Clínica Veterinária n. 144, jan/fev, 2020

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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Cirurgia

Resolução cirúrgica de eventração inguinal em tartaruga terrestre argentina (Chelonoidis chilensis) – relato do caso

Ortopedia

Neurólise química acetabular em um cão com displasia coxofemoral

Clínica

Erliquiose felina – revisão de literatura

Simpósio de medicina veterinária de desastres promove a qualificação profissional

Indexada no Web of Science – Zoological Record, no Latindex e no CAB Abstracts www.revistaclinicaveterinaria.com.br




Índice Editora Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

Conteúdo científico Cirurgia

Publicidade Alexandre Corazza Curti midia@editoraguara.com.br Editoração eletrônica Editora Guará Ltda. Projeto gráfico Natan Inacio Chaves mkt2edguara@gmail.com Gerente administrativo Antonio Roberto Sanches admedguara@gmail.com

Ortopedia

Capa Leonberger fotografado por Ingvald Kaldhussater

Editora Guará Ltda. Rua Adolf Würth, 276, cj 2 Jardim São Vicente, 06713-250, Cotia, SP, Brasil

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Clínica

Erliquiose felina – revisão de literatura Feline ehrlichiosis – literature review Erliquiosis felina – revisión de la literatura

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Conteúdo editorial Medicina veterinária de desastres

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Medicina veterinária do coletivo

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Medicina de abrigos – desafios e avanços no Brasil

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Simpósio de medicina veterinária de desastres promove a qualificação profissional

“Efeito de ilha”: impacto das ações antrópicas nas zoonoses

Central de assinaturas: (11) 98250-0016 cvassinaturas@editoraguara.com.br Gráfica Gráfica e Editora Pifferprint Ltda.

Resolução cirúrgica de eventração inguinal em tartaruga terrestre argentina (Chelonoidis chilensis) – relato do caso Surgical resolution of inguinal eventration in argentine terrestrial turtle (Chelonoidis chilensis) – case report Resolución quirúrgica de una eventración inguinal en una tortuga terrestre argentina (Chelonoidis chilensis) – relato de caso Neurólise química acetabular em um cão com displasia coxofemoral Acetabular chemical neurolysis in a dog with hip dysplasia – case report Neurólisis química de la región acetabular en un perro con displasia de cadera

Ingvald Kaldhussater/Shutterstock

Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total res­­ponsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou to­tal do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.

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Criação comercial de animais de companhia no Brasil

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Bem-estar animal 68 Lacen/PR se torna o primeiro laboratório de saúde pública do Brasil a não usar animais de laboratório

Reabilitação em pequenos animais

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Tecnologia da informação

88

Informática na medicina veterinária

Proteção Animal Mundial – mobilizando o mundo há 50 anos para proteger os animais

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Gestão

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Controle da leishmaniose visceral canina – um enfoque no bem-estar animal

78

Lançamentos

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Eventos

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Vet agenda

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XX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina

A poderosa força do sentimento no trabalho

Vetnil lança diurético Furolisin® para pets

Cursos, palestras, semanas acadêmicas, simpósios, workshops, congressos, em todo território nacional e por todo o planeta

Crédito das imagens easter eggs ao longo desta edição

a - Tawan Sathaporn - pg. 6 b - Ian Schofield - pg. 17 c - Michael Ninger - pg. 22 d - Iryna Kalamurza - pg. 34 e - Kokai Zsuzsanna - pg. 42 f - Tratong - pg. 50

g - worldswildlifewonders - pg. 56 h - Richard Langs - pg. 64 i - Berendje Photography - pg. 70 j - Mlorenz - pg. 74 k - L.F - pg. 81 l - Ammit Jack - pg. 84

m - Kris Wiktor - pg. 86 n - Smit - pg. 89 o - Helen E. Grose - pg. 90 p - Lin Currie - pg. 92 q - Grigorita Ko - pg. 98

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Editorial

A banalização da violência Um dos assuntos que dominaram as redes sociais no final do ano passado foi a intervenção policial numa rinha de cães em Mairiporã, SP. Debateu-se muito a questão legal, a falta de rigor na aplicação da lei, a relativa inoperância da justiça. Mas discutiu-se pouco a questão da violência em si, até que ponto ela é incentivada e aceita passivamente em nossa sociedade. Convivemos com ela como se fosse algo natural – e não é. A pensadora alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975) é uma das referências no tratamento da questão da banalização do mal – especialmente oportuna para quem, como nós, trabalha pela eliminação do sofrimento animal. Arendt abordou o tema a partir do cenário do Holocausto nazista. Para ela, o principal fator que torna os seres humanos capazes de ações de destruição e morte é a sua submissão ao processo de massificação e o fato de aceitarem que as organizações humanas decidam as coisas por eles, em função de preceitos meramente técnicos. Por que a violência doentia é tão facilmente aceita na sociedade? Por que é tão presente na mídia, por que é tão justificada como recurso da repressão policial, por que seduz tanto no discurso político? A violência acompanha o ser humano desde sempre – a violência endêmica no tecido social, o extermínio de índios pelos conquistadores e que prossegue ainda hoje, a escravização, a violência doméstica, as guerras, além de todas as formas mais sutis, mas não menos nocivas de violência social e psicológica. Nesse cenário, com um mundo anestesiado e incapaz de reagir à disseminação e à naturalização de todas as formas de violência, a permissão para que cachorros, galos, gatos, e outros se matem causa menos choque do que deveria. Mas é um alerta para refletirmos melhor, não somente sobre a violência contra animais, mas contra o próximo, o meio ambiente, a mulher, os que são diferentes, os mais fracos, até mesmo contra crianças, idosos e doentes. Convivemos 6

com a violência há milênios, mas isso não justifica encará-la como normal. Não pode e não deve justificar. Uma das formas da violência é o impulso disseminado de eleger bodes-expiatórios, de ver a justiça como uma espécie de retaliação e de vingança. Houve indignação com a libertação das pessoas que promoveram a rinha. Mas apenas prender não tem rendido em nenhuma área os frutos esperados, a não ser como vingança. Trata-se de um tema complexo, mas que deveria partir de uma reflexão sobre a banalização da violência. Só essa reflexão pode gerar conclusões e ações que mudem totalmente o atual cenário. Um filho diz à mãe: “Todo mundo faz isso”. E a mãe retruca: “Você não é todo mundo”. Na questão da violência, a maioria ainda age como criança e vai atrás do que os outros fazem, mesmo sendo inadequado, injusto ou desumano. É o grupo que valida a ação violenta, seja na Alemanha nazista, seja numa rinha de cães; é o grupo que torna a violência algo aceitável. As pessoas seguem o grupo para serem aceitas e validar os próprios impulsos violentos. Quando Jesus disse: “Quem estiver livre de pecado, que atire a primeira pedra”, ninguém atirou. Por quê? Porque era o grupo que validava algo que individualmente ninguém faria. Temos sempre a oportunidade de olhar e pensar: “Posso fazer melhor, não preciso me juntar ao grupo”. Ganhar maturidade como pessoa implica essa autoanálise básica, essa escolha fundamental entre endossar a ação do grupo ou colocar-se à parte. Só a consciência individual pode definir se a ação do grupo é adequada ou não. É indispensável ir além da questão aparente e refletir sobre a essência do funcionamento da mente humana coletiva e individual. Cabe a nós fazê-lo. Vale a pena citar o filósofo e economista britânico John Stuart Mill, do século XIX: “O mal, para triunfar, precisa apenas da inação dos homens de bem”. a

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Consultores científicos Adriano B. Carregaro FZEA/USP-Pirassununga Álan Gomes Pöppl FV/UFRGS Alberto Omar Fiordelisi FCV/UBA Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM Alejandro Paludi FCV/UBA Alessandra M. Vargas Endocrinovet Alexandre Krause FMV/UFSM Alexandre G. T. Daniel Universidade Metodista Alexandre L. Andrade CMV/Unesp-Aracatuba Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul Aline Souza UFF Aloysio M. F. Cerqueira UFF Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia Ana Liz Bastos CRMV-MG, Brigada Animal MG Ananda Müller Pereira Universidad Austral de Chile Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran Angela Bacic de A. e Silva FMU Antonio M. Guimarães DMV/UFLA Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP-São Paulo Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal Aury Nunes de Moraes UESC Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP-São Paulo Beatriz Martiarena FCV/UBA Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice A. Rodrigues MV autônoma Camila I. Vannucchi FMVZ/USP-São Paulo Carla Batista Lorigados FMU

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Carla Holms Anclivepa-SP Carlos Alexandre Pessoa www.animalexotico.com.br Carlos E. Ambrosio FZEA/USP-Pirassununga Carlos E. S. Goulart EMATER-DF Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal Carlos Mucha IVAC-Argentina Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP-São Paulo Ceres Faraco FACCAT/RS César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA Christina Joselevitch IP/USP-São Paulo Cibele F. Carvalho UNICSUL Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo Clarissa Niciporciukas Anclivepa-SP Cleber Oliveira Soares Embrapa Cristina Massoco Salles Gomes C. E. Daisy Pontes Netto FMV/UEL Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS Daniel G. Ferro Odontovet Daniel Macieira FMV/UFF Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo Dominguita L. Graça FMV/UFSM Edgar L. Sommer Provet Edison L. P. Farias UFPR Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE Elba Lemos FioCruz-RJ Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu Estela Molina FCV/UBA Fabian Minovich UJAM-Mendoza Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR

Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE Fabio Otero Ascol IB/UFF Fabricio Lorenzini FAMi Felipe A. Ruiz Sueiro Vetpet Fernando C. Maiorino Fejal/CESMAC/FCBS Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL Fernando Ferreira FMVZ/USP-São Paulo Filipe Dantas-Torres CPAM Flávia R. R. Mazzo Provet Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu Francisco E. S. Vilardo Criadouro Ilha dos Porcos Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu F. Marlon C. Feijo Ufersa Franz Naoki Yoshitoshi Provet Gabriela Pidal FCV/UBA Gabrielle Coelho Freitas UFFS-Realeza Geovanni D. Cassali ICB/UFMG Geraldo M. da Costa DMV/UFLA Gerson Barreto Mourão Esalq/USP Hector Daniel Herrera FCV/UBA Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB Hélio Autran de Moraes Oregon S. U. Hélio Langoni FMVZ/Unesp-Botucatu Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ Herbert Lima Corrêa Odontovet Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery Iaskara Saldanha Lab. Badiglian Idael C. A. Santa Rosa UFLA Ismar Moraes FMV/UFF

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Jairo Barreras FioCruz James N. B. M. Andrade FMV/UTP Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade João G. Padilha Filho FCAV/Unesp-Jaboticabal João Luiz H. Faccini UFRRJ João Pedro A. Neto UAM Jonathan Ferreira Odontovet Jorge Guerrero Univ. da Pennsylvania José de Alvarenga FMVZ/USP Jose Fernando Ibañez FALM/UENP José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal José Ricardo Pachaly Unipar José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP Juan Carlos Troiano FCV/UBA Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu Juliana Werner Lab. Werner e Werner Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG Julio Cesar de Freitas UEL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal Leonardo D. da Costa Lab&Vet Leonardo Pinto Brandão Ceva Saúde Animal Leucio Alves FMV/UFRPE Luciana Torres FMVZ/USP-São Paulo Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Marcello Otake Sato FM/UFTO Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP-São Paulo


Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP-São Paulo Marcelo Faustino FMVZ/USP-São Paulo Marcelo S. Gomes Zoo SBC,SP Marcia Kahvegian FMVZ/USP-São Paulo Márcia Marques Jericó UAM e Unisa Marcia M. Kogika FMVZ/USP-São Paulo Marcio B. Castro UNB Marcio Brunetto FMVZ/USP-Pirassununga Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó S. Animal Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu Marco Antonio Gioso FMVZ/USP-São Paulo Marconi R. de Farias PUC-PR Maria Cecilia R. Luvizotto CMV/Unesp-Araçatuba M. Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV Maria Cristina Nobre FMV/UFF M. de Lourdes E. Faria VCA/Sepah Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP-São Paulo Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba Marta Brito FMVZ/USP-São Paulo Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba Masao Iwasaki FMVZ/USP-São Paulo

Mauro J. Lahm Cardoso Falm/Uenp Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP Michele A. F. A. Venturini Odontovet Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu Miriam Siliane Batista FMV/UEL Moacir S. de Lacerda Uniube Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL Nadia Almosny FMV/UFF Natália C. C. A. Fernandes Instituto Adolfo Lutz Nayro X. Alencar FMV/UFF Nei Moreira CMV/UFPR Nelida Gomez FCV/UBA Nilson R. Benites FMVZ/USP-São Paulo Nobuko Kasai FMVZ/USP-São Paulo Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz Patricia C. B. B. Braga FMVZ/USP-Leste Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL Paulo Anselmo Zoo de Campinas Paulo César Maiorka FMVZ/USP-São Paulo Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu Paulo S. Salzo Unimes, Uniban Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP-São Paulo

Pedro Germano FSP/USP Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ Renata A. Sermarini Esalq/USP Renata Afonso Sobral Onco Cane Veterinária Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu Ricardo Duarte All Care Vet / FMU Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR Ricardo S. Vasconcellos CAV/Udesc Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ Rita Leal Paixão FMV/UFF Robson F. Giglio H. Cães e Gatos; Unicsul Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba Ronaldo C. da Costa Ohio State University Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio Rosângela de O. Alves EV/UFG Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG

Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu Silvia E. Crusco UNIP/SP Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo Silvio A. Vascon­cellos FMVZ/USP-São Paulo Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM Simone Gonçalves Hemovet/Unisa Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu Tiago A. de Oliveira UEPB Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR Valéria Ruoppolo I. Fund for Animal Welfare Vamilton Santarém Unoeste Vania de F. P. Nunes FNPDA e Itec Vania M. V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Victor Castillo FCV/UBA Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG Viviani de Marco UNISA e NAYA Wagner S. Ushikoshi UNISA e CREUPI Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

revistaclinicaveterinaria.com.br

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Instruções aos autores

A

Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Enviar por e-mail (cvredacao@editoraguara. com.br) ou pelo site da revista (http:// revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-deartigos-cientificos) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na lar­ gura 10

de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitali­ za­ das, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de re­ da­ ção cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acom­pa­nha­das de identificação de propriedade e autor). Devem ser en­viadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, tel­efones e e-mail) e uma foto 3x4 de rosto de cada um dos autores. Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus tí­ tulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser re­lacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 12, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser

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utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Uti­li­zar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utili­zar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições an­te­riores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar in­for­mações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utili­za­do, cada capítulo deverá ser considerado uma

referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). Somente autores de trabalhos originais devem ser citados, e nunca de revisões. É preciso ser ético pois os créditos são daqueles que fizeram os trabalhos originais. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www. xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabalho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. Nesse subtítulo devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/ distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua Adolf Würth, 276, cj. 2, 06713-250, Cotia, SP cvredacao@editoraguara.com.br

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Medicina veterinária de desastres

Simpósio de medicina veterinária de desastres promove a qualificação profissional Introdução O I Simpósio Mineiro de Medicina Veterinária de Desastres, realizado nos dias 22 e 23 de novembro de 2019, em Belo Horizonte, teve como objetivo capacitar seus participantes nos aspectos teóricos e práticos, buscando compatibilizar a formação de profissionais da área e de estudantes interessados, com destaque para a abordagem do médico-veterinário nas áreas de resgate animal, medicina veterinária legal, clínica médica veterinária, gestão e medicina veterinária do coletivo. No aspecto teórico, foram revistas as atribuições dos órgãos competentes que atuam em situações de calamidade, com descrição de sua função e da colaboração de cada um deles – Defesa Civil, Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG), peritos criminais e médicos-veterinários especializados na atuação em situações de desastre. No aspecto prático, ofereceram-se várias simulações sobre as diversas funções e atuações envolvidas em eventos de catástrofes, com treinamento dos participantes. O evento foi promovido pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e pelo Grupo de Resgate a Animais em Desastres (Grad), em parceria com a Sociedade Mineira de Medicina Veterinária (SMMV). O I Simpósio de Desastres foi um marco importante na medicina veterinária de desastres no Brasil e deu contribuição fundamental para o aprimoramento de planos de contingência futuros e sua adaptação aos ambientes e necessidades. 12

A importância dos planos e recursos de contingência Chamam-se de desastres de massa os acidentes coletivos com grande número de vítimas graves ou fatais. Na maioria das vezes, eles decorrem da forma de convivência dos seres humanos, levados a habitar áreas geográficas reduzidas e com alto índice de concentração demográfica. Um fator adicional é o avanço incontrolável das disponibilidades tecnológicas, com a criação do que se rotulou de “risco de proveito” ou “risco criado”, conhecido e avaliado, mas do qual ninguém abre mão, o que cria uma “tecnologia de catástrofe” 1. Nos últimos anos, a inclusão de animais de companhia nos planos nacionais de preparação para desastres tornou-se mais prevalente. Isso se deve em parte a estudos realizados durante ou após desastres, mostrando os impactos negativos significativos nas comunidades provocados pela ausência de planos que incluam animais domésticos 2. Apesar desse crescente conjunto de informações, os animais de companhia continuam sendo excluídos dos planos de preparação na maioria dos países 3, ficando sujeitos a abandono ou perda, falta de comida e água, ausência ou abrigo inadequado, ferimentos, doenças e aprisionamentos, cuja magnitude depende da localização, da gravidade do desastre e da disponibilidade de planos e recursos de contingência para lidar com eles. Não é possível prever o momento, o local e as características exatas em que as catástrofes acontecem, mas o planejamento prévio, com base no passado conhecido e nas lições aprendidas 4, permite mitigar muitos desses efeitos negativos.

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Principais palestras e atividades A parte teórica contou com palestrantes que já atuaram em eventos de desastres ocorridos no Brasil e que transmitiram os conhecimentos adquiridos durante as experiências pessoais. Prevenção, planos de contingência e gestão dos desastres A médica-veterinária e mestre em ciência animal Laiza Bonela Gomes discorreu sobre a importância dos planos de contingência e gestão de desastres, já que estes não têm data nem hora marcada para acontecer. A prevenção é essencial para evitar que ocorram catástrofes, por isso os desastres passados servem de lição e aprendizado para organizar e remediar futuros acontecimentos. A gestão dos desastres deve ser feita por profissionais capacitados, que saibam respeitar a organização hierárquica e tenham conhecimento e prática em gestão para elaborar planos com rapidez e eficiência. A adoção de protocolos integrados, planos de contingência e sistemas de comando unificado parece ser o caminho mais concreto para a excelência das atividades em cenários caóticos 5. Medicina veterinária legal aplicada a desastres em massa Este tema foi desenvolvido pelo médico-veterinário Sérvio Túlio Reis, que destacou que as tragédias acontecem quase sempre por fatores de intervenção do homem na natureza. Ele destacou que a presença do perito médico-veterinário é importante, entre outras coisas, para o trâmite legal relacionado aos óbitos ocasionados pelo desastre, pois é preciso elaborar documentos para a comprovação de danos aos animais vitimados pelo evento. Proteção e defesa civil As atribuições de proteção e defesa civil são extensas e dependem muito dos tipos de eventos climáticos mais recorrentes e das caraterísticas de cada município. Em

palestra sobre o tema, o tenente Damasceno enfatizou que a Defesa Civil tem também a missão de levantar e identificar as áreas de riscos, as ameaças que sofrem e suas vulnerabilidades 6. Outro trabalho que ela precisa realizar de forma continuada é o de conscientizar a comunidade sobre os perigos decorrentes de uma calamidade, a fim de mobilizar e capacitar voluntários para a execução das ações de prevenção. Cabe ainda a ela estabelecer o cenário afetado, divulgar alertas e alarmes, socorrer, dar assistência, mapear e estabelecer as áreas de risco e de segurança em casos de emergência, analisar danos e a documentação relacionada às situações de anormalidade, além de prestar apoio na recuperação do cenário afetado por desastres 6. Busca e salvamento com cães na operação Brumadinho O tenente Dutra, bombeiro militar, discorreu sobre o tema da utilização de cães nas operações de busca e salvamento. Em Brumadinho, os cães, mais do que uma ajuda, foram peças fundamentais para o êxito na procura de todas as vítimas. Treinados desde filhotes, cães bombeiros de diversas regiões do país vieram a Brumadinho contribuir com a operação. É importante cuidar muito bem desses animais, com atenção médico-veterinária, períodos de descanso, banhos frequentes devido à interação com rejeitos contaminados e manutenção em dia da prevenção de doenças, com proteção vacinal e uso de coleira repelente. Tipos de desastres e a atuação do médico-veterinário nessas circunstâncias A médica-veterinária Vânia Plaza Nunes ressaltou que durante um desastre, parte da população atingida pode viver situações extremas de sofrimento físico e psicológico, provocado por insegurança, medo e pelas perdas pessoais, exigindo das equipes de médicos-veterinários apoio além da assistência aos animais. A presença de médicos-veterinários nos resgates é fundamental, pois quando os

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Conteúdo prático O conteúdo prático foi estruturado de acordo com o seguinte esquema:

Posto de comando Foi mimetizada no simpósio a ação do posto de comando em uma situação de desastre. A atividade, comandada pela médica-veterinária Ana Liz Bastos e pelo tenente 14

Figura 1 – Registro de todos os dados que chegaram ao posto de comando pelas mãos dos participantes do simpósio. Esses dados são necessários para a caracterização do acidente e da situação enfrentada

Rodrigo Chevrand Neto/Grad

animais não são levados em conta no manejo do resgate, as pessoas podem se recusar a sair de casa e ir para abrigos temporários se não for garantido o resgate seguro, a assistência, a alimentação e a dessedentação dos seus animais de companhia e/ou de produção 7. Nos desastres, o médico-veterinário atua em grande número de áreas – gestão e logística, resgate, evacuação, transporte e triagem, atendimento clínico, alojamento e manejo de abrigos, protocolos sanitários e de bem-estar animal, epidemiologia e saúde pública veterinária, controle da população de vetores e reservatórios de zoonoses – que, após um desastre, podem ameaçar a saúde única –, perícia e investigação, avaliação de riscos e caracterização dos danos aos animais e ao ambiente por meio de amostras e evidências, determinação, de maneira técnica e transparente, do impacto disso em curto, médio e longo prazo, proposição de medidas para mitigar os efeitos do evento, dar assistência a cães farejadores e assumir a responsabilidade cívica de auxiliar os socorristas quadrúpedes, tão indispensáveis e que tanto fazem em prol das vítimas de desastre. Devem ainda dar atenção a agentes potencialmente tóxicos que podem estar presentes em diversas formas físicas e afetar os cães por meio do contato e da ingestão, inalação ou exposição, originando intoxicações agudas ou lesões crónicas 7.

Rodrigo Chevrand Neto/Grad

Medicina ceterinária de desastres

Figura 2 – A padronização da identificação e do preenchimento de fichas é importante em situações em que há grande demanda na clínica de pacientes de diferentes espécies

Zago, médico-veterinário e bombeiro militar do estado de São Paulo, levou os participantes do simpósio a atuar nos diversos setores envolvidos nesse tema. Essa área é composta por profissionais habilitados que realizam a coleta de dados sobre o número de animais vitimados, sua espécie, localização e as condições para o seu socorro, além das infraestruturas danificadas ou em risco, o que é depois utilizado para formular um inventário sistematizado – por exemplo, a classificação do acidente, sua localização e hora exata, tipos de perigos presentes e potenciais, tipos e vias de acesso, número de animais vi-

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Rodrigo Chevrand Neto/Grad

Cezar Augusto de Souza e Silva/Grad Rodrigo Chevrand Neto/Grad

Rodrigo Chevrand Neto/Grad

Figura 3 – Prática de resgate de animais em área de lama, pela equipe de veterinários responsáveis, assistidos pelos participantes do simpósio

Figura 4 – Prática de nós e amarrações realizada antes do resgate de animais. A ideia foi mimetizar as circunstâncias em que os animais vitimados são içados, que variam conforme as características do ambiente

timados e capacidades de apoio existentes. A coleta de dados é fundamental para todo tipo de informação que chega ao posto de comando (Figuras 1 e 2). O posto de comando é essencial, pois compete a ele fazer a comunicação com diversos órgãos, como o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Polícia Federal, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).

Figura 5 – Os médicos-veterinários Arthur Nascimento e Carla Sassi orientaram a simulação do resgate de animais em área de risco, com o auxílio dos participantes nas práticas de primeiros socorros dos animais resgatados

Resgate de animais Após a ocorrência de desastres, é comum encontrar animais submetidos a diversos cenários de calamidade – presos a escombros, lama e água, entre outros. É imprescindível que os resgatistas saibam lidar com essas distintas situações, para que possam salvar a vida dos animais de forma técnica, segura e precisa. Foram realizadas atividades práticas de manejo, preparando os participantes tecnicamente para lidar com situações de

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Cezar Augusto de Souza e Silva/Grad

Cezar Augusto de Souza e Silva/Grad

Medicina ceterinária de desastres

Cezar Augusto de Souza e Silva/Grad

Figura 7 – Durante a prática no Hospital Veterinário de Campanha os alunos foram instruídos pelos veterinários responsáveis a respeito da estruturação do local para receber os animais vítimas do acidente

Figura 6 – A) Simulação de resgate de animal de grande porte em desastre com lama, com a utilização de equipamentos e objetos. B) Vista panorâmica da área utilizada para a prática de resgate de dois bovinos

desastres (Figuras 2 a 6). Foram criadas simulações com cadáveres de animais de grande porte que faleceram na fazenda da UniBH e que seriam utilizados em aulas de anatomia e de animais de pequeno porte cedidos por clínicas veterinárias parceiras da instituição. Esses procedimentos receberam autorização do comitê de ética da instituição, para os participantes poderem vivenciar as aulas práticas de maneira mais próxima do que seria uma situação real de desastre. Hospital veterinário Durante o simpósio, os médicos-veterinários Abílio Rigueira Domingos, Tamires Derzil 16

Figura 8 – Organograma da atuação do perito médicoveterinário

Verazani e Bárbara França simularam a estruturação e o funcionamento de um “hospital veterinário de campanha” (Figura 7), evidenciando a importância de saber montá-lo de forma que possa atender às diversas demandas que surjam no local. Foram praticadas as diversas etapas do atendimento para garantir que todos os procedimentos, desde a recepção até a alta do animal, fossem abordados. Os alunos foram divididos em grupos alocados em consultórios diferentes e ficaram responsáveis por atendimentos emergenciais de animais de pequeno porte, após serem resgatados da lama.

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Perícia médico-veterinária Outra prática importante oferecida pelo simpósio foi a atividade relacionada com o momento de busca e resgate de animais. Simulou-se a ação do perito médico-veterinário, demonstrando-se as ações executadas por um perito em situações de desastre. É importante que tais ações sejam realizadas de forma sistematizada, a fim de garantir a preservação dos vestígios para a promoção de provas futuras, assim como se faz numa situação em que não se comprove dolo. Um organograma dessa atuação deu aos alunos uma compreensão melhor das diversas etapas (Figura 8). b

Referências

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Karen Stephanie Sebe Albergaria Aluna de graduação CMV/UNIBH karensebe4@gmail.com

Luiza Fernandes Fonseca Aluna de graduação CMV/CUNP luizafe1@hotmail.com

Leonardo Brendo Trindade Santiago Aluno de graduação CMV/UNIBH leonardo-bts@outlook.com

Aldair Junio Woyames Pinto MV, CRMV-MG: 11.224, prof. Depto. de Med. Vet./ UNIBH aldairwpinto@gmail.com

Ana Liz Ferreira Bastos

MV, CRMV-MG: 5.200, conselheira e presidente da Comissão de Bem-estar Animal do CRMV-MG; perita da Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna do MPMG; coordenadora geral do Grupo de Resgate de Animais em Desastres – Grad analiz.bastos@gmail.com

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Medicina veterinária do coletivo

“Efeito de ilha”: impacto das ações antrópicas nas zoonoses

Introdução As ações antrópicas associadas à inserção de animais domésticos em áreas públicas como parques e praias têm afetado o ciclo de doenças, particularmente zoonoses, com impacto na saúde pública, na fauna nativa e no ambiente natural. Áreas isoladas geograficamente, como ilhas, com sobreposição de seres humanos e animais, podem potencializar esse impacto, levando a um suposto “efeito de ilha” na transmissão exacerbada de doenças. O termo “efeito de ilha” tem sido utilizado em diferentes significados para diferentes áreas, sempre como referência ao isolamento e ao isolacionismo: 1. efeito de ilha de calor urbano (urban heat island), que designa a distribuição espacial e temporal do campo de temperatura sobre a cidade, que apresenta um valor máximo, com distribuição de isotermas que lembra as curvas de nível da topografia de uma ilha, daí a origem do nome de “ilha de calor”; 2. efeito de ilha de isolamento (nut island effect), como um princípio de administração quando um time de profissionais se torna isolado e, por isso, diminui a sua eficiência; 3. regra ecogeográfica e bioevolutiva de Foster (Foster’s rule), também conhecida como regra da ilha ou efeito de ilha, em que populações de animais de ilhas isoladas mudam de tamanho 1. Nesse sentido, o termo “efeito de ilha” tem por hipótese que a transmissão de patógenos pode ser favorecida e exacerbada no isolamento e pela exposição contínua em ilhas, uma vez que sua transmissão ambiental, alimentar ou por vetores pode ter um ciclo de ocorrência múltipla e diária (Figura 1). 18

Fernando Gonsales

A sobreposição e o íntimo contato de pessoas e animais em ilhas podem proporcionar transmissão exacerbada de doenças

Figura 1 – Segundo a hipótese do “efeito de ilha”, os patógenos podem ter sua transmissão favorecida e exacerbada pelo isolamento e exposição contínua em ilhas. Isso ocorre porque sua transmissão ambiental, alimentar ou por vetores pode apresentar ciclo de ocorrência múltipla e diária

“Praia amiga dos cães” Recentemente, há uma demanda por parte dos banhistas que frequentam as praias e ilhas para que seja permitido aos tutores levarem seus cães. Essa iniciativa forçou os órgãos públicos a regulamentarem essa prática, dando origem ao termo “praias amigas dos cães”, do inglês “Pet Friendly Beaches”. Em alguns lugares do mundo, como em Miami, na Flórida, já é permitido que os cães acompanhados de seus tutores frequentem algumas praias públicas, com obrigatoriedade do uso de coleira e guias e recolhimento de dejetos dos animais. De acordo com a praia, é permitido que os animais fiquem soltos em horários estabelecidos 2. No Brasil, algumas cidades litorâneas criaram leis que regulamentam ou proíbem a circulação dos animais. No Rio de Janeiro, foi aprovada em setembro de 2019 a Lei nº 6.642, que dispôs sobre a circulação e a permanên-

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Ruana Renostro Delai

Figura 2 – Cães e gatos semidomiciliados na ilha de Superagui, em Guaraqueçaba, no Paraná. A comunidade da Barra do Superagui é localizada no entorno do Parque Nacional do Superagui, no estado do Paraná

cia de cães nas praias do município 3. Essa lei permitiu o acesso dos animais a todas as praias da cidade, desde que estejam de coleira e guia, que suas fezes sejam recolhidas e que os tutores apresentem a carteira de vacinação e desverminação atualizada. Muitas pessoas optam por levar animais domésticos para a praia, e, na maioria das vezes, desconhecem o risco de exposição a que estão expostos o próprio animal, os animais silvestres, os seres humanos e o meio ambiente 4. Nesse contexto, em ambientes insulares pode haver também a introdução e o estabelecimento de patógenos, que se tornam por vezes endêmicos, expondo animais e seres humanos à contaminação. Zoonoses em ilhas As zoonoses são causadas por patógenos de origem bacteriana, fúngica, viral ou parasitária 5. Estas últimas estão entre as mais frequentes, geralmente associadas à presença de animais em ambientes frequentados por seres humanos, e apresentam alta prevalência, principalmente em áreas economicamente desfavorecidas 6,7,8. Animais domésticos como cães e gatos em áreas geograficamente isoladas e em proximidade com unidades de conservação ambiental são considerados espécies exóticas invasoras e causam grandes prejuízos à fau-

na nativa (Figura 2) 9. Os principais impactos negativos são a competição por território, a predação de espécies nativas e a transmissão de patógenos, inclusive com potencial zoonótico 10. Um exemplo da crescente prevalência de zoonoses em ilhas foi verificado com Toxoplasma gondii em populações de animais domésticos e sinantrópicos em Fernando de Noronha, estado de Pernambuco 11. A principal ilha do arquipélago é também a maior ilha oceânica brasileira, com seus 18.609 km2 de extensão 12. Desses, 11.270 hectares (70%) correspondem ao Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, uma unidade de conservação de proteção integral que objetiva preservar a fauna e a flora nativas 13. Apesar disso, seus mais de 3 mil habitantes possuem gatos, cães e cavalos como animais de estimação, além de criações semi-intensivas de suínos e gado 11. Em estudo realizado com animais da ilha, um total de 248/348 (71,26%) gatos domiciliados e 150/247 (54,74%) gatos ferais amostrados tiveram resultados positivos para anticorpos anti-T. gondii, demonstrando o potencial de contaminação e disseminação ambiental com oocistos principalmente por gatos ferais, população sem cuidados de saúde e que aumentou mais de 40% nos últimos anos 11. O perfil endêmico de T. gondii em Fernando de Noronha foi sugerido devido à alta prevalência de anticorpos em diferentes espécies animais 11. Por exemplo, a prevalência em suínos foi de 14/27 (51,8%), e em ovelhas, de 204/240 (85%), superior à encontrada em outros estudos realizados no continente. Esses dados sugerem que a distribuição dos felinos domésticos em uma ilha pode estar associada a uma exposição maior ao T. gondii 11,13. Além disso, o clima quente e a ausência de grande variação de temperatura nessa ilha possibilitam a maior viabilidade de oocistos no ambiente, podendo resultar na infecção de um maior número de hospedeiros intermediários e definitivos 11,14. Nesse sentido, outro estudo encontrou uma

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Ruana Renostro Delai

Medicina veterinária do coletivo

Figura 3 – Cães semidomiciliados na ilha de Superagui, PR

alta variabilidade genética de T. gondii em ratos-pretos (Rattus rattus), outra espécie exótica invasora com alta densidade populacional na ilha, demonstrando também que pode haver uma alta capacidade de adaptação, variação de expressão da virulência e, consequentemente, de patogenicidade desse protozoário em um ambiente insular 14. Outra zoonose de interesse para a saúde pública e com ampla distribuição mundial, incluindo ilhas, é a toxocaríase. Doença tropical negligenciada, tem sido considerada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta (EUA) uma das cinco parasitoses prioritárias para ações de saúde pública 15. A enfermidade é ocasionada pela ingestão de ovos larvados dos nematódeos Toxocara canis e Toxocara cati, cujos hospedeiros definitivos são, respectivamente, o cão e o gato 16. Nesse cenário, o ser humano se comporta como hospedeiro acidental, pois o ciclo do parasito não se completa em seu organismo, já que a larva migra pelos órgãos sem se desenvolver, sendo por isso denominada Larva migrans visceral (LMV) 17. As crianças são o grupo mais suscetível à infecção, pois têm maior contato com o solo, como em praias e parques, e o hábito de geofagia, considerados fatores de risco para a aquisição da doença, já que a principal via de transmissão se dá pela ingestão de ovos larvados presentes no solo 17-19. Outro fator 20

de risco é a falta de higiene das mãos antes de se alimentar 17-19. A apresentação clínica da enfermidade é variável conforme o estado imunológico e a idade do paciente, com migração da larva principalmente para o fígado, os pulmões, o sistema nervoso central e os olhos, sendo classificada como toxocaríase visceral, ocular e neurotoxocaríase 16,20. Diferentes estudos têm mostrado a alta prevalência de anticorpos anti-Toxocara spp. em populações de países industrializados e em desenvolvimento 20. No Brasil, observou-se uma variação de 4 a 65%, sendo que as maiores soroprevalências foram encontradas na Região Nordeste 25. A investigação ambiental tem demonstrado alta contaminação do solo por ovos de Toxocara spp., principalmente em áreas públicas de lazer, como é o caso de parques e praças 26. Isso se deve ao livre acesso de animais de companhia não desverminados a esses ambientes, favorecendo a contaminação humana e de outros animais. Em recente estudo realizado com 200 cães semidomiciliados e de abrigos em quatro ilhas turísticas da Grécia, 36/200 (18%) se mostraram positivos ao exame das fezes para pelo menos um endoparasita, sendo que os principais foram Toxocara canis e Ancylostoma spp. (Figura 3) 27. Assim como citado para T. gondii, estudo recente encontrou alta variabilidade genética de Leptospira spp. em ilhas do oceano Índico, principalmente associada a ocorrência e permuta entre as diferentes espécies de hospedeiro 28. Além de T. gondii, Toxocara spp. e Leptospira spp., outros patógenos transmitidos por vetores causadores de febre maculosa e leishmaniose têm sido relatados em cães de ilhas, sugerindo o seu potencial zoonótico, já que eles compartilham os mesmos ambientes que os seres humanos 27. Ações clínicas e de pesquisa vêm sendo realizadas em ilhas oceânicas do Brasil com o objetivo de melhor elucidar a ocorrência do efeito de ilha e de buscar preveni-lo (Figuras 4 a 6). Além das ilhas oceânicas, não se pode esquecer também das ilhas fluviais. Em

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Oruê Brasileiro/ Mandato Goura

Figura 5 – Planejamento e organização das ações na Escola Estadual do Campo, na ilha de Superagui, PR. A escola cedeu as salas de aulas durante o fim de semana para a realização do projeto

estudo realizado na ilha de Marajó, localizada no estado do Pará, mais de 2/3 das lesões encontradas em carcaças de bovinos e bubalinos abatidos para consumo se mostraram positivas para Mycobacterium bovis e outras micobactérias não tuberculosas, sugerindo o alto risco de infectarem seres humanos 29. Dados como esses alertam para a possível ocorrência de zoonoses e efeito de ilha em outras ilhas fluviais, como as presentes, por exemplo, na macrobacia hidrográfica do rio São Francisco 30. Algumas dessas ilhas

Oruê Brasileiro/ Mandato Goura

Oruê Brasileiro/ Mandato Goura

Figura 4 – Avaliação clínica realizada na ilha de Superagui, PR. Na foto, cão com proprietário recebe atendimento clínico com vacinação antirrábica e polivalente, desverminação, aplicação de antipulgas e coleta de amostra de sangue

Figura 6 – Coleta de amostra de sangue de moradora da ilha de Superagui, em Guaraqueçaba, PR, para inquérito sorológico

estão localizadas ao sul do município de Petrolina, PE, como Rodeadouro e Pedrinhas, balneários habitados por moradores, animais domésticos e nativos, e que também recebem a visita de milhares de turistas e seus animais de companhia 30. Considerações finais Embora os estudos realizados até o momento tenham contribuído para estabelecer a prevalência do encaminhamento de ações de controle e prevenção de doenças, particularmente de toxoplasmose, não houve até o momento um estudo mais abrangente que verificasse os fatores de risco associados à infecção em moradores e seus animais e à contaminação ambiental de praias e trilhas de ilhas. A inserção de animais de companhia sem controle populacional e monitoramento sanitário em ilhas pode trazer prejuízos diversos para a fauna nativa, para o ambiente (condições higiênico-sanitárias das areias e das águas) e principalmente para os seres humanos. O ambiente propício, aliado à variabilidade de patógenos que podem ser compartilhados entre animais domésticos e silvestres em ilhas, pode exacerbar a transmissão desses patógenos e torná-los endêmicos. Estudos do impacto desses animais e inquéritos sorológicos para conhecer a prevalência de zoonoses

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Medicina veterinária do coletivo são de suma importância para fornecer subsídios para intervenções de saúde pública e medicina preventiva em ilhas oceânicas. Além disso, a precariedade nutricional e a falta de assistência médico-veterinária podem resultar em alto número de animais sem tratamento anti-helmíntico e vacinação, e, consequentemente, na manutenção de doenças que podem ser transmitidas aos seres humanos. Um exemplo é a liberação contínua de ovos de agentes de larva migrans (Toxocara spp. e Ancylostoma spp.) por cães e gatos não desverminados, que encontram um ambiente adequado para sobreviverem no solo quente e úmido de praias, favorável à transmissão do parasita ao homem. Isto posto, a educação e a conscientização da população local e de turistas sobre os impactos de animais de companhia em ilhas localizadas em unidades de conservação ambiental são fundamentais para diminuir os fatores de riscos associados às doenças compartilhadas entre os animais silvestres, os animais domésticos e os seres humanos. Referências

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Ruana Renostro Delai

MV, CRMV-PR: 16.687, residente de Medicina Veterinária do Coletivo da UFPR ru.renostro@gmail.com

Aaronson Ramathan Freitas

MV, CRMV-PR: 16.774, residente de Medicina Veterinária do Coletivo da UFPR aaron.ramathan@gmail.com

Louise Bach Kmetiuk

MV, CRMV-PR 14.332, MSc., dra. UFPR louisebachk@gmail.com

Vamilton Santarém

MV, CRMV-SP: 8.214, MSc, PhD. CMV/Unoeste vamilton@unoeste.br

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E.  ; RAMASINDRAZANA, B. ; LE MINTER, G. ; GUERNIER, V. ; BENLALI, A. ; ROCAMORA, G. ; MARKOTTER, W. ; GOODMAN, S. M. ; DELLAGI, K. ; TORTOSA, P. Biogeography of Leptospira in wild animal communities inhabiting the insular ecosystem of the western Indian Ocean islands and neighboring Africa. Emerging Microbes & Infections, v. 7, n. 1, p. 1-12, 2018. doi: 10.1038/s41426-018-0059-4. 29-FURLANETO, I. P. ; CONCEIÇÃO, M. L. ; CONCEIÇÃO, E. C. ; LOPES, M. L. ; RODRIGUES, Y. C. ; MACELINO, B. R. ; GOMES, H. M. ; SUFFYS, P. N. ; GUIMARÃES, R. J. P. S. E. ; SILVA, M. G. ; DUARTE, R. S. ; FRANCEZ, L. C. ; CASSEB, A. R. ; CÂMARA, V. M. ; PEREIRA, W. L. A. ; COSTA, A. R. F. ; LIMA, K. V. B. Molecular epidemiology of mycobacteria among herds in Marajó Island, Brazil, reveals strains genetically related and potential zoonotic risk of clinical relevance. Infection, Genetics and Evolution, v. 77, n. 104044, 2018. doi: 10.1016/j. meegid.2019.104044. 30-ROCHA, E. Enoturismo no Sertão de Pernambuco cresce e atrai cada vez mais visitantes. Lagoa Grande: G1 Petrolina e Região, 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/ enoturismo-no-sertao-de-pernambuco-cresce-e-atraicada-vez-mais-visitantes.ghtml>. Acesso em 18 de dezembro de 2019.

Cláudia Turra Pimpão

MV, CRMV-PR: 3.105, MSc, PhD. ECV/PUC-PR claudia.pimpao@pucpr.br

Alexandre Redson Soares da Silva MV, CRMV-PE: 4.697, MSc, PhD. CCA/Univasf alexandre.redson@univasf.edu.br

Rinaldo Aparecido Mota

MV, CRMV-PE: 2.519, MSc, PhD. DMV/UFRPE rinaldo.mota@hotmail.com

Alexander Welker Biondo

MV, CRMV-PR 6.203, MSc, PhD. DMV/UFPR abiondo@ufpr.br

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Medicina veterinária do coletivo

Medicina de abrigos – desafios e avanços no Brasil Introdução O abandono e a guarda irresponsável de cães e gatos representam hoje um grave problema para todas as administrações e órgãos de saúde pública, tanto pelo risco de zoonoses quanto pelo reconhecimento do sofrimento animal ¹, com causas múltiplas relacionadas a fatores religiosos, culturais e socioeconômicos 2. A presença de animais errantes é percebida pela sociedade como um problema cuja principal causa é a atitude humana, traduzida pela falta de responsabilidade quanto à guarda de seus animais. Os animais em situação de rua sofrem com a falta de água, alimento, abrigo, higiene, com maus-tratos e atropelamentos, e também podem agredir pessoas, transmitir doenças e provocar acidentes automobilísticos. Para diminuir o número de animais de rua é necessário realizar um adequado e complexo manejo populacional de cães e gatos (MPCG), o que inclui a participação do poder público, das associações protetoras e da população 2. Inicialmente, as políticas públicas para o manejo populacional canino e felino eram consideradas sinônimo da atuação em raiva e incluíam a eliminação de animais de rua, que eram capturados sem distinção de tamanho, raça ou comportamento e alojados e eliminados em abrigos públicos 3. Esses primeiros canis e gatis municipais foram criados com a única finalidade de alojar os cães e gatos até que seu destino fosse efetivamente determinado. Não tinham o objetivo de preservar a saúde ou o bem-estar dos animais 4 . A partir de 1984, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a se posicionar sobre o tema, e em 1990, junto com a World Animal Protection (antiga WSPA), publicou o primeiro guia de orientação para o manejo populacional canino. Outro documento mais recente da OMS sobre o assunto reconhe26

ce a importância de um programa preventivo para o MPCG, tendo como base a educação das pessoas sobre a guarda responsável e programas de controle reprodutivo com a finalidade de diminuir a renovação populacional e o número de animais suscetíveis de raiva 2,5,6. A ineficiência da estratégia de eliminação dos cães por questão de saúde pública ocorre devido à ocupação do ambiente por novos animais, à rápida reprodução e à falta de guarda responsável quanto à sanidade, à castração dos animais e à restrição do seu livre acesso às ruas 1,7,8. O cenário para o MPCG no Brasil começou a se transformar em meados da década de 1990, passando de uma etapa de captura e eliminação de animais para a de prevenção ao abandono 9. Somente a partir de 2006, com a criação da política pública de MPCG no estado de São Paulo (2006) e as legislações dos estados do Rio de Janeiro (2006), São Paulo (2008), Mato Grosso do Sul (2008), Rio Grande do Sul (2009) e Pernambuco (2010), entre outros, proibindo a eliminação de animais como método de controle populacional, teve início a terceira etapa do MPCG no Brasil, a de “respeito à vida”, imposta legalmente, mas que traz em seu bojo a ética do cuidado. Com o reconhecimento da importância dos animais na promoção da saúde de indivíduos, famílias e comunidades, o MPCG é considerado uma área de aplicação da estratégia de saúde única, interligando setores e diferentes profissionais 10. As mudanças das políticas públicas para o MPCG demandaram novos conhecimentos para os serviços de controle de zoonoses, pois os animais capturados não poderiam mais ser eliminados após três dias (ou mais), e deveriam ser tratados, avaliados e destinados adequadamente. Esse fato impulsionou os estudos de medicina de abrigos no Brasil.

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Lucas Galdioli Lucas Galdioli

Os abrigos no Brasil Os abrigos têm como objetivo ser um refúgio seguro para os animais que deles precisam e funcionar como local de passagem, buscando reabilitá-los, ressocializá-los e reintroduzi-los na sociedade por meio da adoção, além de serem um núcleo de referência em programas de cuidados veterinários, controle, bem-estar animal e projetos educativos quanto à guarda responsável, trabalhando para a prevenção do abandono 11-13. Podem ser de responsabilidade governamental, privada, de organização não governamental (ONG) ou mista 12,14. Suprir as necessidades dos animais nos abrigos não é uma tarefa simples, e requer muito planejamento e comprometimento. Para diminuir o número de animais não domiciliados, mantê-los em um bom nível de bem-estar e minimizar os riscos que possam representar para a saúde humana e de outros seres, é necessário implantar um programa de manejo populacional de cães e gatos nos municípios. Os abrigos são uma das estratégias que podem compor esse progra-

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Nos abrigos com atuação da proteção animal, os médicos-veterinários clínicos de pequenos animais auxiliavam no tratamento dos cães e gatos mantidos, aplicando o conhecimento da clínica médica individual de forma coletiva, mas novas abordagens, conhecimentos e práticas foram necessários para prevenir doenças e diminuir os gastos e o período de manutenção dos animais no coletivo antes da sua adoção. A lógica da clínica médica centrada no individuo precisava ser repensada para o coletivo. Os médicos-veterinários em geral não estavam preparados para cuidar dos animais no coletivo e enfrentarem o risco crescente de adoecimento do animal, diretamente relacionado ao seu tempo de permanência no abrigo 10. A preocupação de proporcionar apenas os cuidados básicos (abrigo, água e alimento) foi, aos poucos, incluindo também os aspectos comportamentais e psicológicos para a promoção de uma boa qualidade de vida dos animais abrigados.

Abrigos de cães no Paraná e em São Paulo, parceiros do Projeto Abrigos realizado pela UFPR e o Instituto PremieRpet

ma, recuperando os animais abandonados e reintroduzindo-os na sociedade por meio da adoção, mas não resolvem o problema da presença deles nas ruas e nem do abandono.

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Medicina veterinária do coletivo A construção e a manutenção de abrigos são caras, e eles requerem uma grande capacidade de planejamento e de organização 13,15. O grande desafio dos abrigos é garantir bons níveis de bem-estar aos animais e cuidar de suas necessidades individualmente, sem perder o foco no grupo como um todo. Os espaços são projetados para acolher os animais, cuidar deles e encaminhá-los para adoção o mais brevemente possível, e muitos não estão preparados para atender às demandas (tanto físicas quanto comportamentais) em longas permanências 16. A rotina dos abrigos exige conhecimento e comprometimento dos funcionários, médicos-veterinários e administradores, pois apenas a “boa intenção” no momento do resgate do animal não se traduz necessariamente, na prática, em bons programas preventivos e bons níveis de bem-estar animal. A vida dos cães e gatos abandonados é completamente modificada quando eles são resgatados. Acolhidos, não precisam mais lutar por abrigo, pela comida, para não serem atropelados ao cruzar a rua ou para escapar de maus-tratos. Porém, mesmo dentro de instituições extraordinárias, existem dificuldades e desafios a enfrentar. Eles passam a conviver com dezenas de outros animais, muitas vezes em contato direto, sem local destinado para aqueles que estão em recuperação ou com alguma condição clínica especial 16. Por outro lado, necessitam de programas de enriquecimento ambiental que contribuam para o seu bem-estar físico e mental 17. O trabalho começa com a compreensão do histórico do abrigo, o vínculo dos administradores e funcionários e o entendimento de que cada abrigo é único. É necessário conhecer os protocolos de cuidados aos animais, mas ao mesmo tempo é difícil estabelecer um protocolo-padrão que possa ser aplicado a todos 16 . É essencial que o estudo seja embasado na ciência da medicina de abrigos, que difere da medicina veterinária tradicional. Enquanto não existirem protocolos que melhor se encaixem aos abrigos brasileiros, mesmo sabendo 28

que o perfil dos brasileiros é diferente do dos americanos e europeus, é necessário utilizar a literatura estrangeira para seguir recomendações básicas relativas ao manejo e aos cuidados higiênico-sanitários dos animais nesses ambientes 18. São poucos os locais que aplicam o conhecimento da medicina de abrigos e cujos gestores têm consciência de que as necessidades dos animais vão além da alimentação e de um local para dormir. A estrutura física básica, composta de áreas para animais sadios, quarentena e isolamento, não existe na maioria deles, ou é usada de maneira errada. Em abrigos de gatos, é frequente a falta de verticalização do espaço, da presença de um esconderijo por animal e de caixas para eliminação, além de alta prevalência de doenças do trato respiratório consideradas normais pelos gestores e médicos-veterinários. Também é comum que os abrigos ultrapassem a capacidade de manutenção, isto é, não respeitem o limite do número de animais, o que os impede de manter bons níveis de bem-estar, segundo os recursos materiais e humanos disponíveis. Os documentos e registros do abrigo são de extrema importância para um planejamento eficiente, a compreensão do histórico do local e o seu entendimento como um sistema (nível geral e individual). Grande parte dos gestores inicia o trabalho com resgates eventuais, sem a intenção de fundar um abrigo. Portanto, não há planejamento nem registro dos dados dos animais. Para a compreensão do histórico de cada animal são necessários prontuários individuais de todos os cães e gatos mantidos no abrigo; e para a compreensão da sua dinâmica populacional, os registros de entrada e saída (adoção ou morte) são fundamentais. As medidas preventivas básicas – além da parte estrutural relativa a quarentena e isolamento – consistem no manejo relativo à higienização e nos protocolos de vacinação e vermifugação. A higiene é uma parte importante de qualquer plano de controle de infec-

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Lucas Galdioli

Lucas Galdioli

Lucas Galdioli

Abrigos de gatos em São Paulo, parceiros do Projeto Abrigos, realizado pela UFPR e o Instituto PremieRpet

ção. Quando os planos são implementados corretamente, a introdução e a disseminação de organismos patogênicos podem, na maioria dos casos, ser minimizadas ou evitadas. Apesar de as medidas de higienização serem normalmente praticadas na maioria abrigos de animais, muitas vezes elas são realizadas usando produtos químicos ou métodos ineficientes. Isso cria uma falsa sensação de segurança e pode levar à continuação da disseminação de patógenos, apesar dos esforços feitos para controlá-los. A lâmina com passo a passo sobre manejo higiênico para abrigos de cães e gatos pode ser acessada pelo link https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/64762 ou por meio do QR code ao lado. A vacinação é um componente essencial dos programas de prevenção de gestão de saúde para animais de abrigos. Um programa eficaz de vacinação, combinado com práticas que minimizem o estresse e o risco de exposição a patógenos, ajuda os animais a permanecerem saudáveis e reduz a gravidade das doenças clínicas 12. Os abrigos geralmente têm um programa de vacinação, porém, pela falta de conhecimento e experiência dos ges-

tores e funcionários, muitas vezes ela é realizada seguindo protocolos de imunização contra doenças espécie-específicas da medicina veterinária tradicional, impactando as atividades de prevenção de enfermidades infecciosas nos abrigos brasileiros. O recomendado, para garantir a proteção dos animais que já habitam o local, é aplicar a primeira dose de vacina polivalente no primeiro dia do animal no abrigo, isto é, na sua entrada, seguida de quarentena. A literatura sugere que a vacina deve ser aplicada independentemente das condições de saúde do animal e da presença de febre, prenhez ou lactação 12. A lâmina de vacinação e vermifugação para instrução de abrigos de animais pode ser acessada pelo link https://acervodigital.ufpr. br/handle/1884/64761 ou por meio do QR code ao lado. A questão cultural latino-americana em relação à eutanásia é um ponto que também diverge da de outros países. Enquanto nos Estados Unidos muitos abrigos aceitam a eutanásia de animais sadios e com comportamentos indesejados, no Brasil eles acabam sendo mantidos, mesmo quando não há espaço suficiente para novos animais. Além disso,

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Lucas Galdioli

Lucas Galdioli

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Medicina veterinária do coletivo

Médicos-veterinários residentes e alunos da UFPR, junto com equipe do Instituto PremieRpet, realizando capacitação técnica em abrigo no Paraná no ano de 2019

a eliminação de animais sadios é proibida por lei em diversos estados brasileiros, e recentemente foi aprovado pelo Senado Federal o Projeto de Lei da Câmara (PLC) n. 17/2017, 30

que proíbe a eliminação de cães, gatos e aves saudáveis pelos órgãos de controle de zoonoses, canis públicos e estabelecimentos semelhantes 19,20. Ademais, segundo a Lei Federal no 13.426, o controle de natalidade de cães e gatos em todo o território nacional deve ser regido mediante esterilização permanente por cirurgia ou por outro procedimento que garanta eficiência, segurança e bem-estar ao animal 21. A questão da eutanásia, que envolve emocionalmente os funcionários e gestores dos abrigos, deve ser tratada de forma sensível e empática 17. As políticas externas, relacionadas com as políticas públicas existentes para o manejo populacional de cães e gatos nas cidades, também impactam os abrigos. Seus gestores e representantes precisam interagir com os órgãos municipais responsáveis e exigir que se implantem estratégias efetivas, além de participar das comissões municipais de saúde e meio ambiente para ampliar o enfoque e as ações do manejo populacional de cães e gatos (MPCG). Programas efetivos se traduzem em menos animais errantes e menos abandono. A sociedade civil organizada e as organizações não governamentais (ONGs) de proteção animal têm papel fundamental na implantação de políticas públicas efetivas de MPCG. Sendo entidades privadas, sem fins lucrativos e com o objetivo de adicionar ou mesmo aprimorar algo em uma determinada sociedade, são compostas por pessoas físicas que têm interesse público e o intuito de participar da melhora de algum campo da sociedade merecedor de uma atenção especial do poder público 22. Os abrigos de ONGs também devem agir como multiplicadores dos conceitos de bem-estar animal, de guarda responsável de animais e das ações mais eficientes para o MPCG, sendo uma referência para a comunidade e o poder público. O papel do médico-veterinário nos abrigos Os abrigos devem manter os animais saudáveis e com bons níveis de bem-estar du-

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Lucas Galdioli

Primeira capacitação de marketing digital para gestores de um abrigo parceiro do Projeto Abrigos, realizado pelo Instituto PremieRpet em São Paulo, no ano de 2019

rante toda a sua estada, sendo fundamental a atuação dos médicos-veterinários, que vêm trabalhando com animais desabrigados há décadas. No entanto, a especialidade de medicina de abrigos vem sendo reconhecida recentemente como uma área complexa e que requer conhecimentos especializados de ensino, pesquisa e prática 23. Historicamente, os médicos-veterinários atuam pontualmente nos abrigos, muitas vezes atendendo os animais fora deles, em clínicas veterinárias, o que não lhes propicia uma visão sistemática desses canis e gatis e de seus problemas e acarreta em impacto na saúde dos animais do abrigo. Comumente, a assistência veterinária de animais abrigados é de responsabilidade da administração. Um maior enfoque no bem-estar animal e uma maior conscientização dos gestores dos abrigos exige um novo papel para os médicos-veterinários nesses locais. A medicina de abrigos foi reconhecida formalmente pela American Veterinary Medical Association (AVMA) como uma especialidade em 2014. Desafiadora e exigindo conhecimentos e habilidades que excedem o que se adquire na formação acadêmica, é uma área de estudos e abrangência da medicina veterinária do coletivo que está se tornando uma

nova opção de carreira para médicos-veterinários. Origina-se na tentativa de suprimir as dificuldades que os médicos-veterinários de abrigos encontram para garantir a defesa e o bem-estar dos animais, além da sanidade de toda a comunidade pela qual são responsáveis. As suas vastas aplicabilidades e a exigência de saberes específicos demonstram a necessidade do desenvolvimento de protocolos e de linhas orientadoras cujos objetivos finais se expressarão na melhora do estado hígido e das condições higiênico-sanitárias dos animais abrigados, e também no aumento do número de animais adotados 4. A medicina de abrigos é uma área em ascensão no Brasil, de importância sanitária, epidemiológica e ambiental de grande relevância e que salva vidas diariamente (animais humanos e não humanos), respeita o indivíduo como um ser integral e tem um olhar holístico para as situações – um olhar para a medicina preventiva, para a saúde pública e para o bem-estar animal. Essa área envolve também o controle de zoonoses, o comportamento animal, o manejo populacional canino e felino, a bioética e o gerenciamento de recursos humanos, entre outros importantes assuntos relacionados à profissão da medicina veterinária. A maior dificuldade dos médicos-veterinários que trabalham nessa área é gerenciar o manejo da saúde no coletivo, prestando assistência médica de qualidade para garantir que os animais, individualmente, estejam física e mentalmente saudáveis. Para isso, devem ter conhecimentos de gestão, políticas internas, arquitetura (parte estrutural), programas preventivos (protocolos de imunização, controle de parasitas, limpeza); manejo nutricional; enriquecimento ambiental e etologia (avaliação, reconhecimento dos problemas e tratamento comportamental); e gerenciamento de recursos humanos e de protocolos relativos a possíveis surtos, além de entender de fluxogramas e das estratégias de entrada e saída dos animais 13. Também é necessária a capacitação periódica de todos os profissionais que

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Medicina veterinária do coletivo trabalham no abrigo, com vistas ao seu próprio bem-estar físico e mental e a uma interação harmoniosa com os animais. As informações de estratégias efetivas do gerenciamento das doenças e dos protocolos de gestão e de estruturas ainda são baseadas em dados científicos limitados, em pareceres de especialistas e na clínica coletiva de médicos-veterinários de abrigos. Dessa forma, são necessários maiores estudos nessa área, assim como incentivos a ela nas faculdades de medicina veterinária. Existem propostas de disciplinas na área de medicina veterinária do coletivo e de vivências em faculdades, abordando o assunto de medicina de abrigos 24. Atualmente, o tema está inserido em disciplinas de graduação em três instituições de ensino no Brasil: Universidade Federal do

Paraná (UFPR), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual do Ceará (UECE) 13. A UFPR trabalha atualmente com a medicina de abrigos, além de abordar o assunto na graduação, no Programa de Residência Multiprofissional, na área de medicina veterinária do coletivo, na qual os médicos-veterinários residentes fornecem consultoria para os abrigos parceiros para melhorar o nível de bem-estar dos animais. Essa experiência está vinculada à parceria com o Instituto PremieRpet, com o objetivo de difundir e fomentar conhecimentos e boas práticas da medicina de abrigos junto aos médicos-veterinários, profissionais e voluntários que atuam nas ONGs de cães e gatos, a fim de colaborar para o aumento do bem-estar e das taxas de adoção nessas instituições. A parceria entre a UFPR e o Instituto PremieRpet auxilia o desenvolvimento da medicina de abrigos no Brasil, fomentando também pesquisas e a produção de diretrizes e protocolos que estão disponíveis nos seguintes locais: 1. site de medicina veterinária do coletivo da UFPR (http:// www.agrarias.ufpr.br/portal/ mvc/);

Diretriz sobre os padrões de cuidados em abrigos de animais traduzida pelo Instituto PremieRpet

Site de medicina veterinária do coletivo da UFPR

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Canal do Youtube de medicina veterinária do coletivo

2. canal do Youtube da medicina veterinária do coletivo (https://www.youtube.com/ channel/UC2xwVHxuMpJDGQbrJ9ppl2A);

Site do Instituto PremieRpet

3. site da PermieRpet (https:// www.premierpet.com.br/instituto-premierpet/). Referências

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MV, CRMV-PR: 16.773 Serviço de Perícia Animal – UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos UFPR lucasgaldioli@hotmail.com

Letícia Christine Felician Lima

MV, CRMV-PR: 15.435 Serviço de Perícia Animal – UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos UFPR leticia_felician@hotmail.com

Cintia Parolim Ferraz

MV, CRMV-PR: 16.697 Serviço de Perícia Animal – UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos UFPR cintia.ferraz08@gmail.com

Rita de Cassia Maria Garcia

MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. UFPR Depto. de Medicina Veterinária UFPR ritamaria@ufpr.br

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Criação comercial de animais de companhia no Brasil Proibir é a solução?

Introdução A criação comercial de animais de companhia vem sendo discutida em diferentes esferas governamentais, principalmente em debates e fóruns de proteção animal, promovidos e propostos pelo Legislativo no âmbito federal, municipal e estadual. Recentemente, esse tema vem ganhando maior visibilidade nos meios de comunicação, devido aos projetos de lei que regulamentam ou proíbem a venda de filhotes no Brasil e mesmo em outros países. Esse assunto traz como principal preocupação as chamadas “fábricas de filhotes”, canis clandestinos ou não fiscalizados que exploram animais, fazendo com que estes sejam submetidos a situações extenuantes e maus-tratos, como, por exemplo, as cadelas matrizes que se reproduzem no limite de sua capacidade para procriar o maior número possível de filhotes por ano. Essa atividade tem como único objetivo o lucro financeiro, privando de bem-estar as matrizes e os reprodutores, que na maioria das vezes são encontrados em situações gravíssimas de maus-tratos e negligência em ambientes insalubres. Os filhotes nascidos nesses locais são comercializados em feiras, pet shops ou clínicas veterinárias. Desse modo, o comprador não conhece a realidade e a situação lamentável em que vivem os progenitores do animal de companhia que adquiriu 1. Entretanto, sabe-se que essas situações não são a realidade de todos os canis. Muitos criadores buscam fornecer condições adequadas e com alto grau de bem-estar para seus animais, já que para muitas famílias brasileiras essa é a principal fonte de renda. Dessa maneira, entende-se que o assunto deve ser debatido e que se atinja um objetivo comum 36

que satisfaça tanto os bons criadores quanto os militantes da causa animal, e, consequentemente, os animais que vivem nessas condições. A discussão pelo mundo Diversas iniciativas com relação a esse tema ocorreram no ano de 2018. Em julho do mesmo ano, o estado de Victoria, na Austrália, proibiu a reprodução comercial de animais de companhia, abolindo também a venda de filhotes em feiras, parques, pet shops e clínicas veterinárias, dando fim às fábricas de filhotes 2. A lei foi chamada de Oscar’s Law (Lei de Oscar), inspirada em um cão chamado Oscar, que foi resgatado de uma situação de maus-tratos em um canil no país. Oscar foi encontrado em estado severo de negligência, com danos físicos e psicológicos por ter sido mantido como reprodutor durante cinco anos em uma fábrica de filhotes. No Reino Unido, no final de 2018, foi proibida a venda de filhotes com menos de seis meses de idade em pet shops da Grã-Bretanha, com o objetivo de não os submeter a situações de maus-tratos. Caso o comprador deseje um animal mais jovem, deverá adquiri-lo diretamente do canil, evitando dessa maneira as fábricas de filhotes. A lei entrou em vigor em 2019 e ficou conhecida como Lucy’s Law (Lei de Lucy), em homenagem à cadela Lucy, da raça cavalier king charles spaniel, resgatada de uma fábrica de filhotes no País de Gales no ano de 2013. Lucy viveu a vida confinada em uma gaiola, o que lhe causou danos irreversíveis no quadril, principalmente pela falta de exercício 3. De maneira semelhante, no estado da Califórnia (EUA), a venda de cães, gatos e coelhos em pet shops está proibida desde janeiro de 2019, sendo permitida

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apenas a exposição de animais oriundos de abrigos ou organizações não governamentais (ONGs) 4. Mesmo assim, a compra e venda de animais ainda é legalizada no estado, mas deve ser realizada diretamente com os criadores, o que foi considerado um grande avanço para a proteção animal da Califórnia. No Brasil, ainda não há uma lei federal que proíba ou regulamente a venda de animais de companhia em pet shops, nem as criações comerciais de animais de companhia. Alguns municípios têm sido vanguardistas na discussão da venda de animais de raça, como Porto Alegre, cuja Lei Municipal no 694/2012 proíbe a venda ou a doação de animais com menos de 90 dias em pet shops, para assegurar que sejam socializados, desmamados e vacinados no tempo correto. A lei também proíbe que os filhotes sejam expostos por mais de cinco horas por dia em vitrines externas e feiras, para evitar que os animais fiquem estressados. Além disso, está em tramitação o Projeto de Lei (PL) n° 89/2017, que pretende aumentar a idade mínima de exposição para 180 dias, atualizando o Código Municipal de Proteção aos Animais 5. No município de Santos, SP, foi sancionada a Lei Municipal no 1.051/19, que proíbe a criação e a comercialização de animais considerados domésticos na cidade. Segundo o responsável pelo PL, o objetivo é “descoisificar” os animais, pois eles não podem mais ser considerados mercadorias. A lei foi sancionada em setembro de 2019, e estabeleceu-se um prazo de 180 dias para a regularização dos estabelecimentos 6,7. Em Curitiba, tramita na Assembleia Legislativa do Paraná o PL nº 185/2019, que em sua redação original proibia a venda de animais em pet shops e clínicas veterinárias, assim como a venda online de filhotes. O projeto obrigaria que todas as vendas fossem realizadas diretamente por criadores; dessa forma, a população interessada conheceria a origem dos filhotes 8. Porém, após a realização de uma audiência pública, devido à pressão de criadores e figuras públicas, o PL foi

reestruturado e retrocedeu em alguns aspectos, como em relação à permissão de venda em estabelecimentos comerciais e à exclusão do item que abordava o comércio digital, que fica, dessa forma, permitido 9. Animais como objetos de compra e venda Parecem ser unânimes entre ativistas da causa animal, entidades de proteção animal e criadores o zelo, o respeito e o apreço pelos animais. Considerando que eles são classificados como seres vivos dotados de senciência, surge o questionamento: como os animais ainda podem ser objetos de compra e venda? Nos anos 1980, Tom Regan, um ativista, filósofo e professor emérito da Universidade da Carolina do Norte que foi um grande nome na área do direito animal, expôs sua teoria conhecida como abolicionismo. Nos seus trabalhos, Regan comparou o modo como tratamos os animais à forma como tratávamos os escravos, que na época sombria da escravatura eram considerados bens materiais, produtos de compra e venda. Assim como os negros foram pessoas destituídas de direitos até 1888 no Brasil, as mulheres também sofreram discriminação, e somente em 1963 obtiveram direitos iguais aos dos homens no meio jurídico. Por mais que essa comparação possa parecer absurda, antes da proibição esses comportamentos eram naturalizados, da mesma forma que hoje é vista a exploração animal. Após terem seus direitos fundamentais reconhecidos simplesmente por serem seres humanos, as pessoas nunca mais puderam ser tratadas como coisas, como objetos de compra e venda. Seguindo a mesma linha de raciocínio, os animais deixariam de ser considerados coisas e passariam a ser sujeitos de direitos. No ano de 2012 foi publicada a Declaração de Cambridge sobre consciência, de acordo com a qual os seres humanos não são os únicos a terem os substratos neurológicos que a geram 10. Essa declaração se baseia nas evidências de que os animais têm senciência, ou seja, sentimentos – sentem dor, fome, medo e

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podem entrar em depressão. A definição de dignidade de um ser é existir como fim em si mesmo, não como meio para uso arbitrário desta ou daquela vontade. Immanuel Kant afirmava que apenas os seres humanos eram dignos 11. Atualmente, alguns grupos propõem o contrário: que a dignidade deve ser protegida por uma coletânea mínima de direitos fundamentais. Em agosto de 2019, foi aprovado no Senado Federal o Projeto de Lei Complementar (PLC) no 27/2018, conhecido como “Animal não é coisa”, que diz respeito à natureza jurídica dos animais e que, em teoria, reconheceria que os animais são dotados de senciência e, consequentemente, não são meros objetos ou bens móveis 12. Entretanto, a lei causou desconforto em setores ruralistas, pois essa informação poderia pôr fim ao abate de animais para produção de carne no Brasil. Dessa maneira, foi acrescentado um parágrafo único retirando esse status dos animais de produção e daqueles envolvidos em “manifestações culturais”, como rodeios e vaquejadas, prática enquadrada como patrimônio cultural, em que eles são explorados para entretenimento do ser humano. Sendo assim, no Brasil, apenas os animais de companhia não são mais considerados “coisas” pela legislação, apesar de serem também objeto de compra e venda. Mesmo sendo especialista, essa lei pode ser considerada um avanço para a discussão do direito animal, corroborando o que acontece em alguns países europeus (Alemanha, Áustria, Suíça, França e Portugal) que também já consideram legalmente que os animais não são coisas 13. Canis clandestinos: maus-tratos aos animais e risco à saúde pública Somente no estado do Paraná, no período de janeiro a maio de 2019, foram apreendidos mais de 300 animais em canis clandestinos em Curitiba e região metropolitana, por meio da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), conforme a figura 1. A criação comercial é proibida em áreas urbanas em todo 38

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Figura 1 – Cadela da raça poodle apreendida de um canil clandestino na região metropolitana de Curitiba no ano de 2019, no qual era utilizada como matriz. O animal apresentava-se em situação extrema de negligência, com lesões odontológicas e oftálmicas graves

o estado desde 2001, conforme o Código de Saúde do Estado do Paraná. Segundo o código, qualquer tipo de criação em área urbana é ilegal no estado, entretanto, só é considerado crime quando há comprovação de maus-tratos aos animais 14. Em Curitiba, a criação de animais é proibida, pois trata-se de um município com área totalmente urbana 15. No ano de 2019, 225 cães de 10 canis clandestinos foram apreendidos por maus-tratos no município e abrigados a cargo de fiéis depositários até que pudessem ser encaminhados para a adoção permanente. No entanto, muitos desses animais apresentavam lesões no trato reprodutivo, como edema, eritema e outras lesões escrotais em machos, e secreção vulvar e abortamentos em fêmeas. Alguns deles foram testados e diagnosticados com brucelose canina, epidemia que grassava nos canis clandestinos. Essa situação é de extrema complexidade, pois traz riscos à saúde pública, uma vez que cães desses canis podem ter sido comercializados para diferentes localidades e ter entrado em contato com inúmeros animais e pessoas. Em fevereiro de 2019, a rede de pet shops

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Petz, uma das maiores do Brasil, anunciou que não comercializaria mais filhotes em nenhuma de suas 82 lojas no país. A decisão foi tomada pelos proprietários da rede após 1.700 animais serem apreendidos em situação de maus-tratos no canil Céu Azul, localizado na cidade de Piedade, SP, que era um de seus fornecedores de filhotes. Atualmente, a rede Petz realiza uma parceria com ONGs e protetores independentes por meio do projeto Adote Petz, direcionando espaços anteriormente ocupados por cães de raça para a venda e a promoção da adoção de animais resgatados, em um modelo semelhante ao adotado pela Califórnia 16. A falta de regulamentação permite que inúmeros criadores que não têm conhecimento de instruções básicas de cuidados com os animais ou não as pratiquem continuem gerando situações graves de maus-tratos, conforme as figuras 2 a 6. A ausência de fiscalização também é um ponto importante, pois facilita que tais atividades sejam desenvolvidas sem nenhum critério ou punição. Uma vez que se determinem regulamentos e legislações conforme o Manual de Boas Práticas de Criação, publicado em 2019 pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), será possível determinar um padrão técnico que deverá ser

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Figura 2 – Canil ilegal vistoriado em 2013 em São José dos Pinhais, PR. Cão da raça beagle com infecção crônica nos olhos e infecção na pata direita

Figura 3 – Canil ilegal vistoriado em 2013 no bairro Orleans de Curitiba, PR. Cães mantidos em pequenas gaiolas, sob péssimas condições de higiene e sem solário

seguido pelos criadores, o que facilitará as ações de fiscalização 17. O que alegam os defensores da criação comercial A principal e mais plausível justificativa apresentada pelos criadores para demonstrar a importância da prática da criação de animais de companhia são as habilidades específicas das raças, que por muitos anos foram selecionadas por meio de melhoramento genético para obter as características desejadas, a fim de que pudessem auxiliar o ser humano de diferentes formas em suas atividades, como,

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Figura 4 – Canil ilegal vistoriado em 22 de outubro de 2013 no bairro do Cajuru de Curitiba, PR. Fêmea pinscher com filhotes em péssimas condições de higiene, risco de choques, curto-circuito e incêndio

Figura 5 – Canil ilegal vistoriado em 22 de outubro de 2013 no bairro do Cajuru de Curitiba, PR. Fêmea lhasa apso com filhotes em péssimas condições de higiene, risco de choques, curto-circuito e incêndio

por exemplo: o labrador, com habilidade nata para ser utilizado como cão-guia; o pastor-belga malinois, com sua aptidão de farejador, muito utilizado pela polícia em todo o mundo; e o border collie, com seu instinto para o pastoreio 18. Entretanto, raças criadas como cães de colo (lapdogs), como lulu-da-pomerânia, lhasa apso e shih tzu, são muito populares entre os brasileiros. Essa função não poderia ser exer40

Figura 6 – Canil ilegal vistoriado em 22 de outubro de 2013 no bairro do Cajuru de Curitiba, PR. Atendimento, microchipagem e retirada para adoção imediata dos cães, feita pela Rede de Proteção Animal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente com apoio da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, com base na Lei Municipal n. 13.908/2011 29, que no Artigo 16, Parágrafo 3 o, estabelece que: “Em caso da constatação da falta de condição mínima para a manutenção do(s) animal(is) sob a guarda do infrator, fato esse constatado no ato da fiscalização pela autoridade competente, fica autorizado o município à remoção do(s) mesmo(s), se necessário com o auxílio de força policial. Caberá ao município promover a recuperação do(s) animal(is) (quando pertinente) em local específico, bem como destiná-lo(s) para a adoção, devidamente identificado(s)”

cida por um cão sem raça definida? Outro argumento apresentado é a liberdade de escolha das pessoas ao adquirirem um animal. Parte da população entende que a adoção é um ato nobre, mas muitos indivíduos têm paixão por uma determinada raça, e só aceitam adquirir animais com determinadas características. Algumas campanhas buscam mudar a mentalidade das pessoas, pois pertencer a uma raça específica não deveria promover ao cão um valor maior do que o de uma outra raça. Além disso, um animal de companhia deve ser cuidadosamente escolhido de acordo com suas características comportamentais e não as meramente estéticas, a fim de se adaptar à família com a qual conviverá. Muitas vezes

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as pessoas adquirem um cão de raça exclusivamente pela sua aparência, desconhecendo características comportamentais intrínsecas da raça, como o temperamento, o que pode ser um fator de abandono futuro. O melhor exemplo disso é a raça chow chow, que quando filhote é semelhante a um ursinho de pelúcia, porém, devido ao seu temperamento imprevisível, acaba muitas vezes causando agravos por mordeduras e gerando frustração em seus tutores. O abandono de cães de raça é muito comum, e pode se dar por questões comportamentais, mas principalmente por sua maior suscetibilidade e predisposição a doenças 19. A reprodução e a venda de animais de companhia envolvem muito dinheiro e representantes de todas as classes, abrangendo desde pessoas que dependem das vendas para seu sustento até negócios altamente lucrativos. De modo semelhante, muitos médicos-veterinários são criadores ou trabalham com reprodução de animais de companhia, realizando inseminações, diagnósticos de gestação e cesarianas, entre outros procedimentos. A proibição total dessa prática no país causaria grande impacto na economia. Assim, acredita-se que o melhor caminho no momento é regularizar adequadamente a criação, a fim de evitar criadores clandestinos ou não fiscalizados e, consequentemente, maus-tratos aos animais. A predisposição e maior suscetibilidade de certas raças às doenças Segundo dados da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de registro de animais, com 143.314 cães registrados em 2018, sendo o buldogue-francês, o spitz alemão anão (lulu-da-pomerânia) e o shih tzu as três raças mais registradas 20. Entretanto, esses números podem não ser verdadeiros, visto que grande parte dos animais de raça não são adquiridos por meio de canis legalizados, e sim de criadores informais, o que torna os dados reais desconhecidos. As raças citadas acima são

as atuais “raças da moda”, como já foram o poodle e o pequinês; no entanto, essas modas vão passando conforme vão sendo conhecidas as doenças às quais esses animais são predispostos e que muitas vezes acabam manifestando ao longo da vida, o que pode gerar muitas despesas ao tutor. Com o “melhoramento” genético das raças, realizaram-se cruzamentos com o objetivo de dotar as próximas gerações das características físicas desejadas. Porém, além de selecionar essas características, também foram selecionados genes de suscetibilidade ou predisposição a doenças adquiridas e/ou congênitas. Como exemplo disso, temos o pastor-alemão, principal cão policial até os anos 1990, que foi selecionado para ter o quadril mais rebaixado em relação à cernelha, predispondo consequentemente a raça à displasia coxofemoral. Por essa razão, o pastor-alemão foi sendo substituído pelo pastor-belga malinois em sua função policial. Outro exemplo é a raça pug, ainda muito popular, que apresenta predisposição para uma série de doenças respiratórias, como a síndrome das vias aéreas braquicefálicas – uma consequência da seleção de focinhos curtos –, entre outras anormalidades anatômicas encontradas em muitos exemplares da raça. Essas alterações, como estenose de narinas e palato mole alongado, dificultam a respiração, o que pode aumentar o esforço respiratório e levá-los ao colapso 21. Além disso, esses cães também são predispostos a diversas enfermidades oftalmológicas, por terem os olhos protrusos 22, e neurológicas, como epilepsia e meningoencefalite necrosante (encefalite do cão pug) 23,24. Diversas outras raças apreciadas pelos brasileiros são predispostas à dermatite atópica canina e à hipersensibilidade alimentar, como: buldogue-francês, shih tzu, lhasa apso, maltês, yorkshire, labrador, golden retriever e muitas outras 23. Essas doenças fazem com que o cão esteja predisposto a diversas infecções de pele e necessite de tratamento ao longo de toda a vida, o que traz desgaste

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Medicina veterinária do coletivo financeiro e emocional para o tutor. Além dos exemplos citados, o fato é que todos os animais de raça podem carregar consigo a predisposição a diversas doenças congênitas ou maior suscetibilidade a doenças infecciosas, como os cães das raças doberman, pit bull, rottweiler e labrador, que são algumas das mais suscetíveis à parvovirose 25. Doenças de caráter hereditário não são exclusivas dos cães, acometendo também os gatos de raça, como o persa em relação à doença dos rins policísticos 26 e as raças maine coon e ragdoll em relação à cardiomiopatia hipertrófica 27. Entretanto, no Brasil, os gatos de raça não são tão comuns quanto os cães. Essas predisposições raciais não significam que apenas os animais de raça ficam doentes, mas que talvez os animais sem raça definida não tenham um peso genético predeterminante para o desenvolvimento de doenças específicas. Ao comercializarem um animal, os criadores deveriam explicitar ao comprador todas as doenças às quais a raça tem predisposição, a fim de não gerar frustração e, consequentemente, abandono. Todo comprador deveria assinar um termo de responsabilidade, afirmando que tem ciência das doenças às quais o animal é predisposto e que se compromete a custear quaisquer tratamentos necessários, uma vez que muitas pessoas compram filhotes de raça de maneira impulsiva e baseada apenas na aparência e na beleza dos animais de companhia. A venda de filhotes em pet shops e feiras Expor filhotes à venda pode envolver muitos pontos problemáticos. O primeiro ponto é que esses animais muitas vezes são deixados sozinhos em recintos por muitas horas do dia, apesar de serem muito jovens. A fase de socialização de um cão é muito curta: entre a 3ª e a 12ª semana de vida; a de um gato é mais curta ainda: da 2ª à 8ª semana de vida. Nesse período, é fundamental que o filhote permaneça com a mãe e os irmãos, a fim de aprender a conviver socialmente, estabelecendo relacionamentos e vínculos, e para que com42

portamentos indesejados, como a mordedura, sejam inibidos. Ao serem desmamados muito cedo para serem comercializados nesse período, os filhotes caninos ou felinos podem se tornar problemáticos futuramente com relação às interações sociais 28. Conforme citado anteriormente, ao comprar um filhote num estabelecimento comercial ou em uma feira, o tutor não conhecerá as condições nas quais vivem as matrizes e reprodutores, fomentando, dessa maneira, as fábricas de filhotes. O mesmo se aplica às vendas online. Além disso, a exposição de filhotes para venda pode fazer com que sejam comprados por impulso. Um cão ou gato só deve ser considerado como animal de companhia depois de muita análise de todos os prós e contras envolvidos, somado ao fato de que todos os moradores da residência que irão conviver com ele devem estar de acordo com a sua presença. Considerações finais A proibição da criação de animais de companhia talvez não seja a melhor forma de enfrentar essa situação problemática, visto que poderia piorar a questão da clandestinidade, apesar de não haver evidências concretas ou estudos técnico-científicos a respeito. Acredita-se que a melhor opção seja a regulamentação das criações comerciais de animais de companhia, assim como a proibição da venda em pet shops, clínicas veterinárias, casas agropecuárias, feiras e meios eletrônicos, tendo por objetivo evitar animais problemáticos futuramente, abandono e, principalmente, as “fábricas de filhotes”. Dessa forma, o consumidor seria obrigado a adquirir seu animal diretamente no canil, tendo a oportunidade de conhecer a realidade na qual vivem as matrizes, os reprodutores e os filhotes. Além disso, devia-se seguir o bom exemplo da Califórnia, onde apenas animais de abrigos ou resgatados pelas ONGs podem ocupar espaços em pet shops e feiras, aumentando a taxa de adoção e, consequentemente, diminuindo a taxa de eutanásia desses animais.

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Tendo como cenário o Brasil, onde existem milhões de cães e gatos errantes com e sem raça definida, além de inúmeros abrigos lotados com animais de diferentes tamanhos e características, pode-se questionar a necessidade de adquirir um animal de determinada raça simplesmente para suprir um desejo ou uma vaidade. Seria necessário investir em educação e sensibilização da sociedade, visto que, a partir do momento em que houvesse esse entendimento, o comércio de animais automaticamente não seria alimentado. Entende-se que, enquanto houver demanda por animais domésticos de raça, haverá também mercado para supri-la. A educação infantil tem sido uma estratégia para melhorar essa realidade. Deve-se ensinar às crianças que um cão de raça e um cão sem raça definida têm o mesmo valor, e que não se pode colocar preço em uma vida, uma vez que os animais já perderam legalmente o status de coisas. No entanto, esse horizonte ainda é utópico, pois a criação de animais é uma atividade comercial fortemente estabelecida não apenas no Brasil como também em outros países e continentes. Para que a regulamentação seja possível, uma frente parlamentar com segmentos representativos de diferentes setores, com conhecimentos distintos a respeito do assunto, deveria ser mobilizada. A questão deveria ser debatida, a fim de se criar uma política igualitária, sem que nenhum dos lados fosse prejudicado. Após essa etapa, poderia caber aos criadores uma autorregulamentação. Também se poderiam criar critérios de denúncias para o poder público, com o intuito de extinguir os canis de criadores que não obedecessem às normas. Cabe ao médico-veterinário a obrigatoriedade de fornecer o respaldo técnico para os criadores, por meio da responsabilidade técnica, garantindo que todos os animais que se encontram nesses locais tenham alto grau de bem-estar. Referências 01-COURA, K. A crueldade das fábricas de

filhotes. Veja, 2015. Disponível em: <https:// veja.abril.com.br/brasil/a-crueldade-das-fabricas-de-filhotes/>. Acesso em 30 de setembro de 2019. 02-GOTO, M. Chega de fabricar filhotes! Austrália proíbe reprodução comercial de cães e gatos. The Greenest Post, 2018. Disponível em: <https://thegreenestpost.com/ australia-sanciona-lei-que-proibe-comercio-de-animais-em-lojas/>. Acesso em 30 de setembro de 2019. 03-AGÊNCIA AFP. Reino Unido proíbe venda de filhotes de cães e gatos em pet shops. Estadão, 2018. Disponível em: <https://emais. estadao.com.br/noticias/comportamento,reino-unido-proibe-venda-de-filhotes-de-caes-e-gatos-em-pet-shops,70002658030>. Acesso em 30 de setembro de 2019. 04-CULLINANE, S. California limits pets store sales of cats, dogs and rabbits to rescue or shelter animals only. CNN, 2018. Disponível em: <https://edition.cnn.com/2018/12/30/us/ california-dog-cat-rabbit-sales/index.html>. Acesso em 30 de setembro de 2019. 05-HARTMANN, M. Existe restrição à venda de filhotes em pet shops no Brasil? Entenda as regras. GaúchaZH, 2018. Disponível em: <https://gauchazh.clicrbs.com. br/comportamento/noticia/2018/12/existe-restricao-a-venda-de-filhotes-em-pet-shops-no-brasil-entenda-as-regras-cjq791wea0nyv01pinorr9jq2.html>. Acesso em 30 de setembro de 2019. 06-A TRIBUNA ONLINE. Prefeito sanciona lei que proíbe a venda de animais domésticos em Santos. A Tribuna, 2019. Disponível em: <https://www.atribuna.com.br/cidades/santos/prefeito-sanciona-lei-que-pro%C3%ADbe-a-venda-de-animais-dom%C3%A9sticos-em-santos-1.67009>. Acesso em 30 de setembro de 2019. 07-REDAÇÃO. Santos proíbe venda de animais domésticos. Tribuna de Jundiaí, 2019. Disponível em: <https://tribunadejundiai.com. br/mais/mundo-pet/santos-proibe-venda-de-

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27-WARE, W. A. Doenças miocárdicas do gato. In: NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. p. 145-158. ISBN: 978-8535279061. 28-HENZEL, M. O enriquecimento ambiental no bem-estar de cães e gatos. 2014. 53 f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. 29-CURITIBA. Lei nº 13.908, de 19 de dezembro de 2011. Estabelece, no âmbito do Município de Curitiba, sanções e penalidades administrativas para aqueles que praticarem maus-tratos aos animais e dá outras providências. Curitiba: Câmara Municipal, 2011. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br/a/ pr/c/curitiba/lei-ordinaria/2011/1390/13908/ lei-ordinaria-n-13908-2011-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-curitiba-sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias>. Acesso em 21 de dezembro de 2019.

Gabriela Hartmann

MV, CRMV-PR: 16.731, residente UFPR-Curitiba gabrielahartmann96@gmail.com

Daniela Patricia Tozetto

MV, CRMV-PR: 15.400, residente UFPR-Curitiba dany_tozetto@hotmail.com

Laís Giuliani Felipetto

MV, MSc., aluna de doutorado UFPR-Curitiba laisfelipetto@gmail.com

Alexander Welker Biondo

MV, CRMV-PR 6.203, MSc, PhD. DMV/UFPR abiondo@ufpr.br

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Cirurgia Resolução cirúrgica de eventração inguinal em tartaruga terrestre argentina (Chelonoidis chilensis) – relato de caso Surgical treatment of inguinal eventration in argentine terrestrial turtle (Chelonoidis chilensis) – case report Resolución quirúrgica de una eventración inguinal en una tortuga terrestre argentina (Chelonoidis chilensis) – relato de caso

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144 p. 46-50 2020 Juan Carlos Troiano MV, chefe de trabalhos práticos Cátedra de medicina, produção e tecnologia da fauna aquática e terrestre FCV/UBA troianojc@gmail.com

Diego Federico Blanco MV, prof. adj., Cátedra de medicina I FCV/UBA

drdiegoblanco@fvet.uba.ar

Matias Eugenio Sclocco Médico-veterinário Hospital Escola FCV/UBA msclocco@fvet.edu.ar

Francisco Antonio Bava MV, prof., Cátedra de clínica médica e cirúrgica de ruminantes e suínos FCV/UBA franciscobava@arnet.om.ar

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Resumo: A eventração, que pode se produzir em qualquer local do abdômen, é caracterizada pela ausência do saco herniário, em função de rompimento do peritônio, e pela presença da pele. No presente caso se descreve uma eventração inguinal esquerda crônica associada a uma deformação da diáfise femoral do membro direito num exemplar de tartaruga terrestre argentina fêmea de 30 anos de idade. A paciente foi remetida a consulta em função da existência de uma deformação mole e não dolorosa na fossa lombar esquerda e de claudicação de terceiro grau no membro posterior direito. O diagnóstico da presença de eventração de um dos lóbulos da bexiga e de alças de oviduto foi obtido com ajuda de exame ultrassonográfico. Este artigo descreve o procedimento anestésico e a técnica cirúrgica utilizada para a abordagem à cavidade celomática pela fossa lombar esquerda, assim como a resolução do defeito na parede celomática que o animal apresentava. Palavras-chave: cirurgia, hérnia, quelônios, testudines Abstract: Eventration is a separation of the musculoaponeurotic layers of the abdominal wall resulting in protrusion of abdominal contents, and characterized by the absence of the hernial sac and intact skin. We describe a case of chronic left sided eventration associated with deformity of the right femoral fossa in a 30-year-old female Argentine land tortoise. The animal was referred for evaluation of a soft and non-painful deformity of the left lumbar fossa and third degree lameness of the left posterior limb. Eventration of one bladder lobe and oviduct loops was diagnosed by ultrasonography. We describe the anesthetic protocol and the surgical technique used in the treatment with approach to the coelomic cavity through the prefemoral fossa, as well as the resolution of the abdominal wall defect. Keywords: surgical treatment, hernia, chelonia, testudines Resumen: Una eventración puede producirse en cualquier lugar del abdomen, y está caracterizada por la ausencia del saco herniario, generalmente por ruptura del peritoneo parietal, y por la presencia de piel. Este relato presenta el caso de una eventración inguinal izquierda crónica, además de una deformación de la diáfisis femoral del miembro derecho de un ejemplar hembra de una tortuga terrestre argentina de 30 años. La paciente fue derivada para consulta por una deformación blanda indolora en la fosa lumbar izquierda, y claudicación de tercer grado en el miembro posterior derecho. La ultrasonografía permitió diagnosticar la eventración de uno de los lóbulos de la vejiga y alzas del oviducto. Este artículo describe el procedimiento anestésico y la técnica quirúrgica utilizada para el abordaje a la cavidad celomática a través de la fosa lumbar izquierda, así como también la resolución del defecto en la pared abdominal que presentaba el paciente. Palabras clave: cirugía, hernia, quelonios, testudines

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020


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Ortopedia Neurólise química acetabular em um cão com displasia coxofemoral Acetabular chemical neurolysis in a dog with hip dysplasia – case report Neurólisis química de la región acetabular en un perro con displasia de cadera

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144 p. 52-56, 2020

Pierre Barnabé Escodro MV, CRMV-AL: 593 CMV/UFAL-Viçosa

pierre.escodro@vicosa.ufal.br

Marcia Kikuyo Notomi MV, CRMV-AL: 628 mestre, dra., profa. CMV/UFAL-Viçosa

marcia.notomi@vicosa.ufal.br

Raquel C. A. Collado MV, CRMV-AL: 1.103 autônoma

raquelaraujocollado@hotmail.com

Jackellyne L. F. Lins MV, CRMV-AL: 1.208

jackellyne_lins@hotmail.com

Rayane C. M. Nascimento MV, CRMV-AL 1.211 aluna de mestrado PITIMVDR/UFAL

rayanecmedeiros@hotmail.com

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Resumo: O objetivo deste artigo foi relatar o uso de uma suspensão etanólica neurolítica (CNE) para promover a dessensibilização química acetabular em um cão com displasia coxofemoral (DCF). Um macho dogo argentino apresentava havia 120 dias DCF não responsiva aos tratamentos conservadores de rotina, com dor e claudicação. A neurólise química acetabular foi realizada por meio do uso de uma CNE na região acetabular, em aplicação única. Os graus de sensibilidade (GS) e claudicação (GC) foram observados 24, 48, 72 e 96 horas e 15, 30, 60, 90, 120, 150 e 180 dias após o procedimento. O uso do CNE na inervação da cápsula articular do quadril promoveu a abolição da claudicação sete dias após a aplicação, ainda efetiva aos 180 dias. Essa técnica ainda requer estudos mais aprofundados, mas demonstra boas perspectivas como opção terapêutica no controle doloroso causado pela DCF. Palavras-chave: cão, displasia canina coxofemoral, osteoartrite, neurolíticos, tratamento da dor Abstract: We report the use of neurolytic ethanolic suspension (NES) to promote acetabular desensitization in a dog with canine hip dysplasia (CHD). A male Dogo Argentino presented with a 120 days history of pain and lameness not responsive to conservative treatment. Acetabular chemical neurolysis was performed with a single application of NES The degrees of sensitivity and lameness were evaluated at 24, 48, 72 and 96 hours post-injection, and at 15, 30, 60, 90, 120, 150 and 180 days after the procedure. The use of NES in the hip joint capsule resulted in remission of lameness seven days after treatment, and was still effective at 180 days. This technique still requires further study, but demonstrates good prospects as a therapeutic option in the management of pain caused by Canine Hip Dysplasia. Keywords: dog, canine hip dysplasia, osteoarthritis, neurolytic injection, pain management Resumen: El presente artículo tuvo como objetivo relatar la utilización de una suspensión neurolítica de etanol (CNE) para la desensibilización química de la región acetabular en un perro con displasia coxofemoral (DCF). El paciente era un macho de Dogo argentino con DCF que presentaba dolor y claudicación, y que desde hacía 120 días no respondía a los tratamientos conservadores. Se realizó una neurólisis química mediante el uso de CNE en la región acetabular mediante aplicación única. Se observaron los diferentes grados de sensibilidad (GS) y de claudicación (GC) a las 24, 48, 72 y 96 horas, y a los 15, 30, 60, 90, 120, 150 y 180 días después del procedimiento. El uso de CNE sobre la innervación de la cápsula articular de la cadera llevó a la desaparición de la claudicación a los 7 días, siendo todavía efectiva a los 180 días. Esta técnica aún requiere de estudios más profundos, pero muestra buenas perspectivas como opción terapéutica en el control del dolor provocado por la DCF. Palabras clave: perro, displasia coxofemoral canina, osteoartritis, neurolíticos, tratamiento del dolor

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020


ClĂ­nica VeterinĂĄria, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Clínica Erliquiose felina – revisão de literatura Feline ehrlichiosis – literature review Erliquiosis felina – revisión de la literatura

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144 p. 58-67, 2020

Maria G. M. S. Solis MV, CRMV-PR: 9.803 aluna de mestrado P.PGCV/UEL

mariagabrielasolis@yahoo.com

Marcelo de Souza Zanutto MV, CRMV-PR: 7.401 dr. prof. Depto Clín. Vet. – UEL mzanutto@gmail.com

Resumo: A erliquiose é uma doença infecciosa transmitida por carrapatos, causada por uma bactéria da família Anaplasmataceae que pode infectar mamíferos. No Brasil, a erliquiose canina causada pela Ehrichia canis é considerada endêmica em algumas regiões, sendo a sua transmissão feita por meio de vetores, principalmente o Rhipicephalus sanguineus. Já no que se refere aos gatos, essa informação é pouco conhecida, pois faltam pesquisas, padronização de testes diagnósticos e conscientização dos médicos-veterinários sobre a importância da doença nessa espécie; contudo, sugere-se que o curso da enfermidade seja semelhante ao do cão. O presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre a erliquiose felina, relatando a sua etiopatogenia, e os métodos de diagnóstico, tratamento e profilaxia dessa doença. Unitermos: felinos, hematologia, doença infecciosa, zoonose Abstract: Ehrlichiosis is a tick-borne infectious disease caused by a bacterium belonging to the Anaplasmataceae family that can infect mammals. In Brazil, canine ehrlichiosis is caused by Ehrlichia canis, and it is endemic in some regions. The bacterium is transmitted by vectors, and especially the Rhipicephalus sanguineus. In cats the disease process is less understood due to scarce research, and lack of standardization of diagnostic tests. Lack of awareness of veterinarians about the importance of the disease in cats is also a contributing factor to scarce information. The available information suggests that the course of the disease in cats is similar to that of the dog. In this article we present a literature review on feline ehrlichiosis describing etiopathogenesis, methods of diagnostic, treatment, and prophylaxis strategies. Key words: feline, hematology, infectious disease, zoonosis Resumen: La erliquiosis es una enfermedad infecciosa transmitida por garrapatas, causada por una bacteria de la familia Anaplasmataceae y que puede infectar a algunos mamíferos. En Brasil, la erliquiosis canina, causada por Ehrlichia canis y considerada endémica en algunas regiones es transmitida a través de vectores, principalmente el Riphicephalus sanguineus. En los gatos, esta información es poco conocida debido a la falta de investigaciones al respecto, así como también falta estandarizar algunas pruebas diagnósticas y la concientización de los veterinarios sobre la importancia de la enfermedad en esta especie. No obstante, se ha sugerido que la enfermedad en gatos pueda ser semejante a la de los perros. Este trabajo tuvo como objetivo realizar una revisión de la literatura relacionada con la erliquiosis felina, relatando su etiopatogenia, los métodos de diagnóstico, su tratamiento y profilaxis. Palabras clave: felinos, hematología, enfermedad infecciosa, zoonosis

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Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020


ClĂ­nica VeterinĂĄria, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Bem-estar animal

Lacen/PR se torna o primeiro laboratório de saúde pública do Brasil a não usar animais de laboratório

Contextualização sobre a raiva A raiva é uma zoonose negligenciada 1. É uma encefalite viral aguda e progressiva causada pelos danos que o Lyssavirus, da família Rhabdoviridae, provoca no sistema nervoso central dos mamíferos 2. A raiva é considerada uma doença 100% letal, e está presente em todos os continentes do mundo. Nos países em desenvolvimento, principalmente na Ásia e na África, milhares de pessoas morrem anualmente devido a essa encefalite viral, cuja estimativa anual é de 56 mil óbitos/ano 1. No Brasil, atualmente há poucos casos por ano de óbitos humanos por raiva. Entre 2010 e 2018, houve 36 casos de óbitos no país, sendo que desses somente 9 tiveram o cão como animal agressor 3. O que tem favorecido a redução de casos humanos no Brasil é a menor circulação das variantes caninas do vírus e a maior conscientização das pessoas quanto ao risco do contato com animais suspeitos. Outro fator importante no controle da raiva no Brasil é o monitoramento da circulação viral nos ambientes rural, urbano e silvestre, por meio da vigilância laboratorial de animais suspeitos 3. Breve histórico do diagnóstico de raiva animal no Lacen/PR Completando 125 anos de história no dia 21 de dezembro, o Laboratório Central do Estado do Paraná (Lacen/PR) é o segundo laboratório mais antigo do Brasil. Nele são realizados inúmeros exames diagnósticos dos mais variados graus de complexidade, entre os quais o diagnóstico de raiva animal é uma 68

Fernando Gonsales

A substituição da prova biológica com camundongos pelo qPCR para o diagnóstico de raiva animal

das ações do Programa de Vigilância da Raiva no estado. O serviço de diagnóstico de raiva animal no Lacen/PR vem recebendo nos últimos anos em média 4 mil amostras anualmente para diagnóstico. Essas amostras são oriundas de cães e gatos considerados suspeitos de raiva e de todos os mamíferos silvestres encontrados mortos no estado do Paraná, com destaque para o grande volume de amostras de morcegos que o laboratório recebe. Até meados de 2019, o Lacen/PR realizava duas provas de diagnóstico, conforme a recomendação do “Manual de Diagnóstico Laboratorial da Raiva” do Ministério da Saúde 4. Uma delas era a imunofluorescência direta (IFD), metodologia considerada padrão-ouro pelo Ministério da Saúde (MS) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS) 5. Além da IFD, realizava-se o isolamento viral em camundongos, ou prova biológica, que ainda é considerado

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Guilherme Augusto Minozzo – Lacen/PR

Biotério do LACEN/PR, local onde os camundongos eram mantidos e observados no diagnóstico de raiva animal pela técnica de Isolamento Viral com Inoculação em camundongos

Guilherme Augusto Minozzo – Lacen/PR

Gaiola de camundongos inoculados com amostra positiva de raiva na Imunofluorescência Direta (IFD)

um método padrão-ouro pelo MS 4. A OMS reconheceu recentemente o qPCR (reação em cadeia da polimerase em tempo real) como uma técnica válida para o diagnóstico de raiva post mortem em animais 5. Conhecendo-se as inúmeras vantagens que essa metodologia apresenta perante outras técnicas usadas no diagnóstico da raiva, como a IFD, a prova biológica e o isolamento viral em cultivo celular, favoreceu-se a implantação dessa nova metodologia no Lacen/PR. Além disso, a expertise em biologia molecular presente no Lacen/PR e os equipamentos necessários para o PCR em tempo real permitiram que fosse possível realizar a validação da técnica de qPCR e a

sua implantação no serviço de diagnóstico da raiva animal do laboratório. Validação da Técnica de qPCR Antes de começar a se usada na rotina do laboratório no serviço de diagnóstico da raiva, a técnica de qPCR foi validada, ou seja, foi feita uma comparação de resultados de amostras positivas e negativas para a raiva entre três técnicas diferentes: a IFD, a prova biológica e o qPCR. A intenção era garantir que os resultados da técnica a ser implantada em substituição à prova biológica fossem precisos e confiáveis. O protocolo de PCR em tempo real para a raiva e outras lissaviroses foi desenvolvido por Wadhwa e colaboradores em 2017 6. A realização da validação do qPCR no Lacen/PR contou com o apoio técnico e alguns insumos do Centers for Diseases Control and Prevention (CDC/USA). Na validação utilizaram-se amostras positivas e negativas oriundas de diversas espécies animais, obtendo-se resultado de 100% de concordância entre as técnicas. Após a validação do qPCR, essa técnica passou a ser utilizada na rotina do laboratório em substituição à prova biológica, que foi abandonada completamente, proporcionando ao Lacen/PR tornar-se provavelmente o primeiro laboratório de saúde pública do Brasil a não usar a experimentação animal nas atividades de diagnóstico. Vantagens do qPCR A implantação do qPCR para a raiva no lugar da prova biológica proporcionou inúmeras vantagens ao serviço, ao laboratório aos profissionais envolvidos e à sociedade. Destaca-se como uma das principais vantagens, se não a principal, o abandono da experimentação animal no diagnóstico de raiva, deixando-se de usar aproximadamente 26 mil camundongos por ano. Apesar de se respeitarem as condições adequadas para o bem-estar animal, não era permitido afirmar que os animais usados no diagnóstico de raiva não passassem por situações de estresse

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Guilherme Augusto Minozzo – Lacen/PR

Guilherme Augusto Minozzo – Lacen/PR

Bem-estar animal

Gráfico das curvas de amplificação do material genético no RT-qPCR (PCR em tempo real)

e sofrimento. Com essa substituição, o Lacen/PR cumpre as diretrizes de organismos internacionais e do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) 7 no que diz respeito à introdução de técnicas alternativas que substituem a utilização de animais. Além de não usar mais camundongos, o serviço de diagnóstico de raiva animal ganhou em agilidade. O tempo para a liberação dos resultados foi reduzido em 80% (de 26 para 4 dias, em média). Dependendo da urgência do caso, o resultado de qPCR pode sair em até 24 horas, o que nunca aconteceria com a utilização de camundongos. A biossegurança também foi muito favorecida com a implantação do qPCR no lugar da prova biológica, que de modo geral demanda mais contato e manuseio com as amostras de tecido nervoso central. Além de expor o profissional ao risco no momento da inoculação intracraniana dos camundongos, a prova biológica requer cuidados redobrados na manutenção e na higienização das gaiolas dos animais, e demanda que a imunofluorescência direta (IFD) seja repetida em casos suspeitos, para o que é necessário fazer nova coleta do sistema nervoso central (SNC). Essa técnica exige ainda que os animais sejam submetidos a eutanásia após o período de observação, o 70

Aparelho Termociclador ABI 7500 Real-Time PCR System (Applied Biosystems, Foster, CA, USA) utilizado para a técnica de RT-qPCR no LACEN/PR

que gera um desgaste nos profissionais envolvidos. E mais: as gaiolas forradas de serragem e as mamadeiras precisam ser lavadas, e todos os resíduos gerados, somados às carcaças dos animais, precisam ter um destino adequado após serem esterilizados. Além de tudo isso, essa técnica necessita de salas com infraestrutura adequada de ventilação, controle de temperatura e umidade, que precisam ser isoladas do resto do laboratório. Some-se a isso o fato de o PCR em tempo real ter custos menores com insumos do que a prova biológica, gerando uma economia estimada em mais de R$ 235.000,00 por ano para o laboratório. Outra vantagem importante é a capacidade de processamento de amostras do laboratório, que foi ampliada cerca de oito vezes, o que favoreceu também a liberação mais rápida dos resultados. Premiação Expoepi Essa inovação implantada no Lacen/PR foi oficializada na 16ª edição da Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças (Expoepi). O Lacen/PR recebeu o primeiro lugar pela “Melhor experiência na área: enfrentamento das doenças negligenciadas ou em eliminação como problema da saúde pública” com o trabalho “QPCR em

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substituição à prova biológica para o diagnóstico da raiva animal: uma contribuição à saúde pública, à saúde do trabalhador e ao bem-estar animal”. Referências

1-HAMPSON, K. ; COUDEVILLE, L. ; LEMBO, T. ; SAMBO, M. ; KIEFFER, A. ; ATTLAN, M. ; BARRAT, J.  ; BLANTON, J. D. ; BRIGGS, D. J.  ; CLEAVELAND, S. ; COSTA, P. ; FREULING, C. M.  ; HIBY, E. ; KNOPF, L. ; LEANES, F. ; MESLIN, F. X. ; METLIN, A. ; MIRANDA, M. E. ; MÜLLER, T. ; NEL, L. H. ; RECUENCO, S. ; RUPPRECHT, C. E. ; SCHUMACHER, C. ; TAYLOR, L. ; VIGILATO, M. A. N. ; DUSHOFF, J. J. Estimating the global burden of endemic canine rabies. PLoS. Neglected Tropical Diseases, v. 9, n. 5, p. e0003709, 2015. doi: 10.1371/journal. pntd.0003786. 2-FOOKS, A. R. ; BANYARD, A. C. ; HORTON, D. L.  ; JOHNSON, N. ; McELHINNEY, L. M. ; JACKSON, A. C. Current status of rabies and prospects for elimination. Lancet, v. 384 n. 9951, p. 1389-1399, 2014. doi: 10.1016/S01406736(13)62707-5. 3- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Raiva: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 4-MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de diagnóstico laboratorial da raiva. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. 108 p. ISBN: 978-85-334-14549. 5-WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO expert consultation on rabies: third report. Geneva: WHO Press, 2018. 183 p. ISBN: 9789241210218. 6-WADHWA, A. ; WILKINS, K. ; GAO, J. ; CONDORI, R. E. C. ; GIGANTE, C. M. ; ZHAO,

H. ; MA, X. ; ELLISON, J. A. ; GREENBERG, L. ; VELASCO-VILLA, A. ; ORCIARI, L. ; LI, Y. A PanLyssavirus Taqman real-time RT-PCR assay for the detection of highly variable Rabies virus and other Lyssaviruses. PLOS Neglected Tropical Diseases, v. 11, n. 1, p. e0005258, 2017. doi: 10.1371/journal.pntd.0005258. 7-MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES. Normativas do CONCEA para produção, manutenção ou utilização de animais em atividades de ensino ou pesquisa científica. 3. ed. Brasília: CONCEA, 2016. Guilherme Augusto Minozzo

MV, CRMV-PR: 11.924 Aluno de doutorado PBCM/UFPR Lab. Central do Estado do Paraná guilhermeaminozzo@gmail.com

Thaila Francini Corona

MV, CRMV-PR: 5.912, MSc. Lab. Central do Estado do Paraná thaila.corona@sesa.pr.gov.br

Elaine Cristina Rodrigues da Cruz Técnica de Laboratório Lab. Central do Estado do Paraná ecristinarodriguesdacruz@gmail.com

Alexander Welker Biondo

MV, CRMV-PR 6.203, MSc, PhD. DMV/UFPR abiondo@ufpr.br

Irina Nastassja Riediger

Farmacêutica, CRF-PR: 14.295, MSc, PhD Chefe da Divisão dos Lab. de Epidemiologia e Controle de Doenças Lab. Central do Estado do Paraná irinariediger@sesa.pr.gov.br

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Bem-estar animal

Proteção Animal Mundial – mobilizando o mundo há 50 anos para proteger os animais Organização não governamental trabalha há mais de 50 anos em prol do bem-estar animal

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Proteção Animal Mundial

ficou até 2014. Logo no início de sua atuação no país, a organização teve um papel destacado em um emblemático resgate. Em 1993, a equipe da Proteção Animal Mundial, por meio de uma ação civil pública, conseguiu a soltura do golfinho Flipper, o último golfinho marinho que vivia em cativeiro

Celebração do Dia Mundial da Raiva em São Miguel Paulista, São Paulo, SP, em parceria com a secretaria de Saúde Proteção Animal Mundial

Introdução Criada em Londres, em 1981, a Proteção Animal Mundial nasceu como World Society for the Protection of Animals (WSPA), a partir da fusão de duas organizações internacionais de proteção animal: a Federação Mundial de Proteção Animal (World Federation for the Protection of Animals – WFPA), criada em Scheveningen (Haia, Holanda), em 1950, durante o Congresso Mundial de Proteção Animal (International Animal Protection Congress), e a Sociedade Internacional de Proteção Animal (International Society for the Protection of Animals – Ispa), fundada em 1959, em Washington, DC, Estados Unidos. Apesar de ter tido vários nomes, a Proteção Animal Mundial sempre teve um só objetivo: acabar com a crueldade contra os animais e garantir seu bem-estar. Presente em mais de 50 países, a atuação global da organização começou com a Operação Gwanba, em 1964, quando uma equipe ajudou a salvar mais de 10 mil animais atingidos por inundações no Suriname. Hoje, a organização possui escritórios em 14 países e projetos com diferentes espécies animais e em variadas situações. No Brasil, a Proteção Animal Mundial começou a atuar em 1989 – ainda como WSPA –, apoiando organizações de Santa Catarina na luta contra a farra do boi. Com a crescente demanda de uma organização que olhasse com atenção para a causa animal, não demorou muito para o primeiro escritório brasileiro ser aberto. Em 1991, graças à colaboração de algumas ONGs brasileiras parceiras, a sede foi aberta em um pequeno espaço em São Paulo, mudando-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde

Rosangela Gebara, gerente de animais em comunidades, conhecendo um dos cães comunitários de Conselheiro Lafaiete, cidade que ganhou o Prêmio Cidade Amiga dos Animais em 2019

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Equipe de desastres durante queimadas no Acre, na Região Amazônica Proteção Animal Mundial

no país. Graças aos esforços coletivos de vários setores, e em especial da Associação dos Amigos do Golfinho Flipper, o animal foi transferido de Santos – onde ficava exposto no Aquário Municipal – para a cidade de Laguna, em Santa Catarina, mesmo local em que ele havia sido capturado vários anos antes. O norte-americano Ric O’Barry (ex-treinador de golfinhos que mudou sua trajetória e passou a readaptar cetáceos cativos à liberdade) foi contratado pela organização para fazer a reabilitação do animal, que foi transportado em um tanque, e sua posterior reinserção na natureza. Toda a ação contou com o apoio logístico da Associação Catarinense de Proteção aos Animais – Acapra. A organização também foi pioneira na preocupação com o manejo humanitário da população de cães e gatos nas cidades. Com esse objetivo, a entidade organizou a 1a Conferência Internacional Pet Respect, em 1995, trazendo pela primeira vez ao nosso país conceitos hoje já consagrados, como, por exemplo, castração em massa para controlar a população de cães e gatos de forma efetiva, educação em guarda responsável, registro e identificação de animais, vacinação maciça de animais contra a raiva e outras políticas. Anos antes, em 1990, a ONG também ajudou a produzir o “1º Guia internacional de manejo de populações caninas”, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) – guia esse que norteia até hoje as ações governamentais e as legisla-

Proteção Animal Mundial

Proteção Animal Mundial

João Almeida, gerente de vida silvestre, e equipe realizando ação de limpeza de redes fantasmas em Florianópolis, SC

Doações recebidas pelos bombeiros durante queimadas no Acre

ções acerca do tema, definindo os programas de esterilização e a educação em guarda responsável como únicas medidas efetivas para controlar as populações de forma humanitária e sustentável. A organização trabalhou ainda em uma campanha contra as touradas, mobilizando cerca de 50 cidades da França e da Espanha em torno da proibição dessa prática cruel. A primeira vitória importante veio após muitos anos de luta, na região da Catalunha, em 2010, graças aos esforços de organizações que trabalharam em uma coalizão composta por mais de 10 ONGs. Já nos anos 1990, a campanha intitulada “Liberdade” ajudou a liberar ursos que eram explorados como dançarinos na Grécia, na Turquia e na maior parte da Índia. A organização continua, ainda hoje, exercendo grande pressão contra essas práticas por meio de incentivo a legislações

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Proteção Animal Mundial

Proteção Animal Mundial

Bem-estar animal

Roberto Vieto, gerente de vida silvestre na organização, realiza ação de conscientização com as crianças da Comunidade Ribeirinha Nova Esperança, no Amazonas, para sensibilizar os ribeirinhos a não matarem o boto-cor-de-rosa, mamífero ameaçado pela pesca predatória

que proíbem essa atividade. Em 2010 foi lançada a campanha “Coleiras Vermelhas”, que mobilizava as pessoas para instruírem e pressionarem os governos locais, demonstrando que a forma mais efetiva e humanitária de controlar a raiva era por meio da vacinação em massa. Hoje, a organização continua trabalhando em países como China, Quênia e Serra Leoa, ajudando esses países a implementar programas gratuitos de vacinação e manejo de cães e a abdicar da prática de matar animais para o controle da doença. Há décadas a organização promove campanhas em prol de mudanças efetivas e duradouras, sempre baseadas em evidências e dados científicos. “Mobilizamos organizações internacionais em torno da proteção animal há muitos anos. Como WSPA, atuamos junto à Comunidade Europeia desde os anos 1980, tendo adquirido status consultivo da Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 1981 e também, já nos anos 1990, com representação na Comissão Europeia. Somos hoje a única organização dedicada ao bem-estar com interlocução junto à ONU”, frisa Rosangela Gebara, gerente de programas veterinários da Proteção Animal Mundial. Atualmente, a organização age em diversas frentes: • Animais em Comunidade – que trabalha levan-

Rosangela Gebara, gerente de animais em comunidades, trabalhando durante as Olimpíadas Rio 2016, no manejo humanitário das populações de gatos que viviam nos estádios e nas áreas olímpicas

do soluções humanitárias aos municípios para lidarem com a crescente população de cães e gatos e a educação em guarda responsável aos tutores; • Animais em Situação de Desastre – que trabalha com governos para que animais de estimação e de fazenda sejam incluídos nos planos de contingência de desastres e dá suporte e treinamento a brigadas de resgate para o melhor manejo de animais em situações de risco; • Vida Silvestre – que trabalha pelo fim da indústria exploratória de turismo com animais silvestres e contra o seu tráfico e manutenção como animais de estimação; e • Animais de Fazenda – que prega práticas que apresentem maiores índices de bem-estar para os animais de produção, como, por exemplo, frangos e porcos. “Nosso trabalho em prol dos animais é constante e cada vez mais necessário. Apesar de sermos uma organização com atuação global há quase 50 anos, ainda há muito a fazer pelos animais. Governos, sociedade civil, grandes corporações, proprietários, fazendeiros e tutores ainda necessitam dar a atenção devida e colaborar de maneira efetiva e sustentável para que consigamos colocar os animais na agenda global, trazendo-lhes amparo, proteção e garantindo a saúde e o bem-estar de todos, para que assim possamos evoluir enquanto sociedade”, finaliza Rosangela Gebara. j

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6 formas de prevenir o abandono e ajudar os animais 1.

Pense bem antes de levar um animal para casa

Cães e gatos vivem em média 15 anos e precisam de atenção, carinho, passeios e visitas regulares ao veterinário. Quando envelhecer, ele precisará de cuidados especiais e de muita paciência e amor. Esteja preparado para ajudá-lo até o final de sua vida. Priorize sempre a adoção em vez da compra!

2.

Procure orientação de profissionais para prevenir doenças e evitar problemas de comportamento

Problemas de saúde e alterações comportamentais (que são as principais causas de abandono) podem ser prevenidas com cuidados simples. Procure orientação do médico veterinário ou de um profissional especializado em comportamento animal. Cães e gatos devem ser socializados e ensinados quando filhotes.

3.

Castre seu cão e gato e evite crias e comportamentos indesejados

Muitos comportamentos indesejados relacionados aos hormônios sexuais, como marcação por urina, brigas e fugas, podem ser atenuados pela castração. Cadelas entram no cio a cada 6 meses e gatas, a cada 3 meses e podem gerar vários filhotes por ano. Não existem lares responsáveis para todos esses animais. Castrar é um ato de amor.

4.

Certifique-se de que possa levar seu animal quando mudar de casa e nunca o abandone por motivo de mudança ou viagem

Parece mentira, mas muitas pessoas abandonam seus animais quando viajam ou mudam de casa. Isso é crime e pode ser evitado com planejamento e responsabilidade.

5.

Ajude organizações que resgatam animais e promovem adoção

Se você não pode adotar um animal, ajude as organizações que, incansavelmente, resgatam, castram e buscam lares responsáveis para os animais. Faça doações em dinheiro, ração ou brinquedos. Você também pode doar seu tempo – passeando ou brincando com animais que estão nos abrigos - ou oferecer sua casa como lar temporário.

6.

Denuncie quando testemunhar um abandono e ajude o animal que foi abandonado

Se você vir algum animal sendo abandonado, fotografe ou filme o ato e denuncie o infrator na delegacia. Ajude o animal que foi vítima do abandono. Resgate-o e o abrigue com segurança em sua casa. Leve-o ao veterinário para ser castrado e vacinado e busque um tutor responsável para adotá-lo. Não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar a vida de uma animal!

LEMBRE-SE: ABANDONO de ANIMAS é crime previsto na Lei Federal 9605/98. Denuncie! Saiba como em www.protecaoanimalmundial.org.br/denuncia

Seja um tutor responsável 10 dicas para ser um campeão na guarda responsável

Castre seu animal, seja fêmea ou macho. Com isso, você evita o câncer do aparelho reprodutor e de mama, além de crias indesejadas.

Passeie com seu cão diariamente usando coleira e guia. Nunca solte seu animal na rua. Animais soltos sem a supervisão do tutor podem ser atropelados e estão vulneráveis a acidentes.

A partir do segundo mês de vida, cães e gatos devem tomar três doses das vacinas polivalentes (uma por mês). A vacina contra raiva deve ser aplicada aos quatro meses de idade em ambas as espécies. A vacinação deve ser repetidas todos os anos, em doses únicas.

Visite o médico veterinário regularmente. Vermifugue o animal uma vez por ano e utilize produtos adequados contra pulgas e carrapatos a cada três meses.

Nunca abandone o seu animal devido a viagens ou mudanças. Evite deixar os cães sozinhos em casa por longas horas.

Ofereça alimentação de boa qualidade e água fresca em potes limpos. Verifique a ração específica para cada espécie e idade e a quantidade necessária.

Mantenha a higiene do animal, mas não exagere nos banhos. Cães devem ser escovados diariamente e banhados a cada 15 ou 20 dias com água morna e xampus apropriados. Já os gatos só devem ser banhados quando necessário.

Procure socializar seu filhote com outros animais e seres humanos desde a segunda semana de vida. Assim você evita agressividade ou medo.

Reserve um espaço amplo e limpo, abrigado do sol, da chuva e do vento. Nunca prenda o animal em corrente.

Lembre-se: maus-tratos e abandono de animais são crimes previstos na Lei Federal 9.605/98. Cuide do seu animal, nunca abandone o seu melhor amigo!

Identifique seu animal com plaqueta e microchip. Informe-se com o seu veterinário ou com a Prefeitura.

Denuncie abandono e maus tratos. Saiba como pelo site

▶ protecaoanimalmundial.org.br/denuncia

A ONG cede pôsteres como esses para clínicas ou cidades. Solicitar pelo email rosangelaribeiro@worldanimalprotection.org.br Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Bem-estar animal Proteção Animal Mundial

Lembre-se, cada um pode fazer a sua parte na defesa dos animais. principalmente os médicosveterinários que possuem o conhecimento sobre a ciência do bem-estar animal e estão em contato direto com os animais e seus tutores. Eduque, conscientize as pessoas para cuidarem melhor de seus animais, para denunciarem maus-tratos e para serem multiplicadores do seu conhecimento. Se voce quiser ajudar a Proteção Animal Mundial e trabalhar como voluntário em alguma das ações, escreva um email para contato@worldanimalprotection.org.br. Leia também os relatórios da ONG, fique por dentro das campanhas, siga suas redes sociais: Instagram (@protecaoanimalmundial) e Facebook (Proteção Animal Mundial) ou acesse o site: www. worldanimalprotection.org.br.

A 1a edição do Prêmio Cidade Amiga dos Animais, que identificou e reconheceu as melhores iniciativas em manejo de população de cães e gatos na América Latina, foi realizada pela PAM em 2019. Veja cobertura na edição 143 https://www.revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/premio-cidade-amiga-dos-animais-da-protecao-animal-mundial/

PREMIAÇÃO

(PARA ORIENTADO E ORIENTADOR)

1

LUGAR

2

LUGAR

MARÇO ABRIL 15 2020 17 2020

3

LUGAR

premio@premierpet.com.br

Sean J. Delaney.

O Prêmio vai contemplar a melhor revisão bibliográ�ca, relato de caso ou relato cientí�co sobre nutrição de cães e gatos. Podem participar alunos de graduação, pós-graduação em medicina veterinária ou zootecnia e pro�ssionais da área, sob a orientação de um pro�ssional de livre escolha de cada candidato.

CRONOGRAMA INSCRIÇÕES ABERTAS ATÉ Até 23h59 (horário de Brasília)

+ INFORMAÇÕES premierpet.com.br

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RESULTADO

Divulgado no site da PremieRpet®

ACVIM Forum - The American College of Veterinary Internal Medicine 2020 Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos. (Inscrição, Passagem Aérea, Hospedagem, Transporte e Alimentação).

41º Congresso Brasileiro da Anclivepa Maceió/AL (Inscrição, Passagem Aérea, Hospedagem, Transporte e Alimentação).

1 Kindle + 1 e-book Applied Veterinary

REGULAMENTO

www.premierpet.com.br/6premio

Clinical Nutrition - Andrea J. Fascetti e

premierpet

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

premierpet


ClĂ­nica VeterinĂĄria, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Bem-estar animal

Introdução A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença crônica infecciosa de caráter zoonótico, causada por protozoário do gênero Leishmania, pertencente à família Trypanosomatidae. O dimorfismo do gênero caracteriza-se pela forma intracelular amastigota do parasita no hospedeiro vertebrado e pela forma flagelada promastigota presente no trato intestinal do inseto vetor. No Brasil, a Leishmania (Leishmania) infantum é a espécie mais comumente envolvida na transmissão da doença. O inseto vetor é um flebotomíneo pertencente à ordem Diptera (mesmo grupo das moscas, mosquitos e borrachudos), e a espécie Lutzomyia (Lutzomyia) longipalpis é considerada a principal transmissora 1,2. Na área urbana, o cão é a principal fonte de infecção 3, e desde a década de 1980 a doença deixou de ser considerada tipicamente rural e passou a ser diagnosticada em grandes centros urbanos 4. Em 2016 o Ministério da Agricultura (Mapa), juntamente com o Ministério da Saúde (MS), liberou o uso da miltefosina no tratamento da LVC 5, medicamento esse que, apesar de não promover a cura clínica, pode trazer benefícios em relação à qualidade de vida e ao bem-estar do paciente. Até esta data, os animais diagnosticados como positivos deveriam ser obrigatoriamente submetidos à eutanásia, independentemente de apresentarem ou não sinais clínicos e de estarem ou não em área endêmica. Mesmo com a liberação do medicamento há mais de três anos, o Ministério da Saúde ainda recomenda a eutanásia de todos os cães positivos como única medida de controle dos reservatórios 6, apesar de esse procedimento ser ineficaz 7 ou pouco efetivo como controle da doença 8,9. Em países europeus onde o tratamento já é realizado há muitos anos e onde a eutanásia 78

Larissa Ferrari

Controle da leishmaniose visceral canina – um enfoque no bem-estar animal

Alterações mucocutâneas e oftálmicas em cão com leishmaniose visceral

de cães infectados não é obrigatória, pode-se observar a reposta clínica positiva dos pacientes quando corretamente tratados e acompanhados por profissional veterinário 10,11. Outro fato que chama a atenção é que não há correlação entre o tratamento dos cães e o aumento do número de casos humanos, visto que os países que permitem o tratamento da LVC há muito tempo não figuram entre os que apresentam maior incidência de casos humanos confirmados 12. Epidemiologia Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2017 foram reportados 22.145 novos casos de leishmaniose visceral humana, 94% dos quais concentrados em sete países: Brasil, Etiópia, Índia, Quênia, Somália, Sudão do Sul e Sudão. Considerando somente o continente americano, a OMS afirma que entre os anos de 2001 até 2017 foram registrados 59.769 novos casos de leishmaniose visceral humana, uma média de 3.516 por ano. Importante res-

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saltar que em torno de 96% (57.582) deles foram reportados no Brasil 12. Dados recentes levantados pela OMS mostram também um aumento do número de casos de leishmaniose visceral humana de 26,4% nas Américas em 2017, como consequência do aumento de 28,5% (914) dos casos ocorridos no Brasil em comparação ao ano anterior (2016) 12,13. Quanto aos casos de leishmaniose visceral canina, os números divulgados restringem-se a determinados estados ou municípios, e não são encontrados dados oficiais quantificando os casos totais no Brasil ou na América do Sul. Sabe-se que o número de cães infectados é muito maior que o número de casos clínicos confirmados, dificultando, do ponto de vista epidemiológico, o controle da doença 14. No cão, o período de incubação pode variar de 3 meses a 1 ano, mas na média fica entre 3 e 6 meses 6. Quando visíveis, os sinais clínicos são inespecíficos, sendo os principais: emagrecimento progressivo (78,16%), lesões cutâneas (75,14%), apatia (73,68%), alopecia (69,10%), linfadenomegalia generalizada (67,15%), lesões em ponta de orelha (44,24%), hepatomegalia (41,13%), esplenomegalia (41,03%), alopecia periocular (40,25%), onicogrifose (40,15%) e hiperqueratose de focinho (38,40%) 15. Casos não notificados e infecções subclínicas tendem a mascarar a real importância epidemiológica dessa doença na América Latina 16. Sabendo que nas áreas urbanas são os cães os principais reservatórios da doença, e considerando que há relação entre a ocorrência da doença no cão e no homem 17, torna-se de vital importância o papel do médico-veterinário na instituição e no acompanhamento do tratamento animal. Discussão Devido ao caráter crônico e multissistêmico, a leishmaniose visceral é uma doença que afeta drasticamente o bem-estar do animal, e seu potencial zoonótico não só preocupa como também assusta os tutores e outros

membros do núcleo familiar. Ela pode ser fatal para pessoas e animais se não for devidamente diagnosticada e tratada, e já está devidamente comprovada a relação entre as medidas de controle efetuadas na população canina e o declínio da prevalência da infecção humana 18. Nesse contexto, o papel do médico-veterinário como agente promotor de saúde no correto e rápido diagnóstico da LVC é vital para o animal e pode influenciar positivamente o controle da doença em seres humanos. A baixa especificidade dos sinais clínicos, assim como o baixo número de pacientes atendidos na rotina dos veterinários em áreas não endêmicas, faz com que muitas vezes o diagnóstico seja tardio 2 ou até mesmo não se realize. Portanto, nesses locais, a importância da anamnese detalhada e do levantamento dos locais de moradia do paciente torna-se ainda mais evidente. Ressalta-se a importância da conscientização de médicos-veterinários de que o diagnóstico da doença pode ser feito de maneira rápida e com custo acessível, visto que técnicas simples como a biópsia aspirativa por agulha fina (Baaf) proporcionam diagnósticos seguros. Essa técnica, de fácil realização, baixo custo e rápido resultado, pode ser um grande aliado no diagnóstico precoce da doença, respondendo em muitos casos por mais de 60% dos diagnósticos 15, mas depende de profissional treinado para a visualização da Leishmania nas lâminas. As técnicas recomendadas e fornecidas pelo Ministério da Saúde para o diagnóstico de cães são duas: triagem por imunocromatografia com teste rápido Dual Path Platform (TR DDP® leishmaniose visceral canina) e ensaio imunoenzimático (Elisa) para confirmação dos cães sororreagentes ao teste TR 6,19-21. Os resultados apenas qualitativos (reagente/não reagente) podem ser insuficientes para o estabelecimento do diagnóstico definitivo de LVC 22, e suas consequências podem ser desastrosas, como a realização de eutanásia em animal não infectado ou a manutenção de

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Bem-estar animal animal positivo sem tratamento e acompanhamento. É necessário rever o protocolo diagnóstico oficialmente preconizado e incluir a Baaf como um dos testes recomendados. Por ser um exame de rápido resultado e alta sensibilidade, a Baaf poderia auxiliar como uma ferramenta a mais nessa etapa essencial do enfrentamento da LVC. Já é incompreensível a manutenção da prática da eutanásia em animais positivos como controle da leishmaniose visceral, porém pensar que qualquer animal ainda pode, nos dias de hoje, ser submetido a eutanásia sem estar infectado é algo inaceitável, principalmente considerando as diferentes possibilidades e ferramentas diagnósticas que nós, profissionais veterinários, temos disponíveis. Quanto mais rápido e acurado for o diagnóstico, mais cedo se poderão desencadear ações de controle epidemiológico e tratamento animal. A recomendação do Ministério da Saúde no sentido de submeter os cães infectados a eutanásia como forma de controle 6 da doença vai contra não apenas as evidências científicas que demonstraram a ineficácia de tal medida 4,7,9,23, como contra todo e qualquer preceito de bem-estar animal. A ineficácia dessa prática já é conhecida, e deve-se, entre outros fatores, ao fato de ocorrer rápida substituição da população canina suscetível e ao longo tempo entre infecção, diagnóstico e eutanásia 9,23, assim como aos altos custos com pessoal habilitado para trabalhar com vigilância epidemiológica 4. Sugere-se também que a influência da eutanásia de animais positivos restringe-se a mudanças na estrutura da população de cães, muitas vezes com implicações epidemiológicas graves (cães mais jovens e mais suscetíveis) 8. Em pesquisa realizada com profissionais da saúde sobre a implementação de políticas públicas atuais de controle da doença em grandes centros urbanos, ficou evidente que um dos principais problemas consiste na recusa do proprietário em permitir a eutanásia dos 80

animais positivos. Além disso, a recomendação de eutanásia traz problemas para o relacionamento entre os profissionais de saúde e a comunidade envolvida, e as interferências judiciais muitas vezes impedem que os profissionais realizem a eutanásia 24. Ora, a realidade atual nos mostra que nem todos os cães positivos são submetidos a eutanásia, seja por decisão judicial, por realização de tratamento recentemente autorizado ou por falta de diagnóstico. De que adiantaria continuar recomendando essa prática quando se sabe que o número de animais positivos submetidos a tal procedimento nunca chegou nem chegará aos 100%? A eutanásia de cães positivos diminui o tempo de exposição do agente infeccioso ao vetor, porém pode-se obter o mesmo resultado com o tratamento desses cães, com consequente diminuição da carga parasitária 4,25 e poupando a população canina. A segurança e a eficiência da associação entre miltefosina e alopurinol no tratamento da LVC 26 foi demonstrada pela manutenção dos parâmetros renais e hepáticos, pela redução da proteinúria e pelos efeitos colaterais suaves e autolimitantes 27. A eficácia terapêutica dessa associação pode ser observada também em casos de leishmaniose canina com manifestações atípicas, como massa nasal 11 e lesão em língua 10. No Brasil, o uso do alopurinol no tratamento de LVC é proibido pela Portaria Interministerial n. 1426/2008, assim como o de qualquer outro medicamento de uso humano ou não registrado no Mapa para esse fim. A restrição de ferramentas terapêuticas é um fator que dificulta ainda mais o trabalho do profissional veterinário no enfrentamento da doença e prejudica de maneira drástica e definitiva a qualidade de vida do paciente. Se devemos aprimorar continuamente nossos conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício dos animais, do homem e do meio ambiente 28, como poderíamos justificar, nos dias de hoje, a utilização de apenas um medicamento no tratamento da

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LVC? Apesar de a doença ser multissistêmica, sabe-se que em diversos casos basta a associação entre terapia leishmanicida (miltefosina) e leishmaniostática (alopurinol) para minimizar ou reverter todos os sinais clínicos da doença e promover conforto, mesmo que temporário, ao animal. Mesmo considerando somente o princípio leishmanicida, o fato de não ser necessária a instituição de tratamento específico para cada sinal clínico manifestado (como protocolo dermatológico para alopecia, lesões cutâneas ou hiperqueratose) facilita o convencimento do tutor da simplicidade e da viabilidade da terapia, apesar dos altos custos atualmente praticados no Brasil. Tratar adequadamente os animais positivos e acompanhá-los após o término da medicação não só propicia conforto e qualidade de vida ao paciente como também permite um adequado controle da doença. O uso de coleiras impregnadas com inseticidas como técnica de controle foi testado em mais de 200 cães e apresentou eficácia de 61,8% a 88,3% na prevenção da infecção por L. infantum 29. Outro recente estudo confirmou que o uso dessas coleiras é a medida mais efetiva no controle da doença (proporção de animais e pessoas contaminadas, sintomáticos ou não). Demonstrou-se que o efeito da coleira foi mais eficiente que a eutanásia de cães positivos e que a vacinação de cães suscetíveis 18. Cada vez mais a sociedade, em especial na América Latina, rejeita a eutanásia como controle da doença e demanda soluções que respeitem o bem-estar animal 16. A carga de sofrimento que a eutanásia traz para tutores, familiares e profissionais envolvidos não deve ser menosprezada, e os dados científicos a respeito do insucesso dessa técnica como medida de controle deve ser fator determinante para sua descontinuidade. Ações voltadas à educação da população e dos profissionais da saúde, troca de informações entre serviços de saúde veterinários, humanos e autoridades de saúde pública,

manejo ambiental, uso de coleiras nos cães e correto diagnóstico e tratamento podem ter efeitos mais duradouros e seguros no controle da doença 18. A busca por um consenso global no que diz respeito ao controle e ao tratamento da leishmaniose visceral poderia evitar sofrimento humano e animal, e questões como a fiscalização e os custos do tratamento em países em desenvolvimento precisam ser mais discutidas e mais bem avaliadas por profissionais da área 25. No 13th Symposium of the Companion Vector-Borne Diseases World Forum, realizado em 2018 no Reino Unido, consolidou-se o conceito de que a eutanásia não é um método eficaz no controle da leishmaniose visceral. O assunto foi discutido por pesquisadores da área, e ficou evidente a inutilidade da eutanásia de cães infectados, sejam eles sintomáticos ou não, como medida de controle de reservatório ou redução de risco da leishmaniose visceral em seres humanos 7. É necessário e inevitável alinhar os protocolos e recomendações no Brasil às práticas internacionais acerca da LVC para baixar os índices da doença. Precisamos mais do que nunca rever os métodos diagnósticos oficialmente recomendados, retirar a eutanásia das práticas de controle, aumentar a lista de medicamentos autorizados para tratamento da LVC e manter atividades educativas de posse responsável e manejo ambiental. k

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Larissa Dantas Roeder Ferrari MV, CRMV-PR: 5.644 UFPR larissadr@gmail.com

Renato Silva de Souza MV, CRMV-PR: 4.539 prof. UFPR renatosousa@ufpr.br

Rita de Cassia Maria Garcia

MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. Depto. de Medicina Veterinária – UFPR ritamaria@ufpr.br

Paloma Rose Pinheiro

MV, CRMV-PR: 6.412 UFPR palloma.w.rose@gmail.com

Camila Lopes Ribeiro

MV, CRMV-SC: 8.571 camila.ribeiro.vet@gmail.com

Felipe da Silva Dezidério

MV, CRMV-PR: 14.759 Aluno de mestrado, PPGCS – PUC/PR fsdeziderio@hotmail.com

Giovana Laís Ruviaro Tuleski MV, CRMV-PR: 4.731 UFPR gtuleski@yahoo.com.br

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Eventos

Nos dia 9 e 10 de novembro de 2019, em Belo Horizonte, MG, ocorreu o XX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina. Há 20 anos o mesmo grupo que organiza o Simpósio vem fomentando a pesquisa e a informação científica. Desde 2011, o grupo constituiu o Brasileish e segue promovendo a pesquisa e a orientação ao manejo clínico de leishmanioses na medicina veterinária do Brasil. A criação do Brasileish foi incentivada pelo contato de brasileiros com o LeishVet, grupo europeu de especialistas em leishmanioses, nas edições do WorldLeish, congresso mundial de leishmanioses. Desde então vários membros do LeishVet já vieram ao Brasil ministrar palestras nos simpósios do Brasileish. Este ano, o convidado internacional foi o francês Patrick Bordeau, da École Nationale Vétérinaire, Agroalimentaire et de l’Alimentation de Nantes-Atlantique (Oniris), Nantes. Sua palestra tratou a importância da leishmaniose felina, assunto que faz parte das diretrizes do LeishVet. Ao falar da leishmaniose canina, ele destacou a inclusão do alopurinol no tratamento de cães. Na tabela de estadiamento da enfermidade, conforme diretrizes do Leishvet, o alopurinol é recomendado tanto nos casos graves quanto nos moderados (http://www.leishvet.org/ wp-content/uploads/2018/09/ PO-Guidelines.pdf). A leishmaniose felina foi abordada pela dra. Ivete Lopes de Mendonça, da UFPI. Em sua palestra, ela destacou que na região de Teresina, PI, muitos tutores, por conta da leishmaniose, substituíram a guarda de cães pela de gatos. Em 18/2/2019, ela presidiu a banca de defesa de doutorado de Joilson Ferreira Batista, que teve como título “A leishmaniose visceral em gatos domésticos (Felis catus) em área endêmica no Brasil”: Segundo a dra. Mendonça, “foram exami84

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

XX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina

Abertura do XX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina l

nados 307 animais, que foram submetidos a anamnese para verificar a ocorrência de sinais clínicos relacionados à leishmaniose, coleta de sangue para exame hematológico, quantificações bioquímicas, sorologia para retrovírus e para leishmaniose, aspirado de linfonodo poplíteo e medula óssea e raspado de pele com lesão para confirmar a infecção por meio da pesquisa direta de leishmania. A leishmania isolada dos gatos foi submetida a estudos moleculares (PCR-RFLP e sequenciamento) para identificação das espécies, e 12 dos animais infectados foram submetidos a xenodiagnóstico para verificar a capacidade de infectarem o vetor. Um dos gatos com leishmaniose visceral (LV) e um cão saudável foram utilizados para testar a possível transmissão da doença do gato para o cão. O estudo revelou que os gatos se infectam por L. infantum, e observou-se uma prevalência de 6,5% no exame parasitológico, 5,5% no Elisa e 9,1% no TR DPP®. Também se observou que os gatos infectados tinham ampla disseminação em todas as zonas demográficas de Teresina. Quanto às alterações clínicas, as mais frequentes nos animais com LV foram linfonodo aumentado, alopecia, emagrecimento, lesões e nódulos na pele. No hemograma, observou-se que os gatos com L. infantum apresentaram valores de hemácias e hematócrito bem inferiores quando compara-

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Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

Patrick Bordeau do LeishVet, convidado internacional

dos aos animais não infectados. Na identificação das espécies de Leishmania dos 20 gatos infectados observou-se que as características moleculares dos parasitos eram compatíveis com a espécie L. infantum. Além disso, o sequenciamento apontou não haver diferença entre os parasitos isolados de gatos e os de cães publicados no GenBank. Dos 12 animais com L. infantum submetidos ao xenodiagnóstico, 8 infectaram o vetor (67%), e a transmissão da LV do gato para o cão foi confirmada. Esse é o primeiro estudo sobre os aspectos epidemiológicos da LV em gatos no Nordeste brasileiro, onde se encontrou elevada prevalência da doença nos gatos de Teresina-PI. Além disso, se demonstrou que os animais infectados por L. infantum são capazes de infectar o vetor biológico Lutzomyia longipalpis e transmitem a infecção a outro indivíduo suscetível, tornando a doença um problema de saúde pública, visto que a LV é uma zoonose, e a leishmania encontrada nos gatos tem características genéticas semelhantes às da doença isolada de cães e de seres humanos”. A dra. Mendonça publicou em 2017 um artigo no qual destacou a presença de gatos infectados em Teresina, PI: “Leishmania infantum in domestic cats from the municipality of Teresina, state of Piauí, Brazil” (https://doi.org/10.1017/ pao.2017.1/). Veja também o artigo “Leishmaniose felina – revisão de literatura”, publicado na revista Clí-

nica Veterinária n. 122 (https:// www.revistaclinicaveterinaria. com.br/blog/produto/revista-clinica-veterinaria-n-122/). O controle populacional foi outro tema em evidência no evento. André Luis Soares da Fonseca, membro fundador do Brasileish, destacou que as ninhadas de cadelas com leishmaniose felina já nascem infectadas: “Uma cadela com leishmaniose pode gerar 24 filhotes infectados por ano! A castração precisa ser vista como medida de saúde pública”. Outra palestrante, a dra. Camila Vannucchi, apresentou dados comprovando que a castração precoce não era saudável para os animais. Como o controle populacional é extremamente importante, é difícil excluir a castração precoce de algumas regiões. Porém, em animais que vivem em ambiente restrito, a programação de cirurgia contraceptiva pode ser feita a critério do médico-veterinário. É sensato ter em mente que a castração precoce é encontrada em regiões carentes, visando o controle da população animal, mas também em função de algumas leis regionais que obrigam os criadores a comercializarem animais já castrados. É muito importante que os clínicos veterinários estejam atentos aos avanços da leishmaniose, que acomete tanto cães quanto gatos. Em face de evidências científicas nacionais e internacionais e com base na experiência clínica dos médicos-veterinários membros do Brasileish, foram elaboradas diretrizes para o diagnóstico, estadiamento, tratamento e prevenção da leishmaniose canina, disponíveis no endereço http:// brasileish.com.br/assets/files/ DIRETRIZES_Brasileish_2.pdf. Em 2021 o WorldLeish será realizado na Colômbia (http:// www.worldleish.org/). Arthur de Vasconcelos Paes Barretto CRMV-SP 6.871 integrativa.vet.br@gmail.com

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Eventos

A reabilitação animal é setor em expansão, impulsionado por casos de obesidade, animais geriatras, traumas, raças condrodistróficas e enfermidades degenerativas ou infecciosas e neoplasias. Por isso, a reabilitação costuma envolver especialistas de diversas áreas – fisioterapia, neurologia, ortopedia, acupuntura, quiropraxia, ozonioterapia, fitoterapia, oncologia, homeopatia e dietorerapia. A Anfivet (Associação Nacional de Fisioterapia Veterinária) realizará 12 webnários em 2020, além do 1º Congresso Internacional Anfivet, dentro do Congresso Brasileiro da Anclivepa de 2020 (CBA Maceió, de 20 a 22 de maio). O CBA Maceió terá palestras de Ronaldo Casimiro da Costa (neurologia), Monica Vicky Bahr Arias (neurologia), Richard Filgueras (neurologia), Jean Joaquim (acupuntura e medicina regenerativa), Carol Haddad (acupuntura, fitoterapia e dietoterapia), Andrigo Barboza de Nardi (oncologia), Marcella Sanches (fisiatria), Bruno Lins (ortopedia), Bruno Minto (ortopedia), Rodrigo Luis (ortopedia) e Hélio Autran de Morais (geriatria). Confira a programação no site do congresso – https://www.cbamaceio. com.br/ ! Na região sudeste, na segunda semana de abril, acontece a Feira SuperPet e os Congressos VetScience. Os congressos deste ano têm parceria com o IBVET, e 15 salas de especialidades, duas delas dedicadas à reabilitação: a NOR Science (neurologia, ortopedia e reabilitação) e Onco Science (oncologia). Medicina Veterinária Integrativa De 21 a 23 de maio, em São Paulo, SP, será realizado o CIMSI, Congresso Internacional de Medicina e Saúde Integrativa: área humana e veterinária. Entre os eventos programados estão o III Congresso Internacional de Medicina Veterinária Integrativa, o I Congresso Internacional de Medicina e Saúde Integrativa (Humana), o V Simpósio Brasileiro de Medicina Veterinária Integrativa, o I Simpósio Brasileiro de Medicina 86

Annette Shaff

Reabilitação em pequenos animais

Fisioterapia em piscina une tratamento e diversão

e Saúde Integrativa (Humana), o II Simpósio de Oncologia Integrativa (Humana & Veterinária), o II Simpósio de Nutrição Funcional e Medicina Funcional (Humana & Veterinária) e o II Congresso Brasileiro de Ozonioterapia. Acupuntura No início de maio, em Botucatu, SP, terá lugar o XI Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária, organizado pela Abravet (Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária). No dia 1º de maio haverá dois cursos teórico-práticos: sobre Gua Sha, técnica da Medicina Tradicional Chinesa; e sobre quiropraxia, neurologia funcional e applied kinesiology. No final do dia 3, haverá uma atividade pós-congresso com o convidado internacional Francesc Minguell. Neurologia O segundo semestre começa com os Simpósios Internacionais da ABNV (Associação Brasileira de Neurologia Veterinária), de 14 a 16 de agosto, em Curitiba, PR. Este ano, os convidados internacionais da ABNV são: Peter Dickinson (neuro-oncologia), e Massimo Baroni, do European College of Veterinary Neurology (ECVN), com foco em neuroimagem avançada e neurocirurgia. Arthur de Vasconcelos Paes Barretto CRMV-SP 6.871 integrativa.vet.br@gmail.com

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My Happy Pet by


Tecnologia da informação

Quando analisamos o uso que os veterinários fazem da informática no seu dia a dia, principalmente na clínica de pequenos animais, a primeira coisa que salta aos olhos é que poderiam aproveitar muito melhor as possibilidades dessa ferramenta. Meu objetivo neste espaço é mostrar as melhores maneiras de incluir a informática no trabalho clínico, e também de que modo a tecnologia pode ser útil e até fascinante como recurso adjuvante na prática. Sou veterinário, fui clínico de pequenos e grandes animais no início de minha carreira e dediquei os últimos 25 anos a trabalhar com informática, boa parte dos quais exclusivamente para o mercado veterinário. Prontuário clínico informatizado Ninguém duvida da importância de usar a informática na prática clínica, pelos ganhos de produtividade, maior agilidade e aumento da lucratividade que ela propicia. Isso é senso comum, mas sabemos também que a maioria dos sistemas de gestão são pouco intuitivos e acabam se tornando uma dor de cabeça para os gestores. Muitos profissionais abrem o computador apenas para cadastrar dados do tutor, do animal e mais algumas informações referentes ao atendimento clínico. Trata-se do benefício mais evidente do uso da informática: o acesso rápido ao histórico clínico de animais que retornam à clínica, para examinar dados como evolução de peso, histórico de vacinas e tratamentos anteriores. Esse é o uso mais comum que se faz dos programas disponíveis, e já proporciona grande economia de tempo, mas corresponde a apenas uns 10% do potencial da ferramenta. Aumentando a lucratividade da operação Uma primeira sugestão para começar a aproveitar melhor as ferramentas de gestão informatizada é passar a mensurar o retorno 88

Santiago Nunez Iniguez / DepositPhotos

Informática na medicina veterinária

do investimento. Para isso, basta acompanhar dois números: o ticket médio e o tempo médio do atendimento clínico. O ticket médio é um indicador de desempenho essencial que fornece o valor médio gasto por cliente na clínica durante um determinado período. Para calcular o ticket médio, basta dividir o faturamento total pelo número de clientes do período. No entanto, esse indicador deve ser interpretado com base em um histórico de medições, pois um valor isolado não diz nada sobre o andamento dos negócios. Ao analisarmos a evolução do ticket médio e do tempo médio de cada atendimento clínico, podemos ter uma visão melhor do desempenho financeiro da clínica e, a partir de então, traçar metas e promover mudanças para alcançá-las. O objetivo é aumentar a lucratividade, que será evidenciada com o aumento do valor do ticket médio e a redução do tempo médio do atendimento clínico. Gestão de documentos sem papel: maior agilidade A chave para alcançar maior lucratividade na operação é automatizar as tarefas. Uma das mais frequentes dos clínicos é a gestão de documentos, seja para fazer uma simples

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prescrição, armazenar um laudo de exame complementar ou elaborar uma autorização para algum procedimento específico, como uma cirurgia ou uma internação. Mas os sistemas não só dispensam o uso de papel, como também ajudam a elaborar os documentos. Para exemplificar, vamos analisar o seguinte fluxo: O veterinário finaliza a consulta, e clica no botão “Prescrever”. É aberta então uma lista com os medicamentos cadastrados; ele seleciona um deles e clica no botão “Calcular a dose”. O sistema consulta então o peso do animal, as informações indicadas pelo fabricante e abre uma janela com uma sugestão de prescrição. Já estarão na tela: logotipo da clínica, cabeçalho, rodapé, dados do animal, tutor, indicação de uso, dados do veterinário e sua assinatura. Bastará fazer os ajustes necessários e salvar. WhatsApp, e-mail ou SMS: adeus, n impressora A prescrição é gerada no formato PDF e armazenada no prontuário do animal. Mais um clique, e o veterinário está pronto para enviar a prescrição para o tutor, usando o WhatsApp Web. Ele confirma o telefone com o cliente e

envia a mensagem. Em alguns segundos o tutor verifica que a mensagem já está em seu celular, localiza o contato de sua farmácia de manipulação de preferência, reenvia a mensagem para solicitar o preparo, e pronto! Esta é apenas uma das vantagens, talvez a mais óbvia, mas o ganho de produtividade é muito maior quando consideramos o armazenamento de laudos, fotografias, elaboração de atestados de saúde e termos de autorização e consentimento. A informática promoveu uma mudança no comportamento das pessoas, e na medicina veterinária também. Na verdade, as mudanças ainda estão em curso. Este espaço busca oferecer a você, médico-veterinário, clínico, gestor ou estudante de medicina veterinária, algumas sugestões para aproveitar melhor os recursos digitais na sua prática clínica, e também para poder acompanhar de perto os lançamentos, funcionalidades e novos recursos que a informática proporciona para o setor. Marcelo Sader Consultor em TI para o mercado veterinário NetVet Tecnologia para Veterinários www.netvet.com.br Marcelo@netvet.com.br

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Gestão

o

Mais um ano se inicia, com novos planos e expectativas, novos rumos e novos desafios, novos resultados, novos clientes e novas relações de trabalho, novas sabedorias e experiências, novos fornecedores e colaboradores, enfim, tudo novo, encarado também com novo otimismo. Mas surge a pergunta: será que todos esses “novos” são apenas pensamentos ou são desejos profundos de sentir o novo? Todos nós fomos “enfaticamente treinados” para pensar e considerar o pensamento como a grande força de concretização, de materialização. Como resultado, pensamos o tempo todo: acordamos pensando, passamos o dia pensando e dormimos pensando, e repetimos isso semanas, meses e anos a fio. O resultado é que quase todos ficamos esgotados mental e fisicamente, pois as coisas nem sempre acontecem do jeito que pensamos, e isso nos leva a pensar e repensar tudo de novo, o tempo todo. O ano de 2020 promete uma intensificação da “força espiritual”. Que tal, então, começar 2020 de outra maneira, com uma nova abordagem? Que tal procurar uma conexão e uma harmonização verdadeiras com a vibração e a energia do universo? Pode parecer um grande desafio – e na verdade é. Implica mudar nossa sintonia habitual e ter a coragem de assumir que somos seres poderosos, capazes de grandes transformações, do bem e para o bem do todo. Esse é o único caminho para colher a verdadeira prosperidade. O segredo é muito simples: harmonizar as forças do pensamento e do sentimento. Na realidade, a grande força de materialização é o sentimento, pelo seu poder infinitamente maior de gerar energia vibracional e magnética de atração em comparação com a força do pensamento. Ao aliar estas duas forças, pensamento e sentimento, alinhando-as numa só direção, potencializamos ainda mais o sucesso da materialização, da prosperidade. O pensamento é um grande simulador, e nos permite imaginar o que desejamos e simular vários desejos ao mesmo tempo. Já o sentimento é a reação despertada em nós por aquilo que desejamos realmente experimentar em nossa vida. Então, va90

Pixabay Skitterphoto

A poderosa força do sentimento no trabalho

mos sentir esse desejo intensamente, com intenção verdadeira. Mas, para que esse desejo sincero e verdadeiro seja despertado, precisamos de um instrumento que permita nossa conexão com as forças vibracionais do universo. Essa é a chave de tudo, o grande segredo: o amor. Retornando à nossa conversa inicial sobre o novo cenário que se apresenta para 2020, a boa notícia é que já temos à nossa disposição um mecanismo único e prático para exercitar e experimentar essas forças. Chama-se trabalho. Na sua concepção, o trabalho é a expressão máxima de todo o nosso ser espiritual, mental e físico; é a forma de expressar o nosso talento e a nossa capacidade de mostrar quem somos e como lidamos com o mundo. O trabalho é também a forma que temos de servir ao próximo, de gerar satisfação, alegria e felicidade para aqueles que recebem o trabalho que oferecemos. Em resumo: a construção do novo ao nosso redor pede que se comece introduzindo o amor no trabalho, colocando intenso foco em sentir e irradiar uma atitude baseada em servir, com a intenção sincera de gerar a felicidade do próximo. É assim que podemos iniciar a construção do novo ao nosso redor e fazer com que o ano de 2020 seja marcado de fato pela prosperidade. Celso Morishita Gestor empresarial espiritualista celsomorishita@yahoo.com

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Lançamentos

Vetnil lança diurético Furolisin® para pets

Cada vez mais comprometida com o desenvolvimento e a inovação de produtos que possam auxiliar no tratamento de cães e gatos, a Vetnil, uma das maiores empresas brasileiras do setor veterinário, anuncia um produto diferenciado no mercado, o Furolisin®, um diurético à base de furosemida com ação principal no segmento ascendente da alça de Henle. Segundo Carla Coiro, coordenadora de Desenvolvimento de Produtos Pet da Vetnil, a furosemida atua inibindo o transporte de sódio e água, assim como a reabsorção de sódio e cloreto na porção ascendente da alça, levando também à perda de potássio. “É um medicamento valioso em situações de emergência, pois tem ação rápida e curta duração. Além disso, tem propriedades vasodilatadoras, aumentando a perfusão renal e diminuindo a pré-carga cardíaca.” O Furolisin ® surge no mercado como uma opção e uma ferramenta muito importante dentro da rotina clínica, já que até o momento não existia um diurético oral à base de furosemida para cães e gatos na indústria pet. “Além disso, a Vetnil optou por disponibilizar quatro apresentações diferentes, dentre as quais comprimidos contendo 10  mg, 20 mg, 40 mg ou 80 mg de furosemida, visando atender as várias faixas de peso existentes, ou seja, animais de pequeno, médio e grande porte”, explica Carla. “Outro ponto de destaque é que o Furolisin® conta com embalagens finais do produto na forma de cartucho com uma cartela contendo 10 comprimidos e um display com 12 cartelas contendo 10 comprimidos. Essa segunda opção, conhecida também como embalagem hospitalar, é bastante interessante nos casos em que há a necessidade do uso crônico da furosemida, ou seja, em situações que requeiram uma utilização mais prolongada, como ocorre nos casos de animais cardiopatas”, destaca Carla. 92

Divulgação

Indicado para cães e gatos, o novo produto tem quatro apresentações compatíveis com os diferentes portes de animais, facilitando desse modo a indicação por parte dos veterinários e a administração por parte dos tutores

É importante ainda ressaltar que todo medicamento exige cuidados de conservação e administração para não perder a eficácia e não deve ser usado em animais sem a devida orientação do médico-veterinário. Sobre a Vetnil Fundada há 25 anos pelo médico-veterinário dr. João Carlos Ribeiro, a Vetnil, empresa 100% nacional, atua em pesquisas e no desenvolvimento de produtos para a saúde e o desempenho de animais de companhia e equinos, estando entre as líderes de mercado nesses segmentos no Brasil. A companhia também exporta as suas soluções para diversos países e tem acumulado premiações importantes, como 100 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil (revista Época, 2006), 30 Melhores Empresas para a Mulher Trabalhar (revista Época, 2006), 200 Pequenas e Médias Empresas que Mais Crescem no Brasil (revista Exame, 2015), Melhores do Agronegócio – As 10 Melhores do Setor Saúde Animal (“Anuário do Agronegócio 2015”, revista Globo Rural), além de ter sido vencedora na categoria Produtos Veterinários do “Anuário do Agronegócio” da revista Globo Rural de 2016 e na categoria Saúde Animal do “Anuário do Agronegócio” da revista Globo Rural de 2018. Vetnil www.vetnil.com.br

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Vet agenda Acupuntura

Cardiologia

Cirurgia

14 de março

Início em fevereiro

18 e 19 de janeiro

Introdução à Acupuntura Veterinária e à Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC) http://bit.ly/2QDlx1U

Curso de Especialização em Cardiologia Veterinária http://bit.ly/2FdSPPMcardiologia/

Cirurgia de Tecidos Moles e Ortopedia em Aves Silvestres e Exóticas http://bit.ly/2HBEbDA

São Paulo, SP

São Paulo, SP

14 de fevereiro

São Paulo, SP

2 a 3 de maio

I Curso de cardiologia no paciente endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br

Botucatu, SP

XI Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária www.abravet.com.br

4 de abril

São Paulo, SP

Anatomia

24 a 26 de janeiro

Jaboticabal, SP

IX Curso Prático de Anatomia Topográfica Cirúrgica de Pequenos Animais http://abre.ai/aCpI

Animais selvagens

18 e 19 de janeiro

São Paulo, SP

Cirurgia de Tecidos Moles e Ortopedia em Aves Silvestres e Exóticas http://bit.ly/2HBEbDA 7 e 8 de março

São Paulo, SP

I Simpósio de Nefrologia & Cardiologia Veterinária da Universidade Cruzeiro do Sul http://bit.ly/2SLLezX 21 de janeiro

Clínica

São Paulo, SP

São Paulo, SP

Módulo Práticas Operatórias Básicas na Clínica – CIPO http://bit.ly/2tqhNcd 18 de abril

Olinda, PE

Anestesiologia em Pequenos Animais – Intensivo http://bit.ly/2Zu7FOL

Bem-estar animal

19 e 22 de julho

Jaboticabal, SP

VIII Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ambiência e bem – estar Animal http://abre.ai/aCpH

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Belo Horizonte, MG

14 a 16 de maio

26 e 27 de junho

17 e 18 de abril

São Paulo, SP

15 de fevereiro

28 de fevereiro

3º Curso de Aperfeiçoamento em Clínica Médica de Cães e Gatos http://bit.ly/2QlRrB0

21 e 22 de março

Bases do atendimento emergencial em caes e gatos http://bit.ly/2QfC6St

Módulo Ortopedia Cirurgias da Coluna Vertebral - CIPO http://bit.ly/37vPs2W

Oftalmologia em Animais Silvestres e Exóticos http://bit.ly/2Q4JBvJ

Intensivo em Anestesiologia em Selvagens e Exóticos http://bit.ly/2LgwSSO

Belo Horizonte, MG

Curso de Ultrassonografia Oftálmica http://bit.ly/34KRgDL

Jaboticabal, SP

São Paulo, SP

1 de fevereiro

São Paulo, SP

Olinda, PE

13 de março de 20 a 11 de junho de 21

7 e 8 de março

Atualização em Cirurgia Toracoabdominal de Pequenos Animais http://bit.ly/2JlC1YC

25 de janeiro

27 e 28 de março

Anestesiologia

São Paulo, SP

Princípios da Técnica Cirúrgica I http://bit.ly/37vPs2W

Ultrassonografia Abdominal de Cães e Gatos http://bit.ly/32yGUFj

São Paulo, SP

25 de janeiro

Prova de Seleção para Aprimoramento 2020 – Centro Veterinário Butantã http://bit.ly/36jud4c

Olinda, PE

Intensivo em Anestesiologia em Selvagens e Exóticos http://bit.ly/2LgwSSO

São Paulo, SP

Curso de Ultrassonografia em Animais Não-Convencionais http://bit.ly/2K6y0ZA

São Paulo, SP

Módulo Miscelâneas Cirúrgicas Torácicas e Abdominais - CIPO http://bit.ly/2ZLT8uE

Diagnóstico por Imagem 6 a 10 de janeiro

Jaboticabal, SP

Curso de Ultrassonografia em Pequenos Animais http://bit.ly/2QOia8y 10 a 12 de janeiro

Jaboticabal, SP

III Curso de Ultrassonografia na Reprodução Animal Pequenos Animais http://bit.ly/2u8p1Si Início em 4 de fevereiro

Rio de Janeiro, RJ

São Paulo, SP

Clínica Médica e Terapêutica de Aves http://bit.ly/2SN7v0q

Curso de especialização em Gestão de Risco de Emergências e Desastres em Saúde Pública http://bit.ly/2PAuPym

30 de outubro a 21 de novembro

4 e 5 de abril

V Curso de endocrinologia clínica de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

Ultrassonografia de Rotina na Clínica de Pequenos Animais http://bit.ly/2QVPIld

22 a 26 de abril

São Paulo, SP

São Paulo, SP

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020


ClĂ­nica VeterinĂĄria, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Vet agenda 10 e 11 de julho

16 de maio

São Paulo, SP

São Paulo, SP

I Curso de imagem no paciente endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br

Introdução à Fisioterapia Veterinária http://bit.ly/2FfL4sF

Fisiatria

Endocrinologia

28 e 29 de março

Indaiatuba, SP

14 de fevereiro

São Paulo, SP

Introdução à Fisiatria Animal http://bit.ly/2SNG0DK

I Curso de cardiologia no paciente endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br

1 de fevereiro

Campinas, SP

13 e 14 de março

São Paulo, SP

Workshop: Gestão de Clínicas Veterinárias e Pet Shop http://bit.ly/2ZIlvK6

I Curso de urologia e nefrologia no endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br

18 de abril

São José, SC

15 e 16 de maio

São Paulo, SP

I Curso de emergências endócrinas http://www.endocrinovet.com.br 17 de junho

São Paulo, SP

I Curso de endocrinopatias raras de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br 10 e 11 de julho

São Paulo, SP

I Curso de imagem no paciente endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br

CONMVET – Conexões em Medicina Veterinária http://bit.ly/2uaXgIN

Medicina veterinária de desastres

Início em 4 de fevereiro

Rio de Janeiro, RJ

Curso de especialização em Gestão de Risco de Emergências e Desastres em Saúde Pública http://bit.ly/2PAuPym

Medicina veterinária integrativa

1 a 3 de maio

Botucatu, SP

11 e 12 de setembro

São Paulo, SP

XI Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária http://www.abravet.com.br/

I Curso de nutrição e nutrologia de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

21 a 24 de maio

São Paulo, SP

30 de outubro a 21 de novembro

São Paulo, SP

V Curso de endocrinologia clínica de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

Emergência

Congresso Internacional de Medicina e Saúde Integrativa Área Humana e Veterinária http://cimsi.com.br

São Paulo, SP

Emergência em Pequenos Animais Intensivo http://bit.ly/2NKrOZM

Medicina veterinária legal

10, 17, 24 e 31 de mar., 7, 14 e 28 de abr.

Barra Mansa, RJ

Curso de Medicina Veterinária Legal: Suas Implicações na Saúde Única e Bem-Estar Animal http://bit.ly/35jz7Nk

Nutrologia

11 e 12 de setembro

São Paulo, SP

I Curso de nutrição e nutrologia de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

Neurologia

8 de fevereiro a 26 de julho

Jaboticabal, SP

VI Curso Teórico-Prático de Neurologia e Neurocirurgia de cães e gatos http://bit.ly/2sI4GmB 7 e 8 de novembro

Goiânia, GO

Curso internacional de neurologia de cães e gatos secretaria@anclivepa.com.br

Nefrologia

13 e 14 de março

São Paulo, SP

I Curso de urologia e nefrologia no endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br 4 de abril

São Paulo, SP

I Simpósio de Nefrologia & Cardiologia Veterinária da Universidade Cruzeiro do Sul http://bit.ly/2SLLezX

Oftalmologia

27 a 29 de março

São Paulo, SP

Curso Medicina Tradicional Chinesa Veterinária: O que mais há para fazer? http://bit.ly/2ZUAv85

8 de fev. de 20 a 17 de jan. de 21

Medicina veterinária do coletivo

8 e 9 de junho

Curso de Liberação Miofascial Veterinária - Pequenos Animais http://quirotherapy.com/cursos-2/

III Encontro Nacional sobre animais abandonados em campi universitários http://bit.ly/2sICGze

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Simpósio Nordestino em Medicina Felina https://doity.com.br/simpocat2020

Oftalmologia em Animais Silvestres e Exóticos http://bit.ly/35j8Crh

8 e 9 de fevereiro e 14 e 15 de março

São Paulo, SP

Recife, PE

13 de novembro

São Paulo, SP

28 e 29 de março

Fisioterapia

Gestão

Medicina veterinária felina

17 a 19 de junho

Petrolina, PE

Ortopedia

Jaboticabal, SP

V Curso de Aprimoramento em Ortopedia de Cães e Gatos http://bit.ly/36luWBZ 13 a 15 de fevereiro

São Paulo, SP

Curso Intensivo Prático de Ortopedia - Básico http://bit.ly/2MS9nkK

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020


Vet agenda 15 a 17 de outubro

25 e 27 de abril

29 de março 1 de abril

Curso Intensivo Prático de Ortopedia - Avançado www.cipo.vet.br

Feipet 2020 – Feira de Negócios para Animais de Estimação http://www.feipet.com.br

LAVC - 2020 http://bit.ly/2FaFV5d

São Paulo, SP

Oncologia

Novo Hamburgo, RS

Início em fevereiro

30 de setembro a 2 de outubro

São Paulo, SP

São Paulo, SP

Curso de Especialização - Oncologia http://bit.ly/2PxxBUW

Animal Health South America https://www.animalhealthsa.com

22 a 24 de junho

1 de outubro

1º Comov – Congresso Medvep Internacional de Oncologia Veterinária http://abre.ai/aCpQ

II Simpósio Flor de Lótus Reabilitação Veterinária http://flordelotusacupuntura.com.br

Bento Gonçalves, RS

Pós-graduação

Fevereiro de 2020 a dezembro de 2021

São Paulo, SP

Curso de Especialização (pós-graduação lato sensu) em Nutrologia de Cães e Gatos

http://bit.ly/2MQQ1MQ

Semanas acadêmicas

28 e 29 de março, 4 a 9 de abril

São Paulo, SP

Agenda internacional 13 e 14 de janeiro

San Isidro, Peru

Diplomado en Medicina Clínica Felina http://bit.ly/39Brl4z

Lima, Peru

17 e 18 de abril

Bilbao, Espanha

XIX Congreso de Especialidades Veterinarias https://www.avepa.org/index.php/186 11 a 14 de junho

Maryland, EUA

ACVIM Fórum 2020 http://bit.ly/37qW6r9 15 a 6 de junho

Barcelona, Espanha

1st European Congress of Veterinary Endoscopy and Image-guided Interventions http://bit.ly/2FgHej8

30 de janeiro a 1 de fevereiro

2 a 4 de julho

Annual Scientific Meeting http://bit.ly/2DANxNr

http://sacavet.com.br/

XXV Congreso de la Sociedad Española de Cirugía Veterinaria http://bit.ly/2qUAILo

11a 15 de maio

20 a 23 de fevereiro

São Paulo, SP

Luga, Espanha

XXX Semana Acadêmica de Medicina Veterinária (Sacavet) - FMVZ/USP

São Paulo, SP

Columbus, EUA

Sevam Expo 2020 - UAM

Midwest Veterinary Conference 2020 https://www.mvcinfo.org

http://abre.ai/aCpR 14 a 17 de maio

22 de fevereiro

Araçatuba, SP

XXVI Semana de Estudos em Medicina Veterinária (Semev - FMVA)

semev.fmva@unesp.br

Urologia

13 e 14 de março

São Paulo, SP

I Curso de urologia e nefrologia no endocrinopata http://abre.ai/aCpT

Feiras & Congressos

Califórnia, EUA

2020 Winter Conference http://bit.ly/2tuRhhy

2020 VCS Annual Conference http://bit.ly/37vCW3s

Vila Real, Portugal

Congress of the European Society of Veterinary and Comparative Nutrition http://bit.ly/2MRrBTb

7 e 8 de março

23 a 26 de setembro

13 e 14 de março

19 a 22 de março

Tóquio, Japão

World Veterinary Cancer Congress https://www.wvcc2020.com/

22 de março

26 a 29 de março

I Simpósio Cearense de Medicina Veterinária de Pequenos Animais startcursosjua@gmail.com

2020 Annual Conference of the Veterinary Cancer Society (VCS) http://abre.ai/aCpY

98

Flórida, EUA

Ontario Association of Veterinary Technicians Conference http://www.oavt.org/home

VETScience Academy – Evento Online http://bit.ly/36nhJbA

Fortaleza, CE

15 a 17 de setembro

17 e 19 de setembro

2020 Wildlife and Exotic Animal Symposium http://bit.ly/2QlQF74

I Congresso de Cardiologia Veterinária de Uberaba http://bit.ly/36s1PwU

Cartagena de Indias, Colômbia

Congreso VEPA Nacional 2020 https://cccartagena.com

Ontario, Canadá

Online

Uberaba, MG

23 a 25 de julho

5 a 7 de março

Califórnia, EUA

9 a 13 de março

Valencia, Espanha

Tóquio, Japão

Varsóvia, Polônia

WSAVA Congress https://bit.ly/2m0UaTN 20 a 24 de outubro

Sydney – Austrália

9th World Congress of Veterinary Dermatology http://www.vetdermsydney.com 21 a 24 de outubro

Washington, DC, EUA

2020 ACVS Surgery Summit https://bit.ly/2kyNE6a

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 144, janeiro/fevereiro, 2020

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Clínica Veterinária, Ano XXIV, n. 142, setembro/outubro, 2019

99



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