Clínica Veterinária n. 81

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G uarรก Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009 - R$ 15,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts

www.revistaclinicaveterinaria.com.br

ISSN 1413-571X



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice

Neurologia - 26 Dicas essenciais para o controle da epilepsia em cães e gatos Essential tips for epilepsy control in dogs and cats Consejos básicos para el control de la epilepsia en perros y gatos

Oncologia - 38 Aspectos gerais sobre os principais antineoplásicos utilizados na clínica veterinária de cães e gatos: revisão de literatura Márcia Marques Jericó - HV/UAM

General aspects of the main chemotherapy agents used for dogs and cats in small animal clinics: review Aspectos generales sobre los principales antineoplásicos utilizados en la clínica veterinaria de perros y gatos: revisión de literatura

Nutrição - 54

Study on the eating habits and level of physical activity of obese dogs in São Paulo and their effect on the metabolic balance Estudio sobre los hábitos alimentarios y actividad física de perros obesos en la ciudad de Sao Paulo y su efecto sobre el balance metabólico

Cão bichon frisé, fêmea, cinco anos, obesa, praticando natação

Neurologia - 62

Bruno Martins Araújo

Aspectos clínico-patológicos em casos de meningoencefalite necrosante canina Clinical and pathological aspects of canine necrotizing meningoencephalitis Aspectos clínico-patológicos en casos de meningoencefalitis necrosante canina

Neurologia - 70 Paraplegia aguda com perda da percepção de dor profunda em cães: revisão de literatura

Ana Carolina H. Maluenda

Aspecto macroscópico de um encéfalo em caso de MNC com assimetria de hemisférios e dilatação de ventrículos laterais

Acute paraplegia with loss of deep pain perception in dogs: literature review Paraplejia aguda con pérdida de la percepción del dolor profundo en perros: revisión de literatura

Silvia Neri Godoy

Desenho esquemático da medula espinhal mostrando a posição dos principais tratos ascendentes e descendentes

Animais silvestres - 88 Principais doenças bacterianas e fúngicas em Psittaciformes - revisão Main bacterial and fungal diseases in Psittaciformes - literature review Principales enfermedades bacterianas y fúngicas en Psittaciformes - revisión de literatura

Animais silvestres - 100 Infecção aguda fatal por Toxoplasma gondii em macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha) relato de caso Pulmão - macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Pneumonia necrótica não supurativa aguda severa difusa associada a taquizoítos de T. gondii (seta) no citoplasma de macrófagos ou livres no interstício. HE. 400x

André Fonseca Ronaldini

Paulo César Maiorka

Estudo sobre os hábitos alimentares e as atividades físicas de cães obesos da cidade de São Paulo e seus reflexos no balanço metabólico

Toxoplasma gondii acute fatal infection in a woolly monkey (Lagothrix lagotricha) - case report Infección aguda fatal por Toxoplasma gondii en un mono lanudo (Lagothrix lagotricha) - relato de caso

Filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) mantidos inadequadamente, o que favorece o estresse e a perda das defesas imunológicas

Luiz Henrique de Araújo Machado

Dermatologia - 106 Dermatomiosite canina familiar - relato de caso Canine familial dermatomyositis Dermatomiositis canina familiar

Errata

Dermatomiosite: cão da raça collie apresentando dermatose de aspecto eritematoso, erosivo-ulcerativa em leito ungueal

No artigo “Contribuições da tomografia computadorizada (TC) de tórax em cão com nódulos pulmonares - relato de caso” de autoria de André Fonseca Romaldini, Adriana H. de Campos Nogueira e Maria Luiza Valério, publicado na edição n. 80, na página 36, a figura 8 repetiu a imagem da figura 6. A imagem correta está ao lado e a respectiva legenda encontra-se abaixo. Figura 8 - Tomografia computadorizada. Corte 49 com massa em lobo pulmonar caudal esquerdo e nódulo em lobo pulmonar médio direito

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

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Seções Editorial - 7

Controle de população de cães e gatos Leishmaniose visceral canina – da infecção à cura

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Aparelhos para laserterapia 16

Lançamentos - 116

Notícias - 8

Bem-estar animal - 19

• Gestão comercial para clínicas veterinárias 8 • I Jornada MedVet e Provet de Medicina Veterinária 8 • Vetnil comemora 15 anos de operações 10 • Bayer promove a campanha ZooAção 10 • SINDAN cria website para se comunicar diretamente com mercado de animais de companhia 10

Comissão de Educação e Cultura (CEC) decidiu que lugar de animal não é no circo 19 Importantes questões relacionadas aos animais continuam sendo discutidas na Câmara Municipal de São Paulo 20

Saúde pública - 12

Livros - 114

O desafio de conter a superpopulação e o abandono dos animais

Equipamentos - 115

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Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e

• Suplemento de condroitina • Anti-inflamatório • Alimento coadjuvante para o tratamento da obesidade em cães • Llinha equilíbrio recebem novas embalagens

Internet - 112 Ampla informação gratuita nos 10 anos da InterNICHEBrasil

Negócios e oportunidades - 117 Serviços e especialidades - 118

Guia prático para coleta einterpretação de exameslaboratoriais em cães e gatos autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte.

Agenda - 128

Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br



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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10159

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER Basset hound com paresia nos posteriores decorrente de discopatia, derivada de calcificação discal entre L2-L3, fotografado por Cristina Cury Ramos

IMPRESSÃO / PRINT Copypress www.copypress.com.br

TIRAGEM / CIRCULATION 15.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra/com.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br

Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos UFLA iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br

Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@ffalm.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/UNESP/Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br

Rafael Costa Jorge Clínica Veterinária Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet-Pompéia duart7e@gmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University ronaldodacosta@cvm.osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Viviani de Marco UNG, H. V. Pompéia vivianidemarcoterracom.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial

N

a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, é desenvolvido o "Projeto Proteger: Saúde e Comportamento Violento", vinculado ao Departamento de Genética do Instituto de Biociências". Através do projeto presta-se auxílio psicológico às crianças vítimas de abuso. Estão envolvidos no projeto: alunos da enfermagem, psicologia, medicina, direito e ciências sociais; médicos (geneticistas, neurologistas, psiquiatras, ginecologistas e médicos comunitários), psicólogos, enfermeiros, educadores, arquitetos e advogados, representados por professores da universidade ou voluntários da comunidade. O artigo Violência e desenvolvimento sustentável: o papel da universidade, publicado na revista Saúde e Sociedade (Saude soc. vol.17 no.3 São Paulo July/Sept. 2008), de autoria de Graziela Aline Hartmann Zottis; Lucas de Lima Cunha; Lisandra Fachinello Krebs; Simone Algeri; Renato Zamora Flores), disponível na internet (www.scielo.br/scielo.php?pid= Renato Zamora Flores S0104-12902008000300005&script=sci_arttext), descreve a proposta do projeto. Infelizmente, recentemente, em junho de 2009, o projeto foi vítima da violência. Um dos membros da equipe multidisciplinar, um ser vivo senciente, conhecido por todos como dr. Alegria, foi encontrado morto, com afundamento no crânio, presumindo-se que sua vida tenha sido tirada cruelmente através de paulada. O ato cruel, por ter sido realizado em área da União, está sendo investigado pela Polícia Federal. Renato Zamora Flores, coordenador do projeto, conta que o dr. Alegria era tão querido que foi treinado para ajudar na terapia das crianças, uma técnica muito usada pela capacidade dos animais cativarem as crianças. "Elas não contavam o problema para mim, mas para o doutor Alegria. Ele ficava quietinho no meu colo, ouvindo por mais de uma hora. As crianças perguntavam se ele era doutor de verdade. Eu dizia que sim, que era um cão- Dr. Alegria, vítima de crueldade no campus da UFRGS. O agressor, se idenzinho doutor para quem elas podiam contar tudo", conta o prof. Flores. tificado, pode facilmente ser enquadraA morte do dr. Alegria não foi um fato isolado. Com ele, sobe para dez o número de cães do no Art. 32 da Lei 9605/98. Para que seres sencientes continuem promortos ou desaparecidos no campus em um período de 60 dias. Pelo menos 7 animais foram estes tegidos por lei é fundamental que o Art. 32 continue inalterado envenenados. Assim como o dr. Alegria perdeu sua vida através de um ato cruel, diversos outros casos, com as mais variadas espécies, tanto domésticas quanto silvestres ou exóticas, também tem sido relatadas no país. Recentemente, dois alunos de medicina veterinária da UNIPAC, em Juiz de Fora, MG, foram acusados de terem feito um filhote de gambá de bola de futebol, dirigindo vários chutes ao indefeso animal. O caso foi parar no Ministério Público e está sendo feito inquérito na Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, que convocou e colheu o depoimento de várias pessoas citadas. "Reiteramos nosso repúdio a todo e qualquer ato de maus tratos aos animais", declarou Carlos Henrique Reis de Araujo Silva, coordenador do curso de medicina veterinária. Os fatos acima expostos permitem que qualquer pessoa constate que os atos cruéis devem ser severamente reprimidos. Por isso, o projeto de lei número 4548/98 que está apensado ao projeto de lei número 3981/00 e que propõe que seja removida do artigo 32 da lei federal número 9605/98 (Lei de Crimes Ambientais) a criminalização de atos de maus-tratos a animais domésticos ou domesticados merece total repúdio. Há mais de dez anos, esse é o principal recurso legal que garante a punição de pessoas que cometem atos de maus-tratos contra animais. A aprovação desse novo projeto de lei implicaria a remoção da caracterização de crime para aqueles que maltratam animais, basicamente denotando tal comportamento como aceitável. É imprescindível que este retrocesso não aconteça e a colaboração de todos é de extrema importância. Ela pode ser feita através de uma ligação gratuita, durante o período das 8h às 20h, para o telefone 0800-61.96.19 (Disque-Câmara - Central de Comunicação Interativa - www2.camara.gov.br/disquecamara) e dizer ser contra o PL 4548/98 do ex-deputado José Thomaz Nonô, que exclui os animais domésticos e domesticados do artigo 32 da lei 9605/98 de crimes ambientais, e participando do abaixo-assinado que está disponível no endereço www.petitiononline.com/ artigo32/petition.html. O documento será entregue ao Congresso Nacional e usado na campanha, em conjunto com outras ações. Contribua aderindo e repassando o endereço eletrônico do abaixo-assinado. Outro procedimento de grande importância é gravar bem os nomes dos políticos que querem fazer da vida um emento descartável e de abuso. Nossos votos merecem ir para aqueles que estão trabalhando em favor da vida, como é o caso dos parlamentares que muito contribuíram para a aprovação da proibição de animais em circo, em 3 de junho de 2009, na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

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Alexandre Corazza

Gestão comercial para clínicas veterinárias como palestrante Dado Schneider, especialista que tem 30 anos de experiência em marketing, comunicação e criativadade. O evento foi realizado em Curitiba, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Recife, Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo e São José dos Campos. O Simpósio de gestão em clínicas e atendimento ao cliente, realizado pela ANCLIVEPA-SP em parceria com a Bayer, a Royal Canin e Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/ USP) foi outra oportunidade que Dado Schneider, especialista os médicos veterinários tiveram que tem 30 anos de experiência para entender mais sobre o tema em marketing, comunicação e e poder aplicar os conceitos em criativadade, foi o palestrante seus estabelecimentos. Ministrano Vet Business Regional ram palestras no evento o médico veterinário Joaquim Aragonés (C.E.O. da Avepa - Asociación de Veterinarios de Españoles Especialistas en Pequeños Animales) e o prof. Luis Antônio Marins (www.professormarins. com.br) O CRMV-SP também está atento ao tema e, desde abril de 2009, em parceria com o Participantes do Vet Business Regional realizado em São Paulo SEBRAE-SP, tem promovido,

C

omo toda empresa, as clínicas veterinárias necessitam obter benefícios e reaver seus investimentos de forma rentável. A Royal Canin, consciente dessa necessidade, tem se dedicado a ajudar os médicos veterinários, que são grandes parceiros comerciais da empresa, a desenvolverem os princípios essenciais para um crescimento sustentável. A ação mais recente da empresa para atingir este objetivo foi a realização, nos meses de março e abril de 2009, do evento Vet Business Regional – Nutrindo seu Negócio, que teve

Joaquim Aragonés, José Vicentin (diretor da FMVZ/USP), prof. Luis Antônio Marins (www. professormarins.com.br) e prof. Marco Antonio Gioso (www.gioso.com.br) durante o Simpósio de gestão em clínicas e atendimento ao cliente, realizado em São Paulo, na FMVZ/USP

através de suas delegacias regionais, oficinas de empreendedorismo. O calendário das oficinas, que estão agendadas até novembro de 2009, está disponível no endereço www.crmvsp.org.br. Interessados no assunto também terão oportunidade de participar do I Encontro de Pet Marketing Riovet 2009. O evento, que ocorrerá em setembro, no Riocentro, Rio de Janeiro, RJ, terá entrada franca e contará com temas de interesse prático do dia a dia dos profissionais que participam do mercado pet. “Em tempo onde a inovação é necessária e o empreendedorismo é a base do mercado, obter conhecimento técnico e fundamentado é o caminho para se tornar um profissional diferenciado no mercado”, destaca Sergio Lobato, especialista em pet marketing e coordenador do evento.

I Jornada MedVet e Provet de Medicina Veterinária

8

Além da obra Diagnóstico Citológico e Hematologia de Cães e Gatos, lançada na I Jornada MedVet e Provet de Medicina Veterinária, diversos outros títulos recém lançados pela MedVet estiveram em exposição

Alexandre Corazza

Alexandre Corazza

Alexandre Corazza

o final do mês de maio de 2009 esteve no Brasil o prof. Dennis Denicola. O especialista compartilhou o seu conhecimento com os médicos veterinários brasileiros durante palestras e a I Jornada MedVet e Provet de Medicina Veterinária – Diagnóstico Citológico e Hematologia – realidades para o dia a dia do Consultório Veterinário,

Durante a I Jornada MedVet e Provet de Medicina Veterinária os participantes aproveitaram para incluir nos seus exemplares o autógrafo do prof. Dennis Denicola

(www.medvetlivros.com.br). O prof. Denicola divide a autoria do livro com Cowell, Rick L., DVM, MS, DACVP (Oklahoma State Univ); Tyler, Ronald D., DVM, PhD, DACVP, DABT (Oklahoma State Univ); Meinkoth, James H., DVM, PhD, DACVP (Oklahoma State Univ).

evento realizado no anfiteatro da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Na ocasião do curso, foi realizado o lançamento do livro Diagnóstico Citológico e Hematologia de Cães e Gatos, totalmente traduzido do inglês para o português pela MedVet Livros

N

José Luiz (Med Vet Livros), profa. Eliana Reiko Matushima (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia / Universidade de São Paulo FMVZ/USP), prof. Dennis Denicola e Rubem Montoni (Provet)

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009



Vetnil comemora 15 anos de operações

A

Vetnil, empresa 100% brasileira, comemora 15 anos de operações em um segmento que exige permanente atualização tecnológica. Essa história de sucesso começou quando, em 1994, o médico veterinário João Carlos Ribeiro, lançou seu primeiro produto, o Glicopan. Após 15 nos de história, a Vetnil tornou-se uma das maiores empresas veterinárias brasileiras e mantêm-se cheia de vitalidade, investindo nos melhores profissionais e em modernidade.

Hoje, é possível afirmar que a história da Vetnil se confunde com a história da própria veterinária brasileira, já que a empresa foi responsável pela introdução de produtos e conceitos inovadores no mercado. Para Vera Ribeiro, presidente da Vetnil, o grande segredo da longevidade da empresa está na sua permanente capacidade de inovar. “Hoje, o mundo muda muito rápido e a capacidade de reinventar o próprio negócio é vital, estamos comemorando os 15 anos da companhia

com uma empresa em plena atividade e totalmente modernizada”, afirma a presidente. “A receita de longevidade da Vetnil está em seu pioneirismo, ousadia e garra, passando pela dedicação e comprometimento de todos os colaboradores, pela confiança dos parceiros e clientes e pelo carinho e reconhecimento de milhares de consumidores que escolhem e confiam na qualidade e eficácia de nossos produtos”, conclui a presidente da Vetnil.

Bayer promove a campanha ZooAção

C

om o objetivo de alertar os proprietários e os profissionais de saúde sobre as doenças causadas por vermes e protozoários que podem acometer cães e gatos e os riscos que elas representam ao homem, a Bayer realiza em todo o País a campanha ZooAção. A iniciativa acontece em todo o País até o mês de agosto e consiste na distribuição de materiais educativos em clínicas veterinárias, pontos de venda e petshops a fim de esclarecer sobre as zoonoses e a maneira correta de cuidar dos animais para evitar a contaminação.

Para facilitar o entendimento sobre o assunto estão sendo entregues aos proprietários um folheto explicativo com dados sobre as doenças e dicas de como manter a posse responsável, e uma revista em quadrinhos do Pingo, um personagem criado pela Bayer que, de forma lúdica e divertida, ensina o que são as zoonoses, os tipos mais comuns e as formas de prevenção. Também faz parte das ações da campanha a distribuição de luvas higiênicas com o objetivo de incentivar o recolhimento das fezes dos animais durante os passeios.

Material educativo utilizado na campanha ZooAção

SINDAN cria website para se comunicar diretamente com mercado de animais de companhia

O

mercado de animais de companhia conta agora com uma importante ferramenta de comunicação entre proprietários, médicos veterinários e outros profissionais do setor. O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (SINDAN) acaba de lançar, por meio de sua Comissão de Animais de Companhia (Comac), o website www.comacvet.org.br. A Comac idealizou e desenvolveu o website para facilitar o acesso à informação especializada sobre cães e gatos. “O mercado pet é rico em informações, mas até então, elas estavam espalhadas. A Comac, especialmente por meio deste website, quer unir estes dados e oferecer informação de qualidade aos consumidores de produtos para saúde animal, aos médicos veterinários e aos donos de pet shops”, comenta o médico veterinário Luiz Luccas, presidente da Comissão. O conteúdo do website aborda a questão do uso de medicamentos humanos em 10

www.comacvet.org.br

animais de companhia, um dos temas mais delicados do setor. A Comac alerta para os riscos deste procedimento, especialmente porque os dois tipos de medicamentos são produzidos de formas distintas, considerando o organismo no qual vai ser aplicado. “Algumas pesquisas apontam que cerca de 80% dos médicos veterinários brasileiros ainda utilizam medicamentos para saúde

humana em animais por desconhecer as soluções já desenvolvidas pela indústria veterinária”, aponta Luccas. Diante desse cenário, desde o início de seus trabalhos, a Comissão ressalta a importância do papel do médico-veterinário na sociedade e desenvolveu o site pensando também em torná-lo um complemento ao trabalho realizado por esses profissionais. O site vai acompanhar o desenvolvimento das indústrias de saúde animal e pretende se tornar fonte de informação para quem acompanha o setor. O canal ainda traz dicas de cuidados básicos com cães e gatos, incluindo vacinação, preparo para viagens, alimentação, atenção com filhotes. “Os animais de companhia trazem inúmeros benefícios para o ser humano e hoje até são utilizados como apoio na recuperação de pessoas doentes. É justo que estejamos todos preparados para cuidar adequadamente deles, que hoje são considerados membros da família”, conclui.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009



Saúde pública O desafio de conter a superpopulação e o abandono dos animais Ângela Caruso - Presidente do Quintal de São Francisco - www.quintaldesaofrancisco.org.br

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ara controlar a população de cães e gatos, diminuir a ocorrência de agravos, o risco de transmissão de zoonoses, o recolhimento e a eliminação de animais pelos Centros de Controle de Zoonoses do país; a intolerância pelos cães e os gatos por parte da sociedade, fazendo com que essa rejeição contribua para o excessivo número de animais abandonados e vitimados por maustratos, fica desafiado o Poder Público a trabalhar na prevenção e no controle animal com vistas à saúde humana, animal e ambiental ampliando as ações de controle reprodutivo por método cirúrgico - extensiva e gratuita aos proprietários de baixa renda - facilitação do acesso às vacinas múltiplas e contra a raiva, tratamento das doenças de pele, controle de endo e ectoparasitos, registro e identificação por método eletrônico, e notadamente, a realização de atividades educativas continuadas e pactuadas entre os municípios e os estados. Os gestores públicos devem reconhecer que a promoção da saúde estreita a sua relação com a vigilância em saúde nas ações

que reforçam a mudança de comportamento da sociedade, amplia a compreensão de bem-estar animal, a responsabilidade e o direito a qualidade de vida. O maior desafio que uma política pública de saúde animal deverá enfrentar é a formação do vínculo do animal na família. Se atentarmos para uma sociedade que exclui parte expressiva de animais por ela produzidos, não podemos esperar que vá tratá-los de maneira adequada quando adoecem, envelhecem ou necessitam de cuidados especiais. Sabemos que não é automático e imediato, pelo contrário, é gradativo, e, portanto, necessita de tempo, investimentos e vontade política para a construção desse novo comportamento social. Vejo como um desafio também, a divisão de responsabilidades que deve ter como “ponto de partida” à eficiência do Poder Público em atender a comunidade na assistência e orientação para a convivência com cães e gatos. Rigor no esclarecimento quanto às divergências de informações e uniformidade das normas e diretrizes do processo

implementado e planejado com as atividades práticas e educativas, bem como na escala de tarefas deve ser aproveitado o talento e a experiência dos profissionais da área da saúde, organizações não governamentais, voluntários e agentes comunitários. O tripé cultura-estrutura-capacitação deverá estar presente nos princípios que nortearão uma política objetiva para controlar o nascimento de cães e gatos. Os agentes sociais da saúde animal - médicos veterinários - devem assumir e difundir que a castração, inclusive de animais jovens, é saudável, e garante tranquilidade e longevidade ao animal impedindo que as indesejadas crias sejam dispensadas ou “alocadas” sem nenhum critério. O derradeiro desafio é encontrado na criação comercial de animais, importante aliado da superpopulação, seguido da venda indiscriminada, dos abusos impingidos aos animais, sem fiscalização, e a consequente compra por impulso.

Fotos: arquivo Quintal de São Francisco www.quintaldesaofrancisco.org.br

Lidar com o abandono de cães e gatos é uma das tarefas mais difíceis para os gestores de saúde. Por isso, é fundamental o incentivo à criação do vínculo do animal na família

A procriação de animais nas ruas causa grande impacto à saúde do ambiente

A reprodução descontrolada cães em áreas urbanas causa diversos agravos à saúde pública

A assistência e orientação à comunidade para a convivência com cães e gatos é indispensável



Saúde pública Controle de população de cães e gatos

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esde 2005 tramita pelo Senado Federal o Projeto de Lei da Câmara n. 4, de 2005, que dispõe sobre a política de controle da natalidade de cães e gatos e dá outras providências. Em 15 de maio de 2009, mais de 4 anos depois, o projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Em 20 de maio de 2009 a matéria entrou na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). No endereço www.senado.gov. br/sf/atividade/Materia/Detalhes.asp? p_cod_mate=71941 pode-se conferir toda a tramitação do projeto. Enquanto passam-se anos para a avaliação do projeto, a leishmaniose avança rapidamente pelo país, atingindo cidades como, por exemplo, São Borja, no Estado do Rio Grande do Sul. Além da leishmaniose, há muitos outros agravos à saúde que precisam ser controlados. As ações de vigilância em saúde necessitam, urgentemente, do controle de população de cães e gatos. A espera de, alguma solução, sem providências, fará com que se torne cada vez mais difícil executar as ações de vigilância em função do cres-

cimento das populações de cães e gatos. Por isso, alguns municípios, interessados em combater o problema, realizam, por conta própria, o seu programa de controle de população de cães e gatos. No Estado de São Paulo, desde 2006, a Secretaria Estadual de Saúde (SES/SP) preconiza as ações de controle de população de cães e gatos. Controle de reprodução, educação, registro e identificação são atividades que poderiam estar sendo realizadas por qualquer município, mesmo não havendo a estrutura prevista na Portaria n. 52, de 27 de fevereiro de 2002, que estabelece diretrizes para projetos físicos de Unidades de Zoonoses e Fatores Biológicos de Risco (http://bvsms. saude.gov.br/bvs/publicacoes/fatores_ bio_risco.pdf). Teoricamente, estas unidades deveriam estar estruturadas para atender às diversificadas populações de municípios onde são implantadas. As suas diretrizes preconizam quatro tipos de Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) e um tipo de Canil Municipal, conforme o tamanho do município. Hoje, 7 anos depois da publicação da

por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto CRMV-SP 6871 - editor - revista Clínica Veterinária

www.abspv.org.br

Portaria n. 52, não se encontram os canis municipais que são preconizados para as cidades com até 15.000 habitantes e diversas cidades também carecem de CCZs e das atividades que deveriam ser desenvolvidas conforme preconizadas pelo documento. A Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (CCD/SES-SP), atenta à necessidade do controle da população de

O Programa de controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo (suplemento n. 6 do Boletim Epidemiológico Paulista) foi amplamente distribuído no III Fórum sobre controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo. Também foi distribuída a publicação Criando um amigo – Manual de prevenção contra agressões por cães e gatos (Manual do Educador), que faz parte do Programa Saúde do Animal da prefeitura de São Paulo O DVD Introdução ao Manejo Etológico Canino busca auxiliar no desenvolvimento de técnicas de manejo que promovem interações positivas e seguras entre os diferentes profissionais e os cães, trazendo noções sobre a biologia, psicologia e bemestar animal. Ele foi produzido pelo Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC - www.itecorg.br), com o apoio da World Society for the Protection of Animals (WSPA). O DVD possui opção de legendas para espanhol e inglês

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O III Fórum sobre controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo também contou com a participação de empresas que comercializam microchips e leitoras universais, (www.d4microchip.com.br), realizam a implantação de projetos de identicação animal (www.caochorro.com.br) e que implantam sistema de computador para administração de setores na área zoonoses (Zoosystem Software - www.santofortesi.com.br)

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cães e gatos, realizou, de 15 a 17 de junho de 2009, em São Paulo, SP, o III Fórum sobre controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo e o II Encontro nacional de oficiais de controle animal. O evento tem se consagrado pela exposição de experiências bem sucedidas em municípios que tiveram a

sensibilidade de perceber a importância do controle de população de cães e gatos. Este ano, houve dois importantes lançamentos durante o evento: o Programa de controle de populações de cães e gatos no Estado de São Paulo (suplemento n. 6 do Boletim Epidemiológico Paulista - BEPA) e o DVD Introdução ao

Manejo Etológico de Cães e Gatos. O assunto de controle populacional de cães e gatos terá destaque, de 25 a 28 de outubro, durante oficina no III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária e I Encontro Internacional de Saúde Pública Veterinária, em Bonito, MS.

III Fórum sobre o controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo* II Encontro Nacional de Oficiais de Controle Animal* 15, 16 e 17 de junho de 2009 - São Paulo, Brasil Moção Considerando: Que o controle populacional de cães e gatos é uma ação da saúde que visa ao equilíbrio entre as populações animais e humanos seja incorporado pela sociedade; Que para o controle de zoonoses transmitidas por caninos e felinos é fundamental o desenvolvimento de ações saúde para o equilíbrio de populações desses animais, bem como ações de preservação ou recuperação do meio ambiente; Que fazem parte das ações saúde para o equilíbrio de populações de cães e gatos o registro, a identificação, o controle ambiental e o controle da reprodução desses animais, além da informação, educação e comunicação à sociedade, com vistas ao desenvolvimento da cultura de propriedade, posse e guarda responsável; Que a Secretaria da Saúde preconiza essas ações saúde no Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos do Estado de São Paulo; Que a Lei 12.916 do Estado de São Paulo, de 16 de abril de 2008, que dispõe sobre controle da reprodução de cães e gatos e “veta a eliminação da vida de cães e de gatos pelos órgãos públicos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos oficiais congêneres, exceção feita à eutanásia, permitida nos casos de males, doenças graves ou enfermidades infecto-contagiosas incuráveis que coloquem em risco a saúde de pessoas ou de outros animais”; Que a efetivação do princípio dos “ 4 R´s” das ações saúde para o equilíbrio populacional de cães e gatos (recolhimento seletivo, recuperação, reabilitação e reintrodução na sociedade) pode auxiliar no cumprimento da referida Lei, facilitação dos serviços, melhoria da saúde do trabalhador, promoção da saúde e bem-estar animal; Que as ações saúde propostas para o equilíbrio populacional canino e felino, bem como o princípio dos 4 “R´s”, vêm ao encontro das propostas do Programa Nacional de Humanização dos Serviços de Saúde (PNHSS);

Que as ações para o controle reprodutivo, registro, identificação, educação, censo animal, estudo da dinâmica populacional canina e felina, estudo da demografia animal, entre outros, são de responsabilidade da vigilância em saúde; Que as ações para o controle reprodutivo de cães e gatos estão ligadas à otimização do uso e da aplicação dos recursos públicos, favorecendo a posse responsável dos animais e auxiliando na diminuição do risco de zoonoses; A legislação do Sistema Único de Saúde que define recursos claros e regulares para as ações de vigilância em saúde; A Portaria Ministerial 1.172, de 15 de junho de 2004, que determina o bloqueio dos recursos do bloco da vigilância em saúde como penalidade pela não utilização dos recursos; e A humanização dos serviços e o cuidado com a saúde do trabalhador, Nós, participantes do III Fórum sobre Controle de Populações de Cães e Gatos e II Encontro nacional de Oficiais de Controle Animal, Recomendamos: Que o gestor municipal apoie e incentive as ações preconizadas no Programa de Controle Populacional de Cães e Gatos da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo; Que o gestor municipal priorize a execução das ações e dos recursos da vigilância em saúde haja vista a sua importância na mudança do perfil epidemiológico e a legislação específica vigente; Os Planos Municipais de Saúde tenham, no seu escopo, definidas as ações de saúde para o equilíbrio das populações de cães e gatos; Que se contemple, nos Termos de Compromisso com a gestão, metas e indicadores para as ações de saúde para o equilíbrio das populações de cães e gatos; Que se promova o envolvimento dos dirigentes dos serviços de controle de zoonoses e do equilíbrio populacional canino e felino na

elaboração dos Planos Municipais de Saúde; Que os orçamentos plurianuais, leis de diretrizes orçamentárias e orçamento do programa anual tenham em sua elaboração a participação de profissionais dos serviços de controle de zoonoses e de populações de cães e gatos; Que a gestão municipal contemple em seus orçamentos recursos para as ações saúde para o equilíbrio populacional canino e felino; Que o controle reprodutivo seja planejado e programado a fim de que se obtenha um impacto em curto e médio prazos; Que sejam realizadas ações para o controle e fiscalização do comércio de cães e gatos; Que o programa educativo para a posse responsável de animais de estimação seja inserido também no contexto da educação ambiental; Que sejam previstos recursos e/ou incentivos à pesquisa científica e produção de conhecimento gerado a partir da avaliação das ações implementadas nos programas de equilíbrio populacional canino e felino; Que no Plano Municipal de Saúde preveja recursos direcionados à manutenção dos serviços de controle de zoonoses, como ração de boa qualidade, medicação (vermífugos, antibióticos, analgésicos, anti-inflamatórios, entre outros necessários para o atendimento básico aos animais), vacinas espécie-específicas (felina e canina), material de consumo, recursos para reformas etc.; Que sejam realizadas capacitações dos profissionais dos serviços de controle de zoonoses e do equilíbrio populacional de cães e gatos; Que sejam admitidos ou contratados médicos veterinários clínicos de pequenos animais, especialistas em comportamento animal e cinotécnicos, haja vista a carência desses profissionais nos serviços para o equilíbrio populacional de cães e gatos e para a prática do princípio dos “4 R´s”; e Que seja disponibilizado apoio psicológico permanente para os funcionários dos serviços de controle de zoonoses e de equilíbrio de populações de cães e gatos.

*Realização: Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo - SES-SP / Coordenadoria de Controle de Doenças - CCD

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Saúde pública Leishmaniose visceral canina – da infecção à cura

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stá programado para 18 e 19 de julho, em Belo Horizonte, MG, na Câmara Municipal, no Auditório Amintas de Barros, o simpósio realizado anualmente pela ANCLIVEPA-MG sobre leishmaniose. Este o ano, o tema do evento será: Leishmaniose visceral canina - da infecção à cura.

- DIA 18 DE JULHO -

Este ano o evento contará com a participação de Lluís Ferrer Caubet, especialista espanhol que tem como linhas de investigação a dermatologia comparada, a imunologia e o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. Na semana seguinte, Lluís Ferrer Caubet estará em São Paulo, onde participará como um dos palestrantes de destaque no WSAVA 2009.

8h30 às 9h00 horas Abertura Dr. João Carlos Toledo Júnior (ANCLIVEPA-MG) Dr. Manfredo Werkaüser (ANCLIVEPA BRASIL) Dr. Nivaldo da Silva (CRMV-MG) Dr. Ênio Gomes da Silva (CFMV)

Lluís Ferrer Caubet é membro do Leishvet, grupo de especialistas europeus que tem como um dos objetivos elaborar um consenso para a abordagem da leishmaniose visceral canina, a exemplo do que já foi feito com a erliquiose (NEER, T.M.; BREITSCHWERDT, E.B., GREENE. R.T.; LAPPIN, M.R. Consensus Statement on Ehrlichial Disease of Small Animals from the Infectious Disease Study Group of the ACVIM. Journal of the Veterinary Internal Medicine. v. 16, n. 3, p. 309-315, 2002.)

9h00 às 12h00 horas - Leishmaniose visceral canina – da infecção à cura Dr. Lluís Ferrer Caubet (Universidade Autônoma de Barcelona) 12h00 às 14h00 horas - Almoço

- DIA 19 DE JULHO -

14h00 às 14h35 - Scalibor - Na clínica privada e na saúde pública – Intervet Schering-Plough

9h00 às 12h00 horas - Leishmaniose Visceral Canina - da infecção à cura – Dr. Lluís Ferrer Caubet (Universidade Autônoma de Barcelona)

14h40 às 15h15 - Advantage Max 3 - "A Tripla Proteção" – Bayer do Brasil 15h20 às 15h50 horas - Intervalo 15h50 às 16h25 - O que o laboratório me oferece? – Laboratório Tecsa 16h30 às 17h05 - Leishmune - O tempo prova sua eficácia! – Fort Dodge Saúde Animal

12h00 às 14h00 horas - Almoço 14h00 às 15h00 horas - Implicações jurídicas do tratamento da leishmaniose visceral canina no Brasil – Dr. Sérgio Cruz (assessor jurídico da ANCLIVEPA-MG) 15h00 às 15h30 - Intervalo - café

17h10 às17h45 - Leish-Tec - Tecnologia inovadora para prevenção da LVC – Hertape-Calier

15h30 às 17h30 - Leishmaniose visceral canina - da infecção à cura – Dr. Lluís Ferrer Caubet (Universidade Autônoma de Barcelona)

17h50 às 19h00 - mesa-redonda - perguntas

17h30 horas - Encerramento

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Saúde pública Raiva humana: primeiro caso de cura no Brasil

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m outubro de 2008, no Estado de Perdia.” Outra informação recebida é que a nambuco, um menino de 15 anos, com Secretaria de Vigilância em Saúde do Minisrelato de agressão por morcego hematófago, tério da Saúde (SVS/MS) organizou reunião deu entrada no Hospital Universitário de 10 a 12 de fevereiro de 2009, em Recife, Oswaldo Cruz (HUOC) da Universidade de com médicos, veterinários e enfermeiros. Os Pernambuco. Inicialmente foram aplicadas 4 profissionais discutiram a elaboração do doses de vacina anti-rábica. Este procediprotocolo de tratamento de raiva humana. O mento foi realizado antes do início de sintoprotocolo deverá ser publicado ainda este mas. ano. Participaram da reunião 18 consultores: Em seguida, o paciente foi transferido • 9 consultores clínicos – da Universidade de para a unidade de terapia intensiva onde Pernambuco, da Secretaria de Saúde do Disrecebeu o protocolo de tratamento de trito Federal, da Universidade Federal do PaMilwaukee1, utilizado em paciente com rá, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz raiva em 2004, nos Estados Unidos. Dezese do Hospital Infantil de Wisconsin (EUA); • 5 consultores laboratoriais – do Instituto sete dias depois houve a retirada do coma induzido e o paciente foi mantido sem sedação Pasteur, do LACEN/PE e da SVS/MS; A raiva será um dos temas abordados no III Con• 4 consultores de vigilância epidemiológica e com quadro clínico estável. gresso Nacional de Saúde Pública Veterinária. A evolução clínica favorável do paciente, – da SVS/MS e da Secretaria Estadual de O evento será realizado de 25 a 28 de outubro, em Bonito, MS. Informações: www.abspv.org.br Saúde de Pernambuco. bem como a cura observada no caso americano, abre perspectivas bastante promissoras para esta zoonose, que até então é considerada com uma taxa de letalidade de 100%. A nota técnica COVEV/CGDT/DEVEP/ SVS/MS, de 11 de novembro de 2008, disponível no endereço http://portal.saude. g o v. b r / p o r t a l / a r q uivos/pdf/nota_ tecnica_raiva_humana_11_08.pdf, descreve mais detalhadamente o processo de hospitalização e é um documento oficial que registra o sucesso, no Brasil, da aplicação do protocolo de Milwaukee1. Apesar do sucesso obtido na aplicação do Manual de Diagnóstico Laprotocolo de Milwaukee1, a hospitalização O boratorial da Raiva, publicado paciente está sendo mantida há meses. Em do pelo Ministério da Saúde, 15 de maio de 2009, a assessoria de impren- está disponível no endereço: sa do Ministério da Saúde informou à reda- http://portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/manual_ Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/ ção da revista Clínica Veterinária que: “o pa- diagnostico_ raiva.pdf pdf/apresentacao_raivappt.pdf ciente enconA página www.raiva.com.br tra-se com quainforma dados sobre a vacidro clínico esnação de cães, gatos, bovitável, no quarnos e cavalos, que podem adquirir a doença e transmitito, em recupela a humanos. Dá dicas de ração. O quaonde realizar a vacinação e, dro clínico do também, explica o que é a paciente evoluiu doença, como ela é transmitida e se manifesta. Além de forma podisso, orienta as pessoas a sitiva. Ainda respeito das providencias não se sabe até que devem ser tomadas em caso de agressão por algum que ponto o paanimal suspeito de contamiciente apresennação. tará seqüelas, Para as crianças, a página Associação Pan-americana preparou uma atração especial. É possível fazer o download das históvisto que a me- A de Saúde disponibiliza, através do endereço rias em quadrinhos do personagem Zeca e seu cachorro Nico, criados lhora vem se www.paho.org/Portuguese/AD/DPC/VP/monica.pdf, especialmente para a campanha. Outro destaque é a área destinada dando dia a gibi da Turma da Mônica feito especialmente para a aos profissionais de saúde, com informações técnicas sobre a doença, instituição promover a prevenção da raiva

1. Protocolo publicado no New England Journal of Medicine, 352(24) em 16 de junho de 2005

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seus sinais clínicos, vacinas existentes e informações gerais sobre a raiva no Brasil. A página também chama a atenção para o “Dia D”, 28 de setembro, considerado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) o Dia Mundial de Luta contra a Raiva.

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Bem-estar animal Comissão de Educação e Cultura (CEC) decidiu que lugar de animal não é no circo por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

O deputado Ricardo Tripoli usou a palavra para defender os animais. Ao fundo ativistas exibem seus cartazes “Circo legal não tem animal”

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esde 22 de dezembro de 2006 tramita pela Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados a análise da questão dos animais em circos. Durante este período, o trabalho dos ativistas que se empenham na defesa dos animais precisou de muita perseverança, pois, por diversas vezes, tiveram que suspender mobilizações para a

ir à Brasília, em função do adiamento das audiências públicas e votações. No dia 3 de junho de 2009, diversas entidades de proteção animal estiveram presentes na Câmara dos Deputados para presenciar a votação da CEC. Entre elas: o VEDDAS (SP), a ADI (Londres), a ANIDA (RJ), a Coletivo Madu (DF), o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, a ProAnima (DF) e a WSPA. Os parlamentares que ali se reuniram fizeram um excelente trabalho em defesa dos animais: concordoram que lugar de animal não é no circo e votaram por unanimidade a aprovação do substitutivo do PL 7291/06. Com esta conduta, os parlamentares também agiram em defesa das crianças, pois não há nada que se aproveite de um espetáculo onde um leão pula um arco Deputados que se destacaram em defesa dos animais

George Guimarães, do VEDDAS, foi o portador que entregou à CEC os abaixo assinados contra a presença de animais em circos. Foram mais de 100.000 assinaturas que formaram pilha de papéis que atingiu 70cm de altura O Valente domador, de César Obeid: excelente obra da literatura infanto-juvenil que transmite à criança a importância do respeito aos animais, firmando o conceito de que o circo legal não tem animal

Affonso Camargo (PSDB-PR) dep.affonsocamargo@camara.gov.br; Antonio Carlos Biffi (PT-MS) dep.antoniocarlosbiffi@camara.gov.br; Alice Portugal (PC do B-BA) dep.aliceportugal@camara.gov.br; Carlos Abicalil (PT-MT) dep.carlosabicalil@camara.gov.br; Iran Barbosa (PT-SE) dep.iranbarbosa@camara.gov.br; José Fernando A. de Oliveira (PV-MG) dep.josefernandoaparecidodeoliveira@camara.gov.br; José Sarney Filho (PV-MA) dep.sarneyfilho@camara.gov.br; Maria do Rosário (PT-RS) dep.mariadorosario@camara.gov.br; Ricardo Tripoli (PSDB-SP) dep.ricardotripoli@camara.gov.br; José Aníbal (líder do PSDB na Câmara dos Deputados) dep.joseanibal@camara.gov.br

Com o objetivo de sensibilizar tanto os parlamentares quanto a população, diversos cartazes foram expostos na área externa do Anexo II da Câmara dos Deputados

de fogo ou um urso anda de bicleta. Crianças que vão a circos e observam os animais tanto no picadeiro quanto fora dele irão assimilar conceitos errados, como, por exemplo, que podemos manter animais enclausurados em pequenos espaços e que podemos subjugá-los a fazer qualquer coisa. O relatório do deputado Antônio Carlos Biffi (PT-MS), aprovado pela Comissão de Educação, prevê o prazo de transição de oito anos para os circos retirarem os animais de suas apresentações. O texto permite que espetáculos como rodeios e vaquejadas continuem utilizando animais. A próxima etapa a ser trilhada será a avaliação do tema pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC). Para esta comissão foi designado como relator o deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP).

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Bem-estar animal

Importantes questões relacionadas aos animais continuam sendo discutidas na Câmara Municipal de São Paulo por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto - CRMV-SP 6871

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Acompanhe em www.socioambiental.org os problemas ambientais gerados pelo impacto da construção do Rodoanel de São Paulo

O diagnóstico do tráfico de animais silvestres na Mata Atlântica realizado pela ONG Renctas, disponível no endereço www.diagnostico.org.br/ documentos_destaque/relatorio_ renctas descreve programa de computador criado para realizar o registro, por todos os órgãos envolvidos, de todas as apreensões envolvendo animais silvestres. Um dos grandes benefícios seria o rastreamento dos animais apreendidos, desde a sua apreensão até o seu destino final, seja a soltura ou o direcionamento para criadores. Uma importante ferramenta oferecida gratuitamente ao IBAMA, mas que, infelizmente, não foi adotada pelo órgão

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s problemas relacionados com animais no município de São Paulo são de diversos tipos. A falta de controle da população de cães e gatos e a sua identificação estão entre os principais. Os animais silvestres também participam dos problemas, sendo vítimas do abondono, do tráfico e do manejo inadequado decorrente de obras, como, por exemplo o Rodoanel de São Paulo. As dificuldades na gestão desses problemas não permite um manejo sustentável do ambiente e, consequentemente, provoca agravos à saúde da população e sérios danos ao ecossistema. Conscientes desses problemas, os vereadores

Roberto Tripoli, Atílio Francisco (PRB), Aurélio Miguel (PR), Ítalo Cardoso (PT) e Gilberto Natalini (PSDB) estão conduzindo, desde o dia 19 de fevereiro de 2009, a Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo. Na edição de maio/junho da revista Clínica Veterinária foi publicada a cobertura dos trabalhos desenvolvidos pela comissão até o final de abril, quando foi criado pela Coordenação de Vigilância em Saúde (COVISA) o Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos no Município de São Paulo. Mais uma vez surgem questões relacionadas aos animais silvestres e exóticos – foco dos trabalhos da comissão durante os meses de maio e junho –, bem como aos animais domésticos, face aos importantes acontecimentos atuais. A questão do avanço das obras do Rodoanel de São Paulo foi um dos grandes focos da comissão. Diversos animais sofreram com o impacto das obras, foram mal manejados e muitos morreram. A dra. Rie Kawasaki, procuradora do Ibama, durante reunião ordinária na Câmara Municipal de São Paulo, frisou que o Ibama aplicou multa em decorrência da falta de autorização para manejo da fauna no trecho sul do Rodoanel. Antonio Ganne, analista ambiental

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Foto: arquivo SOS Fauna

Foto: arquivo SOS Fauna

Foto: arquivo SOS Fauna

Tráfico da Divisão de Proteção Ambiental do de animais Ibama/SP, também presente em reunião silvestres ordinária na Câmara Municipal de São Ao lado, foto ilustrando a Paulo, fez sérias declarações sobre a siapreensão de galos de tuação da fauna silvestre brasileira, campina traficados para a principalmente, no que diz respeito ao região sudeste. tráfico de aves silvestres. A principal Criadores registrados no delas diz respeito à adulteração e falsifiIBAMA poderiam oferecer cação de anilhas para possibilitar a enabrigo para estas aves, trada e a legalização dos animais trazimas isto não costuma dos ilegalmente da natureza em criadoacontecer. Não há interres registrados no Ibama. “Quando alesse por parte dos crigumas unidades do Ibama passaram a adores em abrigá-las. Por entregar aos criadores anilhas diretaoutro lado, nas apreenmente em mãos, mediante constatação sões que envolvem aves do número de nascimentos em cativeiro, de alto valor comercial, o número de anilhas entregues chegou a diversos voluntários reduzir 95%”, frisou Antonio Ganne. aparecem. Este resultado leva a crer que a quantiDurante o período de dade de anilhas solicitadas anteriormenapreensão, o fator tempo te pelos criadores não estava sendo totorna-se um ponto crítico talmente usada com aves nascidas em na manutenção da vida cativeiro e direcionadas para aumentar a das aves. A situação exige um manejo rápido e bem receita de criadouros através da legaliconduzido, pois em pouco zação de aves oriundas do tráfico. VÍTIMAS DO TRÁFICO tempo todas podem morOutra declaração feita por Antonio rer. Ganne foi a de que o Sispass (sistema Soltá-las fora do seu local pelo qual o Ibama controla uma categode origem, prática já consria autorizada a criar passariformes em tatada diversas vezes, pocativeiro - www.ibama.gov.br/sispass) de causar danos irreparásurgiu quando da criação da nova legisveis aos biomas. lação ambiental para não colocar na ilegalidade as pessoas que tinham o hábito de criar pássaros em cawww.sosfauna.org O abrigo de saguis apreendidos do tiveiro e deveria ser uma tráfico e o abondono, tanto dos exemplares categoria estanque que iria provenientes do tráfico legal quanto ilegal, ser extinguida com o temsão outros problemas atuais. po. Porém, a categoria foi Voluntários que se dedicam a dar abrigo aos criada aberta, permitindosaguis e diversas outras espécies, como, se a entrada de novos criapor exemplo, as que são apreendidas de dores. “Hoje, a categoria circos, não recebem nenhuma ajuda. é centenas de vezes maior Perigosas zoonoses, fazem com que a do que quando foi criaopção de tê-los como pet seja um grande da”, destacou o analista. risco à saúde pública. E, algumas vezes, Alertou também que, “ao risco para o animal também. Graves acicontrário do que se imagidentes envolvendo saguis e o ambiente donava e do que se propuméstico já foram registrados no Projeto nha, a criação legalizada Mucky (www.projetomucky.com.br). Um dos não combate o tráfico. Os piores já registrados foi a queda de um animais mais traficados Apreensão de filhotes de papagaio que foram retirados de ninhos sagui em uma churrasqueira. são justamente os que são na natureza. Eles entram no comércio legalizado sendo anilhados Saguis abandonados podem causar sevecriados pela categoria”. ros impactos ambientais. Saguis-da-serrailegalmente como sendo filhotes de aves criadas em cativeiro Com todas essas irreguescuro (Callithrix aurita), típicos da Mata Altântica, sofrem bastante quando passam a ter que competir com as outras espécies de laridades torna-se evidente a necessisaguis que não fazem parte desse bioma. dade de fiscalização. Porém, os próprios representantes da instituição Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

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Bem-estar animal

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Animais domésticos Mesmo após a criação, pela Covisa, do Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos no Município de São Paulo, os protetores de animais da cidade de São Paulo não cessaram suas atividades. No dia 29 de abril de 2009, em frente ao Centro de Controle de Manifestação “OU MUDA OU FECHA” na frente do CCZ/SP Zoonoses da capital, realizaram a manifestação “OU MUDA OU FECHA” contra a rotina dos procedimentos realizados no local. A inviabilização de todas as alternativas apresentadas por entidades e protetores para aumentar o numero de doações de animais do CCZ era a principal crítica dos protetores. Após a manifestação foram desenvolvidos alguns trabalhos entre ONGs e a coordenadoria do Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos no Município de São Paulo. Teve destaque a realização da I Oficina Desafios do Programa de Proteção e Bem-estar de http://adotenoccz.nafoto.net Cães e Gatos na Cidade de São Paulo. O evento animais do CCZ/SP. ONGs empenhamfoi muito importante pase em inserir atividades com os animais ra o amadurecimento e o conhecimento do CCZ/SP e em divulgar na internet os das necessidades e dos obstáculos a se- que estão aptos a serem adotados. Porem transpostos para que seja possível a rém, isto é apenas o começo. Muito ainaplicação de condutas que prezem o bem- da precisa ser feito. Conscientes disso, estar animal nas práticas do CCZ/SP. no dia 24 de junho de 2009, durante reuO objetivo das ONGs foi alcançado e nião ordinária na Câmara Municipal de a direção do CCZ foi substituída. Desde São Paulo, Carlos Rosolen, da ONG então, destacam-se algumas atividades, Projeto Esperança Animal (PEA), entrecomo, por exemplo, a realização, no gou documento assinado por diversas CCZ/SP, de curso de medicina veteriná- ONGs de proteção animal, solicitando, ria de abrigos e a realização do primeiro ainda em 2009, mudanças imediatas no mutirão de atendimento clínico aos CCZ/SP.

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Arthur Barretto

reconhecem a falta de estrutura do IBAMA em praticá-la. A dra. Rie Kawasaki, procuradora do IBAMA, declarou que a fiscalização precisa ser compartilhada com os municípios. Para isso, destacou a necessidade de lei municipal que contemple as normas de competência para julgamento de auto de infração e demais sanções; existência de formulários próprios de autos de infração e termos de embargo, apreensão etc.; funcionamento de centros de triagem e quarentenas de animais silvestres apreendidos. Na prática, muito ainda precisa ser feito e as entidades que se dedicam à proteção da fauna silvestre não recebem recursos. Lívia Botar, há 24 anos coordenando o Projeto Mucky (www. projetomucky.com.br), também convidada a expôr a problemática da fauna silvestre na Câmara Municipal de São Paulo, cobrou do IBAMA a criação de instrumentos que permitam a destinação de recursos às ONGs. “O IBAMA necessita do nosso trabalho, conta com ele e não recebemos nenhuma ajuda”, desabafou Lívia Botar. Cristina Harumi, médica veterinária, diretora da Associação Mata Ciliar, e Ângela Branco, médica veterinária, coordenadora técnica da ONG Pró-Animal foram outras especialistas que compareceram à Câmara Municipal de São Paulo e que deram importantes contribuições à comissão. Elas se posicionaram terminamente contra o comércio de animais silvestres em face ao aumento dos riscos aos agravos à saúde pública e os impactos que os biomas sofrem nos casos de abandono de animais exóticos e/ou silvestres oriundos de outros biomas. Criadores de animais silvestres presentes nas reuniões ordinárias defenderam a atividade e cobraram a severa fiscalização para coibir o tráfico.


Outra realidade no município de São Paulo é a constatação de atos cruéis contra cães e gatos. Prova disso é a presença de animais cruelmente mutilados nas feiras de adoção de animais especiais que vem sendo realizadas pela ONG SAVA (www.sava.org.br). A ONG tem promovido feiras desses animais no Pet Shop Tancredos Dogs, localizado na Av. Pres. Tancredo Neves, 580, Ipiranga, São Paulo, SP. Além da promoção da adoção durante as feiras a ONG mantém um album de fotos dos animais que precisam da compaixão de pessoas que possam adotá-las.

A próxima reunião da Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo, prevista para 5 de agosto de 2009, abordará a questão do direito à opção por dieta vegetariana. Internacionalmente a questão foi defendida pelo ex-Beatle Paul McCartney, que defende dieta vegetariana para combater mudança climática, propondo a segunda-feira sem carne. Outro exemplo é Ghent, uma charmosa cidade medieval na Belgica, que passou a ser vegetariana todas as quintas-feiras. “Donderdag-Veggie Dag” que significa em português “Quinta O dia Vegetariano”, implica que em todas as quintas todos os restaurantes terão que ter um prato vegetariano no cardápio e as escolas terão refeições sem carne.

Arquivo SAVA

Arquivo SAVA

Arquivo SAVA

Cão que sofreu crueldade, perdeu a visão e que estava para adoção

Alimentação vegetariana

http://feiraadocao.fotos.uol.com.br/album1

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Cartaz da campanha do dia vegetariano em Ghent, Bélgica

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Dicas essenciais para o controle da epilepsia em cães e gatos

Mônica Vicky Bahr Arias

MV, profa. ass. Depto. Clínicas Veterinárias, UEL vicky@uel.br

Essential tips for epilepsy control in dogs and cats Consejos básicos para el control de la epilepsia en perros y gatos Clínica Veterinária, n. 81, p. 26-35, 2009 Resumo: A epilepsia é uma das alterações neurológicas mais frequentes na clínica de pequenos animais. As causas de convulsão no cão e no gato são variadas e o êxito do tratamento das desordens convulsivas se baseia no diagnóstico correto da síndrome neurológica quanto à sua origem idiopática, sintomática ou criptogênica. Aproximadamente 80% dos pacientes epilépticos tratados com anticonvulsivantes ficam livres das crises de forma permanente ou apresentam quadros de menor intensidade e frequência. As causas de

falha terapêutica incluem doença progressiva, orientação inadequada do proprietário, seleção indevida de um anticonvulsivante, intolerância aos efeitos do medicamento e epilepsia resistente ao tratamento. Este artigo aborda a avaliação correta do paciente e os princípios da terapia farmacológica, com ênfase na monoterapia, para reduzir as interações e os efeitos colaterais. Unitermos: sistema nervoso, terapêutica, convulsões

Resumen: La epilepsia es uno de los trastornos neurológicos más frecuentes en la clínica de pequeños animales. Las causas de las convulsiones en el perro y el gato son variadas y el éxito o el fracaso del tratamiento de los desórdenes convulsivos se basa en el correcto diagnóstico del síndrome epiléptico, en cuanto a su naturaleza idiopática, sintomática o criptogenética. Aproximadamente 80% de los pacientes epilépticos tratados con anticonvulsivantes quedan libres de crisis en forma permanente o presentan crisis en menor intensidad o frecuencia. Las causas de fallas terapéuticas incluyen la

presencia de desórdenes subyacentes, deficiente educación al cliente, inapropiada selección del medicamento, intolerancia a los efectos del medicamento y a ataques que no responden al medicamento. En este artículo se revisan la evaluación adecuada del paciente, los principios de la farmacología antiepiléptica, con énfasis en la monoterapia para reducir las posibles interacciones farmacológicas y los efectos secundarios. Palabras clave: sistema nervioso, terapéutica, convulsiones

Abstract: Epilepsy, one of the most common neurological disorders found in small animal practice, is characterized by the recurrence of seizures 1. The causes of convulsions in dogs and cats are varied and successful treatment of convulsive disorders depends on correct diagnosis 2,3,4,5,6. It is important to determine whether a seizure has occurred and to distinguish it from a syncopal episode, narcolepsy/cataplexy or episodic weakness 3,4,5,6. Epilepsy classification is based on its underlying etiology 1,2,3, including idiopathic epilepsy, symptomatic epilepsy, and probable symptomatic epilepsy 1,3,4,7. Seizures may be caused by extracranial and intracranial factors 4,5. Reactive epileptic seizures are not true epilepsy and result from an extracranial disease 7,8. Intracranial causes include neoplasia, infectious/inflammatory diseases, hydrocephalus, trauma, vascular disease, and primary epilepsy; extracranial causes include metabolic problems and toxicity 4,5,7. Seizure activity in young animals suggests congenital anomalies such as hepatic encephalopathy, infectious diseases, traumatic or metabolic disorders 4,6,11. Animals which are older than five years of age are more likely to have infectious diseases, neoplasia, degenerative diseases, trauma, metabolic disorders and acquired epilepsy 4,6,11. Idiopathic epilepsy may occur at any age, but it occurs most frequently in dogs or cats between six months and five years of age 4,6,11. Although idiopathic epilepsy in cats is an important cause of seizures, brain tumors and inflammatory diseases are more likely to cause seizures 4,11. A physical and complete neurological examination is very important in all animals with a seizure disorder 4,5. Animals with idiopathic epilepsy are expected to be neurologically normal during the inter-ictal period whereas animals with seizures from toxic, metabolic, congenital, neoplastic, and inflammatory disorders may have neurological abnormalities between seizures 4,7. A description of an animal's seizures, their frequency and duration, and the animal's behavior between seizures may be helpful in determining the cause of a seizure disorder 9,11. Data on the environment, the nutritional status, immunizations, previous illnesses or injuries, age at onset of seizures, type and frequency of seizures provide important diagnostic information 5,6. A complete blood count, serum chemistry profile, including fasting blood glucose, calcium, BUN, albumin, total protein, cholesterol, triglycerides, urinalysis and radiographs of the thorax or abdomen should all be done for animals that have had one or more seizures 4,5. Cerebral spinal fluid analysis, electroencephalography, neuroradiography, and serum titres for infectious diseases may be helpful in determining etiology 4,5. The decision to start anti-epileptic drug therapy should be based on each individual case 1,4,9,14,15. Use of antiepileptic drugs is indicated when a diagnosis of primary epilepsy is made, or when treatment

of the underlying cause of the seizures in secondary epilepsy does not control seizures 14,15. General recommendations for initiating therapy include a single seizure occurring more than once every 4-6 weeks, cluster seizure activity or status epilepticus regardless of frequency 14,15. The primary goal of therapy is to balance adequate seizure control with acceptable drug adverse effects 4. Monotherapy is the initial goal of treating any seizuring dog or cat in order to reduce possible drug interactions and adverse effects 2,4,8,9. The most common drug used to treat seizures in veterinary medicine is phenobarbital, a relatively inexpensive, well-tolerated drug that can be administered two times per day to prevent seizures in dogs and cats 2,3,14,16,19,20. The appropriate starting dose of phenobarbital for dogs is 2.5 to 5mg/kg orally q12h. It is also the recommended first-line anticonvulsant drug in epileptic cats 2,16,19,20,21. Most cats can be treated with 1-2mg/kg/day 11. Monitoring of serum phenobarbital concentrations is important in the management of epileptic dogs treated with this drug, because seizure control in dogs and cats correlates best with serum phenobarbital concentration, not with the administered dose 2,3,8,9,14,16. The therapeutic range for serum phenobarbital concentration in dogs has been established at 15 to 45 g/mL, although concentrations above 35 g/mL are associated with an increased risk of hepatotoxicity. Dogs treated with phenobarbital should be monitored every 4-12 months with a physical examination, measurement of phenobarbital blood levels and a chemistry panel to check for signs of hepatotoxicity 2,3,11,26,28. Potassium bromide is used most commonly as a second anticonvulsant in dogs refractory to phenobarbital alone, or it can be used alone 13,33,34. As it is not metabolized in the liver, it is an ideal anticonvulsant for patients with liver disease 13,33. It is not recommended in cats due to the high prevalence of adverse respiratory problems 35. Diazepam, a very effective anticonvulsant; must be used primarily in emergency situations 13,37, due to its short duration of action and the fact that dogs develop tolerance to it. In refractory epileptic canine patients, other new antiepileptic drugs can be added to the standard treatment 13,42,43,44. However, pharmacokinetics and efficacy of many of these new drugs are not well known 13,42,43,44. The causes of treatment failure include the presence of progressive disease, inadequate guidance to the owner, inappropriate selection of an anticonvulsant, intolerance to effects of the drug and epilepsy resistant to treatment 4,16. This article discusses the correct assessment of the patient and the principles of pharmacological therapy, with emphasis on monotherapy to reduce interactions and side effects. Keywords: nervous system, therapeutics, seizures

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INTRODUÇÃO A epilepsia é um dos transtornos neurológicos mais frequentes na clínica de pequenos animais. Pode ser definida como uma condição neurológica crônica caracterizada por convulsões epilépticas recidivantes 1. As causas de convulsão no cão e no gato são variadas e o êxito do tratamento das desordens convulsivas se baseia no diagnóstico correto da síndrome neurológica quanto à sua origem idiopática, sintomática ou criptogênica. O clínico de pequenos animais frequentemente enfrenta vários problemas no tratamento da epilepsia em cães e gatos 2, pois, apesar da existência de novos medicamentos, poucos anticonvulsivantes são adequados e eficazes para essas espécies 1. Assim, os objetivos deste trabalho são: abordar a avaliação correta do paciente, as causas de convulsão em cães e gatos, os princípios da terapia farmacológica, com ênfase na monoterapia, apresentar novos fármacos e algumas dicas que podem auxiliar o veterinário no controle adequado da epilepsia. DIAGNÓSTICO CORRETO Para o diagnóstico adequado da epilepsia, é essencial a definição correta dos termos associados 1,3,4,5,6,7,8 (Figura 1). Existem várias doenças que mimetizam uma convulsão 3,4,5,6 (Figura 2) e se elas não forem corretamente identificadas, poderá haver falha no diagnóstico e tratamento de outras condições graves; o animal pode ser medicado com anticonvulsivantes desnecessariamente, ocasionando também tensão emocional e prejuízos financeiros ao proprietário 3. A convulsão é um evento anormal, não específico, paroxístico, geralmente transitório, Termo convulsão

Definição evento súbito, catastrófico, de etiologia extra ou intracraniana, com grande variação na manifestação clínica e intensidade epilepsia condição neurológica crônica caracterizada por convulsões epilépticas recidivantes, de origem intracraniana, indicando atividade neuronal cortical anormal estado atividade convulsiva contínua por mais convulsivo de cinco minutos ou uma sequência ou Status de convulsões recidivantes que epilepticus persistem por mais de 30 minutos sem que o animal recobre a consciência convulsões mais de duas convulsões em um em grupo período de 24 horas, sendo que o ou cluster paciente se recupera antes de novo seizures episódio Figura 1 - Definição dos termos associados à epilepsia 1,3,4,5,6,7,8

tratados da mesma forma, é importante a diferenciação, para que a causa subjacente seja tratada, se possível, e o proprietário seja orientado corretamente sobre a evolução da doença e o prognóstico em algumas raças refratárias ao tratamento 5. A epilepsia criptogênica, também chamada de provavelmente sintomática, é aquela cuja causa acredita-se ser sintomática mas cuja etiologia não pode ser diagnosticada 1,4,7,8. As convulsões reativas são chamadas também de metabólicas ou tóxicas. Não apresentam aura, são decorrentes de causas extracranianas com origem endógena ou Figura 2 - Diferenciais importantes para convulsões em cães exógena e o cérebro retorna ao normal após a retirada da causa 7. Os animais que aprecom manifestação clínica variável, que pode sentam convulsões reativas não devem ser ser decorrente de causas extra e intracra- tratados cronicamente como epilépticos, nianas 5 (Figura 3). A etiologia das convul- pois a causa das convulsões é extracerebral 5. sões recai em quatro categorias 1,3: A anamnese é muito importante para o 1) primária ou idiopática diagnóstico, pois é o proprietário quem na 2) secundária, sintomática ou estrutural maioria das vezes presencia o evento e os da3) criptogênica dos obtidos podem auxiliar no plano diagnós4) convulsão reativa tico e terapêutico 6. É importante obter a desSó as três primeiras categorias podem crição completa do episódio, a idade e a data causar convulsão epiléptica. Na epilepsia do início, a frequência, o padrão, a duração, idiopática (primária, verdadeira ou hereditá- o comportamento do animal entre as crises, ria), que acomete de 0,5 a 5,7% da população o estado vacinal, a exposição a drogas ou canina 1, normalmente não se identifica uma toxinas, o cio, as doenças anteriores, a ocorcausa; o início ocorre entre um e cinco anos rência de trauma craniano recente ou antigo, de idade, e o animal comporta-se de maneira saber se o quadro ocorre durante ou após o normal entre os episódios 3,4,5. Ela acomete sono, o exercício, a alimentação ou em jejum principalmente raças puras como pastor e obter informações sobre os parentes do alemão, são bernardo, collie, setter, labrador, animal 5. Em caso de dúvida, a obtenção de golden retriever, husky, cocker, poodle e um vídeo pode ajudar muito na determinabeagle, e o período interictal é longo (maior ção do caso 1,5,8. do que quatro semanas), sendo provavelOs quatro estágios do evento convulsivo mente de origem neuronal e genética 1,3,4. na veterinária são o pródromo, a aura, o íctus A epilepsia secundária (sintomática, es- e a fase pós-ictal (Figura 4) 1,8,9. O pródromo trutural ou adquirida) é decorrente de lesão em seres humanos refere-se a alterações estrutural, ocasionada por doença intracra- comportamentais e emocionais que não são niana progressiva ou não, acomete cães e consideradas parte da convulsão, enquanto gatos de qualquer raça ou idade e frequente- que a aura é parte da convulsão que ocorre mente apresenta lesões multifocais 4,5,7. Ela antes da perda da consciência e pode indicar pode ser ativa, devido a encefalite, hidroce- uma convulsão focal 8. Pode ser útil identifalia ou tumores, ou então inativa, decorren- ficar esses estágios quando o proprietário te de sequela de trauma craniano, hipóxia ou descreve o episódio, para que outras ativiencefalite 3,4. Embora estes dois tipos sejam dades episódicas possam ser reconhecidas. É importante lembrar Extracerebral ou reativa Cerebral que o exame neuroprimária ou secundária ou endógena exógena lógico só é confiável idiopática lesão estrutural hipoglicemia intoxicações: epilepsia encefalites infecciosas quando realizado no encefalopatia hepática organofosforado verdadeira e inflamatórias período interictal, ou encefalopatia urêmica carbamato hidrocefalia seja, no mínimo dois hiperlipidemia plantas neoplasias dias após o quadro policitemia clorados trauma craniano convulsivo 4. alterações eletrolíticas chumbo más-formações Deve ser possível hipóxia micotoxinas alterações vasculares hiperosmolar deficiência de tiamina ainda classificar a hipocalcemia doença lisossomal convulsão de acordo Figura 3 - Diagnóstico diferencial de convulsões com o tipo de ataque Ataques não epilépticos Síncopes Fraqueza episódica - Hipoglicemia - Addison - Miastenia, crise miastênica Narcolepsia/cataplexia Tremores Dor - Subluxação atlantoaxial - Compressão de raiz nervosa na doença de disco cervical Comportamento Síndromes vestibulares agudas 3,4,5,6

4,5

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Pródromo - alterações comportamentais que ocorrem horas ou dias antes da convulsão - ansiedade, esconder-se, seguir o proprietário Aura - manifestação inicial - minutos ou horas antes da convulsão - comportamentos sensorial ou psicossensorial, precisar de mais ou menos atenção do dono - andar compulsivo - salivar, urinar, vomitar, latir muito Período ictal - convulsão propriamente dita - alteração do tônus ou presença de movimentos involuntários - perda da consciência - sialorreia, micção Pós-ictal - imediatamente após a convulsão - animal apresenta desorientação, polifagia e polidipsia, micção, defecação - fraqueza, cegueira Figura 4 - Estágios da convulsão 1,4,8,9

convulsivo 1,4,5. A terminologia para a classificação das convulsões é complexa e inconsistente na literatura tanto em medicina humana como na medicina veterinária 1,8,9. A classificação na medicina veterinária foi realizada de acordo com as manifestações clínicas, a perda da consciência e as alterações observadas na eletroencefalografia, entre outras 4,8, mas, com o uso de métodos modernos de imagem, alguns conceitos estão sendo revistos 1,9,10, apesar de não serem abordados nesta revisão. Assim, a convulsão pode ser 5,9: 1) Generalizada: é originada de ambos os hemisférios cerebrais, causando sinais simétricos. A aura normalmente está ausente, o animal apresenta inconsciência, com movimentos tônicos ou clônicos, midríase, tremores, além de sinais autonômicos (micção e defecação). Pode ser decorrente de distúrbios extracerebrais, devido a causas metabólicas, intoxicação ou alterações intracranianas (epilepsia verdadeira ou progressão da convulsão focal) 9. 2) Focalizada (parcial): decorrente de alteração estrutural no córtex cerebral 9. A natureza focalizada deste tipo de convulsão está associada com maior incidência de alteração focal intracraniana 9. Ela pode ser simples ou psicomotora; o animal apresenta aura, e podem-se observar movimentos na face associados a atividade motora uni ou contralateral. As manifestações desse tipo são extremamente variáveis, de acordo com a área do córtex cerebral comprometida 1,4,5: a) área motora (córtex cerebral do lobo frontal): o animal apresenta movimentos de mastigação, pedalagem, contração unilateral da 28

face ou dos membros; b) área occipitotemporal: alucinações; c) área parietal: lamber ou morder parte do corpo; d) área temporal, piriforme ou límbica: sonolência, agressão, gritos, latidos, sialorreia; e) áreas límbica e hipotalâmica: micção, defecação, salivação, midríase, vômito, diarreia. Os cães usualmente apresentam contrações da musculatura da face, agitação, agressividade e comportamentos estranhos, como “caçar moscas”, entre outros 9. Já os felinos demonstram uma variedade de comportamentos anormais, como pulos, vocalização excessiva, corridas pela casa 9, ou sinais discretos, como contração e dilatação das pupilas 11 e movimentos dos bigodes. Sempre que o clínico detecta uma convulsão focal, deve suspeitar de lesão cerebral focalizada, escolhendo os testes diagnósticos de acordo 9. 3) Focalizada (simples ou complexa) com generalização secundária: animais com convulsão focal podem apresentar generalização secundária 9. A generalização pode ser tão rápida que a fase parcial dura apenas alguns segundos e pode passar despercebida. Atualmente acredita-se que a aura da convulsão generalizada possa na realidade ser um foco 1. Alguns autores sugerem que a forma focal com generalização secundária seja mais comum do que a generalizada primária, o que pode indicar uma afecção cerebral subjacente 1,8,10,12. É importante tentar relacionar a causa (Figuras 5 e 6) à idade de início das convulsões, o que auxilia o veterinário na listagem das causas mais prováveis, na formação do plano diagnóstico e na escolha dos exames complementares 4,5,6. Assim, ao lidar com cães de raças predispostas, apresentando quadro convulsivo com início entre um e cinco anos de idade, durante o período de repouso, normais no exame neurológico realizado durante o período interictal, deve-se pensar inicialmente em epilepsia idiopática 5. A epilepsia secundária em cães jovens pode

ser decorrente de más-formações ou encefalites, enquanto que os cães mais velhos são mais propensos a neoplasias intracranianas 9. Em gatos a epilepsia secundária é mais comum do que a epilepsia verdadeira 9,11. A realização de exames clínico e neurológico minuciosos é fundamental para a escolha dos exames complementares adequados (hemograma, urinálise, coproparasitológico, enzimas hepáticas, ureia, creatinina, glicemia, calcemia, proteína total, albumina, colesterol, análise e cultura de líquor, sorologias, PCR, radiografias torácicas, ultrassom abdominal, eletroencefalografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, quando disponíveis) 4,5.

INÍCIO PRECOCE DO TRATAMENTO A epilepsia está frequentemente associada com alterações na inibição e excitação neuronal, assim o uso de antiepilépticos visa o reequilíbrio desses mecanismos 1. O tratamento antiepiléptico obviamente só deve ser realizado nos pacientes com convulsões decorrentes de epilepsia verdadeira, secundária e criptogênica 4. Se possível, a epilepsia secundária ou estrutural deve ter a causa desencadeante tratada 4,13,14, por exemplo, com o uso de antimicrobianos em caso de doenças infecciosas e cirurgia no caso de neoplasias 5. Quanto antes for iniciado o tratamento, melhor o resultado 3,9. Alguns autores preconizam protelar o início da terapia até que a frequência da ocorrência de convulsões seja estabelecida 5, porém os cães tratados precocemente apresentaram um controle mais efetivo a longo prazo quando comparados com cães que tiveram muitas convulsões antes do início do tratamento 3,9, já que cada convulsão pode favorecer a ocorrência de novas convulsões ou o desenvolvimento de um foco adicional 6,15. A decisão deve ser baseada na etiologia, no tipo de convulsão, na sua frequência 3,9 e na expectativa do proprietário 2,6,13. Quando não é possível encontrar uma < 6 meses (1 ano) 6 meses (1 ano) a 5 anos > 5 anos etiologia, o trataMais tóxica epilepsia idiopática neoplasia mento pode ser provável encefalite infecciosa vascular iniciado com bahidrocefalia metabólica se no relato do metabólica infecciosa hipoglicemia proprietário, pois encefalopatia hepática muitas vezes o paciente se enMenos idiopática hidrocefalia idiopática contra normal duprovável encefalite hidrocefalia rante o exame clíneoplasia trauma nico, mas pode metabólica intoxicação vir a convulsionar no futuro 3,9. Figura 5 - Frequência das doenças de acordo com a idade

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4,6


Categoria da doença Degenerativa Má-formação Metabólica

Neoplásica

Nutricional Infecciosa

Inflamatória

Idiopática Traumática Tóxica Vascular

< 6 meses (1 ano) doenças do armazenamento hidrocefalia, lisencefalia encefalopatia hepática desvio portossistêmico hipoglicemia

6 meses (1 ano) a 5 anos > 5 anos hidrocefalia encefalopatia hepática encefalopatia hepática desvio portossistêmico doença hepática severa doença hepática severa hipoglicemia hipoglicemia hipocalcemia hipocalcemia hiperlipidemia hiperlipidemia hipercalemia hipercalemia uremia uremia hipotireoidismo hipotireoidismo neoplasias primárias neoplasias metastáticas invasão local deficiência de tiamina viral: cinomose, peritonite infecciosa felina, raiva bacteriana: hematógeno, invasão direta (otite, sinusite, mordidas) fúngica: criptococose, aspergilose por protozoário: toxoplasmose, neosporose por riquétsias: ehrlichiose migração parasitária por príon: encefalopatia espongiforme felina meninogoencefalite meninogoencefalite granulomatosa granulomatosa encefalite necrotizante encefalite necrotizante epilepsia idiopática epilepsia adquirida trauma craniano organofosforados, carbamatos, plantas, estricnina, chumbo, teobromina hemorragia intracraniana, infarto cerebral em gatos

Figura 6 - Causas de convulsão em cães e gatos de acordo com a idade 4,5,6,11

O tratamento deve ser iniciado se houver qualquer das circunstâncias a seguir 2,4,5,14,15: - o animal apresentou status epilepticus ou estado convulsivo 13; - o paciente apresentou mais de três convulsões generalizadas em 24 horas, ou apresentou dois ou mais clusters em um ano 13; - já é a segunda vez que o paciente apresenta convulsão, com intervalo menor do que seis a oito semanas entre os episódios, ou apresentou dois ou mais eventos isolados em seis meses; - o paciente tem entre um e cinco anos de idade, é de raça predisposta, e os exames clínico, neurológico e laboratoriais estão normais; - as convulsões iniciaram-se uma semana após a ocorrência de trauma craniano; - o paciente apresentou um episódio que durou mais de cinco minutos; - convulsão decorrente de lesão estrutural presente. ESCLARECIMENTO AO PROPRIETÁRIO O proprietário decidirá quanto à realização do tratamento a partir das orientações fornecidas pelo veterinário 5. Inicialmente, o proprietário deve ser informado de que

raramente há cura da epilepsia, somente controle 5,13. Acima de tudo, o proprietário deve ser esclarecido de que o objetivo ideal seria interromper totalmente a ocorrência de convulsões, porém, na realidade, conseguese diminuir a frequência, a intensidade e a duração dos episódios 4. São aspectos importantes 1,3,5,9,13: - o controle da convulsão versus a qualidade de vida (capacidade de limitar a severidade, frequência e duração), incluindo os efeitos colaterais do fármaco escolhido; - a maneira correta de administrar os medicamentos (não misturar com alimento, pois o animal pode não ingerir toda a quantidade; caso o paciente apresente êmese, deve receber a medicação por outra via); - para que a concentração terapêutica seja alcançada, é necessário aguardar algumas semanas de tratamento, o que depende da meia-vida do fármaco escolhido, e nesse ínterim o animal pode apresentar novos episódios; - constância na administração do medicamento. A medicação deve ser administrada em horários fixos, sem exceção. Nunca deve ser feita a retirada abrupta da medicação, que pode resultar em convulsão ou status epilepticus;

- escolha do fármaco de acordo com a disponibilidade do proprietário em administrar a medicação (uma, duas ou três vezes ao dia); - o custo do tratamento, incluindo o medicamento e os exames laboratoriais necessários para acompanhar o resultado do tratamento; - a necessidade de retornos para reajustes das doses e reavaliações do paciente; - indica-se a castração das fêmeas, pois as convulsões podem aumentar em frequência ou intensidade durante o estro. Em machos indica-se também a castração, pois o estresse ou a excitação também favorecem os episódios em alguns cães 16; - manutenção de um calendário com informações sobre os episódios apresentados pelo paciente, como datas de ocorrência dos episódios, duração, tipo e efeitos colaterais observados, fatores desencadeantes e alterações nas dosagens 3,9. ANTICONVULSIVANTES NÃO INDICADOS A busca pelo anticonvulsivante ideal iniciou-se há mais de 2000 anos 17 e, apesar da existência de inúmeros anticonvulsivantes na medicina humana, existem limitações de seu uso em veterinária, devido à ocorrência de toxicidade, tolerância, farmacocinética inapropriada e também ao custo elevado de muitos deles 1,3,9,13,14,15. Assim, os seguintes anticonvulsivantes não são recomendados: Primidona: é metabolizada no fígado em ácido feniletilmalônico e fenobarbital (FB), assim seu composto original e seus metabólitos têm propriedades antiepilépticas. O FB contribui com 85% da atividade anticonvulsiva, havendo maior risco de efeitos tóxicos, cirrose e colestase, sendo relatada eficácia de somente 46% com seu uso 6,14,15. Embora haja relatos de que seja segura em gatos, quando usada em doses elevadas para atingir a concentração sérica mais alta de FB, pode causar taquicardia, hiperventilação, anorexia e hepatotoxicidade 6,14,15. Difenil-hidantoína e hidantoína: sua eficácia não é comprovada, apesar de uso aprovado em cães nos EUA 14,15. A meia-vida no cão é de três a quatro horas e a metabolização não é constante, não mantendo a concentração sérica 14,15,19. Para que a concentração ideal seja mantida, deve ser administrada de seis a oito vezes ao dia, porém há relatos de hepatite, icterícia e óbito após seu uso em cães 14,15. A hepatotoxicidade tem maior probabilidade de ocorrência se usada em combinação com a primidona ou fenobarbital. Outros efeitos colaterais são moderados devido à sua rápida metabolização, mas podem ocorrer incoordenação, sedação, polifagia,

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polidipsia e poliúria. Em felinos a meia-vida é muito longa (41,5 horas), podendo acumular-se em níveis tóxicos 4,11, sendo descritos ainda sialorreia, perda de peso e vômito 15. Ácido valproico e carbamazepina: também não são indicados, pois nos cães há grande dificuldade em atingir concentração sérica terapêutica 14,15. O ácido valproico tem eficácia discutível, causando hepatotoxicidade se associado a outros medicamentos antiepilépticos, sedação e ataxia 15. Caso o paciente esteja recebendo qualquer um destes fármacos ou outro não recomendado, o veterinário deve iniciar o anticonvulsivante correto e cessar a terapia do medicamento inadequado gradativamente, devido ao risco de convulsão ou de status epilepticus provocado pela interrupção abrupta 4. USO DO ANTICONVULSIVANTE APROPRIADO E VANTAGENS DA MONOTERAPIA Inicialmente, a monoterapia é preferível à terapia combinada e os medicamentos indicados devem ser usados de forma ótima 4. O uso de um fármaco de maneira que seus efeitos sejam maximizados reduz a ocorrência de efeitos colaterais, evita interação inadequada com outras drogas, facilita a colaboração do proprietário e diminui os custos do tratamento 2,9. Nos últimos cinquenta anos, as informações sobre os mecanismos básicos da epilepsia e a farmacologia das medicações antiepilépticas permitiram o desenvolvimento de novos fármacos 17. Mesmo assim, os anticonvulsivantes mais indicados para uso em cães no início do tratamento ainda são o fenobarbital 16,18 e o brometo de potássio 2,4,5,9,19,20 , enquanto que nos gatos os mais indicados são o fenobarbital e o diazepam 5,11. Fenobarbital O fenobarbital (FB) ainda é o anticonvulsivante mais utilizado no controle da epilepsia em cães e gatos, devido às suas várias formas de apresentação (comprimidos, gotas, injetável), a custo baixo e com eficácia em torno de 60 a 80% 13,14,15,16,19,21. Solúvel em lipídios, é um ácido fraco, penetrando facilmente no encéfalo 15. Atua pelo aumento do limiar convulsivo e inibição da difusão das convulsões para outras áreas encefálicas, potencializando a ação dos neurônios inibitórios e diminuindo a resposta aos neurotransmissores excitatórios 15,16. A meia-vida no cão é de 30 a 70 horas e no gato, de 34 a 83 horas 5, levando então de duas a quatro semanas para ocorrer estabilização sérica 15,16,21,22. 30

A concentração sérica eficaz em cães é de 15-45µg/mL (ideal: 20-30µg/mL) 1,2,3,9,15,16 e nos gatos, de 10-30µg/mL 5,11. Em cães tratados com brometo de potássio e fenobarbital, a concentração sérica ideal está entre 9 e 36µg/mL 1,23. Os efeitos colaterais mais vistos são sedação, polifagia, polidipsia e poliúria 1,5,15,16. Raramente ocorrem neutropenia, pancitopenia 13,14 e reações cutâneas 24. Pode ocorrer hiperatividade paradoxal caso seja administrada uma subdose 5,14, que pode ser corrigida aumentando-se a dosagem 25. Quando utilizado em doses altas, dificilmente ocorre indução de hepatotoxicidade 12,15,23,26,27, que aparentemente só se dá se a concentração sérica for mantida acima de 35µg/mL por longos períodos 26. O fenobarbital causa um aumento inespecífico de fosfatase alcalina, de alanina aminotransferase e de glutamato desidrogenase em 50% dos pacientes 26. Esse aumento não está associado a lesões estruturais hepáticas 18,26,28. Relata-se lesão hepática grave em decorrência da terapia crônica em 6% a 14,6% dos cães 23. Nesses casos, além do aumento das enzimas, observa-se diminuição da albumina, da ureia e do colesterol. Perante essas alterações, devem-se realizar também testes de função hepática, como, por exemplo, ácidos biliares séricos 14,15. A incidência de toxicidade hepática é reduzida evitando-se o uso concomitante de fármacos metabolizadas pelo fígado e monitorando-se o paciente a cada quatro a seis meses 14,15. A dose varia de acordo com a espécie. Em cães recomenda-se iniciar com 2,5 a 3mg/kg a cada doze horas, para posteriormente realizar o ajuste de acordo com o resultado da concentração sérica 2,3,14,16. Em gatos, a dose pode variar de 1 a 5mg/kg a cada doze horas 5. Caso não haja controle adequado das convulsões, deve-se aumentar a dose gradativamente. Lembrar, porém, que após cada aumento de dose são necessários pelo menos de dez a quinze dias para que se obtenha o nível sérico e o efeito desejado 16. Em filhotes com menos de três meses, vários fatores interferem na farmacocinética do fenobarbital, como menor concentração de albumina plasmática, maior quantidade de água corporal e imaturidade dos mecanismos de metabolismo hepático, o que dificulta a definição da dose ideal 29,30. Assim, em pacientes jovens os níveis séricos de fenobarbital devem ser monitorados regularmente, e a dose reajustada de acordo com o crescimento do paciente 30. Essas variações individuais na biodisponibilidade e na metabolização do fármaco enfatizam a necessidade de se monitorar a sua concentração sérica 3,14,25,31,32,

para não se incorrer no erro de afirmar que houve falha terapêutica do medicamento 1. Brometo de potássio O brometo de potássio (KBr), o mais antigo dos anticonvulsivantes modernos 33, atua pela hiperpolarização dos neurônios através da entrada do brometo nos canais de cloro, e parece também aumentar a ação do Gaba 1. Para alguns autores tornou-se o fármaco de primeira escolha no controle da epilepsia canina, pois não é hepatotóxico e seus efeitos adversos são reversíveis com a interrupção do tratamento 2,19. Sua excreção é renal, havendo relatos de eficácia de até 80% com seu uso isolado e de 95 % quando associado ao fenobarbital 2,19. É indicado como monoterapia, para pacientes caninos refratários ao FB ou ainda para pacientes hepatopatas, visto não sofrer metabolização hepática 13,33. Deve ser preparado em farmácia de manipulação na concentração de 250mg/mL em água destilada e mantido em geladeira, embora possa cristalizar 15. Essa formulação é indicada para o início do tratamento, enquanto que se pode usar cápsulas de gelatina no tratamento de manutenção 3,4,15. A dose para cães em monoterapia varia entre 20 e 60mg/kg/dia 4,6,15. Caso o cão já receba fenobarbital, indica-se uma dose de brometo inicial de 20 a 30mg/kg/dia, dividida em duas doses e administrada com o alimento 3. Sua meia-vida é de 15 a 24 dias, assim a estabilização sérica pode demorar de 100 a 200 dias 1,14,15, o que pode ser um problema em cães que apresentam muitas convulsões no início do tratamento. Para diminuir o tempo de estabilização sérica, pode-se utilizar uma dose de ataque de 400 a 600mg/kg administrada em um dia, porém dividida em quatro vezes 19. Como essa dose pode causar vômito 2 devido à sua hiperosmolaridade, a dose calculada pode ser dividida em cinco a quinze dias, administrando-se 40mg/kg da dose normal somada à dose de ataque de 40mg/kg, o que equivale a 80mg/kg/dia por quinze dias 13,14,15. A concentração sérica terapêutica para cães em monoterapia é de 2 a 3mg/mL. Já para cães que recebem fenobarbital recomenda-se concentração entre 1,5 e 2,5mg/mL 3,19, pois há maior ocorrência de sinais de toxicidade do brometo na terapia combinada 19. Em caso de intoxicação, cujos sinais são sedação e incoordenação, pode ser administrado NaCl a 0,9% pela via intravenosa, o que favorece a eliminação do fármaco 13. Um aspecto muito importante do uso do KBr é que a comida fornecida aos cães que recebem este fármaco deve ser idealmente sem sal, ou

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então não deve haver variações na quantidade de sal 1,2,4, pois o cloreto da dieta compete com o brometo na excreção renal, o que leva à eliminação do brometo e à reabsorção seletiva de cloreto pelos rins, levando à elimição do brometo e à diminuição da sua eficácia 15. Como efeitos colaterais, podem ocorrer polifagia, sedação, ataxia ou rigidez de membros posteriores, reações cutâneas, vômito, poliúria e polidipsia 1,19. Todos esses efeitos são reversíveis com a interrupção do uso 19, porém existem alguns relatos de pancreatite quando associado ao fenobarbital 34. Não é recomendado o seu uso em gatos, pois apesar de controlar convulsões em uma porcentagem razoável de animais, pode causar doença severa do trato respiratório inferior e até óbito 35.

o proprietário sobre a administração do diazepam pela via retal. Essa conduta diminui a morbidade e o custo, e contribui positivamente para o tratamento dos pacientes 3,37. O proprietário deve ter as ampolas disponíveis para aplicação pela via retal, ao identificar sinais de aura ou pródromo 3. Seu efeito dura trinta minutos; assim, é importante fornecer ao proprietário a medicação para mais de uma aplicação, já que pode ser necessário repetir sua administração, até o máximo de três vezes em 24 horas 3. A dose indicada pela via retal em animais tratados com FB é de 2mg/kg, enquanto que em cães não medicados é de 0,5mg/kg 3. O diazepam não deve ser armazenado em seringas de plástico, que adsorvem o princípio ativo 3.

Diazepam O diazepam é um fármaco que aumenta o efeito inibitório do Gaba 15,36. A meia-vida no cão é de 3,2 horas, o que indica que para manter a concentração sérica ele deveria ser administrado de seis a oito vezes ao dia por via parenteral ou intrarretal 4,15. O diazepam penetra rapidamente (um a dois minutos) a barreira hematoencefálica e atinge seu pico quinze minutos após a administração, mantendo a concentração por até uma hora, sendo então indicado para tratar o status epilepticus 15. Não deve ser usado para tratar a epilepsia em cães, pois estes desenvolvem tolerância após uma a duas semanas de uso contínuo 15,36. Parece ser um antiepiléptico efetivo em gatos, pois estes, ao contrário dos cães, não desenvolvem tolerância a ele 11. A meia-vida em gatos é de quinze a vinte horas, e a dose recomendada é 0,25 a 0,5mg/kg, por via oral, a cada oito ou doze horas 11. A concentração sérica recomendada é de 200-500ng/mL 19. Entretanto, diagnosticou-se necrose hepática fulminante em alguns animais entre cinco e onze dias após o início da administração do diazepam 11,19. Recomenda-se a realização de exames laboratoriais antes do início do tratamento e após três a cinco dias 19. Deve-se interromper a administração do fármaco em caso de vômito, letargia ou diminuição do apetite 11.

MONITORAÇÃO DO TRATAMENTO CONCENTRAÇÃO SÉRICA O controle da atividade convulsiva e a toxicidade de um anticonvulsivante não são AJUSTES DAS DOSES determinados pela dose fornecida, mas sim Os ajustes da dose são realizados para aupela medição de sua concentração sérica 4,14. mentar o efeito do fármaco ou para reduzir os Esse exame é o método ideal para assegurar efeitos adversos 3. Caso o nível sérico de feo controle adequado das convulsões, detectar nobarbital esteja abaixo dos valores recosubdoses e diminuir a ocorrência de toxici- mendados e o animal continue a apresentar dade, sendo o substituto ideal para o critério convulsões, é necessário ajustar a dose, que clínico 25,27. Cada paciente apresenta uma res- pode ser estimada através da seguinte fórposta individual aos fármacos, assim, deve- mula 3,16 : se saber se a concentração sérica está adequada, principalmente no pico inferior, pois Nova dose = dose atual x concentração sérica desejada concentração sérica medida há maior suscetibilidade para ocorrer con3 No caso do brometo de potássio, o ajuste vulsão nesse momento . O conhecimento da concentração sérica é feito da seguinte maneira: realiza-se o aude cada paciente permite ainda que a dose mento proporcional da dose ou administraseja modificada antes que ocorram falhas ou se uma minidose de ataque (250mg/kg) que reações adversas 3,15. Dessa forma, é possível fornece um aumento de 0,5mg/mL 15. Assim, atingir a concentração sérica ideal com a em um paciente que apresenta convulsão e menor dose possível 16. Essa conduta evita o concentração de KBr = 1, deve-se dar 150uso precoce ou desnecessário de outra medi- 300mg/kg e aumentar a dose de manutenção em 25 a 50% até que a concentração atinja cação e previne efeitos tóxicos 15,16. A concentração sérica do fenobarbital só 1,5 a 1,75mg/mL, reavaliando-se o paciente pode ser medida após a obtenção de níveis periodicamente. Lembrar que a concentraséricos estáveis, aproximadamente 14 a 28 ção sérica é um guia e cada paciente deve ser dias após o início do tratamento ou da altera- individualmente manejado 15. Após cada ajuste na dose, o paciente ção da dose 3,4,15,16,21 (Figura 5). Já a concentração do brometo pode ser medida quatro semanas após o início da Fenobarbital Brometo administração, mesmo que não duas a quatro semanas após início após quatro semanas tenha sido feita a dose de ataque, do tratamento ou mudança na dose do início pois nesse momento a concentra- aos 45, 90, 180 dias do tratamento após três ção será a metade da concentração a cada 4-6 meses a quatro final, e assim a dose pode ser mo- administração de outros medicamentos meses dificada antes que ocorram falhas concomitantemente imediatamente após convulsão 15 ou reações adversas . Aos 120 sinais de intoxicação dias deve ser realizada nova mendoenças sistêmicas que levem a vômito/diarreia suração de níveis plasmáticos suspeita de não administração do medicamento pelo proprietário para definir a dose de manunten- Figura 7 - Indicações para dosagem da concentração sérição 3,15 (Figura 7). ca do fenobarbital e do brometo

TEMPO PARA O FÁRMACO ATUAR Sabendo-se que o fenobarbital pode demorar de duas a três semanas para atingir a concentração sérica, e o brometo de potássio até três meses, tanto o veterinário quanto o proprietário devem aguardar esse tempo antes de alterar a dosagem ou o fármaco utilizado 4. Como o paciente pode apresentar convulsões nesse período, é importante orientar 32

Para a dosagem sérica do fenobarbital e descrição da variação da sua concentração sérica deveriam ser coletadas seis amostras em um período de 24 horas 16. Clinicamente, porém, essa avaliação pode ser feita com uma amostra de soro coletada imediatamente antes da administração da segunda dose (oito a doze horas após a primeira dose), quando a concentração cai ao seu nível mínimo 15,16,21,22. Uma segunda amostra pode ser coletada duas a quatro horas após a administração do fenobarbital caso haja suspeita de intoxicação 21. Para a dosagem do brometo, a amostra de soro pode ser coletada duas a doze horas após a administração do fármaco 15. É importante lembrar que se um cão tratado com fenobarbital apresentar convulsão, deve-se proceder à coleta de sangue, pois provavelmente nesse momento o nível sérico está baixo 15 (Figura 7).

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ainda pode apresentar convulsões, porque a concentração sérica terapêutica pode não ter sido atingida; assim, deve-se lembrar do intervalo para atingir a concentração terapêutica de cada fármaco antes de mudar o anticonvulsivante. Durante esse período, o proprietário deve ser novamente orientado a realizar a aplicação de diazepam retal em casa, se for necessário 3,9. CONTROLE RIGOROSO DO PACIENTE Nos retornos agendados, deve-se conferir o registro realizado pelo proprietário, o que auxilia a determinar a eficácia do tratamento 11. Se as convulsões estão menos frequentes ou intensas, o anticonvulsivante está funcionando 11. Nesses retornos, a cada três a seis meses, deve-se medir a concentração sérica e realizar exame clínico completo, além dos seguintes exames laboratoriais: hemograma, albumina, FA, ALT, ureia, creatinina, colesterol, glicemia e bilirrubina 18,26,28. Nos casos em que ocorre lesão hepática, além do aumento das enzimas, observa-se diminuição da albumina, da ureia e do colesterol. Em caso de dúvida, orientar-se pelos sinais clínicos e realizar ultrassom hepático e biópsia e/ou dosagem de ácidos biliares 4,18,26,28. CUIDADOS COM INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS A interação entre diferentes anticonvulsivantes, bem como entre anticonvulsivantes e outros fármacos, pode levar à diminuição da concentração sérica dos anticonvulsivantes e à perda da sua ação, ou ao aumento da concentração sérica e a sinais de intoxicação. Ocorre interação entre anticonvulsivantes e antibióticos, antiácidos e corticoides, entre outros fármacos. O fenobarbital acelera o metabolismo da digoxina, dos corticoides e da doxiciclina 11,23. Já a cimetidina, o cetoconazol e o cloranfenicol diminuem a taxa de Causas • dose, frequência ou modo de administração inadequados • concentração sérica subterapêutica • desenvolvimento de tolerância ao fármaco • falha diagnóstica ou doença progressiva • interação com outros fármacos ou uso de fármacos epileptogênicos • epilepsia refratária • estro, estresse ou excitação • doenças sistêmicas (vômito, diarreia, insuficiência hepática ou renal, dependendo do anticonvulsivante administrado) Figura 8 - Causas de falha no controle da epilepsia

metabolização do FB, podendo ocasionar acúmulo do fármaco e toxicidade 25. Ao realizar anestesias e tranquilizações, deve-se evitar os fenotiazínicos, a quetamina e a tiletamina, que diminuem o limiar para a ocorrência de convulsões 4. Se o paciente apresentar sinais como vômito e diarreia, deve-se lembrar que as concentrações do medicamento podem declinar rapidamente 4. Em muitos pacientes, as situações de estresse também podem predispor à ocorrência de convulsões 4. TROCA DE MEDICAÇÃO OU COMBINAÇÕES DE FÁRMACO Somente quando as convulsões não podem ser controladas de forma aceitável com o anticonvulsivante de primeira escolha é que um segundo fármaco deve ser adicionado 4. Para concluir que o primeiro anticonvulsivante não está sendo eficaz, o nível sérico terapêutico máximo deve ter sido comprovadamente mensurado na vigência da persistência das convulsões 4,14,15,27,36. No caso do FB, se o paciente apresentar controle inadequado das convulsões com níveis séricos maiores do que 35µg/mL, efeitos adversos que reduzam a qualidade de vida ou sinais de toxicidade não relacionados com indução enzimática, deve-se trocar a medicação 3. Antes dessa mudança, outras causas de falha no tratamento devem ser descartadas 4,16 (Figura 8). Se a necessidade de uma terceira medicação for comprovada, é importante ressaltar que a terapia anterior deve ser retirada de forma gradativa, se for o caso, devido ao risco de status epilépticus 4.

intracraniana, isquemia, morte de neurônios, hipoglicemia ou hiperglicemia, hipertermia, acidose metabólica, arritmias cardíacas, edema pulmonar neurogênico, mioglobinúria, insuficência renal aguda e morte 38,39. As causas para que isso aconteça devem ser definidas e dependem do diagnóstico prévio ou não de epilepsia 38,39 (Figura 9). Recentemente foi proposto que os animais que apresentam status epilepticus prolongado entram em colapso circulatório e hipoperfusão de órgãos e podem apresentar lesões orgânicas irreversíveis, devendo ser tratados como emergência, com os mesmos cuidados que pacientes politraumatizados, com atenção especial à manutenção das vias aéreas, à oxigenação e ao suporte circulatório 37,39. Os objetivos do tratamento do paciente em status epilepticus são: interromper as convulsões, proteger o cérebro e permitir a recuperação total do paciente 34,36. Assim, devemse realizar os seguintes procedimentos 37,39: 1) Restaurar a homeostasia - manter via aérea patente e administrar oxigênio; - venóclise para administração de fluidos (salina isotônica) na velocidade de 10mL/kg/hora: coletar sangue para dosar a glicemia imediatamente e amostras para a realização de hemograma e bioquímicos. Caso o animal já esteja em tratamento, separar uma amostra para dosagem sérica do anticonvulsivante; - regular a temperatura corporal, que não deve ultrapassar 40ºC. Aplicar panos frios, se necessário; - a administração de tiamina na dose de 25 a 50mg pela via intramuscular é importante, pois essa vitamina atua como coenzima essencial para a utilização de glicose pelo encéfalo 37,39,40; - caso o animal esteja comprovadamente hipoglicêmico, aplicar 1 a 2mL/kg de glicose a 25%, lentamente. Se o animal apresentar hiperglicemia prévia, pode ocorrer acidose láctica e necrose neuronal se glicose adicional for administrada, pelo mecanismo de redução da fosforilação oxidativa no encéfalo; - sugere-se que, enquanto o veterinário realiza o atendimento emergencial, o proprietário ou um auxiliar realize a compressão do globo ocular cuidadosamente, por 60 segundos, para estimular o nervo vago, o que

SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA Eventualmente, pacientes que estavam bem controlados podem ser trazidos para atendimento devido à ocorrência de convulsões, assim como animais sem histórico de epilepsia 3. São consideradas situações preocupantes as seguintes condições 3: - status epilepticus; - animais que apresentem uma convulsão por hora, por três horas consecutivas; - animais que apresentem mais de três convulsões em um período de 24 horas; - animais que apresentem mais de dez convulsões parciais simples em 24 horas; - animais que não retornem à consciência trinta minutos após a convulsão. Sem história prévia de convulsão Com história prévia de convulsão Lembrar que o sta- intoxicação interrupção súbita de um anticonvulsivante tus epilepticus pode doença metabólica doença progressiva: neoplasia, hidrocefalia, causar vasodilatação encefalite encefalite crônica e edema cerebral, trauma craniano aumento da pressão Figura 9 - Causas de status epilepticus

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parece ter efeito antiepiléptico e poderia ser benéfico como uma complementação do tratamento 1,41. 2) Terapia específica - aplicar diazepam na dose de 0,5-1mg/kg, IV, a cada quinze a trinta minutos (a dose máxima para cada aplicação em cães com mais de 25kg é de 20mg), no máximo três aplicações; - aplicar fenobarbital na dose de 3mg/kg (IM), simultaneamente à aplicação de diazepam. Lembrar que o fenobarbital demora de quinze a vinte minutos para atuar, e o diazepam, de um a dois minutos, e que os níveis séricos de diazepam declinam rapidamente em cães, mas o fenobarbital se mantém. Em animais com suspeita de epilepsia e que não estavam sendo tratados, iniciar a administração de fenobarbital em doses fracionadas de 3mg/kg, pela via intramuscular a cada hora, até que uma dose total de 15mg/kg tenha sido administrada; - após o controle do status epilepticus e o término desse protocolo, administrar fenobarbital pela via intramuscular a cada doze horas, na dose de 2-4mg/kg, até que o paciente esteja apto a receber a medicação pela via oral. É preferível a administração intramuscular de fenobarbital, pois a intravenosa, especialmente após a administração de

diazepam, pode deprimir a respiração, o nível de consciência e a pressão sanguinea, sendo importante estar atento para a necessidade de entubação orotraqueal 37; - considerar a aplicação de manitol a 20% na dose de 1 a 2g/kg, pela via intravenosa lenta (dez minutos), e de corticoides (dexametasona na dose de 0,25mg/kg, pela via intravenosa) caso o paciente tenha tido muitas convulsões e haja sinais de aumento da pressão intracraniana (PIC) 39. O uso de corticoides pode causar hiperglicemia e piorar a acidose láctica. O aumento da PIC pode ser reconhecido pelos seguintes sinais: midríase, perda do reflexo pupilar, rigidez de decerebração, perda do reflexo oculovestibular e bradicardia em presença de hipertensão sistêmica 4; - caso o protocolo acima não tenha sido eficaz, considerar a aplicação de diazepam em infusão contínua, propofol, pentobarbital 13 e até mesmo anestesia inalatória com isoflurano 3, para cessar as contrações tonicoclônicas. Isso requer ventilação mecânica e instalações adequadas para cuidado intensivo de pacientes críticos 3. OUTROS ANTI-CONVULSIVANTES INDICADOS A epilepsia comprovadamente refratária ao tratamento é uma experiência frustrante

para o proprietário e o veterinário 14. Lembrar que o animal não deve ser considerado refratário ao tratamento com FB, KBr ou associação destes até que a concentração sérica tenha alcançado o máximo ou tenham ocorrido efeitos colaterais intoleráveis 3,14. A politerapia é indicada no caso de o animal desenvolver tolerância, os efeitos colaterais reduzirem a qualidade de vida ou o animal apresentar status epilepticus e suas consequências 3. Atualmente existe uma nova geração de medicamentos com menos efeitos adversos, como sedação e toxicidade, porém que ainda apresentam algumas limitações para o uso em cães e gatos, como preço extremamente alto, falta de estudos em grande escala nessas espécies, desenvolvimento de tolerância e efeitos colaterais 2,5,14,17,19. O felbamato, a gabapentina, o topiramato e o levetiracetam são opções novas e promissoras, que atuam por vários mecanismos que diminuem o início e a difusão das convulsões e que podem utilizados em casos refratários selecionados 9,42,43,44. Na figura 10 estão relacionados os vários anticonvulsivantes disponíveis no mercado para uso em cães e gatos, sua apresentação, seu custo, a farmacocinética, as indicações e os efeitos colaterais.

Princípio ativo, apresentação

Custo por mês para cães de 20kg

Meia-vida

Estabilização sérica e faixa terapêutica

Efeitos colaterais

Indicação

Dose

Fenobarbital (Gardenal®) Apresentação: comprimidos de 50 e 100mg, gotas 40mg/mL, ampolas 100 e 200mg/mL Brometo de potássio manipular em farmácia de manipulação na concentração de 250mg/mL em água destilada ou em cápsulas de gelatina na concentração desejada Felbamato (Felbatol®) comprimidos de 400 e 600mg Gabapentina (Neurontin®) cápsulas de 300, 400 e 600mg Topiramato (Topamax®) cápsulas/comp de 15, 25, 50 e 100mg Levetiracetan (Keppra®) cápsulas/comp 250, 500, 750 e 1.000mg Zonisamida (Zonegran®) Cápsulas de 100mg

$10 por mês, mais $15 a cada três meses para monitoração sérica $8 por mês, mais $45 a cada 3 ou 4 meses para monitoração sérica

cão: 30-70 horas gato: 34-83 horas 5

duas a quatro semanas cão: 15-45 g/mL gato: 10 a 30 g/mL

monoterapia, convulsões focais e generalizadas

cão: 1,5 a 5mg/kg a cada 12 horas gato: 1 a 5mg/kg a cada 12 horas

15 a 24 dias

100 a 200 dias monoterapia: 2-3mg/mL associado ao FB: 1,5-2,5mg/mL

sedação, polifagia, polidipsia e poliúria; raramente: neutropenia, pancitopenia e reações cutâneas polifagia, sedação, ataxia, reações cutâneas, êmese, polidipsia, poliúria

monoterapia ou associado ao FB, convulsões generalizadas

cão: monoterapia 20-60mg/kg/dia associado ao FB: 20-30mg/kg/dia

$270 por mês

5 a 14 horas

um a dois dias 25-100mg/L

2 a 4 horas

um dia 4-16mg/L

terapia complementar ou monoterapia, convulsões focais convulsão parcial e generalizada

15 a 20mg/kg/dia, TID

$83 por mês

doença hepática, alterações no hemograma (discrasias), vômito, induz sistema p450 sedação

$50 por mês

12 a 30 horas

três a cinco dias 2-25mg/L

Necessita importação $220 por mês

7 a 10 horas

dois a três dias 4-45ug/mL

alterações gastrintestinais, irritabilidade, sedação, inapetência raro: andar cambaleante, salivação, vômito

$140

15 horas

três a quatro dias 10-40 g/mL

terapia complementar, para convulsão parcial e generalizada terapia complementar para convulsão parcial e generalizada. Está sendo estudado em gatos complementar ao FB monoterapia ou complemetar

sedação, ataxia, vômito

5 a 10mg/kg a cada 8 ou12 horas ou 30-60mg/kg/dia, divididas em duas a três vezes 12,5 a 25mg a cada 8 ou 12 horas 10- 20mg/kg, BID ou TID (500 a 4.000mg/dia) 10mg/kg a cada 12 horas

Figura 10 - Anticonvulsivantes, apresentação, custo por mês (em dólares, cotação a 2,15), farmacocinética, indicações e efeitos colaterais em cães. Quando indicado na tabela, pode ser usado em gatos 2,5,13,14,17,42,43,44

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COMO E QUANDO PARAR O TRATAMENTO Na maioria dos casos de epilepsia verdadeira, o fim do tratamento é utópico 3, pois a doença não é curável 6. Os cães que estão livres de convulsão por um ano ou mais são candidatos à retirada do anticonvulsivante 3. Cães de raças puras com forte suspeita de epilepsia idiopática não devem ter o tratamento interrompido 3. A retirada deve ser gradativa (a cada duas semanas reduzir a dose em 10% a 25%), mas se houver um episódio de convulsão durante essa tentativa, deve-se retornar à dose anterior 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O sucesso terapêutico só pode ser obtido quando o veterinário realiza o diagnóstico correto, escolhe um medicamento eficaz e conhece a farmacologia clínica e a importância da monitoração da concentração sérica como guia para o tratamento. Nem todo cão epiléptico pode ser tratado adequadamente de acordo com as regras acima. O prognóstico irá depender da causa da convulsão, além da combinação da experiência do veterinário, do sucesso terapêutico e da motivação do proprietário 45. As causas principais de falha terapêutica incluem a presença de doença progressiva, a orientação inadequada ao proprietário, a seleção indevida de um anticonvulsivante, a intolerância aos efeitos do medicamento e, menos frequentemente, a epilepsia resistente ao tratamento. Nos casos em que há falha real do tratamento, o diagnóstico deve ser revisto. Nos casos de epilepsia idiopática e em casos selecionados de epilepsia secundária, pode-se considerar a terapia combinada ou o uso de novos anticonvulsivantes. Cada paciente é único e o tratamento deve ser individualmente ajustado. REFERÊNCIAS 01-CHANDLER, K. Canine epilepsy. What can we learn from human seizure disorders? The Veterinary Journal, v. 172, n. 2, p. 207-217, 2006. 02-PLATT, S. R. Anticonvulsant use for epileptics. Proceedings World Small Animal Veterinary Association World Congress, Mexico City, Mexico, 2005, disponível em:http://www.vin.com/Members/Proceedings/Proceedin gs.plx?CID=wsava2005&PID=pr11070&O=VIN 03-PODELL, M. Seizure management in dogs. In: KIRK's R. W. Current Veterinary Therapy XIII: Small Animal Practice, Philadelphia: Saunders Company, 1999. p. 959-963. 04-BRAUND, K. G. Clinical syndromes in veterinary neurology, 2. ed, St. Louis Mosby, 1994, 477 p. 05-KNIPE, M. The essential guide to seizures. Proceedings: Third Annual Veterinary Neurology Symposium, July 2223, California, Davis, 2006, Disponível em http://www. vin.com/Members/Proceedings/Proceedings.plx?CID=uc dneuro2006&PID= pr13735&O=VIN 06-SELCER, R. R. ; SELCER, E. S. A practical approach to seizure management in dogs and cats. Progress in Veterinary Neurology, v. 1, n. 2, p. 147-154, 1990. 07-PODELL, M. ; FENNER, W. R. ; POWERS, J. D. Seizure classification in dogs from a nonreferral-based

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Aspectos gerais sobre os principais antineoplásicos utilizados na clínica veterinária de cães e gatos: revisão de literatura

Marcelo Monte Mór Rangel Físico e MV, doutorando - VPT/FMVZ/USP marcelomontemor@usp.br

Bruno Cogliati MV, doutorando - VPT/FMVZ/USP bcogliati@usp.br

Rodrigo Ubukata MV, mestrando - VCM/FMVZ/USP, PROVET ubukata@usp.br

Thaís Andrade Costa-Casagrande MV, doutoranda - VCI/FMVZ/USP

General aspects of the main chemotherapy agents used for dogs and cats in small animal clinics: review Aspectos generales sobre los principales antineoplásicos utilizados en la clínica veterinaria de perros y gatos: revisión de literatura

thaiscosta@yahoo.com.br

Andréa Alves MV, doutoranda - VCM/FMVZ/USP profa. - UVV/ES aalves@uvv.br

Krishna Duro de Oliveira MV, doutoranda VPT/FMVZ/USP profa. - UVV/ES krishna.oliveira@uvv.br

Maria Lúcia Zaidan Dagli MV, dra., profa. tit. - VPT/FMVZ/USP malu021@yahoo.com

Clínica Veterinária, n. 81, p. 38-52, 2009 Resumo: Com o aprimoramento das técnicas de investigação na medicina veterinária, as neoplasias em cães e gatos são cada vez mais diagnosticadas e representam um amplo campo de atuação do médico veterinário como oncologista. Atualmente, os protocolos antineoplásicos adotados são baseados nos conhecimentos sobre a biologia tumoral, aliados às características individuais de cada paciente, além da experiência do oncologista na clínica veterinária e na interpretação dos trabalhos publicados na literatura. Nesse contexto,

o conhecimento dos principais aspectos da utilização de antineoplásicos é fundamental tanto para a melhor eficiência terapêutica quanto para um manejo mais seguro. Assim, o presente trabalho se propõe a abordar os mecanismos de ação, metabolismo, excreção, efeitos colaterais, diluição, manipulação e armazenamento dos principais antineoplásicos utilizados na clínica veterinária. Unitermos: quimioterapia, câncer, oncologia, biossegurança, tratamento

Resumen: Con el perfeccionamiento de las técnicas de investigación en medicina veterinaria, las neoplasias en perros y gatos son cada vez más diagnosticadas y representan un amplio campo de actuación del médico veterinario en el manejo de pacientes oncológicos. Hoy en día, los protocolos antineoplásicos adoptados tienen su base en los conocimientos sobre la biología tumoral aliados a las características individuales de cada paciente, además de la experiencia del oncólogo en la clínica veterinaria y en la interpretación de los trabajos

publicados en la literatura. En este contexto, el conocimiento sobre los principales aspectos acerca de la utilización de antineoplásicos es fundamental para una mejor eficácia terapéutica y también para una manipulación más segura. Entonces, este trabajo se propone a tratar de los mecanismos de acción, metabolismo, excreción, efectos colaterales, dilución, manipulación y almacenaje de los principales antineoplásicos utilizados en clínica veterinaria. Palabras clave: quimioterapia, cáncer, oncología, bioseguridad, tratamiento

Abstract: With the improvement of investigative techniques in veterinary medicine, feline and canine neoplasms have been more frequently diagnosed, widening the field of work for veterinarians as oncologists 1,2. Knowledge on the use of antineoplastic drugs is fundamental for therapeutical efficacy and safe management. This paper covers mechanisms of actions, metabolism, excretion and side effects of the main antineoplastic agents, as well as practical issues related to the their manipulation, such as dilution, storage, conservation period and temperature, and handling precautions. Cyclophosphamide is an alkylating agent developed from nitrogen mustards between World War I and II. It is a cycle-dependent agent which requires biotransformation to become active 4,6. Its main target within the cell is DNA 8. Immunosupression and hemorrhagic cystitis are the main toxic effects of this drug 1. Another important alkylating antineoplastic agent employed in veterinary medicine is lomustine, classified among the nitrosureas group. This drug has the important characteristic of crossing the blood-brain barrier, so it is able to target neoplasms in the central nervous system 1,12. It is administered orally, having bone marrow suppression and liver toxicity as its main side effects, although nephrotoxicity, gastrointestinal symptoms, thrombocytopenia, late and cumulative leucopenia can also be related to this drug 3. Chlorambucil is another alkylating agent. Its mechanism of action is similar to that of other drugs within the same class 6, and it can be employed in protocols to treat lymphomas, leukemias, myelomas and mast cell tumors. It also substitutes cyclophosphamide after sterile hemorrhagic cystitis. It is considered of intermediary action because its results are inferior to cyclophosphamide 1,4. Vincristine and vinblastine belong to the group of vinca alkaloids, which target microtubules 14. As phase-dependent agents acting on the M phase, its mains adverse reactions are gastrointestinal disturbances, bone marrow suppression, alopecia, peripheral neuropathy and constipation. Because they are considered vesicant drugs, intravenous administration with a catheter is required 1,4. Vinblastine is considered to present higher bone marrow suppression than vincristine 4. Vincristine is employed in lymphoma and TVT protocols, while vinblastine is widely used against mast cell tumors and in substitution to vincristine in lymphoma protocols in cases of peripheral neuropathy 1,4. Doxorubicin, which belongs to the antracycline group, is the most employed agent in antineoplastic therapy 16. Among its mechanisms of action are the generation of free radicals, lipid peroxidation, direct effects on the cell membrane, stabilization of DNA-

topoisomerase II complex and DNA intercalations 18. Canine cardiotoxicity, feline nephrotoxicity and hematologic toxicity for both are the main side effects 4. Gastrointestinal toxicity and alopecia can also be observed 1. It is a cycle-dependent agent, but since DNA activity takes place mainly during S phase, this is when this drug has its utmost cytotoxic effect 6. Doxorubicin is employed in lymphoma, carcinoma, sarcoma and TVT protocols 16. Metothrexate is an antimetabolite agent used mostly for treating lymphomas in polychemotherapy protocols 1,12. It is classified as a specific cell cycle agent. The main toxic effects of methotrexate are diarrhea, nausea, vomiting, anorexia, leukopenia, thrombocytopenia, fever, temporary hair loss, skin rash, lesions of oral mucous membranes, among several other clinical signs 1,12. Nephrotoxicity, liver toxicity and nonspecific pneumonia can also be observed 1,3. Cisplatin and carboplatin are platin derivates widely employed in veterinary medicine, indicated for the treatment of mesenchymal neoplasms as fibrosarcomas and osteosarcomas 23. The target of these agents is DNA 23. Nausea, vomiting, neurotoxicity and nephrotoxicity are less severe with carboplatin when compared to cisplatin. Cisplatin is prohibited for feline use, in which case carboplatin is employed. Cisplatin and carboplatin also suppress the bone marrow 1. 5-FU is another antimetabolite antineoplastic agent, used mostly for the treatment of malignant neoplasms of the breast, head and neck 41. It is no longer employed in France due to its neurologic toxicity, which has random presentation in canine and is frequently fatal in feline 4. Among the associated clinical signs are ataxy, seizures, hyperexcitability, loss of consciousness, nystagmus, sleepiness and visual alterations 3. L-asparaginase is an enzyme employed as antineoplastic agent in lymphoma protocols 1,49,52. Hypersensitivity reactions to this drug are responsible for most of its toxic effects 6,12, which are significantly reduced in subcutaneous administration 1. Paclitaxel belongs to the taxane group and targets microtubules, although in a different manner when compared to vinca alkaloids 54. Taxanes cause hypersensitivity reactions and bone marrow suppression as their main side effects 1. Because of the high incidence of hypersensitivity reactions, its use in veterinary medicine remains under investigation 1. A specific section is destined to matters regarding storage and manipulation of the studied drugs. This review is not aimed as a chemotherapy manual with doses and protocols, but as an update on general aspects for daily practice of veterinary clinicians. Keywords: chemotherapy, cancer, oncology, biosafety, treatment

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INTRODUÇÃO Com a melhora das técnicas de investigação na medicina veterinária, as neoplasias em cães e gatos são cada vez mais diagnosticadas e representam um amplo campo de atuação do médico veterinário. Nesse sentido, muitos esforços vêm sendo feitos na tentativa de oferecer um procedimento terapêutico eficiente para as diferentes neoplasias, sempre considerando o bem-estar e a qualidade de vida do paciente. Dentre as principais modalidades terapêuticas no campo da oncologia, podemos citar a resseção cirúrgica, a radioterapia e a quimioterapia. No entanto, o protocolo terapêutico mais adequado para cada paciente é definido individualmente, levando em consideração a biologia, a histologia, o grau e a extensão do tumor 1,2. A quimioterapia vem sendo cada vez mais utilizada como terapia pré-cirúrgica (neoadjuvante) ou como adjuvante em uma grande variedade de tumores em pequenos animais. Este procedimento basicamente consiste na aplicação sistêmica ou local de antineoplásicos capazes de destruir as células tumorais ou interromper sua proliferação. Estes fármacos atuam principalmente durante a mitose e a síntese de DNA, e são classificados conforme sua especificidade pelo ciclo celular, a estrutura química e a função nas células 1,3,4. A toxicidade dos antineoplásicos não é específica para as células tumorais, sendo que os efeitos colaterais mais comuns são a mielossupressão e distúrbios gastrintestinais, porém reações de hipersensibilidade e efeitos em outros órgãos também podem ser observados. Assim, o médico veterinário necessita conhecer os principais efeitos tóxicos associados aos antineoplásicos prescritos, buscando intervir da melhor maneira possível. Ainda existe o risco da toxicidade ocupacional, relacionado ao mau uso e manipulação das soluções quimioterápicas 3. Os protocolos desenvolvidos hoje pelos veterinários são baseados no entendimento individual dos oncologistas a respeito da biologia do tumor, em sua experiência, na interpretação dos trabalhos desenvolvidos e também um pouco na intuição 5. Neste contexto, o conhecimento dos principais aspectos da utilização de antineoplásicos na medicina veterinária é fundamental tanto para a melhor eficiência terapêutica quanto para um manejo mais seguro. Assim, o presente trabalho se propõe a abordar os mecanismos de ação, metabolismo, excreção, efeitos colaterais, diluição, manipulação e armazenamento dos principais antineoplásicos utilizados na clínica veterinária.

CICLOFOSFAMIDA Entre a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, as mostardas nitrogenadas, pertencentes ao grupo dos agentes alquilantes, eram desenvolvidas de forma secreta, por se tratar de compostos classificados como agentes de guerra química 6. Os alquilantes foram os primeiros agentes químicos a apresentar efeito antineoplásico significativo 7. A ciclofosfamida somente foi desenvolvida após o término da Segunda Guerra, quando as pesquisas foram liberadas. As mostardas nitrogenadas eram muito instáveis no organismo, e por isso tinham pouca aplicação clínica. A ciclofosfamida era mais estável, pois necessitava de metabolização hepática para se tornar ativada. Os meios de ativação do fármaco foram descobertos a partir de uma hipótese incorreta. Pensava-se que as neoplasias possuíam alta atividade de fosfatase ou fosfamidase capaz de ativar a ciclofosfamida, mas o que foi observado é que o sistema citocromo P-450 hepático é que executava essa função. A seletividade do agente por alguns tecidos neoplásicos é em parte atribuída à capacidade de degradação dos intermediários ativos através da via aldeído desidrogenase e de outras vias, nos tecidos normais 6. Mecanismo de ação O mecanismo de ação da ciclofosfamida, assim como dos outros agentes alquilantes, é baseado em sua característica de reagente eletrófilo forte inespecífico. Essa característica permite que os metabólitos ativos estabeleçam ligações covalentes com locais ricos em elétrons, como átomos de S e N de proteínas, átomos de S, O, N e radicais PO4 dos ácidos nucleicos, aminoácidos e nucleotídeos 7. O DNA é o alvo mais importante, e o nitrogênio 7 da guanina é o local mais suscetível à alquilação. Como agente bifuncional, ele é capaz de alquilar duas biomoléculas e, dessa forma, criar ligações cruzadas entre as fitas de DNA, inibindo sua separação 8. A capacidade de realizar ligações cruzadas correlaciona-se estreitamente ao efeito citotóxico da ciclofosfamida 6. A alquilação exerce sua máxima ação citotóxica em células que se replicam, por isso a ciclofosfamida é chamada um fármaco ciclodependente 4. Para células em repouso no ciclo celular (G0), a alquilação pode não ser um fenômeno letal se as enzimas de reparação corrigirem os erros antes da próxima replicação 6. Metabolismo e excreção A ciclofosfamida é um pré-fármaco que, após ser metabolizado pelo fígado, converte-

se em dois metabólitos, o 4-hidroxiciclofosfamida e o aldofosfamida 4. O primeiro sofre uma segunda oxidação pelo fígado, pelo tecido neoplásico e, possivelmente, por outras enzimas, convertendo-se em carboxifosfamida e 4-cetociclofosfamida, que não tem atividade biológica importante. O segundo metabólito pode clivar-se espontaneamente no tecido neoplásico, gerando mostarda de fosforamida, responsável pelo efeito antineoplásico, e acroleína 6. Como, além da ativação, o catabolismo do fármaco também é realizado pelo fígado, não é necessário aumentar a dose em hepatopatas. A administração em conjunto com cloranfenicol faz decrescer a ativação da ciclofosfamida 9. A ciclofosfamida é excretada principalmente pelos rins, por isso é imprescindível ajustar a dose em nefropatas. O ajuste de dose deve seguir o seguinte cálculo 10: Dose ajustada = dose habitual x 15 creatinina mensurada

ou: Dose ajustada = dose habitual x clearance de creatinina exógena 3

Toxicidades A acroleína, um dos metabólitos formados a partir da ciclofosfamida, seria a responsável pela cistite hemorrágica asséptica 1. Essa cistite geralmente é autolimitante e pode se originar após uma única dose ou após o uso prolongado. A incidência em cães é de aproximadamente 7%, e em gatos, de 3% 11. Deixar o animal solto para que urine bastante e estimulá-lo a beber muita água por pelo menos dois dias após a aplicação são medidas profiláticas. Em humanos é usado o Mesna (2Mercaptoetano-Sulfonato Sódico), concomitantemente com a ciclofosfamida, mas como esse efeito colateral é raro em cães e principalmente em gatos, ele não é utilizado rotineiramente. A poliúria provocada pela administração de corticoides pode amenizar esse efeito colateral. A administração do fármaco deve ser interrompida nos casos de toxicidade vesical. A toxicidade hematológica provoca principalmente leucopenia, atinge pouco a linhagem megacariocítica, tem nadir por volta dos dias cinco a dez após a aplicação e recuperação em dez dias. A toxicidade gastrintestinal – como vômito e diarreia – é rara em cães e gatos, mas nos gatos é comum observar anorexia, possivelmente por alterações da mucosa que modificariam o paladar. O uso prolongado do fármaco pode provocar fibrose vesical e carcinoma

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de células de transição. A queda de pelos não é comum, mas pode ocorrer em raças de pelos de crescimento contínuo, como o poodle 4. LOMUSTINA A lomustina, assim como a ciclofosfamida, é um agente alquilante, mas que pertence ao grupo das nitrosureias 1. As nitrosureias são altamente lipofílicas, o que lhes permite atravessar a barreira hematoencefálica e, dessa forma, alcançar concentrações suficientes para tratar neoplasias do sistema nervoso central 6. Isso a fez destacar-se entre outros agentes. Além de ser empregada em neoplasias cerebrais, a lomustina também é utilizada em protocolos de resgate de linfomas, mastocitomas e mielomas múltiplos 1,12. Mecanismo de ação Da mesma forma que outros agentes alquilantes, a lomustina é um agente ciclodependente bifuncional 6. Seu mecanismo de ação é semelhante ao da ciclofosfamida, e sua particularidade está na capacidade de se manter na forma não ionizada em PH fisiológico, conferindo à molécula do fármaco alta lipossolubilidade 12. Metabolismo e excreção Este agente apresenta biodisponibilidade confiável por via oral 3,6. Quando administrado por via intravenosa, tem meia-vida no plasma de aproximadamente quinze minutos, e é detectada no líquido cefalorraquidiano dentro de dez minutos 3. É um agente de metabolismo predominantemente hepático. O sistema microssomal hepático de oxidação é responsável por sua degradação. Sua principal via de excreção é a renal, sendo eliminada de 30 a 80% em 24 horas sob a forma de produtos de degradação em humanos 6.12. Toxicidades Os principais efeitos tóxicos deste agente são mielossupressão e sinais gastrintestinais. A mielossupressão pode ser grave. Em cães, o nadir de neutrófilos ocorre entre cinco e sete dias, e o de plaquetas entre os dias sete e catorze. Em gatos o nadir de neutrófilos médio é no dia sete após a administração, podendo ser observado entre sete e 28 dias, e o nadir de plaquetas, entre os dias 14 e 21 após a aplicação 1,3,12. Pode ocorrer uma neutropenia e trombocitopenia tardia e acumulativa. Sinais clínicos gastrintestinais também podem ser observados e podem persistir por até 24 horas 3. A hepatotoxicidade que este fármaco promove pode ser fatal, e a enzima 40

de lesão hepática, a alanina aminotransferase (ALT), deve ser monitorada quando apresentar aumento – caso em que a administração do agente deve ser suspensa. Pacientes hepatopatas também não têm indicação de uso da lomustina 1. Outra toxicidade menos frequente é a renal, porém também é necessário monitorar, pois um possível acometimento desse sistema pode ser fatal 3. CLORAMBUCIL O clorambucil é mais uma mostarda nitrogenada pertencente à classe dos agentes alquilantes. Sua utilização na medicina humana teve início na década de 1950, em protocolos de leucemia e linfomas 6. Na medicina veterinária, esse agente tem sido utilizado na fase de manutenção em alguns protocolos de linfomas, leucemias, mielomas, mastocitomas e também como agente substituto à ciclofosfamida em casos de cistite hemorrágica estéril provocada por ela 1. É um agente considerado de ação intermediária por não possuir ação antineoplásica tão importante como a ciclofosfamida 4. Mecanismo de ação Seu mecanismo de ação é similar ao dos demais agentes alquilantes, e é atribuído predominantemente às ligações mono e bifilamentares que esses agentes fazem com a dupla-fita de DNA. Outro mecanismo de ação desse fármaco é atribuído a sua capacidade de ligação com o RNA, proteínas e membranas. Essas ligações prejudicariam respectivamente a síntese proteica, a atividade das enzimas e os processos de sinalização celular 6. É um agente ciclodependente 4. Metabolismo e excreção Este agente é rapidamente hidrolisado para sua forma ativa, tendo meia-vida na água de 30 minutos, e de aproximadamente 42 minutos no sangue 6. Após ser metabolizado, suas formas inativas são eliminadas na urina e nas fezes 1. Seu mecanismo de entrada nas células se dá através de difusão passiva 6. Toxicidades Assim como é considerado de ação intermediária, sua toxicidade também é considerada mais moderada que a de outros agentes da mesma classe. A mielossupressão provocada por este agente geralmente é leve, tardia e progressiva, embora seja facilmente reversível e de ocorrência rara 4. Além da mielossupressão, náusea e vômitos são outros efeitos colaterais 1. Em seres humanos já foram observadas anemias arregenerativas

irreversíveis, fatais, e também convulsões, o que ainda não se relatou em animais 6. VINCRISTINA A vincristina é extraída da Vinca rosea, uma planta ornamental cultivada no mundo todo. Essa planta tem diversas finalidades terapêuticas na medicina indígena, podendose destacar seu uso para a higiene bucal, o controle de hemorragia, a limpeza e a cicatrização de feridas crônicas. O fármaco também era usado para tratamento de úlceras diabéticas e como hipoglicemiante oral. No princípio dos anos 1960, observou-se efeito supressor da medula óssea, ao mesmo tempo em que falharam as tentativas de provar seu efeito hipoglicemiante 13. Em medicina veterinária tem sido amplamente utilizada, como único agente, em tumores venéreos transmissíveis (TVTs), em protocolos poliquimioterápicos de carcinomas mamários e principalmente em hemopatias malignas 4. Mecanismo de ação O mecanismo de ação do fármaco, e de outros alcaloides da vinca, é a inibição da associação dos microtúbulos e a autoassociação da tubulina em polímeros espiralados 14. Uma vez impedida de formar os fusos mitóticos, a célula permanece em metáfase 13. Sem o fuso mitótico, os cromossomos podem dispersar-se, ou podem se aglomerar. Sem a capacidade de segregar corretamente os cromossomos, a célula provavelmente morrerá 6. Apesar de atuar na mitose, a vincristina não atinge somente células nesse momento, uma vez que permanece nas células até que elas atinjam essa fase. A reversibilidade da parada do ciclo celular é pequena e tem pouca viabilidade celular após esse processo 13. É considerada um agente fasedependente e antimitótico 4. O agente ainda inibe a entrada do ácido glutâmico na célula, prejudicando a síntese das purinas e, consequentemente, diminuindo a síntese de DNA 3. Metabolismo e excreção Depois de absorvida, a vincristina tem vida inicial, vida média e meia-vida terminal de cinco minutos, 2,5 horas e 85 horas, respectivamente, em humanos 6. A entrada na célula se dá por transporte ativo e mediada por carreador 13. Na literatura veterinária, relata-se que sua distribuição se dá em quinze minutos, e a meia-vida de eliminação em 75 minutos 3. De extensa metabolização hepática, seus conjugados e metabólitos inativos são excretados quase que completamente pela bile. Uma pequena fração é excretada

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inalterada na urina 6. A ligação aos elementos do sangue se dá, em ordem decrescente, com o plasma, as plaquetas, as hemácias e os leucócitos. A extensa ligação aos tecidos pode ajudar a explicar algumas características de sua excreção 13. O agente não tem boa penetração no SNC 13. Atravessa a membrana hematoliquórica, porém não atinge concentração terapêutica no líquor 15. Toxicidades As principais toxicidades incluem moderada mielossupressão, constipação e anorexia (principalmente em gatos), neuropatia periférica em protocolos longos (rara e reversível) e alopecia em raças de pelos de crescimento contínuo e em gatos 4. O efeito colateral mais grave ocorre quando há extravasamento do fármaco no tecido perivascular. Uma intensa sensação de queimação, seguida de necrose do tecido perivascular, ocorre quando acontece o extravasamento 1. As toxicidades acima descritas muito possivelmente acontecem devido ao fato de as funções dos microtúbulos, como movimento celular, fagocitose, transporte axonal etc., estarem prejudicadas 6. A neurotoxicidade periférica provavelmente ocorre pela inibição da condução de neuromediadores, devido à não polimerização da tubulina 4. VIMBLASTINA Este agente pertence à mesma família da vincristina, os alcaloides da vinca, e tem sido amplamente utilizado em protocolos de mastocitomas 1. Pode ser uma opção ao uso da vincristina em protocolos de linfomas, em casos de neuropatia periférica 4. Mecanismo de ação O mecanismo de ação é idêntico ao da vincristina, impedindo a polimerização dos microtúbulos e, dessa forma, inibindo a formação do fuso mitótico. Assim, a célula para em metáfase e a divisão não ocorre. Por essa característica, é classificada como um agente fase-específico dependente, que atua predominantemente na fase M. Metabolismo e excreção Seu metabolismo e excreção são semelhantes ao da vincristina. O fígado é o principal órgão responsável por seu metabolismo, e sua excreção ocorre principalmente pela bile e pelas fezes 1,4. Uma pequena fração é eliminada pela urina 1. Toxicidades Da mesma forma que a vincristina, a

vimblastina é considerada um agente de baixa toxicidade. Os possíveis efeitos colaterais são distúrbios gastrintestinais e mielossupressão, alopecia, neuropatia periférica e constipação. Também é uma droga vesicante – logo, deve ser administrada sempre com cateter, pela via intravenosa 1,4. A mielossupressão da vimblastina parece ser mais significativa do que a da vincristina, e o nadir aparece entre o quarto e o décimo dia após a administração. Por ser eliminada significativamente pela bile. O monitoramento da colestase é recomendado 4. DOXORRUBICINA Pertencente ao grupo das antraciclinas, é o antibiótico mais utilizado em tratamentos antineoplásicos. A doxorrubicina é um produto natural, obtido do fungo Streptomyces peucetius var. caecius. No início da poliquimioterapia, a doxorrubicina contribuiu bastante para o aumento da sobrevida de pacientes acometidos por uma série de neoplasias, como de mama, estômago, leucemia aguda, leucemia, linfomas, mielomas múltiplos, sarcomas e tumores ósseos 16. A doxorrubicina é usada tanto em poliquimioterapias quanto como agente único em tratamento de câncer. O fármaco possui diversos efeitos colaterais, por isso mais de 2 mil derivados deste agente já foram sintetizados ou isolados com o intuito de reduzir estes efeitos sem diminuir sua eficiência terapêutica 17. Na medicina veterinária, ela é um dos mais interessantes fármacos, por suas diversas indicações, fácil acesso, por ser utilizável em cães e gatos, pelo custo razoável e pelos efeitos colaterais graves raros ou fáceis de prevenir 4. Mecanismo de ação Vários são os mecanismos de ação atribuídos à doxorrubicina – dentre eles, a geração de radicais livres, a peroxidação lipídica, os efeitos diretos na membrana celular, a estabilização do complexo DNA-topoisomerase II e as intercalações com o DNA 18. A intercalação com a dupla fita de DNA inibiria a síntese de proteínas RNA e DNA 19. Quando a topoisomerase II atua no momento da transcrição ou na replicação do material genético, as ligações covalentes formadas entre o fármaco e o complexo impedem a reabertura da dupla-fita, promovendo quebras mono e bifilamentares e a troca de cromátides irmãs. Os radicais livres formados pelo metabolismo do fármaco também são responsáveis pela cisão do DNA e pelas agressões às membranas 6. Esse efeito parece ter pouca ação antineoplásica 4. É um agente

ciclo dependente, mas, como a atividade do DNA ocorre principalmente na fase S, nesta fase a droga tem seu maior efeito citotóxico. Em baixas concentrações, as células prosseguirão pela fase S e morrerão em G 26. Metabolismo e excreção De uso intravenoso restrito, tem metabolização hepática. Foi demonstrado que a metabolização da doxorrubicina é pequena e lenta. A taxa de excreção na forma inalterada demostrou ser de 10% pela bile e 6% na urina, em 24 horas, em experimentos com ratos 19. Principalmente no gato, é comum observar coloração vermelho-alaranjada na urina durante o tratamento 4. Deve-se considerar a redução da dose em pacientes hepatopatas 6. A excreção é fecal e pode permanecer por um período de sete dias 11. A via inalatória de administração do agente tem sido realizada em experimentos com cães portadores de metástases pulmonares de osteossarcoma. A determinação de doses e protocolos e a avaliação da farmacocinética serão importantes para o desenvolvimento dessa via de administração 20. Toxicidades Os principais efeitos tóxicos são a cardiotoxicidade no cão, a nefrotoxicidade no gato e a toxicidade hematológica para ambos, com nadir por volta do sétimo dia após a aplicação 4. O uso de doxorrubicina, comparado ao de outros fármacos antineoplásicos, faz aumentar a incidência de toxicidade hematológica, de toxicidade do trato gastrintestinal e de alopecia 1. A toxicidade gastrintestinal se apresenta de duas formas: uma sem gravidade, com vômitos, anorexia e diarreia típica de intestino delgado, e outra mais rara, porém mais grave, com colite hemorrágica, sendo necessária a hospitalização. A hipoplasia de medula, que é dose-dependente e reversível, atinge principalmente a linhagem granulocítica. Deve-se monitorar os leucócitos e os neutrófilos, e quando os valores forem inferiores a 4.000/mm3 e 2.500/mm3 respectivamente, a administração deverá ser interrompida. Se a neutropenia for acompanhada de febre, o animal deve ser hospitalizado com urgência, devido ao risco de septicemia 4. A cardiotoxicidade da doxorrubicina é muito relacionada à produção de radicais livres no próprio tecido do coração. A baixa produção de superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase pelo coração, em relação a outros tecidos, tornaria o parênquima cardíaco mais suscetível a essa agressão. O complexo desidrogenase NADH

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mitocondrial seria o principal local de formação de radicais livres no coração 19. Interferências prejudiciais à função mitocondrial, como inibição da cadeia respiratória, geração de radicais superóxido e perturbação no sistema de transporte de elétrons, além da peroxidação lipídica, também têm sido correlacionadas com a toxicidade cardíaca 16. A peroxidação lipídica da membrana alteraria sua permeabilidade, aumentando a concentração de cálcio intracelular. Esse aumento prejudicaria o relaxamento adequado da fibra cardíaca 4. Essa toxicidade é cumulativa, sendo que a dose total máxima por animal varia entre 180 a 240mg/m2. Deve-se evitar o uso do fármaco em animais cardiopatas 1. Para proteger o coração, o dexrazoxano (ICRF-187) deve ser aplicado meia hora antes da doxorrubicina, na dose de 300mg/m2, por via endovenosa, ou calculado em uma dose dez vezes maior que a do antineoplásico. Esse agente diminui a formação de radicais livres 3. O extravasamento do fármaco nos tecidos adjacentes ao vaso durante aplicação causa ulceração grave 19. Por ser um potente irritante e a molécula continuar ativa após a morte da célula intoxicada, o tratamento cirúrgico e até amputação do membro onde ocorreu extravasamento podem ser necessários 1. Em gatos a toxicidade cardíaca é bem menos evidente, sendo a nefrotoxicidade o fator dose-limitante do fármaco. O limite de oito sessões com 25mg/m2 por sessão não deve ser ultrapassado para evitar a cardiotoxicidade. Recomenda-se fazer avaliação cardíaca através de ecocardiografia antes de iniciar as sessões com esse agente 1. Outro importante efeito colateral nos gatos é a anorexia 4. Por se tratar de um fármaco originado a partir de um microrganismo, outro possível efeito colateral é a reação alérgica ao agente, que pode evoluir para choque anafilático 1. METOTREXATO Este fármaco, que é classificado como um antimetabólito e pertence ao grupo dos antifolatos, tem em seu histórico o importante fato de ter promovido as primeiras remissões notáveis em leucemias e a primeira cura de um tumor sólido ainda nas décadas de 1950 e 1960, respectivamente 12. Em cães e gatos, suas principais indicações são para o tratamento de linfomas em protocolos de poliquimioterapia 1,12. O metotrexato também é utilizado em humanos no tratamento de artrite reumatoide e de psoríase, e em transplantes de medula óssea e de órgãos, por seu alto potencial inibidor de reações imunes 2,12. 42

Este efeito ainda não foi bem elucidado, embora já tenham sido observados efeitos no crescimento de células endoteliais, na quimiotaxia, na síntese de poliaminas, na atividade de várias citocinas e na supressão da produção de mediadores da inflamação como, por exemplo, os produtos da lipoxigenase 21. Mecanismo de ação O ácido fólico é um importante metabólito que está fortemente ligado à síntese de timidilato e purinas, precursores do DNA e do RNA 2. O metotrexato tem seu principal local de ação na enzima diidrofolato redutase (DHFR), responsável pela produção dos cofatores tetraidrofolatos, indispensáveis para a produção da timidilato e purinas 6,12,22. Esse processo ainda promove o acúmulo de enzimas tóxicas como a tumidilate sintetase e diidrofolato poliglutamatos. Dessa forma, esse agente promove a interrupção da síntese de DNA e RNA, essencial para todos os eventos metabólicos vitais da célula. A morte da célula é atribuída a esses eventos, e sua atuação ocorre predominantemente na fase S do ciclo celular, por isso esse agente é classificado como um agente fase-específico do ciclo celular. Sua ação ainda se submete aos mecanismos de resistência aos antifolatos. Estes mecanismos têm o seu transporte prejudicado para dentro da célula devido às formas alteradas de DHFR com menor afinidade pelo agente, ao aumento das concentrações de DHFR na célula, à capacidade diminuída de sintetizar o metabólito tóxico metotrexato poliglutamato e à atividade diminuída da timidilato sintetase. O trimetoprim e a pirimetamina, amplamente utilizados em protocolos de quimioterapia antibacteriana, são fármacos cujo mecanismo de ação é análogo ao do metotrexato, porém agem de forma muito mais específica sobre bactérias e parasitas, ao passo que o último tem atividade em todas as espécies até hoje estudadas 6,22. Metabolismo e excreção O metotrexato é um molécula polar, logo, é pouco solúvel à membrana da célula, e por isso necessita de mecanismo específico de transporte 12. Após entrar na célula, o fármaco forma um complexo com glutaminas, gerando metotrexato poliglutamato, cuja passagem pela membrana também é dificultada, havendo retenção prolongada em tecidos normais e neoplásicos. A taxa de ligação às proteínas plasmáticas (TLPP) é de 50%, por isso deve-se ter cautela no uso concomitante com fármacos que também têm alta TLPP, como sulfas, tetraciclinas, cloranfenicol e

salicilatos. Em seres humanos, seu metabolismo é mínimo, e ele é excretado na forma inalterada na urina em até 48 horas, sendo a maior parte nas primeiras oito a doze horas. A excreção predominantemente renal se dá tanto por filtração glomerular quanto por secreção ativa tubular. Pequenas quantidades do agente antineoplásico também podem ser excretadas nas fezes 6. Toxicidades A restrição de ácido fólico à qual o metotrexato submete as células desempenha um papel fatal não somente nas células neoplásicas, mas também naquelas que se replicam rapidamente, como as da medula óssea e as do epitélio gastrintestinal 6. Clinicamente, isso se observa em forma de diarreia, náusea, êmese, anorexia, leucopenia, trombocitopenia, febre, perda de pelos temporária, erupções cutâneas e lesões em mucosas orais, dentre outros diversos sinais clínicos 1,12. O nadir ocorre em torno de seis a nove dias após a administração 3. O uso de leucovorin para suplementar a falta de ácido fólico é indicado, porém deve-se observar a dosagem, para que os efeitos do agente não sejam antagonizados e seu efeito não seja prejudicado 1,6,12,21. Outra toxicidade importante observada em esquemas de altas doses em humanos é a nefrotoxicidade 6. Embora se acredite que a precipitação do fármaco nos túbulos renais seja a causa da nefrotoxicidade, é necessário que se façam mais estudos para que se possa avaliar esse efeito tóxico nos animais 1. O fármaco é ainda potencialmente hepatotóxico, além de poder provocar pneumonias não específicas 3. CISPLATINA A cisplatina consiste no composto inorgânico cis-diaminodicloroplatina (II). Descoberta há mais de trinta anos, tem sido usada amplamente no tratamento de neoplasias mesenquimais, como fibrossarcomas e osteossarcomas 23. Assim como outros antineoplásicos, sua eficiência clínica é limitada por sua toxicidade 24. Centenas de outros agentes análogos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de encontrar fármacos menos tóxicos 25. Mecanismo de ação Embora muito estudado, o mecanismo de ação da cisplatina ainda não está totalmente elucidado. Este agente forma ligações covalentes com diversas biomoléculas, mas seu principal alvo é o DNA 23. O efeito citotóxico da cisplatina é atribuído às ligações

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cruzadas entre as duas fitas e dentro de uma das fitas de DNA. Essas ligações bloqueariam a transcrição de proteínas e a replicação da célula 26. As células deficientes que têm seu mecanismo de excisão e reparo de mutações no DNA são hipersensíveis a esse fármaco, ao mesmo tempo que as células que conseguem reparar as ligações da cisplatina no DNA de modo mais eficiente são mais resistentes 24. A especificidade da cisplatina em relação ao ciclo celular parece diferir entre as diferentes células, e os efeitos das ligações cruzadas são mais pronunciados na fase S do ciclo celular 6, embora ela seja considerada por alguns autores como um fármaco ciclodependente 4. Metabolismo e excreção A cisplatina apresenta várias vias de administração, tais quais: a endovenosa, a intrapleural, a intratumoral e a tópica 16. A via intramedular de administração para tratamento de osteosarcoma apendicular foi utilizada em um experimento com quatro cães, com três remissões totais e uma remissão parcial 27. Mais de 90% do fármaco está ligada covalentemente às proteínas plasmáticas.

Grandes concentrações de cisplatina são encontradas nos rins, no fígado, no intestino e nos testículos, e encontra-se pouca quantidade no sistema nervoso central (SNC). O agente parece entrar na célula por difusão. Moléculas de água substituem as de cloreto na estrutura do agente, tornando-o assim ativo 6. Menos de 2% do fármaco injetado é eliminado pela bile, enquanto 85% da dose são eliminados na urina em 48 horas 28. Toxicidades A cisplatina tem como principais efeitos colaterais náusea e êmese intensas, nefro e neurotoxicidade 29. Em gatos, o uso da cisplatina causa edema pulmonar agudo, sendo fatal em qualquer dose 30. Os episódios de êmeses aparecem em 40% dos cães sob protocolo com cisplatina, e frequentemente em até uma hora após a administração 4. Fármacos como butorfanol, proclorperazina e metoclopramida devem ser usados por seu efeito antiemético 1. Observou-se diminuição de 89% para 19% na incidência de êmese em cães sem e com o uso de butorfanol, respectivamente. A administração deve ser logo após a infusão da cisplatina na dose de

0,4mg/kg em dose única 31. A ondansetrona é um potente antiemético, agindo como antagonista competitiva da serotonina, na zona de gatilho, com os receptores 5-hidroxitriptamina3 (5-HT3) constituindo também uma opção 32. As moléculas de cisplatina têm sido relacionadas como responsáveis diretas por danos às células dos túbulos proximais 33. A nefrotoxicidade oferece risco de insuficiênia renal iatrogênica secundária a necrose tubular aguda em 6% a 16% dos casos, dependendo do protocolo de diurese usado. Recomenda-se administrar de 80 a 100mL/kg de cloreto de sódio a 0,9% antes, durante e depois da infusão do fármaco, por um período de quatro horas, e fazer acompanhamento da função renal antes e depois das sessões 4. A cisplatina diminui os níveis de antioxidantes como superóxido dismutase (SOD), glutationa reduzida (GSH) e glutationa peroxidase (GP), desencadeando estresse oxidativo nas células tubulares renais. Tem-se ainda estímulo de produção de TNF-_, que lesionará ainda mais o tecido renal 34. Pesquisas recentes sugeriram que a silimarina tem efeito protetor contra a nefrotoxicidade aguda promovida pela cisplatina, provavelmente

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devido a suas propriedades antioxidantes. A silimarina age neutralizando radicais livres e aumentando a concentração intracelular da glutationa 35. Tem-se observado que a nefrotoxicidade é mais comum em cães de raças pequenas do que em cães de grande porte 3. Uma alteração menos comum descrita em humanos é a ocorrência de anemia hemolítica 36. Efeitos colaterais menos comuns são: convulsões, cegueira, arritmias, surdez e morte súbita. Como a surdez é bem suportada pelos cães, ela é bem menos diagnosticada 4. Outra toxicidade rara, observada após a administração de cisplatina em seres humanos, é a alcalose metabólica hipocalêmica crônica com hipomagnesemia e hipocalciúria, com características idênticas às da síndrome de Gitelman em seres humanos 37. CARBOPLATINA A carboplatina é um dos primeiros agentes derivados da platina que foram desenvolvidos com o objetivo de diminuir a toxicidade apresentada pela cisplatina 6. Ela veio como uma opção para o tratamento de gatos, que não podem receber a cisplatina. Hoje vêm-se desenvolvendo estudos com o objetivo de determinar a dose máxima tolerável e a dose limite de intoxicação 38. O seu uso como tratamento paliativo em um gato com mesotelioma em cavidade pleural já foi relatado, com completa remissão dos sinais clínicos, embora tenha havido recidiva em pouco tempo, com evolução para o óbito em 120 dias 39. Em cães, o uso combinado da carboplatina com a doxorrubicina foi estudado para tratamento adjuvante em osteossarcomas apendiculares, e os resultados obtidos foram promissores 40. Mecanismo de ação O mecanismo de ação e o espectro de atividade clínica deste agente é bem semelhante ao seu similar mais antigo, a cisplatina, embora suas propriedades químicas, farmacocinéticas, toxicológicas e espécies tolerantes sejam bem diferentes 1,6,12. Assim como a cisplatina, a carboplatina age estabelecendo ligações monofilamentares e cruzadas na dupla fita de DNA. O N7 da guanina é o local de maior frequência em que se estabelecem ligações intrafilamentares, e os locais onde existem guanina-adenina são os sítios onde se estabelecem mais facilmente as ligações interfilamentares. Estas ocorrem mais lentamente e em menor extensão, e inibem a replicação e a transcrição do DNA, que geram quebras e erros de codificação. Este processo consequentemente inibe a síntese proteica 44

e a replicação celular, além de poder conduzir a célula à morte caso os erros não sejam corrigidos 6. É um agente ciclodependente 1. Metabolismo e excreção Uma das características mais importantes que diferem a carboplatina da cisplatina é a que a hidrólise de estrutura da primeira que desencadeia sua ativação é mais lenta que na cisplatina 39. Sua ligação às proteínas plasmáticas também não é de grande extensão. Em seres humanos, sua meia vida é de duas a seis horas, e sua eliminação é predominantemente pela urina 6. Em cães, sua eliminação se dá também por filtração glomerular, e ocorre dentro de 24 horas 3. Toxicidades Ao contrário da cisplatina, a carboplatina pode ser administrada em gatos, e apresenta efeitos colaterais bem menos intensos, embora semelhantes. As náuseas, a êmese, a neurotoxicidade e a nefrotoxicidade são menos severas que as observadas na cisplatina. Embora menos nefrotóxica, os pacientes nefropatas devem usar dose diminuída, uma vez que a droga é eliminada pelos rins 1. A êmese que pode ocorrer dentro de uma hora com a administração da cisplatina neste agente pode ser observada até oito dias após sua administração. Este sinal clínico é bem mais passível de controle do que o provocado pelo outro composto de platina 1,3,6. A mielossupressão apresenta nadir de 10 e 14 dias depois em cães e por volta de 14 a 21 dias depois em gatos. A recuperação da medula acontece dentro de 30 a 40 dias 3. FLUOROURACIL (5-FU) Historicamente, o 5-flourouracil (5-FU) tem sido utilizado como fármaco antineoplásico em diversas neoplasias malignas de mama, cabeça e pescoço 41. Embora tenha sido sintetizado a primeira vez nos anos 1950, ainda hoje vem sendo utilizado amplamente em inúmeras neoplasias 10. Este agente pertence a um variado grupo que tem em comum a capacidade de inibir a síntese de nucleotídeos pirimidínicos ou de simular esses metabólitos naturais, interferindo dessa forma na síntese e na função dos ácidos nucleicos 6. É classificado como um antimetabólico 3. Devido à toxicidade neurológica, de apresentação aleatória em cães e frequentemente fatal em gatos, não é mais utilizado na França 4. Mecanismo de ação Introduzido em 1957, o 5-FU tem como

principais mecanismos de ação a inibição da enzima timidilato sintetase e sua incorporação no ácido ribonucleico (RNA). O primeiro mecanismo suprime a síntese de DNA, e o segundo causa interferência em uma série de mecanismos-chave da célula, prejudicando a ação e o processamento do RNA 42. Já em 1962 9, observaram-se esses efeitos em cultura de Bacillus cereus. Também pode ocorrer ligação do 5-FU com o ácido desoxirribonucleico (DNA), o que pode resultar em quebra da dupla-fita. Essa quebra ocorreria pela falta de timidilato sintétase, que resulta em falta do substrato timidinatrifosfato, necessário no mecanismo de excisão-reparação do DNA 6. Devido à sua interferência na função do RNA e do DNA, sua atuação ocorre principalmente na fase S do ciclo celular 11. Metabolismo e excreção Pode ser usado topicamente e por via endovenosa. O uso tópico tem pouca absorção sistêmica. Se administrado por via endovenosa, tem distribuição por todos os tecidos, inclusive no líquor 1. É um pré-fármaco, que necessita de anabolismo para formar seus nucleotídeos citotóxicos 4. Seu metabolismo ocorre em muitos tecidos, mas principalmente no fígado 6. A degradação do 5-FU ocorre pela enzima di-hidropirimidina desidrogenase, produzida pelo fígado, pela mucosa intestinal e por outros tecidos 43. Mais de 85% do fármaco são catabolizados por essa enzima 44. Sua eliminação se dá pelas vias urinária e respiratória 4. Toxicidades Os efeitos tóxicos do 5-FU ocorrem principalmente nos tecidos que se dividem rapidamente, como medula óssea, mucosas e trato gastrintestinal. O padrão de toxicidade ocorre de acordo com o esquema de administração do fármaco. Esquemas semanais, em bolus, causam mais mielossupressão, enquanto na infusão contínua as estomatites e os sinais gastrintestinais são mais comuns 45. O reconhecimento e o tratamento precoce desses sinais clínicos são fundamentais para a diminuição do índice de morbidade e de mortalidade 46. A mielossupressão provocada pelo 5-FU tem nadir de sete a catorze dias após a aplicação. Além de leucopenia com neutropenia, pode provocar também trombocitopenia e anemia 3. A neurotoxicidade do 5FU está ligada à baixa ou deficiente produção da enzima di-hidropirimidina desidrogenase, que degrada o fármaco. Em um estudo realizado em seres humanos saudáveis, os índices de baixa produção ou deficiente

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NOTÍCIAS produção dessa enzima foram de 3-5% e 0,1% respectivamente 44. Entre os sinais clínicos associados aos efeitos colaterais incluem-se: ataxia, convulsões, hiperexcitabilidade, perda de consciência, nistagmo, sonolência e alterações visuais. As convulAgener União realizou nos dias sões podem evoluir para perda de consciên21 e 22 de setembro de 2013 o cia, apneia, arritmia e parada cardiaca 3. A IV Simpósio Agener União – neurotoxicidade é atribuída a dois catabóliNeurologia Veterinária, com o prof. dr. tos neurotóxicos do 5-FU, à fluoroalanina e Ronaldo Casimiro da Costa (MV, MSc, ao ácido monoflouracético 47. Este agente PhD, Dipl. ACVIM – Neurologia). Fojamais deve ser administrado em gatos, nem ram 16 horas dedicadas a vasto conteútopicamente, pois a neurotoxicidade é fatal 1. do sobre importantes tópicos da neurologia veterinária presentes tanto no L-ASPARAGINASE atendimento clínico quanto cirúrgico. Já na década de 1950 descobriu-se que o O dr. Ronaldo Casimiro da Costa é soro de cobaias de laboratório possuía ativiprofessor e chefe do Serviço de Neurodade antileucêmica e atribuiu-se à enzima logia e Neurocirurgia Veterinária da L-asparaginase esse efeito 6,48. A L-asparagiThe Ohio State University, em Columnase é sintetizada por uma série de organisbus, EUA, e referência mundial em mos, como bactérias, fungos, leveduras e neurologia veterinária, ministrando paplantas 49,50. O agente obtido diretamente deslestras em congressos internacionais, ses organismos deve ser modificado, pois tem como ocorreu no Congresso do Colémeia-vida curta e alta imunogenicidade. A gio Americano de Cirurgiões VeterináEscherichia coli é o principal microrganismo rios (ACVS), em outubro de 2013, no utilizado na produção dessa enzima 49. Muitos Texas, EUA. estudos têm sido feitos com o objetivo de No IV Simpósio Agener União, o determinar a presença e a atividade da Lprofessor começou sua apresentação asparaginase no óleo de soja e seus efeitos 51. frisando conceitos básicos da neuroloEste agente é amplamente utilizado em progia veterinária: “É comum ouvir dizer tocolos de linfoma combinado a outros fárque neurologia é muito difícil e commacos na medicina veterinária 1,49,52. plicada. Este dogma tem se disseminado e talvez por isso a neurologia é freMecanismo de ação quentemente deixada por último plano A L-asparagina é o aminoácido essencial nos currículos acadêmicos. O fato é mais requisitado pelas células para a síntese que a neurologia não é mais difícil ou proteica 6. Sua produção é suficiente em cémais fácil que outras especialidades, lulas normais, porém em células neoplásicas mas requer, diferentemente de outras são necessárias fontes exógenas deste amiáreas, que se aborde o paciente iniciannoácido. Isso ocorre pois estas requerem um do pelo mais importante fundamento grande aporte de asparagina, devido ao seu da neurologia clínica que é a localizagrande índice de replicação, que exige intenção de lesões. Quando se aborda o sa atividade de síntese proteica 51. A L-aspapaciente suspeito de ter um problema raginase é uma enzima que promove depleneurológico usando um exame rápido e ção da L-asparagina, promovendo sua hidrótentando estabelecer logo de início o lise em ácido aspártico e amônia, diminuindiagnóstico ou possíveis diagnósticos, do os altos níveis desse aminoácido requisimuitas vezes o diagnóstico final é equitados pelas células neoplásicas 6,48,50. As células neoplásicas submetidas à privação desse aminoácido essencial são conduzidas à morte por apoptose 6,51. Quando administrada em protocolos que contêm outras drogas, a sequência de administração dos agentes é extremamente importante para que ocorra o sinergismo entre os fármacos. Quando administrada juntamente com metotrexato, a Lasparaginase deve sempre vir depois, pois ela promove a inibição da síntese proteica, que por sua vez impede a progressão da

célula no ciclo celular, impedindo a atuação do metotrexato, que tem sua atuação mais ostensiva em células na fase S do ciclo 6.

da casca da planta Taxus brevifolia 54. Além do efeito antineoplásico, também foi verificada a inibição de várias funções, tais como replicação e migração de fibroblatos, proliferação de linfócitos, secreção de proteínas plasmáticas pelos hepatócitos, liberação de insulina estimulada pela glicose e migração espontânea não direcional e em resposta a fatores quimiotáticos de neutrófilos 55.

IV Simpósio Agener União – Neurologia Veterinária

A

44

Metabolismo e excreção O metabolismo independe das funções renal e hepática e não é totalmente conhecido 15. O agente é administrado de maneira eficiente pela via parenteral, e tem meia vida média de 12 a 40 horas no plasma em cães. As vias utilizáveis são a intramuscular, subcutânea, intravenosa e intraperitoneal. Ainda podem ser observadas concentrações plasmáticas do fármaco durante uma a três semanas após a administração 3,6. Ele atinge níveis insignificantes no líquor 15, e não foram observados resíduos na urina.

Toxicidades A origem bacteriana deste agente lhe confere um alto potencial antigênico, o que faz com que as reações de hipersensibilidade ao fármaco sejam os seus principais efeitos tóxicos 6,12. Em seres humanos relatam-se reações Prof. dr. Ronaldo alérgicas entre 5% Casimiro a 20% dos pacientes 6. da Costa no IV Simpósio Podem-se observar êmese, diarreia, urticáAgener União ria, prurido, dispneia e hipotensão, que podem evoluir para o colapso circulatório se o vocado. De nada para adianta ter anafilático. quadro caminhar choque oNesse melhor recurso diagnósticaso, deve-se intervir imediatamente co (por exemplo, compossível tratamento à base de anti-histamínicos, ressonância magnética) bloquadores de H1, glicorticoides, fluidotequando não se sabe a região 1. Para evitar rapia para choque e adrenalina areações ser examinada. Portanto, e hipersensibilidade, recomenda-se para se administração obtenha sucesque aque via de seja a intramusso no 4 diagnóstico e tratacular . Outros efeitos colaterais observados mento de problemas neuro-e hepatite 49,52. são pancreatite, coagulopatias lógicos é fundamental A pancreatite desencadeadaque pela L-asparagionase processo inicie pode sersefatal em pela cães 3localização – logo, recodas lesões”. menda-se o monitoramento da função panO simpósio realizado no1. Hotel creática antes defoi instituir o agente Devido Blue Tree Morumbi, em São Paulo, SP, ao seu potencial imunogênico, sua meiaevida pode-se afirmar que foi mais um – e, consequentemente, sua eficiência – evento sucesso realizado Agener se tornade menor à medida que opela organismo deUnião, pois contou com a participação senvolve resposta imune à enzima 6,52. A Lde 500 veterinários de da todo o Brasil e asparaginase proveniente bactéria Erwinia obteve alto índice de satisfação dos chrysanthemi e a PEG-asparaginase são participantes: 95%. que desenvolverem opções para pacientes resistência e reações alérgicas à L-asparaginase originada da Escherichia coli 1,6. Paclitaxel O paclitaxel faz parte do grupo dos taxanos, que estão entre os agentes mais importantes dentre os novos fármacos antineoplásicos e os mais estudados para o tratamento de metástases de neoplasia de mama 53. O paclitaxel foi o primeiro fármaco desse grupo a ser estudado. Seu princípio ativo é extraído

Mecanismo de ação Embora seu local de ação sejam os microtúbulos, assim como os alcaloides da vinca, a colquicina e as podofilotoxinas, seu mecanismo de ação é diferente 54. Os microtúbulos são compostos de heterodímeros de tubulina, formados por _ e ` tubulina, e desempenham papel fundamental em processos vitais para a célula, como separação dos cromossomos, transporte intracelular e divisão celular 56. O fármaco age ligando-se à região N-terminal da `-tubulina 57. Essa ligação ocorre no espaço interno da parede do microtúbulo, onde se acredita aumentar o contato lateral entre os dímeros, gerando um feixe de microtúbulos estável 58. Essa estabilização promove parada na mitose e posterior apoptose 57. Outro mecanismo de ação atribuído aos taxanos é o efeito antiangiogênico 1. Metabolismo e excreção O sistema citocromo P450 do fígado é responsável por sua metabolização, e menos de 10% são eliminados intactos na urina 6. O principal metabólito até agora identificado é o 6-OH paclitaxel, mas inúmeros outros são "Durante a abordagem encontrados na urina e no plasma 3. clínica de p Toxicidades acientes comOssinais taxanos têm como principais efeitos neurológicos colaterais as reações de hipersensibilidade e 1 é mielossupressão muito importante a locomo. Asavaliar prováveis causas do ção do animal. Ela é normal ou anoralto índice de reações de hipersensibilidade mal? Se devido anormal, quais utilizados, membrosque ocorrem aos veículos estão afetados? Pélvicos, todos, são o etanol a 50% e o óleo de rícinoipsipolielaterais?", destacou o prof. dr. toxilado a 50%. Esses veículos são utilizaRonaldo Casimiro da Costa dos devido a sua solubilidade limitada 3. Recomenda-se prevenir as reações de hipersensibilidade em cães e gatos com difenidramina na dose de 4mg/kg, intramuscular (IM), cimetidina 4mg/kg, intravenosa (IV) e dexametasona, 2mg/kg (IV), 30 a 60 minutos antes do uso do quimioterápico. Outro fármaco que pode ser administrado é a prednisona, 2mg/kg (VO), na noite anterior à aplicação do paclitaxel 1. Em um estudo realizado com 25 cães que receberam protocolos para prevenção dos quadros de hipersensibilidade,

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45


64% dos animais ainda apresentaram o quadro alérgico. No mesmo trabalho, 24% dos cães apresentaram neutropenia grave, 24% necessitaram de hospitalização e 12% morreram de septicemia 59. O nadir em cães e gatos acontece por volta do terceiro ao quinto dia após a aplicação. Toxicidade gastrintestinal com vômito ou diarreia é rara 1. ARMAZENAMENTO E MANIPULAÇÃO DE AGENTES ANTINEOPLÁSICOS É notório que todos os agentes antineoplásicos citados neste trabalho apresentam toxicidades em diversos graus e de diversas naturezas, tendo alguns sido inclusive originados de armas químicas, como é o caso da ciclofosfamida 6. Este tópico não tem como objetivo instruir sobre como proceder na manipulação dos agentes, mas fornecer algumas informações preliminares a esse respeito. A manipulação de antineoplásicos requer uma série de cuidados e critérios, e é sempre importante apontar que esses agentes apresentam um risco real para todos os indivíduos envolvidos no processo – médicos veterinários, funcionários de clínicas veterinárias, proprietários, profissionais de coleta de lixo, etc. Podemos citar que as práticas que envolvem a exposição aos agentes sempre devem considerar os seguintes fatores 60: - manipulação (que envolve a preparação, administração e eliminação); - frequência e duração da manipulação; - potencial de absorção por contato direto e aerossóis; - disponibilidade de locais ventilados no ambiente de preparo do fármaco; - disponibilidade de equipamentos de segurança pessoais; - práticas de trabalho que desconsiderem os perigos de longos períodos de exposição 60. Abaixo temos as figuras 1 e 2, que mostram uma cabine de segurança exclusiva para o preparo da aplicação dos agentes antineoplásicos e uma geladeira também de uso exclusivo para os agentes. Na sequência estão dispostos alguns cuidados com o armazenamento, diluição e manipulação dos fármacos apresentados neste trabalho. Ciclofosfamida - armazenamento e cuidados na manipulação O fármaco está disponível para administração oral em drágeas e injetável. A conservação da forma injetável é feita mantendo-a em refrigeração por até seis dias; não há necessidade de diluição específica, podendo ser reconstituída em solução NaCl 0,9%. Os 46

proprietários não devem manipular as drágeas, pois são altamente oncogênicas. Estima-se que, em seres humanos, os agentes alquilantes sejam os principais responsáveis pelas neoplasias induzidas por quimioterápicos 4. Não é recomendada a divisão das drágeas para ajuste da dose, pois o princípio pode não estar distribuído de forma homogênea em seu interior. Recomenda-se que a remanipulação do fármaco para cápsulas individuais seja feita por um farmacêutico 1. De um a três dias após administração do fármaco, deve-se manejar os dejetos do animal com luvas de látex e armazená-los em caixa plástica fechada. Os panos e outros itens utilizados na limpeza devem ser lavados separadamente 11. Lomustina e clorambucil - armazenamento e cuidados na manipulação Assim como os alquilantes de outros grupos, este agente é altamente mutagênico e carcinogênico, e os cuidados a serem tomados com este fármaco são os mesmos que os tomados ao usar a ciclofosfamida 6,4,11. Os fármacos, que são administrados por via oral, devem ser mantidos em temperauras entre 22ºC a 25ºC, em locais secos e ao abrigo da luz 3. Vincristina e vimblastina - diluição, armazenamento e cuidados na manipulação Para ser utilizada estritamente por via intravenosa, a vincristina deve ser diluída em solução fisiológica na proporção 1:10, para evitar possíveis flebites e necroses por extravasamento 4. Sua administração deve Setor de Oncologia do Provet - Rodrigo Ubukata

Figura 1 - Fluxo laminar para uso exclusivo no preparo da aplicação de agentes antineoplásicos Setor de Oncologia do Provet - Rodrigo Ubukata

Figura 2 - Manipulação de agente antineoplásico sendo realizada em fluxo laminar exclusivo para esse fim

ser feita in bolus, rapidamente 1. O fármaco deve sempre ser mantido refrigerado e ao abrigo da luz. Antes de ser diluída, caso seja mantida refrigerada, a solução pode ser guardada por até seis meses. Depois de diluída, pode ser guardada por um mês sob refrigeração 1. Alguns autores recomendam apenas 14 dias sob refrigeração, desde que seja reconstituída com diluente bacteriostático 15. Doxorrubicina - diluição, armazenamento e cuidados na manipulação Deve-se diluir o fármaco em solução NaCl 0,9%, na concentração de 2mg/mL. O volume a ser administrado deve ser de no mínimo 10mL/kg, com duração de 30 a 45 minutos 4. Antes de ser diluído, o fármaco deve ser conservado em temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Após ser diluída, a solução pode ser mantida em temperatura ambiente por 24 horas 4. A solução diluída e refrigerada a 4ºC se conserva por até 48 horas 15. Devido ao seu forte efeito irritante, deve-se ter todo o cuidado para evitar possíveis perfurações com agulhas contendo o fármaco. O uso de máscara, óculos de proteção e dois pares de luvas é recomendável, assim como na manipulação de qualquer outro antineoplásico 4. Metotrexato - armazenamento e cuidados na manipulação O metotrexato pode ser mantido – tanto na apresentação em comprimidos quanto na forma injetável – entre as temperaturas de 15ºC e 30 ºC, ao abrigo da luz e da umidade. Após ser diluída, a apresentação injetável deve ser mantida sob refrigeração (2 ºC e 8 ºC) e utilizada em até oito horas, para se evitar perigo de contaminação. Pode ser diluída, sem concentração específica, em solução de NaCl a 0,9%, água destilada ou solução glicosada a 5% 3. Cisplatina - diluição, armazenamento e cuidados na manipulação Recomenda-se diluir o fármaco em 250mL de solução de NaCl a 0,9% 16. Antes da diluição, o agente é estável por dois anos. Após a diluição, a solução pode ser mantida em temperatura ambiente por 20 horas. Não deve ser refrigerada, pois pode ocorrer precipitação. Alguns fabricantes afirmam que na concentração de 0,5mg/mL, o produto pode ser mantido refrigerado sem que ocorra precipitação por sete horas 3. A cisplatina é sensível à luz. Deve-se evitar o contato do fármaco com alumínio, contido em algumas

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agulhas ou no papel-alumínio 4. Carboplatina - armazenamento e cuidados na manipulação A carboplatina deve ser mantida a temperaturas em torno de 25ºC e ao abrigo da luz antes de ser diluída. Após a diluição pode ser mantida sob refrigeração (2ºC a 8ºC) por até oito horas. Sua diluição pode ser feita tanto em solução de NaCl a 0,9% quanto em solução glicosada a 5%, na concentração de 10mg/mL. Deve ser administrada em cinco a dez minutos 1. O fármaco é potencialmente

mutagênico, carcinogênico e teratogênico, logo, todos as medidas de proteção devem ser tomadas quando da manipulação 3,6. Fluorouracil - diluição, armazenamento e cuidados na manipulação O 5-FU pode ser diluído em solução de cloreto de sódio a 0,9% ou glicosada a 5%, na proporção de 50mg/mL. Deve ser guardado em temperatura entre 15ºC e 30ºC e protegido da luz. Depois de reconstituído, pode ser mantido em temperatura ambiente por até 24 horas 3. Deve-se ter cuidado especial

na administração da apresentação em pomada, evitando o contato tanto do proprietário como do animal 4. Foi demonstrado que as luvas de látex, impermeáveis ao 5-FU, são seguras para a aplicação da apresentação em pomada 61. O teste Cometa, em células raspadas da boca, pode ser útil para monitorar lesões precoces ao DNA por exposição a agentes genotóxicos, como agentes antineoplásicos 62. L-asparaginase - armazenamento e cuidados na manipulação O agente pode ser mantido sob refrigeração

Nome

Origem

Mecanismo de ação

Aplicações clínicas *

Toxicidades

Nadir

Metabolismo

Excreção

Uso

Ciclofosfamida

agente alquilante derivado das mostardas nitrogenadas utilizadas na II Guerra Mundial como arma química

Eletrófilo forte inespecífico; estabelece ligações simples e cruzadas com a dupla-fita de DNA

linfomas, carcinomas, sarcomas

mielossupressão, gastrintestinal, cistite hemorrágica (rara)

5 a 10 dias

hepático, deve ser metabolizado para ser ativo

urina

cão gato

Lomustina

síntético

eletrófilo forte inespecífico; estabelece ligações simples e cruzadas com a dupla-fita de DNA

linfomas, mastocitomas, neoplasias do SNC

mielossupressão, gastrintestinal, hepatotóxica, nefrotoxicidade (mais rara)

7 dias

hepático, deve ser metabolizado para ser ativo

urina

cão gato

Clorambucil

Síntético

Idem Lomustina e ciclofosfamida; também se liga ao RNA, proteínas e membranas, prejudicando a síntese proteica, a atividade de enzimas e a sinalização

linfomas, leucemias linfocíticas crônicas, mieloma múltiplo, substituto da ciclofosfamida - casos de cistite hemorrágica estéril

mielotoxicidade moderada

tardia

hepático

urina

cão gato

Vincristina

Vinca rosea

impede a formação do fuso mitótico; diminui a síntese de DNA

linfomas, mastocitomas, TVT

vesicante, neuropatia periférica, mielossupressão, gastrintestinal

4a9 dias

hepático

fecal

cão gato

Vimblastina

Vinca rosea

impede a formação do fuso mitótico; diminui a síntese de DNA

mastocitomas, substituto da vincristina em linfomas - casos de neuropatia periférica

vesicante, neuropatia periférica, mielossupressão, gastrintestinal

4 a 10 dias

hepático

fecal urina (pequena fração)

cão gato

Cisplatina

composto inorgânico derivado da platina

estabelece ligações simples e cruzadas com a dupla-fita de DNA

osteossarcoma, náusea e vômito carcinomas, intensos. sarcomas nefrotoxicidade, neurotoxicidade leve, mielossupressão

11 a 14 dias

-

bile (<2%) urina (>85% em 48 horas)

cão

* - As indicações dos agentes antineoplásicos consideram mesmo aqueles que fazem parte de protocolos de poliquimioterapia.

Figura 3 - Principais características dos antineoplásicos apresentados

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(2ºC a 8ºC) tanto antes quanto depois de sua reconstituição e pode permanecer assim por 24 horas após ser diluído. Depois de diluída, a solução pode ser mantida por até seis horas em temperatura ambiente. A diluição recomendada é de 5mg/mL 3. Por ser um agente teratogênico e embriotóxico em roedores, deve-se evitar o contato e a administração em gestantes 3. Paclitaxel - diluição, armazenamento e cuidados na manipulação O paclitaxel pode ser diluído em solução

de NaCl a 0,9%, na concentração de 0,3 a 1,2mg/mL. Deve-se filtrar o produto em membranas com microporos de 0,22 mícrons. Nunca se deve manipular o agente com material que contenha policloreto de vinil (PVC), devido à incompatibilidade do seu diluente. O acondicionamento deve ser feito em embalagens de vidro ou de polipropileno. Depois de diluído, pode ser mantido em temperatura ambiente por até 24 horas 3. A figura 3 apresenta as principais características dos antineoplásicos abordados nesse trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento básico sobre os aspectos gerais que envolvem os fármacos antineoplásicos com certeza é fundamental para o sucesso dos tratamentos, devido às inúmeras complicações da própria doença, às toxicidades associadas ao uso dos fármacos e à necessidade de intervenção consciente do médico veterinário responsável. Este trabalho aborda em linhas gerais os principais aspectos a respeito dos antineoplásicos mais utilizados na medicina veterinária. A quimioterapia hoje já é uma realidade entre os animais

Nome

Origem

Mecanismo de ação

Aplicações clínicas *

Toxicidades

Nadir

Metabolismo

Excreção

Uso

Doxorrubicina

fungo Streptomyces peucetius var. caecius

estabelece ligações simples e cruzadas com a dupla-fita de DNA, inibe topoisomerase II, forma radicais livres, inibe síntese de proteínas <DNA e RNA)

linfoma, carcinomas, sarcomas

hematológica, gastrintestinal, cardiotóxica, alopecia nefrotóxica (gatos) vesicante

7 dias

hepático

fecal (7dias) urina

cão gato

Metotrexato

sintético

inibe a timidilato sintetase, suprimindo a síntese de RNA e DNA

linfomas

mielossupressão, gastrintestinal, lesões de pele e mucosa oral, nefrotóxica, hepatotóxica

6a9 dias

pouco metabolizada hepático (10%)

urina

cão gato

Carboplatina

composto inorgânico derivado da platina

estabelece ligações simples e cruzadas com a dupla-fita de DNA

osteossarcoma, mesmas da carcinomas, cisplatina, sarcomas em menor intensidade

11 a 14 hepático dias

bile (<2%) urina (>85% em 48 horas)

cão gato

5-FU

sintético

suprime a síntese de DNA e prejudica a ação e o processamento do RNA através da inibição da enzima timidilato sintetase

carcinomas, sarcomas

mielossupressão, neurotoxicidade, gastrintestinal

7 a 14 dias

hepático urina e (di-hidrorespiração pirimidina desidrogenase)

cão

L-asparaginase Escherichia coli Erwinia chrysanthemi

degrada L-asparagina, inviabilizando síntese proteica essencial em todos os processos vitais para a célula

linfomas

reações de hipersensibilidade (pode evoluir para choque anafilático) pancreatite

-

desconhecido

-

cão

Paclitaxel

estabiliza os microtúbulos, antiangiogênico

sarcomas, hipersensibilidade adenocarcinoma frequente e mamário mielossupressão (ainda sob investigação)

hepático

urina (<10% intacto)

cão gato

Taxus brevifolia

3a5 dias

Logo, a indicação não significa que o agente é indicado como único para o tratamento da neoplasia descrita

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de companhia, e o conhecimento por parte do veterinário que se dispõe a utilizar a terapia com agentes antineoplásicos se torna essencial para uma prática segura e eficiente. AGRADECIMENTOS Este trabalho recebeu apoio da FAPESP. REFERÊNCIAS 01-CHUN, R. ; GARRET, L. ; MAcEWEN, E. G. Cancer chemotherapy. In: WITHROW, S. J. ; MAcEWEN, E. G. Small animal clinical oncology. 4. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 2007. p. 163-192. 02-INOUE, K. ; KUDO, G. ; SHIMODA, M. ; KOKUE, E. Potentiated decreased of plasma folate levels caused by the coadministration of folic acids in rats treated with methotrexate. The Journal of Veterinary Medical Science, v. 60, n. 4, p. 503507, 1998. 03-RODASKI, S. ; De NARDI, A. B. Quimioterapia antineoplásica em cães e gatos. 21. ed. Curitiba: Bio Editora, 2008. 04-LANORE, D. ; DELPRAT C. Quimioterapia anticancerígena, 1. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2004, p. 79-82. 05-SORENMO, K. Canine mammary gland tumors. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, Philadelphia, v. 33, n. 3, p. 573596, 2003. 06-CHABNER, B. A. ; ALLEGRA, C. J. ; CURT, G. A. ; CALBRESI, P. Agentes antineoplásicos. In:

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Estudo sobre os hábitos alimentares e as atividades físicas de cães obesos da cidade de São Paulo e seus reflexos no balanço metabólico Study on the eating habits and level of physical activity of obese dogs in São Paulo and their effect on the metabolic balance

Márcia Marques Jericó MV, profa. dra. - UAM marciajerico@hotmail.com

Jane Mary Albinati Médica veterinária janealbinati@ig.com.br

Estudio sobre los hábitos alimentarios y actividad física de perros obesos en la ciudad de Sao Paulo y su efecto sobre el balance metabólico

Fernanda Bueno Fusco Médica veterinária fezinhafusca@hotmail.com

Clínica Veterinária, n. 81, p. 54-60, 2009 Resumo: A obesidade, doença metabólica de origem multifatorial, acarreta prejuízos à saúde e à longevidade do indivíduo. Objetivou-se avaliar o comportamento de cães obesos na cidade de São Paulo em relação à ingestão alimentar e à prática de atividades motoras e suas consequências no balanço metabólico desses animais. Foram pesquisados 50 animais obesos de faixas etárias variadas e diferentes raças. Verificou-se que 22% dos animais pesquisados não realizam nenhuma atividade física, 46% deles são considerados modera-

damente preguiçosos e 56% têm um comportamento alimentar voraz ou guloso. Também 78% desses cães consomem o mesmo tipo de alimento que seu proprietário e todos apresentam um balanço metabólico positivo. Concluiu-se que os cães obesos estudados apresentam comportamento alimentar e de atividade motora que resultam num balanço metabólico positivo, com consequente perpetuação e progressão da condição de obesidade. Unitermos: obesidade, atividade motora, comportamento alimentar

Resumen: La obesidad, enfermedad metabólica de origen multifactorial, causa daños a la salud y disminuye la longevidad del individuo. El objetivo fue evaluar el comportamiento de perros obesos en São Paulo en relación a la ingestión de alimentos y a la práctica de la actividad física y sus consecuencias sobre el equilibrio metabólico. Se estudiaron 50 animales obesos de diferentes edades y diferentes razas. Se observó que 22% de los animales evaluados no realizaban ninguna actividad física, 46% eran considerados

moderadamente perezosos y 56% tenían comportamiento alimentar voraz o goloso. Además, 78% de los perros consumían el mismo tipo de alimento que su propietario y todos tenían un equilibrio metabólico positivo. Se constató que los perros obesos presentan comportamiento alimentario y nivel de la actividad motora que resultan en equilibrio metabólico positivo, con la consiguiente perpetuación y progresión de la obesidad. Palabras clave: obesidad, actividad motora, conducta de alimentación

Abstract: Obesity, a metabolic disease of multifactorial origin resulting in hazards to the individual's health and longevity, is defined as the excessive accumulation of body fat caused by a chronic imbalance between energy intake and energy expenditure 5. The aim of this study was to assess the behavior of obese dogs in São Paulo city, regarding to their feeding habits and practice of physical activity, and the resulting metabolic balance of these animals. Fifty owners of obese dogs were interviewed by means of a closed questionnaire used to identify and characterize the animal's behavior and to report on their food consumption, performed physical activities and management habits. Obesity was determined through the Body Condition Score (BCS >3), and body fat percentage (BF%) was determined through morphometric measurements 16. Among the 50 dogs studied, there were 5 mongrel dogs (10%). Breeds observed included labrador (22%), dachshund and beagle (8% each), poodle, cocker, bulldog, golden retriever (6% each), in addition to doberman (4%), basset hound, bernese, bichon frisé, cane corso, kuvasz, lhasa apso, pincher, pit bull, siberian husky, schnauzer and whippet (1%). Age groups ranged from 1 to 3 years of age (36%), 4 to 7 years of age (38%) and > 8 years of age (26%), and 54% of the animals were males. Reproductive condition was reported for 38 animals, 45% of which had been neutered. BF% mean was 35% (SD=±14%), with a weight range of 3.6 to 60kg. Regarding the eating habits of the 50 obese dogs, 56% of them presented a voracious and gluttonous appetite, 18% were selective or fussy eaters and none presented poor appetite. As to the type of food offered by the owner, results showed that 44% of them offered dog food, homemade food as well as treats and snacks, whereas 26% offered dog food, treats and snacks and 16% offered dog food, exclusively. None of the owners offered homemade food, exclusively. It was also observed that 70% of these dogs were fed once to twice a day and 78% of the owners shared the same types of foods with their dogs. Considering a classification scale from 0 to 10 for each animal's behavior while performing its favorite activities, 90% slept a lot or moderately, 65% of them enjoyed eating, 43% were considered moderately active and a minority (26%) was highly active. When evaluating the animals' motivation towards physical exercises, it was observed that 46% were moderately lazy, 30% were active and 24% were very active, whereas none was considered apathetic. As to the type of physical activity performed, 68%

walked and 22% did not perform any physical activity. Among those practicing physical activities, 32% presented a daily exercise frequency of once a day, 43% of twice a day and 25% of 3 times a day. Analysis of walked distance/minutes showed that of the 39 obese dogs that exercised, 57% walked a total of 20 to 40 minutes and 28% walked for around one hour. When proportions were compared (Fisher's test), there was a significant association (p=0.018) between physical activity and the dog's age, in which the moderately lazy group presented a higher percentage of cases aged older than 4 and the active and very active groups presented a higher percentage of individuals between 1 and 3 years of age. When comparing age groups as to their BF%, the group aged 1 to 3 years of age significantly differed from the group aged > 8 years (Kruskal-Wallis; p< 0.05), presenting significantly lower BF% values. Physical activity levels also differed in relation to BF% (p<0.001), with the very active group presenting significantly lower BF% values in contrast with the moderately lazy group. On the other hand, eating habits did not differ regarding BF% (p=0.7355). Spearman's coefficient showed a negative and significant correlation between playing and BF% - i.e., the higher the BF%, the lower the motivation to play and vice-versa (r =-0.31952; p= 0.0237); between age and playing (r= -0.28606; p=0.0440) and between age and exercising (r= - 0.51474; p = 0.0001). As to food consumption, McNemar's non-parametric test showed no significant correspondence between the owner's and the dog's food, except for the item fruit (p=0.180). Of the assessed animals, the mean daily energy gain through food was 2,921 kcal (SD=±1637kcal); the median caloric expenditure through exercises was 95 kcal (%5 and %95 = 0 to 560 kcal). These values resulted in a mean positive energy balance of 2,709 kcal (SD=±1599kcal), and consequently in a median daily excess caloric intake of 1,631 kcal (%5 and %95 =454 to 4814 kcal), for an ideal estimated weight. It was concluded that among the obese dogs studied, there was a significantly negative correlation between age and BF% and the practice of physical activities. Additionally, the positive metabolic balance related to high energy intake and low intensity of physical activity is considered the main cause of weight gain in these animals, pointing towards the perpetuation and progression of obesity. Keywords: obesity, physical exercise, eating behavior

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INTRODUÇÃO A obesidade é definida como um acúmulo excessivo de gordura corpórea, derivada de um desequilíbrio crônico entre a energia ingerida e a energia gasta. É considerada como doença do metabolismo de gênese multifatorial, em que estão associados determinantes poligênicos e neuroendócrinos, aliados a fatores ambientais e sociais 1,2,3,4. O aumento da incidência da obesidade em quase todos os países do mundo nos últimos anos mostra que essa doença vem tomando caráter epidêmico e sendo considerada como um grande problema médico na população humana e em seus animais de estimação, como cães e gatos 5. Estudos epidemiológicos prévios, realizados em países europeus e nos EUA, revelam índices de prevalência de cães obesos entre 24 e 44% da população estudada. No Brasil, a incidência da obesidade foi reportada em cerca de 16% dos cães observados na cidade de São Paulo 5,6,7,8. A obesidade pode diminuir o tempo de vida dos animais de estimação, assim como predispor ou causar problemas de saúde como: diabetes melittus, problemas hepáticos e de metabolização; hipertensão, doenças cardíacas, doenças respiratórias, osteoartrite, neoplasias, dermatites e redução da imunidade 9. Em vários estudos, evidencia-se o fato de que proprietários com sobrepeso são mais propensos a ter animais de estimação com sobrepeso 10,11,12. Isso vem reforçar as observações de que o alimento se torna um fator de socialização entre proprietários e seus animais de estimação 10,13,14. Além disso, o competitivo mercado atual dispõe de um amplo leque de alimentos, biscoitos e complementos nutricionais para cães e gatos cuja composição em termos de nutrientes, disponibilidade, digestibilidade e palatabilidade apresenta grande diversidade 15. A atividade física é a forma mais eficiente de aumentar o gasto energético e de minimizar as consequências da perda de peso sobre a atividade metabólica do individuo, e pode ser implementada em cães sob a forma de caminhadas, corridas ou outras modalidades esportivas 5,16. Na literatura compilada não foram encontrados trabalhos que definam, de maneira conjunta, o perfil do cão obeso, no que diz respeito ao seu comportamento em relação ao alimento, às atividades físicas e ao balanço metabólico resultante dessas variáveis. MATERIAIS E MÉTODOS Animais Na pesquisa foram utilizados 50 cães

obesos. Realizaram-se entrevistas com os proprietários desses animais, e aplicou-se um questionário para identificar e caracterizar o comportamento dos animais de estimação e relacionar os alimentos consumidos, atividades físicas realizadas e hábitos de manejo (Figura 1). A condição de obesidade foi determinada por meio do escore de condição corpórea 5 (ECC>3) e da determinação da porcentagem de gordura corpórea (%GC) a, através de medidas morfométricas 16. O peso dos animais foi aferido pelo pesquisador ou informado pelo proprietário do animal, quando em pesquisa de campo (Parque Ibirapuera - SP). Análise das informações Para calcular as necessidades calóricas diárias ideais (NCDI) utilizou-se a equação: NCD = NCRI x 1,0, em que NCRI = necessidades calóricas em repouso ideais = [(30 x PI) + 70], sendo PI = peso ideal, este determinado a partir da %GC em excesso, assumindo-se que 15% é o valor ideal máximo para um cão 17. A partir dos dados coletados, foi possível quantificar o ganho energético alimentar diário do animal avaliando a composição dos macronutrientes da dieta, que foi dividida em grupos: ração, petiscos e comida caseira. As informações sobre a composição dos alimentos industrializados foram analisadas a partir das informações publicadas nos rótulos das embalagens ou por meio eletrônicos. A composição das dietas caseiras foi obtida a partir de tabelas de conteúdo nutricional para alimentos humanos 16,18. O conteúdo calórico diário do alimento consumido foi calculado a partir de valores Atwater modificados. Para quantificar o gasto energético diário de cada animal em função do gasto calórico (em kcal) resultante da prática de atividades físicas diárias como caminhadas, corridas e natação, foram extrapolados dados da espécie humana b e adaptados para cães 19. Análises estatísticas Inicialmente, todas as variáveis foram analisadas descritivamente. Para as variáveis contínuas, essa análise foi feita através da observação dos valores mínimos e máximos e do cálculo de médias, desvios-padrão e mediana. Para as variáveis classificatórias calcularam-se as frequências absolutas e relativas. A comparação entre as proporções foi avaliada através do teste qui-quadrado ou teste exato de Fisher. A comparação entre os grupos de tipo de atividade em relação ao

peso, idade e %GC foram realizadas através do teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. O estudo de correlações entre os dados de comportamento alimentar e de exercícios e a %GC e a faixa etária foi realizado através do coeficiente de correlação de Spearman. A comparação entre a alimentação do proprietário e a do cão foi realizada através do teste não paramétrico de McNemar. A influência do sexo e da atividade física sobre a %GC foi realizada através do teste não paramétrico de Mann-Whitney. O nível de significância utilizado para os testes foi de 5% (p<0,05) 21. RESULTADOS Dentre os 50 cães obesos pesquisados, além dos cinco cães sem raças definida (10%), as raças mais frequentemente observadas foram labradores (22%), teckels e beagles (8% de cada), poodles, cockers, buldogs, golden retrievers (6% cada); além de dobermanns (4%), bassets hound, bernesses, bichons frisés, cani corsi, kuvaz, lhasas, pinchers, pitbulls, husks, schnauzers e wippettis (1%). A faixa etária compreendia de um a três anos (36%), de quatro a sete anos (38%) e acima de oito anos (26%), sendo 54% machos. Dos 38 animais dos quais se informou a condição reprodutiva, 45% eram castrados. Os valores de %GC do grupo resultaram em média de 35% (DP = ±14%), com variação ponderal de 3,6 a 60kg. Com relação às características do comportamento alimentar dos 50 cães obesos, verificou-se que 56% deles apresentam um apetite voraz e guloso, 18% são seletivos ou caprichosos e nenhum apresentou pouco apetite. Com relação ao tipo de alimentação oferecida pelo proprietário, os resultados mostram que 44% dos proprietários oferecem ração, comida caseira e petiscos aos cães, 26% oferecem ração e petiscos e 16% apenas ração. Nenhum proprietário oferece apenas comida caseira ao seu animal. Observou-se também que 70% desses cães são alimentados uma ou duas vezes ao dia. Cerca de 80% dos proprietários (78%) dividem os mesmos tipos de alimento com os seus cães. Numa escala de classificação de 0 a 10 do comportamento dos animais ao realizar suas atividades favoritas, 90% dormem muito ou de forma moderada, 65% deles gostam de comer, 43% são considerados moderamente a) %GC - 0,0034 x (CL) 2 + 0,0027 x (CP) 2 - 1,9 / PC CL = distância do calcâneo até o ligamento cruzado CP = circunferência pélvica PC = peso corpóreo 16 b) Caminhada: 280kcal/60 minutos; corrida: 580kcal/60 minutos; natação: 560kcal /60 minutos 19,20.

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QUESTIONÁRIO Nome do animal: __________ sexo: ____ idade: ______ raça: _____________ peso: _______ CL:______ CP:_____ %CG:___ 1. Classifique o comportamento do seu animal de 0 a 10: a) brincadeiras ____ b) dormir _____ c) exercícios _____ d) comer_____ 2. Como você caracteriza a disposição do seu animal? ( ) muito ativo ( ) ativo ( ) moderadamente preguiçoso ( ) apático 3. Que tipo de atividade física seu animal pratica? ( ) Não pratica ( ) agility ( ) natação ( ) caminhada ( ) corrida ( ) outros _____________ 4. Frequência da atividade física praticada pelo animal ( ) 1 x ao dia ( ) 2-3 x ao dia ( ) mais de 3 x ao dia ( ) 1 x por semana ( ) 2-3 x por semana ( ) mais de 3 x por semana 5. Qual a duração do percurso? ( ) menos de 10 min ( ) 10-20 min. ( ) 20-40 min ( ) 1 hora ( ) mais de 1 hora 6. Classifique o comportamento alimentar do seu animal de estimação ( ) seletivo ou caprichoso ( ) voraz ou guloso ( ) com pouco apetite ( ) apetite normal 7. Quantas vezes por dia o seu animal é alimentado (incluindo ração, petiscos e comida caseira)? ( ) 1x ao dia ( ) 2x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) Mais de 3x ao dia 8. Que tipo de alimentação é fornecida ao seu animal de estimação? ( ) ração ( ) ração + petiscos ( ) ração + petiscos + comida caseira ( ) comida caseira ( ) comida caseira + petiscos ( ) comida caseira + ração ( ) outros: __________________ 9. Tente descrever o comportamento do seu animal em relação aos seguintes alimentos: a) ração - marca: ______________________________ quantidades (kg): ____________________________ frequência: ( ) 1x ao dia ( ) 2 x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia b) petiscos - tipo:_____________________________ quantidade (unidades): ( )1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) acima de 4 frequência: ( ) 1x ao dia ( ) 2 x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia c) comida caseira: tipo: ( ) carnes ( ) arroz ( ) legumes ( ) frutas (quais) _________quantidade (kg): _________________ frequência: ( ) 1x ao dia ( ) 2 x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia 10. Você costuma alimentar seu animal com o mesmo tipo de alimentação que você consome? ( ) sim, frequentemente ( ) sim, as vezes ( ) não 11 . Com quais destes alimentos você e seu animal de estimação costumam se alimentar? Marque com um X. Alimento Prop. Cão Alimento Prop. Cão Alimento Prop. Cão Carne bovina assada ( ) ( ) Verdura crua ( ) ( ) Pastel de queijo ( ) ( ) Carne bovina grelhada ( ) ( ) Verdura cozida ( ) ( ) Pastel de carne ( ) ( ) Carne bovina cozida ( ) ( ) Legumes crus ( ) ( ) Arroz ( ) ( ) Ovo de galinha ( ) ( ) Legumes cozidos ( ) ( ) Iogurte ( ) ( ) Leite integral ( ) ( ) Bombons ( ) ( ) Frutas ( ) ( ) Chocolate ( ) ( ) Pizza de queijo ( ) ( ) Pão ( ) ( ) Cerveja ( ) ( ) Pizza calabresa ( ) ( ) Bolo ( ) ( ) Refrigerante ( ) ( ) Quibe ( ) ( ) Queijo ( ) ( ) Bolacha ( ) ( ) Figura 1 - Questionário de identificação e caracterização do comportamento e dos alimentos consumidos, atividades físicas realizadas e hábitos de manejo de animais de estimação

brincalhões e uma minoria (26%) pratica exercícios com regularidade. Na avaliação sobre a disposição dos animais para a realização de exercícios, verifica-se que 46% dos cães são moderadamente preguiçosos, 30% são ativos e 24% muito ativos; nenhum deles foi considerado apático. Quanto ao tipo de atividades físicas realizadas, 68% fazem caminhadas e 22% não realizam nenhuma atividade física. Dos praticantes de atividade físicas, 32% apresentam uma frequência diária de exercícios de uma vez ao dia, 43% duas vezes ao dia e 25% três vezes ao dia. Na avaliação do percurso realizado/minuto, verificou-se que, dos 39 cães obesos que praticam exercícios, 57% fazem um percurso de 20 a 40 minutos e 28% realizam 55

percurso em torno de uma hora. Dos animais avaliados, verificou-se que a média dos valores diários do ganho energético por alimentos é de 2.921kcal (DP = ± 1.637kcal); a mediana de gasto calórico diário por meio de exercícios é de 95kcal (%5 e %95 = 0 a 560kcal). Esses valores resultaram em um balanço energético positivo médio de 2.709kcal (DP = ± 1.599kcal), e consequente sobreconsumo calórico diário mediano de 1.631kcal (%5 e %95 = 454 a 4.814kcal), para um peso ideal estimado (Figura 2). Na comparação entre proporções (Teste de Fischer), houve uma associação significativa (p = 0,018) entre a atividade física e a idade do cão, de acordo com a qual o grupo

moderamente preguiçoso apresenta maior percentual de casos com idade acima de quatro anos, e os grupos ativo e muito ativo apresentam maior percentual em idade entre um e três anos. Na comparação entre os grupos de faixa etária e a %GC, o grupo de idade de um a três anos difere significativamente do grupo com idade acima de oito anos (Kruskal-Wallis; p < 0,05), apresentando valores percentuais de gordura corpórea significativamente menores (Figura 3). Também se observa que a atividade física difere em relação à %GC (p < 0,001), sendo que o grupo muito ativo difere significativamente do grupo moderadamente preguiçoso, apresentando valores significativamente menores de %GC (Figura 4). Por outro lado, o

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média DP mediana mínimo máximo

Balanço metabólico (kcal) 2708,9 1599,1 2286,0 568,0 7032,0

NEDI (kcal) 736,2 432,5 654,5 123,0 1852,0

Sobreconsumo (kcal) 1972,7 1374,9 1631,5 349,0 5568,0

Figura 2 - Valores diários de média, desvio-padrão, mediana, mínimos e máximos do balanço metabólico, das necessidades energéticas ideais (NEDI) e do sobreconsumo energético em cães obesos (n = 50) - São Paulo, 2008

comportamento alimentar não difere em relação à %GC (p = 0,7355). Através do coeficiente de correlação de Spearman, percebese que há uma correlação negativa e significativa entre a brincadeira e a %GC, ou seja, quanto maior a % GC, menor a disposição para brincadeira e vice-versa (r = -0.31952 e p = 0.0237) (Figura 5), entre idade e brincadeira (r = -0,28606; p = 0,0440) e entre idade e exercícios (r = -0,51474 e p = 0,0001). Pelo teste não paramétrico de McNemar, observamos que não há concordância significativa entre o consumo do proprietário e o do cão, à exceção do item frutas (p = 0,180). Pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney, observamos que não há diferenças entre a %GC e o sexo e a condição sexual dos animais (p = 0,1339).

também ao estilo de vida dos animais de estimação (Figura 6). A população de cães obesos ora estudada, representada por 50 cães, foi escolhida dentro de um grupo maior cujo critério de seleção foi o da constatação da ausência de sintomas óbvios de doenças graves, bem como da não utilização crônica ou importante de fármacos como glicocorticoides, diuréticos ou barbitúricos. Animais obesos com outras doenças metabólicas, como diabetes mellitus, hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo, também foram excluídos. Analisando-se a identificação do grupo estudado, percebe-se uma distribuição heterogênea no que diz respeito ao porte, às raças, ao sexo e à faixa etária, com representatividades diversas

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A obesidade não é apenas um problema que atinge os seres humanos e tem sido elemento de destaque também no que tange á saúde dos animais de companhia, como cães e gatos. O acúmulo excessivo de gordura corpórea tem sido considerado um fator que pode acarretar prejuízos à saúde dos animais e à sua longevidade 5,16. A despeito do fato de a obesidade ser em grande parte oriunda de uma predisposição genética e neuro-endócrina, é consenso que ela está muito relacionada Figura 4 - Valores de média, desvio-padrão da porcentagem de gordura corpórea (% GC), segundo a predisposição para atividade física em cães obesos (n = 50) - São Paulo, 2008

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Figura 5 - Correlação entre a porcentagem de gordura corpórea (%GC) e a disposição para brincadeiras em cães obesos (n = 50) - São Paulo, 2008

Márcia M. Jericó - C.V. Alto da Lapa

Figura 3 - Valores de média, desvio-padrão da porcentagem de gordura corpórea (% GC), segundo a faixa de idade em cães obesos (n = 50) - São Paulo, 2008

nesses itens da resenha. Comparando-se os resultados obtidos com estudo prévio realizado no país 8, percebe-se concordância especial no quesito raça, predominando em ambos os estudos os labradores, os teckels, os rottweilers e os beagles. O aspecto relativo à multiplicidade racial (e de porte) é importante para a correta interpretação dos resultados obtidos, visto que a diversidade evita a formação de um viés a favor da predisposição para padrões de comportamento alimentar ou de atividade física. Conforme relatado, a obesidade é mais comum em fêmeas do que em cães machos e também mais em cães castrados do que em não castrados de qualquer sexo 5,16,22. Nesta pesquisa não foram observadas diferenças significativas entre a %GC e o sexo e a condição sexual dos animais. No quesito referente à idade dos cães obesos, percebe-se que parte significativa desses animais é constituída de adultos jovens. Sabe-se que com o aumento da idade, as necessidades energéticas – ou gasto metabólico diário – dos animais vão decrescendo, da mesma forma que a disposição para as atividades físicas 23. Os cães jovens tendem a apresentar gasto energético maior, direcionado aos processos anabólicos inerentes ao crescimento. Os cães idosos apresentam gasto metabólico menor, o que facilitaria o acúmulo de energia sob a forma de gordura, mas, por outro lado, perdem massa muscular e adiposa, devido à incapacidade anabólica inerente ao envelhecimento 5,8,16,22. Esse fato, aliado à constatação obtida do presente estudo – de que quanto maior a faixa etária, menor a disposição e a intensidade das atividades físicas –, vaticina a condição de gastos energéticos cada vez menores em um cão que se torna obeso quando jovem, o que favorece a continuidade do ganho de peso. A relação entre o animal de estimação e seu proprietário, em que o alimento se transforma numa forma de socialização, pode ser bem observada na condição de obesidade. Em estudos importantes sobre o comportamento

Figura 6 - Cão são-bernardo, fêmea, cinco anos, obesa, em repouso

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comercial, pode aumentar a palatabilidade e a densidade calórica da refeição. Além disso, a administração de petiscos ou de substitutos alimentares como forma de interação social e afetiva entre o proprietário e o cão pode levar ao consumo excessivo de nutrientes, de forma a exceder as necessidades energéticas do anima l8,16,25. Outro aspecto observado é que a maioria dos proprietários fornece o alimento ao seu animal duas vezes ao dia, sendo que existem recomendações de que se alimentem os animais em média com porções fracionadas três vezes ao dia, para ajudar a manter o seu nível de saciedade, além de aumentar a termogênese da manipulação alimentar 16. Curiosamente, nesta pesquisa percebe-se que nenhum proprietário oferece aos seus animais comida caseira como única fonte de alimentação – o que nos leva a supor que o fato de esta pesquisa ter sido realizada na cidade de São Paulo, onde os proprietários de certa forma dispõem de um nível maior de informações, acesso a veterinários e pouco tempo para preparar inclusive a própria alimentação, o uso de rações acaba sendo uma alternativa mais prática e cômoda de nutrir seus animais.

Márcia Marques Jericó - HV/UAM

alimentar e a relação homem-animal, os proprietários de cães obesos fornecem com maior ou menor frequência o mesmo alimento que eles consomem, gastam mais tempo observando seus animais se alimentarem, usam maior quantidade de petiscos e não consomem rações super-premiuns 10,12. Em nossos resultados, observa-se que a maioria dos proprietários divide o mesmo alimento com os seus cães, em maior ou menor intensidade, sendo que o item frutas foi aquele que apresentou incidência mais significativa. Esse fenômeno de humanização ou antropomorfização da relação homem-animal já tem sido observado em outros estudos 8,10,11,12,24. Também, quando avaliada a característica do comportamento alimentar dos cãess obesos, verifica-se que a maior parte deles apresenta um apetite voraz ou guloso. Esse comportamento alimentar deve ser considerado quando analisado o tipo de alimentação fornecida aos animais aqui estudados. Como a maior parte deles é alimentada com ração, petiscos e comida caseira, ou ração e petiscos, deve ser lembrado que a adição de outros alimentos a uma dieta previamente balanceada, como o é a ração

Figura 7 - Cão bichon frisé, fêmea, cinco anos, obesa, praticando natação

A socialização também acaba modificando os hábitos de manejo desses animais, que passam a viver em ambientes como os apartamentos – mais confinados e com menor disponibilidade de espaço físico para correr, brincar ou fazer algum tipo de exercício 10,12 (Figura 7). A falta de exercícios que configura um estilo de vida sedentário é outro dos fatores de manejo que contribuem para o desenvolvimento da obesidade 5,16,26. Um estudo prévio revela que, quando comparados a cães normais, os cães obesos exibem uma significativa associação negativa entre a duração (horas) do exercício semanal e a obesidade, em que, para cada hora de exercício

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semanal, o risco de obesidade é 0,9 vez menor 12. Outro estudo constata que os proprietários de cães obesos dão menor importância às atividades de exercício, de trabalho ou de proteção ao lar (que envolvem gasto energético) do que os proprietários de cães não obesos 10. Assim, como esperado, a maioria dos proprietários dos cães obesos estudados informou que seus animais dormem moderadamente ou muito e praticam exercícios de forma moderada ou mínima, e em percursos de curta duração. Embora a maioria dos animais pratique exercícios com uma frequência razoável – ou seja, duas vezes ao dia –, a maior parte desses exercícios constituem-se de caminhadas, que é a atividade de menor gasto calórico em seres humanos em relação a outras atividades consideradas neste estudo 20. Além disso, o percurso realizado pela maioria desses cães é de apenas 20 a 40 minutos; e deve-se considerar como um baixo nível de atividade física aquele no qual o animal se submete ao estresse por menos de uma hora 24. Dessa forma, os requerimentos energéticos são menores e, consequentemente, o gasto metabólico é menor. É importante ressaltar que, no presente estudo, a %GC dos cães obesos está associada de maneira significativa e negativa à prática de atividades físicas. Finalmente, devem ser ressaltados no presente estudo os resultados obtidos no que diz respeito ao balanço energético e ao sobreconsumo diários de energia nos animais pesquisados. Na literatura compilada, nacional e internacional, não foram encontrados trabalhos que abordem ou investiguem estes determinantes em cães obesos. O montante de um balanço energético positivo pode, teoricamente, prever o efeito no ganho de peso dos indivíduos, visto que cada grama de gordura é equivalente a cerca de 9kcal 1,16. Em seres humanos, tem sido estudada com ênfase a influência do balanço metabólico positivo no ganho de peso e na obesidade 27,28. Entretanto, essa correlação direta não existe, visto que o organismo animal é um sistema dinâmico, capaz de passar por ajustes metabólicos e comportamentais no gasto energético, em resposta a mudanças na ingestão de energia. Assim, em seres humanos, gêmeos idênticos, alimentados com 1.000kcal acima do requerimento energético por 84 dias, apresentaram ganhos de peso variados, abaixo do esperado e, muitas vezes, diferentes entre si em magnitudes de até três vezes. Porém, de qualquer forma, o ganho de peso em tais circunstâncias foi inexorável, em 60

maior ou menor magnitude 27,28. De maneira análoga, é possível inferir que o mesmo acontecerá com os cães investigados no presente estudo. Pode-se então concluir que, no grupo de cães obesos ora investigado, a faixa etária e a quantidade de gordura corporal interferiram de maneira significativa na prática de atividades físicas, além de se correlacionarem de maneira negativa com estas. Concluise também que a ocorrência de balanço metabólico positivo (e consequente sobreconsumo energético) relacionada à alta ingestão de calorias e à menor intensidade de práticas de atividades físicas é considerada a causa principal do ganho de peso desses animais, apontando também para a perpetuação e a ampliação da condição de obesidade. REFERÊNCIAS 01-MARKWELL, P. J. ; BUTTERWICK, R. F. Obesity. In: WILLS, J. M. ; SIMPSON, K. W. The Walthan book of clinical nutrition of the dog & cat. Pergamon, 1994. p. 131-148.

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Aspectos clínicopatológicos em casos de meningoencefalite necrosante canina

Fernando Yutaka Moniwa Hosomi MV, mestrando - FMVZ/USP hosomi@usp.br

Adriano Tony Ramos Médico veterinário autônomo adrianotony@yahoo.com.br

Eduardo Kenji Masuda MV, doutorando - LPV/UFSM edumasuda@yahoo.com.br

Clinical and pathological aspects of canine necrotizing meningoencephalitis

Maria Elisa Trost MV, mestranda - LPV/UFSM m_elisa_trost@yahoo.com.br

Dominguita Lühers Graça MV, profa. tit. aposentada - LPV/UFSM dlgraca@gmail.com

Aspectos clínico-patológicos en casos de meningoencefalitis necrosante canina

Paulo César Maiorka MV, prof. dr. - FMVZ/USP maiorka@usp.br

Clínica Veterinária, n. 81, p. 62-68, 2009

Resumo: A meningoencefalite necrosante canina (MNC) é uma doença inflamatória idiopática que afeta principalmente os hemisférios cerebrais de cães de raças pequenas. A sintomatologia apresentada pelos animais é progressiva, sendo as crises convulsivas o principal sinal clínico. A etiologia da MNC ainda é pouco conhecida, sendo possivelmente multifatorial e influenciada por fatores genéticos e ambientais. Até o momento, os tratamentos têm sido paliativos, com uso de anti-inflamatórios corticoides em dosagens imunossupressoras e

anticonvulsivos. Nesta revisão são descritos seis casos recentes de MNC no Brasil, ocorridos nas raças pug (dois casos), Yorkshire (dois casos) e maltês (dois casos). Deste total, três casos foram provenientes da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade de São Paulo - SP e três do Laboratório de Patologia Veterinária - Universidade Federal de Santa Maria - RS. Unitermos: cães, encefalopatias, neurologia

Resumen: La meningoencefalitis necrosante canina (MNC) es una enfermedad inflamatoria idiopática que afecta los hemisferios cerebrales de perros de razas pequeñas. Crisis convulsivas son la señal clínica más característica de un proceso progresivo que puede durar días o años. La etiología de este complejo no es conocida mas se cree que factores genéticos y ambientales puedan estar implicados. La terapia usada actualmente es paliativa y se usan corticosteroides inmunosupresores y anticonvulsivos. En esta

revisión son descritos seis casos de MNC en Brasil, en las razas Pug (dos casos), Yorkshire (dos casos) y Maltés (dos casos). Tres casos fueron procedentes de la Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de la Universidade de São Paulo, SP, y tres del Laboratório de Patologia Veterinária de la Universidade Federal de Santa Maria, RS. Palabras clave: perros, encefalopatías, neurología

Abstract: The canine necrotizing meningoencephalitis complex (CNM) is an inflammatory disease characterized by multifocal nonsuppurative idiopathic meningoencephalitis, which mainly affects the cerebral hemispheres of small and miniatute breed dogs. This paper presents clinical and pathological data regarding cases registered in Brazil, compared with cases in literature. The disease has been reported in pug 2, maltese 3,4, papillon 5, Shih tzu, chihuahua and pekingese dogs 6. More recent reports describe the occurrence of CNM in greyhound 9, West Highland white terrier 10 and French bulldog 11. In Brazil, there have been cases of this disease in pug 12,13, maltese 14 and Yorkshire dogs 15,16 (Figure 3). Although the etiology of CNM is much still unknown; it is most likely a multifactorial disease, influenced by genetic and environmental factors 17. The viral etiology of meningoencephalitis was suggested by some authors in the first case reports 2,18. However, several studies have shown negative results to testing (PCR and serological tests) for viruses such as canine distemper, as well as protozoa and agents of dirofilariasis, ehrlichiosis and borreliosis in the cases presented 12,17. Still, etiologic agents are not discarded as possible factors triggering a secondary autoimmune response to a prior exposition 17. An epidemiological study with 60 affected pug dogs indicated higher frequency (though not statistically significant) in females (40 affected individuals). This evidence is supported by the fact that autoimmune encephalitis tend to affect more females than males in different species 19. The most likely pathogenesis of CNM is the autoimmune hypothesis reinforced by signs of autoantibodies against astrocytic glial fibrillary acidic protein (GFAP) in cerebrospinal fluid (CSF) of dogs affected by this disease 20. Determination of autoantibodies in CSF or serum of affected dogs has provided relevant data on the etiology of the disease, besides assisting diagnosis 20,21. The autoimmune hypothesis is also supported by the occurrence of glomerulonephritis in recent cases, with the presence of autoantibodies and its complexes in serum 10,13. The symptoms onset in cases of CNM is variable, and dog owners often fail to perceive the neurological signs of the disease, which are rather subtle in the beginning. With Chihuahuas, clinical service was sought after a period of time that varied from 5 days to 2.5 years 6. With pugs, clinical signs may appear from one to six months before death 24. Seizures are the most consistent clinical manifestations in CNM, and the neurological syndrome develops progressively 7. Other clinical signs include nystagmus, ataxia, head tilt, ipsilateral circling, incoordination, paralysis, changes in behavior and consciousness, depression and coma 21,25. Neurological examination may reveal changes / loss / decrease of sight 6,7,24, but in most

cases the pupillary reflexes remain unalterared 7,24. Computerized tomography, magnetic resonance imaging and ultrasound examinations may provide evidence of tissue lesion, cystic areas, malacia and dilation of ventricles 3,6. Examination of CSF may indicate important changes such as increased protein, red blood cells or presence of occult blood and predominantly mononuclear pleocytosis 12,19. Definitive diagnosis, nevertheless, is still based on histopathological examinations done through brain biopsy or post-mortem. Alterations occur primarily in the cerebral hemispheres, but there may be morphological differences and varying location according to the dog's breed 12,13,14,15,21. Macroscopic alterations in CNM are relatively common, and were observed in most cases in São Paulo and Santa Maria, with lateral ventricular dilatation (4 / 6) (Figure 4), areas of change in color, and malacia in the cerebral cortex (5 / 6) (Figure 5). Kidney alterations may occur, such as proliferative membranous glomerulonephritis, characterized by a diffuse lesion in the cortical area, with thickening of Bowman's capsule, lymphoplasmacytic interstitial infiltrates and proteinaceous cylinders, as described in West Highland white terrier breeds 10 and pugs dogs 24,26. Prognosis for dogs affected by CNM is unfavorable. To present date, patients have received palliative care, with the use of steroidal anti-inflammatories such as prednisone, employed in immunosuppressive dosages, associated to anticonvulsants. This treatment may help extend the survival period 28, which has varied from less than 60 days to four months 4,8,12,27,28. Reports of combined treatment with prednisone and cyclosporine suggest greater efficacy in the treatment of clinical signs and increased survival periods, exceeding 300 days 12,28. Anticonvulsant drugs and steroid therapy usually show little eficacy 7,24. The study of neurological disorders in small animals has gained increased attention from veterinary practitioners in the past years. The information exchange among professionals (breeders, practitioners and pathologists) is of vital importance and will certainly prompt reporting of CNM cases. At present, the disease is probably under diagnosed in Brazil, since the definitive diagnosis still depends on histopathological examinations, usually post-mortem. The occurrence of seizures in affected animals is the symptom that usually leads them to the veterinary clinic. Thus, when CNM is considered for diagnosis, it is usually late. Practitioners are advised to inform the owners of predisposed breeds so that they are aware of the more subtle neurological symptoms of the disease, as listed in figures 1 and 2. They should also consider CNM as a possibility in differential diagnoses. Keywords: dogs, brain diseases, neurology

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Introdução O complexo meningoencefalite necrosante canina (MNC) consiste em uma doença de caráter inflamatório, caracterizada por meningoencefalite multifocal não supurativa idiopática, que afeta principalmente os hemisférios cerebrais de cães de raças pequenas. O primeiro relato de caso de meningoencefalite necrosante foi realizado nos Estados Unidos, em 1983 1, como uma encefalite crônica em um cão da raça pug. Em 1989, a condição foi descrita e denominada “meningoencefalite necrosante do cão pug” 2 e posteriormente chamada “meningoencefalite canina”. O primeiro relato da meningoencefalite necrosante em outra raça foi realizado Caso

Raça

Idade

Sexo

1

maltês

4 anos

F

2

maltês

2 anos

3

pug

4

pug

com base no caso de uma fêmea da raça maltês, em 1987 3. O presente trabalho apresenta aspectos clínicos e patológicos de casos registrados no Brasil (Figura 1), comparativamente com casos da literatura (Figura 2). Raças Cães de raças miniaturas e pequenas podem ser acometidos pelo complexo da meningoencefalite necrosante. Além da raça pug, a doença já foi relatada em cães das raças maltês 4, papillon 5, shih tzu, chihuahua e pequinês 6, além da doença correlata leucoencefalite necrosante (LEN), que foi relatada em cães das raças pequinês 7, Yorkshire

terrier 8, spitz e pinscher 6 e que difere da MNC por – como indica seu nome – afetar predominantemente áreas de substância branca (leuco) do encéfalo. Relatos mais recentes descrevem a ocorrência da MNC em cães da raça greyhound 9, West Highland white terrier 10 e bulldog francês 11. No Brasil há relatos dessa afecção nas raças pug 12,13, maltês 14 e Yorkshire 15,16 (Figura 3). Etiologia A etiologia do complexo MNC ainda é pouco conhecida, sendo possivelmente multifatorial e influenciada por fatores genéticos e ambientais 17.

Aspectos clínicos convulsões tonicoclônicas, hipertermia, disorexia, andar compulsivo para a direita; hemograma: neutrofilia e linfopenia; tratado com prednisona 5mg, sid, fenobabital, bid

Tempo de evolução 3 meses

Achados macroscópicos áreas de malácia com pseudocistos em lobo piriforme esquerdo; dilatação ventricular com assimetria dos hemisférios

Achados microscópicos meningoencefalite necrosante, linfoplasmocítica, acentuada, com presença de numerosos macrófagos espumosos; gliose difusa; satelitose; neuronofagia

F

convulsões, incoordenação, quedas para o lado esquerdo. LCR revelou alterações inflamatórias

15 dias

sem alterações visíveis

necrose corticomedular focalmente extensa, acentuada, acompanhada de grande quantidade de macrófagos espumosos e hemorragias multifocais; acentuada infiltração linfoplasmocítica na meninge e nos espaços de Virchow-Robin

7 meses

M

disfagia, crises com tremores, micção involuntária, opistótono, andar em círculos para a direita, inclinação da cabeça para direita; nistagmo horizontal; amaurose; LCR: pleocitose mononuclear, proteínas e sangue oculto; tratado com prednisona 1-2mg/kg/dia e fenobarbital

6 meses

malácia em córtex das regiões parietal, temporal e occipital e substância branca cerebelar; dilatação ventricular ex-vacuum

meningoencefalite necrosante; intensa gliose difusa com neurônios isquêmicos; áreas de vacuolização; exuberante proliferação vascular; manguitos perivasculares linfoplasmocíticos; astrócitos reativos e macrófagos espumosos

5 anos

F

convulsões, apatia, incoordenação e dificuldade motora, principalmente nos membros posteriores; sinais clínicos de doença respiratória; tratado com anticonvulsivos e sedativos

10 meses

dilatação moderada e irregular dos ventrículos laterais do cérebro; glomerulonefrite membranoproliferativa; esclerose glomerular e nefrite intersticial crônica

córtex telencefálico com extensas áreas de malácia, com grande presença de macrófagos espumosos e astrócitos reativos; manguitosperivasculares linfoistioplasmocíticos

5

Yorkshire 3 anos

F

convulsões, apatia, incoordenação

1,5 anos

extensa malácia cortical; dilatação ventricular; assimetria de hemisférios

meningoencefalite necrosante; gliose intensa; presença de macrófagos espumosos

6

Yorkshire 5 anos

M

convulsões, incoordenação; quedas frequentes; visão e reflexo dos nervos craniais e espinhais normais; LCR: pleocitose mista

2 meses

áreas de malácia em córtex telencefálico

vacuolização e necrose neuronal difusa moderada, com manguitos mononucleares discretos compostos de linfócitos, macrófagos e plasmócitos na substância branca subcortical e periventricular; astrócitos reativos

Figura 1 - Informações de casos de meningoencefalite canina no Brasil 12,13,14,15,16

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Raça pug pug pug

Sexo F F F

Idade 13 meses 19 meses 30 meses

Evolução 19 dias 7 dias 3 dias

Sinais clínicos crises convulsivas, tremores, febre, contração pupilar, alterações motoras, inclinação de cabeça, colospasmos e sialorreia

Tratamento/ dose não realizado

crises convulsivas, alterações de comportamento e motoras, alterações de marcha, inclinação de cabeça, andar em círculos, nistagmo, cegueira, obnubilação, tetraparesia e ataxia

não realizado prednisolona - 4 semanas corticosteroides e fenobarbital não realizado não realizado

Ref. 26

chihuahua chihuahua chihuahua chihuahua chihuahua

F F F F M

3 anos 10 anos 1,5 ano 5 anos 10 anos

5 dias 2 horas 3 meses 5,5 meses 2,5 anos

West Highland white terrier

M

2 anos

4 meses

crises convulsivas, depressão mental, alterações de marcha

não realizado

10

french bulldog

F

20 meses

3 meses

crises convulsivas, alterações de marcha, déficit proprioceptivo

não realizado

11

shih-tzu Yorkshire shih-tzu maltês

F M F F

2,2 anos 8 anos 4 anos 2,5 anos

410 dias 210 dias 243 dias 360 dias

crises convulsivas, inclinação de cabeça, ataxia

prednisolona 1mg/kg + ciclosporina 5mg/kg

28

maltês Yorshire pug

F M F

2 anos 5 anos 1,5 anos

25 dias 65 dias 85 dias

crises convulsivas, ataxia, inclinação de cabeça

prednisolona 1mg/kg

28

18 meses**

93 dias**

crises convulsivas, menor peso corpóreo**

variados (agentes anticonvulsivos, imunossupressores, antimicrobianos)**

19

pug*

F>M*

6

*Número de fêmeas afetadas (40) maior que número de machos (20) **Dados médios de 60 cães estudados 6,10,11,19,26,28

Figura 2 - Informações de exemplos de casos da literatura descritos nas diferentes raças

A etiologia viral desta meningoencefalite foi sugerida por alguns autores nos primeiros relatos 2,18. Entretanto, diversos estudos relataram exames (PCR e provas sorológicas) negativos para busca de vírus como o da cinomose, bem como para protozoários e agentes da dirofilariose, erlichiose e borreliose nos diferentes casos estudados 12,17. Ainda assim, não se descarta a possibilidade de agentes etiológicos desencadearem uma resposta autoimune secundária a uma prévia exposição 17. Estudo epidemiológico da casuística norte-americana em 60 pugs afetados indicou uma frequência maior (apesar de

Figura 3 - Distribuição dos casos relatados no Brasil

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não estatisticamente relevante) em fêmeas (40 afetadas), indício esse corroborado pelo fato de as encefalites autoimunes tenderem a afetar mais fêmeas do que machos em diferentes espécies 19. A patogenia mais provável apresentada para a MNC é a autoimune, suspeita fortalecida pelos indícios da presença de autoanticorpos contra a proteína ácida fibrilar glial (GFAP) astrocitária no líquido cefalorraquidiano (LCR) dos cães acometidos por essa doença, demonstrada recentemente 20. Exames como a determinação de autoanticorpos no LCR ou no soro dos cães afetados têm fornecido evidências relevantes acerca da etiologia da doença, assim como para auxiliar em seu diagnóstico 20,21. A ocorrência de glomerulonefrite em relatos recentes aumenta a suspeita da presença de autoanticorpos e seus complexos no soro 10,13. As características patológicas da MNC são muitas vezes comparadas às da meningoencefalite granulomatosa (MEG), outra encefalite canina de etiologia desconhecida 5,22,23. Quadro clínico e evolução O início do quadro clínico nos casos de MNC é variável. A dificuldade dos proprietários para reconhecer os sinais neurológicos, que ocorrem inicialmente de forma sutil, leva ao atraso na busca de atendimento, que varia entre poucos dias depois do

início dos sinais até anos 6. Em chihuahuas, relatam-se intervalos de cinco dias a 2,5 anos 6; em pugs, os sinais clínicos podem aparecer de um a seis meses antes da morte do animal 24. Crises convulsivas são as manifestações clínicas mais consistentes na MNC. Os episódios epileptiformes geralmente são seguidos de período interictal sem sinais de disfunção neurológica. As convulsões podem recorrer a intervalos variáveis, e a síndrome neurológica se desenvolve de forma progressiva 7. Outros sinais clínicos incluem nistagmo, ataxia, inclinação de cabeça, andar em círculos ipsilaterais à lesão, incoordenação, paralisia, alterações de comportamento e de consciência, depressão e coma 21,25. Os exames neurológicos podem revelar alteração/perda/diminuição da visão 6,7,24 porém, na maioria dos casos, os reflexos pupilares permanecem inalterados 7,24. Exames complementares Ferramentas de diagnóstico por imagem vêm sendo cada vez mais utilizadas no diagnóstico de alterações neurológicas em animais de companhia, sendo que o pequeno porte dos animais afetados pela MNC tende a facilitar os procedimentos. Exames de tomografia computadorizada, ressonância magnética e ultrassonografia podem fornecer indícios de lesão tecidual, como áreas císticas, e de malácia ou dilatação de ventrículos 3,6.

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O exame do LCR pode indicar alterações importantes, como aumento de proteínas, presença de hemácias ou sangue oculto e pleocitose predominantemente mononuclear 12,19 . É importante ressaltar, porém, que o diagnóstico definitivo ainda é baseado no exame histopatológico, seja por biópsia cerebral ou post-mortem.

infiltração intersticial linfoplasmocítica e cilindros proteináceos, como descritos nas raças West Highland white terrier 10. Um dos casos relatados no Brasil revelou alterações compatíveis, como áreas radiadas de fibrose e esclerose nos rins, que se estendiam desde a medular até a cortical, envolvendo alguns glomérulos, que apresentavam espessamento da cápsula de Bowman, proliferação do mesângio e presença de infiltrado linfoplasmocítico multifocal leve, com necrose tubular multifocal leve e cilindros hialinos e granulosos à luz de alguns túbulos 13. Também foram descritas lesões de glomerulonefrite mesangioproliferativa em pugs 24,26.

Alterações histopatológicas As alterações ocorrem primariamente nos hemisférios cerebrais, porém há diferenças morfológicas e de localização nas diferentes raças 12,13,14,15,21. Alterações macroscópicas em casos de MNC são relativamente comuns, e foram observadas na maioria dos casos estudados em São Paulo e em Santa Maria. Foram verificadas: dilatação de ventrículo lateral (4/6) (Figura 4); áreas de alteração de coloração; e malácia no córtex cerebral (5/6) (Figura 5). Podem ocorrer alterações renais, como glomerulonefrite membrano proliferativa, caracterizada por lesão difusa na área cortical, com espessamento da cápsula de Bowman, Paulo César Maiorka

Figura 4 - Aspecto macroscópico de um encéfalo em caso de MNC. Observe assimetria de hemisférios e dilatação de ventrículos laterais Paulo César Maiorka

Figura 5 - Aspecto macroscópico (à esquerda) e submacroscópico (à direita) de um encéfalo em caso de MNC. Observe a dilatação de ventrículo lateral e áreas de necrose e cavitações em córtex cerebral (setas)

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Tratamento O tratamento dos pacientes até o presente momento tem sido paliativo, com uso de anti-inflamatórios corticoides como a prednisolona, usada em dosagens imunossupressoras, associada a anticonvulsivos, com resultados variados 4,8,27. O curso da doença é geralmente fatal, com período de evolução que varia de dois dias a mais de seis anos, sendo que a maioria dos animais morre ou sofre eutanásia poucos meses depois 5,12,13,14,15. Relatos do tratamento combinado de prednisolona e ciclosporina sugerem maior eficácia no tratamento dos sinais clínicos e aumento da taxa de sobrevida 12,28. A medicação anticonvulsiva e o uso de corticoides costumam ser pouco eficazes 7,24. Prognóstico O prognóstico para cães afetados pela MNC é desfavorável. O tratamento sintomático visa melhorar a qualidade de vida do paciente e pode auxiliar no tempo de sobrevida 28. O tratamento convencional, somente com anti-inflamatórios corticoides e anticonvulsivos apresenta tempo de sobrevida entre menos de 60 dias e quatro meses 12,28. A administração de prednisolona e ciclosporina pode permitir uma sobrevida de mais de 300 dias 28. Discussão O estudo das afecções neurológicas em animais de companhia tem ganhado a atenção dos clínicos veterinários. A troca de informações entre os profissionais (criadores, clínicos e patologistas) é de vital importância e propiciará a comunicação de novos relatos de MNC, hoje provavelmente subdiagnosticada no Brasil, já que o diagnóstico definitivo até o momento depende de exames histopatológicos, geralmente post-mortem. A ocorrência de convulsões nos animais

afetados é o sintoma que geralmente os leva aos consultórios veterinários. Dessa forma, a suspeita clínica da MNC, quando esta é estabelecida, é geralmente tardia. Recomenda-se aos profissionais que informem aos proprietários das raças predispostas a atentarem para a ocorrência dos sintomas neurológicos mais sutis da afecção, como os listados nas figuras 1 e 2, e que incluam nos diagnósticos diferenciais a possibilidade da MNC. A etiologia do complexo MNC ainda é pouco definida, mas a ocorrência de glomerulonefrite reforça a possibilidade de etiologia autoimune, com a presença de autoanticorpos e seus complexos nos fluidos orgânicos 20,21, suspeita essa corroborada pelos bons resultados obtidos com o tratamento imunossupressivo dos animais afetados. Referências 01-DELAHUNTA, A. Chronic encephalitis of pug dogs. In: DELAHUNTA, A. (ed.). Veterinary neuroanatomy and clinical neurology. 2 ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1983, p. 384-385. 02-CORDY, D. R. ; HOLLIDAY, T. A. A necrotizing meningoencephalitis of pug dogs. Veterinary Pathology, v. 26, n. 3, p. 191-194, 1989. 03-PANCIERA, D. L. ; DUNCAN, I. D. ; MESSING, A. ; RUSH, J. E. ; TURSKI, P. A. Magnetic resonance imaging in two dogs with central nervous system disease. Journal of Small Animal Practice, v. 28, p. 587-596, 1987. 04-STALIS, I. H. ; CHADWICK, B. ; DAYRELL-HART, B. ; SUMMERS, B. A. ; VAN WINKLE, T. J. Necrotizing meningoencephalitis of Maltese dogs. Veterinary Pathology, v. 32, n. 3, p. 230-235, 1995. 05-SUZUKI, M. ; UCHIDA, K. ; MOROZUMI, M. ; HASEGAWA, T. ; YANAI, T. ; NAKAYAMA, H. ; TATEYAMA, S. A comparative pathological study on canine necrotizing meningoencephalitis and granulomatous meningoencephalomyelitis. Journal of Veterinary Medical Science, v. 65, n. 11, p. 12331239, 2003. 06-HIGGINS, R. J. ; DICKINSON, P. J. ; KUBE, S. A. ; MOORE, P. F. ; COUTO, S. S. ; VERNAU, K. M. ; STURGES, B. K. ; LECOUTEUR, R. A. Necrotizing meningoencephalitis in five chihuahua dogs. Veterinary Pathology, v. 45, n. 3, p. 336-346, 2008. 07-CANTILE, C. ; CHIANINI, F. ; ARISPICI, M. ; FATZER, R. Necrotizing meningoencephalitis associated with cortical hippocampal hamartia in a Pekingese dog. Veterinary Pathology, v. 38, n. 1, p. 119122, 2001. 08-TIPOLD, A. ; FATZER, R. ; JAGGY, A. ; ZURBRIGGEN, A. ; VALDEVELDE, M. Necrotizing encephalitis in Yorkshire terriers. Journal of Small Animal Practice, v. 34, p. 623-628, 1993. 09-CALLANAN, J. J. ; MOONEY, C. T. ; MULCAHY, G. ; FATZER, R. ; VANDEVELDE, M. ; EHRENSPERGER, F. ; MCELROY, M. ; TOOLAN, D. ; RALEIGH, P. A novel nonsuppurative meningoencephalitis in young greyhounds in Ireland. Veterinary Pathology, v. 39, n. 1, p. 56-65, 2002. 10-ARESU, L. ; D'ANGELO, A. ; ZANATTA, R. ; VALENZA, F. ; CAPUCCHIO, M. T. Canine necrotizing encephalitis associated with anti-

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Paraplegia aguda com perda da percepção de dor profunda em cães: revisão de literatura

Bruno Martins Araújo MV, residente (R1) HV/UFRPE bmaraujo85@hotmail.com

Mônica Vicky Bahr Arias MV, dra. profa. ass. Depto. Clínicas Veterinárias UEL vicky@uel.br

Eduardo Alberto Tudury

Acute paraplegia with loss of deep pain perception in dogs: literature review

MV, dr. prof. ass. II Depto. Medicina Veterinária UFRPE eat@dmv.ufrpe.br

Paraplejia aguda con pérdida de la percepción del dolor profundo en perros: revisión de literatura Clínica Veterinária, n. 81, p. 70-84, 2009 Resumo: A paraplegia aguda com perda da percepção de dor profunda indica lesão medular grave, capaz de lesionar fibras bastante resistentes à lesão e localizadas profundamente na medula espinhal. Várias enfermidades são consideradas no diagnóstico diferencial de cães com essa alteração, em que na maioria dos casos, a lesão ocorre por extrusão de disco intervertebral, fraturas/luxações vertebrais e embolismo fibrocartilaginoso. O diagnóstico baseia-se na resenha clínica, na anamnese, na evolução aguda dos sinais clínicos e nos

resultados do exame neurológico e de exames complementares, como imagens da coluna vertebral e da medula espinhal. O tratamento deve ser direcionado na prevenção da destruição neuronal bioquímica, na descompressão da medula espinhal e/ou na estabilização da coluna vertebral. O prognóstico varia de reservado a desfavorável, dependendo da etiologia da lesão e das opções de tratamento disponíveis. Unitermos: sistema nervoso, afecções da medula espinhal, analgesia

Resumen: La paraplejia aguda con pérdida de la percepción del dolor profundo indica lesión medular severa, capaz de lesionar fibras muy resistentes a lesiones y situadas profundamente en la médula espinal. Varias enfermedades deben ser consideradas en el diagnóstico diferencial de esta alteración, que en la mayoría de los casos, tienen lesiones por extrusión del disco intervertebral, fracturas / dislocaciones vertebrales o embolismo fibrocartilaginoso. El diagnóstico se basa en la reseña, la anamnesis, los signos clínicos

agudos, los resultados del examen neurológico y pruebas adicionales como la obtención de imágenes de la columna vertebral y médula espinal. El tratamiento debe ser dirigido a la prevención de la destrucción neuronal bioquímica, la descompresión de la médula espinal y/o en la estabilización de la columna vertebral. El pronóstico varía de reservado a desfavorable, dependiendo de la etiología de las lesiones y las opciones de los tratamientos disponibles. Palabras clave: sistema nervioso, enfermedades de la médula espinal, analgesia

Abstract: Acute paraplegia with loss of deep pain perception (DPP) indicates severe spinal injury, capable of damaging resistant fibers that are deeply situated in the spinal cord. Several conditions are considered for the differential diagnosis of dogs with this alteration. In most cases, the lesion occurs by intervertebral disk extrusion, vertebral fractures/luxations and fibrocartilaginous embolism 10,11. The initial mechanisms of acute spinal lesion correspond to the primary injury. They occur at the moment of injury, with the partial or complete rupture of nervous tissue and the loss of medullary tissue, which are considered untreatable lesions. Afterwards, a series of vascular and metabolic alterations take place, which constitute the events referred to as secondary lesions 12,13,14,15. The diagnosis is based on patient signalment, history, on the acute evolution of clinical signs and on the results of the neurological exam and complementary exams, such as imaging of the vertebral column and the spinal cord. The treatment must be directed towards preventing biochemical neuronal destruction 9,21, with the use of neuroprotectors (substances which prevent or limit the mechanisms of secondary injury to the spinal cord). Corticosteroids have been the most frequently employed drugs in trauma and decompression of the spinal cord, both in animals and human beings 13,21,34,35. They are frequently associated with gastrointestinal complications like hemorrhage, pancreatitis, ulcers and/or gastric perforations 7,11,19,39. The medical management of the intervertebral disk disease (IVDD) with loss of DPP still consists, for some authors, in the administration of methylprednisolone sodium succinate (MPSS) during the eight hours following trauma, and in the referral for emergency decompression 7,9,18,25,27. Surgical treatment of these animals must be readily arranged, as it is considered a neurological emergency 9, and must entail: decompression of the spinal cord (hemilaminectomy or laminectomy), removal of the disk material extruded into the vertebral canal, decrease of medullary edema and ischemia, macroscopic evaluation and intraoperatory irrigation of the spinal cord 7,18. Animals that present with spinal trauma and suspected vertebral instability must be placed in a firm surface to avoid movement and additional injury to the spinal cord, while proper treatment is initiated. Hypotension must be controlled through the use of fluids, and followed by treatment with MPSS as soon as possible, within the first eight hours after trauma 9,15,19. Surgery is indicated for cases presenting with vertebral instability, in which animals must be

evaluated through mielography or magnetic ressonance to detect evidence of spinal cord transection or extensive necrosis. If none of these alterations are present, the surgeon may perform a hemilaminectomy, to decompress (in cases where there is extradural compression) and identify a possible progressive hemorrhagic myelomalacia (PHM). If the spinal cord is intact, surgical fixation takes place 3. There is no specific treatment for FCE 31, nor is there evidence that any treatment possesses more value than the general nursing care for patients that remain recumbent 26. The prognosis varies from guarded to unfavorable, depending on the etiology of the lesion and on the available treatment options. In IVDD, the main factor to be considered is the presence or absence of DPP. Among dogs without DPP, the main parameters to be evaluated are speed of occurrence and duration of analgesia, and the recovery time frame to pain perception 7,27. Animals which have lost deep pain perception after suffering exogenous vertebral trauma usually present an unfavorable prognosis for recovery 25, because in this type of injury, the lack of nociception is frequently associated with the transection of the spinal cord or to the rapid onset of PHM 56,57,58. For dogs suffering medullary infarction due to FCE, prognosis in terms of recovery of function is very unpredictable, reflecting the varying severity of the characteristic lesion of this disease 27,31. It is important to point out that some animals manage to regain the ability to walk without recovering DPP. In these animals, the occurrence of involuntary motor activity may indicate the development of spinal cord reflex walk, which originates from the mechanism of neural plasticity and the formation of local circuits 53. Paraplegic animals need intensive nursing care during their recovery period or during their entire life (in cases where there is irreparable spinal cord injury). Attention must be given to the emptying of the bladder and intestines, by means of abdominal massage or urinary catheter, and the use of an appropriate diet; to the prevention of skin sores and decubitus ulcers, by constantly cleaning the skin of urine and feces and changing position every four hours; to the treatment of trauma related wounds (usually in case of car accidents) and to the use of passive and active physical therapy, to avoid muscle atrophy and contracture and loss of articular and neuromuscular function 3,7,27. Keywords: nervous system, spinal cord diseases, analgesia

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NEUROANATOMIA Medula espinhal A medula espinhal é a principal via de transmissão de impulsos nervosos entre o encéfalo e as extremidades 1,2. Situa-se no canal vertebral e se estende desde o limite caudal do bulbo, no forame magno, até a porção caudal das vértebras lombares 3. Aloja-se estreitamente na porção toracolombar do canal vertebral, fato que explica a urgência do tratamento das lesões nessa região 2,3. É composta pelas substâncias branca e cinzenta, sendo a branca formada por grupos ascendentes e descendentes de axônios denominados tratos 4. Os tratos são geralmente classificados conforme o local onde se originam e onde terminam, podendo ser divididos naqueles que ascendem para o encéfalo, conduzindo informações sensitivas (aferentes), e aqueles que advêm do cérebro e do tronco encefálico (eferentes), e são motoras para os músculos flexores e extensores 1,4. Quatro tratos são considerados no sistema eferente, sendo divididos em dois grupos. O primeiro é formado pelos tratos que facilitam os músculos flexores, permitindo a movimentação voluntária (tratos corticoespinhal e rubroespinhal). O segundo grupo é o formado pelos tratos que facilitam os músculos extensores, contribuindo para a postura e o suporte do peso contra a gravidade (tratos vestibuloespinhal e reticuloespinhal) 1,4. Esses tratos são frequentemente envolvidos nas lesões da medula espinhal, impossibilitando os animais de sustentarem o peso e de realizarem a movimentação voluntária, tornando os membros parcial ou totalmente paralisados 4. As vias aferentes são formadas pelos tratos que transmitem informações de propriocepção consciente (fascículos grácil e cuneiforme), os que conduzem informações de propriocepção inconsciente para o cerebelo (tratos espinocerebelares ventral e dorsal), e pelo sistema espinotalâmico, que conduzem informações de dor, temperatura e tato 1,4. O conhecimento da localização dos tratos

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INTRODUÇÃO O aparecimento súbito de paraplegia, acompanhado de perda da percepção de dor profunda, é de ocorrência frequente em cães, gerando sofrimento tanto para os animais quanto para seus proprietários e exigindo por parte dos médicos veterinários conhecimentos neurológicos e neurocirúrgicos apurados, que serão expostos nesta revisão, para que se possa obter melhora do diagnóstico e recuperação funcional desses pacientes.

Figura 1 - Desenho esquemático da medula espinhal mostrando a posição dos principais tratos ascendentes e descendentes

(Figura 1) é importante na determinação da sintomatologia e do acompanhamento evolutivo dos processos medulares, principalmente os traumático-compressivos 2. Fibras nervosas da medula espinhal e os efeitos das lesões Os tratos ascendentes e descendentes da substância branca da medula espinhal são compostos de fibras de diferentes tamanhos, a maioria das quais tem bainha de mielina. As fibras maiores são mielinizadas e são condutores mais rápidos, transmitindo as informações de propriocepção consciente e inconsciente. As fibras motoras, que promovem a movimentação voluntária, são de tamanho intermediário e mielinizadas. Já as fibras menores e mielinizadas transmitem a sensação dolorosa superficial, enquanto as fibras menores e não mielinizadas transmitem a sensação dolorosa profunda 2,3. A gravidade das deficiências neurológicas dependerá de dois aspectos anatômicos: o diâmetro da fibra que transmite a função e a posição do trato na medula espinhal 3. Diante de graus progressivos de lesão à medula espinhal, ocorre aumento da isquemia e desmielinização, e algumas funções neurológicas se perdem numa ordem previsível, segundo o grau de mielinização e o diâmetro das fibras que promovem a mediação de determinado tipo de função. As fibras que transmitem as informações de propriocepção consciente e inconsciente são Diâmetro da fibra/ mielinização grande e mielinizada média e mielinizada pequena e mielinizada pequena e amielinizada

Função propriocepção movimentação voluntária percepção de dor superficial percepção de dor profunda

as primeiras a serem afetadas. As fibras que permitem a mediação das funções motoras voluntárias e as que promovem a mediação da apreciação da dor superficial são afetadas em seguida, e as pequenas fibras que promovem a apreciação da dor profunda são as últimas a serem acometidas. Quanto maior o grau de deficiência neurológica, pior o prognóstico em termos de recuperação funcional (Figura 2). Durante a recuperação, as funções retornam na ordem inversa. A dor profunda retorna em primeiro lugar, e a propriocepção consciente, por último 5,6. A posição dos tratos da medula espinhal também contribui para a progressão dos sinais clínicos. Os tratos ascendentes de propriocepção consciente (fascículo grácil e cuneiforme) situam-se superficialmente no funículo dorsal da medula espinhal, sendo mais susceptíveis a lesão medular. Em contraste, os tratos espinotalâmicos, que são os mais resistentes a lesões, situam-se mais profundamente 3. Os animais nos quais a lesão se limita à substância cinzenta da coluna toracolombar podem permanecer assintomáticos. As lesões da substância cinzenta (com exceção das localizadas nas intumescências) têm menores consequências clínicas quando comparadas com as lesões da substância branca, que contêm os tratos ascendentes e descendentes 7. Vias da dor A percepção de dor profunda (PDP) é a função mais resistente a lesões da medula espinhal e é a última a desaparecer 8. É o sistema espinotalâmico que transporta os estímulos de dor e de temperatura advindos dos membros e do corpo nos animais 4, sendo essa uma via complexa, bilateral, multissináptica, formada por fibras pequenas mielinizadas e amielinizadas, muito resistentes em comparação com as fibras de outros tratos 9. Dessa forma, para abolir a modalidade de dor profunda, é necessário uma lesão medular grave, profunda e bilateral 4, o Sinais de lesão neurológica déficitis proprioceptivos

Prognóstico

paresia/paralisia

favorável a reservado reservado

perda da percepção de dor superficial perda da percepção de dor profunda

favorável

reservado a desfavorável

Figura 2 - Progressão dos sinais neurológicos e prognóstico, em relação ao diâmetro das fibras e ao grau de mielinização

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Figura 5 - A) imagem fotográfica de radiografia da coluna vertebral de cão com extrusão de disco intervertebral entre L1-L2 (seta) evidenciando a aproximação dos corpos vertebrais e das facetas articulares, e material de disco radiopaco dentro do canal vertebral opacificando o forame intervertebral deformado. B) imagem fotográfica de radiografia da coluna vertebral de cão com extrusão de disco intervertebral entre T13-L1 evidenciando aproximação dos corpos vertebrais

descompressão cirúrgica. Os achados mielográficos característicos de extrusão de disco no canal medular são compressão extradural da medula espinhal com deslocamento dela e estreitamento do espaço subaracnoide. Extrusões de disco em geral são acompanhadas de edema e tumefação da medula espinhal e raramente de laceração dural. A medula pode estar edemaciada por vários segmentos espinhais, e o aspecto mielográfico é semelhante a uma massa intramedular, dificultando a determinação exata do local da extrusão 8. Nos pacientes com fraturas/luxações vertebrais, a mielografia permite uma avaliação definitiva da compressão da medula espinhal e de sua possível transecção. Em caso de fratura, a medula pode ser comprimida por fragmentos ósseos ou por hematoma, caracterizando uma compressão extradural. Em casos de contusão, pode-se verificar somente edema medular. Por vezes, pode-se notar infiltração de contraste no parênquima medular, possivelmente devido à laceração da dura-máter 19. Nos animais com suspeita de EFC, a mielografia permanece frequentemente normal 9,25,26,27,31, embora alguns animais, na fase aguda, possam exibir tumefação medular focal 25,26,31 como resultado de edema secundário 26. Os achados mielográficos de cães que desenvolveram MHP compreendem a interrupção da progressão das linhas de contraste ou uma opacificação central difusa, com o acúmulo do meio de contraste de forma irregular dentro da medula espinhal 18 (Figura 8). Tomografia computadorizada (TC)/ ressonância magnética (RM) Anormalidades ósseas, tais como fraturas/ luxações vertebrais e alterações de disco intervertebral são mais bem vistas por meio da

TC. Nos casos de fraturas, a TC pode ser útil para identificar fragmentos ósseos que poderiam estar lesionando a medula espinhal e que não são vistos em radiografias 18,19. Na extrusão de disco, a TC fornece informações úteis em relação à localização das extrusões 8. A RM é útil na visualização de tecidos moles e se mostrou superior à TC e à mielografia para detectar alterações da medula espinhal, como o EFC 15,19,32. TRATAMENTO O tratamento deve ser direcionado para a prevenção da destruição neuronal bioquímica, a descompressão da medula espinhal e/ou a estabilização da coluna vertebral 13,14,18,33. Tratamento farmacológico da lesão medular aguda Lesões agudas na medula espinhal são verdadeiras emergências em medicina veterinária. O período crítico – chamado de “horas de ouro” – são as primeiras horas após o traumatismo. Durante esse intervalo de tempo, os tratamentos clínicos e cirúrgicos são mais efetivos contra os eventos secundários e a subsequente liquefação autolítica do parênquima medular, até então preservado. A demora no manejo correto pode Bruno Martins Araújo

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Mielografia Deve-se coletar o líquido cefalorraquidiano (LCR) antes da mielografia, uma vez que algumas lesões inflamatórias e neoplásicas podem resultar em sinais clínicos muito similares àqueles observados em animais com extrusão de disco intervertebral 8,25. Como as lesões medulares de cães com paraplegia aguda se localizam mais comumente nas regiões toracolombar/lombar, recomenda-se a realização de mielografia lombar, uma vez que essa técnica é mais eficiente na visualização de alterações nesses segmentos, além de diminuir o risco de ocorrência de convulsões 27,30. A mielografia é importante para determinar o local (ou os locais) de extrusão do disco e a lateralização do material discal dentro do canal vertebral, antes da

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o efeito estabilizador do espasmo dos músculos paravertebrais 3, sendo que o exame radiográfico simples pode demonstrar fraturas ou luxações e a gravidade do deslocamento no momento em que as radiografias são obtidas 24. Para minimizar a movimentação da coluna vertebral, a projeção ventrodorsal será realizada com o animal em decúbito lateral, com o cabeçote do aparelho de raios-x abaixado até ficar em posição horizontal na altura do abdome do animal e o chassi situado na região dorsal (Figura 6) 29. Os achados radiográficos dos pacientes com fratura/luxação vertebral incluem descontinuidade das estruturas ósseas, desalinhamento do canal vertebral, espaços intervertebrais ou facetas articulares anormais, linha de fratura no corpo, na lâmina, processos espinhosos ou transversos ou combinações das lesões 24,29. Para avaliar radiograficamente a instabilidade da fratura, divide-se o segmento vertebral em três compartimentos: dorsal, médio e ventral. A fratura é considerada instável quando dois ou mais compartimentos estão comprometidos (Figura 7). Essa classificação é de grande importância no momento de decidir o esquema terapêutico de eleição para o animal 15, uma vez que um fatorchave para determinar o tratamento clínico ou cirúrgico é o grau de instabilidade vertebral 19. No EFC, as radiografias da coluna são normais e ajudam no descarte de discoespondilite, fraturas, luxações, neoplasias vertebrais osteolíticas e discopatia intervertebral 25, que poderiam causar sinais semelhantes ao EFC.

Figura 6 - Projeções radiográficas para minimizar a movimentação da coluna vertebral desestabilizada. A) projeção ventrodorsal. B) projeção lateral

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resultar em um período de recuperação prolongado ou em paralisia permanente 9,21. Na atualidade, o tratamento farmacológico para a lesão medular aguda consiste na aplicação de neuroprotetores (substâncias que visam prevenir ou limitar os mecanismos de lesão secundária na medula espinhal) como antioxidantes, antagonistas dos canais de cálcio ou dos opiáceos, anti-inflamatórios não esteroides, hormônio liberador da tireotropina, aminoesteroides, quelantes do ferro, dentre outros, sendo os corticosteroides os fármacos tradicionalmente mais utilizados em animais e em seres humanos 13,21,34,35. Corticosteroides na lesão medular aguda Acredita-se que o efeito benéfico dos corticosteroides na lesão aguda grave da medula espinhal se baseie na inibição da peroxidação lipídica induzida por radicais livres; na melhora do fluxo sanguíneo póstraumático à medula espinhal; no bloqueio da liberação de ácidos graxos livres e de eicosanóides; na perda de colesterol; na facilitação da remoção de cálcio intracelular acumulado; na promoção da atividade da Na+/K+ ATPase; na inibição da resposta inflamatória; na prevenção da liberação de enzimas lisossomais; e na redução do edema 10,15,19,21,36.

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Figura 7 - A) Representação dos três compartimentos em um segmento vertebral. O compartimento dorsal inclui o processo espinhoso, os processos articulares, a lâmina, os pedículos e os ligamentos de sustentação. O compartimento médio contém o ligamento longitudinal dorsal, o ânulo fibroso dorsal e o assoalho do canal vertebral. O compartimento ventral consiste no restante do corpo vertebral e no ânulo fibroso. B) Fratura vertebral instável, com comprometimento dos três compartimentos

O succinato sódico de metilpredinisolona (SSMP) é o corticosteroide de eleição para a terapia da lesão aguda e grave da medula espinhal 15. Esse fármaco tem sido amplamente utilizado nos seres humanos e esses resultados têm sido extrapolados para a medicina veterinária. Quando administrado dentro das primeiras oito horas após a lesão, é o único fármaco que tem demonstrado benefícios significativos à medula espinhal 19. A administração de SSMP após oito horas da lesão tem resultados considerados prejudiciais 11,19, uma vez que, após esse prazo, os corticosteroides interferem com a regeneração neuronal e aumentam a neurodegeneração por inibição da captação neuronal de glicose diante da isquemia 11. O SSMP tem sido eficaz em casos de lesão medular aguda e grave quando utilizado em altas dosagens 35, sendo propostos vários protocolos de tratamento, dentre os quais os resultados mais significativos, que mostraram melhor recuperação clínica em animais com lesões medulares foram obtidos por meio da administração de 30mg/kg intravenoso (IV), seguida de duas aplicações de 15mg/kg IV duas e seis horas após a aplicação inicial, seguida de infusão contínua de 2,5mg/kg/hora IV por até 48 horas após a lesão 7,37. Se a primeira aplicação for

Figura 8 - Mielografia com acúmulo do meio de contraste de forma irregular dentro da medula espinhal (seta) de um cão com sinais clínicos sugestivos de MHP

administrada num intervalo de até três horas após a lesão, a infusão deve ser feita por 24 horas; e se a primeira administração for feita no intervalo de três a oito horas após lesão, a infusão deve continuar por 48 horas 38. Essas doses de SSMP devem ser administradas lentamente, num período de cinco a dez minutos, uma vez que podem ocorrer bradicardia, hipotensão e vômitos quando o fármaco é administrado rapidamente 19. A dexametasona, por vezes utilizada, principalmente pelo seu baixo custo, não é apropriada, sendo ao seu uso atribuídos efeitos adversos maiores, como hemorragias gastrintestinais e perfuração do cólon 15. Além de que, em gatos, não foi observada diferença entre a utilização de dexametasona e de placebo na melhora das funções neurológicas 39. A utilização de corticosteroides sempre foi controversa entre os autores, devido à falta de reais evidências de benefício em cães, em comparação com os graves efeitos colaterais. Em trabalhos atuais, alguns autores 40,41,42,43,44 concluíram que mesmo diante da evidência dos efeitos protetores a favor da medula espinhal, não há diferença significativa na reabilitação funcional ou tempo de recuperação entre animais acometidos por lesão medular aguda que recebem ou não tratamento com essas drogas. O uso de corticosteroides em altas doses em animais com lesões neurológicas está associado com complicações gastrintestinais como a hemorragia, a pancreatite, úlceras

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e/ou perfurações gástricas 7,11,19,39. Em um estudo retrospectivo com 105 cães com lesões neurológicas tratados com altas doses de SSMP (30mg/kg IV, mais duas aplicações após seis e 36 horas), foram observados distúrbios gastrintestinais em 33,3% dos animais, embora nenhuma alteração tenha sido considerada grave 45. Tratamento da doença do disco intervertebral (DDIV) Tratamento clínico O tratamento clínico da DDIV com perda da PDP ainda consiste, para alguns autores, na administração de SSMP até oito horas após o traumatismo e no concomitante encaminhamento para descompressão de emergência 7,9,18,25,27. Durante esse intervalo, deve-se realizar a monitoração da pressão sanguínea sistêmica, e os casos de hipotensão devem ser tratados com fluidoterapia intravenosa, para prevenir a diminuição da perfusão da medula espinhal 7. Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico para animais com DDIV na região toracolombar e perda da PDP deve ser realizado sem demora, sendo considerado uma emergência neurológica 9, e deve compreender: descompressão da medula espinhal (hemilaminectomia ou laminectomia), remoção do material do disco extravasado no canal vertebral, redução do edema e da isquemia medular, avaliação macroscópica e irrigação intraoperatória da medula espinhal 7,18. A hemilaminectomia é mais indicada nas lesões craniais do segmento L3 da medula espinhal. Nas lesões caudais do segmento medular L3, a laminectomia dorsal previne lesão iatrogênica de importantes nervos do plexo lombossacro 7. Cães com paralisia aguda por DDIV e sem resposta a dor profunda devem sofrer descompressão dentro de duas horas para a melhor recuperação funcional possível. A cirurgia também é recomendada para cães com ausência de PDP há mais de 48 horas; entretanto, as taxas e a qualidade da recuperação são muito menos previsíveis 9. A durotomia é indicada para cães com ausência de dor profunda por DDIV e tem como objetivo permitir a inspeção direta da medula espinhal a fim de detectar edema, contusões e mielomalacia, não oferecendo benefícios quanto à recuperação funcional 7,46. A irrigação da medula espinhal com 78

solução salina normotérmica ou resfriada também é recomendada para cães com traumatismo da medula espinhal e perda de PDP, com o objetivo de diminuir a peroxidação lipídica, oferecendo benefícios na recuperação funcional 7,47. Tratamento do traumatismo da coluna vertebral Tratamento clínico Junto com a estabilização orgânica do paciente, aqueles que permanecerem em decúbito, incapazes de se mover, com suspeita de instabilidade vertebral, devem ser postos em uma superfície firme, como uma tábua ou uma mesa, e serem fixados com fitas adesivas (Figura 3A), ou receber uma imobilização externa com talas (Figura 3B), para impedir a movimentação e lesão adicional da medula espinhal, enquanto se inicia o tratamento adequado. Deve-se controlar a possível hipotensão com fluidoterapia, e em seguida instituir o tratamento com SSMP, o mais rápido possível, dentro das primeiras oito horas após o traumatismo 9,15,19. Tratamento cirúrgico A cirurgia é indicada para estabilizar e descomprimir a medula espinhal 25. O fatorchave para determinar o tratamento clínico ou cirúrgico é o grau de instabilidade, que deve ser avaliado pela teoria dos três compartimentos 19 (Figura 7). Cães com traumatismo vertebral instável e com ausência de PDP devem ser avaliados por meio de mielografia ou de ressonância magnética para detectar evidências de transecção da medula espinhal ou extensa necrose. Não havendo nenhuma dessas alterações, o cirurgião pode praticar hemilaminectomia, a fim de descomprimir (nos casos em que há compressão extradural) e identificar uma possível MHP. Caso a medula espinhal esteja íntegra, procede-se à fixação cirúrgica 3. Os procedimentos cirúrgicos descompressivos podem ser a hemilaminectomia uni ou bilateral e a laminectomia dorsal 18, sendo a hemilaminectomia preferível, por promover menor instabilidade adicional que a laminectomia dorsal 9,15. Os procedimentos cirúrgicos para estabilização vertebral toracolombar incluem a fixação dos processos espinhosos dorsais com placas plásticas ou metálicas; a fixação dos corpos vertebrais com pinos de Steinman ou parafusos interligados com polimetilmetacrilato, ou ainda com placas plásticas ou metálicas; e a

fixação segmentar dorsal modificada, dentre outras técnicas 3,18,48,49, sendo que a escolha vai depender do tipo de fratura, da idade, do peso, dos materiais disponíveis e da preferência do cirurgião. Tratamento do infarto medular por embolismo fibrocartilaginoso Não há nenhum tratamento específico contra esta afecção 31, nem evidência de que qualquer tratamento possua maior valor que os cuidados gerais de enfermagem para os pacientes que permanecem em decúbito 26. Se o animal for atendido nas primeiras seis horas após a paralisia, pode ser instituído o tratamento com corticosteroides, igual ao recomendando para o traumatismo espinhal agudo 9,26,31, com o objetivo de diminuir o edema e a inflamação da medula espinhal 9. PROGNÓSTICO Prognóstico em cães com extrusão de disco intervertebral O principal fator a ser considerado é a presença ou a ausência de PDP. Dentre os cães sem PDP, os principais parâmetros a serem avaliados são a velocidade do aparecimento e a duração da analgesia e o período de tempo para que ocorra a recuperação da percepção dolorosa 7,27. A perda hiperaguda (menos de uma hora) da função motora voluntária e da PDP foi associada a um prognóstico estatisticamente pior (apenas 22% se recuperaram), em comparação com os animais que perderam a PDP de forma aguda, entre uma a 24 horas (67% obtiveram sucesso no tratamento), ou de forma gradual, com tempo superior a 24 horas (taxa da sucesso de 90%) 50. Semelhantemente, em outro trabalho, dos quize cães que desenvolveram os sinais clínicos de forma aguda, seis (40%) se recuperaram, e dos catorze animais que desenvolveram os sinais clínicos de forma gradual, doze (86%) obtiveram sucesso no tratamento 51. No entanto, outros autores obtiveram resultados contrários, sendo que a taxa de sucesso foi maior entre os animais que perderam a sensibilidade de forma hiperaguda (71,4%), ao passo que nos animais cuja evolução foi aguda e gradual as taxas de recuperação foram de 32% e 50%, respectivamente 41. Outro importante fator é o intervalo de tempo decorrido entre a perda da PDP e o tratamento cirúrgico. Há uma tendência para melhores resultados funcionais quando os cães são operados dentro das primeiras doze horas após a perda da sensibilidade dolorosa 27. A cirurgia dos cães sem PDP deve

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ser realizada dentro das primeiras duas horas para a possível recuperação funcional, sendo a taxa de recuperação dos animais operados após 48 horas de apenas 5% 9. A taxa de sucesso entre animais operados nas primeiras doze horas após a perda da sensibilidade à dor profunda foi de 85%. Nos operados entre 12 e 24 horas, a taxa de recuperação de 50%, e entre 24 e 48 horas, de 33%. Nos cães operados entre 48 e 72 horas, o sucesso foi de 50%, e o único cão operado 72 horas após a perda da PDP obteve sucesso total no tratamento cirúrgico 50. Dentre outros cães operados 48 horas após a perda da PDP, 77,4% obtiveram sucesso no retorno à deambulação 52. Em outro trabalho que envolvia 28 cães sem PDP, dez foram operados com menos de 48 horas, e a taxa de sucesso foi de 50%. Catorze cães foram operados entre dois e sete dias, dos quais nove cães (64%) se recuperaram, e todos os quatro cães operados mais de sete dias após a perda da PDP obtiveram sucesso no tratamento 51. Dentre oito cães com analgesia dos membros pélvicos tratados cirurgicamente, todos retornaram à deambulação. Os cães foram operados entre dois e cinco dias após o início dos sinais clínicos (média de três dias), sendo seis animais operados com mais de 48 horas (média de 3,5 dias) e dois operados dois dias após início dos sinais 53. De acordo com esse estudo, embora a ausência de PDP indique lesão medular grave, a perda da função neurológica não é necessariamente irreversível, e em muitos casos, devido ao preconceito existente quanto à recuperação ou não de cães sem PDP, os animais não são operados ou são submetidos à eutanásia. Atualmente, o indicador mais sensível para a recuperação funcional dos casos de paraplegia com perda da PDP causada por extrusão de disco intervertebral é a recuperação dessa sensibilidade num intervalo de até duas semanas após a descompressão cirúrgica 7. Dos cães que recuperaram a sensibilidade dolorosa até duas semanas após a cirurgia, 66,7% se recuperaram completamente, ao passo que dos animais que permaneceram sem dor profunda por mais de duas semanas após a descompressão, apenas 10% se recuperaram 41. Outros autores observaram que 95% dos cães que recuperaram a dor profunda até duas semanas após a descompressão obtiveram sucesso no tratamento, enquanto somente 16,6% dos cães que permaneceram sem dor profunda por mais de catorze dias se recuperaram 50. Em outro trabalho, entretanto, dos animais que responderam positivamente 80

ao tratamento cirúrgico e voltaram a caminhar, 41% readquiriram a PDP durante a primeira semana de pós-operatório, 38% durante a segunda semana e 17%, durante a terceira semana 54. A mielografia tem sido utilizada para determinar o prognóstico de cães com DDIV. Foi proposto que cães acometidos por extrusão de disco intervertebral sem PDP que apresentavam diminuição da coluna de contraste por um espaço maior que cinco vezes o comprimento da segunda vértebra lombar tinham pior prognóstico (taxa de recuperação de 26%) em comparação com os cães em que a coluna de contraste diminuía num intervalo menor que o anterior (recuperação em 61% dos casos), devido à extensão da lesão e a edema da medula espinhal 55. No entanto, posteriormente, foi possível concluir que esse parâmetro de avaliação não tinha relação com os resultados funcionais finais 50. Em um estudo envolvendo 77 cães acometidos por DDIV submetidos à RM, os animais que apresentaram áreas hiperintensas na medula espinhal (necrose, mielomalacia, hemorragia intramedular, inflamação e edema), em imagens T2-ponderadas, maiores ou iguais ao comprimento da segunda vértebra lombar obtiveram piores resultados (55% de recuperação) em relação aos que não apresentavam áreas hiperintensas (100% de recuperação) 51. Prognóstico em cães com fraturas/ luxações vertebrais Os animais que perderam a sensibilidade dolorosa profunda após sofrerem traumatismos vertebrais exógenos apresentam comumente um prognóstico de recuperação desfavorável 25, pois nesse tipo de lesão, a ausência de nocicepção está frequentemente associada à transecção da medula espinhal ou ao rápido desenvolvimento de mielomalacia 56,57,58. A determinação do prognóstico por meio de imagens radiográficas se baseia no grau de estreitamento do canal vertebral e do deslocamento vertebral 59. Cães sem PDP que apresentam algum grau de deslocamento vertebral possuem menos de 5% de possibilidade de recuperação funcional, ao passo que nos animais sem PDP e sem deslocamento vertebral, as possibilidades sobem para 25% 60. Os animais que perderam a PDP enquanto sofreram deslocamento de 100% do canal vertebral não terão possibilidade alguma de retorno funcional, devido à transecção total

da medula espinhal (Figura 9) 18,25. O critério de prognóstico grave para cães sem PDP é de deslocamento igual ou superior a 30% do canal vertebral 59, enquanto outros autores observaram ser de 60% o grau máximo de deslocamento na região lombar para manter a PDP intacta nos membros pélvicos 56. No entanto, a utilização de imagens radiográficas para determinar o prognóstico de cães com traumatismo vertebral tem uma série de limitações, pois a radiografia revela o grau de lesão da coluna vertebral, e não da medula espinhal 59. Sinais neurológicos como a postura de Schiff-Sherrington, a presença do reflexo extensor cruzado (extensão do membro oposto ao membro estimulado) e do sinal de Babinski (extensão dos dígitos quando ocorre a estimulação da superfície caudolateral, a partir do jarrete em direção aos dígitos) estão mais relacionados com lesões graves da medula espinhal 9,56,60. Prognóstico em cães com embolismo fibrocartilaginoso Para cães acometidos por infarto medular causado por embolismo fibrocartilaginoso, o prognóstico em termos de recuperação funcional é muito imprevisível, refletindo a variável gravidade da lesão característica dessa afecção 27,31. O prognóstico é favorável para os cães com sensibilidade intacta à dor profunda, sinais estritamente atribuídos ao NMS e que recuperaram a condição funcional dentro das duas primeiras semanas após a lesão da medula espinhal25,27,60. Entretanto, uma minoria poderá se recuperar entre 15 e 45 dias 61. Para cães incapacitados de caminhar, especialmente os de raças de grande porte e gigantes, o prognóstico é reservado 27. Os sinais clínicos de paralisia simétrica, com envolvimento do NMI e perda da PDP, apresentam um prognóstico desfavorável no sentido de uma recuperação satisfatória da EFC 25,61. CAMINHAR ESPINHAL É importante ressaltar que alguns animais conseguem readquirir a capacidade de caminhar sem recuperar a PDP. Em um trabalho que envolvia cães sem PDP, dois (22,2%) dos nove animais vítimas de traumatismo vertebral não recuperaram a dor profunda, mas readquiriram a capacidade de caminhar 54. Nesse mesmo trabalho, dezoito cães acometidos por DDIV também não recuperaram a sensibilidade dolorosa, mas sete (38%) recuperaram a capacidade de caminhar em até um ano e meio. O surgimento de atividade motora involuntária em cães

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CUIDADOS E MANEJO COM O CÃO PARAPLÉGICO Os animais paraplégicos necessitam de cuidados de enfermagem intensivos durante o período de recuperação ou durante toda a vida (nos casos de lesão irreversível da medula espinhal). Deve-se dar atenção ao esvaziamento vesical e intestinal, por meio de massagem abdominal ou sondagem vesical quatro vezes ao dia, e do fornecimento de dieta adequada; à prevenção de assaduras na pele e ulcerações cutâneas por decúbito, por meio de limpeza cutânea constante de urina

Eduardo Alberto Tudury

que permanecem sem PDP pode ser indicativo do desenvolvimento do caminhar espinhal reflexo, originado do mecanismo de plasticidade neuronal e da formação de circuitos locais 53. Basicamente dois pontos são utilizados para a caracterização do reflexo: a percepção de dor profunda está ausente nesses cães, e o tipo característico de marcha (quando os membros pélvicos não acompanham os torácicos, com dificuldades bem manifestadas nas curvas e inaptidão de caminhar para trás) 2.

Figura 9 - Fratura vertebral instável, com deslocamento de 100% do canal vertebral, entre T9 e T10 em um cão com ausência de PDP

e fezes e mudança de decúbito a cada quatro horas; ao tratamento de feridas inerentes ao traumatismo (geralmente nos casos de atropelamentos) e à realização de fisioterapia passiva e ativa, para evitar atrofia e contratura muscular e perda da função articular e neuromuscular 3,7,27. CONSIDERAÇÕES FINAIS A paraplegia aguda com perda da percepção de dor profunda, independentemente da

causa, é uma ocorrência frequente dentro da neurologia em animais da espécie canina. Dessa forma, o conhecimento dos mecanismos de lesão, das diversas opções terapêuticas e dos fatores que influenciam no resultado final é de fundamental importância para se obter sucesso no tratamento e, desta maneira, contribuir para a recuperação do maior número possível de animais e para a satisfação dos proprietários. Os tratamentos clínico e cirúrgico para animais com perda da PDP causada por extrusão de disco intervertebral ou por traumatismo vertebral devem ser realizados sem demora, sendo considerados emergências neurológicas. O retardo no manejo correto pode resultar em um período de recuperação prolongado ou em paralisia permanente. O parâmetro isolado da perda da percepção de dor profunda não deve desencorajar a realização da terapia, pois, conforme a literatura e a experiência dos autores desta revisão, há ocorrência de recuperação da deambulação, voluntária ou involuntária, nesses casos.


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Principais doenças bacterianas e fúngicas em Psittaciformes - revisão

Silvia Neri Godoy MSc, dra. Inst. Chico Mendes Conservação da Biodiversidade silng@uol.com.br

Zalmir Silvino Cubas MV, MSc Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br

Main bacterial and fungal diseases in Psittaciformes - literature review Principales enfermedades bacterianas y fúngicas en Psittaciformes - revisión de literatura Clínica Veterinária, n. 81, p. 88-98, 2009 Resumo: O Brasil é considerado o país mais rico do mundo em representantes da ordem Psittaciformes, cujas espécies são popularmente conhecidas como psitacídeos. Muitas espécies estão ameaçadas de extinção devido à contínua destruição de hábitats e à captura de exemplares na natureza. Portanto, a manutenção legalizada desses animais em cativeiro é extremamente importante para a conservação de diversas espécies. Os psitacídeos são sensíveis a diversas doenças causadas por diferentes vírus, bactérias, fungos e parasitas, porém

ainda são necessários muitos estudos tanto das aves mantidas em cativeiro como nas de vida livre. Tanto fungos como bacterias podem apresentar-se como agentes primários ou oportunistas em animais com imunodepressão ou desnutridos. Este trabalho apresenta uma revisão das principais doenças bacterianas e fúngicas que acometem os psitacídeos mantidos em cativeiro, visando subsidiar clínicos no diagnóstico e na conduta terapêutica dessas infecções. Unitermos: animais selvagens, aves silvestres, zoonoses, clínica de aves, psitaciformes

Resumen: Brasil es considerado el país más rico del mundo de representantes del orden Psittaciformes. Muchas especies están amenazadas de extinción debido a la continua destrucción de habitats y captura de ejemplares en la naturaleza. Por lo tanto la manutención legalizada de estos animales en cautiverio es extremadamente importante para la conservación de diversas especies. Los psitácidos son sensibles a diversas enfermedades causadas por diferentes virus, bacterias, hongos y parásitos, aunque son necesarios muchos estudios en las aves mantenidas en cautiverio y vida libre. Tanto

hongos como bacterias, pueden presentarse como agentes primarios y oportunistas en animales inmunosuprimidos o desnutridos. Este trabajo presenta una revisión de las principales enfermedades bacterianas y fúngicas que acometen psitácidos mantenidos en cautiverio, con el objetivo de dar un subsidio a los clinicos en el diagnóstico y en la conducta terapéutica de estas infecciones. Palabras clave: animales salvajes, aves silvestres, zoonoses, clínica de aves, psittaciformes

Abstract: Brazil is considered the richest country in representatives of the Psittaciformes order, with the occurrence of about 80 species 1. Many species are threatened due to the destruction of habitats and illegal trade; therefore, the legalized maintenance of these animals in captivity is extremely important for their conservation 2. Many diseases affect psittacines, but there are still few studies on these birds in captive settings and in the wild. Bacterial and fungal infections may be caused by opportunistic or primary agents. The degree of exposure to the agent, age, immunosupression, nutrition deficiency, overuse of antibiotics, diets with high levels of carbohydrates, senility, concomitant diseases, inadequate hygiene of facilities and stress are important factors that determine the onset and severity of the disease 10. This article describes some fungal and bacterial diseases that affect psittacines kept in captivity, their diagnosis, treatment and prophylaxis. Escherichia coli, Salmonella sp, Klebsiella sp, Proteus sp, Bordetella sp, Citrobacter freundiie and Pseudomonas sp, Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Enterococcus sp, Mycobacterium sp, Chlamydophila psittaci and Mycoplasma sp are the most significant agents in psittacine infections 8. On immunosupressed birds, Escherichia coli is usually involved in infectious processes, generally associated to other agents. Nevertheless, some strains of E. coli are considered primary agents of pseudomembranous or ulcerative enteritis, causing affected birds to die acutely or develop symptoms associated to the digestive tract 5,6. Salmonelosis is a highly contagious zoonosis which usually develops into septicemia. In psittacines, the most frequent species are Salmonella typhimurium and S. enteritidis 11. Strains isolated from pets are not important pathogenic agents for humans, but they may cause gastroenteritis in children, elderly people and immunosupressed individuals 11. Bordetella avium, Klebsiella pneumoniae and K. oxytoca are respiratory pathogens which are usually associated to cases of sinusitis, aerosaculitis and caseous pneumonia. Enteritis, hepatitis, alterations on the central nervous system and septicemia have been occasionally observed 8,11. The Proteus genera usually present low pathogenicity, but they can lead to septicemia in young psittacine birds and aerosaculitis and caseous pneumonia in adults 11. Citrobacter freundii is a high pathogenicity agent that has been associated to cases of septicemia and hepatitis, especially in young and immunosupressed individuals. Pseudomonas sp is considered a primary agent of infections in psittacines. P. aeruginosa is the most common species, associated to cases of aerosaculitis, pneumonia and bronchopneumonia caseous 8,9. Staphylococcus aureus is the most common agent involved in folliculitis and pododermatitis in birds 9. Streptococcus sp can be associated to respiratory diseases and septicemia

in psittacines 5,8. Enterococcus sp is part of the normal bacterial fauna of birds and usually acts as an opportunistic agent in immunosupressed animals 11. Enterococcus faecalis and E. hirae are associated to septicemic processes or subchronical diseases 8,9. Out of the digestive tract, some species of Enterococcus sp can cause necrotic inflammation of the affected organs, and others are associated to respiratory problems including pneumonia and caseous aerosaculitis 8. Mycobacterium avium and Chlamydophila psittaci are the most prominent bacteria in terms of zoonotic potential, mainly in immunosupressed humans. The parrots of Amazona genera are highly susceptible to Micobacterium, which leads to chronic disease, affecting mostly the digestive tract 22. Chlamydophila psittaci are intracellular bacteria which affect the liver and the digestive and respiratory tracts 29. Micoplasmosis in psittacines is usually related to Mycoplasma gallisepticum and M. synoviae. The main clinical signals and injuries are related to the superior respiratory tract 33. The most common fungal and yeast agents in psittacines are Candida albicans, Macrorhabdus ornithogaster and Cryptococcus neoformans, which affect the digestive tract, and Aspergillus sp, affecting the respiratory tract 8. They act as opportunistic agents mainly in immunosupressed and young birds. These infections are very common in birds seized from illegal trade. Small concentrations of Candida sp are common in the enteric microbiota of birds; however, extreme growth of these agents can determine necrotic whitish plaques pseudomembranosis in the oral cavity and digestive tract, hindering deglutition and breath 34. Cryptococcus is an encapsulated basidiomycete yeast-like fungus with a predilection for the respiratory and nervous system of humans and animals. Cryptococcus neoformans affect mainly the respiratory tract, causing necrotic granulomatosis whitish lesions and gelatinous exudates 42,44. Megabacteriosis is a gastric yeast infection caused by Macrorhabdus ornithogaster affecting several species of birds worldwide. This agent colonizes the proventriculus and gizzard mucosas, causing ulcerations, milky secretion and hemorrhages. Affected birds usually have a typically chronic course and die with severe cachexia 17. The most common agent of aspergilosis is Aspergilus fumigates 36. This fungus can occur as a saprophyte, but it also leads to a devastating respiratory disease, particularly in animals that are immunosupressed or that have been exposed to high levels of the agent 38. The agent penetrates the mucous wall of the respiratory tract, forming micelia from the inhalated hyphae and spores, which causes intense scaling and epithelial necrosis, extensive plaques and microabscesses in lungs and air sacs 37. Keywords: wildlife, birds, zoonosis, avian medicine, psittaciforms

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BACTÉRIAS O comprometimento do sistema imunológico e condições ambientais inadequadas

favorecem o surgimento de doenças bacterianas. Embora as bactérias gram-negativas sejam consideradas as mais patogênicas para as aves, as gram-positivas podem eventualmente causar doença em aves debilitadas. Diversos são os agentes bacterianos que acometem os psitacídeos. Entre as bactérias gram-negativas importantes na clínica de psitacídeos estão: Escherichia coli, Salmonella sp, Klebsiella sp, Proteus sp, Bordetella sp, Citrobacter freundiie e Pseudomonas sp. As bactérias gram-positivas mais comuns são Staphylococcus sp, Streptococcus sp e Enterococcus sp. Bactérias gram-negativas Colibacilose (Escherichia coli) A Escherichia coli faz parte da microbiota gastrintestinal considerada normal no ser humano e em várias espécies animais 3, e é a enterobactéria mais comum 4. A E. coli pode causar doença clínica em aves com imunodepressão, algumas vezes associada a outras enterobactérias ou a leveduras oportunistas como a Candida sp. 5. Algumas cepas de E. coli apresentam maior grau de patogenicidade e são consideradas agentes primários nas infecções 6. Lesões similares às observadas nas infecções por E. coli podem ser causadas por outras bactérias gram-negativas como Pseudomonas spp, Proteus spp, Enterobacter spp e Klebisiella spp 6. As cepas de E. coli patogênicas para aves são do grupo APEC (E. coli patogênicas para aves) e causam doença predominantemente extraintestinal 7. Os sinais clínicos dependem do local da infecção e são geralmente inespecíficos, incluindo letargia, penas arrepiadas, anorexia, diarreia, poliúria 6, conjuntivite, rinite, dispneia, inchaço articular, sinais nervosos 5, edema subcutâneo, perda de peso e vômito 8. Em filhotes é comum ocorrer morte súbita, retardo no crescimento, diarreia, onfalite, distensão abdominal, desidratação e estase de inglúvio 5 (Figura 1). Algumas cepas de E. coli são capazes de destruir e colonizar o epitélio intestinal induzindo enterite pseudomembranosa ou ulcerativa. As aves afetadas morrem de forma aguda ou desenvolvem sinais clínicos relativos a distúrbios do trato digestório. As lesões nos sacos aéreos podem ser severas e determinar polisserosite fibrinosa por continuidade. Ocasionalmente há lesões oculares, nervosas e artrite serofibrinosa como sequela 6. As inflamações do cérebro e das meninges podem ser decorrentes de infecções nos seios nasais, na cavidade nasal, na cavidade

Zalmir Silvino Cubas

INTRODUÇÃO Os Psittaciformes, popularmente conhecidos como psitacídeos, são aves que habitam quase todo o globo terrestre, desde as áreas tropicais até regiões bastante frias. São cerca de 78 gêneros e 332 espécies, sendo 148 pertencentes ao Novo Mundo, e 184 ao Velho Mundo. Cerca de 100 delas estão na América do Sul e 80 no Brasil. Por isso, o país é considerado o mais rico do mundo em representantes da família Psittacidae, tendo sido denominado nos primeiros mapas, desde 1500, Terra dos Papagaios (Brasilia sive terra papagallorum) 1. Baseado no Censo Mundial de Psitaciformes ameaçados de extinção realizado pela BirdLife International em 1994, 86 (26%) das 332 espécies de psitacídeos do mundo estão em risco de extinção, estando 36 muito próximas disso. Essa proporção é maior que a de qualquer outra ordem de grandes aves, devido à peculiar vulnerabilidade dos papagaios, à contínua destruição de hábitats e à calamitosa captura de exemplares na natureza para o tráfico ilegal de animais silvestres 2. Os psitacídeos estão entre os animais que mais sofrem com esse tráfico, pois sua grande diversidade de cores e capacidade de imitar sons humanos desperta o interesse de pessoas de todo o mundo, movimentando milhões de dólares por ano. Portanto, a manutenção legalizada desses animais em cativeiro é extremamente importante para a conservação de diversas espécies. Muitas são as doenças que acometem os psitacídeos, porém ainda são necessários muitos estudos para determinar suas ocorrências tanto das aves mantidas em cativeiro e como nas de vida livre. As infecções bacterianas, assim como as fúngicas, podem ser causadas por agentes primários ou oportunistas. O comprometimento do sistema imunológico, deficiências nutricionais, antibioticoterapia prolongada, higiene inadequada das instalações, dieta com níveis elevados de carboidratos, doenças concomitantes, senilidade, estresse e condições ambientais inadequadas favorecem a instalação desses agentes. Este trabalho apresenta uma revisão das principais doenças bacterianas e fúngicas que acometem psitacídeos mantidos em cativeiro, visando subsidiar os clínicos no diagnóstico e na conduta terapêutica dessas infecções.

Figura 1 - Cadáver de filhote de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) com estase de inglúvio decorrente de gastrenterite por Escherichia coli. A pele foi rebatida para a visualização do inglúvio

ocular ou mesmo de bacteremia e septicemia 9. Pode ocorrer pneumonia em filhotes que receberam grande carga do agente infectante, sendo alguns dos sinais clínicos dispneia e cianose 6. A Escherichia coli pode ser isolada do sangue cardíaco, do fígado, do baço, do pulmão e do saco aéreo, geralmente em animais com imunodepressão. A colibacilose é frequente em aves silvestres vítimas do tráfico, normalmente mantidas em ambientes insalubres, aglomeradas em caixas fechadas e malalimentadas, o que favorece a dispersão e a colonização bacteriana em vários órgãos 10. Os principais achados necroscópicos em animais com colissepticemia são severa atrofia da musculatura peitoral, penas descoloridas e sujas de fezes, desidratação (Figura 2), hepatomegalia com pontos amarelados no parênquima, opacificação dos sacos aéreos, hiperemia da mucosa intestinal, esplenomegalia e palidez do baço 8 e polisserosite fibrinosa, dependendo da cronicidade da doença 6. No exame histopatológico pode-se ver necrose hepática periportal, depleção linfoide severa associada a exsudato fibrinoso no baço e aerossaculite fibrinosa 8, pneumonia fibrinosa, vasculite, pericardite, artrite, rinite, salpingite fibrinosa, ooforite, enterite catarral, pseudomembranosa ou ulcerativa e microgranulomas no fígado, nos rins, no baço e subserosa do intestino 11. Também é bastante comum o quadro de ingluvite fúngica associada, decorrente de um quadro de imunodepressão 8. O tratamento é feito com antibióticos de amplo espectro, preferencialmente após resultado de cultura microbiológica e antibiograma. Alguns antibióticos indicados no tratamento inicial são ceftazidima (75-100mg/kg IM q8h), ceftiofur (10mg/kg IM q8-12h), piperacilina (100-200mg/kg IM q12h) ou a

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combinação de uma penicilina (amoxicilina 50mg/kg IM q12h) com uma quinolona (enrofloxacino 15-30mg/kg PO q12h) ou com um aminoglicosídeo (amicacina 1015mg/kg IM q12h) 12,13. O tratamento inclui também a administração de fluidos e eletrólitos, lactobacilos de aves, alimentação com sonda e manutenção do paciente em ambiente com temperatura confortável 7,13. Salmonelose (Salmonella sp) A Salmonella sp é patogênica para mamíferos, aves, répteis e insetos 4. Existem mais de 1.800 sorotipos que produzem diferentes síndromes em diferentes espécies animais. A doença tem sido registrada em aves no continente sul-americano, tanto em cativeiro como em vida livre 14. A Salmonella sp é considerada um patógeno primário, e alguns sorotipos podem penetrar até mesmo na mucosa íntegra 11. Bactérias de sorotipos não invasivos necessitam encontrar lesão em mucosa para poder penetrar 9. A contaminação geralmente ocorre pela ingestão de água ou de alimentos contaminados, mas também pode haver inalação de aerossóis de fezes 11. Animais com infecções crônicas são fontes de contaminação. Aves de vida livre podem ser carreadoras e servir como reservatórios para animais mantidos em cativeiro 5. Pode haver também a transmissão transovariana. Roedores, moscas e outros vermes servem como vetores da bactéria 6. Os psitacídeos são bastante sensíveis à doença. As espécies patogênicas mais frequentes são a Salmonella typhimurium e a S. enteritidis. Em um mesmo hospedeiro pode haver cepas virulentas e não virulentas, simultaneamente 11. A progressão da doença nas aves depende do sorotipo e do número de bactérias infectantes, bem como da idade, da espécie e da condição geral do hospedeiro 9. As aves 90

Silvia Neri Godoy

Silvia Neri Godoy *

Figura 2 - Cadáver de filhote de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) apresentando severa atrofia da musculatura peitoral, penas esmaecidas, região perianal suja de fezes e desidratação decorrente de colissepticemia

que apresentam ceco atrofiado ou que não têm ceco parecem ser mais suscetíveis à infecção do que as que possuem o órgão funcional. Isso pode ser explicado pela presença de determinados tipos de bactérias no ceco que podem funcionar como competidoras da Salmonella sp, alterando o pH do ceco, ocupando sítios de aderência específicos e produzindo ácidos graxos voláteis 4. As infecções agudas são caracterizadas por sinais inespecíficos, tais como letargia, anorexia, polidipsia, diarreia 6, poliúria, alterações respiratórias, oculares e nervosas 5, depressão, perda de peso, convulsão, desidratação e paralisia do inglúvio, podendo ocorrer morte súbita 4. As infecções crônicas podem causar pericardite e epicardite fibrinosa, formação de granulomas no fígado, no baço e nos rins e degeneração ou inflamação dos testículos e do ovário 6. Há descrição de dermatite granulomatosa em diversas espécies. A infecção pode ser induzida por picadas de mosquitos e outros insetos 4. Os achados anatomopatológicos são compatíveis com septicemia e as lesões observadas são hepatomegalia, esplenomegalia, pneumonia, enterite catarral hemorrágica (Figura 3) 9, polisserosite, degeneração ou necrose muscular, aerossaculite e nefropatia 4. Podem também ocorrer meningite e osteoartrite 9. As alterações histopatológicas não são específicas, sendo algumas vezes possível visualizar bactérias nos cortes histológicos 15, associadas a massas compactas de granulócitos e macrófagos 16. As lesões mais frequentes são inflamações agudas associadas a múltiplos focos de necrose no fígado, no pulmão, no baço e na mucosa intestinal 8. Há descrição de surtos em lóris com doença superaguda e alta mortalidade 6. Os papagaios do Congo (Psittacus erithacus) também são suscetíveis à salmonelose e desenvolvem doença crônica com sinais respiratórios, dermatite granulomatosa e artrite 22. As cepas de Salmonella sp isoladas de animais de companhia não são consideradas agentes patogênicos importantes para o homem, mas podem ocasionar doenças em crianças, idosos e indivíduos com quadro de imunodepressão 4, causando principalmente gastrenterites 11. O tratamento emergencial compreende antibióticos com menor percentual de resistência, como enrofloxacino (10-20mg/kg PO q24h; ou 15mg/kg PO q12h), cefalosporinas de última geração, como a cefotaxima (75100mg/kg IM, IV q6-8h), gentamicina (10mg/kg IM q8-12h) ou amoxicilina-

Figura 3 - Fragmento de intestino delgado de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) apresentando enterite hemorrágica decorrente de infecção por Salmonella sp. Nota-se a congestão dos vasos intestinais e serosa hiperêmica

clavulanato (50-100mg/kg PO q6-8h), até que se tenha o resultado de um antibiograma 7,12,13. Outras medidas incluem a reposição de fluidos e eletrólitos, nutrição enteral, administração de glicose e vitaminas e a manutenção do paciente em ambiente com temperatura e umidade confortáveis para a espécie. O manejo sanitário é essencial para controlar surtos em criações 17. OUTRAS BACTÉRIAS GRAMNEGATIVAS Klebsiella pneumoniae e K. oxytoca estão comumente associadas a sinusite, a aerosaculite (Figura 4), a pneumonia caseosa e a enterite 8. Pode ocorrer hepatite, nefrite, encefalite e septicemia 5. Muitas vezes a Klebsiella sp está associada a outros agentes como Proteus sp e Bordetella sp, agravando o quadro clínico 8. As bactérias do gênero Proteus sp apresentam baixa patogenicidade e raramente causam doença nas aves 11. Eventualmente ocorre septicemia em aves jovens com quadro de imunodepressão e doenças respiratórias como aerossaculite e pneumonia caseosa em aves adultas 11. Proteus sp pode estar associado a outros agentes, como Klebisiella sp e Bordetella sp, que favorecem a sua colonização e agravam o quadro clínico 8. A Bordetella avium, que tem tropismo por células epiteliais ciliadas do trato respiratório superior, pode compor a microbiota natural do trato respiratório das aves. Contudo, sob condições propícias, pode causar infecções nesse sistema 11. A Bordetella sp pode estar associada a infecções virais, fúngicas ou por outras bactérias gram-negativas. A Bordetella avium e a B. bronchiseptica infectam uma grande variedade de aves, sendo os psitacídeos particularmente susceptíveis a elas 6. As infecções do trato respiratório provocam rinite, sinusite, traqueíte 11, pneumonia e aerossaculite (Figura 5) 8. Infecções por Bordetella bronchiseptica podem ser tratadas com sulfatrimetoprima

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Figura 5 - Aerosaculite caseosa em papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), decorrente de infecção por Bordetella avium. Nota-se material caseoso esbranquiçado (seta) no interior dos sacos aéreos torácico e abdominal direitos, associada a coágulos sanguíneos

hemorragia e necrose coalescente no fígado, no baço e nos rins 19. Bactérias gram-positivas Staphylococcus sp O Staphylococcus sp é encontrado na microbiota da pele e do trato respiratório de animais sadios 4. Para a doença ocorrer é necessário um desequilíbrio nas defesas naturais do organismo e condições propícias, como lesões na pele ou em mucosas, bem como depleção do sistema imunológico 11. O Staphylococcus aureus é o agente mais comum nos quadros mórbidos e pode ser considerado agente primário em algumas afecções. O Staphylococcus sp é a bactéria mais comum nas foliculites e nas pododermatites das aves 9. Outras lesões possíveis são artrite, osteomielite, hepatite, miocardite, tendinite, vasculite, conjuntivite, esplenite, nefrite, meningite, encefalite e mielite 6. As infecções respiratórias e cutâneas podem evoluir para septicemia, que se manifesta com sinais clínicos inespecíficos, tais como letargia, anorexia, penas arrepiadas e morte súbita. Quando o sistema nervoso central é afetado, pode haver sintomatologia nervosa como tremores, opistótomo e torcicolo 4. As alterações histopatológicas variam

Streptococcus sp O Streptococcus sp faz parte da microbiota gastrintestinal dos animais e é frequentemente isolado de psitacídeos sadios 11. Os fatores que predispõem as aves às infecções por Streptococcus sp são imunodepressão, infecções concomitantes e desnutrição. As infecções primárias podem ocorrer em aves jovens e neonatos 6, causando onfalite, endocardite, insuficiência cardíaca, enterite, pododermatite, conjuntivite, salpingite, ooforite, peritonite crônica, nefrite, artrite, sinusite e hepatite 4. Em psitacídeos já foram relatados quadros respiratórios 5 e septicemia 8. Os achados necroscópicos nos casos de septicemia são polisserosite fibrinosa, hemorragia no epicárdio e no miocárdio, congestão nos tecidos subcutâneos, nas serosas e no pericárdio e hiperplasia esplênica 5,8. No exame microscópico vê-se infiltrado inflamatório heterofílico e, em casos crônicos, granulomas no baço, no fígado e no coração 8. Enterococcus sp O Enterococcus sp faz parte da microbiota gastrintestinal das aves e geralmente atua como agente oportunista em animais com quadro de imunodepressão 11. Muitas espécies de Enterococcus sp foram isoladas nas aves e as mais comuns, nos quadros septicêmicos e nas doenças subcrônicas, são o E. faecalis e o E. hirae 8,9. Alguns grupos de Enterococcus podem causar pneumonia, aerossaculite caseosa e inflamação necrótica em outros órgãos 8. A forma aguda predomina em aves jovens e as que sobrevivem podem apresentar endocardite, conjuntivite e sinusite. A doença crônica pode causar artrite e tendinite 6. Na necropsia observa-se polisserosite fibrinosa e lesões inflamatórias no fígado, no baço, nos rins, no pulmão, no ovário e no Zalmir Silvino Cubas *

Zalmir Silvino Cubas *

(50-160mg/kg PO q8-24h), enrofloxacino (10-20mg/kg PO q24h) ou doxiciclina (40-50mg/kg PO q24h) 13,18. O Citrobacter freundii apresenta alta patogenicidade e pode afetar aves de qualquer espécie 4, causando hepatite e septicemia, principalmente em aves jovens e com quadro de imunodepressão 6. O agente pode penetrar na mucosa intestinal e causar uma rápida bacteremia seguida de morte sem sinais clínicos. Podem ocorrer lesões ulcerativas na mucosa intestinal que provocam alta mortalidade em psitacídeos (Figura 6). Quando presentes, os sinais clínicos são depressão e diarreia. As aves que sobrevivem tornam-se geralmente carreadores do agente 6. O exame necroscópico indica septicemia, sendo comum petéquias no coração, musculatura e parênquima de vários órgãos cavitários 8. A Pseudomonas sp é considerada agente patogênico primário nas aves, sendo a P. aeruginosa a mais comum 9. Os quadros mais frequentes são pneumonia, aerossaculite e broncopneumonia caseosa 8. Há também relatos de esplenite, nefrite, enterite 8, panoftalmia, sinusite, ingluvite, otite e septicemia 4. Aves em postura podem desenvolver salpingite e ooforite decorrente de infecções ascendentes da cloaca ou de soluções de continuidade nos sacos aéreos. As infecções são geralmente crônicas, e as aves não tratadas podem morrer em consequência de salpingoperitonite 6. Esse quadro já foi relatado em psitacídeos no Brasil 8. Os sinais clínicos incluem espirros, secreção nasal, dispneia, regurgitação, sonolência, automutilação e diarreia. Pode ocorrer enterite catarral e hemorrágica em pacientes com quadro de imunodepressão ou malnutridos 4. Cepas mais patogênicas causam septicemia, diarreia, desidratação e dispneia, seguidas de morte. As infecções cutâneas são do tipo necrosante e edematoso 6. As toxinas produzidas pela bactéria causam edema,

Silvia Neri Godoy *

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Figura 4 - Aerossaculite caseosa em arara-canindé (Ara ararauna) decorrente de infecção por Klebsiella pneumoniae. Nota-se o espessamento dos sacos aéreos (seta)

conforme o curso da doença, mas geralmente consistem em uma resposta heterofílica granulomatosa 8.

B Figura 6 - A) Enterite necrótica pseudomemA branosa em arara-canindé (Ara ararauna), decorrente de infecção por Citrobacter freundii. B) As placas necróticas na mucosa podem ser vistas através da serosa

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Micobacteriose ou tuberculose aviária (Mycobacterium sp) O Mycobacterium sp possui algumas características de bactéria gram-negativa e merece destaque pelo seu potencial zoonótico, principalmente em pacientes com quadro de imunodepressão. Acreditava-se que o complexo Mycobacterium avium-intracellulare (M. avium e M. intracellulare – de difícil diferenciação, mas sorologicamente distintas) era o agente principal da doença nas aves, porém, nos últimos anos, o Mycobacterium genavense passou a ser diagnosticado e assumiu importância como agente etiológico da tuberculose aviária 21,22. Há relatos de casos de tuberculose em psitacídeos por M. tuberculosis e é comum o proprietário da ave ser a fonte de infecção. Nesses casos, as aves acabam atuando como sentinelas da doença no homem 21,23. Papagaios do gênero Amazona são considerados altamente suscetíveis à infecção. As aves adultas entre três e dez anos de idade parecem ser as mais acometidas. Estudos indicam uma maior incidência em fêmeas 22. A micobacteriose aviária ocorre com mais frequência em aves mantidas em cativeiro, sendo a prevalência em populações de aves de vida livre menor do que 1% 21. A infecção dá-se pela ingestão do agente infeccioso, pela inalação de aerossóis de fezes contaminadas, por vetores como artrópodes, pelo ambiente (água de lagos, água de bebida, solo e material de ninho e cama contaminados) e pela inoculação do agente na mucosa ou na derme lesada. Pode haver transmissão vertical, mas é raro, pois geralmente o Mycobacterium causa uma queda na taxa reprodutiva das aves 22. A doença afeta principalmente o trato intestinal 4, mas pode ser facilmente disseminada para o fígado, a medula óssea, o pulmão, o saco aéreo, o baço, a pele, as gônadas e raramente para o pâncreas. Lesões nos pulmões são ocasionais e ocorrem provavelmente pela inalação do agente infeccioso 24. Embora raras, as lesões cutâneas podem ocorrer em psitacídeos 8. Há descrições de lesões granulomatosas mucocutâneas, cervicais e pulmonares 25. A patogenia varia conforme o sorovar e a espécie infectada. A presença de granulomas 92

na parede intestinal, no fígado, no baço, na medula óssea e nos pulmões é característica da infecção por M. avium 21. Os tubérculos na pele podem ter diversos tamanhos e estar repletos de material fibrinoso amarelado (Figura 7) 5. Na necropsia podem ser vistos hepatomegalia, esplenomegalia, espessamento da parede do trato digestório e também acúmulo de gordura intracavitária. Histologicamente, os nódulos são caracterizados por um grande número de células epitelioides, células gigantes e heterófilos 24, com necrose central e calcificação nos casos crônicos. Os sinais clínicos dependem das lesões e dos órgãos acometidos. A forma aguda pode provocar morte súbita. A doença crônica é debilitante e os sinais clínicos incluem perda de peso, anorexia, prostração, diarreia, poliúria e ausência de resposta clínica aos antibióticos convencionais 4,25. Outros sinais são plumagem com cor alterada, distensão abdominal, claudicação e presença de massas nos tecidos subcutâneos e conjuntival. Pode ocorrer dispneia em aves que estejam com os pulmões comprometidos 4. As aves adultas geralmente desenvolvem a forma crônica debilitante e as aves imaturas têm a forma subclínica 6. Suspeita-se da doença a partir dos sinais clínicos: alterações hematológicas (leucocitose com heterofilia, monocitose, trombocitose e fibrinogênio elevado) e possíveis alterações na bioquímica sérica (enzimas hepáticas aumentadas e albumina diminuída); organomegalias (hepato e esplenomegalia, dilatação das alças intestinais com presença de gás) e visualização de granulomas nos ossos, nos pulmões e no celoma, utilizandose para isso técnicas radiográficas e endoscópicas. A presença de bacilos alcoolácido resistentes em cortes histológicos, culturas microbiológicas e exames de DNA comprovam a suspeita clínica de tuberculose 22. A presença de bacilos alcoolácido resistentes em esfregaços de fezes indica infecção, mas não constitui um método de diagnóstico eficiente, pois pode haver cepas não patogênicas de micobactérias nas fezes 6. Os exames sorológicos são espécie específicos e incluem hemaglutinação, fixação de complemento e Elisa (ensaio imunoenzimático) 22, sendo um inconveniente a dificuldade de obtenção desses testes no Brasil. A cultura de Mycobacterium é difícil e demanda tempo 22. A determinação das espécies de Mycobacterium crescidas em cultura ou obtidas em amostras de fezes, biopsia e necropsia (incluindo cortes histológicos em parafina) pode ser feita por PCR (reação em

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trato gastrintestinal 20. O mais comum nessas infecções é um infiltrado inflamatório heterofílico e, em casos crônicos, granulomas no baço e no coração, meningite purulenta, endocardite e infarto cardíaco secundários à formação de êmbolos 8.

Figura 7 - Tubérculos na cabeça de papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), decorrentes de tuberculose aviária (complexo Mycobacterium avium-intracellulare)

cadeia pela polimerase) 6,21,22. A prova intradérmica com tuberculina mostrou-se ineficiente para aves exóticas, apresentando alta taxa de resultado falso negativo, principalmente nos estágios iniciais e finais da doença 21,22. O tratamento em aves não é recomendável, por se tratar de uma zoonose e por ser o M. avium normalmente resistente aos fármacos usados no ser humano. As aves infectadas eliminam continuamente micobactérias no ambiente e, por isso, devem ser submetidas à eutanásia 6,22. O Mycobacterium é extremamente estável, sendo difícil sua completa eliminação do meio ambiente. Portanto, são medidas preventivas a quarentena e exames físicos e laboratoriais de aves que são acrescidas a uma coleção. Recomenda-se que as aves que tiveram contato com animais positivos para a tuberculose sejam mantidas em quarentena pelo período de um a dois anos e que sejam submetidas a exames periódicos a cada seis a doze semanas 22. A higiene das instalações é fundamental para evitar a disseminação da doença. Recomenda-se a adoção de pisos não porosos e de fácil higienização e a desinfecção periódica das instalações. Os desinfetantes indicados são alcoóis, aldeídos, cloros, iodos, peroxigênios, fenóis e gases quimioesterilizantes 6,21,22,25. O potencial zoonótico do Mycobacterium avium em seres humanos sempre foi considerado baixo, entretanto, com o aumento do número de pessoas infectadas com o vírus da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids), esses casos vêm aumentando consideravelmente 22. Clamidiose ou psitacose (Chlamydophila psittaci) A Chlamydophila psittaci é uma bactéria intracelular obrigatória que apresenta ciclo

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de desenvolvimento bifásico com duas formas morfológicas e funcionalmente distintas: o corpo elementar e o corpo reticular 26,27. A doença acomete aves, mamíferos e répteis e representa uma das principais zoonoses de origem aviária, apesar de a incidência em seres humanos ser muito baixa quando comparada ao número estimado de aves portadoras 28. Aproximadamente 460 espécies de aves de 30 ordens são reconhecidas como suscetíveis a esse agente e os psitacídeos representam em torno de 25% delas. A virulência e a patogenicidade variam conforme o sorotipo e a espécie envolvida, ocorrendo desde infecção inevidente até doença clínica grave com elevada mortalidade 29. A transmissão das clamidófilas entre as aves ocorre pela inalação ou ingestão do microrganismo e pelo contato direto com secreções e excreções contaminadas. A infecção também pode ocorrer no ninho, quando os pais regurgitam para os filhotes alimentos contendo células infectadas do epitélio do inglúvio. Existem também relatos de transmissão vertical 29. A doença é bastante comum em filhotes de psitacídeos traficados – sujeitos a estresse contínuo e a queda de imunidade (Figura 8). As aves portadoras, mas sem doença clínica, podem eliminar o microrganismo ativamente, contaminando o ambiente. Pesquisas recentes desenvolvidas em criatórios e zoológicos brasileiros têm mostrado alta prevalência de animais portadores 29. Um laboratório particular no Brasil relatou que ao longo de dez anos a C. psittaci vem sendo detectada em 30 a 35% das amostras de fezes testadas por PCR 30. As aves pertencentes às ordens Psittaciformes e Columbiformes e os perus são considerados as principais fontes de infecção para o homem 29. Embora a grande maioria das infecções por C. psittaci em aves seja subclínica, a doença é induzida por fatores estressantes associados ao manejo inadequado, como má

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Figura 8 - Filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) confiscados de traficantes de animais, sendo mantidos e transportados inadequadamente, o que favorece o estresse e a perda das defesas imunológicas

nutrição e excesso populacional 31. Os sinais clínicos podem ser agudos, subagudos ou crônicos e variam conforme o estado imunológico, a espécie hospedeira, a patogenicidade do microrganismo, o grau de exposição ao agente, a porta de entrada e as doenças concomitantes 28. Os sinais clínicos são depressão, anorexia, desidratação, blefarite, ceratoconjuntivite, asas pendentes, tremores e transtornos respiratórios, digestórios, urinários e neurológicos. As aves dos gêneros Amazona (papagaios) e Ara (araras) e também as aves jovens são consideradas mais susceptíveis a infecção aguda fatal 28. As lesões variam de acordo com a evolução da doença e podem ser esplenomegalia, hepatomegalia com focos necróticos, sinusite, enterite catarral e aerossaculite 32. Os achados histopatológicos são hepatite necrótica granulomatosa associada a severo infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear e presença de células gigantes, moderada depleção linfoide associada a infiltrado granulocítico e enterite subcrônica. A ingluvite fúngica está constantemente associada à clamidiose, devido à baixa imunidade das aves 8. Durante a necropsia podem-se coletar fragmentos de órgãos ou conteúdo intestinal e preservá-los em meios específicos para a realização do diagnóstico em laboratórios especializados. No exame citológico de esfregaços de tecidos corados com Gimenez, Macchiavello ou Stamp é possível visualizar inclusões de corpos elementares e reticulares corados em vermelho 29 (Figura 9). Como o isolamento da Chlamydophila por cultura é dispendioso, demorado e requer laboratórios especializados com biossegurança nível 3 29, esse método de diagnóstico é de pouca utilidade para o clínico veterinário. A técnica de PCR (reação em cadeia pela polimerase), utilizando swabs e fragmentos de tecidos, é a mais moderna no diagnóstico da doença 29 e está acessível ao clínico veterinário. O sorodiagnóstico é um procedimento comple-

Figura 9 - Fotomicrografia de decalque de fígado de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Notam-se estruturas coradas em rosa-escuro, compatíveis com corpos elementares e reticulares de Chlamydophila psittaci (Gimenez, 1000x)

mentar aos testes de detecção do agente, sendo utilizadas as técnicas de aglutinação em látex, aglutinação de corpos elementares, reação de fixação de complemento, imunofluorescência indireta e ensaios imunoenzimáticos Elisa-ac 29. O aumento de quatro vezes ou mais no título de anticorpos em amostras pareadas de soro de um mesmo indivíduo, num prazo de duas semanas, é considerado diagnóstico de infecção recente 29. A doxiciclina é o antibiótico de eleição para o tratamento da clamidiose. A duração mínima do tratamento é de 45 dias. Sugerese o uso de hiclato de doxiciclina misturado ao alimento (200-400mg/kg de alimento; 500mg/kg de semente) ou misturado à água de bebida (0,2-0,8mg/L de água). A doxiciclina administrada por via oral (40-50mg/kg PO q24h) assegura a ingestão da dose exata estabelecida para o paciente. A doxiciclina por via intramuscular (75-100mg/kg q5-7 dias), mesmo com produtos próprios para essa via, pode provocar reações musculares severas 12,13. A oxitetraciclina (50mg/kg IM q24h durante 5-7 dias; oxitetraciclina longa ação: 50-200mg/kg IM q3-5 dias) é uma alternativa para as primeiras semanas de tratamento. A oxitetraciclina de longa ação (LA) pode causar lesões musculares nos locais de injeção 17. A clortetraciclina (500-1500mg/L de água de bebida; 500-1500mg/kg de comida durante 45 dias) pode ser utilizada no tratamento preventivo e curativo da clamidiose 12,17. Por ser uma zoonose, são necessárias medidas rígidas para a prevenção e o controle da doença nas instituições e no ambiente doméstico. Os autores recomendam que nos casos de aves de companhia PCR-positivo para C. pisttaci, os proprietários sejam informados dos riscos da zoonose e procurem assistência médica; que o contato das aves com pessoas seja restrito, principalmente o de crianças, idosos, doentes e imunodeficientes; que outras aves de companhia que tiveram contato com as aves PCR-positivo sejam submetidas a testes com técnicas moleculares; que as aves portadoras sejam isoladas e tratadas, desde que essa seja a opção dos proprietários; que as aves tratadas sejam monitoradas para assegurar-se que não continuem liberando C. psittaci no ambiente durante e após o período de tratamento; e que sejam adotadas práticas rígidas de higiene e desinfecção do ambiente. Micoplasmose (Mycoplasma sp) Os agentes mais frequentes na micoplasmose aviária são Mycoplasma gallisepticum,

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M. synoviae e M. meleagris. Um estudo recente em um centro de triagem de animais silvestres no estado de Minas Gerais, utilizando técnicas de PCR, demonstrou a presença de M. gallisepticum em 29 aves de uma amostra de 49 papagaiosverdadeiros (Amazona aestiva), ou seja, quase 60% das aves foram positivas 33. A correlação entre infecção por Mycoplasma gallisepticum e a ocorrência de quadro clínico pode ser baixa. O M. gallisepticum pode ser encontrado como habitante natural do sistema respiratório de aves saudáveis e alguns indivíduos tornam-se portadores saudáveis e reservatórios naturais da bactéria 33. A infecção, que é normalmente subclínica, pode se tornar clínica em razão do estresse por que as aves passam. A micoplasmose pode causar a morte de embriões e de aves jovens e adultas 33. Ainda que a morbidade seja elevada, a mortalidade depende da presença de agentes oportunistas. Os principais sinais clínicos e lesões estão relacionados ao trato respiratório superior, embora ocasionalmente possa ocorrer pneumonia. A doença normalmente tem curso crônico, sendo comum ocorrer distensão dos seios infraorbitais por fluidos, espirros, exsudato nasal, sinusite, aerossaculite, conjuntivite, diminuição da produção de ovos e da eclodibilidade, sinovite e artrite 33. O diagnóstico pode ser feito com kits comerciais para galinhas, sendo testes usuais a inibição da hemoaglutinação, Elisa e, mais recentemente, o PCR. O resultado positivo para Mycoplasma sp não é certeza de que o agente irá provocar doença com manifestação clínica, pois existem inúmeras espécies de Mycoplasma que não são patogênicas 33. O tratamento pode ser feito com antibióticos do grupo das quinolonas (enrofloxacino 15-30mg/kg PO ou IM q12h), tetraciclinas (doxiciclina 25-50mg/kg PO q12-24h) ou tilosina (30mg/kg IM q12h) 12,13. DOENÇAS FÚNGICAS As leveduras e os fungos fazem parte da microbiota das aves, sendo considerados comensais no trato gastrintestinal e na pele. Estima-se que menos de 1% desses fungos causem doença 34. Os fatores que podem determinar a destruição ou a inibição da microbiota autóctone e o consequente desenvolvimento de fungos e leveduras no trato gastrintestinal com manifestação clínica são a antibioticoterapia prolongada, a higiene inadequada das instalações, as deficiências nutricionais, a dieta com níveis elevados de carboidratos, as doenças concomitantes, a

senilidade e o estresse. A antibioticoterapia prolongada e a alta concentração de carboidratos na dieta acarretam a destruição ou a inibição da microbiota competitiva, permitindo o desenvolvimento acentuado de fungos e leveduras 34,35. Aspergilose (Aspergillus sp) O agente mais comum na aspergilose dos psitacídeos é o Aspergillus fumigatus, sendo menos frequentes o A. flavus e o A. niger 36,37. Esses fungos podem permanecer como saprófitas no organismo de aves saudáveis e, sob condições propícias, podem causar doenças respiratórias graves 38. Os ambientes com temperatura e umidade elevadas e ventilação deficiente favorecem o crescimento fúngico. A doença é bastante comum em aves traficadas, em razão do estresse a que são submetidas 10. A infecção é ocasionada pela inalação de esporos e hifas, ou ainda pela ingestão de alimento e água contaminados 38. São fatores que contribuem para o início e a gravidade da doença: o grau de exposição ao agente, a idade e a imunidade do hospedeiro 34, as doenças crônicas, as lesões traumáticas, a desnutrição, a deficiência vitamínica (principalmente hipovitaminose A) e o uso prolongado de antibióticos 37. São reconhecidas as formas aguda e crônica da doença. A forma aguda é frequente em aves de vida livre, mas também ocorre em psitacídeos cativos que inalem grande quantidade de esporos em ambientes contaminados. A forma crônica é a mais comum em psitacídeos e geralmente aparece após situações de estresse ou imunodepressão. O sistema imunológico da ave debilitada, mesmo que esta inale pequenas quantidades de esporos, não é capaz de combater de forma satisfatória a infecção 39. O agente penetra na mucosa do trato respiratório superior e forma micélios a partir das hifas e dos esporos inalados, provocando intensa descamação e necrose epitelial e infiltração de heterófilos, linfócitos e macrófagos na lâmina própria. É comum o fungo atingir o trato respiratório inferior, principalmente os pulmões e os sacos aéreos, penetrando na parede dos brônquios e no parênquima, onde se multiplica e se dissemina 37. A grande exsudação tecidual e as hifas radiantes podem bloquear a passagem de ar, preencher os sacos aéreos e formar granulomas, focos necróticos e placas esbranquiçadas 37. As extensas placas podem causar pleurisia, hepatização pulmonar, microabscessos, espessamento dos sacos aéreos 37,

necrose superficial das vísceras e formação de abscessos, principalmente no fígado, no pulmão, nos rins, nos intestinos e nas gônadas 40. Pode ocorrer disseminação hematógena para outros órgãos, como os ossos pneumáticos, a glândula adrenal, a coluna vertebral e o sistema nervoso central (SNC). As primeiras lesões são geralmente localizadas em locais com alta tensão de oxigênio e baixo suporte sanguíneo, preferencialmente os sacos aéreos, as grandes vias aéreas e a siringe 37. As lesões e os sinais clínicos dependem do curso da infecção, dos órgãos afetados e do número de esporos inalados 34. Na forma aguda, há rápida e maciça colonização dos pulmões, que ficam completamente infiltrados por pequenos granulomas difusos 39. Os sinais clínicos podem ser inespecíficos, incluindo perda de peso, dispneia, prostração, anorexia e diarreia; se o SNC for afetado, sinais nervosos antecedem a morte 41. O sinal mais comum é uma dispneia intensa com rápida piora e morte. Pode ocorrer retardo no crescimento das aves jovens que, se expostas a grande quantidade de esporos, podem morrer sem qualquer sinal clínico 37. Na forma crônica, os sinais variam conforme a localização e a extensão da lesão, sendo comuns a dispneia, a taquipneia, a intolerância a exercícios, inapetência, perda de peso, diarreia, poliúria, depressão e sinais nervosos. Os sinais clínicos podem ser imperceptíveis nos casos em que a doença tenha progressão lenta 37. Podem ocorrer lesões localizadas na traqueia, nos brônquios e nos seios nasais. Na traqueia e nos brônquios, os micélios penetram na parede e, juntamente com as células inflamatórias, formam cáseos e nódulos granulomatosos. A siringe é um desses focos de infecção primária, podendo ocorrer oclusão parcial ou total do lúmen respiratório (Figura 10) e consequente mudança ou perda da voz, dispneia e morte 39. Na necropsia veem-se nódulos aspergílicos e às vezes extensas placas aveludadas esbranquiçadas sobre o pulmão, os sacos aéreos e outros órgãos (Figura 11). Histologicamente, são observados múltiplos focos contendo hifas, circundados por hemorragia, infiltrado inflamatório heterofílico, mononuclear e células gigantes 37. O diagnóstico ante mortem da aspergilose é um desafio para o clínico veterinário. O diagnóstico presuntivo é feito a partir do histórico clínico, do exame físico, do hemograma e da bioquímica sérica, de exames radiográficos e endoscópicos. As alterações em

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Em casos graves, recomenda-se a anfoterecina-B (1,5mg/kg EV q8h durante três a sete dias), pois tem ação fungicida. A desvantagem desse fármaco é o risco de nefrotoxicidade, a estreita margem de segurança e a necessidade de aplicação por via endovenosa. Pode-se associar a fluorocitosina (60150mg/kg PO q12h), o fluconazol ou o itraconazol, aumentando o efeito terapêutico da anfoterecina-B. Por via intratraqueal, a anfoterecina-B é aplicada na dose de 1mg/kg q812h 12. O itraconazol (5-10mg/kg PO q12h por cinco dias, depois q24h durante todo o tratamento; 2,5-5mg/kg PO q24h em papagaio-do-Congo), o fluconazol (15mg/kg PO q12h por até trinta dias após desaparecimento dos sinais clínicos), o voriconazol (10mg/kg PO q12h) e o cetoconazol (20mg/kg PO q812h por catorze dias) são fungistáticos de uso oral que precisam ser administrados durante várias semanas para surtirem efeito. A terbinafina (10-15mg/kg PO q12-24h) associada ao itraconazol é outro protocolo recomendado para micoses sistêmicas 12,13,42. Infecções crônicas são normalmente de difícil resolução.

patologia clínica incluem anemia, leucocitose, heterofilia (25.000-100.000 células/mL), monocitose, linfopenia, hipoalbuminemia e hipergamaglobulinemia. Se houver envolvimento hepático, pode ocorrer aumento do AST (aspartato aminotransferase), do LDH (lactato desidrogenase) e dos ácidos biliares. O diagnóstico definitivo requer a identificação do fungo por cultura micológica (Figura 12), citologia, histopatologia ou teste molecular. Atualmente não existe um teste sorológico confiável para o diagnóstico da aspergilose nas aves. O exame radiográfico e endoscópico permite visualizar nódulos aspergílicos e espessamento de sacos aéreos em casos crônicos. O diagnóstico por PCR pode vir a ser uma técnica útil na clínica aviária 42. Deve-se fazer o diagnóstico diferencial de micobacteriose, clamidiose e hipovitaminose A 36. O tratamento pode ser feito com antifúngicos que agem por contato: uso tópico com cremes e pomadas, instilação nas vias aéreas superiores, aplicação de antifúngicos diretamente nos sacos aéreos e nebulização. A forma sistêmica da doença requer antifúngicos parenterais, ou seja, por via oral ou injetável. O tratamento tópico pode ser feito com anfoterecina B, miconazol, clotrimazol e enilconazol. Fármacos sistêmicos incluem a anfoterecina B, fluorocitosina, terbinafina, itraconazol, fluconazol e voriconazol 12,42. Silvia Neri Godoy *

Figura 10 - Traqueia seccionada de papagaioverdadeiro (Amazona aestiva). Nota-se um cáseo aspergílico na base da traqueia, obstruindo a siringe

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Candidíase (Candida sp) Pequenas concentrações de Cândida sp são comuns na microbiota entérica das aves, porém o crescimento excessivo dessas leveduras tende a produzir manifestações clínicas. A Candida sp pode infectar o sistema reprodutivo e os olhos, e eventualmente torna-se sistêmica 39. A infecção ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados. Outra forma menos comum de contaminação é pela inalação do agente 43. A Candida sp pode ser o agente primário da candidíase em filhotes e um agente oportunista em animais com quadro de imunodepressão 34. Os filhotes podem ser contaminados ao ingerir alimentos fornecidos pelos pais ou por alimentação artificial com instrumentos contaminados. Nessa fase Silvia Neri Godoy

Silvia Neri Godoy

Figura 11 - Pulmão esquerdo de pássaro-preto (Gnorimopsar chopi) com extensa placa aveludada esbranquiçada decorrente de infecção severa por Aspergillus sp

da vida, o sistema imune da ave está imaturo e a microbiota gastrintestinal está em formação, o que favorece a infecção e a ocorrência da candidíase 39. Em filhotes doentes, o que se vê é a fermentação de alimento no inglúvio, a formação de gases, o aumento do tempo de esvaziamento do trato digestório, impactação, anorexia, desidratação, depressão e morte. Alimentos muito quentes causam microlesões na mucosa do trato digestório superior, que facilitam a infecção por leveduras e bactérias oportunistas 34. A microbiota residente no trato gastrintestinal das aves tem efeito inibitório sobre o crescimento de Candida sp. Assim, qualquer desequilíbrio pelo uso contínuo de antibióticos ou por mudanças no pH gastrintestinal pode resultar na proliferação de leveduras. A infecção por vírus ou bactérias ou as lesões acarretadas pela hipovitaminose A podem facilitar a colonização fúngica no trato gastrintestinal 37. Nos adultos, a candidíase é caracterizada pela formação de placas pseudomembranosas necróticas na cavidade oral e no trato digestório, muitas vezes cobertas de material caseoso que dificulta a deglutição e a respiração 39. A sintomatologia compreende dispneia, anorexia, prostração, regurgitação, vômito, diarreia, perda de peso, inglúvio dilatado, esofagite e espessamento da parede do esôfago. Casos raros e graves podem provocar deformidades no bico 4. A forma cutânea em psitacídeos pode ocorrer na comissura do bico (Figura 13), na epiderme nasal, na cloaca e em folículos por todo o corpo, podendo determinar hiperqueratose 34. A candidíase é menos comum no trato respiratório, mas quando ocorre é seguida de hiperqueratose, descamação superficial e necrose associada a infiltração na lâmina própria da laringe, na cavidade nasal, na traqueia e no pulmão 43. O diagnóstico presuntivo é feito pela

Figura 12 - Fotomicrografia de corte histológico de pulmão de cardeal (Paroaria coronata) apresentando infecção por Aspergillus sp. Notamse hifas com conidióforos e estruturas circulares que são vesículas com conídias (HE 200x)

Figura 13 - Massa esbranquiçada na comissura de bico, associada a destruição de tecido córneo em sabiacica (Trichlaria malachitacea), decorrente de infecção por Candida sp

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Megabacteriose (Macrorhabdus ornithogaster) A megabacteriose é causada pela levedura Macrorhabdus ornithogaster (Figura 15), que coloniza principalmente o proventrículo e o ventrículo. Há opiniões distintas entre os clínicos: uns a consideram um patógeno, outros um comensal 46. O agente pode colonizar de forma invasiva o trato digestório superior. Os psitacídeos são bastante sensíveis à infecção 17.

A manifestação clínica pode ocorrer de duas formas: a aguda, em que a ave para de se alimentar, regurgita com frequência e morre em um ou dois dias; e a crônica, que é a mais comum, em que a ave se alimenta continuamente, porém perde peso drasticamente. Os sinais clínicos são diarreia (Figura 16), fezes com alimentos não digeridos, desidratação, emagrecimento e depressão 17,46. O Macrorhabdus ornithogaster coloniza principalmente as glândulas superficiais da porção distal do proventrículo, causando uma hipersecreção nas glândulas mucosas e o espessamento da parede do ventrículo, com consequente formação de ulcerações na mucosa. No exame radiográfico é possível ver, em alguns casos, dilatação do proventrículo e diminuição do trânsito gastrintestinal. O diagnóstico é feito com decalque de fezes ou do proventrículo corado com gram ou PAS (ácido periódico Schiff). O fungo é anaeróbio facultativo e cresce em Agar sangue. No exame histopatológico, encontra-se um grande número de microrganismos de tamanho (3-4µm x 20-80µm) e formato típicos na

Figura 15 - Fotomicrografia de vários Macrorhabdus ornithogaster (seta vermelha larga) em decalque de proventrículo de periquito australiano (Melopsittacus undulatus). O agente etiológico da megabacteriose são leveduras muito maiores que bastonetes gram-positivos (seta amarela) e maiores que leveduras semelhantes a Candida sp (seta vermelha fina) [HE 400x] Zalmir Silvino Cubas

Silvia Neri Godoy

Figura 14 - Ingluvite fúngica por Candida sp em arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus). Notam-se placas arredondadas esbranquiçadas características da infecção por essa levedura

Criptococose (Criptococcus sp) A infecção por Criptococcus é menos comum nas aves, mas quando ocorre, causa doença grave no sistema respiratório. Foram descritos casos em lóris no Brasil 44. O fungo é encontrado no solo contaminado com fezes de aves, pois o agente utiliza em seu metabolismo a creatinina como fonte de nitrogênio. A infecção ocorre pela inalação do fungo, que pode se instalar no trato respiratório, nos sistema digestório e no sistema nervoso central, provocando lesões necróticas granulomatosas pálidas e exsudato gelatinoso característico. Infecções graves do trato respiratório superior podem produzir extensos granulomas faciais que causam deformação da ranfoteca 42,44. Os sinais clínicos incluem depressão, perda de peso, fraqueza, anorexia, diarreia aguda, incoordenação, dispneia e exsudato nasal, que levam à morte. O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, na identificação do organismo em exame citológico ou histopatológico e na cultura em Agar Sabouroud. O fungo tem a forma ovoide típica de levedura, adquire a cor roxa quando corado por gram e aparece envolto por uma cápsula de mucopolissacarídeo brilhante que não se cora. Macroscopicamente, é possível notar lesões gelatinosas mixomatosas de coloração esbranquiçada nos seios nasais e infraorbitais, nos sacos aéreos, nos pulmões e no cérebro. No exame histopatológico, a resposta inflamatória é geralmente escassa e está associada à presença de células epitelioides gigantes e de heterófilos 42,44. O tratamento é difícil e contraindicado em razão do potencial zoonótico. Os fármacos que podem agir são anfotericina B, itraconazol e fluconazol. Foi relatado o tratamento efetivo com fluconazol (8mg/kg q24h PO por oito semanas) em um papagaio-do-Congo (Psittacus erythacus) que apresentava criptococose nasal bilateral; porém, houve recidiva após três anos 45. A prevenção consiste em evitar o contato de psitacídeos com aves de vida livre, principalmente pombos e pássaros.

Zalmir Silvino Cubas

análise de decalques da mucosa oral ou de fezes corados por gram, que permitem visualizar grande quantidade de estruturas ovais (3,5 a 6 x 6 a 10µm) eosinofílicas e em brotamento. Nos casos mais severos, quando há envolvimento de tecidos profundos, podemse encontrar pseudo-hifas 42. O diagnóstico definitivo é feito pela cultura micológica. No exame histopatológico é possível visualizar estruturas arredondadas e ovaladas compatíveis com leveduras e infiltrado inflamatório predominantemente granulocítico. Na necropsia encontram-se placas necróticas esbranquiçadas, espessas, associadas a exsudato catarral mucoide no sistema digestório 8 (Figura 14). Deve-se fazer o diagnóstico diferencial de hipovitaminose A, tricomoníase e poxvirose. A presença de leveduras no decalque de fezes corado com gram não serve como diagnóstico da doença, pois as leveduras estão presentes na microbiota intestinal de aves saudáveis e, além disso, muitos alimentos ingeridos estão repletos de leveduras que passam intactas pelo trato digestório 40. Para saber se as leveduras vistas no exame microscópico são de um processo patológico, é preciso levar em consideração outros aspectos como a idade e a condição de saúde da ave, o número de leveduras por campo microscópico e a presença de leveduras em brotamento 17. O tratamento pode ser feito com nistatina (300.000UI/kg PO q12h por sete a catorze dias), itraconazol (10mg/kg PO q24h por sete a vinte e um dias), fluconazol (5-15mg/kg PO q12h; ou 50mg/L de água de bebida) ou cetoconazol (10-30mg/kg PO q12h por vinte e um dias; ou 200mg/L de água de bebida) 12,13. A nistatina não é absorvida no sistema gastrintestinal, sendo a sua ação por contato. Normalmente utiliza-se a nistatina como primeira opção na terapêutica, mas em casos graves e infecções resistentes são recomendados antifúngicos sistêmicos 42.

Figura 16 - Cadáver de periquito-australiano (Melopsittacus undulatus) com acúmulo de fezes pastosas na região perianal decorrente de diarreia por Macrorhabdus ornithogaster * Imagens publicadas pelo autores no capítulo “Psittaciformes (arara, papagaio, periquito)” no livro Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária (ISBN: 85-7241-649-8 – Editora Roca – www.editoraroca.com.br)

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região glandular do proventrículo e sobre a cápsula de coilina no ventrículo 17,46. Na maioria dos casos, trata-se de uma infecção oportunista que acomete principalmente animais com quadro de imunodepressão. O tratamento é feito com anfoterecina-B (100mg/kg PO q12h durante trinta dias) 46. Outros antifúngicos parecem não dar resultado satisfatório, embora se possa tentar o tratamento com nistatina. Parece ser benéfica a acidificação do trato digestório com a adição de 5mL de vinagre em 600mL de água de bebida 46. O tratamento de suporte inclui alimentos de alta digestibilidade, vitaminas e fluidoterapia. REFERÊNCIAS 01-COLLAR, N. J. Family Psittacidae (Parrots). In: DEL HOYO, J. ; ELLIOTT, A. ; SARGATAL, J. Handbook of the Birds of the World. Sandgrouse to cuckoos. v. 4. Barcelona: Lynx Edicions, 1997. p. 280447. 02-STATTERSFIELD, A. ; CAPPER, D. Threatened birds of the world: Birdlife International. Barcelona and Cambridge. Lynx Edicions and Birdlife International. 2000. 03-KELLY, J. K. ; OWEN, D. A. Escherichia coli diarrhea. In: CONNOR, D. H. ; CHANDLER, F. W. ; SCHWARTZ, D. A. ; MANZ, H. J. ; LACK, E. E. Pathology of infectious diseases. Stamford: Appleton & Lange. v. 1, 1997. p. 555-564. 04-DORRESTEIN, G. M. Bacteriology. In: ALTMAN, R. B. ; CLUBB, S. L. ; DORRESTEIN, G. M. ; QUESENBERRY, K. Avian medicine and surgery. Philadelphia. W. B. Saunders Company, 1997. p. 255-280. 05-ZWART, P. Bacterial diseases. In: SAMOUR, J. Avian medicine. London: Harcourt Publishers, 2000. p. 252264. 06-GERLACH, H. Bacteria. In: RITCHIE, B. W. ; HARRISON, G. J. ; HARRISON, L. R. Avian medicine: principles and application. Lake Worth. Wingers Publishing, 1994. p. 949-983. 07-CARVALHO, V. M. Colibacilose e salmonelose. In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens - medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2006. p. 742-750. 08-GODOY, S. N. Patologia comparada de psitacídeos mantidos em cativeiro no estado de São Paulo. Tese (Mestrado em patologia experimental e comparada) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.

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Infecção aguda fatal por Toxoplasma gondii em macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha) relato de caso

Ana Carolina Holanda Maluenda MV, residente - VPT/FMVZ/USP anacarolinahm@uol.com.br

Renata Assis Casagrande MV, mestre - VPT/FMVZ/USP casagrande_vet@yahoo.com.br

Viviane Cristhiane Nemer MV, residente - VPT/FMVZ/USP vi_cris71@hotmail.com

Cristina Takami Kanamura Farm. & Bioq., mestre - Instituto Adolfo Lutz

Toxoplasma gondii acute fatal infection in a woolly monkey (Lagothrix lagotricha) case report

criskanamura@yahoo.com.br

Danilo Kluyber MV - Criadouro Conservacionista Toca da Raposa dkluyber@yahoo.com.br

Rodrigo H. F. Teixeira

Infección aguda fatal por Toxoplasma gondii en un mono lanudo (Lagothrix lagotricha) relato de caso

MV, mestre - Criadouro Conserv. Toca da Raposa rhftzoo@hotmail.com

Eliana Reiko Matushima MV, profa. dra. VPT/FMVZ/USP ermatush@usp.br

Clínica Veterinária, n. 81, p. 100-104, 2009 Resumo: A infecção por Toxoplasma gondii é um problema para a manutenção de primatas não humanos em cativeiro, sendo as espécies do Novo Mundo altamente suscetíveis à doença. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de toxoplasmose aguda em um macacobarrigudo (Lagothrix lagotricha) adulto, proveniente de vida livre, que morreu e foi encaminhado para necropsia. Os principais achados anatomopatológicos estavam no pulmão, baço, fígado e linfonodos, com a visualização de estruturas compatíveis com T.

gondii no exame citológico, histopatológico e na imunomarcação positiva com anticorpo policlonal anti-T. gondii – achados esses que condizem com os casos encontrados na literatura. Como os primatas neotropicais normalmente desenvolvem infecção aguda e fatal, ressalta-se a importância do manejo preventivo e suas possíveis vias de transmissão em cativeiro. Unitermos: animais silvestres, primatas, patologia, protozoários, toxoplasmose

Resumen: La infección por Toxoplasma gondii representa un problema en el mantenimiento en cautiverio de los primatas no humanos, siendo que las especies del nuevo mundo son muy susceptibles a la enfermedad. El objetivo de este trabajo es relatar un caso de toxoplasmosis aguda en un mono lanudo (Lagothrix lagotricha) adulto, originario de vida libre, enviado para necropsia despues de haber muerto en un periodo de dos dias. Los principales hallazgos anatomopatologicos fueron encontrados en el pulmón, bazo, hígado y ganglios

linfáticos, con visualización de extructuras compatibles con T. gondii por la citología, histopatología y imunomarcación positiva con anticuerpo policlonal anti-T. gondii; estos hallazgos son iguales a los descriptos en la literatura. Como los primates neotropicales normalmente desenvueven infección aguda y fatal, se destaca la importancia del manejo preventivo y sus posibles vías de transmisión. Palabras clave: animales silvestres, primatas, patología, protozoários, toxoplasmose

Abstract: The protozoan Toxoplasma gondii is one of the most common parasitic infections of man and other warm-blooded animals 1,2,3,4,5. Toxoplasma gondii is a coccidian obligate intracellular parasite, with a sexual cycle (enteroepithelial cycle) in the definitive host (domestic cats and other member of the Felidae family) and an asexual cycle (extraintestinal cycle) in intermediate hosts (man, many mammals and birds) 1,3,5,6. There are three infections stages of T. gondii for all animals: tachyzoites (individually and in groups), bradyzoites (in tissue cysts), and sporozoites (in oocysts) 1. This protozoan represents a problem for the maintenance of non-human primates in captivity, especially the New World primates that are highly susceptible to this infection 8,9,11,12,13,14,15. The objective of the present study is to report an acute toxoplasmosis case in an adult free-living woolly monkey (Lagothrix lagotricha) that was sent by IBAMA from Roraima State to Criadouro Conservacionista Toca da Raposa in São Paulo State. This monkey was lethargic, anorexic, and it died two days later. This dead animal was sent to the Animal Pathology Laboratory at University of São Paulo for post-mortem examination. Necropsy revealed cachexia, pale mucous membrane, heterogeneous red-colored and consolidated lungs, severe splenomegaly, mild hepatomegaly and enlarged and red-colored lymph nodes, mainly mesenteric. The cytology exam by imprint of the lungs, liver, spleen and mesenteric lymph nodes showed compatible T. gondii tachyzoites free or in macrophages (individually or in small groups). Sections of all tissues were collected, fixed in 10% buffered neutral formalin for 48 hours, embedded in paraffin, sectioned at 4 m, stained with hematoxylin and eosin, and submitted to a light microscopy examination. Histopathologically, exams revealed nonsuppurative, acute, diffuse, severe pneumonia; nonsuppurative, multifocal, mild myocarditis; nonsuppurative, moderate hepatitis with severe, multifocal necrosis; interstitial, nonsuppurative, multifocal, moderate nephritis. The spleen presented lymphoid depletion and moderate necrosis with haemorrhage and histiocitic splenitis. In the lymph nodes, which were mainly mesenteric, multifocal to coalescing severe necrosis with haemorrhage was observed, as well as moderate diffuse histiocitic lymphadenitis. Intralesion, individual or in small groups, T. gondii tachyzoites were visualized free or within macrophages in the lungs, liver, spleen and lymph nodes. Paraffin-embedded tissue blocks were sent to the Immunohystochemistry Laboratory at Adolfo Lutz Institute. Immunohystochemistry (IHC) was performed with the streptavidin-biotin peroxidase technique and the use of polyclonal

antibodies against T. gondii. IHC showed a specific antigen-antibody reaction which was very intense in the lungs, liver, spleen, lymph nodes, moderate in the kidneys, and mild in the central nervous system, heart, and adrenal glands. These findings were in accordance with the lesions reported in literature. Toxoplasmosis is considered to be a fatal parasitic disease in some animals, such as New World primates 8,10. This disease is one of the main diseases in New World primates, and there are many outbreaks in zoos and private breeders in Brazil and in other countries 8,9,11,12,13,14,15. According to literature, free-living New World primates (Cebus spp and Alouatta spp) have had antibodies against T. gondii 16,17. They are much more susceptible than Old World primates, rarely surviving the disease 6,7,8,10,12. The reasons for such high susceptibility are not clear; however, data suggested that, due to their arboreal habits, these primates were isolated, during their evolution, from both felids and T. gondii oocysts; as a result, they failed to develop a resistance to toxoplasmosis 7. Moreover, data suggest that vertebrates of this type do not develop an effective cellular immune response to T. gondii 7. Normally, New World primates die without premonitory signs having been observed, indicating the acute nature of the disease 10. If the clinical signs are present, they are not specific, such as lethargy, malaise, anorexia, and the animals die in few days 8,10,11,18. In previous reports and in the present study, the gross and microscopic lesions were similar. These lesions were characterized by necrosis in the lungs, liver, spleen, mesenteric lymph nodes, and absent or variable lesions in the gastroenteric system 8,9,11,12,13,14,15. The presence of the tachyzoites or cysts of bradyzoites was detected in the histology, mainly in the lesion or associated with inflammatory cell infiltration 8,9,11,12,13,14,15. Toxoplasma gondii may be transmitted by the consumption of infected meat, by the oral-faecal route, or congenitally 6. Experimental studies indicated the possibility of aerosol transmission of T. gondii to squirrel monkeys (Saimiri sciureus) 6. In many cases described in literature, the route of T. gondii transmission to New World primates was not identified. It was then assumed that transmission had occurred by ingestion of infected raw meat or food or drink contaminated with sporulated oocysts 6,8,9,11,12,13,14,15. As New World primates usually develop acute and fatal infection, this fact militates against the use of therapeutic measures, and it is important to emphasize the need for rigorous prophylactic procedures to prevent the occurrence of these parasites in captive colonies. Keywords: wildlife animals, primates, pathology, protozoans, toxoplasmosis

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Introdução A toxoplasmose é uma doença infectocontagiosa zoonótica importante, que deve ser considerada na manutenção de colônias de primatas não humanos e também na saúde de populações de primatas em vida livre. A toxoplasmose é causada por protozoários apicomplexos de Toxoplasma gondii, que infectam uma grande variedade de animais, tendo principalmente mamíferos – inclusive o homem – e aves como hospedeiros intermediários 1,2,3,4,5. Os hospedeiros definitivos, nos quais o parasita realiza seu ciclo sexuado, são os felídeos domésticos e selvagens 1,3,5,6. A infecção pode ocorrer pela ingestão de oocistos esporulados no ambiente, contato com fezes de felídeos, ingestão de alimentos contaminados por oocistos ou cistos teciduais, água contaminada ou pela transmissão vertical por taquizoítos através da placenta 3,5. A toxoplasmose apresenta as formas aguda e crônica 4. Alguns animais desenvolvem infecção aguda e fatal. A forma de apresentação da doença dependerá basicamente da interação entre parasita e hospedeiro 1,7. Em relação ao parasita, o curso da doença depende

da cepa envolvida e de sua patogenicidade. Quanto ao hospedeiro, o fator mais importante para a ocorrência da doença é a competência do sistema imune, principalmente a imunidade celular 1,7,8. Nos casos agudos, os órgãos mais afetados são os pulmões, o fígado, o baço, os linfonodos, o intestino e o cérebro, cujas alterações são decorrentes principalmente da necrose tecidual resultante da replicação do parasita e da ruptura das células hospedeiras pelos taquizoítos 4. Nos casos crônicos, são visíveis cistos de bradizoítos, principalmente no cérebro e na musculatura esquelética e cardíaca, mas que podem aparecer em qualquer órgão afetado 3,4. O diagnóstico nos animais vivos é difícil, pois os sinais clínicos se assemelham aos de qualquer enfermidade com quadro agudo ou neurológico. A sorologia pode ser uma forma de diagnóstico. Usa-se a sorologia pareada com intervalo de quinze dias ou a mensuração de IgM e IgG para diferenciação entre infecção recente ou passada 4,9. Nos animais selvagens, a toxoplasmose é em um problema principalmente para a manutenção de primatas não humanos do Novo

Mundo, que normalmente desenvolvem infecção aguda e fatal 8,10. São vários os surtos relatados em colônias em várias partes do mundo, muitas vezes com alta taxa de mortalidade e morbidade 8,9,11,12,13,14,15. As espécies do Novo Mundo são consideradas altamente suscetíveis, tanto pela freqüência de casos relatados como por estudos experimentais 10. A razão dessa vulnerabilidade ainda não foi esclarecida 6,7,8,10,12. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de infecção aguda e fatal por Toxoplasma gondii em um macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Relato de caso Um macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha) macho, adulto, proveniente da natureza, entregue pelo Ibama de Roraima ao Criadouro Conservacionista Toca da Raposa, apresentou histórico de letargia, prostração, anorexia, morrendo dois dias após a admissão no criadouro. O cadáver foi encaminhado ao Serviço de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) para realização da necropsia.

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Os achados macroscópicos foram caquexia e mucosas pálidas. Na cavidade torácica evidenciaram-se lobos pulmonares de coloração vermelha heterogênea, consistência firme associada e edema acentuado (Figura 1). O baço encontrava-se severamente aumentado (Figura 2), e o fígado, levemente aumentado. Os linfonodos, principalmente os mesentéricos, estavam aumentados e avermelhados. Realizou-se exame citológico do pulmão, do fígado, do baço e do linfonodo mesentérico pela técnica de imprint corada com Giemsa. Fragmentos de todos os órgãos foram fixados em formalina tamponada a 10% por 24 horas, de aproximadamente 5mm, desidratados, diafanizados e incluídos Viviane Christiane Nemer Viviane Christiane Nemer

Figura 2 - Baço - macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Esplenomegalia severa

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Figura 3 - Linfonodo - macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). A) Evidenciação de taquizoítos de T. gondii no citoplasma de macrófagos (seta). Giemsa. 400x. B) Agrupamento de taquizoítos de T. gondii livres (seta). Giemsa. 1000x

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Figura 4 - Pulmão - macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Pneumonia necrótica não supurativa aguda severa difusa associada a taquizoítos de T. gondii (seta) no citoplasma de macrófagos ou livres no interstício. HE. 400x

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acentuados, além de hemorragia multifocal severa. Foram observadas estruturas piriformes a ovaladas, sugestivas de taquizoítos de T. gondii livres ou no interior de macrófagos intralesionais (Figura 4). O coração apresentou miocardite aguda não supurativa leve multifocal. No fígado evidenciou-se necrose de coagulação severa multifocal, com hepatite não supurativa moderada (Figura 5); e nos rins, nefrite intersticial não supurativa moderada multifocal. No baço havia depleção linfóide e necrose centrofolicular moderada, associada a hemorragia e a esplenite histiocitária moderada difusa. Nos linfonodos observou-se necrose severa multifocal a coalescente e hemorragia, principalmente na região medular associada à linfadenite histiocitária moderada difusa. Taquizoítos de T. gondii foram observados livres ou no interior de macrófagos do baço e linfonodos (Figura 6). Pela coloração de Giemsa evidenciaramse taquizoítos de T. gondii livres ou no interior de macrófagos no pulmão, no fígado, no baço e nos linfonodos. A marcação imunoistoquímica foi positiva no cérebro, no coração, nos pulmões, no fígado, no baço, nos linfonodos, nos rins e nas glândulas adrenais (Figuras 7A, B, C, D e 8). Ana Carolina Holanda Maluenda

Figura 1 - Pulmões - macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Lobos pulmonares de coloração vermelha heterogênea e consistência firme, associada a edema acentuado

em parafina, posteriormente seccionados em cortes de 5µm de espessura e, finalmente, corados por meio de hematoxilina, eosina (HE) e Giemsa. Fragmentos de todos os órgãos incluídos em parafina foram encaminhados ao Laboratório de Imunoistoquímica do Serviço de Patologia do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo. Após a desparafinização, as lâminas, de acordo com padronização prévia, não foram submetidas à recuperação antigênica e sim ao bloqueio da peroxidase endógena com água oxigenada a 6% (20 volumes). A primeira etapa da reação consistiu na incubação do anticorpo primário. Para o presente estudo utilizou-se um anticorpo policlonal antiT. gondii de coelho, a uma diluição de 1:5000. Prosseguiu-se, então, para as etapas de incubação com anticorpo secundário biotinilado genérico (anti-imunoglobulinas de coelho, camundongo e cabra) e, em seguida, com o complexo estreptavidina-biotina-peroxidase (Kit LSAB®, Dako Cytomation, EUA). A revelação da reação imunoenzimática foi obtida pela solução contendo substrato cromogênico (diaminobenzidina), sendo depois os cortes submetidos a contracoloração com hematoxilina de Harrys. Como controle positivo foi utilizado encéfalo humano positivo para Toxoplasma sp. A análise citológica dos órgãos revelou discreta quantidade de estruturas piriformes a ovaladas, extracelulares ou no interior do citoplasma de macrófagos, individualizadas ou em pequenos agrupamentos, com um pequeno núcleo central hipercromático, acompanhadas por infiltrado inflamatório composto por linfócitos, plasmócitos e pequena quantidade de neutrófilos. Essas estruturas eram compatíveis com taquizoítos de protozoários, sugestivos de T. gondii (Figura 3). Microscopicamente, observou-se pneumonia necrótica não supurativa aguda severa e difusa, associada a edema e congestão

Figura 5 - Fígado - Macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Necrose de coagulação severa multifocal com hepatite não supurativa moderada. HE. 40x

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Figura 6 - Linfonodo - Macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Necrose severa multifocal a coalescente, principalmente na região medular, associada a linfadenite histiocitária moderada difusa e taquizoítos de T. gondii no citoplasma de macrófagos. HE. 200x

Discussão e conclusão A toxoplasmose é uma das principais doenças que podem acometer os primatas neotropicais, sendo registrados vários surtos com casos de morbidade e mortalidade em diversos zoológicos e criadouros do Brasil 8,9,11,12,13,14,15. Em vida livre, um estudo realizado no Brasil encontrou soroprevalência de 30,2% (13/43) em Cebus spp e 17,6% (3/17) em Alouatta caraya 16, e em outro, realizado na Guiana Francesa, observou-se soroprevalência de 4% (8/50) em Alouatta seniculus e 0% (0/50) em Saguinus midas 17. As espécies de primatas neotropicais são consideradas mais suscetíveis que as do Velho Mundo 6,7,8,10,12. Essa vulnerabilidade ainda não está bem esclarecida 6,7,8,10,12. Uma das hipóteses é que durante a evolução, os primatas neotropicais, devido a hábitos arborícolas, estiveram isolados dos felídeos e, portanto, de oocistos de T. gondii, tornando-se mais sensíveis à doença 7. Normalmente os primatas acometidos por toxoplasmose são encontrados mortos, sem sinais prévios da doença e com boa condição corporal, o que os autores correlacionam com o caráter agudo da doença 10. Quando os sinais clínicos estão presentes, normalmente são inespecíficos e incluem letargia, depressão, anorexia e óbito dentro de poucos dias 8,10,11,18. Em todos os relatos descritos, os achados macroscópicos e microscópicos foram semelhantes entre si e com o presente relato, e compreenderam principalmente alterações necróticas no pulmão, no fígado, no baço e nos linfonodos mesentéricos, com lesões variadas ou ausentes no trato gastrintestinal 8,9,11,12,13,14,15. A presença de formas parasitárias, sejam elas taquizoítos ou cistos de bradizoítos, foram confirmadas pela visualização morfológica nos cortes histológicos,

Viviane Christiane Nemer

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Figura 7 - Imunomarcação para T. gondii - macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). A) Encéfalo; neurônios e células da glia marcadas em castanho. B) Pulmão; macrófagos marcados em castanho. C) Fígado; hepatócitos e células de Kupfer marcados em castanho. D) Linfonodo; macrófagos marcados em castanho. Estreptavidina-biotina-peroxidase. Hematoxilina. 400x

Órgãos Intensidade da marcação Cérebro + Coração + Pulmões +++ Fígado +++ Baço +++ Linfonodos +++ Rins ++ Glândulas adrenais + + marcação positiva em poucas células; ++ marcação positiva em muitas células; +++ marcação positiva em todo o tecido

Figura 8 - Marcação imunoistoquímica para Toxoplasma gondii em órgãos de um macacobarrigudo (Lagothrix lagothrica)

principalmente próximos às áreas lesionadas, mas também sem associação direta com o infiltrado inflamatório 8,9,11,12,13,14,15. Apesar de o encéfalo ser um órgão comumente afetado pela toxoplasmose, pode não haver lesões cerebrais 15. No presente relato, apesar de não ser observada lesão, a marcação imunoistoquímica foi positiva em alguns neurônios e células da glia. Alguns relatos descrevem a presença do parasita no encéfalo, sem correlação direta com focos de lesões ou infiltrado inflamatório 9,14. Com exceção de um relato 14, a infecção por T. gondii foi confirmada por imunoistoquímica, com a visualização de marcações positivas mesmo em órgãos anteriormente considerados livres do parasita pelas colorações histológicas de rotina 8,9,11,12,13,15.

Há dois relatos de toxoplasmose em macaco-barrigudo (L. lagotricha) na literatura 11,14. Em 1971, descreveu-se um caso de toxoplasmose aguda fatal em um macaco-barrigudo mantido como animal de estimação nos Estados Unidos 14. Em 1999, houve três casos de toxoplasmose em macacos-barrigudos provenientes do Parque Municipal Quinzinho de Barros, em Sorocaba, São Paulo 11. Como a toxoplasmose nos primatas neotropicais normalmente é aguda e fatal, isso dificulta o tratamento. A sulfadiazina e a pirimetamina são os fármacos mais amplamente utilizados no tratamento da toxoplasmose 19, porém, a eficiência dessa terapêutica em primatas é desconhecida 6. Dessa forma, ressalta-se a importância do manejo preventivo nas populações cativas de primatas 8. Muitos casos de toxoplasmose descritos na literatura não puderam comprovar a via de transmissão dos animais. Em grande parte, esta foi atribuída ao consumo de carne fresca ou alimentos contaminados por cistos ou oocistos esporulados 6,8,9,11,12,13,14,15. É importante, portanto, evitar alimentar os animais com carne fresca, sendo recomendado o tratamento da carne pelo congelamento ou pelo cozimento 5,11. No congelamento, os cistos de bradizoítos podem sobreviver a temperaturas baixas de até -12ºC. Sendo assim, preventivamente, todos os animais selvagens de cativeiro

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suscetíveis à toxoplasmose devem ser alimentados somente de carnes que foram previamente congeladas em pequenos pedaços a temperatura inferior a -12ºC, durante cinco dias 6. O cozimento de carne a 67 ºC parece ser eficiente também para a destruição dos cistos 5. Quanto aos animais mantidos em cativeiro, existem outras hipóteses a serem consideradas. O contato com oocistos pode ter-se dado pelas fezes de felídeos, tanto do próprio zoológico (felídeos selvagens) como de animais sinantrópicos (gatos domésticos) 6,8,9,11,12,13,14,15. Neste sentido, é importante a construção de recintos de primatas afastados dos de felídeos e também o treinamento adequado dos tratadores, para evitar a contaminação cruzada 11. Quanto aos animais sinantrópicos, não só os gatos domésticos podem servir como fonte de infecção, mas também roedores e aves silvestres, que podem, reconhecidamente, ser infectados por T. gondii, carrear cistos teciduais e servir como presas para os animais do zoológico 2,6,9,12. Pouco se sabe a respeito da importância dos insetos em relação à cadeia epidemiológica, mas alguns autores ressaltam os invertebrados como potenciais transmissores 12,15. No presente relato, não foi possível determinar a via de transmissão para o animal, pois este era proveniente de vida livre e poucas informações estavam disponíveis quanto ao tempo de cativeiro. Na natureza, os animais podem adquirir a toxoplasmose de forma semelhante à descrita para os animais selvagens em cativeiro, principalmente pelo consumo de presas cuja carne contenha

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cistos ou pelo contato com oocistos de fezes de felídeos selvagens 2,5,6. De acordo com o histórico clínico, os achados morfológicos e imunoistoquímicos, pode-se concluir que no presente caso trata-se de uma infecção aguda e fatal por T. gondii em macaco-barrigudo (Lagothrix lagotricha). Agradecimentos Ao professor José Roberto Mineo, do Laboratório de Imunologia da Universidade Federal de Uberlândia, pela doação do anticorpo anti-Toxoplasma gondii. Referências 01-DUBEY, J. P. ; LINDSAY, D. S. ; SPEER, C. A. Structures of Toxoplasma gondii tachyzoites, bradyzoites, and sporozoites and biology and development of tissue cysts. Clinical Microbiology, v. 11, n. 2, p. 267-299, 1998. 02-DUBEY, J. P. A review of toxoplasmosis in wild birds. Veterinary Parasitology, v. 106, n. 2, p. 121-153, 2002. 03-DUBEY, J. P. Toxoplasmosis - a waterborne zoonosis. Veterinary Parasitology, v. 126, n. 1- 2, p. 57-72, 2004. 04-JONES, T. C. ; HUNT, R. D. ; KING, N. W. Patologia Veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole, 2000. 1415p. 05-TENTER, A. M. ; HECKEROTH, A. R. ; WEISS, L. M. Toxoplasma gondii: from animals to humans. International Journal of Parasitology, v. 30, n. 1213, p. 1217-1258, 2000. 06-SILVA, J. C. R. Toxoplasmose. In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens: medicina veterinária. 1. ed, São Paulo: Roca, 2006. p. 768-784. 07-INNES, E. A. Toxoplasmosis: comparative species susceptibility and host immune response. Comparative Immunology Microbiology and Infectious Diseases, v. 20, n. 2, p. 131-138, 1997. 08-EPIPHANIO, S. ; SINHORINI, I. L. ; CATÃO-DIAS, J. L. Pathology of toxoplasmosis in captive New World primates. Journal of Comparative Pathology, v. 129, p. 196-204, 2003. 09-CUNNINGHAM, A. A. ; BUXTON, D. ; THOMSON, K. M. An epidemic of toxoplasmosis in a captive colony

of squirrel monkeys (Saimiri sciureus). Journal of Comparative Pathology, v. 107, p. 207-219, 1992. 10-ANDERSON, D. C.; McCLURE, H. M. Toxoplasmosis. In: JONES, T. C. ; MOHR, U. ; HUNT, R. D. Monographs on pathology of laboratory animals: nonhuman primates I. New York: Springer-Verlag, 1993. p. 63-69. 11-BOUER, A. ; WERTHER, K. ; CATÃO-DIAS, J. L. ; NUNES, A. L.V. Outbreak of toxoplasmosis in Lagothrix lagotricha. Folia Primatologica, v. 70, n. 5, p. 282-285, 1999. 12-DIETZ, H. H. ; HENRIKSEN, P. ; BILLE-HANSEN, V. ; HENRIKSEN, S. A. Toxoplasmosis in a colony of New World monkeys. Veterinary Parasitology, v. 68, n. 4, p. 299-304, 1997. 13-DUBEY, J. P. ; HODGIN, E. C. ; HAMIR, A. N. Acute fatal toxoplasmosis in squirrels (Sciurus carolensis) with bradyzoites in visceral tissues. Journal of Parasitology, v. 92, n. 3, p. 658-659, 2006. 14-HESSLER, J. R. ; WOODARD, J. C. ; TUCEK, P. C. Lethal toxoplasmosis in a woolly monkey. Journal of American Veterinary Medical Association, v. 159, n. 11, p. 1588-1594, 1971. 15-INOUE, M. Acute toxoplasmosis in squirrel monkeys. Journal of Veterinary Medicine Science, v. 59, n. 7, p. 593-595, 1997. 16-GARCIA, J. L. ; SVOBODA, W. K. ; CHRYSSAFIDIS, A. L. ; MALANSKI, L. S. ; SHIOZAWA, M. M. ; AGUIAR, L. M. ; TEIXEIRA, G. M. ; LUDWIG, G. ; SILVA, L. R. ; HILST, C. ; NAVARRO, I. T. Seroepidemiological survey for toxoplasmosis in wild New World monkeys (Cebus spp; Alouatta caraya) at the Paraná river basin, Paraná State, Brazil. Veterinary Parasitology, v. 133, n. 4, p. 307-311, 2005. 17-THOISY, B. ; DEMAR, M. ; AZNAR, C. ; CARME, B. Ecologic correlates of Toxoplasma gondii exposure in free-ranging neotropical mammals. Journal of Wildlife Diseases, v. 39, n. 2, p. 456-459, 2003. 18-VERONA, C. E. S. ; PISSINATTI, A. Primates - primatas do novo mundo (sagui, macaco-prego, macaco-aranha, bugio). In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃODIAS, J. L. Tratado de animais selvagens: medicina veterinária. 1. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 358-377. 19-DUBEY, J. P. ; ODENING, K. Toxoplasmosis and related infections. In: SAMUEL, W. M. ; PYBUS, M. J. ; KOCAN, A. A. Parasitic diseases of wild mammals. 2. ed. Ames, Iowa State University Press, 2001. p. 478-510.

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Dermatomiosite canina familiar - relato de caso

Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br

Mauro José Lahm Cardoso MV, prof. adj. - FFALM/UENP doutorando - FMVZ/Unesp-Botucatu maurolahm@ffalm.br

Canine familial dermatomyositis

Viciany Erique Fabris MV, prof. ass. dr. Depto. de Patologia - FM/Unesp-Botucatu vfabris@fmb.unesp.br

Dermatomiositis canina familiar

Mariana Isa Poci Palumbo Antunes MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu palumboma11@yahoo.com.br

Clínica Veterinária, n. 81, p. 106-110, 2009

Resumo: A dermatomiosite canina familiar é uma dermatose incomum, de caráter hereditário, inflamatório e idiopático de pele, músculos e algumas vezes dos vasos sanguíneos, mais frequente em collies e pastores de Shetland. As lesões cutâneas se desenvolvem entre sete semanas e seis meses de idade, apresentando maior comprometimento muscular nos collies. As lesões dérmicas são mais comuns em locais de maior traumatismo mecânico, como regiões perioculares, facial e labial, pina, ponta da cauda e proeminências ósseas, caracterizando-se por eritema, descamação, alopecia, crostas e distúrbios de pigmentação. A

miosite caracteriza-se por atrofia dos músculos mastigatórios e dos membros. O diagnóstico se dá pela história clínica, pela raça e pela idade do animal, com o auxílio dos exames dermatológico e osteomuscular, e coadjuvado pelas alterações histológicas da pele e dos músculos reveladas em biopsias respectivas, imunofluorescência da pele e eletromiografia. Este artigo visa relatar um caso de dermatomiosite canina familiar em collies, bem como revisar seus diversos aspectos descritos na literatura. Unitermos: cães, collies, dermatoses

Resumen: La dermatomiositis canina familiar es una dermatosis poco frecuente, de carácter hereditario, inflamatorio e idiopático de piel, músculos y algunas veces de los vasos sanguíneos. Es más frecuente en Collies y pastores de Shetland, con las lesiones cutáneas desarrollándose entre las siete semanas y los seis meses de edad y presentando mayor compromiso muscular en los Collies. Las lesiones dérmicas son más comunes en locales de mayor traumatismo mecánico, como regiones perioculares, faciales y labiales, pabellón auricular, punta de cola y prominencias óseas, caracterizándose por eritema, descamación,

alopecia, costras y disturbios de pigmentación. La miositis se caracteriza por atrofia de los músculos de masticación y de los miembros. El diagnóstico se obtiene por la historia clínica, raza y edad del animal, examen dermatológico y osteomuscular y complementado por las alteraciones histológicas de la piel y músculos en biopsias respectivas, inmunofluorescencia de la piel y electromiografía. Esto artículo procura relatar un caso de dermatomiositis canina familiar en Collie, así como revisar sus diversos aspectos descritos en la literatura. Palabras clave: perros, collies, dermatosis

Abstract: Canine familial dermatomyositis (CFD) is an uncommon hereditary inflammatory and idiopathic condition of skin, muscles and sometimes blood vessels found mainly in collies and Shetland sheepdogs. This disease was first described in collies in 1984 and in Shetland dogs in 1985 13,14, and it has also been reported in their related crossbreeds 1,2,6,7,10. In Brazil, the disease was first described in 1993 15, and in another study it appears as 1.5% of the myositis cases. Cutaneous lesions develop between seven weeks and six months of age, affecting mainly the muscles in collies. Skin lesions are more common in most frequently traumatized regions, such as the periocular, facial and labial areas, the tip of the tail and bone protuberances, being characterized by erythema, desquamation, alopecia, crusts and pigmentation disorders. Myositis is characterized by atrophy of masticatory and limb muscles. Diagnosis is based on patient's signalment, anamnesis, physical examination and specially by detailed dermatological and musculoskeletal examinations. Diagnosis is confirmed by skin and muscle biopsy, electromyography and negative direct immunofluorescence of affected skin 4,5,6,7. Correlation between dermatomyositis stage and abnormalities in electromyography have not been established 1,6. The aim of the present study is to report on a case of canine familial dermatomyositis in a collie dog and to review the different aspects described in the literature. An eleven-month-old male collie dog was admitted to the Dermatology Service of HV-FMVZ-Unesp, in Botucatu. With no morbid history, the animal had presented with alopecic, erythematous, itchy, crusty lesions for about two weeks, beginning at nasal mirror and bridge and gradually evoluting to dorsal regions of forelimbs and labial comissure. Anamnesis revealed lameness, locomotion difficulty, muscle weakness, emaciation, apathy, sialorrhea and hyporexia. At physical examination, the animal presented with hyperthermia, normal hydration, hypocolored mucosae, lymphadenomegaly, splenomegaly, atrophied testicles, blepharitis and enophthalmos. At the dermatological examination, nasal depigmentation, erythematous, erosive-ulcerative dermatosis at the transition from nasal bridge to nasal mirror (Figure 1), labial comissure (Figure 2) and nail bed (Figure 3) were observed. The animal also presented with hypotrichosis at limbs and gluteus, scapular and cranium muscle atrophy. Parasitologic skin examination and hair fungal culture were both negative; complete blood countrevealed neutrophilic leucopenia, lymphopenia, eosinophilia and regenerative anemia; serum biochemistry was normal. Skin fragments from labial

comissure, nasal bridge and extensor carpal surface were obtained for histopathology and presented similar alterations. Fibrotic perifollicular collagen was condensed with focal atrophy of pylosebaceous apparatus and there was a discreet perivascular and annexial lymphocytic infiltrate in deep dermis (Figure 4a). Skin biopsy revealed discreet laminated hyperkeratosis, discreet hypergranulosis, regular acanthosis, spongiosis, vacuoles in basal epidermis and rare apoptotic keratinocytes. Superficial dermis presented incontinence of melanic pigment and sparse infiltrate of mononuclear cells (Figure 4b). Once the anatomo-clinical diagnosis of CFD was established, therapy with vitamin E, prednisone and pentoxyfilin was initiated. After 30 days, there was mild improvement of dermatological condition and evident recovery of pain and muscle atrophy. For another 30-day period, the administration of corticosteroid was gradually reduced while vitamin E and fatty acids were maintained. One year after the beginning of the treatment, there was no recurrence of clinical signs. The clinical data related to patient's evolution, age, breed and clinical signs observed during examination, combined with histological findings, led to the CFD diagnosis. The animal's age when lesions occurred was coincident to that commonly reported 1,3,4,6,7,8,14. Dermatological findings, characterized by the type and distribution of skin lesions, as well as muscle alterations 2,6,8,9,10,11, were in agreement with the cases previously described 1,2,4,6,10. Hematological findings, however, did not correspond to those found in literature cases 2,4,11. Electromyography was not employed because alterations are seldom observed, and abnormalities occasionally found do not correlate to the stage of the disease 1,4,6,11. Histopathological findings corresponded to those in literature reports and were useful to confirm the diagnosis. This disease is characterized by typical histopathological alterations, which were all present in the skin samples examined (Figures 3a and 3b). After the prescription of recommended therapy with prednisone, vitamin E and pentoxyfilin 1,2,4,7,20, the animal recovered significantly and did not present any recurrence of clinical signs, even though this is likely to occur, according to the literature. Canine familial dermatomyositis is a progressive condition and, in some cases, euthanasia may be considered 4. Because of its hereditary and cureless nature, the animals affected by this disease should not be allowed to breed 6. Keywords: dogs, collies, dermatosis

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Introdução A dermatomiosite canina familiar (DCF), uma doença de ocorrência relativamente incomum, inclui-se entre as dermatoses decorrentes de defeitos congênitos e hereditários, sendo muitas vezes confundida com as dermatoses autoimunes. A DCF é uma doença hereditária, inflamatória, idiopática da pele, dos músculos e algumas vezes dos vasos sanguíneos 1,2,3. A causa da DCF em seres humanos e em cães é desconhecida 2,4. Suspeita-se de uma patogenia imunomediada, embora não esteja esclarecido se essa reação imunológica provoca todas as modificações vistas ou se ocorre em resposta a alguma lesão muscular ou cutânea pré-existente. A dermatomiosite pode ser induzida por drogas, infecções (especialmente as virais), toxinas ou doenças sistêmicas 3,4. Normalmente os sinais da DCF estão relacionados a um evento precipitante, como estro, parto, lactação, trauma ou a exposição excessiva ao sol 2. A DCF em collies parece estar ligada a uma característica genética autossômica dominante, com ampla variabilidade de expressão 1,2,3,4,5,6,7. Um modelo similar de heredi-

tariedade também é esperado para os pastores de Shetland – mas não comprovado, devido à estreita relação entre essas raças 1,2,3,6. As características da doença são bastante similares em ambas as raças, mas a miosite parece ser um fator mais importante em collies do que nos pastores de Shetland 2. As lesões geralmente aparecem de modo tênue e sutil enquanto o cão é jovem, e vão se agravando à medida que o animal se torna adulto, apesar de o aparecimento da dermatomiosite em cães adultos ser rara 2,4,7. As lesões cutâneas desenvolvem-se tipicamente em cães jovens, entre sete semanas e seis meses de idade 1,2,3,4,6,7,8,9. As lesões dérmicas desenvolvem-se nas áreas de maior traumatismo mecânico, como regiões perioculares, facial e labial, pinas, ponta da cauda e extremidades distais sobre proeminências ósseas (carpo e tarso). Raramente são observadas lesões orais e nos coxins, o que ocorre só nos casos graves 1,2,4,6. As lesões cutâneas se caracterizam por eritema, descamação, alopecia, seborreia, crostas, hiperpigmentação e hipopigmentação; podem-se observar vesículas em alguns cães entre sete e onze semanas de idade 1,2,4,6,10,

geralmente não pruriginosas, a menos que ocorra infecção bacteriana secundária. Alguns cães apresentam onicogrifose 4. A miosite desenvolve-se posteriormente à dermatite, e geralmente reflete a gravidade das lesões cutâneas 1,2,3,6,7. Um dos primeiros sinais da miosite é a atrofia bilateral e simétrica dos músculos mastigatórios e dos membros 11. Cães moderada ou gravemente afetados desenvolvem atrofia muscular variável, e alguns apresentam andar enrijecido e hipermétrico. Os cães gravemente atingidos têm dificuldade para beber água e para apreender, mastigar e engolir o alimento, devido ao envolvimento dos músculos mastigatórios e esofágicos 10. O diagnóstico é estabelecido pelos dados da identificação (raça e faixa etária), da anamnese, pelos achados do exame físico e, principalmente, do exame dermatológico e do aparelho osteomuscular. O diagnóstico fundamenta-se na biópsia da pele e dos músculos acometidos, na eletromiografia (EMG) e na imunofluorescência direta da pele afetada negativa; pode basear-se também em outros exames laboratoriais complementares, utilizados para descartar outras doenças que

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Figura 1 - Dermatomiosite: cão da raça collie apresentando despigmentação e alopecia em plano e espelho nasal

Luiz Henrique de Araújo Machado

Relato de caso Atendeu-se, no Serviço de Dermatologia do HV-FMVZ-Unesp do campus de Botucatu, um animal da espécie canina, macho, da raça collie, de 14,2kg e onze meses de idade, procedente da cidade de Bauru, sem antecedentes mórbidos, imunizado contra cinomose, leptospirose, hepatite, parvovirose, coronavirose, traqueobronquite infecciosa, parainfluenza e raiva. Apresentava havia cerca de duas semanas lesões alopécicas, eritematosas, pruriginosas, crostosas que começaram no espelho e na ponte nasal, e gradativamente envolveram as regiões dorsais dos membros anteriores e a comissura labial. Apresentava claudicação, dificuldade de locomoção, fraqueza muscular, emagrecimento, apatia, sialorreia e hiporexia. O proprietário referia contato com outros dois animais assintomáticos e raras saídas à rua. A alimentação era à base de ração comercial. No exame físico, apresentava-se com hipertermia, hidratado, com mucosas hipocoradas, linfoadenomegalia, esplenomegalia, testículos atrofiados, blefarite e enoftalmia. No exame dermatológico observou-se: despigmentação nasal, dermatose de aspecto eritematoso, erosivo-ulcerativa em transição de ponte e espelho nasal (Figura 1), comissura labial (Figura 2) e leito ungueal (Figura 3). O animal apresentava ainda hipotricose nos membros, atrofia muscular e sensibilidade na região glútea, escapular e craniana. O cão foi submetido a exame parasitológico de pele, cultura fúngica de pelos, colheita de sangue para hemograma completo e perfil bioquímico sérico. Após estar anestesiado, procedeu-se à biopsia da pele, com remoção de três fragmentos (comissura labial, ponte nasal e superfície extensora do carpo). O raspado de pele foi negativo para ácaros e a cultura fúngica resultou negativa. O

Luiz Henrique de Araújo Machado

possuem história clínica semelhante 4,5,6,7. As considerações diagnósticas diferenciais devem incluir: sarna demodécica, lúpus eritematoso sistêmico (LES), dermatofitose, celulite juvenil, polimiosite, miosite eosinofílica, foliculite por Staphylococcus, pênfigo foliáceo, pênfigo eritematoso, vasculite cutânea, epidermólise bolhosa e lúpus eritematoso discoide (LED) 1,2,3,4,6,7,12. Não foi determinada uma correlação positiva entre o estágio da dermatomiosite e as anormalidades na eletromiografia 1,6. O exame neurológico e os estudos de condução nervosa geralmente se apresentam sem alteração 1,4,6,11.

Figura 2 - (Dermatomiosite): Cão da raça collie apresentando dermatose de aspecto eritematoso, erosivo-ulcerativa, com formação de crosta hemática em comissura labial

hemograma revelou leucopenia com neutrofilia, linfopenia, eosinofilia e anemia regenerativa. O perfil bioquímico sérico estava dentro dos padrões da normalidade para a espécie. Alterações histológicas semelhantes foram encontradas em todas as amostras de pele que passaram por biópsia. Havia adensamento do colágeno fibrótico perifolicular com atrofias focais do aparelho pilossebáceo, além de discreta infiltração linfocitário perivascular e anexial na derme mais profunda (Figura 4a). A biópsia também revelou

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Figura 3 - Dermatomiosite: cão da raça collie apresentando dermatose de aspecto eritematoso, erosivo-ulcerativa em leito ungueal

hiperceratose laminada discreta, hipergranulose discreta, acantose regular, espongiose, vacúolos na camada basal da epiderme e raros ceratinócitos apoptóticos. A derme superficial exibia incontinência do pigmento melânico e esparsa e escassa infiltração de células mononucleares (Figura 4b). Estabelecido o diagnóstico anatomoclínico de DCF, iniciou-se a terapia, por via oral, com vitamina E a (500UI/dia), prednisona b (1mg/kg/24 horas) e pentoxifilina c (400mg/48 horas). O tratamento inicial foi prescrito por 30 dias. No primeiro retorno (após 30 dias), verificou-se melhora discreta do quadro dermatológico e melhora do apetite, do comportamento, da dor e da atrofia muscular. O tratamento foi continuado por mais 30 dias, com resolução parcial das lesões dermatológicas: o cão apresentava somente discreta despigmentação nasal e da comissura labial. Após esse período, o glicocorticoide foi gradativamente reduzido, permanecendo a administração de vitamina e de ácidos graxos. Um ano após do início do tratamento, o animal estava bem melhor, e não apresentava recidiva do quadro clínico. Discussão A evolução do quadro clínico mórbido, a idade, a raça, os sinais físicos observados no exame do paciente e os achados histológicos ofereceram subsídios para o diagnóstico de DCF. A DCF foi descrita primeiramente em cães da raça collie, em 1984, e em pastores de Shetland em 1985 13,14, sendo também descrita em cruzamentos dessas raças 1,2,6,7,10. Também foi relatada nas raças Welsh corgi, chow chow, pastor alemão, kuvasz – além de ter sido verificada em outros cães de raça pura e mestiços, embora nesses a base familiar ainda não esteja comprovada 4. A primeira descrição de DCF em collies no Brasil foi realizada em 1993 15, não constando sequer nos diferenciais de casuística em estudo a) Ephynal 400mg, Bayer healthcare, São Paulo-São Paulo b) Meticorten Veterinário 5mg, Schering-Plough, Cotia-São Paulo c) Trental 400mg, Sanofi-Aventis, São Paulo-São Paulob)

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Viciany Erique Fabris

Viciany Erique Fabris

A

B

Figura 4 - A) Pele (dermatomiosite): Atrofia folicular (*). Discreta fibrose perifolicular. Esparsa e escassa infiltração de células mononucleares na derme (HE-40x). B) - Pele (Dermatomiosite): Hipergranulose, acantose, espongiose, vacuolização de basal (seta), ceratinócitos apoptóticos (cabeça de seta) e incontinência pigmentar na derme superficial (HE-100x)

comparativo entre as dermatopatias imunomediadas, pelos autores da primeira descrição 16; em outro estudo consta como 1,5%

das miosites 17; outro estudo ainda aponta o pastor de Shetland como o mais acometido pela DCF 18.

A faixa etária do animal do presente caso, quando da manifestação das lesões, coincidia com as habitualmente citadas nos relatos de DCF, em que os cães apresentavam sintomatologia e lesões antes de um ano de idade 1,3,4,6,7,8,14. Os achados do exame dermatológico, caracterizados pelo tipo de lesões cutâneas, por sua disposição topográfica e pelos sinais clínicos evidenciados, eram plenamente compatíveis com várias descrições 1,2,4,6,10. Os achados do exame do sistema osteomuscular, caracterizados por atrofia e dor muscular nos membros anteriores e posteriores, são semelhantes aos de outros relatos 2,6,8,9,10,11. A presença de miosite reflete a gravidade do quadro mórbido. Os achados hematológicos não coincidiram com as descrições da literatura que referem anemia arregenerativa 2,4,11. Não foi realizada a eletromiografia, pois normalmente não se observam alterações e, quando há anormalidades eletromiográficas, não há correlação positiva com o estágio da DCF 1,4,6,11. O estabelecimento do diagnóstico foi possível pelo emprego dos exames complementares, da história, da raça, da idade e do


exame físico, que estabeleceram a diferenciação diagnóstica com a sarna demodécica, a foliculite bacteriana, o lúpus eritematoso sistêmico, a epidermólise bolhosa, a polimiosite e a miosite eosinofílica 1,2,3,4,5,6,7. O exame histopatológico das lesões cutâneas auxiliou na confirmação diagnóstica. Os achados histopatológicos foram semelhantes às descrições da literatura, apesar de presuntivos, quando não se trata das raças comumente acometidas pela DCF. A dermatose é caracterizada por atrofia folicular, perifoliculite e fibrose perifolicular, podendo ocorrer inflamação dérmica 6,10,19. Um pequeno número de ceratinócitos ocasionalmente estão em picnose ou em apoptose (corpúsculo de Civatte), com vacúolos e eosinofilia citoplasmática. A derme superficial pode apresentar incontinência pigmentar 1,2,4,5,6. Todos esses achados estiveram presentes em maior ou menor grau nas amostras cutâneas examinadas histologicamente, comprovando a compatibilidade histológica com o diagnóstico clínico de DCF (Figuras 3a e 3b). A miosite na DCF é caracterizada por coleções multifocais de neutrófilos, linfócitos, macrófagos, eosinófilos, plasmócitos e colágeno 13. A vasculite é observada na pele, nos músculos e no tecido subcutâneo, nos casos graves 1,2,6,8,9. Em nosso caso não se realizou biopsia do músculo cutâneo. Uma vez estabelecido o diagnóstico anatomoclínico da DCF e preconizada a terapia, com prednisona, vitamina E e pentoxifilina 1,2,4,7,20, o animal apresentou flagrante e notável melhora, que vem se perpetuando com o uso de vitamina E e ácidos graxos essenciais – e sem corticoterapia. Mesmo sem ter ocorrido uma melhora de 100%, o animal não apresenta mais alterações de pele. Entretanto, como cita a literatura, pode ocorrer recrudescência da enfermidade com o passar do tempo. Muitas vezes a doença é progressiva e a eutanásia deve ser considerada 4. O controle da exposição ao sol e a ovário-histerectomia são medidas terapêuticas importantes, que minimizam os traumas cutâneos.

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Xampus hipoalergênicos, antisseborreicos e antimicrobianos são utilizados no tratamento de suporte 1,2,6. Os defeitos hereditários aparentemente vêm ocorrendo com mais frequência, inclusive com variantes novas 21. Parte desse aumento deve-se à maior capacidade de diagnosticar essas condições. O cruzamento de pais ou consanguíneos de cães acometidos também contribui para estes diagnósticos, pela disseminação do gene. Devido ao fato de a DCF não ter cura e ser de natureza hereditária, os cães portadores da doença não devem se reproduzir 6. Referências 01-HARGIS, A. M. ; HAUPT, K. H. Review of familial canine dermatomyositis. Veterinary Annual, v. 30, p. 277-282, 1990. 02-HARGIS, A. M. ; MUNDELL, A. C. Familial canine dermatomyositis. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 14, n.7, p. 855-864, 1992. 03-KUNKLE, G. A. Canine dermatomyositis. A disease with an infectious origin. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 14, n. 7, p. 866-871, 1992. 04-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. G. Defeitos congênitos e hereditários. In__. Dermatologia de pequenos animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. p. 687-752. 05-REST, J. R. Pathology of two possible genodermatoses. Journal of Small Animal Practice, v. 30, n. 4, p. 230-235, 1989. 06-SCHMEITZEL, L. P. Recognizing the cutaneous signs of immune-mediated diseases. Veterinary Medicine, v. 86, p. 138-163, 1991. 07-WHITE, S. D. ; SHELTON, G. D. ; SISSON, A. ; MCPHERRON, M. ; ROSYCHUK, R. A. W. ; OLSON, P. J. Dermatomyositis in an adult Pembroke Welsh corgi. The Journal of the American Animal Hospital Association, v. 28, p. 398-401, 1992. 08-HARGIS, A. M. ; WINKELSTEIN, J. A. ; MOORE, M. P. ; WEIDNER, J. P. ; PRIEUR, D. J. Complement levels in dogs with familial canine dermatomyositis. Veterinary Immunology Immunopathology, v. 20, n. 1, p. 95-100, 1988. 09-HARGIS, A. M. ; MOORE, M. P. ; RIGGS, C. T. ; PRIEUR, D. J. Severe secondary amyloidosis in a dog with dermatomyositis. Journal of Comparative Pathology, v. 100, n. 4, p. 427-433, 1989. 10-KUNKLE, G. A. ; CHRISSMAN, C. L. ; GROSS, T. L. ; FADOK, V. ; WERNER, L. L.

Dermatomyositis in collies dogs. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 7, n. 3, p. 185-192, 1985. 11-HAUPT, K. H. ; PRIEUR, D. J. ; MOORE, M. P. ; HARGIS, A. M. ; HEGREBERG, G. A. ; GAVIN, P. R. ; JOHNSON, R. S. Familial canine dermatomyositis: clinical, electrodiagnostic and genetic studies. American Journal Veterinary Research, v. 46, n. 9, p. 1861-1869, 1985. 12-PARKER, W. M. ; FOSTER, R. A. Cutaneous vasculitis in five Jack Russell Terriers. Veterinary Dermatology, v. 7, n. 2, p. 109-115, 1996. 13-HARGIS, A. M.; HAUPT, K. H. ; HEGREBERG, G. A. ; PRIEUR, D. J. ; MOORE, M. P. Familial canine dermatomyositis. Initial characterization of the cutaneous and muscular lesions. The American Journal of Pathology, v. 116, n. 2, p. 234-244, 1984. 14-HARGIS, A. M. ; HAUPT, K. H. ; PRIEUR, D. J. ; MOORE, M. P. A skin disorder in three Shetland sheepdogs: comparison with familial canine dermatomyosites of collies. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 7, n. 4, p. 306-315, 1985. 15-LARSSON, C. E. ; NAHAS, C. R. ; LUCAS, R. ; MICHALANY, N. S. Dermatomiosite familiar canina - relato de casos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CLÍNICOS VETERINÁRIOS DE PEQUENOS ANIMAIS, 15, 1993, São Paulo. Anais...São Paulo. p. 14. 16-LARSSON, C. E. ; OTSUKA, M. ; NAHAS, C. R. ; PENTEADO, A. L. B. ; MICHALANY, N. S. ; BALDA, A. C. Immune-mediated dermatosis in dogs of São Paulo - Brazil - Epidemiological aspects. In: CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN MUNDIAL DE MEDICINA VETERINARIA DE PEQUEÑOS ANIMALES, 23, 1998, Buenos Aires. Anais…Argentina. p. 23. 17-EVANS, J. ; LEVESQUE, D. ; SHELTON, G. D. Canine inflammatory myopathies: a clinicopathologic review of 200 cases. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 18, n. 5, p. 679691, 2004. 18-CLARK, L. A. ; CREDILLE, K. M. ; MURPHY, K. E. ; REES, C. A. Linkage of dermatomyositis in the Shetland Sheepdog to chromosome 35. Veterinary Dermatology, v. 16, n. 6, p. 392-394, 2005. 19-GROSS, T. L. ; KUNKLE, G. A. The cutaneous histology of dermatomyositis in collie dogs. Veterinary Pathology, v. 24, n. 1, p. 11-15, 1987. 20-VENCOVSKY, J. Therapeutic strategies in polymyositis and dermatomyositis. Drug Discovery Today: Therapeutic Strategies, v. 1, n. 3, p. 369-374, 2004. 21-JACKSON, H. A. ; OLIVRY, T. Ulcerative dermatosis of the Shetland sheepdog and rough collie dog may represent a novel vesicular variant of cutaneous lupus erythematosus. Veterinary dermatology, v. 12, n. 1, p. 19-27, 2001.

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B - manutenção diária

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www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 18 e 19 de julho Belo Horizonte - MG VI Simpósio internacional de leishmaniose visceral canina (31) 3297-2282 19 e 20 de julho Juquitiba - SP Fitopuntura, argilopuntura, cromopuntura e uso de magnetos em acupuntura (11) 4683-2438 21 a 24 de julho São Paulo - SP Congresso Mundial para Veterinários de Pequenos Animais (11) 4613-2019 22 a 24 de julho São Paulo – SP 8ª Pet South America (11) 4613-2023

22 a 25 de julho Rio de Janeiro - RJ 12º Festival Vegano Internacional www.svb.org.br 26 a 31 de julho Búzios - RJ IVRA 2009 (21) 3974-2012

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27 a 31 de julho São José do Rio Preto - SP Cardiologia clínica (17) 3011-0927 30 de julho a 1 de agosto São Paulo - SP CIPO - Curso intensivo prático de ortopedia - módulo básico (11) 3819-0594 1 e 2 de agosto São Paulo - SP Princípios e aplicações do ultrassom doppler em medicina veterinária (11) 3069-7067 1 de agosto a 31 de outubro São Paulo - SP Emergências em clínica e cirurgia de pequenos animais (11) 3673-9455 2 a 30 de agosto Osasco - SP Curso teóricoprático de emergência (11) 2995-9155 3 a 7 de agosto Brasília - DF Curso perícia judicial ambiental (53) 3035-3622 4 de agosto a 10 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447

5 a 7 de agosto Botucatu - SP II Curso prático de acupuntura veterinária em pequenos e grandes animais www.fmvz.unesp.br

24 e 25 de agosto Belo Horizonte - MG Curso de hematologia de pequenos animais (31) 3297-2282

8 a 14 de agosto Campinas - SP Curso de teórico prático ecodopplercardiografia veterinária (11) 3579-1431

24 e 28 de agosto Jataí - GO VIII SEMAVET - Semana da veterinária da UFG Campus Jataí thiagocarreo@yahoo. com.br

12 de agosto Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária - geriatria (31) 3281-0500

24 a 28 de agosto Santo André - SP IV SIMVET - Simpósio de Medicina Veterinária da Universidade do Grande ABC medvetuniabc@yahoo. com.br

12 a 16 de agosto Araçatuba - SP XV SEMEV Semana de estudos em medicina veterinária semev@fmva.unesp.br

27 a 29 de agosto São Paulo - SP Cirurgia em coluna vertebral (11) 3819-0594

Agosto 2009 a setembro de 2010 São Paulo - SP Curso de especialização em dermatologia veterinária da USP/SBDV (11) 5051-0908 15 e 16 de agosto Florianópolis - SC Odontologia de pequenos animais (48) 3035-4388

28 de agosto São José do Rio Preto - SP Análise de Holter (17) 3011-0927 28 e 29 de agosto São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária - módulo 4 (11) 2331-2450 29 de agosto São Paulo - SP Tarde do tegumento - up to date em dermatite atópica (11) 5051-0908

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

29 e 30 de agosto São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia em pequenos animais (11) 3082-3532 30 de agosto a 30 de setembro São Paulo - SP Curso de especialização em dermatologia veterinária da USP/SBDV (11) 5051-0908 1 a 5 de setembro São José do Rio Preto - SP III Semana acadêmica de medicina veterinária de Rio Preto - SAMVERP (17) 3201-3360 1 a 4 de setembro Recife - PE II Encontro internacional de medicina da conservação (81) 8631-2827

10 a 12 de setembro São Paulo - SP Curso intensivo prático de ortopedia - módulo básico (11) 3819-0594 12 e 13 de setembro São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária - módulo 5 (11) 2331-2450


12 a 20 de setembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de afecções cirúrgica da coluna vertebral (11) 2995-9155 13 de setembro a 4 de outubro São Paulo - SP Curso teórico de dermatologia (11) 2995-9155 14 a 17 de setembro Seropédica - RJ VIII Semana de dermatologia em pequenos animais & IV Simpósio de oncologia veterinária (21) 2682-1637

15 de setembro Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária endocrinologia (31) 3281-0500

23 a 26 de setembro Búzios - RJ 8º Congresso brasileiro de bioética www.congressodebioetica2009.com.br 24 a 26 de setembro Rio de Janeiro - RJ RioVet - 9ª feira de negócios Pet & Vet 9ª Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária (21) 2580-3125 26 e 27 de setembro Florianópolis - SC Reprodução em pequenos animais (48) 3035-4388 29 de setembro a 2 de outubro Campo Grande - MS IV Congresso brasileiro de homeopatia veterinária (67) 8451-2004

19 de setembro Maceió - AL Interpretação rápida do eletrocardiograma (82) 3221-2086

3 de outubro a 6 de dezembro São Paulo - SP I Curso de atualização em fisioterapia veterinária VETSPA (11) 3644-7764

21 e 22 de setembro Belo Horizonte - MG Curso de cardiologia de pequenos animais (31) 3297-2282

5 a 9 de outubro Salvador - BA Curso perícia judicial ambiental (53) 3035-3622

16 a 18 de outubro Maceió - AL Simpósio norte nordeste de leishmaniose visceral canina (82) 3221-2086 19 a 23 de outubro Campos dos Goytacazes - RJ XII SACAMEV sacamev2009@gmail. com

23 e 24 de outubro São Paulo - SP Cirurgias em cabeça e pescoço (11) 3819-0594 24 e 25 de outubro São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária - módulo 6 (11) 2331-2450 24 e 25 de outubro Belo Horizonte - MG II Forum Latino Americano de dermatologia e endocrinologia de pequenos animais (31) 3297-2282 25 a 28 de outubro Bonito - MS III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária (67) 33018915

26 a 30 de outubro Campos dos Goytacazes - RJ I Curso nacional de ecodorcardiografia em pequenos animais (22) 2739-7313 26 a 29 de outubro São Paulo - SP VI Curso de emergências e terapia intensiva (11) 5572-8778 30 de outubro a 2 de novembro São Carlos - SP V Encontro pesquisa em educação ambiental Configuração do campo de pesquisa em educação ambiental www.epea.tmp.br novembro

5 a 7 de novembro Bonito - MS V CONCEVEPA - MS (67) 3026-1414 6 e 7 de novembro Jaboticabal - SP III Simpósio de Nutrição Clínica em Cães e Gatos (16) 3026-1414 6 a 8 de novembro Botucatu - SP Curso de felinos (14) 3811-6019 7 de novembro Vitória - ES Nutrição clínica em cães e gatos (27) 9902-1584 7 e 8 de novembro Porto Seguro - BA 36º Conbravet (71) 2102-6600

(data a confirmar)

São Paulo - SP III Simpósio BVECCS www.bveccs.com.br 2 a 6 de novembro Natal - RN Curso perícia judicial ambiental (53) 3035-3622 3 a 6 de novembro Araçatuba - SP 1° Simpósio da pós-graduação em ciência animal e IX Semana de divulgação científica do curso de medicina veterinária veterinaria.eventos@ fmva.unesp.br

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

7 e 8 de novembro Florianópolis - SC Cirurgia oncológica (48) 3035-4388 11 a 13 de novembro Ribeirão Preto - SP 1º Simpósio regional de direito animal (16) 3632-1054 14 e 15 de novembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia em pequenos animais (11) 3082-3532

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www.agendaveterinaria.com.br 18 de novembro Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária cardiologia (31) 3281-0500

23 de 24 de novembro Belo Horizonte - MG Curso de pediatria de pequenos animais (31) 3297-2282 30 de novembro São Paulo - SP "Cutis in totum" "Mitos, lendas e verdades sobre cultivo bacteriano e antibiograma em piodermites" (11) 5051-0908 30 de novembro São Paulo - SP I Congresso brasileiro e latino americano de dermatologia veterinária (11) 5051-0908 3 a 5 de dezembro São Paulo - SP Curso intensivo prático de ortopedia - módulo avançado (11) 3819-0594

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18 a 21 de dezembro Santos - SP (saída e chegada) Curso de dermatologia a bordo do navio Splendour of the Seas (11) 2995-9155

INTERNACIONAL

25 a 29 de agosto Bogota - Colombia II Congreso Latinoamericano de Neurologia Veterinária

2010

www.neurolatinvet.com

fevereiro (início) São Paulo -SP Curso de especialização endocrinologia e metabologia em pequenos animais (11) 3813-6568

30 de agosto a 3 de setembro Roma - Itália 7th World Congress on Alternatives & Animal Use

17 a 20 de abril Belém - PA 31º Congresso da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) belem-para@ anclivepa2010.com.br

www.aimgroup.eu/2009/ WC7 2 a 5 de setembro León - México 2º Congresso Latinoamericano de Emergência e Cuidados Intensivos www.laveccs.org

14 e 16 de novembro São Paulo -SP VI ONCOVET abrovet@abrovet.org.br Data a confirmar Búzios - RJ IX Congresso do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária www.cbcav.org.br

9 a 13 de setembro Chicago - Illinois - EUA IVECCS 2009 www.veccs.org

15 a 17 de setembro Mandalay Bay Las Vegas EUA Super Zoo 2009 www.superzoo.org 24 a 27 de setembro Barcelona - Espanha Iberzoo - Feira Internacional de Animais de Companhia www.iberzoo.com

29 a 31 de outubro Edinburgh, Escócia - UK 7th International Veterinary Behaviour Meeting - IVBM www.behaviourmeeting. co.uk

3 a 5 de novembro Bangkok - Tailândia 2nd FASAVA 2009 www.fasava2009.com 1 a 4 de outubro Barcelona - Espanha SEVC Southern European Veterinary Conference - 44 Congesso Nacional AVEPA www.tnavc.org 16 a 19 de outubro Austin - Texas - EUA 2009 Annual Conference VCS Veterinary Cancer Society www.vetcancersociety.org 16 a 19 de outubro Lima - Peru Latin American Veterinary Conference 2009 www.tlavc-peru.org

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 81, julho/agosto, 2009

2010 16 a 20 de janeiro Orlando, Florida - EUA NAVC Conference www.tnavc.org 13 a 16 de maio Nürnberg - Alemanha Interzoo 2010 www.interzoo.com

14 a 17 de junho Helsinki - Finlândia 11th FELASA Symposium www.felasa.eu/ Announcements.htm




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