresentadoras de antígeno e células T que favorecem o controle do parasita. No baço, a resposta imune de cães sintomáticos e assintomáticos foi similar. A imuno-histoquímica demonstrou diferença na proporção e na distribuição de células imunocompetentes no fígado, o que não ocorreu no baço dos animais assintomáticos quando comparados aos sintomáticos. No trabalho ora descrito, os autores observaram também a falta ou baixa carga parasitária nos linfonodos mesentéricos, que pode ser resultante do controle eficiente da infecção nesses órgãos. Tais resultados demonstram distinta resposta imune contra a LVC nos órgãos alvos. Hepatopatias, bem como hepatomegalia associadas à LVC são raras 21. No entanto, a hepatomegalia já foi verificada em 11% de cães 33. Uma provável causa talvez seja a multiplicação das Leishmanias nos macrófagos do fígado, produzindo hepatite ativa crônica e, ocasionalmente, hepatomegalia 38. Segundo a literatura, a freqüência de esplenomegalia em cães portadores de LV é bastante variável. Em estudo sobre os aspectos clínicos da doença realizado no interior de São Paulo, não foi 56

descrito tal achado 33. Por outro lado, em estudo similar realizado na Itália 21, a esplenomegalia foi observada em 53,3% dos animais, e na Holanda 34 em 32,5% dos cães. No Brasil, foi relatada notável apresentação histopatológica em um cão sintomático naturalmente infectado com Leishmania chagasi 41. Intensa reação inflamatória granulomatosa foi observada no fígado e no baço, associada com hipertrofia e hiperplasia do sistema mononuclear. Além disso, uma grande variedade de lesões vasculares foi observada em diversos órgãos. Dentre os sintomas da LVC, as alterações dermatológicas são as mais comuns 54. Tanto os aspectos macroscópicos quanto os microscópicos são atribuídos à presença das formas amastigotas, que por sua vez alcançam a pele por via hematógena 55. A migração de macrófagos portadores de formas amastigotas por via hematógena para pontos específicos da pele, levando à hiperatividade da resposta imune, seria também responsável pela formação de úlceras nos pontos de pressão nas articulações 56. As células apresentadoras de antígenos desempenham funções na epiderme de cães com diferentes apresentações dermatológicas de LV 57. O adequado processamento e apresentação dos antígenos da Leishmania pelas células de Langherans (LC) e queratinócitos que expressam complexos de histocompatibilidade da classe II resultam na primeira resposta efetiva das células T. Assim, os autores avaliaram o grau de imunocompetência epidérmica de acordo com a presença das células citadas anteriormente, além de macrófagos, plasmócitos e formas amastigotas na derme. Os autores demonstram que cães com alopecia possuem quantidades adequadas de LC e de queratinócitos MHC II positivos, além de quantidades discretas de células T e número insignificante de parasitos. Por outro lado, quando faltam células apresentadoras de antígeno na epiderme, foram observadas lesões nodulares, formadas por intensa presença de macrófagos parasitados. Nos animais com dermatose ulcerativa foram observados padrões inflamatórios, além da ausência de LC. Os queratinócitos apresentaram níveis elevados de moléculas MHC II. Embora não tenham

avaliado parâmetros de resposta imune Th, os autores sugerem que há correlação positiva entre a alopecia e a resposta imune celular efetiva, o que não aconteceria nas lesões nodulares. Os rins são extremamente afetados no curso da LVC 21. Achados atribuem como provável causa da patologia renal a deposição de complexos antígeno/anticorpos nas estruturas renais e ao intenso infiltrado inflamatório plasmocitário, freqüentemente observado nos materiais estudados 58. Essa deposição de imunocomplexos nos rins eventualmente resulta em glomerulonefrite proliferativa e, em muitos casos, em nefrite intersticial, podendo levar à insuficiência renal, que é muitas vezes a principal causa de morte em cães com leishmaniose 33. As células T e as imunoglobulinas estão presentes na lesão renal da LVC 59. Há evidências de que a resposta imune celular esteja envolvida na patogênese da glomerulonefrite mediada imunologicamente. As alterações oculares comumente descritas na LVC são blefarite, conjuntivite, ceratoconjuntivite seca e uveíte 54,60. Em outro estudo, foi observado que 29% dos cães com LVC apresentavam sinais oculares 33. Provavelmente, tais lesões possuem duas causas primárias: tanto podem ser causadas pela presença das formas amastigotas e do infiltrado leucocitário, como por conseqüência do depósitos de imunocomplexos (reação de hipersensibilidade do tipo III) nos vasos oculares 61. A locomoção anormal está presente em 37,5% dos casos de LVC 34. A poliartirte é usualmente resultado da reação de hipersensibilidade do tipo III acarretada pelo depósito de complexos imunes nas articulações 54. Embora as causas da epistaxe não estejam totalmente esclarecidas, é provável que esta seja resultante de inflamação, depósito de complexos imunes nos vasos e ulcerações na mucosa nasal, e não de alterações no perfil de coagulação 62,63. Em um estudo, verificou-se que 15% dos cães com LVC apresentavam epistaxe 34. Considerações finais O estudo da imunopatologia na leishmaniose visceral canina é de extrema importância, tendo em vista que o cão é o principal reservatório urbano dessa doença.

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Compreendendo as lesões e a disseminação da Leishmania nos diferentes órgãos nos cães, é possível traçar estratégias para pesquisar as diferenças fundamentais entre animais sintomáticos e assintomáticos, com vistas à vigilância epidemiológica eficaz e ao controle da disseminação da doença. Adicionalmente, o conhecimento imunopatológico fornece subsídios aos procedimentos terapêuticos e, especialmente, ao desenvolvimento de imunógenos. Nesse contexto, os cães representam importante modelo animal de estudo na leishmaniose visceral, em função da susceptibilidade da espécie ao parasito, da resposta orgânica frente ao patógeno e, principalmente, pelo relevante risco à saúde pública, devido à sua proximidade com o homem. Referências 01-DESJEUX, P. Human leishmaniosis: epidemiology and public health aspects. World Health Statistics Quarterly, v. 45, p. 267-275, 1992. 02-ROSS, R. Notes on the bodies recently described by Leishman and Donovan and further notes on leishman`s bodies. British Medical Journal, v. 2, p. 1261-1401, 1903. 03-NICOLLE, C. Sur trois cas d’infection splénique infantile à corps de Leishman observés in Tunisia. Archives du Institute Pasteur de Tunisia, v. 3, p. 1-26, 1908. 04-LAINSON, R. ; SHAW, J. S. Evolution, classification and geographical distribution. In: PETERS, W. ; KELLICK-KENDRICK, R. The leishmaniasis in biology and medicine. London: Academic Press, 1987. v. 1, p. 1-120. 05-MAURÍCIO, I. L. ; STOTHARD, J. R. ; MILES, M. A. The strange case of Leishmania chagasi. Parasitology Today, v. 16, n. 5, p. 188-199, 2000. 06-LAINSON, R. ; SHAW, J. J. ; SILVEIRA, F. T. ; BRAGA, R. American visceral leishmaniasis: on the origin of Leishmania (Leishmania) chagasi. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 81, p. 517, 1987. 07-TRAVI, B. L. ; MONTOYA, J. ; GALLEGO, J. ; JAMARILLO, C. ; LLANO R. , VELEZ, I. D. Bionomics of Lutzomyia evansi (Diptera: Psychodidae) vector of visceral leishmaniasis in Northern Columbia. Journal of Medical Entomology, v. 33, p. 278-285, 1996. 08-GALATI, E. A. B. ; NUNES, V. B. L. ; REGO JR., F. A. ; OSHIRO, E. T. ; RODRIGUES CHANG, M. Estudo de flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) em foco de leishmaniose visceral no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 31, n. 4, p. 378-390, 1997. 09-ALENCAR, J. E. ; NEVES, J. ; DIETZE, R. Leishmaniose visceral. In: VERONESI, R. Doenças infecciosas e parasitárias. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991. p. 706-717. 10-BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral. Brasília, 2003. 120p.

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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007



Caracterização histopatológica e imunoistoquímica da nefropatia da leishmaniose visceral experimental em hamster

Aline de A. Carvalho Médica veterinária - CCA/DCCV/UFPI alinevety@bol.com.br

Érika L. de Macêdo Médica veterinária - CCA/DCCV/UFPI erikalage@click21.com.br

Bárbara Laurice A. Verçosa graduanda em medicina veterinária CCA/DCCV/UFPI brbaravet@yahoo.com.br

Silvana M. M. da Silva MV, dra., profa. - CCA/DCCV/ UFPI silvanammss@ufpi.br

Histopathological and immunohistochemical characterization of the nephropathy due to experimental visceral leishmaniasis in hamster Caracterización histopatológica e inmunohistoquímica de la nefropatía de leishmaniasis visceral experimental en hámster Resumo: O hamster é um excelente modelo para o estudo da leishmaniose visceral, pois desenvolve a doença em sua forma plena. A avaliação das alterações renais em hâmsteres com leishmaniose visceral permite acompanhar a evolução das lesões em consonância com a progressão da enfermidade. Hâmsteres foram infectados e sacrificados 7, 15 e 90 dias pós-infecção (P.I.). Fragmentos de rim foram corados com HE, PAS, Masson, PAMS, Vermelho Congo e Imunoperoxidase. A carga parasitária foi maior no grupo de 90 dias do que nos grupos de 7 e 15 dias P.I. A quantificação de células glomerulares foi maior no grupo de 15 dias do que no grupo de 90 dias P.I. Nos glomérulos e nos túbulos proximais, constatou-se depósito de amilóide. Não foram encontradas amastigotas no parênquima renal, mas antígeno de Leishmania sp estava presente. A lesão renal progrediu com o tempo de infecção, estando associada à carga parasitária e à presença de antígeno de Leishmania sp nos rins. Unitermos: Técnicas imunoenzimáticas, rim, leishmânia, Mesocricetus, glomerulonefrite, diagnóstico Abstract: The hamster is an excellent model to study visceral leishmaniasis, since it develops the illness in its full form. Evaluation of renal changes in hamsters with visceral leishmaniasis enables observation of the evolution of the lesions relative to the progression of the disease. Hamsters were infected and sacrificed at 7, 15 and 90 days post-infection (P.I.). Renal tissue was stained with HE, PAS, Masson, PAMS, Congo Red and Immunoperoxidase. The parasitic load was higher in the 90-day group compared to the 7- and 15-day groups. Glomerular cell counts were higher in the 15-day group compared to the 90-day group. Deposition of amyloid was observed in glomeruli and proximal tubules. No amastigotes were found in the renal parenchyma despite the presence of the Leishmania antigen. The renal lesion increased with the evolution of the infection, being directly associated to the parasitic load and to the presence of leishmania antigens in the kidney. Keywords: Immunoenzyme techniques, kidney, leishmania, Mesocricetus, glomerulonephritis, diagnosis Resumen: El hámster es un excelente modelo para estudio de la leishmaniasis visceral, pues desarrolla la enfermedad en su forma plena. Evaluaciones de las alteraciones renales en hámsters con leishmaniasis visceral permiten acompañar la evolución de las lesiones en concomitancia con el progreso de la enfermedad. Hámsters fueron infectados y sacrificados a los 7, 15 y 90 días post-infección (P.I). Fragmentos de riñón fueron teñidos com H-E, PAS, Masson, PAMS, Rojo Congo e Inmunoperoxidasa. La carga parasitaria fue mayor en el grupo de 90 días comparado a los grupos de 7 y 15 días P.I. La cuantificación de las células glomerulares fue mayor en el grupo de 15 días comparado al grupo de 90 días P.I. En glomérulo y túbulos proximales se constató deposición amiloidea. No fueron encontradas amastigotas en parénquima renal, pero antígeno de Leishmania sp estaba presente. La lesión renal progresó con el tiempo de infección, estando asociada a la carga parasitaria y a la presencia de antígeno de Leishmania sp en los riñones. Palabras clave: Técnicas para Inmunoenzimas, riñon, leishmania, Mesocricetus, glomerulonefritis, diagnóstico

Clínica Veterinária, n. 71, p. 60-64, 2007

Introdução As leishmanioses são enfermidades parasitárias causadas por espécies diferentes de protozoários do gênero Leishmania 1,2. A doença manifesta-se sob três síndromes clínicas principais: leishmaniose visceral (LV), leishmaniose 60

cutânea e leishmaniose muco-cutânea. No Brasil, a LV é causada pela espécie Leishmania (Leishmania) chagasi e transmitida pelo flebotomíneo Lutzomyia longipalpis 3. O agente da LV é um parasito intracelular obrigatório de células do sistema

Sônia M. de Carvalho MV, mestre - CCA/DCCV/ UFPI soniacarvalho@click21.com.br

Francisco Assis L. Costa MV, dr., prof. - CCA/DCCV/ UFPI fassisle@ufpi.br

fagocítico mononuclear, que causa, nos indivíduos susceptíveis, supressão da imunidade mediada por células, levando à difusão e à multiplicação incontrolada do parasito 4. A enfermidade acomete o homem e várias espécies animais. O cão é considerado o principal reservatório doméstico da doença humana 5. Em modelos experimentais, a LV desenvolve-se plenamente no hamster 6, o que torna esse animal propício ao estudo da evolução da doença, da sua patogenia e da caracterização da natureza e da extensão das lesões. Quando o parasito acomete espécies susceptíveis, a imunossupressão por ele causada promove a sua disseminação para muitos órgãos 4. Ainda que a presença de Leishmania sp nos rins seja rara, antígenos parasitários são freqüentemente encontrados nesses órgãos em associação às lesões renais, como observado em cães 7. No homem, tais lesões também são observadas 8. O estudo das alterações renais provocadas pela Leishmania (Leishmania) chagasi revela vários padrões de lesão glomerular, como glomerulonefrite (GN) de alterações mínimas, glomeruloesclerose segmentar focal, GN mesangioproliferativa, GN membranoproliferativa 9,10. Entretanto, não está completamente esclarecido se o padrão de GN é

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característico de uma fase da infecção, ou se os diferentes padrões ocorrem aleatoriamente. Da mesma forma, a injúria túbulo-intersticial, que parece comprometer mais a função renal do que a lesão glomerular 11, também é pouco conhecida. A nefrite intersticial está presente no homem e no cão com LV. Contudo, a interferência de outros fatores não deixa claro se a lesão é específica da LV pois, ao longo da vida do homem e dos animais, a exposição dos rins a drogas 12 e outras enfermidades 13,14, que fogem ao controle em casos de infecção natural por Leishmania (L.) chagasi, é causa freqüente de lesões renais que podem ocorrer concomitantemente à nefrite intersticial devida à LV. Desse modo, o estudo da nefropatia da LV, utilizando o hamster como modelo experimental, permite avaliar melhor a natureza e a extensão das lesões renais, pelo acompanhamento de todo o curso da doença e de sua repercussão sobre a evolução das alterações glomerulares e túbulo-intersticiais.

Figura 1 - Baço. Hamster. Carga parasitária (mediana e intervalo entre percentis 25 e 75) maior no grupo de 90 dias, comparada aos grupos de 7 e 15 dias P. I. N = n. de animais por grupo. * p < 0,05 (Teste de Kruskal Wallis e Dunn)

O aumento de peso e de carga parasitária em órgãos do sistema fagocítico mononuclear ao longo da infecção é conseqüência da proliferação celular, do processo congestivo e da replicação dos parasitos que, ao infectar novas células, contribuem para a disseminação da infecção 17. Em dois animais do grupo de 90 dias os rins apresentaram coloração brancacenta e superfície áspera. Ao corte, foram observados pontos brancacentos no parênquima cortical. A análise histopatológica permitiu a observação de deposição de substância hialina e eosinofílica no mesângio, na membrana basal dos capilares glomerulares (Figura 2A) e na parede dos túbulos contorcidos proximais (Figura 2B), que foi corada pelo Vermelho Congo, caracterizando amiloidose. Deposição de amilóide, após a fase inicial de proliferação celular, também foi descrita em hâmsteres com LV, sendo decorrente, provavelmente, de superestimulação do sistema imunológico 18. A contagem de células glomerulares revelou 41,2± 6,08 células no grupo de

Resultados e discussão A carga parasitária (Figura 1), assim como a hepatomegalia e a esplenomegalia, foram maiores no grupo de 90 dias pós-infecção do que nos grupos de 7 e 15 dias P.I. (p = 0,000216; p = 0,000303; p = 0,00000000411, respectivamente).

Francisco Assis L. Costa

Francisco Assis L. Costa

Material e métodos Hâmsteres (Mesocricetus auratus) foram infectados experimentalmente por inoculação intraperitoneal com 2 x 107 de amastigotas de Leishmania (L.) chagasi, amostra MHOM/BR/72/cepa 46, e sacrificados aos 7, 15 e 90 dias pós-infecção. Os grupos foram compostos, respectivamente, por oito, seis e oito animais, com idades entre 45 e 60 dias, mantidos no biotério do CCA/UFPI, recebendo água e ração à vontade. Os animais foram sacrificados por inalação com éter etílico. À necropsia, foram avaliadas as lesões macroscópicas dos órgãos antes de proceder à coleta de baço, fígado e rins. De cada órgão foi realizado “imprint” em lâminas, fixadas em metanol por dois minutos e coradas com Giemsa. O número de células e de parasitos correspondentes foi contado em vários campos de cada lâmina, até o patamar de mil. A carga parasitária foi calculada pela seguinte fórmula 15: (n. parasitos/ n. células) x peso do órgão (em mg) x 2 x 104. Fragmentos de rins de 5mm de espessura foram fixados em Duboscq-Brasil por 60 minutos e, posteriormente, conservados em formol a 10% tamponado com fosfato 0,01M, pH 7,4 (formol tam-

ponado). Esse material foi processado e corado pelas técnicas de HematoxilinaEosina (H-E), Masson (M), Ácido Periódico de Schiff (PAS), Vermelho Congo e Ácido Periódico Prata Metanamine (PAMS). Simultaneamente, fragmentos dos órgãos também foram processados para coloração por imunoperoxidase. Na imunoistoquímica, foi utilizado anticorpo policlonal de camundongo antiLeishmania (L.) amazonensis. A amplificação da reação foi realizada com o sistema EnVision+, peroxidase (Dako Corporation, Carpinteria, CA, USA), segundo as recomendações do fabricante. A revelação foi realizada com diaminobenzidina e a contracoloração com Hematoxilina de Harrys. O número de núcleos de células glomerulares foi contado, em tecido renal corado por H-E, em 20 glomérulos por animal de cada grupo experimental. Os resultados foram analisados por testes não-paramétricos: método de KruskalWallis para análise de variância. Havendo diferença significante, aplicava-se o teste de Dunn e Student-NewmanKeuls, para comparação múltipla de grupos. Todos os procedimentos que envolveram os animais estão de acordo com a Resolução 714 – de 20 de junho de 2002 – do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV, 2002) 16, e o protocolo utilizado para a obtenção de amostras neste estudo obteve parecer favorável do Comitê de Ética da Universidade Federal do Piauí.

A

B

Figura 2 - Rim. Hamster. 90 dias pós-infecção. (A) Depósito de amilóide no mesângio e membrana basal dos capilares glomerulares. (B) Depósito de amilóide na membrana basal de túbulos proximais. Vermelho Congo. 140x

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7 dias; 46,6± 3,15 células no grupo de 15 dias e 36,9 ± 5,7 células no grupo de 90 dias pós-infecção. O aumento do número de células glomerulares foi maior nos animais do grupo de 15 dias do que nos animais do grupo de 90 dias pós-infecção (p = 0,0160) (Figura 3). Esse aumento inicial, com diminuição posterior de células em glomérulo de hâmsteres infectados experimentalmente com Leishmania (L.) chagasi, também foi observado em outros estudos 19. É provável que o número de 41,2 ± 6,08 células por glomérulo, nos animais com sete dias pós-infecção, esteja muito próximo ao número normal de células para essa espécie, pois nesse grupo não foram observadas alterações túbulo-intersticiais. Esse número também está próximo das 46,6 ± 12,3 células observadas em cães controle não infectados por Leishmania (L.) chagasi 10. Pelas colorações de PAS, Masson e PAMS, não foram observadas alterações glomerulares características de padrões diversos de glomerulonefrite, ao contrário do que é observado no homem 9 e no cão 20. Contudo, tais colorações permitiram verificar que, no curso da LV em hâmsteres, não há evolução de um padrão de glomerulonefrite para outro. A dificuldade de acompanhar a evolução da doença, se associada às lesões renais, em momentos seqüenciais diferentes, em casos de infecção natural, não tem permitido o esclarecimento dessa questão em outras espécies com glomerulonefrite primária. No entanto, existem

evidências de que, no homem 13 e no cão 21, também não ocorra evolução de um padrão de GN para outro. Considerando que não há mudança de um padrão de lesão para outro, torna-se mais fácil avaliar e, conseqüentemente, adotar medidas de controle e tratamento da lesão glomerular. Na região córtico-medular constatouse grande quantidade de neutrófilos e de células mononucleares na veia arciforme, no grupo de sete dias pós-infecção, indicando que mesmo precocemente já existia afluxo de células inflamatórias em vasos renais. Nos animais do grupo de 15 dias, observou-se a presença de infiltrado inflamatório mononuclear linfocítico intertubular, de intensidade discreta, na região córtico-medular. No grupo de 90 dias, o infiltrado inflamatório foi constituído por linfócitos e, mais raramente, macrófagos e plasmócitos. Acúmulos focais de células inflamatórias mononucleares intertubulares na cortical também foram observados. Embora sem descartar totalmente que outras infecções subclínicas pudessem estar presentes na amostra dos casos estudados, considera-se que as lesões renais foram causadas por Leishmania (L.) chagasi pois, em todos os casos, a infecção foi confirmada por exame parasitológico para leishmaniose. Adicionalmente, a presença de antígeno de Leishmania foi expressiva; os exames clínico e de necropsia não mostraram quadros sugestivos de outras doenças e os animais não foram submetidos a qualquer tratamento com drogas que pudessem causar alterações renais. Estudo ultraestrutural sobre nefrite intersticial realizado no homem mostrou que a maioria das células do infiltrado inflamatório pertencia à categoria de linfócitos e macrófagos, sendo rara a presença de células plasmáticas 22, como

foi observado no presente estudo. Esses resultados sugerem que a composição do infiltrado inflamatório intersticial é condizente com o mecanismo de lesão mediada por células. Atualmente, está bem estabelecido que a patogênese da maioria das glomerulonefrites é mediada imunologicamente 23, embora o tipo de mediação imunológica não esteja claramente definido. A predominância de infiltrado de células mononucleares é uma característica da reação mediada por células em tecidos em geral 24, e em casos de glomerulonefrites 25. Essas células, provavelmente, chegam ao interstício renal por migração através da membrana basal dos capilares, cujo endotélio – ativado pela presença de antígeno de Leishmania sp – começa a expressar moléculas de adesão, similarmente ao mecanismo sugerido em GN em cães com LV 21. Lesões túbulo-intersticiais não foram encontradas no grupo de sete dias pósinfecção, o que evidencia que tais lesões não ocorrem precocemente no curso da LV. Nos outros grupos, as alterações tubulares foram caracterizadas por dilatação, presença de cilindros hialinos, atrofia, tubulite e degeneração hialina goticular. O parasita não foi encontrado no parênquima renal, mas a imunoistoquímica foi muito útil para estabelecer a relação entre a infecção e as alterações renais. Antígeno de Leishmania sp estava presente dentro do perfil lesional do glomérulo, em células fagocíticas (Figura 4A), células epiteliais tubulares (Figura 4B) e como material particulado depositado no interstício, em todos os grupos analisados. Observou-se maior número de células expressando antígeno no glomérulo no grupo de 15 dias P.I. do que no grupo de sete dias P.I. Considerando a literatura consultada, o presente

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Figura 4 - Rim. Hamster. 90 dias pós-infecção. (A) Antígeno de leishmânia em células fagocíticas no glomérulo. (B) Antígeno de leishmânia em células epiteliais tubulares. Imunoperoxidase. 140x

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Francisco Assis L. Costa

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Figura 3 - Rim. Hamster. Células glomerulares (mediana e intervalo entre percentis 25 e 75) em quantidade maior nos animais do grupo de 15 dias, comparado ao grupo de 90 dias P. I. N = n. de animais por grupo. * p < 0,05 (Teste de Kruskal Wallis e Student-Newman-Keuls)



estudo relata, pela primeira vez, a presença de antígeno de Leishmania em células fagocíticas no glomérulo detectada por imunoperoxidase, em hospedeiro experimentalmente infectado. A ausência de formas amastigotas nos rins, e a presença de antígeno em células fagocíticas do glomérulo e em células epiteliais tubulares, sugerem que o parasita não permanece no órgão. Ao que tudo indica, circula pelos rins – onde é fagocitado, processado pelas células mesangiais e epiteliais tubulares –, e seus antígenos são apresentados para células T que migram para o parênquima renal, à semelhança da doença nos cães 21. Não está bem clara a participação das células epiteliais tubulares no processamento de antígenos, mas sabe-se que, quando estimuladas por IFN-a, adquirem a capacidade de apresentar antígenos 26.

Referências

Conclusões Os resultados do presente estudo permitiram concluir que as lesões glomerular e túbulo-intersticial são próprias da leishmaniose visceral, e que sua intensidade progride com o tempo de infecção. A lesão glomerular é proliferativa, sendo este o único padrão encontrado em hâmsteres experimentalmente infectados por Leishmania (L.) chagasi nos períodos de tempo estudados. A proliferação de células glomerulares ocorre na presença de antígeno de leishmânia na fase precoce da infecção; na fase tardia, a deposição de amilóide, em maior intensidade no mesângio glomerular e na membrana basal tubular, contribui para a perda progressiva da função renal. Na tentativa de contribuir para o desenvolvimento de outros estudos, conclui-se, também, que os períodos de infecção de 7, 15 e 90 dias são adequados para avaliar a progressão das lesões renais em hâmsteres infectados experimentalmente com Leishmania (L.) chagasi e, ainda, que a técnica de imunoperoxidase em tecido parafinado é apropriada para a detecção de antígeno de leishmania em rim, onde a presença do parasito é escassa ou inexistente.

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Agradecimentos Os autores agradecem a Manoel de Jesus Gomes da Silva, técnico do Laboratório de Histopatologia do Centro de Ciências Agrárias da UFPI, pelo processamento e coloração do material utilizado neste estudo. 64

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Vitor Márcio Ribeiro

Leishmaniose visceral canina: aspectos de tratamento e controle

MV, prof. adj. III - PUC Minas

vitor@pucminas.br

Treatment and control aspects of canine leishmaniasis Leishmaniasis visceral canina: aspectos de tratamiento y control Resumo: Neste artigo, são revisados aspectos do tratamento e do controle da leishmaniose visceral canina. Apresentam-se os critérios que se estabelecem para a instituição e o controle do tratamento, o prognóstico e a importância da adesão dos proprietários na adoção de medidas recomendadas para controle do vetor. São discutidas questões ligadas ao sacrifício de cães como estratégia de controle da doença, alternativas a esta medida e a obrigatoriedade de tal medida. São apresentados os fármacos preconizados para o tratamento, bem como medicamentos em fase experimental e para terapia de suporte. Unitermos: Calazar canino, doenças infecciosas, animais domésticos, controle de doenças, zoonoses Abstract: This report reviews the treatment and control of canine visceral leishmaniasis. The established criteria to implement and monitor the treatment of this disease, as well as its prognosis and the importance of the owners' commitment to adopt recommended vector control measures are addressed. Questions associated with culling as a strategy to control the disease, the need for this measure and feasible alternatives are also discussed. The review also presents drugs that have been routinely used in the veterinary practice to treat the disease, as well as those tested experimentally for both treatment and support therapies. Keywords: Canine kala-azar, infectious diseases, domestic animals, disease control, zoonoses Resumen: En este artículo se revisan aspectos de tratamiento y control de la leishmaniasis visceral canina. Se presentan los criterios que se establecen para instauración y control del tratamiento, el pronóstico y la importancia de la adhesión de los propietarios en adoptar las medidas recomendadas para control del vector. Se discuten cuestiones relacionadas a la eutanasia de perros como estrategia de control de la enfermedad, alternativas a esta medida y la obligatoriedad de tal medida. Son presentados los fármacos utilizados en la rutina del tratamiento, así como medicamentos todavía en fase experimental y para terapia de apoyo. Palabras clave: Kala-azar canino, enfermedades infecciosas, animales domésticos, control de enfermedades, zoonosis

Clínica Veterinária, n. 71, p. 66-76, 2007

Introdução A leishmaniose visceral canina (LVC) se apresenta em nosso país como importante doença parasitária em cães, em função de seu espectro clínico, transmissibilidade e potencial zoonótico. Ela é provocada por um protozoário digenético heteróxeno do gênero Leishmania, família Trypanosomatidae, tendo em seu ciclo biológico as formas promastigota e amastigota. A forma promastigota prevalece no hospedeiro invertebrado, e a amastigota no vertebrado 1. A espécie envolvida é a Leishmania chagasi, reconhecida, atualmente, como a mesma denominada Leishmania infantum 2, embora alguns autores a considerem como subespécie da L. infantum 3. A leishmaniose visceral (LV), provocada pela L. chagasi, ocorre também em outras espécies animais, inclusive no homem, sendo considerada uma 66

antropozoonose. Dessa forma, a LV assume importância no exercício da clínica médica veterinária e humana e, conseqüentemente, no contexto de saúde pública. No Brasil, a LV é considerada um grave problema, estando distribuída em municípios de todas as unidades federadas, com exceção da Região Sul, e, nos últimos dez anos, foram registrados, em média, 3.156 casos 4. Nos últimos cinqüenta anos a eliminação de cães soropositivos é reconhecida como a principal estratégia de controle. Ainda assim, tem-se observado tendência de expansão da doença 5,6,7. O papel do cão e a eliminação dos cães soropositivos Historicamente, o papel do cão como reservatório de Leishmania foi primeiramente descrito em 1908, na Tunísia 8. Em 1955, o parasitismo cutâneo em

cães, raposas e no homem foi demonstrado no Brasil 9. Alguns anos depois, a importância dos cães como reservatório foi estabelecida, quando se demonstrou que 75% de 16 cães, em comparação com 29% de 14 homens com LV, infectavam Lutzomyia longipalpis 10. Embora o homem também possa atuar como reservatório do agente, os cães são mais importantes na cadeia epidemiológica da doença 9,10. Em 14 de março de 1963, com base em decreto do Senado Federal do Brasil, a LV foi considerada endemia rural, e foram estabelecidas normas técnicas para o seu controle, assim como para o controle das demais formas de leishmanioses 11. Desde então, o cão tem sido alvo dos programas de controle da LV no Brasil, sendo recomendada a eliminação tanto de animais doentes quanto de soropositivos 4. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o sacrifício como medida ideal de controle, mas reconhece as limitações dessa prática em cães de alto valor afetivo e econômico infectados 12. Mais recentemente, a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) considera que, em situações especiais, o tratamento dos cães pode ser conduzido, desde que associado a medidas que impeçam o contato do animal tratado com o vetor do agente, bem como o risco de contágio humano 13. Com a urbanização da doença, a eliminação sumária dos cães começou a ser contestada. Embora o papel dos cães como os principais reservatórios da L. chagasi e a principal fonte de infecção para o vetor esteja cientificamente consagrado, diversos estudos têm assinalado que o impacto da eliminação dos cães no controle da doença não alcança resultados que a justifiquem operacionalmente 5,6,7,14.

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Estudos estatísticos sobre as medidas de controle da LV concluíram que, em escala de importância, a eliminação ou o tratamento de cães soropositivos deveriam ser a terceira medida adotada 15. Para estudar a eficácia da eliminação de cães soropositivos no controle da LV, foram selecionadas duas áreas: uma com eliminação de cães e outra na qual tal medida não foi adotada; durante um ano, não foram observadas diferenças estatísticas significativas na propagação do calazar entre elas 16. Os autores relatam que, no Brasil, durante os anos de 1990 a 1994, quase cinco milhões de cães foram examinados e mais de 80.000 eliminados. Entretanto, a doença humana aumentou em quase 100% neste período. Outro estudo com eliminação de cães soropositivos verificou que essa medida, em curto e médio prazos, apesar de reduzir a prevalência, é insuficiente para a erradicação da LVC, e em médio e longo prazos (dois a quatro anos) não promove diferenças estatísticas significativas em relação a áreas sem intervenção 17. Essas observações têm levado a comunidade científica a considerar limitado o impacto da eliminação de cães soropositivos no controle da LV na América Latina, apontando-a como a medida de menor suporte técnico-científico dentre as demais propostas pelo programa, e a avaliar outras práticas direcionadas aos cães, como a vacinação e o uso de inseticidas tópicos 5,18. Nesse contexto, estudo direcionado para a infecciosidade de

cinqüenta cães sentinelas expostos à infecção natural por L. chagasi concluiu que a eliminação de cães foi ineficiente, diante da alta incidência da infecção e transmissibilidade desses animais, da insensibilidade dos testes diagnósticos para detectar cães infecciosos e do tempo entre o diagnóstico e a eliminação dos animais 19. Entretanto, mesmo com protocolos otimizados, testes sorológicos de maior sensibilidade (ELISA), diminuição do intervalo entre o diagnóstico e a remoção dos cães soropositivos e seleção da população canina exposta à infecção, o programa de eliminação canina não reduziu a incidência da LV 5,6. Esses estudos concluem que os prováveis fatores que têm levado à ineficiência da medida são a incapacidade dos métodos diagnósticos para identificar todos os cães infectados, a reposição dos cães por filhotes suscetíveis ou por cães já infectados, e a possível existência de outros reservatórios 5,14,20. Outro aspecto de igual relevância relacionado à prática indiscriminada da eliminação canina é a discordância social desse método de controle. Ante o fenômeno da urbanização da doença e a inegável humanização dos animais de estimação, particularmente os cães, a questão surge como grave problema, quando da decisão entre a eliminação ou o tratamento dos cães 21. Esse fenômeno também é documentado na China, onde a eliminação dos cães infectados é adotada e tem encontrado forte antagonismo popular 22. No Brasil, o constrangimento provocado

nos profissionais ligados ao poder público quando da busca do cão positivo para eliminação revela que esse momento reveste-se de forte componente emocional, e é comparado – dada a importância do cão no ambiente familiar – à determinação da “sentença” de morte para um membro da família 23. Um levantamento com proprietários de cães verificou que 80% gostariam de tratálos caso tivessem LV 24. Além disso, a ausência de alternativas leva muitos proprietários a remover seus animais para outros ambientes, às vezes indenes à doença, servindo como fator de dispersão do agente 25. Na região da grande Belo Horizonte, são conhecidas ações judiciais entre o cidadão e o poder público, com decisões favoráveis à manutenção de cães tratados e acompanhados responsavelmente por proprietários e médicos veterinários. A aplicação de questionário a usuários de clínicas veterinárias em Belo Horizonte demonstrou acentuada discordância à prática obrigatória da eliminação canina e desejo de tratar seus cães, se acometidos pela doença. Um aspecto levantado pela maioria dos entrevistados é de que não aceitariam a pressão do poder público para entregar seus cães, e recorreriam à justiça ou fugiriam com seus animais 26. De qualquer forma, útil ou não, a eliminação de cães infectados não é uma medida a ser seguida na maior parte dos países endêmicos, em virtude de fatores emocionais, econômicos ou operacionais 27,28.

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Vitor Márcio Ribeiro

Figura 1 - Punção de medula sendo realizada na crista ilíaca

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Wagner Tafuri

O tratamento da leishmaniose visceral canina O tratamento da LVC no Brasil remonta ao início da década de 1990, ocasião em que a doença apresentou acentuado processo de urbanização 29. Até então, acreditava-se que esse tratamento não era viável, devido à sua elevada toxicidade 30. Os primeiros relatos de sucesso no tratamento da LVC no Brasil registram a utilização de antimoniato de n-metilglucamina pela via intravenosa 31,32. Desde então, novas drogas têm sido produzidas com vistas à obtenção de melhores índices de cura. Entretanto, ainda não existe protocolo terapêutico altamente efetivo, que permita a reintrodução segura dos animais no domicílio, sem riscos de infecção para os proprietários e contactantes. Assim, recomenda-se a adoção de medidas de segurança contra os vetores, direcionadas para o cão e para o ambiente 13,33,34,35. Não se deve considerar o tratamento de um cão, sem antes firmar com segurança o diagnóstico, seja a partir da visualização dos parasitas em exames citológicos de esfregaços de material obtido de punção de medula óssea (Figura 1), linfonodos ou baço, seja por meio da imuno-histoquímica (IHQ) de tecidos 36 (Figura 2). Outro método parasitológico é a cultura do material obtido pelas punções ou biópsias, em meios que permitam o isolamento da Leishmania e o xenodiagnóstico. Também métodos de diagnóstico molecular, como a reação em cadeia de polimerase (PCR), identificam, com alta especificidade, a presença do DNA do parasito em amostras de medula óssea, linfonodos e sangue, principalmente. Apesar de bastante sensível, essa técnica exige padronização adequada, podendo levar a resultados falso-positivos ou negativos, e o sangue não se constitui no material de escolha para o encontro do parasita, pela variação de sua parasitemia. Após confirmado o diagnóstico, o cão infectado deve ser minuciosamente examinado.

Figura 2 - Pele de cão naturalmente infectado: (A) corte histológico corado pela técnica rotineira de Hematoxilina-Eosina (H&E) 440x; (B) corte histológico de pele corado pela técnica de imunohistoquímica. Note que o parasito é facilmente visualizado. 440x

Terminada a avaliação física, devem ser implementados testes laboratoriais, como hemograma, função renal, proteínas séricas, títulos plenos de anticorpos anti-Leishmania e pesquisa da densidade de leishmanias na pele 33. Em cães com anemia arregenerativa ou com insuficiência renal crônica (IRC) a possibilidade de eutanásia deve ser considerada, porque esses animais têm mau prognóstico de recuperação. Os títulos plenos de anticorpos anti-Leishmania mensurados pela reação de imunofluorescência indireta (RIFI) e a densidade de formas amastigotas na pele, utilizando métodos de IHQ, auxiliam no acompanhamento do tratamento 36. Os fármacos utilizados no tratamento da LVC incluem medicamentos que atuam contra as leishmanias, imunomoduladores e imunoterapias, além das medicações de suporte 33,34,37,38,39. Fármacos que atuam contra as Leishmanias Antimoniais pentavalentes Seu mecanismo de ação se baseia no bloqueio do metabolismo do parasita por meio da inibição da enzima fosfofrutoquinase, enzima chave da gluconeogênese, que leva o parasita à morte 35. Dois antimoniais pentavalentes são apresentados: o antimoniato de n-metilglucamina e o estibogluconato de sódio. No Brasil, a produção do antimoniato de n-metilglucamina é distribuída exclusivamente para o Ministério da Saúde (MS), não havendo, portanto, disponibilidade do produto para uso em cães. Dessa forma, é proibido o uso desse

produto para o tratamento da LVC, quando o mesmo for de distribuição do MS 40 . Na Europa, ele é distribuído para uso veterinário, como terapêutica da LVC. A melhor via de aplicação é a subcutânea, que alcança o maior nível sérico cinco horas após a administração, mantendo níveis terapêuticos durante doze horas 41. Recomenda-se a aplicação subcutânea em locais alternados, seguida por compressas mornas, para minimizar o desconforto e a formação de edemas 33. É contra-indicado para animais com nefropatias, pois é nefrotóxico e possui excreção renal 39. Seus efeitos secundários podem se manifestar sob a forma de febre, tosse, mialgia, artralgias, alterações gastrintestinais, apatia, inapetência, alterações hepáticas e renais e, com menor freqüência, cardiotoxicidade, uveíte ou ceratoconjuntivite, consideradas reações alérgicas ao parasita 35. Os níveis séricos superiores a 2,9µg/mL são inibidores do crescimento do parasito. Recomendam-se doses variando entre 50 a 75mg/kg duas vezes ao dia (bid), pela via SC, durante 21 a 30 dias 33,42,43. Alopurinol É um análogo das purinas ou pirazolopirimidinas cujo mecanismo de ação consiste na incorporação ao RNA do parasita, alterando sua síntese protéica, inibindo sua multiplicação e, posteriormente, levando-o à morte. É considerado um fármaco leishmaniostático, e sua associação com outras drogas parece ter efeito sinérgico 34,38,44. Tem baixa toxicidade, é utilizado pela via oral e pode ser

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administrado isoladamente ou combinado a outros fármacos. Seu uso isolado deve ser criteriosamente avaliado, estando indicado para situações especiais, em animais que apresentem insuficiência renal ou cardiopatias incompatíveis com outros medicamentos 33. O uso prolongado minimiza a ocorrência de recidivas, mas leva à hipoxantinúria, que pode provocar urolitíases, particularmente em cães hepatopatas 34,37,38. Tem sido indicado por toda a vida do cão em tratamento. Embora de baixa toxicidade, são relatados febre, leucopenia, distúrbios cutâneos e elevações de enzimas hepáticas de baixa intensidade 45. A dose recomendada é de 10 a 20 mg/kg bid, oral, apresentando boa biodisponibilidade no cão 33,46. Anfotericina B É um antibiótico poliênico produzido a partir do fungo Streptomyces nodosus. Atua ligando-se aos esteróis (primariamente ergosteróis) da membrana das Leishmanias, alterando sua permeabilidade, levando a perdas de potássio, aminoácidos e purinas e provocando a morte 34,37. É uma droga conhecida pela sua nefrotoxicidade, que se dá pela vasoconstrição renal e redução da taxa de filtração glomerular 34. Comercialmente, é encontrada como solução contendo desoxicolato de sódio como agente solubilizante. Essa composição é diluída em água estéril e se mantém estável por uma semana quando conservada em geladeira e protegida da luz. A via de administração preferencial é a intravenosa lenta. Também pode ser encontrada encapsulada em lipossomas. Essa formulação diminui seus efeitos tóxicos e permite doses maiores por aplicação, com menor tempo de tratamento 47. Os efeitos adversos relacionados são insuficiência renal, flebites, anorexia, vômitos, alterações de Na/K e necrose tissular por extravasamento 35. É imprescindível controlar os valores séricos de uréia e creatinina antes de cada aplicação. Valores de uréia superiores a 100mg/dL contra-indicam a sua utilização. O tratamento é realizado em dezesseis sessões de quimioterapia. A seqüência de cada sessão consiste na aplicação inicial de dextrose 5% (20mL/kg), associada a 0,2mg/kg de dexametasona em aplicações alternadas. Em seguida, a anfotericina b é aplicada, na dose de 70

0,6mg/kg, em 50 a 100mL de dextrose 5%, protegida da luz, durante uma hora. Depois, solução de dextrose 5% é fornecida na dose de 20mL/kg, não ultrapassando 250mL de volume total, independentemente do peso do animal 33,48. Aminosidina (paramomicina) Antibiótico do grupo dos aminoglicosídeos, é produzido a partir de Streptomyces rimosus. Atua inibindo a síntese protéica e provocando alterações na permeabilidade da membrana plasmática do parasita 33. A administração é recomendada pela via subcutânea, e possui eliminação ativa pelos rins. Os efeitos colaterais incluem nefrotoxicidade e ototoxicidade 34,39,49. O produto não é comercializado no Brasil 33. Azóis (imidazóis - ketoconazol e miconazol); triazóis (fluconazol e itraconazol) O mecanismo de ação dessa linha de fármacos baseia-se na inibição da síntese do ergosterol, componente da membrana celular de fungos e Leishmania. Esse grupo de drogas possui indicação restrita no tratamento da LVC, embora apresente perspectivas na terapia de manutenção 34. O cetoconazol, o metronidazol e o secnidazol são bem tolerados pelos cães. Na leishmaniose canina, a dose usual do cetoconazol é de 7-25mg/kg dia, por via oral, durante dois a três meses. A dose indicada de metronidazol é de 10-15mg/kg bid durante 15 a 30 dias, e a do secnidazol é de 30mg/kg sid durante 15-30 dias. A associação entre metronidazol (25mg/kg) e espiramicina (150.000 UI/kg) sid, via oral, por 90 dias, foi bem tolerada e considerada eficiente no tratamento da LVC 50. Entretanto, novos estudos devem ser realizados para a incorporação da droga como alternativa de tratamento. Pentamidina O mecanismo de ação desse fármaco ainda não está totalmente elucidado. Assume-se que atua inibindo a síntese de poliamina e do DNA do cinetoplasto do parasito. É considerada de segunda escolha, em virtude da toxicidade comparativamente superior à dos antimoniais pentavalentes, menor eficácia e maior duração do tratamento 51. A dose preconizada nos cães é de 4mg/kg IM

profunda, em três aplicações por semana, durante cinco a sete semanas. Comumente, a aplicação provoca irritação local, que inclui dor e abscessos nas áreas de aplicação 42. Miltefosina Molécula do grupo farmacológico dos alquilfosfolipídeos, cujo mecanismo de ação se baseia na inibição da biosíntese dos fosfolipídios da Leishmania. Sua ação antimetabólica promove a alteração da biossíntese de glicolipídeos e glicoproteínas da membrana do parasita. Os resultados de seu uso no tratamento da LVC têm sido promissores, e seu registro para uso veterinário na Europa é recente. Sua eficácia é similar à dos antimoniais na dose 2-3mg/kg, sid, via oral, durante 28 dias. Os efeitos colaterais relacionados incluem transtornos digestivos, vômitos, diarréia e anorexia 35. Os protocolos mais utilizados atualmente são apresentados na figura 3, conforme experiência pessoal do autor desta revisão e relatos de vários autores 33,42,52,53,54. Medicamentos alternativos no tratamento da LVC Imunomoduladores A evolução da doença e a resposta inadequada ao tratamento são atribuídas principalmente à imunossupressão induzida pelo parasita. A alterações do sistema imune se traduzem pelo estímulo da imunidade humoral e pela depressão da imunidade celular, que implicam conseqüências negativas para o enfermo 45,55,56. Dessa forma, substâncias imunomoduladoras, imunossupressoras ou imunoestimulantes, mesmo não exercendo ação direta sobre as leishmanias, têm sido empregadas em associação com outros fármacos específicos contra o parasita 45,57. Os corticosteróides, mais freqüentemente a prednisona e a prednisolona, têm sido usados como drogas imunossupressoras com o objetivo de suprimir a imunidade humoral, diminuindo a produção de anticorpos e evitando, dessa forma, os imunocomplexos responsáveis pelas alterações em distintos órgãos 33,35,45. As drogas imunoestimulantes são utilizadas com o intuito de ativar inicialmente os linfócitos T, que secundariamente ativam os macrófagos, contribuindo na resposta celular

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medicamentos utilizados, posologia e tempo de tratamento antimoniato de n-metilglucamina - (50-75mg/kg bid sc por 21 a 30 dias e alopurinol (10 a 20mg/kg bid oral por tempo indeterminado) estibogluconato de sódio - (15 a 30mg/kg bid sc por 21 a 30 dias) e alopurinol - (10 a 20mg/kg bid oral por tempo indeterminado) anfotericina B - (0,6mg/kg iv duas vezes por semana por oito semanas) e alopurinol (10 a 20mg/kg bid por tempo indeterminado) alopurinol - (10 a 20mg/kg bid oral por tempo indeterminado) aminosidina - (10mg/kg bid sc por 30 dias) e alopurinol - (10 a 20mg/kg bid oral por tempo indeterminado) miltefosine - (2mg/kg sid oral por 28 dias) e alopurinol - (10 a 20mg/kg bid oral por tempo indeterminado)

Figura 3 - Protocolos de tratamento

de eliminação das Leishmanias. A droga mais utilizada é o levamisol, na dose de 0,5 a 2mg/kg, em dias alternados, pela via oral 45. Mais recentemente, a domperidona foi apresentada como uma droga imunoestimulante no tratamento da LVC na dose de 1mg/kg bid, durante trinta dias 58. São também citadas como imunoestimulantes a interleucina 12, o Interferon a e o BCG 59,60,61. Imunoterapia Essa estratégia de tratamento busca induzir resposta imune permanente e capaz de conter o avanço do parasita, inviabilizando sua sobrevivência dentro das células. Na tentativa de obter sucesso no tratamento da LVC, foi testado o antígeno LiF2 (fração 2, 94-67 kDa derivada de L. infantum), isolado ou em associação com antimonial pentavalente. Os animais submetidos à quimioterapia associada à imunoterapia apresentaram 100% de cura, demonstrando que a imunoterapia pode ser determinante para o sucesso do tratamento 61. A eficácia de tratamento baseado na imunoquimioterapia associada ao antimonial pentavalente em uma preparação de formas promastigotas de L. infantum foi avaliada, e mostrou baixa resposta, não suprimindo de forma uniforme a infecciosidade dos cães 62. Vinte e seis cães submetidos à imunoterapia com a vacina fucose-manose ligante (FML) apresentaram resultados promissores, demonstrados pela normalização das proporções dos linfócitos CD4 e CD21, sugerindo a condição de não transmissibilidade, elevação dos linfócitos T CD8 e manutenção da condição assintomática em 90% dos animais 63. Em outro estudo, a imunoterapia, baseada na proteína NH36 (FML) e tendo como adjuvante 1mg de saponina, foi utilizada em

vinte e quatro cães, com aplicações aos seis, sete e oito meses após a infecção, quando os animais eram soropositivos e sintomáticos. Os resultados revelaram melhora clínica e contagens normais de células CD4+, sugerindo a diminuição do potencial de transmissibilidade dos animais tratados 64. Medicamentos de suporte O emprego de tratamentos associados [antibioticoterapia / terapia transfusional / acaricidas / renoproteção (cetoanálogos, dietas especiais, fluidoterapia, acidificantes urinários / complexos vitamínicos] 65 depende do estado clínico do paciente e da reação deste ao protocolo adotado. Deve-se estar atento às infecções concomitantes – que se instalam pela condição de imunossupressão do animal e dificultam sobremaneira a recuperação –, como erliquiose, hepatozoonose, babesiose, filarioses e outras doenças 66. Portanto, o paciente deve ser cuidado em todos os seus sistemas, pois muitas vezes a cura clínica não é alcançada devido a uma infecção bacteriana não tratada, uma anemia não corrigida, sarnas – principalmente a demodiciose, pelo seu aspecto imunomediado –, alterações renais que levam à uremia, e suas conseqüências 65. Acompanhamento de cães em tratamento Os cães em tratamento devem ser submetidos a exames periódicos rigorosos a fim de identificar possíveis reinfecções ou recidivas difíceis de serem confirmadas 35 e, sobretudo, avaliar o potencial de parasitismo cutâneo, mensurado por exames de fragmentos da extremidade da região interna da orelha pela técnica de IHQ 67,68 (Figuras 2 e 4). Pode-se considerar a hipótese de recidiva

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Protocolo 1

Figura 4 - Detalhe da coleta de material para realização de imunohistoquímica

ou reinfecção quando for constatada a presença de pelo menos duas das seguintes condições: disproteinemia (inversão da fração albumina/globulina), aumento da titulação em duas ou mais diluições e presença de sintomas compatíveis com a doença 35. Sugere-se que essa avaliação seja feita em intervalos de três meses no primeiro ano de tratamento, de quatro meses no segundo ano, e de seis meses na seqüência da vida do cão. Os exames indicados em cada avaliação, além do físico, consistem de hemograma, função renal, proteínas séricas (albumina e globulinas), titulação plena de anticorpos anti-Leishmanias e pesquisa de parasitas na pele (Figura 5). A cura pode ser considerada quando o cão se mantiver assintomático, os exames se mostrarem dentro de valores normais, e os títulos sorológicos e as pesquisas de parasitas na pele e na medula óssea forem negativos pelas técnicas de IHQ, PCR e cultura durante dois anos consecutivos 53. Medidas associadas É essencial que o proprietário esteja ciente de todo o processo que envolve o tratamento, tendo uma atitude responsável. Recomenda-se explicar em detalhes todas as medidas preventivas para evitar reinfecções ou primoinfecções em outros cães que habitem a mesma região 66. Um princípio básico para a prevenção da LVC é evitar o contato entre o vetor infectado e o cão. Dessa forma, medidas contra o vetor devem ser adotadas no ambiente e centradas no cão. As medidas direcionadas aos cães parecem ser as mais adequadas nos grandes centros urbanos. A utilização permanente de colar inseticida à base de deltametrina a 4% é essencial em cães em tratamento e naqueles que

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Figura 5 - A esquerda, cão da raça chow-chow, soropositivo para LVC, que apresentava diversas falhas na pelagem e que foi tosado. À direita, o mesmo cão após dezoito meses de tratamento com anfotericina b e alopurinol

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vivem ou viajam a regiões enzoóticas 13 (Figura 6), em face dos resultados em relação ao controle da doença humana e canina 69,70,71,72,73,74,75. O uso de outras formulações tem sido disponibilizado comercialmente para cães nos quais o colar inseticida desencadeia reações alérgicas, ou submetidos à rotina de banhos freqüentes. Entre esses produtos destacam-se a associação de imidacloprid/permetrina em solução spot-on, a permetrina 65% e a permetrina/piriproxifeno 76,77,78. Do ponto de vista individual, as medidas recomendadas aos proprietários dos cães livres da infecção ou em tratamento, podem ser assim enumeradas: 1 - uso do colar impregnado com deltametrina 4% – substituído a cada seis meses; em cães alérgicos ao colar, uso

Figura 6 - Prevenção da aproximação dos flebotomíneos pela utilização da coleira a base de deltametrina a 4%

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de inseticidas de aplicação tópica à base de permetrina – aplicação a cada 15 a 30 dias, conforme o produto utilizado 76,77,78. Em áreas de alta prevalência, e em cães com a presença de amastigotas na pele – verificada através de testes específicos –, as duas indicações anteriores podem ser utilizadas; 2 - cuidados de limpeza do ambiente, como retirada de matéria orgânica excessiva; aplicação de inseticidas ambientais centrados nos canis (ambientes em que o animal permanece por mais tempo), como aqueles à base de deltametrina e cipermetrina, em aplicações semestrais; 3 - uso de plantas repelentes de insetos, como a citronela e a neem; 4 - não realização de passeios crepusculares ou noturnos, horários de maior atividade dos flebotomíneos, privilegiando os passeios diurnos 79. Vacina contra LVC A inexistência de tratamento efetivo para a cura total da doença canina, e a polêmica sobre a eliminação indiscriminada dos cães infectados, tornam urgente a adoção de nova estratégia, centrada em vacina eficaz 80. Há quatro anos, vacina contra a LVC – aprovada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) – vem sendo empregada no Brasil. Essa vacina é composta pelo antígeno complexo glicoprotéico ligante de fucose e manose (FML) de Leishmania donovani, e pelo adjuvante saponina. Sua utilização tem sido adotada pela comunidade de clínicos veterinários mas, até o momento, não foi adotada pelo MS. A justificativa apresentada por aquele órgão para essa posição é a falta de estudos de campo que comprovem a eficácia da vacina no

controle da LV 28. Entretanto, um estudo de campo demonstrou que essa vacina induz bom efeito protetor contra a LVC, com eficácia vacinal de 80% 81. Outro estudo demonstrou que a vacina bloqueia a transmissão e, dessa forma, protege os cães do contágio e da condição de reservatórios, bloqueando a transmissão para os flebotomíneos 82. Ainda assim, e com vistas ao desenvolvimento de vacinas que, em conjunto com outras medidas de controle, possam ser utilizadas na profilaxia e no controle da doença, novos estudos devem ser conduzidos nessa área. Considerações finais A decisão de tratar a LVC tem sido adotada, por parte da comunidade médico veterinária mundial, em função do conhecimento de que a doença não é uniformemente fatal, de que alguns cães podem apresentar cura espontânea 52,53,83, e pelo desejo de muitos proprietários, que assumem a responsabilidade de implementar todas as condutas recomendadas pelo médico veterinário – que, além de preservarem a vida do cão possam mitigar o risco de que o animal em tratamento seja fonte de infecção para o vetor e para as pessoas 13. Os protocolos atuais oferecem boas possibilidades de cura clínica, baixo índice de recidivas, e diminuição ou supressão do parasitismo cutâneo – e, conseqüentemente, da capacidade infectante da pele – mensurados através de exames imunocitoquímico e xenodiagnóstico 42,53,60,67,83,84,85,86,87. Todos esses fatores sugerem que o tratamento da LVC, associado às medidas contra o vetor – sobretudo aquelas centradas no cão –, são eficientes para mitigar o risco da transmissão 13. Alia-se a esses fatores o advento da imunoterapia e da vacinação canina. Finalmente, consideramos que o princípio de controle da doença não deveria ser centrado no sacrifício dos animais. Outras formas devem ser buscadas, e aquelas que têm sido apresentadas devem ser utilizadas e constantemente reavaliadas. Ao mesmo tempo, todos os esforços em pesquisas que busquem protocolos de prevenção e tratamento cada vez mais eficazes devem ser estimuladas pelos órgãos privados ou públicos. Os melhores resultados serão alcançados se os segmentos sociais envolvidos buscarem entrosamento e colaboração.

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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007



Aspectos clínicos de cães naturalmente infectados por Leishmania (Leishmania) chagasi na região metropolitana do Recife

Alessandra Ribeiro de Albuquerque Médica veterinária Depto. Medicina Veterinária/UFRPE aralbuquerque@yahoo.com.br

Fabiane Rodrigues de Aragão Médica veterinária Depto. Medicina Veterinária/UFRPE, fabianearagão@yahoo.com.br

Maria Aparecida da Glória Faustino Médica veterinária Depto. Medicina Veterinária/UFRPE magfaustino@hotmail.com

Clinical aspects of dogs naturally infected by Leishmania (Leishmania) chagasi in the metropolitan region of Recife

Yara de Miranda Gomes Pesquisadora Depto. Imunologia, CPqAM/FIOCRUZ yara@cpqam.fiocruz.br

Rodrigo Alves de Lira Pesquisador Depto. Imunologia, CPqAM/FIOCRUZ rodrigo@cpqam.fiocruz.br

Aspectos clínicos de perros naturalmente infectados por Leishmania (Leishmania) chagasi en la región metropolitana de Recife Resumo: A Leishmaniose visceral ou calazar é uma doença parasitária de caráter zoonótico de distribuição cosmopolita, situada entre as seis endemias consideradas prioritárias no mundo. No presente estudo foram descritos os achados clínicos observados em 25 cães naturalmente infectados por Leishmania sp na região metropolitana do Recife. Os animais foram submetidos a exames parasitológico e sorológico pelo ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA). Os sinais clínicos mais freqüentes foram as úlceras cutâneas, seguidas de linfadenomegalia, perda de peso, onicogrifose e oftalmopatias. Sugere-se que, em áreas endêmicas para leishmaniose visceral canina, os animais que apresentam esses sinais clínicos devam ser investigados quanto à infecção por Leishmania (Leishmania) chagasi. Unitermos: Canino, zoonose, leishmaniose visceral Abstract: Visceral leishmaniasis is a chronic parasitic infection with a worldwide distribution. It is considered one of the six priority endemic diseases in the world. This article describes the clinical findings observed in 25 dogs from the metropolitan region of Recife, which were naturally infected by Leishmania sp. Animals were submitted to parasitological and serological exams through the enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA). The most frequent clinical findings were cutaneous ulcers, lymphadenomegaly, weight loss, onycogryphosis and ophthalmopathies. It is suggested that animals presenting any of these clinical signs in endemic areas for canine visceral leishmaniasis be investigated for Leishmania (Leishmania) chagasi infection. Keywords: Canine, zoonoses, visceral leishmaniasis Resumen: La leishmaniasis visceral es una enfermedad parasitaria de carácter zoonótico de distribución cosmopolita, situada entre las seis endemias consideradas prioritarias en el mundo. En este trabajo son descritos los hallazgos clínicos observados en 25 perros naturalmente infectados por Leishmania sp en la región metropolitana de Recife. Los animales fueron sometidos a exámenes parasitológico y sorológico por ensayos de inmunoadsorción enzimática (ELISA). Las señales clínicas más frecuentes fueron las úlceras cutáneas, seguidas de linfadenomegalia, pérdida de peso, onicogrifosis y oftalmopatías. Se sugiere que, en áreas endémicas para Leishmaniasis visceral canina, los animales que presenten estas señales clínicas deban ser investigados respecto a la infección por Leishmania (Leishmania) chagasi. Palabras clave: Canino, zoonosis, leishmaniasis visceral

Clínica Veterinária, n. 71, p. 78-80, 2007

INTRODUÇÃO Leishmania chagasi (L. chagasi) é o agente da leishmaniose visceral americana (LVA), também conhecida como calazar 1, cujo principal reservatório urbano é a espécie canina 2. No Brasil, a prevalência da leishmaniose visceral canina (LVC) varia de 2,5% a 46,6% em áreas endêmicas 3. Entretanto, estima-se que essa prevalência seja subestimada 4. 78

Cães infectados por L. chagasi podem apresentar diferentes manifestações clínicas. A resposta imune do hospedeiro está intimamente ligada à severidade das manifestações clínicas dos animais acometidos. Desta forma, é possível classificar os cães como assintomáticos, oligossintomáticos ou sintomáticos 5. Classicamente, a LVC apresenta sinais inespecíficos, como lesões cutâneas

Mineo Nakasawa Pesquisador Depto. Imunologia, CPqAM/FIOCRUZ mineonakasawa@cpqam.fiocruz.br

Leucio Camara Alves MV, prof. Depto. Medicina Veterinária/ UFRPE, leucioalves@hotmail.com

(descamação, eczema, alopecia, úlceras de pele, pêlos sem brilho, nódulos subcutâneos), emagrecimento, apatia, febre irregular, coriza, ceratoconjuntivite, onicogrifose, linfoadenopatia, edema, diarréia, hemorragia intestinal, esplenomegalia e hepatomegalia, entre outros 5,6,7,8,9,10,11. A ampla variedade de sinais clínicos torna o diagnóstico clínico difícil. Assim, recomenda-se que o profissional subsidie o diagnóstico com achados clínicoepidemiológicos e exames subsidiários citológicos, histopatológicos, parasitológicos, sorológicos e/ou moleculares 12. O objetivo do presente estudo foi relatar as características clínicas de cães com diagnóstico positivo de LVC na Região Metropolitana do Recife (RMR). MATERIAL E MÉTODOS Animais Foram utilizados 142 cães de raças e idades variadas, de ambos os sexos e domiciliados na região metropolitana do Recife. Os animais foram submetidos a avaliação clínica geral e, na ocorrência de sinais e sintomas sugestivos de leishmaniose, encaminhados ao ambulatório do referido hospital para a realização de exames específicos.

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Na anamnese de cada animal foram questionados dados referentes ao estado geral, raça, sexo, idade, evolução do processo e procedência. Foi realizado também exame dermatológico, com especial interesse em manifestações clínicas de leishmaniose. Diagnóstico parasitológico O exame parasitológico foi realizado utilizando biópsia de medula óssea. Após anti-sepsia foi realizada punção na crista do osso esterno, com vistas à confecção de esfregaços em lâminas de vidro, corados pelo método Panótico. Diagnóstico sorológico Para o exame sorológico foi realizada colheita de sangue mediante venopunção cefálica. O soro obtido foi acondicionado em tubos plásticos, congelados à temperatura de -20°C. A pesquisa de anticorpos anti-Leishmania foi realizada utilizando os testes de ELISA pelo kit a EIELeishmaniose-Visceral-Canina®, que utiliza antígeno solúvel de formas promastigotas de Leishmania “major-like”. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 142 animais atendidos no ambulatório de leishmaniose da UFRPE, 17,60% (25/142) apresentaram um ou mais sinais clínicos sugestivos de LVC e foram então incluídos no estudo. O restante dos cães apresentava-se assintomático no momento do exame clínico. Os sinais clínicos apresentados por cada animal encontram-se nas figuras 1 e 2. Neste estudo foram diagnosticados 80% (20/25) de animais positivos ao teste parasitológico, e 64% (16/25) de animais positivos no teste sorológico. Os sinais clínicos mais freqüentes foram as úlceras cutâneas, seguidas de linfadenomegalia, perda de peso, onicogrifose e oftalmopatias, corroborando estudos similares envolvendo a investigação de sintomas clínicos de leishmaniose em cães 3,13. Perda de peso, lesões de pele e oftalmopatia são sintomas já referidos em cães com leishmaniose na região metropolitana de Recife 14. Da mesma forma, a presença de úlceras cutâneas nos animais estudados também foi relatada na região, com freqüência encontrada ao redor de 80% 6,15,16,17. Embora a úlcera cutânea não represente a) EIE-Leishmaniose-Visceral-Canina®. Laboratório Bio-Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ.

Sinal clínico Úlcera cutânea Onicogrifose Descamação cutânea Perda de peso Oftalmopatia Linfadenopatia Epistaxe Artropatia

Freqüência absoluta 18 10 01 09 10 12 02 02

Freqüência relativa (%) 90 50 5 45 50 60 10 10

Figura 1 - Freqüência absoluta e relativa dos sinais clínicos encontrados em cães com diagnóstico sorológico positivo para leishmaniose visceral canina na Região Metropolitana do Recife, 2006

Sinal clínico Úlcera cutânea Onicogrifose Descamação cutânea Perda de peso Oftalmopatia Linfadenopatia Epistaxe Artropatia

Freqüência absoluta 14 07 00 08 07 11 02 01

Freqüência relativa (%) 87,5 43,75 0 50 43,75 68,75 12,5 6,25

Figura 2 - Freqüência absoluta e relativa dos sinais clínicos encontrados em cães com diagnóstico parasitológico positivo para leishmaniose visceral canina na Região Metropolitana do Recife, 2006

sinal clínico patognomônico da LVC, a presença desse tipo de lesão dermatológica poderia ser creditada à resposta do hospedeiro vertebrado à infecção, além da ação direta do parasita e da vasculite necrosante causada por deposição de imunocomplexos 11. A multiplicação das formas amastigotas produz processo inflamatório com atração de novas células para o sítio da infecção, gerando infiltrado inflamatório composto por linfócitos e macrófagos, o que leva à formação do nódulo. O processo se expande pela multiplicação do parasita em novas células, agravando a resposta inflamatória e levando à ulceração superficial da pele. Com a evolução do processo, é observada necrose da epiderme e da membrana basal, que culminam com lesão úlcero-crostosa 18. O crescimento exagerado das unhas (onicogrifose) foi observado em 88% (22/25) dos cães estudados. A onicogrifose pode ser justificada pelo estímulo do parasita à matriz ungueal. Alternativamente, essa hipertrofia deve-se também ao menor uso das unhas decorrente da apatia apresentada pelo animal, embora este sinal não seja considerado patognomônico 16. A presença da onicogrifose como sintoma clínico em cães com leishmaniose é muito variável 6,7,10,15,16,17. A freqüência de oftalmopatias verificada nos animais estudados (52,0%) apresentou percentual superior àqueles descritos na literatura 6,7,10,17,19. Esse resultado poderia provir da não uniformidade do exame oftálmico.

A perda de peso foi constatada em 44% (11/25) dos cães do presente estudo. Esse achado também tem sido apontado em outras investigações sobre a leishmaniose em cães 6,7,10,16,17,19, podendo ser creditado, dentre outros fatores, à fase de evolução doença. A epistaxe foi identificada em 8% (2/25) dos animais. Embora a literatura reporte epistaxe e trombocitopenia em cães com leishmaniose 6, deve-se considerar que a coinfecção com outros hematozoários poderia contribuir para esse tipo de manifestação clínica. Em 56% (14/25) dos animais foi encontrada linfoadenopatia. O aumento dos linfonodos nos animais infectados por Leishmania sp 6,7,10,16,17 está relacionado à proliferação da região de células B e à depleção das células T, além da presença de grande contingente de células plasmáticas, eosinófilos e macrófagos, contendo formas amastigotas do parasita 11. CONCLUSÃO A leishmaniose possui sintomatologia clínica complexa, que pode facilmente ser confundida com outras doenças infecciosas em animais de companhia. Entretanto, os achados do presente estudo alertam que, em regiões endêmicas para a doença em cães, a presença de dermatopatias, onicogrifose e/ou linfadenopatia é sugestiva de leishmaniose, requerendo que esses animais sejam submetidos ao diagnóstico da doença, em virtude do impacto da leishmaniose na saúde animal e no contexto da saúde pública.

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Leishmaniose tegumentar americana: uma visão da epidemiologia da doença na Região Sul American tegumentary leishmaniasis: epidemiological vision about this disease in south region Leishmaniasis cutánea: una visión epidemiológica de la enfermedad en la región sur Resumo: A leishmaniose é uma das principais doenças transmitidas por vetores no mundo. No Brasil, é considerada reemergente e em expansão. Em decorrência do crescimento dos centros urbanos e das dificuldades sócio-econômicas a doença não está mais confinada às florestas, avançando nos últimos anos para a periferia dos grandes centros. O número esperado de casos novos anuais de leishmaniose tegumentar americana (LTA) no Brasil é de 30.000 casos/ano. Na Região Sul, até o ano 2000, somente o Rio Grande do Sul (RS) não era considerado área de risco de transmissão. Porém, em 2002 foi confirmado o primeiro caso autóctone humano do Estado, no município de Porto Alegre. Atualmente, já foram confirmados 17 casos autóctones no RS, transformando-o em área de risco de transmissão de LTA. Unitermos: Doença parasitária; leishmaniose cutânea; Leishmania Abstract: Leishmaniasis is one of the main vector-transmitted diseases in the world. In Brazil, it is considered reemergent and in expansion. Urban center growth and social-economic problems led the disease to leave the forests and advance to the periphery of the big cities in recent years. The number of cases of american tegumentary leishmaniasis (ATL) in Brazil is expected to be around 30,000 cases/year. In the South Region, only the State of Rio Grande do Sul (RS) was not considered an area with risk of transmission of ATL until 2000. However, in 2002 the first autochthonous human case was confirmed in the State, in the city of Porto Alegre. Until now, 17 autochthonous human cases have been confirmed in RS, turning it into an ATL risk transmission area. Keywords: Parasitic disease; cutaneous leishmaniasis; epidemiology; Leishmania Resumen: Leishmaniasis es una de las principales enfermedades transmitidas por vectores en el mundo. En Brasil, es considerada re-emergente y en expansión. En resultado del crecimiento de centros urbanos y de las dificultades socioeconómicas, la enfermedad no se presenta confinada más a los bosques, avanzando en los últimos años hacia la periferia de los grandes centros. El número esperado de nuevos casos de Leishmaniasis Cutánea (LC) en Brasil es de 30.000 casos/año. En la región sur, hasta el año 2000, solamente la Província de Rio Grande do Sul (RS) no era considerada área de riesgo de transmisión. Sin embargo, en el año 2002 el primer caso humano autóctono de esta Provincia se confirmó, en el distrito municipal de Porto Alegre. Actualmente, 17 casos autóctonos están confirmados en RS, transformando esta Província en área de riesgo de transmisión de LC. Palabras clave: Enfermedad parasitaria; epidemiología; Leishmania

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Introdução A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença polimórfica, espectral de pele e mucosa, causada pelo protozoário heteróxeno pertencente ao gênero Leishmania. De caráter zoonótico, acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos, necessitando de um hospedeiro vertebrado e outro invertebrado para completar o seu ciclo biológico. Os sinais podem variar de pequenas lesões auto-limitantes a lesões desfigurantes. 1,2 O gênero possui duas formas durante o seu ciclo evolutivo: a forma amastigota, tipicamente ovóide ou esférica, com núcleo, cinetoplasto e flagelo rudimentar, encontrada nas células do sistema fagocítico mononuclear, principalmente nos macrófagos, dos hospedeiros vertebrados; em contraste, a 82

promastigota tem formato alongado, núcleo, cinetoplasto e flagelo livre e é encontrada no intestino dos hospedeiros invertebrados. Apresentando variações em sua forma, durante o desenvolvimento no inseto vetor, a forma promastigota metacíclica é considerada a forma infectante do gênero. 3,4,5 A leishmaniose é uma das principais doenças transmitidas por vetores no mundo. No Brasil é considerada reemergente e em franca expansão. Atualmente, com o crescimento dos centros urbanos e as dificuldades sócioeconômicas, a doença não está mais confinada às regiões florestais ocorrendo, também, nas periferias e nos grandes centros urbanos. O número de novos casos anuais esperados no Brasil é de 30.000 casos/ano. Assume-se que a Região Norte-Nordeste do país é a que apresenta

Jairo Ramos de Jesus MV, M.Sc. jairorj@terra.com.br

Flavio Antonio Pacheco de Araujo MV, M.Sc., dr., chefe Laboratório de Protozoologia/FV/UFRGS faraujo@ufrgs.br

maior incidência de casos de leishmaniose tegumentar americana. Porém, com os movimentos migratórios das populações dessas regiões em direção ao sul do país, a doença se expandiu, a partir da década de 80, para todo o território nacional, tornando-se grande problema de saúde pública. Até 2000, somente o Estado do Rio Grande do Sul (RS) não era considerado área de risco para a doença. Entretanto, nesse ano ocorreu a notificação do primeiro caso confirmado de leishmaniose tegumentar americana no município de Porto Alegre. No ano de 2002 foi confirmado o primeiro caso autóctone no Estado, também, no município de Porto Alegre (RS). Atualmente, já foram notificados 17 casos autóctones no Estado, além da existência de vários outros suspeitos, assumindo o Estado o status de área de risco para a doença. A emergência da doença na Região Sul do país, aliada à falta de dados epidemiológicos, de diagnóstico e de ações sistemáticas de controle da leishmaniose na região, representam um desafio aos profissionais da saúde 3,6. O presente estudo pretendeu revisar aspectos importantes da epidemiologia da leishmaniose tegumentar americana, visando subsidiar o reconhecimento da doença e a adoção de ações de controle e profilaxia na Região Sul do Brasil. Epidemiologia geral A LTA é encontrada em todos os países das regiões tropicais e subtropicais do mundo, exceto na Austrália, na Nova Zelândia e em algumas ilhas do Pacífico. Considerada doença praticamente cosmopolita, apresenta distribuição geográfica irregular, que pode ser evidenciada pelo fato de que, mesmo reportada em mais de 80 países, concentra 90% de todos os casos em seis países: Afeganistão, Brasil, Irã, Peru, Arábia Saudita e Síria. A estimativa mundial de novos casos anuais é de 1,5 milhão, embora somente 300.000 casos/ano sejam oficialmente notificados à Organização Mundial da Saúde. 7,8 A LTA é particularmente importante na América do Sul. Na década passada era considerada uma doença de áreas rurais, acometendo principalmente militares e agricultores do sexo masculino, devido à maior exposição destes à floresta ou mata, na

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concepção de uma cadeia epidemiológica silvestre. 9,10 Atualmente, a cadeia epidemiológica da doença tem se alterado, trazendo o aumento de casos urbanos e periurbanos, o que caracteriza uma mudança da ocorrência fundamentalmente silvestre para peridomiciliar urbana, que atinge especialmente os domicílios próximos às matas, encostas de morros e os aglomerados semiurbanizados das periferias dos centros urbanos. A doença não está diretamente associada ao processo de desmatamento mas, provavelmente, a uma adaptação do parasito aos cães, aos eqüinos e aos roedores, que desempenham importante papel como novos reservatórios do agente. 8,11 Assim, é comum o surgimento de sinais clínicos em indivíduos de todas as idades, embora com maior prevalência em adultos com mais de 40 anos, que comumente apresentam lesões nas pernas, nos braços e no rosto. A espécie Leishmania (Viannia) brasiliensis é reconhecida como o agente etiológico mais amplamente distribuído no país, exceto ao norte do rio Amazonas. 9,12 Os hospedeiros vertebrados incluem grande variedade de mamíferos silvestres e domésticos, como o homem, os roedores, os canídeos silvestres, os edentados (tatu, tamanduá), os marsupiais (gambá) e os eqüídeos. A participação de animais domésticos no ciclo epidemiológico da LTA é conhecida desde o início do século passado. Diversos estudos conduzidos em áreas endêmicas de LTA demonstram que tanto o cão quanto o jumento são freqüentemente infectados. No Brasil, é comum a presença de cães infectados em áreas endêmicas, principalmente na Região Sudeste do país. 1,13 Os hospedeiros invertebrados (vetores) são pequenos insetos da ordem Díptera, família Psychodidae, subfamília Phelebotominae, gênero Phlebotomus spp (Velho Mundo) e Lutzomyia spp (Novo Mundo). São comumente encontrados em áreas florestais ou arredores, podendo invadir domicílios e regiões peridomiciliares. Estima-se que, em todo o mundo, existem cerca de 500 espécies descritas de flebotomíneos, das quais ao redor de 70 já foram incriminadas como vetores de leishmaniose. Nas Américas o gênero Lutzomyia é o de maior importância médica, dividido em vários subgêneros, que abrigam as mais importantes espécies envolvidas na transmissão de LTA, quais sejam: subgêneros Lutzomyia (Lu.), Psychodopygus e Pintomyia. As fêmeas do gênero são hematófagas e realizam a hematofagia predominantemente no

horário do crepúsculo, encerrando-a aproximadamente às 23 horas. Nesse período, podem invadir em grande quantidade o peri e o intradomicílio. Durante o dia, tanto as fêmeas como os machos se escondem em locais úmidos, escuros e abrigados, como cascas de árvores e galinheiros. 1,5,15 No Brasil, as principais espécies do gênero Lutzomya envolvidas na transmissão de LTA são Lu. intermedia, Lu. fischeri, Lu. whitmani, Lu. wellcomei, Lu. pessoai, Lu. umbratillis, Lu. migonei e Lu. flaviscutellata. No município de Porto Alegre (RS), em coletas realizadas em áreas endêmicas de LTA humana, foram capturadas e identificadas as seguintes espécies: Lu. neivai, Lu. migonei, Lu. pessoai, Lu. lanei e Lu. fischeri, em ordem decrescente de ocorrência. Com base na acentuada antropofilia, na maior quantidade de exemplares coletados e na distribuição espacial coincidente com a da doença, o flebotomíneo Lutzomyia nevai é considerado o principal vetor de LTA no município. 1,3,15,16,17 A Lu. Nevai pode ocorrer em matas e é muito bem adaptada às suas bordas e a ambientes modificados, e tem sucesso na adaptação a esses novos nichos, sendo, assim como outras espécies com a mesma característica adaptativa, responsabilizada pela transmissão da LTA em áreas urbanas e periurbanas. 9,15,18 Epidemiologia da leishmaniose na Região Sul do Brasil No Brasil, de 1985 a 1999, foram registrados 388.155 casos autóctones. Comparando os dados de 1985 (13.654 casos) com os de 1999 (30.550 casos) observa-se um aumento no coeficiente de detecção de casos de 10,45/100.000 habitantes para 18,63/100.000 habitantes. A expansão demográfica da doença também é evidente. Em 1994, foram registrados casos em 1.861 municípios e, em 1998, houve o registro em 2.055 municípios. Analisando os casos regionalmente, até 2000 a Região Norte apresentava registros de casos autóctones em 82% dos municípios, e a Região Nordeste em 88,5%. Na Região Centro-Oeste, em 1998, o Mato Grosso reportou 100% dos municípios apresentando registros de casos. Na Região Sudeste, os Estados do Espírito Santo e de Minas Gerais apresentaram casos em 50,5% e 46,3% dos seus municípios, respectivamente. No Sul, o destaque é o Paraná, responsável por 98% dos casos da região, que demonstrou aumento gradativo no número de municípios com registro de casos, passando de 117 em 1994 para 146 em 1998.

Atualmente, a média de notificação é de 30.000 casos anuais em todo o território nacional. A Região Nordeste ainda detém o maior número de casos notificados, da ordem de 14.000 ao ano. Até o presente momento existem sete espécies de Leishmania responsabilizadas pela doença no Brasil: Leishmania (Viannia) brasiliensis; L. (V.) guyanensis, L. (V.) lainsoni, L. (V.) shawi, L. (V.) naiffi, L. (V.) lindenbergi e L. (Leishmania) amazonensis. 3,11 Em 2000, no município de Porto Alegre (RS), foi diagnosticado o primeiro caso de LTA, em um indivíduo do sexo masculino, de 74 anos de idade, portador de lesão na mucosa nasal com infiltração no nariz e no lábio superior direito e destruição do septo nasal. O histórico clínico do paciente destacava a ocorrência de lesão similar há 50 anos, quando este residia em São Nicolau (RS) embora, no ano mencionado, ele residisse em Porto Alegre havia, no mínimo, 10 anos. Não foi possível determinar o local da transmissão devido ao histórico clínico e à ausência de relatos de flebotomíneos na capital do Estado, na época do ocorrido. Assim, aquele foi considerado o primeiro caso confirmado de LTA no Rio Grande do Sul. Em outubro de 2002, uma mulher adulta, com histórico de residir em sítio em borda de mata virgem há mais de 20 anos, apresentou lesão ulcerativa no cotovelo direito. Nessa paciente foi diagnosticado e confirmado o primeiro caso autóctone de LTA em Porto Alegre (RS). Na oportunidade, os órgãos de vigilância sanitária alertaram para o risco de transmissão no município. Foram realizados estudos para a identificação da entomofauna na região do caso, e os profissionais da saúde foram orientados a encaminhar qualquer caso suspeito à Equipe de Controle Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. 17,19,20 Após essas constatações iniciais, foram confirmados mais três casos, originados em 2001, dos quais dois eram procedentes do município de Santo Antônio das Missões e um do município de Viamão. Dois dos três pacientes haviam iniciado a sintomatologia em 2000. Em 2002, foram notificados dois casos, um em Porto Alegre (bairro Lomba do Pinheiro/Restinga) e outro no município de Rolador. Em 2003, houve a confirmação de oito casos autóctones: seis na região sul de Porto Alegre, um no município de São Miguel das Missões e um no interior do município de Capão da Canoa. O ano de 2004 terminou com o diagnóstico de dois casos de LTA em Porto Alegre, e em 2005 foram confirmados

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mais dois casos. De acordo com a localização dos casos, é possível sugerir a presença de três áreas de risco de transmissão de LTA: região das missões (Sto.Antônio das Missões, São Miguel das Missões, Rolador), com quatro casos de provável transmissão rural, na qual a o ambiente é formado por capões de mata rodeados por campos de pastagem; região metropolitana (Porto Alegre/Viamão), com 12 casos, na qual a transmissão ocorre em áreas periurbanas, com fragmentos de mata residuais; região litorânea (Capão da Canoa), com transmissão rural próxima à Mata Atlântica. Nesses cinco anos, o número total de casos foi de 17 pessoas adultas, com média de idade de 47 anos. Entretanto, a maioria (60%) tem mais de 45 anos, com predomínio de casos no sexo masculino (11/17). Não foram registrados casos em menores de 15 anos, o que sugere, até o momento, ausência de transmissão intradomiciliar. Todos os pacientes confirmados nesse período receberam tratamento após avaliação clínica e laboratorial. 3 Segundo a Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre (RS), os casos suspeitos devem ser notificados à Equipe de Controle Epidemiológico (ECE), para encaminhamento dos exames diagnósticos, investigação epidemiológica, levantamento ambiental e liberação da medicação, uma vez que não está concluído o mapeamento dos vetores e, conseqüentemente, há risco de transmissão da doença em Porto Alegre (RS). No tocante ao programa de leishmaniose tegumentar americana, a Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde tem as suas ações voltadas, principalmente, para o fornecimento dos medicamentos necessários à terapia dos casos, e à capacitação das regionais em epidemiologia, como entomologistas e médicos veterinários, visando realizar levantamentos da entomofauna regional e identificar animais positivos. Este trabalho tem, como objetivo, fornecer subsídios ao entendimento da cadeia epidemiológica de transmissão da doença. 3,19 Controle e profilaxia As principais medidas de controle recomendadas são uso de inseticidas no controle do vetor, uso de proteção individual (telar janelas e portas, uso de mosquiteiros, repelentes e roupas compridas para evitar a picada do vetor) e uso de inseticidas que atuem contra o vetor nos animais de estimação em áreas endêmicas. É necessário realizar inquéritos soroepidemiológicos com vistas a elucidar o papel dos reservatórios 84

nos ambientes peri e intradomiciliar. Recomenda-se, também, a realização sistemática de medidas educativas, para capacitar os profissionais da saúde a reconhecerem os principais aspectos de transmissão e de apresentação da doença. No Rio Grande do Sul, as ações de controle e de prevenção da LTA, por parte da Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde, incluem vários procedimentos, como o fornecimento de medicamento para a LTA, a capacitação das regionais em epidemiologia, a capacitação de entomologistas na captura e na identificação dos vetores, o levantamento da fauna de flebótomos; a capacitação de médicos veterinários da região metropolitana de Porto Alegre na identificação da LTA em animais domésticos e, por fim, o projeto de estudo sobre reservatórios de Leishmania spp. nas áreas onde houve casos de LTA, com o objetivo de determinar os agentes envolvidos na transmissão desse agravo. 3,11,21 Considerações finais Faz-se necessário conhecer a cadeia epidemiológica de transmissão da LTA no ambiente urbano. O estudo do comportamento da doença, de seus reservatórios e das principais formas de transmissão permite adotar medidas de controle e prevenção adequadas nos novos focos, e/ou retardar ou interromper a expansão da doença em virtude de seus reflexos como problema de saúde pública. Investimentos na busca de vacinas que possam conferir proteção contra o maior número possível de espécies causadoras da LTA também devem ser estimulados, pois a imunoprofilaxia é ação fundamental para a prevenção de surtos e do surgimento de novos casos em áreas endêmicas. É igualmente necessária a realização de estudos de ocorrência da doença nos cães, em face da importância desses animais como reservatórios do parasito no meio urbano. Referências 01-GENARO, O. Leishmaniose Tegumentar Americana. In: NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 10. ed. São Paulo: Atheneu. 2002. p.36-53. 02-LAINSON, R. ; SHAW, J. J. Leishmaniasis in Brasil: V. Studies on the epidemiology of cutaneous leishmaniasis in Mato Grosso State, and observations on two distinct strains of Leishmania isolated from man and forest animals. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 64. p. 654-667, 1970. 03-SANTOS, E. ; ALMEIDA, M. A .B. ; SOUZA, G. D. ; RANGEL, S. ; LAMMERHIRT, C. B. ; CRUZ, L. L. ; BERCHT, D. B. ; FONSECA, D. F. ; NETO, R. A. Situação da Leishmaniose Tegumentar Americana no Rio Grande do Sul. Boletim Epidemiológico - Centro Estadual de Vigilância em Saúde/RS, v. 7, n. 2, p. 1-3, 2005. 04-MARZOCHI, M. C. A. ; SCHUBACH, A. O. ; MARZOCHI, K. B. F. Leishmaniose tegumentar Americana. In: CIMERMAN, B. ; CIMERMAN, S. Parasitologia

Humana e seus Fundamentos Gerais. São Paulo: Atheneu, 1999. p. 39-64. 05-NIEVES, E. ; PIMENTA, P. F. P. Development of Leishmania (Viannia) brasiliensis and Leishmania (Leishmania) amazonensis in the sand fly Lutzomyia migonei (Diptera: Psychodidae). Journal of Medical Entomology, v. 37, n. 1, p. 134-140, 2000. 06-JESUS, J. R. de. Avaliação sorológica para anticorpos de Leishmania spp. através da reação de imunofluorescência indireta na população canina da região da Lomba do Pinheiro, cidade de Porto Alegre, RS, Brasil, a partir de casos autóctones humanos de leishmaniose tegumentar. 2006. 80f. Dissertação (Mestrado em Parasitologia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. 07-KLAUS, S. N. ; FRANKENBURG, S. ; INGBER, A. Epidemiology of cutaneous leishmaniasis. Clinics in Dermatology, v. 17, n. 3, p. 257-260, 1999. 08-DESJEUX, P. Leishmaniasis: current situation and new perspectives. Comparative Immunology, Microbiology and Infectious Diseases, v. 27, n. 5, p. 305-318, 2004. 09-OLIVEIRA, C. C. G. ; LACERDA, H. G. ; MARTINS, D. R. M. ; BARBOSA, J. D. A. ; MONTEIRO, G. R. ; QUEIROZ, J. W. ; SOUZA, J. M. A. ; XIMENSES, M. F. F. M. ; JERONIMO, S. M. B. Changing epidemiology of American cutaneous leishmaniasis (ACL) in Brazil: a disease of the urban-rural interface. Acta Tropica, v. 90, n. 2, p. 155-162, 2004. 10-AS LEISHMANIOSES. Laboratório de imunomodulação - Depto. de Protozoologia/IOC - Fiocruz. 1997. Disponível em: <http://websight@pobox.com.>. Acesso em: 15 maio 2004. 11-Manual de controle da leishmaniose tegumentar americana. Brasília: Ministério da Saúde, 2000. 62p. 12-ANTONELLI, L. R. V. ; DUTRA, W. O. ; ALMEIDA, R. P. ; BACELLAR, O. ; CARVALHO, E. M. ; GOLLOB, K. J. Activated inflammatory T cells correlate with lesion size in human cutaneous leishmaniasis. Immunology Letters, v. 101, p. 226-230, 2005. 13-FALQUETO, A. ; COURA, J. R. ; BARROS, G. C. ; FILHO, G. G. ; SESSA, P. A. ; CARIAS, V. R. D. ; JESUS, A. C. ; ALENCAR, J. T. A. Participação do cão no ciclo de transmissão da leishmaniose tegumentar no município de Viana, Estado do Espírito Santo, Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 81, n. 2, p.155-163, 1986. 14-MARCONDES, C. B. Flebotomíneos. In: _. Entomologia médica e veterinária. São Paulo: Atheneu, 2001. p. 13-30. 15-RANGEL, E. F. ; BANDEIRA, V. Vetores de Doenças Urbanas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA, 18, 2003, Rio de Janeiro. Hotel Glória. Sociedade Brasileira de Parasitologia, Proferida em 27 ago 2003. 16-CASTRO, A. G. ; SILVEIRA, A. C. ; SILVA, P. C. Controle diagnóstico e tratamento da leishmaniose visceral (calazar): Normas Técnicas. 2. ed. Brasília: Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde, 1996. p. 85. 17-GONÇALVES, B. R. D. Identificação da fauna de flebotomíneos em função de casos autóctones de LTA. Boletim Epidemiológico [da] Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Ano 5, n. 21, p. 5. 2003. 18-CHAVES, L. F. ; AÑEZ, N. Species co-ocurrence and feeding behavior in sand fly transmission of American cutaneous leishmaniasis in western Venezuela. Acta Tropica. v. 92, n. 3, p. 219-224, 2004. 19-SOUZA, A. I. ; BARROS, E. M. S. ; ISHIKAWA, E. ; ILHA, I. M. N. ; MARIN, G. R. B. ; NUNES, V. L. B. Feline leishmaniasis due to Leishmania (Leishmania) amazonensis in Mato Grosso do Sul State, Brazil. Veterinary Parasitology, v. 128, n. 1-2, p. 41-45, 2005. 20-Alerta sobre transmissão autóctone de leishmaniose cutâneo mucosa no município de Porto Alegre. Boletim Epidemiológico [da] Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, ano 5, n. 15, p. 1-5, 2002. 21-BRASIL. Ministério da Saúde. Nota técnica. Uso do antimoniato de meglumina em cães. Brasília, DF, 30 jan. 2004. Clínica Veterinária, ano IX, v. 9, n. 49, p. 22, 2004.

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007



Janaína Biotto Camargo

Leishmaniose visceral canina: aspectos de saúde pública e controle

MV, mestranda (MS2) Depto. Higiene Veterinária e Saúde Pública FMVZ-Unesp/Botucatu jbiotto@yahoo.com.br

Marcella Zampoli Troncarelli MV, mestranda (MS2) Depto. Higiene Veterinária e Saúde Pública FMVZ-Unesp/Botucatu

Canine visceral leishmaniasis: aspects of public health and control Leishmaniasis visceral canina: aspectos de salud pública y control Resumo: A leishmaniose visceral canina é uma zoonose considerada reemergente a partir das duas últimas décadas, e tem se tornado um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. No Brasil, é causada por protozoários do gênero Leishmania, da espécie L. chagasi, e acomete principalmente crianças menores de nove anos de idade e indivíduos imunocomprometidos. Atualmente, os pesquisadores têm dado atenção especial à co-infecção Leishmania-HIV, que se tornou bastante comum em regiões endêmicas para a doença. Aproximadamente 70% das pessoas acometidas pela leishmaniose visceral estão infectadas também pelo vírus da imunodeficiência humana, e 9% dos pacientes HIV positivos estão infectados concomitantemente pelo parasito. O que chama a atenção dos profissionais da saúde é que aproximadamente um terço da população com aids vive em áreas endêmicas para a leishmaniose visceral. Dessa maneira, ações de controle epidemiológico no que diz respeito aos reservatórios e vetores são extremamente importantes, já que a enfermidade vem se alastrando geograficamente, e o número de casos é crescente em quase todo o país. Unitermos: cães, epidemiologia, HIV, Leishmania Abstract: Canine visceral leishmaniasis is a zoonosis that has reemerged in the last two decades, becoming therefore a serious public health problem in Brazil and worldwide. In Brazil, it is caused by protozoans of the Leishmania genus (species L. chagasi), which infect mainly children under 9 years of age and immunocompromised individuals. Approximately 70% of the people infected with visceral leishmaniasis are also infected with the human immunodeficiency virus; conversely, 9% of HIV-positive patients are also infected with the parasite. Approximately one-third of the population with AIDS lives in endemic areas for visceral leishmaniasis. Therefore, epidemiologic control actions related to the reservoirs and vectors are extremely important, since the disease is spreading geographically and the number of cases is increasing in almost the whole country. Keywords: dogs, epidemiology, HIV, Leishmania Resumen: La leishmaniasis visceral canina es una zoonosis considerada re-emergente desde las dos últimas décadas y se ha tornado un serio problema de salud pública en Brasil y en el mundo. En Brasil, es causada por protozoarios del género Leishmania, de la especie L. chagasi y acomete principalmente niños menores de nueve años de edad e individuos inmunocomprometidos. Actualmente, los investigadores han dado especial atención a la coinfección Leishmania-virus de la inmunodeficiencia humana (VIH), que llegó a ser bastante común en regiones endémicas para el calazar. Aproximadamente 70% de las personas acometidas por la leishmaniasis visceral están infectadas también por el VIH y 9% de los pacientes VIH positivos están infectados concomitantemente por el parásito. Lo que llama la atención de los profesionales de salud es que aproximadamente un tercio de la población com SIDA vive en áreas endémicas para leishmaniasis visceral. De esta manera, acciones de control epidemiológico con respecto a los reservorios y vectores son extremadamente importantes, ya que los límites geográficos de la enfermedad se están alargando y el número de casos es creciente por casi todo el país. Palabras clave: perros, epidemiología, VIH, Leishmania

Clínica Veterinária, n. 71, p. 86-92, 2007

Aspectos da etiologia e epidemiologia A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença de potencial zoonótico e distribuição mundial, causada por protozoários do gênero Leishmania do complexo L. donovani. Nas Américas (Novo Mundo), o agente etiológico é a L. chagasi, enquanto que na Europa, Ásia e África (Velho Mundo) os agentes responsáveis são a L. infantum e a L. donovani 1. No Brasil, a doença é causada pela L. chagasi, espécie semelhante à L. infantum encontrada em alguns países do Mediterrâneo e da Ásia. Existe grande controvérsia sobre a origem da leishmaniose visceral (LV) no Novo Mundo, postulando-se que possa ter 86

sido introduzida após a colonização européia,determinada pela L. infantum, ou há vários milhões de anos, juntamente com os canídeos, causada pela L. chagasi 2. A doença foi descrita na Grécia, em 1835, quando era denominada “ponos” ou “hapoplinakon”. A denominação “calazar” é proveniente da Índia, e significa “pele negra”, em virtude da leve pigmentação que decorre do acometimento cutâneo 3. Embora o termo “calazar” seja utilizado para todas as formas da doença, somente o tipo indiano ocasiona hiperpigmentação da pele. Os principais reservatórios do agente são os cães domésticos. Todavia, o

matroncarelli@yahoo.com.br

Márcio Garcia Ribeiro MV, prof. ass. dr. FMVZ-Unesp/Botucatu, SP

mgribeiro@fmvz.unesp.br

Helio Langoni MV, prof. tit. - FMVZ-Unesp/Botucatu coordenador - Núcleo de Pesquisas em Zoonoses pesquisador cientifico - CNPq

hlangoni@fmvz.unesp.br

parasita pode se manter abrigado naturalmente também em animais silvestres, como as raposas das espécies Lycalopex vetulus e Cerdocyon thous, e nos gambás da espécie Didelphis albiventris. Além destes, eqüídeos e roedores também têm sido identificados como reservatórios 4. Alguns pesquisadores também relataram o agente em gatos, que são suscetíveis tanto para a leishmaniose visceral (LV) quanto para a leishmaniose tegumentar. O hábito eclético dessa espécie, bem como a zoofilia dos vetores, seriam fatores favoráveis para que os felinos pudessem ser reservatórios. Em estudos sobre xenodiagnóstico, houve comprovação da infectividade para o vetor Lutzomyia longipalpis e, em infecções experimentais, observaram-se lesões cutâneas e presença do protozoário em órgãos, à semelhança do que ocorre em humanos. No entanto, após alguns meses, a doença seria autolimitante nos gatos. A enfermidade, nessa espécie, estaria também associada a doenças imunossupressoras, tais como a leucemia e a imunodeficiência felinas. Estudos mais aprofundados são necessários para que se comprove a real participação dos felinos como reservatórios ou hospedeiros acidentais 5.

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Os vetores relacionados com a dispersão do agente são mosquitos da família dos flebotomíneos, Lutzomyia longipalpis, conhecidos também por mosquitos-palha, que se constituem no principal vetor no Brasil. Os reservatórios são infectados a partir da picada das fêmeas dos flebotomíneos durante seu repasto sangüíneo 6. Outros possíveis vetores da leishmaniose, como pulgas e carrapatos, têm sido objeto de estudo. Em pesquisa desenvolvida em Belo Horizonte, MG, foi realizada infecção experimental de Leishmania spp em cães que, em seguida, foram parasitados por carrapatos. Utilizando a PCR, os autores identificaram o DNA da Leishmania spp nesses carrapatos, o que sugere que eles se constituem em vetores para a enfermidade 7. Estima-se que 80% dos casos de leishmaniose ocorram em populações de baixa renda, que sobrevivem com menos de dois dólares por dia. Até os anos 90, quase todos os casos notificados no Brasil eram provenientes da Região Nordeste. Entretanto, atualmente, tem-se observado mudança drástica nesse panorama, com expansão das áreas endêmicas para as Regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte 8. Até 2001, a Região Nordeste destacava-se com o maior número de casos de leishmaniose (81,7%), seguida pelas regiões Norte (8,8%), Sudeste (7,6%) e Centro-Oeste (1,9%) 3. Em 2003, a doença foi relatada em 58% dos Estados do Nordeste, 15% do Norte, 7% do Centro-Oeste e 19% do Sudeste. No Estado de São Paulo, foi reintroduzida em 1999, quando os primeiros casos humanos foram registrados em Araçatuba. Atualmente, está presente em 24 municípios paulistas, localizados principalmente ao longo da Rodovia Marechal Rondon 8. A LV é classificada, de acordo com as suas características clínicas e epidemiológicas, em cinco tipos: indiano, africano, mediterrâneo, chinês e americano. O tipo indiano é considerado uma antropozoonose causada pela L. donovani, que acomete principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens, caracterizando-se por surtos freqüentes com alta taxa de mortalidade: ocorre no Afeganistão, no Irã, no Iraque, na Jordânia, em Israel, no Líbano, em Omã, na Arábia Saudita, na Síria, no Iêmen e em

Bengala. O tipo africano, semelhante ao indiano quanto à predisposição e aos sinais clínicos, é causado pela L. donovani ou L. infantum. As áreas de transmissão são florestas e locais próximos a cupinzeiros. O tipo mediterrâneo é uma zooantroponose cujo nicho compreende principalmente o peridomicílio. Acomete basicamente crianças menores de cinco anos de idade e cães. O protozoário envolvido é a L. infantum, que também participa do ciclo silvestre infectando raposas e chacais. Ocorre no Mediterrâneo, no Oriente Médio e no sul da Rússia. O tipo chinês é outra antropozoonose causada pela L. infantum, que completa seu ciclo em cães, procionídeos (guaxinins, quatis) e crianças no nordeste da China. O tipo americano é uma antropozoonose em processo de urbanização. O agente envolvido é a L. chagasi, cuja incidência é maior em crianças menores de 15 anos de idade, sendo transmitida pela Lutzomyia longipalpis. Na Colômbia, a Lutzomyia evansi é considerada vetor secundário 9. Na América Latina, a LV está presente em 12 países, e 90% dos casos ocorrem no Brasil. Grandes centros urbanos e capitais estão sendo invadidos pela doença, incluindo Belo Horizonte, Teresina, São Luís, Fortaleza e Rio de Janeiro, que já possuem registros de casos autóctones 9. No município de Bauru (SP), a enfermidade é considerada endêmica, com aumento significativo do número de casos humanos, apesar de todos os esforços empregados no controle. Em 2003, foram registrados 17 casos, com um óbito. Em 2004, 29 casos, com três óbitos, e em 2005, 31 casos, com quatro óbitos. Já em 2006, foram registrados 71 casos e quatro óbitos e, até julho de 2007, foram notificados seis casos, sem óbitos. A enfermidade tem sido considerada reemergente no país e assumiu novo perfil devido às mudanças sócioeconômicas ocorridas nas duas últimas décadas. Enquanto anteriormente a LV era reconhecida como doença tipicamente rural, nas últimas décadas tornou-se uma endemia urbana e, em virtude do potencial zoonótico, sério problema de saúde pública 10. Inicialmente, era considerada esporádica e atingia cães e seres humanos que viviam em contato íntimo com a mata. No entanto, atualmente

tem sido apontada como reemergente, caracterizando nítido processo de transição epidemiológica. Apresenta incidência crescente nos últimos anos, nas áreas onde ocorria tradicionalmente, e expansão geográfica para Estados localizados mais ao sul do Brasil e em locais que se urbanizaram rapidamente no Nordeste e no Sudeste 11. Nos últimos anos, a prevalência da LV tem aumentado, não só em número de casos como em distribuição geográfica. As imensas degradações ambientais, políticas e sociais, agregadas às migrações de populações rurais carentes para as periferias urbanas de maneira desordenada – sem estrutura sanitária ou trabalhos educativos –, associadas à presença do vetor e de inúmeros cães reservatórios, proporcionaram condições favoráveis à urbanização da LV em áreas metropolitanas 10. Houve também significativa redução do espaço ecológico da doença, levando a importantes epidemias 3,12. Em áreas endêmicas, já há algum tempo, são acometidas crianças com idade inferior a dez anos ou eventualmente adultos portadores de outras doenças imunossupressoras. Todavia, em locais onde a endemia é recente, o número de casos infantis e de adultos quase se equipara 4. Condições sócio-ambientais, como o desmatamento, reduziram a disponibilidade de animais que serviam como fontes de alimentação para o mosquito vetor, colocando o cão e o homem como fontes alternativas de repasto do vetor 13. Muitos fatores inter-relacionados têm sido considerados determinantes no aumento das endemias, como: exploração de terras, interrupção de inquéritos epidemiológicos, aumento das áreas ocupadas por moradias inadequadas e más condições sanitárias, proporcionando acúmulo de material orgânico para a reprodução dos vetores 14. Quanto à susceptibilidade, a enfermidade acomete pessoas de todas as idades e de ambos os sexos. Entretanto, a incidência é marcadamente maior em crianças com idade inferior a nove anos, e em indivíduos imunossuprimidos 11. Nos últimos anos, o que vem chamando a atenção dos pesquisadores é a coinfecção entre a Leishmania e o vírus da imunodeficiência humana adquirida – HIV. Na Europa, 70% dos casos de LV em adultos estão associados com o HIV, e

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mais de 9% dos indivíduos com aids sofrem de leishmaniose recém-adquirida ou reativada 15. A partir da década de 80, a coinfecção passou a ser descrita na Europa, particularmente na Espanha, na Itália e no sul da França 16. Na Europa, usuários de drogas intravenosas são considerados de alto risco para a coinfecção por compartilharem agulhas. Em pessoas infectadas pelo HIV, a leishmaniose acelera a manifestação clínica da síndrome por meio de sinergismo imunossupressivo geralmente letal e estimulação da replicação viral 17. Aproximadamente 12 milhões de pessoas no mundo estão infectadas e, a cada ano, entre 1,5 e 2 milhões de novos casos são notificados. Destes, 25 a 50% são do tipo viscerotrópico, e o restante do tipo cutâneo 18. Todavia, os dados oficiais subestimam o número de casos, pois a maioria destes dados é obtida exclusivamente em detecções passivas, muitos dos casos não são diagnosticados, muitas pessoas permanecem assintomáticas e apenas 32 dos 88 países endêmicos exigem notificação compulsória. De acordo com o Programa Regional de Leishmanioses, em 2006 foram registrados mais de 5.000 casos de LV em toda a América, sendo o Brasil o país mais afetado. A incidência, nas Américas, tem aumentado nos últimos anos. Os sistemas de vigilância são insuficientes e não há recursos humanos para atividades de diagnóstico, tratamento e métodos de controle. O Programa Regional, suportado pelo Programa Global, preparou um plano de ação para 2007, que inclui a padronização de técnicas diagnósticas, o reforço dos recursos humanos, a descentralização do programa de prevenção e o controle das atividades dos serviços de cuidados primários dos países, o fortalecimento do sistema de vigilância, a procura de parcerias estratégicas e o maior envolvimento das comunidades 19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo estejam infectadas pelo vírus da aids, e pelo menos um terço dessa população vive em áreas endêmicas de leishmaniose. A sobreposição das áreas geográficas de ocorrência das leishmanioses e da aids tem sido acentuada, respectivamente, pelo processo de urbanização e de ruralização 11. Até o presente momento, os dados disponíveis no 88

Brasil não permitem análise apurada do comportamento oportunista das leishmanioses. A coinfecção Leishmania-HIV é considerada prioritária pela OMS. Nesse contexto, foi estabelecida uma rede mundial de notificação do agravo, incluindo o Brasil 20. Controle e vigilância epidemiológica Tendo em vista as dificuldades de controle e vigilância da doença, as ações têm se baseado em uma melhor definição das áreas de transmissão ou de risco. O novo enfoque visa incorporar a vigilância dos Estados e municípios silenciosos, ou seja, sem ocorrência de casos humanos ou em cães, buscando evitar ou minimizar os problemas referentes ao agravo em áreas sem transmissão. Nas áreas com transmissão de LV, após estratificação epidemiológica, as medidas de controle serão individualmente distintas e adequadas. Entretanto, é de fundamental importância que as medidas usualmente empregadas no controle da doença sejam realizadas de forma integrada, para que possam ser efetivas 12. A estratégia para o controle da LV inclui a identificação precoce e o tratamento de casos humanos, a borrifação de inseticidas de poder residual em domicílios e peridomícilios e a telagem de portas e janelas para evitar a exposição do homem ao vetor. Recomendam-se, também, o destino adequado do lixo, a remoção de entulho e da matéria orgânica no peridomicílio, além da identificação de cães sorologicamente positivos, seguida pela eutanásia 6. A contribuição da eutanásia dos cães positivos no controle da doença vem sendo muito discutida no meio científico. O impacto do controle dos cães infectados pelo método de eliminação é muito conflitante por se mostrar trabalhoso, de eficácia duvidosa e desagradável para os médicos veterinários e os proprietários. Entretanto, o risco para o homem e os outros animais domésticos – quando da manutenção de um cão infectado no domicílio, além da baixa eficiência dos protocolos terapêuticos – justifica, até o momento, o uso da eutanásia como método de controle e profilaxia da doença, principalmente para cães. Um dos maiores desafios para o aprimoramento das estratégias de controle é

a identificação de cada elemento da cadeia epidemiológica, bem como seu impacto na transmissão 21. Não existe nenhuma forma de controle relacionada ao trânsito de cães possivelmente infectados entre áreas endêmicas e não endêmicas. A proximidade entre cidades não endêmicas e regiões onde ocorre a doença, associada a condições climáticas e fisiográficas propícias à manutenção da enfermidade e com a falta de controle quanto ao trânsito de cães provenientes de outras localidades, contribui para o risco de introdução e difusão da LV nos municípios 22. Nos cães, a LVC coexiste com a doença humana em todos os focos conhecidos, mas, geralmente, precede a ocorrência da doença em humanos, o que corrobora a importância do diagnóstico preciso e rápido dos cães de áreas endêmicas. A demora no diagnóstico pode ser conseqüência do despreparo dos serviços de saúde, tanto para o diagnóstico como para o tratamento da doença. A falta de informação da população – e eventualmente – dos profissionais de saúde provavelmente tem retardado o diagnóstico dos casos, contribuindo para maior gravidade e riscos de disseminação 23. Assume-se que o grande espaço de tempo entre a coleta das amostras, a análise e a implementação das ações de controle seja motivo de falhas nas campanhas de controle. Essa espera é de aproximadamente 80 dias, e os cães, nesse ínterim, permanecem como fontes de infecção para os mosquitos. A estratégia de eliminação de cães positivos em 80 dias pós-coleta reduz a prevalência da enfermidade em 9%, enquanto a eliminação rápida em sete dias resulta em redução de 27% na soroprevalência 24. A evolução das taxas de soropositividade humana inicial e aos 12 meses, em duas áreas – uma com eliminação e outra sem eliminação dos cães – não mostrou diferença significante 21. Existe a possibilidade de que as infecções de seres humanos sejam adquiridas exclusivamente, ou principalmente, por cães. Os cães são considerados reservatórios competentes e abundantes, e coabitam a poucos metros ou junto com o homem, enquanto os animais silvestres vivem relativamente mais distantes 13. Adicionalmente, outros fatores relacionam-se com a alta prevalência da doença no Brasil, como

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mudanças ambientais e climáticas, redução dos investimentos em saúde e educação, descontinuidade das ações de controle, adaptação dos vetores aos ambientes modificados pelo homem, fatores pouco estudados ligados aos vetores (variantes genéticas), coinfecção com doenças imunossupressoras como a aids, ou tratamentos com quimioterápicos, além de dificuldades de controle da doença em grandes aglomerados urbanos, geradas por graves problemas de desnutrição, moradia e saneamento básico 1. Faz-se importante ressaltar que programas continuados de educação comunitária são essenciais para a informação da população sobre a doença e para a ação conjunta entre a comunidade e os órgãos de saúde dos municípios 25. Programas educativos devem ser implementados nas escolas e associações de moradores, alertando os cidadãos para os sinais clínicos mais comuns da doença e para os métodos de prevenção 26. A posse responsável de animais deve ser enfatizada pois, mesmo em áreas endêmicas para a LVC, a taxa de reposição canina é extremamente elevada após a retirada dos cães positivos para eutanásia 27. Para o controle dos vetores, os inseticidas utilizados devem possuir ação residual. Geralmente, são piretróides fotoestáveis borrifados nas paredes do domicílio, nos galinheiros, nos chiqueiros e nos estábulos, pois esses animais e suas matérias orgânicas atraem os vetores 26. O tratamento de cães não é recomendado, visto que existem controvérsias em relação à cura parasitológica, apesar da aparente cura clínica. Assim sendo, embora os sinais clínicos sejam minimizados ou eliminados após o tratamento, os cães ainda podem permanecer como fontes de infecção. Com efeito, na vigência de cães sorologicamente positivos, recomenda-se a eutanásia humanitária, segundo o Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral do Ministério da Saúde, 2003 12. Outro método de controle proposto por muitos pesquisadores, porém ainda controverso, é a vacinação de cães. Estudos recentes indicam que proteínas filtradas provenientes de cultura de promastigotas de Leishmania podem estimular forte imunidade em diferentes hospedeiros, e conferir proteção em 90

camundongos BALB/c infectados com L. major 28. Foi demonstrado que a vacina produzida a partir de antígenos naturalmente secretados/excretados, facilmente purificados do sobrenadante de culturas de promastigotas de L. infantum, é capaz de conferir 92% de proteção em cães residentes em área endêmica. A vacina foi considerada segura e bem tolerada em cães, não tendo sido observadas reações adversas localizadas ou sistêmicas após a realização do esquema vacinal completo. Além disso, o uso dessa vacina para o tratamento de cães infectados resultou em melhora clínica duradoura. Esse tipo de antígeno resultou em aumento significativo dos títulos de IgG2 e, interessantemente, esses anticorpos não estão presentes em cães naturalmente infectados. Sugere-se, portanto, que cães incapazes de controlar a infecção por L. infantum não desenvolvem esse tipo de resposta imune humoral. Parece que o aumento dos títulos de IgG2 está associado com a expansão da produção de interferon-gama e interleucina-2 pelas células T helper1, promovendo, conseqüentemente, proteção e resistência 29. Em áreas endêmicas, nas quais os cães são os principais reservatórios da doença, significante redução na transmissão é esperada com a combinação de métodos preventivos eficientes, notadamente a vacinação, o uso de coleiras repelentes e a aplicação tópica de inseticidas. O controle futuro para a LVC provavelmente será fundamentado na adoção sistemática da vacinação, associada ao uso de coleiras. 29 O uso de coleira impregnada com deltametrina em cães do município de Andradina, SP, associado a outras medidas de controle, reduziu a prevalência de LVC e também a incidência em humanos 30. No Brasil, somente em áreas endêmicas para a LVC, vem sendo preconizado o uso de vacina produzida a partir de glicoproteína antigênica, presente na membrana celular do parasito e denominada fucose-manose ligante (FML). A vacina induz forte imunidade humoral assim que o esquema é concluído. O protocolo de vacinação é composto por três doses, em intervalos de 21 dias entre as aplicações. A revacinação deverá ser efetuada um ano após a primeira dose e repetida anualmente, proporcionando a manutenção da resposta imune.

O cão somente é considerado protegido 21 dias após a terceira dose da vacina. Portanto, é possível que seja infectado durante o programa de vacinação, e até mesmo alguns dias após a terceira dose, caso seja picado por um mosquito infectado. Nesse caso, a vacinação não impede o desenvolvimento da doença ou o aparecimento dos sintomas. A resposta imune IgG-mediada é indistinta daquela induzida pela infecção natural, quando utilizadas técnicas sorológicas tradicionais para o diagnóstico. Todavia, atualmente estão sendo desenvolvidas novas técnicas – baseadas em citometria de fluxo –, capazes de diferenciar a infecção natural da vacinação com base na distinção entre os títulos de IgG1 e de IgG2 31. Saúde pública No Brasil, a forma de transmissão da LV é conseqüência da picada dos vetores – Lu. longipalpis ou L. cruzi – infectados pela Leishmania (L.) chagasi. A transmissão do parasita aos vetores ocorre enquanto houver o parasitismo na pele ou no sangue periférico dos reservatórios. Não está comprovada a transmissão direta da doença de pessoa a pessoa 12. Entretanto, em regiões do Novo Mundo, onde a L. chagasi causa LV endêmica, a dispersão e a manutenção da infecção em seres humanos foram atribuídas aos reservatórios caninos. Estudo controlado em três áreas distintas do Brasil demonstrou que não houve diferença nas taxas de soroconversão humana entre áreas nas quais os cães eram eliminados e naquelas em que esses animais não eram eliminados, como forma de controle. Esses achados sugerem que os cães podem não ser os principais reservatórios nessas áreas, e que a transmissão humano-mosquitohumano pode ser importante na dispersão e na manutenção da infecção 21. O período de incubação da doença em seres humanos é bastante variável, de 10 dias a 24 meses, com média de dois a seis meses. As manifestações clínicas da enfermidade apresentam-se de forma gradual, iniciando com apatia, perda de peso progressiva, febre e linfadenopatia, evoluindo posteriormente com hepato e/ou esplenomegalia. Muitas vezes, o paciente procura atendimento médico somente quando os sinais clínicos são evidentes. Entretanto,

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nesses casos, o prognóstico é reservado. Quando não tratada, a LV pode ser letal em até 95% dos casos 11. No Brasil, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) é um dos órgãos do Ministério da Saúde responsáveis pelo Programa de Controle de Leishmanioses. A conduta adotada em caso de paciente suspeito para LV é o encaminhamento a uma unidade de saúde para a colheita de sangue e a posterior análise sorológica. Em caso de sorologia positiva, o paciente é internado, exames parasitológicos são realizados para confirmação e, em seguida, inicia-se o tratamento. É realizado o acompanhamento do paciente durante o período de um ano após a cura clínica. Os agentes de saúde são responsáveis pela colheita de sangue dos demais indivíduos que residem na mesma casa do doente, bem como pelo inquérito sorológico dos cães nos arredores do local onde foi diagnosticado o caso 25. O tratamento de casos humanos também é utilizado como método de controle para a enfermidade. Os antimoniais pentavalentes (estibogluconato de sódio

e antimoniato de N-metil glucamina) são as drogas de eleição para uso em humanos, e têm papel fundamental na terapia da doença há 70 anos. No entanto, o tratamento utiliza drogas injetáveis, que possuem efeitos colaterais tóxicos e, ocasionalmente, fatais 32. Na maioria das vezes, é necessária a internação do paciente. Na Índia, onde ocorrem 50% dos casos de LV, está sendo utilizada – desde março de 2002 – a miltefosina, droga administrada por via oral, também utilizada em oncologia, relativamente segura e eficaz, atingindo até 98% de cura. É utilizada em casos refratários à terapia com os antimoniatos convencionais. Entretanto, os pacientes podem desenvolver efeitos colaterais gastrintestinais e teratogênicos. Com base em métodos de controle e terapêuticos, a Índia pretende eliminar a LV até 2010 17. Outra medicação utilizada é a anfotericina B que, apesar de ser administrada por via parenteral, requer menor tempo de tratamento, embora também possua efeitos colaterais e tenha custo elevado. 32

Considerações finais Atualmente, a LV se constitui em um grave problema de saúde pública e representa um grande desafio para os profissionais da saúde. Assume-se que haja necessidade de expandir as linhas de conduta e as estratégias de vigilância e controle pois, apesar das ações implementadas pelos órgãos de competência governamental, os indicadores epidemiológicos revelam tendência de expansão e/ou baixo impacto no controle atual da doença. A complexidade do agente causal e a adaptabilidade dos vetores aos ecossistemas dificultam as estratégias de controle e profilaxia. A perspectiva de controle efetivo da doença nos animais e no homem exige a adoção sistemática e simultânea nos diversos elos da cadeia epidemiológica. O aprimoramento dos métodos de diagnóstico, os estudos soro-epidemiológicos regionais, a imunoprofilaxia vacinal, o controle sistemático de vetores, o uso de inseticidas de ambiente e coleiras, a adoção da eutanásia de

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animais positivos e/ou a busca por antimicrobianos e os protocolos terapêuticos efetivos são exemplos de medidas voltadas ao controle da doença. Ressalta-se também o impacto da educação em saúde e as noções de posse responsável, fundamentais para o sucesso no controle da doença. Referências 01-SLAPPENDEL, R. J. ; FERRER, L. Leishmaniasis. In: Infectious Diseases of the dog and the cat. 2. ed. Philadelphia: Saunders, 1998. p. 450-457. 02-GONTIJO, C. M. F. ; MELO, M. N. Leishmaniose Visceral no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 7, p. 338-349, 2004. 03-MARZOCHI, M. C. A. ; SABROZA, P. C. ; TOLEDO, L. M. ; MARZOCHI, K. B. F. ; TRAMONTANO, N. C. ; FILHO, F. B. R. Leishmaniose visceral na cidade do Rio de Janeiro - Brasil. Caderno de Saúde Pública, v. 1, p. 5-17, 1985. 04-REIS, A. B. Avaliação de parâmetros laboratoriais e imunológicos de cães naturalmente infectados com Leishmania (Leishmania) chagasi, portadores de diferentes formas clínicas da infecção. 2001. 176f. Tese (Doutorado em Parasitologia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 05-DANTAS-TORRES, F. ; SIMÕES-MATOS, L. ; BRITO, F. L. C. ; FIGUEREDO, L. A. ; FAUSTINO, M. A. G. Leishmaniose felina: revisão de literatura. Clínica Veterinária, ano XI, v. 61, p. 32-40, 2006. 06-BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Leishmaniose Visceral (Calazar). Guia de Vigilância Epidemiológica, v. 2, p. 527-539, 2002a. 07-COUTINHO, M. T. Z. ; BUENO, L. L. ; STERZIK, A. ; FUJIWARA, R. T. ; BOTELHO, J. R. ; DE MARIA, M.; GENARO, O. LINARDI, P. M. Participation of Rhipicephalus sanguineus (Acari: Ixodidae) in the epidemiology of canine visceral leishmaniasis. Veterinary Parasitology, v. 128, n. 1-2, p. 149-155, 2005. 08-LINDOSO, J. A. L. ; GOTO, H. Leishmaniose visceral: situação atual e perspectivas futuras. Boletim Epidemiológico Paulista, ano 3, n. 26, p. 7-11, 2006. Disponível em: http://www.cve. saude.sp.gov.br/agencia/bepa26_lva.htm. Acesso em: 01 jun. 2007. 09-WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO apud CABRERA, M. A. A. Ciclo enzoótico de transmissão da Leishmania (Leishmania) chagasi (Cunha e Chagas, 1937) no ecótopo peridoméstico em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro - RJ: estudo de possíveis variáveis preditoras. 1999. 84f. Tese (Mestrado) Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro. 10-BRAGA, M. D. M. ; COELHO, I. C. B. ; POMPEU, M. M. L. ; EVANS, T. G. ; MACAULLIFE, I. T. ; TEIXEIRA, M. J. ; LIMA, J. W. O. Controle do calazar canino: comparação dos resultados de um programa de eliminação rápida de cães sororreagentes por ensaio imuno-enzimático com outro de eliminação

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Combate o mosquito maniose transmissor da Leish


Bem-estar animal Experiências de comunicação no Elephant Nature Park

por Sheila Waligora

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uma sela de cavalo) e uma ou duas pessoas andam nas costas do elefante, sentadas em cima desta cadeira. Ao lado do elefante, vai andando o mahout, o tratador deste elefante. Na mão ele leva um pau comprido que tem um gancho bem pontudo e metálico na ponta. Esse gancho serve para espetar o animal e isso dói bastante! Atualmente as pessoas podem visitar o local por um dia, participando da rotina dos animais. Isto inclui chegarem no parque por volta das 9h30, ouvirem uma pequena palestra sobre como funciona o local, alimentarem os elefantes, darem banho de rio nos animais, observarem suas brincadeiras após o banho, acompanharem seu passeio diário na beira do rio e assistirem a um vídeo para conhecerem a situação atual destes animais no país. Através desta visita de um dia, podem praticar um tipo diferente de turismo, onde participam da vida do animal, sem ser necessário subir nas suas costas e onde podem aprender e se motivar para ajudar a mudar a situação de violência e destruição de uma espécie selvagem. Aprendi durante minha estadia no parque que a coluna dos elefantes é bem frágil e que não é adequado ficar andando em cima deles. Pode-se andar sentado no pescoço, mas sem cadeirinha, e uma pessoa só. O que vemos geralmente são duas pessoas na cadeirinha, e às vezes são pessoas bem pesadas!

espaço do silêncio e, sem expectativas, abrir-se para o inesperado. Não há condições, limites, pressa ou idéias fixas. Interessei-me em especial pela Medo (leia Medou), uma fêmea muito sofrida e maltratada. Acho que todos que chegam ao parque se interessam por ela, pela sua história de sofrimento e maus tratos. Nos atinge a ponto de questionarmos a nossa “humanidade”. Medo foi tão maltratada que teve fraturas na coluna e no quadril, manca, e tem dores constantes, razão pela qual toma analgésicos diariamente. Tem dificuldades para andar, sentar, levantar e deitar. Ela tem atualmente cerca de 40 anos de idade e como a média de vida dos elefantes é de 80 anos, Medo tem pela frente, se tudo correr bem, mais uns 40 anos de vida, com dor! Quando estava lá, participei da tarefa de encher sacos de areia e costurá-los, para montar uma espécie de encosto, como um banco, para que ela pudesse se apoiar, à noite, para dormir, e desta forma aliviar um pouco o peso do corpo e o esforço de deitar e levantar. Enchemos muitos sacos e depois carregamos para a cobertura ao lado, onde ela dormia, junto com três outros elefantes. É costume passar uma corrente em um dos pés traseiros dos elefantes, para evitar que eles andem durante a noite e acabem entrando em terras vizinhas, onde podem ser mortos! Como as pessoas tinham ouvido falar do meu trabalho de comunicação com animais, tentaram conversar com ela, e explicar que fizemos aquele banco para ela. Pois desde o primeiro dia quando ficou pronto, ela apenas olhava para os sacos e de vez em quando tirava um da pilha, com a pata, com a maior facilidade, como se fosse uma pena! Dormia

Exercitando a comunicação entre espécies Trabalhei durante quize dias, não só com os elefantes, mas também com os cães, dentro e fora da área do santuário. Como estagiária, participava da rotina de cuidados e alimentação dos elefantes, embora estivesse bem claro para mim que o meu foco era a comunicação com eles. E, desta forma, passei a experimentar desde o primeiro dia a conexão com eles. Esta conexão envolve entrar no A aliá Medo, vítima de extrema crueldade, recebeu abrigo no santuário

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Sheila Waligora

Encontrando o santuário Em março de 2007 parti em minha primeira viagem preparada com o objetivo de me comunicar com animais selvagens. Era um sonho de criança, quando me via cuidando desses animais em algum parque nacional perdido nos confins da África. Dentre tantos sonhos que podemos ter na vida, este foi o sonho que “me escolheu”. Eu era fascinada pelos animais selvagens, como sou até hoje. Mas por mecanismos que não compreendia bem na época e hoje consigo enxergar com mais clareza, acabei deixando de lado o meu sonho. É como se tivesse colocado numa caixinha, numa prateleira bem alta e inacessível ao meu ser. Ficou aí, esquecido, até que um dia conheci o trabalho de um fotógrafo canadense, que a meu ver mostra melhor do que qualquer pessoa como pode ser íntimo o contato de um ser humano com estes seres considerados por nós como “selvagens” e “perigosos”. Estava claro que eu não queria apenas observar os animais de longe, ou protegida dentro de um carro com grades, mas queria, sim, estar em contato com os animais por algum tempo, nem que fossem apenas alguns dias. Comecei a sonhar que iria encontrar o local para me comunicar com os elefantes! Também foi ficando mais claro que fazer uma viagem para tão longe, envolvendo a utilização de tanto tempo e recursos materiais, era, sim, para iniciar a comunicação com os elefantes. Por fim, depois de procurar por um ano inteiro, encontrei o Elephant Nature Park, na Tailândia, um santuário de elefantes criado pela tailandesa Sangduen “Lek” Chaillert. Este local parecia ser diferente. Precisava ir até lá para conferir. Lek, como é conhecida a fundadora do santuário, iniciou um movimento na Tailândia para mudar a visão das pessoas em relação ao turismo com os elefantes. Ela mesma foi sócia de uma companhia de turismo durante muitos anos e estava habituada a ver as pessoas pagando uma certa quantia para andar em cima de um elefante. Coloca-se uma espécie de cadeira no elefante (como


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pudesse ter mais conforto e, que se ela quisesse, poderia ao menos experimentar sentar, só para ver como era. Disse assim, muito simplesmente. E então aconteceu algo que eu jamais poderia imaginar, e isto foi o mais lindo. Porque embora eu tivesse atravessado a Terra para ir conversar com um elefante que eu nem sequer conhecia, fui sem expectativa alguma, como uma criança que acorda para um novo dia. E, ao terminar de falar, ela olhou nos meus olhos, deu marcha a ré e sentou! Imediatamente após eu terminar de falar! Sentou, levantou por um instante, e sentou novamente! Como descrever isso? O que se pode falar a respeito disso? Quando voltei ao Brasil, muitos amigos e conhecidos, me perguntavam como foi a experiência de comunicação com os elefantes. Como contar um acontecimento destes, assim, rapidamente, como uma conversa qualquer? Eu simplesmente não conseguia falar e relatar isto. Não é algo para falar assim à queima roupa. Isto é, precisa se preparar para falar e se preparar para ouvir. Ter convivido com um animal destes, um animal que te faz ver

de frente para os sacos, dia após dia. Então fizemos mais uma parte e ficou um banco com duas partes, em 90 graus. Como o movimento era grande durante o dia, pois estávamos em cerca de 20 estagiários e recebíamos cerca de 50 visitantes por dia, as oportunidades para conversar com os elefantes, com calma, aconteciam bem cedo ou à noite. E foi assim que após uma semana com Medo, no fim de um dia, parei ao lado de seu abrigo e comecei a conversar com ela. Pedi desculpas a ela, em nome do ser humano, por todos os maus tratos, sofrimento, dor e desrespeito. Disse que não tinha como pedir desculpas, que ao pensar em tudo que ela tinha passado me envergonhava, mas que mesmo assim, queria pedir desculpas, porque havia seres humanos diferentes, pessoas que se importavam com os animais. Disse a ela que ela sabia disso, pois estava vivendo no Parque e estava protegida agora e nunca mais teria que fazer trabalhos forçados, passar fome, dor, chorar e sofrer sem justificativa. E isto porque Lek tinha se importado e agido e estava salvando muitos animais. Enquanto falava com ela, sentia uma dor imensa, como se ficasse consciente de toda a crueldade que o ser humano já cometeu contra os animais. Sentia que toda esta dor se transformava em dor para o próprio ser humano, e para o mundo inteiro e toda a natureza. Eu me desculpei, do fundo do meu coração, em nome da espécie humana e em nome daqueles que se importam com os animais. Fiquei mais um pouco com ela e depois fui dormir. No dia seguinte, a caminho do desjejum, passei por ela. Com a maior naturalidade possível, e sem expectativa alguma, disse a ela que tínhamos feito aquele sofá para que ela

Sheila Waligora

Voluntárias enchem sacos de areia para servirem de apoio para Medo ficar mais confortável e ter menos sofrimento no seu dia-a-dia

quem é o ser humano, em que planeta estamos vivendo, com que tipo de consciências estamos dividindo o espaço sagrado de nossas próprias consciências. Sendo o animal também um ser sagrado. E este animal, especificamente, tinha sido lesado em seu ser. Podia ver em seus olhos que o estrago ia além do corpo. Era algo terrível e muito doloroso, até para ver. Bem, de qualquer forma, fiquei tão atônita com a experiência de comunicação com Medo, que não consegui falar sobre isso com pessoa alguma. Percebi depois que demorei algum tempo para integrar esta experiência e perceber que realmente aconteceu comigo. Esta experiência ilustra como são os níveis de consciência e como realmente não há barreira alguma entre os seres, e como somos todos UM. Não há barreiras de linguagem, de conhecimento, de coisa alguma. De tal forma que aparece na Tailândia uma brasileira, começa a conversar com um elefante, faz um pedido e este elefante olha nos olhos dela, e faz o que ela pediu, não só uma mas duas vezes. É algo para se pensar. Tive outras experiências de comunicação com os elefantes, durante este período, mas esta foi a mais impactante para mim. Uma experiência deste teor, é suficiente para toda uma vida. Alguns dias antes deste episódio, tinha perguntado à Medo porque ela não tinha morrido. Ela comunicou na mesma hora: “Nós recebemos uma vida e vivemos, não importa o que aconteça. Independe de qualquer coisa.” Na hora que recebi esta mensagem, o sentimento era de uma força inabalável, a força da simplicidade, da coragem e da paciência. Minha experiência com os elefantes na Tailândia não pode ser medida apenas pelo número de dias que passei com eles. A comunicação com eles foi tão profunda, e pode nos ensinar tanto a respeito dos verdadeiros valores humanos, que me considero completamente realizada. Queria trazer para o Brasil uma mensagem dos elefantes, que eu tivesse recebido diretamente através da comunicação. E foi isso que aconteceu.

As dificuldades para Medo em entender que o sofá de sacos de areia havia sido feito especialmente para ela foram quebradas no momento em que Sheila Waligora conseguiu a comunicação com ela

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Sheila Waligora é veterinária e ensina comunicação entre espécies através de cursos pelo Brasil www.comunicacaoentreespecies.com.br

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Posicionamento profissional? Onde? Quando? Como? Por Sergio Lobato

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ara todos aqueles que ainda questionam o porquê de uma coluna sobre gestão em uma revista dedicada ao público veterinário, em especial os colegas que escolheram a clínica médica, convém lembrar que uma das funções do marketing como ciência da gestão e da inovação se explica pelo uso da ferramenta da correção. Correção de rumos, de projetos, de posturas e de posicionamento. “Mas correção? Como assim? Para corrigir algo, é por que algo está errado? Mas o que está errado? Eu errado??? Jamais!! Eu nunca erro... Eu sou doutor!” Bem, vamos fazer um exercício de auto-análise da nossa profissão. Reside nesta pergunta o primeiro erro a ser corrigido em nosso posicionamento profissional... Você acha que tem uma profissão ou uma carreira? Quero aqui deixar clara minha posição sobre o que considero ser um dos maiores erros na formação de profissionais médicos veterinários em todas as universidades deste país, sejam elas privadas, sejam elas públicas. Desde que entramos nos ciclos básicos dos cursos de medicina veterinária somos massificadamente comunicados que estamos começando na profissão mais linda do mundo, que devemos nos dedicar à profissão, que a profissão exige demais, que é uma profissão mal remunerada... Enfim, ouvimos a palavra profissão como se fosse a melhor definição do que estamos realmente buscando quando entramos para o curso universitário. Mas, quero lembrar aos colegas, que profissão, em meu entender, é um status quo, uma condição estática, uma titulação, algo nem de longe dinâmico e motivador... É como se fosse uma certificação, um selo, uma qualificação, um acessório à sua formação. Uma simples titulação. O que eu tenho então? Você precisa entender que por alguma razão oculta em nosso passado histórico nos desviamos da orientação estratégica que permeou todos os outros 96

cursos universitários deste País... Quero propor a todos os colegas que a partir de hoje tenhamos em nosso discurso e em nossa postura a conscientização de que temos uma CARREIRA. Uma carreira é situação dinâmica e motivadora, na qual a sua responsabilidade é posta à prova em todos os momentos da sua vida. É o planejamento da sua vida profissional em etapas, que serão divididas e gerenciadas de acordo com a sua própria decisão pessoal sobre o que é melhor para você e para o seu empreendimento veterinário. Quando assumimos que temos uma carreira, incorporamos a responsabilidade de cada ação de nossa vida acadêmica ou profissional. As decisões sobre as etapas e as ações são baseadas em metas e objetivos a serem alcançados em curtos, médios e longos prazos. Existe toda uma dinâmica diferente em sua vida agora. Você passa a ter maior controle do que quer fazer, onde quer chegar e o que deseja alcançar, pois você também passa a possuir maior flexibilidade para CORRIGIR rumos, posturas e posicionamentos. Percebo que, às vezes, e, infelizmente em um número cada vez maior de colegas, há uma postura quase institucionalizada da SÍNDROME DE GABRIELA CRAVO E CANELA: quando estimulados ou confrontados com processos de mudança, parecem cantar como resposta definitiva: “Eu nasci assim, eu cresci assim...”. O posicionamento profissional passa então a ser o resultado de um controle de sua própria carreira associado com suas escolhas, que são refletidas para o seu mercado consumidor, para seus colegas de trabalho e para a indústria como um todo. O posicionamento deve ser encarado

como o seu cartão de visitas profissional. Fuja da tentação de apenas se prender ao velho ditado que diz que “a primeira imagem é a que fica” sem se preocupar com o que realmente isso significa no seu dia-a-dia como clínico. E com o que seria importante eu me preocupar em relação a este ditado? Eu respondo perguntando: • como está a higiene da sua clínica? • como estão os uniformes dos seus funcionários? • como está a imagem de sua clínica? • como está sua atualização profissional? • sua clínica atende as novas normas técnicas em biossegurança? • você tem um banco de dados confiável? • você treina seus funcionários em prevenção de acidentes? E fora de seu ambiente de trabalho? Você continua dando “orientação” on line (?!?) em comunidades do Orkut, achando que assim vai demonstrar seu conhecimento? Você continua dando “informações” para vizinhos, amigos e parentes na tentativa de manter intacta suas relações pessoais penalizando a sua vida profissional, afinal você está dando aquilo que tem para vender, não é mesmo? Você fala mal de seus colegas no barzinho, discutindo até receituários? Se você encarar estas perguntas como uma chance de modificação de seu posicionamento, creio que terá uma grande chance de entender que a partir dessa leitura sua carreira será cada vez mais importante para você... E lembre-se.. “ Não existe árvore nesta vida que o vento não tenha balançado”... Logo, o posicionamento gerado pela SÍNDROME DE GABRIELA CRAVO E CANELA é burro e impede a evolução e a busca da excelência, as quais todos nós merecemos!

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PREPARAÇÃO PEDAGÓGICA APLICADA À MEDICINA VETERINÁRIA

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prof. dr. José Antonio Jerez, médico veterinário do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo, no livro Preparação pedagógica aplicada à medicina veterinária, de sua autoria e publicado pela Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão (FUNEP), explica

que “O curso de medicina veterinária é voltado para a formação profissional. Nós, os professores desse curso, somos escolhidos e selecionados para a carreira universitária por critérios baseados na nossa competência técnica; assim, nossa atividade docente é extremamente centralizada nos conteúdos, uma vez que nos faltam os conhecimentos pedagógicos”.

A publicação oferece, de forma condensada, os principais ensinamentos necessários à preparação pedagógica, facilitando a abertura do caminho à aprendizagem do futuro docente, com reflexo na eficácia da aprendizagem de seus alunos. “Além disso, estará melhor preparado para procurar aperfeiçoamento e atualização nos cursos de pedagogia, sem o constrangimento do despreparo”, destaca Jerez.

José Antonio Jerez - jajerez@usp.br “Ensinar não pode ser sinônimo de aprender. Ensinar é um ato coletivo e aprender um ato individual. A transmissão do conhecimento não pode ser vista da maneira como imagina a maioria dos professores de ensino superior: uma linha ascendente entre o conteúdo transmitido e o tempo transcorrido. A transmissão do conhecimento é bastante complexa e depende da interação entre os três principais domínios do comportamento humano: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor”.

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“O professor precisa especificar de forma clara quais são os resultados que espera com o ensino que será ministrado. Por isso, a primeira coisa a decidir é ‘para onde ir’, depois as condições ‘para chegar lá’ e, finalmente, avaliar se realmente conseguiu ‘chegar lá’. Sem esse direcionamento não existe planejamento curricular e os resultados a serem avançados serão incertos ou duvidosos. Por isso, os objetivos são ‘o ponto de partida’ para que uma disciplina ou uma aula seja bem sucedida”.

“Aprender não é repetir ou reproduzir respostas para verificar se o aluno memorizou, pois nesse caso pode até ser encarada como uma função punitiva: se acertou sabe, se errou não sabe. Se aprender é um processo de construção do conhecimento que vai além da memorização e envolve o raciocínio lógico e a capacidade de elaboração própria, a única maneira de saber se o aluno realmente aprendeu é oferecer oportunidades para que demonstre as suas competências”.

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Pesquisa Teste rápido para diagnóstico da leptospirose*

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m parceria com pesquisadores das universidades de Cornell e da Califórnia, nos Estados Unidos, pesquisadores do Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz (CPqGM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz na Bahia, concluíram, após 11 anos de trabalho, o desenvolvimento de um teste para diagnóstico da leptospirose que, em 15 minutos, oferece resultado com mais de 90% de precisão. Os testes para a identificação da bactéria Leptospira, agente causador da doença, normalmente são feitos por meio de exames sorológicos que detectam no sangue do paciente a presença de anticorpos contra a bactéria. Por exigir duas amostras de soro, uma na fase inicial e outra na fase intermediária, os testes tradicionais demoram até duas semanas para apontar um diagnóstico. O avanço do trabalho da Fiocruz, que teve início em 1996, está na identificação de um componente da Leptospira capaz de estimular a produção de anticorpos em indivíduos infectados, algo decisivo para a rapidez e a precisão do teste.

“Com base na análise do sangue de pacientes tratados em dois hospitais baianos identificamos que um componente, a proteína lig, induz a produção de anticorpos na fase mais inicial da infecção”, disse Mitermayer Galvão dos Reis, chefe do Laboratório de Patologia e Biologia Molecular do CPqGM, onde o trabalho foi em parte desenvolvido, à Agência FAPESP. “A proteína mostrou ser um excelente indicador da contaminação precoce pela doença.” Em seguida, os pesquisadores clonaram a proteína lig em grande quantidade por meio de engenharia genética e a cultivaram em fita semelhante às utilizadas em testes de gravidez, dentro de uma pequena plataforma produzida por uma empresa. “Basta colocar uma gota de sangue do paciente em contato com essa fita. Se a amostra de sangue contiver a bactéria Leptospira, anticorpos vão reagir com a proteína lig e o visor do aparelho rapidamente ficará rosa, cor que indica o resultado positivo”, explicou Reis.

O teste diagnóstico está em fase de validação por meio de testes de sensibilidade e de especificidade, em laboratórios da Fiocruz e das universidades federais do Ceará e do Rio Grande do Norte. Para isso, são utilizados bancos de sangue de pacientes com leptospirose e também com outras doenças, como dengue e hepatite. “A validação está sendo realizada junto à Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) e os primeiros testes deverão estar disponíveis na rede pública de saúde até meados de 2008”, apontou o pesquisador da Fiocruz. O teste precoce antecipa o tratamento e evita a progressão da doença para formas mais graves. A leptospirose atinge principalmente áreas carentes de grandes centros urbanos, nos quais a população tem mais contato com água de enchentes contaminada por urina de ratos. Segundo dados do Ministério da Saúde, são notificados anualmente mais de 3 mil casos de leptospirose no Brasil, com uma taxa de letalidade estimada em 15%.

*Fonte: Agência Fapesp (por Thiago Romero) - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7590

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Escolha os eletrólitos mais adequados e administre doses precisas

A - perdas ocorridas

B - manutenção diária

C - perdas continuadas

Quantidade de fluido a ser administrada




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ANESTESIA INALATÓRIA as anestesias são marcadas na sua clínica Luiz Otávio Gonzaga CRMV-SP 6117

tels: 0**(11) 6994-1029 0**(11) 6204-8801 cel: (011) 8259-1351 tomada@superig.com.br




www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 24 e 25 novembro Rio de Janeiro - RJ I Simpósio Internacional BVECCS - Equalis de Medicina de Urgência bveccs@bveccs.com.br 24 e 25 de novembro Cachoeiras de Macacu - RJ Dia do Amigo Bicho bbsaudeanimal@globo. com 24 e 25 de novembro São Paulo - SP III Simpósio Internacional da ANFIVET (Associação Nacional de Fisioterapia Veterinária) (11) 3746-0117

24 a 28 de novembro João Pessoa - PB IV Congresso e VIII Encontro Norte-Nordeste da Sociedade de Zoológicos do Brasi l - SZB (83) 3218-9713

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26 e 27 de novembro Belo Horizonte - MG Curso de medicina de felinos anclivepa@anclivepamg.com.br 26 a 30 novembro São Paulo - SP Odontologia em Animais Selvagens (11) 3815-5520 30 de novembro a 2 de dezembro Rio de Janeiro - RJ Anestesia e procedimentos no paciente crítico curso teórico e prático (21) 3326-0440 8 e 9 de dezembro Santos - SP Curso teórico-prático de anestesia regional (13) 8127-3799 14 a 16 de dezembro São Paulo - SP Jornada hispanobrasileira de dermatologia (11) 5051-0908

2008 7 a 17 de janeiro São Paulo - SP Curso Básico teórico e prático de ultra-sonografia abdominal em pequenos animais (11) 3579 1427 13 a 19 de janeiro Santos - Angra dos Reis Santos Curso de felinos a bordo do navio Splendour of the Seas (11) 6995-6860

21 a 25 de janeiro Santos - Florianópolis Santos Curso de dermatologia a bordo do navio Island Escape (11) 6995-9155

21 a 26 de janeiro São Paulo - SP Curso teórico prático de radiologia convencional em pequenos animais (11) 3579 1427

22 a 24 de fevereiro São Paulo - SP Curso intensivo avançado teórico-prático de ultra-sonografia abdominal (11) 3579 1427

2 de fevereiro de 2008 2 de fevereiro de 2010 São Paulo, Salvador e Brasília Pós-graduação em anestesiologia (11) 7264-9858

6 a 9 de março Brasília - DF I Simpósio de Medicina Felina de Brasília (61) 3965-4090

11 a 16 de fevereiro São Paulo - SP Curso intensivo teórico e prático de radiologia convencional em pequenos animais (11) 3579-1427 16 e 17 de fevereiro; 1º, 2, 15, 16, 29 e 30 de março; 12, 13, 26 e 27 de abril; 3, 4, 17 e 18 de maio; 1º, 15 e 29 de junho; e 13 e 27 de julho São Paulo - SP Curso de atualização em cirurgia, anestesia e ortopedia (11) 6995-9155

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

7 de março a 27 de junho Rio de Janeiro - RJ II Curso de terapêutica Aplicada à clínica de pequenos animais (21) 2437-4879 9 de março de 2007 28 de junho de 2009 São Paulo - SP Especialização em Clínica de Pequenos Animais (11) 2141-8810



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14 a 16 de março Londrina - PR Neurovet (43) 9151-8889

15 a 20 de março São Paulo e Pirassununga XVIII Sacavet (Semana Acadêmica Veterinária da FMVZ/ USP) e V Simpropira

www.sacavet.com.br

9 a 11 de maio São Paulo - SP Curso intensivo teórico e prático de ultra-sonografia em cabeça e pescoço (11) 3579-1427 7 a 17 de julho São Paulo - SP Curso intensivo básico teórico e prático de ultrasonografia abdominal em pequenos animais (11) 3579-1427 7 a 9 de agosto Rio de Janeiro - RJ • Riovet - Feira de negócios pet & vet • Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária • 1º Encontro Brasileiro de Marketing - Pet Vet • II Seminário de Nutrição Pet • Grooming Meeting & tosa www.riovet.com.br

17 a 21 de setembro São Paulo - SP XXIX Congresso Brasileiro de Homeopatia (11) 3051-6121 19 a 22 de outubro Gramado - RS 35º Conbravet (51) 3326-7002

7 a 9 de novembro Goiânia - GO IV Concevepa (62) 3241-3939

10 a 14 de novembro Recife - PE VIII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária (81) 3466-5551 24 de novembro de 2007 a 24 de outubro de 2009 Campinas - SP XIV Curso de Acupuntura para Médico Veterinário i.h.jacquelinepeker@ ibest.com.br

Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal

FOCA OBJETIVOS PRINCIPAIS 1. Capacitação para a implantação do manejo etológico em todas as atividades desenvolvidas pelos serviços de controle de zoonoses e de controle animal;

28 a 30 de março São Paulo - SP Curso básico teórico de ultra-sonografia Doppler (11) 3579-1427 11 a 13 de abril São Paulo - SP Curso teórico-prático de ultra-sonografia em ortopedia (11) 3579-1427 23 a 26 de abril Maceió - AL XXIX Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (82) 3326-6663

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2. Capacitação para a implantação de ações efetivas para o controle populacional de cães e gatos que atendam os preceitos técnicos, racionais e éticos, com vistas à promoção da saúde da comunidade;

17 a 19 de setembro São Paulo - SP • 8º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (CONPAVEPA) • Pet South America (11) 3813-6568

3. Capacitar e sensibilizar os participantes para serem atores da promoção da saúde em seus municípios por meio do trabalho desenvolvido com o controle populacional de cães e gatos e das zoonoses transmitidas por estes. PRÓXIMOS CURSOS: 3 a 7 de dezembro de 2007 - Ribeirão Preto/SP 10 a 14 de dezembro de 2007 - Praia Grande/SP

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lhgomes@saude.sp.gov.br rita@vps.fmvz.usp.br

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 71, novembro/dezembro, 2007

INTERNACIONAL

19 a 23 de janeiro de 2008 Orlando - FL, EUA The North American Veterinary Conference www.tnavc.org

14 a 17de maio de 2008 Orlando, Florida - USA Animal Care Expo www.animalsheltering.org/ expo

22 a 25 de maio de 2008 Nürnberg - Alemanha Interzoo 2008 www.interzoo.com

27 a 31 de julho 2008 Canada - Vancouver 29th World Veterinary Congress www.worldveterinary congress2008.com 20 a 24 de agosto de 2008 Dublin - Irlanda 33º Congresso Mundial da WSAVA www.wsava2008.com




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