Clínica Veterinária n. 76

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G uarรก Ano XIII, n. 76, seetembro/outubro, 2008 - R$ 13,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts

www.revistaclinicaveterinaria.com.br

ISSN 1413-571X



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice

Felino com dermatite úmida e feridas nos membros

Leishmaniose em felino na zona urbana de Araçatuba, SP - relato de caso Feline leishmaniosis within the urban zone of Araçatuba, SP, Brazil - case report

Fernanda S. Barbosa

Anna C. M. Serrano

Saúde pública - 36

Leishmaniosis en felino en el área urbana de Araçatuba, SP, Brasil - relato de caso

Ortopedia - 42 Instabilidade atlantoaxial em cães: revisão de literatura Atlantoaxial instability in dogs: literature review

Osteossarcoma nos corpos das vértebras torácicas T4 a T8.

Oncologia - 48 Osteossarcoma vertebral em cão - relato de caso

Intervalo entre a lâmina do atlas e a espinha dorsal do áxis

Vertebral osteosarcoma in a dog - case report Osteosarcoma vertebral en perro - relato de caso Alexandre G. T.Daniel

Fábio S. Mendonça

Inestabilidad de la articulación atlantoaxial en perros: revisión de literatura

Clínica médica - 54 Hiperadrenocorticismo em felino associado ao diabetes melito insulino-resistente - relato de caso Feline hyperadrenocorticism associated with insulin-resistant diabetes mellitus - case report Hiperadrenocorticismo felino asociado a diabetes mellitus insulino resistente - relato de caso

Clínica médica - 62 Ascite quilosa associada à distocia fetal em uma gata Ewaldo de Mattos Junior

Chylous ascites in a cat with fetal dystocia Ascitis quilosa asociada a la distocia fetal en una gata

Aumento de volume abdominal do felino com HAC. Notar aspecto pregueado da pele

Nutrição - 66 Influência da nutrição sobre a gestação, o parto e o puerpério de cadelas e gatas - breve revisão Influence of nutrition on pregnancy, parturition and puerperium

Conteúdo abdominal após celiotomia

of bitches and queens - a brief review Influencia de la nutrición sobre la gestación, el parto y el puerperio de perras y gatas - breve revisión

Lesão cutânea. Acima de 15% de eosinófilos. Pode ser doença do colágeno, granuloma eosinofílico ou micose. Giemsa 200x

Exame citológico no diagnóstico de lesões da pele e subcutâneo The cytological exam in the diagnosis of skin and subcutaneous lesions Examen citológico en el diagnóstico de lesiones de piel e subcutáneo

Animais silvestres - 82 Avaliação dos manejos sanitário e alimentar de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) mantidos em cativeiro domiciliar em Araçatuba, São Paulo Evaluation of the sanitary and alimentary management of blue-fronted Amazon parrots (Amazona aestiva) kept in domiciliary captivity in Araçatuba, SP, Brazil Evaluación de manejo sanitario y alimentar de amazonas de frente azul (Amazona aestiva)

Marcelo C. Rodrigues

mantenido en cautiverio domiciliario en Araçatuba, SP, Brasil

Clínica médica - 90 Infecção do trato urinário de um gato doméstico por Capillaria sp.: relato de caso

Fábio L. Bonello

Noeme Sousa Rocha

Dermatologia - 76

Manejos sanitário e alimentar de cativeiro domiciliar de papagaioverdadeiro considerados ruins

Infection of the urinary tract of a domestic cat by Capillaria sp.: case report Infección del tracto urinario de gato doméstico por Capillaria sp.: relato de caso

Ovos de Capillaria sp. em sedimento urinário de gato doméstico. (objetiva de 40x)

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

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Seções Editorial - 6 Notícias - 8

• Rio Vet 2008

• Técnicas de enriquecimento ambiental

• International Pet Business Meeting

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• Serviços de urgência e terapia intensiva 18 • Hospital veterinário Sena Madureira comemora 40 anos com lançamento de livro de emergência e terapia intensiva 18 • Provet inaugura centro de diagnóstico na Zona Leste da capital paulista 18 • Indústria veterinária cria grupo de trabalho para desenvolver e fortalecer mercado pet 20 • Setor de pet food terá selo para garantir a qualidade dos alimentos 21

Pesquisa - 110

Bem-estar animal - 22

• Direito dos animais • Cães educados, donos felizes • Diagnóstico diferencial na clínica de pequenos animais • Trauma em cães e gatos

14

• • • •

Esteróide anfíbio Proteínas recuperam ossos Nanobombas barram metástase Grandes carnívoros no interior

110 112 114 116

Ecologia - 118

• Respeito ao Velho Chico

Equipamentos - 120 • ECG e teste ergométrico para uso veterinário

Internet - 124

• Sítio da linha ProMeris • Vida normal com aparelho fisioterápico

Livros - 126

126 128 130 130

Lançamentos - 132

• III Meeting Professional Breeder Royal Canin

• Adotar é tudo de bom

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• Novo petisco para gatos • Novos alimentos da Total • Inovação na linha Purina Cat Chow

132 132 132

• Novo alimento super premium

134

14 • Antibiótico injetável de longa duração 134

• Tomografia computadorizada disponível no Rio de Janeiro

• Circo legal não tem animal 16

• Vacina da dengue • Simpósio de leishmaniose visceral

16

Negócios e oportunidades - 136

Ofertas de produtos e equipamentos

Saúde pública - 28

28 31

Gestão, marketing e estratégia - 104

• Tomografia com-

putadorizada na Zona Norte de São Paulo

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Responsabilidade técnica no mercado pet. Isto é possível?

Serviços e especialidades - 137

Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Agenda - 144

Errata: No artigo "Aspectos etiológicos das hepatites crônicas caninas",

publicado na edição n. 75, julho-agosto de 2008, na página 54, a descrição de que o adenovírus canino tipo I, que causa a hepatite infecciosa canina (CAV-I), apresenta inclusões intracitoplasmáticas nos hepatócitos deve ser corrigida para inclusões intranucleares

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser

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encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens

fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Journal of continuing education for small animal veterinarians

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10159

PUBLICIDADE / ADVERTISING João Paulo S. Brandão

midia@editoraguara.com.br (11) 3672-9497

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

CONSULTORIA JURÍDICA / CONSULTING ATTORNEY Joakim M. C. da Cunha

(OAB 19.330/SP) (11) 3251-2670

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER

Poskika, cadela SRD que havia sido cruelmente abandonada com apenas 30 dias. Foi adotada e hoje vive feliz na companhia de 3 gatos e um rato branco, o Frank

IMPRESSÃO / PRINT Copypress

www.copypress.com.br

TIRAGEM / CIRCULATION 15.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION

Editora Guará Ltda. - Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexandre Mazzzanti UFSM mazzal@smail.ufsm.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch Yale Univ. School of Medicine christina.joselevitch@yale.edu Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br

Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br

Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FMV/UEL fibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br

Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br

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Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University ronaldodacosta@cvm.osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internati.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br

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Editorial

É

WSPA Brasil - www.wspabrasil.org

uma grande satisfação poder falar no tema adoção justamente na edição que circula durante o bimestre em que se comemora o dia do médico veterinário, 9 de setembro, e o dia mundial dos animais e de São Francisco de Assis, 4 de outubro. Isto não foi programado, aconteceu. O elemento catalisador para que isto acontecesse foi uma cadelinha que chorava desesperadamente ao ser abondanda com cerca de 30 dias, a Poskika, cadela SRD capa desta edição. Hoje ela divide seu espaço com mais três gatos e um rato branco, o Frank, que também foi adotado e que vive solto, não fugindo e não sendo atacado pelos gatos. Dos gatos, dois também foram adotados. Eles foram retirados de um parque da região onde a população tem o costume de abandoná-los. Felizmente, há diversas pessoas que não desistem de combater o abandono e que se dedicam à promover a adoção. Muitos que fazem isto são pessoas comuns, os protetores. Mas entre médicos veterinários também há vários com este perfil e que, por estarem inseridos neste contexto, muito ajudam na redução do número de animais abandonados em campanhas de castração e de guarda responsável. Em matéria nesta edição citamos alguns exemplos de médicos veterinários que estão engajados na causa, cada um fazendo a sua campanha pelo fim do sofrimento dos animais e proporcionando, ao mesmo tempo, benefícios para a saúde pública da comunidade. Adotar é tudo de bom. Os responsáveis pelo alimento Pedigree® foram muito felizes com esta frase e com a campanha que estão promovendo, pois faz com que o tema adoção popularize-se. Afinal, amigo não se compra. Vamos adotar... (www.adotaretudodebom.com.br) Nesta edição, além da adoção, estamos divulgando, na seção de bemestar animal, a ocorrência da audiência pública, no Congresso Nacional, que definirá, em grande parte, o fim ou não do uso de animais em circos no Brasil. Esta audiência estava programada para julho de 2008, depois mudou para agosto e foi remarcada para o dia 4 de novembro. A mudança contínua de datas pode ser uma estratégia para desarticular e fragmentar a presença dos defensores dos animais na audiência. Circo legal não tem animal! Animais em circo já virou até problema de saúde pública, pois há vários casos de abandono de leões. A sede da Associação Santuário Ecológico Rancho dos Gnomos (www.ranchodosgnomos.org.br), por exemplo, abriga leões que foram encontrados em lamentáveis condições. Vamos defender a vida. Que esta missão brilhe no coração de todos para que sempre seja possível ajudar a promover a adoção. Agradeço a São Francisco de Assis por poder colaborar na divulgação de mensagens e ações em prol dos animais. Desejo a todos os colegas um feliz 9 de setembro. Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

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Eventos paralelos movimentaram a Rio Vet 2008 A Rio Vet atraiu visitantes de várias regiões do Brasil. A variedade de eventos paralelos e a diversidade de itens encontrados entre as empresas expositoras gerou bons negócios que despertaram empolgação para a Rio Vet 2009, que será realizada mais cedo, no mês de maio João Telhado, da UFRRJ, foi palestrante na Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária, abordando o tema comportamento animal. Telhado organiza anualmente evento sobre o tema: o SIMCOBEA

A Rio Vet 2008 ocorreu no Riocentro, de 7 a 9 de agosto de 2008

Vetnil levou novidades e despertou o interesse dos visitantes. A empresa encontra-se em plena expansão tanto no mercado interno quanto externo, acumulando 35 países que já possuem seus produtos registrados

Investindo no segmento premium de pet food, esteve presente a Granfino

Os temas ortopedia e neurologia foram muito prestigiados pelo público. O evento também contou com palestras de outras especialidades como, por exemplo, geriatria e oncologia. Acima, ortopedistas durante mesa-redonda sobre displasia coxofemoral

Revipel, lançamento da Agener, foi um dos destaques da empresa na Rio Vet

O I Encontro Brasileiro de Marketing Pet Vet contou com a participação de vários profissionais especializados no assunto. Alguns, diretamente ligados ao mercado pet, como Fábio Viotto (acima), da Nutron, e Manoela Caribé, da Hill’s Brasil. Outros, não diretamente ligados ao mercado pet, também levaram experiências enriquecedoras, como, por exemplo, José Bacellar que já atuou como CEO e executivo de grandes organizações

A Anfal Pet esteve presente na Rio Vet como empresa expositora, promovendo o Piq Pet, programa integrado de qualidade pet, e o International Pet Business Meeting, que ocorre em São Paulo durante a Pet South America www.petsa.com.br

A Empóriopet possui linha de produtos para a beleza animal que valoriza a natureza do Brasil e que são ecologicamente corretos

A Bioeasy oferece testes rápidos para cinomose e parvovirose, entre outros

A Fort Rio marcou presença no evento. A empresa distribui, no Rio de Janeiro, produtos de consagradas empresas (Fort Dodge, Hill’s, Labyes, König, FitoGuard, Farmabase, Empório Pet Dog’s Care e Bioeasy)


LXV & LXVI Exposições Internacionais de Gatos de Raça despertaram a atenção do público. O evento foi organizado pelo Clube do Gato do Rio de Janeiro

A Merial, como sempre, esteve presente prestigiando a Rio Vet e atendendo a grande clientela que possui na região

O grande vencedor da final do concurso de tosa ganhou uma Partner furgão da Peugeot. Na foto à esquerda, Juarez Freire (Brasmed), Sergio Villasanti e Daniel Correa, revelação na etapa regional do Rio de Janeiro, que com o apoio e a solidariedade dos dois, conseguiu o 3º lugar na etapa regional

A Universidade Castelo Branco também marcou presença no evento divulgando cursos especializados no setor

A Centralvet apresentou a lojistas e médicos veterinários novidades nas áreas de: produtos odontológicos, material para procedimentos cirúrgicos, suplementação alimentar, medicamentos e itens para higiene e beleza

Control Lab esteve presente divulgando os benefícios da inclusão de um programa de qualidade laboratorial, requisito importante no mercado competitivo

Help Vet, serviço especializado de atendimento a urgências e emergências. Acima, sua UTI-PET em exposição na Rio Vet

“Teremos novidades em 2009” Sergio Lobato

Equipe da Med-Sinal esteve presente apresentando grande variedade de equipamentos

Brasmed levou para a Rio Vet novidades em próteses ortopédicas




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om a missão de fomentar o estímulo do uso de técnicas de enriquecimento ambiental para a melhora na qualidade de vida e bem-estar dos animais cativos, sejam eles de zoológico, de laboratório, de produção ou de companhia, foi criado o Shape Brasil, que é parte integrante do The Shape of Enrichment, instituição internacional cuja missão é estimular o enriquecimento ambiental para animais cativos em todo o mundo. The Shape of Enrichment começou com uma publicação quadrimestral em 1991, editada por Karen Worley e Valerie Hare, na tentativa de encorajar pessoas a divulgarem suas experiências com enriquecimento ambiental. A idéia de se criar The Regional Environmental Enrichment Conferences (REEC) iniciou em 2005, na International Conference on Environmental Enrichment, devido ao grande número de participantes de diversas partes do mundo que divulgaram seus trabalhos com enriquecimento. A criação de Shapes regionais (Reino Unido, Irlanda, África, Australásia, Brasil e outros em fase de desenvolvimento) possibilita a disseminação de idéias e conscientização de profissionais a se empenharem cada vez mais na implementação de técnicas de enriquecimento ambiental. A importância do enriquecimento ambiental foi reconhecida primeiramente na 12

Shape Brasil O Shape Brasil é formado por: • profa. dra. Cristiane Schilbach Pizzutto – coordenadora do Shape Brasil; • prof. dr. César Ades – IP-USP; • prof. dr. Marcelo Alcindo de Barros Vaz Guimarães – FMVZ-USP; • MSc. Angélica da Silva Vasconcellos – IP-USP; • MSc. Manuela Gonçalves Fraga Geronymo Sgai – FMVZ-USP; • Cynthia Cipreste – Fundação ZooBotânica-BH.

Regional Environmental Enrichment Conference. A FMVZ/USP está localizada no campus Cidade Universitária "Armando de Salles Oliveira". No Campus, a FMVZ encontra-se junto à Portaria 3, com conexão com à Av. Corifeu de Azevedo Marques. O endereço da FMVZ, dentro da Cidade Universitária, é Av. prof. Orlando Marques Paiva 82, e as palestras serão ministradas no anfiteatro "Altino Antunes", localizado no prédio principal da faculdade. Concurso de fotos: “enriquecendo a imagem” “Enriquecendo a imagem” é um concurso que vai escolher a melhor foto digital de animais interagindo com itens de enriquecimento ambiental. As cinco melhores fotos escolhidas pela comissão científica da I Conferência Brasileira de Enriquecimento Ambiental serão julgadas pelos participantes durante o evento, e a foto mais votada será premiada. Poderão participar do concurso pessoas inscritas no evento, com até três fotos. As fotos deverão ser enviadas até o dia 21 de setembro de 2008. Detalhes dos critérios para a participação no concurso estão disponíveis no endereço eletrônico www.shapebrasil.com.br .

I Conferência Brasileira de Enriquecimento Ambiental Entre os dias 26 e 29 de setembro de 2008, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP - www.fmvz.usp.br) ocorrerá a I Conferência Brasileira de Enriquecimento Ambiental, uma realização da The Shape of Enrichment e da

Divulgação

Enriquecimento é sinônimo de aumento de complexidade

década de 20, quando foi evidenciada a importância do ambiente físico e social de animais cativos, bem como o seu impacto no bem-estar. Enriquecimento é sinônimo de aumento de complexidade, portanto o enriquecimento ambiental pode gerar uma melhoria da funcionalidade biológica, além do desenvolvimento da flexibilidade comportamental em resposta a ambientes dinâmicos. Na prática, um programa de enriquecimento ambiental para animais cativos abrange a utilização de técnicas que buscam manter os animais ocupados pelo aumento da diversidade de oportunidades comportamentais e do oferecimento de ambientes mais estimulantes, sempre priorizando a qualidade de vida e o bemestar animal.

Divulgação

Divulgação

Aprimorando técnicas de enriquecimento ambiental

O enriquecimento ambiental para animais cativos abrange a utilização de técnicas que buscam manter os animais entretidos pelo aumento da diversidade de oportunidades comportamentais e do oferecimento de ambientes mais estimulantes, sempre priorizando a qualidade de vida e o bemestar animal

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008



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International Pet Business Meeting

ntre os dias 17 e 19 de setembro, em São Paulo, SP, a Anfal Pet (Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação) realizará, durante a 7ª edição da Pet South America (www.petsa.com.br), evento paralelo, o International Pet Business. A realização do evento tem como objetivo promover evento técnico-comercial que atenda às expectativas dos profissionais da indústria e do setor de produtos para animais de companhia. No primeido dia do evento ocorre, em período integral, a Rodada Internacional de Negócios, uma parceria da Anfal Pet com a Apex-Brasil, que terá a a presença de aproximadamente 20 compradores internacionais com o objetivo de auxiliar os fabricantes brasileiros

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• Relacionamento Pet e Proprietário: seu impacto na sociedade (José Edson – Anfal Pet, Luiz Luccas – COMAC SINDAN, Ceres Berger Faraco – médica veterinária, PhD em psicologia e Mauro Lantzman – médico veterinário); • Impacto da esterilização sobre a proteína animal (prof. dr. Aulus Cavalieri Carciofi); • Contribuição nutricional como apoio nas patologias (Yves Miceli de Carvalho); • Aditivos em pet food (Everton Luís Krabbe); • Mercado de ingredientes global (Charles Boisson). Anfal Pet: (11) 3541-1760 www.anfalpet.org.br

III Meeting Professional Breeder Royal Canin

epetindo o grande sucesso dos anos anteriores, aconteceu entre os dias 24 e 25 de julho de 2008 o III Meeting Professional Breeder Royal Canin nas cidades de Campinas e Descalvado, SP. O evento, que é direcionado aos principais criadores de cães do Brasil e médicos veterinários, teve como tema os cuidados da pele e pelagem, escolhido pelos próprios participantes em 2007. Os 181 convidados participantes que prestigiaram o evento vieram de vários Estados como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Tocantins, Distrito Federal, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. O evento contou com quatro palestras de renomados profissionais da dermatologia, genética de pelagem e nutrição. Dentre eles esteve presente, especialmente da França, o prof. dr. Bernard Denis, médico veterinário, autor de aproximadamente 150 publicações das quais a maioria sobre genética do cão e seleção, proferindo a palestra “Coloração da pelagem em cães genética”. Outra importantíssima colaboração foi a do prof. dr. Ronaldo Lucas, com a palestra sobre “Mitos e verdades das afecções da pele e pelagem”, oferecendo aos convidados a oportunidade de compreender pontos importantes de cuidados 14

de produtos para animais de companhia com interesse no mercado externo. Nos demais dias, durante o período da manhã, ocorrem os eventos técnicos, que contam com os seguintes temas na programação: • Tendências do mercado nacional (Bernard Pouloux – vice-presidente da Anfal Pet); • Técnico x Marketing – Considerações na determinação da qualidade pet food (George C. Fahey Júnior PhD – professor do departamento de ciência animal Universidade de Illinoiss - EUA); • Programa PIQ PET (Alderley Zani Carvalho); • Novas tendências nos alimentos comerciais de cães e gatos: natural, orgânico e grãos free (Flávia Borges Saad);

Giovanni Lara, prof. Bernard Denis, Yves Miceli, Wandrea Mendes, Luciana Oliveira e René Rodrigues Junior

e prevenção de afecções dermatológicas, bem como as particularidades de várias raças. Os dois temas centrais foram complementados com informações sobre a importância do apoio nutricional, pelos médicos veterinários e consultores técnicos da Royal Canin do Brasil, René Rodrigues Junior com o tema “Influência nutricional na pigmentação da pelagem” e Wandréa de Souza Mendes argumentando sobre “A nutrição pode interferir nas dermatopatias?”. Após as palestras, o dr. Yves Miceli, diretor técnico da Royal Canin do Brasil, organizou um fórum de perguntas, oferecendo a todos a possibilidade de esclarecer eventuais dúvidas acerca dos assuntos abordados.

No dia seguinte, 25 de julho, todos seguiram para a cidade de Descalvado/SP onde localiza-se a sede da Royal Canin do Brasil. Nesse dia os convidados tiveram o prazer de acompanhar de perto todo o processo de fabricação de um alimento para cães. Conheceram o processo de seleção e cuidados com as matérias primas, a fabricação do alimento, os equipamentos envolvidos em cada etapa, o envase do alimento em suas embalagens e o mecanismo de carregamento e transporte. Aproveitaram ainda para visitar também o Centro de Pesquisa da Royal Canin do Brasil conhecendo o importante trabalho realizado por esta unidade, no que se refere a avaliação da palatabilidade e digestibilidade dos alimentos. No encerramento, os participantes não escondiam a satisfação e contentamento por estarem ali. Para a equipe Royal Canin foi um completo ambiente de “missão bem cumprida” e estímulo para repetir o sucesso nos próximos anos.

Participantes do III Meeting Professional Breeders

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Tomografia computadorizada disponível no Rio de Janeiro

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realização de tomografia computadorizada (TC) em animais já está disponível no Rio de Janeiro. O CRV Imagem, centro veterinário localizado na Barra da Tijuca, importou dos EUA um equipamento helicoidal, de ponta e sofisticados softwares de re- Os equipamentos helicoidas modernos de TC, permitem a realizaconstrução com apli- ção de complexos processamentos das imagens capazes de gerar cações ortopédicas, imagens em 3D, fazer navegações virtuais e angiotomografias neurológicas, oncológicas, endócrinas, cardio-pulmonares seu espaço na clínica de pequenos anie renais, entre outras. Seguindo a mesmais. Ela é um importante exame comma linha dos serviços de ultra-sonograplementar à radiologia convencional e à fia Doppler de alta definição e radioloultra-sonografia, além de permitir o gia digital, o serviço de TC do CRV diagnóstico mais precoce de várias Imagem aposta em profissionais médidoenças, simplificando o tratamento e cos veterinários altamente qualificados melhorando as chances de cura e recue em métodos ecologicamente corretos peração.O exame consiste na captação para confecção e emissão de laudos. de feixes altamente colimados de raios A tomografia computadorizada (TC) X e a reconstrução dessas informações é uma poderosa ferramenta diagnóstica por um computador. Os equipamentos que progressivamente tem conquistado helicoidas modernos de TC, permitem

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não só reduzir o tempo de aquisição de imagens a poucos segundos como realizar complexos processamentos das imagens capazes de gerar imagens em 3D, fazer navegações virtuais e angiotomografias. De forma prática, isso torna os exames cada vez mais seguros para o paciente e clinicamente relevantes para o médico solicitante. CRV Imagem: (21) 2484-0508 www.crvimagem.com.br

Tomografia computadorizada na Zona Norte de São Paulo

Hospital Veterinário Santa Inês, localizado na zona norte de São Paulo, SP, acaba de inaugurar seu centro de tomografia computadorizada (TC). O centro, que é composto por sala de preparo, sala de comando e sala de exames, esta equipado com tomógrafo helicoidal Toshiba, modelo Auklet, que por sua aquisição volumétrica de dados permite exames com maior velocidade, reconstruções multiplanares e tridimensionais das imagens. As reconstruções em 3D permitem um planejamento preciso de cirurgias complexas ortopédicas (osteotomias corretivas), neurológicas (descompressão espinhal por tumores e hérnias) e oncológicas (lobectomias hepáticas e pulmonares). As indicações da TC são principalmente para as regiões de difícil visualização ao exame radiográfico ou onde existam sobreposições de estruturas, desta forma torna-se ferramenta fundamental no diagnóstico e prognóstico de diversas doenças.

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Felino sendo submetido à tomografia computadorizada

Os exames podem ser encaminhados por impressão, CD e e-mail. Devido a necessidade de anestesia na grande maioria dos exames de TC o centro encontra-se preparado com equipe de anestesistas, suporte e recursos necessários para monitorização e eventual emergência. Além de oferecer diversas especialidades e pronto socorro 24 horas, o hospital con-

ta com outros serviços diferenciados: reabilitação animal com hidroesteira, centro cirúrgico oftálmico equipado com microscópio e facoemulsificador, serviço de oncologia especializado e endoscopia para animais exóticos (aves e répteis). “Nos próximos meses teremos mais inovações em nossos serviços como a radiologia digital, eletroquimioterapia e um programa de trainee para recém formados em meNas áreas de difícil visualização ao dicina veterinária” exame radiográfico ou onde existam afirmam os diretosobreposições de estruturas, a tomografia res do hospital computadoEduardo Pacheco e João Buck. rizada é a ferramenta de eleição

Hospital Veterinário Santa Inês: www.santainesvet.com.br

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Serviços de urgência e terapia intensiva

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Intensivet foi criado para suprir uma necessidade crescente no mercado veterinário, atuando em todo Brasil e América do Sul. Entre suas atividades encontram-se treinamentos, habilitação e capacitação em atendimento emergencial e cuidados intensivos. A consultoria para consultórios, clínicas, hospitais e faculdades atinge todos os setores dentro do estabelecimento médico veterinário, desde a recepcionista, passando pela enfermagem, chegando até os médicos veterinários. Por meio de palestras e treinamento prático, realiza diagnóstico estrutural e logístico do atendimento nas clínicas, sugerindo, por meio de relatórios personalizados, as alterações necessárias para a melhoria nos resultados . A equipe do Intensivet é especializada em prestar serviços de consultas complexas e de urgência, anestesia de pacientes graves e cirurgias de alto risco em geral. Os médicos veterinários que remetem os casos, principalmente para os que são de outras cidades ou Estados, podem contar com a facilidade do suporte on line. Intensivet: (31) 9601-3196 intensivet@gmail.com

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o dia 23 de agosto, em comemoração aos 40 anos do Hospital Veterinário Sena Madureira, ocorreu o lançamento do livro Emergência e Terapia Intensiva Veterinária em pequenos animais Bases para o Atendimento Hospitalar, que contou com a participação de 45 colaboradores. Maria Aparecida G. M. dos Santos, fundadora do hospital, A obra, que contém 912 pági- recebe homenagem do presidente do CRMV-SP, Francisco nas, é acompanhada de CD Cavalcanti de Almeida com 22 vídeos de treinamento de situações práticas importantes, a maioria realizadas no manequim artificial veterinário do Centro de Treinamento e Simulação Realística do Hospital Sena Madureira. Os autores Mário Marcondes dos Santos, médico veterinário, doutor em cardiologia pelo Incor/SP, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira/SP e Fernanda da Silva Fragata, médica veterinária, mestre em anestesiologia Durante o evento, os colaboradores dos capítulos receberam pela FMVZ/USP e diretora de exemplares autografados terapia intensiva do Hospital Veterinário Sena Madureira/SP, receberam em jantar comemorativo diversos professores de medicina veterinária, especialistas, dirigentes da classe e formadores de opinião do meio veterinário.

Provet inaugura mais um centro de diagnóstico na zona leste da capital paulista

stima-se que no Brasil existam mais de 30 milhões de animais de estimação, dos quais a maioria é composta por cães e gatos, que habitam cerca de 60% dos domicílios brasileiros. De acordo com dados da prefeitura, a cidade de São Paulo tem um cão para cada sete habitantes, e um gato a cada 46 habitantes. De olho neste gigantesco mercado, que cresce mais de 10% ao ano, no qual os animais são tratados como membros da família, o Provet inaugura mais um centro de diagnóstico na zona leste. Localizada no bairro Jardim Anália Franco, em área que concentra o maior 18

Hospital Veterinário Sena Madureira comemora seus 40 anos de atividades com lançamento de livro sobre emergência e terapia intensiva

número de pet shops de São Paulo, a nova unidade atenderá seus clientes com serviços de radiologia, ultra-sonografia, eletrocardiografia, ecocardiografia, exames laboratoriais e odontologia, entre outros. Desde 1987, o Instituto oferece grande quantidade de recursos disponíveis na medicina veterinária. Os serviços vão desde acupuntura, dermatologia, odontologia e oftalmologia, até tratamentos nas áreas de oncologia e reprodução. Anualmente são realizados aproximadamente 200.000 exames em suas quatro unidades localizadas em São Paulo.

De acordo com o diretor do Provet, Edgar Sommer, o Brasil representa o segundo maior mercado pet do mundo, ficando atrás somente do mercado norteamericano. "O mercado pet brasileiro cresce todos os anos, entre outros fatores, em virtude de pessoas das mais diversas classes sociais adotarem animais de estimação praticamente como membros da família. Com a agitação e a insegurança das metrópoles os animais representam fatores de estabilidade e de afetividade e acabam adquirindo o status de um ente querido." Provet: www.provet.com.br

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Indústria veterinária cria grupo de trabalho para desenvolver e fortalecer mercado pet

Comissão de Animais de Companhia (Comac) é o novo grupo de trabalho do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan). Criada para tratar exclusivamente dos assuntos do mercado de produtos veterinários para animais de companhia, a Comac será responsável por desenvolver um segmento que responde por 11% do faturamento da indústria (ou cerca de R$ 285 milhões). Embora esteja em processo de amadurecimento, esse mercado enfrenta problemas estruturais que limitam seu pleno desenvolvimento. Questões como uso inadequado de produtos por consumidores e veterinários, numerosa população de animais sem acesso a saúde ou alimentação adequada e necessidade de profissionalização no canal de vendas, serão discutidos pela Comissão. O grupo reúne as principais empresas responsáveis pela comercialização de produtos para cães e gatos, filiadas ao Sindan, que vivenciam o dia-a-dia do mercado e estão atentas às suas particularidades e ao seu potencial de crescimento. De acordo com o presidente da COMAC, Luiz Luccas, também diretor de operações para animais de companhia da Merial Saúde Animal, o objetivo do grupo é debater os problemas e, sobretudo, agir. “Desejamos estruturar um ambiente de intercâmbio de informações

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e idéias, para propor e executar iniciativas que estimulem o mercado pet brasileiro”, afirma. O plano de trabalho da comissão para 2008 inclui ações de aproximação com outras instituições do mercado pet, de aprimoramento dos mecanismos de coleta de informações sobre o mercado e iniciativas para levar esclarecimentos ao consumidor final e aos veterinários. Isso porque, segundo Luccas, cerca de 80% dos médicos veterinários brasileiros ainda utilizam medicamentos para saúde humana em animais por desconhecer as soluções já desenvolvidas pela indústria. “E ainda: apenas 25% da população brasileira de cães e gatos recebem algum cuidado veterinário. Portanto, há muito trabalho a fazer, especialmente no campo da informação”. Consolidação Apesar dos desafios, Luccas vê no mercado pet um processo de amadurecimento e consolidação, que começa a criar as condições necessárias para sua profissionalização. A indústria de produtos para animais de estimação, de fato, registrou expansão meteórica nos anos 90, a taxas superiores a 20% ao ano, graças à estabilização da economia. Mas hoje, acredita-se que o crescimento nominal do mercado, especialmente no segmento de saúde animal, esteja ao redor de 10% ao ano, apesar do aumento do número de pet shops e clínicas. “Existe um mito muito difundido

sobre o setor, que cresce a taxas elevadíssimas, acima até dos segmentos mais pujantes da economia, que não mais corresponde à realidade. Na verdade, precisamos vencer uma série de desafios”, diz. Ele refere-se a problemas como a baixa rentabilidade dos pet shops brasileiros, cujo faturamento médio mensal é de R$ 20 mil/mês e também ao baixo investimento do consumidor final em saúde animal que corresponde a apenas 11% do faturamento total do mercado (nos Estados Unidos, por exemplo, este percentual chega até a 48%). Além disso, Luccas também destaca outros dois grandes desafios a serem superados pelo mercado pet. O primeiro diz respeito à tributação dos produtos voltados aos animais de companhia, que sofrem aumento de até 50% por conta dos impostos. “Reduzir esse número é um dos nossos objetivos. Queremos mostrar para as autoridades que a utilização desses produtos não é um luxo, mas sim, uma questão de saúde pública também. Hoje, há 11 milhões de cães nos lares de classe C. É preciso viabilizar o acesso deste público aos medicamentos de saúde animal”, afirma. Já outro tema em destaque refere-se à posse responsável dos animais. Nesse caso, a comissão pretende desenvolver ações que conscientizem a sociedade sobre a importância da saúde preventiva a partir de medidas simples, como vacinação e a realização da vermifugação, por exemplo.

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Setor de pet food ganha selo para garantir a qualidade dos alimentos

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bjetivo da implantação da chancela é potencializar o consumo de alimentos industrializados e, de quebra, garantir a qualidade dos produtos comercializados Para atender a exigência do consumidor e garantir a competitividade entre as marcas que atendem o mercado, a Anfal Pet – Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação – deu início ao processo de certificação voluntária com o Selo PiqPet. O objetivo é adequar a cadeia de produção de alimentos para animais de companhia visando o aumento da qualidade, o reconhecimento do consumidor e o cumprimento de todas as normas e legislações vigentes. Todas as indústrias de alimentos para animais de estimação poderão candidatar-se à certificação. O processo pode ser muito rápido. Para tanto, basta adequar o processo de produção aos requisitos do selo de forma integral. A partir do resultado da auditoria de certificação, será emitido o atestado de conformidade e liberação de uso do selo em até um mês. A Anfal Pet será a gerenciadora e fiscalizadora do processo de implantação do selo. Para garantir a idoneidade do processo e dar peso a chancela do Selo PiqPet, a Associação buscou empresas e entidades que se destacam pela credibilidade no mercado. São os casos da BSI Management Systems - empresa de certificação multinacional, com sede no

Reino Unido e atuante no mercado de avaliação da conformidade desde 1901; NBS Consulting Group - responsável pelos programas de qualidade, treinamentos e diagnósticos para certificação; os laboratórios ITAL - Instituto de Tecnologia de Alimentos, Multimix, CBO, MCassab, LAB de óleos e gorduras da Unicamp e ainda as Universidades/Estações de Pesquisa UFLA - Universidade Federal de Lavras e Unesp Universidade do Estado de São Paulo (campus Jaboticabal). Com tantas opções o consumidor fica em dúvida na hora de optar por uma ou outra marca. Segundo o diretor executivo da Anfal Pet, José Edson França Galvão, trata-se de uma grande oportunidade para que as indústrias ratifiquem e façam valer os altos investimentos na modernização de equipamentos, segurança na produção dos alimentos e divulgação dos mesmos. “O Selo Piq Pet de qualidade estampado na embalagem atesta que aquele produto obedece às normas exigidas no criterioso mercado internacional. A certificação vai fortalecer o mercado de Pet Food de forma inédita”, explicou Galvão. O lançamento do selo PiqPet faz parte de um pacote de ações que a Associação preparou para impulsionar o setor. Para tanto, além do selo, haverá um investimento em mídia de quase R$ 3 milhões de reais. O setor espera que até 2010 haja um retorno de resultados extremamente positivo. “Em 2007 foi vendido 1,8

milhão de toneladas, o que correspondeu a 46,1 % do potencial total de consumo. Em dois anos queremos atingir 55% do potencial de consumo, ou seja, 2,2 milhões de toneladas”, concluiu o dirigente. A Anfal Pet tem como missão defender os interesses institucionais dos fabricantes de Produtos Pet junto a entidades de classe, órgãos governamentais, imprensa e sociedade em geral. Defende a redução da carga tributária para produtos pet, monitora a legislação junto aos órgãos públicos, promove o desenvolvimento da demanda interna e o crescimento das exportações além de buscar a normatização da produção segundo rígidos padrões de qualidade. Anfal Pet: www.anfalpet.org.br

O selo Piq Pet estampado na embalagem atesta que aquele produto obedece às normas exigidas no criterioso mercado internacional

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Bem-estar animal Adotar é tudo de bom

elizmente, a cada dia cresce o incentivo de pessoas empenhadas em investir em campanhas de adoção e de pessoas interessadas em optar pela adoção de animais, ao invés de comprá-los. Na classe veterinária são vários os profissionais que se dedicam voluntariamente a colaborar com entidades protetoras de animais ou, de alguma forma, a promover as adoções. A médica veterinária Angélica Lang Klaussner, por exemplo, é colaboradora da ONG Adote um gatinho (www.adoteumgatinho.com. br), que já contabiliza mais de 2.000 gatos fora das ruas morando com novos donos. O Bem Estar Animal (www. bemestaranimal.com.br), centro médico veterinário de terapias complementares para cães e gatos, desenvolveu adesivos promocionais do estabelecimento focando conceitos de reciclagem, ecologia, conservação e bem-estar animal. Um dos adesivos promocionais é bastante objetivo: “amigo não se compra... ADOTE UM ANIMAL”. Esta questão do envolvimento profissional dos médicos veterinários com campanhas de bem-estar animal tem sido abordada, há anos, pela ONG Arca Brasil. A instituição realizará no próximo dia 17 de setembro, durante a 7ª edição da Pet South America (www.petsa.com.br), o 3º Seminário Veterinário Solidário – Responsabilidade Social e Crescimento Profissional. O evento pretende detalhar e orientar os profissionais que buscam saber como se tornar bem-sucedido profissionalmente por meio de ações que visem ao bem-estar e ao controle populacional dos cães e gatos.

Divulgação

Adotar é tudo de bom Com o objetivo de conscientizar a população sobre a causa dos cães

www.adotaretudodebom.com.br

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Divulgação

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Imagem de adesivo distribuído pelo Bem Estar Animal, centro médico veterinário de terapias complementares, para conscientizar as pessoas da importância da adoção

Temas de destaque que serão abordados • Leishmaniose, aspectos éticos e legais do atendimento clínico. Há cerca de 10 anos a Arca Brasil discute com os setores competentes os caminhos para frear o Dia 17 de setembro, das 14h às 18h30 avanço da leishmaniose visceral canina no país. Auditório Transamerica Expo Center Essa doença vitimou dezenas de milhares de São Paulo - SP cães nos últimos anos, muitos deles com suspeita de falso positivo. A Portaria Ministerial Nº 1.429/2008, editada no último dia 14 de julho proíbe o tratamento da doença, condenando à morte os cães infectados ou doentes. Essa polêmica iniciativa dos Ministérios da Agricultura e da Saúde e a tentativa de sua revogação, lançada pelo procurador geral da república Fernando de Almeida Martins, promete ser um dos assuntos mais quentes do encontro; • Legislação, defesa dos animais e cidadania: as novas leis e seus impactos para o profissional de veterinária Conhecer essas normas é fundamental para quem cuida dos animais e os defende. As legislações que garantem a proteção daqueles que não têm voz em nossa sociedade são desconhecidas por muitos e até desrespeitadas por aqueles que deveriam trabalhar por cumpri-las. O artigo 225 da Constituição Federal determina: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. As novas legislações – em particular a lei 14.483/07, que prevê a castração de animais vendidos e até doados –, ou os subsídios públicos – como o último edital para credenciamento de veterinários para atuar em sistema de castração em alto volume – podem ter impacto considerável na carreira do veterinário clínico. • Controle populacional de cães e gatos: modelos de sucesso na gestão de clínicas que realizam castração em alto volume e preços reduzidos. Desde a primeira edição do Congresso do Bem-Estar Animal, realizado em 1997 pela ARCA Brasil, quando aconteceu o workshop de técnica cirúrgica de OSH (castração) minimamente invasiva (conhecida hoje como "técnica do gancho") muita coisa já mudou. Embora existam cerca de 900 clínicas em São Paulo, o número de animais castrados na cidade não chega a 20%, enquanto nos EUA as esterilizações superam os 80%. Hoje é sabido que, entre o conjunto de medidas para enfrentar o problema crônico das crias descontroladas e o abandono, está o estimulo para que as técnicas de castração de cães e gatos em sistema de larga escala (alto volume e preços reduzidos) sejam disseminadas. Esse sistema é factível, conforme demonstrado pela ong há mais de 10 anos, sendo já praticado por aqui em algumas poucas clínicas e ao ser realizado de forma segura e tecnicamente perfeita, permite ao médico veterinário maximizar tempo e materiais, reduzindo os custos e obtendo compensação financeira no processo. No entanto, o sucesso dependerá da correta gestão do processo.

abandonados, Pedigree® prova mais uma vez que é louca por cachorro ao lançar a campanha Adotar é tudo de bom. Seguindo os moldes de projetos já realizados pela Pedigree® nos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, África do Sul, Austrália e Alemanha, a marca

traz diversas opções para quem quer ajudar adotando ou não. No Brasil, Pedigree® conseguiu um feito inédito em todo o mundo: unir os gigantes rivais de Internet Google, MSN e Yahoo! – prova da grandiosidade da causa.

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Cada portal é tutor de um dos cães que são os mascotes da campanha. No sítio www.adotaretudodebom.com.br, o internauta pode escolher seu favorito e se candidatar a ser o novo dono de um deles. O perfil dos cães, além de fotos e vídeos estão publicados no MSN Spaces, Flicker, Youtube & Orkut. Antes de escolher quem será o novo dono da Sissi (MSN), do Lord (Google) e da Marilú (Yahoo!), a equipe Pedigree® irá analisar cada ficha, visitar a residência e entrevistar pessoalmente os finalistas, usando rigorosos critérios de posse responsável de animais de estimação. Quem quiser adotar um cãozinho que não seja tão disputado pode escolher entre os mais de 100 que também fazem parte do projeto. Quem não pode adotar um cão no momento, pode ajudar a causa comprando a camiseta Adotar é tudo de bom, à venda pela internet e na rede Pet Center Marginal (www.petcentermarginal. com.br). O lucro adquirido com a venda das camisetas é revertido em alimentos Pedigree® doados para ONGs que abrigam animais abandonados. Causa especial Nos grandes centros urbanos brasileiros, há a estimativa de um cão para cada cinco habitantes e aproximadamente 10% deles não têm domicílio de referência. Em São Paulo, isto equivale a cerca de 200 mil animais em estado de abandono. Só em 2007, cerca de nove mil chegaram ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da capital paulista. Destes, menos de 10% conseguiram um novo lar. Em todo o mundo, milhões de cães são abandonados nas ruas todos os dias e a demanda é muito maior do que os abrigos existentes, o que faz com que muitos deles não resistam por muito tempo pela falta de cuidados. “Pedigree® acredita que todo cão merece um lar que o ame e por isso ajuda você a ajudar um cão sem lar. Esperamos que este projeto encoraje as pessoas a adotar um cachorro, o que certamente contribuirá para a qualidade de vida e alegria dos novos donos. Mas, acima de tudo, queremos promover a posse responsável, para que os cães encontrem um lar definitivo, não voltem a ser abandonados e recebam o cuidado e carinho que merecem e precisam”, 24

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Bem-estar animal

O lucro das vendas de camisetas com os dizeres Adotar é tudo de bom é revertido em alimentos Pedigree® doados para ONGs que abrigam animais abandonados

explica Cynthia Schoenardie, gerente de marketing responsável pela campanha. Campanhas públicas Em todo o Brasil, não há um padrão das atividades desenvolvidas pelos centros de controle de zoonoses (CCZs). Enquanto em algumas regiões inicia-se a identificação e registro de animais por meio de microchips, em outras não há canis para abrigar animais recolhidos. Além disso, é imprescindível que todos os centros de controle de zoonoses invistam na capacitação dos seus agentes de saúde. Laçadores de cães, por exemplo, devem ser reconhecidos como aliados da comunidade. O ITEC, Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (www.itecbr.org), pelos cursos de formação de oficiais de controle animal (FOCA) ministrados por todo o Brasil, tem se empenhado para que isto realmente aconteça. Cada agente de saúde formado pelo curso FOCA recebe aulas téoricas e práticas sobre manejo etológico, passando a reconhecer os sinais que os animais podem apresentar, principalmente os que envolvem a agressão, e de bem-estar animal. Com esses conceitos aplicados, a abordagem de cães e gatos nas ruas perde o aspecto cruel e, aos poucos, conquista-se o apoio da comunidade para o sucesso das ações de prevenção, que passa a reconhecer e a confiar no oficial de controle animal. Certamente, os cursos FOCA são uma evolução para os serviços prestados à comunidade. Porém, ainda temos situações que podem ser chamadas literalmente “do século passado”. Na cidade de São Luís, MA, por exemplo, este ano, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Maranhão (CRMV-MA) conseguiu com que o Ministério Público intervisse no CCZ local, proibindo o sacrifício de cães por meio da câmara de gás.

Câmara de gás utilizada para sacrifício de cães na cidade de São Luís, MA, fechada pelo Ministério Público

Em alguns outros municípios o Ministério Público também tem cobrado dos seus dirigentes a responsabilidade pela situação dos animais na cidade. Este ano, em Cachoeira do Sul, RS, por exemplo, a promotora Giani Pohlmann Saad decidiu mover ação civil pública para obrigar a prefeitura a definir uma política de tratamento para os cães que vivem nas ruas ou são abandonados pelos donos. A promotora também defende a adoção de política pública também para o efetivo controle da população canina. Na cidade de Americana, SP, a situação é diferente, pois há uma política de incentivo à adoção de animais. Com o slogan Adote um Amigo, a campanha municipal é divulgada através de vários

O município de Americana, SP, promove a campanha Adote um amigo: www.americana. sp.gov.br

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veículos de comunicação. Todos os animais doados são castrados e microchipados. Além disso, o município tem incentivado a castração de cães e gatos, que é feita de forma gratuita. Educação Em Rio Grande, RS, a importância da posse responsável dos animais de estimação tem sido propagada na rede municipal de ensino no projeto social Teatro na Escola, com a apresentação do espetáculo Cusco, o cão sem dono, que conta à história de um cão que é aban-

donado pelos donos e fica pelas ruas sofrendo. O projeto gratuito se desenvolve em parceria com o grupo de teatro Sobrinhos de Shakespeare e, mais uma vez, com a Secretaria Municipal da Saúde – SMS, através da Unidade de Zoonoses e Vetores. Os agendamentos da peça podem ser efetuados pelo telefone (53) 3231-3766. O Instituto Nina Rosa (www. ninarosa.org), empenhado em propagar projetos por amor à vida, comercializa o Kit Fulaninho que é composto de: DVD que conta a história de Fulaninho, o cão

que ninguém queria; manual pedagógico que contém sugestões de atividades para professores, pais e responsáveis; e caderno com desenhos para as crianças colorirem e inventarem suas histórias. Outro título relacionado com o tema é o DVD Criando um amigo, que faz parte da campanha de educação e conscientização pública que a World Society for the Protection of Animals (WSPA) e a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) realizam conjuntamente, para o aperfeiçoamento da relação entre ser humano e seu animal de companhia.

Confira abaixo lista de instituições que promovem a adoção de animais Abrigo Piccolina - Instituto de Ajuda aos Animais - www.abrigopiccolina.org.br Aliança Internacional dos Animais (AILA) - www.aila.org.br Amigos dos Animais (AMA) - www.amigosdosanimais.com.br Amimais - www.amimais.org.br Animavida - www.animavida.org Aprablu - www.aprablu.com.br Associação Bichos Gerais - www.bichosgerais.org.br Associação de Proteção Animal e Ambiental Tribuna Animal - www.tribunaanimal.com Associação dos Veterinários Sem Fronteira - VSF - www.veterinariosemfronteira.org.br Associação Grupo de Voluntários para Valorização da Vida Animal - www.grupovidaanimal.org.br Associação Maranhense em Defesa dos Animais (AMADA) - www.amadaslz.com.br Associação Paulista de Auxílio aos Animais - www.apaa.com.br Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis (APASFA) - www.apasfa.org Associação Protetora dos Animais Domésticos Vira-Lata é Dez - www.viralataedez.com.br Associação Vida Animal (AVA) - www.ava.org.br Clube Amigos dos Animais - www.clubeamigosdosanimais.com.br Clube das Pulgas - www.clubedaspulgas.com.br Companhia dos Bichos e da Natureza (COMBINA) - www.combina.org.br Defensores dos Animais - www.defensoresdosanimais.org.br Estimação - www.estimacao.org.br Grupo de Assistência e Proteção aos Animais (GAPA) - www.gapaitaipava.com.br Instituto ASSCOMA - Defesa Animal e Educação Sócio Ambiental - www.asscoma.org.br Núcleo de Educação Ambiental Francisco de Assis (NEAFA) - www.neafa.org.br Pata Amiga - www.pataamiga.nafoto.net ProAnima - Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal - www.proanima.org.br Projeto Bicho no Parque - www.bichonoparque.com.br Projeto Focinhos Gelados - www.focinhosgelados.com.br Projeto Vira-Lata - www.projetoviralata.com Quero um bicho - ww.queroumbicho.com.br Quintal de São Francisco Associação Beneficente de Proteção aos Animais - www.quintaldesaofrancisco.org.br Sentiens Defesa Animal - www.sentiens.net Sociedade de Proteção e Bem-Estar Animal Abrigo dos Bichos - www.abrigodosbichos.com.br Sociedade Focinho Carente - www.vertentes.com.br/focinhocarente Território Selvagem - www.territorioselvagem.org.br Uniao Internacional Protetora dos Animais (UIPA) - www.uipa.org.br União Protetora dos Animais - www.upanimais.org.br União Sanjoanense de Proteção aos Animais (USPA) - ww.uspa.org.br Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

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Bem-estar animal

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Circo legal não tem animal*

o dia 4 de novembro (não mais no dia 21 de agosto), uma audiência pública no Congresso Nacional definirá, em grande parte, o fim ou não do uso de animais em circos no Brasil. Para discutir a questão estarão presentes organizações de proteção animal, por um lado, e donos de circos com animais, por outro. Atualmente, o PL 7291/2006 está sob análise da Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados, que o votará em breve. O relator do projeto, deputado Antônio Carlos Biffi (PT-MS), já apresentou parecer favorável à proibição, na forma do substitutivo (páginas 17 à 20). Entretanto, a pressão dos proprietários de circos pela manutenção da prática é grande e tem influenciado muitos políticos. A World Society for the Protection of Animals (WSPA) desaprova o sofrimento infligido aos animais que são obrigados a passar por treinamentos cruéis a fim de realizar performances nos espetáculos circenses. Por isso, solicita o apoio de toda a população ao abaixoassinado pela aprovação do PL 7291/2006 com substitutivo. Na audiência pública em Brasília, a WSPA irá compor a mesa de debate como representante daqueles que querem circos sem animais. O objetivo é conseguir o maior número de adesões possível ao abaixo-assinado, para mostrar aos deputados que uma grande parcela da sociedade brasileira é contra crueldade com animais. A WSPA também coordena outro

abaixo-assinado direcionado à classe médica veterinária, para levar ao Congresso a opinião e o apoio dos especialistas em saúde e bem-estar animal. Razões para a proibição do uso de animais em circo • Animais em circo sofrem uma vida inteira de maus-tratos. Estes não incluem apenas as formas desumanas de treinamento (em sua maioria com o uso de choques, chicotes ou bastões pontiagudos), mas também os espetáculos em si, onde os animais, por sofrerem agressões para um suposto aprendizado, se comportam como nunca se comportariam na natureza, apenas por um capricho do ser humano. Além disso, passam suas vidas em espaços muito pequenos e em constante transporte, circunstâncias que causam alto grau de estresse aos animais. E, para piorar a situação, muitas vezes não têm à disposição alimento de qualidade ou em quantidade suficiente; • Animais em circo expõem as pessoas a muitos riscos. Não é possível prever como um animal estressado irá reagir em uma determinada situação. Além disso, muitas vezes permanecem em instalações inadequadas e frágeis, expondo os funcionários do circo e a população em geral. Vários acidentes já foram documentados inúmeras vezes pela mídia, como o caso do menino de seis anos que, no ano de 2000, em Pernambuco, foi devorado por leões que não comiam há vários dias e estavam em local inseguro;

Cidades onde o uso de animais em circo já é proibido Campo Grande

MS

Curitiba, Ponta Grossa e São José dos Pinhais

PR

Olinda

PE

Porto Alegre, Caxias do Sul, Montenegro, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Rio Grande, Santa Maria, São Leopoldo e Taquara

RS

Florianópolis, Blumenau, Itajaí, Jaraguá do Sul, Joinville, Videira, Joaçaba e Camboriú

SC

São Paulo, Araraquara, Atibaia, Avaré, Batatais, Bauru, Bebedouro, Campinas, Cotia, Guarulhos, Itu, Jacareí, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Nova Odessa, Ribeirão Pires, Salto, Santo André, Santos, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São José dos Campos, São Vicente, Sorocaba, Taubaté, Ubatuba e Vinhedo

SP

• Animais em circo podem transmitir doenças aos seres humanos, visto que não existe vacinação eficiente para os animais selvagens; • Animais em circo estimulam o tráfico de animais selvagens ao redor do mundo, prática reconhecidamente cruel e criminosa. Trajetória do Projeto de Lei (PL) O PL 7291 foi originalmente apresentado pelo Senador Álvaro Dias, tendo sido aprovado no Senado e encaminhado à Câmara dos Deputados; A ex-Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e representantes do IBAMA já se manifestaram formalmente a favor da proibição da permanência e exibição de animais em circos; e a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) já aprovou o PL com substitutivo por unanimidade; Uma vez aprovado pela Comissão de Educação e Cultura (CEC), o PL segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e depois volta para o Senado, onde haverá a votação final, concluindo o trâmite dentro do Congresso Nacional; Em seguida, o PL vai para a sua etapa final, que é a apreciação pelo Presidente da República. Viva o circo sem animal! Circos sem animais valorizam seus artistas, que sozinhos conseguem maravilhar a sua platéia. Esta é a evolução natural do circo, prestigiando o ser humano. O maior exemplo disso é que diversos países já optaram pela proibição do uso de animais em circos (Áustria, Costa Rica, Dinamarca, Finlândia, Índia, Israel, Cingapura e Suécia), e, no Brasil, a proibição existe em 5 Estados (PB, PE, RJ, SP e RS) e em quase 50 cidades. A WSPA é favor da tradição circense no Brasil e o proposto é que esta importante manifestação cultural evolua também em nosso país. A WSPA apóia os artistas que dedicam suas vidas a surpreender e entreter a população, sem animais.

* Fonte: WSPA Brasil - www.wspabrasil.org/circo-legal.html

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Saúde pública Vacina da dengue a partir de dezembro * Instituto Butantan fará ensaios no interior de São Paulo para testar a eficácia da vacina antes da produção piloto. Fábrica definitiva deverá estar pronta em 2010

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oram 100 milhões de casos registrados no mundo somente no ano passado. Cerca de 3 bilhões de pessoas moram em regiões sujeitas ao contágio e 20 milhões de turistas passam anualmente por esses lugares. No Brasil, a cada ano o cenário se repete. A dengue é uma das maiores epidemias mundiais e, por isso, alvo de institutos de pesquisa e corporações farmacêuticas de diversos países que buscam desenvolver uma vacina para o mal. No Brasil, o desafio foi tomado pelo Instituto Butantan, de São Paulo, e pelo Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. Representantes das instituições falaram sobre os estágios em que se encontram as vacinas brasileiras para a dengue na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas. Elena C. Siqueira Campos, da Fiocruz, e Expedito de Albuquerque Luna, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, que participa da pesquisa do Butantan, discorreram sobre a doença e seus trabalhos de pesquisa. Em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês), os trabalhos do Butantan estão mais adiantados. “Já estamos na fase das pesquisas clínicas com humanos e em dezembro deveremos ter planta piloto produzindo a vacina”, anunciou Luna, que espera ter, em 2010, uma planta definitiva instalada no instituto paulista.

O Butantan realizará em breve ensaios minuciosos em uma cidade no interior de São Paulo para testar a eficácia da vacina. “Necessitamos de dados precisos sobre o número de pessoas contaminadas, o que ainda não existe”, disse. Isso ocorre porque a maioria das pessoas que contrai a doença não desenvolve os sintomas. No estudo, os moradores da região que tiverem febre farão exame de sangue para saber se ela foi causada pela dengue. Combate a quatro vírus ao mesmo tempo A vacina da Fiocruz nasce com a técnica de clones infecciosos e tem como base o vírus da febre amarela. A técnica consiste em retirar um trecho do genoma do vírus da febre amarela e colocar no lugar o pedaço equivalente do vírus da dengue. O resultado é o chamado “genoma quimérico”. O uso do vírus da febre amarela não vem por acaso. O instituto fluminense é o maior produtor mundial da vacina 17D para essa doença. Com isso, a Fiocruz pretende aproveitar o know how e a capacidade instalada para futura produção da nova vacina. Mas combater a dengue no organismo humano não é fácil. Existem quatro tipos diferentes de vírus e, para ser eficaz, a vacina terá de ser tetravalente, ou seja, combater os quatro simultaneamente. “Para cada um desses tipos é preciso encontrar um equilíbrio entre atenuação do vírus (para que a pessoa não adoeça com o

medicamento) e imunogenicidade (a força que a dose deve ter para imunizar)”, explicou Elena. Segundo a pesquisadora, o trabalho ainda não encontrou resultados satisfatórios para a dengue do tipo 3. Mesmo assim, ela espera já em 2009 poder realizar os testes das primeiras formulações tetravalentes da vacina e, até 2012, dar início aos testes clínicos. No Brasil, até agora foram registrados os tipos 1, 2 e 3 da dengue, mas, segundo os dois especialistas, é apenas uma questão de tempo para o tipo 4, que já foi encontrado na Colômbia e na Venezuela, chegar por aqui. “A dengue sempre existiu, mas com o advento das embalagens plásticas, que servem de criadouro para o mosquito vetor Aedes aegypti, o difícil acesso à água potável e as más condições de saneamento dos aglomerados urbanos ela se disseminou pelo mundo a partir da década de 1970”, salientou Luna. No Brasil, a epidemia chegou na década de 1980 com o tipo 1 e o tipo 2 na década seguinte. No início desta década foram registrados os primeiros casos do tipo 3. Tudo indica que a epidemia deve se agravar com a chegada do tipo 4. Por isso, a importância da vacina. “Além disso, ter uma vacina não ajuda somente a saúde do país. É um trunfo importante na hora de transferir tecnologias e trocar conhecimento com outros países”, disse Elena.

* Fonte: Agência Fapesp - www.agencia.fapesp.br/materia/9135/60-sbpc/vacina-da-dengue-a-partir-de-dezembro.htm - por Fábio Reynol

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Saúde pública -

leishmaniose visceral

V Simpósio de leishmaniose visceral canina Eutanásia canina As palestras do dr. Carlos Eduardo Nery Costa, médico, professor da Universidade Federal do Piaui (UFPI), mostraram que não há embasamento científico para adotar a eutanásia canina como forma de controle da leishmaniose visceral. Inclusive, destacou que as únicas situações onde foram possíveis constatar algum controle da leishmaniose visceral foi atuando com procedimentos que envolvem o controle do vetor. A dra. Irvênia Prada, por sua vez, abordou a trajetória milenar da convivência de seres humanos e cães e a questão ética da eutanásia em cães portadores de leishmaniose visceral. Frisou a importância do diálogo em detrimento às atitudes arbitrárias e de demonstração de poder. Como exemplo,

João Carlos Toledo Jr. (Anclivepa-MG/PUC Betim), Carlos Eduardo Nery Costa (UFPI), Irvênia Prada (FMVZ/USP) e Vitor Márcio Ribeiro (Anclivepa-MG/PUC Betim)

citou frase presente em praça da Universidade de São Paulo: no universo da cultura o centro está em toda a parte. Esta frase remete para a discussão e para a visão pluralista. Promover a discussão é algo que a Anclivepa-MG sabe muito bem. realizar Há anos vem reunindo profissionais de diversos setores, todos envolvidos no controle da leishmaniose visceral, com o objetivo de amadurecer uma conduta exeqüível. Este ano, por exemplo, todos os colegas de centro de controle de zoonoses da Grande Belo Horizonte receberam convites gratuitos para participar do simpósio, pois a Anclivepa-MG gostaria que todos os médicos veterinários ligados aos serviços de controle estivessem presentes, enriquecendo os trabalhos.

“Queremos que o debate sobre a leishmaniose visceral seja feito de uma maneira eclética. Porque quando o debate é feito em um conjunto de 29 pessoas sendo que 26 já tem uma opinião formada, o debate não caminha, pois as pessoas não estão abertas à discussão. E quando isto acontece, o resultado é que as decisões são tomadas antes que o debate aconteça", destacou Vitor Márcio Ribeiro

O dr. Fábio Nogueira, ao abordar o tratamento da leishmaniose visceral canina enfatizou que em países desenvolvidos a sua instituição é rotineira e amparada por produtos veterinários tanto para o tratamento como para a manutenção da vida do paciente. Milteforan, por exemplo, produto indicado para o tratamento da leishmaniose visceral canina, é a novidade da Virbac na Europa. Glucantime, da Merial, específico para veterinária, é outra ferramenta de tratamento, disponível na Europa há bastante tempo. A comunidade européia também conta com o Leishmaniasis suporte da indústria de Management pet food. A Affinity Pet Care possui na sua linha de alimentos sob prescrição, a Advance Veterinary Diets, o alimento Leishmaniasis Management, específico para cães com leishmaniose visceral

Milteforan, da Virbac, novidade na Europa

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urante os dias 7 e 8 de julho de 2008 a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de Minas Gerais, Anclivepa-MG, realizou em Belo Horizonte, MG, o V Simpósio de Leishmaniose Visceral Canina. “Todos os debates escolhidos tiveram a intenção de evoluir naquilo que ainda não é muito eficiente. Quando o tema deste simpósio foi escolhido, Eutanásia canina obrigatória: solução para o controle da leishmaniose visceral?, é porque é um tema que vem se arrastando pelo Brasil já alguns anos. A sociedade civil como um todo, seja poder executivo, a comunidade veterinária de clínicos, seja a comunidadade de veterinários epidemiologistas, que as vezes tem opiniões divergentes, todos precisam amadurecer a idéia da necessidade de que as decisões tomadas sejam maduras e possíveis de serem cumpridas. As medidas a serem tomadas precisam ser eficientes e possíveis, caso contrário, facilmente são instituídas situações de clandestinidade e de desobediência”, destacou o Vitor Márcio Ribeiro. Lamentavelmente, uma semana depois da realização do simpósio, foi publicada no Diário Oficial da União, na seção 1, a portaria interministerial n. 1426, que proíbe o tratamento da leishmaniose visceral canina com produtos de uso humano ou não registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Esta portaria foi uma conduta arbitrária. Tanto que o dr. Fernando de Almeida Martins, Procurador da República (MG), protocolou, no Ministério Público Federal, Portaria de Instauração de Procedimento Administrativo, tendo como representante a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) e como representados, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Ministério da Saúde (MS). Além disso, o dr. Fernando de Almeida Martins também adotou procedimento administrativo cível, que foi o encaminhamento de recomendação que solicita resposta em 30 dias. O conteúdo de ambos os documentos podem ser conferidos nas páginas a seguir.

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por Arthur Barretto

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Glucantime de uso veterinário

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Saúde pública -

Portaria de Instauração de Procedimento Administrativo * Considerando a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, expedida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério da Saúde, que em seu artigo 1º proíbe, em todo território nacional, o tratamento da leishmaniose visceral em cães infectados ou doentes, com produtos de uso humano ou produtos não-registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA; Considerando que o animal infectado pela leishmaniose visceral transmite o protozoário, causador da doença, através da pele; Considerando que o tratamento utilizado para cura dos animais infectados por leishmaniose mata grande parte dos protozoários causadores da doença e a outra parte dos protozoários, que permanecem vivos, instalam-se em partes do corpo do animal, exceto na pele; Considerando que no momento em que o protozoário se instala nas outras partes do corpo do animal, este não se torna mais transmissor da doença leishmaniose visceral, apenas portador do agente; Considerando que portar o agente, assim como doenças que os seres humanos portam, quer dizer apenas que o animal PORTA o agente, mas não é acometido pelos males da doença

leishmaniose visceral

provocada por este. Considerando que na remotíssima hipótese de não se conseguir sucesso no tratamento da leishmaniose visceral, ainda, é possível fazer com que o animal não transmita a doença, porque esta é passada pelo mosquito flebótomo e este pode ser mantido afastado do animal através de coleiras inseticidas, entre outros meios; Considerando que com tratamento o animal fica assintomático, ou seja, o protozoário realmente não causa os sintomas e não está localizado no animal em parte do corpo passível de ser transmitido. Considerando que o atual exame para verificação de leishmaniose é o sorológico e este apenas verifica se o animal produz anticorpos contra o protozoário transmissor da doença, não verificando, de fato a existência do protozoário no animal; Considerando que o exame sorológico constata se o animal é soropositivo ou não, o que significa, caso positivo, tão-somente, que o animal teve contato com o parasita, mas não necessariamente que o parasita permanece no cão. A possibilidade de cura espontânea foi relatada. (LANOTHE et al., 1979; POZIO et al., 1981; MARZOCHI et al., 1985). Considerando que o exame parasitológico é o método mais eficaz para diagnosticar se o animal sofre ou não da infecção, porque tem o escopo de verificar a presença ou não do protozoário; Considerando que não há embasamento legal para a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de

julho de 2008, porque é direito do médico veterinário “prescrever tratamento que considere mais indicado, bem como utilizar recursos humanos e materiais que julgar necessários ao desempenho de suas atividades” - artigo 10 do Código de Ética Profissional do Médico Veterinário; Considerando que a parte dispositiva da Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, cita como motivos de aprovação da Portaria diversos dispositivos legais, sem, contudo, citar seus artigos; Considerando que Portaria é ato administrativo que não pode inovar, legislar, ou seja, precisa ser baseada em lei, apenas regulamentando, dentro dos limites constitucionais e legais, o conteúdo da lei; Considerando que se os animais fossem capturados para fins de vacinação e de esterilização, a quantidade de errantes (percentual mínimo de animais que portam a doença) diminuiria drasticamente, bem como o risco de propagação de doenças. Considerando o que diz o Instituto Pasteur , em seu Manual Técnico, nº6, página 20: “A apreensão e a remoção de cães errantes e dos sem controle, desenvolvidas sem conotação epidemiológica, sem o conhecimento prévio da população e segundo técnicas agressivas cruéis, têm mostrado pouca eficiência no controle da raiva ou de outras zoonoses e de diferentes agravos, devido à resistência imediata que suscita e à reposição rápida de novos espécimes de origem desconhecida

Recomendação 010/2008/GAB/FAM/PRMG * O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por conduto do Procurador da República in fine assinado, com fundamento nos arts. 5º, inciso I e 6º, inciso XX da Lei Complementar n. 75/93, expede a presente Recomendação, tendo por base a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, expedida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério da Saúde, pelas razões de fato e direito a seguir expostas. BREVE SÍNTESE: Trata-se de procedimento administrativo cível, instaurado para apurar legalidade da Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, expedida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério da Saúde, tendo em vista que em seu artigo 1º proíbe, em todo território nacional, o tratamento da leishmaniose visceral em cães infectados ou doentes, com produtos de uso humano ou produtos não-registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA e com esta proibição vários cães, que possivelmente tenham a doença, serão eutanasiados sem a possibilidade de tratamento digno. CONSIDERANDO: 1. o Procedimento Administrativo Cível n. 1.22.000.002461/2008-60, que tramita perante a Procuradoria da República em Minas Gerais, que tem por objetivo apurar a legalidade da Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008; 2. a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, expedida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério da Saúde,

que em seu artigo 1º proíbe, em todo território nacional, o tratamento da leishmaniose visceral em cães infectados ou doentes, com produtos de uso humano ou produtos não-registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA; 3. que o animal infectado pela leishmaniose visceral transmite o protozoário, causador da doença, através da pele; 4. o tratamento utilizado para cura dos animais infectados por leishmaniose mata grande parte dos protozoários causadores da doença e a outra parte dos protozoários, que permanecem vivos, instalam-se em partes do corpo do animal, exceto na pele; 5. que no momento em que o protozoário se instala nas outras partes do corpo do animal, este não se torna mais transmissor da doença leishmaniose visceral, apenas portador do agente; 6. que portar o agente, assim como doenças que os seres humanos portam, quer dizer apenas que o animal PORTA o agente, mas não é acometido pelos males da doença provocada por este. 7. que na remotíssima hipótese de não se conseguir sucesso no tratamento da leishmaniose visceral, ainda, é possível fazer com que o animal não transmita a doença, porque esta é passada pelo mosquito flebótomo e este pode ser mantido afastado do animal através de coleiras inseticidas, entre outros meios; 8. que com tratamento o animal fica assintomático, ou seja, o protozoário realmente não causa os sintomas e não está localizado no animal em parte do corpo passível de ser transmitido. 9. que o atual exame para verificação de leishmaniose é o sorológico e este apenas verifica se o animal produz anticorpos contra o protozoário transmis-

sor da doença, não verificando, de fato a existência do protozoário no animal; 10. que o exame sorológico constata se o animal é soropositivo ou não, o que significa, caso positivo, tão-somente, que o animal teve contato com o parasita, mas não necessariamente que o parasita permanece no cão. A possibilidade de cura espontânea foi relatada. (LANOTHE et al., 1979; POZIO et al., 1981; MARZOCHI et al., 1985). 11. que o exame parasitológico é o método mais eficaz para diagnosticar se o animal sofre ou não da infecção, porque tem o escopo de verificar a presença ou não do protozoário; 12. que não há embasamento legal para a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, porque é direito do médico veterinário “prescrever tratamento que considere mais indicado, bem como utilizar recursos humanos e materiais que julgar necessários ao desempenho de suas atividades” - artigo 10 do Código de Ética Profissional do Médico Veterinário; 13. que a parte dispositiva da Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, cita como motivos de aprovação da Portaria diversos dispositivos legais, sem, contudo, citar seus artigos; 14. que Portaria é ato administrativo que não pode inovar, legislar, ou seja, precisa ser baseada em lei, apenas regulamentando, dentro dos limites constitucionais e legais, o conteúdo da lei; 15. que se os animais fossem capturados para fins de vacinação e de esterilização, a quantidade de errantes (percentual mínimo de animais que portam a doença) diminuiria drasticamente, bem como o risco de propagação de doenças.


que, associadas à renovação natural da população canina na região , favorecem o incremento do grupo de suscetíveis.”; Considerando a comprovada eficácia dos tratamento atualmente utilizados nos animais que sofrem de leishmaniose visceral, por exemplo, em duas teses recentes, apresentadas na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP, verificou-se, além da melhora clínica dos cães, redução estatisticamente significativa da presença do parasita na pele, indicando diminuição do risco de transmissibilidade. Os resultados demonstraram no primeiro estudo positividade em 40% do cães antes do tratamento e 5 % após o tratamento e no segundo estudo, 52,7% de positividade antes do tratamento e 6,2% após (NOGUEIRA, 2007; SILVA, 2007). Considerando o que já foi dito, que quando não há cura do animal, ainda assim, não é questão de saúde pública, porque o animal é apenas portador do agente da doença. Considerando que a Portaria Interministerial n. 1.426 alega como motivo de sua expedição o Informe Final da Consulta de expertos, Organização Panamericana da Saúde (OPS) Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre leishmaniose visceral em Las Américas, de 23 a 25 de novembro de 2005. Considerando que o Informe considera que “em situações especiais o tratamento canino

possa ser efetivado, desde que acompanhado de medidas que impeçam o contato do cão em tratamento com o vetor”. Considerando que os médicos veterinários que realizam o tratamento da leishmaniose visceral tomam seus devidos cuidados e orientações com o animal tratado e o proprietário responsável. Considerando que há dez anos vem sido exercido o tratamento canino de leishmaniose visceral e, conforme dados de pesquisa, estes tratamento têm obtido êxito. Considerando que a eliminação canina tem sido contestada em diversos estudos quando constatam que o seu impacto no controle da doença não alcança resultados que a justifiquem operacionalmente (DIETZE et al. 1997; MILES et al., 1999; MOREIRA et al. 2004; MOREIRA et al. 2005; NUNES et al. 2005; PEREIRA et al. 2005). Considerando que é evidente que, frente ao fenômeno de urbanização e a inegável humanização dos animais de estimação, particularmente os cães, a questão da eliminação canina surge como grave problema quando da imposição da eliminação dos cães, sem possibilidade de tratamento. Considerando que o Ministério da Saúde, em 24 de novembro de 2006, havia elaborado a minuta de Portaria para regulamentar o tratamento da Leishmaniose visceral canina, entretanto, houve desistência da publicação. Considerando que vários artigos internacionais demonstram que o tratamento da leishmaniose

canina não somente leva à cura clínica dos cães, como também pode ser utilizado no controle da expansão da doença. Considerando que a Constituição Federal de 1988, o artigo 51, §4º do Código de Defesa do Consumidor, a Lei Complementar nº75/93 e demais diplomas legislativos correlatos outorgaram ao Ministério Público Federal a defesa dos direitos dos consumidores, detendo a legitimidade para instaurar procedimentos investigatórios, expedir recomendações e ajuizar ações judiciais, com escopo de evitar ou reparar danos aos consumidores; DETERMINO a instauração de procedimento administrativo objetivando a regular e legal coleta de elementos para apurar a ilegalidade da Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008. À Divisão de Tutela Coletiva Cível (DTCC) para registro e autuação como procedimento administrativo. Após, expeça-se recomendação ao Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento para revogar a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008. Decorrido o prazo de 10 (dez) dias, venha o procedimento concluso para deliberação. Belo Horizonte, 28 de julho de 2008 Fernando de Almeida Martins Procurador da República

* Fonte: Ministério Público Federal - Procuradoria da República em Minas Gerais

16. o que diz o Instituto Pasteur , em seu Manual Técnico, nº6, página 20: “A apreensão e a remoção de cães errantes e dos sem controle, desenvolvidas sem conotação epidemiológica, sem o conhecimento prévio da população e segundo técnicas agressivas cruéis, têm mostrado pouca eficiência no controle da raiva ou de outras zoonoses e de diferentes agravos, devido à resistência imediata que suscita e à reposição rápida de novos espécimes de origem desconhecida que, associadas à renovação natural da população canina na região , favorecem o incremento do grupo de suscetíveis.”; 17. a comprovada eficácia dos tratamento atualmente utilizados nos animais que sofrem de leishmaniose visceral, por exemplo, em duas teses recentes, apresentadas na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP, verificouse, além da melhora clínica dos cães, redução estatisticamente significativa da presença do parasita na pele, indicando diminuição do risco de transmissibilidade. Os resultados demonstraram no primeiro estudo positividade em 40% do cães antes do tratamento e 5 % após o tratamento e no segundo estudo, 52,7% de positividade antes do tratamento e 6,2% após (NOGUEIRA, 2007; SILVA, 2007). 18. o que já foi dito, que quando não há cura do animal, ainda assim, não é questão de saúde pública, porque o animal é apenas portador do agente da doença. 19. que a Portaria Interministerial n. 1.426 alega como motivo de sua expedição o Informe Final da Consulta de expertos, Organização Panamericana da Saúde (OPS) Organização Mundial de Saúde

(OMS) sobre leishmaniose visceral em Las Américas, de 23 a 25 de novembro de 2005. 20. que o Informe considera que “em situações especiais o tratamento canino possa ser efetivado, desde que acompanhado de medidas que impeçam o contato do cão em tratamento com o vetor”. 21. que os médicos veterinários que realizam o tratamento da leishmaniose visceral tomam seus devidos cuidados e orientações com o animal tratado e o proprietário responsável. 22. que há dez anos vem sido exercido o tratamento canino de leishmaniose visceral e, conforme dados de pesquisa, estes tratamento têm obtido êxito. 23. que a eliminação canina tem sido contestada em diversos estudos quando constatam que o seu impacto no controle da doença não alcança resultados que a justifiquem operacionalmente (DIETZE et al. 1997; MILES et al., 1999; MOREIRA et al. 2004; MOREIRA et al. 2005; NUNES et al. 2005; PEREIRA et al. 2005). 24. que é evidente que, frente ao fenômeno de urbanização e a inegável humanização dos animais de estimação, particularmente os cães, a questão da eliminação canina surge como grave problema quando da imposição da eliminação dos cães, sem possibilidade de tratamento. 25. que o Ministério da Saúde, em 24 de novembro de 2006, havia elaborado a minuta de Portaria para regulamentar o tratamento da Leishmaniose visceral canina, entretanto, houve desistência da publicação. 26. que vários artigos internacionais demonstram que o tratamento da leishmaniose canina não somente leva à cura clínica dos cães, como também pode ser utilizado no controle da expansão da

doença. 27. que a Constituição Federal de 1988, o artigo 51, §4º do Código de Defesa do Consumidor, a Lei Complementar nº75/93 e demais diplomas legislativos correlatos outorgaram ao Ministério Público Federal a defesa dos direitos dos consumidores, detendo a legitimidade para instaurar procedimentos investigatórios, expedir recomendações e ajuizar ações judiciais, com escopo de evitar ou reparar danos aos consumidores; O Ministério Público Federal, valendo-se de tais prerrogativas e de outras estabelecidas pela própria Constituição da República de 1988, RECOMENDA AO MINISTÉRIO DA SAÚDE E AO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO: 28. que revogue a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008; 29. Aproveitamos o ensejo para apresentar protestos de elevada estima e distinta consideração. EFICÁCIA DA RECOMENDAÇÃO: A presente recomendação dá ciência e constitui em mora os destinatários quanto às providências solicitadas, podendo implicar na adoção de todas as providências administrativas e judiciais cabíveis, em sua máxima extensão, contra os responsáveis inertes em face da violação dos dispositivos legais.

Belo Horizonte, 28 de julho de 2008 Fernando de Almeida Martins Procurador da República


Saúde pública -

leishmaniose visceral

Novo kit de diagnóstico baseado em imunocromatografia em papel está sendo testado para o diagnóstico a campo da leishmaniose visceral canina. Seu funcionamento e informações mais detalhadas podem ser obtidas nos endereços: • www.chembio.com/pdfs/DPP-SellSheet.pdf canina é uma tarefa primordial. No sim• www.chembio.com/video/CB_stream.wmv

Diagnóstico Para a prevenção, controle e tratamento da leishmaniose visceral canina, é fundamental a evolução nas técnicas de diagnóstico. O dr. Luiz Eduardo Ristow, responsável técnico do Tecsa Laboratórios, abordou durante o simpósio as diversas opções para o diagnóstico da leishmaniose visceral canina, sendo que as mais utilizadas são: o parasitológico, que baseia-se na pesquisa simples do parasita; o imunológico, que possui como opções o ELISA e o RIFI; a imunohistoquímica, junção das técnicas de histopatologia e parasitológico com técnicas imunológicas; e a PCR. Porém, ao finalizar sua palestra frisou que “diagnóstico é a conclusão pelo médico veterinário da somatória dos dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais”. Por sua vez, a dra. Norma Melo, da UFMG, apresentou novo teste rápido antígeno-específico que está sendo testado para o diagnóstico da leishmaniose visceral canina, conhecido como TRALd, uma imunocromatografia em papel, que pode ser feita em condição de campo. Prevenção A prevenção da leishmaniose visceral 34

pósio foram apresentados produtos que comprovadamente tem se mostrado eficazes no combate à leishmaniose.

A dra. Valéria Marçal Feliz Lima, imunologista, da UNESP, falou a respeito dos resultados de seu trabalho científico sobre a resposta imune de cães vacinados comparados com cães naturalmente infectados. Os resultados preliminares desse trabalho foram apresentados em congresso sobre imunologia, realizado em Ouro Preto, MG, em 2007. Eles demonstraram que a vacinação com a Leishmune® produz imunidade celular. O dr. Vitor Márcio Ribeiro enfatizou também a importância de trabalhar a prevenção através da ação in loco dos agentes de saúde. Alertou que na grande maioria os domicílios são visitados apenas para a realização de testes sorológicos e recolhimento de cães. Preconizase, que os agentes de saúde visitem os domicílios antes que a leishmaniose visceral esteja instalada, levando informações sobre como evitá-la, como manter o jardim em condições que não abriguem o vetor e recomendando as medidas de prevenção que podem ser aplicadas nos cães. Ou seja, fazer de fato a prevenção.

World Congress on Leishmaniasis 2009 Lucknow - India

Centro de convenções onde será realizado o World Congress on Leishmaniasis 2009, em Lucknow, India

Lucknow, na Índia, é a cidade na qual será realizado o próximo congresso mundial de leishmanioses (WorldLeish - World Congress on Leishmaniasis). O evento ocorrerá entre os dias 3 e 7 de fevereiro de 2009, reunindo especialistas, do mundo inteiro, que realmente estão interessados em reduzir o sofrimento que esta antropozoonose causa em grande parte da população mundial.

Na página principal do sítio do congresso, uma animação bastante interessante mostra o flebotomíneo alimentando-se e causando infecção: www.worldleish4.org/index.php

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008



Anna Claudia Marques Serrano

Leishmaniose em felino na zona urbana de Araçatuba, SP - relato de caso

Médica veterinária DAPSA/FOA/Unesp-Araçatuba annaserrano@bol.com.br

Cáris Maroni Nunes

MV, PhD., livre-docente DAPSA/FOA/Unesp-Araçatuba caris@fmva.unesp.br

Feline leishmaniosis within the urban zone of Araçatuba, SP, Brazil - case report Leishmaniosis en felino en el área urbana de Araçatuba, SP, Brasil - relato de caso Resumo: Um felino macho, domiciliado, sem raça definida, com quatro anos de idade, foi encaminhado por seu proprietário ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do Município de Araçatuba, SP, para eutanásia. O animal foi examinado e apresentava fezes liqüefeitas, desidratação, apatia e lesões cutâneas. Após o óbito, foram colhidas amostras fecais para realização de técnicas coproparasitológicas, bem como foi efetuado imprint do linfonodo poplíteo esquerdo para avaliação da presença de formas amastigotas de Leishmania spp. Foram efetuados a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) e o ensaio imunoenzimático indireto (ELISA) para detecção de anticorpos contra Leishmania spp. com resultado negativo para ambos, porém na reação em cadeia da polimerase (PCR) em amostras de soro para rastrear o parasito obteve-se resultado positivo. Unitermos: gato, RIFI, ELISA, PCR, Leishmania spp.

Elisa San Martin Savani

Bióloga, dra. Lab. de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores do Município de São Paulo elisa@prefeitura.sp.gov.br

Sandra Regina Nicoletii D'Auria

Bióloga, pesquisadora Laboratório de Zoonoses e Doenças Transmitidas por Vetores do CCZ do Município de São Paulo mcamargo@prefeitura.sp.gov.br

Fabio Luis Bonello

MV, mestre, prof. Faculdade de Ciências Agrárias de Andradina bonellofl@yahoo.com.br

Rosimeire Oliveira Vasconcelos

Abstract: A male four-year-old mixed-breed domestic cat was brought to the Zoonoses Control Center (CCZ) in Araçatuba, SP to be euthanized. The animal presented diarrhea, dehydration, apathy and multiple cutaneous lesions. Fecal samples were collected post-mortem for examination and imprints of the left popliteal lymph node were obtained to observe the presence of Leishmania spp. amastigotes. The serum was negative for Leishmania spp. antibodies with both the indirect immunofluorescence reaction test (IIF) and the indirect immunoenzymatic test (ELISA). The polimerase chain reaction (PCR), however, yielded positive results when used in serum samples to detect the parasite. Keywords: cat, IIF, ELISA, PCR, Leishmania spp.

MV, dra., profa. ass. DCCRA/FOA/Unesp-Araçatuba

roseovasc@fcav.unesp.br

Valéria Marçal Félix de Lima Bióloga, PhD., livre-docente DCCRA/FOA/Unesp-Araçatuba

Resumen: Un felino, macho, domiciliado, sin raza definida, con cuatro años de edad, fue encaminado al Centro de Control de Zoonosis (CCZ) del municipio de Araçatuba, SP para eutanasia. Este animal fue examinado y presentaba heces liquidas, deshidratación, apatía y lesiones cutáneas. Después del óbito, fueron tomadas muestras fecales para realización de técnicas coproparasitológicas, bien como impronta del ganglio linfático poplíteo izquierdo para evaluación de la presencia de formas amastigotas de Leishmania spp. Fueron efectuadas las reacciones de inmunofluorescencia indirecta (RIFI) y ensayo inmunoenzimático indirecto (ELISA) para detección de anticuerpos contra Leishmania spp., con resultado negativo. En reacción en cadena de polimerasis (PCR) en muestra de suero para rastrear el parásito se obtuvo resultado positivo. Palabras clave: gato, RIFI, ELISA, PCR, Leishmania spp.

vmflima@fmva.unesp.br

Katia Denise Saraiva Bresciani

MV, dra., profa. ass. DAPSA/FOA/Unesp-Araçatuba katia@fmva.unesp.br

Clínica Veterinária, n. 76, p. 36-40, 2008

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Relato de caso Um felino macho, domiciliado, sem raça definida, com quatro anos de idade, pesando 1,5kg, de pelagem curta, foi encaminhado ao Centro de Controle de Zoonoses do Município de Araçatuba, São Paulo, para eutanásia. O animal apresentava apatia, desidratação e conteúdo fecal liqüefeito, com lesões alopécicas e dermatite crostosa úmida na pina da orelha, na região cervical (Figura 1) e nos membros (Figura 2). Amostras fecais foram colhidas para verificação da ocorrência de protozoários e helmintos intestinais, por meio de exame direto e das técnicas de WillisMollay, Faust, sedimentação e Kinyoun. Foi executado um raspado cutâneo das lesões para investigação da presença de possíveis ácaros e formas amastigotas de Leishmania spp. O material obtido foi examinado imediatamente após a

colheita e a seguir acondicionado em placa de Petri com adição de hidróxido de potássio a 10%, sendo mantido em temperatura ambiente por 24 horas para ser reanalisado. Fragmentos de linfonodos poplíteos foram processados para a realização do exame parasitológico direto por meio de Anna Claudia Marques Serrano

Introdução O estudo da leishmaniose felina mereceu a atenção de pesquisadores de todo o mundo 1,2,3,4,5,6,7,8 sendo imprescindível enfatizar que a ciência brasileira contribuiu muito com essa linha de investigação desde a descrição do referido parasita 9,10,11. A leishmaniose visceral é uma zoonose cujo reservatório urbano mais importante é o cão 12,13,14,15,16, mas eventualmente pode acometer o gato 11. O Brasil vivencia na atualidade uma situação em que velhas endemias ressurgem com grande impacto. Isso ocorre em Belo Horizonte, que convive com a doença em humanos e cães desde 1993, e em várias outras cidades brasileiras 2. O primeiro caso de leishmaniose visceral canina relatado no Estado de São Paulo contempla o município de Araçatuba, e remonta a 1998 17.

Figura 1 - Felino com dermatite crostosa na pina da orelha e na região cervical

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


ASS

Lab. Bioquim. Biol. Molec. do Curso de Med. Vet/ Unesp-Araçatuba

Anna Claudia Marques Serrano

A quarta porção foi examinada por teste ELISA comercialmente empregado, denominado “Snap - CITE combo FelV/FIV test kit, INDEXX Systems, Porland, USA” que contém anticorpos monoclonais anti-vírus da leucemia felina (FelV) p27 e antígeno para o vírus da imunodeficiência felina (FIV) p24. O gato foi submetido à eutanásia após administração Figura 2 - Felino com dermatite úmida e feridas nos membros de tiopental (25mg/kg/peso vivo) e cloreto de potássio (5mL/kg), impressão em lâmina imprint com coloambos por via intravenosa, de acordo ração rápida com Panótico (Hematocor, com os princípios estabelecidos pelo Biolog) e posterior avaliação ao microsColégio Brasileiro de Experimentação cópio no aumento de 100x. Animal. A colheita de sangue foi efetuada para a obtenção de uma amostra sérica, a Resultados qual foi dividida em quatro porções. A Os exames coprológicos apresenprimeira alíquota foi encaminhada ao taram resultados negativos em todas as Laboratório de Zoonoses e Doenças técnicas parasitológicas realizadas. Transmitidas por Vetores de São Paulo Também não foram evidenciados parapara realização da reação de imunofluositos no raspado cutâneo do animal. rescência indireta (RIFI), empregandoO esfregaço de linfonodo apresentou se como antígeno formas promastigotas raras células amastigotas de Leishmania de Leishmania (L.) chagasi; título igual spp., além de reatividade linfóide, plasou acima de 40 foi considerado reagenmocitose e alguns polimorfonucleares. te. Na segunda porção foi efetuada a Os resultados das técnicas sorológireação de imunoadsorção enzimática cas de ELISA e RIFI foram negativos (ELISA), com modificações utilizadas para a presença de anticorpos contra para proteína A conjugada à peroxidase, Leishmania spp. A PCR realizada com a para detecção de anticorpos. A terceira utilização dos primers 19 resultou na amalíquota foi analisada pela reação em plificação do fragmento de DNA 120pb cadeia da polimerase (PCR), para ava(Figura 3). liação da presença de DNA do parasita.

Figura 3 - Eletroforese em gel de poliacrilamida 8% corado com nitrato de prata. Produtos de amplificação, por PCR, de DNA de 10-1 Leishmania chagasi (1); de DNA de amostra de soro de felino (2); de DNA de amostra de sangue de cão sadio (3). PM = marcador de peso molecular em escada de 100pb (Invitrogen®)

Discussão Publicações anteriores relatam formas amastigotas de Leishmania mexicana em dois gatos com alterações dermatológicas no Texas, USA. 1,4 Também há registro de três casos de gatos com lesões em narinas e orelhas, e posterior isolamento in vitro de L. venezuelensis, na cidade de Barquisimeto, Venezuela 2. Em Portugal, biópsias realizadas em

ISTA

Tr a b a l h o s d e s e n v o l v i d o s • Curso de capacitação em educação humanitária • Consultoria para prefeituras, empresas e ONG’s • Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) • Curso de capacitação em cirurgias de esterilização minimamente invasiva

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

Documentário te si disponível no

www.itecbr.org

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amostras de tecido lesionado de uma gata de cinco anos apresentando alopecia dorsal não simétrica, não pruriginosa e refratária a inúmeros tratamentos permitiram a observação de amastigotas de Leishmania spp. parasitando macrófagos; também no aspirado de linfonodo poplíteo o parasita foi observado 3. As manifestações cutâneas aqui descritas foram idênticas àquelas encontradas em uma gata do Sul da França, em cuja medula óssea foi isolada Leishmania infantum 8. O felino em questão apresentava lesões alopécicas e descamação furfurácea na pina de orelha e na região temporal, assim como dermatite crostosa úmida nas regiões periocular e cervical. Não foi possível a realização da técnica de PCR de fragmento da pele do animal. Uma fêmea felina domiciliada, de aproximadamente seis anos, apresentava opacidade, congestão, edema de córnea, uveíte unilateral, secreção ocular mucosa abundante e evidente sensibilidade ao toque. Após enucleação, uma massa aderida foi extraída da íris e encaminhada para exame histopatológico, com resultado positivo para Leishmania spp. 20. No Brasil, há alguns relatos de leishmaniose em gatos. Em Belo Horizonte, MG, técnicas de biologia molecular permitiram a identificação de L. Viannia em um animal de cinco anos que apresentava lesão interdigital em membro pélvico 10. Leishmaniose tegumentar em gato doméstico no município do Rio de Janeiro foi noticada, com ênfase em achados parasitológicos, sorológicos, hematológicos, bioquímicos e histopatológicos 21. Em Cotia, SP, constatou-se infecção em três cães e um gato. Pelo diagnóstico molecular (PCR), o parasito foi classificado como Leishmania chagasi 9. No mesmo município, um felino macho, de dois anos, foi encaminhado a uma clíni-

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ca veterinária com histórico de emagrecimento progressivo e ferimento no focinho. Em biópsia da ferida nasal foram detectadas amastigotas de Leishmania que, por meio da amplificação de amostra de baço por PCR e posterior seqüenciamento, foram identificadas como Leishmania (l.) chagasi 11. No presente relato, o fragmento de DNA do parasito foi amplificado por biologia molecular, no entanto o animal foi sorologicamente negativo para anticorpos para Leishmania spp. Tal fato sugere que, em felinos, a produção de anticorpos em resposta a Leishmania spp. deve ser muito baixa, o que redundou em negatividade nas provas sorológicas de RIFI e ELISA. Em exames realizados em 110 gatos no ano de 2002, apenas um foi positivo na RIFI 22. Nos testes sorológicos verificou-se a presença de anticorpos, o que não é suficiente para comprovar ou descartar a hipótese de uma doença ativa. A experiência clínica tem mostrado que, em locais onde a doença é endêmica, alguns animais infectados permanecem soronegativos 23. O título sorológico que o animal apresenta não está relacionado com a presença de sintomas e sua intensidade 18. Já a sensibilidade e a especificidade da PCR são muito elevadas, pois essa técnica pode detectar DNA de parasitas em pacientes que se mantêm clinicamente sadios por muitos anos 23. A infecção experimental por Leishmania donovani e L. chagasi em dez animais sadios demonstrou que os felinos são menos susceptíveis à infecção viscerotrópica que os hamsters, os cães e algumas linhagens de roedores, não sendo, portanto, bons reservatórios para o parasita. Os animais encontrados com infecção natural podem ser considerados animais sentinelas em áreas endêmicas da doença 24. Os felinos possivelmente são mais resistentes que os cães à infecção por L.

chagasi. Assim, o presente relato busca contribuir para o desenvolvimento de estudos mais aprofundados sobre a resposta imune diferenciada dos gatos frente ao protozoário e o papel desses animais como reservatórios da enfermidade. Agradecimentos Agradecemos à médica veterinária Silvana Rodrigues Alves pela valorosa colaboração na colheita de material utilizado e ao dr. Adilson A. Morgado do CCZ de Araçatuba. Referências

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


Carrapaticida com Tripla Proteção

Proteção e Prevenção contra parasitas internos e externos

Coleira Carrapaticida de longa duração

Ago/08

Doutor, escolha a melhor opção contra os parasitas neste verão


08-OZON, C. ; MARTY, P. ; PRATLONG, F. ; BRETON, C. ; BLEIN, M. ; LELIÈVRE, A. ; HAAS, P. Disseminated feline leishmaniosis due to Leishmania infantum in sourthen France. Veterinary Parasitology, v. 75 n. 2-3, p. 273277, 1998. 09-LINO, A. M. C. D. B. ; BICHIATO, A. P. ; PETRONI-JR, C. ; TANAGUCHI, H. H. ; TOLEZANO, J. E. ; PEREIRA-CHIOCCOLA,V. L. Leishmaniose Visceral em animais domésticos no município de Cotia - São Paulo "Relato de caso" In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 34, 2007, Santos. Anais... Santos, 2007. p. 203. 10-PASSOS, V. M. ; LASMAR, E. B. ;GONTIJO, C. M. F. ; FERNANDES, O. ; DEGRAVE, W. Natural infection of a domestic cat (Felis domesticus) with Leishmania (Viannia) in the metropolitan region of Belo Horizonte, State of Minas Gerais, Brazil. Memories of the Institute Oswaldo Cruz, v. 91, n. 1, p. 19-20, 1996. 11-SAVANI, E. S. M. M. ; CAMARGO, M. C. G. O. ; CARVALHO, M. R. ; ZAMPIERI, R. A. ; SANTOS, M. G. ; D'AURIA, S. R. N. ; SHAW, J. J. ; FLOETER-WINTER, L. M. ; The first Record in the Américas of an autochthonous case of Leishmania (Leishmania) infantum chagasi in a domestic cat (Felix catus) from Cotia County, São Paulo State, Brazil. Veterinary Parasitology, v. 120, n. 3, p. 229-233, 2004. 12-BEVILACQUA, P. D. ; PAIXÃO, H. H. ; MODENA, C. M. ; CASTRO, M. C. P. S. Urbanização da leishmaniose visceral em Belo Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 53, n. 1, p. 1-8,

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008



Rafael Festugatto

Instabilidade atlantoaxial em cães: revisão de literatura

Médico veterinário PPGMV/UFSM

festuga@mail.ufsm.br

Alexandre Mazzanti MV, prof. dr. DCPA/CCR/UFSM

Atlantoaxial instability in dogs: literature review

alexamazza@yahoo.com.br

Alceu Gaspar Raiser MV, prof. dr. DCPA/CCR/UFSM

Inestabilidad de la articulación atlantoaxial en perros: revisión de literatura Resumo: A instabilidade atlantoaxial (IAA), afecção congênita ou decorrente de episódios traumáticos, pode resultar na compressão da medula espinhal e conseqüente surgimento de deficiências neurológicas. As causas mais freqüentes de IAA em cães são a ausência e a hipoplasia do processo odontóide do áxis. Os animais das raças “toy”, com menos de um ano de idade, são os mais acometidos. A instabilidade atlantoaxial em cães pode ser tratada por meios conservadores ou cirúrgicos. O tratamento conservador tem sido proposto para animais com sinais clínicos discretos, e o cirúrgico está indicado para aqueles que apresentam deficiências neurológicas moderadas a graves. O tratamento cirúrgico inclui técnicas de estabilização dorsal e ventral da articulação atlantoaxial. Os objetivos dessas cirurgias são a redução da instabilidade articular e a descompressão da medula espinhal e das raízes nervosas. Unitermos: neurologia, coluna vertebral, estabilização cervical Abstract: Atlantoaxial instability is a neurological condition that can result in the compression of the spinal cord and consequent development of neurological deficiencies. It can be congenital or induced by trauma, and in dogs it is mostly caused by either hypoplasia or absence of the odontoid process. Toy-breed puppies under one year of age are the most frequently affected. Atlantoaxial instability can be treated by non-surgical or surgical methods. The first has been proposed for animals with minimal clinical signs, whereas the latter is indicated in cases that present moderate to serious neurological deficiencies. The surgical treatment includes dorsal and ventral techniques for the stabilization of the atlantoaxial articulation. The aim of these techniques is to reduce joint instability and decompress the spinal cord and nervous roots. Keywords: neurology, spine, cervical stabilization Resumen: La inestabilidad de la articulación atlantoaxial es una afección que puede producir la condensación de la médula espinal y consecuentemente el desarrollo de deficiencias neurológicas. Las causas pueden ser traumáticas o congénitas, siendo la ausencia o la hipoplasia del proceso odontoides del axis las más frecuentes en perros. Las razas “toy”, con menos de un año de edad, son las más afectadas. La inestabilidad atlantoaxial en perros puede ser tratada por métodos conservadores o quirúrgicos. El tratamiento conservador se ha propuesto para animales con signos clínicos mínimos y el quirúrgico para aquellos que presentan deficiencias neurológicas moderadas a graves. La terapia quirúrgica incluye técnicas de estabilización dorsal y ventral de la articulación atlantoaxial. Los objetivos de estas cirugías son la reducción de la inestabilidad articular y la descompresión de la médula espinal y de las raíces nerviosas. Palabras clave: neurología, columna vertebral, estabilización cervical

Clínica Veterinária, n. 76, p. 42-46, 2008

Introdução A coluna cervical, assim como outros segmentos da coluna vertebral, apresenta vários tipos de anormalidades devidas a causas distintas 1. A articulação atlantoaxial permite grande parte dos movimentos do pescoço 2. Por ser uma articulação rotacional, possibilita que a cabeça e o atlas girem ao redor de um eixo longitudinal 3. Essa rotação é centrada em torno no processo odontóide (dente) do áxis, o qual se projeta rostralmente no interior do anel ósseo formado pelo atlas 4. O processo odontóide está fixado ao arco ventral do atlas e separado da medula por meio de lâmina resistente e fibrosa, chamada ligamento transverso. A extremidade cranial do dente do áxis se fixa aos côndilos occipitais pelos ligamentos alares, e à face ventral do forame magno pelo ligamento apical 4. Os arcos 42

dorsais do atlas e do áxis são estabilizados pelos ligamentos atlantoaxiais dorsais 5. A conexão entre o atlas e o áxis é mantida por esses ligamentos 6, dos quais o mais importante estruturalmente é o ligamento transverso 7. Não existe disco intervertebral entre o atlas e o áxis 6. A instabilidade atlantoaxial é uma afecção que ocorre com freqüência moderada na rotina da clínica cirúrgica de pequenos animais. Assim, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de revisar aspectos importantes da instabilidade atlantoaxial, e apresentar formas de diagnóstico e tratamento, bem como o prognóstico dessa afecção. Etiopatogenia A instabilidade da articulação atlantoaxial pode resultar na compressão da medula espinhal, bem como de raízes nervosas 10, em decorrência do deslocamento

raisermv@brturbo.com.br

Fernanda Souza Barbosa

Graduanda CMV/CCR/UFSM

euamoosbichos@yahoo.com.br

dorsal da parte cranial do corpo do áxis para o interior do canal vertebral 3,7,8,9, de um deslocamento ventral do atlas em relação ao áxis, ou da inclinação cranial do atlas em relação ao áxis 4. Assim, a IAA pode promover deficiências neurológicas 2. As anormalidades congênitas ou evolutivas, os traumatismos, ou a combinação dessas causas podem acarretar instabilidade e, conseqüentemente, subluxação atlantoaxial 7,9. A frouxidão da articulação atlantoaxial pode resultar de ausência, hipoplasia ou má-formação do processo odontóide. Essas anormalidades congênitas resultam em fixação não funcional dos ligamentos alares, apical e transverso 10. A ausência ou má-formação congênita do processo odontóide do áxis é a anormalidade mais comum na produção da instabilidade atlantoaxial e conseqüente compressão da medula espinhal 2. A patogênese da má-formação do processo odontóide é desconhecida, podendo resultar de processo degenerativo similar ao que ocorre em cães de determinadas raças, que apresentam necrose da cabeça femoral 7,9. O áxis possui sete centros de ossificação, três dos quais afetam o tamanho, a forma e as inserções do processo odontóide ao corpo do áxis. A fusão precoce, a fusão parcial, ou a não ocorrência de fusão das placas de crescimento do processo odontóide pode levar à máformação dessa estrutura 4. Estudos anatômicos indicam que o processo odontóide desenvolve-se em dois centros de ossificação 11 (Figuras 1 e 2).

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


Alguns pesquisadores supõem que a isquemia seja responsável pela reabsorção pós-natal de parte ou de todo o processo odontóide, acreditando que o desenvolvimento deficiente dos centros de ossificação seja causa improvável da má-formação do processo odontóide 12. A angulação dorsal congênita do processo odontóide reduz a distância entre a medula espinhal e o canal ósseo e, portanto, aumenta o fator de risco nos casos de instabilidade 4. A agenesia do processo odontóide causa menor lesão à medula que um processo odontóide dorsalmente desviado 5. Raramente, a proliferação e o crescimento demasiado do processo odontóide podem ocasionar a compressão da medula espinhal 13. A instabilidade da articulação atlantoaxial pode resultar da perda de sustentação ligamentar entre o atlas e o áxis 14. A falta de sustentação ligamentar, devida à formação inadequada dos ligamentos Rafael Festugatto

Figura 1 - Radiografia em incidência ventrodorsal da articulação atlantoaxial com ausência do processo odontóide Rafael Festugatto

Figura 2 - Processo odontóide normal (seta)

alares, apicais, transverso ou dorsal para a articulação atlantoaxial, poderá ocorrer em combinação com o desenvolvimento normal do processo odontóide, resultando em instabilidade da articulação 7. A instabilidade atlantoaxial pode ser ocasionada por ruptura ou alongamento do ligamento atlantoaxial dorsal, com o processo odontóide normal, ou pela ausência do ligamento transverso do atlas 8. O ligamento transverso mantém o processo odontóide no assoalho do canal vertebral 15. O processo odontóide é mais propenso a anomalias em animais de raças miniaturas, devido às aberrações ocorrentes durante a oclusão da placa fisária de crescimento 5. As alterações congênitas que podem ocasionar a instabilidade da articulação atlantoaxial são geralmente observadas em cães jovens, de ambos os sexos, nos quais o tamanho e o peso da cabeça são desproporcionais à força do suporte ligamentar 4. Cães de raças toy, especialmente poodles, yorkshires terriers, dachshunds miniatura, chihuahuas e pomerânios com menos de um ano de idade, são freqüentemente acometidos pelas más-formações congênitas do desenvolvimento 8,13,14,16. Entretanto, podem ocorrer más-formações congênitas em animais de outras raças 9, inclusive em cães de raças de grande porte como rottweilers e dobermans pinscher 8. A instabilidade atlantoaxial em cães pode estar associada à má-formação occipitoatlantoaxial 17. A instabilidade atlantoaxial traumática pode ocorrer em cães de qualquer raça, idade ou sexo 4, assim como em felinos de todas as raças, geralmente devido a ruptura dos ligamentos atlantoaxial ou fratura do processo odontóide em sua junção com o áxis 7. Fraturas do corpo do áxis deixam o processo odontóide ligado ao atlas, causando menor traumatismo à medula espinhal do que a ruptura de ligamento(s) 5. Os casos clínicos de instabilidade atlantoaxial geralmente resultam da combinação de fatores congênitos e traumáticos. Um animal com ausência congênita de suporte para o processo odontóide sofre enfraquecimento progressivo do ligamento atlantoaxial dorsal, que pode ser rompido, quando submetido a um traumatismo de pequena monta, precipitando a instabilidade 4,18. Em alguns casos, cães com anormalidade

congênita podem ter vida normal até a idade adulta, sendo vitimados pela IAA em virtude de um traumatismo que seria rotineiro para animais normais 9. Os sinais clínicos associados à instabilidade atlantoaxial congênita podem ter surgimento agudo, podem ser lentamente progressivos, ou podem ser intermitentes. Na instabilidade atlantoaxial traumática, os sinais clínicos surgem agudamente 7. Os sinais neurológicos refletem compressão da medula espinhal e são variáveis 6. Geralmente os pacientes apresentam dor cervical, sendo que a flexão ventral da cabeça freqüentemente exacerbará a dor cervical e poderá piorar a condição neurológica 3,10. Graus variáveis de deficiências proprioceptivas ou motoras apenas nos membros pélvicos, ou em todos os quatro membros, atitude de proteção do pescoço e tetraparesia são sinais clínicos que podem ser observados em animais com subluxação atlantoaxial 5. Embora possa ocorrer em alguns animais 7,8,15, a tetraplegia é raramente encontrada, visto que lesão dessa gravidade na medula geralmente conduz a falência respiratória 6. O traumatismo grave de medula espinhal, em decorrência de instabilidade atlantoaxial, pode resultar na morte do animal 7. Diagnóstico O diagnóstico da instabilidade atlantoaxial é geralmente baseado nos sinais clínicos, na raça, na idade, nos dados da anamnese, na avaliação neurológica e nos exames radiográficos 5. Na maioria dos casos os exames radiográficos fornecem o diagnóstico, sendo que o animal deve estar sob anestesia geral para a obtenção de posicionamento adequado 6. Radiografia de boa qualidade feita com o animal em decúbito lateral e o pescoço em posição “normal” pode ser suficiente para demonstrar aumento no espaço atlantoaxial dorsal. Se esse posicionamento não for conclusivo, realizase uma radiografia em decúbito lateral com o pescoço flexionado, que, vale ressaltar, pode agravar as lesões à medula espinhal 4,7,8,19. Um intervalo de 4 a 5mm entre a lâmina do atlas e a espinha dorsal do áxis possibilitará o diagnóstico de instabilidade atlantoaxial 19 (Figura 3). O processo odontóide pode ser mais bem visualizado na incidência radiográfica

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. n. 76,109, setembro/outubro, 2008 Clínica Veterinária, Ano XIX, março/abril, 2014

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Tratamento A instabilidade atlantoaxial congênita ou traumática pode ser tratada por meios conservadores ou cirúrgicos. O tratamento conservador tem sido proposto para animais com sinais clínicos mínimos 5,19. O tratamento não-cirúrgico com confinamento do animal em gaiola, aplicação de atadura cervical e uso de medicamentos antiinflamatórios pode levar à melhora, que é transitória em animais

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o atlas e o áxis. Essa técnica é especialmente indicada em animais em que o arco dorsal do atlas ou o processo espinhoso do áxis não podem suportar dispositivos de fixação, ou quando a odontoidectomia é necessária 5. A fusão ventral praticada pela fixação de parafuso compressivo é o método preferível de tratamento. Os pinos ortopédicos podem ser usados como alternativa 6. A aplicação ventral de pinos, juntamente com a utilização de resina acrílica autopolimerizável 5, tem dado resultados satisfatórios no tratamento da instabilidade atlantoaxial congênita ou traumática 24. A utilização de placa óssea aplicada pela abordagem ventral tem se mostrado eficaz na estabilização da articulação atlantoaxial em cães 20. As complicações decorrentes da abordagem ventral são a aplicação inadequada dos pinos e sua migração, além da possibilidade dos pinos de fixação produzirem lesões iatrogênicas à medula espinhal 7. Os cuidados pós-operatórios baseiam-se em repouso restrito em gaiolas por uma ou duas semanas, e utilização

Figura 4 - Estabilização ventral com pinos de Steinmann cortados e dobrados após introdução na articulação atlantoaxial Rafael Festugatto

Fernanda Souza Barbosa

Figura 3 - Intervalo entre a lâmina do atlas e a espinha dorsal do áxis

com anormalidades congênitas 6. Animais com luxações leves, dor cervical, mínimas deficiências neurológicas e mantidos em repouso restrito em confinamento durante o mínimo de seis semanas podem apresentar resposta satisfatória à fixação da cabeça e do pescoço em extensão com o auxílio de ataduras 21. Essa fixação permite a formação de tecido fibroso, para estabilização da articulação atlantoaxial, e é mais eficaz em animais de pequeno porte 7. A terapia com diuréticos ou corticosteróides é indicada para reduzir e controlar o edema da medula espinhal. Se necessário, podem ser utilizados analgésicos. A recidiva dos sinais clínicos é comum em seguida ao tratamento conservador 4. O tratamento cirúrgico da instabilidade atlantoaxial está indicado para animais que apresentem deficiências neurológicas moderadas a graves 7,19, em animais com episódios recidivantes de dor cervical que não respondam ao tratamento conservador e naqueles em que a angulação do processo odontóide provoca compressão medular 9. Os objetivos da cirurgia são redução da subluxação atlantoaxial, descompressão da medula espinhal e das raízes nervosas e estabilização da articulação atlantoaxial 10. Os tratamentos cirúrgicos para a instabilidade atlantoaxial incluem técnicas de estabilização dorsal e ventral usando o ligamento da nuca, fixação por banda de tensão, fio ortopédico e fixação com parafusos, placas e pinos com resina acrílica autopolimerizável 22 (Figuras 4 e 5). A abordagem dorsal mediante a realização de hemilaminectomia para a descompressão da medula espinhal compromete a segurança da técnica de fixação dorsal e é raramente recomendável 5. As manipulações requeridas para a aplicação de fio de aço ortopédico dorsalmente são de difícil execução 6. Na técnica de abordagem dorsal com fixação com fio metálico cirúrgico deve-se evitar manipular excessivamente o fio, pois isso acarretará em sua fadiga e predisposição para falha do implante 23. As complicações da abordagem dorsal incluem ruptura da sutura, suporte ósseo insuficiente para sustentar o dispositivo de fixação e redução insuficiente da subluxação 3. A abordagem ventral é utilizada com o objetivo de promover a artrodese entre

Fabiano Salbego

dorsoventral. As incidências com a boca aberta, que exibem satisfatoriamente o processo odontóide, implicam risco de traumatismo medular, porque há necessidade de flexão cervical para a obtenção dessa incidência 3,5. É seguro posicionar o animal em decúbito dorsal com o pescoço estendido para a projeção ventrodorsal. Isso é preferível à projeção com a boca aberta 6, que não é recomendada rotineiramente 7,10. A ausência de evidências radiográficas positivas não exclui a possibilidade de ocorrência de instabilidade atlantoaxial, sendo comum o estabelecimento de diagnóstico com base somente nos sinais clínicos 4. A punção da cisterna magna, para mielografia, deve ser evitada em cães com instabilidade atlantoaxial 6, pois tem como potencial complicação a parada cardiorrespiratória 20. O diagnóstico diferencial da instabilidade atlantoaxial deve incluir discopatia cervical, afecção inflamatória do sistema nervoso central e traumatismo em cães imaturos de raças de pequeno porte. Extrusão de disco cervical, afecção inflamatória do sistema nervoso central, discospondilite, neoplasia e traumatismo, devem ser considerados no diagnóstico diferencial em cães maduros 6.

Figura 5 - Esquema representativo da figura 4

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


NOTÍCIAS

IV Simpósio Agener União – Neurologia Veterinária

A

B

Figura 6 - Estabilização ventral com pinos de Steinmann. Radiografia laterolateral pré (A) e pósoperatória (B). Notar a redução no intervalo entre a lâmina do atlas e a espinha dorsal do áxis

Rafael Festugatto

Rafael Festugatto

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A

Rafael Festugatto

Rafael Festugatto

de colar cervical de estabilização por duas a três semanas 5. A dor pós-operatória é comum, devendo-se fornecer analgésicos adequados. Fármacos depressores do sistema respiratório devem ser evitados 6. É aconselhado o uso de teraUniãoerealizou nos usar dias pia com Agener antibióticos, podem-se 21 e 22 se de os setembro de 2013 o corticosteróides sinais neurológi4 IV Simpósio Agener União cos pré-operatórios forem severos . – Neurologia Veterinária, com o prof. dr. Ronaldo Casimiro da Costa (MV, MSc, Considerações finais PhD, Dipl. ACVIM – Neurologia). FoA cirurgia está indicada para a maior ram 16 horas de di cadas a vasto conteúparte dos animais que apresentam lesões do sobre importantes congênitas, sendo quetópicos mesmodaosneuroanilogiaque veterinária presentes tantoneuno mais apresentem deficiências atendimento clínicopodem quanto ser cirúrgico. rológicas profundas benefi6 O dr. Casimiro da Costa ciados comRonaldo o tratamento cirúrgico que,é professor e chefe do Serviço de Neu rona maioria dos casos, elimina os sinais lo gia e Neurocirurgia Veterinária da clínicos. The Ohio State University, em Colum As complicações são raras na fixaçãobus, e referência ventral,EUA, e certamente menosmundial comuns em do 6 neu rologia veterinária, ministrando que no acesso dorsal . Os resultados pa delestras em congressos internacionais, diversos trabalhos sugerem que a estabicomo ocorreu no Congresso do Colé lização da articulação atlantoaxial pelagio Americano de (Figuras Cirurgiões rináabordagem ventral 6 eVe 7)tepode riosmais (ACVS), 2013, no ser seguraemdooutubro que a de abordagem Texas, EUA. dorsal para fixação do atlas e do áxis 25. No IV Simpósio Agener União, o professor começou sua apresentação frisando conceitos básicos da neurologia veterinária: “É comum ouvir dizer que neurologia é muito difícil e complicada. Este dogma tem se disseminado e talvez por isso a neurologia é frequentemente deixada por último plano nos currículos acadêmicos. O fato é que a neurologia não é mais difícil ou mais fácil que outras especialidades, mas requer, diferentemente de outras áreas, que se aborde o paciente iniciando pelo mais importante fundamento da neurologia clínica que é a localização de lesões. Quando se aborda o paciente suspeito de ter um problema neurológico usando um exame rápido e tentando estabelecer logo de início o diagnóstico ou possíveis diagnósticos, muitas vezes o diagnóstico final é equi-

A dr. Ronaldo Casimiro B Prof. da Costa no IV Simpósio Figura 7 - Estabilização ventral com pinos de Steinmann. Radiografia ventrodorsal pré (A) e pósoperatória (B) Agener União vocado. De nada adianta ter o melhor recurso diagnóstico possível (por exemplo, ressonância magnética) quando não se sabe a região a ser examinada. Portanto, para que se obtenha sucesso no diagnóstico e tratamento de problemas neurológicos é fundamental que o processo se inicie pela localização das lesões”. O simpósio foi realizado no Hotel Blue Tree Morumbi, em São Paulo, SP, e pode-se afirmar que foi mais um evento de sucesso realizado pela Agener União, pois contou com a participação de 500 veterinários de todo o Brasil e obteve alto índice de satisfação dos participantes: 95%.

"Durante a abordagem clínica de pacientes com sinais neurológicos é muito importante avaliar a locomoção do animal. Ela é normal ou anormal? Se anormal, quais membros estão afetados? Pélvicos, todos, ipsilaterais?", destacou o prof. dr. Ronaldo Casimiro da Costa

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008 Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 107, novembro/dezembro, 2013

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As técnicas dorsais de estabilização da articulação atlantoaxial resultaram na falha de fixação em 25% dos casos, e as ventrais sofreram uma média de falhas de 18% 22. O prognóstico de animais com lesões congênitas depende geralmente do estado neurológico durante sua apresentação: aqueles com tetraparesia têm prognóstico reservado 6, aqueles com deficiência neurológicas leves a moderadas têm prognóstico razoável, aqueles em que a tetraplegia ocorreu agudamente têm prognóstico reservado, e aqueles cuja faixa etária é inferior a 24 meses quando do início dos sinais clínicos apresentam prognóstico bom 14. Referências 01-GAMA, L. O. R. Artrodese atlanto-axial em cães tratada por ultra-som de baixa intensidade. Dissertação (Mestrado em Bioengenharia) - Universidade de São Paulo (USP), 2002. 02-THACHER, C. Biomecânica das fraturas cranianas, espinais e luxações. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996, p. 1150-1160. 03-WAGNER, S. D. Fratura e deslocamento espinhais. In: BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Manual Saunders - Clínica de pequenos animais. 4. ed. São Paulo: Roca, 1998, p. 10811090. 04-SHIRES, K. Instabilidade atlantoaxial. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. v. 1, 2. ed. São Paulo: Manole, 1998, p. 1261-1269. 05-SHIRES, P. K. Instabilidade atlantoaxial. In: BOJRAB, M. J. ; BIRCHARD, S. J. ; TOMLINSON, J. L. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, 1996, p. 545-564.

18 e 19 de outubro; 8 e 9 de novembro horário: das 8h às 17h

Profº. Dr. João Guilherme Padilha Exame neurológico; doença do disco intervertebral; fenestração de discos intervertebrais; uso de fenda ventral; hemilaminectomia; laminectomia dorsal; afecções cirúrgicas da coluna; síndrome de Wobbler; subluxação atlanto-axial; afecções cirúrgicas da coluna; síndrome de compressão da cauda eqüina; fraturas de L7 Local: 2º Batalhão da Polícia do Exército* Realização

14, 21, 28 de setembro; 19 de outubro; 9, 23,e 30 de novembro; 7 de dezembro horário: das 8h às 17h

Palestrante:

Profª Aline Machado de Zoppa Cirurgias: da cabeça e do pescoço; das cavidades torácica e abdominal; do trato genitourinário; região perineal; da pele; miscelâneas cirúrgicas

Informações e inscrições: fone: (11) 2995-9155 • fax: (11) 2995-6860 juna.eventos@uol.com.br - www.junaeventos.com

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malformation with atlantoaxial subluxation in a cat. Journal of Small Animal Practice, v. 32, n. 7, p. 366-372, 1991. 18-STAINKI, D. R. ; GARCIA, F. S. ; SILVA, N. R. Instabilidade atlanto-axial em canino: breve revisão e relato de caso, Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia, v. 5/6, n. 1, p. 77-81, 1998/99. 19-BAGLEY, R. S. Medula espinhal e vértebras. In: HARARI, J. Cirurgia de pequenos animais. 1. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999, p.347358. 20-STEAD, A. C. ; ANDERSON, A. A. ; COUGHLAN, A. Bone plating to stabilize atlantoaxial subluxation in four dogs. Journal of Small Animal Practice, v. 34, n. 9, p. 462-465, 1993. 21-GILMORE, D. R. Nonsurgical management of four cases of atlantoaxial subluxation in the dog. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 20, p. 93-96, 1984. 22-SCHULZ, K. S. ; WALDRON, D. R. ; FAHIE M. Application of ventral pins and polymethylmethacrylate for the management of atlantoaxial instability: results in nine dogs. Veterinary Surgery, v. 26, n. 4, p. 317-325, 1997. 23-WATERS, D. J. Atlantoaxial luxation. In: LIPOWITZ, A. J. ; CAYWOOD, D. D. ; NEWTON, C. D.; SCHWARTZ, A. Complications in small animal surgery, diagnosis, management, prevention. Baltimore: Willians & Wilkins, 1996, p. 541562. 24-KNIPE, M. F. ; STURGES, B. K. ; VERNAU, K. M. ; BERRY, W. L. ; DICKINSIN, P. J. ; ANOR, S. ; LECOUTEUR, R. A. Atlantoaxial instability in 17 dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 16, p. 368-370, 2002. 25-THOMAS, W. B. ; SORJONEN, D. C. ; SIMPSON, S. T. Surgical management of atlantoaxial subluxation in 23 dogs. Veterinary Surgery, v. 20, n. 6, p. 409-412, 1991. 26-SHARP, N. J. H. ; WHEELER, S. J. Small animal spinal disorders. Diagnosis and surgery. 2. ed. Philadelphia: Elsevier Mosby. 2005. 380p.

Curso teórico-prático de Curso de teórico-prático cirurgia de partes moles de oftalmologia

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06-WHEELER, S. J. ; SHARP, N. J. H. Anatomia funcional. In____. Diagnóstico e tratamento cirúrgico das afecções espinais do cão e do gato. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999, p. 8-20. 07-LeCOUTEUR, A. ; CHILD, G. Afecções da medula espinal. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. v. 1, 4. ed. São Paulo: Manole, 1997, p. 892-977. 08-BRAUND, K. G. Clinical syndromes in veterinary neurology. 2. ed. St. Louis: MosbyYear Book, 1994, p. 81-332. 09-MOREAU, P. Inestabilidad vertebral. In: PELLEGRINO, F. ; SURANITI, A. ; GARIBALDI, L. Síndromes neurológicos em perros y gatos. Buenos Aires: Panamericana, 2000, p. 161-171. 10-SEIM, H. S. Cirurgia da espinha cervical. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca, 2002, p.1157-1215. 11-WATSON, A. G. ; STEWART, J. S. Posnatal ossification centers of the atlas and axis in Miniature Schnauzers. American Journal of Veterinary Research, v. 51, n. 2, p. 264-268, 1990. 12-COLTER, S. B. Anomalias congênitas da coluna vertebral. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996, p. 1093-1103. 13-CHRISMAN, L. Neurologia dos pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca, 1985, p. 295-338. 14-BEAVER, P. ; Ellison, G. W. ; Lewis, D. D. ; Goring, R. L. ; Kubilis, P. S. ; Barchard, C. Risk factors affecting the outcome of surgery for atlantoaxial subluxation in dogs: 46 cases (19781998). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 216, n. 7, p. 1104-1109, 2000. 15-HOERLEIN, B. F. Canine neurology: diagnosis and treatment. 2. ed. Philadelphia: Saunders Co, 1971, p. 392-413. 16-BAGLEY, R. S. ; WHEELER, S. J. Doenças do sistema nervoso. In: DUNN, J. K. Tratado de medicina interna de pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca, 2001, p. 657-689. 17-JAGGY, A. ; HUTTO, V. L. ; ROBERTS, R. E. ; OLIVER, J. E. Occipitoatlantoaxial

Local: 2º Batalhão da Polícia do Exército*

27 e 29 de outubro; 3, 5, 10 e 12 de novembro horário: das 19h às 23h

Palestrante:

Prof.ª Emílio Sciammarella. Anatomia fisiológica e pálpebras; dissecção do olho e cirurgia de pálpebras; sistema lacrimal; flap conjuntival e palpebral; desobstrução do duto nasolacrimal e cauterização dos pontos lacrimais; doenças da córnea e esclera; ceratectomia superficial; ceratocentese; e outras

* 2º Batalhão da Polícia do Exército (BPE) Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco Trav.da Av.Getúlio Vargas - Osasco/SP

Local: Cefas** ** Cefas Rua Nascimento Junior, 87 Jabaquara - Santos/SP

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

Curso teórico-prático de ortopedia 18 e 25 de janeiro de 2009; 1, 8 e 15 de fevereiro de 2009 horário: das 8h às 17h

Palestrante:

Prof. João Guilherme Padilha Exames ortopédico e neurológico; instrumental; imobilização externa; pino intramedular; fixadores externos; luxações; displasias; osteocondrite dissecante da cabeça do úmero; Ruptura de ligamento cruzado cranial; e outras Local: Clube San Marco Veneto *** *** Clube San Marco Veneto Rua Matheus Leme, 488 - Mandaqui São Paulo/SP



Fábio de Souza Mendonça

Osteossarcoma vertebral em cão - relato de caso

MV, mestre, doutorando, prof. ass. DMV/UFRPE

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Renata Gebara Sampaio Dória

MV, mestre, doutoranda DMV/UNESP

Vertebral osteosarcoma in a dog case report

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Silvio Henrique de Freitas MV, mestre, prof. UNIC

Osteosarcoma vertebral en perro relato de caso

srfreitas@terra.com.br

Marco Aurélio Molina Pires MV, prof. UNIC

Resumo: Osteossarcomas vertebrais são neoplasmas mesenquimais pouco freqüentes em cães, embora possam se desenvolver em qualquer parte do esqueleto. Devido ao comportamento maligno desses tumores, cerca de 90% de caninos com osteossarcoma apresentam recidivas ou metástases, principalmente em ossos adjacentes ao tumor primário e nos pulmões. Um cão da raça rottweiler, com queixa de paraplegia, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá. Pelo exame radiológico não foi possível diagnosticar o tumor. O diagnóstico de osteossarcoma vertebral foi realizado a partir dos achados de necropsia e exame histopatológico. Embora de ocorrência esporádica, os osteossarcomas de coluna vertebral podem causar síndrome neurológica compressiva e originar metástases pulmonares e renais. Unitermos: oncologia, neoplasia, coluna vertebral

matogrossopires@bol.com.br

Lázaro Manoel de Camargo

MV, dr., prof. UNIC

lazaro@unic.edu.br

Joaquim Evêncio-Neto

Abstract: Vertebral osteosarcomas are uncommon mesenchymal neoplasms in dogs, although they can grow anywhere in the skeleton. Due to the malignant character of the tumors, about 90% of dogs with osteosarcomas present metastasis or recurrent tumors, mainly in bones close to the primary tumor or the lung. A rottweiler was presented with paraplegy to the Veterinary Hospital of the University of Cuiabá. The radiological exam did not disclose any bone or spinal cord disturbances compatible with neoplasia. The vertebral osteosarcoma that caused de medullar damage was diagnosed by necropsy and histopathological analysis. Although sporadically, primary vertebral osteosarcomas can cause compressive neurological syndrome and lung and kidney metastases. Keywords: oncology, neoplasia, spine Resumen: Los osteosarcomas vertebrales son tumores mesenquimales poco comunes en perros, aunque puedan crecer en cualquier local del esqueleto. Cerca del 90% de los perros con osteosarcoma presentan recidivas tumorales o metástasis, principalmente en huesos adyacentes o en pulmón. Un perro de la raza rottweiler fue atendido en el Hospital Veterinario de la Universidad de Cuiabá con queja de paraplejía. El examen radiológico no permitió el diagnóstico del tumor. El osteosarcoma vertebral fue diagnosticado por necroscopia y examen histopatológico. Los osteosarcomas vertebrales pueden causar síndrome neurológico compresivo y metástasis pulmonares y renales. Palabras clave: oncología, neoplasia, columna vertebral

Clínica Veterinária, n. 76, p. 48-52, 2008

Introdução Osteossarcomas são tumores malignos mesenquimais constituídos por células que produzem osteóide, osso ou ambos. Esse neoplasma representa mais de 80% dos casos de tumores esqueléticos em cães, e mais de 50% dos tumores ósseos em gatos 1,2,3,4,5. Fibrossarcoma, hemangiossarcoma, tumor de células gigantes, lipossarcoma, linfoma, osteoma, mieloma múltiplo e condrossarcoma respondem pelo restante, sendo este último relatado com maior freqüência 5. Em outras espécies de animais domésticos os osteossarcomas são raros 6. Nenhuma causa específica para o aparecimento de osteossarcomas foi até o momento estabelecida, porém alguns autores afirmam que a etiologia dessa desordem é multifatorial. Sugere-se a participação de células pluripotenciais indiferenciadas na etiopatogênese dessa alteração 8,9, além do envolvimento de 48

fatores hereditários e de genes dominantes como Rb e p53 10,11. Também é sabido que o risco de desenvolvimento desse tumor é cerca de 65 a 185 vezes maior em cães com peso acima de 36kg do que naqueles com peso inferior a 9kg 1,2. Em relação à distribuição anatômica, cerca de 75% dos osteossarcomas se desenvolvem no esqueleto apendicular, e 25% no esqueleto axial 12,13. Os ossos mais comumente afetados, em ordem de freqüência, são úmero, rádio, ulna, fêmur e tíbia 14. Nesses ossos, os osteossarcomas tendem a ocorrer em locais adjacentes às fises de fechamento tardio, passíveis de sofrerem pequenos e diversos traumas nas regiões de metáfise, as quais são as de maior atividade mitótica. Portanto, a constante sensibilização de células nessa região pode induzir processos mitogênicos, predispondo ao desenvolvimento de linhagens mutantes 1,2.

MV, dr., prof. adj. DMFA/UFRPE

evencioneto@dmfa.ufrpe.br

Geralmente os osteossarcomas acometem cães de raças grandes ou gigantes e com idade entre sete e oito anos 5,9,10,15. As raças que freqüentemente desenvolvem esses neoplasmas são pastor alemão, rottweiler, dogue alemão, dobermann, são bernardo, setter irlandês e golden retriever 11,12,13. No Brasil, cães da raça fila brasileiro também apresentam grande prevalência da doença 16. Sabe-se que os machos apresentam incidência uma vez e meia maior desses neoplasmas do que as fêmeas 17; já os osteossarcomas do esqueleto axial acometem mais as fêmeas do que os machos 12,18. Em torno de 90% dos pacientes da espécie canina com osteossarcoma apresentam metástases pulmonares. Outros locais passíveis de desenvolver metástases são o tecido ósseo, a pele (incluindo a glândula mamária), os músculos, o trato gastrintestinal, o baço, o fígado, os órgãos endócrinos (tireóide e glândula adrenal) e os tratos reprodutivo e urinário (testículos, vagina, vesícula urinária e rins). Com relativa freqüência, esses tumores são identificados antes mesmo que o tumor primário 19,20. Poucos são os relatos encontrados na literatura de osteossarcoma na coluna vertebral em cães 12. Assim, o objetivo

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


Fábio de Souza Mendonça

Figura 1 - Osteossarcoma nos corpos das vértebras torácicas T4 a T8. Observar a infiltração do tumor primário (T) no canal medular entre T6 e T7 (setas)

Figura 3 - Tumor primário (T) infiltrado no periósteo vertebral (P) Fábio de Souza Mendonça

Figura 2 - Rins com inúmeros nódulos circunscritos compatíveis com metástases de osteossarcoma

mitótico elevado, com atipias e abundante matriz osteóide (Figura 4). Esse padrão morfológico permitiu a classificação do tumor em osteossarcoma osteoblástico. Discussão O osteossarcoma é o tumor ósseo primário mais freqüente em animais de companhia. Já osteossarcomas do esqueleto axial, como o observado, correspondem a apenas 25% de todos os casos desse neoplasma 11,12. Sabe-se que a coluna vertebral é um local pouco

comum para o surgimento de osteossarcomas em cães 22, pois as regiões mais afetadas do esqueleto axial são a mandíbula (27%) e a maxila (22%) 12. Pesquisas realizadas no Brasil demonstraram que os osteossarcomas apendiculares são mais comuns que os axiais e acometem mais freqüentemente cães sem raça definida (35%), pastores alemães (15%), dogues alemães (7,5%) e filas brasileiros (5%) 16. Também se sabe que o sexo e a raça são fatores significantes quanto à predisposição da doença em cães 32, pois a maioria dos autores afirma que os machos dessa espécie apresentam maior predisposição para a doença 17,27. Essas afirmações são corroboradas pelas descrições deste relato, pois a literatura sugere que os osteossarcomas do esqueleto axial são mais prevalentes em cães de raças grandes 12,18. Entretanto, a coluna vertebral não é o local de predileção para o surgimento desse tumor, pois sabe-se que rottweilers apresentam osteossarcomas com maior freqüência nos membros anteriores, principalmente na porção final do úmero e na região distal do rádio 36. Fábio de Souza Mendonça

Relato de caso Um rottweiler macho, de sete anos de idade, com 41kg, foi levado ao Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá, com queixa principal de paralisia dos membros posteriores, secreção ocular purulenta bilateral, apatia, polaciúria, estrangúria e hematúria. Aos exames físico e neurológico, foram observados estado nutricional regular, parâmetros vitais inalterados, dermatite de contato, escaras de decúbito, ausência de reflexo à dor profunda entre os dígitos dos membros posteriores e diminuição de reflexo do panículo caudal à vértebra T1. O hemograma revelou anemia microcítica normocrômica, leucocitose por neutrofilia, linfopenia e monocitopenia relativas. Ao exame radiológico simples não foi visualizada massa tumoral na coluna vertebral. Entretanto, após a realização de exames radiográficos contrastados pela cisterna magna e região lombar observou-se compressão medular torácica (T7-T8), sendo o paciente encaminhado para cirurgia de descompressão medular, realizada por meio de laminectomia dorsal. Dois meses após o procedimento cirúrgico, sem melhora do quadro neurológico, o paciente foi a óbito. À necropsia foi observada uma massa tumoral de coloração brancoacinzentada e consistência dura, com 8,0 x 6,0 x 3,5cm, multinodular, afetando as faces ventrais dos corpos das vértebras torácicas T4 a T8 (Figura 1). Diversos focos metastáticos de aspecto morfológico similar ao tumor vertebral foram observados nos lobos pulmonares e difusamente por todo o parênquima renal esquerdo e direito (Figura 2). Fragmentos do tumor primário e dos parênquimas pulmonar e renal foram colhidos e encaminhados para análise histopatológica. A análise histopatológica do tumor primário da coluna vertebral (Figura 3) e das lesões pulmonares e renais revelou um padrão morfológico caracterizado por lençóis de células predominantemente poliédricas de núcleos conspícuos e pleomorfismo acentuado, índice

Fábio de Souza Mendonça

deste trabalho é apresentar um caso de osteossarcoma vertebral com metástases pulmonares e renais em cão e revisar os principais aspectos clínicos e patológicos da doença.

Figura 4 - Metástases de osteossarcoma vertebral em pulmão e rim. Em A, observar a presença de células demonstrando atipias (seta verde) e matriz osteóide (seta amarela). Em B, infiltração de células neoplásicas com o mesmo padrão morfológico no parênquima renal

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

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O diagnóstico presuntivo dos osteossarcomas pode ser baseado na história clínica, no exame físico e nos achados radiográficos 2. Sendo assim, erosão cortical, focos de lise óssea e reação periosteal são lesões que podem ser identificadas radiologicamente em cães devido à presença de tumores ósseos malignos 34. Entretanto, na maioria das vezes, o diagnóstico radiológico precoce de osteossarcomas é inconclusivo 24,25. No caso relatado, não foram observados padrões radiológicos de lise ou de proliferação óssea compatíveis com lesão neoplásica na coluna vertebral. Levando em consideração esse aspecto, a compressão medular determinante do quadro neurológico poderia ser compatível com discoespondilite, espondilose, má-formação vertebral, protrusão discal, luxação e fratura vertebral, além do próprio tumor 26. O diagnóstico definitivo dos osteossarcomas depende de biópsias incisionais do tecido tumoral e de exames histopatológicos 16. O tipo de osteossarcoma que ocorre mais freqüentemente em cães é o osteoblástico 22, como o apresentado neste relato. Histologicamente há uma pequena predominância de osteossarcomas simples em detrimento de osteossarcomas compostos. Os subtipos histológicos de osteossarcomas simples mais observados, em ordem decrescente de freqüência, são o osteossarcoma osteoblástico, o osteossarcoma condroblástico e o osteossarcoma telangiectásico 27. No caso relatado, células neoplásicas, variações morfológicas e atipias celulares foram os achados mais evidentes das metástases do osteossarcoma osteoblástico. Entretanto, sabe-se que as metástases provocadas por esses tumores podem se apresentar histologicamente bem diferenciadas, apresentando trabéculas ósseas evidentes e células neoplásicas com pouquíssimas variações morfológicas ou atipias mínimas 21,22. A ausência de tecido neoplásico extradural durante a laminectomia dorsal do caso relatado sugere que em casos de osteossarcomas vertebrais pode haver, mesmo nos estágios iniciais, compressão medular e paralisia. Sabe-se que esse tipo de neoplasma apresenta índices muito elevados de invasividade e metástases 11,12,15,19, sendo que 98% dos cães podem apresentar micrometástases 50

pulmonares no momento do diagnóstico. Nos estágios iniciais da doença, essas metástases geralmente não são evidentes nos exames radiológicos. Por esse motivo, para evitar o sofrimento, a maioria dos pacientes são submetidos à eutanásia entre dezesseis e vinte semanas após o diagnóstico inicial 17,23,35. No quadro clínico-patológico aqui descrito foram observadas metástases pulmonares e renais. Nos rins, osteossarcomas, sejam eles primários ou não, são raros, mas quando presentes, devido à sua invasividade, provocam hematúria 27,28,29, como descrito neste caso. Sabe-se que cães com diagnóstico de metástases de osteossarcomas têm em média menos de 137 dias de sobrevida. Sendo assim, o diagnóstico precoce dessa doença é essencial para que se reduzam as possibilidades de disseminação tumoral. Portanto, quando se decide pelo tratamento, os melhores resultados são conseguidos pela combinação de cirurgia e quimioterapia. Três drogas anticâncer podem ser utilizadas no tratamento dos osteossarcomas; incluindo doxorrubicina (cardiotóxico), cisplatina (potencialmente nefrotóxico) e carboplatina. Para minimizar os efeitos tóxicos desses quimioterápicos, torna-se necessário alternar o tratamento com cisplatina e doxorrubicina ou carboplatina e doxorrubicina. Todos esses agentes quimioterápicos devem ser administrados uma vez a cada três semanas por seis a oito tratamentos, ou até os sinais de toxicidade aparecerem. O tempo médio de sobrevida dos pacientes tratados com a associação de cirurgia e quimioterapia é de aproximadamente 366 dias 30. Conclusão O osteossarcoma primário de coluna vertebral, embora de ocorrência esporádica, acomete cães de grande porte, podendo causar síndrome neurológica compressiva e originar metástases para diferentes órgãos parenquimatosos, como pulmões e rins. Referências 01-PALMER, N. Bones and joints. In__: JUBB, K. V. F. ; KENNEDY, P. C. ; PALMER, N. Pathology of domestic animals, 4. ed., Academic Press, p. 109-118, San Diego, California, 1993. 02-DERNELL, W. S. Tumours of the skeletal

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008



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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008



Hiperadrenocorticismo em felino associado ao diabetes melito insulino-resistente relato de caso

Alexandre Gonçalves Teixeira Daniel Médico veterinário autônomo alegtd@yahoo.com.br

Arine Pellegrino

Médica veterinária autônoma arinepel@yahoo.com.br

Khadine Kazue Kanayama

Médica veterinária Hovet/FMVZ/USP

Feline hyperadrenocorticism associated with insulin-resistant diabetes mellitus case report Hiperadrenocorticismo felino asociado a diabetes mellitus insulino resistente relato de caso

khadinekk@usp.br

Luciane Maria Kanayama MV, MSc. Hovet/FMVZ/USP

luciane_mk@yahoo.com

Archivaldo Reche Júnior

MV, prof. dr. Depto. Clínica Médica, FMVZ/USP

valdorec@usp.br

Resumo: O hiperadrenocorticismo felino, endocrinopatia pouco freqüente, é uma das principais causas de diabetes melito insulino-resistente em gatos. Um felino de dezesseis anos de idade foi atendido no Hospital Veterinário da FMVZ-USP com quadro de poliúria, polidipsia e aumento de volume abdominal. Exames complementares revelaram hiperglicemia com glicosúria e hipertrigliceridemia/colesterolemia. Feito o diagnóstico de diabetes melito, instituiu-se o tratamento insulínico, que não gerou resposta. Ao exame ultra-sonográfico, evidenciou-se adrenomegalia bilateral simétrica; o teste de supressão com baixa dose de dexametasona revelou valores elevados de cortisol basal e pós-supressão. Com isso, realizou-se o diagnóstico de hiperadrenocorticismo. O quadro é pouco freqüente, ressaltando a importância da inclusão dessa endocrinopatia na clínica de felinos entre os diagnósticos diferenciais da resistência insulínica. Unitermos: medicina felina, endocrinologia, adrenal Abstract: Feline hyperadrenocorticism is a low-incidence endocrine disorder that is responsible for most cases of insulinresistant diabetes mellitus in cats. A 16-year-old neutered cat was attended at the Veterinary Hospital of the Universidade de São Paulo with polyuria, polydipsia and abdominal enlargement. Complementary exams revealed hyperglycemia, glycosuria and hypertriglyceridemia/hypercholesterolemia. After the diagnosis of diabetes mellitus, insulin treatment was started without satisfactory results. Ultrasonographic examination revealed bilateral adrenomegaly; the low-dose dexamethasone suppression test disclosed high basal and post-suppression cortisol levels. These findings supported the diagnosis of hyperadrenocorticism. Although this condition is rare, it is important to include it in the differential diagnosis of insulin resistance. Keywords: feline medicine, endocrinology, adrenal gland Resumen: El hiperadrenocorticismo felino es una endocrinopatía de baja incidencia. Es una de las principales causas de diabetes mellitus insulino resistente en gatos. Un felino de 16 años de edad fue atendido en el Hospital Veterinario de la FMVZUSP, presentando poliuria, polidipsia y aumento del volumen abdominal. Los exámenes revelaron hiperglicemia con glucosuria e hiperlipidemia. Realizado el diagnóstico de diabetes mellitus, se instituyó el tratamiento insulínico, el cual no ofreció una respuesta terapéutica positiva. Al examen ultrasonográfico, se observó adrenomegalía bilateral simétrica. La prueba de supresión con dexametasona reveló valores elevados de cortisol basal y post supresión. Con esto se realizó el diagnóstico de hiperadrenocorticismo. Este hallazgo es poco frecuente, resaltando la importancia de la inclusión de esta endocrinopatía dentro de los diagnósticos diferenciales de la resistencia insulínica, en la clínica de los felinos. Palabras clave: medicina felina, endocrinología, adrenal

Clínica Veterinária, n. 76, p. 54-60, 2008

Introdução O hiperadrenocorticismo (HAC) é uma enfermidade caracterizada pela secreção excessiva de cortisol na corrente sangüínea 1. Embora comum em cães, o HAC é uma endocrinopatia de rara ocorrência nos gatos 1. Ainda que se tenha aventado a hipótese de que a baixa prevalência da doença em felinos seria conseqüência da maior resistência desta espécie aos efeitos deletérios do cortisol, o que resultaria em menor manifestação clínica da hipercortisolemia 1, o real motivo dessa pequena prevalência ainda não é conhecido 1,2. 54

Outras endocrinopatias com origem na glândula adrenal também vêm sendo descritas em gatos, como o hiperaldosteronismo. Essa afecção caracteriza-se pela secreção exagerada de aldosterona em conseqüência de neoplasia ou hiperplasia das glândulas adrenais, e gera hipertensão, hipocalemia, acidose metabólica e hipernatremia (o oposto da síndrome de Addison) 2,3. As causas de ocorrência do HAC felino são similares àquelas que provocam a doença em seres humanos e cães. A maioria dos casos (aproximadamente 80%) é classificada como HAC hipófise-

dependente, provocado por adenoma benigno hipofisário. A minoria (aproximadamente 20%) é causada por adenocarcinomas e adenomas de glândula adrenal, e classificada como HAC adrenal-dependente. Raros são os casos de HAC decorrente de neoplasias mistas em hipófise, gerando quadros de hipercortisolismo e hipersomatotropismo 4. Diferentemente do que se verifica em cães e humanos, raros são os casos de HAC causado por processos iatrogênicos na espécie felina 1,2 e, em sua maioria, decorrem da administração excessiva de corticóides 5.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


A doença hipófise-dependente é mais comumente encontrada em animais de meia-idade a idosos, com idade média de dez anos (idades variando de cinco a dezesseis anos). Já a idade média de gatos portadores de adenocarcinoma de adrenal é de doze anos. 1,2 Não existe predisposição racial, porém as fêmeas estão mais representadas entre os animais acometidos (60% dos casos) 2. O HAC felino é freqüentemente acompanhado de diabetes melito, que se constitui na principal intercorrência a despertar a suspeita da enfermidade quando de difícil controle com manejo e terapia insulínica 1,6. Cerca de 80%-90% dos felinos com HAC apresentam diabetes 1,2,7,8,9,10. As manifestações clínicas mais comuns são diabetes melito insulino-resistente, atrofia cutânea, poliúria, polidipsia, polifagia, letargia, aumento de volume abdominal, obesidade, fraqueza muscular, retardo no crescimento piloso, seborréia, e infecções de trato urinário e respiratório recidivantes 1,2,7,8,9. Achados de exame físico comuns são hepatomegalia, aumento de volume abdominal, alopecia simétrica bilateral, atrofia cutânea, atrofia muscular, fragilidade cutânea adquirida e postura plantígrada 1,2. Achados laboratoriais incluem leucograma de estresse, discreto aumento dos níveis de ALT, discreta hipercolesterolemia, hiperglicemia e baixos níveis de compostos nitrogenados sangüíneos. Diferentemente dos cães, os gatos com HAC não apresentam aumento significativo da fosfatase alcalina, baixa densidade urinária, aumento importante de ALT ou trombocitose 1. Os valores de fosfatase alcalina (FA) não se elevam em gatos portadores de HAC porque essa espécie, diferentemente dos cães, não é dotada da isoenzima hepática da FA induzida por esteróides 8,11. Os achados radiográficos de gatos com HAC são semelhantes aos de cães, podendo evidenciar grande deposição de gordura mesentérica, hepatomegalia e obesidade. A ultra-sonografia abdominal evidencia hepatomegalia, adrenomegalia bilateral (HAC hipófise-dependente) ou massa em adrenal (HAC adrenal-dependente), mas alguns gatos com HAC hipófise-dependente não apresentam alterações das glândulas adrenais em diâmetro 1,2,8,12. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética

(RM) podem evidenciar massas adrenais e hipofisárias 1,2,8,12. A RM apresenta maior sensibilidade na verificação de formações hipofisárias do que a TC 1,9,12. O diagnóstico é realizado com base nos achados de anamnese, exame físico e de imagem, e de testes laboratoriais específicos, como a relação cortisol:creatinina urinária, supressão com dexametasona (dose baixa e dose alta), estimulação com corticotropina (ACTH) e dosagem de ACTH endógena 1,2,8. Os testes específicos concentram-se na determinação de cortisol sangüíneo e/ou urinário 1,8. A relação cortisol:creatinina urinária de gatos com HAC mostra valor elevado quando comparada àquela de gatos normais. No entanto, diversas doenças não localizadas em glândula adrenal podem gerar resultados falso-positivos 2. O teste de supressão com dose baixa de dexametasona é considerado um dos testes de escolha no diagnóstico do HAC felino. Esse teste exige uma dose dez vezes maior de dexametasona do que aquela utilizada para o teste em cães (0,1mg/kg IV). Os níveis de cortisol devem ser mensurados antes da aplicação, quatro e oito horas depois desta, ressaltando que alguns gatos – nos quais a supressão da adrenal é superior a quatro horas – apresentam taxas dentro da normalidade na segunda mensuração. Gatos normais possuem valor de cortisol pós-supressão menores que 1,6 g/dL. Animais com valores de cortisol superiores a 1,6 g/dL pós-supressão são considerados portadores de hiperadrenocorticismo 1,6,7,9,13,14. O teste de estimulação com ACTH demanda menos tempo, é de fácil interpretação e auxilia na diferenciação do HAC iatrogênico. No entanto, somente 60% dos gatos com HAC respondem expressivamente ao ACTH 1,2. O tratamento médico do HAC é pouco relatado, e não há registros de boa resposta a fármacos como o mitotano, o cetoconazol e o trilostano 1,8,15. Grande parte dos animais apresenta vômitos e anorexia durante o tratamento com cetoconazol, manifestações estas que tendem a se extinguir quando a administração do fármaco é suprimida 1. O trilostano é um fármaco que atua na inibição da enzima 3-beta-hidroxiesteróide, mediando a produção de pregnolona a progesterona, e então, aos seus produtos finais (cortisol, aldosterona e

androstenediona) 2. Estudos demonstram que o trilostano é um efetivo inibidor de esteróides, com mínimos efeitos colaterais em gatos portadores de HAC. No entanto, esse fármaco é pouco utilizado por ser proibido em alguns países. Quando utilizado, o trilostano parece melhorar as condições e manifestações clínicas dos animais, não reduzindo, no entanto, a hipercortisolemia e a necessidade de insulina dos portadores de diabetes melito 16,17,18. Frente ao pequeno número de gatos que utilizaram o trilostano, não se pode afirmar com certeza sobre sua eficácia. Porém, seu uso é considerado promissor em perspectivas futuras no tratamento do HAC felino 18. A par disso, há poucas informações disponíveis sobre fármacos como o metirapone e o L-deprenil, sobre cuja eficácia em gatos não há comprovação 19,20,21. O tratamento cirúrgico é o que demonstra melhores resultados em gatos. No entanto, cirurgias dessa ordem – extremamente invasivas – necessitam de uma equipe cirúrgica experiente e de acompanhamento pós-operatório minucioso. As técnicas utilizadas consistem na adrenalectomia bilateral ou na hipofisectomia transesfenoidal 1,2,9. A adrenalectomia só deve ser preconizada e realizada após a estabilização do animal e/ou a resolução dos quadros apresentados inicialmente (como diabetes melito e dermatopatias, por exemplo). Após a realização da adrenalectomia, e por toda a vida do animal a ela submetida, é necessário proporcionar suplementação alimentar com glicocorticóides e mineralocorticóides 2,22. A radioterapia também pode ser utilizada, pelo fato da grande maioria dos gatos com HAC possuir a forma hipófise-dependente 23. No entanto, esse é um procedimento oneroso e demorado, além de não eliminar a possibilidade de recidivas após alguns meses 2. A hipofisectomia transesfenoidal exige centros médicos com técnicas avançadas de diagnóstico por imagem, cirurgiões experientes e equipamento sofisticado, mas parece ser uma alternativa viável no tratamento do HAC em gatos, com bons resultados 24. Contudo, frente à premissa do uso e eficácia do trilostano, as alternativas de tratamento cirúrgico podem diminuir em um futuro próximo 18.

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Relato de caso Um felino macho de dezesseis anos de idade, com 6,5kg, castrado, portador de cardiomiopatia hipertrófica (CMH) e infectado pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV), foi atendido no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo com quadro de apatia, aumento de volume abdominal, poliúria e polidipsia com evolução de três semanas. O exame físico evidenciou prostração, aumento de volume abdominal (Figura 1) sem alteração à palpação, sopro sistólico grau V/VI em foco mitral, seborréia (Figura 2) e alteração na aparência e na elasticidade cutânea (Figura 3).

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Figura 2 - Seborréia no felino com HAC. Notar pregueamento da pele na região abdominal

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Figura 4 - Imagem ultra-sonográfica da glândula adrenal direita, com dimensões de 1,4cm x 0,6cm Serviço diagnóstico por imagem HOVET - USP

Alexandre Gonçalves Teixeira Daniel

Figura 3 - Alteração da aparência cutânea, com aumento de elasticidade e aspecto pregueado

Serviço diagnóstico por imagem HOVET - USP

Figura 1 - Aumento de volume abdominal do felino com HAC. Notar aspecto pregueado da pele

Foram realizados hemograma completo, perfil bioquímico, glicemia e urinálise. A glicemia encontrada foi de 445mg/dL e observou-se glicosúria (++++), baixa densidade urinária (1,018) e piúria, com ausência de cetonúria. Os valores de triglicérides e colesterol também estavam discretamente elevados (318mg/dL e 190mg/dL respectivamente), e o hemograma revelou discreta linfopenia. Diagnosticou-se, portanto, quadro de diabetes melito com infecção urinária associada e institui-se terapia insulínica (2UI insulina pela manhã e 1UI no período da noite, com intervalo de doze horas entre as aplicações) e amoxicilina + clavulonato de potássio 12,5mg/kg BID durante vinte e um dias. Houve resolução do quadro urinário após vinte e um dias de antibioticoterapia. Após três meses de tratamento, com aumento gradativo das dosagens de insulina (chegando a 6UI a cada 12 horas) e pouca melhora do quadro clínico, evidenciou-se o quadro de diabetes melito insulino-resistente, e também foi observada recidiva do quadro de infecção urinária. Realizou-se, então, exame de ultra-sonografia abdominal, que evidenciou hepatomegalia e adrenomegalia bilateral, com dimensões de 1,4cm x

Figura 5 - Imagem ultra-sonográfica da glândula adrenal esquerda, com dimensões de 1,7cm x 0,6cm

0,6cm (adrenal direita) (Figura 4) e 1,7cm x 0,6cm (adrenal esquerda) (Figura 5). Devido ao quadro de resistência insulínica associado à adrenomegalia bilateral, suspeitou-se de hiperadrenocorticismo, e preconizou-se a realização do teste de supressão com dose baixa de dexametasona. Com o animal em jejum de doze horas procedeu-se à coleta de sangue, por venopunção jugular, para a mensuração de cortisol basal. Posteriormente, aplicou-se, por via intravenosa, 0,1mg/kg de dexametasona. Oito horas após a aplicação, realizou-se nova coleta de sangue para a mensuração do cortisol pós-supressão com dexametasona. Os resultados da dosagem de cortisol basal e pós-estimulação com dexametasona foram de 6,88 g/dL e 4,57 g/dL, respectivamente. Frente aos valores elevados de cortisol, e à adrenomegalia bilateral, fez-se o diagnóstico de HAC associado ao diabetes melito insulinoresistente. As possibilidades de tratamento médico e cirúrgico foram aventadas ao proprietário que, frente à idade e às condições clínicas gerais do animal, optou por não realizar terapia médica e/ou cirúrgica do HAC, realizando somente o tratamento insulínico, com doses altas de insulina (6UI BID). Após 60 dias do diagnóstico, o animal foi a óbito (informação obtida por contato telefônico com o proprietário). Resultados e discussão O hiperadrenocorticismo (HAC) é uma endocrinopatia bastante comum em cães, porém rara em gatos 1,8,9,10. Dentre as causas de HAC destacam-se a hipófise-dependente (em 80% dos casos, tanto em cães quanto em felinos), a adrenal-dependente (cerca de 20% dos casos) e a iatrogênica 1,8, rara em gatos, o que pode ser explicado, em parte, pela relativa resistência dos felinos aos efeitos deletérios e negativos da produção aumentada e/ou da administração crônica de glicocorticóides, frente ao menor número de receptores para glicocorticóides presentes na espécie 9,10. No presente relato, o animal acometido por HAC era idoso (dezesseis anos de idade) e macho castrado. De acordo com a literatura, o HAC felino acomete animais de meia idade a idosos, e machos castrados 1,8.

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A principal queixa relatada pelo proprietário era a dificuldade de controle do diabetes e a presença de poliúria, polidipsia e polifagia apesar da insulinoterapia em dose adequada. Outras manifestações relatadas incluem letargia, sonolência, dermatopatias e diminuição no hábito de auto-higienização 1,8,9. Assim sendo, as manifestações clínicas de HAC não são comumente detectadas por proprietários ou médicos veterinários antes do desenvolvimento de diabetes melito, afecção que acomete a maioria dos gatos portadores daquela endocrinopatia 1. No presente relato, as principais queixas do proprietário estavam relacionadas ao quadro de diabetes não compensada (apesar de insulinoterapia adequada), como poliúria, polidipsia e letargia. Também foram relatadas alterações como aumento de volume abdominal, disqueratinização e pelame de má qualidade, dados bastante condizentes com os da literatura. Um dos diagnósticos diferenciais de resistência insulínica em gatos com diabetes descompensada é o HAC 1,8,10. A presença concomitante de diabetes melito de difícil controle em felinos com HAC é bastante comum 1,2,5,6,25,26. As alterações mais freqüentes no exame físico são aumento de volume abdominal (66%), atrofia muscular (63%), pele fina e atrófica (61%) e pelame de má qualidade (53%). Menos comumente, podem-se observar alopecias, hepatomegalia, lesões cutâneas, posição plantígrada e seborréia 1,2. O gato do presente estudo apresentava algumas das manifestações supracitadas, como aumento de volume abdominal, alteração na elasticidade cutânea e pele atrófica, hepatomegalia e seborréia. Poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso são manifestações clássicas da diabetes melito e, como a maioria dos gatos com HAC também são diabéticos, o excesso de glicose circulante explica essa sintomatologia. Porém, alguns gatos não diabéticos e com diagnóstico de HAC também apresentam poliúria e polidipsia, possivelmente em decorrência do excesso de cortisol sérico. A perda de peso também pode estar relacionada à diabetes (a deficiência de insulina provoca inabilidade de utilização da glicose sérica, desencadeando respostas fisiológicas semelhantes ao jejum), mas pode estar relacionada aos 58

efeitos catabólicos do excesso de cortisol. A perda de peso é uma característica importante e permite diagnóstico diferencial de acromegalia, outra causa de resistência insulínica, mas que promove ganho de peso 1,8,9,10. Os efeitos do cortisol no catabolismo protéico promovem atrofia muscular, justificando a fraqueza, a letargia e a aparente sonolência dos animais 1,8,9, manifestações que foram observadas no felino do presente trabalho. A postura plantígrada geralmente é conseqüência de neuropatia diabética e não foi observada no presente relato. O excesso de cortisol crônico promove redistribuição de gordura em certas áreas do organismo, com aumento de sua deposição no abdômen e em região mesentérica e diminuição da gordura subcutânea. Conseqüentemente, o animal apresenta aumento de volume abdominal, pele atrófica e friável, e pode haver maior possibilidade de desenvolvimento de hematomas pela presença de vasos friáveis desprovidos de proteção 1. No gato relatado, observou-se aumento de volume abdominal e pele fina e atrófica, o que condiz com o quadro de HAC descrito pelos autores. O aumento de volume abdominal pode ser justificado, assim como em cães, pela hepatomegalia e pelo aumento da gordura intraabdominal. A aparência alterada da pele ocorre devido ao aumento da sensibilidade (pelos efeitos dos glicocorticóides) com conseqüente atrofia cutânea. O exato mecanismo pelo qual ocorre a atrofia não é completamente elucidado, existindo evidências da influência do cortisol na síntese e direcionamento das fibras colágenas da epiderme 27. Dentre as alterações laboratoriais mais comumente observadas em felinos com HAC, destacam-se: hiperglicemia e glicosúria (conseqüentes ao quadro de diabetes melito associado), hipercolesterolemia e aumento de alanina aminotransferase (ALT). Menos comumente, observam-se leucograma de estresse, aumento na fosfatase alcalina (FA) e densidade urinária iso/hipostenúrica; e raramente, pode-se observar proteinúria, piúria e bacteriúria, geralmente decorrentes de infecção urinária associada 1,8,9,10. Frente aos achados laboratoriais de gatos com HAC, o hemograma apresen-

ta-se tipicamente como leucograma de estresse, mas as alterações observadas nem sempre são características 1,8,10. O felino em questão apresentou linfopenia no hemograma, o que pode caracterizar, em parte, leucograma de estresse. Além disso, apresentava glicosúria e hiperglicemia (em decorrência do diabetes melito), hipercolesterolemia e densidade urinária baixa, o que é bem observado nos animais descritos pela literatura 1,8,9,10,25,26. Esses exames laboratoriais são bastante consistentes com o HAC felino, com aumento nos valores de triglicérides e colesterol, sem o aumento concomitante da enzima fosfatase alcalina (o que é comumente observado em cães) 9. Os felinos não possuem a isoenzima hepática da fosfatase alcalina de aumento induzido por corticóides 9,11. Sendo assim, gatos com HAC não apresentam aumento da FA, em concordância com o animal relatado. A densidade urinária do animal também era inferior ao limite mínimo de normalidade para a espécie (1,035), decorrência do diabetes melito associado ao hipercortisolismo. Outro achado clínico comum em animais com HAC, e verificado no animal objeto deste relato, foi o quadro de infecção urinária crônica, possivelmente em virtude da glicosúria constante e da redução da densidade urinária. A redução da densidade urinária implica queda dos mecanismos inibitórios do crescimento bacteriano e, conseqüentemente, aumenta a possibilidade de acometimento por infecção. A infecção urinária crônica é um achado comum em cães com HAC. O mesmo mecanismo é valido para felinos com a referida endocrinopatia 1,8,9. A comparação de tamanho de cada glândula adrenal por ultra-sonografia é útil na diferenciação de HAC de origem hipofisária daquele de origem adrenal 1,8,10. A presença de adrenais bilateralmente normais ou aumentadas em um gato com HAC é considerada forte evidência de hiperplasia adrenal provocada por HAC hipófise-dependente. No que se refere ao HAC adrenal-dependente, identifica-se tipicamente uma massa adrenal, enquanto a adrenal contralateral não acometida é pequena ou não detectável. 1,8,9,10 Essa atrofia da glândula adrenal contralateral não acometida resulta em assimetria no tamanho das adrenais, o que pode ser evidenciado no

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exame ultra-sonográfico. A não identificação de uma ou ambas as adrenais – ou a presença de adrenais em tamanho normal – em gato com HAC confirmado é mais consistente com diagnóstico de HAC hipófise-dependente. 1,10 O gato do presente relato não tinha histórico de uso de corticóides e, em virtude da adrenomegalia bilateral, a possibilidade de HAC iatrogênico foi descartada. Essa possibilidade foi descartada porque o HAC iatrogênico promove a atrofia das glândulas adrenais, e tinha-se adrenomegalia. A adrenomegalia bilateral sugere aumento na atividade das glândulas, compatível com o quadro hipófise-dependente da doença, de acordo com a literatura 1,2,7,8,9,10,25,26. Frente ao quadro de diabetes melito insulino-resistente associado à adrenomegalia bilateral, ao distúrbio de disqueratinização, ao aumento de volume abdominal e aos achados dos exames laboratoriais, a hipótese de HAC foi aventada e o animal foi submetido ao teste de supressão com dexametasona (que apresenta resultados com sensibilidade de cerca de 85-90% em gatos com HAC) 2,7,9,10,13,14,19. O teste mostrou elevado nível de cortisol circulante pré e pós aplicação da dexametasona, compatível com o quadro de HAC hipófise-dependente. Não há relatos que correlacionem a existência de predisposição a cardiomiopatia e HAC em gatos portadores do FIV. O HAC, endocrinopatia rara em felinos, é considerado debilitante para a espécie 1,2,8,9,10. O animal descrito apresentou-se bastante comprometido pela afecção e o óbito ocorreu após cerca de três meses do diagnóstico, o que condiz com o prognóstico descrito na literatura. Conclusão O hiperadrenocorticismo felino é uma condição rara na literatura mundial, existindo poucos relatos publicados em literatura nacional. A pouca freqüência dessa endocrinopatia em felinos motivou os autores a relatar o presente caso. Até por ser pouco freqüente, essa endocrinopatia deve ser investigada – seja com exames de imagem, seja com exames laboratoriais específicos – em gatos com manifestações vagas como poliúria e polidipsia, concomitante 60

aumento de volume abdominal não ascítico, e principalmente portadores de diabetes melito de difícil controle e resistência insulínica. Referências

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Claudia Russo

Ascite quilosa associada à distocia fetal em uma gata

MV, MSc Depto. Cirurgia, FMV/ULBRA

claurusso@yahoo.com

Ewaldo de Mattos Junior

MV, pós-graduando Depto. Cirurgia, FMVZ/USP

Chylous ascites in a cat with fetal dystocia Ascitis quilosa asociada a la distocia fetal en una gata

ewaldomattos@hotmail.com

Gustavo José von Glehn dos Santos MV, dr., prof. NUPESC/UNIRG

gustavoglehn@hotmail.com

Selwyn Arlinton Headley

Resumo: A ascite quilosa é uma enfermidade rara na clínica de pequenos animais e, geralmente, está associada a alterações abdominais que causam obstrução ou ruptura de vasos linfáticos, tais como neoplasias. O presente trabalho descreve o caso de uma gata sem raça definida com ascite quilosa associada a distocia fetal. A única alteração detectada pelo exame físico foi a distensão abdominal. O hemograma revelou leucocitose com neutrofilia, porém as provas de função renal e hepática estavam normais. Ao acesso abdominal para cesariana, foi encontrada grande quantidade de líquido com aspecto leitoso, diagnosticado como quilo pelo teste de extração de triglicerídeos por solvente (éter). Não foram encontradas outras alterações macroscópicas na cavidade abdominal. Como entre as possíveis etiologias da ascite inclui-se a obstrução dos vasos linfáticos, concluiu-se que, na gata em questão, a enfermidade foi provocada pela compressão do útero gravídicos sobre os vasos linfáticos. Unitermos: ascite quilosa, gatos, distocia fetal

MV, PhD., prof. St. Matthew’s University - Cayman Islands

sheadley@smu.ky

Abstract: Chylous ascites is a rare clinical disease of small animals normally associated with abdominal alterations that result in lymphatic vessel obstruction, such as tumors. This paper describes a case of chylous ascites in a female feline that had fetal dystocia. The animal demonstrated abdominal distention during clinical examination, without any other significant alteration. The hematological exam revealed leucocytosis with neutrophilia. Hepatic and renal functions were normal. When the abdominal cavity was incised for caesarian section, a large quantity of milky fluid was observed. It was later identified as chyle by triglycerides extraction through solvent (ether). No other gross abdominal alterations were observed. We conclude that chylous ascites in this case was probably caused by compression of lymphatic vessels by the pregnant uterus. Keywords: chylous ascites, cats, fetal dystocia Resumen: La ascitis quilosa es una enfermedad rara en la clínica de pequeños animales. Normalmente está asociada con alteraciones abdominales que causan obstrucción o ruptura de vasos linfáticos, tales como neoplasias. El presente trabajo describe un caso de una gata sin raza definida con ascitis quilosa asociada a distocia fetal. Al examen clínico el paciente presentaba distensión abdominal sin otras alteraciones clínicas, el hemograma reveló leucocitosis con neutrofília, siendo que no fueron observadas otras alteraciones en las pruebas hepáticas y renales. Después del abordaje abdominal para cesaria, fue encontrada gran cantidad de líquido con aspecto lechoso, diagnosticado como quilo por la prueba de extracción de triglicéridos por solvente (éter). No fueron encontradas otras alteraciones macroscópicas en la cavidad abdominal. En conclusión, debido a las posibles etiologías de tal enfermedad que causan obstrucción de los vasos linfáticos, existe la posibilidad que el útero grávido haya causado tal disfunción. Palabras clave: ascitis quilosa, gatos, distocia fetal

Clínica Veterinária, n. 76, p. 62-64, 2008

Introdução O acúmulo de fluido linfático no interior da cavidade peritoneal é denominado quiloperitôneo, ascite quilosa ou peritonite quilosa 1,2. Descrita em cães, gatos, humanos, felinos silvestres e experimentalmente em suínos 3,4,5,6,7, essa enfermidade é rara na clínica de pequenos animais, e no homem ocorre entre 1:50.000 a 1:100.000 das admissões hospitalares 1. Em humanos está associada a linfangectasia, cirrose hepática e neoplasias abdominais 8 e, em gatos, à deficiência de vitamina E 9. Entre as causas mais comuns de ascite quilosa em gatos são citadas as neoplasias abdominais, tais como o hemangiossarcoma e o linfossarcoma 9, e a cirrose hepática como causa não neoplásica 10. O presente trabalho relata o caso de 62

uma gata sem raça definida apresentando ascite quilosa secundária a distocia fetal. Caso clínico Uma gata sem raça definida, de seis anos de idade, com distensão abdominal excessiva, foi atendida no Hospital Veterinário da Faculdades Integrado de Campo Mourão, PR. O proprietário relatou que o animal, que era alimentado com ração própria para a espécie e nunca recebera vacinas ou vermífugos, estava em gestação havia aproximadamente 60 dias e apresentava normorexia, normodipsia e secreção vaginal de coloração esverdeada; havia 24 horas tinha contrações abdominais, sem nascimentos. Ao exame clínico foram constatados temperatura retal de 38,4º C, 64 movimentos respiratórios por minuto,

170 batimentos cardíacos por minuto, mucosas ocular e oral normocoradas, distensão abdominal e secreção vaginal esverdeada. O hemograma revelou leucocitose (20.700/mm3) com neutrofilia (16.560/mm3); não foram encontradas alterações nos demais dados do hemograma nem nas dosagens de alaninatransferase e creatinina. Segundo o critério clínico, o diagnóstico foi de distocia fetal, e o animal foi encaminhado para cesariana. Decorridos quinze minutos da pré-medicação com meperidina a (3mg.kg-1) intramuscular, implementou-se o acesso venoso periférico através de punção percutânea da veia cefálica direita e iniciou-se a infusão de solução de ringer com lactato b (10mL.kg-1.hora). A indução anestésica foi realizada com propofol c (5mg.kg-1) pela via intravenosa. Depois do adequado relaxamento mandibular o animal foi intubado com sonda endotraqueal de diâmetro apropriado conectada ao sistema Mapleson D do aparelho de anestesia; a manutenção anestésica foi realizada com isofluorano d diluído em 100% de oxigênio. Quando do acesso à cavidade

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


Ewaldo de Mattos Junior

a) Dolosal 100mg/2mL, Cristália, São Paulo, SP b) Ringer com Lactato de Sódio. Áster, Sorocaba, SP c) Propovan 10mg/mL. Cristália, São Paulo, SP d) Isocris. Cristália, São Paulo, SP e) Tramadon 50mg/mL. Cristália, São Paulo, S. f) D-500, 500mg/mL. Pfizer, São Paulo, SP g) Flotril 2,5%. Shering-Plough, Jacarepaguá, RJ h) Ketofen 5mg. Merial, Paulinea, SP i) Riodeine tópico. Rioquimica, São Paulo, SP

enrofloxacina g (5mg.kg-1) em intervalos de 12 horas durante sete dias, dipirona sódica (25mg.kg-1) em intervalos de oito horas, e cetoprofeno h (2mg.kg-1) em intervalos de 24 horas durante três dias, além de curativo tópico com polivilipirrolidona iodo i. Na retirada dos pontos cutâneos o proprietário relatou bom estado geral do animal que, nos exames físico e laboratorial (hemograma e bioquímica renal e hepática), não apresentou alterações clínicas.

Figura 1 - Conteúdo abdominal após celiotomia

Ewaldo de Mattos Junior

abdominal, houve extravasamento de aproximadamente um litro de líquido com aspecto leitoso (Figura 1). Foram retirados cinco fetos viáveis, juntamente com útero e ovários. A seguir a cavidade abdominal foi lavada com solução de cloreto de sódio a 0,9% aquecida e inspecionada, sem que houvesse alterações macroscópicas visíveis. A analgesia pós-operatória imediata foi realizada com cloridrato de tramadol e (3mg.kg-1) pela via intravenosa, e dipirona sódica f (25mg.kg-1) pela mesma via. O líquido cavitário foi submetido ao teste de triglicerídeos pelo solvente (éter), sendo confirmado como quilo (Figura 2). Após a recuperação anestésica o animal recebeu alta médica. Foram receitados

Figura 2 - Aspecto do líquido abdominal e teste de triglicerídeos pelo solvente (éter)

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

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Discussão A ascite quilosa é uma enfermidade rara em cães e gatos, nos quais aparece secundariamente a outras alterações 10. O líquido cavitário foi classificado como quiloso por apresentar aspecto macroscópico branco leitoso, homogeneidade após a centrifugação e dissipação leitosa ao ser acrescido de éter etílico, conforme técnica probatória proposta 2. Três mecanismos fisiopatológicos têm sido propostos para explicar a origem da ascite quilosa: 1) perda direta de líquido quiloso através de fistula linfático-peritoneal, 2) exsudação retroperitoneal, como nos casos associados a linfomas e 3) perda pós-ruptura ou obstrução de vasos linfáticos da parede gastrintestinal e mesentéricos 1. A causa mais comum da ascite em humanos são as desordens hepáticas, com incidência de 80% 5; na ascite quilosa, a causa mais comum é a cirrose hepática 8,11. A ascite quilosa ocorre devido à hipertensão portal produzida nos casos de cirrose, em função da ruptura ou obstrução dos vasos linfáticos intestinais, e conseqüente extravasamento de quilo na cavidade peritoneal 8. Há na literatura, descrição de nove casos de ascite quilosa em gatos, sete com tumores abdominais (três hemangiossarcomas; um paraganglioma; dois linfossarcomas e um linfangiossarcoma), dois com causas não neoplásicas (um com cirrose hepática e outro com deficiência de vitamina E). Esses diagnósticos conclusivos ocorreram durante o procedimento cirúrgico 9. No caso de ascite quilosa de uma gata de catorze anos de idade, o diagnóstico post mortem revelou associação com cirrose hepática 4. De maneira semelhante, os dados de necropsia

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revelaram vasos linfáticos e linfonodos dilatados em um cheetah (Acinoyx Jubatus) de onze anos de idade com ascite quilosa, doença hepática e renal 6. Diferentemente, o presente relato trata de um animal de meia idade que não apresentava alterações clínicas ou laboratoriais inerentes a doença hepática ou renal. A leucocitose com neutrofilia pode ser resultado da migração periférica dos neutrófilos, induzida pela epinefrina que é temporária durante algumas horas em gatos, e pode ocorrer no momento da contenção para coleta de material em virtude da ansiedade, que se constitui em estímulo para a liberação dessa catecolamina 10. Na bibliografia consultada e já descrita anteriormente, a ascite quilosa em gatos é secundária a neoplasias abdominais ou alterações hepáticas, presumidamente por obstrução dos vasos linfáticos. De maneira semelhante, neste caso pode ter ocorrido linfangectasia mesentérica, provavelmente pelo aumento da pressão intraabdominal causada pelo útero gravídico, uma vez que durante a celiotomia não foram observadas quaisquer alterações macroscópicas que pudessem levar a essa alteração. Além disso, na avaliação realizada dez dias após o procedimento, o animal não apresentava qualquer alteração clínica ou laboratorial que pudesse sugerir outra etiologia. Os relatos de ascite quilosa em gatos são escassos na literatura, e não apresentam com clareza a patofisiologia das alterações nessa espécie. Em conclusão, presume-se que não somente causas neoplásicas ou hepáticas podem estar envolvidas com a ascite quilosa nessa espécie, mas também os efeitos da gestação, situação em que a moléstia é reversível após a retirada da causa primária.

Referências 01-GODOY, A. R. N. ; LACERDA, C. S. ; CARVALHO, M. Ascite quilosa (quiloperitôneo) como manifestação inicial de carcinoma gástrico. Revista Brasileira de Cancerologia. n. 47, v. 2, p. 159-161, 2001. 02-BAUER, T. ; WOODFIELD, J. A. Afecções mediastinais, pleurais e extrapleurais. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 4. ed, v. 1, Manole: São Paulo/SP, p. 1143-1185, 1997. 03-MYERS, N. C. ; ENGLER, S. J. ; JAKOWSKI, R. M. Chylotorax and chylous ascites in a dog with mediastinal lymphangiosarcoma. Journal of the American Animal Hospital Association. n. 3, v. 32, p. 263-269, 1996. 04-DEL AMO, A. N. ; PIELLA, M. ; ARIAS, D. ; TORTORA, M. ; SCODELLARO, C. ; PINTOS, E. ; VILLANUEVA, M. ; DIESSLER, M. ; MASSONE, A. Ascitis quilosa en una gata: presentacion de un caso. Analecta Veterinária. n. 23, v. 2, p. 19-23, 2003. 05-VALVIDIA, J. A. ; RIVERA, S. ; RAMIREZ, D. ; RIOS, R. ; BUSSALEU, A. ; HUERTAMERCADO, J. ; PINTO, J. ; PISCOYA. Ascitis quilosa como manifestación de um linfoma retroperitoneal. Revista Gastroenterologia Peru. n. 4, v. 23, p. 368-377, 2003. 06-TERRELL, S. P. ; FONTENOT, D. K. ; MILLER, M. A. ; WEBER, M. A. Chylous ascites in a cheetah (Acinonyx jubatus) with venoocclusive liver disease. Journal of Zoo and Wildlife Medicine. n. 4, v. 34, p. 380-384, 2003. 07-KALIMA, T. V. ; SALONIEMI, H. ; RAHKO, T. Experimental regional enteritis in pigs. Scandinava Journal of Gastroenterology. n. 11, v. 4, p. 353-362, 1976. 08-ZAGOLIN, M. B. ; AGUILERA, A. S. ; VOJKOVIC, M. L. Concomitância de quilotórax y quiloascitis, caso clínico e revisión de la literatura. Revista Chilena de Enfermida Respiratoria, n. 20, n. 2, p. 95-100, 2004. 09-GORES, B. R. ; BERG, J. ; CARPENTER, J. L. ; ULLMAN, S. L. Chylous ascites in cats: nine cases (1978-1993). Journal of the American Veterinary Medical Association. n. 205, v. 8, p. 1161-1164, 1994. 10-MEYER, D. J. ; COLES, E. H. ; RICH, L. J. Medicina de laboratório veterinária - interpretação e diagnóstico. 1. ed. São Paulo: Roca, p. 23-37, 1995. 11-ROMERO S. ; MARTIN, C. ; HERNANDEZ L. ; VERDU, J. ; TRIGO, C. ; PEREZ-MATEO, M. ; ALEMANY, L. Chylothorax in cirrhosis of the liver: analysis of its frequency and clinical characteristics. Chest - The Cardiopulmonary and Critical Care Journal, n. 114, n.1, p. 154159, 1998.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008



Patricia Rotta Lopes

Influência da nutrição sobre a gestação, o parto e o puerpério de cadelas e gatas - breve revisão Influence of nutrition on pregnancy, parturition and puerperium of bitches and queens - a brief review Influencia de la nutrición sobre la gestación, el parto y el puerperio de perras y gatas - breve revisión Resumo: Existe uma relação importante entre nutrição e reprodução. Alterações fisiológicas e aumento das necessidades nutricionais são observados em cadelas e gatas durante a gestação e a lactação, devido às mudanças que ocorrem nas demandas metabólicas. Deficiências, excessos e desequilíbrios nutricionais podem alterar o desempenho reprodutivo. A alimentação adequada durante esse período é fundamental para assegurar ótimo desenvolvimento e crescimento fetal, parto sem complicações e boa produção de leite no puerpério, aumentando a probabilidade de um profícuo desempenho reprodutivo, enquanto a nutrição incorreta pode alterá-lo. Durante a gestação e a lactação, as fêmeas apresentam necessidades nutricionais específicas que devem ser consideradas. Unitermos: canina, felina, reprodução Abstract: There is an important relationship between nutrition and reproduction. Physiological alterations and increase on nutritional requirements are observed in bitches and queens during pregnancy and lactation, due to changes in metabolic demands. Nutritional deficiencies, excesses and imbalances influence reproductive performance. An appropriate diet in this period is essential to assure optimal fetus growth and development, lack of labor complications and efficient milk production during the puerperium, increasing the probability of a prosperous reproductive performance. During pregnancy and lactation, females have specific nutritional needs that should be considered. Keywords: canine, feline, reproduction Resumen: Existe una importante relación entre nutrición y reproducción. Alteraciones fisiológicas y aumento en los requisitos nutricionales son observados en las perras y gatas durante la gestación y lactación, debido a cambios que ocurren en las demandas metabólicas. Deficiencias, excesos y desequilibrios nutricionales pueden alterar el rendimiento reproductivo. Una dieta adecuada en este periodo es fundamental para asegurar desarrollo y crecimiento fetal normales, un parto sin complicaciones y una buena producción de leche en el puerperio, aumentando la probabilidad de un buen rendimiento reproductivo, mientras que una nutrición incorrecta puede alterarla. Durante la gestación y lactación, las hembras presentan necesidades nutritivas específicas que deben ser tenidas en consideración. Palabras clave: canina, felina, reproducción

Clínica Veterinária, n. 76, p. 66-74, 2008

INTRODUÇÃO A forte inter-relação entre a reprodução e fatores como o meio ambiente e a nutrição implica a necessidade de utilização de conceitos recentes, provenientes da constante investigação sobre a interferência desses fatores no desempenho reprodutivo. Deve-se ressaltar, ainda, que a ação interativa desses processos é mais conhecida nos animais de produção – em especial nos bovinos –, e extrapolada para as demais espécies de mamíferos domésticos. 1 Nesse contexto, a relação entre nutrição e reprodução reveste-se de importância crucial para médicos veterinários e criadores, 66

uma vez que deficiências, excessos e desequilíbrios nutricionais são capazes de alterar o desempenho reprodutivo 2. Sabe-se que a alimentação da fêmea interfere na sobrevivência embrionária, e que os fatores nutricionais estão entre as principais causas de abortamentos espontâneos não infecciosos. Todos os graus de subnutrição comprometem o desenvolvimento fetal, principalmente quando essa condição ocorre na segunda metade da gestação. Além disso, deficiências nutricionais durante a gestação também podem levar à debilidade da fêmea, predispondo-a a enfermidades como prolapsos vaginais e hidropsias. 3

MV, residente Depto. Rep. An. - FCAV/Unesp-Jaboticabal

patriciarottalopes@terra.com.br

Valeska Rodrigues

MV, doutoranda Depto. Rep. An. - FCAV/Unesp-Jaboticabal

filovet99@yahoo.com.br

Gilson Hélio Toniollo

MV, dr., prof. tit. Depto. Rep. An. - FCAV/Unesp-Jaboticabal

toniollo@fcav.unesp.br

Em cadelas, deficiências de ácidos graxos essenciais estão associadas a desenvolvimento placentário pobre, ninhadas pequenas e com baixo peso ao nascer e parto prematuro 4. Várias mudanças decorrentes do aumento das demandas metabólicas fisiológicas são observadas na fêmea gestante 3,5. Por exemplo, podem ocorrer alterações nas gorduras e lipoproteínas plasmáticas durante a gestação e a lactação em cadelas. Foi observado que as concentrações plasmáticas de colesterol total declinam no início da gestação e aumentam nos estágios mais adiantados, independentemente da dieta. 6 A reprodução aumenta as necessidades nutricionais. É importante que o animal esteja em boa condição corporal antes de entrar em reprodução, pois fêmeas muito magras podem não conseguir, durante a gestação, ingerir alimento suficiente para atender às necessidades nutricionais sua e dos fetos em desenvolvimento 7,8. Além disso, fêmeas subnutridas apresentam taxa de concepção reduzida e maior risco de perda gestacional. Os filhotes nascidos podem estar abaixo do peso, o que tende a comprometer o desenvolvimento da ninhada. Existe também risco de hipoglicemia em cadelas com baixo peso corporal ao final da gestação e início da lactação 9. Já foi demonstrado que a nutrição deficiente, antes e durante a gestação, contribui para uma taxa de mortalidade neonatal de 20 a 30% em cães e gatos 10. Estudo realizado durante a prenhez e a lactação de trinta cadelas da raça pastor alemão, avaliadas quanto às mudanças de peso corporal, à ingestão de alimento e ao tamanho da ninhada, mostrou que existe alta correlação entre o peso da cadela à cobertura e aos 60 dias de gestação.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008


Além disso, esse estudo mostrou que o peso da cadela à cobertura também apresenta alta correlação com o peso da ninhada ao desmame 11. Entretanto, fêmeas obesas também não devem ser cobertas, pois têm fertilidade reduzida e grande risco de abortamento, de natimortos e distocia 9. Um programa de alimentação adequado durante a reprodução visa otimizar a concepção, o número de animais por ninhada, a capacidade de parição da fêmea e a viabilidade fetal e neonatal dos filhotes. A alimentação e o manejo nutricional apropriados aumentam a probabilidade de próspero desempenho reprodutivo, enquanto a nutrição incorreta nesse período pode alterá-lo. Durante a gestação e a lactação, as fêmeas apresentam necessidades nutricionais específicas que devem ser consideradas 10. Por fim, o fornecimento de nutrição adequada irá não só assegurar o bom desenvolvimento fetal, como também reduzirá os riscos de ocorrência de doenças crônicas nos filhotes quando adultos, uma vez que a nutrição é o principal fator do ambiente intra-uterino que altera a expressão do genoma fetal, e pode levar a conseqüências vitalícias 12. GESTAÇÃO A gestação é definida como o intervalo de tempo entre a fecundação e o parto. Sua duração na cadela e na gata é de aproximadamente 63 dias, com variação de cinco a seis dias 3. A gestação é normalmente subdividida em período de ovo, período de embrião e organogênese. Esses períodos englobam a formação de órgãos e sistemas, o desenvolvimento das membranas fetais e a fixação ao útero, o desenvolvimento fetal, e grandes alterações no útero, no feto, na placenta e na fêmea 3. O requerimento energético da gestação envolve a demanda metabólica do processo de biossíntese dos produtos formados nesse período, incluindo fetos, placentas, membranas extra-embrionárias, fluidos fetais (líquido alantoideano e amniótico) e tecidos maternos, como plasma e eritrócitos adicionais, reservas de lipídio e aumento de tecido mamário e uterino. Envolve também a demanda metabólica de manutenção desses tecidos e o trabalho extra associado à manutenção e à locomoção de uma gestante cada vez mais pesada 4.

Muitas vezes, embora por mecanismos pouco conhecidos, erros nutricionais na mãe produzem alterações hormonais, nas citocinas e nas funções placentárias, responsáveis pelo controle da implantação, pelo crescimento fetal e pelo parto, cujos reflexos são alterações clínicas e imunológicas no filhote 13. Os efeitos adversos do manejo nutricional inadequado das fêmeas gestantes implicam em expansão inadequada de volume sangüíneo durante a evolução gestacional, decréscimo das reservas maternas e desenvolvimento placentário anormal 4. Alterações de apetite são observadas na fêmea gestante. Há incremento do apetite durante esse período 3, porém uma fase curta de anorexia pode ser observada na gata durante a segunda e a última semanas de gestação 9. Muitas cadelas, por volta da terceira semana de gestação, também passam por um período de diminuição do apetite, que pode durar de três a dez dias. Nessa fase pode haver redução transitória do peso corporal ou simplesmente declínio temporário na taxa de ganho de peso 14. Nas cadelas, menos de 30% do crescimento fetal ocorre durante as primeiras cinco ou seis semanas de gestação. Ainda que os fetos se desenvolvam rapidamente, são pequenos até o último terço da gestação. Assim, nessas cinco ou seis primeiras semanas, os aumentos do peso da cadela e das suas necessidades nutricionais são moderados. As gatas, diferentemente, mostram acréscimo de peso linear, que se inicia por volta da segunda semana após a fecundação 7,8,13. Ao final da terceira semana de gestação, a fêmea felina já ganhou quase 20% do peso total que terá adquirido ao final desta 15. Se a cadela estiver com o peso ideal na época do cruzamento, não é necessário aumentar a quantidade de alimento durante as primeiras quatro ou cinco semanas de gestação. O aumento da alimentação nesse momento, além de desnecessário, pode levar a excessivo ganho de peso 7,8. Para a gata, a quantidade de alimento fornecida deve aumentar gradualmente a partir da segunda semana de gestação. Como a maior parte dos gatos se adapta bem à dieta ad libitum, esta é, na maioria das vezes, a melhor maneira de dar à fêmea uma nutrição adequada. O único controle a ser feito será para prevenir excesso de ganho

de peso nesse período 7. Na cadela e na gata, os ajustes metabólicos se tornam mais importantes da metade para o final da gestação, com o aumento da produção de progesterona pela placenta e o crescimento do concepto. Nessa fase ocorre decréscimo das concentrações de glicose no sangue materno, e o seu metabolismo passa a utilizar outras fontes de energia, poupando assim glicose para o feto. O aumento das concentrações de hormônios como lactógenos, estrógeno e cortisol atua para reduzir a resposta aos efeitos da insulina, levando a um estado de resistência insulínica 4. Os mecanismos que promovem a modificação do metabolismo de carboidratos e lipídios em fêmeas gestantes ainda não são totalmente conhecidos, mas sugere-se que estão associados à ação da progesterona e dos lactógenos placentários. A progesterona parece influenciar os depósitos de gordura de duas formas: reduzindo o gasto total de energia por meio de um efeito na regulação central do balanço energético e/ou pela diminuição da atividade da gestante ou promovendo a redistribuição de substrato em favor da gordura, por um efeito direto nos adipócitos ou nas ilhotas do pâncreas 4. Os lactógenos placentários parecem exercer efeito anabólico e diabetogênico durante a gestação, promovendo a conservação de proteínas, a liberação de ácidos graxos dos estoques de lipídios, e diminuindo a utilização de glicose. Essa modificação do metabolismo materno é responsável pela formação de um reservatório materno durante os dois terços iniciais da gestação que persiste até o final desta, permitindo o crescimento fetal. A mudança no metabolismo é controlada pelos hormônios da gestação e não está relacionada à dieta do animal, mas sim ao crescimento placentário. A progesterona, predominante na primeira metade da gestação, atua na conservação de energia, e os níveis crescentes de estrógeno, na segunda metade, são responsáveis pelo redirecionamento dessa energia para os fetos 4. A partir da quinta semana de gestação, o peso e o tamanho dos fetos aumentam muito. No cão, mais de 75% do peso do feto e pelo menos metade do seu comprimento são atingidos no terço final da gestação. Assim sendo, o cuidadoso manejo nutricional durante esse período é muito importante para assegurar

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

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padrões ótimos de crescimento e desenvolvimento fetais. Deve-se aumentar progressivamente a ingestão de alimento para que, no momento do parto, seu consumo diário pela gestante seja 25 a 50% superior – dependendo do tamanho da ninhada e da cadela – às necessidades normais de manutenção desta. A gata também deve receber 25 a 50% mais alimento que o necessário para a sua manutenção habitual 7,8. A ingestão de energia na gata gestante aumenta rapidamente, de 60 a 90kcal por kg de peso vivo por dia no início da gestação para 100 a 140kcal por kg de peso vivo por dia ao final desse período 9. Nos últimos dias de gestação, há falta de espaço abdominal para uma confortável expansão e função do trato digestório 3. Para compensar a falta de espaço, é aconselhável oferecer várias refeições por dia com alimentos industrializados de alta densidade energética e nutricional 8. Entretanto, é muito importante não superalimentar as cadelas prenhas. Comida em excesso e aumento de peso resultam, às vezes, em fetos mais pesados, o que pode causar complicações no momento do parto 7,8. Ao parto, o ganho de peso total da fêmea depende do tamanho da ninhada. Uma gata com um único filhote ganha 32% do peso que possuía antes do cruzamento, enquanto uma gata com quatro filhotes aumenta seu peso pré-cobertura em 39% 15. O peso corporal da cadela deverá ter aumentado entre 15 e 25% no momento do parto 7. Devido ao aumento da demanda energética durante a gestação, alimentos de alta digestibilidade e energeticamente densos ajudam a reunir ingestão calórica e minimizar a repleção gástrica para conceder maior espaço para o útero gravídico. Gorduras fornecem aproximadamente o dobro de calorias quando comparadas com os carboidratos, representando uma importante fonte de energia. Alimentos com digestibilidade superior a 85% são mais convenientes, pois apresentam melhor disponibilidade de nutrientes, reduzindo o volume alimentar e o preenchimento gástrico 4. Quando houver disponibilidade de ração comercial especialmente desenvolvida para animais em reprodução, esse alimento deve ser recomendado. Não havendo esse tipo de alimento, uma alternativa é o emprego de ração de boa qualidade 68

desenvolvida para filhotes, já que os requerimentos mínimos para esse tipo de alimento são semelhantes àqueles necessários para a reprodução 3. Recomendações e informações de cunho prático durante a gestação de cadelas e gatas encontram-se listadas na figura 1. PARTO O parto é definido como o conjunto de eventos fisiológicos que conduzem o útero a expulsar o feto a termo e seus anexos 3. Nas doze horas que antecedem o parto, muitas cadelas recusam qualquer tipo de alimento 7. Esse evento provavelmente se deve à alteração na relação estrógeno-progesterona 3 e à elevação da prolactina 4 que ocorrem nos últimos dias de gestação. Nas cadelas, quase todo o aumento de peso adquirido durante a gestação é perdido no momento do parto. A cadela deve apresentar peso pós-parto 5 a 10% superior ao que tinha antes do acasalamento. Nas gatas, diferentemente, só 40% do peso adquirido durante a gestação é perdido no momento do parto. Os outros 60% do peso corporal adquirido irão fornecer energia para iniciar e manter a lactação e correspondem à gordura corporal, que se perde gradualmente. Assim, aparentemente, a gata é capaz de se preparar para o

aumento das necessidades energéticas que ocorrem durante o aleitamento, acumulando uma quantidade extra de depósito energético corporal durante a gestação 7,13. Um estudo em mulheres, no qual foram avaliadas as mudanças no volume e distribuição do tecido adiposo durante a gestação e a lactação por ressonância magnética, mostrou que 76% do volume de tecido adiposo adquirido durante a gestação situava-se no subcutâneo, e que a redução no pós-parto era devida à perda de volume de tecido adiposo do próprio subcutâneo. O estudo também mostrou que mulheres que ganharam muito peso durante a gestação mantiveram o tecido corporal magro 16. A placentofagia é comum e considerada fisiológica tanto na gata quanto na cadela. Constitui vestígio de defesa contra possíveis predadores, suprimindo os sinais de parto recente. Já o canibalismo é considerado um transtorno do comportamento materno. Acreditase que possa estar relacionado a imaturidade e falta de experiência da fêmea, doença do recém-nascido e/ou distúrbios ambientais 3. Em outras espécies, o canibalismo de recém-nascidos pode ocorrer quando a mãe tem deficiências nutricionais, como nos casos daquelas submetidas a dietas com baixo teor de proteína durante a gestação 17.

CADELAS E GATAS - ao final da gestação, oferecer várias refeições por dia - oferecer alimentos industrializados de alta densidade energética e nutricional - fornecer alimentos de alta digestibilidade (>85%) - recomendar ração comercial especialmente desenvolvida para animais em reprodução - não havendo disponibilidade, fornecer ração de boa qualidade desenvolvida para filhotes - não usar suplementos alimentares se uma alimentação industrializada de boa qualidade for utilizada CADELAS Diminuição do apetite por volta da 3a semana de gestação, que pode durar de 3 a 10 dias - não aumentar a quantidade de alimento durante as primeiras quatro ou cinco semanas de gestação se a cadela estiver com o peso ideal no momento do cruzamento - aumentar progressivamente a ingestão de alimento - no momento do parto, o consumo diário de alimento deve ser 25 a 50% superior às necessidades normais de manutenção - não superalimentar as cadelas prenhas GATAS Fase curta de anorexia na 2a e última semana de gestação - aumentar a quantidade de alimento fornecida a partir da 2a semana de gestação - receber 25 a 50% mais alimento que o necessário para a manutenção habitual - ao final do período, a ingestão de energia deve ser de 100 a 140kcal/kg de peso vivo por dia - pode ser oferecida dieta ad libitum Figura 1 - Recomendações e informações de cunho prático durante a gestação de cadelas e gatas

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A maioria das cadelas começa a ingerir alimentos 24 horas após o parto 3. Cadelas muito atenciosas e com ninhadas numerosas raramente abandonam seus filhotes para se alimentarem. Nesses casos, devem ser encorajadas a comer e beber com insistentes ofertas de alimentos altamente palatáveis 14. Pode-se aumentar a palatabilidade da ração com adição de água morna ou misturando-a a alimento úmido 8. Recomendações e informações de cunho prático após o parto de cadelas e gatas encontram-se listadas na figura 2. PUERPÉRIO E LACTAÇÃO O puerpério é definido como o período pós-parto que compreende o intervalo que vai da expulsão placentária até o retorno do organismo materno ao estado normal de não gestante. A lactação e a involução uterina são alguns dos fenômenos que caracterizam o puerpério 3. Algumas afecções podem ocorrer durante esse período dentre as quais destaca-se a subinvolução uterina que, entre outras causas, pode ser decorrente de

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déficit alimentar 3. Fatores nutricionais também podem ser responsáveis por agalactia 4. Tanto na cadela como na gata, a lactação é a fase de maior demanda energética 13. Nesse período a fêmea precisa comer, digerir, absorver e utilizar uma grande quantidade de nutrientes para produzir leite suficiente e de composição adequada para sustentar o crescimento e o desenvolvimento dos filhotes 15. A dieta da mãe precisa ser adequada para atender a essas demandas 9,10. A consideração mais importante durante a lactação, tanto para as cadelas como para as gatas, é a adequada provisão de calorias. Uma alta ingestão energética permite produção de leite suficiente, e previne que o animal apresente drástica perda de peso 7,8. Muitos alimentos formulados para a manutenção de um animal adulto não apresentam densidade nutricional suficiente para a gata ou a cadela durante a lactação. A defasagem de energia durante a lactação causa perda de peso e pode influir na quantidade de leite produzido, o que

pode provocar danos no crescimento dos filhotes e aumentar o risco de mortalidade 7,8. Um estudo demonstrou que uma ração com 3.100kcal por kg, em cadelas amamentando quatro ou mais filhotes, determinava perdas significativas de peso e queda da produção de leite, acarretando menor crescimento e maior risco de ocorrência de doenças nos filhotes. Porém, quando alimentadas com uma dieta contendo aproximadamente 4.100kcal por kg, essas fêmeas apresentavam pouca ou nenhuma perda de peso ao longo do período total de amamentação 7. A dieta recebida durante a lactação deve ser de alta digestibilidade e apresentar elevada densidade de nutrientes e energia. Mesmo assim, a necessidade de nutrientes pode exceder a capacidade do trato gastrintestinal da fêmea, sendo necessário, então, alimentá-la várias vezes por dia ou ad libitum. Fêmeas com ninhadas grandes devem receber, durante esse período, alimento industrializado formulado para crescimento ou reprodução com mais de 14% de extrato etéreo 8. As exigências para muitos dos

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principais minerais aumentam sobremaneira na lactação. Entretanto, como a ingestão de alimento também aumenta, a porcentagem desses nutrientes na necessidade dietética não se altera 5. O estresse que a lactação acarreta à gata ou à cadela depende do estado nutricional e do peso destas no momento do parto, do número de filhotes e do estágio da lactação. Animais com grandes ninhadas e cujos organismos apresentem, na época do parto, depósitos energéticos mínimos correm maior risco de excessiva perda de peso e desnutrição durante a lactação, além de baixa produção de leite 7,8. No pico da lactação, que ocorre 20 a 30 dias após o parto, a lactante canina e felina pode ingerir cerca de duas a quatro vezes a quantidade de alimento usual para a manutenção 3. A fêmea deve ingerir, comparadas à sua necessidade de manutenção, como regra prática, 1,5 vezes mais energia metabolizável na primeira semana, 2 na segunda, 2,5 na terceira e 3,5 na quarta semana 8. Após a quarta semana, a quantidade de leite consumida pelos filhotes caninos

CADELAS E GATAS - fornecer a quantidade adequada de calorias - oferecer dieta com alta digestibilidade e alta densidade de nutrientes e energia - fornecer alimentação várias vezes por dia ou ad libitum - a fêmea deve ingerir 1,5 vezes mais energia metabolizável na 1a semana; 2 vezes mais na 2a; 2,5 mais na 3a e 3,5 vezes mais na 4a semana - após a 4a semana, reduzir lentamente a quantidade de comida oferecida - a perda de peso não deve superar 10% do peso corporal normal CADELAS - fêmeas com ninhadas grandes devem receber alimento industrializado formulado para crescimento ou reprodução com mais de 14% de extrato etéreo Figura 2 - Recomendações e informações de cunho prático durante a lactação de cadelas e gatas

e felinos diminuirá à medida que aumentarem gradualmente a ingestão de alimentos sólidos ou semi-sólidos. A partir desse momento, deve-se reduzir lentamente a quantidade de comida oferecida à mãe. Se esta continuar produzindo leite imediatamente antes do desmame, a limitação da alimentação durante alguns dias pode contribuir para diminuir a sua produção. Se for permitido que a fêmea produza leite em alto nível durante o desmame, haverá maior possibilidade de que ela desenvolva mastite 7. No dia do desmame deve-se retirar

todo o alimento da cadela e da gata, desde que fêmea se encontre em estado físico satisfatório, e nos dias seguintes sua alimentação diária deve ser reintroduzida gradualmente, numa proporção de 25%, 50%, 75% e finalmente 100% de seu nível de manutenção 7. Em geral, as cadelas e as gatas perderão algum peso durante a lactação, mas essa perda não deve superar 10% de seu peso corporal normal 7. Recomendações e informações de cunho prático durante a lactação de cadelas e gatas encontram-se listadas na figura 2.

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ELEMENTOS NUTRICIONAIS INTERATIVOS Proteína O metabolismo protéico depende de três fatores principais que atuam na sua regulação. Estes fatores são a própria nutrição protéica, as vitaminas e os hormônios. Os estrógenos diminuem a retenção nitrogenada, favorecendo, conseqüentemente, o catabolismo protéico. A progesterona, por outro lado, estimula a retenção nitrogenada, tendo propriedade anabolisante. O papel anabolisante da progesterona é desempenhado principalmente na gestação, durante a qual deve ser retida uma maior quantidade de nitrogênio pelo organismo para o desenvolvimento fetal 18. A progesterona é necessária para a manutenção da gestação em todas as espécies domésticas. Nas cadelas, sua concentração plasmática é menor que 0,5ng/mL no pró-estro e pode chegar a 60ng/mL durante a gestação 4. As necessidades protéicas na gestação aumentam entre 40 e 70%. Caso essas exigências não sejam supridas, podem ocorrer reabsorção embrionária ou produção de filhotes pequenos. Quando o peso ao nascer é 25% menor do que o peso médio ao nascimento para a raça, ou abaixo de 80g no caso da gata, haverá risco de morte e deficiências imunológicas. Nas gatas, a deficiência protéica tem sido relacionada com alterações no desenvolvimento do comportamento, como atraso na capacidade de orientação e menores respostas emocionais, entre outras 13. Durante a lactação, tanto na gata como na cadela, a demanda protéica é ainda maior e, caso não seja suprida adequadamente, ocorrerá déficit de lactação tanto em qualidade como em quantidade e, conseqüentemente, crescimento neonatal mais lento 13. Alguns autores informam que o excesso de proteínas – e talvez de cálcio – na mãe gestante pode estar associado à síndrome do filhote nadador, embora outros atribuam esse quadro a uma infecção intra-uterina. Essa síndrome é uma anormalidade do desenvolvimento do filhote caracterizada pelo atraso na capacidade de marcha e deslocamento aos 21 dias de idade. Observam-se fraqueza, letargia e movimentos rastejantes sobre o esterno 13. Os carboidratos são fisiologicamente 72

essenciais, mas não são componentes indispensáveis da dieta de cadelas gestantes e lactantes. Dietas com elevado teor de proteínas fornecem aminoácidos suficientes para a gliconeogênese, e permitem a manutenção dos níveis plasmáticos de glicose 15. Taurina A taurina é um aminoácido de betaenxofre, ocorre em todas as células animais e é ressintetizada pelos cães e gatos a partir dos aminoácidos sulfurados cisteína e metionina. A taxa de síntese de taurina pelos gatos é baixa, conseqüência de atividades reduzidas de duas enzimas na via de síntese. Assim sendo, as dietas comerciais de gatos contêm concentrações mais elevadas de aminoácidos sulfurados do que as de cães. 5 A depleção de taurina está associada a uma ampla faixa de condições clínicas, incluindo insuficiência reprodutiva em gatas 5. A taurina é, portanto, um aminoácido necessário para a reprodução e o desenvolvimento fetal nas gatas. Deficiências durante a gestação podem causar morte fetal por volta do 25º dia, abortos em qualquer período da prenhez, deformidades nos fetos e atraso no crescimento e desenvolvimento fetal. Seus requerimentos durante a gestação, porém, não diferem dos de manutenção. 10 Ácidos graxos essenciais Os ácidos graxos essenciais, linoléico (ômega-6), linolênico (ômega-3) e araquidônico, são assim denominados porque precisam ser adquiridos pela dieta, uma vez que o organismo não consegue produzi-los na quantidade necessária. A deficiência de ácidos graxos essenciais é rara em cães e gatos, podendo estar relacionada ao consumo de rações mal balanceadas, dietas caseiras, rações sem antioxidantes ou que foram mal armazenadas, deficiência hepática, pancreatite e distúrbios gastrintestinais. O componente de origem do ômega-3 é o ácido alfa-linolênico que, por ações enzimáticas, pode ser convertido em ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido decosahexanóico (DHA). Para essa conversão é necessária a presença das vitaminas A e E, além dos minerais zinco e magnésio. 19 As necessidades mínimas de ácidos graxos essenciais para a lactação não diferem significativamente das necessi-

dades mínimas para a gestação. Todavia, o desenvolvimento normal da função retiniana de filhotes felinos requer DHA. Como as concentrações de DHA no leite da gata dependem da dieta, os alimentos para a lactação nessa espécie devem conter tal elemento. Ingredientes habituais, como a farinha de ave, são fontes adequadas de DHA 10. Cálcio/fósforo (Ca/P) O cálcio é o elemento mineral mais abundante no organismo animal, exercendo funções plásticas e dinâmicas 18. São requeridas concentrações adequadas de cálcio no líquido extracelular para o funcionamento normal de uma ampla variedade de tecidos e processos fisiológicos no organismo animal. O controle metabólico do cálcio no organismo é mantido por meio de um sistema complexo que envolve a vitamina D, o paratormônio e a calcitonina. O cálcio está diretamente relacionado à contração muscular. A disponibilidade dos íons cálcio na célula influencia a resposta da musculatura uterina a estímulos que levam a excitabilidade ou relaxamento 20. Durante períodos de deficiência dietética ou quando as exigências aumentam, como na prenhez e na lactação, o cálcio é mobilizado dos ossos para manter um nível normal no sangue 21. Mudanças no metabolismo do cálcio durante a gestação estão bem descritas em mulheres, visto que a homeostasia do cálcio adapta-se para fornecer o mineral aos fetos em crescimento 22, além de sua absorção dobrar durante a gestação 23. No parto, a aceleração da lactogênese provoca aumento na movimentação de cálcio do sangue materno para o leite. Algumas fêmeas são incapazes de responder imediatamente a essa mobilização. Como resultado, os animais perdem sua capacidade de manter a atividade muscular normal. 24 A hipocalcemia é, de longe, a anormalidade de cálcio mais encontrada 25. Chamada de eclâmpsia ou tetania puerperal em cadelas antes ou após o parto, a hipocalcemia está associada a uma diminuição dos níveis de cálcio do compartimento extracelular. Apesar de a tetania puerperal na cadela poder ocorrer antes do parto, é mais freqüente durante as primeiras semanas após o parto, quando a demanda de leite pelos filhotes aumenta. 26

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Os sinais clínicos de tetania compreendem nervosismo, agitação, tremores, aumento da temperatura corporal, respiração ofegante, hipersalivação, ganidos e, se não tratada, podem ocorrer espasmos musculares tônico-clônicos 26,27. Alguns criadores oferecem suplementos de cálcio às gatas ou às cadelas durante a gestação e a lactação, acreditando que possam prevenir o desencadeamento da eclâmpsia após o parto 7. Ocorre que a suplementação de cálcio durante a gestação não é necessária – e é até inconveniente – quando se utiliza alimento industrializado de boa qualidade, pois pode acarretar em calcificações de tecidos moles, deformidades fetais e aumentar a incidência da tetania 8. A suplementação de cálcio acarreta hipercalcemia relativa no pré-parto, que induz a um feed back negativo na paratireóide, diminuindo a habilidade orgânica de retirar cálcio dos ossos e absorvêlo no intestino. Com isso, o aumento das necessidades de cálcio durante a lactação encontra um mecanismo regulatório incapaz de adaptar-se rapidamente à repentina drenagem do mineral da corrente sangüínea realizada pela glândula mamária. Isso leva a uma hipocalcemia, desencadeando a afecção. Durante a lactação, as fêmeas devem receber alimentos com 1% de cálcio da massa seca (MS), e aquelas com histórico de eclâmpsia, alimentos com 1,5% de cálcio. 8 Embora as necessidades de cálcio durante a gestação e a lactação sejam elevadas, normalmente a gata ou a cadela obtém os nutrientes de que necessita por meio do consumo de maiores volumes de sua dieta normal 7. O fósforo é importante em todas as fases da reprodução animal. Encontrase um total de 0,9 a 1,1% de fósforo no organismo animal. As formas são representadas por vários compostos fosforados orgânicos ou minerais, desigualmente repartidos nos tecidos e desempenhando funções diferentes. Cerca de 80% do fósforo se encontra no tecido ósseo sob a forma de fosfato tricálcico e trimagnesiano. Os restantes 20% se encontram nos tecidos moles. 18 Os aportes de fósforo para o organismo animal, realizado pela alimentação, quer sob a forma mineral ou orgânica, liberam fosfatos ao se hidrolisarem no intestino, e sofrem a ação de vários fatores antes de serem absorvidos. Existe a

necessidade de um equilíbrio entre os íons Ca e P no trato intestinal, para que se processe a absorção normal. 18 Recomendam-se alimentos com uma proporção Ca/P de 1:1 a 1,5:1 para cadelas e gatas durante a gestação e a lactação 10. Magnésio Alimentos destinados à prevenção de urolitíases por estruvita em gatos costumam ter níveis de magnésio inferiores aos recomendados pela AAFCO para reprodução: gatas em reprodução devem receber 0,08 a 0,15% de magnésio na MS 10, cadelas em reprodução devem receber no mínimo 0,04% de magnésio na MS 28. Ferro As necessidades de ferro são muito elevadas durante a última semana de gestação, período em que se acumulam grandes quantidades desse elemento no fígado dos fetos e em que há grande mobilização do corpo da fêmea para formar o colostro. As concentrações de ferro são muito altas no colostro, porém baixas no leite maduro. Para suprir as suas necessidades durante as primeiras semanas de vida, quando o leite materno é a única fonte de alimento, os filhotes devem nascer com boa reserva de ferro, o que contribui para a demanda menos exigente durante a lactação. 10 Cadelas e gatas em reprodução devem receber 80mg de ferro por kg de MS na dieta, porém, devido à sua baixa biodisponibilidade, o ferro proveniente de óxidos ou carbonatos adicionados à dieta não deve ser considerado na determinação dos níveis mínimos do nutriente 28. Zinco Durante períodos de necessidades elevadas para a síntese de tecidos, como a gestação e a lactação, os animais estão mais susceptíveis à defasagem de zinco. Ainda que a maior parte dos alimentos comerciais apresente quantidade suficiente de zinco, a deficiência desse elemento durante a gestação pode levar à reabsorção fetal e ao nascimento de menor número e/ou de filhotes mais fracos. 10 Cadelas e gatas em reprodução devem receber, respectivamente, 120 e 75mg de zinco por kg de MS em suas dietas 28.

Cobre Foi relatada deficiência de cobre em gatas que recebiam 15mg de cobre por kg de MS, provindos, em parte, de uma fonte de baixa disponibilidade, o óxido de cobre 10. A morte fetal é um dos sinais clínicos de deficiência de cobre em gatos. Recomenda-se 15mg de cobre por kg de MS que provenham de fontes com alta disponibilidade, como o sulfato e os quelatos de cobre 10. Um estudo objetivando determinar a necessidade de cobre para a gestação em felinos domésticos mostrou que a concentração dietética de cobre teve efeito significativo sobre o tempo de concepção das gatas 29. As cadelas em reprodução devem receber no mínimo 7,3mg/kg de cobre na MS 28. Vitamina A A vitamina A atua nas funções reprodutivas proporcionando, além de proteção do epitélio vaginal, um bom desenvolvimento embrionário. Animais gestantes, carentes de vitamina A, apresentam distúrbios graves no curso ou no término da gestação, podendo ocorrer reabsorção de fetos e natimortos 18. A hidrocefalia, acúmulo de líquido no sistema ventricular ou entre o encéfalo e a dura-máter, normalmente está associada à deficiência de vitamina A 3, que também provoca anomalias do esqueleto e fechamento palpebral anormal. O excesso de vitamina A pode ocasionar más-formações congênitas 13. Cadelas e gatas em reprodução devem receber, respectivamente, 5.000 e 9.000 UI de vitamina A por kg de MS 28. Vitamina E A carência de vitamina E não impede a fecundação e a fixação do embrião no útero, mas determina parada de crescimento do feto, seguida por retenção e absorção deste 18. Estudo objetivando determinar a quantidade de acetato de d-_-tocoferol necessária para uma próspera reprodução em ratas de diferentes idades e parições – e recebendo diferentes quantidades de suplemento de vitamina A – mostrou que as necessidades de vitamina E para a reprodução elevam-se marcadamente com o aumento da idade, mas não são afetadas pelas diferenças nas parições e na suplementação de vitamina A 30. Recomenda-se o mínimo de 30UI/kg

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de MS para gatas e o mínimo de 50UI/kg de MS para cadelas em reprodução 28. CONSIDERAÇÕES FINAIS Mudanças fisiológicas, principalmente aquelas relacionadas com aumento das necessidades nutricionais, ocorrem durante a gestação, o parto e o puerpério de cadelas e gatas. Uma vez gestante, e particularmente durante o último terço da gestação e todo o período de lactação, a fêmea deve receber alimentação adequada para atender aos requerimentos mínimos apropriados nessas circunstâncias, a fim de evitar transtornos para si e para os filhotes. Não há necessidade de fornecer suplementos minerais e vitamínicos para fêmeas em reprodução, se uma dieta adequada e balanceada for utilizada. REFERÊNCIAS 01-GRUNERT, E. ; BIRGEL, E. H. ; VALE, W. G. Patologia e clínica da reprodução dos animais mamíferos domésticos: ginecologia. São Paulo: Varela, 2005. 551p. 02-MOSER, E. Feeding to optimize canine reproductive efficiency. Problems in Veterinary Medicine, v. 4, n. 3, p. 545-550, 1992. 03-TONIOLLO, G. H. ; VICENTE, W. R. R. Manual de obstetrícia veterinária. São Paulo: Varela, 2003. 124p. 04-PRESTES, N. C. ; LANDIM-ALAVARENGA, F. C. Obstetrícia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 241p. 05-ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 1, 2004. 2156p. 06-WRIGHT-RODGERS, A. S. ; WALDRON, M.

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A saúde dos cães e gatos é uma grande responsabilidade que a Nestlé Purina divide com você, oferecendo uma nutrição balanceada e saudável. Por isso, este dia 9 de Setembro não poderia passar em branco.


Noeme Sousa Rocha

Exame citológico no diagnóstico de lesões da pele e subcutâneo

MV, PhD, livre-docente Depto. de Clínica - FMVZ/UNESP-Botucatu

rochanoeme@fmvz.unesp.br

The cytological exam in the diagnosis of skin and subcutaneous lesions Examen citológico en el diagnóstico de lesiones de piel e subcutáneo Resumo: O exame citopatológico consiste na análise das alterações morfológicas em células isoladas obtidas por raspado, descamação natural ou aspiração, tornando-se uma valiosa fonte de informação no diagnóstico de lesões dermatológicas, quer nos processos inflamatórios infecciosos e não infecciosos, quer nos processos neoplásicos. Para compreender esses processos é fundamental a interpretação básica da morfologia e da disposição detalhada de cada célula. Em virtude disso, ainda que o diagnóstico citológico de lesão dermatológica seja inconclusivo, ele fornece informações importantes em um processo patológico geral, orienta com maior segurança e fornece dados para a conduta terapêutica, e aponta a possível resposta a determinados fármacos. O presente trabalho visa descrever a aplicação do exame citológico nas lesões dermatológicas em animais de companhia. Unitermos: lesão inflamatória, lesão não inflamatória, punção aspirativa Abstract: The cytopathological exam consists of an analysis of morphological alterations in isolated cells obtained by scraping, natural shedding or aspiration. It is a valuable source of information in the diagnosis of dermatological lesions in both infectious and non-infectious inflammatory processes and in neoplasias. Basic interpretation of cell morphology and position is fundamental to understand these processes. Even when a definitive diagnosis is not obtained, the cytological exam produces valuable information as regards process identification and guidance towards a safe treatment, as well as predicting response to therapy. This work describes the application of the cytological exam in animal dermatological lesions. Keywords: inflammatory lesion, non-inflammatory lesion, aspiration puncture Resumen: El examen citopatológico es un análisis de las alteraciones morfológicas de células aisladas, obtenidas tanto por raspaje de piel, descamación natural o aspiración. Ese método es una fuente de información de valor diagnóstico en lesiones dermatológicas, presentes en patologías inflamatorias infecciosas, no infecciosas y en las neoplásicas. Para comprender estos procesos, es fundamental la interpretación de la morfología básica y la disposición detallada de cada célula. Debido a esto, el diagnóstico de lesiones dermatológicas puede inclusive no ser definitivo, pero contribuye para identificar el proceso como un todo, subsidiando y orientando con mayor seguridad una determinada terapia, además de apuntar una posible respuesta a ciertos medicamentos. El presente trabajo describe la aplicación del examen citológico en lesiones dermatológicas en pequeños animales. Palabras clave: lesiones inflamatorias, lesiones no inflamatorias, aspiración

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Introdução O exame citopatológico consiste na análise das alterações morfológicas em células isoladas obtidas por raspado, descamação natural ou aspiração. Ao contrário da análise histológica, o diagnóstico citológico das lesões é baseado nas alterações celulares individuais, sem evidenciar as alterações da arquitetura tecidual. Na medicina humana, a citologia foi consagrada pelo médico greco-americano Georgios Papanicolaou (1883-1962) e, por muito tempo, permaneceu restrita ao estudo de esfregaço cérvico-vaginal. Na medicina veterinária, a indicação desse exame surgiu na década de 30 do século XX para monitorar o ciclo estral dos animais, sendo associado à punção com e sem aspiração para o diagnóstico de enfermidades. No início da década de 70 surgiram 76

os exames citológicos para lesões na pele em hospitais veterinários. Nessa época, tiveram papel importante os médicos veterinários Beech, Bach, Perman, Roszel e Willns. Nas últimas décadas, a utilização da citologia em outros órgãos aumentou significativamente, de forma que atualmente é considerada uma modalidade rotineira no diagnóstico e no acompanhamento de determinadas doenças em medicina veterinária, inclusive as dermatológicas 1,2,3,4. Metodologia Assim como nas biópsias, a interpretação dos exames citológicos deve ser realizada em associação com as informações clínicas. Preenchimento adequado de requisição, amostra adequada da lesão e uma excelente fixação do material são necessários para o diagnóstico

adequado. O exame citopatológico pode ser classificado em dois grandes grupos: citologia esfoliativa e citologia por punção, que se subdivide em com e sem aspiração. A citologia esfoliativa consiste na avaliação de células que são raspadas ou que descamam naturalmente de uma superfície. A citologia por punção consiste na remoção de células de uma lesão utilizando seringa, agulha e, por vezes, citoaspirador. Para esse procedimento, sabe-se que quanto menor o calibre da agulha, maior será a pressão negativa aplicada sobre o tecido em análise, e conseqüentemente maior será a quantidade de amostra colhida 2,3,4,5,6. A impressão e o raspado são técnicas menos traumáticas utilizadas nas lesões dermatológicas ulceradas, abertas ou em fragmentos de biópsia. São úteis no diagnóstico de processo infeccioso

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bacteriano, parasitário e fúngico. Na impressão, pressiona-se suavemente uma das faces de uma lâmina histológica sobre a lesão, deixando-a secar em temperatura ambiente e posteriormente fixando-a com metanol a 100%. Para corar o material, há basicamente dois tipos de coloração: uma delas cora com maior afinidade estruturas ácidas, conhecida como basofílicas, em tons arroxeados; a outra apresenta afinidade com estruturas básicas, conhecidas como acidofílicas, em tons de rosa. Dessa forma, as colorações Shorr ou Papanicolaou são basofílicas e usadas para interpretar lesões ou alterações nucleares, enquanto as colorações com Giemsa ou o Diff-Quik, também conhecidas como panótico, são acidofílicas e apresentam maior utilidade para interpretar lesões ou alterações no citoplasma da célula, dando boa interpretação dos limites celulares. Independentemente da lesão e do método de colheita do material, recomenda-se processar no mínimo três lâminas: uma para corar com o Shorr ou Papanicolaou, outra

para corar com Giemsa ou o Diff-Quik, e a terceira sem corar, apenas fixada em álcool absoluto, para futuros esclarecimentos que forem necessários para o diagnóstico 1,2,6,7. Para o raspado de pele, o clínico deve raspar por duas a três vezes o bordo da lesão ou o interior dela com uma das extremidades da lâmina histológica, ou utilizar uma lâmina de bisturi. É recomendado que durante o procedimento de raspagem se aplique menos força e se aprofunde menos a lesão do que nos exames para a detecção de ectoparasitos. Posteriormente, é só distender a amostra obtida em uma outra lâmina e seguir os mesmos passos de fixação e coloração descritos anteriormente. Para o exame de citologia não se recomenda a utilização de swab, pois o algodão presente em uma das extremidades do instrumento permite a absorção de células ou microrganismos, prejudicando o diagnóstico 2,7. O exame de citologia por punção, com ou sem aspiração, é a técnica mais utilizada nas lesões dermatológicas.

Pode ser aplicado tanto para lesões firmes quanto para nódulos, e até mesmo em úlceras superficiais ou profundas. A punção por aspiração, ou seja, a citologia aspirativa por agulha fina (CAAF), é realizada da seguinte forma: agulha hipodérmica de 0,6 a 0,7mm de diâmetro externo por 25mm de comprimento, conectada a seringa de 10mL acoplada a um citoaspirador. Para uma boa coleta, é importante que se impeça a movimentação do animal durante o procedimento, ele deverá ser colocado em posição adequada, com isso a lesão deverá ser identificada e avaliada com os dedos indicador e polegar de uma das mãos, e com a outra mão, o examinador manipulará o citoaspirador. Assim sendo, insere-se a agulha na lesão e aplica-se a sucção tracionando o êmbolo da seringa, o que cria uma grande diferença de pressão. Dessa forma, a agulha é movimentada para frente e para trás, em várias direções. Assim, essa diferença de pressão é gradativamente desfeita e posteriormente a agulha é retirada do local da punção, que deve ser pressionado com

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Figura 2 - Lesão cutânea. Acima de 15% de eosinófilos. Pode ser doença do colágeno, granuloma eosinofílico ou micose. Giemsa 200x

Noeme Sousa Rocha

Figura 3 - TVT plasmocitóide cutâneo. Citoplasma abundante, mitose atípica e núcleo excêntrico. Giemsa 400x

Figura 4 - Carcinoma cutâneo. Células redondas e poliédricas, nitidamente uniformes. Giemsa 250x

Noeme Sousa Rocha

quantidade elas são observadas. Para processos agudos (Figura 1), a quantidade de neutrófilos é superior a 75% 2,10,11. Posteriormente, um parâmetro importante é observar a integridade celular e a presença de microrganismos ou quaisquer outras estruturas intracitoplasmáticas em neutrófilos e em células macrofágicas; dessa forma, pode-se identificar um possível agente etiológico a partir dos achados microscópicos 2,10. Quando a quantidade de eosinófilos supera 15% do total das células, os diagnósticos diferenciais são doença do colágeno, granuloma eosinofílico e micose (Figura 2); já quando a quantidade de macrófagos é de 15 a 50%, têm-se processos piogranulomatosos ou granulomatosos. Em achados com células inflamatórias como linfócitos e plasmócitos suspeita-se de respostas imunológicas ou de processos crônicos. Em processos inflamatórios e/ou infecciosos, é recomendado e necessário que o animal seja submetido ao tratamento adequado, e que uma nova coleta de material para reavaliação seja efetuada em trinta dias caso haja persistência da lesão 2,7.

Os processos neoplásicos na pele e no tecido subcutâneo são identificados por desorganização celular, perda de coesão e arquitetura, relação núcleo/citoplasma aumentada, pleomorfismo, presença de células bi e multinucleadas com cromatina frouxa, podendo-se observar um ou mais nucléolos evidentes por núcleo e mitose atípica, dentre outras. É de fundamental importância identificar o padrão celular da neoplasia, que pode ser caracterizada como de células redondas (Figura 3), células epiteliais (Figura 4) e células mesenquimais (Figura 5). A neoplasia de célula redonda encontrada na pele e no subcutâneo é a mais

Noeme Sousa Rocha

Figura 1 - Lesão cutânea inflamatória caracterizada por número de neutrófilos superior aos 75% da amostra. Giemsa 200x

Noeme Sousa Rocha

Aplicação da citologia no diagnóstico das lesões dermatológicas A citologia das lesões dermatológicas tem demonstrado ser uma excelente ferramenta para diagnóstico, não só pelo seu baixo custo mas por ser menos invasiva e apresentar maior segurança e resultados acurados de igual ou superior identificação de microrganismos e neoplasias, principalmente as de células redondas. Quando o exame não apresenta diagnóstico, o processo patológico da dermatose pode ser identificado posteriormente, em exames complementares. O sucesso da utilização do exame citopatológico como auxílio diagnóstico depende da colheita do material, que poderá identificar processos inflamatórios e não inflamatórios sem grandes dificuldades. Para isso, é importante reconhecer e identificar os tipos celulares presentes, determinar se há células inflamatórias e, em caso positivo, em que

Noeme Sousa Rocha

algodão embebido em álcool 70% para evitar hematomas 1,2,3,4,8. A agulha é desconectada da seringa e o êmbolo puxado, para a entrada de ar na seringa. A agulha é novamente conectada à seringa e o êmbolo empurrado, de forma a expelir o material aspirado sobre uma lâmina histológica com extremidade fosca previamente limpa, desengordurada e identificada. O bisel da agulha é posicionado sempre voltado para baixo e próximo da lâmina. A amostra é depositada em um único local, com a finalidade de formar um pequeno botão. Se houver muito material, este deve ser distribuído em outras lâminas, a fim de se obter um esfregaço fino e de excelente qualidade 1,3,4,9. A amostra contida na lâmina deve ser rapidamente distendida, o que é feito da maneira que segue: coloca-se uma lâmina de extremidade lisa em posição que forme um ângulo de 45° sobre a amostra depositada na primeira lâmina e, com um rápido movimento, desloca-se a lâmina de extremidade lisa sobre a lâmina da amostra em sentido oposto. Para a boa visualização do material colhido e o bom diagnóstico, é recomendável que sejam processadas no mínimo três amostras por lesão. Na punção sem utilização do citoaspirador, também denominada capilaridade, adotam-se os procedimentos descritos anteriormente, à exceção do citoaspirador 2,4,8,9.

Figura 5 - Sarcoma cutâneo. As células variam de redondas a fusiformes, imiscuídas em material mixóide de fundo. Giemsa 400x

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fácil de diagnosticar e classificar ao exame citopatológico. Leva-se em consideração principalmente a morfologia da célula, ou seja, se tem forma redonda, como são exemplos os mastocitomas, os TVTs, os linfomas e os histiocitomas, entre outros. Dentre as neoplasias epiteliais incluem-se, geralmente, as de glândulas e de epitélio de revestimento, células que por qualquer método de coleta se desprendem com certa facilidade. Possuem núcleo volumoso, citoplasma amplo e bem definido. As neoplasias originadas de tecido epitelial cutâneo podem ser classificadas como epidérmicas, representadas pelos papilomas escamosos e carcinomas de células escamosas, e neoplasias de células basais e dos anexos, como folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas 2,10,12. As neoplasias mesenquimais da pele e do subcutâneo são habitualmente conhecidas como neoplasias de células fusiformes ou angulares, como as neoplasias dos fibroblastos, da musculatura lisa e estriada, dentre outras, e podem apresentar morfologia arredondada, como as de tecido adiposo. Durante o exame citopatológico costuma-se observar poucas células, o que pode dificultar o diagnóstico. Quando isso não acontece, citologicamente a neoplasia contém células individuais de aspecto fusiforme ou angular, citoplasma escasso de aspecto fibrilar, às vezes refringente ao microscópio de luz. O núcleo é volumoso,

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podendo ser observadas células bi ou multinucleares 2,10,12. Considerações finais O exame citopatológico é uma ferramenta importante de diagnóstico rápido e de baixo custo para o clínico veterinário quando comparado a outras técnicas mais elaboradas e demoradas. O bom diagnóstico das lesões dermatológicas em citologia começa a partir da boa coleta do material e seu processamento e, sobretudo, da obtenção de informações relevantes na anamnese do animal. A coleta do material é fácil, por meio de raspados simples, impressão e punção com ou sem aspiração. Sempre que possível, é importante que aconteça a correlação desse método com a histopatologia, para comparação dos exames e resultados, o que reforça a confiabilidade do diagnóstico. Além disso, o método possibilita que a conduta terapêutica seja instituída mais precocemente do que os métodos tradicionais, trazendo maiores benefícios ao paciente. Todavia, há situações em que o diagnóstico pode ser inconclusivo, sendo necessário o uso de outros métodos de exames complementares. Referências

01-CARDOZO, P. L. Atlas of clinical cytology. 1. ed. 1975. 02-ROCHA, N. S. Citodiagnóstico: Hospital Veterinário da Unesp de Botucatu. Implantação, padronização e monitoramento. 2003, 113p. Concurso de Livre Docência -

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu. 03-SHELLY, S. M. Cutaneous lesions. Veterinary Clinics of North America - Small Animal Practice. v. 33, n. 1, p. 1-46, 2003. 04-SCHMITT, F. ; GOBBI, H. Mama. In: FILHO, G. B. Patologia. 7. ed. Guanabara Koogan, 2006. p. 613-643. 05-COHEN, M. ; BOHLING, M. W. ; WRIGHT, J. C. ; WELLES, E. A. ; SPANO, J. S. Evaluation of sensitivity and specificity of cytologic examination: 269 cases (1999-2000). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 222, n. 7, p. 964-967, 2003 . 06-GHISLENI, G. ; ROCCABIANCA, P. ; CERUTI, R. ; STEFANELLO, D. ; BERTAZZOLO, W. ; BONFANTI, U. ; CANIATTI, M. Correlation between fine-needle aspiration cytology and histopathology in the evaluation of cutaneous and subcutaneous masses from dogs and cats. Veterinary Clinical Pathology. v. 35, n. 1, p. 24-30, 2006. 07-REPPAS, G. ; CANFIELD, P. Citología diagnóstica de lesiones cutáneas en el perro y en el gato-Parte 1: Tratamiento de las muestras para el examen citológico. Veterinary International. v. 7, n. 1, 1995. 08-SCHMITT, C. F. Autópsias, biopsias, citopatologia e outros métodos de investigação em patologia: o que são e como são utilizados. In: MONTENEGRO, M. R. ; FRANCO, M. Patologia: processos gerais. 4. ed. Atheneu, 1999. p. 279-292. 09-EHYA, H. Citopatologia. In: RUBIN, E. ; FARBER, J. L. Patologia. 3. ed. Guanabara Koogan, 1999. p. 1513-1529. 10-RASKIN, R. E. ; MEYER, D. J. Atlas de citologia de cães e gatos. 1. ed. Editora Roca Ltda, 2003. 11-MENDELSOHN, C. ; ROSENKRANTZ, W. ; GRIFFIN, C. E. Practical cytology for inflammatory skin diseases. Clinical Techniques in Small Animal Pratice, v. 21, n. 3, p. 117-127, 2006. 12-McKEE, G. T. Citopatologia. 1. ed. Editora Artes Médicas Ltda, 1997.

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Fábio Luís Bonello

Avaliação dos manejos sanitário e alimentar de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) mantidos em cativeiro domiciliar em Araçatuba, São Paulo Evaluation of the sanitary and alimentary management of blue-fronted Amazon parrots (Amazona aestiva) kept in domiciliary captivity in Araçatuba, SP, Brazil Evaluación de manejo sanitario y alimentar de amazonas de frente azul (Amazona aestiva) mantenido en cautiverio domiciliario en Araçatuba, SP, Brasil Resumo: Manter animais silvestres em cativeiro domiciliar como animais de estimação é comum no Brasil, e os papagaios são preferidos por serem curiosos, atentos e engraçados, além de excelentes imitadores da voz humana. Entretanto, as aves da família Psittacidae podem ser fontes de infecção de algumas zoonoses. Neste trabalho foram estudados 50 papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) mantidos em cativeiro domiciliar em Araçatuba, São Paulo. Foram avaliadas, por meio de visitas aos domicílios, as condições socioeconômicas das famílias mantenedoras, os manejos sanitário e nutricional das aves, e o grau de contato destas com as pessoas. Os resultados indicaram manejos sanitário e nutricional inadequados na maioria dos casos, estreito contato das pessoas com os papagaios e falta de conhecimento sobre potenciais enfermidades infectoparasitárias das aves. Concluiu-se que o estreito contato dos residentes com as aves e as condições sanitárias inadequadas podem favorecer a ocorrência de zoonoses nas residências avaliadas Unitermos: aves silvestres, zoonoses, risco sanitário Abstract: The maintenance of wild animals as pets in domiciliary captivity is very common in Brazil. Among these, parrots are preferred due to their natural curiosity and intelligence, being amusing and also excellent imitators of the human voice. However, they can be source of some zoonotic infections, especially if they are not well managed. The present study evaluated 50 blue-fronted Amazon parrots (Amazona aestiva) kept in domiciliary captivity in Araçatuba, SP, Brazil. Residences were visited and the sanitary and nutritional management of the animals, as well as the socioeconomic conditions of the families and the degree of contact between humans and animals were assessed. Results showed inadequate sanitary and alimentary management in most cases, close contact with the parrots and lack of knowledge about avian diseases. These results indicate that the incorrect management and the close contact with the birds can favor the occurrence of zoonoses in the evaluated residences. Keywords: wild birds, zoonoses, sanitary risk Resumen: Mantener animales salvajes en cautiverio domiciliario ha sido común en Brasil y los loros son preferidos porque son curiosos, inteligentes, divertidos y excelentes imitadores de la voz humana. Sin embargo, loros pueden ser fuentes de algunas enfermedades zoonóticas, principalmente si no están bien manejados. Este estudio investigó 50 amazonas de frente azul (Amazona aestiva) mantenidas en cautiverio domiciliario en Araçatuba, SP, Brasil. En visitas a domicilios fueron evaluados manejos sanitario y alimenticio, condiciones socioeconómicas y el contacto de los residentes con las aves. Los resultados demostraron manejos sanitario y alimenticio inadecuados en la mayoría de los casos, estrecho contacto de los residentes con las aves y carencia de conocimientos acerca de las enfermedades de los amazonas. Fue posible concluir que el manejo incorrecto y el contacto cercano con las aves pueden favorecer la ocurrencia de zoonosis en las residencias evaluadas. Palabras clave: aves salvajes, zoonosis, riesgo sanitario

Clínica Veterinária, n. 76, p. 82-88, 2008

INTRODUÇÃO A manutenção de animais silvestres como animais de estimação, em sua maioria não legalizada, é bastante comum no Brasil, embora seja um crime contra a fauna brasileira 1. As aves são predominantes como animais silvestres 82

de estimação, e os papagaios são preferidos por serem considerados curiosos, inteligentes e divertidos, além de excelentes imitadores da voz humana 2. Por essas características, os papagaios são normalmente mantidos bem próximos de seus responsáveis e são práticas comuns aca-

MV, MSc

bonellofl@yahoo.com.br

Marcelo Vasconcelos Meireles MV, dr., prof. ass. DCCRA/FOA/Unesp-Araçatuba marcelo@fmva.unesp.br

Sílvia Helena Venturolli Perri Estatística, profa. ass. dra., PhD DAPSA/FOA/Unesp-Araçatuba shvperri@fmva.unesp.br

Cáris Maroni Nunes

MV, PhD., livre-docente DAPSA/FOA/Unesp-Araçatuba caris@fmva.unesp.br

riciar as aves, mantê-las nas mãos e nos ombros e até mesmo beijá-las. Além desse estreito contato, as condições de manejo nutricional a que são submetidas as espécies não convencionais de animais de estimação são geralmente inadequadas, e as dietas caracterizam-se pelo desbalanço nutricional, o que propicia o surgimento de diversas afecções, infecciosas e não infecciosas 3. Em relação aos psitacídeos, a maioria ainda é alimentada com uma mistura de sementes na qual predomina o girassol, dieta considerada imprópria para a saúde e a longevidade dessas aves 4. Há um número relativamente grande de doenças aviárias que são zoonoses potenciais e, embora os animais de estimação melhorem a qualidade de vida e a recuperação de pessoas doentes, pessoas imunossuprimidas apresentam maior risco de serem infectadas por agentes zoonóticos 5,6. Salmonelose, clamidofilose, campilobacteriose e tuberculose são as zoonoses bacterianas aviárias mais freqüentemente descritas nas aves e em humanos 7,8,9,10. As aves domésticas e os répteis são os principais portadores de Salmonella e as cepas isoladas de psitacídeos, embora não possuam grande potencial zoonótico, podem estar associadas à doença em humanos, principalmente em indivíduos imunossuprimidos, crianças e idosos 11,12. A criptosporidiose também deve ser considerada entre as zoonoses aviárias de risco para pessoas imunossuprimidas, ainda que o papel das aves na transmissão da mesma não esteja completamente elucidado 13. Além dessas enfermidades, a influenza aviária,

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causada pela cepa viral H5N1, é uma zoonose emergente que causa grande preocupação nas autoridades sanitárias e, desde 2004, tem provocado a morte de pessoas na Ásia e na Europa 14. Na Inglaterra, um caso de influenza aviária causada pelo H5N1 foi confirmado no final de 2005 em um papagaio originário do Suriname 15. O conhecimento dos diferentes quadros mórbidos que acometem os animais selvagens, tanto aqueles mantidos em cativeiro quanto aqueles de vida livre, é indispensável para o tratamento, o controle e a prevenção de doenças 16 e a publicação de trabalhos de pesquisa sobre o tema possibilita a socialização da informação, que se estende à comunidade leiga 17. O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições de cativeiro e os manejos sanitário e nutricional dispensados a papagaios-verdadeiros (A. aestiva) mantidos em ambiente doméstico na área urbana de Araçatuba, SP, de modo a correlacioná-los com o risco potencial de transmissão de zoonoses. MATERIAL E MÉTODOS Animais e variáveis analisadas No período de novembro de 2005 a fevereiro de 2006 foram selecionados, aleatoriamente, 50 animais da espécie Amazona aestiva (papagaio-verdadeiro) mantidos em cativeiro em 50 domicílios da zona urbana de Araçatuba, SP, cujos endereços eram de conhecimento dos autores do presente estudo. A identificação

da espécie foi realizada com base nas características morfológicas externas dos animais 2. Os domicílios nos quais esses animais eram mantidos foram visitados no mínimo duas vezes pelo mesmo pesquisador (médico veterinário), e um questionário foi preenchido após o consentimento esclarecido do responsável pela ave. As variáveis avaliadas foram: origem da ave, escolaridade do mantenedor da ave, renda familiar, conhecimento do responsável sobre doenças aviárias e zoonoses, e manejos sanitário e alimentar do papagaio. Manejo sanitário Além do questionário, fez-se uma inspeção do ambiente doméstico em que as aves viviam, para classificação do manejo sanitário da maneira que segue: - Bom: quando o responsável limpava as instalações (gaiolas, viveiros e espaço de parada da ave) e recipientes uma ou mais vezes ao dia com produtos adequados (sabão ou detergente, e desinfetante posteriormente); o aspecto do ambiente era de limpeza; - Regular: quando o responsável não limpava o ambiente da ave diariamente, ainda que usasse produtos adequados, ou quando a limpeza era diária, mas sem a utilização de produtos de limpeza adequados; o aspecto higiênico do ambiente era insatisfatório; - Ruim: quando o responsável limpava o ambiente da ave no máximo três dias por semana, mesmo que essa higieniza-

ção fosse feita de maneira adequada, ou limpava raramente, ou nunca limpava; o aspecto era ruim, de sujeira. Manejo alimentar O manejo alimentar foi classificado como: - Bom: quando a ave recebia ração específica para psitacídeos ou alimentação caseira com itens e quantidades aparentemente adequados, podendo estar balanceada para a maioria dos nutrientes. Considerou-se como alimentação caseira adequada a dieta diversificada que continha legumes, frutas e sementes em proporções consideradas equilibradas, a partir da avaliação subjetiva do pesquisador; - Regular: quando a ave recebia frutas e outros vegetais ou frutas com sementes de girassol; - Ruim: quando a ave recebia apenas ou predominantemente as sementes de girassol, ou comida caseira (de consumo diário da família), com ou sem sementes de girassol. Risco domiciliar Para cada domicílio visitado foi estabelecido um fator não numérico denominado “risco domiciliar”, que se refere ao risco de exposição dos residentes a zoonoses. Os quesitos considerados, seguidos pelas respectivas classificações e pontuações entre parênteses, foram : - Manejo sanitário: bom (1); regular (2); ruim (3) - Nutrição: boa (1); regular (2); ruim (3) - Aspecto do ambiente: bom (1); regular

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(2); ruim (3) - Distância do abrigo da ave à cozinha: 5m ou mais (1); 3-5m (2); <3m/dentro (3) - Contato entre responsável e ave: distante (1); médio (2); estreito (3); muito estreito (4) - Presença de aves de vida livre no ambiente: não (1); sim (2) - Número de pessoas residentes em “idade de risco” (X < 10 anos ou X 60 anos): um (1) ponto para cada indivíduo, onde X é cada pessoa em “idade de risco”. Mediante o somatório dos pontos obtidos em cada quesito foi estabelecido o escore do “risco domiciliar” como sendo: “pequeno” (< 9); “médio” (10 - 14); “elevado” (15 - 19); “muito elevado” (> 19). Avaliação clínica Os papagaios foram examinados, à distância, quanto a postura, comportamento e empenamento, sendo considerado apenas se a ave apresentava aspecto normal ou alterado. Na avaliação da condição corporal, após contenção manual e palpação de musculatura peitoral, cada animal foi classificado como caquético, magro, normal, gordo, obeso. Durante a contenção também foi investigada a presença de ectoparasitas.

As fezes foram observadas e o aspecto classificado como normal ou alterado (líquidas, pastosas, ressecadas, mucosas, sanguinolentas) 18. Distribuição de material educativo Após o final de todas as avaliações e visitas, um folheto educativo (Figura 1), com informações sobre aspectos biológicos e enfermidades de papagaios, manejo em cativeiro e aspectos legais da fauna silvestre foi entregue em cada residência. Análise estatística Utilizou-se o Teste Qui-Quadrado e o Teste Exato de Fisher para a análise da associação entre algumas variáveis do questionário, adotando-se nível de significância de 5%. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos demonstraram que todos os papagaios foram obtidos sem qualquer documento legal, e assim permaneciam; 76% (38/50) dos entrevistados disseram ser a ave “presente” de amigos ou de familiares, e 14% (7/50) revelaram que haviam comprado a ave. Em estudo realizado no município de São Paulo, também verificou-se

que a maioria dos psitacídeos avaliados, dentre os quais havia 46 papagaios, tinha origem ilegal, e que 63,5% das aves haviam sido adquiridas de traficantes 3. Quanto ao conhecimento dos responsáveis em relação aos seus animais, 60% (30/50) sabiam tratar-se de animal silvestre, e 88% (44/50) sabiam da ilegalidade de se manter papagaio não registrado em cativeiro domiciliar. Clamidofilose, toxoplasmose e criptococose foram citadas como doenças de papagaios por apenas 6% (3/50) dos responsáveis; os demais entrevistados (94%) não tinham conhecimento sobre zoonoses e doenças de papagaios, o que reflete a ausência de informação. Por outro lado, 96% (48/50) dos responsáveis pelas aves tinham ouvido falar de gripe aviária, demonstrando conhecimento sobre essa doença amplamente comentada na mídia. Em relação ao manejo alimentar, 10% (5/50) dos responsáveis haviam recebido orientações gerais sobre criação de papagaios, e apenas 8% (4/50) forneciam dieta adequada (manejo alimentar bom). Quarenta e dois por cento (21/50) dos responsáveis afirmaram ser semente de girassol a comida ideal para papagaios, e que receberam essa informação

Figura 1 - Folheto educativo com informações sobre aspectos biológicos e enfermidades de papagaios, manejo em cativeiro e aspectos legais da fauna silvestre entregue em cada residência ao final das visitas realizadas no município de Araçatuba, SP, 2006

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principalmente em casas de ração e, em menor número, de parentes e amigos. O manejo alimentar foi considerado ruim em 72% dos casos, à semelhança daquilo que foi constatado em pesquisa em que 86% dos psitacídeos adultos tinham grãos e sementes como base da dieta 3. As dietas baseadas em sementes e grãos são pouco perecíveis, apresentam baixo custo e são fáceis de serem administradas, o que favorece seu uso por parte das pessoas que mantêm aves silvestres cativas 19. Entretanto, esse tipo de dieta é prejudicial à saúde e à longevidade dos psitacídeos, pois possuem excesso de gordura, quantidade e relação cálcio/fósforo inadequadas e níveis insuficientes de aminoácidos e vitaminas 4. O aspecto do ambiente foi considerado bom pelo avaliador em 36% (18/50) dos domicílios, enquanto que em 28% (14/50) foi considerado regular e em 36% (18/50), ruim. Foi observado que em 88% (44/50) dos domicílios, aves de vida livre, como pardais e rolinhas, alimentavam-se da comida oferecida ao papagaio. Manejo sanitário bom ocorreu em 36% (18/50) dos casos (Figura 2), diferindo dos resultados observados em estudo conduzido em São Paulo, SP, no qual foi observado bom manejo sanitário em 60,1% dos animais não domésticos mantidos em cativeiro domiciliar, embora naquele estudo o pesquisador tenha também avaliado mamíferos e répteis 3. Na presente investigação, a escolaridade do responsável esteve associada ao manejo alimentar (p<0,05), observando-se maior freqüência de manejo alimentar ruim (72%) em domicílios cujo responsável tinha menor escolaridade (69,5%), porém independentemente da renda familiar. A administração de dieta adequada a animais silvestres cativos requer um conhecimento prévio daquilo que deve ser fornecido, e essa orientação deve ser feita por profissional que saiba avaliar as particularidades nutricionais e as condições sócioeconômicas em questão. A maioria das aves apresentava-se normal quanto a aspecto e condição corporal (Figura 3), e as fezes se encontravam com aspecto normal em 76% dos casos (38/50). Não foram encontrados ectoparasitas nos animais estudados. Não houve associação significativa 86

Variável

Categoria

Resposta número % 24 48 26 52

renda familiar

até 4 SM > 4 SM

escolaridade

fundamental incompleto fundamental completo médio completo superior ou pós-graduação

22 10 11 7

44 20 22 14

manejo sanitário

bom regular ruim

18 18 14

36 36 28

manejo alimentar

bom regular ruim

4 10 36

8 20 72

risco domiciliar*

pequeno médio elevado muito elevado

3 24 21 2

6 48 42 4

SM: salário mínimo * fator não numérico que se refere ao risco de exposição dos residentes a zoonoses

Figura 2 - Enquete com os responsáveis pelos papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) mantidos em cativeiro domiciliar na zona urbana de Araçatuba, SP, segundo a resposta e respectivas categorias. Araçatuba, SP, 2006

Variável

Categoria

aspecto da ave

normal alterado

Número % 44 6

88 12

condição corporal

normal magro gordo

34 10 6

68 20 12

aspecto das fezes

normal alterado

38 12

76 24

Figura 3 - Avaliação clínica de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) mantidos em cativeiro domiciliar na zona urbana de Araçatuba, SP, segundo a variável avaliada e respectivas categorias. Araçatuba, SP, 2006

(p>0,05) entre os manejos alimentar e sanitário, e tampouco entre manejos alimentar e sanitário e renda familiar do responsável, aspecto da ave, estado corporal e aspecto das fezes. O risco domiciliar foi considerado médio e elevado (48% e 42%, respectivamente) na maioria dos domicílios visitados, e a utilização do parâmetro aqui instituído fornece ao pesquisador mais subsídios para avaliar o risco de transmissão dos agentes de zoonoses para os residentes. O acúmulo de restos de alimento nos recintos dos papagaios ou próximos aos mesmos pode favorecer a proliferação de insetos, outros artrópodes e roedores. Em Araçatuba e região noroeste do Estado de São Paulo, onde a leishmaniose visceral é endêmica, a matéria orgânica acumulada favorece a proliferação de flebotomíneos envolvidos na cadeia epidemiológica desta doença. Em uma

das residências foi constatada a presença de camundongo no viveiro do papagaio, atraído obviamente pelos restos alimentares e a má higienização. Esse fato pode aumentar o risco de transmissão de zoonoses, já que as fezes desses roedores podem conter salmonelas viáveis por longos períodos 12, além de poderem eliminar leptospiras no ambiente através da urina. As condições de tratamento dos animais avaliados eram ruins ou muito ruins na grande maioria das residências visitadas (Figuras 4 a 7). No entanto, dizer que as pessoas são mal informadas e se eximir do contexto, colocando-se à parte do comportamento da humanidade, não melhora a situação. Os médicos veterinários têm muitas oportunidades de informar e educar, às vezes até mais do que os educadores propriamente ditos 17, e poderiam exercer esse papel mais intensamente.

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Figura 5 - Manejos sanitário e alimentar de cativeiro domiciliar de papagaio-verdadeiro considerados ruins. Observe sujeira acumulada em gaiola. A alimentação era composta de arroz, feijão, pão, leite e sementes de girassol Animal Medicine - Current Therapy 4. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1999, p. 151-156. 09-HOOP, R. K. Mycobacterium tuberculosis infection in a canary (Serinus canaria L.) and a blue-fronted amazon parrot (Amazona aestiva). Avian Diseases, Minnesota, v. 46, n. 2, p. 502504, 2002. 10-CUBAS, Z. S. ; GODOY, S. N. Algumas doenças de aves ornamentais. Departamento de Meio-ambiente, Foz do Iguaçu, Paraná, 2004. Disponível em: <http://www.abma.com.br/ 2004/ notes>. Acesso em: 12/04/2007. 11-REAVIL, D. Bacterial diseases. In: ROSSKOPF, W. J. ; WOERPEL, R. W. Diseases of cage and aviary birds. Baltimore: Williams & Wilkins, 1996, p. 596-612. 12-CARVALHO, V. M. Salmonelose. In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007, p. 742-750. 13-TUMOVA, E. ; SKRIVAN, M. ; MAROUNEK, M. ; PAVLASEK, I. ; LEDVINKA, Z. Performance and oocyst shedding in broiler chickens orally infected with Cryptosporidium baileyi and Cryptosporidium meleagridis. Avian Diseases, Minnesota, v. 46, n. 1, p. 203-207, 2002. 14-THOMAS, J. K. ; NOPPENBERGER, J. Avian influenza: a review. American Journal of Health-System Pharmacy, Ann Arbor, v. 64, n. 2, p. 149-165, 2007. 15-HAWKES, N. Quarantined parrot brought in

Figura 6 - Manejos sanitário e alimentar de cativeiro domiciliar de papagaio-verdadeiro considerados ruins. Fezes e restos de alimentos acumulados no assoalho do recinto, mesmo em domicílios com condições sócioeconômicas boas, como neste caso

Fábio Luís Bonello

01-IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Lei de Crimes Ambientais. 2005. Disponível em <http//www.ibama.gov.br.>. Acesso em: 13/09/2007. 02-SICK, H. Ordem psitaciformes. In: ___ Ornitologia Brasileira, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 351-82. 03-FOTIN, C. M. P. Levantamento prospectivo dos animais silvestres, exóticos e domésticos não convencionais, em cativeiro domiciliar, atendidos em clínicas particulares no município de São Paulo: aspectos do manejo e principais afecções. 2005. 206f. Dissertação de mestrado, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, 2005, 206f. 04-GODOY, S. N. Psittaciformes (Arara, Papagaio, Periquito). In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007, p. 222-251. 05-HEMSWORTH, S. ; PIZER, B. Pet ownership immunocompromised children - a review of the literature and survey of existing guidelines. European Journal of Oncology Nursing, v. 10, n. 2, p. 117-127, 2006. 06-BAHR, S. E. ; MORAIS, H. A. Pessoas imunocomprometidas e animais de estimação. Clínica Veterinária, São Paulo, Ano VI, n. 30, p. 17-22, 2001. 07-ADESIYUN, A. A. ; CAESAR, K. ; INDER, L. Prevalence of Salmonella and Campylobacter species in animals at Emperor Valley Zoo, Trindad. Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 29, n. 2, p. 237-239, 1998. 08-FLAMER, K. Zoonosis Acquired from Birds. In: FOWLER, M. E. ; MILLER, R. E. Zoo & Wild

Fábio Luís Bonello

REFERÊNCIAS

Figura 4 - Manejos sanitário e alimentar de cativeiro domiciliar de papagaio-verdadeiro considerados ruins Fábio Luís Bonello

AGRADECIMENTOS Agradecemos a Roberta Pavani de Campos da Microcamp de Limeira, pela valiosa colaboração.

Fábio Luís Bonello

CONCLUSÃO Os papagaios-verdadeiros mantidos em cativeiro domiciliar na área urbana de Araçatuba, SP, apresentavam-se aparentemente em bom estado geral, apesar do manejo alimentar inadequado. O contato próximo dessas aves com os residentes e o manejo sanitário ruim podem favorecer a transmissão de zoonoses aviárias, além de atrair artrópodes e vertebrados, aumentando ainda mais o risco de transmissão de agentes zoonóticos. A transmissão da informação, por meio da mídia e de profissionais, poderia contribuir para a melhoria do manejo destes animais. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - Unesp e está de acordo com as normas éticas vigentes.

Figura 7 - Manejos sanitário e alimentar de cativeiro domiciliar de papagaio-verdadeiro considerados ruins. Observe sujeira acumulada em gaiola. Observe fezes acumuladas, alimentação à base de semente de girassol e recinto inadequado (gaiola pequena) first avian flu since 1992. Disponível em <http//www.timesonline.co.uk/tol/news/world/ar ticle582564.ece>. Acesso em: 13/09/2007.

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Dayanne A. Silva Barbosa Dantas

Infecção do trato urinário de um gato doméstico por Capillaria sp.: relato de caso Infection of the urinary tract of a domestic cat by Capillaria sp.: case report

MV, residente II PRMV - HVU/UFPI

dayannevet@yahoo.com.br

Marcelo Campos Rodrigues

MV, doutorando, PPGMV/UFRPE prof. ass. - Depto. Biofísica e Fisiologia/UFPI prof. colaborador - HVU/UFPI

marcelocampos@ufpi.br

Antonio Francisco de Sousa

MV, prof. adj. Depto. Clínica e Cirurgia Veterinária - HVU/UFPI

Infección del tracto urinario de gato doméstico por Capillaria sp.: relato de caso Resumo: Capillaria sp. é um parasita da bexiga urinária de vários carnívoros, raramente encontrado em cães e gatos. Geralmente a capilariose é auto-limitante mas, em altas infestações, pode provocar a doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), que também pode ser decorrente de outros agentes etiológicos. Entretanto, como as manifestações clínicas da DTUIF são inespecíficas, não permitindo identificar o agente etiológico que a deflagrou, o diagnóstico da infecção por Capillaria sp. é baseado em exame do sedimento urinário, que se constitui em um teste qualitativo. O presente relato descreve os procedimentos adotados para o tratamento de um felino com sintomas de DTUIF e presença de ovos de Capillaria sp. no sedimento urinário. Até aonde os autores puderam investigar, trata-se do primeiro relato de capilariose urinária em gatos domésticos no Brasil. Unitermos: felino, bexiga urinária, parasita

chico1847@bol.com.br

Antonio Carlos Martins Portela

Médico veterinário Setor de Patologia Clínica - HVU/UFPI acmportela@ufpi.br

Wellson Andrade de Oliveira

Médico veterinário Setor de Patologia Clínica - HVU/UFPI wellson1977@yahoo.com.br

Abstract: Capillaria sp. is a urinary bladder parasite of several carnivores, but it is rarely found in the bladder of dogs and cats. The disease is usually self-limiting, although heavy infestations may be associated with feline lower urinary tract disease (FLUTD), which can also result from other etiological agents. However, since clinical signs of FLUTD are non-specific, the diagnosis of capillariasis relies on qualitative tests such as the urinary sediment examination. The present report describes the case of a cat with symptoms of FLUTD and Capillaria sp. eggs in the urinary sediment. This might be the first report of urinary capillariasis in domestic cats in Brazil. Keywords: feline, urinary bladder, parasite Resumen: Capillaria sp. es un parásito de la vejiga urinaria de varios carnívoros, raramente encontrado en perros y gatos. La capilariosis es frecuentemente auto-limitante, sin embargo, cuando presenta alta infestación puede estar associada a la enfermedad del tracto urinario inferior de los felinos (FLUTD), que también puede ser causada por otros agentes etiológicos. Como las manifestaciones clínicas no son específicas, la capilariosis tiene el examen del sedimento urinario como prueba cualitativa para el diagnóstico de infección. El presente relato describe el caso de un felino con los síntomas de FLUTD y presencia de huevos de Capillaria sp. en el sedimento urinario. Hasta dónde los autores pudieron investigar, se trata del primer relato de capilariosis urinaria en gatos domésticos en Brasil. Palabras clave: felino, vejiga urinaria, parásito

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que parasitam a bexiga urinária de vácélula ao serem eliminados na urina 10. rios carnívoros 7 e do gato doméstico 8, Gatos com capilariose urinária geralrespectivamente, mas raramente são enmente não apresentam sinais clínicos, contrados em cães e gatos 9. exceto em infecções intensas, quando Os adultos introduzem a extremidade podem manifestar polaquiúria, disúria, anterior do seu corpo no epitélio da bexiga e, ocasionalmente, no ureter e na pelve renal, onde podem causar reação inflamatória moderada e edema da submucosa 7,10. Incontinência urinária e dor durante a micção foram sinais clínicos relatados em animais infestados por vermes do gênero Capillaria 7. Seus ovos são incolores e ovalados, têm opérculos bipolares e parede espessa (Figura 1) variam de 22 a 32µm de largura e de 50 a 68µm de compriFigura 1 - Ovos de Capillaria sp. em sedimento urinário de mento 7,11, e contêm uma única gato doméstico. (objetiva de 40x) Marcelo Campos Rodrigues

Introdução As moléstias do trato urinário podem estar associadas a um grupo amplo e por vezes confuso de manifestações clínicas 1, sendo que, na doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF), a similaridade dos sintomas clínicos causados por diferentes etiologias não é surpreendente, pois o trato urinário felino responde a diversas moléstias de modo limitado e previsível 2. Dentre as causas que levam à DTUIF incluem-se os parasitos do trato urinário como Capillaria plica e C. felis cati 3. A notificação da ocorrência de Capillaria plica e C. felis cati no Brasil é escassa 4. Na Alemanha, a prevalência de C. plica encontrada em gatos domésticos foi de 6% 5, com maior casuística em gatos machos 5,6. Capillaria plica e C. felis cati são nematóides tricurídeos

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Relato de caso Um gato doméstico, sem raça definida (SRD), macho não castrado de nove meses de idade, pesando quatro quilos, foi encaminhado ao setor clínico do Hospital Veterinário Universitário (HVU) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) com episódios de diarréia, letargia, incontinência urinária e disúria. O exame físico revelou febre moderada (40º C), e bexiga distendida, túrgida e com sensibilidade dolorosa à palpação. As análises rotineiras de sangue (hemograma completo e perfil bioquímico) apresentaram resultados dentro do limite referencial. A ultra-sonografia abdominal nada revelou além de bexiga repleta de urina, e a amostra de urina, coletada por cistocentese, apresentavase turva e tinha densidade específica de 1.050. A análise com fita reagente a mostrou pH 6.0, presença marcante de hemácias, proteínas (++), bilirrubina e sais biliares. Na análise do sedimento urinário foram observados moderada hematúria, leucócitos, células de descamação renal, espermatozóides e presença marcante de estruturas ovais identificadas como ovos de Capillaria sp. (Figura 2). O gato foi hospitalizado e tratado para DTUIF, com fluidoterapia b intravenosa e medicação anti-helmíntica c (associação de fembendazol 200mg, pamoato de pirantel 144mg e praziquantel 50mg, PO em dose única), permanecendo

com sonda vesical durante o período de internação. Decorridas 48 horas, e com melhora significativa, o animal recebeu alta hospitalar e foi recomendado o uso de enrofloxacina d (5mg/ kg, PO), uma vez ao dia (SID) por sete dias consecutivos, cloridrato de amitriptilina e (5mg/animal, PO, SID) por dez dias consecutivos, e vitFigura 2 - Ovos de Capillaria sp. (no centro), espermatozóides amina C f (130mg/ani(SPZ) e células de descamação renal (CDR), em sedimento mal, PO), três vezes ao urinário de gato doméstico (objetiva de 20x) dia (TID) por sete dias de urina para análise. seguidos visando a acidificação da urina, uma vez que o gato ainda não Discussão havia se adaptado ao tratamento dieAs estruturas ovais observadas na tético g introduzido. análise do sedimento urinário foram Decorridos dez dias da alta hospitaidentificadas como ovos de Capillaria lar, o gato apresentou episódios de vôsp., cuja espécie não foi determinada mitos ocasionais, letargia e sensibilidadevido à semelhança morfológica entre de dolorosa à palpação vesical. O exaos ovos de C. plica e de C. felis cati 8. me físico não revelou nada digno de As manifestações clínicas observadas nota. não eram específicas de uma moléstia 2, Foi realizada uma segunda análise lamotivo pelo qual o tratamento estabeleboratorial da urina coletada por cistocido foi apenas sintomático para doença centese, que apresentou aspecto límpido do trato urinário inferior dos felinos. e densidade específica de 1.033. A anáComo os parasitos do trato urinário (C. lise pela fita reagente indicou pH 6,5 e plica e C. felis cati) podem causar presença de proteínas (+), e a do sediDTUIF 3, o tratamento só foi direcionamento urinário revelou presença mardo para a possível causa após confirmacante de leucócitos e espermatozóides, e ção laboratorial. presença moderada de células de descaA coleta da amostra, por cistocentese mação renal. Não foram mais observaevitou a possível contaminação fecal da dos ovos de Capillaria sp., apesar da urina, e, conseqüentemente, o estabelepersistência do quadro clínico anteriorcimento de diagnóstico errôneo decormente citado. rente da contaminação com ovos de Após esse procedimento, foi instiTrichuris sp. 3. tuído tratamento ambulatorial com cloh Embora na maioria das vezes as inridrato de ranitidina (2mg/kg, SC, fecções por Capillaria sp., dispensem TID), cloridrato de metoclopramida i tratamento, a presença de sinais clínicos (0,5mg/kg, SC, SID), flunixin megluno caso ora descrito, direcionou a opção mine j (0,5mg/kg, IM, SID) e dose pelo uso de fembendazol em dose única. única de ivermectina k (0,2mg/kg SC). No entanto, mesmo não tendo sido Trinta dias depois em reavaliação do observados ovos de Capillaria sp. em quadro, o animal apresentava-se bem, nova análise de sedimento urinário após mas o proprietário não permitiu a coleta dez dias do tratamento instituído, os sinais clínicos iniciais de vômito, letara) Fita Uriquest, Labtest Diagnostica S. A., Lagoa Santa, MG b) Cloreto de sódio 0.9%, Gaspar Viana, Fortaleza, CE gia e sensibilidade dolorosa à palpação c) Dipilex plus, Univet S/A, São Paulo, SP d) Baytril 50 mg comprimidos, Bayer S. A., São Paulo, SP vesical ainda persistiam. Com a admie) Cloridrato de amitriptilina 25 mg, Medley S. A., Campinas, SP nistração de ivermectina 9,13,14 associada f) Super C, Vetnil Ltda, São Paulo, SP g) Ração Urinary S/O - Royal Canin Veterinary Diet, Royal ao tratamento sintomático realizado, Canin do Brasil Indústria e Comércio Ltda, Descalvado, SP h) Cloridrato de ranitidina 2mg/mL, Laboratório Teuto, Anápolis, obteve-se a remissão de toda a sintomaGO i) Noprosil, Laboratório Isofarma, Euzébio, CE tologia apresentada. j) Flunamine 50mg/mL, Bayer, São Paulo, SP A escassez de relatos de casos de k) Ivermectina 1%, Ouro Fino, São Paulo, SP

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Marcelo Campos Rodrigues

cistite e micção inapropriada 7,9,12, além de intensa sensibilidade vesical à palpação 4. O exame do sedimento urinário é um teste qualitativo aceitável para diagnóstico da infecção por Capillaria sp. 7, que geralmente revela moderada proteinúria, hematúria e presença aumentada de células de descamação 7,9,11. O hemograma geralmente não revela anormalidades 12. O diagnóstico é feito pela observação de ovos de Capillaria sp. no sedimento urinário 4,9,13. As infecções geralmente são autolimitantes, mas na presença de sinais clínicos o tratamento é necessário, podendo se constituir de dose única de ivermectina (0,2mg/kg) via subcutânea (SC) ou de fembendazol (50mg/kg) via oral (PO) 9,13,14 ou, ainda, de doses diárias de fembendazol (50mg/kg, PO) durante 10 a 14 dias 8,13 ou levamisol (2,5mg/kg, PO) durante cinco dias 13.

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capilariose urinária – em decorrência da baixa intensidade de infecção e da ausência de sintomatologia específica – dificulta o estabelecimento da prevalência de Capillaria sp. em cães e gatos 9. No Brasil, até a presente data, este é o primeiro caso de Capillaria sp. em gato doméstico relatado. Conclusão A DTUIF é caracterizada como uma síndrome urológica felina devido à grande variedade de sinais clínicos que podem estar envolvidos, e pode estar associada a vários fatores concomitantes. Assim, o exame de sedimento urinário é de grande valia no diagnóstico diferencial e etiológico da DTUIF. Embora a infecção por espécies do gênero Capillaria em gatos domésticos seja pouco freqüente, deve-se sempre suspeitar dessa parasitose urinária em casos de DTUIF refratária ao tratamento convencional, dedicando especial atenção à pesquisa de ovos característicos no sedimento urinário. Confirmada a infecção, a instituição de tratamento para capilariose juntamente com

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o tratamento sintomático é eficaz para a remissão do quadro clínico. Referências 01-POLZIN, D. ; OSBORNE, C. ; O'BRIEN, T. Moléstias dos rins e ureteres. In: ETTINGER, S. J. Tratado de Medicina Interna Veterinária moléstias do cão e do gato. 3. ed. São Paulo: Manole, 1992. v. 4, p. 2047-2138. 02-OSBORNE, C. A. ; KRUGER, J. M. ; JOHNSTON, G. R. ; POLZIN, D. J. Disturbios do trato urinário inferior felino. In: ETTINGER, S. J. Tratado de Medicina Interna Veterinária - moléstias do cão e do gato. 3. ed. São Paulo: Manole, 1992. v. 4, p. 2150-2177. 03-JAMES, K. Lower urinary tract disorders of the cat. 1998. Disponível em: <http://www.vetsites. vin.com/Kidney/FLUTD.doc> . Acesso em: 11. jun. 07 04-KLEIN, R. P. ; RODRIGUES, M. C. Ocorrência da Capillaria plica (Rudolphi, 1819) em um cão em Teresina - PI. Revista Brasileira de Parasitologia, v. 1, p. 73, 1991. 05-KRONE, O. ; GUMINSKY, O. ; MEINIG, H. ; HERRMANN, M. ; TRINZEN, M. ; WIBBELT, G. Endoparasite spectrum of wild cats (Felis silvestris Schreber, 1777) and domestic cats (Felis catus L.) from the Eifel, Pfalz region and Saarland, Germany. European Journal of Wildlife Research, v. 54, n. 1, p. 95-100, 2008. 06-MIRÓ, G. ; MONTOYA, A.; JIMÉNEZ, S. ; FRISUELOS, C. ; MATEO, M. ; FUENTES, I. Prevalence of antibodies to Toxoplasma gondii and intestinal parasites in stray, farm and

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apoio

Informe publicitário

Avaliação do rodeio de Barretos Rita de Cássia Garcia, MSc. - CRMV-SP 5653, Mônica Almeida - CRMV-SP 15977 e Vânia de Fátima Plaza Nunes - CRMV-SP 4119

I - INTRODUÇÃO O termo rodeio vem do espanhol “rodear” que significa “juntar o gado”. Nos Estados Unidos, ao final do século XIX, atividades resultantes da rotina da fazenda passaram a ser exibidas pelos vaqueiros para ganho de apostas. No Brasil, tal evento vem sendo divulgado e praticado intensamente nos últimos anos em diferentes municípios com maior ou menor estrutura (PRADA, 1998). Várias provas são realizadas durante um evento de rodeio e em cada uma o uso de instrumentos pode ser diferenciado (sedém, peiteira, sino, espora, chicote, choque, etc), seja para o manejo do animal ou para incitar um comportamento diferente do padrão fisiológico. As montarias em cavalos e touros são as provas mais tradicionais e conhecidas, devendo o peão permanecer durante oito segundos sobre o animal. Para compor a pontuação além do tempo de permanência do peão sobre o animal, também é considerada a movimentação e postura do animal, isto é, quanto mais “selvagem” seu comportamento, maior o número de pontos que cada peão alcança (Rev. ANIMAL'S AGENDA 1990 apud PRADA, 1998). O sedém é um instrumento feito com corda ou faixa de diferentes materiais que é amarrada e retesada ao redor do corpo do animal na região da virilha (“vazio”), área considerada muito sensível devido à localização de órgãos genitais e à pele mais fina desta região em relação ao resto do corpo. Nos bovinos o sedém passa sobre o pênis e nos cavalos passa em uma região mais anterior ao prepúcio. É observado que o animal reage por meio de pulos, coices, corcoveios para livrar-se dos instrumentos. Funções ligadas à auto-preservação e à perpetuação da espécie são acompanhadas de motivação instintiva de tal maneira que qualquer ameaça a elas é sentida prontamente. Nessas circunstâncias o animal encontra-se na vivência de sofrimento mental, pois tem substrato morfológico em seu cérebro tanto para o processamento dos estímulos recebidos quanto para a avaliação do que está acontecendo (PRADA, 1988). Existe uma identidade de organização das vias neurais da dor no ser humano e nos animais sendo que não se pode afirmar que os animais não sintam dor ou estejam em sofrimento físico e mental com o uso do sedém. Dor é uma sensação subjetiva e, como tal, de difícil avaliação por outro individuo. A hipótese de que os animais sintam apenas

cócegas também não encontra, metodologicamente, nenhuma base científica, uma vez que a sensação “cócegas” é subjetiva. (BIBLIOGRAFIA) A peiteira consiste em corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal logo atrás da axila. Durante sua utilização suas tiras se acomodam exatamente no trajeto superficial do nervo torácico lateral que enerva a porção mais anterior da parede lateroventral do tronco, inclusive a região de prepúcio, e também do plexo braquial. As esporas, tenham ou não as pontas rombas, provocam lesões nos animais sob a forma de cortes na região cutânea, hematomas e muitas vezes perfuração do globo ocular. A gravidade da lesão depende da força e repetição dos movimentos ou esporadas. Algumas lesões, em especial os hematomas, só são percebidas horas ou dias após o término da prova, quando o animal refuga ao ser tocado ou se percebe aumento de volume local com calor e sensibilidade moderada nos pontos de lesão. O termo estresse, empregado nessa avaliação técnica significa: “conjunto de alterações emocionais, comportamentais e físicas em um indivíduo submetido a um estimulo nocivo, seja este estímulo físico e/ou mental”. A resposta a um estresse se desencadeia em situações em que o animal se sente ameaçado. Há, então, um aumento na secreção do hormônio liberador de corticotropina (CRH), o qual é produzido pelo hipotálamo que, por sua vez, atua estimulando a liberação do hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), produzido pela adenohipófise e, por fim, a secreção do cortisol pela adrenal. O primeiro hormônio produzido pelo hipotálamo é inibidor da ingestão de alimento. O estresse intenso e continuo aumenta a incidência de enfermidades infecciosas, já que atua sobre o sistema imunitário prejudicando a sanidade dos animais. Ao se sentir ameaçado, agredido ou assustado, o organismo animal automaticamente se prepara para essa situação. Taquicardia, aumento da pressão arterial, dilatação dos brônquios, aumento de aporte sanguíneo para os músculos, diminuição de sangue periférico e dilatação das pupilas (midríase) são algumas das reações fisiológicas desencadeadas pelo estresse. No ambiente da arena de rodeio, mesmo com a alta intensidade luminosa, nota-se que os animais apresentam midríase, indicativa da Síndrome de Emergência de Cânon, que caracteriza claramente a presença de sofrimento mental.

O bem-estar animal pode ser definido como ausência de sofrimento e, além das considerações éticas e legais que podem ser consideradas, a sua falta ou prejuízo traz conseqüências negativas para o indivíduo, afetando principalmente a sua sanidade. Os trabalhos científicos atuais sobre ocorrência de estresse em animais são concordantes quanto às conseqüências desastrosas, de ordens físicas e mentais, que incidem sobre esses animais. MALINOWSKI, 1993, relata que quando o animal está estressado, há ativação do sistema nervoso simpático, o que potencializa a liberação de catecolaminas, epinefrina e norepinefrina, com conseqüente aumento da freqüência cardíaca, da pressão sangüínea e da freqüência respiratória. Com a continuidade do estímulo estressor, há ainda ativação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, o que resulta na liberação de glicocorticóides da glândula adrenal, que aceleram o metabolismo da glicose a fim de prover energia para que o animal consiga escapar da situação de estresse. Embora os glicocorticóides sejam benéficos para que o animal enfrente o estresse, a liberação em excesso destes hormônios implica em condições prejudiciais que incluem comportamento agressivo, diminuição do crescimento, diminuição da capacidade reprodutiva, aumento da ocorrência de distúrbios gastrintestinais e imunodepressão. A imunodepressão implica na diminuição ou perda da capacidade do organismo de se defender contra a invasão de agentes infecciosos, como vírus, bactérias e fungos, causadores de inúmeras morbidades. Em outras palavras, um organismo submetido a estresse não sofre física e mentalmente apenas no momento do estresse mas fica, por assim dizer, “marcado” para sofrer uma série de danosas conseqüências tardias, a médio e a longo prazos. A repetição de utilização, treinamento e uso em provas de rodeio potencializam o efeito do estresse nos animais. Em 2006, MELEIRO estudou a relação existente entre esforço físico e resposta imunológica em eqüinos da raça Puro Sangue Inglês, submetidos a treinamentos e corridas. A pesquisa concluiu que os animais submetidos a situações de estresse (esforço muito intenso), mesmo que de curto prazo, tiveram comprometido o seu sistema de defesa imunológica. Apresentaram alterações em células como neutrófilos e linfócitos, bem como aumento dos níveis séricos de cortisol, denotando-se a integração dos sistemas neuroendócrino e imune.


TORMEN, 1999, estudou as respostas leucocitárias ao estresse da montaria e conclui que os touros alvo do estudo apresentaram diferenças significativas na contagem global de leucócitos entre os instantes logo após, 3-5 horas após, e 5 dias após as provas de rodeio indicando quadro de estresse. A cidade de Barretos, distante cerca de 450km da capital paulista, foi no passado ponto de encontro dos tropeiros vindos de todas as partes do país em direção ao Sul. Em 1955 foi criado o clube Os Independentes, tendo como foco principal promover ações, por meio de festas, para arrecadar fundos para as entidades assistenciais da cidade. A inspiração para o tema das festas veio das lidas na fazenda e das disputas realizadas próximas aos currais, onde os peões que conduziam o gado nas comitivas pelas estradas se reuniam após a viagem e por diversão desafiavam a força dos cavalos indomados. A primeira festa organizada ocorreu em 1956. Esse relatório apresenta uma avaliação das questões técnicas relacionadas ao bem-estar dos animais utilizados na Festa de Barretos de 2006. II - MATERIAIS DE MÉTODOS A avaliação do bem-estar dos animais foi realizada durante vistoria feita por três médicas veterinárias do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC) nos dia 24 de agosto de 2006 das 19h até às 2h e 25 de agosto de 2006 das 11h às 23h. Foram registrados fotograficamente e com vídeos o manejo com os animais no alojamento, e no pré, trans e pós evento ou provas. Foi avaliado o bem-estar dos animais levando-se em consideração os seguintes critérios: 1. interação humano/animal; 2. interação do animal com o meio ambiente; 3. comportamento do animal e estado mental; 4. estado físico; Foram avaliadas crueldades e maus tratos aos animais levando-se em consideração os seguintes critérios: 1. manejo (não etológico); 2. presença de lesões físicas III - RESULTADOS 3.1 - Ambiente Em todos os ambientes ou locais onde os animais permaneceram antes, durante ou após serem usados, houve a separação por espécie. Os ambientes podem ser divididos em: a. Ambiente de espera para provas, dividido em dois tipos: i. local A: local com espaço maior onde os animais ficam horas antes do início das competições, e ii. local B: local menor ligado por um

corredor, onde são mantidos os animais momentos antes das provas; b. Ambiente para “aquecimento” dos cavalos que participam da prova do tambor. Área pequena próxima à arena onde são disputadas as provas; c. Ambiente de realização das provas: duas arenas foram utilizadas durante os dias de acompanhamento do evento. A maior, utilizada no período noturno, e uma menor, utilizada entre 14h e 17h, para a competição infanto-juvenil. Instalações da área de provas eram constituídas da seguinte maneira: • dois corredores de piquetes para alojamento de bovinos e eqüinos com um corredor externo para entrada e saída dos animais com acesso à área de embarque e desembarque, na área de entrada de público; • um corredor central entre os piquetes, para entrada e saída apenas de pessoal autorizado, eventualmente os animais também são deslocados para dentro ou fora dos recintos. Toda esta área está constituída por piso de terra batida e areia; • um corredor lateral à pista principal do recinto,para deslocamento de grupos de animais mas também de pessoas, com grande risco de acidentes. d. Ambiente para descanso dos animais (alojamento dos animais, local onde pernoitam os animais): Os eqüinos foram alojados de forma precária em piquetes improvisados ao lado dos trailers e barracas. No ambiente de espera para provas todos os bovinos e eqüinos, com exceção dos que participavam da prova do tambor, ficaram alojados em número excessivo, junto à arena, durante horas antes do inicio das provas, com barulho intenso de músicas e narrações do evento. Os bovinos foram alojados da seguinte maneira: • Os bovinos das provas de montaria foram alojados para descanso em grupos de tamanho variado sendo que na maioria das vezes os animais de cada piquete pertenciam a um mesmo proprietário. Esses piquetes foram feitos de mourão de madeira e cabo de aço, possuíam tamanho variado, piso de terra batida, sem capim. Os cochos eram feitos de forma improvisada, muito baixos e sem cobertura. Os bebedouros foram feitos de alvenaria, porém com pouca quantidade de água em todos dos diferentes piquetes no momento da vistoria. Alguns estavam em péssimo estado de conservação, com parte das paredes destruídas e água escorrendo pelo piquete, criando diversas áreas de alagamento. Nestes piquetes de alojamento não existia qualquer local de sombreamento para proteção do sol ou chuva, nem coberturas artificiais ou naturais como árvores. Foi observada grande

quantidade de material particulado em suspensão (poeira) durante todo tempo de permanência da visita. Cerca de 150 a 200 animais, todos bovinos inteiros, de diferentes raças ou mestiços, foram mantidos nestas instalações localizadas longe da área de provas e da circulação do público. Observou-se que muitos animais ameaçavam uns aos outros com brigas, e que animais menores mantidos nos mesmos piquetes que os maiores tinham dificuldade ou mesmo não conseguiam acesso a água por limitação de outro animal. • Os bovinos (novilhos e/ou garrotes) utilizados na prova de “team penning” foram alojados em lotes de 30 animais, em piquetes específicos recebendo a mesma alimentação dos bovinos da prova de montaria. • Os bovinos utilizados nas provas de montaria foram alojados conjuntamente em piquetes menores por várias horas antes do evento, com altíssima lotação, ao lado do recinto da prova, praticamente sem espaço para deslocamento. As instalações ao redor do recinto oferecem, tantos aos animais como as pessoas, riscos de acidentes por serem precárias, possuírem improvisações para trânsito, pontas de madeira, caibros na altura do trânsito de pessoas etc. 3.2 - Transporte O transporte dos eqüinos utilizados na prova do tambor foi feito de forma individual em trailer, caminhonetes ou caminhões específicos para esse fim. Para o transporte dos demais animais, entre a propriedade de origem e o evento, e o transporte dentro do parque (do local para descanso até os piquetes de espera e recinto de provas), foram utilizados caminhões semelhantes aos modelos para transporte de bovinos para abatedouro, com acesso para embarque e desembarque, por corredores de madeira. A limpeza interna era precária com excesso de fezes e resíduos de capim em alguns destes veículos. 3.3 - Cuidados sanitários Os cuidados sanitários dispensados aos animais resumiram-se apenas à verificação dos dispositivos legais para trânsito e entrada de animais de grande porte em recintos de eventos. A quantidade e espécie dos animais presentes muitas vezes não coincidiam com a documentação apresentada. O veterinário responsável pelo evento relatou que só após o término do rodeio se saberia o número total de animais presentes, não havendo, portando, um controle sobre a documentação dos animais. Em nenhum momento foi observada a presença do veterinário do serviço de agricultura municipal ou regional, de acordo com a determinação da legislação


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sobre o tema, para a observação do cumprimento de condições legais para realização do evento. 3.4 - Cuidados com a sanidade e bemestar dos animais O evento possuía um médico veterinário responsável, médicos veterinários avulsos e muitos estagiários ainda não formados em medicina veterinária com uma camiseta escrita “VETERINÁRIO”. Não foi observada nenhum tipo de vistoria dos animais antes da realização das provas. Somente quando as médicas veterinárias do ITEC faziam as vistorias dos animais algum técnico do evento as acompanhava. Os animais usados nas provas só eram removidos para o local de descanso após o término de todo o evento, aumentando o estresse dos mesmos. Não foi feita nenhuma fiscalização dos instrumentos que cada peão trazia e utilizava nas disputas de provas. Animais que sofriam trauma durante as provas não eram atendidos imediatamente. No primeiro dia da visita não foi acompanhado ou percebido qualquer atendimento a animais durante a prova ou nos períodos de descanso. No segundo dia alguns animais apresentaram quadros variáveis de desidratação, ferimento por coice, quadro de desconforto abdominal não esclarecido, lesões no corpo sendo em sua maioria nas laterais do abdômen e costelas e também quadros variáveis de claudicação. Segundo lei federal 10.519/2002, que trata do tema de serviço veterinário e atendimento das ocorrências, é necessária a presença de médico veterinário durante todo o evento. O profissional do serviço da agricultura, também deve permanecer no evento durante todo tempo sendo ele o responsável pelo controle da documentação de trânsito de animais e exames de sanidade. Entretanto o segundo profissional citado não foi identificado em nenhum momento nos dias da vistoria, apesar dos inúmeros questionamentos de sua presença, inclusive para esclarecer sobre o número de animais por espécie presentes ao evento em questão. 3.5 - Treinamento dos animais Segundo informação dos proprietários de animais e participantes do rodeio, a preparação dos animais começa quando o animal é jovem, sendo a seleção feita por apresentarem características compatíveis com as exigências de cada modalidade de prova. Por exemplo, os animais mais ariscos e inquietos durante a manipulação são em geral os escolhidos para as provas de montaria. Para facilitar o manejo durante os rodeios, as animais passam por fases de

“condicionamento” na própria fazenda, sendo submetidos a longas horas de ruído e iluminação intensa por dias seguidos, em especial á noite. Portanto, os animais utilizados em rodeio já vêm de experiências prévias, causadoras de estresse, geradas na fazenda ou outro local de alojamento e permanência entre provas. 3.6 - Cuidados com os humanos As áreas laterais de manutenção dos animais, utilizados nas provas, localizada na entrada da arena são também utilizadas para que os peões troquem de roupa ou vistam as roupas de montaria e preparem-se para as provas com seus apetrechos específicos necessários e permitidos para cada prova, como luvas, calças com franjas etc. Observou-se que mesmo nos horários mais tardios, ou seja, após as 24 horas há grande permanência de crianças inclusive menores de dois anos, que ficam muitas vezes embaixo de alto-falantes com ruídos de alta intensidade por horas seguidas. Algumas crianças estavam desacompanhadas de adultos e não foi identificada nenhuma fiscalização ou presença do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente. O socorro aos acidentes de pista só foi observado no segundo dia. Ocorreram cinco acidentes de gravidade variável envolvendo humanos e animais. Uma amazona participante da prova de tambor conteve o animal de forma súbita e o animal reagiu parando abruptamente. Ela se desequilibrou e caiu batendo a cabeça no chão, começando imediatamente a convulsionar. Houve um intervalo de cerca de 15 minutos para a amazona ser socorrida e removida para o hospital municipal de Barretos. No evento noturno ocorreram quatro acidentes, todos em montaria. Os peões foram removidos para atendimento médico primário em ambulatório no próprio parque. A remoção foi feita com uma ambulância tipo furgão. Por vezes houve demora para que o veiculo adentrasse à pista, sendo necessário a remoção da vítima primeiro com um pequeno trator para área com piso mais compacto, para posterior acomodação na ambulância, uma vez que o piso de areia espessa oferece dificuldade para deslocamento da ambulância. Os acidentados eram removidos sem imobilização. O recinto apresenta fluxos onde passam os animais e também os humanos, apresentando um grande risco de acidentes. Um destes fluxos é na lateral da arena, para condução de animais para o lado oposto de onde desembarcam. Essa lateral é utilizada pelos participantes do

rodeio. Quando os animais vão passar, algumas pessoas começam a gritar “animal passando” e quem está nesse corredor lateral deve rapidamente subir na estrutura metálica para não ser atropelado pelos animais. Durante os intervalos e antes do inicio das provas, no período noturno, aconteceram shows com utilização de motocicletas. Os motociclistas que estavam fazendo acrobacias convidavam mulheres da platéia para estarem na garupa da motocicleta, sem que estas utilizassem capacete, colocando em risco a segurança dos motociclistas e das mulheres. 3.7 - Equipamentos As cordas, sedéns, peiteira, selas e esporas foram fornecidas pelos organizadores, segundo os médicos veterinários responsáveis, “dr. Kico e prof. Tenório'' tendo as esporas o mesmo padrão, sendo fixas para bovinos e móveis para eqüinos. Todas as que vimos apresentavam pontas rombas e de ferro. As esporas têm por finalidade fixar os pés do peão ao animal ou “incentivar” a realização dos pulos na arena no caso das provas de sela. Para auxiliar na condução dos animais dentro das instalações, entrada no brete de contenção e preparo para a prova é utilizado um “condutor” (choque) equipamento que produz um choque elétrico de 6 volts de acordo com os veterinários responsáveis “dr. Kiko e o prof. Tenório” (idealizador do equipamento). Tal equipamento de condução contraria a legislação que regra a atividade de rodeio, pois esta proíbe o uso de qualquer estimulo elétrico na condução dos animais durante todo e qualquer etapa do evento e provas. A utilização do choque foi detectada nos bastidores da arena para o manejo dos animais (manejo não etológico). Foi tanto utilizado pelos funcionários como, em algumas situações mais dificultosas, pelo veterinário responsável. 3.8 - Temperatura A temperatura ambiente durante o evento era bem elevada inclusive no período noturno. A realização da festa foi em período de seca prolongada o que levava a uma baixíssima umidade relativa do ar. A presença de grande quantidade de material particulado em suspensão associado à baixa umidade do ar, falta de sombreamento e excesso de lotação dos piquetes de descanso e espera, aumenta a condição favorável de estresse, o que aponta baixo nível de bem estar animal. Reforçando a condição negativa a que são submetidos os animais nestas provas e em todo evento. 3.9 - Som e luz A capacidade auditiva dos eqüinos é maior que a humana não apenas com a


maior capacidade de percepção de sons de menor intensidade, baixa freqüência, mas também em relação à sensibilidade aos sons mais elevados. Devido ao som em alto volume, observou-se que os animais apresentavam intensa movimentação das orelhas buscando minimizar o incômodo permanente, quer seja nos piquetes de espera, nos bretes ou na arena. O ambiente apresentava muitas luzes de alta intensidade e volume de som muito acima do adequado para espécies bovinas, eqüinas e para os humanos presentes. 3.10 - Provas vistoriadas • Prova do tambor: foi disputada apenas por mulheres. Antes da prova os animais eram submetidos á atividades de aquecimento em grupo pelas próprias competidoras ou tratadores. No dia 25/08/2006, durante a vistoria do ITEC na fase de aquecimento dos animais, havia ao redor de quinze cavalos sendo preparados, observou-se que três deles apresentavam quadro de claudicação, sendo que um deles mancava de maneira mais evidente com o membro anterior direito e possuía nesse uma faixa. Mesmo assim o animal foi utilizado na Prova e não havia ninguém da organização, nem o médico veterinário responsável, para avaliação dos animais antes da realização da prova. • Prova de sela (berbec e cutiano): os eqüinos que realizaram a prova de sela eram de proprietários que tradicionalmente mantêm fazendas de criação com finalidade específica para participação em provas no Circuito Nacional de Rodeio. Estes animais, segundo alguns dos criadores entrevistados, foram selecionados justamente por apresentar um comportamento mais “agitado” desde jovem recebendo desde sua seleção treinamento e condicionamento para as provas em ambiente de rodeio. Esses animais passam a ser estimulados e instigados a um comportamento agitado e nervoso durante toda a sua vida, ao contrãrio do recomendado em um manejo natural ou etológico. Antes do inicio da prova, os animais ficam em bretes de contenção, já nos bastidores da arena, passando muitas vezes mais de hora nesse local com restrição de espaço e visibilidade, submetidos às luzes e ruídos de alta intensidade, fazendo com que os animais permaneçam em condição de alerta intenso por longo período. Esta condição fisiologicamente significa a liberação de substâncias biológicas específicas como a adrenalina (levando a quadro de taquicardia, taquipnéia, aumento do débito cardíaco, etc) que leva a condição de estresse de longa duração, sendo que este quadro se

repete por dias seguidos. Nessas provas os animais são instigados a saltar de forma veemente e intensa, pois a pontuação ocorre de acordo com o grau de dificuldade oferecida pelo animal e a capacidade do peão de se manter sobre o animal por 8 segundos. Na presença de luz, em situações de reações normais e fisiológicas do organismo das diferentes espécies, a pupila tende a diminuir de diâmetro (míose). Ao contrário, a midríase acontece na diminuição ou ausência de luz, na vigência de processo doloroso intenso e na vivência de fortes emoções (medo, pânico, sofrimento, estresse) e que acompanham situações de perigo iminente, caracterizando a chamada “Síndrome de Emergência de Cânon” (“to fight or to flight” - lutar ou fugir). Foi observado que durante as provas os olhos dos animais apresentaram grande área arredondada, luminosa, conseqüente à dilatação de sua pupila (midríase), oposto que se esperava fisiologicamente na situação apresentada. Foram observados muitos chutes nos animais durante sua permanência no brete. Durante o tempo de espera para inicio das provas de montaria em sela cutiano, foi observado em um brete um eqüino macho de aproximadamente 400kg, que permaneceu fechado em espaço exíguo do recinto de contenção por cerca de uma hora. Subitamente o animal começou a se debater dentro do brete erguendo membros anteriores e dando manotadas no ar, prendeu suas patas dianteiras no espaço entre a porta do brete e o batente e quando conseguiu retirá-las o animal escoiceou a porta traseira insistentemente por alguns minutos. Os peões responsáveis por esse eqüino o acalmaram mantendo-o preso dentro do brete. Em nenhum momento o animal foi examinado ou avaliado para determinações de possíveis lesões ou ferimentos. Cerca de quinze minutos depois o animal foi montado por um peão em uma prova de sela cutiano. Quando o responsável por aquele animal foi questionado em qual momento haveria uma avaliação clínica do eqüino, este informou que se houvesse algo errado seria percebido durante a prova. Em relação ao comportamento apresentado pelo eqüino seu proprietário alegou ser normal, segundo ele o animal de doze anos era muito impaciente. Os animais apresentavam marcas provocadas pelas esporas na região de tórax, abdômen e pescoço. • Provas de montaria: provas se desenvolvem com a entrada dos animais dos dois lados do recinto alternadamente. Os animais são preparados dentro de um brete de contenção. Quando o portão é aberto uma pessoa fica segurando a

ponta do sedém e, ao animal sair, o sedém é apertado ao máximo pelo peão auxiliar, por meio de um tranco. Em seguida o portão é aberto e o sedém que antes poderia estar sem muita pressão no corpo do animal para que ele não tivesse reação dentro do brete de contenção, é pressionado ao redor do corpo do animal da forma mais intensa possível a fim de que o animal pule com insistência para se livrar do mesmo. Muitas vezes, o movimento intenso do animal faz com que a corda do sedém se afrouxe antes do esperado pelo peão o que pode levar o animal a diminuir a intensidade do pulo e neste momento o uso das esporas se torna cada vez mais intenso em batidas repetidas e violentas em diferentes partes do corpo do animal, especialmente a região do pescoço e cabeça. Os animais apresentavam marcas provocadas pelas esporas na região de tórax, abdômen e pescoço. Antes da entrada, os animais foram manejados no ambiente anterior e lateral aos bretes com choque elétrico (pelo condutor) e chutes (pelos peões). Os olhos dos animais apresentaram grande área arredondada, luminosa, conseqüente à dilatação de sua pupila (midríase), oposto que se esperava fisiologicamente na situação apresentada. Foram observados os bovinos em brete e em corredores e constatado existir uma significativa diferença no ritmo respiratório normal dos animais apresentando a maioria deles quadro de taquipnéia, embora aparentemente estivessem quietos e imóveis. O espaço para movimentação é inexistente, obrigando os animais a permanecerem imóveis por longo período de tempo. Durante a espera nos bretes e corredores, o barulho é alto constantemente com intensa e enérgica movimentação de pessoas ao redor dos animais. Em geral a espera para provas é de no mínimo duas a três horas tempo no qual os animais são mantidos confinados, sem qualquer supervisão de humanos . • Provas de “bulldog”: o objetivo é derrubar o novilho com as mãos pelo pescoço por meio de pressão e torção. O peão competidor da prova montado em um eqüino se desloca pareado ao novilho em velocidade. Outro peão (estereiro), corre tocando o animal contra o competidor evitando que o animal possa escapar pela lateral. Quando o peão se sente seguro, ele se joga sobre a cabeça do animal segurando-a e torcendo com violência o pescoço até que o novilho caia no chão e o mantém seguro para que não toque com nenhuma das patas o solo. O peão deve manter a cabeça e pescoço do animal junto ao solo e normalmente o faz com auxílio do joelho e das mãos forçando a cabeça, todo tempo contra o solo. Quanto


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mais rápido o peão derrubar o animal mais pontos fará. Nessa prova foram presenciadas muitas situações de alta violência empregadas contra os animais, que apresentavam midríase e respiração ofegante, muito tempo após o término da prova. Ao final da prova, cerca de 15% dos animais ao se levantarem após serem soltos, apresentaram claudicação e escoriações. Vale ressaltar que enquanto os animais aguardam no brete para entrarem na arena suas caudas são torcidas e os animais estimulados com o toque de paus ou pés e mãos dos peões. A informação dada é de que desta forma o animal sai em maior velocidade dando agilidade a prova. • “Team-penning”: Para provas como o “team-penning” são utilizados animais de faixa etária e fenótipo semelhante simulando um lote de animais para lida. Estes animais em geral são animais de pouco tecido adiposo, temperamento dócil e que são repetidamente manejados nestas provas e passam por treinamento constante. Para esta prova, segundo os organizadores e proprietários, os animais são escolhidos de forma diferente dos demais, sendo os mais frágeis, pequenos e que se mantém mais facilmente unidos quando da lida da fazenda, para facilitar que se alcance a meta da prova, que é a condução dos animais para uma área determinada e cercada no menor tempo possível, a prova é disputada por um trio de peões. 3.11 - Avaliação do estado físico e comportamento dos animais Os animais apresentavam expressões de medo, angustia e incômodo por diferentes fatores ambientais a que são submetidos durante todo o tempo de permanência em ambiente estranho a sua rotina. Foram observados sinais como intensa movimentação de orelhas, constantes mudanças do foco do olhar, movimentação de narinas para aspiração de odores, tremores labiais freqüentes em eqüinos, mudança freqüente da posição dos pés sem espaço para mobilidade de todo corpo, batidas de casco no chão pelos eqüinos, midriase, mesmo na presença de luz intensa. Todos esses sinais em herbívoros demonstram sinais de incômodo permanente, alerta constante e muitas vezes preparação para fuga. 3.12 - Provas para crianças e adolescentes Havia uma arena menor localizada próxima a entrada do público, onde se realizavam as provas de montaria com peões adolescentes no período da tarde. O local para descarregamento e carregamento dos animais era precário. Muitos animais que se recusavam a sair

dos caminhões foram chutados e empurrados com pedaços de paus. Foram detectados pelo menos seis animais que sofreram soluções de continuidade no momento do descarregamento. Após as provas, o carregamento dos animais também se apresentou difícil devido ao barulho, à inadequação das rampas dos caminhões, ao estado emocional dos animais e ao barulho do ambiente. No período da tarde do dia 25 de agosto, por mais de uma hora tentou-se encaminhar um touro da “prova júnior” para o corredor de saída, sem sucesso. Havia intensa movimentação de pessoas não apenas nas arquibancadas, mas também no entorno e dentro deste recinto, o animal investia de forma intensa contra todos que tentavam se aproximar para remover o sedém que ficou preso. O animal apresentava comportamento de intenso incômodo e estresse. A platéia ficou incentivado as pessoas a manejarem de qualquer maneira o bovino. As provocações para atrair a atenção do animal o deixavam cada vez mais inquieto, ele buscava uma saída que não fosse por onde já havia passado. Os peões manejaram o animal com violência e conseguiram, por fim, encaminhá-lo para á área situada antes do embarque. Todas as tentativas de abordagem para remoção do sedém e condução do animal para o corredor só aumentavam a angústia do animal pois eram movimentos bruscos, ruidosos, intensos, muitos tapas, cutucões em diferentes partes do corpo do touro. 3.13 - Condições da Cidade de Barretos durante o evento Moradores da cidade relataram que muitos deixam a cidade durante o período da festa, indo para outras localidades. Esses moradores relataram que ocorre grande depredação da cidade como um todo e que as autoridades locais não tomam nenhuma providência. A depredação ocorre mais em postos de gasolina, restaurantes e lanchonetes. Nos postos de gasolina visitados, o fornecimento de água é cortado, bem como outros serviços, por medo dos proprietários da ocorrência de depredação e da ocupação do pátio desses locais pelos participantes que permanecem nas ruas, após o rodeio, ingerindo bebidas alcoólicas. Foi observada grande quantidade de resíduos esparramados pelas ruas da cidade, especialmente embalagens diversas de cerveja, outras bebidas alcoólicas e significativa quantidade copos descartáveis. IV - DISCUSSÃO Durante a realização do rodeio de Barretos de 2006 foram observadas inúmeras irregularidades com prejuízos para os animais, podendo ser diagnosticados como

maus tratos e crueldades e/ou negligência e/ou diminuição do bem-estar dos animais individualmente ou do grupo de animais. Também foram observados prejuízos para os seres humanos. Nas provas realizadas na festa do peão em Barretos, (provas de sela em bovinos, eqüinos, prova de três tambores, prova de “bulldog” e “team penning”), foram utilizados animais classificados como animais domésticos acostumados ao contato com seres humanos. Apesar de uma aparente docilidade compatível com o temperamento linfático dos bovinos, cuidados relacionados à segurança devem ser tomados, pois são bastante conhecidos os acidentes provocados por touros com sangue europeu se mantidos em baias, como por exemplo o esmagamento dos tratadores contra a parede da baia pela cabeça do animal. Já os eqüinos de temperamento mais “quente” também podem em situações de grau variado de medo, estresse ou quando vêem sua segurança ameaçada apresentarem comportamentos atípicos a normalidade, mas característicos e justificados pela situação a que estão expostos. A utilização de animais para outras atividades que não aquelas que lhes possibilitam um comportamento e movimentações naturais a sua espécie e estrutura osseomuscular, pode levar a ocorrência de lesões físicas nesses indivíduos, de forma temporária ou permanente, dependendo da intensidade e freqüência das ações. Ações que o animal vivencia com dor (física) e sofrimento (mental) podem leválo a quadros de estresse que comprometem severamente sua fisiologia podendo levar o animal ao desenvolvimento de alterações mentais e comportamentais ou levá-lo ao óbito. Animais são seres sencientes, ou seja, tem capacidade de fruir sensações de alegria, felicidade e de dor/sofrimento, portanto não são máquinas cartesianas como se supôs durante muitas décadas no passado, tendo as mesmas estruturas das vias neurais da dor, que a espécie humana. São, portanto animais que podem experimentar também sensações e emoções de medo, angustia, sofrimento e aflição, que devem ser interpretadas de acordo com suas características etologicas específicas a cada espécie. São também seres inteligentes, o que a ciência tem sido demonstrado metodologicamente em grande número de pesquisas nas últimas décadas. Podemos citar além dos inúmeros trabalhos científicos publicados, diversos livros, como “O Parente Mais Próximo”, de Roger Fouts, 1998; “The PréFrontal Cortex”, de J. M. Fuster, 1989; “Animal Minds”, de Donald Griffin, 1994; “Os Animais tem Alma?”, de I. L. S. Prada, 1989, que trazem claramente esta constatação.


Também hoje é fato reconhecido pela ciência, que muitas espécies animais (entre as quais os bovinos e eqüinos) apresentam estrutura cerebral complexa, o que espelha sua correspondente dimensão mental ou psíquica (Prada, 1997). Vale ressaltar que embora os animais, segundo os organizadores, sejam usados em apenas uma prova ao dia, esses animais retornam à arena para novas provas todos os dias do evento. Também passam por treinamento nas fazendas sem acompanhamento nem supervisão. As esporas para montaria são cedidas pelos organizadores sendo especificas para bovinos e para eqüinos. Para montaria de bovinos são rombas e em forma de dentes como uma engrenagem, tendo o intuito de auxiliar o peão a se fixar no animal durante o período da prova sendo seu local principal de ação a região abdominal/ventral do animal, ou a região do pescoço e alto do peito, sendo que seu uso causa lesões de maior ou menor profundidade muitas delas com supressão de pelos do local e arranhaduras pela fricção produzida. Em muitas circunstâncias estas esporas são produzidas de material cortante como alumínio, chapa de ferro ou cobre, podendo possuir pontas cortantes e causar cortes. Podem também levar a hematomas de tamanho variado dependendo da repetição de seu uso na mesma área e da área atingida. Os hematomas levam a região a apresentar grau variável de sensibilidade ao toque e manejo em dias subseqüentes. As lesões subcutâneas ou musculares nem sempre são observadas ao exame clínico. As esporas utilizadas nos eqüinos em forma de estrela e com pontas rombas têm a finalidade de golpear o animal na região do pescoço, podendo provocar contusões de gravidade variável e lacerações uma vez que a freqüência, repetição de golpes, é alta durante o tempo da prova. Ocasionalmente pode ocorrer perfuração do globo ocular uma vez que durante a prova o animal, para se livrar da aflição do peso sobre seu dorso e do incômodo das esporas, flete a cabeça para baixo para aumentar a força dos pulos e buscar se livrar mais rapidamente do agente causador do incômodo intenso. De acordo com Volmar Elias Tormem, Universidade Federal de Uberlândia, 1999, as esporas podem causar lesões entre 48,72% a 65,85% dos animais que participam dos rodeios, mesmo estando em conformidade com as especificações legais. Utilizam-se ainda sedém, peiteira e sino para equipar o bovino para prova de sela. Todos estes equipamentos têm por finalidade causar algum tipo de transtorno ao animal quer seja pela pressão, irritação, incômodo, angustia como a peiteira e o sino ou a dor que se produz

com o sedém. O sedém colocado em torno da virilha do animal, bovino ou eqüino, é fortemente tracionado no momento imediatamente anterior a abertura da porta lateral que dá acesso à arena e o animal adentra o local aos pulos. A região do baixo abdômen e a da virilha aloja o sistema reprodutivo das diferentes espécies, além de outros órgãos vitais sendo uma área bastante sensível constituída de pele fina de alta sensibilidade com numerosas estruturas nervosas para a recepção da dor e de outros estímulos. O mecanismo nato primário de defesa da integridade física (instinto de sobrevivência) e preservação da reprodução (instinto de perpetuação da espécie) faz com que a virilha seja uma região que a maioria dos animais busca proteger, podendo a compressão nessa região provocar alto grau de incômodo, desconforto, angustia e estresse. O uso do sedém induz situação semelhante aquela provocadas pelo ataque de um predador. Poucos instantes após se livrar do equipamento os animais cessam os pulos e, muito agitados e aflitos, buscam uma saída para se livrar do som elevado, da luz e a da grande movimentação do local, expressando um comportamento de fuga característico de animal sob intenso estresse. Os trabalhos científicos atuais sobre ocorrência de estresse em animais são concordantes quanto às conseqüências desastrosas, de ordens físicas e mentais, que incidem sobre esses animais. O trabalho de K. MALINOWSKI, “Stress Management for Equine Athletes. Rutgers Cooperative Extension, FS716, 1993” utiliza o eqüino como modelo, mas os conceitos apreendidos podem ser aplicados também a outras espécies, inclusive aos bovinos. Para esse autor, quando o animal está estressado, há ativação do sistema nervoso simpático, o que potencializa a liberação de catecolaminas, epinefrina e norepinefrina, com conseqüente aumento da freqüência cardíaca, da pressão sangüínea e da freqüência respiratória. Com a continuidade do estímulo estressor, há ainda ativação do eixo hipotálamohipófise-adrenal, o que resulta na liberação de glicocorticóides da glândula adrenal, que aceleram o metabolismo da glicose a fim de prover energia para que o animal consiga escapar da situação de estresse. Embora os glicocorticóides sejam benéficos para que o animal enfrente o estresse, a liberação em excesso destes hormônios implica em condições prejudiciais que incluem comportamento agressivo, diminuição do crescimento, diminuição da capacidade reprodutiva, aumento da ocorrência de distúrbios gastrintestinais e imunodepressão. A imunodepressão implica na diminuição ou perda da capacidade do organismo de se defender

contra a invasão de agentes infecciosos, como vírus, bactérias e fungos, causadores de inúmeras morbidades. Em outras palavras, um organismo submetido a estresse não sofre física e mentalmente apenas no momento do estresse, mas fica por assim dizer, “marcado” para sofrer uma série de danosas conseqüências tardias, a médio e a longo prazos. A repetição de utilização, treinamento e uso em provas de rodeio potencializam o efeito do estresse nos animais. Em 2006, MELEIRO estuda a relação existente entre esforço físico e resposta imunológica em eqüinos da raça Puro Sangue Inglês, submetidos a treinamentos e corridas. A pesquisa concluiu que os animais submetidos a situações de estresse (esforço muito intenso), mesmo que de curto prazo, tiveram comprometido o seu sistema de defesa imunológica. Apresentaram alterações em células como neutrófilos e linfócitos, bem como aumento dos níveis séricos de cortisol, denotando-se a integração dos sistemas neuroendócrino e imune. Os resultados dessa pesquisa sugerem a revisão dos momentos de vacinação dos animais, sendo absolutamente contra-indicados, aqueles subseqüentes a situações de estresse, em que os animais se encontram “em baixa” quanto à possibilidade de uma boa resposta imunológica, que é o que se pretende no esquema de vacinação. Destaque-se que, embora os dados obtidos nessa tese digam respeito a eqüinos, pelo principio da homologia (correspondência na constituição orgânica), eles podem ser considerados também em relação a outras espécies de mamíferos, inclusive a bovina, utilizada nas provas de rodeio. Ao contrário do que os defensores desses eventos relatam sobre o tratamento especial que esses animais recebem para “apenas” permanecerem na arena com o sedém durante oito segundos, há sofrimento animal não somente durante o evento e nem somente nas horas que antecedem a entrada do animal na arena, mas na fazenda onde são mantidos. Para facilitar o manejo durante os rodeios, os animais passam por fases de “condicionamento” na própria fazenda, sendo submetidos a longas horas de ruído e iluminação intensa por dias seguidos, em especial á noite, conforme relatos dos próprios peões. Portanto, os animais utilizados em rodeio já vêm de experiências prévias, causadoras de estresse, geradas na fazenda ou outro local de manutenção. É necessário que se avalie todo o procedimento de seleção, condicionamento, treinamento, transporte, uso, contenção dos animais utilizados nas provas de rodeio.


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Informe publicitário

Não existe regulamentação e regras oficiais para o desenvolvimento destas atividades nos diferentes locais do país, ocorrendo a possibilidade de adoção de métodos de contenção, estimulo e instigação dos animais para prova dos mais variados tipos e intensidade. As condições de alojamento e segurança dos animais são extremamente precárias. A ambientação é muito incipiente, mantendo os animais em grandes grupos com lotação alta por piquete, colocandoos em constante comportamento de alerta e estresse pelas diferentes origens e disputa constante por recursos como água e alimento. O alojamento é impróprio, com a presença de irregularidades de equipamentos de alimentação e fornecimento de água. A alimentação incorreta, altamente energética para os animais, aliada as condições climáticas do local são fatores importantes a serem considerados no bem-estar uma vez que os animais permanecem por cerca de doze a quinze dias nos recintos de rodeios. Muitos eqüinos em especial no segundo dia necessitaram de assistência veterinária com administração de soro devido a diferentes quadros com alterações digestivas e dores em diferentes segmentos do aparelho locomotor. Embora este relatório se proponha a avaliar riscos e danos aos animais não podemos deixar de apontar que as instalações e recursos necessários para realização das provas e eventos ligados á festa trazem inúmeros riscos á saúde e integridade física dos humanos envolvidos direta ou indiretamente com o evento. A precariedade e rusticidade de instalações sejam pelas condições ambientais e climáticas, inclusive pela falta de adoção de sistemas de segurança para eventos já estabelecidos legalmente para prevenção individual ou coletiva dos humanos durante todo evento são fatores de risco. Embora no Brasil não exista uma norma regulamentadora para realização de rodeios em outros países como a Austrália há disponível tal norma. A Regulation 259 de 1989 diz que os animais inapropriados e de difícil manejo no brete devem ser banidos de todos os rodeios e ainda que o animal que se torne excessivamente nervoso e esteja em local perigoso com possibilidade de se machucar deve ser solto imediatamente. Já a PRCA (Professional Rodeo Cowboy Association- 1997) recomenda que qualquer animal que se torne excessivamente excitado e contrariado no brete continuamente ou com repetidas tentativas de saltar fora do brete ou algum estado ou atitude que aparente perigo de se machucar deve ser solto imediatamente. Do que foi exposto, fica claro que os bovinos e eqüinos utilizados nos treinamentos e nas provas de rodeio têm estrutura

física, organização neuro-sensorial e dimensão psíquica (mental) compatíveis com a vivência de dor/sofrimento ao serem submetidos às condições em que essas provas são realizadas e, ainda, às condições em que os repetitivos treinamentos acontecem. Todos os procedimentos que os animais são expostos durante o rodeio de Barretos são abusivos tanto em relação à integridade e à saúde do corpo físico desses animais, quanto em relação à sua estrutura mental ou psíquica, uma vez que estes animais são expostos, na arena, a perseguição, abuso, negligência e maus tratos. Durante os rodeios observam-se os animais sendo subjugados para diversão humana. Esses animais merecem ser respeitados em sua capacidade de fruírem dor/sofrimento, em seu direito natural à integridade física/mental e em seu direito natural à própria vida. Ao domesticarmos os animais assumimos o papel de cuidar destes animais provendo seu sustento e prevenindo doenças, dispensando cuidados e respeito ético. V - CONCLUSÕES • Ambiente para alojamento dos animais não adequado; • Ambiente nos bastidores da arena não adequado para a manutenção e espera até o uso do animal no evento; • Corredores de acesso para a arena principal não apresentam segurança para os seres humanos devido o fluxo de animais ser o mesmo que para os humanos que estão trabalhando no evento ou participando das provas; • O transporte dos animais é inadequado para o bem-estar dos mesmos; • Cuidados veterinários insuficientes e muitas vezes inexistentes; • Cuidados com o bem-estar dos animais praticamente inexistentes; • Os animais que participam do evento passam por estresse não somente durante o evento, mas também no treinamento realizado na fazenda; • Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente não estava presente nos dias da vistoria; • Som durante o evento é inadequado aos animais e crianças presentes no local; • Foram utilizados eqüinos com lesões e que apresentavam claudicação na prova do tambor; • As provas de sela e montaria geram grande estresse aos animais; • Prova de “bulldog” é de alto risco para os animais e também seres humanos; • A Prova de “ bulldog” gera grande estresse aos animais; • Os animais apresentaram comportamentos compatíveis com sofrimento e estresse; • As provas para crianças e adolescentes

apresentaram maus tratos e negligências para com os animais; • Durante a festa há depredação da cidade; • É impossível provar que os animais não sentem dor física ou que não tenham sofrimento, quando submetidos aos procedimentos do rodeio; • A identicidade de organização morfofuncional existente entre o sistema nervoso do ser humano e o dos animais é altamente sugestiva de que os animais vivenciem sofrimento físico e mental quando submetidos aos procedimentos do chamado rodeio completo; • Durante a vistoria do rodeio de Barretos foram detectados incômodos, riscos, abusos e negligências em relação aos animais; • Foram observados muitos animais em midríase permanente, onde fisiologicamente deveria se observar míose; • Intensa movimentação dos pavilhões auriculares dos bovinos e eqüinos, durante todo evento denotando a necessidade de constante acomodação da capacidade auditiva para minimizar o incômodo do alto volume sonoro; • Os bovinos de montaria apresentaram taquipnéia observável durante todo tempo de contenção indicando estresse, angústia e aflição dos animais; • Os procedimentos que os animais foram expostos durante o rodeio de Barretos são abusivos tanto em relação à integridade e à saúde do corpo físico desses animais, quanto em relação à sua estrutura mental ou psíquica. VI - CONSIDERAÇÕES FINAIS 1. Os animais de forma geral e os utilizados no rodeio são considerados seres sencientes, isto é, têm capacidade de fruir sensações de alegria, felicidade e de dor/ sofrimento; 2. A maioria dos animais utilizada no rodeio vivencia estresse, sofrimento mental e dor; 3. As esporas, mesmo dentro das especificações, podem causar lesões; 4. O sedém causa pressão, irritação, incômodo, dor e angustia 5. O estresse causa imunossupressão; 6. O rodeio de Barretos oferece diferentes riscos de acidentes de grau variado de gravidade para seres humanos; 7. As condições de alojamento e segurança dos animais eram precárias; e inadequadas 8. Precária instalação, manutenção e qualidade da água e alimento fornecidos; 9. Evidências de maus tratos e crueldade contra os animais durante o rodeio, principalmente devido aplicação de manejo com violência (manejo não etológico); 10. Baixo ou nenhum grau de bem-estar aos animais ali presentes e utilizados nas diferentes provas.





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Responsabilidade técnica no mercado pet. Isto é possível?

ecentemente, estive na sede do Conselho de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro resolvendo algumas questões de documentação de alguns clientes meus quando mais uma vez pude presenciar uma cena desanimadora, triste e que se tornou completamente banalizada, apesar de ser criminosa, patética e mais uma prova da falta de rumo que a formação do profissional da medicina veterinária tem demonstrado nos últimos anos. Ao meu lado no balcão de atendimento estavam dois recém formados que estavam preenchendo os formulários para responsabilidade técnica, quando, ao término do preenchimento, ambos se viraram para o funcionário do Conselho e perguntaram: “E agora o que é que eu tenho que fazer dentro desta petshop? É só dar plantão no sábado e pronto?” E o colega ainda complementa a seção “dúvidas maravilhosas”: “Não, tem que ver se os medicamentos estão na validade também, esqueceu? Mas o resto eu não tenho a menor idéia do que tenho que fazer lá na loja!” O funcionário do Conselho me olhou, muito sem graça, pois conhecendo meu trabalho na área sabia que a qualquer momento eu não me calaria e daria uma resposta-orientação-bronca aos dois colegas que ali estavam ao meu lado e respondeu que não sabia informar, que o trabalho dele era somente administrativo. Os dois recém-formados saíram satisfeitos ainda comentando que iriam dar plantão aos sábados na loja e assim teriam algum dinheiro (mas e o valor da responsabilidade técnica?). Eu não dei nenhuma resposta... Pelo menos naquele instante, pois seriam palavras ao vento, e perdidas no tempo... Então comecei a me perguntar porque certas situações dentro da medicina veterinária neste país parecem ter se cristalizado de tal forma como corretas, que a classe inteira e todos os setores que convivem com ela parecem simplesmente aceitar de forma passiva estas realidades? 104

E a responsabilidade técnica no segmento de pequenos animais, ou no mercado pet, como melhor queiram denominar, é uma dessas situações. Uma situação totalmente prostituída, marginal e que beira às raias de nossas punições pelo nosso código de ética profissional. Mas a quem interessaria mudar essa situação que parece não incomodar ninguém? Ao buscar entender esta situação, e tentar achar respostas para esta pergunta tão incômoda é que escrevi meu primeiro livro Manual de Responsabilidade Técnica para Clínicas Veterinárias e Petshops há exatos dois anos, e no decorrer deste tempo percebi que não seria o suficiente e então comecei a pensar em algo mais didático, algo mais prático e de caráter educacional, e então criei um Programa de formação de responsáveis técnicos para o mercado pet, pois com as novas legislações vigentes e com a mudança acelerada dos próprios formatos do mercado pet, não há mais tempo para o tradicional fechar de olhos, para a negligência pessoal e profisssional que parece ter se tornado a tônica dentro do nosso mercado de trabalho. Há muito tempo quando eu era veterinário de um canil de criação de cães de luxo, eu conviva com os tosadores contratados e pedia sempre que eu pudesse ajudar nos banhos e no tratamento de pelagem dos animais do canil. Mas o que isso tem a ver com responsabilidade técnica? Conto essa pequena passagem de minha vida profissional pois nesse canil eu escutava uma frase da proprietária que muito me marcou: “Para mandar, tem que saber fazer!” E traduzindo para o universo da responsabilidade técnica chegamos ao grande dilema: o saber! Mas saber o que exatamente? Que conhecimento é esse que seria exigido para o exercício da função de responsável técnico em um estabelecimento pet?

por Sergio Lobato

Resumidamente para que cheguemos ao ponto rapidamente este conhecimento seria o somatório de sua formação como profissional da medicina veterinária já que do ponto de vista legal de muitas assessorias jurídicas de nosso Conselhos o entendimento é que a graduação já nos qualifica a atuar em qualquer área... Nossa, imaginem eu, um ser urbano cuidando da produção de leite em uma fazenda? Ou fazendo complicadas cirurgias ortopédicas... Visualizaram? Nem eu! Onde fica a questão da qualificação baseada na sua preferência e formação auxiliar? Entenderam onde quero chegar? Para saber ser responsável técnico, ter sido um RT seria realmente o suficiente para se qualificar a ser um agente de disseminação da informação sobre a função para outros colegas? Inicialmente sim, mas há muito mais a ser construído, um completo mix de habilidades acessórias e competências necessárias ao exercício correto, ético, lógico e profissional da função! Por isso fiquei pensando em como poderia mudar um pouco este cenário, e não só por que sou um sonhador estilo último-romântico, muito menos um ser muito politizado, mas principalmente por saber que sofro diariamente em meu dia-a-dia profissional os efeitos de ações de péssimos profissionais, seja por que não tenho como contratar profissionais para as minhas lojas, seja por que não consigo a parceria de entidades que deveriam militar na área, seja enfrentando a ira de lojistas que consideram a contratação de um RT uma

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afronta à sua independência empresarial e principalmente por que já presenciei colegas se submetendo às seguintes situações: - receber sem sequer aparecer no local; - ir ao local sem receber, em troca do pagamento de sua anuidade; - receber R$ 50,00 pela responsabilidade técnica; - receber uma cesta básica de péssima categoria com fubá e arroz com caruncho em troca da RT; - ficar sábado atendendo de graça e ganhando percentagem na vacina não ética que fica na geladeira dos funcionários ao lado das marmitas e da tubaína gelada do almoço. São em situações como essas que o mercado veterinário se nivela tão por baixo que fica difícil dizer que sou um médico veterinário na hora de negociar valores de salários e pró-labores. Preciso dizer que sou um profissional de marketing para atingir valores melhores na negociação... Triste, mas esta a realidade é encontrada no dia-a-dia. Mas como eu posso me qualificar? O importante é querer mudar essa situação. Procure sempre cursos e workshops que tenham uma carga horária mínima de seis horas pois é um universo muito grande para ser abordado. E é neste universo que residem todas as habilidades e competências necessárias para o exercício ético e profissional. Questões de biossegurança, legislação atualizada e aplicada, rotinas práticas e noções de muitas disciplinas abordadas na formação médica veterinária como clínica médica, zoonoses e prática hospitalar formam o conteúdo de um bom curso. E se eu não tenho cursos em minha região? Leia sempre! Procure livros como o do dr. Marcelo Roza, de Biossegurança em clínicas e o meu próprio livro, o Manual de Responsabilidade Técnica para Clínicas Veterinárias e Petshops, publicado pela LF Livros. Entre em contato com seu órgão de classe e veja se eles possuem material sobre o assunto. Os conselhos dos Estados de Sergipe, da Bahia, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro possuem material que versam sobre o tema de forma 106

atualizada. Empenhado em colaborar no desenvolvimento do mercado pet com competência e profissionalismo, também decidi criar projetos como palestras, workshops e mais recentemente o Curso de Formação de Responsáveis Técnicos para Mercado Pet junto com minha colega, a médica veterinária Rebecca Dung, que além de atuar na área, ainda escolheu a biossegurança aplicada ao nosso mercado como campo de dedicação de seus estudos e de suas atuações como palestrante e consultora. Mas eu tenho que fazer um curso de responsável técnico apenas para melhorar a imagem da classe? Por que investir em algo que sequer é falado na faculdade? Com as rápidas transformações do mercado pet, o advento do novo Código Civil, do Código de Defesa do Consumidor, de novas legislações em várias esferas que fiscalizam o exercício da medicina veterinária e atividades afins e com o aumento da concorrência, estar atualizado e saber ser um responsável técnico é a base para que você não seja multado ou penalizado, que sejam feitos projetos adequados às suas realidades físicas e funcionais dentro de seus estabelecimentos, que sejam evitados os desperdícios, que acidentes sejam evitados ou prevenidos e que você não tenha sérios problemas com seus clientes nos mais variados aspectos. O grande diferencial é fazer da responsabilidade técnica uma ferramenta de marketing de relacionamento com todo o mercado consumidor dos serviços disponibilizados nos estabelecimentos. É dar uma nova roupagem à esta função tão relegada à segundo plano. E quem deve fazer este curso? Muitas pessoas pensam que apenas os colegas que vão trabalhar para terceiros assinando a responsabilidade técnica de petshops e agropecuárias deveriam fazer o curso, e isso é muito preocupante pois nos mostra que os colegas que são donos de clínicas e consultórios veterinários sequer se lembram que o fato de que eles mesmos são os seus RTs, não é apenas uma economia de um salário mínimo federal, mas eles se

esquecem que dentro de suas horas de trabalho como clínicos e donos devem sim reservar pelo menos as seis horas semanais para resolver problemas relacionados ao universo, afinal para os fiscais pouco importa se você é o dono ou apenas contratado. No papel, todos são responsáveis técnicos! E é enorme o número de colegas que sequer sabem as suas responsabilidades e isso é muito perigoso pois também abre portas para o oportunismo barato que beira a ilegalidade seja no universo da fiscalização ou da oferta de pseudo-consultores que jamais fizeram parte deste mundo chamado responsabilidade técnica. Mudar é uma questão de decisão pessoal, mas é impressionante como o mercado reclama quase que diariamente de forma institucional, e nada é feito de forma institucional por isso as mudanças começam no universo pessoal... Pense nisso! Venha ser um dos participantes de nosso projeto! Com o objetivo de oferecer uma ferramenta adequada criamos este projeto que está disponível para ser levado para todas as cidades interessadas na qualificação em responsabilidade técnica: II Curso de Formação de Responsáveis Técnicos para Petshops, Salões de Banho e Tosa Clínicas e Consultórios Veterinários. O evento está programado para ocorrer nos dia 29 e 30 de setembro, das 9h às 12h e das 13h30 às 16h30, no auditório do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (CRMV-RJ www.crmvrj.com.br), localizado na Rua Torres Homem 475 - Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ. Como palestrantes estão Rebecca Dung, especialista em biossegurança, e Sergio Lobato, especialista em marketing. Se você assina responsabilidade técnica ou pretende assinar de forma ética e profissional, participe do curso que atualizará a função de RT dentro das novas regulamentações do mercado pet que serão exigidas pela fiscalização! Biossegurança, legislação, rotinas técnicas e muito mais! Informações: contato@sergiolobato.com.br e nos telefones (21) 8856-0396 e 2581-9175. O importante é atualizar-se sempre!

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!Pesquisa - saúde pública Esteróide anfíbio* Cientistas dos institutos Adolfo Lutz e Butantan isolam, a partir das toxinas da pele do sapo-cururu, dois esteróides capazes de matar o parasita causador da leishmaniose, cujos casos estão aumentando no Brasil. Uma das moléculas também é eficaz contra a doença de Chagas

A

leishmaniose visceral está avançando no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, houve um aumento de 61% entre 2001 e 2006, quando foram registrados 4.526 casos. A doença, para a qual não foi desenvolvido novo medicamento desde 1912, é fatal em mais de 90% dos casos sem tratamento. A solução para o problema pode estar na secreção da pele do sapo-cururu (Rhinella jimi). Um estudo de bioprospecção realizado por um grupo de pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e do Instituto Butantan isolou, a partir do veneno do sapo, dois esteróides ativos capazes de destruir a leishmânia, o parasita causador da doença, sem causar danos às células de mamíferos. Uma das moléculas também mata o Trypanosoma cruzi, que causa a doença de Chagas. Apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio Regular à Pesquisa, o estudo foi coordenado por André Tempone, do Laboratório de Toxinologia Aplicada do Departamento de Parasitologia do Instituto Adolfo Lutz. Os resultados foram publicados na revista Toxicon. "O foco do nosso laboratório são as doenças negligenciadas. O objetivo desse projeto era estudar os venenos de diversos anfíbios como ferramenta para a busca de novos fármacos. Depois de uma triagem feita com diversos animais, elegemos o sapo-cururu, já que ele mostrava aspectos interessantes para bioprospecção", disse Tempone à Agência FAPESP. Segundo ele, o laboratório do Adolfo Lutz prefere estudar metabólitos secundários como esteróides e alcalóides. "Essas moléculas são mais interessantes do ponto de vista farmacêutico, por serem menores e mais fáceis de sintetizar", explicou. Depois de eleger o sapo-cururu, os pesquisadores se dedicaram a todas as etapas de isolamento das moléculas. "A glândula parotóide do sapo conta com uma quantidade enorme de veneno, que tem uma toxicidade imensa. Mas, com a purificação da molécula ativa, eliminamos a

parte tóxica e testamos o elemento ativo no parasita", disse Tempone. As duas moléculas isoladas foram a telocinobufagina e a helebrigenina. Ambas se mostraram ativas contra a leishmânia. A segunda, também para o Trypanosoma cruzi. "Curiosamente, descobrimos na literatura que a telocinobufagina é produzida também pelo organismo humano. Não foi muito estudada, mas possivelmente tem funções no controle da pressão sangüínea", apontou. Bioma negligenciado A espécie de sapo estudada é típica da caatinga, uma região seca e inóspita para os anfíbios, cujo ciclo vital exige a presença de água. Essa característica contribui para a eficiência de seus mecanismos de adaptação. É possível que o animal use o veneno para se defender de predadores e também de microrganismos. "Não sabemos ainda se o sapo usa esses esteróides para proteção, mas é possível que, como vivem em um lugar seco e têm pele muito sensível, eles sirvam para defender o animal de fungos e bactérias no chão", disse Tempone. Segundo ele, o projeto teve uma contribuição fundamental do pesquisador do Instituto Butantan Carlos Jared, que realizou coleta de anfíbios em todo o país, inclusive no pouco estudado bioma da caatinga. Jared levantou a hipótese de que os esteróides são possivelmente incorporados pelo sapo por meio da dieta. "Essas moléculas já eram conhecidas em plantas da região, mas até agora não haviam sido observadas no sapo. Possivelmente elas são conseguidas pelo animal por meio de um inseto que ingeriu determinadas plantas", disse Tempone. Apesar da toxicidade da secreção da pele do sapo, os pesquisadores observaram que os esteróides, além de não apresentarem toxicidade para a célula hospedeira da leishmânia, também não têm atividade de hemólise, que é o rompimento das células vermelhas do sangue. "Tudo isso faz com que essas moléculas

sejam modelos interessantes. Agora que identificamos sua estrutura química, vamos tentar sintetizá-las e testar novos desenhos com potencial para eficiência ainda maior. O passo seguinte será a aplicação de testes em animais", afirmou Tempone, cuja pesquisa teve apoio dos pesquisadores Daniel Pimenta, do Instituto Butantan e Patrícia Sartorelli, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A doença é transmitida pela picada de flebotomíneos, hospedeiros do parasita leishmânia. O inseto se contamina ao sugar o sangue de mamíferos infectados e, ao picar um animal ou pessoa sadia, o flebótomo injeta secreção salivar com as leishmânias. A forma tegumentar da doença atinge as mucosas do corpo e causa lesões na pele, enquanto a leishmaniose visceral ataca o fígado humano e pode levar o indivíduo à morte. Presente em todo o país, especialmente no litoral e na região Norte, a leishmaniose visceral avança a passos largos em território paulista, desde que o primeiro caso foi registrado, em 1985. "Em 2007, tivemos 256 casos e 21 óbitos. Até três meses atrás, haviam sido registrados 35 casos e dois óbitos no estado em 2008", destacou Tempone. De acordo com o cientista, não há no mercado medicamentos seguros para a forma fatal da doença, pois os utilizados são altamente tóxicos. "Usamos até hoje o metal antimônio, cuja aplicação foi feita pela primeira vez em 1912. Os medicamentos são extremamente tóxicos. Para a doença de Chagas, só há um remédio, que tem 50% de eficácia se for administrado no início da doença. Mas o problema é que só se descobre a doença quando ela está avançada", afirmou. O artigo Antileishmanial and antitrypanosomal activity of bufadienolides isolated from the toad Rhinella jimi parotoid macrogland secretion, de André Tempone e outros, pode ser lido por assinantes da Toxicon em http://dx.doi.org/10.1016/j.toxicon. 2008.05.008 .

* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br/materia/9276/especiais/esteroide-anfibio.htm - por Fábio de Castro

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!Pesquisa - cirurgia Proteínas que recuperam ossos * Núcleo de Terapia Celular e Molecular da USP desenvolve proteínas recombinantes para uso na produção de um novo medicamento para a regeneração de fraturas

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esquisadores do Núcleo de Terapia Celular e Molecular (Nucel) da Universidade de São Paulo (USP) produziram em laboratório duas proteínas recombinantes que deverão ser utilizadas na formulação de um novo biofármaco destinado ao tratamento de fraturas ósseas. De acordo com a coordenadora do Nucel e da pesquisa, a professora do Instituto de Química da universidade, Mari Cleide Sogayar, as proteínas BMP2 e BMP7 estimulam a formação de tecido ósseo em reparos tanto em ortopedia como em odontologia. "Identificamos as seqüências de DNA que codificam para essas duas proteínas a partir dos bancos de cDNA do Projeto Transcriptoma da FAPESP, conhecido como Transcript Finishing Initiative, em que foram obtidas amostras de vários tipos de linhagens celulares, de diferentes tecidos humanos como estômago, fígado e próstata. Foram quase seis anos de pesquisa e desenvolvimento até chegarmos a essas duas proteínas recombinantes", disse Mari Cleide à Agência FAPESP. O Projeto Transcriptoma, resultado de parceria entre a FAPESP e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, foi conduzido de 2000 a 2003 dentro do

Projeto Genoma Humano do Câncer. O cDNA, ou DNA complementar, é o DNA sintetizado por uma molécula de RNA mensageiro em uma reação catalisada pela enzima transcriptase reversa. Quando inseridos em células, cDNAs podem levar ao aumento dos níveis da proteína codificada. "No banco do Projeto Transcriptoma encontramos dois cDNAs que permitiram amplificar as seqüências da BMP2 e da BMP7. Com as seqüências de DNA que codificam para as BMPs em mãos, clonamos essas seqüências, utilizando células de ovário de hamster e também células de rim embrionário humano, para produzir as duas proteínas recombinantes", explicou Mari Cleide. O estudo, que também correspondeu à tese de doutorado de Juan Carlos Bustos Valenzuela, foi feito no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa. Segundo a professora, o trabalho deve gerar dentro de poucos anos a formulação de um medicamento para reparos de fraturas e traumas ósseos decorrentes, por exemplo, de osteoporose ou implantes dentários. "Para criar um biofármaco precisamos de células que produzam as duas proteínas de interesse em larga escala.

Em nosso laboratório temos algumas células superprodutoras, mas ainda as estamos aperfeiçoando para que purifiquem e produzam em maior quantidade, em meio de cultura, tanto a BMP2 como a BMP7", disse. O medicamento, segundo a pesquisadora, poderá chegar ao mercado dentro de até cinco anos. "Estamos em processo de aperfeiçoamento das células superprodutoras. Em seguida, vamos iniciar a transferência de tecnologia para uma empresa farmacêutica nacional que já demonstrou interesse em produzir o biofármaco", afirmou. Medicamentos semelhantes, mas importados, estão disponíveis em clínicas odontológicas e ortopédicas no país, ainda que em baixa quantidade devido aos altos custos. "Nossa expectativa é que esse novo biofármaco seja mais de 50% mais barato do que os importados", disse Mari Cleide. O desenvolvimento das proteínas no Nucel também contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da PróReitoria de Pesquisa da USP.

* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br/materia/9064/especiais/proteinas-que-recuperam-ossos.htm - por Thiago Romero

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!Pesquisa - oncologia Nanobombas barram metástase *

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Pesquisadores da Universidade da Califórnia usam partículas com 100 bilionésimos de metro para transportar drogas diretamente a tumores, impedindo que se espalhem

ma nova estratégia para o tratamento do câncer, que usa uma espécie de bomba microscópica para carregar drogas para combater metástase, tem apresentado bons resultados nos Estados Unidos. Experimentado na Universidade da Califórnia em San Diego, o método implica, de acordo com os pesquisadores, o uso de menores doses de quimioterapia tradicional e menos danos colaterais em tecidos ao redor de tumores. O sistema de transporte de medicamento por nanopartículas foi experimentado em cânceres de pâncreas e de rim, em camundongos. Os resultados do estudo estão em artigo que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas). A nanobomba também está sendo chamada de "inteligente", uma vez que se dirige pela circulação sangüínea diretamente ao local do tumor, onde descarrega a droga para destruí-lo. O motivo da pontaria é que ela foi programada para encontrar um marcador protéico

específico, a integrina _i`3, encontrada na superfície de certos vasos sangüíneos em tumores e associada com o desenvolvimento de novos vasos e com o crescimento do tumor maligno. Os pesquisadores, liderados por David Cheresh, diretor do Centro de Câncer da universidade, observaram que a nanobomba não teve muito impacto nos tumores primários, mas bloqueou a metástase, ou seja, fez com que os cânceres parassem de se espalhar pelo organismo. O método é uma quimioterapia, mas muito mais localizada e eficiente, com grande redução na dosagem e sem causar danos em tecidos adjacentes, que é um dos piores efeitos colaterais do método tradicional. "Conseguimos atingir o efeito anticancerígeno desejado ao mesmo tempo em que empregamos drogas em níveis 15 vezes menores do que quando são usadas sistemicamente. Ainda mais interessante foi que as lesões metastáticas se mostraram mais sensitivas à nova

terapia do que o tumor primário", disse Cheresh. Tradicionalmente muito mais difícil de combater do que os tumores primários, a metástase é o que geralmente leva à morte o paciente. Os resultados destacam o potencial da terapia de combate não ao tumor especificamente, mas à fonte de sangue do tumor, o que ajudaria a prevenir a metástase. O estudo é um exemplo do uso de tecnologias inovativas na área de saúde. Engenheiros e oncologistas trabalharam em conjunto para desenhar as nanopartículas, que medem 100 nanômetros de comprimento e são feitas de polímeros à base de lipídios. Carregada com a droga doxorubicina, a partícula foi transformada em nanobomba programada para acertar o tumor que expressava a proteína _i`3. O artigo Nanoparticle-mediated drug delivery to tumor vasculature suppresses metastasis, de David Cheresh e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.

* Fonte: Agência FAPESP - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=9093

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!Pesquisa - animais silvestres Grandes carnívoros no interior * Estudo realizado na USP e publicado na Biodiversity and Conservation revela populações elevadas de carnívoros em área agroflorestal do noroeste paulista. Mas animais poderão ter dificuldades de adaptação nas paisagens fragmentadas

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vegetação nativa do noroeste paulista sofreu, nas últimas décadas, com altos índices de degradação ambiental. Ainda assim, continuam significativas na região as populações de carnívoros como jaguatiricas (Leopardus pardalis) e lobos-guará (Chrysocyon brachyurus), que, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), estão ameaçados de extinção. No entanto, um dos principais desafios dos gestores públicos e privados responsáveis pelo manejo ambiental na região é a dificuldade de adaptação desses animais às novas paisagens agroflorestais da região, cada vez mais fragmentadas. A conclusão é dos biólogos Maria Carolina Lyra-Jorge e Giordano Ciocheti em pesquisa desenvolvida no Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação (LEPaC), vinculado ao Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP). O trabalho foi publicado na revista Biodiversity and Conservation. A região perdeu cerca de 60% de sua vegetação original entre 1962 e 1992 e o que sobrou foi um mosaico de floresta, cerrado e áreas cultivadas, sobretudo cana-de-açúcar e eucaliptos. Ali, em trabalho de campo, os pesquisadores identificaram dez espécies de carnívoros, entre felinos e canídeos, em 18 meses de coleta de dados. Do total de espécies encontradas, quatro estão ameaçadas de extinção: onça-parda (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-do-matopequeno (Leopardus tigrinus) e loboguará (Chrysocyon brachyurus). “Registramos cerca de 130 animais em 18 meses. É um número alto, considerando que os pontos de coleta de dados não tinham nenhum tipo de isca ou atrativo artificial. A idéia foi trabalhar com a freqüência espontânea dos animais”, disse Ciocheti à Agência FAPESP.

O trabalho, orientado pela professora Vânia Regina Pivello, do Departamento de Ecologia do IB, que também assina o artigo, envolveu uma área agroflorestal de 50 mil hectares nos municípios de Santa Rita do Passa Quatro e Luís Antônio, onde foram espalhadas 21 câmeras fotográficas para o registro dos bichos e mais 21 canteiros de areia para o registro de pegadas dos animais. O critério de distribuição das câmeras e canteiros levou em conta a área total das diferentes classes de vegetação amostradas, entre as quais estão o cerradão, o cerrado em sentido estrito, a floresta semidecídua e a monocultura de eucalipto. O objetivo foi identificar as espécies de carnívoros presentes na área delimitada e saber como eles usam a paisagem. Adaptação flexível Os autores verificaram que os carnívoros encontrados na região têm utilizado a paisagem alterada pelo homem no interior paulista de maneira flexível. “Esses animais são mais adaptáveis a essas mudanças ambientais do que imaginávamos. Mas isso não necessariamente significa que estejam em boas condições de vida. Pelo contrário, eles estão sujeitos a novos riscos gerados pelas áreas alteradas, principalmente pelas monoculturas”, explicou Ciocheti. Ciocheti observou um número elevado de jaguatiricas se locomovendo pelos eucaliptais para alcançar outros fragmentos florestais. “Com isso, elas têm uma probabilidade maior de morrer por causa da fragmentação da floresta, devido a variáveis como o contato com insumos agrícolas. Identificamos também lobos-guará que morreram por enfisema pulmonar após terem aspirado fumaça das queimadas da cana-de-açúcar”, disse. Segundo ele, outra causa de morte desses indivíduos é o atropelamento em pequenas estradas próximas às plantações

de cana e eucalipto. Por outro lado, o estudo aponta que as plantações de monoculturas conectam trechos de vegetação original permitindo, assim, a sobrevivência das espécies e a melhor locomoção dos indivíduos. “Mas quando o eucalipto é cortado, a cada cinco anos, a paisagem fica isolada e os animais podem habitar apenas um fragmento específico de vegetação, correndo o risco de exaurir os recursos naturais do local”, afirmou o pesquisador. “Por isso chamamos a atenção, com esse estudo, para a necessidade de parcerias entre o meio científico, as empresas agroindustriais e os órgãos estaduais para a criação de mais áreas de proteção ambiental e para que o manejo dessas áreas agrícolas seja o menos impactante possível, aumentando a conectividade da paisagem e diminuindo o risco de mortalidade dos animais”, destacou Ciocheti. Outras espécies que circulam na área estudada são jaritataca (Conepatus semistriatus), quatis (Nasua nasua), guaxinins (Procyon lotor), cangambás (Mephitis mephitis) e iraras (Eira barbara). Segundo os pesquisadores, em relação à diversidade das espécies encontradas não foram verificadas diferenças significativas na ocupação dos fragmentos florestais, de modo que a comunidade carnívora como um todo explorou todas as áreas de estudo, independentemente da cobertura vegetal. Os dados coletados serviram como base para a dissertação de mestrado de Ciocheti e para a tese de doutorado de Maria Carolina, ambas defendidas recentemente no Instituto de Biociências da USP. O artigo Carnivore mammals in a fragmented landscape in northeast of São Paulo State, Brazil pode ser lido no sítio da revista Biodiversity and Conservation, em www.springerlink. com.

* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br/materia/9304/especiais/grandes-carnivoros-no-interior.htm

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WSAVA 2009

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Em 2009 o mundo da medicina veterinária de pequenos animais estará no Brasil.

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34º CONGRESSO MUNDIAL WSAVA 2009 PARA VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS

O 34º Congresso Mundial WSAVA 2009 para Veterinários de Pequenos Animais será sediado no Brasil, em São Paulo, e esperamos contar com mais de 3000 congressistas de diversas partes do mundo. Haverá mais de 35 palestrantes internacionais, com uma ampla programação especialmente preparada para a 34ª edição, que comemorará 50 anos de existência! As inscrições já estão abertas, garantindo bons descontos!

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Ecologia Respeito ao Velho Chico*

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Aziz Ab'Sáber, professor emérito da USP, critica o projeto de transposição das águas do rio São Francisco

ziz Nacib Ab'Sáber, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), criticou o projeto de transposição do rio São Francisco durante palestra na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas, SP. O polêmico projeto de transposição consiste na transferência de águas do rio para abastecer rios e açudes da região Nordeste. Ab'Sáber criticou a falta de planejamento e estudos climáticos sobre as áreas que irão fornecer e receber águas. “O projeto diz que será preciso tirar 1% das águas do rio para transpor por cima da chapada do Araripe e descer para o Ceará. Quem chegou a essa conclusão deveria conhecer melhor a climatologia dinâmica dessas regiões, que faz com que as águas do rio fiquem mais altas ou mais baixas, dependendo da época do ano. Essa porcentagem pode significar uma réstia de água em um momento ou, durante o período de chuvas nos sertões do Ceará e do Rio Grande do Norte, por exemplo, nem seria preciso enviar água do São Francisco”, disse. A poluição das águas do rio também foi abordada pelo geógrafo. “Ninguém me convence de que a transposição

fornecerá água potável para todos os que teoricamente se beneficiarão com o projeto. As pessoas que afirmam isso não entendem bem de planejamento. A justificativa é muito simples: as águas do São Francisco estão poluídas”, observou o geógrafo de 83 anos, presidente de honra da SBPC, a uma platéia que lotou um dos auditórios de maior capacidade na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Elas vêm desde a serra da Canastra e passam por muitos rios em áreas onde a cultura de soja está se estendendo com a utilização de grande quantidade de defensivos agrícolas. O rio recebe ainda a poluição que vem de rios das cidades de São Paulo e Belo Horizonte”, explicou o autor de diversas teorias e projetos inovadores na geografia brasileira. Ab'Sáber disse não ser contra o projeto de transposição, desde que seus gestores sejam corretos e não se envolvam com corrupção. “Uma das grandes coisas que aprendi em minha vida é a necessidade de ouvir o povo antes de qualquer tipo de planejamento, ainda mais em um empreendimento desse porte”, sinalizou. “Com o planejamento que foi feito, pouca gente da base da sociedade brasileira terá vantagens com esse projeto.”

Prever impactos “Para planejar é necessário estudar muito mais do que a viabilidade técnica e econômica. É preciso saber o tipo de conhecimento que conduziu aos projetos dentro de um plano de ações. Além de se preocupar com a viabilidade ambiental, ecológica e social em relação ao entorno da ocupação humana do espaço considerado, o bom planejamento envolve ainda a previsão dos impactos que qualquer projeto desenvolvimentista demanda”, disse Ab'Sáber. Segundo ele, em termos de planejamento, a previsão de impactos, que vem logo depois da análise de todas as viabilidades – e que, segundo ele, deve ser feito por pessoas independentes desvinculadas dos interesses comerciais do projeto –, é a “arte-ciência de saber o que vai acontecer em diferentes profundidades do futuro”. “O conceito de prever impactos se caracteriza pela capacidade das pessoas de entrar em um círculo de possibilidades mais viáveis do conhecimento futuro. É a análise da cadeia de conseqüências de um projeto sobre o que já está em um terreno em termos de ações antrópicas e aquilo que foi remanescente de natureza”, assinalou.

* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br/materia/9143/60-sbpc/respeito-ao-velho-chico.htm - por Thiago Romero

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Equipamentos ECG e teste ergométrico para uso veterinário em eqüinos, cães e gatos, totalmente digital com transmissão de exames e laudos pela Internet

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Sistema Ventrix Cardiofit Vx-101 VET é constituído por um equipamento de alta tecnologia e reduzidas dimensões e um software composto de quatro módulos com comunicação por meio da internet. Ele é fornecido pela Ventrix Tecnologia (www.ventrix. com.br) mediante assinatura de contrato de locação e prestação contínua de serviços e suporte operacional. Durante toda a vigência do contrato, é garantida a assistência técnica integral e gratuita ao eletrocardiógrafo (equipamento), treinamento aos usuários do sistema e permanente suporte técnico e operacional. O módulo Cardiofit Exame VET é responsável pela captação e recepção dos sinais de ECG provenientes do eletrocardiógrafo, a execução das rotinas e a formatação de diversos protocolos para a realização do teste ergométrico, a escolha entre teste ergométrico e apenas ECG de repouso, além de outros recursos. Este módulo possibilita o envio do laudo por e-mail e a gravação em mídia eletrônica conforme a escolha do cliente. O gerenciamento e comunicação dos diversos módulos é realizado pelo módulo Cardiofit Gerenciador VET, um módulo invisível ao usuário do sistema, pois se encontra instalado em um data-center disponível 24 horas por dia, 365 dias por ano. O módulo Cardiofit Laudo VET é disponibilizado apenas para médicos veterinários especializados e responsáveis pela realização de laudos de ECG. Dada a característica de disponibilidade oferecida pela Internet este módulo pode ser acessado pelos médicos veterinários autorizados, em qualquer lugar e horário, desde que se disponha de acesso a Internet. Os laudos podem ser elaborados por médicos veterinários da Central Ventrix ou por médicos veterinários indicados pelo próprio cliente desde que devidamente credenciados e autorizados pela Ventrix Tecnologia. Esta característica permite

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aos médicos veterinários especializados atuarem tanto como clientes do sistema, na realização de exames, quanto de fornecedores do mesmo, isto é, na emissão de laudos de ECG veterinários. Por fim, o módulo Cardiofit Administrador VET, responde pela realização dos cadastros, dos veterinários, administradores, acessos, equipamentos, gerenciamento do sistema, emissão de relatórios e outros controles operacionais. PRINCIPAIS DIFERENCIAIS • ECG e teste ergométrico – tudo em um único sistema. • A melhor relação custo x benefício do mercado. • Não utiliza papel ou tinta especial – sistema totalmente digital, com exames e laudos transmitidos automaticamente pela Internet. • Hospedagem dos exames e laudos em servidor com altíssima disponibilidade e redundância – acesso 24 horas por dia, 365 dias por ano. • Portabilidade – reduzidas dimensões facilitam o transporte do eletrocardiógrafo para diversos ambientes. • Mobilidade – com um notebook os exames são realizados nos mais diversos ambientes. • Fácil operação – sistema totalmente amigável e fácil de usar por diversos perfis de operadores. • Autonomia e flexibilidade para a definição de médicos laudadores. • Envio de laudo automático e por email personalizado aos proprietários dos pacientes. • Fácil e imediata inclusão do laudo em prontuário eletrônico ou qualquer outra mídia digital. • Total integração do módulo de exame e do módulo de laudo – comunicação automática entre os módulos. • Atualização de todo o software do sistema é realizado diretamente pela Internet. • Sistema compatível com Windows

2000 e acima, inclusive Windows Vista. • Permite o cadastramento de diversos operadores com identificações e senhas individuais. • Emissão, gravação em mídia eletrônica e impressão de inúmeros relatórios de utilização do módulo de exames e do módulo de laudos. • Atualização de listas de informações do sistema realizadas automaticamente pela internet. • Garantia de acesso a qualquer laudo eletrocardiográfico realizado pelo sistema pelo prazo de cinco anos. • Realiza exames sem necessitar estar conectado a internet – a conexão com a internet é realizada apenas para o envio do exame, o recebimento do laudo ou a emissão de relatórios. • Eletrocardiógrafo certificado pelo INMETRO – atende a todas as normas nacionais e internacionais de segurança de equipamentos eletromédicos. • Comercialização autorizada pela Anvisa/MS – registro n. 102321000026. CARACTERÍSTICAS E INOVAÇÕES Eletrocardiógrafo Cardiofit Vx-101 • Equipamento com entrada de paciente protegida contra os efeitos de desfibrilação. • Equipamento Tipo CF – aplicação Cardíaca Direta. • Conexão com computador via serial ou USB. • Portabilidade – reduzidas dimensões. • Mobilidade – com um notebook os exames são realizados nos mais diversos ambientes. • Fonte de alimentação full range – 110/220V. Módulo de exame Cardiofit Exame VET • Cadastro completo e resumido dos pacientes, incluindo e-mail para envio automáticos do laudo eletrocardiográfico. • Registro de qualquer medicamento

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Equipamentos que o paciente esteja utilizando. • Registro de dados clínicos, anamnese, medidas físicas, condições ambientais e pressão arterial no repouso, no esforço e na recuperação durante a realização de teste ergométrico. • Editor de protocolos e importação de protocolos para teste ergométrico pela Internet. • Ajustes de ganho e velocidade do traçado eletrocardiográfico. • Filtro de tremor muscular. • Possibilidade de alteração do traçado ativo durante a realização do teste ergométrico. • Funções de congelamento do sinal eletrocardiográfico e de repetição da captura dos sinais. • Alarmes de pressão arterial sistólica, diastólica e frequência cardíaca máxima e sub-máxima. • Aviso automático para medição da pressão arterial durante a realização do teste ergométrico. • Gravação dos sinais eletrocardiográ-

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ficos de maneira automática e possibilidade de gravação de extras conforme decisão do operador. • Registro de informações provenientes de ergoespirômetro ou ventilômetro. • Personalização de laudos – inclusão de banner personalizado no laudo digital. • Pronta visualização dos laudos eletrocardiográficos. • Visualização de indicador gráfico de resultado eletrocardiográfico – rapidez na identificação de problemas cardiovasculares. • Fácil e rápido acesso ao manual de instruções • Ferramenta back-up de fácil utilização. Módulo de laudo – Cardiofit Laudo VET O módulo de laudo oferece várias ferramentas que facilitam e simplificam a emissão de laudos. Confira a seguir: • Elaboração de laudos padrão: agili-

dade na elaboração dos laudos. • Réguas de cálculo: facilidade e rapidez na medição dos intervalos RR, PR, QRS, QT, segmento ST, ângulos P, QRS, T. • Indicador gráfico de resultado eletrocardiográfico: rapidez na indicação de problemas cardiovasculares. • Possibilidade de cadastramento de médico master: responsável pela supervisão dos laudos elaborados por outros médicos laudadores. • Fácil e rápida visualização dos sinais eletrocardiográficos e de todas informações necessárias a elaboração dos laudos. • Fácil e rápido acesso ao manual de instruções. • Visualização imediata do laudo eletrocardiográfico durante e após o fechamento do laudo pelo médico veterinário que emite o laudo. • Mobilidade: os laudos são realizados em qualquer local bastando apenas acesso a Internet.

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Internet

Sítio da linha ProMeris traz novidades e benefícios exclusivos para médicos veterinários

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nformação técnica, entretenimento e um programa de compras exclusivo para médicos veterinários são algumas das novidades que a Fort Dodge Saúde Animal apresenta no sítio de seu mais recente lançamento, a linha ProMeris (www.promeris.com.br), indicada para o tratamento e controle das infestações provocadas por pulgas e carrapatos em cães, e pulgas em gatos. A grande novidade é o programa VIP, que proporciona ao médico veterinário um desconto exclusivo para tratar seus próprios animais com a linha ProMeris. “Criamos uma área restrita onde o médico veterinário cadastra o seu pet e na mesma hora imprime um cupom de desconto”, explica Tiago Papa, Gerente de Negócios Sênior da Linha Animais de Companhia da Fort Dodge. De acordo com ele, a melhor forma do profissional atestar a qualidade e a segurança de um produto é usá-lo em seus animais. O conteúdo foi desenvolvido com o objetivo de fixar a mensagem principal da campanha de lançamento, que é “Acabe com o circo de pulgas e carrapatos”, uma alusão ao fato de que durante muito tempo estes parasitas não entravam em contato com um princípio ativo realmente novo, transformando os lares em verdadeiros picadeiros. “Optamos por uma mensagem lúdica e de fácil assimilação

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por parte dos proprietários de cães e gatos, mas sem abrir mão da informação técnica que sempre caracterizou os nossos lançamentos”, destaca Papa. No sítio, o internauta vai encontrar, também, informações completas sobre os novos produtos, além de explicações sobre a biologia e o ciclo de vida das pulgas e dos carrapatos. A diversão também está garantida durante a navegação. Na seção Pet Lovers estão disponíveis jogos, vídeos e cartões postais, além de outros passatempos que vão cativar crianças e adultos de todas as idades.

Vida normal com aparelho fisioterápico veterinário

m muitos casos de paresia ou paralisa atendidos no dia-a-dia das clínicas veterinárias, os proprietários, muitas vezes ficam com dúvidas sobre a futura rotina do seu animal estimação. Com o advento do YouTube, esta situação ficou muito mais simples de ser ilustrada. A Vet Car, empresa que produz o carro ortopédico, aparelho de fisioterapia veterinária, colocou no YouTube várias cenas de diversas espécies de animais que se beneficiam do equipamento. Nos vídeos VetCar correndo e VetCar correndo 2 é impressionante a disposição, a tranqüilidade, a agilidade e a alegria que o cão da raça dachshund transmite ao utilizar o equipamento de fisioterapia. São cenas como estas, de vida normal, que são decisivas e importantes de serem mostradas aos proprietários de animais acometidos de paralisia ou paresia dos membros e que chegam às clínicas, muitas vezes desacretidados de solução e ansiosos pelo sacrifício do animal para que se acabe o sofrimento. Com muita calma e compreensão da situação é possível dialogar e mostrar que é possível preservar a vida do animal, seu bem-estar e a alegria da família. Para quem não tem internet na clínica, mas tem computador, uma boa sugestão é gravar alguns vídeos em CD-Rom para serem mostrados nessas horas. Ou então indicar o endereço do sítio da Vet Car, www.vetcar.com.br, onde há vários vídeos para o cliente conferir os benefícios que o aparelho de fisioterapia veterinário proporciona, com segurança e bem-estar para o animal.

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Programa de compras exclusivo para médicos veterinários é uma das novidades do sítio www.promeris.com.br

A desenvoltura do cão ao utilizar o carro ortopédico é imprescionante. É como se não estivesse usando... Escadas, obstáculos, nada segura sua vontade de brincar e de correr

VetCar correndo 2 www.youtube.com/watch?v=3LJVuZrlc_Q

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obra "Direito dos Animais: Fundamentação e Novas Perspectivas" (Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2008, 566p.), de autoria de Daniel Braga Lourenço, é fruto das pesquisas acadêmicas do autor por ocasião da realização de mestrado em Direito, Estado e Cidadania pela Universidade Gama Filho - UGF/RJ. O livro visa suprir um evidente déficit teórico do tema em língua portuguesa, procurando fundamentar a colocação dos animais como autênticos sujeitos de direito. No primeiro capítulo discorre-se sobre as premissas culturais do especismo, trazendo-se um pouco da história da despersonalização do mundo natural. O segundo capítulo analisa criticamente abordagem das teorias indiretas, tais como o contratualismo, o utilitarismo clássico e a posição do filósofo Peter Singer. O capítulo subseqüente e a conclusão tratam da teoria dos direitos

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DIREITO DOS ANIMAIS

Direito dos Animais - Fundamentação e Novas Perspectivas está disponível na loja virtual da Livraria Fabris: www.livrariafabris.com.br

propriamente ditos, onde procura-se desenvolver uma nova abordagem sobre o tema, a par das já existentes, no âmbito da teoria dos entes despersonalizados.

Bioética e direito animal é tema de congresso que acontece em outubro, em Salvador, BA. O evento é uma realização do Instituto Abolicionista Animal (IAA) www.abolicionismoanimal. org.br, entidade da qual Daniel Braga Lourenço participa como diretor jurídico

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CÃES EDUCADOS, DONOS FELIZES

Cães educados, donos felizes, de autoria de Cesar Millan, pode ser encontrado na loja virtual da Editora Guará: www.editoraguara.com.br

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Vetbrands estava representada pelo mascote Fiprocão, um cachorro gigante da raça bernesse mountain dog, que realizou ações de promoção do produto Fiprolex® Drop Spot, produto utilizado no combate a pulgas e carrapatos dos cães e gatos. Considerada uma das empresas que mais crescem no mercado veterinário mundial, a Ceva Sante Animale vem intensificando suas ações de marketing e formando parcerias entre os diversos elos da comunicação. A empresa, que possui hoje mais de 100 produtos voltados para a saúde animal, deverá anunciar até o final deste ano, produtos inéditos direcionados ao aumento do conforto comportamental de cães e gatos com atitudes indesejáveis, como agitação excessiva, marcação de território, ansiedade e agressividade. Repleto de dicas e técnicas úteis, além de histórias de sucesso de seus fãs, clientes (incluindo a família Grogan, donos de Marley, do livro Marley e eu) e de seu famoso programa de TV, O Encantador de Cães (Dog Whisperer), o livro utiliza a psicologia canina como ferramenta para melhorar a qualidade de vida entre o homem e o cão. Em Cães

ães dóceis, amáveis e educados são o sonho de qualquer criador. Mas conseguir essa façanha não é tarefa das mais fáceis para quem vive em meio a tantas cobranças do dia-adia. É preciso, além de amor e carinho, dedicação para conhecer a personalidade do animal e os mecanismos para torná-lo mais calmo e sociável. Para isso, a Verus Editora está lançando na 20º edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que acontece entre os dias 14 e 24 de agosto, o livro Cães Educados, Donos Felizes, de Cesar Millan, autor do best-seller O Encantador de Cães, sucesso editorial em todo o mundo. Nos stand da Verus Editora, na Bienal do Livro, junto aos livros de Cesar Millan também marA Verus Editora realizou o lançamencou presença o Fiprocão, mascote da Ceva to do livro na Bienal do Livro, realizada Vetbrands e participante das campanhas de em agosto, em São Paulo, SP, que aconFiprolex Drop Spot teceu no Pavilhão de Exposições do Anhembi. A editora contou com o apoio da Ceva Vetbrands, empresa especializada em medicamentos veterinários. Para chamar a atenção dos amantes Apresentações de Fiprolex Drop Spot de cães, a Ceva

Educados, Donos Felizes, Millan ensina a compreender e perceber a energia do animal e do próprio leitor, para que juntos possam não somente corrigir problemas de comportamento do cão, mas também elevar a ligação entre os dois a um nível nunca antes imaginado. O Encantador de Cães na TV Transmitido nos Estados Unidos, o programa O Encantador de Cães, comandado também pelo especialista em comportamento canino César Millan, irá ao ar no Brasil a partir de terça-feira, 16 de setembro, às 22h, no canal Animal Planet. Ao longo da série, Millan atua na reeducação dos “pais” dos animais de estimação, que pecam ao não estabelecer o seu domínio, deixando o cão com o controle das situações. A série percorre os lares de cães-problema e de seus donos frustrados, mostrando as notáveis transições que ocorrem sob a orientação e os ensinamentos de Cesar Millan, que tem o dom de se comunicar com os cães e enxergar o mundo através de seus olhos.

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O Encantador de Cães, grande best seller de Cesar Millan, também pode ser encontrado na loja virtual da Editora Guará: www.editoraguara.com.br

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DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS NA CLÍNICA DE PEQUENOS ANIMAIS - UM MANUAL DE TÓPICOS

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Diagnósticos Diferenciais na Clínica de Pequenos Animais - Um Manual de Tópicos possui 328 páginas impressas em um pequeno formato, tornando-o de fácil e prático transporte para uso na rotina profissional e/ou acadêmica

Mark S. Thompson, DVM, ao escrever Diagnósticos Diferenciais na Clínica de Pequenos Animais - Um Manual de Tópicos, teve a intenção de fornecer ao clínico, ao interno, ao residente e ao estudante, um rápido, conciso e prático referencial para o diagnóstico diferencial, etiologia e anormalidades laboratoriais, e para a classificação das manifestações clínicas e enfermidades em cães e gatos. Seu formato permite levá-lo a qualquer local, seja o consultório, hospital, faculdade ou em viagens. O manual é dividido em três partes retratando aproximadamente 350 listas. A parte I contém listas de diagnósticos diferenciais baseados em manifestações clínicas da doença que podem ser identificadas pelo clínico. Lista com mais de 80 manifestações clínicas é fornecida.

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Trauma em cáes e gatos possui 222 páginas, sendo ricamente ilustrado com imagens dos diversos procedimentos emergenciais

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A parte II correlaciona diagnósticos diferenciais de um sistema específico (afecções articulares, ósseas, cardiopulmonares, dermatológicas, do trato alimentar, endócrinas, metabólicas, hematológicas, hepáticas, do pâncreas exócrino, imunológicas, imunomediadas, neurológicas, neuromusculares, oculares, enfermidades urogenitais, doenças infecciosas, neoplasias e toxicologia). Listas relevantes são fornecidas para condições clínicas de 14 sistemas do organismo. A parte III é uma lista alfabética de testes laboratoriais e valores relevantes para o diagnóstico clínico em cães e gatos. Aproximadamente 100 dos mais comuns testes laboratoriais estão retratados. MedVet Livros: (11) 6918-9154 www.medvetlivros.com.br

TRAUMA EM CÃES E GATOS

obra Trauma em cães e gatos, de autoria do dr. Luis H. Tello, abrange as informações mais relevantes acerca do trauma em pequenos animais, suas apresentações, diagnóstico, manejo médico e terapêutico. O livro conta com a participação de renomados profissionais habituados com a medicina veterinária emergencial e o intensivismo, sendo dividido em 19 capítulos que abordam: trauma em pequenos animais (Luis H. Tello); generalidades sobre o trauma (Luis H. Tello); categorização do paciente traumatizado (Esteban Mele); manejo inicial do paciente traumatizado (Esteban Mele e Adriana López); anestésicos e analgésicos no paciente tramatizado (Pablo E. Otero); diagnóstico radiográfico em casos de emergências (Lina Sanz); diagnóstico ultra-sonográfico em traumas

torácico e abdominal (Martha Moon e David Biller); hipotermia no trauma (Eduardo N. Maldonado); manejo de feridas acidentais (Adriana Lopez); trauma cranioencefálico (Enzo Bosco e Javier Green); fraturas de mandíbula, maxila e traumatismo dentário (Marco A. Gioso e Sonia Madrid); trauma abdominal (Luis H. Tello); trauma torácico (Patricio Torres e Luis H. Tello); trauma de medula espinhal (Javier Green e Enzo Bosco); trauma ortopédico (Esteban Mele e Patricio Torres); manejo do trauma ocular (Daniel Herrera); trauma miocárdico (Luis H. Tello e Carlos J. Mucha); o paciente felino na emergência (Luis H. Tello); e suporte nutricional no paciente felino politraumatizado (Luis H. Tello e Marcela Valenzuela). MedVet Livros: (11) 6918-9154 www.medvetlivros.com.br

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Lançamentos

hiskas® traz ao mercado brasileiro Whiskas® Temptations, petisco do segmento premium indicado para gatos. “Whiskas® Temptations é um delicioso petisco, crocante por fora e macio por dentro, ideal para ser servido como agrado e proporcionar mais momentos de carinho entre o gato e o seu dono”, diz José Carlos Rapacci, diretor de

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NOVO PETISCO PARA GATOS

Marketing de Pet Care da Mars Brasil. São três sabores irresistíveis: carne, salmão e frango & queijo. A embalagem também é inovado- Whiskas Temptations: petisco crocante por fora e macio por dentro ra: uma lata de 80 gramas que ajuda a em supermercados e pet shops no aguçar a curiosidade felina pelo intriganEstado de São Paulo e região Sul. te som que produz quando movimentada. Whiskas® Temptations está disponível Whiskas: www.whiskas.com.br

TOTAL COM NOVOS ALIMENTOS PARA CÃES E GATOS

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cais livres e promovem a tais. E a presença de óleo de Total Alimentos, é a primeira saúde do sistema urinário. menta e eucalipto proporempresa do mercado a obter os cerK&S Oral Care é outra nocionam uma agradável sentificados de qualidade PIQ Pet, HACCP vidade da Total. O alimento sação de frescor, combae GMP de Boas Práticas de Fabricação, supre todas as necessidades tendo o mau hálito. com uma das fábricas mais modernas da diárias dos Na linha de snacks, a América Latina em Três Coracães e ainda novidade fica por conta de ções, MG, e um parque industricombate as Dog Licious Mini Bones, al de mais de 500 mil m2. Além afecções perioque é enriquecido com: cálde investir na qualidade de seus dontais. As cio, ferro, fósforo e as vitaprodutos, tem aumentado a oferpartículas crominas A, do complexo B ta de produtos inovadores. cantes do ali(B1, B2 e Para agradar o paladar dos feK&S Oral Care mento promoB12), D, E e linos carnívoros a Total Alimenvem a limpeza K, aliadas a tos desenvolveu uma opção inédos dentes durante a ingredientes como a dita com pedacinhos, sabor e texmastigação. O hexamecarne de frango. tura de carne: K&S Pedaços com tafosfato presente na forCarne. Além de saboroso, K&S Total Alimentos: Pedaços com Carne possui nu- K&S Pedaços com Carne mulação previne a forDog Licious Mini Bones mação de cálculos den0800 725 8575 trientes que combatem os radi-

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ompleta e balanceada, a linha Cat Chow® apresenta novas embalagens focadas em saúde e bem-estar dos gatos. Pensando em oferecer o melhor alimento para gatos, a Nestlé Purina® inova na categoria com a apresentação da nova linha Cat Chow®. Para sustentar o posicionamento de saúde e alto valor nutricional da marca, foram estudadas as necessidades alimentares dos gatos em diferentes idades, associadas aos seus estilos de vida. Cuidando dos gatos desde a infância até sua idade avançada, Cat Chow® apresenta o conceito de nutrição saudável: “Saúde Física e Bem-estar Toda a Vida”, com o desenvolvimento de produtos que oferecem nutrição específica e adequada para cada etapa e estilo de vida do animal: • filhotes - Cat Chow® Gatinhos - com os mesmos nutrientes do leite materno, desenvolve 132

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NESTLÉ APRESENTA INOVAÇÃO NA LINHA PURINA CAT CHOW®

A nova linha Cat Chow® está disponível em embalagens de 500g, 1kg, 3kg e 10,1kg

músculos fortes para um crescimento ainda mais saudável; • adultos de 1 a 7 anos - Cat Chow® Adultos, com atividades normais - fortalece o coração e o sistema imunológico dos gatos, para que eles aproveitem a vida ao máximo; - Cat Chow® Adultos Ativos - para gatos com atividades intensas, contém alta fonte de energia; - Cat Chow® Adultos que vivem em

ambientes internos - alimento com calorias reduzidas, que protege o trato urinário e contém fibras que controlam os tricobezoares. • adulto sênior - Cat Chow® Adultos com mais de sete anos - reforça o sistema imunológico, fortalece ossos e articulações dos gatos para que tenham ainda mais vitalidade. Nestlé Purina: 0800 7701 180

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Lançamentos

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NOVO ALIMENTO SUPER PREMIUM PARA CÃES

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Nestlé Purina: 0800 7701 180

Pro Plan OptiLife foi elaborado para garantir um crescimento saudável dos cães e contribuir para o fortalecimento dos três sistemas de proteção natural - sistema imunológico, sistema digestivo, pele e pelagem

ANTIBIÓTICO INJETÁVEL DE LONGA DURAÇÃO

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ada dono leva seu animal de estimação ao veterinário por razões diferentes. Porém, na maioria das vezes, a consulta tem como principal motivo as infecções de pele1. Para tratá-las com eficácia e segurança, e também combater infecções urinárias, a Divisão de Saúde Animal da Pfizer lança no Brasil Convenia, antibiótico injetável que exige apenas uma aplicação para agir durante 14 dias. O medicamento é pioneiro e inicia um novo segmento de antibióticos: os injetáveis de longa duração. Convenia é tão eficaz quanto os antibióticos orais, porém, com a vantagem da dose única, aplicada pelo médico veterinário. De acordo com estudos feitos

Convenia é indicado para tratamento de infecções de pele e urinária,com apenas uma aplicação que age durante 14 dias

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nhecida como aleurona, parte extraída do grão de trigo integral, que auxilia na melhora do ambiente intestinal e proporciona uma ótima saúde digestiva. Além disso, Pro Plan® Optilife contém vitaminas, minerais e ácidos graxos ômega 3 e 6, para proporcionar uma pelagem densa, brilhante e, ainda, promover a elasticidade da pele. Os produtos ProPlan® OptiLife foram elaborados para atender às necessidades metabólicas de cães adultos de diversos tamanhos e raças. Com isso, encontram-se disponíveis em três versões – OptiLife Small Breed, para cães de raças pequenas (1 kg, 3 kg e 10,1 kg), Complete Protection, para todos os tamanhos de raças de cães (1 kg, 3 kg, 10,1 kg e 15 kg) e Large Breed, para cães de raças grandes (3 kg e 15 kg).

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Pro Plan, marca super premium de alimentos para animais de estimação da Nestlé Purina, inova com o conceito de nutrição avançada e apresenta a linha desenvolvida por nutricionistas e médicos veterinários do Centro de Pesquisas da Empresa nos Estados Unidos, a Pro Plan® OptiLife para cães adultos. O lançamento possui a inovadora e exclusiva tecnologia OptiLife que é uma composição inédita de ingredientes de qualidade que auxiliam a proteger o animal ao longo da vida. Elaborado para garantir um crescimento saudável dos cães e contribuir para o fortalecimento dos três sistemas de proteção natural – sistema imunológico, sistema digestivo, pele e pelagem –, Pro Plan® OptiLife foi enriquecida com levedura natural, que melhora a capacidade de reação às ameaças do ambiente externo. Já a parte digestiva fica protegida devido à substância co-

nos Estados Unidos, Convenia apresentou resultados estatisticamente equivalentes ao tratamento de 14 dias com outro antibiótico veterinário oral. Feito com 320 cães e 291 gatos, a pesquisa mostrou a eficácia de Convenia em 92,4% dos casos em cães e em 96,6% dos gatos. Além disso, o produto mostrou-se bastante seguro inclusive em filhotes. Desde 2006, mais de 4 milhões de doses de Convenia foram administradas em diferentes países, onde o medicamento já foi lançado. “Sabemos que é um desafio cumprir todo o tratamento com antibiótico oral em cães e gatos, já que a maioria exige doses diárias por cerca de duas a três semanas”, explica Oclydes Barbarini Jr., gerente da Unidade de Negócios de Animais de Companhia da Divisão de Saúde Animal da Pfizer. Uma pesquisa realizada pela empresa mostra essa dificuldade: 30% dos donos de cães têm problemas em dar comprimidos a seus animais, enquanto os proprietários de gatos 1. Pesquisa realizada pela Pfizer Saúde Animal. Confidential PAH Market Research/2003/*US Diary Study Wave 1,2,3,4, and 5 and MDI Data 2. Convenia Pilling Study, Jan. 2008 by Forward Research

classificam a tarefa como uma das mais estressantes que envolvem seus bichanos2. “Convenia chegou para assegurar que o tratamento seja seguido à risca e, assim, apresente melhores resultados”, ressalta Oclydes. Infecções de pele Elas são o principal motivo de prescrição de antibióticos aos animais de companhia1 e se manifestam na forma de feridas, abscessos e presença de pus. Geralmente, as infecções de pele em cães ocorrem associadas a alguma alergia ou infestação de parasitas, fazendo os animais coçarem, lamberem e até morderem as áreas afetadas – o que só torna a pele mais irritada e suscetível a outras bactérias. Nos gatos, esse tipo de infecção surge após um trauma ou mordida. Quando não tratadas, as infecções de pele podem interferir na qualidade de vida do animal e até na relação com o dono. Sem contar o fato de que o tratamento incompleto e incorreto com antibióticos pode contribuir para infecções recorrentes, prolongadas, prejuízos à saúde do animal e consultas adicionais ao médico veterinário. Pfizer: 0800 011 19 19 www.pfizersaudeanimal.com.br

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$ NEGÓCIOS E OPORTUNIDADES $

Manual de fluidoterapia em pequenos animais

saiba sobre os diferentes fluidos para as diferentes alterações orgânicas

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anorexia vômito crônico obstrução intestinal diabetes melito e outras

Faça com tranqüilidade seu pedido pelo telefone (11) 3835-4555 ou pela internet www.editoraguara.com.br

Escolha os eletrólitos mais adequados e administre doses precisas

A - perdas ocorridas

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Quantidade de fluido a ser administrada







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www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL

17 de setembro São Paulo - SP 3º Seminário ARCA Brasil: responsabilidade social e crescimento profissional ! (11) 4613-2032

17 a 19 de setembro São Paulo - SP • 8º Conpavepa • Pet South America ! (11) 3813-6568

20 e 21 de setembro São Paulo - SP III Curso de massagem oriental, aromaterapia para animais ! (11) 5061-4429 25 a 27 de setembro São Paulo - SP Cirurgia em cabeça e pescoço (prático) ! (11) 3819-0594 26 a 28 de setembro Vitória - ES Gastroenterologia em cães e gatos ! anclivepaes@gmail.com 26 a 28 de setembro São Paulo - SP I Conferência brasileira de enriquecimento ambiental ! (11) 9308-2160

17 a 21 de setembro São Paulo - SP XXIX Congresso brasileiro de homeopatia ! (11) 3051-6121 18 a 20 de setembro Gramado - RS 5º International Symposium on Stallion Reproduction - ISSR ! cbra@cbra.org.br 20 e 21 de setembro Campinas - SP XV Curso de acupuntura para médicos veterinários ! (19) 3208-0993

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26 a 28 de setembro Porto Alegre - RS Atualização em doenças infecto-parasitárias e zoonoses ! 0800 701 6330 29 e 30 de setembro Rio de Janeiro - RJ Curso de formação de responsáveis técnicos para petshops, salões de banho e tosa, clínicas e consultórios veterinários ! (21) 2581-9175

30 de setembro a 2 de outubro Presidente Prudente - SP Semana Acadêmica de Medicina Veterinária ! inesgiometti@yahoo. com.br 3 a 5 de outubro Belo Horizonte - MG 1º Fórum Latino-americano de dermatologia e endocrinologia de pequenos animais e 3º Congresso brasileiro de odontologia veterinária ! (31) 3297-2282

11 de outubro São Paulo - SP Atualização em dermatologia em animais de companhia ! 0800 701 6330 12 a 17 de outubro Presidente Prudente - SP Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) ! (11) 8496-2499

18 a 19 de outubro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia ! (11) 3082-3532 18 e 19 de outubro; 8 e 9 de novembro Osasco - SP Curso teórico-prático de afecções cirúrgica da coluna vertebral ! (11) 2995-9155 19 a 22 de outubro Gramado - RS 35º Conbravet ! (51) 3326-7002

6 a 10 de outubro Recife - PE Curso perícia judicial ambiental ! (53) 3231-3622

13 a 16 de outubro Maringá - PR Odontologia veterinária ! (44) 3226-3739

6 a 10 de outubro Curitiba - PR VIII Semana acadêmica de MV da UTP ! (41) 3331-7729

13 a 17 de outubro Santo André - SP III Simpósio de Medicina Veterinária (SIMVET) ! (11) 4991-9800

8 a 11 de outubro Salvador - BA I Congresso mundial de bioética e direito animal ! (71) 3103-6836

20 a 21 de outubro Belo Horizonte - MG Fisioterapia ! (31) 3297-2282 20 a 23 de outubro São Paulo - SP Clínica das doenças infecciosas e parasitárias em pequenos animais ! marina.monteiro.oliveira @usp.br 20 a 23 de outubro Valença - RJ 5a Semana acadêmica de veterinária ! deynison.fabricio@ gmail.com

18 de outubro São Paulo - SP I Curso de argilaterapia em pequenos animais ! (11) 5061-4429

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

20 a 24 de outubro Garça - SP I Semana de Medicina Veterinária e VI SEPAVET ! (14) 461-1216



www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL início - pág. 112

21 de outubro Belo Horizonte - MG Urinálise, urolitíase e função renal ! (31) 3281-0500 23 a 25 de outubro São Paulo - SP Curso Intensivo Prático de Ortopedia módulo avançado - CIPO ! (11) 3819-0594 25 de outubro Botucatu - SP Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária ! (14) 3882-4243

27 a 30 de outubro São Paulo -SP II Curso teórico-prático de terapia intensiva em pequenos animais ! (11) 5572-8778

27 e 29 outubro; 3, 5, 10 e 12 de novembro Santos - SP Curso teorico-prático de oftalmologia veterinária ! (11) 2995- 9155 30 de outubro a 1 novembro Uberaba - MG I Curso de dermatologia e alergologia de animais de companhia ! (34) 3313-4433 3 a 7 de novembro Leme - SP VII Semana acadêmica veterinária ! sara.andriani@yahoo. com.br

25 de outubro a 9 de novembro Jaboticabal - SP IV Curso teórico-prático sobre nutrição de cães e gatos: "uma visão industrial" ! eventos@funep.fcav. unesp.br 27 a 30 de outubro Fortaleza - CE Fort Pet Vet ! (85) 3257-6382

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3 a 7 de novembro São Paulo - SP Curso perícia judicial ambiental ! (53) 3035-3622

4 a 8 de novembro Curitiba - PR COBAMEV - Congresso Brasileiro dos Acadêmicos de Medicina Veterinária ! http://rootbrasil.com.br/ cobamev.com.br

7 a 9 de novembro Goiânia - GO IV Concevepa ! (62) 3241-3939

14 a 16 de novembro Maringá - PR Eletrocardiografia veterinária ! (44) 3226-3729 20 a 22 de novembro São Paulo - SP II International Symposium on Animal Biology of Reproduction ! cbra@cbra.org.br 24 a 28 de novembro São José do Rio Preto - SP IV Curso Cardiologia em pequenos animais ! (17) 3011-0927

7 a 9 de novembro Vitória - ES Indicações e interpretações de exames de diagnóstico por imagem ! anclivepaes@gmail.com 9 a 14 de novembro Belo Horizonte - MG Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) ! (11) 8496-2499

4 de novembro Congresso Nacional Brasília - DF Audiência pública sobre circos 4 a 7 de novembro Ilhéus - BA VIII Encontro de Medicina Veterinária do Sul da BA ! laala_vet@yahoo.com.br

12 de novembro Belo Horizonte - MG Doenças infecciosas atualização ! (31) 3281-0500

11 a 13 de novembro Recife - PE VIII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária ! (81) 3466-5551

INTERNACIONAL

3 a 6 de outubro Lima - Peru Latin American Veterinary Conference ! www.tlavc-peru.org 17 a 19 de outubro Barcelona - Espanha SEVCO ! www.sevc.info

21 e 22 de outubro Praga - República Tcheca 4th Annual Pet Foods Symposium ! www.kemin.com/ petfoods/symposium

25 e 26 de novembro Santos - SP I Fórum nacional de odontologia em animais selvagens ! www.abravas.org.br/ congresso2008 2009

26 a 30 de novembro Santos - SP XI Congresso e XVII Encontro da ABRAVAS ! www.abravas.org.br/ congresso2008 6 e 7 de dezembro Rio de Janeiro - RJ I Congresso Latinoamericano de medicina de urgências e cuidados intensivos ! www.laveccs.org

2009 14 e 15 de março Londrina - PR 3º NEUROVET ! (43) 9151-8889

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 76, setembro/outubro, 2008

17 a 21 de janeiro Orlando - FL - USA North American Veterinary Conference ! www.tnavc.org

3 - 7 de fevereiro Lucknow - Índia 4th World Congress on Leishmaniasis ! www.worldleish4.org




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