G uarรก
ISSN 1413-571X
Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008 - R$ 15,00
E D i TO R A
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts
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Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Índice Cirurgia - 30 Tratamentos cirúrgicos em cães com abscessos e cistos prostáticos: revisão
Silvia Gerbasi
Surgical treatments of prostatic cysts and abscesses in dogs: a review Tratamientos quirúrgicos de quistes y abscesos prostáticos en los perros: revisión bibliográfica Fernanda G. Jannuzzi
Oftalmologia - 40
Conjuntivite com envolvimento de Sporothrix Schenckii em felino - diagnóstico citológico: relato de caso
Omentalização
Cytological diagnosis of feline conjunctivitis with involvement of Sporothrix schenkii: case report La conjuntivitis felina con envolvimiento del Sporothrix Schenckii diagnostico citológico: relato del caso
Parasitologia - 48 Perfil sanitário de cães domiciliados no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro com ênfase na prevalência de parasitos intestinais e fatores associados
Olho afetado com conjuntivite grave por esporotricose
Daniel C. M. Muller
Sanitary profile of dogs living in the campus of the Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, with emphasis in the prevalence of enteric parasites and associated factors Perfil sanitario de perros habitantes del campus de la Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro con énfasis en la prevalencia de parasitosis intestinales y factores asociados
Anestesiologia - 62 Analgesia transoperatória em cães e gatos Transoperative analgesia in dog and cat Analgesia transoperatória en perros y gatos
Marta T. da Rocha
Anestesiologia - 70 Anestesia local no controle da dor: a técnica infiltrativa por tumescência - revisão de literatura
Fármacos que atuam em cada fase do processo doloroso
Local anesthesia in pain management: the tumescent infiltrative technique - literature review
Ilustração fotográfica da administração da solução de tumescência a 0,3% no tecido subcutâneo
El control del dolor por una técnica de anestesia local: la tumescencia - revisión de literatura
Oncologia - 76 Mastocitoma cutâneo canino: variação da graduação histopatológica entre patologistas Cutaneous mast cell tumor: variation of the histopathological grading among pathologists Mastocitoma cutáneo canino: variación de la gradación histopatológica entre patólogos
Geovanni Dantas Cassali
Oncologia - 80
Case report: use of carboplatin associated with Cox-2 inhibitor in the treatment of canine mammary gland carcinoma with lymph node metastasis
Cadela. Glândula mamária. Carcinoma tubulopapilar. Observar imunomarcação citoplasmática classificada como escore 6. Cox-2 imunohistoquímica, obj. 60X
Caso clínico: utilización de carboplatino asociado con inhibidores de Cox-2 en el tratamiento del carcinoma mamario con metástasis en los ganglios linfáticos
Animais selvagens - 86
Neoplasia mamária em onça parda (Puma concolor) e leoa (Panthera leo) - relato de casos Mammary neoplasms in a Brazilian jaguar (Puma concolor) and a lioness (Panthera leo) - case reports Neoplasias mamarias en puma (puma concolor) y leona (panthera leo) - relato de caso
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Geovanni D. Cassali
Uso da carboplatina associada a inibidor de Cox-2 no tratamento de carcinoma da glândula mamária de cadela com metástase em linfonodo - relato de caso
Onça parda (Puma concolor). Carcinoma papilar - glândula mamária. Aspecto macroscópico da massa tumoral abrangendo a 3a mama direita e estendendo-se em direção à 3a mama esquerda um mês após a primeira constatação
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Seções
• A raiva em destaque • Avanço da leishmaniose visceral canina preocupa CRMV-MG
Editorial - 6 Notícias - 8
Lançamentos - 102
Saúde pública - 26 26 28
Pesquisa - 94 Desinfetantes deixam bactérias mais fortes
• Propostas sobre bioética e direito animal 8 • Utilização de manequins no processo de ensino e aprendizagem na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi 12
• Residência segue em avaliação pelo CFMV 12 • 8º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais superou a estimativa de participantes 14 • 7ª edição da Pet South America proporcionou excelentes negócios no setor 15 • Oncologia veterinária 20 • Dermatologia, endocrinologia e odontologia veterinária 20 • Enriquecimento ambiental no Zoológico de São Bernardo tem reconhecimento mundial 22 • Em 2007 os pets foram vítimas da melamina. Em 2008 as vítimas foram os seres humanos 24 • Homenagem ao dr. Jim Corbin 24
Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser
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Butantan alerta sobre jararaca-ilhôa: espécie está ameaçada de extinção
Livros - 98
Otavio A. V. Marques
Ecologia - 96
• Xampu com propriedades umectantes e adstringentes
• Vacina contra leshmaniose
• Snacks
• Nutralife: suplemento com 54 nutrientes • Higiene e vigilância sanitária de alimentos
• Spray antiderrapante
Negócios e oportunidades - 104 • Quatro patas. Cinco direções
Internet - 100
Ofertas de produtos e equipamentos
Serviços e especialidades - 105 Prestadores de serviços para clínicos veterinários
Agenda - 112
Leishmaniose no YouTube
encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens
fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Journal of continuing education for small animal veterinarians
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Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871
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JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679
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EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.
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Mamady, cão da raça beagle que vive feliz em área rural do sul de MG. Bem diferente da grande quantidade de cães desta raça que são mantidos como cobaias para a experimentação animal
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é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.
Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexandre Mazzzanti UFSM mazzal@smail.ufsm.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch Yale Univ. School of Medicine christina.joselevitch@yale.edu Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br
Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biase DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos UFLA iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br
Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@ffalm.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br
Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University ronaldodacosta@cvm.osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Viviani de Marco UNG vivianidemarcoterracom.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br
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Editorial
O
dia 9 de setembro não será mais lembrado apenas como o dia do médico veterinário, mas também como o dia em que o Senado aprovou o projeto que regulamenta as normas científicas para o uso de animais no ensino e na pesquisa: a Lei Arouca. Depois de 13 anos tramitando, a lei foi aprovada (Lei n.º 11.794) e publicada em 9 de outubro de 2008 no Diário Oficial da União. Porém, sem prever um prazo determinado para a inclusão obrigatória de métodos substitutivos ao uso de animais no ensino. Outro problema é que com a regulamentação do procedimento, perpetuam-se os testes de produtos humanos em animais. Há muito tempo já se sabe que experimentos em animais não servem de referência para humanos. São muitos os produtos humanos, testados em animais, que já foram lançados e retirados do mercado por apresentarem efeitos colaterais. Os antiinflamatórios Arcoxia 120mg e Prexige 400mg são exemplos bem atuais. Em outubro de 2008, eles foram retirados do mercado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por causarem, respectivamente, reações adversas no sistema cardiovascular e problemas hepáticos (http://video.globo.com/Videos/Player/ Noticias/0,,GIM891764-7823-NOVOS+MEDICAMENTOS+SAO+ PROIBIDOS+PELA+ANVISA,00.html). Há mais de uma década, cientistas, em todo o mundo, têm promovido a discussão de métodos alternativos aos testes em animais. Na Europa, recentemente, entre 19 e 21 de setembro de 2008, o 15º Congresso em Alternativas para Testes em Animais, realizado em Linz, na Áustria, reuniu cientistas para discutir sobre o tema, dando especial atenção ao princípio dos 3R (reduction, refinement and replacement - redução, refinamento e substituição). No Brasil, este movimento no meio acadêmico ainda não tomou as proporções necessárias, mas está sendo alvo de dedicação por diversos defensores dos direitos dos animais. No mês de outubro, a realização do I Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal, em Salvador, BA, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi um marco para a discussão do tema dentro do meio acadêmico brasileiro. Reconhecer os direitos dos animais é um processo evolutivo que tem como sustenção a moral e a ética. Gandhi já dizia que a grandeza de uma nação pode ser medida pela forma com que o ser humano trata seus animais. Uma forma moderna dessa mensuração também pode ser feita pela avaliação FIB (Felicidade Interna Bruta). Este novo conceito foi trazido pela primeira vez ao Brasil, entre os meses de outubro e novembro, pela iniciativa do Instituto Visão Futuro (www.visaofuturo.org.br), por Karma Dasho Ura, responsável pela aplicação do FIB no Butão, e por Michael Pennock, que está adaptando o FIB para uma versão internacional no Canadá. Caminhos como este propõem a conservação do meio ambiente, o desenvolvimento socieconômico sustentável e igualitário e o mais importante: a felicidade. Obviamente, em detrimento, por exemplo, da crueldade, do sofrimento, da exploração, da humilhação, da devastação e de outras práticas que alimentam o PIB de muitos países, inclusive o brasileiro. Todos podemos ser os guardiões da fauna, da flora e de nosso planeta. Incluir conceitos e atitudes nobres no exercício da medicina veterinária é uma prática que depende apenas do empenho de cada profissional. Participe, valorize, reconheça e ilumine este caminho de paz para todos os seres.
Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 6
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Propostas sobre bioética e direito animal
O
I Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal foi realizado na primeira quinzena de outubro, em Salvador, BA. O evento foi promovido pelo Instituto de Abolicionismo Animal (IAA), pela Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA) e pelo Ministério Público do Estado da Bahia. O público participante, bastante heterogêneo, contou com ativistas pelos direitos animais, estudantes e profissionais de diversas áreas (advogados, biólogos, nutricionistas, médicos veterinários e dentistas, entre outros), membros da polícia ambiental e jornalistas. Um item importante a ser compreendido é a diferença entre direito animal e direitos animais. Direito animal é área específica do direito que estuda a questão no âmbito jurídico. Direitos animais é o que se tenta defender pela discussão e reconhecimento dos animais como seres sencientes e sujeitos de direito. O direito animal no Brasil tem evoluído e em algumas faculdades de direito já passou a ser abordado especificamente. Os direitos animais no Brasil, por sua vez, ganham destaque até mundial, pois em 2005 o promotor de justiça e meio ambiente, Heron Santana Gordilho, conseguiu fato inédito: habeas corpus para um chimpanzé. O primata não-humano residia no zoológico de Salvador em condições questionáveis. Saindo do zoológico, iria para um santuário, mas faleceu antes de ser transferido. Steven Wise, prof. dr. da Universidade de Harvard e das Faculdades de Direito de Vermont e John Marshall (EUA), juntamente com David Favre, prof. dr. da Faculdade de Direito da Michigan State University (EUA), ministraram as palestras de abertura do evento enfocando como o direito animal pode defender os direitos animais. O advogado Gary Francione e o filósofo Piter Singer proferiram suas palestras através de telecoferência, uma forma ecológica de colaborar. Por não comparecerem pessoalmente ao Brasil, evitaram a emissão desnecessária de CO2, colaborando para a preservação da 8
camada de ozônio. Ambos os palestrantes, vistos nos telões O promotor de Justiça e Meio Ambiente de pelos participantes, Salvador, Heron Santana Gordilho começou a penpuderam transmitir sar em parar de comer carne quando ONGs pasa procurá-lo em seu gabinete. A realidade seus conceitos e res- saram mostrada pelas entidades forneceu importantes ponder perguntas co- conceitos, e ele há seis anos defende os princípios mo se estivessem do abolicionismo animal: "Acabei defendendo uma de doutorado sobre o assunto e concluí que, presentes no próprio tese assim como os escravos, que tiveram a ajuda dos auditório. homens brancos para defendê-los na luta aboliPeter Singer de- cionista, os animais precisam dos homens para o mesmo. Nós somos a voz deles", diz o profendeu que os ani- fazer motor, também presidente do Instituto Abolicionista mais não têm visão dos Animais (IAA - www.abolicionismoanimal.org.br) de futuro, exceto os grandes primatas. Para ele o veganismo não seria o caminho, mas sim o onivorismo consciente, com diminuição do consumo de produtos de origem animal. Para Gary Francione, o veganismo tem ponto central na defesa dos direitos animais e como forma de sermos solidários à libertação animal. Como grande parte dos participantes do congresso é a favor do abolicionismo animal e a palestra foi altamente esclarecedora, a repercussão dessa participação se propagou após o congresso pela internet, em blogs e Steven M. Wise (em pé) durante sua paleslistas de discussão. tra na abertura do evento. Wise é presidente da ONG The Center for the Expansion of Fundamental Rights (CEFR)
Teleconferência com Peter Singer
Acima, palestra de Gary Francione, apresentada através da teleconferência. Ao lado, imagem do sítio Anima, que possui diversos textos de Francione traduzidos para o português por Regina Rheda
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Outro ponto importante do congresso foi a apresentação do documentário A carne é fraca, produção do Instituto Nina Rosa (www.ninarosa.org), que não pára de ser exibido e procurado. A Livraria Cultura (www.livrariacultura. com.br), em função da requisição do título pelos seus clientes, procurou o instituto e passou a fornecer o DVD. Lançado há quatro anos, o documentário traz depoimentos dos jornalistas Washington Novaes e Dagomir Marquezi, entre outros, que comentam o caminho de um bife até chegar ao prato do consumidor, mostrando, com transparência, aquilo que não é divulgado e os impactos que o ato de consumir carne, aparentemente banal, representa para a saúde humana, para os animais e para o planeta. Recentemente, A carne é fraca teve exibição internacional, em Vitoria-Gasteiz, na Espanha. A apresentação do documentário fez parte da programação do evento Power Food, idealizado pela Miralda-Food Cultura, com produção da Artium, patrocínio da Fun-
A carne é fraca presente no evento espanhol Power Food
dação Kalitatea e do Ministério da Cultura, com colaboração do Departamento de Agricultura do Governo Basco.
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
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EDUCAÇÃO HUMANITÁRIA
Instrumento Animal: o uso prejudicial de animais no ensino superior, obra organizada por Thales Tréz Thalez Tréz durante mesa-redonda sobre experimentação animal
A utilização de animais no ensino foi abordada durante o evento em diversos momentos. Destaca-se a apresentação de Thales Tréz, na qual se enfatizou a importância de avaliar a percepção que estudantes e professores têm sobre as práticas com animais. Em estudo realizado na Universidade Federal de Santa Catarina, entre 1993 e 1999, envolvendo estudantes e professores de várias profissões ligadas ao setor biomédico, Thales Tréz identificou que houve aumento aproximado de 400% do número da animais utilizados. Além de avaliar a quantidade de animais, foram entrevistados professores e estudantes. Os resultados das quase 300 entrevistas realizadas com estudantes mostraram que cerca da metade deles sentem algum tipo de mal-estar durante a prática com animais, cerca de 30% acham questionável a utilização dos animais no ensino, quase 70% discordam da utilização de animais quando fosse possível a adoção de métodos substitutivos e 80% são favoráveis a métodos substitutivos sempre que possível. Estes dados mostram que o interesse pela mudança nos métodos de ensino não são provenientes de uma minoria. Já junto aos professores, 9 entre 13 responderam que conhecem métodos substitutivos, 12 entre 14 têm interesse em substituir o uso de animais e 10 entre 13 acreditam que a substituição do uso de animais é necessária. A reflexão com base nestes dados é importante, mas também é fundamental que estudo semelhante seja feito especificamente com a medicina veterinária. Atualmente, a medicina veterinária brasileira possui uma referência nacional em educação humanitária: a Universidade Anhembi Morumbi. Ao lado, pode-se conferir o investimento da instituição. Silva Andrade contribuiu com o www.anda.jor.br evento apresentando a ANDA (Agência de Notícias de Direitos Animais), uma nova forma da mídia difundir os valores de uma nova cultura, mais ética, mais justa e preocupada com a defesa e a garantia dos direitos animais. “A imprensa não apenas informa. Ela forma conceitos, modifica idéias, influencia decisões, define valores e participa das grandes mudanças sociais e políticas trazendo o mundo para o indivíduo pensar, agir e ser. É justamente esse o objetivo da ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais: informar para transformar. Com profissionalismo, seriedade e coragem, a ANDA abre um importante canal com jornalistas de todas as mídias e coloca em pauta assuntos que até hoje não tiveram o merecido espaço ou foram mal debatidos na imprensa. A proposta da ANDA é servir também de referência a toda sociedade, respondendo aos questionamentos e incentivando novas atitudes, sempre sob o foco dos direitos animais”, explicou a palestrante
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Relação de peças utilizadas pela Escola de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi, adquiridos da Rescue Critters® (www.rescuecritters.com) e da Universidade da Califórnia (UC Davis - www.calf.vetmed.ucdavis.edu) Peça Quantidade Valor Canine Head1 5 US$ 450 Canine Foreleg2 5 US$ 325 K-9 IV Trainer3 10 US$ 527 Suture Trainer Arm4 20 US$ 35 Rufus K-9 Bandaging & First Aid Mannikin5 5 US$ 1.198 Emily K-9 Positioning Mannikin6 6 US$ 2.629 Female K-9 Urinary Catheter7 6 US$ 989 K-9 Thoracentesis Mannikin8 5 US$ 979 Advanced Airway Jerry K-9 CPR Mannikin9 6 US$ 1.649 Critical care Jerry10 4 US$ 2.409 Critical Care Fluffy11 5 US$ 989 Goldie K-9 BHS Simulator Mannikin12 5 US$ 1.749 1 - Modelo da cabeça e pescoço que consiste num mandril esculpido contendo canais para a veia jugular simulada coberta por uma camada em látex movível que simula a pele. Pode ser utilizado para ensinar técnicas avançadas tais como a colocação de cateteres através de agulhas e técnicas de colheita de sangue com uma seringa e agulha ou através de um cateter previamente colocado. 2 - Modelo de membro anterior que consiste em um mandril esculpido contendo canais para a veia simulada coberta por uma camada em látex movível que simula a pele. Pode ser utilizado para ensinar técnicas avançadas tais como a colocação de cateteres através de agulhas e técnicas de colheita de sangue com uma seringa e agulha ou através de um cateter previamente colocado. 3 - Modelos de membro torácico realístico de cães, projetados para o treinamento de aplicações e coleta de fluidos pela via endovenosa. Dispõem de reservatórios para fluidos e sangue artificial. 4 - Modelo de membro torácico, dotado de camadas internas que representam a derme, tecido adiposo e músculos, que permite a prática de procedimentos cirúrgicos internos e externos. 5 - Manequim elaborado para a simulação de primeiros socorros, permite que o aluno pratique ventilação artificial (boca - focinho) e, principalmente, técnicas de imobilização ortopédica. O manequim é dotado de movimentos articulares reais (apenas do lado esquerdo do manequim) de rotação e flexão de membros torácicos e pélvicos. 6 - Manequim totalmente articulado, simulando os movimentos naturais de um cão (flexão, extensão e rotação); pode ser utilizado em práticas de contenção e posicionamento em procedimentos cirúrgicos ou radiográficos. 7 - Modelo que simula as estruturas urogenitais internas e externas de um cão do sexo feminino (vagina, papila e orifício uretral, etc.), além de um reservatório interno de fluido, simulando a vesícula urinária e urina, relevante para a prática de cateterização urinária. 8 - Modelo que permite a simulação de trauma respiratório e a execução da prática de toracocentese. O aluno poderá executar punção de ar e fluido da cavidade torácica. 9 - Manequim de cão dotado de representação realística da traquéia, esôfago, epiglote e pulmões funcionais. Desenvolvido para a prática de intubação e ventilação artificial. 10 - Manequim de cão dotado de uma representação realística da traquéia, esôfago, epiglote e pulmões funcionais. Desenvolvido para a prática de intubação, ventilação artificial, além de mensuração do pulso, administração intravenosa e imobilização de membros. 11 - Manequim de gato dotado de uma representação realística da traquéia, esôfago, epiglote e pulmões funcionais. Desenvolvido para a prática de intubação, ventilação artificial, além de mensuração do pulso, administração intravenosa e imobilização de membros. 12 - Manequim dotado de sistema de emissão de sons, acoplado a um dispositivo externo, que permite ao aluno selecionar e auscultar uma diversidade de ruídos cardíacos e pulmonares. * Fonte: prof. dr. César Dinóla, docente e assistente acadêmico da Anhembi Morumbi
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Utilização de manequins no processo de ensino eaprendizagem na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi
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Universidade Anhembi Morumbi inaugurou, no dia 21 de agosto de 2008, o Centro de Treinamento e Simulação, que reúne, atualmente no Brasil, a melhor tecnologia em um ambiente de 1,2 mil m2, com porte inédito na América Latina, para prática dos alunos das áreas das ciências da saúde, num investimento de mais de R$ 10 milhões. Como a vivissecção é uma prática que ainda permanece em diversas instituições de ensino, o investimento da Anhembi Morumbi foi muito rico de moral e ética. Com o tempo, este investimento paga-se, pois acaba com custos como, por exemplo, de funcionários e de despesas de manutenção dos animais vivos em condições reais de bem-estar animal. No curso de medicina veterinária da Anhembi Morumbi, o prof. dr. César Dinóla, responsável técnico pelo canil, docente e assistente acadêmico da Universidade Anhembi Morumbi, esclarece que: estudos avaliando a eficiência de métodos substitutivos têm mostrado que o processo de ensino e aprendizagem utilizando manequins e simuladores possibilitam a mesma eficiência no alcance dos resultados obtidos com os métodos tradicionais com o uso de animais vivos. Portanto, em consonância com as metodologias de ensino aplicadas em diversas universidades européias e norte-americanas, a Escola de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi passou a adotar nas aulas práticas com cães o conceito dos 3 Rs. (Figura 1) No que diz respeito à utilização de métodos substitutivos (Replacement), o uso de manequins torna-se particularmente
1. Reduction (Redução do número de animais a serem utilizados); 2. Refinament (Refinamento das técnicas evitando-se o sofrimento animal); 3 Replacement: Substituição dos métodos tradicionais por novos procedimentos que atendam as necessidades inerentes a cada disciplina. Figura 1 - Conceito dos três Rs
vantajoso no desenvolvimento de habilidades mecânicas nos estudantes, ou seja, na aquisição de destreza e segurança na realização de procedimentos médicos, entre eles a aplicação de fármacos por diferentes vias de acesso, sondagem traqueal, entre outros (Figuras 2A e 2B). Uma vez que este aprendizado é consolidado com a repetição, nota-se que o uso de manequins permite não apenas um maior número de intervenções (repetições), como atende um número maior de estudantes, procedimento que se torna inviável diante de um número reduzido de cães sem o comprometimento dos conceitos de bem-estar animal”. Dinóla esclarece também que a instituição, coerente com o conceito dos 3 Rs, mantém apenas oito cães para aulas
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práticas não invasivas, associadas às disciplinas como semiologia, andrologia e diagnóstico por imagem. “A manutenção dos mesmos está alinhada a uma visão integral de bem-estar animal, que envolve as dimensões físicas, mentais e de naturalidade, ou seja, a manutenção dos cães nutridos e livres de doenças (físico), livres de fome, sede, desconforto, dor, medo e estresse (mental) e propensos a expressar seu comportamento normal (naturalidade). O bem-estar físico e mental são garantidos pela associação entre a infra-estrutura do canil e a supervisão médico-veterinária (exames clínicos e laboratoriais) periódica, e a naturalidade é praticada por meio de atividades de socialização dos cães, com apoio profissional do comportamentalista e adestrador Dennis Martin”, explicou Dinóla.”. Outro ponto positivo para instituição é o benefício social que promove em parceria com organizações não governamentais (ONGs) de proteção animal, em particular o Projeto CEL (Casa Esperança e Liberdade Animal), ao integrar aulas práticas que envolvem aplicações dos conceitos de anestesiologia e de técnicas cirúrgicas com programa de castração contínuo.
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Figuras 2A e 2B - Uso de manequins na Universidade Anhembi Morumbi para o desenvolvimento de habilidades médicas. A) Acesso a vasos; B) Sondagem traqueal
Residência segue em avaliação pelo CFMV
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Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária (CNRMV/ CFMV) esteve reunida em setembro de 2008, em Brasília, DF, e avançou na definição do perfil ideal para o treinamento de jovens profissionais. Na pauta de trabalhos, destacaram-se
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a avaliação das contribuições ao perfil ideal dos Programas de Residência em Medicina Veterinária (PRMVs), a reavaliação de quatro programas em funcionamento – após dois anos da primeira avaliação – e a finalização dos anais do I Seminário Brasileiro de Residência em
Medicina Veterinária (I SBRMV). No momento, a CNRMV avalia 25 contribuições ao perfil ideal dos PRMVs, encaminhados ao CFMV durantes dois meses de consulta pública, após convite promovido pela comissão em junho, por ocasião da realização do I SBRMV.
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8º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais superou a estimativa de participantes Divulgação
infecciosas; as principais neuropatias e miopatias em cães e gatos; diagnóstico e tratamento da doença do disco intervertebral em cães; abordagem e diagnóstico de tremores em cães; e convulsões e epilepsia em cães e gatos. Foram cinco salas com palestras simultâneas, que ofereceram aos participantes a oportunidade de escolher os assuntos de seu interesse entre as diferentes áreas de atuação do clínico de pequenos animais, como a dermatologia, a ortopedia, o diagnóstico por imagem, a reprodução, a clínica, a patologia clínica, a neonatologia, a gastro-enterologia, a odontologia, a medicina de felinos, a clínica de emergência, a endocrinologia, a cardiologia, a oftalmologia, a imunologia, a leishmaniose, as zoonoses, a saúde pública e os animais silvestres.
Solenidade de abertura do 8º CONPAVEPA
Darryl Mills, da University of Tennessee, veio ao Brasil patrocinado pelo Vet Spa (www.vetspa.com.br)
Alexandre Mazzanti, Sandra R. Torelli, Ronaldo C. Costa e Monica V. B. Arias, alguns dos palestrantes do pré-congresso de neurologia
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Além disso, a programação contou com três tópicos avançados ao final de cada dia do congresso: etiopatogenia e tratamento da ruptura do ligamento cruzado, reabilitação e ortopedia. No dia 20 de setembro, o evento foi finalizado com o pós-congresso de fotografia, na sede da Anclivepa-SP, que contou com a participação do professor Idércio L. Sinhorini, com palestras sobre o histórico e a prática da fotografia científica; fotomacro e fotomicrografia; a fotografia digital nos meios científicos e estudo comparativo entre os processos fotográficos digital e analógico.
O congresso teve excelente participação de médicos veterinários
Entre os especialistas nacionais destacam-se os nomes de Carlos E. Larsson, Cássio R. A. Ferrigno, Paulo Iamaguti, Ana Carolina B. C. F. Pinto, Regina K. Takahira, Leonardo P. Brandão, Silvia Crusco, Luiz Henrique de A. Machado, Silvia N. Godoy, Paulo S. Salzo, Rodrigo C. Rabelo, Archivaldo Reche Jr., Márcia M. Jericó,
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Editora Guará
8º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Conpavepa), uma parceria entre a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-SP) e a empresa Nielsen Business Media, foi realizado de 16 a 20 de setembro, no Hotel Transamérica, em São Paulo. O evento teve lugar paralelamente à 7ª edição da Pet South America, que ocorreu de 17 a 19 de setembro, no Transmerica Expo Center, em São Paulo. Considerado um dos maiores eventos de medicina veterinária do Brasil, o 8º Conpavepa ofereceu o pré-congresso de neurologia, no dia 16 de setembro, também no Hotel Transamérica, abordando diversos temas, como diagnóstico e pesquisa na neurologia veterinária, coordenado por Ronaldo Casimiro da Costa, da Ohio State University. O pré-congresso de neurologia contou com a participação de alguns dos maiores especialistas nacionais sobre o assunto, como os professores João Pedro de Andrade Neto, Mônica Vicky Bahr Arias, Ronaldo Casimiro da Costa e André Selmi, entre outros. Foram destacados a abordagem do paciente com sinais vestibulares; traumatismo crânio-encefálico; meningoencefalites infecciosas e não
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José L. Catão-Dias, Hélio A. de Morais, Pedro L. de Camargo, Maria de Lourdes Reichman, Mary Marcondes, João Telhado, Michele Venturini, Paulo C. Maiorka, Maria Lúcia Z. Dagli, Aguemi Kohayagama, Francisco J. Teixeira Neto, Fábio Futema, Ronaldo Lucas, Marconi R. de Freitas, Marcia Mery Kogika, entre outros. O destaque internacional, Darryl Mills, da University of Tennessee, discorreu sobre a reabilitação física de animais, os exercícios terapêuticos e aquáticos e a estimulação elétrica neuromuscular, entre outros assuntos.
Apresentação de trabalhos em pôsteres
Diretoria da Anclivepa-SP, que realizou um evento de qualidade internacional
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7ª edição da Pet South America proporcionou excelentes negócios no setor Os 260 expositores nacionais e internacionais presentes na Pet South America receberam, entre 17 e 19 de setembro, mais de 20 mil visitantes nacionais e internacionais
De olho no verão, a Bayer levou à feira sua campanha contra parasitas
O creme antibiótico Crema 6A, que agora tem nova apresentação de 50g, foi destaque da Labyes no evento
A Coveli, empresa com ampla linha de produtos para o mercado pet, inclusive aves, marcou sua presença no evento
A Hertape-Calier deu amplo destaque ao seu lançamento: a vacina Leish-Tec contra leishmaniose
Fort Dodge fez grande divulgação do seu lançamento contra pulgas, o Pro Meris. A metaflumizona é o princípio ativo do produto
Convenia, o antibiótico injetável de longa duração, lançado recentemente pela Pfizer, foi alvo de grande atenção pelos visitantes
O Condrovet Pet, lançamento da Biovet, foi um dos produtos de destaque da empresa
A Ouro Fino marcou presença com nova identidade visual e com lançamentos no setor
Além de campanhas de sucesso como a do Frontline Proteção Plus, a Merial anunciou a construção de nova fábrica de mastigáveis para pets, em construção na cidade de Paulínia, SP
Além dos produtos lançados no ano de 2008, a Vetnil focou a campanha 2008 Vetnil a mil, que destaca o franco crescimento da empresa tanto no mercado nacional quanto no internacional
A Pet South America foi o primeiro evento no qual a Intervet Schering-Plough Animal Health compareceu oficialmente. “A nova empresa está com mais produtos e soluções para o mercado pet”, declararam Gláucia Gigli (gerente) e Fernando Heiderich (presidente)
Os tradicionais produtos da König seguem fazendo sucesso em mais um ano de participação da empresa
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Além de organizar o 3º Seminário Veterinário Solidário: Responsabilidade Social & Crescimento Profissional, a Arca Brasil expôs na feira seus produtos e projetos desenvolvidos com as empresas parceiras. A Guabi, uma das grandes parceiras da Arca Brasil, expôs a sua linha Natural de alimentos para cães e gatos
O Provet, com 21 anos de serviços nas áreas de diagnóstico por imagem, laboratório e especialidades, divulgou duas grandes novidades no evento: a nova unidade no Jardim Anália Franco e parceria com o Odontovet, primeiro centro específico de odontologia veterinária do Brasil
O sucesso do Center Book está presente tanto nas feiras quanto na sua nova loja virtual
A linha Dr. Clean da Agener fez bastante sucesso com a apresentação do filme em 3D Viagem ao centro da pele! Quem não foi ao “cine Agener” pode conferi-lo no sítio da empresa: www.agener.com.br
O 3º Seminário Veterinário Solidário: Responsabilidade Social & Crescimento Profissional Promovido pela ARCA Brasil, o evento aprofundou questões de interesse público, com relevância para o clínico e a sociedade em geral como a leishmaniose visceral canina, tema abordado por Fábio Nogueira e Vitor Márcio Ribeiro. Marco Gioso, presidente da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-SP), abordou as novas legislações e seus impactos para o Da direita para esquerda, Fábio Nogueira e Vitor profissional de medicina veterinária. Márcio Ribeiro. Ambos esclareceram diversas Gioso destacou a necessidade de se questões sobre a leishmaniose visceral canina e lutar pelos próprios direitos e por aquilo em que se acredita. Ele citou defenderam o tratamento seletivo de cães como fundamental o aspecto da aplicabilidade de uma lei, sem a prévia discussão junto à população. Ele usou como exemplo a Lei Municipal nº 14.483/07, que obriga criadores de cães e gatos a castrar e microchipar os animais comercializados no município de São Paulo. Ou ainda a Lei Estadual nº 12.916, que proíbe os sacrifícios de animais saudáveis pelos Centros de Controle de Zoonoses, que tem motivado críticas de contribuir com a superlotação nos canis públicos e o aumento de animais abandonados nas ruas. O final do evento foi reservado para a apresentação de experiências de sucesso na gestão de clínicas que realizam castrações de cães e gatos em alto volume e a preços reduzidos.
Sempre oferecendo novidades, o Instituto H. Pardini já tem disponível o teste de PCR Real Time (quantificação da carga parasitária) para cães com leishmaniose visceral
A Bio Brasil esteve presente com uma grande novidade. Agora, além dos produtos da Idexx, a empresa também representa a Terumo, oferecendo, bombas infusoras, bombas de serinas e equipos
Fiprolex, o pulguicida e carrapticida da Ceva Santé Animale, está no mercado desde janeiro. Seu sucesso tem se perpetuado em diversas ações e eventos que a empresa participa. Inclusive, em eventos não específicos da área como, por exemplo, a Bienal do Livro, evento que a Ceva participou em parceria com a Verus Editora, responsável pelas publicações das obras de Cesar Millan no Brasil
A identificação animal por microchipagem não ficou de fora do evento. A Animall Tag esteve presente divulgando os benefícios e a importância desta importante iniciativa
Diversas novidades foram apresentadas pela Centralvet, empresa especializada na gestão de canais de distribuição, expansão de mercado nacional, importação e exportação
Laser veterinário terapêutico, uma das novidade presente no espaço da Brasmed
• Internacional Pet Business Meeting • • A Comissão de Animais de Companhia (COMAC), grupo de trabalho do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN), em parceria com a Associação Nacional de Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal Pet), promoveu o Simpósio Relacionamento Pet e Proprietário: seu impacto na sociedade, durante o Internacional Pet Business Meeting, que aconteceu nos dias 18 e 19 de setembro, simultaneamente à Pet South América, no Transamérica Expo Center, em São Paulo. O ciclo de palestras abordaram temas relacionados aos aspectos comportamentais que envolvem a relação entre donos e animais de estimação, com destaque na influência dessa relação no bem-estar geral das pessoas, na saúde do animal e até na movimentação dos negócios do setor pet, estimada em cerca de R$ 4 bilhões por ano. Para Luiz Luccas, especialista do mercado pet e presidente da COMAC, e um dos palestrantes do evento, a relação entre animais e seus donos é cada vez mais considerada pelas empresas do segmento pet na elaboração de suas estratégias de marketing e comerciais. Tanto que ele considera que a valorização desta relação é um importante vetor de crescimento do mercado pet nacional. Essa consideração é compartilhada por José Edson, representante da Anfal Pet, que contextualizou o atual momento do setor no evento. Luccas citou uma pesquisa de mercado realizada há cerca de um ano pelo José Edson (Anfal Pet) contextualizou o atual momento do mercado de pet food laboratório veterinário Merial Saúde Animal, que ajudou a empresa a reposicionar toda a comunicação de seus produtos. A pesquisa realizada com mais de 2 mil proprietários identificou que 40% dos donos de animais de estimação consideram o pet como um filho. Um dos pontos que chamou a atenção é que a intensidade desta relação independe da classe social. Entre os entrevistados pertencentes à classe C, cerca de 30% também consideram seu pet como um membro da família. E o investimento nesta relação se equipara aos investimentos na família. “Estes dados mostram que cada vez mais os animais de companhia conquistam lugares de importância na vida das pessoas. Isto, evidentemente tem aspectos extremamente positivos para o mercado, mas também envolve diversas Luiz Luccas (Comac) destacou que, em pesquisa realizaquestões comportamentais e psicológicas que se refletem no atual modo da com consumidores, foi identificado que 40% dos donos de animais de estimação consideram o pet como um filho de vida da sociedade contemporânea”, declarou Luiz Luccas. Durante o Simpósio, além dos impactos mercadológicos, foram tratados os aspectos emocionais e comportamentais da relação pet-proprietário, com abordagens sociológicas e psicanalíticas. Para isso, o evento contou com a participação de Ceres Berger Faraco, médica veterinária e PhD em Psicologia, e Mauro Lantzman, médico veterinário e psicólogo, que discutiram os aspectos positivos e negativos do relacionamento afetivo das pessoas com seus animais de estimação na sociedade. Além disso, foram abordadas questões como o uso inadequado de produtos por consumidores e veterinários e a dificuldade de acesso a produtos e serviços de saúde animal e alimentação adequada por parcela significativa dos animais de companhia do Brasil. De acordo o presidente da COMAC, o objetivo do evento foi possibilitar o intercâmbio de informações, O relacionamento afetivo entre idéias e iniciativas que estimulem o mercado pet brasileiro. “Apesar da busca crescente da homens e animais foi alvo da do médico veterinário e população por cuidados médicos, higiênicos e alimentares destinados aos seus animais de palestra psicólogo Mauro Lantzman estimação, cerca de 80% dos médicos veterinários brasileiros ainda utilizam medicamentos para saúde humana em animais por desconhecer as soluções já desenvolvidas pela indústria”, ressaltou. “Hoje, há 11 milhões de cães nos lares de classe C, e apenas 25% da população brasileira de cães e gatos recebem algum cuidado veterinário. Estamos empenhados em conscientizar a população sobre a importância dos produtos para saúde animal, que ainda são considerados mercadorias de luxo. Percebemos a necessidade de promover o fácil acesso a medicamentos veterinários, assim como aos serviços de vacinação, vermifugação e aos tratamentos preventivos”, complementou.
Rebeca Dung em palestra sobre biossegurança. Sala lotada e público atento. O tema merece esta atenção e dedicação dos profissionais do setor
5º Seminário de Lojistas Pet South America O seminário contou com a presença de palestrantes renomados e atuantes no setor, que discutiram temas atuais e pertinentes ao dia-a-dia de profissionais como lojistas, vendedores e médicos veterinários. “O momento é de qualificação. Não há mais espaço para o amadorismo e para ações desencontradas dentro desta área tão competitiva. O evento é uma ótima oportunidade para se obter um diferencial competitivo, prático e focado no que realmente importa”, comentou Sergio Lobato, consultor de marketing para o mercado Pet e realizador da 5ª edição de seminário. Entre os temas debatidos, destacaram-se os novos formatos de negócios e a implantação dos conceitos de biossegurança no cotidiano do mercado pet, bem como a atenção ao controle do negócio de forma mais intensa, que são as grandes tendências na gestão de empreendimentos pet por todo o Brasil.
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A Total Alimentos teve grande partipação na Pet South America. Além de expôr seus produtos e lançamentos como a linha Naturalis, a empresa divulgou a conquista do selo PiqPet, que atesta segurança e qualidade dos produtos. “Conquistamos o selo em todas as categorias de produtos”, comentou Antonio Miranda, presidente da Total
A Royal Canin aproveitou seu grande espaço na feira tanto para expôr seus produtos e receber seus clientes e visitantes como para ministrar palestras sobre nutrição animal
Muitos visitantes passaram pela Purina Pro Plan e registraram o momento na companhia de amáveis cães sob o comando de Alexandre Rossi. As fotos tiradas estão disponíveis no endereço www.purina.com.br . Acesse e pegue a sua
Todos os tipos de pets estavam presentes na feira. Inclusive os especiais
A Virbac, o primeiro laboratório mundial a dedicar-se exclusivamente à saúde animal, mostrou toda a sua linha de produtos e festejou os 40 anos da sua fundação
O Pet Shop Mars, repleto com os produtos Pedigree e Whiskas, foi sucesso de visitação
As linhas Ciclos Evolution (super premium) e Must (premium), ambas para cães, foram algumas das novidades da Evialis. A empresa também levou a linha Evicanto, para nutrição de pássaros A Electrolux participou do evento com um grande lançamento, o aspirador Pet Lover. O equipamento é capaz de aspirar pêlos deixados por animais domésticos em carpetes, tapetes, sofás, cortinas e outros tipos de pisos. Graças aos acessórios diferenciados, Pet Lover intensifica a performance na limpeza e aspira pêlos de animais com desempenho singular
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A Organnact, empresa especializada em produtos nutracêuticos, probióticos, vitamínicos, minerais e aminoácidos para animais, lançou durante a feira dois produtos: o Promum Dog Tabs e Deratopic Tabs, suplementos nutricionais em formato de tabletes palatáveis aos cães. Esse lançamento foi resultado dos investimentos da empresa, que aplicou R$ 3 milhões – para o desenvolvimento de novos produtos, marketing e aquisições – com a intenção de ampliar sua atuação no mercado por meio de um portfólio diferenciado. A emrpesa investiu também em outras áreas como a fitoterapia e espera duplicar seu faturamento previsto em R$11 milhões nesse ano, para R$ 20 milhões em 2009
Camas Peh Pets: bem-estar animal com excelente custo benefício
A Ecocosméticos divulgou sua linha ecodog de protudos para higiene e embelezamento. Além de consciência ambiental na produção, a empresa ajuda defensores dos direitos dos animais como a ONG Focinhos Gelados, que compartilhou espaço com a empresa divulgando suas ações
Produtos para pássaros foi uma das novidades da Vansil durante a feira
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Oncologia veterinária
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Dermatologia, endocrinologia e odontologia veterinária
veterinário Rodrigo Ubukata, oncologista do Provet, apresentou dois trabalhos referentes a diagnóstico e tratamento do câncer em cães durante o Congresso anual de Oncologia Veterinária realizado em Seattle, EUA. O primeiro trabalho refere-se ao tratamento de tumor de mama em cães machos. Segundo Ubukata, “este tipo de tumor é pouco freqüente em machos e costuma ser muito mais agressivo do que nas fêmeas”. O outro trabalho aborda métodos de detecção precoce de possíveis metástases em linfonodos em cães portadores de mastocitoma cutâneo. O diferencial deste diagnóstico é a marcação radioguiada, mesma técnica utilizada em mulheres com câncer de mama (linfonodos sentinelas). A idéia surgiu quando o proprietário do cão, um médico especializado em mastologia, sugeriu o método de diagnóstico. Por enquanto, não existe descrição anterior da utilização deste método em outros animas com esse tipo de tumor, “mas isso deve virar rotina no futuro, acredita Ubukata.
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e 3 a 5 de outubro de 2008, em Belo Horizonte, MG, foram realizados dois importantes eventos: o III Congresso Brasileiro de Odontologia Veterinária (III COBOV) e o I Forum Latino-americano de Dermatologia e Endocrinologia de Pequenos Animais. O COBOV foi marcado por grande troca de experiências e também pela eleição da nova diretoria que comandará a Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (ABOV - www.abov.org.br) durante o triênio 2009-2011. Ainda em 2008, a ABOV participará do XI Congresso e XVII Encontro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abravas), que ocorre entre os dias 26 e 30 de novembro, em Santos, SP, na realização do pré-congresso: o I Fórum Nacional de Odontologia e Estomatologia em Animais Selvagens, que será realizado nos dias 26 e 27 de novembro. O evento de dermatologia e endocrinologia, por sua vez, desParte da nova diretoria, eleita durante o III COBOV tacou-se pela participação de re(da esquerda para a direita): Jonathan Ferreira nomados especialistas como (divulgação), Maria Izabel Valduga (secretária geral), Marcello Roza (conselho consultivo), Luiz Sofal (1º Carlos E. Larsson, Marconi Fatesoureiro), Daniel G. Ferro (presidente), Michele rias, Marcia Jericó, Ronaldo LuVenturini (1ª secretária), Marco A. Gioso (vice-presicas, Adriana C. Val, entre outros. dente) e Ricardo Batista (conselho consultivo)
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Enriquecimento ambiental no Zoológico de São Bernardo tem reconhecimento mundial
Arara-canindé (Ara ararauna) em atividade promovida pelo enriquecimento ambiental
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Fauna brasileira - O Zoológico de São Bernardo é o único do Estado de São Paulo a ter animais somente da fauna brasileira e com ênfase na Mata Atlântica. Com 10 mil m2, 32 recintos e três ilhas, o Zôo do Parque Estoril abriga 270 animais de 72 espécies diferentes, sendo algumas espécies ameaçadas de extinção, como o cachorro vinagre, o papagaio-chauá, papagaio-de-peito-roxo e arara azul. Entre os animais que fazem mais sucesso com os visitantes destacam-se as antas e os catetos. O Zoológico do Parque Estoril funciona de terça a domingo, das 10h às 17h. O acesso ao Parque Estoril é feito pelo Km 29,5 da Via Anchieta, no trevo do Riacho Grande e Estrada Caminho do Mar (SP-148), que dá acesso à Rua Portugal.
contribui para a melhoria das condições de bem-estar dos animais selvagens mantidos em cativeiro. “A necessidade de se manter os animais cativos ocupados tem sido reconhecida há muito tempo”, explicou Valerie Hare. Quando é realizado adequadamente, o enriquecimento proporciona, aos animais de cativeiro, a possibilidade de terem comportamentos o mais próximo possível do que exibem em seu meio natural e que retrate condições de bem-estar satisfatórias.
Enriquecimento ambiental em recinto de anta (Tapirus terrestris) Arquivo: Zoológico de São Bernardo do Campo
Zoológico de São Bernardo do Campo foi comparado aos melhores do mundo em termo de enriquecimento ambiental pelos especialistas David Shepherdson, de Orogon Zôo, dos Estados Unidos e Valerie Hare, do The Shape of Enrichment, organização com sede em San Diego, que tem o objetivo de treinar técnicos para desenvolver trabalhos de enriquecimento ambiental. Os elogios foram feitos durante o 2º Workshop Brasileiro de Enriquecimento Ambiental para Zoológicos que aconteceu em São Bernardo, SP, entre os dias 1º a 4 de outubro de 2008. O evento foi organizado pela Prefeitura de São Bernardo do Campo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, pelo The Shape Of Enrichment e pela Universidade de São Paulo, com apoio da SPZ - Sociedade Paulista de Zoológicos, Abravas - Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens e Furnas - Centrais Elétricas. O bem-estar do animal é uma preocupação da equipe de biólogos e veterinários do Zoológico do Parque Estoril. Por meio do Programa de Enriquecimento Ambiental (PREA) do zoológico são elaborados estudos comportamentais que irão determinar atividades para melhorar a qualidade de vida. Esse mecanismo é conhecido como enriquecimento ambiental e utiliza um conjunto de técnicas para incentivar o animal que está em cativeiro, a exibir o comportamento natural da espécie. A secretária de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Maria Alice Bérgamo,
Valerie Hare
Valerie Hare
disse, na abertura do workshop, que o zoológico de São Bernardo realiza um trabalho importante para a preservação dos animais, especialmente os de espécies da fauna brasileira. Alice Bérgamo divulgou que no projeto de revitalização do Parque Estoril, o zoológico e o meio ambiente têm prioridade. “Todo governante deveria ter como principal preocupação a preservação dos animais e do meio ambiente, como ocorrem em São Bernardo”, explicou a secretária. O workshop reuniu representantes dos zoológicos de São Paulo, de Curitiba, de Cubatão, de Guarulhos, do Parque Beto Carrero, da Associação Mata Ciliar, do Projeto Mucky, do Parque Ecológico do Tietê e do Aquário de São Paulo. Para o veterinário do Zoológico de São Bernardo, Marcelo da Silva Gomes, sediar um evento dessa importância significa uma grande conquista para São Bernardo. “Temos o reconhecimento internacional do nosso trabalho”, completou a bióloga do Zoológico do Parque Estoril, Andréa Moraes Prado. O enriquecimento ambiental
Cachorro-vinagre (Speothos venaticus)
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Mico-estrela (Callithrix penicillata)
Em 2007 os pets foram vítimas da melamina. Em 2008 as vítimas foram os seres humanos
E
m 2007, o mercado de pet food nos EUA, Europa e África do Sul sofreu um gigantesco recall. Milhares de cães e gatos vieram a óbito em função de falência renal. Depois de muita investigação e envolvimento do FDA, chegou-se à substância causadora de toda a tragédia, a melamina presente em gluten importado da China. O impacto no mercado de pet food foi drático. Somente a marca Menu
Foods sofreu um prejuízo ao redor de 42 milhões de dólares. Não bastasse esta drástica experência em 2007, mais uma vez a melamina entrou no circuito dos alimentos, mas desta vez, de humanos. Neste 2º semestre de 2008, produtos chineses manufaturados com leite foram alvo de recall em todo o mundo. Mais de 50.000 crianças foram hospitalizadas com problemas renais. Fazendas de produção de leite e laticínios,
almejando aumentar a taxa de proteína do leite, estavam adicionando a melamina. Diversos países africanos, asiáticos e membros da União Européia tomaram medidas para proibir ou limitar o consumo de produtos chineses importados que possuem leite em sua fórmula. O governo chinês anunciou que tomou medidas para garantir a qualidade, mas será difícil reconquistar a confiança do consumidor.
Homenagem ao dr. Jim Corbin
N
o dia 15 de setembro, a Total Alimentos realizou a inauguração de um busto em homenagem ao dr. Jim Corbin, pesquisador da Universidade de Illinois que trabalhou por mais de 10 anos como consultor técnico da empresa. Reconhecido em todo o mundo como percussor da moderna indústria de alimentos para animais de companhia, dr. Corbin foi o primeiro a utilizar a técnica de extrusão – somente encontrada na indústria de alimentos para consumo humano – na fabricação de alimentos para pets. “Pelo exemplo e carinho que dr. Corbin sempre dedicou à Total Alimentos S.A., queremos perpetuar sua imagem e princípios também através da presença do busto, colocado na área de trânsito da nossa indústria”, afirma o presidente Antônio Teixeira de Miranda Neto. A escultura foi desenvolvida pela artista plástica Zandra Miranda, que procurou retratar uma expressão característica de dr.Corbin, com um leve arqueamento da sobrancelha esquerda. Mais de 300 pessoas estiveram presentes no evento, que contou com a ilustre participação do filho do Dr. Jim, Carl Corbin. “Eu não sabia o que iria encontrar aqui e todas as minhas expectativas foram superadas. Tenho certeza de esta homenagem realmente veio do coração da equipe da Total, do dr. Miranda e de sua família”, revelou. O atual consultor técnico da Total, dr. George Fahey, também proferiu algumas palavras sobre o dr. Corbin, ressaltando os avanços que ele trouxe para a indústria mundial de pet food. 24
Diretoria da Total Alimentos e convidados durante a inauguração do busto do dr. Jim Corbin
Intercalando lembranças de momentos vividos pelo dr. Corbin no Brasil, houve apresentações do Coral de Funcionários da Total Alimentos, regido pela coordenadora e maestrina Rosymeyre Bernardes, e da Banda Tricordiana com crianças da comunidade, comandada por Braz Chediak, coordenador do projeto social. O encerramento se deu com a execução dos Hinos Nacional Brasileiro e NorteAmericano. Dr. Jim Corbin: valores perpetuados Reconhecido por seu bom humor constante, dr. Jim Corbin sempre surpreendia a todos com afirmações intrigantes e divertidas. Em uma carta de 11 de fevereiro de 2005, escreveu: “Se eu fosse obrigado a escolher apenas dois alimentos, mais água, para comer pelo resto da minha vida, um seria o ótimo alimento para cães da Total, e outro um suco de laranja do Brasil”. Além da visão global de mercado, dr. Corbin transmitia valores importantes tais como educação e respeito com os demais, como aponta seu filho Carl.
“Outra lição que ele nos deixou foi primeiro aprender para depois mostrar aos outros. Não adianta só pedir, você tem que aprender e mostrar como se faz”, comenta. “O busto representa nosso reconhecimento à dedicação do dr. Jim Corbin à Total Alimentos S.A., aos seus rígidos princípios éticos e visão científica de nossos negócios”, afirma dr. Miranda. Jim Corbin nasceu em uma fazenda nos arredores de Providence, em Kentuchy, EUA. Inscreveu-se em Manejo Animal na Universidade de Kentucky e foi Tenente da Marinha Americana, servindo principalmente a área do Oceano Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Se uniu à Ralston Purina Company como gerente de pesquisas em rações especiais em 1954 e foi o primeiro diretor da Estação de Pesquisas da empresa, tendo sua imagem impressa na embalagem das rações durante muitos anos. Em 1973, retornou ao departamento de Nutrição Animal da Universidade de Illinois onde coordenou o programa de Pesquisa e Ensino em nutrição de animais de companhia. Fez dessa atividade um ideal, trabalhando 14h por dia e seis dias por semana, com o objetivo de promover a pesquisa em nutrição e o bemestar dos animais de companhia internacionalmente. Ao mesmo tempo, desenvolveu um trabalho como consultor junto a companhias como a Iams Company (EUA), Lublow (Canadá) e Total (Brasil). Trabalhou incessantemente até o seus últimos dias, vindo a falecer em março de 2007.
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
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Saúde pública A raiva em destaque*
O
dia mundial da raiva (www. worldrabiesday.org) foi criado em 2006 por um grupo de pesquisadores e profissionais que formaram a “Alliance for Rabies Control” (www.rabiescontrol. net), que tinham como missão alertar sobre o perigo da raiva humana e animal, assim como as medidas que podem ser adotadas para prevenção e controle. Em 8 de setembro de 2007, foi comemorado pela primeira vez, tendo o envolvimento de aproximadamente 400.000 pessoas e pelo menos 74 países. Nesse ano de 2008, o dia foi comemorado em 28 de setembro. Apesar de sua letalidade ser de 100%, é uma doença imunoprevenível com um esquema de profilaxia eficaz, quando utilizada de maneira oportuna e correta, com aplicação de imunobiológicos (vacina, soro e imunoglobulina anti-rábica) adquiridos pelo Ministério da Saúde e oferecidos ao público pelo Sistema Único de Saúde. Conforme Portaria n. 5 de 21 de fevereiro de 2006 da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), todo caso suspeito ou confirmado de raiva humana é de notificação compulsória e imediata às Secretarias Estaduais da Saúde, e estas deverão informar, também de forma imediata, à SVS. Ainda, epizootias com ou sem mortes de animais que podem preceder a ocorrência de doenças em humanos ou que sejam consideradas de importância epidemiológica (incluindo a raiva), também são de notificação imediata. Segundo a Organização Mundial da Saúde, estima-se no mundo a ocorrência de cerca de 55.000 casos ao ano transmitido por cães, principalmente nos continentes asiático e africano. Conforme o Plano de Eliminação da Raiva Urbana nas Américas até o ano de 2009, acordado com a Organização Pan-Americana de Saúde, o Brasil vem conseguindo reduzir o número de casos humanos transmitidos por cães e gatos. Todavia nos anos de 2004 e 2005 ocorreu um aumento no número de casos humanos notificados devidos a surtos de raiva transmitidos por morcegos hematófagos no Pará e Maranhão. Em 2007, houve o registro de um caso de raiva humana transmitido por cão, no Estado do Maranhão, enquanto em 2008, até o momento, um caso transmitido por primata não humano no Estado do Ceará. 26
Em 2002 foram notificados 635 cães e 85 gatos raivosos, sendo que em 2007 o número caiu para 83 cães e 4 gatos positivos para raiva, demonstrando um controle no ciclo urbano. Em contrapartida, houve maior detecção dos casos de raiva em espécies silvestres, onde em 2002 foram notificados 109 morcegos, 2 primatas não humanos e 28 canídeos silvestres e, em 2007, passou para 134 morcegos, 5 primatas não humanos e 45 canídeos silvestres positivos para raiva. Vale salientar que mesmo havendo uma tendência para o controle da raiva canina, o risco de contrair a doença por outras espécies animais continua existindo. Uma das principais medidas de controle da raiva canina adotada no Brasil é a vacinação realizada em cães e gatos na forma de campanha. O Ministério da Saúde subsidia financeiramente duas campanhas anuais, sendo a principal realizada no segundo semestre de cada ano e é denominada de Campanha Nacional. Atinge a todos os estados com exceção do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, sendo que este último realiza somente vacinações nos municípios de fronteira com o Paraguai. Proporciona ainda, uma segunda campanha denominada de Campanha de Intensificação que é realizada no primeiro semestre, em municípios considerados de risco para raiva. Na campanha nacional de 2007 foram vacinados 18.967.689 cães e 4.288.466 gatos, totalizando 23.256.155 animais, com cobertura vacinal canina de 94,09%. Na campanha de intensificação de 2007 foram vacinados 3.707.306 cães e 1.197.499 gatos, totalizando 4.904.805 animais, com cobertura vacinal canina de 77,99%, realizada em 14 Estados brasileiros. São atendidos no Brasil, cerca de 400.000 atendimentos anti-rábicos ao ano, apresentando uma curva crescente ao decorrer dos anos, representando um alto custo. No ano de 2007, foram adquiridas pelo Ministério da Saúde, 1.800.000 doses de vacina anti-rábica humana em cultivo de célula, 194.000 ampolas de soro heterólogo e 15.000 ampolas de imunoglobulina, representando um custo total de R$ 43.372.882,00.
* Fonte: Ministério da Saúde
Raiva - orientações básicas 1. Ao ser agredido por animais, deve-se lavar imediatamente a ferida com água e sabão em abundância e imediatamente procurar assistência médica, pois somente o profissional de saúde poderá realizar avaliação do paciente, e se necessário indicar o tratamento profilático anti-rábico humano; 2. é importante destacar que ao ser mordido por animais silvestres (tais como os morcegos, macacos, saguis, raposas), mesmo que ferimentos pequenos, o tratamento profilático anti-rábico humano é imprescindível e deve ser buscado o mais rápido possível; 3. desestimular a criação de animais silvestres em domicílio; 4. estimular a posse responsável, ou seja, não deixar seus cães e gatos soltos nas ruas; passear com seu cão sempre com uso de coleira e guia; cuidar bem de seu animal, consultando o médico veterinário e aplicando as vacinas recomendadas; optar pela castração, caso não queira se responsabilizar pelos filhotes; 5. existem duas principais formas clínicas de sinais e sintomas de raiva nos cães e gatos: - se o seu animal apresentar comportamento agressivo, inquietação, anorexia para deglutição, latido rouco e posterior paralisia, coma e morte em até 10 dias (forma furiosa); - se o seu animal procurar isolar-se em locais escuros, apresentar paralisia e evoluir para morte em até 10 dias (forma paralítica). Nesses casos, informar a Secretaria Municipal de Saúde imediatamente, para que o animal seja recolhido e seja realizado exame para diagnóstico de raiva. Maiores informações sobre a raiva podem ser acessadas no guia de vigilância epidemiológica, nos endereços www.saude. gov.br/svs ou enviando um email para: raiva.svs@gmail.com.
A turma da Mônica também participa na prevenção da raiva com fascículo especial disponível no formato PDF no endereço: www.paho.org/Portuguese/AD/ DPC/VP/monica.pdf
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Proteção e Prevenção contra parasitas internos e externos
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Out/08
Doutor, escolha a melhor opção contra os parasitas neste verão
Saúde pública Avanço da leishmaniose visceral canina preocupa CRMV-MG Dados do Ministério da Saúde revelam que entre janeiro e junho de 2007, último período em que as informações foram tabuladas, 3.505 casos da doença foram registrados, ou seja, o número é quase igual o computado ao longo de todo o ano de 2006
O
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais (CRMVMG) e a equipe técnica da Fort Dodge Saúde Animal promoveram, no dia 6 de outubro de 2008, reunião para discutir a comercialização da Leishmune, a primeira vacina lançada contra a leishmaniose visceral canina (LVC). Médicos veterinários de cidades consideradas peri-endêmicas, como Governador Valadares, Timóteo, Ipatinga, Uberlândia entre outras, estão exigindo o acesso à vacina Leishmune, aprovada pelo Ministério da Agricultura em 2003, para o uso em cães domiciliados em áreas onde a doença não está instalada. Entendem que o uso da vacina é preventivo, portanto sua administração deve ser incentivada antes da epizootia anunciada em mídia. Segundo a dra. Ingrid Menz, gerente técnica da Fort Dodge, a empresa possui estoque da vacina suficiente para realizar a distribuição em todas as regiões. “A vacina é um dos mais importantes métodos para prevenção dos cães, evitando que eles se tornem reservatórios da doença. Estudos prévios indicam que uma população de cães vacinados pode contribuir para a redução da incidência humana da leishmaniose visceral”. A preocupação com a doença no Estado de Minas Gerais é grande. Somente neste primeiro semestre, 149 casos da doença foram registrados, ocasionando 11 mortes, segundo dados
da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais. Neste encontro, além da equipe técnica da Fort Dodge e integrantes do Conselho Regional de Medicina Veterinária participaram os profissionais da saúde pública, de escolas veterinárias, dos laboratórios que realizam os diagnósticos da doença e clínicos de pequenos animais. O resultado final do encontro foi a possibilidade de comercialização da Leishmune em áreas peri-endêmicas, após treinamento técnico realizado pela equipe da Fort Dodge, atendendo as solicitações dos médicos veterinários, Mas o avanço da doença, não é uma preocupação isolada do Estado de Minas Gerais. Há duas semanas o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) recebeu em Brasília a equipe técnica do laboratório Fort Dodge Saúde Animal para discutir a prevenção da Leishmaniose Visceral Canina, e esclarecer todas as dúvidas ainda existentes sobre a vacina. Segundo Leonardo Teixeira, gerente de área da Fort Dodge, que esteve presente neste encontro, foram esclarecidas dúvidas fundamentais sobre o diagnóstico sorológico realizado em inquéritos epidemiológicos e sobre outros métodos de diagnóstico parasitológico realizados pelos laboratórios para confirmação da enfermidade nos cães. “Como a vacinação está citada na literatura científica como um
Anclivepa Brasil é contra a portaria interministerial 1426 que proíbe o tratamento da leishmaniose visceral canina Há alguns anos, a sintonia entre clínicos e o Ministério da Saúde (MS) esteve bem produtiva. Prova disto foi a elaboração de um projeto que estava sendo desenvolvido pelo MS, com o apoio dos clínicos veterinários, que iria regulamentar o tratamento da leishmaniose visceral canina. Porém, com a substituição de alguns cargos de chefia no MS, o projeto foi para a gaveta e vingou um outro projeto, que culminou com a publicação da portaria interministerial n. 1426, de 11 de julho de 2008, que proíbe o tratamento de leishmaniose visceral canina com produtos de uso humano ou não registrados no MAPA. Esta portaria gerou uma situação de conflito entre os respectivos ministérios e a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, que está tomando providências na justiça para a revogação da portaria. Esta conduta interministerial vai na contramão das constatações científicas, pois é de conhecimento da comunidade científica de que
28
os cães em tratamento apresentam, pela prova de imunohistoquímica de pele, sucessivos resultados negativos, não oferecendo riscos para a saúde pública. É com base em conhecimentos como este que a leishmaniose visceral canina é tratada em diversos países. Na Europa, por exemplo, a Merial comercializa o Glucantime veterinário específico para uso em cães, a Virbac recém lançou um novo medicamento, o Milteforan, e a Affinity Pet Care possui na sua linha de alimentos sob prescrição médico veterinária, a Advance Veterinary Diets, o alimento Leishmaniasis Management, específico para cães com leishmaniose visceral. Enquanto isso, não é tomada medida fundamental para dar suporte à prevenção, não somente da leishmaniose visceral, mas de diversas outras zoonoses: a inclusão da classe médico veterinária aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Em Seminário de Saúde Pública Veterinária realizado em São Paulo, nos dias 4 e 5 de
dos melhores métodos de prevenção da leishmaniose visceral canina, esclarecemos todos os pontos importantes no processo da vacinação, como sorologia prévia, sensibilidade e especificidade dos métodos de diagnóstico, tempo de incubação da doença, protocolo correto de vacinação, bloqueio da transmissão da LVC em cães vacinados, entre outros”, afirma Teixeira. A vacina A Leishmune, conforme comprovação em estudos de campo, oferece entre 92% e 95% de proteção aos cães vacinados. O produto foi registrado, em 2003, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), único órgão brasileiro que regula a aprovação de produtos veterinários. Cerca de 64.000 cães já foram vacinados em todo o Brasil, 97,7 % dos animais permanecem sadios. Trata-se de uma vacina de subunidade, ou seja, obtida de uma parte específica do protozoário, a qual é capaz de estimular a produção de resposta imune eficiente. A Leishmune é de uso exclusivo dos médicos veterinários e deve ser aplicada em cães saudáveis e soronegativos a partir dos quatro meses de idade. A Fort Dodge orienta que devem ser administradas três doses com intervalos de 21 dias entre elas e também recomenda a vacinação anual dos animais. setembro pelo CFMV, Paulo C. A. de Souza, professor associado da UFRRJ e membro do Conselho Nacional de Saúde, destacou em sua palestra, os esforços realizados para que isto se torne realidade, uma vez que 75% das doenças emergentes são consideradas zoonoses. No mesmo evento, Nélio Batista, presidente da Associação Brasileira de Saúde Pública Veterinária (ABSPV - www.abspv.org.br), em sua palestra sobre leishmaniose visceral destacou vários pontos que tornam o controle desta antropozoonose extremamente difícil, entre eles, o fato de no momento ser impossível avaliar os impactos da detecção e eliminação de cães soropositivos em função da falta de regularidade nos programas de controle. “Para se avaliar uma ação é preciso de regularidade e, em todas as campanhas feitas, nenhuma proporcionou sustentabilidade para dizer que este procedimento é eficaz. Em 2006, por exemplo, passaram-se seis meses sem diagnóstico sorológico canino porque houve contaminação do kit na Fiocruz”, explicou Nélio Batista.
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro
Tratamentos cirúrgicos em cães com abscessos e cistos prostáticos: revisão
Maricy Apparício MV, doutoranda PPGMV - FCAV/Unesp-Jaboticabal maricyap@fcav.unesp.br
Carla Renata Figueiredo Gadelha MV, doutoranda PPGMV - FCAV/Unesp-Jaboticabal crgadelha@yahoo.com.br
Surgical treatments of prostatic cysts and abscesses in dogs: a review
Giuliano Queiroz Mostachio MV, doutorando PPGMV - FCAV/Unesp-Jaboticabal wise_uel@yahoo.com.br
Tratamientos quirúrgicos de quistes y abscesos prostáticos en los perros: revisión bibliográfica
Aracelle Elisane Alves MV, doutoranda PPGMV - FCAV/Unesp-Jaboticabal cellealves@hotmail.com
Resumo: A próstata é a única glândula sexual nos cães machos, e seu acometimento é comum em animais de meia idade e idosos. Os cistos e abscessos prostáticos requerem, na grande maioria dos casos, tratamento cirúrgico. Várias técnicas têm sido descritas para o tratamento dessas afecções, mas as diferenças referentes aos cuidados pós-operatórios e às possíveis complicações são evidentes. As principais técnicas empregadas para essas afecções são a marsupialização, a ressecção local, a drenagem utilizando os drenos de penrose, a prostatectomia subtotal (capsulectomia e intracapsular), a prostatectomia total e a omentalização. Este trabalho tem como objetivo revisar as técnicas empregadas para o tratamento de cistos e abscessos, bem como os cuidados que elas requerem e as complicações em potencial. Unitermos: canino, cirurgias, cuidados pós-operatórios, complicações, próstata Abstract: The prostate gland is the only accessory sex gland in the male dog, and prostatic diseases are commonly encountered in middle-aged animals. Prostatic cysts and abscesses require surgical treatment in most cases. Several techniques have been employed for the treatment of these disorders, but the differences among these techniques as regards postoperative care and complications are remarkable. The main treatments for abscesses and cysts include: marsupialization, local resection, Penrose drain, subtotal prostatectomy (capsulectomy and intracapsular prostatectomy), total prostatectomy and omentalization. The aim of this paper is to review the techniques employed for the treatment of cysts and abscesses in dogs, as well as their postoperative care and potential complications. Keywords: canine, surgery, postoperative care, complications, prostate Resumen: La próstata es la única glándula sexual accesoria en el perro y blanco de varios problemas en la segunda mitad de la vida. Los quistes y abscesos prostáticos son las patologías que con mayor frecuencia requieren de tratamiento quirúrgico. Existen varias técnicas quirúrgicas para el tratamiento de estas patologías, pero las diferencias entre estas técnicas con respecto al cuidado postoperatorio y complicaciones son notables. Los tratamientos quirúrgicos son: marsupialización, resección local, drenaje de Penrose, prostatectomia subtotal (capsulectomia y intracapsular), prostatectomia total y omentalizacion. El objetivo de este trabajo es repasar las técnicas empleadas para el tratamiento de quistes y abscesos en los perros, así como sus cuidados postoperatorios y las complicaciones potenciales. Palabras clave: canino, cirugía, cuidados post operatorios, complicaciones, próstata
Clínica Veterinária, n. 77, p. 30-37, 2008
INTRODUÇÃO A próstata é a única glândula sexual acessória nos cães, e produz praticamente o volume total do fluido seminal para suporte e transporte dos espermatozóides. Está localizada na cavidade pélvica, caudalmente à bexiga e próxima ao trígono vesical; ventralmente ao reto, do qual é separada por uma fáscia rectoprostática e por uma bolsa peritoneal rectovesical; e dorsalmente à sínfise pubiana, envolvendo totalmente a porção proximal da uretra 1,2,3. É revestida pelo peritônio em sua superfície dorsal, sendo retroperitoneal ventralmente 1,2. A artéria prostática, que se origina da artéria pudenda interna na altura da segunda vértebra lombar, transpassa a glândula dorsolateralmente e depois dá origem aos ramos uretral, retal, vesicular, ureteral e deferencial. A rede venosa é composta pelas veias prostática e uretral, 30
as quais convergem para a veia ilíaca interna. Os vasos linfáticos prostáticos convergem para os linfonodos ilíacos. A inervação prostática está intimamente relacionada à vascularização, sendo que o nervo hipogástrico fornece a inervação simpática, e o nervo pélvico a inervação parassimpática, esta última de importância para a função do músculo detrusor da bexiga 4. Ademais, os nervos cavernosos (que se originam do plexo pélvico) não se concentram na posição de cinco e sete horas na uretra como ocorre em humanos, mas circundam-na por completo, o que pode submetê-los a maior risco de injúria 3. Por essa razão, a identificação da anatomia neurovascular durante o ato cirúrgico é imprescindível para evitar lesões iatrogênicas que possam causar necrose tecidual ou incontinência urinária neurogênica. As afecções prostáticas são comuns
Tathiana Ferguson Motheo MV, mestranda PPGMV - FCAV/Unesp-Jaboticabal tathifmotheo@hotmail.com
Wilter Ricardo Russiano Vicente MV, prof. tit. Depto. Med. Vet. Prev. e Rep. Animal FCAV/Unesp-Jaboticabal wilter@fcav.unesp.br
em cães e podem apresentar várias formas clínicas, sendo normalmente observadas alterações relacionadas aos sistemas urinário, digestório e locomotor, que caracterizam a síndrome prostática 5. Os sintomas comumente encontrados são: disúria; gotejamento de sangue pelo pênis, acompanhado ou não de micção; hematúria; infecções urinárias não responsivas ao tratamento médico; fezes ressecadas ou amolecidas com formato laminar; dificuldade de locomoção e outros menos específicos, normalmente presentes em quadros de infecções agudas, como hipertermia, letargia e vômito 6,7. Os sinais clínicos apresentados por animais portadores de problemas prostáticos podem se manifestar abruptamente, principalmente no caso de prostatites, abscessos e cistos prostáticos, ou progressivamente, em tumores e hiperplasias 6,8. O diagnóstico é baseado na anamnese, nos sinais clínicos, no toque retal realizado simultaneamente com a palpação abdominal, nos exames radiográfico e ultra-sonográfico, nas avaliações citológica e bacteriológica do fluido seminal 1, ou ainda em exames mais invasivos, como a biópsia (transperineal e transabdominal), a laparotomia ou a laparoscopia 9.
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
As afecções prostáticas quase sempre requerem algum tipo de intervenção cirúrgica. Desafios para o sucesso do tratamento dessas moléstias incluem a determinação da moléstia, a seleção da técnica cirúrgica apropriada e a redução das complicações pré e pós-operatórias como infecção, neoplasias e incontinência urinária 4. A orquiectomia é o procedimento mais utilizado e efetivo para a maioria das alterações prostáticas 10, mas é insuficiente e ineficaz para estabelecer a cura em casos de cistos prostáticos, paraprostáticos e abscessos, o que exige o emprego adicional de outras técnicas. Os cistos prostáticos podem ser
caracterizados como cistos de retenção ou paraprostáticos. Ambos podem atingir tamanhos consideráveis, causando desconforto ao animal e manifestação de sinais clínicos compatíveis com prostatomegalia. Os cistos de retenção ocupam o parênquima glandular e são causados pelo acúmulo de secreções prostáticas dentro do órgão como resultado de obstruções dos ductos 10,11. Os cistos paraprostáticos não têm comunicação com a próstata, uretra ou bexiga e sua etiologia é controversa 7, embora se acredite que sejam resquícios embrionários dos ductos de Müller 12. Os abscessos prostáticos em cães
geralmente são resultado de infecção bacteriana ascendente que ultrapassa os mecanismos de defesa da uretra e coloniza o parênquima prostático 13,14. Podem ser secundários a prostatite bacteriana supurativa, que induz a formação de microabscessos – que se fundem formando um abscesso maior – no parênquima, ou resultado da contaminação de cistos de retenção, paraprostáticos ou metaplásicos 15. O microrganismo mais comumente relacionado aos abscessos é a Escherichia coli, na maioria das vezes associada com Staphylococcus spp e Proteus spp e, menos freqüentemente, com Pseudomonas spp 13,16.
Técnica cirurgica
Vantagens
Limitações
Cuidados pós-operatórios
Principais complicações
Marsupialização
Fácil execução; acesso para drenagem contínua; mínimo efeito na continência urinária
Cistos ou abscessos grandes e móveis o suficiente para serem suturados à pele; cápsula capaz de suportar sutura
Limpeza diária da ferida até cessar a secreção (mínimo 1 mês, e possivelmente até 4 meses); aplicação de pomadas para evitar queimaduras cutâneas; colar elizabetano; antibióticos sistêmicos durante, no mínimo, 5 a 7 dias
Drenagem inadequada; fechamento prematuro da fístula; recorrência; edema inguinal severo; infecção
Ressecção local
Tempo operatório reduzido
Distos ou abscessos não podem estar aderidos à uretra ou órgãos adjacentes
Administração de antibiótico no período transoperatório; sonda uretral por pelo menos 2 dias
Incontinência urinária; retenção urinária
Prostatectomia subtotal Mínima recorrência
Difícil execução
Sonda uretral mantida por pelo menos 3 dias; duração hospitalar média de 5 dias
Hemorragia severa com risco de morte; incontinência urinária; infecção; deiscência
Prostatectomia total
Sem recorrência
Difícil execução
Sonda uretral mantida por 5-7 dias; pós-operatório prolongado
Incontinência urinária; estenose uretral
Dreno de penrose
Mínima dissecação do parênquima prostático; tempo operatório reduzido
Cistos ou abscessos com uma ou várias cavidades
Limpeza diária e bandagens até a retirada de drenos (10 a 21 dias); pomadas ao redor do local de drenagem; colar elizabetano; antibióticos sistêmicos por 2 a 3 semanas
Desconforto abdominal; edema inguinal e dos membros; recorrência; infecção do trato urinário; incontinência urinária; hipoproteinemia; hipoglicemia; anemia; choque séptico; hipocalemia; fístula ureteral
Omentalização
Mínimo período pós operatório; baixos índices de complicações pós-operatórias; fácil execução
Cistos ou abscessos com cavidade de diâmetro superior a 1cm
Não necessita sonda uretral; duração hospitalar média: 2,5 dias
Edema na região da laparotomia; recorrência, quando não for colocado omento suficiente
Figura 1 - Principais técnicas cirúrgicas empregadas para o tratamento de cistos e abscessos prostáticos, com suas respetivas vantagens, limitações, cuidados pós-operatórios e principais complicações
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
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Silvia Gerbasi
Silvia Gerbasi
Silvia Gerbasi
A
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Figura 2 - Marsupialização. A - Realizada a incisão da cútis, deve-se identificar o cisto ou o abscesso e proceder à aspiração de seu conteúdo. Em seguida, deve ser feita a incisão de sua cápsula. B - Rebater a cápsula do cisto de forma que a parte interna esteja em contato com o meio externo (para drenagem). C - Suturar a borda da cápsula à borda da pele
A terapia antimicrobiana, mesmo em conjunto com a castração, tem se mostrado ineficaz devido à dificuldade dos fármacos em alcançar concentrações terapêuticas no tecido 17. Talvez por essa razão haja grande variedade de técnicas cirúrgicas para remover ou drenar os abscessos e os cistos prostáticos, tais como a marsupialização, a ressecção local, a prostatectomia subtotal (capsulectomia e intracapsular), a prostatectomia total, o uso de dreno de Penrose 11,18 e, mais recentemente, a técnica de omentalização 17,18,20-22 (Figura 1). TÉCNICAS CIRÚRGICAS Marsupialização A marsupialização envolve a exposição do cisto ou abscesso prostático, a ressecção da musculatura abdominal e da pele e a sutura da cápsula à cútis. O cisto ou abscesso deve ser grande o bastante para que possa ser alcançado e suturado à pele. A intervenção se inicia com incisão na linha média abdominal, para expor o cisto que deve ser liberado do tecido conectivo na área a ser marsupializada. Um orifício é criado pela remoção de pele, tecido subcutâneo e músculo ou fáscia ao lado do prepúcio e lateralmente à laparotomia. A cápsula do cisto ou abscesso é presa com pinça e a estrutura é tracionada para o orifício, sendo então suturada ao peritônio e ao músculo com sutura simples interrompida utilizando fio absorvível (poligalactina, poligliconato ou polidioxanona 3-0, 4-0). A cápsula é incisada (Figura 2A) e o conteúdo da cavidade é drenado, procedendo-se então à lavagem desta. As bordas da cápsula são tracionadas em direção à cútis (Figura 2B) e suturadas a ela com sutura simples interrompida (Figura 2C) ou contínua utilizando fio não absorvível (nylon ou polipropileno 3-0, 4-0). A laparorrafia é praticada de modo rotineiro 15,18. 32
A marsupialização é uma técnica que exige muitos cuidados pós-operatórios, como limpeza diária do orifício cutâneo e administração de antibióticos sistêmicos pelo período mínimo de cinco a sete dias e monitoração do animal em busca de sinais de choque e infecção. O período pós-operatório pode se estender por até quatro meses, e as suturas cutâneas somente devem ser removidas após a resolução do problema (drenagem completa). Como complicações, têm-se a drenagem inadequada, o fechamento prematuro da fístula e a recorrência da moléstia, além de infecção se os cuidados não forem adequados 4,15,23. Ressecção local A ressecção local é relativamente simples e rápida, e tem se mostrado eficiente principalmente para cistos paraprostáticos, cuja dissecção é mais fácil. Nessa técnica, o conteúdo dos cistos ou abscessos é drenado e, posteriormente, procede-se à retirada do tecido cavitário. Embora a ressecção local apresente resultados melhores que a marsupialização, há que considerar que alguns cistos de retenção estão bem aderidos à uretra e a outros órgãos abdominais, o que dificulta a sua ressecção e aumenta as possibilidades de complicações, como incontinência ou retenção urinária, em virtude do comprometimento neurovascular 10,23,24 Prostatectomia subtotal Várias técnicas são descritas para a prostatectomia subtotal (ou parcial), intervenção na qual parte do tecido prostático afetado por cistos ou abscessos é removida. As mais utilizadas são a capsulectomia e a prostatectomia subtotal intracapsular, que podem ser realizadas com o auxílio de eletrocoagulador, bisturi elétrico, laser ou aspirador cirúrgico ultra-sônico 17,25-28.
Capsulectomia Após a ligadura dos vasos que adentram a cápsula prostática, deve-se realizar a ressecção ventral de parte do parênquima prostático mantendo uma distância aproximada de 5mm da uretra, que é identificada pela palpação da sonda uretral previamente colocada. A uretra prostática deve ser circundada pelo omento 18. Prostatectomia subtotal intracapsular A incisão do septo ventral é expandida, através do parênquima, até a uretra ventral, circundando-a, mas mantendo uma faixa de 3-5mm de segurança. Todo o parênquima prostático deve ser excisado, mantendo somente uma faixa de 2 a 3mm na região presa à cápsula. A seguir, realiza-se a sutura em duas camadas – a primeira de aproximação e a segunda de inversão –, com fio absorvível (polidioxanone ou poligliconato 3-0, 4-0). A sonda uretral deve ser mantida por dez dias 18,29. A prostatectomia subtotal intracapsular é um procedimento cirúrgico difícil, e tende a promover incontinência urinária 4,21 em decorrência de trauma ou manipulação excessiva da inervação ou vascularização da região do trígono vesical 30. Outras complicações relatadas 27 são hemorragia grave com risco de morte para o paciente e gotejamento de urina decorrente de iatrogenia uretral pós-cirúrgica. O risco de incontinência urinária e de hemorragia pode ser reduzido com o auxílio de aspirador cirúrgico ultra-sônico e de laser, que permitem distinguir e evitar lesões em vasos e nervos 27,31, e dissecar o tecido prostático a milímetros da uretra e da cápsula prostática 28, mas a aquisição e manutenção desses equipamentos requer grande aporte financeiro. Sendo assim, o que se preconiza para esse tipo de cirurgia é tentar, durante
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o procedimento, manter intacto o aspecto dorsolateral da cápsula prostática, para evitar a incontinência urinária pósoperatória 28. Prostatectomia total Embora ainda se utilize a completa remoção da próstata em casos de enfermidades prostáticas, na atualidade esse procedimento é recomendado somente para alterações específicas, tais como doenças crônicas resistentes a outros tratamentos, neoplasias não metastáticas e trauma grave, pois cistos e abscessos (multifocais e difusos) podem ser tratados com técnicas menos invasivas, que apresentam menores complicações e que preservam a próstata 17,19-22. A técnica pode ser realizada por celiotomia na porção caudal da linha mediana do abdômen ou pela incisão da região perineal 32, que facilita o acesso e evita o emprego da osteotomia púbica, algumas vezes utilizada para a completa exposição do órgão. Depois de dissecar a gordura periprostática com cuidado para não lesionar o plexo neurovenoso, deve-se ligar os vasos, nervos e o ducto deferente o mais próximo possível da glândula. Com o auxílio de uma tesoura, realizase a incisão nas extremidades cranial e caudal da próstata, de forma a separálas da uretra (Figura 3A) em suas porções vesical e extrapélvica, evitando danificar a região do trígono e do colo da bexiga. Uma vez separada, a próstata pode ser incisada para facilitar a sua retirada (Figura 3B). Mantendo a sonda uretral em posição, deve-se aproximar as duas partes da uretra com pontos simples separados (Figura 3C), utilizando fio absorvível (polidioxanona ou poligliconato 4-0 a 6-0). Os quatro primeiros pontos de sutura são posicionados de forma oposta (como os
pontos cardeais) (Figura 3D), e os demais são separados entre si por um espaço de 2mm. O omento deve ser posicionado ao redor da anastomose e a laparorrafia deve ser praticada de modo rotineiro. A sonda uretral deve ser mantida por cinco a sete dias 18, e o período pós-operatório pode se estender por mais de 14 dias 33. As principais complicações dessa técnica são a incontinência urinária 18,33, a estenose uretral, a insuficiência renal aguda e a síndrome poliúria e polidipsia 33. Entretanto, o risco de complicações pode ser reduzido com o auxílio da robótica associado ao laser que, segundo trabalho recente 34, permite dissecção precisa, boa hemóstase e mínima lesão nos tecidos adjacentes. Drenagem utilizando drenos de Penrose A aplicação de drenos tem sido muito utilizada para tratar os abscessos prostáticos, mas também é empregada para drenar cistos de retenção. É importante a passagem de sonda uretral antes da intervenção, para garantir a identificação da uretra durante o ato cirúrgico. A próstata deve ser exteriorizada por celiotomia na linha média ventral, desde a cicatriz umbilical ao púbis, e isolada com compressas cirúrgicas. A dissecção deve ser cuidadosa e, uma vez exposto o cisto ou o abscesso, implementa-se a drenagem por punção. Cautelosamente, para não atingir vasos e nervos, realiza-se incisão na face ventrolateral da próstata, debridando aderências fibrosas com o dedo para permitir a drenagem adequada. Após a lavagem da cavidade, o dreno de Penrose é posicionado em seu interior, com saída para a parte ventrolateral do outro lobo da glândula. Via de regra, utilizam-se três ou quadro drenos. Uma porção de 2 a 3cm do dreno deve ser mantida fora do abdômen, ao lado
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Omentalização O omento ou epíplon tem funções importantes, como a angiogênese (capacidade de formar vasos), a ação imunológica e a capacidade de armazenar gordura e de formar aderências devido à sua livre movimentação na cavidade abdominal 38. Em virtude de tais propriedades, o omento tem grande aplicabilidade cirúrgica, ou seja, pode ser utilizado para induzir a neovascularização, permitir nova drenagem linfática, e potencializar o processo cicatricial e a aderência, facilitando a reparação tecidual 17,21,39 Com base nessas características, sugeriu-se 17 que o omento fosse utilizado como dreno fisiológico nos abscessos prostáticos pela técnica de omentalização intracapsular prostática (OIP), cuja eficácia foi comprovada em cistos de retenção prostática 21.
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do prepúcio, para possibilitar a sutura desse dreno à pele, utilizando fio não absorvível (nylon 3-0), em sutura simples separada. O abdômen é fechado como de rotina. 18,35 Os cuidados pós-operatórios, necessariamente intensivos, incluem terapia antimicrobiana sistêmica por duas a três semanas, uso de pomadas para evitar irritações cutâneas, limpeza diária e proteção da região do dreno, que deve ser removido quando a secreção diminuir e se tornar serosanguinolenta, aproximadamente 10 a 21 dias após a cirurgia 18. As complicações da drenagem são desconforto abdominal, edema inguinal, anemia, choque séptico, distúrbios hidroeletrolíticos, fístula uretrocutânea, incontinência urinária, infecção do trato urinário, recorrência do abscesso ou cisto e até morte 17,36,37. Em curto prazo, podem ocorrer hipocalemia (28%), anemia (46%), hipoglicemia (49%) e hipoproteinemia (60%) 37.
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Figura 3 - Prostatectomia total. A - Depois de ligar os vasos e nervos, deve-se fazer uma incisão nas proximidades cranial e caudal da uretra prostática, de forma a isolar a glândula. B - Fazer a exérese da glândula com o auxílio de lâmina de bisturi ou tesoura. C - Aproximar as duas partes da uretra com pontos simples separados. D - Suturar a uretra com pontos de aposição (os primeiros quatro pontos devem ser feitos como pontos cardeais, nas posições de 3, 6, 9 e 12 horas), com pontos simples separados
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pode ser assim descrita: após a drenagem do conteúdo dos cistos ou dos abscessos, procede-se a incisão na face ventral de cada lobo prostático, preenchendo com omento as cavidades – sem que haja comunicação entre elas, e sem circundar a uretra (Figura 4A). Em seguida, o omento deve ser suturado (sutura contínua simples, poliglactina 3-0) às bordas da incisão na glândula (Figura 4B), para evitar acesso à uretra prostática. Desta forma, evita-se a manipulação do principal suprimento neurovascular para a próstata, uretra e bexiga, que está localizado dorsalmente na posição de duas e dez horas, quando visto no plano transversal 13,30. Raras são as complicações pós-operatórias da omentalização de abscessos e cistos e, quando ocorrem, constituemse em recidiva do não preenchimento da cavidade pelo omento, ou em retenção urinária e edema ou seroma na região inguinal como conseqüência da laparotomia 17. Cumpre destacar que alguns pesquisadores não observaram sinais dessas complicações 19,20,22. A baixa incidência de incontinência urinária quando se utiliza a omentalização pode ser explicada pela pequena manipulação da inervação do trígono vesical e da uretra prostática. Ademais, o suprimento vascular adicional proveniente do omento parece ser suficiente para prevenir a ruptura iminente da uretra prostática nos pontos onde sua viabilidade é prejudicada pela presença de cistos e/ou abscessos adjacentes 17. CONSIDERAÇÕES FINAIS As técnicas cirúrgicas anteriormente utilizadas para o manejo de cistos e abscessos prostáticos exigem cuidados pós-operatórios intensivos e são responsáveis por muitas complicações. Sendo assim e considerando as propriedades do omento de angiogênese, drenagem contínua de qualquer secreção do tecido cístico, criação de adesões no campo cirúrgico, incremento da imunidade e ação eficaz, ainda que em presença de infecção, a omentalização é o procedimento de eleição em tratamentos de cistos e abscessos de tamanhos e localizações variados. Além disso, a omentalização é uma técnica que não exige maiores cuidados no período pós-operatório, permite a rápida recuperação do paciente, não promove recidivas por período prolongado, e acarreta poucas complicações.
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A técnica descrita inicialmente 17,21 consiste em celiotomia caudal, que se estende da cicatriz umbilical até a borda do púbis. A seguir, a próstata é elevada e isolada do restante do abdômen com compressas cirúrgicas e submetida a perfurações bilaterais, de forma a possibilitar a remoção do conteúdo do cisto ou do abscesso por sucção, para diminuir a contaminação abdominal. As cavidades são exploradas com o dedo e a uretra é identificada pela palpação da sonda previamente colocada. Um dreno de Penrose é colocado temporariamente, dentro do parênquima e ao redor da uretra, para elevar a glândula e facilitar a irrigação das cavidades com solução salina aquecida. A seguir, as incisões são ampliadas pela ressecção do tecido capsular lateral. A OIP é realizada introduzindo o omento por uma das incisões laterais com ajuda de uma pinça que o traciona cuidadosamente para dentro da glândula através da incisão contralateral. Desse modo, o omento é direcionado de forma a circundar a uretra prostática, saindo pela mesma incisão e sendo ancorado em si mesmo com sutura de colchoeiro. A celiotomia é fechada como de rotina e, em seguida, procede-se à orquiectomia. De acordo com os autores que se dedicaram a essa técnica 17,21, o período de internamento de cães submetidos à OIP é de no máximo 48 horas. Esses estudiosos também constataram que não houve recorrência de abscessos em 95% dos casos, e que a freqüência de complicações, como incontinência urinária, foi muito baixa. Técnica semelhante à OIP foi descrita 22 para o tratamento de abscesso prostático em um mastiff de seis anos. Diferentemente dos passos anteriormente mencionados 17,21, os autores realizaram somente uma conexão ventral entre as cavidades do abscesso, de forma a não circundar a uretra. A omentalização intracapsular prostática para o tratamento de abscessos não é técnica simples. Exige muita perícia e cautela do cirurgião, principalmente no momento de contornar a uretra com o omento. Se a uretra for lesionada, pode haver estenose e complicações como retenção urinária e disúria. Por essa razão, foi utilizada técnica modificada 19,20, primeiramente em 10 cães, e posteriormente em 17 animais com cistos e abscessos prostáticos. Essa técnica modificada
Figura 4 - Omentalização. A - Colocar o omento na face ventral da glândula, mantendo-o em posição com o auxílio de uma pinça. B - Suturar o omento às bordas da glândula com sutura contínua
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Conjuntivite com envolvimento de Sporothrix Schenckii em felino - diagnóstico citológico: relato de caso
Fernanda Guimarães Jannuzzi Médica veterinária fernandajannuzzi@gmail.com
Ana Lúcia Braga Martins MV, MsC CLOVE, CBOV analbm@yahoo.com
Jorge da Silva Pereira MV, MsC CLOVE
Cytological diagnosis of feline conjunctivitis with involvement of Sporothrix schenkii: case report La conjuntivitis felina con envolvimiento del Sporothrix Schenckii - diagnostico citológico: relato del caso Resumo: Um gato macho de dois anos de idade, castrado e com acesso restrito à rua, foi submetido a atendimento médicoveterinário com sinais clínicos de conjuntivite: lacrimejamento, blefaroespasmo e mucosas hiperêmicas, além de lesões eritrematosas e proeminentes em conjuntiva palpebral e bulbar do olho esquerdo. Como não respondia ao tratamento instituído pelo clínico geral, o animal foi encaminhado a um oftalmologista. Ao exame clínico oftalmológico nenhuma outra alteração ocular foi constatada, o que levou o profissional a coletar material do olho afeccionado com auxílio de swab estéril para realização de exame citológico. O laudo do exame citológico foi conclusivo para esporotricose, devido à presença em forma de levedura do agente Sporothrix schenkii. A terapia adotada com itraconazol sistêmico foi eficiente para a total cura da lesão oftálmica em questão. Unitermos: gato, olho, conjuntiva, esporotricose Abstract: A male neutered indoor cat was presented to the general clinician with typical signs of conjunctivitis: tearing, blepharospasm and hyperemic conjunctiva, as well as prominent erythematous lesions on the palpebral and bulbar conjunctiva of the left eye. Since there was no response to the treatment proposed, the animal was referred to the ophthalmologist. Detailed ophthalmic examination did not disclose any other obvious ocular pathology. A cytological exam was performed with material collected from the left eye with a sterile swab. The results led to the diagnosis of sporothichosis due to the presence of the yeast form of Sporothrix schenkii. A systemic intraconazole therapy was enough to completely abolish clinical signs. Keywords: cat, eye, conjunctive, sporotrichosis Resumen: Um gato macho, de dos años de edad, castrado y sin acceso a la calle, se presento para consulta com signos clínicos de conjuntivitis tales como, epífora, blefaroespasmo, hiperemia conjuntival, además de presentar lesiones eritematozas y proeminentes em las conjuntivas palpebral y bulbar del ojo izquierdo. Debido a la falta de respuesta en el tratamiento instituído por el medico clínico, se tomo la decisión de encaminarlo a um especialista. Durante el examen oftalmológico del paciente, y por falta de otros signos de alteración a no ser los ya constatados, se indicó un examen citológico de la conjuntiva, a través de la utilización de um hisopo estéril. El resultado del examen evidenció la presencia de la levadura Sporothrix schenkii. El tratamiento instituído fue com itraconazol sistémico, con reducción total de las lesiones oftalmológicas antes relatadas. Palabras clave: gato, ojo, conjuntiva, esporotricosis
Clínica Veterinária, n. 77, p. 40-46, 2008
Introdução A esporotricose, infecção micótica profunda, que cursa de maneira subaguda a crônica, é causada pelo fungo Sporothrix schenckii. De maneira geral, o contágio se dá pela inoculação subcutânea do fungo através de ferimentos obtidos na manipulação de material contaminado. Como o fungo é encontrado na natureza, em matérias vegetais em putrefação, a infecção é mais comum em indivíduos que trabalham em contato com a terra e com plantas. Mais recentemente tem sido relatada a transmissão zoonótica da esporotricose pelo contato entre pessoas e animais contaminados, 40
especialmente pessoas que lidam com gatos, podendo sofrer contaminação a partir de arranhaduras. A esporotricose é caracterizada pelo desenvolvimento de lesões nodulares na região cutânea, na porção subcutânea e em linfonodos. O envolvimento ocular de S. schenckii raramente é mencionado, tanto em humanos como em animais. Assim sendo, o objetivo deste trabalho é relatar um caso de esporotricose ocular em um gato, estabelecer uma comparação entre esse caso e as citações da literatura e alertar os médicos veterinários sobre esse possível diagnóstico diferencial nas conjuntivites felinas.
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Revisão de literatura O S. schenckii é um fungo dimórfico 1-6, saprófita 1,5,7 e pleomorfo 7, que cresce como levedura a 37°C, e como filamentoso na temperatura ambiente 1,4,6. Tem distribuição cosmopolita 1,8, mas prevalece em regiões de climas temperado e tropical úmidos. O solo é considerado o reservatório natural 4,6,8,9 desse fungo, que também vive em vegetais 4,6,9. Entre os fatores de risco para a contaminação por esse fungo, incluem-se as atividades de trabalho em florestas e viveiros de plantas, o que implica contato constante com a terra e plantas espinhosas (como a turfa e as roseiras 4-6,9,10), e a convivência diária com animais, o que ocorre com equipes veterinárias (desde o tratador ao médico veterinário) e proprietários 4,6-8,10. A transmissão dessa zoonose para o homem ocorre pelo contato direto da pele ou da mucosa com lesões infectadas e não necessariamente por um ferimento penetrante, porque as lesões de gatos têm grande quantidade do agente. Além disso, descreve-se a presença do S. schenckii em unhas de gatos sem sinais clínicos da doença 4,6. Já os cães não apresentam quantidade de microrganismos tão grande 9. Assim sendo, os felinos são considerados os animais de maior potencial zoonótico para essa micose 1,4,6-8,10. Além do contato com lesões e/ou material infectado, há relatos de contaminação pela inalação de esporos do agente, ainda que essa condição seja muito rara 4,6,9 A esporotricose pode se apresentar nas formas cutânea, pulmonar ou disseminada 2-7. As lesões aparecem como feridas pequenas, profundas, drenantes, nodulares, subcutâneas ou não, e podem atingir o sistema linfático e abrir úlceras 6,10. As regiões mais afetadas são
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face, orelhas e extremidades. O período de incubação é de um a três meses 6 e, de acordo com alguns autores, pode chegar a dez meses 2. É uma infecção pouco comum em gatos, embora o maior número de relatos existentes na literatura associem-na a tais animais. Geralmente a manifestação é cutâneo-linfática e as lesões, que não são dolorosas nem pruriginosas 4,7, podem se espalhar pelo corpo por autoinoculação em decorrência do hábito que esses animais têm de se lamber 6,7. A predisposição para contrair a moléstia é aumentada por outros hábitos dos felinos, como afiar as unhas em troncos de árvore e brigar na rua disputando comida, território ou fêmea no cio 4. Nos cães a manifestação mais comum da esporotricose é cutânea caracterizada por múltiplos nódulos firmes, placas ulceradas com borda elevada ou áreas anulares crostosas e alopécicas 4,7. Os nódulos podem ulcerar ou atingir trajetos drenantes 2,4,7. Nos seres humanos, essa doença geralmente se apresenta sob a forma cutâneo-linfática 4,7,8,
podendo cursar com infecção secundária bacteriana 6 e causar dor 4,7. Em qualquer espécie animal, a infecção decorrente da inalação do microrganismo se manifesta nos pulmões e pode se disseminar para outros órgãos internos 1,2,4,9, bem como para as articulações e os ossos 3,4. O diagnóstico da esporotricose é baseado em dados obtidos na anamnese, no exame físico e em exames complementares. Dentre os exames complementares, incluem-se citodiagnóstico, cultivo micológico, inoculação em animais de experimentação, intradermorreação, sorologia e histopatologia 4. O diagnóstico mais rápido e confiável é a observação do microrganismo em seu exsudato 1,8. Enquanto que em gatos o S. schenkii é facilmente encontrado, tanto no exame citológico, quanto na biópsia, em cães – que apresentam lesões com pouca quantidade do microrganismo – o teste de anticorpos-fluorescentes é mais preciso7. O exame citológico permite visualizar o S. schenckii em esfregaços de lâminas
feitas a partir de exsudatos do material coletado de lesões suspeitas, mas, para tanto, esse material deve ser manipulado com extrema cautela e corado com Diff-Quik, Gram, PAS, ou Gomori. O fungo é evidenciado como uma levedura polimorfa – arredondada/ovalada ou em forma de charuto – que pode estar presente no interior de células inflamatórias e de macrófagos, ou ainda, extracelularmente 4. Para o diagnóstico diferencial, devem ser considerados os abscessos bacterianos, as celulites por mordedura ou arranhões 6, o complexo granuloma-eosinofílico 11 e os granulomas infecciosos decorrentes de corpo estranho ou neoplasias. Quando o microrganismo é visualizado ao exame citológico, deve-se ter o cuidado de não confundi-lo com o Cryptococcus neoformans 7. O tratamento de eleição para a esporotricose felina é a solução supersaturada de iodeto de potássio na dose de 20mg/kg – administrada em intervalos de 12 ou 24 horas 7 –, ou de 10mg/kg – administrada em intervalos de oito horas 4
– durante até 30 dias depois da cura clínica do animal, que ocorre em quatro a oito semanas 4,7. Nos casos de intolerância ao iodo, ou como outras opções terapêuticas, podem ser utilizados o cetoconazol 4,7,8, o itraconazol 1,4,7,8, o terbinafine 1 ou o fluconazol 8. Já em cães, o tratamento de escolha para essa infecção é a solução supersaturada de iodeto de potássio na dose de 40mg/kg – administrada por via oral e juntamente com a alimentação, em intervalos de oito horas –, durante até 30 dias depois da cura clínica do animal. Caso o animal apresente intolerância ao iodo o tratamento deve ser interrompido por um período de sete dias e retomado a seguir. Se houver recidiva dessa intolerância o tratamento deve ser suspenso e outra possibilidade terapêutica – à base de imidazóis 7, cetoconazol 4,7,8 ou itraconazol 1,4,7,8 – iniciada. A solução saturada de iodeto de potássio na dose de 4,5g por dia, durante mais de 30 dias, é o tratamento de escolha para a esporotricose em seres humanos. Se essa conduta não propiciar remissão significativa das lesões ou se ocorrer recidiva dessas lesões 9, indicase a administração de fluconazol 1,8,9. De acordo com relato encontrado na literatura, apenas um terço dos gatos experimentalmente testados têm cura espontânea. A solução supersaturada de iodeto pode ser de sódio ou de potássio 4. Para reduzir a possibilidade de recidiva da doença, deve-se evitar a administração de glicocorticóides e outras drogas imunossupressoras durante e após o tratamento 7. Dentre as medidas de controle para a não disseminação dessa zoonose, incluem-se: tratamento dos animais doentes que, se possível, devem ser isolados da convivência rotineira até o fechamento das lesões; castração dos gatos, a fim de diminuir a deambulação característica da espécie; cremação dos animais mortos e infectados, para evitar a perpetuação do fungo na natureza; desinfecção de todas as instalações contaminadas com hipoclorito de sódio; esclarecimento, aos proprietários de animais com diagnóstico de esporotricose, sobre os riscos e cuidados com relação a essa infecção 4, dentre os quais se incluem a utilização de luvas ao tratar de animais e indivíduos com qualquer lesão drenante, e a posterior 42
assepsia das mãos 4,5,7,8. No Estado do Rio de Janeiro, a maior incidência de relatos é na periferia, tanto dentro da capital, como fora desta, onde se encontra maior quantidade de gatos com acesso à rua 1,6. Acometimento ocular A infecção que promove a esporotricose ocular pode ter origem hematógena 2,3, ou ser decorrente do contato direto entre a região orbital e um corpo estranho 2,12 e/ou de arranhadura e/ou mordida durante briga ou brincadeira 1,4,9,10, que se constituem no meio de infecção mais comumente relatado 1,4,9. O acomentimento pode ocorrer em qualquer estrutura ocular 1-4,9,10,12, manifestando-se como celulite orbital 12, conjuntivite 13, esclerite 5, ceratite 10,12 ou uveíte 2,3,9,12,14. Na conjuntivite por esporotricose, o olho infectado apresenta as características comuns de qualquer conjuntivite: hiperemia, exsudato celular, quemose (edema), prurido e dor. Para diferenciar a causa, deve-se ater a pequenos detalhes como a intensidade de cada um desses sinais 13. A conjuntivite por esporotricose é bastante rara 9. A conjuntivite pode ter diferentes causas: alergia, intoxicação endógena, trauma, inflamação sistêmica, septicemia, estimulação antigênica devido à desordem inflamatória crônica, vasodilatação transitória, infecção bacteriana local, infecção fúngica local ou sistêmica (por esporotricose e por outros agentes), infecção viral local ou sistêmica, infecção parasitária local ou sistêmica (ex: Thelazia spp). Pode ser causada por produto químico, por ceratoconjuntivite seca 13 e por corpo estranho 12,13. Na esclerite por esporotricose, enfermidade bastante rara 9, o olho infectado se torna avermelhado, dói, não responde aos glicocorticóides e apresenta quemose – podendo evoluir para necrose de uma área 2. O diagnóstico dessa infecção é mais terapêutico do que por cultura, pois a esclera é bastante resistente à invasão pelo S. schenckii. Qualquer causa de esclerite deve ser elucidada 2. Os sinais da uveíte por esporotricose variam de acordo com a localização da inflamação – anterior, posterior ou panuveíte 3,9,14. Geralmente, a contaminação ocorre por disseminação sistêmica/hematógena 2,3. Se o agente causador
primário da uveíte não for devidamente identificado e tratado, o animal pode apresentar glaucoma refratário a tratamento 12. Como anteriormente mencionado, o diagnóstico ideal da esporotricose, tanto localizada quanto sistêmica, é a visualização do agente, seja no exame citológico, seja na biópsia, seja em cultura 1,8. No caso de conjuntivites, a coleta de material para o exame citológico é feita com auxílio de espátula ou swab estéril sob anestesia tópica. A biópsia conjuntival é mais um recurso diagnóstico. A cultura não deve ser feita no início da terapia, pois geralmente revela bactéria comum da flora local ou um patógeno comum 13. Na uveíte anterior deve ser realizada paracentese ocular para a coleta de humor aquoso que, submetido a cultura, permitirá a visualização do microrganismo 3,9,14. Na uveíte posterior, que pode comprometer a visão do indivíduo temporária ou definitivamente, o diagnóstico será inconclusivo até a realização de exame histopatológico 3,12. Na esclerite é indicado o diagnósticoterapêutico utilizando doses crescentes de iodeto de potássio: inicialmente 15 gotas por dia, via oral, em três aplicações (+- 50mg por gota), podendo aumentar a dose até 40 gotas por dia. Essa conduta deve ser seguida até 30 dias após o desaparecimento da lesão suspeita 2. Já a conjuntivite decorrente de infecção por S. schenckii tem várias opções terapêuticas: anti-fúngicos, como a piramicina em gotas, via oral; anfotericina subconjuntival; nistatina em gotas, via oral; miconazol em gotas 13; anfotericina B sob a forma de colírio, que também pode ser injetado no vítreo; e fluconazol sistêmico, que atinge o sistema nervoso central, o humor aquoso, o vítreo, a retina e a coróide 9,14. Nos casos de lesões intra-oculares, infecções mais graves da órbita, resistência ao iodeto de potássio, indigestão e iododermatite 2, recomenda-se a utilização de anfotericina B sistêmica 2,3. A resposta apresentada pela utilização de miconazol, flucitocina e cetoconazol é pequena em qualquer forma de esporotricose 2. Vários fungos, incluindo o S. schenckii, podem atingir os olhos de um indivíduo aparentemente sadio, sem lesão sistêmica, mas que tenha fatores predisponentes capazes de ocasionar
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Relato de caso Um gato, macho, castrado, de 5kg, com dois anos de idade, pelagem preta e branca, sem raça definida, domiciliado em casa localizada no bairro de Anchieta, região da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, que não costumava sair à rua, apresentou lacrimejamento, secreção translúcida espessa, hiperemia conjuntival, dor, blefaroespasmo e prurido no olho esquerdo. (Figura 1) O médico veterinário que fez o primeiro atendimento diagnosticou conjuntivite sem definir a causa e instituiu tratamento com maxitrol sob forma de colírio quatro vezes ao dia. Durante o tratamento foram observados secreção sanguinolenta, melhora sutil e aparecimento de lesões ulcerativas – que regrediram sem qualquer medicação específica – na cavidade bucal. Após dois meses da primeira consulta, o animal foi encaminhado para o oftalmologista. Ao exame clínico oftalmológico foram constatadas lesões proeminentes e eritrematosas em conjuntiva bulbar e palpebral do olho esquerdo, além de um corte pequeno na membrana nictitante (terceira pálpebra) do mesmo olho (Figura 2). O animal foi submetido a testes de fluoresceína e rosa bengala, tonometria
Figura 3 - Olho esquerdo curado, perfeito
Fernanda Guimarães Jannuzzi
Figura 1 - Aspecto dos olhos do animal no dia da consulta oftalmológica, imediatamente antes da coleta de material para o exame citológico conjuntival. Observar diferença entre o olho saudável e o olho afetado (esquerdo)
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Fernanda Guimarães Jannuzzi
Figura 2 - Olho afetado (esquerdo), com conjuntivite grave por esporotricose
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baixa de imunidade, facilitando a infecção na forma extra-cutânea 9,14. A infecção mista de S. schenckii com outro fungo sugere que o paciente esteja imunodeprimido 5.
de aplanação, Tonopen Mentor®, e oftalmoscopia direta, Welch Allyn®. Os testes de fluoresceína e rosa bengala apresentaram-se negativos em ambos os olhos. A tonometria revelou pressão intra-ocular (PIO) no olho direito de 17mmHg (+- 5%) e 16mmHg (+- 5%) no olho esquerdo. Na oftalmoscopia observou-se normalidade nas estruturas dos segmentos anterior e posterior de ambos os olhos. Com o material coletado do fornix conjuntival do olho esquerdo com o auxílio de swab estéril, foram feitas lâminas de esfregaço fixadas a seco, que foram enviadas para exame citológico em um laboratório médico-veterinário. De acordo com o laudo desse exame, realizado pela coloração Giemsa, foram observados filete de muco, grande quantidade de hemácias, células inflamatórias, entre as quais, neutrófilos e macrófagos fagocitando debris celulares e estruturas leveduriformes, redondas a ovóides, com halo ao redor característico de S. schenckii, alguns pequenos linfócitos e raros eosinófilos. Não foram observadas células atípicas e tampouco bactérias na amostra enviada. Diante do diagnóstico de conjuntivite por esporotricose, a opção terapêutica dos médicos veterinários envolvidos foi itraconazol a 5mg/kg (cápsula de 25mg manipulada na Bioderme), aplicado uma vez ao dia, durante seis meses, sem recomendação de medicação tópica. Embora depois de quatro semanas de tratamento o animal já não apresentasse qualquer sinal da doença, a duração preconizada para o tratamento foi respeitada. Não houve recidiva até agora, decorridos 16 meses do final do tratamento (Figuras 3 e 4). a) Itraconazol. Farmácia de manipulação. Rio de Janeiro. RJ
Figura 4 - Olho esquerdo, após um ano do tratamento, sem qualquer seqüela ou sinal da doença pregressa
O animal tinha o hábito de deitar-se ao sol na varanda da residência. Assim, é possível que tenha entrado em atrito com outro gato da região, que arranhou seu olho esquerdo, deixando o pequeno corte na membrana nictitante e inoculando o agente causador da conjuntivite, S. schenckii. Discussão A esporotricose ocular é uma infecção poucas vezes diagnosticada, objeto de poucos relatos na literatura. Sabe-se que essa infecção mais comumente compromete as estruturas perioculares, mas também pode atingir o interior do globo ocular, causando uveítes severas. Tais uveítes podem evoluir até que a enucleação do globo ocular seja necessária. Quando um paciente portador de infecção ocular e tratado com terapias convencionais, não apresenta melhora clínica, as infecções fúngicas, dentre elas a esporotricose, devem ser consideradas no diagnóstico diferencial. O diagnóstico de todas as formas de esporotricose baseia-se na visualização do agente em material coletado de lesões. A forma de coleta desse material depende da localização da lesão. O tratamento ocular com glicocorticóides e a demora na instituição de terapia específica podem determinar lesões irreversíveis. Nessas situações o prognóstico é ruim. O presente artigo relata o caso de um gato domiciliado em uma região de clima tropical úmido. Na região de domicílio do animal há predomíneo de casas, assim, os moradores permitem que os animais de estimação tenham livre acesso a rua, o que aumenta o risco de contaminação dos mesmos. Essa situação pode ter possibilitado que o gato, objeto
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deste relato, embora castrado e com acesso restrito à rua, fosse alvo de um animal de rua ou de vida livre – provavelmente outro gato que, supostamente, teria ferido seu olho esquerdo, e nele inoculando o agente contaminante através das unhas. Os sinais clínicos observados eram comuns a todos os tipos de conjuntivite, o que justifica a atitude do médico veterinário não especialista, que tentou a terapia com glicocorticóide de administração tópica e não providenciou um exame complementar. Durante o exame clínico oftalmológico foram aventadas algumas suspeitas clínicas, como conjuntivite granulomatosa, granuloma eosinofílico felino, esporotricose conjuntival e neoplasia conjuntival. Embora a cultura seja mais indicada do que o exame citológico em casos de suspeita de esporotricose, o diagnóstico foi facilitado porque a lesão era extra-ocular, e também porque os gatos concentram grande quantidade do agente infectante nas lesões. O tratamento prolongado com administração oral de itraconazol foi suficiente para promover a cura definitiva da infecção, em contraste com as indicações constantes da literatura – tratamento tópico e/ou administração oral de solução supersaturada de iodeto de potássio. Os proprietários foram bem orientados e cuidaram para que durante o tratamento o gato não abandonasse o domicílio e não tivesse contato com outro animal, como é recomendado.
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Pouco se conhece sobre a flora fúngica natural da conjuntiva ocular de felinos domésticos. Da mesma maneira, não se sabe se outros fungos competem com o Sporothrix sp no momento do crescimento em laboratório/cultura. Isso dificulta o diagnóstico e pode fazer crer que o causador da afecção seja um fungo natural que, embora competindo com o S. schenkii, não é o responsável pela infecção. A falta de conhecimento da classe médico-veterinária quanto à anatomopatologia ocular dificulta o diagnóstico das lesões oculares. Assim sendo, é possível que a inserção da esporotricose ocular no âmbito das afecções raras seja decorrente da falta de informação dos profissionais e não de sua baixa prevalência. Referências 01-BARROS, M. B. L. ; SCHUBACH, T. M. P. ; GALHARDO, M. C. G. ; SCHUBACH, A. O. ; MONTEIRO, P. C. F. ; REIS, R. S. ; ZANCOPÉ-OLIVEIRA, R. M. ; LAZÉRA, M. S. ; CUZZI-MAYA, T. ; BLANCO, T. C. M. ; MARZOCHI, K. B. F. ; WANKE, B. ; VALLE, A. C. F. ; Sporotrichosis: an emergent zoonosis in Rio de Janeiro. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 96, n. 6, p. 777-779, 2001. 02-BRUNETTE, I. ; STULING, R. D. Sporothrix schenckii scleritis, American Journal of Ophthalmology, v. 114, n. 3, p 370-371, 1992. 03-CURI, A. L. L. ; FÉLIX, S. ; AZEVEDO, K. M. L. ; ESTRELA, R. ; VILLAR, E. G. ; SARAÇA, G. Retinal granuloma caused by Sporothrix schenckii, American Journal of Ophthalmology, v. 136, n. 1, p. 205-207, 2003. 04-PAVLICHENKO NETO, I. Isolamento de Sporothrix schenckii em unha de gato doméstico (Felis catus) clinicamente saudável, em
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diferentes logradouros no Rio de Janeiro. Trabalho de final de curso de graduação da Universidade Plínio Leite. 2005. 05-SHANY, M. A mixed fungal infection in a dog: sporotrichosis and cryptococcosis. The Canadian Veterinary Journal, v. 41, n. 10, p. 799-800, 2000. 06-SOUZA, H. J. M. Medicina e cirurgia felina, 1. ed. , L. F. Livros. p. 447-475, 2003. 07-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GUIFFIN, C. E. Doenças fúngicas da pele. In: __ Dermatologia de pequenos animais, 5. ed. , Editora Interlivros; Muller & Kirk, p. 301-359. 1996. 08-LAPPIN, M. R. Zoonoses. In: GUILKLERMO, R. W. N. C. Medicina interna de pequenos animais, 2. ed. , Coutoeditora Guanabara Koogan. p. 1041-1049. 1992. 09-VIEIRA-DIAS, D. ; SENA, C. M. ; ORÉFICE, F. ; TANURE, M. A. ; HAMDAN, J. S. Ocular and concomitant cutaneous sporotrichosis. Mycoses. v. 40, n. 5-6, p. 197-201, 1997. 10-PEREIRA, J. S. ; TOLEDO-PIZA, E. ; PEREIRA, A. B. F. S. Ceratite por Sporothrix schenkii em um gato - relato de caso. Revista Universidade Rural - Série Ciências da Vida, Seropédica, v. 23, n. 1, p. 77-78, 2003. 11-GRACE, S. F. Complexo granuloma eosinofílico. In: NORSWORSWORTHY, G. D. ; CRYSTAL, M. A. ; GRACE, S. F. ; TILLEY, L. P. O paciente felino. 2. ed. , editora Manole, p. 232235. 2004. 12-BERNAYS, M. E. ; PEIFFER JUNIOR, R. L.; Ocular infections with dematiaceous fungi in two cats and a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 213, n. 4, p. 507-509, 1998. 13-SLATTER, D. Conjuntiva. In: __ Fundamenthal of veterinary ophthalmology. 3. ed. , p. 221245, 2005. 14-DIAS, D. V. ; SENA, C. M. ; ORÉFICE, F. ; TANURE, M. A. G. ; HANDAN, J. S.; Isolamento de Sporothrix schenckii no humor aquoso de uma paciente com uveíte anterior granulomatosa parte II, Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 54, n. 12, p. 31-35, 1995.
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Perfil sanitário de cães domiciliados no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro com ênfase na prevalência de parasitos intestinais e fatores associados
Simone Pontes Xavier Salles MV, profa. dra. Depto. Medicina Veterinária/UBM simonesallesvet@hotmail.com
Rita de Cássia A. A. de Menezes MV, profa. dra. Depto. Parasitologia Animal/IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br
Sanitary profile of dogs living in the campus of the Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, with emphasis in the prevalence of enteric parasites and associated factors Perfil sanitario de perros habitantes del campus de la Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro con énfasis en la prevalencia de parasitosis intestinales y factores asociados Resumo: Objetivou-se conhecer o perfil sanitário de cães domiciliados no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, com ênfase na prevalência de parasitos intestinais e fatores associados. Entre fevereiro e dezembro de 2003 foi realizada entrevista estruturada aos proprietários e foram coletadas fezes de 215 animais, que foram examinadas pelo método de centrífugo-flutuação em solução saturada de açúcar (d = 1,20). A prevalência de parasitos intestinais foi 56,7%. Ancilostomídeos foram mais prevalecentes (40%), seguidos por Cystoisospora spp. (17%), ascaridídeos (15,81%),Trichuris vulpis (8,37%), Dipylidium caninum (6,97%) e Giardia intestinalis (2,32%). Infecções intestinais mistas também foram encontradas. Sexo e raça não interferiram na infecção, mas animais com idade entre um e três anos apresentaram maior prevalência de ancilostomídeos. Acesso à rua esteve associado à maior prevalência de infecção parasitária. As condições sanitárias dos animais foram satisfatórias, principalmente em relação ao quesito higiene do ambiente. Unitermos: Canis familiaris, infecção parasitária, aspectos epidemiológicos Abstract: The aim of this study was to determine the sanitary profile of dogs living in the campus of the Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, focusing on the prevalence of enteric parasites and factors associated to their occurrence. Dogs owners were interviewed between February and December of 2003, and feces of 215 animals were collected and examined by the centrifugal sucrose flotation technique (d = 1.20). The prevalence of enteric parasites was 56.7%. Ancylostomatidae were the most prevalent ones (40%), followed by Cystoisospora spp. (17%), Ascarididae (15.81%), Trichuris vulpis (8.37%), Dipylidium caninum (6.97%) and Giardia intestinalis (2.32%). Mixed intestinal infections were also observed. Sex and breed had no association to the occurrence of infections; one- to three-year old dogs presented higher prevalence of Ancylostomatidae infections. Roaming outdoors was also associated to a higher prevalence of enteric parasites. The sanitary management of the animals herein studied was satisfactory, especially as regards environmental hygiene. Keywords: Canis familiaris, parasitic infections, epidemiological aspects Resumen: El objetivo del presente trabajo fue conocer el perfil sanitario de perros que habitan el campus de la Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, con énfasis en la prevalencia de parásitos intestinales y factores asociados. Entre febrero y diciembre de 2003 se realizó una encuesta estructurada a los propietarios, y recolección de materia fecal de 215 animales que fueron examinadas por el método de centrifugación-fluctuación en solución saturada de azúcar (d = 1,20). La prevalencia de parásitos intestinales en el campus fue de 56,7%. La mayor prevalencia fue ancilostomídeos (40%), seguidos por Cystoisospora spp. (17%), ascaridídeos (15,81%), Trichuris vulpis (8,37%), Dipylidium caninum (6,97%) y Giardia intestinalis (2,32%). También se encontraron infecciones intestinales mixtas. El sexo y la raza no fueron relevantes en la infección por endoparásitos, pero animales con edades entre 1 a 3 años presentaron mayor prevalencia de infección por ancilostomídeos. La mayor prevalencia de infección parasitaria estuvo asociada con el acceso a la calle. Las condiciones sanitarias de los animales eran satisfactorias, principalmente en relación a la higiene del ambiente. Palabras clave: Canis familiaris, infección parasitaria, aspectos epidemiológicos
Clínica Veterinária, n. 77, p. 48-60, 2008
Introdução Os cães são hospedeiros de várias espécies de parasitos intestinais e, muitas vezes, são portadores de infecções assintomáticas, embora em outras possam chegar ao óbito. Algumas espécies desses parasitos, como o Toxocara 48
canis e o Ancylostoma caninum, podem infectar humanos determinando, respectivamente, a larva migrans visceral e a larva migrans cutânea. Outras espécies, como o Cryptosporidium parvum, o Giardia intestinalis e o Dipylidium caninum também têm caráter zoonótico,
ocasionando distúrbios intestinais 1. Alguns aspectos epidemiológicos relevantes devem ser considerados nas infecções parasitárias de cães. Inicialmente, deve ser levada em conta que a prevalência de enteroparasitos varia muito nas diversas regiões do Brasil. Em Balneário Cassino, RS, foi observada maior freqüência do gênero Ancylostoma (71,3%) do que de Trichuris vulpis (32,5%) e Toxocara sp. (9,3%) em amostras de fezes de cães errantes 2. Em Goiânia, após análise de 434 amostras de fezes, constatou-se que 94 eram positivas para um ou mais enteroparasitos; 21 dessas amostras provinham de cães sem dono, e 73 de animais domiciliados 1. No Rio de Janeiro, foram avaliadas amostras fecais de 204 cães recolhidos e mantidos em instituto público de medicina veterinária e verificou-se prevalência de 45,6% de infecção por parasitos intestinais 3. A idade dos hospedeiros também é relevante nas infecções por enteroparasitos: os cães jovens apresentam maior risco de serem infectados 4. A infecção por T. canis ocorre em animais com menos de um ano, declinando com o aumento da idade 5. Animais adultos podem adquirir infecção sob condições naturais ou experimentais, apesar do desenvolvimento de anticorpos 4,6. O gênero Giardia também é mais prevalecente nos jovens. O fato de cães com menos de dois anos de idade serem mais susceptíveis
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sugere que a resistência ao parasito se estabelece devido à prévia exposição e que a imunidade específica se desenvolve com a idade 7. Diferentes prevalências entre sexos têm sido detectadas. Machos adultos apresentaram maior prevalência de infecção por Ancylostoma sp., T. canis, T. vulpis, Giardia sp. e Cystoisospora sp. do que fêmeas adultas 8. No mesmo estudo 8, não foi verificada diferença de prevalência dos endoparasitos entre raças (sem raça definida – SRD – e de raças definidas), exceto para os gêneros Cystoisospora e Toxocara, que mostraram maior prevalência em animais SRD. Infecções pelos protozoários Giardia sp. e Cystoisospora sp. foram mais freqüentes em animais de raças definidas, ao contrário do que ocorreu com as espécies A. caninum e T. vulpis, que foram mais observadas em animais SRD 9. Os ambientes também constituem uma importante fonte de infecção, sobretudo aqueles que retêm umidade. Sendo assim, a higiene do ambiente é imprescindível para evitar que o animal tratado se reinfecte 10. A coleta regular de fezes e a limpeza de canis podem evitar a manutenção de ovos, larvas e cistos em ciclo de transmissão direta e prevenir a infecção de hospedeiros intermediários e paratênicos 11,12. O presente trabalho teve como objetivo conhecer o perfil sanitário de cães domiciliados no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), com ênfase na prevalência de parasitos intestinais e fatores associados. Material e métodos O estudo foi realizado no período de fevereiro a dezembro de 2003 no campus da UFRRJ, localizado no Município de Seropédica. Foram visitadas as 240 casas existentes, sendo consideradas apenas as 112 onde viviam cães e cujos proprietários aceitaram, por escrito, participar do estudo. Foram coletadas e examinadas fezes de 215 cães machos e fêmeas, de diferentes faixas etárias e de variadas raças. Foram realizadas entrevistas estruturadas com os proprietários participantes, nas quais eram solicitadas informações sobre o número de animais, o manejo, o estado reprodutivo, a profilaxia de
doenças e o destino dado às fezes. Durante o exame clínico de cada animal avaliado no estudo foi preenchida ficha contendo nome, raça, sexo, idade, presença de ectoparasitos e tratamentos efetuados. As informações foram introduzidas no programa Epiinfo 2002 13, para formação de banco de dados e análise estatística. Os animais foram divididos de acordo com a faixa etária, da maneira que segue: até um ano de idade (inclusive); acima de um até três anos (inclusive); acima de três até sete anos (inclusive); e acima de sete anos de idade. Outros dados, como sexo e raça, também foram registrados, para avaliar o perfil dos animais dentro do campus e os fatores associados à infecção por endoparasitos. Embora todos os cães tivessem dono, para melhor avaliação, eles foram caracterizados de acordo com o grau de restrição, como domiciliados (aqueles que ficavam o tempo todo no quintal) e semidomiciliados (aqueles que viviam com o proprietário, mas de vez em quando saíam do quintal e tinham acesso à rua). Durante a entrevista, foi perguntado aos proprietários se o cão tinha contato com animais de outras espécies dentro da área residencial. Em relação à utilização de anti-helmínticos, a entrevista continha perguntas sobre a freqüência dos tratamentos e as medidas de controle efetuadas, tendo sido pesquisada a presença de ectoparasitos durante o exame clínico. Na área peridomiciliar, que corresponde aos espaços ao redor da casa, foi observada a higiene do ambiente, que foi classificada como ruim, regular ou boa, considerando principalmente a existência de lixo, fezes e esgotos encontrados no momento da visita (Figura 1).
Foi avaliada a freqüência com que os proprietários faziam a coleta das fezes e qual era o seu destino, como: colocar em áreas livres (gramado ao redor da casa ou terreno dos vizinhos), lixeira e outros. Da mesma forma, perguntou-se ao proprietário sobre a presença de roedores na área peridomiciliar. Também foram observados alguns aspectos em relação ao manejo. A dieta foi um deles, discriminada com o intuito de avaliar o manejo alimentar dos cães, a saber: animais que se alimentavam exclusivamente de comida de preparação caseira ou ração e aqueles que consumiam ambas. Outros registros, como vacinação, assistência médico-veterinária e enfermidades encontradas foram anotados, para avaliação do perfil sanitário desses cães. O exame clínico dos animais foi efetuado no momento da visita, por meio de contenção manual e mordaça quando necessário, com a autorização e a ajuda dos proprietários. Durante a visita foram coletadas individualmente amostras de fezes dos cães no ato da defecação, independentemente da consistência destas. Quando não foi possível a coleta no mesmo dia, um saco plástico coletor, devidamente identificado com os dados do animal, era deixado com o proprietário e agendavase outro dia para recolher o material. O proprietário era orientado a coletar no mínimo dois gramas de fezes recémemitidas, que de preferência não tivessem tido contato com o solo. Essas amostras permaneciam sob refrigeração na casa do proprietário. Foi coletada apenas uma amostra de fezes de cada animal. Os exames parasitológicos de fezes foram realizados até 24 horas após a coleta, com o uso da técnica de centrífugo-
Critérios de higiene
Características do ambiente
Ruim
Muitas fezes, presença de lixo, esgoto ou valas abertas na área peridomiciliar e instalações sujas no momento da visita; presença de roedores relatada pelo proprietário
Regular
Quando até dois fatores daqueles relacionados para higiene ruim estivessem presentes na área peridomiciliar no momento da visita
Boa
Nenhuma ou poucas fezes, ausência de lixo, esgoto ou valas abertas na área peridomiciliar e instalações limpas no momento da visita; ausência de roedores relatada pelo proprietário
Figura 1 - Critérios utilizados na avaliação da higiene do ambiente peridomiciliar de 112 residências com cães no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
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flutuação 14, em solução saturada de açúcar (densidade 1,20). Essa técnica foi adotada porque, inicialmente, o propósito do estudo era avaliar apenas a prevalência das espécies do gênero Cystoisospora, razão pela qual não foi pesquisada a presença de oocistos do gênero Cryptosporidium. No entanto, a técnica também permite a detecção de outros protozoários e de ovos de helmintos. A identificação dos gêneros, e quando possível das espécies, foi feita com base na morfologia dos ovos de helmintos, cistos e oocistos de protozoários visualizados ao microscópio óptico. Os exames de fezes foram feitos no laboratório do Departamento de Parasitologia Animal do Instituto de Veterinária da UFRRJ. Para análise da associação entre as variáveis independentes (sexo, idade, raça, higiene do ambiente, tratamento anti-helmíntico, grau de restrição, acomodação, coleta e destino das fezes) e a variável dependente (infecção), foi usado o teste do qui-quadrado (x2) com a utilização do programa Epiinfo (2002) 13 em nível de significância de 5%. Quando necessário, foi aplicado o teste Exato de Fischer. Resultados e discussão Perfil das condições sanitárias Dos 215 cães estudados, 121 (56,3%) eram machos e 94 (43,7%) fêmeas, com razão de 1,29 entre os dois gêneros. Em relação ao estado reprodutivo das fêmeas, observou-se fase de anestro/ diestro em 85,10% delas. Fêmeas no estro, gestantes e no puerpério (lactação) corresponderam, respectivamente, a 4,26, 8,51 e 2,13%. Esses percentuais foram insuficientes para avaliar possíveis correlações com a infecção por enteroparasitos, não tendo sido possível, portanto, a comprovação dos registros da literatura, de que animais com estresse, em lactação, no puerpério e imunossuprimidos apresentam-se mais infectados do que fêmeas em estado fisiológico normal (anestro, diestro) 11. Trinta e três (15,35%) cães inseriamse na faixa etária de até um ano, 72 (33,49%) na de um a três anos, 80 (37,21%) na de três a sete anos (inclusive) e 30 (13,95%) tinham acima de sete anos. Participaram do estudo cães de vinte raças definidas, mas os sem raça definida 50
(SRD) foram em maior número, 126 (58,60%). As raças poodle e pinscher foram as mais representativas, com 20 e 18 animais, respectivamente. Constatou-se que 51,6% dos animais eram domiciliados, normalmente vivendo em residências cercadas, canis ou presos por correntes. Aqueles semidomiciliados representaram 48,4% dos casos e, em geral, ficavam soltos no quintal. Na avaliação da forma como os cães eram acomodados, foi verificado que 59,07% dos animais permaneciam exclusivamente no quintal. No entanto, em algumas residências, apesar de acomodados no quintal, 49 (38,58%) ficavam presos por correntes em um cabo de aço estendido ao redor da casa. Alguns tinham abrigos de madeira para proteção contra chuva, sol e sereno. Aqueles restritos à residência (6,51%) eram de raças de pequeno porte. Animais criados em canil (4,65%) ou em canil e quintal (29,77%) muitas vezes não tinham contato direto com os proprietários. Em relação ao critério higiene do ambiente, conforme especificado na figura 1, a higiene considerada boa correspondeu a 45,1% das casas visitadas, a regular a 51,2%, e a ruim a 3,7% dos domicílios. Havia coleta de fezes nas residências de 197 (91,6%) animais. Nos domicílios de 127 (64,5%) dos cães a coleta era diária, nos de 29 (14,7%) era realizada apenas uma vez por semana, nos de 36 (18,3%) duas vezes, e nos de cinco (2,5%) três vezes por semana. Quanto ao destino das fezes, as de 115 (58,4%) animais eram colocadas no gramado em frente ou nos fundos de suas residências, as de 63 (31,9%) eram colocadas na lixeira, as de sete (3,6%) eram enterradas, e as de 12 (6,1%) tinham outros destinos, como por exemplo a queima. Anualmente, 69,3 % dos cães deste estudo recebem anti-helmínticos, o que permite sugerir que os proprietários são zelosos em relação à infecção por helmintos e aos riscos que estas podem Tratados Sim Não Total
até 1 ano 27 (18,1) 6 (9,1) 33 (15,3)
>1 até 3 anos 52 (34,9) 20 (30,3) 72 (33,5)
trazer a seus animais. Dos 66 (30,7%) animais que não receberam tratamento, 48,5% pertenciam à faixa etária de três a sete anos (Figura 2). Isso pode ser justificado, porque nessa faixa etária o proprietário não se preocupa com a utilização de anti-helmínticos por acreditar que os animais já não sejam tão parasitados quanto os filhotes. Dos animais estudados, 104 (48,4%) eram alimentados simultaneamente com ração comercial e comida caseira, 88 (40,9%) recebiam apenas ração, enquanto 23 (10,7%) alimentavam-se apenas com comida caseira, normalmente proveniente de restos da alimentação dos proprietários. Em relação à profilaxia de enfermidades por meio de vacinação, verificouse que a maior preocupação dos proprietários era a prevenção da raiva. Constatou-se que a vacinação é realizada anualmente em 167 (77,7%) cães, sendo 71 (42,5%) imunizados com a vacina múltipla (leptospirose, cinomose, parvovirose, coronavirose, hepatite e adenovírus) e a anti-rábica, 85 (50,9%) somente contra raiva e 11 (6,6%) apenas com vacina múltipla. Durante as visitas, observou-se que 141 (65,6%) caninos tinham contato com alguma outra espécie na área onde viviam, como gatos, pássaros, galinhas, eqüinos e bovinos. Devido ao alto percentual esse fato é preocupante, já que pode favorecer as infecções virais ou parasitárias entre diferentes espécies, como ocorre com o Toxoplasma gondii caso não seja realizado um controle adequado. Com base nos relatos de proprietários, constatou-se que 94 (43,7%) cães têm contato com roedores, principalmente em áreas de higiene precária, com acúmulo de lixo ao redor da casa, ou no caso de proprietários que mantinham sacos de ração abertos ou armazenados no quintal, sem proteção. A maioria dos entrevistados relatou que não sabia como controlar, alegando que os ratos vinham de terrenos vizinhos. Isso constitui um problema de saúde pública > 3 até 7 anos 48 (32,2) 32 (48,5) 80 (37,2)
> 7 anos 22 (14,8) 8 (12,1) 30 (14)
Total 149 (100) 66 (100) 215 (100)
Figura 2 - Freqüências absoluta e relativa (%) de cães submetidos ou não a tratamento anti-helmíntico, segundo a faixa etária, no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
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e possibilita a transmissão de doenças parasitárias por meio da predação, embora não tenha havido esse tipo de relato pelos proprietários. Segundo as informações dos proprietários, 127 (59,1%) cães não recebiam assistência médico-veterinária devido à falta de esclarecimento em relação a doenças, e/ou de condições financeiras. Quarenta e sete (21,9%) animais recebiam assistência médico-veterinária e sempre que ocorria qualquer problema eram levados ao Hospital Veterinário do campus ou a clínicas da região. Cães que eram avaliados eventualmente, ou seja, quando o proprietário julgava necessário, representaram 19% da amostra. Em relação a esses resultados, percebe-se a necessidade de projetos de extensão dentro do campus universitário, para conscientizar os proprietários de animais sobre a importância do médico veterinário para a preservação da saúde animal e humana. As conseqüências da falta de assistência médico-veterinária puderam ser observadas durante a avaliação clínica, pois 28 (13,02%) cães apresentavam enfermidades. As dermatopatias foram diagnosticadas em 27 animais, com destaque para alergias, principalmente por picadas de pulga, piodermatites e miíase. Infestações por pulgas, carrapatos e piolhos foram observadas, respectivamente, em 18,1; 19,1 e 1,40% dos cães; dentre os infestados por ectoparasitos, 32,6% estavam parasitados simultaneamente por pulgas e carrapatos. Essas informações são importantes, pois por intermédio delas se pode avaliar o risco potencial de infecção por agentes patogênicos (Babesia, Ehrlichia, D. caninum, entre outros) na população existente no campus. Apesar do elevado número de animais
infestados por pulgas, isoladamente ou com carrapatos, que chegou a 50,7% dos cães estudados, a prevalência de D. caninum, infecção dependente da presença contínua de pulgas – seus hospedeiros intermediários – foi de apenas 6,97%. Esse baixo percentual pode ser devido à inadequação do método de centrífugo-flutuação para diagnóstico dessa espécie de cestóide. Sessenta e quatro cães quando infestados, principalmente por carrapatos, recebiam banho semanal com carrapaticida a. O uso concomitante desse produto com outro medicamento no intuito de potencializar sua ação foi utilizado em 19 animais; a prática de banho com sabonetes e xampus de uso veterinário, sabão de coco e sabonete Phebo (conforme relato de proprietários) era realizada em 60 caninos. A aplicação anual de ivermectina b, como prevenção, à qual os proprietários chamam de “vacina”, era utilizada isoladamente em oito animais, e associada com outros produtos em 12 cães da amostra examinada no presente estudo.
Local São Paulo 17 São Paulo 15 Austrália 20 São Paulo 25 Rio Grande do Sul 16 São Paulo 8 Paraná 26 Santa Catarina 18 Rio de Janeiro 3 Presente estudo
Ascaridídeos 11,7 17,5 1,7 2,6 1,5 5,54 1,8 14,5 8,8 15,81
Ancilostomídeos 59,86 45,2 1,9 12,7 46,2 23,62 29,17 70,9 34,8 40
Prevalência de parasitos intestinais Foram consideradas no estudo 112 residências que tinham cães, com média de 1,92 cães por domicílio. Dos 215 cães examinados, 122 apresentaram infecção por parasitos intestinais, o que corresponde a uma prevalência de 56,7%. Em Araçatuba-SP, após exame de 314 amostras de fezes de cães, foi encontrada prevalência (55,7%) 15 próxima à observada no presente estudo, embora as condições de trabalho e as técnicas (Willis-Mollay e Sheater) empregadas tenham sido diferentes. a) Butox, Intervet, Cruzeiro, SP b) Ivomec, Merial, Paulínia, SP
T. vulpis --1,9 --1,8 9,2 4,8 3,3 13,9 2,5 8,37
Na figura 3 estão discriminadas as famílias ou gêneros de parasitos intestinais diagnosticados nos animais do presente estudo, bem como suas respectivas prevalências, comparadas àquelas encontradas por outros autores. A variação de prevalências (Figura 3) entre estudos pode ser devida a fatores como populações distintas de cães, técnicas de amostragem e tamanho das amostras; validade das técnicas de diagnóstico utilizadas; variação climática; distintas áreas geográficas e muitas outras variáveis individuais. A prevalência de ancilostomídeos constatada no presente estudo (40%) foi similar àquelas verificadas no Rio de Janeiro 3, no Rio Grande do Sul 16 e em São Paulo 15 e a de ascaridídeos (15,81%) foi semelhante às observadas em São Paulo 15,17, embora todas essas pesquisas – principalmente a última – tenham sido desenvolvidas em diferentes condições. Animais criados em gramados, em canis úmidos com pisos porosos ou em áreas de terra – que podem reter umidade oferecendo as condições favoráveis para manter a viabilidade de ovos e larvas – estão mais expostos à infecção. Tais condições, observadas com freqüência nas residências visitadas neste trabalho, levaram à alta prevalência de ancilostomídeos. Provavelmente a alta prevalência de ascaridídeos, no presente estudo, deve-se à grande resistência de formas infectantes desses nematóides que podem permanecer viáveis meses a anos nesse tipo de ambiente. Porém, outro aspecto que deve ser levado em conta é a falta de remoção das fezes dos animais nesses locais, o que favorece a contaminação ambiental. Em Itapema, SC, a maior prevalência de ancilostomídeos (70,9%) em cães errantes não surpreendeu os autores 18, uma vez que, aparentemente, esses animais não desenvolvem imunidade contra
Cystoisospora spp. ----12,4 4,4 --8,49 0,38 6,3 5,9 7,9
D. caninum --2,9 0,2 0,06 --0,74 0,76 1,9 3,4 6,97
G. intestinalis ----22,1 8,5 --12,18 ----1,5 2,32
Figura 3 - Parasitos intestinais de cães e respectivas prevalências (%), encontrados por alguns autores no mundo e no presente estudo (campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003)
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antígenos do parasito 19 e distintas vias de infecção – como a transmamária para filhotes, a percutânea ou a oral – podem favorecer a sua disseminação. Estudos recentes indicam que a prevalência de T. canis diminuiu significativamente nas duas últimas décadas do Século XX 20. Diferenças nos protocolos de tratamento anti-helmíntico, incluindo a idade dos animais tratados, tipos de drogas utilizadas, técnicas de diagnóstico e condições ambientais têm contribuído para a diminuição da prevalência das infecções helmínticas 21. Infecções por T. vulpi, têm sido observadas 16,22, porém em menor freqüência que infecções por ancilostomídeos e ascaridídeos (Figura 3). No presente trabalho, a prevalência observada foi de 8,37%, semelhante àquela obtida em outra pesquisa anteriormente realizada 16. Embora o método de centrifugo-flutuação não seja o de eleição para a pesquisa de cestóides, verificou-se 6,97% de prevalência para D. caninum neste estudo. Taxas semelhantes (6,63% 23), bem como muito inferiores (0,26% 1 e 3,4% 3), foram encontradas por outros autores. Por outro lado, foi encontrada a ocorrência desse endoparasito em 42,86% de 28 cães provenientes de seis canis municipais do Estado de São Paulo examinados por meio de necropsia 24. A utilização de necropsias possibilita a identificação de formas adultas dos cestóides, o que evidencia infecções que não podem ser facilmente diagnosticadas nos exames parasitológicos, que se baseiam na observação de cápsulas ovígeras nas fezes 15. Mas a infecção depende da presença contínua de hospedeiros intermediários para a sua endemicidade e, durante a avaliação clínica, observou-se a presença de infestação por pulgas em 109 (50,7%) cães, dos
quais 13 (11,9%) estavam infectados por D. caninum, que tem esse inseto como hospedeiro intermediário. Neste estudo Cystoisospora spp. foi detectado em 7,9% dos cães, sendo identificadas C. canis e C. ohioensis em dez (58,8%) e sete (41,2%) animais, respectivamente. Valores inferiores foram relatados por outros autores 1,3,25,26 . Essa diferença nas prevalências pode ser decorrente da utilização de animais de outras faixas etárias, de diferentes técnicas de diagnóstico e das condições de trabalho. Infecções mistas por C. canis e C. ohioensis em cães jovens e adultos foram observadas, respectivamente, em 12,20% e 1,70% de canis no Município de Itaguaí, e em 9,09% e negativa de canis no município do Rio de Janeiro 27. No presente estudo a prevalência de G. intestinalis foi de 2,32%. Provavelmente, essa baixa prevalência foi devida à não utilização da técnica mais sensível para o diagnóstico do protozoário (centrífugo-flutuação em sulfato de zinco) 8, e também porque apenas uma amostra de fezes de cada animal foi examinada. Para a detecção desse protozoário, devem ser analisadas no mínimo três amostras de fezes, devido à liberação intermitente de cistos, embora tenha sido evidenciada positividade de até 42% 28 com análise de uma só amostra. Em outro estudo, verificou-se que 34,04% do material fecal coletado apresentava cistos do protozoário 29. Em animais bem tratados a prevalência está em torno de 7%, com maiores taxas em jovens de até dois anos de idade, dos quais aproximadamente 18% estão infectados 7. Além disso, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro foi encontrado maior percentual de infecção por Giardia sp. em cães de abrigos (45,74%) do que naqueles domiciliados
Endoparasitos Ancilostomídeos /Ascaridídeos Ancilostomídeos /Cystoisospora spp. Ancilostomídeos /Trichuris vulpis Ancilostomídeos /Dipylidium caninum Ascaridídeos/D. caninum Cystoisospora spp./Giardia intestinalis Ancilostomídeos/Cystoisospora spp./D. caninum Total x2 = 13, 75 p = 0,033
Raça (%) 15 (75) 2 (25) 5 (62,5) 3 (60) 3 (100) 0 (0) 0 (0) 28 (58,3)
(12,30%) 30, embora não tenha sido detectada associação com a idade dos hospedeiros. A partir de uma análise geral da figura 3, que traz a prevalência de cada parasito no presente trabalho e em outros constantes da literatura, é possível verificar que os níveis de parasitismo em cães variam consideravelmente de acordo com a região. Tais variações provavelmente são decorrentes de diversos fatores, como os citados anteriormente, bem como de diferenças climáticas, geográficas e de manejo dos animais. Portanto, a realização de estudos que relacionem a prevalência de parasitos às características da região enfocada pode ser importante na determinação de estratégias de controle. Infecções mistas foram detectadas em 48 (22,32%) cães (Figura 4), resultado similar àquele encontrado em estudo 15 no qual, de 175 amostras de fezes de cães consideradas positivas, somente 32 (20%) dos animais apresentaram infecções múltiplas. Neste trabalho, houve maior prevalência de infecção mista por ancilostomídeos e ascaridídeos, que pode ser justificada pelo fato de serem esses os dois gêneros de maior ocorrência no local em que o estudo foi desenvolvido. Alguns trabalhos 15,26 relatam infecções concomitantes, com maior freqüência de Ancylostoma sp. e Toxocara sp., seguida por Ancylostoma sp. e T. vulpis, conforme verificado neste estudo. Ancylostoma sp. e Cystoisospora sp. e outras infecções múltiplas em menor porcentagem também foram detectadas nos trabalhos citados. Os resultados aqui encontrados reforçam os achados de outros autores, segundo os quais os ancilostomídeos e os ascaridídeos continuam sendo os nematóides mais prevalecentes em cães 16,20.
Animais infectados SRD (%) 5 (25) 6 (75) 3 (37,5) 2 (40) 0 (0) 2 (100) 2 (100) 20 (41,7)
Total 20 8 8 5 3 2 2 48
Prevalência (%) 9,31 3,72 3,72 2,32 1,39 0,93 0,93 22,32
SRD = sem raça definida
Figura 4 - Prevalência de infecções intestinais mistas em fezes de cães (n = 215), segundo a raça. Animais domiciliados e semidomiciliados no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
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Vários aspectos devem ser considerados na avaliação de infecções mistas, como a idade, a higiene e outros fatores que favorecem a disseminação no ambiente de formas infectantes de diferentes endoparasitos. Observou-se que, dos oito animais que apresentaram infecção mista por ancilostomídeos/ Cystoisospora sp., 50% tinham acesso à rua e viviam em ambientes cuja higiene foi considerada ruim, o que pode ter favorecido a infecção; os outros quatro animais inseriam-se na faixa etária maior que um a três anos. Daqueles cães com infecção por ancilostomídeos/ascaridídeos, 50% viviam em ambientes com higiene considerada boa, 70% tinham acesso à rua, o que pode ter favorecido a aquisição da infecção, e 35% pertenciam às faixas etárias maior que um a três anos e maior que três a sete anos. Embora a infecção por ascaridídeos seja mais freqüente em animais com menos de um ano, verificou-se que somente 20% estavam incluídos nessa faixa etária. Isso pode ser atribuído a dois fatores: o pequeno número de animais com idade até um ano e a existência de infecção patente em animais adultos, o que não é tão freqüente 4,6. Daqueles infectados por ancilostomídeos/D. caninum, somente 20% pertenciam à faixa etária até um ano, já que cães não desenvolvem imunidade contra antígenos de ancilostomídeos 19 nem contra de D. caninum; destes, 60% tinham acesso à rua e 80% viviam em ambientes com higiene regular. Os três cães infectados por ascaridídeos/D. caninum tinham idades entre menos de um e três anos, viviam em condições regulares de higiene e tinham acesso à rua. Não foi verificada infecção em animais com mais de sete anos. Baixo percentual de infecção mista pelos protozoários Cystoisospora sp./ G. intestinalis foi observado em dois animais, que viviam em ambientes com higiene regular e tinham acesso à rua. Um animal tinha menos de um ano e o outro inseria-se na faixa maior que um a três anos. A infecção pelo gênero Giardia é mais freqüente em animais jovens, uma vez que a imunidade específica ao parasito se desenvolve com a idade. Portanto, cães com menos de três anos de idade, especialmente aqueles 54
com menos de um ano, são mais suscetíveis à infecção do que animais mais velhos 7, o que foi constatado também nos animais do presente estudo. Alguns trabalhos 15,26 relatam que as infecções mistas com mais de dois endoparasitos são menos freqüentes. Isso foi verificado nesta investigação, na qual foi encontrado parasitismo por ancilostomídeos/Cystoisospora sp./D. caninum em apenas dois animais que viviam em ambientes cuja higiene era regular (um tinha acesso à rua) e pertenciam às faixas etárias maior que um a três anos e maior que sete anos. Fatores associados à infecção intestinal de cães por endoparasitos Não houve diferença significativa (p = 0,85) entre as freqüências de endoparasitos por sexo dos cães (Figura 5). Estes resultados são semelhantes aos de investigações realizadas nas cidades de
Ica, Peru 31 e Perth, Austrália 20. Em São Paulo, a prevalência de Ancylostomma sp., T. canis, T. vulpis, Giardia sp. e Cystoisospora sp. foi maior em machos adultos do que em fêmeas da mesma faixa etária, embora apenas para Giardia sp. tenha ocorrido diferença significativa entre os grupos 8. Em outro estudo, somente a espécie A. caninum se mostrou significativa, com altos valores observados em machos 9, não tendo sido encontrada diferença significativa nas prevalências dos outros endoparasitos entre machos e fêmeas. No presente estudo, ocorreu maior prevalência de Cystoisospora sp., G. intestinalis, D. caninum e T. vulpis em cães machos, diferentemente de ancilostomídeos e ascaridídeos, que não apresentaram diferença entre os sexos. Infecções por T. canis tendem a ser mais comuns em machos adultos 6, embora não haja explicação para tal fato. Por
Infecção por endoparasitos sim não Sexo fêmea macho Faixa etária (anos) Até 1 > 1 até 3 > 3 até 7 Acima de 7 Raça Definida SRD * Higiene do ambiente Boa Regular Ruim Tratados Sim Não Grau de restrição Semidomiciliados Domiciliados Coleta fezes no quintal Sim Não Destino das fezes Subsolo Lixo Peridomicílio Outros Acomodação Canil Canil / quintal Somente quintal Residência / quintal
total
valor de p 0,85
54 (57,4) 68 (56,2)
40 (42,6) 53 (43,8)
94 121
16 (48,5) 46 (63,9) 44 (55) 16 (53,3)
17 (51,5) 26 (36,1) 36 (45) 14 (46,7)
33 72 80 30
52 (58,4) 70 (55,6)
37 (41,6) 56 (44,4)
89 126
49 (50,5) 65 (59,1) 8 (100)
48 (49,5) 45 (40,9) 0 (0)
97 110 8
73 (49) 49 (74,2)
76 (51) 17 (25,8)
149 66
67 (64,4) 55 (49,5)
37 (35,6) 56 (50,5)
104 111
108 (54,8) 14 (77,8)
89 (45,2) 4 (22,2)
197 18
7 (100) 33 (52,4) 61 (53) 7 (58,3)
0 (0) 30 (47,6) 54 (47) 5 (41,7)
7 63 115 12
7 (70) 33 (51,6) 75 (59,1) 7 (50)
3 (30) 31 (48,4) 52 (40,9) 7 (50)
10 64 127 14
0,45
0,6 0,0195
0,0006
0,028 0,006 0,106
0,467
* sem raça definida
Figura 5 - Prevalência (%) de infecção por parasitos intestinais em cães, segundo as variáveis estudadas no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
outro lado, em estudo realizado na República Tcheca, foi observada maior freqüência de Giardia sp. em fêmeas do que em machos 32. Os resultados encontrados neste estudo permitem inferir que não há predisposição ligada ao sexo para infecção por endoparasitos. O fator idade não apresentou diferença significativa (p = 0,45) em relação à presença de endoparasitos (Figura 5), exceto para ancilostomídeos (p<0,05), onde verificou-se aumento (p<0,05) de infecção na faixa etária de um a três anos de idade e redução (p<0,05) de infecção nos cães acima de sete anos (Figura 6). No entanto, em todas as faixas etárias foi detectada presença de ancilostomídeos. Filhotes apresentam maior risco de infecção por ancilostomídeos e ascaridídeos devido à transmissão transmamária e transplacentária 21, embora em estudo realizado em São Paulo 25 também tenha sido observada associação entre Ancylostoma spp. e idade acima de um ano. Vias de infecção distintas, como percutânea ou oral, podem favorecer a disseminação do parasito, principalmente pela contaminação ambiental por fezes. Esses fatores podem ter favorecido a infecção de animais adultos neste trabalho. Na presente investigação, o fator idade não apresentou diferença significativa (p>0,05) em relação à presença de ascaridídeos (Figura 6). Entre os animais adultos, aqueles das faixas etárias maior de três a sete e acima de sete anos apresentaram maior percentual de infecção. Tais observações corroboram estudo 6 que descreve que, embora os cães sejam capazes de desenvolver forte imunidade contra os ascaridídeos, animais adultos podem eliminar ovos pois alguns continuam susceptíveis à infecção por Toxocara mesmo com a produção de anticorpos específicos. Outros fatores também podem contribuir, como a alta fecundidade das fêmeas da espécie, a resistência dos ovos às condições climáticas e a quiescência das larvas nos tecidos somáticos. Em relação à raça (definida ou indefinida), a diferença de freqüência da infecção por endoparasitos não foi significativa (Figura 5). Uma vez que havia vinte raças correspondendo a um total 56
Faixa etária em anos nº animais até 1 33 72 > 1 até 3 > 3 até 7 80 acima de 7 30 Total 215 Ascaridídeos: x2 = 1,104 p = 0,77
Ascaridídeos sim (%) não (%) 4 (12,1) 29 (87,9) 10 (13,9) 62 (86,1) 14 (17,5) 66 (82,5) 6 (20) 24 (80) 34 (15,8) 181 (84,2)
Ancilostomídeos sim (%) não (%) 14 (42,4) 19 (57,6) 38 (52,7) 34 (47,3) 28 (35) 52 (75) 6 (20) 24 (80) 86 (40) 129 (60)
Ancilostomídeos: x2 = 10,81 p = 0,013
Figura 6 - Prevalência de infecção por ascaridídeos e ancilostomídeos em cães, segundo a faixa etária, no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
de 89 (41,4%) animais analisados, não foi possível determinar a susceptibilidade de cada uma em particular. Em São Paulo 8,25 também não foram encontradas diferenças significativas entre cães SRD e aqueles com raça definida, que tinham proprietários e recebiam cuidados médico-veterinários e tratamento anti-helmíntico regularmente 8. Porém, alta prevalência (maior que em animais puros) de T. canis e Cystoisospora sp. foi observada em animais SRD 8, diferentemente dos achados desta pesquisa, na qual o protozoário foi diagnosticado em 68,8% dos animais de raça definida. Também na Argentina as infecções por Cystoisospora sp. foram mais freqüentes em cães de raça definida 9. Na figura 7 pode-se verificar o número de animais infectados pelos diferentes parasitos intestinais segundo a raça, salientando que havia animais com infecção mista. Embora o número de amostras para cada tipo de infecção mista seja pequeno Nº de cães infectados Parasitos SRD raça Ancilostomídeos 50 36 Ascaridídeos 24 10 Trichuris vulpis 9 9 G. intestinalis 2 3 Cystoisospora spp. 5 11 D. caninum 9 6 SRD = sem raça definida
Figura 7 - Número de cães infectados por parasitos intestinais, segundo raça, no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
para uma análise estatística mais apurada pode-se observar, na figura 4, que animais SRD tiveram maior prevalência de infecção concomitante por ancilostomídeos/Cystoisospora spp., Cystoisospora spp./G. intestinalis e ancilostomídeos/Cystoisospora spp./D. caninum. Com as freqüências obtidas, foi verificada uma associação significativa (p = 0,0195) entre a prevalência de infecção por endoparasitos e a higiene do ambiente, sobretudo em cães que viviam em ambiente cuja higiene foi considerada ruim (Figura 5). Também a prevalência de infecção por ancilostomídeos apresentou associação significativa (p<0,05) com a higiene ruim do ambiente (Figura 8). Em ambientes com essas condições, a contaminação por fezes no quintal provavelmente propiciou a disseminação de formas infectantes de ancilostomídeos – parasitos de maior prevalência na região –, o que concorda com o observado em Santa Maria (RS) 33, onde em 93,3% das 30 praças públicas foram encontrados ovos de Ancylostoma sp., sugerindo que a contaminação ambiental pode ser um sério risco para humanos e cães. Já para a infecção por ascaridídeos (Figura 8), não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) entre as diferentes condições de higiene do ambiente. Independentemente da condição de higiene das residências visitadas, a prevalência foi semelhante, provavelmente porque os ovos desses parasitos
Ascaridídeos Higiene do ambiente Nº animais sim (%) não (%) boa 97 16 (16,5) 81 (83,5) regular 110 17 (15,5) 93 (84,5) ruim 8 1 (12,5) 7 (87,5) total 215 34 (15,8) 181 (84,2) Ascaridídeos: x2 = 0,11 p = 0,946
Ancilostomídeos sim (%) não (%) 35 (36,1) 62 (63,9) 44 (40) 66 (60) 7 (87,5) 1 (12,5) 86 (40) 129 (60)
Ancilostomídeos: x2 = 6,39 p = 0,0315
Figura 8 - Prevalência de infecção por ascaridídeos e ancilostomídeos em cães, segundo a higiene do ambiente, no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
têm casca espessa, o que protege a larva, diminuindo assim a influência da higiene sobre a viabilidade das formas infectantes. Em relação à utilização de tratamento anti-helmíntico, verificou-se uma diferença significativa (p = 0,0006) na prevalência de infecção entre animais tratados e não tratados (Figura 5). O percentual de animais tratados anualmente mas parasitados foi de 49%, sugerindo inadequação dos métodos de controle empregados por parte dos proprietários, utilização de subdoses ou escolha incorreta da base do medicamento. Quanto à infecção por G. intestinalis e Cystoisopora sp., deve ser levado em consideração que os anti-helmínticos tradicionalmente utilizados não controlam protozoários, que foram diagnosticados em 22 amostras fecais. Em estudo realizado na Austrália, foi efetuada análise de regressão logística, e constatou-se que o risco de infecção por Giardia sp. aumentou 1,2 vezes para cada dose de anti-helmíntico administrada no ano. Assim, os autores 20 sugerem que protozoários podem colonizar o nicho vacante, anteriormente ocupado por enteroparasitos como o T. canis e o D. caninum. Com referência ao grau de restrição, foi possível verificar associação significativa (p = 0,028) entre o acesso à rua e a infecção por endoparasitos (Figura 5). Esse achado sugere que os animais semidomiciliados têm um papel epidemiológico na disseminação de estádios infectantes de parasitos, pois estão mais expostos ao ambiente contaminado do que aqueles domiciliados, o que concorda com outro estudo realizado 16. Também a prevalência de infecção por ascaridídeos foi significativa nos cães semidomiciliados (Figura 9). Na figura 9, pode-se observar que a prevalência de infecção por ancilostomídeos não está associada (p>0,05) ao grau de restrição dos animais, o que Grau de restrição semidomiciliados domiciliados total Ascaridídeos: Fisher = 0,029
corrobora os resultados de outra investigação 8, na qual a prevalência de Ancylostoma sp. (17,1%) foi mais baixa em animais com acesso à rua do que naqueles com dono (31,9%). Por outro lado, o G. intestinalis e o Cystoisospora sp. foram mais prevalecentes em animais de rua. O tratamento anti-helmíntico e a retirada das fezes são essenciais para prevenir a disseminação de formas infectantes de parasitos no ambiente. Na figura 5 pode-se observar que a prevalência de infecção por parasitos intestinais está associada (p = 0,006) à permanência de fezes no quintal. Mesmo sem haver diferença significativa, os ancilostomídeos foram mais freqüentes em residências sem retirada das fezes (Figura 10). Dessa forma, pode-se inferir que o acúmulo de fezes no ambiente propicia a contaminação por formas infectantes, causando sérios riscos à saúde de humanos e outros animais. Pelos resultados obtidos (Figura 5) verificou-se que não há associação significativa (p = 0,106) entre a prevalência de infecção por parasitos intestinais e o destino dado às fezes do animal. No entanto, deve-se destacar que todos os cães que residiam em casas nas quais as fezes eram enterradas no quintal apresentaram infecção. Esse fato pode ser uma decorrência da umidade favorável e da proteção da fase de vida livre dos parasitos contra os raios solares. Pode-se verificar, pela figura 5, que a infecção por endoparasitos ocorreu em todos os tipos de acomodações, sem diferenças significativas entre elas (p = 0,467). Ainda assim, os cães criados em canis foram mais infectados, o que pode ser atribuído à falta de higiene e à umidade do local. Vale ressaltar que no quesito acomodação, o número de animais infectados – tanto daqueles oriundos de canis quanto daqueles mantidos em residência/quintal – foi pequeno, menos de 30 animais,
Ascaridídeos Nº animais sim (%) não (%) 104 22 (21,2) 82 (78,8) 111 12 (10,8) 99 (89,2) 215 34 (15,8) 181 (84,2)
Ancilostomídeos sim (%) não (%) 38 (64,4) 73 (35,6) 48 (49,5) 56 (50,5) 86 (56,7) 129 (43,3)
Ancilostomídeos: x2 = 3,18 p = 0,075
Figura 9 - Prevalência de infecção por ascaridídeos e ancilostomídeos em cães, segundo o grau de restrição dos animais, no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
58
Coleta de Ancilostomídeos fezes Sim (%) Não (%) Total Sim 76 (38,6) 121 (61,4) 197 10 (55,6) 8 (44,4) 18 Não Total 86 (40) 129 (60) 215 x2 = 1,98 p = 0,159
Figura 10 - Prevalência de infecção por ancilostomídeos em cães, segundo a coleta de fezes no quintal por proprietários, no campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2003
o que impede uma análise estatística mais específica desses fatores individualmente. Conclusões As condições sanitárias do ambiente onde vivem os cães no campus da UFRRJ foram consideradas satisfatórias, principalmente em relação ao quesito higiene, porém a prevalência de parasitos intestinais nos animais do estudo foi alta. Ancilostomídeos e ascaridídeos foram mais prevalecentes, possivelmente porque, embora a higiene do ambiente fosse considerada boa, os cães viviam em locais com área peridomiciliar composta por gramados e terra, que retêm umidade e, por conseqüência, viabilizam formas infectantes dos parasitos. Cães na faixa etária de um a três anos apresentaram maior prevalência de infecção por ancilostomídeos, retratando a importância de um controle mais rigoroso das helmintoses nessa faixa etária. O acesso à rua esteve associado à maior prevalência de infecção por parasitos intestinais, provavelmente devido à maior exposição dos animais a ambientes contaminados ou até porque recebiam menos cuidados dos proprietários. Referências 01-ALVES, O. de F. ; GOMES, A. G. ; SILVA, A. C. da. Ocorrência de enteroparasitos em cães do município de Goiânia, Goiás: comparação de técnicas de diagnóstico. Ciência Animal Brasileira, v. 6, n. 2, p. 127-133, 2005. 02-SCAINI, C. J. ; TOLEDO, R. N. ; LOVATEL, R. ; DIONELLO, M. A. ; GATTI, F. A. ; SUSIN, L. ; SIGNORINI, V. R. M. Contaminação ambiental por ovos e larvas de helmintos em fezes de cães na área central do Balneário Cassino, Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 5, p. 617-619, 2003. 03-VASCONCELLOS, M. C. ; BARROS, J. S. L. ; OLIVEIRA, C. S. Parasitas gastrointestinais em cães institucionalizados no Rio de Janeiro, RJ. Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 2, p. 321-323, 2006.
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Analgesia transoperatória en perros y gatos
MV, prof. dr. CVM/UFSM carregaro@yahoo.com
Resumo: A analgesia transoperatória tem como objetivo reduzir os estímulos dolorosos durante o ato cirúrgico e diminuir a dor pós-operatória, que produz efeitos sistêmicos indesejáveis e retarda a recuperação do paciente. O manejo da dor transcirúrgica inclui manobras anteriores e posteriores à incisão. Dentre as manobras pré-incisionais destacam-se o uso de fármacos analgésicos como antiinflamatórios não esteróides, opióides, anestésicos locais, antagonistas de receptores N-metil-D aspartato (NMDA) e agonistas 2 adrenérgicos, que podem ser administrados na medicação pré-anestésica, na indução da anestesia e nos bloqueios regionais. As manobras pós-incisionais incluem infusões contínuas de opióides, anestésicos locais e antagonistas NMDA. Este artigo destaca os principais métodos de analgesia transoperatória, elucidando as vantagens que proporcionam e os fármacos indicados em cada conduta. Unitermos: dor, analgesia preemptiva, epidural, infusão contínua Abstract: Transoperative analgesia aims to reduce pain during surgical procedures and to minimize postoperative pain, which produces undesirable systemic effects and delays patient recovery. Transoperative treatment of pain includes pre- and post-incision steps. Nonsteroidal anti-inflammatory drugs, opioids, local anesthetics, N-methyl-D-aspartate (NMDA) receptor antagonists and 2 adrenergic agonists are the most commonly used substances prior to surgery. They can be prescribed as anesthetic pre-medication, for anesthesia induction or for regional anesthetic blocks. Post-incision medications include continuous infusion of opioids, local anesthetics and NMDA receptor antagonists. The purpose of this paper is to discuss the most common methods of transoperative analgesia, stating their advantages and indicating the best kinds of analgesics for different procedures. Keywords: pain, preemptive analgesia, epidural, analgesic continuous infusion
Resumen: La analgesia transoperatória tiene como objetivo reducir los estímulos dolorosos durante el procedimiento quirúrgico, diminuyendo el dolor post operatorio que produce efectos sistémicos no deseados, retardando así la recuperación del paciente. El tratamiento del dolor intraquirúrgico incluye actitudes anteriores y posteriores a la incisión. Entre las actitudes pre-incisionales podemos destacar la utilización de drogas analgésicas como antiinflamatorios no esteroides, opiáceos, anestésicos locales, antagonistas de receptores N-metil-D aspartato (NMDA) y agonistas 2 adrenérgicos, que pueden ser administrados junto con la medicación pre-anestésica, como en la inducción anestésica y en los bloqueos regionales. Los procedimientos pos-incisionales incluyen a las infusiones continuas de opiáceos, anestésicos locales y antagonistas NMDA. Este articulo destaca los principales métodos de analgesia transoperatória, describiendo las ventajas que ofrecen y las drogas indicadas para cada caso. Palabras clave: dolor, analgesia preventiva, epidural, infusión continua
Clínica Veterinária, n. 77, p. 62-68, 2008
Introdução A dor não tratada apresenta conseqüências indesejáveis que aumentam a gravidade e a duração da afecção do paciente 1. Níveis de cortisol elevados durante a resposta ao estresse da dor causam elevação das concentrações de glicose sangüínea, catabolismo de proteínas e interferem na habilidade do organismo em manter o equilíbrio de fluidos. Entre os distúrbios hemodinâmicos causados pela liberação de catecolaminas destacam-se taquicardia, arritmias ventriculares e hipertensão, os quais interferem na perfusão de tecidos lesados, aceleram o metabolismo e conseqüentemente, elevam o consumo de oxigênio. Esses efeitos se manifestam em vários sistemas orgânicos, resultando potencialmente em depressão da resposta imune, retardo da cicatrização de feridas e 62
alterações nos sistemas cardiorrespiratório e digestório 2. Quando ocorre injúria tecidual produzida por cirurgias ou traumatismos, o conteúdo das células lesadas extravasa e estimula a liberação de substâncias algogênicas como bradicinina, óxido nítrico e histamina – dentre outras –, as quais ativam mastócitos, linfócitos e macrófagos, o que desencadeia o processo inflamatório. A ativação da via do ácido araquidônico leva à produção de prostanóides e leucotrienos. O recrutamento de células imunes propicia maior liberação de mediadores, como citocinas e fatores de crescimento. Os mediadores inflamatórios podem ser divididos em ativadores dos receptores da dor e sensibilizadores dos nociceptores. Estes últimos transformam estímulos antes inócuos em dor 3. Tais mediadores, por
Daniel Curvello Mendonça Müller MV, doutorando PPGMV - UFSM cmdaniel@terra.com.br
vezes chamados de “sopa sensibilizante”, ativam nociceptores periféricos de alto limiar à dor, os quais passam a possuir limiar mais reduzido, respondendo a estímulos de menor intensidade (hiperalgesia primária) 3. Todo esse processo é denominado transdução e consiste na transformação de estímulo físico em atividade elétrica pelos nociceptores periféricos. Esses receptores são considerados mecano-sensitivos, termo-sensitivos e quimio-sensitivos 4. O próximo passo é a transmissão, que se constitui na propagação desses impulsos nervosos até a medula espinhal. Na fase de modulação, há supressão ou amplificação da resposta ao estímulo lesivo, ocorrendo também a ativação da via descendente, o que modifica a transmissão nociceptiva pela inibição de estímulos processados dentro das células do corno dorsal da medula espinhal 4. Nesse local ocorre a liberação de mediadores como glutamato, neurocinina A e substância P na fenda sináptica, as quais se ligam a receptores N-metil-D aspartato (NMDA) e de neurocinina (NK), respectivamente. A ligação desses receptores permite influxo de cálcio e sódio intracelular, que intensifica a despolarização e desencadeia prolongada hipersensibilização, o que caracteriza o estado de dor patológica (sensibilização central). Essa sensibilização central é responsável pelos aspectos de extensão da sensibilidade para áreas circunvizinhas à lesada (hiperalgesia secundária) e por tornar os mecanorreceptores, que fisiologicamente não determinam dor, capazes de produzi-la (alodínea) 3.
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A percepção é o processo final do estímulo da dor, em que há integração do processo descrito no encéfalo (tálamo, sistema reticular e límbico), produzindo assim a consciência subjetiva e emocional da dor 4 (Figura 1). O manejo da dor no ato cirúrgico deve ser uma preocupação constante e tão importante quanto o controle da dor pós-operatória. Dessa forma, o presente artigo tem por objetivo destacar as principais formas de analgesia transoperatória em cães e gatos, enfocando manobras analgésicas pré-incisionais (anteriormente ao ato cirúrgico) e pós-incisionais (posteriormente à incisão cirúrgica).
do nociceptor pelo bloqueio da liberação de substâncias algogênicas, o que significa inibição da transdução. Ademais, os anestésicos locais bloqueiam a condução de estímulos nociceptivos para áreas centrais, inibindo a transmissão. A inibição da modulação pode ser obtida com o uso de opióides, agonistas 2 adrenérgicos, antagonistas de NMDA e AINEs. Finalmente, a fase de percepção pode ser inibida empregando anestésicos gerais, opióides sistêmicos e agonistas 2 adrenérgicos 3 (Figura 2). Antiinflamatórios não-esteróides Os AINEs são inibidores da enzima ciclooxigenase (Cox) e reduzem a geração de prostaglandinas, as quais sensibilizam nociceptores periféricos, impedindo a hiperexcitabilidade neuronal 6. Alguns clínicos preferem não utilizar os AINEs no período pré-operatório porque estes podem provocar sangramento exacerbado e insuficiência renal no transoperatório 7. Isso é possível porque a maioria desses fármacos, ao inibir a Cox-2, também inibe a Cox-1, bloqueando as prostaglandinas constitutivas renais envolvidas na filtração glomerular e na liberação de tromboxano A2, que é potente agregador plaquetário 7. No entanto, diversos estudos demonstram a eficácia analgésica dos AINEs quando administrados no período préoperatório. Os princípios ativos que causam essa condição em pequenos animais são o carprofeno, o cetoprofeno 8 e o meloxicam 9. Pesquisa realizada em gatas submetidas a ovário-histerectomia permitiu concluir que a administração pré-operatória de carprofeno oral ou cetoprofeno subcutâneo produzem analgesia similar ao butorfanol (analgésico com ação opióide) aplicado por via intramuscular antes da cirurgia 8. Ratificando essas informações, outro trabalho também comprovou que a
Daniel Curvello de Mendonça Muller
Daniel Curvello de Mendonça Muller
Manobras analgésicas pré-incisionais Uma das medidas empregadas para reduzir ou prevenir a dor pós-operatória é a analgesia preemptiva. Essa estratégia consiste em controlar o estado de hipersensibilidade dos neurônios no corno dorsal da medula espinhal pela administração de analgésicos, antes mesmo que o estímulo doloroso tenha início e sensibilize o sistema nervoso 5. Assim, a analgesia preemptiva objetiva minimizar a resposta exagerada aos estímulos nocivos (sensibilização central) observada em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos, os quais apresentam dor de intensidade alta e desconforto por alguns dias após a cirurgia. Acredita-se que essa estratégia, além de proporcionar conforto ao paciente, reduz a quantidade de analgésicos necessários para o controle da dor no pós-operatório, prolonga o intervalo entre as administrações desses fármacos e acelera a recuperação do paciente 3. Diversas classes de analgésicos são utilizadas nas técnicas de analgesia preemptiva podendo atuar nas diferentes etapas da nocicepção. Os antiinflamatórios não esteróides (AINEs) e infiltrações de anestésicos locais podem agir perifericamente, inibindo ou diminuindo o estímulo
Figura 1 - Fisiologia da dor
Figura 2 - Fármacos que atuam em cada fase do processo doloroso
administração de carprofeno por via intramuscular no pré-operatório (4mg/kg) de cadelas submetidas a ovário-salpingo-histerectomia eletiva produz analgesia equivalente à da morfina (0,4mg/kg, IM), e que a administração simultânea dos dois fármacos não produziu melhor analgesia do que a administração isolada de cada um deles 10. O efeito analgésico preemptivo do cetoprofeno foi verificado em ratos pela comparação com a administração intraperitoneal de dipirona, morfina, diclofenaco de sódio, cetoprofeno e tenoxicam 11. Nesse estudo, apenas o cetoprofeno administrado duas horas antes do ato cirúrgico promoveu analgesia preemptiva. Isso provavelmente ocorre porque, diferentemente dos demais AINEs, o cetoprofeno inibe, além da via ciclooxigenase, a lipoxigenase, prevenindo não apenas a liberação de prostaglandinas mas também de leucotrienos, que são conhecidos por produzir hiperalgesia em animais e seres humanos 11. No entanto, embora o experimento citado tenha demonstrado a ação preemptiva do cetoprofeno 11, a comparação de parâmetros metabólicos e de dor de cães submetidos a toracotomia intercostal que receberam mesma dose do fármaco (2mg/kg, IV), um grupo no préoperatório e outro no pós-operatório, não apresentou diferença e, independentemente do protocolo utilizado, os animais apresentaram bem estar e obtiveram baixa pontuação nos parâmetros de dor 6. A eficácia analgésica do meloxicam foi demonstrada em gatas submetidas a ovário-salpingo-histerectomia, visto que a administração pré-operatória desse fármaco por via oral (0,3mg/kg) ou subcutânea (0,3mg/kg) promoveu menor intensidade de dor pós-cirúrgica do que o uso de buprenorfina oral antes da cirurgia 9. Opióides Opióides são comumente utilizados na medicação pré-anestésica e na analgesia transoperatória. Eles se ligam a receptores tanto no SNC quanto no sistema nervoso periférico 12. A morfina é o opióide agonista mu (µ) de ação analgésica mais efetiva em pequenos animais e tem sido associada a bom efeito sedativo quando utilizada como pré-anestésico em cães 13. Além disso, se administrada por via intramuscular apresenta considerável
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período de duração (quatro horas) em relação a outros opióides agonistas µ 13. A oximorfona e a hidromorfona promovem efeito analgésico equivalente, no entanto apresentam curta duração (uma a duas horas). A meperidina e o fentanil são opióides de curta ação e podem ser utilizados para procedimentos breves (30 minutos a uma hora). A buprenorfina é um opióide agonista µ parcial e sua eficácia analgésica, tanto por via intravenosa quanto pela mucosa oral, tem apresentado resultados promissores em gatos 13. A administração intravenosa de doses elevadas de opióides tem potencial excitatório em gatos 13. Para evitar essa excitação, deve-se utilizar as dosagens indicadas dessas drogas ou associá-las a tranqüilizantes 12. A administração intravenosa de morfina e meperidina provoca a liberação de histamina, que pode causar vasodilatação e hipotensão 13. Assim sendo, o fentanil, a oximorfona e a buprenorfina, que não promovem esse efeito, constituem-se nos opióides de escolha para administração por essa via em felinos 13. O trajeto a ser percorrido para atingir os receptores espinhais é menor quando os opióides são administrados no espaço peridural, o que permite a utilização de doses significativamente menores desses fármacos, reduzindo os riscos de complicações para o paciente 14. Por apresentar grande eficácia e prolongado período de ação (16-24 horas), além de potencializar os agentes inalatórios em cães, a morfina é o opióide mais freqüentemente utilizado por via peridural 15. Em virtude de sua baixa lipossolubilidade, a dose utilizada na aplicação peridural de morfina corresponde a 1/10 da dose utilizada sistemicamente, o que não ocorre com os opióides lipofílicos (fentanil), que requerem doses similares às sistêmicas. Além disso, a deposição de morfina no espaço peridural lombossacro produz analgesia adequada para feridas torácicas e membros anteriores, sem requerer a administração no espaço peridural torácico 16. Com propriedades similares às dos opióides, o tramadol é um analgésico que estimula a liberação de serotonina, inibe a recaptação desse neurotransmissor e de noradrenalina, além de apresentar moderada afinidade pelo receptor opióide µ. Os mecanismos não opióides 64
desse fármaco podem potencializar a analgesia sem acarretar depressão cardiorrespiratória, o que é observado com outros opióides 17. Esse fármaco pode ser administrado na medicação préanestésica, na dose de 1-2mg/kg por via intravenosa 18,19 ou intramuscular em cães 20,21, sem causar qualquer alteração hemodinâmica e respiratória, além de produzir analgesia transoperatória adequada que se estende por um período mínimo de quatro horas 22. A administração de dose de 1mg/kg no espaço peridural de cães 22 promove ação analgésica mais duradoura do que a administração intravenosa 19. Os opióides são os fármacos de melhor eficácia analgésica descritos até o momento e devem fazer parte do protocolo anestésico de todo e qualquer ato cirúrgico. O fato de essa classe farmacológica estar associada à depressão respiratória não deve se constituir em fator limitante, pois a situação pode ser revertida com ventilação adequada. Além disso, os efeitos colaterais desses fármacos podem ser minimizados se administrados por via peridural. Anestésicos locais Os anestésicos locais atuam impedindo as transmissões nervosas pelo bloqueio dos canais de sódio. Dentre os anestésicos locais mais utilizados em bloqueios regionais destacam-se a lidocaína, a mepivacaína e a bupivacaína. Desses três agentes, a bupivacaína é a que apresenta maior período de ação (quatro a seis horas), mas requer um período de latência entre 15-25 minutos. Já a lidocaína e a mepivacaína agem rapidamente mas apresentam curto período de ação (60 a 120 minutos) 16. Os bloqueios regionais incluem a infiltração do anestésico no local em que o trauma cirúrgico será executado (pele, mucosas, feridas abertas e nervos); o bloqueio dos nervos infra-orbitário e mentoniano, para extrações e reparos odontológicos; o bloqueio do plexo braquial, para procedimentos cirúrgicos nos membros torácicos; os bloqueios intercostais e intrapleural, para toracotomia; e o bloqueio peridural, para cirurgias abdominais e procedimentos nos membros pélvicos 12. A administração simultânea de anestésicos locais e opióides no espaço peridural pode oferecer vantagens, já que o
anestésico local produz bloqueio imediato, tanto sensitivo quanto motor, o que alivia a dor e favorece a posterior ação analgésica de longa duração do opióide 23. A bupivacaína tem sido o anestésico local de eleição para a associação com opióides, pois aumenta o grau de união dos agonistas opióides aos receptores na medula espinhal, ao mesmo tempo em que os opióides otimizam o bloqueio sensorial produzido pelos anestésicos locais 23. Antagonistas dos receptores NMDA Nesta classe farmacológica destaca-se a cetamina. O antagonismo de receptores NMDA parece ser o maior mecanismo de analgesia da cetamina devido à importância desse receptor no desenvolvimento de sensibilização central. A cetamina pode ser utilizada como medicação pré-anestésica na indução da anestesia ou administrada por via peridural 24. Pesquisa realizada em cadelas submetidas à ovário-salpingo-histerectomia demonstrou que os animais tratados com cetamina (2,5mg/kg IM) antes da cirurgia requisitaram menos intervenção analgésica que os tratados após a cirurgia, sugerindo que a administração préoperatória confere alguns benefícios superiores ao uso pós-operatório 25. Além disso, foi demonstrado que a associação peridural de opióide e cetamina pode bloquear a sensibilização central por impedir a redução do limiar das fibras sensitivas aferentes na medula espinhal, aumentando a eficiência da analgesia produzida pelo opióide 26. Agonistas 2 adrenérgicos Os agonistas 2 adrenérgicos agem no corno dorsal da medula espinhal, deprimindo a transmissão do estímulo doloroso da periferia para o cérebro. Sabese que esses agentes inibem a transmissão de impulsos nociceptivos aferentes periféricos pela hiperpolarização das membranas pré-sinápticas, o que dificulta a despolarização necessária na medula espinhal para conduzir o estímulo doloroso 27. Os fármacos dessa classe mais utilizados em pequenos animais são a xilazina e medetomidina 16, mas já há estudos com o uso de clonidina, romifidina 28 e dexmedetomidina 29. A associação de agonistas 2adrenérgicos e opióides por via peridural pode ser de grande utilidade, já que esses fármacos
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têm sítios de ligação específicos na medula espinhal. A administração peridural simultânea de xilazina e morfina prolongou a duração da analgesia em cães 27. Estudo em cães demonstrou que a administração peridural de clonidina (150µg) ou romifidina (20µg/kg) produz analgesia transoperatória intensa sem depressão respiratória, e analgesia pouco intensa no pós-operatório imediato de redução de luxação coxofemoral. Em tal pesquisa não foram observadas bradicardia ou hipotensão com o uso da clonidina, mas bradiarritmias e hipertensão foram produzidas com a romifidina pela via peridural 28. Pesquisa desenvolvida em pacientes humanos evidenciou que tanto a administração de cetamina quanto de clonidina ou dexmedetomidina por via peridural promoveu redução no consumo de alfentanil e concentração de isoflurano no período transoperatório de cirurgias de abdômen superior 24. Nova opção em anestesiologia veterinária, a dexmedetomidina é um agonista 2 adrenérgico bastante seletivo, que apresenta relação de seletividade entre os receptores 2: 1 de 1600:1 e tem grande ação sedativa e analgésica 29. O mecanismo de ação desse anestésico ocorre pelo seu acoplamento aos receptores 2 e pela ativação das proteínas G (proteínas ligadas a guanina), que agem diretamente nos canais iônicos de potássio, aumentando sua condutância e hiperpolarizando a célula nervosa 29. A dexmedetomidina pode ser administrada como medicação pré-anestésica (1-2µg/kg IV) 30, por via peridural (1,5-6µg/kg) 31 ou como infusão contínua 32. Em seres humanos, a associação da dexmedetomidina com anestésicos locais em analgesia peridural apresentou melhor qualidade analgésica, sem os efeitos adversos decorrentes do uso de opióides, como depressão respiratória e prurido 33. Manobras analgésicas pós-incisionais Atualmente, a manutenção anestésica é realizada com o auxílio de técnicas balanceadas, que combinam agentes anestésicos gerais e analgésicos administrados sistemicamente por infusão contínua. Essa conduta, que diminui o requerimento de agentes inalatórios durante o procedimento anestésico, tem proporcionado maior estabilidade hemodinâmica 34. 66
Infusão contínua de opióides Os opióides podem ser utilizados como parte de uma técnica anestésica balanceada. Fármacos com meia-vida plasmática curta (alfentanil e sufentanil) apresentam maior indicação para uso na manutenção anestésica. A infusão contínua intravenosa de fentanil (5µg/kg em bolus IV, seguidos de 0,5µg/kg/minuto) também é válida pois, além de fornecer analgesia, reduz a dose de anestésico inalatório requerida e resulta em maior estabilidade cardiovascular do que o uso isolado do agente volátil 35. Dos agentes empregados, em doses equipotentes, o alfentanil é o que promove efeitos hemodinâmicos mais pronunciados, haja vista que, em estudo comparativo, os três agentes reduziram a concentração alveolar mínima (CAM) do anestésico inalatório e promoveram bradicardia, sendo que apenas o alfentanil promoveu hipotensão significativa após sua administração 36. Em virtude disso, a administração contínua de opióides também faz parte dos protocolos de anestesia total intravenosa. Essa anestesia é realizada principalmente pela infusão contínua de propofol, agente que causa substancial depressão respiratória e necessita ser administrado em alta razão de infusão para induzir plano cirúrgico anestésico em animais 37. Assim, a infusão de opióides em associação ao propofol reduz a dose de infusão do anestésico, melhora a função cardiovascular, a qualidade da anestesia e a recuperação 31. Em gatos, a infusão de propofol em associação a fentanil, alfentanil ou sufentanil apresentou resultados satisfatórios 38. Adicionalmente, o uso da infusão contínua de propofol e fentanil para a realização de cirurgias em felinos demonstrou superioridade e maior estabilidade da pressão arterial em relação ao uso de isoflurano associado à infusão contínua de fentanil, que desencadeou prolongada e acentuada hipotensão. No entanto, a combinação propofol e fentanil exigiu ventilação mecânica por causar maior depressão respiratória 39. Recentemente, o remifentanil vem sendo utilizado para administração contínua em cães (0,055µg/kg em bolus IV, seguido de 1µg/kg/minuto) 40. Esse opióide sintético apresenta todas as características farmacodinâmicas de sua classe, como analgesia, estabilidade hemodinâmica e depressão respiratória, porém se diferencia
no perfil farmacocinético devido à estrutura éster, que o torna suscetível ao rápido metabolismo por esterases plasmáticas e teciduais não-específicas, o que resulta em ação extremamente curta 41. A meia-vida plasmática do remifentanil após quatro horas de infusão é de apenas quatro minutos 41, o que difere do sufentanil, fentanil e alfentanil, que variam entre 35 e 45 minutos 42. Assim, a recuperação dos efeitos do remifentanil ocorre rapidamente (em cinco a dez minutos) e um nível fixo de concentração é atingido depois de cinco a dez minutos de uma mudança na velocidade de infusão. Durante a meia-vida de distribuição (0,9 minuto) e eliminação (6,3 minutos), é estimado que 99,8% do remifentanil seja eliminado. Portanto, ao contrário de outros análogos do fentanil, a duração de ação do remifentanil não aumenta com a administração prolongada 41. Infusão contínua de lidocaína Atualmente, durante a anestesia em cães, tem sido instituído o uso de infusão de lidocaína, que reduz o requerimento de anestésico inalatório e, conseqüentemente diminui a CAM deste 43. Comparando-se a influência de infusão contínua de dose baixa de lidocaína (50µg/kg/min) e dose alta (200µg/kg/ min) na CAM do isoflurano em cães, verificou-se que a infusão de lidocaína reduz a CAM do isoflurano de maneira dose-dependente e não induz mudanças clinicamente significativas na freqüência cardíaca e na pressão arterial 44. Em gatos, foi comprovado que a lidocaína também diminui o requerimento de isoflurano de maneira dose-dependente durante o transoperatório 43. Entretanto, em um estudo mais detalhado realizado pelos mesmos autores verificouse que, embora a lidocaína diminua o requerimento de isoflurano, a combinação entre esse anestésico e dose reduzida de isoflurano resultou em maior depressão cardiovascular do que quando foi utilizado apenas isoflurano na dose equipotente. A administração de lidocaína resultou em diminuição na liberação de oxigênio e pobre perfusão tecidual, não sendo recomendada para o uso de anestesia balanceada em gatos 45. Infusão contínua de cetamina É conhecido que doses analgésicas de cetamina são capazes de diminuir a
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sensibilização central. A administração de cetamina como bolus pré-operatório (0,1 a 0,5mg/kg), seguida de infusão contínua (1 a 2µg/kg/min) durante o período transoperatório e, após 48-72 horas no pós-operatório, promoveu redução do consumo de analgésicos e aumentou a qualidade da analgesia pós-operatória 46. Em outro estudo, cães que receberam infusão contínua de dose baixa de cetamina apresentaram reduzidos escores de dor entre 12 e 18 horas após a cirurgia e foram significativamente mais ativos no terceiro dia pós-operatório do que cães que receberam apenas infusão de solução salina, o que sugere que a infusão de cetamina no transoperatório possa aumentar a analgesia e o conforto no período cirúrgico e pós-operatório 47. Infusão contínua de dexmedetomidina A dexmedetomidina é mais um importante fármaco a ser acrescentado ao arsenal anestésico. Seu uso em anestesia geral balanceada diminui consideravelmente o consumo de opióides, hipnóticos, anestésicos locais e inalatórios 33. A dose
inicial preconizada é de 5µg/kg, seguida de infusão contínua de 1 a 3µg/kg/h 32. Esse fármaco é anti-hipertensivo e seus principais efeitos colaterais são bradicardia e hipotensão 33. Considerações finais A analgesia transoperatória é de grande importância em pequenos animais, pois pode proporcionar conforto ao paciente, reduzir a quantidade de anestésicos no transoperatório, reduzir a quantidade de analgésicos no pós-operatório, aumentar o intervalo entre a administração desses fármacos e acelerar a recuperação do paciente. O uso de fármacos analgésicos na medicação pré-anestésica, na indução da anestesia e nos bloqueios regionais promove analgesia antes da incisão cirúrgica. No transoperatório, pode-se obter analgesia por meio de infusões contínuas de analgésicos. Além disso, a escolha do protocolo analgésico deve objetivar a utilização de agentes de diferentes classes farmacológicas na busca de uma analgesia balanceada.
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Anestesia local no controle da dor: a técnica infiltrativa por tumescência - revisão de literatura
Bruna de Carvalho Cabral Lopes MV, DMV, residente Hosp. Vet. - UnB bruvet2002@gmail.com
Ricardo Miyasaka de Almeida MV, MSc., especialista, prof. UPIS ricardoalmeida@upis.br
Local anesthesia in pain management: the tumescent infiltrative technique - literature review El control del dolor por una técnica de anestesia local: la tumescencia - revisión de literatura Resumo: A anestesia local é uma ferramenta eficiente para o controle da dor, pois sua aplicação resulta na perda temporária de sensibilidade em uma determinada região. A anestesia infiltrativa por tumescência é uma técnica de anestesia local que promove analgesia perioperatória, principalmente em mastectomia de cadelas. Os efeitos benéficos dessa técnica são redução do sangramento perioperatório, expansão mecânica que facilita a retirada das mamas e diminuição da toxicidade. Os efeitos deletérios advêm da toxicidade da lidocaína quando administrada acima da sua dose limite. A técnica de tumescência tem-se mostrado eficiente para o procedimento de mastectomia em cadelas, no entanto, pesquisas devem ser realizadas para investigar o seu potencial de promover analgesia pós-operatória e para padronizar doses e concentrações dos componentes da solução, com o intuito de garantir a segurança da técnica em animais. Unitermos: analgesia, cães, lidocaína, mastectomia Abstract: Local anesthesia is an efficient tool for pain control, since its administration results in temporary loss of sensitivity in a specific region. Tumescent infiltrative anesthesia is a local anesthesia technique that promotes perioperative analgesia, mainly in bitches undergoing mastectomy. The benefits of this technique are reduced perioperative bleeding, mechanical divulsion, which facilitates the excision of mammary glands, and reduction of systemic toxicity. Collateral effects can occur due to administration of doses beyond the toxic limit of lidocaine. Although tumescent technique has demonstrated effectivity for bitches undergoing mastectomy, further research should be developed to establish standard doses of lidocaine for use in animals, and the potential of postoperative analgesia should be investigated. Keywords: analgesia, dogs, lidocaine, mastectomy Resumen: La anestesia local es una importante herramienta en el control del dolor ya que su aplicación resulta en la pérdida transitoria de la sensibilidad de una región. La anestesia local por tumescencia es una técnica de anestesia local que permite analgesia peri operatoria, principalmente en mastectomía de perras. Los efectos benéficos de la técnica son reducción de la pérdida de sangre en el periodo peri operatorio, expansión mecánica que facilita la remoción de las mamas y disminución de la toxicidad sistémica. Efectos tóxicos pueden ocurrir si se administra una dosis mayor que la dosis limite de lidocaína. La técnica de tumescencia parece eficiente en perras sometidas a la mastectomía, pero más trabajos deben ser realizados para estandarizar dosis seguras en animales y su potencialidad en analgesia postoperatoria también debe ser investigada. Palabras clave: analgesia, lidocaína, perros, mastectomía
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Introdução Os anestésicos locais são substâncias capazes de bloquear os impulsos nervosos aferentes, principalmente aqueles que conduzem os estímulos de dor. O efeito, que é reversível e ocorre no local da aplicação, provoca perda temporária da sensibilidade. O mecanismo básico de ação da anestesia local é o bloqueio dos canais de sódio, impedindo a despolarização da membrana 1. A anestesia local tem sido cada vez mais utilizada e aceita, tanto em protocolos anestésicos como no tratamento da dor 2. Por meio do uso de anestésicos locais é possível interromper a condução nervosa em algum ponto do percurso do tronco nervoso, o que permite 70
insensibilizar a zona inervada por ele e aliviar a dor, independentemente da sua causa 3. O período de latência, ou o tempo necessário para que se instale o bloqueio, depende da concentração e da dose totais injetadas, da difusão do fármaco, da distância do local de ação, da absorção sistêmica e do tipo de fibras envolvidas. A difusão dos anestésicos locais depende do pH tecidual e da pK (constante de dissociação). O pH deve ser superior ao pK para que haja menor quantidade de H+ disponível e maior difusão de bases, as quais são responsáveis por eventos que vão desde a difusão do anestésico pelo tecido até a chegada deste à membrana. Tecidos acometidos
por processo inflamatório apresentam valor de pH inferior ao valor de pH fisiológico. Desse modo, a formação de bases livres fica prejudicada e ocorre diminuição da difusão no meio extracelular e nas barreiras lipídicas, o que dificulta a chegada do anestésico local à membrana do axônio. Em decorrência desse processo, os anestésicos locais têm ação reduzida em tecidos inflamados 1. Esse aspecto merece destaque especial em processos neoplásicos, os quais freqüentemente acompanham inflamação, o que pode resultar em maior tempo de latência e menor efeito anestésico do fármaco. Conseqüentemente, serão requeridos maiores volumes de anestésico local, implicando em sobredoses e intoxicações 1,3-5. Em relação ao tipo de fibra nervosa, as autonômicas (B e C) e sensitivas (C polimodais e A ) geralmente são bloqueadas antes das demais fibras sensitivas e motoras (A , A e A ). Isso ocorre porque as fibras A , B e C possuem pequeno diâmetro e ainda, no caso das fibras C, por serem amielinizadas e, por essa razão, são primeiramente bloqueadas pelo anestésico local que encontra pouca dificuldade para atingir o seu local de ação. Já as fibras mielinizadas têm uma camada lipídica dupla que as isola do espaço intersticial, dificultando e retardando a ação dos fármacos 3. Ademais, a duração do bloqueio – ou período anestésico hábil – depende desses mesmos fatores, e também da potência do medicamento empregado 6. Os anestésicos locais promovem paralisia vasomotora, o que aumenta o fluxo sangüíneo na região anestesiada,
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com maior absorção pela corrente circulatória. Quando se associa a adrenalina a esses fármacos, ocorre aumento do período anestésico hábil em virtude da vasoconstrição gerada no local da administração, que diminui a velocidade de absorção. Assim, pode-se elevar discretamente a dose máxima permitida dos anestésicos locais 1,6. As concentrações de adrenalina descritas na literatura variam entre 1:1.000 7, 1:100.000 8, 1:200.000 9 e 1:1.000.000 10. A concentração ideal de adrenalina para a associação com esses anestésicos é de 1:200.000, pois quantidades maiores podem causar necrose tecidual em conseqüência da vasoconstrição acentuada 9. A técnica de anestesia local infiltrativa por tumescência tem sido utilizada em cadelas submetidas à mastectomia para promover analgesia transoperatória, reduzindo o consumo de anestésico inalatório. Além da analgesia, essa técnica apresenta outros efeitos benéficos para o procedimento cirúrgico, tais como redução significativa do sangramento e hidrodivulsão, que facilita a retirada em bloco da cadeia mamária 11. A anestesia local por tumescência foi primeiramente descrita por Klein em 1987 9, que detalhou a infiltração de grandes volumes de uma solução diluída de lidocaína e adrenalina no tecido adiposo antes do procedimento de lipoaspiração em humanos. A técnica de tumescência revolucionou a lipoaspiração, eliminando a necessidade de anestesia geral ou sedação intravenosa, além do sangramento intenso associado a esse procedimento 9. A técnica também tem sido utilizada para cirurgias vasculares 8, excisão de formações cutâneas, intervenções em mamas e abdominoplastias 12. Na medicina veterinária, tem sido explorada especialmente em mastectomias 11. Indicações A anestesia infiltrativa por tumescência é uma técnica segura, prática e eficiente, e pode ser aplicada como procedimento anestésico adjuvante em cirurgias de mastectomia, principalmente naqueles pacientes que apresentam algum fator de risco à anestesia geral 1,7. Tais animais são beneficiados pela técnica, cujo requerimento concomitante de anestésico geral é menor, diminuindo os riscos dos planos mais profundos 1,4.
Benefícios Os benefícios da técnica de anestesia por tumescência são muitos e, entre eles, podem ser destacados a maximização bioquímica da eficácia do anestésico, a capacidade desse anestésico para atingir a pele e o tecido subcutâneo local, a maior disponibilidade do anestésico no local de administração, o atraso na absorção sistêmica do fármaco, a diminuição da toxicidade sistêmica, o aumento da dose limite, a expansão mecânica das camadas da pele (hidrodivulsão) e a elevação da pressão hidrostática local, o que reduz o sangramento trans-operatório e pós-operatório 9,13. Além desses benefícios, a técnica de tumescência pode promover analgesia pós-operatória em humanos 12. Composição da solução A solução anestésica administrada na técnica de tumescência – aqui chamada de solução de tumescência – é constituída por um anestésico local, um fármaco vasoconstritor, uma substância reguladora de pH e uma solução de infusão intravenosa estéril, que também podem estar associados a um antiinflamatório esteroidal 11. O anestésico local mais empregado na solução de tumescência é a lidocaína, que apresentou resultados satisfatórios em diversos estudos em seres humanos 8,9,12,14,15, ainda que o uso de prilocaína e de ropivacaína já tenha sido reportado 10. A prilocaína é pouco utilizada porque, quando administrada em doses elevadas, pode causar meta-hemoglobinemia 11. A ropivacaína foi testada em estudo cujos resultados mostraram que o período de latência de soluções à base desse fármaco ou de lidocaína foi praticamente o mesmo, embora a ropivacaína tenha proporcionado efeito significativamente mais prolongado, estendendo-se até o período pós-operatório. Assim sendo, e considerando os casos de óbito advindos do emprego da solução de lidocaína relatados na literatura, novos experimentos devem ser realizados para confirmar a segurança da ropivacaína na técnica de tumescência 10. A substância reguladora de pH é adicionada à solução para promover a alcalinização desta, o que aumenta a fração difusível do fármaco constituinte e diminui o período de latência da solução. Além disso, favorece a ação da
adrenalina porque potencializa a vasoconstrição e prolonga o período anestésico hábil 3. O melhor alcalinizante a ser acrescentado é o bicarbonato de sódio quando se utiliza a solução de NaCl a 0,9%, mas há relatos sobre o emprego de ringer com lactato de sódio, que promove um discreto pH alcalino à solução 11. Tanto na diluição com salina a 0,9% quanto na de ringer com lactato de sódio, a adrenalina diminui consideravelmente o sangramento intra e pós-operatório 11. A diluição da adrenalina garante a sua difusão por todo o tecido alvo, e evita os efeitos que podem advir da sua injeção, como taquicardia e hipertensão. A vasoconstrição gerada por esse fármaco na tumescência é intensa, não havendo perda significativa de sangue no campo cirúrgico 16. Diferentes doses e concentrações de lidocaína têm sido empregadas na composição da solução de tumescência. A primeira solução utilizada nessa técnica era composta por lidocaína a 0,1%, adrenalina a 1:1.000.000, bicarbonato de sódio a 10mEq/L e triamcinolona a 10mg/L, diluídos em solução de NaCl a 0,9%, e foi usada em um procedimento de lipoaspiração 13. Diversas diluições com concentrações de lidocaína que variam de acordo com a dose desejada já foram desenvolvidas visando melhorar o desempenho da anestesia por tumescência e torná-la versátil e segura, de forma a possibilitar sua utilização em outros procedimentos 7-10,14. As concentrações desse anestésico na solução variaram entre 0,05% e 0,5% 9,14,16-18, o que resultou em doses de lidocaína que corresponderam a 7mg/kg 17, 35mg/kg 16 e 55mg/kg 18. A técnica de tumescência A técnica de tumescência pode ser praticada em associação à anestesia geral ou à sedação intravenosa. Há casos em humanos em que é possível executar o procedimento cirúrgico somente com a anestesia local resultante dessa técnica, sem a administração de sedativos ou analgésicos opióides 16. No entanto, a realização da técnica de tumescência sem sedativos ou anestesia geral em animais é difícil, em vista da necessidade de contenção e da extensão da incisão cirúrgica nos procedimentos de mastectomia. Na prática, observa-se boa redução na quantidade necessária
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de anestesia geral intravenosa ou inalatória, em razão da ótima analgesia promovida pela técnica. A forma de infiltração da solução de tumescência pode ser manual 11,12 ou automatizada, por meio de bombas de infusão 7,10,14 e consiste na inserção da ponta da agulha na derme – em um ângulo de aproximadamente 30°–, seguida pela injeção lenta da solução, o que permite a sua difusão pela derme, sem aumentar a pressão intradérmica 9. O uso de cânula tem sido recomendado, pois causa menor traumatismo ao tecido 11,14. Em áreas mais extensas, a infusão deve ser realizada enquanto se insere a agulha vagarosamente pela derme e o tecido subcutâneo. Em seguida, a agulha é recuada – sem sair da derme – e reintroduzida paralelamente à região infundida anteriormente, com maior suprimento de solução. Esse processo é repetido até que se atinja toda a área a ser submetida ao procedimento cirúrgico (Figura 1). A técnica de tumescência na mastectomia Os tumores de mama são comuns em cadelas com média de idade entre 10 e 11 anos 5. Uma porcentagem de 35% a 50% dos tumores de mama em cadelas é maligna 19, e o tratamento de escolha nesses casos é a excisão cirúrgica, que permite o diagnóstico histopatológico e melhora a qualidade de vida do animal. A escolha da técnica depende do tamanho, da localização e da consistência do tumor, além do estado do paciente 5. As glândulas mamárias, constituídas em grande parte de tecido gorduroso, são bastante vascularizadas, razão pela qual a mastectomia consiste em intervenção marcada por sangramento intenso.
Complicações e toxicidade A diluição da lidocaína diminui e retarda a ocorrência do pico de concentração plasmática, reduzindo o potencial de toxicidade desse fármaco. Além disso, a lidocaína permanece substancialmente ligada ao tecido infundido pela solução de tumescência 16. No entanto, apesar da segurança proporcionada pela técnica de tumescência, neurotoxicidade (convulsões) ou cardiotoxicidade, além de necrose do tecido infundido, podem ser verificadas quando esse fármaco é administrado em doses elevadas 20,21. A adrenalina presente na solução de tumescência também pode provocar outros sinais de toxicidade, como hipertensão e taquicardia 20. Em censo voltado à quantificação de mortalidade de pacientes humanos submetidos à lipoaspiração utilizando a solução de tumescência, verificaram-se 95 mortes em 500.000 lipoaspirações realizadas – taxa de 19,1/100.000 (aproximadamente 0,02%) 20. Essa taxa ultrapassou o índice de mortalidade por acidentes automobilísticos dos Estados Unidos da América (16,4/100.000), assim como aquele relacionado a óbitos decorrentes de anestesia geral, que gira em torno de 0,008% 22. Esses dados comparativos indicam uma taxa de mortalidade relativamente alta em pacientes submetidos à tumescência em procedimentos de lipoaspiração, e realçam a importância de utilizar a técnica de maneira cautelosa, ou seja, administrando a Marta T. da Rocha
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facilidade para a remoção em bloco da cadeia mamária. Não foram registrados sinais de toxicidade nas cadelas submetidas ao procedimento, e constatou-se que a técnica tem proporcionado analgesia pós-operatória satisfatória, o que corrobora os achados da literatura médica 12.
Marta T. da Rocha
Marta T. da Rocha
Figura 1 - Ilustração fotográfica da administração da solução de tumescência a 0,3% no tecido subcutâneo antes de procedimento de mastectomia em cadela
A administração da solução de tumescência no tecido subcutâneo da região cirúrgica no período pré-operatório reduz drasticamente o sangramento transoperatório em decorrência da vasoconstrição, gerada tanto pelo aumento da pressão hidrostática no tecido quanto pelo vasoconstritor presente na solução. Ademais, a hidrodivulsão causada no tecido pela solução facilita a remoção em bloco das glândulas mamárias 12 (Figura 2). A técnica de tumescência tem sido amplamente utilizada e reportada na cirurgia de mastectomia em mulheres idosas por ser segura e um método efetivo de anestesia em pacientes que não sejam candidatos à anestesia geral. Mastectomias totais foram realizadas sob média sedação – associada à técnica – utilizando solução de 25mL de lidocaína a 1% e 1mL de adrenalina 1:1.000 em 1L de ringer lactato, infiltrada com o auxílio de bomba de infusão. O protocolo resultou em anestesia adequada, sem o aparecimento posterior de hematoma, infecção ou necrose na região da ferida cirúrgica 7. Na medicina veterinária, relata-se uma formulação da solução anestésica de tumescência constituída por 250mL de ringer lactato, 40mL de lidocaína a 2% sem vasoconstritor, e 0,5mL de adrenalina 1:1.000. Dessa diluição a 0,3% são injetados 15mL/kg no animal e, caso a área a ser anestesiada tenha grande extensão, pode ser realizada uma diluição a 0,15%, ou seja, 40mL de lidocaína diluída em 500mL de ringer com lactato 11. Essa composição para a solução de tumescência vem sendo empregada com sucesso em procedimentos de mastectomia em cadelas, no Hospital Veterinário de Pequenos Animais da Universidade de Brasília. Observa-se redução considerável do sangramento trans e pós-operatório, além da maior
A
B
Figura 2 - Ilustração fotográfica dos momentos inicial (A) e final (B) da remoção em bloco da cadeia mamária de uma cadela por divulsão compressiva. Reparar a pouca presença de sangue no campo operatório
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menor dose possível da solução para a obtenção do efeito desejado. O pico plasmático da lidocaína costuma ocorrer entre 4 e 14 horas após a infiltração da solução de tumescência 16,18. Os sintomas de toxicidade da lidocaína são resultantes de concentrações plasmáticas entre 3µg/mL e 9µg/mL 14. O momento da infiltração tem sido classificado como crítico em termos de absorção sistêmica da lidocaína. Estudos têm ressaltado que a diluição e a taxa de infiltração são variáveis que devem ser consideradas na absorção desse fármaco 14,16,18. Rápida absorção sistêmica, resultando em picos plasmáticos potencialmente tóxicos, pode ocorrer em 15 minutos quando a lidocaína é administrada em concentrações de 0,5% a 1% 14. Entretanto, pode não ocorrer correlação entre a dose do fármaco administrada e a concentração do pico plasmático com menores concentrações de lidocaína (0,05% e 0,1%) 14. Não foi encontrada correlação entre a dose total de lidocaína e a concentração do pico plasmático do fármaco 18, o que foi corroborado quando da comparação entre a concentração dos picos plasmáticos resultantes de infusão rápida e de infusão lenta da solução de tumescência. Portanto, concluiu-se que não existe relação entre os níveis de lidocaína no sangue e a velocidade de infusão 14. As doses de lidocaína empregadas nas soluções de tumescência, principalmente em procedimentos de lipoaspiração, ultrapassam – na maior parte das vezes – a dose limite de 7mg/kg. Doses de 35mg/kg 16 e de 55mg/kg 18 – que ultrapassam exacerbadamente a dose recomendada – foram empregadas sob o argumento de que, em grandes diluições, a lidocaína é segura e não apresenta toxicidade 20. Por outro lado, doses abaixo de 7mg/kg de lidocaína na solução de tumescência alcançaram efetividade – sem conseqüências adversas – em procedimento de mastectomia total em mulheres idosas 7. A adrenalina também tem concentração superestimada na solução de tumescência. O pico plasmático desse fármaco é três a cinco vezes superior ao limite normal – de 133µg/mL –, e retorna ao normal em aproximadamente 12 horas após a injeção. Da mesma forma que ocorre com a lidocaína, a diluição da adrenalina pode promover a sua 74
captura pelo tecido, o que implica em liberação e metabolização graduais dessa substância 20. Outro cuidado que deve ser observado é o uso da técnica em tecidos localizados em extremidades (ex: orelhas, cauda), os quais não devem receber anestesia local com noradrenalina sob o risco de isquemia e necrose. A tumescência também pode causar arritmias cardíacas (ex: taquicardias sinusal e ventricular e fibrilação ventricular em corações sensibilizados por halotano) 4. Considerações finais A anestesia infiltrativa por tumescência é uma técnica muito empregada na medicina humana e tem se expandido a diversos procedimentos cirúrgicos em virtude da sua efetividade e relativa segurança. Atualmente, a tumescência vem sendo explorada na medicina veterinária como técnica adjuvante da anestesia geral em procedimentos de mastectomia em cadelas, com a finalidade de aumentar a segurança do procedimento anestésico. A literatura médico-veterinária disponível sobre a anestesia local por tumescência ainda é escassa, o que indica a necessidade da realização de pesquisas voltadas à padronização das doses e concentrações dos componentes dessa solução, de forma a garantir a efetividade e a segurança dessa técnica em animais. Além disso, o potencial que essa técnica tem para promover analgesia pós-operatória em cadelas deve ser investigado. Referências 01-MASSONE, F. Anestesia Local. In: FANTONI, D. T. ; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães e gatos, São Paulo: Roca, 2002. p. 193-198. 02-CARPENTER, R. E. ; WILSON, D. V. ; EVANS A. T. Evaluation of intraperitoneal and incisional lidocaine or bupivacaine for analgesia following ovariohysterectomy in the dog. Veterinary Anaesthesia and Analgesia, v. 31, n. 1, p. 46-52, 2004. 03-OTERO, P. E. Papel dos anestésicos locais na terapêutica da dor. In: OTERO, P. E. Dor: avaliação e tratamento em pequenos animais. São Caetano do Sul: Interbook, 2005. p. 168-191. 04-SKARDA, R. T. Local and regional anesthetic and analgesic techniques: dogs. In: THURMON, J. C. ; TRANQUILI, W. J. ; BENSON, G. J. Lumb & Jones' veterinary anesthesia, 3. ed., Baltimore: Williams & Wilkins, 1996. p. 426-447. 05-HEDLUND, C. S. Cirurgia dos sistemas reprodutivo e genital. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais, 2. ed. , São Paulo: Roca, 2005. p. 610-669. 06-MASSONE, F. Anestesia Local. In: __ Anestesiologia veterinária: farmacologia e
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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Mastocitoma cutâneo canino: variação da graduação histopatológica entre patologistas
Pedro Pinczowski MV, pós-graduando Depto. Clínica Veterinária, FMVZ/Unesp-Botucatu pedropin15@hotmail.com
Rafael Torres Neto MV, pós-graduando Depto. Clínica Veterinária, FMVZ/Unesp-Botucatu rphtorres@hotmail.com
Viciany E. Fabris
Cutaneous mast cell tumor: variation of the histopathological grading among pathologists Mastocitoma cutáneo canino: variación de la gradación histopatológica entre patólogos Resumo: O mastocitoma é um neoplasma cutâneo comum em cães. Considerando as variações histopatológicas e sua correlação com o comportamento biológico dos mastocitomas, em 1984, Patnaik, Ehler e MacEwen criaram um sistema de graduação e propuseram sua adoção. Nesse sistema de graduação são considerados parâmetros subjetivos, como intensidade de granulação intracitoplasmática e grau de pleomorfismo celular e nuclear, o que pode originar variações de interpretação entre observadores. No presente estudo, quatro patologistas avaliaram 42 casos de mastocitomas cutâneos caninos e observaram concordância diagnóstica em 21,4% dos casos, enquanto 7,1% dos casos receberam as três graduações possíveis para esse tumor. Embora o tradicional sistema de Patnaik para a graduação do mastocitoma cutâneo canino ainda seja um importante critério para o estadiamento patológico desse neoplasma, critérios mais objetivos devem ser adotados e incluídos nessa classificação. Unitermos: cão, histopatologia, prognóstico Abstract: Mast cell tumor is a common cutaneous neoplasm in dogs. Considering the histopathological variations and their correlation with the biological behavior of the mast cell tumors, Patnaik, Ehler and MacEwen formulated a grade system in 1984 and proposed its adoption. This grading system considers subjective parameters such as the intensity of intracytoplasmic granulation and the degree of cellular and nuclear pleomorphism, which may lead to different interpretations among observers. In the present study, four pathologists independently assigned histological grades to the same 42 mast cell tumors. There was complete agreement in 21.4% of the diagnoses, whereas in 7.1% of the cases all 3 possible grades were assigned to the same tumors. Although the Patnaik's traditional system is still an important criterion for the pathological staging of cutaneous mast cell tumors, more objective criteria must be adopted and included in this classification. Keywords: dog, histopathology, prognosis Resumen: El mastocitoma es una neoplasia cutánea frecuentemente diagnosticada en perros. En 1984, Patnaik, Ehler y MacEwen crearon un sistema de gradación en base a las variaciones histopatológicas y su respectiva correlación con el comportamiento biológico de este tipo de tumores. Este sistema propuesto por Patnaik considera parámetros de evaluación subjetivos, tales como la intensidad de granulación intracitoplasmática y el grado de pleomorfismo celular y nuclear, siendo que tales parámetros pueden originar variaciones de interpretación entre diferentes observadores. En el presente estudio, cuatro patólogos evaluaron 42 casos de mastocitomas cutáneos caninos y observaron concordancia diagnóstica en 21,4% de los casos siendo que en el 7,1% de los casos obtuvieron las tres gradaciones posibles para este tumor. El tradicional sistema de Patnaik para la gradación del mastocitoma canino continua siendo un importante criterio para el pronóstico, sin embargo criterios más objetivos deben ser adoptados y añadidos a esta clasificación. Palabras clave: perros, histopatologia, pronóstico
Clínica Veterinária, n. 77, p. 76-78, 2008
Introdução O mastocitoma cutâneo é um neoplasma constituído de mastócitos freqüentemente diagnosticado em cães. Apesar de alguns mastocitomas apresentarem comportamento biológico benigno, todos devem ser considerados como potencialmente malignos 1-3. O mastocitoma cutâneo é mais freqüente em animais com idade média de nove anos. Essa afecção não apresenta predileção sexual, mas há forte evidência de predisposição racial, o que indica envolvimento genético 3. A raça boxer, bem como outras raças descendentes do bulldog, tais como boston terrier e bulldog inglês, são descritas como predispostas ao mastocito76
ma 2,3. Dentre as outras raças freqüentemente acometidas incluem-se labrador e golden retriever, cocker spaniel, beagle, schnauzer e shar-pei 2,3. Embora mais acometidos pela neoplasia, os boxers, juntamente com os pugs, são referidos por apresentarem tumores bem diferenciados, o que lhes proporciona prognóstico favorável 4. Considerando sua variação histopatológica, foram estabelecidos alguns sistemas de graduação dos mastocitomas 4-6, correlacionados com o tempo de sobrevida do paciente, dentre os quais o mais utilizado na rotina oncológica apresenta três graus para a classificação do neoplasma 4. O sistema de graduação histopatológica é um importante critério preditivo
MV, prof. ass. dr. Depto. Patologia, FM/Unesp-Botucatu vfabris@fmb.unesp.br
Renée Laufer-Amorim MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária, FMVZ/Unesp-Botucatu renee@fmvz.unesp.br
para o estadiamento do neoplasma e a determinação de terapia adjuvante 2. Em 1973, Bostock propôs uma classificação baseada em aspectos como relação núcleo-citoplasma, freqüência de figuras de mitose, pleomorfismo celular, celularidade tumoral e intensidade dos grânulos intracitoplasmáticos. A nomenclatura dessa classificação é oposta à do sistema adotado por Patnaik, sendo os mastocitomas pouco diferenciados descritos com grau I e os bem diferenciados com grau III 4. No sistema de graduação de Patnaik, que é o mais utilizado na rotina oncológica, o grau I representa o tumor bem diferenciado, o grau II o tumor moderadamente diferenciado, e o grau III o tumor pouco diferenciado 5. No estudo realizado por esses pesquisadores, 93% dos pacientes com mastocitomas grau I excisados cirurgicamente sobreviveram aproximadamente quatro anos, enquanto 47% dos pacientes com tumores grau II e 6% com tumores grau III, tratados com cirurgia, sobreviveram pelo mesmo período de tempo. Dois estudos demonstraram uma diferença significativa entre patologistas na graduação histopatológica do mastocitoma 7,8. Nesses dois estudos, dez patologistas graduaram, em testes “às cegas”, 60 casos de mastocitomas caninos. Em um dos estudos 7, o sistema de graduação utilizado foi o de Patnaik 5, e no outro foram incluídos o sistema de graduação de Bostock 4 e os de livros 2,6,9. No estudo com várias referências para a graduação do mastocitoma houve concordância total em menos de 7% dos casos, e 10% desses casos receberam as
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Característica Localização Celularidade Arranjo Estroma
discordaram entre si em 21% (n = 4). Em 7,1% dos casos (n = 3) houve três graduações diferentes. Nas demais discordâncias, a graduação variou entre os graus I e II ou entre os graus II e III. As figuras 3 e 4 ilustram casos de mastocitomas com diagnósticos discordantes entre os observadores. A figura 3
Resultados Em 21,4% dos casos (n = 9) houve concordância entre todos os observadores, em 33,3% dos casos (n = 14) houve concordância entre três observadores, e em 45,3% dos casos (n = 19) houve concordância entre dois observadores (Figura 2). Destes 45,3% (n = 19), os Figura 2 - Freqüência dois outros obser- de concordância da histopatovadores concorda- graduação lógica dos mastocitoram em 79% dos mas caninos (n = 42) casos (n = 15), e entre os observadores
Figura 3 - Mastocitoma classificado como grau II por dois observadores e como grau I pelos outros dois observadores. (HE, Obj 40X)
I Derme superficial e região interfolicular Baixa Cordões ou fileiras e pequenos grupos Colágeno maduro normal
Morfologia celular
Arredondada, monomórfica com citoplasma amplo contendo granulação fina e homogêneas
Morfologia nuclear
Arredondada com cromatina condensada
Quantidade de núcleos Figuras de mitose
Único Ausência
Edema e necrose
Pouco
Graduação II Derme e/ou tecido subcutâneo, músculos ou tecidos adjacentes Moderada a acentuada Cordões ou fileiras e grandes grupos Fibrovascular ou fibrocolagenoso com áreas hialinizadas Arredondada a ovóide, pleomorfismo moderado, raras células fusiformes e gigantes; predomínio de células com citoplasma contendo granulação grosseira e heterogênea Arredondada a reniforme com cromatina grosseira com 1 a 2 nucléolos Binucleação ocasional Em número de 0 a 2 por campo de grande aumento Freqüente em áreas difusas
Pedro Pinczowski
Material e métodos Foram selecionados retrospectivamente 42 casos de mastocitomas cutâneos caninos diagnosticados no Serviço de Patologia Veterinária da FMVZUnesp/Botucatu. Em todos esses casos havia material incluído em bloco de parafina, permitindo a confecção de novas
lâminas histológicas. As lâminas de cada caso, coradas por hematoxilina e eosina e azul de toluidina, foram revisadas por um dos observadores para confirmar a adequação dos cortes histológicos para a posterior graduação. Os quatro observadores incluídos no estudo seguiram os mesmos critérios para a categorização dos mastocitomas – bem diferenciado (grau I), moderadamente diferenciado (grau II) e pouco diferenciado (grau III) –, seguindo o modelo mais utilizado atualmente 4 (Figura 1). Os observadores não tinham informações sobre a história dos pacientes, o tamanho e a localização do tumor, e desconheciam a graduação histopatológica anterior, que estava registrada nos livros de arquivo.
Pedro Pinczowski
três graduações 8. Menor discrepância na graduação foi observada quando se utilizou apenas o sistema de Patnaik, no entanto ainda houve diferença considerável na graduação, o que demonstra que a adoção de um único sistema de graduação histopatológica aumenta o consenso entre os patologistas, mas não resolve as discrepâncias de classificação dos mastocitomas 5. Isso demonstra uma falha na graduação histopatológica hoje empregada. Para justificar essa discrepância, foram aventadas hipóteses como a própria subjetividade da graduação, a dificuldade para determinar ou distinguir algumas das características da classificação e até mesmo a heterogeneidade da população celular em diferentes áreas de um mesmo mastocitoma 7,8. Devido à importância da graduação histopatológica dos mastocitomas e à possível discrepância de graduação entre os observadores realizou-se este estudo comparativo, no qual quatro observadores treinados em diagnóstico histopatológico avaliaram e classificaram 42 casos de mastocitomas em cães.
Figura 4 - Mastocitoma classificado como grau II por dois observadores e como grau III pelos outros dois observadores. (HE, Obj 40X)
III Derme, tecido subcutâneo, músculos ou tecidos adjacentes Acentuada Grupos grandes e densos Fibrovascular menos espesso ou fibrocolagenoso com áreas hialinizadas Arredondadas, ovóides ou fusiformes; pleomorfismo acentuado; predomínio de células com citoplasma indistinto com ausência ou pouca granulação; muitas células gigantes Reniforme a arredondada com cromatina vesicular com um ou mais nucléolos proeminentes Binucleação e multinucleação comuns Em número de três a seis por campo de grande aumento Freqüente em áreas difusas com hemorragia
Figura 1 - Distribuição das principais características histopatológicas dos mastocitomas cutâneos, segundo a graduação proposta por Patnaik 5
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representa um mastocitoma classificado como grau II por dois observadores e como grau I pelos outros dois. Nesse caso, o fato de haver menor quantidade de grânulos intracitoplasmáticos nas células tumorais e discreto pleomorfismo celular, e a ausência de figuras de mitoses, binucleações e nucléolos evidentes, demonstram características mais diferenciadas do tumor, o que pode levar algum observador a classificá-lo como grau I. A figura 4 apresenta um mastocitoma classificado como grau III e grau II. Também neste caso havia ausência de granulações e presença de figuras de mitoses, que caracterizam o potencial maligno do neoplasma, mas a ausência de células multinucleadas pode ser interpretada como característica de um tumor não muito agressivo por alguns dos observadores. A invasão na derme não foi avaliada, pois em alguns casos só havia a massa tumoral no bloco de parafina, o que impossibilitava a avaliação de características como localização e invasão do neoplasma. Discussão e conclusão Apesar de ser o mais aceito entre os patologistas, o sistema de graduação de Patnaik apresenta limitações. Nessa classificação há critérios objetivos, como número de figuras de mitose, mas também há características subjetivas, que independem da análise de um observador treinado, como a quantidade de granulação intracitoplasmática. Outro aspecto pertinente descrito é a extensão do neoplasma na amostra, com infiltração nas porções mais profundas da derme e do tecido subcutâneo 2,4,6,9. Autores descreveram mastocitomas pouco diferenciados (grau III) com infiltrado neoplásico distribuído somente em derme superfical, assim com mastocitomas bem diferenciados com infiltrado em derme profunda e subcutâneo 6. Mastocitomas apresentam características que variam amplamente, podendo, um tumor moderadamente diferenciado (grau II) ser interpretado com grau I em uma rápida observação do corte histopatologógico pelo patologista, que poderia deixar de observar uma figura de mitose ou uma célula binucleada, o que faria com que, na graduação de Patnaik, o neoplasma fosse classificado como grau II 5. Em relação à presença de eosinófilos, a sua intensidade no infiltrado tumoral não se correlaciona com a malignidade 78
do tumor, sendo sua presença em tumores malignos de células redondas indiferenciados um indicativo de diagnóstico de mastocitoma grau III, mas não necessáriamente um critério diagnóstico 6,10,11. Um estudo nacional observou maior número de eosinófilos nos mastocitomas grau III do que nos demais graus 10. Assim como previamente descrito 7,8, este trabalho também demonstrou discrepância nas graduações, havendo neoplasmas que receberam os três graus. Foram demonstradas também dificuldades em classificar os mastocitomas, mostrando um alto índice de discordância entre os observadores, principalmente nos graus I e II, em que 63% do grau II e 63,1% do grau I receberam a mesma classificação. Com base nesses resultados, sugeriu-se a classificação dos mastocitomas em baixo e alto grau, contribuindo para maior consistência e melhor prognóstico do que o sistema atual de graduação 12. A diminuição no número de graus para o mastocitoma facilitaria a classificação mas não garantiria um prognóstico acurado, que requer uma investigação completa e minuciosa, tanto da morfologia quanto do estado geral do animal. Em estudo recente, pesquisadores demonstraram que cães com mastocitomas apresentando mais de cinco figuras de mitose contadas em dez campos de grande aumento apresentaram tempo médio de sobrevida de dois meses, enquanto cães com mastocitomas com índice mitótico menor ou igual a cinco apresentaram tempo médio de sobrevida de 70 meses 13. Os autores desse trabalho sugerem que novos critérios histopatológicos sejam estabelecidos e, sempre que possível, devem-se correlacionar os aspectos morfológicos e proliferativos, avaliando o índice mitótico pela contagem de figuras de mitose ou pela imunohistoquímica, com o uso de anticorpos marcadores de proliferação celular. Estudos que avaliaram as diferenças entre observadores na graduação histopatológica não são restritos ao mastocitoma, e já foram inclusive realizados com neoplasmas de humanos 14, demonstrando discordância entre os avaliadores, o que salienta a necessidade de atributos objetivos para graduações histopatológicas. Com os resultados obtidos neste estudo, bem como na literatura consultada, haja vista a diferença de graduação entre
observadores, o prognóstico dos mastocitomas caninos é imprevisível, tornando muitas vezes o tratamento ineficiente. Frente a isso, novas técnicas de diagnóstico e estadiamento, menos subjetivas, devem ser desenvolvidas e testadas. Apoio financeiro: Fapesp Referências 01-JONES, T. C. ; HUNT, R. D. ; KING, N. W. A pele e seus apêndices. In: JONES, T. C. ; HUNT, R. D. ; KING, N. W. (Eds). Patologia veterinária. São Paulo: Manole. p. 831886, 2000. 02-WALDER, E. J. ; GROSS, T. L. Histiocytic and mast cell tumors. In: GROSS, T. L. Veterinary dermatopathology: a macroscopic and microscopic evaluation of canine and feline skin disease. St Louis: Mosby-Year Book, p. 471-473, 1992. 03-THAMM D. H. ; VAIL, D. M. Mast cell tumors. In: WITHROW, S. J. ; VAIL, D. M. Small Animal Clinical Oncology, 4. ed. Saunders, p. 402-24, 2007. 04-BOSTOCK, D. E. The prognosis following surgical removal of mastocytomas in dogs. Journal of Small Animal Practice, v. 14, n. 1, p. 27-40, 1973. 05-PATNAIK, A. K. ; EHLER, W. J. ; MACEWEN, E. G. Canine cutaneous mast cell tumor: morphologic grading and survival time in 83 dogs. Veterinary Patholology, v. 21, n. 5, p. 469-474, 1984. 06-GROSS, T. L. ; IHRKE, P. J. ; WALDER, E. J. ; AFFOLTER, V. R. Skin diseases of the dog and cat: clinical and histopathologic diagnosis. Oxford: Blackwell, 932p. 2005 07-NORTHRUP, N. C. ; HOWERTH, E. W. ; HARMON, B. G. ; BROWN, C. A. ; CARMICHAEL, K. P. ; GARCIA, A. P. ; LATIMER, K. S. ; MUNDAY, J. S. ; RAKICH, P. M. ; RICHEY, L. J. ; STEDMAN, N. L. ; GIEGER, T. L. Variation among pathologists in ther histologic grading of canine cutaneous mast cell tumors with uniform use of a single grading reference. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. 17, n. 6, p. 61-64. 2005. 08-NORTHRUP, N. C. ; HARMON, B. G. ; GIEGER, T. L. ; BROWN, C. A. ; CARMICHAEL, K. P. ; GARCIA, A. ; LATIMER, K. S. ; MUNDAY, J. S. ; RAKICH, P. M. ; RICHEY, L. J. ; STEDMAN, N. L. ; CHENG, A. L .; HOWERTH, E. W. Variation among pathologists in histologic grading of canine cutaneous mast cell tumors. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. 17, n. 3, p. 245-248. 2005. 09-GOLDSCHMIDT, M. H. ; SHOFER, F. S. Mast cell tumors. In: Skin tumours of the dog and cat. Oxford: Butterworth-Heinemann, p. 231-251, 1992. 10-RECH, R. R. ; GRAÇA, D. L. ; KOMMERS, G. D. ; SALLIS, E. S. V. ; RAFFI M. B. ; GARMATZ, S. L. Mastocitoma cutâneo canino. Estudo de 45 casos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 56, n. 4, p. 441-448, 2004. 11-GOLDSCHMIDT, M. H. ; HENDRICK, M. J. Tumors of the skin and soft tissues. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals. Iowa: Blackwell, p.45-117, 2002. 12-KIUPEL, M. ; WEBSTER, J. D. ; KANEENE, J. B. ; MILLER, R. ; YUZBASIYAN-GURKAN V. The use of KIT and tryptase expression patterns as prognostic tools for canine cutaneous mast cell tumors. Veterinary Patholology, v. 41, n. 4, p. 371-377, 2004. 13-ROMANSIK, E. M. ; REILLY, C. M. ; KASS, P. H. ; MOORE, P. F. ; LONDON, C. A. Mitotic index is predictive for survival for canine cutaneous mast cell tumors. Veterinary Pathology, v. 44, n. 3, p. 335-341, 2007. 14-AL-YNATI, M. ; CHEN, V. ; SALAMA, S. ; SHUHAIBAR, H ; TRELEAVEN, D ; VINCIC, L. Interobserver and intraobserver variability using Fuhrman grading system for renal cell carcinoma. Archives of Pathology & Laboratory Medicine. v. 127, n. 5, p. 593-596, 2003.
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Uso da carboplatina associada a inibidor de Cox-2 no tratamento de carcinoma da glândula mamária de cadela com metástase em linfonodo relato de caso Case report: use of carboplatin associated with Cox-2 inhibitor in the treatment of canine mammary gland carcinoma with lymph node metastasis Caso clínico: utilización de carboplatino asociado con inhibidores de Cox-2 en el tratamiento del carcinoma mamario con metástasis en los ganglios linfáticos Resumo: Uma cadela SRD de doze anos de idade, apresentando massa tumoral nas mamas torácicas cranial e caudal do lado direito, com linfonodos axilares palpáveis, foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais. A punção aspirativa dos linfonodos axilares revelou a presença de células epiteliais infiltradas, sendo caracterizada a invasão linfática. Metástases pulmonares não foram detectadas no exame radiológico. O animal foi submetido a mastectomia em bloco, retirada dos linfonodos acometidos e posterior tratamento quimioterápico com a droga carboplatina (3 ciclos), seguido do uso de piroxicam durante seis meses consecutivos. Os efeitos colaterais e a evolução da doença foram avaliados durante todo o tratamento. O animal não apresentou recorrência ou metástase durante o período de avaliação (810 dias). Unitermos: canina, mama, oncologia, ciclooxigenases Abstract: A twelve-year-old mixed-breed bitch was referred to the Veterinary Teaching Hospital of the Federal University of Minas Gerais presenting a tumor mass involving the right cranial and caudal thoracic mammary glands. The axillary lymph nodes were palpable and their puncture aspiration disclosed the presence of infiltrated epithelial cells, characterizing lymphatic invasion. Pulmonary metastases were not detected in the radiological examination. The animal was subjected to block dissection mastectomy, removal of the lymph nodes involved and subsequent chemotherapy with carboplatin (3 cycles), followed by the use of piroxicam for six consecutive months. Side effects and evolution of the disease were evaluated during the treatment. The animal showed no recurrence or metastasis during the assessment period (810 days). Keywords: canine, mammary gland, oncology, cyclooxygenases Resumen: Una perra sin raza definida de doce años de edad fue atendida en el Hospital Veterinario de la Universidad Federal de Minas Gerais por una masa tumoral envolviendo las mamas toráxicas 1 y 2 del lado derecho, con nódulos linfáticos axilares palpables. La punción para aspirar los nódulos linfáticos reveló la presencia de células epiteliales en el tejido, caracterizando así la invasión linfática. A través del examen radiográfico, no se evidenció la presencia de metástasis. El animal fue sometido a una mastectomía en bloque, retirada de los nódulos linfáticos y posterior tratamiento de quimioterapia con la droga carboplatino (3 ciclos) seguido del uso de piroxicam durante seis meses consecutivos y sin interrupción. Los efectos colaterales y la evolución de la enfermedad fueron evaluados durante el desarrollo de todo el tratamiento. El animal no presentó recurrencia o metástasis durante el período de evaluación (810 días). Palabras clave: canina, glándula mamaria, oncología, ciclooxigenasas
Clínica Veterinária, n. 77, p. 80-84, 2008
Introdução Os tumores de mama estão entre os processos neoplásicos mais comuns da fêmea canina e 50% deles são malignos 1,2. O prognóstico dos tumores de mama da cadela está diretamente relacionado a fatores como tamanho do tumor, envolvimento de linfonodos, presença de 80
metástases, tipo histológico, graduação histológica, grau de diferenciação nuclear, grau de invasão, crescimento intravascular e presença de receptores para estrógeno. Tumores grandes (maiores que 3cm) e com metástase em linfonodos são indicativos de prognóstico desfavorável. Alguns estudos demonstraram que 80% dos pacientes avaliados
Gleidice Eunice Lavalle MV, doutoranda PPGP - LPC/EV/UFMG gleidicel@yahoo.com.br
Angélica Cavalheiro Bertagnolli MV, doutoranda PPGP - LPC/EV/UFMG angelbertagnolli@yahoo.com.br
Geovanni Dantas Cassali MV, dr., prof. ass. LPC/ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br
apresentaram recorrência após seis meses de tratamento, resultando em curto tempo de sobrevida e de tempo livre de doença (Figura 1) 2-4. A cirurgia é o tratamento de escolha para os tumores de mama na cadela, com exceção do carcinoma inflamatório ou de metástases 5. O tipo de cirurgia depende do tamanho, da localização da lesão e da drenagem linfática 2. Lesões de tamanho inferior a 2cm podem ser tratadas por nodulectomia ou lumpectomia. As demais são extirpadas por mastectomia, que pode ser simples, em bloco ou radical, na dependência da drenagem linfática da mama acometida 5. O importante é que a exérese envolva a lesão e todo o tecido interposto entre a mama e a drenagem linfática. Caso apresentem alterações de tamanho e consistência, os linfonodos devem ser retirados e submetidos à análise histológica para pesquisa de metástases 1. Para pacientes com carcinoma inflamatório preconiza-se apenas o tratamento sintomático, com a finalidade de oferecer ao animal uma melhor qualidade de vida. As pacientes com metástase podem ser submetidas à quimioterapia. Entretanto, deve-se ressaltar que a quimioterapia não é utilizada com freqüência e que nenhum protocolo adjuvante tem sido efetivo. Os protocolos propostos pela literatura consistem no uso de doxorrubicina associada a ciclofosfamida, ou o uso de cisplatina ou carboplatina como droga única, mas estudos adicionais são necessários para determinar um protocolo eficiente para os tumores mamários caninos 1,2,6. A carboplatina é um agente antineoplásico da classe dos agentes mistos,
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Bom Menor que 3cm; bem circunscrito; linfonodo negativo; receptor de estrógeno positivo; bem diferenciado; contagem AgNOR baixa
Ruim Maior que 3cm; invasivo; linfonodo positivo; receptor de estrógeno negativo; pouco diferenciado; contagem AgNOR alta
Indiferente Idade; raça; castração; peso; tipo de cirurgia; número de tumores e glândulas envolvidas
Figura 1 - Fatores prognósticos para o câncer de mama em cadelas. Adaptado de Withrow & Mac Ewen 2
cujos efeitos colaterais mais freqüentes são a mielossupressão, a alopecia e a toxicidade gastrintestinal. Também podem ocorrer neuropatias, nefropatias, e mais raramente emêse 2. Na literatura médico-veterinária, a carboplatina é indicada para o tratamento de osteossarcomas e de alguns carcinomas 6. Assim, o desenvolvimento de investigações mais aprofundadas sobre a aplicação desse fármaco, principalmente em animais com prognóstico desfavorável – portadores de massas grandes ou que tenham linfonodos positivos e tumores de alto grau – deve ser estimulado, na tentativa de oferecerlhes novas opções de tratamento e maior
sobrevida 2. A ciclooxigenase-2 (Cox-2) é uma enzima induzível que interfere no crescimento do tumor e na angiogênese. Durante a progressão do câncer, as prostaglandinas podem mediar vários mecanismos, como proliferação celular, apoptose, modulação do sistema imune e angiogênese. Carcinomas com maior expressão de Cox-2 têm sido relacionados a pior prognóstico 7,8. O mecanismo de atuação da Cox-2 na carcinogênese ainda não está completamente elucidado A maior expressão de Cox-2 nas células tumorais estimula a angiogênese, pois a produção dessa enzima é derivada de eicosanóides
(tromboxano, prostaglandina E), que estimulam as células endoteliais a proliferar 9. A Cox-2 tem sido relacionada à inibição da apoptose, a partir da inibição da proteína pró-apoptótica bax e da super-expressão da proteína anti-apoptótica bcl-2 10. Diferentes tipos de câncer epitelial expressam Cox-2 e têm altos níveis de PGE2. Bloqueadores de Cox-2 têm sido avaliados na terapia oncológica. Os antiinflamatórios não hormonais (DAINEs) inibem a produção de prostaglandinas por inibição da ciclooxigenase, que ocorre por alteração enzimática ou por competição pelo sítio Cox do ácido aracdônico. Existem três classes de inibidores de Cox: 1) os não seletivos, que inibem mais Cox-1 do que Cox-2 causando vários efeitos colaterais, particularmente nos tratos gastrintestinal e renal (Piroxicam, Ketoprofeno); 2) os que inibem preferencialmente Cox-2, e assim apresentam efeitos colaterais menos graves (Carprofen, Meloxican); 3) os inibidores seletivos de Cox-2, que não promovem os mesmos efeitos
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Resultados e discussão A análise histopatológica da massa
tumoral foi compatível com o diagnóstico de carcinoma tubulopapilar 13 grau II 4, e a presença de metástase com o mesmo padrão histológico do tumor primário foi detectada nos linfonodos (Figura 2). O tumor apresentou imunorreatividade para a Cox-2 que foi classificada como escore 6 (Intensidade 3, distribuição 2) em uma escala variando de 0 a 12, o que justificou a escolha do tratamento (Figura 3). Poucos trabalhos na literatura descrevem tratamentos quimioterápicos associados a cirurgia para o câncer de mama de cadelas com estadiamento avançado, como o relatado neste caso. Alguns autores sugerem a possível eficácia dos inibidores de Cox-2 na terapêutica do câncer de mama 14, mas até o momento nenhum trabalho descreve essa conduta. A carboplatina foi escolhida porque tem tempo de infusão mais rápido que os outros fármacos indicados pela literatura, não é nefrotóxica como a cisplatina, e tampouco cardiotóxica como a doxorrubicina. Já a escolha do piroxicam baseou-se na facilidade de aquisição do medicamento, na sua inclusão na categoria de antineoplásicos, com dose já
Figura 2 - Cadela. Linfonodo. Metástase de carcinoma tubulopapilar. Observar presença de componentes epiteliais no foco metastático (seta). Hematoxilina e eosina, obj. 60X
Geovanni Dantas Cassali
Material e métodos Uma cadela sem raça definida, de doze anos de idade, foi atendida no Hospital Veterinário da UFMG. O animal apresentava massa tumoral ulcerada maior que 5cm envolvendo a mama torácica cranial e a mama torácica caudal direitas, já com envolvimento dos linfonodos axilares. Após o exame clínico o animal foi submetido a punção aspirativa dos linfonodos axilares, que revelou presença de células epiteliais infiltradas nos linfonodos. À avaliação radiográfica do tórax, não se verificou presença de massa pulmonar detectável. Com base nesses achados, o animal foi avaliado quanto ao estadiamento clínico pelo sistema TNM 12, sendo classificado como T3N1M0. Foi proposta a retirada cirúrgica do tumor pela técnica da mastectomia em bloco, bem como a retirada dos linfonodos (dois axilares e um pré-escapular). Após a extirpação cirúrgica, fragmentos da massa neoplásica e dos
linfonodos foram coletados, fixados em formol a 10% tamponado, processados por técnica histológica, incluídos em parafina, seccionados e corados por hematoxilina e eosina. Uma secção adicional de 4µ foi obtida do bloco de parafina, coletada sobre lâmina gelatinizada e submetida a análise imuno-histoquímica para identificação de expressão de Cox-2, com o auxílio de anticorpo primário anti-Cox-2 (SP21, Lab Vision) na diluição de 1:10. A positividade para Cox-2 foi demonstrada pela presença de marcação citoplasmática. O número de células positivas para Cox-2 foi avaliado semiquantitativamente, com o escore de distribuição definido pela estimativa de porcentagem de células positivas em cinco campos de 400X, variando de 1 a 4. Para a intensidade de marcação foram atribuídos valores de 0 a 3. Os escores de distribuição e intensidade foram multiplicados para obtenção do escore total, que variou de 0 a 12 8. A paciente foi submetida a tratamento quimioterápico com a droga carboplatina na dosagem de 300mg/m2 por via endovenosa – três ciclos em intervalos de 21 dias – e recebeu piroxicam (inibidor não seletivo para Cox-2) na dosagem de 0,3mg/kg por via oral, em intervalos de 24 horas durante seis meses consecutivos. O protocolo quimioterápico foi iniciado após a cicatrização por primeira intenção e a retirada dos pontos (dez dias de pós-cirúrgico). O animal foi acompanhado durante todo o tratamento pós-operatório, as sessões de quimioterapia e a administração do inibidor de Cox-2 não seletivo, e continua sendo avaliado apesar de já terem se passado mais de dois anos de pós-operatório. Para avaliar os efeitos colaterais do quimioterápico e do inibidor de Cox-2, foram realizados exames clínicos e laboratoriais (bioquímico completo e hemograma), mensalmente durante o primeiro semestre e trimestralmente depois dele. A avaliação da evolução da doença compreendeu a realização de exames clínicos periódicos para verificar a presença de recorrência e de radiografias torácicas para investigar eventuais metástases pulmonares
Geovanni Dantas Cassali
colaterais provocados pelos inibidores de Cox-1 nos tratos gastrintestinal e renal e se constituem em uma nova categoria. No entanto, são medicamentos mais modernos e, portanto, de alto custo (Vioxx, Celecoxib, Firocoxib) 11. A Cox-2 regula a ação de vários fatores pró-angiogênicos, como o fator de crescimento endotelial vascular – VEGF (Vascular endothelial growth factor) – e o fator de crescimento de fibroblastos – FGF (Fibroblast growth factor) –, e tem sido relatado que o Celecoxib reduz a densidade de microvasos. Os inibidores de Cox-2 são uma nova geração de drogas e têm sido utilizados, em conjunto com a radio e a quimioterapia, para o tratamento de câncer. Os mecanismos antitumorais dessas drogas não são totalmente conhecidos, razão pela qual são necessários estudos mais aprofundados para determinar se a inibição de Cox-2 auxilia na prevenção e no tratamento do câncer de mama 10. Assim, o objetivo deste trabalho foi descrever o caso de uma cadela portadora de câncer de mama em estádio avançado (T3N1M0), submetida a tratamento quimioterápico com carboplatina associado à administração de inibidor de Cox-2 não seletivo, e sua resposta ao tratamento.
Figura 3 - Cadela. Glândula mamária. Carcinoma tubulopapilar. Observar imunomarcação citoplasmática classificada como escore 6. Cox-2 imuno-histoquímica, obj. 60X
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previamente estabelecida na literatura médico-veterinária 2, e no seu baixo custo. A paciente apresenta boa evolução clínica e não teve recorrência ou metástase pulmonar durante o período de observação, que corresponde a 810 dias (27 meses). O tempo de sobrevida desse animal é muito superior aos relatados pela literatura 2,3, o que é indicativo da importância de adotar esse tratamento em outros casos, para melhor avaliar a sua eficácia. Os exames laboratoriais, realizados durante o tratamento quimioterápico, demonstraram a presença de leucopenia severa entre o sétimo e o décimo primeiro dias depois da sessão, conforme descrito na literatura 6, mas com boa recuperação da paciente antes da próxima sessão, não sendo necessária alteração do protocolo ou do intervalo entre as sessões. Não foi observado nenhum outro efeito colateral durante o período do tratamento quimioterápico. Durante o período de administração do inibidor de Cox-2, a cadela se apresentou bem e sem sinais de alterações gástricas ou renais embora, de acordo com a literatura, a espécie canina apresente sensibilidade gástrica muito acentuada com o uso de antiinflamatórios em geral. Devido à inibição de Cox-1 – que pode causar alteração na taxa de filtração glomerular –, recomenda-se a monitoração da função renal durante todo o tratamento 11. A sensibilidade individual do paciente
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é importante e um fator diferencial para a indicação de inibidores de Cox-2 seletivos ou não seletivos. Outro fator a ser analisado na escolha do inibidor de Cox-2 é o custo. À semelhança do que foi proposto na medicina humana 10, o uso de inibidor de Cox-2 associado à quimioterapia pode ser uma boa opção no tratamento de câncer de mama avançado em cadelas. Conclusão O tratamento proposto foi de fácil administração, financeiramente viável, bem tolerado e aumentou consideravelmente a sobrevida da paciente, privilegiando a qualidade de vida desta e o controle da doença neoplásica. Referências 01-MORRISON, W. B. Canine and feline mammary tumors. In: _ Cancer in dogs and cats; medical and surgical management. 1. ed. Philadelphia: Linppincott Willians & Wilkins, 1998, p. 591-598. 02-WITHROW, S. J. ; MAC EWEEN, E. G. Tumors of the mammary gland. In: _ Small Animal Clinical Oncology. 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 2001. p. 455-477. 03-CAVALCANTI, M. F. Fatores prognósticos na abordagem clínica e histopatológica dos carcinomas mamários da cadela: Estadiamento TNM e Sistema de Notthingham. 2006. 125f. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 04-CAVALCANTI, M. F. ; CASSALI, G. D. Fatores prognósticos no diagnóstico clínico e histopatológico dos tumores de mama em cadelas - revisão. Clínica Veterinária, ano 11, n. 61, p. 56-64, 2006. 05-BRODEY, R. S. ; GOLDSCHMIDT, M. H. ; ROSZEL J. R. Canine mammary gland neoplasms. Journal of the American Animal
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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Neoplasia mamária em onça parda (Puma concolor) e leoa (Panthera leo) relato de casos Mammary neoplasms in a Brazilian jaguar (Puma concolor) and a lioness (Panthera leo) - case reports
Geovanni Dantas Cassali MV, dr., prof. ass. LPC/ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br
Marcelo de Campos Cordeiro Malta MV, mestre Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte mcmalta@terra.com.br
Maria Elvira Loyola Teixeira da Costa Médica veterinária Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte melvira@pbh.gov.br
Cristina Maria de Souza Bióloga, mestranda PPGP - LPC/ICB/UFMG
Neoplasias mamarias en puma (puma concolor) y leona (panthera leo) - relato de casos
cms.souza@yahoo.com.br
Enio Ferreira MV, doutorando PPGP - LPC/ICB/UFMG
Resumo: Os tumores de mama são as neoplasias mais freqüentes na fêmea canina doméstica. Nas demais espécies domésticas esses tumores são freqüentes apenas em felinos e as informações em animais selvagens são raras. Este artigo apresenta dois casos de neoplasias de glândula mamária diagnosticadas em uma onça parda (Puma concolor) e uma leoa (Panthera leo) do Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, MG. Nos dois casos optou-se pela exérese das massas neoplásicas e acompanhamento da evolução pós-operatória de cada animal. No exame microscópico do nódulo retirado da leoa observou-se crescimento intraductal, composto de múltiplas projeções papilares ramificadas, compatível com papiloma. Um mês após a cirurgia na onça parda constatou-se uma grande progressão da massa tumoral. Optou-se então pela eutanásia e necropsia do animal. Ao exame microscópico confirmou-se o diagnóstico de carcinoma papilar invasivo. Unitermos: tumores, felinos, animais silvestres Abstract: Mammary neoplasms are the most common tumors of the female dog. In other domestic species, these tumors are frequent only in felines. Information about their occurrence in wild animals is rare. This article presents two case reports of mammary gland neoplasms diagnosed in one jaguar (Puma concolor) and one lioness (Panthera leo) from the Zoo of the ZooBotanic Foundation of Belo Horizonte, MG (Brazil). Surgical excision of the neoplastic masses and postoperative follow-up of each animal were performed in both cases. Microscopical examination disclosed intraductal growth in the resected nodule from the lioness, which was composed by multiple ramified papillary projections, being compatible with papilloma. One month after surgery, a large progression of the tumoral mass was noted in the jaguar. The animal was euthanized and necropsied. The microscopical examination confirmed the diagnosis of invasive papillary carcinoma. Keywords: tumors, feline, wild animals Resumen: Los tumores de mama son neoplasias frecuentes en las hembras caninas domésticas. En las demás especies domésticas estos tumores son frecuentes solamente en los felinos, siendo raros los relatos en animales salvajes. Este artículo presenta dos casos de neoplasias de glándulas mamarias diagnosticadas en una puma (Puma concolor) y en una leona (Panthera leo) del Zoológico de la Fundación Zoo-Botánica de Belo Horizonte, MG (Brasil). En ambos casos se ha optado por extirpar las masas y seguimiento del post operatorio de los animales. Durante el examen microscópico del nódulo extirpado de la leona se ha observado crecimiento intraductal, compuesto de múltiples proyecciones papilares ramificadas. Pasado un mes después de la cirugía se ha constatado una gran progresión de la masa tumoral de la puma. Se ha optado por la eutanasia y necropsia del animal. Al examen microscópico se pudo confirmar el diagnóstico de carcinoma papilar invasivo. Palabras clave: tumor, felino, animales salvajes
Clínica Veterinária, n. 77, p. 86-90, 2008
Introdução A glândula mamária é um órgão relativamente suscetível a doenças nas diversas espécies animais. Dentre as lesões mamárias em animais domésticos destacam-se as neoplasias, que apresentam freqüência elevada. 1 Em fêmeas da espécie canina (Canis lupus) os tumores de mama são as neoplasias mais freqüentes e, dentre elas, 50% são malignas. O prognóstico dos tumores de mama da cadela está diretamente relacionado a fatores como tamanho do tumor, envolvimento de linfonodos, presença de metástases, tipo histológico, graduação histológica, grau 86
de diferenciação nuclear e presença de receptores para estrógeno. 1,2 Nos felinos, a neoplasia mamária é o terceiro tipo mais comum, correspondendo a 80% do total das neoplasias diagnosticadas. 3,4 Em gatos domésticos (Felis catus), a incidência de neoplasias de mama é inferior apenas à de neoplasias cutâneas e de linfoma, com ocorrência maior em fêmeas não castradas do que em animais castrados. 5,6 A prevalência de tumores mamários em gatas no norte da América é de 25,4 para 100.000 animais. 7,8 Estudos demonstram o envolvimento hormonal na etiopatogênese dos tumores mamários nesses
eniofvet@hotmail.com.br
Angélica Cavalheiro Bertagnolli MV, doutoranda PPGP - LPC/ICB/UFMG angelbertagnolli@yahoo.com.br
Cecília Bonolo de Campos Graduanda em medicina veterinária iniciação científica - LPC/ICB/UFMG ceciliabonolo@hotmail.com
animais. 9-11 Entretanto, nos felinos silvestres essas lesões são pouco investigadas, provavelmente pela pouca observação de tais animais em vida livre e pelo seu reduzido número em cativeiro. O presente relato descreve dois casos de neoplasias da glândula mamária diagnosticadas em uma onça parda (Puma concolor) e uma leoa (Panthera leo) do Zoológico da Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte, MG. Relato dos casos Puma concolor No exame clínico anual de uma onça parda adulta com mais de 20 anos de cativeiro, foram encontradas duas massas tumorais. Uma delas localizada na 2a mama direita e outra abrangendo a 3a mama direita e estendendo-se em direção à 3a mama esquerda. No histórico do animal constava o uso prévio de dois implantes de acetato de melengestrol. O implante de acetato de melengestrol, assim como outros contraceptivos, tem sido utilizado experimentalmente nos animais selvagens, uma vez que não obteve autorização da FDA para seu uso comercial. Optou-se pela exérese da
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
Geovanni Dantas Cassali
menor massa tumoral. Ao exame macroscópico o tumor media 7,5x 4,5 x 3,0cm e pesava 40,24g. O exame histopatológico permitiu o diagnóstico de carcinoma papilar invasivo. Cerca de um mês após a cirurgia o animal foi reavaliado e constatou-se expressiva progressão da massa tumoral, que atingia as mamas inguinais direita e esquerda e a 2a mama esquerda (Figura 1). Optouse pela eutanásia do animal, depois da qual procedeu-se à necropsia e à colheita de amostras para exame histopatológico. Ao exame macroscópico o tumor apresentou-se com medidas de 22 x 24 x 5cm e peso de 1,4kg, observando-se ao corte várias áreas císticas. Fragmentos do tumor, dos linfonodos mamários e inguinais e do pulmão foram colhidos e fixados em solução de formol tamponado a 10% para exame histopatológico. Microscopicamente, a lesão constituía-se
Figura 1 - Onça parda (Puma concolor). Carcinoma papilar - glândula mamária. Aspecto macroscópico da massa tumoral abrangendo a 3a mama direita e estendendo-se em direção à 3a mama esquerda um mês após a primeira constatação
de formações papilares caracterizadas pela presença de um delicado eixo fibrovascular revestido por células epiteliais atípicas, sem células mioepiteliais. Esses achados permitiram o diagnóstico de carcinoma papilar invasivo (Figuras 2A e 2B) com metástases nos linfonodos retromamários e pulmão.
Panthera leo No exame clínico anual de uma leoa adulta com aproximadamente 15 anos foi encontrado um nódulo na mama inguinal esquerda. Foi realizada a exérese do nódulo. Ao exame macroscópico o tumor apresentou coloração esbranquiçada e consistência firme, media 1,7 x 1,5 x 1,2cm e pesava 1,73g. Fragmentos do tumor foram fixados em formol tamponado a 10% para exame histopatológico. À microscopia observou-se crescimento intraductal composto de múltiplas projeções papilares ramificadas, revestidas por células epiteliais e mioepiteliais e sustentadas por eixos de tecido conjuntivo frouxo (Figuras 3A e 3B). Devido a tais características, a neoplasia foi diagnosticada como papiloma intraductal. Geovanni Dantas Cassali
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Figura 2 - Onça parda (Puma concolor). Carcinoma papilar - glândula mamária. Aspecto microscópico. A - Formações papilares revestidas por células epiteliais atípicas (HE) 20x. B - Detalhe das formações papilares. Células epiteliais atípicas e ausência de células mioepiteliais (HE) 60x Geovanni Dantas Cassali
Geovanni Dantas Cassali
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Figura 3 - Leoa (Panthera leo). Papiloma - glândula mamária. Aspecto microscópico. A - Formações papilares constituídas por eixo fibrovascular revestido por células epiteliais (HE) 20x. B - Detalhe das formações papilares. Eixo fibrovascular revestido por células epiteliais e com presença de células mioepiteliais (HE) 60x
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Discussão São descritas 37 espécies na família Felidae em todo o mundo. A onça parda (Puma concolor) e o leão africano (Panthera leo) são reconhecidos como mamíferos de grande porte pertencentes a essa família. A onça parda, também conhecida como suçuarana, puma e leão da montanha, é um dos maiores felinos das Américas e apresenta ampla distribuição desde o Canadá até o Chile. 12 No Brasil, a onça parda já pôde ser encontrada em todo o ecossistema terrestre, habitando principalmente locais como caatinga, cerrado, pantanal, floresta amazônica e mata atlântica. 13 O leão africano pode ser encontrado no continente africano, e somente uma subespécie (Panthera leo persica) habita o noroeste da Índia, atualmente com população estimada entre 200 e 300 indivíduos. 11 O número de felinos silvestres diagnosticados com neoplasias tem aumentado nos últimos tempos e o aumento da expectativa de vida desses animais é considerado um dos principais fatores dessa constatação. 14 As neoplasias mamárias afetam fêmeas com idades entre oito e dez anos, mas podem surgir tumores malignos em animais com menos de cinco anos, sem predileção racial. 15 Estudos demonstram que os felídeos mantidos em cativeiro apresentam maior expectativa de vida do que aqueles mantidos em vida livre. 14 Os animais objeto deste relato tinham idade elevada, fator que pode ter influenciado o surgimento e o desenvolvimento tumoral. Um segundo fator importante na etiopatogênese dos tumores mamários é a influência hormonal no desenvolvimento neoplásico. 10 Os animais mais acometidos por essas neoplasias são fêmeas inteiras ou fêmeas submetidas tardiamente à ovariectomia, sendo que machos e animais jovens de ambos os sexos raramente as desenvolvem. 14 A administração de hormônios exógenos também tem sido relacionada ao surgimento de neoplasias mamárias em caninos e felinos. 10 A relação entre o surgimento de tumores mamários em felinos domésticos e selvagens e o uso de hormônios como o acetato de megesterol e o acetato de medroxiprogesterona tem sido relatada. Carcinomas mamários mais agressivos 90
têm sido observados após tratamentos com progestágenos. 9,10 Semelhantemente ao quadro descrito no caso do Puma concolor, há relatos sobre a ocorrência de carcinomas mamários mais agressivos em felinos após tratamentos com progestágenos. 10,15,16 As características histológicas dos tumores mamários em felinos domésticos variam consideravelmente. A maioria apresenta características malignas ao exame microscópico e uma grande proporção deles resulta em menor sobrevida do portador, mesmo após a completa excisão. 17 De acordo com a classificação histopatológica para as neoplasias mamárias em felinos, os adenocarcinomas tubular, papilar ou sólido são os mais freqüentemente relatados. 11 Os achados histopatológicos dos casos relatados eram compatíveis com papiloma e carcinoma papilar, dois tipos tumorais não raramente diagnosticados nas fêmeas domésticas. 1,18 Os carcinomas mamários felinos são conhecidos por seu prognóstico desfavorável e sua grande tendência de recorrência local e metástase. 11 Isso foi confirmado no caso da Puma concolor, que apresentou recorrência da lesão pouco tempo depois da primeira extirpação. Conclusão Relatos de lesões da glândula mamária em animais silvestres são escassos na literatura. As descrições de alterações em animais em cativeiro podem auxiliar tanto na compreensão da patogênese do processo neoplásico quanto na atuação clínica junto a essas diferentes espécies animais. Referências 01-CASSALI, G. D. ; SERAKIDES, R. ; GÄRTNER, F. ; SCHMITT, F. C. Invasive micropapillary carcinoma of the dog mammary gland. A case report. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 54, n. 4, p. 366-369, 2002. 02-CAVALCANTI, M. F. ; CASSALI, G. D. Fatores prognósticos no diagnóstico clínico e histopatológico dos tumores de mama em cadelas revisão. Clínica Veterinária, ano 11, n. 61, p. 56-64, 2006. 03-NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Medicina Interna de Pequenos Animais. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.1324 p. 04-BRODEY, R. S. ; GOLDSCHMIDT, M. H. ; ROSZEL, J. R. Canine mammary gland neoplasms. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 19, n. 1, p. 61-69, 1983. 05-RUTTEMAN, G. R. S. ; WINTHROW, S. J. ;
MAC EWEN, E. G. Tumors of the mammary gland. In: WINTHROW, S. J. ; MAC EWEN, E. G. (eds). Small animal clinical oncology. 3. ed. Philadelphia: Saunders WB Co, 2000. p. 450-467. 06-WALDRON, D. R. Diagnosis and surgical management of mammary neoplasia in dogs and cats. Veterinary Medicine, v. 96, n. 12, p. 943948, 2001. 07-MACEVEN, E. G. ; HAYES, A. A. ; HARVEY, H. J. ; PATNAIK, A. K. ; MOONEY, S. ; PASSE, S. Prognostic factors for feline mammary tumors. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 185, n. 2, p. 201-204, 1984. 08-HAYS, A. A. ; MOONEY, S. Feline mammary tumors. Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, v. 15, p. 4003-4007, 1985. 09-DE LAS MULAS. ; J. M. ; MILLAN, Y. ; BAUTISTA, M. J. ; PEREZ, J. ; CARRASCO, L. Oestrogen and progesterone receptors in feline fibroadenomatous change: an immunohistochemical study. Research in Veterinary Science, v. 68, n. 1, p.15-21, 2000. 10-HARRENSTIEN, L. A. ; MUNSON, L. ; SEAL, U. S. Mammary cancer in captive wild felids and risk factors for its development: a retrospective study of the clinical behavior of 31 cases. Journal of Zoo Wildlife Medicine, v. 27, p. 468-476, 1996. 11-MISDORP, W. ; ELSE, R. W. ; HELLMEN, E. ; LIPSCOMB, T. P. Histological classification of the mammary tumors of the dog and the cat. World Health Organization International. Histological classification of mammary tumors of the dog and cat. 2. ed. (Armed Forces Institute of Pathology, American Registry of Pathology, Washington, DC), v. 7, p. 1- 59, 1999. 12-REDFORD, K. H.; EISENBERG, J. F. Mammals of the neotropics. The Southern Cone, v. 2 Chicago: Univ. Chicago Press, 1992. 426p. 13-MACHADO, A. B. M. ; FONSECA, G. A. B. ; MACHADO, R. B. ; AGUIAR, L. M. S. ; LINS, L. V. Livro vermelho das espécies ameaçadas de extinção da fauna de Minas Gerais. Belo Horizonte, Fundação Biodiversites, 1998, 608p. 14-MIRANDA, F. R. ; KIMURA, K. C. ; CÔRREA, S. H. R. ; TEIXEIRA, R. H. F. ; FEDULLO, J. L. D. ; BARBOSA, H. S. ; CATÃO-DIAS, J. L. Incidência de neoplasia em felídeos na Fundação Parque Zoológico de São Paulo - Estudo retrospectivo 1971 a 2001. In: XXVII CONGRESSO DE ZOOLÓGICOS DO BRASIL, 2003. Bauru. Anais... XXVII Congresso de Zoológicos do Brasil, 2003. 15-QUEIROGA, F. ; LOPES, C. Tumores mamários caninos, pesquisa de novos factores de prognóstico. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 97, n. 543, p. 119-127, 2002. 16-HAYDEN, D. W. ; JOHNSTON, S. D. ; KIANG, D. T. ; JOHNSON, K. H. ; BARNES, D. M. Felines mammary hypertrophy/fibroadenoma complex: clinical and hormonal aspects. American Journal of Veterinary Research, v. 42, p. 1699-1703, 1981. 17-MACDOUGALL, L. D. Mammary fibroadenomatous hyperplasia in a young cat attributed to treatment with megestrol acetat. The Canadian Veterinary Journal, v. 44, n. 3, p. 227-229, 2003. 18-ITO, T. ; KADOSAWA, T. ; MOCHIZUKI, M. ; MATSUNAGA, S. ; NISHIMURA, R. ; SASAKI, N. Prognosis of malignant mammary tumor in 53 cats. Journal of Veterinary Medical Science, v. 58, n. 8, p. 723-726, 1996.
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!P e s q u i s a - m i c r o b i o l o g i a Desinfetantes deixam bactérias mais fortes Estudo publicado na Microbiology destaca que, se usados incorretamente, desinfetantes e antissépticos podem promover mutações que tornam bactérias resistentes aos produtos químicos
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rodutos químicos usados para matar bactérias podem estar fazendo o contrário, deixando os microrganismos ainda mais resistentes. A afirmação é de um estudo publicado na edição de outubro da revista Microbiology. Segundo a pesquisa, pequenos níveis dessas substâncias, chamadas biocidas, podem fazer com que a potencialmente letal bactéria Staphylococcus aureus se torne mais resistente à ação de antibióticos. Biocidas são usados em desinfetantes e antissépticos para eliminar micróbios. São comumente empregados na limpeza doméstica, em hospitais, na esterilização de equipamentos médicos e na descontaminação da pele antes de cirurgias. A pesquisa destaca que se tais produtos forem usados em níveis corretos eles matam bactérias e outros microrganismos. Entretanto, se níveis inferiores aos indicados forem utilizados, os micróbios podem sobreviver, tornando-se resistentes à aplicação.
“Bactérias como o Staphylococcus aureus produzem proteínas capazes de retirar substâncias químicas tóxicas da célula, de modo a interferir com seus efeitos antibactericidas. É um processo que remove antibióticos da célula e torna as bactérias mais resistentes a essas substâncias”, disse Glenn Kaatz, do Centro Médico do Departamento de Assuntos de Veteranos nos Estados Unidos. Os pesquisadores expuseram amostras de S. aureus retiradas do sangue de pacientes a baixas concentrações de diversos biocidas usados freqüentemente em hospitais. Ao analisar o efeito da exposição, identificaram a produção de mutantes das bactérias com a chamada bomba de efluxo mais desenvolvida, ou seja, com maior fluxo de remoção de toxinas do que o normal. Segundo eles, se bactérias que vivem em ambientes protegidos são expostas repetidamente a biocidas, por exemplo, durante a atividade de limpeza, elas
podem desenvolver resistência a desinfetantes ou, em outros casos, a antibióticos. Estudos anteriores apontaram que tais bactérias contribuem para infecções hospitalares. “Estamos tentando desenvolver inibidores de bombas de efluxo. Inibidores eficientes poderão reduzir a probabilidade da emergência de novos mecanismos de resistência nas bactérias. Infelizmente os métodos atuais não funcionam eficientemente com uma ampla gama de patógenos, o que não os torna ideais para prevenir a resistência”, disse Kaatz. “Uma boa alternativa no futuro será a combinação de um inibidor de bomba de efluxo com um agente antimicrobiano, o que reduzirá a emergência de linhagens resistentes e seu impacto clínico”, apontou. O pesquisador destaca a importância do uso cuidadoso e adequado tanto de antibióticos como de biocidas que ainda não são reconhecidos pelas bombas de efluxo produzidas pelas bactérias.
* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br/materia/9532/divulgacao-cientifica/desinfetantes-deixam-bacterias-mais-fortes.htm
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Ecologia Butantan alerta sobre jararaca-ilhôa: espécie está ameaçada de extinção*
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esquisadores do Laboratório de Ecologia e Evolução (L.E.E.V.) do Instituto Butantan, órgão da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, em conjunto com um pesquisador do Instituto de Biociências da USP, publicaram no último número da revista South American Journal of Herpetology de 2008, um trabalho sobre a primeira estimativa da população da jararaca-ilhôa (Bothrops insularis), espécie endêmica da Ilha da Queimada Grande, no litoral de Itanhaém, localizada a 33 km da costa do Estado de São Paulo. Membros da atual equipe de pesquisa vêm acompanhando a abundância dessa serpente na natureza desde 1995 (até a presente data) e foi possível inferir que em um período de cerca de 10 anos a sua população foi reduzida pela metade, ou seja, há atualmente cerca de 2.100 indivíduos na Ilha. A espécie, descrita em 1921 por Afrânio do Amaral, foi estudada na década de 50 por Alphonse R. Hoge, ambos pesquisadores do Instituto Butantan. A estimativa do tamanho populacional foi realizada em 2002. O método para essa estimativa consistiu em amostrar 26 parcelas (quadrados de 10x10 metros delimitados pelos pesquisadores ao longo da Ilha; foram contados os números totais de espécimes em cada um desses quadrados e
Otavio A. V. Marques - Instituto Butantan
Estudo revela que serpente endêmica está sendo “retirada” ilegalmente da Ilha e demanda medidas urgentes
Jararaca-ilhôa (Bothrops insularis)
os dados foram então extrapolados para os hábitats disponíveis da Ilha). A jararaca-ilhôa foi incluída na lista das “Espécies da Fauna Silvestre Ameaçadas do Estado” no decreto N0 53.494 publicado recentemente (D.O. de 02 de outubro de 2008), assinado pelo governador José Serra e pelo secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, Francisco Graziano Neto. Os dados gerados pela pesquisa permitiram classificar a jararaca-ilhôa na categoria criticamente em perigo, que corresponde ao maior grau de ameaça em que uma espécie pode ser classificada atualmente, segundo critérios reconhecidos internacionalmente pela comunidade científica. O desembarque na Ilha da Queimada Grande é restrito a pesquisadores do Instituto Butantan e a terceiros com autorização prévia do Ibama. Porém, a
Otavio A. V. Marques - Instituto Butantan
Ilha da Queimada Grande, localizada no litoral de Itanhaém, SP
grande preocupação dos biólogos é a falta de fiscalização, que tem como conseqüência o sumiço das serpentes da ilha. Já foi constatado que pessoas usaram o nome do Butantan para desembarque na Ilha e também há relatos sobre o comércio desta espécie na internet, em sites que comercializam a serpente por até US$ 30 mil (equivalente a mais de R$ 60 mil). A situação é extremamente crítica, pois até membros da equipe de pesquisa do Butantan já foram abordados no Porto de São Vicente para venderem serpentes aos contrabandistas. “Os estudos indicam a necessidade urgente de fiscalização de forma a coibir a remoção ilegal de serpentes da Ilha e de um programa de monitoramento para acompanhar as flutuações no tamanho populacional da jararacailhôa”, explica Otavio Marques, pesquisador do Laboratório Especial de Ecologia e Evolução do Butantan, responsável pelo projeto, patrocinado pela FAPESP, que desenvolve atualmente diversos estudos com esta serpente.
* Fonte: Assessoria de Comunicação Social do Instituto Butantan - www.butantan.gov.br
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obra Higiene e vigilância sanitária de alimentos, de autoria de Pedro Manuel Leal Germano e Maria Izabel Simões Germano, em sua 3ª edição, ano 2008, pela Editora Manole (ISBN: 97885-204-2623-4), é uma referência para estudantes e profissionais, de empresas privadas e do setor público, interessados na inocuidade dos alimentos em toda cadeia de produção – do campo à mesa. Aborda as patologias transmitidas por alimentos, assim como algumas das principais ferramentas para garantir a segurança alimentar: auditoria, consultoria e treinamento. Esta nova edição, encadernada em capa dura, foi revisada e ampliada. Possui 1032 páginas e traz quatro capítulos inéditos. Ela foi atualizada, inclusive no que concerne à legislação específica, visando abranger o que há de mais recente na área de alimentos. Pedro Manuel Leal Germano, médico veterinário, formado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP) é sanitarista pelo Curso de Especialização em Saúde Pública, mestre e doutor pela Faculdade de Saúde Pública (FSP/USP); pós-doutorado na França,
no Instituto Pasteur de Paris; livre docente em Epidemiologia e Saneamento Ambiental pela FMVZ/USP; professor titular de Saúde Pública Veterinária junto ao Departamento de Prática de Saúde Pública da FSP/USP. Pedro Germano é coordenador do Curso de Extensão Universitária de Especialização em Vigilância Sanitária de Alimentos da FSP/USP, desde 1998. Na área de Vigilância Sanitária, ele exerceu em 2001 a Coordenação Geral, junto à Comissão de Cultura e Extensão da FSP/USP, com o apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (Anvisa/MS) e da Organização Panamericana da Saúde (OPAS), dos cursos com ênfase em Vigilância Sanitária. Membro da Câmara Técnica de Alimentos da Gerência Geral de Alimentos da Anvisa, desde 2004, ele é seu representante junto ao Grupo Técnico de Higiene de Alimentos do Codex Alimentarius. Maria Izabel Simões Germano possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1974), mestrado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (1998) e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2002). Ela
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ministra aulas sobre segurança alimentar, inocuidade alimentar, manipuladores de alimentos, inocuidade dos alimentos e vigilância sanitária nos cursos de Pós-Graduação, na área de Serviços de Saúde Pública, e no Curso de Especialização em Vigilância Sanitária de Alimentos, ambos na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Editora Manole: (11) 4196-6000
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renais, digestivas, hormonais, alérgicas, reprodutivas e mentais. Na verdade a MTC pode ser utilizada para tratar quase todo desequilíbrio. Iniciando desde a cabeça e trabalhando em direção aos dedos dos pés, Quatro Patas, Cinco Direções mostra vários problemas que podem ser identificados por todos os que vivem com um animal de companhia. A abordagem feita pela autora pode ser compreendida por qualquer pessoa. Por isso, este livro é adequado tanto para médicos veterinários quanto para pessoas que simplesmente querem entender e melhorar a qualidade de vida de seus animais de estimação, da forma mais natural possível. Cheryl Schwartz, autora deste livro que já foi traduzido em várias línguas, há mais de 15 anos vem tratando de animais, com sucesso, utilizando a MTC. Ícone Editora: (11) 3392-7771
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Internet
Leishmaniose no YouTube
á 8 meses, está on line no YouTube (www.youtube.com), vídeo que procura esclarecer questões que envolvem o tratamento da leishmaniose visceral canina. Seu acesso na internet antecede à publicação da portaria interministerial n. 1426, de 11 de julho de 2008, que proíbe o tratamento de leishmaniose visceral canina com produtos de uso humano ou não registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Enquanto isso, a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa Brasil) reivindica judicialmente a revogação da portaria. Enquanto isso, na Europa, a Virbac recém lançou um novo medicamento para o tratamento da leishmaniose visceral canina, o Milteforan®. Infelizmente, não há previsão para seu lançamento no Brasil.
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O vídeo Leishmaniose - (não sacrifique) trate do seu animal pode ser visto no endereço eletrônico: www.youtube.com/watch?v=cSH4Hue9jxE
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22 e 23 de novembro Santa Maria - RS III Curso de neurologia veterinária em pequenos animais ! (55) 3220-9400 22 de novembro de 2008 a 25 outubro de 2009 Belo Horizonte - MG III Curso de fisioterapia e reabilitação animal ! (31) 3024-1222 23 e 30 de novembro; 14 de dezembro Osasco - SP Curso teórico-prático de dermatologia ! (11) 2995-9155 24 a 28 de novembro São José do Rio Preto - SP IV Curso Cardiologia em pequenos animais ! (17) 3011-0927
26 a 30 de novembro Santos - SP XI Congresso ABRAVAS ! www.abravas.org.br
25 e 26 de novembro Santos - SP I Fórum nacional de odontologia em animais selvagens ! www.abravas.org.br
27 de novembro Porto Alegre - RS Noite do especialista: hemoterapia em pequenos animais ! (51) 3024-7061
28 e 29 de novembro Uberlândia - MG I Expovet ! (34) 9993-6927 1 e 5 de dezembro Fortaleza - CE Curso perícia judicial ambiental ! (53) 3231-3622 6 e 7 de dezembro Rio de Janeiro - RJ I Congresso Latino-ameri-
cano de medicina de urgências e cuidados intensivos ! www.laveccs.org
7 e 14 de dezembro São Paulo - SP Curso de atualização em leishmaniose ! (11) 2995-9155
www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 10 e 13 de dezembro Campos dos Goytacazes - RJ I Simpósio Latino-americano de cardiologia veterinária ! www.jbca.com.br 2009 1 e 18 de janeiro; 1, 8 e 15 de fevereiro Osasco - SP Curso de auxiliar de enfermagem veterinária na clínica de pequenos animais ! (11) 2995-9155 Ínício: fevereiro e março SP - RJ - BH Pós-graduação lato sensu em anestesiologia veterinária. Duração: 24 meses ! (11) 3384-2024 1, 8 e 15 de fevereiro; 1 e 8 de março São Paulo - SP Forum de discussões de diagnóstico por imagem e laboratório clínico ! (11) 2995-9155
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19 e 29 de janeiro São Paulo - SP Curso teórico e prático de ultra-sonografia abdominal em pequenos animais ! (11) 3579-1427 1 de março de 2009 a 1 de março de 2010 Porto Alegre - RS Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária ! (14) 3882-4243 1, 8, 15, 22 e 29 de março; 19 e 26 de abril; 3 de maio Osasco - SP Curso teórico- prático de cirurgia de partes moles ! (11) 2995-9155 14 e 15 de março Londrina - PR 3º NEUROVET ! (43) 9151-8889 23 a 27 de março Seropédica - RJ IV Simpósio de Oftalmologia Veterinária da UFRRJ ! simpoft2009@gmail. com
4 e 9 de abril São Paulo - SP XIX SACAVET ! www.sacavet.com.br
22 a 24 de julho São Paulo - SP 8ª Pet South America ! (11) 4613-2044
7 e 8 de maio Campinas - SP I Congresso internacional sobre nutrição de animais de estimação e VIII Simpósio sobre nutrição de animais de estimação ! (19) 3232-7518
26 a 31 de julho Buzios - RJ Congresso anual da International Veterinary Radiology Association ! (11) 5055-1427
14 a 16 de maio Rio de Janeiro - RJ RioVet ! (21) 2580-3125 1 a 5 de junho Florianópolis - SC Curso perícia judicial ambiental ! (53) 3231-3622 21 a 24 de julho São Paulo - SP WSAVA 2009 ! (11) 4613-2014
INTERNACIONAL
17 a 21 de janeiro Orlando - Flórida - EUA North American Veterinary Conference ! www.tnavc.org
12 e 13 de setembro Rio de Janeiro - RJ II Simpósio de dermatologia e endocrinologia felina ! dermatologiafelina@ gmail.com 14 a 17 de setembro Seropédica - RJ VIII Semana de dermatologia em pequenos animais & IV Simpósio de oncologia veterinária ! semanadermato@ yahoo.com.br 25 a 28 de outubro Bonito - MS III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária ! abspv@abspv.org.br
Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 77, novembro/dezembro, 2008
3 a 7 de fevereiro Lucknow - Índia 4th World Congress on Leishmaniasis ! www.worldleish4.org