Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Nefrologia
Doença renal crônica em cães e gatos. Estudo retrospectivo e revisão da literatura
Oftalmologia
Hamster-chinês (Cricetulus griseus) submetido a enucleação – relato de caso
O suporte técnico da medicina veterinária de desastres na forçatarefa das enchentes no estado do Espírito Santo
Indexada no Web of Science – Zoological Record, no Latindex e no CAB Abstracts www.revistaclinicaveterinaria.com.br
Índice Conteúdo científico
Editora Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br
Oftalmologia
Publicidade Alexandre Corazza Curti midia@editoraguara.com.br Editoração eletrônica Editora Guará Ltda. Projeto gráfico Natan Inacio Chaves mkt2edguara@gmail.com Gerente administrativo Antonio Roberto Sanches admedguara@gmail.com Capa Funny fluffy ginger cat Olesya Kuznetsova/Shutterstock
Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.
Hamster-chinês (Cricetulus griseus) submetido a enucleação – relato de caso Chinese hamster (Cricetulus griseus) submitted to enucleation – case report Hamster chino (Cricetulus griseus) sometido a enucleación – relato de caso
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Nefrologia
Doença renal crônica em cães e gatos – estudo retrospectivo e revisão da literatura Chronic kidney disease in dogs and cats – retrospective study and literature review Enfermedad renal crónica en perros y gatos – estudio retrospectivo y revisión de literatura
Conteúdo editorial Medicina veterinária de desastres
O suporte técnico da medicina veterinária de desastres na força-tarefa das enchentes no estado do Espírito Santo
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Aiuká – parceria que deu certo
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Editora Guará Ltda. Rua Adolf Würth, 276, cj 2 Jardim São Vicente, 06713-250, Cotia, SP, Brasil Central de assinaturas: (11) 98250-0016 cvassinaturas@editoraguara.com.br Gráfica Gráfica e Editora Pifferprint Ltda.
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Medicina veterinária do coletivo
Manejo do complexo respiratório felino em abrigos Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020
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Enfrentamento de surto de Tunga penetrans em comunidade rural, Campo Magro, PR
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Passear com cães é mais que um exercício
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Tecnologia da informação
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Gestão
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Vet agenda
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Como informatizar sua clínica – da escolha do sistema à análise de resultados
A poderosa força do sentimento no trabalho
Cursos, palestras, semanas acadêmicas, simpósios, workshops, congressos, em todo território nacional e por todo o planeta
Bem-estar animal 80 Fogos de artifício – os danos associados ao espetáculo
Crédito das imagens easter eggs ao longo desta edição a - Johannes Plenio - pg. 6 b - PublicDomainPictures - pg. 13 c - 44kmos - pg. 21 d - Volodymyr Goinyk - pg. 22 e - Guillaume Hankenne - pg. 25 f - Francesco Ungaro - pg. 26 g - Diego Madrigal - pg. 28 h - Matt Alex - pg. 31 i - Matthew Lowe - pg. 32 j - Franck Camhi - pg. 35 k - Koriolis - pg. 36
l - miniformat65 - pg. 44 m - Kostenlose Nutzung - pg. 51 n - EcoPrint - pg. 54 o - mir - pg. 65 p - Aloïs Moubax - pg. 81 q - Bankmoo Everyday - pg. 88 r - Damsea - pg. 92 s - Lone Jensen - pg. 94 t - Stephen Mcsweeny - pg. 95 u - Khoroshunova Olga - pg. 96 v - Bartosz Bartkowiak - pg. 98 Errata
No artigo Neurólise química acetabular em um cão com displasia coxofemoral publicado na edição n.144, de jan/fev 2020, nas páginas 52 a 56, faltou no texto que os tutores do animal estavam cientes de que a técnica empregada não é reconhecida em pequenos animais e que os mesmos deram seu consentimento para esse tratamento experimental no cão. Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020
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a
Editorial
25 anos da revista Clínica Veterinária
Completar 25 anos de existência é motivo para celebrar e também para refletir. A revista Clínica Veterinária é fruto dos sonhos, das visões e contribuições dos autores e dos consultores da revista, de todos os nossos leitores – colegas médicos-veterinários e estudantes de veterinária –, dos professores e das faculdades de medicina veterinária, dos anunciantes e também de todos aqueles que do lado de cá cuidaram da gestão, produção e construção desse percurso, de maneira constante ou como colaboradores eventuais, compondo um rico e complexo ambiente de profissionais que gira em torno dos animais, objeto de nossa dedicação. O cotidiano é a medida unitária desses 25 anos. É no dia a dia, em sua sequência quase imperceptível, em seu acúmulo ao longo de meses e anos, que todos os envolvidos exercitaram sua competência, enfrentaram e venceram seus desafios, aprimoraram seu aprendizado e deram sua valiosa contribuição. Por tudo isso, a todos o nosso agradecimento. Os sentimentos mais presentes em nós neste momento são o reconhecimento de seu valor e a gratidão por sua participação. Em 25 anos tivemos a oportunidade de aprender e evoluir juntos. Em equipe e individualmente, tanto os que deixaram sua marca e partiram para outros projetos como os que trouxeram o sopro da renovação, sempre temos o que celebrar. A melhor maneira de fazê-lo é seguir sendo gratos por tudo o que conseguimos realizar e pelas oportunidades que sempre se oferecem para aprender com nossas experiências. Que essa gratidão nos ajude a continuar melhorando a qualidade de nosso trabalho e de nossos esforços para o 6
desenvolvimento da medicina veterinária e para o bem-estar animal. Para marcar a data, estamos preparando diversas ações e conquistas agregadoras ao longo do ano, oferecendo mais opções para compartilhar conteúdos e informações. A partir de março liberamos na íntegra o download das edições de 1 a 100 de nosso acervo digital (http://bit.ly/1-100rcv). Nosso blog está renovado (https://www.revistaclinicaveterinaria. com.br/blog), e é um espaço ideal para atualizações e informações de veiculação ágil. A VetAgenda está mais integrada a entidades e organizadores de eventos, oferecendo nosso apoio a todos. Nossas mídias sociais estão a todo vapor para conectar os parceiros às notícias e oportunidades do setor. Nesta edição, destaque para duas matérias: um detalhamento do trabalho exemplar da Aiuká no Brasil e ao redor do mundo no resgate de animais e um artigo sobre a doença renal em gatos, em consonância com o Março Amarelo e o dia Mundial do Rim, em 10 de março. Tudo isso para cumprir com o nosso DNA básico de disponibilizar nossos talentos e recursos a fim de servir e contribuir da melhor maneira para que todos sejam beneficiados, procurando ter atenção para com a compaixão, a aceitação e o respeito a todas as formas de vida, incluindo a nossa espécie. A imagem de fundo é do Morro Dois Irmãos em Fernando de Noronha, para nos relembrar que precisamos preservar o que resta da natureza no nosso planeta. Maria Angela Sanches Fessel CRMV-SP 10.159
Clínica Clínica Veterinária, Veterinária, Ano Ano XXV, XXV, n. n. 145, 145, março/abril, março/abril, 2020 2020
Consultores científicos Adriano B. Carregaro FZEA/USP-Pirassununga Álan Gomes Pöppl FV/UFRGS Alberto Omar Fiordelisi FCV/UBA Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM Alejandro Paludi FCV/UBA Alessandra M. Vargas Endocrinovet Alexandre Krause FMV/UFSM Alexandre G. T. Daniel Universidade Metodista Alexandre L. Andrade CMV/Unesp-Aracatuba Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul Aline Souza UFF Aloysio M. F. Cerqueira UFF Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia Ana Liz Bastos CRMV-MG, Brigada Animal MG Ananda Müller Pereira Universidad Austral de Chile Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran Angela Bacic de A. e Silva FMU Antonio M. Guimarães DMV/UFLA Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP-São Paulo Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal Aury Nunes de Moraes UESC Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP-São Paulo Beatriz Martiarena FCV/UBA Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice A. Rodrigues MV autônoma Camila I. Vannucchi FMVZ/USP-São Paulo Carla Batista Lorigados FMU
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Carla Holms Anclivepa-SP Carlos Alexandre Pessoa www.animalexotico.com.br Carlos E. Ambrosio FZEA/USP-Pirassununga Carlos E. S. Goulart EMATER-DF Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal Carlos Mucha IVAC-Argentina Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP-São Paulo Ceres Faraco FACCAT/RS César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA Christina Joselevitch IP/USP-São Paulo Cibele F. Carvalho UNICSUL Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo Clarissa Niciporciukas Anclivepa-SP Cleber Oliveira Soares Embrapa Cristina Massoco Salles Gomes C. E. Daisy Pontes Netto FMV/UEL Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS Daniel G. Ferro Odontovet Daniel Macieira FMV/UFF Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo Dominguita L. Graça FMV/UFSM Edgar L. Sommer Provet Edison L. P. Farias UFPR Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE Elba Lemos FioCruz-RJ Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu Estela Molina FCV/UBA Fabian Minovich UJAM-Mendoza Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR
Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE Fabio Otero Ascol IB/UFF Fabricio Lorenzini FAMi Felipe A. Ruiz Sueiro Vetpet Fernando C. Maiorino Fejal/CESMAC/FCBS Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL Fernando Ferreira FMVZ/USP-São Paulo Filipe Dantas-Torres CPAM Flávia R. R. Mazzo Provet Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu Francisco E. S. Vilardo Criadouro Ilha dos Porcos Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu F. Marlon C. Feijo Ufersa Franz Naoki Yoshitoshi Provet Gabriela Pidal FCV/UBA Gabrielle Coelho Freitas UFFS-Realeza Geovanni D. Cassali ICB/UFMG Geraldo M. da Costa DMV/UFLA Gerson Barreto Mourão Esalq/USP Hector Daniel Herrera FCV/UBA Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB Hélio Autran de Moraes Oregon S. U. Hélio Langoni FMVZ/Unesp-Botucatu Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ Herbert Lima Corrêa Odontovet Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery Iaskara Saldanha Lab. Badiglian Idael C. A. Santa Rosa UFLA Ismar Moraes FMV/UFF
Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020
Jairo Barreras FioCruz James N. B. M. Andrade FMV/UTP Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade João G. Padilha Filho FCAV/Unesp-Jaboticabal João Luiz H. Faccini UFRRJ João Pedro A. Neto UAM Jonathan Ferreira Odontovet Jorge Guerrero Univ. da Pennsylvania José de Alvarenga FMVZ/USP Jose Fernando Ibañez FALM/UENP José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal José Ricardo Pachaly Unipar José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP Juan Carlos Troiano FCV/UBA Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu Juliana Werner Lab. Werner e Werner Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG Julio Cesar de Freitas UEL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal Leonardo D. da Costa Lab&Vet Leonardo Pinto Brandão Ceva Saúde Animal Leucio Alves FMV/UFRPE Luciana Torres FMVZ/USP-São Paulo Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Marcello Otake Sato FM/UFTO Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP-São Paulo
Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP-São Paulo Marcelo Faustino FMVZ/USP-São Paulo Marcelo S. Gomes Zoo SBC,SP Marcia Kahvegian FMVZ/USP-São Paulo Márcia Marques Jericó UAM e Unisa Marcia M. Kogika FMVZ/USP-São Paulo Marcio B. Castro UNB Marcio Brunetto FMVZ/USP-Pirassununga Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó S. Animal Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu Marco Antonio Gioso FMVZ/USP-São Paulo Marconi R. de Farias PUC-PR Maria Cecilia R. Luvizotto CMV/Unesp-Araçatuba Maria Cristina Nobre FMV/UFF M. de Lourdes E. Faria VCA/Sepah Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP-São Paulo Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba Marta Brito FMVZ/USP-São Paulo Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba Masao Iwasaki FMVZ/USP-São Paulo Mauro J. Lahm Cardoso Falm/Uenp
Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP Michele A. F. A. Venturini Odontovet Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu Miriam Siliane Batista FMV/UEL Moacir S. de Lacerda Uniube Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL Nadia Almosny FMV/UFF Natália C. C. A. Fernandes Instituto Adolfo Lutz Nayro X. Alencar FMV/UFF Nei Moreira CMV/UFPR Nelida Gomez FCV/UBA Nilson R. Benites FMVZ/USP-São Paulo Nobuko Kasai FMVZ/USP-São Paulo Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz Patricia C. B. B. Braga FMVZ/USP-Leste Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL Paulo Anselmo Zoo de Campinas Paulo César Maiorka FMVZ/USP-São Paulo Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu Paulo S. Salzo Unimes, Uniban Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP-São Paulo Pedro Germano FSP/USP
Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ Renata A. Sermarini Esalq/USP Renata Afonso Sobral Onco Cane Veterinária Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu Ricardo Duarte All Care Vet / FMU Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR Ricardo S. Vasconcellos CAV/Udesc Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ Rita Leal Paixão FMV/UFF Robson F. Giglio H. Cães e Gatos; Unicsul Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba Ronaldo C. da Costa Ohio State University Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio Rosângela de O. Alves EV/UFG Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA
Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu Silvia E. Crusco UNIP/SP Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP-São Paulo Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM Simone Gonçalves Hemovet/Unisa Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu Tiago A. de Oliveira UEPB Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR Valéria Ruoppolo I. Fund for Animal Welfare Vamilton Santarém Unoeste Vania de F. P. Nunes FNPDA e Itec Vania M. V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Victor Castillo FCV/UBA Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG Viviani de Marco UNISA e NAYA Wagner S. Ushikoshi UNISA e CREUPI Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional
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Instruções aos autores
A
Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Enviar por e-mail (cvredacao@editoraguara. com.br) ou pelo site da revista (http:// revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-deartigos-cientificos) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na lar gura 10
de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitali za das, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de re da ção cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail) e uma foto 3x4 de rosto de cada um dos autores. Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus tí tulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser relacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 12, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser
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utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar informações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utilizado, cada capítulo deverá ser considerado uma
referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). Somente autores de trabalhos originais devem ser citados, e nunca de revisões. É preciso ser ético pois os créditos são daqueles que fizeram os trabalhos originais. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www. xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabalho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. Nesse subtítulo devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/ distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua Adolf Würth, 276, cj. 2, 06713-250, Cotia, SP cvredacao@editoraguara.com.br
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Medicina veterinária de desastres
O suporte técnico da medicina veterinária de desastres na força-tarefa das enchentes no estado do Espírito Santo Introdução Por definição do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), pertencente ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, os desastres naturais são a soma de eventos e perigos naturais que geram um fenômeno natural extremo e intenso sobre determinado sistema social, ocasionando inúmeros danos e prejuízos aos afetados, que, incapacitados temporária ou permanentemente de conviver com tal impacto, precisarão de auxílio e de recursos externos 1. Os desastres naturais de diferentes naturezas sempre fizeram parte da história da humanidade, afetando a vida de inúmeras pessoas. A frequência desses eventos e a intensidade da destruição que provocam vem gerando impactos negativos cada vez mais graves nos que se encontram nas áreas afetadas. A evolução negativa das características desses fenômenos é o resultado da combinação de uma série de fatores naturais e sociais de uma determinada população. Quase que em sua totalidade, essas comunidades são alocadas em regiões constantemente afetadas sem que disponham de uma real capacidade de prevenir e/ou reduzir potenciais riscos e danos. Ademais, vale ressaltar que as intervenções maciças do homem na natureza desequilibram os ecossistemas, colaborando ainda mais para o agravamento dos fenômenos destrutivos dos diferentes tipos de desastres naturais 2,3. Tais fenômenos naturais indesejáveis afetam de forma direta e indireta diferentes ecossistemas, gerando um grande desequilíbrio de fauna e flora e desencadeando grandes distúrbios nos mais diversos segmentos de uma sociedade. Percebe-se hoje que os reflexos negativos oriundos dos desastres natu12
rais são muito mais extensos, afetando potencialmente com maior gravidade e intensidade a saúde animal, humana e ambiental. Nos últimos anos, em decorrência de grandes e frequentes tragédias acontecidas em nosso país, assim como do advento das pesquisas nas áreas de bem-estar animal, saúde única e medicina veterinária do coletivo, a medicina veterinária de desastres vem ganhando destaque, visando o suporte técnico médico-veterinário aos animais acometidos nos mais variados cenários de desastres naturais ou não naturais 4-6. Desastres naturais e suas classificações Os desastres naturais são classificados primariamente quanto a sua natureza, intensidade e evolução, e também quanto aos prejuízos causados. Cada item tem uma série de subgrupos a enquadrar diante das circunstâncias apresentadas 1. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), a natureza dos desastres pode ser classificada em quatro grupos: I) desastres geológicos ou geofísicos, que de modo geral resultam de terremotos, erosões e deslizamentos associados a processos geofísicos; II) desastres meteorológicos, caracterizados de modo geral por tempestades que envolvam descargas elétricas (raios), vendavais, ciclones e/ou tornados; III) desastres hidrológicos, que englobam enchentes, inundações, alagamentos e deslizamentos associados ao acúmulo excessivo de água no solo; IV) desastres climáticos, em consequência de forte seca que pode gerar queimadas e incêndios florestais, bem como de variações bruscas e intensas da temperatura 7.
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Desastres hidrometeorológicos Os desastres hidrometeorológicos que causam alagamentos, enchentes, inundações e enxurradas são os mais frequentes em nosso país e também em diversas regiões do mundo, com altos índices de morbidade e mortalidade para indivíduos humanos e animais. Os impactos em decorrência desses fenômenos são devastadores para todas as classes sociais; no entanto, com maior frequência acometem a população mais carente, geralmente localizada em regiões mais vulneráveis 8,9. Diversos são os fatores causadores de desastres hidrometeorológicos, de causas naturais a condições desfavoráveis ocasionadas pela ação e atividade humanas. As ocorrências naturais podem ou não estar ligadas de modo indireto a algumas ações do homem; no entanto, destacam-se principalmente as mudanças climáticas bruscas em decorrência do aquecimento global, que culminam com chuvas fortes, intensas e duradouras em determinadas localidades. Devido à construção em larga escala de barragens e hidrelétricas, à realização de desmatamentos e ao descarte impróprio de lixo, os seres humanos fomentam de forma negativa as condições ideais para desastres não naturais envolvendo grandes volumes de água 9. As consequências geradas à integridade e à saúde da população humana e animal pelos desastres dessa natureza alcançam níveis preocupantes, provocando, em grande parte dos casos, deficiência no abastecimento de água, bem como nos serviços de captação e tratamento de esgoto, além da contaminação química e biológica do solo, da água e dos alimentos, facilitando a disseminação de uma série de enfermidades que podem acometer seres humanos e animais. Outro fator importante que não deve ser esquecido são as mudanças causadas nos ciclos ecológicos de vetores, reservatórios e hospedeiros, que expõem os seres humanos a doenças graves e de fácil disseminação 9. O médico-veterinário que atua no resgate técnico de animais durante desastres dessa
natureza deve ser altamente capacitado e treinado para tal, uma vez que o salvamento nessas circunstâncias pode ser muito mais complicado do que o resgate de um ser humano. Algumas das dificuldades encontradas durante uma operação de resgate de animais em locais atingidos pela água consistem na instabilidade do local – que oferece inúmeros perigos –, assim como nos desafios proporcionados pela condição clínica e emocional desses animais – que, em grande parte dos casos, permanecem ilhados, assustados, com fome e com frio, além de correrem perigo de afogamento –, demandando resgate imediato e rápido. De fato, em qualquer uma dessas circunstâncias, o nível de estresse é muito alto, e a comunicação entre homem e animal será muito dificultosa, exigindo grandes habilidades do médico-veterinário no que diz respeito ao comportamento animal. Vale lembrar que nessas situações os animais estão prontos para agir instintivamente, visando sua própria proteção, podendo constituir uma ameaça à equipe de profissionais que tentam realizar o resgate. O conhecimento teórico e prático do comportamento animal, o treinamento exaustivo de variadas técnicas de resgate, o condicionamento físico e psicológico do time, bem como o planejamento impecável das ações que serão executadas, podem garantir a segurança da equipe e provavelmente a do animal 10. A devastação causada pela água durante um desastre é muitas vezes imensurável, dizimando bens materiais, mas também vidas humanas e animais. Devido à agressividade, intensidade, rapidez, extensão e duração com que as enchentes seguem seu curso, é muito difícil obter dados oficiais a respeito da quantidade de animais acometidos. Tal fato compromete o trabalho de preparação, logística e estratégia das equipes veterinárias para ações futuras, uma vez que o apoio de órgãos oficiais depende de justificativas e da comprovação de demanda documentada das situações ocorridas anteriormente – razão pela qual esse é um dos maiores desafios relativos
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Medicina veterinária de desastres
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Experiência no estado do Espírito Santo As enchentes em decorrência das fortes chuvas que devastaram diversos municípios na região sul do estado do Espírito Santo tiveram início na noite do dia 17 de janeiro de 2020. Após a destruição, quatro cidades declararam estado de calamidade pública: Iconha, Vargem Alta, Alfredo Chaves e Rio Novo do Sul; e dezesseis cidades declararam estado de emergência, dentre as quais as mais afetadas foram Cachoeiro do Itapemirim e Castelo. O Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad-Brasil), subordinado ao Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (PNPDA), atuou na região sul do Espírito Santo por treze dias consecutivos. As primeiras equipes chegaram no dia 20 de janeiro de 2020, e a última deixou o estado no dia 2 de fevereiro de 2020. Dois dias após os incidentes, a Equipe de Reconhecimento e Diagnóstico de Situação do Grad-Brasil chegou ao Espírito Santo e realizou a análise técnica dos dois municípios mais devastados, Iconha e Vargem Alta. Nessas duas regiões, a constatação foi de devastação imensurável, com alguns óbitos humanos confirmados e inúmeros relatos de pessoas dizendo ter visto centenas de ani-
Figura 1 – Rua de Iconha, ES, após as enchentes 14
mais arrastados pelas enxurradas, assim como incontáveis perdas materiais – comércio, casas, veículos, mobílias, etc. (Figuras 1, 2 e 3). A equipe entrou imediatamente em contato com os principais órgãos dos municípios em busca de apoio para a realização das operações. À medida que foi compreendendo a magnitude da situação e as reais demandas que deveriam ser priorizadas na ação, a equipe discutiu e elaborou, juntamente com o comando do Grad-Brasil, o planejamento preliminar de toda a estratégia a ser utilizada dali para a frente (Figura 4). Além das atuações nessas duas cidades, elaborou-se cuidadosamente um roteiro de ação na região sul do Espírito Santo, definindo-se que outras duas localidades seriam assistidas: Cachoeiro do Itapemirim e Castelo. O deslocamento das equipes, suprimentos e equipamentos entre os municípios se deu com o apoio de órgãos oficiais locais, que disponibilizaram seus veí-
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aos desastres hidrometeorológicos envolvendo animais.
Figura 2 – Casas destruídas no Morro do Sal, em Vargem Alta, ES
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Figura 3 – Animais em residência destruída pelas enchentes Grad-Brasil
Figura 4 – Coordenação Geral do Grad-Brasil – Cláudio Zago Junior, Carla Maria Sássi de Miranda e Enderson Fernandes Santos Barreto em planejamento
culos para isso. Os municípios priorizados pelo grupo foram aqueles que apresentavam maior índice de destruição e demanda. O primeiro plano de ação baseou-se nas características geográficas e populacionais, nas características do acidente, nos recursos necessários para operar nas regiões afetadas, bem como nas demandas emergenciais dos animais atingidos de forma direta e indireta pela tragédia. Por fim, ficou definido que as atividades de suporte técnico ficariam caracterizadas nas seguintes ações: I) resgate técnico de animais em situação e/ ou local de risco; II) suporte médico-veterinário básico e avançado para os necessitados;
III) ação humanitária de distribuição de alimento para animais em áreas e bairros mais devastados e isolados pelas enchentes; IV) imunização e controle de endo e ectoparasitas de cães e gatos (sendo os cães tratados com vacina V10 e antirrábica, e os gatos somente com vacina antirrábica). Um dos pontos-chave da atuação do Grad-Brasil no Espírito Santo foi o modo de organizar e operar todas as missões, baseado sempre no Procedimento Operacional Padrão do Sistema Integrado de Urgência e Emergência utilizado pelos Corpos de Bombeiros em todo o Brasil. Esse modo de operar já é bem consolidado entre os Corpos de Bombeiros militares estaduais, os integrantes da Defesa Civil e até mesmo alguns segmentos das Forças Armadas, visando sempre responder de maneira efetiva e organizada a situações de desastres. Buscando a inserção, o reconhecimento e espaço para a atuação profissional em conjunto com os órgãos oficiais em solo capixaba, a equipe de comando seguiu rigorosamente os pilares desse modus operandi, atuando em conjunto com o Sistema de Comando Integrado do Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo. Desse modo, todas as ações do grupo tornaram-se mais efetivas, uma vez que diariamente eram coordenadas, discutidas e delineadas junto ao Comando do Corpo de Bombeiros, que lhes deu suporte total. Ademais, a oportunidade permitiu que se consolidasse também um Posto Médico-Veterinário de Campanha (PMVC) para o suporte inicial aos animais resgatados durante as operações (Figuras 5, 6 e 7). Estabeleceu-se também uma logística para o encaminhamento de animais resgatados em estado grave a clínicas voluntárias parceiras de outras cidades, os quais demandariam uma intervenção mais avançada. Aqueles que se encontravam abandonados/ negligenciados, porém sem alterações clínicas graves, após serem triados e avaliados no PMVC, eram encaminhados para lares temporários ou para Centros de Controle de Zoonoses próximos, para posteriormente
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Medicina veterinária de desastres
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Figura 5 – Posto Médico-Veterinário de Campanha instalado na cidade de Vargem Alta, ES
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Figura 6 – Procedimento realizado em cão no Posto Médico-Veterinário de Campanha instalado na cidade de Vargem Alta, ES
serem disponibilizados para adoção. Nos primeiros dias após o desastre, houve grande demanda por parte dos municípios inclusos nos planos de ação do Grad-Brasil. Com isso, parte da equipe foi deslocada para Iconha e parte para Vargem Alta, em uma ação simultânea que facultou a chegada mais rápida do suporte a todos os necessitados. Na cidade de Iconha houve resgate técnico e assistência médico-veterinária a alguns cães que apresentavam extensas feridas cutâneas, os quais foram assistidos no PMVC e posteriormente encaminhados a clínicas voluntárias parceiras de cidades próximas. Dois equinos com lacerações cutâneas também foram assistidos, sem demandar maiores intervenções. Também foram assistidos cães e gatos abandonados/ negligenciados que estavam em locais de risco, difícil acesso ou isolados, e um número expressivo de animais foi encaminhado aos lares temporários. Vale ressaltar que, de todos os municípios em que houve atuação do grupo, Vargem Alta foi o que mais recebeu animais resgatados sem tutores. Concomitantemente a essas atividades, efetuou-se distribuição de ração para cães e gatos, e após a diminuição de demanda aguda de casos, iniciou-se a etapa de imunização maciça dos animais. Três ações se destacaram no município de Vargem Alta (Figura 8). A primeira foi o resgate técnico de três cães na região do Morro do Sal que estavam em um local de altíssi-
Figura 7 – Membros do Grad-Brasil transportando equipamentos e suprimentos para os animais nas áreas devastadas 16
Figura 8 – Equipe do Grad-Brasil que atuou nas operações de Sumidouro e Morro do Sal, na cidade de Vargem Alta, ES
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mo risco, condenado pela Defesa Civil e pelo Corpo de Bombeiros, abandonados devido à remoção às pressas de seus tutores. A operação para devolver esses animais aos respectivos responsáveis demandou uma equipe multidisciplinar (dois médicos-veterinários, um bombeiro militar e dois técnicos em resgate animal), rigoroso planejamento, extrema cautela e execução impecável. Mesmo com o comportamento hostil e inúmeras tentativas de fuga desses cães, a equipe obteve êxito total ao final da missão, devolvendo-os aos seus tutores. A segunda e a terceira ação ocorreram durante uma patrulha para identificação de animais necessitados e distribuição de suprimentos. Na segunda ação, uma das equipes acessou um local denominado Sumidouro (área rural muito afastada da região urbana), identificando cerca de 30 famílias que se encontravam isoladas com seus aniGrad-Brasil
Figura 9 – Suínos desnutridos em propriedade na região do Sumidouro, em Vargem Alta, ES Grad-Brasil
mais – cães, gatos, aves e suínos (Figuras 9 e 10). Na terceira ação, em região denominada Pombal Baixo, em patrulha a pé, a equipe acessou, por meio de uma estrada de terra praticamente destruída em decorrência de um deslizamento, uma casa onde habitavam uma senhora e seu filho enfermo, acamado com necessidades especiais, e seus animais – quatro cães e um gato. Nessas duas últimas ações, além da imunização e do controle de endo e ectoparasitas de cães e gatos, foram distribuídos mantimentos às pessoas e aos animais. Ressalta-se que o primeiro acesso e o mapeamento dessas regiões isoladas foi feito pelas equipes do Grad-Brasil, que posteriormente enviaram as coordenadas ao Posto de Comando Integrado dos Bombeiros, propiciando a ação humanitária para essas famílias. Na cidade de Cachoeiro do Itapemirim, os distritos de Pacotuba e Coutinho receberam assistência. A principal ação desempenhada nesses locais foi a distribuição de ração, bem como a imunização e a vermifugação maciças de pequenos animais. Somente um cão com anorexia e condição clínica desfavorável foi encaminhado a uma clínica veterinária para tratamento avançado. Na cidade de Castelo (última etapa da missão no estado do Espírito Santo) também foi solicitado o apoio dos órgãos oficiais do município. O Grad-Brasil realizou uma reunião com a Defesa Civil, a Secretaria do Meio Ambiente, a coordenação do curso de medicina veterinária da universidade local e também a OSC local de proteção animal (Figura 11). Foram mapeadas as principais regiões afetadas da cidade – os bairros Grad-Brasil
Figura 10 – Resgatista em aproximação a animal em área de risco
Figura 11 – Equipe do Grad-Brasil e representantes dos órgãos oficiais do município na cidade de Castelo, ES
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Medicina veterinária de desastres Grad-Brasil
Efetivo
MV
BC
AMV
Aux
Total
Grad
6
3
1
2
12
Voluntários (Universidade de Vila Velha - UVV; Universidade Federal do Espírito Santo – UFES; Faculdade Multivix; Prefeituras)
5
0
43
3
51
CRMV-ES
3
0
0
0
3
Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (IDAF)
0
0
0
4
4
Total
70
Grad-Brasil
Figura 13 – Efetivo da equipe na missão no estado do Espírito Santo (Grad-Brasil, 2020). MV: médicos-veterinários; BC: bombeiros civis; AMV: alunos de medicina veterinária; Aux: auxiliares
Figura 12 – Equipe do Grad-Brasil e voluntários que atuaram na operação do município de Castelo, ES
de Garagem, Prainha, Niterói e Esplanada. As ações de maior impacto foram as de distribuição de ração, imunização, vermifugação e controle de ectoparasitas para cães e gatos, que contaram com a ajuda de diversos voluntários (Figura 12). A operação nessa cidade contou também com o apoio de uma clínica veterinária provida de recursos avançados
para suporte de eventuais necessitados. Apesar de a operação ter atendido mais de 300 animais, apenas dois deles necessitaram de cuidados especiais, sendo um cão com avançado grau de anoxeria e desidratação, diagnosticado posteriormente com erliquiose, e outro com hérnia diafragmática e eventração. Tanto durante as ações quanto ao final de toda a missão no Espírito Santo, os relatos de diversos moradores sobre cães e gatos atropelados por conta do caos instalado no trânsito local após o desastre chamaram a atenção das equipes do Grad-Brasil. O saldo do trabalho no Espírito Santo foi positivo, uma vez que foram assistidos por meio de resgate técnico e/ou suporte clínico mais de 100 cães e gatos, 3 equinos e 7 suínos. Além disso, mais de mil cães e gatos rece-
Município
Pequenos animais resgatados
Cães imunizados
Gatos imunizados
Demais espécies
Total
Iconha
5 gatos / 6 cães / 3 cadelas com filhotes*
500
89
31 equinos / 22 suínos / 45 aves / 2 porquinhos da Índia
703
Vargem Alta
6 gatos / 12 cães / 1 cadela com filhotes*
158
56
12 equinos / 6 suínos / 33 aves
284
Cachoeiro do Itapemirim
6 cães
113
39
0
158
Pacotuba (distrito de Cachoeiro do Itapemirim)
1 cão
220
37
1 cobra
259
Coutinho (distrito de Cachoeiro do Itapemirim)
0
86
7
0
93
Castelo (bairros: Garagem, Prainha, Niterói e Esplanada)
2 cães
204
35
1 equino
242
Figura 14 – Animais assistidos durante a missão no estado do Espírito Santo (Grad-Brasil, 2020). * Os filhotes não foram contabilizados 18
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beram alimentos, bem como imunização e controle de endo e ectoparasitas. Aproximadamente 100 aves e 80 suínos também foram beneficiados com a distribuição de suprimentos (Figuras 13 e 14). Considerações finais Dentre todas as experiências vividas, podemos enfatizar que, mais importante e efetivo que as ações de linha de frente no campo, o planejamento prévio merece protagonismo e ganha grande destaque para a execução positiva das operações. O alinhamento de profissionais da área de medicina veterinária de desastres com órgãos oficiais municipais, estaduais e federais torna-se peça-chave para o sucesso e o cumprimento da missão. Referências
01-SAITO, S. M. Desastres naturais: conceitos básicos. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. 44 p. Disponível em: <http://www3. inpe.br/crs/crectealc/pdf/silvia_saito.pdf>. Acesso em 10 de fevereiro de 2020. 02-FREITAS, C. M. ; SILVA, D. R. X. ; SENA, A. R. M. ; SILVA, E. L. ; SALES, L. B. F. ; CARVALHO, M. L. ; MAZOTO, M. L. ; BARCELLOS, C. ; COSTA, A. M. ; OLIVEIRA, M. L. C. ; CORVALÁN, C. Desastres naturais e saúde: uma análise da situação do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, n. 9, p. 3645-3656, 2014. doi: 10.1590/141381232014199.00732014. 03-SOBRAL, A. ; FREITAS, C. M. ; ANDRADE, E. V. ; LYRA, G. F. D. ; MASCARENHAS, M. S. ; ALENCAR, M. R. F. ; CASTRO, R. A. L. ; FRANÇA, R. F. Desastres naturais - sistemas de informação e vigilância: uma revisão da literatura. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 19, n. 4, p. 389-402, 2010. doi: 10.5123/S167949742010000400009. 04-VIEIRA, J. F. M. Medicina veterinária de desastres e catástrofes – contributo para a extensão do Plano Municipal de Emergência de Proteção Civil de Lisboa aos Animais de Companhia. 2016. 91 f. Dissertação (Mestrado em medicina veterinária) - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2016. 05-BASTOS, A. L. A atuação do médico-veterinário nos desastres. Clínica Veterinária, Ano XXIV, n. 140, p. 12-16, 2019. 06-NUNES, V. F. P. ; BIONDO, A. W. A medicina
veterinária de desastres em Mariana e Brumadinho – importância da inclusão de animais nos planos de emergência. Clínica Veterinária, Ano XXIV, n. 139, p. 12-16, 2019. 07-FREITAS, C. M. ; SILVA, D. R. X. ; SENA, A. R. M. ; SILVA, E. L. ; SALES, L. B. F. ; CARVALHO, M. L. ; MAZOTO, M. L. ; BARCELLOS, C. ; COSTA, A. M. ; OLIVEIRA, M. L. C. ; CORVALÁN, C. Desastres naturais e saúde no Brasil - série desenvolvimento sustentável e saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 56 p. ISBN: 978-85-7967-093-0. 08-LONDE, L. R. ; COUTINHO, M. P. ; GREGÓRIO, L. T. ; SANTOS, L. B. L. ; SORIANO, E. Desastres relacionados à água no Brasil: perspectivas e recomendações. Ambiente & Sociedade, v. 7, n. 4, p. 133-152, 2014. 09-FREITAS, C. M. ; XIMENES, E. F. Enchentes e saúde pública – uma questão na literatura científica recente das causas, consequências e respostas para prevenção e mitigação. Ciência & Saúde Coletiva, v. 17, n. 6, p. 1601-1616, 2012. doi: 10.1590/S1413-81232012000600023. 10-RAY, S. Animal rescue in flood and swiftwater incidents. 1. ed. Asheville: CFS Press, 1999. 80 p. ISBN: 978-0964958524. Leonardo Maggio de Castro MV, CRMV-SP 33.947, MSc, Uniso, Grad-Brasil maggiolc@gmail.com
Cláudio Zago Junior
MV, CRMV-SP 32.942, MSc, FESB Corpo de Bombeiros, Grad-Brasil claudiozj@hotmail.com
Carla Maria Sássi de Miranda MV, CRMV-MG 11.019, Grad-Brasil carlasassivet@yahoo.com.br
Enderson Fernandes Santos Barreto Aluno de graduação. CMV/Unipac Grad-Brasil endersonbarretovet@gmail.com
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Medicina veterinária de desastres
Aiuká – parceria que deu certo
Dois médicos-veterinários vêm fazendo história no atendimento à fauna impactada em vazamentos de petróleo e, dessa trajetória, nasceu a consultoria especializada
B
C
Rodolfo Silva
Mas, antes dessa parceria começar, cada um deles respondeu a diferentes emergências em diversos lugares, em uma trajetória pontuada por atuações que os reúnem a um grupo formado por poucos profissionais tão especializados no mundo. Por exemplo, em 1995, Rodolfo trouxe para o Brasil a experiência adquirida na resposta à emergência na Ilha de Dyer (África do Sul), quando participou da reabilitação de 1.200 pinguins afetados por óleo. Esse trabalho foi realizado com o apoio do International Fund for Animal Welfare (IFAW) e, com ele, o médico-veterinário pôde vivenciar as técnicas que, até então, eram somente utilizadas pelo International Bird Rescue (IBR) e pelo Southern African Foundation for the Conservation of Coastal Birds (SANCCOB), duas entidades especializadas na reabilitação de fauna oleada (Figura 2). Em 1995 e 1996 Rodolfo iniciou seu trabalho no projeto e construção do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) no Museu Oceanográfico Eliézer de Carvalho
Rodolfo Silva
A
Valeria Ruoppolo
Rodolfo Silva
Introdução Há 20 anos, em 18 de janeiro de 2000, os médicos-veterinários Rodolfo Pinho da Silva e Valeria Ruoppolo amanheceram com um chamado urgente: resgatar e reabilitar centenas de aves que tinham sido impactadas pelo óleo vazado de um oleoduto que liga a refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, ao terminal da Ilha D’Água, na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. O vazamento de mais de 1 milhão de litros de óleo se espalhou por cerca de 40 quilômetros quadrados causando um severo dano ambiental e social. Nesse acidente, por volta de 323 aves foram resgatadas devido à sua contaminação pelo óleo (Figura 1). Essa emergência, uma das maiores que o Brasil já registrou, marcou o primeiro trabalho conjunto dos dois profissionais e o início de uma parceria que dura até hoje, com a fundação de uma organização especializada no resgate de fauna impactada por vazamentos de óleo, a Aiuká Consultoria em Soluções Ambientais.
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Figura 1 – Derramamento de óleo na baía de Guanabara. A) Tenda para estabilização dos animais acometidos pelo óleo. B) Rodolfo Silva hidratando biguá (Phalacrocorax brasilianus). C) Valeria Ruoppolo contendo um biguá (Phalacrocorax brasilianus) oleado. D) Rodolfo Silva realizando a limpeza de biguá (Phalacrocorax brasilianus) oleado
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Guiherme Becker
Guiherme Becker
Guiherme Becker
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A
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Figura 2 – Reabilitação dos pinguins oleados em Dyer Island, África do Sul. A) Rodolfo Silva participando da limpeza dos animais com Mark Russel do International Bird Rescue (IBR). B) Rodolfo Silva participando da limpeza dos animais com voluntária da SANCCOB. C) Liberação de 1.200 pinguins-africanos reabilitados na emergência em Robben Island
Rios da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul. O CRAM FURG foi o primeiro centro de reabilitação de fauna marinha do Brasil e desde então recupera centenas de animais marinhos anualmente. Valeria, ao se formar médica-veterinária, mudou-se para a Argentina a fim de trabalhar no Centro de Reabilitação de Fauna Marinha da Fundación Mundo Marino, e lá permaneceu por quase quatro anos, quando retornou ao Brasil no ano 2000 para desenvolver sua pesquisa de mestrado na Universidade de São Paulo. Neste mesmo ano, após participar da emergência com vazamento de óleo na Baía de Guanabara, se tornou membro da Equipe Internacional de Resgate de Animais Selvagens em Contingências do IFAW (Animal Rescue Team/IFAW) e da Equipe de Resgate de Aves Aquáticas em Derramamentos de Petróleo do International Bird Rescue. Provavelmente a emergência ambiental mais icônica em que ambos trabalharam juntos foi na Cidade do Cabo, África do Sul, no ano de 2000, quando o M/V Treasure, embarcação de transporte de minério de ferro, colidiu com uma laje, próximo à Ilha de Robben. O acidente provocou o vazamento de 400 toneladas de óleo bunker (combustível utilizado em embarcações transoceânicas) e provocou a contaminação de milhares de pinguins-africanos (Spheniscus demersus), naquele mo-
mento espécie classificada como “Vulnerável” de extinção pela lista vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature and Natural Resources). Foram atendidos em uma instalação de oportunidade adaptada para a ocasião 21.086 indivíduos da espécie, dos quais 19.107 foram liberados de volta a áreas limpas, o que representou uma alta taxa de reabilitação, de 90,1%. A reabilitação desses pinguins é reconhecida até o dia de hoje como sendo a maior operação de resgate já realizada no mundo (Figura 3). Hoje, o total de emergências, tanto nacionais como internacionais, que Rodolfo e Valeria responderam soma 46, diversas já à frente do time da Aiuká (Figura 4). A equipe da organização é multidisciplinar e formada por mestres e doutores das áreas de medicina veterinária, biologia e oceanografia. Todos os integrantes são especializados na resposta a emergências envolvendo o resgate e a reabilitação de fauna oleada, além de manejo e pesquisa com animais aquáticos, garantindo a excelência técnica nesse processo (Figura 5). Surgimento da Aiuká Na língua africana Iorubá, Aiuká significa “fundo do mar”, local privilegiado para o surgimento da vida na Terra, segundo diversas teorias biológicas modernas. “O nome é, portanto, inspirado na crença que temos da
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Jon Hrusa
Jon Hrusa
Medicina veterinária de desastres B
Figura 3 – Derramamento de óleo na Cidade do Cabo (MV Treasure) – África do Sul. A) Grupo de técnicos e especialistas que coordenavam a resposta aos mais de 20 mil pinguins-africanos (Spheniscus demersus). B) Valeria Ruoppolo realizando o manejo dos pinguins
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Figura 4 – Mapa das emergências das quais a equipe da Aiuká participou entre 2000 e 2019 22
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Aiuká
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Figura 5 – Equipe Aiuká. A) Administrativo (da esquerda para a direita): Gelza Soares – gerente de estruturas; Mayara Sea – auxiliar administrativa; Vanessa Anselmo – analista comercial; Daiane Trugilho – auxiliar administrativa; Ana Hoehne – supervisora financeira; Gislaine Lavínia – gerente de desenvolvimento humano organizacional. B) Setor de Projetos (da esquerda para a direita): Renato Yoshimine – oceanógrafo; Viviane Barquete – oceanóloga; Valeria Ruoppolo – médica-veterinária; Carolina Galvão – bióloga; Jéssica Domato – médica-veterinária; Camila Mayumi – bióloga. C) Setor de Operações (da esquerda para a direita): Rodolfo Pinho da Silva Filho – médico-veterinário; José Carlos dos Santos Neto – médico-veterinário; Débora Santos Silva – auxiliar veterinária; Maria Clara Sanseverino – médica-veterinária; Paulo Valobra – médico-veterinário; Jamenson Silva – auxiliar de operações; Murilo Pratezi – biólogo; Danielle Mello – bióloga; (agachados, da esquerda para a direita): Juan Medeiros – médico-veterinário; Hudson Lemos – biólogo
importância do ecossistema marinho para a vida no planeta e na nossa convicção de que ele deve ser protegido dos impactos humanos com responsabilidade e respeito”, explicou Valeria. Ela e Rodolfo assumem, respectivamente, os cargos de Diretora de Projetos e de Diretor de Operações da Aiuká, primeira empresa brasileira com experiência no planejamento, no resgate e na reabilitação de fauna afetada por vazamentos de petróleo para que retorne ao seu ambiente natural em segurança.
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Aiuká
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“Em 2008, uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) passou a exigir das empresas responsáveis por instalações portuárias, plataformas, dutos e refinarias um planejamento preventivo para o resgate de animais em caso de acidente”, lembrou Valeria. “Vimos, nessa decisão, uma boa oportunidade para aplicar no Brasil a experiência que obtivemos fora e, em 2010, fundamos a Aiuká”, reforçou Rodolfo. A organização fundada na Praia Grande, litoral central de São Paulo, completou em 18
Figura 6 – Centros Operacionais da Aiuká (COPs). A) COP SP em Praia Grande, SP. B) COP RJ em Rio das Ostras, RJ Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020
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Figura 7 – Aves terrestres em unidades marítimas no Projeto de monitoramento de impactos de plataformas e embarcações sobre a avifauna (PMAVE). A e B) Columbina talpacoti – rolinhas-roxas; C) Machetornis rixosa – suiriri-cavaleiro
de fevereiro 10 anos e atende hoje as maiores empresas do mundo do setor de petróleo, entre elas a Petrobras, a Shell e a Total. A Aiuká mantém dois Centros de Reabilitação de Fauna, localizados em Praia Grande, SP, e em Rio das Ostras, RJ (Figura 6). “Todo o trabalho da Aiuká é validado pelos órgãos ambientais responsáveis, a exemplo do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama)”, explicou Rodolfo. A Aiuká gerencia a prontidão e a resposta emergencial para fauna em casos de incidentes com atividades marítimas de exploração e produção de petróleo. Também administra operações em portos, terminais e refinarias, direcionando as ações de forma preventiva e reduzindo potenciais impactos à fauna. Uma das atividades de prontidão executadas pela Aiuká é o Projeto de Monitoramento de Impactos de Plataformas e Embarcações sobre a Avifauna (PMAVE), uma das exigências do Ibama nos processos de licenciamento ambiental dos empreendimentos marítimos de exploração e produção de petróleo e gás natural. O PMAVE orienta as ações de resposta em caso de ocorrência de ave silvestre ou doméstica na área da plataforma ou unidade marítima e região de entorno, transportando os animais de volta para a terra e oferecendo posterior destinação apropriada (Figura 7). A organização é pioneira nesse tipo de ser24
viço no Brasil e, em função dele, mantém prontidões para empreendimentos nas Bacias de Campos e de Santos. Além de responder com equipe própria, os acionamentos também contam com a parceria de entidades como o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres da Universidade Estácio de Sá, o Beto Carrero World e o Parque Zoobotânico Orquidário Municipal de Santos (PZOMS), instituições com recursos e equipamentos apropriados para os processos de estabilização e reabilitação da fauna resgatada nas unidades marítimas. A proficiência no gerenciamento e nas respostas à fauna impactada por óleo em emergências off shore (alto-mar) credencia a Aiuká também a atuar naquelas que acontecem em terra. Nesse sentido, uma das mais recentes participações da organização ocorreu em Brumadinho, MG, onde, em janeiro de 2019, ocorreu o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração. A Aiuká liderou a Seção de Operações de Fauna desde o Centro de Comando da emergência – responsável pelo atendimento de animais silvestres e domésticos afetados pelos rejeitos originados pelo incidente (Figura 8). Atualmente trabalha na manutenção do banco de dados e documentação da emergência desde a Seção de Planejamento, em parceria com uma empresa especializada no gerenciamento de emergências ambientais, a Witt O’Brien’s Brasil. Além
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Aiuká
Figura 8 – Centro de Comando, Brumadinho, MG, 2019 e
Figura 9 – Congresso Latino-americano de Reabilitação de Fauna Marinha em Florianópolis, SC, 2018
Políticas públicas e desenvolvimento da ciência Essa especialização em emergências ambientais conferiu à Aiuká o convite para participar da formulação de políticas públicas nacionais para resposta à fauna oleada, contidas no Manual de Boas Práticas – Manejo de fauna atingida por óleo, do Ibama, que faz parte do Plano Nacional de Ação de Emergência para Fauna Impactada por Óleo (PAE-Fauna). O PAE-Fauna fornece as diretrizes de atuação dos órgãos durante uma emergência ambiental. Já o Mapeamento Ambiental para Resposta à Emergência no Mar (MAREM www.marem-br.com.br) inclui o Projeto de Proteção à Fauna, um dos pilares desse trabalho e que consiste em um banco de dados georreferenciados que permitem a análise detalhada da região eventualmente afetada por um derramamento de óleo. A Aiuká, em
parceria com a Witt O’Brien’s Brasil, foi a responsável pela elaboração desse projeto que contou com a participação de colaboradores e pesquisadores nacionais e internacionais. Além de colaborar com políticas públicas, a organização também prioriza o desenvolvimento de pesquisas científicas na área de conservação ambiental. Nesse sentido, já realizou duas das quatro edições do Congresso Latino-americano de Reabilitação de Fauna Marinha: em 2012, no Rio Grande, RS, com a participação de aproximadamente 150 especialistas brasileiros e estrangeiros nas dependências do Museu Oceanográfico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURG); e em 2018 em Florianópolis, SC, com a participação de 140 especialistas (Figura 9). Frequentemente, membros da equipe participam também de congressos e workshops
Aiuká
de atuar em Brumadinho, a Aiuká também está presente em Barão de Cocais, MG, trabalhando na emergência da mina que, embora não tenha apresentado problemas até o momento, demandou a evacuação de 162 famílias que moravam muito próximo do local e o abrigo de quase quatro mil animais domésticos. Cenários como este são de extrema complexidade e demandam uma resposta específica que inclua a segurança dos animais, uma vez que, além de fazerem parte do trabalho e sustento de muitas pessoas, fazem também parte de suas famílias.
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Medicina veterinária de desastres tis com a intenção de dividir o conhecimento adquirido nestas atividades que envolvem a prontidão para emergências. Neste mesmo sentido, alunos em fase de conclusão de curso são recebidos mensalmente para realização de seus estágios obrigatórios, participando de todas as atividades relacionadas à reabilitação de fauna e da preparação para emergências ambientais. Mais informações podem ser solicitadas pelo email estagio@aiuka.com.br.
Figura 10 – A Aiuká é um dos membros fundadores do Sistema Global de Resposta à Fauna Oleada (Global Oiled Wildlife Response System – GOWRS, em inglês), uma rede de organizações internacionais que trabalha no desenvolvimento de um sistema de preparação para resposta à fauna oleada em todo o mundo f
dentro da temática de resgate e reabilitação de fauna em emergências ambientais, como o International Oil Spill Conference (IOSC) e a International Effects of Oil on Wildlife Conference (EOW), na qual Valeria participa do Comitê de Programação desde 2003 e co-presidiu o evento em 2015 junto com o International Bird Rescue (IBR). O próximo IOSC será em Nova Orleans, EUA, em maio de 2020. Mais detalhes podem ser encontrados em https:// iosc2020.org. O próximo EOW será realizado em 2021 e será organizado pelo IBR, porém ainda sem local definido. Entendendo que as universidades abrigam a formação da base do conhecimento de novos profissionais, rotineiramente profissionais da Aiuká são convidados para palestras em semanas acadêmicas e eventos estudan26
Rede global de atuação A Aiuká é uma das 11 – e a única representante da América Latina – que participa do Projeto Global Oiled Wildlife Response System (GOWRS). Esta é uma rede de organizações internacionais apoiada pela indústria de petróleo no desenvolvimento de um sistema de preparação para resposta à fauna oleada em todo o mundo. O objetivo é atender principalmente àqueles países que não possuem nenhuma estrutura organizada para responder a emergências com fauna oleada. A Aiuká é um dos membros fundadores dessa rede e, em 2019, Valeria Ruoppolo foi eleita sua vice-diretora, reconhecimento que reforça a posição de vanguarda da organização na construção e alinhamento dos procedimentos internacionalmente aceitos para resposta a derramamentos de óleo (Figura 10). Por meio dessa rede, no ano de 2018, a Aiuká participou da resposta a um vazamento de óleo no Porto de Roterdã, na Holanda, o maior porto europeu. O vazamento ocorreu em decorrência da colisão entre uma embarcação (MS Bow Jubail) e o terminal portuário, causando um vazamento de 200 toneladas de óleo bunker. Resultado disso, em torno de 30 horas após o acidente, 400 cisnes-mudos (Cygnus olor) já lotavam os três centros de reabilitação da região (Figura 11). Uma resposta eficiente foi organizada em um galpão temporário e em cerca de 30 dias, 522 cisnes oleados foram resgatados, dos quais 497 foram soltos. Uma taxa de sucesso de reabilitação de 95,2%.
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Responsabilidade socioambiental Vida e responsabilidade são dois conceitos integrados aos valores da Aiuká, que entende os cuidados da fauna selvagem como não só uma atividade de trabalho, mas também – e principalmente – como atenção e respeito pelo bem-estar dos animais debilitados para devolvê-los sadios ao seu ambiente. Esse entendimento é resultado dos anos de experiência de Valeria e Rodolfo no terceiro setor, quando tiveram a oportunidade de fundar organizações não-governamentais voltadas à conservação de espécies marinhas. A reabilitação das diferentes espécies que são levadas à Aiuká pela população ou por parceiros da área de conservação ocorre nos dois Centros Operacionais da organização. Entre os parceiros deste trabalho estão os
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Figura 11 – Derramamento de óleo em Roterdã, na Holanda, decorrente de colisão entre a embarcação (MS Bow Jubail) e o terminal portuário. A) Valéria Ruoppolo realizando exame clínico em cisne-mudo (Cygnus olor). B) Jéssica Domato realizando exame clínico em cisne-mudo (Cygnus olor). C) Enxágue dos resíduos após a limpeza. D) Recondicionamento das aves após a limpeza do óleo
Grupamentos Ambiental e Costeiro da Guarda Civil Municipal de Praia Grande, SP, o Instituto Biopesca e órgãos ambientais de Rio das Ostras, RJ. Buscando o aprimoramento da reabilitação em todos os seus estágios, e no sentido de promover conhecimento, a Aiuká oferece treinamento especializado para os cadetes dos Grupamentos Ambiental e Costeiro da Guarda Civil Municipal de Praia Grande ao início de suas atividades. Nessas aulas, os alunos são instruídos quanto aos diferentes grupos animais, formas corretas de contenção das diferentes espécies encontradas na região, o acondicionamento correto da fauna, segurança no trabalho e uso de EPIs (equipamentos de proteção individuais) e sobre a importância das zoonoses (Figura 12). Além disso, os
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Figura 12 – Parceria com o Grupamento Ambiental e Costeiro da Guarda Civil Municipal de Praia Grande. A) Treinamento dos cadetes. Participação da GCM-Ambiental no treinamento e na soltura de aves de rapina (B: Falco femoralis e C: Caracara plancus)
resultados da parceria são apresentados durante o curso com informações do número de animais atendidos e as solturas realizadas. Com esse trabalho de parceria na reabilitação, no ano de 2019, 328 animais, entre aves, mamíferos e répteis, receberam cuidados nos dois Centros Operacionais da Aiuká. Este número vem crescendo anualmente desde 2015, quando esses trabalhos se iniciaram. E, ao longo dos 10 anos de história, um total de 1.012 animais foram atendidos nas instalações da Aiuká (Figura 13). Deste total, destacam-se como espécies predominantes para cada classe, o pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus) para as aves, o saruê-de-orelha-preta (Didelphis aurita) para os mamíferos e a tartaruga-verde (Chelonia mydas) para os répteis (Figura 14). Ao ingresso, os animais passam por exame g
Classe
aves
mamíferos
répteis
Número de 677 indivíduos
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Número de 124 espécies
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Figura 13 – Animais presentes na reabilitação da Aiuká de 2015 a 2019 28
clínico minucioso, a fim de angariar o maior número de informações que possam conduzir ao seu tratamento efetivo. Neste sentido, o responsável pela entrega do animal, seja civil ou pertencente a uma instituição pública, também é questionado sobre o histórico daquele animal. A causa dos ingressos deve-se a motivos diversos, porém ocorrem principalmente em função de interações antrópicas. Entre os problemas apresentados estão a ingestão de lixo e emalhe em redes de pesca por tartarugas marinhas, traumas diversos para as aves, sendo incluídos nesta categoria choques mecânicos sofridos por colisão com estruturas, quedas de ninhos e atropelamento. Já para os mamíferos, as ocorrências mais comuns são de filhotes órfãos. Após atendidos, os animais são reabilitados, sendo acompanhados diariamente por médicos-veterinários até que sua condição de higidez seja recuperada para então, após receberem a marcação permanente (anilha ou microchip), serem liberados (Figura 15). Nessa etapa do processo existe também o apoio do Grupamentos Ambiental e Costeiro da Guarda Civil Municipal de Praia Grande. O processo somente é realizado após a emissão da autorização de soltura pelo Sistema Integrado de Gestão de Fauna Silvestre (SIGAM) do Departamento de Fauna da Subsecretaria de Meio Ambiente de São Paulo.
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Figura 15 – Atendimento clínico de animais silvestres. A) Jéssica Domato (à esquerda) e Maria Clara Sanseverino, em atendimento de um jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Ao centro, oficial da Defesa Civil do RJ que resgatou o animal e o levou ao COP RJ. B) Da esquerda para a direita: Jamenson Silva, Aline Nascimento (médica-veterinária) e Débora Silva (estudante de medicina veterinária), no COP SP, para atendimento de um veado-catingueiro (Mazama gouazoupira) Figura 14 – Animais com maior incidência na reabilitação da Aiuká (2015-2019). A) Pinguim-de-Magalhães (Spheniscus magellanicus). B) Tartaruga-verde (Chelonia mydas). C) Saruê-de-orelha-preta (Didelphis aurita)
A Aiuká atua de maneira responsável na questão socioambiental também no apoio ao Instituto Mar (www.institutomar.org.br), organização integrante da sua rede de parceiros. “Promovemos a conscientização e a mobilização da sociedade para sensibilizá-la quanto às ameaças ao ecossistema marinho e à importância da sua conservação, propondo
convênios e parcerias a fim de desenvolver esforços conjuntos em direção a esse objetivo”, explicou a bióloga Laura Ippolito Moura, Gerente de Operações do Instituto Mar (Figura 16). Centros Operacionais em São Paulo e no Rio de Janeiro O Centro Operacional da Aiuká em Praia Grande, o COP Aiuká SP, é a mais moderna instalação no Brasil preparada exclusivamente para o manejo e a reabilitação de fauna oleada. A organização conta ainda com outro
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Instituto Mar
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Figura 16 – Instituto Mar na Praia Grande, SP, após ação do Dia Mundial da Limpeza em 21/9/2019, www. worldcleanupday.org
Centro Operacional, esse em Rio das Ostras, o COP RJ, que replica as boas práticas implementadas no COP SP. Ambas as instalações são adaptadas para o processo de recebimento, manejo e reabilitação de fauna marinha e silvestre e estão sempre preparadas para o resgate, atendimento de emergências e reabilitação da fauna (Figura 17). O COP SP está construído em 750 m² e suas áreas de trabalho se dividem em administrativas e veterinárias. Já o COP Aiuká RJ tem aproximadamente 730 m² de área construída. A localização de ambas as instalações foi decidida de forma estratégica, a fim de estar perto de duas das principais bacias de exploração de petróleo no Brasil, a Bacia de Santos e a Bacia de Campos. Essa proximidade contribui para o tempo de deslocamento da equipe no caso de uma emergência, e possibilita o trabalho de reabilitação das aves provenientes de plataformas e embarcações. Cotidiano Além de todas as atividades voltadas à reabilitação de animais e, sendo que o dia-a-dia da Aiuká nem sempre é composto por atendimentos a emergências ambientais, há também uma rotina de preparação que envolve a todos. Estar com os profissionais e os equipamentos preparados para situações de emergência envolve a rotina diária e é o que assegura ter uma boa resposta nessas ocasiões. 30
Elaboração de estratégias e planejamento para Planos de Proteção à Fauna (PPAFs) Tais planos de contingência são elaborados para situações específicas de cada operação (Figura 18), considerando a área de atuação e onde está situado o poço. Nessa tarefa, a equipe multidisciplinar reúne todas as informações disponíveis para determinar qual será a melhor estratégia para atender a uma emergência com suas características especificas. Com o plano pronto e, a fim de colocá-lo em prática e buscar melhorias, exercícios simulados são realizados anualmente para que todos compreendam e exercitem a sua participação numa emergência. Os exercícios simulados criam uma situação correspondente a um acidente real, e permitem que cada setor de atendimento da emergência treine suas habilidades, faça seu planejamento, determine a logística necessária e os recursos a serem utilizados. Os exercícios contemplam desde o acionamento da equipe, o deslocamento, a mobilização de pessoas e equipamentos, até o briefing final do primeiro dia de uma emergência, levantando os pontos positivos e aqueles passíveis de melhoria diante de uma situação real (Figura 19). Elaboração e execução do PMAVE (Projeto de monitoramento de impactos de plataformas e embarcações sobre a avifauna) Esse projeto tem como finalidade principal elucidar a ocorrência das aves em plataformas, embarcações e/ou unidades marítimas e entender o possível impacto delas, especialmente para as aves marinhas. Seu desenvolvimento envolve a elaboração do projeto com as características específicas de cada operação e o treinamento dos técnicos embarcados responsáveis (TER). Esses técnicos conciliam a rotina de trabalho nas unidades marítimas com a função de observadores de oportunidade. Uma vez que avistem ou encontrem uma ave que necessite de cuidados específicos, entram em contato com os técnicos da Aiuká
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Figura 17 – COPs em ação! A) Viviane Barquete ministrando a parte prática do treinamento de “Técnico Embarcado Responsável” para implementação do PMAVE. B) Tiago Leite (tratador do COP RJ, em Rio das Ostras) realizando limpeza das instalações para reabilitação de animais marinhos. C) José Carlos dos Santos Neto em prontidão em Rio das Ostras – equipamentos preparados para acionamento de emergência. D) Maria Clara Sanseverino na alimentação de gaivotão (Larus dominicanus), na reabilitação (COP RJ, em Rio das Ostras)
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para realizarem o atendimento com auxílio remoto, até o desembarque do animal. O treinamento capacita-os a identificar um animal doente, realizar a captura e acondicionamento até o seu desembarque, além da preparação da documentação necessária para os órgãos ambientais. A verificação da documentação pertinente dentro de parâmetros estabelecidos pelos órgãos ambientais é parte fundamental do processo. O atendimento remoto das aves por meio de comunicação com o TER auxilia na manutenção da ave enquanto aguarda o desembarque para o atendimento completo, quando do resgate e do transporte da ave acometida até um dos centros de reabilitação. Pode ocorrer também o embarque de um
médico-veterinário em unidades marítimas (plataformas, embarcações, etc) quando há ocorrência de animal instável clinicamente e que tenha status alto de conservação. Para isso, os médicos-veterinários da Aiuká passam por treinamentos específicos que viabilizam o embarque nessas unidades. Os treinamentos requeridos para o ambiente offshore, o T-Huet (Tropical Helicopter Underwater Escape Training) e o CBSP (Curso Básico de Segurança de Plataforma), são treinamentos de salvatagem considerados vitais para o trabalho em embarcações e unidades marítimas, como um pré-requisito de segurança. Por isso, a equipe técnica da Aiuká mantém essas exigências em dia para não ter qualquer impedimento num cenário de emergência.
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Medicina veterinária de desastres Ressalta-se que todas as ocorrências que fogem ao escopo do projeto são devidamente comunicadas aos órgãos ambientais para obter as autorizações pertinentes às ações de resgate e reabilitação.
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Figura 18 – Elaboração de planos e estratégias em diferentes cenários. A) Na situação de campo de emergência. Da esquerda para a direita: Carolina Galvão, Hudson Lemos, Danielle Mello. B) No escritório, equipe durante simulado interno. Da esquerda para a direita: Aline Nascimento, Juan Medeiros, Renato Yoshimine, Hudson Lemos e Débora Silva (estagiária de medicina veterinária)
Dentre os acionamentos para atendimento de aves, por vezes há surpresas nas diferentes espécies encontradas em unidades marítimas. Um dos casos mais notáveis foi o de uma jiboia (Boa constrictor constrictor). Não é possivel saber ao certo como o animal acessou a embarcação, mas uma vez encontrado por um dos técnicos à bordo gerou insegurança na unidade e, para isso, um dos profissionais da Aiuká embarcou por aeronave até a unidade para realizar o resgate (Figura 20). 32
▪ Reabilitação de fauna oleada O procedimento ocorre durante emergências envolvendo vazamento de óleo ou de forma esporádica, quando animais acometidos por óleo ou derivados, provenientes de outras instituições, são destinados à Aiuká para sua reabilitação. Para a reabilitação desses animais, é utilizado um protocolo padrão internacional, ou seja, todos os participantes do GOWRS Project utilizam a mesma metodologia para a reabilitação. Essa padronização simplifica o trabalho em equipe quando há cooperação internacional de instituições e permite realizar melhorias de acordo com a experiência de todos. Pertencem ao processo as seguintes etapas (Figura 21): 1. Admissão no centro de reabilitação Recepção do animal com exame físico para triagem. É importante salientar que o atendimento veterinário em eventos com um alto número de animais acometidos funciona semelhantemente a um hospital de campanha numa guerra, onde os pacientes serão triados segundo a severidade do seu quadro clínico para o tratamento. Essa etapa também é composta por um exame de sangue simples (hematócrito e proteínas plasmáticas totais). Nesse momento há limpeza dos excessos do produto contaminante dos olhos e mucosas, enfatizando que esse não é o momento para a limpeza completa do corpo dos indivíduos. 2. Estabilização Após a determinação de seu estado, os animais são separados em grupos de mesma espécie e com estado clínico semelhante, inclusive no grau de contaminação por óleo. Esses animais serão estabilizados, recuperando peso, hidratação e condição clínica estável
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F Figura 19 – Exercícios simulados do Porto de Santos. A) À direita, Jamenson Silva. B) Murilo Pratezi ministrando treinamento embarcado para o monitoramento e a captura de fauna. C) Instalação móvel preparada para estabilização da fauna capturada antes do transporte ao centro de reabilitação. D) Transporte até o centro de reabilitação. À esquerda, Débora Silva, no centro Murilo Pratezi, e, à direita, Jaqueline Caetano (estagiária de medicina veterinária. E) Admissão do animal no centro de reabilitação. À esquerda, Guilherme Pozzer (estagiário de medicina veterinária); à direita, Rodolfo Silva. F) Briefing com a equipe de reabilitação para alinhamento das tarefas
para então serem encaminhados para a limpeza do produto contaminante. 3. Limpeza do óleo, enxágue e secagem O procedimento completo de limpeza dos animais é um assunto extenso e merece atenção e dedicação especial. De maneira generalista, é o momento em que é retirado todo o produto contaminante do animal, seguido por um enxague completo para que não reste qualquer resíduo. Após a secagem do corpo, é possível avaliar a eficácia do banho. O ideal é que seja um procedimento único, sem necessidade de repetição. O tempo do procedimento completo varia de acordo com a espécie e nível de contaminação. Vale acrescentar que os animais passam por uma nova avaliação clínica prévia à sua
limpeza assegurando sua estabilidade clínica para suportar este procedimento. 4. Recondicionamento Essa é a etapa final. Nela o animal será acondicionado em recinto com água limpa disponível e será constantemente estimulado a fazer o alinhamento de suas penas (no caso das aves). Receberá também uma dieta equilibrada já visando sua soltura. 5. Exame pré-soltura + anilhamento Ocorre nova avaliação clínica, agora para verificar se os animais apresentam quadro clínico condizente com sua espécie. Além disso, passam por uma importante avaliação chamada “Teste de impermeabilização”. Tal avaliação visa verificar se as aves recuperaram sua capacidade de impermeabilização de penas,
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Medicina veterinária de desastres acordo com a sua espécie. 6. Soltura Deve ser sempre realizada em local de ocorrência da espécie. Neste caso, é importante determinar se a área afetada pelo acidente já foi recuperada para que o animal não volte a se contaminar. Ainda assim, é recomendável liberar o animal em área distante à do acidente.
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Figura 20 – A) Renato Yoshimine após a captura e resgate de uma jiboia (Boa constrictor constrictor). B) O animal foi resgatado de um equipamento de uma embarcação de apoio de plataforma de produção de petróleo
ou seja, as penas externas precisam funcionar como uma barreira impermeável e impedir que as plumas e a pele do animal se molhem. Aprovados nestes dois testes, os animais são anilhados ou marcados para sua soltura, de 34
Atualidades Em agosto de 2019, manchas de óleo começaram a aparecer em praias do litoral nordestino. Com origem incerta, a mancha proveniente de mar aberto começou a assustar moradores e turistas de, pelo menos, quatro estados. No início de setembro, após grupos locais iniciarem uma resposta voluntária com intuito de limpar as áreas acometidas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), passou a organizar a resposta e fornecer informações necessárias para que o trabalho de limpeza de praia e de reabilitação de fauna fosse feito de maneira ordenada e segura. De forma sistemática, o Ibama listou instituições que já trabalhavam com animais marinhos e silvestres que pudessem participar de forma voluntária da reabilitação de fauna acometida e passou também a organizar todas as informações no seu site (https://www.ibama. gov.br/manchasdeoleo). Em novembro, quando resíduos contaminantes foram encontrados no litoral do Sudeste, a Aiuká cooperou voluntariamente com o órgão ambiental a fim de receber animais provenientes da emergência com o óleo, seja em seus municípios de atuação, seja por meio de parceiros ou outras instituições que desejassem encaminhar os animais aos seus cuidados. Nas últimas atualizações, os resíduos de óleo chegaram a 12 estados, totalizando 1.004 pontos; destes, 570 estão limpos e 434 localidades ainda seguem com vestígios esparsos de contaminação. As atualizações são publicadas semanalmente no site do Ibama.
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Figura 21 – Etapas da reabilitação de fauna oleada. Biguás (Phalacrocorax brasilianus) contaminados por óleo diesel. A) Admissão. B) Estabilização: hidratação e alimentação dos animais antes do banho. C) Limpeza do contaminante. D e E) Enxágue. F) Secagem de aves utilizando secadores pet. À esquerda, Débora Silva; à direita, Murilo Pratezi
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Jéssica Domato Ribeiro MV, CRMV, MSc. Aiuká jessica.domato@aiuka.com.br
Alice Mondin bióloga, MSc. Aiuká alice.mondin@aiuka.com.br
Maria Carolina Ramos jornalista com especialização em comunicação ambiental e jornalismo científico. Consultora/Aiuká carol.ramos@aiuka.com.br
Rodolfo Pinho da Silva Filho MV, CRMV-RS: 5.281, MSc. Aiuká rodolfo.silva@aiuka.com.br
Murilo Rainha Pratezi biólogo, Aiuká murilo.pratezi@aiuka.com.br
Valeria Ruoppolo MV, CRMV-SP: 8.603, MSc., PhD. Aiuká valeria.ruoppolo@aiuka.com.br
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Manejo do complexo respiratório felino em abrigos Introdução Os abrigos são locais em que os gatos estão mais predispostos às doenças infecciosas, em função da alta densidade, do estresse, de nutrição inadequada e de doenças sistêmicas ¹. Os gatos domésticos são predadores territorialistas e solitários ², e mantê-los em um abrigo gera estresse, principalmente em função da alta densidade animal 2,3, o que também dificulta a eliminação de doenças infecciosas 4. No entanto, as práticas de gestão e manejo podem reduzir substancialmente a frequência e a severidade das doenças 5. Cada abrigo tem uma estrutura física peculiar, e o manejo e a gestão diferem em cada caso, necessitando de protocolos personalizados para o desenvolvimento adequado das ações e a manutenção de bons níveis de bem-estar dos animais mantidos 4. Prevenir a transmissão de patógenos do complexo respiratório felino (CRF) em um abrigo é desafiador, devido aos sinais clínicos inespecíficos e à possibilidade de coinfecção 5,6. Doenças do trato respiratório superior (DTRS) são comuns em gatis, sendo as duas principais a herpesvirose felina tipo 1 (FHV) e a calicivirose felina (FCV). Entretanto, outros agentes menos comuns podem estar envolvidos nas DTRS, como o Mycoplasma sp, a Chlamydophila felis e a Bordetella bronchiseptica 1,5,7. O tratamento de DTRS em gatos de abrigos difere do proporcionado a animais que não vivem em situações de alto risco. Os gatos de abrigo são mais expostos a patógenos respiratórios, como a Bordetella bronchiseptica e a Chlamydophila felis, além de uma variedade de infecções bacterianas secundárias, em virtude da concentração dessas bactérias nesses ambientes. Em vez de tratar todos os gatos levemente afetados com sinais respira36
tórios com antibióticos, devem-se adotar medidas para reduzir o risco de infecções bacterianas secundárias 8. Uma das medidas para o controle e a prevenção de enfermidades infecciosas é submeter todos os animais a testes de diagnóstico no momento da entrada no abrigo 5, mas isso nem sempre é possível, devido às restrições orçamentárias e à falta de conscientização dos gestores. k
Complexo respiratório felino O complexo respiratório felino (CRF) refere-se à apresentação aguda característica de doença contagiosa respiratória ou ocular causada por um ou múltiplos patógenos. Pelo menos cinco patógenos têm sido implicados como agentes causadores de doença respiratória superior em felinos: calicivírus felino (FCV), herpesvírus felino tipo 1 (FHV-1) e espécies de Mycoplasma, Chlamydophila felis e Bordetella bronchiseptica 7,9,10. O CRF raramente acomete gatos alojados individualmente dentro de casa, sendo um grande problema em abrigos de animais 11. A apresentação clínica do CRF é semelhante em gatos filhotes e adultos, e os sinais clínicos variam de leves a muito graves. Os sinais mais comuns de CRF incluem secreção nasal serosa, mucoide ou mucopurulenta; espirros; conjuntivite e secreção ocular; ulcerações dos lábios, língua, gengivas ou plano nasal; salivação; tosse, febre, letargia e inapetência 6. As infecções bacterianas secundárias podem levar a complicações graves, incluindo infecções no trato respiratório inferior (pneumonia). As infecções virais secundárias simultâneas também são possíveis, especialmente em abrigos de animais. A presença de duas ou mais infecções pode complicar a doença clínica 12-14. Tanto a inespecificidade dos sinais
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clínicos como a possibilidade de coinfecção tornam a investigação clínica e o diagnóstico dificultosos 15-17. A vacinação, comum para herpesvirose, calicivirose e Chlamydophila felis pode atenuar, mas não garante uma proteção completamente eficaz contra essas doenças, nem impede a excreção do vírus pelos animais já infectados 15-17. Todos esses agentes podem ser detectados em gatos clinicamente saudáveis na forma latente 18 ou persistente 19, ou como parte de infecções da flora normal 20-22. Prevenção Um programa eficaz de prevenção às doenças infecciosas em abrigos é mais eficiente, humanitário e barato, a longo prazo, do que o seu tratamento 6. Mas, devido à falta de conhecimento específico em medicina de abrigos tanto dos gestores quanto dos médicos-veterinários, bem como à falta de recursos humanos e de tempo, os protocolos preventivos não são aplicados corretamente 4. Quarentena A quarentena inicialmente foi empregada nos abrigos para controlar os surtos de raiva, na década de 1980 4. Contudo, verificou-se que manter os animais em observação por até 21 dias era eficiente para controlar as demais doenças infecciosas 5. No que se refere à admissão de novos animais no abrigo, a quarentena de no mínimo 10 dias é essencial para manter a segurança dos animais já abrigados. Estes devem ser avaliados por um médico-veterinário até 24 horas após a chegada, e vacinados e desverminados 23 na admissão. Em relação à prevenção de DTRS, as gaiolas que ficam de frente uma para a outra devem ter pelo menos 1,5 m de distância entre si para evitar a transmissão de gotículas quando os gatos espirram 8. A figura 1 representa a quarentena de um abrigo de gatos em que ocorre um surto de CRF e onde não há espaço suficiente para alojar corretamente as gaiolas, de forma a cumprir a distância citada.
Figura 1 – Quarentena de um abrigo de gatos onde não há espaço suficiente para alojar corretamente as gaiolas
Isolamento O isolamento é um local dentro do abrigo destinado à manutenção dos animais que apresentam sinais clínicos de doenças infecciosas, cujo período de permanência nesse ambiente deve se estender até a cura da enfermidade. Embora os gatos possam continuar a eliminar o patógeno após o desaparecimento dos sinais clínicos (por períodos variáveis e muitas vezes prolongados), eles devem ser removidos do isolamento quando totalmente recuperados, e passados para a quarentena 5. Após a quarentena, idealmente devem ser alojados em lares transitórios até a adoção. No Brasil, as ONGs não têm um local específico e nem recursos humanos e financeiros suficientes para manejar os animais doentes dentro do próprio abrigo, razão pela qual o isolamento se dá em clínicas ou hospitais veterinários parceiros.
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Vacinação As vacinas contra enfermidades respiratórias não previnem a infecção, a transmissão do agente ou os estados carreadores após a infecção 24. Em vez disso, são projetadas para diminuir a gravidade dos sinais clínicos da doença. O protocolo de vacinação em abrigos difere do utilizado em clínicas, uma vez que em abrigos é necessário manejar o coletivo, e não o indivíduo 4. Para parvovírus, calicivírus e herpesvírus felino tipo 1, recomenda-se a vacinação de filhotes (4-6 semanas de idade) utilizando vacina de vírus vivo modificado na entrada do animal no abrigo, e a repetição de doses a cada 2-3 semanas, até o animal completar 16-20 semanas de idade. Para adultos (16-20 semanas de idade), a primeira dose deve ser aplicada na entrada do animal no abrigo e repetida após 2-4 semanas, totalizando duas doses. O reforço deve ser anual. Esse protocolo deve ser realizado independentemente da saúde e da condição corporal de cada animal, incluindo aqueles com febre moderada, doenças ou lesões, gestantes ou lactantes 5,6,25,26-28. Contra a Bordetella bronchiseptica, recomenda-se realizar a vacinação intranasal em todos os gatos 3 dias (72 horas) antes de deixar a quarentena – apenas em animais que não tenham apresentado nenhum tipo de sinal clínico durante esse período 22. Redução do estresse Para diminuir a contaminação com agentes infecciosos, é fundamental reduzir o estresse e, consequentemente, a imunossupressão, principais responsáveis pelo reaparecimento de infecções por herpesvírus, entre outras 2,6. Os gatos conseguem se adaptar mais facilmente a abrigos que disponham de estratégias de enriquecimento ambiental (Figura 2), produzindo menos cortisol, o que indica menor nível de estresse 3. A redução do estresse também contribui para a adoção do animal, uma vez que os problemas comportamentais são as principais causas de abandono e rejei38
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Medicina veterinária do coletivo
Figura 2 – Enriquecimento ambiental em um abrigo de gatos
ção por parte dos tutores 28,29. Melhorar o isolamento acústico de latidos de cães e outros sons, dispor de janelas e outras fontes de luz natural, prover esconderijos e áreas elevadas acima do chão são fatores que contribuem para que os gatos se sintam mais seguros e reduzem significativamente o estresse nos abrigos 3. Os gatos têm o hábito de arranhar, caçar, mastigar, escalar, esconder-se e brincar, que devem ser supridos para aumentar o seu grau de bem-estar 2,30. Para melhorar o convívio entre gatos confinados em abrigo coletivo, recomenda-se manter uma caixa de areia para cada gato adulto, além de comedouros, bebedouros, arranhadores, brinquedos e esconderijos suficientes para todos os indivíduos 2. No caso de abrigos que realizam o alojamento em gaiolas ou durante o período de quarentena, verificou-se que uma distância triangulada inferior a 60 cm entre a colocação da bandeja sanitária, o local de repouso e a área de alimentação afeta de forma adversa
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Lorena Teles de Santana
Figura 3 – Espaçamento mínimo recomendado entre a colocação da bandeja sanitária, o local de repouso e a área de alimentação
a ingestão de alimentos pelos gatos (Figura 3). Foi constatado que os gatos alojados em gaiolas com 1 m² de área útil sofrem significativamente menos estresse do que aqueles que dispõem apenas de 0,4 m² de espaço 26. Limpeza e desinfecção Práticas corretas de limpeza e desinfecção ajudam a reduzir a transmissão de doenças infecciosas tanto para os animais quanto para os seres humanos, e resultam num ambiente mais limpo e saudável 26. A higienização adequada é realizada em três etapas: remoção mecânica dos resíduos (recolhimento das fezes e troca da areia das caixas disponíveis) e uso de detergente emoliente, seguido de uso de desinfetante. Os protocolos de limpeza e desinfecção eficazes removem o agente infeccioso do ambiente 5,6, porém não há um detergente ou desinfetante ideal, e recomenda-se alternar os métodos de higienização para abranger maior quantidade de agentes no momento da limpeza 6. A transmissão de agentes em abrigos ocorre principalmente de forma horizontal, direta ou indireta. A transmissão horizontal direta ocorre de um animal infectado para outro, enquanto a indireta depende de fômites ou do ar 5. As mãos, os sapatos e as roupas dos fun-
Figura 4 – Nebulização como parte do manejo terapêutico do complexo respiratório felino
cionários e visitantes podem servir de fômites pelos seres humanos 5,6. Manejo terapêutico A eliminação de infecções do trato respiratório superior em gatos de abrigo é dificultada devido à alta infectividade dos agentes e à facilidade de transmissão, pela incapacidade de a vacinação prevenir a infecção e pela suscetibilidade dos gatos à reinfecção. As práticas de gestão podem reduzir a frequência e a gravidade da doença 8. O manejo terapêutico recomendado com o objetivo de reduzir a carga patogênica do ambiente e dos animais inclui a separação dos animais sintomáticos em área de isolamento e a avaliação da necessidade de antibioticoterapia para combater a infecção conjunta de Bordetella bronchiseptica e Mycoplasma haemofelis e infecções secundárias. Os derivados das tetraciclinas são os antibióticos utilizados com maior frequência em gatos. A doxiciclina é o fármaco de eleição, por ter menos efeitos colaterais que as demais tetraciclinas nessa
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Medicina veterinária do coletivo espécie 31,32,33 e pelo baixo custo de mercado, o que reduz o valor do tratamento. A ingestão de alimentos é extremamente importante para a recuperação da saúde. Muitos gatos deixarão de comer por causa da perda olfativa ou de úlceras orais. Os alimentos devem ser altamente palatáveis e podem ser misturados e aquecidos para aumentar o sabor 34. Podem-se usar estimulantes do apetite (por exemplo, ciproeptadina). Deve-se realizar limpeza com solução fisiológica em gatos que apresentem corrimento nasal. Pode-se usar nebulização com soro fisiológico para combater a desidratação das vias aéreas (Figura 4). Os gatos em estado grave devem ser levados para clínicas ou hospitais veterinários, uma vez que a maioria dos abrigos brasileiros não dispõe de local para tratamentos intensivos. É importante ressaltar que os animais tratados e recuperados da infecção podem tornar-se portadores assintomáticos por tempo indeterminando, e até por toda a vida 32. Considerações finais Os gatos alojados em abrigos são mais suscetíveis a infecções por diversos agentes patogênicos. Dentre eles, os agentes do CRF são de difícil controle e diagnóstico. As DTRS são comuns em gatis, e o tratamento de gatos de abrigo difere do tratamento individualizado de animais que têm tutor. As medidas de prevenção são mais eficazes e baratas para os abrigos do que o tratamento medicamentoso posterior à infecção. A realização correta dos protocolos de quarentena, isolamento e vacinação tem sido efetiva para o controle da doença nos ambientes coletivos. Além disso, a redução do estresse e o aumento do grau de bem-estar também estão diretamente relacionadas à ocorrência da doença. Referências
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MV, CRMV-PR: 16.697 Serviço de Perícia Animal – UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos – UFPR cintia.ferraz08@gmail.com
Lucas Galdioli
MV, CRMV-PR: 16.773 Serviço de Perícia Animal – UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos – UFPR lucasgaldioli@hotmail.com
Letícia Christine Felician Lima
MV, CRMV-PR: 15.435 Serviço de Perícia Animal – UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos – UFPR leticia_felician@hotmail.com
Rita de Cassia Maria Garcia
MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. – UFPR Depto. de Medicina Veterinária UFPR ritamaria@ufpr.br
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Enfrentamento de surto de Tunga penetrans em comunidade rural, Campo Magro, PR l
Introdução A tungíase é uma ectoparasitose causada pela penetração na pele da fêmea da pulga Tunga penetrans 1,2. É geralmente associada à pobreza, pois fatores como condições precárias de habitação, baixa taxa de escolaridade, presença de animais e o baixo nível socioeconômico predispõem a infecções mais graves 3,4, constituindo um problema de saúde pública em áreas carentes 1. O ectoparasita alimenta-se de sangue de animais como cães, gatos, ratos, porcos e seres humanos 1. Ainda que a real importância do papel dos animais para a infestação pela T. penetrans em seres humanos seja incerta, admite-se o caráter zoonótico da tungíase, o que torna o seu controle mais complexo 5,6. Ovos, larvas e pupas no ambiente podem persistir por semanas a meses, preferencialmente em solo seco, arenoso e com pouca luminosidade 1. A existência de reservatórios animais distintos e sua sobrevivência por longos períodos no ambiente sem a necessidade de um hospedeiro tornam tanto o controle como o tratamento da tungíase um desafio 1,2. As áreas mais comumente acometidas nos seres humanos são as extremidades inferiores, como peri ou subungueais, calcanhares, tornozelos, espaços interdigitais e plantas dos pés 1 – essa localização de predileção deu origem ao nome popular no Brasil: “bicho-de-pé” 5 –, porém a tungíase também pode afetar as mãos ou qualquer parte do corpo 1,5. As lesões podem ser únicas ou múltiplas e se caracterizam por pápulas ceratósicas com elevação central enegrecida, devido à parte posterior da pulga 7. Os principais sintomas são prurido, devido à penetração da pulga na pele, e dor, pelo seu crescimento 1. Se a infes44
tação envolver poucas pulgas, não causará uma doença significativa, sendo normalmente autolimitada 5,8. Porém, nas áreas endêmicas em que a reinfestação é constante, os indivíduos afetados podem apresentar dezenas de parasitas em diferentes estágios, levando a complicações como infecções secundárias (Staphylococcus aureus e Streptococcus spp.) 1, que servirão como porta de entrada para o Clostridium tetani, causador do tétano, em indivíduos não vacinados 5. Pode ocorrer deformação e até amputação dos dígitos em decorrência dessas complicações 5. A clínica da tungíase nos animais é parecida à encontrada em seres humanos; as lesões ocorrem na maioria das vezes nas patas e podem causar infestação grave, provocando superinfecção bacteriana e consequente septicemia 5. O tratamento preconizado é a retirada da pulga com uma agulha ou instrumento semelhante, em condições estéreis. Depois de retirada a pulga, a ferida deve ser tratada. Como medida complementar, deve-se realizar a profilaxia antitetânica em pacientes não imunizados. O tratamento oral tem sido sugerido nos últimos anos, porém não há comprovação de sua efetividade 1,5. Considerando que o tratamento da tungíase é limitado, a profilaxia ainda é a melhor opção para o controle do parasita. A pavimentação das vias públicas e a cimentação dos pisos das casas são medidas importantes para o controle. Deve-se incentivar o uso de sapatos fechados como prevenção primária, apesar de sua proteção contra a penetração ser parcial em áreas endêmicas 1,5. A educação em saúde deve priorizar as medidas gerais de higiene, a prevenção de infecções secundá-
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rias, a retirada adequada das pulgas com instrumento estéril e a realização de autoexame diário 1,2,5. O controle do ambiente com o uso de inseticidas 1 deve ser cuidadoso, devido ao risco de contaminação de hortaliças, fontes de água e rios. O controle da T. penetrans deve abranger não apenas o hospedeiro humano, mas também o controle do reservatório animal e socioambiental. Devido à complexidade de intervenções necessárias para seu controle, as ações precisam ser planejadas por um grupo interdisciplinar de profissionais em conjunto com a comunidade. Além disso, devem-se instituir políticas públicas que fomentem mudanças sustentáveis de qualidade de vida e saúde das comunidades afetadas 5. Relato de caso Campo Magro é uma cidade localizada na região metropolitana de Curitiba, com população estimada de aproximadamente 29 mil habitantes e densidade demográfica de 90,22 hab/km². A extensão territorial é de 275,352 km², sendo que grande parte do território integra uma Área de Proteção Ambiental (APA). Atualmente, tem oito unidades básicas de saúde e uma equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) que atende todo o município. De modo a intensificar as ações relacionadas às interações entre seres humanos, animais e meio ambiente – incluindo a inserção dos médicos-veterinários no Núcleo de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), a fiscalização de maus-tratos e a implantação de programas para o manejo populacional de cães e gatos –, em 2019 firmou-se uma parceria entre a prefeitura de Campo Magro e a Universidade Federal do Paraná, especificamente com a área de residência em medicina veterinária do coletivo. Desde fevereiro de 2019, o município conta diariamente com a presença de um residente da área que é responsável por realizar vistorias para verificar as denúncias de maus-tratos aos animais e as notificações de atendimento antirrábico e
de acidentes por animais peçonhentos, acompanhar o Nasf-AB nas reuniões de matriciamento nas unidades de saúde e auxiliar no planejamento e no desenvolvimento de projetos. Em abril de 2019, uma Unidade de Saúde da Família da área rural solicitou à equipe do Nasf-AB que realizasse uma visita domiciliar na comunidade Capivara dos Ferreiras, relatando que no local havia uma paciente de nome Joana (53 anos), portadora de deficiência intelectual, acometida por tungíase. Por se tratar de uma zoonose, a equipe solicitou que a médica-veterinária residente em medicina veterinária do coletivo acompanhasse a visita para avaliar as condições ambientais e dos animais. Para criar um vínculo entre profissionais de saúde e a comunidade e compreender a organização familiar e da comunidade, levando em consideração suas crenças, valores e comportamentos adotados 9, utilizaram-se ferramentas de saúde da família 10. Essas ferramentas possibilitam sistematizar e sintetizar os modos como se organizam as redes de cuidado em saúde, dando-lhes visibilidade e mostrando quem as compõe, a qualidade de suas relações e os significados produzidos nas suas ligações 11. A ferramenta escolhida foi o Ecomapa, a fim de identificar as relações
Figura 1 – Ecomapa da comunidade Capivara dos Ferreiras, 2019. Demonstra a interação social entre os indivíduos da comunidade e os atores da saúde: Agente Comunitária de Saúde (ACS), Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS) e Unidade de Saúde
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Figura 4 – Interior da casa da paciente Joana. Teto e paredes apresentando grandes falhas de cobertura (setas) Michele Brugnerotto
Michele Brugnerotto
Figura 2 – Exterior da casa da paciente Joana. Presença de animais, inclusive um cão com pata quebrada (seta)
Figura 3 – Interior da casa da paciente Joana. Manchas de fumaça (seta) oriundas do fogão à lenha localizado na sala. Chão de terra batida 46
que havia entre aquelas pessoas e os meios externos, e pode-se notar que no início da intervenção a ligação com a Unidade de Saúde era distante, e com o decorrer dos atendimentos, esta ligação foi fortalecida. A comunidade era constituída de quatro casas, sendo a residência da paciente a mais afastada e de acesso mais difícil, construída de madeira e com chão de terra batida, paredes frágeis e com frestas entre as ripas e apresentando estrutura sem manutenção (Figuras 2 a 5). As condições de higiene eram ruins, e a energia elétrica era utilizada somente para o funcionamento da geladeira. Sem encanamento nem poço, a água provinha do açude. A paciente morava com o padrasto Pedro (76 Michele Brugnerotto
Michele Brugnerotto
e ligações da família com o meio em que habita (sistema ecológico) 12. Neste contexto, o Ecomapa é uma ferramenta que identifica as relações e ligações da família com o meio onde habita. Por meio de representações gráficas ele representa as ligações de uma família e as estruturas sociais do meio, formando como se fosse um “sistema ecológico”, onde é possível observar os padrões de organização de uma família e a maneira que ocorrem as suas ligações com o meio 12. Para que houvesse um entendimento mais claro de como era a dinâmica daquela comunidade optou-se por realizar a confecção de um ecomapa (Figura 1), onde foi possível observar as ligações
Figura 5 – Local onde a paciente Joana dormia
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Michele Brugnerotto
Figura 6 – Pés da paciente Joana parasitados com tungíase na primeira visita
anos) e o meio-irmão Fernando (42 anos). A médica-veterinária e a técnica de enfermagem da unidade de saúde identificaram dezenas de parasitas nos pés e nas pernas da paciente (Figura 6). O padrasto exibia um grau de infestação mais leve. Os seis cães da família tinham parasitas nos coxins. A família foi medicada e orientada quanto à limpeza do ambiente e o uso de sapatos. Os 10 cães da comunidade foram medicados com ivermectina e vacinados contra a raiva. Os profissionais de saúde e de assistência social envolvidos criaram o ecomapa da comunidade logo após as primeiras abordagens (Figura 1). Após um mês de tratamento, constatou-se melhora da infestação tanto nos cães como nas pessoas. A paciente teve infecção secundária, mas já estava em tratamento. Mesmo com a tungíase sob controle, a família recebe acompanhamento contínuo pela Unidade de Saúde. Foram identificadas outras questões relativas às fontes de renda dos moradores. A paciente recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC), destinado a pessoas idosas ou com alguma deficiência que as impeça de trabalhar e viver de forma independente, enquanto o seu padrasto, Pedro, recebia aposentadoria de valor semelhante. Dessa forma, não havia justificativa financeira para a falta de manutenção da residência. Entretanto, verificou-se que o outro meio-irmão da paciente, Arnaldo (37 anos), era o responsá-
vel pelo saque dos valores. A assistência social acompanhou o caso e identificou que ele comprava os alimentos para a paciente e os demais integrantes da casa. Também havia construído uma casa de alvenaria no mesmo terreno, para que o pai, o irmão e a meia-irmã se mudassem, porém os três optaram por permanecer na casa de madeira. Uma amiga da família, Simone (42 anos), se mudou para a nova construção com o marido e os filhos. O padrasto negava passar por necessidade, relatando que a única coisa que gostaria de mudar na casa era o telhado, para se protegerem das chuvas. Dez meses depois, o caso se encontrava estabilizado, a tungíase controlada, porém as condições da casa eram as mesmas devido à recusa dos moradores em se mudar. A Unidade de Saúde Retiro realiza visitas periódicas à comunidade e mantém as equipes do Nasf-AB e da Vigilância em Saúde informadas. Havendo necessidade de envolvimento da equipe multiprofissional, a comunicação já estabelecida permitirá um retorno rápido dos profissionais ao caso. Discussão A partir de uma queixa de bichos-de-pé, verificou-se toda uma situação de desmazelo e que envolve a interação ser humano, animal e meio ambiente. Essa interação diz respeito à convivência de todos esses seres no ambiente, levando em conta todas as implicações decorrentes dessa coexistência 13. O diagnóstico dessa interação permite elucidar a existência de problemas ambientais, sanitários e até mesmo sociais. A presente experiência mostra como a interdisciplinaridade e a multissetorialidade são imprescindíveis para trabalhar com a Saúde Única. As intervenções foram construídas na articulação entre diversos setores e atores sociais para o enfrentamento dos problemas e definição de estratégias 14. Graças ao suporte de outros equipamentos de saúde foi possível investigar diferentes aspectos familiares para um enfrentamento holístico 15.
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Medicina veterinária do coletivo O maior desafio para os profissionais da saúde diante do caso foi compreender o contexto cultural daquela comunidade. Seu estilo de vida, apesar de peculiar se comparado às comodidades da urbanização, deve ser respeitado. O padrasto vivia no local desde que nasceu, há mais de 70 anos, alegava ser feliz e que não desejava se mudar, pois era nessa casa de madeira “que se sentia confortável”. Muito além de tratar das enfermidades, também é necessário desenvolver empatia para acolher adequadamente pacientes com uma visão de mundo incomum. A inclusão no Sistema Único da Saúde (SUS) começa com a não imposição de padrões sociais, e o respeito à autonomia dos indivíduos é o primeiro passo para a criação do vínculo 16. Para a construção de ações coletivas complexas, é necessária uma articulação interssetorial e transdiciplinar que leve em conta a realidade em seus diferentes aspectos e possibilite uma abordagem mais ampla dos problemas, visando verificar as necessidades da comunidade de uma forma mais ampla e menos pontual 13,14,16, pois as ações isoladas são pouco efetivas para promover a qualidade de vida, favorecer o desenvolvimento e superar a exclusão social 17. Referências
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Leticia Christine Felician Lima MV, CRMV-PR: 15.435, residente UFPR leticia_felician@hotmail.com Michele Brugnerotto MV, CRMV-PR: 9.595 michelecampomagro@gmail.com
Lucas Galdioli MV, CRMV-PR: 16.773 UFPR lucasgaldioli@hotmail.com Cintia Parolim Ferraz MV, CRMV-PR: 16.697 UFPR cintia.ferraz08@gmail.com
Rita de Cassia Maria Garcia
MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. UFPR ritamaria@ufpr.br
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Medicina veterinária do coletivo
Passear com cães é mais que um exercício
Passeadores de cães profissionais Acredita-se que o primeiro passeador profissional de cães foi Jim Buck, no início dos anos 1960. Durante muitos anos e até se aposentar, ele se dedicou à Escola Jim Buck para Cães (Jim Buck’s School for Dogs), em Nova York. Jim faleceu em 2013, com 81 anos, mas 50
O avanço do mercado para pets tornou possível a contratação de profissionais que auxiliam nos cuidados diários de animais domésticos, incluindo a caminhada diária, como os famosos passeadores de cães, que podem ajudar a realizar essa tarefa regularmente.
seu legado permaneceu vivo por meio dos diversos passeadores de cães que direta ou indiretamente tiveram contato com alguém que trabalhou com ele 3. Além de preservar alguns móveis da casa (no caso de animais ansiosos), a rotina de passeios ajuda a manter a saúde mental e física do animal. Em algumas cidades, como Buenos Aires, na Argentina, os prestadores desse serviço po-
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Introdução A estreita relação de companheirismo entre cães e seres humanos é inquestionável. Passear com cães é uma das atividades recreativas mais populares do mundo, e promove bem-estar tanto ao ser humano quanto ao próprio companheiro canino. A ausência de atividades físicas é um dos fatores de risco de obesidade em cães. Essa condição pode estar sendo imposta e influenciada pelo próprio estilo de vida do tutor 1. Apesar de as pessoas que convivem com cães geralmente realizarem mais atividades físicas que aquelas que não, essa convivência não garante que esses tutores realizem atividades físicas regularmente com seus companheiros de quatro patas 2. Entretanto, com o avanço do mercado destinado a animais de companhia e também em razão do aumento da prestação de serviços na área, tornou-se possível a contratação de profissionais que auxiliam nos cuidados diários de animais domésticos ou a utilização de creches para cães (Dog care), onde o companheiro de quatro patas pode passar o dia ou os fins de semana na companhia de equipes especializadas, socializar-se com outros cães e também se exercitar. Optar pela contratação de cuidadores ou até mesmo matricular o cão em uma creche torna-se interessante quando ele permanecem muito tempo sozinho. Entretanto, quando o assunto é realizar um boa caminhada, os passeadores de cães podem ajudar a realizar essa tarefa.
Fernando Gonsales
Conheça a profissão de passeador de cães (dog walker)
A rotina de passeios ajuda a manter a saúde física e mental dos animais, reduzindo fatores de risco de obesidade e ajudando a preservar a saúde cardiovascular
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A profissão de passeador de cachorros exige qualificação e conhecimento do comportamento animal, a fim de estar preparado para atual de modo adequado em diversas situações
O mercado de serviços para animais de estimação vem crescendo em todo o mundo, principalmente por meio de aplicativos e websites, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos animais m
dem se inscrever como passeadores de cães na agência de proteção ambiental e obter uma credencial para realizar essas atividades 4.
Segundo o Decreto de Buenos Aires nº 1972/GCABA/01 de 22 de novembro de 2001, o registro dos passeadores de cães permite
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Medicina veterinária do coletivo a fiscalização do exercício da profissão na cidade, assim como oferecer maior segurança aos proprietários que estão contratando o serviço. Como regulamentação, não são permitidos mais de oito animais simultaneamente por passeio, assim como é necessário manter os animais atados com guias em locais públicos 5. Diversos aplicativos e websites são utilizados para promover e encontrar os profissionais adequados para a atividade de passeio, dentre os quais DogHero, disponível nas cidades brasileiras de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba 6, e PaseaPerros.com, disponível em 17 países, incluindo Argentina, Espanha e Estados Unidos 7. A facilidade dos aplicativos está em conectar os profissionais mais próximos e com perfis analisados previamente. Mark Forsythe, passeador profissional em Londres, em entrevista ao Jornal The Independent em maio de 2010, afirmou: “As pessoas acham que é fácil, mas não é apenas um passeio no parque”. Segundo ele, é preciso estar preparado para as mais diversas situações e saber agir adequadamente: “A coisa mais perturbadora é quando um cachorro sai correndo pelo parque e tenho que manter outros cinco seguros e protegidos” 8. Considerações finais O mercado de serviços para animais de estimação vem crescendo em nível mundial. Além de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos animais, a profissão de passeador de cachorros é um serviço bastante conhecido nos Estados Unidos e na Europa, e encontra-se em ascensão no Brasil. Portanto, para se tornar um profissional qualificado e preparado para atuar em diversas situações, além de conhecer o comportamento individual do animal, seus hábitos alimentares, físicos e sociais, torna-se indispensável a realização de cursos e capacitações na área. Referências
Amanda Haisi bacharel em MV Aluna de mestrado da Unesp-Botucatu amanda.haisi@ufpr.br
Alexander Welker Biondo
01-HAM, S. A. ; EPPING, J. Dog walking and physical activity in the United States. Preventing Chronic Disease, v. 3, n. 2, p. 1-7, 2006. 52
Disponível em: <www.cdc.gov/pcd/issues/2006/ apr/05_0106.htm>. Acesso em 10 de fevereiro de 2020. 02-FOX. M. Jim Buck, who made walking dogs a job, dies at 81. The New York Times, 2018. Disponivel em: <https://www.nytimes. com/2013/07/13/nyregion/jim-buck-madewalking-dogs-a-job-dies-at-81.html?hp&_r=0>. Acesso em 4 de fevereiro de 2020. 03-CUTT, H. ; GILES-CORTI, B. ; KNUIMAN, M. Encouraging physical activity through dog walking: why don’t some owners walk with their dog? Preventive Medicine, v. 46, n. 2, p. 120126, 2007. doi: 10.1016/j.ypmed.2007.08.015. 04-BUENOS AIRES CIUDAD. Renovación de credencial de paseadores de perros. Agencia de Protección Animal de Buenos Aires, 2020. Disponível em: <https://www.buenosaires. gob.ar/tramites/renovacion-de-credencialde-paseadores-de-perros>. Acesso em 2 de fevereiro de 2020. 05-ARGENTINA. Decreto nº 1972/GCABA/01. Reglamenta el tránsito y paseo de perros en los espacios públicos - crea el registro de paseadores de perros. Buenos Aires, 1972. Disponível em: <https://www.argentina.gob.ar/ justiciacerca/paseadorperro>. Acesso em 2 de fevereiro de 2020. 06-DOG HERO. Dog Hero. Disponível em: <https:// www.doghero.com.br/dog-walker/book?modal>. Acesso em 1 de fevereiro de 2020. 07-PASEA PERROS. Paseaperros.com. Disponível em: <https://www.paseaperros. us/ser-paseador-cuidador>. Acesso em 1 de fevereiro de 2020. 08-DAVIES, C. I want your job: dog walker. The Independent, 2010. Disponível em: <https://www. independent.co.uk/student/career-planning/ getting-job/i-want-your-job-dog-walker-1971690. html>. Acesso em 6 de fevereiro de 2020.
MV, CRMV-PR 6.203, MSc, PhD., prof. Depto. Medicina Veterinária – UFPR abiondo@ufpr.br
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Oftalmologia Hamster-chinês (Cricetulus griseus) submetido a enucleação – relato de caso Chinese hamster (Cricetulus griseus) submitted to enucleation – case report Hamster chino (Cricetulus griseus) sometido a enucleación – relato de caso
Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145 p. 54-62, 2020
Héllen Maria L. Nishimura MV, CRMV-SP: 45.912 aluna de aprimoramento Unifio
hellen-nishimura@hotmail.com
Ademir Zacarias Junior MV, CRMV-PR: 4.828 mestre, dr., prof. adj. Depto. Medicina Veterinária - UENP zacarias@uenp.edu.br
Gabriela Letícia F. Moura MV, CRMV-PR: 15.595 residente UENP gabi.moura18@hotmail.com
Jéssica Ragazzi Calesso MV, CRMV-PR: 14.000 aluna de mestrado UFMG jessicacalesso@gmail.com
Resumo: Apesar de incomuns, as enfermidades oculares em roedores têm grande importância clínica, já que podem provocar dor e alterar o bem-estar desse tipo de paciente. A proptose de globo ocular pode ocorrer pela característica anatômica dos roedores, cuja esclera é fina, ou ainda devido a manejo de contenção inadequado. O objetivo deste trabalho é relatar a conduta terapêutica aplicada a um hamsterchinês (Cricetulus griseus) macho, filhote, que apresentava protrusão de globo ocular esquerdo de etiologia desconhecida. O paciente foi submetido ao procedimento cirúrgico de enucleação transconjuntival, em que os cuidados perioperatórios e os procedimentos anestésicos adequados foram essenciais, ressaltando a importância do conhecimento sobre uma espécie ainda incomum na rotina clínica. Palavras-chave: animais silvestres, roedores, oftalmologia Abstract: Ophthalmic diseases in rodents are uncommon, but clinically importante. Eye diseases can cause pain and compromise the well-being of these patients. Roptosis of the eyeball may occur due to anatomical characteristics of rodents, which have a thin scler; and inadequate clinical management can also result in proptosis. We report the treatment of left eyeball proptosis of unknown etiology in a male cub Chinese hamster (Cricetulus griseus). Transconjunctival enucleation with adequate anesthetic protocol and perioperative care,resulted in a successful outcome. We emphasize the importance of understanding the peculiarities of a species still infrequently seen in clinical routine of small animal practice. Keywords: wild animals, rodents, ophthalmology Resumen: A pesar de ser poco frecuentes, las enfermedades oculares en los roedores son de gran importancia clínica, ya que pueden causar dolor y alterar el bienestar de este tipo de pacientes. La proptosis del globo ocular se puede producir por las características anatómicas de los roedores, que tienen una esclera fina, o debido un manejo inadecuado durante la contención. El objetivo de este estudio es relatar el enfoque terapéutico aplicado a un hámster chino (Cricetulus griseus) macho, jóven, que se presentó a consulta con una protrusión del globo ocular izquierdo de origen desconocido. Al paciente se le realizó una enucleación transconjuntival, previo manejo detallado esencial de los cuidados perioperatorios y la anestesia. Se debe destacar la importancia del conocimiento de esta especie poco común durante la atención clínica diaria. Palabras clave: animales salvajes, roedores, oftalmología
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Nefrologia Doença renal crônica em cães e gatos – estudo retrospectivo e revisão da literatura Chronic kidney disease in dogs and cats – retrospective study and literature review Enfermedad renal crónica en perros y gatos – estudio retrospectivo y revisión de literatura Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145 p. 64-78 2020
Bruna Scardoel MV, CRMV-SP: 42.630 bruna@esecon.com.br
Simone G. R. Gomes MV, CRMV-SP: 10.141 mestre, dra
simone@hemovet.com.br
Cinthia Ribas Martorelli MV, CRMV-SP: 20.656 mestre, dra. vet.cinthiarm@gmail.com
Rafael Garabet Agopian MV, CRMV-SP: 19.863 mestre, dr.
rafael.agopian@cvbvet.com.br
Resumo: A doença renal crônica (DRC) é definida como o comprometimento estrutural e/ou funcional de um ou ambos os rins por mais de três meses que resulta na perda irreversível das funções renais. A International Renal Interest Society (Iris) classificou a DRC em quatro estágios, de acordo com a concentração sérica de creatinina e de dimetilarginina simétrica (SDMA), além do subestagiamento realizado a partir dos valores da relação proteína/creatinina urinária (RPC) e da pressão arterial sistêmica (PAS). Neste estudo foram avaliados de modo retrospectivo 117 animais doentes renais crônicos, sendo 50 cães e 67 gatos com DRC. Desse total, 81 animais foram classificados de acordo com o estágio da DRC, sendo 39,5% de cães (n = 32) e 60,5% de gatos (n = 49). Desses, 12,4% corresponderam a cães (n = 10) no estágio 1; 4,9% (n = 4) no estágio 2; 8,7% (n = 7) no estágio 3; e 13,6% (n = 11) no estágio 4; enquanto 9,8% (n = 8) dos gatos foram classificados no estágio 1; 22,2% (n = 18) no estágio 2; 16% (n = 13) no estágio 3; e 12,4% (n = 10) no estágio 4. Palavras-chave: cães, gatos, nefropatia, creatinina Abstract: Chronic kidney disease (CKD) is defined as the structural and/or functional impairment of one or both kidneys of 3 or more months duration, and resulting in irreversible loss of renal functions. The International Renal Interest Society (IRIS) classifies CKD into 4 stages according to levels of serum creatinine and symmetric dimethylarginine (SDMA), Urinary protein/creatinine ratio and systemic arterial pressure are subcriteria used in stating the disease. We reviewed the records of 50 dogs and 67 cats diagnosed with CKD. The staging criteria was recorded in 39.5% of the dogs (n = 32), and 60.5% of the cats (n = 49). Stage 1 CKD was diagnosed in 10 dogs (12.4%), while stage 2, 3, and 4 were diagnosed in respectively 4 (4.9%), 7 (8.7%), and 11 (13.6%) of the dogs. In cats, Stage 1 CKD was diagnosed in 8 (9.8%), and stages 2, 3, and 4 were diagnosed in respectively 18 (22.2%), 13 (16%), and 10 (12,4%) of the cats. Keywords: dogs, cats, nephropathies, creatinine Resumen: La enfermedad renal crónica (ERC) puede ser definida como una alteración estructural y funcional de uno o ambos riñones que se extiende por más de tres meses, y que provoca la pérdida irreversible de la función renal. La International Renal Interest Society (Iris) estableció una clasificación de la ERC en cuatro estadios, sobre la base de la concentración de creatinina y de dimetilarginina simétrica (SDMA), además de subclasificación a partir de los valores de la relación proteína/creatinina urinaria (RPC) y la presión arterial sistémica (PAS). En el presente trabajo se realizó un estudio retrospectivo con 117 animales con enfermedad renal crónica, de los cuales 50 fueron perros y 67 gatos. De esos animales, 81 pudieron ser clasificados de acuerdo al estadio de la ERC, en donde se comprobó que el 39,5% eran perros (n = 32) y el 60,5% eran gatos (n = 49). De estos animales, el 12,4% fueron perros (n = 10) en estadio 1; 4,9% (n = 4) en estadio 2; 8,7% (n = 7) en estadio 3; y 13,6% (n = 11) en estadio 4. El 9,8% (n = 8) de los gatos fueron clasificados en estadio 1; 22,2% (n = 18) en estadio 2; 16% (n = 13) en estadio 3; y 12,4% (n = 10) en estadio 4. Palabras clave: perros, gatos, nefropatía, creatinina
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UMA ABORDAGEM NUTRICIONAL COMPLETA PARA DERMATITE ALÉRGICA A Linha Dermatológica ROYAL CANIN® oferece produtos formulados com proteína hidrolisada, reduzindo a alergenicidade do alimento e auxiliando no teste de eliminação para reações adversas ao alimento e no diagnóstico de atopia por exclusão.
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Bem-estar animal
Fogos de artifício – os danos associados ao espetáculo Introdução A queima de fogos de artifício vem sendo cada vez mais combatida por diversos grupos sociais, sobretudo na última década, devido às consequências negativas decorrentes dessa prática. O objetivo desta revisão foi levantar as principais críticas e problemas associados ao uso de artefatos pirotécnicos, bem como discutir possíveis encaminhamentos políticos para o conflito existente entre os segmentos da população que defendem a legitimidade dos espetáculos pirotécnicos e o uso de fogos de artifício e os segmentos que demandam medidas que os combatam. A partir dos dados levantados, constata-se que os danos acarretados pelas atividades pirotécnicas prejudicam gravemente diversos grupos de indivíduos sencientes, entre seres humanos e outras espécies animais. Em indivíduos humanos, destacam-se danos como queimaduras, ferimentos e lesões diretamente causados pela queima de fogos, além de perturbações auditivas em grupos com particularidades auditivas ou neurológicas. Em outros animais, incluindo espécies de aves, equídeos, animais aquáticos e animais de companhia, principalmente cães, observam-se perturbações e alterações comportamentais que afetam padrões migratórios e reprodutivos, fobias e reações de fuga que resultam em acidentes, lesões e morte, dentre diversas consequências fatais. Diante desses fatos, aponta-se a necessidade de conscientização da população sobre as implicações danosas e o estabelecimento de medidas eficientes para a prevenção de danos decorrentes de produção, transporte, comercialização e queima de fogos de artifício. No Brasil, temos principalmente dois dispositivos jurídicos favoráveis aos animais: o 80
Art. 225, §1º da Constituição Federal de 1988, segundo o qual os cidadãos brasileiros têm o dever de respeitar a vida, a liberdade corporal e a integridade física dos animais, e que proíbe práticas que ameacem a função ecológica, provoquem a extinção ou submetam animais a crueldade 1; e o Art. 32 da Lei nº 9.605/98, que criminaliza o ato de abusar, maltratar, ferir ou mutilar animais 2,3. Temos também a Resolução nº 1.236 de 2018 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que define e caracteriza crueldade, abuso e maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos-veterinários e zootecnistas e dá outras providências 4. Dentre as pressões que ocasionaram a publicação dessa resolução destacam-se as recorrentes reclamações sobre a dificuldade de aplicação efetiva da Lei nº 9.605 em favor dos animais. Afinal, embora a lei criminalize maus-tratos e provocação de sofrimento desnecessário, não define o que sejam maus-tratos ou crueldade, sendo portanto muito passível de relativização na prática. Antes de sua publicação, o CFMV reservou um período para consulta pública no qual a sociedade pode enviar sugestões para complementar a resolução. Apesar de a resolução definir maus-tratos, crueldade e abuso, ainda existem termos vagos que permitem relativizações, especialmente em torno da palavra “desnecessário”, que aparece em muitas das definições centrais do texto da resolução. Definir o que é necessário e o que é desnecessário é possivelmente uma das tarefas mais difíceis, pois envolve pressupostos axiológicos e um método claro e o mais justo possível para o estabelecimento de uma hierarquia de valores. A queima de artefatos pirotécnicos é prejudicial para muitos seres humanos e outras
Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020
Anna Paula Vasconcelos
Uma situação infelizmente muito comum: na noite da véspera do Natal, durante uma sessão de queima de fogos, o cão Gru, de 7 anos, entrou em desespero e na tentativa de fugir ficou preso em um vão e acabou se ferindo. No atendimento veterinário, o animal apresentou severa hipotensão e estado de choque. Foi internado mas não resistiu, sofreu uma parada cardíaca e foi a óbito
espécies animais e para o meio ambiente, implicando sofrimento e danos irreparáveis a milhares de indivíduos sencientes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial da Saúde Animal (World Organisation for Animal Health – OIE), as instituições mais relevantes do mundo em termos de saúde humana e animal preconizam a promoção de uma Saúde Única que integre o bem-estar e a saúde de seres humanos, animais e meio ambiente, indissociavelmente 5,6. Analisando a questão dos fogos de artifício sob a perspectiva da Saúde Única, fica muito claro que os prejuízos causados por espetáculos e ocasiões de entretenimento baseados na queima de fogos de artifício 7 superam seus supostos benefícios, sendo portanto injustificável a legitimação dessa prática. Enquanto alguns indivíduos podem ter uma experiência positiva – e satisfação de curto prazo – durante a exibição de queima de fogos, centenas de outros podem ser gravemente afetados, sofrer impactos negativos imediatos ou de longa duração e consequências frequentemente ir-
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reversíveis. Impactos na saúde humana No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 5.620 internações e 1.612 atendimentos ambulatoriais referentes a acidentes causados por uso de fogos de artifício – com 96 casos de óbito em todo o país – entre 2007 e 2017. Nesse período houve uma média de 500 acidentes por ano. O maior registro de acidentes ocorreu em 2014, com 620 internações 8. Segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), “uma em cada dez pessoas tem um de seus membros superiores amputados, além de outras sequelas, ao manusear fogos de artifício” 9. E o Datasus relata ter havido mais de 8.500 acidentes e 120 mortes causadas por fogos de artifício nos últimos anos, sendo que “mais de 20% das mortes foram de crianças entre 0 e 14 anos” 9. Um estudo de 2010 realizado no Irã mostrou que o uso pessoal de fogos de artifício está associado a ferimentos graves e custos
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Bem-estar animal econômicos consideráveis, apontando-o como uma prática altamente nociva 10. Outra pesquisa feita no Irã em 2013 identificou um grande número de injúrias relacionadas a isso, a maior parte das quais em membros superiores e face de adolescentes e crianças. A conclusão apontou que o uso de fogos causa morbidades significativas e danos a diferentes partes do corpo, podendo resultar em graves sequelas, amputações e até morte 11. De acordo com um relatório publicado em 2001 pela Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics – AAP) sobre lesões causadas por fogos de artifício em crianças, estima-se que 8.500 indivíduos foram tratados por lesões relacionadas a fogos de artifício nos hospitais dos Estados Unidos durante 1999. Mãos, olhos, cabeça e rosto foram as áreas mais afetadas. Cerca de um terço das lesões oculares resultou em cegueira permanente, e 16 pessoas morreram em decorrência dos ferimentos 12. Em 1997, os incêndios causados por fogos de artifício resultaram em um prejuízo de US$22,7 milhões em danos diretos a propriedades 12. Os fogos de artifício causaram mais incêndios nos Estados Unidos no dia 4 de julho do que todas as outras causas de incêndio combinadas. As principais conclusões do relatório foram que os pediatras devem educar pais, filhos, líderes comunitários e outros sobre os perigos dos fogos de artifício, cujo uso privado individual deve ser proibido 12. Dos mais de 625 milhões de casos de urgência verificados entre 2006 e 2010 nos hospitais dos Estados Unidos, aproximadamente 25.000 ocorreram devido a ferimentos causados por fogos de artifício. Pulsos, mãos ou dedos foram afetados em aproximadamente 40% dos casos, sendo 6,5% dos quais com lesões abertas 13. Outro estudo, de 2018, sobre o impacto do ruído de fogos de artifício no ambiente acústico em áreas urbanas apontou que os valores medidos excedem os critérios de ruído tolerável, implicando um risco direto de perda auditiva que pode até ser permanente. Os condutores do estudo concluíram que a ausência de 82
regulamentos legais relativos ao ruído gerado pelos fogos de artifício e a negligência de ações sociais preventivas em relação à proteção auditiva são problemas preocupantes 14. Segundo uma pesquisa do Reino Unido, durante as temporadas em que ocorrem eventos com fogos de artifício, os hospitais recebem muitos casos de queimaduras e injúrias relacionadas a eles, o que acarreta altos custos para o governo. Essas lesões sazonais podem variar de pequenos traumas cutâneos a grandes queimaduras, injúrias provocadas por inalação e até morte, em alguns casos. O governo investiu milhões de libras em políticas públicas, mas os ferimentos relacionados a fogos de artifício continuam aumentando (censo de 2005, Sociedade Real de Prevenção de Acidentes – Royal Society for the Prevention of Accidents [RoSPA]). As novidades disponíveis no mercado, o barateamento e a maior disponibilidade de fogos de artifício foram apontados como razões do aumento das injúrias 15. De acordo com uma análise de dados da Colômbia, 6.585 pessoas foram feridas por fogos de artifício durante o período de 2008 a 2013. Os pesquisadores destacam que os resultados encontrados fornecem informações que apontam como necessária uma revisão das políticas públicas e intervenções capazes de reduzir o risco de lesões por fogos de artifício durante todo o ano e não apenas durante a temporada de comemorações 16. Para pessoas com particularidades como distúrbios ou hipersensibilidade auditiva, caso de bebês, idosos e autistas, o estampido costuma ser muito perturbador, além de poder desencadear crises em indivíduos portadores de epilepsia, com transtornos de ansiedade e síndrome do pânico. De acordo com a Sociedade Americana de Autismo (Autism Society – ASA), nos Estados Unidos, uma em cada 68 crianças tem algum grau de autismo. Faltam dados acurados sobre a porcentagem de autistas no Brasil, mas, considerando estimativas globais da ONU, estima-se haver cerca de 2 milhões de pessoas com autismo no país.
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Um dos sintomas mais comuns dessa síndrome é a hipersensibilidade a ruídos. Crianças autistas costumam maior sensibilidade auditiva a certos sons do que as não autistas ou do que seus pais, e alguns ruídos podem causar dor extrema, paranoia, surtos de gritos e ansiedade 17. Um estudo de 2012 investigou as condições de trabalho em seis fábricas de artigos pirotécnicos do estado de Minas Gerais, e, segundo os resultados encontrados, os trabalhadores estavam expostos a condições perigosas e insalubres de trabalho 18. Alguns pesquisadores apontam que, embora a produção de fogos de artifício seja uma atividade econômica importante em algumas regiões, como Santo Antônio do Monte, MG, o trabalho na indústria pirotécnica envolve riscos de doenças laborais e de acidentes de trabalho que tendem a ser fatais ou mutilantes 19, o que preocupa os trabalhadores e suas famílias, os sindicatos e os órgãos de saúde 18. Explosões em fábricas de fogos são recorrentes e podem resultar em morte 20. Conflito de interesses: indústria pirotécnica e indivíduos prejudicados Produtores e comerciantes vinculados à indústria pirotécnica defendem a manutenção da atividade alegando a relevância de seu impacto econômico; no entanto, frequentemente desconsideram ou negam os custos que os acidentes relacionados à produção, ao transporte e à queima de fogos de artifício acarretam para a saúde de muitos seres sencientes e para o Estado. Também é preciso levar em consideração os custos que recaem sobre a significativa parcela de indivíduos sencientes humanos e animais que sofrem as consequências da exposição involuntária ao ruído causado pela queima de fogos – involuntária porque esses indivíduos não podem escolher não serem expostos ao ruído nem evitar que as ondas sonoras os atinjam, já que elas, inevitavelmente, se propagam por quilômetros de distância. Portanto, a alegação da importância econômica da indústria pirotécnica, co-
mumente apresentada como justificativa para que não se restrinja o uso de fogos com ruído, deve ser cuidadosamente avaliada. Todos os custos precisam ser levados em consideração. Impactos na saúde de outras espécies animais Muitas espécies que têm maior sensibilidade auditiva do que a espécie humana – como cães, gatos, porcos, cavalos, bois e carneiros – se perturbam e têm reações extremas quando percebem os ruídos intensos produzidos pelos fogos de artifício 17. No caso dos cães, diversos estudos apontam que o medo é uma resposta comportamental bastante comum quando há explosão de fogos e pode resultar em acidentes fatais, traumas e óbito. Muitos cães têm pavor do ruído dos fogos. As reações mais comuns são tentar se esconder, procurar desesperadamente um lugar seguro e apertado para entrar, vocalizar, tremer, urinar, defecar ou ficar totalmente paralisados até cessarem os estrondos. A maior parte dos acidentes ocorre quando os animais tentam se afastar do barulho. Devido ao desespero, eles podem tentar pular de locais altos, correr em direção a ruas ou rodovias movimentadas e se afastar muito do local onde vivem e depois não encontrar o caminho de volta. Animais idosos, cardiopatas e epilépticos podem entrar em quadros agudos e ir a óbito. Cães e gatos que têm medo de fogos podem generalizar a resposta de medo e passar a temer outros ruídos altos também. Estudos de comportamento animal alertam que a fobia de fogos pode favorecer o desenvolvimento de comorbidades como ansiedade de separação 17,21,22. Além de cães e gatos, milhares de outros animais também são negativamente afetados pelo ruído dos fogos de artifício 7,23, e em relação à maior parte deles nada pode ser feito a fim de minimizar os danos, além de ser muito difícil avaliar, por exemplo, de que forma a fauna silvestre é afetada. Portanto, a medida mais eficaz para evitar o sofrimento causado pelos fogos é deixar de soltá-los 21.
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Bem-estar animal O barulho e a luminosidade inesperados são provavelmente fonte de perturbação para muitas espécies domésticas e selvagens 7. Diversos pesquisadores apontam que as aves são bastante prejudicadas, pois o ruído e o brilho produzido pelos fogos pode alterar a dinâmica do voo, o período e os padrões de migração, provocar desvio de rotas, prejudicar o ciclo reprodutivo e a comunicação, causar quedas no sistema imunológico e provocar atordoamento, colisões e mortes 24. Além disso, muitas vezes os espetáculos de fogos ocorrem em parques onde habitam gansos, patos e cisnes, em torno de lagos ou no mar, afetando peixes e outros animais aquáticos e os que vivem nas proximidades 21. Diversos pesquisadores avaliaram o comportamento de leões-marinhos da América do Sul durante a exibição de fogos no Ano-Novo e encontraram evidências de que eles provocaram perturbações no comportamento dos animais. Houve grande diminuição das vocalizações – comportamento social importante –, e muitos animais abandonaram a colônia durante o evento, o que pode ter consequências negativas para a espécie: a estrutura reprodutiva de harém dos machos, o parto das fêmeas e o cuidado de filhotes recém-nascidos podem ser interrompidos 23. Segundo um estudo sobre o impacto de fogos de artifício em cavalos, a partir de entrevistas com pessoas que presenciaram a reação dos equinos durante uma dessas exibições, de 4.765 animais, 39% foram classificados como “ansiosos” durante a soltura de fogos, 40% “muito ansiosos” e apenas 21% classificados como “não ansiosos”. O comportamento mais comum foi correr; 35% dos cavalos quebraram cercas, e 26% sofreram lesões em decorrência da agitação provocada pelo medo desencadeado pelos ruídos intensos e desconhecidos. A maioria dos respondentes relatou que tentaram afastar os cavalos do local dos ruídos, mas em muitos casos a estratégia foi ineficaz. Dos participantes da pesquisa, 90% eram contra a venda de fogos de artifício para uso privado devido ao sofri84
mento causado aos cavalos 25. Medidas para evitar danos O uso de fogos de artifício causa problemas no mundo todo. Diversos países, como Canadá, África do Sul, Austrália e Finlândia, já têm limitações ou proibições estritas sobre exibições privadas desses explosivos 25. Na Austrália, por uma questão de segurança e de saúde pública, o uso de fogos é proibido ou limitado em quase todos os estados – há mais de 50 anos em alguns deles –, devido ao grande número de injúrias que ocorriam todos os anos no país relacionadas a essas exibições 26. Já existem evidências suficientes que apontam que os fogos de artifício têm um impacto negativo para muitos seres humanos e animais e que se devem implementar medidas legislativas com urgência para reduzir essas exibições 22. No Brasil existem diversas iniciativas no sentido de combater ou restringir o uso de fogos, e a população tem se mostrado sensível a essa causa. A pesquisa legislativa que propunha a proibição de fogos de artifício com ruídos em todo o território nacional teve a votação encerrada em julho de 2018 com aprovação maciça da população brasileira (53.361 apoios) no portal e-cidadania do Senado Federal 27 – mais que o dobro de aprovações do que era necessário. Deu origem à Sugestão nº 4 de 2018, que foi encerrada com 10.778 (86,5%) votos a favor da proibição de fogos de artifício com ruído e 1.692 (13,5%) votos contrários 28. A consistência do apoio popular resultou no PL nº 2130/2019, que estabelece limites de emissão sonora para os fogos de artifício – atualmente em tramitação no Senado e com consulta pública aberta no portal e-cidadania do Senado Federal 29. Em 2018, a Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (Cebea) do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) se posicionou defendendo que “fogos de artifícios com estampidos sejam proibidos e gradativamente substituídos por fogos sem ruídos em todo o território nacional” 30.
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Dezenas de municípios brasileiros e alguns estados proíbem fogos com estampido 31 , como o estado de São Paulo, cuja lei chegou a ser temporariamente suspensa após reivindicações de grupos ligados à indústria de fogos, mas voltou a vigorar. De fato, seria um retrocesso em termos de saúde pública, de proteção à fauna e de desenvolvimento de valores humanitários invalidar a lei municipal paulista que proíbe o uso de rojões com estampido (ADPF no 567/SP). Assim, considerando a relevância cultural do Município de São Paulo sobre todo o país e seu potencial educativo e de contribuir para a conscientização da sociedade brasileira, é de grande importância que seja mantida a eficácia da lei municipal paulista que proíbe o uso de fogos de artifício com estampido. Considerações finais Dada a gravidade do problema, é fundamental a veiculação de informações confiáveis e claras sobre o impacto da atividade pirotécnica na população senciente. Diversos municípios vêm implementando medidas legislativas nesse sentido, porém em muitos casos se abrem brechas para a continuação dessa prática por meio de concessões e exceções, expondo a notável fragilidade dessas leis quando setores de poder econômico e político tomam partido. Por isso destaca-se a importância de se investir na elaboração de projetos de lei e políticas públicas no sentido de impedir efetivamente as atividades pirotécnicas prejudiciais ao bem-estar coletivo e de promover esclarecimentos e abordagens educativas para que a população possa compreender e se posicionar de forma crítica perante a questão, evitando a vulnerabilidade a pressões de poder e interesses corporativos unilaterais. Referências
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RECOMBITEK C4 ®
SIGNIFICA TECNOLOGIA
4 Tecnologia cinomose recombinante que induz imunidade na presença de anticorpos maternos 1,3,4. 4 Por não conter cepas de leptospira, é uma vacina apropriada para a primeira dose na primovacinação de filhotes5. 4 Alta concentração de parvovírus garantindo uma excelente eficácia com proteção cruzada comprovada contra CPV-2c2,6. 4 Processo de filtração melhorado que promove a redução dos debris celulares e proteínas, geralmente relacionadas à dor e inflamação2. 4 Ciência avançada e específica sem a necessidade de adjuvantes2. Referências bibliográficas: 1. Pardo MC, Bauman JE, Mackowiak M. Protection of dogs against canine distemper by vaccination with a canarypox virus recombinant expressing canine distemper virus fusion and hemagglutinin glycoproteins. Am J Vet Res. 1997;58(8):833-836. 2. RECOMBITEKR C3 product label. 3. Pardo MC, Bauman JE, Mackowiak M. Immunization of puppies in the presence of maternally derived antibodies against canine distemper virus. J Comp Path. 2007;137:S72-S75. 4.Larson LJ, Schultz RD. Effect of vaccination with recombinant canine distemper virus vaccine immediately before exposure under shelterlike conditions. Veterinary Therapeutics 2006;7:113-118. 5. Greene, C.; Levy, J. Immunoprophylaxis. In: Greene, C.;Sykes, J. Infectious Diseases of the Dog and Cat 4th Edition, Missouri, Saunders, 2011, p.1163 – 1205. 6. Day, M.D. et al. Guidelines for the Vaccination of Dogs and Cats compiled by the Vaccination Guidelines Group (VGG) of the World Small Animal Veterinary Association (WSAVA). Journal of Small Animal Practice Vol. 57 January 2016.
Tecnologia da informação
Como informatizar sua clínica – da escolha do sistema à análise de resultados O processo de informatização de uma clínica veterinária não se resume à escolha de um software, sistema web ou aplicativo. Para que você consiga migrar do sistema manual para uma gestão informatizada sem traumas, é necessário considerar alguns pontos importantes. As recomendações que faço neste artigo valem também para aqueles já usam um sistema informatizado na rotina de trabalho, mas estão descontentes com os resultados e planejam mudar. O objetivo principal da informatização de uma atividade é o aumento da eficiência e da lucratividade da operação, e para isso é necessário registrar as informações, analisar dados, tomar as decisões necessárias e mensurar o resultado. Identificar as necessidades O mercado oferece uma grande quantidade de opções de sistema para gestão de clínicas veterinárias, mas antes de contatar as empresas, é preciso definir suas necessidades. Procure separar seu negócio em setores, como clínica, banho e tosa e loja. Em seguida, faça um exercício e liste algumas tarefas cuja operação é crítica, como atendimento clínico, internação, banho e tosa ou venda de produtos na loja. Faça um roteiro simples do atendimento clínico realizado no seu estabelecimento, desde a chegada do tutor até o término do atendimento e o registro do pagamento. Identifique as particularidades da sua operação, como o regime de comissionamento para veterinários, tosadores ou vendedores; a emissão de nota fiscal de produtos ou serviços; ou o controle de estoque do material utilizado no atendimento clínico. 88
ESB Professional / Shuttestock
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A informatização aumenta a eficiência e a lucratividade de um estabelecimento por meio do registro e análise de dados, que permitem medir com precisão os resultados e tomar as melhores decisões
A escolha do sistema de gestão Agora que você tem em mãos uma lista com suas prioridades, comece a procurar. A maioria das empresas anunciam no Google, mas, atenção, nem todas irão aparecer na mesma pesquisa. Faça várias tentativas usando palavras-chave um pouco diferentes e veja os resultados posicionados no início e no final da página. O Google é muito eficiente, mas é importante buscar outras fontes, como eventos científicos, grupos de profissionais no WhatsApp ou anúncios em revistas especializadas. Antes de entrar em contato com a empresa, procure referências de reclamações em sites como Reclame Aqui. Avalie o número de reclamações postadas, atendidas e não atendidas. Verifique o modelo de negócio. A maioria são sistemas web (online) cujo acesso é liberado mediante o pagamento de uma mensalidade, mas há também os sistemas chamados desktop, que são vendidos por um valor único, como softwares de “prateleira”. A melhor
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opção, mesmo para clínicas grandes, com vários terminais ou redes de clínicas, será sempre um sistema web. Essa modalidade de operação oferece várias vantagens quando comparada com o sistema desktop. No sistema online você não precisará se preocupar com cópias de segurança e poderá acessá-lo de qualquer lugar e a qualquer momento. Além disso, as atualizações são feitas automaticamente, sem a necessidade de nenhuma interação com o sistema, como downloads e novas instalações. A única desvantagem é a necessidade de conexão com a internet, mas essa situação é muito incomum nos dias de hoje. A porcentagem de profissionais que atuam em áreas sem cobertura de sinal de celular e internet é muito pequena. Procure empresas que mantêm um veteri-
nário participando não só da construção do sistema, mas também do suporte ao usuário. Muitos de seus questionamentos só poderão ser compreendidos por veterinários ou gestores que já vivenciaram a experiência de trabalhar em uma clínica ou em um petshop. Chegou a hora de largar de vez as anotações em papel Esse é o grande momento, e, sem sombra de dúvidas, um dos pontos em que os veterinários normalmente se frustram. Em primeiro lugar, é importante passar por um período de testes, para que você tenha uma noção de como será o dia a dia. As empresas oferecem normalmente um período de 7 a 15 dias, que considero insuficiente. Mantenha o foco nos testes e seja objetivo – assim conseguirá
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Tecnologia da informação identificar os pontos fortes e fracos e decidir rapidamente. Não espere que o sistema se adapte totalmente aos seus processos; certamente será necessário fazer alguns ajustes na maneira de trabalhar. Procure avaliar o impacto desses ajustes. Anote todas as suas dúvidas e procure solucioná-las em conversas por telefone ou videoconferências. Se você nunca usou o Skype ou o Google Hangout para realizar conversas online, aproveite a oportunidade para aprender. Esses aplicativos permitem o compartilhamento de telas, recurso muito usado pelas empresas de software para apresentar suas soluções e realizar treinamentos à distância. Esse contato com a empresa no período de testes é importante e permite avaliar a disponibilidade e o nível de conhecimento do produto das pessoas com as quais você está conversando. Você deve se sentir seguro de que será atendido imediatamente por uma pessoa habilitada a responder a suas perguntas. Verifique se o sistema permite resolver rapidamente as tarefas mais frequentes na rotina de uma clínica, como o cadastro de um cliente, a localização de fichas e o registro de serviços. A interface deve ser amigável e confortável. Telas com muitos botões e recursos dispostos de maneira desorganizada podem causar uma sensação de poluição visual. Lembre-se de que o sistema será usado por horas, todos os dias, e por isso o que deve prevalecer nas telas são características como simetria entre os elementos, organização e cores suaves. Alinhando a expectativa com os resultados Os resultados obtidos com o processo de informatização devem ser mensurados de maneira objetiva, usando índices e parâmetros exibidos em relatórios do próprio sistema. Minha sugestão é realizar uma reunião de avaliação a cada um ou dois meses. Em geral, na primeira reunião de avaliação é possível analisar o tempo médio de um atendimento clínico, considerando cada veterinário sepa90
radamente e a clínica como um todo. Nesses primeiros meses, tarefas como cadastrar um cliente, localizar uma ficha, registrar dados do atendimento, criar uma prescrição e enviá-la ao cliente devem ser feitas exclusivamente no sistema e resultarão em uma redução do tempo médio de atendimento ao cliente. Na segunda reunião de avaliação do sistema, passados cerca de quatro meses da implantação, os veterinários e os gestores devem dar atenção especial aos relatórios administrativos – como de fechamento de caixa e extrato financeiro – e analisar o movimento dos valores das despesas e receitas da clínica. É o momento de verificar se todos os lançamentos financeiros foram feitos e reforçar o treinamento dos colaboradores para que tudo seja registrado no sistema. Ao cadastrar a compra de produtos a partir de nota fiscal eletrônica, o sistema deverá permitir o cadastro imediato de produtos no banco de dados, assim como o registro das quantidades e valores de compra e venda. A saída de produtos e medicamentos usados no atendimento deve ser automática. Relatórios de sugestão de compra ajudarão a manter o estoque em níveis ideais, sem excessos ou falta de produtos. Nas próximas reuniões de acompanhamento, os gestores devem analisar com atenção alguns parâmetros considerados mais importantes – como o número de atendimentos, ticket médio, receitas e despesas – e, a partir desses números, tomar decisões para alcançar o objetivo inicial, ou seja, melhorar a eficiência e a lucratividade da atividade. Em resumo, informatizar e gerenciar são duas ações que andarão sempre juntas e devem ser encaradas como ferramentas para alcançar dois objetivos importantes: sobrevivência e crescimento. Marcelo Sader Consultor em TI para o mercado veterinário NetVet Tecnologia para Veterinários www.netvet.com.br Marcelo@netvet.com.br
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Gestão
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Gratidão pelos 25 anos e preparação para a década de 2020
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no apoio e incentivo mútuo –, de maneira a envolver todos os agentes relacionados, no caso, com a Editora Guará e com a revista Clínica Veterinária, para a obtenção de resultados e prosperidade que beneficiem a todos. A década de 2020 é propícia ao surgimento de um novo modelo de cultura empresarial espiritualista baseado em valores como a verdade, a cooperação, o amor, a sinceridade, a humildade, a gratidão, o sorriso, a disciplina, a perseverança, a sabedoria, a satisfação e a beleza. Por mais paradoxal que isso possa parecer num ambiente competitivo – ou por mais que possamos sentir até que ponto essa abordagem difere da que vem sendo praticada pela maioria –, o ponto central de uma cultural empresarial espiritualista é justamente a valorização da riqueza de sentimentos, e justamente por isso ela constitui uma grande oportunidade de abandonar velhas concepções – de eficácia cada vez menor – e de introduzir um novo ciclo de vitalidade e prosperidade em bases inteiramente novas. Como demonstrado pela física quântica, que tal atrair para a sua organização apenas coisas positivas? Para obter harmonia, serenidade, alegria e felicidade, é fundamental praticar em todas as situações a vibração de sentimentos e pensamentos positivos, verbalizando somente palavras dessa natureza. A nova década será para nós aquilo com que a Jopwell_Pexels
É com enorme alegria que estamos comemorando neste ano de 2020 os 25 anos da revista Clínica Veterinária. Não poderíamos ter chegado até aqui sem o apoio de todos os que se envolveram nesta realização – leitores, pesquisadores, autores, anunciantes, fornecedores, colaboradores, parceiros societários e, principalmente, os próprios animais. Só com essa sinergia foi possível chegarmos até aqui, produzindo, editando, publicando, anunciando e promovendo o bem-estar dos animais e de seus tutores, e mantendo este canal de comunicação com o setor da medicina veterinária. Assim, em primeiro lugar, é com enorme e profunda satisfação e felicidade que queremos expressar nossa gratidão a todos os que contribuíram direta ou indiretamente para estes 25 anos de existência da revista. Curiosamente, a comemoração desses 25 anos coincide exatamente com o nosso ingresso na década de 2020. Sem dúvida, podemos ver isso como uma mera coincidência, mas ela sinaliza também algo maior: o encerramento de um ciclo e o início de outro. O que será que nos reserva esse novo ciclo? O que esperar deste início da década de 2020? Para nós, esse novo ciclo é basicamente uma oportunidade de renovar o espírito empreendedor e de adotar novas visões de valores que nos permitam promover uma cultura empresarial espiritualista. Certamente não é fácil mudar o enfoque habitual e compreender perfeitamente, de uma hora para outra, o valor de uma cultura empresarial com foco espiritualista. De todo modo, cabe ressaltar que se trata de algo que muitas vezes já está presente em parte em nós e no nosso dia a dia. Na maioria das vezes, trata-se simplesmente de dar maior espaço a uma intenção e a um desejo de basear nossa atividade em sentimentos profundos, voltados para “servir”, pois é a partir deles que será possível gerar alegria, satisfação e felicidade para todos, contagiando positivamente nosso ambiente com novas dinâmicas de relacionamento – baseadas em “cooperação” e
A disposição alegre e positiva é contagiante e cria novas dinâmicas de relacionamento
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Cooperação, apoio e incentivo mútuo são essencias para obter resultaods que beneficiem a todos
nossa vibração tiver maior sintonia. E constituirá um novo ciclo se nos atentarmos em focar prioritariamente a espiritualidade e os sentimentos positivos, fazendo-os ganhar cada vez mais força, para que possam gradualmente retirar a ênfase excessiva e
às vezes até exclusiva que se coloca na matéria, na prosperidade material e na valorização exagerada do pensamento. A partir de um reequilíbrio dessas forças e do cultivo de novos valores espiritualistas, promoveremos a mudança de sintonia e de foco. O resultado será a introdução de uma nova luz no nosso horizonte pessoal e empresarial. Que 2020 traga a todos nós mais 25 anos de prosperidade, ao final dos quais possamos todos sentir essa mesma gratidão.
Celso Morishita Gestor empresarial espiritualista celsomorishita@yahoo.com
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Vet agenda Acupuntura
Bem-estar animal
23 de março
14 de março
19 a 22 de julho
São Paulo, SP
Introdução à Acupuntura Veterinária e à Medicina Veterinária Tradicional Chinesa http://bit.ly/2QDlx1U
VIII Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ambiência e bem – estar Animal https://bit.ly/32HjMXb
4 e 5de abril
São Paulo, SP
Jaboticabal, SP
Cardiologia
2 a 3 de maio
Botucatu, SP
XI Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária www.abravet.com.br 6 e 7 de março
Manejo Clínico e Procedimentos Cirúgicos em pequenos animais https://bit.ly/38abM1W
I Congresso de Cardiologia Veterinária de Uberaba https://bit.ly/2uQBScM
4 a 5 de abril
16 e 17 de março
São Paulo, SP
Goiânia, GO
Intensivo em Anestesiologia em Selvagens e Exóticos http://bit.ly/2LgwSSO
Atualidades na Cardiologia de Animais de Companhia https://bit.ly/38gZLaM
7 e 8 de março
São Paulo, SP
4 de abril
20 de março
I Simposio de Nefrologia & Cardiologia Veterinaria da Universidade Cruzeiro do Sul http://bit.ly/2SLLezX
São Paulo, SP
Intensivo em Anestesiologia em Selvagens e Exóticos http://bit.ly/2LgwSSO
Londrina, PR
I Curso de Psittaciformes: criação, manejo e conservação https://bit.ly/2Iaa0Dm
6 de abril
São Paulo, SP
Parada cardiorrespiratória - como revertê-la? - prática gepapatrocinio@gmail.com
27 e 28 de março
São Paulo, SP
Oftalmologia em Animais Silvestres e Exóticos http://bit.ly/2Q4JBvJ 28 de março
São Paulo, SP
Conservação de baleias e golfinhos Institutomar.org.br/cursos
27 de junho
São Paulo, SP
II Simpósio de Pequenos Animais: Cardiologia https://bit.ly/32OXWRt
Clínica
7 e 8 de março
São Paulo, SP
6 e 7 de julho
I Simpósio de infectologia felina: doenças emergentes e reemergentes www.spvetschool.com.br/
Rio de Janeiro, RJ
Curso Manejo e Semiologia de Pets não convencionais https://bit.ly/2wpBVg8
10 e 11 de março
Anestesiologia
São Paulo, SP
Intensivo em Anestesiologia em Selvagens e Exóticos http://bit.ly/2LgwSSO
São Paulo, SP
2º Curso de Interpretação de Exames Laboratoriais Veterinários www.spvetschool.com.br s
14 de abril
São Paulo, SP
Intubação - GEAC UAM geacuam@gmail.com 17 e 18 de abril
São Paulo, SP
Módulo Práticas Operatórias Básicas na Clínica – CIPO http://bit.ly/2tqhNcd 18 de abril
Olinda, PE
Curso de Ultrassonografia em Animais Não-Convencionais http://bit.ly/2K6y0ZA 22 a 26 de abril
São Paulo, SP
Clínica Médica e Terapêutica de Aves http://bit.ly/2SN7v0q 16 e 17 de maio
Belo Horizonte, MG
Curso de Práticas Hospitalares – EVIPE Cursos https://bit.ly/2TeEdYc 30 de outubro a 21 de novembro
São Paulo, SP
São Paulo, SP
V Curso de endocrinologia clínica de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br
13 de março de 2020 a 11 de junho de 2021
7 a 8 de março
Simpósio internacional de doenças respiratórias em cães e gatos https://bit.ly/32UqYPR
7 e 8 de março
Porto Alegre, RS
13 e 14 de março
Uberaba, MG
Animais selvagens
Picadas de cobra em pequenos animais: como proceder? gepapatrocinio@gmail.com
Cirurgia
Goiânia, GO
Jaboticabal, SP
Intensivão de anestesia https://bit.ly/2VZ70C7
3º Curso de Aperfeiçoamento em Clínica Médica de Cães e Gatos http://bit.ly/2QlRrB0
Curso de aperfeiçoamento em cirurgia: tecidos moles aplicado à rotina em cães e gatos. https://bit.ly/2Ie4Lmc
21 e 22 de março
21 e 22 de março e 25 e 26 de abril
31 de março
Anestesiologia em Pequenos Animais – Intensivo http://bit.ly/2Zu7FOL
Clínica Médica e Terapêutica de Aves - São Paulo https://bit.ly/39ibuHG
Cirurgias Cardíacas - Desafios e Perspectivas geacuam@gmail.com
17 e 24 de março
São Bernando do Campo, SP
São Paulo, SP
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Jaboticabal, SP
São Paulo, SP
Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020
ourofinopet.com
Condromax Pet O suplemento que melhora o desempenho dos pets, melhorou também sua apresentação. A eficácia de Condromax Pet ganhou dois novos reforços: a embalagem que protege individualmente cada comprimido e um agradável sabor carne. Tudo isso garante a reconhecida vitalidade que Condromax Pet proporciona, mas com administração ainda mais fácil.
Nova embalagem Agora em blíster e com sabor carne
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Vet agenda Endoscopia
25 de maio
4 e 5 de abril
Porto Alegre, RS
São Paulo, SP
Manejo Clínico e Procedimentos Cirúgicos em pequenos animais https://bit.ly/39jZ9CW
Endoscopia Digestiva em Cães e Gatos – EVIPE Cursos https://bit.ly/2TeHG9i
7 de abril
13 e 14 de junho
São Paulo, SP
São Bernardo do Campo, SP
Traqueostomia GEAC UAM geacuam@gmail.com
Simpósio de Diagnóstico por Imagem em Pequenos Animais https://bit.ly/39rTivj
14 a 16 de maio
São Paulo, SP
Módulo Ortopedia Cirurgias da Coluna Vertebral - CIPO http://bit.ly/37vPs2W 26 e 27 de junho
São Paulo, SP
Módulo Miscelâneas Cirúrgicas Torácicas e Abdominais - CIPO http://bit.ly/2ZLT8uE
1 a 5 de julho
29 a 31 de março
Rio de Janeiro, RJ
Curso de Mínima Invasão Veterinária minivetcourses@gmail.com 16 de maio
Fisioterapia
São Paulo, SP
Introdução à Fisioterapia Veterinária http://bit.ly/2FfL4sF
São Paulo, SP
Curso Intensivo Prático de Radiologia do Aparelho Locomotor para Ortopedia – Curso de Férias https://bit.ly/39hZgig 10 e 11 de julho
São Paulo, SP
Fisiatria
28 e 29 de março
Indaiatuba, SP
Introdução à Fisiatria Animal http://bit.ly/2SNG0DK 21 de março
Gestão
Curitiba, PR
6 a 24 de julho
I Curso de imagem no paciente endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br
Curso Intensivo de Técnica Cirúrgica https://bit.ly/3amLpax
14 de março a 29 de novembro
27 de março
Aperfeiçoamento Intensivet em Medicina de Urgências e Terapia Intensiva https://bit.ly/2IeDboI
Palestra Marketing e Carreira para Médicos Veterinários geer.unicsul@gmail.com
São Paulo, SP
Emergência
Brasília, DF
Cuidados Paliativos
7 e 8 de março
São Paulo, SP
I Jornada Paulista de Cuidados Paliativos em Medicina Veterinária https://bit.ly/32JhXJ0
28 e 29 de março t
13 de abril
São Paulo, SP
O que precisamos saber sobre cuidados paliativos? gepapatrocinio@gmail.com
Endocrinologia
São Paulo, SP
I Curso de urologia e nefrologia no endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br
23 a 25 de julho
São Paulo, SP
Comdev 2020 – Congresso Medvep Internacional de Dermatologia Veterinária https://bit.ly/32LeppD
18 de março
Endoscopia digestiva e respiratória na clínica de pequenos animais https://bit.ly/2Tw7yw7 4 e 5 de abril
São José, SC
CONMVET – Conexões em Medicina Veterinária http://bit.ly/2uaXgIN
Imunologia
21 de março
Porto Alegre, RS
Imunologia veterinária https://www.instagram.com/p/ B9VLw6opYPP/?igshid=5o7k7rbjyx9l
Medicina veterinária integrativa
I Curso de emergências endócrinas http://www.endocrinovet.com.br
Cannabis e seu uso medicinal no tratamento de pequenos animais gepapatrocinio@gmail.com
São Paulo, SP
I Curso de endocrinopatias raras de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br 10 e 11 de julho
Ultrassonografia de Rotina na Clínica de Pequenos Animais http://bit.ly/2QVPIld
18 de abril
30 de março
17 de junho
São Paulo, SP
São Miguel Paulista, SP
15 e 16 de maio
São Paulo, SP
Diagnóstico por Imagem
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Emergência em Pequenos Animais Intensivo http://bit.ly/2NKrOZM
13 e 14 de março
Dermatologia
São Paulo, SP
São Paulo, SP
Curso de Gestão na Prática – Veterinários de todas áreas https://bit.ly/2TeaQW3
São Paulo, SP
I Curso de imagem no paciente endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br
São Paulo, SP
17 e 18 de abril
São Paulo, SP
2° Simpósio de Medicina Veterinária Integrativa https://bit.ly/2TslLdA 15 a 17 de maio
São Paulo, SP
VI Curso de Ozonioterapia em Pequenos Animais https://bit.ly/2vzzLdv
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Nefrologia
21 a 24 de maio
São Paulo, SP
13 e 14 de março
Congresso Internacional de Medicina e Saúde Integrativa Área Humana e Veterinária http://cimsi.com.br
São Paulo, SP
I Curso de urologia e nefrologia no endocrinopata http://www.endocrinovet.com.br
Medicina veterinária do coletivo
4 de abril
São Paulo, SP
21 de março
I Simposio de Nefrologia & Cardiologia Veterinária da Universidade Cruzeiro do Sul http://bit.ly/2SLLezX
São Paulo, SP
Manejo e estrutura de canis contatogerep@gmail.com 22 de maio
30 e 31 de maio
Recife, PE
Jataí, GO
Pré-Conferência Medicina Veterinária do Coletivo http://portal.itecbr.org
Nefrologia clínica para pequenos animais: como atender seu paciente hoje? https://bit.ly/2IbxVT5
8 e 9 de junho
Petrolina, PE
III Encontro Nacional sobre animais abandonados em campi universitários http://bit.ly/2sICGze
10 de março
Nutrição
Rio de Janeiro, RJ
4 e 5 de abril
São Paulo, SP
Curso Oftalmologia para o Clínico de Pequenos Animais https://bit.ly/38dai6Z
Ortopedia
16 a 21 de junho
Jaboticabal, SP
VIII Curso Internacional de Ortopedia e Traumatologia em Animais de Companhia https://bit.ly/2Tz6NCr 21 a 23 de agosto
São Paulo, SP
VI Curso de Biomecânica Aplicada a Pequenos Animais https://bit.ly/2TheHlh
Oncologia
18 de março
São Paulo, SP
Nutrition pet day http://bit.ly/2VLYAh1
Leucemia em Cães geonco.anhembi@gmail.com
São Paulo, SP
21 e 22 de março
21 de março
Simpósio Veterinário de Oncologia – Anclivepa Minas https://bit.ly/2Tf7SAs
17 a 19 de junho
Curso teorico-pratico de nutrição para cães e gatos com elaboraçao de dietas caseiras www.gmgconsultoria.com.br
Medicina veterinária felina
16 de maio
Belo Horizonte, MG
III Simpósio GEFel-USP de Atualidades em Medicina Felina https://bit.ly/2Tg7kuf
Recife, PE
13 e 14 de maio
Simpósio Nordestino em Medicina Felina https://doity.com.br/simpocat2020
Campinas, SP
XIX Congresso CBNA PET 2020 https://bit.ly/2IeCZG0
19 a 21 de junho
São Paulo, SP
16 e 17 de maio
CAT Congress SP 2020 https://www.treevet.com/curso/115cat-congress-sp-2020
São Paulo, SP
Curso de Alimentação Natural Terapêutica para Cães https://bit.ly/32KfZIy
12 a 16 de agosto
Campinas, SP
11 e 12 de setembro
Comfel 2020 – Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina https://bit.ly/2IeJbhu
São Paulo, SP
Medicina veterinária legal
10, 17, 24 e 31 de março, 07, 14 e 28 de abril
Barra Mansa, RJ
Curso de Medicina Veterinária Legal: Suas Implicações na Saúde Única e Bem-Estar Animal http://bit.ly/35jz7Nk 22 de março
São Paulo, SP
Medicina Forense Veterinária https://www.forensicmedvet.com
I Curso de nutrição e nutrologia de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br
Oftalmologia
18 de março
Online
Webinar Úlcera de córnea em cães e gatos https://bit.ly/2IcU8A3 27 a 29 de março
São Paulo, SP
Oftalmologia em Animais Silvestres e Exóticos http://bit.ly/35j8Crh
u
Bento Gonçalves, RS
1 de abril
São Paulo, SP
Neoplasia do Sistema Endócrino geonco.anhembi@gmail.com 15 de abril
São Paulo, SP
Psiconcologia geonco.anhembi@gmail.com 22 a 24 de junho
Bento Gonçalves, RS
1º Comov – Congresso Medvep Internacional de Oncologia Veterinária https://bit.ly/38dOYOD
Patologia clínica
7 e 8 de março
Jaboticabal, SP
Curso de patologia clínica veterinária: Interpretação do hemograma https://bit.ly/2I98Rfg
Pós-graduação
Início em setembro
São Paulo, SP
Pós em Oftalmologia Veterinária https://bit.ly/2PVMzSL
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Vet agenda Reprodução
Jaboticabal, SP
6º Curso de Obstetrícia, Neonatologia e Reprodução Aplicada a Prática Clínica de Pequenos Animais https://bit.ly/3aoTSda
XXX Semana Acadêmica de Medicina Veterinária (Sacavet) - FMVZ/USP http://sacavet.com.br/
19 a 22 de abril
Carolina do Norte, EUA
Mountain Veterinary Conference – VAM https://bit.ly/3ak6N04 26 e 27 de abril
Buenos Aires, Argentina
25 e 27 de abril
Novo Hamburgo, RS
FEIPET 2020 – Feira de Negócios para Animais de Estimação http://www.feipet.com.br
2 a 5 de abril
I Semana Acadêmica Veterinária (SAVET)
São Paulo, SP
XIX Congreso de Especialidades Veterinarias https://www.avepa.org/index.php/186
Bilbao, Espanha
44º Congresso de Zoológicos e Aquários do Brasil https://www.azab.org.br/43congresso-azab
São Paulo, SP
11 a 15 de maio
Congresso Medvep de Pets não convencionais 2020 https://bit.ly/2IabfCn
Ubatuba, SP
28 e 29 de março, 4 a 9 de abril
https://savet-uag.com/
17 e 18 de abril
19 a 23 de abril
Semanas acadêmicas
São Paulo, SP
2 a 4 de abril
Sorocaba, SP
25 e 26 de abril
41º Congresso Brasileiro da Anclivepa https://www.cbamaceio.com.br/
5 e 6 de junho
Maceió, AL
14 a 17 de maio
XX Simpósio Paraibano de Medicina Veterinária https://bit.ly/2VNsW2F
XXVI Semana de Estudos em Medicina Veterinária (SEMEV - FMVA)
semev.fmva@unesp.br
Urologia
13 e 14 de março
São Paulo, SP
I Curso de urologia e nefrologia no endocrinopata https://bit.ly/2uLK4uG
Feiras, Congressos & Simpósios
9 a 13 de março
Online
VETScience Academy – Evento Online http://bit.ly/36nhJbA
Gold Coast, Australia
2020 AVA Annual Conference https://bit.ly/2Tw7k8f
21 a 30 de maio
Araçatuba, SP
10 a 15 de maio
20 a 22 de maio
SEVAM EXPO 2020 - UAM
https://bit.ly/38fJ13O
29º Jornadas Veterinarias http://jornadasveterinarias.com/
Patos, PB
Barcelona, Espanha
1st European Congress of Veterinary Endoscopy and Imageguided Interventions http://bit.ly/2FgHej8 11 a 14 de junho
Maryland, EUA
19 a 21 de agosto
ACVIM Fórum 2020 http://bit.ly/37qW6r9
São Paulo, SP
Pet South America 2020 https://www.petsa.com.br
15 e 16 de junho
Baquerizo Moreno, Equador
Agenda internacional
Galapagos Veterinary Experience https://bit.ly/2I9wEvJ
5 a 7 de março
Ontário, Canadá
18 a 21 de junho
Ontario Association of Veterinary Technicians Conference http://www.oavt.org/home
Califórnia, EUA
Pacific Veterinary Conference https://bit.ly/2wpQXSI
7 e 8 de março
2 a 4 de julho
Califórnia, EUA
2020 Wildlife and Exotic Animal Symposium http://bit.ly/2QlQF74
Valência, Espanha
19 a 22 de março
23 a 25 de julho
World Veterinary Cancer Congress https://www.wvcc2020.com/
Congreso VEPA Nacional 2020 https://cccartagena.com
Uberaba, MG
26 a 29 de março
15 a 17 de setembro 2020 VCS Annual Conference http://bit.ly/37vCW3s
22 de março
2020 Annual Conference of the Veterinary Cancer Society (VCS) http://vetcancersociety.org vetcancersociety@yahoo.com
9 a 13 de março
Online
Congresso Online Internacional de Medicina Veterinária de Pequenos Animais https://bit.ly/39hsv4N 13 e 14 de março I Congresso de Cardiologia Veterinária de Uberaba http://bit.ly/36s1PwU
Fortaleza, CE
I Simpósio Cearense de Medicina Veterinária de Pequenos Animais startcursosjua@gmail.com
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Annual Scientific Meeting http://bit.ly/2DANxNr
Cartagena de Índias, Colômbia
Tóquio - Japão
Flórida, EUA
Tóquio, Japão
29 de março a 1 de abril
Lima, Peru
LAVC - 2020 http://bit.ly/2FaFV5d
17 a 19 de setembro
Vila Real, Portugal v
Congress of the European Society of Veterinary and Comparative Nutrition http://bit.ly/2MRrBTb
Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 145, março/abril, 2020